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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE FÍSICA
BACHARELADO EM FÍSICA

JOSÉ RIBAMAR DANTAS SILVEIRA JÚNIOR

VARIABILIDADE ESTELAR E O MÉTODO DE


TRÂNSITO PLANETÁRIO: A BUSCA POR
EXOPLANETAS TIPO TERRA EM ESTRELAS FRIAS

FORTALEZA - CE
2021
JOSÉ RIBAMAR DANTAS SILVEIRA JÚNIOR

VARIABILIDADE ESTELAR E O MÉTODO DE


TRÂNSITO PLANETÁRIO: A BUSCA POR
EXOPLANETAS TIPO TERRA EM ESTRELAS FRIAS

Trabalho de Conclusão de Curso de Gradua-


ção apresentado à Coordenação da Graduação do
Curso de Fı́sica, da Universidade Federal do Ce-
ará, como requisito parcial para a obtenção do
Tı́tulo de Bacharel em Fı́sica.

Área de Concentração: Astrofı́sica. Orientador:

Prof. Dr. Daniel Brito De Freitas

FORTALEZA - CE
2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

S588v Silveira Júnior, José Ribamar Dantas.


Variabilidade estelar e o método de trânsito planetário: a busca por exoplanetas tipo
Terra em estrelas frias / José Ribamar Dantas Silveira Júnior. – 2021.
81 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro


de Ciências, Curso de Física, Fortaleza, 2021.
Orientação: Prof. Dr. Daniel Brito de Freitas.

1. Kepler. 2. Estrelas Frias. 3. Exoplanetas. 4. Trânsito Planetário. 5. Índice Magnético. I.


Título.

CDD 530
JOSÉ RIBAMAR DANTAS SILVEIRA JÚNIOR

VARIABILIDADE ESTELAR E O MÉTODO DE


TRÂNSITO PLANETÁRIO: A BUSCA POR
EXOPLANETAS TIPO TERRA EM ESTRELAS FRIAS

Trabalho de Conclusão de Curso de Gradua-


ção apresentado à Coordenação da Graduação do
Curso de Fı́sica, da Universidade Federal do Ce-
ará, como requisito parcial para a obtenção do
Tı́tulo de Bacharel em Fı́sica.

Aprovada em 08 de Fevereiro de 2021.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Daniel Brito De Freitas (Orientador)


Universidade Federal do Ceará - UFC

Prof. Dr. Saulo Davi Soares e Reis


Universidade Federal do Ceará - UFC

Prof. Dr. Luidhy Santana da Silva


Universidade Cruzeiro do Sul - UNICSUL
Dedicado à minha famı́lia e
amigos
”Fı́sica é como sexo: claro que tem resul-
tados práticos, mas não é por isso que a
gente faz.”
– Richard Feynman
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a minha mãe, Francisca Chaves, que me deu e continua dando
todo o suporte necessário para que eu possa alcançar meus objetivos, este trabalho é dedicado
inteiramente a ela. Agradeço a minha irmã, Lorena Castro, que da mesma forma, foi fonte
de suporte imensurável e a quem eu sempre busco me espelhar. Agradeço ao meu pai, José
Ribamar pelos aprendizados da vida. Agradeço a minha famı́lia pelo apoio em toda a minha
jornada. Agradeço a minha segunda famı́lia composta por Rayane Lô, Nina Silva e Rita
Pedrosa por todo o amor e suporte que me deram e continuam dando desde o dia do meu
nascimento. Agradeço aos meus vários amigos que criei durante a vida, em especial João
Victor Moreira, Rodrigo Passos, Thales Sombra, Daniel Ataide e Vito Lima e aos que criei
na jornada universitária, em especial Diego Canafı́stula, Pedro Holanda, Glauber Pedroso,
André Albuquerque, Ian Lima, Caio Santos, Thais Vasconcelos, Laı́sa Quariguasi e Julia
Camesi. Agradeço a funcionária de limpeza Ana Lúcia Monteiro por tornar todos estes anos
mais leves com suas brincadeiras e o café de todos os dias. Agradeço ao parceiro de bolsa
Cléber Farias pelo crescimento de forma conjunta da pesquisa. Agradeço ao meu orientador
Prof. Dr. Daniel Brito por todo seu conhecimento e tempo disponibilizados para o progresso
da pesquisa, sem sua dedicação nada disso seria possı́vel. Agradeço a colaboração do Stellar
Team pelos trabalhos de discussão e divulgação cientı́fica. Agradeço ao CNPq pelo apoio
financeiro durante o desenvolvimento da pesquisa.
RESUMO

Desde 2009, quando foi lançado, o telescópio espacial Kepler forneceu e continua forne-
cendo dados importantes para o entendimento do comportamento estelar, além de ter sido
uma grande ferramenta na busca por exoplanetas, dentre eles os tipo Terra. A análise dos
espectros de luz capturados pelos quase 21 módulos ou sensores (42 CCDs - Charge Couple
Devices) do Kepler, próximo às regiões das constelações de Lira e de Cisne, oferece uma
vastidão de informações importantes sobre as caracterı́sticas do cosmos. Um conjunto de 34
estrelas (comprovadamente sem presença de planetas) do tipo M (estrelas frias e pequenas),
obtidos pelo satélite e estudado a fundo por Savita Mathur[1], foi utilizado para análise de
variabilidade com o propósito de compreender o comportamento deste tipo estelar. Estrelas
do tipo M são fortes candidatas para a presença de planetas tipo Júpiter e tipo Terra com
perı́odos curtos de translação. Os astrofı́sicos buscam incessantemente por planetas pareci-
dos com a Terra, em busca de vida inteligente, ou até para um abrigo futuro, tornando o
campo da exoplanetologia o provável futuro da astrofı́sica.
Dessa forma, no capı́tulo 2 introduziremos a definição de exoplanetas e explicaremos
a razão da utilização do método de trânsito planetário, mostrando conceitos básicos de
exoplanetologia. No capı́tulo 3 mostraremos os dados utilizados bem como sua composição.
Além disso mostraremos como os dados foram tratados para obtenção de variabilidades e para
buscas de exoplanetas. No capı́tulo 4 mostraremos o uso do método de trânsito utilizando
o programa de Transit Least Squares[2] para a busca de um exoplaneta tipo Terra em zona
habitável, mostrando que a busca por novas Terras e novos mundos é possı́vel com bons
tratamentos e bons dados. Já no capı́tulo 5 mostraremos algumas informações e detalhes
da amostra utilizada neste trabalho. Por fim, no capı́tulo 6 mostraremos os resultados do
cálculo dos ı́ndices magnéticos de Mathur et al.[1] para as estrelas da amostra.

Palavras-chave: Kepler. Estrelas Frias. Exoplanetas. Trânsito planetário. Índice Magnético.


ABSTRACT

Since 2009, when it was launched, the Kepler space telescope has given and continues to
provide important data for understanding stellar behavior, in addition to being a great tool
for the search of exoplanets, among them Earth types. The analysis of the light spectra cap-
tured by the nearly 21 Kepler modules or sensors (42 CCDs - Charge Couple Devices), close
to the regions of Lyra and Cygnus constellations, offers a wealth of important information
about the characteristics of the cosmo. A set of 34 stars (demonstrably without planets)
of type M (cold and small stars), obtained by the satellite and deeply studied by Savita
Mathur[1], was used for the analysis of variability in order to understand the behavior of
this stellar type. Type M stars are strong candidates for the presence of Jupyter-type and
Earth-type planets with short translation periods. Astrophysicists are constantly searching
for Earth-like planets, in search of intelligent life, or even for a future shelter, making the
exoplanetology field the probable future of astrophysics.
Thus, in chapter 2 we will introduce the definition of exoplanets and explain the reason
for using the planetary transit method, showing basic concepts of exoplanetology. In chapter
3 we will show the data used as well as its composition. In addition, we will show how the
data were treated to obtain variability and to search for exoplanets. In chapter 4 we will
show the use of the transit method using the Transit Least Squares program[2] to search for
an Earth-like exoplanet in a habitable zone, showing that the search for new Earths and new
worlds is possible with good treatments and good data. In the chapter 5 we will show some
information and details of the sample used in this work. Finally, in the chapter 6 we will
show the results of calculating the magnetic indices of Mathur et al.[1] for the sample stars.

Keywords: Kepler. Cold Stars. Exoplanets. Planetary Transit. Magnetic Index.


Lista de ilustrações

Figura 1 – Trânsito planetário do sistema que orbita a estrela, do tipo M, Kepler-


