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ENCONTRO 09

Concurso de pessoas

Fala ai galera! Dando continuidade ao nosso curso. Tudo que vimos até hoje está na
Teoria do Crime. É a ampla teoria onde estudamos um bom nível de assuntos ligados
ao Direito Penal. Esses assuntos, chamados tecnicamente de “institutos jurídicos”, são
aplicados a qualquer crime, esteja ele no próprio Código Penal, ou em leis especiais
que tipifiquem condutas criminosas.
Pois bem, estudaremos hoje o instituto chamado “concurso de pessoas”, situação que
se verifica quando duas ou mais pessoas resolvem cometerem crimes de forma
conjunta! Naturalmente, ambas responderão pelo crime, mas com qual fundamento?

1. Conceito de concurso de pessoas.

O concurso de pessoas consiste no cometimento de uma infração


penal por duas ou mais pessoas. Essas pessoas são chamadas de
concorrentes, podendo participar do crime na condição de autor/coautor ou
partícipe.
A maioria dos tipos penais pode ser praticada por apenas um agente,
são chamados crime monossubjetivos, mas, eventualmente, podem ser
praticados por mais de uma pessoa, hipótese em que ocorrerá o chamado
concurso eventual. Exemplo: Homicídio pode ser praticado por um ou mais
agentes.
No entanto, existem crimes que o próprio tipo penal exige a presença
de mais de uma pessoa. São os chamados crimes plurissubjetivos. Nessa
situação, fala-se em concurso necessário. Exemplo: associação criminosa, já
que o artigo 288 do CP exige, no mínimo, 3 agentes.

2. Requisitos para o concurso de pessoas.

2.1 Pluralidade de agentes e condutas.

Existência de duas ou mais pessoas concorrendo para o crime. Pode


haver concorrência na modalidade de autor ou de partícipe.

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2.2 Relevância causal e jurídica de cada uma das condutas

Relação de causa e efeito entre cada conduta com o resultado, segundo


a teoria da equivalência dos antecedentes causais. A conduta do autor ou do
partícipe deve ter eficiência causal, caso contrário não irá interferir no crime.

Exemplo: Abraim instiga José a matar Roberto, amante de sua esposa. José,
que desconhecia a traição, fica enfurecido e, convencido por Abraim, acaba
realmente matando Roberto. Perceba que se não fosse a conduta de Abraim,
instigando José, o crime não teria ocorrido. Diferente é se, antes mesmo de
Abraim ter a conversa com João, ele já estivesse decidido a matar Roberto,
nesse caso, João não instigou ninguém. Sua conduta não teve relevância
causal.

TOME NOTA: A contribuição no crime deve ocorrer


antes de sua consumação. Se ela ocorre depois de
consumado o crime, poderá ser considerada crime
autônomo. Exemplo: Lampião e Maria furtam um
carro juntos. Serão coautores do crime de furto (art.
155). Diferente seria se Lampião furtasse um carro e,
depois de consumado o crime, o entregasse a Maria.
Maria, nesse caso responderia por receptação (art.
180), restando o furto somente para Lampião.

ATENÇÃO: Uma exceção a essa regra é a situação de haver ajuste prévio. Se


houver ajuste prévio, a contribuição pode surgir após a consumação.
Exemplo: Lampião combina com Maria de furtar um carro. Ficando Maria
incumbida de emprestar sua garagem para esconder o veículo após o furto
feito por Lampião. Veja que nesse caso houve apenas uma divisão de tarefas,
mas o crime continua o mesmo e único.

2.3 Vínculo subjetivo entre os agentes

As pessoas que estão contribuindo para a realização do fato típico, seja


na condição de autor, seja na condição de partícipe, devem possuir vontade
de agir nesse sentido.
No concurso de pessoas, além do aspecto objetivo (participação no fato),
deve possuir o aspecto subjetivo (vontade de praticar o crime juntos).

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A isso se dá também o nome de homogeneidade do elemento subjetivo,
ou seja, a ideia na cabeça de cada agente criminoso deve ser a mesma,
estando em convergência de vontade de praticar o mesmo crime.

