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11 Brandão M Z S Et Al 2003 Sobre Comportamento e Cognição Vol
11 Brandão M Z S Et Al 2003 Sobre Comportamento e Cognição Vol
e. Cognição
C7 ! / i s í ó r i a e os c /o a n ç o s, a s e le ç ã o p o r c o n s e y iie n c /c ts e m a ç ã o
(Jty a n iz a d a p o r J K a ria í i í a / t d a rS/loa J ira n d d o
r7 i/rnan(/a S t ío a T lra n d ã o
U e r a Jlte n e ie s d a t^iíoa
ESETec
Editores Associados
Sobre
Comportamento e
Cognição
Associação Brasileira de Psicoterapia e
Medicina Comportamental
Volume 11
Adélia Maria Santos Teixeira • Ana Lúcia Alcântara de Oliveira Ullan • Ana Lucia Cortegoso • Ana Lucla
Ivatiuk • Ana Paola Lopes Lubl * Ana Paula Vlezzer • Andróa Machado Vienna • Bernard Rangé • Carlos
Augusto de Medeiros • Carlos Eduardo Lopes • Claúdla Balvedl • Cynthla Borges de Moura • Edwlges
Ferreira de Mattos Silvares • Fabiane Cristina Cruz • Fernanda S. Brandão • Giovana Veloso Munhoz da
Rocha • Glsele Dellnskl • Ivan Gross • João Cláudio Todorov • João dos Santos Carmo * Jocelaine Martins da
Silveira • José Antônio Damásio Ablb • Julio Cósar Coelho de Rose • Laércla Abreu Vasconcelos • Lalz H. S.
Ferreira • Lfdla Natalia DobríanskyJ Weber • Lincoln da Silva Glmenes • Lucas Ferraz Córdova * Luciana Assi
de Lima • Luciana Rizo • Maly Delltti • Maria Cristina Antunes * Maria Éster Rodrigues • Marla Stella Coutinho
de Alcântara Gll • Marilza Mestre • Martina Rillo Otero • Maura Alves Nunes Gongora • Olga Mltsue Kubo •
Olivia Justen Brandenburg • Patricia Barbeiro de Moraes • Patrícia Cristina Novakl • Paul T. Andronls • Pedro
Bordinl Faleiros • Rachel Nunes da Cunha • Rachel Rodrigues Kerbauy • Regina Christina Wlelenska • Renata
Grossl * Silvio Paulo Botomó • Solange L. Machado • Sonia B. Meyer • Suely Sales Guimarães • Suzane
Schmldlln Lõhr • T. V. Joe Layng • Tatyana Elisan Bonamigo • Thiago P. de A. Sampaio • Wander C. M. P. da
Silva • Yara Kupersteln Ingberman • Yuristella Yano
ESETec
Editor«» Associados
2003
Copyright desta edição:
ESETec Kditores Associados, Santo André, 2003.
Todos os direitos reservados
540 p, 24cm
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4
BIBLIOTECA
Apresentação ......................................................................................................... xi
Diretoria da ABPMC
Gestão 2002/2003
Seção I
Pesquisadores que
fizeram parte de
nossa história e suas
contribuições à
análise do
comportamento
Capítulo 1
O Legado de Fred S. Keller
Caro Fred,
So estivéssemos no século 18, eu poderia tor escrito uma dedicatória
que seria entendida por qualquer pessoa. Como não ó esso o caso, eu posso
apenas falar à deux (a dois). "Para F. S. Keller" significa "Obrigado por muitas
coisas" - no fim dos anos 20, pela única brisa de behaviorismo em Harvard -
nos anos 30, por nunca faltar com o apoio o por reforços muito necessários (o
que o leigo, coitado, podo apenas chamar de fé) - e nos 40, por mostrar como
uma ciência do comportamento pode ser ensinada. "Ciência e Comportamento
Humano" pôde ser escrito somente porque "Princípios de Psicologia" de Keller &
Schoenfeld foi publicado primeiro.
Um brindo aos anos 50 e 60!
Burrhus, fevereiro de 1953
A partir dessa primeira experiência, Keller nunca mais se separou dos brasileiros.
Há vários outros relatos de seu impacto no desenvolvimento da análise do comportamento
no Brasil, além dos já citados (Bori, 1996; Zanon & Bori, 1996; Guilhardi & Madi, 1996;
Pessotti, 1996; Zanon, 1996 a, 1996 b, 1997; Gorayeb, 1996; Kerbauy, 1996). A história,
a partir do convite feito por Carolina Bori para que ajudasse na criação do Departamento
de Psicologia da Universidade de Brasília, já foi contada diversas vezes, mas os relatos
de Keller têm um sabor especial. Sua autobiografia, infelizmente, ainda não foi publicada.
Temos disponíveis apenas os artigos publicados, a maioria preparados para conferências,
e centrados no Sistema Personalizado de Ensino (Keller, 1972,1974,1975,1996a, 1996b,
1996c, 1997b, 1997c).
Keller sempre foi um ponto de apoio de brasileiros nos Estados Unidos, come
çando com Maria Amélia, Maria Inês e Dora, que sairam do curso de graduação da USP
para o doutorado na Columbia University. Ao longo dos anos, deu apoio a vários outros que
por lá se aperfeiçoaram, como Antonio Bento Alves de Morais, Deisy das Graças de
Souza, Jorge Mendes de Oliveira Castro Neto, Júlio César de Rose, Olavo Galvão e Ra-
quel Nunes da Cunha.
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Psicologia: Teoria e Pesquisa, 12, 191-192.
Capítulo 2
Contribuições de Jack Michael à Análise do
Comportamento
' A u rm lo v» u Inoitlrnável atunçAo d o D* Jack M k iw e l om nnviar ina tuxto iiâ o puhttcado *o tx o *e u poffll t>(oar*flu) « lrn)otòna « ( « l A n i k *
’ Dof mrtnmento d e P r o c s u o n Pm cotogto1*' Bátricos Irmtltuto d e PttcotoylH
professor de psicologia da Western Michigan
■
University (WMU), em Kalamazoo, Michigan,
USA.
Operações estabelecedoras
Uma das mais importantes contribuições de Jack Michael à Análise do Compor
tamento tem sido a sua preocupação constante com as questões conceituais e empíricas.
Nesse sentido, no início dos anos 80, Michael aborda o tópico de motivação, como opera
ções estabelecedoras, embora, considerado um tema relevante da psicologia, estava sen
do pouco estudado pelos analistas do comportamento.
Michael analisa os motivos que levaram os analistas do comportamento a não
enfatizarem o estudo das variáveis motivacionais como variáveis independentes, por
exemplo: 1) o desenvolvimento dos estudos sobre esquemas de reforçamento, cujo
reconhecimento de seu poder controlador do comportamento é enfatizado em detrimento
das variáveis motivacionais, pois quando descrevemos relações comportamentais a
história de reforçamento é priorizada, geralmente nesses estudos a privação (variável
motivacional - operação estabelecedora) é uma variável de contexto. Verificamos
diferenças imensas na freqüência de resposta geradas por diferentes esquemas de
reforçamento, os esquemas controlam mais poderosamente o comportamento do que o
níveí de privação; 2) o conceito de motivação com freqüência era introduzido como
explanações fictícias por meios dos termos como querer, necessidades e motivos, referindo-
se às causas do comportamento com uma explicação circular, por exemplo, quando falamos
do talento atlético de uma pessoa ou de sua habilidade artística. No que se refere às
necessidades, Michael chama a atenção para não igualar necessidades biológicas com
operações estabelecedoras. É verdade que muitas coisas que necessitamos biologicamente
náo evoca comportamento. Por exemplo, vitamina B - nós moremos devido a sua falta,
mas não mostraremos aumento do interesse em obter a vitamina; 3) o uso freqüente de
reforçadores condicionados (dinheiro, aprovação social), que em geral, estão relacionados
de modo indireto a alguma operação estabelecedora especifica. Os reforçadores
condicionados foram ferramentas importantes no desenvolvimento da área de modificação
do comportamento e há uma larga escalas deles que poderiam ser obtidos sem uma
operação estabelecedora.
O conceito de motivacional foi recuperado por Jack Michael (1982,1993) como
perspectiva conceituai e empírica, fundamentada na sistematização dos princípios da
análise do comportamento. Ao recuperar esta proposta para se estudar motivação,
Michael resgata o conceito de motivação como operações estabelecedoras proposto
por Keller e Schoenfeld (1950/1974), que as definiu como variáveis ambientais
antecedentes que exercem efeitos sobre o comportamento e sobre a eficácia do evento
reforçador. Michael teve o cuidado de enfatizar o tratamento dado por Skinner (1938,
1953) às variáveis motivacionais, como operações de privação, saciação e estimulação
aversiva. Com seu rigor histórico, Michael recuperou Millenson que, em1967, identificou a
variável motivacional como operações de impulsos (saciação e privação). Ele também nos
sugere para que a palavra estimulo seja reservada para descrever eventos ambientais que
afetam os organismos através de seus receptores.
A retomada do conceito de operações estabelecedoras por Michael é uma grande
contribuição à análise do comportamento, por incluir um tipo de variável motivacional apren
dida que não fora explicitamente identificada pelos tratamentos anteriores de Keller e
Schoenfeld, em 1950; Skinner, em 1938, e 1953 e Millenson, em 1967 (da Cunha, 1993,
1995, 2000). Essa variável motivacional aprendida ó caracterizada, por Michael, como
operações estabelecedoras condicionadas. Nesta perspectiva, “a contribuição de Michael
consiste em um novo instrumento conceituai e metodológico caracterizado como opera
ções estabelecedoras, especialmente as do tipo condicionadas [ou aprendidas]" (da Cu
nha, 1995),
Com o conceito de operações estabelecedoras, os analistas do comportamento
têm possibilidades de investigar o controle dessas variáveis motivacionais como varáveis
independentes, proporcionando, de certa forma, o resgate do tópico de motivação pela
análise do comportamento e hoje temos estabelecida uma grande tema de pesquisa.
Dada a relevância do conceito de operação estabelecedora e a relação com o
conceito de estímulo discriminativo, apresento a definição de Michael (1993) que a define
em termos dos seus dois mais importantes efeitos - ó um evento ambiental, operação
ou condição de estímulo que afeta o organismo pela alteração momentânea (a) da
efetividade reforçadora de outros eventos e b) da freqüência de ocorrência de
comportamento do repertório do organismo que ó relevante para aqueles eventos como
conseqüências. O primeiro efeito foi denominado de efeito estabelecedor do reforço e o
segundo, efeito evocativo. Por exemplo, privação de alimento é uma operação estabelecedora
que momentaneamente aumenta a) a efetividade do alimento com uma forma de
l ulHx:k.R C A MoPhoraon, A. (1986, May) ttM tkah^xbrnukwKhptQmorm prcxxKiunm,pttnmmton, m x ipointof vim/. Papor pruMmttmri NtthomooUnu
of Hm f wwfllti Conv«mt1nn nf lhe Association ftx BotmvKx Annlyiin, MttwmiMxi, Whi
to do depósito da moeda pode ser seguido pola lata de refrigerante. Mas, com relação à
moeda, a máquina ó uma operação estabelecedora, porque ela torna a moeda mais
importante, ou seja a máquina de venda torna a moeda uma conseqüência reforçadora
significativa para o comportamento de procurá-la na carteira. Michael enfatiza essa
distinção dizendo que as variáveis discriminativas estão relacionadas à disponibilidade
diferencial de uma forma efetiva de reforçamento dado um tipo particular de
comportamento, e as variáveis motivacionais estão relacionadas à efetividade do evento
reforçador.
A contribuição de Michael em estabelecer a relação entre as atividades empíricas
e aplicadas tem sido demonstrada em seus papéis de professor, orientador e pesquisador,
haja vista que a Western Michigan University deu-lhe o reconhecimento com três prêmios
por distinção ao ensino. Em seu Concepts and Principles of Behavior Analysis, publicada
pela Society for the Advancement of Behavior Analysis (SABA), 1993, há uma seção
dedicada a perspectiva comportamental do ensino universitário que reflete a sua própria
prática e experiência como professor, atestada por vários de seus alunos.
A seguir, apresento as publicações de Michael para auxiliar o leitor no
aprofundamento das questões estudas por ele estudadas. As referências assinaladas
com asteriscos foram, na perspectiva de Michael, mencionadas como as que exerceram
ou continuam exercendo influência sobre a área da Análise do Comportamento. Segundo
Michael, o artigo em co-autoria com Teodoro Ayllon, publicado em 1959, o último desta
lista de publicações, muito provavelmente foi o de maior impacto para a área.
Publicações
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Edited book: The reprinted edition of Principles o f Psychology by F. S. Koller and W. N. Schoenfeld.
The B. F. Skinner Foundation is reprinting out-of-print books by Skinner and other out-of-print
books that are important in behavior analysis. The first two reprintings were The Behavior of
Organisms and Verbal Behavior For each reprinting one of the members of the foundation
board takes responsibility for obtaining and editing two new forwards, and doing any other
editing and managing with respect to interactions with the printers. I was responsible for the
reprinting of the Kellor and Schoenfeld text, the third book in our series.
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bal bohavior: A further comparison The Analysis o f Verbal Behavior, 9, 1-17.
Michaol considera muito importante suas aulas, conferências e palestras, acreditando que
suas preleções tenham muito mais impacto do que seus trabalhos publicados. Como amos
tra dessas contribuições, apresento suas apresentações em público entre 1999 e 2001
Michael, J. (2001, October 4). Motivation from a Behavioral Perspective: What does it moan to want
something? Keynoto Address, 10th Annual Conference on Research and Applications related to
Developmental Disabilities, Sponsored by St. Amant Centre, Winnipeg, Manitoba, Canada.
Michael, J. (2001, Soptember 21). The Benefits o f Skinner's Analysis o f Verbal Behavior for
Children With Autism Invited Presentation at the annual conference of the Florida Association
for Behavior Analysis, Sarasota, FL.
Michael, J. (2001, August 10). Advanced topics in behavior analysis. 6 hour presentation at the National
Autism Conference and Pennsylvania Autism Institute, State College, PA.
Michael, J. (2001, May 27). Avoidance in Terms of Stimulus Transition, Response-produced Stimulus
changes, and Motivative Variables Part of a symposium titled The Avoidance Controversy, at the
annual conference of the Association for Behavior Analysis, New Orleans, LA.
Michael, J. (2001, May 27). The Elementary Verbal Operants. An invited tutorial at the annual conference
of the Association for Behavior Analysis, New Orleans, LA.
Michael, J. (2001, May 26). An Introduction to the Association for Behavior Analysis. This was a one-
hour welcome presentation, a part of tho 25th annual conference of the Association for Behavior
Analysis in Now Orleans, LA. This is the newcomer’s program, started by Scott Wood, and mo and
given every year at the beginning of the conference.
Michael, J. (2001, March 9). Why bohavior does not occur as we would like: "Cognitive Sins of Momory"
from a bohavioral perspective Invited addross at tho annual conference of the Behavior Analysis
Association of Michigan, Ypsilanti, Michigan.
Michael, J. (2001, February 5). Strokes of genius: Conceptual and practical breakthroughs in bohavior
analysis. Invited address presented at the annual conference of tho California Association for Bohavior
Analysis, San Francisco, California.
Michael, J. (2000, September 22). Forgetting and remomboring from a behavioral perspective.
Invitod addross presented at tho annual conference of tho Florida Association for Bohavior
Analysis, Daytona, Florida.
Michaol, J. (2000, September 21 ). Strokos of genius: Conceptual and practical broakthroughs in bohavior
analysis. Keynote address presented at the annual conforenco of tho Florida Association for Behavior
Analysis, Daytona, Florida.
Michael, J (2000, May 29). Teaching B. F. Skinner's writings. Panel discussion at tho annual conference
of tho Association for Behavior Analysis, Chicago, Illinois.
Michael, J. (2000, May 27). An Introduction to the Association for Behavior Analysis. This was a one-
hour welcome presentation, a part of the 25th annual conference of tho Association for Bohavior
Analysis in Chicago. This is the newcomer’s program, started by Scott Wood, and mo and given every
year at the beginning of tho conference.
Michael, J. (2000, March 9). Why behavior doos not occur as we would like: 'Cognitive Sins of Memory"
from a behavioral perspective. Invited address at the annual conference of the Bohavior Analysis
Association of Michigan, Ypsilanti, Michigan.
Michael, J. (2000, Fobruary 5). Strokes of genius: Conceptual and practical breakthroughs in behavior
analysis Invitod address presented at tho annual conference of tho California Association for Bohavior
Analysis, San Francisco, California
Michael, J. (1999, October 29). Strokes of Genius: Conceptual and Practical Breakthroughs in Bohavior
Analysis. Invited addross at tho annual conference of tho Bohavior Analysis Socioty of Illinois (BASIL).
Michael, J. (1999, September 23). Skinner's Analysis of Private Events-The Basis o f Radical
Bohaviorism Bonus Mastor Lecture presented at tho annual conference of the Florida Association for
Behavior Analysis, Tampa, FL.
Michaol, J. (1999, May 29). Reflections on Twenty-Five Yoars of ABA: Past, Present, and Future. Part
of a panel discussion at the annual conference of The Association for Behavior Analysis in Chicago.
Michael, J., Hixson, M., & Shafor, E. (1999, May 27). Language Research in Autism: Implications
for Our Understanding o f Verbal Behavior Fifty minutes invitod address at the annual conference
of Tho Association for Behavior Analysis in Chicago.
Michael, J. (1999, May 27). Scott Wood and I did a ono-hour welcome presentation, An Introduction
to the Association for Behavior Analysis This was a part of the 25th annual conference of the
Association for Bohavior Analysis in Chicago. This is the newcomer’s program, started by Scott
Wood, and given overy year at the beginning of the conference.
Michael, J. (1999, March 18) Distinguishing Between Discriminative and Learned Motivativo
Functions of Stimuli. Fifty minutes invited address presented at the annual conference of The
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Sobrr C'omportumcntoeCofjmv'Jo 33
= - Capítulo 3
Contribuições de Israel Qoldiamond para o
desenvolvimento da Análise do
Comportamento1
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Capítulo 4
Contribuições de Donald Baer para a
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Seção II
Análise do
Comportamento:
contribuições para
a clínica
Capítulo 5
Behaviorismo Radical e Interpretação
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Capítulo 6
Itinerário para analisar comportamento
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Im o dnvfl tofjltlmur h HflrmaçAo dtt qtj« m m autor A a<MVfcx> ou anti toóritx) (irf SW nnw , 1060)
Conceitos dísposícionaís internos ao behaviorismo radical
Analisaremos, aqui, um dos principais conceitos do behaviorismo radical com o
intuito de provar que se trata de um conceito dísposícíonal e que, além disso, está
intimamente relacionado com muitos outros conceitos, principalmente mentais, trata-se
do repertório comportamental.
Sabe-se que o repertório não pode ser interpretado como um depósito de
comportamentos localizados no sujeito e - complementamos dizendo nem em qualquer
outro lugar; isso porque, se o repertório ó uma disposição, ele não pode ter localização,
pois isso ó uma característica das ocorrências. Mas, seguindo a análise, verifiquemos se
o repertório respeita as características das disposições. Parece ser evidente que o repertório
não pode ser uma ocorrência; dizer que alguém possui certo repertório ó o mesmo que
dizer que ele apresenta uma certa tendôncia, possibilidade, probabilidade ou disposição
para comportar-se de determinadas maneiras em certas situações - não é, portanto, dizer
que essa pessoa está fazendo algo, mas sim que ela tem a capacidade de fazer (verifica-
se, nesse ponto, a proximidade que há entre os conceitos de repertório comportamental
e conhecimento, basta lembrar que no livro About Behaviorism, o conceito de repertório
é tratado no capítulo 9 - "Knowing").
Uma vez que possuir determinado repertório é apresentar uma tendência ou pro
babilidade de comportar-se de determinada maneira, não é possível dizer que ele é causa
do comportamento, isso seria o mesmo que afirmar que a probabilidade de resposta é a
causa da ocorrência dessa resposta. Sendo assim, parece razoável interpretar o repertó
rio comportamental como um conceito disposicional. Vale ressaltar que ele é uma dispo
sição complexa e determinável - está em constante mudança e é atualizada por muitas
ocorrências (respostas) diferentes.
Conclusão
A aceitação da mente transcendente gera uma série de problemas que são extintos
quando passamos a aceitar a mente imanente. Podemos citar como exemplo já bem
conhecido a criação das dicotomias, público/privado, externo/interno, físico/mental, entre
outras. Ao passarmos a aceitar a existência da mente imanente dissolvemos todas essas
dicotomias que consideram comportamento e mente como coisas totalmente distintas.
A atividade mental é comportamento, e a mente, nesse caso, passa a ser
interpretada como uma disposição atualizada por respostas que podem manifestar-se
de modo público ou privado, mas em nenhum dos casos criamos uma diferença que
justifique a interpretação da mente como transcendente ao comportamento. Ao
assumirmos a mente imanente ao comportamento não estamos com isso proibindo todo
e qualquer uso dos termos público e privado, aberto e encoberto . Estamos apenas res
tringindo o uso desses adjetivos ás ocorrências e com isso tentando evitar um erro categorial
que tem como conseqüência a criação de uma mente transcendente; continuamos, as
sim, a aceitar que as respostas podem ser abertas ou encobertas (ou, como o próprio
Skinner emprega algumas vezes, públicas ou privadas), pois tratam-se de atualizações.
No entanto, a mente imanente ou a qualificação “mental" de alguns comportamentos,
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Capítulo 8
Avaliando a sessão de terapia: Questionário
e entrevistas pós-sessão
M a ly D elitti
Pontifícia Universidade C'atólica de SJo Paulo
n M .ily Pelilti
rações feitas sobre o uso de análise de interações verbais e da necessidade de desenvol
ver estratégias de avaliação de terapia comportamental, foram realizados dois estudos. O
objetivo foi investigar a utilização de três tipos de instrumentos para avaliação de sessões:
1) Questionário de Avaliação de Sessões - SEQ (Stiles 1980);
2) Entrevistas pós-sessão realizados com clientes e terapeutas - EPS;
3) Análise da interação verbal ocorrida entre a dupla terapeuta-cliente nas sessões ante
riores a aplicação da entrevista e do questionário.
Os objetivos do Estudo I são: verificar a validade da adaptação deste questionário
para os clientes e terapeutas comportamentais brasileiros e avaliar sessões especificas
de terapia com o questionário traduzido e com isto contribuir para o desenvolvimento de
metodologias e/ou técnicas de avaliação da prática clinica. As perguntas que se procurou
responder foram:
• Todas as sessões de terapia têm o mesmo impacto?
• A mesma sessão ó avaliada igualmente por clientes e terapeutas?
• Sessões avaliadas pela díade terapeuta-cliente como mais "leves” ou mais “tranquilas"
ou sessões consideradas mais "difíceis" se relacionam a mudanças comportamentais
específicas dos clientes?
Estas questões podem ser resumidas, na pergunta que parece ser mais relevan
te: quais recursos o terapeuta pode utilizar para identificar o impacto de uma sessão
específica sobre os comportamentos do cliente e sobre as mudanças comportamentais
subseqüentes destes?
No Estudo II, é feita a análise das entrevistas e dos resultados da 1a parte do Estudo
I (SEQ) e sua relação com a interação terapeuta-cliente, com o objetivo de desenvolver
estratégias de avaliação de sessões de terapia no contexto da relação terapeuta-cliente.
Estudo r 1
O Questionário foi traduzido e testou-se a fidedignidade da tradução.
Participaram 10 terapeutas comportamentais com média de 17 anos de experiên
cia e outros 10 terapeutas comportamentais com experiência média de 6 anos. Foram
avaliadas 60 sessões de terapia realizadas em consultórios particulares, com clientes de
ambos os sexos. Dois outros psicólogos participaram como juizes.
O Questionário de Avaliação de Sessões (Session Evaluation Questionnaire -
SEQ) proposto por Stiles (1980), tem duas partes.
Primeira parte: avalia a sessão e cada frase começa com a frase: "Esta sessão
foi...".
Segunda parte: avalia os sentimentos associados à mesma, e cada frase é inici
ada com "Neste momento eu me sinto...".
' Trabalho (xibllcado (min HttvtatM fVasikWM do Twapta ComportiirT»ntal o ('.ogntttv« (?003) NA* 4
Cada parte consiste de 11 pares de adjetivos que nomeiam diferentes emoções.
Foram avaliados dois fatores:
• profundidade - superficialidade, que parece descrever o processo da sessão;
• dificuldade - facilidade, que descreve os resultados da sessão sobre os estados inter
nos de clientes e terapeutas.
Foram comparadas as respostas dos clientes e dos terapeutas em relação à
mesma sessão para levantar dados consensuais quanto à qualidade de sessões.
O SEQ mensurou o impacto da sessão sobre o cliente e o terapeuta, segundo os
índices propostos.No trabalho de Stiles (1980) os resultados indicaram o tempo de expe
riência influiu nos resultados o que não se observou no presente trabalho. Isto é, a experi
ência do terapeuta não foi uma variável determinante.
Observou-se consistência entre este estudo e o de Stiles (1980) em relação à
primeira parte do Questionário, isto é, avaliação da qualidade da sessão. Percebeu-se
também os terapeutas têm mais facilidade de discriminação, o que pode decorrer da sua
prática clínica, supervisão e autoconhecimento (terapia pessoal). Além disso, deve-se
ressaltar que o questionário de Stiles não descreve comportamentos emitidos pelo cliente
ou pelo terapeuta, o que impede a identificação e análise de padrões funcionais.
Estudo II
A Psicologia, ao estudar o comportamento humano, observa os indivíduos ou faz
perguntas a eles. Entre os instrumentos de auto-relato em pesquisa empregam-se ques
tionários, escalas e entrevistas, entre outros, que são úteis para pesquisar a prática clíni
ca. Esses instrumentos podem ampliar o estudo de respostas encobertas, tanto em situ
ações nas quais os dados observáveis não estão disponíveis, quanto para a obtenção da
história de aprendizagem ou a aquisição de padrões de comportamento.
Enquanto instrumento de pesquisa, a entrevista é um tipo de interação verbal que
tem o objetivo de coletar informações. Usualmente, o entrevistador possui um roteiro ou
questões que orientam a coleta de dados.
Matarazzo, Wiens e Saslow (1972), realizaram uma série de estudos sobre com
portamento verbal em entrevista, relacionando variáveis como duração da fala do terapeuta,
do cliente e da interação, tempo de silêncio, verbalizações mínimas e interrupções. Estes
autores sugeriram que as medidas de tempo fossem combinadas com medidas de con
teúdo para que a terapia pudesse ser compreendida mais eficazmente.
Além destas variáveis em relação à clínica, existe a necessidade de pesquisar
outros aspectos para o entendimento do processo de terapia. Um destes aspectos é a
qualidade da interação terapeuta-cliente a partir da avaliação de cada membro da diade. A
inclusão de um terceiro observador daria maior objetividade a esta avaliação, mas incluiria
uma outra variável, aumentando a complexidade da situação.
A partir da proposta deste trabalho, que é desenvolver uma estratégia de avaliação
que possa ser usada por terapeutas em sua situação de consultório, foram utilizadas
entrevistas de avaliação, realizadas por observadores independentes, com cada membro
da diade. imediatamente após o término da sessão. Nestas entrevistas, procurou-se for
mular questões que aumentassem a probabilidade de se obter informações sobre compor
tamentos aprendidos na sessão, sua forma de aquisição e seus possíveis efeitos na
situação natural.
Para poder comparar os resultados obtidos neste estudo com as respostas ao
questionário de avaliação de sessões (SEQ) abordado no Estudo I, toda vez que foi reali
zada a entrevista pós-sessão, o cliente também respondeu ao SEQ, tendo sido alternada
a ordem de apresentação dos dois instrumentos.
No Estudo II, pretendeu-se também avaliar os eventos relacionados à mudança de
comportamentos, através da análise da interação e do controle recíproco de comporta
mentos da diade terapêutica, e relacionar estes eventos com a avaliação que cliente e
terapeuta fazem das sessões. Os dados foram obtidos a partir da metodologia proposta
por Kerbauy (1996), isto é analisando trechos das sessões imediatamente anteriores às
ocasiões em que foram aplicados os dois instrumentos: o questionário de avaliação de
sessão (SEQ) e as entrevistas pós-sessão (EPS).
Foram utilizadas categorias de respostas e para cada categoria foi colocado um
exemplo extraído da situação real. Deve-se ressaltar que uma verbalização pode conter
mais do uma função e. neste caso, esta foi analisada segundo cada uma de suas funções.
Método
Participantes
Participaram deste trabalho uma terapeuta (a própria autora), de orientação
behaviorista, com 20 anos de experiência clínica e um cliente adulto, do sexo masculino,
com 25 anos, identificado como N. (para garantir o anonimato), com curso colegial com
pleto. Sua queixa principal consistia em uma dificuldade de se expressar, o que o levava a
evitar ou adiar uma série de situações e lhe trazia muitas conseqüências negativas, como
perda de emprego, brigas com a namorada e com os pais.
O participante recebeu explicações sobre o caráter de sigilo da pesquisa e da
utilização dos dados, tendo concordado e assinado o Termo de Consentimento Informado
(ver modelo em Anexo 1).
Também participaram como entrevistadores dois psicólogos. Com o objetivo de mo
delar o comportamento dos entrevistadores e tomar menores as diferenças individuais quanto
ao comportamento verba) dos mesmos, estes foram treinados previamente polo pesquisador,
através de reforçamento diferencial e ensaio comportamental da situação de entrevista.
Outros dois psicólogos, que não haviam participado de nenhuma parte desta pes
quisa participaram como juizes para verificar a correspondência entre os conteúdos relata
dos nas entrevistas pós-sessão e os trechos encontrados nas sessões pelo pesquisador.
Equipamento
Foi utilizada uma câmara de vídeo VHS com tripé e um gravador de áudio (com
fitas K7) para registro das sessões e entrevistas pós-sessão.
Procedimonto
O atendimento foi realizado no Laboratório de Comportamento e Saúde do Depar
tamento de Psicologia Experimental da USP. As sessões foram gravadas em áudio e
vídeo e as fitas foram transcritas para análise posterior.
Com o objetivo de descrever os padrões de interação entre terapeuta e cliente e
as possíveis mudanças destes padrões, foram realizadas quatro entrevistas ao longo do
processo terapêutico. Para aumentar a probabilidade da amostra ser aleatória, as entre
vistas pós-sessão ocorreram de acordo com o seguinte esquema: imediatamente após a
1Msessão foi feita uma entrevista, depois, duas sessões ocorreram sem realização de
entrevistas pós-sessão. Após duas sessões realizadas sem entrevista posterior, foi reali
zado sorteio e em caso positivo, foi realizada nova entrevista. Em caso negativo, foi feito
um novo sorteio na sessão seguinte, até que o resultado fosse positivo e nova entrevista
fosse realizada. Neste dia, recomeçou o esquema de alternância de duas sessões e,
então, novo sorteio foi realizado.
Qualquer análise dos resultados deve levar em conta o fato do terapeuta ser um
participante diferenciado por estar envolvido com o estudo. Além disso, embora não sou
besse quando ocorreria uma entrevista pós-sessão, o terapeuta sabia quando não haveria
sorteio e, conseqüentemente, entrevista pós-sessão O cliente e o terapeuta foram entre
vistados por observadores independentes e treinados. A cada coleta de dados houve a
troca inter-entrevistadores. O esquema de entrevistas foi o seguinte:
1fl entrevista: - » entrevistador A com terapeuta.
- » entrevistador B com cliente.
2ã entrevista: - » entrevistador A com cliente
-> entrevistador B com terapeuta, e assim sucessivamente.
Em cada aplicação, os entrevistadores fizeram as seguintes questões ao terapeuta
e cliente:
1) o que você considerou mais importante na sessão? (isto ó, o que o cliente e o terapeuta
avaliaram como a variável e/ou procedimento mais relevante naquela sessão) e,
2) o que você (ou o seu cliente) pode levar para a vida? (ou seja, o que cada membro da
díade considerou que seria generalizado e utilizado pelo cliente em situação natural).
Estas entrevistas também foram gravadas em áudio e vídeo e em seguida trans
critas para análise. O terapeuta só teve acesso às respostas do cliente após o término de
todas as entrevistas. Sempre que foi realizada a entrevista pós-sessão, o cliente também
respondeu ao SEQ (Estudo I), tendo sido alternada a ordem de apresentação dos dois
instrumentos. Por exemplo, na 1fl vez, o cliente respondeu ao SEQ e depois fez a entrevis
ta, na 2a, fez a entrevista e em seguida respondeu ao SEQ e assim sucessivamente. Para
efeito de análise, os dados provenientes destas duas diferentes medidas foram relaciona
dos com os obtidos no registro da interação verbal cliente-terapeuta durante as sessões
de terapia.
O Quadro 2 resume a primeira parte do procedimento.
Quadro 2. Esquema de Coleta de Dados. (Os asteriscos indicam a ocasião em que houve
sorteio para determinar a ocorrência ou não de EPS e SEQ).
2* - •
3 - •
*4» EPS SEQ
5* - •
Ö* - -
V* - -
9* - *
10* * -
* 11» - -
• 12« - -
Resultados
1- Questionário de Avaliação de Sessões - SEQ (Stiles, 1980)
Baseando-se no estudo de Stiles (1980), os fatores valiosa, profunda, cheia e
especial compuseram o indice profundidade e os fatores tranqüila, fácil, agradável e
suave compuseram o índice dificuldade. Os dados obtidos com a 2* parte do questioná
rio de avaliação de sessões não foram considerados porque o objetivo desse trabalho não
inclui a análise detalhada de eventos encobertos.
Na Análise Fatorial foram derivados dois índices que seriam utilizados em todas
as análises posteriores: Dificuldade e Profundidade. O índice Profundidade é formado pela
média dos escores nos itens valiosa, profunda, cheia e especial. O índice Dificuldade é
formado pela média dos escores nos itens tranqüila, fácil, agradável e suave. Uma análise
de variância multivariada (MANOVA) levando em conta o papel e a experiência revelou um
efeito principal do fator papel (Pillai's Trace = 0.068, p < 0.05). Análises de variância
isoladas para cada um dos índices revelaram que essa diferença se deve principalmente a
diferenças entre clientes e terapeutas quando avaliam o a dificuldade da sessão [F(1,118)
= 8.122, p< 0.01].
A fim de podermos utilizar esses índices, foi feita uma estimativa da distribuição
dos escores dos dois índices, para terapeutas e clientes (Tabela 4). É importante notar
que essa distribuição está baseada na amostra deste estudo. Essa distribuição permite
situar a avaliação feita pelo terapeuta e pelo cliente no Estudo II, a partir da distribuição de
freqüência dos escores obtidos. Assim, entre os percentuais 25 e 75, temos 50% dos
escores. Essa transformação permite dizer que esses escores mais freqüentes represen
tam os valores mais próximos da módia e, portanto, podem ser considerados como avali
ações das sessões, feitas por terapeuta e cliente, como de dificuldade e profundidade
médias. As categorias extremas (nada difícil/ muito difícil, e nada profunda/ muito profun
da) são representadas por uma freqüência baixa de ocorrência (5%), o que significa que
apenas 5% da amostra apresentou escores muito altos ou muito baixos em relação à
avaliação das sessões, segundo os índices propostos. Destaca-se que essa distribuição
está baseada na amostra deste estudo.
Papal Indico
5 10 25 50 75 90 95
Percentis
Terapeuta 1,25 1,50 2,00 2,50 3,25 3,75 4,50
Profundidade .. . ... ... .
Cliente 1,00 1,25 1,50 2,00 ’ 2,75 3,50 4,75
Terapeuta 1,25 1,50 2,00 2,75 4,00 5,00 5,50
Dificuldade
Cliente i,õõ~ 1,25 XoF 2,75 ’ 3 50 5,00 5,50
• —— ► <4-— ► 4 ——► <4- — ► —► <- ► 4—
Categoria
Nada Pouco Baixa Média Alta Muito
Extr.
Tabela 6. índices de Profundidade e Dificuldade para Terapeuta (T) e Cliente (C) nas ses
sões avaliadas pelo SEQ.
T -Q U E S 2 53 2 4 17
T - INF 1 16 8 0 3
T -C O N S+ 0 16 7 0 5
T -R E G 0 3 0 1 0
T -SE N I 0 0 0 0 0
Na tabela 7, pode-se observar que a maioria das questões que o terapeuta faz são
seguidas de respostas que dão informações (53), sobre fatos ou eventos e algumas se
referem a sentimentos (17). Estes dados parecem indicar que as questões do terapeuta
buscavam investigar as respostas verbais do cliente e suas relações com as contingências,
mais que apenas a expressão de sentimentos. Esta observação corrobora a afirmação já
feita neste trabalho, que o terapeuta priorizou a instalação de respostas alternativas do
cliente em vez de enfatizar respostas verbais descritivas do sentimentos. Quando o terapeuta
dá informações, o cliente responde dando outras informações (16) ou liberando conseqüên
cia positiva (8), concordando ou elogiando a terapia. Por outro lado, quando o terapeuta
libera conseqüência positiva o cliente informa (16), libera também conseqüência positiva (7)
ou expressa sentimento (5). A categoria questionar regras do terapeuta ó seguida de res
postas de dar informações (3) ou de verbalizações sobre as regras enunciadas.
w m m íSM m Ê m m
C\7 T - QUES T * INF T - CONS* T-R E G T-SENT
C -Q U E S 2 0 0 0 0
C - INF 37 9 20 1 0
C - CONS+ 2 5 3 0 1
C -R E G 3 0 1 1 0
C -S E N T 14 6 5 0 0
Quando se analisa a relação entre as categorias de resposta do cliente e as
subseqüentes do terapeuta (Tabela 8) percebe-se que a maior ocorrência é da categoria
dar informações (67). Em seguida a estas respostas, o terapeuta faz novas questões (37),
para esclarecer ou aprofundar as informações, libera conseqüências positivas (20), elogi
ando ou concordando, dá informações (9) que procuram esclarecer o relato do cliente e,
em uma ocasião, analisa a regra enunciada por ele. A categoria questionar ocorre em
freqüência baixa (2 vezes: uma na 1a e uma na 13* sessão), se refere a pedidos de escla
recimento em relação a fatos ou conceitos explicados e são seguidas por novas questões
do terapeuta. Pode-se considerar que a baixa ocorrência destas respostas, pelo menos
nos trechos analisados neste trabalho, caracterizam o papel do cliente como falante ou
como aquele cujas respostas de fornecer informações são modeladas na terapia. Da
observação da tabela 8, pode-se notar ainda que quando o cliente libera conseqüência
positiva para o terapeuta este dá informação (5), libera conseqüência positiva (3) concor
dando com o cliente ou questiona o cliente (2), de modo geral, para facilitar a discrimina
ção do cliente quanto à própria mudança ou às relações entre suas respostas e as conse
qüências. Quando o cliente enuncia regra (5) o terapeuta faz questões para entender a
situação (3) discute o conteúdo da própria regra (1), ou libera conseqüência positiva (1) em
relação ao fato do cliente ter trazido uma boa situação para análise. A categoria de res
postas expressar sentimentos ocorre 16 vezes e ó seguida por questões (14) do terapeuta,
que procura traçar relações entre os sentimentos relatados pelo cliente, outras respostas
e/ou contingências relacionadas a eles. Outras respostas de expressão de sentimentos,
são seguidas por informações do terapeuta quanto ao conteúdo do que foi expresso ou a
relações contingênciais (6) ou de elogios e concordância do terapeuta (5).
Com o objetivo de relacionar os resultados dos dois estudos foi construída a figura
1, na qual em cada eixo estão os resultados de um estudo: no primeiro eixo estão a
freqüência de ocorrência das categorias de resposta (Estudo II) e no segundo eixo os
escores das respostas ao questionário (Estudo I).
■■TCO N S
■ H T IN F
t m iT R E G
■■TSENT
■■CSFN T
■ ■ IC IN F
M H CO NS+
CZUCQUES
CCaCREG
-• -T P R O F
-♦ -C P R O F
“ •-T D / F
C D IF
A Figura 1 mostra que a categoria C-INF foi a mais apresentada nas quatro ses
sões analisadas, com aparente tendência crescente nas três primeiras medidas e um
pequeno decréscimo na quarta. Em relação ao terapeuta, a categoria mais apresentada
foi a T-QUES, com decréscimo na freqüência na segunda sessão analisada e aumento na
terceira e quarta, inclusive em comparação com a primeira sessão.
A categoria C-SENT aparece com maior freqüência na primeira sessão analisada,
e parece decrescer nas seguintes (4a, 8a e 13a).
As categorias T-CONS+ e T-INF parecem apresentar uma tendência crescente
nas três primeiras sessões analisadas (1,4 e 8) e, na 13a sessão, um decréscimo, inclu
sive em comparação com a primeira sessão.
Em relação aos escores do Questionário de Avaliação de Sessões (SEQ), perce
be-se que na sessão 1, o grau de dificuldade e profundidade (4,5) apresentado pelo cliente
foi maior que o apresentado pelo terapeuta (2,25), enquanto que o grau de profundidade
apresentado pelo terapeuta (2,25) foi maior que o apresentado pelo cliente (1,75). Quanto
à dificuldade, nota-se que o cliente tende a avaliar as sessões analisadas sempre como
mais difíceis que o terapeuta, apesar de parecer considerar as sessões menos difíceis
com o passar do tempo (sessões 4 - 3,75,8 - 3,3 e 13 - 2,75), enquanto a avaliação do
terapeuta mantém-se aparentemente constante (2,25; 2,75; 2,75 e 2,25). Em relação à
profundidade, nas duas primeiras sessões analisadas, o terapeuta pareceu avaliar as
sessões como mais profundas que o cliente (sessão 1:2,75 - terapeuta e 1,75 - cliente;
sessão 2:2,25 - terapeuta e 1,25 - cliente). Na sessão 8 (3a avaliação), o cliente avalia a
sessão como mais profunda que o terapeuta (2,75 - cliente e 2,5 - terapeuta) e, parece
que o responsável por tal inversão é o cliente, pois o terapeuta, aparentemente, avalia a
profundidade das sessões analisadas de maneira semelhante (2,75; 2,25 e 2,5) enquanto
o cliente passa de uma avaliação nos valores de 1,75 e 1,25 nas sessões 1 e 4 para 2,75
na sessão 8 (3a avaliação). Na sessão treze, terapeuta e cliente têm critério de avaliação
de profundidade igual (2,25).
A entrevista pós sessão, EPS, mostra que o cliente expressou sentimento: “gos
tei de falar o que sinto” e relatou a aprendizagem de um conceito: "entender que a gente
não nasce assim e por isso pode mudar". O terapeuta relata o início de um bom relaciona
mento terapêutico e vínculo. Identifica respostas de esquiva do cliente e ressalta o início
do ensino do conceito de aprendizagem de acordo com as verbalizações do cliente. O
terapeuta e o cliente parecem ressaltar temas semelhantes dessa sessão na EPS.
Os trechos desta sessão, que o pesquisador e o juiz identificaram como conten
do os dados da entrevista pós sessão estão descritos a seguir.
Trecho 1
No primeiro trecho da sessão referente a esta EPS o terapeuta investiga (13 T-
QUES, 15 T-QUES) os antecedentes familiares e solicita a descrição do comportamento
(17 T-QUES). Quando o terapeuta procura investigar os encobertos do cliente (19 T-QUES),
este responde (20 C-INF) expondo a opinião de sua mãe. Na verbalização rV121 (21 T-
QUES) o terapeuta faz uma pergunta (“e você, o que acha?”) que pareceu ter a função de
mudar o foco da terapia para o cliente, o que ele pensa e fala de seu comportamento. O
cliente diz que acha a mesma coisa que a mãe (22 C-INF) e a partir da verbalização 23, o
terapeuta passa a investigar as respostas abertas (23 T-QUES) e encobertas (27 T-QUES)
relacionadas ao padrão de esquiva e adiamento do cliente.
13 T-QUES- "Sua mãe está no H.C. Porquô?"
14 C-SENT - "Tô procurando me conhecer para não ficar como minha mãe que
teve que tomar remédios".
15 T-QUES - "O que sua mãe ieve?"
16 C-SENT - “Depressão... e ela achou que eu tinha este meu jeito de ser era
melhor eu fazer tratamento para não ficar como ela”.
17 T-QUES - "E como ó este seu jeito de ser?”
18 C-SENT- “Não tenho confiança em mim... fico com medo... acho que vou errar
no trabalho...".
19 T-QUES-"Você duvida da sua capacidade? É isso?"
20 C-INF - “ó, minha mãe fala isto".
21 T-QUES - "e você, o que acha?"
22 C-INF - "é mais ou menos isso... Eu acho que é isso...."
23 T-QUES - "Você pode me dar um exemplo?"
Trecho 2
Da verbalização 27 a 34, terapeuta e cliente estão envolvidos na análise do padrão
de comportamento do cliente. O terapeuta questiona (27 T-QUES), levanta alguns possíveis
padrões de resposta encoberta (29 T-QUES), e após suas perguntas (31 e 33 T-QUES) e o
cliente responde e dá informações (30,32 e 34 C-INF) que indicam que o cliente discrimina
que seu problema está na antecipação e maximização das conseqüências de seu possível
comportamento, como vemos na transcrição a seguir. Além disso pode-se concluir que o
período anterior à emissão da resposta é mais difícil, o que ó indicativo de um possível
controle por regras, como costuma ocorrer em repertórios de fuga / esquiva.
27 T: E o que você fica pensando?.
28 C: Eu fico com medo de errar... alguma coisa .... de fazer, de atrapalhar o
serviço dos outros.
29 T: E se errar, o que aconteceria? O que você pensa, você leva bronca..., atra
palha o serviço do outro o que mais?
30 C: Eu não..., eu não sentia nenhum nó assim, é mais insegurança de errar...
31 T: E daí você acaba fazendo ou acaba não fazendo?
32 C: Acabei fazendo, é sempre assim..., e depois que eu vou..., depois de um
tempo assim eu me habituo, e eu acho que era besteira do que eu tava com medo...
33 T: Então, quer dizer antes, o período do antes que é o difícil?
34 C: E depois quando eu começo que eu vejo, que dá certo, faço... posso errar
uma coisinha, mas é uma coisa normal.
Trecho 3
No próximo trecho, o terapeuta (59 T-INF) associa dois estímulos verbais “age” e
"comportamento" e o cliente responde expressando sentimento de medo (60 C-SENT). O
terapeuta continua a investigar e procura definir o sentimento de medo do cliente (61 T-
QUES; 63 T-QUES).
Na verbalização 65 o terapeuta questiona (65 T-QUES) o momento de início deste
medo (começou desde criança ou mais tarde). O terapeuta coleta informações sobre a
aquisição dos padrões de resposta do cliente e das possíveis conseqüências dos mesmos.
59 T-INF - "... então desde quando você age deste jeito ou tem este comporta
mento?"
60 C-SENT - "... eu tinha medo das coisas... eu tenho medo, agora eu melhorei
bem, antes era pior..."
61 T-QUES - "Medo de que?"
62 C-SENT - “ eu tenho medo de uma coisa no geral... tenho medo de não dar
certo..."
63 T-QUES - “De não dar certo?"
64 C-INF - "é, disso aí...M
65 T-QUES - "Desde criança ou começou depois?”
Trecho 4
O terapeuta libera conseqüências positivas (69 T-CONS+ T-QUES) enfatizando a
importância da utilização do termo comportamento e investiga o padrão de comportamen
to do pai como modelo. O cliente descreve (70 C-INF) o padrão do pai, comparando com
o da mãe, salientando que a mãe sempre antecipa conseqüências aversivas.
A pergunta do terapeuta (71 T-QUES) parece facilitar a discriminação pelo cliente
acerca das conseqüências diferentes dos padrões de comportamento do pai e da mãe. O
cliente relata que o padrão do pai tem conseqüências positivas (72 C-INF) encobertas:
"sofre menos, não tem preocupação."
68 C-INF - "minha mãe também é assim... Não sei se este meu lado tem a ver
com o comportamento dela".
69 T-CONS+ T-QUES - "Gostei de ouvir comportamento, porque; é uma palavra
que usamos muito em terapia e significa tudo que a gente faz e também o que a gente
pensa. Como é o comportamento do seu pai"?
70 C-INF - "Meu pai é mais tranqüilo, pensa positivo, minha mãe sempre pensa
o pior".
71 T-QUES-"Cada um pensa e fala de um jeito... Qual jeito você acha melhor?"
72 C-INF - “Eu acho o do meu pai, né? Sofre menos, não tem preocupação..."
Trecho 5
Nas verbalizações seguintes, o terapeuta e o cliente analisam juntos qual foi o
modelo mais influente para ele (77 T-QUES e 78 C-INF) e, em seguida, o terapeuta (81 T-
INF) explica o conceito de aprendizagem mostrando que a mãe do cliente foi um modelo
mais influente e ao mesmo tempo elogia o cliente (83 T-QUES T-CONS+). O terapeuta
enfatiza que o conceito de aprendizagem é importante porque a situação de terapia pode
propiciar uma nova aprendizagem (85 T-INF). O cliente concorda, mostra-se animado com
a possibilidade de mudar e elogia o terapeuta (86 C-CONS+).
77 T-QUES -"... só que você tem mais a ver com a sua mãe..."
78 C-INF - "É, tenho mais a ver com minha mãe".
79 T-CONS+ - "Antes você falou uma coisa interessante: não sei se este compor
tamento tem a ver com minha mãe".
80 C-CONS+- "Isso mesmo".
81 T-INF - "Eu posso lhe dizer que somos hoje resultado da nossa vida. O comporta
mento é aprendido. Você acha melhor o jeito do seu pai?"
82 C-INF - “é, acho que o jeito dele ó melhor, aliás, o comportamento dele é, né?"
83 T-CONS+ T-QUES-"Isso mesmo. Você entende. Mas parece que você apren
deu mais o jeito da sua mãe, não é?"
84 C-INF - “Penso que é coisa da minha mãe... Ela sempre, desde criança, ficava
preocupada... pensava sempre o pior".
85 T-INF - "Isso mesmo, e isto faz com que a terapia seja promissora porque o
que aprendeu, pode aprender diferente. Se aprendeu da mãe um jeito X, você pode, com a
terapia, aprender outro jeito que seja melhor pra você".
86 C-CONS+ - “Ta ótimo. Que bom que dá pra mudar isto. A senhora sabe que eu
estou gostando muito dessa nossa terapia?"
87 T-CONS+ T-SENT - “Ótimo, eu também estou gostando de atender você.
Bem, a idéia de aprendizagem e reaprendizagem é a base do trabalho. Agora me conta
mais da sua família..."
Trecho 6
A interação entre cliente e terapeuta enfoca o questionamento, por parte do
terapeuta (119 T-QUES) do relacionamento do cliente com a namorada. O cliente relata
sentimento de ciúme e brigas com a namorada (120 C-SENT, 122C QUES), o terapeuta
procura verificar se o problema do cliente (antecipação de Sav) também ocorre nesta
situação afetiva (121 T-QUES e 123 T-QUES). O cliente informa (124 C-INF) que com a
namorada não se verifica o padrão de antecipação.
119 T-QUES- “Como você se dá com ela?" (referindo-se á namorada).
120 C-SENT - "Eu me dou bem com ela... só tenho um pouco de ciúmes e brigo
bastante com ela por causa disto".
121 T-QUES -"... isto de antecipar, a idéia de que não vai dar certo, ficar inseguro
com ela, também acontece isso? Em relação a ela?”
122 C-QUES - “Em relação a ela?Se eu antecipo coisas também"?
123 T-QUES -"É . O ciúme ocorre por causa de seu comportamento de antecipar
coisas ruins?"
124 C-INF - “Alguma coisa que eu vou fazer e acho que vai dar errado? Não, com
ela não acontece isso não.."
Trecho 7
O terapeuta (141 T-QUES) faz uma pergunta e traça as relações entre a resposta
do cliente e as conseqüências ambientais. O cliente refere-se ao seu comportamento e
relata sentimento (142 C-SENT C-INF). O terapeuta libera conseqüência positiva (143 T-
CONS+), mostrando entender os sentimentos do cliente. Em seguida o terapeuta mostra
como existe relação entre a resposta do cliente e as conseqüências ambientais (147 T-
INF). Na verbalização seguinte (149 T-INF) o terapeuta dá informações teóricas sobre o
conceito de conseqüênciação e o cliente concorda (150 C-CONS+).
141 T-QUES - "Então você está me dando um exemplo de coisas, no caso, ae
meninas que você perdeu por estas dúvidas, por achar que não ia dar certo..."
142 C-SENT C-INF - "É, esse meu jeito de inferioridade, de que não ia conseguir,
sabe?"
143 T-CONS+ - "Ok! Entendi, acho que você percebeu bem um aspecto do seu
comportamento.
144 C-SENT C-INF - "Era meio tímido, por causa dessa insegurança que eu
tenho, achava que não ia conseguir e deixava quieto..."
145 T-CONS+ - "Pois ó, que chato, entendo como você se sentia".
146 C-INF - “Por causa desse meu jeito, sabe?"
147 T-INF - "Daí a gente percebe que a tua insegurança como você está chaman
do, tua timidez traz conseqüências e conseqüências ruins".
148 C-CONS+ - “É isto e por isso eu estou aqui".
149 T-INF - "Isso, para mudar isso, porque esta é uma lei da Psicologia, que os
comportamentos da gente têm conseqüência. Então a gente tem que perceber como vai
se comportar para que as conseqüências sejam as melhores possíveis para a gente".
150 C-CONS+ - "Lógico! Entendi bem isso".
Discussão
O objetivo desse trabalho foi analisar alguns instrumentos que o terapeuta pode
utilizar para avaliar o efeito de uma sessão específica sobre as respostas do cliente e
sobre as mudanças comportamentais subseqüentes. Procurou-se também investigar al
gumas variáveis que atuam na interação verbal que ocorre entre terapeuta e cliente.
