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A pandemia vista numa perspectiva Popperiana

Crescendo em Cabo Verde, todas as tardinhas, ao por do sol, era tradição sentar ao
redor dos avôs para ouvir a explicação de todas as nossas duvidas acerca de
muitos eventos naturais, sonhos e principalmente as doenças que sofríamos. Na
maior parte das vezes as explicações eram todas de origem sobrenatural, onde as
bruxas, com ódio dos pais, castigavam-nos com doenças. Para a cura, éramos
levados aos curandeiros que faziam remédios. Tudo parecia muito calmo.

No inicio do ano 2020 surgiu algo que ainda nenhuma pessoa existente tinha
assistido: a pandemia. A saúde e a preservação da vida da população se mostraram
como os interesses mais prevalentes e que deveriam por todos e também pelas
autoridades públicas, ser colocadas acima de qualquer coisa. (OMS 2020). A
pandemia trouxe uma realidade nunca antes vivida pela população. Tivemos um
Blum de informação, palavras novas e expressões técnicas que não sabíamos e
deveríamos saber. As televisões e a internet não falavam em mais nada a não ser a
Covid e todos tentavam apanhar o barco para não perder a avalanche de
informação recebida. As pessoas já não saiam de casa para trabalhar e o desejo
que todos tinham de ficar em casa para aproveitar a família, agora tornou-se numa
tortura que parecia não ter fim. Já não se ia aos curandeiros, mas sim a internet.
Agora era só entrar no motor de busca e escrever a duvida e eureca, já temos
resposta de tudo.
Agora as informações cientificas, ou talvez não, estavam por toda a parte.
A informação que todos queriam receber era que tinham produzido a vacina e que
estaríamos livres do vírus.
Enquanto não tínhamos essas vacinas, muitos foram os que levantaram hipóteses
de possíveis remédios que poderiam auxiliar na proteção contra o vírus. Desde de
chás medicinais, xaropes e medicamentos tais como a cloroquina, foram muito
usados pela população como possíveis soluções para proteger contra a doença. A
cloroquina foi mesmo defendida pelo então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro
como sendo bom. O argumento utilizado por todos era basicamente embebia no
método indutivo, ou seja, somente o fato de algumas pessoas terem usado o
referido fármaco e elas terem apresentado um quadro menos grave do vírus, todos
os que quisessem proteger contra o vírus, deveriam usar o fármaco.
Muitos foram os cientistas que não apoiaram o método indutivos, entre os quais Karl
Popper e David Hume.
O Karl Popper (1902-1994) é reconhecido como um dos grandes nomes da Filosofia
da Ciência do século passado. Um dos conceitos mais importantes da Filosofia da
Ciência, introduzido por ele, foi o da falseabilidade (ou refutabilidade). Ele propõe
que não seja usada a “verificabilidade” como critério para se avaliar a validade das
proposições científicas, como as leis, teorias, hipóteses etc. Popper opta pelo termo
“falseável” (ou testável, passível de ser desmentido) no lugar do “verificável.”
Popper demarca-se claramente do método indutivo, defendendo um “racionalismo
crítico”, uma nova forma de lidar com a ciência, onde a jornada em busca da
verdade é guiada sempre por posicionamentos críticos e racionais (Brito, 2014),
demostrando que a ciência.
Citado por Brito (2014), Popper diz:
“A tentativa de justificar a prática da indução por um apelo à experiência tem
de conduzir a uma regressão infinita. Em consequência, podemos dizer
que as teorias nunca podem ser inferidas de enunciados de
observação, ou racionalmente justificadas por eles.”
Torna-se claro que o que inquietava Popper era em relação ao método era a sua
incoerência.
Popper defendia que o processo da ciência dependia claramente da falseabilidade,
demostrando que a ciência é dinâmica e as leis da ciência são provisórias. Um
cientista nunca podia ter a certeza em relação a uma teoria, mas sim somente se
podia falsear. a ideia é procurar os casos desviantes para desenvolver uma certa
teoria ou experiência.
Quando apareceu a primeira vacina todos ficaram muito felizes e começou-se a ter
um controlo em relação a propagação do vírus. Com o decorrer da pandemia, como
todo o vírus, a Sars Cov 2 sofreu inúmeras mutações que faziam com que a vacina
que era dada como a preparada para combater o vírus não tinha mais tanta eficácia.
Segundo Popper (1972, p. 305) citado por Dias (2015) “A ciência não é um sistema
que avance continuamente em direção a um estado de finalidade, ela jamais pode
proclamar haver atingido a verdade”. Os cientistas sabendo disso, nunca deram
como certa o poder de uma das vacinas, pesquisando cada vez mais e
desenvolvendo vacinais eficazes a cada vez que surgia uma nova versão do vírus,
apoiando assim a teoria de Popper, onde a ciência é mutável.
Assim como surgiu as vacinas, também surgiram as teorias de conspiração contra a
vacina. A internet inundou de informações falsas. A luta encarada por tantos
cientistas para derrotar um inimigo comum e proporcionar a população informação
melhor, era minado por tretas muitas vezes criadas por pessoas que em principio
deveriam ter conhecimento no assunto. Ao jornal italiano ANSA, o filosofo Umberto
Eco disse "As redes sociais dão o direito de falar a legiões de idiotas que antes só
falavam no bar depois de um copo de vinho, sem prejudicar a comunidade. Eles
eram imediatamente silenciados, enquanto agora eles têm o mesmo direito de falar
como um Prêmio Nobel.”
O efeito positivo na diminuição dos casos e no numero de mortes foi um grande
avanço para destruir de uma vez com os charlatões das teorias antivacina. “ A ideia
de verdade pode projetar muita luz sobre a ideia do progresso científico” (POPPER,
1982, p. 257). Essa luz manteve acesa para manter a população preparada para
confiar na ciência. Podemos dizer que luta contra a Covid foi um diploma que a
ciência precisa para definitivamente demostrar a população que ela esta pronta para
servir.

Bibliografia
http://www.hrw.org/tag/coronavirus
https://coronavirus.butantan.gov.br/ultimas-noticias/a-filosofia-da-ciencia-a-
falseabilidade-e-as-pesquisas-sobre-a-covid-19
http://periodicos.uefs.br/index.php/revistaideacao/article/view/1341/2812
https://www.scielo.br/j/trans/a/6vzSPY8BCJpjBVN5yZZXkDx/?lang=pt
https://www.ansa.it/sito/notizie/cultura/libri/2015/06/10/eco-web-da-parola-a-legioni-
imbecilli_c48a9177-a427-47e5-8a03-9ef5a840af35.html

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