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2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
COMISSÃO EXAMINADORA:
Ao meu amigo Raphael Benjamim de Oliveira, pelo apoio incondicional, mesmo não
entendendo minhas pesquisas ou concordando comigo. Aos meus colegas de curso, em
especial, ao Jacinto Paulo da Silva Neto, que esteve comigo durante toda a trajetória
acadêmica, desde a licenciatura em física, pelas constantes conversas sobre Cosmologia
e Física de Partículas; ao Caio Vasconcelos Pinheiro da Costa, que me presenteou com
o livro do Weinberg, e pelas intrigantes questões levantadas; ao Eloan do Nascimento
França pelos excelentes diálogos sobre Relatividade Geral e Teoria de Campos.
Lista de Tabelas ix
1 Introdução 1
2 Derivação da métrica de RN 4
2.1 Coordenadas esféricas para o espaço-tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Condições de contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.3 Símbolos de Christoffell e componentes do tensor de Ricci . . . . . . . . . . . 6
2.4 Tensor momento-energia do campo eletromagnético . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.5 Resolvendo as equações acopladas de Einstein-Maxwell . . . . . . . . . . . . . 9
3 Estudo do espaço-tempo 13
3.1 Singularidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1.1 Caso M 2 < Q2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.1.2 Caso M 2 = Q2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.1.3 Caso M 2 > Q2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2 Coordenadas de Eddington-Finkelstein para a métrica de RN . . . . . . . . . 21
3.3 Redshift gravitacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4 Geodésicas 32
4.1 Geodésicas de partículas neutras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4.1.1 Tipos de órbitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.1.2 Geodésicas nulas críticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.1.3 Geodésicas tipo-tempo críticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.2 Geodésicas de partículas eletricamente carregadas . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5 "Forças" de maré 51
5.1 Desvio geodésico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.2 Maré do buraco negro de RN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
6 Conclusões 57
Referências 60
7 Apêndices 61
7.1 Notação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
7.2 Componentes dos tensores e pseudo-tensores da métrica de RN . . . . . . . . 62
7.2.1 Símbolos de Christoffell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
7.2.2 Componentes do tensor de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
7.2.3 Componentes do tensor de Ricci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
7.3 Métrica de Majumdar-Papapetrou (MP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
8 Anexos 65
8.1 Unidades Geometrizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Lista de Figuras
Na gravitação clássica, para uma esfera de fluido perfeito homogêneo de massa M , uma
vez que o colapso se inicia, não pode ser interrompido e a estrela permanece encolhendo
para diâmetros cada vez menores. Do instante inicial até posteriormente, enquanto a
superfície da estrela está fora do horizonte de eventos, neste caso, também conhecido como
raio de Schwarzschild, qualquer raio de luz emitido da superfície da estrela pode escapar
para um observador distante desse evento. No entanto, uma vez que o raio da estrela
colapsada se torna menor que o raio do horizonte de eventos, isto é, onde r = 2M , significa
que ela entrou na região do buraco negro, e continuará colapsando irreversivelmente.
Então, o colapso de toda a matéria num ponto de densidade e curvatura infinitas ocorre
em r = 0, onde uma singularidade é formada. Um observador sentado na superfície da
estrela mede um intervalo de tempo próprio para todo esse evento catastrófico, e, assim, no
2
futuro, existe uma singularidade no centro e o resto do espaço é vácuo: esse é o conhecido
buraco negro de Schwarzschild (1916). Qualquer evento que ocorra dentro desse buraco
negro estará oculto pelo horizonte de eventos dos observadores exteriores. Esse horizonte é
uma 2-esfera no espaço-tempo e sua característica principal é que ambas geodésicas nulas
dos fótons, caindo ou saindo a partir dele, convergem para a origem. Portanto, nenhuma
luz ou partículas materiais emergem dessa região1 [2].
Logo após Einstein propor suas equações de campo, as primeiras soluções encontradas
foram a métrica de Schwarzschild e a métrica de Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker
(FLRW). Cada uma delas contém uma singularidade no espaço-tempo onde as curvatu-
ras e densidades de energia divergem e as descrições físicas são destruídas. Na solução
de Schwarzschild, tal singularidade está presente no centro do sistema de coordenadas,
enquanto que a do modelo de FLRW se encontra no início do universo, onde o fator de
escala se anula [3]. Posteriormente, outras soluções com singularidades essenciais foram
encontradas. Para os buracos negros foram desenvolvidas generalizações da métrica de
Schwarzschild: citamos as métricas de Reissner-Nordström (RN), que será abordada neste
trabalho e descreve o buraco negro esfericamente simétrico com carga elétrica, de Kerr,
que descreve o espaço-tempo em torno buraco negro com momento angular no vácuo e
a de Kerr-Newman (KN), uma generalização natural da métrica de Kerr para buracos
negros girantes eletricamente carregados.
Figura 1: Primeira imagem obtida de um buraco negro. Créditos: Event Horizon Telescope, disponível
em: <https://eventhorizontelescope.org/>
vez, em 1916, por Hans Reissner [5] e posteriormente, em 1918, (de forma independente)
por Gunnar Nordström [6], é pouco explorada na maioria dos livros didáticos das áreas
de Relatividade Geral e Gravitação, ou no máximo, sendo deixada como exercício para
o leitor. Nesse sentido, no capítulo 2 faremos a derivação detalhada da métrica a partir
da resolução das Equações acopladas de Einstein-Maxwell. No capítulo 3, na análise do
espaço-tempo, são dadas as interpretações físicas dos parâmetros da métrica e são anali-
sadas suas várias singularidades, para os diferentes valores relativos de M e Q. Também
é derivado o diagrama de espaço tempo nas coordenadas não-singulares de Eddington-
Finkelstein. Além disso, é encontrada uma expressão para o redshift gravitacional no
espaço tempo de RN. No capítulo 4, são estudadas as geodésicas de partículas neutras
(fótons e partículas sem carga elétrica), onde são determinadas algumas soluções par-
ticulares da equação da geodésica, conhecidas como geodésicas críticas, para esse tipo
de partículas. Também é determinada a equação da geodésica para as partículas ele-
tricamente carregadas, através de algumas soluções numéricas. Por fim, no capítulo 5,
são analisadas as "forças" de maré do buraco negro de RN. Todos os gráficos e algorit-
mos para resolução das equações diferenciais foram implementados através da linguagem
de programação Python. O diagrama de espaço-tempo (figura 3) foi editado no software
open-source Inkscape. Vale salientar que esse diagrama é feito qualitativamente nos livros
didáticos [7, 8], enquanto que, neste trabalho, as curvas de luz são calculadas exatamente.
Apenas os cones de luz foram desenhados qualitativamente.
2 Derivação da métrica de RN
Superfícies com r = constante e t = constante são cascas esféricas, ou, mais pre-
cisamente, 2-esferas: superfícies esféricas bidimensionais. Distâncias ao longo de curvas
confinadas nessas 2-esferas são dadas pela equação acima quando dt = dr = 0,
Considere duas 2-esferas em r e r+dr. Podemos dizer que uma linha de θ = constante,
φ = constante é ortogonal às 2-esferas. Tal linha tem, por definição, um vetor tangente
êr , e, como os vetores êθ e êφ são tangentes às 2-esferas, êr · êθ = êr · êφ = 0, que implica1
em grθ = grφ = 0. Portanto, nossa métrica fica restrita à forma:
ds2 = g00 dt2 + 2g0r dtdr + 2g0θ dθdt + 2g0φ dφdt + grr dr2 + r2 dΩ2 . (2.2)
Além disso, desejamos que não somente a hipersuperfície t = constante seja esferica-
1
Lembrando que gµν ≡ êµ · êν , onde {êµ } são os versores de base.
5
mente simétrica, mas também todo o espaço-tempo. Portanto, devemos exigir que uma
linha r = constante, θ = constante, φ = constante também seja ortogonal às 2-esferas.
Isso significa que êt é ortogonal aos versores êθ e êφ , ou, gtθ = gtφ = 0. Assim, a equação
(2.2) se reduz a
ds2 = g00 dt2 + 2g0r dtdr + grr dr2 + r2 dΩ2 . (2.3)
Essa é uma métrica bem geral para espaço-tempos esfericamente simétricos, onde g00 ,
g0r e grr são funções apenas de r e t.
A segunda condição não segue logicamente da primeira, e podemos dar como exemplo
uma estrela girante: a reversão temporal troca o sentido da rotação, mas as componentes
da métrica permanecerão constantes no tempo.
As condições têm a seguinte implicação: defina Λ como a matriz que realiza a trans-
formação de coordenada (t, r, θ, φ) −→ (−t, r, θ, φ), portanto, suas componentes serão
Λ0̄0 = −1 e Λi j = δ i j . Usando essa matriz para transformar as componentes do tensor
métrico, encontramos:
g0̄0̄ = g00 = (Λ00̄ )2 g00 = g00
g0̄r̄ = g0r = Λ00̄ Λrr̄ g0r = −g0r (2.4)
gr̄r̄ = grr = (Λrr̄ )2 grr = grr
segue então que g00 e grr não sofrem restrições, mas g0r = 0. Portanto, a métrica de um
espaço-tempo estático e esfericamente simétrico deve ter a forma:
Para determinar a métrica de RN, vamos usar o elemento de linha dado pela equação
(2.6), mas supondo em princípio que Φ = Φ(r, t) e Λ = Λ(r, t). Posteriormente mostrare-
mos que essas duas funções, Φ e Λ, devem ser dependentes só da coordenada r, isto é, que
a métrica RN é estática. A solução deve ser esfericamente simétrica e assintoticamente
plana. Também, as condições de contorno (2.7) serão impostas.