Os resultados de terapia costumam ser avaliados fazendo a comparação do re
pertório do cliente no inicio e no final do processo. Nesse estudo, propõe-se que a sessão
de terapia seja considerada o foco da análise, pois existem sessões que o terapeuta e/ou
cliente avaliam como mais relevantes, ou com especial importância para a mudança
comportamental. Foram analisados os comportamentos da dlade cliente terapeuta e o
controle recíproco, bem como a modelagem de um repertório verbal comum em sessões
avaliadas com dois instrumentos: o questionário de avaliação de sessões (SEQ - Stiles,
1980) e entrevistas pós-sessào (EPS). Elliot e Wexler (1994) analisando o impacto de
sessões específicas de terapia diferenciam entre o impacto que ocorre quando o cliente
percebe melhora de seu comportamento e o que decorre da relação terapêutica. Essa
escala, que é respondida pelo cliente após a sessão é composta de frases como, por
exemplo: "Definição de problemas para eu trabalhar: como resultado desta sessáo eu
agora tenho clareza do que necessito mudar em minha vida ou o que preciso discutir mais
na terapia, quais são os meus objetivos". Estes autores relacionam sua escala com o
trabalho de Stiles (1980) quanto à dimensão profundidade. Fica claro que essa escala é
uma junção das duas partes do SEQ, e poderia ser objeto de estudos posteriores.
A partir dos resultados desse trabalho, pode-se concluir que o Questionário de
Avaliação de Sessões - SEQ pode ser um instrumento útil para obtenção de informações
sobre como o cliente e o terapeuta avaliam a sessão, segundo os índices propostos,
profundidade e dificuldade. Além disso, parece claro que o terapeuta modelou o repertório
verbal do cliente, o que se percebe pela crescente similaridade das avaliações dos mes
mos. Na última aplicação, ambos apresentaram os mesmos índices. Entretanto, em rela
ção á segunda parte do SEQ, que se propõe a avaliar o impacto da sessão sobre encober
tos da dupla terapêutica, parece não ser possível afirmar que haja relação entre a sessão
e os encobertos do terapeuta e do cliente após a mesma. Esses encobertos podem estar,
e freqüentemente estão sob controle de outras variáveis, além das presentes na sessão
de terapia, tais como a história de aprendizagem e as contingências de manutenção.
Além disso, avaliações semânticas, como a realizada pelo questionário utilizado no Estu
do I não oferecem descrições de comportamentos abertos e/ou encobertos do cliente e do
terapeuta em sua interação verbal.
No Estudo II, foram realizadas entrevistas com os membros da diade terapêutica
com o objetivo de investigar quais variáveis ou aspectos da interação terapêutica estão
sendo consideradas mais relevantes para o cliente e para o terapeuta naquela sessão.
Deve-se notar que para a utilização das entrevistas deve-se tomar alguns cuidados. O
primeiro diz respeito à escolha das perguntas, que dependem do objetivo da pesquisa,
mas não devem ser genéricas ou abertas se o objetivo é obter dados passíveis de siste
matização e avaliação. No presente trabalho, as questões das entrevistas eram destina
das a verificar quais aspectos daquela sessão específica eram considerados mais rele
vantes pelo cliente e pelo terapeuta, e quais comportamentos eram generalizados para a
situação natural.
Outro cuidado refere-se ao treino dos entrevistadores, que devem emitir respostas
verbais semelhantes, e se comportar com a máxima neutralidade para não interferir nas
respostas verbais dos participantes. Para este estudo tomou-se o cuidado de treinar os
entrevistadores para aumentar a probabilidade que ambos utilizassem as mesmas
verbalizações e não reforçassem diferencialmente as respostas dos entrevistados. Po
rém, não se pode afirmar que, pelas características pessoais e comportamentais dos
entrevistadores, não tenha havido reforçamento diferencial. Tomou-se o cuidado de revezar
os entrevistadores.
A sessão de terapia è uma situação onde "ocorre uma grande quantidade de
modelagem mútua em confrontos face a face" (Skinner, 1989,1995, p. 110). Na verdade, o
terapeuta poderia falar sobre o que acontece em seu trabalho citando Skinner (1947, p.
75-76):"... espero que isto ocorra com vocês como uma mudança em seu comportamento
verbal (...) Instalei alguns comportamentos novos em vocês. Vocês irão agora, espero
como um resultado de terem estado aqui, falar sobre comportamento... Construí em vocês
um repertório verbal...".
Ferster (1979) afirma que a terapia é um tipo de interação social que envolve o
controle recíproco do comportamento dos indivíduos envolvidos, e o "primeiro aspecto a
ser estudado consiste em saber como terapeuta e cliente alteram o comportamento um
do outro, no contexto da sessão de terapia". Esse autor também ressalta que outro as
pecto importante consiste em investigar se e como os comportamentos verbais que são
emitidos como resultado da terapia podem alterar os comportamentos emitidos em situa
ção natural. Ferster (1979) afirma ainda que a terapia possibilita que o cliente fale de seus
eventos internos e "à medida que o terapeuta torna-se um ouvinte há a possibilidade do
cliente observar os determinantes de seus comportamentos e de quais variáveis são fun
ção" (p.280).
A interação entre terapeuta e cliente é essencialmente verbal, e uma dificuldade
usualmente ressaltada por pesquisadores está em diferenciar o que está sendo verbalizado
do próprio comportamento verbal. O cliente, na sessão terapêutica, relata para o terapeuta
uma série de situações de sua vida. O comportamento verbal de descrever comportamen
tos emitidos em situação natural é usualmente seguido de reforçamento arbitrário. À me
dida que o cliente vai falando com o terapeuta, observa-se que ocorre uma modelagem do
repertório verbal do mesmo. Este aspecto pedagógico ou instrucional da terapia, ficou
evidente neste trabalho, o que se conclui a partir da observação das respostas ao SEQ e
as EPS, que indicam uma similaridade cada vez maior nas verbalizações dos participan
tes da dupla terapêutica. Ficou claro também que o terapeuta modelou e deu modelo de
comportamento verbal inclusive através do uso de registros escritos de comportamento.
Nas sessões de terapia analisadas neste trabalho, como na terapia de modo
geral, as verbalizações que o terapeuta e o cliente emitem constituem categorias de
respostas que se alternam constantemente dependendo do papel que cada um desempe
nha na interação. De fato, o desenvolvimento da terapia depende das interações dos reper
tórios de falante e de ouvinte (Skinner, 1957) do terapeuta e do cliente.
O terapeuta é, às vezes, o interlocutor ou falante questionando ou fornecendo
informações. Neste papel, suas verbalizações adquirem múltiplas funções em relação ao
cliente: fornece estímulos que criam condições para discriminação de contingências, ques
tiona regras, coleta informações sobre aprendizagem e as contingências que mantém o
repertório comportamental. Quando assume o papel de ouvinte, o terapeuta responde ao
cliente a partir de seu referencial teórico, das hipóteses que formulou e das contingências
da relação terapêutica. Por sua vez, o cliente também assume os papéis de falante e
ouvinte. Nesta situação fornece informações sobre fatos de sua história de aprendizagem,
suas respostas atuais e suas conseqüências, concorda ou não com o terapeuta, faz
questões sobre fatos ou propostas do mesmo. As respostas verbais do cliente dependem
de seu repertório comportamental, das contingências que atuam na situação natural e as
que decorrem da relação terapêutica. Com base nestas considerações, e a partir da ob
servação da Figura 1, percebe-se que nesse trabalho as respostas emitidas com maior
freqüência foram questionar (T-QUES) por parte do terapeuta e dar informações (C-INF)
por parte do cliente, o que é o esperado em terapia. A categoria de respostas expressar
sentimentos (T-SENT, C-SENT) dos dois membros da dupla terapêutica foi emitida com
baixa freqüência. Este resultado é coerente com a proposta da terapia comportamental,
onde a análise das contingências e a instalação e/ou ampliação de repertórios é, na
maioria das vezes, mais relevante que a análise de sentimentos ou, pelo menos, estão
juntas, pois os sentimentos são entendidos como decorrentes de situações
comportamentais. Observa-se, contudo que o cliente expressa seus sentimentos positi
vos em relação ao trabalho terapêutico e ao terapeuta em várias sessões. Embora esse
tipo de resposta verbal seja usual em sessões de clinica, parece que nas sessões anali
sadas o cliente as expressa com freqüência alta. Esta freqüência talvez possa ser explicada
pelo fato de o cliente ter iniciado a terapia em um momento em que tomava decisões
importantes em sua vida e porque o terapeuta especificava sua apreciação quanto ao
cliente estar se conhecendo, e fazia elogios descritivos de inúmeros comportamentos.
A análise das interações verbais nas diferentes sessões de terapia mostra tam
bém, que as intervenções do terapeuta criaram condições para que o cliente discriminas
se comportamentos mantidos por contingências e, portanto "inconscientes" (Skinner,1989,
1995; Zettle, 1990). Tais comportamentos, cujas condições de aquisição e manutenção
podem não ser discriminadas pelo indivíduo, são relatados na sessão. A partir das inter
venções do terapeuta, o cliente vai identificando as variáveis que controlam seus compor
tamentos, e adotando estratégias para aprender novos comportamentos que serão emiti
dos na situação natural. Quando o comportamento alternativo é emitido e as conseqüên
cias se alteram, o cliente volta a relatar na sessão o novo padrão. Existem, portanto, dois
padrões comportamentais com diferentes conseqüências, um ó o dizer para o terapeuta e
o outro ó o fazer ou emitir o comportamento na situação natural. A correspondência entre
o dizer e o fazer é objeto de estudo de muitos pesquisadores (Catania, 1998,1999; Hübner,
1997; Hübner e Dias, 2002). Paniagua (1990), estudando vários procedimentos sobre a
correspondência entre o dizer e o fazer, analisou vários experimentos com condições
diferentes de reforçamento: a) reforço para correspondência fazer - dizer, b) reforço da
correspondência dizer - fazer, c) reforço iniciado pelo dizer e d) reforço por comportamen
tos intermediários. Sua análise indica que o reforço da correspondência dizer - fazer foi
mais efetivo que o reforço da correspondência fazer - dizer e que o reforço do comporta
mento iniciado pelo dizer ou por comportamentos intermediários sempre foram superiores
aos outros procedimentos.
Entretanto, seria muito simplista entendera complexidade do que ocorre no pro
cesso terapêutico como um treino de verbalizações. Na verdade, a verbalização do cliente
na sua interação com o terapeuta pode e freqüentemente está sob controle de outras
variáveis estranhas à situação da sessão. Reforçar o comportamento verbal do cliente
durante a sessão e antes da situação de emissão do comportamento não-verbal corres
pondente, não ó suficiente para a sua manutenção. Muitas vezes, as verbalizações do
cliente estão sob controle aversivo e suas respostas verbais têm a função de fuga/esquiva.
Ou então são relatos que o cliente supõe que o terapeuta gostaria de ouvir, estando sob
controle do possível efeito reforçador da atenção do terapeuta. Parece, portanto, que na
situação terapêutica existe um terceiro elo na seqüência dizer - fazer. O cliente diz, a
partir da intervenção do terapeuta vai para a situação natural e emite o comportamento,
isto é, "faz" e entra em contato com novas contingências. Depois, o cliente volta a dizer
para o terapeuta, e esse relato verbal fica sob controle das contingências da sessão
terapêutica. A partir destes dados pode-se concluir que, na sessão, o terapeuta modela
um comportamento verbal, que aumenta a auto-observação do cliente e este, quando vai
para situação natural emite as categorias correspondentes de comportamento, as conse
qüências se alteram e este volta e relata ao terapeuta as novas contingências. O terapeuta,
por sua vez, libera conseqüências positivas para as novas verbalizações e o repertório do
cliente se amplia, o que ó um dos objetivos da terapia.
As pesquisas em terapia (Beck, Ward, Mendelson, Mocke Erbaugh, 1961), 1961,
Mintz e Kiesler, 1982) freqüentemente referem-se ao processo terapêutico como um todo,
e os resultados são avaliados a partir do conjunto de sessões. Entretanto, o instante em
que são tomadas as decisões do terapeuta, isto é, o momento da interação terapeuta-
cliente, também vem sendo objetivamente estudado nos últimos anos (Banaco, Kovac,
Zamignani, 1995; Margotto, 1998). Qual a melhor maneira de conduzir a sessão? É mais
importante enfocar as dimensões da relação terapêutica ou os problemas específicos
trazidos pelos clientes? Estas questões são importantes, mas dificilmente podem ser
respondidas objetivamente, pois dependem da história de vida do terapeuta e da relevân
cia da decisão escolhida naquele momento. Como temos salientado, com respaldo na
literatura, responder a estas questões exige pesquisa com metodologia adequada, que
pode envolver o registro em áudio e vídeo e posterior análise de sessões, a utilização de
questionários, descrições de sessões, lista de assuntos tratados, descrições e análise
de interações cliente terapeuta.
No 1o estudo deste trabalho, foi testado um questionário de avaliação de sessões
terapêuticas e os resultados indicaram que é útil sua utilização como um primeiro instru
mento de sondagem. Foram obtidos dados relevantes quanto á consistência interna deste
instrumento. Além disso, os terapeutas forneceram dados mais consistentes sobre seus
estados internos, o que pode indicar maior objetividade dos mesmos, em função de maior
treino discriminativo. Posquisas posteriores, quo analisem com maiores detalhes outras
variáveis da interação, ou que comparem diferentes terapeutas com o uso destes instru
mentos de avaliação, e sem os mesmos poderão fornecer dados mais precisos sobre o
impacto de uma determinada sessão sobre o processo de terapia.
O Estudo II propõe-se a desenvolver uma estratégia de avaliação de sessões
através do uso de entrevistas pós-sessáo (EPS), realizadas com o terapeuta e o cliente
após sessões específicas sorteadas como amostra. Neste trabalho, as entrevistas foram
realizadas por entrevistadores independentes, mas não se exclui a possibilidade do pró
prio terapeuta fazê-las, o que pode propiciar o desenvolvimento de uma estratégia mais
adequada á prática clínica. Neste caso, o terapeuta faria a entrevista (oral ou escrita) com
seus clientes e, em seguida, responderia às mesmas perguntas. Evidentemente, é preci
so atentar para o viés que representa o fato do terapeuta ser também participante. Entre
tanto, a vantagem prática do emprego destas entrevistas como um instrumento iniciaíde
avaliação de sessões, que o terapeuta pode utilizar em seu cotidiano de forma rápida e
razoavelmente simples parece justificar sua utilização.
Barker e cols. (1994), afirmam que a pesquisa auxilia no desenvolvimento da
clinica quando desenvolve e testa novos procedimentos e que a prática clinica pode levar
ao avanço das pesquisas porque fornece dados e um campo de aplicação de novas técni-
cas. Pode-se também ressaltar que a prática clínica enfatiza a complexidade do compor
tamento humano, contrapondo-se à tendência de algumas pesquisas que exigem um
maior controle metodológico em detrimento de estudar a complexidade do comportamen
to que ó emitido na situação clínica.
Pesquisadores brasileiros têm estudado as contingências da relação terapêutica
como uma das variáveis da prática clínica. Vários estudos vem sendo desenvolvidos atra
vés da análise do comportamento verbal do terapeuta, do cliente ou do supervisor, registrados
em áudio ou vídeo. Kerbauy (1980) afirma que embora a situação terapêutica não seja
controlada, nem livre de variáveis estranhas é necessário estudá-la objetivamente. Margotto
(1998), estudou as mudanças que ocorreram no curso da sessão terapêutica e os fatores
que determinaram a tomada de decisão do terapeuta e Silveira ( 1997), estudou a queixa
do cliente como condição para analisar a interação terapêutica. Wielesnka (1989) anali
sou as cadeias de verbalizações do terapeuta para estudar o processo de supervisão
clínica. Banaco (1993) estudou o impacto do cliente sobre o comportamento do terapeuta,
enfatizando que "comportamentos do tipo encoberto têm também sua parcela de determi
nação dos comportamentos expressos, tanto pelo cliente quanto pelo terapeuta, na ses
são clínica e, conseqüentemente, na qualidade do atendimento" (p.71 ).
Além das conclusões decorrentes dos dados obtidos, deve-se ressaltar os as
pectos positivos e as dificuldades que foram encontradas na execução do trabalho.Os
terapeutas, por estarem envolvidos na situação, freqüentemente têm dificuldade de discri
minar claramente a relação entre seus comportamentos e os resultados dos mesmos.
Neste estudo, as conseqüências positivas foram um refinamento do repertório de observa
ção e avaliação dos dados do terapeuta enquanto pesquisador, o que trouxe um aprimora
mento do seu repertório clinico. Por outro lado, deve-se lembrar que na análise dos dados
o fato do pesquisador - participante ser um observador diferenciado Por exemplo, já foi
discutido, que na análise da interação verbal durante a 8a sessão, o pesquisador ficou sob
controle de seu papel de terapeuta e fez perguntas que podem ter influído na entrevista
pós-sessão. Por conhecer os dias dos sorteios e ser autor do projeto, sua participação
não pode ser considerada isenta. Entretanto, na pesquisa em clínica, este fato não invali
da as conclusões decorrentes da análise dos dados.
Concluindo, ressalta-se que as pesquisas em clínica ainda que complexas, estão
sendo mais freqüentes. Um dos ganhos da pesquisa em terapia é a crescente sofistica
ção dos instrumentos de avaliação da intervenção e dos resultados da terapia. A tarefa
dos pesquisadores, em suas áreas de especialidade, é replicar e testar as medidas já
conhecidas e continuar a explorar as possibilidades de medidas novas. A troca constante
das duas áreas de conhecimento trará o crescimento e desenvolvimento da Análise do
Comportamento Aplicada aos problemas clínicos, com ganhos para a prática clínica e
para a formação dos novos pesquisadores e clínicos.
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Capítulo 9
Integridade do tratamento e satisfação do
consumidor na
clínica analítico-comportamental infantil
Laércia Abreu Vasconcelos
Universidade de liras/lia
' Vor tamtrtrn iinAllwm h|mihkkiIimIw por Okvokn (2002) «obro m oOtçM» do procaMO taMupAuttco ao discutir a utM/açio dn mtarprotaç&Mi pok> tnrapeuta
MlWtlitk» CIHTIfXMtaíTMHrtuI
se a utilização da análise funcional indicando as diferentes etapas do processo terapêutico
nas quais ela é aplicada (e.g., Cavalcante, 1999, Cone, 1997, Micheletto, 1995).
O terapeuta analítico-comportamental infantil tem diferentes procedimentos de
acompanhamento que são selecionados de acordo com a queixa apresentada e o grupo
familiar. Os critérios de seleção de procedimentos de intervenção tôm dois grandes objetivos
evitar que os custos excedam os benefícios, o que poderia contribuir para o abandono do
tratamento, e maximizar a integridade do tratamento. Portanto, o terapeuta pode atuar
diretamente junto à criança e o(s) responsável(eis) ou pode atuar diretamente junto à
criança com sessões mais espaçadas com seu(s) responsável(eis) ou, ainda, pode atuar
apenas junto ao(s) responsável(eis) pela criança.
A integridade do tratamento
A análise dos estudos publicados no Journal of Applied Behavior Analysis (JABA)
entre 1968 a 1990 mostra a necessidade de apresentação de descrições mais completas
dos procedimentos, de definições operacionais dos tratamentos e da utilização de medi
das de integridade para facilitar a história replicativa (Gresham, Gansle & Noell, 1993).
Uma revisão dos estudos publicados de 1968 a 1980 (Peterson, Homer & Wonderlich,
1982) constata o relato da integridade das intervenções em apenas 20%, em 108 dos 539
estudos e definição operacional da VI em 16% ou em 86 dos estudos. Resultados
semelhantes foram também obtidos posteriormente. Uma revisão de 1980 a 1990 de
Gresham, Gansle & Noell (1993) incluiu estudos que avaliaram o efeito do tratamento
sobre o comportamento na população de faixa etária menor do que 19 anos de idade. Os
autores utilizaram definições da VI em quatro dimensões: verbal (instruções e/ou
comentários do terapeuta), física (o terapeuta conduz a criança a uma atividade), espacial
(o local e suas específicidades, onde a criança desenvolverá suas atividades) e temporal
(a duração dos eventos). Se as informações apresentadas em um determinado estudo
permitissem replicação, então, a definição operacional foi considerada presente. O controle
da integridade do tratamento deveria estar presente em 100% das ocasiões durante uma
condição de tratamento, havendo monitoração dos eventos nas novas contingências
implementadas com a apresentação de índices numéricos da integridade.
Gresham, Gansle & Noell (1993) observaram que de um total de 158 estudos
somente 54, o que representa 34%, forneceram definição operacional da VI e, menos
ainda, 25 estudos, 15,8%, mediram sistematicamente e relataram os níveis de integridade
de 100% ou com uma média de 93,8%. A ausência de descrições completas das
manipulações da VI dificulta a atribuição das mudanças do comportamento ao tratamento,
o leitor não tem acesso às eventuais mudanças que podem ter sido implementadas, a
pequenos detalhes, por exemplo, algumas alterações na apresentação de um reforço que
podem ser fundamentais na replicação dos resultados obtidos.
Essa revisão de 1980 a 1990 mostrou também que os anos de 1982,1985 e 1988
foram aqueles que tiveram as maiores porcentagens de estudos que apresentaram
definições operacionais da V). Um interessante paralelo com esse dado é o momento
histórico em que a análise funcional passa a ser amplamente utilizada nos estudos
publicados no JABA, no início da década de 90. O período de 1968 a 2000 mostra um
salto de zero para 22 estudos que citaram o termo análise funcional, considerando que no
JABA o termo avaliação funcional não é utilizado (Dunlap & Kincaid, 2001). No início da
década de 90, observa-se também um significativo aumento do número de estudos publi
cados sobre o comportamento social disfuncional, comportamentos agressivos, por exemplo,
os quais utilizam procedimentos de reforçamento. Há uma tendência crescente da seleção
de procedimentos de reforçamento em oposição aos procedimentos baseados em punição
para os comportamentos de autodestrutivos e comportamentos agressivos (Pelios, Morren,
Tesch & Axelrod, 1999). Assim, o início da utilização marcante da abordagem funcional,
no final da década de 80, coincide também com o aumento de estudos de comportamentos
sociais.
Finalmente, ao considerar as áreas que se beneficiam da apresentação de altos
índices de integridade do tratamento é possível dizer que todos os contextos de aplicação
fazem parte deste conjunto. Na clínica infantil sabe-se das dificuldades de generalização
dos comportamentos sociais adaptativos para outros ambientes, após a retirada dos tra
tamentos, com crianças diagnosticadas com o Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade TDAH (e.g., Barkley, 1998; Vasconcelos, 2002). Entretanto, uma das per
guntas potencialmente importantes a ser respondida nesses estudos refere-se ao nível de
integridade dos tratamentos.
A consultoria comportamental, na visão analítico-comportamental é uma outra
área que ilustra a importância da integridade do tratamento. O consultor utiliza medidas
diretas e indiretas para avaliação da implementação do tratamento feita pelo consultante.
O treino para aplicação dos procedimentos de intervenção, feedbacks constantes, obser
vações aleatórias, freqüentes e breves do desempenho do consultante e uma avaliação
contínua dos dados monitorados ao longo de todo o processo são pontos fundamentais
que caracterizam a consultoria analítico-comportamental, os quais podem contribuir para
o obtenção de altos níveis de integridade do tratamento (Noell & Witt, 1997).
A clínica analítico-comportamental infantil, independente do procedimento
selecionado de intervenção é altamente beneficiada pela apresentação de altos índices de
integridade de seus tratamentos. Isso é verdade desde a estratégia de treinamento dos
pais, a qual tem uma extensa literatura de estudos publicados (e.g., Silvares & Marinho,
1998; Marinho, 2000), às estratégias que envolvam mais diretamente a criança ou a am
bos, crianças e seus responsáveis.
Portanto, a análise da integridade do tratamento, os aspectos teóricos, assim
como os aspectos metodológicos, as estratégias de coletas de dados, as medidas sensí
veis que possam resultar em estimativas confiáveis constituem-se um quadro relativamen
te incipiente de pesquisas. A análise dos estudos publicados no JABA desde a sua
fundação reflete a necessidade de maiores investimentos empíricos. Sugere-se iguais
tratamentos às variáveis dependentes e independentes no sentido de descrições comple
tas tanto dos comportamentos alvo a serem analisados quanto dos procedimentos
implementados (Gresham, Gansle & Noell, 1993). Finalmente, a integridade do tratamen
to é fundamental para os casos que envolvam questões legais, assim como para o avanço
de toda a ciência do comportamento.
A satisfação do consumidor
O segundo tema a ser abordado, a validade social dos tratamentos na clínica
analítico-comportamental, também mostra a necessidade de investimentos de pesquisas
e, sobretudo, de revisões conceituais. Os instrumentos de avaliação do comportamento
do consumidor precisam de aprimoramento. Em geral, os estudos têm utilizado questio
nários para avaliação das respostas do consumidor quanto ao tratamento recebido.
A validade social é analisada a partir de três pontos relativos ao processo
terapêutico: (1) a definição do problema ou dos objetivos, (2) os procedimentos de intervenção
selecionados e (3) os resultados obtidos. Analisa-se a significância social dos objetivos
da intervenção, a aceitabilidade dos procedimentos e a importância social dos efeitos
produzidos pela intervenção (Gresham & Lambros, 1997). A avaliação da significância
social dos objetivos é feita considerando os valores do cliente e quanto aqueles objetivos
são socialmente significantes ou triviais para ele. Entretanto, caso haja uma resposta
negativa ela não deve ser considerada como invalidade social mas, como um indicador de
desaprovação de alguns aspectos da intervenção (Baer, 1987, citado em Gresham &
Lambros, 1997).
Para Hawkins (1991), o que está sendo medido é a satisfação do consumidor,
a qual pode ser obtida por meio da opinião de uma segunda fonte, havendo assim, valida
ção social dos objetivos da intervenção. Porém, mais uma vez, a ausência de acordos
entre o terapeuta e o cliente não reflete, necessariamente, invalidade dos objetivos, proce
dimentos ou resultados. Hawkins propõe a substituição do termo validade social por vali
dade habilitativa definida como a extensão dos efeitos terapêuticos para outras áreas
na vida do cliente. É a maximização dos benefícios gerais e minimização dos custos tanto
para o indivíduo como para outras pessoas. A validade habilitativa refere-se a mudanças
em uma classe de respostas, as quais, por sua vez, influenciam positivamente outras
classes de respostas. Mas ainda resta a dificuldade de se estabelecer a validade dos
julgamentos do consumidor. Ao considerar a validade social dos procedimentos de inter
venção observa-se que a integridade da implementação de um tratamento pode se tornar
um índice da aceitabilidade social dos procedimentos. As crianças podem não receber as
melhores intervenções devido à insatisfação de pais e professores com os procedimentos
de tratamento. Os motivos para rejeição de intervenções legitimas podem variar desde a
falta de habilidades para a implementação do tratamonto à questões filosóficas. Finalmen
te, a validade habilitativa, por sua vez, pode tornar-se um índice da validade social dos
resultados obtidos de um tratamento.
Outros fatores também são propostos para a análise dos efeitos terapêuticos.
Fawcett (1991) sugere a classificação das mudanças de comportamento em
proximais, intermediárias e distais, em outras palavras, mudanças nos comportamentos
alvo, em comportamentos concomitantes ou efeitos positivos em comportamentos colaterais,
e mudanças a longo prazo em função dos efeitos anteriores, respectivamente. Além disso,
o desempenho da criança pode ser especificado em diferentes níveis, a saber, o deficiente,
o normativo e o ideal e qualquer mudança do nível deficiente em direção aos níveis superiores
poderia ser considerada socialmente importante. Kazdin (1977) apresenta três estratégias
de avaliação da importância social dos efeitos de uma intervenção. Ele propõe a
comparação social, as avaliações subjetivas e os procedimentos combinados. A
primeira estratégia de avaliação compara o comportamento da criança após a intervenção
com seus pares, a segunda, constitui-se em uma avaliação qualitativa dos objetivos,
procedimentos e resultados, e a estratégia de avaliação do tipo combinado é a soma de
critérios quantitativos e qualitativos da mudança do comportamento (Gresham & Lambros,
1997).
Foxall (2000) propõe um modelo de análise do comportamento do consumi-
dor baseado na história de aprendizagem do indivíduo e no ambiente no qual ocorre o
comportamento do consumidor. A história de aprendizagem determina os estímulos
discriminativos do comportamento corrente e os seus potenciais reforçadores e/ou punidores
(Skinner, 1982). Entre os reforçadores, estáo o reforçamento utilitário, relacionado aos
resultados práticos, a todos os benefícios mediados por um serviço, por exemplo. Um
segundo tipo de reforço ó o informacional, que ó simbólico, cultural, e é, em geral, media
do pelos comportamentos de outras pessoas, as quais apresentam feedbacks ao consu
midor, sinalizando a apropriação de seu comportamento. É a significância social do com
portamento do consumidor que ó mediada por outras pessoas, resultando em status soci
al, prestígio e aceitação. A aquisição e a manutenção do comportamento modelado por
contingências ocorro, em geral, por meio do reforçamento utilitário, enquanto o comporta
mento governado por regras ocorre por meio do reforçamento informacional.
Portanto, Foxall apresenta um modelo, com raízes no Behaviorismo Radical, que
considera categorias de contingências que resultam da combinação (1) da extensão do
ambiente no qual o comportamento do consumidor é emitido, o qual pode ser aberto ou
fechado, no sentido de controlar um padrão específico de comportamento, (2) do
reforçamento utilitário ser relativamente alto ou baixo e (3) do reforçamento informacional
ser relativamente alto ou baixo As categorias de contingências resumem padrões de
reforçamento que mantêm uma determinada resposta do consumidor em diferentes
situações. São tentativas de explicação do comportamento do consumidor que estão
sendo consideradas, respeitando-se os princípios do Behaviorismo Radical de evitar
teorização prematura (Foxall, 2000).
A satisfação do consumidor é um ponto complexo na clínica psicológica infantil.
Inicialmente, os direitos da criança devem ser assegurados. O terapeuta deve planejar
ocasiões nas quais a discussão dos direitos da criança será desenvolvida juntos ao(s)
responsável(eis) pela criança. Nessas ocasiões, é fundamental observar qual o conceito
de infância que a família adotou. É historicamente recente a mudança da visão da criança
baseada em compaixão-sogregação, inferioridado-subordinação para um sujeito pleno do
direitos (Mendez & Costa, 1994). A mudança do conceito de infância, o respeito pelos
direitos da criança e do adolescente têm sido gradualmente implementados, especialmente
a partir do Estatuto da Criança o do Adolescente. Mendez e Costa mostram que uma
mudança cultural da visão da criança depende de ações conjugadas de pelo menos três
grandes áreas: (1) políticas publicas, (2) ações sociais, por exemplo, organizações não
governamentais e centros de estudos voltados para a defesa dos direitos da infância, e (3)
o mundo jurídico-institucional.
A análise da satisfação do consumidor na clínica analítico-comportamental infantil
deverá considerar pelo menos duas fontes de informação, a criança e um responsável por
ela. O construto validade habilitativa ê útil ao mostrar os benefícios que a criança obteve
que repercutiram de forma positiva em seu desempenho em outras áreas. A análise dos
reforços utilitários e informacionais também poderão trazer informações sobre os benefícios
do serviço de atendimento psicológico e os feedbacks sociais recebidos pela criança,
respectivamente. A existência do reforçamento informacional apresenta o dado de
significância social dos objetivos, procedimentos e/ou resultados terapêuticos obtidos. A
análise dos benefícios resultantes do processo terapêutico para o responsável pela criança
completará o quadro do comportamento do consumidor. A relação terapeuta-responsável
pela criança também rosultará na modelagem de comportamentos destes adultos, poden
do maximizar as trocas positivas no meio familiar e em outros contextos. Assim, os
resultados do processo terapêutico ao considerar os comportamentos da criança serão
somados aos potenciais ganhos obtidos por um ou mais adultos envolvidos diretamente
no processo. É possível dizer que a abordagem funcional na clínica analítico-comportamental
tem uma função educativa. Os pais passam a utilizar esta forma de análise ao considerar
seus próprios comportamentos, assim como os comportamentos da criança. Havendo,
assim, a promoção de autoconhecimento por parte destes e a promoção de descrições
mais fidedignas dos comportamentos da criança sem a utilização de rótulos. Assim,
reforçadores utilitários e informacionais também poderão estar sendo contingentes aos
comportamentos dos adultos na clínica analítico-comportamental infantil.
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Capítulo 10
Tratamento padronizado e individualizado
YuristeUà Yano
i/s r
Sonia H. M eyer
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Capítulo 11
Adesão e mudança de comportamento:
Análise das interações verbais terapeuta-
cliente nas sessões iniciais
Regina Ch ris ti na Wielenska
n \ /s r
Prof* Pr*. Rache! Rodrigues Kerbauy
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t-Bte capitulo Lmnota m na trxui da (k&rtunKio (ta Rayitu» C W w tnnak* aproaoriCada a o I K J ü P M n M tw iiiw i) d« 2002, aot) orionürçAo da P ro P Dr* K a d m l
Nodrtgue« Ktxttauy o «ti a(rtiprt«lo rtw l/ado no m aw no ano. no XI hncontm da A B P M C , em L ondrtna. P urunA
influencia os comportamentos do cliente, dentro e fora da sessão? A interação terapêutica
parece ter múltiplas funções: é veículo para a coleta dos dados necessários à análise funci
onal e por meio dela ocorre a aplicação de um ou mais procedimentos. A análise de aspec
tos do relacionamento terapêutico, o reconhecimento de seus mecanismos de funciona
mento e a definição de seus efeitos sobre os participantes ampliaria a chance de sucesso
clínico e facilitaria a formação de terapeutas.
Discutindo o relacionamento terapeuta-cíiente: aígumas das contribuições
Ferster (1966, 1967, 1979) foi um dos primeiros analistas do comportamento a
desenvolver a análise funcional das intervenções psicoterapêuticas, partindo da observa
ção direta do trabalho clínico. No seu ponto de vista, as primeiras contribuições
comportamentais para o estudo das doenças mentais partiram de pesquisadores atuan
tes no laboratório animal que, depois, se interessaram por aplicar o conhecimento produ
zido aos problemas humanos. A capacidade de modificar o comportamento segundo os
princípios do condicionamento operante estabeleceria, para Ferster, a fronteira entre a
ciência natural e a prática clinica. Segundo ele, seria difícil estimar o quanto da terapia é
governado pela teoria ou pela interação e descoberta com o paciente.
Segundo Ferster, a vantagem da descrição comportamental seria tornar visível e
cientificamente comunicável (ao terapeuta) cada pequeno componente de uma interação
terapêutica complexa. Ferster também acrescenta que o enfoque comportamental recai
sobre um desempenho operante, uma classe de atividades definida pela alteração produ
zida no ambiente, o reforçador, o qual terá a capacidade de aumentar a probabilidade de
ocorrência desta resposta. O terapeuta atuaria de modo similar, facilitando a ocorrência
de um comportamento do cliente, que será mantido, no contexto natural, por conseqüên
cias não mediadas pelo terapeuta.
Ferster realizou estudos observacionais em situação natural (Ferster e Simmons,
1966; Ferster, Culbertson e Perrot-Boren, 1968/1978), demonstrando a existência de sutis
relações de controle reciproco entre uma terapeuta psicodinâmica, Jeanne Simmons, e
sua cliente, uma criança autista. A terapia seria uma interação na qual o reforçamento do
comportamento do terapeuta, derivado dos progressos no repertório da criança, seria tão
importante quanto os desempenhos da criança reforçados pelas contingências ou instruções
dispostas pelo próprio terapeuta.
Ferster destacou a importância co comportamento verbal na psicoterapia. Segundo
ele, caberia ao pesquisador identificar como o terapeuta e o cliente modificam o compor
tamento um do outro no exato momento da interação e explicar como os comportamentos
verbais que emergem da terapia seriam capazes de produzir melhoras nos problemas do
cliente.
Na terapia, o ouvinte faz um contraponto ao falante. Propriedades estáveis do
repertório do terapeuta forneceriam reações que sustentam e modelam a fala do cliente, a
qual reflete, em especial no início do tratamento, o controle exercido pelos ouvintes parti
cipantes de sua história passada. A reatividade diferencial do terapeuta, um ouvinte treina
do, teria a capacidade potencial de remediar partes do discurso do cliente. E o controle
estrito entre ouvinte e falante, a dupla paciente-terapeuta, cria uma situação na qual os
reforçadores são naturais, mantidos pelas propriedades estáveis dos repertórios de am
bos. O repertório inicial do paciente seria relativamente insensível às reações do terapeuta
por ser um operante negativamente reforçado, um comportamento verbal controlado pela
privação e pela estimulação aversiva. O contexto terapêutico protegido, criaria, segundo
Ferster, capacidades sociais que modificariam a interação do cliente com outras pesso
as, em vários contextos.
As análises funcionais do terapeuta sobre as interações ocorridas na sessão
ensinariam o paciente a identificar novas alternativas para seu comportamento fora do
consultório. A habilidade de amplificar contingências em vigor através do comportamento
verbal, seria, por fim, utilizada pelo paciente para formas públicas de seu comportamento
fora da sessão. Assim, ocorreria o aumento de sua capacidade de maximizar a freqüência
de reforçamento positivo e a redução do controle aversivo.
"O mesmo operante verbal contém muitas vorbalizações, cada uma das quais é
estruturalmente única. Todas as verbalizações que pertencem ao mesmo operante
verbal, a ele pertencem, em parto, porquo cada uma delas tem o mesmo efeito
sobre o ouvinte. (...) Tal como no caso de outros operantes, a segunda parto da
definição de um operante vorbal, além de seus efeitos, é o contexto em que ele
ocorre. Verbalizações estruturalmente semelhantes podem pertencer a operantes
verbais diferentes, dependendo do contexto. A variação no contexto pode modular
as variações estruturais do operante que provavelmente ocorrerão." (p. 152)
Procedimento
Encaminhamento para terapia: interessado em fazer terapia, R. buscava aten
dimento gratuito devido a limitações financeiras. Foi encaminhado ao Laboratório de Com
portamento e Saúde do IPUSP. A terapia foi oferecida sem ônus financeiro, em sessões
semanais, pelo tempo necessário, sob condição de que C aceitasse as normas
especificadas no termo de consentimento informado. Aceita a proposta, combinou-se
local e data da sessão inicial.
f In . I K e s n o s t / i s I C A f ln t u r u m i M M i M . o m i i l H i i ' ) d o ! «■ C. m s s^ ssô es 1 A
■ dionte
S° R C
C VERBALIZA X ------T REPRODUZ OU PARAFRASEIA TRECHO DE X ------ C
CONCORDA E DEMONSTRA ESTAR SOB CONTROLE DE T
T VERBALIZA X ----- C REPRODUZ OU PARAFRASEIA TRECHO DE X ------ T
CONCORDA E DEMONSTRA ESTAR SOB CONTROLE DE C
Pode-se inferir as seguintes conseqüências para respostas PR: o diálogo ganha
fluidez, demonstra-se ao interlocutor que se está atento às suas palavras e que há, de alguma
forma, entendimento ou concordância com suas idéias. Resumindo, a emissão de PR sinaliza
aos participantes haver um controle recíproco do comportamento verbal dos participantes.
T emitiu 43 respostas PR, para 33 respostas de C na sessão 1. As respostas de
ambos os participantes ocorreram uniformemente ao longo da sessão. A freqüência e a
distribuição uniforme sugerem que respostas PR já eram funcionais fora do contexto da
interação terapêutica para os dois participantes. Apenas teria ocorrido o reforçamento
recíproco, para manutenção na sessão, de respostas PR. Numa sessão inicial, PR é uma
resposta provável, que requer quase nenhum conhecimento prévio entre os participantes,
bastando o controle exercido pela interação verbal.
Respostas PR dos dois participantes ocorreram ao longo de toda a sessão 2,
com 18 T-C e 11 C-T. A redução nas freqüências apresentadas por TeC , comparadas à
sessão 1, provavelmente deve-se ao predomínio de outras respostas mais complexas,
que dependem do conhecimento prévio entre os participantes.
Na sessão 3, ocorreram 11 PR T-C e 17 PR C-T, enquanto que na sessão 4, T
emitiu apenas 5 PR, pois o predomínio de interações psicoeducacionais é menos compatível
com esta resposta. C emitiu 13PR, cujo efeito seria informar a T que está de acordo com
as propostas apresentadas.
wvnAo 1 j vssA o I vm A o 4
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MISSflO 1 MM/tO i
A figura 6 mostra que no total das 4 sessões, houve 155 ocorrências de FINS T-C
para 248 respostas FINS C-T. Estes resultados sinalizariam que T foi capaz de manter as
respostas FINS C-T, não restringindo verbalizações de conteúdo não previsto ou diferente
dos que havia escolhido. Por sua vez, C demonstrou manter as respostas FINS de T, por
meio de respostas de outras classes emitidas contingentemente às verbalizações de T.
Assim, manteve-se relativamente estável a freqüência de FINS T-C, como atesta a Figura 6.
Salienta-se que na sessão 4 , com o advento de progressos clínicos relatados a T, houve
oportunidade para C emitir FINS em freqüência bastante superior à das domais sessões.
■ UHDt
■ DKO C
Como se verifica pela Figura 8, a terapia teve início com baixas freqüências de
DRD, se comparadas a respostas de outras classes. Deve-se atentar que nas sessões 3
e 4 houve um aumento relativo das respostas DRD, sugerindo, talvez, o conforto dos
participantes em expor eventuais divergências de idéias.
Outros três eventos comportamentais foram acrescentados à análise de dados,
para identificar comportamentos dos participantes que mantivessem provável correlação
com os resultados iniciais da terapia. Embora não se caracterizem como respostas de
classes bem definidas, a decisão de incluí-los deveu-se à função inferida de cada um nas
sessões. Selecionou-se três tipos de eventos:
• eventos FVP T-C são as verbalizações de T sobre sua vida profissional que aumen
tariam a probabilidade de C reconhecer T como uma profissional qualificada para
conduzir o tratamento;
• eventos PM C-T são verbalizações de C sobre planos de mudança comportamental,
que informariam a T sobre a disponibilidade de C se engajar na terapia;
• eventos RM C-T são os relatos de C sobre mudanças de seu comportamento fora da
sessão, ocorridas, supostamente, sob efeito da terapia, os quais sugerem a T que
suas intervenções começaram a influenciar o funcionamento do cliente fora da sessão.
A seguir, as definições dos três eventos comportamentais escolhidos,
9. Terapeuta emite verbalização sobre sua formação, experiência clinica
ou outros aspectos de sua prática acadêmica ou profissional (FVP T-C)
FVP são as verbalizações de T, ocorridas na sessão, referentes à sua formação
acadêmica ou aspectos de sua prática profissional;
S° R C
(INESPECÍFICO) — T RELATA SOBRE FORMAÇÃO/EXPERIÊNCIA — C VALO
RIZA INTERVENÇÕES POSTERIORES DO TERAPEUTA
S" R C
(INESPECÍFICO) — C RELATA PLANO DE MUDANÇA — T DISCUTE O PLANO,
EXPRESSA APROVAÇÃO, SUGERE ALGO A MAIS, ETC.
A Figura 9 mostra que eventos FVP foram mais freqüentes nas sessões 1 e 3. Na
primeira sessão, T apresentou-se profissionalmente, o que explica as 12 ocorrências de
eventos FVP de T. Por outro lado, T fez menção a casos similares já atendidos
(estabelecendo um paralelo entre os casos tratados e o problema de C) e, com isso,
produziu os 14 eventos FVP na sessão 3.
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Discussão
Pesquisas de laboratório buscam o controle de variáveis ao planejar procedimentos.
E, dessa forma, retiram um fenômeno de seu contexto natural. Numa etapa seguinte,
essas variáveis são extrapoladas para a situação natural. É arrojado dizer que em terapia
comportamental se encontre, na própria sessão, a regularidade do laboratório. Transformar
a sessão terapêutica em uma sessão de pesquisa de laboratório, no caso específico,
seria um retorno às origens da terapia comportamental, quando seus iniciadores queriam
vê-la como atividade de pesquisa. Nesta perspectiva, a sessão terapêutica seria objeto da
análise e a identificação de seqüências verbais na sessão propiciaria verificar os padrões
de comportamento do terapeuta e cliente e os fatores de mudança. No presente estudo, a
construção de classes de respostas permitiu explicar a forma de trabalhar em terapia
comportamental e os mecanismos controladores da adesão ao tratamento e mudança.
Os resultados aqui obtidos poderiam esclarecer e remediar as falhas das intervenções e
facilitar ao terapeuta desenvolver tratamentos eficazes e dar pistas sobre como alterá-los,
de acordo com os princípios da aprendizagem e os comportamentos relatados e emitidos
pelo cliente na sessão. Esse ponto de vista é parte da proposta clínica, por exemplo, de
Kholenberg e Tsai (1991/2001). Em sua proposta de trabalho, o terapeuta precisa ser
capaz de responder apropriadamente aos comportamentos clinicamente relevantes do
cliente na sessão.
A habilidade clínica de responder ao cliente de modo apropriado precisaria ser
treinada e um procedimento de auto-monitoração das sessões como o que foi proposto
aqui pode ter valor para a formação de terapeutas. Programas de autocontrole foram ex
tensivamente adotados no combate de problemas clínicos diversos e se mostraram impor
tantes facilitadores da mudança (por exemplo, Kerbauy, já em 1972, discutiu amplamente
o papel da automonitoração para controle do comportamento alimentar). Registrar e ana
lisar o dado coletado tem um custo de resposta alto, mas isto resulta em descobertas que
compensam sua adoção, especialmente em supervisão, pesquisa clinica e formação de
terapeutas.
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Capítulo 12
Diferenciação entre a noção de significado
pelo uso e a baseada em relações de
equivalência
Visões comportamenlais de significação
"Quando os filósofos usam uma palavra - "saber", "ser", "objeto", "eu", "proposi
ção", "nome" - e procuram apreender a essência da coisa, deve-se sompre
perguntar: essa palavra é usada de fato desse modo na língua em que ela
existe?" (Wittgonstoin, 1953 pag.66)
Segundo Day (1969), Skinner, partilhando das idéias apresentadas por Wittgenstein,
se opõe a qualquer tentativa de abordar o problema da linguagem enquanto sistema de
representação do mundo. Ambos os autores não vêem a linguagem como algo especial,
mas sim aprendida e mantida como todo e qualquer comportamento no qual a análise
deve se ater sobre a conseqüência e ocasião em que este comportamento ocorre. Os
trechos a seguir exemplificam claramente como Wittgenstein e Skinner, respectivamente,
tratam a linguagem como comportamento:
Skinner (1957) afirma que "os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por
sua vez são modificados pelas conseqüências de sua ação" (pág. 15). Segundo Skinner,
no comportamento verbal, esta ação sobre o mundo ó realizada de forma indireta, onde
uma comunidade verbal, treinada a responder a estímulos verbais, ó a mediadora de con
seqüências ao falante. Skinner aborda o comportamento verbal enquanto respostas
operantes, ou seja, como função de contingências de reforçamento. Para Skinner, a no
ção de significado deve ser entendida dentro desta perspectiva, como a relação funcional
entre a resposta verbal e a contingência em que esta está inserida. Isto é, o significado de
palavras ou frases seria o conjunto de circunstâncias nas quais estas são emitidas e que,
pelo menos ocasionalmente, são reforçadas pela comunidade verbal. O significado então,
mantêm relação tanto com variáveis históricas de condicionamento, quanto com variáveis
mantenedoras atuais. “Uma resposta verbal significa algo no sentido de que o falante está
sob controle de circunstancias particulares" (Skinner, 1977, pag. 8). Skinner (1945), refe
rindo-se ao significado dos termos psicológicos, argumenta que:
"Os sons representados na ortografia inglosa como gato ou as marcas gato não
possuom significado em sl\ nem é possível colocar significado dontro delas,
para muni-las com significado. Como estímulos, auditivo ou visual, elas podem
ter um lugar na contingência de reforçamento, e como um resultado especial,
respostas podem vir a estar sob o seu controle emitidas por aqueles que as
escutam ou as lôem. Produzi-las sob certas circunstâncias ó também reforçado
de maneiras especiais. Como respostas, as circunstâncias que controlam a
sua aparição são o seu significado. Como estimulo, o seu significado ó o
comportamento sob o seu controle (Skinner, 1980 pag. 114).
"No caso mais simples, uma palavra vem a ser equivalente ao que ela "representa"
[stands for]. É por isso que as pessoas chamam de “símbolos” (...) eu não considero
"símbolo" uma explicação para nada, mas eu o considero como um nome para uma coisa
real, um fenômeno observado que exige explicação.
Está realmente incorreto falar sobre significado nestes casos? Deveríamos inventar
algum outro termo para substituí-lo? Eu acredito que o paradigma de equivalência demonstra
uma maneira em que símbolos vêm a ser estabelecidos como tal, um modo que palavras
podem vir a "significar” o que elas "representam" [stands for] (...) eu acredito que o fenômeno
é importante por si, e eu penso que eles sáo também “uma propriedade especial da
linguagem" no sentido que eles ajudam a fazer a linguagem tão poderosa quanto ela ó."
(Sidman, 1994. pag. 563).
Símbolos verbais e os objetos que estes representam seriam agrupados em clas
ses de equivalência, possibilitando a substituição de um estímulo por outro. Ou seja,
eventos (e.g., estímulos condicionais e discriminativos, respostas e conseqüências) que
fazem parte de uma mesma classe de equivalência poderiam trocar de função no controle
de um sobre o outro dentro de uma contingência de três ou mais termos. E é justamente
dentro dessas classes de equivalência que, segundo Sidman, o significado se encontra.
O indivíduo seria capaz de responder a um estímulo verbal não por este apresentar uma
função dentro de um determinado contexto, e sim por fazer parte da mesma classe do
objeto que este representa, respondendo ao estimulo verbal como se esse fosse o objeto.
Discussão
Apesar de ambas as noções de significado fazerem parte da tradição analítico
comportamental, diferem consideravelmente entre si. Para Skinner, o significado estaria
diretamente relacionado ao conceito de relação funcional, que norteia toda a sua explicação
acerca do comportamento, enquanto, para Sidman, o significado deveria ser entendido
dentro da noção de eventos equivalentes.
Aparentemente, a visão do significado com base em classes de equivalência
guarda mais semelhanças com a idéia de significado e referente apresentada por Mill,
pois a relação “A significa B" seria substituída sem maiores problemas pela relação "A é
equivalente a B". Aprender o significado não envolve aprender respostas verbais ou
comportamento de ouvinte discriminado, em outras palavras, aprender a se comportar, e
sim envolve formar relações de equivalência ou nome próprio entre palavras e seus referentes.
Uma vez estabelecidas estas relações, o indivíduo seria capaz de se comportar
simbolicamente utilizando as palavras no lugar dos seus referentes. Tanto para Sidman
quanto para Stuart Mill, o indivíduo só seria capaz de responder adequadamente a uma
palavra ou conjunto de palavras caso essa fizesse parte de uma relação direta com o
estímulo não-verbal. Portanto, a compreensão, para esses dois modos de encarar a signi
ficação, envolveria obrigatoriamente um responder simbólico. Esta noção contraria a con
cepção Skinneriana da compreensão enquanto mero responder discriminado.
O significado com base em Relações de Equivalência se distancia da proposta
Behaviorista Radical a partir do momento em que modifica a noção de funcionalidade do
comportamento verbal como apresentado por Skinner Ao devolver à palavra o status de
unidade de análise de significado, e de entidade portadora de significado em si, a noção
de significado baseado em relações de equivalência rompe com a abordagem Skinneriana
de significado. O abandono da distinção de estímulos e respostas dentro do contexto
simbólico das relações de equivalência atribui o significado à palavra independente da sua
função comportamental. Ao se falar em significado baseado em relações de equivalência,
se distancia da noção de função do comportamento verbal, já que o interesse passa a ser
o de verificar quais eventos partilham as mesmas classes de equivalência das palavras. E
ainda, ao se fazer referencia a eventos equivalentes para explicar o comportamento verbal,
a noção de funcionalidade perde sentido, ou seja, para se compreender uma resposta
verbal é necessário que ela faça parte de uma classe de equivalência (note-se aqui a
semelhança com a noção símbolo/referente) e não que ela apresente uma dada função
dentro de um determinado contexto. Tal noção de significado apresenta semelhanças
com visões estruturalistas da linguagem, algo que Skinner constantemente se preocupou
em negar.
Aparentemente, Mill e Sidman tomaram como base para as suas formulações
acerca da significação, a observação do comportamento de humanos já verbais. Este tipo
de população exibe uma grande incidência de comportamentos novos, induzindo a
conclusões acerca de um caráter complexo do comportamento verbal que não ó observado
quando este começa a ser adquirido por crianças pré-verbais. Além disso, sustenta a
concepção de que a linguagem ou o comportamento verbal exigem outras ferramentas de
análise (e.g., relações de equivalência) para serem explicados a contento. Contudo, uma
outra possibilidade seria a de que, para que os indivíduos passem a apresentar comporta
mentos novos, ó necessário que estes possuam uma grande experiência com o compor-
tamento verbal, que é adquirida quando são inseridos em sua comunidade verbal. Conse
qüentemente, os modelos de explicação dos comportamentos simbólicos gerados a partir
de observações de humanos verbais não são capazes de explicar como os indivíduos
aprendem a se comportar simbolicamente. A análise funcional do comportamento verbal
proposta por Skinner se preocupa principalmente com a aquisição do comportamento
verbal, sem deixar, contudo, de explicar comportamentos complexos com conceitos como
extensões do tato, extensões do mando, quadros autoclíticos, abstração, respostas
multicontroladas, entre outros. Neste sentido, a proposta Skinneriana parece ser mais
abrangente que as anteriores, e vários dos conceitos apresentados em seu livro sobre o
tema comportamento verbal ainda merecem receber uma investigação empírica mais
completa antes de se propor novas ferramentas de análise para lidar com a questão do
significado.
Referências
Mill, J. S. (1979). Sistema de lógica indutiva e dedutiva o outros textos. São Paulo; Abril Cultural.
(Trabalho original publicado em 1843.)
Ryle, G. (1957). Tho thoory of meaning In C. A Mace (Org), British Philosophs in tho Mid-Century
(pp. 239-264). Londres; George Allen & Unwin.
Sidman, M. (1971). Reading and auditory-visual equivalences. Journal o f Speech and Hearing
Research, 14, 4-13.
Sidman, M (1990). Equivalence relations: Where do they come from? In D. E. Blackman & J.
Lejeune (Eds.), Behavior analysis in theory and practice: Contributions and controversies (pp.
93-114). Hillsdalo, NJ: Lawronce Erlbaum Associates.
Sidman, M (1994). Equivalence Relations and Behavior: A research story. Boston, MA: Authors
Cooperative, Inc., Publishers.
