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INPE-15179-TDI/1295

ESTUDO DE FRENTES MESOSFÉRICAS NA REGIÃO


EQUATORIAL

Joaquim Fechine de Alencar Filho

Tese de Doutorado do Curso de Pós-Graduação em Geofísica Espacial, orientada pelos


Drs. Hisao Takahashi e Cristiano Max Wrasse, aprovada em 26 de outubro de 2007.

INPE
São José dos Campos
2008
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INPE-15179-TDI/1295

ESTUDO DE FRENTES MESOSFÉRICAS NA REGIÃO


EQUATORIAL

Joaquim Fechine de Alencar Filho

Tese de Doutorado do Curso de Pós-Graduação em Geofísica Espacial, orientada pelos


Drs. Hisao Takahashi e Cristiano Max Wrasse, aprovada em 26 de outubro de 2007.

INPE
São José dos Campos
2008
528.711.7

Alencar Filho, J. F.
Estudo de frentes mesosféricas na região equatorial /
Joaquim Fechine de Alencar Filho. – São José dos Campos:
INPE, 2007.
313 p. ; (INPE-15179-TDI/1295)

1. Aeronomia. 2. Dinâmica da atmosfera.


3. Temperatura da atmosfera. 4. Ondas de gravidade.
I. Título.
Às pessoas do Cariri Paraibano,
que nos ensinam a olhar para o céu
e enxergar para além das estrelas.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha esposa Socorro, a minhas filhas Sabrina e Stéphanie, e a


meu filho Joaquim, a minha paz, a minha força e o meu sentido. Agradeço a
meus pais, Joaquim e Dulce, e a meus irmãos, Giusepe e Raniere, que sempre
me apóiam e me acompanham nas minhas caminhadas. Agradeço ao Dr.
Hisao Takahashi e ao Dr. Cristiano Max Wrasse a dedicação e o exemplo com
que eles me ensinaram, dia após dia, a fazer ciência. Gostaria de agradecer ao
Dr. Amauri Fragoso de Medeiros, ao Dr. Lourivaldo Mota Lima e ao Dr. Ricardo
Arlen Buriti a cooperação dos dados de imageador e do radar meteórico em
São João do Cariri, PB, além do apoio, do incentivo e de inúmeras sugestões
durante várias etapas deste trabalho. Agradeço também ao Dr. Barclay Robert
Clemesha e ao Dr. Paulo Prado Batista pela cooperação dos dados do radar
meteórico de São João do Cariri. Agradeço a NASA, ao Laboratory Applied
Physics da Johns Hopkins University, a equipe da missão TIMED, ao Dr. Martin
G. Mlynczac e ao Dr. James M. Russell III pela cooperação dos dados do
satélite TIMED/SABER. Agradeço ao Dr. Michael J. Taylor pelas valiosas
sugestões no decorrer deste trabalho e ao Dr. David C. Fritts pela cooperação
na simulação de frentes mesosféricas durante a campanha SpreadFEX.
Agradeço ao Dr. Jonas Rodrigues de Souza e ao Conselho de Pós-graduação
em Geofísica Espacial a disponibilização dos recursos computacionais
imprescindíveis à realização desta pesquisa. E agradeço a José Augusto, cujo
trabalho ininterrupto no observatório de São João do Cariri produziu os dados
que tornaram esta tese uma realidade. Agradeço ainda a todos os colegas e
amigos, cujo convívio tornarão as memórias desta caminhada uma saudosa
lembrança. Agradeço finalmente o apoio financeiro e institucional do CNPq –
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, da CAPES –
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e do INPE -
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
RESUMO

Um extenso estudo de frentes mesosféricas foi realizado entre julho de 2004 e


dezembro de 2005 em São João do Cariri, PB (7,4oS; 36,5oO). Imagens all sky
de airglow, além de dados obtidos com radar meteórico e com o satélite
TIMED/SABER foram usados com o objetivo de investigar o cenário físico no
qual as frentes mesosféricas ocorrem. Foram identificados três tipos distintos
de frentes: as pororocas com trem de ondas, os avanços (wall) na intensidade
do airglow, e os pulsos ou ondas solitárias. Algumas evidências observacionais
também foram registradas, tais como: frentes em formação e/ou dissipação;
indícios de destruição da frente pelo vento de fundo, casos de duas frentes
simultâneas e de várias frentes numa mesma noite. A principal contribuição
deste trabalho foi a caracterização física dos ductos dentro dos quais se
verificou que as frentes mesosféricas se propagam. Em cerca de 98,5% dos
casos foi observado que ductos Doppler, circundados por regiões
evanescentes, suportam as frentes de onda. Isto significa que o vento
desempenhou o principal papel na canalização das frentes mesosféricas.
Também foi observada uma forte atuação da maré semi-diurna provocando
cisalhamentos de vento na altura de alguns ductos analisados. Além disso,
para estudar as frentes mesosféricas foi necessário se investigar a estrutura
térmica da atmosfera equatorial brasileira, cujos principais resultados foram: a
observação de mínimos na temperatura da tropopausa, além da identificação
de dupla mesopausa e de camadas de inversão de temperatura na mesosfera
não previstas pelo modelo atmosférico CIRA-86. As camadas de inversão de
temperatura apresentaram um máximo de ocorrência em torno dos equinócios
entre 70 e 90 km de altura, com amplitudes entre 10 e 50 K e espessuras de 4
a 12 km. Finalmente, foi constatado que na região equatorial brasileira apenas
as camadas de inversão de temperatura não explicam as condições de
canalização das frentes mesosféricas observadas.
STUDY OF MESOSPHERIC FRONTS IN THE EQUATORIAL REGION

ABSTRACT

An extensive study on mesospheric fronts was carried out by means of


mesospheric airglow image observation at at São João do Cariri, PB (7,4oS;
36,5oW) from July 2004 to December 2005. All sky airglow images, meteor
radar wind and TIMED/SABER satellite temperature data were used in order to
investigate physical scenario of the mesospheric front. Three different types of
fronts were identified: bores with wave train, wall, and solitary waves. In addition
to these, some evidences were also observed such as, front generation and/or
dissipation, front destruction by background wind, double fronts and various
fronts in a same night. Main subject of the present study was to investigate
physical characterizations of duct where the mesospheric front propagates. The
most important result in the present work was that in most of the cases Doppler
ducts generated by vertical wind shear and surround by evanescent regions
were responsible for supporting the mesospheric front. Further to this, it was
also revealed that a strong semi-diurnal tidal oscillation which generates wind
shear around the mesopause region might have an important role in formation
of the ducting condition. Thermal structures in the mesopause region over São
João do Cariri was also investigated in order to study the mesospheric fronts.
Double mesopause with temperature inversion layers were observed during the
equinox seasons (February to May and August to October), what was not
predicted by CIRA-86 model atmosphere. From the gravity wave vertical
propagation conditions (dispersion relation), the role of the wind (vertical
gradient) and the temperature inversion were investigated in order to find which
is more important. It was concluded that the mesospheric inversion layers alone
could not explain the ducting condition.
SUMÁRIO

Pág.

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 17
1.1. Um Breve Histórico das Frentes Mesosféricas ....................................... 18
1.2. Objetivos e Estrutura da Tese ................................................................ 21

2 A TEORIA DAS ONDAS DE GRAVIDADE................................................ 25


2.1. As Ondas Atmosféricas .......................................................................... 25
2.1.1. Ondas Acústicas ..................................................................................... 26
2.1.2. Ondas de Gravidade............................................................................... 28
2.1.3. Ondas de Rossby ................................................................................... 29
2.1.4. Ondas de Maré ....................................................................................... 30
2.2. Dos Ventos Irregulares às Ondas de Gravidade .................................... 31
2.3. A Teoria Linear das Ondas de Gravidade............................................... 34
2.3.1. Os Níveis Críticos ................................................................................... 41
2.3.2. As Ondas Canalizadas ........................................................................... 42

3 REVISÃO DAS FRENTES MESOSFÉRICAS............................................ 45


3.1. Introdução............................................................................................... 45
3.2. A Modelagem do Fenômeno................................................................... 47
3.3. A Pesquisa Experimental........................................................................ 52
3.4. A Classificação das Frentes Mesosféricas ............................................. 71
3.4.1. Eventos do Tipo Pororocas Mesosféricas (Mesospheric Bores)............. 72
3.4.2. Eventos do Tipo Ondas Canalizadas (Ducted Waves) ........................... 74
3.4.3. Eventos do Tipo Avanço Mesosférico (Mesospheric Wall) ..................... 75
3.4.4. Eventos do Tipo Interação Onda-Onda (Wave-Wave Interaction).......... 76

4 INSTRUMENTAÇÃO E METODOLOGIA .................................................. 79


4.1. Técnicas de Observação de Ondas de Gravidade ................................. 79
4.2. O Imageador All Sky ............................................................................... 81
4.3. Metodologia de Análise de Frentes Mesosféricas .................................. 83
4.3.1. A Identificação de Frentes Mesosféricas ................................................ 84
4.3.2. O Pré-Processamento das Imagens de Airglow ..................................... 87
4.3.3. A Análise Espectral das Imagens de Airglow.......................................... 88
4.4. O Radar Meteórico.................................................................................. 95
4.4.1. Dados de Vento para o Estudo de Frentes Mesosféricas....................... 96
4.5. O Satélite TIMED .................................................................................... 99
4.5.1. O Instrumento SABER .......................................................................... 104
4.6. A Disponibilidade de Dados.................................................................. 108
4.7. Metodologia de Análise do Ambiente Mesosférico ............................... 109
4.7.1. Análise da Condição de Estabilidade Mesosférica ............................... 112
4.7.2. Análise da Condição de Propagação de Ondas de Gravidade............. 115
4.7.3. Cálculo dos Perfis de VER do OH(9,4), do OI5577 e do O2(0,1) .......... 125

5 RESULTADOS ..................................................................................... 129

5.1. A Estrutura Térmica da Média Atmosfera sobre o cariri ................. 129


5.1.1. Introdução............................................................................................. 129
5.1.2. Os Dados do Satélite TIMED/SABER e do Modelo CIRA-86 ............... 131
5.1.3. Perfis de Temperatura do TIMED/SABER ............................................ 132
5.1.4. Análise das Temperaturas obtidas pelo saber e pelo CIRA-86 ............ 135
5.1.5. Características Observadas pelo Satélite TIMED/SABER.................... 142
5.1.6. Principais Resultados da Estrutura Térmica sobre o Cariri................... 144

5.2. Camadas de Inversão Mesosféricas sobre a Região Equatorial .... 145


5.2.1. As Camadas de Inversão Mesosféricas Inferiores................................ 145
5.2.2. Dados e Procedimentos de Identificação de MILs................................ 148
5.2.3. Caracterização das MILs Inferiores sobre o Cariri................................ 150
5.2.4. Mecanismos Físicos de Formação de MIL ........................................... 155
5.2.5. Resumo dos Resultados das MILs sobre o Cariri................................. 157

5.3. Morfologia das Frentes Mesosféricas sobre o Cariri....................... 158


5.3.1. Introdução............................................................................................. 158
5.3.2. Identificação das Frentes Mesosféricas e Análise das Imagens........... 159
5.3.3. A Variação Anual na Ocorrência das Frentes Mesosféricas................. 162
5.3.4. Os Parâmetros Físicos Observados ..................................................... 164
5.3.5. As Evidências Observacionais das Frentes Mesosféricas.................... 166
5.3.6. Principais Resultados da Observação de Frentes Mesosféricas .......... 176

6 DISCUSSÃO ........................................................................................ 179

6.1 O Caso de 18/04/2002: Frentes Mesosféricas e MILs ...................... 179


6.1.1 Introdução............................................................................................. 179
6.1.2 A Frente Mesosférica de 18/04/2002 .................................................... 179
6.1.3 A Classificação do Evento .................................................................... 181
6.1.4 Estrutura Térmica Mesosférica na Noite de 18/04/2002 ....................... 184
6.1.5 Principais Conclusões do Caso de 18/04/2002 .................................... 189

6.2 O Caso de 01/10/2005: Frente Mesosférica num Ducto Doppler .... 191
6.2.1 Introdução............................................................................................. 191
6.2.2 A Frente Mesosférica de 01/10/2005 .................................................... 191
6.2.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 01/10/2005 .................................... 193
6.2.4 A Condição de Propagação da Frente Mesosférica ............................. 198
6.2.5 Principais Conclusões do Caso de 01/10/2005 .................................... 204
6.3 O Caso de 03/10/2005: Destruição de uma Frente Mesosférica ..... 205
6.3.1 Introdução............................................................................................. 205
6.3.2 A Frente Mesosférica de 03/10/2005 .................................................... 205
6.3.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 03/10/2005 .................................... 207
6.3.4 O Papel do Vento na Dissipação da Frente Mesosférica...................... 212
6.3.5 Principais Conclusões do Caso de 03/10/2005 .................................... 216

6.4 O Caso de 02/11/2005: Geração de uma Frente Mesosférica.......... 217


6.4.1 Introdução............................................................................................. 217
6.4.2 A Frente Mesosférica de 02/11/2005 .................................................... 218
6.4.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 02/11/2005 .................................... 220
6.4.4 As Condições de Geração da Frente Mesosférica ............................... 226
6.4.5 Principais Conclusões do Caso de 02/11/2005 .................................... 229

6.5 O Caso de 13/08/2005: Frentes Mesosféricas Simultâneas ............ 230


6.5.1 Introdução............................................................................................. 230
6.5.2 As Frentes Mesosféricas de 13/08/2004............................................... 230
6.5.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 13/08/2004 .................................... 232
6.5.4 A Condição de Propagação das Frentes Mesosféricas ........................ 238
6.5.5 Principais Conclusões do Caso de 13/08/2005 .................................... 243

6.6 Contribuição para o Conhecimento das Frentes Mesosféricas ..... 244

7 CONCLUSÕES .................................................................................... 249


7.1. Sobre o Conhecimento das Frentes Mesosféricas ............................... 249
7.2. Sobre a Estrutura Térmica da Atmosfera Equatorial Brasileira............. 250
7.3. Sobre as Camadas de Inversão na Mesosfera Equatorial Brasileira .... 251
7.4. Recomendações Futuras...................................................................... 251

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 253

A. O BANCO DE DADOS DO IMAGEADOR ALL SKY ................................ 269


A.1 O Banco de Imagens de Airglow.............................................................. 269
A.2 O Contraste das Imagens ........................................................................ 269
A.2 O Banco de Vídeos de Airglow ................................................................ 272

B. A TÉCNICA DE RECUPERAÇÃO DA TEMPERATURA CINÉTICA A


PARTIR DA RADIÂNCIA DO CO2 ................................................................. 277
B.1 A Geometria de Visada de Limbo ............................................................ 277
B.2 O Problema da Inversão da Radiância de Limbo..................................... 282
B.3 Determinação do Perfil de Temperatura .................................................. 285
B.4 A Recuperação de Temperatura Cinética pelo SABER ........................... 288

C. O BANCO DE DADOS DO SATÉLITE TIMED/SABER............................ 292


C.1 O Software TIMED/SABER Data Base Analysis...................................... 293
C.2 O Módulo de Análise ............................................................................... 297
C.3 O Módulo de Visualização Gráfica........................................................... 298
C.4 A Disponibilidade de Dados do Satélite TIMED/SABER sobre o Cariri ... 300

D. EXCITAÇÕES E FOTOQUÍMICA DO OH (9,4), OI5577 E O2 (0,1) .......... 306


D.1 Excitações e Fotoquímica do OH (9,4) .................................................... 307
D.2 Excitações e Fotoquímica do O2 (0,1) ..................................................... 309
D.3 Excitações e Fotoquímica do OI5577 ...................................................... 311
1 INTRODUÇÃO

As ondas de gravidade atmosféricas constituem uma área de intensa atividade


de pesquisa nos últimos anos, devido à miríade de efeitos e contribuições
destas ondas na circulação, estrutura e variabilidade atmosféricas (FRITTS e
ALEXANDER, 2003).

Excetuando-se os efeitos ocasionalmente fortes na baixa atmosfera, a maior


influência das ondas de gravidade ocorre na média atmosfera, entre 10 e 110
km de altitude, devido ao decréscimo da densidade e aumento da amplitude da
onda com a altura (CHIMONAS e HINES, 1986).

Os efeitos das ondas de gravidade na atmosfera incluem turbulência, mistura


de constituintes, transporte de momentum e energia, interação com marés e
ondas planetárias, bem como alterações na temperatura da mesopausa e no
fluxo do vento médio.

Além do transporte vertical de momentum e energia, as ondas de gravidade


também são importantes quando estão sujeitas a algum processo de
canalização, que inibe a propagação vertical, confinando o fluxo de energia e
momentum a uma limitada faixa de alturas (CHIMONAS e HINES, 1986).

Dentre os diversos trabalhos que discutiram a canalização de ondas de


gravidade nos últimos anos (CHIMONAS e HINES, 1986; ISLER et al., 1997;
WALTERSCHEID, 1999), a descoberta feita por Taylor et al. (1995a) sugere a
ocorrência de um tipo especial de onda de gravidade na média atmosfera, as
chamadas frentes mesosféricas. O estudo destas frentes de onda é de grande
interesse para a aeronomia, pelo fato de incluírem um exemplo por excelência
de um distúrbio do tipo pororoca ondular, similar a pororoca que acontece nos
rios, porém se propagando como uma onda interna na região da mesosfera e
baixa termosfera.

17
1.1.Um Breve Histórico das Frentes Mesosféricas

Desde a descoberta das frentes de onda, comumente chamadas de pororocas


mesosféricas, realizada por Taylor et al. (1995a), diversos trabalhos foram
publicados tratando tanto da pesquisa experimental, como da modelagem do
fenômeno.

Na última década foram reportadas observações de pororocas mesosféricas


em baixas latitudes (FECHINE, 2004; FECHINE et al., 2005; MEDEIROS et al.,
2005; SMITH et al., 2005), em latitudes médias (SMITH et al., 2003, 2006; SHE
et al., 2004; BROWN et al., 2004), e também em altas latitudes (NIELSEN et
al., 2006; STOCKWELL et al,. 2006).

Os primeiros esforços na modelagem das frentes mesosféricas foram


empreendidos por Munasinghe et al. (1998) e Dewan e Picard (1998, 2001).
Enquanto Munasinghe et al. (1998) tentaram explicar o fenômeno como uma
interação entre dois modos de maré dentro de uma região de ducto, Dewan e
Picard (1998, 2001) desenvolveram um modelo de pororoca ondular
mesosférica, que obteve sucesso na explicação de vários aspectos destas
frentes de onda observadas nas imagens de airglow.

Nesta mesma época, Swenson et al. (1998) aplicaram um modelo fotoquímico


e dinâmico para explicar uma observação de frente de onda de outro tipo, que
os autores chamaram de wall mesosférico. Alguns anos depois, Seyler (2005)
propôs uma teoria linear de ondas de gravidade internas, cujo desenvolvimento
seria não-linear, para explicar a formação de pororocas mesosféricas ondulares
em ductos térmicos.

Diante da diversidade de nomenclatura utilizada até então, na denominação


destas frentes de onda, Brown et al. (2004) propuseram uma denominação
geral de frentes mesosféricas a toda estrutura frontal de considerável
amplitude, que apresentasse uma grande extensão horizontal (> 500 km) nas

18
imagens all sky de airglow. Desta forma, os autores sub-classificaram as
frentes mesosféricas em quatro tipos distintos: as pororocas mesosféricas
(SMITH et al., 2003; SHE et al., 2004; FECHINE et al., 2005), os walls
mesosféricos (SWENSON et al., 1998; BATISTA et al., 2002; LI et al., 2007), as
ondas canalizadas (ISLER et al., 1997), e ainda as interações onda-onda
(SHIOKAWA et al., 2006). Detalhes das características de cada tipo de frente
mesosférica podem ser encontrados na Seção 3.4.

Nos últimos anos a pesquisa experimental das frentes mesosféricas evidenciou


a ocorrência de frentes de onda simultaneamente a camadas de inversão de
temperatura (SMITH et al. 2003; SHE et al. 2004), que poderiam lhe servir de
ducto. Porém, em outros casos (BATISTA et al. 2002; SHIOKAWA et al. 2006),
foram observados intensos cisalhamentos de vento na altura de ocorrência das
pororocas, de forma que as condições nas quais estas frentes de onda se
propagam permanecem ainda pouco conhecidas.

Uma profusão de casos de pororocas mesosféricas também foi registrada na


região equatorial brasileira (FECHINE, 2004; FECHINE et al., 2005,
MEDEIROS et al., 2005), demonstrando que o fenômeno não seria tão raro
quanto se pensava no início de sua modelagem.

Os efeitos das pororocas mesosféricas nas camadas de airglow também foram


discutidos em vários trabalhos (TAYLOR et al., 1995a; SMITH et al., 2003; SHE
et al., 2004), porém Fechine (2004) e Medeiros et al. (2005) apresentaram
fortes evidências de efeitos de complementaridade não previstos pelo modelo e
Dewan e Picard (1998), cujos mecanismos físicos permanecem ainda incertos.

Ainda nesta época, Brown et al. (2004) aplicaram a técnica de traçado de raio
para o cenário físico observado numa ocorrência de pororocas e sugeriram que
uma frente fria na troposfera teria sido a provável origem do fenômeno.

19
Também foi relatada na literatura a observação de uma frente mesosférica
formando-se após a quebra de ondas de gravidade (SMITH et al., 2005), além
de uma observação de transição de uma pororoca ondular em pororoca
turbulenta (SHE et al., 2004).

Recentemente, em observações realizadas na Antártica, Nielsen et al. (2006) e


Stockwell et al. (2006) reportaram a observação de uma pororoca mesosférica,
cujo trem de ondas se desenvolveu devido a diminuição da amplitude da frente
de onda.

Assim, nota-se que a despeito da pesquisa conduzida na última década, vários


aspectos do fenômeno das frentes mesosféricas permanecem ainda pouco
conhecidos. Não se conhece, por exemplo, o mecanismo físico de formação e
dissipação das frentes mesosféricas, e tampouco se dispõe atualmente de uma
caracterização das fontes que gerariam tal distúrbio.

O próprio ducto que suporta tais ondas ainda é objeto de discussão na


comunidade científica, principalmente com relação ao papel desempenhado
pelas camadas de inversão de temperatura e pelos cisalhamentos de vento na
eficiência da canalização. Outros aspectos como a relação das frentes de onda
com as marés atmosféricas, com os níveis críticos e com as instabilidades
dinâmicas permanecem ainda bastante obscuros.

Desta forma, a motivação para a realização desta tese surgiu da possibilidade


de se investigar alguns aspectos referentes a condição de propagação das
frentes mesosféricas a partir do imageamento rotineiro das camadas de airglow
no nordeste brasileiro, simultaneamente a medidas de vento e de temperatura
realizadas nesta região.

20
1.2.Objetivos e Estrutura da Tese

A presente tese foi idealizada com o objetivo de compor um quadro do


ambiente atmosférico, ainda pouco conhecido, no qual as frentes mesosféricas
se propagam. Com a composição deste quadro procurou-se responder
algumas das questões básicas acerca da formação, do desenvolvimento e da
dissipação de frentes mesosféricas, confrontando observações
meticulosamente documentadas, com as previsões fornecidas pelo modelo de
Dewan e Picard (1998, 2001), atualmente o modelo mais aceito na explicação
do fenômeno.

Desta forma, a tese foi organizada de forma a prover um substancial volume de


dados da estrutura vertical da mesosfera equatorial brasileira, principalmente
complementando os dados disponíveis a partir de instrumentos instalados em
superfície, no Observatório de Luminescência Atmosférica da Paraíba (OLAP),
localizado em São João do Cariri, PB (7,4º S; 37,5º O).

Para fornecer um embasamento teórico dentro do qual os fenômenos serão


discutidos, o Capítulo 2 deste trabalho apresenta a teoria linear das ondas de
gravidade, além da definição dos conceitos de nível crítico e de canalização de
ondas, fundamentais na análise da condição de propagação das frentes
mesosféricas.

No Capítulo 3, o breve histórico das frentes mesosféricas apresentado na


introdução é expandido, de forma a compor uma revisão bibliográfica do
fenômeno na ultima década. Neste capítulo também são apresentados os
principais aspectos discutidos a partir da modelagem e da pesquisa
experimental das frentes mesosféricas desde a sua descoberta, além de uma
apresentação formal dos critérios de classificação do fenômeno.

Durante a realização desta tese também foi verificada a necessidade de se


desenvolver novas técnicas de análise de dados de imagem e de satélite da

21
região da mesosfera terrestre. Desta forma, o Capítulo 4 descreve a
instrumentação e as respectivas metodologias utilizadas no presente trabalho,
que envolveram medidas de imageador all sky, de radar meteórico e do satélite
TIMED/SABER.

Além das técnicas descritas no Capítulo 4, os Apêndices A, B, C e D


apresentam metodologias específicas também utilizadas no decorrer deste
trabalho, a saber: a criação de um banco de dados de imagens de airglow; a
descrição do método de recuperação da temperatura cinética a partir do
sensoriamento remoto de radiância do CO2; a criação de um banco de dados
do satélite TIMED/SABER e os modelos fotoquímicos para o cálculo dos perfis
de emissão das camadas de airglow, respectivamente.

O Capítulo 5 apresenta os principais resultados desta tese divididos em três


seções. Na Seção 5.1 é analisada a estrutura térmica atmosférica observada
sobre a região equatorial brasileira, mais especificamente sobre São João do
Cariri, PB, entre 10 e 120 km de altura, no ano de 2005. A Seção 5.2 apresenta
um estudo das camadas de inversão de temperatura detectadas na mesosfera
equatorial brasileira também durante o ano 2005. Este estudo foi de grande
importância, pois a caracterização destas camadas de inversão permitiu a
discussão do papel desempenhado pela temperatura na configuração dos
ductos dentro dos quais as frentes mesosféricas foram observadas. A Seção
5.3 encerra o capítulo de resultados com um levantamento das evidências
observacionais de 148 frentes mesosféricas detectadas sobre São João do
Cariri entre julho de 2004 e dezembro de 2005.

No Capítulo 6 são discutidos em detalhe quatro casos de frentes mesosféricas,


cujas evidências observacionais permitiram esclarecer alguns aspectos ainda
inéditos na literatura. Os casos discutidos compreendem uma observação de
frente de onda propagando-se dentro de um ducto Doppler; um caso de
destruição de frente mesosférica devido a um forte cisalhamento de vento; um
caso de formação de frente de onda dentro de um ducto dual devido a

22
interação com um nível crítico; e um caso de duas frentes mesosféricas
propagando-se simultaneamente e com efeitos de complementaridade não
previstos pelo modelo. Na Seção 6.5, que encerra o capítulo de discussão, é
apresentado um quadro geral da contribuição dos resultados obtidos nesta tese
ao atual conhecimento das frentes mesosféricas.

No Capítulo 7 são apresentadas as principais conclusões obtidas durante esta


tese, assim como algumas recomendações para trabalhos futuros. E,
finalmente, os trabalhos citados ao longo do texto encontram-se listados nas
referências bibliográficas no final deste trabalho.

23
24
2 A TEORIA DAS ONDAS DE GRAVIDADE

2.1.As Ondas Atmosféricas

O movimento ondulatório num fluido apresenta duas propriedades,


independente do tipo de onda: i) a energia é propagada de um ponto a outro; e
ii) o distúrbio se propaga através do meio sem, no entanto, provocar um
deslocamento permanente no meio como um todo. Uma primeira aproximação
de um fenômeno ondulatório é a que trata a onda como uma perturbação num
estado de equilíbrio modificando lentamente seu estado básico (BEER, 1974).

A atmosfera terrestre é capaz de suportar um grande número de fenômenos


ondulatórios, porém as ondas atmosféricas podem ser divididas em três tipos
principais, mostrados na Figura 2.1: ondas cujo deslocamento ocorre na
mesma direção de propagação e são chamadas ondas longitudinais ou ondas
acústicas; ondas que se propagam horizontalmente e são compostas de
deslocamentos verticais que são denominadas ondas verticais transversas ou
ondas de gravidade; e ondas que se propagam horizontalmente e são
compostas de deslocamentos também horizontais, perpendiculares à direção
de propagação chamadas ondas horizontais transversas ou ondas de Rossby
(ondas planetárias com período maior que 24 hs). As ondas atmosféricas
podem ainda se apresentar como uma combinação destes três tipos de onda
(BEER, 1974).

As ondas atmosféricas podem existir na forma de pequenas perturbações num


estado de equilíbrio, de maneira que são descritas por equações lineares. Esta
aproximação significa que pequenos distúrbios de diferentes amplitudes,
comprimentos de onda ou freqüência podem ser superpostos sem que ocorra
interação entre ondas distintas. Nestas circunstâncias qualquer pequeno
distúrbio, embora complexo, pode ser analisado nas suas componentes
senoidais regulares (ou componentes de Fourier), cada qual com sua própria
freqüência e comprimento de onda.

25
Figura 2.1 - Ilustração dos três tipos principais de ondas que podem ocorrer na
atmosfera terrestre.
Fonte: Adaptada de Beer (1974, p.2).

O problema, entretanto, fica mais complexo quando se considera que a onda


pode sofrer atenuação ou aumento da amplitude durante a sua propagação.
Uma onda pode eventualmente crescer em amplitude tal que os efeitos não-
lineares tornam-se importantes, tanto nas interações onda-onda, quanto nas
interações da onda consigo mesma (BEER, 1974).

Nas próximas três seções serão descritas as principais características das


ondas acústicas, de gravidade, de Rossby e de maré. E na Seção 2.2, após
uma breve revisão, será apresentada a teoria matemática das ondas de
gravidade.

2.1.1.Ondas Acústicas

As ondas atmosféricas mais conhecidas são as ondas sonoras que


desempenham um papel fundamental nos nossos métodos de comunicação. O

26
som ou as ondas acústicas são ondas longitudinais formadas pelo desequilíbrio
entre a resistência a mudanças num volume de fluido (ou compressibilidade) e
a inércia, que é uma resistência a mudança de velocidade. Estas compressão e
rarefação ocorrem adiabaticamente de modo que a energia não está disponível
para aumentar a desordem das moléculas de ar, e assim a entropia se
configura como a quantidade termodinâmica que permanece constante durante
o movimento (BEER, 1974).

Num fluido homogêneo e estacionário, na ausência de força externa (como por


exemplo a força gravitacional ou a força magnética), as ondas acústicas
constituem o único tipo de onda que pode existir, e seu espectro compreende
as freqüências audíveis pelo ouvido humano, além das ondas ultra-sônicas e
infra-sônicas, ou seja, ondas com período menor que 270 s.

A atmosfera da Terra, entretanto, é um fluido que está continuamente sob a


ação da força de gravidade, existindo, portanto, uma diminuição na densidade
com a altura. Este gradiente de pressão dota a atmosfera de uma estabilidade
que é completamente ausente num fluido homogêneo. Quando a força de
gravidade e a força restauradora introduzida pelo gradiente de densidade
tornam-se comparáveis às forças de compressibilidade, as ondas resultantes
são denominadas ondas de gravidade acústicas. Estas ondas não são
puramente longitudinais (exceto quando elas se propagam verticalmente), pois
a gravidade produz uma componente de movimento que é transversal à
direção de propagação.

O número de Froude, F = U gL é uma medida de significância da força de

gravidade, e neste contexto, U é velocidade e L é o comprimento


característico para o fenômeno estudado. No caso de ondas de gravidade
atmosféricas a velocidade do vento pode ser considerada como U , enquanto

L seria a altura exigida para que a densidade diminua para a metade de seu
valor. A hidrostática, por exemplo, opera numa faixa de pequenos valores de

27
F , i. e., F << 1 , quando a gravidade é a força dominante em relação à
compressibilidade. No caso contrário, em que F >> 1 , o gradiente de pressão e
a inércia dominam a força da gravidade constituindo fenômenos estudados
pela aerodinâmica e pela hidrodinâmica. Já para o caso atmosférico tem-se
que: F > 1 para ondas acústicas; F ~ 1 para ondas de gravidade acústicas; e
F < 1 para ondas de gravidade (BEER, 1974).

2.1.2.Ondas de Gravidade

As ondas de gravidade são ondas atmosféricas verticais transversas


resultantes do desequilíbrio entre o gradiente de pressão e a força de
gravidade. Estas ondas apresentam um período entre 270 s e 8 hs e suas
principais fontes são: a convecção intensa, as marés atmosféricas, o
cisalhamento de vento, os sistemas meteorológicos frontais, a topografia, os
ajustes de escoamentos em estados de desequilíbrio, os forçantes
acompanhando a dissipação local de ondas e as interações onda-onda
(FRITTS e ALEXANDER, 2003).

A geração topográfica por exemplo, tem sido estudada exaustivamente nas


últimas três décadas usando métodos teóricos, numéricos e observacionais. As
ondas sobre montanha ocorrem devido ao efeito de obstáculo que esta impõe
ao escoamento de vento próximo à superfície. À medida que o vento escoa
sobre uma montanha sua trajetória é gradualmente ondulada, alterando o
equilíbrio local entre o gradiente de pressão e a força de gravidade, de maneira
que, se as condições de estabilidade atmosférica forem adequadas, este
distúrbio se propagará para a alta atmosfera na forma de ondas de gravidade
(FRITTS e ALEXANDER, 2003).

Além destas fontes de ondas de gravidade, outras fontes mais específicas


incluem as erupções vulcânicas (TAYLOR e HAPGOOD, 1988), as explosões
nucleares (HINES, 1974), o terminador, o resfriamento local devido a um

28
eclipse e o efeito joule no oval auroral durante intensas tempestades solares
(FRITTS, 1984).

Como as frentes mesosféricas, estudadas no presente trabalho, constituem um


tipo de onda de gravidade, uma revisão mais detalhada destas ondas e o
desenvolvimento de sua teoria linear serão apresentados na seção 2.2.

2.1.3.Ondas de Rossby

Na atmosfera terrestre também existem ondas de grande escala que são


influenciadas pela curvatura da Terra e por sua rotação (efeito de Coriolis). A
variação da magnitude do efeito de Coriolis com a latitude atua como um
campo de força externa que resulta em ondas horizontais transversas com
comprimentos de onda da ordem de milhares de km (BEER, 1974).

Estas ondas são conhecidas como ondas de Rossby ou ondas planetárias, e


constituem uma teoria bastante utilizada na meteorologia para descrever a
distribuição ondulatória associada com sistemas de baixa e alta pressão. As
ondas de Rossby propagam-se para Oeste e freqüentemente na direção
oposta ao vento básico (BEER, 1974).

Segundo Beer (1974) ondas geradas por cisalhamento são importantes na


fronteira entre duas massas de ar, cujas propriedades físicas são diferentes.
Esta fronteira é chamada de frente e ocorre ao longo de zonas frontais, de
forma que ondas de Rossby de cisalhamento convertem sua energia potencial
em energia cinética associada com grandes deslocamentos de tempestades,
denominados ciclones.

Ondas planetárias também são freqüentemente observadas através da análise


espectral de séries temporais de ventos mesosféricos ou de dados de airglow.
Um exemplo de estudo de ondas planetárias na mesosfera pode ser
encontrado em Lima (2004).

29
2.1.4.Ondas de Maré

Diferentemente das marés oceânicas que são geradas principalmente pela


força de atração da Lua, as ondas de maré atmosférica são produzidas pelo
aquecimento periódico da atmosfera devido a absorção direta da radiação
solar. Embora esta absorção represente apenas 20% da energia total recebida
pelo planeta, ela é a causa da excitação de ondas internas na atmosfera
(CHAPMAN e LINDZEN, 1970). Esta absorção direta é devida principalmente
ao vapor d’água na baixa troposfera e ao ozônio na estratosfera, além de
absorções de ultravioleta e extremo ultravioleta pelo oxigênio acima de 90 km
de altitude (FORBES, 1982).

A absorção da radiação solar, por unidade de massa e de tempo, é


proporcional ao cosseno do ângulo zenital solar durante o dia, e é nula durante
a noite. Esta função cosseno truncada tem um período fundamental de 24
horas, e uma análise de Fourier desta função revela um componente diurno
com amplitude de ∼ 2 vezes maior que a do componente semi-diurno. As
oscilações atmosféricas excitadas por estes componentes de períodos 24/i
horas (i = 1,2,3,..) são denominadas marés atmosféricas.

Além destas marés excitadas termicamente pelo Sol, também ocorrem marés
gravitacionais na atmosfera, que embora sejam menos importantes não são
desprezíveis, pois para o caso das marés semi-diurnas por exemplo, podem
atingir até 20% da amplitude da maré solar na alta atmosfera (FORBES, 1982).

Desta forma, as marés atmosféricas são oscilações em escala global na


temperatura, no vento, na densidade e na pressão com períodos que são sub-
harmônicos de um dia solar ou lunar. As marés atmosféricas podem se
propagar para Leste, para Oeste, ou serem estacionárias, porém as maiores
componentes são aquelas que se propagam para Oeste com o movimento
aparente do Sol, também chamadas de marés migrantes (FORBES, 1982).

30
Devido ao maior período de oscilação, as marés atmosféricas são afetadas
pelo efeito de rotação da Terra. Além disto, por causa da conservação da
energia ao se propagar verticalmente numa atmosfera cuja densidade diminui
exponencialmente com a altitude a amplitude das ondas de maré cresce com a
altura, partindo de perturbações tão pequenas quanto 0,1% ao nível do mar a
perturbações de 30% à 100 km de altitude, onde devido aos efeitos
dissipativos, esta energia é então depositada. Mais detalhes sobre a atuação
das ondas de maré na região mesosférica podem ser encontrados em Lima
(2004).

2.2.Dos Ventos Irregulares às Ondas de Gravidade

Originalmente as variações irregulares de vento, não associadas à maré, foram


tratadas como turbulência. Porém, quando se verificou a ocorrência destes
ventos acima da turbopausa, cerca de 100 km de altitude, tornou-se claro que
tais variações poderiam estar relacionadas a uma manifestação de ondas
atmosféricas internas.

Em 1960, baseado em dados de vento inferidos de rastros meteóricos, Hines


lançou numa série de artigos os fundamentos da teoria das ondas de
gravidade, ondas internas com período de oscilação entre alguns minutos e
algumas horas, que surgem do desequilíbrio entre o gradiente de pressão e a
força da gravidade (HINES, 1960). A importância das ondas de gravidade na
dinâmica global da atmosfera teve um considerável progresso após estes
estudos.

Lindzen (1981) discutiu os aspectos das interações de ondas de gravidade com


o fluxo médio, sugerindo que ondas de gravidade com escalas horizontais de
∼1000 km, transferiam momentum para a alta atmosfera. Vincent e Reid (1983)
e Meek et al. (1985), entretanto, apontaram as ondas de menor escala (∼100

31
km) como as mais importantes nesta transferência de momentum, ao
discutirem a sazonalidade de variação dos fluxos de momentum e energia.

Na década de 80 as atenções se voltaram ao fenômeno da quebra de ondas de


gravidade. Weinstock (1986) sugeriu que processos de interação onda-onda
poderiam explicar o mecanismo de quebra de ondas de gravidade. Porém,
Fritts e Dunkerton (1985) e Fritts e Rastogi (1985) demonstraram
numericamente que as instabilidades convectivas eram mais importantes do
que os processos de interação onda-onda.

Uma outra interação estudada foi a das ondas de gravidade com a maré
diurna. Fritts e Vincent (1987) mostraram que as marés modulam o divergente
do fluxo de momentum das ondas de gravidade, atuando no sentido de reduzir
a amplitude e o avanço de fase, o que foi demonstrado através de simulações
numéricas (FORBES et al. 1991). Em outro trabalho, Miyahara (1985)
examinou a interação entre as ondas planetárias estacionárias e as ondas de
gravidade, e mostrou que as amplitudes das ondas planetárias foram reduzidas
devido ao arraste provocado pelas ondas de gravidade.

No final da década de 80 e início da década de 90 vários outros estudos


tentaram descrever os mecanismos de saturação das ondas de gravidade e o
seu espectro universal, tais como a Teoria de Instabilidade Linear (DEWAN e
GOOD, 1986), a Teoria do Espalhamento Doppler (HINES, 1991), a
Parametrização de Fritts e Lu (FRITTS e LU, 1993) e a Teoria de Filtragem
Difusiva (GARDNER, 1994). Vários desses modelos são usados na
parametrização dos efeitos de ondas de gravidade no Modelo de Circulação
Geral (MCLANDRESS, 1998).

Uma outra interação investigada foi entre ondas de gravidade e a atmosfera


básica que ocorre quando a onda atinge um campo de vento num nível crítico,
de modo que a sua velocidade de fase é igual a velocidade do vento médio.
Neste caso a velocidade de grupo tende a zero e a onda não mais se propaga,

32
ou seja, a onda é absorvida. Isto pode ser considerado como um caso especial
de saturação, o qual é acompanhado por mistura turbulenta e transferência de
momentum (FULLER-ROWELL, 1994).

Com o refinamento das técnicas observacionais no final da década de 90, as


fontes associadas às ondas de gravidade começaram a ser investigadas.
Forbes et al. (1997) utilizando dados de satélite, relacionaram a atividade de
ondas de gravidade a convecções profundas em regiões tropicais. Fritts e
Nastrom (1992) mostraram que, em termos de comprimento de onda médio, a
topografia é a principal fonte, seguida por ventos de cisalhamento.

Os recentes progressos nos estudos teóricos, numéricos e observacionais das


ondas de gravidade foram revisados por Fritts e Alexander (2003). Os autores
ressaltaram que a técnica de traçado de raio é uma das mais úteis para se
investigar a propagação de ondas de gravidade na atmosfera (BROWN et al.
2004; GERRARD et al. 2004). O modo reverso do traçado de raio também
pode ser usado para se localizar as prováveis fontes dos distúrbios que
originam as ondas de gravidade (HERTZOG et al., 2001; WRASSE et al., 2003,
2006a,b). Esta técnica é bastante eficiente para se estimar as região em baixas
altitudes que se configuram como fontes de assinaturas de ondas de gravidade
na alta mesosfera e baixa termosfera.

Estudos observacionais das características das ondas de gravidade e


variações sazonais da direção de propagação também têm sido realizados por
muitos pesquisadores em vários locais do mundo (NAKAMURA et al. 2003;
HECHT et al. 2001; WRASSE et al. 2006a,b; MEDEIROS et al. 2004, 2007).

Atualmente sabe-se que as ondas de gravidade desempenham um importante


papel na dinâmica da atmosfera, sendo responsável por turbulência e mistura
de constituintes, transferência de momentum e energia, interações com marés
e ondas planetárias, variações na estrutura térmica mesosférica e,
principalmente, pela interação e modificação do fluxo médio da atmosfera.

33
Na Seção 2.3 a seguir será apresentada a teoria matemática das ondas de
gravidade, cuja solução, representada pela relação de dispersão, define as
condições de propagação destas ondas na atmosfera.

2.3.A Teoria Linear das Ondas de Gravidade

Em uma série de artigos publicados nas décadas de 50 e 60 Hines propôs que


os ventos irregulares observados na alta atmosfera poderiam ser explicados
como o resultado de uma soma de modos de propagação de ondas internas
(HINES, 1974). A força restauradora para as oscilações das ondas de
gravidade, um tipo de onda interna, é a gravidade, resultando em
deslocamentos adiabáticos das parcelas de ar características do distúrbio. As
ondas de gravidade apresentam períodos de oscilações da ordem de minutos a
horas, sendo o limite inferior o período de Brünt-Väisälä, o qual na mesosfera é
da ordem de 5 minutos.

As ondas de gravidade podem ser descritas através de uma teoria de


perturbação de primeira ordem que é válida para movimentos ondulatórios de
pequena amplitude. Porém, nesta aproximação a velocidade do fluido deve ser
muito menor que a velocidade de fase da onda, o que resulta na filtragem de
todas as interações de ordem superior entre as ondas de diferentes
comprimentos de onda e períodos. Devido ao decréscimo exponencial da
densidade atmosférica em função da altura, as ondas de gravidade crescem
em amplitude à medida que se propagam verticalmente. Isto ocorre até que a
onda atinge uma camada limite, a qual não suporta oscilações desta escala
devido às instabilidades. Neste regime, a teoria linear das ondas deixa de ser
válida e termos não lineares devem ser considerados no conjunto de equações
para que se possa ter uma descrição completa do movimento (BEER, 1974).
As equações básicas que descrevem o movimento, no sistema de coordenadas
cartesianas em que x é positivo para o norte, y para o leste e z na vertical
para cima são dadas por (GOSSARD e HOOKE, 1975):

34
r r r
⎛ dv ⎞ 1 r 1 r
⎜ ⎟ + 2Ω × v = − ∇p + g + F
⎝ dt ⎠ ρ ρ , (2.1)

dρ r
+ ρ ∇⋅v = 0 , (2.2)
dt

dT D ⎛1⎞
Q = Cv +p ⎜ ⎟
dt Dt ⎜⎝ ρ ⎟⎠ , (2.3)

p = ρRT . (2.4)

A Equação 2.1 descreve a conservação do momentum, representada pelo


r r r
campo de velocidade de vento v = (u , v, w) ; o termo 2Ω × v é a força de Coriolis,
r
onde Ω = (0, Ω y , Ω z ) é a velocidade angular da Terra; g é a aceleração da
r

gravidade; as variáveis atmosféricas ρ e p são a densidade e a pressão


r
atmosféricas; F caracteriza uma força externa.

A Equação 2.2 é a equação da continuidade que representa a conservação de


massa dentro de um dado volume. A Equação 2.3 representa a conservação
r
da energia, onde o termo D Dt = ∂ ∂t + v ⋅ ∇ é conhecido como operador de
Stokes e representa a derivada total no sistema lagrangiano. O parâmetro C v é

o calor específico a volume constante e Q é a quantidade de calor recebida por


unidade de massa e de tempo. O termo p (D Dt )(1 ρ ) é o trabalho realizado
pela massa de ar quando esta sofre uma expansão ou contração. A Equação
2.4 é a equação dos gases ideais que pode ser aplicada para a condição de ar
seco, onde R é a constante dos gases ideais e T a temperatura.

Empregando a teoria linear, devido à dificuldade em solucionar as Equações


2.1 – 2.4 por causa dos termos não-lineares, obtém-se:

35
(u, v, w, p, ρ ) = (u 0 , v0 , w0 , p0 , ρ 0 ) + ε (u1 , v1 , w1 , p1 , ρ1 ) (2.5)

onde os parâmetros representados pelo subscrito ‘0’ indicam o estado de


equilíbrio; os parâmetros representados pelo subscrito ‘1’ indicam o estado
perturbado e ε é um parâmetro proporcional ao desvio do estado de equilíbrio.
Ao substituir as perturbações acima nas Equações 2.1 a 2.3 e equacionar os
termos de primeira ordem, obtém-se outra forma do conjunto das equações
básicas para a atmosfera e podem ser expressas pelas equações abaixo:

⎛ ∂u ⎞ ∂p
ρ 0 ⎜⎜ + v0 ⋅ ∇u ⎟⎟ + − 2ρ 0 Ω z v = 0
⎝ ∂t ⎠ ∂x , (2.6)

⎛∂v ⎞ ∂p
ρ 0 ⎜⎜ + v 0 ⋅ ∇v ⎟⎟ + − 2ρ 0 Ω z u = 0
⎝ ∂t ⎠ ∂y , (2.7)

⎛∂w ⎞ ∂p
ρ 0 ⎜⎜ + v0 ⋅ ∇w ⎟⎟ + +ρg =0
⎝ ∂t ⎠ ∂z , (2.8)

∂ρ ∂ρ
+ v 0 ⋅ ∇ρ + w 0 + ρ 0 ⋅ ∇ v = 0
∂t ∂z , (2.9)

∂ρ ∂ρ ⎛∂ρ ∂ρ ⎞
+ v0 ⋅ ∇ρ + w 0 + ρ 0 ⋅ ∇v = c s2 ⎜⎜ + v 0 ⋅ ∇ρ + w 0 ⎟⎟
∂t ∂z ⎝ ∂t ∂z ⎠. (2.10)

Supondo soluções do tipo onda-plana é necessário fazer uma transformação


dos parâmetros atmosféricos da seguinte forma:

(U ,V ,W , P ) = (u 0 , v0 , w0 , p0 ) exp[i (ω t − kx − ly − mz )] (2.11)

36
onde, (U , V , W , P ) são as quantidades perturbadas nos campos de vento e de
pressão, porém sem o subscrito 1. Os parâmetros ρ 0 e ρ s são a densidade do

gás majoritário médio e a densidade a uma altura de referência. Considerando


o caso de um modelo de atmosfera básica, compressível, sem rotação da Terra
( Ω z = 0 ), sem difusividade, mas com cisalhamento vertical, as Equações 2.6 a
2.10 podem ser escritas da seguinte forma:

DU 1 ∂P ∂ u0
+ Wu ' 0 + = 0, u '0 =
Dt ρ s ∂x ∂z , (2.12)

DV 1 ∂P ∂ u0
+ Wv' 0 + = 0, v' 0 =
Dt ρ s ∂y ∂z , (2.13)

1 DP ∂ u ⎛ ∂ ⎞
+ + ⎜⎜ − Γ ⎟⎟W = 0
ρ s c s Dt ∂ x ⎝ ∂ z
2
⎠ , (2.14)

⎛ D2 ⎞ 1 D⎛∂ ⎞
⎜⎜ 2 + N 2 ⎟⎟W + ⎜⎜ + Γ ⎟⎟ P = 0
⎝ Dt ⎠ ρ s Dt ⎝ ∂ z ⎠ . (2.15)

O parâmetro c S2 representa a velocidade do som, enquanto Γ é o coeficiente

de Eckart, que reflete a influência do gradiente de densidade nos termos


inerciais, e é expresso por:

1 ∂ ρ0 g
Γ= +
2 ρ 0 ∂ z c s2 (2.16)

O parâmetro N é a freqüência de Brünt-Väisälä, dada em radianos por


segundo, e é expresso por:

37
⎛ 1 ∂ ρ0 g ⎞
N 2 = − g ⎜⎜ + 2 ⎟⎟ (2.17)
⎝ ρ 0 ∂ z cs ⎠

Utilizando a aproximação hidrostática ρ ∝ p ∝ exp(− gz RT ) pode-se obter uma


expressão mais simples para a freqüência de Brünt-Väisälä, dada por:

g2 ⎛ RT ⎞ g 2 ⎛ γ − 1 ⎞
N2 = ⎜1 − 2 ⎟⎟ = ⎜⎜ ⎟⎟
⎜ γ
RT ⎝ c s ⎠ RT ⎝ ⎠, (2.18)

onde, γ = c p c v e os parâmetros c p e cv representam o calor específico a

pressão constante e o calor específico a volume constante, respectivamente.

Reescrevendo o operador de Stokes de forma mais conveniente, tem-se:

= ik [u ( z ) − c ] = −iω ,
D
(2.19)
Dt

onde c = ω / k , u ( z ) é a velocidade do vento e definindo ω com sendo a


freqüência angular ou aparente, tem-se:

r r
ω = k [c − u ( z )] . (2.20)

)
A freqüência intrínseca ω da onda é determinada por um observador que se
desloca junto com o vento médio de fundo e a sua relação com a freqüência
) r r
aparente ω é dada por ω = ω − k ⋅ u .

)
Quando as ondas se movem mais rápido que o vento, ω é positivo; caso
contrário, é negativo. Na Equação 2.19 supôs-se que as soluções são
proporcionais a exp{i (kx − ωt )} . Substituindo a Equação 2.19 nas Equações 2.14

38
a 2.15 e eliminando-se P e U entre elas, pode-se encontrar, com um pouco de
trabalho algébrico, a seguinte relação:

∂ 2W ⎡ N 2 u zz 2Γu ' 0 ⎤ ∂ 2u0


+⎢ − − − k h − Γ ⎥W = 0, onde u zz =
2 2
. (2.21)
∂t 2 ⎣⎢ (u 0 − c )2 u 0 − c u 0 − c ⎦⎥ ∂z 2

Desprezando os efeitos de compressibilidade (ondas acústicas), Γ = 0 , a


Equação 2.21 é conhecida como equação de Taylor-Goldstein, a qual é o ponto
de partida para a análise dos efeitos de cisalhamento e gradientes térmicos
sobre o regime de propagação das ondas de gravidade. Assim, tem-se:

∂ 2W ⎡ N 2 u zz ⎤
+⎢ − − k h2 ⎥W = 0 , (2.22)
∂t 2
⎣ (u − c )
2
(u − c ) ⎦

onde k h = 2π / λh é o número de onda horizontal, u é a velocidade do vento

básico, W é a velocidade vertical somados os estados básico e perturbado, e


N é a freqüência de Brünt-Väisälä. Sabendo-se que N 2 e u são funções da
altura e considerando que estas quantidades variam lentamente, pode-se usar
a aproximação WKB (Wentzel-Kramer-Brillouin) 1 para determinar a solução da
equação de Taylor-Goldstein. Assim, a relação de dispersão pode ser dada
por:
N2 u zz
m2 = − − k h2
(u − c ) 2
(u − c ) , (2.23)

onde, m é o número de onda vertical.

1
A aproximação WKB, acrônimo de Wentzel-Kramer-Brillouin, pode ser empregada quando as
propriedades do meio variam lentamente numa escala comparável com o comprimento de
onda.

39
A equação de Taylor-Goldstein apresenta dois tipos de soluções: i) quando
m 2 > 0 , as ondas são denominadas propagantes, pois propagam-se livremente
em função da altura; ii) quando m 2 < 0 , as ondas são denominadas
evanescentes, isto é, ondas que não se propagam na vertical, estando sujeitas
a reflexão da energia da onda.

Assim, de acordo com suas características, as ondas de gravidade podem ser


classificadas como propagantes ou evanescentes. As ondas propagantes são
caracterizadas por propagarem-se tanto na horizontal quanto na vertical,
enquanto as ondas evanescentes não se propagam verticalmente (GOSSARD
e HOOKE, 1975).

As ondas propagantes, que incluem as ondas de gravidade internas, ao se


propagarem de modo ascendente, aumentam a amplitude de oscilação à
medida que a densidade da atmosfera diminui, como é ilustrado na Figura 2.2a.
Não havendo dissipação de energia, a amplitude da onda torna-se tão grande
que esta pode sofrer um processo de quebra e pode transferir momentum e
energia para o meio, acelerando ou desacelerando o fluxo básico e provocando
turbulência.

Há também uma separação do espectro em regiões distintas tais que um dado


tipo de onda interna ocorre num dado intervalo de freqüências, como é
mostrado na Figura 2.2b. A região de altas freqüências ( ω > ω a ) é dominada

pelas ondas acústicas e a região de baixas freqüências ( ω < ω g ) é dominada

pelas ondas de gravidade internas ( ω a é a freqüência de corte acústico e

ω g = N é a freqüência de Brünt-Väisälä). No intervalo entre estas freqüências

( ω g < ω < ω a ) as ondas são denominadas evanescentes.

40
a) b)
Figura 2.2 - a) Ilustração do crescimento da amplitude numa propagação
ascendente de uma onda de gravidade simples. b) Diagrama de
freqüência de onda em função do número de onda mostrando os
três regimes de propagação de ondas internas: as ondas acústicas,
as ondas evanescentes e as ondas de gravidade.
Fonte: a) Adaptada de Hargreaves (1992, p. 126). b) Adaptada de
Beer (1974, p.55).

2.3.1.Os Níveis Críticos

Sabendo-se que os ventos na atmosfera variam com a altura, uma onda de


gravidade propagante pode encontrar uma região onde o vento médio
apresenta a mesma velocidade de fase desta onda, e a região onde isto ocorre
é denominada de nível crítico. Matematicamente, o nível crítico pode ser
representado pela singularidade na solução da Equação de Taylor-Goldstein
(Equação 2.22) que ocorre na região onde a velocidade do vento médio é igual
a velocidade de fase horizontal da onda de gravidade u = c .

A Figura 2.3 ilustra o comportamento de uma onda de gravidade ao se


aproximar de um nível crítico. Quando uma onda se aproxima de um nível
crítico ( z c ) a freqüência intrínseca da onda tende a zero ( ωˆ → 0 ), e,

conseqüentemente, o número de onda vertical tende a infinito ( m → ∞ ). Se o


tempo necessário para a onda atingir o nível crítico for muito grande ( t → ∞ ), a
onda será absorvida no nível crítico, em vez de ser refletida ou transmitida. A
existência de níveis críticos tanto na baixa atmosfera, devido às correntes de
jato, quanto na alta atmosfera apresenta um importante efeito no espectro das

41
ondas de gravidade que podem existir a uma dada altitude. Os níveis críticos
filtram as ondas com comprimentos de onda horizontal pequeno, pois estas
ondas apresentam uma baixa velocidade de fase vertical (BEER, 1974).

z
u0(z)

zc Nível Crítico
t5
t4
t3
t2 r r
r
r k k
k
k
t1
r
k
Cristas da Onda

Figura 2.3 - Ilustração de uma onda de gravidade se propagando em direção a


um nível crítico.
Fonte: Adaptada de Gossard e Hooke (1975, p. 178)

2.3.2.As Ondas Canalizadas

As ondas de gravidade são freqüentemente observadas como oscilações


periódicas na pressão atmosférica, na velocidade horizontal do vento ou na
intensidade do airglow mesosférico, dentre outros campos tais como a
temperatura e a densidade atmosféricas. Se estas ondas são observadas em
imagens de airglow num intervalo de tempo de dezenas de minutos a algumas
horas é razoável supor que as ondas devem se propagar horizontalmente
(NAPPO, 2002).

