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Artigo Original - 157 -

O TRABALHO EDUCATIVO DO ENFERMEIRO NA ESTRATÉGIA SAÚDE


DA FAMÍLIA1

Simone Roecker2, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes3, Sonia Silva Marcon4

1
Artigo originado de dissertação - O trabalho educativo do enfermeiro na Estratégia Saúde da Família no âmbito da 10ª
Regional de Saúde do Paraná, apresentada ao Programa de Mestrado em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá
(UEM), 2010.
2
Mestre em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem do Instituto Federal do Paraná. Paraná, Brasil. Email:
moneroecker@hotmail.com
3
Doutora em Saúde Coletiva. Docente do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de
Londrina. Paraná, Brasil. E-mail: alnunes@sercomtel.com.br
4
Doutora em Filosofia da Enfermagem. Docente do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UEM. Paraná, Brasil.
E-mail: soniasilva.marcon@gmail.com

RESUMO: Este estudo objetivou identificar a perspectiva dos enfermeiros quanto à educação em saúde e averiguar como esta é
concebida, planejada, executada e avaliada na Estratégia Saúde da Família. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, com
abordagem qualitativa. Os dados foram coletados junto a 20 enfermeiros no âmbito da 10ª Regional de Saúde do Paraná, por meio de
entrevistas semiestruturadas, em abril de 2010, e submetidos à análise de conteúdo. Os resultados mostram que os enfermeiros, ao
desenvolverem educação em saúde, se deparam com diversos entraves que são atribuídos, especialmente, a ausência de sistematização
e de tendências pedagógicas educativas desde a formação acadêmica. Conclui-se que, mesmo diante destes obstáculos, os enfermeiros
precisam ser estimulados a buscar conhecimentos sobre estratégias de planejamento, execução e avaliação das ações educativas, além de
desenvolvê-las no intuito de melhorar as condições de vida e promover a saúde da população no âmbito da Estratégia Saúde da Família.
DESCRITORES: Educação em saúde. Saúde da família. Enfermagem em saúde pública. Atenção primária à saúde. Papel do profissional
de enfermagem.

THE EDUCATIONAL WORK OF NURSES IN THE FAMILY HEALTH


STRATEGY

ABSTRACT: This study has the objective of identifying nurses’ perspectives regarding health education and investigating how it is
conceived, planned, executed and evaluated in the Family Health Strategy. This is a descriptive-exploratory study, utilizing a qualitative
approach. Data were collected from 20 nurses within the 10th Regional Health Department of Paraná, through semi-structured interviews
which took place in April of 2010, and then subjected to content analysis. Results demonstrate that while developing health education,
nurses face many difficulties, which they mainly attributed to the absence of systematization and educational pedagogy regarding their
academic education. In conclusion, given these obstacles, nurses require motivation and seek knowledge about planning, exercising
and evaluating educational actions strategies, in addition to developing them with a view to improving life conditions and promoting
health within the Family Health Strategy.
DESCRIPTORS: Health education. Family health. Public health nursing. Primary health care. Nurse’s role.

TRABAJO EDUCATIVO DE LOS ENFERMEROS DE SALUD DE LA


FAMILIA

RESUMEN: Este estudio tuvo como objetivo identificar la perspectiva de los enfermeros en la educación para la salud y explorar la
forma en que está concebido, planificado, ejecutado y evaluado en la Estrategia de Salud de la Familia. Se trata de un estudio exploratorio
descriptivo con enfoque cualitativo. Se recolectaron datos de 20 enfermeros en el décimo centro de Salud Regional de Paraná, a través
de entrevistas, en abril de 2010 y sometido a análisis de contenido. Los resultados muestran que las enfermeras, en el desarrollo de la
educación en salud, se enfrentan a muchas barreras que están relacionados, sobre todo, con la ausencia de tendencias sistemáticas y la
educación pedagógica de la educación académica. Llegamos a la conclusión de que, a pesar de estos obstáculos, las enfermeras deben
ser alentados a buscar el conocimiento acerca de la planificación, ejecución y evaluación de actividades educativas, y desarrollarlas con
el fin de mejorar las condiciones de vida y promover la salud de la población en marco de la Estrategia Salud de la Familia.
DESCRIPTORES: Educación en salud. Salud de la familia. Enfermería en salud pública. Atención primaria de salud. Rol de la enfermera.