Supondo o elemento de linha como aquele dado pela equação (2.6), mas, relaxando a
condição de métrica estática [10], escrevemos as componentes do tensor métrico na forma
7
matricial:
−e2Φ 0 0 0
0 e2Λ 0 0
(gµν ) = , (2.9)
0 0 r2 0
0 0 0 r2 sin2 θ
com µ, ν = 0, 1, 2, 3, Φ = Φ(r, t) e Λ = Λ(r, t). Como a métrica é diagonal, invertemos
a matriz de representação das componentes do tensor métrico simplesmente invertendo
cada elemento da diagonal principal para encontrarmos a representação matricial da forma
covariante do tensor métrico:
−2Φ
−e 0 0 0
−2Λ
µν
0 e 0 0
(g ) = . (2.10)
−2
0 0 r 0
0 0 0 r−2 (sin θ)−2
e, com o auxílio das equações (2.11), encontramos que as componentes não nulas são:
R00 = − [(Λ,t )2 + Λ,tt − Λ,t Φ,t ] + e2(Φ−Λ) [Φ,rr + (Φ,r )2 − Φ,r Λ,r + 2r−1 Φ,r ]
R01 = 2r−1 Λ,t
R11 = − [Φ,rr + (Φ,r )2 − Φ,r Λ,r − 2r−1 Λ,r ] + e2(Λ−Φ) [Λ,tt + (Λ,t )2 − Φ,t Λ,t ] (2.12)
R22 = e−2Λ [rΛ,r − rΦ,r − 1] + 1
R33 = sin2 θ R22
8
onde Fµν são as componentes do tensor de Faraday. Note que Tµν possui traço nulo,
µν 1 µν σ 1 µν ρσ 1
T ≡ g Tµν = Fµσ g Fν − g gµν Fρσ F = (Fµσ F µσ − Fρσ F ρσ ) = 0 (2.14)
4π 4 4π
Como estamos assumindo simetria esférica, o campo eletromagnético deve ter somente
componente radial, independente das coordenadas θ e φ. Ou seja, Er ≡ E1 = F01 =
−F10 = E1 (t, r), para o campo elétrico. Já para o campo magnético, façamos duas
considerações: primeiro, as Equações de Maxwell preveem a inexistência de monopolos
magnéticos, então, não há uma "fonte" que geraria (Fij ) na direção radial. Segundo,
para o vácuo, a única forma de gerar campo magnético seria com a variação temporal
do campo elétrico; porém, os campos magnéticos induzidos são sempre não-conservativos
(rotacionais). Sendo assim, as componentes do tensor de Faraday associadas ao campo
magnético devem ser nulas. Em coordenadas esféricas, (Fµν ) tem representação matricial
0 E1 (r, t) 0 0
−E (r, t) 0 0 0
1
(Fµν ) = . (2.16)
0 0 0 0
0 0 0 0
1
g F F ρσ
4 µν ρσ
= 14 gµν (Fρ0 F ρ0 + Fρ1 F ρ1 )
= 41 gµν (2F01 F 01 ) = 21 gµν F01 F 01 .
9
1 2Φ 1 2Λ
T00 = − 8π e F01 F 01 T11 = 8π
e F01 F 01
(2.18)
1 2
T22 = − 8π r F01 F 01 T33 = sin2 θ T22
1 1
T00 = R
8π 00
e T11 = R
8π 11
,
donde,
e−2Φ R00 + e−2Λ R11 = 0 . (2.19)
Substituindo as componentes do tensor de Ricci, a equação (2.19) se torna 2/r [Φ,r +Λ,r ] =
0, ou,
∂
[Φ + Λ] = 0 =⇒ Φ + Λ = f (t) , (2.20)
∂r
onde f (t) é uma função que depende apenas do tempo. Dos resultados anteriores, po-
demos afirmar que Φ(r, t) = f (t) − Λ(r). O primeiro termo da métrica (2.6) é então
− exp [2Φ(r, t)]dt2 = − exp [2f (t)] exp [−2Λ(r)]dt2 . Mas sempre podemos simplesmente
redefinir nossa coordenada temporal trocando dt −→ e−f (t) dt; em outras palavras, a
10
Equação de Einstein nos dá liberdade para escolher nossa coordenada t tal que f (t) = 0
[10, 12], e, portanto, Φ(r, t) = Φ(r) = −Λ(r). O elemento de linha (2.6) pode ser escrito
então na forma:
ds2 = −e2Φ(r) dt2 + e−2Φ(r) dr2 + r2 dΩ2 , (2.21)
mostrando que a métrica de RN é estática. Note em particular que g00 g11 = −1, logo,
F01 = g00 g11 F 01 = −F 01 . Ou seja, para trocarmos a representação covariante para con-
travariante, basta adicionarmos um sinal negativo. Essa propriedade é interessante, pois
as equações covariantes de Maxwell para J µ = 0, ∀µ,
F µν;ν = 0 (2.22)
Fµν;γ + Fγµ;ν + Fνγ;µ = 0 (2.23)
podem ser resolvidas para F µν e depois encontramos Fµν apenas trocando o sinal da
solução. Comecemos por (2.23). Como nosso Fµν só possui duas componentes não nulas e
antissimétricas, isso indica que não temos muitas equações. Por exemplo, façamos o caso
µ = ν = 0 e γ = 1: F00;1 + F01;0 + F10;0 = 0 =⇒ 0 = 0 (a equação é automaticamente
satisfeita). Se fizermos permutações desses índices escolhidos, percebemos que essa é na
verdade a única equação independente. Esse resultado era esperado, já que as derivadas
covariantes das identidades de Bianchi para o tensor de Faraday podem ser abertas:
e então somadas. Porém, note que todos os termos com os símbolos de Christoffell se
cancelam após a soma, restando apenas os termos das derivadas ordinárias:
Portanto, a equação (2.23) pode ser expressa na Relatividade Geral da mesma forma que
seria expressa na Relatividade Especial. Além disso, sabemos que as equações acima são
a forma covariante da Lei de Gauss para o campo magnético e da Lei de Faraday-Lenz:
~ ·B
∇ ~ =0 (2.24)
~
∇ ~ + ∂ B = ~0 .
~ ×E (2.25)
∂t
11
Como o tensor de Faraday (2.16) possui todas as componentes associadas ao campo mag-
nético nulas, a equação (2.24) é automaticamente satisfeita e a equação (2.25) se torna
~ ×E
∇ ~ = ~0 ,
~ = E r êr , o
indicando que lidamos com um campo conservativo. Além disso, como E
rotacional da equação acima se anula, e, portanto, a Lei de Faraday-Lenz também é
automaticamente satisfeita. Resolvendo agora a equação (2.22),
abrimos a componente µ = 0:
Mas, já vimos que Φ(r, t) = Φ(r), portanto, a equação acima é simplificada para F 10,0 = 0,
ou, F 10 = F 10 (r). Esse resultado reforça o que obtido das Equações de Einstein - uma vez
que a métrica não depende explicitamente da coordenada t, concluímos que as compo-
nentes do tensor momento-energia para o campo eletromagnético (e, consequentemente,
as componentes do tensor de Faraday) também não devem depender do tempo. Logo,
g(t) = constante. A solução das equações de Maxwell para o tensor de Faraday,
constante
E r (r) = F 01 (r) = , (2.28)
r2
possui a forma do conhecido campo elétrico de carga pontual (isto é, decai com 1/r2 ). A
partir daqui, denotaremos constante ≡ Q. Sendo assim, F01 (r) = −Q/r2 . Substituindo
na expressão de T22 dada pela equação (2.18), encontramos:
1 2 1 2 Q2 Q2
T22 = − r F01 F 01 = r 4 = . (2.29)
8π 8π r 8πr2
12
Por outro lado, a componente R22 do tensor de Ricci, dada em (2.12), reescrita em termos
só da função Φ(r):
Q2 constante Q2
re2Φ = constante + r + =⇒ e2Φ = 1 + + 2 . (2.31)
r r r
Dado que uma das condições de contorno impostas à métrica RN era recair em Schwarzs-
child (2.8) quando Q = 0 (que é equivalente a Tµν = 0, ∀µ, ν), inferimos que, na equação
(2.31), o termo constante ≡ −2M . Portanto, definindo
2M Q2
∆(r) ≡ e2Φ = 1 − + 2 , (2.32)
r r
chegamos à métrica exterior de Reissner-Nordström:
Para essa demonstração, não incluímos monopolos magnéticos já que não são previs-
tos pelas equações de Maxwell, nem há evidências experimentais da existência deles. No
entanto, poderíamos assumir desde o início da demonstração que existe uma "carga mag-
nética" [10], P , associada a uma suposta componente radial do campo magnético B r , na
forma Br = P/r2 , que corresponde à componente do tensor de Faraday F23 = r2 sin θ Br
[11]. As componentes diagonais do tensor momento-energia do campo eletromagnético
teriam um termo extra proporcional a Br2 . Como resultado, obteríamos uma solução cuja
única diferença seria substituir o termo Q2 por Q2 + P 2 dentro da função ∆(r). Porém,
analisaremos apenas o espaço-tempo com P = 0.
3 Estudo do espaço-tempo
onde
2M Q2
∆(r) = 1 − + 2 , (3.2)
r r
escrito no sistema de coordenadas esféricas.
onde R demarca a superfície da estrela (região com pressão nula), exatamente igual na
teoria Newtoniana. Porém, note que o elemento de volume 4πr2 dr não é o elemento
de volume próprio numa hipersuperfície t = constante, o qual é dado pela expressão
√
−g d3 x. Portanto, (3.3) não pode ser a soma de todas as energias próprias dos elementos
de fluido [9]. Já quando avaliamos o parâmetro Q, podemos relembrar que o campo elétrico
encontrado como solução das equações covariantes de Maxwell é da forma E r ≡ F 01 =
Q/r2 ; se substituirmos a solução na Lei de Gauss na forma integral, veremos que
I
Q= F 0i ni dS , (3.4)
S
3.1 Singularidades
métrica ds2 = dr2 +r2 dθ2 se torna degenerada e a componente g θθ = r−2 do tensor métrico
inverso diverge.
