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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA


DEPARTAMENTO DE FÍSICA TEÓRICA E EXPERIMENTAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

Tese de Doutorado

F UNDAMENTOS DAS O NDAS G RAVITACIONAIS :


A PLICAÇÕES EM A STROFÍSICA E C OSMOLOGIA

Por

Hebertt Leandro Silva

Natal
Setembro de 2021
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Ronaldo Xavier de Arruda - CCET

Silva, Hebertt Leandro.


Fundamentos das ondas gravitacionais: aplicações em
Astrofísica e Cosmologia / Hebertt Leandro Silva. - 2021.
105f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do


Norte, Centro de Ciências Exatas e da Terra, Departamento de
Física Teórica e Experimental, Programa de Pós-Graduação em
Física. Natal, 2021.
Orientador: : Prof. Dr. Riccardo Sturani.

1. Física - Tese. 2. Ondas gravitacionais - Tese. 3. Modos


longitudinais - Tese. 4. Constante de Hubble - Tese. I. Sturani,
Riccardo. II. Título.

RN/UF/CCET CDU 53

Elaborado por Joseneide Ferreira Dantas - CRB-15/324


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE FÍSICA TEÓRICA E EXPERIMENTAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

F UNDAMENTOS DAS O NDAS G RAVITACIONAIS :


A PLICAÇÕES EM A STROFÍSICA E C OSMOLOGIA

Hebertt Leandro Silva

Orientador: Prof. Dr. Riccardo Sturani

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação


em Física do Departamento de Física Teórica e
Experimental da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte como requisito parcial para obtenção do
título de Doutor em Física.

Natal
Setembro de 2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE FÍSICA TEÓRICA E EXPERIMENTAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA

A comissão examinadora, abaixo assinada, aprova a tese:


F UNDAMENTOS DAS O NDAS G RAVITACIONAIS :
A PLICAÇÕES EM A STROFÍSICA E C OSMOLOGIA
Elaborada por:

Hebertt Leandro Silva

Como requisito parcial para obtenção do título de

Doutor em Física

Comissão Examinadora

——————————————– ——————————————–
Prof. Dr. Valério Marra Prof. Dr. Jailson Alcaniz

Examinador externo - UFES Examinador externo - Observatório Nacional

——————————————– ——————————————–
Prof. Dr. Léo Gouvêa Medeiros Prof. Dr. Raimundo Silva Junior

Examinador interno - DFTE/UFRN Examinador interno - DFTE/UFRN

——————————————–
Prof. Dr. Riccardo Sturani

Examinador interno(Presidente)-IIP/UFRN

Natal, Setembro de 2021


"Ano passado eu morri mas esse ano eu não
morro."
Agradecimentos

Ao meu orientador Riccardo Sturani pelas ótimas orientações e discussões, além de


todo suporte na produção deste trabalho.
À minha companheira Maria Danieli por todo apoio e suporte emocional no
cumprimento do Doutorado.
À minha familia em especial aos meu pais, Maria de Fátima e Lenivaldo Leandro,
uma parte deste Doutorado eu fiz por vocês.
Aos meus amigos que fiz no Departamento de Física, em especial, Aline Lins,
Arthur Cavalcanti, Arcênio Lourenço, Gabriel Luz, Gival Pordeus, Hérnan Xavier ,Josiel
Mendonça, Tibério Pereira pelas ótimas discussões sobre Física e a todos aqueles que de alguma
forma contribuiram na minha formação acadêmica.
Aos meus amigos do "lolzin"Alef Souza, Andson Kevin, Gilvan Bonfim e Kleiton
Teles, nos momentos de fuga vocês proporcionaram momentos felizes no meio de tanto caos
que é uma vida acadêmica.
Um agradecimento em especial ao meu falecido amigo Matheus Araújo(In
memoriam) foi muito bom te conhecer cara.
Aos professores do DFTE/IIP pelas ótimas disciplinas ministradas durante o
Doutorado.
A todos os funcionários do Departamento de Física que contribuiram direta ou
indiretamente na minha formação acadêmica.
Por fim, agradeço ao apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Resumo

A detecção de ondas gravitacionais prevista pela Relatividade Geral abriu


possibilidades para o estudo de uma Física até então inexplorada. Com base nesta afirmação,
o presente trabalho está dividido em duas partes. Primeiramente, analisamos um efeito na
equação do desvio da geodésica, denominado efeitos de memória. Propomos um modelo que
representa uma descrição simplificada de uma fonte astrofísica que emite radiação e analisamos
seu efeito no detector logo após a passagem da radiação. Em particular investigamos um
efeito que é devido a mudança nos modos longitudinais, ao invés do efeito de memória da
parte radiativa considerado na literatura. O modelo proposto assume simetria esférica em
que toda a fonte inicialmente em repouso é convertida em radiação. Os modos longitudinal
e transversal (radiativo) contribuem no tensor de Riemann e interagem com o detector e
estudamos a possibilidade de detectar estes modos longitudinais variáveis no tempo. Na
segunda parte desta tese, propomos uma forma de medir a constante de Hubble que é um
parâmetro de proporcionalidade na relação entre o redshift e a distância de luminosidade
dL , alem do mais é um parâmetro crucial na Cosmologia que fornece uma medida atual da
taxa de expansão do Universo. A aplicacação consiste em medir H0 usando as detecções de
ondas gravitacionais de coalescências de binárias de buracos negros cuja amplitude depende
inversamente da distância de luminosidade dL sem a contraparte eletromagnética. O método
consiste em quebrar a degenerescência entre H0 e o redshift usando as informações estatísticas
proveniente da população de binárias de buracos negros astrofísicos usando a distribuição da
fonte em função do redshift. Com isso faremos uma previsão de com quantas detecções no
futuro podemos obter H0 com uma precisão determinada.
Palavras chaves: Ondas Gravitacionais, Constante de Hubble, Modos Longitudinais.
Abstract

The detection of gravitational waves, predicted by General Relativity, opened


up possibilities to study physics previously unexplored. Based on affirmation, the present
work is divided into two parts. First, we analyze an effect derived from geodesic deviation
equation, called memory effects. We propose a model, representing a simplified description
of astrophysical source emitting radiation and analyse its effect on detector a far away from
the source after the radiation has passed. The particular memory effect we investigate is due
to the change in longitudinal modes, rather than the well-study memory effect in radiative
modes. The toy model proposed assumes spherical symmetry in which the entire source
initially at rest is converted into radiation. Both longitudinal and transverse(radiative) modes
contribute to the Riemann tensor and interact with the detector and the possibility of detecting
time varying longitudinal modes is studied. In the second part of the thesis, we propose a
way to measure the Hubble constant which enters the relationship between the redshift z and
luminosity distance dL , and it is a crucial parameter in Cosmology that provides a measure of
the Universe expansion rate. The application consists of measuring H0 using the gravitational
wave detections from binary black hole coalescences whose amplitude depends inversely on
the luminosity distance dL without electromagnetic counterparts enabling a measure of the
redshift. The method consists of breaking the degeneracy between H0 and the redshift by using
the statistical information on the astrophysical binary black hole population using the source
distribution as a function of redshift. In the end, we will make a prediction of how many
detections in the future can get H0 with a given precision.

Keywords: Hubble constant, Longitudinal Modes, Gravitational Waves.


Algumas definições

• Adotamos nesta tese a velocidade da luz como sendo c=1, nesta representação
comprimento tem dimensão de tempo.
• Adotamos a assinatura da métrica em 4 dimensões como sendo (-1,+1,+1,+1),
nesta representação o intervalo do tipo tempo ds2 < 0 que descreve a trajetória da partícula
dentro do cone de luz.
• O tensor métrico gµν é simétrico de rank (0,2) e que se transforma segundo uma
transformação de coordenadas:
0 ∂xλ ∂xω
gµν = gλω
∂xµ0 ∂xν 0
• Definindo a conexão métrica:

1
Γµνκ = g µλ (∂ν gλκ + ∂κ gλν − ∂λ gνκ )
2

• E assim definimos o tensor de Riemman:

µ
Rνκλ = ∂κ Γµνλ − ∂λ Γµνκ + Γρνλ Γµρκ − Γρνκ Γµρλ

• E dessa forma o tensor de Ricci Rµν = g κλ Rλµκν e o escalar de Ricci R =


g µν Rµν .

7
Sumário

1 Introdução 10

2 Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 13


2.1 Introdução à Relatividade Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Teoria Linearizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3 Gauge Transverso Sem-Traço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4 Decomposição SVT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.5 Fórmula do Quadrupolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3 Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 35


3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2 Método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.4 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

4 Princípios da Cosmologia 45
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2 Métrica de FLRW . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.2.1 Redshift . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.2.2 Relação Redshift-Distância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2.3 Equações de Friedmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.3 O Modelo ΛCDM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5 Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 59
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.2 Método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.2.1 Função do Prior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.2.2 Sensitividade do Detector . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5.2.3 Verossimilhança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.2.4 Posterior para N Eventos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.2.5 Casos Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
5.4 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

6 Considerações Finais 81

Referências Bibliográficas 83

Apêndices 89
A Detalhes da Derivação Completa para a Fórmula do Quadrupolo . . . . . . . . 90
A.1 Relações da Fórmula de Quadrupolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
A.2 Propiedades do tensor Λ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
A.3 Derivação da Variação Temporal da Frequência da Onda Gravitacional . 93
B Equações de Einstein na Decomposição SVT . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
C Detalhes sobre a derivação dos Potenciais Escalares . . . . . . . . . . . . . . . 99
D Ajuste do Parâmetro C para a Taxa de Formação de Estrelas . . . . . . . . . . 102
Capítulo 1
Introdução

A Relatividade Geral é a teoria da gravidade mais completa até hoje e descreve


como o espaço-tempo é deformado pela presença de matéria e energia, além de descrever
a dinâmica de um corpo maciço ou como a luz se move neste espaço-tempo deformado
[1]. Avanço do periélio de Mercúrio, desvio da luz por um campo gravitacional, são
observáveis diretos que comprovam a teoria da gravidade [2, 3]. Na década atual, houve
avanços significativos para testar a Teoria da Relatividade Geral devido a observações de fontes
astrofísicas, em particular a detecção de ondas gravitacionais. A primeira detecção de um
sistema de binárias de buracos negros foi feita pela colaboração LIGO (Laser Interferometer
Gravitational-Wave Observatory) [4] em setembro de 2015, que abriu novas possibilidades para
testar a teoria fundamental da Relatividade Geral com precisão, além do fato de ter inaugurado
uma nova janela nos estudos astrofísicos e cosmológicos [5]. Com base nisso, o principal
objetivo deste trabalho é analisar efeitos da teoria da Relatividade Geral a nível fundamental e
medir parâmetros cosmológicos usando detecções de ondas gravitacionais.
Para começar a discutir a física das ondas gravitacionais, adota-se como forma
padrão o limite de campo fraco, no qual se expande a métrica em pequenas perturbações usando
um plano de fundo do espaço-tempo de Minkowski e desenvolve as equações de Einstein em
ordem linear nas perturbações [5]. A equação linearizada mostra como a radiação gravitacional
produzida por uma fonte se propaga no espaço-tempo. Além disso, uma escolha de gauge ajuda
a simplificar a equação linearizada de vácuo. Neste gauge, as ondas gravitacionais têm apenas
duas polarizações [5].
A radiação gravitacional obedece a uma equação do tipo onda no vácuo. Contudo,

10
Capítulo 1. Introdução 11

ao considerar uma situação mais realista com um tensor energia-momento das fontes, a
perturbação gravitacional pode ser dividida em graus de liberdade radiativos e não radiativos
[6]. A parte radiativa satisfaz uma equação do tipo onda que oscila e decai com a distância.
Enquanto que a parte não-radiativa obedece a uma equação semelhante à equação de Poisson e
explicita a perturbação gravitacional inteiramente em termos da fonte. Os modos longitudinais
são determinados pela massa M, pressão P e momento angular L. A variação temporal dessas
quantidades produz uma variação no campo gravitacional, que resulta em um efeito memória
no detector. O efeito memória é uma alteração permanente no detector depois da perturbação
gravitacional ter passado por ele [7]. Desse modo, investigamos um efeito memória advindo
dos modos longitudinais.
Baseado no argumento acima, analisamos um modelo simples que descreve uma
fonte astrofísica com toda a massa concentrada em repouso em t < 0 e para t = 0 decompõe-
se subitamente numa casca esférica de energia em expansão. No tensor de Riemann, temos
explicitamente as contribuições tanto da parte radiativa como a dos modos longitudinais, e
consequentemente essas resultam numa contribuição na equação do desvio da geodésica. A
contribuição da parte escalar dos modos longitudinais decai como δ(t)O r12 e resulta ao fazer


a integração na equação da geodésica num efeito memória de velocidade. Esse efeito causa
um desvio permanente entre duas partículas de teste com velocidade constante não nula, após a
perturbação ter passado. A outra contribuição derivada aqui é da ordem θ(t)O r13 , no qual é


uma contribuição referente ao efeito de maré da fonte estática. Mais detalhes sobre esse efeito
advindo da parte escalar da perturbação gravitacional são dados no capítulo 3.
Na segunda parte desta tese, fizemos uma aplicação cosmológica usando as
detecções de ondas gravitacionais. O modelo cosmológico padrão atual é o ΛCDM que descreve
um universo preenchido de matéria escura fria em expansão acelerada, que é dominada pela
constante cosmológica Λ [8]. As observações atuais estão de acordo com o modelo teórico,
contudo temos um quebra-cabeça cosmológico em relação as medidas da constante de Hubble
H0 [9]. Há uma inconsistência entre as medições advindas da Radiação Cósmica de Fundo e as
Velas Padrões em Cosmologia [10].
Neste contexto, temos um outro observável astrofísico proveniente das ondas
gravitacionais, sistemas como esses nos fornece uma informação direta da distância de
luminosidade dL . Em Cosmologia, há uma relação entre dL e o redshift (z) que usamos para

Hebertt Leandro Silva


Capítulo 1. Introdução 12

obter o H0 . O primeiro a propor um método para medir o H0 utilizando ondas gravitacionais


foi o Schutz [11] onde foi sugerido obter a informação do z de forma independente.
Sabemos que a amplitude da onda gravitacional é inversamente proporcional à distância de
luminosidade, porém, para sistemas astrofísicos de ondas gravitacionais não temos a contraparte
eletromagnética z medida diretamente. O método proposto aqui é o seguinte: extrair a
informação sobre o redshift propondo um modelo teórico sobre a população de sistemas de
binárias. Desse modo, teremos uma informação estatística do redshift e assim poderemos
quebrar a degenerescência entre H0 − z. Por fim, fizemos uma análise bayesiana para estimar
com quantas detecções no futuro poderemos medir H0 com determinada precisão. Esse trabalho
será descrito no capítulo 5.

Hebertt Leandro Silva


Capítulo 2
Os Fundamentos da Teoria de Ondas
Gravitacionais

Neste capítulo, começamos com uma breve introdução sobre a teoria da


Relatividade Geral que serve como base para o estudo das ondas gravitacionais. O fundamento
teórico da onda gravitacional pode ser dividido em três partes: A primeira parte consiste na
teoria linearizada que toma o limite do campo fraco das equações de Einstein. A segunda
parte é sobre a parte "transversa sem-traço", ou simplesmente TT gauge, e na terceira falamos
da decomposição SVT1 (Scalar-Vector-Tensor). Essa última parte será útil para apresentar
os detalhes sobre o primeiro artigo no próximo capítulo. Por fim, apresentamos uma forma
analítica das polarizações da onda gravitacional no domínio das frequências (ou Fourier), que
será útil ao apresentar o segundo trabalho desta tese.

2.1 Introdução à Relatividade Geral


Em 1915, Albert Einstein publicou a teoria da Relatividade Geral e os seus
princípios [1]. A teoria da Relatividade Geral nos ensina como a gravidade atua no espaço-
tempo quadridimensional e utilizando os princípios a descrição da gravidade é obtida. Na
Relatividade Especial, Einstein mostrou que as leis da Física são equivalentes para todos os
referenciais inerciais, a teoria da Relatividade Geral expandiu esse princípio para os referenciais
não inerciais, no qual localmente é acoplado a gravidade [3].
1
Essa decomposição é comumente usada em Cosmologia.

13
Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 14

A Relatividade Especial é baseada em dois postulados, o primeiro é que todas as leis


da Física são válidas em referenciais inerciais. O segundo é sobre a constância da velocidade da
luz que independe do movimento relativo entre a fonte e o observador [12]. Esses postulados
ampliam a descrição da Mecânica Newtoniana, pois generalizam as leis da Física para todos
os referenciais inerciais em que utilizamos as transformações de Lorentz para obtermos as leis
entre um referencial e outro [12].
Com o intuito de obter uma descrição mais completa sobre a gravidade, o
Einstein incluiu os referenciais não-inerciais aos princípios da Relatividade Geral [13]. Na
Mecânica Newtoniana esses referenciais estão associados a forças fictícias ou forças inerciais
experimentadas apenas pelo observador no referido referencial [2,3]. Para entender melhor essa
generalização vamos discutir alguns dos princípios da Relatividade Geral.
A dinâmica de uma partícula teste sob a ação de um campo gravitacional independe
da sua massa e sua composição, em outras palavras, corpos com massas diferentes caem sob
a mesma aceleração da gravidade. Esse é o Princípio da Equivalência Forte que fala sobre
a igualdade entre a massa inercial e a massa gravitacional [3]. Uma outra característica do
campo gravitacional é que se acopla com tudo, não existe maneira de se blindar um campo
gravitacional, esse é o Princípio da Equivalência Fraco [3].
Diferentemente do campo elétrico, não há maneiras de blindar um campo
gravitacional. No entanto, é possível remover efeitos gravitacionais ao considerar experimentos
locais [2]. Para entender isso, tomemos o seguinte experimento mental, considere um
observador isolado do mundo externo em relação a um referencial inercial com duas situações
distintas. Em uma situação o observador está livre no espaço, na ausência de campo
gravitacional, em outra está caindo livremente sob a ação de um campo gravitacional. Para
o observador não há qualquer experiência que possa distinguir entre essas duas situações [3].
Então, localmente temos a equivalência entre um referencial livre no espaço e outro em queda
livre sob a ação de um campo gravitacional.
Um outro ponto que ajudou Einstein a formular a teoria da Relatividade Geral
está ligado as características das forças fictícias [3]. Forças não-inerciais são proporcionais as
massas dos respectivos corpos da mesma maneira como a força gravitacional. Corpos que caem
sob a ação de um campo gravitacional ~g têm uma força proporcional a m~g , esta característica
ajudou Einstein a postular que tanto as forças não-inerciais como as forças gravitacionais

Hebertt Leandro Silva 2.1. Introdução à Relatividade Geral


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 15

deveriam ter a mesma origem [13]. Para isso, vamos considerar novamente o experimento
mental: na primeira situação, o observador está sendo impulsionado por uma força constante
com aceleração igual a ~g relativo a um referencial inercial e na segunda situação, temos o
observador em repouso em um campo gravitacional. Uma vez que, o observador realize
qualquer experimento localmente, não irá distinguir entre as duas situações, em outras palavras,
um referencial linearmente acelerado é equivalente a um referencial em um campo gravitacional
[3].
A igualdade entre o referencial acelerado e um campo gravitacional é válida para
pequenas regiões do espaço, ou seja, para um evento local. Quando consideramos eventos
não locais, uma característica do campo gravitacional surge [13]. Voltemos ao exemplo do
referencial acelerado, em um experimento não local, em que dois corpos caem em cada
extremidade de uma caixa sob a ação de um campo gravitacional, temos então uma diferença
sutil em que as trajetórias dos corpos convergem para o centro devido a inomogeneidade do
campo gravitacional 2.1.

Figura 2.1: Diferença entre referencial inercial não local versus campo gravitacional [13].

Ao considerar eventos não locais, temos uma diferença entre um campo


gravitacional e um referencial acelerado. Isso é um ponto crucial para obter uma teoria
relativista da gravidade. Considerando um referencial inercial no espaço-tempo de Minkowski
temos que a equação da trajetória da partícula xµ sob uma parametrização λ é dada por [3]:

d2 xµ
= 0, (2.1)
dλ2

onde a equação resulta numa reta, desse modo temos a Relatividade Especial. Considerando
agora sob o efeito de um campo gravitacional, devemos generalizar a equação (2.1), desse

Hebertt Leandro Silva 2.1. Introdução à Relatividade Geral


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 16

modo, temos [3]:


d2 xµ ρ
µ dx dx
σ
+ Γ ρσ = 0, (2.2)
dλ2 dλ dλ
onde devemos considerar espaços curvos para uma descrição quantitativa da gravidade. O Γ é
o símbolo de Christoffel em que contém derivadas do tensor métrico gµν . O tensor métrico gµν
é uma generalização da métrica de Minkowski ηµν para espaços curvos. O elemento de linha
geral utilizando o tensor métrico é:

ds2 = gµν dxµ dxν , (2.3)

onde é usado a notação compacta dos índices2 . Note que recuperamos a Relatividade Especial
[12] quando o Γ vai a zero, em outras palavras, o campo gravitacional induz um termo de
curvatura na equação da trajetória da partícula.
A descrição quantitativa da gravidade pode ser obtida fazendo uma generalização
para espaço-tempo curvo e no limite para pequenas regiões recuperamos a teoria especial [2].
Na Relatividade Especial, a quantidade relacionada a fonte é representada pelo tensor energia-
momento Tµν em que sua conservação é dada por [3]:

∂µ T µν = 0, (2.4)

onde a generalização, assim como foi feito para a equação da trajetória, para espaços curvos é
adicionando o fator Γ na derivada, desse modo, temos:

∇µ T µν = 0, (2.5)

onde ∇µ é a derivada covariante. O termo induzido de curvatura na equação (2.2) pode ser
reescrito em termos do tensor de Riemann Rµνρσ [3]. O tensor de Riemann é obtido em termos
da segunda derivada em relação ao tensor métrico gµν . No caso sem fonte gravitacional, a
curvatura é nula e desse modo recaímos na Relatividade Especial, logo o tensor Rµνρσ = 0
pode ser reescrito utilizando geometria diferencial [3]:

Rµν = 0,
2
Por exemplo, em três dimensões espaciais podemos expressar ∂i V i = ∂x V x + ∂y V y + ∂z V z .

