Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e-mail: bonnajoyce@hotmail.com
1
PROGRAMA:
2
CAPÍTULO 1: GÊNESE DOS SOLOS
Os solos podem ser definidos como uma “coleção de corpos naturais, constituídos por
partes sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e
orgânicos que ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais do planeta,
contém matéria viva e podem ser vegetados na natureza onde ocorrem e, eventualmente, terem
sido modificados por interferências antrópicas” (EMBRAPA, 2006, p.31).
Figura 1: Processo de evolução dos solos. Fonte: Cristiane Oliveira, 2012. Desenho: Breno Marent.
3
FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS
1. Material de origem
As rochas são uma associação de minerais que, por diferentes motivos geológicos,
acabam ficando intimamente unidos. Embora coesa, nem sempre é homogênea. Na agregação
mineralógica constituinte das rochas, é possível reconhecer minerais essenciais (sempre
presentes) e minerais acessórios (podem ou não estar presentes, sem que isso modifique a
classificação da rocha em questão). As rochas podem ser analisadas com base em três
parâmetros principais:
Composição química: cerca de 99% da litosfera é composta por Si+4, Al+3, Fe+2/+3, Ca+2,
Mg+2, Na+, K+ e O-2, como o oxigênio é o único com carga negativa (ânion), serve de ponte de
ligação entre os elementos com carga positiva (cátion) formando a estrutura dos minerais. E entre
esses elementos, depois do Oxigênio, o Silício é o mais abundante, por isso as rochas podem ser
classificadas com base no percentual com que o Si ocorre nas rochas. Rochas com elevado teor
de Si são normalmente resistentes, pois o Si e o O formam ligações fortes, ao contrário de rochas
com baixo teor de Si, pois formam ligações fracas e a pedogênese tende a ser facilitada.
Estrutura: a presença de linhas de fraqueza nas rochas (ex.: fraturas e xistosidades)
favorece a entrada da água e, consequentemente, o intemperismo químico gerado pela água
sobre os minerais (ex.: hidrólise).
Gênese: as rochas também podem ser agrupadas de acordo com o seu modo de
formação na natureza. E sob este aspecto, podem ser divididas em três grandes grupos:
a) Ígneas
b) Sedimentares
5
resistentes do que as rochas ígneas. No entanto, se ricas em Si, por exemplo, mesmo sendo uma
rocha sedimentar pode ser extremamente resistente (ex.: cimento) e até mais resistente do que
uma rocha ígnea que seja pobre em Si.
c) Metamórficas
6
Figura 12: Mica – mineral com foliação decorrente de metamorfismo.
Ex.1: a restruturação do granito (ígnea) para formar o gnaisse (metamórfica) leva a uma
perda de resistência, pois no gnaisse há uma organização bandada baseada na diferença de
densidade (camadas de material rico em Si e Al, alternados com material rico em Fe e Mg)
que gera linhas de fraqueza.
Figura 15: Calcário (rocha sedimentar) Figura 16: Mármore (rocha metasedimentar)
7
Figura 17: Arenito (rocha sedimentar) Figura 18: Quartzito (metassedimentar)
Figura 19: Migmatito / rocha mista – há porções de rocha metamórfica e de rocha ígnea.
A resistência das rochas metamórficas bandadas também depende da forma com que
essas linhas de fraqueza são expostas na superfície. Quando essas camadas afloram com linhas
de fraqueza verticais, a água penetra entre as camadas da rocha, mas percola num período de
tempo muito curto, não havendo muito tempo para intemperizar as rochas; quando as camadas
afloram obliquamente, além da água penetrar entre as camadas, ela terá mais tempo para
percolar e, consequentemente, intemperizar a rocha; já quando essas camadas afloram
horizontalmente, a água não consegue penetrar entre as camadas.
8
Figura 20: Formas de afloramento:
vertical, oblíquo e horizontal.
2. Clima
Trata-se de um fator ativo bastante influente no desenvolvimento dos solos, pois adiciona
energia (ex.: energia solar) e matéria ao ambiente (ex.: água). A temperatura e a umidade, entre
outros fatores climáticos, influenciam diretamente na intensidade dos processos físicos e
químicos, determinando a natureza e a intensidade dos processos de intemperismo.
9
Temperatura: a temperatura influencia diretamente na velocidade das reações químicas e
biológicas, de modo que: quanto mais elevada à temperatura, mais aceleradas são as reações e
maior é também o metabolismo dos organismos e, portanto, a atuação desses seres também é
intensificada. A variação da temperatura também contribui para processos de expansão e retração
das rochas, favorecendo a fragmentação das mesmas.
Precipitação: a presença da água altera significativamente os minerais em função do
processo de hidrólise (quebra pela água – ver Figura 39). Além de atuar na destruição dos
minerais, a água também é responsável pela lixiviação (carreamento) dos elementos mais
solúveis liberados a partir dessa destruição.
Em ambientes semi-áridos por sua vez, o horizonte A dos solos normalmente são muito
pouco desenvolvidos, pois há pouca vegetação para virar MO e essa é rapidamente
decomposta devido às elevadas temperaturas. Tendência geral:
Regiões
semi-áridas
Taxa de produção de MO < Taxa de decomposição de MO = Horizonte A raso
(baixa) (muito elevada)
3. Organismos vivos
Os organismos vivos também funcionam como um fator ativo que adiciona matéria (MO e
ácidos orgânicos) e energia ao sistema.
A acidificação do solo se dá a partir da liberação de ácidos das reações metabólicas e da
decomposição da MO. Esses ácidos favorecem o intemperismo dos minerais. Além da adição,
determinados animais (formigas, minhocas, cupins, etc) são responsáveis pela homogeneização
do solo, além de decomporem parte da MO auxiliando na formação do húmus.
Quanto à cobertura vegetal, a própria penetração das raízes, bem como suas excreções
orgânicas, também auxiliam no processo de intemperismo. Em contrapartida, vale destacar que a
vegetação age como moderadora das influências climáticas e ameniza a atuação dos processos
erosivos.
10
4. Relevo
Taxa de pedogênese
Taxa de erosão
Quando:
Relevo mais plano: Taxa de pedogênese > Taxa de erosão = Solos mais profundos / desenvolvidos
Relevo mais íngreme: Taxa de pedogênese < Taxa de erosão = Solos mais rasos / jovens
Mas há exceções:
Exemplo 1: é comum encontrarmos solos rasos em locais de relevo plano no semi-árido
brasileiro, isso porque a falta de água dificulta o intemperismo químico e,
consequentemente, a evolução dos solos nesses locais. Em síntese, trata-se de uma
região cujo fator climático tem maior peso/influência que o relevo.
Exemplo 2: já em regiões de relevo movimentado, podem ser encontrados solos muito
evoluídos. A explicação para isso vem de estudos que demonstram que essa região já foi
plana em períodos pretéritos, isto é, bem diferente do que é atualmente. Tais ambientes
são denominamos de Paleoambientes, pois se formaram em condições ambientais
adversas às atuais.
11
5. Tempo
Trata-se de um fator passivo, pois não adiciona e nem leva a perda de nada, mas é de
fundamental importância, uma vez que permite a atuação dos outros fatores citados. Há dois tipos
de tempo/idade:
Tempo absoluto: tempo de exposição da rocha origem. Ex.: o solo x tem a idade de 200
mil anos.
Tempo relativo: relacionado ao grau de evolução/maturidade dos solos. Ex.: o solo y é
mais evoluído que o solo x, pois é mais profundo.
Para estudos pedológicos a idade relativa é mais informativa que a idade absoluta.
12
CAPÍTULO 2: PROCESSOS DE FORMAÇÃO DO SOLO
A superfície terrestre apresenta uma grande diversidade de solos em função das diferentes
combinações de seus fatores e processos de formação gerais e específicos.
Processos pelos quais todos os solos passam, ainda que em diferentes intensidades:
1. Adição
Pode ser de matéria (ex.: sedimentos, cinzas vulcânicas, água, ácidos, etc.) ou energia (ex.:
o sol é uma das principais fontes de energia).
O homem também pode adicionar elementos ao solo (ex.: água, fertilizantes, resíduos
industriais, calcário, etc.) e influenciar no comportamento do mesmo, mas neste caso trata-se de
um processo antrópico e não natural.
2. Remoção/Perda
3. Transporte/Translocação
Realocação de material dentro do perfil do solo. Pode ser ascendente (ex.: realizado pela
água sob efeito da capilaridade - fenômeno físico resultante das interações entre as forças de
adesão e coesão da molécula de água) ou descendente (ex.: água sob efeito da gravidade). Os
elementos que podem ser transportados são a água, a matéria orgânica (MO), as argila e os
materiais em solução, como sais.
Ressalta-se que o transporte implica na movimentação de material de um horizonte para
outro, mas não há perda, pois o material transportado permanece no perfil de solo, portanto, é
diferente dos processos de lixiviação e erosão.