(r)
0 0
r r = r+ r
(a) Caso M < |Q|. A função ∆(r) não possui (b) Caso M = |Q|. A função ∆(r) possui uma
raízes. raiz, marcada no ponto vermelho.
(r)
r r+ r
(c) Caso M > |Q|. A função ∆(r) possui duas
raízes, marcadas nos pontos vermelhos.
Figura 2: A função ∆(r) para as soluções de Reissner-Nordström; os zeros marcados nos pontos verme-
lhos indicam a localização dos horizontes.
De acordo com o mostrado na figura 2, quando ∆(r) = 0, podemos ter uma solução, duas
soluções ou nenhuma, dependendo dos valores relativos entre M 2 e Q2 .
Neste caso, r± serão complexos, portanto, a função ∆(r) é sempre positiva e não-nula;
como resultado a métrica é completamente regular nas coordenadas (t, r, θ, φ) em todo o
espaço-tempo, menos em r = 0. A coordenada t é sempre tipo-tempo, e a coordenada
r é sempre tipo-espaço. Já que não existe um horizonte de eventos, nada esconde a
singularidade r = 0 de um observador viajando até ela e depois retornando para reportar
o observado - chamamos de singularidade nua [10]. Já no limite r −→ ∞ a solução se
aproxima do espaço-tempo plano (o que não é surpreendente, porque foi imposto no início).
A "nudez" da singularidade nos impediria de encontrar um buraco negro com parâmetros
M < |Q| como resultado de um colapso gravitacional - essa condição afirma que a energia
total do buraco negro, medida por num referencial distante, é menor que a energia total
armazenada nos campos eletromagnéticos sozinhos medida no mesmo referencial. As
consequências físicas da singularidade nua, como, por exemplo, a existência de curvas
tipo-tempo fechadas [8], aparentam ser tão extremas que Penrose propôs a existência de
uma Conjectura de Censura Cósmica, a qual afirma que todas as singularidades formadas
de um colapso gravitacional estão necessariamente escondidas por horizontes de eventos;
ou seja, são buracos negros [1]. Nesse sentido, esse caso previsto pela métrica de RN é
considerado uma solução não-física.
3.1.2 Caso M 2 = Q2
onde
∆(r) = 1 − 2M/r + M 2 /r2 = (1 − M/r)2 . (3.7)
Como a coordenada t é cíclica nas componentes da métrica extrema de RN, existe con-
servação da componente covariante do quadrimomento associada a ela, ou seja, p0 =
constante. Assim, o termo
dt 1
∆ = − p0 = constante ≡ K . (3.11)
dτ m
Portanto, a equação (3.9) se torna:
2
dr
= K 2 − ∆(r) , (3.12)
dτ
Para encontrarmos o intervalo de tempo próprio de uma partícula que cai radialmente de
qualquer raio finito R até r = M , basta calcular a integral
Z M
dr
∆τ = − q 2 (3.14)
R K 2 − 1 − Mr
(o sinal negativo foi escolhido porque a partícula cai no buraco negro extremo). Está claro
que a integral é finita para todo K 2 > 1 (partícula não-ligada). Se K 2 = 1 (partícula
caindo do repouso em r → ∞), a integral (3.14) se torna
R
(r + M ) p
∆τ = M (2r − M ) (3.15)
3M M
que, novamente, é finita. Se K 2 < 1, também não há problemas pois a partícula fica
confinada na região (1−M/r)2 ≤ K 2 , ∀ r. Logo, a partícula consegue alcançar o horizonte
r = M num intervalo de tempo próprio finito.
=r−M , (3.18)
e então, obtemos
( + M )3 d
dt = − . (3.19)
2 (2M + M 2 )1/2
Está claro que no limite −→ 0, a integral de (3.19) diverge. Chegaríamos à mesma
conclusão para K 2 6= 1, porque a divergência surge do termo ∆−1 , que não depende de K.
Sendo assim, a partícula alcança r = M apenas num intervalo de tempo de coordenada
infinito [9]. Os observadores distantes do buraco negro extremo medem apenas ∆t. Uma
vez que a partícula passa por r = M , e, decide então voltar (pois existe a possibilidade dos
valores da coordenada r serem crescentes após passar pelo horizonte de eventos), acabará
se movendo para outro espaço-tempo assintoticamente plano. Na verdade, assim como
19
nos outros casos, a origem é repulsiva, logo, inevitavelmente a partícula numa geodésica
que passa por r = M terá que sair do buraco negro extremo.
Uma propriedade desses buracos negros extremos é que de certa forma a massa é ba-
lanceada pela carga elétrica - então, dois buracos negros extremos com cargas de mesmo
sinal se atraem gravitacionalmente, mas se repelem eletrostaticamente, e esses dois efeitos
se cancelam precisamente [10]. Podemos ainda manipular a métrica (3.1) para encon-
trar uma nova solução exata das Equações acopladas de Einstein-Maxwell para qualquer
número de buracos negros extremos numa situação estacionária. Para isso, primeiro con-
sidere a função ∆ para o caso M = |Q|, dada pela equação (3.7). Se definirmos uma nova
coordenada radial deslocada, ρ = r − M , ∆(r) → ∆(ρ):
2 −2
ρ M
∆(ρ) = = 1+ ,
ρ+M ρ
F01 = −F 01 = −A0,1 ,
A0 = H −1 (~x) − 1 . (3.25)
Agora, vamos esquecer que sabemos a forma da função H dada por (3.23) e simples-
mente resolvemos as Equações acopladas de Einstein-Maxwell para a métrica (3.22) com
tensor momento-energia associado ao potencial eletrostático (3.25), assumindo H(~x),0 = 0.
Pode-se mostrar1 que as Equações de Einstein são identicamente nulas para este caso, e,
que as equações de Maxwell se tornam a equação de Laplace,
∇2 H(~x) = 0 , (3.26)
onde ∇2 = ∂x2 + ∂y2 + ∂z2 . A solução é bem comportada no infinito e tem a forma
N
X Mk
H(~x) = 1 + , (3.27)
k=1
||~x − ~xk ||
para um conjunto de N pontos espaciais localizados na posição ~xk . Esses pontos descrevem
N buracos negros extremos de RN com massas Mk = |Qk |. Esse resultado é conhecido
como métrica de multi-buracos-negros extremos [10], ou solução de Majumdar-Papapetrou
(MP) [15].
Diferente dos outros casos, esperamos essa situação num colapso gravitacional realís-
tico; a energia do campo eletromagnético é menor que a energia total do buraco negro.
Neste caso, o a função ∆(r) é negativa para r− < r < r+ e positiva para os outros valores
de r; a métrica tem singularidade de coordenadas em ambos r− e r+ , mas, podem ser
retiradas via mudança de coordenada.
Porém, diferente do buraco negro neutro, a inevitável queda de r+ para raios menores
dura até o observador alcançar a segunda superfície nula r− , onde a coordenada r muda de
tipo-tempo para coordenada tipo-espaço; assim, o movimento na direção de r decrescente
pode ser detido. Portanto, o observador pode escolher entre continuar para r = 0 (já que
é linha tipo-tempo, então não está necessariamente no futuro do observador) ou retornar,
movendo-se em direção ao r crescente através da superfície r = r− . Sendo que lá, em
r− < r < r+ , r será novamente tipo-tempo, mas na orientação reversa! O observador
será forçado a se mover na direção de r crescente. Então, passará por r = r+ mais uma
vez, isto é, seria como emergir de um buraco branco [10]. A partir deste ponto, o
observador pode escolher refazer a viagem, sendo que, neste novo tempo, estará entrando
num buraco negro diferente daquele que entrou pela primeira vez2 . Isso porque, assim
como no caso M 2 = Q2 , os observares distantes do buraco negro mediriam um intervalo
tempo de coordenada infinito para o percurso, enquanto o intervalo de tempo próprio é
finito.
2M Q2 1 1
∆(r) = 1 − + 2 = 2 [r2 − 2M r + Q2 ] = 2 [(r − r− )(r − r+ )] .
r r r r
Portanto,
dt r2
= −∆−1 = − . (3.29)
dr (r − r− )(r − r+ )
Fatorando com frações parciais, (3.29) dá
r2 r2
dt 1
= − . (3.30)
dr (r+ − r− ) (r − r− ) (r − r+ )
onde q, por razões históricas, é conhecido como "parâmetro avançado temporal" [7], e, é
claramente uma coordenada nula, por ser constante ao longo de toda linha do universo
de um fóton caindo radialmente. Sendo assim, é uma boa coordenada onde quer que a
linha de mundo passe, mas é pouco convencional [8]. Definiremos então uma coordenada
tipo-tempo:
t̄ = q − r , (3.33)
e assim obtemos
2 2
r+ r r− r
t̄ = t + ln −1 − ln −1 , (3.34)
r+ − r− r+ r+ − r− r−
23
Portanto,
dt̄ = dt + ∆−1 (1 − ∆)dr . (3.36)
Por fim, quando substituímos (3.36) na métrica (3.1), trocando t −→ t̄, assume a
forma
ds2 = −∆ dt̄2 + 2(1 − ∆)drdt̄ + (2 − ∆)dr2 + r2 dΩ2 , (3.37)
dt̄ dt
= + ∆−1 (1 − ∆) . (3.38)
dr dr
Substituindo em (3.38) a equação (3.28), ficamos apenas com
dt̄
= ±∆−1 + ∆−1 (1 − ∆) . (3.39)
dr
dt̄ + dr = 0 , (3.40)
24
t̄ + r = C , (3.42)
2M 2 − Q2
r− (r − r+ ) (r − r+ )(r − r− )
t̄ = r + p ln + 2M ln +C , (3.43)
M 2 − Q2 r+ (r − r− ) r+ r−
Se fizermos a mesma análise para a região (2), r− < r < r+ , teremos agora ∆(r) < 0.
