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Ricardo Hugo Gonzalez

Organizador

PRÁTICAS
INTEGRATIVAS
COMPLEMENTARES
Aspectos conceituais
PRÁTICAS INTEGRATIVAS
COMPLEMENTARES
Aspectos conceituais
AVALIAÇÃO, PARECER E REVISÃO POR PARES
Os textos que compõem esta obra foram avaliados por pares e indicados para publicação.

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Bibliotecária responsável: Aline Graziele Benitez CRB-1/3129

E26 Práticas integrativas complementares: aspectos conceituais 


1.ed. [recurso eletrônico] / [org.] Ricardo Hugo Gonzalez. –
1.ed. – Curitiba-PR, Editora Bagai, 2022.
Recurso digital.

Formato: e-book
Acesso em www.editorabagai.com.br

ISBN: 978-65-5368-113-2

1. Terapias complementares. 2. Saúde. 3 bem-estar.


I. Gonzalez, Ricardo Hugo.
10-2022/20 CDD 613
CDU 613

Índice para catálogo sistemático:


1. Terapias complementares: Saúde 613

https://doi.org/10.37008/978-65-5368-113-2.01.09.22
R

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Ricardo Hugo Gonzalez
Organizador

PRÁTICAS INTEGRATIVAS
COMPLEMENTARES
Aspectos conceituais
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos autores
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Dr. Rogério Makino – UNEMAT
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Dra. Rozane Zaionz - SME/SEED
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Dr. Thiago Perez Bernardes de Moraes – UNIANDRADE/UK-ARGENTINA
Dr. Tomás Raúl Gómez Hernández – UCLV e CUM - CUBA
Dr. Willian Douglas Guilherme – UFT
Dr. Yoisell López Bestard- SEDUCRS
SUMÁRIO

PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES


EM SAÚDE NO BRASIL...................................................................................19
Patrícia Soares Cavalcante | Ricardo Hugo Gonzalez

AROMATERAPIA: O PODER DE UMA GOTA..............................................42


Karla Thâmysa Cruz

O USO DA TERAPIA DE FLORAIS DE BACH NO CUIDADO


À SAÚDE MENTAL...........................................................................................49
Amanda Pinheiro

AS POTENCIALIDADES DA MEDITAÇÃO NO CAMPO DA SAÚDE


MENTAL............................................................................................................60
Lucía Belén Pérez

BIODANÇA COMO PROMOÇÃO DA SAÚDE..............................................68


Jéssica Floriano Lima

A UTILIZAÇÃO DO REIKI EM PRÁTICAS DE SAÚDE: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA..................................................................................................73
José Jardeson Martins de Vasconcelos | Léo Barbosa Nepomuceno

O USO DA FITOTERAPIA POR PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA


ATENÇÃO BÁSICA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS......................................86
Jonathan da Silva Xavier | Mayra Solange Lopes de Vasconcelos

APITERAPIA PODE SER ÚTIL EM CASOS DE COVID-19?.........................98


Luana Matos de Souza

EFEITOS TERAPÊUTICOS DO YOGA NA SAÚDE MENTAL E FÍSICA


DA POPULAÇÃO EM PERÍODO DE PANDEMIA DA COVID-19.............. 106
Mariana Campos da Rocha Feitosa

OS BENEFÍCIOS DA TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS (TAA)........... 117


Marcos Fábio Pinto Bandeira

CONHECENDO A MEDITAÇÃO E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A


SAÚDE ORGÂNICA E PSÍQUICA COMO UMA IMPORTANTE PRÁTICA
INTEGRATIVA DE SAÚDE PARA A BUSCA DO EQUILÍBRIO MENTE E
CORPO............................................................................................................. 125
Antônia Célia De Castro Alcântara
ARTETERAPIA COMO PRÁTICA EXPRESSIVA DE
EMANCIPAÇÃO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO NO
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS).............................................................. 137
Erinaldo Domingos Alves | Rômulo do Nascimento Rocha | Ranieri Sales de Souza Santos

MASSAGEM SHANTALA E SEUS BENEFÍCIOS


NO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR INFANTIL............... 143
Angelízia de Fátima Marques Arruda | Luciano Lima Correia

IMPLICAÇÕES DA AURICULOTERAPIA NO ALÍVIO


DA DOR CRÔNICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA................................. 153
Mohamed Saido Balde

MUSICOTERAPIA E SAÚDE MENTAL NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE:


UMA REVISÃO INTEGRATIVA.................................................................... 165
José Wilson Lira Júnior | Rosiane Araujo Pereira

TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA NO CONTEXTO DE


PANDEMIA DA COVID-19: REVISÃO INTEGRATIVA............................... 171
Luana Carla Bandeira Sobrinho | Ricardo Hugo Gonzalez

ACUPUNTURA E QUALIDADE DE VIDA: DISCUSSÃO EM DIFERENTES


FACES............................................................................................................... 177
Rafaela Rodrigues Viana | Alzyra Hingrid Hardi Lima Aragão

AS CONTRIBUIÇÕES DA CROMOTERAPIA PARA


OS SERVIÇOS DE SAÚDE.............................................................................. 190
José Roberto Costa Lourenço

NATUROPATIA / NATUROLOGIA: UMA REVISÃO NARRATIVA............ 197


Valesca de Sousa Brito

O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE À LUZ DA


ANÁLISE BIOENERGÉTICA........................................................................ 205
Edilma da Cruz Cavalcante | Ricardo Hugo Gonzalez

AYURVEDA E A ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA..................................... 213


Larissa Luna Queiroz

SOBRE O ORGANIZADOR........................................................................... 221


SOBRE OS AUTORES..................................................................................... 222
ÍNDICE REMISSIVO...................................................................................... 233
Agradeço a Deus, pela vida e pela saúde que nos permitiu superar os difíceis
momentos durante a pandemia do COVID-19. E aos profissionais da saúde que
dedicam seu precioso tempo para promover a saúde dos outros
Dedico a minha família. Aos meus pais dom Ricardo e dona Francisca pelo
carinho e cuidado que tiveram, possibilitando com isto a minha educação e
formação humana.

A minha esposa Neiva, minha filha Julia e meu filho Gabriel. Obrigado pelo
amor de sempre. Finalmente a meus alunos, profissionais da saúde, pela valiosa
contribuição nesta obra, com os quais tive a oportunidade de apreender.
PREFÁCIO

Este livro é um pequeno compêndio que nos introduz ao universo


das Praticas Integrativas e Complementares - PICS. Elaborado no
momento oportuno em que as PICS estão ocupando o seu lugar nos
cuidados com as pessoas, as comunidades e o planeta. Muito útil para
estudantes, profissionais e usuários desejosos de conhecer a proposta
de cada PICS, apresentadas não como alternativas concorrenciais e
sim complementares ao modelo biomédico.
No modelo biomédico, a origem da doença segue uma ordem
biológica, ou seja, está ligado aos micros organismos ou a um terreno
genético que pré-dispõe a determinada doença, seja de forma congê-
nita ou adquirida. Ele centra sua ação na cura das patologias usando
remédios alopáticos, realizadas por especialistas devidamente treinados.
Já no modelo holístico oriental, onde surgem as PICS, a doença,
considerada como distúrbios energéticos, vem alertar ao homem dos
obstáculos que devem ser superados na realização do caminho de vida.
As PICS focam nos recursos culturais tradicionais e no meio ambiente
social. Elas integram saberes e abordagens construídas em diferentes
universos culturais, abordagens estas, holísticas e integrativas em vista
de uma ação transcultural promotora da vida e da saúde.
Os especialistas alopáticos exercem com muita competência
os cuidados clínicos em hospitais, postos de saúde e consultórios.
Entretanto as PICS são realizadas por indivíduos comuns, devida-
mente capacitados e por cuidadores detentores do saber tradicional
proveniente das diversas culturas que constituem o acervo, o capi-
tal socio cultural da humanidade.
Em nossa experiência no Movimento Integrado de Saúde Mental
Comunitária – MISMEC, Projeto 4 Varas, uma comunidade que cuida
(www.4varas.com.br) temos desenvolvido nos últimos 36 anos, uma
experiência a nível da comunidade, de um trabalho de saúde mental
9
preventiva e curativa, articulando o saber universitário, o saber popular e
as PICS à serviço das dinâmicas individuais e comunitárias, procurando
engajar todos os elementos culturais e sociais ativos da comunidade:
lideranças, curandeiros, artistas populares e poetas, procurando resgatar
a dimensão contextual, sem perder de vista a dimensão individual,
biológica, psicológica, interrelacional e ambiental. Buscamos soluções
participativas integrando saberes e ampliando redes solidárias.
O MISMEC oferece um conjunto de ações no campo da saúde
mental e da atenção psicossocial confrontado às rupturas do vínculo
social para a população em geral: Resgate da Autoestima; Decodificação
das mensagens de nossos sintomas; Reiki; Escalda pés com cafuné;
Redução do estresse pós-traumático comunitário; Terapia Comuni-
tária Integrativa, Farmácia Viva com jardim de plantas medicinais
e um laboratório rústico para produção de medicamentos para uso
comunitário; Ventosas - indicada para relaxar e acalmar o corpo e a
mente; Yoga; Aurículo Terapia; Acupuntura; Banho de Ervas, Argi-
loterapia; Oca de Saúde Comunitária - espaço para acolher e cuidar
do indivíduos e dos efeitos do estresse, depressão, ansiedade, tensões
do corpo, insônia, utilizando os recursos culturais locais e as PICS
(BARRETO; SILVA;CIDRACK et al, 20221).
Neste espaço de cuidados são pessoas que cuidam de pessoas
usando recursos disponíveis e accessíveis e, sobretudo, nas rodas de
Terapia Comunitária Integrativa, partilhando o saber construído
pela própria experiencia de vida.
Temos duas fontes de conhecimento geradoras de competência:
uma produzida pela Academia, que capacita e certifica, conferindo
uma identidade profissional garantia do salário financeiro. A outra
construída pela própria experiência de vida. Nesta, carências e sofri-
mentos superados se transformam em sensibilidade e competência

1 
BARRETO, Adalberto de Paula; SILVA, Antônio Cláudio da; CIDRACK, Marlene Lopes et al.
Projeto 4 Varas, comunidade que cura: o maior patrimônio de uma pessoa é a confiança em si. Brasília,
DF: OPAS, 2022.
10
levando-nos a ações reparadoras de outros sofrimentos garantia do
salário afetivo. O sofrimento que vivi me anima a restaurar aquilo que
eu já conheço. Neste sentido, cuidando do outro resgato minha história
pessoal. Minha antiga dor torna-se fonte de competência saneadora. O
gemido de outrora se tornou voz interior que me vocaciona para uma
ação solidária voltada, sobretudo, para aplacar aquilo que eu já vivenciei.
Desta vez, vendo a dor do outro refletindo a minha, consigo superá-la
com alegria. O cuidador com sua ação resgata a própria história.
Portanto, a produção de conhecimento não é restrita ao mundo
acadêmico. A realidade é uma universidade e fonte de produção de
conhecimento. A carência gera competência também. Eu posso amar
porque fui muito amado, mas posso amar porque fui rejeitado. Geral-
mente atribuímos nossas competências a livros que lemos, cursos que
fizemos e jamais a algo que vivenciamos e superamos. O enfrentamento
das dificuldades produz um saber que tem permitido grupos sociais
sobreviverem através dos tempos. Eles dispõem de mecanismos pró-
prios para superar as adversidades contextuais. Esse saber precisa ser
reconhecido e valorizado. Este esforço coletivo não deve substituir as
políticas sociais, mas inspirá-las e até mesmo reorientá-las.
Nesta perspectiva, todo indivíduo é convidado a exercer uma
ação cidadã, a cuidar de si mesmo, dos outros e do planeta. Ele se situa
no campo da prevenção da saúde, e da promoção da vida. Prevenir é
chegar antes do adoecer, é intervir nos determinantes sociais da saúde,
naquilo que gera doença: lutar por mais justiça social, combater pre-
conceitos, promover bem-estar, respeitar as diferenças culturais, lutar
pelos bens comuns: água, terra e pelo ar que respiramos.
No MISMEC, temos dois símbolos de cuidados: os cuidados
clínicos - proporcionados pelo Posto de Saúde da Secretaria Muni-
cipal de Saúde - SMS, no qual atuam os profissionais de saúde e os
cuidados solidários - realizados na Oca de Saúde Comunitária onde
agem os curandeiros, os terapeutas comunitários e os profissionais das
PICS. Ações complementares e não concorrenciais.
11
São inúmeras e variadas as formas de acolher e cuidar de si e dos
outros despertando as capacidades e potencialidades criativas, que cons-
tituem um recurso indispensável na cura, recuperação e inserção social.
Dentre as 19 terapias integrativas e complementares, no
Brasil e reconhecidas pelo Ministério da Saúde, destaca-se a Tera-
pia Comunitária Integrativa como Politica Nacional de Praticas
Integrativas e Complementares – PNPIC explicitada na Portaria
GM/MS no 9.712 (BRASIL, 20062).
A TCI é uma abordagem brasileira, nascida no Ceará, que se
caracteriza por articular os diferentes saberes de maneira comple-
mentar e não concorrencial. Já presente em 33 países, a TCI tem sido
considerada um instrumento de intervenção psicossocial que, além de
intervir nos determinantes sociais da saúde, permite o surgimento de
vínculos interpessoais que favorecem a inserção social, o sentimento de
pertencimento em relação a um grupo e o reforço da confiança em si.

A MULTIPLICIDADE DO SER HUMANO

É a nossa percepção do mundo que define nossa conduta, justifica


nossas atitudes e determina nossa ação. A saúde é o produto do inter-
jogo das distintas determinantes sociais. Esta compreensão nos abre
os horizontes. Faz da saúde um território público, plural, um processo
dinâmico, no qual todos são chamados a intervir preventivamente em
um conjunto de fatores, numa dialética mobilizadora de atores sociais
e dos diferentes saberes. A saúde deixa de ser objeto e espaço privado,
exclusivo da intervenção de profissionais do modelo biomédico e
instituições para se tornar um espaço público, onde todos os atores
sociais são chamados a agir em diferentes níveis, onde cada pessoa
torna-se protagonista de sua saúde e da coletividade.

2 
BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº 9.712. Estabelece no Sistema Único de Saúde
(SUS), a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Brasília, DF: MS, 2006.
12
Precisamos compreender que o ser Humano, objeto de nossa
intervenção, é um ser plural, multidimensional e bem mais amplo do
que qualquer abordagem especifica. Vejamos:

1. SER BIOLOGICO (soma):

Temos um corpo físico constituído de células que se organizam


em tecidos e órgãos que, por conseguinte, constituem os sistemas
responsáveis pela regulação e funcionamento desse corpo. As doenças
interferem nestes sistemas deixando marcas visíveis e detectáveis pelos
exames físicos, bioquímicos e ou radiológicos.
No entanto reduzi-lo a isto, muitas vezes traz consequências
desastrosas tanto para o paciente, como, por exemplo, mutilações e
iatrogenias, ou seja, acrescentando novas doenças, dificultando ainda a
relação de cuidado, uma vez que o paciente não se sente compreendido
no seu sofrimento. E assim impomos maus tratos.
Se considerarmos o ser humano apenas como um ser biológico,
composto de células, tecidos, órgãos e sistemas, estaremos nos limitando
à materialidade, à funcionalidade dos órgãos e qualquer sintoma seria
mera expressão de uma disfunção orgânica; então, o tratamento ficaria
limitado a regularizar o seu funcionamento por meio de medicamentos
ou de intervenções cirúrgicas precisas.

2. SER PSIQUICO (psyche):

Nossa mente registra em nosso corpo físico todos os acon-


tecimentos que vivemos. Guyton (20103) afirma que a mente
humana, registra com mais facilidade e intensidade as experiências
que são muito dolorosas ou muito prazerosas. São registrados 400
bilhões de bits por segundo, dos quais nosso consciente só consegue
registrar 16 a 42 bits por segundo.

3 
GUYTON, Artur C. Fisiologia Humana. 6 ed. São Paulo: Editora Guanabara Koogan, 2020.
13
As informações ficam arquivadas na memória de nosso corpo
desde o momento da fecundação, onde também estão os registros
das memórias de nossos ancestrais que muitas vezes condicionam e
determinam nossas condutas. (SELLAM, 2003).
Nosso cérebro registra tudo por meio dos cinco (5) sentidos: visão,
audição, tato, olfato e paladar. O que é registrado é processado em nosso
cérebro que elimina o que não interessa, distorce e deforma as coisas
que não entendemos, e codifica os registros como símbolos e crenças.

3. SER ESPIRITUAL

A espiritualidade é um recurso cultural indispensável para


indivíduos e grupos que vivem em situação de grande sofrimento.
Ela é fonte de esperança, e tem permitido as pessoas se sentirem
pertencendo a um coletivo, no qual podem encontrar apoio, soli-
dariedade e espaço de partilha.
Para atender esta dimensão, as pessoas tem a sua disposição um
universo imensurável de recursos. Buscando fortalecer suas raízes socio-
culturais e sua grade de valores, desde as práticas religiosas milenares
como o Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo, Budismo entre outras até
os princípios filosóficos como o Espiritismo, Reiki, a Yoga entre outros.

4. SER SOCIAL

A sociedade brasileira constituída por descendentes de indígenas,


africanos, europeus e orientais, obriga-nos a buscar conhecimentos
sobre essa pluralidade para melhor cuidarmos das enfermidades e do
sofrimento humano que, em geral, resultam da falta de integração
equilibrada dessas dimensões. Somos um mundo de contrastes, onde
coabitam diversidades, contradições e diferenças. Restringir os fenôme-
nos humanos a uma Sociose sem considerar as demais dimensões, empo-
brece as estratégias de intervenção. Cada povo tem sua cultura como
um recurso inestimável para responder as enfermidades do cotidiano.
14
Essa pluralidade também deve servir de referência para as pes-
soas que trabalham no campo da saúde e da promoção humana,
sobretudo quando seu objetivo é promover o desenvolvimento da
competência interpessoal (habilidade para construir relações intra e
interpessoais equilibradas e sadias).
Além destas dimensões básicas que constituem o ser humano,
precisamos considerar o legado transgeracional que herdamos, tra-
balhado na constelação familiar. Em 300 anos, 11 gerações nos pre-
cederam, tivemos 4094 ancestrais. Cada um de nós é impregnado
de histórias, dramas, frustrações, mas também de superação, amor e
encorajamento. A consciência que eu sou um indivíduo interconec-
tado com a história de meus antepassados, me faz compreender que
meus bloqueios são os mesmos deles e se eu não me libero, cabe aos
meus descendentes fazê-lo. Trazemos em nosso corpo as memórias
conflitivas de nossos antepassados. Traumas vividos no passado se
exprimem hoje em netos e descendentes. A compreensão das causas
emocionais profundas pode despertar a consciência de cada pessoa,
que ela pode intervir no processo e produzir mudanças significativas.
Não herdamos de nossos antepassados somente características
físicas, mas, também, memórias que se manifestam no nosso corpo
de acordo com Sellam (20034). Nesta perspectiva um sintoma deve
ser visto numa dupla perspectiva: a biológica - material, objetiva e
detectável, que busca explicá-lo analisando os processos bioquímicos
e mecânicos do organismo; e a simbólica, invisível e subjetiva, na qual
se procura decodificar a comunicação inconsciente veiculada por ele.
Todo sintoma não é apenas a expressão de uma disfunção orgâ-
nica, pode ser também, expressão de uma disfunção relacional. Articular
essas duas leituras de forma complementar, não excludentes é salutar
para todas as pessoas que valorizam a vida humana.

4 
SELLAM, Salomon. Origines et prévention des maladies. L´analyse psychosomatique et le décodage
biologique. Québec: Editor Quintessence, 2003.
15
Os sintomas são mensagens do nosso não consciente. São men-
sagens codificadas e cheias de simbolismos. No corpo físico é que
se materializam as mais diversas formas de sofrimento psíquico. O
sintoma é, portanto, a expressão visível de um processo invisível.
Acessar e decodificar essas memórias transgeracionais permite ao
indivíduo se apropriar da sua história, conhecer melhor suas heranças
ancestrais, poder fazer uma ruptura e ressignificar esse legado, preve-
nindo que se perpetuem nas gerações seguintes.
Minha luta para encontrar o meu lugar é também a mesma de
meus antepassados. Quando eu o encontro, todos os meus antepassados
e meus descendentes o encontram também.
Cada um traz em si, em suas atitudes, em seu comportamento,
um desejo de ser reconhecido, valorizado, respeitado para si mesmo,
para seus antepassados e seus descendentes. Perceber e reconhecer esta
história esquecida, escondida e torná-la visível, nos permite encontrar
o caminho para alcançar o sucesso e o bem- estar. Neste sentido ser
visível, é ser reconhecido em sua linhagem transgeracional.
Vejam quanta coisa esta em jogo no processo saúde doença e
que nenhuma disciplina pode apreender sozinha esta globalidade
de conexões. Dai a necessidade de fazermos apelo a outras áreas de
conhecimento que trazem novos elementos clarificadores da dinâmica
do adoecer. Passamos a compreender que a doença é o final de um
processo onde intervém uma série de fatores ambientais.
Para sermos terapeutas (cuidadores) de seres humanos não pode-
mos nos limitar a uma única abordagem (biológica, psíquica, social,
quântica ou espiritual), pois estaríamos reduzindo a grandeza do homem
a apenas uma de suas partes. Poder contar com os recursos das medici-
nas Alopáticas, Homeopáticas, tradicionais, da Psicologia, Sociologia,
Antropologia, Antroposofia, Filosofia e Teologia, para citar algumas,
amplia o nosso potencial de ação, atenção, cuidado e promoção á saúde.
Qualquer fanatismo, seja ele biológico, psicológico, socioló-
gico, filosófico ou religioso, é um empecilho ao desenvolvimento
16
de ações promotoras de vida. Precisamos superar os preconceitos
que nos tornam míopes, limitam nossa visão e restringem nossas
condutas pessoais e profissionais.
A multidimensionalidade do ser humano exige multiplicidade
de respostas, modelos, condutas e atitudes. Estabelecer uma hierarquia
de valores privilegiando apenas uma dimensão do ser, em detrimento
dos outros nos leva a um conflito do exercício do poder e não a uma
ação colaborativa enriquecida pelas outras dimensões.
Precisamos criar novos paradigmas. E para isso temos que come-
çar pelos nossos profissionais de saúde. Faz-se necessário rever os
nossos currículos acadêmicos, as nossas representações mentais do
homem e do processo de bem-estar, saúde/doença. Não adoecemos
apenas por problemas neuro sinápticos ou neuro metabólico, adoe-
cemos também por sinapses sociais onde intervém a economia, a
política e as ideologias mortificando nosso ambiente natural criando
sofrimento e as mais variadas doenças.
Para promovermos a saúde das pessoas, precisamos, além do
saber universitário, de nos apoiar sobre a mutualização dos diversos
saberes de cada cultura que compõem o tecido social brasileiro bem
como colocar em comum estes conhecimentos e sabedorias herdadas
de nossos antepassados ou adquiridas através das experiências de vida
que constituem recursos e capital existencial de grande valor para
toda a sociedade brasileira. Limitar os cuidados apenas à bioquímica
das doenças seria uma pobreza imensa e apenas anestesiaríamos o
sofrimento, agravando a saúde dos pacientes.
O grande desafio para todos nós cuidadores, é ampliar nossa cons-
ciência e conhecimento de que a saúde individual, ambiental e planetária
é indissociável e exige colaboração de todas as áreas do conhecimento.
Para fazermos isso, nós cuidadores e profissionais de saúde, pre-
cisamos ter consciência que não sabemos tudo, devemos ter a humil-
dade de reconhecer que precisamos um dos outros. Ter a humildade

17
de reconhecer e ter consciencia das próprias competências e limites,
aceitando a contribuição dos outros como complementares.
Isto só é possível se sairmos da posição do especialista que sabe e
procurar aprender com os outros, como pessoas comuns e profissionais
de outras áreas do conhecimento, para ser interpelado na nossa prática,
rever nossos modelos, valores e crenças. Precisamos criar novos Para-
digmas onde cada disciplina, cada PICS, cada especialidade sinta-se
parte de uma construção maior, que cada saber, conhecimento venha
integrar-se, sem perder sua identidade, num saber maior, caleidoscópico,
multifacetário, multicolorido, como peça da construção de um grande
quebra cabeça, no qual a saúde possa ser percebida na sua dimensão
social, relacional, interativa e planetária.
Estes novos paradigmas precisam ser construídos por todos
nós. Ele será fruto do esforço e da transpiração coletivos e jamais
da inspiração de algum iluminado
Nós, profissionais da saúde, precisamos fazer um esforço no
sentido de: romper com o isolamento entre o “Saber científico” e o
“Saber tradicional/popular”, entre a cura e a prevenção fazendo um
esforço no sentido de se exigir um respeito mútuo entre as diferentes
formas de saber e agir, em uma perspectiva de complementaridade
sem rupturas com a tradição indígena, africana, oriental, européia e
sem negar as contribuições da ciência moderna.
Diante dos desafios da realidade da saúde, se faz necessário ousar,
mobilizar os recursos da multicultura brasileira, respeitando as diferenças
e integrando saberes. Este livro é um convite para todos nós ampliarmos
nossos horizontes e construímos novas conexões, praticas inovadoras
no campo do cuidado e da saúde. Vamos juntos construir esta rede!

Prof. Dr. Adalberto Barreto


Prof. Emérito da UFC
Criador da Metodologia da TCI
Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria Social

18
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES EM SAÚDE NO BRASIL

Patrícia Soares Cavalcante


Ricardo Hugo Gonzalez

INTRODUÇÃO

As práticas complementares em saúde fazem parte dos sistemas


de cura e cuidados desenvolvidos pela humanidade enquanto busca
por respostas às suas enfermidades e sofrimentos físicos, psíquicos
e espirituais. Apresentam-se de forma múltipla, com eficácia clínica
e sociocultural estabelecida na história e na tradição popular, antes
mesmo da existência da biomedicina (HABIMORAD et al, 2020).
No Brasil, foram denominadas de Práticas Integrativas e Com-
plementares (PIC) e reconhecidas com legislação específica enquanto
recursos terapêuticos. Sua sistemática de cura reside na identidade
terapêutica de teorias e experiências vitalistas e alteridade de cuida-
dos socioambientais e comportamentais, sejam de forma individual
ou coletivamente (BRASIL, 2006).
Os recursos terapêuticos são adicionais às condições de saúde-
-doença-cuidado, complexos e de menor densidade, sendo estruturados
por profissional capacitado. Compartilham da visão ampliada dos
processos de cura, da multifatoriedade do adoecer e da promoção do
autocuidado, oriundos ou não de uma racionalidade médica (TELE-
SI-JÚNIOR, 2016; TESSER; DALLEGRAVE, 2020).
As PIC caracterizam-se por uma linguagem singular e por
desenvolverem suas próprias técnicas, saberes e insumos para o cui-
dado ao longo do tempo, concomitantemente ao desenvolvimento de
tecnologias densas e fragmentadas em uma sociedade moderna e de
mercado (RUELA et al. 2019; TESSER; DALLEGRAVE, 2020).
19
Elas representam também um patrimônio cultural no terri-
tório nacional, valorizam a autonomia do usuário e carregam uma
aproximação ética e filosófica com práticas populares e espirituais de
saúde, sendo determinantes para o seu reconhecimento pela população
brasileira (HABIMORAD et al, 2020).
A procura por cuidados em saúde adicionais pode estar atre-
lada a diversos fatores e geralmente inclui desordens complexas de
saúde, além do baixo perfil de efeitos adversos, atuação de forma
holística e integral, compatibilidade com valores, crenças e filosofia
de saúde e de vida do usuário, condições socioeconômicas e evidência
científica das práticas tradicionais (RUELA et al, 2019).
Em países pobres, a cultura local, o fácil acesso às práticas
alternativas, o alto custo da medicina convencional e a pouca oferta
de recursos da biomedicina facilitam a procura por práticas comple-
mentares. Entretanto, em países ricos, a insatisfação com o modelo
profissional e os próprios benefícios das práticas são os fatores que
incentivam a procura (RUELA, et al, 2019).
Ademais, os conceitos atuais referentes a “complementar”
e “alternativas” são utilizados para designar recursos terapêuticos
sociais e de manejo integrativo do ser humano nos seus sistemas
de cura. Neste sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
tem estimulado que práticas e saberes em saúde tradicionais ou
diversos da biomedicina, chamadas Medicinas Tradicionais Com-
plementares e Integrativas (MTCI), sejam consideradas como
recursos de cuidado pelos sistemas nacionais de saúde, com dire-
trizes técnicas, pesquisa e treinamento profissional (WHO, 2019;
TESSER; SOUSA; NASCIMENTO, 2018).
No Brasil, o Ministério da Saúde reconheceu, a partir da Portaria
971GM/MS, de 3 de maio de 2006, práticas baseadas em conheci-
mentos tradicionais da população, instituindo a Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). A resolução permitiu

20
a incorporação e incentivo financeiro das práticas com experiências
científicas satisfatórias no Sistema Único de Saúde (SUS).
A utilização das práticas integrativas aos sistemas de saúde está
atrelada sobremaneira a utilização de práticas complementares da
medicina convencional. Entretanto, sua incorporação, disseminação,
efetividade, segurança e custo-efetividade, precisam ser acompanhados
e avaliados para guiar a incorporação e indicação dessas práticas em
sistemas de saúde. Além dos desafios que a PNPIC enfrenta quanto
a inexistência de financiamento indutor e carência de profissionais
nos serviços (RIERA et al., 2019; SILVA et al, 2020).
Assim, o presente capítulo visa explorar as práticas complemen-
tares e alternativas incorporadas na PNPIC brasileira percorrendo
conceitos e cuidados ofertados a partir do tema: práticas integra-
tivas e complementares na atenção em saúde no SUS. O percurso
teórico compreende uma revisão narrativa da literatura no período
de 2017 a 2022. Literatura fora do período temporal foram acresci-
das segundo critério relevância.

PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM


SAÚDE NO BRASIL

Embora a maioria das PIC não seja original do Brasil, há regis-


tros de suas experiências no SUS, desde antes da constituição da
política no país, sendo estimuladas na perspectiva da integralidade
(TESSER, SOUSA, NASCIMENTO, 2018). O movimento inicial
de incentivo às PIC no Brasil é a VIII Conferência Nacional de
Saúde (1986) sob a influência do programa de medicina tradicio-
nal da OMS (TELESI-JÚNIOR, 2016).
O programa de medicina tradicional foi criado pela OMS, a partir
da Primeira Conferência Internacional de Assistência Primária em
Saúde em Alma Ata na Rússia (1978), na perspectiva do paradigma da
promoção da saúde, fazendo as primeiras recomendações e resoluções

21
para a implantação das medicinas tradicionais e práticas complementares
integradas aos sistemas nacionais de saúde (TELESI-JÚNIOR, 2016).
Durante a trajetória de implantação das PIC no Brasil, relatórios
e portarias foram direcionados à regulamentação inicial da homeopatia,
da acupuntura, do uso de plantas medicinais, da fitoterapia, da adoção
de práticas corporais e meditativas, buscando viabilizar a criação de
projetos e políticas direcionadas ao campo (TELESI-JÚNIOR, 2016).
No entanto, é somente em 2006 que o Ministério da Saúde
aprova os documentos que norteiam o desenvolvimento das mesmas
no SUS, através da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterá-
picos (BRASIL, 2006a) e a PNPIC (BRASIL, 2006b), que norteiam
o desenvolvimento das PIC no sistema.
A PNPIC, então, reforça os aspectos do uso informal da medi-
cina tradicional pela população e a identidade de valores entre as PIC
oficiais como essenciais nos processos saúde-doença-cuidado, pois
permitem conhecer, apoiar e incorporar as experiências com PIC na
rede pública de saúde, com maior capilaridade, comunicação e reso-
lutividade (HABIMORAD et al, 2020).
Inicialmente, a PNPIC elencava apenas cinco PIC em suas dire-
trizes para serem empregadas no SUS: a medicina tradicional chinesa/
acupuntura, a homeopatia, as plantas medicinais/fitoterapia, o terma-
lismo/crenoterapia e a medicina antroposófica (BRASIL, 2006b). Entre
os anos de 2017 e 2018, novos recursos terapêuticos foram acrescentados
à PNPIC, por meio da Portaria nº 849/2017 e da Portaria nº 702/2018.
Com as medidas, atualmente, o SUS passou a ofertar 29 práticas.
Foram incluídas 14 modalidades em 2017, quais sejam: artete-
rapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia,
naturopatia, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala,
terapia comunitária integrativa e yoga (BRASIL, 2017). Em 2018,
mais dez foram incluídas: apiterapia, aromaterapia, bioenergética,
constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição
de mãos, ozonioterapia e terapia floral (BRASIL, 2018).
22
Assim, um panorama com um repertório cada vez mais vasto de
práticas integrativas pode contribuir para afirmar uma identidade de cui-
dado adicional ao modelo da biomedicina, interdisciplinar e sustentável
pela tradição, aspectos tão importantes para o trabalho em saúde coletiva
(TELESI-JÚNIOR, 2016), e que devem ser levados em consideração
no planejamento das ações terapêuticas (HABIMORAD et al, 2020).
Nesse aspecto, a APS, por seu caráter de ação em território
o mais próximo possível da população, é o maior lócus de ações e
ofertas das PIC na rede de atenção à saúde. Em média, 78% das PIC
são ofertadas na APS, 18% na atenção especializada e 4% na atenção
hospitalar (BRASIL, 2021). A observância é por considerar que a
APS é o nível de atenção com a maior capacidade de desenvolver
ações de prevenção e de recuperação da saúde, com menor densidade
tecnológica e financeira (RUELA et al, 2019).
No SUS, a inserção das PIC pode contribuir para a resolubilidade
e promoção da racionalização das ações em saúde, os quais devem ser
embasados pela promoção do cuidado humanizado e integral à saúde
dos indivíduos. Dessa forma, as PICS podem ser aplicadas em dife-
rentes modalidades assistenciais de saúde, como: auxílio no alívio da
dor oncológica e entre parturientes, redução da ansiedade, melhora no
humor, feridas crônicas, entre outros tratamentos (LEMOS et al., 2018).
Assim, considerando a variedade do cuidado proporcionada pela
integração das PIC nos níveis assistenciais à saúde no Brasil, faz-se
necessário conhecer, pesquisar sua eficácia clínica e disseminar sua
terapêutica, uma vez que o manejo clínico, através das PIC, carrega
uma concepção positiva da saúde, com foco de ação nos sujeitos e
coletividades para a promoção da saúde. Na sequência, a exposição das
PIC legisladas no Brasil e algumas das suas abordagens de cuidados.

APITERAPIA

Inclui diferentes práticas como método terapêutico de utilização


de produtos oriundos de abelhas em suas colmeias, desde o uso tópico
23
do mel para tratamento de feridas até o uso sistêmico de apitoxinas
processadas para imunomodulação (RIERA et al., 2019). Os produtos
são denominados apiterápicos e incluem a apitoxina, a geleia real, o
pólen, a própolis e o mel, em categorias diferenciadas (BRASIL, 2018).

AROMATERAPIA

É uma prática terapêutica que utiliza as propriedades dos óleos


essenciais, concentrados voláteis extraídos de vegetais, de forma
intencional para recuperar o equilíbrio físico e emocional do organismo,
além de proporcionar bem-estar e higiene (BRASIL, 2021).
Os compostos podem ser obtidos de ervas, flores ou outras plantas
e administrados de forma tópica, por inalação ou imersão. Sendo
considerada uma possibilidade de intervenção que potencializa os
resultados do tratamento adotado (BRASIL, 2018; RIERA et al., 2019).

ARTETERAPIA

Utiliza a arte como base do processo terapêutico. Faz uso de


diversas técnicas expressivas (pintura, desenho, sons, modelagem, etc.)
e baseia-se no princípio de que o processo criativo é terapêutico e
fomentador da qualidade de vida. A Arteterapia estimula a expressão
criativa, auxilia no desenvolvimento motor, no raciocínio e no rela-
cionamento afetivo (BRASIL, 2017).
A utilização da Arteterapia como estratégia terapêutica, possi-
bilita o desenvolvimento de reflexões críticas em relação ao que está
sendo vivido. Pode ser utilizada individual ou coletivamente, desde
que o indivíduo, ao usar sua espontaneidade, possa catalisar emoções,
situações e criar um espaço propício a estimular responsabilização e
autonomia na promoção da sua saúde, potencializando resultados em
prol de seu bem-estar e de sua qualidade de vida (VALES et al., 2021).

24
AYURVEDA

Tem origem na tradição indiana e significa a Ciência ou


Conhecimento da Vida, considerado não só como um sistema de
cuidado, mas também uma maneira de viver. Resguarda da tradição
indiana os conhecimentos alimentares, medicinais e de saúde. Mas
entre todos os sistemas de conhecimento tradicionais, a ciência do
Ayurveda fornece insights para a longevidade e uma vida saudável
(MATHPATI; ALBERT; PORTER, 2020).
É um conhecimento estruturado que agrega em si mesmo prin-
cípios relativos à saúde do corpo físico, de forma a não desvinculá-lo,
considerando os campos energético, mental e espiritual. Os tratamentos
ayurvédicos consideram a singularidade de cada pessoa e utilizam
técnicas de relaxamento, massagens, plantas medicinais, minerais,
posturas corporais (ásanas), pranayamas (técnicas respiratórias), mudras
(posições e exercícios) e cuidados dietéticos (BRASIL, 2021).

BIODANÇA

Oriunda das escolas de educação somática, a biodança faz


parte de um viés da dança contemporânea abordada na América
Latina, na década de 1960. Desenvolve-se a partir de trabalhos
clínicos em psicoterapias corporais que se desmembraram em práticas
psicoterápicas em diversos campos de cuidados em saúde (BRITO;
GERMANO; SEVERO-JUNIOR, 2021).
É uma prática de abordagem sistêmica inspirada nas origens mais
primitivas da dança, que busca restabelecer as conexões do indivíduo
consigo, com o outro e com o meio ambiente, a partir do núcleo
afetivo e da prática coletiva (BRASIL, 2017).
Configurando-se como uma proposta de transformação via
movimento, vivência, encontro e afeto, por intermédio da integração
entre percepções, motricidade, afetividade e funções viscerais. Tal
conexão profunda com o próprio ritmo e com o grupo de trabalho
25
é capaz de gerar uma renovação orgânica que pode levar a uma
regulação das funções biológicas, propiciando uma reaprendizagem
das funções originárias da vida e fortalecendo a identidade (BRITO;
GERMANO; SEVERO-JUNIOR, 2021).

BIOENERGÉTICA

Consiste na análise bioenergética, com uma visão diagnóstica


que, aliada a uma compreensão etiológica do sofrimento/adoecimento,
adota a psicoterapia corporal e os exercícios terapêuticos em grupos. Por
exemplo, analisando e ajustando movimentos do corpo sincronizados
com a respiração, proporciona ao sujeito condições de liberar tensões,
facilitar a expressão, favorecer o autoconhecimento e promover uma
vida mais saudável (BRASIL, 2021).
É uma prática avaliada como de fraca sistematização de evidência
científica, difusão de informações e de intervenção e eficácia clínica.
Sendo citada como pertencente a um campo que necessita de um maior
arcabouço científico na composição de saúde baseada em evidência,
inclusive para formulação de seus descritores no Brasil (BARRETO;
SANTOS; SILVA, 2020; RIERA et al., 2019).

CONSTELAÇÃO FAMILIAR

A constelação familiar é uma técnica de representação espacial


das relações familiares que permite identificar bloqueios emocionais de
gerações ou membros da família. É indicada para todas as idades, classes
sociais e sem qualquer vínculo ou abordagem religiosa (BRASIL, 2018).
É classificada como uma prática que tem como objetivo buscar a
resolução dos conflitos dentro da unidade familiar e de uma perspectiva
individual (RIERA et al., 2019). Em estudo de Lena e Gonçalves
(2021), por exemplo, analisando o uso de PIC com presidiários,
observam que a constelação familiar é utilizada enquanto possibilidade
do exercício de liberdade, pois era vista pelos entrevistados como uma
26
atividade que incitava uma “negociação” e um equilíbrio entre quem
os sujeitos eram e quem poderiam ser.

CROMOTERAPIA

Com poucos estudos de intervenção sistematizados na literatura


e baixa evidência científica, a cromoterapia ou terapia de cores é uma
técnica terapêutica que usa as cores do espectro eletromagnético. O
princípio é que cada cor tem um efeito no campo energético vibra-
tório no corpo e isso pode ser convertido em abordagem terapêutica,
equilibrando corpo, mente e espírito (RIERA et al., 2019).
Desde a Antiguidade, o uso da prática é fortemente atrelado à
crença do potencial de cura da luz solar. Com a utilização das cores,
pode ser trabalhada de diferentes formas: por contato, por visua-
lização, com auxílio de instrumentos, com cabines de luz, com luz
polarizada, por meditação e como recurso associado a outras moda-
lidades de cura (BRASIL, 2018).

DANÇA CIRCULAR

Prática expressiva corporal, ancestral e profunda, geralmente


realizada em grupos, que utiliza a dança de roda – tradicional e con-
temporânea –, o canto e o ritmo para favorecer a aprendizagem e a
interconexão harmoniosa e promover a integração humana, o auxí-
lio mútuo e a igualdade visando o bem-estar físico, mental, emo-
cional e social (BRASIL, 2017).
Embora regulamentada no Brasil, possui escassa literatura
científica sobre intervenções. Mas já é utilizada como um método
de intervenção à saúde não medicamentoso, que permite a conexão
mente-corpo, promove o relaxamento, concentração e conscientização
corporal (WACHEKOWSKI et al., 2020).

27
GEOTERAPIA

Terapêutica natural que consiste na utilização de argila, barro


e lamas medicinais, pedras e cristais (frutos da terra), com obje-
tivo de amenizar e cuidar de desequilíbrios físicos e emocionais, por
meio dos diferentes tipos de energia e propriedades químicas desses
elementos (BRASIL, 2021). O uso terapêutico parte da mistura
de argila mineral e água na forma de cataplasma ou banho apli-
cado à pele (RIERA et al., 2019).
As reações bioquímicas são discutidas e fundamentadas pela
presença de elementos minerais que cada tipo de argila compõe, do
tipo de água utilizada para diluição, tempo de contato com a pele,
temperatura, etc. As reações vibracionais, somadas ao contexto ante-
rior, são resultantes da carga elétrica gerada pelas estruturas cristalinas
que formam a argila, instituindo, assim, cristalografia como parte
integrante da geoterapia (BRASIL, 2018).

HIPNOTERAPIA

Conjunto de técnicas que, por meio de intenso relaxamento,


concentração e/ou foco, induz a pessoa a alcançar um estado de cons-
ciência aumentado que permita alterar uma ampla gama de condições ou
comportamentos indesejados, como medos, fobias, insônia, depressão,
etc. ou ser combinada com outras terapias (BRASIL, 2018).
Em 1993, a hipnoterapia foi definida pela American Psycho-
logical Association (APA) como procedimento, através do qual um
profissional de saúde conduz o indivíduo a experimentar sensações,
mudanças, percepções, pensamentos ou comportamentos, com o seu
uso indicado em diversas condições, como transtornos depressivos,
ansiedade e neurose depressiva (BRASIL, 2018).
Para Riera et al., (2019), analisando estudos de intervenção sobre
hipnose para esquizofrenia, síndrome do intestino irritável, trabalho
de parto e gestação, depressão pós parto e interrupção do tabagismo,
28
os dados são inconclusivos ou de fraca evidência quanto a sua eficácia
clínica. Necessitando de mais e maiores estudos.

HOMEOPATIA

Homeopatia é uma abordagem terapêutica de caráter holístico


e vitalista cujo método terapêutico envolve três princípios funda-
mentais: a lei dos semelhantes, a experimentação no homem sadio e
o uso da ultra diluição de medicamentos. Envolve tratamentos com
base em sintomas específicos de cada indivíduo e utiliza substâncias
altamente diluídas que buscam desencadear o sistema de cura natural
do corpo. Os medicamentos homeopáticos da farmacopeia homeopá-
tica brasileira estão incluídos na Relação Nacional de Medicamentos
Essenciais (Rename) (BRASIL, 2021).
A homeopatia atua em diversas situações clínicas do adoecimento
como: doenças crônicas não-transmissíveis, doenças respiratórias e
alérgicas e transtornos psicossomáticos; reduzindo a demanda por inter-
venções hospitalares e emergenciais e contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida dos usuários. Auxilia também no uso racional de medi-
camentos, podendo reduzir a fármaco-dependência (BRASIL, 2006).
Em estudo sobre o uso das PIC em gestantes, a homeopa-
tia foi uma das terapêuticas mais escolhidas pelos profissionais de
saúde, sendo encontrado intervenções para tratar crises convulsi-
vas, sobrepeso associado a suspeita de transtorno mental e oli-
godrâmnio grave, em pacientes em variados períodos gestacionais
(ROBLEJO; TORRES; ABADE, 2021).

IMPOSIÇÃO DE MÃOS

Prática terapêutica secular que implica um esforço meditativo


para a transferência de energia vital (Qi, prana) por meio das mãos,
com intuito de reestabelecer o equilíbrio do campo energético humano,
auxiliando no processo saúde-doença-cuidado (BRASIL, 2021).
29
Sem envolvimento de outros recursos (remédios, essências, apa-
relhos), faz uso da capacidade humana de conduzir conscientemente
o fluxo de energias curativas multidimensionais para dentro do corpo
humano e dos seus sistemas energéticos físicos e espirituais, a fim de
provocar mudanças terapêuticas (BRASIL, 2018).
Fundamenta-se no princípio de que a energia do campo uni-
versal sustenta todos os tipos de organismos vivos e que este campo
de energia universal tem a ordem e o equilíbrio como base. No
estado de saúde, esta energia universal flui livremente dentro, através
e fora do campo de energia humano, promovendo equilíbrio. Na
doença, o fluxo de energia pode estar obstruído, desorganizado ou
em desequilíbrio (BRASIL, 2018).
A partir desse princípio, acredita-se que a imposição de mãos
pode ser benéfica para reduzir os níveis de dor, depressão e ansiedade.
Entretanto, possui pouca sistematização bibliográfica sobre sua inter-
venção e eficácia (RIERA et al., 2019).

MEDICINA ANTROPOSÓFICA – ANTROPOSOFIA


APLICADA À SAÚDE

Abordagem terapêutica integral com base na antroposofia que


integra as teorias e práticas da medicina moderna com conceitos
específicos antroposóficos, os quais avaliam o ser humano a partir da
trimembração, quadrimembração e biografia, oferecendo cuidados e
recursos terapêuticos (BRASIL, 2021).
Dentre os recursos usados estão a conciliação de medicamentos e
terapias convencionais com outros específicos de sua abordagem, como
aplicações externas, banhos terapêuticos, terapias físicas, arteterapia,
aconselhamento biográfico e quirofonética (BRASIL, 2021).
Fundamenta-se em um entendimento espiritual-científico do ser
humano que considera bem-estar e doença como eventos ligados ao
corpo, mente e espírito do indivíduo, realizando abordagem holística
30
(“salutogenesis”), com foco em fatores que sustentam a saúde, por meio
de reforço da fisiologia do paciente e da individualidade, ao invés de
apenas tratar os fatores que causam a doença (BRASIL, 2021).

