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JULHO - 2007

CINE GIGI
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DROPS DE CINEMA - CURSO DE FÉRIAS - ROTEIRO PARA CINEMA, VÍDEO, DOCUMENTÁRIO E TEATRO

intuitiva, e, aí, sim, algum talento


emergente.

Roteiro As pessoas que assistem aos


filmes não vão até o cinema só para
ver o seu ator preferido ou porque
não querem perder o mais recente
Segundo o Dicionário Aurélio, roteiro é... filme de seu diretor do coração. Elas
“Cin. Rád. Telev. Documento que contém o texto de saem de casa para assistir a histó-
filme cinematográfico, vídeo, programa de rádio, etc., rias bem contadas, bem
estruturadas, com cenas bem feitas,
ger. estruturado em seqüências e com indicações
personagens bem construídos, pa-
técnicas destinadas a orientar a direção e a produção péis bem interpretados e, até mes-
da obra.[Cf., nesta acepç., script, storyboard e mo, que as surpreendam, assim
decupagem.]” como boa cenografia, direção de
arte, som, música, montagem, foto-
grafia e assim por diante. Há inú-
meros itens no “fazer filmes” que
prendem o espectador na cadeira
Introdução A partir disso, o futuro roteirista
precisará adquirir certas habilida-
por mais de 80, 100 minutos. E que
o fazem voltar...
des. Necessitará reunir seus novos
Muita gente acredita que para conhecimentos para saber expres- Leitura é fundamental para um
começar a escrever roteiros precisa sar e dar forma às suas idéias, isto roteirista. Jornais, livros, internet...
apenas de seu próprio talento, de é, para transpor as suas idéias para Todos são fontes inesgotáveis de
sua imaginação ou de sua intuição o papel e, posteriormente, para a histórias esperando para serem
e “faro” para detectar aqui e ali boas tela. contadas.
histórias. No entanto, da mesma for-
Segundo Frank Daniel, na intro- Mente livre, ausência de precon-
ma que um músico precisa enten-
dução do livro Teoria e Prática do ceitos e idéias preconcebidas e ou-
der o mínimo sobre harmonia e teo-
Roteiro, de David Howard e Edward vido aberto também são ferramen-
ria musical para trabalhar, que um
Mabley, da Editora Globo, “... escre- tas para o roteirista. Torne-se o “ore-
pintor precisa saber harmonizar co-
ver roteiros (...) é contar histórias in- lhão” do mundo.
res e texturas, que o enólogo preci-
teressantes sobre gente interessan-
sa saber sobre a composição dos Esteja receptivo às pessoas,
te de uma forma interessante. O úni-
vinhos que tanto aprecia, para ser converse na rua, na fila da padaria,
co problema é saber como tornar as
um escritor, o candidato a tão da loteria, do banco. Saiba como vi-
histórias e as pessoas interessan-
prazerosa, porém árdua, tarefa tem vem os outros, como são as ativida-
tes, e como dominar as complexi-
muito o que estudar. des profissionais dos trabalhadores
dades da forma – sim, porque
ao seu redor. Faça uma viagem no
Aprender e saber são os primei- roteirizar é fazer um filme no papel”.
tempo e busque suas lembranças
ros passos para quem quer seguir
É nesse momento – o da cria- da infância, da adolescência. Das
esta carreira, pois não há área na
ção – que se unem todos os ele- suas antigas vivências podem sur-
vida, não há ramo do conhecimento,
mentos já citados: o conhecimento gir bons “causos” para serem con-
não há situação, não há ser huma-
e a técnica que você adquiriu e tados. Quando criança, que homem
no – criança, jovem ou na melhor
aprendeu, seu olhar atento para o não quis ser um super-herói? Ima-
idade – que não possa tornar-se
mundo e para as pessoas ao seu ginação, nesse sentido, é mola-
objeto de interesse de um escritor.
redor, sua capacidade imaginativa e mestra para novas idéias. O que não

1
passou pela cabeça de Steve
Spielberg para chegar ao
de ontem e hoje, como Cantando
na Chuva, Amor, Sublime Amor,
Localização e
Época