4. Transformação
Reações químicas que ocorrem com os materiais e elementos que compõem o solo. Pode
ocorrer com os minerais, como a destruição dos minerais primários (1os) e posterior recombinação
dos elementos que sobraram formando um mineral secundário (2º), bem como a quebra por
decomposição completa da matéria orgânica gerando húmus.
13
PROCESSOS ESPECÍFICOS DE FORMAÇÃO DOS SOLOS
Além dos processos gerais, influenciados pelos fatores e pela ação diferenciada de um ou
mais processos gerais de formação dos solos, alguns solos passam por processos específicos
que são essenciais para a determinação de suas características e particularidades. No Brasil, os
processos específicos de formação dos solos mais comuns são:
1. Hidromorfismo
Resultado:
Normalmente esses solos não possuem horizonte B, pois a elevada quantidade de água
impede a evolução do solo e a formação do horizonte B.
A ausência de O2 também favorece a transformação (redução) do Fe3+ (forma oxidada,
pouco solúvel) em Fe2+ (forma reduzida, solúvel). E como o Fe3+ que dá a cor ao solo e, neste
caso, esses são transformados em Fe2+, que é pouco pigmentante, esses solos tendem a adquirir
uma coloração mais esbranquiçada ou acinzentada nos horizontes/camadas de C (que ficam
abaixo do horizonte A) – tal processo é denominado de Gleização. Em síntese:
Resultado:
A redução do ferro também ocorre no horizonte A desses solos, mas não percebemos o
processo de gleização neste horizonte, pois o mesmo tende a ser mascarado devido à forte
presença de MO acumulada.
A vegetação desses ambientes encharcados e redutores são geralmente adaptadas, de
modo que: capturam o O2 do ar através das folhas e distribuem para o restante das plantas até as
raízes.
Solos formados por esse processo:
Gleissolos: possuem horizonte A ou H < 40cm;
Organossolos: possuem horizonte H ≥ 40cm.
14
Observação: o processo de Hidromorfismo também pode dar início ao processo de
Laterização até o estágio de formação da plintita (maiores detalhes no tópico seguinte).
2. Laterização
Plantas adaptadas = ↑ O2 nas raízes = Transformação Fe2+ (pouco pigmentante) em Fe3+ (pigmentante)
Resultado:
Mosqueados – manchas geradas pelo acúmulo de Fe3+ próximo as raízes das plantas
Solos formados:
Plintossolos: solos cujo material é constituído por pelo menos 15% de plintita ou
petroplintita.
15
3. Latolização ou Latossolização
ADIÇÃO (água e energia) + PERDA (nutrientes e Si) + TRANSFORMAÇÃO (minerais 1os em 2os)
Ou
Resultado:
Como esses solos estão associados a um relevo mais plano, tendem ser mais espessos,
homogêneos e geralmente resistentes a erosão (devido à alta capacidade de infiltração e retenção
de água). Logo, se adubados (uma vez que tendem a ser naturalmente mais inférteis), possuem
muita aptidão agrícola.
Solos formados:
Latossolos: solos mais evoluídos.
4. Podzolização
16
O acúmulo de argila no horizonte B desses solos pode causar o “entupimento” dos poros
deste horizonte e levar a diminuição da taxa de infiltração, o que pode gerar o encharcamento do
horizonte A e, consequentemente, o aumento do escoamento superficial da água expondo esses
solos à erosão. O escoamento da água entre os horizontes A e B também pode gerar movimentos
de massa (como escorregamentos e rastejos). Ressalta-se ainda que esses solos geralmente se
encontram em áreas de relevo movimentado, o que também contribui para a maior atuação de
processos erosivos e movimentos de massa.
Quando esse processo de translocação descendente de argila é muito intenso, pode-se
formar um horizonte intermediário entre os horizontes A e B, chamado horizonte E (de
eluviação/perda de argila). Esse horizonte é praticamente constituído só por areia e, por isso,
normalmente é bem claro, já que a areia é pouco eficiente na pigmentação do solo.
Já o horizonte B desses solos passa a acumular tanta argila que quando chega a uma
determinada concentração é denominado de B textural (Bt) (devido o ganho de argila). Como a
argila diminui a taxa de infiltração da água a partir do horizonte B destes solos, acaba por diminuir
também a taxa de lixiviação, logo, esses solos tendem a ser mais férteis que os Latossolos, por
exemplo.
Além de muito arenosos, esses solos são muito ácidos (ao ponto de inviabilizar a sua
correção) e, portanto, não possuem aptidão agrícola. Além disso, esses solos geralmente ocupam
áreas muito pontuais e restritas, ex.: margens do Rio Negro, cuja vegetação é a capinarama
(arbórea raquítica).
Solos formados:
Espodossolos: solos que apresentam horizonte Bh. Na classificação antiga eram
chamados de Podzol.
18
5. Halomorfismo
Os solos formados por esse processo são bastante pontuais e com baixíssima utilidade,
pois o teor de sal fica tão elevado que prejudica a vegetação (essa tem dificuldade de absorver
água ou até mesmo perde água para o solo). Logo, apenas espécies adaptadas conseguem
sobreviver nestes solos, ex.: coqueiros.
Um dos fatores que podem tornar estes solos utilizáveis é a adição de água. Entretanto,
como citado anteriormente, esses solos situam exatamente nas regiões mais secas do país (ex.:
agreste e sertão nordestino).
Solos formados por esse processo não compõem uma classe pedológica específica,
ganham apenas o adjetivo de salinos. Na classificação antiga eram chamados Solonetz
Solodizado.
Quando o homem instala um sistema de irrigação sem um sistema de drenagem adequado
em regiões muito quentes, pode gerar as mesmas consequências do processo de Halomorfismo,
mas como se trata de um processo gerado pelo homem, passa a ser chamado de Salinização.
Quando isso ocorre, é muito difícil corrigir o solo, pois além de ser um processo muito oneroso,
exige uma quantidade de água que geralmente não existe nessas regiões.
19
6. Calcificação
TRANSPORTE ascendente de Ca e Mg
Em suma, acaba por formar um horizonte A: mais espesso (≥ 25 cm), bastante escuro e
fértil devido ao maior acúmulo de MO e sais (Ca e Mg). Esse horizonte passa a ser chamado de
horizonte A chernozêmico.
20
Solos formados:
Chernossolos: solos que possuem horizonte A chernozêmico e elevada fertilidade. Vale
ressaltar que nem todo Chernossolo resulta do processo de Calcificação, há outros
processos que também favorecem o acúmulo de MO no horizonte A dos solos. Na
classificação antiga esses solos eram chamados de Rendzina Brunizen.
21
CAPÍTULO 3: CONSTITUINTES DOS SOLOS
O solo é um sistema trifásico e pode ser dividido em três fases: fase sólida, fase líquida e
fase gasosa, sendo essas duas últimas englobadas pelo sistema poroso.
FASE SÓLIDA
1. Minerais
22
b) Transparência: minerais que não absorvem pouco a luz são ditos transparentes. Os que
absorvem a luz consideravelmente são translúcidos (o que depende também da espessura
do mineral). E há ainda minerais opacos, que absorvem totalmente a luz.
23
i) Densidade relativa: indica quantas vezes certo volume do mineral é mais pesado que o
mesmo volume de água.
j) Geminação: propriedade de certos cristais de aparecerem intercrescidos de maneira
regular.
k) Propriedades elétricas e magnéticas
Primários 2:1
Minerais dos
Silicatados
solos
Secundários 1:1
Não
silicatados /
Óxidos
Minerais primários: são aqueles que ainda não sofreram alterações químicas; tendem a
predominar na fração grosseira dos solos (areia) e são constituídos principalmente por silicatos.
Há minerais primários facilmente intemperizáveis (ex.: o feldspato e a biotita) e há aqueles de
difícil intemperização (ex.: o quartzo). Nos solos das regiões tropicais úmidas, como a nossa,
praticamente o único mineral primário presente nos solos é o quartzo, devido a sua elevada
resistência.
24
Minerais secundários: resultantes da decomposição dos minerais primários e da recombinação
dos produtos resultantes/restantes dessa decomposição. Esses minerais são geralmente
chamados de minerais de argila em razão da sua menor dimensão. Representam a maior parte da
fração mineral dos solos das regiões tropicais úmidas, pois a maioria dos minerais primários já
foram intemperizados nessas regiões. Podem ser divididos em dois grupos principais:
Figura 31: Tetraedro de Si: formado por 1 Si (carga 4+) e 4 O (carga -2). Carga total: (+4) + 4(-2) = - 4.
Figura 33: Octaedro de Al: formado por 1Al (carga 3+) e 6OH (carga -1). Carga total: (+3) + 6(-1) = -3. A
denominação dessa unidade está relacionada ao fato de gerarem uma forma geométrica de oito lados.
Fonte: Cristiane Oliveira, 2012. Desenho: Breno Marent.
25
Semelhante ao Tetraedro de Si, no Octaedro de Al as cargas em excesso também podem
ser neutralizadas via: a) compartilhamento de hidroxilas ou b) através de ligações com outros
elementos químicos. Ex.:
Tetraedro de Si Octaedro de Al
Figura 36: Representação esquemática dos minerais silicatados do tipo 2:1 e 1:1.
