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INPE
São José dos Campos
2008
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INPE
São José dos Campos
2008
528.711.7
Alencar Filho, J. F.
Estudo de frentes mesosféricas na região equatorial /
Joaquim Fechine de Alencar Filho. – São José dos Campos:
INPE, 2007.
313 p. ; (INPE-15179-TDI/1295)
ABSTRACT
Pág.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 17
1.1. Um Breve Histórico das Frentes Mesosféricas ....................................... 18
1.2. Objetivos e Estrutura da Tese ................................................................ 21
6.2 O Caso de 01/10/2005: Frente Mesosférica num Ducto Doppler .... 191
6.2.1 Introdução............................................................................................. 191
6.2.2 A Frente Mesosférica de 01/10/2005 .................................................... 191
6.2.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 01/10/2005 .................................... 193
6.2.4 A Condição de Propagação da Frente Mesosférica ............................. 198
6.2.5 Principais Conclusões do Caso de 01/10/2005 .................................... 204
6.3 O Caso de 03/10/2005: Destruição de uma Frente Mesosférica ..... 205
6.3.1 Introdução............................................................................................. 205
6.3.2 A Frente Mesosférica de 03/10/2005 .................................................... 205
6.3.3 Ambiente Mesosférico na Noite de 03/10/2005 .................................... 207
6.3.4 O Papel do Vento na Dissipação da Frente Mesosférica...................... 212
6.3.5 Principais Conclusões do Caso de 03/10/2005 .................................... 216
17
1.1.Um Breve Histórico das Frentes Mesosféricas
18
imagens all sky de airglow. Desta forma, os autores sub-classificaram as
frentes mesosféricas em quatro tipos distintos: as pororocas mesosféricas
(SMITH et al., 2003; SHE et al., 2004; FECHINE et al., 2005), os walls
mesosféricos (SWENSON et al., 1998; BATISTA et al., 2002; LI et al., 2007), as
ondas canalizadas (ISLER et al., 1997), e ainda as interações onda-onda
(SHIOKAWA et al., 2006). Detalhes das características de cada tipo de frente
mesosférica podem ser encontrados na Seção 3.4.
Ainda nesta época, Brown et al. (2004) aplicaram a técnica de traçado de raio
para o cenário físico observado numa ocorrência de pororocas e sugeriram que
uma frente fria na troposfera teria sido a provável origem do fenômeno.
19
Também foi relatada na literatura a observação de uma frente mesosférica
formando-se após a quebra de ondas de gravidade (SMITH et al., 2005), além
de uma observação de transição de uma pororoca ondular em pororoca
turbulenta (SHE et al., 2004).
20
1.2.Objetivos e Estrutura da Tese
21
região da mesosfera terrestre. Desta forma, o Capítulo 4 descreve a
instrumentação e as respectivas metodologias utilizadas no presente trabalho,
que envolveram medidas de imageador all sky, de radar meteórico e do satélite
TIMED/SABER.
22
interação com um nível crítico; e um caso de duas frentes mesosféricas
propagando-se simultaneamente e com efeitos de complementaridade não
previstos pelo modelo. Na Seção 6.5, que encerra o capítulo de discussão, é
apresentado um quadro geral da contribuição dos resultados obtidos nesta tese
ao atual conhecimento das frentes mesosféricas.
23
24
2 A TEORIA DAS ONDAS DE GRAVIDADE
25
Figura 2.1 - Ilustração dos três tipos principais de ondas que podem ocorrer na
atmosfera terrestre.
Fonte: Adaptada de Beer (1974, p.2).
2.1.1.Ondas Acústicas
26
som ou as ondas acústicas são ondas longitudinais formadas pelo desequilíbrio
entre a resistência a mudanças num volume de fluido (ou compressibilidade) e
a inércia, que é uma resistência a mudança de velocidade. Estas compressão e
rarefação ocorrem adiabaticamente de modo que a energia não está disponível
para aumentar a desordem das moléculas de ar, e assim a entropia se
configura como a quantidade termodinâmica que permanece constante durante
o movimento (BEER, 1974).
L seria a altura exigida para que a densidade diminua para a metade de seu
valor. A hidrostática, por exemplo, opera numa faixa de pequenos valores de
27
F , i. e., F << 1 , quando a gravidade é a força dominante em relação à
compressibilidade. No caso contrário, em que F >> 1 , o gradiente de pressão e
a inércia dominam a força da gravidade constituindo fenômenos estudados
pela aerodinâmica e pela hidrodinâmica. Já para o caso atmosférico tem-se
que: F > 1 para ondas acústicas; F ~ 1 para ondas de gravidade acústicas; e
F < 1 para ondas de gravidade (BEER, 1974).
2.1.2.Ondas de Gravidade
28
eclipse e o efeito joule no oval auroral durante intensas tempestades solares
(FRITTS, 1984).
2.1.3.Ondas de Rossby
29
2.1.4.Ondas de Maré
Além destas marés excitadas termicamente pelo Sol, também ocorrem marés
gravitacionais na atmosfera, que embora sejam menos importantes não são
desprezíveis, pois para o caso das marés semi-diurnas por exemplo, podem
atingir até 20% da amplitude da maré solar na alta atmosfera (FORBES, 1982).
30
Devido ao maior período de oscilação, as marés atmosféricas são afetadas
pelo efeito de rotação da Terra. Além disto, por causa da conservação da
energia ao se propagar verticalmente numa atmosfera cuja densidade diminui
exponencialmente com a altitude a amplitude das ondas de maré cresce com a
altura, partindo de perturbações tão pequenas quanto 0,1% ao nível do mar a
perturbações de 30% à 100 km de altitude, onde devido aos efeitos
dissipativos, esta energia é então depositada. Mais detalhes sobre a atuação
das ondas de maré na região mesosférica podem ser encontrados em Lima
(2004).
31
km) como as mais importantes nesta transferência de momentum, ao
discutirem a sazonalidade de variação dos fluxos de momentum e energia.
Uma outra interação estudada foi a das ondas de gravidade com a maré
diurna. Fritts e Vincent (1987) mostraram que as marés modulam o divergente
do fluxo de momentum das ondas de gravidade, atuando no sentido de reduzir
a amplitude e o avanço de fase, o que foi demonstrado através de simulações
numéricas (FORBES et al. 1991). Em outro trabalho, Miyahara (1985)
examinou a interação entre as ondas planetárias estacionárias e as ondas de
gravidade, e mostrou que as amplitudes das ondas planetárias foram reduzidas
devido ao arraste provocado pelas ondas de gravidade.
32
ou seja, a onda é absorvida. Isto pode ser considerado como um caso especial
de saturação, o qual é acompanhado por mistura turbulenta e transferência de
momentum (FULLER-ROWELL, 1994).
33
Na Seção 2.3 a seguir será apresentada a teoria matemática das ondas de
gravidade, cuja solução, representada pela relação de dispersão, define as
condições de propagação destas ondas na atmosfera.
34
r r r
⎛ dv ⎞ 1 r 1 r
⎜ ⎟ + 2Ω × v = − ∇p + g + F
⎝ dt ⎠ ρ ρ , (2.1)
dρ r
+ ρ ∇⋅v = 0 , (2.2)
dt
dT D ⎛1⎞
Q = Cv +p ⎜ ⎟
dt Dt ⎜⎝ ρ ⎟⎠ , (2.3)
p = ρRT . (2.4)
35
(u, v, w, p, ρ ) = (u 0 , v0 , w0 , p0 , ρ 0 ) + ε (u1 , v1 , w1 , p1 , ρ1 ) (2.5)
⎛ ∂u ⎞ ∂p
ρ 0 ⎜⎜ + v0 ⋅ ∇u ⎟⎟ + − 2ρ 0 Ω z v = 0
⎝ ∂t ⎠ ∂x , (2.6)
⎛∂v ⎞ ∂p
ρ 0 ⎜⎜ + v 0 ⋅ ∇v ⎟⎟ + − 2ρ 0 Ω z u = 0
⎝ ∂t ⎠ ∂y , (2.7)
⎛∂w ⎞ ∂p
ρ 0 ⎜⎜ + v0 ⋅ ∇w ⎟⎟ + +ρg =0
⎝ ∂t ⎠ ∂z , (2.8)
∂ρ ∂ρ
+ v 0 ⋅ ∇ρ + w 0 + ρ 0 ⋅ ∇ v = 0
∂t ∂z , (2.9)
∂ρ ∂ρ ⎛∂ρ ∂ρ ⎞
+ v0 ⋅ ∇ρ + w 0 + ρ 0 ⋅ ∇v = c s2 ⎜⎜ + v 0 ⋅ ∇ρ + w 0 ⎟⎟
∂t ∂z ⎝ ∂t ∂z ⎠. (2.10)
(U ,V ,W , P ) = (u 0 , v0 , w0 , p0 ) exp[i (ω t − kx − ly − mz )] (2.11)
36
onde, (U , V , W , P ) são as quantidades perturbadas nos campos de vento e de
pressão, porém sem o subscrito 1. Os parâmetros ρ 0 e ρ s são a densidade do
DU 1 ∂P ∂ u0
+ Wu ' 0 + = 0, u '0 =
Dt ρ s ∂x ∂z , (2.12)
DV 1 ∂P ∂ u0
+ Wv' 0 + = 0, v' 0 =
Dt ρ s ∂y ∂z , (2.13)
1 DP ∂ u ⎛ ∂ ⎞
+ + ⎜⎜ − Γ ⎟⎟W = 0
ρ s c s Dt ∂ x ⎝ ∂ z
2
⎠ , (2.14)
⎛ D2 ⎞ 1 D⎛∂ ⎞
⎜⎜ 2 + N 2 ⎟⎟W + ⎜⎜ + Γ ⎟⎟ P = 0
⎝ Dt ⎠ ρ s Dt ⎝ ∂ z ⎠ . (2.15)
1 ∂ ρ0 g
Γ= +
2 ρ 0 ∂ z c s2 (2.16)
37
⎛ 1 ∂ ρ0 g ⎞
N 2 = − g ⎜⎜ + 2 ⎟⎟ (2.17)
⎝ ρ 0 ∂ z cs ⎠
g2 ⎛ RT ⎞ g 2 ⎛ γ − 1 ⎞
N2 = ⎜1 − 2 ⎟⎟ = ⎜⎜ ⎟⎟
⎜ γ
RT ⎝ c s ⎠ RT ⎝ ⎠, (2.18)
= ik [u ( z ) − c ] = −iω ,
D
(2.19)
Dt
r r
ω = k [c − u ( z )] . (2.20)
)
A freqüência intrínseca ω da onda é determinada por um observador que se
desloca junto com o vento médio de fundo e a sua relação com a freqüência
) r r
aparente ω é dada por ω = ω − k ⋅ u .
)
Quando as ondas se movem mais rápido que o vento, ω é positivo; caso
contrário, é negativo. Na Equação 2.19 supôs-se que as soluções são
proporcionais a exp{i (kx − ωt )} . Substituindo a Equação 2.19 nas Equações 2.14
38
a 2.15 e eliminando-se P e U entre elas, pode-se encontrar, com um pouco de
trabalho algébrico, a seguinte relação:
∂ 2W ⎡ N 2 u zz ⎤
+⎢ − − k h2 ⎥W = 0 , (2.22)
∂t 2
⎣ (u − c )
2
(u − c ) ⎦
1
A aproximação WKB, acrônimo de Wentzel-Kramer-Brillouin, pode ser empregada quando as
propriedades do meio variam lentamente numa escala comparável com o comprimento de
onda.
39
A equação de Taylor-Goldstein apresenta dois tipos de soluções: i) quando
m 2 > 0 , as ondas são denominadas propagantes, pois propagam-se livremente
em função da altura; ii) quando m 2 < 0 , as ondas são denominadas
evanescentes, isto é, ondas que não se propagam na vertical, estando sujeitas
a reflexão da energia da onda.
40
a) b)
Figura 2.2 - a) Ilustração do crescimento da amplitude numa propagação
ascendente de uma onda de gravidade simples. b) Diagrama de
freqüência de onda em função do número de onda mostrando os
três regimes de propagação de ondas internas: as ondas acústicas,
as ondas evanescentes e as ondas de gravidade.
Fonte: a) Adaptada de Hargreaves (1992, p. 126). b) Adaptada de
Beer (1974, p.55).
41
ondas de gravidade que podem existir a uma dada altitude. Os níveis críticos
filtram as ondas com comprimentos de onda horizontal pequeno, pois estas
ondas apresentam uma baixa velocidade de fase vertical (BEER, 1974).
z
u0(z)
zc Nível Crítico
t5
t4
t3
t2 r r
r
r k k
k
k
t1
r
k
Cristas da Onda
42
A reflexão pode ser parcial ou completa. Se for parcial então parte da onda é
transmitida acima deste nível, porém com uma amplitude reduzida, e esta onda
transmitida pode ser tanto propagante (número de onda vertical real) quanto
evanescente (número de onda vertical imaginário). A onda assim refletida
propaga-se para baixo onde pode ser novamente refletida para cima, por um
ambiente favorável numa altitude inferior, ou mesmo pela superfície terrestre.
Se a distância entre os níveis de reflexão for um múltiplo do número de onda
vertical, as ondas incidente e refletida sofrem interferência construtiva, e a onda
de gravidade é dita aprisionada ou canalizada tal como ilustrado na Figura
2.4a. Nesta configuração as ondas canalizadas são capazes de transportar
energia por longas distâncias, sofrendo pouca atenuação dentro de um ducto
que funciona como um guia de onda. No caso da espessura do ducto não ser
um múltiplo do número de onda vertical, a onda sofre uma interferência
destrutiva (NAPPO, 2002).
Onda
Refletida
Ducto
Onda
Incidente
Onda
Transmitida
a) b)
Figura 2.4 -a) Ilustração de uma reflexão e transmissão de onda entre dois
níveis. Se as ondas incidentes e refletidas estiverem em fase, então
a onda poderá ser canalizada. b) Perfil do número de onda vertical
no caso de um canal Doppler, mostrando as regiões onde a onda é
propagante e evanescente.
Fonte: a) Adaptada de Nappo (2002, p. 86). b) Adaptada de
Chimonas e Hines (1986).
43
Assim, a análise do número de onda vertical mostra que as ondas de gravidade
canalizadas são ondas propagantes ( m 2 > 0 ) confinadas entre duas regiões
evanescentes ( m 2 < 0 ) ou entre uma região evanescente e o solo, exibindo
algum tipo de ressonância (FRANCIS, 1975). A Figura 2.4b ilustra esta
condição de canalização propagante entre duas regiões evanescentes.
44
3 REVISÃO DAS FRENTES MESOSFÉRICAS
3.1.Introdução
A análise das bandas também tem demonstrado que estas podem se tratar
tanto de ondas de gravidade propagantes, com deslocamento na vertical e na
horizontal, como também de ondas canalizadas ou de ondas evanescentes. No
caso das ondas canalizadas, a propagação apenas na horizontal acarreta uma
lenta dissipação de energia, e, conseqüentemente, um deslocamento por
longas distâncias desde sua região de origem (ISLER et al., 1997). É
45
principalmente por esta razão que o estudo das ondas canalizadas tem
importantes implicações nos modelos que investigam o transporte de energia e
momentum da baixa para a média atmosfera.
46
Já nas camadas de emissão do O2 e do OI5577 o evento exibiu um efeito
oposto, ou seja, onde as cristas de onda eram brilhantes nas camadas
inferiores (OH e Na), elas eram escuras nas duas camadas superiores e vice-
versa.
47
de maré dentro de uma região de ducto, porém este modelo não explicou o
efeito de complementaridade observado entre as camadas de airglow.
Altitude (km)
Hora (UT)
48
inversão durante a campanha ALOHA-93 feitas por Dao et al. (1995), que
possibilitariam a configuração de um ducto térmico.
Plano de simetria
a) b) Pororoca
49
rarefação e diminuição da temperatura na camada. Este comportamento
explicaria o efeito de complementaridade observado por Taylor et al. (1995a).
50
→ c + Δc
→c
Além disso, como Huang et al. (1998) mostraram, tal interação poderia também
ser responsável pela geração da própria camada de inversão de temperatura.
Portanto, o mecanismo físico proposto para a produção do ducto seria também
responsável pela subseqüente geração da pororoca.
Quatro anos depois, Seyler (2005) propôs uma teoria linear de ondas de
gravidade internas, cujo desenvolvimento seria não-linear, para explicar a
formação de pororocas mesosféricas ondulares em ductos térmicos. As
soluções bidimensionais não lineares de seu modelo mostraram que
perturbações ondulatórias de grande comprimento de onda e de amplitude
finita desenvolveram um crescimento não linear e formaram pororocas
ondulares.
51
θ (x,z)
z
Frente
de onda
Seis anos depois da descoberta de Taylor et al. (1995a), Medeiros et al. (2001)
reportaram o primeiro caso de pororoca mesosférica sobre o Brasil. A
observação foi feita na noite de 13 a 14 de julho de 1999 em Cachoeira
Paulista, SP, a partir de imagens all sky nas emissões do OI5577 e do OH
mostradas na Figura 3.6.
52
a) b)
Figura 3.6 – Imagens linearizadas nas emissões do a) OI5577 e do b) OH na
noite entre 13 e 14 de julho de 1999, obtidas em Cachoeira
Paulista, SP mostrando uma pororoca mesosférica. A seta branca
indica a direção de propagação da frente de onda.
Fonte: Adaptada de Medeiros et al. (2001).
53
4000
200
OI5577 OH(6,2)
(R)
3000
Intensity (R)
Intensity (R)
Intensidade
150
2000
100
Min. 1000
Min.
800 240
Intensity (R) (R)
O2A(0,1)
600
Temperature (K)
Intensidade
210
400
180
T OH
200 T O2
Min. 150
20 22 00 02 04 06 20 22 00 02 04 06
Hora
Local (LT)
Time (hour) Hora
Local (LT)
Time (hour)
54
Densidade de Sódio (100/cm3)
13 – 14/07/1999
Altitude (km)
Hora (LT)
55
a) b)
A Figura 3.9 - Pororoca mesosférica observada por Smith et al. (2003) no dia
14 de novembro de 1999 no sudoeste dos EUA a partir de imagens
all sky na emissão do a) OI5577 e do b) OH.