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megasucesso ET? E o George Cabaré, Chicago e Moulin Rouge –
Lucas, então, com sua Guerra nas Amor em Vermelho... A lista de ex-
Vai escrever sobre um romance
Estrelas? celentes filmes é infindável.
que reúne uma alemã e um soldado
Em cada memória nossa e em E se você deseja fazer parte de aliado ocorrido na Segunda Guerra
cada esquina há uma história para listas como essa um dia, vamos Mundial? Sobre uma família sobrevi-
ser contada. As pessoas não dizem começar, então, por conhecer al- vente à guerra civil em Angola? Sobre
sempre “a minha vida daria um li- guns gêneros ficcionais, alguns o seqüestro de uma criança por uma
vro”? Pois é por aí... estilos (drama, musical, aventu- seita satânica no Alasca? Ou sobre a
ra...). vida de um vaqueiro artista plástico,
Mãos à obra.
que preferia pincéis a rifles e carabi-
nas, em um rancho no Velho Oeste?
Estilos
Para Em Aventura, você pode encon-
Localize sua história no tempo
e no espaço. Defina um período, uma
época. Coloque seus personagens
começar a
trar ação, bangue-bangue, mistério,
musical. As Comédias podem ser num país, numa região, mesmo que
românticas, musicais, infanto-juve- seja uma inventada, como nas his-

“pensar” um nis. Pensando em Crime como es-


tilo, encontramos os psicológicos,
tórias de ficção científica. Ou você co-
nhece a maioria dos planetas que a

roteiro... os de ação, os de cunho social. Me-


lodrama é bem abrangente: Ação,
Enterprise visitou em Jornada nas
Estrelas?
Imagine que uma mesma his- aventura, juvenil, detetive e misté-
tória possa ser contada por vários rio, assassinato, social, romântico,
ângulos. Por exemplo, uma mulher guerra, musical, psicológico e mis-
tério, psicológico. Em Drama: ro-
Mensagem
caminha pela rua, pisa em uma cas- O que você quer dizer com o seu
ca de banana e cai. Dependendo do mântico, biográfico, social, musical,
roteiro? Ele tem a intenção de passar
ponto de vista escolhido, este inci- comédia, ação, religioso, psicológi-
o que para as pessoas? Ou ele não
dente – pobre mulher – pode tornar- co, histórico. Mas os estilos não pa-
tem a intenção de passar mensagem
se uma comédia, um drama, um ram por aí. Inclua na sua lista: fan-
alguma? Tudo é possível. O que não
suspense, até mesmo, um momen- tasia, fantasia musical, fantasia mu-
pode é deixar-se algemar por uma
to de terror. sical e comédia, fantasia ficção ci-
idéia absolutamente fechada. Caso
entífica, farsa, horror, horror psico-
Pense em uma linda jovem dor- contrário, as suas idéias não vão en-
lógico, documentário,
mindo em uma cama. Ela pode es- contrar vias para se desenvolver.
semidocumentário, desenho, histó-
tar tendo lindos sonhos com seu rico, animação, seriado, educativo,
príncipe encantado – ah... os roman- propaganda, tragicômico, mudo,
ces – ou pode estar sendo erótico. O livro da roteirista Eliane
consumida por pesadelos diabóli- Meadows, Roteiro para TV, Cinema
cos como nos filmes de terror. Ou, & Vídeo, editado pela Quartet, traz
ainda, para os mais saidinhos, pode um quadro explicativo muito bem
estar sonhando com coisas elaborado na página 22.
impublicáveis aqui, ou vocês já se
esqueceram dos filmes eróticos?
Portanto, conhecer a história
do cinema, seus gêneros, seus
Público
Saber para quem você quer es-
ícones, grandes diretores, astros e
crever também é ponto crucial.
estrelas é muito importante para
Quem você quer que assista ao
quem deseja entrar para o ramo.
seu filme? É para adolescen-
Vá às locadoras e assista aos clás-
tes? Crianças? Público femi-
sicos. Conheça Sindicato de La-
nino? Intelectuais? Aos ho-
drões, Os Brutos Também Amam,
mens em busca de ação e
Os Pássaros, Psicose, Cidadão
adrenalina? O roteirista pre-
Kane, A Dança dos Vampiros, As
cisa ter a noção de que pú-
Vinhas da Ira, Juventude Transvia-
blico deseja alcançar, para
da, Vidas Amargas, A Escola de
quem seu árduo trabalho
Sereias, A Fonte dos Desejos, A
se dirige.
Luz é para Todos, Amar foi Minha
Ruína, Casablanca, aos musicais