Fonte: Cristiane Oliveira, 2012. Desenho: Breno Marent.
Estação úmida – a água entra entre as unidades cristalográficas dos minerais 2:1 e o solo sofre expansão.
Estação seca – a água evapora e o solo tende a se contrair formando rachaduras.
Figura 37: Processo de expansão e contração dos solos com minerais 2:1.
Fonte: Cristiane Oliveira, 2012. Desenho: Breno Marent.
27
Em síntese: quanto maior a intensidade do intemperismo e da lixiviação, maior é a
tendência de formação de óxidos. Por isso, quanto mais evoluídos os solos, maior a quantidade
de óxidos.
Figura 38: Evolução da mineralogia dos solos em função da intensidade do intemperismo químico e da
lixiviação. Fonte: Adaptação de Crompton, 1960.
Todavia, as condições ambientais podem fazer com que essa sequência estacione em
alguma etapa ou mesmo salte alguma delas. Em locais com alta pluviosidade, por exemplo, a
lixiviação pode causar uma perda de silício tão intensa que os minerais primários podem formar
diretamente minerais do tipo 1:1 ou mesmo Óxidos. Logo, pode-se dizer que a sequência
mineralógica dos solos depende muito da intensidade de atuação dos fatores e processos de
formação dos solos.
Viva
(4%) Fração
MO
macroorgânica
(100%) Fração não
Morta (10 a 30%)
húmica Nutrientes
(96%)
Fração (5 a 10%)
microorgânica
(70 a 90%)
Fração húmica
(90 a 95%)
28
Fração macroorgânica: representa cerca de10 a 30% da MO morta do solo. Trata-se da
MO ainda não decomposta ou pouco decomposta; ainda é possível identificar a fonte do
material.
Fração microorgânica ou húmus: representa cerca de 70 a 90% da MO morta do solo.
Engloba a parte já decomposta do material orgânico; não é possível identificar a fonte do
material. Essa também pode ser subdividida em:
Teor de MO no solo
29
de produção e a taxa de perda de MO (via decomposição e/ou lixiviação). Logo, quando um
sistema agrícola é implantado, muda-se a cobertura vegetal, há um maior ou menor revolvimento
do solo e, consequentemente, altera-se também a quantidade de MO no solo. Por isso, é
fundamental avaliar previamente quais as possíveis mudanças que serão geradas no teor de MO
no solo para que não se atinja um ponto de degradação avançado ou irreversível.
Benefícios da MO no solo
Ainda não existe uma metodologia direta para se estimar a quantidade de MO no solo, mas
há meios de se estimar a quantidade de carbono orgânico (CO). E uma vez que se sabe que
cerca de 58% da MO é constituída por CO, a partir da quantidade de CO encontrado no solo,
podemos inferir a quantidade de MO por uma simples regra de três. Ex.: em um solo foi
encontrado 2g de CO, quanto de MO tem este solo?
100 % de MO = 58 % de CO
x g de MO 2g de CO
x = 3,44827586g de MO
1
Solos com muita matéria orgânica tendem a ser mais amarelados, pois a concentração maior de água
privilegia a da formação de goethita em detrimento da hematita.
30
FASE LÍQUIDA
Solução do solo
1. Lixiviação
2. Hidrólise
A maioria das rochas são compostas por: Si+4, Al+3, Fe+2/+3, Ca+2, Mg+2, Na+ e O-2. Observa-
se que apenas o oxigênio (O) tem carga negativa (ânion) e acaba por funcionar como uma ponte
de ligação entre esses elementos de carga positiva (cátions).
Ressalta-se ainda que a água na natureza é normalmente ácida (tem excesso de H+) e o
Hidrogênio é o elemento de maior eletronegatividade (força que um elemento tem de atrair uma
carga contrária). Logo, quando a água entra em contato com os minerais, leva ao processo de
hidrólise, isto é: o átomo de Hidrogênio (H) tende a substituir os outros cátions para se ligar ao
Oxigênio (O).
Mas como o Hidrogênio (H) é um átomo muito pequeno comparado a outros cátions, não
consegue estabelecer o mesmo número de ligações que outros cátions estabelecem com átomos
de Oxigênio (O). Sendo assim, vários átomos de Oxigênio (O) passam a “sobrar” sem nenhuma
ligação gerando, assim, um excesso de carga negativa livre nos minerais. E uma vez que cargas
iguais se repelem, gera um desequilíbrio levando a “destruição” ou reorganização do mineral. Veja
o exemplo a seguir:
31
Mineral com átomos de Potássio (K+) atraindo moléculas de água (H2O) polarizadas:
Substituição do Potássio (K+) do mineral por um átomo de Hidrogênio (H+) da água do solo. Resultado: o
Hidrogênio (H) não consegue se ligar ao mesmo número de átomos de Oxigênio (O) e esses acabam com
um excesso de carga negativa, causando repulsão e, consequentemente, desintegração do mineral.
32
Mangue Vereda
Figura 40: Vegetação hidrófita ou higrófita.
Figura 41: Amazônia - Vegetação perenifólia. Figura 42: Mata Atlântica – Vegetação
subperenifólia.
33
Figura 45: Caatinga – Vegetação hipoxerófita e hiperxerófita.
Apenas os microporos têm tensão suficiente para reter a água no solo, já os macroporos
permitem a infiltração e a percolação da água – por isso ambos os tipos de poros são importantes.
Existem várias formas de se medir a água no solo, mas a maneira mais simples é coletar
uma amostra de solo em recipiente fechado, pesar o conjunto numa balança de precisão antes de
secá-lo, colocar o mesmo conjunto (porém aberto) na estufa para que a água evapore, depois é
só pesar a amostra novamente e o valor de peso perdido equivale ao valor de água no solo. No
entanto, a realidade não é tão simples assim, pois a quantidade de água no solo é muito variável
com uma série de fatores (temperatura, hora do dia, local de coleta, profundidade de coleta no
perfil de solo, etc). Sendo assim, uma das formas de medição menos errônea é através do
aparelho tensiômetro, mas mesmo assim trata-se de uma medida que só vale para aquela
amostra especificamente – isto é, naquele data, horário, profundidade, etc.
34
FASE GASOSA
Ar do solo
O ar do solo encontra-se normalmente nos macroporos – onde a água não consegue ficar
retida, pois escoa facilmente. Quando não houver água retida nos microporos do solo, esses
também serão ocupados pelo ar.
Os mesmos elementos que estão no ar atmosférico estão no ar do solo, a diferença é a
proporção com que ocorrem. No caso do ar do solo, a proporção de CO 2 é maior que a do ar
atmosférico. Já proporção de O2 é menor no ar do solo que no ar atmosférico. Isso ocorre porque
a respiração das raízes das plantas e dos microorganismos consome oxigênio e libera gás
carbônico, no entanto, a difusão/troca dos gases no solo é mais difícil que no ar atmosférico.
Aeração do solo
Processo pelo qual se faz a troca de gases entre o ar do solo e o ar atmosférico. Isto é, a
renovação da composição do ar do solo tendendo a igualar a sua composição com a do ar
atmosférico. Tal processo depende do diâmetro e da continuidade dos poros no solo.
Solos bem arejados apresentam composição bastante semelhante ao ar atmosférico logo
acima da superfície. Já solos com arejamento deficiente geralmente apresentam elevada
quantidade de CO2 e uma correspondente baixa proporção de O2 em relação à atmosfera.
A composição do ar do solo também pode ser influenciada pela textura, profundidade,
conteúdo de água e estado de agregação do solo. De modo geral, mantendo constantes todas as
outras características dos solos, apresentarão menor aeração e maior teor de CO2, os solos mais
argilosos, os horizontes mais profundos e os solos mais úmidos.
Importante: o revolvimento do solo é uma forma de oxigenar o solo (aumentar a
quantidade de O2). Mas como os microorganismos decompositores terão mais O 2 disponível, há
também um aumento da atividade desses microorganismos e, consequentemente, da
decomposição da MO. Assim, se o solo for muito oxigenado, a decomposição da MO pode ser
muito elevada e provocar problemas/deficiências no solo.
35
CAPÍTULO 4: QUÍMICA DO SOLO
Neutro H+ = OH- =7
A maior parte dos solos possuem pH natural entre 3 e 11. Em regiões tropicais úmidas, o
pH do solo é geralmente mais ácido, porque são ambientes com maior abundância de vegetação
e vida. Já em ambientes áridos, como há menos vida, o pH do solo tende a ser mais básico. De
forma geral, na medida em que evoluem, os solos tendem a ser acidificados.
A água é o líquido padrão para a leitura do pH do solo por ter em sua composição H+ e
-
OH . Mas o pH do solo também pode ser realizado a partir de outras soluções, como o KCl. A
leitura do pH é comumente realizada através do aparelho pHmêtro (lê a atividade dos íons H+ em
uma solução).