Sob as condições da atmosfera real uma onda de gravidade propagando-se


para cima pode atingir um nível onde as características do ambiente, tais como,
N 2 ou u (quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä e vento básico,
respectivamente) mudam acentuadamente com a altura e o m 2 se anula.
Quando esta condição acontece pode ocorrer uma reflexão da onda de
gravidade (PITTEWAY e HINES, 1965).

42
A reflexão pode ser parcial ou completa. Se for parcial então parte da onda é
transmitida acima deste nível, porém com uma amplitude reduzida, e esta onda
transmitida pode ser tanto propagante (número de onda vertical real) quanto
evanescente (número de onda vertical imaginário). A onda assim refletida
propaga-se para baixo onde pode ser novamente refletida para cima, por um
ambiente favorável numa altitude inferior, ou mesmo pela superfície terrestre.
Se a distância entre os níveis de reflexão for um múltiplo do número de onda
vertical, as ondas incidente e refletida sofrem interferência construtiva, e a onda
de gravidade é dita aprisionada ou canalizada tal como ilustrado na Figura
2.4a. Nesta configuração as ondas canalizadas são capazes de transportar
energia por longas distâncias, sofrendo pouca atenuação dentro de um ducto
que funciona como um guia de onda. No caso da espessura do ducto não ser
um múltiplo do número de onda vertical, a onda sofre uma interferência
destrutiva (NAPPO, 2002).

Onda
Refletida
Ducto
Onda
Incidente
Onda
Transmitida

a) b)

Figura 2.4 -a) Ilustração de uma reflexão e transmissão de onda entre dois
níveis. Se as ondas incidentes e refletidas estiverem em fase, então
a onda poderá ser canalizada. b) Perfil do número de onda vertical
no caso de um canal Doppler, mostrando as regiões onde a onda é
propagante e evanescente.
Fonte: a) Adaptada de Nappo (2002, p. 86). b) Adaptada de
Chimonas e Hines (1986).

43
Assim, a análise do número de onda vertical mostra que as ondas de gravidade
canalizadas são ondas propagantes ( m 2 > 0 ) confinadas entre duas regiões
evanescentes ( m 2 < 0 ) ou entre uma região evanescente e o solo, exibindo
algum tipo de ressonância (FRANCIS, 1975). A Figura 2.4b ilustra esta
condição de canalização propagante entre duas regiões evanescentes.

Quando o mecanismo responsável pela canalização deve-se ao gradiente na


temperatura, o ducto é chamado térmico. Quando o mecanismo deve-se ao
gradiente no vento médio, o ducto é denominado Doppler. E pode ocorrer ainda
ducto formado por ambos os gradientes, que neste caso é chamado ducto dual.
(ISLER et al., 1997).

44
3 REVISÃO DAS FRENTES MESOSFÉRICAS

3.1.Introdução

Nas últimas duas décadas o imageamento das camadas de airglow noturno,


tais como as camadas de Na, OH, O2 e OI5577, em vários comprimentos de
onda tem produzido valiosa informação da dinâmica da mesosfera.
Freqüentemente são observadas estruturas de ondas de gravidade nestas
camadas que foram inicialmente classificadas em dois tipos principais. O
primeiro tipo de onda de gravidade foi denominado de bandas, que geralmente
aparecem como uma série de ondas quasi-monocromáticas, com
comprimentos de onda horizontal da ordem de dezenas a centenas de
quilômetros, e persistindo nas observações noturnas por até 8 horas (TAYLOR
et al. 1987; MEDEIROS, 2001).

O segundo tipo de onda de gravidade são os ripples que aparecem como


ondas de menor escala, entre 10 e 15 km de comprimento de onda horizontal,
persistindo nas observações apenas de forma transiente, por algumas dezenas
de minutos (PETTERSON, 1979; TAYLOR e EDWARDS, 1991; MEDEIROS,
2001).

Enquanto a origem das bandas tem sido associada a orografia e as


convecções troposféricas (TAYLOR et al. 1997; WRASSE, 2004), as fontes dos
ripples são relacionadas a processos de instabilidade convectiva e dinâmica na
própria mesosfera (HECHT et al. 2004, 2005; WRASSE, 2004).

A análise das bandas também tem demonstrado que estas podem se tratar
tanto de ondas de gravidade propagantes, com deslocamento na vertical e na
horizontal, como também de ondas canalizadas ou de ondas evanescentes. No
caso das ondas canalizadas, a propagação apenas na horizontal acarreta uma
lenta dissipação de energia, e, conseqüentemente, um deslocamento por
longas distâncias desde sua região de origem (ISLER et al., 1997). É

45
principalmente por esta razão que o estudo das ondas canalizadas tem
importantes implicações nos modelos que investigam o transporte de energia e
momentum da baixa para a média atmosfera.

Um terceiro tipo de estrutura de onda de gravidade foi observado por Taylor et


al. (1995a) que a descreveram como “um espetacular evento de onda de
gravidade” cuja aparência lembrava a de uma pororoca de rio. O evento
ocorreu em 10 de outubro de 1993 em Maui (20,8ºN; 156,2ºO), Havaí, EUA. A
Figura 3.1 mostra as imagens deste fenômeno nas camadas do airglow OH e
OI5577.

Figura 3.1 - Imagens da pororoca mesosférica observada em Maui, Hawai em


10 de outubro de 1993 na emissão do OH e OI5577.
Fonte: Adaptada de Taylor et al. (1995a).

As imagens da emissão do OH revelaram uma frente de onda bem definida


seguida por um campo de brilho intenso e um trem de ondas cruzando todo o
campo de visão. A velocidade de fase observada foi de ~ 76 ms-1, com um
comprimento de onda de 19,3 km e um período de 4,2 min. Esse evento
também foi observado na camada de Na como uma frente clara.

46
Já nas camadas de emissão do O2 e do OI5577 o evento exibiu um efeito
oposto, ou seja, onde as cristas de onda eram brilhantes nas camadas
inferiores (OH e Na), elas eram escuras nas duas camadas superiores e vice-
versa.

3.2.A Modelagem do Fenômeno

Depois da primeira observação realizada por Taylor et al. (1995a) alguns


esforços teóricos e de modelagem foram empreendidos na busca de
explicações para as características singulares das chamadas pororocas
mesosféricas.

Swenson et al. (1998) aplicaram um modelo fotoquímico e dinâmico para


explicar um evento de frente de onda do tipo wall observado às 08:15 (UT) de 9
de outubro de 1993, durante a campanha ALOHA-93, em Maui, Havaí, EUA.

Esta frente de onda ocorreu associada a perturbações na emissão do OH, na


linha NaD e no campo de temperatura, além de coincidir com um grande
aumento na densidade do sódio mesosférico (~180%) que permaneceu
bastante alta pelo restante da noite.

A Figura 3.2 apresenta um gráfico de contorno das medidas de densidade de


sódio obtidas por Swenson et al. (1998) mostrando o aumento na densidade
após as 08:00 (UT). Para explicar as observações, os autores propuseram que
o aumento do sódio mesosférico seria decorrente da neutralização de íons Na+
numa camada E esporádica que teria sido rebaixada por uma onda de
gravidade de grande amplitude, que se apresentaria nas imagens de airglow
como um wall.

Já Munasinghe et al. (1998) sugeriram que a frente de onda observada por


Taylor et al. (1995a) poderia ser explicada por uma interação entre dois modos

47
de maré dentro de uma região de ducto, porém este modelo não explicou o
efeito de complementaridade observado entre as camadas de airglow.

Altitude (km)

Hora (UT)

Densidade de Sódio (cm-3)

Figura 3.2 - Gráfico de contorno de medidas de densidade de sódio na noite de


9 de outubro de 1993, quando às 08:15 (UT) Swenson et al. (1998)
observaram um wall mesosférico cuja propagação coincidiu com
um aumento na densidade de Sódio.
Fonte: Adaptada de Swenson et al. (1998).

No mesmo ano, Dewan e Picard (1998) propuseram uma explicação para a


frente de onda observada por Taylor et al. (1995a) em termos da ocorrência de
uma pororoca ondular interna na mesosfera. Dewan e Picard (1998)
argumentaram que embora existissem inúmeras observações de pororocas
internas no oceano e na troposfera, estas observações constituiriam o primeiro
relato da ocorrência de uma pororoca mesosférica.

Baseados num modelo simples de duas camadas atmosféricas, Dewan e


Picard (1998) elaboraram, por analogia com a teoria de pororocas em rios, um
modelo de pororoca mesosférica que explicava as observações de airglow.
Neste modelo, a pororoca se propagaria dentro de uma estrutura de ducto
(térmico ou Doppler) que lhe serviria de guia de onda. A proposição da
existência de tal ducto foi feita baseada nas observações de pororocas
troposféricas que exibem esta estrutura, e na observação de fortes camadas de

48
inversão durante a campanha ALOHA-93 feitas por Dao et al. (1995), que
possibilitariam a configuração de um ducto térmico.

A Figura 3.3a apresenta um gráfico idealizado da freqüência de Brünt Väisäla,


N , versus altitude mostrando um ducto térmico estabelecido por uma camada
de inversão de temperatura observada por Dao et al. (1995). Já a Figura 3.3b
mostra uma ilustração da condição de propagação de uma pororoca
mesosférica, e o conseqüente deslocamento das camadas de airglow que
explicariam as observações de Taylor et al. (1995a), segundo o modelo de
pororoca mesosférica proposto por Dewan e Picard (1998).

Plano de simetria

a) b) Pororoca

Figura 3.3 – a) Gráfico simplificado da freqüência de Brünt Väisäla, N , versus


altitude mostrando um ducto térmico estabelecido por uma camada
de inversão de temperatura observada por Dao et al. (1995)
durante a campanha ALOHA-93. b) Ilustração da condição de
propagação de uma pororoca mesosférica e o conseqüente
deslocamento das camadas de airglow que explicariam as
observações de Taylor et al. (1995a).
Fonte: Adaptada de Dewan e Picard (1998).

Os autores também realizaram várias previsões a partir das quais seria


possível se testar o modelo. De acordo com o modelo de Dewan e Picard
(1998) as camadas de emissão localizadas abaixo da estrutura de ducto seriam
rebaixadas durante a propagação da pororoca, tornando-se mais densas, o que
aumentaria a temperatura e a intensidade de emissão da camada. De maneira
oposta, as camadas acima do ducto se apresentariam mais escuras devido à

49
rarefação e diminuição da temperatura na camada. Este comportamento
explicaria o efeito de complementaridade observado por Taylor et al. (1995a).

Ainda de acordo com o modelo de Dewan e Picard (1998), os parâmetros


físicos da onda observada com imageador poderiam ser comparados com os
parâmetros previstos pelo modelo de pororoca mesosférica, que são obtidos a
partir de expressões de conservação de massa e de momentum durante o salto
hidráulico que formaria a frente de onda. Dewan e Picard (1998) também
previram a ocorrência de um escoamento associado com a propagação da
pororoca, além de um aumento no número de cristas no trem de ondas
associado com a diminuição da amplitude da própria frente. Segundo os
pesquisadores também seria possível se verificar a ocorrência de frentes de
onda fortemente não lineares, que originariam, por exemplo, sólitons na
mesosfera.

Três anos depois, Dewan e Picard (2001) investigaram os processos físicos


que poderiam ser responsáveis pela geração de uma pororoca ondular interna
em altitudes mesosféricas. Neste trabalho os autores propuseram que a
interação entre ondas de gravidade e o vento básico numa região de nível
crítico seria um forte candidato a gerador de pororocas. Esta interação poderia,
por exemplo, ocorrer dentro de uma camada de inversão pré-existente que
desempenharia o papel de canal dentro do qual ondas de gravidade
quebrariam depositando momentum e energia e acelerando o fluxo básico.
Esta aceleração propiciaria a formação de uma frente de onda dentro do ducto
por um processo não linear de auto-crescimento, tal como é mostrado na
Figura 3.4, o que culminaria na geração de uma pororoca.

50
→ c + Δc
→c

Figura 3.4 – Ilustração do auto-crescimento de um pacote de onda devido a


propagação de efeitos não-lineares. Por causa da maior velocidade
na porção superior do pacote de onda, esta região se propagará
mais rápido do que a base. Assim, a frente do pacote de onda
torna-se cada vez mais íngreme, culminando na formação de uma
pororoca ondular ou turbulenta.
Fonte: Adaptada de Dewan e Picard (2001).

Além disso, como Huang et al. (1998) mostraram, tal interação poderia também
ser responsável pela geração da própria camada de inversão de temperatura.
Portanto, o mecanismo físico proposto para a produção do ducto seria também
responsável pela subseqüente geração da pororoca.

Quatro anos depois, Seyler (2005) propôs uma teoria linear de ondas de
gravidade internas, cujo desenvolvimento seria não-linear, para explicar a
formação de pororocas mesosféricas ondulares em ductos térmicos. As
soluções bidimensionais não lineares de seu modelo mostraram que
perturbações ondulatórias de grande comprimento de onda e de amplitude
finita desenvolveram um crescimento não linear e formaram pororocas
ondulares.

A Figura 3.5 mostra um exemplo desta solução de equações bidimensionais


para um campo de temperatura potencial. Nota-se na Figura 3.5 uma frente de
onda, indicada pela seta, propagando-se na direção de x positivo e seguida por
um trem de ondas. Esta configuração é típica das observações de pororocas
ondulares em imagens de airglow.

51
θ (x,z)
z

Frente
de onda

Figura 3.5 – Exemplo de solução de equações bidimensionais para um campo


de temperatura potencial segundo o modelo de Seyler.
Fonte: Adaptada de Seyler (2005).

As soluções numéricas apresentadas por Seyler (2005), também foram


consistentes com a propagação de ondas de gravidade internas aprisionadas
dentro de uma camada de inversão de temperatura. Suas simulações
concordaram com as observações de velocidade de propagação, comprimento
de onda, número de cristas no trem de ondas e tempo de formação das
pororocas reportadas na literatura. Os resultados da modelagem também
concordaram com a noção de que a pororoca ondular é composta de um trem
de ondas solitárias cada uma com amplitude dependente da velocidade.

Desta forma, os estudos de modelagem de frentes mesosféricas realizados até


o momento demonstram que este fenômeno se constitui numa ativa área de
pesquisa científica, cuja investigação teórica contribuirá para um melhor
conhecimento da dinâmica da mesosfera e baixa termosfera.

3.3.A Pesquisa Experimental

Seis anos depois da descoberta de Taylor et al. (1995a), Medeiros et al. (2001)
reportaram o primeiro caso de pororoca mesosférica sobre o Brasil. A
observação foi feita na noite de 13 a 14 de julho de 1999 em Cachoeira
Paulista, SP, a partir de imagens all sky nas emissões do OI5577 e do OH
mostradas na Figura 3.6.

52
a) b)
Figura 3.6 – Imagens linearizadas nas emissões do a) OI5577 e do b) OH na
noite entre 13 e 14 de julho de 1999, obtidas em Cachoeira
Paulista, SP mostrando uma pororoca mesosférica. A seta branca
indica a direção de propagação da frente de onda.
Fonte: Adaptada de Medeiros et al. (2001).

Medeiros et al. (2001) observaram às 24:00 (LT) da noite de 13 a 14 de julho


de 1999 uma frente mesosférica bem definida cruzando o campo de visão na
direção nordeste. A Figura 3.7 mostra as variações da intensidade de emissão
do OH, OI5577 e O2 (0,1) na noite do evento. Os autores verificaram que a
frente apresentou um efeito de complementaridade oposto ao reportado por
Taylor et al. (1995a), ou seja, foi observado um aumento na intensidade de
emissão do OI5577 e O2, simultaneamente a uma diminuição na intensidade da
emissão do OH.

As temperaturas rotacionais medidas em diferentes camadas também


apresentaram respostas distintas. Enquanto a temperatura rotacional do OH
diminuiu após a passagem da pororoca, a temperatura do O2 aumentou ~40 K.

53
4000
200
OI5577 OH(6,2)
(R)
3000
Intensity (R)

Intensity (R)
Intensidade

150
2000
100
Min. 1000
Min.
800 240
Intensity (R) (R)

O2A(0,1)
600

Temperature (K)
Intensidade

210
400
180
T OH
200 T O2
Min. 150
20 22 00 02 04 06 20 22 00 02 04 06
Hora
Local (LT)
Time (hour) Hora
Local (LT)
Time (hour)

Figura 3.7 – Variação noturna das intensidades de emissão do OI5577, O2 (0,1)


e OH (6,2) e das temperaturas rotacionais do OH e do O2. A linha
tracejada indica o horário da passagem da frente mesosférica pelo
zênite na noite de 13 a 14 de julho de 1999.
Fonte: Adaptada de Medeiros et al. (2001).

Batista et al. (2002) também investigaram o ambiente mesosférico envolvido no


evento reportado por Medeiros et al. (2001), no entanto Batista et al. (2002) o
denominaram de wall. Eles observaram que às 23:45 (LT) da noite de 13 a 14
de julho de 1999 a camada de sódio sofreu uma mudança abrupta na sua
forma, tal como é mostrado na Figura 3.8. Esta mudança na densidade de
sódio ocorreu simultaneamente ao fenômeno que se propagou a uma
velocidade de ~70ms-1.

As estruturas de vento zonal e meridional medidas com radar meteórico


também mostraram que entre 21:00 e 01:00 (LT) ocorreu um cisalhamento de
vento com uma propagação de fase de ~97 para 80 km. Esta propagação de
fase se mostrou correlacionada com o rebaixamento da altura de uma camada
E esporádica detectada por digissonda. Batista et al. (2002) sugeriram que o
aumento da temperatura acima de 90 km de altitude pode ter sido responsável
pelo aumento na densidade de sódio, e também pelo comportamento dos
eventos de onda observados nas camadas de emissão do airglow.

54
Densidade de Sódio (100/cm3)
13 – 14/07/1999

Altitude (km)

Hora (LT)

Figura 3.8 – Densidade de sódio para a noite de 13 a 14 de julho de 1999. A


região branca entre as 16:00 e 21:00 (LT) indica ausência de
dados. Os pontos pretos representam as alturas da camada E
esporádica medidas com uma digissonda.
Fonte: Adaptada de Batista et al. (2002).

No ano seguinte, Smith et al. (2003) publicaram a observação de uma nítida


pororoca mesosférica a partir de dois locais separados por mais de 500 km no
sudoeste dos Estados Unidos, em 14 de novembro de 1999. A Figura 3.9
mostra que o evento se apresentou como uma frente escura no OI5577 e clara
no OH.

Além da frente de onda foi possível acompanhar por mais de 5 horas um


extenso trem de ondas. Medidas simultâneas de vento indicaram a ocorrência
de um forte cisalhamento vertical de vento (~19,5 m/s/km) entre 80 e 95 km de
altitude.

55
a) b)

A Figura 3.9 - Pororoca mesosférica observada por Smith et al. (2003) no dia
14 de novembro de 1999 no sudoeste dos EUA a partir de imagens
all sky na emissão do a) OI5577 e do b) OH.
Fonte: Adaptada de Smith et al. (2003).

Medidas também simultâneas de radar de laser de sódio, mostradas na Figura


3.10a, mostraram um aumento na densidade de sódio às 06:00 (UT), quando
da passagem do distúrbio. Observa-se também na Figura 3.10b a presença de
uma forte camada de inversão de temperatura (~50 K) que, segundo Smith et
al. (2003) teria estabelecido uma estrutura de ducto térmico (Figura 3.10c)
capaz de suportar a pororoca, o que concordaria com o modelo de Dewan e
Picard (1998). Infelizmente, Smith et al. (2003) não avaliaram a contribuição do
cisalhamento de vento com relação a camada de inversão de temperatura no
estabelecimento do ducto, e, desta forma não se pode afirmar categoricamente
que esta observação se trata de uma pororoca dentro de um ducto térmico.

Um ano depois, She et al. (2004), ao descreverem um caso de pororoca


ondular sobre o Colorado, EUA, em outubro de 2002 confirmaram a existência
de uma camada de inversão de temperatura servindo de ducto para a
propagação da frente de onda, a partir de medidas de temperatura obtidas com
radar de laser de sódio.

56
a) Densidade de Sódio

Altitude (km)

Dens. de Sódio
Sem dados
b) Temperatura
Altitude (km)

Sem dados
c) Freqüência de Brünt Väisalä 2
Altitude (km)

Sem dados

Hora (UT)

A Figura 3.10 – Variação noturna da a) densidade de sódio, b) temperatura e c)


quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä na noite de dia 14 de
novembro de 1999 a partir de medidas de radar de laser de sódio
em Fort Collins, Colorado, EUA. A linha vertical pontilhada indica o
horário da ocorrência da pororoca, quando se observou um
aumento de 20% na densidade de sódio, a ocorrência de uma
camada de inversão de temperatura entre 85 e 90 km e um ducto
térmico de 6 km de espessura centrado em 86 km.
Fonte: Adaptada de Smith et al. (2003).

Os dados coletados por She et al. (2004) permitiram determinar os parâmetros


físicos da pororoca que concordaram com as previsões do modelo de Dewan e
Picard (1998). Os autores também verificaram que a região de ducto poderia
ser controlada por uma onda de longo período, que estaria relacionada com a
maré semi-diurna.

She et al. (2004) ainda observaram a ocorrência de instabilidades dinâmicas


associadas com a destruição do trem de ondas que seguia a pororoca, tal
como mostrado na Figura 3.11. Os autores sugerem que esta pode ter sido a

57
primeira observação da transição de uma pororoca ondular para uma pororoca
turbulenta, tal como previsto pelo modelo de Dewan e Picard (1998).

OH 06:14 UT OH 06:43 UT

A Figura 3.11 – Imagens linearizadas e subtraídas da imagem imediatamente


anterior mostrando dois momentos da pororoca mesosférica
observada por She et al. (2004). Às 06:14 (UT) a frente de onda era
seguida por um trem de ondas, que foi destruído a partir das 06:43
(UT). A seta branca indica a direção de propagação da pororoca.
Fonte: Adaptada de She et al. (2004).

Neste mesmo ano, Fechine (2004) apresentou o primeiro estudo de ocorrência


de pororocas mesosféricas na região equatorial brasileira baseado em dois
anos de dados de imageador e de fotômetro.

Neste trabalho, Fechine (2004) mostrou que os parâmetros das pororocas


observadas sobre São João do Cariri, PB concordavam com as previsões do
modelo de Dewan e Picard (1998, 2001). Porém a hipótese de raridade do
fenômeno não poderia ser sustentada, ao menos na região equatorial, devido à
profusão de eventos registrados. Ao todo foram identificadas mais de 60
pororocas entre setembro de 2000 e setembro de 2002 exibindo os mais
variados aspectos, como os mostrados na Figura 3.12.

58
Pororoca 9 - OH 20001225 Pororoca 10 - O5 20001228 Pororoca 16 - O5 20010123

Pororoca 18 - O5 20010223 Pororoca 29 - OH 20010624 Pororoca 49 - O5 20020417

Figura 3.12 – Exemplos de frentes mesosféricas observadas em São João do


Cariri, entre setembro de 2000 e setembro de 2002. O subtítulo
sobre cada imagem indica o evento, o no de ordem cronológica, a
emissão na qual foi observada, além do ano, mês e dia da
observação.
Fonte: Fechine (2004, p. 92).

Ainda no mesmo ano, Brown et al. (2004) reportaram a observação três frentes
mesosféricas sobre Clemson, na Carolina do Norte, EUA, entre 01:40 e 05:00
(UT) da madrugada de 15 de outubro de 2001. Neste trabalho os autores
propõem uma denominação geral de frentes mesosféricas a todos os
fenômenos de frente de onda observados a partir de imagens all sky de
airglow.

Brown et al. (2004) também compararam as suas observações com aquelas da


literatura, e concluíram que os fenômenos por eles observados tratavam-se de
frentes de onda similares às pororocas previstas pelo modelo de Dewan e
Picard (1998). A Figura 3.13 mostra um dos resultados deste trabalho no qual
os autores aplicaram a técnica de traçado de raio para o cenário físico

59
observado. O resultado da técnica de traçado de raio sugeriu que uma frente
fria na troposfera teria sido a provável origem do fenômeno.

a) b)
Figura 3.13 – a) Resultado obtido a partir da técnica de traçado de raio
mostrando as retro-trajetórias (linhas verdes) das ondas
observadas sobre Clemson, Carolina do Norte, EUA (ponto
vermelho) entre 14 e 15 de outubro de 2001. Os diamantes pretos
representam os pontos iniciais destas ondas na mesosfera. b)
Resultados previstos pela técnica de traçado de raio para o
espectro de ondas de gravidade gerado por uma frente fria na
troposfera em 14 de outubro de 2001 às 12:00 (UT).
Fonte: Adaptada de Brown et al. (2004).

No ano seguinte, Smith et al. (2005) apresentaram evidências observacionais


da formação de uma pororoca mesosférica a partir da quebra de uma extensa
onda de gravidade. A pororoca foi observada em 3 de maio de 2003 nas
imagens das emissões do OH, NaD e OI5577, obtidas no Observatório de
Arecibo, em Porto Rico.

Medidas com radar de laser indicaram a presença de uma forte camada de


inversão de temperatura (~80 K), entre 88 e 96 km sobre Arecibo, confirmada
por perfis de temperatura obtidos pelo satélite TIMED/SABER. A Figura 3.14
mostra a variação noturna da densidade de sódio sobre Arecibo medida com
radar de laser.

60
Concentração de Sódio (cm -3)
Altitude (km)

Hora (UT)

Figura 3.14 - Variação noturna da densidade de sódio sobre Arecibo em 3 de


maio de 2003. A linha tracejada vertical indica o horário no qual se
observou a quebra da onda de gravidade e o surgimento da
pororoca.
Fonte: Adaptada de Smith et al. (2005).

Observa-se na Figura 3.14 que após a quebra da onda de gravidade, às 06:15


(UT), a região em torno de 95 km de altura tornou-se instável, resultando em
movimento vertical com um aumento na mistura dos gases mesosféricos. Após
a quebra da onda de gravidade foi observada a formação de uma pororoca,
aparentemente devido a deposição de momentum e energia pela onda original
na região de ducto térmico, que segundo Smith et al. (2005) teria suportado a
frente de onda. Embora a quebra de ondas de gravidade na mesosfera já tenha
sido reportada em trabalhos anteriores (SWENSON e MENDE, 1994; HECHT
et al., 1997; YAMADA et al., 2001) o trabalho de Smith et al. (2005) registra a
primeira evidência de quebra de onda de gravidade gerando uma pororoca, tal
como foi proposto por Dewan e Picard (2001).

Fechine et al. (2005) apresentaram os resultados de um estudo de ocorrência


de pororocas mesosféricas realizado em São João do Cariri, PB. Neste
trabalho os autores utilizaram imagens all sky nas emissões do OH, O2(0,1) e
OI5577, além de dados de fotômetro multicanal. Entre setembro de 2000 e
setembro de 2002 foi observado um grande número de ondas de gravidade, e
dentre estas, 64 eventos foram identificados como pororoca mesosférica,
principalmente em noites com alta atividade de bandas. A Figura 3.15 mostra

61
um histograma da ocorrência de pororocas mesosféricas na região equatorial
do Brasil neste período.

Ocorrência

Ano
Figura 3.15 – Histograma da ocorrência de pororocas mesosféricas sobre São
João do Cariri, PB, Brasil entre setembro de 2000 e setembro de
2002. As barras verticais representam a fração mês-a-mês de
ocorrência de pororoca (100 x número de eventos/hora total de
observação). Entre parênteses está o número de eventos em cada
estação do ano, que são separadas pelas linhas tracejadas.
Fonte: Adaptada de Fechine et al. (2005).

Além desta alta ocorrência de pororocas mesosféricas sobre São João do


Cariri, Fechine et al. (2005) mostraram que a direção de propagação
preferencial para as pororocas é para leste e nordeste, tal como apresentado
na Figura 3.16a, o que coincide com a direção preferencial das bandas nesta
região (MEDEIROS et al. 2007). A Figura 3.16b mostra que a maior parte das
pororocas foi observada entre 18:00 e 24:00 (LT), i.e. , no início da noite.
No de Pororocas
No de Pororocas

a) b)
Figura 3.16 – a) Histograma da direção de propagação das pororocas sobre
São João do Cariri, PB. b) Histograma da ocorrência de pororocas
em função da hora local.
Fonte: Adaptada de Fechine et al. (2005).

62
Na mesma época, Fechine (2004) e Medeiros et al. (2005) apresentaram o
primeiro estudo da resposta da intensidade de emissão do OH, O2 e OI5577 à
passagem de pororocas mesosféricas, apontando novas classes de pororocas
não previstas pelo modelo de Dewan e Picard (1998).

A Figura 3.17 ilustra como as camadas de airglow responderiam à passagem


de uma pororoca propagando-se dentro de um ducto, segundo as previsões do
modelo de Dewan e Picard (1998). Assumindo a ocorrência de um ducto entre
as camadas do O2 (altitude nominal de 94 km) e do OH (altitude nominal de 87
km) o modelo sugere que quando da passagem da pororoca a camada acima
do ducto tornar-se-ia mais rarefeita, diminuindo a sua temperatura, o que
diminuiria também a sua intensidade de emissão, de forma que a pororoca
seria observada como uma frente de onda escura. De maneira inversa, a
camada abaixo do ducto tornar-se-ia mais densa, mais quente, e
conseqüentemente com uma maior intensidade de emissão, o que faria com
que a pororoca se apresentasse como uma frente clara.

Estendendo então esta análise a todas as possíveis posições de ductos entre


as três camadas de airglow (OH, O2 e OI5577), Fechine (2004) e Medeiros et
al. (2005) descreveram as respostas previstas pelo modelo de Dewan e Picard
(1998) para as intensidades de emissão.

63
Frio
Rarefeito
Escuro
Após a pororoca Antes da pororoca

Pororoca

Camada de O2 (94 km)


Plano de Simetria Camada de OH (87 km)

Quente
Denso
Claro

Figura 3.17 – Diagrama esquemático da oscilação do ducto e do respectivo


efeito de complementaridade observado nas imagens de airglow
segundo a previsão do modelo de Dewan e Picard (1998). As setas
brancas indicam a direção de propagação da pororoca.
Fonte: Adaptada de Medeiros et al. (2005).

Na Figura 3.18 são apresentadas as quatro respostas previstas pelo modelo, a


saber: BBD, BBB, BDD e DDD, onde B representa bright, ou claro e D
representa dark ou escura. Ou seja, um efeito BBD significa que a camada de
OH e de O2 apresentaram uma frente de onda clara, enquanto a camada de
OI5577 apresentou uma frente de onda escura; e de maneira análoga para os
outros efeitos.

O fato é que além dos quatro efeitos previstos, Fechine (2004) e Medeiros et al.
(2005) também observaram pororocas sobre São João do Cariri que
apresentaram efeitos não previstos pelo modelo, tais como os efeitos DBB e o
DDB. A Figura 3.19 mostra um histograma da ocorrência de pororocas e seus
respectivos efeitos de complementaridade observados.

64
Pororoca 17 - 20010223 Pororoca 40 - 20010222
Após a pororoca Antes da pororoca Após a pororoca Antes da pororoca

Pororoca 18 - 20010223 Pororoca 14 - 20010122


Após a pororoca Antes da pororoca Após a pororoca Antes da pororoca

Figura 3.18 – Diagrama esquemático dos quatro efeitos de complementaridade


previstos pelo modelo de Dewan e Picard (1998) para as camadas
de airglow OH, O2 e OI5577.
Fonte: Adaptada de Medeiros et al. (2005).
No de Pororocas

Não previstas

outros

Figura 3.19 – Histograma dos efeitos de complementaridade observados nas


pororocas identificadas sobre São João do Cariri, PB.
Fonte: Adaptada de Medeiros et al. (2005).

No ano seguinte, Shiokawa et al. (2006) também observaram uma pororoca


mesosférica na região equatorial de Kototabang, na Indonésia entre 13:00 e
14:00 (UT) da noite de 5 de agosto de 2004. Neste trabalho os autores usaram
dados de imageador, de fotômetro e de radar meteórico, além de perfis de
temperatura obtidos com o satélite TIMED/SABER para caracterizar o ambiente

65
no qual a frente de onda se propagou. A frente de onda foi detectada nas
imagens all sky das emissões do OH e do OI5577 propagando-se para o norte
com uma velocidade de 52 a 58 ms-1 e um comprimento de onda de 30 a 70
km. As camadas de airglow OH, O2, Na e OI5577 diminuíram a sua intensidade
de emissão após a passagem da frente, e as temperaturas rotacionais do OH e
do O2 também diminuíram em ~10 K. A Figura 3.20 mostra medidas de perfis
de vento para leste e para norte em três intervalos de tempo dentro do período
de observação da pororoca observada por Shiokawa et al. (2006). Os autores
observaram um intenso cisalhamento de vento (80m/s/km) na direção norte
entre 84 e 90 km o que pode ter desempenhado um importante papel na
geração da frente de onda.

Vento obtido com Radar Meteórico (05/08/2004)


Altitude (km)

Ve
nto
Z

al
on

ion
erid
al

o M
V ent

Velocidade do Vento (m/s)

Figura 3.20 – Perfis de vento mesosférico para leste e para norte em três
intervalos de tempo dentro do período de observação da pororoca
medidos com radar meteórico em 5 de agosto de 2004 em
Kototabang, Indonésia.
Fonte: Adaptada de Shiokawa et al. (2006).

No mesmo ano, Nielsen et al. (2006) reportaram a primeira observação de


pororoca mesosférica na Antártica, a partir de imagens all sky de airglow
obtidas na noite de 27 a 28 de maio de 2001, na estação Halley. O evento se
mostrou inicialmente como uma frente de onda única, com grande contraste e

66
um aumento nas intensidades de emissão do OH, Na e O2, e foi acompanhado
por mais de 3 horas.

A Figura 3.21 apresenta três imagens sucessivas linearizadas da emissão do


OH mostrando a frente de onda às 18:20, 18:50 e 19:25 (UT). Atrás da frente
de onda foi observado o surgimento de um trem de ondas, cujo número de
cristas aumentou a uma taxa de cerca de 6 cristas por hora.

a) b) c)

Figura 3.21 – Três imagens linearizadas da emissão do OH mostrando o


desenvolvimento de um trem de ondas atrás da pororoca. a) Às
18:20 (UT) a pororoca exibia 6 cristas no trem de ondas, b) às
18:50 (UT) foram observadas 8 cristas, enquanto c) às 19:25 (UT)
12 cristas foram identificadas. A seta branca indica a posição da
frente de onda.
Fonte: Adaptada de Nielsen et al. (2006).

Em outro trabalho, Stockwell et al. (2006) aplicaram uma análise


unidimensional usando a Transformada-S para avaliar o comportamento dos
parâmetros físicos da pororoca observada por Nielsen et al. (2006) durante a
sua propagação. Esta foi a primeira vez em que tal análise foi empregada em
dados de airglow, e através desta análise espectral, a evolução do pacote de
onda de uma pororoca mesosférica pôde ser acompanhada.

A Figura 3.22 mostra os gráficos de contorno da amplitude do pacote de onda


da pororoca em relação ao número de onda e à sua distância do zênite para a
direção sul em quatro diferentes instantes. Observa-se que durante a
propagação da pororoca o número de onda horizontal aumenta

67
simultaneamente a diminuição de sua amplitude. Isto significa que a frente de
onda dissipou energia adicionando ondas ao trem em detrimento de sua
amplitude, tal como prevê o modelo de Dewan e Picard (1998).

No de Onda (km-1)
No de Onda (km-1)

Distância (km) Distância (km)

No de Onda (km-1)
No de Onda (km-1)

Distância (km) Distância (km)

Figura 3.22 – Gráficos de contorno da amplitude do pacote de onda da


pororoca em relação ao número de onda e à sua distância do
zênite para a direção sul, em quatro diferentes instantes. Observa-
se que durante a propagação o número de onda horizontal da
pororoca aumenta simultaneamente a diminuição de sua amplitude.
Fonte: Adaptada de Stockwell et al. (2006).

No mesmo ano, Smith et al. (2006) reportaram a observação de uma frente


mesosférica sobre o Observatório de El Leoncito, na Argentina em 21 de
agosto de 2001. A Figura 3.23 mostra uma seqüência de imagens linearizadas
na emissão do OI5577 obtidas desta frente de onda que se propagou para o
norte. A frente de onda também apresentou uma grande amplitude e sua
velocidade de fase diminuiu durante a sua propagação. Smith et al. (2006)
também ressaltaram que um forte gradiente vertical de temperatura, devido a
maré semi-diurna, pareceu influenciar a ocorrência da frente de onda.

68
Figura 3.23 - Seqüência de imagens linearizadas na emissão do OI5577
obtidas no Observatório de El Leoncito, na Argentina em 21 de
agosto de 2001 mostrando a propagação de uma frente
mesosférica para a direção norte indicada pela seta.
Fonte: Adaptada de Smith et al. (2006).

No ano seguinte, Li et al. (2007) também apresentaram um evento do tipo wall


mesosférico sobre o Havaí, nos EUA ocorrido na noite de 11 a 12 de agosto de
2004, propagando-se para nordeste, cuja imagem linearizada na emissão do
OH é mostrada na Figura 3.24. Além de imagens digitais, utilizaram medidas
de radar de laser de sódio e de mapeador de temperatura mesosférica.

O E

Figura 3.24 – Imagem linearizada na emissão do OH com 300 x 300 km. A


linha tracejada amarela indica a posição da frente de onda que
separa a região clara à nordeste da região escura a sudoeste. A
seta vermelha indica a direção de propagação da frente.
Fonte: Adaptada de Li et al. (2007).

As análises mostraram que o evento foi causado por uma onda de gravidade
propagando-se para cima com grande amplitude. A Figura 3.25 mostra os

69
periodogramas da temperatura, do vento zonal e do vento meridional em
função da altura na noite do evento. Observa-se a ocorrência de oscilações
com períodos de 5 e 4 horas indicados pelas linhas tracejada e sólida,
respectivamente, nas altitudes das camadas de airglow.
Altitude (km)

Freqüência (10-4 Hz) Freqüência (10-4 Hz) Freqüência (10-4 Hz)

Figura 3.25 – Periodogramas da temperatura (T), do vento zonal (U) e do vento


meridional (V) em função da altura. As linhas tracejada e sólida
indicam a ocorrência de oscilações de períodos de 5 e 4 horas,
respectivamente. A amplitude do espectro aumenta do branco para
o preto.
Fonte: Adaptada de Li et al. (2007).

Este wall mesosférico exibiu ainda um comprimento de onda vertical de ~20 km


induzindo grandes variações no campo de temperatura (~60 K) e na
intensidade de emissão dos airglows. A intensidade de emissão do OH
duplicou, enquanto a intensidade de emissão do O2 e a concentração de Na
triplicaram. O evento também apresentou forte dissipação induzindo um fluxo
de calor para baixo de cerca de uma ordem de grandeza maior que a média
anual. O wall mesosférico também transportou um grande fluxo de momentum,
da ordem de 70 m2s-2.

A diversidade de casos reportados na literatura permite afirmar que frentes de


onda de gravidade são comumente observadas na mesosfera, não
constituindo, portanto, um evento raro.

70
Além disso, estas frentes de onda podem ou não, serem seguidas por um trem
de ondas. No caso de ocorrência de trem de ondas a interpretação geralmente
dada ao fenômeno é de que se trata de uma pororoca mesosférica, similar a
que acontece nos rios. Alguns casos de frentes mesosféricas, porém,
apresentam apenas uma transição de região escura para região clara nas
imagens de airglow (ou vice-versa). Estes casos são denominados na literatura
de walls mesosféricos, e sua natureza física ainda não está bem explicada. Os
diversos trabalhos publicados também concordam na hipótese de que deve
haver alguma estrutura de ducto mesosférico, configurado a partir de condições
específicas de vento e/ou temperatura, capaz de suportar tal fenômeno.

Assim, percebe-se que a despeito dos esforços na modelagem do fenômeno


das frentes mesosféricas e das inúmeras observações reportadas na literatura
muitos de seus aspectos ainda permanecem desconhecidos. Atualmente, a
questão fundamental sobre a qual a comunidade científica se dedica é o
conhecimento da origem e da natureza física deste fenômeno. Além disto, o
papel das frentes mesosféricas na dinâmica da média atmosfera constitui numa
ativa área de pesquisa em geofísica espacial.

3.4.A Classificação das Frentes Mesosféricas

Com o objetivo de definir critérios de identificação das frentes mesosféricas o


presente trabalho seguirá a proposta de classificação de Brown et al. (2004) na
busca destes eventos nas imagens all sky do airglow.

Diante do uso indiscriminado das expressões pororoca (ou bore) e avanço (ou
wall) para denominar as frentes de onda observadas no airglow, Brown et al.
(2004) propuseram uma denominação geral de frentes mesosféricas e uma
classificação destes eventos baseada em critérios físicos.

71
Segundo Brown et al. (2004) frente mesosférica deveria ser uma denominação
geral dada àquelas estruturas observadas nas imagens all sky de airglow que
se caracterizassem por:

a) Apresentar uma frente de onda bem definida;


b) Exibir uma grande extensão horizontal (> 500 km);
c) Apresentar uma amplitude mais intensa que outras estruturas no campo
de visão all sky;
d) Sem, no entanto, apresentar necessariamente uma aparência
ondulatória.

Dentro desta denominação geral, pode-se então sub-classificar as frentes


mesosféricas em quatro tipos distintos, baseados em eventos geofísicos, a
saber: pororocas mesosféricas, ondas canalizadas, avanços mesosféricos e
interações onda-onda.

3.4.1.Eventos do Tipo Pororocas Mesosféricas (Mesospheric Bores)

Constituem até o momento o modelo mais aceito para tratar os fenômenos de


frentes mesosféricas que apresentam as seguintes características segundo
Dewan e Picard (1998, 2001):

a) Deve existir uma frente de onda separando regiões claras e escuras nas
imagens de airglow que se desloca a uma velocidade de ~20 a 100 ms-1;
b) No caso de pororocas ondulares, a frente deve ser seguida por um
padrão fixo de ondas que se movem a mesma velocidade da frente.
Pororocas excepcionalmente fortes podem ser não-ondulares, ou seja,
podem apresentar apenas turbulência;
c) Deve existir uma camada de inversão de temperatura na altitude da
pororoca para prover um ducto, ou então uma estrutura alternativa de
ducto, formada através de alguma combinação entre cisalhamento de
vento e inversão térmica;

72
d) Imagens em diferentes camadas de airglow associadas com a mesma
pororoca devem apresentar uma defasagem de até 180º, uma com
relação a outra, apresentando no último caso a complementaridade
descrita por Taylor et al. (1995a). Essa defasagem depende das
altitudes relativas entre o ducto e os picos das camadas de emissão;

e) A velocidade da pororoca e o comprimento de onda das ondas a ela


associadas devem obedecer às seguintes expressões (DEWAN e
PICARD, 1998):
h
g ' (h0 + h1 ) 1
1
U2 =
2 h0 (2.9)
1
⎡ h − h0 ⎤ 2
kh1 = 3⎢ 1 ⎥
⎣ 2h0 ⎦ (2.10)
onde U é a velocidade da frente, k é o número de onda, h1 é a altura do
fluido atrás da pororoca e h0 é altura do fluido não-perturbado na frente

da pororoca, tal como é mostrado na Figura 3.3;

f) De acordo com Dewan e Picard (1998) a mudança de temperatura sob a


passagem da frente deve concordar aproximadamente com a seguinte
expressão:
ΔT = (h1 − h0 ) × (10 K / km ) (2.11)
g) Para pororocas ondulares deve haver uma tendência de aumento do
número de cristas no trem de ondas com o tempo. Dewan e Picard,
(1998) estimaram a taxa de geração de aproximadamente 2 a 3 cristas
de onda por hora, quando não há escape de energia do ducto;

h) E, por fim, talvez seja possível associar a presença de pororocas a


ocasiões nas quais as fontes de ondas de gravidade sejam
excepcionalmente fortes.

73
Como referência, a Figura 3.26 apresenta dois exemplos de pororocas
mesosféricas típicas. A Figura 3.26a mostra a pororoca mesosférica observada
por Smith et al. (2003), nos EUA e a Figura 3.26b mostra uma pororoca
mesosférica observada por Fechine et al. (2005) em São João do Cariri, PB.

a) b)
Figura 3.26 - a) Pororoca mesosférica em imagem da emissão do OI5577 de
14/11/1999 observada sobre Fort Davis, Texas, EUA b) Pororoca
mesosférica em imagem da emissão do O2 de 28/12/2002 sobre
São João do Cariri, PB, Brasil. As setas indicam a direção de
propagação das frentes de onda.
Fonte: a) Adaptada de Smith et al. (2003). b) Adaptada de Fechine
et al. (2005).

Outros exemplos de pororocas mesosféricas podem ser encontrados em Taylor


et al. (1995a); She et al. (2004); Smith et al. (2005); e alguns dos eventos
reportados por Fechine (2004) e Medeiros et al. (2005).

3.4.2.Eventos do Tipo Ondas Canalizadas (Ducted Waves)

Seriam aquelas ondas propagantes dentro de um ducto Doppler ou térmico que


ocorreriam em altitudes mesosféricas (ISLER et al., 1997; WALTERSCHEID et
al., 1999; HECHT et al., 2001).

A Figura 3.27 mostra três exemplos de ondas de gravidade observadas com


imageador e analisadas junto com dados de vento por Isler et al. (1997)

74
durante a campanha ALOHA-93. A análise da condição de propagação
mostrou que estas ondas apresentaram respectivamente características de
onda canalizada (Figura 3.27a), onda evanescente (Figura 3.27b) e onda
canalizada ou evanescente (Figura 3.27c).

a) b) c)
Figura 3.27 - Exemplos de ondas de gravidade a) canalizada, b) evanescente e
c) canalizada ou evanescente observadas com imageador all sky
durante a campanha ALOHA-93.
Fonte: Adaptada de Isler et al. (1997).

Percebe-se com o exemplo acima, que a partir apenas das estruturas


observadas nas imagens não é possível se classificar as ondas de gravidade
quanto a sua condição de propagação. Faz-se necessário, portanto, uma
verificação tanto das condições de vento quanto das condições de temperatura
mesosféricas sob as quais as ondas se propagam para uma descrição mais
realística do cenário físico envolvido.

3.4.3.Eventos do Tipo Avanço Mesosférico (Mesospheric Wall)

Diferentemente do que ocorre com as pororocas mesosféricas e com as ondas


canalizadas, os eventos do tipo avanço se parecem mais como uma função
degrau do que com uma frente seguida por um trem de ondas. A Figura 3.28
mostra dois exemplos de ondas do tipo avanço mesosférico. A Figura 3.28a
mostra um wall observado por Medeiros et al. (2001) e Batista et al. (2002)
sobre Cachoeira Paulista, SP, Brasil. Já a Figura 3.28b mostra um wall

75
observado sobre São João do Cariri, PB, Brasil por Fechine (2004). Observa-se
nestas imagens de airglow a característica principal de um wall mesosférico, o
avanço de um campo escuro no céu noturno, sem, no entanto, ser seguido por
um trem de ondas.

CP CARIRI

a) b)
Figura 3.28 – Exemplos de frente mesosférica do tipo avanço ou wall na
emissão do OH observados em a) Cachoeira Paulista, SP, na noite
de 13/07/1999 e em b) São João do Cariri, PB, na noite de
24/06/2001. As setas indicam a direção de propagação das frentes.
Fonte: a) Adaptada de Medeiros (2001). b) Adaptada de Fechine
(2004).

Outros exemplos de wall mesosférico podem se encontrados em Swenson et


al. (1998) e Li et al. (2007).

3.4.4.Eventos do Tipo Interação Onda-Onda (Wave-Wave Interaction)

Por fim, existe a possibilidade de que tais frentes mesosféricas sejam o


resultado de uma interação não-linear entre ondas de gravidade, tal como foi
proposto por Shiokawa et al. (2003). Neste trabalho os autores reportaram a
ocorrência de uma intensa e estacionária estrutura de frente escura observada
na camada de emissão do OH sobre o observatório de Shigaraki (34,9º N;
136,1o L), no Japão, tal como é mostrado na Figura 3.29.

76
O evento não foi observado tão claramente na emissão do OI5577, porém a
estrutura foi visível na emissão do OH durante cerca de 2 horas sem qualquer
evidência de camada de inversão a ela associada. Por sua forma espacial
similar a uma frente de onda, ainda que estacionária, convêm que uma
interação onda-onda exibindo tal estrutura seja considerada um outro tipo de
frente mesosférica.

Figura 3.29 - Imagem all sky na emissão do OH obtida sobre Shigaraki, Japão
em 19 de dezembro de 1998 mostrando uma frente escura bem
definida, porém estacionária, sugerindo tratar-se de uma interação
não linear entre ondas de gravidade.
Fonte: Shiokawa et al. (2003).

Assim, após esta revisão do atual conhecimento das frentes mesosféricas, será
apresentada no Capítulo 4 a instrumentação e a metodologia utilizadas neste
trabalho para identificar, caracterizar e analisar as frentes de onda detectadas
em São João do Cariri, PB.

77
78
4 INSTRUMENTAÇÃO E METODOLOGIA

4.1.Técnicas de Observação de Ondas de Gravidade

Nos últimos 40 anos foram feitas inúmeras compilações de observações de


estruturas ondulatórias de pequena escala no vento horizontal e na
temperatura da média atmosfera, sendo estas interpretadas como perturbações
devido às ondas de gravidade.

O início da pesquisa observacional baseava-se em experimentos tais como:


liberação de substâncias químicas (KOCHANSKI, 1964) ou explosões de
granadas na alta atmosfera (THEON et al., 1967); observações mesosféricas
da morfologia de ondas de gravidade em nuvens noctiluscentes (WITT, 1962);
e medidas de flutuações de ondas de gravidade nos campos de vento e
temperatura a partir de dados meteorológicos (HIROTA, 1984). Sondagens da
temperatura e do vento horizontal a partir de foguetes também foram usadas
para se inferir variações sazonal e latitudinal na atividade de ondas de
gravidade na estratosfera abaixo de ∼ 50 km e com uma resolução de ∼ 1 km
(HIROTA, 1984; ECKERMANN et al., 1995).

Outra técnica de observação é a medida de flutuação de vento e temperatura


estratosféricos a partir de aviões que tem produzido informação sobre o
espectro de velocidades horizontais de ondas de gravidade (BACMEISTER et
al., 1996). Alguns estudos a partir de aviões têm relacionado as características
das ondas de gravidade na estratosfera com fontes de onda na troposfera,
incluindo montanhas, convecção e sistemas frontais (FRITTS e NASTROM,
1992).

As técnicas óticas de imageamento da aeroluminescência no estudo de ondas


de gravidade também se refinaram bastante desde as fotografias da emissão
do OH feitas por Peterson e Kieffaber (1973). Comparando estas fotografias
com as de nuvens noctiluscentes se conjecturava na época, se as estruturas

79
observadas no airglow tratavam-se realmente de ondas de gravidade
(MORELS e HERSE, 1977), questão que começou a ser esclarecida com as
medidas de comprimento de onda horizontal e velocidade de fase feitas por
Armstrong (1982).

Ainda na década de 70, Crawfort et al. (1975) já haviam tentado obter imagens
da aeroluminescência usando sistemas de TV de alta resolução temporal e
relativa sensibilidade, mas apenas na década de 80 foram obtidas imagens
simultâneas de melhor qualidade das camadas de emissão do OH, O2 e
OI5577 (TAYLOR et al., 1987; HERSE et al., 1980).

A partir do imageamento da aeroluminescência foi possível observar


comprimentos de onda horizontais entre 10 - 100 km, além de se investigar as
direções preferenciais de propagação das ondas de gravidade. Um outro
avanço nesta técnica ocorreu no início da década de 80, quando Peterson e
Adams (1983) publicaram as primeiras imagens obtidas com uma lente all sky
que cobria uma área de 106 km2.

A década de 90 foi marcada pela introdução de imageadores com dispositivos


Charge Coupled Device – CCD no estudo da dinâmica da mesosfera através
de registros da aeroluminecência (TAYLOR e EDWARDS, 1991). A partir de
então, muitos trabalhos se sucederam contribuindo para o estudo das ondas de
gravidade, a saber: pela primeira vez se observou um evento de quebra de
onda (SWENSON e MENDE, 1994) e análises espectrais bidimensionais foram
aplicadas nas imagens permitindo uma maior precisão na avaliação das
características físicas das ondas (TAYLOR e GARCIA, 1995).

Utilizando um método de triangulação através de imagens do OI5577 obtidas


por dois imageadores, Taylor et al. (1995b) mediram a altitude desta camada
de emissão em cerca de 95 ± 2 km. Dois anos depois, Garcia e Taylor (1997)
descreveram uma técnica de processamento de imagens usando calibração

80
espacial, remoção de estrelas, projeção geográfica e análise de Fourier,
consolidando a pesquisa ótica de ondas de gravidade através de imageadores.

Nas Seções 4.2, 4.3 e 4.4 serão descritos brevemente o imageador all sky, a
metodologia de redução de dados de frentes mesosféricas e o radar meteórico
utilizado no presente estudo. Uma descrição mais detalhada do modo de
operação e dos algoritmos de processamento de dados destes instrumentos
pode ser encontrada em Medeiros (2001), Wrasse (2004) e Lima (2004). Já a
Seção 4.5 apresenta uma descrição da missão TIMED/SABER, cujos perfis de
temperatura e de taxa de emissão volumétrica do airglow OH complementaram
os dados do ambiente atmosférico necessário ao estudo das frentes
mesosféricas.

4.2.O Imageador All Sky

O imageador com detector CCD é uma versão moderna da câmera de TV de


alta sensibilidade e da câmera fotográfica muito utilizadas no início das
décadas de 70 e 80 para obter imagens de estruturas ondulatórias nas regiões
de emissão do airglow.

O imageador instalado no Observatório de Luminescência Atmosférica da


Paraíba - OLAP, em São João do Cariri (7,4ºS; 36,5ºO), registra imagens do
céu noturno nas emissões do OI 557,7 nm, OI 630,0 nm, O2 (0,1) (865,0 nm) e
OH (715,0 – 930,0 nm) 1 , além do fundo luminoso (578,0 nmm). A Tabela 4.1
mostra as principais características dos filtros de interferência usados no
imageador.

1
Com interceptação em 865,5 nm, que corresponde às emissões da banda Atmosférica do O2 (0-1).

81
Tabela 4.1 – Características dos filtros de interferência usados no imageador.

Filtro Comp. de Onda (nm) Largura da Banda (nm) Altura Média (km)
OI 630,0 3,3 275
OI 557,7 2,65 96
O2 (0,1) 865,5 12,0 94
OH 715,0 - 930,01 215,0 87
Fundo luminoso 578,0 2,67 90 - 100

Fonte: Medeiros (2001, p. 67).

O sistema ótico do imageador, mostrado na Figura 4.1, é composto por uma


lente do tipo olho de peixe com um campo de visão de 180°, um conjunto de
lentes telecêntricas, o sistema de filtros de interferência, uma lente acromática
e uma lente objetiva. A luz emitida pelas camadas de airglow atravessa este
sistema ótico após incidir na lente olho de peixe, para então ser projetada
sobre a área do detector CCD. Ao incidir sobre o detector CCD a informação da
luz é transformada em elétrons e armazenada em células individuais, os pixels,
cuja quantidade determina a complexidade da CCD e da qualidade da imagem.

O CCD do imageador de São João do Cariri consiste de uma área coletora de


6,45 cm2, com uma matriz de 1024 x 1024 pixels de 14 bits. O chip CCD
também apresenta uma alta eficiência quântica (80% no visível), baixa corrente
escura (0,5 elétrons/pixel/s), baixo ruído de leitura (15 elétrons rms) e alta
linearidade (0,05 %). Os tempos de exposição utilizados na obtenção das
imagens de airglow foram 15 s para o OH, e 90 s para o OI6300, OI5577 e O2.
E a imagem final é agrupada para 512 x 512 pixels para melhorar a relação
sinal-ruído. Detalhes do sistema ótico do imageador all sky e do método de
obtenção de imagens digitais podem ser encontrados em Medeiros (2001) e
Wrasse (2004).

82
Câmera Imageadora

Roda de Filtros

Sistema
Óptico

Câmera CCD

Fonte de
Sistema de
Alimentação
Refrigeração

Figura 4.1 - Configuração do imageador all sky mostrando a lente olho de


peixe, a roda de filtros, o sistema ótico, a câmera CCD, o sistema
de refrigeração, a fonte de alimentação e o computador.
Fonte: Wrasse (2004, p. 38).

4.3.Metodologia de Análise de Frentes Mesosféricas

Para se realizar a análise espectral de ondas de gravidade do tipo frentes


mesosféricas foi necessário inicialmente se desenvolver uma metodologia
específica de identificação e caracterização destas ondas.

Historicamente, a redução e análise de ondas de gravidade em dados de


imagem constituem um laborioso trabalho de redução de dados (MEDEIROS,
2001; WRASSE, 2004; FECHINE, 2004). As imagens de airglow geradas pelo
imageador all sky são gravadas no seu formato original TIFF (Tagged Image
File Format) em compact disks (CDs), cuja capacidade de armazenamento
permite a gravação de no máximo 3 a 4 noites de dados.