Para então encontrarmos as curvas dos fótons caindo, deveremos tomar o sinal positivo
da equação (3.28). Nossa coordenada avançada de Eddington-Filkelstein para a região
(2) será
2 2
r+ r r− r
t̄ = t + ln 1 − − ln −1 . (3.44)
r+ − r− r+ r+ − r− r−
Nela, o elemento de linha (3.1) assume a mesma forma de (3.37). Por fim, para a região (3),
r < r− , adotamos novamente o sinal negativo da equação (3.28), integramos e encontramos
2 2
r+ r r− r
t̄ = t + ln 1 − − ln 1 − , (3.45)
r+ − r− r+ r+ − r− r−
a qual, assim como (3.34) e (3.44), transforma (3.1) em (3.37). Podemos compactar as
expressões para mudança de coordenadas das três regiões numa só,
2 2
r+ r r− r
t̄ = t + ln 1 − − ln 1 − . (3.46)
r+ − r− r+ r+ − r− r−
Quando encontramos as geodésicas radiais dos fótons nessa nova coordenada para
todo o espaço, com raciocínio análogo ao que usamos para a região (1), percebemos que
as curvas dos fótons caindo são idênticas a (3.42), e as dos fótons saindo assumem a forma
geral
2M 2 − Q2 r− (r − r+ ) (r − r+ )(r − r− )
t̄ = r + p ln + 2M ln +C , (3.47)
M 2 − Q2 r+ (r − r− ) r+ r−
muito semelhante a (3.43), mas agora com módulos nos logaritmos naturais.
Em posse das expressões analíticas das curvas de luz, somos capazes de desenhar o
25
lim t̄ = −∞ lim t̄ = −∞
r→(r+ )+ r→(r+ )−
(3.48)
lim + t̄ = +∞ lim − t̄ = +∞
r→(r− ) r→(r− )
e, de (3.41), podemos saber melhor sobre a inclinação dos cones de luz no infinito e
próximos à singularidade para os fótons que saem:
0
0 r r+ r
Figura 3: Diagrama de espaço-tempo para as coordenadas avançadas de Eddington-Finkelstein. As
linhas vermelhas tracejadas são r− e r+ , e a linha azul pontilhada é a singularidade r = 0. Note que os
cones de luz desaparecem em e nas proximidades da singularidade, onde as linhas das geodésicas radiais
se confundem. O gráfico foi desenhado para Q = 0.8M .
Para os fótons que caem, as curvas são sempre contínuas e bem comportadas, iguais
a t̄ + r = C, devido à nossa de escolha coordenada ser baseada neles. A inclinação
26
dessa reta é sempre constante e igual a −1, assim como os fótons viajando na métrica da
Relatividade Especial. Algo curioso pode ser percebido aqui: quando estamos próximos
à singularidade, a inclinação das curvas de luz dos fótons que caem e dos que saem são
as mesmas e iguais a −1, portanto, o cone de luz ali se fecha, impedindo as partículas
de acessarem essa posição (pois as geodésicas tipo-tempo das partículas estão confinadas
ao interior do cone de luz), e, portanto, a singularidade r = 0 é repulsiva. Sendo assim,
somente linhas do universo nulas podem alcançar r = 0, como mencionado na seção 3.1.3.
cuja diferencial pode ser escrita de forma semelhante à equação (3.36) como
Note que a expressão acima é a reversa temporal do elemento escrito em (3.37) [7], isto é,
podemos obter (3.52) de (3.37) trocando t̄ −→ −t̄. Logo, nas novas coordenadas (sejam
avançadas, sejam retardadas), o espaço-tempo de RN ainda conserva a simetria esférica,
mas agora é apenas estacionário. Como resultado dessa característica, para encontrarmos
as geodésicas radiais dos fótons que caem e que saem do buraco negro com elemento de
linha (3.52), basta aproveitarmos as expressões (3.42) e (3.47), mas, com t̄ −→ −t̄. O
diagrama de espaço-tempo está mostrado na figura 4.
Assim como no caso anterior, para referenciais distantes do buraco negro, o espaço-
tempo tem curvas de luz como as da relatividade especial (com inclinação +1 e −1). Além
disso, a singularidade em r = 0 continua repulsiva. De acordo com o mencionado na seção
27
0
0 r r+ r
Figura 4: Diagrama de espaço-tempo para as coordenadas retardadas de Eddington-Finkelstein. As
linhas vermelhas tracejadas são r− e r+ , e a linha azul pontilhada é a singularidade r = 0. Note que os
cones de luz desaparecem em e nas proximidades da singularidade, onde as linhas das geodésicas radiais
se confundem. Esse diagrama é o reverso temporal do diagrama anterior, representado na figura 3. O
gráfico também foi desenhado para Q = 0.8M .
3.1.3, se um observador entrou no buraco negro de RN (estando numa posição com r < r− ),
e, posteriormente, decide sair, quando ele atravessa o horizonte r− , é forçado a crescer o
raio até atravessar o horizonte de eventos r+ . Esse fenômeno é visto mais claramente no
diagrama da figura 4 em coordenadas retardadas: os cones de luz da região (2) possuem o
futuro voltado para a direção de r crescente, e, portanto, qualquer geodésica tipo-tempo
deve emergir do buraco negro durante o retorno para a região exterior (1) [10].
Fizemos todo o tratamento para o caso M 2 > Q2 . Mas, para remover a singularidade
de coordenada que existe para o caso M 2 = Q2 em r = M , basta fazer a mudança de
coordenada [7]
r M2
−1 −
t̄ = t + M ln
M r−M
e o espaço-tempo dado em (3.1) com ∆(r) = (1 − M/r)2 toma a forma de (3.37).
∀r, em (3.37):
!
r2 − 2M r + Q2 2M 2 − Q2 r−M
t̄ = t + M ln + p arctan p .
M2 Q2 − M 2 Q2 − M 2
Considere algum ponto fixo no espaço, ou seja, com (r, θ, φ) constantes. Nesse caso,
dr,dθ e dφ são nulos, e, neste ponto, a métrica (3.1) se torna somente
Por outro lado, sempre podemos encontrar um sistema de referenciais de repouso local
tal que ds2 = −dτ 2 , e, portanto,
dt pode ser interpretado como um intervalo de tempo infinitesimal medido por um ob-
servador distante da fonte gravitacional, enquanto dτ é um intervalo de tempo próprio
medido por um observador a uma distância r do centro da fonte. Se tratarmos da situação
física, M 2 > Q2 , e considerarmos o observador próximo fora do horizonte de eventos r+ ,
iremos concluir de (3.54) que dτ < dt. Isso significa que longe da fonte um observador
mede o tempo do relógio preso no observador próximo mais lentamente por um fator ∆1/2 .
Suponha agora que uma onda eletromagnética é emitida radialmente do ponto (r1 , θ, φ)
para outro em (r2 , θ, φ), de acordo com a figura 5. Seja t1 o tempo de coordenada da
emissão e t2 o tempo de coordenada da recepção do sinal. A onda viaja ao longo de uma
geodésica nula radial, então podemos usar dθ = dφ = 0 e a métrica se torna:
𝑟Ԧ1
Buraco Negro
𝑟Ԧ2
γ
Figura 5: Situação hipotética em que um fóton é emitido por um foguete entre o buraco negro e o
receptor na Terra. Desconsidere efeito Doppler da relatividade especial.
Integrando, Z ζ2
dr
t2 − t1 = ∆−1 dζ . (3.57)
ζ1 dζ
Seja agora t01 o tempo de coordenada no qual a onda eletromagnética tenha oscilado
exatamente um período após a primeira emissão no evento (t1 , r1 , θ, φ). Similarmente,
seja t02 o tempo de coordenada onde a onda eletromagnética tenha oscilado um período
após o recebimento do sinal em (t2 , r2 , θ, φ). Como a integral (3.57) não depende de t,
temos que:
t2 − t1 = t02 − t01 =⇒ ∆t2 ≡ t02 − t2 = ∆t1 ≡ t01 − t1 .
Os comprimentos de onda podem ser calculados por λ = c∆τ = ∆τ , cuja razão será
λ1 ∆t1 1/2
= ∆ (r1 ) ∆−1/2 (r2 ) .
λ2 ∆t2
Como ∆t1 = ∆t2 , chegamos à expressão para o redshift gravitacional,
s
λ1 ∆(r1 )
= . (3.60)
λ2 ∆(r2 )
No início, supomos r2 > r1 > r+ , para que a raiz quadrada exista, então, a consequên-
30
Para termos uma noção mais clara das ordens de grandeza envolvidas no redshift
gravitacional provocado pela carga elétrica do buraco negro, façamos uma expansão em
série de Maclaurin até segunda ordem, considerando os termos M/R, M/D, Q/R e Q/D
pequenos. Sendo assim, a expressão (3.62) se torna
1/2 −1/2
Q2 Q2
λ1 2M 2M
≈ 1− + 2 1− + 2
λ2 R R D D
M 2 Q2 3M 2 Q2
M M
≈ 1− − 2 + 2 1+ + − 2
R R R D D2 D
2
1 1 M 2 1 3 2 1 1
≈ 1−M − − −M − +Q − + O(3) (3.63)
R D RD R2 D 2 R2 D 2
Um modelo teórico simples proposto por Neslusan [17], estima carga elétrica total de
uma estrela tipo-Sol idealmente "quieta", esfericamente simétrica e estática via suposição
de formação numa nebulosa neutra e depois posterior perda de cargas elétricas positivas e
31
rs2 rs2 1
λ1 rs 1 1 3 2 1 1
≈1− − − − − + rQ − . (3.64)
λ2 2 R D 4RD 4 R2 D 2 R2 D 2
3
Ver Anexos, capítulo 8.