Fonte: Adaptada de Smith et al. (2003).
56
a) Densidade de Sódio
Altitude (km)
Dens. de Sódio
Sem dados
b) Temperatura
Altitude (km)
Sem dados
c) Freqüência de Brünt Väisalä 2
Altitude (km)
Sem dados
Hora (UT)
57
primeira observação da transição de uma pororoca ondular para uma pororoca
turbulenta, tal como previsto pelo modelo de Dewan e Picard (1998).
OH 06:14 UT OH 06:43 UT
58
Pororoca 9 - OH 20001225 Pororoca 10 - O5 20001228 Pororoca 16 - O5 20010123
Ainda no mesmo ano, Brown et al. (2004) reportaram a observação três frentes
mesosféricas sobre Clemson, na Carolina do Norte, EUA, entre 01:40 e 05:00
(UT) da madrugada de 15 de outubro de 2001. Neste trabalho os autores
propõem uma denominação geral de frentes mesosféricas a todos os
fenômenos de frente de onda observados a partir de imagens all sky de
airglow.
59
observado. O resultado da técnica de traçado de raio sugeriu que uma frente
fria na troposfera teria sido a provável origem do fenômeno.
a) b)
Figura 3.13 – a) Resultado obtido a partir da técnica de traçado de raio
mostrando as retro-trajetórias (linhas verdes) das ondas
observadas sobre Clemson, Carolina do Norte, EUA (ponto
vermelho) entre 14 e 15 de outubro de 2001. Os diamantes pretos
representam os pontos iniciais destas ondas na mesosfera. b)
Resultados previstos pela técnica de traçado de raio para o
espectro de ondas de gravidade gerado por uma frente fria na
troposfera em 14 de outubro de 2001 às 12:00 (UT).
Fonte: Adaptada de Brown et al. (2004).
60
Concentração de Sódio (cm -3)
Altitude (km)
Hora (UT)
61
um histograma da ocorrência de pororocas mesosféricas na região equatorial
do Brasil neste período.
Ocorrência
Ano
Figura 3.15 – Histograma da ocorrência de pororocas mesosféricas sobre São
João do Cariri, PB, Brasil entre setembro de 2000 e setembro de
2002. As barras verticais representam a fração mês-a-mês de
ocorrência de pororoca (100 x número de eventos/hora total de
observação). Entre parênteses está o número de eventos em cada
estação do ano, que são separadas pelas linhas tracejadas.
Fonte: Adaptada de Fechine et al. (2005).
a) b)
Figura 3.16 – a) Histograma da direção de propagação das pororocas sobre
São João do Cariri, PB. b) Histograma da ocorrência de pororocas
em função da hora local.
Fonte: Adaptada de Fechine et al. (2005).
62
Na mesma época, Fechine (2004) e Medeiros et al. (2005) apresentaram o
primeiro estudo da resposta da intensidade de emissão do OH, O2 e OI5577 à
passagem de pororocas mesosféricas, apontando novas classes de pororocas
não previstas pelo modelo de Dewan e Picard (1998).
63
Frio
Rarefeito
Escuro
Após a pororoca Antes da pororoca
Pororoca
Quente
Denso
Claro
O fato é que além dos quatro efeitos previstos, Fechine (2004) e Medeiros et al.
(2005) também observaram pororocas sobre São João do Cariri que
apresentaram efeitos não previstos pelo modelo, tais como os efeitos DBB e o
DDB. A Figura 3.19 mostra um histograma da ocorrência de pororocas e seus
respectivos efeitos de complementaridade observados.
64
Pororoca 17 - 20010223 Pororoca 40 - 20010222
Após a pororoca Antes da pororoca Após a pororoca Antes da pororoca
Não previstas
outros
65
no qual a frente de onda se propagou. A frente de onda foi detectada nas
imagens all sky das emissões do OH e do OI5577 propagando-se para o norte
com uma velocidade de 52 a 58 ms-1 e um comprimento de onda de 30 a 70
km. As camadas de airglow OH, O2, Na e OI5577 diminuíram a sua intensidade
de emissão após a passagem da frente, e as temperaturas rotacionais do OH e
do O2 também diminuíram em ~10 K. A Figura 3.20 mostra medidas de perfis
de vento para leste e para norte em três intervalos de tempo dentro do período
de observação da pororoca observada por Shiokawa et al. (2006). Os autores
observaram um intenso cisalhamento de vento (80m/s/km) na direção norte
entre 84 e 90 km o que pode ter desempenhado um importante papel na
geração da frente de onda.
Ve
nto
Z
al
on
ion
erid
al
o M
V ent
Figura 3.20 – Perfis de vento mesosférico para leste e para norte em três
intervalos de tempo dentro do período de observação da pororoca
medidos com radar meteórico em 5 de agosto de 2004 em
Kototabang, Indonésia.
Fonte: Adaptada de Shiokawa et al. (2006).
66
um aumento nas intensidades de emissão do OH, Na e O2, e foi acompanhado
por mais de 3 horas.
a) b) c)
67
simultaneamente a diminuição de sua amplitude. Isto significa que a frente de
onda dissipou energia adicionando ondas ao trem em detrimento de sua
amplitude, tal como prevê o modelo de Dewan e Picard (1998).
No de Onda (km-1)
No de Onda (km-1)
No de Onda (km-1)
No de Onda (km-1)
68
Figura 3.23 - Seqüência de imagens linearizadas na emissão do OI5577
obtidas no Observatório de El Leoncito, na Argentina em 21 de
agosto de 2001 mostrando a propagação de uma frente
mesosférica para a direção norte indicada pela seta.
Fonte: Adaptada de Smith et al. (2006).
O E
As análises mostraram que o evento foi causado por uma onda de gravidade
propagando-se para cima com grande amplitude. A Figura 3.25 mostra os
69
periodogramas da temperatura, do vento zonal e do vento meridional em
função da altura na noite do evento. Observa-se a ocorrência de oscilações
com períodos de 5 e 4 horas indicados pelas linhas tracejada e sólida,
respectivamente, nas altitudes das camadas de airglow.
Altitude (km)
70
Além disso, estas frentes de onda podem ou não, serem seguidas por um trem
de ondas. No caso de ocorrência de trem de ondas a interpretação geralmente
dada ao fenômeno é de que se trata de uma pororoca mesosférica, similar a
que acontece nos rios. Alguns casos de frentes mesosféricas, porém,
apresentam apenas uma transição de região escura para região clara nas
imagens de airglow (ou vice-versa). Estes casos são denominados na literatura
de walls mesosféricos, e sua natureza física ainda não está bem explicada. Os
diversos trabalhos publicados também concordam na hipótese de que deve
haver alguma estrutura de ducto mesosférico, configurado a partir de condições
específicas de vento e/ou temperatura, capaz de suportar tal fenômeno.
Diante do uso indiscriminado das expressões pororoca (ou bore) e avanço (ou
wall) para denominar as frentes de onda observadas no airglow, Brown et al.
(2004) propuseram uma denominação geral de frentes mesosféricas e uma
classificação destes eventos baseada em critérios físicos.
71
Segundo Brown et al. (2004) frente mesosférica deveria ser uma denominação
geral dada àquelas estruturas observadas nas imagens all sky de airglow que
se caracterizassem por:
a) Deve existir uma frente de onda separando regiões claras e escuras nas
imagens de airglow que se desloca a uma velocidade de ~20 a 100 ms-1;
b) No caso de pororocas ondulares, a frente deve ser seguida por um
padrão fixo de ondas que se movem a mesma velocidade da frente.
Pororocas excepcionalmente fortes podem ser não-ondulares, ou seja,
podem apresentar apenas turbulência;
c) Deve existir uma camada de inversão de temperatura na altitude da
pororoca para prover um ducto, ou então uma estrutura alternativa de
ducto, formada através de alguma combinação entre cisalhamento de
vento e inversão térmica;
72
d) Imagens em diferentes camadas de airglow associadas com a mesma
pororoca devem apresentar uma defasagem de até 180º, uma com
relação a outra, apresentando no último caso a complementaridade
descrita por Taylor et al. (1995a). Essa defasagem depende das
altitudes relativas entre o ducto e os picos das camadas de emissão;
73
Como referência, a Figura 3.26 apresenta dois exemplos de pororocas
mesosféricas típicas. A Figura 3.26a mostra a pororoca mesosférica observada
por Smith et al. (2003), nos EUA e a Figura 3.26b mostra uma pororoca
mesosférica observada por Fechine et al. (2005) em São João do Cariri, PB.
a) b)
Figura 3.26 - a) Pororoca mesosférica em imagem da emissão do OI5577 de
14/11/1999 observada sobre Fort Davis, Texas, EUA b) Pororoca
mesosférica em imagem da emissão do O2 de 28/12/2002 sobre
São João do Cariri, PB, Brasil. As setas indicam a direção de
propagação das frentes de onda.
Fonte: a) Adaptada de Smith et al. (2003). b) Adaptada de Fechine
et al. (2005).
74
durante a campanha ALOHA-93. A análise da condição de propagação
mostrou que estas ondas apresentaram respectivamente características de
onda canalizada (Figura 3.27a), onda evanescente (Figura 3.27b) e onda
canalizada ou evanescente (Figura 3.27c).
a) b) c)
Figura 3.27 - Exemplos de ondas de gravidade a) canalizada, b) evanescente e
c) canalizada ou evanescente observadas com imageador all sky
durante a campanha ALOHA-93.
Fonte: Adaptada de Isler et al. (1997).
75
observado sobre São João do Cariri, PB, Brasil por Fechine (2004). Observa-se
nestas imagens de airglow a característica principal de um wall mesosférico, o
avanço de um campo escuro no céu noturno, sem, no entanto, ser seguido por
um trem de ondas.
CP CARIRI
a) b)
Figura 3.28 – Exemplos de frente mesosférica do tipo avanço ou wall na
emissão do OH observados em a) Cachoeira Paulista, SP, na noite
de 13/07/1999 e em b) São João do Cariri, PB, na noite de
24/06/2001. As setas indicam a direção de propagação das frentes.
Fonte: a) Adaptada de Medeiros (2001). b) Adaptada de Fechine
(2004).
76
O evento não foi observado tão claramente na emissão do OI5577, porém a
estrutura foi visível na emissão do OH durante cerca de 2 horas sem qualquer
evidência de camada de inversão a ela associada. Por sua forma espacial
similar a uma frente de onda, ainda que estacionária, convêm que uma
interação onda-onda exibindo tal estrutura seja considerada um outro tipo de
frente mesosférica.
Figura 3.29 - Imagem all sky na emissão do OH obtida sobre Shigaraki, Japão
em 19 de dezembro de 1998 mostrando uma frente escura bem
definida, porém estacionária, sugerindo tratar-se de uma interação
não linear entre ondas de gravidade.
Fonte: Shiokawa et al. (2003).
Assim, após esta revisão do atual conhecimento das frentes mesosféricas, será
apresentada no Capítulo 4 a instrumentação e a metodologia utilizadas neste
trabalho para identificar, caracterizar e analisar as frentes de onda detectadas
em São João do Cariri, PB.
77
78
4 INSTRUMENTAÇÃO E METODOLOGIA
79
observadas no airglow tratavam-se realmente de ondas de gravidade
(MORELS e HERSE, 1977), questão que começou a ser esclarecida com as
medidas de comprimento de onda horizontal e velocidade de fase feitas por
Armstrong (1982).
Ainda na década de 70, Crawfort et al. (1975) já haviam tentado obter imagens
da aeroluminescência usando sistemas de TV de alta resolução temporal e
relativa sensibilidade, mas apenas na década de 80 foram obtidas imagens
simultâneas de melhor qualidade das camadas de emissão do OH, O2 e
OI5577 (TAYLOR et al., 1987; HERSE et al., 1980).
80
espacial, remoção de estrelas, projeção geográfica e análise de Fourier,
consolidando a pesquisa ótica de ondas de gravidade através de imageadores.
Nas Seções 4.2, 4.3 e 4.4 serão descritos brevemente o imageador all sky, a
metodologia de redução de dados de frentes mesosféricas e o radar meteórico
utilizado no presente estudo. Uma descrição mais detalhada do modo de
operação e dos algoritmos de processamento de dados destes instrumentos
pode ser encontrada em Medeiros (2001), Wrasse (2004) e Lima (2004). Já a
Seção 4.5 apresenta uma descrição da missão TIMED/SABER, cujos perfis de
temperatura e de taxa de emissão volumétrica do airglow OH complementaram
os dados do ambiente atmosférico necessário ao estudo das frentes
mesosféricas.
1
Com interceptação em 865,5 nm, que corresponde às emissões da banda Atmosférica do O2 (0-1).
81
Tabela 4.1 – Características dos filtros de interferência usados no imageador.
Filtro Comp. de Onda (nm) Largura da Banda (nm) Altura Média (km)
OI 630,0 3,3 275
OI 557,7 2,65 96
O2 (0,1) 865,5 12,0 94
OH 715,0 - 930,01 215,0 87
Fundo luminoso 578,0 2,67 90 - 100
82
Câmera Imageadora
Roda de Filtros
Sistema
Óptico
Câmera CCD
Fonte de
Sistema de
Alimentação
Refrigeração
83
Armazenados desta forma, a leitura e visualização das imagens de uma dada
noite têm exigido a utilização de um software científico específico, que por
vezes se torna pouco eficiente quando se faz necessário, por exemplo, a
redução de um ano de dados de ondas de gravidade.
84
extensão horizontal (> 500 km). A amplitude desta frente também deve ser
maior que outras estruturas no campo de visão do imageador e não deve
necessariamente apresentar uma aparência ondulatória.
85
Assim, nesta segunda busca, em torno do mesmo horário de ocorrência de
cada candidata a frente, procedeu-se com a procura de evidências de sua
passagem nas outras camadas de emissão. Com esta comparação entre as
camadas e com o contexto da observação durante a noite, decide-se então se
a candidata se trata ou não de uma frente mesosférica a partir dos critérios
propostos por Brown et al. (2004).
Nesta segunda procura também foi feita uma rápida descrição de eventuais
evidências observacionais do fenômeno que fossem relevantes para pesquisas
futuras, tais como: evidências de formação, dissipação, sinuosidade, efeito de
complementaridade, dentre outras.
86
por Brown et al. (2004). Assim, de acordo com a relevância das evidências
observacionais e com a qualidade das frentes, as “melhores” frentes
mesosféricas foram selecionadas para serem analisadas em profundidade,
através de estudos de caso.
87
A quarta etapa é a determinação da fração da flutuação de intensidade das
imagens que fornece uma medida relativa percentual sobre o quanto a
intensidade em um determinado pixel variou num determinado instante
(GARCIA et al., 1997), e é dada por:
ΔI I − I
= , (4.1)
I I
onde I representa a intensidade luminosa contida numa imagem qualquer da
noite e I a imagem média de toda a noite.
1⎛ 2π ⎞1⎛ 2π ⎞
H (i, j ) = ⎜⎜1 − cos i ⎟⎟ ⎜⎜1 − cos j ⎟⎟ , (4.2)
2⎝ si ⎠2⎝ si ⎠
88
Feito isto, verificou-se nos vídeos das três emissões, os horários zenitais das
frentes e os acontecimentos que poderiam a ela estar relacionados. A seguir
localizou-se a mais nítida imagem da frente mesosférica e se anotou o horário
em torno do qual deve-se efetuar a análise espectral. Como um exemplo deste
procedimento, a Figura 4.2a apresenta uma imagem na emissão do OH obtida
na noite de 1º de maio de 2005 às 21:25 (LT). Esta imagem apresenta uma
estrutura de frente mesosférica, cuja formação e dissipação foi acompanhada
por aproximadamente 1 hora, e cuja direção de propagação é indicada pela
seta.
21:25 LT 21:25 LT
a) b)
c)
FIGURA 4.2 – a) Imagem na emissão do OH na noite de 1º de maio de 2005,
obtida às 21:25 (LT), mostrando a formação de uma frente
mesosférica. A seta indica a direção de propagação da frente de
onda. b) Mesma imagem mapeada em 768 x 768 km2. O retângulo
branco define a região na qual foi realizada a análise espectral. c)
Conjunto de imagens que foram analisadas. A linha branca vertical
define a direção de propagação da principal oscilação identificada
com a análise espectral.
89
A seguir selecionou-se a projeção geográfica de 768 × 768 km2 que é a mais
adequada ao estudo de ondas de gravidade de grande escala horizontal (maior
que 500 km), tais como as frentes mesosféricas. A Figura 4.2b apresenta a
imagem linearizada em 768 × 768 km2, assumindo a altitude nominal de 87 km
para a camada de emissão do OH. O retângulo branco indica a área de
interesse onde será aplicada a análise espectral.
90
Deve-se também registrar em imagem, a área que foi escolhida, para que
futuras investigações possam reproduzir os mesmos resultados.
91
entre duas imagens sucessivas. Este método resolve o problema da
ambigüidade e foi implementado por Wrasse (2004). A Figura 4.3 apresenta o
resultado do espectro cruzado para a seqüência de imagens na emissão do OH
mostradas na Figura 4.2c.
92
Após esta primeira análise espectral verificou-se então se houve ou não a
ocorrência de um pico espectral bem resolvido no gráfico final, tal como
exemplificado na Figura 4.3. Observou-se também a direção de propagação
dos picos mais intensos encontrados, para verificar se estes coincidiam com a
direção observada para a frente mesosférica, e não com alguma outra onda
presente na imagem.
93
Concluída a análise espectral foram então obtidos os parâmetros físicos da
frente mesosférica a partir do espectro cruzado, segundo o procedimento
desenvolvido por Maekawa (2000). Neste procedimento o número de onda,
com a maior amplitude do espectro cruzado é escolhido como sendo o número
de onda na direção zonal ( k ) e meridional ( l ) da onda de gravidade. A
diferença de fase entre duas imagens sucessivas, Δϕ (k ,l ) , é a fase do espectro
1 Δϕ (k ,l ) 1
cobs = ⋅ ⋅ , (4.4)
k2 + l2 360 o
Δt
94
Se existirem medidas do vento de fundo, na altura das camadas de emissão
simultâneas às medidas de airglow, é possível determinar a velocidade e o
período intrínsecos das ondas. Como medidas de radar meteórico são
disponíveis sobre São João do Cariri desde julho de 2004 na Seção 4.4 a
seguir será descrita a metodologia de análise de ventos e a Tabela 4.2 será
atualizada para conter os parâmetros intrínsecos das ondas.