1649. É notório que o perı́odo do segundo planeta é um pouco mais que o
dobro do primeiro. Além disso, seus tamanhos são parecidos. Ambos tem
temperatura média da superfı́cie em torno de 300K. Fonte: Vanderburg
et al. [13]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 2 – Representação de um trânsito planetário com um parâmetro de colisão
nulo e uma grande queda no brilho da estrela durante o trânsito. Fonte:
TESS Mission. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 3 – Decaimento de luz devido ao transito, onde temos a razão dos raios da
estrela e do planeta, o δ e o overshoot “o”. Fonte René Heller [14]. . . . . 24
Figura 4 – Campo de visão do telescópio Kepler, onde os 21 quadrados são divididos
ao meio formando os 42 CCDs (Charge Coupled Devices) que obtém as
informações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 5 – Representação de um telescópio Schimidt simples. . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 6 – Exemplo de um plot de arquivo TPF. Em questão está o quarter 6 da es-
trela KIC 3935499, uma estrela sem companhia de planetas. É perceptı́vel
que não há nenhuma fonte de luz próxima a ela. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 7 – Comparação entre os fluxos SAP e PDCSAP da estrela KIC 3935499.
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 30
Figura 8 – Fluxo, em elétrons por segundo, não suavizado da estrela KIC 3935499.
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 31
Figura 9 – Fluxo da estrela KIC 3935499 após processo de filtragem utilizando o
filtro de Savitzky–Golay. Alguns outliers estão circulados em vermelho e
são pontos espúrios que não comprometem a análise estatı́stica dos dados
como mencionou de Freitas et al.[20]. Fonte: O próprio autor, utilizando
o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 10 – Fluxo da estrela KIC 3935499 após a retirada dos outliers definidos como
os valores que estejam acima de 5 vezes o desvio padrão da curva. Pontos
abaixo não são retirados, pois podem conter decaimentos de fluxo impor-
tantes para a busca de exoplanetas (Vide capı́tulo 4). Fonte: O próprio
autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . 34
Figura 11 – Fluxo da estrela KIC 6444896. Uma estrela que contém dois planetas,
até então, descobertos. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do
Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 12 – Ruı́do da estrela KIC 3935499, obtido diferenciando sua curva de luz.
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 36
Figura 13 – Gráfico de probabilidade acumulativo da estrela KIC 3935499. Fonte: O
próprio autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 14 – Gráfico de probabilidade acumulativo da estrela KIC 3935499 após suavi-
zação. Fonte: O próprio autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 15 – Lomb-Scargle da estrela KIC 3935499. Fonte: O próprio autor, utilizando
o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 16 – Lomb-Scargle da estrela KIC 3935499 em escala logarı́timica. Fonte: O
próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . 40
Figura 17 – SNR da estrela KIC 3935499. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote
do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Figura 18 – SNR da estrela KIC 3935499. Em vermelho é visto o smooth calculado.
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 43
Figura 19 – SNR da estrela KIC 3935499 após tratamento para sua melhor resolução.
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 43
Figura 20 – Estimativa do νmax da estrela KIC 3935499. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 21 – Cáculo do ∆ν da estrela KIC 3935499, a partir do resultado obtido de νmax .
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 46
Figura 22 – Filtros aplicados ao quarter 6 da estrela Kepler-1649. Fonte: O próprio
autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . 49
Figura 23 – Curva de luz filtrada por Biweight da estrela Kepler-1649. Fonte: O pró-
prio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . 50
Figura 24 – Imagem do Sol com o nı́tido trânsito de vênus. Fonte: Brocken Inaglory -
Own work, CC BY . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Figura 25 – χ2 calculado pelo algoritmo TLS. Fonte: O próprio autor, utilizando o
pacote TLS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Figura 26 – SR calculado pelo algoritmo TLS. Fonte: O próprio autor, utilizando o
pacote TLS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Figura 27 – SDE calculado pelo algoritmo TLS. Fonte: O próprio autor, utilizando o
pacote TLS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Figura 28 – Decaimento do fluxo causado por um trânsito do planeta Kepler-1649 b.
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 55
Figura 29 – Em vermelho: Decaimentos de fluxo causados pelo planeta Kepler-1649 b
durante os 11 trânsitos identificados pelo TLS. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . 56
Figura 30 – Máscara calculada pelo TLS nos dados do quarter 9 da estrela Kepler-1649.
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 57
Figura 31 – χ2 calculado pelo algoritmo TLS para o segundo planeta. Fonte: O próprio
autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . 58
Figura 32 – SR calculado pelo algoritmo TLS para o segundo planeta. Fonte: O pró-
prio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . 58
Figura 33 – SDE calculado pelo algoritmo TLS para o segundo planeta. Fonte: O
próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . 59
Figura 34 – Decaimento do fluxo causado por um trânsito do planeta Kepler-1649 c.
Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . 60
Figura 35 – Em vermelho: Decaimentos de fluxo causados pelo planeta Kepler-1649
c durante os 5 trânsitos identificados pelo TLS. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 36 – Representação, fora de escala, do sistema planetário da estrela Kepler-
1649, onde Kepler-1649c está dentro da zona de habitabilidade (zona
verde). Fonte: Vanderburg et al. [13]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 37 – Algumas relações essenciais entre caracterı́sticas de cada estrela. Fonte:
O próprio autor.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Figura 38 – Mais algumas relações essenciais entre caracterı́sticas de cada estrela. Per-
ceba que não relação alguma entre os perı́odos de rotação e as caracterı́s-
ticas obtidas. Fonte: O próprio autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 39 – Mais algumas relações essenciais entre caracterı́sticas de cada estrela.
Percebe-se, mais uma vez, que os perı́odos de rotação não apresentam
correlação, desta vez, com a massa. Fonte: O próprio autor. . . . . . . . 63
Figura 40 – Estrela KIC 7285617 sem o tratamento de dados. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . 64
Figura 41 – Estrela KIC 7285617 tratada. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote
do Python LightKurve[18]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 42 – Relação entre o ı́ndice magnético das estrelas da amostra com as variáveis
com a qual mais se correlacionaram. Fonte: O próprio autor. . . . . . . . 68
Figura 43 – Variação temporal do ı́ndice magnético da estrela KIC 3935499. A linha
horizontal vermelha indica o valor de hS ph,k=5 i. A linha horizontal azul
indica o valor de S ph . Fonte: O próprio autor. . . . . . . . . . . . . . . . 69
Figura 44 – Variação temporal do ı́ndice magnético estrela KIC 6545415. A linha
horizontal vermelha indica o valor de hS ph,k=5 i. A linha horizontal azul
indica o valor de S ph . Fonte: O próprio autor. . . . . . . . . . . . . . . . 70
Figura 45 – Variação temporal do ı́ndice magnético 3232393. A linha horizontal ver-
melha indica o valor de hS ph,k=5 i. A linha horizontal azul indica o valor
de S ph . Fonte: O próprio autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Lista de tabelas

Tabela 1 – Exoplanetas confirmados até 23/11/2020. Fonte: Nasa Exoplanet Ar-


chive[12] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Tabela 2 – Valores dos parâmetros estelares da estrela KIC 3935499 . . . . . . . . . 32
Tabela 3 – Valores dos parâmetros estelares da estrela Kepler-1649 . . . . . . . . . . 48
Tabela 4 – Kepler-1649b . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Tabela 5 – Kepler-1649c . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Tabela 6 – Correlações de Pearson entre caracterı́sticas fı́sicas . . . . . . . . . . . . 66
Tabela 7 – Valores médios dos parâmetros estelares da nossa amostra de 34 estrelas
em confronto os valores solares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Tabela 8 – Índices magnéticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Tabela 9 – Kepler / PLATO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2 TÓPICOS DE EXOPLANETOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1 Exoplanetas: Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Buscando novos mundos: por que utilizar o método de trânsito? . . . 22
2.3 Uma breve história do telescópio Kepler . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3 FERRAMENTAS ESTATÍSTICAS DE ANÁLISE DOS PARÂMETROS


ESTELARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.1 Os dados do Kepler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.1.1 FFIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1.2 TPFs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1.3 Curvas de Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 Análise sistemática estelar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.2.1 Filtro de Savitzky–Golay . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2.2 Outliers . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2.3 Ruı́do . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2.4 Perı́odo de rotação e caracterı́sticas fı́sicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2.5 Asteroseismologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3 Índice de atividade magnética de Mathur et al.[1] . . . . . . . . . . . 46

4 FERRAMENTAS ESTATÍSTICAS DE ANÁLISE DOS PARÂMETROS


PLANETÁRIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.1 Preparação para o método de trânsito . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.1.1 Filtro de Tukey Biweight . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.1.2 Escurecimento do Limbo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2 Transit Least Squares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

5 DADOS OBSERVACIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES: hSPH,K =5 i . . . . . . . . . . . . . . . 68


SUMÁRIO 16

Conclusão e Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
17

1 INTRODUÇÃO

Desde os sumérios, no VI milênio a.C.[3], as observações e análises do céu são feitas. Na


época, a mistificação era presente, originando o campo da astrologia, que logo mais viria a
se separar do campo cientı́fico onde a astrofı́sica nasceria.
Desde então os estudos da astronomia e astrofı́sica trouxeram compreensões cada vez
mais claras acerca do planeta Terra e do Universo. Como exemplo, Aristarco De Samos (séc.
III a.C.), um astrônomo e matemático grego que propôs pela primeira vez que a Terra girava
em torno do Sol[4], dando inı́cio ao modelo heliocêntrico, por séculos, rejeitado pela Igreja e
outras instituições.
As ideias do heliocentrismo foram resgatadas, no final do século XV e inı́cio do século
XVI, por Nicolau Copérnico, um astrônomo e matemático polonês que desenvolveu tal teoria
afirmando que a Terra era apenas mais um planeta que orbitava o Sol a cada 1 ano, onde
este Sol não era o centro do Universo. Nicolau desenvolveu teorias que, mais tarde, ajudaram
Tycho Brahe e Johannes Kepler a desenvolver teorias mais avançadas acerca do sistema solar
e do Universo.
Giordano Bruno, um matemático e filósofo italiano, fortaleceu uma concepção de infinito
e aplicou esta ideia ao universo, como afirma a seguinte passsagem de seu livro Acerca do
Infinito do Universo e dos Mundos[5]: “Nós declaramos esse espaço infinito, dado que não há
qualquer razão, conveniência, possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um limite.”.
Tal afirmação, dentre tantas outras feitas por ele, feria ideais da Igreja que, mais tarde, o
levariam à Santa Iquisição e, consequentemente, à sua morte no Campo de Fiori em Roma.
Além disso, Tycho Brahe e suas observações do movimento de Marte contribuı́ram para
os estudos de Johannes Kepler que elaborou teorias do movimento dos planetas no séc XVII
que foram muito importantes para a revolução cientı́fica, onde Kepler elaborou suas 3 leis,
sendo elas:

• Primeira Lei: Lei das órbitas elı́pticas - O planeta que orbita o Sol descreve uma órbita
elı́ptica, onde o Sol está em um dos focos.

• Segunda Lei: Lei das áreas - A linha que liga o planeta ao Sol varre áreas iguais em
tempos iguais.
18

• Terceira Lei: Lei dos perı́odos -

D3
=k
T2
Onde, k é uma constante e o quadrado dos perı́odos de translação dos planetas (T) é
proporcional ao cubo dos semi-eixos maiores (D) de sua órbita.

Passando por grandes astrônomos como Tycho Brahe e Johannes Kepler, chega-se a um
dos precursores da observação direta de astros, Galileo Galilei. Com observações diretas
de manchas solares, crateras lunares e as primeiras observações de algumas luas de Júpiter
(Ganimedes, Calisto, Io e Europa), Galileo foi fundamental no desenvolvimento da astro-
fı́sica observacional como um todo, principalmente por ser pioneiro do desenvolvimento da
mecânica newtoniana.
Novos planetas foram encontrados no sistema solar, novas luas, novas estrelas além do
nosso Sol, novas galáxias, novas partı́culas, supernovas, buracos negros, entre muitos ou-
tros, porém faltava uma peça muito importante do quebra-cabeça, muito desejada pelos
astrofı́sicos modernos que buscavam e buscam incessantemente por vidas extraterrestres:
Exoplanetas.
Dessa forma, com o avanço da tecnologia e o desenvolvimento das teorias no campo
da fı́sica e da astronomia, houve um crescimento exponencial na quantidade de dados e
estudos acerca do universo em geral. Novos campos surgiram e novas icógnitas apareceram.
Um dos maiores questionamentos da astrofı́sica moderna resvala sobre a busca por novos
mundos, principalmente habitáveis. Por anos os astrofı́sicos buscam responder uma equação
estatı́stica: a equação de Drake[6] (equação 1.1).

N = R∗ · f p · ne · f l · f i · f c · L (1.1)

Onde N é o número de civilizações extraterrestres em nossa galáxia com as quais po-


derı́amos ter chances de estabelecer comunicação, R∗ é a taxa de formação de estrelas em
nossa galáxia, fp é a fração de tais estrelas que possuem planetas em órbita, ne é o número
médio de planetas que potencialmente permitem o desenvolvimento de vida por estrela que
tem planetas, fl é a fração dos planetas com potencial para vida que realmente desenvolvem
vida, fi é a fração dos planetas que desenvolvem vida inteligente, fc é a fração dos planetas
que desenvolvem vida inteligente e que têm o desejo e os meios necessários para estabelecer
comunicação e L é o tempo esperado de vida de tal civilização.
19

Portanto, a busca por Exoplanetas se torna essencial na resolução dessa pergunta, de


forma que novas áreas, dentro da exoplanetologia surgem afim de que tais questionamentos
sejam sanados em parte.
Vários métodos de busca foram criados, mas um é notoriamente mais efetivo: Trânsito
Planetário. Devido ao grande trabalho de teléscopios modernos, como Kepler[7], TESS[8]
e, futuramente, o PLATO[9], a disponibilidade de dados para tal estudo vem aprimorando
sua atuação com cada vez mais exoplanetas descobertos desde o fim do século XX, tornando
cada vez mais fácil a busca por mundos habitáveis no nosso Universo.
20