2
Mas o que eu quero dizer com
mensagem? Story-Line Plot e

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Bom, os filmes podem pregar a
justiça a qualquer preço, incentivar a
Para bom entendedor, uma
story-line é o resumo do resumo.
Subplot
busca de ideais, a prática esportiva, o Essas duas palavrinhas ingle-
Mas não é tão simples, não, como
amor verdadeiro nunca morre, alerta sas significam enredo e enredo pa-
possa parecer. Resumir em cerca
máximo sobre os perigos contra a ralelo. Os dicionários falam em his-
de, no máximo, seis linhas a sua
natureza, o bem sempre vence no fi- tória ou trama principal (plot) e histó-
história, às vezes, é complicado. Se
nal e por aí vai... ria ou histórias e trama ou tramas
você não conseguir definir a sua
Assim, para qualquer situação história nessas poucas linhas, é paralelas (subplot).
citada acima, pesquisa é fundamen- porque ela ainda não está clara na Como já falamos, toda história
tal. Se o texto é sobre guerra, mergu- sua cabeça. E não se esqueça de tem uma trama central, um núcleo
lhe na História. Se seu drama é psi- que o gênero já deverá estar defini- de onde partem as ações, as intri-
cológico, conheça profissionais da do na sua story-line. A story-line é a gas, os amores, os ódios. Aprende-
área e a bibliografia a respeito. Se o linha da história, como bem diz o mos, também, que a story-line é o
seu protagonista é o senhor das ar- nome. resumo do enredo, da história que
mas, busque especialistas em ar- queremos contar. O plot é a sua
mamentos. Se o casal romântico se Outro exemplo digno de nota
mola-mestra, a sua alavanca.
conhece em um século e seu amor de Marcos Rey, no livro citado aci-
perdura ao longo de anos, vidas e ma: “Lembre-se de Shakespeare e Marcos Rey, em livro já citado, nos
fronteiras, você terá muito o que confira como é fácil resumir o fornece valiosos exemplos: “No
pesquisar, desde história, geografia, Romeu e Julieta e o Hamlet em Romeu e Julieta, o plot é o ódio entre
política... A lista não tem fim. poucas palavras. Mais simples ain- Montecchios e Capuletos. Sem esse
da é a história daquele homem que plot, não existiria a história porque
foi dormir e no dia seguinte acor- Romeu e Julieta poderiam se amar

Idéia dou metamorfoseado num inseto livremente. Não haveria mortes. É o


gigantesco.” Aqui, o autor se refere motor da história, o que origina um con-
ao livro A Metamorfose, de Franz junto de ações. (...) E no Dom Quixote?
Se o nosso aprendiz de roteirista
Kafka. O plot é a loucura do próprio. Um doi-
não é chegado a comédias ou se tem
do que arrasta um homem sensato
pavor, sem trocadilhos, a filmes de
para o caminho da aventura. A loucura
terror, a sua idéia dificilmente iniciará