Hebertt Leandro Silva 2.1. Introdução à Relatividade Geral


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 17

a quantidade acima é denominada como tensor de Ricci. As equações de campo no vácuo


podem ser representadas pela equação acima, no entanto essa não é a forma completa. O
Einstein postula que todos os observadores são equivalentes, de modo que, a teoria é covariante.
A forma geral das equações de campo no vácuo é escrita em termos do Tensor de Einstein [3]:

Gµν = 0, (2.6)

onde Gµν = Rµν − 21 gµν R onde R é o escalar de Ricci. E temos que o Tensor de Einstein é
covariante ∇µ Gµν = 0. A conexão entre geometria e fonte do campo gravitacional se dá através
da igualdade entre as quantidades definidas [2, 3, 13]:

Gµν = κTµν , (2.7)

a constante de proporcionalidade κ é obtida tomando o limite newtoniano das equações de


Einstein, em que obtemos κ = 8πGN [2, 14]. As equações de campo de Einstein são dadas por:

Gµν = 8πGN Tµν , (2.8)

onde GN é a constante gravitacional de Newton.


As equações de Einstein são sistemas complicados para resolver [3].
Primeiramente, os índices gregos µ e ν quando expressos em termos das componentes do tensor
resultam em dez equações não-lineares de campo 3 , ligados a geometria com a quantidade de
energia-matéria distribuída. Em segundo lugar, dependendo da situação física poderíamos ter
um complicado Tµν , como por exemplo, no interior de uma estrela [15], que pode depender
de quantidades complexas envolvendo sistemas quânticos. Em Terceiro, as Equações de
Einstein são não-lineares, em que o princípio da superposição não é válido. Na seção seguinte,
analisamos um limite específico das equações de Einstein que está relacionado com os alicerces
da teoria da onda gravitacional.
3
Em quatro dimensões um tensor simétrico tem dez componentes independentes.

Hebertt Leandro Silva 2.1. Introdução à Relatividade Geral


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 18

2.2 Teoria Linearizada


A teoria da onda gravitacional emerge do limite da Relatividade Geral [5] em que
utilizando as equações de campo de Einstein tomamos uma expansão em torno do espaço-tempo
plano de Minkowski. Considerando pequenos desvios da métrica ηµν [6], temos:

gµν = ηµν + hµν , (2.9)

onde |hµν |  1. A perturbação da métrica hµν produz uma suave perturbação no espaço-tempo
plano, a condição usada na expansão nos diz que o campo gravitacional é fraco [6]. Além disso,
chama-se teoria linearizada porque mantém apenas os termos lineares na perturbação da métrica
nas equações de Einstein.
A Relatividade Geral é invariável sob transformação geral de coordenadas do tipo
xµ (x0 ) → xµ (x) que garante a transformação do tensor gµν sob coordenadas, mas a separação
em (2.3) não a respeita [5]. As perturbações métricas não são invariantes sob uma transformação
geral de coordenadas, embora possamos fazer uma transformação infinitesimal do tipo:

xµ (x0 ) → xµ (x) + ξ µ (x) (2.10)

ξ µ é um campo vetorial infinitesimal. A transformação do hµν usando (2.10) é dada por:

hµν (x) → h0µν (x0 ) = hµν (x) − (∂µ ξν + ∂ν ξµ ), (2.11)

a equação acima preserva a condição |hµν |  1, pois |∂µ ξν | é da mesma ordem de h [5].
Substituindo a expansão (2.9) no tensor de Einstein Gµν = Rµν − 12 gµν R, tomando apenas os
termos lineares, resulta em:

1
Gµν = (∂σ ∂ν hσµ + ∂ σ ∂µ hνσ − hµν − ∂µ ∂ν h − ηµν ∂σ ∂ ρ hσρ + ηµν h),
2

onde usamos o tensor métrico de Minkowski ηµν para baixar e subir os índices e h = ηµν hµν
é o traço da perturbação. Reduzimos a expressão acima usando o traço-reverso da perturbação
h̄µν = hµν − 21 ηµν h [6], em que os termos com traço são cancelados e as equações completas

Hebertt Leandro Silva 2.2. Teoria Linearizada


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 19

da teoria linearizada de Einstein são as seguintes [5]:

h̄µν + ηµν ∂ ρ ∂ σ h̄ρσ − ∂ ρ ∂ν h̄µρ − ∂ ρ ∂µ h̄νρ = −16πGN Tµν . (2.12)

E temos outra condição advinda da escolha de gauge do hµν , similarmente ao que é feito no
caso do eletromagnetismo [5, 6, 16]4 . A condição de gauge de Lorentz é dada por:

∂ ν h̄µν (x) = 0. (2.13)

Devemos verificar que a condição acima é preservada para uma transformação de coordenadas,
µ
então generalizando o calibre de Lorentz para uma coordenada arbitrária x0 (x), devemos
considerar uma transformação geral h̄0µν . A transformação de coordenadas do traço-reverso
da perturbação utilizando a relação (2.14) é:

h̄0µν (x0 ) = h̄µν (x) − (∂µ ξν + ∂ν ξµ − ηµν ∂σ ξ σ ), (2.14)

logo, aplicando a transformação acima à condição do gauge de Lorentz

∂ ν h̄0µν = ∂ ν h̄µν − ξµ ,

o ponto aqui é encontrar uma condição sob o vetor de campo ξµ no qual preserva a condição do
gauge de Lorentz para o h̄0µν [5], a expressão acima se reduz para:

∂ ν h̄µν = ξµ , (2.15)

então, temos uma função ξµ que preserva a condição sob a condição do gauge de Lorentz.
Aplicando a condição de Lorentz a expressão (2.12), conseguimos reduzir as equações
linearizadas de Einstein, resulta em:

h̄µν = −16πGN Tµν , (2.16)

as equações linearizadas descrevem a perturbação a nível linear, a aproximação é válida quando


4
No eletromagnetismo, temos ∂ µ Aµ = 0, em que Aµ é o potencial vetor.

Hebertt Leandro Silva 2.2. Teoria Linearizada


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 20

se considera um observador muito afastado da fonte [16], além de termos dez componentes
da perturbação hµν que são reduzidas a seis quando utilizamos a transformação de calibre
[5]. E tomando o lado direito relacionado ao tensor Tµν , temos uma equação proveniente da
conservação do tensor energia-momento:

∂ ν Tµν = 0, (2.17)

que difere da teoria completa da Relatividade Geral por uma derivada covariante, essa equação
é obtida da teoria linearizada. Das seis componentes restantes do hµν , apenas duas são
polarizações do campo gravitacional que obedecem a equação da onda. Fazendo uma ressalva
ao caso do eletromagnetismo em que temos quatro componentes do Aµ , uma componente é
reduzida por escolha de gauge, uma refere-se a um potencial colombiano, e apenas duas são
graus radiativos [16]. Com a teoria da onda gravitacional é semelhante, no entanto, ligeiramente
mais trabalhosa. Na seção seguinte, vamos derivar explicitamente a parte radiativa desta teoria.

2.3 Gauge Transverso Sem-Traço


Nesta seção, queremos obter a parte radiativa da teoria da onda gravitacional.
Iniciaremos tomando uma situação física da equação linearizada (2.16), com o intuito de estudar
a propagação da onda gravitacional no vácuo, tomemos Tµν = 0 [5], então:

h̄µν = 0, (2.18)

a equação acima descreve uma perturbação métrica h̄µν que se propaga com a velocidade da
luz, mas como iremos mostrar, apenas duas componentes obedecem a uma equação do tipo
onda. A parte radiativa está implicitamente escondida em hµν , e podemos derivar uma forma
explícita utilizando a transformação de coordenadas, a condição de gauge e a solução de vácuo.
A solução de vácuo para uma coordenada geral h̄0µν = 0, resulta [5]:

h̄0µν = h̄µν − (∂µ ξν + ∂ν ξµ − ηµν ∂ρ ξ ρ )

Hebertt Leandro Silva 2.3. Gauge Transverso Sem-Traço


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 21

onde para preservar a condição de Lorentz ∂ µ h̄µν = 0 desde que a derivada parcial ∂ µ comuta
com o operador , tomamos o segundo termo da equação acima como sendo zero, resulta em:

ξµν = 0, (2.19)

com ξµν ≡ ∂µ ξν + ∂ν ξµ − ηµν ∂σ ξ σ . As seis componentes restantes do hµν após a imposição


da condição de calibre, estão ligados por quatro funções independentes de ξµ [5]. Depois,
as seis componentes da perturbação métrica, menos as quatro condições do ξµ , resultam nas
componentes restantes. As quatro funções de ξµ devem ser escolhidas, e em geral podemos
escolher ξ 0 para eliminar o traço de h̄ que reduz h̄µν = hµν , as outras três funções ξ i foram
fixadas para eliminar h0i = 0. Além disso, a condição de calibre (2.13) para µ = 0 resulta em:

∂ 0 h00 = 0

isso significa que h00 é constante no tempo. Essa parte está relacionada com o potencial
Newtoniano, e para o tratamento da radiação gravitacional este termo é zero. Agora utilizando
a relação (2.7) para ν = j, temos ∂ j hij = 0, que é a parte puramente espacial de hµν e
resulta numa componente nula na direção de propagação da onda, reunindo todas as condições
obtemos:
hµ0 = 0,

hii = 0, (2.20)

∂ j hij = 0,

a configuração acima é chamada de gauge Transverso Sem-Traço, ou simplesment TT gauge5 .


Assumindo a propagação da onda na direção z., em que temos o sistema localizado nos eixos
x-y, podemos explicitar as componentes da métrica da seguine maneira:
 
h hx 0
 + 
hTijT =  hx −h+ 0 , (2.21)
 
 
0 0 0
ij

5
Transverse Traceless do Inglês.

Hebertt Leandro Silva 2.3. Gauge Transverso Sem-Traço


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 22

as quantidades h+ e h× são as polarizações da onda gravitacional. Reduzimos dez componentes


do hµν para apenas duas componentes puramente radiativas, em que utilizamos a transformação
de coordenadas e o gauge residual da solução de vácuo. O ponto é, o que aconteceu com
os outros graus de liberdade da métrica? Nesta seção, o nosso objetivo foi derivar a parte
relacionada com a radiação gravitacional, os outros graus de liberdade físicos não estão
relacionados com esta parte. Na seção seguinte, analisamos os outros graus de liberdade da
perturbação e estudamos todas as contribuições das componentes radiativas e não-radiativas da
perturbação gravitacional.

2.4 Decomposição SVT


Numa situação mais realista com um tensor de energia-momento não nulo, todas as
componentes da perturbação métrica parecem obedecer uma equação do tipo onda, no entanto
esse procedimento é enganoso. Uma decomposição geral em partes irredutíveis tem de ser feita
para uma análise completa [6]. A perturbação métrica contém: os graus de liberdade físicos
radiativos, a liberdade de gauge e os graus de liberdade não-radiativos.
Inicialmente iremos mostrar um exemplo de uma teoria mais simples antes de
deduzir esta decomposição para o caso da gravidade. Podemos fazer uma decomposição em
partes irredutíveis tomando como exemplo o Eletromagnetismo. A discussão quantitativa
do procedimento é diferente6 , mas qualitativamente é semelhante. As equações do
eletromagnetismo na forma covariante são expressas [17]:

∂µ F µν = 4πJ ν , (2.22)

onde Fµν = ∂µ Aν − ∂ν Aµ é o tensor eletromagnético antissimétrico, Aµ é o potencial vetor e J ν


representa a quadri-corrente da fonte. O potencial vetor em quatro dimensões pode ser escrito
da seguinte maneira:
Aµ = (A0 , Āi + ∂ i a), (2.23)

o A0 é a componente temporal, a parte vetorial é expressa em termos de duas componentes,


6
Na gravidade, temos um tensor simétrico com dez componentes, enquanto na teoria do eletromagnetismo, temos
um vetor com quatro componentes.

Hebertt Leandro Silva 2.4. Decomposição SVT


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 23

uma transversa ∂i Āi = 0 e uma componente longitudinal e esta é uma parametrização única.
Assumindo o mesmo argumento de (2.23), nós podemos expressar a fonte J µ como sendo:

J µ = (ρ, J¯i + ∂ i j), (2.24)

com o vínculo ∂i J¯i = 0. Expressando a equação (2.22) em termos do potencial vetor Aν , temos:

Aν − ∂µ ∂ ν Aµ = 4πJ ν , (2.25)

substituindo as expressões (2.23) e (2.24) na equação (2.25), tomando ν = 0, resulta então:

A0 + ∂µ Ȧµ = 4πJ 0 ,

∇2 (A0 + ȧ) = 4πρ, (2.26)

enquanto que para ν = i:

(Āi + ∂ i a) − ∂ i Ȧ0 − ∂ i ∇2 a = 4π(J¯i + ∂ i j),

tal que resulta em duas equações:


Āi = 4π J¯i , (2.27)

e
Ȧ0 + ä = −4πj. (2.28)

As equações acima mostram todos os graus de liberdade do potencial Aµ explicitamente, e


temos também que as equações (2.26) e (2.28) são equivalentes pela conservação do J µ . Em
resumo, a decomposição expressa o potencial vetor Aµ em duas componentes de um vetor
transverso Āi em (2.27), esses graus de liberdade são as duas polarizações do fóton. As
componentes A0 e ȧ em (2.26) obedecem a uma equação semelhante à de Poisson e são
relacionadas com o Potencial Coulombiano. Além disso, podemos usar a transformação do
potencial Aµ para mostrar que essa decomposição é invariante por transformação de gauge7 .
O procedimento de decomposição para o caso de gravidade é um pouco mais
0
7
A transformação é Aµ = Aµ + ∂ µ Λ, onde Λ é constante.

Hebertt Leandro Silva 2.4. Decomposição SVT


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 24

complicado porque temos dez componentes de um tensor simétrico hµν . As equações de


Einstein são o plano de fundo para analisar cada componente nas equações de decomposição
[16]. A perturbação pode ser expressa tomando uma parametrização geral da seguinte maneira
[6]:
h00 = 2φ,

h0i = βi + ∂i b, (2.29)
 
1 1
hij = hTijT 2
− 2ψδij + (∂i Fj + ∂j Fi ) + ∂i ∂j − δij ∇ e,
2 3
com os vínculos dados pelas divergências dos vetores ∂i βi = 0 e ∂i Fi = 0, pela parte
sem traço δ ij hTijT = 0 e divergência do tensor ∂ j hTijT = 0. Reunindo as componentes
temos: quatro escalares φ, b, ψ e e, quatro componentes de dois vetores transversos βi e Fi
e duas componentes de um tensor transverso sem-traço hTijT , logo temos dez componentes
independentes da perturbação [6].
Do mesmo modo que fizemos essa decomposição para o lado esquerdo das equações
linearizadas, podemos aplicar a decomposição acima para o lado direito relacionado com o
tensor energia-momento, desse modo, temos[6]:

T00 = ρ,

T0i = Si + ∂i S, (2.30)
 
1 1 2
Tij = pδij + σij + (∂j σi + ∂i σj ) + ∂i ∂j − δij ∇ σ,
2 3

com os vínculos associados devido as divergências de ∂i Si = 0, ∂i σi = 0 e ∂i σij = 0 e a parte


sem traço δ ij σij = 0. Essas quantidades não são independentes, devido algumas componentes
serem ligadas pela conservação do tensor energia-momento ∂µ T µν = 0 [6]. O objetivo nesta
seção é encontrar explicitamente todos os graus físicos da perturbação, para isso precisamos
definir quantidades invariantes de gauge em que inicialmente utilizamos a decomposição da
coordenada ξ µ , dada por:
ξ µ = (ξ 0 , B i + ∂ i C), (2.31)

onde ∂i Bi = 0 e C → 0 quando r vai para o infinito [6]8 . Podemos reescrever as partes


irredutíveis em (2.23) usando a decomposição acima e a transformação de coordenadas em
8
As condições de contorno implicam que a função vai para zero quando r vai para o infinito.

Hebertt Leandro Silva 2.4. Decomposição SVT


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 25

(2.11) e assim obter as quantidades invariantes de gauge9 :

1
Ψe ≡ψ + ∇2 e,
6
Φ ≡φ + b + ė,
(2.32)
1
Vi ≡βi − Ḟi ,
2
hTijT ≡hTijT ,

calculando a forma explícita para as equações de Einstein em termos das expressões definidas
acima, temos:
∇2 ψ e =4πGN ρ,

∇2 Φ =4πGN (ρ + 3p − 3Ṡ),
(2.33)
∇2 Vi = − 16πGN Si ,

hTijT = − 16πGN σij .

Usando a transformação de gauge reduzimos as dez componentes do hµν em seis graus físicos
são eles: 2 escalares Φ e ψ e , duas componentes de um vetor transverso Vi e duas componentes
de um tensor transverso sem traço hTijT . As equações obtidas acima estão relacionadas com
as partes radiativas e não-radiativas do campo gravitacional, e como esperado apenas a parte
transversa sem-traço obedece a uma equação do tipo onda, que no limite de vácuo é recuperada
a equação da onda obtida na ultima seção. As componentes longitudinais φ, ψ e e Vi obedecem a
uma equação semelhante à Poisson. Além disso, a contribuição no detector dessas quantidades
podem ser expressas na equação do desvio da geodésica obtida na teoria da Relatividade Geral,
temos [2, 5, 14]:
ẍi = −R0j0
i
xj , (2.34)

a equação acima descreve como a separação xj entre duas partículas teste é afetado pelo efeito
da curvatura ao qual é quantificado pelo tensor de Riemann, enquanto que o lado direito da
equação é dado por [6]:

e 1  1
Ri0j0 = δij ψ̈ + ∂i ∂j Φ + ∂j V̇i + ∂i V̇j − ḧij . (2.35)
2 2
9
Os cálculos estão detalhados no Apêndice B.

Hebertt Leandro Silva 2.4. Decomposição SVT


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 26

A combinação dessas quantidades no tensor Riemann é invariante, isso significa que


a quantidade é um observável por definição. No próximo capítulo, consideramos um
modelamento físico para calcular a parte escalar da perturbação gravitacional e fazer algumas
análises sobre esta.