2 TÓPICOS DE EXOPLANETOLOGIA

2.1 Exoplanetas: Definição


Exoplanetas são planetas que orbitam estrelas que não sejam o Sol e sustentam as ca-
racterı́sticas definidas de um planeta qualquer. Os exoplanetas sempre foram cogitados até
antes de 1995, porém nunca confirmados, mesmo com várias tentativas do uso do método de
velocidade radial, até então o mais aprimorado método da época. Com isso em 1995 uma
dupla de astrofı́sicos (Michel Mayor e Didier Queloz)[10] observou uma estrela tipo Sol, a 51
Pegasi, por 18 meses e calculou uma presença de um planeta tipo Júpiter em sua órbita, o
51 Pegasi b. Tal descoberta rendeu aos dois pesquisadores o prêmio Nobel de fı́sica de 2019
devido a relevante contribuição ao avanço do campo da exoplanetologia. Mais recentemente,
foi descoberto o primeiro exoplaneta com a participação do Ceará e, em especial, o Departa-
mento de Fı́sica da UFC, denominado IC 4651 9122b e que pertence ao aglomerado aberto
IC 4651 localizado a 2900 anos-luz de distância na constelação de Ara. O sistema IC 4651
9122 é composto por uma estrela jovem do tipo solar com pouco mais de um bilhão de anos
e um exoplaneta com massa de aproximadamente seis massas de Júpiter que orbita a estrela
com um perı́odo de dois anos terrestres[11]. Estas descobertas demonstram um claro avanço
no campo da exoplanetologia e que pode ser visto na quantidade de exoplanetas confirmados
desde então (tabela 1).
2.1 Exoplanetas: Definição 21

Método de Descoberta Número de Planetas


Astrometria 1
Imageamento 51
Velocidade Radial 821
Trânsito 3275
Variações Temporais de Trânsito 21
Variações Temporais de Eclipses 16
Microlentes 105
Variações Temporais de Pulsar 7
Variações Temporais de Pulsação 2
Modulações de brilho orbital 6
Cinemática de Disco 1

Exoplanetas por Trânsito 3298


Todos Exoplanetas 4306

Tab. 1 – Exoplanetas confirmados até 23/11/2020. Fonte: Nasa Exoplanet Archive[12]

Analisando a tabela 1 é notório a importância do uso do método de trânsito na busca


por novos mundos, principalmente por planetas do tipo Terra, como é o caso do planeta
Kepler-1649c que orbita uma zona habitável e que foi descoberto em 2020 por Vanderburg et
al.[13], utilizando dados do telescópio Kepler,no qual faz parte de um sistema planetário com
um outro planeta mais adentro de sua órbita, o Kepler-1649b, onde orbitam uma estrela do
tipo M, dita estrela fria, Kepler-1649. Foram feitas observações por 756 dias e os resultados
obtidos são vistos na figura 1.
Por orbitar uma zona habitável, ou seja, região que a probabilidade de encontrar água
lı́quida é alta, o Kepler-1649c é um forte candidato para a presença de vida. É coveniente
ressaltar que é levado em consideração apenas a vida como a conhecemos, isto é, vidas que
dependem, indiscutı́velmente, da água para ser gerada e para sobrevivência.
É interessante analisar a descoberta do Kepler-1649 c, pois tal planeta foi recuperado de
dados que o colocavam com o status de falso positivo. Tal status é dado para sinais que, a
priori, aparentam ser de um planeta, mas que uma certa análise o classificou como um ruı́do
Isso mostra que conforme o tempo passa, novas análises mais detalhadas podem encontrar
sinais de planetas dentro de ruı́dos e de falsos positivos.
2.2 Buscando novos mundos: por que utilizar o método de trânsito? 22

Fig. 1 – Trânsito planetário do sistema que orbita a estrela, do tipo M, Kepler-1649. É


notório que o perı́odo do segundo planeta é um pouco mais que o dobro do pri-
meiro. Além disso, seus tamanhos são parecidos. Ambos tem temperatura média
da superfı́cie em torno de 300K. Fonte: Vanderburg et al. [13].

2.2 Buscando novos mundos: por que utilizar o método de


trânsito?
Atualmente o método de trânsito planetário é o mais importante método de detecção
de exoplanetas como foi visto na tabela 1. Seu funcionamento é simples, mas exige alguns
cuidados. Na figura 2 podemos ver uma representação de um trânsito planetário com um
parâmetro de colisão b=0 1 e com um perfeito decaimento de brilho estelar devido ao trânsito
de um grande planeta que orbita esta estrela fictı́cia.
Todavia, nem sempre o decaimento é tão claro e notório como o da figura anterior, como
pudemos ver na figura 1 onde tivemos dados reais obtidos pelo telescópio Kepler. Contudo,
uma análise profunda e cautelosa mostra resultados claros.
O decaimento do brilho é, dessa forma, o ponto chave da análise do astrofı́sico dentro
deste método, o chamado “transit depth”(profundidade de trânsito) dada pela equação 2.1,
definida por René Heller [14], torna-se crucial para a detecção e o cálculo de caracterı́sticas
fı́sicas do exoplaneta em questão.

δ = 1 − f min (2.1)
1 O parâmetro de colisão b é o angulo entre o objeto analisado e o observador com relação a estrela.
2.2 Buscando novos mundos: por que utilizar o método de trânsito? 23

Fig. 2 – Representação de um trânsito planetário com um parâmetro de colisão nulo e uma


grande queda no brilho da estrela durante o trânsito. Fonte: TESS Mission.

Onde o δ é a decaimento de fluxo devido ao trânsito, o 1 é o fluxo médio normalizado e


fmin é o fluxo mı́nimo recebido da estrela durante o trânsito.
Além disso, é possı́vel calcular o raio do planeta utilizando apenas o δ e o raio da estrela
(equação 2.2).
r
Rp
 
δ
= (2.2)
Rs 1+o
O termo o é o chamado “overshoot” sendo definido como a diferença entre a razão da
intensidade de luz durante o trânsito onde o planeta está completamente dentro do campo
de visada (mid-transit) e a intensidade média de todo o trânsito subtraı́do de 1.

Imid
o= −1 (2.3)
h IA i
Podendo ser aproximado para zero, ou seja:

Rp
 √
u δ (2.4)
Rs
Dessa forma, o método de trânsito pode se aliar com a espectroscopia, onde mais detalhes
sobre os planetas serão encontrados, como o estudo de suas atmosferas. Alguns espectrógrafos
2.3 Uma breve história do telescópio Kepler 24

Fig. 3 – Decaimento de luz devido ao transito, onde temos a razão dos raios da estrela e do
planeta, o δ e o overshoot “o”. Fonte René Heller [14].

terrestres já fazem algumas análises deste tipo, porém o telescópio espacial James Webb
(JWST)[15] contará com um espectrógrafo que analisará dentro do comprimento de onda
do infravermelho: o NIRSpec (Near-Infrared Spectrograph)[16]. Consequentemente, o JWST
consolidará cada vez mais a área de espectroscopia de trânsito, a firmando como método
promissor de estudo.

2.3 Uma breve história do telescópio Kepler


Lançado em 2009 com o objetivo de procurar por planetas do tipo Terra e cujo nome foi
uma homenagem a um dos maiores cientistas de toda a história, o satélite Kepler desenvolvido
pela NASA e operado pela Universidade Do Colorado, tinha pela frente, a princı́pio, uma
missão de 3.5 anos.
Contudo, em 2012 era esperado que a missão fosse adiada até 2016 devido a grandes
quantidades de ruı́dos originados tanto do próprio telescópio, quanto das estrelas. Todavia,
em 2012 e 2013, duas rodas de reação, necessárias para o controle e estabilização do telescópio,
2.3 Uma breve história do telescópio Kepler 25

falharam, dando fim a missão Kepler que, mais tarde, daria origem à missão K2 (voltada a
análises de anãs vermelhas).
Ao longo de seus 5 anos de atividade, o Kepler identificou cerca de 150 mil estrelas e
milhares de planetas que já foram descobertos, e muitos outros que, até hoje, podem estar
escondidos dentro de seus dados.
As principais metas da missão eram:

• Determinar o percentual de planetas dentro e fora de zonas habitáveis;

• Determinar os tamanhos e formatos das órbitas destes planetas;

• Determinar quantos planetas existem em sistemas multiplanetários;

• Determinar a massa e o tamanho de planetas gigantes de curto perı́odo de translação;

• Identificar membros adicionais dentro de sistemas planetários utilizando outras técni-


cas;

• Determinar as propriedades das estrelas em questão;

Além disso, seu campo de visão (em inglês “Field Of View” - FOV) deveria ser bem
pensado afim de evitar a luz do Sol e qualquer bloqueio durante todo o tempo. Essa região
era fixa e localizada entre as constelações do Cisne e de Lira como pode ser visto na figura
4.
2.3 Uma breve história do telescópio Kepler 26

Fig. 4 – Campo de visão do telescópio Kepler, onde os 21 quadrados são divididos ao meio
formando os 42 CCDs (Charge Coupled Devices) que obtém as informações.
27

3 FERRAMENTAS ESTATÍSTICAS DE
ANÁLISE DOS PARÂMETROS ES-
TELARES

3.1 Os dados do Kepler


O telescópio Kepler é realmente intrigante, assim como seus dados que são divididos
em diferentes arquivos e disponibilizados à comunidade de forma pública no site do MAST
(Mikulski Archive for Space Telescopes). Kinemuchi et al.[17] mostra muito bem como os
dados são divididos e como podem ser utilizados. É imprescindı́vel compreender como eles
eram obtidos para entender a função de cada arquivo.
O Kepler continha um fotômetro de 0.95 metros, que nada mais era que um telescópio
Schimidt simples (figura 5), no qual permitia um largo FOV e diminuia aberrações. Além
disso, saturações eram evitadas devido ao fato dos CCDs serem lidos a cada 3 segundos de
atuação.
As exposições são divididas em dois tipos:

• Cadência Curta (short cadence) - Exposição de 58.85 segundos;

• Cadêndia Longa (long cadence) - Exposiçao de 29.4 minutos.

Em particular, a estratégia de observação de um instrumento, como o do satélite Ke-


pler, se baseava na captura informações das estrelas em diferentes quarters com uma janela
de aproximadamente 100 dias. O Kepler mapeou 17 quarters totalizando uma janela de
observações de quase 4 anos. Entre cada quarter muitos gaps (espaços vazios) podem ser
vistos, contudo podem ser tratados utilizando filtros que suavizem a curva sem perder as
informações essencias presentes.
Os dados obtidos pelo telescópio eram baixados uma vez por mês, onde nestes momentos,
o Kepler apontava diretamente para os satélites da Terra. Outrossim, estes são divididos em
3 tipos com diferente objetivos de análise. São eles: FFIs (Full-Frame Images), TPF (Target
Pixel Files) e Light Curve Files.
3.1 Os dados do Kepler 28

Fig. 5 – Representação de um telescópio Schimidt simples.

3.1.1 FFIs
As FFIs, a priori, seriam usadas para propósitos de engenharia de funcionamento, mas
também proporcionam fotometria de alta precisão em uma cadência de um mês. Ademais,
permitem acessos aos nı́veis de fluxo de luz de um alvo e identificação de prováveis fontes de
contaminação (ruı́do) em regiões próximas a um determinado alvo.

3.1.2 TPFs
Os TPFs são usados para obter as caracterı́sticas instrumentais e de caráter não astrofı́sico
de um alvo. Ademais, podem prever posições de astros de acordo com seu movimento entre
os detectores.
Cada TPF contém:

• Fluxo;

• Margem de erro do Fluxo - posto em 1σ (desvio padrão);

• Fluxo de fundo (ou background);


3.1 Os dados do Kepler 29

Fig. 6 – Exemplo de um plot de arquivo TPF. Em questão está o quarter 6 da estrela KIC
3935499, uma estrela sem companhia de planetas. É perceptı́vel que não há nenhuma
fonte de luz próxima a ela. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python
LightKurve[18].

• Margem de erro do fluxo de fundo;

• Incidência de raios cósmicos.