95
Tabela 4.3 – Especificações do Radar Meteórico instalado em São João do
Cariri.
Desta forma, os dados de radar meteórico foram usados como uma medida
aproximada do vento médio mesosférico sobre São João do Cariri. Esta
caracterização do vento médio objetivou a identificação de ductos Doppler
capazes de suportar a propagação de frentes mesosféricas.
96
significa que ondas de baixa freqüência com escalas verticais de variação de
vento maiores que 10 km poderão produzir ductos com escala horizontal maior
que 600 km. Assim, ductos com esta extensão horizontal são suficientes para
suportar um evento de frente mesosférica com as características apresentadas
por Brown et al. (2004).
97
resultado da variação do vento observada no horário de observação da frente
mesosférica.
(m/s)
a) Hora Local b) Hora Local
Vento na Direção da Onda Gradiente de Vento na Dir. da Onda
Cariri - 1 - 2/05/2005 Cariri - 1 - 2/05/2005
Altitude (km)
(x 10-3 m/s)
c) Hora Local d) Hora Local
98
onde u é o vento médio na direção de propagação da onda. E assim, o
período intrínseco é dado por:
λh
τ int =
cint . (4.8)
Na altitude de emissão do OH, entre 85 e 88 km, a velocidade do vento variou
consideravelmente, principalmente entre 21:00 e 22:00 (LT). Foram registradas
velocidades em torno de 10 ms-1 às 21:00 (LT) e cerca de 50 ms-1 às 22:00
(LT). Assim, considerando-se uma velocidade média do vento de 35 ms-1
dentro deste horário, obtém-se os parâmetros intrínsecos para a frente
mesosférica de 1º de maio de 2005, que são mostrados na Tabela 4.4.
99
ciclo solar, mas há evidências de que a atividade humana pós-revolução
industrial também tem contribuído para esta mudança climática, principalmente
devido ao lançamento na atmosfera de gases, tais como o metano e o dióxido
de carbono que provocam um efeito estufa.
100
Figura 4.5 – Região da MLTI na qual a missão TIMED concentra seus objetivos
científicos.
Fonte: TIMED Web Site (2005).
101
Figura 4.6 mostra uma concepção artística do satélite TIMED em sua órbita ao
redor da Terra.
102
Tabela 4.5 – Principais características do satélite TIMED.
Missão
Data de Lançamento 7 de dezembro de 2001
Local de Lançamento Base aérea de Vandenberg, Califórnia, EUA
Veículo Lançador Delta II 7920-10 (lançado com o Jason-1)
Órbita 625 km circular
o
Inclinação 74,1 a partir do equador
Satélite
Massa 587 kg
Dimensões 2,72 m de altura
1,61 m de largura no lançamento
11,73 m de largura com painéis solares abertos
1,20 m de profundidade
Consumo 400 watts por órbita
Transferência de dados 4 megabits por segundo
Memória 5 gigabits
Controle de atitude dentro de 0,5 graus
Fonte: TIMED Web Site (2005).
103
Ultraviolet Imager) é um espectrógrafo no extremo ultravioleta que realiza
medidas globais da composição e da temperatura na MLTI, além da entrada,
nesta região, de energia proveniente do oval auroral. O SABER (do inglês
Sounding of the Atmosphere using Broadband Emission Radiometry) é um
radiômetro multicanal em infravermelho capaz de medir emissões atmosféricas
num largo intervalo espectral e de altitude. O SABER realiza medidas de perfis
de temperatura e de fontes de resfriamento atmosférico, tais como o airglow,
que ocorre quando a energia solar absorvida é re-emitida para o espaço
(TIMED WEB SITE, 2005). Como alguns dados do SABER foram
extensivamente usados no presente trabalho detalhes deste instrumento serão
descritos na Seção 4.5.1, a seguir.
104
− Estudar o papel da dinâmica no balanço de energia da MLT;
− Desenvolver uma climatologia dos principais parâmetros atmosféricos
entre 60 e 130 km, i.e., na região central de observação do satélite
TIMED.
SABER
Massa 65,6 kg
Potência elétrica 76,5 W
Transferência de dados 4 kbps
Dimensões 77 x 104 x 63 cm
Potência de aquecimento 11,0 W
Intervalo de medidas 10 a 180 km
Resolução vertical 0,4 km
Projeto e construção Space Dynamics Laboratory, USU
Tempo de vida > 2 anos
Fonte: TIMED Web Site (2005).
105
Os perfis verticais das radiâncias medidas pelo SABER são analisados usando
uma variedade de modelos de não-LTE com o objetivo de derivar perfis de
temperatura cinética, de concentração de espécies minoritárias, além de taxas
de perda de energia, de aquecimento solar, de aquecimento químico e de
resfriamento radiativo.
106
O radiômetro SABER também está calibrado para obter uma acurácia 2 melhor
que 5% na maioria dos canais espectrais. A Tabela 4.8 mostra a acurácia e a
precisão 3 dos parâmetros medidos pelo SABER, além dos intervalos de altura
e do período do dia em que as medidas obtidas são válidas.
2
Acurácia ou exatidão é um conceito qualitativo que descreve quanto o resultado de uma
medição está próximo do valor verdadeiro (VUOLO, 1998).
3
Precisão é um conceito qualitativo para caracterizar resultados com erros estatísticos
pequenos, com pequena dispersão em relação ao valor médio verdadeiro (VUOLO, 1998).
107
4.6.A Disponibilidade de Dados
2002 2003
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Imageador All Sky
TIMED/SABER
Radar Meteórico
2004 2005
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Imageador All Sky
TIMED/SABER
Radar Meteórico
Figura 4.7 - Disponibilidade dos dados de imageador all sky, radar meteórico e
do satélite TIMED/SABER no Observatório de Luminescência
Atmosférica em São João do Cariri, PB, entre 2000 e 2005.
108
Como o imageador entrou em operação em setembro de 2000, o satélite
TIMED/SABER em janeiro de 2002 e o radar meteórico em julho de 2004, o
período ideal para o estudo de frentes mesosféricas com todos os dados
disponíveis compreende os meses de junho de 2004 a dezembro de 2005.
109
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow
a) b) c) d) e)
T (K) N2 (x 10-4 s-2) Vento (m/s) m2 (x 10-7 m-2) VER normal.
Figura 4.8 - a) Perfil de temperatura cinética (linha sólida) medido com o
TIMED/SABER em 1/10/2005 sobre São João do Cariri e respectivo
perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As linhas
tracejadas representam a taxa de queda adiabática da temperatura.
b) Perfil do quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä. c) Perfil do
vento na direção de propagação da onda medido com radar
meteórico (linha sólida). A linha pontilhada vertical indica a
velocidade de fase da onda. d) Perfis do número de onda vertical
( m 2 ) (linha sólida) e do comprimento de onda vertical (λz) (linha
pontilhada). e) Perfis verticais das taxas de emissão volumétrica
normalizadas (VER) do OH em 1,6 μm (linha sólida) medido pelo
satélite TIMED/SABER e do O2 (0,1) (linha tracejada) e OI5577
(linha pontilhada) calculados com o modelo MSIS-90. As linhas
sólidas horizontais que cortam os gráficos delimitam a base e o
topo da região propagante que define o ducto.
110
MSIS-90 (HEDIN, 1991). As linhas sólidas horizontais que cortam os cinco
gráficos delimitam a base e o topo da região propagante que define o ducto.
111
entanto o comprimento de onda vertical não tende ao infinito pelo fato do perfil
de vento se tratar de uma função discreta, com medidas interpoladas a cada
quilômetro. Ao se reproduzir o perfil de vento com uma interpolação a cada 100
m, por exemplo, pode-se verificar que o valor de λz aumenta
consideravelmente em 90 e 94 km, de forma que o perfil de λ z experimental
(função discreta) reproduz o comportamento do perfil de λ z teórico (função
contínua) apresentando λ → ∞ onde m → 0 . Os perfis de temperatura e de
vento, junto dos parâmetros físicos da onda de gravidade definem a condição
de propagação da onda, cujo procedimento de análise será descrito na Seção
4.7.3.
112
que pode ser comparada com o período da onda medido, através da
análise espectral e dos dados de vento;
R
⎛ p ⎞ cp
θ = T ⎜⎜ 0 ⎟⎟ , (4.9)
⎝ p ⎠
113
Por outro lado, se a temperatura potencial diminui com a altura o deslocamento
da parcela de ar aumentará exponencialmente com o tempo, o que define a
região como sendo estaticamente instável (HOLTON, 1992). A Tabela 4.9
apresenta um resumo das três condições de estabilidade atmosférica
observadas de acordo com a variação da temperatura potencial e da
freqüência de Brünt - Väisäla.
Condições de
Estabilidade Atmosférica
dθ
> 0 , N2 > 0 Estaticamente Estável
dz
dθ
= 0 , N2 = 0 Estaticamente Neutra
dz
dθ
< 0 , N2 < 0 Estaticamente Instável
dz
114
101 km
97 km
89 km
86 km
72 km
70 km
a) b)
N2 1
m =
2
− k h2 − , (4.10)
(u − c ) 2
4H 2
115
Entretanto, nota-se que as restrições feitas ao comportamento do vento de
fundo tornam a atmosfera pouco realística, principalmente se forem
consideradas ondas de gravidade de maior escala, propagando-se na
mesosfera, ambiente onde o vento varia bastante.
N2 u zz
m =
2
− − k h2 , (4.11)
(u − c ) (u − c )
2
116
Ponto de reflexão Nível crítico
Altura
Cg
Vento de fundo
Figura 4.10 – Ilustração da propagação vertical de ondas de gravidade num
ambiente com cisalhamento vertical de vento.
Fonte: Adaptada de Mitsuno e Shimazaki (1981).
117
N2
− 1º termo: o termo de N , dado por
2
;
(u − c )2
u zz
− 2º termo: o termo de u zz , dado por ;
(u − c )
− 3º termo: o termo de k h2 , dado por k h2 .
uma reta coincidindo com a origem das abscissas. Por outro lado, o perfil de
m 2 praticamente reproduz o perfil de u zz , considerando-se que o termo de u zz
118
Vento Termo de N2 Termo de du2 Termo de k2
λz2
m2
a) b) c) d) e)
N2
Com relação ao 1º termo da Equação 4.11, , na relação de dispersão,
(u − c )2
observa-se que: o valor de N 2 é da ordem de 5 min na mesosfera, e pode ser
considerado constante, o que não constitui uma restrição severa, já que N 2
varia lentamente dentro da escala de tempo de poucas horas (ISLER et al.,
1997).
119
Observa-se também que pelo fato do denominador estar elevado ao quadrado,
e o numerador ser sempre positivo, este termo contribui apenas para tornar m 2
positivo, ou seja, o termo da temperatura contribui apenas para estabelecer
uma condição propagante no perfil de m 2 .
4.7.2.3.Discutindo o 2º termo de m 2
u zz
Com relação ao 2º termo da Equação 4.11, , na relação de dispersão,
(u − c )
observa-se que: tanto o numerador quanto o denominador podem apresentar
sinal negativo ou positivo no seu valor final. Isto significa que o termo do vento,
ao contrário do termo da temperatura, pode contribuir para estabelecer uma
condição tanto propagante, quanto evanescente no perfil de m 2 . Além disso,
120
u zz
como o denominador de não é quadrático, este não diminui tanto o
(u − c )
valor final do 2º termo, como ocorre com o denominador do 1º termo, na
proximidade de um nível crítico, por exemplo. De maneira análoga, o
denominador do 2º termo também não aumenta tanto quando do aumento
diferença (u − c ) .
121
c) Por outro lado, se o perfil de vento for algo mais complexo que apenas
um gradiente, e puder ser representado, por exemplo, por uma equação
de segundo grau verifica-se o seguinte:
∂2 u
− Se > 0 a concavidade do perfil de vento é para a direita, ou seja, o
∂ z2
perfil apresenta um mínimo local de u na direção oposta de c , o que
aumenta o valor absoluto do denominador (u − c ) . O sinal negativo em
u zz
− torna então este termo positivo, estabelecendo assim uma
(u − c )
condição propagante, já que os termos de N 2 e de k h2 são geralmente
∂2 u
− Se < 0 a concavidade do perfil de vento é para a esquerda, ou seja,
∂ z2
o perfil apresenta um máximo local de u na direção de c , o que diminui
o valor absoluto do denominador (u − c ) . Com o numerador e o
u zz
denominador negativos, o sinal negativo no termo do vento, − ,
(u − c )
torna então este termo também negativo, estabelecendo assim uma
condição evanescente, já que os termos de N 2 e de k h2 são geralmente
4.7.2.4.Discutindo o 3º termo de m 2
122
do m 2 . Ou seja, frentes mesosféricas com pequenos comprimentos de onda
horizontal (~10 km) tendem a ser suportadas por um ducto cuja contribuição do
kh2 , é relevante. Esta contribuição de kh2 ocorre no sentido de configuração de
regiões evanescentes, devido ao sinal negativo antes do 3º termo na relação
de dispersão.
Propagante Evanescente
m2 > 0 m2 < 0
a) - m2 + b) - m2 +
Figura 4.12 – Diagrama esquemático mostrando a condição propagação de
onda a) propagante ou b) evanescente num intervalo de altitudes
mesosferéricas.
123
4.13a observa-se uma configuração de região propagante sobre uma região
evanescente. A configuração oposta é ilustrada na Figura 4.13b.
m2 < 0
m2 > 0
m2 < 0 m2 > 0
a) - m2 + b) - m2 +
Figura 4.13 – Diagrama esquemático mostrando as duas condições de
propagação de onda propagante e evanescente possíveis num
mesmo perfil.
m2 = 0 m2 < 0
m2 = 0 m2 < 0
a) - m2 + b)- m2 +
Figura 4.14 – Diagrama esquemático mostrando as duas condições de
canalização de onda num ducto propagante circundado por a) uma
região onde m 2 = 0 e b) por uma região evanescente ( m 2 < 0 ).
124
2 Ductos Propagantes 3 Ductos Propagantes
- m2 + - m2 +
Figura 4.15 – Diagrama esquemático mostrando exemplos de condições de
múltipla canalização.
A estrutura vertical definida por estes perfis de VER pode ser comparada com o
perfil de condição de propagação das frentes mesosféricas. Esta comparação
permite a localização de ductos com relação às altitudes dos picos de emissão
das camadas, o que é fundamental na discussão do efeito de
complementaridade exibido pelas frentes mesosféricas ao serem detectadas
em diferentes imagens de airglow.
125
de pequena escala que freqüentemente ocorrem na mesosfera equatorial e são
registradas pelo satélite TIMED/SABER.
Este fato permite supor, sem perda considerável de precisão, que uma boa
aproximação entre os perfis medido e modelado pode ser obtida fazendo
coincidir o perfil modelado com o perfil observado, pelo rebaixamento da
concentração de O, que é a principal espécie que atua na fotoquímica do
airglow.
126
Temperatura MSIS-90 VER normalizada MSIS-90 x SABER
0 2.5 x 1011 5 x 1011
Altitude (km)
a) b) c) d) e)
0 5x1014 1x1015
T (K) Conc. (cm-3) VER normalizada VER normalizada VER normalizada
127
Apêndice D com dados do modelo MSIS-90 (linhas pontilhadas preta e
vermelha, respectivamente).
128
5 RESULTADOS
5.1.1.Introdução
129
Devido ao grande número de radares Rayleigh em operação ao redor do
mundo foi possível através de climatologias como estas melhorar o
conhecimento da estrutura térmica da média atmosfera em latitudes médias.
Entretanto, a pesquisa da estrutura térmica sobre os trópicos ainda é bastante
limitada, embora se reconheça a importância dos fenômenos desta região,
principalmente em estudos de acoplamento atmosférico.
130
Desta forma, contribuindo com o conhecimento da média atmosfera sobre os
trópicos, esta seção apresenta um estudo da estrutura térmica sobre São João
do Cariri (7,4º S; 36,5º O), PB.
131
de 625 km de altitude e 74,1º de inclinação, realizando 14 voltas em torno da
Terra por dia. O instrumento SABER trata-se de um radiômetro em
infravermelho capaz de realizar observações de limbo em 10 canais espectrais
entre 1,27 μm e 17 μm (RUSSELL et al., 1999). Os perfis verticais de
temperatura cinética são derivados de medidas de emissão de CO2 em 15 μm
obtidas pelo SABER entre 10 e 120 km de altitude e com uma resolução de ~2
km (MERTENS et al., 2004). Neste trabalho é utilizada a versão 01.06 do
produto nível 2A dos dados de temperatura cinética do SABER para o ano de
2005, sobre uma área de 20º x 20o centrada em São João do Cariri. Esta área
foi escolhida de modo a garantir pelo menos 10 sondagens diárias, ou cerca de
300 sondagens por mês, permitindo assim o cálculo de um perfil de
temperatura médio diário sobre o Cariri durante todo o ano de 2005. As
acurácias das medidas do SABER são de 1,5 K para o intervalo de 15 a 80 km
e de 4 K entre 80 e 100 km, enquanto as precisões são de 0,5 K, 1 K e 2 K
para 15 - 70 km, 70 - 80 km e 80 - 100 km, respectivamente.
132
5.1.3. Perfis de Temperatura do TIMED/SABER
Cariri – 07/01/2005
Mesopausa
Altitude (km)
Estratopausa
Tropopausa
Temperatura (K)
133
Acima da tropopausa encontra-se a estratosfera, região onde a convecção é
inibida e a temperatura aumenta com a altura devido à absorção da radiação
ultravioleta pelo O3 e H2O. Em torno de 53 km de altitude nota-se um máximo
de temperatura de aproximadamente 266 K, marcando a posição da
estratopausa, i.e., o ponto de inflexão que marca o início à mesosfera. As
medidas do SABER concordaram com o modelo CIRA-86 na baixa
estratosfera, e apresentaram-se menores na alta estratosfera e estratopausa.