2.5 Fórmula do Quadrupolo


Nesta seção, iremos derivar a fórmula do quadrupolo para o sistema gravitacional
que de forma semelhante ao caso eletromagnético, utilizamos a expansão multipolar para
encontrar a contribuição dominante do campo gravitacional [18]. Além disso, derivamos a
fórmula do quadrupolo no domínio das frequências, em que obtemos uma forma analítica da
polarização da onda gravitacional [5]. Inicialmente, vamos começar o processo de derivação
retomando a equação linearizada em (2.16), dada por:

h̄µν = −16πGN Tµν , (2.36)

a equação acima pode ser resolvida pelo método da função de Green [5], onde temos uma
equação do tipo:
x G(x − x0 ) = δ 4 (x − x0 ) (2.37)

em que o índice "x"representa a derivada com respeito a mesma variável, se a função de Green
é uma solução da equação acima [5], logo podemos usar:
Z
h̄µν (x) = −16πGN d4 x0 G(x − x0 )Tµν (x0 ) (2.38)

onde x = (t, ~x) é o quadrivetor do espaço-tempo. E dependendo da condição de contorno


adotada no problema, podemos lidar com soluções retardadas ou avançadas para representar
a função de Green. A solução avançada representa a informação que vem do futuro da fonte,
enquanto que a solução retardada representa a informação que vem do passado da fonte [17]. A
função de Green retardada desempenha um papel crucial nos estudos de radiação, desse modo
analisamos os processos da radiação produzidos por uma fonte que eventualmente chega até o

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 27

observador. A expressão da função Green retardada é representada por [5]:

1
G(x − x0 ) = − 0
δ(tret − t0 ), (2.39)
4π|~x − ~x |

onde tret = t − |~x − ~x0 | é o tempo retardado, substituindo a expressão acima em (2.38),
encontramos: Z
1
h̄µν (t, ~x) = 4GN d 3 x0 Tµν (t − |~x − ~x0 |, ~x0 ), (2.40)
|~x − ~x0 |
a expressão (2.40) é escrita em termos do tensor traço-reverso h̄µν = hµν − 12 ηµν h, no entanto
podemos encontrar uma expressão em termos da parte tranversa sem-traço usando um projetor.
Primeiramente, definimos o seguinte tensor [5]:

Pij (n) = δij − ni nj , (2.41)

onde Pij é um projetor. É transverso ni Pij = 0 e o traço Pii = 2, além que o produto entre
um projetor e um vetor arbitrário seleciona as componentes transversas desse vetor. Podemos
definir um tensor projetor dado por [5]:

1
Λij,kl (n) = Pik Pjl − Pij Pkl , (2.42)
2

tal que tem propriedades semelhantes as definidas anteriormente, é transverso em todos os


índices ni Λij,kl = nj Λij,kl = 0, sem traço nos índices pares (i, j) e (k, l) tal que Λii,kl =
Λij,kk = 0. Além disso, funciona como um projetor, nomeado como tensor Lambda, desse
modo podemos reescrever o lado esquerdo da expressão (2.40) da seguinte forma [5]:

hTijT = Λij,kl hkl = Λij,kl h̄kl , (2.43)

onde escrevemos a parte transversa sem-traço em termos das componentes espaciais do hµν . É
utilizada aqui uma decomposição geral, em que utilizamos um projetor e reescrevemos qualquer
projeção simétrica do tensor hµν em uma parte transversa sem-traço. Seguindo o procedimento,
a equação (2.40) reescrita em termos da parte transversa sem-traço é dada por:
Z
1
hTijT (t, ~x) = 4GN Λij,kl d 3 x0 0
Tkl (t − |~x − ~x0 |, ~x0 ). (2.44)
|~x − ~x |

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 28

A expansão multipolar consiste em expandir a expressão acima assumindo que ~x0 << ~x e
v << 1, onde v é a velocidade típica do sistema gravitacional. Essa aproximação é válida
quando se pretende encontrar a contribuição do potencial a uma distância muito grande quando
comparada ao tamanho da fonte, e o movimento orbital do sistema possui uma velocidade não-
relativística. Logo, temos [15]:
" 0 0 0 2
#
1 1 n i xi 1 ni nj (3xi xj − r0 δij )
' 1+ + ,
|~x − ~x0 | r r 2 r2 r2

(2.45)
1 ∂n
X  
0 0
T (t − |~x − ~x |, ~x ) = n
T (t − r, ~x ) (r − |~x − ~x0 |)n ,
0

n=0
n! ∂t

com r = |~x|, logo substituindo as expansões acima em (2.44):


"Z #
Tkl (t − r) Ṫkl (t − r) 0
hTijT = 4GN Λij,kl d3 x0 + ni xi + ... , (2.46)
r r

onde definimos o momento do quadrupolo dado por [18]:


Z
Qkl ≡ d3 x0 T 00 x0k x0l (2.47)

e a partir da expressão (2.40) em que simplificamos mediante a conservação do tensor energia-


momento10 , obtemos a parte transversa sem-traço da perturbação gravitacional em termos do
momento do quadrupolo:
Z  
Λij,kl 3 0 1 00 0 0
hTijT =4GN dx T̈ xk xl + ...,
r 2
(2.48)
Λij,kl
[hTijT ]quad =2GN Q̈kl ,
r

onde obtém-se a contribuição dominante do campo gravitacional, em que tomamos a


aproximação que o tamanho característico da fonte é pequeno com relação a distância entre
fonte e observador, e que a velocidade da fonte é não relativística. A relação em (2.48)
descreve como os sistemas gravitacionais induzem o processo de radiação. A contribuição
dominante da radiação gravitacional é o momento do quadrupolo, uma vez que as contribuições
do monopolo, que se refere a massa do sistema, e do dipolo, que se refere ao momento do
10
A derivação detalhada está descrita no Apêndice A.

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 29

Figura 2.2: Representação do sistema de coordenadas entre fonte e observador.

sistema, são conservadas. Em síntese, não há radiação gravitacional proveniente do monopolo


e do dipolo da fonte [18]. Além disso, podemos parametrizar um sistema orbital em termos de
algumas quantidades intrínsecas da fonte [5], mas precisamos reescrever a expressão (2.48) em
termos das polarizações da onda gravitacional. Usando as propriedades do tensor Lambda11
e escolhendo a direção de propagação em ẑ com o sistema localizado nos eixos x-y, as
polarizações h+ e h× são dadas por:

GN
h+ = (Q̈11 − Q̈22 ),
r (2.49)
2GN
h× = Q̈12 ,
r

a componente T 00 do tensor energia momento é a densidade de massa, a integral do momento


do quadrupolo sob todo o volume V resulta numa massa vezes L2 onde L tem dimensão
de comprimento, então podemos parametrizar o momento do quadrupolo em termos das
coordenadas da fonte:
Qij = µxi0 (t)xj0 (t), (2.50)

onde consideramos um sistema binário com massas m1 e m2 parametrizado por uma órbita
circular xi0 e xj0 que emite radiação e µ ≡ m1 m2
(m1 +m2 )
é a massa reduzida desse sistema. Desse
11
Ver mais detalhes no Apêndice A.2.

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 30

modo, as coordenadas do plano da órbita em x-y podem ser expressas por [5]:

x0 (t) =Rcos(ωs t + π/2),

y0 (t) =Rsen(ωs t + π/2), (2.51)

z0 (t) =0,

onde ωs e R são a frequência orbital e a distância ao centro de massa da fonte, respectivamente.


As expressões em (2.49) são obtidas assumindo a propagação da onda gravitacional na direção
ẑ. No entanto, a situação real é um pouco diferente, pode-se considerar uma direção de
propagação genérica representada por um referencial f 0 , que está relacionada com o referencial
f original por uma transformação de coordenadas [5]. As polarizações h× e h+ são invariantes,
não precisam ser encontradas no referencial f 0 . As expressões em (2.49) podem ser reescritas
como:
1
h+ (t, n̂) = (Q̈011 − Q̈022 ),
r (2.52)
2 0
h× (t, n̂) = Q̈12 ,
r
a transformação entre os dois referenciais será feita por uma rotação, onde consideramos uma
0
direção genérica representada por um vetor normal ni = Rij nj enquanto que no referencial
0
ni = (0, 0, 1), tomando em coordenadas esféricas [5]:

ni = (senθsenφ, senθcosφ, cosθ), (2.53)

e a matriz de rotação é dada por:


  
cosφ senφ 0 1 0 0
  
R = −senφ cosφ 0 0 cosθ senθ (2.54)
  
  
0 0 1 0 −senθ cosθ

onde a matriz de rotação R representa uma rotação no eixo z por um ângulo φ e a rotação no
eixo x por um ângulo θ. A transformação entre os dois referenciais será dada por [5]:

Q0ij = (RT QR)ij (2.55)

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 31

em que RT é a matriz transposta de (2.54). Encontrando as componentes Q0ij da equação acima,


susbtituindo (2.54) em (2.55) e depois de alguns cálculos, encontrando as polarizações h+ e h×
para uma direção genérica [5]:

GN h
h+ (t, θ, φ) = Q̈11 (cos2 φ − sen2 φcos2 θ) + Q̈22 (sen2 φ − cos2 φcos2 θ)
r
−Q̈33 sen2 θ − Q̈12 sen2φ(1 + cos2 θ) + Q̈13 senφsen2φ
i
+Q̈23 cosφsen2θ (2.56)
GN h
h× (t, θ, φ) = (Q̈11 − Q̈22 )sen2φcosθ + 2Q̈12 cos2φcosθ
r i
−2Q̈13 cosφsenθ + 2Q̈23 senφsenθ

onde as equações em (2.56) representam as polarizações da onda gravitacional com dependência


a uma direção genérica de propagação em relação ao plano orbital. O principal objetivo
é encontrar uma expressão fenomenológica representando a forma da onda da radiação
gravitacional em termos dos parâmetros da fonte. A parametrização da órbita circular em (2.51)
representa uma trajetória para um sistema binário em termos da frequência angular orbital ωs e
da coordenada do centro de massa R [2]. Calculando as componentes não nulas de Qij usando
a parametrização (2.51), obtemos:

Q̈11 =2µR2 ωs2 cos(2ωs t),

Q̈22 = − 2µR2 ωs2 cos(2ωs t), (2.57)

Q̈12 =2µR2 ωs2 sen(2ωs t),

substituindo a expressão acima nas polarizações da onda gravitacional h+ e h× , depois de alguns


cálculos 12 , obtemos:

4GN 2 2 1 + cos2 θ
 
h+ = µωs R cos(2ωs tret + 2φ),
r 2 (2.58)
4GN 2 2
h× = µωs R cosθsen(2ωs tret + 2φ),
r

podemos ainda encontrar uma relação entre o R e a frequência angular orbital [2]. Esta relação
é obtida igualando a força gravitacional de Newton e a força centrípeta, desse modo, podemos
12
Mais detalhes ver exercício 2 do capítulo 3 na referência [5].

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 32

escrever [5]:
GM
ωs2 = , (2.59)
R3
onde M = m1 + m2 , introduzindo a massa chirp [5], definido por:

(m1 m2 )3/5
Mc ≡ , (2.60)
M 1/5

a relação entre a frequência angular orbital e a frequência da onda gravitacional fgw é ωs =


πfgw , em que ωgw = 2ωs . Isso significa que a frequência da onda gravitacional é duas vezes
a frequência angular orbital do sistema. Isolando R da expressão (2.59), reescrevendo a massa
chirp em termos da massa reduzida µ como Mc = µ3/5 M 2/5 , e substituindo-as nas expressões
em (2.58), obtemos:

1 + cos2 θ
 
4 5/3 2/3
h+ = (GN Mc ) (πfgw ) cos(2πfgw tret + 2φ),
r 2 (2.61)
4
h× = (GN Mc )5/3 (πfgw )2/3 cosθsen(2πfgw tret + 2φ).
r

As polarizações da onda gravitacional foram parametrizadas por um movimento circular onde


tomamamos uma direção genérica para a propagação da onda. Além disso, note que as
expressões acima têm uma dependência de alguns parâmetros da fonte. As polarizações h+
e h× dependem da distância r até a fonte, da massa Mc , da frequência da onda gravitacional
fgw , que são parâmetros intrínsecos da fonte [5]. Note a dependência de cada polarização com
o ângulo θ, quando o ângulo θ = 0◦ as polarizações h+ e h× têm um valor máximo, isso
significa que o plano orbital é perpendicular ao eixo z. Enquanto que considerando o ângulo
θ = π/2 temos o caso oposto em que o h× é nulo, neste caso o plano orbital contém o eixo z. E
como é esperado, o ângulo φ trabalha como sendo simétrico nas polarizações, uma vez que as
expressões são invariantes por uma rotação completa φ + 2π no plano orbital [5].
Vamos derivar as polarizações da onda gravitacional no domínio das frequências,
onde estas serão úteis para as simulações usadas na segunda parte desta tese. Basicamente,
precisamos fazer uma transformada de Fourier nas expressões (2.55), sem perda de
generalidade, podemos reescrever a polarização h+ como:

4
h+ (t) = (GN Mc )5/3 (πf )2/3 cos(φ(t)), (2.62)
r

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 33

onde omitimos o indice gw e a dependência com o ângulo de inclinação, nesse caso


consideramos θ = 0. Aplicando a transformada de Fourier [19] nesta expressão, temos:
Z
h̃+ (f ) = dth+ (t)e−2πif t ,

2(GN Mc )5/3
Z
h̃+ (f ) = dt(πf )2/3 (eiφ(t) + e−iφ(t) )e−2πif t , (2.63)
r
2(GN Mc )5/3
Z
h̃+ (f ) = dt(πf )2/3 (ei(φ(t)−2πf t) + e−i(φ(t)+2πf t) ),
r

onde substituímos cos(φ(t)) pela expressão em termos das exponenciais complexas. Apenas a
exponencial positiva resulta em uma contribuição no resultado final. No intuito de obter uma
expressão analítica da polarização da onda gravitacional em termos da variação da frequência
com o tempo, iremos utilizar o Método da Fase Estacionária [20]. Este método consiste em
expandir uma função ao redor de um máximo onde define-se o ponto de retorno como sendo
φ(t∗ ) = f . Então, tomando a expansão de Taylor do expoente da expressão em (2.63) em torno
de t∗ até a segunda ordem, obtemos:

2(GN Mc )5/3
Z
φ̈ 2
2/3 iφ(t∗ )−2πf t∗
h̃+ (f ) = (πf ) e dtei 2 (t−t∗ ) ,
r
s (2.64)
2(GN Mc )5/3 2π i(φ(t∗ )−2πf t∗ −π/4)
h̃+ (f ) = (πf )2/3 e ,
r φ(t¨∗ )

onde utilizamos a integração gaussiana e a integração em um plano complexo resulta em um


termo de fase na própria função exponencial, mais detalhes podem ser vistos em [20]. Usando
a relação entre a frequência e a fase dada por 2π f˙ = φ̈(t∗ ), podemos reescrever a expressão
acima como:
2(GN Mc )5/3
h̃+ (f ) = (πf )2/3 f˙−1/2 ei(φ(t∗ )−2πf t∗ −π/4) , (2.65)
r
há uma relação que descreve como a frequência da onda gravitacional evolui com o tempo, a
derivação em mais detalhes é mostrada no Apêndice A.3. A expressão da variação da frequência
com o tempo é dada por [5]

df 96π
= η(πGN M )5/3 f 11/3 , (2.66)
dt 5

onde η ≡ m1 m2 /M 2 é a razão de massa simétrica e M = m1 + m2 é a massa total, a equação

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 2. Os Fundamentos da Teoria de Ondas Gravitacionais 34

acima é obtida seguindo a aproximação em momento de quadrupolo. A relação Mc = η 3/5 M


entre a massa chirp e a razão de massa simétrica é obtida isolando o produto das massas m1 m2
da relação do η e substituindo na definição em (2.60). Finalmente, substituimos a expressão
(2.66) em (2.65) e reagrupando os termos, obtemos:

1/2
(GN Mc )5/6 −2/3 −7/6 1 + cos2 θ
  
5
h̃+ (f ) = π f eiφ(t) , (2.67)
24 r 2

onde foi reintroduzido a dependência com o ângulo θ. Analogamente para a polarização h× :

1/2
(GN Mc )5/6 −2/3 −7/6

5
h̃× (f ) = π f cosθeiφ(t)+iπ/2 . (2.68)
24 r

Em síntese, derivamos as polarizações das ondas gravitacionais h+,× em um nível


de contribuição dominante. Consideramos um modelo simples, assumindo uma parametrização
circular da órbita de um sistema binário e obtivemos uma amplitude que depende de alguns
parâmetros intrínsecos da fonte como a massa chirp Mc , a distância r, a frequência f e o ângulo
de inclinação θ. Além disso, reescrevemos as polarizações no domínio das frequências em que
fizemos uma transformada de Fourier, estas relações serão úteis para a segunda parte desta tese.
A massa chirp é uma combinação entre as componentes individuais e a massa total do sistema,
outra medição dos dados vem da relação (2.66), em que utilizando a amplitude e a frequência do
tempo, podemos medir as massas individuais das mesmas. Outro aspecto fascinante da teoria
da onda gravitacional é que sistemas astrofísicos de binárias que emitem radiação podem nos
fornecer uma medida da distância entre fonte-observador [11].

Hebertt Leandro Silva 2.5. Fórmula do Quadrupolo


Capítulo 3
Efeito de Memória não-Radiativo da Onda
Gravitacional

Neste capítulo, apresentamos o primeiro trabalho da tese [21]. Começamos com


uma introdução fazendo uma revisão da literatura, na seção seguinte apresentamos o método
em que propomos um modelamento físico que representa uma fonte astrofísica, mostramos os
resultados e por fim as discussões sobre o presente trabalho.

3.1 Introdução
As detecções das ondas gravitacionais inauguraram a possibilidade de estudar a um
nível fundamental a teoria da Relatividade Geral, além de abrir uma nova janela para estudos de
fontes astrofísicas1 . A expansão em momentos multipolares a partir do limite de campo fraco
carrega uma assinatura da radiação gravitacional, uma parte desses multipolos é responsável
pela parte oscilatória. Enquanto que a energia e o momento conservado do sistema estão ligados
a parte não oscilatória do campo gravitacional.
Neste trabalho, estudamos o efeito memória na parte não-radiativa do campo
gravitacional e os seus efeitos no detector. O efeito Memória na radiação gravitacional é um
deslocamento permanente entre duas partículas teste depois da perturbação gravitacional ter
passado pelo detector [23]. Em princípio, esse efeito pertence a um amplo grupo de efeitos,
1
Com a detecção das ondas gravitacionais surgem novos vínculos associados a população de binárias e dessa forma
abre a possibilidade de estudar como eventos astrofísicos desse tipo evoluem no tempo cósmico [22].

35
Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 36

denominados efeitos "hereditários", pois indicam que tal parte do campo gravitacional depende
de toda a história da fonte [7]. Os efeitos hereditários na radiação gravitacional podem ser
divididos em dois tipos. Primeiro, um que depende da distribuição do tensor energia-momento
na forma linear [24] e na forma não linear [25] ao qual provoca um efeito de memória. O
segundo tipo é apelidado de cauda (tail em inglês) e pode ser produzido tanto devido ao
repique no processo de produção de radiação gravitacional, quanto na própria radiação da onda
gravitacional, esse segundo tipo é não-linear. A memória gravitacional foi inicialmente estudada
por Zeldovich e Polnarev [26] usando a teoria de perturbação e mais tarde por Christodoulou
[25] usando a Relatividade Geral não linear e mais recentemente por Favata em [27]. O efeito
memória resulta numa mudança cumulativa na distância entre duas partículas de teste após a
onda ter passado, em comparação com a sua posição antes da perturbação gravitacional.
Na teoria de perturbação, pode-se decompor a perturbação métrica em duas partes,
uma parte radiativa que oscila e decai com a distância e a outra que é longitudinal onde é
completamente determinada pelas propriedades da fonte [6]. Em princípio, a onda gravitacional
causa uma oscilação na separação de deslocamento das partículas livres que regressa à sua
posição original, mas essa representação não é completamente verdadeira [23]. No detector,
após a onda gravitacional ter passado, mantém a informação sobre a fonte relacionada com a
memória. Num trabalho recente [28], foi demonstrado que a solução retardada de uma partícula
em movimento numa geodésica nula produz uma contribuição que decai numa ordem de O(1/r)
na equação de desvio da geodésica e esse resultado é relacionado com o efeito memória.
A contribuição no detector referente ao efeito memória advindo da parte radiativa
pode ser analisada da seguinte forma. Vamos considerar uma equação de desvio da geodésica
de duas partículas livres com uma separação entre elas dado por Di [28]:

D̈i = R0j0
i
Dj , (3.1)

onde a separação entre as partículas teste é quantificado pelo tensor de Riemman Ri0j0 . Uma
característica do efeito de memória da radiação gravitacional é a solução para a perturbação
da métrica que resulta num termo proporcional a δ̇(t), onde δ(t) é uma Delta de Dirac. Uma
dupla integração da (3.1) resulta numa contribução proporcional a D(t) de uma função θ(t)
de Heaviside. E por esse motivo resulta num deslocamento permanente como um chute na

Hebertt Leandro Silva 3.1. Introdução


Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 37

separação entre as duas partículas teste [28]. Enquanto que analisando diretamente o tensor
de Riemann, temos uma segunda derivada da parte transversa sem traço ḧTijT da perturbação
gravitacional. A integração dessa parte radiativa da métrica na equação de desvio da geodésica,
assume os seguintes valores assintóticos [23]:

∆Di ∝ (hTijT (t → ∞) − hTijT (t → −∞))Dj 6= 0,

onde tomando a diferença entre os valores (+∞, −∞) da perturbação gravitacional, esta
diferença não resulta em zero, ou seja, permanece guardado uma memória (informação) da
onda gravitacional que passou.
No outro limite mostrado no mesmo trabalho do Tolish [28] sobre o efeito memória,
foi analisada uma solução de uma partícula em movimento sob uma geodésica nula. Em
particular, a solução retardada considera uma fonte inicialmente em repouso para um ponto
de observação fixo t0 , e após um tempo t > 0 decompõe em numa partícula com energia E.
Tomando o limite de t0 → ∞, esse pode ser pensado como uma partícula que se move sobre
uma geodésica nula para sempre, o tensor de Riemann ganha uma contribuição que cai numa
ordem de O(1/r2 ). Os autores concluem que não existe qualquer efeito de memória associado a
este limite. Além disso, a perturbação da métrica tem um fator de δ̈(t), logo a integração resulta
num termo proporcional à δ(t) na equação de desvio da geodésica [28].
Os modos longitudinais estão relacionados com as componentes não-radiativas de
um campo gravitacional, como foi mostrado na seção 2.4 do referente capítulo. A perturbação
métrica tem componentes que obedecem a equações do tipo Poisson, e mostramos que o
tensor de Riemann tem uma contribuição que provém dessas partes da perturbação. Em nosso
primeiro trabalho, revisamos as soluções retardadas para a emissão da radiação gravitacional.
Analisamos as soluções do campo gravitacional em torno de uma fonte que emite radiação
por tempo finito, mostramos que se obtém uma contribuição do tipo velocidade permanente
na equação de desvio da geodésica na ordem de O(1/r2 ) (sendo r a distância entre fonte e
observador), diferente do deslocamento permanente. Na seção seguinte, apresentamos o método
utilizado no artigo [21].