TOME NOTA: em razão do princípio da


convergência de vontades no concurso de
pessoas, só pode haver concorrência dolosa
em crime doloso ou concorrência culposa
em crime culposo. Não pode um agente
participar de um crime doloso com culpa, já
que não queria praticar o crime, muito
menos participar dele.

A combinação prévia pode existir, mas ela não é exigência para o


concurso, basta que os concorrentes tenham a consciência e a vontade de
aderir ao crime um do outro.

2.4 Identidade da infração penal

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide


nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

O artigo 29 do CP define a consequência do reconhecimento do


concurso de pessoas. Perceba que ele exige que exista uma infração penal a
ser imputada a cada sujeito que concorre para ela. Ou seja, uma mesma
infração penal é praticada, embora cada um dos concorrentes tenham penas
diversas.
O Código Penal adota, como regra, a teoria monística (monista,
unitária, igualitária). Excepcionalmente adota a teoria pluralista.
Pela teoria monista, todos os concorrentes, independente de serem
autores, coautores ou partícipes, praticam condutas concorrendo para um
fato único, e, por consequência, haverá apenas um crime. Todos praticam o
fato convergindo para um único resultado.
No entanto, em respeito à individualização da pena e
responsabilidade penal subjetiva, a cada concorrente deve ser imposta uma
pena própria, na medida da culpabilidade de cada um, analisando, para
tanto, a imputabilidade, a exigibilidade de conduta diversa e o potencial
conhecimento da ilicitude, por parte de cada um dos agentes.

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Por essa razão há quem diga que o Código adotou na verdade a teoria
monista temperada (relativizada), já que prevê penas diferentes para os
concorrentes ao mesmo crime.

TOME NOTA: se a prova indicar que o CP adotou a teoria monista


está certo. Se afirmar que adotou a teoria monista temperada,
estará certo também! Pelas razões explicadas acima.

Já para a teoria pluralista, os agentes praticam condutas concorrendo


para a realização de um fato, mas haverá um crime para cada agente. Ou
seja, vários agentes, vários crimes. Essa teoria é adotada como exceção pelo
CP.

Exemplos de exceção à teoria monista: Dar consentimento para aborto (art.


124) e o aborto consentido pela gestante (art. 126); corrupção ativa (art.
333) e corrupção passiva (art. 317); facilitação ao contrabando e ao
descaminho (art. 318) e os próprios delitos de contrabando (art. 334-A) e
descaminho (art. 334).

3. Conceito de autor.

O CP adota o conceito restritivo de autor. Para alguns: conceito


restritivo-formal de autor. Por esse conceito autor é aquele que realiza todos
ou alguns dos elementos do tipo penal (realiza o núcleo/verbo). Exemplo:
quem mata no homicídio; quem subtrai no furto.
Já o partícipe é aquele que contribui para o crime sem realizar os
elementos do tipo.

Exemplo: Joana cria a ideia na cabeça de Maria de matar Lindara, por um


motivo qualquer. Maria, determinada pela instigação de Joana, realmente
mata Lindara. Veja que Maria praticou o verbo nuclear do tipo penal:
“matar”, enquanto Joana apenas instigou, sem praticar o verbo do tipo
penal, sendo, portanto, partícipe do crime de homicídio praticado pelas
duas.
Para essa teoria, coautores são aqueles que conjuntamente realizam
o núcleo do tipo penal.

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Exemplo: duas pessoas, com intenção de matar um desafeto, aplicam
facadas em seu corpo. Sendo, portanto, coautores do crime de homicídio.

Acontece que esse conceito de autor é incompleto, embora seja ainda


adotado pelo CP, é complementado por outro conceito. O conceito finalista
de autor.
Nos crimes dolosos, autor é aquele que tem o domínio final do fato.
Ou seja, é quem resolve e controla toda a ação delitiva, determinando o que
vai acontecer.

TOME NOTA: Nos crimes culposos autor é todo aquele que


podia ter evitado o resultado, mas não observou o dever
objetivo de cuidado. A teoria do domínio do fato só se aplica
aos crimes dolosos.