Eixo
de Dom Quixote provoca todas as
deste ponto de partida. Procure, nes-
ações do livro e suas conseqüências.
te começo, a trabalhar com coisas que
(...) O plot pode ser um sentimento,
você tem afinidade. Observe.
Uma história pode falar de vá- amor ou ódio, uma pessoa, uma coi-
Marcos Rey, em seu maravilho- rios temas, além de seu tema prin- sa ou uma série de coincidências
so livro O Roteirista Profissional – cipal. Mas tem de haver um assun- como em Casablanca, encontros e
Televisão e Cinema, da Editora Ática, to predominante que reúna, que li- desencontros, produzindo ações. (...)
nos presenteia com um exemplo gue, que faça a convergência de Em Lolita, o plot é a paixão dum inte-
magnífico: “Que tal a história dum todos eles. Esse é o eixo da sua lectual maduro por uma garotinha ig-
homem e duma mulher que se co- trama. “O eixo está onde está o norante. Ou é esse um plot apenas
nhecem em Paris, pouco antes da tema principal da história. Amor, aparente quando na verdade o motor
chegada dos nazistas, apaixonam- fraternidade, poder, tempo, vingan- da história, o núcleo, está no choque
se perdidamente, e no dia da entra- ça, inveja, altruísmo...”, afirma cultural e na atração dos contrastes
da dos alemães na cidade marcam Eliane Meadows. A autora ainda nos entre europeus e americanos?”
um encontro numa estação rodovi- fornece dois bons exemplos: “Na Eliane Meadows, baseada em
ária, ao qual ela não comparece. De- novela Tieta, havia várias tramas Doc Comparato, relaciona algumas
siludido, ele foge com um pianista paralelas, mas o tema principal era situações dramáticas. São plots de
negro para o norte da África, abre
a vingança de uma mulher que foi Amor, Sucesso, Cinderela, Triângu-
uma boate, e, quando menos espe-
escorraçada de uma cidadezinha. lo, Volta, Vingança, Conversão, Sa-
ra, sua amada ressurge com o...
No filme De volta para o futuro, crifício e Família.
Desista. Isso já foi feito. Chama-se
embora haja romance, nota-se cla-
Casablanca.” Para a autora, “é fácil confundir
ramente que o tempo é o eixo do
o plot com o eixo de uma história
Você já tem alguma idéia? Óti- filme. Tudo naquele filme gira em
porque o eixo é o coração do plot”.
mo! Vamos começar a planejar nos- função do tempo. Aquele filme tem
so roteiro. unidade de roteiro: tudo está a ser- Ah! E para sua ciência, a story-
viço da idéia central.” line é a pré-sinopse. Sinopse?

3
Argumento ou Sinopse Histórias
contando

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histórias
Quando o verbete é Argumento, para a área que nos Têm feito muito sucesso filmes
interessa agora, o Dicionário Aurélio é bem econômico em que o roteiro reúne várias históri-
nas palavras: “Assunto, tema, enredo”. Mas quando o as – todas com seus personagens,
verbete é Sinopse, já fica mais caprichado: “2. começo, meio e fim. E elas podem
Narração breve; resumo, sumário, síntese, epítome (...) estar ligadas ou não a uma história
central ou a um mesmo tema. Uma
3. Apresentação concisa do conteúdo de um artigo, visita à locadora vale a pena. Suges-
comunicado científico, etc., redigida pelo autor, ou por tões: Shot Cuts, de Robert Altman,
um redator da revista onde sai o trabalho, e que, Simplesmente Amor, Richard Curtis,
usualmente posta entre o título e o texto, permite ao e Crash – No Limite, de Paul Haggis
leitor decidir se convém ou não a leitura integral.” (Oscar de Melhor Filme, Melhor Ro-
teiro Original e Melhor Montagem).