Sidman, M., & Tailby, W. (1982). Conditional discrimination vs matching to sample: An expansion
of the testing paradigm. Journal o f the Experimental Analysis o f Bohavior, 37, 5-22.
Skinner, B. F. (1980). The meaning of meaning. In R. Epstein (Org.), Notebooks, B. F. Skinner (p.
114). Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall.
Capítulo 13
Identificação de fatores relacionados à
oposição ao Behaviorismo Radical: Análise
do relato verbal de ex-analistas do
comportamento1
M aria fater Rodrigues
1/N/OhS 1h /í 'dmpus Cdsídvel'-PR.
Linguagem e terminologia
• Aspectos da linguagem da teoria em questão, bem como suas diferenças em relação
a linguagem de pares e da população em geral (Ex.: Deitz e Arrington, 1983; Hickey,
1994; Foxx, 1996; Banaco, 1997).
Discordâncias metodológicas
• Características metodológicas da produção de conhecimento da abordagem e de con
cepção de ciência (Ex.: Miraldo, 1985)
• Função social e aplicação do conhecimento produzido pelas pesquisas, incluindo aqui
a inserção dos membros em lutas democráticas e posicionamentos políticos em geral
(Ex.: Banaco, 1997, Carrara, 1998)
Outros
• Diferenças entre valores e princípios (Hickey, 1994 e Foxx, 1996),
• Modelo médico e doenças mentais (Hickey, 1994).
Mótodo
Foram cinco os Sujeitos entrevistados na pesquisa e os critérios para a escolha
dos mesmos foram: 1) Existência de produção/atuação acadêmica e profissional pautada
no Behaviorismo Radicaç/Análise do Comportamento, 2) Indicação de seus nomes a
partir da consulta a profissionais de referência na área (com produção atual ativa e
reconhecida pela comunidade, e que pudessem indicar indivíduos que já houvessem
tido formação e produção na área, com posterior modificação de sua orientação teórica),
3) Como critério adicional, em caso de dúvidas, seria realizada consulta à literatura,
procurando publicações do mesmo autor, pautadas em diferentes orientações teóricas,
em diferentes períodos.
O roteiro de entrevista foi elaborado com base na classificação de fatores de
oposição efetuada anteriormente a partir da revisão de literatura. Também incluímos
questões de caracterização dos Sujeitos, que levantassem informações sobre sua história
com a abordagem.
As entrevistas foram transcritas literalmente e o tratamento dos dados consistiu
em construir, inicialmente, uma Tabela de Fatores de Oposição para cada Sujeito,
onde listamos as classes e subclasses configuradas em prováveis fatores de oposição,
juntamente com todos os trechos da entrevista que trouxessem menção àqueles aspectos.
As Tabelas de Fatores de Oposição serviram à consecução de Roteiros Sintéticos
de Fatores para cada Sujeito, como passo preliminar à análise das entrevistas por
Sujeito. Com base nesses roteiros e nos trechos de fala dos Sujeitos contidos nas Tabelas
de Fatores de Oposição, efetuou-se a análise das entrevistas de cada Sujeito.
Após essa etapa procedeu-se à confecção de um Roteiro Sintético único,
englobando as informações contidas nos roteiros anteriores e, em seguida, a uma tabela
única com informações temáticas baseadas no roteiro de entrevista, incluindo informações
sobre características básicas de todos os Sujeitos. O Roteiro Sintético Único e Tabela
de características básicas dos 5 Sujeitos, deram subsídios (juntamente com as
informações incorporadas por todo o trabalho anterior da pesquisadora), para a análise
geral das entrevistas e conclusões.
A seguir, apresentaremos um resumo dos resultados por sujeito, algumas
conclusões e possíveis desdobramentos do trabalho.
Sujeito 1
O conjunto de informações oferecidas pelo Sujeito 1 permite levantar a hipótese
de que talvez nunca tenha se identificado total e completamente com o Behaviorismo,
pelo menos não com o Behaviorismo Radical skinneriano, e de não ter havido opção
anterior pela abordagem, uma vez que a teoria da Aprendizagem Social (um tipo de
Behaviorismo cognitivo) era a única abordagem ensinada mais aprofundadamente na sua
graduação, antes de sua formação subseqüente na Análise do Comportamento.
Algumas afirmações do Sujeito 1, como quando atribuiu um papel passivo ao sujei
to no Behaviorismo, poderiam ser interpretadas como equívocos, podendo ser classificadas
como rneias verdades, se tomadas descontextualizadamente, isto é, se olhadas sepa
radamente da apresentação dos pressupostos dos quais parte, diferenciados dos do
Behaviorismo (em concepção de homem, de comportamento e de determinação, por exem
plo). No entanto, um dos objetivos do trabalho foi justamente tentar desvendar quais são os
fatores geradores de discordâncias para com o Behaviorismo e quais são as premissas das
quais essas discordâncias partem, e aqui há indicadores que permitem mostrar que o Sujei
to 1 não está cometendo equívocos, porque seus pressupostos são diferentes dos do
Behaviorismo e de acordo com eles, suas afirmações sobre Behaviorismo são pertinentes.
Uma afirmação crítica sobre o Behaviorismo, ainda que descontextualizada, não pode ser
apenas descartada como equívoco sem uma maior reflexão sobre o tema.
A pressão do mercado de trabalho contra a pertinência de um Doutorado na área
Experimental, relatada pelo Sujeito 1, ainda que não tenha se constituído em fator fundamental
no rompimento com a abordagem, ó informação que permite refletir sobre o pequeno impacto
da abordagem behaviorista (conforme também apontado pelo Sujeito 2), e mesmo da
Psicologia Experimental, em trabalhos aplicados, especificamente o trabalho educacional.
Sujeito 2
Pelo conjunto de informações levantadas na entrevista com o Sujeito 2, podemos
resumidamente dizer que existem divergências básicas em relação ao Behaviorismo,
principalmente em fatores filosófico-epistemológicos, fatores metodológicos e em
concepção sobre forma de aplicação da teoria behaviorista.
Em relação aos fatores filosófico-epistemológicos, há divergências e
discordâncias em concepção de homem, de comportamento e de determinação humana.
O Sujeito 2 põe muita ênfase na subjetividade, como determinante humano e como
objeto de estudo. Concebe o homem constituído por e em processos subjetivos com
auto-propriedades inernas, ainda que existam fatores biológicos e sociais determinantes.
O homem seria, ainda, essencialmente atravessado por conflitos que o constituem,
estando longe do equilíbrio, sendo instável, conflituoso e contraditório. Não adere e nunca
aderiu ao Behaviorismo Radical como Filosofia da ciência do comportamento humano e
como Filosofia com raízes no Funcionalismo pragmatista americano.
Quanto aos fatores metodológicos, discorda quanto aos objetivos das ciências
humanas, no que se refere à criação de técnicas de intervenção. Diverge sobre o que
seria o objeto de estudo da Psicologia - para ele, a subjetividade - , além de divergir a
respeito da possibilidade da extensão das conclusões obtidas com animais em laboratório,
para o campo da linguagem e do comportamento humano (não continuidade interespócies).
Sobre aplicação da teoria e sua função social, ele tem discordâncias, antipatias e
criticas várias, entre elas, o que considera como pretensão do trabalho de Skinner, de
poder explicar tudo a que se propõe. Diverge sobre existirem influências sociais do traba
lho de Skinner/AEC e do Behaviorismo Radical em geral e em relação a uma suposta
pretensão do behaviorista de intervir como alguém à parte das contingências, com
possibilidade pensada de controle do comportamento humano. Considera o impacto social
do Behaviorismo muito pequeno e não crê que possa dar resposta a problemas humanos.
O conjunto das informações da presente entrevista permite afirmar que o Sujeito 2
possui um grande conhecimento de Behaviorismo Radical e de AEC. Todos os sujeitos
entrevistados possuem possibilidade reduzida de apresentarem equívocos sobre a
abordagem, mas as opiniões deste sujeito em especial, sobre o Behaviorismo, dificilmente
poderiam ser confundidas com equívocos, configurando-se claramente em discordâncias.
As críticas são contextualizadas, ou seja, quase sempre explicita com bastante clareza
quais são os pressupostos do Behaviorismo e os seus próprios, bem como a diferença
entre ambos em relação aos pontos em que existem divergências.
Sujeito 3
O Sujeito 3 apresenta um extenso rol de diferenças básicas, arroladas nas se
guintes categorias: fatores filosófico-epistemológicos; função social e aplicação do co
nhecimento: dificuldades em relação à comunidade behaviorista e fatores relacionados ao
público externo.
Concebe o homem como agente da própria história, livre e responsável por suas
próprias escolhas, e essa concepção permeia quase todas as diferenças teóricas
apontadas. Discorda do que considera ser uma visão de homem como reagente no
Behaviorismo, numa visão semelhante à do Sujeito 1. Vê uma diferença qualitativa
fundamental entre o homem e outros animais, e o Behaviorismo trataria do lado animal do
ser humano, lado em que, na opinião do Sujeito 3, existe uma continuidade interespócies.
Acredita em livre-arbítrio como possibilidade de escolhas (concepção possivelmente
proveniente de uma opção filosófica existencialista), embora não totalmente independento
de determinações.
Sobre determinação, divorge da ênfase na determinação externa no Behaviorismo,
que favoreceria a idéia de um homem passivo (reagente) e sem escolhas. Concebe a
linguagem (e não comportamento verbal), inserida na cultura, como um dos determinantes
(externo/interno) básicos do homem. Concebe o ambiente determinador no Behaviorismo
como controle por contingências imediatas, que não incluem contextos maiores como a
cultura, a linguagem (comportamento verbal) e biologia. Considera a possibilidade de existir
determinação por fatores internos em igual proporção aos externos, em contraposição à
visão de homem determinado exclusivamente por um ambiente externo no Behaviorismo.
A concepção de comportamento humano para o Sujeito 3 ó de uma conexão
entre sujeito e mundo. Não tem segurança sobre eventos internos serem comportamento
(para isso teria que modificar sua concepção não processual de comportamento) e critica
a teoria pela ausência de preocupação com eventos encobertos (segundo elo na
contingência tríplice). Discorda sobre possibilidade de previsibilidade de todos os aspectos
do comportamento, especialmente do comportamento humano, baseando-se em conceitos
como os de singularidade, complexidade e autodeterminação do comportamento, incom
patíveis com a previsão.
Considera o Behaviorismo uma abordagem excessivamente simples (como a lin
guagem formalizada da abordagem, contingência tríplice que possibilita estabelecer rela
ções que explicam o comportamento e o modelo empírico) em relação ao que ele conside
ra complexo (ampliação do pensamento, inclusão de uma multiplicidade variáveis e de dife
rentes conceitos teóricos etc.).
Diverge também em fatores metodológicos, em decorrência de sua concepção de
homem. O homem seria um objeto de estudo diferente dos demais em complexidade, variabi
lidade e como conseqüência, em previsibilidade. Não considera a metodologia das ciências
naturais apropriada para o estudo do homem e sua subjetividade, sendo apropriada apenas
para o estudo dos aspectos regulares animais.
Tem uma série de criticas em relação à forma de aplicação da teoria e do conheci
mento, no consultório, no ensino programado e no que julga ser a minimização do papel do
professor em Skinner. Chegou a declarar que a teoria favorece posicionamentos políticos mais
reacionários e até totalitários, muito embora tenha explicitado que o problema não é da teoria
e sim de sua má utilização. Elogia aplicações da Modificação do Comportamento em escolas,
especialmente as que atendem deficientes mentais.
Também critica a comunidade behaviorista em vários aspectos como o excesso de
rigidez, e a posse de um discurso considerado pouco abrangente e repetitivo. Considera o
grupo behaviorista de difícil relacionamento por desvalorizar e ter preconceito em relação a
pensamentos diferentes e divergentes; pelas lutas pelo poder na academia e pelo que consi
dera serem características de grupos minoritários: a presunção, a arrogância e o fechamento
do grupo. Relata ter presenciado maus usos da teoria na vida pessoal e profissional por parte
de pelo menos um colega e um professor.
Outros aspectos relacionados á comunidade behaviorista seriam a sua linguagem
excessivamente purista e a punição à utilização de palavras mentalistas numa quase nega
ção da subjetividade. Alôm disso, a linguagem behaviorista seria excessivamente técnica e
desconedada da linguagem das pessoas em geral, dificultando a própria divulgação da teoria.
Menciona algumas dificuldades com comunidade externa, envolvendo alunos e
principalmente colegas de outras abordagens, revelando que não era de bom tom ser
identificado como behaviorista na Psicologia em geral.
A exemplo do Sujeito 1, efetua algumas críticas ao Behaviorismo que também pode
riam ser classificadas como equívocos, á primeira vista. Um exemplo seria quando classifica
a concepção de homem para o Behaviorismo como reagente/passivo; ou quando circunscreve
as contingências analisadas pela teoria como imediatas. No entanto, assim como o Sujeito 1,
ele parte de pressupostos muito diferenciados dos do Behaviorismo ao efetuar tais críticas,
embora não defina com tanta clareza a diferença entre esses seus pressupostos e os do
Behaviorismo. A sua concepção de homem, por exemplo, é de fato muito diferenciada da
concepção behaviorista (incluindo elementos como escolha, liberdade, determinação, entre
outros); portanto, faz sentido que classifique o homem behaviorista como passivo dentro da
sua concepção, embora não faça sentido dentro da concepção behaviorista, que parte de
outras premissas, ou ainda, oferece outro significado aos mesmos termos.
Uma outra questão que se levanta, sobre a qual vale a pena refletir, é se de alguma
forma o clima intelectual e acadêmico que vivenciou não permitia de fato justificar esse tipo de
leitura, configurando-se em uma espécie de limitação da comunidade e/ou da teoria dentro de
um determinado momento.
Sujeito 4
O conjunto de informações permite-nos verificar que o Sujeito 4 tem principalmen
te e fundamentalmente divergências filosófico-epistemológicas em relação ao Behaviorismo
Radical que se configuram em identificação de lacunas sobre tomas de interesse cognitivo,
para os quais não encontrou suporte teórico satisfatório. Divide o funcionamento humano
em dois níveis, um animal e um humano, e o Behaviorismo trataria de questões relacionadas
ao lado animal. No lado especificamente humano, e esse é um ponto fundamental, o
Behaviorismo não responderia questões sobre pensamento e linguagem, evolução e
desenvolvimento do pensamento verbal. Também relata sua insatisfação com a não resposta
a questões sobre a relação entre pensamento/raciocínio e emergência do ato consciente
e pensamento lógico, bem como fenômenos cognitivos em geral. Limita a teoria behaviorista
à análise de funções elementares. Critica a equivalência de estímulos por se basear em
arranjos experimentais que apenas constatam a existência de pensamento lógico, mas
não explicam sua progressão ou emergência. Um terceiro ponto fundamental de divergência
para o Sujeito 4 é que, em sua opinião, o conceito de história não é incorporado pela teoria
do reforço e pelo Behaviorismo em geral.
Pelo relato possibilita levantar a hipótese de que os pontos a seguir também se
configurem em fatores de oposição à abordagem: diferenças metodológicas (abertura
quanto ao objeto de estudo da Psicologia, priorizando a consciência como de seu
interesse); divergências quanto à forma de aplicação da teoria e do conhecimento (críticas
à Modificação do Comportamento como a criação de situações muito artificiais na
pesquisa/intervenção, estendendo a crítica à aplicação de teorias em geral) e dificuldades
em relação à comunidade externa, mais especificamente, retaliação/demissão no trabalho
com a razão explícita de ser behaviorista (embora identifique perseguição politica -
ditadura militar - como razão implícita).
Refere-se também a algumas criticas padrão ao Behaviorismo, que denomina
panfletárias, diferenciando sua posição de posições que pretendem, por exemplo, associar
o Behaviorismo ao Positivismo e a posicionamentos políticos mais reacionários, num
autêntico exemplo de falácia, equívoco ou puro desconhecimento sobre a abordagem.
Sujeito 5
O Sujeito 5 possui predominantemente discordâncias teóricas para com o
Behaviorismo. Eíe difere em concepção de homem, que define como pró-ativo,
discordando do homem que ele pressupõe como reativo no Behaviorismo. Rejeita a
simplicidade da teoria behaviorista, definida como existência de poucos conceitos e pouca
organização teórica, bem como dos pressupostos filosóficos positivistas que, a seu ver,
embasariam os behaviorismos em geral, mais do que qualquer outra teoria psicológica.
Difere ainda em concepção de determinação. O homem seria autodeterminado e
a construção do conhecimento pelo homem faz parte de sua definição de sujeito. Discorda
do Behaviorismo Radical pelo suposto desprezo aos determinantes biológicos e psicológicos
do homem e negação da subjetividade/estados interiores.
Menciona ainda o afastamento excessivo em relação aos seus objetivos iniciais
em Psicologia que se traduziu em insatisfação com o contato com o subjetivo proporcio
nado pela abordagem behaviorista. Define o projeto epistemológico do Behaviorismo como
calcado na recusa/negação do psicológico e entendendo o psicológico como experiência
subjetiva e diferente de comportamento. Afirma que a frase de Skinner sobre a objeção do
Behaviorismo aos estados interiores como irrelevantes para uma análise funcional do com-
portamento, seria um aviso de que a ciência é uma construção arbitrária que escolhe o
que interessa, avisando o que não interessa ao caso específico do Behaviorismo Radical
(a subjetividade).
Tem restrições metodológicas advindas das divergências em concepções
epistemológicas (concepção de homem, comportamento, ciência e conhecimento). Discor
da em relação ao objeto de estudo da Psicologia que, para o Sujeito 5, seria a experiência
pessoal e a construção do significado, ao invés do comportamento. Diverge ainda em rela
ção a uma concepção de conhecimento cumulativo, concepção essa decorrente de uma
concepção positivista de ciência e de uma falta de visão histórica do homem, aspectos que
afirma existirem no Behaviorismo. Critica o Behaviorismo pelo objetivo de construir conheci
mento e intervir na realidade, o que equivaleria a pretender possuir o Olho de Deus (seme
lhante ao Sujeito 2 ao criticar a função social do Behaviorismo). A possibilidade de intervir na
realidade e sair mexendo no mundo e brincando de Deus foi também citada como um
aspecto anterior de adesão inicial à abordagem.
Em relação a outros fatores (aplicação social do conhecimento, comunidade in
terna), não apresenta nenhum ponto de divergência fundamental.
Poderíamos comentar, sobre o Sujeito 5, algo semelhante ao que comentamos em
relação aos sujeitos 1 e 3, a possibilidade de se confundir algumas de suas afirmações com
equívocos ao invés de discordâncias. Um exemplo seria a negação do subjetivo pelo
Behaviorismo. Ainda que o Behaviorismo negue algo em relação ao subjetivo, o sujeito não
explicita exatamente o que ó negado, dando a entender que o Behaviorismo negue e recuse
tudo, quando recusa a utilização dos fatores internos/subjetivos como fatores determinantes,
causais, explicativos do comportamento aberto. A subjetividade no Behaviorismo é algo a
ser explicado e não a explicação, e o Sujeito 5 não parte dessa premissa ao efetuar a sua
crítica ou ao formular a sua discordância. Isso fica evidente quando é questionado mais
especificamente sobre em que consistiria essa recusa/negação da subjetividade, se seria
negada em si ou na explicação do comportamento (comportamento tomado como possuin
do dimensões subjetivas no Behaviorismo). O Sujeito 5 evidencia que não parte dessas
premissas, não efetua essa diferenciação, consideranda-a verdadeira ou pertinente so
mente dentro do próprio Behaviorismo e não fora dele (em outras abordagens).
Outro momento em que um aspecto semelhante fica claro, é quando menciona não
se preocupar com uma definição de comportamento e sequer se interessar por ela. Nesse
caso, poderíamos afirmar que existe uma divergência? Ou o sujeito simplesmente não utiliza
o conceito? Por outro lado, não podemos deixar de levar em consideração que um dos
fatores de rompimento com a abordagem, mencionado pelo Sujeito 5, foi o afastamento da
possibilidade de contato com o subjetivo, não proporcionado pelo estudo do comportamento.
Seria possível criticar o Behaviorismo tomando como base o estudo do comportamento e
não da experiência subjetiva, sem se preocupar com a definição de comportamento e de
subjetividade para a teoria criticada e sem se importar com ela? São questões que não
poderíamos responder no momento mas que nos incitam à reflexão.
À guisa de conclusão
A análise do relato verbal dos sujeitos do presente estudo não permite afirmações
nem generalistas, nem conclusivas a respeito de qualquer fator que tenha sido apontado,
e nom sobro qualquer estratégia do explicação e/ou intervenção no fenômeno de oposição
à abordagem behaviorista.
Os fatores de oposição apontados pela literatura, situados nos grupos
apresentados na contextualização do problema de pesquisa, foram quase todos
apontados pelos sujeitos analisados como fatores de oposição para si ou para colegas.
Excetuando-se os equívocos, não analisados, foram encontrados fatores de oposição
em discordâncias teóricas: filosófico-epistemológicas (concepção de homem, de
determinação e de comportamento humano): em diferenças metodológicas (produção
de conhecimentos): em função social e aplicação do conhecimento (não incorporada em
diferenças metodológicas, conforme previsto à princípio): em fatores ligados aos analistas
do comportamentos (dificuldade relativa ao público interno e linguagem, mais
apropriadamente situada para estes sujeitos na comunidade behaviorista, do que em
equívocos) e fatores ligados à comunidade extema, pouco mencionados por estes sujeitos.
Alguns fatores de oposição não previstos também apareceram. Entre eles, discordâncias
teóricas gerais como as relacionadas à identificação filosófica atual explícita, à opinião
sobre o tratamento dado à linguagem/comportamento verbal, além do relato sobre mudanças
eventuais que a teoria tenha sofrido.
Podemos supor que os cinco sujeitos, em particular, não apresentam predominante
equívocos sobre o Behaviorismo, mesmo nos aspectos que se assemelham ao que é
considerado como mito e deturpação por Bass (1998), De Bell e Harless (1992) e mesmo
Skinner (1974/1993). O conteúdo destas afirmações (entre outras) foi comparado com as
diversas concepções que o sujeito tem (expostas na análise individual), sobre vários as
pectos relacionados à crítica que efetua, e pudemos perceber que são freqüentemente
coerentes com suas concepções de homem, de determinação, de ciência, entre outras já
analisadas. As afirmações ou os fatores, isolados ou no caso de um ou outro sujeito (não
todos), podem ser interpretados como meros equívocos, mas, em conjunto com as demais
concepções do sujeito, adquirem uma coerência interna que torna essa classificação
difícil de sustentar e, de certa forma, desnecessária. De fato, os sujeitos partem de
concopções e premissas muito diferenciadas das do Behaviorismo, alguns explicitam e
contextualizam essas diferenças, outros nem tanto, porém consideramos importante
analisar a crítica, suas relações com as demais concepções do sujeito, bem como com
aspectos da própria teoria e prática behaviorista, antes de qualquer classificação.
No entanto, ao ouvir/ler uma crítica acerca do Behaviorismo, o ouvinte/leitor quase
sempre não terá a oportunidade de efetuar a contraposição entre as premissas acima
mencionadas. Também não poderá, exceto com certa dificuldade, ter acesso ao conjunto
de concepções do sujeito que efetua a crítica, que o possibilite analisar sua coerência
interna. Sendo assim, é importante pontuar que, para ser levada à sério, a crítica deve ser
contextualizada. Isso não ocorre com freqüência. O crítico, por vezes, sequer especifica
qual o tipo de Behaviorismo está criticando, se o Metodológico, o Radical ou qualquer
outro. Caso efetue distinções entre premissas e não as evidencie, corre o risco de ter a
sua fala completamente desqualificada, pois não seria possível identificar uma crítica baseada
em discordância, o que supõe conhecimento sobre o objeto criticado.
Os sujeitos aqui analisados oferecem exemplos de como concepções negativas
podem não estar sempre baseados em conceitos incorretos sobre a abordagem, confor
me já apontado para estudantes por Miraldo (1985) e Miguel e Nakamura (1996).
Também consideramos importante ressaltar que há grandes possibilidades de
terem atuado ou estarem atuando, para alguns ou todos sujeitos aqui estudados, variáveis
relacionadas à história de desenvolvimento da abordagem, e complexidade crescente
da obra de Skinner, conforme apontado por Miraldo (1985), Moxley (1998) e Carrara
(1998), bem como em variáveis relacionadas às suas histórias particulares com a
abordagem. É importante ressaltar que a formação e a atuação profissional dos sujeitos
no Behaviorismo ocorreu predominantemente nos anos 1970 e inicio dos anos 1980. O
Behaviorismo então não era o mesmo de hoje. O livro de Skinner intitulado Sobre o
Behaviorismo teve a sua edição original em 1974 e Questões recentes na Análise
Comportamentalè ainda mais recente, teve sua edição original em 1989 e foi publicado no
Brasil pela primeira vez em 1991. Este último livro traz alguns aspectos particularmente
importantes do que poderiamos chamar de produto final da obra de Skinner, incluindo o
estabelecimento de relações mais próximas com a Biologia (seleção natural e conceito
de reforço) do que poderiam supor os que atribuem relações mais próximas do
Behaviorismo com a Física, por exemplo, ou ainda dos que acham que o Behaviorismo
despreze a biologia.
Não iremos, nesse momento, ater-nos a discorrer sobre as mudanças que o
Behaviorismo Radical sofreu nesse período, mas ó possível supor que o Behaviorismo
que os sujeitos conheceram permitisse de alguma forma o estabelecimento das relações
e críticas acima reproduzidas. Embora argumentos como desprezo à biologia, à
subjetividade e aos fatores internos, em geral, por vezes pareçam possuir apelos mais
emocionais do que intelectuais, se for possível estabelecer essa distinção, não ó
propriamente emocional o tom das críticas efetuadas pelos sujeitos de modo geral.
É importante ressaltar que não pretendemos afirmar que os equívocos não
existam, isso não seria possível. Mas também não ó possível afirmar que tenham sido
predominantemente equívocos os fatores de oposição que apareceram no relato verbal
dos sujeitos da presente pesquisa. Primeiramente pela formação, vivência acadêmica e
profissional que tiveram com a abordagem, e com a comunidade behaviorista. Em
segundo lugar, porque ó no mínimo difícil sustentar que uma crítica feita a aspectos
constitutivos de uma abordagem reflita desconhecimento sobre ela. Um bom exemplo
seria a crítica ao lugar do acaso na determinação, realizada pelo Sujeito 2, um lugar
existente na Análise do Comportamento, do qual o crítico tem ciência, mas do qual
discorda, considerando-o insuficiente.
Os sujeitos ressaltam inúmeros aspectos positivos da teoria e da comunidade
behaviorista, bem como da aplicação de conhecimentos. Também destacam um enorme
leque de discordâncias, algumas das quais se constituem em fortes fatores de oposição.
Existem aspectos idiossincráticos e outros relativamente comuns; dentre os últimos,
ressaltam várias facetas de argumentação.
Em linhas gerais, os resultados mostraram que a concepção de homem que os
sujeitos atribuem ao Behaviorismo Radical é de um homem passivo, reagente e reativo,
baseando-se em concepção de atividade e passividade bastante diferentes da contida
na teoria behaviorista, que inclui aceitação de determinação por fatores internos, como
escolhas relativamente independentes de contingências e uma certa dose de livre-arbítrio.
Com a aceitação desses pré-requisitos para julgar o homem como ativo, não é de se
admirar que considerem o homem, no Behaviorismo, passivo. Também não é possível
dizer que exista engano ou equívoco na afirmação, mas, sim, uma enorme diferença de
pressupostos que não passa pela questão de maior ou menor conhecimento sobre o
Behaviorismo, mas, sim, de concordar ou não com os seus pressupostos.
A subjetividade não é algo a ser somente explicado, mas é fonte de explicação
sobre o homem. Indo além, a explicação que a subjetividade proporciona não é sobre o
comportamento, porque não ó o comportamento que está em questão para o crítico.
Não é esse o seu objeto de estudo (são vários outros, mas não o comportamento). A
concepção de comportamento do Behaviorismo é apenas diferente da deles, e não
desconhecida. Existe ou discordância para com a definição de comportamento
(considerada muito ampla), ou então total desinteresse pelo tema e pela palavra, que
não fazem parte do escopo teórico psicológico atualmente assumido.
Os sujeitos declararam não serem dualistas (pelo menos não estabelecem divisão
entre mente e corpo ou espírito e matéria, conforme a questão feita), mas assumem a
existência de divisão do homem em diferentes níveis de funcionamento, diferentes níveis
de organização da matéria, reconhecem diferentes manifestações humanas regidas por
diferentes leis. Arriscaríamos dizer que existiria até, em alguns casos, a divisão entre
aparência e essência ao tratar a natureza. Portanto, são dualistas e não monistas. Não
assumem a existência de apenas um gênero de substância regida pelos mesmos
princípios. Outra diferença de fundo.
Com todas as diferenças em concepção de homem, de determinação, de
comportamento e de subjetividade acima lembradas, também não surpreende o fato de
considerarem linguagem como não comparável a comportamento operante e não
controlada pela contingência tríplice e, portanto, não equiparada a comportamento verbal.
A insatisfação com o tratamento dado ao tema pelo Behaviorismo Radical constitui-se,
sem dúvida, em fator de oposição.
Diferem em escopo teórico, pressupostos filosóficos, epistemológicos e, como não
poderia deixar de ser, em fatores metodológicos também. Além de o objeto de estudo ser
diferente, os objetivos da ciência diferem, assim como os métodos de estudo. Não preten
dem nem mensurar, nem descrever e nem prever o comportamento e sim explicá-lo, recor
rendo para isso a interpretações que envolvem determinação por fatores internos. Alguns
também não pretendem nem explicar, nem intervir, nem criar técnicas de intervenção sobre
a realidade. Ou por desacreditar da possibilidade de se chegar a estabelecer conhecimen
tos e técnicas que permitam essa intervenção, ou por considerar o homem, a priori,
conflituoso, sendo desejável que isso ocorra para o seu próprio desenvolvimento. O argu
mento da impossibilidade de se intervir na realidade tem diversas facetas, incluindo impos
sibilidade cientlfico-metodológica de dominar a quantidade e complexidade de variáveis (com
plexidade contingencial) que constituem fenômenos humanos (sociais, políticos, educacio
nais etc.), até incorreção política (ao pretender controlar comportamento) e ética (atuar
com possibilidade pensada de ocupar posição estratégica nas transformações sociais).
Os fatores de oposição metodológicos têm, portanto, estreitas semelhanças com
os de função social e aplicação do conhecimento. E se esses sujeitos não relatam
considerar o Behaviorismo reacionário, também não relatam muita coisa a favor de seu
envolvimento em lutas democráticas, atribuindo eventuais influências a características
individuais e não da teoria. A propósito, a distinção entre a adesão ao Behaviorismo e à
AEC (sujeito2) foi inesperada, mas bastante coerente com a argumentação do crítico.
A concepção de ciência não foi suficientemente investigada para esses sujeitos,
mas pelo conjunto de informações ofertadas provavelmente diferiria da do Behaviorismo.
A concepção de conhecimento é diferente, o papel do sujeito na produção de
conhecimento, de si próprio e da realidade também difere (confundindo-se com
autodeterminação e não relação sujeito e ambiente). Além disso, o homem não teria
aspectos em comum, além dos muito elementares, com outros animais. Aí, confirmam-
se a descontinuidade interespécies e uma espécie de dualismo, que divide o
funcionamento humano em dois níveis, um deles o animal. Sendo assim, o homem seria
um objeto de estudo diferente dos demais, em complexidade, variabilidade e
previsibilidade. O homem é de certa forma imprevisível, porque singular e livre, e capaz
de efetuar escolhas. Livre para, até mesmo, escolher se livrar das contingências.
De fato, seria difícil dizer que o homem não tenha características bastante parti
culares, especialmente no que se refere a comportamento verbal. Aspectos como com
plexidade, variabilidade e previsibilidade (entre outros não mencionados) constituem-
se, de fato, em grandes desafios, especialmente metodológicos. Nesse sentido, a crítica
é particularmente útil para favorecer reflexão sobre os aspectos criticados, com vistas
até mesmo a um fortalecimento ou aprimoramento da abordagem, conforme nos orienta
Carrara (1998).
Um grupo de fatores em que também se concentram muitos fatores de oposição,
embora, com menor unanimidade, é o relacionado à comunidade interna, a dos próprios
analistas do comportamento. Esse fator é dos menos analisados pela literatura e provavel
mente dos mais controvertidos e passíveis de discussão e reações negativas (da comunida
de e dos opositores), mas não pudemos nos furtar a considerá-lo. A comunidade é tanto
amada quanto odiada, por vezes pelo mesmo sujeito. Dois dos sujeitos apresentaram
forte oposição nesse agrupamento em especial, embora as críticas aos objetivos de ciência
e de aplicação do conhecimento, efetuadas por outros sujeitos, nos pareçam por vezes um
tanto semelhante. Em ambos os casos, surgem termos como pretensão, arrogância,
supervalorização do próprio conhecimento e variações em torno do mesmo tema. Caracte
rísticas positivas são apontadas, como rigor, seriedade e qualidade na produção acadêmica,
mas críticas severas também aparecem, entre elas o intenso policiamento da linguagem,
gerando punição ao uso de palavras mentalistas de uso corrente em nossa cultura. Banaco
(1997) já havia apontado que a comunidade é por vezes implacável nesse sentido e não
aceita um meio componente. Esse meio componente poderia ser objeto de discussão
mais detalhada, mas, em todo o caso, o que os sujeitos relatam é que foram alvo de retali
ação interna mais do que externa, ao contrário do que se poderia supor.
A questão da punição do grupo pelo próprio grupo, ou entre subgrupos, caso não
seja uma idiossincrasia da experiência dos sujeitos desta pesquisa, nos parece particu
larmente problemática, em parte porque especialmente delicada do ponto de vista huma
no, ótico e acadêmico e, em outra parte, porque não ajuda muito na dissolução de oposi-
ções, sejam relativas a equívocos, sejam relativas a discordâncias. Ao contrário, podem
acirrar as existentes e provocá-las onde não ocorrem, reduzindo o número de adeptos e
impedindo, senão a produção, pelo menos a divulgação mais ampla da abordagem e a
interlocução com diferentes comunidades acadêmicas e a sociedade em geral.
Quanto às limitações de época gerando fatores de oposição, como no caso das
críticas em relação ao tratamento da subjetividade nos anos 1970, vale lembrar que se houve
mudanças, avanços ou acréscimo em conhecimentos e interesses investigativos, cabe á
comunidade behaviorista, em primeiro lugar, a divulgação de resultados de pesquisas recen
tes sobre esse tema e outros. Caso não tenha havido mudanças em aspectos que possam
ser aprimorados, cabe também à comunidade behaviorista atuar no sentido de ampliar o seu
trabalho em pontos ainda não suficientemente explorados e sobre os quais existe demanda
social e acadêmica.
O Behaviorismo Radical tem características ligadas ao seu processo de evolução
histórica e a própria obra de Skinner possui uma complexidade crescente (Moxley, 1998).
Vale enfatizar que conceitos muito importantes na obra de Skinner foram publicados num
período relativamente recente. Sendo assim, os sujeitos que tenham tido uma formação
situada num tempo anterior ao da produção e divulgação de determinados conceitos mais
atuais podem possuir um conhecimento correto para a época e incorreto para o período
atual.
Provavelmente, a maior parte das criticas é, de fato, uma profusão de equívocos sobre
a abordagem, conforme amplamente acordado pela literatura (embora não com unanimidade).
No entanto, constatar a profusão de equívocos não nos diz nada sobre o seu conteúdo, a sua
instalação e a sua manutenção. Para responder a perguntas como: Por que mitos e equívocos
sobre a abordagem? Por que mitos e equívocos recorrentes em aspectos específicos? Como
desfazer os mitos e equívocos? Precisaremos efetuar, no mínimo, uma maior análise sobre o
nosso próprio comportamento e questionarmos a eficiência com que a comunidade behaviorista
tem divulgado seus conhecimentos ou tem tratado de assuntos de relevância social, assim
como temas polêmicos, conforme nos alertam Morris (1985), Banaco (1997), Foxx (1996)
entre outros. Para isso, precisamos analisar o conteúdo da crítica e a sua história de desen
volvimento na história da Psicologia, da abordagem e de sujeitos concretos que dela fazem
parte. Equívocos, mal-entendidos ou mitos (caso se pretenda manter essa denominação)
parecem constituir-se mais em uma conseqüência de deficiência da própria comunidade, no
gerenciar seu relacionamento profissional/acadêmico com públicos interno e externo, do que
uma deficiência posta em outro lugar.
Ainda que as características de rigor e seriedade acadêmica, apontadas por quase
todos os sujeitos, sejam de fato definidoras da comunidade (e provavelmente são), não se
constituem em privilégio desta comunidade em especial e não garantem que o conhecimen
to produzido por ela ultrapasse os limites do grupo. Caso se deseje disseminar, com correção,
a abordagem, torná-la útil e utilizada pela sociedade mais ampla, é necessário criar estraté
gias de análise e de intervenção no fenômeno. Conforme já mencionado por autores como
Morse e Bruns (1983) é necessário que analistas do comportamento criem estratégias para
o gerenciamento de fatores de oposição, especialmente os relativos a eles próprios como
comunidade, uma vez que há fortes indícios de sua participação no vôo de colegas para fora
da Análise do Comportamento. Morris (1985) também supôs que a oposição pudesse ser
uma decorrência da insensibilidade de analistas do comportamento em relação a diferenças
em linguagem, valores e preocupações prevalecentes na cultura e disseminação/divulga
ção da abordagem.
Também não consideramos adequado esperar que os demais, especialmente
quando possuem discordâncias, tenham a preocupação de contextualizar suas críticas,
seu vocabulário e desfazer problemas com a nossa linguagem. Essa é uma tarefa para
os interessados, por assim dizer, conforme já apontado por Deitz e Arrington (1983) ao
mencionar os problemas de comunicação (possivelmente gerando equívocos e
discordâncias) relacionados ao uso de palavras cunhadas por meio do que os filósofos
chamam de revisão conceituai.
Entre as estratégias que a comunidade behaviorista poderia criar, consideramos
particularmente importante a criação de material, incluindo material didático para alunos
de Psicologia, Pedagogia e áreas afins, que divulgue informações sobre a abordagem, a
partir de um exame cuidadoso de quais são os possíveis pontos relativos à própria
abordagem passíveis de oposição e com uma dose de diplomacia ao tratar de aspectos
polêmicos. De modo algum, o material deve se resumir a rebater críticas tradicionalmente
dirigidas á abordagem ou a tratá-las como mera confusão, equívoco, deturpação ou
falta de informação. Essa estratégia, pelas conseqüências que tem produzido, já
demonstrou a sua ineficiência.
A compilação de absurdos sobre o Behaviorismo, por meio da análise de textos
didáticos, de preenchimento de questionários ou de análise de respostas a questões, é um
passo necessário e bastante importante no estudo do fenômeno de oposição ao
Behaviorismo Radical/Análise do Comportamento, assim como na possibilidade de criação
de estratégias de intervenção, mas certamente não é suficiente. Estudos desse tipo têm
sido feitos na área (Todd e Morris, 1983; Yousef, 1992), e é importante que continuem
existindo estudos dessa natureza. Até o presente momento, o único registro conhecido de
um estudo brasileiro sobre tratamento razoavelmente amplo dado ao Behaviorismo em
textos didáticos é o de Gioia (2001), no que se refere à abordagem behaviorista radical
transmitida pelo livro de Psicologia direcionado à formação de professores. Um estudo
desse tipo com textos didáticos direcionados à formação de psicólogos seria uma sugestão
de estudo especialmente relevante. Temos o exemplo de França (1997) que analisou Alvitte
e apontou a necessidade de esclarecermos determinadas verdades que são ensinadas
sobre a abordagem e que se fundam em aspectos talvez mais próximos de equívocos do
que de reais discordâncias. De fato, o conhecimento do crítico/opositor sobre a teoria criticada
é, em qualquer circunstância, condição sine qua non para podermos situar sua crítica como
gerada por discordância.
Porém, a principal contribuição do presente trabalho e seu caráter inovador residem
em não tratar a crítica e a oposição como meros equívocos, examinando o conteúdo da
oposição de sujeitos menos passíveis de cometê-los, por possuírem uma história de formação
e atuação na abordagem behaviorista. Interessante ressaltar que os sujeitos não efetuaram
apenas críticas, mas também muitos elogios em diferentes aspectos, alguns chegando a
relatar influências que perduram até o presente momento, advindas de sua formação e atuação
anterior na abordagem. Foi extremamente esclarecedor verificar como uma crítica aparente
mente equivocada adquiria contornos de discordância a partir de sua exploração na entrevista
e na análise posterior. Essa verificação não é de modo algum generalizável, nem entre os ex-
behavioristas e muito menos aos críticos e/ou opositores em geral.
A existência de discordâncias não anula, por assim dizer, a existência de críticas
infundadas ou mal fundadas, e a literatura é pródiga em discorrer sobre as últimas. Os
próprios sujeitos da presente pesquisa mencionaram a existência de inúmeras criticas-
padrão, do tipo panfleto, falácia ou equivoco (Behaviorismo e Positivismo, oposição
entre métodos quantitativos e qualitativos, atribuição de incompatibilidade com
posicionamentos políticos progressistas e tantas outras aqui não mencionadas).
Apenas não consideramos possível nos furtar a esse debate, generalizando como
não pertinentes todas as críticas, e como mal informados, todos os críticos.
Inúmeros desdobramentos poderiam advir de um trabalho como o aqui apresenta
do, desde sugestões para futuras pesquisas, entre elas estudos que ampliem o número
de fatores passíveis de ocorrência e exames mais detalhados de cada um dos fatores aqui
apontados, dentre outros que eventualmente possam existir. Destacamos especialmente
a necessidade do estudo de fatores relacionados ao desenvolvimento histórico da aborda
gem e à complexidade crescente da obra de Skinner, relacionando a história da aborda
gem com o exame do tipo e extensão do impacto que obteve em diferentes áreas (teóri
cas, aplicadas, científicas ou da sociedade em geral).
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<ki<MUtdoouvtntm.m<M
f ) n p o n to «tM Mm » v á »itntxéj* m m « ic t t ln t o n t o c o m o mtlnnjêo* d m o rtT M rm ttvrm o m n tt In U tro m a ti p o r u i a ó Slmôokmuttttzmdaep o r
h u m a n o « , o n tm ta n k ) . p a re ç a m mm in u K o m a la fte x lv o w d o q u « o a e a tlm u lo a d ta c rln iln a ttv o a p r a v liim u n t» a m c flM c k m
Primeiro Uso - Responder apropriado à verbalização de alguém
Este uso envolve a emissão de comportamento de ouvinte sob o controle discrimi
nado de estímulos verbais. Para que a compreensão ocorra, neste caso, o ouvinte teve de
ser reforçado no passado emitindo determinadas respostas na presença dos mesmos
estímulos verbais. Por exemplo:
1. Pode-se dizer que Moe compreendeu o que Homer disse quando deu uma
cerveja para ele mediante a verbalização:
- Hei Moe, me dá uma cerveja?
Ao dar a cerveja para Homer, é possível concluir que Moe compreendeu o que
Homer dissera, uma vez que emitiu um responder apropriado à verbalização de Homer.
Mas, para que a verbalização de Homer tivesse esta função discriminativa sobre o com
portamento de ouvinte de Moe, foi necessário que Moe tivesse recebido reforços no pas
sado por emitir respostas similares na presença de verbalizações semelhantes. Contudo,
se Moe não tivesse reforçado o mando de Homer, não significaria obrigatoriamente que ela
não o compreendera. É importante notar que um estimulo discriminativo não produz obri
gatoriamente a emissão de uma resposta operante específica como ocorre no condiciona
mento clássico. Como será exemplificado adiante, Moe poderia ter demonstrado compre
ensão emitindo diversas outras respostas.
Este primeiro uso, contudo, não se restringe apenas aos comportamentos
operantes. Determinadas respostas verbais adquirem funções eliciadoras por condiciona
mento respondente por evocarem a emissão da visão condicionada (Skinner, 1953/1994)
ou por diretamente exercerem a função de estímulo condicionado. Um exemplo interes
sante deste uso ocorreu quando o autor deste trabalho estava aplicando um procedimento
de dessensibilização sistemática a um caso de vaginismo. Quando as cenas descritas
continham a palavra '‘penetrar" ao invés de "inserir", a cliente relatava um nível muito mais
alto de respostas de ansiedade. De acordo uma análise estrutural, as duas palavras seri
am consideradas sinônimas neste contexto, contudo, a palavra “penetrar" possuía fun
ções eliciadoras não partilhadas pela palavra “inserir". Pode-se dizer, portanto, que cada
pessoa possui uma relação íntima com cada palavra dependendo da sua história, e o
controle que uma palavra exerce sobre o comportamento de ouvinte não depende neces
sariamente de uma relação símbolo referente.
O seguinte exemplo ilustra este primeiro uso de compreensão baseado em uma
resposta reflexa: Pode-se dizer que Marge Simpson compreendeu um livro de contos
eróticos ficando sexualmente excitada ao lê-lo. Ficar sexualmente excitada neste caso
evidenciou um responder apropriado à verbalização do autor do conto.
Ryle (1949) aborda compreensão como conceito disposicional aberto, isto é:
"(...) ele [quem compreende] não está num momento particular em processo de
fazer ou passar por qualquer coisa, mas, que ole é capaz de fazer certas coisas,
quando a necessidade surge, ou que ele tende a fazer ou sentir certas coisas em
situações de certo tipo." (Ryle, 1949, p 112)
Este uso apresentado por Ryle ó perfeitamente compatível com o primeiro uso de
Skinner. Ambos autores não encaram a compreensão enquanto um processo que medeie
outros comportamentos. Considerar a compreensão como um conceito disposicional aberto
significa se comportar apropriadamente à verbalização de alguém dadas certas condições,
e que a compreensão pode ser evidenciada por um amplo conjunto de comportamentos
distintos. Por exemplo, ao se dizer que Moe compreendeu o mando de Homer, pressupõe
que Moe entregará a cerveja (e.g., responder apropriado) quando houver uma operação
estabelecedora (necessidade) ou um Sd (situações de certo tipo). Novamente, Moe poderia
ter compreendido o mando de Homer mesmo sem ter entregado a cerveja a ele, por
exemplo: "sinto muito Homer, mais a cerveja está quente", neste caso, Moe não deu a
cerveja para o Homer pela falta de S ou situações de certo tipo.
Os usos dos dois autores também lidam satisfatoriamente com o seguimento de
regras. Por Exemplo: Homer aconselha Bart:
“Oh Bart, não faça faculdade, você é muito burro para isso. Veja, você pode ter
sucesso profissional como o meu".
Neste caso, pode-se dizer que Bart compreendeu a regra se, ao fim de seu
colegial (Sd ou situação de certo tipo), ingressar diretamente no mercado de trabalho.
Neste caso, pode-se dizer que compreender uma regra è conceito disposicional, no
sentido em que mudará a probabilidade de emissão de determinado comportamento
quando o ouvinte se deparar com a contingência descrita pela regra.
É importante ressaltar que em todos esses exemplos a compreensão foi
evidenciada pela emissão de comportamentos não verbais segundo a definição de Skinner
(1957/1978) de comportamento verbal.
O principio polar deste uso (Harzen & Miles, 1978), ou seja, o quê não seria
considerado compreensão, diz respeito à noção de "apropriado". Não compreender no
exemplo do Moe e do Homer seria evidenciado por Moe entregar leite para o Homer, por
exemplo. Neste caso, Moe não emitira um responder apropriado, respondendo como se
não estivesse sob controle das verbalizações do Homer. É evidente que é necessário
supor que existam operações estabelecedoras ou necessidade para que Moe entregue
a cerveja para o Homer, em outras palavras que ele a entregaria se tivesse compreendido.
Conclusões
Foi observado um grande número de concordâncias entre os usos apresentados e
discutidos pelos dois autores. Sendo assim, ó possível concluir que os usos de Skinner
se aproximam dos usos cotidianos do termo. Ambos os autores remontam à noção de
que compreender não ó tornar um significado comum, pois ambos lidam com a noção de
significação pelo uso (Ryle, 1957). Para ambos autores, cada pessoa possui uma relação
íntima com cada expressão verbal, o que impossibilita uma compreensão perfeita do
tipo - partilhar significados, uma vez que a compreensão não se dá por uma captura de
significados, em sim pelas performances emitidas sob o controle de eventos.
Os exemplos apresentados por Skinner e Ryle demonstram claramente uma
desvinculação do conceito de compreensão à emissão de respostas verbais. Novamente,
nem os eventos a serem compreendidos, nem as respostas que evidenciam a
compreensão precisam ser verbais. Neste sentido, pode-se dizer que os analistas do
comportamento citados acima revêem o conceito do compreensão ao atrela-lo ao compor
tamento verbal.
Um outro ponto importante foi a conclusão de que compreensão se trata de um
conceito disposicional aberto, relacionando-se com um grande número de diferentes con
ceitos comportamentais como comportamento de ouvinte discriminado; discriminação
operante; generalização respondente; Intraverbais e tatos; etc. Para se descrever o com
portamento com o uso destes conceitos é essencial que se conduza a análise funcional
de cada exemplo específico. A compreensão enquanto conceito disposicional aberto,
também só mantém o seu poder preditivo caso se analise qual o uso do termo em ques
tão. Ao contrário dos conceitos comportamentais mencionados anteriormente, o termo
compreensão não possui definições precisas e teve os seus usos contaminados pelas
numerosas revisões conceituais que sofreu. Revisões estas que induzem à noção de
causalidade interna e de processos mediacionais, ou seja, se constituindo no tipo de
explicação que Skinner e Ryle mais se preocuparam em negar. Sendo assim, não parece
aconselhável manter o seu uso para uma descrição científica do comportamento. O con
ceito de compreensão precisa ser estudado enquanto conceito utilizado pelo falante coti
diano. Contudo, para uma análise científica do comportamento é preferível utilizar os con
ceitos comportamentais princípios comportamentais já mencionados.
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São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953.)
Skinner, B. F. (2000). Sobre o behaviorismo (Trad. M.P. Villalobos.) São Paulo: Cultrix. (Trabalho
original publicado em 1974.)
Capítulo 15
Estratégias auxiliares em terapia
comportamental
M a íy Deíitti
Pontifícia L/mvcrsidadc C'atóíica dcSào Paulo
Caso Clinico
Cliente B., mulher muito bonita, 39 anos, separada, dois filhos de 11 e 8 anos,
executiva de multinacional. Falou para a terapeuta que preteria um terapeuta homem, mas
que seu chefe havia feito a indicação.
Queixa: "Sinto-me só, sem amigas, me relaciono mal com as colegas de trabalho.
Com os homens sempre me dou muito bem, pois, qualquer homem, jovem ou velho, sempre
é um homem".
No decorrer da terapia, observou-se que B. era extremamente sedutora com qual
quer homem, mantendo vários casos amorosos durante o casamento e depois dele. Esta
cliente queixava-se que os homens não a levavam a sério, só queriam sexo e os parceiros
de trabalho após efêmeras relações deixavam de respeitá-la profissionalmente.
Sua relação com mulheres sempre foi muito complicada. Sua mãe era alcoólatra e
violenta e a irmã mais velha se casou muito cedo para sair de casa. Nunca teve uma amiga
próxima e os homens sempre a cortejaram, ela achava fácil se relacionar com eles.
A terapia se centrou na análise de seu repertório e na instalação de um novo reper
tório social, na busca de amizade com mulheres e melhora no relacionamento desta cliente
com sua irmã e outras pessoas significativas do sexo feminino. Além disso, procurou-se
estabelecer relações diferentes com os homens, isto ó, com respeito e amizade, e para tal
ela passou a emitir comportamentos incompatíveis com os usuais, considerados “sensuais"
por ela, ( vestir sempre roupas provocantes, se aproximar fisicamente, tocar no ombro ou no
braço, etc.).
Relato de Sonho
"Eu estava dando uma festa em meu novo apartamento, estava cheio de gente.
Mas, eu me sentia sozinha. Fiquei andando pelo apartamento e quando cheguei ao banheiro
encontrei você (a terapeuta) lá tomando vinho. Ficamos conversando e eu me senti bem".
A partir da análise deste relato, e dos outros dados da história de vida concluiu-
se que a figura feminina era sinalizadora de punição e ansiedade e a que a cliente havia
desenvolvido um repertório de sedução reforçado pelos homens.
Em uma das últimas sessões de atendimento, a cliente disse para o terapeuta:
“Estou bem, tenho amigas, não muitas, mas boas. Coloquei você no meu banheiro
e me senti tranqüila, acho que depois que me senti íntima de você, perdi a dificuldade de
me relacionar com mulheres".
Além de relatos de sonhos, terapeuta pode se utilizar vários recursos para
melhorar seu trabalho. Metáforas verbais, fotografias, desenhos e fantasias podem ser
estratégias úteis na prática clínica. O importante é que o clinico saiba discriminar bem os
Sds fornecidos por seu cliente e saiba ser sensível às contingências da sessão. O caso
que se segue mostra como o terapeuta imitou a classe de comportamento verbal do
cliente(poesia) e com isto facilitou o vínculo terapêutico.
Cliente: homem, 44 anos, jornalista, entra no consultório e assim que se senta
diz para o terapeuta:
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada, todos os meus conhecidos tem
sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil...
O terapeuta respondeu:
“Sou um evadido. Logo que nasci fecharam-me em mim, ah, mas eu fugi. Se a
gente se cansa do mesmo lugar, do mesmo ser porque não se cansar?...’’.
Após esta fala do terapeuta, o cliente falou:
- "Até que enfim encontrei o terapeuta que eu tanto procurava. Alguém que conhece
Pessoa e me respondeu perfeito".
Os dois poemas, o primeiro de Álvaro de Campos (Heterônimo de Fernando Pessoa)
e o segundo, do próprio Fernando Pessoa, facilitaram a comunicação e o estabelecimento
do vínculo terapêutico.
É claro que os terapeutas não precisam conhecer ou gostar de poesia (ainda que
cultura geral seja indispensável), e que haveria outras formas de estabelecer um bom
relacionamento com o cliente, mas este foi um exemplo de padrão de interação verbal que
usualmente não é a usada na clínica (recitar não é papel do terapeuta) e que neste caso
se mostrou efetiva.