Esse domínio pode ser dar através do domínio da própria ação, caso
em que se dá o nome de autor imediato.
O domínio pode se dar também sobre a vontade de um terceiro que é
utilizado como instrumento para a prática do crime, situação em que o
sujeito que domina a vontade alheia é chamado de autor mediato.
Bem como, pode ser o domínio funcional do fato, quando, em uma
atuação conjunta (com divisão de tarefas) para realizar um só fato, é autor
aquele que pratica um ato relevante na execução do plano delitivo global,
chamado de autor funcional.
Para essa teoria partícipe é aquele que contribui no crime sem ter o
domínio do fato.
Repare que para a teoria do domínio não é necessário que o autor
pratique o verbo do tipo.

Exemplo: O mandante de um crime de homicídio dá a ordem para o capanga


matar um desafeto. O mandante, embora não tenha praticado o verbo
“matar” do homicídio, será autor desse crime, pois tinha o domínio final do
fato. Havendo concurso de pessoas entre o mandante e o mandado.

4. Conceito de partícipe.

O partícipe é aquele que contribui na conduta criminosa do autor ou


coautores, praticando atos que não estão descritas diretamente no tipo

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penal, ou seja, não praticam o verbo. Bem como, não possuem o domínio
final do fato.
A participação pode se dar de três formas: induzimento; instigação;
prestação de auxílio.
Induzir é uma ação sobre a vontade do autor, fazendo nascer o
propósito criminoso. É plantar a semente na cabeça do autor. Já o instigar
conta com a semente já plantada, vai, então, reforçar a ideia já existente.
São situações de participação moral ou intelectual, já que o agente só fala,
cria ideias.
A prestação de auxílio é modalidade de participação material, uma vez
que realmente pratica uma conduta física, visando auxiliar o autor ou
coautores. Aqui há um comportamento ativo por parte do partícipe, como o
agente que empresta a arma de fogo, sabendo que o sujeito ia usá-la para
matar alguém.

TOME NOTA: a participação é forma de adequação típica


indireta ou por subordinação mediata. Assim como na
tentativa de um crime, não há delitos de participação, mas
sim participação em delitos. A tipificação da conduta de um
partícipe do homicídio, por exemplo, será a do artigo 121
combinado com o artigo 29, assim, já se sabe que ele não
praticou o verbo “matar”, mas apenas auxiliou outrem
nessa conduta.

O Código Penal adota a teoria da acessoriedade limitada ou média em


relação à participação, tendo em vista que a conduta do partícipe é uma
conduta acessória de uma conduta principal praticada pelo autor.
Essa teoria exige que o autor tenha praticado um fato típico e ilícito
apenas. Não há avaliação da culpabilidade do autor. De modo que é possível
ser partícipe de uma conduta praticada por um inimputável.
É o que se chama de injusto penal, uma conduta formada pelo fato
típico e ilícito. Ocorrendo esses dois elementos do crime, já há um principal
para o partícipe auxiliar.

Exemplo: João empresta a arma a José para matar um bandido que o ataca.
José pratica o fato em legítima defesa, logo, não há antijuridicidade ou
ilicitude. Nesse caso, não há uma conduta principal para o partícipe auxiliar.
Pois houve apenas fato típico, e não ilicitude. Diferente é se João empresta

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a arma para José, inimputável (retardado mental), matar alguém, ai sim,
haverá um fato típico e ilícito, que, apesar de não culpável, já constitui um
injusto penal (uma conduta principal) para que o partícipe concorra.

5. Participação de somenos importância.

Artigo 29...§ 1º - Se a participação for de menor importância, a


pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

Trata-se de uma situação em que a participação do agente não foi


determinante para a prática do delito. Nesse caso, haverá uma causa
obrigatória de diminuição na pena do partícipe.
Para verificar se a participação era de somenos importância temos que
aplicar duas teorias.
A primeira delas é a teoria dos bens escassos, devendo avaliar a
possibilidade de o autor ter a contribuição dada pelo partícipe por outros
meios. Devendo, contudo, observar o nível dessa possibilidade na obtenção
do auxílio. Se esse auxílio só pode ser conseguido com o partícipe, há
domínio do fato, e não participação.

