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Rio Grande
2019
MATHEUS SILVA COLMENERO DE OLIVEIRA
Rio Grande
2019
O trabalho de conclusão de curso de Matheus Silva Colmenero de Oliveira, sob o título
“Aplicação do Cálculo Fracionário em Mecânica Celeste”, apresentado ao Instituto
de Matemática, Estatística e Física da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), para
obtenção do título de bacharel em matemática aplicada, aprovado em 29 de novembro de
2019 pela comissão julgadora constituída pelos professores:
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1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
4 CALCULO FRACIONÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.1 As principais definições de derivadas fracionárias . . . . . . . . . . . 21
4.2 O Cálculo Fracionário de Riemann-Liouville . . . . . . . . . . . . . . 23
4.2.1 As integrais de Riemann-Liouville . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4.3 As derivadas de Riemann-Liouville . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.4 Regras de derivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4.5 Relações entre integrais e derivadas de Riemann-Liouville . . . . . . 29
6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
9
1 Introdução
luz, tornando-a extremamente difícil de detectar (e portanto, difícil de provar se ela existe
ou não).
Neste trabalho de conclusão de curso consideraremos a segunda possibilidade para
estudar o problema orbital. Em vez de supor a existência de um tipo diferente de matéria
(a matéria escura) para explicar uma queda mais lenta do que a prevista pela gravitação
newtoniana para a velocidade orbital de uma estrela, vamos partir da hipótese de que a
teoria de gravitação newtoniana precisa ser modificada. Um exemplo de teoria alternativa
para este problema é a chamada dinâmica newtoniana modificada (MOND). A MOND é
uma teoria que propõe uma modificação das leis da mecânica newtoniana, preservando a
gravitação, para explicar as propriedades observadas das galáxias. É uma alternativa à
teoria da matéria escura em termos de explicar por que as galáxias parecem não obedecer
às leis da física atualmente entendidas [1].
A teoria de gravitação que propomos neste trabalho baseia-se em uma recente
hipótese de que a dimensão do espaço-tempo é não inteira, nem constante [2]. Como na
escala do sistema solar a interação gravitacional é observada, com grande precisão, como
sendo inversamente proporcional ao quadrado da distância, precisaríamos de um mecanismo
para modificar a forma da força gravitacional com a distância. Em trabalhos recentes
foi proposto que se a dimensão do espaço-tempo for não inteira, resultando em equações
de campo com derivadas fracionárias, efeitos que são atribuídos a matéria e a energia
escuras poderiam ser descritos de forma unificada por uma dinâmica para a dimensão
do espaço-tempo [2]. Neste caso a dimensão seria uma variável dinâmica dependendo da
posição e do tempo [2].
Para uma primeira análise desta possibilidade de um espaço-tempo com dimensão
não inteira descrever a curva de rotação das galáxias sem a necessidade de introduzir a
matéria escura, propomos uma modificação na gravitação newtoniana para espaços com
dimensão não inteiras. Em um tal espaço com dimensão não inteira, como em um espaço
fractal, os operadores com derivadas inteiras não são bem definidos. Nesta situação as
equações de campo envolveriam derivadas fracionárias [2]. Neste contexto, definimos um
campo de gravitação à partir de um operador gradiente com derivadas fracionárias de
um potencial. Para investigar se com esta teoria a velocidade orbital de planetas/estrelas
caem com a distancia mais lentamente do que com a gravitação newtoniana, obtivemos a
velocidade orbital para o caso de um campo central e uma órbita circular. Nosso resultados
mostram que neste caso a velocidade orbital cai mais lentamente do que no caso da
Capítulo 1. Introdução 11
gravitação newtoniana. Este resultado motiva futuras pesquisas nesta teoria fracionária
como alternativa à hipótese de matéria escura.