CARGAS DO SOLO
1. Cargas de beirada
Os elementos químicos presentes nos solos2 são atraídos por essas cargas que se
encontram na superfície/beirada dos minerais estabelecendo uma ligação fraca: capaz de
minimizar o processo de lixiviação, mas incapaz de impedir a captação desses elementos
2 Como citado anteriormente, em sua maioria são cátions, isto é, tem cargas positivas e servem de
nutrientes para as plantas.
36
pelas plantas (as plantas captam os cátions, que inclusive servem de nutrientes, e em
troca liberam H+ no solo, favorecendo a acidificação do mesmo).
2. Cargas dependentes de pH
Exercício resolvido:
1) Imagine um solo que tivesse 25% de cada um desses componentes que podem gerar cargas e o pH do
solo fosse igual a 4. Calcule a carga gerada por cada um desses quatro componentes do solo e a carga
total do solo.
2) O que acontece com as cargas do solo do exercício se realizada a calagem (ver processo na pág. 37)?
Como a calagem eleva o pH do solo, haverá uma mudança na carga gerada por cada um dos componentes
do solo e, consequentemente, na carga total do solo também. Por exemplo, supondo que a calagem
elevasse o pH do solo de 4 para 6, o balanço de cargas passaria a ser:
37
Em síntese: o aumento do pH do solo favorece a geração de cargas negativas no solo, o que é positivo,
pois eleva a capacidade de troca catiônica (CTC) do solo. No entanto, se mal executada, a calagem pode
gerar um excesso de cargas negativas muito grande e essas passam a se repelir levando a
dispersão/desagregação do solo, o que o torna mais suscetível à erosão.
É a quantidade de cargas negativas (ânions) que o solo tem para atrair cargas positivas
(cátions). Essa atração é tecnicamente chamada de adsorção e atrai principalmente os seguintes
3
A adsorção é uma atração superficial; é relativamente semelhante a um imã que gruda em metais.
38
elementos: Ca2+, Mg2+, K+, Na+, Al3+ e H+, sendo que os 4 primeiros servem de nutrientes para as
plantas.
A adsorção é muito importante para a nutrição das plantas e microorganismos dos solos,
porque elementos que ficam na solução do solo (não adsorvidos) são suscetíveis à lixiviação.
Entretanto, as plantas só conseguem absorver elementos que estão na solução do solo. Ou seja,
ao mesmo tempo em que é importante que os nutrientes não sejam rapidamente perdidos por
lixiviação, eles devem estar disponíveis na solução do solo para serem aproveitados pelas
plantas. Esse “problema” é resolvido através da atração estabelecida entre as cargas negativas
dos constituintes do solo com os cátions e varia de elemento para elemento, conforme
demonstrado na seguinte sequência: H+ >>> Al3+ > Ca2+ ≈ Mg2+, > Na+> K+
(...) quando a raiz das plantas libera H+ como resultado do seu metabolismo, este
é imediatamente atraído pelas cargas negativas do solo, e os elementos com
menor atração são liberados, ficando livres para a planta poder absorvê-los.
Entretanto, as moléculas negativas ficam preenchidas por H + e Al+3, que não são
nutrientes. Para reverter este quadro, é necessária a realização de adubação ou
calagem, que disponibilizam novamente os elementos nutritivos em alta
concentração, liberando o H+ e Al+3 presos nas moléculas. As possíveis fontes
naturais para estes elementos seriam a rocha e a matéria orgânica natural do solo,
que caracterizam os adubos químicos e orgânicos. (OLIVEIRA, 2012).
Solos com pHs neutros e básicos são problemáticos para o desenvolvimento das plantas,
pois não favorecem a capacidade de troca catiônica (CTC) no solo. Todavia, solos com pHs muito
ácidos também são problemáticos, pois significa que há muito H+ para competir com os outros
elementos que servem de nutrientes para as plantas. Então qual o pH ideal para a agricultura? Em
torno de 6 e 6,5, isto é, ligeiramente ácido.
Como a quantificação das cargas negativas do solo é muito difícil de ser obtida,
quantificam-se as cargas positivas, pois são geralmente iguais. Portanto, a CTC é calculada por
um método indireto.
CTC do solo = Ca + Mg + K + Na + Al + H + NH4
Obs.: em solos de regiões tropicais como os nossos, os cátions trocáveis Na+ e NH4+ geralmente
tem magnitude desprezível e, por isso, muitas vezes nem são contabilizados.
FERTILIDADE DO SOLO
Além da CTC, podemos calcular a soma de bases (SB), que é a soma apenas dos
elementos que servem de nutrientes para as plantas.
SB = Ca + Mg + K + Na + NH4
Ou
39
A SB também pode ser chamada de Valor V% quando obtida em porcentagem. Para
converter a soma de bases (SB) em porcentagem (Valor V%), aplica-se uma simples regra de
três. Para tanto, é necessário considerar o valor encontrado para a CTC do solo como o equivalente
a 100%. Em síntese:
CTC do solo = 100%
SB V%
Logo
V% = (SB x 100)
CTC do solo
Quando o solo é distrófico, calcula-se também o teor de alumínio (Al). Além de não ser um
nutriente, o Al é tóxico para as plantas em certas concentrações, pois tornam as raízes muito
grossas e as plantas não conseguem se desenvolver em extensão, o que acaba por dificultar a
absorção de nutrientes e água (exceto espécies adaptadas). O teor de Al é calculado da seguinte
forma:
Teor de Al (%) = [Al] x 100
[Al + SB]
40
CAPÍTULO 5: REAÇÃO DO SOLO – pH
1. Minerais de argila
Na medida em que as cargas negativas das partículas coloidais reagem com outros
elementos positivos (cátions), liberam átomos de H+ (anteriormente adsorvidos) para a solução do
solo.
Ao reagir com a água o Al forma um componente muito instável e o processo reativo tem
continuidade até que se forme um mineral estável. No entanto, durante essa cadeia de reações,
observa-se que a cada átomo de Al liberado no ambiente, três átomos de H+ são liberados, por
isso o Al é uma importante fonte de acidez.
41
c) Al estrutural
Quando o mineral é intemperizado, o Al que está na estrutura do mineral pode ser liberado
para o sistema se tornando um Al em solução (trocável). Caso esse processo ocorra, o Al
desencadeará a mesma cadeia de reações retratada no tópico anterior. Todavia, trata-se de uma
reação mais difícil de ocorrer, pois depende primeiramente da “destruição” do mineral.
A MO tem cargas dependentes de pH e PCZ muito baixo (= 2). Logo, na maioria dos solos
o pH é maior que o PCZ da MO. Sendo assim, a tendência da MO é gerar cargas negativas.
Diante disso, a fim de buscar um equilíbrio e também por afinidade geoquímica, a MO passa a
liberar átomos de H+ para o sistema para adsorver os cátions livres na solução dos solos, o que
acaba contribuindo para a acidificação dos solos.
3. Grupos ácidos da MO
42
FONTES DE BASICIDADE NOS SOLOS
Esses elementos compõem os minerais que, por sua vez, compõem as rochas que
originam os solos. No entanto, quando em contato com a água, esses minerais são
intemperizados e liberam parte desses elementos para o sistema. Ao serem liberadas, estas
bases podem ter três destinos diferentes:
a) Serem lixiviadas: neste caso não influenciam no pH do solo, pois saem do sistema;
b) Serem absorvidas pelas plantas: neste caso também não influenciam no pH do solo, pois
saem do sistema;
c) Serem adsorvidos pelas partículas coloidais: neste caso, passam a compor o complexo de
troca e influenciam no pH do solo conforme explicado no tópico anterior.
CALAGEM
Reação química:
H2 + CaCO3 = Ca + CO2 + H2O
Ou
O solo se comporta como um ácido fraco: libera poucos átomos de H+ para o sistema de
forma constante. Tal característica, gera dois tipos de acidez nos solos:
MEDIÇÃO pH DO SOLO
Observação: a acidez ativa é muito menor que a acidez potencial, por isso é considerada
insignificante em relação a acidez potencial. Logo, quando se mede o pH do solo, não é
necessário subtrair a acidez ativa da acidez potencial.
Medição da acidez potencial (Al+H): substituem-se os átomos de Al+H por outro elemento
que seja adsorvido pelas partículas coloidais do solo (ex.: K) e posteriormente mede-se o Al+H em
solução através de um aparelho pHmêtro.
Método colorimétrico: utiliza papel tornassol para inferir se o sistema é ácido ou básico,
mas não informa o valor do pH, por isso não é muito utilizado para fins agrícolas.
Aparelho pHmetro: mede a acidez através da condução elétrica do átomo de hidrogênio
(H+). Quanto menor for a corrente, maior é a quantidade de H+. Trata-se de um método de
leitura direta, simples de ser realizado e, portanto, bastante utilizado.
Material: amostras de solos secos e peneirados em peneira de 2mm; cachimbo para medir as amostras;
recipientes de acrílico; bastão de vidro; proveta graduada; conta gotas; aparelho pHmêtro; água destilada;
solução de KCl.