Hebertt Leandro Silva 3.1. Introdução


Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 38

3.2 Método
O principal objetivo neste capítulo é analisar os efeitos advindos da parte não-
radiativa do campo gravitacional. Estes termos podem ser isolados tomando a decomposição
SVT explicada no último capítulo. Temos então duas funções escalares ψ e e Φ e duas
componentes de um vetor transverso Vi definidas como quantidades invariantes de gauge. Estas
quantidades obedecem a equações do tipo Poisson e são expressas:

∇2 Ψe =4πGN ρ,

∇2 Φ =4πGN (ρ + 3p − 3Ṡ), (3.2)

∇2 Vi = − 16πGN Si .

Quando encontramos a solução para as equações acima, podemos encontrar expressões das
quantidades ψ e , Φ e Vi , e consequentemente expressá-las no tensor Riemann. Iremos aqui
estudar os efeitos advindos das componentes escalares da perturbação gravitacional.
Para determinar completamente as componentes escalares ψ e e Φ teremos que usar
a conservação do tensor energia-momento ao nível linear ∂µ T µν = 0, para ν = 0:

∇2 S = ρ̇, (3.3)

em que a expressão acima é a equação de continuidade2 e assim determinamos S em termos de


ρ, e para ν = i:
2
p + ∇2 σ =Ṡ,
3 (3.4)
2
∇ σi =2Ṡi ,

conseguimos determinar σ em termos de S e p.


E como foi discutido anteriormente, na equação de desvio da geodésica, temos
o tensor de Riemann com todas as contribuições (escalares, vetoriais e tensoriais). Para
determinar a parte escalar precisamos modelar as quantidades densidade de energia ρ e a pressão
p, e encontrar a solução dessas contribuições em (3.2). Faremos um modelamento motivado por
uma situação astrofísica na próxima seção.
2
S é a parte longitudinal da componente do tensor energia-momento T0i .

Hebertt Leandro Silva 3.2. Método


Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 39

3.3 Resultados
A situação astrofísica que iremos modelar representa uma fonte que emite radiação
gravitacional e consequentemente transporta informações sobre os modos longitudinais. Dessa
forma carrega uma assinatura da evolução temporal dos modos não-radiativos da perturbação
gravitacional. Algumas fontes reais podem representar esse modelamento, como por exemplo
eventos de sistemas de binárias [4] e em mecanismos de Supernova [29].
Para a nossa situação física vamos modelar um sistema com massa total M em
repouso em t = 0 e para t > 0 toda essa massa é convertida numa casca esférica que se expande
a velocidade da luz. A componente T00 do tensor energia-momento pode ser expresso por [21]:

M
T00 (t, ~x) = (1 − Θ(t))M δ 3 (~x) + ∆(t − r) (3.5)
4πr2


onde r = |~x| e Θ(t) sendo uma função suave de Heaviside com ∆(t) ≡ dt
. O primeiro termo
na equação (3.5) representa essa massa inicialmente em repouso, enquanto que o segundo termo
descreve uma casca esférica que se expande. A casca esférica resulta em um termo de pressão
no tensor energia-momento, dado por:

M
p= ∆(t − r). (3.6)
12πr2

Modelamos ρ e consequentemente p, e para determinar completamnente a parte escalar das


equações dos potenciais Φ e ψ e precisamos determinar Ṡ. Utilizando da equação do ρ em (3.5)
e substituindo na equação de continuidade em (3.3) obtemos3 :


∆(t − r0 )
Z
M
S= dr0 , (3.7)
4π r r02

desta forma temos ρ, p e S. Assim encontrando a solução da parte escalar utilizando as seguintes
equações4 :
∇2 ψ e = 4πGN ρ

∇2 Φ = 4πGN (ρ + 3p − 3Ṡ)
3
Mais detalhes no Apêndice C.
4
Os cálculos detalhados esão descritos no Apêndice C.

Hebertt Leandro Silva 3.3. Resultados


Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 40

assim resulta: Z ∞
e GN M Θ(t − r0 ) 0
ψ =− + GN M dr ,
r r r02
Z ∞ (3.8)
Θ(t − r0 ) r2
 
GN M
Φ=− + GN M 02
2 − 3 02 dr0 ,
r r r r
ou de maneira equivalente, onde fazendo uma integração por partes:
Z ∞ 0
e GN M GN M 0 ∆(t − r )
ψ =− + Θ(t − r) − GN M dr ,
r r r r0
Z ∞ 0
  (3.9)
0 ∆(t − r )
 r 2
e
Φ − ψ =GN M dr 1− 0 .
r r0 r

Essas são as expressões da solução para o modelamento usado dos potenciais na teoria
linearizada. Em particular, tomando os limites para t  r e t  r nas expressões acima,
obtemos:
GN M
ψ e (t  r) = Φ(t  r) = − ,
r (3.10)
GN M
ψ e (t  r) = Φ(t  r) = − ,
t
onde utilizamos que o limite da função de Heaviside Θ(t  r) → 0, enquanto que para
Θ(t  r) → 1 e dessa forma resulta nas expressões em (3.10). O observador localizado a
uma distância t  r experimenta um potencial Newtoniano constante de massa M localizada
em r = 0. A concha esférica inicia expandindo-se até cruzar em t = r e o observador para
t  r experimenta um potencial Newtoniano que decai com (1/t). A representação simbólica
desses limites estão representados na Fig 3.1. Esse resultado nos mostra que a parte escalar
da perturbação gravitacional nos limites para +∞ e −∞ recupera o potencial Newtoniano, em
outras palavras, os graus físicos da parte escalar da perturbação gravitacional estão relacionados
diretamente ao potencial Newtoniano. O intuito aqui neste capítulo é analisar os efeitos da
variação temporal dessas quantidades escalares no detector.
Substituindo as contribuições escalares ψ e e Φ em (3.9) no tensor de Riemann5 ,
obtemos:

i
R0j0 =ψ̈ e δji + Φ,ij ,

xi xj GN M
 
xi xj GN M
 (3.11)
i i i
R0j0 = δj − 2 ∆(t − r) + δj − 3 3 (1 − Θ(t − r)),
r r2 r r3
5
Mais detalhes no Apêndice C.

Hebertt Leandro Silva 3.3. Resultados


Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 41

Figura 3.1: O observador localizado a uma distância da fonte para t  r experimenta


um potencial newtoniano constante de massa M, enquanto que para t  r o observador
experimenta um potencial newtoniano que decai como 1/t.

os resultados acima serão susbtituídos na equação do desvio da geodésica, primeiro vamos fazer
uma análise de cada termo. O primeiro termo em (3.11) proporcional a ∆(t), onde integrando
na equação de desvio da geodésica resulta em uma velocidade permanente v i , ou seja, em um
termo do tipo memória de velocidade no detector. Comparando com o a literatura, esse termo
obtido é diferente do efeito de memória do deslocamento por algumas razões. Primeiramente,
o efeito derivado aqui é obtido a partir dos modos longitudinais [21], enquanto que o efeito
do deslocamento permanente é obtido usando a parte radiativa do campo gravitacional [27]. E
quantitativamente são efeitos diferentes no detector, a memória de velocidade é proporcional a
˙
∝ ∆(t), enquanto que a memória de deslocamenteo é proporcional a derivada temporal ∝ ∆(t).
A dependência com a distância até a fonte do que é obtido aqui varia inversamente com o
quadrado da distância, enquanto o outro varia inversamente com a distância. Notemos também
o segundo termo em (3.11) da ordem de 1/r3 , esse termo é uma contribuição das forças de
maré para o limite estático e é proveniente do potencial produzido por uma fonte de massa M
estática no limite para t >> r, no qual é esperado para o limite Newtoniano. Na próxima seção
analisamos a detectabilidade deste efeito.

Hebertt Leandro Silva 3.3. Resultados


Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 42

3.4 Discussão
Um ponto interessante é o primeiro termo em (3.11), podemos analisar a
possibilidade de detectar este efeito. Calculando a integral do desvio da geodésica, em torno
de pequenos intervalos em t ' r, esse limite de integração significa o momento onde a concha
esférica em expansão atravessa o detector em t = r, dessa forma temos:

xi xj GN M j
 
i
i
∆Ḋ = δj − 2 D, (3.12)
r cr2

onde a velocidade da luz c foi recolocada, e Dj é a separação entre duas partículas de teste, a
situação física é que o observador-fonte irá experimentar um desvio na velocidade entre as duas
GN M
partículas teste proporcional à ∼ cr2
D [21].
Para quantificar a detectabilidade do efeito é conveniente introduzir a transformada
de Fourier da perturbação métrica h̃(f ) e a densidade de ruído espectral Sn (f ) do detector
que está relacionada com a capacidade de detecção dos detectores de ondas gravitacionais.
Utilizamos a relação sinal-ruído (SNR)6 para medir qualquer efeito significativo no detector. A
densidade de ruído espectral Sn (f ) é definida por [5]:

1
< ñ∗ (f )ñ(f 0 ) >= δ(f − f 0 ) Sn (f ), (3.13)
2

onde < ... > é a média sobre muitas realizações do ruído ñ(f ) no domínio das frequências. A
razão sinal-ruído SNR ao quadrado é dada por:


|h̃(f )|2
Z
2
SN R = 4 df , (3.14)
0 Sn (f )

onde SN R ≥ 8 é assumido para um limite padrão de detecção para qualquer detector. A


transformada de Fourier pode ser relacionada com o sinal usando do fato que |h̃(f )| =
|¨h̃(f )/(2πf )2 |, e que ḧvk ∼ (GN M/r2 )∆, onde a transformada de Fourier da ∆ é igual a
1. Comparando as duas expressões obtemos assim a amplitude de velocidade h̃vk (f ) [21]:

GN M
h̃vk (f ) ∼ , (3.15)
c(2πf r)2
6
SNR→ Signal to Noise Ratio do Inglês.

Hebertt Leandro Silva 3.4. Discussão


Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 43

e usando a relação acima podemos estimar o parâmetro de amplitude adimensional f h̃vk , temos
então:   −1  −2
−27 M f r
hc = f h̃vk ' 2 × 10 , (3.16)
M 10−4 Hz rGC
em que rGC ∼ 8kpc é a distância ao centro galáctico.
Consideramos uma fonte otimista localizada no centro da nossa galáxia ao qual
libera uma massa solar M = M . A possibilidade de detecção para esse sistema é avaliada
para futuros detectores de ondas gravitacionais na Fig. 3.2. No gráfico, comparamos o

parâmetro adimensional f h̃vk (em linha marrom) com algumas densidades espectrais de ruído
de detectores de ondas gravitacionais.

SKA
10 13 LISA
Decigo
BBO
1/2)

10 17 ET
Detector noise vs. signal (Hz

rGC
10 21

10 25

10 29

10 33

10 8 10 6 10 4 10 2 100 102 104


f(Hz)


Figura 3.2: Em linha marrom o parâmetro adimensional f h̃vk do efeito de memória de
velocidade em comparação com algumas densidades espectrais de ruído de futuros detectores
de ondas gravitacionais: LISA [30],BBO [31],ET [32],DECIGO [33], SKA [34].

Considerando um simples modelo teste motivado por uma situação astrofísica,


derivamos as componentes escalares da perturbação gravitacional que estão relacionados com
as partes não-radiativas do campo gravitacional. Estas contribuições são expressas no tensor
de Riemman e consequentemente resultam numa contribuição para a equação do desvio da
geodésica. As contribuições são expressas na equação (3.11), o primeiro termo proporcional a
∼ ∆(t − r) resulta num chute permanente de velocidade transversal proporcional a O(1/r2 ),
enquanto o termo proporcional a 1/r3 é responsável pelos efeitos de maré no limite estático.
A memória de velocidade resulta em uma velocidade permanente entre duas partículas teste

Hebertt Leandro Silva 3.4. Discussão


Capítulo 3. Efeito de Memória não-Radiativo da Onda Gravitacional 44

diferentemente do efeito memória de deslocamento.


A detectabilidade do efeito, mostrada no artigo [21], foi estimada para as densidades
espectrais de ruído em detectores de ondas gravitacionais mostrados na Fig. 3.2. A principal
contribuição resulta numa amplitude de velocidade h̃c onde é inversamente proporcional ao
quadrado da distância entre a fonte e o observador. E como foi mostrado, o tensor de Riemann
na equação de desvio da geodésica resulta em uma memória de velocidade, isso significa que
causa uma contribuição permanente na velocidade em partículas testes do tipo ∆v = ḣ∆L,
onde h é a perturbação.
A inviabilidade para detectar a amplitude de velocidade deve-se ao fato de a
quantidade ser inversamente proporcional ao quadrado da distância. Ao considerar uma fonte
astrofísica localizada fora do sistema solar, torna-se impossível de detectá-la, em que na Fig
3.2 assumimos uma fonte otimista que libera ∼ M localizada no sistema solar. No entanto,
obtemos um novo efeito a partir dos modos longitudinais [21], em especial da parte escalar,
considerando um modelo de teste inspirado por uma fonte astrofísica. Derivamos a memória
de velocidade, tal que este efeito pertence a uma classe de fenômenos derivados da teoria da
gravidade.

Hebertt Leandro Silva 3.4. Discussão


Capítulo 4
Princípios da Cosmologia

Neste capítulo, apresentamos a base do Modelo Cosmológico Padrão e algumas de


suas características, em particular obter a relação entre distância de luminosidade e redshift.
Na última seção, mostramos as medidas da constante de Hubble H0 . O capítulo será utilizado
como alicerce para apresentar o segundo trabalho desta tese.

4.1 Introdução
O objetivo da Cosmologia é o estudo do Universo e desse modo obter a descrição
quantitativa e a evolução temporal do Cosmos como um todo [8]. Para construir uma teoria
completa do Universo devemos associar o modelo teórico com as observações. A teoria
que serve como base para os estudos em Cosmologia é a Relatividade Geral que descreve
como a quantidade de matéria e energia relaciona-se com a geometria [14]. Enquanto que
as observações auxiliam com o modelo teórico proposto.
Alguns modelos cosmológicos foram propostos até se obter o modelo mais aceito
usado hoje. Assim, faremos um breve apanhado histórico de modelos sugeridos e suas
principais características. Com o advento da Relatividade Geral proposto por Einstein em 1915
[1], inaugurou-se a possibilidade de sugerir modelos que descrevessem a dinâmica temporal
do Universo. Em 1917, o mesmo Einstein propôs um Universo estático, finito e com uma
geometria espacial esférica, e que em dado momento a força gravitacional iria retrair um
Universo preenchido de matéria [35]. Para fazer esse contrabalanço o Einstein adicionou

45
Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 46

uma força misteriosa, denominada de Λ1 , que fazia esse trabalho repulsivo contra a força da
gravidade e assim ajustaria as equações de modo a ter um universo estático.
No mesmo ano da proposta de Einstein, de Sitter sugeriu um modelo com curvatura
espacial nula, isento de matéria e que aceleraria a uma taxa constante [36]. Em 1922 e 1924
A. Friedmann propõe em dois artigos três soluções para um universo em expansão com as
respectivas curvaturas espaciais positiva, plana e negativa. Anos mais tarde, G. Lemaître
recalcula a solução encontrada por Friedmann onde propõe uma solução com o Universo em
um estado inicial de alta densidade de energia. E de maneira independente, H. P. Robertson
descobre as mesmas soluções encontradas por Friedmann [35]. O modelo de Friedmann,
Lemaître e Robertson previa um universo em expansão, e conseguentemente fazia previsões
sobre como a luz de uma galáxia chegaria até uma galáxia distante com o comprimento de onda
deslocado para o vermelho.
A comprovação de um Universo em expansão foi obtida por Vesto Slipher [37] e
Edwin Hubble [38]. Slipher utilizando do efeito Doppler analisou a luz proveniente de estrelas
e nebulosas e notou que a maioria das galáxias estavam se afastando da Terra com velocidade
na ordem de até centenas de km/s [39]. E o Hubble analisando o movimento de galáxias e a luz
proveniente das mesmas, mediu a velocidade de recessão e as suas respectivas distâncias. Ele
notou que essas duas quantidades obedecem a uma relação, dada por:

v = H0 r, (4.1)

v é a velocidade de recessão, r é a distância física e H0 é chamada constante de Hubble com


dimensão de km/s/Mpc.
O Universo descrito por Friedmann, Lemaître e Robertson é homogêneo, isotrópico,
em expansão e possuia um estado inicial [40]. Em contrapartida, foi o Fred Hoyle, um
grande defensor do modelo estácionário, que denominou perjorativamente esse estado inicial do
Universo como Big Bang. Entre os anos de 1940 e 1960, George Gamow aprimora o modelo do
Big Bang utilizando conhecimentos de Física Nuclear em que sugere as condições necessárias
para a formação de alguns elementos químicos leves [41]. Para Gamow o universo primordial
era quente e denso com condições similares a formação de elementos em núcleos estelares. Esse
1
Anos mais tarde este Λ ganharia o nome de Constante Cosmológica.

Hebertt Leandro Silva 4.1. Introdução


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 47

estado inicial quente e denso foi evoluindo e conforme o Universo se expandia as densidades
de matéria e radiação decaiam com o tempo assim como a temperatura também o faz.
As medidas da expansão do Universo e o modelo cosmológico proposto não eram
suficientes para garantir um estado inicial denso e quente do Universo. Em 1946, o Gamow
sugere que uma radiação produzida em determinado momento na evolução poderia ser detectada
como prova do Big Bang [42]. Na evolução temporal do Universo há um momento que as
densidades de radição e matéria se igualam e num tempo cósmico após, há um desacoplamento
dos fótons com a matéria e assim produziria uma radiação residual na ordem de temperatura dos
5 Kelvin. E em 1965, uma descoberta acidental foi feita por dois engenheiros Robert Wilson e
Arno Penzias, enquanto tentavam isolar um ruído que vinha de todas as direções do céu [43].
No artigo, eles não citam a origem cosmológica dessa radiação2 , que foi um indício crucial
para aceitar o modelo do Big Bang. Vale uma ressalva histórica, o Wilson e o Penzias apenas
publicaram o artigo devido a conhecerem o trabalho do James Peebles e colaboradores, onde
explicam a origem dessa radiação. E em comum acordo, Peebles e colaboradores3 publicam um
artigo intitulado "Radiação Cósmica de Corpo Negro"[44], no qual mostra que essa radiação
residual obedece a Lei de Planck de um corpo negro. Atualmente, com a análise dos dados
do satelíte COBE (Cosmic Background Explorer), o valor de temperatura mais preciso dessa
radiação é da ordem de 2.7 Kelvins [45].
Outros dois fatos observacionais do Universo são a Matéria Escura e a Energia
Escura. Inicialmente, a Matéria Escura4 foi proposta como uma explicação para a massa faltante
em rotação de galáxias [46]. Outra maneira de detectar indiretamente é por meio do efeito das
lentes gravitacionais [47], além de ter um papel crucial no processo de evolução do Universo
responsável pelas Oscilações Acústicas dos Bárions [48] e referente as anisotropias observadas
na Radiação Cósmica de Fundo [49]. A Energia Escura seria a componente responsável pela
expansão acelerada. A observação crucial foi a expansão acelerada do Universo foi descoberta
por Riess e colaboradores em 1998 [50] e também nos trabalhos de Permultter e colaboradores
[51]. As observações foram feitas utilizando Supernovas do tipo Ia, conhecidas como Velas
Padrões na Cosmologia. E atualmente segundo a análise dos dados do Satelíte Planck [52],
2
E muito menos fazem menção ao trabalho do Gamow.
3
O Peebles e colaboradores publicam o artigo após o trabalho do Wilson e Penzias.
4
A razão deste nome é porque a Matéria Escura não emite luz, os seus efeitos podem ser observados em interações
gravitacionais.

Hebertt Leandro Silva 4.1. Introdução


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 48

a componente de Matéria Escura contribui com 26, 8% da densidade de energia do universo,


enquanto que a Energia Escura contribuiu com 68, 9% da densidade de energia do Universo. As
outras contribuições das densidades de energia são referentes a matéria comum com 4, 9%, sob
a forma de estrelas, galáxias, e tudo o que é visível. E há uma pequena contribuição que provém
da radiação e dos neutrinos na ordem de 10−4 % do total.
A Relatividade Geral é a base teórica para descrever o Universo de maneira
quantitativa. Desse modo discutiremos a base matemática do modelo cosmológico padrão [8].
Na próxima seção abordaremos a cinemática que servirá como base para obtermos a relação
entre redshift e distância em Cosmologia.