83
Armazenados desta forma, a leitura e visualização das imagens de uma dada
noite têm exigido a utilização de um software científico específico, que por
vezes se torna pouco eficiente quando se faz necessário, por exemplo, a
redução de um ano de dados de ondas de gravidade.

Além disto, as imagens originais requerem um ajuste de contraste, o que até


agora tem sido feito manualmente, imagem por imagem durante a visualização
dos dados. Tal procedimento dificulta a identificação de ondas e introduz um
componente subjetivo na redução de dados, que é a dependência da acuidade
visual do operador em otimizar o contraste da imagem.

Assim, antes de se iniciar a procura por frentes mesosféricas nos dados de


imageador em São João do Cariri, foram desenvolvidas ferramentas
computacionais capazes de realizar automaticamente um contraste nas
imagens, e de gerar vídeos para cada noite de observação. O objetivo principal
do desenvolvimento destas ferramentas foi a formação de um banco de vídeos
de airglow que fossem fáceis de manipular, com softwares livres ou comerciais
amplamente utilizados, e que apresentassem uma grande taxa de
compactação mantendo a qualidade original das imagens. A descrição do
banco de imagens de airglow, além da metodologia de contraste automático
das imagens e de geração dos vídeos são descritos no Apêndice A.

4.3.1.A Identificação de Frentes Mesosféricas

Concluído o banco de vídeos de airglow a etapa seguinte consistiu na


identificação de frentes mesosféricas entre setembro de 2000 e dezembro de
2005 em São João do Cariri, PB.

A identificação de frentes mesosféricas segue a definição de frente proposta


por de Brown et al. (2004), ou seja, procuram-se estruturas nas imagens de
airglow que apresentem uma frente de onda bem definida e com grande

84
extensão horizontal (> 500 km). A amplitude desta frente também deve ser
maior que outras estruturas no campo de visão do imageador e não deve
necessariamente apresentar uma aparência ondulatória.

Seguindo estes critérios, o primeiro passo consistiu na visualização de todos os


vídeos no formato AVI nas emissões do OH, O2 e OI5577, correspondentes a
todas as noites de operação do imageador em São João do Cariri, PB.

A primeira procura por frentes mesosféricas foi realizada em cada emissão


separadamente. Primeiro se buscou por frentes na emissão do OH, cujas
imagens são mais nítidas, mais focalizadas e, portanto, relativamente mais fácil
de se detectar estruturas de ondas do que em outras emissões. Concluída a
procura no OH, procedeu-se então com a busca por frentes no O2 e no OI5577.
Esta procura em cada emissão separadamente garante uma menor influência
do operador na identificação de uma candidata a frente em diferentes camadas
de airglow.

Nesta primeira procura também foram registradas as informações de dia, mês,


ano e hora local de uma imagem bem definida na qual tenha aparecido uma
candidata a frente mesosférica. Também foi registrada num esboço, a
aparência da frente de onda na imagem, i.e. se a frente mesosférica apareceu
como um avanço (claro ou escuro), como um trem de ondas, ou como uma
onda solitária.

Após listar as candidatas a frente mesosférica, procedeu-se então uma


segunda procura a qual demonstrou a uniformidade de redução proporcionada
pelo contraste automático nas imagens, pois, uma vez encontrada uma onda, e
anotado seu horário e estrutura, numa busca seguinte, se encontrará esta
mesma onda, sob as mesmas condições de contraste observadas
anteriormente, o que não acontecia com o contraste manual.

85
Assim, nesta segunda busca, em torno do mesmo horário de ocorrência de
cada candidata a frente, procedeu-se com a procura de evidências de sua
passagem nas outras camadas de emissão. Com esta comparação entre as
camadas e com o contexto da observação durante a noite, decide-se então se
a candidata se trata ou não de uma frente mesosférica a partir dos critérios
propostos por Brown et al. (2004).

Além daquelas que não satisfizeram a estes critérios, foram descartadas as


candidatas a frentes mesosféricas que:
− Exibiram uma extensão horizontal menor que metade do diâmetro da
imagem original;
− Apresentaram pouco contraste, pouca definição ou foram observadas na
borda da imagem;
− Apresentaram maior semelhança a bandas ou nuvens;
− Foram detectadas no início da observação, como um extenso sistema
de bandas, mas que não foi possível se observar a frente de onda;
− Exibiram um trem de ondas ou um avanço, mas sem frente definida;
− Foram observadas em menos de 3 imagens.

Esta identificação de frentes mesosféricas a partir de imagens de airglow é


uma identificação a priori, já que apenas a condição de propagação definida
pelo vento e pela temperatura pode estabelecer a condição de canalização ou
não da onda, como será descrito na Seção 4.7.

Nesta segunda procura também foi feita uma rápida descrição de eventuais
evidências observacionais do fenômeno que fossem relevantes para pesquisas
futuras, tais como: evidências de formação, dissipação, sinuosidade, efeito de
complementaridade, dentre outras.

Após esta descrição, cada evento foi classificado em excelente, bom ou


regular, de acordo com a concordância com as características apresentadas

86
por Brown et al. (2004). Assim, de acordo com a relevância das evidências
observacionais e com a qualidade das frentes, as “melhores” frentes
mesosféricas foram selecionadas para serem analisadas em profundidade,
através de estudos de caso.

A seleção das melhores frentes mesosféricas compôs então um documento


com: uma imagem bem definida do evento em cada emissão; a descrição da
evidência observacional registrada e da qualidade da frente; o tipo de frente
(pororoca, avanço ou onda solitária); a direção de propagação, além do horário
e da data. Este documento se fez necessário para otimizar a escolha de
eventos para a análise espectral.

4.3.2.O Pré-Processamento das Imagens de Airglow

A análise espectral das imagens de airglow e o cálculo dos parâmetros das


frentes mesosféricas exigem um pré-processamento dos dados. A técnica
utilizada neste pré-processamento é similar àquela descrita por Wrasse (2004),
Medeiros (2001) e Maekawa (2000), e por esta razão, será descrita apenas
brevemente no presente trabalho.

O primeiro passo do pré-processamento consiste em submeter a imagem de


airglow a uma rotação sob um ângulo adequado, de modo que o topo da
imagem corresponda ao norte geográfico. A seguir as estrelas são removidas
das imagens, pois sua forte luminosidade pode contaminar o espectro de
ondas em altas freqüências (MAEKAWA, 2000).

No terceiro passo as imagens originais são mapeadas para um sistema de


coordenadas geográficas, já que a projeção do céu noturno sobre a câmera
CCD é proporcional ao ângulo zenital (HAPGOOD e TAYLOR, 1982; GARCIA
et al., 1997; MEDEIROS, 2001). No sistema de coordenadas geográficas o
zênite representa a origem do sistema, onde x e y são os eixos nas
coordenadas leste-oeste e norte-sul, respectivamente.

87
A quarta etapa é a determinação da fração da flutuação de intensidade das
imagens que fornece uma medida relativa percentual sobre o quanto a
intensidade em um determinado pixel variou num determinado instante
(GARCIA et al., 1997), e é dada por:
ΔI I − I
= , (4.1)
I I
onde I representa a intensidade luminosa contida numa imagem qualquer da
noite e I a imagem média de toda a noite.

Na quinta etapa do pré-processamento, as imagens são filtradas por um filtro


do tipo passa-alta, com uma freqüência de corte de 5 km. E finalmente, no
sexto e último passo, submete-se a imagem a uma função de ponderação,
chamada janela de Hanning, que minimiza os lóbulos laterais dos picos
significantes do espectro. Esta função pode ser expressa pela seguinte relação
(COBLE et al., 1998):

1⎛ 2π ⎞1⎛ 2π ⎞
H (i, j ) = ⎜⎜1 − cos i ⎟⎟ ⎜⎜1 − cos j ⎟⎟ , (4.2)
2⎝ si ⎠2⎝ si ⎠

onde i e j representam as linhas e as colunas da matriz imagem, e s


representa o tamanho da matriz em pixels da imagem. Detalhes do
mapeamento geográfico das imagens e um fluxograma detalhado das etapas
do pré-processamento podem ser encontrados em Medeiros (2001) e Wrasse
(2004), respectivamente.

4.3.3.A Análise Espectral das Imagens de Airglow

O primeiro passo antes de realizar a análise espectral das frentes mesosféricas


foi selecionar um evento no banco de dados e verificar todos os fenômenos
observados naquela noite, e em todas as emissões.

88
Feito isto, verificou-se nos vídeos das três emissões, os horários zenitais das
frentes e os acontecimentos que poderiam a ela estar relacionados. A seguir
localizou-se a mais nítida imagem da frente mesosférica e se anotou o horário
em torno do qual deve-se efetuar a análise espectral. Como um exemplo deste
procedimento, a Figura 4.2a apresenta uma imagem na emissão do OH obtida
na noite de 1º de maio de 2005 às 21:25 (LT). Esta imagem apresenta uma
estrutura de frente mesosférica, cuja formação e dissipação foi acompanhada
por aproximadamente 1 hora, e cuja direção de propagação é indicada pela
seta.

21:25 LT 21:25 LT

a) b)

21:15 LT 21:19 LT 21:21 LT 21:23 LT 21:25 LT

c)
FIGURA 4.2 – a) Imagem na emissão do OH na noite de 1º de maio de 2005,
obtida às 21:25 (LT), mostrando a formação de uma frente
mesosférica. A seta indica a direção de propagação da frente de
onda. b) Mesma imagem mapeada em 768 x 768 km2. O retângulo
branco define a região na qual foi realizada a análise espectral. c)
Conjunto de imagens que foram analisadas. A linha branca vertical
define a direção de propagação da principal oscilação identificada
com a análise espectral.

89
A seguir selecionou-se a projeção geográfica de 768 × 768 km2 que é a mais
adequada ao estudo de ondas de gravidade de grande escala horizontal (maior
que 500 km), tais como as frentes mesosféricas. A Figura 4.2b apresenta a
imagem linearizada em 768 × 768 km2, assumindo a altitude nominal de 87 km
para a camada de emissão do OH. O retângulo branco indica a área de
interesse onde será aplicada a análise espectral.

A partir daí, seleciona-se então cinco imagens sucessivas, em torno da melhor


imagem escolhida, e de preferência na emissão do O2, que tem o melhor
contraste e uma baixa taxa de amostragem. Isso é feito com o objetivo de se
determinar os parâmetros físicos da onda, tais como, a velocidade de fase, o
comprimento de onda horizontal, o período observado e a direção de
propagação.

A experiência na redução de dados demonstra que este critério de cinco


imagens fornece geralmente uma ótima resolução e uma menor contaminação
de outras ondas nos picos espectrais encontrados, além de uma boa precisão
(± 10%) nos parâmetros físicos calculados. Como exemplo, a Figura 4.2c
apresenta o conjunto de cinco imagens na emissão do OH, na noite de 1º de
maio de 2005 que foram submetidas à análise espectral.

Para melhorar o resultado da análise espectral algumas considerações acerca


da área de análise (representada pelo retângulo branco na Figura 4.2b)
precisam ser feitas, tais como: áreas de tamanhos distintos podem produzir
resultados ligeiramente distintos, pois na mesosfera real a onda de gravidade
não é monocromática. Outro detalhe importante é que áreas maiores numa
mesma região da frente de onda geralmente diminuem a precisão na resolução
do pico espectral. O mesmo pode ocorrer para áreas escolhidas em regiões
distintas da frente de onda. Por isso é importante se avaliar a melhor região da
frente de onda que se deseja analisar, e o melhor tamanho da área de análise.

90
Deve-se também registrar em imagem, a área que foi escolhida, para que
futuras investigações possam reproduzir os mesmos resultados.

Escolhidas as cinco imagens sucessivas, e definida a região da frente que se


deseja analisar, efetuou-se então a primeira análise espectral. Esta análise
consistiu na aplicação da transformada de Fourier discreta ao conjunto de
imagens selecionadas.

O espectro de potência em duas dimensões é definido pelo módulo quadrático,

F (k ,l ) , da transformada de Fourier discreta em duas dimensões (DFT-2D), o


2

qual é expresso por:


M −1 N −1 ⎛ −i 2πMxk ⎞⎛ −i 2πNyl ⎞
F (k , l ) = ∑∑ ⎜e

⎟⎜ e
⎟⎜
⎟ f ( x, y )
⎟ (4.3)
x =0 y =0 ⎝ ⎠⎝ ⎠

onde, F (k , l ) é a transformada de Fourier da função f ( x, y ) , k , l são os


números de onda zonal e meridional, M , N é a dimensão da imagem
analisada.

O espectro de potência é aplicado à região de interesse nas cinco imagens,


conforme apresentado na Figura 4.2c. Se o número de imagens selecionadas
for n , o espectro de potência resultante será a média aritmética de todo o
conjunto dos n espectros computados.

Como o espectro de potência é simétrico em relação a origem,

F (k , l ) = F (− k ,−l ) , existe uma ambigüidade de 180° na direção de


2 2

propagação da onda. Neste caso, somente a metade do espectro resultante


contém a informação desejada, a outra metade é redundante.

Assim, como o sentido de propagação da onda não pode ser determinado


diretamente através do espectro de potência, foi utilizado o espectro cruzado

91
entre duas imagens sucessivas. Este método resolve o problema da
ambigüidade e foi implementado por Wrasse (2004). A Figura 4.3 apresenta o
resultado do espectro cruzado para a seqüência de imagens na emissão do OH
mostradas na Figura 4.2c.

O gráfico do espectro cruzado da Figura 4.3 mostra a amplitude em função dos


números de onda zonal ( k ) e meridional ( l ) em ciclos/km, para cada uma das
oscilações detectadas. O número de onda na qual a amplitude é máxima,
k = 0,001 e l = 0,034 (ciclos/km), correspondente ao evento de frente
mesosférica, apresentado na Figura 4.2. Também é possível observar um
segundo pico de amplitude significante em k = 0,001 e l = 0,013 , que representa
uma outra onda de gravidade do tipo banda presente nas imagens.

Amplitude do Espectro Cruzado


No de onda Meridional (ciclos/km)

No de onda zonal (ciclos/km)

FIGURA 4.3 – Espectro de potência resultante de um conjunto de cinco


imagens na emissão OH obtidas em 1º de maio de 2005 entre
21:15 e 21:25 (LT). Os números de onda positivos representam
uma direção de propagação para o norte e para o leste,
respectivamente. A amplitude máxima no espectro corresponde a
frente mesosférica apresentada na Figura 4.2a.

92
Após esta primeira análise espectral verificou-se então se houve ou não a
ocorrência de um pico espectral bem resolvido no gráfico final, tal como
exemplificado na Figura 4.3. Observou-se também a direção de propagação
dos picos mais intensos encontrados, para verificar se estes coincidiam com a
direção observada para a frente mesosférica, e não com alguma outra onda
presente na imagem.

Em alguns casos de frentes mesosféricas observou-se a ocorrência de dois


picos espectrais definidos, porém diametralmente opostos, sem que se observe
outra onda de gravidade presente nas imagens. A natureza física destes dois
picos espectrais ainda precisa ser melhor investigada, mas é provável que um
pico espectral seja devido a propagação da frente de onda, enquanto o outro
pico seja devido a adição de cristas ao trem de ondas, ou a escoamentos na
direção oposta a direção de propagação da frente.

Em caso de baixa resolução nos picos obtidos, o procedimento de análise


espectral foi repetido num conjunto de imagens em horários ligeiramente
diferentes e/ou mudando-se a posição e o tamanho da área que contêm a
informação da frente a ser analisada.

Obtendo-se um resultado espectral bem resolvido, tal como o da Figura 4.3,


realizou-se então a análise espectral na emissão do OI5577 dentro da mesma
área e com as imagens praticamente nos mesmos horários, já que a taxa de
amostragem do OI5577 é similar a do O2. Depois da análise do OI5577,
procedeu-se então com a análise espectral na emissão do OH. A área da frente
a ser analisada foi mantida, mas para o OH foi escolhida uma imagem a cada
duas ou três disponíveis dentro do intervalo de horário analisado inicialmente
para o O2. Isto foi necessário para se manter um número médio de cinco
imagens para análise espectral, já que para o OH a taxa de amostragem de
imagens é maior do que para O2. Se forem utilizadas todas as imagens no
intervalo de horário do O2 serão então analisadas de 10 a 15 imagens no OH, o
que diminuirá a resolução dos picos espectrais encontrados.

93
Concluída a análise espectral foram então obtidos os parâmetros físicos da
frente mesosférica a partir do espectro cruzado, segundo o procedimento
desenvolvido por Maekawa (2000). Neste procedimento o número de onda,
com a maior amplitude do espectro cruzado é escolhido como sendo o número
de onda na direção zonal ( k ) e meridional ( l ) da onda de gravidade. A
diferença de fase entre duas imagens sucessivas, Δϕ (k ,l ) , é a fase do espectro

cruzado para estes números de onda. Logo, a velocidade de fase observada,


c obs , pode ser determinada através da seguinte relação:

1 Δϕ (k ,l ) 1
cobs = ⋅ ⋅ , (4.4)
k2 + l2 360 o
Δt

onde Δt é a diferença temporal entre duas imagens sucessivas. O


comprimento de onda horizontal λh é determinado diretamente das freqüências

espaciais (k, l ) , em ciclos/km, pela seguinte relação:


1
λh =
k2 + l2 . (4.5)
O período observado da onda de gravidade pode então ser determinado
através da velocidade de fase e do comprimento de onda já estabelecidos
anteriormente, pela relação:
λh
τ obs =
cobs . (4.6)
A Tabela 4.2 resume os parâmetros das ondas de gravidade observadas na
área selecionada das cinco imagens da emissão do OH entre 21:15 e 21:25
(LT) da noite de 1º de maio de 2005.

A Tabela 4.2 - Parâmetros físicos observados da frente mesosférica e da


banda de 1º de maio de 2005.

Onda de k l φ λh c obs τ obs


Gravidade (ciclos/km) (ciclos/km) (graus) (km) (ms-1) (min)
Frente 1,0 x 10-3 3,4 x 10-3 2,2 ± 1 29,5 ± 2 40,7 ± 4 12,1 ± 1
Banda 1,0 x 10-3 1,3 x 10-4 5,7 ± 1 76,4 ± 4 44,3 ± 4 28,8 ± 2

94
Se existirem medidas do vento de fundo, na altura das camadas de emissão
simultâneas às medidas de airglow, é possível determinar a velocidade e o
período intrínsecos das ondas. Como medidas de radar meteórico são
disponíveis sobre São João do Cariri desde julho de 2004 na Seção 4.4 a
seguir será descrita a metodologia de análise de ventos e a Tabela 4.2 será
atualizada para conter os parâmetros intrínsecos das ondas.

4.4.O Radar Meteórico

O radar meteórico é um instrumento que detecta a trilha de meteoros quando


estes penetram na atmosfera terrestre. A observação destas trilhas permite
determinar vários parâmetros, tais como o fluxo de meteoros, o vento neutro e
o coeficiente de difusão ambipolar, entre 70 e 110 km de altura. De uma forma
resumida, o princípio de funcionamento do equipamento é o seguinte: quando
um meteoróide entra na atmosfera terrestre, ele sofre um processo de ablação
devido ao atrito com o ar e é vaporizado numa trilha de gás ionizado passível
de ser detectada por radar. O radar meteórico então, transmite um curto pulso
de energia na forma de ondas de rádio a partir de uma antena em Very High
Frequency (VHF). Parte desta energia é refletida pela trilha meteórica ionizada
sendo detectada por um conjunto de antenas receptoras.

A configuração do radar meteórico em São João do Cariri utiliza uma antena


transmissora e cinco antenas receptoras funcionando como um interferômetro.
O ângulo de chegada do sinal refletido é determinado pela diferença de fase
entre as cinco antenas. Todo o sistema do radar meteórico é controlado por um
microcomputador que faz a aquisição dos dados. Detalhes do modo de
operação e do processamento dos dados deste sistema são descritos em
detalhe por Lima (2004) e Wrasse (2004).

A Tabela 4.3 fornece algumas especificações do radar meteórico instalado no


Observatório de Luminescência Atmosférica da Paraíba em São João do Cariri,
PB.

95
Tabela 4.3 – Especificações do Radar Meteórico instalado em São João do
Cariri.

Freqüência de transmissão 35,24 MHz


Pico de potência transmitida 12 kW
Taxa de pulso 2144 pps
Canais receptores 5
Resolução 2 km
Fonte: Adaptada de Clemesha et al. (2001).

No presente estudo o radar meteórico operou simultaneamente ao imageador


num regime automático de 24 horas por dia, detectando cerca de 3000 a 6000
meteoros úteis diários. Porém, devido ao número esparso de meteoros
detectados abaixo de 80 km e acima de 100 km de altura foram usados dados
de vento apenas entre 81 e 99 km, para se obter uma boa precisão nas
medidas. Os dados utilizados neste trabalho foram interpolados temporalmente
em 3 horas e verticalmente em 1 km nas medidas de vento originais, para
garantir uma continuidade dos dados.

Desta forma, os dados de radar meteórico foram usados como uma medida
aproximada do vento médio mesosférico sobre São João do Cariri. Esta
caracterização do vento médio objetivou a identificação de ductos Doppler
capazes de suportar a propagação de frentes mesosféricas.

4.4.1.Dados de Vento para o Estudo de Frentes Mesosféricas

Segundo Isler et al. (1997) os ductos Doppler surgem devido a estruturas de


baixa freqüência no vento, as quais aprisionam ondas de freqüências mais
altas.
A partir da relação de dispersão das ondas de gravidade pode-se inferir que
movimentos com períodos maiores que 6 horas resultarão numa relação entre
as escalas horizontal e vertical maior que 60/1 (ISLER et al., 1997). Isto

96
significa que ondas de baixa freqüência com escalas verticais de variação de
vento maiores que 10 km poderão produzir ductos com escala horizontal maior
que 600 km. Assim, ductos com esta extensão horizontal são suficientes para
suportar um evento de frente mesosférica com as características apresentadas
por Brown et al. (2004).

A Figura 4.4 mostra a variação noturna do vento médio zonal, meridional, na


direção de propagação da onda, e do gradiente de vento nesta mesma direção
para a frente mesosférica observada em 1º de maio de 2005 sobre São João
do Cariri, mostrada na Figura 4.2.

Observa-se na Figura 4.4a que no horário de observação da frente


mesosférica, entre 21:00 e 22:00 (LT) (linhas verticais tracejadas), o vento
zonal não apresentou grandes variações verticais, exibindo baixas velocidades,
entre 0 e 10 ms-1, praticamente em todo o perfil (entre 81 e 99 km). Já na
Figura 4.4b observa-se que o vento meridional variou consideravelmente com a
altura. A partir de 81 km de altura o vento meridional se intensificou passando
de 20 ms-1, para 30 ms-1 em torno de 83 km, e atingindo 40 ms-1 entre 84 e 88
km. A partir desta altura o vento médio diminuiu em intensidade até se anular
em torno de 90 km, onde ocorreu uma mudança na direção do vento. Acima de
90 km o vento passou a soprar para sul atingindo -60 ms-1 em 94 km, e um
mínimo de - 80 ms-1 em torno de 98 km.

Com relação ao vento na direção de propagação da onda mostrado na Figura


4.4c, observa-se que este apresentou praticamente as mesmas características
do vento meridional. Tal comportamento é esperado já que a frente
mesosférica se propagou na direção de 2º de azimute, ou seja, praticamente
para a direção norte que coincide com a direção meridional.

Já o gradiente de vento na direção de propagação da frente onda, mostrado na


Figura 4.4d, apresentou um forte cisalhamento entre 85 e 88 km, como

97
resultado da variação do vento observada no horário de observação da frente
mesosférica.

Vento Zonal – Cariri - 1 - 2/05/2005 Vento Meridional – Cariri - 1 - 2/05/2005


Altitude (km)

(m/s)
a) Hora Local b) Hora Local
Vento na Direção da Onda Gradiente de Vento na Dir. da Onda
Cariri - 1 - 2/05/2005 Cariri - 1 - 2/05/2005
Altitude (km)

(x 10-3 m/s)
c) Hora Local d) Hora Local

Figura 4.4 - Variação noturna do vento médio a) zonal e b) meridional, além c)


do vento na direção de propagação da onda e d) do gradiente de
vento também na direção de propagação da frente mesosférica
observada em 1º de maio de 2005 sobre São João do Cariri
mostrada na Figura 4.2.

Assim, como existem medidas do vento médio na altura da camada de emissão


simultâneas a observação da frente mesosférica nas imagens de airglow, foi
possível se determinar os parâmetros intrínsecos da onda.

A velocidade de fase intrínseca da onda de gravidade é dada por:


cint = cobs − u , (4.7)

98
onde u é o vento médio na direção de propagação da onda. E assim, o
período intrínseco é dado por:
λh
τ int =
cint . (4.8)
Na altitude de emissão do OH, entre 85 e 88 km, a velocidade do vento variou
consideravelmente, principalmente entre 21:00 e 22:00 (LT). Foram registradas
velocidades em torno de 10 ms-1 às 21:00 (LT) e cerca de 50 ms-1 às 22:00
(LT). Assim, considerando-se uma velocidade média do vento de 35 ms-1
dentro deste horário, obtém-se os parâmetros intrínsecos para a frente
mesosférica de 1º de maio de 2005, que são mostrados na Tabela 4.4.

Tabela 4.4 - Parâmetros observados e intrínsecos da frente mesosférica e da


banda de 1º de maio de 2005.

Onda de k l φ λh c obs τ obs c int τ int


Gravidade (ciclos/km) (ciclos/km) (graus) (km) (ms-1) (min) (ms-1) (min)
Frente 1,0 x 10-3 3,4 x 10-3 2,2 ± 1 29,5 ± 2 40,7 ± 4 12,1 ± 1 5,7 ± 1 5,2 ± 1
Banda 1,0 x 10-3 1,3 x 10-4 5,7 ± 1 76,4 ± 4 44,3 ± 4 28,8 ± 2 9,3 ± 1 8,2 ± 1

O exemplo acima demonstra o potencial de caracterização das condições de


vento que é possível se obter a partir de medidas de radar meteórico para o
estudo de ondas de gravidade. Para o caso de frentes mesosféricas estas
medidas de vento, junto com as medidas de perfil de temperatura e de taxa de
emissão volumétrica das camadas de airglow são fundamentais na análise da
condições da mesosfera, cuja metodologia será apresentada na Seção 4.7.

4.5.O Satélite TIMED

Desde o século passado os cientistas têm observado que o clima e o meio


ambiente da Terra são fortemente influenciados pela radiação produzida pelo
Sol, além das variações decorrentes da atividade solar. Monitorando ao longo
de décadas, o comportamento da atmosfera terrestre, os cientistas atualmente
acreditam que uma mudança global no clima do planeta esteja ocorrendo.
Estas mudanças ocorrem primeiramente devido a variações na atividade do

99
ciclo solar, mas há evidências de que a atividade humana pós-revolução
industrial também tem contribuído para esta mudança climática, principalmente
devido ao lançamento na atmosfera de gases, tais como o metano e o dióxido
de carbono que provocam um efeito estufa.

A despeito dos sinais desta mudança climática global, a comunidade científica


ainda não dispõe de um conhecimento que sirva de referência com relação ao
qual futuras mudanças na alta atmosfera terrestre poderia ser globalmente
comparada, analisada ou prevista. Isto ocorre devido ao ainda restrito
conhecimento de algumas regiões da atmosfera terrestre que limita a nossa
compreensão da cadeia de conexões existentes no sistema Sol-Terra.

Dentro desta atual conjuntura, a missão TIMED (Thermosphere Ionosphere


Mesosphere Energetics and Dynamics) foi desenvolvida com o objetivo de
estudar a influência do Sol e da atividade humana na região menos explorada e
conhecida da atmosfera terrestre, a mesosfera e baixa termosfera/ionosfera
(Mesosphere and Lower Thermosphere/Ionosphere - MLTI), entre 60 e 180 km
de altitude que é mostrada na Figura 4.5.

A MLTI é a fronteira entre o ambiente terrestre e o espaço, onde a energia


solar é primeiramente depositada. Numa sociedade com uma dependência
crescente de tecnologias e de comunicação baseadas em satélites, é de vital
importância se conhecer a variabilidade desta região crítica da atmosfera
terrestre. Este conhecimento possibilitará uma previsão dos efeitos desta
variabilidade nas comunicações, no rastreamento e no tempo de vida de
satélites, na degradação dos materiais embarcados, além de servir de suporte
a operações de re-entrada de veículos espaciais tripulados. Desta forma, o
estudo do clima espacial a partir de missões de satélite, tais como a TIMED,
ajudará a comunidade científica a conhecer melhor esta porta de entrada do
ambiente terrestre que é a MLTI (TIMED WEB SITE, 2005).

100
Figura 4.5 – Região da MLTI na qual a missão TIMED concentra seus objetivos
científicos.
Fonte: TIMED Web Site (2005).

No estudo da MLTI, os instrumentos instalados em superfície observam apenas


uma pequena porção da alta atmosfera, restrita ao local de observação. Além
disso, a região da MLTI é muito alta para ser estudada usando-se balões.
Experimentos com foguetes também fornecem apenas um instantâneo da
atividade da MLTI próximo ao projétil, que alguns minutos depois cai de volta a
Terra. Desta forma, um estudo da região da MLTI numa escala global e com
uma alta taxa de amostragem nunca antes foi realizado, principalmente com a
tecnologia e a precisão dos experimentos embarcados no satélite TIMED
(TIMED WEB SITE, 2005).

O satélite TIMED é a primeira missão do programa de Sondas Solares e


Terrestres (Solar Terrestrial Probes - STP), de iniciativa da NASA (National
Aeronautics and Space Administration), para o desenvolvimento de missões de
baixo custo, porém possibilitando um acesso mais freqüente ao espaço para se
estudar sistematicamente o sistema Sol – Terra (TIMED WEB SITE, 2005). A

101
Figura 4.6 mostra uma concepção artística do satélite TIMED em sua órbita ao
redor da Terra.

Figura 4.6 – Concepção artística do satélite TIMED em órbita da Terra.


Fonte: TIMED Web Site (2005).

A missão é financiada pela NASA em Washington, DC, EUA e é gerenciada


pelo Centro Aeroespacial de Goddard em Greenbelt, Maryland. O projeto, a
construção e a operação do satélite foram realizados pelo Laboratório de Física
Aplicada (Applied Physics Laboratory - APL), da Universidade Johns Hopkins
em Laurel, Maryland, e o APL também lidera os esforços científicos durante a
missão.

No passado, outros satélites sondaram porções da MLTI, mas o TIMED é a


primeira missão a obter medidas globais desta região, medidas estas
imprescindíveis para se conhecer melhor a alta atmosfera. O TIMED também
estabelecerá as medidas de referência com relação às quais futuros estudos
de mudanças climáticas dentro da MLTI poderão ser comparados e analisados.
As principais características do satélite TIMED são mostradas na Tabela 4.5.

102
Tabela 4.5 – Principais características do satélite TIMED.

Missão
Data de Lançamento 7 de dezembro de 2001
Local de Lançamento Base aérea de Vandenberg, Califórnia, EUA
Veículo Lançador Delta II 7920-10 (lançado com o Jason-1)
Órbita 625 km circular
o
Inclinação 74,1 a partir do equador

Satélite
Massa 587 kg
Dimensões 2,72 m de altura
1,61 m de largura no lançamento
11,73 m de largura com painéis solares abertos
1,20 m de profundidade
Consumo 400 watts por órbita
Transferência de dados 4 megabits por segundo
Memória 5 gigabits
Controle de atitude dentro de 0,5 graus
Fonte: TIMED Web Site (2005).

Empregando os mais recentes avanços na tecnologia de sensoriamento


remoto, os instrumentos a bordo do TIMED operam junto a uma rede de
observação de superfície espalhada pelo mundo para obter um conjunto de
medidas de temperatura, pressão, vento e composição química da MLTI sem
precedentes. Os quatro instrumentos a bordo do satélite TIMED são o SEE, o
TIDI, o GUVI e o SABER. O SEE (do inglês Solar Extreme Ultraviolet
Experiment) é composto por um espectrômetro e um conjunto de fotômetros
capazes de medir a radiação ultravioleta solar, i.e., a principal fonte energia na
região da MLTI. Suas medidas incluem raios-x moles, extremo ultravioleta e
ultravioleta distante, todos de origem solar. O TIDI (do inglês TIMED Doppler
Interferometer) é um interferômetro capaz de medir perfis de vento e
temperatura na região da MLTI em escala global. O GUVI (do inglês Global

103
Ultraviolet Imager) é um espectrógrafo no extremo ultravioleta que realiza
medidas globais da composição e da temperatura na MLTI, além da entrada,
nesta região, de energia proveniente do oval auroral. O SABER (do inglês
Sounding of the Atmosphere using Broadband Emission Radiometry) é um
radiômetro multicanal em infravermelho capaz de medir emissões atmosféricas
num largo intervalo espectral e de altitude. O SABER realiza medidas de perfis
de temperatura e de fontes de resfriamento atmosférico, tais como o airglow,
que ocorre quando a energia solar absorvida é re-emitida para o espaço
(TIMED WEB SITE, 2005). Como alguns dados do SABER foram
extensivamente usados no presente trabalho detalhes deste instrumento serão
descritos na Seção 4.5.1, a seguir.

4.5.1.O Instrumento SABER

O instrumento Sounding of the Atmosphere using Broadband Emission


Radiometry - SABER é um dos quatro instrumentos lançados a bordo do
satélite TIMED em 7 de dezembro de 2001. O objetivo principal da missão
TIMED/SABER é explorar de uma forma global a mesosfera e baixa termosfera
ou MLT (do inglês Mesosphere and Lower Thermosphere) para melhorar o
conhecimento de processos fundamentais que governam a energética, a
química e a dinâmica na região atmosférica entre 60 e 180 km (RUSSELL et
al., 1999). Dentro deste objetivo geral destacam-se os seguintes objetivos
específicos:
− Estudar a estrutura da MLT incluindo suas variações sazonais,
latitudinais e temporais;
− Investigar a energética e a distribuição de espécies radiativamente
ativas em condições de ambiente fora do equilíbrio termodinâmico, ou
condições de não-LTE (do inglês Non-local Thermodynamic Equilibrium);
− Estudar a importância relativa das fontes e sumidouros radiativos,
químicos e dinâmicos de energia na MLT;
− Analisar a química do Oy e HOy e seu acoplamento com a energética e a
dinâmica da MLT;

104
− Estudar o papel da dinâmica no balanço de energia da MLT;
− Desenvolver uma climatologia dos principais parâmetros atmosféricos
entre 60 e 130 km, i.e., na região central de observação do satélite
TIMED.

O experimento SABER consiste de um radiômetro multi-espectral operando no


infravermelho próximo entre 1,27 μm e 17 μm capaz de medir perfis verticais
de emissões de vários gases da atmosfera terrestre. Através de uma visada de
limbo o SABER é capaz de sondar continuamente a atmosfera terrestre
durante o dia e a noite, permitindo assim o estudo da variabilidade diária dos
principais parâmetros atmosféricos, dentro de uma cobertura global. A Tabela
4.6 apresenta as principais características do instrumento SABER.

Tabela 4.6 - Principais características do instrumento SABER.

SABER
Massa 65,6 kg
Potência elétrica 76,5 W
Transferência de dados 4 kbps
Dimensões 77 x 104 x 63 cm
Potência de aquecimento 11,0 W
Intervalo de medidas 10 a 180 km
Resolução vertical 0,4 km
Projeto e construção Space Dynamics Laboratory, USU
Tempo de vida > 2 anos
Fonte: TIMED Web Site (2005).

O experimento SABER foi construído a partir do conhecimento adquirido em


vários instrumentos de sondagem de limbo, lançados a bordo de satélite nas
últimas três décadas. Entretanto, o projeto e a construção do SABER foram
baseados diretamente no bem sucedido instrumento Nimbus-7 LIMS (Limb
Infrared Monitor of the Stratosphere).

105
Os perfis verticais das radiâncias medidas pelo SABER são analisados usando
uma variedade de modelos de não-LTE com o objetivo de derivar perfis de
temperatura cinética, de concentração de espécies minoritárias, além de taxas
de perda de energia, de aquecimento solar, de aquecimento químico e de
resfriamento radiativo.

No presente trabalho são usados extensivamente os perfis de temperatura


medidos pelo SABER, e por esta razão a técnica de recuperação da
temperatura cinética a partir da radiância do CO2 pode ser encontrada no
Apêndice B. Uma lista dos canais espectrais medidos pelo SABER e de suas
aplicações científicas também é mostrada na Tabela 4.7.

Tabela 4.7 – Canais espectrais do SABER e suas respectivas aplicações


científicas.

Parâmetro λ (μm) Aplicação Científica Altitude (km)


CO2 15 Temperatura cinética, medidas de pressão e altitude, taxas de resfriamento pela 10 - 135
emissão em infravermelho, estudo da natureza de não-LTE e LTE do CO2.
O3 9,6 Concentração de O3, taxa de resfriamento, taxa de aquecimento solar, 15 - 100
estudos de química e dinâmica básica da atmosfera.
O2 (1Δ) 1,27 Concentração de O3 diurno, perda de energia, 50 - 105
inferência de oxigênio atômico a noite.
CO2 4,3 Concentração de CO2 e aquecimento solar na alta mesosfera, 85 - 140
traçador dinâmico acima de 90 km.
OH(υ) 2,0 e 1,6 Emissão usada para inferir [H] e [O], perda de energia por quimiluminescência, 80 - 100
dinâmica da mesosfera, nuvens mesosféricas polares, aquecimento químico.
NO 5,3 Resfriamento termosférico e química do Nox. 90 - 180

H2O 6,9 Fonte de hidrogênio, traçador dinâmico, resfriamento da baixa mesosfera. 15 - 80

Fonte: TIMED Web Site (2005).

106
O radiômetro SABER também está calibrado para obter uma acurácia 2 melhor
que 5% na maioria dos canais espectrais. A Tabela 4.8 mostra a acurácia e a
precisão 3 dos parâmetros medidos pelo SABER, além dos intervalos de altura
e do período do dia em que as medidas obtidas são válidas.

Tabela 4.8 - Acurácia e precisão dos parâmetros medidos pelo SABER.

Parâmetro Altitude (km) Acurácia Precisão Período


Temperatura 10 - 135 1,5 K entre 15 e 80 km 0,5 K entre 15 e 70 km dia e noite
4,0 K entre 80 e 100 km 1,0 K entre 70 e 80 km
2,0 K entre 80 e 100 km
O3 (9,6 μm) *
15 - 100 20% entre 15 e 90 km <5% entre 15 e 70 km dia e noite
30% entre 90 e 100 km 20% entre 70 e 90 km
O3 (1,27 μm) **
50 - 105 20% entre 50 e 105 km 10% entre 50 e 85 km dia
15% entre 85 e 105 km
O2 ( Δ)
1 +
50 - 105 3% entre 50 e 90 km 0,05% entre 50 e 70 km dia e noite
0,2% entre 70 e 80 km
1,0% entre 80 e 90 km
OH(υ) (2,0 e 1,6 μm) +
80 - 100 3% entre 80 e 90 km 0,1% entre 80 e 90 km dia e noite
5% entre 90 e 100 km 5,0% entre 90 e 100 km
NO(5,3 μm) +
90 - 180 5% entre 100 e 170 km 3% entre 100 e 150 km dia e noite
5% entre 150 e 170 km
H2O (6,9 μm) 15 - 80 20% entre 15 e 70 km 10% entre 20 e 70 km dia e noite
30% entre 70 e 80 km 25% entre 70 e 80 km
*
Acurácias estimadas para o período noturno. Durante o dia a acurácia degrada devido ao não-LTE.
**
Medidas apenas durante o dia. Ao crepúsculo a acurácia degrada devido a diferença entre o tempo
de vida químico do O3 e o tempo de vida rediativa do O2(1Δ).
+
Válido para os períodos diurno, noturno e crepúsculo.

Fonte: TIMED Web Site (2005).

2
Acurácia ou exatidão é um conceito qualitativo que descreve quanto o resultado de uma
medição está próximo do valor verdadeiro (VUOLO, 1998).
3
Precisão é um conceito qualitativo para caracterizar resultados com erros estatísticos
pequenos, com pequena dispersão em relação ao valor médio verdadeiro (VUOLO, 1998).

107
4.6.A Disponibilidade de Dados

Os dados do satélite TIMED/SABER (~2 milhões de sondagens obtidas desde


janeiro de 2002) estão disponíveis para a realização do presente trabalho como
resultado de uma cooperação estabelecida com a Universidade de Hampton e
com o NASA Langley Research Center, ambos em Hampton, VA, EUA. Como
se pode perceber, a manipulação deste volume de dados exigiu a elaboração
de um banco de dados de satélite, cuja descrição encontra-se no Apêndice C.

Assim, para empreender um estudo de caracterização física das frentes


mesosféricas na região equatorial se fez necessário trabalhar com dados
simultâneos de imageador (imagens all sky do airglow), de radar meteórico
(perfis de vento na mesosfera) e do satélite TIMED/SABER (perfis de pressão,
densidade, temperatura e da taxa de emissão volumétrica do OH em 1.6 μm).
A Figura 4.7 apresenta a disponibilidade destes dados no Observatório de
Luminescência Atmosférica em São João do Cariri, PB.

Disponibilidade de Dados sobre São João do Cariri


2000 2001
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Imageador All Sky
TIMED/SABER
Radar Meteórico

2002 2003
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Imageador All Sky
TIMED/SABER
Radar Meteórico

2004 2005
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Imageador All Sky
TIMED/SABER
Radar Meteórico

Figura 4.7 - Disponibilidade dos dados de imageador all sky, radar meteórico e
do satélite TIMED/SABER no Observatório de Luminescência
Atmosférica em São João do Cariri, PB, entre 2000 e 2005.

108
Como o imageador entrou em operação em setembro de 2000, o satélite
TIMED/SABER em janeiro de 2002 e o radar meteórico em julho de 2004, o
período ideal para o estudo de frentes mesosféricas com todos os dados
disponíveis compreende os meses de junho de 2004 a dezembro de 2005.

4.7.Metodologia de Análise do Ambiente Mesosférico

Com o objetivo de se investigar em detalhes algumas frentes mesosféricas


observadas em São João do Cariri, será apresentada nesta seção a
metodologia utilizada na análise das condições do ambiente mesosférico.

Para se avaliar as condições atmosféricas durante a propagação de frentes


mesosféricas, foram utilizados perfis de temperatura cinética e de taxa de
emissão volumétrica (Volumetric Emission Rate - VER) do OH em 1,6 μm
obtidos pelo satélite TIMED/SABER, perfil de vento obtido pelo radar
meteórico, além dos parâmetros físicos da onda calculados com a análise
espectral.

Como um exemplo do procedimento de análise realizado nas frentes


mesosféricas detectadas, a Figura 4.8 apresenta um quadro do ambiente
mesosférico para a frente de onda observada em 1º de outubro de 2005 sobre
São João do Cariri (detalhes do caso podem ser encontrados na Seção 6.2).

A Figura 4.8a apresenta o perfil de temperatura cinética (linha sólida) medido


com o TIMED/SABER em 1/10/2005 sobre São João do Cariri, PB e respectivo
perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As linhas tracejadas
representam a taxa de queda adiabática da temperatura. A Figura 4.8b
apresenta o perfil do quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä e a Figura 4.8c
mostra o perfil do vento na direção de propagação da onda medido com radar
meteórico (linha sólida). A linha pontilhada vertical na Figura 4.8c indica a
velocidade de fase da onda.

109
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow

a) b) c) d) e)
T (K) N2 (x 10-4 s-2) Vento (m/s) m2 (x 10-7 m-2) VER normal.
Figura 4.8 - a) Perfil de temperatura cinética (linha sólida) medido com o
TIMED/SABER em 1/10/2005 sobre São João do Cariri e respectivo
perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As linhas
tracejadas representam a taxa de queda adiabática da temperatura.
b) Perfil do quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä. c) Perfil do
vento na direção de propagação da onda medido com radar
meteórico (linha sólida). A linha pontilhada vertical indica a
velocidade de fase da onda. d) Perfis do número de onda vertical
( m 2 ) (linha sólida) e do comprimento de onda vertical (λz) (linha
pontilhada). e) Perfis verticais das taxas de emissão volumétrica
normalizadas (VER) do OH em 1,6 μm (linha sólida) medido pelo
satélite TIMED/SABER e do O2 (0,1) (linha tracejada) e OI5577
(linha pontilhada) calculados com o modelo MSIS-90. As linhas
sólidas horizontais que cortam os gráficos delimitam a base e o
topo da região propagante que define o ducto.

Já a Figura 4.8d mostra os perfis do número de onda vertical ( m 2 ) (linha sólida)


e do comprimento de onda vertical (λz) (linha pontilhada). Por fim, a Figura 4.8e
apresenta os perfis verticais das taxas de emissão volumétricas normalizadas
(VER) do OH em 1,6 μm (linha sólida) medido pelo satélite TIMED/SABER e do
O2 (0,1) (linha tracejada) e OI5577 (linha pontilhada) calculados com o modelo

110
MSIS-90 (HEDIN, 1991). As linhas sólidas horizontais que cortam os cinco
gráficos delimitam a base e o topo da região propagante que define o ducto.

A Figura 4.8a apresenta o perfil de temperatura cinética (linha sólida) obtido


pelo satélite TIMED/SABER em 01/10/2005 nas coordenadas de ponto
tangente médio de (1,48º N; 44,34º O).

Neste dia o satélite TIMED/SABER realizou 13 sondagens numa área de 20º x


20º centrada em São João do Cariri e, seguindo o critério do horário mais
próximo do horário da observação da onda, foi selecionado o perfil das 07:37
(LT), que é similar aos outros perfis obtidos neste dia. Esta consideração é
válida, já que a estrutura térmica da mesosfera equatorial não se altera tão
abruptamente, como ocorre em altas latitudes (GILLE e HOUSE, 1971). As
linhas tracejadas representam a taxa de queda adiabática da temperatura, que
é de -9,8K/km. Ainda na Figura 4.8a a linha pontilhada representa o perfil de
temperatura potencial calculado a partir das medidas de pressão e temperatura
do satélite TIMED/SABER, e que juntamente com o perfil do quadrado da
freqüência de Brünt-Väisälä, apresentado na Figura 4.8b, define a estabilidade
estática que será descrita na Seção 4.7.2.

Na Figura 4.8c é apresentado o perfil de medidas de vento mesosférico (e seus


respectivos desvios padrão) na direção de propagação da frente de onda (66º
de azimute) para o horário do evento, ou seja às 18:00 (LT), obtido com radar
meteórico. A linha pontilhada vertical indica a velocidade de fase da frente
mesosférica que foi de 67 ms-1.

Já a Figura 4.8d apresenta o perfil do número de onda vertical (linha sólida) e


do comprimento de onda vertical (linha pontilhada) calculados para os
parâmetros físicos observados. Sabe-se da teoria de ondas de gravidade que
quando m → 0 o comprimento de onda vertical tende a infinito. Observa-se na
Figura 4.8d que o valor de m 2 em 90 e 94 km é aproximadamente zero, no

111
entanto o comprimento de onda vertical não tende ao infinito pelo fato do perfil
de vento se tratar de uma função discreta, com medidas interpoladas a cada
quilômetro. Ao se reproduzir o perfil de vento com uma interpolação a cada 100
m, por exemplo, pode-se verificar que o valor de λz aumenta
consideravelmente em 90 e 94 km, de forma que o perfil de λ z experimental
(função discreta) reproduz o comportamento do perfil de λ z teórico (função
contínua) apresentando λ → ∞ onde m → 0 . Os perfis de temperatura e de
vento, junto dos parâmetros físicos da onda de gravidade definem a condição
de propagação da onda, cujo procedimento de análise será descrito na Seção
4.7.3.

A Figura 4.8e apresenta o perfil de taxa de emissão volumétrica normalizado


ou VER do OH em 1,6 μm medido pelo satélite TIMED/SABER (linha sólida).
Os perfis do oxigênio atômico em 557,7 nm e da banda (0,1) do O2 foram
obtidos a partir da modelagem das camadas utilizando dados do modelo MSIS-
90, ajustados às medidas do OH obtidas pelo satélite TIMED/SABER. Os perfis
de VER são fundamentais para a análise do efeito produzido pelas frentes
mesosféricas nas camadas de airglow, por esta razão sua modelagem será
descrita na Seção 4.7.3.

4.7.1.Análise da Condição de Estabilidade Mesosférica

A análise da estabilidade estática da atmosfera é importante na avaliação das


condições ambientes durante eventos de frentes mesosféricas pelas seguintes
razões:

i) é a estabilidade estática que define o comportamento de uma parcela de


ar ao ser deslocada de sua posição de equilíbrio na atmosfera;

ii) caso a parcela de ar tenda a retornar ao seu nível de equilíbrio, ela o


fará através de oscilações na freqüência de Brünt – Väisäla, quantidade

112
que pode ser comparada com o período da onda medido, através da
análise espectral e dos dados de vento;

Para se discutir as condições de estabilidade estática na mesosfera foi


calculado o perfil de temperatura potencial (linha pontilhada) apresentado na
Figura 4.8a a partir da pressão e da temperatura medidos pelo satélite
TIMED/SABER. A temperatura potencial θ é definida como sendo a
temperatura que uma parcela de ar seco, a uma dada pressão e temperatura,
teria se fosse expandida ou comprimida adiabaticamente a pressão atmosférica
ao nível do mar (HOLTON, 1992). Matematicamente, a temperatura potencial é
dada pela seguinte expressão:

R
⎛ p ⎞ cp
θ = T ⎜⎜ 0 ⎟⎟ , (4.9)
⎝ p ⎠

onde T é a temperatura e p é a pressão a qual a parcela de ar está


submetida, ambos medidos pelo satélite TIMED/SABER); p0 é a pressão de

referência ao nível do mar (1.013,25 mb); R é a constante dos gases (287 J


K−1 kg-1); e c p é o calor específico a pressão constante (1.004 J K−1 kg-1).

Se a temperatura potencial aumenta com a altura, então uma parcela de ar


deslocada de sua posição inicial, para cima ou para baixo, tenderá a retornar a
seu nível de equilíbrio através de oscilações adiabáticas, a uma freqüência de
flutuabilidade (HOLTON, 1992). Esta freqüência é chamada de freqüência de
Brünt -Väisäla ( N ), que para a mesosfera é de aproximadamente 5 min.

No caso da temperatura potencial ser constante com a altura, a freqüência de


Brünt Väisäla será nula, ou seja, a parcela de ar deslocada, não sofre qualquer
aceleração e permanece num estado de equilíbrio neutro no seu novo nível
(HOLTON, 1992).

113
Por outro lado, se a temperatura potencial diminui com a altura o deslocamento
da parcela de ar aumentará exponencialmente com o tempo, o que define a
região como sendo estaticamente instável (HOLTON, 1992). A Tabela 4.9
apresenta um resumo das três condições de estabilidade atmosférica
observadas de acordo com a variação da temperatura potencial e da
freqüência de Brünt - Väisäla.

Tabela 4.9 - Condições de estabilidade atmosférica de acordo com a variação


vertical da temperatura potencial e da freqüência de Brünt-Väisäla.

Condições de
Estabilidade Atmosférica

> 0 , N2 > 0 Estaticamente Estável
dz

= 0 , N2 = 0 Estaticamente Neutra
dz

< 0 , N2 < 0 Estaticamente Instável
dz

Fonte: Adaptada de Holton (1992, p. 55).

Analisando os gráficos da Figura 4.9a e 4.9b observa-se que de uma forma


geral a mesosfera estava bastante estável na noite de 1/10/2005, apresentando
apenas estreitas faixas em torno de 71, 87 e 99 km de altura, onde N 2 foi nulo.

Especificamente, entre 89 e 97 km observa-se uma região estável onde o N 2


apresenta valores entre de 6 x 10-4 s-2 e 12 x 10-4 s-2, i. e., uma freqüência de
Brünt-Väisälä entre 4 e 8 minutos.

114
101 km

97 km

89 km

86 km

72 km
70 km

a) b)

Figura 4.9 - Análise da estabilidade estática da mesosfera a partir dos perfis de


a) temperatura (linha sólida) e temperatura potencial (linha
pontilhada) e b) do quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä. As
áreas em roxo, verde e vermelho indicam regiões estáveis, neutras
e instáveis, respectivamente.

4.7.2.Análise da Condição de Propagação de Ondas de Gravidade

No seu trabalho pioneiro, Hines (1960) mostrou que a relação de dispersão


para ondas de gravidade se propagando numa atmosfera sem cisalhamento
vertical de vento era dada pela seguinte expressão:

N2 1
m =
2
− k h2 − , (4.10)
(u − c ) 2
4H 2

onde, m é o número de onda vertical, N 2 é o quadrado da freqüência de


Brünt-Väisälä; u é a velocidade do vento básico; c é a velocidade de fase da
onda; k h = 2π / λ h é o número de onda horizontal; e H é a altura de escala.

115
Entretanto, nota-se que as restrições feitas ao comportamento do vento de
fundo tornam a atmosfera pouco realística, principalmente se forem
consideradas ondas de gravidade de maior escala, propagando-se na
mesosfera, ambiente onde o vento varia bastante.

Nestas condições deve-se adotar uma relação de dispersão mais realística,


considerando-se uma onda plana e a aproximação de Boussinesq, supondo
que não existe rotação, nem dissipação, e que os movimentos do fluido são de
pequena amplitude. Neste caso a relação de dispersão é dada por
(CHIMONAS e HINES, 1986; ISLER et al., 1997):

N2 u zz
m =
2
− − k h2 , (4.11)
(u − c ) (u − c )
2

onde u zz é a derivada segunda do vento com relação a altura, e a Equação

4.11 representa a solução da Equação de Taylor – Goldstein quando N 2 e u


são funções da altura, e variam lentamente.

A Equação 4.11 leva em consideração o termo da segunda derivada do vento


de fundo em detrimento do termo da altura de escala. Esta aproximação tem
grande influência no resultado do cálculo do m 2 e, conseqüentemente, na
avaliação da condição de propagação de uma dada onda de gravidade.

A Figura 4.10 apresenta um diagrama esquemático da propagação vertical de


ondas de gravidade num ambiente com cisalhamento vertical de vento. Quando
o vento de fundo torna-se mais intenso com a altura, e a onda se propaga para
cima na direção oposta ao vento, a onda é refletida.

116
Ponto de reflexão Nível crítico
Altura

Cg

Vento de fundo
Figura 4.10 – Ilustração da propagação vertical de ondas de gravidade num
ambiente com cisalhamento vertical de vento.
Fonte: Adaptada de Mitsuno e Shimazaki (1981).

Por outro lado, se a direção de propagação é a mesma do vento de fundo, o


comprimento de onda vertical e a velocidade de grupo tornam-se menores na
medida em que a velocidade do vento u aproxima-se da velocidade de fase
horizontal da onda c , tal como é esperado a partir da Equação 4.10. A altura
onde u = c é chamada de nível crítico, o que corresponde a m → ∞ , como foi
mostrado na Seção 2.3.1. Bretherton (1967) mostrou que um pacote de onda
de gravidade não pode atravessar um nível crítico, desta forma a onda não é
refletida, mas sim dissipada, depositando fluxo de momentum no vento de
fundo.

Assim, para a análise de propagação de ondas de gravidade de grande escala,


como as bandas e as frentes mesosféricas, cuja observação ocorre num
intervalo de tempo de algumas horas, deve-se usar a relação de dispersão
dada pela Equação 4.11, cuja análise de termos será discutida a seguir.

4.7.2.1.Análise dos Termos da Relação de Dispersão

Os termos da relação de dispersão expressa pela Equação 4.11 podem ser


definidos da seguinte forma:

117
N2
− 1º termo: o termo de N , dado por
2
;
(u − c )2
u zz
− 2º termo: o termo de u zz , dado por ;
(u − c )
− 3º termo: o termo de k h2 , dado por k h2 .

Para avaliar a condição de propagação de uma onda de gravidade do tipo


frente mesosférica será analisada a seguir a ordem de grandeza dos termos de
m2 , mostrada na Figura 4.11 para o caso de 1º de outubro de 2005 (discussão
do caso na Seção 6.2).

Observa-se na Figura 4.11 que enquanto a ordem de grandeza do termo de u zz

(10-7) é similar a do m 2 (10-7), a ordem de grandeza dos termos de N 2 (10-11) e


de k h2 (10-10) são consideravelmente menores. É por esta razão que os perfis

dos termos de N 2 e de k h2 , nas Figuras 4.11b e 4.11c, apresentam-se como

uma reta coincidindo com a origem das abscissas. Por outro lado, o perfil de
m 2 praticamente reproduz o perfil de u zz , considerando-se que o termo de u zz

sofreu uma mudança de sinal para o cálculo de m 2 .

A avaliação percentual da contribuição de cada termo ao valor de m2


resultante (i.e. 100 x valor de cada termo/ m 2 ) mostrou que: enquanto o termo
de u zz contribuiu com 103% do valor total de m 2 , o termo de k h2 contribuiu com

-3% e a contribuição do termo de N 2 foi desprezível.

Desta forma, para o caso da frente mesosférica de 1º de outubro de 2005 a


condição de propagação definida pelo ducto foi controlada pelo vento, ou seja,
tratava-se de um ducto Doppler.