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INTRODUÇÃO sancionada anteriormente a criação deste novo


modelo de APS, regulamenta em seu artigo 11,
A Atenção Primária à Saúde (APS) foi
que cabe ao enfermeiro, como integrante da equipe
proposta para prevenir os agravos e promover a
de saúde, realizar educação em saúde visando a
saúde da população em todos os ciclos de vida,
melhoria de saúde do indivíduo, da família e da
mas observa-se que ainda é permeada por valo-
população em geral.6
res assistenciais de cunho curativo e biologicista,
voltados principalmente à doença. Entretanto, a Face ao exposto e ante as limitadas publi-
busca de outros modelos de assistência ocorre em cações acerca do processo de trabalho do enfer-
um período histórico e social, quando o modelo meiro no tangente à educação em saúde na ESF,
centrado no hospital e na doença não atende mais este estudo objetivou identificar a perspectiva
às transformações do mundo moderno e às neces- dos enfermeiros quanto à educação em saúde e
sidades de saúde dos indivíduos e das famílias. averiguar como esta é concebida, planejada, exe-
cutada e avaliada no cotidiano dos enfermeiros
Assim, as mudanças no modelo de atenção à saúde
que atuam na ESF.
fizeram surgir, no Brasil, em 1994, o Programa
Saúde da Família (PSF) como um modelo centra-
do na família e na equipe,1 denominado hoje de METODOLOGIA
Estratégia Saúde da Família (ESF). O presente estudo, de natureza descritivo-ex-
Este novo modelo de atenção à saúde tem ploratório, com abordagem qualitativa, integra um
como meta reorganizar a assistência, baseando-se projeto de pesquisa maior intitulado: “O trabalho
no discernimento de uma abordagem humaniza- assistencial e educativo no cotidiano do enfermeiro
da, provocando reflexos em todos os serviços do no PSF – características e desafios”, apoiado finan-
sistema de saúde. Por isso, tal proposta foi consi- ceiramente pela Fundação Araucária.
derada como a principal estratégia de APS, com O Estado do Paraná tem 399 municípios, os
uma nova organização do modelo de prestação da quais estão divididos em 22 Regionais de Saúde
assistência familiar.2 (RS). Dessa forma, o estudo foi realizado na 10ª
Nesse sentido, os profissionais de saúde RS, que tem como sede o município de Cascavel,
trabalham diariamente com pessoas que possuem e é composta por 25 municípios.
o seu referencial de vida, que têm os seus valores Os municípios que compõe a 10ª RS, para
e crenças estabelecidos, mas, muitas vezes esse efeitos do estudo, foram divididos em cinco gru-
saber popular e suas vivências não são levados pos, de acordo com o porte populacional: menos
em consideração. Portanto, para trabalhar num de 5.000 habitantes (seis municípios); de 5.000 a
contexto de educação em saúde na prática junto 10.000 habitantes (dez municípios); de 10.000 a
às comunidades é imprescindível que os profis- 20.000 habitantes (sete municípios); de 20.000 a
sionais estabeleçam uma relação entre as ciências 35.000 habitantes (um município); e com mais de
da saúde, as ciências sociais e a educação, com a 35.000 habitantes (um município).
finalidade de promover uma ação educativa de-
Na definição dos municípios que fariam par-
mocrática, respeitando a liberdade individual em te do estudo, optou-se por sortear aleatoriamente
busca do processo de conscientização.3-4 dois municípios pertencentes aos três primeiros
A ação educativa em saúde se refere às grupos e incluir os dois municípios maiores. Isso
atividades voltadas para o desenvolvimento de porque, entende-se que ao possuir características
capacidades individuais e coletivas visando a populacionais distintas, os municípios também
melhoria da qualidade de vida e saúde. Desse possuem capacidades diferenciadas de atendimen-
modo, dentre as ações da ESF, emergem as ações to de saúde à população, o que pode determinar a
educativas como ferramenta fundamental para realização do trabalho educativo pelos enfermei-
estimular tanto o autocuidado como a autoestima ros, além do fato de não termos tempo e recursos
de cada indivíduo, e muito mais que isso, de toda a suficientes para realizar o estudo em todos os
família e comunidade, promovendo reflexões que municípios da RS.
conduzam a modificações nas atitudes e condutas Todos os enfermeiros atuantes na ESF dos
dos usuários.5 municípios incluídos no estudo poderiam ser
Além da educação em saúde ser uma ativi- informantes, desde que atendessem aos seguin-
dade inerente ao profissional enfermeiro proposta tes critérios de inclusão: integrar uma equipe de
nos objetivos da ESF, a lei do exercício profissional, ESF completa e estar atuando na mesma equipe
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por um período mínimo de cinco meses. Este RESULTADOS E DISCUSSÃO