Leitura pH em água:
1. Calibrar o aparelho pHmetro com amostras de pH conhecidos;
2. Medir 10 cm3 da amostra de solo (Terra Fina Seca ao Ar – TFSA);
3. Acrescentar 25 ml de água destilada;
4. Agitar a mistura;
5. Aguardar 60 minutos para que a acidez do solo (íons H+) seja liberada para a água;
6. Agitar novamente antes de realizar a leitura a fim de evitar o efeito de suspensão 6;
7. Ambientar o aparelho pHmetro com a amostra sob análise;
8. Realizar a leitura das amostras de solo no pHmêtro;
9. Realizar no mínimo 3 repetições por amostra.
5 EMBRAPA. Manual de métodos de análise de solo. Centro Nacional de Pesquisa de Solos, Rio de
Janeiro/RJ. 2ª edição revisada e atualizada. Rio de Janeiro, 1997. 212 p.
6 Após aguardar o tempo de reação da mistura, cada ponto da mistura terá uma concentração diferente de
água e solo. Por isso, a posição de onde é instalado o eletrodo (além do tempo), interfere nos resultados.
Para evitar tal efeito, recomenda-se que anter da leitura do pH repita a agitação da mistura. Além do efeito
de suspensão, há outros elementos que interferem na leitura do pH do solo, dos quais citam-se: o efeito de
diluição, efeito de sais solúveis, efeito da pressão de CO 2, efeitos estacionais, efeito local ou de coleta.
44
Leitura pH em KCl:
1. Calibrar o aparelho pHmetro com amostras de pH conhecidos;
2. Medir 10 cm3 de amostra de solo (Terra Fina Seca ao Ar – TFSA);
3. Acrescentar 25 ml de solução de KCl;
4. Agitar a mistura;
5. Aguardar 60 minutos para que a acidez do solo (íons H+) seja liberada para a solução;
6. Agitar novamente antes de realizar a leitura a fim de evitar o efeito de suspensão;
7. Ambientar o aparelho pHmetro com a amostra sob análise;
8. Realizar a leitura das amostras de solo no pHmetro;
9. A medição em KCl tem menor variabilidade nos resultados, por isso exige menos repetições que a
leitura do pH em água.
Em solos eletronegativos, a leitura do pH em KCl gera valores mais baixos que a leitura do
pH em água. Isso porque ao contrário da água, o KCl libera o K para a solução e esse passa a ser
adsorvido pelas partículas coloidais em substituição aos átomos de H+ que, por sua vez, passam a
ser liberados na solução do solo.
Figura 17: Medição da amostra de solo. Figura 18: Acréscimo de volume conhecido de água
Fotografia: Joyce Bonna, 2011. para leitura do pH em água, ou KCl para leitura do
pH em KCl. Fotografia: Joyce Bonna, 2011.
45
∆pH
Diferença entre o pH medido em KCl e o pH medido em água. Indica se o solo tem mais
cargas positivas ou negativas. Logo, nos permite inferir o grau de evolução do solo, pois quanto
mais evoluído o solo, mais cargas positivas ele tem.
Em síntese, quando:
∆pH negativo: indica que o solo também é negativo.
∆pH positivo: indica que o solo também é positivo.
1. Efeito de diluição
Comprovação quantitativa:
46
2. Efeito de suspensão
Após aguardar o tempo de reação da mistura, cada ponto da mistura terá uma
concentração diferente de água e solo. Logo, a posição onde é instalado o eletrodo interfere nos
resultados, assim como o tempo. Por isso recomenda-se que agite novamente a mistura antes de
realizar a leitura com o aparelho pHmetro.
Nas análises laboratoriais utiliza-se terra fina seca ao ar e peneirado (TFSA), logo, a
pressão sobre a amostra é muito semelhante à pressão do ar atmosférico. Já nas análises de
campo, a concentração de CO2 no solo é maior, pois o ar tem mais obstáculos para circular dentro
do solo. Consequentemente, a pressão é maior no solo em campo do que em laboratório. Além
disso, o solo em campo não se encontra completamente seco e a conjugação da pressão com a
umidade do solo em campo leva a seguinte reação:
47
5. Efeitos estacionais
48
CAPÍTULO 6: MORFOLOGIA DOS SOLOS
Consiste na medição dos horizontes a partir do uso de uma fita métrica ou trena. Começa
com o zero na superfície do solo e sempre que se inicia um novo horizonte indica o valor final do
último horizonte medido. Ex.: horizonte A (0 – 40 cm), horizonte B (40 – 160 cm), horizonte C (160
- 200+ cm – o símbolo + representa que aquele horizonte pode ir além ou não de 200 cm, mas
aquela foi a maior profundidade perfurada no perfil de solo e, portanto, não se tem certeza do que
há por baixo).
a) Matéria Orgânica (MO): quanto maior a concentração de MO no solo, mais escuro este se
apresentará.
b) Ferro: o poder pigmentante da hematita é muito maior que o da goethita, logo, conclui-se
que em solos vermelhos há hematita e goethita, pois a hematita encobre a cor da goethita,
já em solos amarelos afirma-se que há apenas goethita, pois se houvesse hematita seria
vermelho.
Padrão de cores
O padrão de cores utilizado para os solos é a Caderneta de Munsell. Nessa, cada cor é
dividida em três elementos:
49
b) Valor: equivalente às linhas da caderneta. Representa a intensidade da cor, se essa é
mais clara ou escura – é a MO que influencia nessa característica do solo.
Nomenclatura da cor: matiz valor/croma – nome da cor. Ex.: 5 YR 5/3 – Bruno avermelhado.
A textura é uma das características mais estáveis e essenciais para a classificação dos
solos, pois nos fornece informações sobre o processo de formação do solo, bem como
sobre o comportamento do mesmo, ex.: solos arenosos normalmente retém pouca
umidade; solos siltosos são mais erodíveis.
A análise textural em campo consiste na indicação do que é predominante em cada
horizonte, ex.: textura arenosa, textura média, textura silto-argilosa, etc.
Já a análise textural em laboratório deve ser indicada em dag/kg ou em porcentagem e
nomeada conforme o triângulo textural.
5. Determinação da estrutura
51
Grãos soltos: sem
agregados; geralmente
ocorre em solos
arenosos.
Não
Maciça: o material forma
uma massa de material
contínuo, sem torrões.
Tem estrutura?
Forma
Avalia-se os
Sim Tamanho
agregados quanto:
Grau
Forma:
Forma: Descrição:
Agregados arredondados. Dá ao solo uma permeabilidade muito grande, pois gera muitos
espaços vazios entre os agregados. É encontrado principalmente no horizonte A devido à
mistura do solo feita pelos microorganismos. O horizonte B dos Latossolos também
Granular normalmente possui estrutura granular, devido à mineralogia geralmente rica em argilas
(óxidos) e o elevado grau de evolução desses solos (a partícula arredondada é a forma mais
estável). No caso de solos argilosos, o que comanda a permeabilidade do solo não é a
textura, mas a estrutura.
Agregados que podem ser angulares (ângulos de aproximadamente 90º) ou subangulares
(bordas do agregado ligeiramente arredondadas). Este tipo de estrutura é muito comum em
Blocos
horizontes B textural (Bt). Tal estrutura dificulta a infiltração da água no solo, pois deixa menos
espaços vazios.
Agregados que assumem a forma de prismas. O tipo de argila que irá comandar a estrutura
do solo neste caso. Ex.: trata-se de uma estrutura muito comum em solos ricos em argila 2:1,
Prismática onde o movimento de contração e expansão leva a formar ângulos. Essa estrutura pode sofrer
uma variação chamada Colunar, comum em solos salinos – onde a água cai desenvolve
planos de fraqueza gerando formas mais arredondadas.
Estrutura na forma de lâminas. Só ocorre naturalmente em locais submetidos a congelamento,
em que o próprio gelo leva a este formato. Antropicamente ocorre em locais onde há a
Laminar
compactação do solo devido o peso excessivo das máquinas. Em solos com este tipo de
estrutura a permeabilidade é extremamente baixa, mesmo que haja elevada porosidade.
52
Granular Blocos
Prismática Laminar
Tamanho:
Muito pequena
Pequena
Média
Grande
Muito grande
Grau de desenvolvimento:
Fraca
Moderada
Forte
53
6. Determinação da consistência
o Coesão: força que une as partículas de solo ou materiais de mesma natureza, ex.:
argila-argila, MO-MO, água-água.
o Adesão: força que une as partículas de solo a outros materiais, isto é, materiais de
natureza diferente, ex.: argila-MO, argila-água, MO-água.