Dados comprometidos podem ser associados a:

• Raios cósmicos;

• Partı́culas estranhas, como poeira;

• Funcionamento interno do telescópio;

• Variação temporal de radiação;

• Foco de imagem;

• Aberração de velocidade diferencial.1

3.1.3 Curvas de Luz


Derivadas de TPFs, são curvas de fluxo de luz de estrelas e são separadas em dois ti-
pos: SAP (Simple Aperture Photometry) e PDCSAP (Pre-Search Data Conditioning Simple
1 Esta aberração ocorre devido ao movimento da Terra.
3.1 Os dados do Kepler 30

Aperture Photometry) vistas na figura 7, onde o eixo X é o tempo em unidades de BKJD


(Kepler Barycentric Julian Days) que leva em consideração o baricentro do sistema solar e
tem como data inı́cio o dia 1 de Janeiro de 2009 às 12:00. É definido como:

BK JD = JD − 2454833.0 (3.1)

Onde JD são os dias julianos que são os números de dias contados desde o seu dia 0, cuja
data é 1 de Janeiro de 4713 a.C. do calendário Juliano.

Fig. 7 – Comparação entre os fluxos SAP e PDCSAP da estrela KIC 3935499. Fonte: O
próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

A SAP (em português, Fotometria de Abertura Simples) mantém assinaturas de longo


termo e outliers do tipo raios cósmicos e contém fluxos de incerteza de 1σ calculadas a partir
de erros Gaussianos e, por serem poucos processadas, podem estar contaminados por fontes
de luz de vizinhos do alvo. É utilizada para análises asteroseismológicas, ou seja, oscilações
estelares, fundamentais para a caracterização das estruturas internas das estrelas.2
Já a PDCSAP elimina anomalias e corrige o fluxo, onde funções analı́ticas são removidas
e fotometrias são correlacionadas com algumas informações de diagnóstico do telescópio,
como a temperatura. Tais correções permitem que trânsitos planetários sejam mais claros,
tornando-se essencial na busca por exoplanetas.
2 Vide subseção 3.2.5
3.2 Análise sistemática estelar 31

3.2 Análise sistemática estelar


A análise estatı́stica de dados astrofı́sicos, seja no domı́nio do tempo ou do espaço, de-
pende fortemente do pipeline (seção 3.1) do instrumento que coleta essas informações.
Para o estudo de análises de estrelas tipo M, utilizou-se o pacote LightKurve [18] e 34
estrelas (sem planetas) analisadas por Mathur et al.[1] nas quais foram essenciais para a
compreensão do comportamento destas estrelas frias.
Estrelas do tipo M são as mais comuns no universo. Com caracterı́sticas fı́sicas como
temperaturas baixas de superfı́cie e pequenos diâmetros3 . Em geral, são conhecidas como
anãs vermelhas (red dwarfs), com exceção de algumas gigantes como Betalgeuse, uma gigante
vermelha. Ademais, são propı́cias a abrigarem pequenas Terras com curtos perı́odos de
translação.

12000 KIC 3935499


11000
10000
Flux [e s 1]

9000
8000
7000
6000
5000
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
Time - 2454833 [BKJD days]
Fig. 8 – Fluxo, em elétrons por segundo, não suavizado da estrela KIC 3935499. Fonte: O
próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

A curva de luz da figura 8 é da estrela KIC 3935499. É uma estrela tipo M e suas
caracterı́sticas obtidas pelo catálogo do LightKurve [18] estão na tabela 2.
3 Vide capı́tulo 5
3.2 Análise sistemática estelar 32

KIC 3935499
Raio 0,545 ± 0,030 R
Massa 0,542 ± 0,028 M
Temperatura Efetiva (Te f f ) 3836K
Magnitude Kepler 15,288
Gravidade Efetiva (log g) 4,705 dex4
Metalicidade [ Fe
H] 0 dex

Tab. 2 – Valores dos parâmetros estelares da estrela KIC 3935499

3.2.1 Filtro de Savitzky–Golay


Na figura 8 é possı́vel observar o fluxo de elétrons por segundo da estrela KIC 3935499,
onde claramente pode-se analisar a discrepância entre os 17 quarters de observação que
estão divididos por gaps. Estes gaps são prejudiciais a análise da curva. Vários filtros para
a correção destes gaps podem ser utilizados, um deles é o filtro de Savitzky-Golay [19],
desenvolvido pelos dois cientistas que dão nome ao filtro.
Utilizando convolução, o filtro aumenta a precisão dos dados sem distorcer a tendência do
sinal original. É feito apartir de fits de baixos graus polinomiais utilizando o método linear
de mı́nimos quadrados.

i =m
1
Yj =
N ∑ Ci Yj+1 (3.2)
i =−m
Onde os Ci são os coeficientes de convolução, m é o numero de coeficientes convolucio-
nados, N é o número de convoluções e os Y j são os pontos da curva filtrada.
A figura 9 mostra o resultado do processo de “filtragem” da curva para a estrela em
questão.

3.2.2 Outliers
É notório, na figura 9, uma discrepância em alguns pontos, principalmente nos ultimos
dias de observação, onde observa-se picos de fuxo muito acima da média (que por estar
normalizada deveria ser 1). Tais pontos são chamados de outliers e são classificados como
4 O termo ”dex” remete a uma ordem de magnitude. É usado quando se relacionam termos de mesma
unidade, tendo assim um termo sem unidade. Para mais aprofundamento, visualizar: ”What is a dex?”.
https://joe-antognini.github.io/astronomy/what-is-a-dex
3.2 Análise sistemática estelar 33

Fig. 9 – Fluxo da estrela KIC 3935499 após processo de filtragem utilizando o filtro de Sa-
vitzky–Golay. Alguns outliers estão circulados em vermelho e são pontos espúrios
que não comprometem a análise estatı́stica dos dados como mencionou de Freitas et
al.[20]. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

dados que estejam acima de 5 vezes o desvio padrão de toda a curva.Os outliers podem ser
causados por diversos motivos como fontes de luz distantes do alvo, poeira, questões internas
de funcionamento do Kepler ou até mau processamento de dados. Retirá-los é de suma
importância e deve ser feito no começo do tratamento dos dados, para que haja garantia da
procedência dos resultados finais.
É fundamental ressaltar que apenas os dados acima de 5 vezes o desvio padrão são
retirados. Isto ocorre, pois dados que estão abaixo deste valor podem conter informações
de decaimento de fluxo, e como foi citado nas seções 2.1 e 2.2, o decaimento de fluxo é
um importante parâmetro de localização de planetas, se tornando indispensável dentro do
método de trânsito.
Na figura 10 é observado um certo comportamento periódico de picos e vales de fluxo de
luz. Tal comportamento é um forte indicativo de atividade magnética no qual sugere um
perı́odo de rotação estelar curto 5 . Se, nos dados, apenas os decaimentos do fluxo fossem
mais notórios, seriam fortes indicativos de presença de planetas, como é visto na figura 11,
na qual é visualizada a estrela KIC 6444896, citada na seção 2.1 e mostrada na figura 1, que
contém dois planetas em seu interior.
5 Vide seção 3.3 e capı́tulo 6
3.2 Análise sistemática estelar 34

Fig. 10 – Fluxo da estrela KIC 3935499 após a retirada dos outliers definidos como os valores
que estejam acima de 5 vezes o desvio padrão da curva. Pontos abaixo não são
retirados, pois podem conter decaimentos de fluxo importantes para a busca de
exoplanetas (Vide capı́tulo 4). Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do
Python LightKurve[18].

1.01
1.00
Flux normalized

0.99
0.98
0.97
0.96
KIC 6444896
0.95 600 800 1000 1200 1400 1600
Time - 2454833 [BKJD days]
Fig. 11 – Fluxo da estrela KIC 6444896. Uma estrela que contém dois planetas, até
então, descobertos. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do Python
LightKurve[18].
3.2 Análise sistemática estelar 35

3.2.3 Ruı́do
Uma importante análise entra no campo dos exoplanetas tipo Terra, dado que, devido
aos seus pequenos diâmetros ofuscam pouco da luz da estrela na qual orbitam causando
apenas um pequeno decaimento na curva de luz. Com isso, esse pequeno decaimento, de
certa forma, pode estar dentro do chamado ruı́do estelar e pode passar imperceptı́vel sem
uma análise aprimorada.
Existem dois principais tipos de ruı́do 6 :

• Ruı́do não-correlacionado (Gaussiano ou Branco)


-Média zero e variância finita

• Ruı́do correlacionado.
-Resultado de agregação de variações de diversos tipos de sinais temporais periódicos.

O chamado ruı́do astrofı́sico pode ser causado por várias fontes7 :

• Granulações devido a correntes de convecção

• Regiões ativas que geram spots;

• Ciclos magnéticos

O ruı́do pode ser obtido diminuindo cada ponto da curva de seu antecessor (equação
3.3). Dessa forma obtemos uma curva do tamanho da original menos um (figura 12). O
mesmo ruı́do será obtido se a curva original for derivada (equação 3.4), obtendo uma curva
do tamanho da original menos um. Tais resultados são os mesmos e traçando uma correlação
entre as duas é obtido o valor de 1.0.

Ri = Fi − Fi−1 ∀i ∈ [0, lenght(curve) − 1]; R0 = F0 (3.3)

dF
R= (3.4)
dt
Onde R é o ruı́do e F é a curva original.
Na figura 12 é visto o ruı́do da estrela KIC 3935499 onde foi calculado um desvio padrão
de σ ' 0.002 e uma média de µ ' 0, caracterizando-o como ruı́do gaussiano, assim como as
outras 34 estrelas analisadas.
6 Neste trabalho assumiu-se que todos os ruı́dos eram do tipo Gaussiano, já que este é o tipo mais comum
em estrelas devido a origem do sinal.
7 O Kepler continha resolução suficiente para observar os ruı́dos dos dados, estando estes “escondidos” dentro
dos dados.
3.2 Análise sistemática estelar 36

0.02
KIC 3935499
0.01

0.00
Noise Flux

0.01

0.02

0.03
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
Time - 2454833 [BJKD days]
Fig. 12 – Ruı́do da estrela KIC 3935499, obtido diferenciando sua curva de luz. Fonte: O
próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

Retirando o ruı́do da curva, eliminam-se tendêcias de longo termo que podem prejudicar a
busca por exoplanetas e análises de periodicidade da estrela, deixando a curva mais “limpa”e
suave, ou seja, mais tratada e apta para análises. Podemos verificar este resultado plotando
um gráfico de probabilidade para identificarmos os efeitos de cauda.
3.2 Análise sistemática estelar 37

Gráfico de probabilidade
1.0

0.8

0.6
Valores Ordenados

0.4

0.2

0.0

0.2

4 2 0 2 4
Quantiles Teóricos

Fig. 13 – Gráfico de probabilidade acumulativo da estrela KIC 3935499. Fonte: O próprio


autor.

Percebemos uma leve mudança no efeito de cauda da figura 138 para a figura 14, é sutil
devido a pequena quantidade de ruı́do na curva, porém é significativa e pode ser decisiva em
análises minuciosas na busca por pequenos exoplanetas que podem estar escondidos dentro
destes ruı́dos. Neste caso, maior parte do efeito de cauda é causado por outliers.

8 Quantiles são pontos que dividem intervalos de distribuiçao de probabilidade com iguais probabilidades.
3.2 Análise sistemática estelar 38

Gráfico de probabilidade
1.0

0.8

0.6
Valores Ordenados

0.4

0.2

0.0

0.2

4 2 0 2 4
Quantiles Teóricos

Fig. 14 – Gráfico de probabilidade acumulativo da estrela KIC 3935499 após suavização.