Esse é o “x” da questão: “permi- Mas a história pode também ter


te ao leitor decidir se convém ou não um narrador. Ele pode estar oculto, Escaleta
a leitura integral”. pode ser impessoal ou, até, fazer Um filme é, não importa se cur-
parte da trama. E, ainda, há a varia- ta, média ou longa-metragem, apre-
O mesmo se aplica para nos-
ção em que uma história é contada sentação, desenvolvimento e conclu-
sos roteiros. Tudo nasceu com aque-
por vários narradores. são.
la nossa primeira idéia, não? Depois,
nós resumimos a nossa idéia, a nos-
sa história, em uma story-line. Des-
cobrimos seu eixo e o plot. Agora, Personagens APRESENTAÇÃO
vamos realmente apresentar a his- No meu entender, os persona-
tória de uma forma mais completa, gens são a grande ligação entre o +
contando a ação desde o começo,
roteirista e o público. A audiência DESENVOLVIMENTO
explicando o meio, para chegarmos +
pode até se relacionar com a histó-
ao fim. É como um conto, só que pri-
mando pela objetividade, bem arrai-
ria, mas a identificação com o(s) CONCLUSÃO
personagem(ns) é fundamental para
gado aos fatos.
o sucesso de um filme.
Não utilize diálogos ou acres- A partir dessa noção, vamos tra-
Há, na nossa literatura e tam- balhar com a escaleta – ela enume-
cente questões técnicas. A principal
bém na nossa história cinematográ- ra fatos e ocorrências da história.
qualidade de uma boa sinopse ou
fica, personagens que são a própria Auxilia a organização das idéias. Sua
argumento é a clareza. E capacida-
história – o seu plot –, pois são sem- finalidade é dar uma organização ló-
de de síntese sempre é bem-vinda.
pre o núcleo da ação: Gabriela, gica e visual aos fatos que serão
No máximo, utilize dez páginas para
Macunaíma, Teresa Batista, Madame narrados. Na escaleta, destacamos
contar a sua história. E capriche, pois
Satã... Dois Filhos de Francisco é um o que há de mais importante em uma
como o “x” da questão lá de cima, é a
bom exemplo recente. cena. Assim, percebe-se mais cla-
sinopse que o produtor ou diretor vai
ler. Se ele gostar, vai querer ler o ro- É importante que o roteirista crie ramente quais são os fatos mais
teiro. É onde tudo pode começar! personagens verossímeis, reais, importantes e os secundários.
para que não seja impossível ou Pense na escaleta como um gran-
muito difícil a identificação do públi- de lembrete, em que cada parte dará

Como contar co com eles.


Construa uma vida para cada
origem a fatos, cenários, diálogos etc.

uma história personagem da sua história. Como


se fosse um currículo, uma biografia,
Prendendo a
A sua história pode ser narrada uma ficha médica e/ou psicológica,

atenção
por vários ângulos ou técnicas de suas ambições, seus desejos mais
abordagem. O mais usual é a não escondidos, seus vícios, seus relaci-
interferência do roteirista. É como se onamentos antigos e atuais, suas
Por mais fantástica que seja a
você se colocasse no ponto de vista falhas de caráter, suas histórias pito-
sua história, uma hora o espectador
do espectador. Quem conta a histó- rescas... Enxergue seu personagem
pode cansar-se, não?
ria é a câmera. para que outros o possam ver depois.

4
Por isso, seu texto terá de ter momentos de maior intensidade dramática, Escurecimento – escurecer para
momentos de suspense, de dúvida, de interrogação. Nas novelas, não co- mudar de cena; a cena seguinte co-

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nhecemos o “gancho”? Aquela cena que parece que ficou devendo algo para meça com a iluminação da imagem.
o espectador para o dia seguinte?
Dissolve – as cenas podem ser cor-
É isso que temos de ter em mente: o momento da virada. tadas, escurecidas ou dissolvidas.
Não se esqueça de que o roteiro de um longa tem cerca de 120 a 130 Freeze – congelamento da imagem.
laudas – cada lauda representa um minuto de filme. Olho vivo nisso!
Inserts – tomadas, geralmente rápi-
Syd Field, em seu livro Manual do Roteiro, da Editora Objetiva, apresenta das, para movimentar o clima ou cri-
o que ele chama de paradigma: ar expectativas. Pode, também, intro-
duzir um elemento.