Exemplo: Roberto empresta uma faca cega para José matar Pedro. A faca foi
usada inicialmente, mas como não era eficaz para matar, José começa a dar
pedradas na cabeça de Pedro, que vem, enfim, a morrer. Note que a
contribuição de Roberto é de eficácia mínima, logo, terá sua pena diminuída.
Não pode ficar sem pena, só não terá a mesma pena que teria se sua faca
fosse totalmente eficaz para a morte de Pedro.

A segunda teoria é a da eficácia causal, avaliada juntamente com a


primeira, deve buscar compreender qual foi a importância do auxílio na
consumação do delito, aplicando-se o mesmo exemplo acima.
Por essa teoria, deve-se eliminar hipoteticamente o auxílio, se o
evento se altera muito pouco, presente a somenos importância, no entanto,
se a ausência do auxílio faz com que o resultado se altere muito ou nem
ocorra, não há causa de somenos importância, tendo em vista que o auxílio
foi de eficácia causal para o resultado.

6. Cooperação dolosamente distinta.

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Artigo 29...§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de
crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será
aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o
resultado mais grave.

Esse dispositivo trata de situações em que o agente quis participar do


crime menos grave, mas acabou concorrendo para um crime mais grave, que
não pretendia participar.
Para avaliar se deverá ser aplicado o crime mais grave ou o menos
grave devemos apurar o grau de previsibilidade do agente em relação ao
resultado mais grave.
Da forma sobredita, caso não seja previsível o resultado mais grave, o
concorrente responderá apenas pelo crime menos grave, do qual quis
participar.

Exemplo: João induz José a praticar um furto na casa de seu vizinho, que
estava de férias e não voltaria antes do mês seguinte. José, percebendo a
facilidade da empreitada criminosa, adere ao induzimento de João e vai até
a casa de seu vizinho para furtar os bens de valor que lá se encontravam.
Ocorre que uma empregada estava na casa aguando plantas, quando, então,
José resolve estupra-la. Ora, não era previsível que José iria praticar tal
atrocidade e muito menos que tivesse alguém na casa. Portanto, João
responderá como partícipe apenas do crime de furto.

Entretanto, se o crime mais grave era previsível, o agente continua


respondendo pelo crime menos grave, porém com a pena elevada até a
metade. No exemplo acima, se João soubesse que tinha uma empregada na
casa, sabendo, ainda, do temperamento de José.

Por fim, se o crime mais grave era previsto e aceito como possível de
ocorrer, o concorrente por ele responderá, uma vez que houve dolo eventual.

Exemplo: João instiga José a praticar um roubo contra Pedro, emprestando-


lhe sua arma de fogo, inclusive. Crime, portanto, praticado com violência e
grave ameaça. Se José mata Pedro, durante e em razão do roubo, haverá
latrocínio, sendo imputado esse crime aos dois concorrentes. Ora, quem

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pratica um crime com arma em punho está ciente de que poderá ter que
usá-la para acertar a vítima.

TOME NOTA: prevalece que quando o desvio for


quantitativo (o crime é uma fase mais grave do outro,
como o furto que vira roubo, ou o roubo que vira
latrocínio) há previsão. Ao contrário, se o desvio for
qualitativo (o crime não tem nada a ver com o outro, como
o furto e estupro) não haverá previsão.

7. Elementares e circunstâncias.

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições


de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.

Nós vimos na aula sobre o conceito analítico de crime que um dos


elementos do crime é o fato típico, composto por suas próprias elementares.
Sem as elementares, objetiva e subjetiva, não há fato típico.
Ocorre que dentro do fato típico há também circunstâncias. Para
alguns há ainda circunstâncias elementares.
Circunstâncias não têm a ver com o crime, mas sim com a quantidade
de pena. Uma infração penal pode existir sem circunstâncias, elas não são
requisitos para um crime. Porém, as circunstâncias irão influenciar na
quantidade de pena a ser aplicada.
Circunstâncias são dados acessórios dos elementos que constituem o
crime. São motivos especiais, situações concretas específicas, surgidas no
desenrolar da conduta típica praticada pelo sujeito.
Reforço que somente os elementos são requisitos para a existência de
um crime (sob pena de não haver tipicidade).