O próximo exemplo é de um caso em que um poema foi utilizado para facilitar o
acesso aos eventos encobertos.
Poema como SD para acessar encobertos.
Cliente: Homem, advogado, 50 anos, procura a terapia relatando descontentamento
com a vida, cansaço por ser tão racional, sente vontade de largar tudo.
Este cliente apresentava um comportamento verbal muito bem estruturado, objetivo
e racional e sempre respondia ao terapeuta que não conseguia identificar seus sentimen
tos. Estava, nas sessões discutindo a sua dificuldade de tomar decisões profissionais
porque achava que iria se arrepender se fosse ousado,
“melhor ser covarde do que me arriscar, mas me sinto infeliz por pensar assim"
(sic).
Após algumas sessões o terapeuta pediu que o cliente lesse, na sessão um
trecho de um poema de Álvaro de Campos que é o seguinte:
“Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse dito as frases que só agora, no meio sono elaboro-
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse
Mas só agora o que nunca foi nem será para trás me dói...".
Referências
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Psychotherapy in Clinical Practice: Cognitive and Behavioral Perspectives (pp. 388-443). New
York; Guilford Press.
C/tse/e Delinski'
M tin l/d M estre'
De fato, só se tem acesso aos encobertos de uma pessoa através de seu relato
verbal. Banaco (1999) diz que a cultura (comunidade verbal) é quem possibilita ao homem
ter acesso aos seus encobertos, porém, nem sempre esta cultura vai propiciar um repertório
comportamental adequado para que o sujeito discrimine com precisão estes eventos; ó a
comunidade verbal que nos ensina a descrever o que fazemos, o que pensamos e o que
sentimos (Skinner, 1989 in Meyer, 2001).
Fantasia
Fantasia podo ser definida como o ato ou função de formar imagens ou
representações por percepção direta ou pela memória. Se mostra útil pois favorece a
identificação das seqüências de comportamentos abertos e encobertos; também fornece
pistas de quais variáveis estes comportamentos são função (Regra, 2001).
Tem sido muito empregada em psícoterapía comportamental com crianças e ado
lescentes, mas alguns terapeutas (Mestre, comunicação pessoal, 2001), vêm utilizando o
"fantasiar" e o relato de fantasias, como técnica terapêutica também com adultos e princi
palmente no trabalho com famílias e/ou grupos terapêuticos. O conhecimento do que são
comportamentos encobertos e, no caso a fantasia, auxilia ao terapeuta a escolher as
técnicas de intervenção, favorece o reconhecimento por parte do cliente destes comporta
mentos desadaptativos e de seus possíveis fatores determinantes e ajuda a encontrar
novos padrões de comportamento mais adaptativos.
Sonho
O sonhar possui três funções ao seres humanos: 1) biológica: de descarga de
energia armazenada ou da estimulação recebida durante o dia mas que não teve função
para a pessoa. É como se fosse uma “limpeza da lixeira” de um computador. São os
sonhos desconexos e dos quais não temos lembranças. 2) reorganização de lembranças
funcionais: são as experiências vividas, ou o que se percebe da vivência alheia, e que
pode auxiliar na construção de novas regras ou na reconstrução e/ou extinção de velhas
normas. 3) discriminativos: funcionam como possibilitadores de compreensão de
estímulos que a pessoa percebeu mas ou não havia decodificado por sua atenção ter
estado focada em estímulos concorrentes ou por ter lhe faltado condições de análise da
mensagem contida, por falta de repertório.
Neste sentido, o sonhar funcionaria como a fantasia, a diferença é que o primeiro
ocorre em estado de repouso, dormindo; a segunda ocorre com o organismo acordado,
embora o "senso comum" costume dizer que quem "sonha acordado" vive no "mundo da
fantasia" (Mestre, comunicação pessoal, 2001).
Então, sonhar ó entendido como a capacidade de ver na ausôncia da coisa vista.
Está sob controle da estimulação do ambiente naquele momento, da história de vida da
pessoa e do seu estado de privação e emoção.
Os sonhos podem conter elementos de contingências passadas, podem ajudar o
terapeuta a obter dados relevantes sobre o cliente (Meyer, 1992). A análise dos sonhos
permite ao terapeuta, não só realizar uma melhor análise funcional, mas providencia também
uma boa medida de avanço terapêutico. (Mestre, comunicação pessoal, 2001).
Intuição
Intuir diz respeito a capacidade de pressentir, pela qual se chega a uma verdade
sem fazer uso da razão. Skinner disse que intuições são comportamentos regidos por
contingências, para as quais nenhuma regra foi ainda formulada. Diz respeito a leitura de
estímulos discriminativos que estão no ambiente mas que não são percebidos pela
consciência (Meyer, 1992).
Por treino seletivo, o ambiente proporciona que algumas pessoas desenvolvam
uma maior capacidade de percepção discriminativa, refinada, de estímulos imperceptíveis
para a maioria das outras pessoas. Por exemplo, um indígena que viva na selva terá maior
desenvolvimento da percepção de mudanças ambientais que lhe indiquem a proximidade
de temporal do que um cidadão urbano. Se colocado na cidade, ele poderia conservar a
capacidade de “leitura" de tais estímulos; para o urbano pareceria algo de extraordinário
um indígena, em pleno dia de sol, dizer que vai dar temporal e acertar na previsão. Mães
costumam "intuir" acerca das amizades dos filhos. Estes podem não gostar de ouvi-las
dizer que fulano ou siclano não ó boa companhia e, meses depois verem confirmadas as
"previsões" maternas sobre aquela pessoa. Nada de mágico, apenas a mãe, pela experiência
de vida "intuiu" estímulos invisíveis para o filho.
Saber mais sobre as intuições do cliente poderá fazer com que o terapeuta saiba mais
sobre este; é importante também, treinar o cliente para a decodificação das próprias "intuições".
Sentimento
Sensações são respostas fisiológicas que um organismo apresenta (por exemplo,
frio e calor). Emoções são respostas reflexas, inatas, dizem respeito a capacidade que
uma pessoa tem de vincular-se, afastar-se ou atacar alguém; segundo Millenson (1967),
são três as emoções básicas: amor (capacidade de formar vínculo), raiva e medo. O
sentimento surge da relação do sujeito com o ambiente; é o desenvolvimento das emoções
básicas, em graus variados de intensidade e freqüências, de acordo com a história do
sujeito. Brandão (2001 - comunicação pessoal) diz ainda que sentimento é o que se
aprende culturalmente, é aquilo de que se tem possibilidade de falar a respeito, e só
aprendemos na relação com o outro. Skinner (1991), afirma que “palavras que designam
sentimentos não são ensinadas com tanto sucesso quanto as palavras que designam
objetos". Além disso, fala da dificuldade de distinguir sentimento de sua causa, porque as
duas coisas acontecem juntas, ou quase. Porém, os eventos responsáveis pelo que
fazemos e sentimos fica num passado distante. Segundo ele, é preciso entender, pela
análise do comportamento, os papéis dos ambientes passado e presente.
Mestre (comunicação pessoal, 2001) apresenta a idéia de que as emoções são
respondentes à estimulação ambiental associados a aproximação e/ou fuga/esquiva de
fatos, objetos ou situações, que ocorrem simultaneamente as contingências operantes e
que servem para descrevê-las. Sentimento é outra categoria de comportamento encober
to. Implica em uma associação entre as emoções, primárias: medo, amor e raiva, que
acompanham as contingências operantes e os pensamentos (regras) culturais que se
têm acerca de tais emoções e ações. Assim os sentimentos se “vestem" de valores que
se atribui às emoções. As emoções são despidas de tais valores, a pessoa as sente e
pronto. Os sentimentos vêm carregados daquilo que o grupo cultural selecionou como
"verdades". Assim, para nossa cultura, medo e raiva são emoções (sentimentos) ‘negati
vos’ e o amor um sentimento ‘positivo’. No entanto, os três podem ser funcionais ou
disfuncionais para aquele que os sente, de acordo com qual situação, fato, objeto ou
pessoa esteja associado. (Mestre, comunicação pessoal, 2001).
Kerbauy (2000) diz que, dentro do Behaviorismo Radical, Skinner descreveu
detalhadamente alguns pressupostos no estudo das emoções, entre eles:
a) o que se sente é tão importante quanto o que se faz; sentimento ó um tipo de ação
sensorial;
b) as palavras que designam os sentimentos são mais difíceis de ensinar do que a
nomeação de objetos;
c) temos sentimentos porque alguma coisa ocorreu;
d) sentimos quando estamos nos comportando ou até antes, por isso, sentimentos
são confundidos com causas;
e) é relevante o papel do ambiente passado e presente;
f) só se muda a emoção, mudando o que se faz.
Vale ressaltar que na prática clínica, os clientes procuram terapia porque seus
sentimentos lhes causam sofrimento, muitos vêm com a "certeza" de que os encobertos
são a causa de seus problemas, assim, segundo Delitti (1993), uma das funções do
terapeuta ó possibilitar que o cliente perceba que seus encobertos são apenas um elo da
contingência que está relacionada com outros eventos internos e externos.
Meyer (2001) lembra que em Sobre o Behaviorismo Skinner descreve vários sen
timentos que ocorrem de forma associada aos processos comportamentais. Veja alguns
exemplos:
Tabela 1: Exemplos de sentimentos, suas prováveis contingências e conseqüências.
Fó Ato ó q uase sem pre Reforçado Certoza do que seró bem -sucecidada
Confiança
Poder/Domlnlo
Referências
Banaco, R. A. (1999). O acesso a eventos encobertos na prática clínica: um fim ou um meio?
Revista Brasileira do Terapia Comportamental e Cognitiva, 1(2), 135-142. Campinas: Átomo.
Meyer, S. B. (2001). Sentimentos e emoções no processo clínico. In M. Dolitti (Org ), Sobre Com
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Skinner, B. F. (1978). Ciôncia e Comportamento Humano (3rd ed.). São Paulo: Edart.
Tipos de tratamento
Manejo de contingências
Tipos de delineamento
Tratamento combinado
Dessensibilização
Porcentagem
Auto Manejo
Exposição
Modelação
Total
A-B 29 14 3 12 4 17 79 45%
Linha de base múltipla 4 4 3 2 1 10 24 14%
Tempo seriado 1 1 2 01.5%
Reversão 2 2 00.6%
Tratamentos Alternados 1 1 38%
Experimental com controle de grupo 9 3 27 2 13 12 66
Total 43 21 33 19 18 40 174
Porcentagem 25% 12% 19% 11% 10% 23%
Uma análise, ainda que superficial, da Tabela I, põe em evidência concreta o que
foi afirmado anteriormente. Em 174 estudos sobre tratamentos comportamentais do medo,
encontrados no periodo de 1920 a 1998, há o predomínio do delineamento tipo sujeito
único (pelo menos 100 estudos utilizam essa metodologia). Dentre esses delineamento o
do tipo A-B é o preferido (45% ou 79 estudos optam por essa forma de estratégia de
controle em seu trabalho). Dessa forma, vemos a importância de discutir os ganhos com
a continuidade dos estudos de caso tipo A-B.
Antes de prosseguir na presente reflexão, cabe um aparte de esclarecimento. As
considerações feitas sobre a Tabela I e a seguir sobre outros tipos de estudos de caso,
puderam ser desenvolvidas sobre os “ombros largos" da metodologia tradicional e do
delineamento experimental de caso único, num processo dinâmico de construção de
conhecimento que caracteriza a ciência.
Características do caso
Dados objetivos + + +
Avaliação continua + +
Estabilidade do problema - +
Múltiplos casos - +
Maturação ? +
Teste + +
Instrumentação + +
Regressão estatísca + +
Nota:
+ indica que a ameaça á validade interna provavelmente está controlada.
- indica que a ameaça á validade interna provavelmente não está controlada.
? indica que a ameaça á validade interna pode permanecer sem controle.
Se apenas uma dessas questões for respondida positivamente o estudo de caso é
classificado como tipo I, se pelo menos três questões forem respondidas positivamente,
como tipo II e se mais de três forem assim respondidas, é do tipo III (Tabela II). Obviamente
os estudos de caso do tipo III são mais confiáveis do que os de tipo II e estes mais confiáveis
que os de tipo I. Isto porque, como a própria tabela busca demonstrar, o número das ameaças
que são possíveis de afastar está na dependência de quais perguntas antes o clínico pode
responder. Assim, se o clínico tem dados objetivos e medidas repetidas do comportamento,
mas não sabe nada acerca da estabilidade do problema ainda que tenha dados de mudança
comportamental acentuados não consegue afastar as ameaças de história e maturação.
Se, entretanto, ele tem dados de estabilidade do problema e múltiplos casos, além dos dois
primeiros cuidados, ele pode afastar essas duas ameaças mesmo que os efeitos de seu
trabalho não sejam tão rápidos e acentuados como se desejaria.
Referências
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Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado om 1953.)
Capítulo 18
O controle aversivo no contexto
terapêutico: implicações éticas
Nunca se falou tanto em ética quanto nesses últimos anos. Porém, verificamos
uma certa banalização do significado deste conceito, chegando-se ao cúmulo de denominar
de "código de ética" até as normatizações de conduta de organizações criminosas. Além
disso, há muita confusão no que diz respeito ao uso do termo "ética", que é freqüentemente,
usado como se referindo a deontologia ou moral.
Embora não seja o interesse desse artigo fazer um aprofundamento hermenêutico
dos termos ética e moral, consideramos importante uma definição destes termos, pois
como afirma Gouvêa (2002) “A distinção [entre moral e ética] é muito benéfica para a
reflexão teórica sobre questões éticas" (p. 12).
Se considerássemos apenas a etimologia das palavras, encontraríamos que o
termo Ética deriva de Êthos (hábito ou costume) e/ou Êthos (lugar ou pátria onde
habitualmente se vive e o caráter habitual, maneira de ser e pensar, da pessoa). Já o termo
Moral viria de Mos ou Mores, ou seja, hábito ou costume. Assim sendo, desse ponto de
vista, a confusão entre os termos seria facilmente justificada.
Do ponto de vista da história do pensamento filosófico, embora possamos encontrar
diversas definições de ética e moral variando de acordo com os diferentes autores e escolas,
uma distinção bastante aceita e difundida é a de que Moral se refere à prática concreta
dos homens em conformidade com os valores, hábitos e costumes de uma dada sociedade.
E a Ética se refere á reflexão científica, filosófica e às vezes teológica sobre essas práticas
e suas especificidades (Marchionni, 1999; Gouvêa, 2002). Esta distinção está longe de
ser consensual. Para alguns filósofos moral e ética seriam aspectos de uma só coisa. A
ética seria a teoria da moral, e a moral a realização prática da ética.
Para os autores que defendem a ética como uma reflexão crítica sobre a ação
humana, a sociedade ocidental construiu modelos de pensamento critico com o intuito de
elaborar parâmetros para essa reflexão. Os modelos filosóficos básicos fundantes da
reflexão ética no ocidente seriam: o realismo, o empirismo, o cepticismo, o
transcendentalismo e a dialética (Oliveira, 1995). A despeito das diferentes concepções
de ética desses modelos, como, por exemplo, a divergência entre a impossibilidade de
uma ótica universal defendida pelos empiristas e cepticistas em contraposição ao
universalismo contido no transcendentalismo, percebemos em todos eles algo em comum:
a noção de livre-arbítrio e a metafísica.
Mesmo se tomarmos como parâmetros a tradição consequencialista/teleológica do
aristotelismo, tanto quanto a deontológica do kantismo, que são duas posturas filosóficas
tradicionais e basilares diante da ética e da moral, ainda assim a reflexão se sustenta sobre a
noção de livre-arbítrio e metafísica. Na herança aristotélica a ética seria a realização do viver
bem, da vida boa (o eudemonismo), já na herança kantiana a moral é definida pelo caráter da
obrigação da norma determinada pela pura “vontade moral”. A “existência" de uma razão ou
logos como um agente metafísico a priori e o eu iniciador e realizador da ética, são vistos
como fundamentais para a discussão da ética nessas tradições.
O behaviorismo, como afirma Skinner (1974), é a filosofia da ciência do comporta
mento. Apesar disso, não chama para si a responsabilidade de ser um modelo de reflexão
sobre a ética. Mas será que podemos entender a ética do ponto de vista comportamental?
Referências
Carvalho, H. B A. (2000). Alasdair Maclntyro o o rotorno às tradições morais do pesquisa
racional. In M. A. Oliveira (Org ), Correntes fundamentais da Ética contemporânea. Potrópolis:
Vozes
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Rinehart & Winston.
------------ Capítulo 19
Considerações sobre expressividade
emocional na prática clínica:
Um levantamento teórico preliminar
Fernanda S. Hrandàd
Pra. Sonia fí. M eyef'
"(...) Os eventos privados são da mesma natureza dos públicos. Skinner não é
um cartesiano, não aceita a existência de duas substâncias (uma mental outra
material), nem, conseqüentemente, o dualismo mente-corpo cartesiano. (...) É
um monista. (...) Existem eventos subjetivos, mas sua condição subjetiva de
corro de sua privacidade e não de sua natureza - mental, para um cartesiano.
Eles são subjetivos porque são privados e não porque são mentais (...)" (Abib,
1997 p. 128).
* P sic ó lo g a Clinica d o P S I C C - Inalltuto d « Psicoturapla Coniportafnantal - L on d rin a - P R , m e stran da em paicologl« clinica [wla U S P - S P ■ o mall:
"Existom muitas boas razões para as pessoas falarem sobre seus sentimentos. O
quo elas dizem dão dicas quanto ao comportamento passado e as condições que
o afetaram, ao comportamento presente e às condições quo o afetam e às condições
relacionadas com comportamento futuro. O autoconhecimento tem um valor
especial para o próprio indivíduo. A pessoa está mais 'consciente de si mesma'
pelas perguntas que lhe fizeram e está numa melhor posição para predizer e
controlar seu próprio comportamento", (p. 191)
"Em primeiro lugar não há consenso sobro o uso dessas palavras quo se referom
a sentimentos, uma voz que elas são nomes arbitrários que a comunidade verbal
utiliza A única possibilidade confiável para distinguir sentimentos é descrever, de
forma abrangente, as contingências de reforçamonto em operação que os
produzem. Assim, por oxomplo, o medo poderia ser doscrito como o estado corporal
produzido por punição positiva (...)"; (p. 197)
E assim por diante... Esse mesmo autor ainda afirma que o uso coloquial da
nomeação de sentimentos pode atrapalhar o terapeuta em busca das contingências.
Então, as contingências bastam! Ele diz que o uso dessas palavras como medo ou culpa
podem ser mantidos desde que o terapeuta seja capaz de substitui-las pelas contingências
de reforçamento que lhes dão origem. Assim sendo, ficar sobre controle das contingências
que determinam o relato verbal do cliente e não do relato por si só, seria uma habilidade
importante para um terapeuta.
Em uma conferência, Banaco (2001) também falou sobre isso, sugerindo que o
sucesso de um processo terapêutico na aquisição de autoconhecimento depende também
do grau de correspondência entre o relato verbal do cliente e o estado de coisas a que
ele se refere alcançado nesse processo. E para tanto, constitui-se de tarefas do terapeuta
ensinar o cliente a observar, discriminar e descrever seus comportamentos.
Ainda este autor afirmou que o terapeuta dispõe de alguns recursos para atingir
essas metas: (1) princípios de aprendizagem (reforçamento, extinção, aprendizagem
social, entre outros), (2) conhecimentos gerais (literatura, cinema, sociologia, fisiologia,
medicina), (3) relação terapêutica, (4) sentimentos e emoções (do cliente e de si mesmo)
e (5) observação do cliente dentro da sessão. A Habilidade do terapeuta de investigar ou
fazer perguntas também é importante, pois pode levar a auto-observação, entre outros.
Skinner (1988), apontou que a psicoterapia consiste em um sistema de contingências
para aumentar a observação. O terapeuta leva o cliente à auto-observação por meio de
contingências verbais, como questões feitas ao cliente, sistematização de informações,
realizações de previsões, para que este possa analisar funcionalmente o que esta fazendo
ou sentindo e as razões pelas quais seus comportamentos são emitidos. Assim, o
terapeuta deve promover a discriminação, modefar novas respostas na sessão através
do reforçamento diferencial e fornecer regras para a ação.
Assim, possibilitar e modelar a auto-observação e conseqüentemente o
autoconhecimento seria mais um objetivo importante para o terapeuta.
Meyer (1997) argumentou que
Assim, de acordo com Meyer (1997), o papel do terapeuta vai além de facilitar
ocorrências de emoções. Eíe deve responder aos sentimentos expressos, no momento
adequado. Momento adequado pode ser entendido como aquele em que a probabilidade
do cliente escutar e continuar a análise ó grande. Neste sentido, momento não adequado
seria aquele no qual a resposta do terapeuta produza algum tipo de esquiva.
Falando em habilidades importantes para os terapeutas, num levantamento bibli
ográfico, Meyer e Vermes (2001) listaram algumas categorias de comportamentos do
terapeuta importantes para o sucesso da terapia. Uma delas ó a empatia, calor humano,
compreensão, concordância: comportamentos verbais e/ou gestuais (inclusive expres
sões de rosto) que tenham como objetivo a aproximação e a demonstração de compreen
são. Esses comportamentos do terapeuta são úteis também para oportunizar a ocorrên
cia de emoções ou relatos de emoções do cliente.
A empatia é considerada uma habilidade importante para os terapeutas. De acordo
com Falcone (2001), a empatia é entendida como a capacidade de compreender e expressar
compreensão acurada sobre a perspectiva e sentimentos de outra pessoa, além de experi
mentar sentimentos de compaixão e de interesse pelo bem estar desta (Barrett-Lennard,
1993; Egan, 1994; Falcone, 1999). Ela complementa que a habilidade empática deve ocorrer
em pelo menos duas etapas. Primeiro, o indivíduo que é empático, no caso o terapeuta, está
envolvido em compreender os sentimentos e perspectiva da outra pessoa e, de algum modo
“Revendo a literatura sobre assertividade observa-se que esta tem sido considerada
como expressão de sentimentos, emoções e pensamentos no relacionamento
interpessoal, referindo-se à habilidade de falar de si mesmo e de defender os seus
direitos. Abrange também a manifestação do certas habilidades sociais tais como
Iniciar, manter e terminar um diálogo, entre outros". (Lima, 2000, p. 292).
Referências
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Editora da UFSCar.
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Lima, M V. (2000). Assertividade e Frustração: o uso do teste de frustração do Rosenazweig na
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do Pará.
Skinner, B. F. (1994). Ciência e Comportamento Humano (9th ed.). São Paulo: Martins Fontes.
Capítulo 20
O sentimento de culpa e suas implicações
para o controle coercitivo do
comportamento. Proposição de análise*
So/angcL Machado
Univ. Tuiuti do Paraná
Yara Kupcrstein Ingberman
Univ. hcdcral do Paraná
' “ConadAnda* ó u«npraondlda no M iifcJo axp»dtado por SWnnar (1900/1#80, p 289) ’A («m m kliKkt vortxil gara oonacéênda quando omtnu uin Indivíduo
a (tmcruviir iuhj comportamento paaaado a o comportamento eu»« ntn (rt |*uvnvutrMNrft) o x fl* no futuro • a k k trM tju a« vartfvafa dm quafc oa tnáa
«Ao pmvNvoliTmntn HkiçAo’
pelo detector de mentiras (...)”. Ter sido punido ao quebrar regras ensinou ao indivíduo
“quando" culpar-se e ter experimentado as respostas somáticas que acompanharam à
exposição à punição ensinou ao indivíduo "como" sentir-se culpado.
Nos excertos sobre culpa apresentados no inicio deste texto, três processos são
citados: quebra de regra estabelecida em relacionamento, autoavaliação negativa e ação
reparativa ou ação autopunitiva. Com base em Botomé e Kubo (1998), propõe-se a análise
do comportamento de culpar-se, procurando situar estes processos. Três questões foram
propostas pelos autores e adaptadas para esta análise, que não pretende ser exaustiva:
1. Quais aspectos do meio controlam o comportamento de quem “se culpa"?
A resposta está na identificação das condições antecedentes, baseadas na his
tória de aprendizagem do indivíduo. Seriam elas:
• A existência de regras em um sistema relacionai que inclui o indivíduo (relações pes
soais, grupais, institucionais, etc).
• Ter assistido alguém empreender, ter empreendido ou planejar empreender comporta
mento que fere as regras e ter assistido alguém sofrer, ter sofrido ou antecipar a puni
ção decorrente do ato.
Ou seja, podem ser condições antecedentes quaisquer condições relativas à
inobservância de regras e punição decorrente.
2. Quais classes de respostas que alguém apresenta mudam as condições antecedentes
para as condições conseqüentes?
Quaisquer comportamentos que diminuam os respondentes aversivos
associados, como ações de reparação, desculpabilização (busca de justificativas
ambientais ou transferência de responsabilidade para outros) ou autopunição.
3. O que resulta quando alguém emite estas classes de respostas em relação as
condições antecedentes?
As condições conseqüentes são a diminuição dos respondentes aversivos
associados á situação (isto é, o sentimento de culpa) - contingência de reforçamento negativo.
Também podem ocorrer mudanças no ambiente social em função das ações reparativas que
disponibilizem novamente para o indivíduo o acesso à reforçadores positivos.
O comportamento de culpar-se é descrito no Quadro 1:
Quadro 1. Descrição do comportamento de culpar-se.
Condições antecedent«» Classe« de respostas Condições conseqüentes
(...) uma condição de culpa ou vergonha não ó gerada apenas por comportamen
to previamente punido, mas por qualquer ocasião externa consistente com esse
comportamento. O indivíduo pode sentir-se culpado om uma situação na qual foi
punido. Podemos controlá-lo pela introdução de estímulos que causem esse efeito.
Dizer a alguém “você deveria ter agido melhor comigo" introduz os estímulos
para reenvià-lo à aversividade de contingências em que foi punido por não ter agido
conforme regras do relacionamento interpessoal ou expectativas de outras pessoas.
Conseqüentemente, a probabilidade de que responda tentando diminuir a aversividade
da experiência, atualizada naquele instante, aumenta. A classe de resposta emitida
provavelmente incluirá ceder às demandas do outro. Se estas forem de natureza coercitiva
o indivíduo será vítima de manipulação. O desdobramento do comportamento de ceder
à manipulação em contingência envolvendo a indução ao culpar-se poderia ser descrito
como segue (Quadro 2):
Quadro 2. Descrição do comportamento de ceder à manipulação coercitiva em
contingência que envolva indução ao se culpar.
"quando um indivíduo é punido por não responder de uma dada maneira, gera-
se uma ostimulaçâo aversiva condicionada quando estiver fazendo quaJquer
outra coisa. Apenas comportando-se daquela dada maneira ele consegue livrar-
se da culpa. Assim se podo evitar a estimulação aversiva condicionada gorada
por não cumprir o dever simplesmente cumprindo o dever".
Referências
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Alegro: Artmed.
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não publicado.)
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Loos, H., Ferreira, S. P. A., & Vasconcelos, F. C. (1999). Julgamento moral: estudo comparativo
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culpa. Psicologia: Reflexão e Critica, 12, 47-69.
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Nazare-Aga, I. (1997). Les manipuiateurs sont parmi nous. Quebec, Canada: Les Editions de
I 'Homme.
Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy.
Sígolmann, E., & Fernandes, L. M. (1986). Desenvolvimento de uma medida de culpa. Arquivo
Brasileiro de Psicologia, 38(2), 76-83.
A formação
Capítulo 21
Terapeutas experientes e iniciantes: O que a
Literatura aponta sobre eles?
Formação do vínculo
Em um estudo realizado por Dunkle e Friedlander (1996), sobre as contribuições
da experiência dos terapeutas e as suas características pessoais para formação da aliança
terapêutica, encontraram que as diversas características pessoais do terapeuta foram
preditivas para a formação do vínculo, independente do nível de experiência, como o apoio
social, o menor nível de hostilidade e a capacidade para desenvolver o relacionamento
* t-HpuüallHla urn (’Muoturaptai i m AnâNau do Curipurtamunto pula UfcL, pokrtfcigH do Chibo dun M A tm Unidas, (kxainto rio Puputtwmxito do Pulcologla Owal
o A i UMIm i do Coinportameotn d « UbL a du UntanfcJario Pitranaanaa* UNIRW* Mnatmnda « ti PnMxilogiu CtliitcM | x ií h USP n u n tu t n i » n n / a k t f J i in k ia / Imm
nuUmvukiaMimnuill imn RuaSêoBamnidodoCanipo, 172 Jd. Sumart LondrtutfPi CFP 86062-150
interpessoal íntimo e de conforto com seus clientes. Já a experiência dos terapeutas,
contrariando a hipótese inicial dos autores, não foi preditiva, na avaliação dos clientes
sobre os objetivos e tarefas que compõem a aliança terapêutica. O resultado confirmou a
hipótese de que a experiência não é preditiva para a formação do vínculo. Assim, de
acordo com os autores, os clientes não perceberam diferença na atuação dos terapeutas
sobre os componentes referentes ao vínculo, objetivos e tarefas da terapia, indicando
nesse estudo, que o nível de experiência dos terapeutas não interferiu na formação da
aliança terapêutica.
Para obter esses dados os autores investigaram 73 dlades terapeuta-cliente através
de diversos instrumentos. Um deles foi o WAI (Working Alliance Inventory, Horvath &
Greenberg, 1994). Esse instrumento foi utilizado para avaliar a percepção dos clientes
sobre os componentes da aliança terapêutica: vinculo (refere-se a ligações pessoais entre
cliente e terapeuta, desenvolvidas na atividade compartilhada da terapia; é expresso e
sentido em termos de amizade, simpatia, confiança, respeito pelo outro e um senso de
comprometimento comum e um entendimento compartilhado das atividades), tarefas (refere-
se a atividades específicas desenvolvidas pelo terapeuta e cliente para instigar ou facilitar
as mudanças) e objetivo (caracteriza-se pela negociação e entendimento mútuo entre
terapeuta e cliente acerca dos objetivos da terapia em termos de resultados). O outro
instrumento utilizado foi o INTREX(lntrex Introject Questionnaire, Benjamin, 1982; 1983)
e por meio dele avaliaram o nlvel da hostilidade autodirigida do terapeuta. A Social Provision
Scale (SPS) (Cutrona & Russell, 1987) foi utilizada para avaliar a qualidade do apoio social
do terapeuta (rede de relações sociais na vida cotidiana), e por fim utilizaram a Adult
Attachment Scale (AAS) (Collins & Read, 1990) para estimular a habilidade do terapeuta
em relatar o desenvolvimento do relacionamento.
Outro estudo realizado por Novaki e Luiza (2000) sobre as habilidades dos
terapeutas na formação do vínculo, obteve resultados semelhantes aos do estudo de Dunkle
e Friedlander ( 1996) referentes ao desenvolvimento do vínculo terapêutico, pois, segundo a
percepção dos clientes, tanto os terapeutas experientes como os iniciantes, não diferiam
quanto aos aspectos referentes à formação do vínculo. Essa pesquisa teve como objetivo
investigar quais habilidades dos terapeutas promoviam a formação do vínculo, como também,
comparar as habilidades de terapeutas experientes e terapeutas iniciantes relacionados à
formação do vínculo terapêutico. O estudo envolveu alunos de graduação que estavam
iniciando seus atendimentos na abordagem comportamental, e profissionais três a dez
anos de experiência clínica na mesma abordagem. Os dados foram obtidos através de
questionários preenchidos pelos clientes dos terapeutas. Os resultados indicaram que
quanto às habilidades avaliadas (habilidades iniciais, ex: cumprimento e forma de entrar
no assunto principal; habilidades pessoais, ex: senso de humor e concentração; habilidades
não-verbais, ex: expressões faciais e gestos; e habilidades de investigar, ex: questionar e
informar) não houve diferenças entre os terapeutas analisados, ou seja, as habilidades
foram apresentadas na mesma proporção pelos dois tipos de terapeutas, segundo a
percepção dos clientes avaliados. Com relação às habilidades que estariam relacionadas
á formação do vínculo destacaram-se aquelas relacionadas às características pessoais
do terapeuta, como empatia, ser atencioso e acolhedor, e demonstrar simpatia.,
Mallinckrodt e Nelson (1991) também realizaram um estudo semelhante ao de
Dunkle e Friedlander (1996), porém, o objetivo do estudo foi verificar os efeitos do nível
de treinamento no desenvolvimento dos vários componentes da aliança terapêutica (víncu-
lo, tarefas e objetivos). Avaliaram 50 diades (terapeuta-cliente) sendo que os terapeutas
variavam de estudantes de graduação, terapeutas em treinamento a profissionais
experientes. O instrumento de avaliação utilizado foi o WAI (Working Al/iance Inventory,
Horvath & Greenberg, 1986; 1989).
Nesse estudo, os autores observaram que nas subclasses de tarefas e de objetivos
do WAI obtiveram resultados mais favoráveis os terapeutas mais avançados, na visão
dos clientes, ou os conselheiros com pós-doutorado, de acordo com sua própria auto-
avaliação, indicando assim, uma diferença entre os profissionais com relação aos objetivos
e tarefas da terapia. No entanto, corroboraram os estudos de Dunkle e Friedlander (1996)
e Novaki e Luiza (2000) quando afirmaram que em relação à formação do vinculo não
há diferenças entre os profissionais, pois a sua formação está muito mais relacionada às
características pessoais do terapeuta do que ao nível de experiência.
Assim, com base nesses estudos observa-se que com relação a variável formação
do vinculo nào há diferenças relacionadas ao nível de experiência do terapeuta, pois os
resultados indicam que esta variável está muito mais relacionada às características
pessoais do terapeuta.
Considerações
De fato, percebe-se com base nos estudos citados, que não existe um consenso
sobre se há ou não diferenças entre esses terapeutas experientes e iniciantes, e se
existem, quais seriam. Porém, observando mais detalhadamente esses estudos ocorre
que algumas diferenças entre os profissionais podem existir, apesar de todos apresentarem
melhoras nos resultados da terapia. Contudo essas diferenças só são percebidas quando
os dados coletados são mais específicos como o estabelecimento das tarefas e objetivos
da terapia, ou com clientes de idades diferentes. Desta forma, pode-se considerar que
essas diferenças estejam relacionadas aos comportamentos apresentados pelos terapeutas
em sessão (fatores específicos) e não à questão do seu relacionamento com o cliente
(fatores inespecíficos), até porque a maioria dos estudos sobre a aliança terapêutica
concorda que com relação à formação do vínculo esses terapeutas não diferem entre si.
Alguns estudos têm apontado a questão do comportamento do terapeuta na ses
são como um aspecto que pode diferenciar esses profissionais. Assim, comportamentos
como o de ser diretivo (Bohn Jr, 1965), obter um conhecimento mais rápido e mais profun
do sobre seu cliente (Mullen & Abeles, 1971), demonstrar menos ansiedade e mais habi
lidade (Pope, Nudler, Vonkorff & McGhee, 1974), definir os objetivos e as expectativas do
cliente (Garfield, 1995), foram apontados como sendo possíveis comportamentos que po
dem diferenciar profissionais experientes e iniciantes.
Outro aspecto relevante sobre as diferenças entre esses terapeutas, e que vem
sendo estudado (Novaki & Meyer, 2002), relaciona-se ao conhecimento que esses têm
sobre o que acontece em sessão, o que fazem e o porque o fazem, isto é, o quanto os
terapeutas são capazes de prever e controlar seu próprio comportamento na sessão.
Esse estudo aponta que o conhecimento de sua atuação pode ser um aspecto
que difere entre os terapeutas experientes e iniciantes, uma vez que o desenvolvimento
dessa capacidade permite aos terapeutas estar em melhores condições de prever e
controlar seu comportamento na sessão e, conseqüentemente, direcioná-ío no sentido de
trazer maiores ganhos para o cliente, e que terapeutas iniciantes por estarem mais sob
controle de instruções do que das contingências em sessão estariam em desvantagem
quanto ao conhecimento de sua atuação na terapia quando comparado aos terapeutas
com mais prática clínica.
Fica portanto a questão: apesar de ambos terapeutas obterem resultados com
sua atuação na terapia, seria o conhecimento que têm sobre essa atuação um fator que
diferenciaria terapeutas experientes de iniciantes?
Referências
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York; Prontico hall.
Bohn Jr, M J (1965). Counselor behavior as a function of counselor dominance, counselor
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Capítulo 22
Supervisão clínica: Um enfoque no
comportamento do terapeuta
L iiz / /. S. ferreira
Pui Campinas
“Uma análise funcional nada mais ó do que uma análise das contingónclas
responsáveis por um comportamento ou por mudanças nesse comportamento
(sejam eles comportamentos problemáticos - como quebrar vidraças-, ou acei
táveis - como estudar para o vestibular)." (Matos, M. A., 1999)
2Ó 0 I <ii7 H . S. hmfirci
funcional uma causa è substituída por uma mudança na variável independente (V.l.) e um
efeito é substituído por uma mudança na variável dependente (V.D.). A análise funcional
tenta responder à questão: À que uma pessoa está respondendo (V.l.) quando se compor
ta de determinada maneira (V.D.).
De acordo com Matos ( 1999):
"Cinco passos sâo básicos para a realização de uma análise funcional do com
portamento.
HlstòfttMi tie
VtiU
1'ithmilon
(tin te «luma K cupom«*
rmlmuliM
Dmrimmmivd»
Dados do Terapeuta
F. é do sexo feminino, 28 anos, havia terminado seu mostrado em psicologia
clínica e já atuava como terapeuta há três anos. Havia se casado há sete meses e
mudado para sua cidade de origem onde começa a atuar profissionalmente. Faz
supervisão desde que começou a trabalhar em clínica. Traz para a sessão o primeiro
atendimento do um cliente, que lhe foi encaminhado por seu marido. O marido do terapeuta
ó um profissional jovem e promissor na cidade e tem relações profissionais com o cliente,
que lhe relatou estar passando por dificuldades, o que resultou no encaminhamento.
Relato do caso
O relato do caso é a descrição verbal do terapeuta, feita na sessão de supervisão:
A cliente é arquiteta, bem sucedida, tem 44 anos, ó casada há 19 anos, tem dois
filhos, um menino de 16 anos e uma menina de 14 anos. Inicialmente, a cliente afirma que
faz terapia há cinco anos e percebe que não está resolvendo. Diz que já viveu metade de
sua vida e quer que a outra metade seja diferente, precisa de um tipo de terapia direta, que
aponte caminhos e não fique trabalhando "no mundo das idéias".
M. conta que sua vida está desestruturada, que não tem mais nada. Afirma que
nunca gostou do marido, que se casou por conveniência e há três anos não tem qualquer
interação com este, embora morem na mesma casa. Diz que deixou o quarto e atualmente
dorme num colchonete no quarto do filho. Reclama que não pode ver TV a cabo, pois uma
fica no quarto do marido e a outra é monopolizada pelos filhos (parece não ter afeto por
nenhum dos filhos).
M. demonstra extrema ansiedade na sessão, diz que havia tomado Olcadil e que
toma freqüentemente, não consegue dormir sem tomar calmante, se acorda tem pensa
mentos aterrorizadores.
A cliente afirma que o que mais a incomoda é que apaixonou-se por um homem
casado, com quem tem um caso há dois anos. Ela começou a freqüentar a Companhia
Atlética e o conheceu lá. Desde então se encontram, no local duas vezes por dia. Ele tem
38 anos, segundo ela, tem uma esposa loira de olhos azuis e mesmo assim "mantém
esse relacionamento paralelo" (a cliente embora seja bem cuidada, não parece mais uma
menininha). M. afirma que este homem é um galinha, que já teve outros relacionamentos
extraconjugais e que a vampiriza, mas é a única coisa reforçadora em sua vida. O problema
ó que ele a reforça intermitentemente, marca um programa e só quer conversar. Ela fica
louca, porque quer mesmo é ir pra cama, já que nunca se relacionou bem com o ex-
marido. "Não sei o que acontece, eu estou em forma, faço de tudo e ninguém quer transar
comigo". M. afirma que não quer que ele largue da esposa, apenas que ele a procure com
mais freqüência para relacionamento sexual.
A cliente também queixa-se de não ter amigos, não ter com quem sair. A única
amiga que tem é bem mais velha que ela e a reprime (a cliente é criticada por esta amiga
e pela própria mãe por ter "mania de grandeza", querer sempre andar com pessoas
elitizadas). De fato M. parece ser extremamente exigente, diz que tem um senso estético
muito apurado e por isso odeia pobreza, negros etc. Acha um absurdo a amiga ter um
Corsa, que é um carro chinfrim.
Enfim, ela queixa-se que não tem como conseguir outros homens concorrendo
com mulheres mais novas, acredita que os que não estão casados são tranqueira (sem
curso superior, sem dinheiro, sem cultura, feios, barrigudos...).
Sobre a história de vida, M. conta que morava em Vitória, a família era de classe
média, tinham sempre carros novos, mas a mãe sempre a boicotava, dizendo que ela não
devia andar com os filhos de médicos, que deveria andar com gente de classe mais baixa.
"Tudo o que eu desejava a minha mãe dizia que não era para mim, que eu deveria aspirar
menos" (M. acabou se casando com um médico).
Procedimento do terapeuta
Eu disse a ela (foi difícil, ela não parava de falar) que ela estava vivendo uma situa
ção muito aversiva, já que tinha perdido muitas coisas. Afirmei que tudo continuará sem
saída se ela não variar o próprio comportamento. Por exemplo, em casa. Questionei o fato
de ela dormir com o filho, sugeri transformar a sala de TV num quarto (já que ela disse que
o apartamento que pretende comprar só fica pronto daqui um ano e meio e que pagar
aluguel, nem pensar). M. afirma que não pode fazer isso, que tiraria o espaço das crianças
e que a situação da moradia é suportável, desde que ela tenha outra coisa para animá-la.
Afirmei que o cara com quem ela tem um caso é um manipulador e o melhor seria
ela encontrar outra pessoa, começar a freqüentar a academia em outros horários, diferen
tes dos dele. Ela afirma que gostaria de lutar por ele, mesmo que depois chegue á conclu
são que não era o que ela queria (ela costumava manipular os rapazes dessa forma na
juventude). Sobre mudar o horário da academia, ela afirma que isso atrapalharia o seu
trabalho.
Sugeri que ela venha duas vezes por semana, pra trabalhar com relaxamento, já
que a ansiedade é extrema. Ela concordou, embora tenha achado caro.
Senti que as poucas dicas que eu dei foram refutadas por ela. Ao mesmo tempo
que ela quer que aponte caminhos, parece ter sempre urna resposta pra manter a situação
como está. O que eu poderia sugerir pra ela conseguir novos amigos, aumentar o
repertório? A auto-estima dela é baixíssima...
Para operacionalizar a análise ela deverá ser colocada dentro do diagrama na
seqüência indicada:
3° Passo
Rcuposlns Islii/ltilos
1 2
3° Passo
Histórico de Vidti:
I ormada há 3 anos;
Hom repertório teórico;
lixiHcntc, responsável.
1° Passo / v.i). 2° Passo
hstimulos ( ontextuais:
I Analisa o
Trabalha em clinica lui ^ anos,
com portam ento do
- Setinu terapêutico
Kstlmulos cliente;
Respostas de
Anlcccdcnte.s
V I 2. Oferece alternativas; esquiva do cliente
Kstinuilos ( ’oiulicionais:
- ( 'ondiçtko sociocconftmica e
V Keuçóc*. corporais
características do cliente,
de ansiedade.
- M arid o encaminhou o cliente.
- r s i | i i i v i i t io a m a n t e
Referências
Andery, M. A. P. A., Micheletto, N., & Serio, T. M. A. P. (2001). Análise Funcional na Análise do
Comportamento. In H. J. Guilhardi (Org.), Sobre Comportamonto e Cognição. Expondo a Vari
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processos comportamentais. Interação, 5, 133-171. [Revista do Departamonto de Psicologia
da UFPR, Curitiba.]
Conlecçàode pam
óls Painóts sâo compostos (com Fuga/esquiva do ReJatar comportamentos
desenhos e palavras) em papel verbalizações relaciona próprios e de outras
mantui ou cartolinas orçjanizafv d a s ao tema. D ireção da pessoas do contexto de
do eventos, sequências atenção a estim ulos vida Portanto, isso pode
compoftamentals ou eotímulos diferentes d o s que ria aumentar a consdôn
antecedenteae consequentes constamnopainel. dasobreeventose
de urna resposta seqüências
comportamentais impor
tantes.
É possível que a estudante tenha aprendido a conhecer a criança por meio de sua
própria interação com ela e parece estar mais inclinada a brincar com a criança em vez de
interrogá-la.
Digiuseppe, Linscott e Jilton (1996) alertaram para a importância de terapeutas
infantis fomentarem a aliança terapêutica no tratamento de crianças e adolescentes. Sabe-
se que a aliança tende a desenvolver-se logo nas primeiras sessões e que ó preditora dos
resultados no tratamento, independentemente da severidade do problema ou da orienta
ção teórica (Digiuseppe, Linscott & Jilton, 1996). Um repertório lúdico deficitário do terapeuta
pode comprometer o sucesso das primeiras sessões com a criança e possivelmente, a
própria aliança terapêutica.
No presente capítulo, admitiu-se que a habilidade do TCI em conduzir atividades
lúdicas seja o centro da particularidade de sua atuação e por isso, merece treinamento
específico. Apresentou-se um programa de treino de habilidades elementares de TCIs e
uma lista de recursos lúdicos nele empregados, com os respectivos comportamentos da
criança a serem fortalecidos e enfraquecidos.
Sugeriu-se portanto, nesse capítulo, que as atividades lúdicas podem ser treina
das eficazmente e que a ampliação do repertório lúdico é extremamente recomendável
aos iniciantes da terapia comportamental infantil. Nesse sentido, o capítulo representa
uma síntese de uma das primeiras etapas de investigação nessa área, em que muito há
ainda para ser desenvolvido.
Referências
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Brandão, H., & Froeseler, M. G. V. (1997). O livro dos jogos e das brincadeiras. Belo Horizonte: Editora
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Acompanhamento
terapêutico
Capítulo 24
Acompanhamento terapêutico
- Da teoria à prática
AndrtaMdchdib Viânna
A M H A N 4 ÍCV M L A / ’ c A IS M
Thia#o R. de A . Sampaio
A M H A N -t IC ' - / M i / S n A f í f M
4. A formação do AT
Em virtude da grande demanda por este tipo de serviço, dos benefícios que este tipo
de tratamento traz aos pacientes, da oportunidade oferecida a estudantes de se inserirem no
mercado de trabalho e principalmente pela escassez de profissionais adequadamente forma
dos (que tenham as informações citadas acima), levou a equipe de profissionais do Ambula
tório de Ansiedade do Hospital das Clínicas (AMBAN) a organizar um curso anual para forma
ção de ATs na abordagem cognitivo comportamental (TCC).
O curso une o aprendizado formal que tem como resultado colocar o repertório verbal
do aluno sob o controle de estímulos discnminativos verbais e o prático que desenvolve o
repertório do mesmo, quando colocado sob controle dos estímulos do próprio fenômeno. Não é
a precisão teórica ou formal da análise que comumente controla o comportamento do AT, mas
sim as conseqüências das suas intervenções no comportamento do paciente (Starling, 2002).
Em um primeiro momento os alunos são instrumentalizados de toda as informações
sobre identificação e manejo aplicados aos transtornos ansiosos, de humor, psicoses e transtor
nos alimentares. Nos quatro meses seguintes realizam atendimentos a pacientes do Ambulató
rio de Ansiedade supervisionados por psicólogos e psiquiatras especialistas em TCC.
O curso teve início há três anos e vem trazendo benefícios a pacientes, familiares,
estudantes e a profissionais já formados, que acreditam na efetividade do AT intervindo
segundo a óptica cognitivo-comportamental. A seguir, Thiago, ex-aluno do presente curso,
formado em Psicologia continua seu trajeto enquanto AT, nos apresenta um caso.
5. Contrato terapêutico
Um aspecto importante da prática do AT que procuraremos demonstrar ó a
flexibilidade que este profissional, muitas vezes estudante de psicologia, necessita para
lidar com contingências que escapam às condições ideais apresentadas pela teoria,
principalmente com relação ao comprometimento e a disponibilidade para o trabalho,
tanto do paciente como da família do mesmo, como a interação do AT com a equipe de
tratamento.
O primeiro contato do AT com o caso costuma ser com um profissional da área de
saúde, geralmente um psiquiatra ou um psicólogo, que solicita o serviço de AT para um
paciente seu. No momento do contato, são obtidas informações gerais do paciente como
sexo, idade, diagnóstico, objetivo da intervenção e outros detalhes. A seguir, é marcada
uma reunião no consultório do profissional.
Nessa reunião, necessariamente, devem estar presentes o profissional requisitante
e o paciente (dependendo do caso também solicitamos a presença de um familiar mais
próximo). O fato de o primeiro contato do AT com o paciente ser no consultório e na presen
ça do profissional que já o atende, além de favorecer o vínculo entre AT e o paciente, eviden
cia o caráter de equipe que o tratamento procura ter.
O paciente deve ter claro, o papel do AT e importância da troca de informações entre
a equipe e os profissionais onvolvidos em seu tratamento e que esta, tenha acesso ao que
ocorrer nos atendimentos com o AT. Uma vez que, os dados obtidos determinam a efetividade
do tratamento como um todo. Cabe ressaltar também, e deixar claro para o paciente, que
existe uma "semipermeabilidade" de informações entre o AT e as pessoas que moram com
eíe, pois a famífia deve saber a razão dos atendimentos serem realizados na casa do paciente.
Por exemplo, o ideal é que todos que moram com o paciente saibam que o AT é um profissional
e não um amigo. O entendimento, a compreensão e o consentimento das pessoas que vivem
com o paciente com relação ao trabalho do AT são fundamentais, mas nem sempre se consegue
a cooperação de todos os membros da familia.
É importante ressaltar que, dentro da mesma reunião, é estabelecido um contrato
terapêutico, onde se discute o número de atendimentos semanais, faltas que possam
ocorrer, valores dos encontros e forma de pagamento.
6. Descrição do caso
Paciente do sexo masculino, então com 25 anos de idade e solteiro. Morava com
os pais, recém formado na faculdade e não trabalhava no momento dos atendimentos.
Sua principal atividade durante o dia era treinar musculação em uma academia com um
T E M PO %
(MIN) E IIM IN A O A
0 10 tb %
10 20 B0%
?0 30 Bb*
30-60 uo%
60-120 «5%
6.2 Resultados
O quadro 2 apresenta a hierarquia antes e depois de 45 dias de exposição com
prevenção de resposta.
QUADRO 2 - (Hierarquia de Exposição, antes e depois do Acompanhamento Terapêutico)
S IT U A Ç Ã O 1° s«aslo 4 5 D IA S
F IC A R C O M 5 % D E F E Z E S NO IN T EST IN O (4 0) (0)
F IC A R C O M 10% (4 0) (0)
F IC A R C O M 2 0 % (5.0) (0)
F IC A R C O M 3 0 % (60) (0)
F IC A R C O M 4 0 % (6.5) (0)
F IC A R C O M 6 0 % (7 0) (4)
American Psychiatric Association (APA). (1994), Diagnostic and statistical manual of mental
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C h iú d u i H â lv e d i
A M R A N assn/v
Cecília Meireles
2. Encaminhamento e avaliação
O cliente para acompanhamento terapêutico comumente vem encaminhado por
um psiquiatra, um módico clínico ou médico da família, pelo próprio terapeuta clinico, ou
por um pedido da família que sabe da existência deste trabalho. Na maioria dos casos dá-
se aí o início de um trabalho interdisciplinar.
É marcado um encontro do acompanhante terapêutico com o cliente e/ou com a
família, num local pré determinado, para que seja efetuada a avaliação da queixa e levan
tamento das dificuldades do cliente para determinar se o caso realmente é indicado para
o trabalho. Se for deverão ser estabelecidos objetivos a serem atingidos, os quais estão
sujeitos a alteração no decorrer do processo.
Devido ao grande número de casos e sua diversidade, o acompanhante terapêutico
deverá estar disposto a acompanhar seu cliente ao lugar que atenda às necessidades
prementes. Talvez o cliente esteja impossibilitado fisicamente de se mover ou mesmo
internado, ou também tenha fobias a locais e situações. Nesses casos, o acompanhante
irá ao cliente ou o acompanhará aos locais de risco. O cliente também pode ir ao encontro
do profissional, em local que pode ser fixo ou variar freqüentemente, desde que combina
do com antecedência. Há inúmeras situações que podem ser apresentadas ao profissio
nal que deve estar cônscio da necessidade de ser flexível.
Essa flexibilidade é uma das grandes contribuições do acompanhante terapêutico
para um tratamento eficaz pois possibilita a avaliação do quadro mais exata, assim como
sua interferência. As queixas e as dificuldades do cliente podem ser estudadas profunda
e objetivamente. A interação entre cliente e profissional proporcionará um vínculo de confi-
ança e esperança benéfico. Diante da avaliação mais eficiente, o profissional poderá de
terminar quantas sessões serão necessárias, qual o tempo de duração dos atendimentos,
em quantos dias da semana elas ocorrerão e a necessidade de acompanhamento por
tempo limitado ou não.
4. Perfil do AT
O termo "acompanhante terapêutico" tem como principais sinônimos: acompa
nhante para pacientes críticos; acompanhante psiquiátrico; amigo remunerado e amigo
qualificado.
Tais designações sempre estarão vinculadas a um profissional essencialmente
preparado e empenhado, seguro e responsável para que o tratamento não sofra abalos.
O acompanhante terapêutico deve ter como características:
- Interesse e possibilidade de trabalhar em equipe pois a variedade de casos pode
exigir a participação de várias pessoas, leigas ou não. Com isso, o profissional
pode ser parte integrante de uma estrutura, assim como pode gerenciar comporta
mentos que afetem seu cliente;
- maturidade que lhe traga segurança e domínio em todas as suas ações;
- alto grau de compromisso, fator essencial na tarefa que se dispõe efetuar. Ele
passa a ser um ponto de aglutinação que emana esperança para o cliente e qual
quer deslize pode colocar em risco o tratamento em andamento e mesmo outros
futuros;
- iniciativa em tomar decisões diante de quadros que se apresentem, bem como em
situações inesperadas. Seu objetivo deve ser o de auxiliar o seu cliente, mesmo
que para isso precise pedir auxílio a outro profissional. O acompanhante terapêutico
tem responsabilidades sobre seu cliente e a certeza de segurança é primordial para
que o tratamento tenha o melhor desfecho possível;
- atitudes firmes e flexíveis. O cliente pode testar o acompanhante que deve estar
atento às suas próprias respostas. Também não pode manter-se irredutível quando
há contratempos e imprevistos, tendo flexibilidade suficiente para que a confiança
mútua não se rompa.