período foi definido pelos pesquisadores, no
Inicialmente é descrito o perfil sociode-
intuito de entrevistar enfermeiros que possuíam
conhecimento sobre a realidade e as necessida- mográfico dos enfermeiros, com a finalidade de
des de educação em saúde da população da área caracterizar a população em estudo. Após são
de abrangência. Desse modo, do total de vinte e apresentadas as duas categorias emanadas no
sete enfermeiros atuantes nas equipes de ESF nos decorrer da análise do conteúdo: “A perspectiva
municípios selecionados, vinte participaram do dos enfermeiros quanto ao trabalho educativo na
estudo, considerando que quatro não atendiam ESF”, e “A sistematização da educação em saúde
aos critérios de inclusão, um estava de férias, na visão dos enfermeiros que atuam na ESF”.
um afastado por questões de saúde e outro não Dos 20 enfermeiros que integraram o estudo,
aceitou participar do estudo. identificou-se que a grande maioria era do sexo
Os dados foram coletados durante o mês de feminino (19), 12 encontravam-se na faixa etária de
abril de 2010, por meio de entrevistas semiestru- 22 a 30 anos, e os demais (8) na faixa etária de 31 a
turadas agendadas previamente por telefone, con- 45 anos. Do total, 12 eram casados, seis solteiros,
forme a disponibilidade de cada profissional. As um em união consensual e um divorciado. Onze
entrevistas foram guiadas por um roteiro semies- dos entrevistados não possuíam filhos, e os demais
truturado constituído de duas partes: a primeira, tinham um (4) ou dois (5) filhos.
com questões objetivas concernentes ao perfil
No que se refere à formação profissional,
sociodemográfico dos pesquisados; e a segunda,
a maior parte (13) se graduou em universidades
com questões abertas relacionadas à educação em
saúde junto à população. Após a explanação do públicas, sendo que o tempo de formação variou,
pesquisador sobre questões pertinentes ao estudo, no qual 13 estavam formados entre 5 e 20 anos e
procedeu-se a assinatura do termo de consenti- sete deles se formaram mais recentemente, entre
mento livre e esclarecido pelos participantes, e em um e quatro anos.
seguida a realização das entrevistas gravadas em Identificou-se que a grande maioria (19)
equipamento do tipo gravador digital. cursou pós-graduação lato sensu, em que se
Os dados de caracterização foram analisa- observaram áreas distintas, com o predomínio
dos de forma descritiva e os dados qualitativos em saúde pública (12). Ao questioná-los sobre a
interpretados a luz da análise categorial.7 A priori abordagem do tema educação em saúde na pós-
iniciou-se a análise dos dados brutos, provenientes graduação grande parte (15) respondeu que houve
da transcrição das entrevistas, por meio de uma sim abordagem, e quatro disseram que o tema não
leitura ampla e, em seguida, foram realizadas lei- foi mencionado durante o curso.
turas aprofundadas que permitiram a organização
O tempo de atuação na presente unidade
dos dados por meio do agrupamento por pontos
variou de cinco meses a oito anos. Em rela-
semelhantes e divergentes, dando origem às cate-
ção às condições de trabalho, dezessete eram
gorias. A posteriori foi realizada a discussão dos da-
concursados e apenas três eram regidos pela
dos tendo como referencial teórico as publicações
científicas existentes sobre a temática, buscando Consolidação das Leis do Trabalho. Dos vinte
em seguida conclusões acerca das características enfermeiros, apenas dois possuíam mais de
do trabalho educativo dos enfermeiros na ESF. um vínculo empregatício, um atuava concomi-
tantemente na docência e outro na assistência
O estudo foi realizado em consonância com
hospitalar. A renda familiar mensal apresentou
as exigências da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, com apreciação e aprovação um predomínio (11) de seis a nove salários
do projeto pelo Comitê Permanente de Ética em mínimos, cinco deles de três a cinco salários e
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade quatro possuem renda superior a dez salários
Estadual de Maringá (parecer n. 659/2009). E mínimos, e a maioria (17) possuía de dois a cin-
ainda, a fim de diferenciar os sujeitos da pesquisa co dependentes desta renda. No que se refere à
e preservar o anonimato, os informantes foram capacitação no início da atuação na ESF, apenas
identificados com a letra ‘E’, seguida de numeral cinco relataram ter recebido informações sobre
arábico, o qual indica a ordem em que sucederam o processo de trabalho na ESF e as funções do
as entrevistas. enfermeiro neste modelo de assistência.

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A perspectiva dos enfermeiros quanto ao A sistematização da educação em saúde na