Fonte: O próprio autor.
3.2 Análise sistemática estelar 39

3.2.4 Perı́odo de rotação e caracterı́sticas fı́sicas


Estrelas rotacionam em torno de si e, estas, geram sinais periódicos dentro dos dados, nos
quais podem ser extraı́dos utilizando processos de transformações de uma funçao temporal
para funções de frequências.
Este processo pode ser feito utilizando-se a transformada de Fourier discreta [21]:

N
ĝ = ∑ gn exp(−2πi f n∆t/N ) (3.5)
n =1
Onde g e f são funções.
A partir daı́ é definido o Power Spectral Density (PSD), que mede o nı́vel de intensidade
de uma certa frequência dentro do cálculo da transformada:

Psd = | ĝ|2

1 N
N n∑
Ps = | gn exp(−2πi f nt/N )|2 (3.6)
=1
A equação 3.6 pode, então ser reescrita:

1
N ∑
P= [( gn cos(2π f tn ))2 + (∑ gn sin(2π f tn )2 )] (3.7)
n n
Contudo, a equação 3.7 não se encaixa dentro de dados não uniformes, necessitando,
portanto, de parâmetros adicionais para que as frequências sejam obtidas corretamente.
Lomb [22] e, posteriormente, Scargle [23] perceberam este problema e solucionaram adi-
cionando funções arbitrárias da frequência f (equação 3.8).

A2 B2
P= (∑ gn cos(2π [ f tn − τ ]))2 ) + (∑ gn sin(2π [ f tn − τ ])2 ) (3.8)
2 n 2 n
Essas funções arbitrárias (A,B e τ) devem ser escolhidas de tal forma que:

• A equação 3.8 reduza para 3.6 em casos de uniformidade;

• Seja analiticamente computável;

• Não seja sensı́vel à mudanças globais nos dados.

Dessa forma, a equação 3.8 se torna (assim definido por Scargle [23]):

1 (∑n gn cos(2π [ f tn − τ ]))2 ) 1 (∑n gn sin(2π [ f tn − τ ])2 )


P= + (3.9)
2 cos2 (2π [ f tn − τ ]) 2 sin2 (2π [ f tn − τ ])
3.2 Análise sistemática estelar 40

Utilizando o periodograma de Lomb-Scargle na estrela KIC 3935499 9 é obtido o resultado


esperado, observado na figura 15 e na figura 16 onde podemos analisar claramente os picos
de frequência e as variações dos perı́odos em escala logarı́tmica, respectivamente.

fmáx= 0.19 1 / d KIC 3935499


0.025
0.020 Período = 5.23 d
0.015
Power

0.010
0.005
0.000
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Frequency [1d ]
Fig. 15 – Lomb-Scargle da estrela KIC 3935499. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote
do Python LightKurve[18].

KIC 3935499
10 2

10 3

10 4
Power

10 5

10 6

10 7

10 1 100 101 102 103


Period [d]
Fig. 16 – Lomb-Scargle da estrela KIC 3935499 em escala logarı́timica. Fonte: O próprio
autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].
9 Para a visualização do periodograma de todas as estrelas estudadas vide Apêndice.
3.2 Análise sistemática estelar 41

Utilizando este método obtivemos um perı́odo de Prot ' 5.23 dias, exatamente o que foi
obtido por Mathur et al. [1] para esta estrela. São observados harmônicos (aliases) que são
originados devido à rotação diferencial da estrela, que ocorre quando a rotação do equador
difere da rotação dos polos.
Na seção 3.1 foi mencionado que os dados do Kepler são separados por quarters, precisa-
mente 17. Na utilização do método de Lomb-Scargle foram escolhidos os quarters de 5 a 11
para todas as estrelas. Isso foi feito com o intuito de abranger um perı́odo considerável de
análise, para que uma quantidade de rotações fossem observadas, e diminuir a quantidade de
gaps e informações extras contidas durante toda a curva.10 A escolha dos quarters 5 a 11 fo-
ram feitas de forma que se levasse em consideração o entendimento dos conceitos necessários
para que os perı́odos obtidos fossem os mais próximos da realidade.

3.2.5 Asteroseismologia
A asteroseismologia é um campo da astrofı́sica que estuda as vibrações estelares em
busca de informações das estruturas internas das estrelas por meio de métodos de análise de
frequências e funções de correlação. Isso é feito buscando dois valores importantes para a
análise:

• ∆ν - espaçamento médio de frequências entre os modos de frequência radial (n) em um


determinado ângulo l ;

• νmax - Frequência onde a curva suavizada é máxima.

Juntamente com os dados de Temperatura, estes valores podem ser usados para os cálculos
de idade, raio e massa das estrelas como foi mostrado por Viani et al.[24]:
s
( M/M )
∆ν ' (3.10)
( R/R )
 −2 !−1/2
Te f f
 
νmax M R
' (3.11)
νmax, M R Te f f ,
Um dos métodos de determinação dos valores de νmax e ∆ν é utilizando a função de
autocorrelação (ACF). Para isso é preciso extrair o “background”, que nada mais são que as
10 Com exceção de KIC 3232393, KIC 5041192 e KIC 7174385 (vide Apêndice) que apresentaram valores
rotacionais divididos pela metade se comparados ao de Mathur et al.[1], ou seja, os picos de frequência
ocorreram no dobro do valor real, provavelmente devido a algum processo no momento do tratamento
de dados, todas as estrelas apresentaram erro de menos de 1 dia de diferença. Algumas estrelas, como a
apresentada na figura 15 tiveram o mesmo resultado obtido por Mathur et al.
3.2 Análise sistemática estelar 42

curvas de fundo. Com isso, estima-se o SNR (Signal-to-Noise Ratio, em português: Raio
Sinal-Ruı́do), uma medida da qualidade e “pureza” dos dados. Onde temos:

• SNR = 2-3: Objeto mal detectado;

• SNR = 5: Objeto detectado, porém com muito ruı́do;

• SNR = 10: Medidas podem ser obtidas com certa precisão:

• SNR = 100: Medidas perfeitas.

Utilizando o periodograma da figura 15 e o LightKurve obtivemos a variação do SNR


durante o tempo de observação dos dados (figura 17).

Fig. 17 – SNR da estrela KIC 3935499. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do
Python LightKurve[18].

É visto que o SNR fica em nı́veis muito abaixo do esperado. Dessa forma, para melhorá-lo,
um método utilizado por Huber et al. [25] e Viani et al. [24] foi aplicado no periodograma.
Tal método é feito da seguinte maneira: o periodograma é normalizado para PSD (Power
Spectral Density), onde temos as frequências em unidades de Hertz(Hz), mais especificamente
em microhertz(µHz) e é traçado um smooth que suaviza o periodograma. Esse smooth é feito
com o método de “logmedian” que calcula a média entre pontos em bins logarı́timicos (18).
O SNR é, então, obtido a partir deste periodograma e utilizando o método de “logme-
dian”da mesma forma, além de um filtro de resolução de 0.005 log(µHz), definido por Huber
et al[25].
3.2 Análise sistemática estelar 43

Fig. 18 – SNR da estrela KIC 3935499. Em vermelho é visto o smooth calculado. Fonte: O
próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

Fig. 19 – SNR da estrela KIC 3935499 após tratamento para sua melhor resolução. Fonte:
O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

Desta vez os valores de SNR são consideráveis, chegando a resultados superiores a 15 em


algumas regiões da curva. Com isso, a seismologia da estrela será mais clara e acertiva.
A função de correlação (ACF) calcula a similaridade de uma função com ela mesma em
um tempo deslocado (shifted-time), ou atraso de tempo (time lag) τ, que, consequentemente,
origina os atrasos de frequência (frequency lag). Esses atrasos tornam-se importantes para
3.2 Análise sistemática estelar 44

análise seismológica, pois sua média resulta no valor de ∆ν. Para séries temporais a ACF é
definida como na equação 3.12.

N −1
Cj = ∑ xn xn− j (3.12)
n =0
Onde x é a função temporal, N-1 é o comprimento de x e j é o lag utilizado.
Portanto, a seismologia deste periodograma é feita e o νmax é estimado em 147,5µHz, e
para a sua análise é utilizada a ACF com o objetivo de verificar a procedência da estimativa
feita (figura 20).
A ACF, dessa maneira, mostra que a métrica de correlação é máxima onde o valor de
νmax foi estimado. Dessa forma, é preciso calcular o valor de ∆ν a partir do resultado obtido.
É observado que o valor calculado de ∆ν difere um pouco, mais precisamente em 1,7
µHz, do valor empı́rico, ou seja, do valor real. Isso se deve ao valor de SNR, que mesmo com
um aumento considerável, não se tornou alto suficiente para um cálculo mais preciso, mas
considerável, dos valores seismológicos obtidos.
3.2 Análise sistemática estelar 45

Fig. 20 – Estimativa do νmax da estrela KIC 3935499. Fonte: O próprio autor, utilizando o
pacote do Python LightKurve[18].
3.3 Índice de atividade magnética de Mathur et al.[1] 46

Fig. 21 – Cáculo do ∆ν da estrela KIC 3935499, a partir do resultado obtido de νmax . Fonte:
O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

3.3 Índice de atividade magnética de Mathur et al.[1]


A atividade magnética de uma estrela é uma caracterı́stica intrı́nseca a sua atividade
como um todo. Existem vários métodos de mensurar tal atividade, uma delas foi proposta
por Garcial et al.[26], onde utilizou uma estrela tipo solar obtida pelo satélite CoRoT (do
francês: Convection, Rotation et Transits planétaires, em português: “Convecção, Rotação e
Trânsitos planetários”). Neste caso, Garcia usufruiu de uma série temporal de cerca de 400
dias divididas em subséries de 30 dias e calculou o desvio padrão da curva inteira. Dessa
forma assumiu que tal desvio seria um ı́ndice magnético global na qual é baseado na presença
de starspots (manchas escuras que surgem devido ao processo interno de convecção estelar e
que têm temperaturas bem abaixo do restante da superfı́cie).
Mathur et al.[1] utilizou-se deste ı́ndice, no qual chamou de S ph , onde ph é originado
de “photometric”, porém levou em consideração variações temporais nos nı́veis de atividade
magnética. Mathur fez isso dividindo a série temporal em subséries de tamanho k x Prot ,
onde Prot é o perı́odo de rotação da estrela, o que possibilitou a análise da variação temporal
do ı́ndice de atividade magnética. Assumiu valores de k entre 1 e 30 e observou que o
valor médio de S ph , ou seja hS ph,k i, se comparava ao valor de S ph de Garcia et al.[26]. Para
aproximar os valores de S ph e hS ph,k i Mathur testou os valores de k e observou que para k =5
hS i
a razão ph,k =5
S ph se aproximava de 1, dessa forma, os valores de hS ph,k=5 i foram adotados
para o cálculo do ı́ndice magnético das estrelas de sua amostra e serão utilizados na amostra
3.3 Índice de atividade magnética de Mathur et al.[1] 47

deste trabalho.
Mathur et al.[1] e posteriormente De Freitas et al.[27] demonstraram que existe uma
anticorrelação entre o ı́ndice magnético obtido por Mathur e os perı́odos de rotação das
estrelas, o que indica que estrelas com perı́odos curtos de rotação, ou seja, estrelas que giram
mais rapidamente, tendem a ter ı́ndices magnéticos (atividade magnética) mais altos.11 Este
resultado demonstra, igualmente, que estrelas que giram mais rapidamente tendem a ter
intervalos de ciclos magnéticos mais curtos e as que giram mais lentamente tendem a ter os
intervalos destes ciclos mais longos.
Ademais, de Freitas et al.[27] demonstrou que o ı́ndice magnético, hS ph,k=5 i, está associ-
ado a variações de termos de longa tendência que geralmente se localizam em regiões de altas
frequências do espectro nos periodogramas (equação 3.9), regiões estas, que podem conter
assinaturas de granulações e oscilações no ruı́do de fundo.
No contexto geral, o ı́ndice magnético de Mathur et al.[1] explicita a variação de atividade
magnética e suas variações temporais, dando uma visão geral do comportamento magnético
estelar e contextualizando o nı́vel de atividade estelar de acordo com seus perı́odos de rotação,
que estão correlacionados com o ı́ndice.
É importante ressaltar que os ı́ndices magnéticos de Mathur et al.[1] e Garcia et al.[26]
não são os únicos métodos para se obter medidas de atividade magnética, muitos outros o
fazem com mesmo êxito. Um destes exemplos é utilizando o expoente de Hurst relacionado
à multifractalidade da curva de luz feita por de Freitas et al.[28]. de Freitas se baseia na
rotação diferencial da estrela e utiliza os métodos de Rescaled-range(R/S) e MFDMA para
obter valores dos expoentes de Hurst para definı́-lo como um ı́ndice de atividade magnética,
a qual o chamou de H-index.