4 Geodésicas
Utilizando as simetrias das componentes do tensor métrico, podemos mostrar que ela
pode ser reescrita, sem perda de generalidade [9] na forma
dpµ 1
m = gνα,µ pν pα , (4.1)
dλ 2
onde λ é o parâmetro afim. No caso das partículas massivas, λ pode ser substituído pelo
tempo próprio τ . Nessa forma, o seguinte resultado é bem visível: se as componentes gνα
são independentes de xµ para um dado µ, então pµ é uma constante de movimento ao
longo da geodésica.
Usaremos esse resultado para evitarmos resolver a equação da geodésica para as partí-
culas neutras, aproveitando todas as constantes de movimento disponíveis. Chamaremos
apenas de "partícula" as partículas massivas com massa de repouso m 6= 0 e de "fótons" as
partículas com massa de repouso nula. Primeiramente, a independência temporal da mé-
trica implica na conservação da energia, −p0 . Para as partículas, definimos a energia por
unidade de massa (energia específica) Ẽ, enquanto para os fótons escrevemos somente a
33
energia E:
p0
partícula: Ẽ ≡ −
; fóton: E ≡ −p0 . (4.2)
m
A independência da métrica do ângulo φ implica que a componente pφ é conservada -
como estamos trabalhando em coordenadas esféricas, pφ é o momento angular conjugado,
associado à coordenada φ. Definimos o momento angular específico L̃ para as partículas
e o momento angular convencional L para os fótons:
pφ
partícula: L̃ ≡ ; fóton: L ≡ pφ . (4.3)
m
Por conta da simetria esférica e pelo fato de pφ ser constante, concluímos que as órbitas
estão confinadas num plano. Coincidindo o eixo z desse plano com a direção do vetor
dθ
momento angular, temos que θ = π/2. Como resultado de θ = constante, pθ ∝ dλ
= 0.
As componentes contravariantes não-nulas do quadrivetor momento são:
partícula: p0 = g 00 p0 = m∆−1 Ẽ
dr
pr = m dτ
m
pφ = g φφ pφ = r2
L̃
(4.4)
fóton: p0 = ∆−1 E
dr
pr = dλ
L
pφ = r2
Suas formas típicas estão mostradas na figura 6, tanto para as partículas quanto para
os fótons.
1.0
partícula
0.5 fóton
V 2(r)
0.0
0.5
1.00.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4
r
Figura 6: Potenciais efetivos típicos da métrica de Reissner-Nordström, para o caso M 2 > Q2 . Neste
gráficos, usamos Q = 0.8 M , e L̃ = 0.5 M e L = 0.5 M 2 . A linha vermelha tracejada representa a curva
do potencial das partículas. A azul cheia, dos fótons. O eixo horizontal está em unidades de M .
Ambas equações (4.5) e (4.6) implicam que, dado que o lado esquerdo é positivo ou
nulo, as energias das trajetórias devem ser maiores ou iguais aos potenciais quadráticos
definidos em (4.7) e (4.8). Então, para uma órbita com um dado E, o intervalo de raios
acessíveis é determinado para os quais V 2 ≤ E 2 . Considere, por exemplo, as trajetórias
cujos valores de E 2 são maiores que 1. Uma partícula ou fóton vem de r = ∞, viaja até
dr
a barreira de potencial, onde lá E 2 = V 2 e portanto dλ
= 0. Para entendermos o que
acontece a seguir, derivamos (4.5) e (4.6) [9]. Para as partículas,
2
d dr d h 2 i
= Ẽ − Ṽ 2 (r) ,
dτ dτ dτ
como a energia é constante de movimento, sua derivada é nula. Usando a regra da cadeia,
dr d2 r dṼ 2 dr
2 2
= − (r) ,
dτ dτ dr dτ
35
ou,
d2 r 1 dṼ 2
partículas: = − (r) . (4.9)
dτ 2 2 dr
Similarmente com os fótons,
d2 r 1 dV 2
fótons: = − (r) . (4.10)
dλ2 2 dr
Se olharmos novamente para as barreiras de potencial, vemos que a aceleração radial
da trajetória aponta para fora do buraco negro (a direção dos valores de r positivos),
então a partícula (ou fóton) viaja até o raio mínimo, e é acelerada para fora enquanto
"dá a volta", então retorna para r = ∞. Essa órbita é a análoga relativística da órbita
hiperbólica prevista na gravidade Newtoniana [9].
que, apesar de ter em princípio três raízes possíveis, apenas uma é real, e, consequente-
mente, há apenas uma órbita circular permitida para Ẽ e L̃ fixos. De acordo com a forma
do potencial para as partículas, não há dúvidas de que essa única raiz é um ponto de
equilíbrio estável. Uma partícula nessa órbita estável em torno de uma estrela ou buraco
negro dará uma volta completa e retornará ao mesmo ponto (isto é, ao mesmo valor de
φ) numa quantidade fixa de coordenada temporal, a qual é chamada de período P . Da
equação (4.11), segue que uma órbita circular de raio rc tem momento angular
M rc3 − Q2 rc2
L̃2 = 2 2
≡ L̃2c , (4.12)
rc − 3M rc + 2Q
Ẽc ∆(rc )
=p ,
L̃c M rc − Q2
dt
chegamos, para o período P = 2π dφ ,a
1/2
rc3
P = 2π . (4.16)
M − Q2 /rc
Note que para Q pequeno, o período da órbita circular para a métrica de RN respeita a
relação P 2 ∝ rc3 prevista pela Terceira Lei de Kepler. Isso é uma surpresa, já que Q −→ 0
recai no caso de Schwarzschild, não no Newtoniano. Mas, coincidentemente, o período P
das órbitas circulares na métrica de Schwarzschild é exatamente igual ao clássico [9].
onde, em ambas equações, rc denota o raio da órbita circular (estamos aproveitando nota-
ção para evitar que fique carregada, mas rc não resolve (4.11) e (4.17) simultaneamente).
e, como estamos tratando o caso M 2 > Q2 , as duas raízes rc± são possíveis. Porém, quando
comparamos rc± com r± , chegamos à relação r− < rc− < r+ < rc+ : a órbita circular em
r = rc− se encontra entre os horizontes, então, não poderia ser visível para um observador
distante do buraco negro.
Ainda para os fótons, analisaremos as estabilidades das órbitas. Para tanto, fazemos
teste da derivada segunda do potencial V 2 (r) e checamos o sinal em rc± :
d2 2 2L2
3r(r − 4M ) + 10Q2 .
2
V (r) = 6
(4.19)
dr r
Como o termo 2L2 /r6 é sempre positivo ∀ L, r, basta avaliar o sinal do termo dos colchetes
37
de (4.19). Concluímos dessa análise que rc+ é um ponto de equilíbrio instável e que rc− é
um ponto de equilíbrio estável.
que é a equação geral das órbitas dos fótons na métrica de RN. Por ser não-linear, a
equação não pode ser resolvida algebricamente, mesmo sendo separável. Porém, exis-
tem algumas soluções interessantes dessa equação que podem ser obtidas analiticamente,
quando consideramos um valor específico para d, d = dc , ou seja, o parâmetro de impacto
de órbita circular, ou, parâmetro crítico [15]. O primeiro passo é executar a mudança de
variável
1
r= , (4.23)
u
e reescrever a equação (4.22) na forma
2
du 1
− u2 1 − 2M u + Q2 u2 .
= 2
(4.24)
dφ d
dr
E 2 = V 2 (ou dλ
= 0) em (4.6):
onde, a partir de agora, rc+ será chamado apenas de rc para simplificarmos a notação.
Porém, vale notar que a expressão rc2 − 2M rc + Q2 pode ser reescrita, usando a equação
(4.18):
" 1/2 # " 1/2 #
9M 2 4Q2 8Q2 8Q2
3M
rc2 − 2M rc + Q2 = 1− + 1− − 2M 1+ 1− + Q2
2 9M 2 9M 2 2 9M 2
1/2 1/2
9M 2 9M 2 8Q2 8Q2
2 2 2
= − 2Q + 1− − 3M − 3M 1 − + Q2
2 2 9M 2 9M 2
1/2
3M 2 3M 2 8Q2
= + 1− − Q2 .
2 2 9M 2
Então,
rc2 − 2M rc + Q2 = M rc − Q2 .
rc4
d2c = , (4.26)
M rc − Q2
ou, em termos de uc ≡ 1/rc ,
1
2
= M u3c − Q2 u4c . (4.27)
dc
A expressão para uc pode ser facilmente encontrada quando trocamos rc por 1/uc na
equação dos pontos críticos do potencial quadrado dos fótons, dada em (4.17),
" r #
3M 8Q2
uc = 1± 1− , (4.28)
4Q2 9M 2
de impacto crítico.