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA: ACUPUNTURA

A acupuntura é uma tecnologia de intervenção em saúde que


faz parte dos recursos terapêuticos da medicina tradicional chinesa
(MTC) e estimula pontos espalhados por todo o corpo, ao longo dos
meridianos, por meio da inserção de finas agulhas filiformes metálicas,
visando à promoção, manutenção e recuperação da saúde, bem como
a prevenção de agravos e doenças. Pode ser utilizada isoladamente ou
em associação com outros cuidados (BRASIL, 2021).
Em estudos para tratar dor lombar e ansiedade utilizando a
acumputura em gestantes, são citadas a utilização da auriculoterapia,
sendo percebidas melhora em sintomas de ansiedade, da dor lombar,
além de sentirem maior relaxamento, paciência, sono e menor estresse
(ROBLEJO; TORRES; ABADE, 2021).

MEDITAÇÃO

É uma prática de harmonização dos estados mentais e da


consciência que consiste em treinar a focalização da atenção de modo
não analítico ou discriminativo, a diminuição do pensamento repetitivo
e a reorientação cognitiva, promovendo alterações favoráveis no humor
e melhora no desempenho cognitivo, além de proporcionar maior
integração entre mente, corpo e mundo exterior (BRASIL, 2021).
A prática torna a pessoa atenta, experimentando o que a mente
está fazendo no momento presente, desenvolvendo o autoconhecimento
e a consciência, com o intuito de observar os pensamentos e
reduzir o seu fluxo (BRASIL, 2017).

31
MUSICOTERAPIA

Prática expressiva integrativa conduzida em grupo ou de forma


individualizada, que utiliza a música e/ou seus elementos – som, ritmo,
melodia e harmonia – num processo facilitador e promotor da comu-
nicação, da relação, da aprendizagem, da mobilização, da expressão, da
organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de
atender necessidades físicas, emocionais, mentais, espirituais, sociais
e cognitivas do indivíduo ou do grupo (BRASIL, 2021).
A musicoterapia favorece o desenvolvimento criativo, emocional
e afetivo e, fisicamente, ativa o tato e a audição, a respiração, a circu-
lação e os reflexos. Também contribui para ampliar o conhecimento
acerca da utilização da música como um recurso de cuidado junto a
outras práticas, facilitando abordagens interdisciplinares, pois promove
relaxamento, conforto e prazer no convívio social, facilitando o diálogo
entre os indivíduos e profissionais (BRASIL, 2017).

NATUROPATIA

Prática terapêutica que adota a visão ampliada e multidimen-


sional do processo vida-saúde-doença e utiliza um conjunto de méto-
dos e recursos naturais no cuidado e na atenção à saúde (BRASIL,
2021). É uma abordagem de cuidado que, por meio de métodos e
recursos naturais, apoia e estimula a capacidade intrínseca do corpo
para curar-se. Considera, principalmente, o vitalismo em sua base de
origem, que consiste na existência de um princípio vital presente em
cada indivíduo, que influencia seu equilíbrio orgânico, emocional e
mental, em sua cosmovisão (BRASIL, 2017).

OSTEOPATIA

Prática diagnóstica e terapêutica que utiliza várias técnicas


manuais para auxiliar no tratamento de doenças, a partir da manipu-
lação das articulações e tecidos. Esta prática parte do princípio que as
32
disfunções de mobilidade articular e teciduais em geral contribuem
no aparecimento das enfermidades. Age na manipulação do sistema
musculoesquelético (ossos, músculos e articulações), do stretching,
dos tratamentos para a disfunção da articulação temporo-mandibular
(ATM) e da mobilidade para vísceras (BRASIL, 2017).
O foco do tratamento osteopático é detectar e tratar as chamadas
disfunções somáticas, que correspondem à diminuição de mobilidade
tridimensional de qualquer elemento conjuntivo, caracterizadas por
restrições de mobilidade (hipomobilidades) (BRASIL, 2017).
Precisa de formação profissional específica, no formato de pós-
-graduação, entretanto ainda apresenta lacunas extensas quanto a sua
oferta, utilização e conhecimento dos profissionais sobre a prática no
tocante a PNPIC na assistência do SUS (GURGEL et al., 2017).

OZONIOTERAPIA

Prática que aplica uma mistura dos gases oxigênio e ozônio,


por diversas vias de administração, com finalidade terapêutica e
promove melhoria de diversas doenças. O ozônio medicinal con-
tribui para a melhora de disfunções, uma vez que pode ajudar a
recuperar de forma natural a capacidade funcional do organismo
humano e animal (BRASIL, 2021).
Há algum tempo, o potencial terapêutico do ozônio ganhou
muita atenção através da sua forte capacidade de induzir o estresse
oxidativo controlado e moderado, quando administrado em doses
terapêuticas precisas (BRASIL, 2018). A prática foi citada como
benéfica em uma variedade de condições caracterizadas por hipóxia
e síndromes isquêmicas, encontrados em estudo de revisão sobre o
uso em úlceras no pé diabético e progressão da cárie em dentes não
restaurados (RIERA et al., 2019).

33
PLANTAS MEDICINAIS – FITOTERAPIA

A fitoterapia é um tratamento terapêutico caracterizado pelo


uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuti-
cas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de
origem vegetal (BRASIL, 2006).
As plantas medicinais contemplam espécies vegetais, cultivadas ou
não, administradas por qualquer via ou forma, que exercem ação terapêu-
tica e devem ser utilizadas de forma racional, pela possibilidade de apre-
sentar interações, efeitos adversos e contraindicações (BRASIL, 2021).
Fitoterapia e plantas medicinais é a prática mais citada entre
estudos com PIC no Brasil. São encontradas pesquisas sobre o uso,
preparo e eficácia isoladas e em associação de plantas medicinais
em feridas crônicas, cólicas intestinais, má digestão e calmante em
gestante que realizam pré-natal; dentre inúmeras outras disfunções e
doenças. Também é a PIC mais prescrita por profissionais de saúde
(ROBLEJO; TORRES; ABADE, 2021; LEMOS et al., 2018).

QUIROPRAXIA

É uma abordagem de cuidado que utiliza elementos diagnósticos


e terapêuticos manipulativos, visando o tratamento e a prevenção das
desordens do sistema neuro-músculo-esquelético e dos efeitos destas
na saúde em geral (BRASIL, 2017).
Enfatiza o tratamento manual, como a terapia de tecidos moles e
a manipulação articular ou "ajustamento", que conduz ajustes na coluna
vertebral e outras partes do corpo, visando a correção de problemas
posturais, o alívio da dor e favorecendo a capacidade natural do
organismo de autocura (BRASIL, 2021).

34
REFLEXOTERAPIA

Prática terapêutica que utiliza estímulos em áreas reflexas,


microssistemas e pontos reflexos do corpo existentes nos pés, mãos
e orelhas, para auxiliar na eliminação de toxinas, na sedação da dor e
no relaxamento (BRASIL, 2021).
Parte do princípio de que o corpo se encontra atravessado por
meridianos que o dividem em diferentes regiões. Cada uma destas
regiões tem o seu reflexo, principalmente, nos pés ou nas mãos. São
massageados pontos-chave que permitem a reativação da homeostase
e equilíbrio das regiões do corpo nas quais há algum tipo de bloqueio
ou inconveniente (BRASIL, 2017).
Resultados de casos controle mostraram que a aplicação da
reflexoterapia contribuiu para o alívio de dor lombar aguda relacionada
ao trabalho repetitivo de profissionais de saúde. Os resultados foram
avaliados como convergentes com o princípio que rege a PIC, onde
estímulos provocados pela reflexoterapia nas terminações nervosas
correspondentes aos órgãos e sistemas do corpo, acarretam efeitos
de alívio dos sintomas da dor e outras condições de saúde como
ansiedade, estresse, insônia, promoção de bem-estar e relaxamento
(MEDEIROS; SASSO; SCHLINDWEIN, 2018).

REIKI

É uma prática de imposição de mãos que usa a aproximação


ou o toque sobre o corpo da pessoa, com a finalidade de estimular os
mecanismos naturais de recuperação da saúde. Baseado na concepção
vitalista de saúde e doença, considera a existência de uma energia
universal canalizada que atua sobre o equilíbrio da energia vital com
o propósito de harmonizar as condições gerais do corpo, da mente,
das emoções e do espírito (BRASIL, 2017).
Em estudo com presidiários no Brasil, o reiki foi uma das práticas
de uso, citada como auxiliar na redução de dores do corpo e emocionais.
35
Aplicações de reiki foram aprendidas pelos presos e aplicadas para
aliviar tensões na coluna e dores de cabeça. Também era uma das
PIC mais procuradas por eles e os agentes penitenciários, seguida
da acupuntura, no referido estudo (LENA; GONÇALVES, 2021).

SHANTALA

É uma prática de massagem para bebês e crianças, composta


por uma série de movimentos pelo corpo que permite o despertar
e a ampliação do vínculo cuidador e bebê. Além disso, promove a
saúde integral, reforçando vínculos afetivos, cooperação, confiança,
criatividade, segurança, equilíbrio físico e emocional entre
criança e cuidador (BRASIL, 2017).
É uma prática oriunda da medicina tradicional indiana e Ayurveda
que apresenta baixo índice de revisões da literatura (sistemáticas e
narrativas) avaliando sua intervenção e eficácia em saúde. Dentre
os estudos analisados, a técnica foi mais utilizada entre os sujeitos
cuidadores para o bem-estar, qualidade de vida e vitalidade do bebê,
que tiveram como desfecho primário mais observado os efeitos físicos
e metabólitos na criança (GHELMAN; PEREIRA, 2020).

TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA

É uma prática de intervenção nos grupos sociais e objetiva a


criação e o fortalecimento de redes sociais solidárias. Aproveita os
recursos da própria comunidade e baseia-se no princípio de que a
comunidade e os indivíduos possuem problemas, mas também desen-
volvem recursos, competências e estratégias para criar soluções para
as dificuldades. É um espaço de acolhimento do sofrimento psíquico,
que favorece a troca de experiências entre as pessoas (BRASIL, 2017).
Nela, o saber produzido pela experiência de vida de cada um e o
conhecimento tradicional são elementos fundamentais na construção
de laços sociais, apoio emocional, troca de experiências e diminuição
36
do isolamento social. Atua como instrumento de promoção da saúde
e autonomia do cidadão (BRASIL, 2021).

TERAPIA DE FLORAIS

Prática terapêutica que utiliza sistemas de essências florais,


modificando estados vibratórios e auxiliando a equilibrar e harmonizar
o indivíduo (BRASIL, 2021). Abordagens teóricas defendem que a
terapia floral pode agir no estado mental e nas emoções, entretanto
possui baixa dispersão de trabalhos quanto intervenção e eficácia
clínica (RIERA et al., 2019).
As essências florais são extratos líquidos naturais, inodoros e
altamente diluídos de flores que se destinam ao equilíbrio dos pro-
blemas emocionais, operando em níveis sutis e harmonizando a pes-
soa internamente e no meio em que vive. São preparadas a partir de
flores silvestres no auge da floração, nas primeiras horas da manhã,
quando as flores ainda se encontram úmidas pelo orvalho, obtidas
através da colheita de flores extraídas de lugares da natureza que se
encontram intactos (BRASIL, 2018).

TERMALISMO SOCIAL – CRENOTERAPIA

Prática terapêutica que consiste no uso da água com propriedades


físicas, químicas, térmicas e radioativas, eventualmente, submetida a
ações hidromecânicas, como agente em tratamentos de saúde. A eficiên-
cia do termalismo no tratamento de saúde está associada à composição
química da água (que pode ser classificada como sulfurada, radioativa,
bicarbonatada, ferruginosa etc.), à forma de aplicação (banho, sauna
etc.) e à sua temperatura. O recurso da água como agente terapêutico
remonta a época do Império Grego (BRASIL, 2018).
A crenoterapia, por sua vez, consiste em prática terapêutica
que utiliza águas minerais com propriedades medicinais, de modo
preventivo ou curativo, em complemento a outros tratamentos de
37
saúde. Tem por base a crenologia, ciência que estuda as propriedades
medicinais das substâncias físico-químicas das águas minerais e sua
utilização terapêutica. No Brasil, a crenoterapia foi introduzida junto
com a colonização portuguesa, que trouxe ao país os seus hábitos de
usar águas minerais para tratamento de saúde (BRASIL, 2018).
O termalismo-crenoterapia é uma das PIC menos conhecidas
e de credibilidade por profissionais de saúde no SUS, dentre médicos,
enfermeiros, cirurgiões-dentistas, assistentes sociais, nutricionistas,
farmacêuticos, veterinários e biomédicos. Sendo este último um dado
que necessita melhor exploração (GONTIJO; NUNES, 2017).
Em estudo de análise da água e seu uso em fontes naturais
no Brasil foi possível identificar como funções práticas das águas o
ludismo, lazer, infraestrutura, higiene, hidratação, proteção ao calor
e indicações terapêuticas. Como principais dimensões simbólicas,
encontraram-se: fonte de vida, meio de purificação, regeneração,
fertilidade, sabedoria, graça, virtude e revelação do sagrado. Como
importantes funções nas práticas integrativas e complementa-
res (LAZZERINI; BONOTTO, 2014).

YOGA

Atua como prática física, respiratória e mental associada à


meditação, fortalecendo o sistema músculo-esquelético, estimulando
o sistema endócrino, expandindo a capacidade respiratória e exer-
citando o sistema cognitivo. São utilizadas um conjunto de ásanas
(posturas corporais), que podem reduzir a dor lombar e melhorar a
harmonização da respiração. Os exercícios de controle respiratório são
denominados de prânâyâmas. Também é uma prática que preconiza o
autocuidado, uma alimentação saudável e de uma ética que promova
a não-violência (BRASIL, 2017).

38
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As PIC apresentam-se no Brasil em franca publicação cientí-


fica e como pontencializadoras de cuidados e cura na utilização de
suas práticas, com destaque entre elas para fitoterapia. Bioenergética,
constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, imposição de mãos e
terapia de florais apresentam, nesta busca exploratória, evidência rela-
tiva na literatura científica quanto a eficácia e segurança das práticas,
assim como disseminação das mesmas, juntamente com termalismo.

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41
AROMATERAPIA: O PODER DE UMA GOTA

Karla Thâmysa Cruz

INTRODUÇÃO

Aromaterapia é uma terapia de natureza holística que busca obter


de forma integrada o equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual,
através do uso de óleos essenciais. A palavra aromaterapia vem dos
termos gregos, “aroma”, que quer dizer odor agradável, e “therapeia”
que significa tratamento. Mostrando um significado literal, refere-se
ao tratamento através de odores agradáveis. Complementando, Brasil
(2018) afirma que a aromaterapia é uma prática terapêutica secular que
consiste no uso intencional, a fim de promover ou melhorar a saúde,
o bem-estar e a higiene, utilizando para isso os óleos essenciais (OE)
que são concentrados voláteis extraídos de vegetais.
Presente em culturas de vários povos, os OE são compostos quí-
micos complexos, voláteis e de fragrância variável, oriundos de qualquer
parte da planta, sendo produzidos principalmente pelas famílias Laura-
ceae, Myrtaceae, Labiateae, Rutaceae, Umbeliferaceae, entre outras, e resul-
tantes do metabolismo secundário das plantas aromáticas (BUCHE-
BAUER, 2004; BANDONI; CZEPAK, 2008; BRITO et al, 2013).
Não é possível datar exatamente a primeira extração por des-
tilação de óleos essenciais. Os antigos persas e egípcios conheciam
os óleos essenciais de Terebintina (madeira de pinheiro) e resina de
mastique (Pistacia lentiscus), sem dúvida o primeiro óleo essencial
obtido a partir da destilação a seco (BRITO, ET AL., 2013).
Falando sobre as escrituras hebraicas, em várias delas, observa-se
a utilização de óleos como incenso ou mirra. Em uma passagem do livro
de Reis (1, 10) descreve-se “que a Rainha de Sabá visitou Jerusalém e
o Rei Salomão, levando-lhe, entre outros presentes, uma quantidade
42
extraordinária do mais precioso incenso”. No livro de Matheus (2,11),
ao relatarem a chegada dos Reis Magos ao local de nascimento de
Jesus Cristo, descrevem “... e abrindo seus tesouros, entregaram suas
ofertas: ouro, incenso e mirra”. Sabemos hoje que incenso e mirra são
dois óleos essenciais raros e especiais.
Em contrapartida Stanway (1993) relatava que nenhum docu-
mento reporta de modo claro o uso de óleos essenciais isolados na
Antiguidade, mesmo possuindo vários relatos que, há alguns milhares
de anos, ervas aromáticas, bálsamos e resinas eram empregadas para
embalsamar cadáveres em cerimônias religiosas ou de sacrifícios.
Silveira et al (2012) relatou sobre a utilização dos OE pelo Dr.
Jean Valnet, médico e antigo cirurgião francês, que os empregou
para tratar de ferimentos e queimaduras em soldados na Segunda
Guerra Mundial. O mesmo médico utilizava como base a Escola
Francesa de Aromaterapia, que utilizava os óleos essenciais de três
formas: aromática, tópica e ingerida.

OS ÓLEOS ESSENCIAS

A comercialização de OE se tornou um mercado altamente ativo


e bem-sucedido na última década, por muitas pessoas os considerarem
alternativas seguras às formas farmacológicas de tratamento mais
invasivas, com o conceito de que são naturais. Entretanto, é preciso
ter segurança na utilização dos mesmos, pois em um óleo individual
podem ser identificadas mais de 400 substâncias químicas diferentes,
dependendo do equipamento utilizado na testagem (RAMSEY et
al, 2020). Singh et al (2011) relata em seu estudo sobre Camomila
(Matricaria chamomilla L.) que a grade demanda pela camomila no
mercado mundial é devido aos seus extensos valores medicinais e
propriedades farmacológicas impecáveis.

43
Como prática multiprofissional, a aromaterapia tem sido ado-
tada por diversos profissionais de saúde, como enfermeiros, psicó-
logos, fisioterapeutas, médicos, veterinários, terapeutas holísticos,
naturistas, dentre outros, e empregada nos diferentes setores da área
para auxiliar de modo complementar a estabelecer o reequilíbrio
físico e/ou emocional do indivíduo.
A Síndrome Respiratória Aguda Grave - Coronavírus 2 (SAR-
S-CoV-2), também conhecida como doença coronavírus - 2019
(COVID-19), é uma doença pandêmica que foi declarada como
a mais grave emergência de saúde da história moderna em todo o
mundo. Até agora, nenhuma modalidade de tratamento precisa foi
desenvolvida e muitos ainda avaliam o efeito posterior da exposição
à doença daqueles que conseguem sobreviver.
Em seu estudo, Depolli et al (2021) comparou escores de
ansiedade e depressão em profissionais da saúde em atendimento
remoto ou presencial e mostrou que receber diagnóstico médico de
Covid-19 ou para alguém próximo da família pode estar associado
às diferenças quanto aos escores de ansiedade e depressão, demons-
trando uma influência de acréscimo nos escores em comparação
com quem não teve diagnóstico.

44
Nessa questão do controle de emoções e ansiedade, a aroma-
terapia é uma opção de suporte. Gnatta et al (2014) concluiu que o
óleo essencial de Ylang-ylang alterou significativamente na percepção
da autoestima de profissionais da saúde. Tal OE pode ajudar a liberar
emoções negativas, como raiva, baixa autoestima e até mesmo ciúmes.
Gnatta, Dornellas e Silva (2010) compararam o uso dos OE
de lavanda e gerânio, verificaram se os mesmos alteraram a percep-
ção de ansiedade, avaliaram sua eficácia e concluíram que, apesar
não ter sido uma diferença estatisticamente expressiva, houve maior
eficácia do OE de lavanda na diminuição da ansiedade, não podendo
dizer o mesmo do OE de gerânio.
Já no estudo de Hongratanaworakit (2011), após massagem
com mistura de OE de lavanda e bergamota, comparado com o grupo
placebo, o OE misturado causou diminuições significativas da taxa
de pulso e da pressão arterial sistólica e diastólica, o que indicou uma
diminuição da excitação autonômica. No nível emocional, os parti-
cipantes do grupo de óleo essencial misturado se classificaram como
‘mais calmos’ e ‘mais relaxados’ do que os participantes do grupo de
controle. Corroborando com o estudo de Montibeler et al (2018), no
qual também foi realizado massagem com misturas de OE de lavanda
(Lavandula angustifolia) e gerânio (Pelargonium graveolens) e houve
diminuição com significância estatística da frequência cardíaca e
pressão arterial de uma equipe de Enfermagem do centro cirúrgico,
por meio da avaliação de parâmetros biofisiológicos e psicológicos.
Em seu estudo randomizado, duplo-cego e controlado por pla-
cebo, Amsterdam et al (2012) examinaram a ação antidepressiva do
extrato oral da camomila (Matricaria recutita) em indivíduos com ansie-
dade comórbida e sintomas de depressão e concluíram que a camomila
pode ter atividade antidepressiva clinicamente significativa, que ocorre
além de sua atividade ansiolítica previamente observada. Resultados
semelhantes encontraram Keefe et al (2016) em pesquisa que concluiu
que extrato de camomila (Matricaria chamomilla L.) produziu uma
45
redução clinicamente significativa nos sintomas de Transtorno de
Ansiedade Generalizada (TAG), ao longo de 8 semanas, com uma taxa
de resposta comparável as observadas durante a terapia com drogas
ansiolíticas convencionais e um perfil de eventos adversos favorável.
O óleo essencial de bergamota é amplamente utilizado na aro-
materapia para reduzir o estresse e a ansiedade, apesar das evidências
científicas limitadas, segundo Saiyudthong e Marsden (2011). Porém,
ao estudar o efeito desse OE comparado ao efeito do Diazepam, os
mesmos autores concluíram que tanto a inalação do OE de bergamota
quanto o Diazepam injetável apresentaram comportamentos semelhan-
tes aos ansiolíticos e atenuaram a atividade do eixo Hipotálamo-Pitui-
tária-Adrenal (HPA), ao reduzir a resposta da corticosterona ao estresse.
Avaliando formas de contribuir para a prevenção da covid-
19, tendo em vista que o vírus continua circulando no mundo todo,
KUMAR et al (2020) sugeriram que os OE de gerânio e limão e seus
compostos podem contribuir para a prevenção da invasão do SAR-
S-CoV-2 / COVID-19 no corpo humano por seus derivados serem
valiosos agentes antivirais naturais.
Já Han, Eggett e Parker (2018) desenvolveram um estudo para
avaliar quantitativamente os benefícios para a saúde de um suplemento
multivitamínico, multimineral, à base de ervas, com infusão de óleo
essencial, usando biomarcadores séricos e os efeitos na saúde dos par-
ticipantes do estudo. Embora a eficácia clínica definitiva permaneça
indefinida, os resultados sugeriram que a suplementação pode fornecer
uma ampla gama de benefícios à saúde para os usuários em um curto
período. Um resultado importante para aqueles que buscam cuidar
do corpo antes do adoecimento.

CONCLUSÃO

Reforça-se que os profissionais de saúde devem estar bem-in-


formados sobre a qualidade e segurança dos OE ao usá-los para fins
clínicos. Utilizar óleos essenciais de qualidade inferior e não entender
46
as diretrizes de segurança pode afetar negativamente os resultados
(REIS; JONES, 2017). A eficácia do uso dos OE para controle de
sintomas emocionais foi comprovada em diversos estudos, muitos
outros estão em andamento e, infelizmente, sabemos que a pesquisa
não é estimulada, pois a indústria farmacêutica não tem interesse que
a população conheça os benefícios dos óleos essenciais.

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48
O USO DA TERAPIA DE FLORAIS DE BACH
NO CUIDADO À SAÚDE MENTAL

Amanda Pinheiro

INTRODUÇÃO

A terapia de florais é uma prática integrativa complementar


de saúde (PICS) que faz uso de essências extraídas de flores no tra-
tamento energético e emocional de pessoas e animais. Apesar de
ter sido originária no século XX, na década de 1930, o movimento
terapêutico de florais vem crescendo no país desde 1989, mas só foi
incluído no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2018, com a Portaria
n° 702, de 21 de março de 2018.
Essa terapia foi criada pelo médico homeopata Edward Bach, na
Inglaterra, que desenvolveu sua pesquisa identificando que os remédios
tradicionais não faziam o mesmo efeito em todas as pessoas, onde,
além de desordens orgânicas, existiam desordens individuais. Além
disso, em 1928, Bach criou a Teoria da Personalidade, na qual afirmava
que existiam sete grandes grupos por semelhanças de comportamento,
definindo um sistema de cura que pudesse ser utilizado de acordo com
o temperamento de cada indivíduo (AZIZ, 2020).
A pesquisa com plantas levou Bach a desenvolver um método
simples e acessível de autoajuda, de fácil aplicação por profissionais,
terapeutas florais ou leigos. Os florais de Bach são atóxicos e sem
risco de dependência e com indicação de terapia complementar ao
tratamento de doenças. O estudioso defendia que os florais intervêm
na causa e não nas consequências das doenças, identificando o conflito
interno e individual de cada pessoa (BEAR; BELLUCCO, 2005).
De acordo com Brasil (2018), as essências florais não possuem
fragrância, não são consideradas fitoterápicos e nem homeopáticos. Na
49
verdade, são extratos líquidos naturais, inodoros e altamente diluídos
de flores que se destinam ao equilíbrio dos problemas emocionais, ope-
rando em níveis sutis e harmonizando a pessoa internamente e no meio
em que vive. São preparadas a partir de flores silvestres no seu estágio
de floração, no início da manhã, quando as flores ainda se encontram
úmidas pelo orvalho, obtidas através da colheita de flores extraídas de
lugares da natureza que não tenham sofrido com intervenção humana.
Atualmente, Aziz (2020) destaca que os florais de Bach são dis-
tribuídos em 60 países aproximadamente. São 38 essências específicas
de estados mentais ou de ânimo. Os Florais de Bach são os mais
conhecidos e colaboraram para o surgimento de outros florais no
mundo, como: Florais de Saint-Germain e da Califórnia. No Brasil,
tem-se os Florais de Minas, da Amazônia, do Planalto Central, da
Mata Atlântica e vários outros.
Conforme Bear e Bellucco (2005), os florais atuam na mudança
de perspectiva dos indivíduos em relação à vida, corrigindo as atitudes,
adquirindo atitudes mais equilibradas. Aziz (2020) complementa que a
energia da flor repercute no padrão de energia da pessoa, devolvendo o
equilíbrio original. A autora destaca que Bach em seus estudos, definiu
sete disposições mentais que estão na origem das doenças, mas são
também as sete áreas de conflito que interferem na saúde: orgulho,
crueldade, ódio, egoísmo, ignorância, instabilidade e ambição. Se essas
condições não forem tratadas, elas podem produzir sofrimento.
Assim, conforme a identificação dos desequilíbrios da per-
sonalidade, é feita a escolha do floral mais indicado, possibilitando
uma autoanálise do indivíduo. Os florais podem ser usados por qual-
quer pessoa, a escolha do tipo se fará pela descrição do que percebe
sobre si mesmo, ou com o apoio de um terapeuta floral. Em cada
fórmula de floral pode ser habitual o uso de até sete essências, mas
não há um número determinado de essências florais da fórmula. Bach
preparou e catalogou 38 essências florais divididas em sete grupos
(BEAR; BELLUCCO, 2005; CRAVO, 2000):
50
a. Para quem sente medo: Aspen, Rock Rose, Red Chestnut, Mimu-
los e Cherry Plum.

b. Para quem sofre com indecisão: Cerato, Gentian, Hornbeam,


Wild Oat, Gorse Scleranthus.

c. Para quem tem falta de interesse pelas coisas pessoais: Clema-


tis, Olive, White Chestnut, Mustard, Chestnut Bud, Honeysuckle
e Wild Rose.

d. Para quem tem solidão: Water Violet, Heather e Impatients.

e. Para quem tem sensibilidade excessiva a influências e opiniões:


Holly, Agrimony, Walnut e Centaury.

f. Desalento e desespero: Crab Apple, Willow, Star of Bethlehem,


Pine, Larch, Elm e Sweet Chestnut.

g. Preocupação excessiva com o bem-estar dos outros: Rock


Water, Beech, Vine, Chicory e Vervain.
O desequilíbrio nas diferentes funções da personalidade pode
contribuir para adoecimentos mentais como ansiedade, medo, tristeza,
fobias, depressão, raiva, sentimento de culpa, baixa autoestima etc.
(ARAÚJO, 2020). Estudos e evidências científicas demonstram que
a terapia floral pode auxiliar no cuidado em saúde mental, prevenindo
quadros de sofrimento e no cuidado complementar aos transtornos
mentais. Essa prática foi reconhecida pela Organização Mundial da
Saúde, em 1956, como tratamento de questões relacionadas ao bem-
-estar emocional de todas as pessoas.
Miranda e Vieira (2021) destacam que, nas últimas décadas,
nota-se uma piora na prevalência de agravos à saúde mental, com
destaque para a ansiedade, onde as PICS são tidas como alternativas
relevantes para o cuidado em saúde mental e desenvolvimento de
melhora na qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, defendem
uma ampla divulgação, capacitação de profissionais e implementação
51
das PICS nos serviços de saúde do SUS, bem como a necessidade de
produções científicas dessas práticas para fortalecer a expansão delas
nos serviços de saúde pública.
O uso de florais de Bach é descrito em diversos trabalhos na
intervenção em transtornos de ansiedade. A ansiedade é um estado
emocional normal dos indivíduos, entretanto, quando começa a causar
mal-estar, prejudicar o cotidiano e as relações sociais pode ser consi-
derada como algo patológico. Apresenta-se, atualmente, como um dos
transtornos mentais que mais afeta à população no mundo.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtor-
nos Mentais (DSM-5), os transtornos de ansiedade são caracterizados
pelo medo e ansiedade excessivos e perturbações do comportamento
relacionadas, nas quais as situações de perigo são superestimadas.
Os diferentes tipos de transtorno de ansiedade são definidos pelos
objetos ou situações que induzem a essas emoções (ASSOCIAÇÃO
AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 2014).
Tendo em vista a necessidade de ampliar estudos sobre o uso da
Terapia de Florais, como PICS e, especificamente, como alternativa
complementar de cuidado em saúde mental, foi desenvolvida uma
revisão narrativa de publicações feitas sobre o tema para destacar as
contribuições que vêm sendo obtidas pela prática.

METODOLOGIA

Para agrupar a literatura relevante sobre o uso de Florais de Bach


para o cuidado em saúde mental foi realizada uma revisão narrativa.
Essa forma de pesquisa se utiliza de fontes bibliográficas ou eletrônicas
para obter uma visão ampla de um determinado tema, direcionada
pelo aspecto interpretativo do autor (ROTHER, 2007).
Estudos publicados em português, de 2000 a 2021, foram con-
siderados para pesquisa, como relatos de experiência, revisões de
literatura, trabalhos de conclusão de graduação, dissertações e teses de
52
pós-graduação, bem como legislações, cartilhas e manuais publicados
para orientação e esclarecimento sobre o uso de Florais de Bach.
Os bancos de dados considerados foram o Google Scholar
e a Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), através de bases de dados
SciELO, LILACS, Mosaico- Saúde Integrativa, onde foram empre-
gadas as seguintes palavras-chave, “florais de Bach” e “medicamentos
florais de Bach” e “saúde mental”.

RESULTADOS

Os transtornos de ansiedade podem refletir em doenças físicas,


como dor de cabeça, problemas no estômago e intestino, dores mus-
culares, doenças cardíacas, alergias etc. Ressalta-se que os tratamentos
mais comuns são o uso de medicamentos, como benzodiazepíni-
cos, na intervenção dos sintomas, e da psicoterapia para a busca de
intervenção dos problemas emocionais, cognitivos ou comportamen-
tais. Entretanto, o uso de florais seria uma forma de intervir na base
dos problemas que causa sofrimento psíquico, podendo contribuir
com os outros tratamentos, na busca do equilíbrio das emoções e da
relação do interior do indivíduo com o mundo exterior (ROCHA;
BEZERRA, 2019; SILVA; UHLMANN, 2021).
Oliveira e Leite (2020) reforçam que os florais não são medica-
mentos e nem substituem os tratamentos convencionais, mas devem
ser considerados no tratamento complementar natural, preventivo
e sem riscos de reações adversas. O trabalho é direcionado à queixa
do paciente para a escolha das essências mais indicadas. Nos estudos
identificados pelos autores, a terapia com florais de Bach proporcionou
melhora em sinais e sintomas da ansiedade em estudantes, diminui-
ção de sintomas psicossomáticos, bem como em casos de melhora da
hiperatividade e outras alterações emocionais e comportamentais em
crianças. Assim, para os autores, é importante considerar a ligação
entre alma, corpo e mente no processo de saúde.

53
No estudo de Salles e Silva (2012) foram investigados os efei-
tos dos florais Impatiens (desenvolvimento de empatia, paciência e
calma), Cherry Plum (coragem para enfrentar os medos da vida), White
Chestnut (paz interior e clareza dos sentimentos) e Beech (autoconhe-
cimento, compreensão e tolerância) em pessoas ansiosas. Os resultados
dessa pesquisa foram melhorias nos comportamentos de preocupação,
inquietação, nervosismo, tensão e apreensão. Entretanto, os autores
reforçam que, apesar dessa indicação de essências para compor a fór-
mula de florais de Bach para pessoas ansiosas, é necessário considerar
características da personalidade e modos de ver o mundo, atribuindo
um caráter personalizado da fórmula.
A terapia de florais também é utilizada em associação ao tra-
tamento de ansiedade e doenças crônicas não transmissíveis, como
a obesidade. Pancieri (2018), através de ensaio clínico randomizado,
identificou melhorias nos participantes da pesquisa, com relato de tran-
quilidade e autoconhecimento, repercutindo na forma de se alimentar
e nas relações interpessoais com familiares e no ambiente de trabalho.
Mantovani et al (2016) realizou pesquisa quantitativa para identi-
ficar as PICS mais utilizadas no tratamento de pessoas com Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS), em um determinado distrito sanitário no
Paraná, onde identificou que a terapia complementar mais utilizada
era a Fitoterapia (utilização de plantas no tratamento de doenças),
com uso de chás e florais de Bach, para tratar ou controlar a HAS.
Entretanto, essas alternativas foram indicadas majoritariamente por
amigos e familiares dos pesquisados e não por profissionais de saúde,
apresentando-se como necessidade de incluir o conhecimento das
PICS para os profissionais e garantir o acompanhamento integralizado.
Já Oliveira (2016) desenvolveu sua pesquisa clínica rando-
mizada com a composição de floral de Bach chamado Rescue, na
redução de estresse em discentes universitários brasileiros. Essa fór-
mula de floral é considerada de emergência, que envolve situação de
estresse, sendo a única composição deixada pronta por Bach, envol-
54
vendo cinco essências: Cherry Plum (autocontrole e calma), Clematis
(confiança), Impatients (paciência e relaxamento), Rock Rose (força e
tranquilidade) e Star of Bethlehem (conforto). A conclusão do estudo
demonstrou grande melhora nos estudantes após o uso desse floral,
principalmente, nos sintomas de insônia, demasiada irritabilidade e
sensibilidade emotiva excessiva.
De maneira complementar, o estudo de Arruda (2012), que
também analisou a efetividade dos florais de Bach em estudantes
universitários, com ensaio clínico randomizado duplo-cego, destacou
a ligação estreita entre o bem-estar espiritual e a saúde mental, em
contraponto com uma realidade da psiquiatria que se foca no trata-
mento dos transtornos mentais e não no estímulo à saúde mental e
bem-estar dos indivíduos. Destaca-se ainda que é enfocado o trata-
mento em transtornos mentais comuns (TMC), tidos como aqueles
sem sintomas psicóticos, tais como sintomas depressivos, ansiosos e
psicossomáticos, da mesma forma que ocorrência de insônia, fadiga,
irritabilidade, desatenção, entre outros. Os TMC são apresentados
como condições que causam grande sofrimento para as pessoas e são
responsáveis por situações de incapacitação.
Outro estudo clínico randomizado de Albuquerque et al (2016)
foi realizado com crianças residentes em favelas que podem apre-
sentar desordens emocionais e traumas por exposição a situações
de risco. O composto de florais utilizados continha essências para
intervenção nos medos e traumas: Rock Rose, Mimulus, Aspen, Star of
Bethlehem e água. Concluíram que, após o uso dos florais, as crianças
participaram mais e estavam mais desenvoltas para as atividades de
arteterapia, conseguiam relatar situações pessoais com mais clareza e
obtiveram mais atenção ao que acontecia ao redor da atividade, bem
como apresentaram mais coragem e tranquilidade para realizar as
tarefas. Assim, identificaram que o uso de florais poderia contribuir
na diminuição de sequelas advindas dos medos e traumas das crianças
em situação de vulnerabilidade social.
55
É importante destacar que, apesar de inúmeros trabalhos já
demonstrarem benefícios no campo da saúde mental dos indivíduos
com o uso complementar de terapia de florais, há falta de conhe-
cimento dos profissionais e usuários dos serviços de saúde sobre a
disponibilidade e manejo de PICS.
Domingos (2019) salienta que existe forte viés do modelo bio-
médico e a fragmentação do cuidado em saúde mental nos serviços
de saúde, apresentando como alternativa de tratamento integral os
recursos de florais e aromaterapia no contexto da atenção básica no
SUS, como práticas relevantes de prevenção e promoção à saúde. Os
usuários utilizados no estudo faziam uso crônico de psicofármacos
por conta do sofrimento psíquico, onde para eles foram ofertadas a
Terapia Floral (Rescue Remedy) e Aromaterapia (Lavandula angusti-
folia e Pelargonium graveolens).
A utilização dessas PICS associadas ao relacionamento inter-
pessoal terapêutico proporcionou o atendimento voltado à necessi-
dade dos sujeitos, ampliação das ações de cuidado às pessoas com
sofrimento psíquico, para além da medicalização. O uso do Rescue
Remedy propiciou, no estudo de Domingos (2019), a promoção da
autoconsciência, de reconhecimento de padrões individuais adotados
pelos sujeitos da pesquisa e favorecimento de tomada de decisões, com
relato de melhora na disposição física das pessoas.
Os Florais de Bach trazem contribuições na promoção de saúde,
prevenção de agravos e reabilitação, mas precisam ser utilizados da
maneira correta e, preferencialmente, por profissionais especializados
nessa prática para compreender melhor quais as essências mais indi-
cadas e manter um acompanhamento integralizado, trazendo uma
perspectiva como preconizava dr. Bach: “trate a pessoa, não a doença;
trate a causa, não efeito” (BEAR, BELLUCCO, 2005, p. 22).
A possibilidade de ter um terapeuta floral no acompanhamento
do cuidado e na forma de utilização dessa PICS é de extrema impor-
tância para sua efetividade, entretanto, o criador da prática também
56
preconizava o acesso por leigos e facilitado para todos que pudessem
conhecer os benefícios das plantas no processo de cura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A terapia floral apresenta-se como alternativa complementar


satisfatória e sem toxicidade para tratamento de saúde mental, prin-
cipalmente, para transtornos mentais comuns, pois não foram iden-
tificados nesta pesquisa os estudos sobre a eficácia em casos graves.
Os Florais de Bach atuam facilitando o desenvolvimento da per-
sonalidade das pessoas, buscando autocuidado, estímulo a pensamentos
positivos, reflexão acerca de hábitos e padrões comuns que interferem
na qualidade de vida. As produções mais identificadas referem-se à
inserção do tratamento aos sintomas ansiosos e estressores presentes
em diferentes gerações e ambientes, sendo possibilidade de cuidado
integralizado, para além do aspecto da doença.
Em todos os documentos e estudos encontrados foi reforçada
a necessidade de ampliação de pesquisas sobre a eficácia dos florais
para estimular a ampliação desta PICS nos serviços de saúde, prin-
cipalmente no SUS, já que apresenta baixo custo e alternativa de
tratamento, juntamente com os métodos tradicionais (alopáticos e
psicoterapia) para promover melhora na saúde mental da população.
É necessário considerar também sobre a eficácia dos Florais de
Bach, que a utilização de certos componentes, em alguns indivíduos,
não surte o efeito desejado, necessitando trocá-los ou analisá-los,
considerando a complexidade do processo saúde doença. Assim, a
possibilidade de ter um terapeuta floral no acompanhamento do
cuidado pode garantir um melhor entendimento do processo de cada
indivíduo, personalizando o tratamento, mas reforçando-se o caráter
acessível e de utilização por qualquer pessoa, com a escolha do tipo
pela descrição do que percebe sobre si mesmo.

57
REFERÊNCIAS
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crianças que vivem em situação de pobreza. Caderno de Naturologia e Terapias Comple-
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64028, 2021.

59
AS POTENCIALIDADES DA MEDITAÇÃO NO
CAMPO DA SAÚDE MENTAL

Lucía Belén Pérez

Alguém perguntou a Buda: “O que o senhor e seus discípulos


praticam?” Ele respondeu: “Nós nos sentamos, nós andamos, nós
comemos”. O inquiridor continuou: “Mas, senhor, qualquer um
se senta, anda e come”. Buda lhe disse: “Quando nos sentamos,
sabemos que estamos sentados. Quando andamos, sabemos
que estamos andando. Quando comemos, sabemos que estamos
comendo”. Na maior parte do tempo, estamos perdidos no
passado ou arrebatados pelo futuro. Quando estamos conscientes,
intensamente em contato com o momento atual, aprofunda-se
a nossa compreensão do que está acontecendo e começamos a ser
preenchidos de aceitação, alegria, paz e amor.
(HANH, 1985, p. 10)

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, profissionais da saúde de todo o mundo


começaram a pensar e definir a saúde desde uma concepção holística,
isto é, como sendo composta de vários fatores e níveis de complexidade.
Assim, a Organização Mundial da Saúde (1946, p.1) define na sua
constituição a saúde como: “(...) o estado de completo bem-estar físico,
mental e social e não apenas a ausência de doença.”. Nesse sentido, as
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) começam
a ser introduzidas no campo da saúde, visando abordar o sujeito e o
seu sofrimento desde um ponto de vista abrangente. Assim, no campo
da saúde mental, especificamente, a meditação é uma das práticas que
adquiriu maior relevância e difusão.
A meditação é uma prática milenar que funde as suas raízes
na cultura oriental e que visa alcançar um estado de clareza mental
e emocional (RIVETTI, 2021). Sempre se desenvolveu de forma
60
independente de crenças e religiões e afastada de práticas da medi-
cina hegemônica ocidental. Nos últimos anos, vemos a sua adoção no
campo da Saúde Mental como um complemento saudável e de grandes
benefícios (CRASWELL, 2017). Na área da psicologia, a meditação
começa a ser recebida como opção terapêutica inovadora, mas ainda
persistem, neste campo, muitas dúvidas em relação a sua adoção. Os
profissionais que tentamos nos beneficiar dos seus aportes com fre-
quência somos perguntados: Como posso introduzir a meditação na
prática clínica? Em quais situações ela pode ajudar? Como eu deveria
me formar para fazer uso desta técnica? E, aliás, o que é a meditação?
Em palavras de Harris, Warren e Adler (2019), “toda vez que
você se pega divagando e conduz sua atenção de volta à respiração, é
como se fizesse musculação para o cérebro”. Deste modo, a meditação
consiste em nos fazer conscientes dos nossos pensamentos, trazendo
a atenção a eles, mas não a fim de julgá-los, senão de conhecê-los.
Representa, então, um processo de autorregulação intencional da própria
atenção no momento de viver e do tempo presente (BAER, 2003).
Assim, pode-se dizer que meditar é, essencialmente, uma
prática, um exercício que requer constância no tempo e que visa
ter maior consciência dos nossos pensamentos e sentimentos,
buscando, a partir da observação deles, reavaliar o nosso sofri-
mento (GOLEMAN; DAVIDSON, 2017).

ESCOLHAS METODOLÓGICAS

Propomo-nos, aqui, introduzir algumas das vantagens e usos que


a meditação tem (e pode ter) no campo da Saúde Mental, a partir da
sua inclusão na prática clínica, como uma técnica valiosa e de grandes
benefícios tanto para profissionais como para pacientes. Trata-se, então,
de uma revisão narrativa que visa reconstruir e refletir acerca do pro-
cesso de inserção da meditação no campo da Saúde Mental e as suas
potencialidades. Segundo Elias et. Al. (2012), as revisões narrativas
constituem a análise de uma ampla variedade de documentos publi-
61
cados, como podem ser fontes científicas (incluindo livros e artigos) e
fontes de divulgação de ideias (sites, mídia etc.), permitindo, a partir
da sua análise, a identificação de temáticas recorrentes e o estabeleci-
mento de novas perspectivas. Neste caso, foram consultadas as bases
de dados SciELO, LILACS e PubMed, com o uso de descritores tais
como: Meditação e Saúde Mental.

A POTÊNCIA DA MEDITAÇÃO

A introdução e enraizamento da meditação nas práticas ociden-


tais de saúde são recentes. No início da década de 1980, a implemen-
tação de um programa chamado MBSR (Mindfulness-Based Stress
Reduction, pela sua sigla em inglês) pelo biólogo estadunidense, J.
Kabat-Zinn, marca uns dos principais pontos inaugurais da inclusão
da meditação no campo da saúde mental (MENESTREL, 2021).
Introdução que, porém, não foi sem resistência, críticas e questiona-
mentos. São frequentes os questionamentos acerca do lugar que uma
ferramenta como a meditação deveria ter numa terapia psicológica,
assim como críticas a respeito da falta de clareza e acordos sobre a
definição do que é e o que não é meditação, além das dificuldades para
a indagação empírica dos seus benefícios (MENESTREL, 2021).
Não obstante, à luz de novas formas de entender a saúde e
a doença, o ser humano e as abordagens terapêuticas, é necessário
superar o reducionismo recorrente no campo da saúde que enfrenta
enfoques naturalistas, que acham no cérebro a chave da compreensão
do comportamento e do sofrimento, e enfoques integrativos, que
conseguem compreender a complexidade humana e a composição
multidimensional da saúde, repensando, inclusive, o conceito de ciên-
cia. Isto se torna especialmente importante numa realidade onde o
excesso de informação e a hiperglobalização demandam o cuidado da
colocação da nossa atenção, com o intuito de reduzir o sofrimento
gerado por esse “ruído constante” e de desenvolver a nossa própria

62
autorregulação, auxiliados pela meditação como uma das melhores
opções não medicamentosas neste quesito.
Desse jeito, práticas integrativas como a meditação não só impli-
cam novas formas de entender a saúde mental, mas também convi-
dam a introduzir novas técnicas nas nossas abordagens terapêuticas,
como o uso de aplicativos, frequentemente utilizados em terapias que
adotam estas práticas (SMITH et. al, 2021). Nesse sentido, avanços
foram feitos na exploração das vantagens de práticas integrativas em
saúde mental em geral, e da meditação em particular. Segundo Ser-
rano, (2021) a inserção da meditação de forma continuada na vida
da população em geral e, em particular, de pessoas acompanhando
terapias por sofrimento psíquico se traduz em benefícios não só na
saúde mental e emocional, senão também na saúde física.
Diversos estudos (KENG; SMOSKI; ROBINS, 2011; GOLE-
MAN; DAVIDSON, 2017; CRESWELL, 2017; MOHAMMED;
PAPPOUS; SHARMA, 2018; KOBER et al, 2019; MALPASS;
BINNIE; ROBSON, 2019) apontam, entre os benefícios da medita-
ção à saúde: melhorias no tratamento da dor crônica e da dor durante
processos de reabilitação física, tratamento das adições, gerenciamento
de estresse, diminuição dos sintomas da depressão e ansiedade e
reforço do sistema imunológico.
Como indicado por Goleman e Davidson (2017), um dos prin-
cipais benefícios da meditação para a saúde mental tem a ver com “um
princípio conhecido em terapia cognitiva como “descentramento”, isto é,
observar pensamentos e sentimentos sem se identificar excessivamente
com eles”. A meditação permite, então, reavaliar o nosso sofrimento.
Assim, a chave da meditação no tratamento do sofrimento
psíquico tem a ver com um complemento à terapia, que consiste em
ter maior consciência dos nossos pensamentos e a sua interação com
o sofrimento que possam gerar. Rivetti (2021) destaca que “quando
escolhemos ser observadores de nós mesmos, trazemos para nós o
controle sobre a nossa própria mente: podemos não controlar o que
63
surge nela, mas conseguimos escolher no que queremos focar”. Assim,
Goleman e Davidson (2017, p. 170) afirmam que:
a meditação (em particular, o Mindfulness) pode ter
um papel no tratamento da depressão, ansiedade e dor
quase tanto quanto os medicamentos, mas sem efeitos
colaterais. A meditação também pode, em menor grau,
reduzir o sofrimento do estresse psicológico.