11 Vide capı́tulo 6
48

4 FERRAMENTAS ESTATÍSTICAS DE
ANÁLISE DOS PARÂMETROS PLA-
NETÁRIOS

4.1 Preparação para o método de trânsito


A estrela Kepler-1649 ou KIC 6444896 citada na seção 2.1 e rapidamente na seção 3.2.2
(figura 11), por conter planetas em seu interior, será utilizada com objetivo de encontrá-los
dentro de seus dados. Algumas de suas caracterı́sticas são:

Raio 0,096 R
Massa 0,118 M
Temperatura Efetiva (Te f f ) 2703K
Magnitude Kepler 17,131
Gravidade Efetiva (log g) 5,274 dex

Tab. 3 – Valores dos parâmetros estelares da estrela Kepler-1649

É visto que Kepler-1649 é uma estrela muito fria e muito pequena e de gravidade compará-
vel a do planeta Netuno. É uma estrela ideal para buscas por planetas rochosos com perı́odos
curtos de translação, principalmente tipos Terra com prováveis condições para existência de
água lı́quida em zonas habitáveis, que neste caso estão muito próximas à estrela.

4.1.1 Filtro de Tukey Biweight


Diferentemente da estrela KIC 3935499, estudada na seção 3.2, o filtro de Biweight foi
utilizado para suavização da curva, ao invés do filtro de Savitzky-Golay. Essa escolha foi feita
a partir de análises de vários filtros, dentre esses, dois se utilizavam de métodos gaussianos.
Por atuar melhor em gaps, o filtro de Biweight foi selecionado para obtenção de melhores
resultados. Na figura é possı́vel observar a comparação entre 3 filtros utilizados para o quarter
6 da estrela.
O filtro de Tukey Biweight utiliza função de custo dentro dos dados. Funções de custo
buscam otimizar os resultados a partir de sua minimização, ou seja, quanto menor a fun-
4.1 Preparação para o método de trânsito 49

2330
2320
2310
2300
Raw Flux

2290
2280
2270 Biweight
GP - auto periodic
2260 GP - matern
2250 Raw Flux
540 560 580 600 620
Time - 2454833 [BJKD days]
Fig. 22 – Filtros aplicados ao quarter 6 da estrela Kepler-1649. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

ção custo, mais otimizada é a curva. Um dos exemplos mais comuns é a função de custo
quadrática (equação 4.1) que não usufrui de um parâmetro de ajuste em seu cálculo.

L ( a ) = a2 (4.1)

Onde L(a) é a função custo e a são os resı́duos da curva.


Já filtro de Biweight (equação 4.2) contém um parâmetro de ajuste de afinação c, definido
por Hippke et al.[29] como igual a, aproximadamente, c'5, mais precisamente c=4,685 para
valores dos dados do Kepler.
  a 2 2
L( a) = − (4.2)
c
Este valor de c foi utilizado para a obtenção da figura 22. Após este processo, chamado
de “detrending”, é feita uma divisão entre a curva de luz e filtro obtido. Dessa forma, uma
curva de luz filtrada é obtida para fins de análise (figura 23).
4.1 Preparação para o método de trânsito 50

1.003
1.002
Detrended Flux

1.001
1.000
0.999
0.998
0.997 Detrended Flux
540 560 580 600 620
Time - 2454833 [BJKD days]
Fig. 23 – Curva de luz filtrada por Biweight da estrela Kepler-1649. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

4.1.2 Escurecimento do Limbo


Visualizando uma estrela, como por exemplo o nosso Sol (figura 24), é possı́vel notar que
suas bordas são mais avermelhadas que o centro, sendo este, amarelado.
Este efeito é chamado de limb-darkening (em português: Escurecimento do membro) e
mostra como a estrela aparenta brilhar mais que em suas bordas.
O seu cálculo pode ser feito a partir dos coeficientes de escurecimento que medem o quão
discrepante é o brilho da estrela nas bordas e no centro.
Existem vários métodos numéricos para o cálculo dos coeficientes que obedecem diferentes
leis:

• Linear

• Quadrática

• Raiz quadrática
4.1 Preparação para o método de trânsito 51

Fig. 24 – Imagem do Sol com o nı́tido trânsito de vênus. Fonte: Brocken Inaglory - Own
work, CC BY

• Logarı́timica

• Exponencial

• Geral

Devido a natureza do trânsito planetário, foi adotado para a busca a lei quadrática
(equação 4.3), definida por Claret et al[30].

I (µ)
= 1 − a (1 − µ ) − b (1 − µ )2 (4.3)
I (1)
Onde I(1) é a intensidade de brilho no centro da estrela, a e b são os coeficientes de
limb-darkening e o parâmetro µ é dado por cos(γ), onde γ é o ângulo entre a linha de visada
e a superfı́cie normal da estrela.
Os coeficientes a e b serão usados como parâmetros na busca por exoplanetas, utilizando
o TLS (Transit Least Squares), com o objetivo de que os resultados de busca sejam mais
precisos.
4.2 Transit Least Squares 52

4.2 Transit Least Squares


O Transit Least Squares(TLS), desenvolvido em 2019 por Michael Hippke e René Heller
[2], foi criado para buscas tanto de grandes, quanto de pequenos planetas que orbitam suas
respectivas estrelas usando o método de trânsito planetário.
Esse algoritmo opera utilizando dobramento de fase (phase-folding) sobre um intervalo
de perı́odos de análise, procurando, sinais periódicos dentro deste intervalo. O TLS opera
calculando 3 variáveis: χ2 , SR (Resı́duos) e SDE (Eficiência do sinal detectado).

• χ2 :
Calcula diferenças significativas entre os valores estimados e os valores observados.

N (yim ( P, t0 , d) − yio )2
χ2 = ∑ σi2
(4.4)
i =1

Onde P são os perı́odos estimados, t0 são as épocas de trânsito, d são as durações do


trânsito, yim são os valores estimados, yio são os valores observados e σi2 são os desvios
padrões da curva.
A melhor estimativa de perı́odo terá o menor valor de χ2 , ou seja, o algoritmo procura
por χ2min,glob = mı́n(χ2 ).

• SR (Signal Residuals):
Os resı́duos, são estimados de acordo com os valores mı́nimos de χ2 , onde compara-se
o valor de mı́nimo global com o valor de mı́nimo de um perı́odo especı́fico P.

χ2min,glob
SR( P) = (4.5)
χ2min ( P)
Onde, consequentemente, seus valores variam de 0 a 1, sendo o seu valor máximo
alcançado quando o mı́nimo global é calculado.

• SDE (Signal Detection Efficiency):


Calcula a eficiência das estimativas dos perı́odos, ou seja, o valor máximo do SDE está
relacionado com o máximo do SR e o mı́nimo de χ2 .

1 − hSR( P)i
SDE( P) = (4.6)
σ (SR( P))
Onde o valor de 1 é o valor máximo de SR, hSR(P)i é a média aritmética de SR em P
(perı́odo em questão) e σ(SR(P)) é o desvio padrão de SR(P).
4.2 Transit Least Squares 53

Os coeficientes de Limb-Darkening foram obtidos a partir do catálogo de Mikulski (MAST),


um arquivo de dados da NASA que disponibiliza publicamente dados obtidos por satélites
ativos e inativos. Tais dados podem ser obtidos utilizando, também o TLS.
Com isso obteve-se os coeficientes (equação 4.3) a e b iguais a 0,9043 e 0,02037, respec-
tivamente.
Dessa forma, utilizando os dados contidos na figura 23, as informações da estrela contidas
na tabela 4.1 e os coeficientes a e b, obteve-se um perı́odo especı́fico, no qual o algoritmo
TLS compreendeu como sendo de um planeta.

Fig. 25 – χ2 calculado pelo algoritmo TLS. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote TLS.
4.2 Transit Least Squares 54

Fig. 26 – SR calculado pelo algoritmo TLS. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote TLS.

Fig. 27 – SDE calculado pelo algoritmo TLS. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote
TLS.
4.2 Transit Least Squares 55

Com isso os seguintes valores foram auferidos:

Kepler-1649 b
Perı́odo 8,689 ± 0,006 d
Número de Trânsitos 11
Rp
Rs 0,032

Tab. 4 – Kepler-1649b

Onde R p e Rs são os raios do planeta e da estrela respectivamente.


Estes valores foram obtidos assumindo-se o valor do parâmetro de impacto b (parâmetro
que mede o ângulo do campo de visada do planeta em relação a sua estrela) igual a zero.
Contudo os resultados foram similares aos encontrados por Angelo et al.[31] em 2017, onde
calculou-se um parâmetro de impacto b=0,34.
É preciso verificar o decaimento do fluxo de luz causado por esse provável planeta em um
gráfico de fase.

Fig. 28 – Decaimento do fluxo causado por um trânsito do planeta Kepler-1649 b. Fonte: O


próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].
4.2 Transit Least Squares 56

Fig. 29 – Em vermelho: Decaimentos de fluxo causados pelo planeta Kepler-1649 b durante


os 11 trânsitos identificados pelo TLS. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote
do Python LightKurve[18].

É perceptı́vel o decaimento calculado pelo fit em vermelho da figura 28. Este é um


indicador fortı́ssimo, e já comprovado, de que o perı́odo encontrado pelo algoritmo TLS
realmente remete a um movimento de translação planetária na estrela observada.
Como foi visto na figura 1, a estrela Kepler-1649 contém em seu entorno dois planetas,
o segundo (Kepler-1649 c), descoberto em 2020 por Vanderburg et al.[13] é um planeta tipo
Terra dentro de uma zona habitável por estar a uma distância em que a probabilidade de
existência de água lı́quida é alta.
Para encontrá-lo, foram analisados outros quarters da estrela e escolheu-se o quarter 9
por critérios de clareza de dados.
Utilizando-se o algoritmo TLS após o processamento da curva, encontrou-se um sinal
periódico de 2,933 dias que não remetia a um planeta dado seu gráfico de fase, no qual não
apresentava nenhum decaimento no fluxo. Com isso, utilizou-se uma máscara com o objetivo
de cobrir estes sinais periódicos. Foram testadas duas máscaras, a do pacote do WOTAN[29]
e a do TLS. Ambas mostraram bons, e similares, resultados.
4.2 Transit Least Squares 57

Dessa forma, utilizando-se a máscara do TLS dentro dos dados do quarter 9 e afim de
retirarmos o sinal periódico de 2,933 dias, foi obtido o resultado da figura 30.