Portanto, a equação diferencial (4.24) toma a forma, para o caso especial do parâmetro
crítico, 2
du
= M u3c − Q2 u4c − Q2 u4 + 2M u3 − u2 , (4.29)
dφ
com " r #
3M 8Q2
uc = 1− 1− ,
4Q2 9M 2
39
e agora, integrada,
Z
−1/2 du
−Q2 u2 + 2u(M − Q2 uc ) + uc (M − Q2 uc )
φ − φ0 = ± , (4.31)
u − uc
onde φ0 é uma constante de integração. Definindo a nova variável,
ξ = (u − uc )−1 , (4.32)
onde
b = 2(M − 2Q2 uc ) e c = uc (3M − 4Q2 uc ) . (4.34)
De acordo com Chandrasekhar [15], podemos classificar as órbitas. Para tanto, seja
2
du
o valor do parâmetro de impacto dc , para o qual dφ = 0. Então, para todos os valores
de d > dc , teremos órbitas de dois tipos. As do primeiro tipo existem completamente fora
dos horizontes, nas quais, um fóton vindo de r = ∞ volta para lá, depois da passagem do
"periastro" (semelhantes às trajetórias hiperbólicas Newtonianas). As órbitas de segundo
tipo possuem dois pontos de retorno: um fora do horizonte externo (r > r+ ), e o outro
dentro do horizonte interno (r < r− ), portanto, são limitadas. Para os valores de parâ-
metro de impacto d < dc , uma órbita vindo de r = ∞ irá atravessar os dois horizontes
e tentará alcançar a singularidade r = 0 (lembrando que quando d = L/E −→ 0, temos
órbitas nulas praticamente radiais, que se comportam como aquelas vistas na seção 3.1).
Dito isso, as órbitas dos dois tipos são descritas pela solução (4.35) para os valores dos
argumentos nos seguintes intervalos:
que surge da equação diferencial fatorada (4.30). Ambas órbitas se aproximam assinto-
ticamente da órbita circular instável em r = rc+ , de lados opostos, espiralando em torno
dela um número infinito de vezes. Um exemplo de solução crítica derivada da equação
(4.35) é ilustrado na figura 7.
3 rc
r+
r
<
1
<
y
3 2 1 0 1 2
x
Figura 7: Órbitas críticas para os fótons (linhas contínuas) na métrica de RN para Q = 0.8M . O círculo
tracejado azul representa a órbita circular instável r = rc+ ≈ 2.48M , o laranja indica o horizonte externo
r+ = 1.6M e o verde indica o horizonte interno r− = 0.4M .
e
dφ L̃
= 2 . (4.40)
dτ r
onde
2
(1 − 2M uc + Q2 u2c ) M − Q2 uc
Ẽc2 = e L̃2c = , (4.43)
1 − 3M uc + 2Q2 u2c uc (1 − 3M uc + 2Q2 u2c )
com uc = 1/rc , a única solução real da equação (4.11). Em particular, exigiremos 1 −
3M uc + 2Q2 u2c > 0 para que as expressões (4.43) sejam reais. Comparando essa condição
com (4.17), vemos que o raio mínimo para uma órbita circular tipo-tempo é o raio da
órbita circular tipo-nula. Com esse valores apropriados de Ẽ 2 e L̃2 , o polinômio do lado
direito de (4.42) pode ser fatorado:
2
du 2 22 2 2 M
= (u − uc ) −Q u + 2u(M − Q uc ) + M − Q uc − uc . (4.44)
dφ L̃2 u2c
e por fim, resolvida com a mudança de variável (4.32). Obtemos a mesma solução (4.35)
com, no entanto,
2 2 M2
b = 2(M − 2Q uc ) e c = uc 3M − 4Q uc − L̃2 u2c
. (4.46)
Neste caso, a classificação de "primeiro tipo" e "segundo tipo" das geodésicas nulas
também é estendida para as partículas, mas, como não temos um parâmetro de impacto
42
definido para geodésicas tipo-tempo, a forma da órbita é baseada nos valores relativos da
energia específica E
e e do momento angular específico L.
e Sendo assim, órbitas tipo-tempo
com L
e grande quando comparado a E
e são as correspondentes às com grande parâmetro
de impacto d, e, neste caso, o "primeiro tipo" são as geodésicas que estão totalmente fora
dos horizontes e as de "segundo tipo" são aquelas confinadas numa região limitada da
coordenada r (mas que não são necessariamente periódicas), como o caso da precessão do
periélio de Mercúrio [9]. As geodésicas tipo-tempo de E
e grande quando comparada ao
L
e são as equivalentes às geodésicas nulas com parâmetro de impacto d pequeno, e, neste
caso, as partículas partem do infinito e tentam alcançar a origem r = 0. Porém, como a
singularidade é repulsiva para as partículas, necessariamente essas geodésicas tipo-tempo
precisam ter um ponto de retorno em r < r− .
O raio mínimo para órbita circular estável ocorrerá no ponto de inflexão do potencial
[15]:
1
2
Ṽ = (1 − 2M u + Q2 u2 )(1 + L̃2 u2 ) . (4.47)
u
Derivando a expressão anterior,
d 2 1
Ṽ = −12L̃2 M u + 12L̃2 Q2 u2 + 2(L̃2 + Q2 ) , (4.48)
du u
Eliminando L̃c dessa equação e usando sua expressão dada em (4.12), obtemos a equação
Q4
rc3 − 6M rc2 + 9Q2 rc − 4 =0. (4.51)
M
Deve ser notado aqui que a equação (4.51) resulta rc = 6M quando Q = 0, o que concorda
com a geometria de Schwarzschild para o caso L̃2 = 12M 2 [9, 15]. Quando escolhemos
os parâmetros L̃ e Ẽ como críticos e impomos a condição extra dada em (4.51), podemos
fatorar a equação (4.42) para a forma simplificada,
2
du
= (u − uc )3 (2M − 3Q2 uc − Q2 u) , (4.52)
dφ
43
2(M − 2Q2 uc )
u = uc + . (4.53)
(M − 2Q2 uc )2 (φ − φ0 )2 + Q2
Se escolhermos rc > rc+ e acharmos os parâmetros críticos, podemos obter várias ór-
bitas críticas tipo-tempo interessantes. Alguns exemplos estão mostrados nas figuras 9.
Também mostramos na figura 8 geodésicas não-críticas obtidas numericamente através do
método Runge-Kutta de quarta ordem com passo de tamanho fixo.
r+ < r+
r r
<
y=0
y=0
<
x=0 x=0
(a) Ẽ = 1.1, L̃ = 4.0M (b) Ẽ = 1.1, L̃ = 6.0M
r+ r+
r
r
>
>
y=0
y=0
x=0 x=0
(c) Ẽ = 3.0, L̃ = 2.0M (d) Ẽ = 1.1, L̃ = 8.0M , raiz negativa.
rc < rc
4
r+ r+
r 4
r
rc+
2 rc+
2
0
<
y
y
0
2 2
4
4
4 2 0 2 4 4 2 0 2 4
x x
(a) Caso da órbita associada ao raio recíproco (b) Caso da órbita associada ao raio recíproco
uc = 0.225M −1 , solução do segundo tipo. uc = 0.225M −1 , solução do primeiro tipo.
rc+ rc
6
rc r+
4
r+ r
4
r rc+
< 2
2
0
y
<
0
y
2
2
4
4
6
6 4 2 0 2 4 6 4 2 0 2 4
x x
(c) Órbita do segundo tipo associada ao raio (d) Órbita com rc ≈ 4.89M , reflete o caso com
recíproco uc = 0.15M −1 . as três condições impostas.
L 2 L̃2
φ̇ = =⇒ φ̇ = (4.65)
mr2 r4
q̃Q
∆ ṫ = Ẽ − , (4.66)
r
e então, isolando ṙ em (4.64), obtemos
2 2 !
L̃2
dr q̃Q
= Ẽ − − ∆(r) 1 + 2 , (4.67)
dτ r r
que é exatamente igual a (4.5) para o caso q = 0. Se ainda dividirmos a equação (4.67)
por (4.65) e manipularmos os termos, chegamos à equação geral da geodésica de uma
partícula massiva e eletricamente carregada,
2
Ẽ 2 − 1 4 Q2 (1 − q̃ 2 ) 2
dr 2
3
= r + M − ẼQq̃ r − 1 + r + 2M r − Q2 , (4.68)
dφ L̃2 L̃2 L̃2
47
Para implementar o algoritmo, devemos escolher um dos sinais da equação (4.71), e, ainda
encontrar as soluções numéricas sem perda de generalidade. Primeiramente, nota-se que,
ao escolhermos um dos sinais, a derivada dr/dτ possui sinal fixo, e, consequentemente,
r(τ ) será uma função monótona. Sendo assim, se escolhermos a raiz positiva, a partícula
sempre terá seu raio crescendo durante sua órbita, ou seja, estará saindo do buraco negro;
se escolhermos a raiz negativa, a partícula estará entrando no buraco negro. Percebe-
se também que ao trocarmos o sinal do momento angular, L̃ −→ −L̃, é equivalente a
trocar φ −→ −φ na equação do movimento; em outras palavras, podemos fazer com que
48
(𝑟𝑖 , 𝜙𝑖 ) (𝑟𝑓 , 𝜙𝑓 )
(𝑟𝑓 , 𝜙𝑓 ) (𝑟𝑖 , 𝜙𝑖 )
+ □ , 𝐿෨ > 0 − □ , 𝐿෨ < 0
Figura 10: Esquema para implementação das órbitas. Se r(t = 0) = ri e φ(t = 0) = φi , e, escolhemos a
raiz positiva da equação (4.71), com momento angular L̃ > 0, obtemos uma órbita com circulação similar
a do quadro à esquerda. Após evolução numérica até um tempo tf , a partícula está em r(t = tf ) = rf
e φ(t = tf ) = φf . Se agora escolhemos a raiz negativa de (4.71), basta trocarmos o sinal do momento
angular L̃ e as condições iniciais r(t = 0) = rf e φ(t = 0) = φf . Após evoluirmos numericamente de t = 0
até t = tf , a partícula estará em r(t = tf ) = ri e φ(t = tf ) = φi . A circulação encontrada é similar a do
quadro à direita. Nesse sentido, as duas soluções numéricas são equivalentes.
a partícula mude o sentido do giro (de anti-horário para horário, ou vice-versa) apenas
realizando essa troca. Isso é válido porque a função φ(τ ) também é monótona. Além
disso, a equação em r permanece invariante quando fazemos L̃ −→ −L̃. Então, é possível
encontrar duas parametrizações diferentes para o mesmo caminho: basta escolhermos
a raiz positiva de (4.71) e o momento angular L̃ > 0 ou a raiz negativa de (4.71) e o
momento angular L̃ < 0. Essa preocupação é importante porque o método utilizado
para resolução de equações diferenciais ordinárias é compatível apenas com equações
diferenciais de primeira ordem, onde pode-se isolar a derivada primeira.