4.2 Métrica de FLRW


A cinemática de um Universo que possui homogeneidade e isotropia pode ser
derivada usando as equações de campo de Einstein. A solução da métrica de Friedmann-
Lemaître-Robertson-Walker (FLRW) respeita bem essas duas condições [53]. Um Universo
homogêneo implica que a média da densidade de matéria é constante, e isotrópico nos diz que
as partículas em movimento no espaço-tempo não têm uma direção preferencial [8]. A métrica
de Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker [19], em coordenadas esféricas, é dada por:

dr2
 
2 2 2 2 2
ds = −dt + a(t) + r dΩ , (4.2)
1 − kr2

com assinatura (−1, +1, +1, +1), em que a(t) é o fator de escala e k representa a curvatura
espacial. É comum reescrever as expressões acima[53], em que redefinimos a coordenada radial

dr ≡ dχ 1 − kr2 , resulta em:

ds2 = −dt2 + a2 (t)dχ2 + Sk2 (χ)dΩ2 , (4.3)

onde para diferentes valores de k representa uma geometria do universo. Para k < 0 representa
o universo aberto com curvatura negativa, o valor para k = 0 representa uma geometria plana e
aberta e o valor para k > 0 representa um universo fechado com geometria esférica. E a função

Hebertt Leandro Silva 4.2. Métrica de FLRW


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 49

Sk (χ) na métrica de FRLW assume os seguintes valores:



Sinh( −kχ)
√ → k < 0,
−k
χ → k = 0, (4.4)

Sin( kχ)
√ → k > 0.
k

Imaginemos uma rede com pontos fixos [8] representando a malha do espaço-tempo. Nessa
malha medimos as distâncias físicas entre dois pontos fixos. A malha representa o Universo e
conforme vai se expandindo a distância física entre os pontos aumenta à medida que a expansão
continua. Em Cosmologia, é necessário definir o referencial comóvel que está junto com o
fluxo da expansão [53]. Desse modo, temos a distância comóvel constante que faz parte do
referencial que está se expandindo, e temos a distância própria que evolui com o tempo. Além
disso, podemos reescrever a métrica de FLRW em termos do tempo conforme, obtemos:

ds2 = a(η)2 (−dη 2 + dχ2 + Sk2 (χ)dΩ2 ), (4.5)

R
em que o tempo conforme é η = dt/a(t) e dt é a diferencial do tempo próprio. Essa expressão
será útil ao analisarmos a propagação da luz.

4.2.1 Redshift

Galáxias, estrelas, quasares entre outros objetos astrofísicos são identificados


devido a luz emitida. É padrão definirmos a quantidade redshift, em outras palavras seria o
deslocamento para o vermelho do comprimento de onda emitido pela fonte [19]. O redshift é
a diferença do comprimento de onda da luz emitida por uma fonte ao qual foi deslocada com
relação ao comprimento de onda original. Para esse fenômeno significa que o comprimento de
onda inicial é menor quando comparado com o comprimento de onda observado. A definição
do redshift z é dada por [53]:
λ0 − λ1
z≡ (4.6)
λ1
onde λ0 é o comprimento de onda do observador, enquanto λ1 é o emitido pela fonte. A
expressão em (4.6) pode ser reescrita em termos do fator de escala, considerando a seguinte

Hebertt Leandro Silva 4.2. Métrica de FLRW


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 50

situação. Uma fonte emite uma onda clássica para o tempo físico dado por ∆t1 , e o tempo
de detecção no observador é determinado por ∆t0 . O tempo físico é diferente na dinâmica do
Universo devido a existir um "atraso"entre a emissão e a detecção. Tomando o tempo conforme
definido anteriormente para a métrica FLRW em (4.5), temos [53]:

∆t1 =a(η1 )∆η


(4.7)
∆t0 =a(η0 )∆η

onde o tempo conforme é o mesmo, tomando a velocidade da luz c = 1 temos que λ1 = ∆t1 e
λ0 = ∆t0 , desse modo podemos expressar o redshift z:

a(t0 )
1+z = , (4.8)
a(t1 )

para determinar o z devemos obter a dinâmica do fator de escala a(t), ou seja, determinar a
dinâmica do Universo e obter o a(t) [54]. Expandindo o fator de escala a(t) em uma série
Taylor em torno de t0 [14]:

1
a(t) = a(t0 ) − (t0 − t)ȧ(t0 ) + (t0 − t)2 ä(t0 ) · · ·
2
 
1 2 2
a(t) = a(t) 1 − (t0 − t)H(t0 ) − (t0 − t) q(t0 )H (t0 ) · · · (4.9)
2
em que reescrevemos as quantidades H(t) e q(t) expressas por:

ȧ(t)
H(t) ≡ ,
a(t)
(4.10)
ä(t)a(t)
q(t) ≡ − 2 ,
ȧ (t)

onde H(t) é o parâmetro de Hubble e representa a taxa de expansão do universo em um tempo


t, e q(t) é o parâmetro de desaceleração do universo que desempenha um papel entre a taxa de
expansão e a gravidade, em outras palavras, para um universo em expansão acelerada temos
que ä > 0 e dessa forma o q(t) age como um valor negativo dessa expansão. Os valores em t0
representam os valores atuais com H(t0 ) = H0 , q(t0 ) = q0 e a(t0 ) = 1. Na primeira ordem
em aproximação utilizando a relação (4.8) e (4.9), derivamos uma equação entre o redshift e a

Hebertt Leandro Silva 4.2. Métrica de FLRW


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 51

distância [53]:
z ' H0 d, (4.11)

em que usamos para fontes astrofísicas próximas t0 − t como sendo a distância física.

4.2.2 Relação Redshift-Distância

Para obter uma relação entre distância×redshift primeiramente vamos assumir um


intervalo do tipo luz ds2 = 0 para a métrica FLRW:

z
dz 0
Z
χ(z) = , (4.12)
0 H(z 0 )

onde utilizamos a troca de variável entre o fator de escala a(t) e o z como sendo a(t) = 1/(1+z).
A expressão acima descreve como a distância comóvel χ, que não é um observável, evolui com
o redshift. Tomemos a seguinte situação de uma fonte que emite ondas eletromagnéticas de
modo que podemos medir um fluxo F [14]:

L
F = , (4.13)
4πd2L

em que L é a luminosidade e dL é a distância de luminosidade da fonte, essa é uma expressão


geral para um fluxo. Vamos generalizar essa expressão para a dinâmica de um universo em
expansão, para isso imaginemos duas linhas mundo, em te e to , com χ constante. No tempo te ,
a fonte emite um conjunto de fótons ao qual se expande esfericamente, e num tempo cósmico
to esses fótons são detectados. A área comóvel dessa esfera é dada por [14]:

A = 4πχ2 , (4.14)

enquanto que o fóton observado num tempo cósmico to sua frequência é deslocada por um fator
de escala, ou em termos do redshift como sendo [14]:

νe
νo = , (4.15)
(1 + z)

Hebertt Leandro Silva 4.2. Métrica de FLRW


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 52

logo a expressão para o fluxo F (to ) em termos da frequência observada, onde a luminosidade
L é reescrita em termos do quadrado da frequência, dessa forma temos [14]:

L(te )
F (to ) = , (4.16)
4πχ2 (1 + z)2

comparando a expressão acima com a definição do fluxo em (4.13), temos:

dL
χ(z) = , (4.17)
(1 + z)

substituindo agora na expressão em (4.12), resulta então:

z
dz 0
Z
dL (z) = (1 + z) , (4.18)
0 H(z 0 )

portanto, temos um observável relacionado diretamente com a distância de luminosidade.


Porém ainda falta determinar o parâmetro de Hubble H(z), para isto temos que obter a equações
de campo de Einstein utilizando a métrica de FLRW [8].

4.2.3 Equações de Friedmann

A dinâmica do Universo pode ser representada utilizando a métrica FRLW nas


equações de campo de Einstein. Precisamos definir o lado direito das equações que se refere
a componente do tensor energia-momento [53]. De modo a garantir as condições de isotropia
e homogeneidade, as componentes do tensor energia-momento assumem a forma de um fluido
perfeito [14], dado por:
Tµν = (ρ + p)uµ uν − pgµν , (4.19)

onde uµ é a quadri-velocidade, ρ e p são funções do tempo t para satisfazer as condições de


homogeneidade e isotropia [14]. As componentes de matéria e energia do Universo evoluem
com o fator de escala, ou seja, cada componente de densidade evolui de maneira diferente em
diferentes épocas do Universo [8]. Para mostrarmos isso, vamos utilizar a conservação do tensor
Tµν , que na teoria da Relatividade Geral assume a forma covariante dada por [3]:

∇µ Tµν = 0, (4.20)

Hebertt Leandro Silva 4.2. Métrica de FLRW


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 53

que resulta na equação de continuidade:

ρ̇ + 3H(ρ + p) = 0, (4.21)

a expressão acima será útil para determinar as componentes de matéria e de energia, e como
cada uma evolui com o redshift (ou fator de escala). Calculando as componentes G00 e Gij do
tensor de Einstein usando a métrica FLRW e combinando com o tensor energia-momento em
(4.19), obtem-se as equações de Friedmann [53]:

8πGN k
H2 = ρ − 2,
3 a (4.22)
ä 4πGN
=− (ρ + 3p),
a 3

onde a primeira equação determina a evolução temporal do parâmetro de Hubble, enquanto


que ρ pode ser expresso por uma soma sobre todas as componentes de densidade de energia
do Universo [8]. Voltemos a equação da continuidade em (4.21), assumindo uma equação de
estado expressa por [14]:
p = ωρ, (4.23)

em que ω é um parâmetro constante 5 e assume valores distintos para as diferentes componentes.


A resolução da equação da densidade de energia em que substituímos (4.23) em (4.21), resulta
em:
ρ ∝ a−3(1+ω) . (4.24)

As componentes dos parâmetros de densidade podem ser divididas em matéria, radiação,


curvatura e Energia Escura6 . Cada componente tem uma relação entre a pressão p e a densidade
ρ, para o caso da matéria a pressão é zero, ou p  ρ, que se assume um gás não-relativistico
[53], assim o ρ da matéria evolui com um fator de escala dado por:

ρm ∝ a−3 , (4.25)
5
Alguns modelos alternativos propõem o ω com a dependência do redshift. z, contudo este não é o foco do trabalho
aqui.
6
Os neutrinos possuem massa desprezível.

Hebertt Leandro Silva 4.2. Métrica de FLRW


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 54

onde a matéria é composta por bárions (prótons e nêutrons) [8], e uma matéria invisível
conhecida como Matéria Escura que interage apenas gravitacionalmente. Para o caso da
radiação, assumindo um gás relativistico [53] com ω = 1/3, temos para a radiação:

ρr ∝ a−4 . (4.26)

A radiação refere-se a partículas sem massa como fótons e neutrinos. Enquanto que a
componente relacionada com a curvatura evolui com ω = −1/3 obtendo um ρk ∝ a−2 .
A última e mais estranha componente responsável pela expansão acelerada do Universo é a
Energia Escura e age com uma pressão negativa com ω = −1, que resulta:

ρ Λ ∝ a0 , (4.27)

esse resultado significa que esta componente é constante no tempo. Agora que definimos como
evoluem as componentes de densidade de energia, podemos reescrever a expressão (4.22) em
termos de parâmetros de densidade. A definição em termos de densidade crítica atual [53]:

3H02
ρcrit,0 = , (4.28)
8πGN

e usando isto para definir os parâmetros de densidade adimensionais [53]:

ρa,0
Ωa,0 ≡ , (4.29)
ρcrit,0

e finalmente podemos reescrever a primeira equação de Friedmann como sendo:


  a 4  a 3  a 2 
2 0 0 0
H (a) = H02 Ωr + Ωm + Ωk + ΩΛ , (4.30)
a a a

usando a definição a(t0 ) = a0 ≡ 1, a distância de luminosidade em termos do redshift, obtemos:

z
dz 0
Z
(1 + z)
dL (z) = , (4.31)
H0 0 E(z 0 )

Hebertt Leandro Silva 4.2. Métrica de FLRW


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 55

com E(z) dado por:

H(z) p
E(z) ≡ = Ωr (1 + z)4 + Ωm (1 + z)3 + Ωk (1 + z)2 + ΩΛ . (4.32)
H0

A equação (4.31) determina como a distância de luminosidade evolui com o redshift em


termos dos parâmetros adimensionais de densidade para um universo de FLRW. O fato de
cada componente de energia de densidade evoluir com uma função diferente do fator de escala
implica que na evolução do Universo houve uma componente dominante diferente em diferentes
épocas no tempo cósmico [8].

4.3 O Modelo ΛCDM


O modelo cosmológico que melhor se ajusta ao Universo observado em diferentes
épocas é o modelo ΛCDM. Além disso, os valores dos parâmetros cosmológicos com resultados
extraídos da Radiação Cósmica de Fundo segundo o Telescópio Planck [52], estão resumidos:

Ωm = 0.315 ± 0.007; Ωk = 0.001 ± 0.002; ΩΛ = 0.679 ± 0.013, (4.33)

o valor de Ωk significa que a curvatura do universo é negligenciável. Enquanto que o ΩΛ refere-


se à componente de Energia Escura, que é medida por uma equação de estado com o valor de
ω0 = −1.03 ± 0.03 [52]. A componente de matéria é dividida em duas componentes composta
por bárions (4,5%) e Matéria Escura (26,2%). Outro resultado interessante do Telescópio Planck
é a medida da constante de Hubble [52]:

H0 = (67.4 ± 0.5)kms−1 M pc−1 . (4.34)

A constante de Hubble descreve a taxa de expansão atual do Universo. O modelo ΛCDM


descreve um Universo atual [53] dominado pela Energia Escura, preenchido de matéria
(incluindo matéria escura fria), radiação (na ordem de 10−4 ) e curvatura espacial quase nula.
O estado primordial do Universo era composto por um plasma quente e denso
com pequenas inomogeneidades advindas da inflação [53], esse plasma era constituído de
fótons e bárions fortemente acoplados. Também havia a matéria escura que interagia

Hebertt Leandro Silva 4.3. O Modelo ΛCDM


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 56

apenas gravitacionalmente, formando os poços de potencial gravitacional [53]. Nesse fluido


plasmático, havia uma competição entre a pressão de radiação e a gravidade, a primeira agia na
separação desse fluido enquanto a segunda tentatava uni-la, essa competição gerava ondas nesse
fluido bariônico que se propagava como uma onda sonora, denominada de Oscilações Acústicas
dos Bárions [48]. Conforme essas oscilações ocorriam, o Universo se expandia resfriando-
se o suficiente para combinar núcleos e elétrons formando assim os atómos estáveis, até um
certo momento que a densidade de matéria se iguala a densidade de radiação, esse período é
conhecido como o início da Era da Recombinação [8]. O Universo continua o seu arrefecimento
onde os íons se combinam com os elétrons livres para formar os átomos neutros, o acoplamento
entre a radiação e a matéria torna-se desprezível, ou seja, os fótons não possuiam energia o
suficiente para realizar o processo de espalhamento [55]. Houve um desacoplamento total da
matéria com a radiação, que viaja livremente em todas as direções, essa radiação é conhecida
como Radiação Cósmica de Fundo [45].

Figura 4.1: Medidas de Supernova Tipo IA: Uma outra evidência para um universo atual em
expansão acelerada [53].

As Supernovas do Tipo Ia, chamadas de Velas Padrão da Cosmologia, são fontes


astrofísicas com uma magnitude absoluta de luminosidade bem conhecida. Sem entrar em
detalhes, a magnitude µp é expressa por [50]:

µp = 5log(DL ) + 25, (4.35)

Hebertt Leandro Silva 4.3. O Modelo ΛCDM


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 57

onde DL é a distância de luminosidade. Medindo o redshift z a partir de galáxias hospedeiras 7 ,


somos capazes de determinar o modelo cosmológico e inferir os parâmetros cosmológicos [19].
Em especial, o foco da segunda parte deste trabalho é a cerca das medições do H0 , pois há uma
tensão na medida de H0 [56].

Figura 4.2: Medidas de H0 [56], onde temos uma tensão entre as medidas locais e as medidas
advindas do Satelíte Planck [52].

As medições dos parâmetros cosmológicos dependem de como medimos distâncias


no Universo [19]. Obtendo a distância de luminosidade a partir de fontes astrofísicas podemos
testar o modelo cosmológico e assim determinar a dinâmica do Universo [8]. O parâmetro
principal em Cosmologia é a constante Hubble, que fornece informação sobre a taxa de
expansão atual além que determina a idade do Universo [57]. A primeira medição de H0 foi
feita por Edwin Hubble [38] obteve um valor 500kms−1 M pc−1 . Ao longo dos anos, foram
feitas medições mais precisas neste campo, resumindo algumas das medidas atuais de H0 na
Fig. 4.2, cujas análises atuais fornecem uma tensão na medição do H0 .
A tensão em H0 está na ordem 4, 4σ entre os resultados do Planck [52] e as
advindas de Supernovas, lentes gravitacionais, Gigante Vermelhas entre outras medidas locais
[58]. Esta tensão tornou-se um quebra-cabeça cosmológico, pois as estimativas para baixos
7
O brilho da Supernova torna-se maior do que o brilho da galáxia hospedeira.

Hebertt Leandro Silva 4.3. O Modelo ΛCDM


Capítulo 4. Princípios da Cosmologia 58

redshifts advindo das medições de Supernova, por exemplo, provém um valor maior do que é
obtido nas medidas provenientes da Radiação Cósmica de Fundo [52]. Essa discrepância pode
resultar em duas possibilidades. A primeira, o Modelo Cosmológico Padrão está parcialmente
errado ou temos erros sistemáticos advindo de outras medições para baixos redshifts. Vale
a pena mencionar, num recente artigo Riess e colaboradores verificam que não existem erros
sistemáticos das medições de estrelas do tipo Cefeida8 , logo não contribuem para resolver a
tensão existente de H0 [59]. As Ondas Gravitacionais fornecem uma medição de distância
a partir da amplitude, além disso, é independente de modelo, ou seja, possuem um erro
sistemático diferente dos outros observáveis [4]. As ondas gravitacionais podem desempenhar
um papel crucial entre medidas para baixos e altos redshifts devido a distribuição dos eventos
astrofísicos [22]. Sobre este enfoque, no próximo capítulo, propomos um método para estimar
H0 utilizando ondas gravitacionais.

8
São estrelas que possuem um brilho característico diretamente proporcional ao período de revolução dela [58].

Hebertt Leandro Silva 4.3. O Modelo ΛCDM


Capítulo 5
Medindo a constante de Hubble usando as
Sirenes Negras

Neste capítulo, falamos do segundo trabalho desta tese [60], no qual fizemos uma
aplicação em Cosmologia. A aplicação consiste em estimar o valor da constante de Hubble H0
utilizando detecções de ondas gravitacionais, em que não temos a contraparte eletromagnética
explicitamente. Começamos com uma introdução, onde faremos comentários breves sobre
outros métodos para a medição de H0 encontrados na literatura. Depois explicamos o método
utilizado aqui, por fim apresentamos os resultados e as discussões.

5.1 Introdução
Em Cosmologia, há uma importante relação entre distância de luminosidade dL e
o redshift z. Nessa relação, há um fator de proporcionalidade denominada de constante de
Hubble H0 [61]. A constante de Hubble H0 é um parâmetro crucial da Cosmologia, pois com
esse parâmetro medimos a taxa atual de expansão, além de obtermos a idade do Universo. O
quebra-cabeça cosmológico envolvendo a tensão em H0 é um problema para os cosmólogos,
devido à diferença entre as medidas do satélite Planck [52], e as medidas da colaboração de
Supernovas do SHOES [56]. As medidas do satélite Planck são dependentes do modelo ΛCDM,
enquanto que as medidas locais de supernovas são independentes de modelo cosmológico. A
tensão chega a um valor de 4, 5σ [62] e sugere uma razão para explorar o modelo ΛCDM, ou
então ter de propor uma nova física para além desta.

59
Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 60

As ondas gravitacionais podem desempenhar um papel fundamental na


determinação de H0 , em que é derivado da teoria da Relatividade Geral e nos fornece uma
medida da distância de luminosidade a partir das observações de eventos de binárias [11].
A contribuição para a medida de H0 é significativa por duas razões. Primeiro, as ondas
gravitacionais são independentes de modelo, pois possuem erros sistemáticos diferentes dos
outros observáveis cosmológicos obtidos até o momento [4] e o segundo motivo é devido a
distribuição de coalescências entre 0, 2 ≤ z ≤ 101 , podendo auxiliar na discrepância das
medições entre baixos e altos redshifts [62].
Em 1986, o Schutz foi o primeiro a propor um meio para estimar o H0 [11]
utilizando eventos de ondas gravitacionais. O artigo do Schutz baseia-se em duas alternativas
diferentes para obter o redshift de maneira independente e assim estimar o H0 . Uma das
alternativas é a partir da medida de distância da onda gravitacional associado a localização
no céu obter a informação do redshift utilizando um catálogo real de galáxias2 . A segunda
alternativa baseia-se em eventos de binárias de estrelas de nêutrons obter a contraparte
eletromagnética em colaboração com outros telescópios, já que eventos desse tipo emitem luz.
Schutz fez previsões que com cerca de cem eventos obtem-se H0 com nível de 5% por cento de
confiança [11].
Em 2017, a colaboração LIGO detectou o primeiro evento de binária de estrela de
nêutrons [63] com a obtenção da contraparte eletromagnetica associada ao evento, obteve-se a
primeira medida do H0 [64]. Eventos desse tipo são denominados de Sirenes Padrões, em uma
analogia com as Velas Padrões da Cosmologia. No entanto, eventos de ondas gravitacionais
em que obtemos a contraparte eletromagnética diretamente parecem ser raro, pois apenas esse
foi detectado até o presente momento. Sobre a proposta do Schutz, em que utiliza um catálogo
de galáxias para obter a contraparte eletromagnética associada ao evento. A primeira medição
em que aplicou esse método foi feita em colaboração com um catálogo real de galáxias o DES
(Dark Energy Survey). Eventos desse tipo são denominados de Sirenes Padrões Escuras, a
proposta é obter uma função de probabilidade da galáxia hospedeira do evento e assim quebrar
a degenerescência entre H0 − z [65]. Outro ponto interessante na literatura, foi feita uma
previsão por Del Pozzo [66], em que apresentou o problema da inferência dos eventos de
1
Considerando os futuros detectores de ondas gravitacionais.
2
Desse modo, obteria de maneira independente a informação sobre o z.

