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CORONAVÍRUS E OS LIMITES MORAIS DO CAPITALISMO
No dia 27 de março, o Palácio do Planalto lançou uma campanha publicitária que tem
como mote a afirmação de que “o Brasil não pode parar” [abandonada após
repercussão negativa], incentivando as pessoas a ignorarem o coronavírus e saírem
às ruas para retomar suas rotinas de trabalho.
A peça foi divulgada enquanto ocorriam outros dois fatos bastante emblemáticos: o
anúncio da dianteira dos EUA no número de pessoas infectadas, ultrapassando China,
Itália e Espanha, e a mea culpa públicado prefeito de Milão por ter menosprezado o
vírus e aderido à campanha “Milão não para” no final de fevereiro. Naquela época, as
preocupações do alcaide eram as mesmas de Bolsonaro; hoje, se concentram na
procura de caixões para os quase 4500 milaneses mortos depois de um mês.
É nesse terreno onde floresceu o debate estimulado por gente como Roberto Justus.
Alinhadíssimo ao Planalto, o apresentador tratou com desdém a projeção de mortes
caso não haja o isolamento, defendendo publicamente o retorno à normalidade e
alegando que as consequências de uma economia parada seriam mais mortíferas que
os efeitos do coronavírus.
O pano de fundo dessa discussão passa pelos arreios morais que poderiam impor
limites ao sistema econômico em que vivemos. Há quem diga que a economia é que
deve servir às pessoas, e não o contrário. Algo próximo do que aconteceu nos
chamados anos dourados do capitalismo, que duraram do fim da II Guerra Mundial
até por volta de 1975. O problema nessa assertiva, contudo, é um só: isso é
impossível.
Assim, não importa o grau dos avanços produtivos e tecnológicos e muito menos em
que medida podem atender às necessidades da sociedade. Enquanto houver os
grilhões da propriedade privada dos meios de produção, estes avanços vão tomar
outro rumo, qual seja, aquele apontado recentemente pela Oxfam, onde cerca de dois
mil bilionários acumulam aproximadamente 60% da riqueza do planeta.
Essa constatação abala os alicerces da ortodoxia religiosa liberal, pois demonstra que
a escassez tão apregoada por ela é, no fim das contas, artificial, de modo que temos
sim recursos e condições suficientes para lidar a contento com crises como a do
coronavírus. É a coleira do capital, no entanto, que aperta nosso pescoço e contém
esse passo à frente.
Na Enciclopédia das Ciências Filosóficas, Hegel escreve que “em nossa época, rica
em reflexão e raciocínio, jamais alguém conseguiu chegar longe sem saber oferecer
uma boa razão para tudo, mesmo a pior e mais errada das coisas”, concluindo que
“tudo o que foi corrompido neste mundo foi corrompido por boas razões”. No
capitalismo, as “boas razões” que mascaram a sede predatória da acumulação jamais
se alinham completamente aos interesses da classe trabalhadora, grande maioria da
população. Saber disso é fundamental para caminharmos em direção a uma
sociabilidade na qual não haja nenhuma chance de vidas humanas serem sacrificadas
no altar da assim chamada economia.