7. Conclusão
Muitas vezes o acompanhante terapêutico é solicitado quando a família já está
cansada, o cliente exausto e não há mais saída. Mas, em todas as situações, o profissi
onal deve ter certeza que há muito em jogo e talvez seja ele a pedra certa para a jogada
certa. O acompanhante terá de aprender a ajudar sem sofrer e amar sem paixão. Deverá
observar com cuidado, trabalhar com empenho e fazer com que seu cliente aflore de si
mesmo suas potencialidades, jamais tentando moldá-lo às suas conveniências. Infeliz
mente o preconceito com relação à problemas comportamentais permeia a grande maio
ria das pessoas e tira delas a felicidade do desenvolvimento de suas capacidades.
Na citação abaixo a poetisa paranaense Márcia Doniak expressa de forma con
tundente e sensível, todo o sofrimento do cliente ao qual o acompanhante terapêutico deve
estar atento, pois nem sempre é expresso de forma tão brilhante.
"Ouço sons que vem de longe mas não quero vô-los.
Fechei todas as janelas pois as chuvas de verão chogam som avisar.
O som mais nítido são das lágrimas quo caem do meus olhos no chão. ”
Referências
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Funções do AT
De um modo geral, a função do AT manteve-se fiel à encontrada na literatura
(Cataldo Neto, Zanela, Lavinsky, 1998), ou seja:
- ser continente às angústias do paciente
- servir de modelo, mostrando ao paciente a maneira mais adequada de agir e orga
nizar-se
- perceber, reforçar e desenvolver as aptidões que os pacientes ainda possam produ
zir para si e para a sociedade
- representar o terapeuta e a equipe multidísciplinar, fazendo com que estes pacien
tes compreendam as intervenções feitas pelo terapeuta
- informá-los sobre a real situação, expondo a ele desde pequenas normas da soci
edade e fazê-lo enxergá-la verdadeiramente (dependendo da compreensão de cada
paciente)
- atuar como agente ressocializador, interagindo e reintegrando-os ao meio
- evitar a exaustão familiar, que é gerada muitas vezes pela família devido ao convívio
diário com os pacientes
- executar junto ao paciente, um programa de atividades físicas, recreativas e cultu
rais, pois esta é uma forma muito rica para reinserí-lo a sociedade (caso esteja
distanciando-se dela, como nos casos de Transtornos de humor, personalidade,
adicçãoe LER).
A função do AT que foi talvez mais adaptada à realidade da clínica foi capacidade
de trabalhar em equipe multidisciplinar, visto que corriqueiramente esta equipe é compos
ta pelo terapeuta, psiquiatra, AT e outros profissionais - dependo das necessidades do
paciente - e na clínica escola, devido a grande demanda, não foi possível dispensar mais
de um profissional para atender a uma mesma pessoa, sendo que tanto o trabalho do AT,
quanto o do terapeuta, eram desempenhados pela mesma pessoa, existia sim a equipe,
onde todos opinavam e discutiam estratégias, composta por um professor supervisor e
mais doze Ats (estagiárias do 5fl ano de psicologia). Aqui está talvez, o maior ponto de
diferenciação da experiência de inserção do Acompanhamento Terapêutico em clínica
escola com as práticas atuais.
Vale ressaltar que o trabalho do psiquiatra foi devidamente valorizado pela equipe
de Ats da clínica escola, visto que logo nos primeiros encontros com o paciente, quando
se estabelecia um contrato (que será descrito mais adiante), era implícito a visita e o
acompanhamento de um psiquiatra. Então explicava-se a importância dessa parceria e
que o AT estaria agendando esta visita para o mais breve possível, e acompanhando o
paciente durante as consultas.
Geralmente, os psiquiatras procurados eram do Ambulatório de Saúde Mental,
visto que a maioria dos pacientes não podiam ter um atendimento particular. Mas
alguns pacientes dispunham de plano de saúde e, consequentemente, podiam ter um
acompanhamento psiquiátrico particular, e outros ainda, vinham encaminhados por
estes psiquiatras.
O contrato
Apesar de não existir honorários em clinicas escolas, também é estabelecido um
contrato com o paciente, onde determina-se as especificações, ou características do
tratamento.
Este contrato baseava-se em:
- Quantidade de atendimentos e acompanhamentos semanais (geralmente determina*
va-se um atendimento e um acompanhamento semanal, mas ambos estavam sujei
tos a alterações, o que ocorria com freqüência, quando víamos a necessidade de
mais de um atendimento ou acompanhamento semanal);
- Duração do tratamento (comum na Terapia Cognitiva Comportamental);
- Horário (o horário dos atendimentos na clínica ficava estabelecido neste contrato, o
horário dos acompanhamentos eram determinados durante as sessões de terapia);
- Local dos Acompanhamentos;
- Acompanhamento psiquiátrico;
- Dependendo da situação, seria designado mais um AT;
- Sinceridade por parte do paciente, e o compromisso de “pedir ajuda" sempre que
tiver dúvidas ou angustias;
- Não existiria “Segredos e Pactos" entre paciente e AT. Todo dado trazido pelo paci
ente seria compartilhado com toda a equipe de AT e com o psiquiatra.
Alguns pontos do contrato eram, em primeira instância, inadmissíveis para o pa
ciente, como: acompanhamento psiquiátrico, que uma grande maioria dos pacientes
rejeitavam no início julgando não necessitar; acompanhamento na casa do paciente ou
em lugares em que costumava freqüentar, temendo serem vistos como incapazes por
outros, e o compartilhar das informações com equipe e psiquiatras, referindo alguns, sentir-
se traídos.
Para contornar esta situação, o AT deveria estar devidamente esclarecido sobre a
importância de cada situação e ter a capacidade para manusear e reverter esta posição do
paciente.
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Volpato Cordioli, A. (1998). Psicoterapias: Abordagens Atuais. São Paulo; Artes Médicas.
308 hibidne Cristina Cru/, I uciana Assi de I ima e Patrícia Barbeiro de Moraes
Seção V
Aplicações da
análise do
comportamento na
sociedade
Capítulo 27
A atuação do analista do comportamento
com as questões sociais: uma reflexão a
partir das mudanças nos temas
investigados em publicações entre
1968 e 2002'
M artina Killo Otero
l alhtratório dc Psicologia ixpcriniental - IX fc 'AP
' I rntwlho dominvnlvKlo rw DMwortHçAo do Mostrado dfl nutririi, ctifo pm|nto fcivn ftnHnrtamontn dfl I A P K S P
comportamento, a análise e a proposição de mudanças a partir da Análise do
Comportamento está longe de ser uma questão resolvida para a abordagem. Há
dificuldades de ordens teórica, metodológica e ética que são palco de pesquisa e
discussão. No que se refere ao desenvolvimento de conceitos, podemos destacar o de
“metacontingência", desenvolvido por Glenn (1988) e que tem sido discutido por diversos
autores (p.ex. Andery e col, 1999) mas ainda não completamente adotado pelos analistas
do comportamento. Além do questões teóricas, há uma série de questões e dificuldades
metodológicas que emergem quando tratamos do estudo de questões sociais - fenômenos
que envolvem muitas pessoas, contextos amplos e um intervalo longo de tempo. Lamal
(1991) destaca algumas questões metodológicas que devem ser tratadas pela Análise
do Comportamento para possa lidar com fenômenos sociais. Entre outras: a definição
de uma unidade de análise, de um tipo de medida e a questão da validade social dos
objetivos envolvidos no estudo - a avaliação da sociedade da relevância dos objetivos
colocados e indica a dificuldade de elaboração de estratégias de coleta de dados sobre
"a sociedade". De fato, diversos autores (Holland, 1978, Jason & Glenwick, 1980, Lamal,
1989, 1991, Malagodi, 1986, Botomé, 1996) identificam limites no desenvolvimento da
Análise do Comportamento em comparação ao quanto ela poderia contribuir para o
desenvolvimento da sociedade.Tais discussões evidenciam que esta é uma área que
está em desenvolvimento e que tem encontrado desafios para tal, possivelmente
vinculados à complexidade do objeto de que trata: relações sociais.
Além de realizado e discutido por autores analistas do comportamento, o
envolvimento do analista com questões sociais, também tem sido discutido por diversos
autores fora da abordagem (Wheeler, 1973, Japiassu, 1991). A Análise do Comportamento
foi e é objeto de críticas no que se refere ao seu papel de agente promotor de
transformação ou manutenção da estrutura social vigente, aos procedimentos usados
nas intervenções comportamentais, à noção de controle dentro da abordagem, ao uso
de controle aversivo, etc.
Apesar de, muitas vezes, tais críticas estarem vinculadas a um entendimento
equivocado de conceitos e práticas da Análise do Comportamento, elas evidenciam
uma dificuldade encontrada pela abordagem: difundir seus conhecimentos na sociedade
de modo a que possa contribuir para a solução de diversos problemas (Lamal, 1989,
Malagodi, 1986).
Temos, portanto, por um lado, autores anafistas do comportamento que, apesar
de reconhecerem limites e dificuldades da abordagem no que se refere à análise de
questões sociais, destacam a contribuição que a abordagem poderia oferecer para a
melhora das condições em que vive o homem. Por outro lado, temos críticos não analistas
do comportamento que avaliam negativamente a possibilidade da Análise do
Comportamento vir a desenvoíver-se/contríbuír nessa área.
O objetivo deste trabalho consistiu em analisar a produção do analista do
comportamento, relacionada com questões sociais e veiculada em revistas científicas
específicas da abordagem, com vistas a contribuir para que a área reflita sobre si mesma.
Nessa análise foram levantados dados específicos sobre seu desenvolvimento e foram
destacadas mudanças ao longo do tempo.
‘ NAofot kx;alt/n<to onbn »nonto» MrtuOus. putiNuKju« pato JA H A o nrwtfeuKtt« miBtu tmtwltio. que wVjUww na aua arWUmn. ou m o«no trHtuwm (Iumm mftcato.
Owlo tamtetn kxlk^Mto pcx Martnrto, 2000
Método
1. Seleção de fontes
A análise de publicações acerca do envolvimento do analista do comportamento
com as questões sociais foi realizada a partir da leitura de artigos de dois periódicos
especializados na abordagem:
1.1. Journal of Applied Behavior Analysis (JABA). Criado em 1968 pela Society
forthe Experimental Analysis of Behavior (SEAB), é um importante veículo de divulgação
de pesquisas aplicadas, relevantes socialmente, de analistas do comportamento em
diversas áreas. Todos os volumes deste periódico, de 1968 a 2001, foram objeto de estudo
nesta investigação.
1.2. Behaviorists for Social Action Journal (BFSAJ), Behavior Analysis and Social
Action (BASA) e Behavior and Social Issues (BSt). Desde sua fundação, em 1978,
foram editorados e publicados pelo grupo de interesse da Association for Behavior
Analysis (ABA), Behaviorists for Social Responsability, que foi precedido pelo
Behaviorists for Social Action. A proposta de periodicidade de publicação do jornal
era de dois números anuais. Os periódicos tinham como foco questões sociais e
análises culturais do ponto de vista dos analistas do comportamento. Em 1986,
ocorreu a mudança de nome de Beahaviorists for Social Action Journal para Behavior
Analysis and Social Action.
O Behavior and Social Issues foi o periódico que deu seguimento, em 1991, ao
Behavior Analysis and Social Action e também publica investigações e discussões de
analistas do comportamento voltadas diretamente a questões sociais. A responsabilidade
pela publicação do periódico foi transferida para o Cambridge Center for Behavioral Studies,
até 2001.
2. Procedimentos de coleta
A coleta foi feita a partir de um sistema de busca do JABA com palavras-chave.
Para estabelecer a lista de palavras, foi feita uma leitura dos programas de governo dos
candidatos vencedores para governo municipal de (2000), estadual (1998) e federal
(1998) e foram destacadas paíavras-chave ou expressões-chave vinculadas a questões
e problemas sociais no contexto brasileiro.
Todos os artigos do conjunto BFSAJ, BASA e BSI foram resgatados, menos
os de uma sessão dedicada a relatos de trajetórias e histórias pessoais de
personagens “notórias" da abordagem.
3. Procedimentos de análise
Os aspectos analisados nos artigos selecionados foram os seguintes:
a) Ano de publicação dos artigos; b) Autoria dos artigos; c) Tipo de estudo relatado
no artigo (teórico, interpretativo, aplicado, revisões de livro e da literatura); d) Tema analisado
ou tratado no estudo. Os temas poderiam estar diretamente ligados a "áreas sociais"
como levantadas pelos programas de governo (como educação formal, emprego, meio-
ambiente) ou poderiam estar relacionados, mais especificamente, a reflexões sobre a
abordagem (como comparações entre sistemas teóricos/ metodológicos, análises de
modelos e práticas sociais existentes); e) Participantes (para estudos aplicados).
Resultados
O número de artigos relativos a questões sociais publicados no JABA, BFSAJ,
BASA e BSI localizados e analisados por este trabalho foi de 405. Desse total, 199
artigos foram publicados no JABA, desde sua fundação em 1968. O BFSAJ publicou 39
artigos, em 6 anos; o BASA publicou também 39 artigos, em 4 anos e o BSI publicou 128
artigos em 11 anos (de 1991 até 2001), totalizado o número de 206 artigos publicados pelo
conjunto BFSAJ, BASA e BSI de 1978 até 2001.
A Figura 1 apresenta os dados relativos ao número de artigos publicado por ano,
nos periódicos investigados.
Ao longo dos anos, ontretanto, tanto a posquisa básica como a análise aplicada
do comportamento, estreitaram-se e aquela visão original foi perdida. A análise
aplicada do comportamento está gradualmente se tornando uma sub área dentro
da área de dificuldades de desenvolvimento, como uma leitura rápida do número
recente do JABA pode confirmar. A profundidade do risco que isto representa é
encoberta pelo rigor metodológico e impacto aplicado dentro desse dominio
restrito (Hayes, 2001, p. 61)
A fala de Bailey (1987) chama a atenção, em primeiro lugar, de que política editorial
pode ter sido um determinante para o tipo de artigo publicado no JABA\ Ou seja, outros
autores, que publicam artigos relacionados a questões sociais e que realizam estudos
aplicados poderiam estar veiculando seu trabalho em outro periódico, dada a exigência de
rigor metodológico que é característica desse periódico. Porém, os dados relativos à quan
tidade de artigos aplicados publicados no conjunto BFSAJ, BASAe BSIevidenciam que, ao
menos nesse conjunto de periódicos, os analistas aplicados estão publicando com pouca
freqüência. Resta saber se veiculam seu trabalho em jornais fora da área.
Além disso, Bailey (1987) também chama a atenção para o fato de que a dificul
dade de manter um rigor metodológico na pesquisa com questões sociais parece ser
*Alôm dotuto exemplo, temo« o d e O l a ary ( 1 0 7 7 ) qua, q uando «xlrtor do J A B A . apraannta urna tala ta m b iS i n n o M xitklo do InoenttvHr n puhtlm çAn itoíin» o
tratudo d e "grup o s m a is o xto n so «' ria a o d a d a d a • raiatM ranrio a poaalbMldad«« d« um axtrarno rtgnr m a tn d o M g k » Ê lodunlvu et» um a n o (1B80) am quo
elo 6 editor quo há o maior num ero * maior porcantagarri »obro o total, de puW teaçâo da arttgc« noUt» quaatflok noctalh
outro fator de relevância para compreender o envolvimento do analista do comportamento,
que trabalha na área aplicada, com determinadas questões e não outras - e para compre
ender a fartura de pesquisas junto a questões de desenvolvimento.
De qualquer maneira, chama a atenção que a mudança no foco dos estudos
aplicados, também significou o afastamento do analista do comportamento de ambientes
e serviços que, se transformados, acarretariam uma transformação social mais
significativa.
O conjunto BFSAJ, BASA e BSI parece constituir-se de periódicos que seguem
outra linha: não publicam poucos estudos aplicados, porém apresentam mais claramente
sua proposta de contribuir para uma transformação social mais radical (Rakos, 1982).
Diferentemente do JABA, em que a maioria dos artigos publicados investigou
problemas relativos à área social, a grande maioria dos estudos relativos a reflexões
sobre a abordagem foi publicada no conjunto BFSAJ, BASA e BSI. A maior parte dos
artigos com temas relacionados com nesse perfil, foram aqueles que tratavam de
"prescrições metodológicas e conceituais para analistas do comportamento”, com 14,56%
dos artigos publicados no conjunto BFSAJ, BASA e BSI e 4,52% dos artigos publicados
no JABA. Artigos que tratam de “prescrições metodológicas e conceituais para analistas
do comportamento" são aqueles que discutem os instrumentos teóricos e conceituais
existentes, e a elaboração de novos, para analisar e intervir sobre as questões sociais.
Dos 39 artigos publicados nessa categoria (JABA = 9, conjunto BFSAJ, BASA e BS/ =
30), apenas 3 são de tipo "aplicado". Como era de se esperar, a maioria desses artigos
são teóricos (10) ou interpretativos (19).
Artigos que abordaram “mudança de práticas sociais" foram o segundo grupo
mais freqüente, em número de artigos publicados, entre os artigos que fazem reflexões
sobro a abordagem (14,53% no conjunto BFSAJ, BASA e BSI). Os artigos com o tema
"mudança de práticas sociais" são artigos que propõe a transformação de determinadas
práticas sociais, e propõe um sentido determinado para essa transformação, justificado
pelos princípios da Análise do Comportamento. O JABA não publicou nenhum artigo
categorizado nesse tema. No conjunto BFSAJ, BASA e BSI foram ainda identificados
artigos que lidam com análises de "modelos e práticas sociais existentes" (11,65%) e
que realizam “comparações entre sistemas teóricos ou metodológicos” (10,68%). As ou
tras categorias de temas relacionadas a reflexões sobre a abordagem totalizaram 15,5%
dos artigos no conjunto BFSAJ, BASA e BSI.
Entre os artigos com os temas "mudança de práticas sociais", "modelos e práti
cas sociais existentes" e "comparação de sistemas teóricos/metodológicos" a totalidade
foi de tipo "teórico" ou “interpretativo". Mais uma vez, vê-se que os estudos com análises
mais amplas não têm sido aplicados. Esse fato parece evidenciar, novamente, a
dificuldade metodológica de trabalhar com análises de práticas culturais e sociais. Além
disso, evidencia que o conjunto BFSAJ, BASA e BSI tem realizado diversas análises e
discussões, porém o conhecimento gerado nessas discussões pode não ter gerado
intervenções concretas, principalmente se considerarmos sua baixa difusão e a dificuldade
de interlocução entre os periódicos.
Quanto ao desenvolvimento ao longo do tempo dos temas relacionados a reflexões
sobre a abordagem, há bastante oscilação. Essas oscilações estão relacionadas com o
contexto fora da abordagem. As discussões realizadas nesses estudos se referem, usu
almente, a discussões que estão sendo realizadas na sociedade . É possível identificar
isso a partir da leitura dos artigos, porém, seria necessário correlacionar essas discus
sões com uma análise mais sistemática dos acontecimentos contemporâneos aos textos
para qualificar melhor a relação e os posicionamentos estabelecidos.
ar«*
Considerações finais
Quando falamos de uma atuação do analista do comportamento com as questões
sociais, não estamos tratando de uma área, mas sim de um conjunto de estudos
heterogêneos, diferentes nos tipos de estudos, nos temas tratados e no perfil geral das
discussões. No JABA encontramos artigos, na sua maioria aplicados, relacionados a
temas específicos e, ultimamente, frequentemente relacionados com participantes com
déficit de desenvolvimento. No conjunto BFSAJ, BASA e BSI encontramos artigos de
cunho mais interpretativo e artigos teóricos, com reflexões sobre o papel e a colaboração
da Análise do Comportamento para as questões sociais.
Pot DKiM tiplo N o v ln ( 1 9 « ? ) d i s c u t o p r o p o n tu » u x n p o ítH im tn U M » p tifH rmcAxJx) p * d f t c * do u i r A t o s o u tx x tld íi o u iim ii O u MrtdH. (H a r to w , 1 0 H 8 ) rt ix lltu f
d o m r iu m w n A o u i f x k jh I d u n t m d o p u r i ò d k x ) i j u o d l a c u t o o S o c U t e n o O u , já i * n 1 IW 1, H a kiM / 1 Í W 1 ) Ô ix JH t» tk>w ru » m»m ã o m fw tia I í)Jw;ultrx) o n H iy i m t n ik a
A divorsidado, para a Análise do Comportamento, ó positiva, já quo é com base
nela quo a seleção pode operar. Porém, os dados relacionados à autoria indicaram que,
autores que transitam em um dos perfis não costumam transitar no outro, o que pode
indicar uma dificuldade da área de integrar aspectos tratados por cada um dos perfis
traçados e abordados pelos periódicos investigados.
Com base nesses perfis e na análise realizada, alguns desafios para aqueles
analistas do comportamento que pretendem trabalhar com questões sociais a partir do
ponto de vista comportamental ficaram evidentes. Em primeiro lugar, a análise evidenciou
que não há conceitos específicos para analisar fenômenos sociais que sejam amplamente
difundidos entre os analistas e que tornem possível tanto a discussão teórica, como a
interpretativa e a aplicada. É necessário destacar que há propostas nesse sentido (como
o conceito de "metacontingência"), mas ainda é premente o desenvolvimento conceituai
da abordagem para analisar e compreender práticas e questões sociais.
Em segundo lugar, a análise sobre os temas, os participantes envolvidos e as falas
de alguns autores (O’Leary, 1977, Bailey, 1987) evidenciaram que a área de atuação
relacionada com questões sociais tem uma difícil tarefa metodológica: desenvolver
instrumentos que permitam manter o rigor metodológico das investigações comportamentais,
sem que isso implique em uma simplificação da questão investigada.
E finalmente, está colocado o desafio em relação ao papel do analista do
comportamento - enquanto especialista das relações entre organismo e ambiente - na
sociedade. As mudanças ocorridas nas últimas décadas na área relacionada com
questões sociais evidenciam que, apesar desta ser uma atuação constante do analista
do comportamento, o desafio está na integração e comunicação entre os autores que
produzem e discutem a partir de diferentes referenciais (evidenciados aqui pelos “perfis"
tratados) dentro da abordagem, para que possamos superar algumas dificuldades e,
então, possamos contribuir de maneira mais consistente e com a construção de um
mundo melhor.
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Capítulo 28
Modelo de redução de risco em Aids:
Avaliação de um projeto de prevenção
com jovens
M a ria Cristina Antunes
L/niversiiiide deSão Paulo -L/nivcrsidade luiuti do ParamI
1. Método:
Em maio de 1994, foram sorteados para participar deste projeto estudantes entre
18 e 25 anos de idade, do curso noturno de 1a e 2* graus da rede Estadual de Educação,
onde muitos jovens de baixa renda tentam completar sua educação escolar básica en
quanto trabalham durante o dia. A maioria dos jovens vivia nas proximidades das escolas,
regiões centrais da cidade com altos índices de consumo de drogas, prostituição e casos
de AIDS.
Este estudo longitudinal utilizou um desenho experimental com grupo controle e
grupo de intervenção, com uma medida pré-intervenção e duas medidas pós-intervençáo,
baseada no Modelo de Redução de Risco para AIDS (Catania et.al., 1990), com um grupo
controle. Selecionamos quatro escolas da região central da cidade de São Paulo com
características semelhantes, que foram sorteadas em "grupo controle” (2 escolas) e “gru
po intervenção" (2 escolas). Foram sorteados 100 estudantes de cada escola para partici
par do projeto. Todos os 394 jovens adultos que concordaram em participar do estudo
durante 12 meses foram informados dos seus objetivos e das etapas a serem cumpridas.
Eles assinaram um termo de consentimento informado onde a confidencialidade dos da
dos foi garantida.
Foram feitas 3 aplicações do mesmo questionário, com intervalo de aproximada
mente 6 meses entre cada uma delas. Após a primeira aplicação do questionário os
alunos participaram de "Oficinas de sexo mais seguro” nas duas escolas do grupo inter
venção. Conforme demonstra a Tabela 1,152 estudantes do grupo intervenção participa
ram das oficinas (77% dos que tinham concordado em participar). A principal razão da
perda inicial foi a evasão escolar nos dois meses entre a adesão ao projeto e o início do
programa de prevenção. Seis meses depois 304 estudantes (77% do momento inicial do
estudo) responderam o mesmo questionário.
Tabela 1. Número de participantes em cada etapa do estudo.
394 304
Total
1.2. Questionário:
O questionário incluiu uma série de questões baseadas no Modelo de Redução
de Risco para AIDS (Catania et.al., 1990) e outros itens que desenvolvemos para medir
a adesão às normas tradicionais para os gêneros (Paiva, 2000). O questionário, com
questões de múltipla escolha, foi auto respondido em um tempo médio de 50 minutos.
As medidas foram realizadas através de variáveis dicotômicas ou escalas tipo Likert. As
questões se referiam a:
• Dados sócio-demográficos: raça, estado civil, idade, nível de escolaridade e renda
familiar.
• Práticas sexuais: número de parceiros (regulares ou casuais), uso do preservativo
em cada prática. “Nunca" usar preservativo, usá-lo "às vezes" ou "na maioria das
vezes" foram consideradas práticas de risco, gerando uma variável dicotômica
(uso consistente x uso inconsistente).
• Capacidade de negociação: de negociar práticas sexuais, prazer e sexo seguro.
• Percepção de auto-eficácia: "sente-se capaz de se proteger do HIV".
• Dificuldades om usar ou obter a camisinha, impressões a sou respeito relacionadas
ao prazer e sua eficácia para o sexo seguro.
• Capacidade de comunicação sobre Sexo e AIDS: se sente capaz de conversar
sobre esses assuntos com amigos e parceiros.
• Adesão às normas de gênero: concordância com afirmações sobre normas
tradicionais dos papéis masculinos e femininos como, por exemplo, a
responsabilidade sobre o cuidado dos filhos, o sustento da casa, as diferenças de
poder implícitas na relação sexual e na negociação do sexo seguro.
1.3. Análise:
Utilizamos o Pacote Estatístico para Ciências Socias (SPSS/PC+6.0) para analisar
os dados da primeira coleta de dados e do questionário pós*intervenção. A análise se
restringiu apenas aos jovens (n=304) que responderam às duas primeiras coletas de
dados. Utilizamos Qui-quadrado de Pearson (p< .05) para testar hipótese de
homogeneidade entre os gêneros. Utilizamos Análise de Covariância (p< .05) para
comparar os resultados da segunda coleta de dados entre os dois grupos (Intervenção X
Controle), considerando os dados da primeira coleta de dados como covariável. O registro
das oficinas e sua análise foram utilizados como referência para interpretação dos dados
obtidos nos questionários.
2. Resultados:
A tabela 2 apresenta as características demográficas dos estudantes que
participaram de ambas coletas de dados. No grupo feminino verificamos uma maior
quantidade de jovens de cor mulata e no grupo masculino de cor branca. Maior quantidade
de mulheres eram casadas. Uma proporção maior de homens trabalhava e recebia salário
mais alto que as mulheres.
Tabela 2. Diferenças no perfil demográfico de homens e mulheres (n= 304) na
primeira coleta de dados.
Tabela 4: Média dos "grupos controle" e "intervenção" das mulheres na primeira e segunda
coleta de dados.
Contr. RmV' w s r
Questão
"Converso com meus amigos sobre r coleta 2,00 1,65
fazer o teste HIV". 2acoleta 1,98 2,28* 0.01
"As camisinhas são seguras, pois não 1acoleta 2,32 2,50
2« coleta 2,67 3,13* 0.012
estouram com facilidade".
"Usando sempre camisinha eu não 1Hcoleta 3,11 3,08
vou pegar AIDS pela relação sexual". 2" coleta 2,93 3,39* 0.007
"Acho que a camisinha é fácil de 1 * coleta 3,26 3,11
colocar". 2" coleta 3,34 3,62* 0.038
"Converso com parceiro sobre como 1« coleta 2,92 2,72
evitar AIDS". 2" coleta 2,71 3,17* 0.01
"Converso com parceiro sobre como 1Hcoleta 3,12 2,82
e quando ter filhos". 2 acoleta 3,07 3,39* 0,035
"Quando tenho relações sexuais, eu 1Hcoleta 1,78 1,93
sou a pessoa que decido o que 2 Hcoleta 1,73 2,17* 0.044
fazemos e como fazemos".
3. Discussão:
Analisando os dados verificamos que é fundamental entender as regras de gêne
ro, aprendidas ao longo da vida. A maior parte dos estudos que avaliam o impacto de
programas de prevenção entre jovens, entretanto, não analisam as diferenças entre ho
mens e mulheres ou avaliam essas diferenças apenas em algumas variáveis, dificultando
a comparação com nosso estudo.
As diferenças entre homens e mulheres, evidentes na primeira coleta de dados,
são coerentes com os padrões de comportamentos aprendidos de acordo com as regras
de gênero e da sexualidade, como Cáceres (1994) e Paiva (1994, 2000) também
descreveram. Os rapazes faziam mais sexo, conversavam mais sobre sexo e prazer
com seus amigos, tinham menos vergonha de negociar o prazer e a camisinha mesmo
antes das oficinas. As moças valorizavam mais o amor, conversavam mais sobre a
contracepção, a intenção de ter filhos e a fidelidade, eram menos ativas sexualmente e
se sentiam menos capazes de negociar práticas sexuais.
As oficinas não foram suficientes para que os rapazes fossem sensibilizados a
ponto de mudar os padrões de comportamentos sexuais aprendidos, talvez influenciados
pelos grupos de pares (Antunes et.al.,2002; Paiva, 2000). Como este modelo de oficina
foi inspirado no trabalho de conscientização sobre as normas de gênero com mulheres
sugere-se que as abordagens e técnicas (e não apenas a linguagem) precisam ser
adaptadas para responder melhor ao contexto dos homens.
Ao contrário do que poderia parecer, é interessante pensar se não é desejável,
como efeito da oficina, os rapazes passarem a se perceber "menos capazes de se proteger
do HlVeda A i d s Durante as oficinas, a maioria dos rapazes tinha uma atitude inicial de
"sabe tudo sobre o sexo" e “posso tudo" que demorava a ser transformada de forma que
eles compartilhassem dificuldades e dúvidas (Antunes, 1999). Os rapazes aumentarem
sua percepção de que não são tão "sabidos" e tão invulneráveis, seis meses depois de
participarem de oficinas de sexo mais seguro, seria a percepção de suscetibilidade do
primeiro estágio para a mudança de comportamento, segundo Catania et.al.(1990).
Certamente é insuficiente "descontruirmos" a atitude heróica dos rapazes, sem colaborar
para que eles mudem suas práticas no sentido de se protegerem mais. Estratégias
diferentes devem ser desenvolvidas de forma a estimularem a passagem para o segundo
estágio, de compromisso com a mudança de comportamento.
Observamos que as oficinas ajudaram as mulheres nas dificuldades do uso do
preservativo e a acreditarem em sua efetividade. No estudo de Lawrence, Brasfield,
Jefferson, Alleyene e 0 ’Bannon III (1995), as mulheres também tiveram um aumento
significativo da crença na eficácia do preservativo, quanto comparadas com o grupo
masculino. O autor sugere que sejam oferecidos espaços onde os jovens possam treinar
suas habilidades para o uso do preservativo.
Para as mulheres, ficou mais fácil conversar sobre Aíds e contracepção com os
parceiros. Nos estudos de Kipke et.al.(1993) e Kalichman et.al.( 1997) foram encontrados
resultados similares, com o aumento na capacidade de comunicação sobre sexo e Aids
com os parceiros sexuais, apesar de não relatarem se houve diferenças entre homens e
mulheres.
Entre as mulheres, a percepção da capacidade de negociação do sexo seguro e
das práticas sexuais aumentou depois das oficinas. Durante as oficinas as mulheres,
além participarem de dinâmicas psicodramáticas onde negociavam sexo com penetração
com camisinha, trocavam entre elas experiências em que descobriam que o prazer não
estava vinculado necessariamente à penetração (Antunes, 1999). As atividades realizadas
sobre o corpo erótico/reprodutivo e as discussões sobre as regras de gênero nas oficinas
proporcionaram que essas garotas ampliassem o conhecimento sobre seu corpo, prazer
e sexualidade, criticando as regras tradicionais onde as mulheres"não conhecem e não
sabem". Essas atividades podem ter treinado suas habilidades sociais e assertividade
para a negociação sexual. Dados similares, sobre aumento na capacidade de negociação
do sexo seguro, foram obtidos nos estudos de Kipke et.al.(1993) e Kalichman et.al.(1997),
mas esses autores não relataram diferenças entre homens e mulheres.
As mulheres diminuíram o uso inconsistente de preservativo nas relações anais
com seus parceiros regulares, nas relações vaginais com parceiros casuais e com
parceiros que elas julgavam que não eram monogâmicos. Outros estudos encontraram
mudanças nas práticas de risco (Basen-Engquist, 1994; Kipke et.al., 1993), mas não
foram feitas comparações entre homens e mulheres. A literatura tem descrito (Antunes
et.al., 2002; Cáceres, 1998; Paiva, 2000; Villela, 1996) que nas relações estáveis o poder
de negociação permanece menor. O comportamento de esquiva, de não usar preservativo
frente as consequências negativas de sua negociação, permanece. É mais ameaçador
negociar o uso do preservativo com o parceiro regular, onde existe o vínculo afetivo, do
que com o parceiro casual. O tipo de vínculo e a dinâmica dos relacionamentos são
variáveis importantes para a adoção de práticas sexuais mais seguras e devem ser
explorados nas pesquisas e desenho do programas de prevenção. É importante que os
programas de prevenção de Aids abram espaço para a discussão sobre os significados
do amor e da paixão, de forma que os jovens possam modificar os padrões de
comportamento de risco.
Este estudo confirma que mudar as práticas sexuais é uma tarefa mais complexa
do que se pensava no início da epidemia da Aids. Uma das prioridades na agenda de
pesquisa de prevenção do HIV/Aids deve ser o desenvolvimento e avaliação de programas
que considerem os obstáculos sociais e culturais, em especial, as dificuldades vividas
pelos rapazes.
Observamos que o "Modelo de Redução de Risco em AIDS", o "Modelo de
Crenças em Saúde" e a "Teoria Social Cognitiva" tiveram grande influência nas pesquisas
de prevenção de AIDS. O "Modelo de Redução de Risco de AIDS" supõe a existência de
motivadores internos e externos que fazem com que o indivíduo busque os estágios
com o objetivo final de adoção de medidas preventivas. Tradicionalmente, este modelo
explica a mudança de comportamento baseando-se nos motivadores para esta mudança,
enfatizando a responsabilidade individual na adoção ou não de práticas sexuais seguras.
Este ó um modelo baseado na realidade americana, muito parecido com a realidade da
cJasso média escolarizada no Brasil, que tem noção de cidadania, de seus direitos e que
pode ter vontade própria (Paiva, 2000). Mas, conforme foi relatado por Cáceres (1998),
seria fundamental a intervenção para prevenção de AIDS em outros níveis dos quais
esses modelos não dão conta.
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Capítulo 29
Produção de conhecimento e formação de
profissionais: desafios impostos por
organizações de empreendimento solidário
A n a Lucid Cortcgoso
t /mvcrsnlddc I cdcr.d dc Sdo C'drios
Em sua passagem por São Paulo, há alguns poucos anos atrás, um membro da
comunidade Los Horcones, no México, foi indagado sobre as razões pelas quais, sendo a
proposta da comunidade tão atraente, capaz de suscitar tantos suspiros apaixonados
inclusive naquela platéia, L.os Horcones se mantinha tão reduzida, com tão poucos
membros. A resposta foi, como parece ser do prática, compatível com o princípio vigente
em Los Horcones de ser, ela mesma, em tudo e o tempo todo, um laboratório. O palestrante
disse á pessoa que fez a pergunta aproximadamente o seguinte: “eu estou lá, e não sei
bem porque outros não estão. Mas talvez você saiba: porque vocô não está lá?" Embora
eu não tenha feito aquela pergunta, fiquei feliz por alguém ter feito, porque eu gostaria de
saber. Diante da resposta, fiquei muito feliz por não ter sido eu...
Como pessoa, é difícil para muitos não desejar fazer parte de algo como Los
Horcones, e algumas explicações (ou racionalizações, talvez...) para não fazer isto podem
ser apontadas. No plano profissional, contudo, não é tão simples resistir a este apelo, e o
envolvimento com situações que permitam melhor compreender e melhor lidar com aspectos
como este (a dificuldade dos indivíduos de se integrar a um empreendimento que
corresponde aos anseios de pessoas que desejam um mundo mais igualitário e orientado
pelo bem estar comum), que fazem parte dos desafios de Los Horcones, mas também de
outros tantos empreendimentos que so pautam por princípios de solidariedade e cooperação
na maneira de se organizar e funcionar torna-se inevitável.
A implementação de organizações no âmbito da chamada economia solidária
(Singer, 2000), sendo a cooperativa uma das modalidades provavelmente mais difundidas
entre os empreendimentos autogestionários, não é tarefa simples, e não requer muita
perspicácia ou coragem afirmar que muitas devem ser as variáveis que contribuem para
isso. Sua relevância como alternativa econômica, mas também como alternativa de
organização das relações humanas, contudo, justifica produzir conhecimento capaz de
tornar conhecidas e controláveis tais variáveis.
Algum as fontes de dificuldades para lidar com a implem entação de
organizações cooperativas e autogestionárias
A existência de um contexto social e econômico que se pauta, de forma pratica
mente hegemônica, pela competição e individualismo, é certamente um componente im
portante na determinação das dificuldades envolvidas com a implementação de empreen
dimentos solidários e auto-gestionários. O forte contraste entre as contingências a que
estão expostos os indivíduos em praticamente todos os ambientes com os quais entram
em contato rotineiramente (família, escola, grupos de convivência, trabalho etc.) e as que
decorrem da proposta cooperativista é certamente fonte de quantidade considerável de
desafios para quem tem a responsabilidade de produzir conhecimento - como é o caso da
universidade. Tanto quanto é fundamental descobrir-ou propor, ou inventar-comporta
mentos compatíveis com o funcionamento de grupos auto-gestionários e cooperativos, é
necessário ainda descobrir, propor e inventar repertórios comportamentais que permitam
aos indivíduos administrar este contraste. Embora não seja este um objeto exclusivo da
Psicologia, constitui certamente algo em relação a que a área de conhecimento e os
profissionais que atuam neste campo não podem deixar de responder, com produção de
conhecimento, preparo destes profissionais e intervenção profissional ética e tecnicamen
te competente.
A predominância de organizações de natureza capitalista, sendo em geral sinônimo
disto organizações voltadas para a competição mesmo quando internamente buscam
cooperação dos trabalhadores para atingir seus objetivos diante do mercado - interfere no
volume e natureza da produção de conhecimento sobre aspectos que são de interesse
dos diferentes tipos de empreendimentos. Ainda que exista, atualmente, uma certa dispo
sição social para estimular empreendimentos solidários, os recursos para sustentar a
produção de conhecimento requerida nesta área estão muito aquém das necessidades e
infinitamente aquém daqueles que são tornados disponíveis pelos que detém o poder
econômico para manter este poder e a organização social vigente.
Os desafios para uma incubadora universitária de cooperativas, o contexto no qual
vêm sendo geradas as considerações apresentadas neste texto, são ampliados quando o
objeto em questão não são apenas cooperativas, mas determinados tipos de cooperativas:
cooperativas populares (Guimarães, 2000). A expressão popular, aqui, delimita mais uma
das variáveis que fazem parte deste complexo objeto de produção de conhecimento e de
intervenção: trata-se de gerar e administrar conhecimento necessário para que indivíduos
desprovidos da maioria das condições básicas de cidadania possam se organizar
solidariamente e garantir não apenas sua sobrevivência, mas a dignidade a que todo cidadão
tem direito. Trata-se, enfim, de ampliar e sofisticar repertórios comportamentais em geral
precários mesmo para as exigências da realidade social em termos de sobrevivência, em
direções frequentemente ainda pouco conhecidas, de modo que estes indivíduos possam
enfrentar muitas e diferentes situações e exigências. Além de propor (descobrir, inventar...)
e instalar "novos" comportamentos necessários para lidar com um contexto tão diferenciado
daquele no qual estes indivíduos estão inseridos, é freqüentemente necessário, ainda, recu
perar a capacidade destes indivíduos para lidar, com maior probabilidade de sucesso, com
o "velho contexto". Trata-se de desenvolver conhecimento, e dele derivar tecnologia capaz de
preparar indivíduos para a atividade produtiva a ser realizada em tudo que ela envolve, para a
administração do empreendimento e das relações com o restante do mundo, e para as
relações pessoais no âmbito do próprio grupo.
A gravidade das necessidades sociais presentes na vida de indivíduos que cons
tituem a população potencial dos empreendimentos a serem implementados como coope
rativas populares, cria situações que agregam desafios em termos de produção de conhe
cimento e intervenção. Gilberto Dimenstein (1995), jornalista e escritor, no encarte de um
CD do cantor Milton Nascimento, relata uma lenda indiana em que um de dois homens,
depois de ajudar a salvar crianças que desciam sucessivamente o leito do rio à beira do
qua) pescavam, conclui que não adiantava apenas ficar salvando as crianças que estão se
afogando, e que era necessário, simultaneamente, estancar o arremesso das crianças
para dentro do rio. A tarefa que cabe a uma unidade universitária, com a função social de
produzir conhecimento e torna-lo acessível (Botomé, 1996), e não de mera prestação de
serviços como fim em si mesmo, em relação à proposição e implementação de coopera
tivas populares de trabalho, tal como na lenda, impõe a necessidade de uma intensa
articulação entre os processos de produzir conhecimento e intervir que vai além da já
desejável articulação entre estes dois processos (Cortegoso, Botomé e Ronca, 1997),
pela premência de responder às exigências da realidade de exclusão social de parte
considerável da população do país e pela insuficiência de conhecimento disponível sobre
os fenômenos envolvidos e sobre maneiras de mudar esta realidade.
A complexidade do objeto com o qual ó necessário lidar em uma incubadora
universitária de cooperativas populares, sem ser exclusiva deste objeto, atinge nele um
alto grau. À limitação na abordagem a objetos complexos de interesse, tanto do ponto de
vista da pesquisa quanto da intervenção profissional, já imposta pela existência de
diferentes áreas de conhecimento e campos de atuação profissional, aliam-se
frequentemente limitações impostas por fronteiras artificialmente construídas entre tais
áreas e campos, bem como deficiências na formação dos indivíduos como pesquisadores
e profissionais em nível superior, tudo isto resultando em novo desafio: o trabalho conjunto
e integrado de pesquisadores de diferentes áreas e profissionais de diferentes campos,
requerendo sintonias de linguagem, de percepção, e muita disposição para superar estas
limitações e avançar na solução dos problemas com rigor. Desenvolver competências
frequentemente incompatíveis com - ou pelo menos desestimuladas pelas - práticas da
cultura acadêmica vigente tem sido um importante desafio para as equipes de trabalho,
que frequentemente se deparam com poderosas limitações para implementar, mesmo
internamente, práticas que pretendem difundir e para as quais precisam capacitar a
população com a qual trabalham no processo de incubação.
Não apenas por acolher a relevância da ampliação de perspectivas de análise de
pesquisadores de cada área e de profissionais de cada campo de forma a abarcar o
conhecimento e a experiência de outras áreas e de outros campos ao lidar com os objetos
de interesse, mas também pela precariedade dos recursos disponíveis - particularmente
o principal dos recursos, o humano - mais um desafio tem se feito muito presente no
funcionamento da agência tomada como referência nesta oportunidade: a ampliação das
competências de cada membro da equipe para lidar com conhecimentos produzidos em
outras áreas do conhecimento sobre estes objetos e para se comportar de acordo com
estes conhecimentos. No caso específico da Psicologia, com muita frequência somos
praticamente convocados a responder às situações de conflito que, como é muito fácil
supor, marcam todo o processo de organização humana. No entanto, nosso grande desafio
é menos nos multiplicarmos na proporção dos conflitos e mais conseguir que o
conhecimento produzido pela área do conhecimento Psicologia esteja acessível a todos
os indivíduos, membros da equipe e população atendida pelo programa. Assim como os
membros psicólogos têm que tornar-se um pouco contadores, advogados, administradores,
costureiras, faxineiras, catadores de resíduos etc.
Enfrentar desafios como estes ao produzir conhecimento e ao intervir em situações
reais e sofridamente concretas já não seria tarefa simples, mas a que se apresenta no
contexto de uma instituição universitária é ainda mais complexa. Pelo menos um aspecto
presente na concepção de que é o objetivo da Universidade produzir conhecimento,
desenvolvida por Botomé desde seu período de atuação na instituição em que hoje se
insere uma destas incubadoras de cooperativas aqui tomada como referência e expressa
em seu trabalho de 1996, tem influenciado fortemente a instituição de um modo geral, e
alguns indivíduos de modo particular. Mais do que uma palavra de ordem, a articulação
entre ensino, pesquisa e extensão (asseguradas todas as ressalvas já plenamente feitas
pelo próprio autor sobre estas expressões todas) tem sido princípio orientador da ação
dos que respondem pela incubadora e por seus projetos. Com isto fica configurado, então,
mais um desafio: promover produção de conhecimento, criar condições para intervirem
situações reais em que a organização de empreendimentos solidários se apresenta como
alternativa possível ou desejável, e preparar alunos de diferentes cursos de graduação
para produzir conhecimento sobre os fenômenos que fazem parle dos objetos de interesse
e para transformar o conhecimento disponível em condutas próprias e de outras pessoas
capazes de lidar mais adequadamente com seu ambiente, alterando-o para patamares
cada vez melhores de qualidade de vida para todos.
O contato direto com as necessidades e demandas - apresentadas ou identificadas
-tem requerido, de modo permanente: a) identificar lacunas de conhecimento, b) produzir
conhecimento capaz de reduzir tais lacunas, c) identificar frentes de atuação profissional
a atender, d) planejar, implementar e avaliar intervenções, e e) promover oportunidades e
condições para a formação profissional em nível superior para lidar com todas estas
exigências.
Objetivos Atividades
Caracterizar tipo de código de condu Dinâm ica ilustrativa do papel de diferentes contextos e
ta que pode contribuir para regras para a conduta humana: aplicação e d iscu ssã o
ofuncionamento adequado do grupo
Descrever com portamontos hum anos Exposição oral para apresentação do conceito de com por
em termos de relação organlsm o- tamento e exem plos de descrição de comportamentos sim
ambiente ples, da v/da diária e pelo menos um exemplo de comporta
mento diferente
- decisão de faltar a urna reunião do grupo Enviar contribui - atenuados o s projuizos, para o grupo,
■ tempo disponível até o horário da reunião ções (produtos, da ausência da p e sso a na reunião
- re c u rso s d isp o n ív e is para entrar ern Idéias, informa - m a io r p ro b a b ilid a d e d e se re m
contato com o grupo ções) para o traba c o n s id e r a d o s a s p e c t o s d iv e r s o s e
- assu n to s previstos para a reunião lho do grupo r e le v a n t e s s o b r o o s a s s u n t o s de
- contnbuições para o trabalho do
grupo interesse do grupo a sorom tratados na
fjor parte da p e sso a que vai faltar reunião
- reunião marcada
- assuntos previstos para serem discutidos
Comparocor
rouniào
à - possibilidade de estar informado sobro
a ssu sn to s de intoresse individual e da
- objetivos da cooperativa cooperativa
- conhecimento o opiniões sobre a s s u n - p o s s ib ilid a d e d e c o n trib u ir na
tos previstos d isc u ssã o d o s assu n to s e decisões
- grupo lortalecido em s u s decisões
- ausência a um a reunião do grupo Inform ar-Bo sobro - conhecim ento das tarefas o decisões
- fontes de inform açõos sobre a reunião os resultados da tom adas
disponíveis rouniào a que es - Conhecim ento da próxima pauta ou
- r e c u r s o s p a ra a c e s s o á s fo n te s teve ausonte de d isc u ssõ e s pendentes
disponíveis - M aior possibilidade do cumprimento
d a s tarefas detorm inadas na reunião e
d o o fe re c im e n to de a juda n a s
atividades que necessitarem de apoio
A descrição destas classes de comportamentos, produzida em situações coletivas
e envolvendo acordo entre membros de um grupo que partilham parte significativa de
sua vida ao se organizarem autonomamente para gerar suas próprias condições de
trabalho e renda, pode e deve ser, ainda, melhorada. Considerando a natureza social
dos comportamentos envolvidos, identificação e inclusão de resultados, produtos e efeitos
das ações desejáveis em relação à conduta de outros membros do grupo, tais como o
reconhecimento que o próprio grupo deve fazer da adequação da conduta de seus
membros quando apresentada, como parte da própria relação, ó de grande valor e
importância na construção de normas de convivência, e deve ser também garantida.
A elaboração de normas de conduta a partir do conceito de comportamento, que
transfere o foco de observação da ação apresentada pelos indivíduos para a relação
desta ação com o ambiente, parece representar uma importante condição para o
aprimoramento das relações entre membros de um grupo, sejam quais forem seus
objetivos e perspectivas. A possibilidade de contar com uma definição funcional de conduta
humana como ponto de partida para estabelecer as bases de funcionamento de um
grupo cooperativo parece fundamental, como condição para superar um controle
cerimonial da conduta humana na direção de um controle comportamental tecnológico
(Glenn, 1986), orientado pelos resultados, produtos e efeitos significativos da ação humana
sobre seu ambiente.
A transformação de conhecimento disponível em comportamentos humanos
significativos, que faz parte do processo de produção de conhecimento, mas que tem
ocorrido em proporção e velocidade aquém daquelas necessárias para enfrentar os graves
problemas que afligem a maior parte da população deste país e deste planeta, não pode
ser mais adiada, e o próprio processo comportamental envolvido nesta transformação
necessita ser tomado como objeto de pesquisa, ensino e intervenção. A Psicologia de um
modo geral, e a Análise do Comportamento de um modo particular, têm importante papel
a cumprir. Para Overstreet (1978), o conhecimento característico do século XX era o
psicológico. Com certo atraso, temos que resgatar esta dívida que trouxemos para o
século XXI, produzindo e transformando em condutas humanas o conhecimento disponível
sobre como viver coletiva, igualitária e solidariamente neste planeta.
Referências
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Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
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O <loBtii<|iH> du puitltiAnda a ria relevância de iw própria d a a a tçA o d o raxnpnrtamanl», uonaeqüAndM i a u d a l» que devem «nr uiimnttrinN pttlo grupo
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2002.1txKltkw
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Capítulo 30
Comportamentos envolvidos em uma
cooperativa de serviços1
' VnriiAo iTiodfflutdH du (MwinrltivAn tktfmxlkJn paki muUm p*trn o M w x ^ k } (to titulo d e m ostre pnto P rogru m » do (- utinlcm P ô n G im liiud oN w n Ptticologla
hxpoOdMHitjil A n A lM ti (to C ^ x n p u rttftT iiH rto .iJ a P c in M c ^ U n lv n fa k h K J ttC ttló Ic a d a HAo P aulo P U C S P .flo tH X lu n b ivA m liiP n ir [ V M ikih d o Currm) Ooedt»
j-atu po(M|ulM contou <xmm o npolo flnanctriro da C A P h S
O autor (\ imiHtru o m PsU xilogl» I- xpurimantul (miIu P U C SP, profo*aor d o C íhil/o Unlveialtàrto Hefrnlno O in n tlo Unlam rnM (i (moIoiukh lubitituto d«
unlvuiuldudt) Motodliilu du Pltack:«!» - Unkm>f)
Mattaini sugere que o primeiro passo ó determinar, baseado nos dados existentes,
as práticas da sociedade que são provavelmente estabelecidas ou aumentadas.
A identificação dos múltiplos antecedentes e conseqüências envolvidas nas práti
cas culturais pode não só ajudar na análise de tais práticas, mas também dar suporte
para aumentar uma prática ou diminuir uma que seja indesejada.
Um tipo de situação em que pode ser empregado o modelo de análise cultural e
planejamento cultural são as organizações cooperativas. De acordo com Crúzio (2000),
Método
Participantes
Quarenta e nove adultos sendo 44 mulheres e 5 homens com idade variando de 19
a 64 anos de idade pertencentes a uma Cooperativa prestadora de serviços de limpeza e
conservação de ambientes em geral, localizada em uma cidade do interior de São Paulo,
em um bairro considerado, a partir de uma pesquisa anterior, como um dos mais precários
em termos sócioeconômicos da cidade. A cooperativa foi inaugurada no dia 30 de maio de
1999. A criação e implementação desta Cooperativa tiveram a assessoria e acompanha
mento técnico da Incubadora Regional de Cooperativas Populares, pertencente a um dos
núcleos de extensão universitária da Universidade Federal de São Carlos. Este núcleo era
formado por professores, técnicos e alunos de graduação e pós-graduação de várias áreas
do conhecimento, como Biologia, Ciências Sociais, Engenharia de Produção, Engenharia
Civil, Pedagogia, Psicologia, entre outras.
Material
Foi utilizado, para análise no presente estudo, material pertencente a Cooperativa
e a Incubadora.
1- Livro de Atas de assembléias
Este livro contém todas as assembléias gerais, ordinárias e extraordinárias da
Cooperativa. O registro sempre era feito por um cooperado que era designado, a cada
reunião, pela diretora presidente da cooperativa. As informações contidas nas atas da
assembléia eram as seguintes: data, endereço do local em que a assembléia foi realizada,
a pauta, o conteúdo das discussões e as decisões tomadas pelos presentes.
2 - Listas de presença das reuniões e assembléias
As listas de presença continham as datas referentes a cada assembléia realizada
pelo grupo e os nomes das pessoas presentes em cada uma delas. Porém, nem todas
as listas de presença referentes a cada uma das assembléias puderam ser encontradas
pelo pesquisador.