1.006

1.004

1.002
Detrended Flux

1.000

0.998

0.996

820 840 860 880 900


Time - 2454833 [BJKD days]
Fig. 30 – Máscara calculada pelo TLS nos dados do quarter 9 da estrela Kepler-1649. Fonte:
O próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

Os pontos em vermelho indicam os dados que serão omitidos da curva, pois são estes os
causadores do sinal periódico encontrado na primeira tentativa. Com isso, o algoritmo do
TLS é aplicado mais uma vez e os resultados de χ2 , SR e SDE são obtidos:
4.2 Transit Least Squares 58

Fig. 31 – χ2 calculado pelo algoritmo TLS para o segundo planeta. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

Fig. 32 – SR calculado pelo algoritmo TLS para o segundo planeta. Fonte: O próprio autor,
utilizando o pacote do Python LightKurve[18].
4.2 Transit Least Squares 59

Fig. 33 – SDE calculado pelo algoritmo TLS para o segundo planeta. Fonte: O próprio
autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

Kepler-1649 c
Perı́odo 19,377 ± 0,008 d
Número de Trânsitos 5
Duração do trânsito 0,054 d
Rp
Rs 0,043

Tab. 5 – Kepler-1649c
4.2 Transit Least Squares 60

O perı́odo encontrado difere em 0,015 dias do calculado por Vanderburg et al.[13] para um
parâmetro de impacto b=0,875, estimado em seu trabalho. Já a razão dos raios do planeta
e da estrela foram de encontro ao resultado obtido.
Dessa forma, é feito o gráfico de fase (figura 34) com objetivo de analisar o decaimento
do fluxo de luz causado pelo Kepler-1649 c.

Fig. 34 – Decaimento do fluxo causado por um trânsito do planeta Kepler-1649 c. Fonte: O


próprio autor, utilizando o pacote do Python LightKurve[18].

Estes resultados mostram o poder de atuação do Transit Least Squares dentro do campo
de buscas pelo método de trânsito. Vale ressaltar que o planeta Kepler-1649 c é, hoje, o
planeta mais similar à Terra já encontrado desde o começo do descobrimento de exoplanetas.
Isso se dá, exatamente, devido sua posição em relação a estrela que orbita e às suas dimensões
fı́sicas, as quais indicam ser um planeta rochoso com provável presença de água lı́quida, sendo
este o componente principal para a existência de vida como é conhecida.
Sua posição privilegiada, chamada de zona habitável, é uma região estimada, na qual
existe ambiente propı́cio para a existência de água lı́quida. Por ser tipo M, ou seja pequena,
a zona de habitabilidade da estrela Kepler-1649 está muito próxima de si (figura 36) e
apresenta um raio pequeno, de aproximadamente 0,1 UA (Unidades Astronômicas), ou seja,
15 milhões de km.
4.2 Transit Least Squares 61

Fig. 35 – Em vermelho: Decaimentos de fluxo causados pelo planeta Kepler-1649 c durante


os 5 trânsitos identificados pelo TLS. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote
do Python LightKurve[18].

Fig. 36 – Representação, fora de escala, do sistema planetário da estrela Kepler-1649, onde


Kepler-1649c está dentro da zona de habitabilidade (zona verde). Fonte: Vander-
burg et al. [13].
62

5 DADOS OBSERVACIONAIS

Utilizou-se uma amostra de 34 estrelas estudadas por Mathur et al.[1]. Estas estrelas
confirmadamente sem planetas, tiveram como propósito o aprofundamento do estudo de suas
variabilidades com objetivo do entendimento do comportamento de estrelas frias do tipo M.
Estrelas deste tipo são, em geral, frias 1 e pequenas 2 com perı́odos de rotação curtos.

Fig. 37 – Algumas relações essenciais entre caracterı́sticas de cada estrela. Fonte: O próprio
autor..

As figuras 37, 38 e 39 mostram relações3 entre algumas caracetrı́sticas de cada estrela,


onde cada ponto preto nos gráficos é uma estrela da amostra utilizada. É importante ressaltar
que para estes gráficos eliminou-se os valores da estrela KIC 7285617 (figuras 40 e 41) por
apresentar um raio de 8,493 R e uma massa de 0.969 M , ou seja uma estrela tipo M
não anã e muito menos densa que as outras estrelas da amostra, sendo assim um outlier no
conjunto de dados.

1 Mais frias que o Sol, contendo um intervalo de temperatura de 2000K a 5000K.


2 Menores que um raio solar.
3 Dados obtidos do catálogo do MAST, disponibilizados pelo Transit least Squares [2]
63

Fig. 38 – Mais algumas relações essenciais entre caracterı́sticas de cada estrela. Perceba que
não relação alguma entre os perı́odos de rotação e as caracterı́sticas obtidas. Fonte:
O próprio autor.

Fig. 39 – Mais algumas relações essenciais entre caracterı́sticas de cada estrela. Percebe-se,
mais uma vez, que os perı́odos de rotação não apresentam correlação, desta vez,
com a massa. Fonte: O próprio autor.
64

Fig. 40 – Estrela KIC 7285617 sem o tratamento de dados. Fonte: O próprio autor, utili-
zando o pacote do Python LightKurve[18].
65

Fig. 41 – Estrela KIC 7285617 tratada. Fonte: O próprio autor, utilizando o pacote do
Python LightKurve[18].

É perceptı́vel que o perı́odo de rotação não tem nenhuma relação com as caracterı́sticas
fı́sicas mostradas, mas estas têm correlações lineares entre si. São elas: gravidade, tempera-
tura e raio.
Vê-se que Temperatura e gravidade estão relacionados de forma negativa, porém não estão
correlacionados de forma direta, dado que a temperatura afeta o valor da gravidade apenas
indiretamente, onde aquela afeta matéria, acarretando na mudança do valor da gravidade
em si.
Da mesma forma o raio da estrela e gravidade estão dispostos. Tal resultado confirma
que estrela tipo M são densas, sendos estas as mais densas do espectro estelar, dado que em
sua maioria são pequenas4 e com altos valores de gravidade.
Dessa forma, como gravidade e raio estão correlacionados negativamente, era esperado
uma correlação positiva entre raio e temperatura, o que é comprovado na figura 37.
Ademais na figura 39 vemos as relações das caracterı́sticas citadas com a massa das
estrelas. É notório a linearidade entre os valores da massa e gravidade, massa e temperatura
e massa e raio. A primeira é uma relação que demonstra o quão densa são as estrelas tipo
M, pois são menores que o Sol e apresentam valores cada vez maiores de gravidade. Já a
segunda, mostra que quanto maior a massa da estrela, mais quente será sua superfı́cie, esta
relação apresenta uma tendência clara de linearidade. Na terceira, observa-se uma relação na
4 Todas as estrelas estudadas neste trabalho, exceto a estrela KIC 7285617, tinham menos de um raio solar,
como é visto na figura 37
66

qual, quanto maior o raio da estrela, maior a sua massa, ou seja, uma relação linear positiva.
Além disso é visto que não há uma relação clara entre a massa e o perı́odo de rotação das
estrelas da amostra.
Na tabela 6 podemos ver a correlção entre todos os parâmetros citados, onde utilizou-se
o método de Pearson (equação 5.1) retirando a estrela KIC 7285617 da amostra, para melhor
entendimento dos parâmetros das estrelas da amostra.

Cov( X, Y )
Corr Pearson = (5.1)
σX σY
Onde X e Y são os parâmetros correlacionados, Cov(X,Y) é a covariância entre os parâ-
metros de análise e σX e σY são os desvios padrões dos parâmetros.
Correlação de Pearson
Temperatura(K) Raio(Rsol ) Logg(cm/s2) Perı́odo(d) Perı́odo Savita(d) Frequência B-V Metalicidade Massa S Mathur SGarcia
Temperatura(K) 1.000000 0.505873 -0.771806 0.116693 0.046002 -0.133058 -0.077287 -0.399277 0.862668 -0.285668 -0.268794
Raio(Rsol ) 0.505873 1.000000 -0.310037 0.080660 0.057416 -0.088579 0.133800 -0.110703 0.793714 -0.147989 -0.147911
Logg(cm/s2) -0.771806 -0.310037 1.000000 -0.173222 -0.056449 0.162690 0.213369 0.022853 -0.729220 0.140495 0.126180
Perı́odo(d) 0.116693 0.080660 -0.173222 1.000000 0.781839 -0.974732 0.092257 -0.053387 0.120600 -0.339629 -0.359966
Perı́odo Savita(d) 0.046002 0.057416 -0.056449 0.781839 1.000000 -0.783783 0.055001 -0.144912 0.029790 -0.545785 -0.571125
Frequência -0.133058 -0.088579 0.162690 -0.974732 -0.783783 1.000000 -0.106763 0.088328 -0.126564 0.371178 0.394527
B-V -0.077287 0.133800 0.213369 0.092257 0.055001 -0.106763 1.000000 -0.400681 -0.108711 0.022779 0.024116
Metalicidade -0.399277 -0.110703 0.022853 -0.053387 -0.144912 0.088328 -0.400681 1.000000 -0.058103 0.358944 0.361670
Massa 0.862668 0.793714 -0.729220 0.120600 0.029790 -0.126564 -0.108711 -0.058103 1.000000 -0.179635 -0.166694
S Mathur -0.285668 -0.147989 0.140495 -0.339629 -0.545785 0.371178 0.022779 0.358944 -0.179635 1.000000 0.998473
SGarcia -0.268794 -0.147911 0.126180 -0.359966 -0.571125 0.394527 0.024116 0.361670 -0.166694 0.998473 1.000000

Tab. 6 – Correlações de Pearson entre caracterı́sticas fı́sicas

Percebe-se uma alta correlação, além das já vistas nas figuras 37, 38 e 39, entre os
ı́ndices magnéticos calculados com o método de Mathur et al.[1] e o método de Garcia et
al.[26], chegando a um valor de quase 1. Além disso, nota-se a correlação negativa entre os
ı́ndices magnéticos e os perı́odos de rotação, mostrando que estrelas mais ativas apresentam
maiores valores de ı́ndice magnético, como foi citado na seção 3.3 e será exposto no capı́tulo
6. Ademais, é observado que os valores calculados por Mathur et al.[1] para os perı́odos de
rotação apresentaram uma correlação de 0.78 com os valores calculados pelo método utilizado
neste trabalho, contudo, retirando os 3 perı́odos que obtivemos metade do valor de Mathur,
citados na subseção 3.2.4, a correlação subiu para 0.991250.
Na tabela 7 compara-se a média das caracterı́sticas da amostra utilizada com as do Sol
que é uma estrela do tipo G, uma classe de estrelas amareladas, mais quentes, maiores e
menos densas.
67

Amostra(médias) Sol
Raio 0,5 R 1 R
Gravidade Efetiva (log g) 4,75 dex 2,99 dex
Temperatura Efetiva (Te f f ) 3835,06K 5778K
Metalicidade 0 dex 0 dex
Perı́odo de Rotação 12,3 d ' 31d
B-V 0,05 0,7
Massa 0,5 M 1 M

Tab. 7 – Valores médios dos parâmetros estelares da nossa amostra de 34 estrelas em con-
fronto os valores solares.