É possível pensar, então, que este tipo de prática é visto como


um meio que, acompanhado por uma atitude, intenção, palavra,
pensamento, atenção, concentração e esforço correto, e no marco de
uma terapia orientada por um profissional da saúde mental, permite
acompanhar e melhorar estados de sofrimento que podem atravessar
o ser humano (MORALES, 2021). Mañas (2009, p. 17) declara que:
Talvez um dos aspectos mais definidores da técnica
é que, através da prática, se desenvolve e mantém um
repertório caracterizado principalmente pelo estabele-
cimento de uma espécie de relacionamento muito espe-
cial (muito diferente do normal) com nossos eventos
privados (ou seja, pensamentos, emoções, memórias,
sensações etc.), isto é, conosco e, consequentemente,
com a maneira como vivemos nossas vidas e nos rela-
cionamos com os outros. Esse tipo de relacionamento
especial é fundamentalmente baseado em estar ciente
de nossos eventos privados, isto é, percebê-los, perce-
bê-los, discriminá-los, etc., enfim, diferenciar-nos de
eles, pare de se identificar com eles.5

Por conseguinte, consideramos que o autoconhecimento repre-


senta o maior aporte da meditação à prática terapêutica clínica em

5 
A tradução é nossa: “Quizá uno de los aspectos más definitorios de la técnica sea que a través de la
práctica se desarrolla y mantiene un repertorio caracterizado principalmente por establecer un tipo de
relación muy especial (muy diferente al usual) con nuestros eventos privados (i.e., pensamientos, emo-
ciones, recuerdos, sensaciones, etc.), es decir, con nosotros mismos y, por consiguiente, con la manera
en la que vivimos nuestra vida y nos relacionamos con los demás. Este tipo de relación especial se basa
fundamentalmente en ser conscientes de nuestros eventos privados, esto es, percatarnos de ellos, darnos
cuenta, discriminarlos, etc., en definitiva, diferenciarnos de ellos, dejar de identificarnos con ellos.”
64
saúde mental, pois não pretende, na sua essência, ignorar ou eliminar
pensamentos, senão, brindar a capacidade de reconhecê-los e nos
relacionar com eles de um modo saudável.
Finalmente, é relevante chamar a atenção para uma prática res-
ponsável em tanto terapeutas: ao ser entendida essencialmente como
um exercício, é importante ser praticada também por nós, sendo esta
a melhor forma de transmitir e introduzir esta ferramenta na prática
clínica. Do mesmo jeito, é preciso destacar a necessidade de não
perder o reparo nas particularidades de cada um dos nossos pacien-
tes, assumindo a possibilidade de avaliar quando e como introduzir
a meditação na terapia, cuidando de trabalhar preconceitos (caso
existirem), e apreciando, de acordo com o determinado momento
da terapia e as particularidades de cada sujeito, se a meditação pode
ser uma ferramenta interessante.

CONCLUSÕES

No contexto de novas definições de saúde e de saúde mental,


entendendo-as como conceitos integrais e complexos, as Práticas
Integrativas e Complementares em Saúde permitem uma aborda-
gem do ser humano a partir de um olhar abrangente e multifacetado.
Dentre eles, a meditação se configura como um complemento para
a abordagem terapêutica de pessoas com sofrimento psíquico que, a
partir da sua incipiente exploração, tem demostrado poder oferecer
benefícios na saúde mental, física e emocional.
Em outras palavras, a meditação tem se mostrado eficaz na redu-
ção de sintomatologia clínica. Estima-se, portanto, que a introdução da
meditação em práticas terapêuticas de saúde mental possa ter um amplo
impacto no mundo clínico, representando uma ferramenta em potên-
cia, de grandes aportes para profissionais da saúde e para a população
geral. Defendemos, consequentemente, um diálogo entre os recursos
terapêuticos já conhecidos e o acolhimento de novas ferramentas.

65
Para potencializar os seus benefícios, é necessário, portanto, continuar
dedicando esforços à pesquisa científica deste recurso terapêutico.

REFERÊNCIAS
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67
BIODANÇA COMO PROMOÇÃO DA SAÚDE

Jéssica Floriano Lima

INTRODUÇÃO

Por muitos anos, fomos habituados a viver e pensar de maneira


mecanicista, com um pensamento que afasta o conhecimento racional
do vivencial. Para estudiosos, o antropocentrismo é preocupante, evo-
luindo como uma nova forma de entendimento do mundo, porém, o
pensamento voltado para a vida, continua avançando e reconhecendo
a legitimidade de um método vivencial (FERREIRA, 2019).
O olhar para o cuidado com a saúde foi ressignificado com o
objetivo de responder às necessidades da população. Cuidar da saúde de
alguém significa ter um compromisso com a singularidade e pluralidade
do ser humano que a recebe (CUNHA; BATISTA; FREITAS, 2020).
Na carta de Ottawa, a promoção da saúde é entendida como um
processo que visa capacitar a comunidade com vistas à atuação para
a melhoria de sua qualidade de vida e saúde. Nesse sentido, garantir
oportunidade a todos os cidadãos para fazer escolhas mais favoráveis
à saúde. Uma dessas ações é a implantação das Práticas Integrati-
vas e Complementares (PIC’s) (CUNHA; BATISTA; FREITAS,
2020). Dentre as alternativas das PIC’s, está inserida a biodança, que
tem o objetivo diminuir as crises de ansiedades, transtornos mentais,
controle de doenças, através de uma visão voltada para a conexão do
corpo com a mente (TIBURCIO, 2020).
Ao falar de dança, é importante dizer que esta é considerada
uma ligação entre um conjunto de elementos, como o movimento,
emoções e músicas, relembrando crenças e rituais, por meio das forças
da natureza, por isso, está relacionada ao cuidar da saúde. Quando
aplicada com mudanças alimentares, permite mudanças significativas
68
no praticante, como prevenções a cardiopatias, obesidade, osteoporose,
entre outras (SANTOS, 2019; SCHREIBER, 2019).
Já a biodança, nomeada como Biodanza, teve origem a partir de
vivências pessoais do seu criador, o psicólogo chileno Rolando Toro,
devido a experiências em grupo e em trabalhos com portadores de
transtornos mentais, durante a década de 70 (SCHREIBER, 2019).
É considerado um sistema de integração humana e de
aprendizagem das funções da vida, partindo de uma busca de
compreensão da realidade e de diversos saberes. Tem como objetivo
o cuidar da saúde, principalmente, mental, a partir de encontros em
grupo, permitindo uma integração com os participantes (SCHREIBER,
2019). A biodança tem um modelo teórico próprio, transdisciplinar,
que articula conceitos importantes, tais como sistematizar a própria
vivência, a identidade, a corporeidade, o movimento, a carícia, a dança,
a afetividade, dentre outras (TIBURCIO, 2020).
A metodologia da biodança consiste em permitir vivências inte-
gradoras por meio da música, do canto, do movimento e de situações
de encontro em grupo. De acordo com Toro (1991 apud TIBURCIO,
2020), as vivências são divididas em cinco linhas: Integração humana;
Renovação orgânica; Reeducação afetiva; Reaprendizagem das funções
originárias da vida e Vivências integradoras, que são consideradas
um potencial de cada indivíduo e que levam a um fortalecimento de
um estilo de viver, permitindo ao ser humano um melhor equilíbrio
psíquico e fisiológico (TIBURCIO, 2020)
Assim, ela se contrapõe aos pensamentos da sociedade moderna,
que é pautada em ambições, egoísmo, individualismo, trazendo uma visão
de maior gratidão, solidariedade, afetividade com o próximo e a busca
da essência de cada um (SCHREIBER, 2019). Diante disso, o presente
estudo tem como objetivo revisar na literatura a atuação da biodança na
saúde do indivíduo, ressaltando sua importância na promoção da saúde.

69
METODOLOGIA

Para obtenção das informações, foi realizada busca de artigos


publicados em periódicos indexados nas bases de dados: Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Biblioteca Regional de Medicina (BIREME) e Scientific Electronic
Library Online (SciELO). Com a finalidade de selecionar os artigos
referentes à temática do estudo, foram definidos os seguintes descritores
e termos: “Biodança”, “biodanza” e “biodança e promoção da saúde”.
Enquanto critérios iniciais de busca, foram selecionados traba-
lhos científicos em formato de artigo científico original e de revisão,
publicados em periódicos nacionais, com disponibilidade do texto
eletrônico na íntegra, na língua portuguesa e publicados entre os
anos de 2015-2020. Os artigos potencialmente elegíveis foram lidos
completamente, com o objetivo de obter informações necessárias
para a conclusão desse estudo.

RESULTADOS

Após análise das informações, é possível observar que a biodança


permite uma renovação da existência do ser humano, que tem o mesmo
sentido da autopoiese. (CUNHA; BATISTA; FREITAS, 2020). É um
movimento que mostra o quanto somos fortes, indicando que pode-
mos ser o remédio para o nosso próprio corpo (SCHREIBER, 2019).
Desde a conferência de Otawa, em 1986, a definição de saúde
foi atualizada, englobando uma série de princípios éticos, políti-
cos e definições quanto aos campos de ação. Saúde é “o estado de
completo bem-estar físico, mental e social e não a mera ausência
de doença”. Assim, o processo de promover saúde deve partir da
capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua quali-
dade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse
processo. Desta maneira, a biodança se integra inteiramente nesses
princípios (LUNARDELLI, 2018).
70
Tendo como base a integralidade, princípio doutrinário do SUS
(Sistema Único de Saúde), a biodança coloca-se como um novo recurso
dentro da rede de atenção, aumentando as possibilidades terapêuticas.
Esta traz para o usuário oportunidades de vivências em grupo por meio
de música e uma diversidade de populações, como idosos, crianças,
gestantes, adolescentes e grupos específicos (hipertensos, diabéticos,
obesidade, entre outros) (LUNARDELLI, 2018). As práticas em
grupo permitem diminuição de crises de ansiedade, reestabelecem
um sentimento de segurança, confiança, conforto, alívio de tensões,
estresse, por conta da modulação da produção de neurotransmissores
que ocorre durante as práticas (LUNARDELLI, 2018).
Para tanto, é possível identificar que, em geral, a biodança traz
benefícios para o corpo humano, auxilia para uma melhor autoestima
e, ao praticar a biodança, as pessoas conseguem partilhar vivências,
fazendo com que se sintam importantes na sociedade (SCHREIBER,
2019; DALMOLIN; HEIDEMANN, 2020).

CONCLUSÃO

Este texto buscou trazer para o debate uma resenha da literatura


(ou das literaturas) sobre um exemplo de promover saúde: biodança.
Disso, pode-se concluir que, apesar de ser uma ótima alternativa para
uma melhor qualidade de vida, necessita expansão através de educação
permanente dos profissionais de saúde.
O entendimento das teorias acima resumidas pode permitir uma
melhor compreensão da necessidade de fortalecimento das PIC’s, uma
política pública indispensável para melhorar a qualidade de vida do
indivíduo que se dispõe a vivenciar essa forma de viver, que é a biodança.

REFERÊNCIAS
CUNHA, Vanessa Bezerra da; BATISTA, Rose Danielle de Carvalho; FREITAS, Camila
Siqueira Cronemberger. Fortalecimento da identidade e cuidado em saúde: perspectivas da
biodança na comunidade. SANARE-Revista de Políticas Públicas, v. 19, n. 2, 2020.
71
DALMOLIN, Indiara Sartori; HEIDEMANN, Ivonete Teresinha Schülter Buss. Práticas
integrativas e complementares na Atenção Primária: desvelando a promoção da saúde. Revista
Latino-Americana de Enfermagem, v. 28, 2020.
FERREIRA, Lorena Fiuza. Biodanza na atenção primária: um diálogo na promoção à saúde
biopsicossocial do idoso. 2019.
LUNARDELLI, Vitória Rocha. Biodanza no SUS: efeitos para a promoção da saúde. 2018.
SANTOS, Margarete Veronica Jesse et al. Práticas integrativas na promoção à saúde em
doenças crônicas: uma revisão de literatura. Revista Interdisciplinar de Estudos em Saúde,
p. 41-56, 2019.
SCHREIBER, Anelise Gradovski. Biodança: movimento de corpo, saúde e vida. 2019.
TIBÚRCIO, Regina Rocha Reynaldo. Biodanza como Prática Integrativa Complementar
do SUS (PIC) na Promoção de Saúde Biopsicossocial por uma Comunidade Usuária e
Profissionais do Sistema Único de Saúde. Psicologia-Tubarão, 2020.

72
A UTILIZAÇÃO DO REIKI EM PRÁTICAS DE
SAÚDE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

José Jardeson Martins de Vasconcelos


Léo Barbosa Nepomuceno

INTRODUÇÃO

O Reiki vem de origem da palavra japonesa Rei, que significa


universal, e Ki, energia vital. Traduzido de forma rápida como energia
vital universal. Dentro da concepção da medicina oriental, o desequilí-
brio da energia vital seria promotor de adoecimento. O Reiki, portanto,
é uma técnica de canalização de energia vital através de símbolos e
sons sagrados com o objetivo de organizar a energia vital.
A técnica é comumente aplicada com o toque das mãos ou a
distância em locais específicos do corpo de quem recebe, onde passa essa
energia, visando o reequilíbrio e a harmonização do campo energético
de cada pessoa. Os praticantes de Reiki utilizam a abordagem, através de
ligeiro contato manual para facilitar a abertura dos seus próprios canais
energéticos e, também, dos pacientes (RODRÍGUEZ et al, 2011).
Existe quem considere o Reiki como uma pseudociência por não ser
qualificada na física moderna e muitas vezes associado a uma misticismo
quântico (LIMA et al, 2019), contudo, o conceito da mecânica quântica
existente na física quântica é o que mais se aproxima de uma explica-
ção científica do fenômeno da aplicação e efeitos do Reiki. Segundo
esta teoria é avaliada a descrição do comportamento e a interação da
matéria em nível de partículas subatômicas ou, na linguagem do Reiki,
o campo energético (CE) (MOTTA; BARROS, 2015). Assim, o Reiki
e a concepção de campo energético seguem acontecendo independente
do avanço de uma ciência positivista, que busca identificar no observável
a sua comprovação, soma-se ainda a influência do pensamento orien-
73
tal para o seu fortalecimento. O pensamento ocidental ainda é muito
baseado em evidências que buscam explicação na ciência positivista.
Sabe-se que foi Mikao Usui que difundiu a prática do Reiki na
contemporaneidade, contudo, acredita-se que esta seja uma prática
que remontam as escrituras sagradas do Tibet, de 3000 anos a.C
(MOTTA; BARROS, 2015). Com a ocidentalização desta prática,
o Reiki sofreu algumas alterações, desde a iniciação em sua prática
necessária até variações concretas da sua aplicação, sobretudo, pela
influência da perspectiva capitalista de aprendizado onde se busca
otimizar o máximo possível o tempo para uma margem maior de lucro.
A rara contraindicação, não ser invasivo e o baixo custo do Reiki
levaram a difusão desta prática como uma sugestão complementar aos
tratamentos em saúde, inclusive relacionados a saúde mental, ainda que se
encontre uma resistência pela supervalorização em práticas alopáticas de
saúde. Em estudo com enfermeiras que sofrem com a síndrome de Burnout,
foram comprovados efeitos imediatos na imunoglobina A salivar e da pres-
são arterial diastólica após uma sessão de Reiki (RODRÍGUEZ et al, 2011).
Ainda na ocidentalização, duas variações do Reiki merecem destaque.
O Toque Terapêutico (TT) e o Toque de Cura (TC) possuem semelhan-
ças com o Reiki originário, embora cada um tenha a sua especificidade.
O primeiro foi inventado pela enfermeira Dolores Krieger, em 1972, e
possui um entendimento do sistema dinâmico da energia que liga aspectos
físicos, emocionais, mentais e espirituais. Motta e Barros (2015) descrevem
que o passo a passo desta prática é menos intuitivo que o Reiki e mais
protocolar, como uma série de atitudes para se aplicar, caracterizado da
seguinte forma: 1) inicia-se com a centralização, onde o terapeuta volta
para si sua atenção e para o cuidado do outro; 2) acesso e avaliação do
CE do paciente, em que é colocado a mão de 6 a 12 cm de distância do
CE do paciente; 3) tratamento e modulação do CE; 4) balanceamento
final e estabelecimento do fluxo energético e 6) avaliação. As pesquisas
iniciadas por Krieger apresentaram resultados surpreendentes, despertando
o interesse de estudiosos de diversas áreas, pois tem se buscado por meio
74
estudos investigar efeitos fisiológicos, psicológicos e comportamentais
da imposição de mãos (SANTOS et al, 2013). Já a TC foi desenvolvida
também por uma enfermeira, Janet Mentgen, em 1989, e se utiliza do
toque com as mãos para acessar desequilíbrios de energia sentidos a partir
da textura, temperatura ou vibração (MOTTA; BARROS, 2015).
Ambas as práticas, por terem sido desenvolvidas por enfermeiras,
se tornaram importantes estratégias de cuidado e intervenção desta pro-
fissão da saúde. Em estudo controlado realizado com camundongos para
avaliar a aplicabilidade TT, foi percebido a diminuição na intensidade
inflamatória em lesões após aplicação do TT (SANTOS et al, 2013).
O Brasil teve acesso a esta prática na década de 80 e, somente nos
anos 2000, se abriu o campo das Práticas Integrativas e Complementares
em Saúde (PICS) no Sistema Único de Saúde (SUS). Observa-se o
crescimento da oferta dessas práticas, especialmente na Atenção Primária
à Saúde (APS), com a inclusão de 14 práticas, no ano de 2017, e outras
10, em 2018, favorecendo a uma legitimação das mesmas, no fortale-
cimento e concomitante aumento de estudos científicos sobre o tema
(AMARELLO; CASTELLANOS; SOUZA, 2021). O Reiki passou a
integrar a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC) em 2017 (BRASIL, 2017), sendo, portanto, ofertada pelo SUS.
Compreendendo as potencialidades do Reiki e partindo da
curiosidade do autor principal sobre o tema relacionado ao campo
da saúde, buscou-se, neste artigo, realizar uma revisão de literatura
científica sobre o tema do Reiki para analisar a pertinência deste como
prática de cuidado no campo da saúde.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo exploratório de base bibliográfica, a partir


de revisão integrativa (RI). A RI é um método que tem a finalidade de
reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema
ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o

75
aprofundamento do conhecimento do tema investigado (MENDES;
SILVEIRA; GALVÃO, 2008, p. 759).
Souza, Silva e Carvalho (2010) reforçam que este tipo de estudo
permite a inclusão de estudos experimentais e não experimentais, uma
vez que se avaliará as publicações dentro dos critérios definidos pelo
pesquisador. Acrescentam, ainda, que os passos para a implantação deste
método são: elaboração de pergunta norteadora, busca ou amostragem
na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos,
discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa.
Utilizou-se a base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde
(BVS) para fazer o levantamento da quantidade de publicações com
o tema “toque terapêutico”, uma vez que este é o descritor para as
publicações sobre o Reiki, de acordo com o DeCS/MeSH (Descritores
em Ciência da Saúde). A busca foi realizada no dia 26 de setembro
de 2021, utilizou-se da especificidade da plataforma e a escolha desta
base de dados se deu por conta de sua abrangência dentro do con-
texto das publicações em saúde.
Utilizou-se o descritor “toque terapêutico” para direcionamento
da pesquisa. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados de 2016
a 2021, disponíveis em português e que fosse mencionado a prática
do Reiki no resumo ou título. Foi possível acrescentar o filtro língua
portuguesa, o que diminuiu consideravelmente as buscas por artigos,
pois apareceram publicações em outras línguas. A organização dos
dados se deu através do programa Excel do Microsoft Office Pro-
fissional Plus 2016, com as seguintes questões de pesquisa: título do
artigo, autor, periódico publicado, ano da publicação, tipo de publicação,
objetivo da pesquisa e resultados.
Após a coleta, os dados obtidos foram organizados em duas
categorias para a discussão, a fim de se fazer uma análise crí-
tica dos achados, a saber: 1) aplicabilidade do Reiki e 2) pesqui-
sas quantitativas x qualitativa.

76
RESULTADOS

Foram identificados um total de 30 publicações com o descri-


tor “toque terapêutico”, na plataforma BVS e foram selecionados 11
para leitura, devido ao fato de que 19 artigos não fazerem menção ao
Reiki no título ou resumo. Outros dois foram eliminados em leituras
de aprofundamento porque um se trata de repetição de outro artigo
selecionado e o outro por não focar o estudo no Reiki. Com isso, ficou
o total de 9 artigos para leitura aprofundada e caracterização da revisão
integrativa. Na tabela 1, são apresentados os artigos selecionados.

Tabela 1. Relação dos artigos analisados na revisão integrativa, 2021.


Id Título Autores Periódico e Ano
Terapia Reiki no Sistema Único de Saúde: Amarello, M M; Castellanos, M E Ve r. B r a s i l e i r a de
I sentidos e experiências na assistência inte- P; Souza, K M J Enfermagem, 2021
gral à saúde

Sessão de Reiki em profissionais de Oliveira, L S; Barreiro, M S C;


II Rev. eletrônica enferma-
uma universidade pública: ensaio clínico Rodrigues, I D C V; Santos, A C F gem, 2021
randomizado S; Silva, W W S; Freitas, C K A C.
Terapia Reiki como estratégia de inter-
III venção na dor e no estresse em estudantes Batista, K M; Borges, L M. REVISA (Online), 2020
de enfermagem
Massagem e Reiki para redução de Kurebayashi, L F S; Gnatta, J R;
IV estresse e melhoria de qualidade de vida: Kuba, G; Giaponesi, A L L; Souza, Rev. Esc. Enferm., 2020
ensaio clínico randomizado T P B; Turrini, R N T.
Protocolo de Reiki para ansiedade, depres- Santos, C B R; Gomes, E T;
V são e bem-estar pré-operatórios: ensaio Bezerra, S M M S; Püschel, V A A. Rev. Esc. Enferm., 2020
clínico controlado não randomizado
Reiki no alívio de sinais e sintomas Beulke, S L; Vannucci, L; Salles, L
VI biopsicoemocionais relacionados à F; Turrini, R N T. Cogitare enferm, 2019
quimioterapia
Ferraz, G A R; Lima, S A M;
A aceitação da medicina alternativa com- Rodrigues, M R K; Spiri, W C; Rev. enferm. UFPE on
VII plementar por gestantes com diabetes Juliani, C M C M; Calderon, I M line, 2019
P; Molina, A C; Rudge, M V C.
Rev. Pesqui. (Univ. Fed.
A terapia do Reiki na Estratégia de Saúde Freita, G.V. L; Andrade, A; Badke,
VIII da Família: percepção dos enfermeiros M R; Heck, R M; Milbrath, V M Estado Rio J., Online),
2018
Terapias complementares no cuidado Cunha, J H S; Frizzo, H C F; Souza, Cad. naturol. ter ap.
IX aos profissionais de saúde que cuidam L M P. Complem, 2016
de pessoas com câncer

Dos nove artigos, quatro foram de pesquisa qualitativa, três


foram quantitativas, uma quanti-quali e uma revisão integrativa.
Seis publicações foram feitas em periódicos da enfermagem, o que
77
aproxima essa prática com o cuidado de enfermagem (SANTOS et
al, 2013; BUELKE, 2019). A enfermagem, por ser uma profissão de
contato constante com os pacientes, favorece uma aproximação deste
campo interventivo para alívio de dores e outras condições clínicas.
Quanto ao ano das publicações, houve uma concentração maior no
ano de 2020, com quatro, seguido de 2019, com duas, e as demais, com
uma publicação para cada ano de 2016, 2018 e 2021. Chama atenção a
ausência de publicações no ano de 2017 e a maior quantidade em 2020.
Outro aspecto que merece destaque é a aplicação do Reiki no
cuidado dos cuidadores. Foi percebido que, em três estudos, chama-
-se atenção para a utilização desta prática para alívio de tensão dos
trabalhadores de saúde no exercício de sua profissão. Isso mostra a
necessidade de atenção a regimes de trabalho e carga horária quando
se fala em qualidade aos profissionais de saúde, sobretudo, as enfermei-
ras. No cotidiano de serviços de saúde tem se tornado mais frequente
síndromes como a de Burnout ou esgotamento mental, uma vez que
as enfermeiras representam grupo ocupacional especialmente a sofrer
com esta síndrome em razão das altas demandas físicas e emocionais,
associadas ao local de trabalho (RODRIGUEZ, 2011).
Nestes estudos, ainda se percebe a melhora do nível de ansiedade,
redução do estresse, do alívio e do equilíbrio mental, diminuição da
dor e relaxamento como principais resultados que envolvem a prática
de recebimento do Reiki. Contudo, foi percebido, em uma pesquisa,
o desconhecimento desta prática, mas, igualmente, uma abertura ao
recebimento para agregar no quadro de saúde.
Houve ainda estudos que apresentavam a associação do Reiki
com outra prática complementar, como a auriculoterapia e masso-
terapia e, neles, se acentuou a melhora característica da atuação do
Reiki. Outra importante característica identificada nas leituras foi a
variação das sessões de Reiki para os diferentes estudos, pois houve
estudo em que aplicava uma única sessão e, em outra, se aplicava
durante um tempo para se ter uma característica mais marcante da
78
intervenção no corpo de quem recebia e, igualmente, avaliar o impacto
desta prática no cuidado em saúde.
Como dito acima, a análise dos artigos selecionados foi orga-
nizada a partir de duas categorias: 1) a aplicabilidade do Reiki; e 2)
diferenças entre as pesquisas com viés quantitativo e qualitativo.

A APLICABILIDADE DO REIKI

O Reiki, por ser uma prática de baixo custo e de recursos mínimos


para sua aplicação, necessitando de profissional capacitado e lugar
adequando, favorece a disseminação do seu campo de atuação para
conhecimento de suas vantagens e ampliar seu escopo de atuação.
Pesquisa com internos de hospitais, com estudantes de universidade
e até em camundongos foram achados. Isso ressalta com a pluralidade
de publicações e de objetos de pesquisa relacionados com o tema.
Em uma pesquisa foi possível perceber a aplicabilidade do Reiki
em usuários do SUS e em mestres reikianos que apresentavam um
fortalecimento, sobretudo, de um aspecto espiritual. O mesmo estudo
que trata destes assuntos mostra o quanto a espiritualidade passa a
ter uma importância no cuidado em saúde, visto que a concepção de
campo energético do Reiki abre espaço para entender o fenômeno
transcendente presente em cada pessoa.
Em profissionais de universidade pública, os resultados elucida-
ram que o Reiki proporciona benefícios quanto a diminuição de “afeto
negativo”, este sendo entendido como a possibilidade de um olhar mais
positivo nas áreas de vida dos que receberam o Reiki (OLIVEIRA et
al, 2021). Tal achado corrobora com outro estudo em que foi feito no
espaço acadêmico com estudantes de enfermagem que sofrem com o
estresse e dor, onde foi percebido que o Reiki foi capaz de favorecer
melhorias nas respostas das categorias citadas com aplicação de quatro
sessões (BATISTA; BORGES, 2020).

79
Outro resultado encontrado mostra a relação da melhora da
resposta da qualidade de vida (QV) e do estresse com a massagem
seguido de aplicação de Reiki, para se chegar a tal resultado se com-
parou três grupos: Grupo Massagem seguida de repouso (G1), Grupo
Massagem seguida de Reiki (G2) e Grupo Controle sem tratamento
(G3). Em usuários atendidos neste ambulatório de PICS pesquisado,
mostrou-se uma melhor resposta na qualidade de vida quando foi
aplicada massagem seguida de Reiki.
A Massagem seguida de repouso e a Massagem seguida
pela aplicação de Reiki se mostraram efetivas na redução
dos níveis de estresse e melhoria de qualidade de vida,
com resultados superiores para o Grupo Massagem
seguida de Reiki quando comparada ao Grupo Con-
trole. (KUREBAYASHI et al, 2020)

Resultado ligeiramente melhor após aplicação de Reiki foi


identificado em usuários que apresentavam ansiedade ou depressão
quando submetidos a estágio anterior à cirurgia cardíaca (SANTOS
et al, 2020). Neste estudo, importante destaque para o ambiente hos-
pitalar, que já é envolvido em grande crença espiritual, em que houve
uma consideração melhor ao bem-estar espiritual e existencial.
Também no contexto hospitalar, o estudo de Buelke et al (2019)
fez o levantamento da aplicabilidade do Reiki em sintomas biopsicoe-
mocionais relacionados ao tratamento de quimioterapia e identificou
a diminuição da dor e da ansiedade, além de relatos como: ajuda no
bem-estar, relaxamento, alívio da dor, qualidade do sono e redução
da ansiedade. Este estudo complementa o de Cunha, Frizzo e Souza
(2016), por verificar a repercussão do Reiki nos profissionais que
atuam diretamente com pessoas no tratamento do câncer e com-
provou que esta prática ajudou no alívio do estresse físico e mental
gerado pelo cotidiano de trabalho.
Repercussões relacionado ao mundo contemporâneo são assuntos
do sociólogo Byung Shul-Han. Han (2015), em seu livro A Sociedade
80
do Cansaço, apresenta a síndrome de Burnout (SB) como uma das
doenças neuronais presentes na contemporaneidade. Ele atribui a esta
síndrome o resultado do excesso de positividade na sociedade. Outras
condições capitalistas influenciam ainda mais a SB, como excesso de
trabalho, jornada dupla ou tripla e poucos momentos de descanso e
repouso. Situação bastante recorrente em profissionais de saúde.
Importante destacar que também foi identificado o desconheci-
mento quanto ao Reiki, sendo este percebido no estudo de mulheres
grávidas que foram diagnosticadas com diabetes tipos 1, 2 ou diabetes
gestacional (FERRAZ et al, 2019). Neste estudo foi identificado o
desconhecimento desta prática pelas usuárias, mas igualmente foi
possibilitado por ela a abertura para se aplicar a técnica após divul-
gação em panfleto, contudo, houve também uma compreensão maior
das práticas da PICS por elas. O uso de PICS se torna um questio-
namento neste estudo, pois, preenche-se, no Brasil, pelos profissio-
nais de saúde holística, uma lacuna que não é coberta por nenhum
programa de curso de saúde, pois profissionais de saúde holística têm
uma abordagem genuína e empírica para aliviar o desconforto físico
e espiritual (FERRAZ et al, 2019).
E, no trabalho com enfermeiros da Estratégia Saúde da Família,
Freitas et al (2018) constatou que o Reiki melhora a qualidade de
vida destes profissionais, equilibrando o físico, o mental, o emocional
e o espiritual, similar ao que compreende em outras pesquisas. Estes
resultados chegaram após aplicação de três sessões de Reiki, sendo
elas posteriormente entrevistadas com questionário semiestruturado.
Tem-se, portanto, vários ambientes (contexto de saúde e edu-
cacional), situações (profissionais e usuários), assim como diversas
variações de aplicação (tempo e quantidade de sessões) como princi-
pais locais de aplicabilidade do Reiki, mas que o resultado comum de
bem-estar físico e emocional tem se tornado uma condição comum aos
que recebem esta prática. Com isso, a abrangência do Reiki torna um
aspecto facilitador de uma PICS que possui muito potencial. Talvez
81
sua condição de reequilíbrio energético afete diretamente o contexto
exploratório de doenças neuronais, nas palavras de Han (2015), e nos
ajude a organizar essa dinâmica de vida presente.

DIFERENÇAS DAS PESQUISAS COM VIÉS


QUANTITATIVO PARA AS QUALITATIVAS

A ciência moderna se apoia, hegemonicamente, no conhecimento


quantificado, inclusive, a área da saúde se tem na Medicina Baseada
em Evidência (MBE). Esta é uma tentativa de fazer ciência da saúde
com marcadores que provem a evidência do estudo. Visto a grande
influência do pensamento positivista e do pensamento matemático,
bastante comum no século XIX e de sua perpetuação atualmente, o
raciocínio matemático surgido no Racionalismo (LUZ, 2019) apre-
senta uma forma de fazer ciência, ainda que, em alguns momentos,
é importante contemplar marcadores subjetivos, como do método
qualitativo. E nesta pesquisa se abre espaço para este diálogo.
Isso se torna mais evidente quando verificamos a tentativa de
se avaliar, a partir de marcadores biológicos, a melhora em quadros de
ansiedade e depressão (SANTOS et al, 2020), avaliação do bem-estar
(OLIVEIRA et al, 2021) ou redução do estresse (KUREBAYASHI et
al, 2020), o que na compreensão qualitativa traria informações também
necessárias. Os dados estatísticos, comuns aos estudos quantitativos
sobre o Reiki, mostram a significativa melhora dos resultados após
aplicação, e que quando apreendidos os sentidos a partir das pesquisas
qualitativas (AMARELLO et al, 2021; FERRAZ et al, 2019; FREI-
TAG et al, 2018; CUNHA et al, 2016), se teve uma aproximação expe-
riencial de um embasamento que não caberia ao método quantitativo.
E aqui se compreende o empenho e necessidade de bases quan-
titativas, assim como as qualitativas. Contudo, o positivismo cientí-
fico e a valorização de métodos quantitativos para uma MBE pare-
cem favorecer a este, sabendo que o qualitativo é capaz de contribuir

82
neste diálogo enquanto um aspecto reflexivo do Reiki no cuidado,
como compreendido neste artigo.
O Reiki é um campo de cuidado que, por não trazer aspectos
concretos e táteis, parece ainda ser visto de forma distante pela ciência
positivista, apesar disso, esta pesquisa pode comprovar que existem estudos
qualitativos que podem dialogar em uma compreensão de achados concre-
tos na vida das pessoas (BATISTA; MOREIRA, 2020), uma vez que os
encontrados do benefício do Reiki tem se repetido. O Reiki, assim como
a própria medicina oriental, exige uma concepção que ultrapasse algumas
ideias positivistas da ciência, sobretudo na medicina baseada em evidência.
O campo vivencial e experiencial parece ter recursos possíveis para
captar alguns desses resultados. Isso se mostra presente na única pes-
quisa quanti-quali que surgiu durante as buscas. Enquanto marcadores
de estresse mostrem a melhora após a sessão de Reiki, é na concepção
qualitativa da pesquisa que termos como “relaxamento”, “tranquili-
dade”, “conforto” e “bem-estar” parecem ser mais abrangentes que uma
melhora no estresse. Os relatos descreviam melhora de mal-estar físico,
como “dor”, “enjoo” e “indisposição” (BATISTA; MOREIRA, 2020).
Portanto, nesta sessão não se trata de uma oposição ante uma concep-
ção quantitativa à qualitativa, ou vice-versa, mas sim, sobre aspectos com-
plementares e subjacentes de ambas as formas de investigação para ampliar
uma compreensão sobre impactos e entendimento subjetivo da aplicação
do Reiki na saúde da população nos diferentes contextos, ressaltando
somente a hegemonia quantitativa à perspectiva qualitativa sustentada
historicamente, mas com possibilidade de amplo diálogo destas diferentes
concepções. Como ilustrado a partir do conceito de física quântica:
A linguagem da física quântica tem sido apropriada para
dar conta da noção de energia vital, tanto na espiritua-
lidade como nas PIC. A mesma tem sido explicada a
partir da ideia dos estímulos aos neurotransmissores ou
dos impulsos bioelétricos que transportam informações
pelo corpo. (KUREBAYASHI et al, 2020)

83
Assim como uma busca da própria história do sujeito adoe-
cido na proposta de cuidado é uma forma de compreensão subjetiva
da dor de cada, é imprescindível a coleta de marcadores em escalas
incansavelmente testadas para o fortalecimento das dimensões dos
seres humanos, entendidos como biológico, psicológico, social e espi-
ritual, para assim ajudar na compreensão mais abrangente daquilo
que a pessoa está vivenciando.

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados da pesquisa, é possível inferir a


potencialidade e a abrangência do Reiki em distintos campos. Os
resultados de bem-estar, qualidade de vida, equilíbrio mental e espi-
ritual estão associados a sua atuação no corpo humano. Certamente,
um importante componente de tratamento não medicamentoso e de
baixo custo que pode ser associado a procedimentos alopáticos.
Esta discussão se soma as formas de estudos realizados, com-
preendendo que estudos qualitativos possuem a capacidade descritiva
e de apreensão da real experiência dos que receberam o Reiki, e que
nos marcadores quantitativos se busca uma abrangência universal
daquilo que é sentido. Sendo assim, ressalta-se a complementari-
dade do campo quanti-quali para um entendimento mais preciso da
experiência da aplicação do Reiki.

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109-17, 2020.
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84
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Madalena de Paula. Terapias complementares no cuidado aos profissionais de saúde que
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Fiocruz/Edições Livres, 2019.
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De Pesquisa Para A Incorporação De Evidências Na Saúde E Na Enfermagem. Texto
Contexto Enferm, Florianópolis, v.17, n.4, p. 758-64, 2008.
MOTTA, P. M. R.; BARROS, N. F. A aplicação de técnicas de imposição de mãos no
estresse-ansiedade: revisão sistemática da literatura. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos,
v. 23, n. 2, p. 381-392, 2015.
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SOUZA, M. T.; SILVA, M. D.; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como fazer.
Einstein, v.8, n.1, p.102-6, 2010.

85
O USO DA FITOTERAPIA POR
PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA ATENÇÃO
BÁSICA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Jonathan da Silva Xavier


Mayra Solange Lopes de Vasconcelos

INTRODUÇÃO

As plantas medicinais e fitoterápicos vêm, há muito tempo,


sendo utilizadas pela população brasileira nos seus cuidados à saúde,
tanto na medicina tradicional/popular como nos programas de fito-
terapia do SUS. Entre as práticas Integrativas e Complementares no
SUS, as plantas medicinais e a fitoterapia são as mais presentes nos
serviços, segundo o Ministério da Saúde, destacando-se a maior parte
de sua utilização pela Atenção Primária à Saúde, pelos programas
Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (NASF) (BRASIL, 2012).
A fitoterapia no Brasil foi institucionalizada no Sistema Único
de Saúde (SUS), a partir da publicação da Política Nacional de Prá-
ticas Integrativas e Complementares (PNPIC), em 2006, sendo o
norteador para o desenvolvimento da Política Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF). Essas políticas e as novas
diretrizes que vêm sendo implantadas desde a sua regulamentação
são importantes para possibilitar o acesso seguro para toda a popula-
ção, devendo ser orientados pelos profissionais de saúde habilitados
para tal prática (BRASIL, 2009).
Em 2007, com a inclusão da PNPMF, o Ministério da Saúde
(MS) incluiu alguns fitoterápicos na lista de medicamentos essenciais
para que houvesse um estímulo do seu uso na rede pública, além do
financiamento para eles. Atualmente, temos disponíveis dentro da
86
RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) 12 fito-
terápicos que podem ser subsidiados e adquiridos dentro do programa
da política de assistência farmacêutica (BRASIL, 2018).
Além da RENAME, em 2009, o MS fez o levantamento
de 71 espécies vegetais com potencial terapêutico e, a partir desse
levantamento, publicou a Relação Nacional de Plantas Medici-
nais de interesse ao SUS (RENISUS), com a finalidade de orientar
estudos e pesquisas que possam subsidiar uma maior cobertura de
fitoterápicos capazes de serem utilizadas com segurança e eficácia
pela população (BRASIL, 2021).
O Brasil é um país com biodiversidade imensa e, com o auxílio
das Práticas Integrativas e Complementares (PICs), pode ofertar um
aporte imenso ao SUS com ajuda das plantas medicinais e fitoterá-
picos que, além de ser um recurso natural, possui um baixo custo e
por muitas vezes são cultivadas e bem conhecidas dos usuários dos
serviços públicos de saúde (MORAES et al, 2018).
Tratando-se de atenção básica, o destaque para a inserção e
aprimoramento do uso das plantas medicinais e da fitoterapia está
voltado para os profissionais do ESF, pois é um modelo de serviço
que está inserido na comunidade e apresenta um vínculo fortalecido
entre a equipe de saúde e o usuário, aliando as crenças, saberes popu-
lares e o baixo custo de produção e aquisição em prol da saúde da
população (MORAES et al, 2018).
Apesar da criação de uma portaria para a ampliação do leque
terapêutico de plantas medicinais com segurança e eficácia terapêutica, é
necessário um maior incentivo aos profissionais de saúde e uma imple-
mentação na prática para que os benefícios dessa política e dessa PIC che-
guem de forma eficaz para os usuários do SUS (MARTINS et al, 2021).
Mesmo após o estabelecimento das plantas medicinais e da
fitoterapia como uma política de saúde, torna-se imprescindível com-
preender o nível de conhecimento sobre as plantas medicinais e a

87
fitoterapia dos profissionais atuantes na atenção básica, para que os
usuários sejam orientados de forma segura e satisfatória.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura de caráter descri-


tivo-discursivo, da qual não há critérios explícitos de sistematização,
apresentando uma seleção arbitrária dos artigos (CORDEIRO et al,
2007). A presente revisão aborda questões relacionadas ao uso da fito-
terapia por profissionais da saúde na atenção básica, pontuando seus
desafios e perspectivas, através da pesquisa nas bases de dados Scielo,
Pubmed e Google Scholar, utilizando como descritores de interesse:
“atenção básica”, “estratégia de saúde da família”, “fitoterapia”, “plantas
medicinais”, “primary care”, “medicinal herbs” e “phytotherapy”. Foram
incluídos artigos científicos, teses e dissertações publicados nas refe-
ridas plataformas, além de literaturas complementares ao assunto de
interesse, como documentos oficiais das instituições Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA), Diário Oficial da União (DOU) e
Ministério da Saúde. Foram considerados estudos nas línguas portu-
guesa e inglesa, publicados entre 2016 e 2021. Através dos resultados,
foi elaborada uma descrição discursiva, incorporando a revisão dos
estudos segundo o assunto de interesse.

RESULTADOS

FITOTERAPIA COMO RECURSO TERAPÊUTICO NA


ATENÇÃO PRIMÁRIA

No contexto do SUS, as discussões sobre a utilização de plantas


medicinais e fitoterápicos tiveram início a partir de debates promo-
vidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), durante a VIII
Conferência Mundial da Saúde (1986). Contudo, sua implementação
só aconteceu em 2006, com a elaboração Política Nacional das Práti-
88
cas Integrativas e Complementares (PNPIC) e da Política Nacional
de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) (BRASIL, 2006;
CEOLIN et al, 2017). Através desses documentos, foram desenvol-
vidas as diretrizes e linhas prioritárias para ações que promovem o
acesso seguro, sustentável e uso racional desses recursos por meio da
população brasileira e de profissionais da saúde (BRASIL, 2006).
Um dos principais fatores favoráveis ao uso das plantas medi-
cinais e fitoterápicos, nesse contexto, é a biodiversidade brasileira
que possibilita a utilização de seus recursos. Além disso, o com-
ponente cultural associado ao seu uso popular e o baixo custo tor-
nam o tratamento mais acessível e com maior adesão por parte dos
usuários do SUS (BRASIL, 2012).
No âmbito da atenção primária, o uso das plantas medicinais
e da fitoterapia possibilita a valorização do conhecimento popular
sobre o assunto, associando-o a iniciativas que garantem o uso racional
(BEZERRA et al, 2021). Nas unidades básicas de saúde (UBS), tam-
bém pode se comportar como uma forma de fortalecer o vínculo entre
a comunidade e as equipes de saúde, reforçando seu papel como porta
de entrada, troca de experiências, além da possibilidade de redução do
processo de medicalização, trazendo a fitoterapia e as plantas medicinais
como opções terapêuticas rotineiras nas UBS (BEZERRA et al, 2021).
Diversos estados brasileiros já dispõem de projetos na aten-
ção primária que utilizam a fitoterapia e/ou as plantas medicinais
para auxílio e redução de sintomas adjacente a algumas doenças, por
exemplo, no tratamento de sintomas como a tosse, dor abdominal,
dor de garganta, dor de ouvido, cefaleia, dores generalizadas e outros
sintomas leves (BRASIL, 2012; CACCIA-BAVA et al, 2017).O uso
desse recurso possui uma maior representatividade entre estados do
Sul e Sudeste, destacando-se os estados do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e São Paulo (BRASIL, 2012).
Em estados como o de São Paulo, os fitoterápicos e as plantas
medicinais mais utilizadas em UBS são espinheira-santa (Maytenus
89
officinalis), guaco (Mikania glomerata), alcachofra (Cynara scolymus), cás-
cara-sagrada (Rhamnus purshiana), aroeira (Schinus terebenthifolius), gar-
ra-do-diabo (Harpagophytum procumbens), isoflavona-de-soja (Glycine
max) e unha-de-gato (Uncaria tomentosa) (CACCIA-BAVA et al, 2017).
Apesar de não possuir um volume expressivo de municípios que
oferecem as plantas medicinais e fitoterápicos como recurso terapêutico,
quando comparado a outros estados, o Ceará é pioneiro na implantação
do projeto farmácia viva, no âmbito do SUS, estando essa iniciativa,
inserida na Política Nacional de assistência farmacêutica e difundida,
através da estratégia de saúde da família (ESF) (BRASIL, 2012). Esse
recurso atua, através da implementação de hortos de plantas medicinais,
laboratório de produção de fitoterápicos para posterior distribuição
em unidades de saúde, além de atividades e manuais de orientação
sobre o uso racional para profissionais (BRASIL, 2012).