118
Vento Termo de N2 Termo de du2 Termo de k2

λz2

m2
a) b) c) d) e)

(m/s) (x 10-7 m-2) (x 10-7 m-2) (x 10-7 m-2) m2 (x 10-7 m-2)


Figura 4.11 - Análise da ordem de grandeza dos termos de m 2 calculados a
partir dos perfis de vento e temperatura obtidos para o caso da
frente mesosférica de 1º de outubro de 2005 sobre São João do
Cariri.

A questão agora a ser explicada é a seguinte: porque o termo do vento, i.e. o


termo de u zz , predomina sobre os termos da temperatura (termo de N 2 ) e de

k h2 na relação de dispersão, neste caso de frente mesosférica? A resposta a


esta questão será discutida a seguir.

4.7.2.2. Discutindo o 1º termo de m 2

N2
Com relação ao 1º termo da Equação 4.11, , na relação de dispersão,
(u − c )2
observa-se que: o valor de N 2 é da ordem de 5 min na mesosfera, e pode ser
considerado constante, o que não constitui uma restrição severa, já que N 2
varia lentamente dentro da escala de tempo de poucas horas (ISLER et al.,
1997).

119
Observa-se também que pelo fato do denominador estar elevado ao quadrado,
e o numerador ser sempre positivo, este termo contribui apenas para tornar m 2
positivo, ou seja, o termo da temperatura contribui apenas para estabelecer
uma condição propagante no perfil de m 2 .

Além disso, se a diferença entre a velocidade do vento e a velocidade de fase


da onda for grande, o denominador (u − c ) contribuirá quadraticamente para
2

diminuir o valor final do 1º termo. Isto significa que o termo da temperatura


deve diminuir a sua contribuição na configuração do ducto, na situação em que
a diferença entre as velocidades da frente de onda e do vento de fundo é
grande. Um exemplo disto é o caso de 1º de outubro de 2005, no qual a
velocidade de fase da frente mesosférica (~67 ms-1) é praticamente o dobro da
velocidade do vento de fundo (~34 ms-1), o que pode explicar a desprezível
contribuição do termo da temperatura (o 1º termo de m 2 ) na configuração do
ducto.

Por outro lado, o termo da temperatura torna-se bastante importante, próximo a


um nível crítico. Isto ocorre, pois quando c ≅ u o denominador (u − c ) torna-se
2

muito pequeno, aumentando consideravelmente o valor final do 1º termo, e,


conseqüentemente, a importância do termo da temperatura na configuração do
ducto.

4.7.2.3.Discutindo o 2º termo de m 2

u zz
Com relação ao 2º termo da Equação 4.11, , na relação de dispersão,
(u − c )
observa-se que: tanto o numerador quanto o denominador podem apresentar
sinal negativo ou positivo no seu valor final. Isto significa que o termo do vento,
ao contrário do termo da temperatura, pode contribuir para estabelecer uma
condição tanto propagante, quanto evanescente no perfil de m 2 . Além disso,

120
u zz
como o denominador de não é quadrático, este não diminui tanto o
(u − c )
valor final do 2º termo, como ocorre com o denominador do 1º termo, na
proximidade de um nível crítico, por exemplo. De maneira análoga, o
denominador do 2º termo também não aumenta tanto quando do aumento
diferença (u − c ) .

A maior contribuição do 2º termo na condição de propagação de ondas de


gravidade na mesosfera ocorre devido a maior intensidade do vento nesta
região que chega a ser ~ 50 vezes maior do que, por exemplo, o vento na
troposfera. Além disso, o vento mesosférico apresenta uma grande
variabilidade temporal (dentro do intervalo de algumas horas), o que ressalta a
importância do termo da derivada segunda do vento, que não pode ser
assumida como sendo uma constante. Assim, considerando variações
idealizadas do perfil de vento, pode-se avaliar o comportamento do termo do
u zz
vento, , na equação de m 2 , da seguinte forma:
(u − c )

a) Supondo um perfil de vento nulo, isto anulará o termo do vento na


relação de dispersão, estabelecendo o predomínio do termo de N 2 o que
define um ducto térmico. O mesmo ocorre se o vento for constante com
relação a altura, pois ∂ u ∂ z = 0 .

b) Se o perfil de vento apresentar apenas um gradiente com relação a


altura, idealizado por exemplo pela equação da reta u = a U + b , isto

anulará a sua segunda derivada ( ∂ 2 u ∂ z 2 = 0 ), novamente anulando o


termo do vento na relação de dispersão. Nesta situação, há predomínio
do termo de N 2 o que define um ducto térmico.

121
c) Por outro lado, se o perfil de vento for algo mais complexo que apenas
um gradiente, e puder ser representado, por exemplo, por uma equação
de segundo grau verifica-se o seguinte:

∂2 u
− Se > 0 a concavidade do perfil de vento é para a direita, ou seja, o
∂ z2
perfil apresenta um mínimo local de u na direção oposta de c , o que
aumenta o valor absoluto do denominador (u − c ) . O sinal negativo em
u zz
− torna então este termo positivo, estabelecendo assim uma
(u − c )
condição propagante, já que os termos de N 2 e de k h2 são geralmente

bem menores que o termo do vento. Um exemplo desta situação pode


ser observado na região em roxo da Figura 4.11.

∂2 u
− Se < 0 a concavidade do perfil de vento é para a esquerda, ou seja,
∂ z2
o perfil apresenta um máximo local de u na direção de c , o que diminui
o valor absoluto do denominador (u − c ) . Com o numerador e o
u zz
denominador negativos, o sinal negativo no termo do vento, − ,
(u − c )
torna então este termo também negativo, estabelecendo assim uma
condição evanescente, já que os termos de N 2 e de k h2 são geralmente

bem menores que o termo do vento. Um exemplo desta situação pode


ser observado nas regiões em vermelho da Figura 4.11.

4.7.2.4.Discutindo o 3º termo de m 2

Com relação ao 3º termo na relação de dispersão pode-se verificar que:


considerando que foram observadas frentes mesosféricas com comprimento de
onda horizontal entre 10 e 300 km (ver resultados na Seção 5.3.4), isto significa
que o termo de − kh2 contribuirá com valores entre – 10-8 e – 10-12 para o cálculo

122
do m 2 . Ou seja, frentes mesosféricas com pequenos comprimentos de onda
horizontal (~10 km) tendem a ser suportadas por um ducto cuja contribuição do
kh2 , é relevante. Esta contribuição de kh2 ocorre no sentido de configuração de
regiões evanescentes, devido ao sinal negativo antes do 3º termo na relação
de dispersão.

4.7.2.5.Configurações Possíveis de Estruturas de Ducto

Assim, considerando-se que há medidas de vento num intervalo de altitudes


mesosféricas (geralmente entre 80 e 100 km de altura para medidas com radar
meteórico), então as configurações de propagação que podem ser
estabelecidas dentro deste intervalo são mostradas nas Figuras 4.12, 4.13,
4.14 e 4.15. As Figuras 4.12a e 4.12b ilustram a configuração de um perfil de
m2 que apresenta uma condição propagação de onda inteiramente propagante
ou inteiramente evanescente, respectivamente. Na condição propagante a
onda pode se propagar tanto na vertical quanto na horizontal, enquanto na
condição evanescente não ocorre a propagação vertical da onda.

Propagante Evanescente

m2 > 0 m2 < 0
a) - m2 + b) - m2 +
Figura 4.12 – Diagrama esquemático mostrando a condição propagação de
onda a) propagante ou b) evanescente num intervalo de altitudes
mesosferéricas.

As Figuras 4.13a e 4.13b ilustram a configuração em que os perfis apresentam


ambas as condições de propagação, propagante e evanescente. Na Figura

123
4.13a observa-se uma configuração de região propagante sobre uma região
evanescente. A configuração oposta é ilustrada na Figura 4.13b.

Evanescente e Propagante Evanescente e Propagante

m2 < 0
m2 > 0

m2 < 0 m2 > 0

a) - m2 + b) - m2 +
Figura 4.13 – Diagrama esquemático mostrando as duas condições de
propagação de onda propagante e evanescente possíveis num
mesmo perfil.

As Figuras 4.14a e 4.14b ilustram a configuração de uma região propagante


circundada por regiões onde o m 2 = 0 ou m 2 < 0 , respectivamente, o que
estabelece uma condição de canalização de onda.
Ducto Propagante Ducto Propagante

m2 = 0 m2 < 0

Reflexão m2 > 0 Reflexão m2 > 0

m2 = 0 m2 < 0

a) - m2 + b)- m2 +
Figura 4.14 – Diagrama esquemático mostrando as duas condições de
canalização de onda num ducto propagante circundado por a) uma
região onde m 2 = 0 e b) por uma região evanescente ( m 2 < 0 ).

Finalmente, as Figuras 4.15a e 4.15b ilustram a possível configuração de


vários ductos capazes de suportar múltiplas ondas canalizadas
simultaneamente.

124
2 Ductos Propagantes 3 Ductos Propagantes

- m2 + - m2 +
Figura 4.15 – Diagrama esquemático mostrando exemplos de condições de
múltipla canalização.

4.7.3.Cálculo dos Perfis de VER do OH(9,4), do OI5577 e do O2(0,1)

Nesta seção será descrita a metodologia de cálculo dos perfis de taxa de


emissão volumétrica (ou Volumetric Emission Rate - VER) das emissões do
OH(9,4), OI5577 e O2(0,1), obtidos a partir dos modelos fotoquímicos
apresentados no Apêndice D.

A estrutura vertical definida por estes perfis de VER pode ser comparada com o
perfil de condição de propagação das frentes mesosféricas. Esta comparação
permite a localização de ductos com relação às altitudes dos picos de emissão
das camadas, o que é fundamental na discussão do efeito de
complementaridade exibido pelas frentes mesosféricas ao serem detectadas
em diferentes imagens de airglow.

A Figura 4.16a apresenta o perfil de temperatura médio previsto pelo modelo


MSIS-90 (linha sólida) para o mês de outubro de 2005 sobre São João do
Cariri, e o perfil de temperatura medido pelo satélite TIMED/SABER (linha
pontilhada) em 1/10/2005. Nota-se uma concordância entre a temperatura
medida e a modelada, porém o modelo não consegue reproduzir as estruturas

125
de pequena escala que freqüentemente ocorrem na mesosfera equatorial e são
registradas pelo satélite TIMED/SABER.

A Figura 4.16b apresenta os perfis de concentração do O, O2 e N2 dados pelo


MSIS-90 (linhas pontilhada, tracejada e sólida, respectivamente) e a linha
pontilhada-tracejada representa o perfil de [O] rebaixado em 9 km, cuja razão
será explicada mais adiante.

A Figura 4.16c apresenta os perfis de VER normalizada do OH em 1,6 μm


medido TIMED/SABER (linha sólida), além do perfil do OH(9,4) (linha
pontilhada preta) calculado a partir da Equação D.4 do Apêndice D com as
concentrações fornecidas pelo MSIS-90 mostradas na Figura 4.16b. Observa-
se uma diferença entre as altitudes do pico de emissão dos perfis de VER OH
modelado e medido de ~7,6 km.

Naturalmente, como se trata de emissões em comprimentos de onda distintos,


embora estejam dentro da mesma banda do OH, é esperado que uma pequena
diferença em altitude seja verificada. No entanto, a diferença esperada entre
emissões distintas na banda do OH deve ser no máximo de 2 km, como já foi
reportado em estudos anteriores (TAKAHASHI e BATISTA, 1981).

Este fato permite supor, sem perda considerável de precisão, que uma boa
aproximação entre os perfis medido e modelado pode ser obtida fazendo
coincidir o perfil modelado com o perfil observado, pelo rebaixamento da
concentração de O, que é a principal espécie que atua na fotoquímica do
airglow.

Sucessivos rebaixamentos na concentração de O mostraram que uma razoável


concordância entre o perfil medido e o observado para o VER OH ocorre
quando o perfil de [O] é rebaixado de 9 km. A linha pontilhada vermelha
representa o perfil de OH (9,4) modelado resultante deste rebaixamento.

126
Temperatura MSIS-90 VER normalizada MSIS-90 x SABER
0 2.5 x 1011 5 x 1011
Altitude (km)

a) b) c) d) e)
0 5x1014 1x1015
T (K) Conc. (cm-3) VER normalizada VER normalizada VER normalizada

Figura 4.16 - a) Perfis de temperatura prevista pelo modelo MSIS-90 (linha


sólida) e medida pelo satélite TIMED/SABER (linha pontilhada) em
1/10/2005 sobre São João do Cariri. b) Perfis de concentração do
O, O2 e N2 dados pelo MSIS-90 (linhas pontilhada, tracejada e
sólida, respectivamente). A linha pontilhada-tracejada representa o
perfil de [O] rebaixado em 9 km. c) Perfis de VER normalizada do
OH em 1,6 μm medido TIMED/SABER (linha sólida), além do
OH(9,4), e OH(9,4) rebaixado calculados com o MSIS-90 (linhas
pontilhadas preta e vermelha, respectivamente). d) Perfis de VER
normalizada do O2 (1Δ) em 1,27 μm medido TIMED/SABER (linha
tracejada), além do O2(0,1) e O2(0,1) rebaixado calculados com o
MSIS-90 (linhas pontilhadas preta e vermelha, respectivamente). e)
Perfis de VER normalizada do OI5577 e OI5577 rebaixado
calculados com o MSIS-90 (linhas preta e vermelha,
respectivamente).

Obtida esta concordância entre os perfis modelados e observados para o OH


VER, o passo seguinte foi calcular as VER originais e rebaixadas para o
O2(0,1) e o OI5577. A Figura 4.16d apresenta os perfis de VER normalizada do
O2(1Δ) em 1,27 μm medido pelo satélite TIMED/SABER (linha tracejada), além
do O2(0,1) original e rebaixado calculados a partir da Equação D.12 do

127
Apêndice D com dados do modelo MSIS-90 (linhas pontilhadas preta e
vermelha, respectivamente).

Embora o satélite TIMED/SABER também disponha de medidas de VER de


O2(1Δ) em 1,27 μm, estes perfis apresentam grandes diferenças na altitude da
camada observada com relação ao O2(0,1), que não podem ser atribuídas
apenas a uma correção do modelo, via rebaixamento do [O], como foi feito para
o OH. Por esta razão, na avaliação da altitude da camada de O2, não foram
usados os perfis de O2(1Δ) medidos pelo satélite TIMED/SABER. Ao invés
disso, foram usados os perfis de O2(0,1) calculados com o MSIS-90 e
corrigidos em altitude pelo rebaixamento de [O] (linha vermelha).

De maneira análoga, a Figura 4.16e apresenta os perfis de VER normalizada


do OI5577 original e rebaixado, calculados a partir da Equação D.21 do
Apêndice D com dados do modelo MSIS-90 (linhas preta e vermelha,
respectivamente). Assim, dispondo do perfil de VER OH em 1,6 μm medido
pelo satélite TIMED/SABER, e calculados os perfis de VER nas emissões do
O(1s) e do O2(0,1) com o MSIS-90 (corrigidos em altitude com a medida do
OH), foi completo o quadro do ambiente mesosférico necessário à discussão
da condição de propagação das frentes mesosféricas.

128
5 RESULTADOS

5.1.A Estrutura Térmica da Média Atmosfera sobre o Cariri

5.1.1.Introdução

A estrutura térmica da média atmosfera tem sido bastante estudada nas


últimas décadas. As primeiras pesquisas foram realizadas a partir de
sondagens com foguetes e do lançamento de esferas cadentes (SCHMIDLIN,
1981). Porém, tais medidas apresentavam uma baixa acurácia, além de um
alto custo. No final da década de 70 a obtenção de perfis de temperatura a
partir de medidas de densidade relativa obtidas com radar Rayleigh possibilitou
melhores resolução vertical e acurácia dos perfis. Com o aumento na resolução
foi possível estudar a estrutura térmica e dinâmica na média atmosfera,
associadas, por exemplo, com a propagação de ondas de gravidade e ondas
de maré.

Hauchecorne et al. (1991) realizaram uma climatologia da temperatura da


média atmosfera, entre 1978 e 1989, a partir de dados de dois radares
Rayleigh instalados em Haute-Provence (44°N, 6°L) e em Biscarrosse (44°N,
1°O) na França. Neste estudo eles observaram que as temperaturas medidas
em latitudes médias eram menores que aquelas fornecidas pelo modelo CIRA-
86, COSPAR International Reference Model, (FLEMING et al., 1990) próximo a
75 km, e eram maiores acima de 80 km. Eles também observaram uma
variação semi-anual próxima a 65 km com um máximo de temperatura
ocorrendo após os equinócios.

Leblanc et al. (1998) também descreveram uma climatologia baseada em 10


anos de dados de vários observatórios em latitudes média e baixa. Ao
compararem estes dados com as temperaturas previstas pelo modelo CIRA-86,
eles observaram que as temperaturas medidas eram maiores que as previstas
para o intervalo de 90 a 95 km de altitude, e menores, de 6 a 8 K, em torno de
80 km.

129
Devido ao grande número de radares Rayleigh em operação ao redor do
mundo foi possível através de climatologias como estas melhorar o
conhecimento da estrutura térmica da média atmosfera em latitudes médias.
Entretanto, a pesquisa da estrutura térmica sobre os trópicos ainda é bastante
limitada, embora se reconheça a importância dos fenômenos desta região,
principalmente em estudos de acoplamento atmosférico.

Na tentativa de suprir esta necessidade de conhecimento em baixas latitudes


têm sido lançados satélites cujas medidas, embora sejam de baixa resolução
vertical e temporal, podem fornecer uma visão global do comportamento da
temperatura da média atmosfera. Alguns instrumentos a bordo de satélites que
contribuíram bastante neste conhecimento foram: o Microwave Limb Sounder
(MLS), o Cryogenic Limb Array Etalon Spectrometer (CLAES) e o HALogen
Occultation Experiment (HALOE) a bordo do satélite Upper Atmospheric
Research Satellite (UARS) (FISHBEIN et al., 1996; GILLE et al., 1996; HERVIG
et al., 1996).

Nos últimos anos, alguns trabalhos também foram conduzidos no sentido de


comparar estas sondagens obtidas por satélites com as temperaturas previstas
por modelo ou com medidas a partir da superfície em baixas latitudes. Nee et
al. (2002) e Chang et al. (2005) estudaram a estrutura térmica da média
atmosfera sobre Gadanki (13,5º N; 79,2º L) na Índia e Chung Li (25º N; 121º L)
em Taiwan, e sobre Wuham (30,5º N; 114,5º L), na China, respectivamente,
através de medidas de radar Rayleigh, do HALOE/UARS, de radiossondas e
também do modelo CIRA-86. Sharma et al. (2006) compararam as
características da estrutura térmica sobre Gadanki (13,5º N; 79,2º L) e Mt Abdu
(24,5º N; 72,7º L), na Índia, usando também perfis de temperatura obtidos por
radar Rayleigh e pelos modelos atmosféricos CIRA-86 e MSIS-90.

130
Desta forma, contribuindo com o conhecimento da média atmosfera sobre os
trópicos, esta seção apresenta um estudo da estrutura térmica sobre São João
do Cariri (7,4º S; 36,5º O), PB.

Diversos estudos de ondas de gravidade têm sido realizados na mesosfera


equatorial brasileira (FECHINE et al., 2005; MEDEIROS et al., 2004; WRASSE
et al., 2003, WRASSE et al., 2006a,b). Entretanto, para a realização de um
estudo mais detalhado das condições de propagação destas ondas se faz
necessária uma caracterização da estrutura térmica sobre o Cariri. Esta
caracterização é importante para fornecer uma referência da atmosfera na
avaliação dos modelos, além de fornecer informações sobre o ambiente
atmosférico para estudos de menores escalas, dando uma visão geral do
estado de acoplamento entre baixa, média e alta atmosfera sobre a região
equatorial.

Nas Seções 5.1.2 e 5.1.3 serão apresentados os dados do instrumento SABER


e do modelo atmosférico CIRA-86 utilizados neste trabalho, bem como a sua
variabilidade. Na Seção 5.1.4 serão apresentadas as estruturas térmicas
observadas e previstas para a região sobre o Cariri e uma discussão dos
resultados obtidos em comparação com outros estudos em baixas latitudes. Na
Seção 5.1.5 serão apresentadas algumas características distintas observadas
nos perfis médios diários sobre o Cariri, tais como: dupla estratopausa, dupla
mesopausa e camada de inversão de temperatura mesosférica. Na Seção
5.1.6 os principais resultados da estrutura térmica sobre o Cariri são
sumarizados.

5.1.2. Os Dados do Satélite TIMED/SABER e do Modelo CIRA-86

Para o estudo da estrutura térmica da média atmosfera sobre o Cariri foram


utilizadas medidas de temperatura cinética obtidas pelo instrumento SABER a
bordo do satélite IMED. Lançado em 7 de dezembro de 2001 da base aérea de
Vandenberg, na Califórnia, EUA o satélite TIMED descreve uma órbita circular

131
de 625 km de altitude e 74,1º de inclinação, realizando 14 voltas em torno da
Terra por dia. O instrumento SABER trata-se de um radiômetro em
infravermelho capaz de realizar observações de limbo em 10 canais espectrais
entre 1,27 μm e 17 μm (RUSSELL et al., 1999). Os perfis verticais de
temperatura cinética são derivados de medidas de emissão de CO2 em 15 μm
obtidas pelo SABER entre 10 e 120 km de altitude e com uma resolução de ~2
km (MERTENS et al., 2004). Neste trabalho é utilizada a versão 01.06 do
produto nível 2A dos dados de temperatura cinética do SABER para o ano de
2005, sobre uma área de 20º x 20o centrada em São João do Cariri. Esta área
foi escolhida de modo a garantir pelo menos 10 sondagens diárias, ou cerca de
300 sondagens por mês, permitindo assim o cálculo de um perfil de
temperatura médio diário sobre o Cariri durante todo o ano de 2005. As
acurácias das medidas do SABER são de 1,5 K para o intervalo de 15 a 80 km
e de 4 K entre 80 e 100 km, enquanto as precisões são de 0,5 K, 1 K e 2 K
para 15 - 70 km, 70 - 80 km e 80 - 100 km, respectivamente.

Para efeito de comparação com os dados do SABER também foram utilizados


perfis de temperatura médios obtidos pelo modelo CIRA-86. Os perfis de
temperatura médios do CIRA-86 entre 15 e 80 km são uma síntese das
observações do instrumento Selective Chopper Radiometer (SCR) a bordo do
satélite Nimbus 5 durante os anos de 1973 e 1974, e do instrumento Pressure
Radiometer Modulator (PMR) a bordo do satélite Nimbus 6 entre 1975 e 1978.
A amostragem dos dados na mesosfera para o CIRA-86 foi realizada numa
hora local fixa o que introduziu erros sistemáticos em várias altitudes. Desta
forma, o CIRA-86 fornece apenas uma razoável representação das variações
latitudinal, longitudinal e sazonal da temperatura na média atmosfera. As
variabilidades de curto período (menor que um mês) e inter anual não são
consideradas pelo modelo e as discrepâncias das medidas do CIRA-86 com
relação a outras medidas, devido aos efeitos de maré ou processamento dos
dados, são discutidas por Clancy et al. (1994) e Lawrence e Randel (1996).

132
5.1.3. Perfis de Temperatura do TIMED/SABER

A Figura 5.1 apresenta um perfil típico médio de temperatura obtido a partir de


12 sondagens do satélite TIMED/SABER sobre o Cariri em 07 de janeiro de
2005. A variabilidade do perfil médio diário com relação às sondagens
individuais também é apresentada através das barras horizontais que
representam os desvios padrões. Neste perfil observam-se distintamente as
regiões atmosféricas segundo a variação vertical da temperatura. Acima de 14
km de altitude, na alta troposfera, nota-se um decréscimo da temperatura com
a altitude, devido a perda de calor por processos de radiação e de convecção
até atingir um valor mínimo de 193 K, em torno de 17 km, marcando o nível da
tropopausa, com uma boa concordância com o perfil do modelo CIRA-86
durante o mês de janeiro (linha pontilhada) para a latitude 5º S.

Cariri – 07/01/2005

Mesopausa
Altitude (km)

Estratopausa

Tropopausa

Temperatura (K)

Figura 5.1 - Comparação entre um perfil médio de temperatura sobre o Cariri


obtido em 7 de janeiro de 2005 pelo satélite TIMED/SABER (linha
sólida) e o perfil médio mensal do modelo CIRA-86 para janeiro
(linha pontilhada). A tropopausa, estratopausa e mesopausa
também são mostradas pelas linhas tracejadas.

133
Acima da tropopausa encontra-se a estratosfera, região onde a convecção é
inibida e a temperatura aumenta com a altura devido à absorção da radiação
ultravioleta pelo O3 e H2O. Em torno de 53 km de altitude nota-se um máximo
de temperatura de aproximadamente 266 K, marcando a posição da
estratopausa, i.e., o ponto de inflexão que marca o início à mesosfera. As
medidas do SABER concordaram com o modelo CIRA-86 na baixa
estratosfera, e apresentaram-se menores na alta estratosfera e estratopausa.

Na mesosfera a temperatura decresce com a altura principalmente devido a


perda de calor por radiação. Na Figura 5.1 observa-se que esta região se
estendeu até 100 km, a altitude da mesopausa, onde se verificou o mínimo
absoluto de temperatura na atmosfera, que para este dia foi de 167 K.
Observa-se que no geral a mesosfera se apresentou mais fria nas medidas do
SABER do que no modelo CIRA-86. Acima da mesopausa a convecção é
bastante inibida e a condução é um processo ineficiente para a remoção de
calor, dando origem assim, a região da termosfera. Na termosfera a
temperatura aumenta com a altura devido à absorção da radiação solar direta
na região espectral do ultravioleta e extremo ultravioleta. Nesta região também
se verificam as maiores discrepâncias entre as medidas e o modelo, sendo as
temperaturas do SABER bem maiores (mais de 20 K) que as do CIRA-86.

Como já foi mencionado, cada perfil médio diário foi calculado a partir das
sondagens individuais obtidas num dado dia dentro de uma área de 20º x 20º
centrada em São João do Cariri. Como as sondagens individuais não são
simultâneas, nem ocorrem no mesmo ponto, há uma variação espacial e
temporal, de perfil para perfil, que pode ser avaliada a partir dos desvios
padrões em cada altitude do perfil médio diário. A Figura 5.2 apresenta os
resultados da média de todos os desvios padrões (das 3.437 sondagens
individuais) verificados nos perfis de temperatura diários durante o ano de
2005, ou seja, apresenta um gráfico da variabilidade média dos perfis médios
diários obtidos pelo satélite TIMED/SABER sobre o Cariri.

134
Variabilidade dos Perfis de Temperatura

Altitude (km)

Cariri - 2005

Temperatura (K)

Figura 5.2 - Variabilidade média dos perfis de temperatura diários obtidos pelo
satélite TIMED/SABER sobre o Cariri em 2005.

Da Figura 5.2 nota-se que a variabilidade média dos perfis de temperatura é


bastante pronunciada (entre 5 e 20 K) abaixo de 20 km e é pequena (menor
que 5 K) entre 20 e 70 km. Isto ocorre devido à perturbação no topo da
troposfera por sistemas convectivos profundos sobre o Cariri, e à relativa
estabilidade dinâmica na estratosfera. Entre 70 e 90 km a variabilidade dos
perfis aumenta entre 5 e 15 K, coincidindo com a região mesosférica onde as
perturbações na temperatura, devido à propagação de ondas e às reações
químicas, se tornam bastante importantes. Acima de 90 km a variabilidade dos
perfis apresenta seus maiores valores chegando até 35 K, principalmente
devido às perturbações na baixa termosfera onde os perfis de temperatura
apresentam fortes gradientes. A avaliação desta variabilidade é importante na
comparação entre as temperaturas medidas pelo SABER e previstas pelo
modelo CIRA-86, o que será discutida a seguir.

5.1.4. Análise das Temperaturas obtidas pelo SABER e pelo CIRA-86

A Figura 5.3a apresenta os perfis médios anuais para 2005 calculados a partir
dos dados do satélite TIMED/SABER sobre o Cariri (linha sólida) e do modelo

135
CIRA-86 para a latitude -5º (linha pontilhada). Na Figura 5.3b tem-se a
diferença de temperatura entre os perfis obtidos a partir do SABER e do CIRA
(TSABER – TCIRA-86) para o ano de 2005. Observa-se na Figura 5.3a que o perfil
médio anual medido pelo SABER apresenta uma tropopausa em torno de 17
km com uma temperatura de 194 K concordando com a tropopausa prevista
pelo CIRA-86. Já a estratopausa localiza-se em 50 km, com uma temperatura
de 263 K, ou seja, mesma altura do modelo, porém 7 K menor que a
temperatura prevista. A estratopausa apresenta características similares às
observações de Chang et al. (2005) para Wuham, na China (também em baixa
latitude), que foram de 48 km e 267 K, respectivamente. Com relação a
mesopausa verificou-se uma temperatura média de 177 K (10 K menor que o
CIRA-86) ocorrendo a 98 km, aproximadamente a mesma altura prevista pelo
modelo.

Perfil Médio Anual sobre o Cariri Diferença entre os Perfis do SABER e do CIRA-86
2005
TSABER - TCIRA
Altitude (km)

SABER ____
a) CIRA-86 ........... b)
Temperatura (K) Temperatura (K)

Figura 5.3 - a) Perfis de temperatura médios anuais sobre o Cariri para 2005
obtidos pelo satélite TIMED/SABER (linha sólida) e o modelo
atmosférico CIRA-86 (linha pontilhada). b) Diferença entre os perfis
médios anuais obtidos pelo SABER e modelo CIRA-86.

Observa-se na Figura 5.3b uma diferença dentro de ± 7 K entre os perfis


médios do SABER e do CIRA-86 para o intervalo de altitudes de 10 a 70 km.
Entre 70 e 86 km se observa uma diferença entre - 5 e 12 K, seguida por uma
diferença menor que 5 K entre 86 e 92 km, e entre 92 e 100 km, novamente se
observa uma diferença menor que -10 K. Isto ocorre devido à tênue assinatura

136
da camada de inversão mesosférica prevista pelo CIRA em contraste com seu
forte registro no perfil médio anual medido pelo SABER. Acima de 100 km de
altitude a diferença entre as temperaturas do SABER e do CIRA tendem a
aumentar monotonicamente para valores acima de 40 K, principalmente,
devido às limitações do modelo atmosférico em reproduzir a temperatura nesta
região.

A Figura 5.4 apresenta as temperaturas médias mensais sobre o Cariri para o


ano de 2005 obtidas pelo satélite TIMED/SABER (Figura 5.4a) e calculadas a
partir do modelo CIRA-86 para a latitude 5º S (Figura 5.4b). Para ressaltar as
estruturas observadas em diferentes altitudes o gráfico das temperaturas
médias mensais foi dividido em dois intervalos distintos: entre 0 e 60 km,
usando uma escala de temperatura entre 180 e 280 K; e entre 60 e 120 km
com uma escala de temperatura entre 150 e 350 K.

Temperaturas Médias Mensais - SABER Temperaturas Médias Mensais - CIRA-86


Altitude (km)
Altitude (km)

a) b)
Meses Meses

Figura 5.4 - a) Temperaturas médias mensais sobre o Cariri obtidas pelo


satélite TIMED/SABER em 2005. b) Temperaturas médias mensais
em 5º S obtida com o modelo CIRA-86.

137
No intervalo de altitudes entre 15 e 18 km da Figura 5.4a, entre os meses de
novembro a maio, observam-se mínimos na temperatura da tropopausa (195 K)
nas medidas do SABER mais pronunciados do que os previstos pelo modelo
CIRA-86. Estes mínimos coincidem com o período de chuvas no Cariri, quando
sistemas convectivos profundos atingem a tropopausa, resfriando-a. Esta é
uma característica de tropopausa tropical que também foi observada por
Leblanc et al. (1998) sobre Mauna Loa (19,5º N), no Hawaii, EUA.

Ainda na Figura 5.4a, observa-se uma estratosfera sensivelmente mais fria que
a do modelo, com uma assinatura apenas tênue do aquecimento previsto para
os equinócios. Embora menos pronunciado, o padrão de temperatura sobre o
Cariri também mostra um ciclo semi-anual na estratopausa com máximos de
temperatura em março e outubro, e pico de 265 K a 47 km de altura registrado
em março.

Com relação a estratopausa, a climatologia de Leblanc et al. (1998) para o


Hawaii apresenta um máximo em altitude similar, porém entre março e abril.
Outra diferença do Hawaii é que a estratopausa sobre o Cariri apresenta uma
anisotropia no aquecimento dos equinócios, que é mais acentuado no outono
do que na primavera. Este maior aquecimento em março também difere dos
estudos para latitudes médias (CHANG et al., 2005, HAUCHECORNE et al.,
1991 e LEBLANC et al., 1998) que apontaram um maior aquecimento da
estratopausa (~ 274 K) entre maio e junho. Aspectos ainda não explicados
como este apontam para a necessidade e importância de um estudo mais
detalhado da estratopausa sobre o Cariri, objetivando-se um aperfeiçoamento
dos modelos.

Na mesosfera, em torno de 75 km de altitude, observa-se durante os meses de


março a abril e de setembro a outubro a configuração de uma estrutura de
dupla mesopausa. Uma estrutura similar a esta foi reportada por Yu e She
(1995) em sua climatologia sobre Fort Collins (34,4º N), no Colorado, EUA.

138
No caso do Cariri, a dupla mesopausa resulta da ocorrência de uma camada
de inversão de temperatura com amplitude de 10 a 20 K e altitude média em 83
km, cujas características foi reportado por Fechine et al. (2007). Esta estrutura
de dupla mesopausa não é reproduzida pelo modelo CIRA-86, que prevê
apenas uma pequena amplitude de 10 K nas camadas de inversão em 80 km
de altitude. Verifica-se também que a mesosfera no verão e no inverno é
caracterizada por um aquecimento em 80 km e mínimos de temperatura em 97
km de altitude. A oscilação semi-anual da estrutura térmica mesosférica
(GARCIA e CLANCY, 1990; CLANCY et al., 1994) e as marés atmosféricas
(HAGAN et al., 1995; STATES e GARDNER, 1998) podem desempenhar um
papel importante nesta variação da mesosfera a 80 km sobre o Cariri, e isto
deve ser melhor investigado no futuro.

Em torno de 110 km de altura também se observa uma variação bimestral a


partir de fevereiro na temperatura medida pelo satélite TIMED/SABER. É
possível que a mudança no ângulo de visada do satélite, que também ocorre a
cada 2 meses, contribua para a ocorrência desta flutuação. Porém, ainda não
se sabe porque, independente do ângulo de visada, as medidas de
temperatura exibem sempre um máximo. Futuras investigações dos processos
geofísicos desta região podem vir a esclarecer esta questão.

A Figura 5.5 apresenta as diferenças entre as temperaturas médias mensais


sobre o Cariri obtidas pelo satélite TIMED/SABER e as calculadas a partir do
modelo CIRA-86 para a latitude 5º S (TSABER – TCIRA-86). As diferenças
verificadas entre o modelo CIRA-86 e as observações do SABER têm duas
causas principais. A primeira é a pequena variabilidade na temperatura do
CIRA-86 comparada com a variabilidade na temperatura observada pelo
SABER sobre o Cariri. Além disto, o modelo CIRA-86 possui uma resolução
temporal de um mês, de forma que o modelo não considera processos que
ocorrem em escalas de tempo menores, tais como as camadas de inversão de
temperatura ou aquecimentos estratosféricos. Desta forma são esperadas

139
diferenças consideráveis entre o modelo e as observações, como será visto a
seguir.

Diferença entre as Temperaturas do SABER e do CIRA-86


Altitude (km)
Altitude (km)

Meses

Figura 5.5 - Diferença entre as temperaturas médias mensais obtidas pelo


satélite TIMED/SABER e pelo modelo CIRA-86 sobre o Cariri em
2005.

Em torno da tropopausa, entre 15 a 18 km, se observam mais claramente as


diferenças que chegam a -10 K, das medidas com relação ao modelo. Isto
coincide com os meses de novembro a maio, ou seja, com o período em que
ocorre convecção profunda sobre o Cariri. Observa-se também que entre 25 e
30 km de altura, a temperatura na estratosfera medida pelo SABER concorda
com o modelo. Já entre 35 e 50 km, as medidas do SABER mostram uma
estratopausa mais fria (de 5 a 10 K) que a prevista pelo CIRA-86 em quase
todo ano sobre o Cariri, com exceção do inverno quando a estratopausa foi
menos fria (de 0 a 5 K). Comparando com outros resultados em baixas
latitudes verifica-se que este resultado concorda com Chang et al. (2005) e Nee

140
et al. (2002) em seus estudos sobre Wuham, na China e Chung Li, em Taiwan,
mas difere de Sharma et al. (2006) para Gadanki, na Índia que observaram
uma estratosfera mais fria que o modelo apenas no mês de setembro.

No caso da mesosfera sobre o Cariri, esta se apresenta mais fria em cerca de


10 K nas medidas do SABER com relação ao CIRA-86, resultado similar ao
encontrado por Sharma et al. (2006) para Gadanki, por Nee et al. (2002) sobre
Chung Li,e oposto ao encontrado por Chang et al. (2005) para Wuham.

Em 75 km e 88 km de altura se observam grandes diferenças entre as


temperaturas medidas e modeladas (- 20 K e + 10 K) em dois períodos
distintos do ano: de fevereiro a maio e de agosto a outubro, respectivamente.
Isto ocorre pelo fato do modelo não reproduzir a camada de inversão de
temperatura que é claramente observada nas medidas do SABER como foi
apontado por Fechine et al. (2007).

A 98 km de altitude observa-se uma flutuação nas diferenças de temperatura


com os meses de maior diferença (-10 K), ocorrendo em fevereiro, de maio a
julho, e de novembro a dezembro. E acima de 110 km observam-se grandes
diferenças (maiores que 30 K) entre as temperaturas medidas e as previstas
pelo CIRA-86, principalmente em torno dos solstícios. Como já foi ressaltado
por Leblanc et al. (1998) estas grandes diferenças ocorrem devido a pequena
acurácia do modelo CIRA-86 nesta região.

Por fim, Hauchecorne et al. (1991) mostraram que o ciclo solar de 11 anos
afeta a temperatura da média atmosfera. A atividade solar poderia causar
discrepâncias entre as medidas e os modelos da ordem de -3 a -4 K em 40 km
de altitude, atingindo um máximo de +5 a +7 K de diferença entre 60 e 70 km
de altitude. Porém, como o ciclo solar estava próximo do mínimo em 2005 é
plausível supor que as discrepâncias observadas entre as medidas do SABER
e do CIRA-86 sobre o Cariri sofreram pouca influência da atividade solar.

141
5.1.5. Características Observadas pelo Satélite TIMED/SABER

A Figura 5.6 apresenta um perfil de temperatura sobre o Cariri obtido em 23 de


julho de 2005 pelo satélite TIMED/SABER. Pode-se observar neste perfil a
ocorrência de estruturas de dupla estratopausa e dupla mesopausa, além de
uma camada de inversão de temperatura mesosférica (ou Mesospheric
Inversion Layer - MIL) que não são reproduzidas pelo modelo CIRA-86.

Cariri – 23/07/2005

MIL

Dupla Mesopausa
Altitude (km)

Dupla Estratopausa

Tropopausa

Temperatura (K)

Figura 5.6 - Comparação entre um perfil de temperatura obtido em 23 de julho


de 2005 pelo satélite TIMED/SABER (linha sólida) e o perfil médio
do CIRA-86 para julho (linha pontilhada). A tropopausa e as
estruturas de dupla estratopausa e dupla mesopausa são
mostradas pelas linhas tracejadas. Observa-se também uma
camada de inversão de temperatura na mesosfera (MIL).

No perfil de 23 de julho de 2005 a estratopausa inferior ocorre a 47 km de


altitude com uma temperatura de 264 K. Acima desta, em torno de 55 km,
observa-se um resfriamento de 16 K, e 8 km acima deste, observa-se um
segundo pico de temperatura de 253 K. Como a diferença entre os picos de
temperatura e o ponto de resfriamento é bem maior que o desvio padrão nas
medidas, pode-se definir tal estrutura como sendo uma dupla estratopausa.

142
Esta observação de dupla estratopausa concorda com as características
observadas em outros estudos para latitudes médias, tais como em Leblanc e
Hauchecorne (1997), Hauchecorne et al. (1991) e Chanin e Hauchecorne
(1991), e é bastante similar à observação em baixa latitude reportada por
Sharma et al. (2006).

Sabe-se que a estrutura de temperatura da estratosfera é controlada pelo


conteúdo de ozônio e pela concentração dos gases do efeito estufa (ROBLE e
DICKINSON, 1989; SINGH et al., 1996). No entanto, os mecanismos físicos
responsáveis por um resfriamento de 16 K no nível da estratopausa sobre o
Cariri ainda são desconhecidos, e estão além do escopo do presente trabalho,
configurando-se numa interessante questão científica a ser investigada no
futuro.

Já a 86 e 98 km de altitude observa-se uma estrutura de dupla mesopausa


apresentando temperaturas de 182 K e 171 K, respectivamente. A rigor, a
mesopausa é definida como o ponto onde o gradiente de temperatura da
mesosfera se inverte marcando o início da termosfera, e definindo a
temperatura mínima da atmosfera. Porém, na mesosfera real, por vezes se
observa a presença de uma camada de inversão que altera o perfil típico de
temperatura provocando a ocorrência de dois “mínimos”, ou seja, de duas
regiões cujas características podem ser classificadas como mesopausa. No
perfil de 23 de julho de 2005 verifica-se a ocorrência desta MIL à 93 km de
altitude, com uma amplitude de 12 K.

Alguns mecanismos físicos têm sido propostos para explicar a formação destas
MILs, tais como: a quebra de ondas de gravidade (LEBLANC e
HAUCHECORNE, 1997), o aquecimento devido a reações químicas
exotérmicas (MERIWETHER e MLYNCZAK, 1995) e a interação entre onda de
gravidade e a maré atmosférica (LIU e HAGAN, 1998), porém a despeito das
pesquisas realizadas nos últimos 30 anos a sua origem ainda permanece um
tanto incerta.

143
No caso do Cariri, uma caracterização detalhada das MILs foi realizada por
Fechine et al. (2007). Os autores observaram uma ocorrência máxima de MIL
em abril e outubro, a uma altitude média de 83 km e com uma amplitude entre
10 e 15 K concordando com os resultados do presente trabalho.

A ocorrência destas camadas de inversão tem profundas conseqüências nas


condições de propagação das ondas de gravidade da mesosfera, e, por esta
razão, será detalhadamente analisada na Seção 5.2.

5.1.6. Principais Resultados da Estrutura Térmica sobre o Cariri

Usando perfis de temperatura médios diários obtidos pelo satélite


TIMED/SABER foi realizado um estudo da estrutura térmica sobre o Cariri (7,4º
S; 36,5º O) no ano de 2005 entre 10 e 120 km de altura. Os resultados foram
analisados e comparados com outros trabalhos também em baixas latitudes e
com o modelo atmosférico CIRA-86. Os principais resultados obtidos foram:

− No perfil médio anual observou-se que a temperatura e a altitude da


tropopausa concordaram com o modelo. As altitudes da estratopausa e
da mesopausa também concordaram, porém suas temperaturas foram
7 K e 10 K menores , respectivamente do que as previstas pelo
modelo;

− Entre os meses de novembro a maio, observaram-se mínimos na


temperatura da tropopausa associados com o período de convecção
profunda na região do Cariri e que não são previstos pelo modelo
CIRA-86;

− Foi verificada uma boa concordância entre as medidas e o modelo na


baixa estratosfera (entre 25 e 30 km de altura). Já a estratopausa
(entre 35 e 50 km de altura) apresentou temperaturas menores do que
o previsto durante todo o ano. Verificou-se também uma variação

144
semi-anual na temperatura medida com máximos nos equinócios, e o
pico de temperatura em março;

− A mesosfera observada foi mais fria em 10 K da prevista pelo modelo,


verificando-se a ocorrência de uma estrutura de dupla mesopausa nos
meses de março a abril e de setembro a outubro não prevista pelo
modelo;

− Uma camada de inversão de temperatura na altitude de 83 km foi


observada com pelo menos o dobro da amplitude prevista pelo
modelo;

− Finalmente, a baixa termosfera se apresentou mais quente (mais de 30


K) nos meses de solstício com relação às previsões do modelo.

5.2.Camadas de Inversão Mesosféricas sobre a Região Equatorial

5.2.1. As Camadas de Inversão Mesosféricas Inferiores

Camadas de inversão mesosféricas (ou Mesospheric Inversion Layer - MIL) é o


nome dado ao aumento da temperatura observado nos perfis verticais em
comparação aos perfis climatológicos. As MILs são freqüentemente
observadas na região da mesosfera e baixa termosfera, a MLT.

A existência deste fenômeno foi pela primeira vez reportada por Schmidlin
(1976) a partir de lançamento de esferas cadentes e granadas acústicas em
experimentos de foguete. Depois destas observações, outras técnicas
experimentais foram usadas no estudo de MIL, tais como, medidas de
temperatura obtidas com radar de laser Rayleigh (HAUCHECORNE et al.,
1987; MERIWETHER et al., 1998), com radar de laser de sódio (SHE et al,
1995; STATES e GARDNER, 1998) e através de fotometria por satélite
(CLANCY e RUSH, 1989; LEBLANC e HAUCHECORNE, 1997; FADNAVIS e
BEIG, 2004).

145
Meriwether e Gerrard (2004) ressaltaram que as MILs são observadas tanto em
baixas como em médias latitudes, porém em duas diferentes altitudes: entre
~75 e 85 km que são denominadas de MIL inferiores e acima de ~95 km as
chamadas MIL superiores. Cada camada apresenta tipicamente uma
espessura vertical de ~10 km e amplitudes (aumento da temperatura com
relação ao ambiente) da ordem de 10 a 20 K, mas também são observadas
amplitudes tão altas quanto 100K (MERIWETHER et al., 1994).

A camada de inversão de temperatura inferior é uma característica persistente


da estrutura térmica da MLT no inverno em latitudes médias (HAUCHECORNE
et al., 1987). A amplitude média mensal observada é maior que 20 K no inverno
e de 5 a 10 K no verão (HAUCHECORNE et al., 1991; LEBLANC e
HAUCHECORNE, 1997). A altitude do pico da camada de inversão muda
sazonalmente, e a área desta MIL, de acordo com observações de satélite,
estende-se por milhões de km2.

Já a camada de inversão superior apresenta uma amplitude típica entre 10 e


35 K e constitui uma característica bastante comum na região da mesopausa
(SHE et al., 1993). Há evidências de que a MIL superior está associada a
atividade da maré atmosférica e a processos de aquecimento químico (DAO et
al., 1995; STATES e GARDNER, 1998, 2000a,b; BERGER e ZAHN, 1999)

A maioria dos estudos na literatura apresenta as características das camadas


de inversão inferiores em médias latitudes, e apenas alguns poucos estudos
foram conduzidos sobre os trópicos. Leblanc e Hauchecorne (1997)
apresentaram uma climatologia de MIL inferior usando dados de radares de
laser Rayleigh e dos instrumentos Improved Stratospheric And Mesospheric
Sounder (ISAMS) e HALOE a bordo do satélite UARS. Estes autores
observaram uma forte variação anual na ocorrência de MIL em médias latitudes
com um máximo de ocorrência durante o inverno. Em baixas latitudes, por
outro lado, eles observaram uma oscilação semi-anual com máxima ocorrência

146
um mês após os equinócios. As amplitudes das MIL também apresentaram
uma variação semi-anual. As camadas de inversão que ocorreram no inverno
se localizaram a ~70 km de altitude, já as que ocorreram nos equinócios foram
localizadas entre 75 e 80 km, sugerindo que diferentes processos poderiam
estar envolvidos na altitude onde as camadas são formadas.

Em outro estudo de MIL em baixas latitudes Kumar et al. (2001), usando um


radar de laser Rayleigh, mostraram uma variação semi-anual na ocorrência de
MIL sobre Gadanki (13,5º N; 79,2º L), Índia, com um máximo nos equinócios e
mínimos nos solstícios. Eles observaram uma amplitude máxima para estas
camadas de ~20 K. Fadnavis e Beig (2004), usando dados do HALOE entre
1991 e 2001, também mostraram um ciclo semi-anual de ocorrência de MIL
com máximos em maio e novembro sobre a região tropical da Índia. As MILs
foram observadas num intervalo entre 70 e 85 km, com a altitude de topo da
camada entre 80 e 83 km e a altitude da base da camada entre 72 e 74 km.

No contexto do presente trabalho as MILs são importantes para o estudo das


condições de propagação de ondas de gravidade na mesosfera, já que estas
estabelecem uma condição de ducto térmico para a propagação de ondas
canalizadas, especialmente no caso das frentes mesosféricas. Por esta razão,
nesta seção serão discutidas as MILs inferiores observadas pelo satélite
TIMED/SABER sobre a região equatorial do Brasil durante o ano de 2005. As
variações dia-a-dia e sazonais da amplitude destas camadas e das suas
altitudes de topo e base serão analisadas e comparadas com trabalhos
anteriores para MILs em baixas latitudes. Na Seção 5.2.2 a técnica de
observação de temperatura do SABER e o procedimento de análise dos dados
serão apresentados. Na Seção 5.2.3 as características de MIL observadas
serão discutidas. E, um sumário dos principais resultados obtidos para as MILs
sobre o Cariri constarão na Seção 5.2.4.

147
5.2.2. Dados e Procedimentos de Identificação de MILs

Nos últimos seis anos foram realizados diversos estudos das ondas de
gravidade observadas na mesosfera sobre São João do Cariri, PB (FECHINE
et al., 2005; MEDEIROS et al., 2004, 2007; WRASSE et al., 2003, 2006a,b).
Entretanto, um estudo mais profundo das condições de propagação destas
ondas de gravidade requer um melhor conhecimento da estrutura térmica
mesosférica, a qual até então era não disponível para a região equatorial
brasileira. Recentemente, medidas obtidas por satélite tornaram possível a
observação de perfis de temperatura em escala global, e mais especificamente,
com uma adequada distribuição de sondagens, sobre o Cariri.

A Figura 5.7a apresenta a densidade de sondagens anual do TIMED/SABER


dentro de uma área de 20º x 20º centrada no Cariri, totalizando 3.437
sondagens. Esta área foi escolhida para garantir pelo menos 10 sondagens por
dia, permitindo assim o cálculo de um perfil vertical de temperatura médio diário
sobre o Cariri durante todo o ano. As estações do ano são foram definidas da
seguinte forma: entre novembro (2004) e fevereiro (2005) considera-se verão,
em março e abril (2005) tem-se o outono, entre maio e agosto (2005) é o
inverno e setembro e outubro (2005) é definido como primavera. Desta forma,
mais de 1.100 sondagens foram obtidas durantes os meses de solstício e ~550
sondagens nos meses de equinócio, tal como é mostrado na Figura 5.7b.

A Figura 5.8 apresenta um exemplo de perfil de temperatura médio diário sobre


o Cariri em 10 de abril de 2005. Foram utilizados 12 perfis obtidos pelo
TIMED/SABER neste dia para se calcular o perfil médio diário. As setas
indicam o topo e a base de uma MIL inferior de 25 K de amplitude e as barras
horizontais indicam o desvio padrão das temperaturas com relação a média.
Em geral, o desvio padrão é maior que 20 K abaixo de 20 km e acima de 100
km. O desvio torna-se menor, ~ 5 K, entre 20 e 70 km de altitude, e aumenta
novamente para 10 K acima de 70 km de altitude. A magnitude do desvio
padrão é devido a variabilidade temporal e espacial dos perfis de temperatura

148
obtidos na área selecionada (para mais detalhes ver Seção 5.1.3). Portanto,
apenas inversões com amplitude maior que 10 K foram consideradas
significantes. Um procedimento similar a este têm sido comumente utilizado no
estudo de MIL por medidas de satélite, como por exemplo, Leblanc e
Hauchecorne (1997) e Fadnavis e Beig (2004).

3437 eventos Dados SABER 2005


(a) (b)
No de Eventos

NDJF MA MJJA SO
Verão Outono Inverno Primavera

Figura 5.7 - (a) Densidade de sondagens do satélite TIMED/SABER sobre o


Cariri (17ºS – 3ºN, 26ºO – 46ºO) durante o ano de 2005. A estrela
marca o local do OLAP. (b) Distribuição sazonal do número de
sondagens sobre o Cariri.

Topo
Altitude (km)

Base

Temperatura (K)
Figura 5.8 - Perfil vertical da temperatura média diária com uma típica MIL
inferior sobre o Cariri obtido pelo satélite TIMED/SABER em 10 de
abril de 2005. As altitudes de topo e de base da camada de
inversão são indicadas pelas setas. A amplitude da MIL é de 25 K.

149
O perfil médio de temperatura na Figura 5.8 mostra um decréscimo dos valores
na alta troposfera até a tropopausa, em cerca de 18 km. Acima da tropopausa
observa-se um aumento na temperatura por toda a estratosfera até a
estratopausa, em ~ 50 km, onde o gradiente de temperatura se inverte e esta
decresce até ~ 76 km. Nesta altitude pode-se observar a base da MIL e acima
desta a altitude de topo que define uma MIL com ~25 K de amplitude. Acima do
topo, ~83 km, existe uma pequena inversão de temperatura, mas com
amplitude menor que o desvio padrão, e após esta, acima de 105 km observa-
se um aumento monotônico da temperatura na baixa termosfera.

A partir dos perfis de temperatura médios diários as MIL inferiores foram


identificadas e analisadas de acordo com suas principais características: a
altitude e a temperatura de topo e de base. Este procedimento de identificação
de MILs está baseado em Leblanc e Hauchecorne (1997) e obedece aos
seguintes critérios: a base da camada de inversão deve se encontrar a pelo
menos 5 km acima da estratopausa e seu topo deve estar abaixo de 90 km de
altitude; a diferença entre a temperatura no topo e na base da camada, i. e., a
amplitude da MIL, deve ser maior que 10 K e menor que 100 K; a espessura da
MIL, ou seja, a diferença entre a altitude de topo e de base, deve ser maior que
4 km; e por fim se considera apenas a mais importante inversão no perfil, ou
seja, apenas a camada de inversão com a maior amplitude. Para os perfis sem
camada de inversão, a amplitude é assumida como sendo zero.

5.2.3. Caracterização das MILs Inferiores sobre o Cariri

A partir de perfis de temperatura obtidos pelo satélite TIMED/SABER sobre o


Cariri em 2005 foram identificadas 175 MIL inferiores. A Figura 5.9 mostra a
freqüência de ocorrência mensal de MIL sobre o Cariri em 2005, ou seja, o
percentual da razão entre o número de total de MILs observadas num dado
mês e o número de dias do mês. O máximo na ocorrência de MIL foi em abril
(90%) e em outubro (87%), um mês após os equinócios, e o mínimo foi em

150
janeiro (12%) e em julho (16%), um mês após os solstícios. Estes resultados
concordam com Leblanc e Hauchecorne (1997), que observaram um ciclo
semi-anual em baixas latitudes com máximo um mês após os equinócios. Por
outro lado, o presente resultado difere daqueles para médias latitudes nas
quais foi observada uma variação anual de ocorrência de MIL com um máximo
durante o inverno (HAUCHECORNE et al. 1987). Em baixas latitudes, Fadnavis
e Beig (2004) também observaram dois máximos no ano, porém em maio e
novembro. Eles encontraram um mínimo de 40-50% de ocorrência em janeiro e
julho, ou seja, um mínimo menos pronunciado que no Cariri. Kumar et al.
(2001) também observaram uma oscilação semi-anual com máximo durante os
equinócios em março e outubro, e mínimos menos pronunciados do que no
Cariri (~40% em janeiro e julho).

Dados SABER 2005


Freqüência de MILs (%)

Meses
Figura 5.9 – Distribuição da freqüência mensal de MILs sobre o Cariri
mostrando máximos de ocorrência em abril e outubro.

A Figura 5.10 apresenta um resumo das observações de amplitudes de MIL


sobre o Cariri em 2005. Como já foi mencionado, o critério de identificação de
MIL limita a procura por camadas com amplitude acima de 10K. Tal limite faz
com que o gráfico de distribuição anual, da Figura 5.10a, por exemplo, seja
assimétrico com um número máximo de MILs entre 10 e 15 K, número este que

151
diminui para maiores amplitudes. Esta distribuição anual é diferente daquela
reportada por Kumar et al. (2001) que apresentaram uma larga distribuição
entre 18 e 20 K. O mesmo tipo de distribuição de amplitude assimétrica
também pode ser observado no verão e no inverno, com valores entre 10 – 30
K e 10 – 40 K, respectivamente (Figuras 5.10c,e). Já os resultados para o
outono e a primavera (Figuras 5.10d,f) mostram uma larga distribuição, com
amplitude média de 25 ± 10 K. Estes resultados sugerem que MILs fracas (de
pequenas amplitudes) são mais freqüentes nos solstícios do que nos
equinócios no Cariri, em comparação com a região tropical da Índia.