Como já foi mencionado, cada perfil médio diário foi calculado a partir das
sondagens individuais obtidas num dado dia dentro de uma área de 20º x 20º
centrada em São João do Cariri. Como as sondagens individuais não são
simultâneas, nem ocorrem no mesmo ponto, há uma variação espacial e
temporal, de perfil para perfil, que pode ser avaliada a partir dos desvios
padrões em cada altitude do perfil médio diário. A Figura 5.2 apresenta os
resultados da média de todos os desvios padrões (das 3.437 sondagens
individuais) verificados nos perfis de temperatura diários durante o ano de
2005, ou seja, apresenta um gráfico da variabilidade média dos perfis médios
diários obtidos pelo satélite TIMED/SABER sobre o Cariri.
134
Variabilidade dos Perfis de Temperatura
Altitude (km)
Cariri - 2005
Temperatura (K)
Figura 5.2 - Variabilidade média dos perfis de temperatura diários obtidos pelo
satélite TIMED/SABER sobre o Cariri em 2005.
A Figura 5.3a apresenta os perfis médios anuais para 2005 calculados a partir
dos dados do satélite TIMED/SABER sobre o Cariri (linha sólida) e do modelo
135
CIRA-86 para a latitude -5º (linha pontilhada). Na Figura 5.3b tem-se a
diferença de temperatura entre os perfis obtidos a partir do SABER e do CIRA
(TSABER – TCIRA-86) para o ano de 2005. Observa-se na Figura 5.3a que o perfil
médio anual medido pelo SABER apresenta uma tropopausa em torno de 17
km com uma temperatura de 194 K concordando com a tropopausa prevista
pelo CIRA-86. Já a estratopausa localiza-se em 50 km, com uma temperatura
de 263 K, ou seja, mesma altura do modelo, porém 7 K menor que a
temperatura prevista. A estratopausa apresenta características similares às
observações de Chang et al. (2005) para Wuham, na China (também em baixa
latitude), que foram de 48 km e 267 K, respectivamente. Com relação a
mesopausa verificou-se uma temperatura média de 177 K (10 K menor que o
CIRA-86) ocorrendo a 98 km, aproximadamente a mesma altura prevista pelo
modelo.
Perfil Médio Anual sobre o Cariri Diferença entre os Perfis do SABER e do CIRA-86
2005
TSABER - TCIRA
Altitude (km)
SABER ____
a) CIRA-86 ........... b)
Temperatura (K) Temperatura (K)
Figura 5.3 - a) Perfis de temperatura médios anuais sobre o Cariri para 2005
obtidos pelo satélite TIMED/SABER (linha sólida) e o modelo
atmosférico CIRA-86 (linha pontilhada). b) Diferença entre os perfis
médios anuais obtidos pelo SABER e modelo CIRA-86.
136
da camada de inversão mesosférica prevista pelo CIRA em contraste com seu
forte registro no perfil médio anual medido pelo SABER. Acima de 100 km de
altitude a diferença entre as temperaturas do SABER e do CIRA tendem a
aumentar monotonicamente para valores acima de 40 K, principalmente,
devido às limitações do modelo atmosférico em reproduzir a temperatura nesta
região.
a) b)
Meses Meses
137
No intervalo de altitudes entre 15 e 18 km da Figura 5.4a, entre os meses de
novembro a maio, observam-se mínimos na temperatura da tropopausa (195 K)
nas medidas do SABER mais pronunciados do que os previstos pelo modelo
CIRA-86. Estes mínimos coincidem com o período de chuvas no Cariri, quando
sistemas convectivos profundos atingem a tropopausa, resfriando-a. Esta é
uma característica de tropopausa tropical que também foi observada por
Leblanc et al. (1998) sobre Mauna Loa (19,5º N), no Hawaii, EUA.
Ainda na Figura 5.4a, observa-se uma estratosfera sensivelmente mais fria que
a do modelo, com uma assinatura apenas tênue do aquecimento previsto para
os equinócios. Embora menos pronunciado, o padrão de temperatura sobre o
Cariri também mostra um ciclo semi-anual na estratopausa com máximos de
temperatura em março e outubro, e pico de 265 K a 47 km de altura registrado
em março.
138
No caso do Cariri, a dupla mesopausa resulta da ocorrência de uma camada
de inversão de temperatura com amplitude de 10 a 20 K e altitude média em 83
km, cujas características foi reportado por Fechine et al. (2007). Esta estrutura
de dupla mesopausa não é reproduzida pelo modelo CIRA-86, que prevê
apenas uma pequena amplitude de 10 K nas camadas de inversão em 80 km
de altitude. Verifica-se também que a mesosfera no verão e no inverno é
caracterizada por um aquecimento em 80 km e mínimos de temperatura em 97
km de altitude. A oscilação semi-anual da estrutura térmica mesosférica
(GARCIA e CLANCY, 1990; CLANCY et al., 1994) e as marés atmosféricas
(HAGAN et al., 1995; STATES e GARDNER, 1998) podem desempenhar um
papel importante nesta variação da mesosfera a 80 km sobre o Cariri, e isto
deve ser melhor investigado no futuro.
139
diferenças consideráveis entre o modelo e as observações, como será visto a
seguir.
Meses
140
et al. (2002) em seus estudos sobre Wuham, na China e Chung Li, em Taiwan,
mas difere de Sharma et al. (2006) para Gadanki, na Índia que observaram
uma estratosfera mais fria que o modelo apenas no mês de setembro.
Por fim, Hauchecorne et al. (1991) mostraram que o ciclo solar de 11 anos
afeta a temperatura da média atmosfera. A atividade solar poderia causar
discrepâncias entre as medidas e os modelos da ordem de -3 a -4 K em 40 km
de altitude, atingindo um máximo de +5 a +7 K de diferença entre 60 e 70 km
de altitude. Porém, como o ciclo solar estava próximo do mínimo em 2005 é
plausível supor que as discrepâncias observadas entre as medidas do SABER
e do CIRA-86 sobre o Cariri sofreram pouca influência da atividade solar.
141
5.1.5. Características Observadas pelo Satélite TIMED/SABER
Cariri – 23/07/2005
MIL
Dupla Mesopausa
Altitude (km)
Dupla Estratopausa
Tropopausa
Temperatura (K)
142
Esta observação de dupla estratopausa concorda com as características
observadas em outros estudos para latitudes médias, tais como em Leblanc e
Hauchecorne (1997), Hauchecorne et al. (1991) e Chanin e Hauchecorne
(1991), e é bastante similar à observação em baixa latitude reportada por
Sharma et al. (2006).
Alguns mecanismos físicos têm sido propostos para explicar a formação destas
MILs, tais como: a quebra de ondas de gravidade (LEBLANC e
HAUCHECORNE, 1997), o aquecimento devido a reações químicas
exotérmicas (MERIWETHER e MLYNCZAK, 1995) e a interação entre onda de
gravidade e a maré atmosférica (LIU e HAGAN, 1998), porém a despeito das
pesquisas realizadas nos últimos 30 anos a sua origem ainda permanece um
tanto incerta.
143
No caso do Cariri, uma caracterização detalhada das MILs foi realizada por
Fechine et al. (2007). Os autores observaram uma ocorrência máxima de MIL
em abril e outubro, a uma altitude média de 83 km e com uma amplitude entre
10 e 15 K concordando com os resultados do presente trabalho.
144
semi-anual na temperatura medida com máximos nos equinócios, e o
pico de temperatura em março;
A existência deste fenômeno foi pela primeira vez reportada por Schmidlin
(1976) a partir de lançamento de esferas cadentes e granadas acústicas em
experimentos de foguete. Depois destas observações, outras técnicas
experimentais foram usadas no estudo de MIL, tais como, medidas de
temperatura obtidas com radar de laser Rayleigh (HAUCHECORNE et al.,
1987; MERIWETHER et al., 1998), com radar de laser de sódio (SHE et al,
1995; STATES e GARDNER, 1998) e através de fotometria por satélite
(CLANCY e RUSH, 1989; LEBLANC e HAUCHECORNE, 1997; FADNAVIS e
BEIG, 2004).
145
Meriwether e Gerrard (2004) ressaltaram que as MILs são observadas tanto em
baixas como em médias latitudes, porém em duas diferentes altitudes: entre
~75 e 85 km que são denominadas de MIL inferiores e acima de ~95 km as
chamadas MIL superiores. Cada camada apresenta tipicamente uma
espessura vertical de ~10 km e amplitudes (aumento da temperatura com
relação ao ambiente) da ordem de 10 a 20 K, mas também são observadas
amplitudes tão altas quanto 100K (MERIWETHER et al., 1994).
146
um mês após os equinócios. As amplitudes das MIL também apresentaram
uma variação semi-anual. As camadas de inversão que ocorreram no inverno
se localizaram a ~70 km de altitude, já as que ocorreram nos equinócios foram
localizadas entre 75 e 80 km, sugerindo que diferentes processos poderiam
estar envolvidos na altitude onde as camadas são formadas.
147
5.2.2. Dados e Procedimentos de Identificação de MILs
Nos últimos seis anos foram realizados diversos estudos das ondas de
gravidade observadas na mesosfera sobre São João do Cariri, PB (FECHINE
et al., 2005; MEDEIROS et al., 2004, 2007; WRASSE et al., 2003, 2006a,b).
Entretanto, um estudo mais profundo das condições de propagação destas
ondas de gravidade requer um melhor conhecimento da estrutura térmica
mesosférica, a qual até então era não disponível para a região equatorial
brasileira. Recentemente, medidas obtidas por satélite tornaram possível a
observação de perfis de temperatura em escala global, e mais especificamente,
com uma adequada distribuição de sondagens, sobre o Cariri.
148
obtidos na área selecionada (para mais detalhes ver Seção 5.1.3). Portanto,
apenas inversões com amplitude maior que 10 K foram consideradas
significantes. Um procedimento similar a este têm sido comumente utilizado no
estudo de MIL por medidas de satélite, como por exemplo, Leblanc e
Hauchecorne (1997) e Fadnavis e Beig (2004).
NDJF MA MJJA SO
Verão Outono Inverno Primavera
Topo
Altitude (km)
Base
Temperatura (K)
Figura 5.8 - Perfil vertical da temperatura média diária com uma típica MIL
inferior sobre o Cariri obtido pelo satélite TIMED/SABER em 10 de
abril de 2005. As altitudes de topo e de base da camada de
inversão são indicadas pelas setas. A amplitude da MIL é de 25 K.
149
O perfil médio de temperatura na Figura 5.8 mostra um decréscimo dos valores
na alta troposfera até a tropopausa, em cerca de 18 km. Acima da tropopausa
observa-se um aumento na temperatura por toda a estratosfera até a
estratopausa, em ~ 50 km, onde o gradiente de temperatura se inverte e esta
decresce até ~ 76 km. Nesta altitude pode-se observar a base da MIL e acima
desta a altitude de topo que define uma MIL com ~25 K de amplitude. Acima do
topo, ~83 km, existe uma pequena inversão de temperatura, mas com
amplitude menor que o desvio padrão, e após esta, acima de 105 km observa-
se um aumento monotônico da temperatura na baixa termosfera.
150
janeiro (12%) e em julho (16%), um mês após os solstícios. Estes resultados
concordam com Leblanc e Hauchecorne (1997), que observaram um ciclo
semi-anual em baixas latitudes com máximo um mês após os equinócios. Por
outro lado, o presente resultado difere daqueles para médias latitudes nas
quais foi observada uma variação anual de ocorrência de MIL com um máximo
durante o inverno (HAUCHECORNE et al. 1987). Em baixas latitudes, Fadnavis
e Beig (2004) também observaram dois máximos no ano, porém em maio e
novembro. Eles encontraram um mínimo de 40-50% de ocorrência em janeiro e
julho, ou seja, um mínimo menos pronunciado que no Cariri. Kumar et al.
(2001) também observaram uma oscilação semi-anual com máximo durante os
equinócios em março e outubro, e mínimos menos pronunciados do que no
Cariri (~40% em janeiro e julho).
Meses
Figura 5.9 – Distribuição da freqüência mensal de MILs sobre o Cariri
mostrando máximos de ocorrência em abril e outubro.
151
diminui para maiores amplitudes. Esta distribuição anual é diferente daquela
reportada por Kumar et al. (2001) que apresentaram uma larga distribuição
entre 18 e 20 K. O mesmo tipo de distribuição de amplitude assimétrica
também pode ser observado no verão e no inverno, com valores entre 10 – 30
K e 10 – 40 K, respectivamente (Figuras 5.10c,e). Já os resultados para o
outono e a primavera (Figuras 5.10d,f) mostram uma larga distribuição, com
amplitude média de 25 ± 10 K. Estes resultados sugerem que MILs fracas (de
pequenas amplitudes) são mais freqüentes nos solstícios do que nos
equinócios no Cariri, em comparação com a região tropical da Índia.
Dados SABER 2005 Dados SABER Verão 2005 Dados SABER Inverno 2005
(a) (c) (e)
No de MILs
No de MILs
No de MILs
Dados SABER 2005 Dados SABER Outono 2005 Dados SABER Primavera 2005
(b) (d) (f)
Amplitude de MIL (K)
No de MILs
No de MILs
Figura 5.10 - (a) Distribuição das amplitudes de MILs inferiores sobre o Cariri
durante 2005. (b) Variação das amplitudes de MIL médias mensais
mostrando máximos nos equinócios. Distribuição das amplitudes de
MIL para o (c) verão, (d) outono, (e) inverno e (f) primavera.
Na Figura 5.10b tem-se o gráfico da amplitude média mensal, que mostra uma
variação semi-anual com máximos nos meses de equinócios (abril e outubro) e
mínimo nos solstícios (janeiro e junho). As barras verticais representam o
desvio padrão devido às variabilidades dia-a-dia das MILs. No verão a
amplitude média é de 15 ± 6 K e no inverno é de 15 ± 5 K. Já durante os
equinócios a amplitude média é de 30 ± 20 K no outono e de 25 ± 15 K na
152
primavera. Esta variação semi-anual concorda com Fadnavis e Beig (2004),
mas difere de Kumar et al. (2001) que observaram uma oscilação anual com
um máximo em maio e um mínimo em dezembro para a Índia.
Figura 5.11 - (a) Distribuição das espessuras das MIL inferiores sobre o Cariri
em 2005. (b) Variação das espessuras de MIL médias mensais
mostrando máximos após os equinócios.
153
MILs sobre o Cariri foi 8 km abaixo da altitude de topo, ou seja, 75 ± 3 km. Já
as distribuições das temperaturas de topo e base da camada são sumarizadas
na Figura 5.13. As temperaturas médias de topo e base foram 205 ± 5 K e 185
± 5 K, respectivamente, sem variação sazonal significante.
Altitude (km)
Altitude (km)
No de MILs No de MILs
Figura 5.12 - Distribuições das altitudes de topo (a) e base (b) das MIL
inferiores sobre o Cariri.
No de MILs
Figura 5.13 - Distribuições das temperaturas de topo (a) e base das MILs
inferiores sobre o Cariri.
154
que existe um deslocamento para baixo (setas pretas) do pico da MIL, de uma
altitude de 85 km em fevereiro para 80 km em maio. Um deslocamento similar
também ocorre de agosto para outubro. Picard et al. (2004) também
observaram um rebaixamento na altitude de MILs a partir de dados do satélite
TIMED/SABER. Entretanto, neste trabalho os autores discutiram a variação das
altitudes de MILs entre o dia e a noite, relacionando este comportamento a uma
possível atuação da maré atmosférica no campo de temperatura.
Assim, este comportamento mês-a-mês da MIL sobre o Cariri deve ser melhor
investigado. Pode-se, por exemplo, compará-lo com a variação sazonal do
vento ou da maré em altitudes mesosféricas. Tal estudo contribuiria com um
melhor entendimento dos mecanismos físicos envolvidos na geração de MIL na
região equatorial.
Altitude (km)
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Temperatura (K)
Figura 5.14 - Perfis de temperatura médios mensais sobre o Cariri. As setas
mostram um deslocamento para baixo do pico da MIL em dois
períodos de 2005. Os perfis de temperatura estão espaçados em
40 K.
155
quebra de ondas de gravidade e a interação entre ondas de gravidade e ondas
de maré.
156
para a geração de camadas de inversão mesosféricas. Como pode ser
percebido a investigação da origem das MILs ainda é uma questão a ser
aprofundada tanto na pesquisa experimental como na modelagem, e portanto,
uma discussão mais profunda dos mecanismos de produção de MIL está além
do escopo do presente trabalho.
157
− A partir de perfis de temperatura médios mensais foi observada a
presença de MIL em dois períodos do ano, de fevereiro a maio e de
agosto a outubro, ambos apresentando um deslocamento para baixo,
do pico da camada.
5.3.1. Introdução
158
mesosféricas, que é bastante dependente do contínuo monitoramento da
mesosfera através de imagens de airglow.
159
As frentes mesosféricas foram inicialmente identificadas segundo as
características apontadas por Dewan e Picard (1998) para o caso das
pororocas mesosféricas, critérios amplamente utilizado na literatura (NIELSEN
et al., 2006; SMITH et al., 2005; SHIOKAWA et al., 2006; SHE et al, 2004) e
também utilizado em estudos anteriores sobre o Cariri (FECHINE, 2004;
FECHINE et al., 2005; MEDEIROS et al., 2005). No entanto no presente
trabalho, esta identificação de pororocas foi estendida para uma classe mais
geral na qual as pororocas estão contidas a qual foi denominada de frentes
mesosféricas seguindo a proposta de classificação sugerida por Brown et al.
(2004).
