Você está na página 1de 10

A Parábola do Samaritano - Lucas 10.

25-37 - considerando:

1. O ódio cultural de um tipo social


2. A inversão de atitude de Jesus, contrariando a cultura judaica, ainda serve
para tipos sociais do momento no Brasil?

Conforme nos orienta Willian W. Klein na p. 52 da obra intitulada


“Introdução à interpretação bíblica”:

“ninguém pode interpretar sem algum pré-entendimento do


assunto. Mas ninguém pode abordar a interpretação bíblica
supondo que seu pré-entendimento atual seja suficiente para
orientá-lo em sua compreensão”.

Tendo isso, para respondermos aos questionamentos acima aventados,


precisamos necessariamente entender: A quem e ao que Jesus estava
respondendo? Quem eram os Samaritanos? Qual era essa cultura judaica que
se diz ter sido invertida por Jesus? Apenas após responder esses
questionamentos é que poderemos enfrentar as questões suscitadas, trazendo
esse entendimento para os nossos dias atuais de forma responsável.

A quem Jesus estava respondendo?


O texto bíblico nos diz que: “E eis que certo homem, intérprete da Lei, se
levantou com o intuito de pôr Jesus à prova (...)” (Lc 10-25). O termo traduzido
por “intérprete da Lei”, no texto em grego é “nomikós” que significa
propriamente “um especialista em lei judaica”. A palavra também é usada para
denominar um “advogado das Escrituras”. Assim, quem está inquirindo Jesus
não é um leigo qualquer, é alguém especializado nas Escrituras, na lei mosaica
chamada Torah, em sua interpretação, hoje em dia, poderíamos comparar com
um Pastor, um Teólogo, aquele a quem cabe a responsabilidade de interpretar
as Escrituras e ensinar a Igreja.

Ao que Jesus estava respondendo?

Aqui temos a chave hermenêutica para interpretação correta do texto,


de forma a não retirá-lo do seu contexto. Não é raro lermos comentários ou
ouvirmos sermões acerca dessa parábola, desvinculando-a totalmente da

Página 1 de 10
questão a qual Jesus foi indagado. Em partes, isso se deve ao fato de que, o
diálogo que Jesus mantém com o intérprete da lei é relativamente curto e a
parábola, por sua vez, é relativamente longa. Contudo, ao descolar uma
resposta da pergunta que a originou podemos incorrer no erro de dar ao texto
um sentido que ele não tem ou usá-lo como resposta a perguntas cujas quais
ele nunca se prestou a responder. Nesse sentido, ao encararmos esse texto,
não podemos perder de vista a pergunta, ou as perguntas, melhor dizendo, que
motivaram Jesus a se utilizar da referida parábola para respondê-las.

Uma vez ressaltada a importância de nos atermos às perguntas


realizadas pelo doutor da lei, vamos a elas.

O doutor da lei faz duas perguntas, vamos analisá-las em dois tempos:

Primeiro Tempo: Um intérprete da Lei se levantou para por Jesus à prova e


disse:

Pergunta 1 (doutor): “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”

Jesus então responde com uma pergunta:

Pergunta 2 (Jesus): “O que está escrito na Lei?”

Resposta à pergunta 2 (doutor): Amarás a Deus e a teu próximo como a ti


mesmo.

Resposta à pergunta 1 (Jesus): “Faze isso e viverás”.

O que nos chama a atenção nessa primeira pergunta realizada pelo


doutor da Lei é que, se ele sabia o que está escrito na Lei, e tanto sabia que
responde à pergunta realizada por Jesus, então, por que ele a fez? Uma
possível hipótese é levantada pelo teólogo e professor americano, Kenneth
Bailey, em seu livro “As parábolas de Lucas”, onde diz que, “provavelmente o
auditório e quiçá o doutor da lei esperavam de Jesus uma espécie de lista (...),
como explicação dos requisitos da lei.” (Biley. As parábolas de Lucas, p. 79. Vida
Nova-SP. Primeira Ed. 1985). Outra explicação bastante relevante também é
aventada por Bailey citando os escritos de Ibn al-Tayyib, sacerdote da Igreja do
Oriente, médico, filósofo e teólogo falecido em 1043 dizendo:

Página 2 de 10
Considerando a lei, Ibn al-Tayyib sugere outro aspecto possível
dos antecedentes do texto. Ele afirma que provavelmente os
doutores da lei estavam pouco à vontade com a atitude de Jesus
a respeito da lei. De fato, pelo menos alguns rabis de maior
projeção (como acabamos de notar) afirmavam que a vida era
conseguida guardando-se a lei. Mas eles estavam ouvindo
ruídos perturbadores desse jovem rabi. Ele cria ou não que a
herança de Israel se fazia disponível através da observância da
lei? Ibn al-Tayyib propõe que o “teste” era descobrir uma
resposta para esta pergunta (Ibn al-Tayyib apud Bailey, idem.)

Tendo em vista os recorrentes atritos com os fariseus e os doutores da


Lei ocasionados pelas curas aos sábados e a autoridade para perdoar pecados,
a teoria aventada por Ibn al-Tayyib torna-se bastante interessante se
consideramos que o doutor da lei “se levantou com o intuito de colocar Jesus à
prova” (verso 25).

A resposta de Jesus, no entanto, faz com que o olhar da discussão volte-


se para o texto da Lei mosaica que o doutor da lei tanto conhecia, o que pode
ter gerado certa frustração: “Que está escrito na Lei? Como interpretas?” A
resposta então foi dada: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração,
de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” E Jesus então arremata:
“Respondeste corretamente; faze isto e viverás.” (versos 26-28).

Ao analisar o arremate de Jesus ao dizer “faze isto e viverás”, ainda nos


valendo da obra de Bailey, ele dirá que, os tradutores sírios e árabes tem
traduzido o verto grego viverás do futuro para o presente, ou seja, faze isto e
continuarás vivendo. A conclusão se dá devido ao fato de que, o verbo “faze”
está no presente do imperativo, ou seja, “continue fazendo”, logo, a conclusão
que se chega é: continue fazendo e continuarás vivendo. Assim:

A resposta é dada na forma de uma ordem para um estilo de


vida sem fim, que requer amor ilimitado e irrestrito a Deus e ao
próximo.” (Bailey, opus cit., p. 81).

Página 3 de 10
Num segundo momento, após ter sido elogiado por Jesus e ter sido
instado a seguir a Lei para herdar a vida eterna, o doutor da lei faz uma segunda
pergunta, a qual vai desencadear na parábola contada por Jesus:

Segundo Tempo: Querendo justificar-se pergunta: Quem é o meu próximo?

Ao analisar essa pergunta, é bastante comum encontramos textos


referindo-se ao “querendo justificar-se” como sendo uma forma de “desculpar-
se”, porém, esse termo pode ser melhor entendido ao adotarmos o sentido de
“querendo tornar-se justo” ou seja, o interpolador ainda quer saber de Jesus o
que ele pode fazer para herdar a vida eterna, nesse sentido, o que ele pode
fazer para se tornar justo, ou, justificar-se. Baiely, citando Karl Barth, nesse
sentido, vai dizer:

O doutor da lei não sabe que somente por misericórdia ele pode
viver e herdar a vida eterna. Ele não quer viver por misericórdia.
Ele nem sabe o que é isso. Ele de fato vive por algo bem
diferente de misericórdia; pela sua própria intenção e
capacidade de se apresentar como um homem justo diante de
Deus (Karl Barth, apud Bailey, opus cit., 82).

Já em relação a pergunta em si: “quem é o meu próximo?” está no fato


de que, para os judeus, próximo, segundo Lv 19.17-18, eram apenas os
parentes e amigos e os próprios judeus, ou seja, seus compatriotas, mas
decerto, também o doutor da lei conhecia essa regra, e era por ela que ele
esperava que Jesus respondesse, afinal, se ele mandou-o cumprir a lei como
resposta à primeira pergunta, certamente o mandaria fazer o mesmo na
segunda, e então ele poderia sair justificado (justo) diante de todos ao dizer
que já tem feito isso. Existe uma midrash acerca de Rute 4 que se lê:

Dos gentios, com quem não temos guerra, bem como os que
são guardadores de ovelhas entre os israelitas, e outros
semelhantes, não devemos planejar a morte; mas se correrem
qualquer perigo de morte, não somos obrigados a livrá-los; por
exemplo, se algum deles cair no mar, você não precisa tirá-lo;
pois está escrito: “Não te levantarás contra o sangue do teu
próximo”; mas tal pessoa não é o teu próximo”. (John Lightfoot
apud Bailey, 1985, p. 83).