Dados SABER 2005 Dados SABER Verão 2005 Dados SABER Inverno 2005
(a) (c) (e)
No de MILs

No de MILs

No de MILs

Amplitude de MIL (K) Amplitude de MIL (K) Amplitude de MIL (K)

Dados SABER 2005 Dados SABER Outono 2005 Dados SABER Primavera 2005
(b) (d) (f)
Amplitude de MIL (K)

No de MILs

No de MILs

Meses Amplitude de MIL (K) Amplitude de MIL (K)

Figura 5.10 - (a) Distribuição das amplitudes de MILs inferiores sobre o Cariri
durante 2005. (b) Variação das amplitudes de MIL médias mensais
mostrando máximos nos equinócios. Distribuição das amplitudes de
MIL para o (c) verão, (d) outono, (e) inverno e (f) primavera.

Na Figura 5.10b tem-se o gráfico da amplitude média mensal, que mostra uma
variação semi-anual com máximos nos meses de equinócios (abril e outubro) e
mínimo nos solstícios (janeiro e junho). As barras verticais representam o
desvio padrão devido às variabilidades dia-a-dia das MILs. No verão a
amplitude média é de 15 ± 6 K e no inverno é de 15 ± 5 K. Já durante os
equinócios a amplitude média é de 30 ± 20 K no outono e de 25 ± 15 K na

152
primavera. Esta variação semi-anual concorda com Fadnavis e Beig (2004),
mas difere de Kumar et al. (2001) que observaram uma oscilação anual com
um máximo em maio e um mínimo em dezembro para a Índia.

A Figura 5.11a mostra a distribuição das espessuras de MIL observadas sobre


o Cariri. Como mencionado antes, apenas as MILs cujas espessuras foram
iguais ou maiores que 4 km foram consideradas nesta análise. Foram
observadas espessuras entre 4 e 12 km, porém os resultados mostraram uma
maior ocorrência de MILs com menores espessuras, entre 4 e 6 km. A Figura
5.11b mostra a variação sazonal da espessura de MIL que apresenta um ciclo
semi-anual, similar a variação da amplitude MIL. A espessura das MILs é maior
(acima de 6 km) nos equinócios (abril e setembro) e menor (~ 4 km) nos
solstícios (janeiro e julho). Fadnavis e Beig (2004) também reportaram
espessuras médias de MIL entre 5 e 8 km, com camadas mais largas (~ 7 km)
em abril e setembro.

Dados SABER 2005


(a) (b)
Espessura de MIL (km)
No de MILs

Espessura de MIL (km) Meses

Figura 5.11 - (a) Distribuição das espessuras das MIL inferiores sobre o Cariri
em 2005. (b) Variação das espessuras de MIL médias mensais
mostrando máximos após os equinócios.

A Figura 5.12 mostra as distribuições de altitudes de topo e de base de MILs. A


altitude de topo média das MILs observadas sobre o Cariri foi de 83 ± 4 km.
Isto está em boa concordância com os resultados de Fadnavis e Beig (2004)
(80 - 84 km) e razoável concordância com Leblanc e Hauchecorne (1997) (75 -
85 km), ambos para MILs em baixas latitudes. A altitude de base média de

153
MILs sobre o Cariri foi 8 km abaixo da altitude de topo, ou seja, 75 ± 3 km. Já
as distribuições das temperaturas de topo e base da camada são sumarizadas
na Figura 5.13. As temperaturas médias de topo e base foram 205 ± 5 K e 185
± 5 K, respectivamente, sem variação sazonal significante.

Dados SABER 2005 Dados SABER 2005


(a) (b)

Altitude (km)
Altitude (km)

No de MILs No de MILs

Figura 5.12 - Distribuições das altitudes de topo (a) e base (b) das MIL
inferiores sobre o Cariri.

Dados SABER 2005 Dados SABER 2005


(a) (b)
No de MILs

No de MILs

Temperatura (K) Temperatura (K)

Figura 5.13 - Distribuições das temperaturas de topo (a) e base das MILs
inferiores sobre o Cariri.

Os perfis de temperatura médios mensais sobre o Cariri no ano de 2005 são


mostrados na Figura 5.14. Para se ressaltar a variação mês-a-mês, os perfis
estão horizontalmente deslocados um do outro a intervalos de 40 K. Percebe-
se a clara presença de MIL inferior em dois períodos distintos do ano, entre
fevereiro e maio e o segundo período de agosto a outubro. É interessante notar

154
que existe um deslocamento para baixo (setas pretas) do pico da MIL, de uma
altitude de 85 km em fevereiro para 80 km em maio. Um deslocamento similar
também ocorre de agosto para outubro. Picard et al. (2004) também
observaram um rebaixamento na altitude de MILs a partir de dados do satélite
TIMED/SABER. Entretanto, neste trabalho os autores discutiram a variação das
altitudes de MILs entre o dia e a noite, relacionando este comportamento a uma
possível atuação da maré atmosférica no campo de temperatura.

Assim, este comportamento mês-a-mês da MIL sobre o Cariri deve ser melhor
investigado. Pode-se, por exemplo, compará-lo com a variação sazonal do
vento ou da maré em altitudes mesosféricas. Tal estudo contribuiria com um
melhor entendimento dos mecanismos físicos envolvidos na geração de MIL na
região equatorial.
Altitude (km)

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Temperatura (K)
Figura 5.14 - Perfis de temperatura médios mensais sobre o Cariri. As setas
mostram um deslocamento para baixo do pico da MIL em dois
períodos de 2005. Os perfis de temperatura estão espaçados em
40 K.

5.2.4. Mecanismos Físicos de Formação de MIL

Vários mecanismos físicos têm sido propostos para explicar a formação da


estrutura das MILs, dentre estes destacam-se: o aquecimento químico, a

155
quebra de ondas de gravidade e a interação entre ondas de gravidade e ondas
de maré.

Meriwether e Mlynczak (1995) sugeriram que o aquecimento devido a reações


químicas exotérmicas poderia produzir inversões de temperatura. Entretanto,
de acordo com estes autores, não se observa que a taxa de aquecimento
induzida por estas reações seja suficiente para desenvolver um aumento de
temperatura de 40 K, tal como é observado para algumas das MILs inferiores
identificadas no presente trabalho. Além disso, o principal aquecimento por
reação química na região da mesopausa se dá por processos de recombinação
do oxigênio atômico. Neste caso, tal aquecimento deve ocorrer acima de 85 km
contribuindo mais na formação das MILs superiores do que nas inferiores.

Leblanc e Hauchecorne (1997) propuseram que a quebra de ondas de


gravidade induziria uma célula de circulação meridional a qual poderia produzir
inversões de temperatura com amplitudes de 15 K no inverno das altas
latitudes. Os autores apontaram, no entanto, que este mecanismo não deve ser
efetivo na formação das MILs de baixas latitudes que predominantemente
ocorrem nos equinócios. Isto contradiz os resultados obtidos no presente
trabalho, e por esta razão mais estudos observacionais são necessários para
investigar a relação entre ondas de gravidade e MIL inferiores em baixas
latitudes, e principalmente sobre o Cariri

Meriwether et al. (1998) sugeriram que as inversões mesosféricas poderiam ser


geradas pelo acoplamento de ondas de gravidade com ondas de maré. Liu e
Hagan (1998) no seu estudo de simulação demonstraram que o efeito de
interação entre onda de gravidade e onda de maré na região da MLT causa
duas camadas de inversão nos intervalos de altitude de 70 a 80 km e 100 a
110 km, com uma progressão de fase para baixo. A simulação também revelou
que a inversão inferior poderia desenvolver uma amplitude de 10 K. Embora
esta amplitude seja bem menor do que as amplitudes observadas nas MILs
sobre o Cariri (até 40 K), este mecanismo também é um processo plausível

156
para a geração de camadas de inversão mesosféricas. Como pode ser
percebido a investigação da origem das MILs ainda é uma questão a ser
aprofundada tanto na pesquisa experimental como na modelagem, e portanto,
uma discussão mais profunda dos mecanismos de produção de MIL está além
do escopo do presente trabalho.

5.2.5. Resumo dos Resultados das MILs sobre o Cariri

Perfis de temperatura obtidos pelo satélite TIMED/SABER foram analisados


com o objetivo de se estudar as características das camadas de inversão de
temperatura mesosféricas (MIL) sobre a região equatorial brasileira do Cariri
(7,4°S; 36,5°O), durante o ano de 2005. Os principais resultados obtidos são
sumarizados seguir:

− Um total de 175 MILs inferiores foram identificadas em 2005 com


máximos de ocorrência em abril e outubro e mínimos em janeiro e
julho;

− As MILs inferiores se localizaram entre 70 e 90 km, apresentando uma


altitude média de topo de 83 ± 4 km com uma temperatura média de
205 ± 5 K, e uma altitude média de base de 75 ± 3 km com uma
temperatura média de 185 ± 5 K;

− As MILs apresentaram uma espessura entre 4 e 12 km com uma


variação semi-anual, cujos máximos ocorreram nos equinócios e
mínimos nos solstícios;

− As amplitudes das MILs variaram entre 10 K (o limite inferior do critério


de busca) e 50 K, com uma maior freqüência de ocorrência de MILs
com menores amplitudes;

− Foi observada uma variação semi-anual das amplitudes médias


mensais das MILs com máximos nos equinócios e mínimos nos
solstícios;

157
− A partir de perfis de temperatura médios mensais foi observada a
presença de MIL em dois períodos do ano, de fevereiro a maio e de
agosto a outubro, ambos apresentando um deslocamento para baixo,
do pico da camada.

Estes resultados concordam parcialmente com os trabalhos anteriores


realizados em baixas latitudes (HAUCHECORNE et al., 1997; LEBLANC e
HAUCHECORNE, 1997; FADNAVIS e BEIG, 2004; KUMAR et al., 2001). O
deslocamento para baixo observado nos perfis médios mensais durante os
equinócios é bastante relevante para estudos posteriores.

5.3. Morfologia das Frentes Mesosféricas sobre o Cariri

5.3.1. Introdução

Um dos fenômenos mais interessantes envolvendo a dinâmica da mesosfera


descoberto nos últimos anos foi a chamada pororoca mesosférica. Este
fenômeno trata-se de uma frente de onda bem definida seguida por um trem de
ondas que foi observado pela primeira vez por Taylor et al. (1995a) durante a
campanha ALOHA-93 no Havaí, EUA. O evento reportado por Taylor et al.
(1995a) apresentou um distinto efeito de complementaridade entre as imagens
das diferentes camadas de airglow. O evento se mostrou como uma frente de
onda clara na emissão do OH e do Na, e como uma frente escura nas camadas
de OI5577 e O2. Através de um modelo simples de duas camadas
atmosféricas, Dewan e Picard (1998, 2001) explicaram este fenômeno como se
tratando de uma pororoca ondular mesosférica interna.

A despeito dos esforços empreendidos na última década para uma melhor


compreensão do fenômeno das frentes mesosféricas, vários aspectos
relacionados a sua origem, propagação e dissipação permanecem ainda
obscuros. O principal fator limitante da sua pesquisa teórica e experimental
continua sendo o escasso número de casos identificados como frentes

158
mesosféricas, que é bastante dependente do contínuo monitoramento da
mesosfera através de imagens de airglow.

Assim, como tal monitoramento tem sido realizado no Observatório de


Luminescência Atmosférica da Paraíba, localizado em São João do Cariri (7,4º
S; 36,5º O), PB desde setembro de 2000, a presente seção objetiva apresentar
alguns dos casos mais interessantes já identificados, de forma a vir a contribuir
com a pesquisa teórica e experimental destes fenômenos.

Na Seção 5.3.2 é apresentada a metodologia de identificação destes


fenômenos dentro do conceito mais geral das frentes mesosféricas
apresentado por Brown et al. (2004). Na Seção 5.3.3 é discutida a variação
anual na ocorrência destas frentes sobre a região brasileira do Cariri. Na Seção
5.3.4 são comparados os parâmetros físicos dos três diferentes tipos de frentes
mesosféricas observadas. Na Seção 5.3.5 são apresentadas evidências
observacionais de diversos casos de frentes mesosféricas, e na Seção 5.3.6 os
principais resultados para as frentes mesosféricas observadas entre 2004 e
2005 são sumarizados.

5.3.2. Identificação das Frentes Mesosféricas e Análise das Imagens

Entre julho de 2004 e dezembro de 2005 foi realizado um estudo detalhado de


identificação e caracterização de eventos do tipo frente mesosférica que
ocorreram sobre São João do Cariri (7,4º S; 36,5º O), PB. Para identificar este
fenômeno foram utilizadas imagens digitais obtidas com um imageador all sky
equipado com filtros de interferência capazes de medir a intensidade de
emissão do OI557.7 nm, O2b (0,1) à 865 nm e OH (715 - 930 nm), além da
emissão de fundo em 570 nm. Este período foi escolhido pois, além das
imagens digitais também estavam disponíveis dados de vento e de temperatura
obtidos por radar meteórico e pelo satélite TIMED/SABER, respectivamente.

159
As frentes mesosféricas foram inicialmente identificadas segundo as
características apontadas por Dewan e Picard (1998) para o caso das
pororocas mesosféricas, critérios amplamente utilizado na literatura (NIELSEN
et al., 2006; SMITH et al., 2005; SHIOKAWA et al., 2006; SHE et al, 2004) e
também utilizado em estudos anteriores sobre o Cariri (FECHINE, 2004;
FECHINE et al., 2005; MEDEIROS et al., 2005). No entanto no presente
trabalho, esta identificação de pororocas foi estendida para uma classe mais
geral na qual as pororocas estão contidas a qual foi denominada de frentes
mesosféricas seguindo a proposta de classificação sugerida por Brown et al.
(2004).

Dentre os quatro tipos de frentes mesosféricas propostos por Brown et al.


(2004) foram estudados no presente trabalho as pororocas e os avanços, além
de um novo tipo de frente, os chamados pulsos ou ondas solitárias, que por
serem ainda inéditos na literatura, devem ser acrescentados a atual
classificação. Deve-se ressaltar também que as ondas canalizadas não foram
discutidas no presente trabalho devido aos inúmeros artigos que tratam do
assunto na bibliografia. Com relação a frentes do tipo interação onda-onda, não
foram observados eventos como este em São João do Cariri no período
analisado, e por esta razão também não foram discutidos no presente trabalho.

A Figura 5.15a apresenta um exemplo de uma pororoca com um extenso trem


de ondas observada em 09/11/2004 na emissão do O2 propagando-se para
nordeste. Na Figura 5.15b observa-se um avanço claro nas imagens do OH
obtidas em 28/09/2005, também se propagando para nordeste. Na Figura 5.15c
observa-se um pulso ou uma onda solitária clara propagando-se para NO em
06/08/2005.

A partir da Figura 5.15 percebe-se que uma pororoca típica se apresenta nas
imagens de airglow como uma frente de onda bem definida seguida por um
trem de ondas. Um evento do tipo avanço caracteriza-se por um uniforme
aumento (ou diminuição) da intensidade do airglow após a passagem de sua

160
frente bem definida. Já um pulso se apresenta como uma frente de onda
solitária se propagando numa dada direção.

É possível que uma onda solitária seja a fase inicial do desenvolvimento de


uma pororoca com trem de ondas, e neste caso futuras análises do ambiente
atmosférico envolvido em ambos os eventos podem contribuir no
esclarecimento de sua natureza física. Assim, tal classificação se torna útil,
pois pode vir a refletir diferentes processos que podem estar envolvidos na
origem e na natureza física de cada distúrbio.

Pororoca Avanço Pulso


09/11/2004 28/09/2005 06/08/2005

O2 18:25 (LT) OH 19:00 (LT) O5 20:34 (LT)

a) b) c)

Figura 5.15 - Imagens all sky e ilustração de (a) uma pororoca com extenso
trem de ondas na emissão do O2 às 18:25 (LT) de 09/11/2004, (b)
um avanço claro na emissão do OH às 19:00 (LT) de 29/09/2005 e
(c) de um pulso ou onda solitária na emissão do OI5577 em
06/08/2005 às 20:34 (LT). As setas na frente dos eventos indicam
as direções de propagação.

161
Após a identificação dos eventos, e com o objetivo de se extrair os parâmetros
físicos destas frentes mesosféricas, foi realizado um pré-processamento das
imagens que consistiu das seguintes etapas: alinhamento da imagem com o
norte geográfico, remoção das estrelas, mapeamento das imagens originais
num novo sistema de coordenadas geográficas de 768 x 768 km2,
determinação da fração da flutuação da intensidade das imagens, suavização
da imagem e aplicação da função de ponderação de Hanning para minimizar
os lóbulos laterais dos picos significantes do espectro. Detalhes deste pré-
processamento podem ser encontrados em Medeiros (2001) e Wrasse (2004).

Após o pré-processamento, as imagens foram submetidas a uma análise


espectral utilizando a transformada de Fourier em duas dimensões (2D FFT)
para se obter os parâmetros físicos das frentes mesosféricas, seguindo a
metodologia desenvolvida por Wrasse (2004). Na seção a seguir serão
discutidos os resultados obtidos com a aplicação desta metodologia.

5.3.3. A Variação Anual na Ocorrência das Frentes Mesosféricas

A Figura 5.16 mostra a ocorrência de 84 e 64 frentes mesosféricas para o


segundo semestre de 2004 e todo o ano de 2005, respectivamente. Nota-se
que a despeito de se analisar apenas seis meses de dados em 2004, o número
de frentes observadas neste período excede em mais de 30% o total de frentes
observadas durante todo o ano de 2005. Este fato torna o período de 2004 um
ano atípico com uma alta atividade de frentes mesosféricas em comparação
com estudos anteriores realizados no período de 2000 a 2002 em São João do
Cariri (FECHINE, 2004; FECHINE et al., 2005; MEDEIROS et al., 2005).

Outro detalhe interessante é que esta ocorrência tanto em 2004 quanto em


2005 foi maior nos meses em torno do equinócio, i.e., setembro a novembro de
2004, março de 2005 e setembro a novembro de 2005. Fechine et al. (2005) no
seu primeiro levantamento de pororocas mesosféricas sobre o Cariri
ressaltaram a ausência de sazonalidade em contraste com uma maior atividade

162
de outros tipos de ondas de gravidade durante o verão e o inverno reportada
por Medeiros et al. (2003). Porém, diante dos resultados do presente estudo
pode-se reavaliar os resultados de Fechine et al. (2005) observando-se que a
despeito de terem ocorrido mais pororocas nos meses de janeiro de 2001 e
junho - julho de 2002, observa-se também uma considerável atividade nos
meses de setembro de 2000, abril e setembro de 2001, e abril e agosto de
2002.

Estas diferenças entre a variação na ocorrência de frentes mesosférica entre


2000 e 2002, e entre 2004 e 2005 podem ser devidas a variações inter anuais
na própria ocorrência do fenômeno (sua origem ou condição de propagação),
ou ainda podem ser devidas a limitação do período de observação do
imageador que só opera durante 13 noites em torno da lua nova e destas,
apenas nas noites de céu limpo, o que torna irregular a série de dados
noturnos durante o ano.

Ocorrência de Frentes Mesosféricas sobre o Cariri


a) 2004 Total: 84 b) 2005 Total: 64
No de Frentes

Meses Meses
Figura 5.16 - Distribuições da ocorrência de frentes mesosféricas sobre o Cariri
para (a) o segundo semestre de 2004 e (b) todo o ano de 2005.

Outro resultado interessante é que a partir dos casos reportados na literatura


espera-se que a ocorrência de frentes mesosféricas esteja diretamente
relacionada com as condições de ocorrência de ducto na mesosfera. A
princípio, poder-se-ia até conjecturar se esta maior atividade de frentes nos
equinócios de 2004 e 2005 poderia estar relacionada com a maior ocorrência

163
de camadas de inversão de temperatura sobre o Cariri que também ocorre nos
equinócios, como mostraram Fechine et al. (2007). Entretanto, a despeito desta
hipótese ser plausível, pois vários casos na literatura associam a ocorrência de
frentes mesosféricas com camadas de inversão de temperatura (DEWAN e
PICARD, 1998, 2001; SMITH et al., 2003, 2005), não se considera o papel do
vento na configuração do ducto, o que simplifica bastante as condições de
propagação das frentes mesosféricas. Assim, um análise da ocorrência de
frentes mesosféricas, exige primeiramente uma análise dos principais fatores
que atuam na canalização das ondas, tal como o vento, que será melhor
discutido na Seção 6.6.

5.3.4. Os Parâmetros Físicos Observados

Com o objetivo de servir de referência para o aprimoramento dos modelos de


frentes mesosféricas serão apresentados nesta seção os parâmetros físicos
encontrados para os três tipos de frente observadas: as pororocas, os avanços
e os pulsos. No caso das pororocas a análise dos parâmetros físicos seguiu a
metodologia amplamente utilizada na literatura produzindo dados de
comprimento de onda, período, números de cristas no trem de ondas e
velocidade de fase, todos observados. Já para os casos de avanço e pulso
apenas a velocidade de fase obtida pela análise espectral foi considerada, por
possuir significado físico.

As Figuras 5.17a,b,c apresentam respectivamente o comprimento de onda, o


período e o número de ondas no trem observados nos casos de frentes
mesosféricas classificados como pororocas mesosféricas. Observa-se uma
concordância com os resultados anteriores de Fechine (2004) e Fechine et al.
(2005) no que se refere a uma maior ocorrência de eventos com comprimentos
de onda entre 20 e 60 km, períodos entre 5 e 15 minutos e número de ondas
entre 2 e 6 cristas seguindo a frente.

164
Além disto, devido a nova metodologia empregada na análise espectral, que
utilizou um mapeamento das imagens originais em coordenadas geográficas de
768 x 786 km2, foi possível identificar eventos com maiores comprimentos de
onda (λh < 150 km) , e também maiores períodos (τ > 45 minutos), ou seja,
pororocas mesosféricas com parâmetros físicos pouco reportados na literatura.

As Figuras 5.17d,e,f apresentam respectivamente as distribuições de


velocidades de fase observadas para os três tipos de frente mesosférica: as
pororocas, os avanços e os pulsos. Observa-se uma concordância entre o
intervalo de velocidades observadas para os três tipos de frentes que foi de 20
a 60 ms-1. No caso das pororocas observa-se uma predominância de
velocidades entre 30 e 70 ms-1. Já para avanços a velocidade de 30 e 40 ms-1
foi mais freqüente, enquanto para os pulsos a velocidade mais registrada se
encontrou entre 40 e 50 ms-1.

Comp. de Onda Observado Período Observado No de Ondas no Trem


a) Pororoca b) Pororoca c) Pororoca

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Comprimento de Onda (km) Período (min) No de Ondas

Veloc. de Fase Observada Veloc. de Fase Observada Veloc. de Fase Observada


110 eventos 12 eventos 17 eventos
d) Pororoca e) Avanço f) Pulso

Velocidade de Fase (m/s) Velocidade de Fase (m/s) Velocidade de Fase (m/s)

Figura 5.17 - Gráficos das distribuições de (a) comprimento de onda horizontal,


(b) período observado e (c) número de ondas das pororocas
mesosféricas que apresentaram um trem de ondas. E distribuições
das velocidades de fase observadas nos três tipos de frentes
mesosféricas: (d) as pororocas, (e) os avanços e (f) os pulsos.

165
5.3.5. As Evidências Observacionais das Frentes Mesosféricas

Além da caracterização dos três tipos distintos de frentes mesosféricas também


foi realizado um levantamento dos casos especiais de frentes ocorridas entre
2004 e 2005. O critério de classificação destes casos como especiais foi a
relevância das evidências observacionais detectadas nas imagens de airglow e
o seu caráter inédito na literatura. A partir destes critérios foram então definidos
16 grupos de evidência, dentro dos quais cada frente mesosférica foi
classificada. A Figura 5.18 apresenta a distribuição destas evidências
observacionais e tem por objetivo servir como referência experimental em
futuros estudos de caso, bem como de subsídio na modelagem do fenômeno.

Figura 18 - Distribuição das evidências observacionais associadas às frentes


mesosféricas que ocorreram entre julho de 2004 e dezembro de
2005 sobre o Cariri. Cada número no histograma se refere a uma
evidência, cujo número de casos registrados encontra-se entre
parênteses.

166
A Figura 5.19 apresenta um exemplo de frente mesosférica em formação nas
imagens do airglow O2 do dia 12/10/2004 sobre o Cariri. Observa-se que às
19:07 (LT) não havia registro de ocorrência de uma frente mesosférica,
enquanto às 19:47 (LT) já é possível distinguir a configuração de uma frente de
onda clara. Às 20:28 (LT) observa-se esta frente clara já bastante desenvolvida
e deslocando-se para leste. Este foi um dos 16 casos de formação detectados
que podem contribuir no conhecimento das circunstâncias na qual uma frente
mesosférica é gerada.

0. Formação (16)
12/10/2004

O2 19:07 (LT) O2 19:47 (LT) O2 20:28 (LT)


Figura 19 - Imagens sucessivas na emissão do O2 em 12/10/2004 mostrando
um exemplo de frente mesosférica (linha sólida) com evidência de
formação. A seta na frente da onda indica a direção de propagação.

A Figura 5.20 apresenta um caso de frente mesosférica em dissipação que


ocorreu no dia 14/08/2004 e foi observado na emissão do OH. Verifica-se que
às 23:33 (LT) uma frente escura surgida do horizonte propagou-se para
sudeste, sendo ainda observada às 23:54 (LT) para às 00:25 (LT) desaparecer
ao zênite. Este é um exemplo dos 28 casos de dissipação identificados cuja
análise pode vir a contribuir no entendimento dos processos envolvidos na
extinção de uma frente mesosférica.

167
1. Dissipação (28)
14/08/2004

OH 23:33 (LT) OH 23:54 (LT) OH 00:25 (LT)


Figura 5.20 - Sucessivas imagens na emissão do OH em 14/08/2004
mostrando um exemplo de frente mesosférica (linha sólida) com
evidência de dissipação. A seta na frente da onda indica a direção
de propagação.

A Figura 5.21 é um exemplo de formação de uma frente mesosférica no dia


02/11/2005 nas imagens da emissão do OH à partir das 19:50 (LT), pois antes
deste horário, às 19:21 (LT), não era possível se distinguir uma frente de onda
na mesma região do céu. A discussão deste caso pode ser encontrada na
Seção 6.4. Foram observados 13 casos similares a este que podem contribuir
no conhecimento da geração das frentes mesosféricas.

2. Formação por Interação (13)


02/11/2005

OH 19:21 (LT) OH 19:50 (LT) OH 20:15 (LT)


Figura 5.21 - Imagens no OH em 02/11/2005 mostrando uma frente
mesosférica (linha sólida) em formação. A seta indica a direção de
propagação.

A Figura 5.22 apresenta três imagens na emissão do OH obtidas em


02/11/2005 sobre o Cariri na qual se observa a dissipação de uma frente clara

168
às 20:29 (LT). Neste caso foram observadas bandas se deslocando na direção
oposta à frente, sugerindo uma interação antes da dissipação.

3. Dissipação por Interação (3)


02/11/2005

OH 20:13 (LT) OH 20:17 (LT) OH 20:29 (LT)


Figura 5.22 - Imagens no OH em 02/11/2005 mostrando uma frente (linha
sólida) com evidência de dissipação por interação com outras
ondas. A seta indica a direção de propagação.
A frente mesosférica apresentada na Figura 5.23 é um exemplo de pororoca
ocorrido em 03/10/2005 e observada na emissão do OH. Após ser observada já
desenvolvida às 22:16 (LT) as imagens sugerem uma interação da frente com
o vento básico a teria destruído às 23:18 (LT). Este grupo foi um dos mais raros
e a discussão deste caso pode ser encontrada na Seção 6.3.

4. Destruição pelo Vento (3)


03/10/2005

OH 22:16 (LT) OH 22:39 (LT) OH 23:18 (LT)


Figura 5.23 - Imagens no OH em 03/10/2005 mostrando uma frente (linha
sólida) com evidência de destruição pelo vento.

A Figura 5.24 mostra um caso de frente mesosférica observada em 09/11/2004


na emissão do OH propagando-se para nordeste e que apresenta uma frente
de onda mais larga do que aquelas normalmente observadas sobre o Cariri, tal
como as frentes estreitas mostradas na Figura 5.26. De um total de 20 casos,

169
exemplos como este podem vir a esclarecer questões associadas com as
características do ducto capaz de suportar frentes mesosféricas, tal como a
espessura do ducto que será discutida na Seção 6.6.

5. Frente Larga (20)


09/11/2004

OH 18:45 (LT) OH 19:06 (LT) OH 19:37 (LT)


Figura 5.24 - Imagens no OH em 09/11/2005 mostrando uma frente larga (linha
sólida) em comparação com a maioria dos casos no Cariri.

A Figura 5.25 mostra uma seqüência de 3 imagens entre 03:45 e 03:53 (LT) de
uma frente mesosférica bastante sinuosa observada sobre o Cariri em
16/11/2004. A frente de onda se apresenta escura e as setas indicam a direção
de propagação da frente na extremidade norte (para SE) e na extremidade sul,
(para SE). Foram 8 casos como este que podem contribuir no entendimento do
papel desempenhado pelo vento na propagação das frentes mesosféricas.

6. Sinuosidade da Frente (8)


16/11/2004

OH 03:45 (LT) OH 03:47 (LT) OH 03:53 (LT)


Figura 5.25 - Imagens no OH em 16/11/2005 mostrando uma frente sinuosa,
cujas direções de propagação são indicadas pelas setas.

A Figura 5.26 mostra um caso de ocorrência simultânea de duas frentes


mesosféficas no OH em 13/08/2004. Observa-se que entre 18:48 e 19:11 (LT)

170
as duas frentes apresentaram efeitos distintos (claro e escuro) na mesma
camada. Exemplos como este podem contribuir no conhecimento do efeito de
complementaridade e a discussão deste caso encontra-se na Seção 6.5.

7. Frentes Simultâneas (61)


13/08/2004

OH 18:48 (LT) OH 19:00 (LT) OH 19:11 (LT)


Figura 5.26 - Imagens no OH em 13/08/2004 mostrando duas frentes
mesosféricas simultâneas (linhas sólidas).

Na Figura 5.27 tem-se um exemplo de três frentes distintas se propagando na


mesma direção e na mesma noite de 09/11/2004. Casos de múltiplas frentes
numa mesma noite contribuem na investigação da duração e do deslocamento
vertical do(s) ducto(s) que as suportaria(m).

8. Múltiplas Frentes na Noite (91)


09/11/2004

O2 18:44 (LT) O2 19:51 (LT) O2 20:39 (LT)


Figura 5.27 - Imagens no O2 em 09/11/2004 três frentes (linhas sólidas)
ocorrendo numa mesma noite. As setas indicam as direções de
propagação.

A Figura 5.28 mostra um caso de frente mesosférica do tipo pororoca


observada em 9/11/2004 na emissão do O2. A assinatura do trem de ondas
(seqüência de vales e cristas) seguindo a frente também pode ser observada.

171
Este é o tipo de frente mais reportado na literatura e o que mais ocorre sobre o
Cariri (foram 110 casos no total) e que vem sendo historicamente discutido
dentro do modelo de pororocas mesosféricas de Dewan e Picard (1998, 2000).

9. Trem de Ondas (110)


09/11/2004

O2 18:25 (LT) O2 18:44 (LT) O2 18:59 (LT)


Figura 5.28 - Imagens no O2 em 09/11/2004 mostrando uma frente mesosférica
(linha sólida) com trem de ondas.
A Figura 5.29a e 5.29b apresentam a imagem original e linearizada
respectivamente, de uma frente do tipo avanço claro nas imagens do OH em
28/09/2005. A Figura 5.29c mostra os perfis de intensidade relativa (obtidos de
uma reta perpendicular à frente) nos quais se observa uma função degrau
(seta) que indica a mudança na intensidade airglow sob a passagem da frente.
Casos como este podem contribuir no conhecimento das respostas das
camadas de airglow à passagem do avanço e dos mecanismos físicos que o
difere das frentes que possuem trem de ondas.

10. Avanço (12)


28/09/2005
18:57
18:57
19:00
19:00
19:00
19:00

a) OH 19:00 (LT) b) c) 00 10
10 20
20 30
30 40
40 50
50
km
km

Figura 5.29 - Imagens a) original e b) linearizada no OH em 28/09/2005


mostrando uma frente (linha sólida) do tipo avanço. c) Perfis de
intensidade relativa numa linha perpendicular a frente mostrando a
evidência do avanço similar a uma função degrau indicado pela
seta.

172
A Figura 5.30a e 5.30b apresentam a imagem original e linearizada
respectivamente, de uma frente do tipo pulso nas imagens do OI5577 em
06/08/2005. A Figura 5.30c mostra os perfis de intensidade relativa (obtidos de
uma reta perpendicular à frente) nos quais se observa um pico da intensidade
(seta) associado a passagem da frente. Os pulsos foram minoria, junto com os
avanços em comparação com as pororocas, porém o seu estudo pode
contribuir na compreensão dos mecanismos envolvidos na geração de
diferentes tipos de frentes mesosféricas.

11. Pulso (17)


06/08/2005

20:34
20:34
20:41
20:41
20:47
20:47

a) O5 20:34 (LT) b) c) 00 10
10
20
20
km 30
30
40
40
50
50
km

Figura 5.30 - Imagens a) original e b) linearizada no OI5577 em 06/08/2005


mostrando uma frente (linha sólida) do tipo pulso. c) Perfis de
intensidade relativa mostrando a evidência do pulso indicado pela
seta.

A Figura 5.31 mostra um caso de frente de onda propagando-se para nordeste


em 01/10/2005 na qual foi aplicada a análise espectral que resultou na Figura
5.31b. O espectro cruzado mostra dois picos espectrais de grande amplitude
(em vermelho) correspondentes a frente mesosférica e ao movimento relativo
de adição de cristas ao trem de ondas. Como em alguns casos a detecção
deste movimento relativo não mostra trem de ondas nas imagens de airglow, a
assinatura espectral do segundo pico foi denominada de escoamento para trás
da frente de onda. Casos como este (foram 31 casos) são a evidência
experimental da dissipação da pororoca gerando um trem de ondas. A
discussão deste caso pode ser encontrada na Seção 6.2.

173
12. Com Escoamento para Trás (31)
Espectro Cruzado Médio (Amplitude)

No de Onda Meridional (ciclos/km)


01/10/2005

c)
a) O5 18:23 (LT) b)
No de Onda Zonal (ciclos/km)
Figura 5.31 - Imagens a) original e b) linearizada na emissão do OI5577 em
01/10/2005 mostrando uma frente mesosférica (linha sólida) com
trem de ondas e evidência de escoamento para trás. c) Gráfico do
espectro cruzado mostrando dois picos espectrais (vermelho) que
representam a assinatura da frente e do escoamento.
A Figura 5.32a mostra um caso de pororoca que ocorreu em 01/12/2005 na
emissão do OH. Neste caso a análise espectral da imagem linearizada da
Figura 5.32b foi realizada dentro da área definida pelo retângulo. Esta análise
resultou na Figura 5.32c, cuja maior amplitude (em vermelho) no espectro é
devida apenas a pororoca, e não se registra qualquer assinatura de um
escoamento para trás do distúrbio. Casos como este, que são maioria (117
casos), servem de contraponto aos casos com assinatura de escoamento para
trás que permitem avaliar as diferenças no ambiente mesosférico que
produzem estas diferentes assinaturas espectrais das frentes de onda.

13. Sem Escoamento para Trás (117)


Espectro Cruzado Médio (Amplitude)
No de Onda Meridional (ciclos/km)

01/12/2005

c)
a) OH 23:41 (LT) b)
No de Onda Zonal (ciclos/km)

Figura 5.32 - Imagens a) original e b) linearizada na emissão do OH em


01/12/2005 mostrando uma frente (linha sólida) com trem de ondas
e sem evidência de escoamento. c) Gráfico do espectro cruzado no
qual se observa o pico espectral devido a pororoca (em vermelho).

174
A Figura 5.33 mostra três imagens nas emissões do OH, O2 e OI5577 obtidas
em 08/12/2004 nas quais se observa uma pororoca propagando-se para
sudeste. Esta frente apresentou efeito de complementaridade claro-escuro-
escuro para o OH-O2-OI5577, respectivamente como é previsto pelo modelo de
Dewan e Picard (1998). Estes casos constituem uma maioria no Cariri, mas
não representam uma regra como já foi reportado por Fechine (2004) e
Medeiros et al. (2005), exigindo uma análise detalhada dos processos físicos
subjacentes a tal efeito.

14. Efeito Previsto (135)


08/12/2004 Claro Escuro Escuro

OH 20:55 (LT) O2 20:53 (LT) O5 20:55 (LT)


Figura 5.33 - Imagens no OH, O2 e OI5577 em 08/12/2004 mostrando uma
frente mesosférica (linha sólida) com efeito de complementaridade
claro-escuro-escuro previsto pelo modelo de Dewan e Picard
(1998).

Finalmente, a Figura 5.34 apresenta uma frente de onda observada em


10/11/2004 nas emissões do OH, O2 e OI5577 propagando-se para leste.
Neste caso a frente de onda se apresentou escura ao OH, clara ao O2 e clara
ao OI5577 o que constitui um efeito de complementaridade não previsto pelo
modelo de Dewan e Picard (1998). Novamente, casos como estes já foram
reportados por Fechine (2004) e Medeiros et al. (2005) e podem contribuir num
aperfeiçoamento dos atuais modelos de frentes mesosféricas.

175
15. Efeito Não Previsto (13)
10/11/2004 Escuro Claro Claro

OH 20:00 (LT) O2 20:06 (LT) O5 20:09 (LT)


Figura 5.34 - Imagens no OH, O2 e OI5577 em 10/11/2004 mostrando uma
frente mesosférica (linha sólida) com efeito de complementaridade
escuro-claro-claro não previsto pelo modelo de Dewan e Picard
(1998).

5.3.6. Principais Resultados da Observação de Frentes Mesosféricas

Entre julho de 2004 e dezembro de 2005 foi realizado um levantamento


detalhado da ocorrência diferentes casos de frentes mesosféricas sobre São
João do Cariri (7,4ºS; 36,5ºO). Os principais resultados obtidos neste trabalho
foram os seguintes:

− Um total de 148 frentes mesosféricas foram identificadas sendo que o


ano de 2004 foi atípico em comparação a estudos anteriores
(FECHINE, 2004; FECHINE et al., 2005; MEDEIROS et al., 2005) ao
apresentar 84 casos apenas no segundo semestre;

− Foram identificados três tipos distintos de frentes mesosféricas, com


relação a sua aparência nas imagens de airglow: as pororocas com
trem de ondas; os avanços com uma frente bem definida seguida por
um aumento (ou diminuição) na intensidade do airglow; e os pulsos ou
ondas solitárias propagando-se como uma frente única;

− Foram identificadas frentes mesosféricas com comprimentos de onda


abaixo de 150 km e períodos acima de 45 minutos, pouco reportados
na literatura;

176
− Várias evidências observacionais, algumas delas ainda inéditas na
literatura, também foram registradas, a saber: frentes em formação
e/ou dissipação sugerindo ou não interação com outras ondas de
gravidade; indícios de destruição da frente pelo vento de fundo; frentes
mesosféricas bastante largas, além de casos de frente de onda
sinuosas; ocorrência de frentes simultâneas e de várias frentes numa
mesma noite. Também foram identificados casos com uma assinatura
espectral de um escoamento para trás da frente mesosférica, além de
eventos com efeitos de complementaridade não previstos pelo modelo
de Dewan e Picard (1998);

− A ocorrência destas frentes mesosféricas foi maior nos meses em


torno do equinócio, da mesma forma que também foi observada uma
maior ocorrência de camadas de inversão de temperatura sobre o
Cariri neste mesmo período. Porém, apenas com uma avaliação da
contribuição do vento e da temperatura, é possível se investigar a
canalização de ondas na mesosfera, como será discutido no Capítulo
6.

Com estes resultados, o presente trabalho contribui com uma referência para a
verificação experimental das previsões dos modelos propostos, além de
apontar caminhos promissores para a pesquisa experimental do fenômeno das
frentes mesosféricas, cujos principais aspectos ainda permanecem pouco
conhecidos.

177
178
6 DISCUSSÃO

6.1 O Caso de 18/04/2002: Frentes Mesosféricas e MILs

6.1.1 Introdução

Após a descoberta das frentes mesosféricas realizada por Taylor et al. (1995a),
Dewan e Picard (1998, 2001) foram os primeiros a propor uma explicação para
o fenômeno baseada numa teoria de pororoca ondular mesosférica, cuja
ocorrência estaria associada a uma camada de inversão de temperatura ou
MIL que lhe serviria de ducto. Seyler (2005) também propôs uma teoria na qual
o desenvolvimento da frente de onda seria não-linear e ocorreria em ductos
térmicos. Observações recentes de frentes mesosféricas simultâneas a
camadas de inversão de temperatura (SHE et al., 2004; SMITH et al., 2003,
2005) também têm indicado que a investigação de ductos térmicos se constitui
numa ativa linha de pesquisa das condições de propagação das frentes
mesosféricas.

Por esta razão, nesta seção, será apresentado um estudo de caso de duas
frentes de onda detectadas sobre São João do Cariri (7,4º S; 36,5º O), PB,
simultaneamente a ocorrência de extensas áreas de camadas de inversão de
temperatura na mesosfera. Na Seção 6.1.2 serão apresentados detalhes da
observação do fenômeno, bem como seus parâmetros físicos. Na Seção 6.1.3
serão discutidos os critérios de classificação do fenômeno e na Seção 6.1.4 a
estrutura térmica da mesosfera na noite do evento será analisada. Na Seção
6.1.5 os principais resultados deste estudo de caso são sumarizados.

6.1.2 A Frente Mesosférica de 18/04/2002

Às 04:12 (LT) da madrugada de 18 de abril de 2002 uma frente mesosférica foi


observada nas imagens das camadas de airglow obtidas com imageador all sky
em São João do Cariri, PB. A Figura 6.1 mostra três imagens desta frente de
onda nas emissões do OH, O2 e OI5577, respectivamente.

179
18/04/2002 Claro Claro Escuro

a) OH 04:12 (LT) b) O2 04:16 (LT) c) O5 04:11 (LT)


Figura 6.1 - Imagens all sky nas emissões do a) OH, b) O2 e c) OI5577
mostrando uma frente mesosférica observada em 18 de abril de
2002 sobre São João do Cariri, PB. A seta indica a direção de
propagação da onda.

A frente mesosférica surgiu a nordeste do observatório às 04:12 (LT) e se


propagou na direção de 219o de azimute, atingindo o zênite às 04:15 (LT). A
sua propagação foi acompanhada até o final das observações nesta noite, às
04:30 (LT), quando a frente mesosférica já exibia quatro cristas no trem de
ondas que a seguia. A frente mesosférica também se apresentou bem definida
na imagem do OI5577, razoavelmente definida na imagem do O2 e pouco
definida na imagem do OH. Para se obter as características físicas horizontais
da onda foi aplicada uma análise espectral (ver detalhes na Seção 4.3.3) nas
imagens de cada emissão, cujo resultado é mostrado na Tabela 6.1.

A altura do pico da camada do OH apresentado na Tabela 6.1 foi obtida a partir


do perfil da taxa de emissão volumétrica do OH em 1,6 μm medida pelo satélite
TIMED/SABER. Já as alturas dos picos das camadas de O2 e de OI5577 foi
obtida a partir do cálculo da respectiva taxa de emissão volumétrica usando o
modelo MSIS-90 e ajustando o perfil de OH teórico ao perfil medido tal como é
descrito na Seção 4.7.3.

180
Tabela 6.1 - Parâmetros físicos da frente mesosférica (Φ, λh, cobs, τobs)
calculados a partir da análise espectral das imagens em
cada camada de emissão. A altura do pico da camada de
OH foi obtida a partir de dados do satélite TIMED/SABER e
as alturas das camadas de O2 e OI5577 foram obtidas a partir
do modelo MSIS-90.

Emissão Altura (km) φ (o) λ h (km) c obs (ms-1) τ obs (min)


OH 86 232 31,2 104,2 5,0
O2 90 229 27,8 28,7 16,1
OI5577 93 230 30,1 26,8 18,7
Os resultados da análise espectral das imagens nas três emissões
evidenciaram uma característica bastante singular deste evento. Embora a
direção de propagação (Φ) e o comprimento de onda horizontal (λh) medidos
nas três emissões apresentassem uma razoável concordância, ~231º e ~30
km, a velocidade de fase ( c obs ) e o período medidos (τ) para o OH (~104 ms-1 e

~5 min, respectivamente) foram bastante diferentes daqueles medidos para o


O2 e o OI5577 (~28 ms-1 e ~17 min). Como não havia dados simultâneos de
vento mesosférico sobre São João do Cariri, nesta data, os parâmetros
intrínsecos da onda não foram calculados.

Tal resultado sugere que o fenômeno poderia se tratar de duas frentes


mesosféricas se propagando simultaneamente em regiões com condições de
estabilidade distintas, que por sua vez compreenderiam camadas de airglow
distintas. Para testar esta hipótese será discutida na Seção 6.1.2 a
classificação desta frente mesosférica e na Seção 6.1.3 a estrutura térmica da
mesosfera equatorial brasileira na noite do evento.

6.1.3 A Classificação do Evento

Com o objetivo de uniformizar a nomenclatura utilizada pela comunidade


científica, Brown et al. (2004) propuseram uma denominação geral de frentes
mesosféricas para todos os eventos que se apresentassem como uma frente
de onda bem definida nas imagens all sky do airglow.

181
Seguindo esta proposta as frentes mesosféricas poderiam ser classificadas em
quatro tipos distintos: i) pororocas mesosféricas, que apresentariam uma frente
de grande amplitude da qual poderia surgir um trem de ondas; ii) as ondas de
gravidade canalizadas que não produziriam necessariamente um trem de
ondas; iii) os walls mesosféricos, caracterizados pela propagação de uma
região clara (ou escura) nas imagens de airglow; e iv) as interações não
lineares onda-onda que poderiam se apresentar até como frentes estáticas.

Analisando os critérios descritos por Brown et al. (2004) e propostos por Dewan
e Picard (2001) para classificar um fenômeno como pororoca mesosférica
verifica-se que o evento de 18 de abril de 2002 satisfaz a maioria deles, a
saber: apresentou uma frente de onda bem definida nas imagens de airglow; a
frente de onda foi seguida por um nítido trem de ondas e o distúrbio exibiu um
efeito de complementaridade claro-claro-escuro entre as camadas de airglow,
ou seja, um aumento na intensidade dos airglow OH e O2 e uma diminuição na
intensidade do OI5577.

A Figura 6.2a mostra uma seqüência de três imagens linearizadas do OI5577


entre 04:05 e 04:30 (LT). A partir de uma linha perpendicular à frente de onda e
na sua direção de propagação (indicada pela seta) foram obtidos os perfis de
intensidades relativas que são mostrados na Figura 6.2b. Observa-se
claramente na Figura 6.2b, às 04:05 (LT), a assinatura de uma frente de onda
escura representada por um vale na intensidade relativa do OI5577. A medida
que o tempo passa, a amplitude da frente sofre uma contínua diminuição,
simultaneamente a um aumento do número de cristas atrás da frente de onda.

De forma análoga os perfis de intensidade relativa para a emissão do OH e do


O2 (gráficos não mostrados) exibiram esta diminuição na amplitude da frente de
onda, porém para estas emissões a frente se apresentou como um pico de
emissão (frente clara), e não como um vale como no caso da frente escura do
OI5577.

182
OI5577 - 04:05 (LT)

04:05 (LT)

04:11 (LT)
Intensidade Relativa

OI5577 - 04:17 (LT)

04:17 (LT)

04:24 (LT)

OI5577 - 04:30 (LT)

04:30 (LT)

0 50 100 150 200


a) b) km

Figura 6.2 - a) Três imagens linearizadas da frente mesosférica de 18 de abril


de 2002 sobre São João do Cariri, PB. As setas indicam a direção
de propagação. b) Gráfico dos perfis de intensidade relativa obtidos
de cortes perpendiculares a frente de onda definido pelas setas na
Figura 6.2a.

Esta observação também concorda com as previsões de Dewan e Picard


(1998) para o modelo de pororoca mesosférica no qual a frente de onda
dissiparia energia diminuindo a sua amplitude através da adição de ondas ao
trem, a uma taxa de 2 a 3 cristas por hora. Assim, segundo este modelo,
pororocas com um longo trem de ondas seria um indício de um evento

183
originado a mais tempo. Como no presente caso o período de observação da
pororoca foi de 55 minutos, e como dentro deste intervalo de tempo foi possível
se observar a geração de pelo menos 2 cristas entre 04:05 e 04:30 (LT) é
plausível supor que tal evento se tratou de uma pororoca mesosférica
observada cerca de uma ou duas horas após a sua geração.

6.1.4 Estrutura Térmica Mesosférica na Noite de 18/04/2002

Outra condição importante na definição de eventos como pororoca mesosférica


é a existência de ductos. Alguns trabalhos têm sugerido (SMITH et al., 2003;
SHE et al., 2004; SMITH et al., 2005) que a ocorrência de pororocas
mesosféricas estaria relacionada com a existência de ductos térmicos
estabelecidos por camadas de inversão de temperatura na mesosfera. Para
avaliar a ocorrência de tais estruturas na noite do evento, foram analisados os
perfis de temperatura obtidos pelo satélite TIMED/SABER numa de suas
passagens em 18 de abril de 2002 sobre São João do Cariri, PB.

A Figura 6.3a apresenta o perfil de temperatura (linha sólida) obtido pelo


satélite TIMED/SABER nas coordenadas de ponto tangente médio de (1,97º S;
36,33º O) às 04:09 (LT) do dia 18 de abril de 2002. Esta sondagem do
TIMED/SABER ocorreu cerca de 5º a norte do observatório de São João do
Cariri, durante a passagem da frente de onda e dentro da área de cobertura do
imageador (cerca de 1000 km de raio na altura de 90 km). As linhas
pontilhadas diagonais na Figura 6.3a representam a taxa de queda adiabática
da temperatura.

Observa-se neste perfil de temperatura a ocorrência de duas camadas de


inversão indicadas pelos pontos pretos. A camada inferior exibiu uma amplitude
de 38 K entre 74 e 80 km de altura, enquanto a camada de inversão superior
apresentou uma amplitude de 87 K entre 91 e 98 km. As duas camadas estão
indicadas por linhas tracejadas horizontais. As espessuras de ambas as
camadas e a altura da camada inferior concordam com as características

184
apresentadas na Seção 5.2. Entretanto, a altura da MIL superior foi cerca de 14
km maior que a altitude média observada por Fechine et al. (2007) para as
MILs sobre São João do Cariri, já que neste trabalhos os autores identificaram
MILs apenas até 90 km de altura.

Temperatura Brünt-Väisälä Airglow

a) b) c)

Figura 6.3 – a) Perfil de temperatura obtido a partir de sondagem do satélite


TIMED/SABER às 04:09 (LT) do dia 18/04/2002. As linhas
diagonais representam a taxa de queda adiabática da temperatura
e as linhas tracejadas horizontais delimitam duas camadas de
inversão de temperatura. b) Perfil do quadrado da freqüência de
Brünt-Väisälä. c) Perfis das taxas de emissão volumétrica
normalizadas do OH em 1.6 μm medida pelo TIMED/SABER (linha
sólida), e das emissões do O2(0,1) (linha tracejada) e OI5577 (linha
pontilhada) calculados a partir do modelo MSIS-90.

Estas camadas de inversão configuraram regiões onda a freqüência de Brünt -


Väisälä, mostrada na Figura 6.3b, sofreu um considerável aumento, ou seja,
são regiões estaticamente estáveis e que segundo Dewan e Picard (1998)
configurariam ductos térmicos. Estas duas camadas de inversão também foram
registradas por outras duas sondagens do satélite TIMED/SABER dentro da
área de cobertura do imageador na noite do evento (gráficos não
apresentados).

185
Na Figura 6.3c são mostrados os perfis das taxas de emissão volumétrica
normalizadas do OH em 1.6 μm (linha sólida) medido pelo satélite
TIMED/SABER, e do O2(0,1) (linha tracejada) e OI5577 (linha pontilhada)
calculados a partir do modelo MSIS-90 (HEDIN, 1991). Os perfis do O2 e do
OI5577 foram rebaixados para uma altitude mais realística, de maneira que o
perfil teórico do OH coincidisse com o perfil de OH observado pelo satélite
TIMED/SABER, tal como é descrito na Seção 4.7.3. Detalhes da análise de
estabilidade atmosférica e do cálculo dos perfis de emissão podem ser
encontrados na Seção 4.7.1.

Assim, a partir da Figura 6.3c observa-se que os picos de emissão das


camadas do OH, do O2 e do OI5577 encontraram-se aproximadamente em 86,
90 e 93 km, respectivamente, tal como é mostrado na Tabela 6.1. Ou seja,
observa-se que a camada de inversão inferior se localizou abaixo do pico de
emissão do OH, enquanto a camada de inversão superior coincidiu com o pico
do OI5577 e com o topo da camada de O2. Tal configuração sugere que a
camada de inversão superior, que compreende uma porção maior da camada
de O2 e de OI5577, teria suportado a frente mesosférica de maior período
observada nestas emissões. Nota-se também que a camada de inversão
inferior poderia suportar ondas com um período de oscilação menor do que a
camada de inversão superior. Entretanto, esta camada de inversão inferior
compreende uma região do OH com baixa taxa de emissão volumétrica, o que
diminuiria a sua definição na imagem do OH. Este fato sugere que a região
entre 80 e 86 km, embora não apresente uma camada de inversão, registra
uma região estável, também capaz de suportar oscilações com períodos
menores que a camada de inversão superior. Além disso, esta região estável
compreenderia a metade inferior da emissão do OH, o que aumentaria a
definição de ondas nas imagens do OH. Assim, observa-se com este caso a
limitação na localização de ductos apenas a partir de perfis de temperatura.
Esta limitação é importante pelo fato de ser a atual abordagem empregada na
discussão de ductos que suportariam as frentes mesosféricas, e a partir da

186
qual foi desenvolvida uma nova abordagem na análise de ductos que será
apresentada nas Seções 6.2 a 6.5 a seguir.

Além da identificação de regiões estáveis, espera-se que estas camadas de


inversão apresentem uma extensão espacial considerável de forma a suportar
a propagação de uma frente mesosférica. Para avaliar a extensão horizontal
destas camadas de inversão foram elaborados mapas de amplitude de MIL
sobre a América do Sul entre 17 e 18/04/2002, que são mostrados na Figura
6.4.

A Figura 6.4a apresenta um mapa com 337 sondagens realizadas pelo satélite
TIMED/SABER sobre a América do Sul entre 17 e 18/04/2002. As Figuras 6.4b
e 6.4c apresentam mapas de amplitude de MIL elaborados a partir do
procedimento de identificação de camadas de inversão desenvolvido por
Leblanc e Hauchecorne (1997) e adaptado por Fechine et al. (2007) para as
sondagens do satélite TIMED/SABER.

As camadas de inversão foram identificadas de acordo com os seguintes


critérios: a base da camada de inversão deve se encontrar a pelo menos 5 km
acima da estratopausa e seu topo deve estar abaixo de 90 km de altitude para
o caso do mapa da Figura 6.4b. Uma segunda identificação de camadas de
inversão foi realizada entre 90 e 110 km para se obter o mapa da Figura 6.4c.

187
Sondagens do Satélite TIMED/SABER
17-18/04/2002

a)

Mapa de Amplitude de MIL Mapa de Amplitude de MIL


17-18/04/2002 (Estratopausa - 90 km) 17-18/04/2002 (90 – 110 km)

b) c)

Figura 6.4 – a) Mapa de sondagens do satélite TIMED/SABER entre 17 e


18/04/2002 sobre a América do Sul. Mapas de amplitude de MIL
para o mesmo período entre b) a estratopausa e 90 km e c) 90 e
110 km de altura. O círculo preto indica a área de cobertura do
imageador e a seta a direção de propagação da frente mesosférica.

Além disso, a diferença entre a temperatura no topo e na base de cada


camada, i. e., a amplitude da camada de inversão a ser identificada, deve ser
maior que 10 K e menor que 100 K e a espessura das camadas, i.e., a
diferença entre a altitude de topo e de base, deve ser maior que 4 km. Como
resultado deste procedimento a Figura 6.4b mostra a ocorrência de duas
intensas áreas de camada de inversão (amplitude maior que 50 K) entre a
estratopausa e 90 km de altitude. Uma área ocorre sobre a Amazônia e outra
se estende do estado de Minas Gerais à costa nordeste brasileira. Esta

188
segunda área de MIL coincide com a área de cobertura do imageador (círculo
preto) e também com a região onde a frente mesosférica foi observada nas
imagens da emissão do OH. A seta preta indica a direção de propagação da
frente de onda. Na Figura 6.4c observou-se uma área ainda mais intensa de
camada de inversão (amplitude maior que 80 K) entre 90 e 110 km de altitude.
Novamente se observou extensas MILs sobre a Amazônia e sobre o nordeste
brasileiro, sendo esta última também coincidente com a área de cobertura do
imageador e com a região onde a frente mesosférica foi observada. Ou seja,
duas extensas áreas de MIL foram observadas no período de 17 a 18 de abril
de 2002 sobre o nordeste brasileiro exibindo diferentes amplitudes térmicas, o
que concorda com a hipótese da existência de duas regiões de estabilidade
distintas e com extensão suficiente para suportar a propagação das frentes
mesosféricas observadas.