54
Semi-
Sólido U1 sólido U2 Plástico U3 Líquido
LC LP LL
Friabilidade Plasticidade Viscosidade
A consistência influencia:
7. Raízes
Quantidade:
Ausentes
Raras
Poucas
Comuns
Muitas
Diâmetro:
Muito finas
Finas
Médias
Grossas
Muito grossas
8. Transição
55
Considerações a respeito da realização de Levantamentos Pedológicos:
56
CAPÍTULO 7: CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS
Horizontes X camadas
Horizontes: seções que formam o perfil de solo e que resultam dos processos
pedogenéticos; formados pela alteração da rocha in situ.
Camadas: seções que formam o perfil de solo, mas cujas características não são
influenciadas pelos fatores de formação; associadas a processos erosivos e de deposição
de material.
Horizontes Hísticos
Solos com esses horizontes podem ser enquadrados nos Organossolos ou Gleissolos.
57
Outros horizontes/camadas
Tipos de horizontes/camadas
Sempre é horizonte, tem constituição mineral e suas características (ex.: cor, estrutura e
A
consistência) são influenciadas pela presença de matéria orgânica decomposta.
Sempre é horizonte, tem constituição mineral; suas características marcam a perda de
E material pela qual esse horizonte passou (seja de argila ou de matéria orgânica); está sempre
relacionado ao processo de podzolização.
Sempre é horizonte, tem constituição mineral. Constituem o principal horizonte diagnóstico,
B pois suas características estão muito relacionadas aos fatores de formação, ex.: nos
Argissolos o horizonte B (Bt) parece uma parede de chapisco em razão do acúmulo de argila.
Será horizonte quando resultante do intemperismo da rocha, neste caso é chamado de
saprolito; e será camada quando originado do processo de sedimentação (deposição), onde
sua sequência será assim nomeada: A – C1 – C2 – C3 (...), ex.:
É a rocha matriz não intemperizada; classificada como camada, pois não passou ainda pelo
R
processo de pedogênese.
58
TIPOS DE HORIZONTES A
Tipo de
Características que o horizonte A deve ter:
horizonte A:
A moderado - Todo horizonte A que não se encaixa em nenhum dos outros tipos de horizonte A.
- Observações complementares: 60% dos horizontes A no Brasil são A moderado.
59
TIPOS DE HORIZONTES B
Tipo de
Características que o horizonte B deve ter:
horizonte B:
1º caso: quando o horizonte A (ou E, na presença de E) tiver ≤ 20% de argila (ou 200 g/Kg):
2º caso: quando o horizonte A (ou E, na presença de E) tiver > 20% de argila (>200 g/Kg):
- Observações complementares: trata-se de um tipo especial de Bt, pois também passa pelo
processo de podzolização de argila, mas no caso do B plânico há tanta argila no horizonte que esse
acaba desenvolvendo problemas de drenagem (permeabilidade lenta ou muito lenta). Geram os
Planossolos.
60
- Estrutura em blocos ou prismática com grau de desenvolvimento moderado ou forte;
- Ter cerosidade7 moderada ou forte;
- Atividade de argila ou CTC argila8 < 17 cmolc/kg
- Observações complementares: geralmente ocorre em solos cujo material de origem gera solos
muito argilosos, por isso o Gradiente Textural (GT) é baixo. A presença de cerosidade é o principal
indicador desses solos de que está havendo movimentação de argila. São formados a partir de
rochas pobres em sílica e muitas vezes ricas em basalto. Geram Nitossolos ou Luvissolos.
- % plintita ≥ 15% do material que compõe o horizonte B do solo – essa porcentagem é inferida
visualmente;
- Espessura ≥ 15 cm;
B plíntico
- Cor usualmente variegada (mais de uma cor):
(Bf)
Parte clara: Matiz 2,5Y a 5Y ou Matiz 10YR a 7,5YR e croma ≤ 4;
Parte escura: Matiz 10R a 7,5YR e croma > 4 ou 10YR e croma > 6 ou 2,5 Y ou 5Y.
- Observações complementares: horizonte cujas características indicam que há concentração de
Fe. Geram Plintossolos.
- Espessura ≥ 50 cm;
- Estrutura muito pequena ou pequena granular ou em blocos subangulares de grau fraco ou
moderado;
- Textura franco-arenosa ou mais fina;
- Relação silte/argila < 0,6;
% silte horizonte B < 0.6
% argila horizonte B
7
Cerosidade: quando a argila forma uma espécie de crosta sobre os agregados gera um certo brilho aos
agregados, além de deixá-los com a superfície mais lisa.
8 O cálculo da CTC
argila é como se imaginássemos como seria a CTC solo se o solo fosse constituído apenas
por argila.
61
solo, maior é a perda de Si e maior é a concentração relativa de Al, logo, quanto mais evoluído o
solo, menor o Ki. Geram os Latossolos.
- Todo horizonte B que não se encaixa em nenhum dos outros tipos de horizontes B.
B incipiente
- Observações complementares: solos em que o processo de formação não foi suficientemente
(Bi)
forte e/ou não durou tempo suficiente para gerar características específicas no horizonte B do solo.
Geram os Cambissolos.
CLASSES DE SOLOS
1. NEOSSOLOS
a) Neossolo Litólico9
b) Neossolo Regolítico10
c) Neossolo Quartzarênico11
2. ORGANOSSOLOS13
a) Com horizonte H
Na presença de horizonte H, esse tem que ser > 40 cm;
Geralmente encontramos H sobre Cg (horizonte C gleizado - apresenta cores
claras/acinzentadas e mosqueados);
Geralmente ocupam áreas pontuais, mas são encontrados por todo Brasil, sendo muito
comuns em várzeas, planícies de inundação, etc.;
Todas as áreas destes solos são Áreas de Preservação Permanente (APP), apesar disso,
são muito utilizados para horticultura e o cultivo de arroz, pois tem água o ano todo.
b) Com horizonte O
O horizonte O deve ser ≥ 20cm quando sobrejacente a R e ≥ 40 cm quando sobrejacente a
A, B ou C;
Solos mais comuns em climas temperados;
São mais raros no Brasil, mas quando ocorrem, geralmente estão associados às áreas de
clima mais frio e com altas altitudes, onde há uma produção de vegetação no período mais
quente, mas há também uma queda acentuada das folhas. Quando a temperatura diminui,
3. GLEISSOLOS14
Mosqueado
4. VERTISSOLOS
Material de solo nos 20 cm superficiais devem apresentar teor de argila ≥ 30% (ou 300
g/kg);
Fendas verticais no período seco ≥ 1 cm de largura (trata-se de solos ricos no mineral 2:1
expansivo, por isso, desenvolvem rachaduras no período de seca e estão submetidos ao
processo de inversão – material superficial cai nas rachaduras e material mais profundo
passa a aflorar na superfície);
14 Denominação antiga: Solos Glei (com horizonte H) e Glei Pouco Húmico (com horizonte A).
65
Sequência de horizontes/camadas: A-Cv (C com características vérticas)-R; não possuem
B e quando possuem, esses são muito pequenos (Bi), pois o processo de inversão dificulta
a sua evolução nesses solos;
Popularmente chamados de Massapê e muito comuns no agreste do sertão nordestino;
São geralmente muito férteis, já que foram pouco lixiviados. Apesar disso, como são muito
rasos e ocorrem em locais mais secos, apenas plantas adaptadas sobrevivem nesses
solos;
Limitações para uso agrícola: quando secos são muito duros (forte coesão), então as
máquinas acabam tendo que fazer muito esforço. Já quando molhados, ficam muito
plásticos e pegajosos, devido o tipo de argila predominante (2:1) e o material gruda nas
máquinas e ferramentas dificultando o trabalho. Considerava-se que estes solos não
possuíam aptidão agrícola, mas nos últimos anos passaram a ser utilizados com a
irrigação por gotejamento, o que tem gerado produções elevadas, o problema é que estão
localizados exatamente em locais de baixa disponibilidade hídrica.
5. CHERNOSSOLOS15
15
Denominação antiga: Rendizina (A-C), Brunizen (A-Bi-C) e Brunizen Avermelhado (A-Bt-C).
66
6. ESPODOSSOLOS16
16
Denominação antiga: Podzol.
67
7. ARGISSOLOS17
8. NITOSSOLOS18
Tais solos se encontram em locais onde quase não há precipitação, mas quando ocorre,
essa é capaz de carregar os materiais mais finos, deixando o material mais grosseiro, por
isso possuem elevada pedregosidade superficial (ex.: sertão nordestino) e são muito
férteis, pois praticamente não foram lixiviados;
É comum a presença de A fraco (pobres em MO) nesses solos, pois estão associados a
locais onde a vegetação não é muito desenvolvida;
Podem ser utilizados com irrigação, mas essa deve ser muito bem realizada, pois, do
contrário, esses solos podem sofrer salinização, já que se encontram em locais quentes e
são muito férteis.
10. PLANOSSOLOS20
20
Denominação antiga: Solonetz-solodizado.
71
11. PLINTOSSOLOS
72
Solo com petroplintita
12. LATOSSOLOS
a) LATOSSOLO VERMELHO
Cor: Matiz igual a 2,5 YR ou mais vermelho na maior parte dos primeiros 100 cm do
horizonte B (inclusive BA);
A diferenciação dos Latossolos Vermelhos está muito associada ao teor de Fe.