Página 4 de 10
Ocorre que, diferentemente do que havia ocorrido na primeira pergunta,
Jesus agora lhe contará uma parábola, que Uwe Wegner vai chamar de
“narrativa de exemplo” (Uwe Wegner apud Marcelo Carneiro. Caminhos,
Revista de Ciências da Religião, Ed. Puc-GO, v. 17, n. 3, p. 128, jul/dez. 2019).
A narrativa se encontra nos versos 30-35 de Lc 10, e nela Jesus apresenta
quatro personagens, um homem que foi assaltado, ferido e deixado semimorto,
um Sacerdote, um Levita e um Samaritano.

O Sacerdote e o Levita eram as autoridades ligadas ao templo. Os


sacerdotes eram os responsáveis pelo sacrifício (Ex 29.1-37; Lv 8; Nm 3.4)
enquanto os levitas eram os responsáveis pela guarda e arrumação do templo
(Nm.1.50; 8.19 e seguintes). Trazendo para os nossos dias, podemos dizer
que, da mesma forma como o sacerdote e o levita representavam o templo
naquela época, hoje eles seriam a representantes da Igreja, os religiosos, os
crentes denominados evangélicos, ou seja, anunciadores do evangelho de
Cristo (?).

Sobre o fato de ambos terem “passado de largo”, muito se ouve ou já se


ouviu falar, soando de forma muito sutil quase como uma justificativa para a
conduta dos dois “religiosos”, que o fato de não pararem para ajudar o homem
ferido é porque poderiam ter pensado que este estava morto, e assim, tocá-lo
seria contrair impureza. Louise Schottroff, no entanto, rejeita essa interpretação
e pontua que:

[...] o ferido não está morto. Toda essa discussão opera com
contraposição antijudaica das concepções judaicas hostis à
vida de pureza/impureza ao amor cristão pelo ser humano.
(Schottroff apud Carneiro, opus cit. p. 132.

Ainda citando Caneiro:

É preciso reconhecer que os personagens sabem o que o


contador de história diz que sabem. E, em momento algum,
Jesus dá a entender que eles pensam que o violentado está
morto, ou supõe alguma ideia de impureza. (idem).

Ora, partindo desse pressuposto e nos atendo a história contada por


Jesus, temos que, no verso 30 nos é dito que o homem cai nas mãos de

Página 5 de 10
salteadores, os quais lhe roubaram tudo. Podemos, e isso sim é válido, inferir
que tudo é tudo, ou seja, todos os seus pertences, incluindo a sua roupa,
deixando-o totalmente despojado. Partindo-se desse pressuposto, Kenneth
Bailey nos ensina que:

A condição do viajante ferido não é um incidente apenas


curioso (...). Estes detalhes são construídos habilmente, para
criar a tensão que está no cerne do drama. O nosso mundo do
Oriente médio era e é formado por várias comunidades étnicos-
religiosas. O viajante é capaz de identificar os estranhos de
duas maneiras. Ele pode falar com o desconhecido na estrada
e identificá-lo por sua maneira de falar, ou até mesmo antes
disso, ele pode identificá-lo pela sua maneira de vestir. (...).
Mas que fazer se o homem à beira da estrada estivesse
despojado de suas roupas? Desta forma ele estava reduzido a
um mero ser humano em estado de necessidade. Ele não
pertencia à comunidade étnica ou religiosa de ninguém!

A partir desse entendimento somado ao entendimento de quem o judeu


entende por ser seu próximo, começa a ficar claro em nossas mentes onde é
que Jesus queria chegar. Ao tirar do viajante assaltado qualquer objeto que
pudesse identificá-lo como judeu ou gentio, Jesus o reduz a um mero ser
humano que estava necessitando de ajuda.