O USO DA FITOTERAPIA POR PROFISSIONAIS DE


SAÚDE

Sob a perspectiva dos profissionais de saúde, o uso da fitoterapia


na atenção básica, apesar de todo o contexto favorável citado anterior-
mente, ainda enfrenta desafios, tendo em vista que muitos profissionais
podem até conhecer a PNPIC, mas não prescrevem tal terapêutica,
alegando, dentre os argumentos, a falta de perícia necessária para a
prescrição fitoterápica (MATTOS et al, 2018).
A capacitação profissional em fitoterapia é um componente
curricular em alguns cursos de graduação, porém, alguns conselhos
profissionais só permitem a prescrição de fitoterápicos, após a com-
provação do cumprimento uma carga horária mínima em cursos de
pós-graduação, como o ocorrido com os profissionais de nutrição e
enfermagem. Contudo, diferentemente dos citados, profissionais da
farmácia, odontologia, fisioterapia e medicina podem se utilizar da
prescrição fitoterápica sem a necessidade de pós-graduação, tendo em

90
vista que em seus componentes curriculares de graduação há critérios
mínimos para tal capacitação (TURMINA et al, 2019).
Desde a implantação da PNPIC, alguns cursos de capacitação
já foram oferecidos pelo SUS com o intuito de fortalecer essa prática
terapêutica, como o Curso de Fitoterapia a distância para médicos do
Sistema Único de Saúde (SUS) e o curso a distância aberto aos profis-
sionais de saúde que atuam nas equipes de Estratégia Saúde da Família
e Núcleos de Apoio à Saúde da Família (HARAGUCHI et al, 2020).
Outro argumento bastante relatado por profissionais da saúde
é a insegurança sobre o uso, devido ao desconhecimento por parte
destes em relação à farmacocinética, farmacodinâmica e toxicolo-
gia dos medicamentos fitoterápicos e plantas medicinais, além da
interação com outras drogas, apesar da exigência de estudos cientí-
ficos, através de órgãos legisladores, avaliando tais aspectos para sua
utilização (HARAGUCHI et al, 2020). Essa resistência ao uso é
observada principalmente em medicamentos fitoterápicos, contudo, a
oferta da fitoterapia, através das plantas medicinais, em sua forma de
origem, parece possuir melhor adesão prescritiva pelos profissionais
de saúde (MARTINS et al, 2017).
Mesmo diante desse cenário, a implementação oficial da fitote-
rapia na atenção básica tem sido vista com aprovação por esse grupo,
adotando uma postura igualmente positiva em relação à capacitação
para o uso efetivo (MARTINS et al, 2017; HARAGUCHI et al, 2020).
Um estudo feito com profissionais de nível superior ligados à
Estratégia de Saúde da Família (ESF), do Município de Petrolina-PE,
demonstrou que o nível de conhecimento ainda é baixo e carece de
iniciativas que melhor preparem os profissionais para o uso da fitotera-
pia, além de cursos de reciclagem periódicos para reforço dos saberes,
estando, tudo isso, concomitantemente, associado ao investimento na
compra de medicamentos fitoterápicos pelas secretarias municipais e
implementação de laboratórios de manipulação, incluindo também a
farmácia viva no município (NASCIMENTO JUNIOR et al, 2016).
91
O mesmo estudo demonstrou que, apesar do nível de conhecimento
entre os profissionais ainda ser baixo, há uma maior prescrição de fitote-
rápicos por meio dos profissionais de enfermagem, medicina e cirurgiões
dentistas, destacando-se a indicação do uso de chás, em especial Boldo
(Plectranthus barbatus A.) e Camomila (Matricaria recutita L), usados para
o tratamento de distúrbios gastrointestinais e ansiedade, respectivamente
(NASCIMENTO JUNIOR et al, 2016). Apesar de em menor proporção,
também foram relatados por profissionais a indicação de medicamentos
fitoterápicos tais como Guaco® (Mikania glomerata S), um expectorante
e broncodilatador; Maracugina® (Passiflora alata A., Erythrina mulungu
M, e Crataegus oxyacantha L.), sedativo e Tensart® (Passiflora Incarnata
L), indicado para estados de irritabilidade, tratamento de insônia e
desordens da ansiedade (NASCIMENTO JUNIOR et al, 2016).
A utilização desses fitoterápicos como alternativa complementar
aos tratamentos tradicionais parece ser melhor aceita do que quando com-
parado a sua prescrição isoladamente, de modo que outro estudo, elabo-
rado com equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) do município de
Blumenau, apontou que a maioria dos profissionais entrevistados indicaria
a fitoterapia como adjuvante, porém, o estudo revela que essa preferência
pode variar conforme a especialidade médica (MATTOS et al, 2018).

PERSPECTIVAS E DESAFIOS

Temporalmente, a medicina entende a importância da medicina


alternativa, principalmente, quando se trata de fitoterapia e atenção
básica, porém, apesar de muitos estudos demonstrarem uma maior
aceitação e um melhor entendimento por parte dos profissionais
médicos no SUS, pode-se verificar que ainda existem muitas dúvidas
e barreiras no uso dessa terapia (VIEIRA, 2018).
Alguns casos de sucesso têm sido relatados em relação ao uso
da fitoterapia como estratégia terapêutica por profissionais da saúde.
Um estudo multicêntrico elaborado a partir do Programa Nacional
de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ),
92
cujo objetivo é ampliar o acesso e melhorar a qualidade dos serviços
de atenção primária à saúde do Sistema Único de Saúde, demonstrou
que apenas 11% das unidades de atenção básica estaduais dispunham
de fitoterápicos e/ou plantas medicinais, ao passo que, ao nível muni-
cipal, no contexto de São Paulo, especificamente, a disponibilização
subia para 16%, demonstrando uma maior disponibilidade de recursos
e ações nesse âmbito, o que poderia refletir em um maior incentivo
aos profissionais de saúde que atuam ao nível municipal a utilizar esse
recurso em suas terapêuticas (CACCIA-BAVA, 2017).
No Município de Oriximiná, localizado no estado do Pará, foi
realizado um estudo com 65 profissionais de saúde, distribuídos entre
médicos, enfermeiros, odontólogos, nutricionistas e fisioterapeutas para
verificar a percepção dos profissionais de saúde sobre plantas medi-
cinais e fitoterápicos (PMF) no SUS. Foi verificado, inicialmente, a
capacitação desses profissionais a respeito do assunto, sendo verificado
que poucos profissionais haviam recebido algum tipo de treinamento,
enquanto os outros não tinham conhecimento sobre o tema, porém,
a maioria dos entrevistados demonstrou interesse em receber qualifi-
cação sobre o tema, com exceção de alguns médicos, cerca de 22,2%
que se demonstraram relutantes quanto a inserção deles nessa prática
(Tabela 1) (SANTOS et al, 2018).

Tabela 1: Perguntas relacionadas ao interesse, qualificação e prescrição de PMF


por profissionais de saúde do SUS em Oriximiná.
Categoria Profissional (%)
Perguntas
Enf Med Odon Nut Fis
Já recebeu treinamento em PMF? 12,1 11,1 11,1 0 0
Tem interesse em receber treinamento sobre PMF? 97 88,9 88,9 100 100
Tem interesse em prescrever PMF? 97 77,8 100 100 100
Já fez automedicação com PMF? 60,6 45,5 45,4 66,6 66,6
Já prescreveu PMF para pacientes? 43,5 51,8 0 66,6 66,6

Fonte: SANTOS et al, 2018.


PMF: Plantas medicinais e fitoterápicos; Enf: enfermeiro(a); Med: médico(a);
Odon: odontólogo(a); Nut: nutricionista(a); Fis: fisioterapeuta.
93
No mesmo estudo, observa-se que mesmo os profissionais
tendo relatado a falta de qualificação para fazer a prescrição das
PMF, alguns médicos e enfermeiros destacaram o desinteresse e a
falta de confiança na fitoterapia (Tabela 2) (SANTOS et al, 2018).

Tabela 2: Justificativas para não realizar o uso e a prescrição de PMF pelos profis-
sionais de saúde do SUS de Oriximiná-PA.
Por que não fazem automedi- Por que não tem interesse em
cação com PMF? Prescrever PMF?
Profissionais (%) (%)
FQ FI FC O FQ FI FC O
Enfermeiros 21,2 15,1 6,1 3 33,3 3 6,1 3
Médicos 38,9 11,1 16,7 0 50 11,1 16,7 0
Odontólogos 55,6 0 0 0 88,9 1,1 0 0
Nutricionista 100 0 0 0 100 0 0 0
Fisioterapeuta 100 0 0 0 66,6 0 0 33,3
FQ = Falta Qualificação; FI = Falta de Interesse; FC = Falta de Confiança; O = Outros.

Fonte: SANTOS et al., 2018.

De modo geral, o uso das PIC’s no SUS merece um olhar


focado, principalmente, quando se trata de uma política de saúde
em um país como o Brasil, que apresenta uma sociedade mista e um
modelo biomédico cada vez mais sofisticado. Para uma verdadeira
implementação de uma PIC no SUS, exige um grande desafio para
os gestores, pois há um número reduzido de pessoas qualificadas e
financiamento público insuficiente, além dos fatores culturais dos pro-
fissionais de saúde que interferem negativamente na implementação
da prática (TELESI JÚNIOR, 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso da fitoterapia e das plantas medicinais precisa ser mais


abordado durante a formação acadêmica dos profissionais de saúde,
principalmente, nos cursos de medicina, de onde surgem a maioria das
prescrições. Além da abordagem na graduação, é essencial a oferta de
94
uma educação continuada, abrangendo as políticas de saúde, envol-
vendo as PICs, os protocolos terapêuticos e, em especial, a fitoterapia.
Na atenção básica, a educação permanente deve ser o foco para
que os profissionais atuantes consigam inserir e orientar a fitoterapia
e o uso de plantas medicinais para as comunidades, em especial, no
Estratégia Saúde da Família, onde temos um maior contato e uma
relação de confiança com a comunidade. Apesar do uso de plantas
medicinais pelas comunidades já ser bem difundido, é necessária uma
correta orientação sobre coleta, armazenamento, preparação, posologia,
tempo de uso e a possibilidade de interação com outras drogas e/ou
outros alimentos, pois a maioria da população tem a falsa impressão de
que os fitoterápicos e as plantas medicinais por se tratar de produtos
naturais não trazem riscos à saúde.
Além dos profissionais de saúde, os hortos medicinais e o projeto
farmácias vivas devem ser fortalecidos e divulgados, pois esses espaços
servem como base de apoio para o engajamento dessa PIC para a
população, fornecendo insumos vegetais e orientação para o plantio
domiciliar, drogas vegetais e fitoterápicos de forma gratuita ou por
um preço muito mais acessível do que os medicamentos alopáticos.

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Tecnologia e Insumos Estratégicos. RENISUS - Relação Nacional de Plantas Medicinais
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Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

95
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97
APITERAPIA PODE SER ÚTIL EM CASOS DE
COVID-19?

Luana Matos de Souza

INTRODUÇÃO

A apiterapia é um método integrativo que envolve o uso de


produtos das abelhas, como mel, própolis, veneno de abelha, geleia
real, entre outros, para promoção e manutenção da saúde, além
do auxílio complementar no tratamento de algumas condições de
saúde alteradas (SEIJAS, 2012).
Pesquisas arqueológicas mostram relatos sobre a apicultura e
utilização do mel como terapia há 6000 mil anos. No Brasil, a api-
cultura teve início em 1939, com a inserção de abelhas europeias.
No entanto, buscando melhorar a produtividade do mel, o estudioso,
Warnick Estevam, introduziu também abelhas africanas no país. Nesta
época houve um acasalamento acidental entres as espécies, surgindo
as abelhas africanizadas (ALMEIDA et al, 2017).
Apenas em 1967, foi fundada a Confederação Brasileira de Api-
cultura e, em seguida, em 2006, a apiterapia em si começou a ser mais
difundida e utilizada no país. Atualmente, já se conhecem oito produtos
provenientes das abelhas que são utilizados pela apiterapia. Essa técnica
foi liberada para utilização por 45 especialidades médicas, chegando ao
número de 500 doenças tratadas pelo método (ALMEIDA et al, 2017).
Dentre os principais produtos provenientes das abelhas, os
mais utilizados na apiterapia são a própolis, geleia real e a apitoxina,
que são sintetizados quimicamente pelas próprias abelhas. Além
do mel, que é derivado de plantas e é processado pelas abelhas para
seu próprio uso (SEIJAS, 2012).

98
Há mais de 2000 anos, os produtos das abelhas vêm sendo utiliza-
dos como métodos terapêuticos devido a sua composição rica em com-
postos bioativos. Dentre as utilizações destes produtos apícolas, desta-
cam-se as propriedades anti-inflamatória, antimicrobiana, cicatrizante,
imunomoduladora e antiviral. Os quais têm sido comumente utilizados
na terapia de doenças como a artrite reumatoide, infecções respiratórias,
úlceras, câncer e doenças neurodegenerativas (CUCU et al, 2021).
No entanto, diante da atual pandemia, surge o interesse e a neces-
sidade da investigação de novas terapêuticas para este contexto, como
a apiterapia, uma vez que já são bem estabelecidas suas propriedades
antivirais e os benefícios dos produtos apícolas para problemas respi-
ratórios e melhora da imunidade. Dessa forma, o objetivo desta revisão
é discutir os possíveis efeitos dos produtos apícolas contra o Covid-19.

METODOLOGIA

O presente trabalho é do tipo exploratório descritivo. A obten-


ção dos dados foi realizada através de um levantamento bibliográfico
de artigos completos em língua portuguesa no Google Acadêmico,
assim como, na língua inglesa, realizado na base de dados PubMed.
Os artigos foram selecionados, utilizando-se os descritivos: “mel”,
“própolis”, “geleia real”, “apiterapia”, “anti-inflamatório”, “antiviral”,
“honey bee”, “propolis”, “royal jelly”, “apitherapy”, “anti-inflammatory”,
“antiviral” e “covid-19”, de forma combinada dois a dois. Além disso,
foi preconizado um intervalo temporal de cinco anos (2017 a 2021).

RESULTADOS

Atualmente, são conhecidos oito produtos provenientes das


abelhas, dentre os quais, os mais utilizados e difundidos na apiterapia
têm sido o mel, a própolis, a geleia real e a apitoxina. O mel é um
produto proveniente do néctar das flores, o qual passa por um tipo
de processamento pelas abelhas operárias e entregue as nutrizes que
99
finalizam, enriquecendo-o com enzimas, formando o mel. É com-
posto, principalmente, por água, aminoácidos, carboidratos, ácidos
graxos, flavonoides, minerais, enzimas e vitaminas. A partir de seus
compostos, tem sido utilizado na apiterapia por suas funções como
probiótico, compostos antibióticos, anti-inflamatórios, antioxidante e
cicatrizante. Deve ser utilizado, prioritariamente, para tratamento em
sua forma natural, cru, uma vez que os benefícios do produto podem
ser prejudicados em temperaturas acima de 45 graus. Além disso, tem
sido bastante utilizado na forma de cremes ou pomadas (BORGES
et al, 2021; CUCU et al, 2021).
A própolis é um produto naturalmente produzido pelas abelhas,
a partir da seiva das árvores, que é combinada com a cera e a saliva
das abelhas, servindo como revestimento e proteção da colmeia. A
composição desse produto é bastante complexa, contendo carboidra-
tos, ácido graxos, aminoácidos, vitaminas e mais de 300 substâncias
medicamentosas, as quais podem variar de acordo com a fonte vegetal
utilizada pelas abelhas. A fonte vegetal também determina o tipo de
própolis, dessa forma, existem diversos tipos, como a verde brasileira,
vermelha brasileira, vermelha cubana, europeia, dentre outras. Os
compostos presentes nesses produtos apresentam ação anti-inflama-
tória, antibiótica seletiva, vermífuga, sem afetar a flora intestinal, e
alcalinizante, expurgando radicais livres e dioxinas. Este produto deve
ser consumido por via oral (aquoso e alcoólico), através de colírios,
ovos vaginais, supositórios, enemas e via nasal com o nebulizador
(KOCOT et al., 2018; BACHEVSKI et al., 2020).
A geleia real é outro produto produzido pelas próprias abelhas
nutrizes, a partir do pólen e do mel, concentrada e enriquecida com
secreções glandulares, servindo de alimento para abelha rainha e para
sua prole. É composta, principalmente, de água, carboidratos, ácidos
graxos, aminoácidos, vitaminas e minerais. Apresenta um alto potencial
enzimático, hormonal, energético, vitalizador e purificador dos tecidos.

100
Pode ser consumida em sua forma natural, crua ou de forma líquida, em
comprimidos, cápsulas ou pó (KOCOT et al, 2018; CUCU et al, 2021).
Por fim, a apitoxina é mais um produto que tem sido utilizado
na apiterapia. Este é produzido pelas abelhas a base de pólen e mel
e é enriquecida com secreções glandulares, a toxina é utilizada, prin-
cipalmente, para defesa das abelhas e da colmeia. Sua composição
principal é de água, melitina, enzimas fosfolipase A2, hialuronidase
e fosfatase ácida, alérgeno C e as neurotoxinas apamina e histamina.
A partir destes ricos compostos, a apitoxina apresenta ações anti-
-inflamatória, anestésica, antibiótica, principalmente, degranulador
de toxinas, dissolvendo gorduras e ácidos úricos alojados nos teci-
dos, nas cartilagens, nas artérias e órgãos. Sua utilização pode ser
feita através de aplicação direta do ferrão no local, assim como na
forma de cremes ou sublingual (ALMEIDA et al, 2017; NASCI-
MENTO; SILVA; BONACHELLA, 2020).
Os potenciais antivirais dos produtos apícolas foram amplamente
comprovados em estudos anteriores, dessa forma, tais produtos têm sido
considerados possíveis candidatos para o tratamento do coronavírus
(SARS-CoV-2). Os sistemas de saúde pública, mundialmente, têm
sido sobrecarregados pela atual pandemia da doença COVID-19. Além
da ocorrência de infecções assintomáticas, a quantidade limitada de
testes e equipamentos de proteção individual (PPE) para profissionais
de saúde em todo o mundo demonstraram-se os principais fatores
para uma disseminação amplificada do vírus (MARIN et al, 2021).
A pneumonia foi o sinal clínico inicial da doença COVID-19
relacionada à SARS-CoV-2, o qual permitiu a detecção de casos. Além
disso, sintomas gastrointestinais e infecções assintomáticas também
têm sido descritos, especialmente, entre crianças mais novas. Em
pacientes sintomáticos, a manifestação clínica da doença geralmente
começa após menos de uma semana, sendo os principais sintomas
febre, tosse, congestão nasal, fadiga e outros sinais de infecções do
trato respiratório superior. A infecção pode progredir para doença
101
grave com dispneia e sintomas torácicos graves correspondentes a
pneumonia na maioria dos pacientes, conforme visto por tomografia
na admissão. A pneumonia ocorre, principalmente, na segunda ou
terceira semana de uma infecção sintomática (MARIN et al, 2021).
A terapia antiviral dos produtos apícolas já é bastante difundida e
evidenciada. Diversos estudos demonstraram o papel antiviral do mel,
por exemplo, contra doenças como gripe, influenza, rubéola. Além de
inibir a replicação de certos vírus, o mel mostrou-se eficaz, promovendo
a proliferação dos linfócitos humanos. Dentre os compostos bioativos
responsáveis por essa atividade antiviral, destacando-se o peróxido de
hidrogênio, os fenóis e os bioflavonóides (AL NAGGAR et al, 2020).
Estudos recentes demonstraram que o novo coronavírus pode ser
rapidamente inativado após a desinfecção de superfícies com álcool 70%,
peróxido de hidrogênio 0,5% ou outro alvejante doméstico, contendo
hipoclorito de sódio 0,1% (KASOZI et al, 2020). Uma vez que o mel
contém peróxido de hidrogênio (H2O2) em sua composição, acredi-
ta-se que a ingestão diária deste produto leva à inativação de quais-
quer partículas do vírus na garganta, assim, fornecendo uma medida
protetora. Além do H2O2, as propriedades físico-químicas naturais,
como osmolaridade, pH, viscosidade e espessura do mel favorecem
sua potência antimicrobiana, visto que este produto apresenta carac-
terísticas ácidas, com um pH de 3,5 a 4,5, maximizando sua atividade
antimicrobiana (AL NAGGAR et al, 2020). Dessa forma, o mel tem
sido apontado como potencial protetor contra a COVID-19, devido a
suas propriedades biocidas químicas, bem como as propriedades físi-
cas, as quais podem ajudar a desinfetar ou reter as partículas do vírus,
antes que estas cheguem aos pulmões (AL NAGGAR et al, 2021).
A própolis também tem sido investigada no combate à pande-
mia. Estudos recentes demonstraram que determinadas substâncias
presentes em diferentes tipos de própolis, principalmente, o éster
fenetílico do ácido cafeico (CAPE), podem atuar na inibição de
uma enzima essencial para o ciclo de vida do vírus (KUMAR et al,
102
2021). Além disso, outras substâncias presentes nesse produto (ácido
cafeico, ácido p-cumárico, ácido t-cinâmico, CAPE, rutina, miricetina,
hesperidina, crisina e pinocembrina) foram associadas à inibição da
enzima conversora de angiotensina (ECA), a qual é essencial para
a invasão e replicação do vírus na célula hospedeira. As substâncias
mais eficazes estudadas na inibição da ECA (superior a 90%) foram
o ácido p-cumárico e a catequina, as quais constituem as maiorias das
própolis (BARRETTA et al, 2020).
O veneno da abelha ou apitoxina também apresenta atividade
antiviral, devendo-se, principalmente, à melitina, o composto bioa-
tivo mais abundante nesse produto. A melitina já é evidenciada pela
atuação da destruição de barreira protetora de alguns vírus, como o
vírus da imunodeficiência humana (HIV). Dessa forma, acredita-se
que ela pode atuar da mesma maneira contra o SARS-CoV-2. Além
disso, o veneno tem sido bastante difundido pela sua propriedade de
modulação do sistema imunológico, sendo apontado por alguns autores
como prevenção dos sintomas do COVID-19 (KASOZI et al, 2020).
Por sua vez, a geleia real tem sido demonstrada como protetora
contra infecções conjuntas com o COVID-19. A geleia possui em
sua constituição peptídeos isolados como as jelleines (Jelleine I-IV),
as quais são potentes agentes antibacterianos e antifúngicos. Estudos
mostram a ação das jelleines tanto em patógenos bacterianos, como
o mycoplasma pneumoniae, além de fungos como a candida albicans, os
quais são comumente apresentados conjuntamente com os quadros
de COVID-19 (LIMA; BRITO; NIZER, 2021).

CONCLUSÃO

Diante do exposto, os produtos apícolas são bem evidencia-


dos por suas propriedades nutricionais e terapêuticas. Nesta revisão,
discutimos de forma abrangente os efeitos promissores de diferentes
produtos apícolas contra a pandemia emergente COVID-19. Inúmeros
estudos apontam a validade e os critérios únicos destes produtos que
103
abrigam uma ampla mistura de fitomedicamentos, os quais podem
ajudar a proteger, combater e aliviar a infecção por COVID-19. Apesar
disso, trata-se de estudos bastante recentes, necessitando-se de mais
pesquisas, principalmente, experimentais que possam comprovar os
mecanismos de defesa destes produtos.

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105
EFEITOS TERAPÊUTICOS DO YOGA NA
SAÚDE MENTAL E FÍSICA DA POPULAÇÃO
EM PERÍODO DE PANDEMIA DA COVID-19

Mariana Campos da Rocha Feitosa

INTRODUÇÃO

A doença do coronavírus (COVID-19) surgiu em dezembro


de 2019, na cidade de Wuhan, na China. A doença disseminou-se
rapidamente pelo país e por todos os continentes. A Organização
Mundial de Saúde (OMS) declarou o vírus SARS-CoV-2, em março
de 2020, como pandemia global (HALABCHI et al, 2020; SILVA et
al, 2020; BOGOCH et al, 2020).
A pandemia da COVID-19 apresenta um inesperado desafio à
saúde pública, além do impacto negativo na economia global. Medidas
estão sendo implementadas em todo o mundo, por meio dos gover-
nos, das organizações não governamentais e de indivíduos, visando
retardar a disseminação do vírus para evitar a sobrecarga dos sistemas
de saúde (FRÜHAUF et al, 2020).
A transmissão da doença ocorre, principalmente, a partir da
disseminação respiratória de pessoa para a pessoa, por meio de contato
próximo a fluidos corporais infectados, por exemplo, aperto de mão,
espirros, tosse ou fala. Possui alto potencial de contágio e gravidade,
com rápida disseminação e possibilidade de necessidade de cuidados
de saúde intensivos. Assim, a comunidade científica preocupou-se
em buscar medidas para enfrentamento. Uma pesquisa mostrou que
muitos infectados apresentavam sintomas mais leves e se recuperavam
sem necessidade de tratamento, entretanto, outros progrediam para
quadros mais graves, podendo evoluir para o óbito, sendo os grupos

106
mais vulneráveis compostos por idosos, portadores de comorbidades
e imunodeprimidos (WHO, 2020a).
A pandemia mundial ocasionada pela doença do coronavírus
(COVID-19) intensificou a preocupação dos profissionais de saúde
com a saúde mental da população, visto que, devido às orientações
de prevenção à doença estarem diretamente associadas ao isolamento
social, propiciou perturbações psicológicas e sociais, afetando a capa-
cidade de enfrentamento às mudanças ocasionadas pela pandemia,
em níveis diferentes da sociedade (WHO, 2020a).
Dentre os impactos gerados à saúde mental relatados na literatura,
estão: medo de contrair a doença, distanciamento social, insegurança
da população devido ao colapso dos sistemas de saúde, desemprego,
modificações nas relações interpessoais, sentimentos de desamparo e
abandono, raiva, depressão, tédio, insônia, ansiedade, ideações, tenta-
tivas e/ou suicídio (LIMA et al, 2020; BROOKS et al, 2020; LI et
al, 2020; ORNELL et al, 2020).
A incerteza, em alguns casos, sobre a possibilidade de morte ou o
risco de infectar familiares e amigos pode potencializar estados mentais
de mal-estar, desconforto, ansiedade e depressão constante, incluindo
sentimentos de estigma com indivíduos suspeitos ou confirmados de
COVID-19, que poderão impactar negativamente na saúde mental
(ORNELL et al, 2020; MOHAMMED; MARK, 2020).
Ao considerar o contexto de emergência ocasionado pela pande-
mia que impactou diretamente na população, intervenções no campo
da saúde mental tornam-se fundamentais, para que haja a condução
adequada, a fim de evitar o prolongamento do sofrimento psíquico e
os agravos secundários no período de pandemia e pós-pandemia. A
OMS e muitas instituições de saúde propuseram diretrizes para for-
necer assistência psicológica à população em geral e aos profissionais
de saúde, entretanto, faz-se necessário garantir que intervenções e
programas baseados em evidências científicas sejam implementadas,
garantindo, assim, os melhores resultados à população (WHO, 2020b).
107
Apesar de o isolamento social ser medida estratégica para maior
controle dos casos, poderá trazer consequências negativas, dentre estas,
aumento do sedentarismo e da inatividade física da população, dimi-
nuição da interação social, maiores períodos de imobilidade, direta ou
indiretamente relacionada ao uso de equipamentos virtuais, como com-
putadores, celulares e televisão, além de alterações na motivação para a
prática regular de atividade física, visto que, muitas vezes, estão associa-
das à necessidade de equipamentos, locais específicos, como academia,
parques, clubes e suporte profissional presencial (REIS et al, 2016;
BRAZENDALE et al, 2017; SOUZA FILHO; TRITANY, 2020).
Nesse cenário, é fundamental a elaboração de intervenções
de cuidados em saúde mental baseadas em evidências que conside-
rem o contexto pandêmico, como fator desencadeador de sofrimen-
tos e que permitam a população proteger a saúde mental durante a
pandemia e a prevenção de agravos no pós-pandemia. Dentre essas
práticas, ressalta-se a importância do yoga, prática que exige pouco
espaço físico e que, se praticada com regularidade, pode contribuir
para saúde mental (MOREIRA et al, 2020; CARTWRIGHT et
al, 2020; CORRÊA et al, 2020).

MÉTODO

Trata-se de estudo qualitativo, de revisão narrativa, apropriada


para discutir o estado da arte de determinado assunto, sob o ponto de
vista teórico ou contextual. As revisões narrativas não informam as
fontes de informação utilizadas, a metodologia para busca de referên-
cias nem os critérios utilizados na avaliação e seleção dos trabalhos.
Baseiam-se na análise da literatura publicada em livros, artigos de
revista impressas e/ou eletrônica na interpretação e análise crítico
pessoal do autor (ROTHER, 2007).
A categoria de revisão narrativa tem papel fundamental para
educação continuada, possibilitando ao leitor adquirir e atualizar o
conhecimento sobre temática específica, em curto espaço de tempo,
108
entretanto, não possui metodologia que permita a reprodução de
dados nem forneça respostas quantitativas para questões específicas
(ROTHER, 2007). A coleta de dados foi realizada em setembro de
2021 e se utilizaram das seguintes bases de dados como fontes de
pesquisa: SciELO, Medline e Pubmed. Os materiais selecionados
foram lidos integralmente e incorporados ao estudo.

RESULTADOS

Os tópicos descritos nos resultados discorrem sobre a temática


em questão, na tentativa de elucidar os efeitos positivos do Yoga
sobre a saúde física e mental das pessoas em período de pandemia da
COVID-19 e como recurso complementar às terapias medicamentosas
que a população e os profissionais de saúde podem fazer uso durante
períodos de incertezas, visando melhor qualidade de vida.

BREVE HISTÓRIA DA YOGA

O Yoga foi originado na Índia antiga, como prática abran-


gente da mente e do corpo, tornando-se popular em todo o mundo,
com abordagem holística do bem-estar físico e mental. Representa
uma filosofia de vida aos praticantes, que acreditam que, por meio
de vivências, ocorre transformação pessoal, maior empoderamento,
desapego dos condicionantes e impressões, libertação de padrões
cristalizados na mente e maior resiliência às condições estressantes.
Embora existam muitas vertentes do Yoga, os principais compo-
nentes incluem: posturas físicas, técnicas de respiração, relaxamento
e meditação (YOGANANDA, 2016).
Patanjali, no século II a.C, sistematizou o Yoga em oito passos:
1) yamas, relacionado com o mundo externo (não violência, veracidade,
honestidade e desapego); 2) niyama, relacionado às regras de vida e
às relações com o mundo interno (pureza, harmonia, serenidade, ale-
gria, estudo); 3) ásanas, equivale às posições do corpo; 4) pranayama,
109
direcionado ao controle da respiração; 5) pratyahara, relacionado ao
controle das percepções sensoriais orgânicas; 6) dharana, corresponde
à concentração; 7) dhyama, à meditação; e 8) samadhi, refere-se à
identificação. Deste modo, podemos associar os yamas aos comporta-
mentos e os nyamas às atitudes, promovendo eliminação de perturba-
ções causadas por desejos e emoções descontroladas, paz e sabedoria
e promoção da saúde mental (BARROS et al, 2014).
Yamas e nyamas são princípios filosóficos universais que
direcionam o indivíduo a construir essencialmente valores, virtudes,
atitudes e comportamentos que incidam diretamente sobre o respeito
por si e pelos outros. Os cinco yamas são: ahimsa (não violência contra
a natureza, animais, os outros e contra si mesmo), satya (verdade, não
mentir para os outros, nem para si mesmo), asteya (não roubar; válido
para itens materiais, ideias, tempo, saúde etc.), brahmacharya (controlar
impulsos e sentidos, moderação em todos os hábitos) e aparigraha (não
acumulação ou desapego em relação a objetos, pessoas, cargos etc.). Já
as disciplinas internas, os nyamas, são: saucha (purificação ou limpeza
do corpo e dos pensamentos), santosha (prática de contentamento
diário e agradecimento por todas as situações), tapas (perseverança e
disciplina para o desenvolvimento físico, mental e espiritual), svadhyaya
(estudo de si e buscar o verdadeiro eu) e isvara-pranidhana (entrega
ao caminho espiritual) (FEUERSTEIN, 1998).
Completam os oito passos de Patãnjali: ásana, que significa
assento estável e confortável e, atualmente, refere-se às posturas de
Yoga. Engloba elementos de isometria muscular, alongamento, equilí-
brio, alinhamento corporal, respiração controlada, foco na consciência
corporal, associação com elementos da natureza e personagens da
mitologia hindu, proporciona eliminação das perturbações que o corpo
físico causa à mente e é executada por meio de respiração harmoniosa,
relaxamento do esforço desnecessário e atitude mental adequada e,
para isso, exigem-se concentração, autopercepção e autoconhecimento.

110
O pranayama consiste em exercícios que controlam a frequência
respiratória e a expansão torácica, como forma de expandir a energia
vital (prana), tendo como objetivo proporcionar maior conexão entre
corpo e mente e melhorar as funções respiratórias. Pratyahara, dharana
e dhyana são técnicas de concentração e meditação que conduzem ao
silenciar da mente, ao autoconhecimento e à conexão com aspectos
espirituais, por meio da introspecção, de modo a estreitar, cada vez
mais, as relações com a mente e eliminar as distrações. Shamadhi é
o ápice do Yoga, considerado estado psicoemocional indescritível de
supraconsciência, no qual o indivíduo se torna livre de todas as aflições,
sofrimentos e ilusão (FEUERSTEIN, 1998).
A prática do Yoga se tornou crescente no Ocidente, mais do que
sua filosofia, estando relacionada principalmente aos benefícios para a
saúde, à cura de doenças, à redução do estresse, sendo características
mais valorizadas no Ocidente (GAUR, 2022). A falta de conhecimento
acerca do Yoga no Ocidente e a influência comercial estabeleceram no
Ocidente a visão que as práticas do Yoga estavam relacionadas direta-
mente à realização de exercício físico e às interpretações que definem a
prática de Yoga para alívio de dores nas costas, correção de escolioses,
melhora do desempenho de atletas, preparação de gestantes para o parto.
Além da prática como exercício físico, o desconhecimento sobre
o assunto ou também a influência comercial, quando os conhecimentos
vieram para o Ocidente, trouxeram certos conceitos que não fazem
parte essencialmente da totalidade do Yoga, como interpretações que
definem a prática de Yoga para redução de dores nas costas, correção
de escolioses, otimização de desempenho de atletas, preparação de
gestantes para o parto ou ainda melhora da concentração de crianças
hiperativas, as quais não são Yoga, mas poderão ser benefícios adqui-
ridos pela prática (RODRIGUES et al, 2006)

111
EFEITOS TERAPÊUTICOS DA YOGA EM PERÍODO
PANDÊMICO

A pandemia da COVID-19 trouxe mudanças não somente


relacionadas à rotina, como também à saúde mental da população.
Quarentena, isolamento social, notícias negativas divulgadas pelas
mídias sociais fizeram com que os casos de depressão, ansiedade e
estresse aumentassem em todo mundo. O Brasil, em período anterior
à pandemia, já estava à frente em relação ao restante do mundo em
casos de ansiedade. A Organização Mundial da Saúde registra que
9,3% da população brasileira sofrem com esse problema e esse cenário
agravou-se devido à pandemia (CARPE DIEM ACADEMIA, 2020).
Para melhoria da saúde física e mental durante o período de
pandemia, muitas pessoas recorreram à Yoga, em virtude dos benefícios
dessa prática. Pesquisadores em todo mundo relatam as vantagens
dessa atividade, as quais se enfatizam neste tópico, apresentando
alguns resultados de pesquisas.
Devido à pandemia da COVID-19, medidas de isolamento
social, visando à redução da disseminação do vírus, foram realizadas,
acarretando mudanças relacionadas à rotina de trabalho de vários
profissionais, para que o mesmo fosse adaptado para o ambiente domi-
ciliar, trazendo desafios adicionais e aumento do estresse relacionado
ao trabalho (WADHEN; CARTWRIGHT, 2021).
A viabilidade da intervenção de Yoga transmitida virtualmente
para alívio do estresse e bem-estar das pessoas foi o objetivo de estudo
realizado por Wadhen e Cartwright (2021). Em ensaio clínico rando-
mizado, o grupo de intervenção que vivenciou a prática de Yoga por
seis semanas, em comparação ao grupo controle, apresentou melhorias
significativas no estresse, no bem-estar mental, na redução da depressão,
no prazer na realização da intervenção e na autoeficácia relacionada
ao enfrentamento dos desafios impostos pela pandemia, corroborando
resultados de pesquisa realizada com pacientes que apresentavam câncer
112
em estágio III e IV, cujas cuidadoras avaliaram também o benefício de
intervenções virtuais de um programa de Yoga, ressaltando a impor-
tância de no futuro ser mantida essa forma eficaz e segura da prática
de Yoga virtual para pacientes clínicos (SNYDER et al, 2021).
Em estudo desenvolvido na Índia, com moradores de cinco
aldeias de comunidades rurais, revelou-se que esses moradores pos-
suíam níveis de conscientização, enfrentavam desafios e buscavam
estabelecer estratégias para o enfrentamento da COVID-19. Dentre
essas estratégias, estava o Yoga, no qual 86% das pessoas das aldeias
estavam aderindo a essa prática. A atividade física e o Yoga evidenciaram
impacto positivo na saúde física, ao aumentar a imunidade, melhorar
a capacidade do corpo de lutar contra infecções, melhorar a saúde
mental e prevenir o ganho de peso (GONZALEZ, ET AL, 2022).
Em outro estudo, que tinha como objetivo determinar os efeitos
do Yoga, massagem terapêutica, relaxamento muscular e alongamento
para aliviar o estresse e melhorar a saúde física e mental dos profissionais
de saúde, os resultados identificaram quinze ensaios clínicos randomi-
zados, em amostra de 688 profissionais de saúde, no qual concluíram
que atividades físicas de relaxamento, como yoga, são úteis na redução
do estresse nessa população e podem ser empregados aos profissionais
de saúde, inclusive de forma virtual, sugerindo que os gestores do
setor saúde devem considerar a implementação dessas atividades e
de programas que integram esses métodos, visando promover maior
bem-estar aos profissionais de suas equipes, em especial, nesse período
de pandemia da COVID-19 (ZHANG et al, 2021).

CONCLUSÕES

O potencial terapêutico da prática do Yoga em período de pan-


demia da COVID-19 é evidenciado por meio dos resultados de pes-
quisas científicas de impacto apresentadas, ressaltando os benefícios
promovidos para melhor saúde física e redução de estresse, aumento
do bem-estar mental e físico e redução da depressão. Modificações
113
no contexto de realização das práticas, devido às recomendações
preventivas ocasionadas pela pandemia foram mostradas, visto que
programas virtuais de Yoga foram substituindo as ações realizadas
anteriormente em grupo, porém, a eficácia para quem fez uso da
prática virtual se mostrou evidente.
Sugere-se a implementação de políticas públicas de saúde mental
em conjunto com estratégias que favoreçam as práticas físicas, em
especial o Yoga, em diversos contextos e populações, como estraté-
gia de respostas para o enfrentamento de epidemias e pandemias,
antes, durante e após o evento.

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116
OS BENEFÍCIOS DA TERAPIA ASSISTIDA
POR ANIMAIS (TAA)

Marcos Fábio Pinto Bandeira

INTRODUÇÃO

Intervenção Assistida por Animais (IAA) é todo tipo de inter-


venção terapêutica, de assistência, de apoio, de serviço, de educação ou
de lazer que utiliza o animal como parte do processo para melhorar a
qualidade de vida e a participação social da pessoa assistida, bem como
sua resposta terapêutica. A IAA pode ocorrer por meio de Educação
Assistida por Animais (EAA), Atividade Assistida por Animais (AAA)
e Terapia Assistida por Animais (TAA).
A Educação Assistida por Animais (EAA) é um recurso
pedagógico em que o animal é considerado parte integrante do
processo ensino aprendizagem formal ou informal ou do processo
de socialização na vida escolar.
A Atividade Assistida por Animais (AAA) é uma intervenção
sem fins terapêuticos, desenvolvendo atividades de entretenimento,
recreação, motivação, direcionada à melhoria da socialização, da qua-
lidade de vida e da participação social. Indicada para idosos, pessoas
com deficiência, mobilidade reduzida, doenças crônicas ou transtor-
nos globais do desenvolvimento.
A Terapia Assistida por Animais (TAA) adota uma metodolo-
gia de intervenção, realizada por profissionais de saúde, com critérios
específicos, em que o animal é considerado parte integrante do processo
terapêutico. Outras nomenclaturas também são utilizadas como pet
terapia, terapia mediada por animais e zooterapia.
Os objetivos são claros e dirigidos para desenvolver e aprimorar
aspectos sociais, físicos, emocionais e cognitivos das pessoas envolvidas.
117
É necessário um planejamento prévio e seus resultados devem ser
constantemente avaliados (FERREIRA e GOMES, 2017).
A TAA pode receber nomenclatura específica dependendo
do tipo de animal que participa da terapia. A Terapia Facilitada por
Cães (TFC), também conhecida como cinoterapia, é uma atividade
que utiliza o cão como facilitador no processo terapêutico. A terapia
assistida por cavalos ou equoterapia é um método terapêutico que
utiliza o cavalo, por meio de uma abordagem interdisciplinar nas áreas
de saúde, educação e equitação. Este tipo de terapia busca melhorar
o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e com
necessidades especiais. Também atua como um recurso de estimulação
dos órgãos sensoriais e reeducação motora (LIMA e SOUZA, 2018).
Quando se utiliza golfinhos como coterapeutas a técnica é
chamada de delfinoterapia. Nadar com estes animais, ou mesmo
tocá-los, sensibiliza os pacientes reduzindo o estresse. Porém um
grande impeditivo para adesão a essa terapia é o alto preço, devido
aos cuidados especiais que devem ser mantidos com o golfinho. Outro
problema é que nem sempre a delfinoterapia é realizada por profis-
sionais de saúde (DOTTI, 2014).
Para evitar riscos aos pacientes deve ser feita uma avaliação
criteriosa adequando os exercícios aos animais e aos propósitos tera-
pêuticos. É necessário levar em conta o temperamento individual
e comportamento inerente à espécie animal escolhida para evitar
agressões por parte dos animais. Também é importante reconhecer
se há uma empatia entre as partes envolvidas na terapia. Os pacientes
com fobias e aversão a animais, assim como portadores de alergia
ao tipo de pelo do animal envolvido, não devem ser incluídos em
programas de TAA (SAN JOAQUÍN, 2002).
Os animais devem ter o acompanhamento de médico vete-
rinário, garantindo a saúde do animal e diminuindo os riscos de
zoonoses. É fundamental manter o respeito e carinho pelo ani-

118
mal, pois a qualidade de vida desses terapeutas animais é essencial
para o bom funcionamento da TAA.
Um aspecto que deve ser pensado é que a interrupção da TAA
pode resultar em impactos negativos, como problemas emocionais,
principalmente, em idosos e crianças. O afastamento do animal, ao qual
se criou um vínculo afetivo na terapia, remete a sentimentos ruins, dolo-
rosos e difíceis de serem superados pelos pacientes (MCGUIRK, 2005).

BREVE HISTÓRIA DA TERAPIA ASSISTIDA POR


ANIMAIS

Desde o início da civilização os animais e os seres humanos man-


tiveram uma estreita relação estabelecida por questões de sobrevivência.
Com o passar dos séculos muitos humanos passaram a considerar
alguns animais como integrantes do seu núcleo familiar. Em algumas
culturas os animais eram vistos como sagrados, fieis e protetores. Os
gregos antigos acreditavam que os cães tinham a capacidade de curar
doenças e por isso criavam como terapeutas auxiliares (DOTTI, 2005).
Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental, citou à
equitação como fator regenerador da saúde com a inserção do cavalo
em processos terapêuticos por volta de 400 a.C.
Durante os séculos XVIII e XIX, muitas espécies de animais,
como cães, gatos e pássaros eram encontradas em instituições de saúde
na Inglaterra (SERPELL, 2010).
No ano de 1792, o hospital psiquiátrico York Retreat na Ingla-
terra, passou a utilizar animais no tratamento de pacientes com doen-
ças mentais (ROCHA et al., 2016).
Em 1952, nos Estados Unidos, Levinson constatou que um
paciente criança, que pouco se comunicava, interagiu com o seu cão
que estava presente no consultório e apresentou efeitos benéficos no
processo psicoterapêutico. O termo “Animais de Terapia” foi usado

119
pela primeira vez por Levinson em 1969, sendo considerado como
o pai da TAA (MARTINEZ, 2008).
Na década de 1950, no Brasil, a psiquiatra Nise da Silveira observou
que os pacientes apresentavam facilidade em estabelecer vínculos afeti-
vos com cães e gatos. Essa constatação no hospital psiquiátrico do Rio
de Janeiro a levou a chamá-los de coterapeutas (STUMM et al., 2012).
A equoterapia foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medi-
cina (CFM) como método terapêutico no Brasil em 1997.
Em 07/02/2018 foi sancionada no município de São Paulo a lei
n.16.827-18 que autoriza a entrada de animais em hospitais públicos
para visitar pacientes internados.
O Projeto de Lei 682/21 regulamenta a prática de cinotera-
pia, modalidade de terapia assistida por cães em todo o território
brasileiro, está em fase final de tramitação na Câmara dos deputa-
dos (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2021).

MÉTODO

Foi realizada uma revisão da literatura de abordagem qualitativa


sobre os vários tipos de terapias realizadas com animais, incluindo seus
usos, benefícios e principais resultados. As bases de dados científicas
que foram utilizadas como fonte de pesquisa foram: Scielo, Medline,
Pubmed e Google Acadêmico, além de sites específicos sobre terapia
assistida com animais. Este estudo bibliográfico faz um levantamento,
síntese e interpretação dos trabalhos científicos publicados anterior-
mente. Como critério de inclusão utilizou-se artigos de língua por-
tuguesa e inglesa, publicados entre os anos de 2002 e 2022.

RESULTADOS

Todas as faixas etárias podem realizar a TAA, estando presente


em diversos locais como hospitais, clínicas, ambulatórios da dor, escolas,
instituições de idosos, entre outros (FERREIRA e GOMES, 2017).
120
As sessões terapêuticas podem ocorrer de forma indi-
vidual ou em grupo sendo adaptadas às necessidades de
cada paciente ( JACKSON, 2012).
Dentre os vários diagnósticos que recebem indicações para rea-
lizar a TAA os principais são: Transtorno do espectro autista (TEA),
espasticidade muscular em crianças com paralisia cerebral, Síndrome
de Down, câncer infantil, Doença de Parkinson, Síndrome do Pânico,
Alzheimer e demência (LIMA e SOUZA, 2018).
São muitas as espécies de animais envolvidas com a tera-
pia sendo mais comum os cães, cavalos, gatos, coelhos, pei-
xes em aquário, aves e golfinhos.
O animal mais utilizado é o cachorro devido ao seu alto nível de
sociabilidade, facilidade de criar vínculos e adestramento, facilitando a acei-
tação da terapia entre os pacientes (CARDOSO e CARVALHO, 2021).
As intervenções assistidas por cães ajudam pessoas com necessi-
dades especiais a interagirem com o ambiente em que vivem, melho-
rando a qualidade de vida. Como exemplo temos o cão-guia que auxilia
as pessoas cegas ou com baixa visão a se locomoverem. Alguns estudos
comprovaram que o convívio com cães e gatos diminuem os níveis de
depressão em idosos (BRANSON et al., 2017).
A interação do paciente com o animal melhora a capacidade de
concentração e comunicação em todas as faixas etárias (GONÇALVES
e GOMES, 2017). Muitos pacientes apresentaram melhora na área
social e educacional, no desempenho escolar, reduzindo a agressividade
e prevenindo a ansiedade e depressão (AMARAL, 2016).
Quando as pessoas entram em contato com animais libe-
ram uma grande quantidade de hormônio ocitocina. Este hormô-
nio produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise poste-
rior é responsável pelas sensações de amor e felicidade. Por isso a
TAA é um tratamento eficaz para pacientes ansiosos, depressivos e
solitários (MACIEL e GOMES, 2018).

121
Pesquisas comprovaram que a interação afetiva entre homem e
animal reduz a concentração de cortisol e adrenalina no sangue, hor-
mônios que estão ligados ao estresse (BELLETATO & BANHATO,
2019). Também foi observado uma melhora na imunidade do
paciente com menor predisposição para desenvolver alergias e pro-
blemas respiratórios (DOTTI, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os animais de estimação, em muitas vezes, são vistos como


membros da família e desenvolvem laços afetivos como se fossem
filhos. O carinho e cuidado com estes animais relembram momentos
agradáveis do cotidiano com seus familiares e isso pode ser um fator
positivo para o sucesso de um tratamento.
Atualmente diversas terapias alternativas são utilizadas em muitos
países de forma complementar ou adjuvante ao modelo médico tradicional.
A terapia com animais pode ser um ótimo complemento ao
tratamento convencional medicamentoso, visando proporcionar
uma saúde integral ao paciente.
Inúmeros benefícios são percebidos pelos usuários quando a TAA
é bem indicada e realizada por profissionais competentes, através de
uma equipe multidisciplinar. Cada paciente necessita de uma demanda
própria na realização da terapia assistida por animais a fim de obter
melhorias na parte física e cognitiva dos participantes.
A estimulação dos aspectos físicos, cognitivos, afetivos e sociais
dos usuários contribuem para uma maior autonomia e engajamento no
desenvolvimento social dos mesmos. Também pode ser destacado que
os pacientes apresentam uma melhora da autoestima, com mudanças
comportamentais e sentimentais positivas.
A TAA pode atuar na promoção, reabilitação da saúde, dimi-
nuição do tempo de internação e com isso minimizar os riscos de

122
infecções. Assim proporciona uma melhora na qualidade do tratamento
de forma integrada e mais humanizada.
É necessário incentivar a produção de novos estudos quan-
titativos e qualitativos, realizados no Brasil e no mundo, sobre os
benefícios da terapia com animais. Os resultados destes estudos
devem ser amplamente divulgados para que a população tenha um
maior conhecimento sobre essas formas de tratamento, seus proto-
colos e estratégias de atuação.
Também é fundamental um maior incentivo a qualificação de
profissionais para atuar na TAA, bem como implementar políticas
públicas que incluam a terapia com animais nas mais diversas áreas
do Sistema Único de Saúde (SUS).