TOMA NOTA: As circunstâncias têm a ver com a teoria da pena


(vamos ver na próxima aula), influencia na quantidade de pena a
ser aplicada. As elementares dizem respeito com a teoria do crime,
determinando a existência ou não do próprio crime.

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ELEMENTOS = CRIME CIRCUNSTÂNCIAS = PENA

Ocorre que há autores que entendem que existem ainda


circunstâncias elementares. São circunstâncias com pena própria. Com novo
mínimo e máximo de pena. Geram os crimes qualificados.

Explico. O homicídio simples tem pena de 6 a 20 anos de reclusão. Se Matias


mata Don Ramon sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a uma
injusta provocação deste, Matias poderá se valer de uma causa de
diminuição de pena (art. 121, §1, CP). Logo surge uma circunstância que,
dentro de um homicídio simples, vai diminuir sua pena própria (6 a 20 anos
de reclusão), ele pega 5 anos de prisão (EXEMPLO).

Nas circunstâncias elementares, há uma situação que constrói


tipicidade autônoma, vira espécie de um gênero. Com pena própria. Onde,
igualmente as circunstâncias (simples) irão influenciar na medida exata de
pena a ser aplicada pelo Juiz.

Explico. O homicídio qualificado (art. 121, §2º) possui pena de 12 a 30 anos


de pena privativa de liberdade (reclusão). Se Matias mata Don Ramon
usando como meio de execução do crime a asfixia. Ele matou com
enforcamento! Surge uma circunstância elementar que transforma o
homicídio simples em um homicídio qualificado. A pena mínima já é maior
no mínimo e no máximo (simples=6 a 20; qualificado=12 a 30), logo essa
característica da infração não pode ser levada em consideração como uma
circunstância simples também. É uma ou outra.

Pode ocorrer que, dentro do contexto do exemplo acima, o agente


tenha outra situação que motivou o crime. João estava sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação de José. Isso vai
também influenciar no mínimo de pena. A pena será diminuída pela
circunstância simples.

TOME NOTA: circunstância elementar tem novo mínimo e


novo máximo. Diferente é a circunstância simples, que só
influencia na quantidade de pena, que varia sempre entre
um mínimo e um máximo.

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Por fim, alerto que as circunstâncias podem ser objetivas e subjetivas.
Como tudo que estudamos até aqui o raciocínio é o mesmo, liga-se ao fato
(objetiva) ou ao agente (subjetiva). Veja bem: se está ligada ao fato, a
circunstância é objetiva; ao contrário, ligada ao agente, ao sujeito, ela será
subjetiva.
Circunstancias objetiva está ligada ao meio ou modo de execução do
crime. Sendo a subjetiva ligada aos motivos ou razões do crime. O motivo só
pode ser do agente, do sujeito.

Exemplo: circunstância objetiva: matar utilizando explosivos.


Exemplo: circunstância subjetiva: sob domínio de violenta emoção.

7.1 Comunicabilidade das elementares e circunstâncias.

Como visto no artigo 30 do CP, as circunstâncias e condições de


caráter pessoal não se comunicam, salvo se elementares do crime.
Essa questão da comunicação é derivada do princípio da
contaminação. Por esse princípio se um agente concorre para o crime de
outro estará contaminado pelas elementares e circunstâncias que atingem
o agente na situação concreta, desde que conheça claramente a situação em
que se encontra.
É considerado como um único crime para o qual o agente concorreu,
seja participando, seja atuando diretamente.
Só não se comunicam as circunstâncias de caráter pessoal, ou seja,
ligadas ao sujeito, que é justamente a circunstância subjetiva, a qual tem a
ver com os motivos do crime, já que cada agente tem seu motivo próprio.
Todavia, caso essa circunstância for também uma elementar, ela irá se
aplicar ao outro agente, mesmo que subjetiva, pois elementar diz respeito ao
fato, ao crime em si, que, como dito, é um só para todos.