Hebertt Leandro Silva 5.1. Introdução


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 61

ondas gravitacionais assumindo alguns pressupostos para melhor vincular H0 , a previsão foi
que com poucas centenas de eventos puderam estimar a constante de Hubble com uma precisão
de 5%. Analogamente num trabalho recente, os autores estimaram obter a precisão da medição
do H0 em que utilizaram dados simulados com diferentes abordagens, como, por exemplo,
considerando a incerteza sobre o redshift e o conhecimendo prévio da localização do evento a
partir do aglomerado de galáxias [67].
Neste capítulo, melhorando a metodologia apresentada no recente artigo [68],
propomos um método para medir H0 que não é baseado em catálogos de galáxias ou
associado com a contraparte eletromagnética do evento. O procedimento consiste em quebrar
a degenerescência entre H0 − z assumindo uma função de probabilidade de distribuição dos
eventos com base na população em termos do redshift de sistemas astrofísicos de binárias. Em
particular, eventos desse tipo são denominados de Sirenes Padrões Negras.
Em princípio, utilizamos a informação sobre os dados LIGO/Virgo em um recente
artigo [69] para impor alguns vínculos sobre o sistema astrofísico e encontrar de que maneira
a população dos eventos pode ser distribuída. A distribuição dos eventos é restringida pela
sensibilidade do detector. Desse modo, simulamos como os sistemas são distribuídos em termos
da distância, em que variamos os parâmetros da fonte e marginalizamos para obter a distribuição
considerando as sensibilidades dos detectores de segunda geração 2G LIGO/Virgo [4] e de
terceira geração 3G Einstein Telescópio [32]. Utilizamos essa distribuição convolvida com a
taxa astrofísica de eventos em que obtemos uma distribuição de probabilidade dos eventos em
termos do redshift de modo que teremos a informação sobre o z de maneira independente.
O método Bayesiano é utilizado para prever quantas injeções/eventos serão
necessários para obter H0 com determinada precisão, com base na distribuição proposta teórica
de binárias de buracos negros. Em particular, o método aqui proposto executando um processo
de Monte Carlo, obtém uma precisão de H0 com erro padrão de 3% tomando em torno
de O(104 ) eventos, em que essa quantidade é esperada para detectores da terceira geração.
A distribuição dos eventos convolvida com a taxa astrofísica de binárias pode nos fornecer
vínculos sobre as propriedades populacionais das binárias [69], e desse modo podemos testar
modelos populacionais com as futuras detecções. Seguindo o cronograma, apresentamos o
método na seção seguinte.

Hebertt Leandro Silva 5.1. Introdução


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 62

5.2 Método
O objetivo principal neste trabalho é inferir a constante de Hubble usando o método
das Sirenes Padrões Negras. Adotamos o modelo ΛCDM como padrão na Cosmologia. A
relação entre o redshift z e distância de luminosidade dL em termos do parâmetro de Hubble
H(z) é dada por [53]:
z
dz 0
Z
(t) (1 + z)
dL (z) = , (5.1)
H0 0 E(z 0 )
onde o sobrescrito (t) refere-se ao valor téorico. Com o parâmetro de densidade Ωm + ΩΛ = 1
e E(z):
H(z) p
E(z) ≡ = Ωm (1 + z)3 + 1 − Ωm . (5.2)
H0
Iremos utilizar aqui a análise Bayesiana [70], desse modo devemos construir a função da
posterior. Primeiramente, podemos considerar um único evento de coalescência3 , o sistema
astrofísico de binária contribui com as medições da distância de luminosidade dL , a função
posterior f sobre os parâmetros cosmológicos H0 , Ωm e z é expressa da seguinte forma:

ptot (H0 , Ωm , z)L(dL |H0 , Ωm , z)


f (H0 , Ωm , z|dL ) = , (5.3)
ε

onde na convenção Bayesiana f (H0 , Ωm , z|dL ) significa dado o verdadeiro dL qual é a


probabilidade de inferir os parâmetros árbitrários. A função L é a verossimilhança, e ε é a
constante de normalização ou evidência. O ptot é o prior e representa o conhecimento a priori
sobre os parâmetros na equação da posterior. Vamos explicar em detalhes cada termo do lado
direito da equação (5.3), iremos obter a função do prior para o nosso problema na próxima
subseção.

5.2.1 Função do Prior

O método da inferência Bayesiana consiste em obter distribuições de probabilidade


dos parâmetros a partir do conhecimento da função f. A posterior é expressa em termos das
funções de verossimilhança e do prior. A função ptot representa o conhecimento a priori sobre
os parâmetros desconhecidos, e para o nosso problema temos os parâmetros H0 , Ωm e z para
3
Nas seções seguintes devemos generalizar para n eventos.

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 63

determinar. O prior de z é explícito porque não temos nenhuma contraparte eletromagnética


associada. Utilizando a regra do produto podemos reescrever o ptot da seguinte maneira:

ptot (H0 , Ωm , z) = p(H0 )p(Ωm )p(z|H0 , Ωm ), (5.4)

onde assumimos que o prior dos parâmetros H0 and Ωm são independentes desde que sejam
obtidos de maneira independente. Sobre a função do prior, iremos trabalhar aqui com dois
tipos: o uniforme e o gaussiano. O uniforme é dado como sendo igualmente distribuído
entre os valores da distribuição. Enquanto que o prior gaussiano o parâmetro é distribuído
obedecendo a uma função gaussiana com um valor médio e um desvio padrão bem definidos.
O conhecimento sobre o parâmetro Ωm foi obtido de maneira independente usando um prior
advindo das medições de Supernova do PHANTEON dataset [71], em que a função Gaussiana
é dada por:
(Ωm − Ωpm )
 
p(Ωm ) ∝ exp − 2
, (5.5)
2σm,p
com os respectivos valores Ωpm = 0.298 e σm,p = 0.022. A constante de Hubble é o principal
parâmetro da inferência, então colocamos o conhecimento a priori o menos informativo possível
com H0 igualmente distribuído entre os seguintes valores:

 constante se H ∈ [20, 140] km s−1 Mpc−1
0
p(H0 ) ∝ , (5.6)
 0 outros valores

onde usamos o mesmo intervalo do artigo [65].


O prior sobre o redshift p(z|H0 , Ωm ) é a parte mais complicada do problema. O
método das Sirenes Escuras baseia-se no catálogo de galáxias [65] para estimar a função de
probabilidade da galáxia hospedeira e que utiliza o modelo cosmológico para extrair informação
sobre H0 . Por vezes a informação sobre o catálogo de galáxias está incompleta com uma
localização ruim, podendo nos fornecer um erro sobre a medida de H0 . Por conseguinte, o
método aqui proposto consiste no seguinte: construir uma função teórica prévia utilizando a
estimativa da taxa de formação de estrelas, que se convolua com uma taxa de formação de
binárias adequada a um atraso na formação da coalescência e que considera a sensibilidade do
detector.
A taxa de formação de estrelas descreve a razão da quantidade de massa estelar

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 64

por ano [72]. Vale uma ressalva, o método aqui baseia-se sem qualquer informação sobre
a contraparte eletromagnética associada ao evento astrofísico ou que envolva o catálogo de
galáxias (real ou simulado). Inicialmente, modelamos o prior sobre o redshift como o seguinte:

p(z|H0 , Ωm ) = A(H0 , Ωm )Rm (z)f (dC (t) ), (5.7)

(t)
onde A(H0 , Ωm ) é uma constante de normalização, dC refere-se a distância comóvel e Rm (z)
é a taxa astrofísica de coalescência. A função f (dC (t) ) refere-se a uma função de corte, no
qual depende da sensibilidade do detector e iremos explicá-la em mais detalhes nas subsecções
seguintes. Vamos por parte, a taxa de fusão nos fornece uma informação do número de
coalescência por tempo do detector e por redshift, a expressão geral é dada por [73]:

τ dNm
Rm ≡ , (5.8)
dtd dz

seguindo o artigo do Vitale [73], podemos reescrever a expressão acima em termos da taxa
volumétrica de fusão no referencial da fonte, obtendo assim:

τ 1 dV τ
Rm (z) = R (z), (5.9)
1 + z dz m

onde o termo 1 + z surge pois convertemos o tempo no referencial-fonte ts para o tempo


no referencial-detector td . O termo dV /dz é o volume comóvel cosmológico por unidade de
redshift. Esse termo pode ser reescrito em termos dos parâmetros cosmológicos [14]:

dV 4π d2L
= ,
dz H(z) (1 + z)2
  3 Z z 2 (5.10)
dV 4π 1 dz 0
= 0
.
dz E(z) H0 0 E(z )

Modelamos o Rτm ao qual é definido como sendo a taxa de formação volumétrica de binárias e
depende do parâmetro τ . Esse parâmetro é a média da distribuição do atraso entre a formação
das binárias e a taxa de coalescências, em que escrevemos da seguinte maneira :

∞  
t(zf ) − t(z)
Z
1 dt
Rτm (z) = dzf Rf (zf )exp − , (5.11)
τ z dzf τ

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 65

a expressão acima é uma distribuição de Poisson com uma média característica τ . Outra
hipótese que consideramos é a formação volumétrica de binárias sendo proporcional a taxa
de formação de estrelas no mesmo redshift, desse modo temos [73]:

dNf
Rf (zf ) ≡ ∝ ψ(zf ), (5.12)
dV dtf

esta suposição significa que não estamos considerando o atraso temporal entre a formação
estelar e a formação de binárias. Em princípio, adotamos a formação estelar proveniente de
Madau e Dickinson [72], dada por:

(1 + z)2.7 −1 −3
ψ(z) = 0.015  M yr M pc . (5.13)
1+z 5.6
1+ C

Com C = 2.9, além disso adotamos o prior como sendo plano para o parâmetro τ , dado por:

 constante se τ ∈ [0, t (H , Ω )]
0 0 m
p(τ ) ∝ , (5.14)
 0 outros valores

onde t0 é a idade do universo. Podemos considerar um prior uniforme sobre τ tal que tenha
uma dependência com a taxa de fusão R(z), expressado por:
Z ∞
τ
Rm (z) = dτ p(τ )Rm (z). (5.15)
0

Da formação estelar até a coalescência temos que considerar os seguintes processos. O primeiro
processo é a formação estelar, o segundo processo é formação das binárias e o terceiro processo
é a coalescência. Entre o primeiro e o segundo processo é um tempo muito pequeno quando
comparado ao terceiro processo4 . Por isso consideramos a taxa de formação de estrelas
proporcional a taxa de formação das binárias, enquanto que na fase de coalescência modelamos
segundo uma distribuição de Poisson com uma média representada pelo parâmetro τ .
Um outro ponto importante é sobre a taxa de formação de estrelas, num artigo
recente [74] foi mostrado que usando uma função diferente da Madau e Dickinson expressa em
(5.13) na análise bayesiana produzia um viés (bias) estatístico nas medições de H0 . Contudo,
4
O tempo entre a formação estelar e a formação das binárias está na ordem dos milhões de anos, enquanto que
entre a formação das binárias e a coalescência está na ordem dos bilhões de anos.

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 66

mostramos no Apêndice D que ajustando o parâmetro C da equação (5.13), este parâmetro


está ligado diretamente ao pico da função da taxa de formação de estrelas. E que na análise
bayesiana não afeta diretamente o método trabalhado aqui ou produz qualquer viés substancial
na inferência.

5.2.2 Sensitividade do Detector


(t)
A última parte da equação do prior, referente a função f (dC ), será modelado pela
distribuição das detecções do LIGO/Virgo e Einstein Telescópio [75]. Nas simulações de Monte
Carlo usaremos apenas a terceira geração (3G) as de segunda geração (2G) colocaremos a efeito
de comparação ao obter as respectivas distribuições. É necessário que encontremos a função
f (dcut
C ) utilizando a sensitividade desses detectores.

10 21
2G
3G

10 22
1/2)
Sn (Hz

10 23

10 24

10 25
100 101 102 103
f (Hz)
Figura 5.1: Densidade de ruído espectral da colaboração LIGO/Virgo para segunda geração
(2G) [76] e terceira geração (3G) do ET [77].

O sinal produzido pelo sistema astrofísico que chega ao equipamento tem um limiar
inferior determinado pela relação sinal-ruído, dada pela expressão [5]:

"Z #1/2

|h̃(f )|2
SN R = 2 df , (5.16)
0 Sn (f )

onde o Sn (f ) é o ruído referente ao detector, enquanto que o numerador:

h̃(f ) = F+ h̃+ (f ) + Fx h̃x (f ), (5.17)

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 67

onde h̃+,× (f ) são as duas polarizações no domínio das frequências, F+,× (α, δ, ψ) são funções
que dependem dos ângulos que se referem à localização no céu (α, δ) e a polarização da onda
ψ. As expressões analíticas das polarizações h̃+,× (f ) são escritas como [5]:

1/2
π −2/3 5/6 −7/6 1 + cos2 ι
  
5
h̃+ = M f eiφ(f ) ,
24 dL (z) 2
1/2 (5.18)
π −2/3 5/6 −7/6

5
h̃× = M f cosιeiφ(f )+iπ/2 ,
24 dL (z)

em que depende da distância de luminosidade dL (z), da orientação ι, e da massa chirp redshifted


M ≡ (1 + z)Mc . A massa chirp é definida em termos da massa total M ≡ m1 + m2 e da massa
m1 m2
reduzida M2
, como sendo Mc ≡ η 3/5 M enquanto que mi são as massas constituintes do
sistema binário.
Algumas propriedades astrofísicas de coalescências, como as massas dos sistemas
por exemplo, foram inferidas utilizando os dados das observações de O1, O2, e O3a [69]. Com
base nisso, temos algumas informações de como as massas dos sistemas binários evoluem.
As simulações usadas para o detector de segunda geração5 adotam uma componente da massa
(referente a massa mais pesada do sistema) que obedece a uma distribuição de potência de
acordo com os resultados recentes da O3 [69]. A distribuição da massa primária obedece a uma
lei de potência dada por ∝ m−α
1 com α = −1.5 e α = −5 entre 5 e 60 M massas solares com

o valor limite entre as duas distribuições em mth = 40M . A razão entre as massas do sistema
(dada pelo raio de massa q = m2 /m1 ) é assumida com uma distribuição plana em p(q) entre
(0.1, 1) em que consideramos um corte na massa secundária inferior a 1.5M .
Já a terceira geração é sensível a uma massa total do sistema ∼ O(104 )M ,
onde consideramos uma janela na distribuição de massa primária de binárias de buracos
negros entre 80M e 120M massas solares, essa diferença é devido à instabilidade de
supernova para produção de pares elétron e pósitron [78]. Então, para detectores de terceira
geração a distribuição de massa é completamente desconhecida, por esta razão assumimos uma
distribuição logarítmica uniforme no prior p(m1 ) ∝ 1/m1 entre (1.5, 80)M em que repetimos
a distribuição da função p(q) da segunda geração. Enquanto que entre (120, 104 )M assumimos
a razão entre as massas para uma região distribuída com a probabilidade de p(q) ∝ q 1/2 .
Simulamos sistemas de binárias utilizando a sensibilidade do detector para cada
5
Este é um aspecto importante porque a segunda geração é sensível à massa total do sistema ∼ O(100)M .

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 68

ruído LIGO/ET com limiar SN R > 8. E assim obter a f (dC t ), por fim determinar o prior total.
As amostras utilizadas nas simulações são resumidas na tabela seguinte:

Parâmetro Quantidade Intervalo


2G 3G
(t)
Distância Comóvel dC /Mpc [100, 104 ] [100, 1.2 · 104 ]
Massa individual mi /M [3., 80] [3., 104 ]
Razão das massas q = m2 /m1 > 0.1 > 10−3
Orientação Binária cos ι [−1, 1]
Polarização ψ [0, 2π]
Ascensão reta α [0, 2π]
Declinação δ [0, π]

Fazemos simulações utilizando o pacote do LALSuite [76] em que variamos os


parâmetros da fonte representadas pelas equações em (5.18) e marginalizamos para calcular as
distribuições dos eventos por distância relacionados a cada geração de detectores. E fitamos as
distribuições simuladas dos eventos com a função f (dC (t) ) dada por:
  
(t)
−dC
exp cut(2G) 2G



" dC

f (dtC ) ∝ , (5.19)
3 #
−dC (t)
exp 3G


 cut(3G)
 dC

cut(2G) cut(3G)
com valores ajustados dC = 320M pc e dC = 7.9Gpc. No caso 2G, apenas as fontes
com redshift próximo são visíveis, consequentemente a medida que a distância aumenta, o
número de detecções diminui exponencialmente. O caso 3G é um pouco diferente, existe uma
grande variedade de eventos para pequenos redshifts. A dependência no numerador da massa
chirp redshifted (1+z)5/6 cancelando o denominador de dc (1+z), desse modo o comportamento
da distribuição decai d−1
C (1 + z)
−1/6
(com uma dependência muito fraca em z) e conforme o
redshift aumenta gradualmente o valor de dC torna-se aproximadamente constante a ∼ 12Gpc.
Além disso, note-se a dependência da massa redshifted chirp com o redshift na expressão do
sinal-ruído, onde utilizamos aqui os valores fiduciais assumindo o modelo ΛCDM para H0 f id =
69.32km/M pc/s e Ωm f id = 0.293. Os ajustes normalizados para cada função são mostrados
nas Fig. 5.2 e Fig. 5.3, e notemos a diferença entre as duas distribuições.

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 69

lin
0.007 2G
0.006

0.005

0.004

0.003

0.002

0.001

0.000
100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Dc (Mpc)

Figura 5.2: Simulação com os parâmetros marginalizados vs função normalizada para os


detectores de segunda geração.

0.000200 fit
3G
0.000175
0.000150
0.000125
0.000100
0.000075
0.000050
0.000025
0.000000
2000 4000 6000 8000 10000 12000
Dc (Mpc)

Figura 5.3: Simulação com os parâmetros marginalizados vs função normalizada para os


detectores de terceira geração.

5.2.3 Verossimilhança

Na análise Bayesiana a função de Verossimilhança descreve que dado um modelo


qual o valor associado que melhor se ajusta aos dados. Utilizando uma aproximação Gaussiana,
a Verossimilhança pode ser escrita de acordo com:

(dtL − dL (H0 , Ωm , z))2


 
L(dL |H0 , Ωm , z) ∝ exp − , (5.20)
2σL2

onde mostramos na Fig. 5.4 algumas funções de distribuição de probabilidade para eventos reais
de ondas gravitacionas obtidas do LIGO/Virgo. Note que cada evento tem um erro relativo σ

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 70

Figura 5.4: Alguns exemplos de distribuições de distância de luminosidade dL fornecida pela


colaboração LIGO/Virgo.

associado a distância de luminosidade.

5.2.4 Posterior para N Eventos

A posterior f dada pela equação em (5.3) foi calculada considerando apenas um


único evento. Vamos agora generalizar esse resultado para N eventos, primeiro devemos
marginalizar sobre os parâmetros da inferência, neste caso faremos uma integral sobre o
redshift, desse modo:
Z
f (H0 , Ωm , τ |dL ) ∝ p(H0 )p(Ωm )p(τ ) × dzp(z|H0 , Ωm , τ )L(dL |H0 , Ωm , z), (5.21)

onde τ é a média da distribuição poissoniana além disso é um parâmetro que não estamos
interessados em medí-lo diretamente. Ao considerar agora N eventos {dL,i } para a equação
acima, obtemos:

N Z
Y
f (H0 , Ωm , τ |dL,i ) ∝ p(H0 )p(Ωm )p(τ ) × dzi p(zi |H0 , Ωm , τ )L(dL,i |H0 , Ωm , zi ), (5.22)
i

onde para cada ponto no espaço dos parâmetros (H0 , Ωm , τ ) faremos uma integral sobre o
redshift numericamente para obter a posterior f.