trabalho educativo na ESF visão dos enfermeiros que atuam na ESF
Acredita-se que a educação em saúde é a Por ser a educação em saúde a pedra fun-
principal ferramenta para a construção de uma damental no desenvolvimento do trabalho dos
prática de trabalho que valoriza o ser humano além enfermeiros e de sua equipe na ESF, ela muitas
do biológico, dando valor ao ser social, emocional vezes é realizada seguindo os conhecimentos
e espiritual. Desse modo, ao questionar os sujeitos adquiridos durante a formação profissional e na
do estudo, identificou-se, em sua totalidade, que o experiência de cada trabalhador, não possuindo
trabalho educativo é desenvolvido com grande ex- uma regulamentação específica, e uma metodo-
pectativa, ou seja, ao realizar a educação em saúde logia padronizada. A seguir são apresentadas as
os profissionais esperam vislumbrar bons resulta- fases do trabalho educativo perpassadas pelos en-
dos: então a nossa maior expectativa é despertar neles o fermeiros e suas equipes, sendo elas: o diagnóstico,
interesse pela informação. Que eles consigam entender o planejamento, a execução e a avaliação.
as nossas orientações e que essas possam estar servindo
para melhorar as condições de saúde deles mesmos, da
O diagnóstico das necessidades educativas
família e de toda a comunidade, ou seja, promovendo a
saúde delas. E assim, se eles compreenderem isso tudo, Nesse estudo, as demandas educativas
a nossa ação terá bons resultados (E14). emergiram em sua maioria (18 relatos) das neces-
Ao realizar as ações educativas os enfermei- sidades observadas pelos profissionais da saúde
ros esperam atingir os objetivos programados, que no dia-a-dia e por meio dos dados extraídos do
as pessoas valorizem o trabalho, participem ativa- conhecimento obtido na territorialização da po-
mente das ações e compreendam as orientações pulação adscrita: eu acho que primeiro tem que fazer
realizadas, identifiquem a importância de cuidar um levantamento da população, da área, do tipo de
da própria saúde e da comunidade em geral, e que patologia, daquilo que vou ter que trabalhar com tal
a partir disso as ações possam contribuir para a população, é fazer o reconhecimento da população (E1).
melhoria nas condições de saúde de todos, e com O enfermeiro que atua na ESF precisa antes
isso reduzir o índice de doenças, bem como, pro- de tudo conhecer a população adscrita da sua área
porcionar efeitos positivos e relevantes na vida das de abrangência, e isto se dá por meio da observação
pessoas por meio das ações educativas. das pessoas no momento da assistência, seja na
As ações educativas, além de proporciona- própria unidade ou no domicílio. Dessa forma, por
rem benefícios à saúde da população atendida intermédio das observações, do levantamento do
pelos profissionais em sua área de abrangência, perfil demográfico, social e epidemiológico, e tam-
fazem com que os resultados favoreçam de forma bém de diálogos com os indivíduos que integram
muito positiva o trabalho de toda a equipe, pois ver a comunidade, o enfermeiro juntamente com a sua
que as ações diárias estão surtindo efeito estimula equipe será capaz de reconhecer as necessidades da
os profissionais a realizá-las. No âmbito da ESF, população e assim elencar as prioridades educativas.
além da execução das ações com base nos resulta- Assim, a territorialização é um passo bási-
dos positivos, destaca-se que a educação em saúde co para a caracterização da população e de seus
se configura como uma prática prevista e atribuída problemas de saúde, bem como para avaliação
a todos os profissionais que compõem a equipe.8 do impacto dos serviços sobre os níveis de saúde.
Assim, admite-se que é um desejo de toda E, além disso, permite o desenvolvimento de um
a humanidade em todos os tempos, a busca por vínculo entre os serviços de saúde orientados por
uma melhor qualidade de vida, sendo preciso categorias de análise de cunho geográfico.10
estabelecer harmonia entre os indivíduos, a natu- As necessidades educativas, além de surgi-
reza e o meio em que convivem. Por conseguinte, rem por meio da observação dos enfermeiros junto
espera-se que a educação em saúde possa atuar à população, podem despontar também do traba-
sobre o conhecimento das pessoas, a fim de que lho da equipe multiprofissional no dia-a-dia: aqui
elas desenvolvam senso crítico e capacidade de assim, a maioria das ideias está surgindo das reuniões
intervenção sobre suas próprias vidas e também de equipe, onde a gente tem uma reunião semanal e cada
sobre o ambiente com o qual interatuam, e dessa ACS passa o relatório das visitas e aí a gente discute
forma possam adquirir condições para se apro- os casos mais graves e aí decide trabalhar tal temática
priarem de sua própria existência, bem como da conforme as principais necessidades, e também das
sua cidadania.9 visitas domiciliares (E14).
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Considera-se ideal que os diagnósticos das lização da comunicação que é capaz de instigar,
necessidades de educação em saúde da população informar e conectar os indivíduos entre si, buscan-
surjam por meio da observação sistematizada dos do desenvolver o senso crítico.9
hábitos e estilo de vida das pessoas, e que as ações Por sua vez, evidenciou-se que os enfermei-
ao serem planejadas, levem em consideração os ros conhecem a forma de diagnosticar necessida-
fatores que determinam o processo saúde/doença, des educativas da população, mas na prática isso
a fim de que surtam realmente efeitos positivos nem sempre ocorre: o correto seria a gente enquanto
nas condições de vida dos indivíduos, família e equipe, por meio do ACS e de dados epidemiológicos
comunidade. que a gente tem, levantar quais são os problemas da
O trabalho educativo inclui a orientação comunidade, mas não é o que eu faço, eu levanto o
das pessoas para cuidar de sua saúde, a fim de problema que eu acho e marco uma reunião, preparo a
que compreendam as causas e as consequências minha palestra (E10).
do evento patológico, e que aliado a isso, os pro- Nessa direção, a educação precisa ser enca-
fissionais possam ainda despertar nos indivíduos rada como um processo que só ocorre no convívio
a consciência da importância do cuidado com social, ou seja, na relação do homem com sua reali-
a saúde, do conhecimento quanto às formas de dade, com o mundo em que vive. Desse modo, “as
cuidar de si e do entendimento pleno do processo questões que envolvem educação em saúde devem
saúde/doença.11 promover senso de identidade individual, autono-
A identificação das necessidades educativas mia, dignidade, responsabilidade, solidariedade
