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Patrícia Paisana Martins

UCP LISBOA | 2019/2020


PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA PARA CRIANÇAS E JOVENS
Módulo: Pensamento Crítico e Pensamento Criativo

Trabalho final
Análise Reflexiva sobre os 4C

Cartoon 11

Cartoon 22

De que forma a inquietação inata da criança, ilustra a sua profunda necessidade e


disponibilidade em utilizar e aperfeiçoar a capacidade de pensar critica, criativa,
cuidativa e colaborativamente?

1
WATTERSON, B. (1998). O Indispensável de Calvin & Hobbes: uma Antologia Calvin & Hobbes. Lisboa: Gradiva, 1ª Edição, pp.208.
2
QUINO (1991). Mafalda 4. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1ª Edição, pp.42.

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Patrícia Paisana Martins

Ao explorarmos o caminho do pensamento crítico, criativo, cuidativo e colaborativo encontramos de


forma explícita uma resposta equilibrada ao desejo intrínseco do ser humano em aceder ao
conhecimento, de colocá-lo ao serviço da compreensão das suas experiências e dos seus sentimentos
e de procurar oportunidades. Falamos de oportunidades únicas que permitem que uma criança produza
um final diferente da história dos três porquinhos, porque já conhece a história original e ouviu-a amiúde,
o que fez com que deixasse de viver o espanto e diluísse a novidade. Oportunidade de pensarem
consigo próprias e com os outros, porque a unilateralidade da televisão, por exemplo, é insuficiente
para aquilo que o seu pensamento precisa. Só avançam se houver uma resposta do outro lado. Por isso,
considerar que a construção do pensamento exige naturalmente a participação dos outros, destaca
uma das fortes propostas de Roger Sutcliffe3, que acrescentou a essência colaborativa à proposta de
Matthew Lipman que privilegiou a natureza crítica, criativa e cuidativa. A criança aprende através da
interacção com o mundo, e por isso o desenvolvimento do seu pensamento nunca chega a ser
verdadeiramente individual, porque convoca inevitavelmente aquilo que apreende na relação com os
outros e com o meio onde se vai posicionando ao longo da vida. Assim, o pensamento colaborativo
responde a uma necessidade fundamental da condição humana, convocando algo incrível: quando uma
criança pensa com outras, ela pensa de forma diferente, de forma única. O diálogo que se estabelece
com os outros não se circunscreve à soma das ideias e das opiniões de cada um, mas estende-se para
outro patamar no processo do pensamento, construindo um novo caminho de conhecimento e de
competências que de outra forma nunca existiriam. Apreender e treinar o pensamento colaborativo, cria
um espaço fundamental para expressar os sentimentos e experimentá-los para descobrir coisas novas.
A presença do outro constitui um estímulo ímpar e torna-se motor de um crescimento cognitivo
extraordinário. Esta disposição4 do pensamento, caracteriza a natureza e o sentido da comunidade de
investigação, pelo que precisa do seu lugar específico na aprendizagem do pensar. E a partir desse
laço cooperativo surge o sentido cuidativo, que salvaguarda a importância do respeito pelo outro5 e o
compromisso de se viver atento às propostas e opiniões dos outros. Dar tempo ao outro e escutar

3
SUCLIFFE, R (2019). The difference between P4C and Pwc. In History, Theory and Practice of Philosophy for Children: International
Perspectives, London: Routledge. pp.5.
4
Op. cit. pp. 6.
5
FISHER R. (2013). Teaching Thinking - Philosophical Enquiry in the Classroom. London, New York: Bloomsburry, 4th Edition, pp.42.