INÍCIO – I ATO MEIO – II ATO FIM III ATO

Apresentação Confrontação Resolução


Planos
Geral – inclui cenários
págs. 1-30 págs. 30-90 págs. 90-120 e personagens envol-
vidos na ação.
Close – plano detalhe.
Plot Point I – págs. 25 a 27 Travelling – a câmera
Plot Point II – págs. 85-90 acompanha o perso-
nagem na mesma ve-
locidade em que se
movimenta. Também
Na hora de construir seu rotei- sua “matéria-prima”, digamos as- chamado de plano de ação.
ro, lembre-se: story-line (gênero); ar- sim. O plano é o que a câmera cap-
gumento (localização, época, perío- ta. Inteiro - enquadramento da cabeça
do de tempo da história); ordem da aos pés.
A cena é uma unidade de ação
narrativa (linear, não-linear); tramas Médio – Foca o personagem pela cin-
(ou de ações) constituída de um ou
paralelas; número de personagens tura.
vários planos, dentro de um mesmo
(atores e figurantes); número de ato-
contexto de tempo ou lugar. Qualquer Panorâmica – câmera movimenta-se
res e figurantes; descrição dos per-
mudança é uma nova cena. de um lado para outro, passeia.
sonagens; cenários (número e des-
crição). Já a seqüência reúne um grupo Ponto de vista (subjetiva) – usado
de cenas ligadas por uma mesma para mostrar como o personagem
idéia, intenção, com começo, meio e vê e movimenta-se. Plano que fun-

O que você fim (cenas de um casamento ou um


batizado, por exemplo). Tudo preci-
de personagem e público.
Plano-seqüência – toda a seqüên-
sa ser numerado: Seqüência 1;
vê na tela Cena 3; Plano 10.
cia é rodada em um único plano.
Plongée – câmera de cima para bai-
xo.
Seqüência/Cena/ Recursos Contra-plongée – câmera de baixo

Plano Forneceremos, aqui, alguns


para cima.

exemplos, mas, note, existem inú-


Os roteiros são divididos em
meros. Uma boa pesquisa em livros
seqüências, cenas e planos. Vamos
de direção é fundamental!
lá: um filme reúne vários planos; é a
Corte direto – câmera corta e abre
para outra cena.
Fusão – uma imagem é sobreposta
a outra, formando uma terceira.
Flashback – usado para indicar lem-
brança ou passagem de tempo (pas-
sado).
Flashfoward - usado para indicar
passagem de tempo (futuro).

5
Na hora de Conheça as convenções

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escrever... gráficas mais usuais
Letras minúsculas para as falas. Itálico e entre parênteses para indicar o
tom, a emoção. Letras maiúsculas para grafar o nome dos personagens,
Rubricas localização das cenas e rubricas.
Um roteiro não é só feito de diálo-
Vejamos o exemplo apontado no livro de Eliane Meadows:
gos. Nele, você precisa inserir, tam-
bém, descrição de cenários, anotações
técnicas, como as rubricas – elas ori-
entam diretor e elenco. Indique pausa, CENA 4. SALA DE APARECIDA INT. DIA.
tom, reações dos personagens etc. NELSON E APARECIDA. ABRE.
Exemplo: CONT. DA CENA 3. APARECIDA SAINDO DO
MARIA – (Muito nervosa) Não consigo CORREDOR. NELSON A ALCANÇA E A SEGURA
encontrar meu passaporte. CARINHOSAMENTE PELOS OMBROS, TENTANDO
JOÃO – (Cheio de ódio) Vire-se! ACALMÁ-LA. ELE QUER IR LOGO PARA O CARTÓRIO.

NELSON – (Ansioso) Meu amor... ouve! A gente não vai


se endividar!... A gente nem precisa ir morar lá...
APARECIDA – (Mais calma) Então?
Para a
equipe,
sempre...
No seu roteiro, sempre esclare-
ça o que se passa nas seqüências DROPS DE CINEMA
e cenas. Diga onde a ação aconte-
ce, se é dia, tarde ou noite, se é inter-
na (em estúdio) ou externa, descre-
va o ambiente, o cenário, os perso- ROTEIRO PARA CINEMA,
nagens (como são e o que estão fa-
zendo). Marque os recursos que de-
VÍDEO, DOCUMENTÁRIO
seja utilizar. E TEATRO

PROFESSORA
GISELE BARRETO
SAMPAIO

CONTATO

GSAMPAIO@WNETRJ.COM.BR

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