Além disso, o perfil da freqüência de Brünt-Väisälä na Figura 6.3b mostrou que


as camadas de inversão (centradas em 77 km e em 94 km) poderiam suportar
ondas com períodos de oscilação também distintos. A camada de inversão
superior suportaria ondas com períodos maiores (N2 ~14 x 10-4 s-2) do que a
camada de inversão inferior (N2 ~ 8 x 10 -4
s-2), e ainda maiores se
considerarmos a região estável entre 80 e 86 km (N2 ~ 5 x 10 -4
s-2). Esta
análise da estabilidade mesosférica na noite do evento corrobora os resultados
da análise espectral que mostrou que a frente de onda no OH apresentou um
período menor (5 min), do que a frente de onda no O2 e OI5577 (~17 min).
Porém, apenas com medidas simultâneas de vento que não eram disponíveis
na noite do evento, seria possível se obter os parâmetros intrínsecos das
ondas.

6.1.5 Principais Conclusões do Caso de 18/04/2002

Em 18 de abril de 2002, foi observada uma frente mesosférica nas camadas de


emissão do OH, O2 e OI5577 sobre São João do Cariri, PB. Os principais
resultados desta observação foram os seguintes:

189
− O evento satisfez aos principais critérios sugeridos por Dewan e Picard
(2001) para classificá-lo como pororoca mesosférica, a saber:
apresentou uma frente de onda bem definida; de grande extensão
horizontal; seguida por um trem de ondas, cujo número de cristas
aumentou devido a uma diminuição na amplitude da frente;

− O resultado da análise espectral das imagens sugeriu que a despeito de


se propagarem na mesma direção, o fenômeno poderia se tratar de
duas pororocas mesosféricas se propagando em regiões com
estabilidade atmosférica distinta, já que na emissão do OH o evento
apresentou um período observado menor (~5 min) do que nas emissões
do O2 e OI5577 (~17 min);

− A estrutura térmica da mesosfera na noite do evento também mostrou a


ocorrência de regiões com estabilidade atmosférica distintas, ou seja,
regiões capazes de suportar ondas com períodos de oscilação distintos.
Duas destas regiões consistiram de extensas camadas de inversão de
temperatura coincidindo com a área de cobertura do imageador;

− Por fim, embora as observações destas camadas de inversão sejam


consistentes com as características do fenômeno, a ausência de
medidas simultâneas de vento limita a análise da condição de
canalização das ondas, e, conseqüentemente, de sua localização
vertical, da determinação do tipo de ducto, além da própria interpretação
das imagens de airglow.

Assim, para suprir as limitações deste procedimento, que é atualmente


empregado na literatura, foi desenvolvida uma nova abordagem de análise do
ambiente mesosférico no qual as frentes de onda se propagam. Esta nova
abordagem será utilizada na discussão dos estudos de caso apresentados nas
Seções 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5 a seguir.

190
6.2 O Caso de 01/10/2005: Frente Mesosférica num Ducto Doppler

6.2.1 Introdução

Nesta seção será apresentado um caso de uma frente mesosférica detectada


sobre São João do Cariri, PB, cujas observações permitiram uma análise
detalhada da condição de propagação da onda com medidas simultâneas de
temperatura e vento. Na Seção 6.2.2 será descrita a campanha SpreadFEX
durante a qual foi realizada a observação desta frente mesosférica. Na Seção
6.2.3 será discutido o ambiente mesosférico durante o evento e, na Seção
6.2.4 os principais resultados deste estudo de caso serão sumarizados.

6.2.2 A Frente Mesosférica de 01/10/2005

Entre setembro e novembro de 2005 foi realizada no Brasil a campanha Spread


F EXperiment - SpreadFEX dentro do programa Living With a Star/Targeted
Research & Technology (LWS TR&T) empreendido pela NASA. O objetivo
principal da campanha SpreadFEX foi a observação e a modelagem de ondas
de gravidade capazes de iniciar instabilidades de plasma na ionosfera
equatorial (FRITTS et al., 2007). Durante a campanha SpreadFEX diversas
frentes mesosféricas foram observadas em São João do Cariri, PB, sob
diferentes condições de propagação. Foram registradas frentes mesosféricas
bastante nítidas e bem definidas nas imagens de airglow, como a que será
discutida nesta seção, além de casos de dissipação e formação de frentes de
onda que serão discutidos nas Seções 6.3 e 6.4, respectivamente.

O primeiro caso de frente mesosférica analisado durante a campanha


SpreadFEX ocorreu na noite 01/10/2005 sobre São João do Cariri. Durante a
campanha o imageador registrou imagens apenas nas emissões do OH e
OI5577. A Figura 6.5 apresenta uma seqüência de três imagens do evento
registradas no OI5577 e OH às 18:14, 18:28 e 18:43 (LT), respectivamente. A
imagem das 18:14 (LT) marcou o início das observações nesta noite.

191
Imagens All Sky - Cariri - 01/10/2005
OI5577 Claro OI5577 OI5577

OH Claro OH OH

18:14 (LT) 18:28 (LT) 18:43 (LT)

Figura 6.5 - Imagens sucessivas nas emissões do OI5577 e do OH mostrando


a frente mesosférica observada em 1º de outubro de 2005 sobre
São João do Cariri, PB. A seta indica a direção de propagação da
frente de onda.

A frente de onda se apresentou clara e muito bem definida nas imagens do


OI5577, sendo seguida por três cristas de onda também claras, porém menos
intensas. Já nas imagens da emissão OH a frente de onda praticamente não foi
perceptível às 18:14 (LT), e se apresentou bastante tênue às 18:28 e 18:23
(LT). A frente mesosférica foi observada por cerca de 86 minutos
desaparecendo no horizonte a nordeste às 19:40 (LT).

A análise espectral das imagens revelou que a frente de onda se propagou na


direção de 66º de azimute com uma velocidade de fase observada de 67,5 ms-1
e velocidade intrínseca de ~101 ms-1, um período intrínseco de 7 min e um
comprimento de onda horizontal de 42,4 km. Além dos parâmetros físicos da
frente mesosférica, a análise espectral também revelou um movimento relativo

192
na direção oposta à propagação da frente de onda. Este movimento relativo
ocorre quando a frente de onda dissipa energia diminuindo sua amplitude ao
adicionar cristas ao trem de ondas, e foi descrito na Seção 5.3.5 como uma
evidência observacional de escoamento para trás da frente de onda. Esta
observação é relevante ao estudo de frentes mesosféricas, pois constitui a
primeira evidência experimental de tal movimento relativo detectado através de
uma análise espectral bidimensional. Diante das características exibidas esta
frente mesosférica pode ser classificada como uma pororoca mesosférica de
acordo com o modelo de Dewan e Picard (1998, 2001).

6.2.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 01/10/2005

Para a investigar as condições do ambiente mesosférico na noite do evento


foram utilizadas medidas simultâneas de vento obtidas com radar meteórico,
além de perfis de taxa de emissão volumétrica (VER) da emissão do OH e de
temperatura cinética obtidos com o satélite TIMED/SABER. A Figura 6.6
apresenta os perfis de temperatura cinética e temperatura potencial, do
quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä, do vento na direção de propagação
da onda, do número e do comprimento de onda verticais, além dos perfis das
taxas de VER do OH em 1,6 μm, do O2(0,1) e do OI5577.

Na Figura 6.6a observa-se o perfil de temperatura (linha sólida) obtido pelo


satélite TIMED/SABER na coordenada de ponto tangente médio de (4,6º S;
42,7º O) às 22:48 (LT) no dia 1/10/2005, a partir do qual foi calculado o perfil de
temperatura potencial (linha pontilhada). As linhas tracejadas representam a
taxa de queda adiabática da temperatura que é de -9,8 K/km. Observa-se no
perfil de temperatura a ocorrência de uma camada de inversão entre 93 e 97
km de altura com uma amplitude de 34 K. Acima do pico da camada de
inversão, a temperatura diminui com a altura a uma taxa similar a taxa de
queda adiabática. Esta espessura e amplitude da camada de inversão
concordam com as características apontadas por Fechine et al. (2007) para as
MILs sobre São João do Cariri.

193
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow

a) b) c) d) e)
T (K) N2 (x 10-4 s-2) Vento (m/s) m2 (x 10-7 m-2) VER normal.
Figura 6.6 - a) Perfil de temperatura cinética (linha sólida) medido com o
satélite TIMED/SABER em 1/10/2005 sobre São João do Cariri e
respectivo perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As
linhas tracejadas representam a taxa de queda adiabática da
temperatura. b) Perfil do quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä.
c) Perfil do vento na direção de propagação da onda medido às
18:00 (LT) com radar meteórico (linha sólida). A linha pontilhada é a
velocidade de fase da onda. d) Perfis do número de onda vertical
( m 2 ) (linha sólida) e do comprimento de onda vertical (λz) (linha
pontilhada). e) Perfis verticais das taxas de emissão volumétrica
normalizadas (VER) do OH em 1,6 μm (linha sólida) medido pelo
satélite TIMED/SABER e do O2(0,1) (linha tracejada) e OI5577
(linha pontilhada) calculados a partir do modelo MSIS-90 e com um
rebaixamento de 9km na concentração de O, conforme descrito na
Seção 4.7.3. As linhas sólidas horizontais que cortam os cinco
gráficos delimitam a base e o topo do ducto.

Já a temperatura na base da camada foi de 166 K, i.e. cerca de 19 K abaixo da


temperatura média. E a temperatura no topo da MIL foi de 201 K, ou seja,
próximo da temperatura média que é de 205 ± 5 K. As altitudes de base e de
topo da MIL (93 e 97 km, respectivamente) estão acima das médias para as

194
MILs sobre São João do Cariri, que são de 75 ± 3 km e 83 ± 4 km,
respectivamente.

Para se discutir as condições de estabilidade estática na mesosfera foi


calculado o perfil de temperatura potencial (linha pontilhada) mostrado na
Figura 6.6a, a partir da pressão e da temperatura medidos pelo satélite
TIMED/SABER. Analisando os gráficos da Figura 6.6a e 6.6b observa-se que
de uma forma geral a mesosfera estava bastante estável, apresentando
apenas estreitas faixas em torno de 71, 87 e 99 km onde N 2 foi nulo.
Especificamente, entre 89 e 97 km observa-se uma região estável onde o N 2
apresenta valores entre de 6 x 10-4 s-2 e 12 x 10-4 s-2, i. e., uma freqüência de
Brünt-Väisälä entre 4 e 8 minutos, o que coincide com o período intrínseco
medido para a frente mesosférica.

A Figura 6.6c mostra o perfil de vento (linha sólida) na direção de propagação


da frente de onda e a velocidade de fase observada para a pororoca
mesosférica, que foi de 67,5 ms-1 (linha pontilhada). Analisando a Figura 6.6c
observa-se que quando da passagem da pororoca o vento soprava na direção
oposta da frente de onda em todo o perfil medido pelo radar meteórico. Abaixo
de 82 km o vento apresentou uma velocidade entre -30 e -40 ms-1, que foi
aumentando com a altura até 87 km, onde o vento foi praticamente nulo. Acima
deste nível o vento novamente diminuiu atingindo -30 ms-1 em 91 km e -60 ms-1
em 97 km de altura. Acima de 97 km o perfil apresentou seus valores mínimos,
com intensidade entre -60 a -90 ms-1.

A Figura 6.6d mostra os perfis de comprimento de onda (linha pontilhada) e de


número de onda (linha sólida) verticais calculados para a frente mesosférica a
partir da seguinte relação de dispersão de ondas de gravidade:

N2 u zz
m =
2
− − k h2 , (6.1)
(u − c ) 2
(u − c )

195
onde, m é o número de onda vertical, N 2 é o quadrado da freqüência de
Brünt-Väisälä; u é a velocidade do vento básico; c é a velocidade de fase da
onda; k h = 2π / λ h é o número de onda horizontal.

A relação de dispersão dada pela Equação 6.1 é válida para ondas de


gravidade se propagando num ambiente onde os efeitos de cisalhamento de
vento e de gradientes térmicos não podem ser desprezados (CHIMONAS e
HINES, 1986; ISLER et al., 1997), ou seja, para as condições mesosféricas
observadas na noite de 1º de outubro de 2005 sobre São João do Cariri, PB.

Observa-se claramente no perfil de m 2 a ocorrência de duas regiões distintas


centradas em 96 e 87 km onde m 2 é negativo. Estas regiões são definidas
como regiões evanescentes, onde não há propagação vertical de ondas de
gravidade. Entre as duas regiões evanescentes ocorre uma região onde o m 2 é
positivo, ou seja, uma região onde as condições ambientes permitem a
propagação vertical das ondas de gravidade. Portanto, esta região propagante
configura-se num ducto que permite a canalização de ondas de gravidade de
uma maneira bastante eficiente, pois, ao ser circundado por regiões
evanescentes, as ondas canalizadas podem se propagar com o mínimo de
dissipação de energia (CHIMONAS e HINES, 1986). Este ducto se localiza
entre 90 e 94 km e está delimitado por linhas paralelas horizontais (linhas
sólidas) em todos gráficos da Figura 6.6.

A Figura 6.6e apresenta os perfis da taxa de emissão volumétrica normalizada


do OH em 1,6 μm (linha sólida) medidos pelo satélite TIMED/SABER e do
O2(0,1) (linha tracejada) e do OI5577 (linha pontilhada) calculados com dados
do modelo MSIS-90. Os perfis do O2(0,1) e do OI5577 tiveram a sua altitude
ajustada de forma que o perfil também teórico do OH coincidisse com o perfil
observado pelo satélite TIMED/SABER.

196
Observa-se na Figura 6.6e que o pico de emissão da camada de OH se
localizou em 82 km, ou seja, abaixo da altitude nominal de 86 km, enquanto o
pico do O2 foi estimado em 87 km, e do OI5577 em 89 km, abaixo de suas
altitudes nominais que são 92 e 96 km, respectivamente.

Observa-se também que a região de ducto definida pelo m 2 positivo (linhas


sólidas horizontais) contêm o pico da camada de OI5577 e o topo da camada
de O2(0,1), enquanto apenas parte do topo da camada de OH estava
compreendida pelo ducto. Como durante a campanha SpreadFEX não foram
registradas imagens na emissão do O2, apenas as camadas do OH e do
OI5577 foram comparadas. Verificou-se que cerca de 31 % da taxa de emissão
volumétrica da camada do OI5577 foi canalizada pelo ducto, contra ~8 % da
camada do OH, o que pode explicar a maior definição da frente de onda nas
imagens OI5577 do que no OH.

Outro fato interessante é que o ducto estava centrado entre 90 e 94 km de


altitude, a ~92 km, ou seja, acima dos picos de emissão do OI5577 (89 km) e
do OH (82 km). Como a frente de onda apresentou um efeito claro-claro em
ambas as camadas, isto significa que a observação concorda com a previsão
de efeito de complementaridade do modelo de Dewan e Picard (1998) que
prevê um aumento na intensidade de emissão das camadas de airglow, cujos
picos se localizem abaixo do ducto.

Além da avaliação da porção da camada de airglow canalizada vários


parâmetros físicos no interior do ducto foram calculados e são apresentados na
Tabela 6.2. A utilização destes parâmetros físicos como condições de contorno
em futuras simulações de frentes de onda pode contribuir no aperfeiçoamento
dos atuais modelos de ondas de gravidade de forma que estes possam
reproduzir o fenômeno das frentes mesosféricas.

197
Tabela 6.2 - Parâmetros físicos observados dentro do ducto da frente
mesosférica de 1º de outubro de 2005.

N2 2
T θ u m λz
(K) (K) (x10-4s-2) (ms-1) (x10-8m-2) (km)
Mínimo 164,9 7.975 4,5 -40,5 0,2 7
Máximo 168,8 10.244 9,9 -23,8 2,0 23
Médio 166,7 9.054 6,4 -33,8 0,9 14,2

6.2.4 A Condição de Propagação da Frente Mesosférica

Como foi visto na Seção 6.2 a ocorrência de camadas de inversão


simultaneamente a frentes mesosféricas têm sido geralmente interpretada na
literatura como uma relação de causalidade, ou seja, frentes de onda
ocorreriam dentro de ductos térmicos configurados pelas camadas de inversão.
Neste caso em específico de 1º de outubro de 2005, a condição do ducto será
discutida a seguir.

A partir da análise da ordem de grandeza dos termos da relação de dispersão,


apresentada na Seção 4.7.2, verificou-se que o termo da derivada segunda do
vento dominou o resultado do m 2 na condição de propagação da frente de
onda de 1º de outubro de 2005. Enquanto o termo do vento contribuiu com
~103% do valor final de m 2 no ducto, a contribuição dos termos de N 2 e de k h2

foram desprezíveis (-3% e 0%, respectivamente).

Isto significa que o vento desempenhou um papel fundamental na configuração


do ducto dentro do qual a pororoca se propagou. Por esta razão, se fez
necessário analisar o comportamento do vento mesosférico na noite de 1º de
outubro de 2005.

198
A Figura 6.7 apresenta a variação temporal dos perfis de vento zonal,
meridional e na direção de propagação da frente de onda medidos com radar
meteórico entre 12:00 (LT) de 01/10/2005 e 12:00 (LT) de 02/10/2005 sobre
São João do Cariri, PB.

Observa-se a partir da Figura 6.7 uma intensificação nos ventos zonal e


meridional às 14:00 e 18:00 (LT), respectivamente, como resultado da atuação
da maré semi-diurna. Esta atuação da maré semi-diurna intensificando o vento
mesosférico sobre São João do Cariri já foi reportada anteriormente por Lima et
al. (2006) e Buriti et al. (2007).

No vento zonal esta intensificação foi maior acima de 90 km de altura atingindo


valores ordem de –120 ms-1 em 97 km. Já no vento meridional esta
intensificação foi maior acima de 83 km, onde o vento foi praticamente nulo,
atingindo valores 70 ms-1 em torno de 93 km, onde o vento meridional foi
máximo.

No horário de observação da frente de onda (linhas sólidas verticais) e na


direção desta, observa-se que o vento é da ordem de -10 a -20 ms-1 abaixo de
84 km, diminuindo para aproximadamente zero entre 84 e 88 km, e
desenvolvendo um forte gradiente de -20 ms-1 em 89 km, -40 ms-1 em 92 km,
até atingir -60 ms-1 em 98 km de altitude. Este cisalhamento de vento na
direção de propagação da frente mesosférica teve uma forte influência na
condição de propagação da onda.

199
Vento Zonal – Cariri – 1 - 2/10/2005

Altitude (km)

a)

Vento Meridional – Cariri – 1- 2/10/2005


Altitude (km)

b)

Vento na Direção da Onda – Cariri – 1 - 2/10/2005


Altitude (km)

c)

Hora Local
Figura 6.7 - Variação temporal do vento a) zonal, b) meridional e c) vento na
direção de propagação da onda medidos por radar meteórico entre
12:00 (LT) de 01/10/2005 e 12:00 (LT) de 02/10/2005 sobre São
João do Cariri, PB. As linhas sólidas verticais indicam o horário de
observação da frente de onda e as linhas horizontais delimitam a
base e o topo do ducto mostrado na Figura 6.6.

A Figura 6.8 apresenta a variação temporal do perfil de m 2 normalizado entre


12:00 (LT) de 01/10/2005 e 12:00 (LT) de 02/10/2005 sobre São João do Cariri.

200
Uma ressalva, porém deve ser feita com relação às limitações na discussão
realizada a partir deste gráfico: a Figura 6.8 apresenta a variação temporal de
m 2 supondo-se que apenas o vento varia ao longo do tempo. Nota-se da
Equação 6.1 que além do vento, a temperatura (incluída no termo do N 2 ) e as
próprias características da onda ( c e k h2 ) também variam com o tempo. Com

relação às variações na temperatura e no número de onda horizontal, sabe-se


que estas não influirão consideravelmente no resultado de m 2 devido à
diferença de pelo menos duas ordens de grandezas com relação ao termo do
vento, neste estudo de caso. Além disso, no caso da temperatura, pode-se
assumir que a estrutura térmica equatorial no intervalo de algumas horas não
se altere abruptamente (GILLE e HOUSE, 1971).

Variação do Perfil de m2 – Cariri – 01/10/2005

Figura 6.8 - Variação temporal do perfil de m 2 normalizado entre 12:00 (LT) de


01/10/2005 e 12:00 (LT) de 02/10/2005 sobre São João do Cariri.
As linhas sólidas verticais apontam o horário de observação da
frente de onda e as linhas sólidas horizontais delimitam a base e o
topo do ducto.

Por outro lado, a velocidade de fase da onda é um parâmetro importante no


cálculo do m 2 , entretanto, como se dispõe apenas da medida da velocidade de

201
fase dentro do intervalo de 1 ou 2 horas de observação da frente de onda, e a
variação da velocidade neste período esteve dentro dos erros envolvidos na
medida (±10%), então pode-se considerar que a Figura 6.8 fornece uma
primeira aproximação da variação temporal da condição de propagação da
onda na noite do evento. Futuros estudos podem aperfeiçoar esta metodologia
fazendo uso de perfis de temperatura e de vento com uma maior resolução
temporal e vertical (que são limitados para os dados de satélite e de radar
meteórico, respectivamente, usados neste trabalho). Além disso, seria bastante
útil o desenvolvimento de uma técnica capaz de acompanhar as variações das
características das ondas observadas nas imagens de airglow.

A Figura 6.8 apresenta claramente o desenvolvimento de uma região


propagante entre 90 e 94 km (linhas sólidas horizontais), também mostrada na
Figura 6.6d, no horário de ocorrência da frente mesosférica (linhas sólidas
verticais). Observa-se que simultaneamente à região propagante também se
desenvolveram duas regiões evanescentes centradas em ~87 e ~96 km de
altura, respectivamente. A região evanescente inferior se iniciou às 16:30 (LT),
persistindo até às 23:00 (LT), e a região evanescente superior ocorreu entre
17:00 e 01:00 (LT). Isto significa que o vento também contribuiu para que as
condições em torno do ducto fossem adequadas a uma maior eficiência na
canalização de ondas, já que as regiões evanescentes acima e abaixo do ducto
minimizam fortemente a transmissão da onda, e conseqüentemente, o escape
de energia (NAPPO, 2002).

Este resultado é importante, pois vários trabalhos na literatura têm relacionado


a ocorrência de frentes mesosféricas apenas com a existência de uma camada
de inversão de temperatura que lhe serviria de ducto (SMITH et al., 2003; SHE
et al., 2004; SMITH et al., 2005). Entretanto, no início da modelagem do
fenômeno Dewan e Picard (1998, 2001) já alertavam para o fato de que a
estrutura de ducto poderia ser formada por alguma combinação entre
cisalhamento de vento e inversão térmica, tal como foi observado na noite de
01/10/2005.

202
A primeira evidência de que o vento poderia desempenhar um papel importante
no desenvolvimento das frentes mesosféricas surgiu no trabalho de Batista et
al. (2002). Neste trabalho os autores investigaram o ambiente envolvido na
frente de onda observada por Medeiros et al. (2001) sobre Cachoeira Paulista,
SP e ambos os trabalhos mostraram que um intenso cisalhamento de vento foi
registrado durante o evento. Smith et al. (2003) também verificaram a
ocorrência de um forte cisalhamento de vento na altura de observação de uma
frente de onda, entretanto, neste trabalho, os autores concentraram a
discussão apenas no papel desempenhado pela camada de inversão de
temperatura para a configuração do ducto. She et al. (2004) observaram uma
frente mesosférica se propagando na direção contrária a um vento bastante
forte (~40 ms-1), o que também poderia sugerir uma importância do vento na
configuração do ducto.

Já Shiokawa et al. (2006) observaram um intenso cisalhamento de vento


(80m/s/km) na altitude de propagação de uma frente mesosférica sobre
Kototabang, na Indonésia. Os autores conjeturaram a possibilidade do vento ter
desempenhado um importante papel na geração da frente de onda. Entretanto,
ao investigar a condição de propagação da frente, Shiokawa et al. (2006)
utilizaram a relação de dispersão para ondas de gravidade resultante de um
modelo de atmosfera sem cisalhamento vertical de vento, dada pela seguinte
expressão:
N2 1
m =
2
− k h2 − , (6.2)
(u − c ) 2
4H 2

onde H é a altura de escala. Assim, baseados nos resultados desta relação de


dispersão pouco realística, os autores concluíram que as condições de ducto
propostas por Dewan e Picard (1998) não eram satisfeitas para a frente
mesosférica por eles observada.

203
Desta forma, o estudo de caso de 1º de outubro de 2005 contribui no sentido
de que o comportamento do vento não pode ser desprezado na análise de
propagação das ondas de gravidade, especialmente no caso das frentes
mesosféricas. Além disso, deve-se utilizar nestes estudos a relação de
dispersão dada pela Equação 6.1, que além de ser mais realística ao
considerar os cisalhamentos de vento e os gradientes de temperatura, resulta
numa interpretação bastante distinta da condição de canalização das ondas.

6.2.5 Principais Conclusões do Caso de 01/10/2005

Em 1º de outubro de 2005, durante a campanha SpreadFEX, foi observada


uma pororoca mesosférica nas camadas de emissão do OH e do OI5577 sobre
São João do Cariri, PB. Os principais resultados desta observação foram os
seguintes:

− As diferentes porções das camadas de airglow OH (8%) e OI5577 (31%)


canalizadas pelo ducto explicam a aparência mais nítida e definida da
frente de onda nas imagens do OI5577 do que nas do OH. O evento
também apresentou um efeito de complementaridade claro-claro
previsto pelo modelo de Dewan e Picard (1998) com relação a
localização do ducto acima dos picos das camadas de emissão;

− Foi observada uma forte atuação da maré semi-diurna no vento


mesosférico que provocou um cisalhamento de vento simultaneamente a
observação da frente de onda, e na mesma altitude.

− A análise da condição de propagação permitiu concluir que a frente


mesosférica, do tipo pororoca ondular, foi suportada por um ducto
Doppler, consistindo na primeira observação deste tipo a ser reportada
na literatura.

204
6.3 O Caso de 03/10/2005: Destruição de uma Frente Mesosférica

6.3.1 Introdução

A despeito dos esforços observacionais realizados na última década ainda são


bastante limitadas na literatura observações de frentes mesosféricas que
evidenciem um processo de dissipação da frente e do trem de ondas (SHE et
al., 2004; FECHINE, 2004). Por esta razão será apresentado nesta seção um
estudo de caso de dissipação frente mesosférica detectada sobre São João do
Cariri, PB, durante a campanha SpreadFEX, cujas condições de temperatura e
de vento puderam ser analisadas. Na Seção 6.3.2 serão apresentadas as
imagens de airglow e os parâmetros físicos da frente mesosférica de 3 de
outubro de 2005. Na Seção 6.3.3 será apresentado o ambiente mesosférico
durante o evento. Na Seção 6.3.4 o papel do vento na dissipação da frente
mesosférica será discutido e, na Seção 6.3.5 os principais resultados são
sumarizados.

6.3.2 A Frente Mesosférica de 03/10/2005

Durante a campanha SpreadFEX também foi registrado um caso de frente


mesosférica, cujas imagens de airglow evidenciaram um possível processo de
dissipação de ondas. A Figura 6.9 mostra uma seqüência de imagens do
evento na emissão do OH, obtidas na noite de 3 de outubro de 2005 entre
21:00 e 23:09 (LT) sobre São João do Cariri, PB.

A frente mesosférica foi observada sob condições de céu limpo numa noite
com baixa atividade ondulatória. O fenômeno apareceu no campo de visão do
imageador a sudoeste, às 21:00 (LT), e durante a sua observação foi possível
identificar um trem de cinco cristas de onda seguindo a frente mesosférica. A
frente mesosférica apresentou ainda um efeito de complementaridade claro-
escuro entre as camadas de emissão do OH e OI5577, respectivamente, sendo
bem mais definida no OH do que no OI5577.

205
Imagens All Sky - Cariri - 03/10/2005
OH OH OH

21:38 (LT) 22:14 (LT) 22:30 (LT)


OH OH OH

22:46 (LT) 23:00 (LT) 23:09 (LT)

Figura 6.9 - Imagens sucessivas na emissão do OH mostrando a frente


mesosférica observada em 3 de outubro de 2005 sobre São João
do Cariri, PB. A seta para nordeste indica a direção de propagação
da frente de onda e os círculos indicam a ocorrência ripples (linhas
tracejadas) na noite da observação. A linha vertical na imagem das
23:00 (LT) indica a faixa do céu onde a frente mesosférica
desapareceu.

Às 23:00 (LT), quando a frente de onda atingiu o zênite local, foi observada nas
imagens de airglow uma dissipação tanto da frente como do trem de ondas que
a seguia, sugerindo uma forte mudança no ambiente mesosférico capaz de
alterar a condição de propagação da onda. Após as 23:00 (LT), as sucessivas
cristas do trem de ondas também dissiparam na região do zênite, até que às
23:30 (LT) a frente mesosférica havia se dissipado completamente.

Além da frente mesosférica, também foram observadas ondas de gravidade


transientes, os chamados ripples, ocorrendo principalmente a leste do
observatório, como mostram os círculos na Figura 6.9. Esta ocorrência de
ripples à leste e da frente mesosférica à oeste sugere que havia duas

206
condições atmosféricas distintas separadas aproximadamente pela linha
tracejada na Figura 6.9, que indica a faixa estática onda a frente de onda
desapareceu. A oeste desta linha as condições mesosféricas permitiriam a
propagação da frente de onda. Já a leste desta linha a ocorrência de ripples
sugere uma condição de instabilidade dinâmica na mesosfera. As condições de
ambiente mesosférico na noite do evento serão discutidas em detalhe na
Seção 6.3.3.

A análise espectral das imagens de airglow indicou que a frente de onda se


propagou para a direção de 58º de azimute, a uma velocidade de fase
observada de 27 ms-1 e uma velocidade intrínseca de 36,5 ms-1, com um
comprimento de onda horizontal de 27 km e um período intrínseco de ~12 min,
sendo acompanhada por ~2,5 horas. Já o ripple que sucedeu a frente
mesosférica apresentou um comprimento de onda de ~17 km, propagando-se
para o azimute 152º com um período observado de ~40 min e uma velocidade
de fase observada de ~7 ms-1. Devido às características apresentadas pelo
distúrbio que concordam com o modelo de Dewan e Picard (1998, 2001) e,
segundo a proposta de Brown et al. (2004), esta frente mesosférica pode ser
classificada como uma pororoca mesosférica.

6.3.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 03/10/2005

Para a investigar as condições do ambiente no qual a frente mesosférica se


dissipou foram utilizadas medidas simultâneas de vento obtidas com radar
meteórico, além de perfis de taxa de emissão volumétrica da emissão do OH
em 1,6 μm e de temperatura cinética obtidos com o satélite TIMED/SABER. A
Figura 6.10 apresenta os perfis de temperatura cinética e temperatura
potencial, do quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä, do vento na direção de
propagação da onda, do número e do comprimento de onda verticais, além dos
perfis das taxas de emissão volumétrica normalizadas do OH em 1,6 μm, do
O2(0,1) e do OI5577. Na Figura 6.10a observa-se o perfil de temperatura (linha
sólida) obtido pelo satélite TIMED/SABER na coordenada de ponto tangente

207
médio de (2,9º N; 41,9º O) às 21:58 (LT) no dia 3/10/2005, a partir do qual foi
calculado o perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As linhas
tracejadas representam a taxa de queda adiabática da temperatura. Desta
forma, estes perfis representam uma sondagem realizada pelo satélite
TIMED/SABER dentro do campo de visão do imageador e no horário de
ocorrência da frente mesosférica.

θ (x 104 K) Brünt - Väisäla λz (km)


Vento Airglow

a) b) c) d) e)

T (K) N2 (x 10-4 s-2) Vento (m/s) m2 (x 10-7 m-2) VER normal.


Figura 6.10 - a) Perfil de temperatura cinética (linha sólida) medido com o
satélite TIMED/SABER em 3/10/2005 sobre São João do Cariri e
respectivo perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As
linhas tracejadas representam a taxa de queda adiabática da
temperatura. b) Perfil do quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä.
c) Perfil do vento na direção de propagação da onda medido às
21:00 (LT) com radar meteórico (linha sólida). A linha pontilhada é a
velocidade de fase da onda. d) Perfis do número de onda vertical
( m 2 ) (linha sólida) e do comprimento de onda vertical (λz) (linha
pontilhada). e) Perfis verticais das taxas de emissão volumétrica
normalizadas (VER) do OH em 1,6 μm (linha sólida) medido pelo
satélite TIMED/SABER e do O2(0,1) (linha tracejada) e OI5577
(linha pontilhada) calculados com o modelo MSIS-90 e com um
rebaixamento de 9 km na concentração de O. As linhas sólidas
horizontais que cortam os cinco gráficos delimitam a base e o topo
do ducto.

208
Observa-se no perfil de temperatura (linha sólida) a ocorrência de uma camada
de inversão entre 75 e 82 km de altitude com uma amplitude de 37 K. Acima do
pico da camada de inversão, o perfil de temperatura exibe algumas flutuações,
até que a partir de 92 km a temperatura apresenta um forte decréscimo
atingindo o mínimo de 146 K em 97 km de altura, definindo a mesopausa. A
espessura, a amplitude e as altitudes de topo e de base da MIL concordaram
com os valores médios observadas em São João do Cariri (FECHINE et al.,
2007), enquanto as temperaturas da base (178K) e do topo (215K) da MIL
foram 7 K e 10 K abaixo e acima da média, respectivamente. O perfil de
temperatura potencial (linha pontilhada) refletiu o comportamento do perfil de
temperatura. Observou-se um aumento da temperatura potencial, i.e. da
estabilidade atmosférica, na região da camada de inversão e um forte
decréscimo na estabilidade atmosférica em torno de 93 km. As Figuras 6.10a e
6.10b mostram que de uma forma geral a mesosfera estava bastante estável,
apresentando faixas de instabilidade em torno de 70, 93 e 110 km, onde N 2 foi
nulo.

Na Figura 6.10c observa-se o perfil de vento (linha sólida) na direção de


propagação da frente de onda e a sua velocidade de fase observada que foi de
27,5 ms-1 (linha pontilhada). Verifica-se na Figura 6.10c que no horário do
evento o vento soprava na direção oposta da frente de onda abaixo de 85 km
de altura. Acima desta altura o vento passa a soprar na direção da onda até
que entre 87 e 90 km a velocidade do vento e da onda se aproximam bastante
sugerindo a proximidade de um nível crítico. Acima de 91 km o vento torna a
mudar de direção, soprando no sentido contrário da frente e onda, e a partir de
96 km, o vento praticamente tornou-se nulo.

Os perfis de m 2 (linha sólida) e de λz (linha pontilhada) mostrados na Figura


6.10d refletem estas variações do vento que alteram a condição de propagação
vertical das ondas. Observa-se no perfil de m 2 a ocorrência de dois ductos

209
distintos, um ducto inferior entre 82 e 85 km, e um ducto superior entre 91 e 95
km. A princípio ambos os ductos poderiam suportar a frente mesosférica de
3/10/2005, porém apenas a análise da variação do vento na noite pode indicar
em qual ducto a frente mesosférica se propagou, como será discutido a seguir.

Assim como ocorreu na frente mesosférica de 01/10/2005, os ductos do dia 3


de outubro de 2005 também apresentaram uma forte contribuição do 2º termo
na relação de dispersão, representado pela derivada segunda do vento. Porém,
como o ducto inferior foi criado por uma condição de gradiente de vento
aproximadamente linear (ver Figura 6.10c) os valores do m 2 são bem
pequenos, próximo de zero, o que sugere que este ducto não seria tão eficiente
para suportar uma frente mesosférica. Já com relação ao ducto superior, entre
92 e 94 km, observa-se um mínimo de vento local, e devido a esta
configuração de vento, é estabelecido um ducto Doppler propagante com
maiores valores de m 2 positivos, o que torna o ducto superior mais eficiente
para a canalização da frente mesosférica observada. Na próxima seção serão
descritas outras observações que corroboram a hipótese de que foi o ducto
superior que suportou a frente mesosférica.

Na Figura 6.10e observa-se que o ducto superior se localizou acima dos picos
de emissão do OH 1,6 μm (linha sólida) e do OI5577 (linha pontilhada) (86 e 90
km respectivamente). Nesta configuração, ao calcular a porção das camadas
compreendidas pelo ducto, percebe-se que a camada do OI5577 apresentou
uma maior porção de taxa de emissão volumétrica canalizada, cerca de 28%,
em comparação com a camada do OH que teve apenas 11% de sua taxa de
emissão volumétrica canalizada.

Segundo o modelo de Dewan e Picard (1998) se o ducto estiver acima de uma


camada de emissão a frente de onda se apresenta clara nas imagens de
airglow, devido ao rebaixamento, compressão e subseqüente aquecimento da
camada. De forma inversa, uma camada de emissão acima do ducto seria

210
levantada, sofrendo rarefação e resfriamento, e conseqüentemente exibindo
uma frente de onda escura.

Assim, nota-se que, como a frente mesosférica de 3/10/2005 apresentou um


efeito de complementaridade claro-escuro nas imagens do OH e do OI5577,
respectivamente, e como o ducto estava acima do pico do OH, mas
aproximadamente coincidente com o pico do OI5577, então, a priori, não se
pode afirmar que a previsão do modelo de Dewan e Picard (1998) tenha
falhado, entretanto se faz necessário outras observações para se avaliar
melhor a resposta das camadas de airglow a passagem das frentes
mesosféricas.

As observações do ambiente mesosférico na noite de 3 de outubro de 2005


indicam, portanto, que a frente mesosférica se propagou entre 91 e 95 km de
altitude dentro de um ducto Doppler. Especificamente, o termo do vento na
relação de dispersão contribuiu em média com ~102% do valor de m 2 no
interior do ducto, enquanto a contribuição dos termos de N 2 e de k h2 foram

desprezíveis (0% e -2%, respectivamente). Outros parâmetros físicos no


interior do ducto também foram medidos e são mostrados na Tabela 6.3.

Tabela 6.3 - Parâmetros físicos observados dentro do ducto da frente


mesosférica de 3 de outubro de 2005.
N2 2
T θ u m λz
(K) (K) (x10-4s-2) (ms-1) (x10-8m-2) (km)
Mínimo 154,5 9.114 -4,3 -16,2 -3 2,6
Máximo 197,7 9.773 5,6 2,4 0,2 3,1
Médio 177,9 9.420 -0,5 -9,5 6,7 2,9

Desta forma, como o vento desempenhou um papel fundamental na


configuração do ducto dentro do qual a frente mesosférica se propagou e se
dissipou, fez-se necessário analisar o comportamento do vento mesosférico na
noite do evento, o que será discutido a seguir.

211
6.3.4 O Papel do Vento na Dissipação da Frente Mesosférica

A Figura 6.11 apresenta a variação temporal dos perfis de vento zonal e


meridional medidos com radar meteórico entre 12:00 (LT) de 03/10/2005 e
12:00 (LT) de 04/10/2005 sobre São João do Cariri, PB.

Vento Zonal – Cariri – 3 - 4/10/2005


Altitude (km)

a)

Vento Meridional – Cariri – 3 - 4/10/2005


Altitude (km)

b)

Hora Local
Figura 6.11 - Variação temporal dos perfis de a) vento zonal e b) vento
meridional medidos com radar meteórico entre 12:00 (LT) de
03/10/2005 e 12:00 (LT) de 04/10/2005 sobre São João do Cariri.
As linhas sólidas verticais indicam o horário de observação da
frente mesosférica e as linhas horizontais delimitam a base e o topo
do ducto apresentado na Figura 6.11.

212
A Figura 6.11a mostra a ocorrência de um intenso cisalhamento no vento zonal
entre 21:00 e 23:30 (LT) (linhas sólidas verticais) resultante da atuação da
maré semi-diurna. Em 81 km o vento foi de -40 ms-1, mudando para -20 ms-1
em 84 km, até que em 88 km o vento foi praticamente nulo. Acima deste nível o
vento zonal passou a soprar para leste exibindo velocidades de 20 ms-1 em ~91
km, 40 ms-1 em ~93 km, até atingir um máximo de 70 ms-1 em ~97km.

A Figura 6.11b também mostra a ocorrência de um cisalhamento no vento


meridional no horário de observação da frente mesosférica, entre 21:00 e 23:30
(LT) (linhas sólidas verticais), porém menos intenso do que o do vento zonal.
Neste horário, o vento meridional apresentou uma mudança de direção de
escoamento em ~90 km de altura, acima e abaixo do qual a velocidade do
vento atingiu valores de 30 ms-1 e -40 ms-1, respectivamente.

Como a frente mesosférica se propagou aproximadamente na direção zonal, o


gráfico da variação noturna do vento na direção de propagação da onda,
mostrado na Figura 6.12a, apresenta as mesmas características do vento zonal
(Figura 6.11a). Os ventos na direção de propagação da onda foram em geral
~10 ms-1 menos intensos do que o vento zonal, e a altura na qual o vento
mudou de direção foi entre 90 e 88 km no horário de propagação da frente de
onda (linhas sólidas verticais).

Esta variação do vento na direção de propagação da frente mesosférica teve


forte influência na condição de propagação da onda. A Figura 6.12b mostra que
a atuação da maré semi-diurna na direção de propagação da onda provocou
um intenso cisalhamento de vento na região de 91 a 95 km de altura, entre
21:00 e 23:30 (LT), ou seja, no horário em que foi observada a frente
mesosférica.

213
Vento na Direção da Onda
Cariri – 3 - 4/10/2005

Altitude (km)

a)

Gradiente do Vento na Direção da Onda


Cariri – 3 - 4/10/2005
Altitude (km)

b)

Hora Local
Figura 6.12 - Variação temporal a) do perfil de vento e b) do gradiente de vento
na direção de propagação da frente mesosférica medidos com
radar meteórico entre 12:00 (LT) de 03/10/2005 e 12:00 (LT) de
04/10/2005 sobre São João do Cariri. As linhas sólidas verticais
indicam o horário de observação da frente mesosférica e as linhas
horizontais delimitam a base e o topo do ducto.

Como a frente mesosférica começou a sofrer dissipação a partir das ~22:45


(LT) (ver Figura 6.10), para desaparecer completamente às ~23:30 (LT),
praticamente ao zênite, pode-se considerar que a dissipação da frente
mesosférica esteve relacionada com uma região de instabilidade dinâmica.
Esta instabilidade dinâmica teria sido provocada pelo intenso cisalhamento de

214
vento desenvolvido na altura do ducto, e na região do céu entre o zênite e o
horizonte a leste.

Concorda com esta hipótese a sondagem realizada pelo satélite


TIMED/SABER que aponta uma instabilidade atmosférica em torno de 93 km,
como pode ser notado partir dos valores negativos de N 2 e do decréscimo da
temperatura potencial dentro do ducto (Figuras 6.10a e 6.10b). Assim, um
aumento no cisalhamento de vento também em torno de 93 km (Figura 6.12b)
simultaneamente a uma diminuição da estabilidade estática se configura no
mecanismo ideal para a geração de instabilidades dinâmicas na atmosfera, já
que o número de Richardson é dado por (BEER 1974):

N2
Ri = 2
⎛ ∂U ⎞
⎜⎜ ⎟⎟
⎝ ∂z ⎠

De fato, entre 91 e 95 km foram medidos números de Richardson muito


menores que 1, o que explica o fato da frente mesosférica junto com seu trem
de ondas terem sido destruídos rapidamente às 23:30 (LT).

Outro fato que suporta a hipótese de uma atmosfera dinamicamente instável


entre o zênite e o horizonte a leste do observatório, foi a observação de ripples,
(Figura 6.9) durante a propagação da frente de onda entre o horizonte a oeste
e o zênite, e também após a sua destruição. Esta ocorrência de ripples após a
destruição de uma frente mesosférica também foi reportada por She et al.
(2004). Neste trabalho, os autores acompanharam a destruição do trem de
ondas associado a uma frente mesosférica, e propuseram que esta destruição
indicou a transição de uma pororoca ondular em pororoca turbulenta, como
previsto pelo modelo de Dewan e Picard (1998).

215
No caso de 3/10/2005 não se pode afirmar que houve tal transição, já que após
as 23:00 (LT) não se observou a permanência de uma frente ainda que
turbulenta. Entretanto, na discussão de seus resultados She et al. (2004)
mostraram que no momento da transição da pororoca ondular em pororoca
turbulenta o número de Richardson dentro do ducto foi menor que 0,25, ou
seja, a pororoca sofreu um processo de instabilidade dinâmica. Após a
transição She et al. (2004) também observaram a ocorrência de ripples nas
imagens de airglow corroborando a hipótese da instabilidade. Assim, estas
observações de She et al. (2004) suportam a hipótese de que a frente
mesosférica de 03/10/2005 foi destruída por um processo de instabilidade
dinâmica que estaria presente durante toda a noite na região do céu a leste do
observatório.

Finalmente, Fechine (2004) e Fechine et al. (2005) já haviam observado frentes


mesosféricas com evidência de dissipação sobre São João do Cariri, PB,
entretanto, devido a indisponibilidade de dados de vento e de temperatura não
foi possível analisar o ambiente atmosférico no qual estas dissipações
ocorreram. Assim, o caso de 03/10/2005 constitui a primeira observação de
destruição de frente mesosférica por instabilidade dinâmica registrada sobre
São João do Cariri, PB na qual foi possível se investigar em detalhes as
condições de temperatura e de vento subjacentes ao fenômeno.

6.3.5 Principais Conclusões do Caso de 03/10/2005

Em 3 de outubro de 2005, durante a campanha SpreadFEX, foi observada uma


dissipação de frente mesosférica nas camadas de emissão do OH e do OI5577
sobre São João do Cariri, PB. Os principais resultados desta observação foram
os seguintes:

− Uma forte atuação da maré semi-diurna provocou um cisalhamento de


vento na mesosfera que deu origem a um ducto Doppler dentro do qual
a frente mesosférica se propagou;

216
− Foram observadas condições atmosféricas distintas no céu de São João
do Cariri, na noite do evento. Entre o horizonte oeste e o zênite a
propagação da frente mesosférica foi permitida, enquanto entre o zênite
e o horizonte leste a ocorrência de ondas de gravidade transientes
(ripples) sugere a presença de uma condição de instabilidade dinâmica;

− O aumento do cisalhamento de vento provocou instabilidades dinâmicas


que resultaram na destruição da frente mesosférica junto com o trem de
ondas.

6.4 O Caso de 02/11/2005: Geração de uma Frente Mesosférica

6.4.1 Introdução

Na tentativa de explicar a observação da pororoca mesosférica reportada por


Taylor et al. (1995a) durante a campanha ALOHA-93, Dewan e Picard (1998)
questionaram sobre que fenômeno seria responsável pela existência do ducto
dentro do qual uma pororoca se propagaria na mesosfera. Para responder a
esta questão, Dewan e Picard (1998) consideraram a observação de uma
camada de inversão de temperatura realizada por Dao et al. (1995) também
durante a campanha ALOHA-93, que configuraria um ducto capaz de suportar
uma pororoca mesosférica.

Para explicar o aumento localizado da temperatura dentro da camada de


inversão reportada por Dao et al. (1995), Huang et al. (1998) sugeriram um
mecanismo envolvendo a interação de ondas de gravidade com o vento médio,
incluindo a componente de maré, isto a um nível crítico. Esta interação
provocaria a deposição de momentum, acelerando o vento médio resultando
em turbulência e subseqüente aquecimento, e formação da camada de
inversão.

217
Baseado nestes trabalhos, Dewan e Picard (2001) apresentaram um modelo
matemático propondo que o mesmo mecanismo de geração da camada de
inversão de temperatura poderia atuar também como gerador de pororocas
mesosféricas. Segundo este modelo, a interação de ondas de gravidade com
um nível crítico provocaria uma deposição de momentum numa estreita faixa
de altitudes, para um elemento de fluido local dentro do ducto, formado pela
camada de inversão. Isso ocorreria devido a presença de uma divergência de
fluxo de momentum a um nível crítico (LINDZEN, 1990).

Ainda segundo Dewan e Picard (2001), a divergência do fluxo de momentum


poderia ser decorrente tanto de ondas de gravidade de uma fonte similar
àquela que foi responsável pela criação da camada de inversão, como de uma
outra fonte diferente. Com a deposição de momentum, o vento médio seria
acelerado gerando uma frente de onda por um processo de auto-crescimento
(STOKER 1948, 1957).

Assim, como as condições de formação de frentes mesosféricas permanecem


ainda pouco conhecidas, será apresentado nesta seção um estudo de caso de
formação de frente de onda sobre São João do Cariri, PB, durante a campanha
SpreadFEX.

Na Seção 6.4.2 serão descritas as observações de airglow na noite de 2 de


novembro de 2005. Na Seção 6.4.3 serão apresentadas as condições de
temperatura e de vento mesosféricos durante o evento. Na Seção 6.4.4 as
observações serão confrontadas com o mecanismo de geração de pororoca
proposto por Dewan e Picard (1998, 2001). E, na Seção 6.4.5 os principais
resultados deste estudo de caso serão sumarizados.

6.4.2 A Frente Mesosférica de 02/11/2005

Na noite de 2 de novembro de 2005, durante a campanha SpreadFEX, foi


observada a formação e subseqüente destruição de uma frente mesosférica

218
sobre São João do Cariri, PB. As Figuras 6.13a e 6.13b mostram sucessivas
imagens do evento na emissão do OI5577 e do OH, respectivamente.

O5 O5 O5

frente frente

a) 18:44 (LT) 20:05 (LT) 20:14 (LT)


OH OH OH

frente frente

banda

banda banda

b) 18:44 (LT) 20:06 (LT) 20:15 (LT)


Figura 6.13 – Imagens na emissão a) do OI5577 e b) do OH mostrando a
formação de uma frente mesosférica (linha sólida) em 2 de
novembro de 2005 sobre São João do Cariri, PB. A seta para
noroeste indica a direção de propagação da frente de onda em
ambas as emissões. Os círculos nas imagens do OI5577 indicam a
presença de ripples (linhas tracejadas) e as setas para leste e para
sudeste nas imagens do OH indicam a presença de bandas. As
faixas escuras na direção norte-sul das imagens do OI5577 às
20:05 e 20:14 (LT) indicam a ocorrência de bolhas de plasma na
ionosfera.

Entre 19:30 e 20:30 (LT) da noite de 2 de novembro de 2005 foi observado


sobre São João do Cariri um evento com fortes evidências de se tratar de uma
formação seguida de uma destruição de uma frente mesosférica. A observação
foi realizada a partir de imagens de airglow nas emissões do OI5577 e do OH,
sob condições de céu limpo, e a noite também apresentou uma alta atividade
de ondas de gravidade.

219
No início da noite, em torno das 18:44 (LT) se observou bandas no OH e no
OI5577 se propagando para leste a uma velocidade observada de 37 ms-1, com
comprimento de onda de 32 km e período observado de 14 min. Ainda no início
da noite até a formação da frente de onda foram observados ripples
propagando-se para norte com uma velocidade observada de 20 ms-1, com
comprimento de onda de 21 km e período observado de 17 min, porém apenas
no OI5577. Às 19:30 (LT) foi observada a formação de uma frente de onda
solitária que se apresentou clara na emissão do OH e escura na emissão
OI5577 simultaneamente, tal como é mostrado nas Figuras 6.13a e 6.13b. A
frente mesosférica se deslocou na direção de 313º de azimute com uma
velocidade de fase observada bastante reduzida de ~2 ms-1, porém com ~27
ms-1 de velocidade intrínseca. Como apenas uma frente de onda solitária foi
observada, não há sentido físico no cálculo de um comprimento de onda e de
um período para este evento. Durante a formação da frente mesoférica
também foram observadas bandas se propagando para a direção sudeste com
uma velocidade observada de 37 ms-1, um comprimento de onda de 25 km e
um período observado de 11 min.

As imagens de airglow também mostraram que às 20:30 (LT) surgiu outra


banda no horizonte à noroeste, alinhada a frente mesosférica, que se propagou
para a direção sudeste, ou seja, em direção oposta a frente mesosférica, com
uma velocidade intrínseca de 63 ms-1, um comprimento de onda horizontal de
31 km e um período intrínseco de 8 min. Durante a propagação, esta banda
passou pela frente de onda, culminando na destruição desta última.

6.4.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 02/11/2005

Para a investigar as condições do ambiente no qual a frente mesosférica foi


gerada e sofreu uma rápida destruição foram utilizadas medidas simultâneas
de vento obtidas com radar meteórico, além de perfis de taxa de emissão
volumétrica da emissão do OH em 1,6 μm e de temperatura cinética obtidos
com o satélite TIMED/SABER. A Figura 6.14 apresenta os gráficos dos perfis

220
de temperatura cinética e potencial, do quadrado da freqüência de Brünt-
Väisälä, do vento na direção de propagação da onda, do número e do
comprimento de onda verticais, além dos perfis das taxas de emissão
volumétrica normalizadas do OH em 1,6 μm, do O2 (0,1) e do OI5577.

θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow

a) b) c) d) e)

T (K) N2 (x 10-4 s-2) Vento (m/s) m2 (x 10-7 m-2) VER normal.


Figura 6.14 - a) Perfil de temperatura cinética (linha sólida) medido com o
satélite TIMED/SABER em 2/11/2005 sobre São João do Cariri e
respectivo perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As
linhas tracejadas representam a taxa de queda adiabática da
temperatura. b) Perfil da freqüência de Brünt-Väisälä. c) Perfil do
vento na direção de propagação da onda medido às 20:00 (LT) com
radar meteórico (linha sólida). A linha pontilhada é a velocidade de
fase da onda. d) Perfis do número de onda vertical ( m2 ) (linha
sólida) e do comprimento de onda vertical (λz) (linha pontilhada). e)
Perfis verticais das taxas de emissão volumétrica normalizadas
(VER) do OH em 1,6 μm (linha sólida) medido pelo satélite
TIMED/SABER e do O2(0,1) (linha tracejada) e OI5577 (linha
pontilhada) calculados com o modelo MSIS-90 e com um
rebaixamento de 3km na concentração de O. As linhas sólidas
horizontais que cortam os cinco gráficos delimitam a base e o topo
do ducto.

221
Na Figura 6.14a observa-se o perfil de temperatura (linha sólida) obtido pelo
satélite TIMED/SABER na coordenada de ponto tangente médio de (16,5º S;
28,3º O) às 18:43 (LT) no dia 2/11/2005, ou seja, 45 minutos antes do evento.
A partir deste perfil de temperatura foi calculado o perfil de temperatura
potencial (linha pontilhada). As linhas tracejadas representam a taxa de queda
adiabática da temperatura. Observa-se na Figura 6.14a a ocorrência de uma
estreita camada de inversão de temperatura entre 95 e 98 km. Embora esta
camada de inversão não satisfaça ao critério de espessura mínima de 4 km
estabelecido por Fechine et al. (2007) para caracterizar as MILs sobre São
João do Cariri, sua ocorrência é relevante na discussão do mecanismo de
geração da frente de onda na Seção 6.4.4. Nota-se ainda na Figura 6.14a que
a MIL definiu uma faixa de alta estabilidade estática entre 95 e 98 km,
representada pelo aumento no gradiente vertical da temperatura potencial
(linha pontilhada) e pela região de N 2 com valores de ~10 -3 s-2 (linha sólida na
Figura 5.14b).

A Figura 6.14c apresenta um perfil de vento bastante singular na noite do


evento. Enquanto acima de 95 km de altura o vento soprava na direção oposta
da frente de onda, atingindo velocidades de até -50 ms-1, abaixo de 95 km o
vento apresentou velocidades iguais ou maiores que a velocidade de fase da
frente mesosférica. Isto significa que abaixo de 95 km o vento estabeleceu uma
região de filtragem para ondas com velocidade menor que o máximo local, que
foi de ~50 ms-1. A Figura 6.14d reflete este comportamento peculiar do vento
ao apresentar uma região de ducto no perfil de m2 (linhas sólidas horizontais)
entre 95 e 98 km sobreposta à região de filtragem, abaixo de 95 km.

Já a Figura 6.14e apresenta a baixa taxa de emissão volumétrica canalizada


por este ducto tanto na camada do OH (1%), quanto na camada do OI5577
(11%), o que explica a aparência tênue da frente de onda nas imagens de
airglow. Além disso, como o ducto se localizou acima dos picos de emissão do
OH e do OI5577 e a frente de onda apresentou um efeito claro-escuro,

222
respectivamente, nestas camadas, então este efeito não é previsto pelo modelo
de Dewan e Picard (1998), segundo o qual a frente deveria se apresentar clara
em ambas as emissões.

Além disso, para auxiliar futuros estudos de modelagem e simulação de frentes


mesosféricas são apresentados na Tabela 6.4 os principais parâmetros físicos
medidos dentro do ducto.

Tabela 6.4 - Parâmetros físicos observados dentro do ducto da frente


mesosférica de 2 de novembro de 2005.
2 2
T θ N u m λz
(K) (K) (x10-4s-2) (ms-1) (x10-8m-2) (km)
Mínimo 187,7 11.241 0,5 -41,7 3,3 1,3
Máximo 210,9 14.478 9,9 -2,1 57,0 5,5
Médio 201,2 12.963 8,5 -24,9 24 2,9

Devido a peculiaridade no perfil de vento observado na noite do evento se fez


necessário investigar a variação temporal do vento mesosférico. A Figura 6.15
apresenta a variação temporal dos perfis de vento zonal e meridional medidos
com radar meteórico entre 12:00 (LT) de 02/11/2005 e 12:00 (LT) de
03/11/2005 sobre São João do Cariri, PB.