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 71

5.2.5 Casos Limites

Vamos tomar alguns limites do método para uma análise completa do problema
sobre a inferência estatística.
1. Baixo redshift
Um ponto de vista interessante é considerar o caso para baixo redshift. Para este
limite, assumimos o valor de z → 0, o que resulta o prior sobre o redshift como sendo:

z→0
p(z|H0 , Ωm ) ∝ d2L , (5.23)

o resultado acima é devido o volume comóvel resultar em dV /dz ∼ d2L neste limite. Enquanto
que as funções Rf (z) e Rm (z) são aproximadamente constantes e a função f (dC ) vai para um.
Um aspecto interessante sobre esse caso para baixo redshift é porque não há maneira de quebrar
a degenerescência entre o H0 − z, a função do prior proposto não tem informação sobre o valor
de z (ou sobre alguma informação Cosmológica), depende apenas da distância de luminosidade
dL e esta informação é fornecida pelas observações das ondas gravitacionais.
2. Erro Negligenciável da Distância de Luminosidade
σL
Para este limite, tomamos que a relação dL
→ 0, isso resulta que a função de
Verossimilhança torna-se uma função Delta de Dirac. Logo, explicitando o lado direito derivado
na última subseção usando a expressão (5.22), resulta em:

n Z
(t)
/dL cut
Y
f (H0 , Ωm , τ |{dL,i }) ∝p(H0 )p(Ωm )p(τ ) τ
dzi ARm (zi )e−dL δ(dL,i − dL (t) (H0 , Ωm , zi )),
i=1
n (t)
Y cut ∂z
f (H0 , Ωm , τ |{dL,i }) ∝p(H0 )p(Ωm )p(τ ) τ
ARm (zi , H0 τ, Ωm )e−dL,i /dL ∂d (t) ,

i=1 L
(5.24)
onde utilizamos as propriedades da função Delta de Dirac. Nesse limite, o termo que depende
da sensitividade do detector não possui qualquer informação cosmológica.
3. Números Infinitos de Eventos
O método Sirenes Negras tem dois pontos onde se deve ter cuidado ao executar o
processo de Monte Carlo. Esses estão relacionados com o problema de inferência, um ponto
é a incerteza sobre σL proveniente da distância de luminosidade. Segundo ponto, o método é
limitado pelo número finito n que provém das observações. Além disso, podemos provar que

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 72

tomando o limite com um número infinito de observações, recuperam-se os valores fiduciais


do problema de inferência inicial. Para isso iremos assumir um prior plano fixo sobre os
parâmetros H0 , τ e Ωm e tomaremos o limite com n → ∞ de observações, logo a partir da
equação (5.24) obtemos:

n
Y
f (H0 , Ωm , τ |{dL,i }) ∝ f (dL,i |H0 , Ωm , τ ), (5.25)
i

onde o lado direito da expressão acima é a distribuição teórica em que na troca de variáveis o
Jacobiano é absorvido. Analisando a expressão acima é mostrado que no limite quando n → ∞
a probabilidade da posterior é maximizada, isso significa que recuperamos os valores fiduciais
dos parâmetros iniciais.
4. Modelo Teste
Para compreender melhor o limite com n → ∞, tomemos um simples modelo que
representa o prior sobre o redshift dado por:

3
z 2 −z/zf −cz/H0 dL cut

c 1
p(z|H0 ) = + e e , (5.26)
H0 dcut
L zf 2

onde o modelo é normalizado para 1 e consideramos a relação linear para a distância de


(t)
luminosidade dada por dL ' cz/H0 . O parâmetro Ωm é excluído pois não entra no limite
linear da relação de distância de luminosidade. A expressão em (5.26) é representada pelas
Figuras 5.5 e 5.6 com dois valores diferentes para dcut
L , onde as linhas verticais marcam o z

médio com valor fiducial H0f id = 70km/s/M pc e zf = 0, 5.


O valor médio é calculado resolvendo a integral para valores médios f¯ = 1/(b −
Rb
a) a
f (x)dx e resulta em um valor médio dado por z̄ = 3zf zc /(zf + zc ) com zc (H0 ) =
H0 dcut
L /c. Ao considerar novamente o limite de erro padrão indo para zero (σL /dL ) → 0,

obtemos o log da posterior:

H0 dL cut H0 d¯L
 
lnf (H0 , {dL,i }) =3nln +1 −n ,
czf czf
H0 dL cut
   
H0 3zf zc c
=3nln +1 −n , (5.27)
czf czf zf + zc H0 f id
H0 dL cut
   
H0 zc
=3n ln +1 − ,
czf H0 f id zf + zc

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 73

onde consideramos apenas os primeiros termos e omitimos algumas constantes. Substituindo


d¯L na segunda linha por:
3zf zc c
d¯L = .
zf + zc H0 f id
Agora queremos encontrar o ponto tal que resulta na máxima posterior, para isso temos que
resolver a seguinte equação:
∂lnf
= 0, (5.28)
∂H0
e o ponto que melhor se ajusta, encontrando o valor do H0bestf it = H0 f id esse resultado significa
que o valor fiducial é recuperado quando tomamos o limite de eventos indo para o infinito6 .

p(z|H0 )
2.0
Rm ∝ z2 e-z/zf
1.5 exp(-dLt /dLcut )
p(z|H0 ,τ)

dLcut =700 Mpc


1.0

0.5

0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
z

Figura 5.5: Modelo teste da expressão em (5.26) representado pela linha em azul com dL cut =
700M pc, a linha vertical em cinza representa o z médio.

No problema de Inferência Estatística podemos relacionar a matriz de Fisher com


o máximo de uma função. Basicamente, o processo consiste [70] em encontrar os parâmetros
que maximizam a função de Verosimilhança, o mesmo acontece ao encontrar um ponto de
máximo para uma função arbitrária. A Verosimilhança é dada como uma função gaussiana dos
parâmetros, em que expandimos até segunda ordem:

1 ∂ 2 lnL(θα )
lnL(x; θα ) ≈ lnL(θ̂α ) + (θα − θ̂α )(θβ − θ̂β ), (5.29)
2 ∂θα ∂θβ

onde x são os dados e θα são os parâmetros. A primeira derivada é zero calculada no ponto
máximo e o segundo termo da expressão acima, com um sinal de menos, é definido como sendo
6
Um grande número de injeções no processo estatístico.

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 74

0.8 p(z|H0 )
Rm ∝ z2 e-z/zf
0.6 exp(-dLt /dLcut )
p(z|H0 ,τ)
dLcut =4.0 Gpc
0.4

0.2

0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
z

Figura 5.6: Modelo teste da expressão em (5.26) representado pela linha em azul com dL cut =
4000M pc, a linha vertical em cinza representa o z médio.

a matriz de Fisher [70]:


∂ 2 lnL(x0 , θ)
Fαβ ≡ − , (5.30)
∂θα ∂θβ
a informação sobre a matriz de Fisher fornece a forma como os parâmetros são correlacionados
[70]. Além disso, a matriz inversa de Fisher está relacionada com a matriz de covariância (erro)
com os valores máximos de probabilidade associados para cada parâmetro nas simulações,
dados por:
σα2 = (F −1 )αα , (5.31)

com a matriz de covariância podemos obter as regiões de confiança 7 do espaço de parâmetros.


Dada esta breve introdução sobre a matriz de Fisher e erros relativos, voltemos para o limite
tratado no modelo teste:
∂ 2 ln f (H0 |{dL,i })

F =− fid , (5.32)
∂H02 H 0

tomando a segunda derivada da expressão em (5.27), temos:

∂ 2 lnf (dcut
L )
2
= −3n , (5.33)
∂H02 (H0 dcut
L + czf )
2

7
Esta será útil para mostrar alguns resultados na próxima seção.

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 75

substituindo a expressão acima na (5.31) para encontrar o erro relativo do parâmetro H0 , temos:

1 + czf /H0 dL cut


σH0 =H0 √ ,
3n (5.34)
σH0 1 + czc
= √ ,
H0 3n

com zc = zf /H0 dL cut e note a dependência em n. Tomando o limite de n indo para um número
infinito de eventos o erro associado ao H0 vai a zero. O processo estatístico para a posterior
neste caso é mostrada na Fig. 5.7.

zs =0.5, dcut 3
L =700 Mpc, n=10 , σH0 =5.2 km/s/Mpc

zs =0.5, dcut 4
L =4.0 Gpc, n=10 , σH0 =0.62 km/s/Mpc

1.0

0.8
posterior

0.6

0.4

0.2

0.0
0.55 0.60 0.65 0.70 0.75 0.80 0.85
h

Figura 5.7: Previsão do modelo usado nesta subseção, note que conforme o número de injeções
cresce melhor vinculamos o valor do H0 . Enquanto que o dcut
L está relacionado diretamente com
o número de observações, em outras palavras quanto maior o dcut
L maior o número de eventos
para o mesmo redshift.

A modelagem aqui tratada assume um modelo simples que nos fornece uma
previsão. Os gráficos de probabilidade da posterior mostrada na Fig. 5.7 nos diz que ao
aumentar o número de observações diminui o erro relativo do parâmetro, claro que nesta
aproximação não consideramos a degenerescência entre os parâmetros H0 , Ω e τ . Na secção
seguinte, mostraremos alguns resultados para uma previsão mais realista.

Hebertt Leandro Silva 5.2. Método


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 76

5.3 Resultados
Vamos resumir o método aplicado neste trabalho e apresentar alguns resultados.
Com base na análise Bayesiana, queremos inferir a constante de Hubble H0 utilizando as ondas
gravitacionais advindas de sistemas astrofísicos de binárias. Assumimos o modelo ΛCDM onde
temos uma relação entre a distância de luminosidade dL e o redshift z com a constante de
Hubble sendo o fator de proporcionalidade entre essas duas quantidades. O método Sirenes
Negras consiste em obter a informação do redshift (já que as ondas gravitacionais nos fornecem
informações sobre o dL ) extraída de uma distribuição teórica da população de eventos para
assim relacionar essa distribuição com a função da posterior e assim obter com quantas injeções
podemos obter H0 com determinada precisão.
A fim de obter o prior sobre o redshift, simulamos sistemas de binárias em torno de
106 eventos e encontramos um dcut
C que se refere a detectores da segunda e terceira geração. A

função exponencial ajustada em (5.19) com o respectivo dcut


C obtido e a taxa de fusão astrofísica

são utilizadas para obter a distribuição normalizada dos eventos8 . O comportamento analítico da
distribuição cresce com z 2 para pequeno redshift e consequentemente para alto z decai devido à
sensibilidade do detector e ao número de fontes diminuir, a distribuição total normalizada com
τ = 5Gyr é mostrada na Fig. 5.8.

350 Merger Rate ( = 5) Gyr


2G
300 3G

250

200
a.u.

150

100

50

0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
z

Figura 5.8: Distribuição dos eventos normalizados para segunda e terceira geração (linhas
laranja e verde respectivamente) e a taxa de formação (linha azul).
8
Para derivar em termos de redshift z fazer uma transformação de dc para z.

Hebertt Leandro Silva 5.3. Resultados


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 77

O prior total substituindo na relação (5.22) onde fizemos uma integração numérica,
ou seja, para cada injeção do evento a integração será resolvida e depois somada sobre todo
o número N para obter a posterior. De modo que, a análise de Monte Carlo nos fornece uma
estimativa de quantas detecções futuras advindas da terceira geração poderão ser utilizadas
para obter H0 com determinada precisão. O gráfico do corner mostra uma projeção sobre
as funções de distribuição de probabilidades em termos dos parâmetros da inferência. Para o
nosso problema, temos o espaço dos parâmetros com valores fiduciais H0f id = 69.3km/M pc/s,
Ωm = 0.293 e τ = 5Gyr representados pelas linhas verticais. Os resultados da simulação para
N = 103 e N = 203 são mostrados na Fig. 5.9 com um erro relativo σdL de 5%.
O processo de Monte Carlo pode por vezes sobrecarregar o processo computacional
devido a injeção de mais eventos utilizando o método proposto. No entanto, existe uma
forma alternativa analisando a função de probabilidade, chamada Estimativa de Máxima
Verosimilhança (MLE) [79]. De forma semelhante, para obter a máxima posterior (como
fizemos para o modelo considerado em (5.34)) podemos utilizar a matriz de Fisher para obter a
matriz de covariância e depois adquirir as regiões elípticas. A relação entre a matriz de Fisher e
a matriz de covariância bidimensional é dada por [79]:
 
σx2 σxy
F −1 =  , (5.35)
σyx σy2

em resumo podemos obter as regiões elípticas usando as seguintes expressões [79]:


r
2 2
σx2 + σy2 (σx2 − σy2 )2 2 ,
(a , b ) = ± + σxy
2 4 (5.36)
2σxy
T an2θ = 2 ,
σx − σy2

onde "a"e "b"são o semi-eixo maior e o semi-eixo menor e θ é o ângulo com o eixo "x". Logo, os
resultados com diferentes números de injeções são expressos na seguinte tabela 5.1 e o gráfico
com 1 σ de contorno na Fig. 5.10. Vale ressaltar que o viés (bias) é a diferença entre o valor
esperado de uma variável aleatória e o valor do modelo real (em termos estatísticos) [70]. Além
disso, note que recupera o valor fiducial de H0 e τ dentro da região de 1σ de confiança, onde
esses dois parâmetros são correlacionados entre si.

Hebertt Leandro Silva 5.3. Resultados


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 78

σH0 /H0
# injs
σdL /dL = 5% σdL /dL =
10%
10,000 4.9% 12.1%
20,000 3.0% 7.6%
40,000 2.7% 6.5%

Tabela 5.1: Previsão dos vínculos relativos sobre o H0 para a terceira geração de detectores de
ondas gravitacionais.

#injs: 20k
#injs: 10k

12

10

0.35

0.30
m

0.25

62 66 70 74 2 6 10 0.22 0.26 0.30 0.34


H0 m

Figura 5.9: Gráfico do corner da terceira geração de detector com as distribuições de


probabilidades projetadas sobre os parâmetros H0 , Ωm e τ , as linhas verticais marcam os valores
fiduciais dos parâmetros.

5.4 Discussão
As observações de ondas gravitacionais inauguraram uma nova oportunidade para
explorar o atual modelo cosmológico padrão. Em primeiro lugar, nos fornece informações
sobre a distância de luminosidade no qual é independente de modelo, pois possuem um
erro sistemático diferente dos outros observáveis utilizados até o presente momento. Em
segundo lugar, podem desempenhar um papel fundamental na determinação dos parâmetros
cosmológicos nas medidas tanto para altos como baixos redshifts devido a distribuição dos

Hebertt Leandro Silva 5.4. Discussão


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 79

1 -contour
6.00
5%
5.75 10%
40000
20000
5.50 10000
inj
5.25
(Gyr)

5.00

4.75

4.50

4.25

4.00
66 68 70 72 74
H0(km/sec/Mpc)

Figura 5.10: Regiões de 1σ utilizando o método das matrizes de Fisher, no nosso problema
consideramos os parâmetros H0 e τ da matriz bidimensional.

sistemas binários.
O problema cosmológico envolvendo a tensão em H0 é um problema em aberto na
Cosmologia. Os métodos na literatura atual envolvendo as Sirenes Padrões consistem em duas
maneiras para se obter a informção do redshift. Uma dessas envolve a técnica que consiste em
combinar as detecções de ondas gravitacionais de binárias de estrelas de nêutrons e a contraparte
eletromagnética associada ao evento. A outra maneira, chamado de Sirenes Escuras, consiste
em combinar os eventos e determinar a contraparte eletromagnética com o catálogo disponível
de galáxias.
Neste trabalho, propomos outro método, apelidado de Sirenes Negras, que
consiste em construir uma distribuição teórica de sistemas de binárias, e nos fornece uma
forma alternativa de obter informações desconhecidas sobre o redshift do sistema astrofísico
associado, levando em conta a sensibilidade do detector. Baseado na Estatística Bayesiana,
fazemos previsões sobre a quantidade do número de observações terão que ser realizadas para
obter uma certa precisão na determinação de H0 . Os resultados até ao momento são descritos na
última secção, onde se obtém uma precisão na determinação de H0 com 40.000 eventos9 com
9
No qual se espera com detectores de terceira geração.

Hebertt Leandro Silva 5.4. Discussão


Capítulo 5. Medindo a constante de Hubble usando as Sirenes Negras 80

um erro de 2%. Além que esse valor encolhe ao passo que aumentamos o número de injeções.
Outro aspecto interessante que pode ser analisado é o de testar a distribuição dos eventos no
futuro com o prior sobre o redshift construído aqui neste trabalho.
Sobre as perspectivas futuras, podemos usar o método utilizando os catálogos de
galáxias sintéticas da referência [80] que têm informações completas em comparação com as
galáxias reais.

Hebertt Leandro Silva 5.4. Discussão


Capítulo 6
Considerações Finais

Na Física atual, no qual há avanços tecnológicos associados a grandes descobertas


como o LHC ou o Satélite Planck [52] por exemplo, dois alicerces nunca estiveram tão unidos.
Desse modo, modelo e experimento são as bases que integram a Física, em outras palavras,
não podemos explorar um modelo que discorda do que é observado no experimento e de
maneira semelhante podemos desenvolver um experimento em que o objetivo é prever um
modelo proposto. E seguindo o tema desenvolvido neste trabalho, a descoberta das Ondas
Gravitacionais [4] previstas pela Teoria da Relatividade Geral também faz esse papel central
entre modelo e experimento.
É notório ressaltar que a descoberta feita pela colaboração LIGO/Virgo expandiu
possibilidades até então inexploradas. Logo, as Ondas Gravitacionais tornaram-se um campo
de pesquisa multidisciplinar devido a relação com as outras áreas de maneira complementar.
Desse modo, podemos listar alguns avanços feitos devido a detecção das Ondas Gravitacionais.
Primeiramente, abriu a possibilidade de testar a teoria da Gravidade em um nível fundamental
[81], além de testar a Relatividade Geral [82] em que algumas teorias alternativas da gravidade
foram excluídas [83]. Em termos astrofísicos, através da população de binárias de coalescências
possibilitou vínculos para a inferência e comparação da evolução de galáxias [69] e em especial
no âmbito da astrofísica de estrelas de nêutrons que possibilitou o estudo da evolução da
equação de estado referente a esse tipo de sistemas [84]. Em termos cosmológicos, temos
associado a descoberta de um novo observável astrofísico [56] em que podemos determinar
os parâmetros cosmológicos de um modelo, usando as detecções de Ondas Gravitacionais.
Estes são alguns campos de pesquisa no qual podemos explorar e prever pontos importantes

81
Capítulo 6. Considerações Finais 82

nas diversas subáreas da Física.


Baseado nisto, o presente trabalho inspirou-se nesta multidisciplinaridade para
explorar dois aspectos das Ondas Gravitacionais. O primeiro aspecto [21] é baseado em um
modelo simples motivado por uma situação astrofísica, no qual derivamos e analisamos termos
advindos da parte não-radiativa do campo gravitacional. Estes termos resultam em um efeito
permanente, ou de memória no detector e que pertence a um amplo grupo de efeitos derivados
da Teoria da Relatividade Geral [7], além do mais analisamos a possibilidade de detecção deste
efeito, porém devido a ser um efeito pequeno não pode ser detectado com êxito.
Sobre o segundo aspecto neste trabalho, fazemos uma aplicação direta na
Cosmologia. Baseando-se no problema envolvendo a determinação na constante de Hubble
[56] propomos um método alternativo para a medição do H0 . Este método consiste em
determinar a constante usando as detecções de Ondas Gravitacionais, sem utilizar a componente
eletromagnética associada ao evento. O modelo propõe obter uma função de probabilidade
para o redshift no qual baseia-se em alguns vínculos de fontes de binárias astrofísicas. Com a
função de probabilidade e as detecções fazemos algumas estimativas de quantas injeções em um
futuro, provenientes da terceira geração de detectores, podemos ter com precisão a constante
de Hubble. E previmos que com mais ou menos 104 eventos conseguimos determinar H0 com
uma precisão aproximada de 2%.
Concluindo este trabalho, do mesmo modo que a teoria foi observada pelo
experimento, a Física de Ondas Gravitacionais abriu a possibilidade de construir detectores
em um futuro próximo ainda mais sensíveis, como por exemplo o LISA [30] e o Einstein
Telescope [32]. Desse modo, as possibilidades de testar a teoria da gravidade em um limite
nunca antes observado, estabelecer vínculos astrofísicos, determinar parâmetros cosmológicos
e propor possíveis ajustes para a teoria vêm tornando-se um fato ainda mais concreto.