A partir da Figura 5.15 percebe-se que uma pororoca típica se apresenta nas
imagens de airglow como uma frente de onda bem definida seguida por um
trem de ondas. Um evento do tipo avanço caracteriza-se por um uniforme
aumento (ou diminuição) da intensidade do airglow após a passagem de sua
160
frente bem definida. Já um pulso se apresenta como uma frente de onda
solitária se propagando numa dada direção.
a) b) c)
Figura 5.15 - Imagens all sky e ilustração de (a) uma pororoca com extenso
trem de ondas na emissão do O2 às 18:25 (LT) de 09/11/2004, (b)
um avanço claro na emissão do OH às 19:00 (LT) de 29/09/2005 e
(c) de um pulso ou onda solitária na emissão do OI5577 em
06/08/2005 às 20:34 (LT). As setas na frente dos eventos indicam
as direções de propagação.
161
Após a identificação dos eventos, e com o objetivo de se extrair os parâmetros
físicos destas frentes mesosféricas, foi realizado um pré-processamento das
imagens que consistiu das seguintes etapas: alinhamento da imagem com o
norte geográfico, remoção das estrelas, mapeamento das imagens originais
num novo sistema de coordenadas geográficas de 768 x 768 km2,
determinação da fração da flutuação da intensidade das imagens, suavização
da imagem e aplicação da função de ponderação de Hanning para minimizar
os lóbulos laterais dos picos significantes do espectro. Detalhes deste pré-
processamento podem ser encontrados em Medeiros (2001) e Wrasse (2004).
162
de outros tipos de ondas de gravidade durante o verão e o inverno reportada
por Medeiros et al. (2003). Porém, diante dos resultados do presente estudo
pode-se reavaliar os resultados de Fechine et al. (2005) observando-se que a
despeito de terem ocorrido mais pororocas nos meses de janeiro de 2001 e
junho - julho de 2002, observa-se também uma considerável atividade nos
meses de setembro de 2000, abril e setembro de 2001, e abril e agosto de
2002.
Meses Meses
Figura 5.16 - Distribuições da ocorrência de frentes mesosféricas sobre o Cariri
para (a) o segundo semestre de 2004 e (b) todo o ano de 2005.
163
de camadas de inversão de temperatura sobre o Cariri que também ocorre nos
equinócios, como mostraram Fechine et al. (2007). Entretanto, a despeito desta
hipótese ser plausível, pois vários casos na literatura associam a ocorrência de
frentes mesosféricas com camadas de inversão de temperatura (DEWAN e
PICARD, 1998, 2001; SMITH et al., 2003, 2005), não se considera o papel do
vento na configuração do ducto, o que simplifica bastante as condições de
propagação das frentes mesosféricas. Assim, um análise da ocorrência de
frentes mesosféricas, exige primeiramente uma análise dos principais fatores
que atuam na canalização das ondas, tal como o vento, que será melhor
discutido na Seção 6.6.
164
Além disto, devido a nova metodologia empregada na análise espectral, que
utilizou um mapeamento das imagens originais em coordenadas geográficas de
768 x 786 km2, foi possível identificar eventos com maiores comprimentos de
onda (λh < 150 km) , e também maiores períodos (τ > 45 minutos), ou seja,
pororocas mesosféricas com parâmetros físicos pouco reportados na literatura.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Comprimento de Onda (km) Período (min) No de Ondas
165
5.3.5. As Evidências Observacionais das Frentes Mesosféricas
166
A Figura 5.19 apresenta um exemplo de frente mesosférica em formação nas
imagens do airglow O2 do dia 12/10/2004 sobre o Cariri. Observa-se que às
19:07 (LT) não havia registro de ocorrência de uma frente mesosférica,
enquanto às 19:47 (LT) já é possível distinguir a configuração de uma frente de
onda clara. Às 20:28 (LT) observa-se esta frente clara já bastante desenvolvida
e deslocando-se para leste. Este foi um dos 16 casos de formação detectados
que podem contribuir no conhecimento das circunstâncias na qual uma frente
mesosférica é gerada.
0. Formação (16)
12/10/2004
167
1. Dissipação (28)
14/08/2004
168
às 20:29 (LT). Neste caso foram observadas bandas se deslocando na direção
oposta à frente, sugerindo uma interação antes da dissipação.
169
exemplos como este podem vir a esclarecer questões associadas com as
características do ducto capaz de suportar frentes mesosféricas, tal como a
espessura do ducto que será discutida na Seção 6.6.
A Figura 5.25 mostra uma seqüência de 3 imagens entre 03:45 e 03:53 (LT) de
uma frente mesosférica bastante sinuosa observada sobre o Cariri em
16/11/2004. A frente de onda se apresenta escura e as setas indicam a direção
de propagação da frente na extremidade norte (para SE) e na extremidade sul,
(para SE). Foram 8 casos como este que podem contribuir no entendimento do
papel desempenhado pelo vento na propagação das frentes mesosféricas.
170
as duas frentes apresentaram efeitos distintos (claro e escuro) na mesma
camada. Exemplos como este podem contribuir no conhecimento do efeito de
complementaridade e a discussão deste caso encontra-se na Seção 6.5.
171
Este é o tipo de frente mais reportado na literatura e o que mais ocorre sobre o
Cariri (foram 110 casos no total) e que vem sendo historicamente discutido
dentro do modelo de pororocas mesosféricas de Dewan e Picard (1998, 2000).
a) OH 19:00 (LT) b) c) 00 10
10 20
20 30
30 40
40 50
50
km
km
172
A Figura 5.30a e 5.30b apresentam a imagem original e linearizada
respectivamente, de uma frente do tipo pulso nas imagens do OI5577 em
06/08/2005. A Figura 5.30c mostra os perfis de intensidade relativa (obtidos de
uma reta perpendicular à frente) nos quais se observa um pico da intensidade
(seta) associado a passagem da frente. Os pulsos foram minoria, junto com os
avanços em comparação com as pororocas, porém o seu estudo pode
contribuir na compreensão dos mecanismos envolvidos na geração de
diferentes tipos de frentes mesosféricas.
20:34
20:34
20:41
20:41
20:47
20:47
a) O5 20:34 (LT) b) c) 00 10
10
20
20
km 30
30
40
40
50
50
km
173
12. Com Escoamento para Trás (31)
Espectro Cruzado Médio (Amplitude)
c)
a) O5 18:23 (LT) b)
No de Onda Zonal (ciclos/km)
Figura 5.31 - Imagens a) original e b) linearizada na emissão do OI5577 em
01/10/2005 mostrando uma frente mesosférica (linha sólida) com
trem de ondas e evidência de escoamento para trás. c) Gráfico do
espectro cruzado mostrando dois picos espectrais (vermelho) que
representam a assinatura da frente e do escoamento.
A Figura 5.32a mostra um caso de pororoca que ocorreu em 01/12/2005 na
emissão do OH. Neste caso a análise espectral da imagem linearizada da
Figura 5.32b foi realizada dentro da área definida pelo retângulo. Esta análise
resultou na Figura 5.32c, cuja maior amplitude (em vermelho) no espectro é
devida apenas a pororoca, e não se registra qualquer assinatura de um
escoamento para trás do distúrbio. Casos como este, que são maioria (117
casos), servem de contraponto aos casos com assinatura de escoamento para
trás que permitem avaliar as diferenças no ambiente mesosférico que
produzem estas diferentes assinaturas espectrais das frentes de onda.
01/12/2005
c)
a) OH 23:41 (LT) b)
No de Onda Zonal (ciclos/km)
174
A Figura 5.33 mostra três imagens nas emissões do OH, O2 e OI5577 obtidas
em 08/12/2004 nas quais se observa uma pororoca propagando-se para
sudeste. Esta frente apresentou efeito de complementaridade claro-escuro-
escuro para o OH-O2-OI5577, respectivamente como é previsto pelo modelo de
Dewan e Picard (1998). Estes casos constituem uma maioria no Cariri, mas
não representam uma regra como já foi reportado por Fechine (2004) e
Medeiros et al. (2005), exigindo uma análise detalhada dos processos físicos
subjacentes a tal efeito.
175
15. Efeito Não Previsto (13)
10/11/2004 Escuro Claro Claro
176
− Várias evidências observacionais, algumas delas ainda inéditas na
literatura, também foram registradas, a saber: frentes em formação
e/ou dissipação sugerindo ou não interação com outras ondas de
gravidade; indícios de destruição da frente pelo vento de fundo; frentes
mesosféricas bastante largas, além de casos de frente de onda
sinuosas; ocorrência de frentes simultâneas e de várias frentes numa
mesma noite. Também foram identificados casos com uma assinatura
espectral de um escoamento para trás da frente mesosférica, além de
eventos com efeitos de complementaridade não previstos pelo modelo
de Dewan e Picard (1998);
Com estes resultados, o presente trabalho contribui com uma referência para a
verificação experimental das previsões dos modelos propostos, além de
apontar caminhos promissores para a pesquisa experimental do fenômeno das
frentes mesosféricas, cujos principais aspectos ainda permanecem pouco
conhecidos.
177
178
6 DISCUSSÃO
6.1.1 Introdução
Após a descoberta das frentes mesosféricas realizada por Taylor et al. (1995a),
Dewan e Picard (1998, 2001) foram os primeiros a propor uma explicação para
o fenômeno baseada numa teoria de pororoca ondular mesosférica, cuja
ocorrência estaria associada a uma camada de inversão de temperatura ou
MIL que lhe serviria de ducto. Seyler (2005) também propôs uma teoria na qual
o desenvolvimento da frente de onda seria não-linear e ocorreria em ductos
térmicos. Observações recentes de frentes mesosféricas simultâneas a
camadas de inversão de temperatura (SHE et al., 2004; SMITH et al., 2003,
2005) também têm indicado que a investigação de ductos térmicos se constitui
numa ativa linha de pesquisa das condições de propagação das frentes
mesosféricas.
Por esta razão, nesta seção, será apresentado um estudo de caso de duas
frentes de onda detectadas sobre São João do Cariri (7,4º S; 36,5º O), PB,
simultaneamente a ocorrência de extensas áreas de camadas de inversão de
temperatura na mesosfera. Na Seção 6.1.2 serão apresentados detalhes da
observação do fenômeno, bem como seus parâmetros físicos. Na Seção 6.1.3
serão discutidos os critérios de classificação do fenômeno e na Seção 6.1.4 a
estrutura térmica da mesosfera na noite do evento será analisada. Na Seção
6.1.5 os principais resultados deste estudo de caso são sumarizados.
179
18/04/2002 Claro Claro Escuro
180
Tabela 6.1 - Parâmetros físicos da frente mesosférica (Φ, λh, cobs, τobs)
calculados a partir da análise espectral das imagens em
cada camada de emissão. A altura do pico da camada de
OH foi obtida a partir de dados do satélite TIMED/SABER e
as alturas das camadas de O2 e OI5577 foram obtidas a partir
do modelo MSIS-90.
181
Seguindo esta proposta as frentes mesosféricas poderiam ser classificadas em
quatro tipos distintos: i) pororocas mesosféricas, que apresentariam uma frente
de grande amplitude da qual poderia surgir um trem de ondas; ii) as ondas de
gravidade canalizadas que não produziriam necessariamente um trem de
ondas; iii) os walls mesosféricos, caracterizados pela propagação de uma
região clara (ou escura) nas imagens de airglow; e iv) as interações não
lineares onda-onda que poderiam se apresentar até como frentes estáticas.
Analisando os critérios descritos por Brown et al. (2004) e propostos por Dewan
e Picard (2001) para classificar um fenômeno como pororoca mesosférica
verifica-se que o evento de 18 de abril de 2002 satisfaz a maioria deles, a
saber: apresentou uma frente de onda bem definida nas imagens de airglow; a
frente de onda foi seguida por um nítido trem de ondas e o distúrbio exibiu um
efeito de complementaridade claro-claro-escuro entre as camadas de airglow,
ou seja, um aumento na intensidade dos airglow OH e O2 e uma diminuição na
intensidade do OI5577.
182
OI5577 - 04:05 (LT)
04:05 (LT)
04:11 (LT)
Intensidade Relativa
04:17 (LT)
04:24 (LT)
04:30 (LT)
183
originado a mais tempo. Como no presente caso o período de observação da
pororoca foi de 55 minutos, e como dentro deste intervalo de tempo foi possível
se observar a geração de pelo menos 2 cristas entre 04:05 e 04:30 (LT) é
plausível supor que tal evento se tratou de uma pororoca mesosférica
observada cerca de uma ou duas horas após a sua geração.
184
apresentadas na Seção 5.2. Entretanto, a altura da MIL superior foi cerca de 14
km maior que a altitude média observada por Fechine et al. (2007) para as
MILs sobre São João do Cariri, já que neste trabalhos os autores identificaram
MILs apenas até 90 km de altura.
a) b) c)
185
Na Figura 6.3c são mostrados os perfis das taxas de emissão volumétrica
normalizadas do OH em 1.6 μm (linha sólida) medido pelo satélite
TIMED/SABER, e do O2(0,1) (linha tracejada) e OI5577 (linha pontilhada)
calculados a partir do modelo MSIS-90 (HEDIN, 1991). Os perfis do O2 e do
OI5577 foram rebaixados para uma altitude mais realística, de maneira que o
perfil teórico do OH coincidisse com o perfil de OH observado pelo satélite
TIMED/SABER, tal como é descrito na Seção 4.7.3. Detalhes da análise de
estabilidade atmosférica e do cálculo dos perfis de emissão podem ser
encontrados na Seção 4.7.1.
186
qual foi desenvolvida uma nova abordagem na análise de ductos que será
apresentada nas Seções 6.2 a 6.5 a seguir.
A Figura 6.4a apresenta um mapa com 337 sondagens realizadas pelo satélite
TIMED/SABER sobre a América do Sul entre 17 e 18/04/2002. As Figuras 6.4b
e 6.4c apresentam mapas de amplitude de MIL elaborados a partir do
procedimento de identificação de camadas de inversão desenvolvido por
Leblanc e Hauchecorne (1997) e adaptado por Fechine et al. (2007) para as
sondagens do satélite TIMED/SABER.
187
Sondagens do Satélite TIMED/SABER
17-18/04/2002
a)
b) c)
188
segunda área de MIL coincide com a área de cobertura do imageador (círculo
preto) e também com a região onde a frente mesosférica foi observada nas
imagens da emissão do OH. A seta preta indica a direção de propagação da
frente de onda. Na Figura 6.4c observou-se uma área ainda mais intensa de
camada de inversão (amplitude maior que 80 K) entre 90 e 110 km de altitude.
Novamente se observou extensas MILs sobre a Amazônia e sobre o nordeste
brasileiro, sendo esta última também coincidente com a área de cobertura do
imageador e com a região onde a frente mesosférica foi observada. Ou seja,
duas extensas áreas de MIL foram observadas no período de 17 a 18 de abril
de 2002 sobre o nordeste brasileiro exibindo diferentes amplitudes térmicas, o
que concorda com a hipótese da existência de duas regiões de estabilidade
distintas e com extensão suficiente para suportar a propagação das frentes
mesosféricas observadas.
189
− O evento satisfez aos principais critérios sugeridos por Dewan e Picard
(2001) para classificá-lo como pororoca mesosférica, a saber:
apresentou uma frente de onda bem definida; de grande extensão
horizontal; seguida por um trem de ondas, cujo número de cristas
aumentou devido a uma diminuição na amplitude da frente;
190
6.2 O Caso de 01/10/2005: Frente Mesosférica num Ducto Doppler
6.2.1 Introdução
191
Imagens All Sky - Cariri - 01/10/2005
OI5577 Claro OI5577 OI5577
OH Claro OH OH
192
na direção oposta à propagação da frente de onda. Este movimento relativo
ocorre quando a frente de onda dissipa energia diminuindo sua amplitude ao
adicionar cristas ao trem de ondas, e foi descrito na Seção 5.3.5 como uma
evidência observacional de escoamento para trás da frente de onda. Esta
observação é relevante ao estudo de frentes mesosféricas, pois constitui a
primeira evidência experimental de tal movimento relativo detectado através de
uma análise espectral bidimensional. Diante das características exibidas esta
frente mesosférica pode ser classificada como uma pororoca mesosférica de
acordo com o modelo de Dewan e Picard (1998, 2001).
193
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow
a) b) c) d) e)
T (K) N2 (x 10-4 s-2) Vento (m/s) m2 (x 10-7 m-2) VER normal.
Figura 6.6 - a) Perfil de temperatura cinética (linha sólida) medido com o
satélite TIMED/SABER em 1/10/2005 sobre São João do Cariri e
respectivo perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As
linhas tracejadas representam a taxa de queda adiabática da
temperatura. b) Perfil do quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä.
c) Perfil do vento na direção de propagação da onda medido às
18:00 (LT) com radar meteórico (linha sólida). A linha pontilhada é a
velocidade de fase da onda. d) Perfis do número de onda vertical
( m 2 ) (linha sólida) e do comprimento de onda vertical (λz) (linha
pontilhada). e) Perfis verticais das taxas de emissão volumétrica
normalizadas (VER) do OH em 1,6 μm (linha sólida) medido pelo
satélite TIMED/SABER e do O2(0,1) (linha tracejada) e OI5577
(linha pontilhada) calculados a partir do modelo MSIS-90 e com um
rebaixamento de 9km na concentração de O, conforme descrito na
Seção 4.7.3. As linhas sólidas horizontais que cortam os cinco
gráficos delimitam a base e o topo do ducto.
194
MILs sobre São João do Cariri, que são de 75 ± 3 km e 83 ± 4 km,
respectivamente.
N2 u zz
m =
2
− − k h2 , (6.1)
(u − c ) 2
(u − c )
195
onde, m é o número de onda vertical, N 2 é o quadrado da freqüência de
Brünt-Väisälä; u é a velocidade do vento básico; c é a velocidade de fase da
onda; k h = 2π / λ h é o número de onda horizontal.
196
Observa-se na Figura 6.6e que o pico de emissão da camada de OH se
localizou em 82 km, ou seja, abaixo da altitude nominal de 86 km, enquanto o
pico do O2 foi estimado em 87 km, e do OI5577 em 89 km, abaixo de suas
altitudes nominais que são 92 e 96 km, respectivamente.
197
Tabela 6.2 - Parâmetros físicos observados dentro do ducto da frente
mesosférica de 1º de outubro de 2005.