Observa-se na Figura 6.15a que o vento zonal apresentou um máximo de 20 a


30 ms-1 na altura do ducto, porém sem apresentar um cisalhamento tão grande
quanto o vento meridional (Figura 6.15b). Esta baixa intensidade do vento
zonal (0 a 30 ms-1) explica a observação das bandas no início da noite se
propagando para leste com uma velocidade de 37 ms-1, ou seja, ondas que não
sofreram filtragem pelo vento zonal. Já na Figura 6.15b observa-se uma forte
atuação da maré semi-diurna no vento meridional, fazendo com que o máximo
de velocidade de vento registrado, entre 60 e 70 ms-1, ocorresse em torno das
19:30 (LT), ou seja, no horário de formação da frente mesosférica. Esta
atuação da maré semi-diurna intensificando o vento meridional sobre São João
do Cariri também foi reportada por Lima et al. (2006) e Buriti et al. (2007).

223
Vento Zonal – Cariri – 2 - 3/11/2005

Altitude (km)

a)

Vento Meridional – Cariri – 2 - 3/11/2005


Altitude (km)

b)

Hora Local
Figura 6.15 - Variação temporal dos perfis de a) vento zonal e de b) vento
meridional medidos por radar meteórico entre 12:00 (LT) de
01/11/2005 e 12:00 (LT) de 02/11/2005 sobre São João do Cariri,
PB. As linhas sólidas horizontais delimitam a base e o topo do
ducto e as linhas sólidas verticais indicam o horário de observação
da frente mesosférica.

A Figura 6.16 apresenta a variação temporal do perfil de vento na direção de


propagação da frente mesosférica e o gradiente vertical deste vento entre
12:00 (LT) de 02/11/2005 e 12:00 (LT) de 03/11/2005. Observa-se em 6.16a
que, embora o vento na direção de onda se apresentasse de forma geral
menos intenso do que o vento meridional é clara a assinatura da maré semi-
diurna principalmente no horário de observação da frente mesosférica e na

224
altura do ducto (linhas sólidas verticais e horizontais, respectivamente). Já o
gradiente vertical do vento na direção de propagação da frente de onda
apresenta um forte cisalhamento, cerca de -25 m/s/km, coincidindo com a
formação da frente mesosférica, às 19:30 (LT) entre 95 e 98 km. Ainda que
tenha diminuído para -5 m/s/km às 21:30 (LT), este cisalhamento foi o mais
forte registrado na mesosfera, na noite do evento.

Vento na Direção da Onda


Cariri – 2 - 3/10/2005
Altitude (km)

a)

Gradiente do Vento na Direção da Onda


Cariri - 2 - 3/11/2005
Altitude (km)

b)

Hora Local
Figura 6.16 - Variação temporal a) do perfil de vento e b) do gradiente de vento
na direção de propagação da frente mesosférica medidos com
radar meteórico entre 12:00 hs (LT) de 02/11/2005 e 12:00 hs (LT)
de 03/11/2005 sobre São João do Cariri, PB. As linhas sólidas
verticais indicam o horário de observação da frente mesosférica e
as linhas horizontais delimitam a base e o topo do ducto.

225
Este forte cisalhamento de vento pode ter gerado os ripples detectados no
OI5577 antes da formação da frente de onda. Esta hipótese é plausível devido
a três importantes evidências: a primeira é que os ripples foram observados na
emissão do OI5577 e não no OH, o que indica que a sua geração deve ter sido
local e acima da camada do OH; a segunda evidência é que o cisalhamento de
vento se localizou bem acima (~94 km, ver Figura 6.16b) do pico de emissão
do OH (~84 km, ver Figura 6.14); e a terceira evidência é que os ripples
apresentaram uma velocidade de fase de 20 ms-1, ou seja, bem menor que a
velocidade do vento, entre 60 e 70 ms-1, medida abaixo de 94 km, de forma
eles só seriam observados no OI5577 se tivessem sido gerados pelo
cisalhamento e se tivessem se propagado para cima, caso contrário, se os
ripples tivessem se propagado para baixo teriam sido absorvidos pela região
filtrante.

Estas observações de uma região de filtragem de ondas abaixo do ducto e de


uma alta atividade de ondas de gravidade na noite de 2/11/2005, além da
geração de ondas localmente por cisalhamento de vento compõem o cenário
físico de formação da frente mesosférica que será discutido na Seção 6.4.4 a
seguir.

6.4.4 As Condições de Geração da Frente Mesosférica

Observa-se na Figura 6.14c que entre 81 e 92 km foi configurada uma região


de filtragem de ondas que se deslocassem para noroeste a uma velocidade
menor que ~50 ms-1. Isto significa que esta região de bloqueio pode ter
desempenhado um importante papel na absorção de ondas de gravidade, e
conseqüentemente, na aceleração do vento médio na noite do evento. Isto é
plausível pois, nesta noite, só foram observadas bandas se propagando para
leste e sudeste, e principalmente, porque a maioria das ondas de gravidade
observadas em São João do Cariri apresentam velocidades menores que 50

226
ms-1 (MEDEIROS et al. 2007), ou seja, estão sujeitas a filtragem por este perfil
de vento.

Acima da região de filtragem, em torno de 95 km, observa-se a ocorrência de


um nível crítico na base do ducto dentro do qual a frente de onda se formou.
Um nível crítico é definido teoricamente como a altura onde a velocidade do
vento se iguala a velocidade de fase da onda, fazendo com que m tenda ao

infinito. Observa-se na Figura 6.14d que o valor de m 2 em 95 km não tende ao


infinito pelo fato do perfil de vento se tratar de uma função discreta, com
medidas interpoladas a cada quilômetro. Ao se reproduzir o perfil de vento com
uma interpolação a cada 100 m, por exemplo, pode-se verificar que o valor de
m 2 aumenta consideravelmente em 95 km, de forma que o perfil de m 2
experimental (função discreta) reproduz o comportamento do perfil de m 2
teórico (função contínua) apresentando um nível crítico.

Como foi discutido na Seção 4.7.2, próximo ao nível crítico, a contribuição do


termo de N 2 é consideravelmente maior, se equivalendo em ordem de
grandeza ao termo do vento (10-8 para ambos) na relação de dispersão. Já
para o topo do ducto, em torno de 98 km, o termo da derivada segunda do
vento dominou o resultado do m 2 , ou seja, o vento dominou a configuração do
ducto nesta região. Isto significa que na noite de 2/11/2005, no horário de
formação da frente de onda, foi observado um ducto onde as condições de
temperatura exerceram tanta influência quanto o vento, configurando assim um
ducto dual, i.e. um ducto térmico e Doppler.

Esta observação de formação de frente de onda dentro de um ducto nas


proximidades de um nível crítico e acima de uma região de filtragem de ondas
concorda com o mecanismo físico proposto por Dewan e Picard (1998, 2001)
para explicar a geração de pororocas mesosféricas que foi apresentado na
Seção 6.4.1.

227
Segundo Huang et al. (1998) a deposição de momentum e energia devido a
interação entre ondas de gravidade e nível crítico pode explicar a formação de
camadas de inversão de temperatura na mesosfera, tal como a camada
observada na noite de 2 de novembro de 2005 entre 95 e 98 km que exibiu
uma amplitude de 27 K, e se localizou logo acima da região filtrante. Além
disso, também se observou um intenso cisalhamento no vento meridional na
altura e no horário da frente mesosférica, associado com a atuação da maré
semi-diurna, associação esta que também foi proposta por Huang et al. (1998)
para explicar a formação de camadas de inversão de temperatura.

Baseados no trabalho de Huang et al. (1998), Dewan e Picard (1998, 2001)


propuseram então que o mesmo mecanismo de interação entre ondas de
gravidade e nível crítico também poderia explicar a formação de pororocas
mesosféricas. Segundo Dewan e Picard (1998, 2001) esta interação provocaria
uma deposição de momentum e energia que se configuraria num forçante
adequado para acelerar o vento básico de forma a favorecer o auto-
crescimento de uma frente de onda numa região de ducto. Estas são
exatamente as evidências observacionais verificadas para o ambiente
mesosférico na noite de 2/11/2005, quando a região filtrante entre 83 e 95 km,
pode ter desempenhado um importante papel na absorção de ondas de
gravidade, que teriam acelerado o vento médio, culminando com a formação da
frente de onda observada nas imagens de airglow.

Desde a proposta do modelo de Dewan e Picard (1998, 2001) apenas o


trabalho de Smith et al. (2005) reportou um caso de possível formação de
frente mesosférica. Baseados em imagens de airglow e medidas de
temperatura obtidas com radar de laser, Smith et al. (2005) apresentaram
evidências da formação de uma pororoca mesosférica a partir da quebra de
uma extensa onda de gravidade simultaneamente a observação de uma forte
camada de inversão de temperatura. Os autores sugeriram que quando a onda
de gravidade dissipou a pororoca foi gerada, aparentemente devido a
deposição de momentum e energia pela onda original na região de ducto

228
térmico. Entretanto, como os autores não dispunham de medidas de vento na
mesosfera, não foi possível um estudo detalhado das condições de propagação
da frente de onda na noite do evento de forma que pudesse ser comparado
com as evidências verificadas no caso de 2/11/2005.

Finalmente, com relação a interrupção no desenvolvimento da frente de onda,


as observações de airglow sugerem que tenha ocorrido uma interação desta
frente recém-formada com a banda que se propagou na direção oposta, com
aproximadamente o dobro da velocidade. Esta interação entre a banda e a
frente mesosférica pode ter provocado uma desestabilização no
desenvolvimento da frente de onda, cuja propagação ocorre sob um regime
não linear que é suscetível a mudanças no ambiente. Entretanto, apenas em
futuros estudos mais detalhados de interação entre frentes mesosféricas e
outros tipos de ondas de gravidade será possível se esclarecer melhor esta
questão.

6.4.5 Principais Conclusões do Caso de 02/11/2005

Em 2 de novembro de 2005, durante a campanha SpreadFEX, foi observada


uma formação de frente mesosférica nas camadas de emissão do OH e do
OI5577 sobre São João do Cariri, PB. Os principais resultados desta
observação foram os seguintes:

− Foi observada uma forte atuação da maré semi-diurna na configuração


de um cisalhamento de vento no horário e na altura de observação da
frente mesosférica, o que concorda com observações anteriores do
comportamento da maré semi-diurna sobre São João do Cariri (LIMA et
al. 2006; BURITI et al. 2007.);

− Também foi observada a ocorrência de uma camada de inversão de


temperatura simultaneamente ao cisalhamento de vento, o que
estabeleceu um ducto dual, dentro do qual a frente mesosférica foi

229
gerada, consistindo na primeira observação deste tipo a ser reportada
na literatura;
− As observações da localização do ducto com relação aos picos de
emissão do OH e do OI5577 demonstraram que a frente de onda
apresentou um efeito de complementaridade não previsto pelo modelo
de Dewan e Picard (1998);

− As observações sugerem que a interação entre ondas de gravidade e


uma região de filtragem logo abaixo do ducto pode ter desempenhado
um importante papel na formação da camada de inversão e na própria
geração da frente mesosférica, tal como prevê o modelo de Dewan e
Picard (1998, 2001).

6.5 O Caso de 13/08/2005: Frentes Mesosféricas Simultâneas

6.5.1 Introdução

Nesta seção será discutido um caso de ocorrência simultânea de duas frentes


mesosféricas se propagando quase perpendicularmente uma em relação a
outra. A Seção 6.5.2 descreverá as observações de airglow destas frentes de
onda, enquanto a Seção 6.5.3 apresentará as condições de temperatura e de
vento mesosféricos durante os eventos. Na Seção 6.5.4 as condições
peculiares de propagação de ambas as frentes de onda serão discutidas e
comparadas com as previsões do modelo de Dewan e Picard (1998, 2001). Na
Seção 6.5.5 os principais resultados deste estudo de caso serão sumarizados.

6.5.2 As Frentes Mesosféricas de 13/08/2004

No início da noite de 13 de agosto de 2004, durante uma observação rotineira


do nightglow através de um imageador all sky foram observadas duas frentes
mesosféricas propagando-se simultaneamente sobre São João do Cariri, PB.
As Figuras 6.17a, 6.17b e 6.17c mostram a estrutura destas duas frentes de

230
onda e suas direções de propagação (indicadas pelas setas) nas imagens da
emissão do OH, do O2 e do OI5577, respectivamente.

Imagens All Sky - Cariri - 13/08/2004


OH O2 OI5577

a) 19:11 (LT) b) 19:08 (LT) c) 19:10 (LT)

Figura 6.17 – Imagens na emissão a) do OH, b) do O2 e c) do OI5577


mostrando duas frentes mesosféricas propagando-se
simultaneamente na noite de 13 de agosto de 2004 sobre São João
do Cariri, PB. As setas para sudeste e para nordeste indicam as
direções de propagação destas ondas.

A primeira frente mesosférica se propagou para sudeste, na direção de 148º, a


uma velocidade de fase observada de ~49 ms-1, uma velocidade intrínseca de
~31 ms-1, um comprimento de onda de ~50 km e um período intrínseco de ~27
min. Já a segunda frente mesosférica se propagou para nordeste, na direção
de 47º, a uma velocidade de fase observada de ~40 ms-1, uma velocidade
intrínseca de ~102 ms-1, um comprimento de onda de ~51 km e um período
intrínseco de ~8 min. Embora tenham ocorrido nuvens esparsas durante a
observação foi possível verificar que a noite apresentou uma baixa atividade
ondulatória.

A primeira frente de onda (SE) foi acompanhada até as 20:30 (LT), quanto esta
já apresentava indícios de dissipação. Já para segunda frente de onda (NE)
foram observados indícios de dissipação um pouco antes das 20:00 (LT).
Ambas as frentes de onda se propagaram de horizonte para horizonte e
apresentaram trem de ondas.

231
Foi observado o surgimento de três cristas seguindo a primeira frente (SE),
enquanto para a segunda frente (NE) já foi observado o trem de ondas formado
exibindo duas cristas. De acordo com o modelo de Dewan e Picard (1998,
2001) isto significaria que a primeira frente de onda (SE) teria sido gerada à
menos de 1 hora de sua observação, já que o modelo prevê uma taxa de
adição de cristas ao trem da ordem de 2 a 3 cristas por hora. Já para o caso da
segunda frente (NE), como não foi observado o surgimento de cristas, mas o
trem já estava formado, é plausível supor que o evento teria sido gerado há
mais tempo, dependendo da eficiência do ducto, a algumas horas. Entretanto,
apenas a análise das condições de temperatura e de vento mesosféricos na
noite dos eventos pode esclarecer esta questão.

Outra característica apresentada por este evento foi o distinto efeito produzido
por cada frente mesosférica na mesma camada de airglow, isto
simultaneamente. Já era sabido na literatura que frentes mesosféricas
poderiam produzir efeitos opostos de claro ou escuro em camadas distintas
(TAYLOR et al., 1995a; SMITH et al., 2003; FECHINE, 2004; MEDEIROS et al.,
2005). Entretanto, esta é a primeira vez em que efeitos distintos são
observados nas mesmas camadas de emissão simultaneamente.

Enquanto a primeira frente (SE) se apresentou clara na emissão do OH, a


segunda frente (NE) se apresentou escura, como pode ser visto na Figura
6.17a. Já na Figura 6.17b nota-se que ambas as frentes apresentaram-se
escuras tanto na emissão do O2, quanto na emissão do OI5577. Estas
observações têm profundas implicações na modelagem da resposta das
camadas de airglow à ondas canalizadas, e especialmente no caso de frentes
mesosféricas. Por esta razão isto será melhor discutido na Seção 6.5.3 a
seguir.

6.5.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 13/08/2004

232
Para a investigar as singulares condições do ambiente no qual estas frentes
mesosféricas ocorreram foram utilizadas medidas simultâneas de vento obtidas
com radar meteórico, além de perfis de taxa de emissão volumétrica da
emissão do OH em 1,6 μm e de temperatura cinética obtidos com o satélite
TIMED/SABER.

A Figura 6.18 e 6.19 apresentam para as duas frentes de onda (para SE e NE,
respectivamente) os gráficos dos perfis de temperatura cinética e potencial, do
quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä, do vento na direção de propagação
de cada onda, do número e do comprimento de onda verticais, além dos perfis
das taxas de emissão volumétrica normalizadas do OH em 1,6 μm, do O2 (0,1)
e do OI5577.

O perfil de temperatura (linha sólida) nas Figuras 6.18a e 6.19a é o mesmo e


foi obtido pelo satélite TIMED/SABER na coordenada de ponto tangente médio
de (16,9º S; 34,4º O) às 19:26 (LT) no dia 2/11/2005, ou seja, no horário de
observação das frentes mesoféricas. A partir deste perfil de temperatura foi
calculado o perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As linhas
tracejadas representam a taxa de queda adiabática da temperatura.

Observa-se na Figura 6.18a um aumento na temperatura da mesosfera que


passou de 180 K em torno de 82 km, para cerca de 203 K em 91 km. Este
aumento na temperatura mesosférica implicou num forte gradiente de
temperatura potencial nesta região, e, conseqüentemente numa faixa de
considerável estabilidade, ~6 x 10-4 s-2, centrada em torno de 91km de altura,
como é mostrado na Figura 6.18b.

Já a Figura 6.19a apresenta um forte decréscimo na temperatura em torno de


96 km de altura, o que implicou num gradiente negativo da temperatura
potencial e uma flutuação na estabilidade estática (Figura 6.19b) que
apresentou valores negativos em ~95 km e valores positivos (~6 x 10-4 s-2) em
torno de 98 km.

233
Condições Atmosféricas para a Frente Mesosférica Propagando-se para Sudeste
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow

a) b) c) d) e)

T (K) N2 (x 10-4 s-2) Vento (m/s) m2 (x 10-7 m-2) VER normal.

Figura 6.18 – Condições do ambiente mesosférico para a frente de onda


propagando-se para sudeste. a) Perfil de temperatura cinética
(linha sólida) medido com o satélite TIMED/SABER em 13/08/2004
sobre São João do Cariri e respectivo perfil de temperatura
potencial (linha pontilhada). As linhas tracejadas representam a
taxa de queda adiabática da temperatura. b) Perfil do quadrado da
freqüência de Brünt-Väisälä. c) Perfil do vento na direção de
propagação da onda medido às 18:00 (LT) com radar meteórico
(linha sólida). A linha pontilhada é a velocidade de fase da onda. d)
Perfis do número de onda vertical ( m 2 ) (linha sólida) e do
comprimento de onda vertical (λz) (linha pontilhada). e) Perfis
verticais das taxas de emissão volumétrica normalizadas (VER) do
OH em 1,6 μm (linha sólida) medido pelo satélite TIMED/SABER e
do O2 (0,1) (linha tracejada) e OI5577 (linha pontilhada) calculados
com o modelo MSIS-90 e com um rebaixamento de 9 km na
concentração de O. As linhas sólidas horizontais que cortam os
cinco gráficos delimitam a base e o topo do ducto.

234
Condições Atmosféricas para a Frente Mesosférica Propagando-se para Nordeste
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow

a) b) c) d) e)

T (K) N2 (x 10-4 s-2) Vento (m/s) m2 (x 10-7 m-2) VER normal.

Figura 6.19 – Idem a Figura 6.18 para o caso da frente de onda propagando-se
para nordeste.

A principal diferença na condição de propagação apresentada pelas Figuras


6.18 e 6.19 está nos perfis de vento observados. Na Figura 6.18c nota-se que o
vento apresentou um mínimo local, de ~15 ms-1, em torno de 91 km, na direção
de propagação da primeira frente (SE). Enquanto na Figura 6.19c foi observado
um mínimo local de - 73 ms-1, em torno de 96 km de altura, na direção oposta
da segunda frente de onda (NE). Este comportamento do vento configurou para
ambos os eventos uma condição de propagação canalizada, mostrada nas
Figuras 6.18d e 6.19d pelas linhas sólidas horizontais que delimitam o topo e a
base do ducto. No caso da Figura 6.19d um segundo ducto centrado em 87 km,
resulta de uma ligeira inflexão do perfil de vento, e por este ser praticamente
linear nesta altura, o ducto por ele estabelecido não é eficiente para suportar
frentes de onda, já que o m 2 apresenta valores bem próximos de zero. Outro
fato interessante é que para os ductos de ambas as frentes, o termo do vento

235
dominou o termo da temperatura em duas ordens de grandeza, o que significa
que ambos os eventos foram suportados por ductos Doppler.

As Figuras 6.18e e 6.19e também mostram diferenças na altitude do ducto com


relação aos picos das camadas de airglow entre as duas frentes mesosféricas.
Na Figura 6.18e observa-se que o ducto da primeira frente de onda (SE) se
localizou acima do pico de emissão do OH (86 km), ligeiramente acima do pico
do O2 (87 km) e coincidente com pico do OI5577 (90 km), canalizando ~22%,
~25% e ~34% da taxa de emissão volumétrica destas camadas,
respectivamente. Neste caso, verifica-se que a primeira frente de onda (SE)
exibiu o efeito de complementaridade claro-escuro-escuro entre as três
camadas de emissão, constituindo na primeira observação da estrutura vertical
das camadas de airglow, junto com a localização do ducto de uma frente
mesosférica que demonstram experimentalmente a ocorrência de efeitos de
complementaridade não previstos pelo modelo de Dewan e Picard (1998).

Por outro lado, a Figura 6.19e mostra que o ducto da segunda frente de onda
(NE) se localizou bem acima do pico de emissão das três camadas de emissão
canalizando apenas 5%, 8% e 15% da taxa de emissão volumétrica do OH, O2
e OI5577, respectivamente. Novamente, como para a segunda frente de onda
(NE) o efeito de complementaridade entre as três camadas foi escuro-escuro-
escuro, e o ducto estava acima destas, esta observação também não concorda
com o modelo de Dewan e Picard (1998), que prevê um efeito claro-claro-claro
nestas circunstâncias.

Fechine (2004) e Medeiros et al. (2005) foram os primeiros a reportar a


ocorrência de efeitos de complementaridade não previstos pelo modelo de
Dewan e Picard (1998). Os autores estudaram as respostas camadas de
emissão a partir de observações conduzidas em São João do Cariri, e
assumindo as altitudes nominais das camadas de airglow. Entretanto, os
autores já alertavam que apenas com uma acurada localização do ducto
simultaneamente a medidas de perfil de airglow seria possível se demonstrar

236
experimentalmente as suas observações, e esta, constitui exatamente a
contribuição dos resultados do caso de 13/08/2004.

A razão para os efeitos de complementaridade não previstos pelo modelo de


Dewan e Picard (1998) pode ser devido a diferentes respostas das
temperaturas rotacionais das camadas de airglow à perturbação da frente
mesosférica (FECHINE, 2004; MEDEIROS et al., 2005). É sabido que as taxas
de emissão volumétrica das camadas de airglow são bastante sensíveis a
variações na temperatura. Além disso, Takahashi et al. (2004) mostraram que
para as emissões do OH e do O2 as respostas das camadas a variações na
densidade e na temperatura são opostas, o que poderia ocorrer também com o
OI5577. Portanto, um aumento na temperatura provocado pela frente
mesososférica propagando-se para SE poderia explicar o efeito de
complementaridade claro-escuro-escuro observado entre as camadas. Já para
a frente mesosférica propagando-se para NE, a situação é um tanto mais
complexa, pois o ducto localizou-se acima das três camadas, e embora se
assuma que as respostas das camadas de OH e O2 sejam distintas, as três
camadas exibiram um efeito escuro a passagem da frente de onda. Desta
forma, apenas com futuras simulações da perturbação de frentes de onda na
mesosfera que considerem a fotoquímica das camadas de airglow será
possível se esclarecer melhor esta questão. Finalizando a caracterização da
mesosfera na noite de 13 de agosto de 2004, são apresentados nas Tabelas
6.5 e 6.6 os principais parâmetros físicos medidos dentro dos ductos das duas
frentes mesosféricas.

Tabela 6.5 - Parâmetros físicos observados dentro do ducto da frente


mesosférica propagando-se para SE em 13/08/2004.
Parâmetros do Ducto da Frente Mesosférica Propagando-se para Sudeste
2 2
T θ N u m λz
-4 -2 -1 -8 -2
(K) (K) (x10 s ) (ms ) (x10 m ) (km)
Mínimo 199,4 9.018 5,0 14,8 1,0 5,2
Máximo 208,5 11.335 7,0 23,2 3,7 9,9
Médio 203,4 10.113 5,8 17,9 2,9 6,3

237
Tabela 6.6 - Parâmetros físicos observados dentro do ducto da frente
mesosférica propagando-se para NE em 13/08/2004.
Parâmetros do Ducto da Frente Mesosférica Propagando-se para Nordeste
2 2
T θ N u m λz
-4 -2 -1 -8 -2
(K) (K) (x10 s ) (ms ) (x10 m ) (km)
Mínimo 182,5 11.613 -2,0 -73,5 1,3 3,1
Máximo 209,4 12.709 7,1 -40,1 0,1 8,8
Médio 191,6 11.918 2,1 -61,7 6,2 4,9

6.5.4 A Condição de Propagação das Frentes Mesosféricas

A Figura 6.20 apresenta a variação temporal dos perfis de vento zonal e


meridional medidos com radar meteórico entre 12:00 (LT) de 13/08/2004 e
12:00 (LT) de 14/08/2004 sobre São João do Cariri, PB.

Observa-se na Figura 6.20a que o vento zonal apresentou velocidades entre -


40 e -50 ms-1 na região do ducto da segunda frente de onda (linhas horizontais
em vermelho), e velocidades entre -20 e -50 ms-1 na região do ducto da
primeira frente de onda (linhas horizontais pretas). Já na Figura 6.20b observa-
se um forte gradiente no vento meridional na região do ducto da segunda frente
de onda (linhas horizontais em vermelho), exibindo velocidades entre -10 e -50
ms-1. Com relação ao ducto da primeira frente de onda (linhas horizontais
pretas) o vento meridional nesta região apresentou gradientes menos intensos,
entre -40 e -50 ms-1. Além disso, nota-se que no horário de observação das
frentes mesosféricas ocorreu uma forte atuação da maré semi-diurna em
ambas as regiões de ducto, de maneira similar ao observado nos outros casos.
Esta atuação da maré semi-diurna intensificando o vento mesosférico sobre
São João do Cariri já foi reportada em trabalhos anteriores (LIMA et al., 2006;
BURITI et al., 2007).

238
Vento Zonal – Cariri – 13 - 14/08/2004

Altitude (km)

a)

Vento Meridional – Cariri – 13 - 14/08/2004


Altitude (km)

b)

Hora Local

Figura 6.20 - Variação temporal dos perfis de a) vento zonal e de b) vento


meridional medidos com radar meteórico entre 12:00 (LT) de
13/08/2004 e 12:00 (LT) de 14/08/2004 sobre São João do Cariri,
PB. As linhas sólidas horizontais delimitam a base e o topo do
ducto da primeira frente de onda em preto e da segunda frente de
onda em vermelho. As linhas sólidas verticais indicam o horário do
evento.

A Figura 6.21 apresenta a variação temporal dos perfis de vento e dos


gradientes de vento na direção de propagação de cada frente de onda medidos
com radar meteórico entre 12:00 (LT) de 13/08/2004 e 12:00 (LT) de
14/08/2004 sobre São João do Cariri, PB.

Observa-se nas Figuras 6.21a e 6.21b que a pequena variação do vento na


região do ducto da primeira frente de onda (SE) e na sua direção de

239
propagação se reflete nos baixos valores de cisalhamentos, entre -5 e 0
m/s/km, registrados durante o evento. Já nas Figuras 6.21c e 6.21d nota-se um
pouco mais de mudança no vento na direção de propagação da segunda frente
de onda (NE), o que acarreta em valores de cisalhamentos verticais um pouco
maiores entre -5 e 15 m/s/km.

Cariri - 13 - 14/08/2005
Vento na Direção SE (148o) Vento na Direção NE (47o)
Altitude (km)

a) c)

Gradiente na Direção SE (148o) Gradiente na Direção NE (47o)


Altitude (km)

b) d)

Hora Local Hora Local

Figura 6.21 - Variação temporal a) do perfil de vento e b) do gradiente de vento


na direção SE (148º). E variação temporal c) do perfil de vento e d)
do gradiente de vento na direção NE (47º). Os ventos foram
medidos com radar meteórico entre 12:00 (LT) de 13/08/2004 e
12:00 (LT) de 14/08/2004 sobre São João do Cariri, PB. As linhas
sólidas verticais indicam o horário de observação das frentes
mesosféricas e as linhas horizontais delimitam a base e o topo de
cada ducto, respectivamente.

240
A Figura 6.22 apresenta a variação temporal da condição de propagação ( m 2 )
de ambas as frentes de onda na noite do evento. Observa-se na Figura 6.22a
um estreitamento na condição de ducto (região verde circundada por regiões
azuis, entre as linhas horizontais) em torno das 18:00 (LT). Este estreitamente
do ducto coincide com o horário presumido para a formação da primeira frente
de onda, a partir da taxa de adição de cristas ao trem de ondas prevista pelo
modelo de Dewan e Picard (1998).

Além disso, a Figura 6.22a também mostra o desaparecimento da condição


evanescente no topo do ducto às 20:30 (LT), ou seja, no final da observação da
primeira frente de onda, quando as imagens de airglow sugeriram uma
dissipação. Na verdade, o que a Figura 6.22a sugere é que a condição de
canalização definida pelas regiões evanescentes circundando o ducto foi
alterada, às 20:30 (LT), permitindo que a partir deste horário a frente
mesosférica se propagasse livremente para cima, não mais sendo detectada
pelo imageamento do airglow.

Já na Figura 6.22b observa-se que a segunda frente de onda (NE) se propagou


num ducto que já estava estabelecido há cerca de 5 horas (região verde a
laranja entre as linhas horizontais). Esta condição de propagação corrobora a
observação da segunda frente mesosférica que não exibiu um surgimento de
cristas ao trem de ondas durante a sua observação, ou seja, seria de acordo
com o modelo de Dewan e Picard (1998), uma frente de onda formada há mais
tempo.

Novamente, para a segunda frente de onda, às 20:30 (LT) observa-se uma


alteração na condição de canalização devido ao desaparecimento da região
evanescente, mas neste caso abaixo do ducto. Esta abertura inferior do ducto
permite que a segunda frente de onda escape da canalização, e se propaga
para baixo livremente, não sendo mais detectada pelo imageamento do
airglow, o que nas imagens é notado como um desaparecimento da frente
mesosférica.

241
Variação do Perfil de m2 para a Frente Mesosférica
Propagando-se para Sudeste – Cariri – 13 - 14/08/2004

a)

Variação do Perfil de m2 para a Frente Mesosférica


Propagando-se para Nordeste – Cariri – 13 - 14/08/2004

b)

Figura 6.22 - Variação temporal dos perfis de m 2 normalizados para as frente


mesosféricas propagando-se para a) sudeste e b) nordeste. Os
perfis foram calculados entre 12:00 (LT) de 13/08/2004 e 12:00 (LT)
de 14/08/2004 sobre São João do Cariri, PB. As linhas sólidas
verticais apontam o horário de observação dos eventos e as linhas
sólidas horizontais delimitam a base e o topo de cada ducto,
respectivamente.

Vários casos de frentes mesosféricas têm sido reportados na literatura desde a


descoberta de Taylor et al. (1995a). Estes casos incluem indícios de formação
de frente por quebra de onda de gravidade (SMITH et al. 2005); profusão de

242
frentes mesosféricas observadas na região equatorial (FECHINE et al. 2005),
efeitos de complementaridade não previstos pelo modelo de Dewan e Picard
(1998) (MEDEIROS et al. 2005), dentre outros.

Entretanto, jamais foi reportado na literatura alguma observação de duas


frentes mesosféricas se propagando simultaneamente, sendo registradas em
imagens de três camadas de airglow, OH O2 e OI5577. Tal observação foi
realizada durante uma operação rotineira do observatório em São João do
Cariri, PB, em 13 de agosto de 2004, e a análise da estrutura vertical
mesosférica a partir de dados de imageador all sky, de radar meteórico e do
satélite TIMED/SABER contribui bastante no conhecimento das condições de
propagação das frentes mesosféricas.

6.5.5 Principais Conclusões do Caso de 13/08/2005

Na noite de 13 de agosto de 2004 foram observadas nas camadas de emissão


do OH, do O2 e do OI5577 duas frentes mesosféricas propagando-se
simultaneamente sobre São João do Cariri, PB. Os principais resultados desta
observação foram os seguintes:

− A observação de duas frentes mesosféricas simultâneas, propagando-se


em ductos Doppler e com efeitos de complementaridade não previstos
pelo modelo de Dewan e Picard (1998) é inédita na literatura;

− A distinta resposta das camadas de airglow à perturbação na


temperatura, provocada pela frente mesosférica, pode explicar o efeito
claro-escuro-escuro observado na frente de onda que se propagou para
SE. No entanto, as razões para o efeito escuro-escuro-escuro observado
na frente de onda que se propagou para NE permanecem ainda
incertas;

243
− As evidências de uma frente mesosférica recém-formada (SE) e outra
(NE) gerada horas antes foram corroboradas pela observação da
configuração dos ductos na canalização destas ondas;

− O desaparecimento das frentes mesosféricas nas imagens de airglow


coincidiu com a alteração na condição de canalização na fronteira de
ambos os ductos.

− Uma forte atuação da maré semi-diurna no vento meridional foi


observada no horário de observação das frentes mesosféricas ;

6.6 Contribuição para o Conhecimento das Frentes Mesosféricas

Os estudos de caso apresentados nas seções anteriores contribuem para o


atual conhecimento do cenário físico no qual ocorrem as frentes mesosféricas
na região equatorial brasileira. A principal contribuição deste trabalho é a
caracterização física dos ductos dentro dos quais se verificou que as frentes
mesosféricas se propagam.

Como foi visto nas Seções 6.1 a 6.5, vários parâmetros no interior dos ductos
foram calculados com o objetivo de suprir de observações acuradas as futuras
simulações e modelagens do fenômeno. Assim, para complementar esta
informação, será apresentado a seguir um quadro da condição de propagação
das 148 frentes mesosféricas analisadas entre julho de 2004 e dezembro de
2005 em São João do Cariri, PB.

A Figura 6.23 apresenta quatro histogramas com informações da condição de


propagação destas frentes mesosféricas e do número de ductos em cada perfil
analisado. Na Figura 6.23a observa-se que em 95% dos casos foi encontrada
uma estrutura de ducto suportando a frente de onda, contra apenas 5% de

244
casos que apresentaram uma configuração de ducto mais complexa
envolvendo um nível crítico.

A Figura 6.23b mostra que para cada perfil de m 2 analisado (de um total de
134 perfis), entre 81 e 99 km de altura, pelo menos um ducto foi encontrado em
~57% dos casos (76 perfis). Além disso, em ~39% (53 perfis) e ~4% (5 perfis)
dos casos foram encontrados 2 e 3 ductos, respectivamente. Este resultado
corrobora de maneira bastante contundente a hipótese de Dewan e Picard
(1998) de que as frentes mesosféricas se tratariam de um fenômeno suportado
por alguma estrutura de ducto, térmico, Doppler ou uma combinação de ambos
(ducto dual).

Condição de Propagação No de Ductos no Perfil


No de Frentes

No de Perfis

a) b)
nível crítico ducto 1 2 3
no de ductos
Condição de Propagação Condição de Propagação
acima do Ducto abaixo do Ducto
No de Ductos
No de Ductos

c) d)
m2 = 0 m2 < 0 nível crítico m2 = 0 m2 < 0 nível crítico

Figura 6.23 – a) Histograma das condições de propagação das frentes


mesosféricas observadas sobre São João do Cariri entre julho de
2004 e dezembro de 2005. b) Histograma do número de ductos
observados por perfil e para cada noite de observação. Histograma
das condições de propagação c) acima e d) abaixo dos ductos.

245
As Figuras 6.23c e 6.23d apresentam as condições de propagação verificadas
acima e abaixo dos ductos, respectivamente. Observa-se que em 84% dos
casos os ductos estavam circundados por regiões evanescentes. Este
resultado é de grande importância, pois indica que em tal configuração o ducto
se apresenta com uma fronteira quase ideal para a canalização de ondas, pois
o escape de energia por transmissão ou geração de outras ondas de gravidade
é mínimo. Na prática, isto significa que a perda de energia de uma frente
mesosférica se restringe praticamente a adição de cristas ao trem de ondas, e
a dissipação por deposição de momentum e energia. Outro resultado
interessante apresentado na Figura 6.23c e 6.23d é a ocorrência de níveis
críticos na fronteira dos ductos em cerca de 2% dos casos. A observação de
níveis críticos nestas circunstâncias pode constituir uma evidência experimental
de que o mecanismo de interação onda de gravidade-nível crítico numa região
de ducto, proposto por Dewan e Picard (1998, 2001), poderia ser capaz de
gerar frentes de onda na mesosfera. Entretanto, apenas futuros estudos
específicos que investiguem o papel dos níveis críticos na mesosfera poderão
esclarecer melhor esta questão.

As Figuras 6.24a e 6.24b apresentam um histograma dos tipos de ducto e de


suas espessuras, respectivamente, para as frentes mesosféricas observadas
em São João do Cariri, PB. Assim como os estudos de caso já haviam sugerido
anteriormente, a Figura 6.24a apresenta mais claramente o predomínio de
ductos Doppler (98,5%) (contribuição principalmente do vento) com relação aos
ductos duais (1,5%) (contribuição do vento e da temperatura) suportando as
frentes mesosféricas em São João do Cariri, PB. A análise dos 148 casos
também mostrou que nenhuma frente mesosférica na região equatorial
brasileira apresentou um ducto com uma contribuição apenas da temperatura.
Este resultado bastante relevante, pois contribui na revisão da hipótese, até
então aceita, que atribui apenas às camadas de inversão de temperatura o
papel de suportar frentes mesosféricas. Nota-se também que apenas para
1,5% dos casos (ductos duais) o termo da temperatura na relação de dispersão

246
se equivale em ordem de grandeza ao termo do vento, conforme metodologia
descrita na Seção 4.7.2.

Tipo de Ducto Espessura dos Ductos


No de Ductos

No de Ductos
a) b)
doppler dual 2 4 6 8 10 12 14 16
Espessura (km)

Figura 6.24 – Histogramas a) dos tipos de ductos e b) de suas espessuras para


as frentes mesosféricas observadas em São João do Cariri, PB.

Segundo Nappo (2002) as ondas de gravidade capturadas por intensos ductos


Doppler passam a ser refletidas pelas “paredes” do ducto com pouquíssima
transmissão, já que acima e abaixo do ducto ocorrem regiões evanescentes, tal
como é mostrado na ilustração 6.25. E, de fato, este é o cenário físico
observado para as frentes mesosféricas sobre São João do Cariri, como pode
ser notado nas Figuras 6.23c, 6.23d e 6.24a.

Onda
Transmitida

Onda
Refletida
Ducto
Onda
Incidente

Figura 6.25 – Ilustração idealizada da canalização de uma onda de gravidade


por um intenso ducto Doppler.
Fonte: Adaptada de Nappo (2002, p.86).

247
Desta forma, a Figura 6.25 apresenta uma imagem da configuração exigida
para a canalização de uma frente de onda, porém com um requisito a mais, de
que o ducto apresente uma espessura pequena com relação a extensão
horizontal da onda. Para avaliar este requisito adicional, a Figura 6.24b
apresenta um histograma das espessuras de ducto observadas, cuja média foi
de 4 ± 1,5 km. Isto significa que para o caso das frentes mesosféricas em São
João do Cariri, que são ondas com uma extensão horizontal da ordem de 103
km, a aproximação de ondas se propagando num canal de fluido raso pode ser
aplicada.

Na prática, este resultado concorda com a proposta de Dewan e Picard (1998,


2001) de que algumas frentes mesosféricas seriam pororocas ondulares
internas na mesosfera, cuja propagação exigiria, assim como as pororocas de
rio, uma condição de canalização de fluido rasa. Por outro lado, nesta análise
da condição de canalização de frentes mesosféricas também é interessante se
investigar em trabalhos futuros os casos de ducto que apresentaram uma
espessura maior que 8 km, e as conseqüências deste ducto mais espesso nos
parâmetros físicos das frentes de onda.

248
7 CONCLUSÕES

7.1.Sobre o Conhecimento das Frentes Mesosféricas

O principal objetivo desta tese foi compor um quadro do ambiente atmosférico


no qual as frentes mesosféricas se propagam. Com a composição deste
quadro procurou-se responder a algumas das questões básicas acerca da
geração, do desenvolvimento e da dissipação de frentes mesosféricas,
confrontando observações meticulosamente documentadas, com as previsões
fornecidas pelo modelo de Dewan e Picard (1998, 2001), atualmente o modelo
mais aceito na explicação do fenômeno.

Desta forma, entre julho de 2004 e dezembro de 2005 foi realizado um


levantamento detalhado da ocorrência de frentes mesosféricas sobre São João
do Cariri, PB. No total, 148 frentes mesosféricas foram identificadas sendo que
o ano de 2004 foi atípico em comparação com estudos anteriores (FECHINE,
2004; FECHINE et al., 2005; MEDEIROS et al., 2005) ao apresentar 84 casos
apenas no segundo semestre. Foram identificados três tipos distintos de
frentes mesosféricas: as pororocas com trem de ondas, os avanços de
aumento (ou diminuição) na intensidade do airglow, e os pulsos ou ondas
solitárias. Algumas evidências ainda inéditas na literatura, também foram
registradas, tais como: frentes em formação e/ou dissipação; indícios de
destruição da frente pelo vento de fundo, além de casos de duas frentes
simultâneas e de várias frentes numa mesma noite. Também foram
identificados eventos com efeitos de complementaridade não previstos pelo
modelo de Dewan e Picard (1998) que podem ocorrer devido a diferentes
respostas das camadas de airglow à mudanças na temperatura provocadas
pela frente mesosférica (FECHINE, 2004; MEDEIROS et al., 2005;
TAKAKASHI et al., 2004).

Entretanto, a principal contribuição deste trabalho foi a caracterização física


dos ductos dentro dos quais se verificou que as frentes mesosféricas se

249
propagam. Para realizar esta caracterização foi fundamental a análise dos
perfis de m 2 nas noites dos eventos. Cerca de 98,5% dos ductos analisados
nos perfis de m 2 apresentaram uma condição de canalização Doppler,
geralmente circundada por regiões evanescentes, suportando as frentes de
onda. Isto significa que o vento desempenhou o principal papel na canalização
das frentes mesosféricas, e além disso, em alguns casos também foi verificada
uma forte atuação da maré semi-diurna provocando cisalhamentos no vento na
altura de ocorrência dos ductos. Este resultado é inédito na literatura e contribui
na revisão da hipótese, até então aceita, que atribui apenas às camadas de
inversão de temperatura o papel principal no estabelecimento de ductos
capazes de suportar frentes mesosféricas.

Os resultados apresentados neste trabalho também sugerem que as frentes


mesosféricas não representam uma classe de ondas “exóticas” ao corpo da
teoria de ondas de gravidade, como poderia parecer a partir das primeiras
observações reportadas na literatura e do primeiro modelo analítico proposto
por Dewan e Picard (1998, 2001). Pelo contrário, os estudos de caso sugerem
que as frentes mesosféricas obedecem a relação de dispersão das ondas de
gravidade, ou seja, os resultados sugerem que as frentes mesosféricas
constituem uma solução da equação de Taylor-Goldstein, considerando-se
porém, adequadas condições de contorno, como por exemplo a espessura do
ducto.

Para realizar este objetivo principal de estudo das frentes mesosféricas


também foi necessário se investigar a estrutura térmica da atmosfera
equatorial, cujos principais resultados são apresentados a seguir.

7.2.Sobre a Estrutura Térmica da Atmosfera Equatorial Brasileira

Usando perfis de temperatura médios diários obtidos pelo satélite


TIMED/SABER foi realizado um estudo da estrutura térmica sobre São João do
Cariri (7,4º S; 36,5º O) no ano de 2005 entre 10 e 120 km de altura. Foi

250
observado que os mínimos na temperatura da tropopausa entre os meses de
novembro a maio não são previstos pelo modelo atmosférico CIRA-86.
Entretanto, foi verificada uma boa concordância entre as medidas e o modelo
na baixa estratosfera. Já a estratopausa apresentou temperaturas menores do
que o previsto durante todo o ano, e uma variação semi-anual com máximos de
temperatura nos equinócios. A temperatura observada na mesosfera foi cerca
de 10 K menor do que prevê o modelo, verificando-se a ocorrência de dupla
mesopausa nos meses de março a abril e de setembro a outubro, que também
não é prevista pelo modelo. Foram observadas camadas de inversão de
temperatura com pelo menos o dobro da amplitude prevista, e a baixa
termosfera se apresentou mais quente nos meses de solstício com relação às
previsões do modelo CIRA-86.

7.3.Sobre as Camadas de Inversão na Mesosfera Equatorial Brasileira

Na etapa seguinte, os perfis de temperatura obtidos pelo satélite


TIMED/SABER foram analisados com o objetivo de se estudar as
características das camadas de inversão de temperatura mesosféricas (MIL)
sobre São João do Cariri, PB, durante o ano de 2005. Um total de 175 MILs
foram identificadas com máximos de ocorrência em abril e outubro e mínimos
em janeiro e julho. As MILs apresentaram altitudes e temperaturas médias no
topo e na base da camada de 83 ± 4 km e 75 ± 3 km, e 205 ± 5 K e 185 ± 5 K,
respectivamente. As MILs também apresentaram uma espessura entre 4 e 12
km com uma variação semi-anual, cujos máximos ocorreram nos equinócios.
Foram observadas amplitudes de MIL entre 10 e 50 K, exibindo uma variação
semi-anual com máximas amplitudes também nos equinócios. Perfis de
temperatura médios mensais evidenciaram um rebaixamento do pico das MILs
em dois períodos do ano, de fevereiro a maio e de agosto a outubro. Além
disso, se observou que apenas as MILs não explicam as condições de ducto
observadas nos casos de frentes mesosféricas, já que se verificou uma maior
contribuição do termo do vento com relação ao termo da temperatura na
relação de dispersão para as ondas de gravidade.

251
7.4.Recomendações Futuras

Com relação a pesquisa futura das frentes mesosféricas é recomendável que


se compare as características apresentadas por estas ondas em diferentes
latitudes, e se investigue a sua ocorrência através de outros traçadores além
das imagens de airglow. Também é recomendável uma investigação das
prováveis fontes do fenômeno usando a técnica de traçado de raio, por
exemplo. Por fim, é importante que se realize uma investigação detalhada da
relação entre a maré semi-diurna e a condição de ducto Doppler que suporta a
maioria das frentes mesosféricas observadas na região equatorial brasileira.

252
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268
A O BANCO DE DADOS DO IMAGEADOR ALL SKY

A.1 O Banco de Imagens de Airglow

A primeira dificuldade enfrentada na redução dos dados das frentes


mesosféricas observadas em São João do Cariri foi o acesso rápido e prático
às imagens digitais. Até então as imagens digitais obtidas pelo imageador
encontravam-se armazenadas em compact disk (CD). Esta forma de
armazenamento, embora segura para a preservação de dados por um longo
período de tempo, é pouco prática para permitir o acesso rápido e direto aos
dados, já que cada CD precisa ser lido individualmente durante o processo de
redução. Além disso, os dados originais armazenados em CDs nem sempre
são contíguos. Dados de uma mesma noite, por exemplo, podem estar
armazenados em CDs distintos, o que dificulta ainda mais o processo de
redução dos dados.

Assim, para proporcionar um acesso rápido e fácil aos dados de imagem, foi
criado um banco de dados de imageador para o São João do Cariri, PB.
Atualmente, o volume de dados de imageador all sky obtidos em São João do
Cariri entre setembro de 2000 e dezembro de 2005 compreende mais de
233.000 imagens, registradas em 606 noites de observação, o que equivale a
cerca de 121 GB de dados.

A.2 O Contraste das Imagens

Estabelecido o banco de dados o passo seguinte foi a implementação de um


algoritmo capaz de realizar o contraste automatizado das imagens originais
TIFF geradas pelo imageador.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas por quem trabalha com imagens de
airglow é a variação de intensidade luminosa que geralmente ocorre entre
imagens simultâneas em emissões distintas, como até mesmo entre imagens
sucessivas numa mesma emissão. As Figuras A.1a e A.1b apresentam um

269
exemplo de duas imagens originais np formato TIFF obtidas em 1º de maio de
2005 em São João do Cariri nas emissões do OH e do OI5577,
respectivamente.

OH OI5577

a) b)

OH OI5577

c) d)
21:25 (LT) 21:25 (LT)
Figura A.1 – Imagens originais no formato TIFF obtidas em 1º de maio de 2005
em São João do Cariri nas emissões do a) OH e do b) OI5577. c) e
d) Mesmas imagens após a aplicação do algoritmo de contraste
automatizado. A seta indica a direção de propagação de uma frente
mesosférica.

Observa-se que originalmente as imagens se apresentam bastante escuras.


Enquanto a imagem do OH permite apenas o reconhecimento de algumas
estrelas e da Via Láctea a sul, a imagem do OI5577 se apresenta totalmente
escura. Em ambas as emissões as imagens originais exigem uma alteração no
contraste para que seja possível se identificar a ocorrência de algum tipo de
estrutura ondulatória.

270
Esta ausência de contraste torna o processo de busca de ondas de gravidade
lento e sujeito a erros, já que o melhor contraste é obtido manualmente,
corrigindo cada imagem individualmente, durante a visualização dos dados de
uma dada noite. Desta forma, o contraste manual a partir da visualização das
imagens constitui um componente bastante subjetivo, já que usuários distintos,
podem produzir contrastes distintos, segundo atributos individuais de acuidade
visual e de objetivos de visualização.

Para solucionar o problema do contraste das imagens de airglow foi


desenvolvido um algoritmo que realiza uma análise estatística da população de
intensidades luminosas registradas pelos 512 x 512 pixels que compõem cada
imagem digital original. Esta análise estatística resulta num conjunto de
informações quantitativas da distribuição de intensidades de cada imagem, ou
seja, resulta num conjunto de atributos que independem da acuidade visual, ou
do caráter subjetivo da redução manual.

A primeira informação quantitativa consiste na forma da função de distribuição


das intensidades relativas. A avaliação do algoritmo demonstrou que sob
condições de céu claro, i.e., sem cobertura de nuvens, o histograma das
intensidades relativas obedece a uma distribuição aproximadamente normal.
Desta forma, a ocorrência de uma distribuição que se afasta da normal numa
dada imagem é indício da ocorrência de nuvens, ou de alguma saturação
luminosa dentro do campo de visão do imageador. A avaliação de tal
comportamento estatístico nas imagens de uma dada noite consiste, portanto,
numa forma prática e rápida de se avaliar as condições meteorológicas, sem
precisar a priori visualizar imagem por imagem, o que otimiza o processo de
redução de dados de ondas de gravidade.

Além da avaliação da função de distribuição, também é possível se avaliar, por


exemplo, a média, a variância, o desvio padrão e a assimetria entre as
distribuições de imagens sucessivas. A análise estatística das imagens

271
mostrou que a diferença entre estas quantidades, de uma imagem para outra,
resulta em distribuições distintas, de forma que a otimização do contraste foi
obtida pela avaliação individual da estatística de cada imagem. Como resultado
desta avaliação para os dados entre setembro de 2000 e dezembro de 2005 foi
possível se realizar um processamento digital e automático de todas as
imagens originais, obtendo-se assim imagens finais com contraste
independentes da interferência do operador.

As Figuras A.1c e A.1d mostram as mesmas imagens da Figura A.1a e A.1b


após a aplicação do algoritmo de contraste automático. Observa-se que após o
tratamento digital as estrelas se apresentam mais nítidas, inclusive as de maior
magnitude. As estruturas de ondas de gravidade também são ressaltadas
mantendo-se a qualidade da imagem original. Nesta noite em específico, às
21:25 (LT) foi observada uma frente mesosférica, cuja formação e dissipação
pôde ser acompanhada. A seta nas Figuras A.1c e A.1d indica a direção de
propagação da frente de onda.

Além do contraste automático as imagens originais foram reordenadas na


seqüência cronológica de gravação dos dados. Isto se fez necessário, pois
quando ocorre algum problema na operação do imageador, e o sistema precisa
ser reiniciado, a numeração das imagens também é reiniciada o que causa um
embaralhamento na numeração das imagens originais, dificultando assim a
visualização dos dados na seqüência cronológica correta.

No final do processamento de contraste automático foi adicionada uma legenda


a cada imagem contendo as seguintes informações: as posições das direções
norte, sul, leste e oeste; a identificação das instituições de origem da imagem
(LUME/INPE e UFCG para indicar Observatório de São João do Cariri); a
identificação da emissão registrada (neste caso OH ou O5); o dia, mês e ano
de obtenção da imagem e a hora local no observatório.

272
A.2 O Banco de Vídeos de Airglow

Criado o banco de dados de imagens, implementado o contraste automático,


estabelecida a ordem cronológica dos dados e definida a legenda, o próximo
passo foi a geração de vídeos para cada noite de observação do imageador.

Historicamente as imagens originais de airglow no formato TIFF são lidas e


visualizadas a partir de um software específico desenvolvido em linguagem IDL
(do inglês Interactive Data Language). Tal software requer, além da instalação
do programa IDL, uma configuração e operação, cuja dificuldade excede o que
se deseja para uma leitura rápida e amigável das imagens.

Como solução para este problema se objetivou gerar vídeos a partir das
imagens TIFF que obedecessem aos seguintes critérios:

a) Mantivessem a mesma qualidade original;


b) Apresentassem uma ótima resolução;
c) Permitissem um menor volume de armazenamento;
d) Permitissem uma fácil manipulação (através do uso dos comandos de
pausa, parada, reprodução e alteração da velocidade de reprodução);
e) Permitissem a disponibilização em apresentações e na Internet;
f) E, principalmente, que fossem gerados pelo IDL de maneira prática,
automática e rápida.

De acordo com os critérios acima listados três formatos de vídeo foram


avaliados o MPEG, o GIF e o AVI. O formato de video MPEG (Moving Picture
Experts Group) foi desenvolvido em 1988 pela Organização Internacional para
Padronização (International Standardization Organization - ISO) com o objetivo
de estabelecer uma referência de tecnologia digital aos diferentes padrões que
proliferavam na década de 80. Bastante usado em tecnologias de TV de alta
definição o formato MPEG, no entanto, é desaconsselhável para aplicações

273
científicas, pois é de difícil geração a partir de linguagens de programação
científica, tais como o IDL. Por esta razão o formato MPEG foi descartado.

O formato GIF (Graphics Interchange Format) é um formato de imagem de


mapa de bits muito usado na Internet, tanto para imagens fixas, quanto para
animações. Este formato foi introduzido em 1987 pela CompuServe, um dos
primeiros serviços on-line a disponibilizar conexão à Internet em nível
internacional, e também responsável pela popularização de troca de figuras.
Embora seja amplamente utilizado devido ao seu tamanho compacto, o formato
GIF possui uma paleta limitada de cores (256 no máximo), impedindo o seu
uso prático na compactação de imagens de alta qualidade. Além disso, os GIFs
animados não permitem um controle na exibição do vídeo, tal como o recurso
de pausa, parada e retrocesso. Por estas razões, o uso de GIF como formato
para a visualização das imagens de airglow também foi descartado.

Já o formato AVI (Audio Video Interleave) trata-se de um formato encapsulador


de áudio e vídeo criado pela Microsoft para rodar em micro computadores
pessoais. É um dos formatos mais populares do mundo, sendo reconhecido
pela maioria das versões do Windows e por todos os leitores de DVD que são
compatíveis com o sistema de CoDec (acrônimo de codificador/decodificador
de sinais) DivX, criado pela DivXNetworks. Tais características fizeram do AVI
o formato mais utilizado em soluções científicas. Neste formato é possível se
obter grande compactação mantendo-se uma boa resolução.

Além disso, o formato AVI pode ser executado por inúmeros programas
tocadores de mídia (media players), e muitos deles gratuitos encontrados na
Internet. O formato AVI também permite controle na execução do vídeo, além
dos vídeos serem gerados facilmente a partir da linguagem de programação
científica do IDL. Por estas razões o formato AVI foi escolhido para a
conversão das imagens originais de airglow num formato de vídeo amigável.

274
Além da escolha do formato, também foi avaliado o tamanho das imagens
individuais do vídeo final. Foi observado que a redução das imagens individuais
para tamanhos menores que 512 x 512 pixels comprometia consideravelmente
a qualidade das imagens. Por esta razão o tamanho original de 512 x 512
pixels foi mantido.

Também foi obtida uma excelente taxa de compactação dos arquivos originais
em formato TIFF com relação aos vídeos gerados em formato AVI. Um
exemplo desta compactação é descrito a seguir: na noite de 1º de maio de
2005 foram obtidas 134 imagens TIFF na emissão do OH e 45 imagens na
emissão do OI5577. Amostras destas imagens originais e com contraste são
apresentadas nas Figuras A.1a e A.1b. As imagens originais do OH e do
OI5577 totalizaram para esta noite um volume de 70,8 e 23,8 MB, enquanto os
vídeos em AVI apresentaram um tamanho de 2,9 e 1,4 MB, respectivamente.
Isto significa uma compactação da ordem de 24 e 17 vezes, respectivamente,
mantendo-se a qualidade original. A Tabela A.1 apresenta um resumo do
banco de dados de imagem de airglow do imageador de São João do Carir,
PB.