por meio do trabalho multiprofissional é mais e, acima de tudo, responsabilidade comunitária e
efetiva, pois não parte apenas da observação de resgate da cidadania”.9:158
uma única pessoa, mas sim de toda uma equipe
que conhece e convive com a população. E nesse
O planejamento das ações educativas
estudo se observou destaque especial ao trabalho
do Agente Comunitário de Saúde (ACS), que por Após diagnosticar a necessidade de ativi-
residir na área de abrangência da ESF e estar em dades educativas em saúde junto à população da
contato constante com a população, possui maior área de abrangência, especialmente as de natureza
conhecimento da comunidade, e, consequente- coletiva, o ideal seria que houvesse um planeja-
mente, de suas necessidades. mento das ações por meio de discussões com toda
Além de as ações serem planejadas a partir a equipe: a gente procura juntar a equipe e pensar, e
da observação da população, do seu modo de vida juntos planejar as atividades. Então às vezes eu desen-
e dos fatores que determinam a saúde, o ideal seria volvo algumas coisas a partir dos meus conhecimentos
que elas fossem planejadas juntamente com os e então elaboro as atividades e executo tanto sozinha,
cidadãos: então assim a necessidade de se trabalhar tal quanto com a equipe (E11).
assunto com as comunidades surge das reuniões men- Mesmo identificando, no presente estudo,
sais principalmente daquelas em que os representantes que o trabalho dos membros da equipe da ESF,
participam (E20). especialmente do enfermeiro, é fundamentado nas
Percebeu-se que dentre os 20 participantes ações de atendimento a demanda, nas exigências da
do estudo, apenas um relatou que as ações educa- Secretaria Municipal de Saúde (SMS), evidenciou-se
tivas eram elaboradas com o auxílio da população nos relatos que muitos deles se esforçam para que
ou de seus representantes. Isso mostra que as ações as ações educativas sejam discutidas e realizadas
são planejadas, quase que exclusivamente, me- com todos os membros da equipe multiprofissional,
diante o que os profissionais julgam ser necessário, mas sinalizam que o planejamento e a estruturação
desconsiderando os anseios da população, o que de planos de trabalho ainda são falhos.
pode ser um reflexo da não aderência dos usuá- Nesse sentido, o planejamento em saúde
rios às atividades educativas, além de evidenciar pode ser entendido como o estabelecimento de
o quão distante está a educação em saúde na ESF um conjunto coordenado de ações visando à con-
dos pressupostos estipulados pelo MS. secução de um determinado objetivo, estratégias
Estudo mostra que a proposta de trabalho de enfrentamento de problemas e dos mecanismos
educativo deve contar com a participação da po- de implementação de políticas e a construção de
pulação, com vistas a desenvolver o conhecimento planos, programas e projetos.12
desta em relação à educação em saúde. Para isso, Com base na importância da elaboração do
tem-se, como um importante instrumento, a uti- plano de trabalho para o desenvolvimento das
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ações educativas percebe-se que dos 20 enfermei- se que a educação em saúde não possui embasamen-
ros apenas um elabora projeto por escrito: então na to teórico-pedagógico: ah eu faço conforme eu acho que
reunião de equipe a gente discute, vai dando os encami- deve ser feito, baseado na minha experiência de trabalho,
nhamentos, faz um esboço e depois a gente senta e põe as não tenho metodologia ou teoria específica (E15).
bibliografias, fundamenta, então a gente registra mesmo Os enfermeiros desenvolvem a sua prática
no papel todos os nossos projetos, objetivos, metodologia educativa pautados no conhecimento adquirido
e cronograma. A gente faz tudo documentado porque eu durante o seu processo de formação e com base
e a equipe achamos que é uma forma da gente cumprir nas rotinas e demandas da unidade, que já estão
e cobrar o que foi planejado (E15). adaptados, almejando impetrar os seus objetivos.
Por sua vez, identificou-se nos relatos equi- A literatura aponta que o trabalho educativo
pes que não fazem um planejamento/projeto de desenvolvido pelo enfermeiro está fundamentado
atividades, mas reconhecem a extrema relevância geralmente na compreensão de educação de cada
desta prática: [...] a gente não faz nada por escrito, profissional de acordo com sua experiência pessoal
mas eu acho que isso seria essencial e ajudaria muito a e de trabalho. Dessa forma, muitos dos profissio-
gente a cumprir com os objetivos estabelecidos (E18). nais que realizam educação em saúde diariamente
O planejamento em saúde é considerado não conhecem a tendência pedagógica na qual está
como um contrato firmado entre as partes, isto é, delineada a sua prática educativa.13
tudo que é planejado e registrado passa a valer A partir da literatura disponível sobre as
como algo que precisa ser executado.12 Desse tendências pedagógicas existentes, optou-se no
modo, pode-se avaliar a importância em se reali- presente estudo por adotar o referencial de Libâ-
zar um plano de trabalho por escrito conforme as neo,14 que as classifica em dois grupos: a pedagogia
necessidades da população e juntamente com esta, liberal e a pedagogia progressista. A primeira é
para que tal trabalho seja passível de execução e constituída pelas pedagogias tradicional, renovada
cobrança tanto pelos próprios membros da equipe, progressivista, renovada não diretiva e tecnicista,
quanto pela comunidade em geral. que são focadas no indivíduo a ser educado, mas
Nota-se nos relatos que após o diagnóstico da atribui também grande importância ao educador,
situação de saúde, por meio do levantamento das em que ambos têm uma relação ainda verticali-
necessidades educativas da população, a maioria zada, sendo o educador quem detém e repassa
das equipes (19) parte diretamente para a prepa- o conhecimento. Já a segunda é composta pelas
ração dos materiais e execução das atividades, pedagogias libertadora, libertária e crítico social,
sem desenvolver um plano de ação como forma fundamentadas na aquisição do conhecimento
de registrar e orientar as ações educativas: depois por meio do relacionamento interpessoal, de ati-
é feito a busca dos materiais por meio de pesquisa na vidades interativas especialmente grupais, na qual
internet, cartazes, livros e outros. Então a gente trabalha acreditam que o indivíduo aprende por meio de
sempre muito unido, pede a opinião, a ajuda de toda a suas experiências de vida, e o educador é o me-
equipe, depois executa [...] (E13). diador entre o conhecimento e o sujeito da apren-
dizagem, e a relação entre eles é horizontalizada.14