Deste artigo, extrai-se:

a) Elementares: sempre se comunicam, tanto objetiva, quanto subjetiva,


desde que do conhecimento do outro agente.
b) Circunstâncias objetivas: sempre comunicáveis, desde que do
conhecimento do outro agente;

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c) Circunstâncias subjetivas: são incomunicáveis, salvo quando
elementares do crime e de conhecimento do outro agente.

Exemplo de incomunicabilidade: O homicídio privilegiado (por motivo de


relevante valor moral, por exemplo) não é comunicável ao outro agente que
não agiu diante dessa mesma razão.

Exemplo de comunicabilidade: O particular que participa de um crime


funcional (corrupção), responderá pelo mesmo crime próprio de funcionário
público, sem necessariamente ser funcionário.

TOME NOTA: o problema só surge no caso de


comunicabilidade de circunstâncias subjetivas.
Pois, em regra, a circunstância subjetiva é do
sujeito. Porém, quando ela faz parte dos
elementos do crime, ela deixa de ser do sujeito
e passa a se relacionar com o fato. O fato é um
só para todos!

8. Casos de impunibilidade.

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo


disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não
chega, pelo menos, a ser tentado.

Como vimos, o concurso de agente pode se dar por várias formas.


Ocorre que o ajuste (combinação para praticar crime junto), a determinação
(participação que faz nascer a ideia na cabeça do agente), a instigação
(participação que reforça a ideia já existente) e o auxílio (auxílio material
para a prática de um delito), não são puníveis, ou seja, não estão sujeitos a
pena, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
Pelo princípio da ofensividade, vimos que não se pune meros estados
existenciais ou pensamentos, logo, se o crime não se inicia, não há o que
punir. Isso se aplica também às hipóteses de concurso de agentes.
Se o autor (ou coautores e partícipes) não iniciar a execução do crime,
o fato será atípico.

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ATENÇÃO: aqui ainda estamos em meros atos
preparatórios do crime, atos esses que, em regra, não
são puníveis. Para punir é necessário início da
execução, que se dá com o início da prática do verbo
típico do delito. Pois assim, poderá haver consumação
ou tentativa.
TOME NOTA: Em alguns casos a própria preparação
do crime já é punível. Como na hipótese de
associação criminosa. Art. 288 do CP. Crime esse que
os agentes se reúnem pra a prática de crimes. Ou
seja, basta a reunião direcionada a praticar crimes
para que seja punido, não sendo necessário praticá-
los efetivamente. Pune-se meros atos preparatórios
por exceção.

9. Questões específicas.

9.1 Autoria colateral.

Ocorre na situação em que duas ou mais pessoas, desconhecendo a ação


uma da outra, praticam uma conduta visando o mesmo resultado, o qual
ocorre em razão do comportamento de apenas uma delas.
Note que nessa situação não há concurso de pessoas, já que não há liame
subjetivo, ou seja, nexo psíquico entre os dois agentes. Ausente um dos
requisitos para o concurso de agentes, cada um responderá por sua própria
conduta.

Exemplo: João atira em Marta. No mesmo momento e sem ter


conhecimento da ação de João, José também atira em marta. Os dois tiros
acertam a vítima, que vem a morrer em razão do tiro de João, que lhe
acertou na cabeça. O tiro de José acertou a mão. Ou seja, João responde
pelo crime de homicídio consumado. José por homicídio tentado, já que o
resultado não ocorreu por circunstância alheia à sua vontade.

9.2 Autoria colateral incerta.

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Ocorre quando, dentro do contexto da autoria colateral, não se saber qual
tiro causou o resultado. Logo, também não haverá concurso de agentes.
No exemplo acima, José e João atiraram em Marta, porém, não se sabe
qual tiro acertou a vítima na cabeça.
A resolução do problema aqui exige a aplicação do princípio do in dubio
pro reo (na dúvida, decide-se a favor do réu). Nesse caso, ambos responderão
por tentativa de homicídio.