<
<
<
y=0
y=0
r+ r+
r r
x=0 x=0
(a) q̃ = −0.5, L̃ = 4.0M , Ẽ = 1.1 (b) q̃ = 1.0, L̃ = 4.0M , Ẽ = 1.1
<
y=0
y=0
<
r+ r+
r r
x=0 x=0
(c) q̃ = 1.0, L̃ = 2.0M , Ẽ = 1.1 (d) q̃ = 2.0, L̃ = 2.0M , Ẽ = 1.5
< <
<
<
y=0
y=0
r+ r+
r r
x=0 x=0
(e) q̃ = 0.2, L̃ = 4.0M , Ẽ = 1.1 (f ) q̃ = 0.5, L̃ = 4.0M , Ẽ = 1.1
Figura 11: Outros exemplos de geodésicas do tipo-tempo para partículas carregadas. O círculo azul é
o horizonte r+ e o laranja é o horizonte r− . Em todos os gráficos, a partícula saiu de r(τ = 0) = r− e
φ(τ = 0) = 0. Todos os casos são Q = 0.8M .
50
r+ r+
r r
<
y=0
<
y=0
x=0 x=0
(a) q̃ = 0.1, L̃ = 4.0M , Ẽ = 1.1 (b) q̃ = −0.1, L̃ = 4.0M , Ẽ = 1.1
r+ r+
r r
<
<
y=0
y=0
x=0 x=0
(c) q̃ = 0.1, L̃ = 2.0M , Ẽ = 2.0 (d) q̃ = 0.1, L̃ = 2.0M , Ẽ = 3.0
r+ r+
r r
y=0
y=0
<
<
x=0 x=0
(e) q̃ = 0.1, L̃ = 4.0M , Ẽ = 1.1; raiz negativa. (f ) q̃ = −0.1, L̃ = 4.0M , Ẽ = 1.1; raiz negativa.
Figura 12: Vários exemplos de geodésicas do tipo-tempo para partículas carregadas. O círculo azul é
o horizonte r+ e o laranja é o horizonte r− . Todos os casos são Q = 0.8M . Os últimos dois gráficos
mostram a solução numérica para a raiz negativa da equação (4.67), onde a partícula parte do horizonte
interno e espirala em direção à origem. Como a separação entre as linhas da espiral é pequena, a órbita
está aparentemente sobreposta. Em todos os gráficos, a partícula saiu de r(τ = 0) = r− e φ(τ = 0) = 0.
5 "Forças" de maré
ξ µ (τ ) = x̄µ (τ ) − xµ (τ ) , (5.1)
então a equação do desvio geodésico mostra que esse vetor evolui da seguinte forma [8, 9]
D2 ξ µ
2
= S µν ξ ν , (5.2)
Dτ
onde definimos as componentes do tensor de stress da maré
S µν ≡ Rµσρν U σ U ρ , (5.3)
dxσ
e Uσ = dτ
é a componente do quadrivetor velocidade da primeira partícula. Note que
na definição de S µν usamos o fato de que o tensor de curvatura é anti-simétrico em seus
últimos dois índices. A equação (5.2) é tensorial ou covariante e portanto, válida para
qualquer sistema de coordenadas.
mundo xµ (τ ) passa por algum evento P . Para calcularmos a aceleração de separação rela-
tiva medida por esse observador, montamos um conjunto de vetores de base ortonormais
êα em P , que definem o referencial instantâneo de repouso da primeira partícula (e conse-
quentemente, do observador) neste evento. Neste referencial, o vetor de base ê0 ≡ Û , onde
~ é a quadrivelocidade da primeira partícula em P . Basta escolhermos outros vetores êi
U
para comporem a base espacial, de forma que todo o conjunto satisfaça a
Com essa definição, podemos utilizar a métrica local η para definir os duais dessa base de
vetores:
êα = η αβ êβ , (5.5)
𝑥ҧ 𝜇 (𝜏)
𝑥 𝜇 (𝜏)
𝑄
Ԧ
𝜉(𝜏)
𝑈
𝑒Ƹ3
Ԧ
𝜁(𝜏)
𝑃
𝑒1Ƹ 𝑒Ƹ2
Figura 13: Base do referencial local de repouso em P , em azul. O vetor de separação está representado
em ξ~ vermelho, e sua projeção espacial ζ~ em verde.
as quais nos dão as separações espaciais e temporal dos eventos P e Q nas linhas de
mundo das duas partículas medidas pelo nosso observador. Dado que êα , α = 0, 1, 2, 3,
são vetores de base num sistema cartesiano inercial de coordenadas em P , a derivada
covariante neste sistema de coordenadas é simplesmente igual à derivada ordinária. Além
disso, no referencial local de repouso, a quadrivelocidade da primeira partícula é somente
53
d2 ξ α̂
2
= Rα̂0̂0̂γ̂ ξ γ̂ , (5.7)
dτ
onde as componentes do tensor de curvatura no sistema cartesiano inercial em P são
escritas como
Rα̂β̂γ̂ δ̂ ≡ Rµσνρ (êα )µ (êβ )σ (êγ )ν (êδ )ρ . (5.8)
Conseguimos reduzir bastante a equação do desvio geodésico para a forma (5.7), mas
ela ainda está na forma quadridimensional, pois o vetor de separação ξ~ normalmente terá
alguma componente temporal no referencial do observador [7, 8]. Já que a equação (5.7)
é válida para qualquer vetor de conexão entre as geodésicas, podemos trabalhar com um
novo vetor ζ~ cuja componente na direção de ê0 é sempre nula, ou seja, ζ 0̂ (τ ) = 0 ∀τ .
Graças às simetrias do tensor de Riemman, para o novo vetor de separação, a equação do
desvio geodésico puramente espacial pode ser escrita:
d2 ζ î
2
= Rî 0̂0̂ĵ ζ ĵ , (5.9)
dτ
com î, ĵ = 1, 2, 3.
Uma interpretação alternativa da equação (5.9) é que ela nos fornece a força por
unidade de massa necessária para manter duas partículas se movendo ao longo de curvas
paralelas; esta força deve ser suprida por algum meio mecânico. Por exemplo, a linha de
mundo do centro de massa de um corpo rígido em queda livre é uma geodésica tipo-tempo,
mas isso não é verdade para as outras partes do objeto. As partículas que compõem o
corpo rígido são obrigadas a se moverem ao longo de curvas paralelas ao centro de massa
e não ao longo de geodésicas vizinhas. Porém, se o corpo em questão não for rígido, cada
partícula irá seguir uma geodésica tipo-tempo tais como as tratadas na seção (4.1.3), e,
como consequência, o objeto se deformará. A esse efeito, damos o nome de "forças" de
maré - entre aspas, porque o conceito de força gravitacional foi abandonado neste trabalho
para dar lugar às consequências da geometria curva do espaço-tempo.
54
Para termos uma ideia da magnitude do efeito da maré de um buraco negro na métrica
de RN, nosso primeiro passo é escolher a base êα . Defina então [7]
1 1
(ê0 )µ = ∆− 2 δ0µ (ê1 )µ = ∆ 2 δ1µ
(5.10)
(ê2 )µ = r−1 δ2µ (ê3 )µ = (r sin θ)−1 δ3µ
onde ∆ é dado pela equação (3.2). Sejam as componentes do vetor de separação ortogonal
ζ~ denotadas por:
ζ î = (ζ 1̂ , ζ 2̂ , ζ 3̂ ) = (ζ r̂ , ζ θ̂ , ζ φ̂ ) . (5.11)
Então (5.9), no sistema de referências acima, com auxílio das expressões das componentes
do tensor de Riemann (7.2), se transforma nas equações
d2 ζ r̂ 2M r − 3Q2 r̂
= ζ (5.12)
dτ 2 r4
d2 ζ θ̂ (M r − Q2 ) θ̂
= − ζ (5.13)
dτ 2 r4
d2 ζ φ̂ (M r − Q2 ) φ̂
= − ζ (5.14)
dτ 2 r4
𝑟 = 𝑟∗∗
𝑟 = 𝑟∗
𝑟=0
Singularidade
Figura 14: Os raios de maré r∗ e r∗∗ estão representados nas linhas pretas pontilhadas. As setas verdes
indicam compressão e as vermelhas indicam esticamento do corpo. Antes de r∗∗ , o corpo sofre o mesmo
fenômeno que ocorre na métrica de Schwarzschild, conhecido como espaguetificação - há compressão nas
direções angulares e esticamento na direção radial. Durante r∗ < r < r∗∗ , o corpo é comprimido em
todas as direções. Por fim, após a passagem por r∗ , o corpo continua a ser comprimido na direção radial,
mas a "maré angular" troca de comportamento, passando a esticá-lo nas direções θ e φ. Como resultado,
o corpo fica achatado em formato de uma panqueca; em homenagem ao fenômeno de Schwarzschild,
podemos chamar essa troca de comportamento da maré de "panquequificação". Note também que, de
acordo com o visto na seção (4.1.3), se as partículas do corpo seguem uma geodésica tipo-tempo, então
nunca alcançarão a singularidade em r = 0; eventualmente, cada partícula será lançada para fora do
horizonte de eventos r+ .