3 - Livro de matrícula da cooperativa:
O livro de matrícula ó o registro que garante que a pessoa faça parte da Coopera
tiva. Quando alguém passa a pertencer à Cooperativa o seu nome é inserido no livro. Os
dados de cada cooperado incluso no livro incluem: nome completo, endereço, n“ da carteira
de identidade, CPF, número de cotas do cooperado. Havia ainda lugar para se colocar a
data de entrada e saída do cooperado e a sua assinatura, embora essas informações nem
sempre estavam contidas no livro.
4 - Caderno de anotação de um aluno de graduação da área de ciências sociais,
membro da Incubadora como auxiliar de pesquisa, que acompanhou o processo de incu
bação da cooperativa desde o início até ser legalizada.
Neste caderno encontrava-se as datas das reuniões realizadas entre membros
da Incubadora e moradores do bairro, o nome e o número de pessoas presentes nas
reuniões, as pautas, os assuntos discutidos e as decisões tomadas.
5 - Formulário dirigido às pessoas que pertenciam à cooperativa, que não estavam
naquele momento prestando serviços para a mesma. Como todos os outros, este material
não foi pensado para a pesquisa, mas foi elaborado por membros da Incubadora que
acompanhavam a cooperativa , no momento em que a pesquisa estava sendo realizada.
Procedimento
As informações contidas no caderno de anotações do aluno de graduação, que
acompanhou o processo de formação da Cooperativa foram lidas pelo pesquisador. Após
a leitura, uma planilha foi elaborada e sistematizada, contendo informações somente refe
rentes às reuniões realizadas pelo grupo desde o primeiro contato feito pela incubadora
até logo após a Cooperativa ter sido legalizada, período em que o aluno começou a acom
panhar outro grupo. Os aspectos considerados para a sistematização das informações
referentes às reuniões foram os mesmos para a sistematização das atas das assembléi
as da Cooperativa desde a sua legalização (1ü ata de assembléia) até o momento em que
a pesquisa foi realizada. Foram destacados destas duas fontes de informação os seguin
tes aspectos: A data da reunião ou assembléia, o número de participantes, a pauta e as
decisões tomadas em cada uma delas.
Atividade de trabalho
Com a leitura das atas de assembléias e do livro de matrícula da Cooperativa, foi
possível também destacar informações referentes ao tipo de atividade de trabalho que cada
um dos cooperados realizava, de acordo com os contratos de serviços feitos pela Cooperativa.
Oportunidades de inscrição
Ainda com a leitura do livro de matrículas foi possível identificar as datas em que
houve oportunidades para que as pessoas se inscrevessem na Cooperativa. Assim como
o nome de cada um dos cooperados, o sexo e a idade.
Ot)|K>ts de fomuKiti. u uooporaUvn iteclck) m i que» aindfl o «poto da Incubadora E m c m o pnwtivo, innn nquiixt iS parti "aoom|>Hnlw ln ", luto é
- (Ira ii (Jlapoalçflo fiam apoiá-la rio quo for aolkJtMdo
Presença nas assemblóias
Com a leitura das listas de presença, foi possível medir a freqüência dos coopera
dos nas assembléias. O critério para medir a freqüência era a presença ou ausência do
nome do cooperado na lista com a data referente à assembléia realizada.
Resultados
Como produto da organização e sistematização das informações obtidas, uma
análise foi feita, tendo como referência à condição de cada pessoa inscrita na Cooperati
va. Três grupos de cooperados foram identificados e divididos de acordo com as condi
ções de trabalho e situação na cooperativa. Os que trabalham em contrato firmado pela
Cooperativa, os que não estavam trabalhando, em contratos pela Cooperativa e os que
dela se desligaram. Arbitrariamente, estes grupos foram definidos respectivamente pelos
números 1, 2 e 3.
A tabela 1 traz informações sobre os 49 cooperados que já se inscreveram na
cooperativa, até o momento em que a pesquisa foi realizada.
Tabela 1 - Distribuição dos inscritos cf sua condição em relação à Cooperativa
2. cooperados que não estão Remunerado fora da 5 As, Ci, CL, De, Ed.
trabalhando em contratos Cooperativa
com a Cooperativa. Desempregado 4 Jo, Mc, Ve, Ma,
(N total -22) Sem informação 13 Ab, An, Ei, Eg, Er, Es, Ev,
sobre emprego Jb, Lp, Mz, Ps, Sh, Si.
3. Desligados da Cooperativa Sem informação 10 Ap, Am, DL, For, Ld, Mj,
(N total =10) sobre emprego Nr, Nu, Rc, Ro.
N - número de cooperados
Ani
______ _A H . . .
1)1
le r
M a io c J u lh o /IW )
* Pautas das MSStHnblóiar 31 /1 0 /9 9 - Divulgação da Coopurativa em wnpfesaN da cldad«; 25/01/tX ) - Halnnço do Irabalho
r&allzado no Hrmtmirattíe UnlvonitArio, 28/03/00 - Divulgação tia Cooçarailva na Un)vtH»h)tn1o, 02/04/00 - E n c o ih n do»
eoopnrwlott para trabalhar «m um contrato tnmporário, 10/01/01 - Inscrição d« novos coo pnnidc*, 28/04/01 - Escolha dn um
lerrnno para construção ria s«d« da Coopsrm iva; 02/07/01 - EloiçAo para a Dlrotorta « Consalho Fincai
Discussão
Como sugerido por Mattaini (1995a, 1995b, 1996a e 1996b), no Planejamento
Cultural são considerados os sistemas das contingências entrelaçadas, que envolvem
uma prática cultural.
No caso do presente estudo, a prática cultural considerada foi os comportamentos
voltados para a cooperativa, emitidos por apenas alguns cooperados pertencentes a ela.
O primeiro aspecto a ser discutido, como uma das contingências da prática cultural
analisada, foi a relação entre membros da Incubadora e cooperados.
'aIncubadora tem« c o n to daa**o««í>rja tx x n outras ooop«ratfva« « prr^fotna deacolher outros g ru p o * r iu « quokumform ar urna o n r jf w*r«tiv«
(...) as conseqüências passadas do comportamento desempenham um papel
crucial na determinação de ações futuras. A partir destas análises podemos
determinar que modificações devem ser introduzidas em grupos e comunidades
para que o comportamento de seus membros seja mudado, (p 223)
A presente análise não pretende especificar os termos utilizados por Kunkel, mas
as propostas feitas por este autor ajudam a entender os processos que podem estar
envolvidos para que alguns cooperados realizem poucas atividades voltadas para a Coope
rativa. Ao invés de inferir que os cooperados que não emitem comportamentos em prol da
Cooperativa estão “desmotivados" ou "não querem trabalhar”, porque são “preguiçosos",
ou qualquer ocorrência a explicações mentalistas muito utilizadas quando há este tipo de
situação, podemos entender os fatores que mantém a baixa taxa de respostas relativas a
Cooperativa, por parte de alguns cooperados, que é a maioria na Cooperativa pesquisada.
A análise proposta por Kunkel também pode ser frutífera, pois ela também de
monstra que há possibilidades para que pessoas que emitem pouca ou nehuma taxa de
respostas relacionadas a Cooperativa possam vir a emitir comportamentos de interesse
para todos os inscritos.
Alterações nas contingências, que são responsáveis pela manutenção da prática
cultural em questão, poderia favorecer o desenvolvimento da cooperativa e propiciar uma
maior participação daqueles que não vêm participando das principais decisões e do de
senvolvimento da cooperativa.
O acompanhamento pelos membros da Incubadora poderia ocorrer, possibilitando a
omissão dos comportamentos pelos demais cooperados e também que eles pudessem
avaliar suas condutas tanto individualmente como em grupo. A especificação dos comporta
mentos considerados desejáveis para que os cooperados emitissem em prol da Cooperativa
(Cortegoso, De Mello e Homa 1999) poderia ser usado como ponto de partida.
Como apresentado nos estudos realizados na casa estudantil cooperativa (Couch,
Miller, Johnson e Welsh, 1986, Altus, Welsh e Miller, 1991; Johnson, Welsh, Altus, Miller,
1991), os comportamentos requeridos poderiam ser especificados e um acompanhamento
contínuo da emissão e manutenção destes poderia ser realizado pelos próprios cooperados.
O presente estudo além de identificar os comportamentos voltados para a coope
rativa e os cooperados que os emitiram, também identificou a prática cultural mantida por
uma classe de pessoas e quais poderiam ser as possíveis contingências entrelaçadas
envolvidas com esta prática.
Entretanto, um aspecto importante para a investigação, que não chegou a ser
considerado neste estudo, mas refere-se diretamente a comportamentos sociais como
em especial a cooperação, é partir da análise do comportamento verbal. Os analistas do
comportamento que discutem e analisam as questões voltadas para o aspecto cultural
sempre abordam a importância da mediação verbal como um processo social. Guerin
(1992,1994) sugere que os estudos sobre o comportamento social e cooperação devem
levar em consideração o papel do comportamento verbal.
Para a análise aplicada do comportamento, o estudo de práticas culturais pode
ser frutífero para estudar pequenos grupos como famílias e gangues (Mattaini, 1996a) e
grandes grupos, como grupos étnicos e religiosos. Este tipo de análise seria interessante
não só para estudo, mas também forneceria condições para propor mudanças às práticas
consideradas como indesejadas ou problemáticas.
Um outro campo de atuação em que esta análise poderia ser utilizada seria em
organizações, de pequeno e grande porte, por exemplo, para a área de Análise e
Gerenciamento comportamental (Gilbert, 1996/1978; Daniels, 1994; Miguel 1995).
Uma próxima etapa deste estudo, também poderia envolver a análise de
metacontingências, de modo a identificar os produtos das práticas culturais envolvidas em
uma cooperativa. Analistas do comportamento interessados em estudar cultura e práticas
culturais passaram utilizar o termo metacontingências tanto para discuti-lo conceitualmente
(Glenn, 1988,1991; Pierce, 1991; Biglan, 1995; Anderye Sério, 1997; Martone 2000; de
Souza, 2001), como para analisar e propor mudanças em situações do cotidiano (Todorov,
1987; Bohrer e Ellis, 1988; Ellis, 1991; Schmidt, 2001). A partir dai, a análise no nível
cultural poderia ser ainda melhorada, para que futuras intervenções possam ser realizadas
com uma maior eficácia, gerando condições favorecedoras para condutas que possam se
aproximar da cooporação no dia a dia da Cooperativa.
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Capítulo 31
A atuação do psicólogo nas
instituições jurídicas -
A necessidade de uma fundamentação
íü/yjfht FUstin Hoiumiigo
Umvcrsidtide C'omumtám Rcgiomldc C'tuipccó L /N U '/ /A f y/ C Ôc
( /nivcmidüdc do í 'ontcstüdo í/ní 'cm Porto í /niJo/SC
"Tal controlo é exercido de maneiras que reforçam de forma muito eficaz aqueles que
o exercem e, infelizmente, isto via de regra significa maneiras que são ou imediatamente
advorsativas para aqueles que sejam controlados ou os exploram a longo prazo"
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Documento CRP - 08, Ano II, n. 3.
Aplicações da
análise do
comportamento na
Educação
Capítulo 32
Para uma análise do brincar e de
sua função educacional -
a função educacional do brincar
A a c rta n g u s d « <k>M ano« a p t« M n (iH M n i c ta c ra p é n c l« « « m roiaçAo a ta n riA n c ÍM , ( | i » p ix ic x n s tx M trtx jld a n t a lv o / a u m tfiu p o p u r t la ila r in o n to H g ltw lo
(Jo criwngtt« ou u um a p tufoM ora p*fttaitarrr>*»nt*i tnotpttva
A professora termina a montagem de um conjunto de peças observada por um
pequeno grupo de crianças. Uma delas desfaz a montagem da professora que, dirigindo-
se ao grupo, diz: “monta de novo!" As crianças manuseiam as peças juntando-as.
Se o comportamento de brincar com blocos for tratado como uma seqüência
comportamental, podemos dizer que as crianças mais jovens necessitavam instruções
detalhadas para cada componente da seqüência. A porcentagem de seguimento mostra,
então, que as instruções foram, em geral, efetivas para ensinar às crianças o que fazer, ou
seja, para ensiná-las a desempenhar cada componente da seqüência. Mas elas não estavam
aprendendo somente a brincar com blocos, estavam aprendendo também a seguir
instruções. As crianças de três anos já haviam aprendido a seguir instruções bem mais
complexas. Podemos supor que instruções simples, na forma de estímulos discriminativos
verbais para cada componente de uma seqüência, são gradualmente reunidas em instruções
mais complexas. Estas instruções complexas podem compreender recombinações dos
componentes das instruções simples. À medida que uma criança aprende a brincar, e
também aprende a seguir instruções, uma versão abreviada, tal como “monte..." pode
substituir a especificação passo a passo dos componentes individuais. Isto pode
exemplificar a formação do que Cerutti (1989) denominou classes discriminativas
generalizadas, a recombinação de estímulos discriminativos verbais simples para formar
instruções complexas. As mudanças na freqüência e no tipo de instruções sugerem que
esta situação de brinquedo não ensina apenas como brincar, mas ensina também como
respondera instruções.
Esta era uma situação na qual as crianças brincavam com seus pares, sob
supervisão de uma professora. Vamos analisar agora um outro tipo de situação de brinquedo,
na qual as crianças jogavam um jogo com regras.
Um jogo com regras é também uma situação de brinquedo, no sentido de que as
conseqüências naturais do comportamento são reforçadoras. Ganhar o jogo é,
presumivelmente, um reforçador. Ou, de modo mais geral, o escore que o jogador obtém,
ou a posição em que ele se situa entre outros jogadores, podem ser reforçadores. Além
disso, quando crianças ou adultos jogam em grupo, vários aspectos da interação social
podem também ser reforçadores.
Um jogo com regras especifica conseqüências e comportamentos que conduzem
a estas conseqüências. O jogo é um “espaço de contingências". Uma conseqüência como
“vencer o jogo" é, usualmente, contingente aos comportamentos especificados, em um
esquema de razão variável. Um aspecto importante dos esquemas de razão variável é que
o comportamento sob tais esquemas ou se mantém em taxa muito alta ou não se mantém.
Portanto, há muita variabilidade entre as pessoas no seu interesse por jogos. Há pessoas
altamente motivadas a jogar muitos jogos e pessoas que não se interessam de modo
algum em jogos. Para as pessoas que têm contato suficiente com as contingências de
reforço, os jogos mantêm uma quantidade apreciável de comportamento; eles podem até
mesmo produzir adfçáo.
Em outro trabalho (Gil & de Rose, neste volume), procuramos mostrar que brincar
com parceiros é uma situação que pode modelar e diferenciar comportamentos, assim
como desenvolver o controle instrucional, com base em contingências naturalmente
reforçadoras. Jogos também estabelecem conseqüências reforçadoras e, quando jogados
em grupo, estabelecem ainda uma situação favorável ao controle instrucional.
Uma vez que os jogos com regras especificam comportamentos e conseqüências,
é possível analisar cada jogo e determinar os comportamentos que o jogo pode ensinar. É
interessante notar que muitos jogos comuns especificam comportamentos que podem
ser considerados educacionais. Os comportamentos requeridos para participar nestes
jogos são valorizados em situações acadêmicas e podem contribuir para o desenvolvimento
intelectual de uma criança. Por exemplo, muitos jogos podem ser considerados variantes
de emparelhamento com modelo. Um exemplo claro disso é o jogo de dominó. Por essa
razão há muitas variantes de "dominó educativo" que usam este aspecto do jogo como
recurso auxiliar no ensino de relações e conceitos.
O jogo de dominó requer discriminações condicionais entre uma forma ou padrão
colocada na "mesa" e formas ou padrões que o jogador tem entro suas peças (para uma
revisão sobre aprendizagem discriminativa em geral, e discriminações condicionais em
particular, ver Sório, Andery, Gioia e Micheletto, 2002). Sabe-se que discriminações
condicionais podem dar origem a relações de equivalência, ou seja, comportamento
simbólico (e.g., de Rose, 1993; Sidman, 1994; Sidman & Tailby, 1982). Por este motivo,
Goretti Fonseca, então estudante de mestrado em nosso laboratório, adaptou um jogo de
dominó para verificar se ele poderia ensinar relações entre objetos e símbolos arbitrários a
crianças com retardo mental.
Os participantes deste estudo (Fonseca, 1996) foram quatro estudantes
adolescentes, com retardo mental, que freqüentavam uma instituição especial. Cada peça
do jogo de dominó tinha a figura de um objeto e um símbolo arbitrário. O jogo inicial foi
jogado com sete figuras e sete símbolos. O conjunto de peças envolvia todas as
combinações (um a um) das sete figuras com os sete símbolos.
Em um jogo comum de dominó, o jogador que começa "baixa" uma peça inicial,
que contém, de cada lado da peça, uma figura ou padrão. O jogo pode, portanto, ser
concebido como uma tarefa de emparelhamento com modelo, na qual há dois modelos
em vez de um só. No estudo que estamos descrevendo, a peça inicial foi construída com
apenas uma figura de um lado, tendo o outro lado em branco. Isso tornava o jogo mais
similar a uma situação de emparelhamento arbitrário com modelo, em que havia apenas
um modelo. Se a peça inicial tinha uma figura (podemos designar as figuras como A1, A2,
..., A7), esta servia como modelo para o jogador seguinte. Se a figura fosse, por exemplo,
A2, o jogador precisaria encontrar uma peça com o símbolo correspondente, B3, e "baixá-
la" colocando o símbolo ao lado da figura. Este jogador, portanto, emparelharia á figura
modelo (A3) o símbolo B3, contido em uma de suas peças. Mas a peça com o símbolo B3
conteria também uma outra figura, por exemplo, A5. Esta figura se tornaria, então, o
modelo para o jogador seguinte, e assim sucessivamente. Todos os jogadores estariam,
portanto, emparelhando os símbolos dentre as suas peças com as figuras modelo baixadas
na mesa.
Esta era uma discriminação condicional arbitrária, de modo que era necessário
ensiná-la aos jogadores. A pesquisadora fez isto. Inicialmente ela mostrava ao jogador da
vez um cartão com o símbolo correto. Os jogadores não tiveram dificuldade em encontrar
uma peça com o mesmo símbolo e baixá-la. Então, ela passou a usar uma variante do
procedimento de "dica com atraso" (e.g., Glat, Gould, Stoddard, & Sidman, 1994; Touchette,
1971). Ela esperava alguns segundos até mostrar o cartão, esperando que os jogadores
eventualmente colocassem a peça correta antes que ela mostrasse o cartão. O fracasso
foi total! Só então percebemos que estávamos tentando ensinar sete emparelhamentos
arbitrários ao mesmo tempo. Mesmo com um reforçamento poderoso é muito difícil aprender
alguma coisa quando o desempenho requerido está muito aíém do repertório de entrada
do aprendiz. Modificamos então o jogo, reduzindo para quatro o número de figuras e
respectivos símbolos, e repetimos as fases de dica imediata e dica com atraso. O resultado
foi um pouco melhor: um dos quatro aprendizes aprendeu rapidamente o emparelhamento
arbitrário, mas os outros continuaram apresentando muitos erros.
Examinando o desempenho dos estudantes, Goretti Fonseca suspeitou que, à
medida que as peças iam sendo baixadas, muitos emparelhamentos entre figuras e símbolos
iam sendo exibidos. Cada peça continha um símbolo ao lado de uma figura, e qualquer
combinação símbolo-figura podia aparecerem alguma peça. Os aprendizes podiam olhar
para estes emparelhamentos também, servindo-se, portanto, de dicas erradas. Para remover
a maioria destas dicas, decidimos manter na "mesa” apenas as duas últimas peças jogadas,
removendo sempre a antepenúltima peça baixada. Isto, contudo, não melhorou o
desempenho dos aprendizes.
Na situação de grupo, os aprendizes forneciam muitas instruções uns aos outros.
Embora o jogo fosse, supostamente, competitivo, os jogadores tentavam se ajudar uns
aos outros com instruções, mas as instruções muitas vezes eram erradas. Decidimos,
então, estabelecer uma situação em que o aprendiz-jogador jogava apenas com a
pesquisadora. Ai eles conseguiram aprender, e o desempenho generalizou-se para a situação
em que eles jogavam com os pares.
As conseqüências do jogo, além de aspectos da interação social, foram altamente
reforçadores. Não foi necessário prover nenhum reforçador extrínseco para manter os
estudantes jogando. Isto por si só, contudo, não foi suficiente para ensinar a eles o
emparelhamento entre figuras e símbolos. Para isto foi necessário aperfeiçoar o
procedimento de ensino. Estes aperfeiçoamentos no procedimento de ensino envolvera:
1) redução no número de discriminações condicionais ensinadas simultaneamente; 2)
eliminação de estímulos irrelevantes e distratores.
O experimento com este grupo foi encerrado neste ponto, devido ao encerramento
do ano letivo. Posteriormente, um outro grupo de estudantes, com menos retardo do que
o primeiro, foi submetido ao procedimento revisado. Estes estudantes aprenderam
rapidamente a relação AB, ou seja, entre figuras (A) e símbolos (B). Em seguida, eles
aprenderam uma nova relação entre as mesmas figuras e um novo conjunto de símbolos
(relação AC). Finalmente, eles foram testados individualmente, jogando com a
experimentadora, num jogo em que as peças permutavam os dois conjuntos de símbolos
(relações BC e CB). Neste teste, a pesquisadora não fornecia instruções, reforçamento ou
correção. Todos os aprendizes eventualmente desempenharam as relações emergentes
BC e CB, indicando que as figuras abstratas tornaram-se, de fato, símbolos dos objetos.
Nestes dois estudos, foram examinados dois tipos diferentes de situação de brin
quedo, estabelecidas por adultos, com propósitos educacionais. Contudo, as crianças
brincam muito sem supervisão de adultos e, depois de uma certa idade, elas também
jogam sem supervisão de adultos. Quando as crianças brincam juntas, elas instruem
umas às outras. Para jogar, as crianças freqüentemente aprendem as regras com outras
crianças que já conhecem o jogo. Um adulto, quando está presente, é usualmente a fonte
principal de instruções; ele é quem ensina. As situações especiais nas quais um adulto
está presente ajudam a analisar aspectos característicos de todas as situações de
brinquedo.
Quando as crianças jogam com adultos ou com pares, elas se beneficiam de
instruções dadas por outros e, assim, aperfeiçoam suas habilidades de ouvinte. Elas
também desempenham o papel de falante e modificam, desta maneira, o comportamento
dos outros participantes. Exercitando e desenvolvendo o papel de falante, as crianças
aumentam suas possibilidades de intervenção em seus ambientes.
A análise de contingências no brincar de crianças parece um instrumento heurístico
promissor para a análise de situações complexas em ambientes naturais, estendendo os
princípios da análise do comportamento para comportamentos e ambientes complexos.
Isto pode levar à análise de temas ainda não explorados pela análise comportamental e
que são, contudo, centrais para a psicologia não comportamental.
O conceito de cunha comportamental pode ser aplicado ao bnncar se considerarmos
que o brincar pode ser uma oportunidade para modificar vários repertórios da criança, cada
um deles criando a possibilidade de acesso a novos ambientes, que irão, por sua vez, dar
origem a novos comportamentos. Entre estes novos comportamentos, poderíamos incluir
o próprio comportamento de aprender a brincar, o qual, por sua vez, ajudará a criança a
aumentar e sofisticar seu comportamento de ouvinte, assim como a estabelecer e refinar
o papel dela como falante e instrutor. Cada uma destas competências abrirá à criança um
novo mundo de possibilidades de desenvolvimento.
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Capítulo 33
Regras e contingências sociais na
brincadeira de crianças
386 M.irid Stcllu Coutlnho dc Alcánt.ird lyil c lulio Cfcwr C odlio dc Rosr
Durante as brincadeiras, há uma grande diversidade de instruções similares ao
exemplo dado que combinam elementos controladores de aspectos das respostas. Em
um processo complexo e dinâmico, essas instruções estabeleceriam ocasião para
discriminações elementares, e as recombinações dos elementos controladores de
respostas em novas instruções gerariam novas respostas, com um aumento crescente na
complexidade de instruções e dos desempenhos ao segui-las.
Na brincadeira, as crianças têm a possibilidade ora de formular instruções, ora de
segui-las. Ao apresentar instruções e ao segui-las estaria ocorrendo, ao mesmo tempo, a
sofisticação do repertório instrucional em duas dimensões: a do falante, que especifica a
natureza da resposta e provê conseqüências para a aquiescência ao estabelecido, e a do
ouvinte cujo seguir a instrução implica em apresentar desempenhos, muitas vezes,
elaborados.
É importante, ainda, o fato de que novas instruções compostas da recombinação
de elementos já empregados anteriormente são apresentadas em contextos diferentes
pela variação dos temas e das formas da brincadeira. Brinca-se com o caminhão, a
motocicleta, o automóvel, o cavalo, os super-heróis, os bonecos dos jogos de armar.
A participação continuada nas brincadeiras refina a instrução e o assentimento.
Não raro a frase: "Depressa, tira o (caminhão) vermelho do barranco! Ele vai cair!" pode ser
substituída por uma outra frase supostamente simples, mas funcionalmente complexa
considerado o efeito sobre o desempenho do parceiro. A frase "Vai cair!!!", é igualmente
seguida pelo companheiro atirar-se ao chão, pegando o objeto/caminhão do momento,
emitindo os ruídos típicos do suposto esforço e do sucesso. As dimensões temporais da
emissão da resposta que explicitam a urgência são dadas pela entonação, e as palavras
resumem toda a seqüência de ações pretendida.
A oportunidade de um aumento crescente na complexidade do repertório instrucional
que a brincadeira parece oferecer acarretaria flexibilidade e economia desse mesmo
repertório. Dizer a frase completa: "Depressa, tira o (caminhão) vermelho do barranco! Ele
vai cair!" ou apenas "Vai cair!" deve estar sob o controle da familiaridade com o parceiro de
brincadeira e da familiaridade de ambos com a própria brincadeira que permite a emissão
de seqüências de respostas similares nas duas ocasiões.
No exemplo analisado, atirar-se ao chão para pegar um bloco de madeira só
ocorre após a apresentação da instrução pelo parceiro de brincadeira. Entretanto, uma
vez iniciado o desempenho ó possível que estejam em vigor outras contingências além
da participação do parceiro na comemoração do sucesso do salvamento, ou seja, da
obediência à instrução. Um grande espectro de alterações ambientais relacionados às
mudanças dos movimentos, da posição e da postura da criança, os ruidos que produz
com o baque no chão e o som das próprias vocalizações pode constituir-se em
conseqüências relevantes para as respostas emitidas. O episódio descrito ilustraria o
fato de que a resposta instruída pode depender de duas sortes de contingências. Uma
delas é socialmente mediada: o companheiro de brincadeira acompanha e comemora o
salvamento do caminhão provendo conseqüências sociais para as ações do outro. A outra
seria dada pelas alterações do ambiente que ocorreram independentemente das ações
daquele que instruiu. Este segundo tipo de conseqüências têm sido chamado de contin
gência colateral (Cerutti, 1989; Zettle e Hayes, 1982) e só ocorre depois que a obediência
foi gerada. À medida que a criança se atira ao chão outra e outra vez, alteram-se as
posições, as caretas e a produção sonora. Movimentos e sons podem ser adicionados ou
substituídos e outros objetos podem ser incorporados como parte das ações de salva
mento em obediência à instrução. O nível de elaboração do responder instruído, nesse
caso, poderia estar sob o controle das contingências colaterais.
É possível observar a alternância de papéis nas brincadeiras harmoniosas entre parcei
ros que acontecem por períodos longos. Por um lado, ambos fornecem e seguem instruções,
por outro, há inúmeras trocas tais como nas imitações onde ora um ora outro é o modelo e nas
conversas, mesmo as mais incipientes. A alternância ao participar de atividades conjuntas
aparece como uma propriedade essencial da comunicação humana e a brincadeira partilhada
implica em inúmeros episódios de comunicação de complexidade variada ( Novak, 1996; Bruner,
1986). A possibilidade de exercer os diferentes desempenhos requeridos na comunicação
interpessoal, fortemente presente na brincadeira, parece constituir-se em oportunidade de aqui
sição não apenas de desempenho instrucional, mas também de propriedades das trocas
lingüísticas. Os papéis de falante e ouvinte, instrutor e instruído, são intercambiáveis e podem
ocorrer por turnos.
Uma outra característica do brincar está no fato de a participação conjunta na brincadei
ra exigir que os parceiros estejam sob o controle dos mesmos aspectos do ambiente ou de
aspectos muito similares. As crianças emitem classes de respostas semelhantes para estímulos
que podem ser fisicamente muito diferentes: arrastar uma caixa, uma garrafa, um pedaço de
madeira, um carrinho chamando-os de caminhão. Uma das possibilidades de que se estabeleça
uma equivalência funcional entre tantos estímulos fisicamente diferentes está no fato de que
os estímulos ambientais podem ser partilhados e ganhar em conspicuidade quando se informam
quais são eles, ou quais dimensões da estimulação têm relevância para esta ou aquela resposta,
ou ainda, quais as respostas esperadas diante de tal ou qual estímulo. A informação que
destaca as contingências em vigor naquele momento ou que indica a estimulação relevante
contida nas instruções permitiria, com maior rapidez, compartilhar classes de estímulos emitindo
desempenhos semelhantes frente a objetos diferentes. O acordo em brincar de "viajar de
caminhão" estabelece um conjunto de condições de ação das quais as instruções são uma
parte. Dizer "A gente vai brincar de caminhão" permite que na ausência do objeto especialmente
criado para este brinquedo, o "caminhãozinho", as crianças brinquem cada uma com o seu
achado: uma pedra, uma peça de plástico, um pé de sapato, uma tampa de lata etc.
O fato de a brincadeira conjunta exigir que o desempenho dos parceiros partilhe fontes
de controle semelhantes para ambos permite considerar, ainda, o ajuste permanente de
desempenho entre os participantes. A sintonia das crianças na brincadeira e entre elas não
depende apenas da natureza do controle de estímulos em vigor. Ambos provêm conseqüências
para as ações um do outro, monitorados pelo desenrolar da brincadeira e pelas propostas
formuladas com feitio de instrução. A conseqüência dos desempenhos é, portanto, imediata e
depende de um agente reforçador instável, pois opera em relação ao outro de acordo com
circunstâncias fluidas, que se alteram na medida em que as ações dos participantes se sucedem
e dos seus efeitos no ambiente físico e social.
O breve exame de algumas características do brincar junto permite propor que se
considere que o brincar se constitui em uma cunha comportamental. Tomar-se capaz de brincar
envolve a aquisição de competências que parecem abrir um amplo espectro de possibilidades
de adquirir e refinar capacidades e habilidades sociais, aqui analisadas na forma do controle
instrucional presente na brincadeira conjunta.
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Capítulo 34
Atenção positiva como uma possível
solução ao problema de indisciplina em
sala de aula
I víW i}ross
"O que tem lhes sido passado, de modo geral, ó ou o resumo da teoria ou, pior,
procodimentos dela derivados sob a forma de roceitas, que acabam virando
fetiches. A questão ó que para corrigir esta distorção é necessário não apenas
conhecer bem a teoria, como ter uma visão clara do que ensinar e para quom
ensinar”.(Luna, Vol 2 Cap 36 p.305).
Hoje em dia a pesquisa que aplica a teoria comportamental inserida nas escolas
já evoluiu muito, com mais respaldo técnico e prático. A teoria comportamental vem mos
trando o quanto pode contribuir. Buscando, pode-se achar autores como Wolpe, no fim da
década de cinqüenta que deu impulso a outros trabalhos; Zimmerman e Zimmerman (1962)
com a primeira publicação na área; Harris, Johnston, Kelly e Wolf (1964); Patterson (1966);
Hall, Lund e Jackson (1968); Covington (1970); Hall e Copeland (1971); Citados em Mejias
(1973). São resultados claros e objetivos que deixam óbvia a melhora da relação professor
aluno; reafirmando o que diz Skinner, pois o ideal seria um reforçamento positivo de ambas
as partes (Sobre o behaviorismo, 1974, p. 165), já que professores que não precisam
parar a aula a todo instante para reclamar, tem mais tempo para ensinar e crianças mais
motivadas para aprender.
Uma resposta entre outras, a quase todas estas questões, vem sendo desenvol
vida; Gonzalez em seu artigo “Efeitos da atenção do professor no comportamento de
indisciplina", cita dois conceitos interessantes; "atenção positiva" e "atenção negativa".
Atenção positiva é explicada como atenção dada pelo professor ao aluno, quando este
colabora para o bom andamento da aula e ao seu desenvolvimento pessoal; sendo a
atenção negativa aquela dada pelo professor ao aluno (é mais comum em sala de aula)
quando o aluno não participa ativamente da aula chegando até a atrapalhar seu bom
andamento e não desenvolve sua aprendizagem.
Professores ávidos por “passar" a matéria cobram o silêncio e a participação de
seus alunos, utilizando-se da atenção negativa. Não se deve confundir atenção negativa
com punição1.Ou seja, a problemática não está na topografia do comportamento do pro
fessor e sim na função que o professor espera atingir com aquele comportamento.
Tanto a atenção positiva quanto a atenção negativa, tem por função o reforço e o
professor não vê e não se percebe disso. Até hoje o que vem sendo reforçado no compor
tamento dos alunos são justamente os comportamentos inadequados e indesejáveis; quem
já observou uma sala de aula pode constatar isso de forma clara, Alunos que fazem
balbúrdia tem atenção. Aqueles que ficam quietos, além de não precisarem de atenção o
tempo todo, já tem os reforços da nota e do sucesso. Se um aluno ainda não descobriu o
quão reforçador é estudar, ele tem que ter um porque de estar na escola que é tão aversiva
e coercitiva. Uma das respostas pode ser porque o aluno recebe atenção por estar ali.
' ”l’u jxjimAn iNittHKfc» w> h do um nvtrtn hvbtoívo nu h roOnMtn ó» um wnniDpoattvo IrrwdúitJUTdxitti qpóa um a (imputUi, que (Jliiilnu! a fropóônci»
(leslHrtNpontu"(\Ailn1997p3)
Sidman (1995) diz que entende por reforçamento positivo a recompensa às pes
soas e deixá-las fazer algo de bom e não a fuga da punição. Pode-se fazer um paralelo
com a escola: se a aula fosse punitiva o aluno não iria mais (e muitas vezes não vai); mas
ele está lá; muitas vezes o que pode ocorrer é que há uma punição maior por o aluno não
ir a escola e estar nela seria uma esquiva da punição da família, da sociedade. O mesmo
autor (1995 p.41) continua dizendo que os “professores preocupam-se mais com técnicas
coercitivas para manter a disciplina do que com métodos efetivos de instrução" e Skinner
explica que quando um comportamento não ó mais reforçado o comportamento se extingue
e pouco provavelmente volte a ocorrer (1974, p. 53).
Atenção negativa então é uma forma de reforçar comportamentos inadequados. O
aluno está inserido em um contexto social (a escola e mais especificamente a sala de
aula). Vale lembrar que o ambiente pode influenciar a probabilidade de ocorrência uma
resposta (Skinner, 1974 p. 48). O aluno não está sozinho em sala de aula, ele forma suas
relações pessoais com outros alunos e é reforçado por estes também. Dificilmente um
aluno dito “indisciplinado" fará uma relação afetiva de amizade com um aluno chamado de
"disciplinado" (ao menos não próximo à época de prova), ou seja, ele fará amizade com
outros alunos "indisciplinados" e será reforçado por eles. Percebe-se então que o professor
parece compactuar com isso. Vejamos: o aluno está em privação de atenção; (do professor,
da família, da sociedade), seus colegas não, pois estão fazendo balbúrdia e recebendo
atenção (negativa). A probabilidade da emissão de um comportamento considerado
inadequado aumenta, pois provavelmente estará sendo punido pelo seu circulo de amizades
por não participar da balbúrdia, emitindo o comportamento inadequado, o aluno se esquiva
da punição do grupo e é reforçado pelo professor com a atenção negativa.
Na perspectiva de Prette (2001 p.32), "Assim, a escola hoje não permite uma
formação cidadã; pelo contrário reproduz a violência e o autoritarismo, além de se tornar
um espaço pouco motivador e facilitador de comportamento de risco” (Grifo do autor).
Sendo que "a tarefa de um adulto" (aqui o professor) “é ser o melhor modelo possível a fim
de ajudar as crianças" (aluno) “a encontrar outros modelos que representem o melhor que
o mundo pode oferecer" (Mejias; Mejias; Prado; 1977, p.64). Ora, um professor que
teoricamente é visto como quem estudou muito para tornar-se professor, briga, achincalha
e humilha, não dará exemplo nem motivação alguma a alunos para estudarem. O aluno
estudará para se tornar àquela pessoa aviltante, mas que tem o poder de decidir o futuro
dos alunos em suas mãos? Isso faz pensar o quanto de comportamentos inadequados
tem sido modelado nas escolas.
Mas então a atenção positiva será uma solução a todos os problemas? Não! Ela
soluciona a parte do comportamento dos alunos e não da formação dos professores, nem
da aprendizagem do aluno. A atenção positiva faz uma modelagem da topografia do
comportamento do aluno, não o faz “aprender"; para isso existem outras técnicas
desenvolvidas pelas mais diferentes teorias; a atenção positiva entra em cena como um
facilitador para que o professor possa utiliza-las de uma forma mais pontual e com melhor
resultado.
Outro item que pode ser observado nas queixas dos professores é que elas nor
malmente são as mesmas: falta de atenção, não fazer tarefa, conversas paralelas; mas
será que esses mesmos professores não reclamariam se a classe fosse atenta, fizesse a
tarefa, não conversasse entre si; mas não participasse? A atenção positiva deve ser utili
zada para se ter uma sala de aula que muitos professores chamariam de ideal. Mas os
professores querem isso? Não ter do que reclamar, para ter o que elogiar? É uma questão
pessoal. Se assim o desejarem, primeiro deveriam ter em mente que não é fácil, é
desgastante, mas recompensador. Segundo, que provavelmente a criança estará acostu
mada com o tratamento antigo e achará estranho um professor que não grita, humilha ou
achincalha para que a turma participe. Terceiro, por não estar acostumado, o aluno dificil
mente emitirá um comportamento completo e idealizado, para tanto deve-se começar a
utilizar da atenção positiva em pequenos comportamentos individuais para que a criança
descubra aos poucos que também há ganhos com atenção, participação na aula; e sem
pre que ocorrer um momento adequado para a utilização da atenção positiva para todo o
grupo da sala, deve-se fazê-lo. Deve-se também lembrar que atenção positiva não é puni
ção por comportamentos errados, ela é ampla, podendo ser qualquer atitude mínima que
seja por parte do professor que aumente a probabilidade da emissão do comportamento
desejado. Não se deve esquecer que por ser ampla, a utilização da atenção positiva deve
ser reavaliada quanto a sua forma de emissão, para se ter segurança de que está funcio
nando com a função certa.
Por último, cada professor é único, cada aluno é único, bem como a sala de aula e o
encontro desses três elementos formam uma célula única de integração, o que funciona para
determinado professor, aluno, sala de aula, pode não funcionar para outro. Portanto, essa não
é a única forma que há de se tornar uma classe em uma sala de aula idealizada, mas a meu
ver, é algo que merece ser tentado. Os resultados parecem-me, serão recompensadores.
Quem sabe até chegarmos ao que disse Skinner em 1995 das escolas. Elas...
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Capítulo 35
Dificuldades de aprendizagem ou
dificuldades de ensino? -
Algumas contribuições da Análise
do Comportamento1
(rabalho upronontiido na Mutui Mixlondit “Frroa a Acortoa no Eniuno ■ na Aprwxli/atftHn: Codlrltxjívôo* da Artáfoo do Comportamento", durante o XI
fcricontro do Patcotorapia o Modkilrui Cc»npurtamontal, l ondrtna, 28 a 2W0W200? O aufa* agradoco oa ournanIArtoa o ■ugaotOim do Prof Dl. Patilo Prado
jUrump Marllla) u da Profn Dru Adòlia Tataaira (Uf M íi)
P r o fu t ta o r d o c u r e o d o P a i c o k i g t a d a U n tv n rM d a riii d a A m a / A n ta (U N A M A ) , D o u t o r w n F d u c a ç A o |M>la U n t v a r e ld n d o l i x t o n i l d o S A o C a r k a ( U F S C a r ) . E -
ITiall p a r u c o o t a t o x p j a c ( ( l r t a u f a c ji r tir
Por n a t u r u ll/ a r ” n o a r o fn r lm o H A t o r i d A n c la a m c o n a l d o r a r a » d if lc u ld a d r m d o a p r o n d l / a u « m c o m o a o n d o d o o r d o m u r u c ji m n n t a o r y â n l ( j i o u , in a la
imtyNlaimKitn,nmimk^jkjt
Mcllvcane e De Rose, 1987; Terrace, 1963a e 1963b). As investigações sobre aprendiza
gem sem erros apresentam, pelo menos, três méritos: 1) questionar a noção amplamente
divulgada de que a aprendizagem ó um processo que envolve, necessariamente, a produ
ção de erros pelo aluno; 2) indicar possíveis efeitos aversivos da ocorrência de erros; e 3)
desenvolver e aplicar técnicas eficazes na maximização de acertos e diminuição de erros
a uma taxa zero ou próxima de zero.
Skinner (1972/1968)^ ao afirmar que "ó falso o pressuposto de que só ocorre
aprendizagem quando se cometem erros" (p. 7) ofereceu, de certa forma, um suporte e
uma confirmação para a relevância das pesquisas sobre aprendizagem sem erros. Tais
estudos, no entanto, não definiram o que chamavam de erro a não ser como a ocorrência,
durante SÀ, de uma resposta reforçada diante do estímulo discriminativo (SD) (Rilling,
1977).
Catania (1999) adverte que "devemos ter cuidado com a linguagem dos erros; o
termo erro implica um julgamento sobre o valor do responder e pode ser inapropriado a
uma análise do comportamento" (p. 157). De fato, o analista do comportamento não
deveria lidar com erros como sendo porta para um juízo de valor sobre um indivíduo ou
sobre seu desempenho e sim como um desempenho, como outro qualquer, o qual é
produto de contingências programadas ou acidentais. Em outras palavras, por ser
desempenho, e não um indicativo do valor da resposta, o erro é um dado que permite
analisar a contingência que o produz. A análise de contingências poderá fornecer
informações relevantes não apenas sobre o repertório do indivíduo mas, sobretudo,
acerca da adequação ou inadequação da programação de ensino.
O termo erro pode ser entendido, cotidianamente, como imprecisão, inexatidão,
resposta aproximativa não aceita, resposta insatisfatória, etc., a depender do contexto
em que ocorra. No ambiente escolar é, freqüentemente, tratado como não atendimento
a um dado critério de desempenho tido como adequado ou correto; este critério,
diga-se de passagem, é sempre arbitrariamente definido pelo professor e as conseqüências
liberadas ao não cumprimento do critério podem ser bastante aversivas para o aluno.
Nesse sentido, é relevante investigar como o erro é conseqüenciado pelo professor e
outros agentes educacionais (pais, monitores, colegas de classe, etc.), o que nos dará
condições de afirmar que não são os erros (entendidos enquanto desempenhos) que são
aversivos e sim as conseqüências que a ele se seguem. Estas conseqüências, se punitivas,
podem alterar a função do SD, isto é, este passará a adquirir a função de estímulo pré-
aversivo caso uma dada resposta - considerada inadequada - seja novamente emitida.
Como contra-exemplo, podemos supor uma situação na qual um em? não é conseqüenciado
negativamente, mas a ele se segue uma mudança no ambiente que oportuniza ao estudante
uma nova tentativa ou coloca sua resposta sob controle de aspectos relevantes que antes
não foram adequadamente discriminados. O professor, diante do e/rode seu aluno, poderá
indicar verbalmente a(s) dimensão(ões) relevante(s) a ser(em) considerada(s), ou então
recolocar o problema de uma forma diferente ou, ainda, reiniciar a partir de pré-requisitos
que, possivelmente, nào ficaram bem estabelecidos. Com este exemplo, mais uma vez
enfatizamos que a aversividade não está no erro - não é propriedade deste - mas pode
estar, ou não, nas conseqüências que o acompanham.
4A pftniolra (IhIb m fn m ■« à otxn outwultada rta tmduçAo para o (xxtuyué« ■ m »agutkIm ilutu i«ten» m mo a n o d a pubUcaçAo ortyirml
Nos exemplos acima, os erros podem ser aproveitados como indicativos de, pelo
menos, três aspectos do contexto: inadequação da programação no estabelecimento de
discriminações: repertório comportamental e desenvolvimental do aluno; medida de
desempenho e do que falta para aumentar a taxa de acertos.
No primoiro caso, o programador de repertórios ó avaliado quanto ao seu planejamento
de ensino; visto por outro ângulo, caberia ao professor, diante dos resultados “negativos” do
aluno, questionar se o método de ensino utilizado ó o mais adequado e, caso o seja, perguntar
se o método está sendo corretamente aplicado.
No segundo aspecto, os erros podem ser tratados como dicas acerca do repertório
atual do aluno - aquilo que já consegue fazer e aquilo que ainda não consegue -, bem
como informações sobre futuras aquisições e mudanças biológicas cujas ausências
impossibilitam, temporariamente, ao aluno o aprendizado de determinadas habilidades
como, por exemplo, segurar adequadamente um lápis e traçar caracteres gráficos sobre
uma linha horizontal, desenhar um círculo em volta de figuras, usar uma tesoura, pintar
dentro de limites, etc.
No terceiro aspecto, o erro pode ser utilizado pelo professor como um critério que
mede o repertório atual do aluno e que pode fazer parte de medidas de avaliação do
desempenho acadêmico. Diante desses parâmetros de mensuração, cabe ao professor
planejar alguns procedimentos de ensino que possibilitem a aquisição de respostas
adequadas, aumentando, com isso, o sucesso do aluno.
Por "(locuMivoMtmNitar noa rtrfrirtiKmà» aquénçAn« t w A i t o m ou de (to*«ivoMni«*ntuilofrKÍtvkJuo tvktaritMnaDln. pixlorliÉiTx* [»» coorôndu utilinii uponas
o loitno "(xxtipoftiiiTKHibir, rnim hrt nuA«M, M panU K lun noW Icto fio In * »o. pura m manta«, n o prnaenta texto, «ala anparaçAo aillltolHl
Erros ortográficos sào bastante comuns, principalmente nas séries iniciais, quando
se está iniciando a aprendizagem da escrita. Escrever, no entanto, envolve um conjunto
complexo de repertórios, como respostas motoras, soletração, composição e edição
(De Rose, s/d), sendo necessário uma história de aprendizagem bem estabelecida a fim de
que o aluno possa produzir os caracteres gráficos de maneira adequada. Escrever com
letras cursivas não garante que o mesmo desempenho seja realizado com letras de forma
e vice-versa. Estas proposições nortearam o autor durante o contato com a professora e a
criança.
A intervenção no caso deu-se através de algumas etapas. Primeiramente, bus
cou-se observar a criança realizando os exercícios de escrita. Dessa forma, descobriu-se
que os exercícios eram em forma de montagem de anagramas com letras de forma
vazadas. A tarefa dada em sala de aula consistia em, a partir de uma palavra ditada pela
professora e diante de letras de forma vazadas, escolher as letras que formavam a
palavra ditada, combiná-las de maneira a formar a palavra ditada e, em seguida, escrever
através dos moldes. Constatou-se que a descrição da professora estava correta, ou
seja, a aluna, de fato, apresentou regularmente o mesmo padrão de utilização da
seqüência NLNA para compor palavras com NHA; por exemplo: FARINHA era escrito
como FARINLNA, COZINHA era escrita como COZINLNA, etc.
A seguir, passou-se á análise descritiva do caso em termos de levantamento da
história de aprendizagem de escrita da aluna. Identificou-se que a aluna estava, pela
primeira vez, em contato direto com letras de forma e que, ao ser ensinada na escrita
cursiva, letra por letra, a professora da alfabetização , numa tentativa equivocada de
facilitar a aprendizagem da criança, ensinou que a letra h era a junção das letras I o n.
Assim, ao ser requisitada a escrever palavras em letras de forma que continham nha, e
por não ter familiaridade com esse tipo de letra, a aluna passou a unir as letras L e N para
formar o H tal como havia aprendido a proceder diante de escrita cursiva.
Identificada a fonte do erro de escrita, e dado que a aluna já possuía um repertório
desenvolvido de escrita cursiva e leitura, a simples instrução direta pareceu ter um efeito
positivo na diminuição dos erros e no aumento proporcional dos acertos, os quais foram
conseqüenciados positivamente, inicialmente de forma contínua e depois intermitente
mente, até a estabilização dessa nova habilidade.
Para Campos (1993), os erros ortográficos “não são bem compreendidos pelas
professoras. Em primeiro lugar, é preciso refletir sobre o que ó um erro, o que ele revela.
Para sua melhor compreensão, o erro necessita de uma conotação menos negativa,
devendo ser compreendido como hipóteses elaboradas pelas crianças" (p. 21). Embora
concordemos com Campos quanto à conotação negativa dada aos erros o quanto à
necessidade de se buscar desvelar o que está por trás de um erro, propomos que a noção
de erros como hipóteses elaboradas pelas crianças seja redefinida em termos de
identificação e descrição das variáveis controladoras do desempenho do aluno, conforme
vimos no caso relatado.
Uma série de estudos experimentais com sujeitos humanos tem indicado que
instruções verbais acerca da realização de uma tarefa geram insensibilidade às contin-
" a [HufiwHom da hKhIxKI/hvAo tjHbttftuwn nu < r * m u a «Mcota. o q u * («rJlttou o contatn com n m o w n * n a nhtixivAn il*n nobru <x» pKxxxJlmenttro
d» txmlno jx * o Ih ullll/udoti
gências programadas de reforçamento (p. ex., Galizio, 1979; Torgrud & Holborn, 1990;
Wulfert etal., 1994). Provavelmente o que mantém esta insensibilidade é a redução da
variabilidade comportamental induzida pela regra ou o acréscimo de contingências sociais
que competem com as conseqüências programadas (Wulfert etal., 1994). Em relação à
aluna com dificuldades ortográficas ficou claro que a instrução dada pela professora, em
bora inadequada, passou a controlar sua resposta de construção de anagrama indepen
dentemente das contingências de reforçamento programadas, o que nos dá condições de
identificar um possível fenômeno de insensibilidade, gerado pelas instruções da professo
ra alfabetizadora, às mudanças nas contingências de aprendizagem da escrita com letras
de forma.
Por outro lado, podemos ainda sugerir que seu responder ficou sob controle de
uma dimensão ou aspecto do estímulo discriminativo - a letra h é a junção de I e n. O
controle dimensional, nesse caso, poderia ser responsável pela generalização da escrita
do h como sendo formado por duas outras letras, mesmo diante de modelos visualmente
distintos, como foi o caso de letras de forma vazadas.
O caso em análise poderia ser descrito como um erro por inclusão ou troca de
letra; porém, categorizar erros é suficiente? Em que nos ajudaria a categorização? Vimos
que a categorização do erro levou a professora a classificar a aluna como portadora de
dificuldades de aprendizagem e, ao mesmo tempo, impediu qualquer tentativa de análise
das contingências controladoras da produção escrita da aluna. As conseqüências puniti
vas que se seguiram aos erros da aluna geraram nesta, aversão a situações de ensino em
que era requisitada a escrever Dois efeitos bastante conhecidos do controle aversivo são
a fuga e a esquiva às situações sinalizadoras de punição, além dos subprodutos emocio
nais que as acompanham, o que parece ter sido o caso da aluna em apreço.
Assim, a vantagem de se proceder a uma análise funcional é, exatamente, a de
evitar a cegueira que categorizações e classificações impõem ao pesquisador e ao educa
dor, os quais podem tender a ver os fenômenos de modo estanque e sem relação com
histórias prévias e atuais de aprendizagem. Em outro momento (Carmo, 2002) foram des
critas as fontes mais comuns de erros do alunos em situações de ensino e aprendizagem
e apontados algumas falhas na programação de ensino. Nesse caso, a classificação dos
erros foi provisória e serviu para identificar suas fontes, fruto de análise de contingências
de ensino. Somente nessas condições é que podemos aceitar tentativas de sistematiza
ção na descrição do classes de comportamentos.
Para finalizar, nos encontramos agora em condições de afirmar que a análise das
dificuldades de aprendizagem pode ganharem qualidade se assumirmos que tais dificulda
des têm, como principal fonte, as dificuldades dos professores e outros agentes educacio
nais em programar situações adequadas de ensino. Não se trata, simploriamente, de deslo
car o foco de análise e sim de propor a aplicação da análise funcional ao que se convencionou
chamar de processos de ensino e de aprendizagem. Um resultado imediato dessa nova
abordagem seria a revisão dos atuais programas de formação docente com base na assertiva
de que ensinar é, também, um comportamento complexo a ser aprendido.
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Capítulo 36
Programas de ensino lineares:
desempenhos não lineares
Ao publicar seus artigos The Science of fearning and the art of (eaching (1954) e
Teaching machines (1958), Skinner penetrou, de uma maneira marcante, no campo da
educação humana, oferecendo-lhe técnicas para arranjar contingências de reforçamento.
Assegurou que constituíam um instrumento para tornar a educação mais eficiente, para
acelerar a aprendizagem e para responder eficazmente à demanda de educação. Dois
produtos decorrentes desta oferta e promessa ficaram logo conhecidos pelo público: a
instrução programada e as máquinas de ensinar. Ambos tiveram origem nos laboratórios
de análise experimental do comportamento. Pode-se dizer que os aparelhos projetados
para estudo do comportamento animal constituiram-se nas primeiras máquinas de ensi
nar e os arranjos de contingências de reforçamento utilizados nas investigações científi
cas correspondentes constituíram-se nas primeiras formas de instrução programada. Em
decorrência, não são surpreendentes suas declarações: “A aplicação do condicionamen
to operante na educação é simples e direta. O ensino é um arranjo de contingências sob
as quais os alunos aprendem" (Skinner, 1968:64).
Avaliando o potencial da análise experimental do comportamento, Skinner (1968)
considerou quase miraculoso seu poder de mudar comportamento e destacou este poder
de mudar comportamento, através de arranjos de contingências de reforçamento, como a
contribuição mais notável, até hoje, desse tipo de análise (p. 65).
O surgimento e a disseminação das máquinas de ensinar e da instrução progra
mada deram origem a questões, ainda não resolvidas, a respeito da melhor forma de
produzir programas ou arranjar contingências de reforçamento para o ensino humano.