N2 2
T θ u m λz
(K) (K) (x10-4s-2) (ms-1) (x10-8m-2) (km)
Mínimo 164,9 7.975 4,5 -40,5 0,2 7
Máximo 168,8 10.244 9,9 -23,8 2,0 23
Médio 166,7 9.054 6,4 -33,8 0,9 14,2
198
A Figura 6.7 apresenta a variação temporal dos perfis de vento zonal,
meridional e na direção de propagação da frente de onda medidos com radar
meteórico entre 12:00 (LT) de 01/10/2005 e 12:00 (LT) de 02/10/2005 sobre
São João do Cariri, PB.
199
Vento Zonal – Cariri – 1 - 2/10/2005
Altitude (km)
a)
b)
c)
Hora Local
Figura 6.7 - Variação temporal do vento a) zonal, b) meridional e c) vento na
direção de propagação da onda medidos por radar meteórico entre
12:00 (LT) de 01/10/2005 e 12:00 (LT) de 02/10/2005 sobre São
João do Cariri, PB. As linhas sólidas verticais indicam o horário de
observação da frente de onda e as linhas horizontais delimitam a
base e o topo do ducto mostrado na Figura 6.6.
200
Uma ressalva, porém deve ser feita com relação às limitações na discussão
realizada a partir deste gráfico: a Figura 6.8 apresenta a variação temporal de
m 2 supondo-se que apenas o vento varia ao longo do tempo. Nota-se da
Equação 6.1 que além do vento, a temperatura (incluída no termo do N 2 ) e as
próprias características da onda ( c e k h2 ) também variam com o tempo. Com
201
fase dentro do intervalo de 1 ou 2 horas de observação da frente de onda, e a
variação da velocidade neste período esteve dentro dos erros envolvidos na
medida (±10%), então pode-se considerar que a Figura 6.8 fornece uma
primeira aproximação da variação temporal da condição de propagação da
onda na noite do evento. Futuros estudos podem aperfeiçoar esta metodologia
fazendo uso de perfis de temperatura e de vento com uma maior resolução
temporal e vertical (que são limitados para os dados de satélite e de radar
meteórico, respectivamente, usados neste trabalho). Além disso, seria bastante
útil o desenvolvimento de uma técnica capaz de acompanhar as variações das
características das ondas observadas nas imagens de airglow.
202
A primeira evidência de que o vento poderia desempenhar um papel importante
no desenvolvimento das frentes mesosféricas surgiu no trabalho de Batista et
al. (2002). Neste trabalho os autores investigaram o ambiente envolvido na
frente de onda observada por Medeiros et al. (2001) sobre Cachoeira Paulista,
SP e ambos os trabalhos mostraram que um intenso cisalhamento de vento foi
registrado durante o evento. Smith et al. (2003) também verificaram a
ocorrência de um forte cisalhamento de vento na altura de observação de uma
frente de onda, entretanto, neste trabalho, os autores concentraram a
discussão apenas no papel desempenhado pela camada de inversão de
temperatura para a configuração do ducto. She et al. (2004) observaram uma
frente mesosférica se propagando na direção contrária a um vento bastante
forte (~40 ms-1), o que também poderia sugerir uma importância do vento na
configuração do ducto.
203
Desta forma, o estudo de caso de 1º de outubro de 2005 contribui no sentido
de que o comportamento do vento não pode ser desprezado na análise de
propagação das ondas de gravidade, especialmente no caso das frentes
mesosféricas. Além disso, deve-se utilizar nestes estudos a relação de
dispersão dada pela Equação 6.1, que além de ser mais realística ao
considerar os cisalhamentos de vento e os gradientes de temperatura, resulta
numa interpretação bastante distinta da condição de canalização das ondas.
204
6.3 O Caso de 03/10/2005: Destruição de uma Frente Mesosférica
6.3.1 Introdução
A frente mesosférica foi observada sob condições de céu limpo numa noite
com baixa atividade ondulatória. O fenômeno apareceu no campo de visão do
imageador a sudoeste, às 21:00 (LT), e durante a sua observação foi possível
identificar um trem de cinco cristas de onda seguindo a frente mesosférica. A
frente mesosférica apresentou ainda um efeito de complementaridade claro-
escuro entre as camadas de emissão do OH e OI5577, respectivamente, sendo
bem mais definida no OH do que no OI5577.
205
Imagens All Sky - Cariri - 03/10/2005
OH OH OH
Às 23:00 (LT), quando a frente de onda atingiu o zênite local, foi observada nas
imagens de airglow uma dissipação tanto da frente como do trem de ondas que
a seguia, sugerindo uma forte mudança no ambiente mesosférico capaz de
alterar a condição de propagação da onda. Após as 23:00 (LT), as sucessivas
cristas do trem de ondas também dissiparam na região do zênite, até que às
23:30 (LT) a frente mesosférica havia se dissipado completamente.
206
condições atmosféricas distintas separadas aproximadamente pela linha
tracejada na Figura 6.9, que indica a faixa estática onda a frente de onda
desapareceu. A oeste desta linha as condições mesosféricas permitiriam a
propagação da frente de onda. Já a leste desta linha a ocorrência de ripples
sugere uma condição de instabilidade dinâmica na mesosfera. As condições de
ambiente mesosférico na noite do evento serão discutidas em detalhe na
Seção 6.3.3.
207
médio de (2,9º N; 41,9º O) às 21:58 (LT) no dia 3/10/2005, a partir do qual foi
calculado o perfil de temperatura potencial (linha pontilhada). As linhas
tracejadas representam a taxa de queda adiabática da temperatura. Desta
forma, estes perfis representam uma sondagem realizada pelo satélite
TIMED/SABER dentro do campo de visão do imageador e no horário de
ocorrência da frente mesosférica.
a) b) c) d) e)
208
Observa-se no perfil de temperatura (linha sólida) a ocorrência de uma camada
de inversão entre 75 e 82 km de altitude com uma amplitude de 37 K. Acima do
pico da camada de inversão, o perfil de temperatura exibe algumas flutuações,
até que a partir de 92 km a temperatura apresenta um forte decréscimo
atingindo o mínimo de 146 K em 97 km de altura, definindo a mesopausa. A
espessura, a amplitude e as altitudes de topo e de base da MIL concordaram
com os valores médios observadas em São João do Cariri (FECHINE et al.,
2007), enquanto as temperaturas da base (178K) e do topo (215K) da MIL
foram 7 K e 10 K abaixo e acima da média, respectivamente. O perfil de
temperatura potencial (linha pontilhada) refletiu o comportamento do perfil de
temperatura. Observou-se um aumento da temperatura potencial, i.e. da
estabilidade atmosférica, na região da camada de inversão e um forte
decréscimo na estabilidade atmosférica em torno de 93 km. As Figuras 6.10a e
6.10b mostram que de uma forma geral a mesosfera estava bastante estável,
apresentando faixas de instabilidade em torno de 70, 93 e 110 km, onde N 2 foi
nulo.
209
distintos, um ducto inferior entre 82 e 85 km, e um ducto superior entre 91 e 95
km. A princípio ambos os ductos poderiam suportar a frente mesosférica de
3/10/2005, porém apenas a análise da variação do vento na noite pode indicar
em qual ducto a frente mesosférica se propagou, como será discutido a seguir.
Na Figura 6.10e observa-se que o ducto superior se localizou acima dos picos
de emissão do OH 1,6 μm (linha sólida) e do OI5577 (linha pontilhada) (86 e 90
km respectivamente). Nesta configuração, ao calcular a porção das camadas
compreendidas pelo ducto, percebe-se que a camada do OI5577 apresentou
uma maior porção de taxa de emissão volumétrica canalizada, cerca de 28%,
em comparação com a camada do OH que teve apenas 11% de sua taxa de
emissão volumétrica canalizada.
210
levantada, sofrendo rarefação e resfriamento, e conseqüentemente exibindo
uma frente de onda escura.
211
6.3.4 O Papel do Vento na Dissipação da Frente Mesosférica
a)
b)
Hora Local
Figura 6.11 - Variação temporal dos perfis de a) vento zonal e b) vento
meridional medidos com radar meteórico entre 12:00 (LT) de
03/10/2005 e 12:00 (LT) de 04/10/2005 sobre São João do Cariri.
As linhas sólidas verticais indicam o horário de observação da
frente mesosférica e as linhas horizontais delimitam a base e o topo
do ducto apresentado na Figura 6.11.
212
A Figura 6.11a mostra a ocorrência de um intenso cisalhamento no vento zonal
entre 21:00 e 23:30 (LT) (linhas sólidas verticais) resultante da atuação da
maré semi-diurna. Em 81 km o vento foi de -40 ms-1, mudando para -20 ms-1
em 84 km, até que em 88 km o vento foi praticamente nulo. Acima deste nível o
vento zonal passou a soprar para leste exibindo velocidades de 20 ms-1 em ~91
km, 40 ms-1 em ~93 km, até atingir um máximo de 70 ms-1 em ~97km.
213
Vento na Direção da Onda
Cariri – 3 - 4/10/2005
Altitude (km)
a)
b)
Hora Local
Figura 6.12 - Variação temporal a) do perfil de vento e b) do gradiente de vento
na direção de propagação da frente mesosférica medidos com
radar meteórico entre 12:00 (LT) de 03/10/2005 e 12:00 (LT) de
04/10/2005 sobre São João do Cariri. As linhas sólidas verticais
indicam o horário de observação da frente mesosférica e as linhas
horizontais delimitam a base e o topo do ducto.
214
vento desenvolvido na altura do ducto, e na região do céu entre o zênite e o
horizonte a leste.
N2
Ri = 2
⎛ ∂U ⎞
⎜⎜ ⎟⎟
⎝ ∂z ⎠
215
No caso de 3/10/2005 não se pode afirmar que houve tal transição, já que após
as 23:00 (LT) não se observou a permanência de uma frente ainda que
turbulenta. Entretanto, na discussão de seus resultados She et al. (2004)
mostraram que no momento da transição da pororoca ondular em pororoca
turbulenta o número de Richardson dentro do ducto foi menor que 0,25, ou
seja, a pororoca sofreu um processo de instabilidade dinâmica. Após a
transição She et al. (2004) também observaram a ocorrência de ripples nas
imagens de airglow corroborando a hipótese da instabilidade. Assim, estas
observações de She et al. (2004) suportam a hipótese de que a frente
mesosférica de 03/10/2005 foi destruída por um processo de instabilidade
dinâmica que estaria presente durante toda a noite na região do céu a leste do
observatório.
216
− Foram observadas condições atmosféricas distintas no céu de São João
do Cariri, na noite do evento. Entre o horizonte oeste e o zênite a
propagação da frente mesosférica foi permitida, enquanto entre o zênite
e o horizonte leste a ocorrência de ondas de gravidade transientes
(ripples) sugere a presença de uma condição de instabilidade dinâmica;
6.4.1 Introdução
217
Baseado nestes trabalhos, Dewan e Picard (2001) apresentaram um modelo
matemático propondo que o mesmo mecanismo de geração da camada de
inversão de temperatura poderia atuar também como gerador de pororocas
mesosféricas. Segundo este modelo, a interação de ondas de gravidade com
um nível crítico provocaria uma deposição de momentum numa estreita faixa
de altitudes, para um elemento de fluido local dentro do ducto, formado pela
camada de inversão. Isso ocorreria devido a presença de uma divergência de
fluxo de momentum a um nível crítico (LINDZEN, 1990).
218
sobre São João do Cariri, PB. As Figuras 6.13a e 6.13b mostram sucessivas
imagens do evento na emissão do OI5577 e do OH, respectivamente.
O5 O5 O5
frente frente
frente frente
banda
banda banda
219
No início da noite, em torno das 18:44 (LT) se observou bandas no OH e no
OI5577 se propagando para leste a uma velocidade observada de 37 ms-1, com
comprimento de onda de 32 km e período observado de 14 min. Ainda no início
da noite até a formação da frente de onda foram observados ripples
propagando-se para norte com uma velocidade observada de 20 ms-1, com
comprimento de onda de 21 km e período observado de 17 min, porém apenas
no OI5577. Às 19:30 (LT) foi observada a formação de uma frente de onda
solitária que se apresentou clara na emissão do OH e escura na emissão
OI5577 simultaneamente, tal como é mostrado nas Figuras 6.13a e 6.13b. A
frente mesosférica se deslocou na direção de 313º de azimute com uma
velocidade de fase observada bastante reduzida de ~2 ms-1, porém com ~27
ms-1 de velocidade intrínseca. Como apenas uma frente de onda solitária foi
observada, não há sentido físico no cálculo de um comprimento de onda e de
um período para este evento. Durante a formação da frente mesoférica
também foram observadas bandas se propagando para a direção sudeste com
uma velocidade observada de 37 ms-1, um comprimento de onda de 25 km e
um período observado de 11 min.
220
de temperatura cinética e potencial, do quadrado da freqüência de Brünt-
Väisälä, do vento na direção de propagação da onda, do número e do
comprimento de onda verticais, além dos perfis das taxas de emissão
volumétrica normalizadas do OH em 1,6 μm, do O2 (0,1) e do OI5577.
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow
a) b) c) d) e)
221
Na Figura 6.14a observa-se o perfil de temperatura (linha sólida) obtido pelo
satélite TIMED/SABER na coordenada de ponto tangente médio de (16,5º S;
28,3º O) às 18:43 (LT) no dia 2/11/2005, ou seja, 45 minutos antes do evento.
A partir deste perfil de temperatura foi calculado o perfil de temperatura
potencial (linha pontilhada). As linhas tracejadas representam a taxa de queda
adiabática da temperatura. Observa-se na Figura 6.14a a ocorrência de uma
estreita camada de inversão de temperatura entre 95 e 98 km. Embora esta
camada de inversão não satisfaça ao critério de espessura mínima de 4 km
estabelecido por Fechine et al. (2007) para caracterizar as MILs sobre São
João do Cariri, sua ocorrência é relevante na discussão do mecanismo de
geração da frente de onda na Seção 6.4.4. Nota-se ainda na Figura 6.14a que
a MIL definiu uma faixa de alta estabilidade estática entre 95 e 98 km,
representada pelo aumento no gradiente vertical da temperatura potencial
(linha pontilhada) e pela região de N 2 com valores de ~10 -3 s-2 (linha sólida na
Figura 5.14b).
222
respectivamente, nestas camadas, então este efeito não é previsto pelo modelo
de Dewan e Picard (1998), segundo o qual a frente deveria se apresentar clara
em ambas as emissões.
223
Vento Zonal – Cariri – 2 - 3/11/2005
Altitude (km)
a)
b)
Hora Local
Figura 6.15 - Variação temporal dos perfis de a) vento zonal e de b) vento
meridional medidos por radar meteórico entre 12:00 (LT) de
01/11/2005 e 12:00 (LT) de 02/11/2005 sobre São João do Cariri,
PB. As linhas sólidas horizontais delimitam a base e o topo do
ducto e as linhas sólidas verticais indicam o horário de observação
da frente mesosférica.
224
altura do ducto (linhas sólidas verticais e horizontais, respectivamente). Já o
gradiente vertical do vento na direção de propagação da frente de onda
apresenta um forte cisalhamento, cerca de -25 m/s/km, coincidindo com a
formação da frente mesosférica, às 19:30 (LT) entre 95 e 98 km. Ainda que
tenha diminuído para -5 m/s/km às 21:30 (LT), este cisalhamento foi o mais
forte registrado na mesosfera, na noite do evento.
a)
b)
Hora Local
Figura 6.16 - Variação temporal a) do perfil de vento e b) do gradiente de vento
na direção de propagação da frente mesosférica medidos com
radar meteórico entre 12:00 hs (LT) de 02/11/2005 e 12:00 hs (LT)
de 03/11/2005 sobre São João do Cariri, PB. As linhas sólidas
verticais indicam o horário de observação da frente mesosférica e
as linhas horizontais delimitam a base e o topo do ducto.
225
Este forte cisalhamento de vento pode ter gerado os ripples detectados no
OI5577 antes da formação da frente de onda. Esta hipótese é plausível devido
a três importantes evidências: a primeira é que os ripples foram observados na
emissão do OI5577 e não no OH, o que indica que a sua geração deve ter sido
local e acima da camada do OH; a segunda evidência é que o cisalhamento de
vento se localizou bem acima (~94 km, ver Figura 6.16b) do pico de emissão
do OH (~84 km, ver Figura 6.14); e a terceira evidência é que os ripples
apresentaram uma velocidade de fase de 20 ms-1, ou seja, bem menor que a
velocidade do vento, entre 60 e 70 ms-1, medida abaixo de 94 km, de forma
eles só seriam observados no OI5577 se tivessem sido gerados pelo
cisalhamento e se tivessem se propagado para cima, caso contrário, se os
ripples tivessem se propagado para baixo teriam sido absorvidos pela região
filtrante.
226
ms-1 (MEDEIROS et al. 2007), ou seja, estão sujeitas a filtragem por este perfil
de vento.
227
Segundo Huang et al. (1998) a deposição de momentum e energia devido a
interação entre ondas de gravidade e nível crítico pode explicar a formação de
camadas de inversão de temperatura na mesosfera, tal como a camada
observada na noite de 2 de novembro de 2005 entre 95 e 98 km que exibiu
uma amplitude de 27 K, e se localizou logo acima da região filtrante. Além
disso, também se observou um intenso cisalhamento no vento meridional na
altura e no horário da frente mesosférica, associado com a atuação da maré
semi-diurna, associação esta que também foi proposta por Huang et al. (1998)
para explicar a formação de camadas de inversão de temperatura.
228
térmico. Entretanto, como os autores não dispunham de medidas de vento na
mesosfera, não foi possível um estudo detalhado das condições de propagação
da frente de onda na noite do evento de forma que pudesse ser comparado
com as evidências verificadas no caso de 2/11/2005.
229
gerada, consistindo na primeira observação deste tipo a ser reportada
na literatura;
− As observações da localização do ducto com relação aos picos de
emissão do OH e do OI5577 demonstraram que a frente de onda
apresentou um efeito de complementaridade não previsto pelo modelo
de Dewan e Picard (1998);
6.5.1 Introdução
230
onda e suas direções de propagação (indicadas pelas setas) nas imagens da
emissão do OH, do O2 e do OI5577, respectivamente.