Q2
definindo uma variável auxiliar κ = M2
, deveremos estudar
r± 1 √
= 1± 1−κ (5.16)
r∗ κ
para sabermos informações sobre a posição de r∗ . É fácil ver pela equação (5.16) que
r± = r∗ para κ = 1, ou, para |Q| = M , que é o caso extremo. Porém, se estivermos
no caso fisicamente relevante, M > |Q|, chegamos à conclusão que r∗ está sempre entre
os dois horizontes. Usando a mesma lógica para localizar a posição de r∗∗ , chegamos à
equação
r± 2 √
= 1± 1−κ . (5.17)
r∗∗ 3κ
Quando avaliamos para r− = r∗∗ , vemos que (5.17) não tem solução, e, além disso,
56
r∗∗ > r− para todo M > |Q|. Já quando avaliamos (5.17) para r+ = r∗∗ , chegamos à
p
solução κ = 8/9, ou, |Q| = 8/9 M ≈ 0.9428 M . Portanto, os raios de maré r∗ e r∗∗
possuem algumas posições, de acordo com os valores relativos de M e Q:
p
• Caso (1): 0 < |Q| < 8/9 M : r− < r∗ < r∗∗ < r+ ;
p
• Caso (2): |Q| = 8/9 M : r− < r∗ < r∗∗ = r+ ;
p
• Caso (3): M > |Q| > 8/9 M : r− < r∗ < r+ < r∗∗ ;
Todos os casos podem ser resumidos no gráfico da figura 15. Como é pouco provável
encontrar um objeto astrofísico com a carga elétrica muito relevante quanto a massa, o
caso (1) é o mais provável. Portanto, os raios de maré normalmente se encontram dentro
dos horizontes. Sendo assim, para observadores externos, não é possível diferenciar um
buraco negro carregado de um neutro apenas observando os efeitos de maré sobre um
corpo extenso em queda livre.
r+
r
r*
r* *
>
Q=0 Q = 8/9 M Q= M
Figura 15: Os raios de maré r∗ e r∗∗ comparados aos horizontes de eventos r± . O gráfico plota Q versus
p A curva azul é r+ , a laranja é r− , a verde é r∗ e a vermelha é r∗∗ . A reta vertical
a expressão dos raios.
escura marca Q = 8/9 M . Os eixos estão em unidades de M .
6 Conclusões
onde
2M Q2
∆ = ∆(r) ≡ 1 − + 2 . (6.2)
r r
com
N
X Mk
H(~x) = 1 + , (6.4)
k=1
||~x − ~xk ||
cuja interpretação está na existência de um espaço-tempo contendo N buracos negros
extremos em equilíbrio nas posições ~xk , k = 1, 2, ... (as "forças gravitacionais" cancelam
perfeitamente as "forças eletrostáticas" [10]).
No caso M > |Q|, o mais explorado desta monografia, mostramos que o espaço-tempo
apresenta duas singularidades, em r = r± , que podem ser removidas via mudança de
coordenada; esses raios marcam os dois horizontes encontrados na solução. Escolhemos
58
onde ∆ é dado por (6.2). Na forma (6.5), está claro que a única singularidade essencial
do espaço-tempo de RN se encontra na origem.
Tanto no caso extremo quanto no caso M > |Q|, encontramos um horizonte de eventos
se comportando de forma semelhante ao horizonte de eventos de Schwarzschild: para
um observador em queda livre em direção à origem, mede-se um tempo próprio finito,
enquanto para observadores distantes, mede-se um tempo de coordenada infinito. Nesse
sentido, os observadores distantes veem o observador em queda se movendo cada vez mais
"lento", e aumentando seu redshift. Porém, diferente do buraco negro de Schwarzschild,
o observador em queda não necessariamente é obrigado a diminuir seu raio até chegar à
origem; na verdade, mostramos, via equação (6.5), que o destino fatídico pode ser revertido
assim que o observador em queda atravessa o segundo horizonte, r = r− , além do fato de
que a origem é repulsiva - das geodésicas, apenas as nulas conseguem alcançá-la. Sendo
assim, eventualmente o observador terá que sair do buraco negro.
Por fim, esperamos, em projetos futuros, utilizarmos das técnicas desenvolvidas neste
trabalho para o estudo de buracos mudos (análogos gravitacionais em matéria conden-
sada), desde o reconhecimento do análogo do horizonte de eventos à mudanças de coor-
denadas tipo Eddington-Finkelstein para remoção de singularidades, além de desenvolvi-
mento de novas habilidades em teoria quântica de campos.
60
Referências
[1] Joshi, S. Pankaj, The story of collapsing stars - black holes, naked singularities, and
the cosmic play of quantum gravity (Oxford University Press, 2015).
[2] L. Ryder, Introduction to General Relativity (Cambridge University Press, New York,
2009).
[3] S. Weinberg, Gravitation and Cosmology - Principles and Applications of the General
Theory of Relativity (Wiley, 1972).
[4] The EHT Collaboration et al., First M87 Event Horizon Telescope Results. I. The
Shadow of the Supermassive Black Hole., ApJL, 875, Pp. 1. (2019).
[5] H. Reissner, Über die Eigengravitation des elektrischen Feldesnach der Einsteinschen
Theorie, Annalen der Physik. 50, 106 - 120 (1916).
[6] G. Nordström, On the Energy of the Gravitational Field in Einstein’s Theory,
Verhandl. Koninkl. Ned. Akad. Wetenschap., Afdel. Natuurk. 26, 1201 - 1208 (1918).
[7] R. D’Inverno, Introducing Einstein’s Relativity (Oxford University Press, 1992).
[8] M. P. Hobson, G. P. Efstathiou, A. N. Lasenby, General Relativity - An Introduction
for Physicists (Cambridge University Press, 2005).
[9] B. Schutz, A First Course in General Relativity (Cambridge University Press, New
York, 2009).
[10] S. M. Carroll, Space Time and Geometry - An Introduction to General Relativity
(Pearson Education Limited, 2014).
[11] G. Mammadov, Reissner-Nordström metric (Disponível em <http://gmammado
.mysite.syr.edu/notes/rn_metric.pdf>, 2009).
[12] C. W. Misner, K. S. Thorne, J. A. Wheeler, Gravitation (Princeton University Press,
2017).
[13] J. Nordebo, The Reissner-Nordström metric (Disponível em <http://www.diva-
portal.org/smash/get/diva2:912393/FULLTEXT01.pdf>, 2016).
[14] A. L. Dávalos, D. Zanette, Fundamentals of Electromagnetism - Vacuum Electrody-
namics, Media and Relativity (Springer-Verlag Berlin Heidelberg, 1999).
[15] S. Chandrasekhar, The Mathematical Theory of Black Holes (Oxford University
Press, 1983).
[16] J. Foster, J. D. Nightingale, A Short Course in General Relativity (Springer, 2005).
[17] L. Neslusan, On the global electrostatic charge of stars, A&A 372, 913-915 (2001).
61
7 Apêndices
7.1 Notação
A derivada covariante é denotada pelo símbolo ponto e vírgula ";". Por exemplo, a
derivada covariante das componentes de um tensor (1,1),
~·B
A ~ = gµν Aµ B ν = Aµ Bµ .
62
M r−Q2 (M r−Q2 )Σ 2)
Γ001 = rΣ
Γ100 = r5
Γ111 = − (M r−Q
rΣ
Σ 2
Γ122 = −r Γ133 = − sin r θΣ Γ233 = − sin θ cos θ (7.1)
1 1 cos θ
Γ212 = r
Γ313 = r
Γ223 = sin θ
calculamos:
2) 2
2M r−3Q2
R0101 = r2 Σ
R0202 = − (M r−Q
r2
R0303 = − (M r−Q
r2
)
sin2 θ
(2M r−3Q2 )Σ 2) 2
R1010 = − r6
R1212 = − (M r−Q
r2
R1313 = − (M r−Q
r2
)
sin2 θ
(M r−Q2 )Σ 2) (7.2)
R2121 = − (Mrr−Q R2323 = sin2 θ 1 − rΣ2
R2020 = r6 2Σ
(M r−Q2 )Σ 2)
R3030 = r6
R3131 = − (Mrr−Q
2Σ R3232 = 1 − Σ
r2
∆Q2 Q 2
R00 = r4
R11 = − ∆r 4
Q2
(7.3)
R22 = r2
R33 = sin2 θR22
O escalar de Ricci se anula identicamente, já que o traço do tensor eletromagnético é nulo.
Note em particular que se Q = 0, Rµν = 0 ∀µ, ν, Porém, essa equação é exatamente a
Equação de Einstein para a derivação da métrica de Schwarzschild [3, 10].
63
T00 = 1
8π
H −6 ||∇H||2 T0i = 0 ∀i
(7.9)
Tii = 1
8π
H −2 [||∇H||2 − 2H,i ] 1
Tij = − 4π H −2 H,i H,j para i 6= j.
Sabendo que o traço T = 0, é direto verificar que as Equações de Einstein Rµν = 8πTµν são
automaticamente satisfeitas. Então, basta agora resolvermos as equações da divergência
para Fµν :
F µν;ν = 0 . (7.10)
mas,
F 0i,i = 2H −3 ||∇H||2 − H −2 ∇2 H
Γ0i0 F 0i = H −3 ||∇H||2 (7.12)
Γiji F 0j = −3H −3 ||∇H||2
portanto, a equação (7.11) se torna
− H −2 ∇2 H = 0 =⇒ ∇2 H = 0 . (7.13)
8 Anexos
Constante CGS UG
Constante Valor em UG