Tabela A.1 – Banco de dados de imagem de airglow do imageador de São


João do Cariri, PB no formato original TIFF e no formato de vídeo
AVI.

Número de Número de Volume de Número de Volume de


Ano Noites Imagens (TIFF) Imagens (GB) Vídeos (AVI) Vídeos (GB)
2000 46 16.690 8,8 186 0,4
2001 99 37.686 18,8 392 0,9
2002 86 34.678 18,2 344 0,8
2003 130 48.602 25,5 568 1,4
2004 120 46.454 24,4 520 1,4
2005 125 49.158 25,8 437 1,2
Total 606 233.268 121,5 2.447 6,0

275
Observa-se que as 606 noites de observaão do imageador entre setembro de
2000 e dezembro de 2005 produziram um total de 233.268 imagens, que
ocupam no formato original TIFF um volume de 121,5 GB. A partir destas
imagens foram gerados 2.447 vídeos com contraste automático, que
apresentam um volume de apenas 6 GB, ou seja, cerca de 20 vezes mais
compacto que os dados originais.

276
B. A TÉCNICA DE RECUPERAÇÃO DA TEMPERATURA CINÉTICA A
PARTIR DA RADIÂNCIA DO CO2

B.1 A Geometria de Visada de Limbo

As técnicas para recuperar perfis de temperatura a partir de medidas de limbo


de perfis de emissão de bandas espectrais do CO2 foram desenvolvidas há
mais de 30 anos (GILLE e HOUSE, 1971). Nestas técnicas uma primeira
aproximação é a de que o CO2 está bem misturado na média atmosfera e sua
razão de mistura volumétrica é conhecida. Outra aproximação para os
primeiros experimentos na década de 70 era a de que as transições do CO2
estavam em equilíbrio termodinâmico local. Estas aproximações foram
suficientes para os primeiros sensores, cuja sensibilidade não permitia medidas
de radiância numa geometria de limbo acima de 70 km de altitude. A geometria
de visada de limbo é mostrada na Figura B.1. Um radiômetro a bordo de um
satélite mede a radiância emitida pela atmosfera ao longo do caminho de um
raio de luz.

CAMINHO DO RAIO z = h
PONTO TANGENTE

ALTURA DIREÇÃO
h TANGENTE DO SATÉLITE
z
x

Figura B.1 – A geometria da visada de limbo.


Fonte: Adaptada de Gille e House (1971).

277
Este caminho de raio pode ser identificado pela altura tangente, definida como
a menor distância entre um ponto tangente ao caminho e a superfície da Terra.
Desta forma, a atmosfera pode ser sondada através de uma varredura em
altitudes tangentes na direção do limbo da Terra. Matematicamente a radiância
atmosférica I medida pelo sensor na altura tangente h é dada por:

I i (h ) = ∫ Bi ( z ) Wi (h, z ) dz
0 (B.1)
onde o subscrito i denota o intervalo espectral, B é a função de Planck para o
corpo negro , z é a coordenada vertical, e Wi (h, z ) é a função de ponderação

que indica quanto de altura z contribui com a radiância ao longo do caminho do


raio que passa por h . A Figura B.2 mostra as funções de ponderação para um
largo intervalo espectral (585 – 705 cm-1) que compreende a maior parte da
absorção de CO2 na banda de 15 μm, para um instrumento com um campo de
visão infinitesimal.

Banda do CO2
585 – 705 cm-1
ALTITUDE (KM)

FUNÇÃO DE PONDERAÇÃO (km-1)

Figura B.2 – Funções de ponderação W (h, z ) da visada de limbo calculadas


para banda espectral de 585 – 705 cm-1, correspondente a maior
parte da banda de 15 μm de CO2.
Fonte: Adaptada de Gille e House (1971).

278
Observa-se que para altitudes tangentes acima de ~25 km, a maior parte da
contribuição origina-se de uma região de ~3km de espessura na altura
tangente. Abaixo de 25 km as funções de ponderação começam a exibir uma
forma mais espalhada, característica de funções de ponderação de visada de
nadir (WARK 1970). Isto ocorre, embora ainda exista um pico no ponto
tangente devido a uma menor absorção nesta região do que nas laterais da
banda. Esta característica provê uma forma de obter informação de regiões
mais profundas da atmosfera.

A espessura das funções de ponderação também fornece uma indicação da


resolução vertical teórica que pode ser atingida. Um instrumento real tem um
campo de visão finito, e suas funções de ponderação, resultantes de
convoluções das funções mostradas na Figura B.2, seria portanto, mais largas.

As vantagens da sondagem da atmosfera através de uma visada de limbo são:

− Medidas com alta resolução vertical, já que por razões geométricas a


técnica exclui sinais provenientes de pontos tangentes abaixo do ponto
observado;
− As medidas são feitas contra um fundo negro e constante. Para h > 0 é
bastante plausível considerar que toda a radiação medida e as variações
no sinal originam-se na atmosfera;
− Não há ambigüidade nas medidas resultantes de camadas atmosféricas
superpostas, que apresentem características distintas, o que
freqüentemente ocorre com as medidas realizadas por instrumentos de
visada de nadir;
− Grande opacidade, pois observa-se mais de 60 vezes o conteúdo
atmosférico emitido ao longo de um caminho horizontal do que emitido
ao longo de um caminho vertical ao ponto tangente. E este fator é ainda
maior para maiores alturas tangentes;

279
− Grande cobertura em superfície, pois a direção de visada do satélite
pode ser alterada em qualquer direção azimutal, relativa ao movimento
do satélite, de acordo com a região terrestre de interesse. Um satélite
numa órbita de 1.000 km de altitude, por exemplo, observaria uma área
de 3.300 km a direita ou a esquerda de sua órbita.

As desvantagens da sondagem da atmosfera através da visada de limbo são:

− Uma nuvem ao longo do caminho do raio atuará como um corpo de


opacidade infinita, e pode causar uma considerável alteração na
radiação emergente. Isto explica a grande variabilidade nos perfis de
temperatura observados na tropopausa da região equatorial de S. J. do
Cariri que será discutida na Seção 6.1
− A bem definida função de ponderação vertical está associada a uma
região horizontal que pode se estender por 200 km ou mais ao longo do
caminho do raio. Este aspecto pode levar a problemas de interpretação
de resultados se grandes mudanças no estado da atmosfera ocorrerem
dentro desta distância. Entretanto, os estudos experimentais sugerem
que as principais mudanças na temperatura mesosférica e estratosférica
ocorrem numa grande escala horizontal, exceto em situações de
aquecimentos súbitos (sudden warming), principalmente na estratosfera
das regiões polares (GILLE e HOUSE, 1971).

Exemplos de perfis de radiância de limbo calculados com relação a altura do


ponto tangente em latitudes médias durante o inverno são mostrados na Figura
B.3. O canal espectral largo (W do inglês wide) se refere ao intervalo de 585 a
705 cm-1. O canal espectral estreito (N do inglês narrow) compreende o
intervalo de 630 a 685 cm-1, o centro da banda de 15 μm do CO2, de intensa
absorção.

280
ALTURA TANGENTE (km) Canal
Largo (W)

Canal
Estreito (N)
Diferença
Largo - Estreito

RADIÂNCIA (watts m-2 sr-1)

Figura B.3 – Radiância de limbo como uma função da altura tangente para os
canais espectrais largo (585 – 705 cm-1) e estreito (630 – 685 cm-1)
na banda de 15 μm de CO2.
Fonte: Adaptada de Gille e House (1971).

Estes sinais são bastante similares aos sinais de maiores altitudes, onde há
apenas a contribuição das fortes linhas espectrais, próximo ao centro das
bandas. Abaixo de 30 km, o sinal W é muito maior por que linhas mais fracas
nas laterais da banda contribuem com energia da baixa atmosfera. A linha
tracejada apresenta a diferença entre os sinais W e N, ou a contribuição das
regiões de 585 a 630 cm-1 e 685 a 705 cm-1. As inclinações abruptas nas
curvas ocorrem em situações nas quais o caminho do raio através da
atmosfera é moderadamente transparente, e uma considerável porção do sinal
é proveniente do ponto tangente. A Figura B.3 demonstra que a região W – N
fornece melhor informação em baixos níveis da estratosfera e altos níveis da
troposfera.

Desta forma, Gille e House (1971) apresentaram uma metodologia de como


obter uma solução única de temperatura como uma função da pressão.
Alternativamente, também pode-se obter a temperatura como uma função da
altitude relativa, a partir de medidas de radiância em dois canais com diferentes

281
características espectrais, exigindo-se simplesmente que a solução obedeça a
equação hidrostática.

B.2 O Problema da Inversão da Radiância de Limbo

A partir da geometria apresentada na Figura B.1, e notando que atrás do limbo


da Terra é o espaço que para o presente estudo considera-se como sendo frio,
a equação de transferência radiativa para uma atmosfera não dispersiva, em
equilíbrio termodinâmico local pode ser escrita como:

dτ i (h, z )
I i (h ) = ∫ Bi [T ]

dx (B.2)
−∞ dx

Onde em adição aos símbolos definidos acima, T é a temperatura, x é a


coordenada de distância ao longo do caminho, com a origem no ponto tangente
e positivo na direção do satélite (localizado em + ∞), e τ i (h, z ) representa a

transmissão média no intervalo espectral ao longo do caminho com ponto


tangente h a partir do ponto x para o satélite (GILLE e HOUSE 1971).

O problema de inversão é determinar B , e portanto T , a partir de medidas de


I , assumindo que dτ dx é conhecido. Outra exigência é de que a contribuição
das espécies emissoras seja conhecida, o que, na prática significa, que a
radiação emitida pelo CO2, um gás uniformemente misturado, seja medida
(GILLE e HOUSE 1971).

No problema de limbo, dτ dx também é afetado crucialmente pela estrutura


atmosférica. Desta forma, o ideal seria que τ i (h, z ) fosse obtido através de

medidas sob condições atmosféricas. Entretanto, devido ao fato de largas


bandas espectrais serem varridas pelas sondagens de limbo, sabe-se que
modelos de bandas espectrais são razoavelmente acurados e suficientes para
o seguinte argumento heurístico (GILLE e HOUSE 1971). Em geral o total de

282
radiação absorvida ao longo do caminho entre o ponto x e o satélite, é dado
por:

a (h, x ) = c ∫ ρ ( x') dx ' (B.3)
x

E depende a distribuição de pressão e de temperatura ao longo do caminho.


Na Equação B.3, c é a razão de mistura, assumida constante e ρ é a
densidade atmosférica. Pode-se então escrever que:

τ (h, x ) = τ (h, a , p ) (B.4)

Na qual a é uma temperatura ponderada do total absorvedor e p é uma


pressão média ponderada pela temperatura e massa. Seguindo Rodgers e
Walshaw (1966), pode-se definir que:

a = c ∫ Φ[T ( x')] ρ ( x') dx'


x
(B.5)
a p = c ∫ Ψ[T ( x')] p (x') ρ ( x') dx'

Incorporando as Equações B.4 e B.5 em B.2, e convertendo para uma integral


vertical obtém-se:

⎧⎪ ⎡ ⎡ ∂τ (h, a , p ) ⎤ ⎡ ∂τ (h, a , p ) ⎤ ⎤
I (h ) = ∫ B[T ( z )] cρ ( z )
∞ dx
⎨Φ ( z )⎢ − ⎢ ⎥ − ⎢ ⎥ ⎥
h dz z⎪ ⎢
⎣ ⎣ ∂ a ⎦ ⎣ ∂ a ⎦ p ⎥⎦
⎩ a
(B. 6)
Ψ ( z ) p( z ) − Φ ( z ) p ( z ) ⎡ ⎡ ∂τ (h, a , p ) ⎤ ⎡ ∂τ (h, a , p ) ⎤ ⎤ ⎫⎪
− × ⎢⎢ ⎥ − ⎢ ⎥ ⎥ ⎬dz
a (z ) ⎢⎣ ⎣ ∂p ⎦a ⎣ ∂p ⎦ p ⎥⎦ ⎪⎭

Onde os subscritos a e p se referem as posições no caminho à elevação z


anterior e posterior ao ponto tangente, desde que x é uma função de z e
dx dz é um fator geométrico associado com a conversão da integral horizontal

283
em integral vertical. Por conveniência denotando a expressão entre chaves por
L (h, z ) , obtém-se:

I (h ) = ∫ B[T ( z )] cρ ( z )

L (h, z )dz
dx
h dz z

Assumindo então que a atmosfera está em equilíbrio hidrostático e obedece a


lei dos gases ideais, com constante de gases R , a densidade em z é:

⎡ g dz ' ⎤
ρ ( z ) = p0 [RT ( z )]−1 exp ⎢− ∫
z
(B.7)
⎣ z0 RT ( z ') ⎥⎦

Onde p = p 0 em z = z 0 . Inserindo a Equação B.7 em B.6, obtém-se:

B[T ( z )] L (h, z ) × exp ⎡ ∫ gR −1T ( z ') −1 dz '⎤ T ( z ) dz



I (h − z 0 ) = p 0 cR −1 ∫
dx z −1
(B.8)
h − z0 dz z ⎢⎣ z0 ⎦⎥

Ao escrever a Equação B.8 usa-se o fato de que z 0 é a única altitude fixa que

aparece, e outras altitudes podem ser medidas com relação a z 0 . Dado um

perfil de radiância, como o mostrado na Figura B.3, pode-se tomar um ponto


particular sobre a curva, tal como o ponto A, e designá-lo de z 0 . Outras

altitudes tangentes são então medidas com relação a z 0 , que aparece apenas

como um nível de referência cujo valor absoluto não é exigido. No problema de


inversão tem-se medidas de I (h − z 0 ) e se deseja determinar I (z − z 0 ) .

Claramente, p0 será uma quantidade crucial neste procedimento. Desta forma

o problema de inversão pode ser separado em duas partes: primeiro, dado p 0

e medidas de I (h − z 0 ) , como se obtém T (z − z 0 ) ? E também, como p 0 pode

ser determinado?

284
Como a temperatura é o principal parâmetro utilizado neste trabalho, a
determinação do perfil de temperatura será descrita a seguir. Detalhes da
determinação de p 0 podem ser encontrados em Gille e House (1971).

B.3 Determinação do Perfil de Temperatura

Consideremos agora a situação na qual a radiância é medida como uma


função da distância a partir da elevação z 0 que não é conhecida, mas onde se

conhece a pressão p 0 . A natureza complexa da dependência da temperatura

no lado direito da Equação B.8 sugere um esquema iterativo para a solução do


problema. A forma estreita das funções de ponderação indica que a técnica de
Chahine (1968, 1970) de usar uma medida para corrigir o valor a um dado nível
deve ser particularmente aplicável, e, de fato, a radiância medida na altura
tangente h − z 0 pode ser usada para corrigir a temperatura neste altitude.

Por conveniência, deve-se escrever a altitude relativa a z 0 como h *j = h j − z 0 . O

subscrito j denota uma altura tangente particular, já que geralmente a


radiância é uma medida amostrada, ao invés de ser medida continuamente.
Assim, os passos na solução do problema são:

1. Um perfil de temperatura inicial T 0 h * ( ) é assumido. (o sobrescrito 0


indica a ordem de iteração);

( )
2. O perfil de temperatura T n h * na n-ésima iteração é usado com p 0 e

com a equação hidrostática para distribuir a massa atmosférica em


altitude. Este procedimento é importante, pois controla a quantidade de
( )
material a h * , x num caminho em particular;

285
3. A radiância emitida I n (h *j ) é então calculada a partir de uma das

Equações B.2, B.6 ou B.8, que são equivalentes. Geralmente a Equação


B.2 é usada;
4. A radiância emitida calculada I n (h *j ) é comparada ao valor observado,

( )
I 0 h *j . Se um critério de convergência é satisfeito, o perfil de

temperatura é aceito como solução. Um critério típico de convergência é


que a diferença rms (root mean square) entre as radiâncias calculada e
medida num perfil, seja menor do que o ruído das medidas
radiométricas;

5. Se o critério de convergência não é satisfeito as diferenças entre as


radiâncias calculada e medida são usadas para ajustar o perfil de
temperatura a uma equação de relaxação.

A expressão de relaxação pode ser derivada diretamente do esquema de


“instante de inversão” usado por House e Ohring (1969). A forma similar à
função delta exibida pela função de ponderação sugere que a Equação B.8
pode ser reescrita como:

I (h *j ) = B (h *j )ε (h *j ) (B.9)

Onde ε (h *j ) é a emissividade efetiva do caminho atmosférico. Fisicamente, a

Equação B.9 equivale a colocar toda a opacidade próximo ao ponto tangente,


ou ter toda a radiação originada deste ponto. Desprezando a dependência da
temperatura de ε (h *j ) , a diferenciação logarítmica resulta em:

( ) = 1 ∂B(h ) dT = c υ
dI h *j *
j
( )
dT h *j
I (h ) B (h ) ∂T
2
(B.10)
T (h )
* * * 2
j j j

286
Na qual c 2 é a segunda constante de radiação, υ é a freqüência média, e
nota-se que a energia de transição radiativa é muito maior que a energia
térmica das moléculas. A equação de relaxação é então dada por:

n +1
(h ) = T (h ) + ( )
2T n h *j
2
( ) ( )
⎡ I 0 h *j − I n h *j ⎤
⎢ * ⎥
* n *

( ) ( )
T (B.11)
c 2υ ⎢⎣ I 0 h j + I h j ⎥⎦
j j * n

A Equação B.11 permite que o (n+1)-ésimo perfil de temperatura seja calculado


a partir das diferenças entre as radiâncias medida e calculada na n-ésima
iteração. O novo perfil é então usado no passo 2, e o processo se repete até
que o critério de convergência seja atingido. Quando os resultados são
inferidos a cada 2 ou 3 km, as temperaturas intermediárias são linearmente
interpoladas e usadas para calcular os I n .

Esta técnica desenvolvida por Gille e House (1971) foi aplicada para radiâncias
ideais (sem ruído e com campo de visão vertical infinitesimal) calculadas para
uma sondagem real no inverno em latitudes médias no canal 585 – 705 cm-1.
Os dados de partida foram a atmosfera padrão, com níveis espaçados de 1 km,
e a iteração foi continuada até a diferença rms entre a radiância observada e
calculada fosse menor que 0,01 Wm-2sr-1 (o que foi tomado pelos autores como
uma indicação grosseira do ruído esperado num instrumento real).

Os resultados são mostrados na Figura B.4 na qual a linha sólida é o perfil real
e os pontos indicam a solução da inversão. Gille e House (1971) também
verificaram que partindo-se de dados iniciais de uma atmosfera isotérmica a
200 ou 300 K a temperatura em qualquer nível não seria alterada por valores
maiores que um centésimo de grau. Além disso, observa-se na Figura B.4 que
a forma geral da curva, assim como as estruturas de menor escala são
reproduzidas com grande fidelidade

287
INVERNO EM LATITUDES MÉDIAS
DADOS SEM RUÍDO
TEMPERATURA INICIAL
CAMPO DE VISÃO DE 2 KM
RESOLUÇÃO INFINITA

ALTURA TANGENTE (km)

TEMPERATURA (watts m-2 sr-1)

Figura B.4 – Solução obtida pela inversão de dados sem ruído com resolução
vertical infinita (linha pontihada) e com um campo de visão de 2 km
(linha tracejada) comparada com uma sondagem real da atmosfera
no inverno em latitudes médias (linha sólida).
Fonte: Adaptada de Gille e House (1971).

O erro de temperatura rms entre a sondagem inicial e a inversão entre 15 e 60


km foi de 0,9 K, atingido após oito iterações. A continuação da iteração conduz
a uma contínua redução na diferença rms entre as radiâncias, melhorando a
precisão da temperatura. Assim, se p 0 é conhecido, por exemplo, por médias

climatológicas, a estrutura térmica pode ser inferida. Por fim, para se obter as
altitudes do perfil de temperatura basta apenas ter a altitude de um nível de
pressão, a partir de qualquer fonte de dados.

B.4 A Recuperação de Temperatura Cinética pelo SABER

No caso das emissões do CO2 medidas pelo satélite TIMED/SABER, os perfis


de radiância originais são analisados com o objetivo de produzir perfis de
temperatura cinética com uma resolução vertical de 2 km.
A temperatura cinética é recuperada usando medidas de radiância do SABER
em dois canais espectrais do CO2 em 15 μm, um canal passa-banda estreito

288
(650 – 695 cm-1) e um canal passa-banda largo (580 – 760 cm-1) (MERTENS et
al. 2001).

Os dois canais são usados para registrar a pressão com a altitude na


estratosfera e inferir a temperatura cinética assumindo condições de equilibro
termodinâmico local (ou LTE do inglês local thermodynamic equilibrium). Este
procedimento é similar a técnica de Gille e House (1971).

Acima de 50 km, porém, assume-se que a condição de LTE não é satisfeita


para as bandas de CO2 em 15 μm (MERTENS et al. 2001). Desta forma, um
algoritmo de recuperação em condições de não-LTE é empregado para inferir a
temperatura cinética na mesosfera e baixa termosfera usando a medida de
radiância do canal espectral estreito de CO2.

Assim como idealizado por Gille e House, (1971) o algoritmo usado pelo
SABER e descrito por Mertens et al. (2001) é composto por duas partes
principais: um modelo de cálculo de radiância e um modelo de inversão. O
modelo de cálculo de radiância por sua vez é composto de duas partes: um
modelo de temperatura vibracional e um modelo de radiância de limbo. A
radiância de limbo é calculada usando o algoritmo denominado BANDPAK
desenvolvido por Marshall et al. (1994) e expandido para aplicações sob
condições de não-LTE (EDWARDS et al. 1993; MLYNCZAK et al. 1994).
Existem dezessete bandas em 15 μm que contribuem com a radiância de limbo
no canal espectral de passa-banda estreito do CO2. As temperaturas
vibracionais são então calculadas a partir de um modelo operacional formulado
por López-Puertas et al. (1998) que usa o BANDPAK para os cálculos de
transferência radiativa.

Inúmeras técnicas são usadas no modelo de inversão do algoritmo de


recuperação da temperatura. Existem dois laços primários de relaxação. No
laço interior um perfil de temperatura cinética é recuperado usando a

289
aproximação de “casca de cebola”, enquanto a pressão e as temperaturas
vibracionais são fixas. A aproximação de “casca de cebola” é caracterizada por
primeiro medir a radiância da camada atmosférica mais exterior para só então,
ir medindo as próximas camadas mais internas. A temperatura cinética é
recuperada em cada altura tangente pelo ajuste da temperatura cinética local
até que a radiância modelada atinja a radiação medida dentro do critério de
convergência. A temperatura é ajustada usando uma iteração Newtoniana e um
algoritmo de estimação ótima (RODGERS, 1976). O critério de convergência
do laço interno é uma exigência de que a radiância modelada atinja a radiância
medida dentro de uma fração de erro de solução (desvio padrão) especificada
pelo usuário.

A aproximação de “casca de cebola” é um fator crítico na recuperação de perfis


na mesosfera a partir de bandas espectrais do CO2 em 15 μm. Isto ocorre
devido ao fato da radiância de limbo para altitudes tangentes mesosféricas ser
dominada pela emissão proveniente de camadas de altitudes superiores
(WINTERSTEINER et al. 1992). A técnica de “casca de cebola” assegura que
as emissões modeladas coincidam com a radiância medida de camadas
superiores, ainda que a combinação temperatura-pressão recuperada possa
ser incorreta nos passos intermediários dos processos de relaxação. Para um
caminho de limbo em particular, o efeito é sensivelmente maior para a
temperatura cinética local no ponto tangente procurado (MERTENS et al.,
2001).

Operacionalmente, o perfil de temperatura a priori para uma medida em


particular será o perfil de temperatura recuperado a partir de medidas prévias.
Entretanto, a variância do erro a priori é especificada de forma que a variância
do erro da solução seja dominada pelo erro na medida (o ruído) no intervalo de
altitudes onde a relação sinal-ruído é 10 ou mais. De fato, a ponderação de um
dado a priori é pequena sobre a região de altitude onde se pode esperar uma
recuperação acurada e precisa a partir da medida direta, e grande o suficiente
fora desta região de altitudes para assegurar uma solução estável.

290
No laço externo, o perfil de pressão é reconstruído a partir da fronteira inferior
usando o perfil de temperatura cinética recuperado pela técnica da “casca de
cebola” e pela lei barométrica da pressão. As temperaturas vibracionais são
atualizadas usando o modelo de CO2 em 15 μm com a temperatura cinética
previamente recuperada e os perfis de pressão como entrada.

O laço interno de recuperação de perfis pela técnica da “casca de cebola” é


repetido até que todo o perfil de temperatura cinética inferido relaxe dentro do
critério de convergência. Isto ocorre devido a exigência de que as diferenças
entre o perfil de temperatura recuperado, entre duas sucessivas recuperações
da interação, seja menor do que uma fração de erro na solução especificada
pelo usuário, a uma altitude também especificada pelo usuário. Esta altitude é
escolhida de forma que a relação sinal – ruído seja 10 (tipicamente, de 110 a
115 km).

O topo da atmosfera é tomado nominalmente como sendo 140 km. Esta


escolha elimina os efeitos de fronteira superior nas temperaturas obtidas em
altitudes onde se pode esperar dados recuperados de qualidade.

O algoritmo de recuperação não-LTE tipicamente não exige mais do que cinco


iterações num ou noutro laço (interior ou exterior) do esquema de relaxação. O
algoritmo pode recuperar a temperatura cinética de 51 altitudes em 20
segundos num micro computador doméstico com um processador de 500 MHz,
por exemplo.

A Figura B.5 mostra um perfil recuperado numa simulação feita numa grade de
2 km, que é o campo de visão efetivo do SABER. O perfil de temperatura real
mostrado na Figura B.5 foi obtido através de medidas de radar de laser durante
a campanha ALOHA-93 e mostra duas camadas de inversão de temperatura
mesosféricas (Dao et al., 1995).

291
Perfis de Temperatura durante a ALOHA-93

Altitude do Ponto Tangente (km)

Temperetura (K)

Figura B.5 - Perfis de temperatura obtidos durante a campanha ALOHA-93 a


partir de dados de radar de laser (em vermelho), dos algoritmos
que opera com modelos de não-LTE do SABER (em azul) e do
modelo MSIS-90 (em preto) exibindo duas camadas de inversão.
Fonte: Adaptado de Mertens et al. (2001).

Nesta simulação, o perfil usado para inicializar o algoritmo do SABER foi um


perfil do modelo MSIS-90 também mostrado na Figura B.5. Para o caso da
campanha ALOHA-93 o perfil de temperatura foi recuperado dentro de uma
acurácia de 3 K abaixo de 105 km, exceto para 88 e 96 km, que foi de ~5 K, e
para 80 e 100 km que foi de ~4 K. Nota-se também que o perfil de inicialização
do MSIS-90 não apresenta as estruturas de pequena escala do perfil do radar
de laser, chegando inclusive a diferir em mais de 35 K em algumas altitudes.
Estas observações de Dao et al. (1995) fundamentaram a proposta de Dewan
e Picard (1998, 2001) para a existência de uma estrutura de ducto capaz de
suportar uma frente mesosférica. Por esta razão, o satélite TIMED/SABER se
apresenta como um importante instrumento no estudo da dinâmica das frentes
mesosféricas.

292
C. O BANCO DE DADOS DO SATÉLITE TIMED/SABER

C.1 O Software TIMED/SABER Data Base Analysis

Sabendo-se que o satélite TIMED/SABER dispunha de dados de temperatura e


de taxa de emissão volumétrica do OH, cuja precisão era adequada ao estudo
das frentes mesosféricas o passo seguinte foi responder as seguintes
questões:

− Existem dados de satélite disponíveis sobre a região de São João


Cariri? Em caso afirmativo em que período?
− Que área melhor representaria a estrutura térmica sobre o Cariri?
− E qual seria a densidade espacial destes dados e a distribuição de
horários de sondagens na área escolhida?

Para responder a estas questões e, conseqüentemente, para tornar


operacional o acesso aos parâmetros de perfis verticais individuais, foi
desenvolvido um banco de dados do satélite TIMED/SABER e um software
capaz de manipular todas as sondagens em escala global, obtidas desde
janeiro de 2002. Este software foi desenvolvido a partir da experiência que o
grupo LUME obteve no ano de 2004 em trabalhar com dados de satélite
(WRASSE et al., 2006; 2007b). A experiência do LUME consistiu da
manipulação de dados de rádio ocultação de GPS do satélite CHAMP e foi
fundamental na configuração do banco de dados do satélite TIMED/SABER.

O software de gerenciamento do banco de dados e de análise dos parâmetros


medidos pelo satélite TIMED/SABER foi desenvolvido de forma que permitisse
a visualização rápida e eficiente das sondagens nas projeções geográficas de
visão global, do pólo norte, do pólo sul, ou de qualquer intervalo de latitudes e
longitudes desejado. A Figura C.1 apresenta a janela principal do software
TIMED Data Base Analysis que gerencia o banco de dados do SABER.

293
Figura C.1 - Interface gráfica do software Data Base Analysis que gerencia o
banco de dados do SABER.

As sondagens do TIMED/SABER são realizadas dentro dos intervalos de ±180º


de longitude e ±83º de latitude. No decorrer do ano o instrumento SABER sofre
manobras na sua orientação de modo que o seu campo de visada pode estar
direcionado para o hemisfério norte ou para o hemisfério sul. A Figura C.2
mostra a cobertura latitudinal do campo de visada do SABER ao longo do ano
de 2005. As linhas pontilhadas indicam as manobras de rotação do instrumento
SABER que alteram o ângulo de visada na Terra, e suas respectivas datas. Se
o ângulo beta 1 é negativo, o SABER opera sob um campo de visada para o
norte, realizando sondagens entre 83ºN e 52ºS. Caso contrário, se o ângulo

1
O ângulo beta é o ângulo entre o vetor satélite-Sol e o plano orbital do satélite.

294
beta é positivo, o SABER opera sob um campo de visada para o sul realizando
sondagens entre 52ºN e 83ºS.

Cobertura Latitudinal do Satélite TIMED/SABER em 2005


90
83N
Ângulo Beta
Negativo
60
52N

21 de novembro (325)
18 de setembro (261)
30
14 de janeiro (014)

19 de março (077)

21 de maio (141)

15 de julho (196)
Latitude

-30

52S
-60

83S
-90
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Figura C.2 – Cobertura latitudinal das sondagens do satélite TIMED/SABER em


2005.
Fonte: Adaptado de TIMED Web Site (2005).

O módulo de gerenciamento do banco de dados foi elaborado de forma a


permitir que bases de dados de outros instrumentos embarcados em satélites,
tais como o TIDI (TIMED Doppler Interferometer), ou o GUVI (Global Ultraviolet
Imager), por exemplo, pudessem ser acrescentados para utilizarem mesma
interface gráfica usada no caso do SABER.

O satélite TIMED/SABER dispõe de dados de sondagens do produto nível 2A


na versão 1.06 a partir de 25 de janeiro de 2002. Desta forma o software
permite a busca por sondagens a partir desta data, entre 00:00 e 24:00 (UT),
podendo produzir mapas de sondagens com periodicidade diária, mensal e/ou
sazonal dentro de qualquer intervalo de datas desejado.

295
Para agilizar a seleção de locais a serem mapeados, alguns intervalos de
latitudes e longitudes foram pré-estabelecidos e podem ser rapidamente
acessados clicando em botões na janela principal. Estes locais constituem
alguns atuais objetivos de pesquisa, e em futuras pesquisas, novos locais
podem ser facilmente acrescentados. Os locais atualmente pré-estabelecidos
são:
− Cariri 20 (área de 20º x 20º centrada em São João do Cariri, PB);
− Cariri 10 (área de 10º x 10º centrada em São João do Cariri, PB);
− C. Paulista (área de 20º x 20º centrada em Cachoeira Paulista, SP);
− Antarctica (área de 20º x 20º centrada na Estação Brasileira
Comandante Ferraz, Antártica);
− Brasil (área de 50º x 50º centrada no Brasil);
− S. America (área de 80º x 90º centrada na América do Sul);
− World (área de 360º x 180º centrada no Oceano Atlântico).

A Figura C.3 apresenta exemplos de mapas de densidade de sondagens


(pontos brancos) realizadas pelo satélite TIMED/SABER no ano de 2005 sobre
todo o planeta, sobre a América do Sul e sobre o Brasil.

Sondagens de Limbo do Satélite TIMED/SABER


01/01/2005 – 31/12/2005
492.418 eventos 66.175 eventos 22.168 eventos

a) Mapa Global b) Mapa da América do Sul c) Mapa do Brasil

Figura C.3 – Mapas de densidade de sondagens (pontos brancos) a) global e


b) na América do Sul e c) no Brasil realizadas pelo satélite
TIMED/SABER em 2005.

296
Também é possível se escolher as informações referentes aos pontos de
sondagem marcando as quadrículas ao lado das variáveis no canto inferior
esquerdo da janela principal (ver Figura C.1). Cada ponto de sondagem contêm
informação do número da sondagem, da hora em tempo universal, das
condições de iluminação solar (dia, noite ou crepúsculo), da data (dia, mês e
ano), do número da órbita e do modo de deslocamento da órbita (ascendente
ou descendente). Além disso, pode-se traçar sobre os mapas de sondagem o
campo de cobertura do imageador all sky em 90 e 275 km de altitude tanto
para São João do Cariri, quanto para Cachoeira Paulista. A representação das
linhas de campo geomagnético também pode ser traçada sobre o mapa
geográfico. O software também permite a gravação em arquivos .sav (formato
lido pelo IDL) de qualquer parâmetro medido pelo TIMED/SABER, no intervalo
de data, horário e coordenadas desejados.

C.2 O Módulo de Análise

No módulo de análise é possível se calcular perfis de temperatura médios


diários e mapas médios a qualquer altitude e de qualquer parâmetro medido
pelo satélite TIMED/SABER numa dada área de interesse. Também foi
desenvolvido um algoritmo capaz de identificar a temperatura e a altitude das
transições das camadas atmosféricas, segundo a sua classificação quanto a
temperatura, as chamadas “pausas”: a tropopausa, a estratopausa e a
mesopausa.

Foi desenvolvido um conjunto de sub-rotinas para busca e identificação de


camadas de inversão de temperatura na mesosfera, cujos critérios de busca
(altitude, amplitude e espessura das camadas) podem ser alterados pelo
usuário de acordo com o interesse científico da análise.

Também foi desenvolvido um módulo de análise de frentes mesosféricas.


Neste módulo os resultados da busca por camadas de inversão de temperatura
são reunidos com os perfis de vento obtidos por radar meteórico para se avaliar

297
a condição de propagação das frentes de onda. Caso uma condição de ducto
seja encontrada todas as características físicas dentro do ducto podem ser
analisadas e confrontadas com os atuais modelos de pororocas mesosféricas.
Este módulo também foi estendido de modo a se criar um banco de dados de
frentes mesosféricas, de forma que estabelecido este banco de dados, toda a
análise de condições de ducto pode ser feita automaticamente, em todos os
casos catalogados.

Por fim o módulo de análise também contêm um pacote de modelagem das


camadas de airglow na emissão do OH, do O2 e do OI5577 através dos valores
de concentração de oxigênio e de nitrogênio fornecidos pelo modelo
atmosférico MSIS-90 e do perfil de taxa de emissão volumétrica do OH em 1,6
μm medido pelo SABER. Esta modelagem de airglow é fundamental na
comparação das altitudes das camadas de emissão com relação à observação
da estrutura de ducto e os efeitos produzidos pela frente mesosférica nas
imagens all sky do airglow.

C.3 O Módulo de Visualização Gráfica

O menu View Graphics na janela principal do software foi desenvolvido para


permitir uma visualização fácil e rápida do mapa de sondagens do satélite
TIMED/SABER e dos gráficos de perfis individuais de quaisquer parâmetros
medidos. Além disso, é possível através deste menu se gerar mapas de
altitude e temperatura das “pausas”, tropopausa, estratopausa e mesopausa,
além mapas de amplitude, espessura e altitude de camadas de inversão de
temperatura.

O menu View Means permite que o usuário trace mapas médios no intervalo de
altitude desejado para qualquer um dos 15 parâmetros medidos pelo satélite
TIMED/SABER. Opções de suavização e de paletas de cores dos gráficos
também podem ser definidas pelo usuário a partir da seleção das quadrículas
No Smooth, Smoothing, Gridded e Colors na janela principal.

298
A Figura C.4 apresenta o menu Variables que consiste de uma janela de
seleção de parâmetros (e seu respectivo intervalo de altitudes) medidos pelo
SABER no produto nível 2A.

Figura C.4 - Janela de seleção de variáveis do produto nível 2A do satélite


TIMED/SABER.

Finalmente, o menu Settings na janela principal permite a configuração dos


diretórios de acesso ao banco de dados do instrumento e de gravação dos
resultados das análises. Permite também a conexão remota ao banco de dados
do satélite TIMED/SABER na Internet, comparando e baixando os novos dados
disponíveis na rede para o servidor local.

Atualmente o banco de dados local do TIMED/SABER compreende medidas


dos 15 parâmetros listados na Figura C.4 entre 25 de janeiro de 2002 e 31 de

299
dezembro de 2005, totalizando 20.272 arquivos, um para cada órbita em torno
da Terra, o qual corresponde a cerca de 2 milhões de sondagens que ocupam
um volume de aproximadamente 180 GB.

C.4 A Disponibilidade de Dados do Satélite TIMED/SABER sobre o Cariri

Estabelecido o banco de dados o passo seguinte foi saber quantas sondagens


o satélite TIMED/SABER efetuava sobre uma área de 20º x 20º centrada em
São João do Cariri, e em quais horários ocorriam estas sondagens. A Figura
C.5a apresenta o histograma do número de sondagens por estação do ano de
2005 efetuada pelo TIMED/SABER sobre o Cariri.

As estações foram definidas da seguinte forma: os meses de novembro de


2004 a fevereiro de 2005 foram considerados como sendo verão; março e abril
representam o outono; maio a agosto compreendem o inverno; e setembro e
outubro representam a primavera. Observa-se na Figura C.5a que o verão e o
inverno de 2005 apresentaram mais de 1.200 sondagens, enquanto o outono e
a primavera apresentaram entre 500 e 600 sondagens, devido ao número
distinto de meses que compreende cada estação.

Na Figura C.5b observa-se que sobre a mesma região o satélite


TIMED/SABER efetua em média 286 sondagens mensais, com o mês de
setembro de 2005 apresentando até 340 sondagens.

Com relação a média de sondagens por dia, a Figura C.5c mostra que uma
média de 10 sondagens diárias são obtidas sobre São João do Cariri, e apenas
para quatro dias no ano de 2005 não existem dados disponíveis. Isto
demonstra que a escolha de uma área de 20º x 20º em torno de São João do
Cariri é adequada para, por exemplo, se calcular um perfil de temperatura
médio diário a partir dos perfis das sondagens individuais com uma excelente
continuidade de dados ao longo do ano.

300
Os resultados da estrutura térmica da atmosfera sobre São João do Cariri em
2005, calculados a partir dos perfis de temperatura médios diários, são
apresentados na Seção 5.1.

No de Sondagens por Estação no Cariri No de Sondagens por Mês no Cariri


SABER 2005 Total: 3481 SABER 2005 Total: 3437

No de Sondagens
No de Sondagens

NDJF MA MJJA SO
a) Verão Outono Inverno Primavera
b)
Meses

No de Sondagens por Dia no Cariri Horário das Sondagens no Cariri


SABER 2005 Total: 3437 SABER 2005 Total: 3437
No de Sondagens

No de Sondagens

c) d)
Dia do ano
Hora (UT)

Figura C.5 – Gráficos do número de sondagens a) por estação do ano b) por


mês e c) por dia realizadas pelo satélite TIMED/SABER sobre uma
área de 20º x 20º centrada em São João do Cariri. d) Histograma
do horário destas sondagens para o ano de 2005.

Outra informação bastante relevante para pesquisas futuras, principalmente


envolvendo marés atmosféricas, se refere aos horários das sondagens diárias
realizadas pelo satélite TIMED/SABER sobre São João do Cariri. A Figura C.5d
apresenta um histograma dos horários destas sondagens para o ano de 2005.
Observa-se um número máximo de 270 a 300 sondagens entre 01:00 e 03:00
(UT). Já para o restante do dia se observou uma média de 130 sondagens,

301
com exceção das 13:00 e 15:00 (UT) que exibiram menos de 40 sondagens, e
das 14:00 (UT) que não exibiu qualquer sondagem.

Devido às características da órbita do satélite TIMED/SABER esta distribuição


de horários de sondagem também é bastante dependente do mês observado.
A Figura C.6 mostra dois histogramas de horários de sondagens para os
meses de janeiro e de fevereiro de 2005. Para o mês de janeiro e os demais
meses ímpares (gráficos não mostrados) há uma concentração de sondagens
entre 01:00 e 04:00, 10:00 e 12:00 e 16:00 e 18 00 (UT). Já para o mês de
fevereiro, e os demais meses pares (gráficos também não mostrados), verifica-
se uma concentração de sondagens entre 04:00 – 09:00 e 19:00 – 01:00 (UT).

Horário das Sondagens por Mês no Cariri


No de Sondagens

SABER - Janeiro 2005 SABER - Fevereiro 2005


Total: 291 Total: 250

Hora (UT) Hora (UT)


Figura C.6 – Histograma do horário das sondagens realizadas pelo satélite
TIMED/SABER para os meses de janeiro e fevereiro de 2005 sobre
uma área de 20º x 20º centrada em São João do Cariri, PB.

A Figura C.7 apresenta exemplos de mapas de sondagem (pontos brancos) do


satélite TIMED/SABER sobre uma região de 20º x 20º centrada em São João
do Cariri (ponto vermelho). Os círculos pontilhados representam a área de
cobertura do imageador all sky a 90 km de altitude.

302
Sondagens de Limbo do TIMED/SABER sobre o Cariri

02/05/2005 – 02/05/2005 01/05/2005 – 31/05/2005


6 eventos 272 eventos

a) Diária b) Mensal

01/03/2005 – 30/04/2005 01/01/2005 – 31/12/2005


551 eventos 3437 eventos

c) Sazonal d) Anual

Figura C.7 – Mapas de densidade de sondagens do satélite TIMED/SABER a)


diário, b) mensal, c) sazonal e d) anual para 2005 sobre uma área
de 20º x 20º centrada em São João do Cariri. A seta preta na
Figura C.7a indica a sondagem cujos perfis são mostrados na
Figura C.8. O círculo pontilhado representa a área de cobertura do
imageador na altitude das camadas de emissão mesosféricas.

A Figura C.7a apresenta um exemplo de mapa para o dia 2 de maio de 2005


exibindo 6 eventos de sondagem. A seta indica uma sondagem em específico,
cujos perfis de temperatura, densidade, pressão e taxa de emissão volumétrica
do OH em 1,6 μm são apresentados na Figura C.8. A Figura C.7b apresenta
um exemplo de mapa para o mês de maio de 2005 exibindo 272 eventos de
sondagem. Na Figura C.7c é apresentado um exemplo de mapa sazonal para o

303
outono de 2005 exibindo 551 eventos de sondagem. Já a Figura C.7d
apresenta um exemplo de mapa anual para 2005 exibindo 3.437 eventos de
sondagem.

Para avaliar as condições do ambiente atmosférico numa dada noite o software


permite, por exemplo, exibir os perfis verticais correspondentes aos 15
parâmetros medidos pelo satélite TIMED/SABER. A Figura C.8 apresenta os
perfis de pressão, de densidade, de temperatura e de taxa de emissão
volumétrica do OH em 1,6 μm para a sondagem apontada pela seta na Figura
C.7a. Esta sondagem foi realizada na madrugada de 2 de maio de 2005 no
modo descendente da órbita de número 18.399 do satélite TIMED/SABER, às
03:39 (UT), ou seja, três horas após a observação da frente mesosférica
registrada pelo imageador instalado em São João do Cariri e apresentada na
Figura 4.2.

Observa-se nas Figuras C.8a e C.8b o decréscimo exponencial característico


na pressão e na densidade da atmosfera terrestre. Na Figura C.8c observa-se
a ocorrência de uma camada de inversão de temperatura mesosférica em torno
de 80 km de altura, no perfil de temperatura cinética medido pelo satélite
TIMED/SABER. E na Figura C.8d observa-se o perfil da taxa de emissão
volumétrica da camada de airglow do OH em 1,6 μm estendendo-se de 80 a
cerca de 95 km de altitude.

304
Perfil de Pressão Perfil de Densidade
TIMED/SABER TIMED/SABER
2/5/2005 2/5/2005
Altitude do Ponto Tangente (km)

Altitude do Ponto Tangente (km)


Sondagem: 1/1 Sondagem: 1/1
Evento: 45 Evento: 45
Latitude: 1,71 Latitude: 1,71
Longitude: -29,42 Longitude: -29,42
Hora (UT): 03:39 Hora (UT): 03:39

a) Pressão (mbar) b) Densidade (cm-3)

Perfil de Temperatura Perfil de OH (1,6 μm) VER


TIMED/SABER TIMED/SABER
2/5/2005 2/5/2005
Altitude do Ponto Tangente (km)

Altitude do Ponto Tangente (km)

Sondagem: 1/1 Sondagem: 1/1


Evento: 45 Evento: 45
Latitude: 1,71 Latitude: 1,71
Longitude: -29,42 Longitude: -29,42
Hora (UT): 03:39 Hora (UT): 03:39

c) Temperatura Cinética (K) d) OH (1,6 μm) VER (ergs/cm3/s)

Figura C.8 – Perfis de a) pressão, b) densidade, c) temperatura cinética e d)


taxa de emissão volumétrica do OH (1,6 μm) obtidos em 2/5/2005
na sondagem do satélite TIMED/SABER indicada pela seta na
Figura C.7a obre São João do Cariri.

E assim, o banco de dados do satélite TIMED/SABER foi adequadamente


estabelecido para complementar a análise do ambiente atmosférico sobre São
João do Cariri, junto com os dados de imageador e de radar meteórico.

305
306
D. EXCITAÇÕES E FOTOQUÍMICA DO OH (9,4), OI5577 E O2 (0,1)

D.1 Excitações e Fotoquímica do OH (9,4)

A aeroluminescência noturna é dominada pelas emissões vibracionais-


rotacionais do radical da hidroxila ( OH ) dentro de um mesmo estado eletrônico
e tem sido observado desde sua identificação espectroscópica por Meinel
(1950). O espectro das bandas de Meinel estende-se de 520 nm a 4 μm, e
apresenta uma taxa de emissão total de ~4,5 MR (megaRayleigh).

As bandas mais intensas aparecem no infravermelho próximo entre 1,43, OH


(2,0) μm e 2,15 μm, OH (9,7), apresentando taxas de emissão da ordem de
100 kR. Em particular, o OH (9,4) exibe valores de VER entre 300 e 1000R e
se encontra entre 771,6 e 864,2 nm. Neste trabalho será usada a emissão do
OH (9,4), cujo cálculo da taxa de emissão volumétrica é mais simples e
constitui uma boa referência para o perfil do OH em 1,6 μm medido pelo
satélite TIMED/SABER.

As bandas de Meinel surgem das transições vibracionais internas ao estado


fundamental OH ( X 2 Π i ,v ', J ' →' X 2 Π i ,v '', J '' ) do radical da hidroxila. Quanto à

excitação vibracional podem ocorrer nos níveis υ de 0 a 9. Cada banda


vibracional envolve uma estrutura rotacional, com as linhas agrupadas em
ramos denominados P , Q e R . A Figura D.1 mostra a representação de várias
transições. F1 e F2 denotam os termos de energia rotacional e J o momento
angular.

307
J=5/2
R2(2)
J=3/2 J=7/2
Q2(2)
R1(2) ν’
J=5/2
J=1/2
Q1(2)
J=3/2
P2(2)

P1(2)

J=5/2

J=3/2 J=7/2

J=5/2 ν’’
J=1/2
F2 J=3/2
F1
Figura D.1 - Representação de várias transições vibracionais-rotacionais.
Fonte: Adaptada de Medeiros (2001).

A reação exotérmica hidrogênio-ozônio, proposta por Bates e Nicolet (1950), é


o mecanismo mais eficiente para produção do OH*(v’≤ 9) na mesosfera
superior:

H + O3 ⎯(⎯ ⎯→ OH ∗ (v' ≤ 9) + O2 ,
f v ' , a2 )
(D.1)

onde a 2 é a taxa de reação (cm2 s-1) e fv' representa a fração de produção de

OH ∗ no nível v' . A energia liberada de 3,34 eV na reação é suficiente para


permitir a ocupação de níveis vibracionais até v'≤ 9 .

Já é conhecido que a reação 4.12 produz OH ∗ preferencialmente nos níveis


v'= 7, 8, 9 (KLENERMAN e SMITH, 1987), e que os níveis mais baixos, que são
os responsáveis por grande parte das bandas de Meinel observadas no
airglow, são ocupados via processos de cascata radiativa e de transferência de
energia (vibracional) entre as moléculas:

OH ∗ (v') ⎯[⎯ ⎯→ OH ∗ (v' ') + hυ (radiativo )


A1 (v ',v '' )]

308
OH ∗ (v') + M i ⎯[⎯
a6 (v ',v '' )]
⎯→ OH ∗ (v' ') + M i (transferência de energia ) ,
i
⎯ (D.2)

onde M i denota os constituintes de desativação energética O , O2 e N 2 . A

perda fotoquímica de OH ∗ (v'≤ 9) , em cada um dos níveis vibracionais pode ser


representada pelas reações D.2, ou através dos processos de desativação por
colisão:

OH ∗ (v') + M i ⎯[⎯
a L ( v ' )]
⎯→ produtos desativados .
i
(D.3)

Assumindo a condição de equilíbrio fotoquímico, a taxa de emissão volumétrica


de emissão do OH na banda (9,4) pode ser expressa por:

VOH ( 9, 4) =
{A
94 [ ] [O ] ([N ] + [O ]) } ,
f (9) k1 O 2 2 2

A9 {1 + C ([N ] + [O ]) + C [O ] }
1 2 2 2
(D.4)

onde [O ] , [O2 ] e [N 2 ] são as concentrações do O, O2 e N2, respectivamente,


dadas pelo modelo atmosférico do MSIS-90, e os coeficientes na Equação D.4
são dados por:

A94 = 1,189 s −1 , A9 = 299,5 ,

C1 = 5,3 × 10 −14 , C 2 = 1,5 × 10 −13 ,


−2 , 6
⎛ T ⎞
k1 = 5,7 × 10 −34 ⎜ ⎟ , f (9 ) = 0,32 .
⎝ 300 ⎠

D.2 Excitações e Fotoquímica do O2 (0,1)

Os estados excitados do O2 que se destacam no nightglow, são os que podem


ser excitados através de reações de recombinação direta com o oxigênio
atômico. No entanto, existem evidências sugerindo que os processos de

309
transferência de energia, via moléculas precursoras excitadas, possam explicar
com maior detalhe, os perfis observados do O2 (b ) .

O conjunto de bandas atmosféricas do O2 no nightglow da mesosfera superior


tem merecido uma considerável atenção. O espectro de transição eletrônica

(
O2 b 1 ∑ g → X 3 ∑ g
+ −
) consiste de diferentes bandas vibracionais. As bandas
vibracionais que se destacam são: a banda (0,0) e a banda (0,1),
habitualmente chamadas de bandas atmosféricas. Estas bandas estão
centradas no espectro de 761,9 nm e 864,5 nm, respectivamente, e podem ser
facilmente observadas via fotometria de nightglow, embora a banda (0,0) sofra
uma pronunciada absorção pelo oxigênio na baixa atmosfera, impossibilitando
sua medida no solo.

A razão entre as duas bandas é da ordem de 17, e o sistema como um todo


apresenta uma intensidade total de 3 a 6 KR. O pico de emissão das bandas
(0,0) e (0,1) ocorrem em torno de 94 km. A intensidade integrada total da
emissão exibe acentuadas variações (1 a 10 kR). Tal variabilidade tem sido
atribuída a presença de ondas de gravidade internas e marés na mesosfera.

Sob a consideração de mecanismos de transferência, a seqüência de reações

que determinam as taxas de emissão do O2 b1 ∑ g ( +


) é:

O( 3 P ) + O( 3 P ) + M ⎯α⎯→
k
O2∗ + M , (D.5)

γ k
O2∗ + O2 ⎯⎯2⎯
O2
(
→ O2 b 1 ∑ g
+
)+ O ,
2 (D.6)

O2∗ + O2 , N 2 , O ⎯⎯ ⎯⎯→ produtos ,


k3 O2 , N 2 , O
(D.7)

O2∗ ⎯⎯→
A3
O2 + hυ , (D.8)

310
(
O2 b 1 ∑ g
+
)+ O , N , O ⎯⎯⎯⎯→ produtos ,
2 2
k O2 , N 2 , O
(D.9)

O2 b 1 ∑ g ( +
)⎯⎯→ O ( X ) + hυ (0,1) ,
A( 3 )
2 (D.10)

(
O2 b 1 ∑ g
+
)⎯⎯⎯→ O ( X ) + hυ (total ) .
A( 3 , total )
2 (D.11)

Assumindo a condição de equilíbrio fotoquímico, a taxa de emissão volumétrica

(
de emissão do O2 b1 ∑ g
+
) na banda (0,1) pode ser expressa por:

A(b:0,1) k [O ] [O2 ] ([N 2 ] + [O2 ])


2

VO2 ( 0,1) =
(A( b:total ) + k O2 [O2 ] + k N 2 [N 2 ] + k O O [ ]) (C [O ] + C [O ]) ,
O2 2 O
(D.12)

onde [O ] , [O2 ] e [N 2 ] são as concentrações do O, O2 e N2, respectivamente,


dadas pelo modelo atmosférico do MSIS-90, e os coeficientes na Equação
D.12 são dados por (MCDADE et al., 1986):

A( b:0,1) = 0,004 , A(b:total ) = 0,083 ,

C O2 = 6,6 , C O = 19 ,
2
⎛ 300 ⎞
k = 4,7 × 10 −33 ⎜ ⎟ , k O2 = 4 × 10 −17 ,
⎝ T ⎠
k N 2 = 2,2 × 10 −15 , k O = 8 × 10 −14 .

D.1 Excitações e Fotoquímica do OI5577

( )
A linha verde OI 557,7 nm, ou O 1 S , é explicada por um modelo de transição

espectroscópica entre os estados excitados 1 S − 1 D do oxigênio atômico. Esta


emissão é muito importante no espectro do céu noturno da atmosfera,

311
principalmente devido à facilidade de observação na região do visível, e ao fato
da linha não ter contaminação espectral, por encontrar-se como um espectro
solitário. A intensidade integrada da emissão O 1 S ( ) presente no nightglow da
mesosfera superior apresenta um valor médio de 250 R, mostrando
acentuadas variações sobre este valor (de 60 a 500 R).

As primeiras tentativas teóricas para explicar as características fotoquímicas


desta emissão foram propostas por Chapman (1931), que usou a hipótese de
que o pico de emissão ocorreria onde a densidade do oxigênio fosse
acentuada. Desta forma, ele estabeleceu a recombinação direta do oxigênio
através de um processo de três corpos:

O+O+O⎯
⎯→
k
O 2 + O (1 S ) . (D.13)

Os primeiros perfis de altitude, através de medidas a bordo de foguete,


questionaram a reação de Chapman. Barth (1964) sugeriu um processo que
envolvia duas etapas para a excitação do estado 1 S . Uma molécula de O2∗
precursora (a qual mantém energia suficiente para excitação), seria a
responsável pelo aparecimento do O (1 S ) através do mecanismo de
transferência de energia, com as seguintes reações:

O + O + M ⎯β⎯→

k1
O2∗ + M , (D.14)

O2∗ + O ⎯δ⎯
⎯k∗1
( )
→ O 1 S + O2 , (D.15)

A fotoquímica da linha verde, para a situação proposta por Barth completa-se


com as seguintes reações de desativação:

O2∗ + M i ⎯⎯→
i
k∗
produtos desativados , (D.16)

312
O (1 S ) + M i ⎯⎯→
i
k4
produtos desativados . (D.17)

E pelas reações de decaimento radiativo:

O2∗ ⎯⎯→
A∗
O2 + hυ , (D.18)

O (1 S ) ⎯⎯→
A1
O ( 3 P,1 D ) + hυ (total ) , (D.19)

O(1 S ) ⎯⎯→
A5
O + hυ (557,7nm ) , (D.20)

Assumindo a condição de equilíbrio fotoquímico, a taxa de emissão volumétrica


( )
de emissão do O 1 S em 557,7 nm pode ser expressa por:

VO (557 ,7 ) =
[ ] ([N ] + [O ])
A0 k O
3
2 2

(k [O ] + A ) (C [O ] + C [O ]) ,
O2 2 s O2 2 O
(D.21)

onde [O ] , [O2 ] e [N 2 ] são as concentrações do O, O2 e N2, respectivamente,


dadas pelo modelo atmosférico do MSIS-90, e os coeficientes na Equação
D.21 dados por:

A0 = 1,18 , AS = 1,355 ,

C O2 = 15 , C O = 211 ,
2
⎛ 300 ⎞
k = 4,7 × 10 −33
⎜ ⎟ , k O2 = 4 × 10 −12 exp(− 865 T ) .
⎝ T ⎠

313
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