Já em 1962, Green registrava a existência de dois tipos básicos de programas. 0
primeiro, conhecido como linear, foi criado e aplicado por Skinner e seus colaboradores.
Era o mais apropriado para as características das máquinas de ensinar na época.
Do ponto de vista da operação, não há dúvida que seja reforço, se o aluno aprende
algo a partir de sua resposta.
Trata-se de uma definição. Ninguém pode objetá-la independentemente das
predileções teóricas daquele que a formulou. Se alguém opta por significados rebusca
dos, hedonistas ou especulativos, coloca-se além do que foi proposto. “Tais conseqüênci
as teóricas não fazem parte do conceito ou da técnica, tais como são empregados no
programa linear" (Green, 1965:118).
Crowder, em 1959, elaborou, descreveu e defendeu um segundo tipo básico de
programa denominado intrinseco ou ramificado.
" s g o aluno adquiriu um grupo de conhecimontos de tal maneira que seja capaz
de elaborar esses conhecimentos, significa que os assimilou o suficiente para
roconhecô-los. Poderia não acontecer o mesmo no processo invorso." (p. 122)
Escrita e Leitura
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O Diagrama 1 descreve um programa construído para o ensino de escrita e leitura.
Este programa foi planejado a partir da identificação de uma cadeia comportamental do ler
e do escrever. Esta cadeia foi composta em correspondência com a escrita e a leitura de
um fonema (a). De acordo com esta cadeia, propunha-se: dado um fonema (S), respostas
de movimento viso-motor apresentam-se (Rs), cujos deslocamentos (Ss) levam a
desempenhos de traçar os grafemas (Rs) que, configurando-se numa determinada forma
(Ss), controlam o comportamento de reconhecer o fonema inicial (R), origem da seqüência,
no grafema traçado. Reconhecer o fonema, no final da cadeia, correspondia à leitura, e
traçá-lo, à escrita. Esta cadeia expandida permitia descrever a escrita e a leitura de qualquer
unidade verbal (fonema, letra, palavra, frase, sentença, período, etc.).
As unidades e passos do programa foram então identificados e seqüenciados,
linearmente, a partir dessa cadeia inicial, com o objetivo de fazer cumpri-la em relação à
escrita e leitura no nível pré-escolar.
Uma contingência de interesse foi identificada para cada passo. Indicava-se, com
ela, as relações entre classes de estímulos e classes de respostas que seriam visadas no
desenvolvimento do passo, tendo em vista seu objetivo. A partir dela, programavam-se
outras contingências que, em conjunto, compunham o passo e cumpriam os requisitos
impostos por sua contingência de interesse.
Os Diagramas 2 e 3 descrevem um programa construído para o ensino de relações
matemáticas envolvendo quantidades de um a dez. A complexidade desse programa levou
à sua divisáo em dois subprogramas: Sistema de Numeração I, que tratava de relações
matemáticas envolvendo quantidades de um a cinco, e Sistema de Numeração II, que
abordava especialmonte as relações matemáticas envolvendo quantidades de seis a dez,
mas incluía, em seus requisitos, as relações matemáticas envolvidas no programa anterior
(Sistema de Numeração I).
Os dois subprogramas foram compostos linearmente. Diferentemente do progra
ma orientado para escrita e leitura, a construção dos programas de matemática não foi
baseada na identificação de uma cadein comportamental Os conteúdos a serem ensina
dos foram identificados, distribuídos e seqüenciados, de acordo com seu grau crescente
de complexidade, dando origem à seqüência de unidades e de passos do programa.
Identificou-se, então, para cada passo, uma contingência de interesse que indicava as
classes de estímulos e respostas que deveriam ser colocadas em relação para desenvol
ver o passo e cumprir seu objetivo A partir dela, programavam-se oi-tras contingências
que, em conjunto, compunham o passo e cumpriam os requisitos impostos por sua con
tingência de interesse.
Os resultados gerais destes dois programas foram descritos em Teixeira (1983a)
e Teixeira (1983b). Ambos mostraram-se efetivos: ensinaram o que propunham ensinar. O
desempenho dos alunos nos programas foi medido a partir do número de atendimentos
requeridos para cumpri-los no todo e em suas partes: unidades e passos (programa de
escrita) e unidades (programas de matemática).
O maior ou menor número de atendimentos requeridos, para cumprir o programa
ou qualquer de suas partes, indicava a maior ou menor dificuldade do aluno para completar
as tarefas propostas, e dar cumprimento às contingências correspondentes.
DIAGRAMA 2
Sistema de Numeração I
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Os resultados gerais demonstraram um notável controle dos programas de con
tingências sobre o desempenho das crianças, especialmente no programa de escrita.
Além disso, destacaram unidades, passos e atividades com maior ou menor grau de
dificuldade. Permitiram comparar as duas maneiras de programar (baseada em cadeia
comportamental e baseada em distribuição e ordenação de conteúdos de ensino). A
variabilidade dos dados (maior ou menor dispersão) nos programas e em suas diferentes
partes sinalizaram diferenças individuais das crianças e/ou possíveis falhas na programação.
Desde as primeiras análises de resultados produzidas para estes programas
(Teixeira, 1983a, 1983b), foram notadas irregularidades no desempenho de algumas crianças
nos programas. Estes alunos mostravam dificuldades em certas partes do programa e
facilidades em outras, quando comparados com outras crianças. Pôde-se notar que as
dificuldades ou facilidades de algumas crianças não eram constantes.
Um trabalho, realizado em 1991, aprofundou a análise do programa de escrita,
avaliando os desempenhos dos alunos em relação às atividades que compunham três de
seus passos, 10, 11, 12, especialmente planejados para instalação de habilidades
diretamente relacionadas com escrita e leitura. Novamente, foram notadas irregularidades
no desempenho das crianças em relação ás seqüências de atividades. Desta feita, tais
irregularidades no desempenho das crianças foram designadas como não linearidade de
desempenhos (Teixeira, 1991).
A não linearidade de desempenho no programa de escrita foi, portanto, mostrada
em Teixeira (1983a, 1983b, 1991).
A mesma não linearidade de desempenhos é mostrada, agora, para os programas
de matemática Sistema de Numeração I e Sistema de Numeração II.
Programa de Matemática
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O desempenho de um grupo de crianças (Grupo I) é mostrado na Figura 1. Essas
crianças foram agrupadas de acordo com sua idade, ao iniciarem o programa de escrita -
quatro anos. Os programas 7 e 8 representam, respectivamente, os programas Sistema
de Numeração I e II. Observa-se não linearidade de desempenhos nos sujeitos 1, 3,4 e 5,
especialmente no sujeito 3.
Convém aproveitar a oportunidade para verificar a efetividade dos programas em
análise. O programa 13 - Sistema de Numeração III - constituía-se numa revisão dos
programas 7 e 8. Note-se a redução no número de atendimentos requeridos e na variabilidade
dos dados das crianças, comparando-os com os encontrados nos programas 7 e 8.
As Figuras 2 e 3 mostram, com mais clareza, o desempenho de dois grupos de
crianças nas seqüências das unidades dos programas Sistema de Numeração I e II. O
Grupo I corresponde ao mesmo grupo de crianças apresentadas na Figura 1. O Grupo II
corresponde a outro grupo de crianças, agrupadas de acordo com sua idade ao iniciarem
o programa de escrita - cinco anos.
Na Figura 2, os sujeitos 1, 3, 4 e 5 do Grupo I apresentam não linearidade em
seus desempenhos nos programas Sistema de Numeração I e II. A maior ou menor
dificuldade ou facilidade dessas crianças para completar as tarefas programadas varia
conforme as unidades dos programas. Não se observa constância em seus desempenhos.
Programa de Matemática
Grupo I - SN I e SN2
Sistema de Numeração I
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2 3 4 5 6
Passos
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Programa de Matemática
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Sistema de Numeração I
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As Figuras 6 e 7 detalham o desempenho do Grupo II na seqüência de passos
dos programas Sistema de Numeração I e II. A numeração dos sujeitos que compõem o
Grupo corresponde exatamente à numeração dos mesmos sujeitos na Figura 3.
Na Figura 6, os sujeitos 1,2,4,7 e 8 mostram não linearidade de desempenho no
programa Sistema de Numeração I. Observe-se o desempenho do sujeito 7: no programa
Sistema de Numeração I, apresenta facilidade nos passos 2, 10 e 14, e dificuldade nos
passos 5,6, 7,15,16 e 17. O mesmo fato se observa no sujeito 8: facilidade nos passos
1, 2, 3,4,11 e 12, e dificuldade nos passos 5,6, 7, 8,10 e 13. O sujeito 3, que apresenta
um dos melhores desempenhos, mostra dificuldade no passo 9.
Na Figura 7, os sujeitos 1,2,6,7 e 8 mostram não linearidade de desempenho no
programa Sistema de Numeração II. Observe-se o desempenho do sujeito 2: apresenta
facilidade nos passos 2, 3,4, 5,6 e 7, e dificuldade máxima nos passos 8 e 9. Oscilação
de desempenho pode ser observada também nos sujeitos 6, 7 e 8. Um dos melhores
desempenhos ó o do sujeito 3: apresenta facilidade nos passos 1, 4, 5, 6, 7, 10 e 13, e
dificuldade nos passos 2, 8, 9 e14.
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Capítulo 37
Crianças desatentas, hiperativas e
impulsivas: Como lidar com
essas crianças na escola?
Luciana Ri/o
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Ncnnmi Riuigó
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Características do Transtorno
O TDAH caracteriza-se, principalmente, pela disfunção em três áreas de
funcionamento: sustentação da atenção, agitação excessiva e auto-regulação de Impulsos
(Barkloy, 1981, 1990, 1997b, 2002a). Esses déficits comportamentais aparecem
relativamente cedo na infância, antes dos sete anos de idade, e permanecem durante o
seu crescimento, comprometendo o funcionamento dessas crianças no seu dia-a-dia e
podendo causar sérios prejuízos no desenvolvimento psicossocial e académico delas
(Madan-Swain e Zentall, 1990; Faraone, Biederman e cols.,1993).
Segundo o DSM-IV-TR (2002) para fazer o diagnóstico de TDAH é necessário que
sejam reconhecidos, pelo menos, seis sintomas dentre os nove apresentados para a
desatenção para o subtipo Desatento; no diagnóstico do subtipo Hiperativo/lmpulsivo devem
ser observados, no mínimo, seis sintomas dos nove descritos para esse subtipo. É descrito,
ainda, o terceiro subtipo desse transtorno: o Subtipo Combinado que deve conjugar seis ou
mais sintomas de desatenção e seis ou mais sintomas de hiperatividade/impulsividade.
A desatenção pode ser identificada pelos seguintes sintomas: dificuldade de prestar
atenção a detalhes ou errar por descuido em atividades escolares e de trabalho; dificuldade
para manter a atenção em tarefas e atividades lúdicas; parecer não escutar quando lhe dirigem
a palavra; não seguir instruções e não terminar tarefas escolares, domésticas ou deveres
profissionais; dificuldade em organizar tarefas e atividades; evitar ou relutarem envolver-se em
tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa);
perder coisas necessárias para realização de atividades (p.e.:brinquedos, tarefas escolares,
lápis, livros ou outros materiais); ser distraído por estímulos alheios à tarefa e apresentar
esquecimentos em atividades diárias.
Os sintomas de hiperatividade caracterizam-se por: agitar mãos e pós ou se
remexer na cadeira; abandonar sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais
se espera que permaneça sentado; correr ou escalar em demasia, em situações nas
quais isto ó inapropriado; dificuldade em brincar ou envolver-se silenciosamente em
atividades de lazer; estar freqüentemente “à mil” ou muitas vezes agir como se estivesse
“a todo vapor”; falar em demasia. A impulsividade pode ser reconhecida pelos seguintes
sintomas: freqüentemente responde de forma precipitada antes das perguntas terem sido
concluídas; com freqüência tem dificuldade em esperar a vez e, freqüentemente interrompe
ou se intromete em assuntos de outros.
Para que seja confirmado o diagnóstico, alguns sintomas devem estar presentes
antes dos seto anos. É necessário, ainda, que sejam observadas evidências de prejuízos
clinicamente significativos no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional, ou seja,
os sintomas precisam causar prejuízos significativos no funcionamento em, pelo menos,
duas áreas importantes da vida desses indivíduos dentre a casa, a escola ou o trabalho.
Os sintomas descritos devem persistir por, no mínimo, seis meses em grau desadaptativo
e serem inconsistentes com o nível de desenvolvimento esperado para a idade (DSM-IV-
TR, 2002). Portanto, o diagnóstico do TDAH não se baseia na simples presença dos
sintomas, mas em sua gravidade e duração, e em que extensão interferem na vida cotidiana
(Hallowell e Ratey, 1999).
Desde o final da década de 70 discute-se a persistência do TDAH na idade adulta
(Hallowell e Ratey, 1999). Em estudo recente, Barkley e Fischer e cols. (2002) demonstraram
que se observa uma incidência entre 46 e 66% de TDAH residual na idade adulta, desde
que, para o diagnóstico, soja utilizada uma entrevista com uma pessoa de convívio próximo
além, é claro, da entrevista com o próprio portador.
A causa do TDAH não pode ser atribuída a um único fator. Porém existem claras
evidências que apontam para influência genética. Discute-se, ainda, a importância de
fatores ambientais como gatilhos para a expressão do transtorno, em indivíduos com
alguma predisposição genética.
Pesquisas realizadas com gêmeos mostram um risco maior para a expressão do
transtorno em monozigóticos (MZ) do que dizigóticos (DZ). Shorman, MacGue e lacono
(1997), encontraram concordância para TDAH de 53% a 67% em MZ e de 0% a 32% em
DZ. Estudos realizados com parentes não biológicos de crianças TDAH adotadas mostraram
que estes parentes têm menos chances de receber o diagnóstico de TDAH do que parentes
biológicos de portadores do transtorno (Epstein, Conners, Erhardt e cols., 2000; Faraone,
Biederman e cols. 1993) Em trabalho realizado analisando a prevalência de TDAH em
gêmeos irmãos de portadores apontou a probabilidade de 50% destes receberem o mesmo
diagnóstico que os irmãos (Goodman e Stevenson, 1989; Faraone, Biederman e cols.
1993).
Várias teorias foram construídas sobre as causas ambientais que poderiam ser
apontadas como causa do TDAH: consumo de aditivos alimentares (corantes e
conservantes); excesso de açúcar na alimentação; exposição demasiada à luz
fluorescente e problemas com hormônios da tireóide; contudo, como nenhuma dessas
hipóteses demonstrou-se sólida e suficiente para representar uma das causas do TDAH
todas elas foram abandonadas.
No final da década de 70, Willis e Lovaas postularam que o TDAH seria resultado
de convivência com pais que apresentavam pouco controle sobre o comportamento dos
seus filhos e métodos de criaçáo que resultariam em pouca obediência. Porém, na década
de 80, Barkley e colaboradores desenvolveram uma pesquisa na qual famílias de portadores
de TDAH eram observadas antes e depois do tratamento. Observaram que, nessas famílias,
as mães apresentavam mais comandos e suporvisão sobre seus filhos. Após o tratamento
com estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC), percebeu-se que as mães
apresentavam diminuição significativa do seu comportamento de comandos e supervisão
exacerbada sobre seus filhos. Barkley pode concluir, então, que o comportamento das
mães é resultado e não causa do TDAH de seu filho (Barkley, 1988).
Ainda hoje, discute-se fatores ambientais como uso de tabaco e álcool durante
a gestação; de sofrimento fetal durante o parto (devido à não realização adequada de
exames pré-natais e/ou atraso na realização do parto). Porém esses fatores apontados
como causais podem constituir conseqüências de um comportamento impulsivo e
desatento da mãe também portadora de TDAH (Mattos, 2001).
Até o momento, estudos sugerem que os sintomas do Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade seriam resultantes de disfunção cerebral, principalmente na região
anterior do lobo frontal. Essas alterações seriam responsáveis por déficits cognitivos
das funções executivas, ou seja, na capacidade de planejar e antecipar conseqüências,
de controlar impulsos, de iniciar um plano de ação, de modificar as estratégias a partir
dos resultados obtidos, de verificar a validade da ação e, ainda, da falta de motivação
para iniciar e manter-se atento à realização de tarefas.
A dificuldade de inibição da resposta impulsiva é, hoje, apontada como o principal
comprometimento cognitivo do TDAH (Barkley, 1997a; Nigg, 2001; Clark, Priore e Kinsella,
2000; Barkley, 1997b). A expressão desse comprometimento no dia-a-dia pode ser
observada nas respostas emitidas por essas crianças antes do término da pergunta, no
comportamento de furar a fila para entrar primeiro na sala de aula e na dificuldade de se
manter sentado enquanto faz as tarefas escolares, por exemplo.
Além da dificuldade de controle do impulso, a sustentação da atenção é um dos
déficits cognitivos mais evidentes do TDAH. Essa dificuldade de manter a atenção focada
comprometeria também a memória. A recepção das informações fica desorganizada devido
à dificuldade de concentração impossibilitando assim o armazenamento adequado. Muitos
pais e professores apontam que, embora a criança estivesse parada na sua frente no momento
em que a regra foi explicada, ela nunca segue essas regras da forma como foram explicadas.
Ou, ela se apresenta tão agitada que não consegue focar a atenção para armazenar a
informação.
Interação social
A convivência com crianças portadoras de TDAH é muito dificultada pela
impulsividade, agitação e desatenção características do transtorno que possuem. Apre
sentam baixa tolerância á frustração, são extremamente competitivas, freqüentemente
modificam e criam regras com o fim de se beneficiarem nos jogos, têm grande dificuldade
de compartilhar brinquedos e não parecem dar muita atenção ao que as outras crianças
querem fazer (Phelan, 1996).
O seu comportamento disruptivo acaba por diminuir o número de ambientes a
serem freqüentados por estas crianças, seja por que as outras crianças deixam de
convidá-las para festas e brincadeiras, seja por seus pais evitarem sair com essas
crianças, pois aprenderam que onde quer que as levem sempre sairão do local tendo
experimentado um desconforto propiciado pelo comportamento inadequado de seu
filho.
Alguns estudos empíricos têm observado interações dessas crianças em sala de
aula, pequenos grupos experimentais, em pequenos grupos no playgrounde com adultos.
De uma maneira geral, esses estudos apontam que a criança com TDAH é mais disruptiva,
desligada da tarefa e dominadora dos seus pares (Madan-Swain e Zentall, 1990). Essas
crianças são, freqüentemente, classificadas na zona de rejeição e, raramente, apontadas
com interação positiva pelos seus pares (Braswell, 1991).
A interação familiar é tambóm afetada pela inabilidade social e comportamentos
inadequados decorrentes dos sintomas primários do TDAH. Assim como os conflitos com
colegas, conflitos entre irmãos são muito freqüentes. Além de déficit nas habilidades
sociais com os pares, os portadores de TDAH exibem comportamentos que aborrecem os
adultos como a desatenção no cumprimento de regras, a hiperatividade e a impulsividade.
Esta contribui para a emissão de respostas malcriadas quando eles não recebem imedi
atamente o que querem e isso é uma expressão da dificuldade de esperar por reforços em
longo prazo que faz com que estes problemas apareçam também com os pais e outros
adultos com os quais convivem. Da mesma forma, estudos têm documentado que, com
parando com controles, portadores de TDAH são mais propensos a receber ações disci
plinares tais como suspensões e expulsões (ver, por exemplo, Barkley e cols., 1990;
Smith e cols., 1998).
A escola
A escola é apontada pelas crianças com TDAH com um lugar “chato". Devido à
delas de uma dificuldade de seguirem regras, de manterem-se atentas, de controlarem
seus impulsos e de sua hiperatividade, de passarem horas seguidas em um mesmo local,
realizando tarefas, na maioria das vezes, sem atrativos reforçadores. Tudo isso faz com
que a escola se torne um lugar extremamente aversivo para essas crianças. Não é raro,
em uma sessão inicial com um portador de TDAH ouvir que o recreio é o que ele mais
gosta de fazer no colégio.
Em alguns casos, é a escola que aponta para a necessidade de avaliação da
criança, pois os professores percebem que existe algo de errado com ela. A criança
portadora de TDAH apresenta características muito diferentes do seus colegas e, na maioria
das vezes, perturba o funcionamento da classe (principalmente os portadores do subtipo
hiperativo). As crianças desatentas são identificadas pelo professor, pois parecem estar
em qualquer outro lugar, menos na sala de aula e, por mais que o professor chame a
atenção delas, eles nunca conseguem que essa seja mantida por muito tempo (por mais
que a criança pareça se esforçar para isso).
Socialização
• Reforçar positivamente os comportamentos adequados promovendo segurança e
encorajamento.
• Estabelecer com a turma metas de comportamento social e implementar um sistema
de recompensas (sistemas de pontos).
• Encorajar a cooperação entre os alunos durante as tarefas de aprendizagem.
• Elogiar os alunos freqüentem ente.
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Capítulo 38
Ansiedade matemática: conceituação e
estratégias de intervenção1
Tendo sido feitas as devidas ressalvas quanto aos problemas conceituais, para o
presente estudo adotar-se-á a seguinte definição de ansiedade dada por Banaco (2001),
levando-se também em conta as observações levantadas por Friman et al.,
"Um conjunto de respostas refloxas eliciadas por um estímulo aversivo que inter
ferem sobre ações operantes: suprimem operantes positivamente reforçados (o
indivíduo pára de fazer o que estava fazendo) e facilitam operantes negativamente
roforçados (pela remoção do estímulo aversivo)” (p. 17)
"O desempenho pobre, por sua vez, muito provavelmonto contribuirá para a pre
ocupação do indivíduo acorca de sua futura habilidade om ser bem sucedido
em matemática, especialmente se o indivíduo atribui o desempenho pobre á
falta de habilidade mais do que à falta de preparação adequada" (p. 275)
Conclusões
O presente texto objetivou apresentar alguns itens relevantes a serem considerados
no estudo da ansiedade á matemática. Para tanto, inicialmente considerou-se alguns
problemas de aceitação do termo ansiedade pelos analistas do comportamento, dado que
este ó, de certa forma, um termo metafórico e, como tal, não é útil enquanto modelo
explicativo ou descritivo de relações entre organismo e ambiente. O termo ansiedade pode
ser considerado, quando muito, uma categoria; entretanto, seus elementos componentes
são empíricos e podem ser estudados cientificamente. A definição comportamental de
ansiedade foi apresentada a partir do modelo experimental proposto por Estes e Skinner
(1941). Nesse modelo, há a presença de um estímulo pró-aversivo que sinaliza a ocorrência
futura, e inevitável, da estimulação aversiva; assim, na presença do estímulo pré-aversivo
ocorrem determinados padrões de respostas fisiológicas e comportamentais chamadas
genericamente de “estado de ansiedade” e, no caso da espécie humana, descritas como
"paralisação", sudorese, taquicardia, hipertensão, medo, tremor, sentimento de impotência,
etc. apesar de críticas pertinentes por parte de investigadores sérios (Pessotti, 1978),
este modelo tem se mostrado útil no estudo de diferentes situações nas quais os indivíduos
dizem sentirem-se ansiosos.
Um caso particular seria o que a literatura vem chamando de ansiedade
matemática, ou ansiedade à matemática. Alguns estudos, ainda poucos em termos
numéricos, têm relatado situações específicas de fracasso em matemática cuja origem,
muito freqüentemente, está ligada a experiências negativas em ambiente escolar. Os
indivíduos apresentam comumente padrões de fuga e esquiva a situações que envolvem
matemática (desde a audição da palavra matemática ató a ocasião de testes individuais
da disciplina), padrões esses acompanhados de alterações fisiológicas e cognitivas.
Indivíduos que apresentam ansiedade à matemática têm se beneficiado de técni
cas terapêuticas - como relaxamento progressivo, dessensibilização sistemática e
reestruturação cognitiva - bem como de programas de ensino individualizado que
disponibilizam os pré-requisitos necessários aos tópicos de estudo e auxiliam os indivíduos
a reestruturarem seu ambiente de aprendizagem. As concepções errôneas acerca da
aprendizagem da matemática, sugeridas por Frankenstein (1989) e apresentadas
anteriormente, podem ser vistas como auto-atribuições negativas e delas podemos derivar
procedimentos de ensino (ou melhor, estratégias de aprendizagem) que auxiliem o aluno
a engajar-se de modo mais eficiente em situações de estudo da matemática. Há fortes
razões para supor que a associação entre estratégias adequadas de ensino e técnicas
terapêuticas de redução de ansiedade e reestruturação cognitiva, apresenta maior eficácia
do que qualquer um desses procedimentos usados isoladamente.
Com o avanço das investigações sobre formações de classes de estímulos equiva
lentes e outras relações derivadas em sujeitos humanos verbais, muito se tem compreendi
do acerca do papel da linguagem na emergência de relações não diretamente ensinadas e,
por conseguinte, na formação de categorias conceituais e outras relações ditas cognitivas.
É desejável que tais estudos possam ser ampliados para casos clínicos, como os de ansi
edade à matemática, a fim de que possamos ter mais clara noção de como estímulos de
diferentes modalidades passam a fazer parte de uma só classe e afetam diretamente o
desempenho acadêmico e/ou social. O que temos observado é que, entre estudantes que
apresentam baixo desempenho em matemática, estímulos auditivos e visuais ligados a
essa disciplina são suficientes para a emissão de respostas de fuga e esquiva. Além disso,
a palavra matemática parece estar associada a qualificativos como difícil, chato, reprovação
e outros semelhantes. Em um pequeno levantamento realizado com seis alunos da 5“ à 7a
série do ensino fundamental de uma escola pública, todos com história de fracasso em
matemática, Carmo (2002) solicitou que, individualmente, escrevessem, em torno da palavra
matemática a qual era apresentada no centro de uma folha de papel tudo o que lhes
ocorressem. De um modo geral, as anotações referiram-se ao estilo de ensinar do professor,
às qualidades necessárias para aprender matemática, sua utilização diária e possibilidade
de fracasso. Em seguida, os seis alunos realizaram a mesma tarefa em conjunto, não
havendo discrepância entre os resultados individuais e grupais.
No Brasil ainda sentimos falta da descrição de casos e relatos de estudos acerca
de ansiedade matemática. O presente texto pretendeu fornecer alguma contribuição aos
pesquisadores, terapeutas, psicólogos escolares e educadores que lidam com situações
semelhantes em suas práticas profissionais.
Referências
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Capítulo 39
Psicopedagogia comportamental como
estratégia preventiva
1. Contextualizando:
A procura em consultório para o atendimento do fracasso escolar de crianças e/
ou adolescentes nào é algo recente. Há muito tempo essas questões inquietam a escola,
a famflia e a própria criança e/ou adolescente.
Primeiramente, vamos justificar o que se entende por fracasso escolar ao longo
desse texto. Sabe-se que muitas vezes alunos apresentam dificuldades tidas como
escolares ao longo de todo o seu processo educativo. Definir tais dificuldades não é algo
simples e nem fácil. Na literatura encontra-se uma diversidade de termos. O DSMIV
(1995); se utiliza do termo "Transtornos de aprendizagem" para abranger toda uma maga
de dificuldade que emergem nas situações escolares. Hübner & Marinotti (2000) utilizam-
se do termo "problemas de aprendizagem" e justificam esta utilização uma vez que se
referem às dificuldades no estudo ou na aprendizagem que podem se manifestar diante
de algum fracasso nas atividades escolares, porém não incluindo as crianças que possam
ter algum tipo de retardo mental, pois, estas últimas, necessitariam de atendimento mais
específico.
A partir dessas últimas autoras fica um pouco mais claro entender o que se
argumenta com o fracasso escolar, sendo que ele poderia ser entendido como a manifes
tação de alguma das mais diversas dificuldades escolares que podem se manifestar ao
longo da atividade escolar.
Então, essas questões, inquietações e problemas que podem ser explicados e
estudados pela psicologia, também tem sido objeto de estudo da Análise do Comporta
mento, de forma mais intensa a partir da ultima década os quais não se limitam apenas
em explicar tais questões, mas propondo estratégias interventivas que vem se mostrando
cada vez mais eficazes ns pratica clínica (Hübner & Marinotti,2000; Marinotti, 2001,2002;
Saraiva & Hübner, 2001).
Marinotti (2001, p 294) propõe que a Análise do Comportamento habilita "a enfocar
a intervenção entre sujeito e ambiente” e não apenas o que a visão cognitivista, a qual
explica os tais fracassos escolares a partir da visão de fenômenos internos, cujas expli
cações se fundamentam no cognitivismo. Portanto, considera o fator ambiente e a história
de aprendizagem. Então, a prática baseada nessa visão de entendimento, adota essa
postura, lembrando que ambiente deve ser entendido como algo amplo que se relacione a
todas as contingências as quais os comportamentos podem estar em função, do que
apenas a um local em especifico (Skinner,1994).
Entender o fracasso escolar, então, em termos comportamentais é justamente
fazer uma análise funcional em relação a esta questão em específico. É colher os dados
em termos de historia de aprendizagem com a própria criança, com a família e com a
escola, para que se possa entender o repertório atua) do sujeito e propor as estratégias
que possam vir a desenvolver o repertorio que esta em defasagem ou ampliar tais repertó
rios. "Se fizermos com que o saber não inclua apenas o repertório como tal, mas todos
os efeitos que o repertório possa ter sobre outro comportamento, então a aquisição do
saber na educação obviamente é muito mais do que aprendizagem mecânica" (Skinner,
1994, p 385)
Tendo contextualizado o assunto, se faz necessário, também, entender o que
pode e deve ser entendido como processo de aprendizagem escolar. Já se explicou que
normalmente as questões referentes ao fracasso escolar, se referem a questão da falta de
aprendizagem escolar em uma dada situação. Então, somente se poderá atuar em ques
tões de aprendizagem escolar, entendendo esta ultima como um dos tipos de aprendiza
gem humana.
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Capítulo 40
Orientação profissional para adolescentes
em situação de primeira escolha
O B J E T IV O S P R O C E D IM E N T O S
(o s a d o le c e n te s d e v e m a p re se n ta r o s (os orientadores devom conduzir a s e s sã o
seguintes comportamentos) seguindo o s p a ss o s prescritos)
d ific u ld a d e s e n v o lv id a s na to m a d a de d e c is ã o e
SESSÃO
OBJETIVOS PROCEDIMENTOS
(os adolescentes devem apresentar (os orientadores devem conduzir a sessão
os seguintes comportamentos) seguindo os passos prescritos)
• Investigar e buscar Informaçõos sobre • Comparação Individual do seu porfil (Exercício Combinado
as profissões de interesse, a partir da de Autoconhecimento) com os perfis profissionais monta
listagem da sessão anterior, que será dos pelos sub-grupos na sessão anterior e seleção das
ampliada; profissões de interesse para pesquisa,-
• Realizar leituras em motoriol Informativo • Manuseio e leitura do material informativo sobre cursos e
sobre as profissões de Interesse;• profissões;
^ Discutir a importância da pesquisa e da • Apresentação individual da pesquisa ao grupo: informações
<D informação profissional sobre a seleção relevantes, relações das profissões com seus interesses e
Ti- dos critérios de tomada de decisão; caractorlsticas, profissões descartadas e mantidas;
O • Tarefa para casa: Realização de uma entrevista com um
. Observação: A realização de duas profissional escolhido individualmente, tomando como
(/) sessões com os mesmos objetivos é referência um roteiro fornecido para que cada um selecione
w recomendável por possibilitar mais tempo individualmente as questões mais pertinentes para sua
^ de pesquisa e aquisição de informações. entrevista. (Moura, 2001)
• No caso de duas sessões pode-se planejar umn atividade
adicional como assistir a um video informativo sobre
profissões ou promover busca via Internet, conforme
Interesse do grupo.
OBJETIVOS PROCEDIMENTOS
(os adolescentes devem apresentar (os orientadores devem conduzir a sessão
os seguintes comportamentos) seguindo os passos prescritos)
• Avaliar os resultados alcançados quanto • Auto-avali ação Individual por escrito, a partir da proposição:
a escolha de uma proflssôo, restrição das "Em que cresci com este grupo e em que acho que ainda
opções profissionais e/ou aprendizagem poderei crescer".
SESSÃO 8
do processo de tomada do decisão; • Discussão dos pontos comuns e diferentes surgidos nos
• Relatar as metas profissionais relatos quanto aos ganhos imediatos com a intervenção e
selecionadas e definir passos para a sua ganhos posteriores decorrentes da aprendizagem ocorrida;
concretização a partir da aprendizagem • Distribuição e leitura do resumo final dos tópicos discutidos
ocorrida ao longo da intervenção (Moura, 2001);
• Encerramento e feedback.
4. Orientar para o presente e para o futuro
Cabe ainda uma palavra sobre a conduta do orientador. Conduzir o processo para
o exercício do comportamento de "busca e descoberta”, salientando a responsabilidade
de cada um no seu próprio processo de escolha, parece ser a forma mais efetiva de auxílio
ao orientando. Ou seja, quando o orientador evidencia a necessidade de que cada um
decida sobre tudo aquilo que lhe diga respeito durante o programa, ele age náo só para a
promoção da escolha profissional propriamente dita, mas para o ensino do processo de
tomada de decisão. Esta ênfase parece contribuir em muito para que os participantes do
grupo evoluam gradativamente de um estágio de indecisão e incerteza, para uma postura
de maior decisão, segurança e determinação, assumindo um compromisso não apenas
com relação à escolha da futura profissão, mas com as escolhas atuais que a vida requer.
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Capítulo 41
Programa de Atendimento à família
especial brasileira com base na análise
do comportamento
Rcruitii L/rosfi
Univcmdüdc Ishiduiil dc Londrim
Categoria 1: Postura
Categoria 2: Reforçamento
Compõem, esta classe, aquelas habilidades que, ao serem utilizadas, aumentam
a probabilidade do filho(a) apresentar comportamentos adequados, envolvendo-se na
realização das tarefas a serem ensinadas; para isto os pais devem:
1. Incentivar/ Incentivar
Elogiar/ Dar • Definição: estimular o filho(a) a realizar e/ou participar das tarefas,
Atenção/ Dar com gestos ou oralmente.
Autonomia: • Exemplo: falar com o filho(a), indicando que ele é capaz de realizar o/
ou de participar das tarefas: “Vamos, lá, eu sei que vocô consegue",
"Está quase no fim".
Elogiar
• Definiçio: valorizar oralmente as atitudes positivas e os sucessos do
filho(a) tanto no momento em que ocorrem como em outras situações,
que julgar pertinente. Quando elogiar o filho(a), os pais devem ser
específicos a respeito de qual comportamento está sendo elogiado, para
assegurar que o filho(a) saiba exatamente qual é o comportamento
desejado.
• Exemplo: os pais: "Gostoi muito de vocô ter me ajudado a colocar os
copos na mesa”, "Vocô que preparou esto suco? Está uma delícia!".
Dar Atenção:
• Definição: olhar para o filho(a) e/ou para a tarefa ou a atividade, que
ele está realizando.
• Exemplo: enquanto seu filho(a) está lavando a louça, seja com sou
auxílio ou sozinho, olhe para elo e ató sorria, mas de modo natural,
reafirmando que vocô está observando o que ele está fazendo.
Dar Autonomia:
• Definição: Permitir que sou filho(a) faça sozinho, quando ele souber,
para que adquira autonomia
* Exemplo: quando seu filho(a) coloca uma blusa quando está frio; toma
banho quando está suado e o próprio prazer em consoguir realizar uma
tarofa o ser útil, podo ter função reforçadora, ao invós de utilizarem
roforços artificiais, como por exemplo, a comida. Quando não for posslvol
ou for difícil utilizar os reforçadores naturais, procurar estabelecer
"premiações", que estejam dirotamente relacionadas com a situação do
aprendizagem ou de reforçadores sociais, como os citados acima: elogio,
incentivo, contato físico, atenção.
Categoria 3: Manejo de Inadequado
Para esta classe de habilidades, foram agrupadas aquelas respostas que os pais deveri
am utilizar com a função de controlar, isto é, mudar a freqüência ou a probabilidade da ocorrência
de comportamentos inadequados, levando-os à diminuição ou à extinção; para isto os pais devem:
1. Observar para • Definição: estar sempre atentos para observar quais as situações e em
antecipar a qual seqüência ocorrem os comportamentos inadequados (aqueles quo se
conduta quer mudar), para que se possa estabelecer algumas estratégias, quo
inadequada dificultem a ocorrência dos mesmos.
• Exemplo: o filho(a) que quebra objetos pode apresentar alguns
comportamontos antes de pegar e quebrar algo, bom como devo havor
situações ospecíficas para que isto ocorra, então os pais podom intervir qundo
o primoiro comportamento da cadoia ocorror, tontando impodir a ocorrência
do comportamento do quebrar objetos e, quando nocossário, até mesmo
evitar expô-k) às situaçõos que sabom que podo ocorror. Outra estratégia é
mantê-lo ocupado, explicar e conversar com o filho(a) o que pode acontecer
e por que, previnindo a ocorrência do comportamento inadequado por deixar
o filho a par do que pode acontecer e das conseqüências, se ele apresentar
o inadoquado.
3. Aproveitar as • Definição: usar o interesse que sou filho demosntrar om algo do seu
Situações: ambiente, para ensiná-lo(a), isto é, ensinar os objetivos naqueles
momentos em quo o filho(a) demosntrar.
• Exemplo: trabalhar quantidade com seu filho(a), enquanto proparam
um bolo. Durante a tarofa, pode-se trabalhar tanto os numerais como a
respectiva quantidade.
4. Assegurar-se • Definição: assegurar-se de que tem a atençáo do seu filho(a) antes de
da Atenção: passar um conteúdo.
• Exemplo: virar e segurar o rosto do filho(a) na diroção e próximo ao seu
ou para a atividade, ou pedir, verbalmente, que olho para vocô ou para a
tarefa.
5. Utilizar Ajuda • Definição: dar oportunidade ao filho(a) de realizar a tarefa com total
Graduada para independência, desde o primeiro momento o só posteriormente oferecer
Independência outros níveis de ajuda, pois muitas vezes o filho(a) já possui repertórios
comportamentais, mas não teve a oportunidade de apresentá-los.
• Exemplo: para passar a pasta de dente na escova, pegar na mão de
seu filho(a) e ajudá-lo, fisicamente, a pegar a pasta, abri-la, passar na
escova e fechá-la, sempre usando contextualização junto, por exemplo:
"Filho, nós acabamos de almoçar, nossos dentes estão sujos, por isso
precisamos escová-los" Se for possível use de demonstração, com vocô,
escovando seus dentes, como modolo.
• Observação: a ajuda física deverá ser evitada, tanto quanto seja
possível, já que estas ajudas não fazem parte de uma seqüência natural
do comportamento. Se os pais os ajudam antes que eles tentem uma
resposta, eles aprendem a esperar a ajuda antes de responderem
independentemente. 0 nível contextualização deve ser apresentado
associado a todos os outros níveis do ajuda, pois ó o nível mais próximo
à independência, assim pretende-se aumentar a probabilidade do se
desvanecer a ajuda física ató a independôncia.
Quadro A. Níveis de ajuda oferecidos ao filho(a) na realização dos passos das tarefas,
elaborados por Grossi em 1997, com base no Projeto More (Lent, Keilitz, Foster & McLean,
1974); no Projeto How to do More (Lent, 1978); no Currículo Funcional (LeBlanc & Mayo,
1990; 1992) e Grossi & Almeida (1996):
indicação gestual • indicar através de gestos o que o filho(a) deve realizar. Por exemplo:
apontar a caneca que será utilizada; apontar onde guarda um alimento.
Ajuda fislca • oforecor pequenas ajudas na realização dos passos das tarefas como:
parcial segurar no punho ou no cotovelo para direcionar o movimento do filho(a),
na realização dos passos das tarefas e posicionar utensílios ou
vestimentas, de modo a facilitar o desmpenho do filho(a), na execução
dos passos das tarefas.
Ajuda fislca total • colocar a(s) mão(s) sobre a(s) mão(s) do filho(a), segurar a(s) sua(s)
mão(s) e conduzi-la(s) na realização dos passos das tarefas.
Para que o Programa de Atendimento seja efetivo, uma etapa deverá dar suporte
para a realização da seguinte, por isso observa-se que, para passar de uma para outra,
ó necessário que os objetivos de cada uma delas sejam alcançados. No entanto, deve-
se considerar as particularidades de cada participante, pois disto dependerá o número
de sessões, para que os objetivos sejam satisfatoriamente trabalhados.
Considerações finais
1. Objetivos do Programa de Atendimento
O Programa favorece que sejam alcançados os objetivos propostos com a sua
aplicação, de modo a: a) caracterizar a história de condicionamento (história de
aprendizagem) da família; b) operacionalizar a aplicação do Programa de Atendimento,
levando os pais a utilizarem as habilidades para ensinar comportamentos adequados e a
manejar os comportamentos inadequados do filho, tanto da situação-queixa como do
cotidiano da família. Tendo como resultados, a capacitação dos pais, com conseqüente
aumento na ocorrência de comportamentos adequados, do filho, com a diminuição dos
inadequados, chegando à resolução da situação-queixa e à utilização de situações do dia
a dia para ensinar tarefas ao filho especial.
2. Planejamento e flexibilização
O Programa, se aplicado da forma proposta, faz com que o profissional planeje
sua ação, ao mesmo tempo em que deve estar atento e respeitar as idiossincrasias de
cada família, fazendo, gradativamente, a análise funcional para a condução do mesmo,
flexibilizando-o. Para se avaliar quando uma família atingiu os critérios e mesmo para
que atinja os objetivos traçados deve ter suas características e necessidades respeitadas,
para que aumente a probabilidade da adesão e do sucesso do tratamento.
6. Limitações do Programa:
a) como o Programa de Atendimento Domiciliar visava capacitar os pais em habi
lidades específicas, para ensinar e manejar comportamentos, em situação natural,
não houve a preocupação de transmitir informações a respeito da problemática do
filho;
b) por ser realizado, diretamente, com os pais, não houve a troca de informações,
características dos atendimentos em grupo e
c) a aplicação do Programa demandou um tempo e uma disponibilidade, tanto dos
pais como do profissional, maior do que se fosse realizado em grupo.
7. Dificuldades que possam surgir durante a aplicação do Programa:
a) os pais adiarem ou até mesmo interromperem os atendimentos;
b) ocorrer incompatibilidade de horários entre pais e profissional ou quem for aplicar o
Programa, para realizarem os acompanhamentos;
c) o nível sócioeconômico e cultural dos pais, pode dificultar a compreensão da defini
ção e de como utilizar as habilidades, levando o profissional a ter que adaptar a
metodologia para ensinar as habilidades;
d) a falta de recursos materiais e sociais para reestruturar uma rotina, que possa
favorecer a aplicação do Programa; e
e) a situação-queixa envolver a intimidade da família, a ponto de não se obter informa
ções necessárias e reais para a formulação de hipóteses que possam levar a uma
intervenção eficaz.
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"Do ponto do vista ovolutivo, ao que tudo indica, as sim quo nossos ancestrais
começaram a desenvolver uma dependência da cultura para sobreviver, criou-se
um contexto ospecial de seleção natural, sondo, a partir de então, favorecidos
genes para o comportamento cultural." (Bussab,1999, p. 18)
A natureza social do homem tem feito com que muitos estudiosos, de diferentes
áreas do conhecimento e diferentes correntes teóricas, se voltem à compreensão e análise
do processo de socialização, assim como de seus componentes. Eibl-Eibesfeldt (1989 in
Pereira Rodrigues, 1999) aponta o cuidado parental como essencial para o desenvolvimento
da sociabilidade dos vertebrados, mostrando que o desenvolvimento de relações amigáveis
e afetivas dos adultos parecem decorrer de sinais presentes nas relações pais—filhos, tais
como solicitações infantis e respostas afetivas dirigidas aos filhotes.
De acordo com Novak (1996), a criança nasce com um aparato para respostas
reflexas, que capacitam-na a interagir com o outro. Não apenas os reflexos, mas também
determinadas características da criança, como graciosidade e busca de aconchego evocam
no outro a função de cuidador. Alguns etólogos defendem a teoria de que provavelmente os
bebês com estas características tiveram maiores chances de sobrevivência, conseguiram
superar o período vulnerável da infância, atingiram a maturidade e foram os que puderam
deixar descendência (Novak, 1996, p. 200). Ao propor uma revisão histórica da organização
familiar, Herbert (1989) mostra-nos que agrupamentos familiares estão presentes desde o
período Pleistoceno, ou seja, há mais de 500.000 anos. A durabilidade e universalidade da
organização familiar, pode ser um indício, segundo Herbert (1989), do valor de sobrevivên
cia que tal composição social tem para o indivíduo e para a espécie, mas não deve, no
entanto, ser sinônimo de padrão imutável na sua estruturação e funcionamento. A família
sofre influência de pressões sociais, econômicas e históricas e vai se adaptando em
diferentes momentos evolutivos. Um exemplo deste processo adaptativo encontra-se pró-
ximo a nós. Nossa geração tem presenciado a mudança do padrão de organização fami
liar amplo (grandes famílias), para o modelo nuclear (pais e filhos) e neste padrão nuclear,
as organizações uniparentais (com apenas um adulto responsável), muitas vezes em
decorrência de separação do casal paterno.
A nossa evolução, enquanto espécie, é ainda uma incógnita em vários aspectos.
Há várias hipóteses, as quais merecem maiores estudos para que conclusões sejam
tecidas. Porém já em 1981, Skinner no famoso artigo "Seleção pelas conseqüências"
discutia os diversos níveis de seleção, mostrando-nos que a seleção filogenética ó um
fato, mas que não pode ser observada por nós em seu curso, pois seriam necessários
milhares de anos para um estudo que acompanhasse o processo evolutivo da espécie.
A seleção cultural também é outra realidade que requer a observação de várias gerações
para que mudanças sejam evidenciadas. Mas o segundo nlvel de seleção, que se opera
no indivíduo, via condicionamento operante, é o alvo da psicologia e o único nível de
seleção passível de observação. Estaremos neste artigo, enfocando este nível de seleção,
dando especial atenção para uma habilidade específica, que seria a de estabelecer
relações com outras pessoas, a qual tem sido alvo de atenção na atualidade, através de
programas e atividades dirigidos ao desenvolvimento de habilidades sociais.
Segundo Maccoby (1995), em psicologia duas grandes teorias foram precur
soras no estudo do processo de socialização: behaviorismo e psicanálise, sendo que
ambas constituíram a base dos conhecimentos mais significativos relativos ao processo
de socialização de que hoje temos conhecimento. Estaremos, neste artigo, enfocando
especificamente o referencial behaviorista, o qual aponta para as condutas cooperativas
como fontes potenciais de reforço para as partes envolvidas, sendo então selecionadas
na ontogênese, ao mesmo tempo em que mostram como o homem necessita do outro
para desenvolver aspectos, como o autoconhecimento, que o diferenciam dos demais
vertebrados.
Para que uma interação social se dê de forma produtiva para as partes envolvidas, faz-
se necessário o domínio e emissão de determinadas condutas facilitadoras do contato, ou
seja, de padrões comportamentais que envolvam reforçamento ou perspectiva de reforçamento
recíproco. Tal conjunto de respostas tem sido agrupado sob a denominação de habilidades
sociais e tem recebido especial atenção do meio acadêmico nos últimos anos.
Classes de comportamentos como assertividade, solução de problemas, empatia,
as quais compõe o rol das habilidades sociais, são, por sua vez, desenvolvidas na interação
com o outro. Assim, tanto as habilidades sociais são fundamentais para o convívio entre
pessoas, como o convívio entre pessoas é essencial para que as habilidades sociais se
desenvolvam. Considerando que os pais constituem o primeiro núcleo social da criança, é
natural que a figura dos pais e as práticas parentais adotadas, tenham grande influência
no processo de construção das habilidades sociais da criança. Assim, estaremos
analisando a relação entre práticas parentais e desenvolvimento de habilidades sociais.
Vários pesquisadores tem procurado analisar esta relação (Baumrind, 1966; Herbert, 1989;
Novak, 1996; Maccoby, 1995). No Brasil, existem alguns centros de pesquisa (USP, UFSCar,
UFPR) desenvolvendo estudos na área das habilidades sociais, demonstrando especial
interesse na interface destas com as práticas parentais.
Em Curitiba, no programa de Mestrado em Psicologia da Infância e Adolescência,
estudos vem sendo desenvolvidos sobre práticas parentais e condutas emitidas peíos
filhos, sob a orientação de vários professores do Programa, a saber: profa. Dra. Lídia N.
Weber, profa. Dra. Paula Inês Cunha Gomide, profa. Dra. Suzane Schmidlin Lòhr, profa.
Dra. Yara Kuperstein Ingberman. Das várias dissertações acompanhadas no Programa,
estar-se-á selecionando algumas que ilustram de maneira apropriada o tema proposto.
Menegatti (2002) estuda as interações pais-filhos relacionando com a depressão infantil.
Tal estudo faz sentido em ser incluído no presente artigo se consideramos que há vários
pontos de relação entre quadros depressivos e dificuldades na área de habilidades sociais,
mas principalmente se observamos tratar-se de um trabalho que analisou as práticas
parentais e algumas condutas emitidas pelos filhos. Outros estudos no programa de
mestrado da UFPR têm enfocado habilidades sociais sem relacionar diretamente com
práticas parentais (Gomes da Silva, 2000; Stemadt, 2001). Estudos como os de Gomos
da Silva e Stemadt, tem possibilitado uma visão mais atenta da relação da criança com
seus pares. Gomes da Silva (2000) procura identificar o que leva as crianças a rejeitarem
os pares e Stemadt (2001) analisa a relação entre conduta anti-social e rejeição na pré-
escola. Estudos integrando práticas parentais e o desenvolvimento de habilidades sociais,
foram desenvolvidos por Lubi (2002) que procurou relacionar estilo parental e comportamento
socialmente habilidoso da criança com seus pares, ou Munhoz da Rocha (2002) que
propôs-se a estudar a relação entre práticas parentais e o auto-conceito de pré-escolares.
Outros estudos encontram-se ainda em andamento (Loyola e Silva, 2002; Salles, 2002;
Leone de Souza, 2003), ficando para serem apresentados em outro trabalho.
A seguir, está estruturando um quadro sintético das dissertações de mestrado
desenvolvidas na UFPR e citadas acima, uma vez que as mesmas direta ou indiretamente
produziram conhecimentos que podem contribuir para a compreensão das habilidades
sociais ou das práticas parentais. A disposição dos estudos no quadro segue a cronologia
das defesas.
(n) etária /
amostra
2000 V R M üom es n» 52 9-10 anos •Votação ás avossas Crianças rojeitam paros com
da Silva -Passa a bola base mit comportamentos
-Ficha do professor Inadoquados omitidos por
ostos (autoritarismo, conduta
porturbadora). As crianças
nscolhom paros dovido à
om issão do condutas pró-
sociais
2001 A Stomadt n *20 4-5 ano» -Obs Direta do cpto Foi oncontrada a)corrolaçâo
-aval status positiva ontro rojolçâo o
sociométrtco comportamontos como
-Atrib Cptos aos paros discutir o ataquo físico, b) a
-question.prof criança popular tovo maiores
(adapt TR F- Achonbach) fndicos do conduta pró-soclal
do grupo
2002 C. Monogatti n«153 8-11 anos -Children Doprossion Ditoronças nas interações
Invonlory(CDI) pais-filhos mostram quo
-entrevistas com mfies de crianças depressivas tom
crianças provâvol história do baixo
rotorçumonto positivo, com
mâos pouco disponlvois para
os filhos o quo usam controle
averslvo
2002 G Munhoz da n=30 5-6 -PAI - Porcopçào do
Rocha Autoconhocimonlo Infantil
do Vllla o Au/mondl
- observaçAo direta de
compto Em atividado do
jogo (pais / criança)
2002 A P L Lubi n* 13 5 anos quostkxiôrios o Existo relação. a)ontro ostilo
entrevistas á s mãos parontal autoritatlvo o
obsurvaçôus dirotas das comportnmonto pró-social
crianças omitido pola criança o b)entro
ontrovistas com a inconslstôncia parontal o
prolossora condutas do isolamento e
anti-sociais emitidas pelas
crianças
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ASSUNTOS
(“CONTEÚDOS” )
Figura 1 Representação gráfica de dois referenciais considorados para organizar o que precisa
ser ensinado aos alunos e de suas interseções, conhecida como “grade curricular”. Reproduzido
do Botomé e Kubo (2002), p.87
A concepção ilustrada pela Figura 1 pode ser identificada com a que Paulo Freire
(1968) denominou de "concepção bancária" da educação e se funda na idéia de depósito
de "conteúdos" no aluno, realizados pelo professor. A própria metáfora "conteúdo" derivada
da noção de que o professor é um "continente cheio" (de conhecimento) e o aluno um
"continente vazio" (também de conhecimento) e, por isso, o ensino ó um processo de
“transmissão de conhecimento" (a "transmissão" se relaciona a outra metáfora: a dos
vasos comunicantes). Em alguns casos, a mesma concepção utiliza a metáfora da
“aquisição", como se o conhecimento fosse adquirido pelo aluno em uma espécie de
supormercado (a escola), no qual as prateleiras seriam as "disciplinas", nas quais o aluno
"pegaria" o que quisesse ou pudesse “adquirir”. Para Paulo Freire, tais expressões e metá
foras são inadequadas para referir-se aos processos de ensinar e de aprender. Também para
os autores que examinaram e tentaram tornar acessíveis os conceitos de objetivos
comportamentais elas não serviriam. Elas constituem uma noção incompleta sobre a rela
ção entre conhecimento e aprendizagem ou educação. De forma semelhante as analogias
com "introjetar” (o conhecimento), “apropriar-se" (como se o conhecimento fosse algo que
pudesse ser considerado uma “propriedade") ou "incorporar" (como o são os alimentos?)
também parecem figuras de linguagem que expressam noções vagas a respeito do processo
de transformação do conhecimento em relação das pessoas com as circunstâncias e os
contextos com os quais se defrontam. Isso exige um exame sobre as relações entre conhe
cimento (como produto e como processo) com o comportamento humano.