A fase de preparo dos materiais que emba-
sam a prática educativa dos enfermeiros e equipe, A partir das denominações, acredita-se que
as tendências da pedagogia progressista sejam
mesmo sem um planejamento prévio, é um mo-
mais adequadas para a educação na área da saúde,
mento crucial, pois, após verificar a necessidade
pois aprender é desenvolver a capacidade de inte-
educativa, os profissionais estarão se preparando
riorizar as informações e trabalhar com os estímu-
para difundir informações em busca de melhoria
los do ambiente, da interação entre os indivíduos,
das condições de saúde das pessoas, com base no
com o objetivo de construir uma educação a partir
despertar da consciência dos indivíduos e cole-
da situação concreta de vida dos mesmos.14
tividade para o autocuidado, a autonomia sobre
o seu viver, a identificação e domínio sobre os Desse modo, com base no referencial de Li-
determinantes do processo saúde/doença, bem bâneo,14 é possível afirmar que o modelo educativo
como o controle social. adotado pelos enfermeiros ainda está baseado na
pedagogia liberal, e ainda há muito a se construir
para que os enfermeiros adotem uma postura
A execução das ações educativas educativa pautada na pedagogia progressista.
Ao questionar os participantes do estudo Para o exercício da ação pedagógica é de
quanto à metodologia de trabalho utilizada, notou- extrema importância que o enfermeiro-educador
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reflita e construa o seu conceito de educação. Este por meio da fala, seguida do uso de panfletos, car-
lhe dará os subsídios para edificar o seu modelo tazes, álbuns seriados/flip charts/banners e multi-
pedagógico e o seu perfil de educador. Assim, mídia, e como material prático e demonstrativo os
a educação em saúde realizada pelo enfermeiro profissionais fazem uso do que tem disponível na
da ESF deve propiciar aos indivíduos reflexão unidade, como modelos do corpo humano, além
crítica, problematizadora, ética, estimulando a de preservativos, bonecos, entre outros: assim eu
curiosidade, o diálogo, a escuta e a construção do utilizo bastante álbum seriado, às vezes o multimídia,
conhecimento compartilhado.15 alguns folders que vem da RS e algumas coisas elabo-
Alguns relatos dos enfermeiros destacam o ramos aqui, mas normalmente é mais a fala mesmo, e
quão difícil é desenvolver a educação em saúde, material prático tem uns cartazes e alguns protótipos
devido, principalmente, à falta de uma abordagem do corpo humano. Ah, eu tento usar bastante imagens,
sistematizada desta temática já na graduação, por que eu acho que tudo que é visualizado é melhor
que se segue até o cotidiano de trabalho, em que gravado, absorvido (E11).
não se tem nada regulamentado para a realização Pode-se identificar que os recursos utilizados
de tal tarefa, diferente do que se apresenta no são os que normalmente a SMS disponibiliza para
desenvolvimento da assistência de enfermagem as unidades de saúde, e que por meio do uso des-
na qual se utiliza os passos da Sistematização da ses, as atividades se restringem a propagação de
Assistência de Enfermagem (SAE): nesse sentido informações por meio da fala e demonstração de
eu acho assim que desde o que a gente aprende assim lá imagens. Destarte, não se percebe nos relatos dos
na graduação deveria ser mais voltado para a educação enfermeiros a utilização de dinâmicas de grupo e
em saúde. Porque existe um processo de enfermagem, de interação entre os participantes nas atividades
a SAE tudo esquematizadinho para as ações em saúde grupais. Considera-se que as estratégias educati-
no âmbito hospitalar e para a educação em saúde não vas como diálogos interativos, dinâmicas de grupo
tem nada, então a gente faz do jeito que a gente acha e atividades lúdicas são ferramentas que incitam
que deve ser feito [...] (E15). as pessoas a pensar e praticar o que é informado,
Entende-se que, muitas vezes, a formação construindo assim um corpo de conhecimento
do profissional enfermeiro faz com que este, ao concreto sobre as questões de saúde, e esta é uma
adentrar na ESF, não tenha preparo voltado para perspectiva que tem se mostrado efetiva, especial-
desenvolver a educação em saúde. Os relatos mente em se tratando de estratégias vinculadas à
evidenciam a grande dificuldade em descrever o educação e à promoção da saúde.17
trabalho educativo realizado e a falta da existência Para grande parte dos entrevistados (14) os
de uma metodologia de ancoragem das ações de recursos disponíveis na unidade são escassos e
cunho preventivo e de promoção da saúde das ultrapassados. No entanto, mesmo perante muitos
famílias da área adscrita. Salienta-se que apenas obstáculos, alguns profissionais são estimulados
cinco dos enfermeiros afirmaram ter tido um pre- e mostram-se interessados em, juntamente com
paro específico para atuar na ESF, sendo talvez este a equipe, produzir seus materiais, buscar infor-
um fator contributivo para as falhas na execução mações e se atualizar: assim, recurso a gente não
da educação em saúde, considerando-se que sem tem muito, e os que tem são ultrapassados, aí a gente
capacitação é mais difícil o profissional compreen- confecciona aqui cartazes e outros e a gente está sempre
der as dimensões de sua atuação. se atualizando (E15).
A educação na saúde é essencialmente uma A educação em saúde ainda é uma área de
educação para a liberdade, destinada a reforçar a atuação dos profissionais da ESF pouco explorada,
consciência do indivíduo sobre si e a sua realida- devido ao modelo de APS ser pouco valorizada
de. E para que ela possa ocorrer de forma plena e pelos usuários, pelos profissionais e pelos coorde-
viabilizar ações reflexivas nos serviços de saúde nadores e gestores municipais, especialmente por
é preciso haver o diálogo entre os sabares tecno- não apresentaram resultados iminentes.
científicos dos profissionais da saúde e os saberes Apesar de a reorientação do modelo assisten-
populares dos usuários.16 cial, do qual faz parte a nova política da ESF, ser
Para a execução das ações educativas, os uma proposta concreta, na prática, esta continua
enfermeiros, geralmente, acompanhados de outros em processo de consolidação e, em virtude disso,
membros da equipe, utilizam materiais e formas coexistem elementos dos dois modelos de atenção à
diferenciadas de executar a educação em saúde, saúde, o curativista e o preventivo. Ao mesmo tem-
dentre elas a principal é o repasse de informações po em que, na sociedade em geral, persiste a ideia de
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- 164 - Roecker S, Nunes EFPA, Marcon SS