A primeira frente de onda (SE) foi acompanhada até as 20:30 (LT), quanto esta
já apresentava indícios de dissipação. Já para segunda frente de onda (NE)
foram observados indícios de dissipação um pouco antes das 20:00 (LT).
Ambas as frentes de onda se propagaram de horizonte para horizonte e
apresentaram trem de ondas.
231
Foi observado o surgimento de três cristas seguindo a primeira frente (SE),
enquanto para a segunda frente (NE) já foi observado o trem de ondas formado
exibindo duas cristas. De acordo com o modelo de Dewan e Picard (1998,
2001) isto significaria que a primeira frente de onda (SE) teria sido gerada à
menos de 1 hora de sua observação, já que o modelo prevê uma taxa de
adição de cristas ao trem da ordem de 2 a 3 cristas por hora. Já para o caso da
segunda frente (NE), como não foi observado o surgimento de cristas, mas o
trem já estava formado, é plausível supor que o evento teria sido gerado há
mais tempo, dependendo da eficiência do ducto, a algumas horas. Entretanto,
apenas a análise das condições de temperatura e de vento mesosféricos na
noite dos eventos pode esclarecer esta questão.
Outra característica apresentada por este evento foi o distinto efeito produzido
por cada frente mesosférica na mesma camada de airglow, isto
simultaneamente. Já era sabido na literatura que frentes mesosféricas
poderiam produzir efeitos opostos de claro ou escuro em camadas distintas
(TAYLOR et al., 1995a; SMITH et al., 2003; FECHINE, 2004; MEDEIROS et al.,
2005). Entretanto, esta é a primeira vez em que efeitos distintos são
observados nas mesmas camadas de emissão simultaneamente.
232
Para a investigar as singulares condições do ambiente no qual estas frentes
mesosféricas ocorreram foram utilizadas medidas simultâneas de vento obtidas
com radar meteórico, além de perfis de taxa de emissão volumétrica da
emissão do OH em 1,6 μm e de temperatura cinética obtidos com o satélite
TIMED/SABER.
A Figura 6.18 e 6.19 apresentam para as duas frentes de onda (para SE e NE,
respectivamente) os gráficos dos perfis de temperatura cinética e potencial, do
quadrado da freqüência de Brünt-Väisälä, do vento na direção de propagação
de cada onda, do número e do comprimento de onda verticais, além dos perfis
das taxas de emissão volumétrica normalizadas do OH em 1,6 μm, do O2 (0,1)
e do OI5577.
233
Condições Atmosféricas para a Frente Mesosférica Propagando-se para Sudeste
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow
a) b) c) d) e)
234
Condições Atmosféricas para a Frente Mesosférica Propagando-se para Nordeste
θ (x 104 K) λz (km)
Brünt - Väisäla Vento Airglow
a) b) c) d) e)
Figura 6.19 – Idem a Figura 6.18 para o caso da frente de onda propagando-se
para nordeste.
235
dominou o termo da temperatura em duas ordens de grandeza, o que significa
que ambos os eventos foram suportados por ductos Doppler.
Por outro lado, a Figura 6.19e mostra que o ducto da segunda frente de onda
(NE) se localizou bem acima do pico de emissão das três camadas de emissão
canalizando apenas 5%, 8% e 15% da taxa de emissão volumétrica do OH, O2
e OI5577, respectivamente. Novamente, como para a segunda frente de onda
(NE) o efeito de complementaridade entre as três camadas foi escuro-escuro-
escuro, e o ducto estava acima destas, esta observação também não concorda
com o modelo de Dewan e Picard (1998), que prevê um efeito claro-claro-claro
nestas circunstâncias.
236
experimentalmente as suas observações, e esta, constitui exatamente a
contribuição dos resultados do caso de 13/08/2004.
237
Tabela 6.6 - Parâmetros físicos observados dentro do ducto da frente
mesosférica propagando-se para NE em 13/08/2004.
Parâmetros do Ducto da Frente Mesosférica Propagando-se para Nordeste
2 2
T θ N u m λz
-4 -2 -1 -8 -2
(K) (K) (x10 s ) (ms ) (x10 m ) (km)
Mínimo 182,5 11.613 -2,0 -73,5 1,3 3,1
Máximo 209,4 12.709 7,1 -40,1 0,1 8,8
Médio 191,6 11.918 2,1 -61,7 6,2 4,9
238
Vento Zonal – Cariri – 13 - 14/08/2004
Altitude (km)
a)
b)
Hora Local
239
propagação se reflete nos baixos valores de cisalhamentos, entre -5 e 0
m/s/km, registrados durante o evento. Já nas Figuras 6.21c e 6.21d nota-se um
pouco mais de mudança no vento na direção de propagação da segunda frente
de onda (NE), o que acarreta em valores de cisalhamentos verticais um pouco
maiores entre -5 e 15 m/s/km.
Cariri - 13 - 14/08/2005
Vento na Direção SE (148o) Vento na Direção NE (47o)
Altitude (km)
a) c)
b) d)
240
A Figura 6.22 apresenta a variação temporal da condição de propagação ( m 2 )
de ambas as frentes de onda na noite do evento. Observa-se na Figura 6.22a
um estreitamento na condição de ducto (região verde circundada por regiões
azuis, entre as linhas horizontais) em torno das 18:00 (LT). Este estreitamente
do ducto coincide com o horário presumido para a formação da primeira frente
de onda, a partir da taxa de adição de cristas ao trem de ondas prevista pelo
modelo de Dewan e Picard (1998).
241
Variação do Perfil de m2 para a Frente Mesosférica
Propagando-se para Sudeste – Cariri – 13 - 14/08/2004
a)
b)
242
frentes mesosféricas observadas na região equatorial (FECHINE et al. 2005),
efeitos de complementaridade não previstos pelo modelo de Dewan e Picard
(1998) (MEDEIROS et al. 2005), dentre outros.
243
− As evidências de uma frente mesosférica recém-formada (SE) e outra
(NE) gerada horas antes foram corroboradas pela observação da
configuração dos ductos na canalização destas ondas;
Como foi visto nas Seções 6.1 a 6.5, vários parâmetros no interior dos ductos
foram calculados com o objetivo de suprir de observações acuradas as futuras
simulações e modelagens do fenômeno. Assim, para complementar esta
informação, será apresentado a seguir um quadro da condição de propagação
das 148 frentes mesosféricas analisadas entre julho de 2004 e dezembro de
2005 em São João do Cariri, PB.
244
casos que apresentaram uma configuração de ducto mais complexa
envolvendo um nível crítico.
A Figura 6.23b mostra que para cada perfil de m 2 analisado (de um total de
134 perfis), entre 81 e 99 km de altura, pelo menos um ducto foi encontrado em
~57% dos casos (76 perfis). Além disso, em ~39% (53 perfis) e ~4% (5 perfis)
dos casos foram encontrados 2 e 3 ductos, respectivamente. Este resultado
corrobora de maneira bastante contundente a hipótese de Dewan e Picard
(1998) de que as frentes mesosféricas se tratariam de um fenômeno suportado
por alguma estrutura de ducto, térmico, Doppler ou uma combinação de ambos
(ducto dual).
No de Perfis
a) b)
nível crítico ducto 1 2 3
no de ductos
Condição de Propagação Condição de Propagação
acima do Ducto abaixo do Ducto
No de Ductos
No de Ductos
c) d)
m2 = 0 m2 < 0 nível crítico m2 = 0 m2 < 0 nível crítico
245
As Figuras 6.23c e 6.23d apresentam as condições de propagação verificadas
acima e abaixo dos ductos, respectivamente. Observa-se que em 84% dos
casos os ductos estavam circundados por regiões evanescentes. Este
resultado é de grande importância, pois indica que em tal configuração o ducto
se apresenta com uma fronteira quase ideal para a canalização de ondas, pois
o escape de energia por transmissão ou geração de outras ondas de gravidade
é mínimo. Na prática, isto significa que a perda de energia de uma frente
mesosférica se restringe praticamente a adição de cristas ao trem de ondas, e
a dissipação por deposição de momentum e energia. Outro resultado
interessante apresentado na Figura 6.23c e 6.23d é a ocorrência de níveis
críticos na fronteira dos ductos em cerca de 2% dos casos. A observação de
níveis críticos nestas circunstâncias pode constituir uma evidência experimental
de que o mecanismo de interação onda de gravidade-nível crítico numa região
de ducto, proposto por Dewan e Picard (1998, 2001), poderia ser capaz de
gerar frentes de onda na mesosfera. Entretanto, apenas futuros estudos
específicos que investiguem o papel dos níveis críticos na mesosfera poderão
esclarecer melhor esta questão.
246
se equivale em ordem de grandeza ao termo do vento, conforme metodologia
descrita na Seção 4.7.2.
No de Ductos
a) b)
doppler dual 2 4 6 8 10 12 14 16
Espessura (km)
Onda
Transmitida
Onda
Refletida
Ducto
Onda
Incidente
247
Desta forma, a Figura 6.25 apresenta uma imagem da configuração exigida
para a canalização de uma frente de onda, porém com um requisito a mais, de
que o ducto apresente uma espessura pequena com relação a extensão
horizontal da onda. Para avaliar este requisito adicional, a Figura 6.24b
apresenta um histograma das espessuras de ducto observadas, cuja média foi
de 4 ± 1,5 km. Isto significa que para o caso das frentes mesosféricas em São
João do Cariri, que são ondas com uma extensão horizontal da ordem de 103
km, a aproximação de ondas se propagando num canal de fluido raso pode ser
aplicada.
248
7 CONCLUSÕES
249
propagam. Para realizar esta caracterização foi fundamental a análise dos
perfis de m 2 nas noites dos eventos. Cerca de 98,5% dos ductos analisados
nos perfis de m 2 apresentaram uma condição de canalização Doppler,
geralmente circundada por regiões evanescentes, suportando as frentes de
onda. Isto significa que o vento desempenhou o principal papel na canalização
das frentes mesosféricas, e além disso, em alguns casos também foi verificada
uma forte atuação da maré semi-diurna provocando cisalhamentos no vento na
altura de ocorrência dos ductos. Este resultado é inédito na literatura e contribui
na revisão da hipótese, até então aceita, que atribui apenas às camadas de
inversão de temperatura o papel principal no estabelecimento de ductos
capazes de suportar frentes mesosféricas.
250
observado que os mínimos na temperatura da tropopausa entre os meses de
novembro a maio não são previstos pelo modelo atmosférico CIRA-86.
Entretanto, foi verificada uma boa concordância entre as medidas e o modelo
na baixa estratosfera. Já a estratopausa apresentou temperaturas menores do
que o previsto durante todo o ano, e uma variação semi-anual com máximos de
temperatura nos equinócios. A temperatura observada na mesosfera foi cerca
de 10 K menor do que prevê o modelo, verificando-se a ocorrência de dupla
mesopausa nos meses de março a abril e de setembro a outubro, que também
não é prevista pelo modelo. Foram observadas camadas de inversão de
temperatura com pelo menos o dobro da amplitude prevista, e a baixa
termosfera se apresentou mais quente nos meses de solstício com relação às
previsões do modelo CIRA-86.
251
7.4.Recomendações Futuras
252
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268
A O BANCO DE DADOS DO IMAGEADOR ALL SKY
Assim, para proporcionar um acesso rápido e fácil aos dados de imagem, foi
criado um banco de dados de imageador para o São João do Cariri, PB.
Atualmente, o volume de dados de imageador all sky obtidos em São João do
Cariri entre setembro de 2000 e dezembro de 2005 compreende mais de
233.000 imagens, registradas em 606 noites de observação, o que equivale a
cerca de 121 GB de dados.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas por quem trabalha com imagens de
airglow é a variação de intensidade luminosa que geralmente ocorre entre
imagens simultâneas em emissões distintas, como até mesmo entre imagens
sucessivas numa mesma emissão. As Figuras A.1a e A.1b apresentam um
269
exemplo de duas imagens originais np formato TIFF obtidas em 1º de maio de
2005 em São João do Cariri nas emissões do OH e do OI5577,
respectivamente.
OH OI5577
a) b)
OH OI5577
c) d)
21:25 (LT) 21:25 (LT)
Figura A.1 – Imagens originais no formato TIFF obtidas em 1º de maio de 2005
em São João do Cariri nas emissões do a) OH e do b) OI5577. c) e
d) Mesmas imagens após a aplicação do algoritmo de contraste
automatizado. A seta indica a direção de propagação de uma frente
mesosférica.
270
Esta ausência de contraste torna o processo de busca de ondas de gravidade
lento e sujeito a erros, já que o melhor contraste é obtido manualmente,
corrigindo cada imagem individualmente, durante a visualização dos dados de
uma dada noite. Desta forma, o contraste manual a partir da visualização das
imagens constitui um componente bastante subjetivo, já que usuários distintos,
podem produzir contrastes distintos, segundo atributos individuais de acuidade
visual e de objetivos de visualização.
271
mostrou que a diferença entre estas quantidades, de uma imagem para outra,
resulta em distribuições distintas, de forma que a otimização do contraste foi
obtida pela avaliação individual da estatística de cada imagem. Como resultado
desta avaliação para os dados entre setembro de 2000 e dezembro de 2005 foi
possível se realizar um processamento digital e automático de todas as
imagens originais, obtendo-se assim imagens finais com contraste
independentes da interferência do operador.
272
A.2 O Banco de Vídeos de Airglow
Como solução para este problema se objetivou gerar vídeos a partir das
imagens TIFF que obedecessem aos seguintes critérios:
273
científicas, pois é de difícil geração a partir de linguagens de programação
científica, tais como o IDL. Por esta razão o formato MPEG foi descartado.
Além disso, o formato AVI pode ser executado por inúmeros programas
tocadores de mídia (media players), e muitos deles gratuitos encontrados na
Internet. O formato AVI também permite controle na execução do vídeo, além
dos vídeos serem gerados facilmente a partir da linguagem de programação
científica do IDL. Por estas razões o formato AVI foi escolhido para a
conversão das imagens originais de airglow num formato de vídeo amigável.
274
Além da escolha do formato, também foi avaliado o tamanho das imagens
individuais do vídeo final. Foi observado que a redução das imagens individuais
para tamanhos menores que 512 x 512 pixels comprometia consideravelmente
a qualidade das imagens. Por esta razão o tamanho original de 512 x 512
pixels foi mantido.
Também foi obtida uma excelente taxa de compactação dos arquivos originais
em formato TIFF com relação aos vídeos gerados em formato AVI. Um
exemplo desta compactação é descrito a seguir: na noite de 1º de maio de
2005 foram obtidas 134 imagens TIFF na emissão do OH e 45 imagens na
emissão do OI5577. Amostras destas imagens originais e com contraste são
apresentadas nas Figuras A.1a e A.1b. As imagens originais do OH e do
OI5577 totalizaram para esta noite um volume de 70,8 e 23,8 MB, enquanto os
vídeos em AVI apresentaram um tamanho de 2,9 e 1,4 MB, respectivamente.
Isto significa uma compactação da ordem de 24 e 17 vezes, respectivamente,
mantendo-se a qualidade original. A Tabela A.1 apresenta um resumo do
banco de dados de imagem de airglow do imageador de São João do Carir,
PB.
275
Observa-se que as 606 noites de observaão do imageador entre setembro de
2000 e dezembro de 2005 produziram um total de 233.268 imagens, que
ocupam no formato original TIFF um volume de 121,5 GB. A partir destas
imagens foram gerados 2.447 vídeos com contraste automático, que
apresentam um volume de apenas 6 GB, ou seja, cerca de 20 vezes mais
compacto que os dados originais.
276
B. A TÉCNICA DE RECUPERAÇÃO DA TEMPERATURA CINÉTICA A
PARTIR DA RADIÂNCIA DO CO2
CAMINHO DO RAIO z = h
PONTO TANGENTE
ALTURA DIREÇÃO
h TANGENTE DO SATÉLITE
z
x
277
Este caminho de raio pode ser identificado pela altura tangente, definida como
a menor distância entre um ponto tangente ao caminho e a superfície da Terra.
Desta forma, a atmosfera pode ser sondada através de uma varredura em
altitudes tangentes na direção do limbo da Terra. Matematicamente a radiância
atmosférica I medida pelo sensor na altura tangente h é dada por:
∞
I i (h ) = ∫ Bi ( z ) Wi (h, z ) dz
0 (B.1)
onde o subscrito i denota o intervalo espectral, B é a função de Planck para o
corpo negro , z é a coordenada vertical, e Wi (h, z ) é a função de ponderação
Banda do CO2
585 – 705 cm-1
ALTITUDE (KM)
278
Observa-se que para altitudes tangentes acima de ~25 km, a maior parte da
contribuição origina-se de uma região de ~3km de espessura na altura
tangente. Abaixo de 25 km as funções de ponderação começam a exibir uma
forma mais espalhada, característica de funções de ponderação de visada de
nadir (WARK 1970). Isto ocorre, embora ainda exista um pico no ponto
tangente devido a uma menor absorção nesta região do que nas laterais da
banda. Esta característica provê uma forma de obter informação de regiões
mais profundas da atmosfera.
279
− Grande cobertura em superfície, pois a direção de visada do satélite
pode ser alterada em qualquer direção azimutal, relativa ao movimento
do satélite, de acordo com a região terrestre de interesse. Um satélite
numa órbita de 1.000 km de altitude, por exemplo, observaria uma área
de 3.300 km a direita ou a esquerda de sua órbita.
280
ALTURA TANGENTE (km) Canal
Largo (W)
Canal
Estreito (N)
Diferença
Largo - Estreito
Figura B.3 – Radiância de limbo como uma função da altura tangente para os
canais espectrais largo (585 – 705 cm-1) e estreito (630 – 685 cm-1)
na banda de 15 μm de CO2.
Fonte: Adaptada de Gille e House (1971).