A pergunta sobre qual o papel do conhecimento no contexto da aprendizagem e
do ensino exige o exame de um terceiro referencial; a capacidade de atuar específica
dos egressos dos cursos perante as situações com as quais eles vão se defrontar
em sua vida profissional ou que vão ter que lidar (e mudar) como egressos desses
cursos (conforme examinado por Botomé e Kubo, 2002). Essa terceira dimensão ou vari
ável se relaciona ao que, de certa forma, está expresso nas diretrizes, ainda que não
totalmente explicitada - ou formulada - em termos suficientemente claros para facilitar
sua identificação. A Figura 2, reproduzida de um trabalho desses autores, apresenta esse
terceiro referencial: a capacidade de atuar e alguns dos graus ou valores ao longo dos
quais esse referencial pode variar. A consideração desses valores ou graus da capacidade
de atuar permite perceber que, em primeiro lugar, ó possível ver o que vai ser aprendido em
outro fenômeno diferente dos “conteúdos", conhecimentos ou informações, componentes
da "grade curricular". O que ó necessário ser desenvolvido como aprendizagem pode ser
formulado em termos de comportamentos que expressem a capacidade de atuar de
uma pessoa (muitas vezes, no papel de profissional de um carnpo de atuação). Tais
comportamentos, nos casos de uma formação profissional de nível superior, por exemplo,
constituem a capacidade de atuar definidora do papel - e da responsabilidade social
específica - desse profissional na sociedade. Em segundo lugar, os graus ou valores
dessa variável (desse terceiro referencial) são constituídos pelos graus de aprimoramento
que os comportamentos profissionais podem ter no seu desenvolvimento ou que podem
ter quando são apresentados. Tais graus ou valores vão desde a mera informação da
pessoa até o grau máximo de qualidade perfeição? na execução de um tipo de com
portamento (pericia), passando por graus de perfeição denominados de aptidão, com-
petôncia e habilidade.
As expressões que se referem a valores do terceiro referencial indicado na Figura
2, em função de já terem sido usadas em diferentes sentidos, merecem algum exame e
esclarecimentos a respeito do significado que elas tôm no contexto que essa figura está
ilustrando, ainda como uma "metáfora gráfica" para explicitar as relações entre significa
dos que podem ter os conceitos nela apresentados. Os termos “conteúdo" foi usado muito
tempo para referir-se ao conhecimento que ó apresentado ao aluno e que constitui um
conjunto de informações sobre o meio, sobre os processos que ocorrem nele, inclusive os
relativos ao homem que faz parte desse meio (ou "mundo", ou "realidade") e das interações
que esse homem realiza com esse meio do qual, por isso mesmo, faz parte. A expressão
"aptidão" já foi utilizada, ainda na segunda metade do século XX, com o sentido de “pron
tidão", significando "aquilo que alguém já era capaz de fazer em relação a novas exigênci
as de aprendizagem" (no sentido de “estar pronto para..."). No contexto dos conceitos
apresentados na Figura 2, porém, a palavra está se referindo ao que a pessoa é capaz de
fazer em um grau inicial de qualidade de realização (algo equivalente a ser considerado
"habilitado" - ou apto - a dirigir um automóvel, o que não configura uma capacidade de
dirigir um veículo que pudesse ser qualificada como "competência”, um grau de "aptidão"
mais aperfeiçoado).
Algo parecido pode ser considerado para a palavra "habilidade" que, também até
na segunda metade do século XX, foi usada como sinônimo de “pré-requisito" ou de "apren
dizagem intermediária". Nesse contexto, a palavra significava o que a pessoa já precisava
estar capaz de realizar (já tinha aprendido) para poder aprender outras coisas. No que a
Figuras 2 apresenta, a palavra significa um grau ainda mais alto de perfeição de uma
atuação do que a palavra “competência" indica. Enquanto a palavra "aptidão" qualifica o
grau de uma capacidade de realização em que a pessoa atua ainda com riscos e imperfei
ções, insegurança e com cálculos conscientes do que está fazendo, a palavra "competên
cia" significa um grau da capacidade de realização em que a pessoa atua com correção,
baixo risco, segurança e sem necessidade de calcular cada operação envolvida em uma
atividade, aliados a maior conforto, facilidade e previsão de resultados. A palavra "habilida
de" vai referir-se a graus ainda maiores na qualificação de uma atuação: facilidade, confor
to, correção, baixo risco, integração coerente de aspectos e baixo custo pessoal aliado a
um rendimento maior nos resultados da atuação, inclusive de seus efeitos estéticos,
políticos, sociais, além dos técnicos, materiais ou econômicos. Para a expressão “perí
cia", no contexto dessa revisão que está sendo feita dos conceitos, o grau de qualidade da
atuação corresponderia a algo como "o grau maior de realização conhecido", servindo
como uma referência ou modelo social de uma determinada atuação. Isso ilustra o que
pode significar os diferentes graus de qualificação que pode ter a capacidade de atuar de
uma pessoa no contexto de aprendizagem que envolve essa capacidade de atuar.
Dessa forma, ficam indicadas possibilidades de entendimento dessas expressões
como qualificadoras de graus da atuação de uma pessoa, em comparação com significados
que já tiveram nas décadas de 1960 e 1970, na literatura psicológica e pedagógica. Isso
possibilita considerá-las diferentemente de coisas ou entidades e sim como gradientes de
um processo de interação da pessoa com suas circunstâncias e contextos definida pela
atuação que essa pessoa é capaz de realizar, de acordo com o que se conhece (o conheci
mento existente) sobre essas circunstâncias e contextos, denominados por diferentes no
mes: realidade, mundo, sociedade, natureza, ambiente, meio e outros.
Figura 2. Reprosentação gráfica de trôs dimonsões considoradas para organizar o quo precisa
ser ensinado aos alunos no âmbito de um curso e dos graus que pode ter uma dessas
dimensões (a capacidade de atuar). Reproduzido de Botomé e Kubo (2002), p. 88, que
utilizaram a imagem gráfica criada pela professora Maria Te Warveck (Departamento de
Engonharia Elétrica da PUCPR, em 2001).
Considerados dessa forma, os três referenciais permitem a percepção de uma
relação mais complexa do que aquela constituída apenas pela relação entre “tempo" e
"conteúdos"(ou “conhecimentos”). Assim como o tempo tem graus (as unidades de tem
po), os "conteúdos” (o conhecimento) tem suas categorias (que também são as unidades
de um gradiente sem hierarquia), a capacidade de atuar tem seus graus (informação,
aptidão, competência, habilidade e perícia) que, neste caso, são um gradiente de "perfei
ção" da capacidade de atuar ou das relações que a pessoa estabelece em sua atuação.
Com as três dimensões explicitadas - assuntos, tempo e capacidade de atuar
- há uma aproximação maior com o que pode ser considerado um "projeto de curso",
mais do com o que é usualmente concebido como currículo, embora ainda seja neces
sário atender a outras exigências e aspectos para caracterizar um "projeto de curso" de
nível superior. Ficaria restando, por exemplo, respondera uma pergunta nuclear: "como
se relaciona o conhecimento com a atuação ou com a capacidade de atuar"? A perspec
tiva usual ó considerar que "apresentado" ou “estudado" o conhecimento (ou as informa
ções, científicas ou outras, existentes sobre algo), o aluno estará capacitado a transfor
mar, quando for necessário, esse conhecimento em atuação (Botomé e Kubo, 2002,
p.88). Todavia, a garantia de que isso irá ocorrer não ó dada pela simples intenção ou
pelas declarações verbais de professores ou alunos. A defasagem entre a informação e
conhecimento, mesmo quando “adotados", "repetidos", "aplicados", “resumidos", "para
fraseados" ou "utilizados" ainda não ó superada com a compreensão que esses termos
referem. Uma defasagem que ó possível verificar, por exemplo, em depoimentos infor
mais de egressos de cursos de graduação ou ainda durante estágios supervisionados
dos cursos de graduação. A transformação do conhecimento em comportamentos ou
condutas humanos ainda parece ser um processo que é conhecido mais pelas metáfo
ras e analogias do que por descrições ou caracterizações precisas de como ocorre ou
pode ocorrer esse processo.
A Figura 3 ilustra, graficamente, uma representação da relação entre conheci
mento e capacidade de atuar: Trata-se, no ensino, de transformar o conhecimento em
capacidade de atuar, o que pode acontecer, para cada tipo de atuação, em diferentes
graus de perfeição no processo de aprendizagem e, mesmo, durante a vida de uma pes
soa. De acordo com o que examinam Botomé e Kubo (2002) essa transformação pode ser
comparada a um processo de construção, ou de produção: o conhecimento constitui os
"insumos", ou os alicerces e fundações (em uma construção) e a capacidade de atuar
(aptidões, competências, habilidades etc.) constituem os resultados, ou os andares su
periores (da construção) que são construídos por meio de um processo de produção
denominado "ensinar”. "Transformar o conhecimento em atuação ou em capacidade de
atuar é produzir um outro conhecimento. Talvez, nesse sentido, 'reconhecer' ou ‘recons
truir o conhecimento’ possam ser expressões mais próximas de serem apropriadas para
nomear o processo que ocorre quando uma pessoa aprende a agir coerentemente com o
conhecimento a que teve acesso" (p. 89), configurando uma capacidade de atuar que
poderá atualizar a qualquer momento em que as necessidades, exigências ou possibilida
des para tal existirem.
Figura 3. Representação gráfica de trôs dimonsões consideradas para organizar o que ensinar
aos alunos no âmbito de um curso, considerando o que é denominado de "grado curricular" e
incluindo uma representação da transformação do conhecimento em capacidade do atuar(linhas
pontilhadas). Reproduzido de Botomó e Kubo (2002), p.89.
Há uma clara indicação de que, qualquer que seja esse processo de transformar
conhecimento em condutas profissionais, há uma exigência para quem aprende:
desenvolver comportamentos complexos que ultrapassam em muito aqueles que sâo
solicitados a apresentar em uma sala de aula, como ouvir, ler, anotar, repetir, adotar,
incorporar ou "aplicar" determinados assuntos ou informações, caracterizando o que
Paulo Freire denominou de "educação bancária” (1968). De que forma um professor
poderia estabelecer aquilo que é importante a ser ensinado para seus alunos,
considerando a função precípua do trabalho com o ensino - transformar conhecimento
de qualidade em comportamentos de valor social? Foi possível derivar um procedimento
relativamente simples a partir das análises comportamentais dos conceitos relacionados
ao processo de ensinar e aprender baseado em uma analogia com uma "análise sintática"
que evidencia aspectos importantes da relação entre conhecimento e comportamento e
desse com as noções de competência, habilidade, “conteúdo" e currículo.
No Quadro 1 estão apresentados os três elementos principais em que ó possíveí
decompor (analisar) uma frase (ou um enunciado) elaborada como expressão de algo
na língua portuguesa, ou dito de outra forma, analisar sintaticamente um enunciado que
expresse de maneira completa o que um aluno precisará aprender, ou estar apto a
realizar coerentemente com o conhecimento existente. O primeiro desses componentes
se refere à identificação do agente que realiza uma ação, o sujeito da oração (à esquerda
do Quadro 1). O segundo componente diz respeito a explicitação do verbo que indica o
tipo de ação apresentada pelo sujeito (no meio do Quadro 1). O terceiro componente (á
direita do Quadro 1) é constituído polo complomonto do vorbo, em geral se referindo a que
se refere ou dirige a ação a ser realizada como capacidade de atuar (aptidão, competência,
habilidade ou perícia).
Quadro 1 - Três componentes nos quais uma oração (como a expressão "alguém deverá
ser capaz de... em relação a...) pode ser analisada (análise sintática).
(...)
•)
P u m inala InfonrmçAcm nnbro ou doflnlçA«* d « darnanda por um tipo d a m t v iç o proflaatonal q o a conflguru m a rra d o d o trabalho n c am jio do atuação
purfhtnkMmlvor fiotomCi.S P (tflflfl) F m h u a c a d a p a ra p e ctlva iipa raa P aico io gttio om o A rM d econ h ecIn iM nto ftG om o carn po p rrrfiaN Ío niil Fm Coniw ilho
ro d n r a ld u Pmcoloalii (org ) Q u a m é o p a lc á l o o o b r a a ll a l r o ? ( ? / 3 - ? t i 7 ) S P Fd(con e Rotoetatto, J R «H o to m é. 8 P (10 99) F ls lo t a r a p la n o B ra ill:
p a ra p a ctlva a d a a v o lu ç A o c o m o c a m p o d a atu aç A o p ro fla a lo n a l a c o m o èraa d a c o n h a c k n a n lo S A o Paulo: H lltora M an o io
relação àquilo com que essas pessoas vão se defrontar na sua vida e em seus papéis
sociais, destacadamente os papéis profissionais, no caso do ensino de nível superior. A
esse respeito, há várias contribuições para o desenvolvimento do conhecimento e da
tecnologia correspondente em relação a como explicitar o que os alunos precisam
aprender e, por decorrência, o que os professores precisam ensinar. Desde as primeiras
formulações de Skinner(1931,1935,1938,1969) sobre a noção de operante, as quais se
somaram outras contribuições como as Shick (1975), de Keller e Schoenfeld (1968), de
Catania (1973,1999), de Todorov (1989), de Sidman (1995), de Botomé (2001), o conheci
mento e a tecnologia a respeito do ensino e da aprendizagem, especialmente da proposi
ção do que aprender como núcleo do processo de ensino e de seu planejamento está se
desenvolvendo sem parar.
O conhecimento aprofundado sobre comportamento, além de permitir rever o
conceito de objetivo de ensino, possibilitou também o desenvolvimento de uma tecnologia
bastante sofisticada para Mdar com o ensino de comportamentos, denominada de
programação de ensino. Botomé (1981) demonstra que programar ensino envolve mais
do que simplesmente descrever aquilo que alguém pretende que o aluno aprenda em
forma de verbos, ou utilizar de estratégias ou procedimentos operacionais característicos
do ensino programado individualizado. Programar ensino, antes de tudo, requer que o
professor tenha claro e considere em suas decisões aquilo que se configura como
necessidades sociais de uma dada comunidade na qual o futuro profissional irá inserir-
se, como ponto de partida para escolher que comportamentos são significativos para
serem aprendidos. Tais necessidades orientam a seleção dos complementos e dos verbos
para explicitar as aprendizagens relevantes a desenvolver em um processo de ensino,
de acordo com o que foi indicado na descrição do que está apresentado no Quadro 3.
O ensino tradicional considera os "conteúdos" como sendo as aprendizagens
que os alunos devem desenvolver. Já é possível, porém, considerar que o conhecimento
pode ser tomado como aspectos da realidade com a qual o aluno vai se defrontar e, a
partir disso, considerar o que ele, depois de terminar o processo de aprendizagem, deverá
estar apto a fazer (ser capaz de realizar). Isso pode alterar todo o processo do
planejamento do ensino, consequentemente, de sua execução, conforme salienta Botomé
(1981), ao derivar os comportamentos de um professor planejando ensino a partir de
uma detalhada análise dos comportamentos de aprender e de ensinar. De acordo com
esse autor e o procedimento indicado no Quadro 3, as quatro primeiras decisões de um
processo de planejamento de ensino delimitam (1) o que acontece no meio em que o
aprendiz atual vai atuar como futuro profissional, (2) o que deverá resultar de sua atuação
(os tipos de benefícios sociais que devem resultar do trabalho em um campo de atuação),
(3) o que a egresso desse ensino deverá fazer diante do que acontece e para produzir o
que é necessário resultar de sua ação. Só então é apropriado (4) examinar e identificar
as aprendizagens intermediárias para a consecução dessas capacidades de atuar que
caracterizam a formação de alguém. Isso difere muito das concepções e procedimento
usuais no ensino nas quais o "conteúdo" é considerado como as aprendizagens a
desenvolver, sem um exame maior do papel do conhecimento na definição de
aprendizagens a construir para os alunos poderem atuar significativamente na sociedade
em que vão viver.
Considerando os requisitos necessários para um professor ser capaz de
desenvolver coerentemente um processo de programar ensino, é possível contextualizar
mais apropriadamente o que foi apresentado nos quadros 1,2 e 3 como uma proposta de
procedimento para descobrir quais são comportamentos significativos na formação de um
profissional de nível superior. Tal procedimento constitui um auxílio para desenvolver as
primeiras etapas de uma programação de ensino, no que concerne à identificação de
comportamentos que precisarão ser aprendidos em relação a situações de sua vida, para
conseguir um certo tipo de produto, benefício, resultados ou transformações no meio em
que vai viver e atuar. Isso significa que esse recurso sozinho não garantirá a descoberta de
todos os comportamentos que precisarão compor um programa de aprendizagens. O
professor precisará contar com outras fontes de informações, ou mesmo, precisará de
senvolver estudos sistemáticos (pesquisas) para ser capaz de responder de modo mais
satisfatório às questões pertinentes ao processo de ensinar.
Em síntese, o papel do conhecimento no processo de construção de aprendizagens
transcende aquilo que ó apenas repetido, reconhecido, parafraseado, resumido ou adotado
pelo aluno, muitas vezes, induzido pelos procedimentos do professor. O conhecimento é
“matéria prima" (insumo) ou 'óculos' especiais que o professor utiliza para derivar as condutas
que serão significativas para transformar situações existentes (no meio em que os alunos
precisarão atuar) em situações novas, socialmente desejáveis e significavas (resultados, pro
dutos, benefícios...) por meio das aptidõos (comportamentos) que os alunos desenvolverão
graças ao ensino que for realizado" (Botomé e Kubo, 2002, p. 91). O exame que se apresenta
do que significam os termos das diretrizes curriculares também indica que elas criam, apesar
das controvérsias e questionamentos em relação a vários de seus aspectos, algumas possi
bilidades de atuação e de participação no processo de seu aperfeiçoamento: a de examinar
mais cnteriosamente o papel e a relação profissional de professores com seus alunos, a de ter
que identificar o papel do conhecimento em relação à aprendizagem, a de identificar o que
ainda é necessário para isso e questionar o própno preparo daqueles que tem a responsabili
dade de realizar os processos de formação profissional, assim como daqueles que tem o
papel de administradores ou gestores desses processos.
Os conceitos de “competência", "habilidades", “conteúdos" ainda mantém nos
documentos das diretrizes e na comunidade acadêmica e profissional da Psicologia
significados que permitem equívocos e manutenção de critérios e referenciais já supera
dos pelas possibilidades do conhecimento disponível. Não basta considerá-los com os
significados das décadas iniciais da segunda metade do século XX e sim redefini-los
com os recursos do conhecimento desenvolvido nos cinqüenta anos que antecedem o
início do século XXI. A redução do significado de tais termos ao conhecido no âmbito de
cada indivíduo pode ser um desastroso retrocesso histórico, inviabilizando as possibili
dades que uma mudança de currículo mínimo para diretrizes curriculares podem trazer
para o trabalho no campo profissional da Psicologia, por meio de uma melhor concep
ção - e formulação - do que deve caracterizar o conjunto de atuações que o profissional
desse campo é capaz de apresentar na sociedade como papel próprio desse profissio
nal e corno identidade da profissão que atua nesse campo. O projeto do profissional e da
profissão é constituído pelo conjunto de verbos e complementos que delimitam o que ele
será capaz de fazer como sujeito do processo de intervenção profissional do psicólogo.
Seja em intervenções diretas sobre os fenômenos e processos psicológicos, seja em
intervenções sobre tais fenômenos e processos por meio de outras pessoas (no papel
de educador ou professor de Psicologia), seja em processos de produção de conheci
mento para sustentar intervenções de qualquer tipo no campo de atuação que configura
a Psicologia como profissão.
Confundir graus de um fenômeno (aptidões, competências, habilidades, perícias)
com o próprio fenômeno (atuação profissional, expressa em verbos) ou com o conheci
mento existente ("conteúdos") para orientar a identificação e construção desse fenômeno
pode ser destrutivo. Isso talvez exija uma melhor delimitação desses termos e um traba
lho de estudo sistemático para utilizá-los no âmbito da construção dos projetos de ensino
de Psicologia no pais.
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Seção VII
Interação pais e
filhos
Capítulo 44
Estilos parentais e desenvolvimento da
criança e do adolescente e palmadas e
surras: ontem, hoje e amanhã
1) Efeito imediato
Quando apanha, a criança geralmente pára imediatamente de emitir o comporta
mento. A obediência imediata traz benefício para os pais, aumentando a probabilidade de
eles continuarem a utilizar esta prática educativa novamente (Skinner, 1953/1976). Desta
forma, o efeito imediato atua como um poderoso reforçador negativo para o comportamen
to de bater dos pais, aumentando assim a probabilidade de este comportamento ser
utilizado em ocasiões semelhantes.
Este efeito é amplamente discutido pela Análise do Comportamento: é muito
mais provável que se obtenha conseqüências imediatas apresentando um estímulo puniti-
vo do que apresentando um reforçador (Skinner, 1953/1976; Sidman, 1989/1995), "e isso
significa que uma pessoa, provavelmente, acha mais fácil aprender técnicas de controle
aversivo do que técnicas de reforço. No entanto, isso não significa que as técnicas aversivas
sejam melhores" (Catania, 1999, p. 128).
Possivelmente por ser um método mais fácil de ser aplicado e por ter resultados
mais rápidos, em nossa pesquisa foi encontrada uma freqüência muito maior de crianças
e adolescentes que apanham (88,1 % da amostra, sendo que 51,5% receberam só tapas
e 36,6% receberam tapas e surras) do que recebem castigos (64,8% da amostra recebeu
castigos como não jogar videogame, não sair de casa por algum tempo, entre muitos
outros.
A facilidade de utilizar métodos aversivos é tanta que está presente em diversos
setores da sociedade. O governo dos palses, a policia, a escola, a religião e a família são
agências controladoras que fazem uso significativo da punição (Skinner, 1953/1976). Na
vida moderna, a punição é a forma mais comum de controle do comportamento humano,
as respostas das pessoas são punidas por aqueles que as empregam, as ensinam, as
protegem, as governam, amam-nas (Todorov, 2001; Sidman, 1989/1995).
2) Respostas emocionais
As respostas emocionais dos pais - especialmente a irritação e a raiva - são
geradas por diversos fatores do meio, como baixa disponibilidade de reforçadores no tra
balho, contas a pagar, trânsito, e até mesmo alguns comportamentos dos filhos (por
exemplo, se a criança corre para a rua sem olhar se vem carro, acaba assustando seus
pais, que por sua vez poderão emitir uma resposta emocional de medo; ou se a criança
quebra algum objeto valioso, poderá provocar raiva em seus pais). Estas respostas emo
cionais indicam "predisposições para agir de certas maneiras" e (...) "as respostas que
aumentam de força na raiva infligem dano em pessoas ou objetos" (Skinner, 1953/1976, p.
163). Assim, há o condicionamento de respostas que infligem dano, ou seja, este compor
tamento é reforçado durante a raiva e conseqüentemente será controlado pelas condições
que controlam a raiva.
A pesquisa de Graziano e Namaste (1990) mostra que 90,7% dos sujeitos relata
ram que seus pais mostraram expressões de irritação quando bateram, e Cornet (1997)
afirma que os pais descontam nos filhos suas irritações presentes ou mesmo passadas
(pais que apanharam na infância) e tornam a agressividade um círculo vicioso. A exposi
ção a certas contingências aversivas torna mais provável a ocorrência de comportamentos
agressivos difusos, sem um alvo específico e a presença de crianças por perto torna isso
mais fácil porque não reagem, e esse comportamento agressivo também é controlado por
suas conseqüências. Se há o condicionamento de respostas de infligir dano com a emo
ção de raiva e, além de tudo, o comportamento dos pais pode estar sob controle da regra
geral que a punição física é adequada, e isto aumenta ainda mais a probabilidade de eles
baterem forte por apenas um pequeno comportamento inadequado da criança (Skinner,
1953/1976). Neste caso, a punição física deixa de ter um caráter educativo, para transfor-
mar-se realmente em falta de autocontrole dos pais e levar á agressão.
As palmadas e surras são utilizadas também pela falta de conhecimento dos pais
sobre as fases do desenvolvimento infantil, sobre outras estratégias educativas e sobre os
malefícios da educação coercitiva. Os pais normalmente seguem o modelo aprendido de
que a punição física disciplina os filhos, e a falta de informações faz com que utilizem este
método educativo sem qualquer questionamento a respeito de sua real eficácia e
conseqüências.
1CJuando dua» tinta» foro*ti u p re o e n U K la n . a I ttc ltc a rá o uno ila odiçAn arigmul, o a Nogurtdd o ano da ndiçAo coimultuda.
54,1 % ficaram tristes e 45,9% não. Já entre as crianças que relataram terem ficado muito
machucadas (4,1 %), 70,6% ficaram tristes e 29,4% não ficaram..
Um padrão semelhante de distribuição dos dados apareceu no cruzamento entre
ficar m achucado e ficar com raiva. Entre as crianças que nunca ficaram m achucadas,
26,9% ficaram com raiva e 73,1% não ficaram; entre as que ficaram um pouco
machucadas, 48,1% ficaram com raiva e 51,9% não; das que ficaram muito machucadas,
58,8% ficaram com raiva e 41,2% não. Comparando as três categorias de crianças,
nota-se um aumento da resposta emocional de raiva à medida que as crianças relatam
que apanham mais e ficam mais machucadas. Da mesma forma, o comportamento de
chorar aumenta de freqüência com o aumento da gravidade do machucado; entre as
crianças que nunca ficaram machucadas, 37,3% choraram e 62,7% não; entre as que
ficaram um pouco machucadas, 60,0% choraram e 40,0% não; entre as ficaram muito
machucadas, 70,6% choraram e 29,4% não.
Todos esses dados deixam tornam clara a existência de uma relação entre o
apanhar e o aparecimento de comportamentos emocionais. O problema se encontra no
fato de tais respostas emocionais poderem também ser condicionadas, por meio do
condicionamento pavloviano, a aparecerem em outras ocasiões não punitivas (Skinner,
1953/1976). Por exemplo, a punição do comportamento de mentir de uma criança pode
levá-la a apresentar os mesmos comportamentos emocionais advindos com a punição
(choro, rubor, suor) em uma situação em que precise se expressar verbalmente.
Outras reações são possíveis diante de punições, tais como a emissão de
comportamentos alternativos (Matos, 1981; Sidman, 1989/1995; Skinner, 1953/1976).
Um tipo de comportamento alternativo é a contra-agressão, o que em nossa pesquisa
foi investigado como "comportamento de desafio". Este consiste em uma atitude de
enfrentamento da criança em relação ao agente punidor. A criança pode enfrentar
verbalmente, dizendo, por exemplo, que o tapa não doeu; ou pode fazê-lo por meio de
atitudes agressivas em direção à pessoa que o puniu (ou em outras pessoas que não
tiveram nada com a questão), ou ainda repetir o mesmo comportamento punido na frente
do agente punidor. O "comportamento de desafio" é explicado pela Análise do
Comportamento, que indica que os eventos aversivos ou desagradáveis podem aumentar
a variabilidade e a força dos comportamen-tos atingidos, bem como podem desinibir de
maneira súbita e violenta, comportamentos anteriormente suprimidos ou reprimidos, ou
seja, o comportamento punido ou outros reprimidos anteriormente podem aparecer com
força e magnitude aumentadas (Matos, 1981).
Outro dado de nossa pesquisa refere-se a relação entre o comportamento de
desafio a criança e o recebimento de punição de maior intensidade (+ = 14,270; gl = 1;
p < 0,001).: de todas as crianças que enfrentaram a pessoa que as puniu (12,4% do
total), 60,8% afirmaram já terem ficado machucadas, e 39,2 % não ficaram machucadas.
Entre as crianças que não desafiaram (87,6% do total), um número bem menor ficou
machucada, 33,6%, e 66,4% não ficaram.
Além dos comportamentos emocionais e dos comportamentos alternativos gerados
pela punição física, há o condicionamento de comportamentos de fuga e esquiva que
reduzem ou livram a criança da estimulação aversiva ou pré-aversiva (Skinner, 1953/1976).
A criança pode simplesmente emitir comportamento (reforçados negativamente) para a
fugire/ou evitar o agente punidor. Portanto, os comportamentos inadequados continuam
Conclusões gerais
A questão da punição, como estratégia disciplinar, ultrapassa o conhecimento da
ciência e chega á ética; é preciso entender "quando e por que os pais escolhem a punição
como uma tática de socialização" (Parke, 2002, p. 600) e que direito temos para infringir
dor a uma criança se há tantas outras possibilidades e outros métodos. A punição física
é uma forma de opressão e de coerção, e ela, infelizmente, encontra eco favorável na
própria estrutura familiar. Todo tipo de agressão é injustificável, tanto do ponto de vista
ético, moral, social, humano, quanto psicológico e científico.
A famosa "regra de ouro" anda esquecida nas questões de disciplina dos filhos:
"não faça aos outros o que você não quer que façam com você". Não parece simples? A
criança tem o direito de ser respeitada em sua dignidade, e o uso da punição física
contraria os direitos humanos, como afirmou Lansdown (2001). Da mesma forma que os
pais normalmente exigem respeito da parte dos filhos, também os filhos merecem respeito
dos pais. Dentro deste respeito encontra-se a questão de aceitar o filho com suas
limitações, não exigindo perfeição e infalibilidade.
A ciência e a ética mostram problemas relacionados com o uso de punições
físicas como uma prática educativa. Além disso, o efeito positivo imediato da punição
física pode ser alcançado igualmente por uma punição não-física, como mostram
pesquisas que compararam métodos disciplinares que fazem uso da punição física (a
palmada) com aqueles que não fazem (o timeout), e chegaram à conclusão de que os
dois métodos funcionam igualmente (Days & Roberts, 1983; Roberts & Powers 1990).
Então, por que utilizar uma prática que envolve tantos aspectos negativos?
Portanto, os pais atuais precisam ter acesso ao conhecimento de outras práticas
educativas que sejam eficazes para criar e manter um repertório de comportamentos
adequados, ajudar o desenvolvimento de habilidades sociais em seus filhos e manter
uma dinâmica familiar com muita responsividade, afeto e comprometimento.
Eventualmente será preciso utilizar alguma estratégia para reduzir ou eliminar
comportamentos inadequados e/ou transgressões aos limites, mas se o uso da disciplina
positiva (uso de reforçadores) for sistemática, o estabelecimento de regras (limites) for
consistente e lógico, houver supervisão constante, modelos positivos e incentivo à autonomia
da criança e fortalecimento de sua auto-estima, não sobrará muito espaço para a ocorrência
de comportamentos inadequados significativos. Os poucos que surgirem poderão ser
resolvidos com estratégias menos dolorosas e indignas do que as punições físicas, tais
como time-out, uso de conseqüências lógicas, adiamento de reforçamento, entre outras.
Ensinar para os pais novas práticas educativas mais eficazes e saudáveis ainda
não é suficiente. Como já foi visto, as regras controlam o comportamento de bater de
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A adoção na história
A preocupação com os órfãos e com crianças destituídas de uma família vem de
tempos muito antigos, e a adoção sempre existiu na história da humanidade. Todos já
ouviram falar da história de Moisés, que foi adotado pela filha do Faraó; conta o mito que
os gêmeos abandonados, Rômulo e Remo, foram amamentados por uma loba e fundaram
Roma; o império romano foi governado por mais de um século, pelos filhos adotivos de
Otávio o “Augusto", que, por sua vez, foi filho adotivo de Júlio César. Foram os romanos
que estabeleceram as bases da adoção legal na idéia de filiação conferida por um
certificado aos pais adotivos e na transmissão do nome de família por meio da adoção.
Até no rico imaginário das histórias infantis existem inúmeros personagens que fazem
parte de famílias adotivas: um dos mais conhecidos é o Super-Homem (que até veio de
outro planeta!); no cartoon “Os Flinstones" o Bam-Bam, filho adotivo de Bamey e Beth;
Mogli, o menino-lobo foi abandonado na floresta e adotado seguidamente por vários
animais; Simba, no filme "O Rei Leão", ficou perdido na floresta e também foi adotado
por uma família bastante diferente: um javali e um roedor do deserto; Tarzan e Pinóquio
são outros desenhos que tratam simbolicamente de adoção (Weber, 1999b; Weber, 2001).
Apesar de pais e filhos adotivos existirem desde o início dos tempos, o tema
adoção foi sempre um pouco obscuro, tratado geralmente na intimidade das famílias.
Há algum tempo atrás, poucos estudos acadêmicos sobre este assunto tinham sido
realizados no Brasil, e isto trouxe como conseqüência a generalização de casos
dramáticos e a formação de preconceitos e estereótipos (Weber, 1999a, 1998b), como
reflete Vargas (1994, p. 1): "a adoção, (...) mesmo sendo uma prática corrente na
sociedade desde remotos tempos, continua encoberta no silêncio, a alimentar mitos e
fantasmas". Esses "mitos" e “fantasmas" em relação à adoção advêm da mídia e do boca-
a-boca que generalizam casos malsucedidos de adoção, e também pela generalização de
V m foiia o rii d o O^Htrtumonto do PtMcolouta u d o MeotitKk) «tn Pslujtoy t* d * In M n d * o d » AdoioticAncM d« UF P R
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• Motivação para adoção versus escolha das características da criança: os adotantes
cuja motivação foi a infertilidade fizeram maiores exigências em relação aos atributos
físicos da criança a ser adotada. Adotantes que adotaram porque não tinham filhos
genéticos mostraram maior preferência por determinados atributos físicos da criança
(35%) do que aqueles que adotaram por motivos altruístas (7%).
Antes da adoção
O tema da adoção no Brasil ainda ó pouco explorado do ponto de vista acadêmico,
aliado ao fato de que a coleta de dados não ó fácil de ser feita. Aqui as estatísticas em
torno do tema são extremamente escassas, especialmente as oficiais, mas no restante
no mundo sabe-se que a visibilidade da adoção aumenta ao mesmo tempo em que ela
tende a decrescer em números. Isto decorre pela diminuição natural dos abandonos em
países desenvolvidos pelo aumento dos métodos contraceptivos e pelas campanhas de
conscientização e pela melhoria dos métodos de fertilização.
A seleção dos candidatos tem sido um tema polêmico atualmente. A posição
clássica era simplesmente selecionar candidatos que apresentassem "naturalmente”
características e habilidades diferenciadas, ou seja, candidatos que indicassem maior
aptidão para este tipo de tarefa - educar uma criança adotada. De qualquer maneira,
existe, sim, uma série de habilidades especiais no caso de pais adotivos quando
comparados com pais genéticos, a saber:
• A maioria das pessoas que adotam crianças no Brasil têm como motivação a este
rilidade, infertilidade ou outras dificuldades não determinadas para a concepção de
um filho genético. Nesse caso, os adotantes devem enfrentar os sentimento de
culpa que esta situação traz. Se a concepção religiosa traz o conceito de que
"filhos são uma bênção", o que dizer de pessoas (e especialmente de mulheres)
que não conseguem gerá-los? O escritor francês Balzac coloca as palavras "uma
mulher sem filhos é uma monstruosidade" na boca da personagem Louise, protago
nista das Memoires des deux jeunnes mariées; "somos feitas apenas para ser
mães" (Perrot, 1995).
• Os adotantes que fazem a adoção pelo sistema legal devem enfrentar o desgastante
processo do habilitação para a adoção, com testes, entrevistas, questionários,
inventários de personalidade, escalas de atitudes, questionários de comportamen
to, visitas em sua residência, contracheques, atestados de idoneidade, declara
ções de residência, tudo e mais um pouco. O relato de pais adotivos mostra que
tudo isso provoca uma resposta emocional de raiva, pois, como disse uma mãe
adotiva, "nenhuma pessoa que decide gerar um filho precisa passar por esse pro
cesso invasivo" Às vezes, vários técnicos perguntam a mesma coisa, e na adoção
de um segundo filho, os adotantes afirmam que devem passar novamente por todo
o processo. Não está em discussão aqui o sistema legal, embora não resta dúvida
de que ele tem sua importância, pois está a cargo do Poder Judiciário determinar
quem pode ser pai adotivo. Porém, questões sobre esse processo devem ser re
pensadas e atualizadas de maneira menos dogmática (Weber, 1997).
• Os pais adotivos devem saber lidar com a história de origem da criança. Às vezes
esse "lidar" inclui imaginar e refletir sobre essa família de origem sem ter nenhum
dado real sobre ela, o que é muito comum em nosso país devido ao grande número
de abandonos de bebês em locais públicos sem que haja a possibilidade de encon
trar essa mãe e conhecer dados mínimos sobre a origem da criança adotada.
• Os pais adotivos devem lidar com o fato de que o filho adotivo lhes trará lembrança
de sua própria infertilidade. Ao mesmo tempo em que ele resolve a questão da
infertilidade, ele a sinaliza.
• Os pais adotivos devem ter a capacidade de enfrentar o conhecimento de uma
dolorosa história anterior ou de uma não-história. Aquela criança que foi transforma
da em filho pode ter sido entregue para adoção em um Juizado da Infância e da
Juventude; pode ter sido abandonada em uma Igreja ou largada no lixo; a sua mãe
gestacional pode ter sido usuária de drogas, de álcool ou vítima de doenças. Geral
mente isso não está no histórico das crianças disponíveis para a adoção (Weber,
1998,1999,2001), então, na maioria das vezes, a família adotiva deve lidar com o
desconhecimento da história e com todos os pensamentos fantasiosos que isso
acarreta
• Os pais adotivos devem ter a capacidade de lidar com a possível dor do abandono,
do sentimento de rejeição do seu filho. Como eles poderão aprender a minimizar o
fato de que existiu um abandono antes de haver o encontro da adoção?
• Os pais adotivos e seus filhos terão de ter a capacidade de enfrentar as freqüentes
discriminações e preconceitos no dia-a-dia. Se for feita uma adoção especial (uma
criança com mais idade, de cor de pele diferente ou com algum problema de saú
de), o enfrentamento de curiosidade e preconceito serão muitos ao longo da vida.
É possível afirmar que, de fato, existem diversas habilidades exclusivas dos
adotantes e pais adotivos deverão ter. No entanto, a posição atual indica para a possibili
dade de desenvolvimento e treinamento de tais habilidades e não simplesmente realizar a
triagem de candidatos em função da existência ou não delas. Desta maneira, o processo
de seleção de candidatos mudou o seu paradigma de “seleção" de candidatos para "pre
paração e educação" de adotantes (Biniós, 1997). Nessa mudança, ultrapassa-se o mo
delo de selecionar os mais aptos, para primeiramente preparar, educar, treinar habilidades
e refletir sobre sentimentos, sendo que durante todo esse processo os próprios candida
tos podem chegar à conclusão de que realmente a adoção é aquilo mesmo que Imagina
vam e se terão condições de lidar com suas peculiaridades.
Quando a motivação para a adoção é a infertilidade ou esterilidade, a situação
traz muitos estímulos aversivos aos adotantes, que devem ter ou adquirir habilidades
para enfrentá-los:
• àS- = sentir culpa pela infertilidade. Exposição a diversos fatores negativos como
incompreensão dos outros, preconceitos sociais, religiosos e culturais em relação
à infertilidade."Eu me sentia culpada porque não conseguia engravidar1': "às vezes
eu senti como se tivesse feito algo de errado, e a minha punição era não poder
gerar um filho e receber toda a dose de preconceito que vem junto"; “por quê eu,
me perguntava, por quê não consigo ficar grávida e tem essas mães por ai que
largam o seu filho no lixo?"
• àS- = discriminação.“Especialmente as pessoas de minha família achavam estra
nho que a gente não conseguisse engravidar; fazia com que não nos sentíssemos
completos"; “ onde está o herdeiro, todo mundo nos perguntava a todo momento".
• à S- = raiva, tristeza. A infertilidade produz impedimento de realização (gerar um
filho). “Eu e meu marido sentíamos muita tristeza e, às vezes, até raiva, porque
fazíamos tudo o que nos mandavam mas não conseguíamos eng ra vidar"tenho
raiva dessa minha incapacidade".
• à S- = raiva, tristeza, inveja. A exposição freqüente a bebês, mães e famílias com
filhos ó especialmente dolorosa para pessoas com problemas de infertilidade.
Não se pode considerar uma inveja "malófica" porque não existe o desejo de destruir
o outro, mas adotar implica obter um S+, um filho, por meio de uma resposta
socialmente aceitável.. “Eu não conseguia ver uma mãe embalando um bebê que
já começava a chorar"-, “eu queria chorar quando ia ao shopping e via uma mãe e
seu bebê ou crianças correndo perto dos pais"; "eu precisava de um filho".
• àS- = renúncia do(a) companheiro(a). Quando apenas um dos dois do casal apre
senta infertilidade (e isso é conhecido), oconre a apresentação de um evento aversivo
ao companheiro (fértil) que deve optar pela renúncia, sendo que o outro inevitavel
mente sente culpa. “Meu marido optou pela adoção junto comigo; eu sei que o
problema é meu e penso que ele poderia ter um filho com outra mulher e isso dói"',
‘‘meu marido ficou triste quando descobrimos que eu tinha dificuldade e até tenta
mos a fertilização in vitro com óvulo de uma doadora".
• àS- = frustração, decepção. Cada exame médico negativo, ou cada gravidez inter
rompida intensifica comportamentos emocionais de frustração. “Eu tinha até medo
de ir buscar o exame, abri o envelope e ver que deu negativo"; "eu tive três abortos
e sempre era como se um pedaço da gente estivesse indo embora’\ “cada vez
depois de uma inseminação, vinha um exame negativo; era uma nova flechada,
muito choro e raiva; foram sete anos de tentativas, até que decidimos pela adoção".
Ao adotar uma criança
A maioria absoluta dos pais adotivos no Brasil não passou por nenhum processo
de preparação (Weber, 2001,) e isso significa que não teve oportunidade de lidar com esse
turbilhão de sentimentos dolorosos que assola a maioria dos adotantes: a infertilidade.
Isso também significa que em nosso país ainda se está longe do paradigma ideal para a
seleção/preparação de candidatos. Por tudo isso é que a decisão de adotar no Brasil,
ainda pode ser considerada como um conflito, em especial um conflito de aproximação-
esquiva, ou seja, o comportamento de adotar uma criança leva simultaneamente a
conseqüências positivas, a conseqüências aversivas, e à remoção de conseqüências
aversivas. Serão listadas algumas situações a seguir.
Apresentação de estímulos positivos após o comportamento de adotar uma criança:
• à S+ = ser mãe/ser pai. Emitir comportamento de maternagem; sentir orgulho de
mostrar o filho aos outros; ter a possibilidade de passar adiante o nome da família;
ter a possibilidade de deixar bens e herança para seu filho; ter a possibilidade de
ensinar comportamentos e valores ao seu filho. A impossibilidade de gerar um
filho pode ser considerada uma operação "natural" de privação que aumenta muito
o valor reforçador de uma criança. Para adotantes com problemas de infertilidade, o
fato de ter um filho é fundamental e uma grande meta na vida, enquanto que para
pessoas férteis a questão de ter um filho pode ser simplesmente uma mera conse
qüência de um casamento ou de um ato de reprodução... "Não podíamos gerar
nossos filhos e cansamos de tantos tratamentos. A adoção surgiu como outra
forma natural de construirmos nossa família. Não pensávamos que se adotássemos
estaríamos tirando uma criança da rua... Queríamos apenas ser pais e termos nos
sos filhos. As vezes alguém nos fala: "nossa, que maravilha que vocês fizeram!
Vocês vão ganhar o céu pela boa ação”. O céu nós já ganhamos quando recebe
mos nosso filho. Será tão difícil as pessoas verem a simplicidade disso? Apenas
pais e filha. Só isso!"
• àS+ = aprovação social. Especialmente a adoção por motivos altruístas (adoção
de crianças mais velhas, com problemas de saúde ou de cor de pele diferente)
levam a certa dose de aprovação, embora, ao mesmo tempo, possam levar também
à desaprovação. "As pessoas me dizem: - Vocês merecem o céu por terem adotado
essa criança tão diferente";ualgumas pessoa me elogiam, mas em seguida dizem:
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Capítulo 46
Interação pais e filhos -
A observação como instrumento para
identificar práticas parentais
Qioviina Vcbso M u n h o / dd Rochd
i / f PH h! P A R c A C l
Práticas parentais
As práticas parentais são os comportamentos dos pais em relação aos comporta
mentos da criança e têm a finalidade principal de educar, instruir e,por que não dizer, contro
lar. Steinberg & Darling (1993) defendem o uso desta nomenclatura para operacionalizar os
comportamentos parentais. Partindo destes autores poderia-se dizer que a vantagem em
utilizar a definição de Práticas Parentais está na objetividade da descrição comportamental,
ao contrário do que acontece quando é usada a nomenclatura Estilos Parentais, que segun
do eles ó o contexto que serve de moderador da influência destas práticas específicas sobre
a criança, ou seja, é um constructo e não uma definição operacional.
Gomide (2001) utiliza a nomenclatura Práticas Educativas quando relata estudos
que demonstram os efeitos destas práticas no desenvolvimento do comportamento anti
social. Segundo a autora, a nogligência parental é um dos fatores decisivos no estabele
cimento deste tipo de comportamento. Mussen (1966) já afirmava que a negligência e
maus-tratos na infância poderiam resultar em desajustamentos temporários ou duradou
ros. Patterson, Reid e Dishion (1992) reafirmam estes mesmo achados em seus trabalhos
com jovens anti-sociais.
As práticas parentais são comportamentos específicos e, de acordo com Fox e
Brenner (1999), direcionadas a um comportamento-alvo. Bater numa criança para que
ela obedeça ou elogiá-la para fazer sentir-se bem são exemplos de práticas parentais,
empiricamente os autores determinaram que as práticas refletem padrões diferenciados
de comportamentos parentais. Ainda segundo Fox e Brenner (1999) as práticas parentais
estão relacionadas a fatores tais como: satisfação conjugal, crenças acerca da disciplina,
história de abuso sofrido pelos pais, depressão parental, nível de suporte dado pelo
cônjuge, idade e nível de escolaridade dos pais e situação econômica.
Jogo 1: Lince
Inicia-se o jogo escolhendo o apoio da criança, que também ó o líder da rodada.
Este coloca as carteias dentro do saco plástico e distribui três fichas plásticas da mesma
cor para cada participante. O líder mistura bem as carteias e sorteia três para cada
participante, sendo que nenhum participante pode olhar o conteúdo das carteias antes da
jogada iniciar. O líder dá um sinal para iniciar o jogo. Ambos, criança e oponente, olham as
próprias carteias e tentam localizar mais rapidamente as figuras no tabuleiro. Cada vez
que se encontra uma figura, o participante coloca uma ficha plástica no lugar correspondente.
O primeiro que coloca suas três fichas, anuncia a todos. Neste momento, o outro
participante para de jogar. Os participantes permanecem com as carteias cujas figuras
foram localizadas no tabuleiro, devolvendo as restantes e colocando-as no saco plástico.
Novamente recebem suas três fichas plásticas e inicia-se uma nova rodada. Vence o jogo
o participante que consegue o maior número de carteias em aproximadamente oito minutos.
Conclusão
O estudo das práticas parentais vem sendo reconhecido como importante estratégia
para que, por exemplo, possam ser desenvolvidos programas preventivos para problemas
comuns na infância. Patterson e colaboradores (1992) procuraram padrões familiares comuns
às crianças anti-sociais, e hoje se sabe que seu Instituto no Oregon oferece à comunidade
programas de prevenção à delinquência, sendo que parte deste trabalho se dá com pais de
crianças pequenas. Maccoby e Martin (1983) relacionam o estilo parental autoritativo com o
melhor desempenho escolar de crianças; este dado possibilita o desenvolvimento de
estratégias educativas para pais de infantes pré-escolares, a fim de promover um melhor
aproveitamento acadêmico e prevenir o fracasso e a evasão escolar.
Gomide et al. (2003) em estudo recente identificaram que a qualidade da interação entre
pais e filhos no horário das refeições (as quais geralmente são feitas na frente da televisão) está
relacionado aos níveis de agressividade infantil. Partindo-se desta informação, poder-se-ia, por
exemplo, através da própria mídia orientar os pais quanto aos efeitos desta prática.
Sobre trabalhos de pesquisa que visam determinar funcionalmente padrões de interação
disfuncionais e possíveis situações preventivas através de treino na casa ou na escola, que
possibilitem a aprendizagem de habilidades comportamentais que o ambiente natural não
ofertou, Ingberman (2001) afirma:
"Tais trabalhos são importantes para intervenção precoce, ou seja, preventivos para
pais e filhos. Terapeutas de crianças, com seus conhecimentos acerca de aspectos funcionais
dos comportamentos desadaptados, poderão contribuir para o desenvolvimento de estratégias
de alcance mais amplo, assim como beneficiar-se de estudos com populações maiores
para embasar seu trabalho." (Ingberman, 2001, p.232)
Para avaliar campos onde a atuação do psicólogo, principalmente a preventiva,
possa surtir melhores efeitos, é preciso que se desenvolvam instrumentos e métodos cada
vez mais eficazes de avaliação comportamental. Este capítulo pretendeu mostrar uma
pequena parte do processo de construção de um instrumento de observação.
A utilização deste procedimento em outros estudos que necessitem investigar o
padrão de interação entre os membros de uma família poderá retificar aspectos que possam
não estar ajustados para que seja reconhecidamente eficiente. No estudo citado, (Rocha,
2002) o objetivo de quantificar as práticas parentais determinadas foi atingido. Contudo,
poder-se-ia pensar em desenvolver novos estudos que aprimorassem as categorias
observadas e que elas mesmas pudessem estar associadas ao método de observação
em futuros estudos sobre o tema.
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Capítulo 47
Estilo parental e comportamento
socialmente habilidoso da criança
com pares
Arut Pdola Lopes Lu Oi
CVín/Cit Psycho/ (/nivcnp-Pr
"o tipo de relaçõos que os pais estabelecem com os seus filhos, desde os 4'
primeiros momentos de suas vidas, tem sido apontado como um dos principais
responsáveis polo processo de desenvolvimento global da criança".
Método
Participaram da pesquisa 13 díades de mães e crianças de 5 anos, de classe sócio-
econômica média que freqüentam a turma de Jardim II, de uma escola de educação infantil,
ensino fundamental e ensino médio, particular, de Curitiba.
Os instrumentos utilizados foram:A) Questionários para as mães; B) Formulário de
registro de evento da relação entre pares; C) Formulário de entrevista semidirecionada às
professoras; D) Formulário de entrevista semidirecionada às mães.
A pesquisa envolveu diferentes etapas de coleta de dados com sub-grupos da popu
lação alvo (crianças, mães e professora), tendo sempre a preocupação central em verificar
práticas parentais relativas a limites, e a aproximação social das crianças aos seus pares.
Há momentos em que algumas etapas foram simultâneas. As etapas então foram as
seguintes: (a) aplicação dos questionários aos pais; (b) observação das crianças; (c) entrevis
ta realizada individualmente, com as mães, complementar ao questionário; (d) entrevista com
os professores enfocando as crianças desta turma.
Os dados foram sistematizados com cruzamento das respostas às questões de
múltipla escolha do questionário e das observações de evento da conduta das crianças: as
classificações de estilo parental (autoritativo, autoritário, indulgente, negligente, misto polari
zado e misto difuso) que foram obtidas pela correção das questões de múltipla escolha foram
cruzadas com as classes de conduta (isolamento, pró-social e anti-social) das crianças, para
que se pudesse então testar a hipótese da presente pesquisa.
O resumo das entrevistas foi transcrito e utilizado no item análise individual de díades
criança/mães, fornecendo subsídios para uma atribuição mais segura do estilo parental. Ao com
parar as informações fornecidas pela professora, com os dados de observação de evento, pode-se
verificar o quanto o intervalo de registro de evento representava a conduta usual da criança.
Resultados
A análise dos questionários respondidos pelas mães (n=13) constatou os seguin
tes resultados: seis autoritativos, um autoritário e seis mistos. Não foi registrado nenhum
negligente ou indulgente.
As condutas das crianças foram categorizadas em: pró-social, anti-social e de
isolamento, foram relacionadas com os estilos parentais apontados pelas respostas das
mães aos questionários. Foram realizadas análises qualitativas das entrevistas individu
ais das mães, entrevistas com a professora, também, relacionando-se com os dados
acima.
Na análise dos dados pode-se constatar que as crianças com os maiores índices
de comportamentos pró-sociais, tem mães que foram classificadas no estilo autoritativo.
Apenas as respostas da mãe de uma criança que emitiu comportamentos pró-sociais em
freqüência alta, foi classificada como apresentando estilo parental misto.
Ao se relacionar as condutas classificadas como de isolamento, verifica-se relação
tênue com o estilo parental misto. Observa-se também que há uma tendência em crianças
com mães com estilo parental autoritativo em apresentarem menos condutas de isolamento.
No que se refere ao número total de condutas anti-sociais é que, apesar deste ser
baixo, se comparado com o número total de condutas emitidas, somente a conduta de
uma criança foi oriunda de uma criança com mãe apresentando estilo parental autoritativo,
as demais condutas anti-sociais forma emitidas por crianças cujas mães apresentavam
padrão de estilo parental misto.
Discussão e conclusão
O presente trabalho, ao buscar a existência ou não entre os procedimentos de
mães que estabelecem limites no comportamento de seus filhos e o desenvolvimento de
habilidades sociais das crianças, verificou haver um maior número de condutas pró-soci-
ais de crianças filhas de mães com estilo parental autoritativo.
Em contrapartida, as crianças que apresentaram maior número de condutas anti
sociais e de isolamento, tinham, em sua maioria, mães com estilo parental misto, citado
nessa pesquisa como um dado relevante.
Embora a literatura aponte a inconsistência dos pais na educação dos filhos
como tendo efeitos nocivos no desenvolvimento e socialização da criança, não há um
estilo parental específico com esta nomenclatura. O termo "misto” ou "inconsistente” refe
re-se à mistura de dois ou mais estilos por parte de pais ou educadores.
Considerando a multideterminação do comportamento humano, não se pode es
tabelecer relações causais lineares entre práticas parentais e conduta da criança, sendo
que a "análise funcional" de cada caso tem maior valor na detecção de comportamentos
de risco em crianças e adolescentes.
Espera-se que o presente trabalho possa vir a contribuir para que novos estudos
sejam desenvolvidos e aprofundados nesta área.
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Skinnor, B. F (1953). Ciôncia e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontos
Mais uma vez, a ABPMC tem a grata tarefa de compilar
trabalhos que refletem os avanços em pesquisa, clínica e reflexão
do ano de 2002, em um retrato do que vem sendo produzido pela
comunidade na área da Terapia Comportamental e Cognitiva. O
resultado do esforço desta diretoria já está sendo amplamente
reforçado pelos mais de 100 autores que enviaram suas
contribuições neste ano.
(...)
ESETec
Editores Associados