9.3 Coautoria sucessiva.

Ocorre quando um segundo agente ingressa em um crime já iniciado, mas


ainda não consumado. Nesse caso o agente responderá por tudo que ocorrer
após sua entrada na empreitada criminosa. Respondendo, a partir daí, em
coautoria com o autor originário.
Diferente é se o agente chega atrasado. Se o agente entra subjetivamente
antes (já queria participar do crime desde o início), ainda que objetivamente
depois (só pratica algum ato concreto depois do início pelo comparsa), ele
responde pelo crime como um todo.
Aqui haverá concurso de agentes, já que há vínculo subjetivo. Está
cumprido o requisito do liame subjetivo entre os agentes. Sempre é
necessário avaliar se todos os agentes sabem que estão se ajudando. Se
algum não sabe, não há concurso. O concurso de agente é uma união. Uma
espécie de sociedade (a grossíssimo modo).

9.4 Coautoria no crime omissivo.

Crime omissivo é aquele que surge da ausência do cumprimento de um


dever. O maior exemplo é a omissão de socorro. Como ocorre quando o
agente vê uma pessoa precisando de ajuda e, podendo ajudar sem risco
pessoal, se omite. Responde pelo crime do artigo 135 do CP. Pergunta-se: é
possível o concurso de agentes em crime omissivo? DEPENDE!

Devemos analisar o caso concreto. Se há divisão de tarefas é possível


concurso em crime omissivo. Se não há divisão de tarefas não é possível.

Exemplo: Em uma equipe cirúrgica composta por 3 pessoas: 1 médico, 1


anestesista e 1 enfermeiro. O dever de salvar a vida do paciente é de todos.

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Se todos resolvem não fazer o que lhes é devido e deixam o paciente morrer,
serão coautores no crime de omissão de socorro.
Diferente é se apenas o anestesista não quer empregar seu conhecimento
para anestesiar o paciente, se recusando a agir para salvá-lo, embora os
outros membros da equipe queiram agir e salvar o paciente. Ora, somente
esse profissional poderia aplicar a anestesia. Sem a anestesia o médico e o
enfermeiro não poderiam fazer nada. Nesse caso, só responde o anestesista.

A participação em um crime omissivo é sempre moral, ou seja, sempre


mediante instigação ou induzimento. Não há participação material, ou seja,
com auxílio, em uma omissão. O auxílio é para praticar uma ação, o que não
existe em um crime omissivo.

9.5 Concurso em crime culposo.

Não é possível participação em crime culposo. Só é possível coautoria.


Todo agente que não tem o necessário dever objetivo de cuidado cooperou
diretamente no resultado, logo, só pode ser coautor de sua própria conduta
culposa.

9.6 Concurso em crime de mão própria.

No crime de mão própria ocorre o contrário do que ocorre no crime


culposo. Ou seja, só é possível participação. O crime de mão própria é
personalíssimo, ou seja, só pode ser praticado por uma pessoa determinada.
Ninguém pode ser coautor de conduta alheia. Cada autor deve praticar sua
própria conduta.
Como no crime de mão própria somente o autor principal pratica a
conduta, resta possível concurso somente na modalidade de participação,
seja moral, seja material.

Exemplo: Consentimento para aborto, art. 124. É crime de mão própria. O


tipo penal exige que seja a gestante a pessoa que consente com o aborto.
Se o namorado ajuda, levando-a uma clínica clandestina, por exemplo, ele
será partícipe, e não autor.

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ATENTE-SE: sendo este, inclusive, um exemplo
de exceção à teoria monista do concurso de
pessoas (pela qual há um crime único, que será
atribuído a todos os concorrentes), adotando-se
a pluralista. A gestante e o namorado
respondem pelo artigo 124, enquanto o médico
que realiza o aborto com o consentimento da
gestante, responde pelo art. 126.

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