que os serviços da saúde se associam com situações lação, mas eu acho assim que a educação em saúde traz
de doença e não com a saúde, dificultando ainda muitos resultados positivos, aos poucos, mas traz. (E6).
mais a reversão do modelo biomédico de saúde.18 A avaliação dos resultados do processo
Identificou-se que as ações educativas são educativo é um processo contínuo da aprendiza-
desenvolvidas em locais diversos além das uni- gem, no qual deve haver uma interação entre o
dades de saúde, conforme a possibilidade de cada enfermeiro, a equipe e os usuários para avaliarem
unidade e também da população: eu faço aqui na as ações educativas, identificando os seus resulta-
unidade, faço no salão comunitário, na escola, conforme dos, as mudanças necessárias e principalmente o
o número de pessoas a gente escolhe o local, e assim como reflexo da educação em saúde na vida das pessoas.
temos aqui cinco comunidades no interior, sempre faço Mas, apesar de todos os enfermeiros apon-
lá nos salões comunitários, e nos acampamentos [dois] tarem que não possuem um mecanismo específico
eu faço na casinha da saúde que eles construíram pra de avaliação dos resultados das ações educativas,
nós da saúde (E15). parte deles (10) acreditam que os indicadores de
Na maioria das unidades o espaço não é saúde construídos pela SMS, por intermédio dos re-
destinado à realização de práticas educativas, latórios mensais que são elaborados e enviados por
fato este que dificulta, muitas vezes, o desenvol- eles, podem dar parâmetros de melhoria das condi-
vimento desta modalidade de trabalho: quando ções de saúde da população e que essa, certamente,
eles fazem a planta de construção ou reforma até tem está atrelada à realização de ações educativas que
uma sala grande para reuniões, grupos, mas quando se estimulam as pessoas a cuidarem da sua saúde: eu
iniciam os trabalhos resolve-se cortar custos e ai tiram o não tenho um método de avaliação, somente a observação
que acham menos importante, que geralmente é o local que a gente faz da população, não tem nada específico,
destinado a realização de grupos de educação em saúde, mas eu acredito que os indicadores de saúde nos ajudam
de reuniões com a população, aí a gente tem que ficar a avaliar as nossas ações educativas realizadas junto à
procurando lugares disponíveis na própria comunidade população, pois se estes estão melhorando significa que
para desenvolvê-las, e o pior é que nem sempre esses a nossa ação está surtindo efeito (E17).
locais são apropriados (E13). As ações educativas são planejadas e exe-
Salienta-se que há um descaso com a educa- cutadas pelos profissionais de saúde, conforme
ção em saúde por parte dos gestores até quando se a sua visão sobre as necessidades evidenciadas
planejam a construção ou reforma das unidades junto à população, mas estas normalmente não
de saúde. Então, muitas vezes, pergunta-se: como são monitoradas, ou seja, não existem parâmetros
exigir dos profissionais a implantação e implemen- de avaliação dos resultados das ações educativas.
tação de nova modalidade de atenção à saúde das Paralelamente, percebe-se que a melhoria
pessoas, fundamentada na prevenção e promoção, das condições de saúde das pessoas, visualizada
se as condições de estrutura física e materiais por meio dos indicadores de saúde não são atri-
designados para o trabalho não condizem com a buídas, em sua maioria, ao desenvolvimento de
política de tal estratégia? ações educativas, mesmo sendo esta uma prática
Nessa perspectiva, os pressupostos da ESF essencial no cotidiano do trabalho na ESF.
não estão sendo totalmente atingidos e a sua
consolidação sendo delongada. Mas, notam-se CONSIDERAÇÕES FINAIS
esforços sendo empregados pelas equipes, mesmo
diante dos problemas, a fim de reverter o modelo Os resultados deste estudo demonstraram
de assistência à saúde, por meio da valorização que os enfermeiros, ao desenvolverem educação
da saúde em detrimento da doença, inclusão e em saúde, anseiam melhorar as condições de vida
adoção de seus novos princípios, como a promoção e saúde da população, e que as ações educativas
da saúde, especialmente pelas ações educativas, precisam ser executadas de forma constante e efe-
participação comunitária e controle social.19 tiva junto à população, a fim de prevenir doenças,
melhorar as condições de vida e saúde e, conse-
quentemente, promover a saúde da população.
A avaliação das ações educativas
Ao desenvolver o trabalho educativo, os
Para a totalidade dos participantes do estudo a enfermeiros se deparam com limitações em sua
educação em saúde é avaliada como sendo benéfica rotina – principalmente no que tange à falta de
para a população: ah, eu não tenho assim um parâmetro normatização e valorização das ações educativas,
para te dizer melhorou tantos porcento a saúde da popu- ou seja, a ausência de sistematização da prática
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O trabalho educativo do enfermeiro na estratégia saúde da família - 165 -