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ativamente as suas ideias potencia a co-aprendizagem, e replica reciprocamente essa evolução


qualitativa. O pensamento cuidativo sublinha a força da comunidade, numa perspectiva de maior
qualidade no acesso ao conhecimento e de melhor compreensão da realidade onde colectivamente se
inserem. Não podemos deixar de incluir nesta coordenada, a ideia de disponibilidade, porque
entendemos que aprender a pensar marca uma disponibilidade incondicional de expormos aos outros
as nossas crenças e convicções, explicarmos-lhes porque dizemos A e não dizemos B, e a sua presença
física e reacção ao que partilhamos determina o crescimento pluridimensional de ambos. Não nos
identificamos com o risco de polarização da disposição criativa e crítica do pensamento, pois a leitura
que fazemos é precisamente de interdependência e integração de todos os movimentos implicados
neste processo, que isoladamente não sobrevivem para garantir um bem comum intelectual, estético e
imaginativo. Uma criança comprometida cooperativamente valida a importância dos outros, e a
disposição criativa do seu pensamento é influenciada por essa ligação. Ela reúne melhores condições
para criar novas ideias e formas de responder às suas inquietações, se as outras fundações também
forem sólidas. Ser imaginativo e produzir alternativas ao que está pré-estabelecido ganha robustez
quando a cooperação e a empatia existe, mas também quando procuramos a verdade através de
critérios e detalhes investigados profundamente. O espírito crítico do pensamento garante rigor,
aperfeiçoa a prática da razão, ajuda a identificar com clareza as evidências do que propomos e garante
que no trabalho colaborativo nos empenhemos tanto na argumentação como na discórdia. Recorremos
a uma metáfora poderosa proposta por Edward Bono6 sobre o pensamento lateral, e que ilustra esta
ideia de correlação profunda entre as quatro disposições do pensamento: quatro pessoas estão à volta
de uma casa grande. Uma à frente da casa, outra nas traseiras da casa, outra de um lado e outra do
outro lado. Todas elas dizem que a partir do sítio onde se encontram, é que têm a melhor vista sobre a
casa. Contudo, se colocarem a hipótese de circular à volta da casa e forem passando por todas as
posições, afeririam que alcançavam holisticamente a compreensão da casa. E aí que se encontra o
trilho da filosofia para crianças, percorrido pela mão dos 4C. Pensamento
Crítico

Fundações
Pensamento do Pensamento
Colaborativo Pensamento Criativo

6
BONO, E. (2000). Six Thinking Hats. Great Britain: Penguin Books, pp.4.

Pensamento
Cuidativo

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Patrícia Paisana Martins

O sentido da filosofia para crianças materializa-se na construção de uma comunidade de investigação,


e é a partir desse ambiente investigativo que se criam as condições para potenciar estas quatro
disposições do pensamento. A sua interdependência, já destacada, revela um processo de movimentos
simbióticos entre a criança e a realidade, entre a informação recolhida e a informação apropriada, entre
significados interiores e significados exteriores, entre camadas de amadurecimento cognitivo, reflexivo,
imaginativo e relacional. Parece-nos que é partir do coração destas disposições, que o mundo responde
à necessidade de questionamento da criança, e perpétua a insatisfação permanente face à procura de
respostas. Mas, nesta coordenada tão complexa de perceber a construção do pensamento, como
podemos reagir quando identificamos desequilíbrios entre estas quatro disposições?

Bibliografia

BONO, E. (2000). Six Thinking Hats. Great Britain: Penguin Books, pp.4.

FISHER R. (2013). Teaching Thinking - Philosophical Enquiry in the Classroom.


London, New York: Bloomsburry, 4th Edition, pp. 38-40, 239-240.

QUINO (1991). Mafalda 4. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1ª Edição, pp.42.

SOUSA, J. (2020). Pensamento Crítico e Pensamento Criativo. Universidade


Católica Portuguesa de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Pós-
Graduação em Filosofia para Crianças e Jovens.

SUCLIFFE, R (2019). The difference between P4C and Pwc. In History, Theory
and Practice of Philosophy for Children: International Perspectives, London:
Routledge. Acessível em:
https://books.google.pt/books?id=bhW9DgAAQBAJ&pg=PT109&dq=roger+sutcliffe&hl=pt-
PT&sa=X&ved=2ahUKEwippOqTiNvqAhXs1uAKHWT3C6UQ6AEwCXoECAYQAg#v=onepage
&q&f=false (Último acesso a 19/07/2020).

4
Patrícia Paisana Martins

WATTERSON, B. (1998). O Indispensável de Calvin & Hobbes: uma Antologia


Calvin & Hobbes. Lisboa: Gradiva, 1ª Edição, pp.208.

20 de Julho de 2020
Patrícia Paisana Antunes Martins

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