Analisando a tabela 7 observa-se que as estrelas da amostra são realmente mais densas,
dado seu pequeno raio e sua forte gravidade. Além disso mostra-se que são mais avermelhadas
com ı́ndices B-V baixos, têm perı́odos de rotação mais curtos e são mais frias.
Por serem estrelas muito ativas, tem altos valores de ı́ndice magnético, como será visto
no capı́tulo 6 utilizando o método de Mathur et al.[1] para o cálculo de hS ph i, o qual foi visto
na seção 3.3.
68

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES:
hS ph,k=5 i

Na seção 3.3 foi mostrada a definição dos ı́ndices magnéticos de Mathur et al[1] e Garcia
et al.[26]. Estes ı́ndices expõem o nı́vel de atividade magnética da estrela, a qual é intrinse-
camente ligada ao nı́vel de atividade estelar. Os dois ı́ndices são altamente correlacionados
(tabela 6), porém obtidos de maneiras diferentes: Garcia não leva em consideração a variação
temporal, já Mathur leva este termo em consideração.
Na figura 42 são plotados os valores de hS ph,k=5 i obtidos e as variáveis com a qual mais
se correlacionaram de forma positiva ou negativa

Fig. 42 – Relação entre o ı́ndice magnético das estrelas da amostra com as variáveis com a
qual mais se correlacionaram. Fonte: O próprio autor.

Além da alta correlação entre os dois ı́ndices magnéticos obtidos, observa-se a clara relação
entre hS ph,k=5 i e os perı́odos de rotação. Vê-se que estrelas com rotação mais lenta tendem
a ter menores valores de ı́ndice magnético, já as estrelas com rotatividade mais alta tendem
69

a ter maiores valores de ı́ndice magnético. O ı́ndice magnético mais alto obtido da amostra
foi o da estrela mostrada por todo o capı́tulo 3: a KIC 3935499. Ela apresentou um valor
de hS ph,k=5 i=17204,4 ppm1 e S ph (Garcia et al.[26])=19160,0 ppm. Não por acaso, a mesma
estrela é a com o menor perı́odo de rotação da amostra: 5,23 dias. (Os perı́odos de rotação
da amostra estão no apêndice deste trabalho)

Fig. 43 – Variação temporal do ı́ndice magnético da estrela KIC 3935499. A linha horizontal
vermelha indica o valor de hS ph,k=5 i. A linha horizontal azul indica o valor de S ph .
Fonte: O próprio autor.

Tal resultado era esperado, pois tanto o cálculo dos perı́odo de rotação utilizando Lomb-
Scargle (equação 3.9) quanto os cálculos de hS ph,k=5 i se baseiam na presença de spots na
superfı́cie estelar 2 .
Outro resultado é a relação entre o ı́ndice de Mathur e os valores de metalicidade e
temperatura. Observa-se uma têndencia positiva entre hS ph,k=5 i e os valores de metalicidade
( Fe
H ) da estrela, ou seja, estrelas com maior quantidade de ferro em suas composições tendem
a ser mais ativas (dentro dos valores obtidos da amostra). Por outro lado, as estrelas com
maiores temperaturas, da amostra, se mostraram menos ativas de acordo com os valores de
seus respectivos ı́ndices magnéticos.
Algumas estrelas como a KIC 6545415 (figura 44) e a estrela KIC 3935499 (figura 43)
apresentaram oscilações periódicas em um curto espaço de tempo do seu ı́ndice magné-
1 Partes por milhão.
2 Vide seção 3.3 e subseção 3.2.4.
70

tico. A KIC 6545415 tem um perı́odo curto de rotação de 5,5 dias, apresentando valores de
hS ph,k=5 i=9382.0 ppm e S ph =10821.3 ppm. Valores altos que indicam ser uma estrela bem
ativa.

Fig. 44 – Variação temporal do ı́ndice magnético estrela KIC 6545415. A linha horizontal
vermelha indica o valor de hS ph,k=5 i. A linha horizontal azul indica o valor de S ph .
Fonte: O próprio autor.

Já outras estrelas apresentaram uma tendência de queda em sua atividade no perı́odo
de observação, como a estrela KIC 3232393 (figura 45), que apresentou o menor valor de
atividade magnética dentre as estrelas da amostra (hS ph,k=5 i=511.7 ppm e S ph =575.3 ppm).
Vale ressaltar que este resultado pode ser um indicativo de tendência de inatividade da
estrela, porém, ao mesmo tempo, considera-se um ciclo magnético periódico com valores
maiores do que o observado pelo satélite Kepler.
Estes resultados demonstram que estrelas do tipo M são muito ativas magneticamente,
principalmente se comparadas a estrelas do tipo F, por exemplo, como foi visto por Mathur
et al[32] na qual calculou o valor destes ı́ndices para uma amostra de 22 estrelas deste tipo
estelar e obteve valores consideravelmente menores que os obtidos pela amostra de 34 estrelas
utilizadas neste trabalho.
Os valores contidos na tabela 8 diferem um pouco dos que foram obtidos por Mathur
et a.[1] (alguns valores muito próximos, outros diferindo de cerca de 300 ppm). Assumimos
que alguns destes valores um pouco discrepantes se devam a um motivo: em seus resultados,
obtidos em 2013, Mathur continha apenas 15 quarters (ao invés de 17) das curvas de luz da
71

Fig. 45 – Variação temporal do ı́ndice magnético 3232393. A linha horizontal vermelha indica
o valor de hS ph,k=5 i. A linha horizontal azul indica o valor de S ph . Fonte: O próprio
autor.

amostra, visto que o satélite Kepler ainda estava em operação na época. Este dois quarters
faltantes podem alterar o valor do desvio padrão da curva sutilmente e, consequentemente,
o valor de hS ph,k=5 i.
72

Resultados obtidos de acordo com o processo de Mathur et al.[1]


Estrela(ID) hS ph,k=5 i(ppm) S ph (ppm)
KIC 2157356 5198.4 5636.3
KIC 2302851 4165.4 4537.2
KIC 2570846 12995.5 13532.9
KIC 2574427 1558.7 1588.3
KIC 2692704 9432.5 9973.2
KIC 2832398 5011.3 5291.3
KIC 2834612 6440.3 7048.2
KIC 2835393 4436.2 4462.0
KIC 3102763 10093.1 10802.8
KIC 3232393 511.7 575.3
KIC 3634308 4269.7 4417.4
KIC 3935499 17204.4 19160.0
KIC 4833367 1501.8 1554.3
KIC 5041192 5894.3 6042.9
KIC 5096204 1393.8 1442.7
KIC 5210507 13316.7 14041.0
KIC 5611092 917.4 964.1
KIC 5900600 2837.5 3016.4
KIC 5950024 2781.5 2843.3
KIC 5954552 7274.7 7453.7
KIC 5956957 3743.2 4090.9
KIC 6307686 4255.6 4646.4
KIC 6464396 5582.2 6039.6
KIC 6545415 9382.0 10821.3
KIC 6600771 7224.9 7483.5
KIC 7091787 1497.0 1614.1
KIC 7106306 3606.6 3637.0
KIC 7174385 2226.2 2371.6
KIC 7190459 2768.7 2957.0
KIC 7282705 2213.7 2356.9
KIC 7285617 2013.0 2055.0
KIC 7534455 2377.1 2497.7
KIC 7620399 1446.4 1523.3
KIC 7673428 7959.2 8210.8

Tab. 8 – Índices magnéticos


73

Conclusão e Perspectivas

Quando Giordano Bruno sonhou com um universo de diversos mundos, sua perspectiva
estava mais do que correta e foi primordial para o desenvolvimento do campo da exopla-
netologia nos anos seguintes, principalmente do final do século XX aos dias de hoje. Sua
visão além do senso comum influenciou outras grandes mentes que pisaram neste planeta e
conseguiram enxergar com mesmo mérito a sua audácia. Desde os percussores da ciência da
astronomia como Copérnico, Kepler, Galileu e, mais recentemente, Michel Mayor e Didier
Queloz, e o orientador desta pesquisa, Prof. Dr. Daniel Brito, muito foi e tem sido feito e
densenvolvido para o avanço da astronomia como um todo, objetivando novos conhecimentos
e dados para o melhor entendimento do Universo, sempre pensando nas futuras gerações de
cientistas que estão por vir nos próximos anos, séculos, etc.
O satélite Kepler teve como objetivo exatamente uma maior compreensão do cosmos,
fornecendo dados minuciosos e de alta qualidade para análises de estrelas e busca de novos
mundos. Mesmo com seu perı́odo curto de atuação, foi, e continua sendo, essencial para o
estudo no campo estelar. Dessa forma as 34 estrelas disponibilizadas para o desenvolvimento
desta pesquisa, todas tipo M, foram essenciais para a compreensão do comportamento deste
tipo estelar, tal como sua variablidade e a busca por exoplanetas, abrindo um leque de
oportunidades de estudo para o próprio Kepler e para outros satélites futuros como o PLATO
(PLAnetary Transits and Oscillations of stars).
Dessa maneira, o estudo da variabilidade das 34 estrelas mostrou um comportamento
nada atı́pico do esperado para estrelas deste tipo, mostrando perı́odos de rotações curtos
em torno do prórprio eixo, nı́veis de ruı́do relativamente baixos, como pudemos analisar
com o SNR da estrela KIC 3935499 (figura 19) que foi melhorado após utilização um filtro
de logmedian de resolução da ordem de 0,005log(µHz). Além disso a análise seismológica
buscando valores de ∆µ e µmax utilizando a função de autocorrelação ACF (equação 3.12)
se mostrou bem eficaz nas estrelas estudadas.
Mais a frente observou-se que utilizando alguns ı́ndices como os ı́ndices magnéticos de
Mathur et al.[1] e Garcia et al[26], é possı́vel medir e caracterizar informações importantes
sobre as estrelas do cosmos com o objetivo de maior compreensão da atividade estelar, no
caso deste trabalho, de estrelas do tipo M, mas que podem, sem nenhum problema, serem
aplicados a outros tipos estelares presentes no universo.
Por conseguinte, a busca por exoplanetas utilizando o método de trânsito com o TLS,
calculando os valores de χ2 , SR e SDE, neste caso na estrela Kepler-1649 que contêm dois
74

planetas em seu sistema, se mostrou muito eficaz, onde foram encontrados os dois planetas no
sistema (Kepler-1649b e Kepler-1649c) com valores de perı́odo de translação e raio próximos
ao encontrado por Vanderburg et al.[13], comprovando que planetas tipo Terra em zonas
habitáveis podem, de fato, serem encontrados de forma eficaz com este método, bem como
o cálculo dos parâmetros fı́sicos dos planetas.
Com isso, a busca por novas Terras se intensificam, principalmente com novos satélites
já em atividade como o TESS e os próximos que virão, como o PLATO em 2026 e O James
Webb em 2021. Com o PLATO objetivando a busca por planetas rochosos utilizando o
método de trânsito num conjunto de dados de milhões de estrelas, novos estudos deverão ser
desenvolvidos no âmbito de Big Data, juntamente com métodos de Machine Learning. Tal
fato se dará devido a ordem de dados que ele disponibilizará para análise.

Kepler PLATO
Estrelas ≈ 150mil >1 Milhão
Volume de Dados ≈ 1TB Esperado ≈ 10PB

Tab. 9 – Kepler / PLATO

Além disso, uma nova área surge: o estudo de atmosferas de exoplanetas. Este campo
será um marco na história da astrofı́sica, pois dará possibilidade de maiores precisões na
busca por vida e se aproximará cada vez mais da resposta mais provável da equação de
Drake (equação 1.1), analisando espectros de luz buscando assinaturas biológicas, tais como
água, oxigêngio, fosfina, etc. De fato, a descoberta do século se dará nesta área e com a
rapidez de desenvolvimento, isto pode ocorrer mais cedo do que o esperado.
75

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APÊNDICE - PERIODOGRAMA DAS


ESTRELAS DA AMOSTRA
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Referências 82
Referências 83

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