Estes sinais são bastante similares aos sinais de maiores altitudes, onde há
apenas a contribuição das fortes linhas espectrais, próximo ao centro das
bandas. Abaixo de 30 km, o sinal W é muito maior por que linhas mais fracas
nas laterais da banda contribuem com energia da baixa atmosfera. A linha
tracejada apresenta a diferença entre os sinais W e N, ou a contribuição das
regiões de 585 a 630 cm-1 e 685 a 705 cm-1. As inclinações abruptas nas
curvas ocorrem em situações nas quais o caminho do raio através da
atmosfera é moderadamente transparente, e uma considerável porção do sinal
é proveniente do ponto tangente. A Figura B.3 demonstra que a região W – N
fornece melhor informação em baixos níveis da estratosfera e altos níveis da
troposfera.
281
características espectrais, exigindo-se simplesmente que a solução obedeça a
equação hidrostática.
dτ i (h, z )
I i (h ) = ∫ Bi [T ]
∞
dx (B.2)
−∞ dx
282
radiação absorvida ao longo do caminho entre o ponto x e o satélite, é dado
por:
∞
a (h, x ) = c ∫ ρ ( x') dx ' (B.3)
x
x
(B.5)
a p = c ∫ Ψ[T ( x')] p (x') ρ ( x') dx'
∞
⎧⎪ ⎡ ⎡ ∂τ (h, a , p ) ⎤ ⎡ ∂τ (h, a , p ) ⎤ ⎤
I (h ) = ∫ B[T ( z )] cρ ( z )
∞ dx
⎨Φ ( z )⎢ − ⎢ ⎥ − ⎢ ⎥ ⎥
h dz z⎪ ⎢
⎣ ⎣ ∂ a ⎦ ⎣ ∂ a ⎦ p ⎥⎦
⎩ a
(B. 6)
Ψ ( z ) p( z ) − Φ ( z ) p ( z ) ⎡ ⎡ ∂τ (h, a , p ) ⎤ ⎡ ∂τ (h, a , p ) ⎤ ⎤ ⎫⎪
− × ⎢⎢ ⎥ − ⎢ ⎥ ⎥ ⎬dz
a (z ) ⎢⎣ ⎣ ∂p ⎦a ⎣ ∂p ⎦ p ⎥⎦ ⎪⎭
283
em integral vertical. Por conveniência denotando a expressão entre chaves por
L (h, z ) , obtém-se:
I (h ) = ∫ B[T ( z )] cρ ( z )
∞
L (h, z )dz
dx
h dz z
⎡ g dz ' ⎤
ρ ( z ) = p0 [RT ( z )]−1 exp ⎢− ∫
z
(B.7)
⎣ z0 RT ( z ') ⎥⎦
Ao escrever a Equação B.8 usa-se o fato de que z 0 é a única altitude fixa que
altitudes tangentes são então medidas com relação a z 0 , que aparece apenas
ser determinado?
284
Como a temperatura é o principal parâmetro utilizado neste trabalho, a
determinação do perfil de temperatura será descrita a seguir. Detalhes da
determinação de p 0 podem ser encontrados em Gille e House (1971).
( )
2. O perfil de temperatura T n h * na n-ésima iteração é usado com p 0 e
285
3. A radiância emitida I n (h *j ) é então calculada a partir de uma das
( )
I 0 h *j . Se um critério de convergência é satisfeito, o perfil de
I (h *j ) = B (h *j )ε (h *j ) (B.9)
( ) = 1 ∂B(h ) dT = c υ
dI h *j *
j
( )
dT h *j
I (h ) B (h ) ∂T
2
(B.10)
T (h )
* * * 2
j j j
286
Na qual c 2 é a segunda constante de radiação, υ é a freqüência média, e
nota-se que a energia de transição radiativa é muito maior que a energia
térmica das moléculas. A equação de relaxação é então dada por:
n +1
(h ) = T (h ) + ( )
2T n h *j
2
( ) ( )
⎡ I 0 h *j − I n h *j ⎤
⎢ * ⎥
* n *
( ) ( )
T (B.11)
c 2υ ⎢⎣ I 0 h j + I h j ⎥⎦
j j * n
Esta técnica desenvolvida por Gille e House (1971) foi aplicada para radiâncias
ideais (sem ruído e com campo de visão vertical infinitesimal) calculadas para
uma sondagem real no inverno em latitudes médias no canal 585 – 705 cm-1.
Os dados de partida foram a atmosfera padrão, com níveis espaçados de 1 km,
e a iteração foi continuada até a diferença rms entre a radiância observada e
calculada fosse menor que 0,01 Wm-2sr-1 (o que foi tomado pelos autores como
uma indicação grosseira do ruído esperado num instrumento real).
Os resultados são mostrados na Figura B.4 na qual a linha sólida é o perfil real
e os pontos indicam a solução da inversão. Gille e House (1971) também
verificaram que partindo-se de dados iniciais de uma atmosfera isotérmica a
200 ou 300 K a temperatura em qualquer nível não seria alterada por valores
maiores que um centésimo de grau. Além disso, observa-se na Figura B.4 que
a forma geral da curva, assim como as estruturas de menor escala são
reproduzidas com grande fidelidade
287
INVERNO EM LATITUDES MÉDIAS
DADOS SEM RUÍDO
TEMPERATURA INICIAL
CAMPO DE VISÃO DE 2 KM
RESOLUÇÃO INFINITA
Figura B.4 – Solução obtida pela inversão de dados sem ruído com resolução
vertical infinita (linha pontihada) e com um campo de visão de 2 km
(linha tracejada) comparada com uma sondagem real da atmosfera
no inverno em latitudes médias (linha sólida).
Fonte: Adaptada de Gille e House (1971).
climatológicas, a estrutura térmica pode ser inferida. Por fim, para se obter as
altitudes do perfil de temperatura basta apenas ter a altitude de um nível de
pressão, a partir de qualquer fonte de dados.
288
(650 – 695 cm-1) e um canal passa-banda largo (580 – 760 cm-1) (MERTENS et
al. 2001).
Assim como idealizado por Gille e House, (1971) o algoritmo usado pelo
SABER e descrito por Mertens et al. (2001) é composto por duas partes
principais: um modelo de cálculo de radiância e um modelo de inversão. O
modelo de cálculo de radiância por sua vez é composto de duas partes: um
modelo de temperatura vibracional e um modelo de radiância de limbo. A
radiância de limbo é calculada usando o algoritmo denominado BANDPAK
desenvolvido por Marshall et al. (1994) e expandido para aplicações sob
condições de não-LTE (EDWARDS et al. 1993; MLYNCZAK et al. 1994).
Existem dezessete bandas em 15 μm que contribuem com a radiância de limbo
no canal espectral de passa-banda estreito do CO2. As temperaturas
vibracionais são então calculadas a partir de um modelo operacional formulado
por López-Puertas et al. (1998) que usa o BANDPAK para os cálculos de
transferência radiativa.
289
aproximação de “casca de cebola”, enquanto a pressão e as temperaturas
vibracionais são fixas. A aproximação de “casca de cebola” é caracterizada por
primeiro medir a radiância da camada atmosférica mais exterior para só então,
ir medindo as próximas camadas mais internas. A temperatura cinética é
recuperada em cada altura tangente pelo ajuste da temperatura cinética local
até que a radiância modelada atinja a radiação medida dentro do critério de
convergência. A temperatura é ajustada usando uma iteração Newtoniana e um
algoritmo de estimação ótima (RODGERS, 1976). O critério de convergência
do laço interno é uma exigência de que a radiância modelada atinja a radiância
medida dentro de uma fração de erro de solução (desvio padrão) especificada
pelo usuário.
290
No laço externo, o perfil de pressão é reconstruído a partir da fronteira inferior
usando o perfil de temperatura cinética recuperado pela técnica da “casca de
cebola” e pela lei barométrica da pressão. As temperaturas vibracionais são
atualizadas usando o modelo de CO2 em 15 μm com a temperatura cinética
previamente recuperada e os perfis de pressão como entrada.
A Figura B.5 mostra um perfil recuperado numa simulação feita numa grade de
2 km, que é o campo de visão efetivo do SABER. O perfil de temperatura real
mostrado na Figura B.5 foi obtido através de medidas de radar de laser durante
a campanha ALOHA-93 e mostra duas camadas de inversão de temperatura
mesosféricas (Dao et al., 1995).
291
Perfis de Temperatura durante a ALOHA-93
Temperetura (K)
292
C. O BANCO DE DADOS DO SATÉLITE TIMED/SABER
293
Figura C.1 - Interface gráfica do software Data Base Analysis que gerencia o
banco de dados do SABER.
1
O ângulo beta é o ângulo entre o vetor satélite-Sol e o plano orbital do satélite.
294
beta é positivo, o SABER opera sob um campo de visada para o sul realizando
sondagens entre 52ºN e 83ºS.
21 de novembro (325)
18 de setembro (261)
30
14 de janeiro (014)
19 de março (077)
21 de maio (141)
15 de julho (196)
Latitude
-30
52S
-60
83S
-90
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
295
Para agilizar a seleção de locais a serem mapeados, alguns intervalos de
latitudes e longitudes foram pré-estabelecidos e podem ser rapidamente
acessados clicando em botões na janela principal. Estes locais constituem
alguns atuais objetivos de pesquisa, e em futuras pesquisas, novos locais
podem ser facilmente acrescentados. Os locais atualmente pré-estabelecidos
são:
− Cariri 20 (área de 20º x 20º centrada em São João do Cariri, PB);
− Cariri 10 (área de 10º x 10º centrada em São João do Cariri, PB);
− C. Paulista (área de 20º x 20º centrada em Cachoeira Paulista, SP);
− Antarctica (área de 20º x 20º centrada na Estação Brasileira
Comandante Ferraz, Antártica);
− Brasil (área de 50º x 50º centrada no Brasil);
− S. America (área de 80º x 90º centrada na América do Sul);
− World (área de 360º x 180º centrada no Oceano Atlântico).
296
Também é possível se escolher as informações referentes aos pontos de
sondagem marcando as quadrículas ao lado das variáveis no canto inferior
esquerdo da janela principal (ver Figura C.1). Cada ponto de sondagem contêm
informação do número da sondagem, da hora em tempo universal, das
condições de iluminação solar (dia, noite ou crepúsculo), da data (dia, mês e
ano), do número da órbita e do modo de deslocamento da órbita (ascendente
ou descendente). Além disso, pode-se traçar sobre os mapas de sondagem o
campo de cobertura do imageador all sky em 90 e 275 km de altitude tanto
para São João do Cariri, quanto para Cachoeira Paulista. A representação das
linhas de campo geomagnético também pode ser traçada sobre o mapa
geográfico. O software também permite a gravação em arquivos .sav (formato
lido pelo IDL) de qualquer parâmetro medido pelo TIMED/SABER, no intervalo
de data, horário e coordenadas desejados.
297
a condição de propagação das frentes de onda. Caso uma condição de ducto
seja encontrada todas as características físicas dentro do ducto podem ser
analisadas e confrontadas com os atuais modelos de pororocas mesosféricas.
Este módulo também foi estendido de modo a se criar um banco de dados de
frentes mesosféricas, de forma que estabelecido este banco de dados, toda a
análise de condições de ducto pode ser feita automaticamente, em todos os
casos catalogados.
O menu View Means permite que o usuário trace mapas médios no intervalo de
altitude desejado para qualquer um dos 15 parâmetros medidos pelo satélite
TIMED/SABER. Opções de suavização e de paletas de cores dos gráficos
também podem ser definidas pelo usuário a partir da seleção das quadrículas
No Smooth, Smoothing, Gridded e Colors na janela principal.
298
A Figura C.4 apresenta o menu Variables que consiste de uma janela de
seleção de parâmetros (e seu respectivo intervalo de altitudes) medidos pelo
SABER no produto nível 2A.
299
dezembro de 2005, totalizando 20.272 arquivos, um para cada órbita em torno
da Terra, o qual corresponde a cerca de 2 milhões de sondagens que ocupam
um volume de aproximadamente 180 GB.
Com relação a média de sondagens por dia, a Figura C.5c mostra que uma
média de 10 sondagens diárias são obtidas sobre São João do Cariri, e apenas
para quatro dias no ano de 2005 não existem dados disponíveis. Isto
demonstra que a escolha de uma área de 20º x 20º em torno de São João do
Cariri é adequada para, por exemplo, se calcular um perfil de temperatura
médio diário a partir dos perfis das sondagens individuais com uma excelente
continuidade de dados ao longo do ano.
300
Os resultados da estrutura térmica da atmosfera sobre São João do Cariri em
2005, calculados a partir dos perfis de temperatura médios diários, são
apresentados na Seção 5.1.
No de Sondagens
No de Sondagens
NDJF MA MJJA SO
a) Verão Outono Inverno Primavera
b)
Meses
No de Sondagens
c) d)
Dia do ano
Hora (UT)
301
com exceção das 13:00 e 15:00 (UT) que exibiram menos de 40 sondagens, e
das 14:00 (UT) que não exibiu qualquer sondagem.
302
Sondagens de Limbo do TIMED/SABER sobre o Cariri
a) Diária b) Mensal
c) Sazonal d) Anual
303
outono de 2005 exibindo 551 eventos de sondagem. Já a Figura C.7d
apresenta um exemplo de mapa anual para 2005 exibindo 3.437 eventos de
sondagem.
304
Perfil de Pressão Perfil de Densidade
TIMED/SABER TIMED/SABER
2/5/2005 2/5/2005
Altitude do Ponto Tangente (km)
305
306
D. EXCITAÇÕES E FOTOQUÍMICA DO OH (9,4), OI5577 E O2 (0,1)
307
J=5/2
R2(2)
J=3/2 J=7/2
Q2(2)
R1(2) ν’
J=5/2
J=1/2
Q1(2)
J=3/2
P2(2)
P1(2)
J=5/2
J=3/2 J=7/2
J=5/2 ν’’
J=1/2
F2 J=3/2
F1
Figura D.1 - Representação de várias transições vibracionais-rotacionais.
Fonte: Adaptada de Medeiros (2001).
H + O3 ⎯(⎯ ⎯→ OH ∗ (v' ≤ 9) + O2 ,
f v ' , a2 )
(D.1)
308
OH ∗ (v') + M i ⎯[⎯
a6 (v ',v '' )]
⎯→ OH ∗ (v' ') + M i (transferência de energia ) ,
i
⎯ (D.2)
OH ∗ (v') + M i ⎯[⎯
a L ( v ' )]
⎯→ produtos desativados .
i
(D.3)
VOH ( 9, 4) =
{A
94 [ ] [O ] ([N ] + [O ]) } ,
f (9) k1 O 2 2 2
A9 {1 + C ([N ] + [O ]) + C [O ] }
1 2 2 2
(D.4)
309
transferência de energia, via moléculas precursoras excitadas, possam explicar
com maior detalhe, os perfis observados do O2 (b ) .
(
O2 b 1 ∑ g → X 3 ∑ g
+ −
) consiste de diferentes bandas vibracionais. As bandas
vibracionais que se destacam são: a banda (0,0) e a banda (0,1),
habitualmente chamadas de bandas atmosféricas. Estas bandas estão
centradas no espectro de 761,9 nm e 864,5 nm, respectivamente, e podem ser
facilmente observadas via fotometria de nightglow, embora a banda (0,0) sofra
uma pronunciada absorção pelo oxigênio na baixa atmosfera, impossibilitando
sua medida no solo.
O( 3 P ) + O( 3 P ) + M ⎯α⎯→
k
O2∗ + M , (D.5)
γ k
O2∗ + O2 ⎯⎯2⎯
O2
(
→ O2 b 1 ∑ g
+
)+ O ,
2 (D.6)
O2∗ ⎯⎯→
A3
O2 + hυ , (D.8)
310
(
O2 b 1 ∑ g
+
)+ O , N , O ⎯⎯⎯⎯→ produtos ,
2 2
k O2 , N 2 , O
(D.9)
O2 b 1 ∑ g ( +
)⎯⎯→ O ( X ) + hυ (0,1) ,
A( 3 )
2 (D.10)
(
O2 b 1 ∑ g
+
)⎯⎯⎯→ O ( X ) + hυ (total ) .
A( 3 , total )
2 (D.11)
(
de emissão do O2 b1 ∑ g
+
) na banda (0,1) pode ser expressa por:
VO2 ( 0,1) =
(A( b:total ) + k O2 [O2 ] + k N 2 [N 2 ] + k O O [ ]) (C [O ] + C [O ]) ,
O2 2 O
(D.12)
C O2 = 6,6 , C O = 19 ,
2
⎛ 300 ⎞
k = 4,7 × 10 −33 ⎜ ⎟ , k O2 = 4 × 10 −17 ,
⎝ T ⎠
k N 2 = 2,2 × 10 −15 , k O = 8 × 10 −14 .
( )
A linha verde OI 557,7 nm, ou O 1 S , é explicada por um modelo de transição
311
principalmente devido à facilidade de observação na região do visível, e ao fato
da linha não ter contaminação espectral, por encontrar-se como um espectro
solitário. A intensidade integrada da emissão O 1 S ( ) presente no nightglow da
mesosfera superior apresenta um valor médio de 250 R, mostrando
acentuadas variações sobre este valor (de 60 a 500 R).
O+O+O⎯
⎯→
k
O 2 + O (1 S ) . (D.13)
O + O + M ⎯β⎯→
⎯
k1
O2∗ + M , (D.14)
O2∗ + O ⎯δ⎯
⎯k∗1
( )
→ O 1 S + O2 , (D.15)
O2∗ + M i ⎯⎯→
i
k∗
produtos desativados , (D.16)
312
O (1 S ) + M i ⎯⎯→
i
k4
produtos desativados . (D.17)
O2∗ ⎯⎯→
A∗
O2 + hυ , (D.18)
O (1 S ) ⎯⎯→
A1
O ( 3 P,1 D ) + hυ (total ) , (D.19)
O(1 S ) ⎯⎯→
A5
O + hυ (557,7nm ) , (D.20)
VO (557 ,7 ) =
[ ] ([N ] + [O ])
A0 k O
3
2 2
(k [O ] + A ) (C [O ] + C [O ]) ,
O2 2 s O2 2 O
(D.21)
A0 = 1,18 , AS = 1,355 ,
C O2 = 15 , C O = 211 ,
2
⎛ 300 ⎞
k = 4,7 × 10 −33
⎜ ⎟ , k O2 = 4 × 10 −12 exp(− 865 T ) .
⎝ T ⎠
313
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