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124
CONHECENDO A MEDITAÇÃO E A SUA
IMPORTÂNCIA PARA A SAÚDE ORGÂNICA
E PSÍQUICA COMO UMA IMPORTANTE
PRÁTICA INTEGRATIVA DE SAÚDE PARA A
BUSCA DO EQUILÍBRIO MENTE E CORPO

Antônia Célia De Castro Alcântara

“E se, transformando nossas mentes, pudéssemos melhorar


não só nossa própria saúde e bem-estar como também as de
comunidades pelo mundo todo?”
(GOLEMAN, 2017)

INTRODUÇÃO

Especialmente após o distanciamento físico imposto pela situação


pandêmica causada pela COVID-19 em todas as partes do mundo, as
pessoas vêm sentindo necessidade da busca pela meditação e autor-
reflexão, como um recurso para auxiliar na manutenção do bem-estar
integral e da saúde emocional. Pandemias anteriores também vieram
acompanhadas de elevação nos índices de ansiedade e sofrimento,
muitas vezes, atribuídos ao isolamento. Após os picos da pandemia
COVID-19, as previsões apontam para um aumento futuro nas taxas
de depressão e suicídio (HAN RH et al, 2020).
Mais da metade da população brasileira (61,7%) utilizou-se das
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICs) em 2020, sendo
28% especificamente da meditação, durante o primeiro ano da pandemia
de Covid-19. A conclusão é da pesquisa PICCovid – Uso de Práticas
Integrativas e Complementares no Contexto da Covid-19, desenvolvida
pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica
em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz) em parceria com o
Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e
125
Complementares em Saúde (ObservaPICS), também da Fiocruz, e a Facul-
dade de Medicina de Petrópolis (FMP/Unifase), no Rio de Janeiro, que
pesquisou através de um questionário on-line, cerca de 12.136 pessoas com
mais de 18 anos, nas cinco macrorregiões brasileiras (ALMEIDA, 2021).
Como médica reumatologista, estudar mais sobre meditação foi
desafiador e pouco a pouco fui me encantando com sua história, seus
saberes e a riqueza de informações que estão hoje a nossa disposição.
A intenção desse diálogo é trazer um entendimento amplo dessa
prática milenar no contexto de uma medicina mais integrativa, que
entenda o paciente como um indivíduo, que possui diversos sistemas
integrados, que pensa, que sente, que vive. Entender como a prática da
meditação surgiu, como se expandiu pelo mundo e evoluiu como tera-
pêutica clínica e recurso voltado para a busca do bem-estar, passa pelo
conhecimento de sua história e de sua consolidação pela ciência atual.
As práticas meditativas são tão importantes para o mundo moderno
como eram para os asiáticos séculos atrás. Seu emprego é universal,
abordando questões fundamentais para a existência humana em todo
o mundo no decorrer dos séculos e nunca tão relevantes quanto hoje.

A HISTÓRIA DA MEDITAÇÃO: DO SURGIMENTO À


INCORPORAÇÃO COMO PRÁTICA INTEGRATIVA EM
SAÚDE

Desde os tempos mais remotos, na concentração para caça,


observando o fogo ou contemplando a natureza, o ser humano busca
estados de interiorização do pensamento que podem ter sido os pri-
meiros estados meditativos espontâneos. Mesmo antes de ser assim
denominada, os historiadores descrevem relatos de práticas de medi-
tação, ou seja, rituais envolvendo concentração, relaxamento e busca
por autoconhecimento, cerca de 1500 anos antes de Cristo. Nas regiões
da Índia, há registros de escritos de práticas de autoconhecimento e
yoga nos chamados Upanisad, capítulos especiais dos Vedas, que são
os textos mais importantes do Hinduísmo. Os Vedas hinduístas estão
126
entre as primeiras referências escritas sobre meditação. Eliminando
as barreiras do ritualismo mecânico, os yogis do tempo das Upanisad
mergulham neles mesmos sem outras ferramentas que a concentração
e a meditação. Outras formas surgiram associadas ao confucionismo e
taoísmo, na China, assim como no hinduísmo, jainismo e budismo no
Nepal e Índia. Meio século antes de Cristo, a meditação se expandiu
na Índia com a prática do budismo e os ensinamentos de Siddharta
Gautama denominado como Buda (o “desperto” ou “iluminado”), expan-
dindo-se depois para o Japão e para a Europa (PRUDENTE, 2014).
No Ocidente, mesmo 20 anos a.C., dentro do Império Romano,
Fílon de Alexandria nomeou práticas espirituais que envolviam aten-
ção e concentração. No terceiro século depois de Cristo, Plotino havia
estabelecido técnicas para a meditação. Durante toda a Idade Média, a
prática da meditação cresceu muito ligada às tradições religiosas como
um formulário da oração, tal como a meditação judaica. A meditação
cristã, praticada desde o século VI, foi definida pelo monge Guigo II,
no século XII, com os termos “leitura, reflexão, oração e contemplação,”
e teve seu desenvolvimento continuado no século XVI em diante por
Inácio de Loyola e Teresa de Ávila (LANE, 2005). No século XX,
a meditação cristã contemplativa destacou-se com o monge trapista
Thomas Merton (SALOMAO, 2008). No século XVIII, os ensinos
antigos da meditação começaram a tornar-se mais populares entre a
população de culturas ocidentais.
No Ocidente norte-americano, os anos 40 e 50 marcados pelo
movimento Beat ou contracultura e por uma geração insatisfeita anti-
materialista e de introspecção, que influenciou os músicos da década
de 60, foram terrenos férteis para o fortalecimento da meditação,
agora não mais ligada apenas a religiosidade. Nos anos 60, a migração
de líderes espirituais da Ásia, devido a tensões políticas nesse conti-
nente, também contribuiu para a expansão das práticas meditativas
(MURPHY et al, 1997) Após a década de 60, começaram a surgir os
estudos sobre os efeitos da meditação e o funcionamento psicofísico.
127
A década de 80 foi marcada pela desvinculação do contexto tradi-
cional e espiritual e o reconhecimento científico dos benefícios da
meditação. Carl Gustav Jung, médico, psicólogo e psiquiatra suíço,
criador da psicologia analítica, contribuiu significativamente para o
novo conceito de meditação e psiquê, defendendo a busca pelo auto-
conhecimento (SHAMDASANI, 2003).
Na década de 80, o que ficou conhecido como Mindfullness
expandiu-se pelos Estados Unidos e Europa. A palavra Mindfull-
ness, usada para traduzir Sati (palavra proveniente do dialeto indiano
denominado Pali, que significa lembrar) em inglês, foi um neolo-
gismo criado quando, no século XIX, T. W. Rhys Davids encontrou
o termo Sati enquanto traduzia DN22 para inglês, ele procurou um
equivalente que iria expressar esse significado de memória aplicado
à atividade proposital no momento presente. A palavra ‘Mindful’
significava ‘manter-se lembrando de algo’, ele apenas converteu o
adjetivo em um nome (BHIKKHU, 2012).
Em 1979, Jon Kabat-Zinn, pesquisador americano e estudante
do zen, vipassana e yoga, iniciou, no centro médico da Universidade
de Massachusetts, um programa de meditação com ênfase na redução
do estresse e baseado na atenção plena e expandiu o conceito de Min-
dfulness como uma terapêutica clínica. O programa incluía meditação
sentada com atenção à respiração, às sensações do corpo, aos estados e
conteúdos mentais, atenção em varredura com conscientização de cada
parte do corpo (body scan), exercícios motores com plena consciência
do corpo (posturas de yoga) e questionamentos com reflexões em
grupo sobre as experiências (WILLIAMS et al, 2007).
No Brasil, as práticas orientais de meditação se estabeleceram
antes mesmo da chegada da contracultura (hippies), estabelecida
curiosamente, mais preponderantemente por não representantes da
contracultura ou do movimento nova era (ZICA et al, 2016). Em
1936, a meditação chega ao país através da viagem de Swami Asuri
Kapila à cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, discípulo de
128
Ramana Maharish (Maha Yoga), com quem estudou durante 10 anos.
Em 1953, Sevananda, um francês de nome verdadeiro Léo Costet
de Mascheville, criador do Sarva Yoga (yoga Integral), funda no Rio
de Janeiro a “Associação Mística Ocidental”, o primeiro ambiente de
práticas orientais no Brasil. Em 1955, Sociedade Budista do Brasil foi
fundada na cidade do Rio de Janeiro. Na década, duas figuras tiveram
destaque: Caio Miranda, que publica, em 1960, o primeiro livro de
Yoga no Brasil, pela editora Freitas Bastos, intitulado “Libertação lo
Yoga”, com grande sucesso e José Hermógenes de Andrade Filho,
militar, escritor, professor brasileiro, divulgador do hatha ioga. Prof.
Hermógenes, como era conhecido, era doutor em Yogaterapia, pelo
World Development Parliament, da Índia, e Doutor Honoris Causa
pela Open University for Complementary Medicine. Foi nomeado
o cidadão da paz do Rio de Janeiro, em 1988, e recebeu a medalha
Tiradentes, em 8 de maio de 2000, pela Assembleia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro, pelo bem-estar e benefícios à saúde que
suas obras levaram para os brasileiros (CARUSO JUNIOR, 2012).
No Brasil, o debate sobre as práticas integrativas e complemen-
tares em saúde, incluindo a meditação, e sua implementação como
parte de uma estratégia para promoção da saúde integral começaram
a despontar no final de década de 70, após a declaração de Alma Ata,
e validados, principalmente, em meados dos anos 80, com a 8ª Con-
ferência Nacional de Saúde. Respaldado pelas diretrizes da OMS, em
3 de maio de 2006, o Ministério da Saúde aprova, então, através da
Portaria GM/MS nº 971, a Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares em Saúde (PNPIC), formalizando a prática da
meditação como uma estratégia de saúde adotada pelo sistema único
de saúde (SUS) (GLOSSÁRIO TEMÁTICO, 2018).
Como uma história tão rica e o tempo, foram se desenvolvendo
diversas técnicas e práticas de meditação. Os tipos de classificação de
meditação ainda são variados e amplamente subjetivos. De uma forma
didática, pode classificar a meditação com base na maneira como focali-
129
zam a atenção: concentrada, quando a técnica está voltada para cultivar a
concentração aprimorada e o foco de um único ponto em um determinado
objeto, além do desenvolvimento da meta-consciência; monitoramento
aberto, onde as habilidades de monitoramento são transformadas em um
estado de consciência reflexiva com um amplo escopo de atenção, sem se
concentrar em um específico objeto; com utilização de um mantra, que é
a concentração na recitação de uma palavra ou frase; Mindfulness, repre-
sentada por um estado de atenção autorregulado, focado em experiências
do momento presente, enfatizando a curiosidade, abertura e aceitação;
meditação compassiva, que envolve principalmente a geração e o cultivo da
compaixão, tradicionalmente usando várias técnicas de imagens mentais,
focada nas mudanças dos padrões cognitivos, comportamentais e afetivos
autorreferenciais em direção às tendências e pensamentos que envolvem
o bem-estar dos outros; meditação automática de autotranscedência
ou as práticas de meditação transcendental, que permitem o indivíduo
transcender por meio de um processo de apreciação de mantras em níveis
mais refinados. O mantra torna-se cada vez mais inexperiência secundária,
finalmente desaparecendo e permitindo que a autoconsciência se torne a
consciência primária (BRANDMEYER et al, 2019).
Não há práticas certas ou erradas ou mais ou menos indicadas.
A melhor prática é aquela que funciona melhor com o indivíduo, com
o qual há a maior identificação e familiaridade.

A MEDITAÇÃO NOS DIAS ATUAIS

O interesse da ciência acadêmica pela meditação é cres-


cente nos últimos 10 anos. Entre 2011 e 2021, há mais de cinco
mil artigos publicados e disponíveis na plataforma PubMed. Defi-
nitivamente, a meditação descolou-se do conceito abstrato e reli-
gioso para a terapia clínica e de bem-estar, com inúmeros estudos
mostrando benefícios mensuráveis.
Em 2004, o estudo de Lutz e colaboradores conseguiu mostrar
que meditadores experientes treinados tibetanos eram capazes de induzir
130
conscientemente achados de eletroencefalografia (EEG) indicativos
de maior aprendizado e plasticidade neural. Como explicou Richard
Davidson, a publicação deste achado no Anais da “National Academy of
Sciences” marcou uma virada para a pesquisa da meditação, um marco no
caminho para o novo campo que ele chamou de “neurociência contem-
plativa” (LUTZ et al, 2004). Nos anos seguintes, outros pesquisadores
publicaram estudos sobre o aumento induzido da espessura cortical
cerebral em determinadas regiões específicas, no córtex pré-frontal
(PFC), associadas com maior autorregulação cognitiva, socioemocio-
nal e capacidade de resiliência. A ideia é que a reatividade ao estresse
traumático no sistema límbico, circuito neuronal relacionado às respostas
emocionais e aos impulsos motivacionais é mal controlada quando o
PFC esquerdo está hipoativo, mas se resolve quando a meditação e/ou
psicoterapia aumenta sua atividade. Esse modelo também é consistente
com a recente descoberta de que a meditação reduz a conectividade do
córtex pré-frontal com a amígdala, uma das áreas mais importantes do
sistema límbico cerebral, responsável por respostas emocionais relativas
ao comportamento social e ao controle da agressividade de humanos e
outros mamíferos (LAZAR et al, 2005; VAN DEN HURK et al, 2010).
A ciência trouxe novos conceitos para a capacidade de adapta-
ção do nosso cérebro às mudanças: a Neuroplasticidade. Se até pouco
tempo os cientistas achavam que o cérebro, após o desenvolvimento
com a chegada à idade adulta, não mais mudava, com os novos estudos
cada vez mais avançados da neurociência, sabe-se que novas conexões
neuronais são sempre possíveis por estímulos internos, através de nossas
vivências e pelo ambiente onde vivemos. Graças à neuroplasticidade,
o cérebro pode até mesmo “compensar lesões e traumas sofridos por
um indivíduo” (GULYAEVA et al, 2017). A meditação pode promover
novas conexões neuronais, reduzindo a velocidade e sincronização
das ondas cerebrais, promovendo maior flexibilidade na troca entre
hemisférios em resposta às demandas de tarefas específicas, melhorando
aspectos da saúde física, mental, emocional e espiritual de quem se
131
dedica à prática regular, compensando o declínio cognitivo normal
relacionado à idade ou até mesmo melhorando a função cognitiva
em adultos mais velhos (HÖLZEL et al, 2014; SARA et al, 2006).
Outras alterações no metabolismo do corpo humano também
têm sido estudadas. Pesquisadores descobriram que, durante a prática
da meditação, o corpo consome seis vezes menos oxigênio que quando
se dorme, a quantidade de gás carbônico eliminado cai em proporção à
quantidade de oxigênio consumido e o quociente respiratório perma-
nece constante, ocorrendo um aumento no débito cardíaco, redução do
cortisol, do lactato e da epinefrina no plasma, reduzindo naturalmente
a atividade metabólica no nível celular, levando a redução dos níveis
de pressão arterial e de frequência cardíaca (LEVINE et al, 2017).
Com tantos efeitos a nível cerebral, não se torna difícil de
entender por que a meditação contribui para o controle e redução do
estresse e ansiedade. Um grupo de pesquisadores em Baltimore avaliou
47 estudos com 3.320 participantes e concluíram que os programas
de meditação Mindfulness apresentaram evidências moderadas para
melhorar a ansiedade e reduzir o estresse (GOYAL et al, 2014).
Um importante e atual questionamento está relacionado aos
efeitos da meditação nos transtornos depressivos. Segundo a OPAS
(Organização Panamericana de Saúde), a depressão é um transtorno
comum em todo o mundo, de causas multifatoriais, com determinantes
genéticos, ambientais e a interação entre ambos, ainda com muitas
nuances a serem estudadas. Estima-se que, em 2020, mais de 300
milhões de pessoas tenham sofrido depressão e cerca de 800 mil pes-
soas morram por suicídio a cada ano - sendo essa a segunda principal
causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Apenas nos
EUA, as consequências econômicas dos transtornos depressivos foram
estimadas em mais de US$ 210 bilhões, com aproximadamente 45%
atribuíveis a custos diretos, 5% a custos relacionados ao suicídio e 50 %
para custos do local de trabalho. Essa tendência representa um desafio
substancial para os sistemas de saúde em países desenvolvidos e em
132
desenvolvimento, com a necessidade de tratar pacientes, otimizar recur-
sos e melhorar a atenção geral à saúde mental (CIPRIANI et al, 2018).
Recentes pesquisas têm apontado a meditação como uma prática
integrativa valiosa complementar ao tratamento farmacológico para
depressão, sendo potencializada quando aliada à prática de exercícios
físicos regulares com na yoga (SAEED et al, 2010). De acordo com um
estudo na Universidade da Califórnia, durante a meditação, a enzima
telomerase (ligada ao sistema imunológico) tem sua ação intensificada. Os
telômeros são as capas protetoras nas extremidades dos cromossomos, seu
comprimento tem sido relacionado à longevidade do organismo humano,
à exposição ao estresse crônico e à depressão. Isso levanta a questão de
como o envelhecimento celular pode ser modulado pelo funcionamento
psicológico. Para chegar aos resultados, a equipe de cientistas analisou
60 pacientes durante três meses: metade praticou a meditação; os outros
trinta, não, atuando apenas como grupo de controle da pesquisa. Os
pesquisadores consideraram dois processos psicológicos que estão em
oposição um ao outro – a cognição de ameaça e a atenção plena - e seus
efeitos no envelhecimento celular. As cognições de estresse psicológico,
particularmente, avaliações de ameaças e pensamentos ruminativos,
podem levar a estados prolongados de reatividade. Em contraste, as téc-
nicas de meditação Mindfulness parecem mudar as avaliações cognitivas
de ameaça para desafio, diminuir o pensamento ruminativo, reduzir a
excitação do estresse e aumentar diretamente os estados de excitação
positivos. Observaram que algumas formas de meditação podem ter
efeitos salutares sobre o comprimento dos telômeros, reduzindo o estresse,
aumentando os estados mentais positivos e os fatores hormonais positivos
e contribuindo para redução das sensações negativas na depressão. Nos
pacientes que meditaram, as taxas da telomerase se mostraram cerca
de 30% mais elevadas nas células do sistema imunológico, além de
apresentarem melhora na percepção de controle (sobre a própria vida e
arredores), na atenção, nos propósitos da vida (sentido de vida e metas
a longo prazo) e diminuição das emoções negativas.
133
Outro tema que tem ganhado muita atenção e interesse, espe-
cialmente após a pandemia pelo COVID-19, é o sistema imune. O
sistema imune ou sistema imunológico é um elaborado complexo onde
estão envolvidos milhões de células e diversos órgãos que trabalham em
equipe para reconhecer microrganismos externos e elaborar as defesas
do nosso corpo, por exemplo, os nossos anticorpos. Algumas vezes esse
sistema sofre uma autoestimulação, levando às doenças autoimunes.
Nos últimos 20 anos, as pesquisas envolvendo os efeitos da meditação
no sistema imunológico vêm ganhando notoriedade. As descobertas
sugerem possíveis efeitos da meditação em marcadores específicos de
inflamação, imunidade mediada por células e envelhecimento biológico.
Ainda há muito campo para investigações e necessidade de ampliação e
refinamentos metodológicos, sendo que duas importantes meta-análises,
onde foram avaliados mais de 50 publicações e mais de 3800 voluntá-
rios, revelaram evidências replicadas de que a mediação está associada a
mudanças em processos selecionados do sistema imunológico envolvidos
na inflamação, imunidade e envelhecimento biológico, influenciando
inclusive nas respostas imunológicas específicas do vírus à vacinação, pro-
vavelmente, aumentando as respostas imunológicas à vacinação (BLACK
et al, 2021). Com essa variedade de ações no sistema imune, as práticas
meditativas também têm sido aliadas no tratamento complementar de
doenças reumatológicas. Pesquisas no campo da fibromialgia, artrite
reumatoide, osteoartrite e dor crônica sugerem resultados animadores
na melhora como coadjuvante no controle da dor, abrindo novas pos-
sibilidades para pesquisas mais robustas nessa área (LAUCHE et al,
2015; AKYUZ et al, 2018; UHLIG et al, 2012; HILTON et al, 2017).
Longe de representar uma panaceia, enxergo na minha prática
clínica diária a meditação como uma possibilidade para ajudar as pessoas
na busca pelo bem-estar. Apesar das doenças, dos sofrimentos, das
dores, dos múltiplos tratamentos e de muitas vezes múltiplas interven-
ções, bem ali na minha frente está um indivíduo que busca ficar bem
consigo mesmo e, seguindo o aforismo de Hipócrates, curar algumas
134
vezes, aliviar quase sempre, consolar sempre. Apresento àqueles que
acompanho mais um caminho a ser percorrido, procurando, dessa forma,
me manter próxima do propósito que me levou a escolher a medicina.

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136
ARTETERAPIA COMO PRÁTICA EXPRESSIVA
DE EMANCIPAÇÃO DO SOFRIMENTO
PSÍQUICO NO SISTEMA ÚNICO DE
SAÚDE (SUS)

Erinaldo Domingos Alves


Rômulo do Nascimento Rocha
Ranieri Sales de Souza Santos

INTRODUÇÃO
“A Arteterapia não é para quem sabe desenhar, esculpir ou
modelar, é para quem tem inconsciente.”
Erinaldo Domingos Alves

A Arteterapia se trata de uma técnica que utiliza a expressão


artística como descarga de impulsos inconscientes. Estudada pelas
diferentes linhas teóricas da Psicologia, como a Psicanálise, a Psicologia
Analítica e a Gestalt-Terapia, ela pode encontrar inúmeras aplicações
na clínica, no âmbito educacional e nos serviços públicos de saúde,
como: na clínica e na saúde, pode servir para avaliação, prevenção,
tratamento ou reabilitação; na educação, como instrumento pedagógico
(REIS, 2014). Apesar de ter iniciado no consultório, a Arteterapia não
se restringe mais a esse espaço, podendo ser encontrada também no
Sistema Único de Saúde, por exemplo.
De modo geral, a Arteterapia começa a ganhar forma a partir das
contribuições de Johann Christian Reil, Sigmund Freud, Carl Gustav
Jung, os quais serão explanados mais a frente. No Brasil, a partir da
inspiração buscada em Jung, a psiquiatra Nise da Silveira inaugura
o tratamento arteterapêutico com pacientes em sofrimento psíquico
internados em um hospital psiquiátrico, durante a segunda metade
do século XX (REIS, 2014; CASTRO, 2020). O brilhante trabalho
137
realizado por Nise foi tão expressivo que, além de efeito catártico, a
arte possibilitou uma mudança na vida de ex-pacientes psiquiátricos
como Emygdio de Barros, o qual se tornou um célebre pintor brasileiro.
Na definição proposta pela Associação Brasileira de Arteterapia,
denota “um modo de trabalhar, utilizando a linguagem artística como
base da comunicação cliente-profissional. Sua essência é a criação
estética e a elaboração artística em prol da saúde” (REIS, 2014, p.
143). Ademais, a Arteterapia se trata de uma especialização dire-
cionada aos profissionais da saúde, como graduação em Psicologia,
Enfermagem e Fisioterapia. É possível reconhecer a especialização
em profissionais da arte e da educação, desde que apresentem um
viés clínico em sua abordagem.
Diante do exposto, é notória a contribuição da Arteterapia como
prática de saúde mental. Dessa maneira, o capítulo em tela se trata de
uma revisão de literatura narrativa que tem como objetivo explorar a
gênese da Arteterapia até sua adoção pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) como prática integrativa e complementar em seus serviços
públicos de saúde. Nas seções seguintes, explorar-se-á um pouco mais
as inúmeras faces dessa prática, compreendendo os principais aspectos
que a subsidiam e a fundamentam como instrumento do SUS.

A GÊNESE DA ARTETERAPIA PELAS TECITURAS DO


TEMPO

Na primeira metade do século XIX, o médico alemão Johann


Christian Reil, o primeiro a pensar a junção entre arte e terapia,
enfocou a expressão pela arte como elemento terapêutico de acesso a
questões internas (CASTRO, 2020). Décadas mais tarde, Sigmund
Freud postulou que essas manifestações consistem em uma forma de
sublimação das pulsões. Em outras palavras, Freud defendia que, a
partir de qualquer exploração artística, seja ela pintura ou desenho, é
possível projetar conteúdos inconscientes na arte retratada, de maneira
a evidenciar certos conflitos encobertos e desconhecidos para o próprio
138
sujeito (REIS, 2014). Surgiu, com efeito, a constatação de que a arte
pode ser um recurso expressivo das angústias.
Ao fundar a Psicanálise, no final do século XIX, Freud inaugurou
uma maneira particular de olhar para o sujeito em sofrimento psíquico,
especialmente no que concerne à sua dimensão subjetiva. Com sua
emérita contribuição, puderam ser compreendidos aspectos incons-
cientes que, até então, eram desconhecidos: por exemplo, pensar que
o homem não era senhor de si ou que a criança, desde cedo, já sente
desejo sexual foram afirmações que causaram enorme conturbação à
época. O ser humano, conforme Freud, responde a desejos e impulsos
inconscientes, os quais podem ser percebidos por meio de atos falhos,
sonhos e chistes – colocados em jogo mediante a sua técnica funda-
mental: a associação livre, a qual consiste em falar o que vem à mente
sem medo de repressão ou julgamento por parte de quem o escuta.
Em anos subsequentes, com a imersão de célebres pensadores
no campo psicanalítico, um método inaugural de observação de con-
teúdos inconscientes começou a ganhar contornos depois dos estudos
de Anna Freud, Donald Winnicott e Françoise Dolto: tratava-se
das técnicas de desenhos e modelagem utilizadas por esses teóricos
(COSTA, 2010). Inicialmente trabalhados com crianças, esses recursos
auxiliam o acesso a conteúdos reprimidos no inconsciente do infante,
haja vista que ele, a depender da idade, não dispõe de organização
suficiente para entender os conflitos que vivencia ou para associá-los
livremente, assim como fazem os adultos com a técnica de associa-
ção livre trabalhada por Freud.
No entanto, o grande responsável por desenvolver a Arteterapia,
em sua dimensão integral, foi Carl Gustav Jung: aquele que, por muito
tempo, foi creditado por Freud como o seu sucessor na Psicanálise. Após
um conflito epistemológico entre ambos, Jung criou sua própria teoria
chamada Psicologia Analítica, a qual inaugurou concepções novas, tais
como inconsciente pessoal, inconsciente coletivo e arquétipos. Jung
percebia a manifestação artística como função psicológica natural e
139
estruturante, a qual o fazia crer que a capacidade de cura está em dar
forma, transformar conteúdos inconscientes em imagens simbólicas
(FIORINDO, 2014; REIS, 2014; STIGAR; RUTHES, 2020). Diante
de todo esse contexto, observa-se o caminho trilhado pela Arteterapia
ao longo dos séculos até chegar ao que se conhece atualmente sobre ela.

FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES DA ARTETERAPIA


NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

Com a Portaria nº 849, a Arteterapia, junto a outras práticas, foi


incluída à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC) do SUS (BRASIL, 2017). Como qualquer outra categoria
profissional, a Arteterapia dispõe do Código de Ética Profissional do
Arteterapeuta estabelecido pela União Brasileira de Associações de
Arteterapia (UBAAT). Segundo a Associação:
A Arteterapia vem auxiliar na promoção, reabilitação e
recuperação da saúde, bem como na prevenção de agra-
vos através da utilização da arte. Trata-se de um campo
de conhecimento transdisciplinar e de uma abordagem
terapêutica que se baseia na ideia que o processo criativo
e o fazer artístico facilitam a reparação e recuperação
da saúde, por propiciarem comunicação não verbal de
sentimentos e conflitos (UBAAT, 2017, p. 2).

Sendo a integralidade um dos princípios condutores do SUS,


ofertar aos usuários dos serviços públicos de saúde práticas que auxi-
liam e complementam a atenção ao cuidado significa executar o que
versa um de seus princípios fundamentais. Dotado de demandas de
natureza biológica, psicológica e, até mesmo, social, o usuário que
chega ao serviço precisa usufruir do maior número possível de técnicas
aptas a sanar o seu problema de saúde. Assim, investir em práticas
como a Arteterapia pode garantir que os usuários, além de ter acesso
à suposta resolução de seu problema, tenham ainda suas demandas
solucionadas em curto espaço de tempo.
140
Reis (2014) e Jardim et al (2020) preceituam as cinco principais
linguagens expressivas e as suas quatorze modalidades de Arteterapia.
Na linguagem plástica, pode-se mencionar a pintura, o desenho, a
modelagem, a tecelagem, a fotografia e o recorte-colagem. Como lin-
guagem sonora, há o exemplo da musicoterapia. Na corporal, pode-se
citar modalidades como consciência corporal, expressão corporal e
dança. Na literária, por sua vez, há a narrativa literária, a escrita criativa
e a imaginação ativa. Na dramática, a dramatização.
Sob essa perspectiva, percebe-se que a Arteterapia não se res-
tringe à pintura ou ao desenho. Muito pelo contrário, existem diversos
instrumentos pelos quais o profissional pode oferecer ao paciente
como forma de expressar seus sentimentos, pensamentos, angústias
e desejos. É importante sinalizar que a arte pode adentrar onde a
linguagem verbal não funciona como recurso suficiente de trata-
mento. É imprescindível assinalar que, em outros casos, pode haver a
perfeita harmonia no uso dos dois recursos: a linguagem verbal (por
meio da fala) e a linguagem não-verbal (mediante as várias modali-
dades de Arteterapia, por exemplo).
No SUS, são inúmeras as possibilidades de inserção da Artete-
rapia. Dentre as redes e os serviços de saúde onde ela pode se inserir,
menciona-se a Rede Cegonha, a Saúde da Criança, dos Adolescentes,
da Mulher, do Homem, do Idoso, da Família, bem como a Rede de
Atenção Psicossocial, a Rede Hospitalar e a Saúde do Trabalhador
(UBAAT, 2017). Diante dessa inserção, o SUS reconhece que “as ações
de desenhar, pintar, modelar, construir e tantas outras podem constituir
uma experiência pessoal de potencialização de autonomia, uma vez
que envolvem um processo ativo de escolha de materiais, estilos, cores,
formas, linhas e texturas” (UBAAT, 2017, p. 02).

CONCLUSÕES

Conclui-se que a Arteterapia é uma prática de linguagem


não-verbal imprescindível aos consultórios, serviços de saúde e à
141
educação. Como prática integrativa e complementar, sua contri-
buição tende a favorecer os usuários do SUS, levando-os cuidado
e atenção às suas necessidades.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 849 de 25-03-2017.
Brasília: DF, 2017.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC-
-SUS. Brasília: DF, 2006.
CASTRO, Ewerton Helder Bentes et al. Ressignificando o ser-no-mundo com diagnóstico
de câncer a partir da arteterapia: o olhar de crianças e adolescentes. Revista Ensino de
Ciências e Humanidades-Cidadania, Diversidade e Bem-estar-RECH, v. 4, n. 2, jul-dez,
p. 191-218, 2020.
COSTA, Teresinha. Psicanálise com crianças. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
FIORINDO, Priscila Peixinho. Arteterapia e Psicologia Analítica. Revista Pandora Brasil,
n.61, 2014.
JARDIM, Viviane Cristina Fonseca da Silva et al. Contribuições da arteterapia para pro-
moção da saúde e qualidade de vida da pessoa idosa. Revista Brasileira de Geriatria e
Gerontologia, v. 23, 2020.
REIS, Alice Casanova. Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do Psicólogo.
Psicologia: Ciência e Profissão, v. 34, n. 1, p. 142-157, 2014.
STIGAR, Robson; RUTHES, Vanessa Roberta Massambani. O Encontro de Carl Gustav
Jung com a Filosofia. Revista Ágora Filosófica, v. 20, n. 1, p. 113-129, 2020.
UNIÃO BRASILEIRA DE ASSOCIAÇÕES DE ARTETERAPIA (UBAAT). Contri-
buição da Arteterapia para a Atenção Integral do SUS, 2017.

142
MASSAGEM SHANTALA E SEUS
BENEFÍCIOS NO DESENVOLVIMENTO
NEUROPSICOMOTOR INFANTIL

Angelízia de Fátima Marques Arruda


Luciano Lima Correia

INTRODUÇÃO

Este capítulo propõe reflexões acerca das principais evidências


sobre os efeitos do método Shantala no desenvolvimento infantil,
enfatizando a importância da massagem, como arte original de toque
com qualidade, que apresenta inúmeros benefícios, necessitando ape-
nas de um toque firme, ao mesmo tempo que o realiza com extrema
suavidade das mãos sobre a pele, mostrando que o toque está ligado
as emoções. Para alcançarmos tais evidências no meio acadêmico e
científico, faz-se necessário embasar sua compreensão.
Tendo em vista o potencial de influência que o ato do toque pode
conter em alguns dos elementos fundamentais para o desenvolvimento
humano, principalmente, para crianças, a massagem realizada em
bebês, conhecida mundialmente como Shantala, através do obstetra
francês Frederick Leboyer, é uma técnica de massagem para bebês
utilizada há milhares de anos. Foi aproximadamente, em 1975, que o
obstetra francês, percorrendo a Índia, conheceu a técnica e a trouxe
para o Ocidente, para fins terapêuticos (GUIMARÃES et al, 1997).
A prática tem origem na Medicina Ayurveda, cujo foco está
na cura e na prevenção. Ayur significa vida e Veda significa conheci-
mento ou ciência, logo, Ayurveda significa conhecimento da vida. A
medicina Ayurveda compreende o ser humano de maneira holística,
corpo e mente não se separam, um desequilíbrio em uma parte pode

143
prejudicar a outra e vice e versa. Fazem parte da Medicina Ayurveda,
a yoga e a massagem ayurveda (TEXEIRA, 2020).
Existem poucas evidências científicas que mostram os benefícios
da shantala no desenvolvimento infantil, porém, há alguns estudos
que comprovaram efeitos desta massagem nas habilidades motoras
de crianças com necessidades especiais. Carvalho, Moreira e Pereira
(2020) realizaram a técnica em uma criança com síndrome de Down e
verificaram ao final da intervenção uma melhor preensão, transferência
manual, controle cefálico, torácico e marcha. Segundo relato da mãe,
houve ainda melhora na aceitação da condição de saúde da criança,
aumentando o vínculo entre mãe e lactente.
Assim, este capítulo se propõe a considerar, dentro dos conhe-
cimentos científicos, a prática de massagem milenar Shantala como
influência positiva para o desenvolvimento infantil, com foco à afetivi-
dade na infância, utilizando as principais teorias que elaboram a relação
psíquica e motora nos primeiros anos de vida, abordando o sistema
sensorial e as interfaces com a pele, musculatura e linguagem corporal.
Os tópicos abaixo descrevem sobre essa temática, visando contribuir
para questionamentos e debates sobre as possibilidades de inserção de
conteúdos sobre práticas integrativas e complementares no cuidado em
saúde, bem como estratégias de humanização da assistência nos campos de
práticas de saúde, visando favorecer ambientes mais terapêuticos com prá-
ticas mais integradas e integradoras na perspectiva da promoção da saúde.

BREVE HISTÓRICO DA PRÁTICA SHANTALA

Conforme Guimarães et al (1997), a massagem é uma expressão


de amor, através de um tipo especial de toques acariciantes. Através
do médico francês Frederich Leboyer, ficou conhecida a Shantala,
que é uma massagem para bebês. Aproximadamente, em 1975, o
médico francês percorrendo a Índia, espantou-se ao ver, ao nascer e
ao pôr-do-sol, mães sentadas com os bebês sobre as pernas e massa-
geando-os. Mas, o que o impressionou foi o fato de ver essas mães
144
massagearem seus filhos com uma sequência sempre igual, indepen-
dente do lugar da Índia que ele percorresse.
O autor ainda cita que o nome da técnica foi uma homenagem
que o médico fez a uma paraplégica, chamada Shantala, que vivia com
seus filhos em um albergue, onde dava em troca para as freiras que a
acolheram o ato de amor de massagear os bebês daquele local, assim,
a técnica ficou conhecida como Shantala.
A massagem de Shantala é uma arte muito antiga e profunda, tão
simples que até pode parecer difícil. Logicamente, existe uma técnica
que é preciso ser aprendida e dominada para poder ser considerada
uma arte (CAMPADELLO, 2000). Em seu livro, Frederick Leboyer
descreve passo a passo os movimentos que devem ser realizados e seu
texto é organizado de uma forma poética. Em um dos trechos de seu
livro, Leboyer (1989, p. 23) afirma:
Nutrir a criança? Sim. Mas não só com o leite. É preciso
pegá-la no colo. É preciso acariciá-la, embalá-la. E mas-
sageá-la, alimentos tão indispensáveis, senão mais, do que
vitaminas, sais minerais e proteínas. Se for privada disso
tudo, do cheiro, do calor e da voz que ela conhece bem,
mesmo cheia de leite, a criança vai-se deixar morrer de fome.

O autor também traz sua contribuição, quando nos fala com poe-
sia sobre a importância da pele: “percebe-se logo como é importante o
contato, a maneira de tocar a criança. É uma linguagem pele a pele. Desta
pele da qual derivam os outros órgãos dos sentidos” (LEBOYER, 1995,
p. 93). É por meio desta pele que a criança conhece o mundo: sua mãe.
Primeiro contato com este mundo, com o desconhecido, com o outro.
A massagem é contraindicada em algumas situações tais como:
logo após a(o) massagista ou criança terem feito uma refeição; se a
criança estiver com o estômago vazio, pois esta não conseguirá con-
centrar-se para receber o toque, devido à fome; se o massagista estiver
indisposto; se a criança apresentar alguma área dolorida ou algum tipo
de lesão ou inflamação; em caso de infecções, febres, doenças de pele,
145
câncer, doença em vasos sanguíneos e diarreia, o que acaba estimulando
mais o organismo (BERNSMÜLLER, 2018).

BENEFÍCIOS DA SHANTALA

Com base nos relatos científicos, nos quais os autores comentam


sobre os benefícios da massagem infantil, Mazon (2019) reafirma tais,
explicando que, para a criança, o fato de tocar e ser tocada traz um
benefício muito grande para a sua saúde mental. A massagem reali-
zada de mãe para filho ajuda a fortalecer os elos já pré-estabelecidos
durante o período gestacional.
Guimarães (2017) ressalta que a grande finalidade é trabalhar
a relação mãe/bebê, levando ao recém-nascido tranquilidade, segu-
rança e autoestima. Também elimina gases, cólicas, prisão de ventre,
tranquiliza o sono e, por tudo isto, é altamente preventiva. Segundo
McClure (1996), a massagem diária eleva o limiar de estimulação do
bebê. Bebês que têm dificuldade para lidar com a estimulação constroem
gradualmente uma tolerância. Aqueles que sofrem de cólicas podem
relaxar os corpinhos para que a tensão não aumente o desconforto.
A técnica de Shantala é excelente para os sistemas circulatório e
linfático da criança, pois ativa a circulação sanguínea local, dilatando
os vasos periféricos, promovendo um melhor aporte sanguíneo e o
retorno venoso do sangue das veias para o coração. Fortalece o sistema
imunológico da criança, aumentando o número de plaquetas, de hemo-
globinas e das células vermelhas e brancas (CAMPADELLO, 2000).
De acordo com Guimarães et al (1997), a Shantala é indicada
nos casos de distúrbio da fala, melhora do sono, passividade, hipera-
tividade, irritação, tiques nervosos, distúrbios respiratórios, enurese
noturna, autismo, cegueira, surdez, Síndrome de Down, paralisia
cerebral e atraso no desenvolvimento motor normal.
A técnica da Shantala é muito fácil de aprender, qualquer pes-
soa comum, com um pouco de vontade e habilidade na aplicação de
146
massagens, pode aplicá-la em qualquer criança, sem precisar de uso de
medicamentos ou de instrumentos especiais, utilizando tão somente
as duas mãos e uma disposição profunda de se doar. Sua aplicação
não produz efeitos dolorosos, conduzindo sempre a criança a uma
sensação de bem-estar e de relaxamento (CAMPADELLO, 2000).

VÍNCULO MÃE-FILHO

Segundo Auckett (1983), quando as mães massageiam seus


bebês nos primeiros dias de vida, a massagem continua o processo de
ligação e ajuda a estabelecer um relacionamento, entre mãe e filho,
caloroso e positivo. Para Reichert (2008), os primeiros anos de vida
da criança são decisivos para a formação e o desenvolvimento emo-
cional. A maturação biológica coloca em atividade diversos órgãos e
funções, entre eles, o neocórtex, que, em formação, configura o cerne
psicológico. Além das aptidões que amadurecem nessa fase, a intensa
produção de sinapses é favorecida quando a criança recebe afeto e
estabelece contatos com as outras pessoas, promovendo a estabilização
das conexões neurais que formam redes estimuladas pelos contatos.
Já Pommé (2018) diz que os primeiros estágios do desenvol-
vimento são permeados pela integração que torna o bebê um ser
unitário, torna o possível “eu sou”. É a tarefa que circula e interfere
em todas as fases de desenvolvimento. A parceria psicossomática, a
sensação de unidade funcional do corpo e afeto são a grande tarefa de
amadurecimento, propiciada pela mãe nos cuidados diários dedicados
ao bebê, como segurar, banhar, alimentar ou massagear.
O vínculo nasce da interação mãe e filho, como uma dança ges-
tual, muito expressiva entre eles, eliciado por alguns desencadeantes
inatos, contato olho a olho, choro etc. A ligação é aprendida nas con-
versas, através da linguagem dos sentidos, quando olhar, ouvir, tocar,
falar, chorar, amamentar e ser amamentado vão adquirindo significados
especiais para os dois (OLIVEIRA; COLLET, 2017).

147
Desde o princípio, mãe e filho participam em uma completa
interação, onde o comportamento de um é regulado pelo comporta-
mento do outro. Em outras palavras, tanto o bebê como a mãe contri-
buem na sua interação. No transcorrer de seu desenvolvimento, após
três a quatro semanas, vemos a organização da sequência de eventos
que é familiar para ambos os parceiros. A mãe tem importante função
reguladora, na qual está implícito o quanto ela deseja se ajustar ao ritmo
da criança. Se ocorrer a natural correspondência, é cultivada a natural
permissão para a criança se desenvolver (POMMÉ, 2018). Reichert
(2008) diz que “mãe e filho formam um sistema, uma díade, na qual
um relaciona-se com o outro, criando um sistema de troca recíproca.”
Nas experiências de confirmação pela mãe, o bebê passa a con-
fiar na validade de suas percepções. Este processo é o fundamento
da confiança da criança, tanto em si como nos outros. No período
inicial da vida extrauterina, a criança precisa da ancoragem da mãe
(cuidador) para que possa canalizar a intensidade de suas pulsões
vitais. Este período em que o bebê assimila o mundo ao redor pode
ser denominado como período de incorporação (REICHERT, 2008).

A PRÁTICA COM INFLUÊNCIA NO


DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR
INFANTIL

O toque estimula a pele e a epiderme, que, por sua vez, produz


enzimas necessárias às sínteses proteicas. Ocorre também a produção
de substâncias que ativam a diferenciação de linfócitos T, os quais são
responsáveis pela imunidade celular. Ainda em termos biológicos,
diminui os níveis das catecolaminas (epidenefrina, norepinefrina e
cortisol) e ativa a produção de endorfinas, neurotransmissores res-
ponsáveis pelas sensações de alegria e felicidade (LIMA, 2020). São
muitos os benefícios da técnica, a começar pelo aperfeiçoamento da
comunicação com a mãe ou com quem estiver fazendo a massagem,

148
pois o processo beneficia tanto a criança, quanto quem está intera-
gindo com ela (BIDDULPH, 2016).
Para um desenvolvimento psíquico saudável é necessário que a
mãe se encontre (estado de preocupação materna primária) em sin-
tonia com seu bebê. A maneira como a mãe toca seu bebê, seja pelas
suas mãos ou pelo seu olhar; a forma com que é banhado, embalado,
alimentado; o modo como ela lhe dirige as palavras, permitem que o
bebê entre em contato com as diversas partes do seu corpo e vivencie
um sentimento de continuidade de ser (LIMA, 2020).
Segundo afirmação do mesmo autor, o bebê nasce equipado para o
amor. Por isso, as palavras de carinho, as histórias contadas e as canções
que o bebê ouve durante a gravidez podem contribuir para prepará-lo
para esse amor. Após o nascimento, esse processo continua, por meio
de gestos de carinho, trocas de olhar e brincadeiras entre a criança, a
mãe, o pai e as pessoas próximas. A família torna-se a sede desse amor.
O desenvolvimento neuropsicomotor depende da integração
de vários sistemas, principalmente, nervoso, motor e sensorial. Fato-
res hereditários e interação com o ambiente influenciam a matu-
ração orgânica, principalmente do sistema nervoso, interferindo
no desenvolvimento cognitivo, emocional e comportamental de
bebês (BRÊTAS; SILVA, 1998, p. 24).
Vários efeitos benéficos da massagem têm sido descritos em
crianças, como melhora do desenvolvimento motor, coordenação,
agilidade, estado emocional (elementos fundamentais para a formação
do esquema e imagem corporal). Estimula a maturação do SN, através
da função tátil e o desenvolvimento do sistema sensitivo (BRÊTAS;
SILVA, 1998, p. 24; SCIAMMARELLA et al, 2002, p. 24).
A massagem ativa a circulação e regula a frequência cardíaca, com-
bate a ansiedade, o estresse e transmite segurança à criança. (LOPES;
FARIA, 1994, p. 45; BRÊTAS; SILVA, 1998, p. 24; HOLLIS, 2001,
p. 30; SOBRINHO et al, 2004, p. 26; FOGAÇA et al, 2005, p. 215).
Hollis (2001, p. 30) revisou 19 estudos sobre os efeitos da estimulação
149
tátil em bebês e em crianças jovens e observou que o desempenho
nas atividades de vocalização e nas habilidades motoras foi melhor no
grupo que recebeu a massagem em relação ao grupo controle.
Segundo Victor e Moreira (2004, p. 35), a massagem Shantala
estimula vários pontos harmonizando e/ou ativando vários siste-
mas do corpo. Através da promoção da comunicação tátil, ou seja,
interação entre estímulo externo e interpretação cortical, incentiva
o desenvolvimento da percepção corporal e psicomotora (BRÊ-
TAS; SILVA, 1998, p. 24; SCIAMMARELLA et al, 2002, p. 24;
VICTOR; MOREIRA, 2004, p. 35).