Este trabalho está organizado da seguinte forma: no capítulo 2 apresentamos
brevemente o problema da curva de rotação das galáxias e as teorias da matéria escura e
MOND. No capítulo 3 mostramos como a mecânica newtoniana e a gravitação de Newton
explicam as leis de Kepler para o movimento orbital no sistema solar. O capítulo 4 é
dedicado ao estudo do cálculo fracionário. A teoria de gravitação fracionária que propomos
é desenvolvida no capítulo 5. Finalmente, no capítulo 6 apresentamos nossa conclusão e
perspectivas de trabalhos futuros.
12
demais para conseguir manter suas formas usando apenas a gravidade de suas estrelas.
Isso ficou conhecido como o problema de rotação de galáxias.
As estrelas giram em torno do centro de sua galáxia com velocidades aproximada-
mente constantes ou crescentes com a distância ao centro. Em contraste, as velocidades
orbitais dos planetas nos sistemas planetários, e das luas que orbitam os planetas, declinam
com a distância. Nos últimos casos, isso reflete as distribuições de massa dentro desses
sistemas. No entanto, supondo válidas as leis da mecânica newtoniana, as estimativas de
massa para galáxias baseadas na luz que elas emitem são muito baixas para explicar as
observações das velocidade orbitais de suas estrelas [1].
da luz, como estrelas e planetas. As observações mostram que há muito pouco material
visível no universo para compor os 27% de massa exigidos pelas observações astronômicas.
Matéria escura também não é formada por nuvens escuras da matéria normal, matéria
composta de partículas chamadas bárions. Sabemos disso porque seríamos capazes de
detectar nuvens bariônicas pela absorção de radiação luminosa que passa por elas. A
matéria escura também não é antimatéria, porque não vemos os raios gama que são
produzidos quando a antimatéria se aniquila com a matéria. Finalmente, podemos excluir
grandes buracos negros do tamanho de galáxias com base em quantas lentes gravitacionais
vemos. Altas concentrações de matéria dobram a luz que passa perto deles a partir de
objetos mais distantes, mas não vemos eventos de lentes gravitacionais suficientes para
sugerir que esses objetos constituam a necessária contribuição de 27% da matéria escura
[1, 3].
Ao contrário da matéria normal, a matéria escura não interage com a força eletro-
magnética. Isso significa que ele não absorve, reflete ou emite luz, tornando-a extremamente
difícil de detectar. De fato, os pesquisadores conseguiram inferir a existência de matéria
escura apenas pelo efeito gravitacional que parece ter sobre a matéria visível. Uma idéia é
que ela poderia conter partículas supersimétricas, que são partículas hipotéticas parceiras
Capítulo 2. A curva de rotação das galáxias: matéria escura e teorias alternativas 15
d2 →
−
r
2
= (r̈ − rθ̇2 )r̂ + (rθ̈ + 2ṙθ̇)θ̂
dt
d2 →
−
r →
−
e igualando m 2
à força gravitacional de Newton, F = − GM r2
m
r̂, encontramos
dt
d2 →
−
r GM
2
= (r̈ − rθ̇2 )r̂ + (rθ̈ + 2ṙθ̇)θ̂ = − 2 r̂.
dt r
Portanto
GM
r̈ − rθ̇2 = − , (3.1)
r2
rθ̈ + 2ṙθ̇ = 0. (3.2)
d 2 dL
mr2 θ̇ + m2rṙθ̇ = mr θ̇ = = 0, (3.3)
dt dt
portanto !2
L2 dr L2 d2 r L2 GM
−2 2 5 + 2 4 2
− 2 3
=− 2 .