74
Latossolo Vermelho Eutroférrico
b) LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO
Cor: Matiz mais amarela que 2,5YR e mais vermelho que 7,5YR;
Não tem material de origem pré-estabelecido;
Tem potencial agrícola;
Ex. de ocorrência: mares de morro em MG (antigas planícies).
c) LATOSSOLO AMARELO
Cor: Matiz igual a 7,5 YR ou mais amarelo na maior parte dos primeiros 100 cm do
horizonte B (inclusive BA);
Não tem material de origem pré-estabelecido;
Tem potencial agrícola se adubado;
Ex. de ocorrência: parte mais úmida do cerrado, Amazônia, tabuleiros costeiros;
São os Latossolos mais comuns do Brasil.
75
d) LATOSSOLO BRUNO
76
13. CAMBISSOLOS
77
CAPÍTULO 8: PROCESSOS EROSIVOS
A superfície terrestre não é estática e desde tempos mais remotos que rios, ventos,
geleiras e enxurradas deslocam, transportam e depositam continuamente as partículas do solo.
Por intermédio desse processo é que foram esculpidos vales e depositados os deltas dos rios. Em
condições naturais, o ciclo do desgaste erosivo é equilibrado pela renovação/formação dos solos
(ABGE, 1998 & LEPSCH, 2002).
b) Erosão antrópica
Quando o homem cultiva a terra para o seu sustento, o equilíbrio pode ser rompido, uma
vez que na maior parte dos sistemas de cultivo, é preciso retirar a cobertura vegetal natural e
revolver a camada mais superficial dos solos. Quando essas operações são efetuadas sem o
devido cuidado, apressam a remoção dos horizontes superficiais numa intensidade superior à da
formação do solo, não permitindo a recuperação natural da paisagem.
Além dos agricultores – madeireiros, lenhadores, carvoeiros e mineradores – também
contribuem para a destruição de florestas, facilitando os processos erosivos (LEPSCH, 2002 &
DAEE, 1989).
Os processos erosivos também podem ser divididos quanto ao agente transportador:
a) Erosão eólica
b) Erosão glacial
Ocorre quando as águas das chuvas que penetram entre as rochas congelam quando em
condições de temperaturas muito baixas – isso porque a água no seu estado sólido ocupa mais
espaço que quando líquida, sendo assim, essas águas congeladas passam a exercer maior
78
pressão sobre as rochas que acabam fraturando. Outra forma de erosão glacial ocorre quando os
blocos de gelo se desprendem de geleiras, deslizam pelas encostas e acabam desgastando as
rochas, mas vale destacar que esse tipo de erosão não ocorre no Brasil, já que não há geleiras no
país.
c) Erosão hídrica
Erosão em splash
Além da erosão em splash, três tipos principais de erosão hídrica são reconhecidos:
a) Erosão laminar
22
Promove a ruptura dos agregados do solo e os transforma em materiais mais finos que, além de serem facilmente
transportados, preenchem os poros da camada superficial do solo, dificultando a infiltração da água, favorecendo o
escoamento superficial e, consequentemente, à erosão (GUERRA & CUNHA, 2005).
23
Devido seu pequeno porte, a argila, o silte e a matéria orgânica são as partículas mais facilmente carregadas pela água
(LEPSCH, 2002).
79
água pluvial sobre o solo é capaz de remover uma camada fina e contínua do solo. É um tipo de
desgaste que pode ocorrer mesmo em terrenos com inclinações pequenas, porém, devido à
dificuldade de ser detectado, quando o é, parte do horizonte A geralmente já foi carreado
(LEPSCH, 2002).
Esse tipo de erosão resulta de irregularidades na superfície do solo que geram canais
preferenciais de escoamento da água e que formam pequenas incisões na superfície do terreno
sob a forma de sulcos que podem evoluir por aprofundamento para ravinas. É um tipo de erosão
facilmente detectada (ABGE, 1998).
c) Voçorocas
É o estágio mais avançado e complexo de erosão e, portanto, mais difícil de ser contido.
Pode envolver uma série de processos como: à passagem gradual da erosão laminar para
erosões em sulco e ravinas, as quais têm suas dimensões aumentadas; a ação das águas
subterrâneas também é uma das causas do desenvolvimento lateral e a remontante das
80
voçorocas; pipings24, etc. (ABGE, 1998). As voçorocas ainda podem evoluir a partir de
movimentos de massa, tais como antigos deslizamentos de terra através do escoamento
subsuperficial concentrado na cicatriz do deslizamento (BRAGA, 2007).
Tais processos são condicionados pelo fato de esta forma erosiva geralmente atingir em
profundidade o lençol freático, induzindo o aparecimento de surgências d’água (DAEE, 1989), o
que pode inclusive facilitar a contaminação dos recursos hídricos. Entre as causas deste tipo de
erosão, cita-se que:
A evolução dos sulcos para voçorocas é normalmente causada por aradura,
semeadura e cultivo alinhados no sentido morro abaixo, que facilita o arraste do
solo. Também a pecuária, com animais trilhando em direção da maior inclinação
da encosta, e estradas mal planejadas podem concorrer para a formação de
voçorocas. (LEPSCH, 2002, p.157).
24
Processo erosivo subsuperficial, descrito pela formação de túneis/dutos ou vazios no interior do solo que podem levar
ao colapso da superfície situada acima (GUERRA & CUNHA, 2005). São normalmente provocados pela dissolução,
dispersão e arraste de partículas de solo, relacionadas às condições hidráulicas e geoquímica dos solos (SANTOS,
2001).
81
8.3. Condicionantes ambientais à erosão
A maior ou menor suscetibilidade de uma área à erosão depende de uma série de fatores
condicionantes, dentre os quais se destacam:
a) Clima
b) Cobertura vegetal
A cobertura vegetal tem como uma de suas principais funções proteger o solo dos efeitos
da chuva. Ao encontrarem uma barreira, as gotas de chuva perdem velocidade gotejando mais
lentamente no solo, bem como têm mais tempo para infiltrar, diminuindo o escoamento superficial
da água.
Também é importante que a cobertura vegetal englobe estratos vegetais de diversos
tamanhos, podendo diluir a energia da chuva em diferentes alturas. Ao reter em suas estruturas
parte da água das chuvas, a vegetação também contribui para que parte da água evapore antes
mesmo de chegar à superfície, dissipando parte da energia e intensidade das chuvas, e
amenizando, por exemplo, os efeitos erosivos da erosão em splash (BERTONI & LOMBARDI
NETO, 1999).
Além disso, a cobertura vegetal permite o aumento de matéria orgânica e húmus
resultando em solos mais porosos (BUENO, 2009). As raízes das plantas podem gerar canais nos
solos e também torná-los mais porosos. A maior porosidade facilita a infiltração da água nos
solos, logo, reduz o escoamento superficial e, consequentemente, os processos erosivos
associados a esse, como a erosão laminar.
A vegetação também ameniza os efeitos da erosão sub-superficial acelerada através da
redução do fluxo interno, da estruturação do solo e da redução da velocidade do fluxo pelas raízes
(MAGALHÃES JR. et al., 2006).
82
c) Características topográficas
d) Manejo do solo
e) Natureza do solo
83
A permeabilidade é a propriedade do material (solo ou rocha) de se deixar atravessar pela
água, logo, está ligada a porosidade do material e depende tanto do tamanho dos poros, quanto
da conexão entre eles. Materiais argilosos, por exemplo, apesar de possuírem alta porosidade,
geralmente são mais impermeáveis, pois seus poros são muito pequenos, o que dificulta a
passagem da água que acaba por ficar aprisionada nesses poros. Enquanto que em materiais
rochosos e sem porosidade, a permeabilidade pode ser elevada devido à abundância de fraturas
abertas e interconectadas. (KARMANN apud TEIXEIRA, 2003).
A porosidade pode ser aumentada por inúmeros fatores como a atividade de organismos
presentes no solo, pelas raízes das plantas, e também pode ser reduzida pelo uso de máquinas,
pela compactação humana e de animais (SELBY, 1985, p.607).
A estrutura é um fator extremamente importante quanto à permeabilidade do solo, pois ao
se destruir a estrutura do solo, os poros mais afetados são os poros maiores que 0,06 mm e que
permitem a movimentação da água no solo, consequentemente, determinam a taxa de infiltração
(KER et al., 1997). Logo, solos bem estruturados são mais porosos.
A estruturação do solo é condicionada pela presença de elementos agregantes como:
argilas, matéria orgânica, óxidos de Fe e Al (MAGALHÃES JR. et al., 2006). A presença desses
elementos e a proporção com que ocorrem nos solos influenciam diretamente na formação dos
agregados e nas suas características, tais como forma, tamanho, estabilidade e grau de
desenvolvimento, bem como na permeabilidade do material.