CONCLUSÕES

As reflexões articuladas às referências científicas propostas neste


estudo, afirmam que a massagem Shantala, prática milenar, mostra-se
eficaz no desenvolvimento biológico da criança, sendo muito utilizada
por profissionais, amantes do assunto e familiares, por ser uma técnica
de baixo custo e de fácil aplicação, funcionando como um estímulo
externo ao desenvolvimento infantil, além de ser uma forma de mediar
o contato e criação de vínculo no binômio mãe-filho.
No entanto, percebe-se a limitação de pesquisas com embasa-
mentos literários que se destinam à análise da relação entre a prática
e o desenvolvimento neuropsicomotor infantil, logo, espera-se que, ao
finalizar a leitura deste texto, novos pesquisadores sejam motivados à
realização de novos estudos acerca dos reflexos da temática abrangida.

REFERÊNCIAS
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Ao Livro Técnico, 1983.
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do vínculo mãe-bebê. 2012. 52 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Psico-
logia) – Curso de Psicologia, Centro Universitário Univates, Lajeado, 2018.

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CAMPADELLO, P. Massagem infantil: carinho, saúde e amor para seu bebê. Método
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GUIMARÃES, A. E. Shantala, massagem terapêuticas para bebês. Fisioterapia em movi-
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GUIMARÃES, A.E. et al. Shantala, massagem terapêutica para bebês. Fisioter Mov., v.9,
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POMMÉ, E. L. O vínculo mãe-bebê: primeiros contatos e a importância do holding. 98f.
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152
IMPLICAÇÕES DA AURICULOTERAPIA NO
ALÍVIO DA DOR CRÔNICA: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA

Mohamed Saido Balde

INTRODUÇÃO

A dor é caraterizada como uma sensação ou experiência emo-


cional desagradável, associada com dano tecidual real ou potencial,
podendo ser aguda, isto é, estando tempo normal de cicatrização ou
em função de alerta da nocicepção fisiológica; e crônica, quando a dor
dura ou recorre por mais de 3 a 6 meses (BARANOWSKI et al, 2011;
TREEDE et al, 2015). Estudos sugerem que a prevalência da dor esteja
em torno 20% dos adultos em todo o mundo e 10% são diagnosticados
com dor crônica a cada ano (GOLDBERG; MCGEE, 2011).
As dores geralmente são tratadas por métodos farmacológicos, como
a utilização de vários analgésicos que, muitas vezes, não resolvem esse
fenômeno multidimensional que é a dor. No entanto, estudos e pesquisas ao
longo desses anos mostraram a segurança dos tratamentos não farmacoló-
gica e sobretudo as práticas integrativas e complementares (PICs) que regis-
traram evidências de sucesso no alívio de dores (OLIVEIRA et al, 2020).
De acordo com a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares, as PIC’s envolvem abordagens que buscam estimular
os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da
saúde, por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta
acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração
do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. Ressalta-se que a
entre as PIC’s oficializadas na Atenção à Saúde do Sistema Único de
Saúde (SUS), por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares pode se encontrar a auriculoterapia (BRASIL,
153
2015). Auriculoterapia ou acupuntura auricular é compreendida como
um sistema de diagnóstico e tratamento baseado na normalização das
disfunções do corpo (RASPA; BELASCO JÚNIOR, 2018). Tal prá-
tica é originária dos preceitos da Medicina Tradicional Chinesa, que
compreende uma técnica que permitem o estímulo de certos pontos
do pavilhão auricular, por meio da inserção de agulhas ou acupressão
com sementes, esferas de cristais ou de metais e imã ( JESUS, 2016).
Conforme Tolentino (2016), atualmente, se considera duas abor-
dagens da auriculoterapia: auriculoterapia antiga ou da escola chinesa e
a auriculoterapia moderna ou da escola francesa. A auriculoterapia da
escola chinesa é baseada na estimulação de pontos de acupuntura na
orelha que estão conectados aos meridianos do corpo, isto é, os con-
ceitos de energia (Qi), relação entre os cinco elementos (madeira, fogo,
terra, metal e água), correspondência com o Shen (“psiquê”) e órgãos/
vísceras, dentre outros, com foco na resolução da dor (GOMES, 2016).
A auriculoterapia da escola francesa, proposta pelo médico francês
Paul Nogier, entende o pavilhão auricular como um sistema reflexológico,
que representa a organização somatotrópica de todo o corpo humano
(ARTIOLI; TAVARES; BERTOLINI, 2019). Salienta-se que cada uma das
abordagens da auriculoterapia possui os seus pontos de acupressão específico.
A literatura científica tem demonstrado resultados positivos
da auriculoterapia no tratamento de diversas enfermidades, tanto as
psíquicas quantos as físicas, mostrando-se, nesse sentido, como uma
prática promissora para promoção, manutenção e recuperação da saúde,
bem como para prevenção de agravos e doenças (MORAIS et al, 2020).
Com base no acima exposto, buscou-se descrever as evidências
científicas sobre as implicações da auriculoterapia no alívio da dor crônica.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que consiste em


um método cuja finalidade visa reunir e sintetizar de maneira criteriosa,
154
integrada e ordenada os resultados obtidos em estudos anteriores sobre um
determinado problema. Esse método fornece um conhecimento amplo
sobre o problema investigado, permitindo, assim, a caracterização do estado
atual da produção científica sobre o assunto e a avaliação da necessidade
de mais produções acerca do problema, bem como a eficácia da aplicabili-
dade das evidências encontradas (POMPEO; ROSSI; GALVÃO, 2009).
Para a elaboração dessa revisão, foram realizadas as seguintes
etapas: 1- identificação do tema e elaboração da pergunta norteadora;
2 - estabelecimento dos critérios de elegibilidade; 3 - identificação
dos estudos nas bases científicas; 4 - avaliação e análise crítica dos
estudos selecionados; 5 - avaliação e interpretação dos resultados/con-
clusão; 6 - apresentação dos dados na estrutura da revisão integrativa
(MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Conforme estabelecido pelo método, buscou-se, na primeira etapa,
responder a seguinte questão norteadora: Quais as implicações da auricu-
loterapia no alívio da dor crônica? A busca e a análise dos estudos foram
realizadas durante o período de agosto a setembro de 2021. Para a identi-
ficação e seleção das produções científicas, foram consultadas as bases de
dados: Scientific Electronic Library Online – SciELO, PubMed, Scopus
e Web of Science. Para tanto, foram utilizados os descritores controlados
em inglês, “Auriculotherapy” e “Chronic Pain”, e seus correspondentes em
português, “Auriculoterapia” e “Dor Crônica”, indexados no Medical Subject
Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), respec-
tivamente. Como operador booleano, foi empregado o conector “AND”.
Como critério de inclusão, foram considerados os artigos publica-
dos nos últimos dez anos (2011 a 2021), nos idiomas português, inglês
e espanhol e disponíveis gratuitamente na íntegra. Foram excluídos
dissertações, teses, editoriais, cartas ao editor, relatórios, artigos de
revisão, artigos em duplicidade nas bases de dados e/ou entre elas e
artigos que não respondessem à questão norteadora.
O instrumento elaborado e validado por Ursi (2005), o qual con-
siste em um Checklist, dividido em nove domínios para coleta e análise
155
dos artigos em uma revisão integrativa da literatura, foi adaptado e uti-
lizado nesse estudo, correspondendo aos seguintes itens: autores, título
do artigo, ano de publicação, área de publicação, base de dados, tipo de
publicação, país onde o estudo foi realizado, nível de evidência e prin-
cipais achados (FERREIRA et al, 2013; KAKUSHI; ÉVORA, 2016).
Para avaliação do nível de evidência, aplicou-se a classificação
sugerida por Stillwell et al (2010). Segundo os autores, os estudos
podem ser divididos em sete níveis, nos quais 1 e 2 abrangem aquele
com nível de evidência forte, 3 e 4 moderados e 5 a 7 fraco (Quadro 1).

Quadro 1- Nível de evidência por tipo de estudo

Tipo de Nível de Descrição


evidência evidência
Evidência proveniente de uma revisão sistemática ou metanálise de todos
Revisão Sistemática I os ensaios clínicos randomizados controlados ou oriundos de diretrizes
ou Metanálise baseadas em revisões sistemáticas de ensaios clínicos controlados
Evidência obtida de pelo menos um
Estudo randomizado II ensaio clínico com aleatorização,
controlado
controlado e bem delineado
Estudo controlado Evidência proveniente de um estudo bem desenhado e controlado
III
com randomização sem aleatorização
Estudo caso-controle Evidência proveniente de um estudo com desenho de caso-controle
IV
ou estudo de coorte ou coorte
Revisão sistemática de Evidência proveniente de uma revisão sistemática de estudos quali-
estudos qualitativos ou V tativos e descritivos
descritivos
Estudo qualitativo ou VI Evidência de um único estudo descritivo ou qualitativo
descritivo
Evidência proveniente da opinião de autoridades e/ ou relatórios de
Opinião ou consenso VII comissões de especialistas/peritos

RESULTADOS

A figura 1 mostra as etapas seguidas na elaboração dessa revisão,


contendo o quantitativo de publicações remanescentes em cada uma
delas. Após o levantamento de dados, foram selecionados 109 artigos,
dos quais permaneceram 40 após a aplicação dos critérios de inclusão.
Posteriormente à leitura do título e resumo, foram excluídos 32 artigos
pelo critério de exclusão. Dessa forma, foram pré-selecionadas oito
156
publicações que foram lidas na íntegra, sendo recuperados cinco artigos
que compuseram a amostra para elaboração dessa revisão.
Dos cinco artigos incluídos, três foram publicados em 2019, um,
em 2021, e um, em 2012. Dos artigos incluídos, três artigos foram
publicados em periódicos da área de Enfermagem, um, da Medicina,
e um, da Fisioterapia. Quanto à base de dados, três estavam indexados
no PubMed, um, no Web of Science, e um, no SciELO (Quadro 2).

Quadro 2 - Publicações organizadas de acordo com os autores, título, ano de pu-


blicação, periódico/área e base de dados. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2021.
Título de Ano de Periódico/ Base de
No Autores
publicação publicação Área dados
Effects of auricular acu-
LEE, S.; PARK, pressure on pain and Applied Nursing
01 2019 PubMed
H. disability in adults with Research
chronic neck pain
Effects of auricular acu-
puncture on chronic pain
MOURA, C. C. Revista da Escola de
02 in people with back mus- 2019 PubMed
et al. culoskeletal disorders: a Enfermagem da Usp
randomized clinical trial
Contribution of Chinese
and French ear acupunc-
MOURA, C. C. ture for the management Journal Of Clinical
03 2019 PubMed
et al. of chronic back pain: a Nursing
randomised controlled
trial
Au r i c u l a r Po i n t
Acupressure for Chronic Evidence-Based We b of
04 YEH, C-H. et al. Low Back Pain: a feasi- 2012 Complementary And Science
bility study for 1-week Alternative Medicine
treatment.
Effects of auriculothe-
SILVA, A. P. G. rapy with mustard seeds
05 et al. on chronic lumbar pain 2021 Fisioterapia e Pesquisa SciELO
of nursing professionals

Quanto ao país onde o estudo foi conduzido, três artigos foram produzidos no
Brasil, um, nos Estados Unidos da América, e um, na Coréia do Sul. Para o tipo de
estudo, quatro das publicações eram estudos randomizados controlados, um, estudo
observacional. Com relação ao nível de evidência, quatro estudos tinham nível de
evidência II e um, nível de evidência IV (Quadro 3). Salienta-se que todos os artigos
selecionados estavam em língua inglesa.

157
Quadro 3 - Publicações organizadas de acordo com o objetivo, tipo de publicação,
local do estudo e nível de evidência. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2021.
Nível
Tipo de Local do de
No Autores Principais achados
publicação estudo evi-
dência
Os resultados mostraram que a acum-
LEE , S. ; Estudo randomi- puntura auricular leva a melhorias no TP
01 Coreia do Sul II
PARK, H. zado e controlado limiar da dor, deficiência do pescoço e
amplitude de movimento cervical.
Evidenciou efeitos positivos da acupun-
MOURA, Ensaio clínico tura auricular na redução da intensidade
02 C. C. et al. randomizado Brasil II da dor crônica e seu impacto nas ativi-
dades diárias das pessoas.
A intensidade da dor diminuiu signifi-
cativamente com a acupuntura auditiva
chinesa ao longo do período de inter-
venção. Ambos os tipos de acupuntura
Ensaio clínico
MOURA, auricular afetaram a interferência da dor
03 C. C. et al. aberto randomi- Brasil II nas atividades diárias. Porém, na compa-
zado e controlado ração entre as avaliações inicial e final,
apenas a acupuntura auditiva chinesa
apresentou resultados estatisticamente
significativos.
Os resultados mostram uma redução
de 46% na pior dor do BPI e mais de
Estudo observa- 50% na redução da dor média do BPI,
YEH, C-H. E s t a d o s
04 et al. cional de medidas Unidos IV intensidade geral da dor e interferência
repetidas da dor no final do estudo, e 62,5% dos
indivíduos também relataram menos uso
de analgésicos.
A auriculoterapia com sementes de
SILVA, A. P. Ensaio clínico mostarda reduziu a temperatura média
05 G. et al. randomizado Brasil II e aumentou o limiar de dor à pressão na
coluna lombar das voluntárias.

DISCUSSÃO

A presente revisão integrativa retratou uma temática relevante


para os profissionais de saúde, especialmente, médicos, enfermeiros
e fisioterapeutas, que cuidam cotidianamente de pessoas que sofrem
dores crônicas. A importância desse estudo se fundamenta no fato de
que uma melhor compreensão das implicações da auriculoterapia sobre
dores crônicas propiciará adoção e mais confiabilidade a práticas alter-
nativas, com vistas a garantir melhor a qualidade de vida de quem sofre.
Ao se analisar o ano de publicação dos artigos inseridos nessa
revisão, o fato do maior percentual deles ter sido publicado em 2019
ressalta a relevância dessa temática no âmbito mundial. Essa impor-
158
tância pode estar baseada na crescente promoção e inclusão de novas
estratégias e práticas de saúde pelos sistemas de saúde em vários países
nos últimos anos (DALMOLIN; HEIDEMANN, 2017).
No que diz respeito à elevada publicação dos artigos na área da
Enfermagem, não surpreendente e sugere uma deficiência da litera-
tura envolvendo esse tema em outras áreas da saúde. Contudo, foi
interessante o destaque da base de dados PUBMED entre as consultadas
nessa pesquisa, embora, ela encerra periódicos na área da Medicina.
Sobre o maior número de artigos incluídos do tipo randomizado
controlado, esse dado pode ressaltar o valor atribuído ao tema aqui
abordado, já que esse tipo de estudo busca investigar experimentos
terapêuticos, assim como testar a eficácia de uma dada abordagem
terapêutica (OLIVEIRA; PARENTE, 2010). Esse valor foi também
observado quando grande parte dos artigos dessa revisão apresentaram
um nível de evidência II. Particularmente, para o maior quantitativo
de estudos desenvolvidos no Brasil, esse dado pode resultar da oficia-
lização das PIC’s na atenção em saúde, por meio da Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares.
Quanto as dores crônicas retratadas pelos artigos incluídos, o
artigo 1 tratou sobre adultos com dor cervical; o 2, sobre dor crônica
em pessoas com distúrbios musculoesqueléticos nas costas; a publi-
cação 3, sobre adultos com dor crônica nas costas; os estudos 4 e 5,
sobre indivíduos com dor lombar crônica. Segundo o IBGE (2010),
as dores da coluna (cervical, torácica, lombar e pélvica) representam a
segunda condição de saúde mais prevalente do Brasil (13,5%), entre
as patologias crônicas identificadas nos serviços de saúde.
Posto isto, se justifica a utilização dos pontos: Shenmen, sub-
córtex nervoso, Vertebras Cervicais, Vertebras Torácicas e Vertebras
Lombossacrais, na acupressão auricular em todos os estudos incluídos.
A utilização do ponto Shenmen é para preparar o tronco e o córtex
cerebral quanto aos reflexos dos pontos dos próximos pontos a serem

159
utilizados. Além disto, estimula a produção de endorfinas que têm
potencial sedativo (ZANELATTO, 2013).
Quanto ao material utilizado para acupressão auricular, em
alguns estudos, foi usado semente de mostarda e agulhas em outros,
sendo a maioria bilateral com tempo média de permanência de 5 dias.
Conforme Silva (2019), todos os materiais utilizados na auriculoterapia,
tanto agulhas, sementes e esferas apresentam viabilidade para o efeito
pretendido, isto é, quando escolhidos, de acordo com a necessidade e
especificidade de cada paciente e da experiência do terapeuta.
Quando analisados os principais achados dos artigos incluídos,
constatou-se uma semelhança entre os autores em relação à implicação
da auriculoterapia na redução da intensidade da dor e no aumento
do limiar da dor. De fato, os artigos 1 e 5 mostraram o impacto da
auriculoterapia no aumento do limiar da dor, enquanto os artigos 2,
3 e 4 apontaram o impacto sobre a redução da intensidade da dor.
Esse achado corrobora os resultados de Zhao et a. (2015) que, na sua
meta-análise, mostrou que o TA diminuiu a intensidade da dor, espe-
cialmente, para dor lombar crônica e cefaleia tensional crônica. Ruela
et al (2018) evidenciaram, em um ensaio clínico envolvendo pacientes
oncológicos, que a auriculoterapia provocou alterações na intensidade
e na classificação da dor. Além disto, proporcionou à redução das doses
diárias de analgésicos, do número de medicamentos consumidos pelos
participantes e alteração da posição desses nos degraus da Escada
Analgésica da Organização Mundial da Saúde (OMS).

CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que, embora o


número dos artigos incluídos seja reduzido, a maioria deles foi publi-
cado recentemente e, especialmente, em base de dados direcionada
à Enfermagem. Apesar disto, eles não se limitam apenas a profis-
sionais dessa área específica, mas sim a todos profissionais da saúde.
Entretanto, sua temática foi valorizada pelo tipo de estudo e nível de
160
evidência das publicações inclusas. Com relação as implicações da
auriculoterapia no alívio da dor crônica, pode se evidenciar que ela
contribuiu no aumento do limiar da dor e na diminuição da inten-
sidade da dor em indivíduos com dores crônicas na região cervical,
lombar e nas costas como um todo.
Ressalta-se a importância das PIC’s, em especial, a auriculote-
rapia e as suas implicações na promoção, manutenção e recuperação
da saúde. Nisto, faz-se necessário a condução de mais pesquisas que
retratem a auriculoterapia e suas implicações em diversas situações
de saúde, a sensibilização da população sobre as PIC’s, bem como a
sua inclusão nas grades curriculares dos cursos de graduação da área
de saúde e na educação continuada dos profissionais de saúde. Dessa
forma, poder-se-ão ser efetivamente instituídas como forma de tra-
tamento e prevenção adequados nos serviços de saúde, considerando
as reais necessidades de cada usuário.

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164
MUSICOTERAPIA E SAÚDE MENTAL NO
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA

José Wilson Lira Júnior


Rosiane Araujo Pereira

INTRODUÇÃO

A música é um instrumento significativo para cada um e, sendo


abstrata, por mais exata e concreta que nos possa parecer, pela comple-
xidade do próprio ser humano, seu autor, ela hoje é frutífera, amanhã,
indiferente e depois, uma recordação. “A música, portanto, é um meio
de comunicação poderoso capaz de conectar as pessoas nos níveis
físico, fisiológico e mental” (HAMEL, 2006, p. 69).
Segundo Blasco (1999 apud PUCHIVAILO; HOLANDA,
2014), da Pré-História à Idade Antiga, o uso terapêutico da música
se dava baseado em um pensamento mágico, ou seja, um pensamento
causal que buscava correlações entre os fenômenos da natureza e as
doenças. Um dos princípios fundamentais que embasavam as práticas
de cura desse período, que utilizavam a música, era o da crença da
música ser um dom dos deuses que poderia reestabelecer a harmonia
do corpo enfermo desarmonizado. A Musicoterapia pode ser definida
como uma terapia autoexpressava, que “estimula o potencial criativo e
a ampliação da capacidade comunicativa, mobilizando aspectos bioló-
gicos, psicológicos e culturais do indivíduo” (MILLECCO FILHO;
BRANDÃO; MILLECCO, 2000, p. 80).
Distintas são as metodologias, os métodos e as técnicas segundo
as quais a musicoterapia pode ser exercida. Essencialmente, depende
do próprio cliente e do interlocutor ou mediador, no qual, muitas
vezes, se transforma o musicoterapeuta. As técnicas mais utilizadas
165
são: 1. Improvisação Musical, 2. Recriação, 3. Audição Musical e 4.
Composição (NASCIMENTO, 2006, p. 93).
Na população de portadores de sofrimento mental, a Musi-
coterapia visa promover um vínculo terapêutico musical profundo,
especialmente, com pessoas que ainda não estão prontas para usar o
verbal, mas conseguem pensar e trabalhar musicalmente (ODELL-
-MILLER, 2017 apud REIS; FREIRE, 2018).
No Brasil, as primeiras medidas oficiais sobre a especialidade da
Musicoterapia aconteceram com a fundação, em 1968, de duas asso-
ciações de Musicoterapia: Associação Brasileira de Musicoterapia e a
Associação Sul Brasileira de Musicoterapia, que agregavam membros
de diferentes áreas que utilizavam a música em seus trabalhos com
objetivos terapêuticos (ROMÃO, 2015).
Em 1988, por ocasião da promulgação da Constituição da Repú-
blica Federativa do Brasil, foi instituído no país o Sistema Único de
Saúde (SUS), que passou a oferecer a todo cidadão brasileiro acesso
integral, universal e gratuito a serviços de saúde. Considerado um
dos maiores e melhores sistemas de saúde públicos do mundo, o
SUS beneficia cerca de 180 milhões de brasileiros e realiza por ano
cerca de 2,8 bilhões de atendimentos, desde procedimentos ambu-
latoriais simples a atendimentos de alta complexidade, como trans-
plantes de órgãos (PAIM, 2015).
Em 2006, quando foi criada a Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde,
eram ofertados apenas cinco procedimentos. Após 10 anos de criação
da PNPIC no SUS, em 2017, foi criada a Portaria nº 849, a qual
implantou mais 14 práticas, dentre elas, a musicoterapia. O Brasil
é líder na ampliação desse acesso à saúde e na demanda das PICS
oferecidas de início na atenção primária (BRASIL, 2006).

166
METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão integrativa de estudos publicados,


no período de 2016 a 2021, que apresentavam ações de intervenção,
utilizando musicoterapia no SUS, a partir dos seguintes descritores:
“Musicoterapia”, “Saúde Mental” e “Sistema Único de Saúde (SUS)”.
A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Scielo e Google
Acadêmico, de artigos publicados em português. Foram selecionados
cinco artigos, com estes, buscou-se conhecer experiências da musi-
coterapia no SUS, com a perspectiva de melhoria na saúde mental de
usuários, que apresentavam ações de intervenção individualizadas ou
coletivas, na atenção básica, unidades especializadas ou em hospitais.

RESULTADOS

Galvão (2021), em estudo descritivo do tipo relato de vivência


com abordagem qualitativa, relata atendimentos que foram realiza-
dos no Centro de Atenção Psicossocial do tipo III no grupo Mãos
que Cantam (GMC), que tem frequência média de 15 a 20 usuários
por encontro. Com a chegada dos usuários surdos, a dinâmica e as
experiências musicais precisaram ser repensadas para que houvesse o
acolhimento efetivo do usuário, sua inclusão e uma efetiva contribui-
ção com o tratamento oferecido pelo CAPS, que propôs a interação
da Musicoterapia e LIBRAS. A análise dos dados foi feita a partir
da Fenologia que demonstrou a importância do conhecimento da
Língua de sinais para inclusão de surdos e o GMC serviu como um
instrumento de acolhimento das manifestações e sentimentos inerentes
ao sofrimento mental dos usuários, sejam eles surdos ou ouvintes.
Hagemann et al (2021), em estudo de intervenção musicotera-
pêutica, do qual participaram 23 pacientes e foram avaliados quanto à
qualidade de vida e sintomas de depressão em duas fases distintas: pré e
pós-intervenção. Foram realizadas duas sessões em grupo por semana,
com duração de 75 minutos, em um período de quatro semanas. A
167
intervenção foi realizada por um musicoterapeuta, que utilizou técnicas
específicas da musicoterapia, além da voz e do violão para conduzir
apoio rítmico e harmônico na produção sonoro-musical dos grupos
que se constituíam por opção efetiva no tratamento e prevenção de
sintomas depressivos e na melhora da QV.
Ribeiro (2020) realizou pesquisa de âmbito qualitativo e inves-
tigativo, com questionário semiestruturado, realizado com os usuários
do CAPS. Buscou descrever os benefícios identificados por estes
usuários, a partir da utilização da musicoterapia, e demonstrou a
percepção que a musicoterapia desenvolve uma importante função
em seu tratamento/acompanhamento, além de melhora em sintomas
depressivos e no convívio social, pode-se perceber que a musicoterapia
é uma atividade terapêutica, na qual o encontro de vidas em sofrimento
psíquico promove o exercício da cidadania, expressão da liberdade e
o convívio social, com a inclusão de atividades artísticas e musicais.
Palazzi (2019) descreve a Intervenção musicoterápica para mãe-
-bebê pré-termo - IMUSP, que visa sensibilizar a mãe a cantar para
seu bebê pré-termo, durante a internação na Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal. Evidências sugerem que a IMUSP contribuiu
para o ‘empoderamento’ da mãe e do bebê, e para a ‘musicalidade
comunicativa’ da díade, fortalecendo a interação mãe-bebê pré-termo.
A IMUSP orienta a mãe para que possa cantar autonomamente para
seu bebê durante a internação e após a alta hospitalar.

CONCLUSÕES

A musicoterapia foi instituída recentemente nas PICS e diante


dos artigos avaliados, observamos a necessidade de implementa-
ções dos gestores públicos para maior divulgação da musicoterapia
e musicoterapeuta no âmbito da SUS, pois ambos contribuem com
criatividade para a construção de um novo olhar para saúde mental
e a desinstitucionalização do cuidado, assim, mesmo que instituída,
ainda não configura como algo consolidado no Brasil no âmbito das
168
políticas públicas de saúde, contribuindo para a concretização destas
políticas de forma interdisciplinar e intersetorial.
Conforme União Brasileira das Associações de Músicos, alguns
passos já foram dados como a criação do código brasileiro de ocupações
(CBO) para o musicoterapeuta, que permite que suas ações sejam
consideradas dentro do SUS e a promulgação da portaria que institui
as práticas integrativas em saúde no âmbito do SUS, no ano de 2016.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC-SUS/
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. -
Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
politica_nacional_praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf. Acesso em: 16 out. 2021.
GALVÃO, M.V.A. Musicoterapia e o intérprete de Libras na saúde mental: relato de expe-
riência. Rev. NUFEN, Belém, v. 13, n. 1, p. 242-258, abr. 2021. Disponível em <http://pepsic.
bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912021000100016&lng=es&nrm=-
iso>. Acesso em: 16 out. 2021.
HAGEMANN; P.M.S. et al. O efeito da musicoterapia na qualidade de vida e nos sintomas
de depressão de pacientes em hemodiálise. J. Bras. Nefrol., v.41, n.1, Jan-Mar 2019. Dispo-
nível em: https://doi.org/10.1590/2175-8239-JBN-2018-0023. Acesso em: 16 out. 2021.
MILLECCO FILHO, Luis Antônio; BRANDÃO, Maria Regina E.; MILLECCO, Ronaldo
P. É Preciso Cantar: Musicoterapia, Canto e Canções. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.
Disponível em: http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/incantare/article/view/2116.
Acesso em: 20 out. 202.
PAIM, J.S. O Que é SUS? Rio de Janeiro: Fiocruz, 2015. Disponível em: http://www.livro-
sinterativoseditora.fiocruz.br/sus/4/. Acesso em: 16 out. 2021.
PALAZZI et al. Intervenção musicoterápica para mãe-bebê pré-termo: uma proposta
de intervenção na UTI neonatal. Psicol. Estud., v.24, 2019. Disponível em:https://doi.
org/10.4025/psicolestud.v24i0.41123.Acesso em: 16 out. 2021.
PUCHIVAILO, M.A.; HOLANDA, A.F. A história da musicoterapia na psiquiatria e
na saúde mental: dos usos terapêuticos da música à musicoterapia. Revista Brasileira de
Musicoterapia, ano 16, n. 16, p. 122-142, 2014. Disponível em: https://www.revistademu-
sicoterapia.mus.br/wp-content/uploads/2016/10/8 Acesso em: 20 out. 2021.

169
REIS, Marcelo Rubens; FREIRE, Marina Horta. A canção de apresentação como um recurso
de musicoterapia na saúde mental. Revista InCantare, [S.l.], jun. 2018. Disponível em: <http://
periodicos.unespar.edu.br/index.php/incantare/article/view/2116>. Acesso em: 16 out. 2021.
RIBEIRO, V.R.; BIFFI; D. Percepções dos usuários de CAPS sobre um grupo de musico-
terapia. Revista Recien., São Paulo, v.10, n.29, p.83-89, 2020. Disponível em https://www.
recien.com.br/index.php/Recien/article/viewFile/341/pdf_1. Acesso em: 16 out. 2021.
ROMÃO, S.L.S. Os diferentes caminhos da música: um olhar sobre a musicoterapia. Encontro
Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 19 a 22 de outubro, 2015.
Colloquium Humanarum, v. 12, n. Especial, 2015, p. 1713-1720. Disponível em: file:///C:/
Users/Sony/Downloads/6.%20Os%20diferentes%20caminhos%20da%20m%C3%Basica%20
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Liselee%20Schulz%20Rom%C3%A3o.pdf. Acesso em: 16 out. 2021.

170
TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA NO
CONTEXTO DE PANDEMIA DA COVID-19:
REVISÃO INTEGRATIVA

Luana Carla Bandeira Sobrinho


Ricardo Hugo Gonzalez

INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, foi


descoberto um forte vírus com intensa capacidade letal nomeado
SARS-CoV-2 ou Covid-19. A partir de então, o vírus rapidamente
começou a se alastrar por vários países, atravessando barreiras inter-
continentais e levando a um estado de calamidade pública nos serviços
de saúde. Em março de 2020, após a subnotificação de diversos casos
de adoecimento e mortes decorrentes da Covid-19, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a emergência desse cenário
mundial e decretou ao mundo a insurgência de uma pandemia: cala-
midade pública de saúde em nível mundial.
Desde então, foram diversas as medidas adotadas como forma de
evitar o contágio com o vírus, tais como o uso de máscara em ambien-
tes públicos, constante higiene das mãos e o distanciamento de dois
metros entre uma pessoa e outra. Inúmeras estruturas, como empresas,
indústrias, instituições públicas e privadas, precisaram, de certa forma,
estacionar suas atividades, com exceção daquelas consideradas serviços
ou atividades essenciais, como o ramo alimentício. Algumas dessas
estruturas, a exemplo de escolas e universidades, migraram para o
modelo remoto (atividades mediadas pelas plataformas virtuais), ou
seja, o trabalho feito à distância e em casa, sem contato físico presente.
Gradativamente, o distanciamento foi se intensificando e as vidas
foram se enclausurando em seus lares individuais.
171
Autores das ciências humanas e sociais, a partir de seus estudos,
reiteraram que a interação entre o ser humano e o meio ambiente é
um elemento decisivo à constituição da subjetividade. Porém, com a
imposição do distanciamento social estimulado pela emergência da
pandemia provocada pelo Covid-19, a interação física, em parte, foi
suspensa, o que pôde ter dado margem ao aparecimento e à inten-
sificação de inúmeros conflitos de ordem psíquica, como ansiedade,
depressão, entre outros. Sob esse contexto, muitas alternativas de
cuidado foram úteis para acolher as angústias geradas durante a pan-
demia da Covid-19, entre tantas, a Terapia Comunitária Integrativa
(TCI) se apresenta como possibilidade.
A Terapia Comunitária Integrativa consiste numa intervenção
coletiva que visa fortalecer vínculos e construir laços sociais, fazendo
o uso dos recursos da própria comunidade em busca de criar solu-
ções coletivas para as dificuldades apontadas. A TCI consiste numa
potente prática desenvolvida em formato de roda e que favorece a
partilha de experiências entre os participantes, favorecendo o res-
gate da identidade, a restauração da autoestima, da autoconfiança e,
consequentemente, ampliando a percepção sobre si, sobre o outro e
sobre o mundo (BARRETO, 2010).
A sua estrutura teórica se fundamenta em cinco alicerces: o
Pensamento Sistêmico, a Teoria da Comunicação, a Antropologia
Cultural, a Pedagogia de Paulo Freire e a Resiliência. São esses pilares
que sustentam o percurso metodológico das suas seis etapas: acolhi-
mento; escolha do tema; contextualização; problematização; rituais
de agregação positiva; e avaliação (BARRETO, 2010).
A prática surgiu na década de 1980, na comunidade do Pirambu,
em Fortaleza. Conta-se, que o advogado Airton Barreto se sentava sob
a sombra de uma árvore para ouvir os moradores daquela comunidade
com dificuldades relacionadas ao acesso aos direitos básicos.
Durante essas escutas, o advogado percebeu muitas demandas
relacionadas à saúde mental e fazia o encaminhamento para o ambu-
172
latório de medicina social na Universidade Federal do Ceará, onde seu
irmão, Adalberto Barreto, atuava como professor e médico psiquiatra.
Observando queixas comuns que lhes eram encaminhadas, o médico
começou a pensar numa intervenção que pudesse atender muitas
pessoas simultaneamente e que provocasse um laço social, sob essa
égide surge a TCI. Este movimento desembocou no “Projeto 4 Varas”,
espaço físico dentro da comunidade que oferece encontros semanais
de Terapia Comunitária há três décadas (BARRETO, 2010).
No âmbito da saúde pública, a TCI funciona com uma ferramenta
de cuidado com características de tecnologia leve, que trouxe contri-
buições significativas para o acolhimento de demandas relacionadas à
saúde mental na atenção primária e na atenção psicossocial. O serviço
prestado ao Sistema Único de Saúde (SUS) data de 2008, através de
convênios que oportunizaram a formação de vários terapeutas comu-
nitários e, consequentemente, o fortalecimento da prática como uma
alternativa vivenciada pelos usuários dos serviços como algo eficaz.
Em 2017, a TCI é regulamentada pela Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPICs), por meio da Portaria SAS
nº 145, de 11 de janeiro de 2017.
Nessa perspectiva, o capítulo tem como objetivo buscar na
literatura em que medida a TCI contribui no enfrentamento
do sofrimento psíquico gerado pelo distanciamento social no
contexto de pandemia da COVID-19.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, a partir da ques-


tão norteadora: “Qual a influência da Terapia Comunitária Integrativa na
promoção da saúde em cenário/contexto pandêmico?” Este método de
pesquisa sintetiza resultados obtidos sobre um tema, de forma sistemática,
ordenada e abrangente (ERCOLE; MELO; ALCOFORADO, 2014).
A busca incluiu estudos publicados nos idiomas português e
inglês, em um intervalo de cinco anos (2016 a 2021), sendo reali-
173
zada a partir de pesquisa na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e
Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-
soal de Nível Superior (CAPES), por englobarem diversas bases de
dados, inclusive internacionais.
A estratégia de busca utilizou as palavras-chave “terapia comu-
nitária integrativa”, “COVID-19” e “isolamento social”, combinadas
pelo operador booleano AND. Foram considerados artigos disponíveis
para leitura na íntegra com títulos e/ou frases de acordo com as pala-
vras-chave, sendo excluídos editoriais, estudos repetidos nas bases de
dados e os que não tratavam diretamente sobre o tema.
Para a organização dos artigos e tornar viável a compreensão
das informações, utilizou-se um quadro elaborado no Microsoft Office
Excel 2007, formado pelas seguintes colunas: chave de busca, base de
dados, ano de publicação, título do artigo, autores, periódicos e resumo.
Posteriormente, uma análise crítica dos estudos foi realizada para a
composição textual da revisão integrativa da literatura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados quatro resultados, na BVS, e seis resultados,


na CAPES, com termos combinados “terapia comunitária integra-
tiva” AND “COVID-19”. Encontrou-se um resultado, na BVS, e 25
resultados, na CAPES, com a combinação “terapia comunitária inte-
grativa” AND “isolamento social”. Nenhum resultado foi encontrado
na BVS ao combinar os termos “terapia comunitária integrativa”
AND “COVID-19” AND “isolamento social”, porém, na CAPES,
foi encontrado apenas um resultado. A busca nas bases de dados foi
realizada em 17 de setembro de 2021.
Ao todo, foram identificados 37 resultados nas duas bases de
dados, por meio da busca avançada, que foram reduzidos a 34 resultados,
após a exclusão dos que se repetiam e do editorial. A partir disso, foram
excluídos 29 artigos que não contemplavam a questão norteadora pela

174
leitura do título e resumo, resultando em uma amostra final de cinco
(n=5) artigos científicos lidos integralmente (Quadro 1).

Quadro 1 - Características dos artigos selecionados de acordo com título, autores,


periódico, base de dados e tipo de estudo.
Base de Tipo de
Título Autores Ano Periódico
dados estudo
1. Terapia Comunitária SALCEDO-
Integrativa para idosos em BARRIENTOS, Te m a s e m Relato de
plataforma virtual durante D. M.; PAIVA, 2020 Educação e CAPES Experiência
a pandemia associada a M. V. S.; SILVA, Saúde
Covid-19 A. L. P.

2. Saúde única, Terapia


Comunitária Integrativa Te m a s e m
SVOBODA, W.
e covid-19: uma imersão 2020 Educação e CAPES Ensaio Crítico
K. et al.
fraternal em “um mundo, Saúde
uma saúde”

3. O cenário da Terapia Te m a s e m
Comunitária Integrativa SILVA, M. Z. A n á l i s e
2020 Educação e CAPES
no Brasil: história, pano- et al. bibliográfica
Saúde
rama e perspectivas

4. Implantação da Terapia Te m a s e m
Comunitária online: tec- SILVA, A. L. P. Relato
2020 Educação e CAPES
nologia do cuidado em et al. de Experiência
Saúde
tempos de pandemia

5. Terapia Comunitária PONTES, G. O.;


Integrativa como espaço de SANTOS, A. G. Te m a s e m Relato de
cuidado em saúde mental 2021 CAPES
L.; HOLANDA, Educação Experiência
durante a pandemia do V. R.
novo coronavírus

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

A partir dos achados nos artigos, verifica-se caminhos comum


aos textos: contextualização da Pandemia Covid-19 e seus agra-
vos à saúde; apresentação da TCI com seus aspectos históricos; a
metodologia dos encontros e suas contribuições para saúde, sob a
ancoragem da Política Nacional de Práticas Integrativas e Comple-
mentares enquanto prática de cuidado.

CONCLUSÕES

Segundo os autores das obras identificadas nas buscas, a TCI,


enquanto prática integrativa, pode ser utilizada como ferramenta
175
potente direcionada às pessoas em situação de isolamento ou de dis-
tanciamento social pela comunidade em geral, pois possibilita espaços
de partilha de sentimentos, ressignificações e criação de estratégias de
enfrentamento, a partir das potencialidades individuais e comunitárias.
Ainda que sua ocorrência no modelo virtual, seus benefícios foram
alcançados a partir das experiências relatadas.
Num contexto pandêmico, a TCI possibilitou acolhimento,
cuidado e abertura de espaços de fala e de escuta para aqueles que
estiveram em sofrimento psíquico ou que experimentaram o medo
e a solidão devido ao distanciamento social e, por isso, constata-se
seu valor para a saúde mental e até conseguindo amenizar o sofri-
mento nesses tempos de pandemia.

REFERÊNCIAS
BARRETO, A. P. Terapia comunitária: passo a passo. 4. ed. Fortaleza: LCR, 2010.
BARRETO, A. P. Terapia comunitária integrativa: cuidando da saúde mental em tempos
de crise. Recife: Fiocruz-PE; ObservaPICS, 2020.
ERCOLE, F. F.; MELO, L. S.; ALCOFORADO, C. L. G. C. Revisão integrativa versus
revisão sistemática. Revista Mineira de Enfermagem, v. 18, n. 1, p. 9-12, 2014. Editorial.
PONTES, G. O.; SANTOS, A. G. L.; HOLANDA, V. R. Terapia Comunitária Integrativa
como espaço de cuidado em saúde mental durante a pandemia do novo coronavírus. Temas
em Educação e Saúde, v.30, n.1, 2020.
SALCEDO-BARRIENTOS, D. M.; PAIVA, M. V. S.; SILVA, A. L. P. Terapia Comunitária
Integrativa para idosos em plataforma virtual durante a pandemia associada a Covid-19.
Temas em Educação e Saúde, Araraquara, v. 16, n. esp.1, p. 360–375, 2020.
SILVA, M. Z. et al. O cenário da Terapia Comunitária Integrativa no Brasil: história, panorama
e perspectivas. Temas em Educação e Saúde, Araraquara, v. 16, n. esp.1, p. 341–359, 2020.
SILVA, A. L. P. et al. Implantação da Terapia Comunitária online: tecnologia do cuidado
em tempos de pandemia. Temas em Educação e Saúde, Araraquara, v. 16, n. esp.1, p.
393–408, 2020.
SVOBODA, W. K. et al. Saúde única, Terapia Comunitária Integrativa e covid-19: uma
imersão fraternal em “um mundo, uma saúde”. Temas em Educação e Saúde, Araraquara,
v. 16, n. esp.1, p. 432–445, 2020.

176
ACUPUNTURA E QUALIDADE DE VIDA:
DISCUSSÃO EM DIFERENTES FACES

Rafaela Rodrigues Viana


Alzyra Hingrid Hardi Lima Aragão

INTRODUÇÃO

A acupuntura é uma terapia milenar originária da China, que


consiste na aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo para
tratar doenças e para promover saúde, visando o estímulo do equi-
líbrio energético, datando a sua introdução no Brasil desde o século
XIX (CORREIA, 2021). A trajetória das Medicinas Tradicionais
(MT), em especial a acupuntura, tem seu ponto de partida diante
da necessidade da garantia de saúde para todas as populações, diante
do direito de tratamento de saúde de diversas enfermidades, visto a
sistematização e transformações do pensamento médico e cultural ao
longo dos anos (NUNES et al, 2021).
A utilização da medicina tradicional na saúde primária foi dis-
cutida na Primeira Conferência Internacional de Assistência Primária
em Saúde, que ocorreu em Alma-Ata, no ano de 1978, que produziu
um documento chamado de Declaração de Alma-Ata que assumiu a
saúde como um direito humano fundamental e enfatizou a importân-
cia da assistência em saúde não ser focado somente na enfermidade,
mas também no bem-estar mental, físico e social de cada indivíduo,
sempre buscando respeito às suas crenças e valores (BRASIL, 2018).
Difundida como uma prática integrativa de saúde (PIC), a
acupuntura está associada aos procedimentos da medicina científica
do ocidente, no início dos anos 80. A partir de então, a implantação
dessas práticas na rede pública de saúde tem ganhado destaque na
comunidade científica (PALMEIRA, 1990).
177
A qualidade de vida é um dos benefícios mais procurados por
aqueles que utilizam as PIC’s, pois reflete em todos os outros bene-
fícios. Intervenções não farmacológicas, como o uso de plantas e
chás, são fatores que ajudam muito na qualidade de vida do paciente,
proporcionando um tipo de cuidado mais autônomo, por exemplo.
As PIC’s visam aumentar a qualidade de vida do paciente, através
de práticas que estimulem o bem-estar físico e mental, assim como
redução de danos de agravos, promovendo um melhor ambiente de
tratamento (PEREIRA et al, 2017).
O acréscimo dessa especialização na área da enfermagem permite
refletir sobre a possibilidade de os enfermeiros serem especialistas em
diversas áreas e aliarem os conhecimentos em prol do público-alvo
com o qual esse profissional atua, por exemplo, o enfermeiro do tra-
balho pode especializar-se em acupuntura e aliar ambas as práticas
no ambiente laboral (GOYATÁ et al, 2016).
A saber, segundo (KWON; LEE, KIM, 2019), tanto em cir-
cunstâncias cotidianas como nas catástrofes pandêmicas, como a
deste momento, o enfrentamento das adversidades mostra-se pre-
sente como exaustão física e emocional da prática profissional e a
equipe de enfermagem pode apresentar sintomas emocionais como
ansiedade, depressão e estresse.
Conforme (BUCHANAN, 2018), torna-se relevante planejar e
desenvolver programas de apoio institucional para esses profissionais
atuantes na linha de frente à pandemia do coronavírus, colaborando
no seu enfrentamento pessoal. Salienta-se, também, a importância
do emprego da auriculoterapia, uma especialidade da acupuntura,
conhecida como uma técnica simples, do ponto de vista tecnológico,
rápida, de baixo custo e aplicável à saúde do trabalhador.
No meio científico, a acupuntura vem garantindo o seu espaço
diante dos resultados significativos apresentados em pesquisas realizadas
e evidências científicas positivas, tanto para a prevenção do desenvol-
vimento de enfermidades quanto para o tratamento destas, bem como
178
a realização de estudos experimentais com animais, que têm apontado
dados importantes diante do seu mecanismo de ação (VIEIRA, 2015).
Todavia, apesar da acupuntura estar difundida no meio cien-
tífico, ainda há uma escassez de estudos científicos na perspectiva
de desdobramentos palpáveis para quantificação de dados diante
da relevância desta prática para a evolução da acupuntura no trata-
mento de enfermidades específicas.
Cabe salientar que há uma redução significativa de revisões
integrativas atuais que abordem a temática em questão, o que torna
esse trabalho relevante para identificação do atual estado de produções
científicas a respeito do uso da acupuntura, sendo válido ressaltar que
a presente revisão integrativa pode servir como fonte de consulta e
orientação para demais estudos que tenham por finalidade abordar a
temática em questão, demonstrando sua relevância perante o cenário
nacional da saúde bem como da enfermagem. Em face ao exposto,
este estudo objetiva aprofundar a discussão já existente e analisar as
evidências científicas disponíveis na literatura sobre o uso da acu-
puntura em diferentes cenários.

METODOLOGIAS

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa, na qual


é um dos métodos de pesquisa mais utilizados na Prática Baseada em
Evidências (PBE), que permite a incorporação das evidências na prática
clínica, que busca fundamentar o conhecimento em bases teóricas e cien-
tíficas de qualidade (SOUSA et al, 2017). Seguiu-se nove etapas para a
construção deste estudo, sendo elas apresentadas no Quadro 1 a seguir:

179
Quadro 1: Processo de construção da revisão integrativa
1ª Etapa Definição do tema

2ª Etapa Definição da pergunta norteadora de pesquisa

3ª Etapa Definição dos descritores (DeCs)

4ª Etapa Seleção dos critérios de inclusão

5ª Etapa Seleção da base de dados para busca

6ª Etapa Identificação dos artigos na base de dados definida

7ª Etapa Análise e reestruturação dos achados dos estudos selecionados

8ª Etapa Interpretação dos resultados

9ª Etapa Escrita da revisão integrativa

Fonte: Dados do próprio estudo elaborado pelo autor (2021).