educativa e o desconhecimento sobre as tendências e dá outras providências. Diário oficial da União


pedagógicas que a embasam – o que tem dificul- 1986; 25 jun.
tado a implementação de ações efetivas junto à 7. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa (PT): Edições
população no cotidiano de trabalho da ESF. 70; 2008.
Os subsídios aqui gerados podem ser apro- 8. Alves VS. Um modelo de educação em saúde para
veitados não só no desenvolvimento do trabalho o Programa Saúde da Família: pela integralidade
da atenção e reorientação do modelo assistencial.
educativo na ESF, mas também na formação dos
Interface: Comunic, Saude, Educ. 2004 Set-2005 Fev;
novos profissionais enfermeiros, e até mesmo na 9(16):39-52.
reformulação e sistematização das práticas edu-
9. Cecagno D, Siqueira HCH, Cezar Vaz MR. Falando
cativas que são executadas nos variados serviços sobre pesquisa, educação e saúde na enfermagem.
de saúde, especialmente, no nível primário de Rev Gauch Enferm. 2005 Ago; 26(2):154-60.
atenção à saúde.
10. Monken M, Barcellos C. Vigilância à saúde e território
Ante o exposto, acredita-se que este trabalho utilizado: possibilidades teóricas e metodológicas.
representa apenas um pequeno passo na produção Cad Saude Publica. 2005; 21(3):898-906.
do conhecimento sobre o processo do trabalho 11. Roecker S, Marcon SS. Educação em saúde na
educativo na ESF, fazendo-se necessária a realiza- Estratégia Saúde da Família: o significado e a práxis
ção de novos estudos, com o intuito de desvelar dos enfermeiros. Esc Anna Nery. 2011; 15(4):701-09.
as nuances da educação em saúde, com vistas a 12. Paim JS, Teixeira CF. Política, planejamento e gestão
prestar uma assistência voltada às necessidades em saúde: balanço do estado da arte. Rev Saude
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Correspondência: Simone Roecker Recebido: 25 de Julho de 2011


Rua Ranulfo Cardoso, 42 Aprovação: 14 de Março de 2012
85415-000 — Parque Verde, Cafelândia, PR, Brasil
E-mail: moneroecker@hotmail.com

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Jan-Mar; 22(1): 157-65.

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