Se olharmos com cautela, assim como Jesus faz em Mt 5.17-37


endurecendo a Lei de Moisés com a fórmula “Ouviste o que foi dito (...). Eu,
porém, vos digo”, da mesma forma, mesmo que indiretamente, Ele está
endurecendo a Lei. Se Lei reduz o próximo a seu compatriota, Jesus a está
estendo a qualquer ser humano, uma vez que, antes de sermos identificados
como próximos por pertencermos a mesma família, ao mesmo país ou a mesma
religião, somos próximos por sermos todos seres humanos. Ao entendermos
esses aspectos, ao identificarmos a relevância de cada elemento da parábola
na vida daqueles que estavam ouvindo Jesus, a história contada por Ele
começa a tomar uma profundidade libertadora. É possível imaginarmos a

Página 6 de 10
reação do doutor da lei e dos demais que estavam ouvindo essas palavras. O
que, afinal, significou para eles ouvir tudo isso. E fazendo isso, podemos
compreender o impacto que essa história deve ter em nossas vidas nos dias
hoje.

Tendo em mente a quem Jesus estava respondendo e ao que, resta-nos


saber, quem eram os Samaritanos?

A história dos samaritanos começa com a divisão do território de


Jerusalém após a morte do Rei Salomão (930 a.C.) em Reino do Norte (Israel)
e Reino do Sul (Judá), narrada de 1Rs 12.01 estendendo-se até 2Rs 17.41.
Porém, o motivo pelo qual os judeus desprezavam os samaritanos se deve ao
fato de que, os samaritanos se casaram e deram-se em casamento com os
assírios e babilônicos, sendo chamados pelos judeus de “mestiços”. Essa
mistura com os povos assírios e babilônico está narrada em 2Rs 17.24-41.
Assim, os judeus desprezavam os samaritanos por terem se misturado com
outros povos e por terem se rendido a idolatria a outros deuses. Essa rivalidade
é aumentada após o retorno do exílio babilônico, quando os samaritanos se
ofereceram para ajudar a reconstruir o Templo, mas tiveram a ajuda negada
pelos judeus. Essa recusa fez com que os samaritanos se opusessem aos
judeus e passaram a atrasar as obras de reconstrução (Ed 4.2-5). Também
quando da reconstrução dos muros com Neemias, Sambalate, governador de
Samaria se opõe (Ne 2.10,19; 4.1; 6.1). Os samaritanos, por sua vez, seguiam
a mesma Lei de Moisés que os judeus, entretanto, rejeitavam a importância
histórica de Jerusalém e seus registros proféticos. No livro deuterocanônico de
Eclesiástico 50.25-26, Ben Sirach escreve:

Dois povos aborrecem a minha alma, e o terceiro que eu


aborreço, não é um povo: Os que habitam no monte Seir, e os
filisteus, e o povo insensato que habita em Siquém. (Bíblia de
Jerusalém).

A Mishna, obra rabínica também conhecida como Torah Oral diz que:

Página 7 de 10
Aquele que come o pão dos samaritanos é como aquele que
come a carne de suínos (Mishna Shebiith 8.10, Danby, 49).

Diante de tamanha rivalidade, podemos imaginar como os ouvintes de


Jesus, principalmente o doutor da lei, se sentiram ao ouvir que, na história
relatada por Cristo, um samaritano agiu de forma exemplar enquanto que, o
sacerdote e o levita tiveram seus atos reprovados. Não bastasse, ao finalizar
sua história, Jesus, seguindo a fórmula anteriormente utilizada, responde à
pergunta do doutor da lei com outra pergunta: “Qual destes três te parece ter
sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?” (verso 36). Em
sua resposta, entretanto, o doutor da lei se recusa em pronunciar “o
samaritano”, limitando-se a responder: O que usou de misericórdia para com
ele” (verso 37).

Diante de todo o cenário construído por Jesus, qual seja, um homem


cujo qual estava despido de qualquer identificação étnico-religiosa e
necessitando de ajuda, após ter sua ajuda negada por dois religiosos
representantes da moral e dos bons costumes, foi acolhido por alguém cuja
identificação étnico-religiosa era bem conhecida e odiada pelos ouvintes e por
aqueles que simplesmente resolveram não ajudar. O samaritano estendeu a
mão ao homem caído sem levar em consideração que ele poderia ser um judeu,
samaritano ou um estrangeiro, enquanto os judeus recolheram suas mãos por
não se arriscarem a acolher alguém que não fosse um judeu, mesmo que este
também pudesse sê-lo.