Portanto, elaborou-se a seguinte questão norteadora: Quais as


evidências científicas dos últimos cinco anos disponíveis sobre o uso
da acupuntura? Para tanto, inicialmente, foi realizada consulta aos
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), para conhecimento dos
descritores universais. Deste modo, foram selecionados e utilizados os
seguintes descritores, em português: “Acupuntura”; “Saúde e Qualidade
de Vida”, entre cada um deles foi utilizado o operador booleano “AND”.
Os critérios de inclusão estabelecidos foram artigos completos
disponíveis na íntegra, no idioma português, produzidos a partir dos
anos de 2016 a 2021, como forma de visualização de um panorama
geral sobre estudos realizados com o uso da acupuntura nos últimos
cinco anos. Os critérios de exclusão foram estudos secundários e
redundantes que não se encaixariam nos objetivos do estudo.
A análise desses achados foi sintetizada de maneira descritiva,
instituindo as informações mais relevantes de cada artigo em um
quadro contendo essas informações. Vale salientar que não foi rea-
lizado nenhum estudo envolvendo a participação de seres humanos,
sendo analisados apenas dados secundários que já estão disponíveis
na literatura científica brasileira, no entanto, não houve a necessidade
de aprovação deste estudo em comitê de ética em pesquisa científica.

180
RESULTADOS

Após o processo de seleção e identificação dos artigos que obe-


deceram aos critérios de inclusão estabelecidos, foram revelados 34
artigos ao final das buscas, sendo, no total, selecionados 16 artigos,
excluídos aqueles que eram repetidos ou que faziam parte de estudos
secundários, como teses, monografias e dissertações. Após a seleção
destes, foi realizada prévia leitura de todos os títulos e resumos, sele-
cionaram-se publicações que pertenciam às bases de dados: LILACS,
oito artigos; BVS, quatro artigos, BDENF, dois artigos e MADLINE,
dois artigos. Na segunda etapa, procedeu-se à leitura na íntegra.
Posto isso, a amostra final foi constituída por 16 artigos que se
encaixavam aos critérios de inclusão. Eles estão descritos no Quadro
2, de forma a elucidar o título da pesquisa, os autores, a revista, o mês
e ano de publicação bem como os principais achados de cada estudo.

Quadro 2. Relação entre os estudos abordados neste trabalho e seus principais


achados, 20216
MÊS/ANO
ACHADOS PRIN-
TÍTULO AUTORES REVISTA DE PUBLI-
CIPAIS
CAÇÃO
A acupuntura mos-
trou-se uma estratégia
- Danielli Rafaeli eficaz para melhoria
Acupuntura em Candido Pedro; das condições de saúde
Revista de Saúde
trabalhadores: e qualidade de vida dos
1 revisão integra- - Beatriz Maria Pública – Paraná Abril/2021 trabalhadores. A acu-
dos Santos (Online)
tiva da literatura puntura pode ser uma
Santiago Ribeiro aliada na promoção de
saúde ou tratamento de
doenças.
Percebeu-se que o
efeito da acupuntura
no controle de náuseas
- Priscila Caldas e vômitos induzidos
Acupuntura no de Souza Ramos; pela quimioterapia foi
controle de náu- Revista de enfer-
- Vera Lúcia satisfatório em 13 dos
2 seas e vômitos Freitas; magem UFPE Janeiro/2021 15 estudos que com-
em pacientes online
- Luana Borges puseram esta revisão,
oncológicos
Dutra mostrando uma dimi-
nuição desses sinto-
mas durante e após o
tratamento.

6 
Os artigos utilizados para a construção deste quadro estão referenciados ao final do presente estudo.
181
Destaca-se que, atual-
mente, a acupuntura é
realizada apenas por
Avanços e desa- enfermeira especialista
fios da enfer- - Ana Paula na área. As boas práti-
Revista de
magem em Senna Bousfield; cas aplicadas, durante o
Enfermagem do
3 acupuntura em Outubro/2020 atendimento da enfer-
- Maria Itayra Centro Oeste
Santa Catarina meira acupunturista,
Padilha Mineiro
no período de garantem a qualidade,
1997 a 2015 destaque e a compa-
tibilidade das ações
com os regulamentos
técnicos.
Os estudos que avalia-
ram qualidade de vida,
sono e fadiga apresen-
- Geórgia taram benefícios sig-
Efeitos da
Alcântara nificativos. Não houve
acupuntura
Alencar Melo; significância estatística
em pacientes Revista Brasileira na melhora dos níveis
4 com insufi- - Letícia Lima de Enfermagem Maio/2020 de creatinina sérica e
ciência renal Aguiar; taxa de filtração glo-
crônica: revisão - Renan Alves merular. A divergên-
sistemática Silva cia metodológica e
dos instrumentos de
avaliação impossibili-
tou a meta-análise.
As inter venções
fisioterapêuticas pro-
postas pelos artigos
Inter venções - Giovana Morin foram alongamentos;
fisioterapêuti- Casassola; educação em saúde;
cas utilizadas massagem; terapias
- Gabrieli
na reabilitação Fi s i o t e r a p i a convencionais e não
5 funcional do Rodrigues Brasileira Março/2020 convencionais: acu-
Gonçalves;
membro supe- puntura; exercício
rior de mulheres - Joana Hasenack ativo e fortalecimento
pós-mastectomia Stallbaum; muscular, eviden-
ciando a importância
da fisioterapia, para o
tratamento.

A acupuntura demons-
trou eficácia no alívio
dos sintomas da
- Lícia Regina doença: cefaleia, neu-
Acupuntura Siqueira Garcia; ralgia do trigêmeo
no tratamento e dor retroauricular,
- José Jailson de R e v i s t a
6 da paralisia além de melhorar a
Almeida Junior; Científica de Janeiro/2020
facial periférica: recuperação muscular e
- Henrique Enfermagem
uma revisão a qualidade de vida dos
sistemática Affonso Oliveira pacientes. Os ensaios
Souza Neto; clínicos não demos-
traram a eficácia da
acupuntura em relação
a outros tratamentos.

182
Objetivou-se identi-
ficar o uso de práticas
integrativas, espirituais
e avaliar a qualidade
- Amanda Silva de vida relacionada
Práticas integra-
Mendes; à saúde de pacientes
tivas, espirituais e R e v i s t a adultos com câncer
qualidade de vida - Taciana Cunha
7 Eletrônica de Setembro/2020 durante o tratamento
do paciente com Arantes; Enfermagem quimioterápico.
câncer durante o - Vitória Apenas 13 (4,9%)
tratamento Eugênia Martins pacientes utilizavam
alguma prática integra-
tiva como fitoterapia,
homeopatia, medita-
ção, floral e acupuntura.
A acupuntura auricu-
lar obteve resultados
positivos em 80% dos
estudos. Os desfechos
- Caroline de mais utilizados foram
Acupuntura
Castro Moura a intensidade e a qua-
auricular para Revista da lidade da dor, con-
dor crônica - Erika de Cássia Escola de sumo de medicação,
8 nas costas em Lopes Chaves; Dezembro/2019
Enfermagem da incapacidade física e
adultos: revisão - Ana Carolina USP (Impresso) qualidade de vida. Os
sistemática e Lima R amos resultados da metaná-
metanálise Cardoso; lise apontaram que a
acupuntura auricular
foi eficaz em reduzir os
escores de intensidade
da dor (p=0,038).

Trata-se de um ensaio
clínico não randomi-
zado. A utilização da
Efeito da acu- - Va n e s s a acupuntura resultou
puntura na Cristina Novak; em melhora da ansie-
melhora da - Stefany Mayara Revista Mundo dade, do sono e da
9 ansiedade, sono Tilpp; Saúde (impresso) Agosto/2019 qualidade de vida do
e qualidade de - Cíntia Raquel grupo estudado, mos-
vida Bim trando ser uma pos-
sibilidade terapêutica
para o tratamento de
pessoas com ansiedade.

Revisão integrativa.
Entre os benefícios
das práticas integrati-
- Dayana Senger vas foi evidenciado o
Benefícios das Mendes; relaxamento e o bem-
práticas inte- - Fe r n a n d a -estar, o alívio da dor e
grativas e com- Journal Health
10 Santos de Junho/2019 da ansiedade, redução
plementares NPEPS
Moraes; do uso de medicamen-
no cuidado de
- Gabrielli de tos, fortalecimento do
enfermagem
Oliveira Lima; sistema imunológico,
melhoria da qualidade
de vida e diminuição de
reações adversas.

183
O uso da acupuntura
parece estar associado
à melhora dos sin-
tomas da neuropatia
Acupuntura em periférica induzida por
adultos com - Amanda quimioterapia e não
Neuropatia Fonseca Baviera; Revista Latino- tem efeitos colaterais.
Periférica
11 - Karin Olson; Americano em Março/2019 São necessários mais
Induzida por
- Juliana Maria Enfermagem estudos experimentais
Quimioterapia:
de Paula; usando tanto medidas
uma revisão subjetivas como obje-
sistemática tivas para melhorar
as evidências sobre os
benefícios associados à
acupuntura.

Trata-se de uma revi-


são integrativa com seis
artigos selecionados.
Os estudos trouxeram
a utilização de progra-
Intervenções no
- Lorena mas de atividade física
manejo da fadiga
C a m p o s como sendo eficazes. A
e qualidade de
12 Mendes; C O G I TA R E prática de atividades
vida em pacien- Dezembro, 2019
Enfermagem física foi considerada
tes em quimiote- - Elizabeth uma intervenção efi-
rapia: estudo de Barichello caz, já a acupuntura
revisão não apresentou res-
posta clínica viável no
manejo da fadiga onco-
lógica e Qualidade de
Vida.

Entre as terapias de
mind-body, ressal-
tamos uma melhora
- Carolina significativa do
Oncologia Folgierini estresse, depressão
Integrativa: Goldstein; e ansiedade, fadiga
d a s Pr á t i c a s - Natasha de Acta méd. (Porto e qualidade de vida.
13 Dezembro, 2018
Complementares Astrogildo; Alegre) A prática integrativa
aos seus - Stefani, mais estudada, a acu-
resultados Cristina Furlan puntura, e a melhora
Zabka da dor relatada por
74% dos pacientes de
um estudo após apenas
uma sessão.

Estudo quantitativo,
descritivo, multicên-
- Maria de trico, analítico, pros-
Avaliaç ão da L o u r d e s pectivo, comparativo
ansiedade e da Guarnieri e controlado em 80
depressão em Barbosa;
14 Revista de enfer- pacientes com úlcera
pacientes com Setembro, 2019
- Geraldo magem UFPE venosa. Os pacientes
úlcera venosa Magela Salomé; do Grupo Estudo
tratados com
- Lydia Masako apresentaram melhoras
acupuntura
Ferreira na ansiedade e depres-
são após 6 sessões de
acupuntura.

184
A acupuntura, que é
uma terapia integra-
dora entre o corpo e
a mente, pode ser uma
- Patrícia maneira não medica-
Q ualidade de
Fernandes mentosa de aliviar o
vida de cuida-
H o l a n d a fardo dos cuidadores.
dores de idosos Foram encontradas
com diagnóstico Carraro; Mudanças – muitas evidências
15 de Alzheimer - Celina Psicologia da Dezembro/2016 de que esta terapia
e o emprego Maria Colino Saúde melhora a qualidade
de acupuntura Magalhães; de vida em diversas
– Revisão de - Paula Danielle patologias. Esta revisão
Literatura Carvalho identificou que há uma
lacuna no emprego de
acupuntura na qua-
lidade de vida dos
cuidadores.
Com uma análise dos
principais motivos
de consultas médicas
nas unidades básicas
de saúde, observou-se
que 85% dos pacientes
Inserção da - Naiellen queixavam-se de dores
acupuntura na Cristina Jotta crônicas e faziam o
BIS: Boletim
Atenção Básica Ferreira; consumo diário de
do Instituto
16 como tratamento de Saúde Dezembro/2016 medicações. Diante
terapêutico com- - Alessandra dessa realidade e com
Lima Toledo (Impresso)
plementar das o intuito de proporcio-
doenças crônicas Alvares nar uma melhoria na
qualidade de vida em
saúde, a acupuntura
foi introduzida na
Atenção Básica como
terapia complementar
às doenças crônicas.

Fonte: Dados do próprio estudo, elaborado pelo autor (2021).7

Dessa forma, os anos em que houve mais publicações foram em


2020 e 2019, com cinco artigos publicados em cada ano. Em 2016, as
pesquisas estiveram mais concentradas no âmbito da Atenção Básica.
Foi utilizada, na maioria dos estudos, a metodologia de revisão inte-
grativa, sendo utilizado escalas para avaliar a qualidade de vida dos
participantes ou escalas específicas das patologias estudadas.
Percebeu-se que, em 94% (n=16) dos estudos selecionados, a
acupuntura foi considerada eficaz para o tratamento de melhoria da
qualidade de vida dos indíviduos dos estudos, enquanto apenas 6%(n=1)
dos artigos trouxe como resultado a não interferência da acupuntura na
melhoria das condições de vida dos sujeitos envolvidos nas pesquisas.

7 
Foram utilizados apenas os três primeiros autores de cada artigo para uma melhor formatação do quadro.
185
Esses achados corroboram ao estudo de Oliveira, Maia e Alves
(2021), uma revisão integrativa realizada por universitários do Rio de
Janeiro, que evidenciou melhora significativa na qualidade de vida, na
maioria dos artigos estudados, destacando-se a eficácia da acupuntura
na redução da dor em pacientes com fibromialgia.
No que se refere ao controle da dor crônica, a acupuntura
mostrou-se eficiente, ficando visível a sua prevalência em mais da
metade dos estudos selecionados, como destacado no Quadro 2,
nos estudos de número 6, 8 e 16.
A acupuntura apresenta uma melhora significativa no controle
da dor na cefaleia crônica, podendo ser considerada como trata-
mento adjuvante, reduzindo a intensidade da dor, o número de crises,
quantidade de analgésicos, além de melhorar a qualidade de vida
dos pacientes (MAYRINK, 2016).
Em pacientes oncológicos ou que perpassam por quimiote-
rapia, a acupuntura apresentou resultados satisfatórios no controle
e redução dos sintomas, bem como não apresentou algum tipo de
efeito colateral, como demonstrado nos estudos de números 2,7,11
e 13 explicitados no Quadro 2.
No estudo realizado por Ruela et al (2018), através de um ensaio
clínico randomizado, com 31 portadores de câncer e 8 sessões de acu-
puntura auricular, foi identificado que houve efetividade na redução
da dor de pacientes em tratamento quimioterápico, como também a
redução no consumo de analgésicos após a aplicação da intervenção.
Foi possível identificar nos artigos eleitos a presença do enfer-
meiro como ator protagonista na aplicação da acupuntura. Vale salientar
que o referido profissional possui papel marcante no cuidado aos indi-
víduos que necessitam de atendimento à saúde bem como o controle
da dor, visto que existem aspectos relevantes da prática do enfermeiro
e a gama de atividades que o compete, como a prática da acupuntura
(FERREIRA; PÁRICO; DJAS, 2018).

186
A acupuntura se mostra como uma técnica preventiva, curativa
e reabilitadora para doenças agudas ou crônicas, sendo empregada no
tratamento do estresse e dores, visto isso essa prática é uma interessante
alternativa à Saúde Pública e à prática do profissional enfermeiro.
Esta revisão demonstrou os diversos campos de aplicação da
acupuntura para melhoria da qualidade de vida dos indivíduos que
possuem diferentes condições patológicas e a sua eficácia no tratamento
de doenças. Além disso, foi elencado por um estudo de baixo custo que
permitiu evidenciar, de acordo com a literatura mais recente a prática
da acupuntura como um benefício milenar que perdura até a atualidade.

CONCLUSÕES

Diante dos artigos estudados, evidencia-se o efeito significativo


da acupuntura na melhoria da qualidade de vida em diversos aspectos,
assim como a redução da dor nos pacientes com diferentes condições
patológicas. Destaca-se, também, a partir dos achados desta revisão,
que a acupuntura pode e deve ser utilizada como complemento de
outros tratamentos, visto que a literatura científica comporta uma
gama de resultados eficazes em diferentes tratamentos.
Com efeito, apesar da redução de publicações na temática envol-
vida, a eficiência da Acupuntura está relacionada à sua forma praze-
rosa, simples, conveniente, prática, sem riscos, relativamente barata e
com bom custo-benefício. Tal prática mostra que nem toda doença é
tratada somente com método farmacológico, mas através de métodos
não-farmacológicos também, os quais são essenciais para oferecer uma
qualidade de vida às pessoas que estão doentes.
Desse modo, é notório que a acupuntura pode ser aplicada nas
mais diversas instituições de maneira a promover a saúde, o bem-
-estar físico e mental dos indivíduos que os compõem, tornando-se
primordial o incentivo mais corriqueiro dessa prática, diante dos
resultados positivos apresentados por essa revisão.

187
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189
AS CONTRIBUIÇÕES DA CROMOTERAPIA
PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE

José Roberto Costa Lourenço

INTRODUÇÃO

A cromoterapia é uma técnica milenar que envolve o conheci-


mento a respeito das potencialidades e benefícios que as cores podem
proporcionar. Essa técnica vem sendo utilizada ao longo dos anos e vem
se fazendo presente em diversas culturas e povos. Assim, os benefícios
que envolvem a prática da cromoterapia vêm sendo cuidadosamente
estudados e compreendidos, para que seja possível aplicá-la em diver-
sas esferas da vida, sobretudo no campo da promoção da saúde e da
qualidade de vida (VIANA et al, 2020).
Desse modo, a cromoterapia também é entendida como uma
ciência que utiliza o poder das cores na busca do equilíbrio do
corpo, atuando em diversas disfunções orgânicas e emocionais. Os
efeitos da cromoterapia variam conforme a intensidade das cores
que são utilizadas. Portanto, cada cor terá um potencial de eficá-
cia no organismo (MUNDT, 2011).
No que diz respeito as cores, cada uma possui vibrações e pro-
priedades terapêuticas próprias. Nessa ciência, as cores mais utilizadas
são as básicas, sendo elas, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul ou
violeta. As cores ajudam o paciente a conhecer e explorar o seu inte-
rior, influenciando o sistema nervoso, de acordo com os objetivos do
tratamento (REVISTA ABRALE, 2020).
As cores são vibrações puras e, quando usadas na tonalidade certa
e focalizadas no lugar certo, podem ajudar a reconduzir o corpo à saúde.
Cada cor tem sua particularidade, possuindo indicações e contraindi-

190
cações. Dentro das práticas integrativas e complementares, a cromote-
rapia é baseada nas sete cores do espectro solar (VIANA et al, 2020).
Dentro dos serviços de saúde, a cromoterapia se faz presente
em diversos níveis e contextos. Assim, a aplicação das cores está
presente em espaços e cômodos diversos, uso de lasers para bene-
fícios à saúde ou para fins estéticos, uso em bebês recém-nascidos e
até mesmo nos processos de acolhimento e bem-estar institucional
(SANTIAGO; DUARTE; MACEDO, 2009).
A utilização adequada das cores pode favorecer a criação de
ambientes terapêuticos e estimular o fluxo de energia curativa poten-
cial do ser humano. Para além do potencial das cores, é necessário
que se exista a crença no processo de melhora ou cura, pois, a pos-
tura do indivíduo frente a qualquer tratamento fará toda a dife-
rença nos benefícios (MUNDT, 2011).
Portanto, esse estudo apresenta a cromoterapia e a destaca
enquanto prática utilizada nos mais diversos setores de saúde, evi-
denciando as produções acadêmicas que apresentam a sua eficácia e
ganhos obtidos nos processos de qualidade de vida.

METODOLOGIA

Esse estudo baseia-se numa pesquisa bibliográfica do tipo revi-


são de literatura. Para elaboração do estudo, percorremos as etapas do
estabelecimento do objetivo, dos critérios de inclusão e exclusão das
produções científicas, da definição das informações a serem extraídas
dos estudos selecionados, bem como da análise dos resultados e da
discussão e apresentação dos achados.
Para nortear esta pesquisa, tivemos como pergunta norteadora:
Quais as contribuições da cromoterapia para os serviços de saúde
e quais os achados da literatura? A coleta de dados se deu entre os
meses de julho e agosto de 2021, nas bases de dados da Scielo e do

191
Portal de Periódicos da CAPES. Para a busca, foram utilizadas as
palavras-chave: Cromoterapia, Cromoterapia and saúde e Colorterapia.
No que diz respeito aos critérios de inclusão, foram contem-
plados aqueles artigos que estivessem: a) redigidos em português, b)
que tratassem do assunto proposto, c) completos e disponíveis para
download e d) publicados nos últimos 12 anos. Já os critérios de
exclusão rejeitaram aquelas produções que estivessem: a) escritos em
outros idiomas, b) que o assunto abrangesse mais em relação as práticas
integrativas e complementares do que o uso das cores na promoção
da saúde, c) não estivessem completos e disponíveis para download,
d) com mais de 13 anos de publicação e e) artigos duplicados.

RESULTADOS

Nesta seção, serão apresentados os achados, a partir da busca


dos materiais acadêmicos nas bases de dados supracitadas. Na base
de dados da Scielo, foram recuperados 11 artigos. Porém, com o uso
dos critérios de inclusão e exclusão acima descritos, foram descar-
tados seis, restando assim, cinco produções. Na base de dados do
Portal de Periódicos da CAPES foram recuperados 68 artigos, mas
nenhum foi selecionado mediante a aplicação dos critérios de inclusão
e exclusão. No total, foram recuperados 79 artigos nas duas bases de
dados da Scielo e do Periódico da CAPES, no entanto, apenas cinco
atingiram os critérios de inclusão.
A produção por ano dos materiais analisados mostrou que o
artigo mais antigo foi publicado no ano de 2009. As demais produ-
ções datam de períodos entre 2012, 2013, 2018 e 2020. Apresenta-se,
a seguir, a sistematização dos dados compilados, a partir dos artigos
encontrados na base de dados da Scielo e que passaram pela filtragem
dos critérios de inclusão e exclusão.

192
Quadro 1 – artigos da base de dados da Scielo
Ano de Título Autores Temática
publicação
Uso da cromoterapia pelo enfermeiro
VIANA, J.M; VADOR,
2020 no cuidado da criança em unidade de Cromoterapia e Saúde
R.M.F
terapia intensiva
BA R RO S, S. R . A . F ;
A Contribuição da Cromoterapia no
2018 Trabalho de Parto F ERREI RA , F. C . R ; Cromoterapia e Saúde
FALCÃO, P.H.B.
Panorama geral das pesquisas cientí- SANTOS, E.D.B;
2012 ficas sobre cromoterapia: uma revisão FILHO, F.J.C Cromoterapia
integrativa
Cromoterapia, ambiência e acolhi- JUNIOR, J.M; SYLLA,
2013 mento ao usuário do sus nas esfs M.C.T. Cromoterapia e Saúde

O impacto da Cromoterapia S A N T I A G O , V. F ;
2009 no comportamento do paciente D UART E, D.A; Cromoterapia e Saúde
odontopediátrico MACEDO, A.F.

Com base na leitura dos artigos supracitados, é possível discutir


que o uso da cromoterapia pode ser feito de inúmeras formas dentro
dos serviços de saúde, podendo ser realizado através do uso de algu-
mas ferramentas, como é o caso dos cristais cromáticos, mas também
pode ser utilizado a partir da escolha de cores que venham a decorar
os espaços desses serviços de saúde, que podem auxiliar nos processos
de acolhimento dos usuários dos serviços de saúde.
Desse modo, Merenda Junior e Sylla (2013) discutem em sua
produção o conceito de ambiência, através do uso da cromoterapia.
Para os autores, a ambiência é definida como o tratamento dado ao
espaço físico, entendido como espaço social, profissional e de relações
interpessoais. Assim, a cromoterapia pode ser utilizada como ferramenta
estratégica para formação de um ambiente mais acolhedor, proporcio-
nando conforto e segurança aos usuários dos serviços públicos de saúde.
Nessa perspectiva, a cromoterapia também é discutida na pers-
pectiva dos serviços de saúde com as crianças. O uso das luzes nos
diversos níveis de organização da saúde vem se tornando uma prática
crescente, uma vez que a vibração característica de cada cor do espectro
eletromagnético corresponde a várias frequências e vibrações de cada
parte do corpo humano (VIANA et al, 2020).

193
Os autores destacam ainda que o uso das cores é geralmente
utilizado em crianças neonatais que estão na UTI. E apontam que a
escolha da cor vai de acordo com os sintomas e patologias apresentadas
por cada criança. As técnicas de cromoterapia podem ser incorporadas
à enfermagem e inseridas nos ambientes hospitalares para promover a
cura, fazendo um papel importante na realidade, no domínio da saúde e
doença, interferindo de várias formas no indivíduo (VIANA et al, 2020).
Dentro da perspectiva infantil, as contribuições da cromote-
rapia são diversas. O uso das cores pode ser utilizado também como
estratégia na atuação contra a ansiedade de crianças. Assim, Santiago,
Duarte e Macedo (2009) apresentam a efetividade da Cromoterapia
no controle da ansiedade no atendimento odontológico infantil.
Assim, os estudos publicados a respeito do uso da cromoterapia
em serviços de saúde destacam a sua eficácia e resultados positivos. A
cromoterapia vem sendo amplamente utilizada como prática comple-
mentar nos tratamentos de controle da pressão arterial, de doenças
crônicas, na diminuição das dores, nos desequilíbrios emocionais
e até mesmo como prática complementar na questão da depres-
são (SANTOS; CIDRAL FILHO, 2012).

CONCLUSÕES

A cromoterapia é a ciência que faz uso das cores do espectro solar


para atuar nos processos de melhora e cura. A sua prática é milenar e
percorreu por diversas culturas. Hoje, a Cromoterapia é reconhecida pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e vem sendo utilizada como
uma prática integrativa de cuidado, sobretudo, nos ambientes de saúde.
A fundamentação da cromoterapia se dá em três ciências: a
medicina, que é a arte da cura física, a ciência da transformação da
energia e a ciência bioenergética, que analisa a energia vital. As cores
possuem características e benefícios próprios que vão atuar de acordo
com o seu cumprimento de ondas e frequências.

194
A cromoterapia não é um modelo para procurar curar os sintomas,
mas um método de interferir nas causas, proporcionando o equilíbrio
físico e energético dos órgãos e sistemas do corpo, rompendo com a
visão da doença em detrimento do sujeito.
O uso dessa prática integrativa de cuidado vem sendo cada
vez mais estudado e, consequentemente, sendo expresso em amplos
estudos, já que as cores podem atuar em diversos problemas de saúde,
podendo ser levadas também a ambientes mais específicos, atuando
como promotoras do acolhimento e bem-estar institucional.
A partir do estudo das cores, é possível destacar que os serviços
de saúde carecem de espaços que ofereçam espaços agradáveis e que as
cores podem atuar como importantes elementos nesse processo. É válido
apontar que os usuários dos serviços de saúde podem se beneficiar com
a utilização da cromoterapia para melhorar seu estado biopsicossocial.
O presente manuscrito aponta também que existem diversas
publicações acadêmicas em torno da temática da cromoterapia, mas
se faz necessário continuar a produzir outros estudos que venham
destacar ainda mais a eficácia das cores dentro dos serviços de saúde.

REFERÊNCIAS
BARROS, Simone Regina Alves de Freitas; FERREIRA, Fernanda Cruz Ramos; FALCÃO,
Pedro Henrique de Barros. A Contribuição da Cromoterapia no Trabalho de Parto. Revista
Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 08, v. 02, pp. 52-57, 2018.
MERENDA JUNIOR, José; SYLLA, Maria Cecília de Todelo. Cromoterapia, ambiência
e acolhimento ao usuário do SUS nas ESFS. Colloquium Vitae, vol. 5, n. Especial, 2013.
MUNDT et al. A influência e os benefícios das cores da cromoterapia através dos cos-
méticos de maquiagem. 2002. Disponível em: http://siaibib01.univali.br/pdf/Bruna%20
Mundt,%20Vanessa%20Bento.pdf. Acesso em: 18 ago. 2021.
REVISTA ABRALE. Cromoterapia: a força das cores. 2020. Disponível em: revista.abrale.
org.br/cromoterapia-para-o-cancer/. Acesso em: 18 ago. 2021.
SANTIAGO, Viviane Ferreira; Duarte, Danilo Antonio; MACEDO, Adriana Furtado
de. O impacto da Cromoterapia no comportamento do paciente odontopediátrico. Revista
Brasileira de Pesquisa em Saúde. 1(4):17-2. 2009.

195
SANTOS, Eliana Dal Bello; CIDRAL FILHO, Francisco José. Panorama Geral das Pesqui-
sas Científicas sobre Cromoterapia: uma revisão integrativa. Cad. naturol. terap. complem.
Universidade do Sul de Santa Catarina, Santa Catarina. 2012.
VIANA, Jessica de Moura et al. Uso da cromoterapia pelo enfermeiro no cuidado da criança
em unidade de terapia intensiva. Braz. J. Hea. Rev, Curitiba, v. 3, n. 6, p.17819-17842. nov./
dez. 2020.

196
NATUROPATIA / NATUROLOGIA: UMA
REVISÃO NARRATIVA

Valesca de Sousa Brito

INTRODUÇÃO
“A Naturopatia é tanto promocionista quanto curativa, contudo,
assim como as outras formas de tratamentos, não é e não
pretende ser a cura de todos os males. É uma filosofia de vida
embasada na harmonia do indivíduo consigo mesmo e com o seu
ambiente.” (ANBA)

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a Naturopatia


como uma Medicina Tradicional que visa à formulação e à implantação
da combinação de conhecimentos modernos com terapias naturais
tradicionais (OMS, 2010). Esta formação reúne um conjunto de
práticas ancestrais, consolidadas em conhecimentos filosóficos, téc-
nicos e científicos que visam a promoção e o cuidado à saúde, sendo
o indivíduo o agente ativo do seu processo de recuperação e de cura.
O termo Naturopatia data do final do século XIX, cunhado por
um médico homeopata alemão inspirado nos trabalhos do Dr. Benedict
Lust, principal incentivador dos estudos científicos na área e, hoje,
considerado o pai da Naturopatia. Foi também o Dr. Lust o fundador
da primeira Universidade de Naturopatia na América (American School
Of Naturopathy), em 1902. A Naturopatia clássica está ancorada em
cinco pilares terapêuticos que são empregados simultaneamente, quais
sejam: a dietoterapia, a hidroterapia, a cinesiologia, a fitoterapia e a
ordenoterapia (PIRES; BARBOSA, 2013).
A Naturopatia é uma atividade regulamentada e praticada em
diversos países do mundo, como Estados Unidos, Canadá, Reino
Unido, Alemanha, Austrália, Índia, entre outros. No Brasil, embora
197
a profissão ainda não seja regulamentada, a naturopatia é uma das 29
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) e é ofertada,
através do Sistema Único de Saúde (SUS), além de ser reconhecida pelo
Ministério do Trabalho e Emprego no Código Brasileiro de Ocupações.

A NATUROPATIA NO BRASIL

Uma primeira questão a considerar quando pensamos nessa prá-


tica no Brasil é a de que, em terras tupiniquins, houve uma adaptação
do termo Naturopatia para Naturologia. A explicação para a mudança
deriva do fato de que o sufixo “patia” atribui a ideia de doença, ao passo
que “logia” significa ‘estudo’, propondo-se o manejo do processo saúde-
-doença e a cura, a partir do estudo dos recursos oferecidos pela natureza.
São inúmeras as similitudes entre a naturopatia e a naturologia,
mas, para pontuar algumas diferenças, tem-se que, enquanto a primeira
possui Conselho de Medicina Naturopática e a legalização varia de
acordo com cada estado, a segunda não possui conselho profissional e
não é regulamentada. Além disso, embora ambos valorizem a relação
terapêutica, a Naturologia a nomeia por ‘interagência’, enquanto a
Naturopatia não utiliza este termo.
Há décadas, já se percebia no mundo a necessidade de reformulação
dos modelos de atenção em saúde, reconhecendo-se a insuficiência
do modelo biomédico em dar respostas à complexidade do fenômeno
saúde-doença. A carta de Otawa, redigida em 1986, na primeira Con-
ferência Internacional sobre a Promoção da Saúde, foi o primeiro docu-
mento a favor da Promoção da Saúde fundamentado na integralidade.
No cenário nacional, o Brasil vivia a efervescência do Movimento de
Reforma Sanitária e preparava o terreno para o que culminou com a
publicação da Constituição Federal de 1988, a Constituição Cidadã,
que estabelece um conceito ampliado de saúde e oferece as bases legais
para a construção do SUS. A Naturologia é fruto deste momento his-
tórico e desta crise de paradigmas (PASSOS; RODRIGUES, 2017).

198
O primeiro curso de bacharelado em Naturologia foi criado em
1998, na cidade de Florianópolis, na Universidade do Sul de Santa
Catarina, seguido pela Universidade Anhembi-Morumbi, em São
Paulo, no ano de 2002, e pela Universidade Federal do Paraná em
2012, reunindo conhecimentos das práticas de ciências humanas,
ciências biológicas e ciências da saúde, e trazendo como pilares do
conhecimento as medicinas tradicionais chinesa, ayurveda e xamâ-
nica, conjugando uma formação de nível superior competente para
atuar com as PICS, em resposta à crescente procura por estas práti-
cas. (PASSOS; RODRIGUES, 2017).
Dentre os avanços da profissão no país, considera-se a institui-
ção, em São Paulo, do dia do Profissional em Terapias Naturais e do
Naturólogo, e, em Santa Catarina, a instituição do dia Estadual do
Naturólogo, ambos comemorados em 23 de março.

CONCEITOS E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A Naturopatia/Naturologia atua a partir de uma abordagem mul-


tidimensional e singular do indivíduo, se utiliza das PICS e da relação
de interagência no contexto clínico e coletivo, partindo do diálogo entre
diferentes saberes em saúde e cultivando uma abordagem transdisci-
plinar e sistêmica da vida a favor da não fragmentação do ser humano.
Há diversos conceitos muito caros que são utilizados pela Natu-
ropatia/Naturologia. Para efeito deste breve estudo, falaremos sobre
o conceito de vitalismo e o de interagência.
O Vitalismo é a doutrina que arma a existência de um
princípio irredutível ao domínio físico-químico para
explicar os fenômenos vitais. Nesta concepção o corpo
físico dos seres vivos é animado e dominado por um
princípio imaterial chamado força vital, cuja presença
distinguiria o ser vivo dos corpos inanimados e sua
falta ou falência determinaria o fenômeno da morte.
A tendência da medicina moderna é a não aceitação
199
do vitalismo. O paradigma da medicina é materialista,
por excelência (SBNAT, 2017).

Os naturólogos chamam esse princípio de vital de energia e


entendem o ser humano como um emaranhado de energias densas e
sutis, sendo que qualquer acontecimento que afete um ser afeta toda
energia deste ser em suas diferentes manifestações. Este emaranhado de
energia em que se encerra o ser humano é formado pela convergência
das várias formas de manifestação energética (física, psíquica, cultural,
ambiental). O Vitalismo define força vital como a unidade de ação que
rege a vida física, atribuindo ao seu desequilíbrio as sensações desa-
gradáveis e as manifestações físicas as quais damos o nome de doença.
Quanto à relação de interagência, pode ser definida como “uma
relação transversal que procura estabelecer a corresponsabilidade no
processo terapêutico, onde há um reconhecimento e valorização do
universo subjetivo e das interrelações” (BARROS; LEITE, 2011).
Nessa perspectiva de relação terapêutica, o indivíduo que busca pela
prática da Naturologia recebe o nome de interagente, uma vez que
participa ativamente do seu processo e é responsável pelas decisões
e escolhas frente aos aspectos de vida-saúde-doença. O profissional
naturólogo, nesta relação, será um orientador do processo, enquanto o
interagente é corresponsável pelo seu percurso e progresso terapêutico,
tendo respeitadas a sua liberdade e autonomia.
A relação terapêutica é central para a abordagem da Naturologia,
mantendo sempre o enfoque do cuidado e um caráter de transversali-
dade, em contraposição à ideia da verticalidade. Quanto aos princípios
fundamentais que orientam a Naturopatia/Naturologia, são seis:
• o poder de cura da natureza: a autocura; princípio pelo qual
o organismo tem uma capacidade inerente para criar, manter
e restabelecer o estado de saúde;

• tratar a pessoa de forma integral: a saúde é o resultado de um


complexo que inclui aspectos físicos, mentais, emocionais,
genéticos, energéticos, ambientais, sociais, espirituais, entre
200
outros. A Naturopatia aborda a pessoa globalmente, levando
em conta todos estes fatores.

• tratar as causas: para alcançar completamente a cura, é preciso


identificar e remover as causas, que podem ser de origem
física, emocional, mental, energética, espiritual. Sintomas
são consequência e não causa da doença.

• primeiro não fazer mal: o organismo tem a capacidade de


autocura, portanto, o papel da Naturopatia deve ser, inicial-
mente, não atrapalhar este processo. Na visão da Naturopa-
tia, os sintomas são o resultado da ação dos mecanismos de
autorregulação na busca pelo equilíbrio, por isto não se deve
combater os sintomas, mas sim ajudar os mecanismos de
autorregulação em seu trabalho. A ação terapêutica deve se
utilizar dos métodos mais naturais, menos invasivos, supres-
sivos e tóxicos.

• o naturopata como mestre: um dos principais objetivos da


Naturopatia é educar o paciente e enfatizar a sua responsabi-
lidade para com a saúde. O potencial terapêutico da relação
terapeuta-paciente também é considerado de grande valor
na Naturopatia.

• promoção da saúde e prevenção de agravos e doenças: a pre-


venção é melhor que a cura. O maior objetivo de qualquer
sistema de cuidados para a saúde deve ser a prevenção. Isto
pode ser alcançado pela educação do paciente e por ações
que promovam a saúde e um estilo de vida saudável.

O PROFISSIONAL NATURÓLOGO/NATUROPATA

O profissional naturólogo/naturopata trabalha como uma espécie


de “clínico geral” das práticas integrativas e complementares, sendo um
generalista dos métodos naturais de saúde e utilizando meios natu-
rais que apoiam e estimulam os processos de cura próprios do corpo
humano, orientando e apoiando o interagente na busca de um estado
201
de bem-estar, a ser atingido com o equilíbrio das funções do organismo.
Seu espectro de atuação compreende, para além de jejum, nutrição,
água e exercícios, práticas de cura natural aprovadas, como homeopatia,
acupuntura e fitoterapia, bem como o uso de métodos modernos, a
exemplo da terapia de ozônio, oligoterapia e da hidroterapia.
Para este profissional, ecologia e saúde caminham juntas. Em
sua prática terapêutica, o naturólogo/naturopata utiliza recursos como
plantas medicinais, essências florais, argila medicinal, água em diferentes
temperaturas, cores, toque através da massoterapia e da reflexoterapia
(HELLMANN; VERDI, 2009; RODRIGUES, 2007; 2008).
A partir de um leque variado de métodos alternativos de diag-
nóstico, um naturólogo/naturopata poderá identificar uma predispo-
sição no corpo, antes do início da doença aguda, e tratar o interagente
com terapias específicas e mudanças no estilo de vida, promovendo
saúde e qualidade de vida, além de ajudá-lo a conhecer seu próprio
poder de cura e potência de agir.

CONCLUSÃO

Vivemos um momento histórico peculiar. O paradigma da


hipermodernidade nos exige a adaptação a um sistema de rotina cada
vez mais intenso e adoecedor, e nos sugere soluções farmacológicas
a fim de que possamos nos adaptar e anestesiar. Neste contexto em
que a tecnologia moderna, a poluição ambiental, a má alimentação
e o estresse desempenham um papel significativo na degradação da
saúde, pensar uma possibilidade terapêutica que nos reeduque a acal-
mar, compreender o próprio funcionamento e se utilizar de recursos
pouco invasivos e naturais é necessário e urgente.
Quanto mais avançamos em tecnologia e inovação, mais se torna
inadiável questionar o paradigma que rege a saúde e desenvolver uma
forma mais humanizada para cuidar de nós e do outro, reconhecendo
que o saber biomédico e a visão cartesiana de mundo são apenas uma
possibilidade, mas não a única e nem sempre a mais eficaz nesse cuidado.
202
Nestes 23 anos de estruturação da formação superior em Natu-
rologia, foram muitos os avanços em nível teórico, político e prático
na consolidação e validação deste profissional, porém, muito ainda
precisa ser construído. Hoje, entende-se a Naturologia como um
conhecimento que se caracteriza por aproximações existentes com
algumas racionalidades médicas vitalistas, filosofias e técnicas de
cura orientais, ocidentais, modernas e tradicionais, configurando um
sistema híbrido de pensar saúde. É, portanto, um campo do saber na
área da saúde fundamentada em conhecimentos das áreas humanas,
biológicas e da saúde, tendo as Práticas Integrativas e Complementares
e as Medicinas Tradicionais como horizontes norteadores.

REFERÊNCIAS
ARREZA, Antonio Luis Vicente Epidemiologia crítica: por uma práxis teórica do saber
agir. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2012, v. 17, n. 4, pp. 1001-1013. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000400022> [Acessado 17 setembro 2021].
CERATTI, C. Naturopatia/naturologia no pórtico das racionalidades médicas: uma
perspectiva de legitimação a partir da educação superior no brasil e no mundo. Dissertação
(Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de
Pós-graduação em Saúde Coletiva, Porto Alegre, 2018.
DEBETIO, Juanah Oliveira et al. Questões éticas no processo de cuidar: o olhar de natu-
rólogos. Revista Bioética [online]. 2018, v. 26, n. 1, pp. 109-118. Disponível em: <https://
doi.org/10.1590/1983-80422018261232>. [Acessado 30 Setembro 2021].
HELLMANN, F.; VERDI, M.I.M. Topics and analysis reference points in bioethics in
undergraduate teaching of naturology in Brazil, in the light of social bioethics. Interface -
Comunic., Saude, Educ., v.16, n.42, p.733-47, jul./set. 2012.
PASSOS, M.A., RODRIGUES, D.M.O. Naturologia no Brasil e Naturopatia no mundo:
Uma breve abordagem entre semelhanças e diferenças. Cad.Naturol.Terap. Complemen,
v. 6, n. 10, 2017.
RODRIGUES, D. M. O. “O Naturólogo: as práticas integrativas e complementares e a qua-
lidade de vida”. In: MARTINS, R. M.; HAGEN, S. I. (ORG.) Ame suas rugas: aproveite
o momento. Blumenau: Odorizi, 2007.
RODRIGUES, D. M. O. Naturologia: Promoção de Saúde e Qualidade de Vida. In:
HELLMANN, F.; WEDEKIN, L M. (ORGS). O Livro das Interagências:
Estudos de Caso em Naturologia. Tubarão, SC: Editora UNISUL, 2008.

203
SILVA, Adriana Elias Magno. Naturologia: Um diálogo entre saberes. São Paulo, SP:
Editora Prisma, 2012.
SILVA, Adriana Elias Magno da. Naturologia e pensamento complexo. In: RODRIGUES,
Daniel Maurício de Oliveira et al. (Org.). Naturologia: diálogos e perspectivas. Palhoça:
Ed. Unisul, 2012.
SBNAT. S ociedade Brasileira de Naturologia. 2017. Disponível em:
<http://www.naturologia.org.br/>. Acesso em: 25 set. 2021.

204
O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
BORDERLINE À LUZ DA ANÁLISE
BIOENERGÉTICA1

Edilma da Cruz Cavalcante


Ricardo Hugo Gonzalez

“Não existe apenas uma saída que desvende todos os mistérios da


condição humana.”
Alexander Lowen

INTRODUÇÃO

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um distúrbio


mental comum e grave caracterizado pela instabilidade dos relaciona-
mentos, da auto-imagem e dos afetos e acentuada impulsividade, que
se manifesta no início da idade adulta em diversos contextos (APA,
2014). A prevalência do TPB na população geral é de 1,6%, mas pode
alcançar até 6%. Na população psiquiátrica é mais frequente, ocor-
rendo em 10% dos doentes em ambulatório e 20% em internamento
(MARCOS; BARROCAS; RIJO, 2017).
O TPB é constantemente tratado de forma inadequada, pois
há várias abordagens psicoterapêuticas eficazes, porém, um a cada
quatro pacientes com TPB tem acesso a elas (KLEIN et al., 2021).
Diante disso, as lacunas do tratamento podem ser reduzidas através
das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), entre
elas a análise bioenergética (AB), como auxiliar da psicoterapia cara
a cara (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
A análise bioenergética é uma maneira de compreender a per-
sonalidade em função do corpo e de seus processos energéticos. Ela é,
também, uma forma de terapia que combina o trabalho corporal com
o da mente para ajudar as pessoas a compreenderem seus problemas
205
emocionais e concretizarem, o mais que puderem, seu potencial para
o prazer e a alegria de viver (LOWEN; LOWEN, 1985).
Dessa maneira, é necessário identificar as contribuições da
análise bioenergética para a compreensão e tratamento do Trans-
torno de Personalidade Borderline.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão da literatura narrativa sobre a temática:


contribuições da análise bioenergética para a compreensão e tratamento
do Transtorno de Personalidade Borderline. Esse método de pesquisa
permite adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma determinada
temática em um curto espaço de tempo (ROTHER, 2007). Além do
mais, não exige um protocolo rígido para sua confecção, que dificilmente
utiliza uma questão específica bem definida, e a busca nas bases de
dados não é pré-determinada e específica (CORDEIRO et al., 2007).
Ao se considerar a temática abordada, os artigos foram pesquisa-
dos nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e National
Library of Medicine (NLM/PubMed), em setembro de 2021. Para
realizar a busca, foram utilizadas as palavras-chave “Transtorno de
Personalidade Borderline”, “Análise Bioenergética” e “Alexander Lowen”.
Adicionalmente, foi consultadas a Revista Latino-Americana
de Psicologia Corporal e a coletânea de artigos do Centro Reichiano,
principais fontes de informação sobre a AB no Brasil, sendo acessí-
vel à comunidade científica. Conjuntamente, os livros de autoria de
Alexander Lowen, criador da análise bioenergética foram verificados.
A bibliografia selecionada contribuiu para a divisão do texto em
seções de acordo com as aproximações do assunto.

206
RESULTADOS

Entendendo as couraças musculares e suas repercussões

A análise bioenergética é baseada no trabalho de Wilhelm Reich,


que foi professor e terapeuta de Alexander Lowen. Ambos se conhece-
ram em Nova Iorque onde Reich ministrava um curso sobre análise de
caráter que relacionava a identidade funcional do caráter psíquico de uma
pessoa com sua atitude corporal ou couraça muscular (LOWEN, 2001).
De acordo com Lowen (2001), as couraças estão ligadas ao
padrão geral das tensões musculares crônicas do corpo, sendo assim
definidas porque servem para proteger o indivíduo contra experiências
emocionais dolorosas e ameaçadoras, adaptando-se como um escudo
que resguarda a pessoa de impulsos oriundos de sua personalidade.
Entretanto, ao se proteger contra as angústias, a pessoa também
limita a sua capacidade de sentir prazer na vida e acaba por gerar formas
substitutas de alcançá-lo por meio da compensação (LOWEN, 2001).
A partir dos setes segmentos de couraças musculares (Figura 1),
é fundamental reconhecer os bloqueios energéticos de uma pessoa,
pois eles contribuirão para a formação da personalidade e do caráter
individual (FRAGOSO; VOLPI, 2019).

Figura 1: Os sete segmentos de couraças musculares.

