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DOSSIÊ DO PROFESSOR págin@s 11

FICHAS DE AVALIAÇÃO

FICHA DE AVALIAÇÃO DE EDUCAÇÃO LITERÁRIA 6 CESÁRIO VERDE, “O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL”

Lê o excerto do poema.
IV

O teto fundo de oxigénio, de ar, E nestes nebulosos corredores


Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras1; 30 Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras, Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar. Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

5 Por baixo, que portões! Que arruamentos! Eu não receio, todavia, os roubos;
Um parafuso cai nas lajes, às escuras: Afastam-se, a distância, os dúbios5 caminhantes;
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras, 35 E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
E os olhos dum caleche2 espantam-me, sangrentos. Amareladamente, os cães parecem lobos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta E os guardas, que revistam as escadas,


10 A dupla correnteza augusta3 das fachadas; Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Pois sobem, no silêncio, infaustas4 e trinadas, Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
As notas pastoris de uma longínqua flauta. 40 Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente E, enorme, nesta massa irregular


Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
15 Esqueço-me a prever castíssimas esposas, A dor humana busca os amplos horizontes,
Que aninhem em mansões de vidro transparente! E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Lisboa, 1880 Cesário Verde, Cânticos do Realismo:


Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis, O Livro de Cesário Verde, coord. Carlos Reis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas! Lisboa: IN-CM, 2015, pp. 127-129.
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
20 Numas habitações translúcidas e frágeis.

Ah! Como a raça ruiva do porvir,


E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes, 1
águas-furtadas.
Nós vamos explorar todos os continentes 2
carruagem; (caleche: masc. no contexto).
E pelas vastidões aquáticas seguir! 3
solene; majestosa.
4
tristes.
5
duvidosos; enigmáticos.
25 Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!…
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

Responde de forma completa às seguintes questões.

1. Caracteriza a cidade descrita no poema.

2. Interpreta o sentido dos dois últimos versos do poema.

3. Analisa formalmente (estrofe, métrica e rima) esta parte do poema.

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