Hebertt Leandro Silva


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Hebertt Leandro Silva Referências Bibliográficas


Apêndices

89
90

A Detalhes da Derivação Completa para a Fórmula do


Quadrupolo

A.1 Relações da Fórmula de Quadrupolo

Vamos derivar algumas relações importantes para encontrar a fórmula do


Quadrupolo. Primeiramente, precisamos mostrar que as relações abaixo são válidas:

T 0k xj + T 0j xk = (T 0l xj xk ),l + Ṫ 00 xj xk , (1)

1 ij k l 1
(T x x ),ij = T kl + T̈ 00 xk xl − (Ṫ 0k xl + Ṫ 0l xk ), (2)
2 2
tomando o lado direito da equação (1), temos:

=(T 0l xj xk ),l + Ṫ 00 xj xk

=T 0j xk + T 0k xj + (T 0l ),l xj xk + Ṫ 00 xj xk
(3)
=T 0j xk + T 0k xj − Ṫ 00 xj xk + Ṫ 00 xj xk

=T 0j xk + T 0k xj

onde usamos a conservação do tensor energia-momento (T 0l ),l = −Ṫ 00 na terceira linha da


equação acima. Tomando o lado direito da equação (2), temos que:

1
=T kl + T̈ 00 xk xl − (Ṫ 0k xl + Ṫ 0l xk )
2 (4)
1
=T kl − (Ṫ j0 ),j + [(T jk ),j xl + (T jl ),j xk ]
2

Hebertt Leandro Silva A. Detalhes da Derivação Completa para a Fórmula do Quadrupolo


91

onde usamos novamente a conservação do tensor energia-momento (Ṫ 0l ),l = −T̈ 00 e Ṫ 0k =


−∂j T jk . Tomando agora o lado esquerdo da equação (2), obtemos:

1
= (T ij xk xl ),ij ,
2
1 ij k l 1 1
= [(T ),i x x ],j + [T kj xl ],j + [T lj xk ],j ,
2 2 2 (5)
1 ij
kl
=T + (T ),ij x x + (T ),i x + (T il ),i xk ,
k l ik l
2
1
=T + (−Ṫ j0 ),j xk xl + [(T ik ),i xl + (T il ),i xk ],
kl
2

e note que a última linha na equação acima é a mesma equação em (4). Vamos mostrar agora
a fórmula do Quadrupolo, a integral sobre todo o volume usando o teorema de Stokes é zero
devido a conservação, temos então:
Z
d3 x0 (T 0l xj xk ),l =0,
Z (6)
d3 x0 (T ij xj xk ),ij =0,

usando a primeira equação das expressões acima e a formula (1), obtemos:


Z Z
3 0 00 j k
d x Ṫ x x = d3 x0 (T 0k xj + T 0j xk )
Z Z (7)
3 0 00 j k 3 0 0k 0j k
d x T̈ x x = d x (Ṫ + Ṫ x )

usando a relação em (6) e a expressão em (2), temos:


Z Z Z
3 0 1
d xT =−kl
d x T̈ x x + d3 x0 (Ṫ 0k xl + Ṫ 0l xk )
3 0 00 k l
2
Z Z (8)
1
d 3 x0 = d3 x0 T̈ 00 xk xl
2

onde utilizamos a expressão (7) e desse modo obtemos a expressão do Quadrupolo.


Z
Qij ≡ d3 xT 00 xi xj (9)

Hebertt Leandro Silva A. Detalhes da Derivação Completa para a Fórmula do Quadrupolo


92

A.2 Propiedades do tensor Λ

Assumindo a direção de propagação em ẑ, com o sistema localizado nos eixos x-y.
O tensor projetor Λ assume a seguinte forma:

1
Λij,kl Akl =[Pik Pjl − Pij Pkl ]Akl ,
2 (10)
1
=(P AP )ij − Pij T r(P A),
2

onde P é dado por:  


1 0 0
 
P = 0 1 0 , (11)
 
 
0 0 0

e explicitando o primeiro termo em (10):


   
1 0 0 A A12 A13 1 0 0
   11  
(P AP )ij = 0 1 0 A21
   
A22 A23  0 1 0
   
0 0 0 A13 A32 A33 0 0 0
  (12)
A A12 0
 11 
= A21 A22 0  ,
 
 
0 0 0
ij

enquanto que a parte do traço é simplesmente Pij T r(P A) = (A11 +A22 )Pij . Deste modo temos
que a expressão em (10) assume a seguinte forma:
 
(A11 − A22 )/2 A12 0
 
Λij,kl Akl =  −(A11 − A22 )/2 0 , (13)
 
A21
 
0 0 0

Hebertt Leandro Silva A. Detalhes da Derivação Completa para a Fórmula do Quadrupolo


93

A.3 Derivação da Variação Temporal da Frequência da Onda Gravitacional

Utilizando a conservação do tensor energia-momento e as equações de Einstein ao


nível linearizado, podemos obter a variação da energia por tempo e por área, dada por [5]:

dE 1
= < ḣ2+ + ḣ2x >, (14)
dAdt 16πGN

onde < ... > é a média sobre todas as frequências angulares orbitais, reescrevendo em termos
do quadrupolo, onde explicitamos em termos do fluxo de energia:

... ...
Z
dE GN dΩ
= Λij,kl < Qij Qkl >, (15)
dt 2 4π

o resultado da integral em dΩ é obtido utlizando a seguinte generalização [5]:


Z
dΩ i1 in 1
n ...n = (δi1 δi2 ...δin−1 δin + ...), (16)
4π (2n + 1)!

explicitamos o tensor Λ em termos das componentes dos vetores normais, após esse
procedimento usamos o resultado logo acima para calcular a integral em dΩ de maneira que
obtemos [5]:
... ...
 
dE GN 1
= < Qij Qij > δik δjl − δij δkl ,
dt 5 3
(17)
dE GN ... ...
TT TT
= < Qij Qij >,
dt 5
sendo que QTijT = Qij − 31 Qij Qkl . Usando a parametrização circular no plano x-y, obtemos:

1
Qxx =µx2 = µr2 cos(2ωt),
2
1
Qxy =µxy = µr2 sin(2ωt), (18)
2
1
Qyy =µy 2 = − µr2 cos(2ωt),
2

calculando explicitamente as derivadas e substituindo na expressão acima, obtemos:

dE 32GN ω 6 µ2 r4
= , (19)
dt 5

Hebertt Leandro Silva A. Detalhes da Derivação Completa para a Fórmula do Quadrupolo


94

µ
para o problema de dois corpos devemos usar a relação η = M
, tal que µ é a massa reduzida,
isolando ω e M da Lei de Kepler v 2 = (ωr)2 = GN M/r, e substituindo na equação acima,
resulta [5]:
dE 32 η 2 c5 v 10
= . (20)
dt 5 GN
Agora encontrando como a frequência da onda gravitacional evolui com o tempo, a frequência
é dada por fgw = ω/π, e usando a terceira Lei de Kepler ω = v 3 /GN M , então a frequência:

v3
fgw = , (21)
πGN M

tomando a derivada da frequência com relação ao tempo, obtemos:

dfgw 3v 2 v̇
= , (22)
dt πGN M

obtendo v̇ devido ao fato que a energia da órbita circular(Teorema do Virial) E = − 12 ηM v 2 ,


tomando a derivada no tempo da energia da órbita, isolando v̇:


v̇ = − ,
ηM v
(23)
32 ηv 9
v̇ = − ,
5 GN M

substituindo v̇ na expressão (22), usando a relação v = (πGN M fgw )1/3 obtemos:

dfgw 96π
= η(πGN M )5/3 f 11/3 , (24)
dt 5

a equação acima, além da amplitude obtida, é uma outra medida de utilidade para a análise de
dados.

Hebertt Leandro Silva A. Detalhes da Derivação Completa para a Fórmula do Quadrupolo


95

B Equações de Einstein na Decomposição SVT


Detalhes da decomposição SVT para a teoria da gravidade. A decomposição é
expressa da seguinte maneira [6]:

h00 =2φ,

h0i =βi + ∂i b, (25)


 
1 1
hij =hTijT − 2ψδij + (∂i Fj + ∂j Fi ) + ∂i ∂j − δij ∇2 e,
2 3
a parametrização acima conta com 10 componentes de um tensor simétrico 4 × 4. São eles:
4 escalares φ, "e", ψ e b; 4 componentes de dois vetores transversos βi e Fi e 2 componentes
de um tensor transverso e sem-traço hTijT . Podemos explicitar os graus físicos da perturbação
usando a transformada geral de coordenadas:

h0µν = hµν − (∂µ ξν + ∂ν ξµ ) (26)

com ξ µ = (ξ 0 , B i +∂ i C), resultando nas seguintes transformações das componentes irredutíveis


[6]:
φ0 =φ − ξ˙0 ,

βi0 =βi − ξ˙i ,

b0 =b − Ċ − ξ0 ,
1
ψ 0 =ψ + ∇2 C, (27)
3
e0 =e − 2C,

Fi0 =Fi − 2ξi ,

h‘TijT = hTijT ,

Hebertt Leandro Silva B. Equações de Einstein na Decomposição SVT


96

usando as transformações acima, podemos definir as quantidades invariantes de gauge [6]:

1
ψ e ≡ψ + ∇2 e,
6
Φ ≡φ + b + ė,
(28)
1
Vi ≡βi − Ḟi ,
2
hTijT ≡hTijT .

E analogamente ao que foi feito para a perturbação, podemos decompor o tensor energia-
momento da seguinte maneira [6]:

T00 =ρ,

T0i =Si + ∂i S, (29)


 
1 1 2
Tij =pδij + σij + (∂i σj + ∂j σi ) + ∂i ∂j − δij ∇ σ,
2 3

e da conservação do tensor energia-momento ∂ µ Tµν = 0, temos:

para ν = 0:
−ρ̇ + ∇2 S = 0,

∇2 S = ρ̇, (30)

para ν = j:

∂ 0 T0j + ∂ i Tij = 0,

tal que resulta em duas equações:

3 3
∇2 σ = − p + Ṡ, (31)
2 2

∇2 σi = 2Ṡi . (32)

Agora que parametrizamos ambos os lados da equação de Einstein, devemos encontrar as

Hebertt Leandro Silva B. Equações de Einstein na Decomposição SVT


97

componentes linearizadas do tensor de Einstein Gµν , são elas:

1
− (h̄µν + ηµν ∂ ρ ∂ σ h̄ρσ − ∂µ ∂α h̄αν − ∂ν ∂α h̄αµ ) = 8πGN Tµν , (33)
2

com h̄µν = hµν − 12 ηµν h, encontrando as componentes explicitamente:


Encontrando G00 ;
1 ¨ − ∂ i ∂ j h̄ ) = 8πG ρ,
− (h̄00 + h̄00 ij N
2
1
2∇2 ψ + ∇2 ∇2 e = 8πGN ρ,
3
∇2 ψ e = 4πGN ρ. (34)

Encontrando G0i ;
1
− (h0i − ∂0 ∂α h̄α0 ) = 8πGN T0i ,
2
1 2
∇2 βi − 4∂i ψ̇ − ∇2 Ḟi − ∂∇2 ∇2 ė = −16πGN (Si + ∂i S),
2 3
tal que a componente 0i resulta em duas equações, uma parte vetorial:
 
2 1
∇ βi − Ḟi = −16πGN Si ,
2

∇2 Vi = −16πGN Si , (35)

e uma parte longitudinal,


1
2∇2 (ψ̇ + ∇2 ė) = 8πGN S, (36)
6
usando a conservação do tensor energia-momento é fácil mostrar que a equação acima é a
mesma equação em (34). Calculando agora a componente Gij

1 ¨ + ∂ k ∂ l h̄ − 2∂ k h̄˙ ) − ∂ ∂ h̄α − ∂ ∂ h̄α ) = 8πG T ,


− (h̄ij + δij (h̄00 kl 0k i α j j α i N ij
2

esta componente resulta em 3 equações, uma escalar dada por:


 
2 ë
2∇ φ + ḃ − = 8πGN (ρ + 3p − 3Ṡ),
2

∇2 Φ = 4πGN (ρ + 3p − 3Ṡ), (37)

Hebertt Leandro Silva B. Equações de Einstein na Decomposição SVT


98

em uma equação vetorial que usando a conservação do Tµν é a mesma da equação em (35). E
por último resulta em uma equação tensorial dada por:

hTijT = −16πGN σij , (38)

onde usando as definições feitas nas expressões em (28). Reunindo as equações de Einstein em
termos das quantidades invariantes de gauge, temos [6]:

∇2 ψ e =4πGN ρ,

∇2 Φ =4πGN (ρ + 3p − 3Ṡ),
(39)
2
∇ Vi = − 16πGN Si ,

hTijT = − 16πGN σij ,

as expressões acima são as equações de Einstein em um nível linear, onde reduzimos as 10


componentes gerais do hµν em 6 graus físicos da perturbação. São eles: 2 escalares Φ e ψ e ; 2
componentes de um vetor transverso Vi e duas componentes de um tensor transverso sem traço
hTijT .

Hebertt Leandro Silva B. Equações de Einstein na Decomposição SVT


99

C Detalhes sobre a derivação dos Potenciais Escalares


O modelamento da fonte proposto é o seguinte:

M
ρ(t, r) = (1 − Θ(t))M δ 3 (~x) + ∆(t − r), (40)
4πr2

onde Θ(t) e ∆(t − r) são funções suaves da Heaviside e da Delta de Dirac respectivamente,
com o termo de pressão dado por:
M
p= . (41)
12πr2
queremos obter a parte escalar das duas primeiras equações em (40), o intuito é resolver
integrais do tipo:
Z
−2 1 1
∇ f (r) = − d3 x0 f (r0 ) ,
4π |~x − ~x0 |
Z ∞ Z π
1 0 0 02 sinθdθ
=− (2π) dr f (r )r 2 0 2 0 1/2
,
4π 0 0 (r + r − 2rr cosθ)
(42)
1 ∞ 0 0 r0
Z
=− dr f (r ) [|r + r0 | − |r − r0 |] ,
2 0 r
Z r Z ∞
1 0 0 02
=− dr f (r )r − dr0 f (r0 )r0 .
r 0 r

Para determinar completamente a parte escalar falta determinar S, usando a expressão derivada
acima, encontramos:
Z
1 ρ̇
S =− d3 x0 ,
4π |~x − ~x0 |
!
∆(t) M M 1 r 0˙
Z Z ∞ ˙ − r0 )
∆(t
= − dr ∆(t − r0 ) + dr0 , (43)
4π r 4π r 0 r r0
M ∞ 0 ∆(t − r0 )
Z
= dr ,
4π r r 02

˙ − r) = − ∆(t−r) foi usada para facilitar os


onde usamos integração por partes e a relação ∆(t dr

cálculos.

Hebertt Leandro Silva C. Detalhes sobre a derivação dos Potenciais Escalares


100

Encontrando agora o potencial escalar ψ e :


Z
ρ
e
ψ = − GN d 3 x0 ,
|~x − ~x0 |
3 0 0
3 0 (1 − Θ(t))δ (~ 3 0 ∆(t − r )
Z Z
x ) GN M
= − GN M d x − d x ,
|~x − ~x0 | (4π) r02 |~x − ~x0 |
Z ∞ (44)
GN M r 0 ∆(t − r0 )
Z
GN M 0
= − (1 − Θ(t)) − dr ∆(t − r ) − GN M dr0 ,
r r 0 r r0
Z ∞
GN M ∆(t − r0 )
= − (1 − Θ(t − r)) − GN M dr0 .
r r r0

Calculando o potencial escalar Φ:

Z Z Z
ρ
3 0 3 0 p Ṡ
Φ = − GN d x 0
− 3GN d x 0
+ 3 d3 x0 ,
|~x − ~x | |~x − ~x | |~x − ~x0 |
0 Z ∞
3 0 M ∆(t − r )
Z Z
GN M 3 0 1 M
= − (1 − Θ(t)) + dx 2 − 3GN d x dr00 ∆(t − r00 ),
r 0
4πr |~x − ~x | 0 0
|~x − ~x | r0 2πr002
(45)
vamos por partes, as duas primeiras expressões para o potencial Φ são similares aos cálculos
feitos para encontrar ψ e . Vamos resolver em detalhe a última integral, onde denominaremos de
(I):
Z Z ∞
1
3 0 M
(I) = − 3GN d x dr00 ∆(t − r00 ),
0
|~x − ~x | r0 2πr003
Z r 02 Z ∞ 00 Z ∞ Z ∞ 00
0r 00 ∆(t − r ) 0 0 00 ∆(t − r )
(I) = − 6GN M dr dr + 6G N M dr r dr ,
0 r r0 r003 r r0 r003
Z r00 02 Z r 00 Z r 02 Z ∞ 00
0r 00 ∆(t − r ) 0r 00 ∆(t − r )
(I) = − 6GN M dr dr − 6G N M dr dr ...
0 r 0 r003 0 r r r003
Z r00 Z ∞ 00 Z ∞ Z ∞ 00
0 0 00 ∆(t − r ) 0 0 00 ∆(t − r )
... − GN M dr r dr − 6G N M dr r dr
0 r0 r003 r r0 r003
Z ∞
∆(t − r0 ) r2
 
GN M
(I) = + 2 (Θ(t − r) − Θ(t)) − GN M dr0 3 − .
r r r0 r 02
(46)
Substituindo o resultado acima na equação (46), obtemos Φ explicitamente:


− r0 ) r2
Z  
GN M 0 ∆(t
Φ = −(1 − Θ(t − r)) − GN dr 2 − 02 , (47)
r r r0 r

obtendo assim todas as quantidades escalares do tensor de Riemann. Calculando a segunda

Hebertt Leandro Silva C. Detalhes sobre a derivação dos Potenciais Escalares


101

derivada do ψ e :
Z ∞ ˙ − r0 )
∆(t
ψ̈ =e
dr0 ,
r r 02
Z ∞ 0
(48)
∆(t − r) 0 ∆(t − r )
= − 2 dr ,
r2 r r 03
e tomando o gradiente do Φ:


∆(t − r0 )
Z
GN M GN M M
Φ ,i
=xi 3 − xi 2 ∆(t − r) − xi 3
Θ(t − r) − 2GN M ∂ i
dr0 ,
r r r r r0
Z ∞ 0 Z ∞ 0
i 0 ∆(t − r ) 2 i 0 ∆(t − r )
= + 2GN M x dr + GN M r ∂ dr ,
r r03 r r 03
 Z ∞ 0

,i i GN M GN M 0 ∆(t − r )
Φ =x − Θ(t − r) 3 + 2GN M dr ,
r3 r r r 03
xi xj xi xj δji
 
,i i
Φj =GN M δj − 3 5 (1 − Θ(t − r)) − GN M ∆(t − r) 4 − 2GN M Θ(t − r) 3 ,
r r r
(49)
e finalmente obtemos todas as contribuições escalares do tensor de Riemman e assim podemos
calcular as contribuições na equação do desvio da geodésica mostrada em detalhes no capítulo
2.

Hebertt Leandro Silva C. Detalhes sobre a derivação dos Potenciais Escalares


102

D Ajuste do Parâmetro C para a Taxa de Formação de


Estrelas
Adotamos aqui neste trabalho a taxa de formação de estrelas de Madau e Dickison
[72] dada pela expressão em (5.13), neste apêndice iremos mostrar que utilizando uma outra
função na análise, não produz qualquer viés estatístico nos resultados para obter o H0 .
A taxa de formação que iremos reproduzir para a análise é de Robertson e Ellis [85],
dada pela seguinte expressão:

0.007 + 0.27(z/3.7)2.5
 
ψRE (z) = 6.4
+ 0.003 M yr−1 M pc−3 , (50)
1 + (z/3.7)

as duas funções estão plotadas na Fig. 1, note que as duas taxas são quantitativamente diferentes
onde o pico das respectivas funções ocorrem em redshifts diferentes. Na Fig. 2 expressa que a
taxa de formação de estrelas de Madau e Dickison é ajustada com o parâmetro C = 4.5, desse
modo as duas taxas são quantitativamente iguais. Logo, adicionamos no problema de inferência
o parâmetro C de modo que não temos interesse em medí-lo diretamente (do mesmo modo com
o parâmetro τ ).

0.30
DM
RE
0.25

0.20

0.15

0.10

0.05

0.00
0 2 4 6 8 10
z

Figura 1: Gráfico das funções da taxa de formação de estrelas de Madau e Dickson (linha azul)
vs Robertson e Ellis (linha laranja).

Hebertt Leandro Silva D. Ajuste do Parâmetro C para a Taxa de Formação de Estrelas


103

0.7
DM
0.6 DM4.5
RE
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0.0
0 1 2 3 4 5
z

Figura 2: Comparação das taxas de formação de estrelas em linha azul a expressão em (5.13),
em laranja a mesma expressão (Madau e Dickison) com um valor ajustado para o C = 4.5 e em
verde a expresão de Robertson e Ellis.

A análise bayesiana foi feita novamente utilizando os parâmetros H0 e Ωm com


os hiperparâmetros τ e C, onde as injeções foram geradas assumindo a taxa de formação de
estrelas de Robertson e Ellis [85] em (1), porém utilizamos Madau e Dickison com o valor
ajustado. Na Fig. 3 é mostrado os resultados para as distribuições de probabilidade, note que
o valor de C é absorvido para um determinado número de injeções, por conseguinte um valor
diferente de C não produz qualquer viés estatístico na determinação de H0 . Por outro lado, note
que o valor de H0 é danificado em 10%, logo precisa de mais algumas centenas de eventos para
obter H0 com o mesmo percentual obtido.

Hebertt Leandro Silva D. Ajuste do Parâmetro C para a Taxa de Formação de Estrelas


104

#injs: 20k
#injs: 10k

12

10

0.35

0.30
m

0.25

4.8

4.6
C

4.4

4.2

4.0

55 60 65 70 75 4 6 8 10 12 0.25 0.30 0.35 4.0 4.2 4.4 4.6 4.8


H0 m C

Figura 3: Análise estatística adicionando o hiperparâmetro C, onde adotamos a taxa de


formação de estrelas de Robertson e Ellis para a geração dos eventos, mas fizemos a análise
utilizando Madau e Dickison. Usamos um erro relativo de 5% no dL , com 104 e 204 eventos.
Note que mesmo utilizando as respectivas taxas diferentes, uma para a geração de eventos (leva
em conta a sensibilidade do detector) e outra para a formação de estrelas, não produz qualquer
viés estatístico na determinação de H0 .

Hebertt Leandro Silva D. Ajuste do Parâmetro C para a Taxa de Formação de Estrelas

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