Disponível em: https://vanessaganzerli.com.br/analise-bioenergetica


207
Seguem as repercussões do bloqueio em cada segmento
(FRAGOSO; VOLPI, 2019):
a. No segmento ocular – ouvidos, olhos, nariz e pele – levará
a prejuízos na leitura e interpretação que uma pessoa terá do
mundo e de si mesma;

b. No segmento oral – músculos do queixo, garganta e parte de


trás da cabeça – possuirá influência nos aspectos depressivos
de dependência e independência;

c. No segmento cervical – músculos profundos do pescoço e lín-


gua – trará prejuízos nos aspectos narcisistas e de autocontrole;

d. No segmento torácico – músculos longos do tórax, mús-


culos dos ombros e omoplata, toda a caixa torácica e braços
– influenciará nos aspectos de identidade e na ambivalência
do sentir e posicionamentos de vida;

e. No segmento diafragmático – diafragma, estômago, plexo


solar, vários órgãos internos e músculos ao longo das vérte-
bras torácicas baixas – influenciará nos aspectos masoquistas
e ansiosos;

f. No segmento abdominal – músculos abdominais longos e


músculos das costas – influenciará nos aspectos compulsivos
e anais; e

g. No segmento pélvico – músculos da pelve e membros infe-


riores – influenciará nos aspectos genitais, na possibilidade
de sentir prazer e no superego.
Segundo Reich, citado por Fragoso; Volpi (2019), os bloqueios
energéticos no segmento oral acontecem no período da amamenta-
ção, durante os primeiros nove meses do bebê, e são sentidos como
situações traumáticas para ele. O desmame precoce ou brusco ocasiona
uma oralidade reprimida e a amamentação inadequada ocasiona uma
oralidade insatisfeita. Na oralidade reprimida ocorre a compensação
208
por meio da reatividade através da raiva e na insatisfeita há a com-
pensação pelas compulsões. É importante ressaltar que esse segmento
é considerado o eixo emocional da vida.
Portanto, a análise bioenergética facilita a compreensão das feri-
das infantis do desenvolvimento ao desmanchar as estruturas rígidas
das couraças já que elas acentuam a sensação de vazio e solidão no
Transtorno de Personalidade Borderline (ANDRADE LIMA, 2019).

Aprofundando o conhecimento no TPB e a atuação da análise


bioenergética

Os indivíduos borderlines e anti-sociais relatam experiências


traumáticas da infância, influenciadas pelo ambiente, associadas ao
desenvolvimento de transtornos mentais na vida adulta (MAZER;
MACEDO; JURUENA, 2017). No que diz respeito ao TPB, bloqueios
no segmento oral levam a uma depressão com relação à separação,
dificuldade de estabelecer limites entre si e os outros, o que resulta
numa dependência exagerada ou necessidade de independência e
afastamento do outro (FRAGOSO; VOLPI, 2019).
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-V ), citado por Mazer; Macedo; Juruena (2017), lista nove
pontos sobre o Transtorno da Personalidade Borderline:
1. Esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono real
ou imaginário;

2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e


intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de
idealização e desvalorização;

3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente


da auto-imagem ou do sentimento de self;

4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente


prejudiciais à própria pessoa;
209
5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas
ou de comportamento automulilante;

6. Instabilidade afetiva devido a uma acentuada reativi-


dade do humor;

7. Sentimentos crônicos de vazio;

8. Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar


a raiva; e

9. Ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou


graves sintomas dissociativos.
Para a análise bioenergética, a postura dos pacientes e a distri-
buição das couraças são vistas como elementos de diagnóstico e inter-
venção no processo psicoterápico. Nesse sentindo, o caráter psíquico é
expresso corporalmente através de exercícios bioenergéticos e através
da investigação de diversos elementos como: a força da gravidade sobre
o corpo e sua repercussão na musculatura global; expressão facial;
gesticulação; tonalidade da voz; distribuição da cor e calor da pele no
corpo; percepção de cisões entre cabeça e corpo, lados direito e esquerdo,
frente e costas (o eu fragmentado); além da tonalidade tônica da mus-
culatura, que pode ser de rígida a flácida (NASCIMENTO, 2015).
No relato de experiência de BENGTSSON (2019), tem-se
contato com as sessões de terapia de um paciente diagnosticado com
TPB e de como a análise bioenergética, principalmente o grounding,
é inserida nesse contexto. A autora relata que depois de um ano de
terapia, após o paciente conseguir manter o olhar nos olhos dela,
convidou-o a fazer o exercício e foi avançando progressivamente no
decorrer do tratamento desse paciente.
A análise bioenergética se sustenta na história de vida do indiví-
duo, na respiração e nos exercícios que proporcionam a auto-expressão
(VOLPI, 2002). A atuação da AB apresenta como pilar fundamental o
vínculo seguro e de confiança, construído entre a pessoa e o terapeuta,
210
que precisa ser especialmente disponível, caloroso e afetuoso, para dar
suporte e grounding à pessoa (NASCIMENTO, 2015).
O grounding é entendido como enraizamento, sendo a postura
que tem o objetivo de trazer a pessoa para o aqui e o agora da condição
adulta do mundo (LOWEN; LOWEN, 1985). A partir daí, é iniciado
um trabalho para que se possa reexperenciar os conteúdo e vivências
traumáticos do passado e, estando o indivíduo mais familiarizado com
os exercícios iniciais, pode-se começar os exercícios deitado no colchão
para que emoções represadas sejam colocadas para fora e seja recupera
a sensação do corpo como morada do ser (NASCIMENTO, 2015).

CONCLUSÕES

É necessário compreender a origem das emoções e suas reper-


cussões, porque, na maioria das vezes, ao serem reprimidas resultam em
transtornos mentais que têm como componente as alterações corporais.
A análise bioenergética visa ajudar as pessoas na expressão do
eu verdadeiro, assim visto no Transtorno de Personalidade Borderline,
a se reconectarem com o seu corpo, estando conscientes do agora, seja
na vida, seja no grupo social ou relação familiar.

REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico
de transtornos mentais: DSM-V. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
ANDRADE LIMA, M. F. G. Biologia do Amor e Análise Bioenergética: A Linguagem
Corporal na Terapia Sistêmica Relacional. REVISTA LATINO-AMERICANA DE
PSICOLOGIA CORPORAL, v. 1, n. 8, p. 147-160, 2019.
BENGTSSON, L. A relação terapêutica com paciente borderline. In: VOLPI, José Henrique;
VOLPI, Sandra Mara (Org.) 24º CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS
CORPORAIS. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2019. Disponível em: https://www.
centroreichiano.com.br/artigos/Anais-2019/BENGTSSON-Lusiana_A_relacao_terapeu-
tica_com_paciente_borderline.pdf. Acesso em: 25 set. 2021.
CORDEIRO, A. M. et al. Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Revista do Colégio
Brasileiro de Cirurgiões, v. 34, p. 428-431, 2007.
211
FRAGOSO, L. F. L. R.; VOLPI, J. H. Os sete segmentos de couraças e seus bloqueios.
In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Psicologia Corporal. Revista Online. Curitiba: Centro
Reichiano, 2019.
KLEIN, J. P. et al. Effectiveness and safety of the adjunctive use of an internet-based self-man-
agement intervention for borderline personality disorder in addition to care as usual: results
from a randomised controlled trial. BMJ open, v. 11, n. 9, p. e047771, 2021.
LOWEN, A.; LOWEN, L. Exercícios de Bioenergética: o caminho para uma saúde vibrante.
5ª. Ed. São Paulo: Ágora, 1985.
LOWEN, A. Bioenergetica. Millano: Feltrinelli Editore, 2001. Disponível em: https://books.
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Acesso em: 09 jun. 2021.
MARQUES, S.; BARROCAS, D.; RIJO, D. Intervenções psicológicas na Perturbação
Borderline da Personalidade: uma revisão das terapias de base cognitivo-comportamental.
Acta Médica Portuguesa, v. 30, n. 4, p. 307-319, 2017.
MAZER, A. K.; MACEDO, B. B. D.; JURUENA, M. F. Personality disorders. Medicina
(Ribeirao Preto), v. 50, n. supl. 1, p. 85-97, 2017.
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NASCIMENTO, P. D. A gênese do ser psicossomático no desenvolvimento humano: um
paradigma objetal para a Análise Bioenergética de pacientes com queixas orgânicas. REVISTA
LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL, v. 4, n. 1, p. 39-53, 2015.
ROTHER, E. T. Revisão sistemática x Revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem,
São Paulo, v. 20, n. 2, p. 5-6, 2007. Editorial.
VOLPI, J. H. Os olhos que vêem podem não ser os mesmos que enxergam. In: VOLPI,
J. H.; VOLPI, S. M. Psicologia Corporal: Um breve histórico. Revista Online. Curitiba:
Centro Reichiano, 2003.

212
AYURVEDA E A ATUAÇÃO DO
NUTRICIONISTA

Larissa Luna Queiroz

Ayurveda é uma palavra de origem sânscrita, uma língua ancestral


do Nepal e Indía que significa “ciência (veda) da vida (ayur)”. É uma tera-
pia indiana milenar que tem como finalidade prevenir, diagnosticar e tratar
doenças através de estudos do corpo, alma e mente. (WALLACE, 2020).
Acredita-se que há energias existentes no meio em que se vive, e,
caso ocorra um desequilíbrio no campo energético, causados por problemas
emocionais, trauma físico ou má alimentação, por exemplo, podem ser acu-
muladas toxinas e possivelmente originar patologias. (WALLACE, 2020).
Considerada uma das mais antigas abordagens de cuidado
do mundo, foi desenvolvido na Índia durante o período de 2000-
1000 a.C. Utilizou-se de observação, experiência, recursos naturais
e textos antigos originalmente chamados samhitas e nighantus, para
sua elaboração. (CARNEIRO, 2009).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve sucinta-
mente a Ayurveda, reconhecendo sua utilização para prevenir e curar
doenças, e reconhece que esta não é apenas um sistema terapêutico,
mas também uma maneira de viver. (MS, 2017; OMS, 2002).
Na Ayurveda a investigação diagnóstica leva em consideração
tecidos corporais afetados, humores, local em que a doença está loca-
lizada, resistência e vitalidade, rotina diária, hábitos alimentares, gra-
vidade das condições clínicas, condição de digestão, detalhes pessoais,
sociais, situação econômica e ambiental da pessoa. Considera que a
doença se inicia muito antes de ser percebida no corpo, aumentando
o papel preventivo deste sistema terapêutico, tornando possível tomar
medidas adequadas e eficazes com antecedência. (BANERJEE, 2015).

213
Os tratamentos na Ayurveda levam em consideração a singulari-
dade de cada pessoa, de acordo com o dosha (humores biológicos) do indi-
víduo. Assim, cada tratamento é planejado de forma individual. São uti-
lizadas técnicas de relaxamento, massagens, plantas medicinais, minerais,
posturas corporais (ásanas), pranayamas (técnicas respiratórias), mudras
(posições e exercícios) e o cuidado dietético. (SHIRKANDE, 2021).
A teoria dos três doshas (tridosha) é o princípio que rege a intervenção
terapêutica no Ayurveda. As características dos doshas podem ser conside-
radas uma ponte entre as características emocionais e fisiológicas. Cada
dosha está relacionado a uma essência sutil: Vata, a energia vital; Pitta o fogo
essencial; e Kapha está associado à energia mental. (CARNEIRO, 2009).

DOSHAS

Vata controla os movimentos internos e externos no corpo,


é considerado móvel e coloca em harmonia os outros dois doshas,
Pitta e Kapha. (SHARMA, 2020).
Possui como características principais ser frio, seco, leve, áspero,
sutil, claro, duro e móvel, é formado principalmente pelos elementos
ar e éter. Forma seres que tem pele seca, cabelos finos, sono leve, dores
articulares, baixa sudorese e constipação como pontos físicos de des-
taque. Quanto ao emocional são comunicativos, alegres, expansivos e
criativos acima da media. Quando em desequilíbrio apresentam tem-
peramento ansioso e inquieto, memória fraca, excesso de preocupações,
insegurança, indecisão e até mesmo insônia. (DEVEZA, 2013).
Nos tempos atuais tem-se observado frequentemente a desorga-
nização de Vata. A vida corrida, o nível de estresse e a dificuldade em
colocar o corpo em ação, são pontos da modernidade que atrabalham
sua a mobilidade. (AGRAWAL, 2021).
Por estar mais presente no cólon, coxas, quadris, ossos, ouvidos
e órgãos do tato, Vata tem relação direta com esses pontos corporais
e caso haja alguma alteração, comumente inicia-se nesses locais. Por
214
exemplo, o acúmulo de toxinas aumenta no cólon, causando disten-
são abdominal, constipação e fezes ressecadas, atrapalhando assim a
produção de neurotransmissores, o que causa dificuldade para dormir.
Sintomas que comumente aparecem em estações, rotinas e alimentos
secos e frios como vata. (DEVEZA, 2013).
Pitta tem grande relação com os processos de transformação, como os
hormonais, digestivos e enzimáticos. Diferente do vata que é o movimento,
pitta é a digestão, o fogo que provoca mudanças. (CARNEIRO, 2009).
Possui como características quente, leve, sutil, ligeiramente
úmido, macio, fluido e suave, formado principalmente pelos elementos
fogo e água. (CARNEIRO, 2009).
Seu principal elemento é o fogo. Quando está em harmonia, pes-
soas pitta tem postura lógica, são líderes natos, corajosos e inteligentes,
caso haja exacerbação desse elemento, características do desequilíbrio
podem ser encontradas como irritabilidade, ambição excessiva, orgulho,
sentimento de vingança e de forma física é possível perceber alterações
na coloração da urina e fezes. (WALLACE, 2020).
Ainda frequentes, mas menos numerosos que os indivíduos
vata as alterações do elemento fogo trazem doenças inflamatórias,
hepáticas, de pele, alterações hormonais, abscessos, problemas da visão
e intolerâncias alimentares. (DEVEZA, 2013).
Pitta está no intestino delgado, estômago, glândulas sudoríparas
e sebáceas, sangue e visão. Alterações desse dosha nos indivíduos pode
provocar doenças de pele, alterações hormonais e doenças inflama-
tórias. Normalmente seu acúmulo demonstra o início do processo de
doença através da coloração amarela intensa nas fezes e urina além do
sabor amargo na boca. Esses sintomas são mais comuns no final da
primavera e verão, estações quentes e úmidas e alimentação também
com essas características. (DEVEZA, 2013).
Kapha é responsável pela lubrificação. É o humor que mantém
as coisas unidas. Tem características emocionais e sentimentos como
amor, paciência e perdão. Possui como características frio, estático,
215
úmido, pesado, pegajoso, sólido e lento, representando os elementos
terra e água. (MUKHERJEE, 2017).
Quando seus elementos estão em proporção adequada pode-se
perceber estabilidade, paciência e resistência. Ao contrário a lentidão,
apatia, depressão e letargia são exacerbadas. (DEVEZA, 2013).
Kapha está no peito, nariz, garganta, cabeça, pâncreas, estomago,
linfa, tecido gorduroso, nariz e língua. Quando ocorrem desequilíbrios
nesse humor, é fácil perceber o surgimento de doenças respiratórias,
edemas não inflamatórios e doenças ocasionadas pelo acúmulo de
certas toxinas como hipercolesterolemia e diabetes. (DEVEZA, 2013).
Os doshas não definem, por si só, todas as características de
um indivíduo, visto que os três humores estão presentes em tudo e
em constante mobilidade. Sua compreensão permite a autopercep-
ção e a abordagem terapêutica básica, que pode ser realizada pelo
próprio indivíduo através do autocuidado, sendo a principal forma
de prevenção. (CARNEIRO, 2009).
Na ayurveda, o ato de prevenir doenças e complicações já é
uma forma de tratamento, entre as principais formas que uma pes-
soa consegue cuidar da sua saúde e organizar seu corpo de forma
que ele seja recipiente de boas energias e livre de toxinas, a nutrição
se destaca. (MUKHERJEE, 2017).
A nutrição ayurvédica busca compreender o ser e o alimento de
forma holística. Não são macronutrientes nem micronutrientes que
irão guiar as condutas e correta forma de exercer o ato alimentar-se, e
sim toda a energia existente naquele alimento, que assim como o ser
humano, é visto como uma união dos elementos e tem traços claros
de concordância com o universo. (SHARMA, 2020).
Já comentamos sobre a presença dos elementos e sua contri-
buição nos doshas, para compreender o corpo, seus sentidos e dese-
jos por inteiro, deve-se primeiramente entende-los. Assim como o
cosmo os possuí, o ser humano também, já que este é um micro-
cosmo detentor de vida e energias.
216
ELEMENTOS

A partir da compreensão dos doshas como caracterização do


perfil biológico do indivíduo e sua relação com os 5 elementos é
possível estruturar uma rotina alimentar de forma a equilibrá-
-los gerando uma perfeita harmonia, a tão desejada prevenção no
autocuidado. (DE LUCCA, 2015).
Os cinco elementos também possuem suas características próprias
e assim como sua união representa um dosha, essa também reflete um sabor.
Terra é frio, seco, pesado, grosseiro, sólido, estático, resistente,
duro, áspero e escuro. Água é frio, úmido, pesado, grosseiro, líquido,
estático, resistente, macio, suave, turvo. Fogo tem como característi-
cas ser quente, seco, leve, sutil, móvel, penetrante, áspero e claro, já o
ar é frio, seco, leve, sutil, móvel penetrante, áspero e claro e o éter se
classifica também como frio, seco, leve, sutil, mas também líquido,
penetrante, macio, suave e claro. (BANERJEE, 2015).

Tabela 1: Características e indicações dos sabores.


Sabor Elementos Características Indicado Deve ser
evitado
Doce Terra + água Carboidratos e Vata Kapha
açúcares.
Ácido Terra + fogo Alimentos fermen- Vata Pitta
tados e frutas ácidas
Salgado Água + fogo Algas marinhas Vata Pitta
Adistringente Ar + terra Vegetais e frutas não Pita Vata
maduras.
Picante Ar + fogo Especiarias. Kapha Pitta
Amargo Ar + Éter Vegetais verdes e Pitta e Kapha Vata
plantas medicinais

Fonte: Autor (2021)


Legenda: A tabela descreve os elementos que compõem cada sabor, os alimentos
em que estão presentes e para qual dosha é indicado ou contraindicado.

Após conhecer os três humores e suas características, fica mais


fácil escolher uma rotina alimentar que mais se adeque à prevenção
217
de doenças e promoção do autocuidado. Outras regras gerais também
complementam a criação de um plano alimentar. (SOUZA, 2019)
A incompatibilidade é bem frisada na ayurveda pois a mistura
de certos alimentos pode prejudicar a digestão, atrapalhando o agni
(fogo digestivo) e podendo gerar toxinas (ama). (AGRAWAL, 2021).

Tabela 2: Relação de incompatibilidade alimentar.


Incompatibilidades alimentares
Leite com pão fermentado Amidos com ovos, leite ou banana
Leite com frutas cítricas ou banana Mel aquecido
Mel e manteiga ghee na mesma proporção Carnes com molhos lácteos

Fonte: Autor (2021)

As especiarias são vistas como terapêuticas na medicina oriental


e para melhorar o processo digestivo, sugere-se acrescentá-las aos
alimentos. Existem várias associações benéficas, alguma delas é que
o consumo de banana e café deve ser associado à ingestão de carda-
momo, assim como queijo e legumes à pimenta do reino. De maneira
geral, só não é recomendado o consumo frequente de especiarias para
pessoas com desequilíbrio pitta. (DE LUCCA, 2015).

Tabela 3: Descrição da teoria dos opostos na ayurveda.


Característica Oposição Característica Oposição
Frio Quente Úmico Seco
Pesado Leve Grosseiro Sutil
Denso Fluido Estático Móvel
Resistente Penetrante Suave Duro
Macio Áspero Turvo Claro

Fonte: Autor (2021)

Também a teoria dos opostos deve ser levada em conside-


ração quando algum alimento ou bebida for consumido. Em dias
frios, estações como o inverno, o ideal é que alimentos mais pitta,
218
como ácidos, salgados ou picantes sejam consumidos, já que possuem
características opostas e assim não sobrecarregam esse dosha e sim
o equilibram. (DE LUCCA, 2015).
Existem algumas regras básicas que devem ser obedecidas e é
por elas onde devemos começar, como por exemplo, a comida deve ser
quente, untuosa e ingerida na quantidade adequada tanto em volume
quanto para a constituição física e temperamento psíquico de um
indivíduo. Novas refeições só devem ser feitas quando a anterior for
totalmente digerida. Os ingredientes que compõe a dieta não devem
ser contraditórios em suas potencias. O ambiente deve ser agradável
e os alimentos não devem ser ingeridos com pressa nem demasiada-
mente lento e não se deve falar enquanto come, apenas se concentrar
no ato de comer. (CARNEIRO, 2009).
O primeiro passo para a incorporação da rotina ayurvédica
como estilo de vida é conhecer as características individuais do indi-
víduo e suas necessidades. A partir disso é possível desenvolver essa
prática integrativa de maneira complementar nas ações básicas de
saúde do sistema único brasileiro.

REFERÊNCIAS
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Ayurveda perspective. Journal of Ayurveda and Integrative Medicine, 198, 205, 2021.
BANERJEE S, et al., Ayurnutrigenomics: Ayurveda-inspired personalized nutrition from
inception to evidence, Journal of Traditional and Complementary Medicine, 2015.
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DEVEZA, A. Ayurveda – the classical indian medicine. Revista de Medicina da Univer-
sidade de São Paulo. 92(3):156-65, 2013.
DE LUCCA, M. Ayurveda: Cultura de Bem-viver. 6ª edição. São Paulo: De cultura, 2015.
Ministério da Saúde. Portaria Nº 849, de 27 de março de 2017, Brasília, 2017.
MUKHERJEE, P; et al. Development of Ayurveda - Tradition to trend, Journal of Eth-
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OMS. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2002–2005. Genebra, 2002. Dispo-
nível em: <http://apps.who.int/medicinedocs/pdf/s2299s/s2299s.pdf>.Acesso em: 07 set. 2021.
SHIRKANDE, A., et al., Ayurvedic evaluation and treatment of Covid 19: A Case Report,
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SHARMA, H., WALLACE, R. Ayurveda and Epigenetics. Medicina, 56, 687, 2020.
SOUZA, C. Mente e Awareness nos Tantras Indianos: fundamentos da Meditação, do Hatha
Yoga e do Ayurveda. Fractal: Revista de Psicologia. 31; Dez, 2019.
WALLACE, R. The Microbiome in Health and Disease from the Perspective of Modern
Medicine and Ayurveda. Medicina, 56, 462, 2020.

220
SOBRE O ORGANIZADOR

Ricardo Hugo Gonzalez


Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física (1995).
Especialização em atividades aquáticas UNOPAR (2000), mes-
tre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS (2008).
Doutor em Saúde Pública na Universidade Federal do Ceará
(2017). Atualmente é docente do Instituto de Educação Física e
Esportes da Universidade Federal do Ceará. Docente do Programa
de Pós-Graduação em Saúde Pública, Universidade Federal do
Ceará (UFC). Bolsista de Inovação Tecnológica da Fundação
Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(FUNCAP) no Projeto “Virando O Jogo Juventude e Superação”.
Intervindo e Monitorando para Construir Competências Familiares
e Habilidades Socioemocionais, No Programa Cientista Chefe
da SECRETARIA DE PROTEÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA,
CIDADANIA, MULHERES E DIREITOS HUMANOS SPS.
Coordenador dos projetos de extensão Yoga na UFC e Basquete
Solidário. Líder do grupo de estudo multidisciplinar Promoção
da Saúde e Pedagogia do Esporte para jovens na Universidade
Federal do Ceará. Autor de vários artigos e livros.

221
SOBRE OS AUTORES

Alzyra Hingrid Hardi Lima Aragão

Enfermeira pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA)


(2020). Coordenadora de Enfermagem no Serviço Social da Indústria no
Centro de Testagem COVID-19 no período de janeiro-fevereiro (2022).
Gerente em Serviço de Saúde na Célula de Imunização/ Vigilância Epi-
demiológica- Monitoramento COVID-19 (atual). Atuou como integrante
do Grupo de Estudos e Pesquisas em Vulnerabilidade em Saúde (GEVS),
na linha de pesquisa Saúde Sexual e Reprodutiva. Foi Monitora acadêmica
do Módulo Práticas Interdisciplinares em Ensino, Pesquisa e Extensão
II (PIEPE II) no semestre 2018.1. Atuou como bolsista do Programa de
Bolsas de Produtividade em Pesquisa e Estímulo à Interiorização BPI -
EDITAL Nº 03/2018 do Projeto de título: “Vulnerabilidades de mulheres
a IST: Análise das situações vivenciadas por mães de filhos com sífilis
congênita no período de agosto/2018 - agosto/2019”. Foi integrante da
Liga Interdisciplinar em Saúde da Criança (LISCRI) (2018-2019). Atuou
como extensionista no Centro de Parto Normal do Hospital Santa Casa
de Misericórdia de Sobral e Maternidade do Hospital PRÁXIS através
da Extensão em Obstetrícia e Neonatologia no semestre de 2019.1.

Amanda Pinheiro

Assistente Social formada pela Universidade Estadual do Ceará


(UECE). Mestranda em Saúde Pública pela Universidade Federal
do Ceará (UFC) e integrante do Observatório de Políticas Públicas
de Saúde (OPP-Saúde). Especialista em Saúde Mental pela Resi-
dência Integrada em Saúde (RIS) da Escola de Saúde Pública do
Ceará (ESP-CE) - Turma V (2018-2020). Especialista em Serviço
Social, Política Social e Seguridade Social pela Faculdade Ratio/
Potere Assessoria Social (2017).
222
Angelízia de Fátima Marques Arruda

Enfermeira. Mestranda em Saúde Pública pela Universidade


Federal do Ceará. Especialista em Urgência e Emergência e Unidade
de Terapia Intensiva e Gestão da Assistência Intensiva ao paciente
crítico. Enfermeira do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Sobral.

Antônia Célia De Castro Alcântara

Possui graduação em MEDICINA pela Universidade Federal


do Ceará (2001). Residência Médica em Clinica Médica pela Escola
de Saúde Publica em 2007 e Residência Médica em Reumatologia
pela Universidade Federal do Ceará em 2009. É mestre em Ciências
Médicas pela Universidade Federal do Ceará (2013) e Doutoranda em
Ciências Médicas pela Universidade Federal do Ceará. Possui especia-
lização em Experiência do Paciente e Gestão Empresarial. Atualmente
é medica - SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARA
e Consultora em Gestão de Organizações de Saúde. Tem experiência
na área de Medicina, com ênfase em Reumatologia e Gestão de orga-
nizações de Saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão,
osteomielite, kanban, time de resposta rápida, COVID 19 e artrite.

Edilma da Cruz Cavalcante

Atualmente, é mestranda no Programa de Pós-Graduação em


Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (PPGSP/UFC) e
Bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FUNCAP). Cirurgiã-dentista graduada pela Faculdade
de Odontologia de Pernambuco - Universidade de Pernambuco (FOP-
-UPE) em 2016. Possui Aperfeiçoamento em Cirurgia Buco-Maxilo-
-Facial pela Associação Brasileira de Odontologia - Seção Pernambuco
(ABO-PE) em 2018 e Especialização pelo Programa de Residência em
Odontologia em Saúde Coletiva pela Secretaria Municipal de Saúde do
Recife/COREMU IMIP em 2020. Docente convidada para o Programa
223
de Residência em Odontologia em Saúde Coletiva da SESAU-Recife
nas disciplinas de: Planejamento e Gestão em Saúde, Avaliação em
Saúde e Gestão da Educação na Saúde. Interesse pelas áreas: Ciências
da Saúde. Saúde Coletiva. Educação e Saúde. Avaliação em Saúde.
Planejamento e Gestão em Saúde. Odontologia.

Erinaldo Domingos Alves

Mestrando em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará


(UFC). Especialista em Psicologia Hospitalar pela Faculdade Futura.
Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário Católica de Quixadá
(Unicatólica), com estágios desenvolvidos na Atenção Primária à Saúde
e Psicologia Clínica de orientação psicanalítica. Atuou como Bolsista de
Transferência Tecnológica (BTT) da Profa. Dra. Maria Lúcia Bosi de
março a setembro de 2020, com bolsa concedida pela Fundação Cea-
rense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUN-
CAP). Membro do Laboratório de Avaliação e Pesquisa Qualitativa
em Saúde (LAPQS) do Departamento de Saúde Comunitária da UFC.
Na graduação, foi extensionista dos seguintes programas de extensão:
Clínica, Estética e Política do Cuidado (CEPC) da UFC, Núcleo de
Estudos em Avaliação Psicológica (NEAPSI/2018-2019) e Programa
de Orientação Profissional nas Escolas (POPE/2018). Além disso, atuou
como monitor da disciplina de Psicologia da Saúde e Políticas Públicas e
como pesquisador bolsista e voluntário no Programa de Iniciação Cien-
tífica, desenvolvendo, respectivamente, as pesquisas a seguir: “Itinerários
terapêuticos de Saúde Mental de adultos nos municípios de Quixadá,
Quixeramobim e Boa Viagem” e “Extensão universitária e ensino em
saúde: impactos na formação discente e na comunidade”. Ademais, foi
membro ativo do Centro Acadêmico Honestino Guimarães de Psicologia
da Unicatólica durante o mandato de 2018. Tem experiência nas áreas
de Psicologia Clínica, Avaliação Psicológica e Orientação Profissional,
com o manejo de testes psicométricos e projetivos. Tem interesse nas
áreas de Psicanálise, Política, Economia Política, Sociologia Urbana,
224
Filosofia Política, Avaliação Psicológica, Saúde Pública/Coletiva, Saúde
Mental, Pesquisa Qualitativa e discussões étnico-raciais.

Jéssica Floriano Lima

Fisioterapeuta, graduada pelo Centro Universitário Christus


(2016). Pós-graduação em Fisioterapia em Terapia Intensiva pela
Faculdade Inspirar (2017-2018). Foi residente em Neonatologia
pela Escola de Saúde Pública do Ceará - ESP-Ce e cursa o mestrado
em saúde pública na Universidade Federal do Ceará. Atualmente é
fisioterapeuta do Hospital Geral Cesar Cals em unidade de terapia
intensiva neonatal. Tendo atuação no Hospital e Maternidade Dra
Zilda Arns Neuman e Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana.

Jonathan da Silva Xavier

Possui graduação em Farmácia pela Faculdade Mauricio de


Nassau (2017); Mestrando em Saúde Pública pela Universidade Fede-
ral do Ceará (2021); Pós-graduando em P&D Analítico e Controle
de Qualidade na Industria Farmacêutica pelo Instituto de Ciência,
Tecnologia e Qualidade - ICTQ (2021); Especialista em Farmácia
Clínica e Prescrição Farmacêutica pelo Instituto de Ciência, Tecnologia
e Qualidade - ICTQ (2019); Especialista em Saúde da Família pela
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Bra-
sileira - UNILAB (2019). Possui experiência na área de Farmácia
Comunitária e Farmácia Hospitalar. Atualmente coordena o Serviço
de Farmácia do Hospital Distrital Dr. Evandro Ayres de Moura -
HDEAM e é Responsável Técnico de uma Farmácia Comunitária.

José Jardeson Martins de Vasconcelos

Possui graduação em Psicologia - DeVry Brasil / Fanor (2016).


Formação na Abordagem Centrada na Pessoa - Formação Psi (2018).
Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade -
225
ESP/CE (2019). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase
em Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas:
redução de danos, atenção primária a saúde, direitos humanos, psico-
logia comunitária e cuidado em saúde mental. Atualmente mestrando
em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

José Roberto Costa Lourenço

Mestrando em Saúde Pública pela Universidade Federal do


Ceará. Membro do Laboratório de Avaliação e Pesquisa Qualita-
tiva em Saúde (LAPQS/UFC). Especialista em Saúde Mental e
Atenção Psicossocial pelo Centro Universitário Estácio do Ceará.
Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário Estácio do Ceará.
Atuou profissionalmente no Centro de Referência Especializado
de Assistência Social (CREAS).

José Wilson Lira Junior

Mestrando no Programa de Pós-grduação em Saúde Pública


pela Universidade Federal do Ceará-UFC. Especialista Residente no
Programa de Residência Integrada da Saúde em Saúde Coletiva da
Escola de Saúde Pública do Ceará (2021). Especialista em Enfermagem
Ginecológica e Obstétrica pela Faculdade de Quixeramobim -UNIQ
(2019). Graduado em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí-
UFPI/CAFS (2016). Atuou como preceptor da disciplina de Saúde do
Idoso do curso de Enfermagem na Faculdade Princesa do Oeste - FPO.

Karla Thâmysa Cruz

Mestranda no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública


pela Universidade Federal do Ceará-UFC. Graduada em Enfermagem
pela Faculdade Metropolitanada Grande Fortaleza. Especialista em
Enfermagem do trabalho; MBA em Gestão e Controle de Infecção
Hospitalar; e Aromaterapeuta.
226
Larissa Luna Queiroz

Nutricionista formada pela Universidade Estadual do Ceará


(2012). Especialista em Nutrição Clínica Funcional. Mestranda em
Saúde Pública (UFC). Com experiência na área de nutrição clínica.

Léo Barbosa Nepomuceno

Professor do Programa de Pós Graduação em Saúde Pública da


Universidade Federal do Ceará (PPGSP - UFC). Professor Adjunto
do Instituto de Educação Física e Esportes da Universidade Federal
do Ceará (IEFES-UFC), ligado ao setor de Estudos Psicológicos e
Socioantropológicos da Educação Física e Esportes. Doutorado em
Saúde Coletiva (UFC). Mestre em Psicologia (UFC). Especialista com
Residência Multiprofissional em Saúde da Família (Escola de Formação
em Saúde da Família Visconde de Sabóia - EFSFVS / Universidade
Estadual Vale do Acaraú - UVA). Graduação em Psicologia (UFC).
Experiência docente na graduação e pós graduação em cursos de
Ciências Humanas e da Saúde. Membro do Laboratório de Avaliação
e Pesquisa Qualitativa em Saúde (LAPQS), ligado ao programa de
Pós Graduação em Saúde Coletiva da UFC. Membro do Laboratório
Cearense de Psicologia do Esporte e do Exercício (LACEPEX) do
IEFES - UFC. Áreas de interesse: Saúde Coletiva; Estudos Sociocul-
turais do Esporte; Psicologia do Esporte; Práticas Corporais e Saúde.

Luana Carla Bandeira Sobrinho

Psicóloga graduada pela Universidade Federal da Paraíba (2011).


Especialista em Saúde da Família e Comunidade pelo Programa de
Residência Integrada em Saúde pela Escola de Saúde Pública do
Ceará - RIS-ESP/CE (2015). Especialização em Terapia Cognitivo
Comportamental (em andamento). Atua na gestão do Pacto por um
Ceará Pacífico - lotada na Vice-Governadoria do Ceará. Foi Forma-
dora Federal do Programa Famílias Fortes pelo Projeto de Pesquisa
227
Diga Sim à Vida, uma parceria entre a Secretaria Nacional de Políticas
sobre Drogas (SENAD) e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
Atualmente é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Saúde
Pública da Universidade Federal do Ceará (PPGSP-UFC).

Luana Matos de Souza

Mestranda em Saúde Pública na Universidade Federal do Ceará


(UFC). Especialista em Diabetes pelo Programa de Residência Mul-
tiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde (RESMULTI) do Hos-
pital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da UFC.Pós graduada
em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Graduada em Nutrição na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Atuação em projetos de pesquisa com foco na avaliação da
composição corporal e doenças crônicas.

Lucía Belén Pérez

Possui graduação em Psicología - Universidad Nacional de La


Plata (2019) e graduação em Professorado en Psicología - Universi-
dad Nacional de La Plata (2017).

Luciano Lima Correia

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do


Ceará (1983), mestrado (Master in Science in Mother & Child Health)
pelo Institute of Child Health da Universidade de Londres, Grã-Bre-
tanha (1988) e Doutorado em Saúde Coletiva pelo Instituto de Saúde
Coletiva da Universidade Federal da Bahia (2005). É Professor Asso-
ciado de Epidemiologia & Bioestatística na Faculdade de Medicina
(Famed) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Exerceu o cargo
de Chefe do Departamento de Saúde Comunitária (Famed/UFC) nos
períodos 2005-2010 e 2015-2017. Coordena atualmente projetos de

228
pesquisas epidemiológicas, de base populacional, nas áreas da Saúde
Materno-Infantil e das Doenças e Agravos Não-Transmissíveis.

Mayra Solange Lopes de Vasconcelos

Possui graduação em Nutrição (Bacharelado) pela Universidade


Estadual do Ceará (UECE). Mestranda pelo programa de Pós- gra-
duação em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Possui especialização em Nutrição em Nefrologia pela Faculdade Venda
Nova do Imigrante (FAVENI) e especialização em andamento em
Nutrição Clínica pela Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI).

Mariana Campos da Rocha Feitosa

Possui graduação em Enfermagem pela Universidade de For-


taleza (2006), Especialização em Saúde da Família pela Universidade
Estadual do Ceará (2008), Especialização em Gestão em Saúde pela
Universidade Estadual do Ceará (2012) e Especialização em Gestão em
Economia da Saúde pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP) em
2012 e Mestrado Profissional em Saúde da Criança e do Adolescente
pela Universidade Estadual do Ceará (2016) e Doutoranda em Saúde
Pública pela Universidade Federal do Ceará. Enfermeira Concursada
da Secretaria de Saúde de São Gonçalo do Amarante (trabalhando
na secretaria de saúde municipal) e da Secretaria de Saúde do Estado
do Ceará, exercendo suas funções no Hospital Infantil Albert Sabin
(Setor de Regulação/NIR). Tem experiência na área de Enfermagem,
com ênfase em Saúde Coletiva, atuando principalmente nos seguintes
temas: hanseníase, tuberculose, arboviroses.

229
Marcos Fábio Pinto Bandeira

Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará.


Concluiu residência médica em Medicina do Trabalho no Hospital de
Clínicas de Porto Alegre. Membro associado da ABRASCO (Asso-
ciação Brasileira de Saúde Coletiva). Mestrando em Saúde Pública da
Universidade Federal do Ceará com início em fevereiro de 2020. Exerce
atividade como Médico concursado da Universidade Federal do Ceará.

Mohamed Saido Balde

Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Saúde Pública


da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC)
e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - CAPES. Possui Graduação em Enfermagem pelo Instituto de
Ciências da Saúde da Universidade da Integração Internacional da Luso-
fonia Afro-Brasileira (UNILAB). Recebeu MENÇÃO HONROSA da
Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí / Instituto
de Educação Superior do Vale do Parnaíba (FAHESP/IESVAP) no I
CONGRESSO INTERNACIONAL INTERLIGAS DO IESVAP:
UMA ABORDAGEM INTEGRADA EM GERIATRIA. É membro
do Grupo de pesquisa Biotecnologia Aplicada (BIOTA) conduz projetos
de pesquisa e de extensão vinculados ao BIOTA, na linha de pesquisa.
Interdisciplinaridade no Cuidado em Saúde Bucal. Tem experiência na
área de Saúde, com ênfase Sistematização de Assistência de Enfermagem,
Saúde Pública, Saúde Mental e Epidemiologia e Vigilância Sanitária.

Patrícia Soares Cavalcante

Mestrado em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará


(2020-2022). Especialização em Prótese Dentária pela Academia
Cearense de Odontologia (2017-2019). Residência Multiprofissional
em Saúde, ênfase Saúde da Família e Comunidade no município de
Fortaleza, pela Escola de Saúde Pública do Ceará (2014-2016). Gra-
230
duação em Odontologia pela Universidade Federal da Bahia (2008-
2013). Atuação e experiência, principalmente, nos seguintes temas:
organização do cuidado em saúde, práticas em saúde, Estratégia Saúde
da Família e ensino técnico-profissionalizante.

Rafaela Rodrigues Viana

Enfermeira, graduada pela Universidade Estadual Vale do Acaraú


(UVA). Mestranda em Saúde Pública pela Universidade Federal do
Ceará (UFC). Bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico (Funcap). Membro do Laboratório de
Pesquisa Social, Educação Transformadora e Saúde Coletiva (Diretório
dos Grupos de Pesquisa no Brasil, DGP/CNPq) na linha de pesquisa:
Educação, Formação e Colaboração Interprofissional na Saúde. Técnica
em Redes de Computadores e Tecnologia da Informação.

Ranieri Sales de Souza Santos

Farmacêutico pelo Centro Universitário Católica de Quixadá


(UNICATÓLICA). Licenciado em Química pelo Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) – Campus de Qui-
xadá. Especialista em Imunologia e Microbiologia. Especialista em Pres-
crição de Fitoterápicos, Suplementação Nutricional, Clínica e Esportiva.
Mestrando em Farmacologia. Farmacêutico Analista Clínico. Docente
de graduação e pós-graduações. Coordenador de pós-graduação

Rômulo do Nascimento Rocha

Possui graduação em Ciências Sociais com ênfase em Antropo-


logia pela Universidade Federal do Ceará - UFC (2021). Foi pesqui-
sador bolsista do projeto Observatório Nacional da Política LGBT
(2019 - 2020), vinculado ao Laboratório de Estudos dos Marcadores
Sociais da Diferença (LAMAS), atrelado ao Departamento de Ciências
Sociais da Universidade Federal do Ceará (DEPCS/UFC). Integrante
231
do Programa de Extensão Promoção de Saúde no Pici (PSP), junto
a Coordenadoria de Desenvolvimento Familiar da UFC (CDFAM).
Atualmente é Mestrando em Saúde Pública no Departamento de
Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Fede-
ral do Ceará (DSC/FAMED/UFC) e membro do grupo de pesquisa
Observatório de Políticas Públicas de Saúde (OPP-Saúde/UFC). Tem
interesse de pesquisa nas áreas de Gênero, Sexualidade, Saúde Pública
e Direitos Humanos. Desenvolve pesquisa sobre Políticas Públicas de
Saúde, Vulnerabilidade e HIV/Aids.

Rosiane Araújo Pereira

Graduada em Enfermagem pela Universidade Estadual do


Piauí - UESPI (2007), Especialista na Modalidade Residência Mul-
tiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde - Área de Concentração
Transplantes pelo Hospital Universitário Walter Cantídio - HUWC/
UFC; Especialista em Qualidade e Segurança no Cuidado ao Paciente
pelo Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa e Especialista em
Gestão em Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
- Fundação Oswaldo Cruz Empregada pública na EMPRESA BRA-
SILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES - EBSERH, desde
novembro de 2014, lotada no Ambulatório de Transplante Renal do
HUWC. Experiência em Enfermagem, com ênfase em Assistência
Clínico-cirúrgico e Transplantes de Órgãos Sólidos.

Valesca de Sousa Brito

Residência em Urgência e Emergência pela Escola de Saúde


Pública do Ceará (2019); Graduação em Serviço Social pela Univer-
sidade Estadual do Ceará (2012). Tem experiência na área de Serviço
Social, com ênfase em Serviço Social na saúde.

232
ÍNDICE G Quiropraxia 22, 34

REMISSIVO Geoterapia 22, 28, 39 R


H Reflexoterapia 22, 35, 202
Hipnoterapia 22, 28 Reiki 10, 14, 22, 35, 36, 73-85
A
Homeopatia 22, 29, 183, 202 Revisão integrativa 39, 40, 73, 75-77, 85,
Acupuntura 10, 22, 31, 36, 154, 158, 162, 153-156, 158, 161-163, 165, 167, 171,
163, 177-189, 202 I 173, 174, 176, 179-181, 183-186, 188,
189, 193, 196
Ambiência 193, 195 Imposição de mãos 22, 29, 30, 35, 39, 75, 85
S
Análise bioenergética 26, 39, 205-207, Interagência 198-200
209-212 Saúde mental 9, 10, 41, 49, 51-53, 55-58,
M 60-65, 74, 106-108, 110, 112-115, 133,
Antroposofia 16, 30 135, 138, 146, 165, 167-170, 172, 173,
Massagem shantala 143, 150 175, 176, 222, 224-226, 230
Apiterapia 22, 23, 98-101, 104, 105
Mecânica quântica 73 Saúde no brasil 19, 21, 23, 40, 162
Aromaterapia 22, 24, 42-48, 56, 58
Medicina baseada em evidência (mbe) 82 Saúde orgânica e psíquica 125
Arteterapia 22, 24, 30, 41, 55, 137-142
Medicinas tradicionais complementares Ser biológico 13
Atenção básica 39, 56, 58, 86-88, 90-93, e integrativas (mtci) 20
95, 96, 142, 167, 169, 185, 188 Ser espiritual 14
Meditação 22, 27, 31, 38, 60-67, 109-111,
Auriculoterapia 31, 78, 153-155, 158, 125-136, 183, 220 Ser psiquico 13
160-163, 178
Mindfulness 64, 66, 67, 128, 130, 132, Ser social 14
Ayurveda 22, 25, 36, 40, 143, 144, 199, 133, 135, 136
213, 214, 216, 218-220 Serviços de saúde 52, 56, 57, 78, 141, 159,
Modelo biomédico 9, 12, 56, 94, 198 161, 166, 171, 190, 191, 193-195
B
Musicoterapia 22, 32, 141, 165-170 Shantala 22, 36, 39, 143-146, 150-152
Biodança 22, 25, 68-72
N Sistema único de saúde (sus) 12, 21, 49,
Bioenergética 22, 26, 39, 194, 205-207, 75, 86, 91, 97, 123, 129, 137, 138, 140,
209-212 Naturologia 58, 197-200, 203, 204 153, 166, 167, 173, 198

Borderline 205, 206, 209, 211, 212 Naturopatia 22, 32, 197-201, 203 Sofrimento psíquico 16, 36, 53, 56, 63, 65,
107, 137, 139, 168, 173, 176
C Neuropsicomotor infantil 143, 148, 150
Síndrome de burnout 74, 81, 85
Constelação familiar 15, 22, 26, 39 Nutricionista 93, 94, 213, 227
Síndrome respiratória aguda grave 44
Covid-19 44, 46, 47, 67, 98, 99, 101-107, O
109, 112-116, 125, 134, 135, 171-176, 222 T
Óleos essencias 43
Crenoterapia 22, 37, 38 Tci 12, 18, 172, 173, 175, 176
Organização mundial da saúde (oms) 20,
Cromoterapia 22, 27, 39, 190-196 88, 160, 171, 194, 213 Terapia assistida por animais (taa) 117,
123
D Ozonioterapia 22, 33
Terapia comunitária integrativa 10, 12,
22, 36, 171-176
Dança circular 22, 27, 41 P
Disfunção orgânica 13, 15 Terapia de florais 37, 39, 49, 52, 54, 56
Pandemia 47, 58, 99, 101-103, 106-109,
112-114, 125, 134, 171-173, 175, 176, 178
Disfunção relacional 15 Toque de cura (tc) 74
Plantas medicinais 10, 22, 25, 34, 39,
Dor crônica 63, 134, 135, 153-155, 158, 86-91, 93-97, 202, 214, 217 Toque terapêutico (tt) 74
159, 161, 183, 186, 189
Potencialidades da meditação 60 Transtorno de personalidade 205, 206,
209, 211
E
Promoção da saúde 21, 23, 37, 68-70, 72,
110, 114, 115, 129, 142, 144, 161, 173, Tratamento osteopático 33
Efeitos terapêuticos 106, 112
190, 192, 198, 201, 221
Equilíbrio mente e corpo 125 V
Prática integrativa de saúde 125, 177
Especialistas alopáticos 9 Vitalismo 32, 199, 200
Práticas de saúde 73, 144, 159
F Y
Práticas integrativas e complementares em
Física quântica 73, 83, 85 saúde (pics) 60, 75, 125, 198, 205 Yoga 10, 14, 22, 38, 106, 108-116, 126,
128, 129, 133, 135, 136, 144, 220, 221
Fitoterapia 22, 34, 39, 54, 86-92, 94, 95, Q
97, 183, 197, 202
Qualidade de vida 24, 29, 36, 51, 57, 68, 70,
71, 77, 80, 81, 84, 85, 109, 117, 119, 121, 142,
158, 167, 169, 177, 178, 180-191, 202, 203

233
ISBN 978-65-5368-113-2

9 786553 681132 >

Este livro foi composto pela Editora Bagai.

www.editorabagai.com.br /editorabagai
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