O conteúdo de matéria orgânica, por exemplo, é de grande importância no controle da
erosão. Segundo Bertoni & Lombardi Neto (1999), a matéria orgânica:
25
Exemplo: quando o homem retira ou modifica a cobertura vegetal do solo, altera a disponibilidade de matéria
orgânica – na maior parte das vezes, há uma diminuição no teor de matéria orgânica nos solos cultivados.
84
Quanto mais arenoso o solo, mais soltas são as partículas, logo, essas são removidas
mais facilmente pelo escoamento superficial e menor é a retenção de umidade, sendo assim, nem
todo tipo de vegetação consegue se adaptar e se fixar em solos arenosos, o que pode torná-lo
ainda mais suscetível à erosão.
Solos ricos em silte também são facilmente erodidos, porque o silte é uma partícula muito
fina, instável e que dificulta a estruturação do solo. Solos desse tipo possuem baixa
permeabilidade já que suas partículas são muito pequenas e tendem a ficar encaixadas,
dificultando a passagem da água e facilitando os processos erosivos.
Nos solos argilosos, apesar da infiltração tender a ser menor devido a sua menor
permeabilidade, a argila tem maior capacidade de formar agregados, logo, são solos mais
estáveis e com maior resistência à erosão (BERTONI & LOMBARDI NETO, 1999).
Quanto à profundidade,
[...] solos rasos são mais erodíveis que os profundos, porque neles a água da
chuva acumula-se acima da rocha ou camada adensada, que é impermeável,
encharcando mais rapidamente o solo, o que facilita o escoamento superficial e,
consequentemente, o arraste do horizonte superficial (LEPSCH, 2002, p.158).
85
ANEXO I – SÍNTESE FÓRMULAS E EXEMPLOS
É sabido que 58% da MO é composta de CO, logo, aplica-se a seguinte regra de três para se inferir o teor de
MO num solo:
MO = CO
100% 58%
MO = CO MO = 2g MO = 200
→ → 58 MO = 2 x 100 → → MO = 3,45 g
100% 58% 100% 58% 58
CTC DO SOLO
Soma dos cátions; equivale a quantidade de cargas negativas que o solo tem para adsorver cátions.
Soma apenas dos elementos da CTC do solo que servem de nutrientes para as plantas, isto é, CTC do solo menos
a acidez trocável (Al + H).
Ou
86
VALOR V %
Equivale a SB convertida em percentual (%). Para tanto, aplica-se uma simples regra de três onde a CTC do
solo equivale a 100%.
CTC do solo = SB
→ (CTC do solo) (V%) = (SB x 100%) → V% = (SB x 100)
100% V%
CTC do solo
Quando o Valor V% é ≥ 50%, o solo é considerado fértil / eutrófico e quando o Valor V% é < 50%, o solo é
considerado infértil / distrófico.
TEOR DE Al (%)
Quando o Teor de Al é ≥ 50%, o solo é considerado alumínico e quando o Teor de Al é < 50%, o solo é
considerado não alumínico. Apenas solos distróficos podem ser alumínicos, logo, não se calcula o teor de Al% para
solos eutróficos.
∆pH
Quando o ∆pH é negativo, indica que o solo também é negativo e quando o ∆pH é positivo, indica que o solo
também é positivo.
Ex.:
Solo 1 Solo 2
pH KCl = 4 pH KCl = 6
pH H2O = 5 pH H2O = 5
∆pH = 4 – 5 = -1 ∆pH = 6 – 5 = 1
O solo 2 é mais antigo/intemperizado que o solo 1, uma vez que quanto mais antigo o solo, mais cargas positivas
possui.
87
CLASSIFICAÇÃO HORIZONTES A
A húmico
Teor de matéria orgânica
(CO em g/kg do horizonte A) x (Espessura horizonte A em dm) ≥ 60 + (0.1 x argila do horizonte A em g/kg)
Ex.:
- Espessura horizonte A: 120 cm = 12 dm
- % CO = 9% = 90 g/kg
- % argila horizonte A = 40% = 400 g/kg
Então:
(CO em g/kg do horizonte A) x (Espessura horizonte A em dm) ≥ 60 + (0.1 x argila do horizonte A em g/kg)
(90 g/kg) x (12 dm) ≥ 60 + (0.1 x 400 g/kg)
1080 ≥ 100
Pode ser enquadrado como A húmico se além do teor de MO tiver as outras características necessárias para enquadrar
nesse horizonte.
CLASSIFICAÇÃO HORIZONTES B
B plânico
Então:
GT = % argila horizonte B = 45 = 1,125 ≥ 1,5
% argila horizonte A 40
Então:
GT = % argila horizonte B = 85 = 8,5 ≥ 1,5
% argila horizonte E 10
Pode ser enquadrado no B plânico se além de GT tiver as outras características exigidas para esse horizonte.
1º caso: quando o horizonte A (ou E, na presença de E) tiver ≤ 20% de argila (ou 200 g/Kg).
88
Ex.:
- % argila horizonte B = 45%
- % argila horizonte A = 15% (não há presença de E)
Então:
(% argila horizonte B) ≥ 2x (% argila horizonte A)
45% ≥ 2x (15%)
45% ≥ 30%
Pode ser enquadrado no B plânico se além de mudança textural abrupta tiver as outras características exigidas para
esse horizonte.
2º caso: quando o horizonte A (ou E, na presença de E) tiver > 20% de argila (ou 200 g/Kg).
Ex.:
- % argila horizonte B = 65%
- % argila horizonte E = 35% (há presença de E)
Então:
(% argila horizonte B) ≥ (% argila horizonte E) + 20
65% ≥ 35% + 20
65% ≥ 55%
Pode ser enquadrado no B plânico se além de mudança textural abrupta tiver as outras características exigidas para
esse horizonte.
B textural (Bt)
B nítico
Não ter Gradiente Textural (GT) ≥ 1,5 – Ver exemplo B plânico, se não enquadrar nessa característica, pode
ser um B nítico se tiver todas as outras características exigidas para esse horizonte.
Atividade da argila ou CTC argila < 17 cmolc/kg
Ex.:
- CTC solo horizonte B = 1,70
- % argila horizonte B = 36%
Então:
CTC argila = (CTC solo x 100%) = (1,70 x 100%) = 170 = 4,72 <17
(% argila) 36 36
Pode ser enquadrado no B nítico se além da atividade da argila tiver todas as outras características exigidas para esse
horizonte.
89
B latossólico (Bw)
Ex.:
- % silte horizonte B = 65%
- % argila horizonte B = 35%
Então:
% silte horizonte B = 65 % = 1,85 < 0.6
% argila horizonte B 35%
Não pode ser enquadrado no B latossólico, pois a relação silte argila não é < 0,6.
Então:
Ki = __(% SiO2)__ = __150 __ = 255 = 1,15 ≤ 2,2
(% Al2O3 x 1,7) 130 x 1,7 221
Pode ser enquadrado no B latossólico se além de Ki tiver todas as outras características exigidas para esse horizonte.
Argissolos
Quando a CTC argila é < 27, indica que a argila é de baixa atividade (Tb) e para ser um Argissolo a atividade da
argila deve ser baixa (Tb).
Ex.:
- CTC solo horizonte B = 2
- % argila horizonte B = 60%
Então:
CTC argila = (CTC solo x 100%) = (2 x 100%) = 200 = 3,33 < 27
(% argila) 60 60
Pode ser enquadrado no Argissolo se além da atividade da argila tiver todas as outras características exigidas para
esse solo.
Nitossolos
90
Luvissolos
Ex.:
- CTC solo horizonte B = 9
- % argila horizonte B = 30%
Então:
CTC argila = (CTC solo x 100%) = (9 x 100%) = 900 = 30 ≥ 27
(% argila) 30 30
Pode ser enquadrado no Luvissolo se além da atividade da argila tiver todas as outras características exigidas para
esse solo.
91
92
REFERÉNCIAS
BONNA, J.L. Mapeamento pedológico e de suscetibilidade erosiva no Alto Córrego Prata (Ouro
Preto/MG). Dissertação de Mestrado. Instituto de Geociências (IGC). Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Belo Horizonte – MG, 2011. 119p.
LEPSCH, I. F. Formação e conservação de solos. Oficina de Textos. São Paulo – SP, 2002. 178p.
OLIVEIRA, C.V. de. Pedologia. Educação à distância. Editora UFMG. Belo Horizonte – MG, 2010.
RESENDE, M.; CURI, N.; REZENDE, S. B. de; CORRÊA, G.F. Pedologia – Base para distinção de
ambientes. 5ª edição revisada. Lavras: Editora UFLA, 2007. 322p.
SANTOS, R.D. dos; LEMOS, R.C. de; SANTOS, H.G. dos; KER, J.C.; ANJOS, L.H.C. dos. Manual de
descrição e coleta de solo no campo. Embrapa. SBCS. Editora Folha de Viçosa Ltda. 5ª edição.
Sociedade Brasileira de Ciência de Solo, 2005. 92p.
TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M.C.M. de; FAIRCHILD, T.R; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. São Paulo:
Oficina de Textos, 2003. 558p.
93