Em um relato quase pessoal, Bailey escreve:

Jesus poderia ter contato uma estória de um judeu nobre


ajudando um odiado samaritano. Uma estória assim teria sido
absorvida mais facilmente pelas emoções do auditório. Pelo
contrário, temos o odiado samaritano como herói. Este escritor
só pode confessar que em vinte anos não teve a coragem de
contar aos palestinos uma estória a respeito de um israelense
nobre, nem uma estória acerca de um turco magnânimo para
os armênios. Só a pessoa que viveu fazendo parte de uma
comunidade que tinha um inimigo tradicional entranhadamente

Página 8 de 10
odiado pode entender inteiramente a coragem de Jesus em
fazer o desprezado samaritano aparecer como moralmente
superior aos líderes religiosos do auditório. Assim, Jesus atinge
um dos sentimentos de ódio mais profundos do auditório, e
dolorosamente o expõe. (Bailey, 1985, p. 92-93).

Neste sentido, respondendo à pergunta: “A quem podemos hoje atribuir


a figura do samaritano na sua época?” eu lanço mão da proposta de Rubem
Alves escrevendo “Perguntaram-me se acredito em Deus” (São Paulo: Planeta,
2015) que coloca o samaritano na figura de um Travesti, odiado pela igreja,
pelos religiosos, por aqueles que dizem não ter religião alguma e até pelos
ateus por afrontarem a moral de os bons costumes. Analisando o cenário
religioso atual, acredito que um Travesti não teria qualquer problema em
oferecer ajuda a um evangélico, um católico, um espírita, entretanto, não
consigo conceber o contrário.

A verdade é que, enquanto crentes, evangélicos, reformados, religiosos,


perseguidores zelosos da moral e dos bons costumes, nos tornamos
preconceituosos e excludentes. Nos tornamos expert na arte de julgar o certo
do errado, o que é bom e o que é ruim, o que é pecado e o que virtude,
entretanto, naquilo que nosso Senhor Jesus no impeliu a fazer, nisso, temos
falhado miseravelmente.

Este mesmo a quem Ruben Alves habilmente coloca como samaritano


também pode ser enquadrado como sendo a pessoa odiada pelos evangélicos
e que Jesus hoje nos mandaria amar.

Assim como os judeus acreditavam que “o próximo” se restringia àqueles


que partilhavam da mesma fé, da mesma crença, da mesma família, dirigindo
o seu amor apenas para as pessoas que satisfaziam essas condições e
reservando o seu direito de odiar todos aqueles que não estavam dentro desse
rol, assim nós na atualidade nos reservamos ao direito de entender como
“próximo” apenas aqueles cujos quais compartilham da mesma denominação,
da mesma fé, da mesma família, nos reservando ao direito de odiar aqueles
cujos quais, por exemplo, são adeptos das religiões de matriz africana. Não

Página 9 de 10
precisa muito esforço para rememorar casos de ódio entre “cristãos” católicos
e evangélicos, preconceitos entre reformados e pentecostais.

Porém, Jesus vence essa barreira ao justamente inverter a lógica da


pergunta do doutor da lei de: “quem é meu próximo” para “quem foi o próximo
do homem que caiu nas mãos dos salteadores?” Ou seja, mesmo que o homem
caído não fosse o próximo do doutor da lei segundo a Torah, o doutro da lei
poderia se fazer o próximo daquele homem.

Entretanto, não podemos ser levianos em dizer que nós mesmo faríamos
ou fazemos diferente. Assim, a pergunta que ecoa também é proposta por
Bailey:

Quem é capaz de fazer estas coisas? Quem pode chegar a


esse padrão? Podemos quase ouvir as multidões sussurrando
(como fazem em 18.26): “Sendo assim, quem pode ser salvo?”
(...) A única conclusão a que ele pode chegar é: “Estas coisas
estão além das minhas forças. É claro que não posso me
justificar, mas todas as coisas são possíveis para Deus (cf. Lc
18:27). (Bailey, 1985, p. 101).

Ewerton Vital de Carvalho

Página 10 de 10

Você também pode gostar