mr dθ m r dθ mr r
Fazendo a mudança de coordenadas
!2
du
−1 dr d2 u dr d2 r
u=r , = −r−2 , 2 = 2r−3 − r−2 ,
dθ dθ dθ dθ dθ2
obtemos,
L2 d2 u L2 GM
− 2 2 2 − 2 3 =− 2 ,
m r dθ mr r
Capítulo 3. Orbita planetária na Mecânica Newtoniana 18
resultando em
d2 u GM m2
+ u = . (3.4)
dθ2 L2
A solução geral da equação (3.4) é dada por
1 GM m2
u= = + cos (θ − θ0 ),
r L2
de onde e θ0 são constantes a serem fixadas pela condição inicial do problema. Finalmente,
L2 1
r= . (3.5)
GM m 1 + cos (θ − θ0 )
2
Obtemos como resultado que todas as orbitas de planetas em torno de uma estrela,
ou de um corpo massivo qualquer, são dadas pela equação (3.5), de maneira que o valor de
nos dita como será o movimento. Usando a energia total do sistema, podemos classificar
os tipos de orbitas em função de . Para = 0 temos uma órbita circular pois r fica
constante. Para 0 < < 1 a órbita será elíptica com excentricidade . Quando = 1 e
> 1 as órbitas serão parabólicas e hiperbólicas, respectivamente. Portanto, à partir da
Mecânica e da gravitação newtonianas obtemos a primeira lei de Kepler.
A segunda de lei de Kepler nos diz que a velocidade areal é constante no tempo,
ou seja, o planeta varre áreas iguais A em tempos iguais (Veja a Figura 2). O fato da
velocidade areal ser constante está diretamente relacionado com a conservação de momento
angular L = mr2 θ̇ = cte. Sendo o diferencial da área A dado por:
1
dA = r2 dθ,
2
Capítulo 3. Orbita planetária na Mecânica Newtoniana 19
dA 1 L
= r2 θ̇ = = cte.
dt 2 2m
L
A(t) = t, (3.6)
2m
rmax + rmin L2 1 1 L2 1
a= = + = , (3.7)
2 2GM m 1 − 1 +
2 GM m 1 − 2
2
onde rmax e rmin são as distâncias máximas e mínimas do plante em relação ao Sol,
respectivamente. O período orbital T de um planeta é o tempo que ele leva para completar
uma órbita completa em relação ao Sol. Escolhendo t = T na (3.6) resulta em
2m 2m
T = A(T ) = πab,
L L
onde A(T ) = πab é a área da elipse que representa a órbita do planeta, e b é o semi-eixo
√
menor da elipse. Da geometria sabemos que b = a 1 − 2 , portanto, da equação anterior
obtemos
2m m√ 1 3 2π
T = A(T ) = 2πa2 1 − 2 = 2πa2 √ = a2 , (3.8)
L L GM a GM
T2
onde usamos a (3.7). Finalmente, da (3.8) obtemos a terceira lei de Kepler, pois a3
=
4π 2
G2 M 2
= cte.
v2 GM m
m = ,
r r2
4 Calculo Fracionário
definição do cálculo fracionário se deve a Euler e foi formulada em 1730. Euler generalizou
a fórmula
dn xm m!
n
= xm−n (4.1)
dx (m − n)!
para m e n inteiros com m > n, substituindo os m e n por números reais β e α, e os
fatoriais por funções Gamma:
d α xβ Γ(β + 1)
= xβ−α , (4.2)
dxα Γ(β − α + 1)
generaliza a função fatorial para números não inteiros (para z = m + 1 inteiro, temos
Γ(m + 1) = m!). Atualmente a definição mais utilizada em matemática pura é a formulação
de Riemann-Liouville [7]
dα y 1 dn Z x y(t)
α
= dt, (4.4)
dx Γ(n − α) dx a (x − t)α−n+1
n
dα y 1 Z x
1 dn y(t)
= dt. (4.5)
dxα Γ(n − α) a (x − t)α−n+1 dtn
onde o inteiro n é substituído pelo real n − α (0 < α < 1) resultando em uma integral
fracionária de ordem n − α (integração de n − α vezes da função), utilizada na definição
das derivadas de Riemann-Liouville e Caputo. Na próxima seção estudaremos com mais
detalhes o cálculo fracionário de Riemann-Liouville.
Capítulo 4. Calculo Fracionário 23
Teorema 4.2.1 (Formula de Cauchy) Seja f : [a, b] → R uma função integrável se-
gundo Riemann no intervalo [a, b]. Então, temos para a integral de ordem n (n ∈ N):
Z x Z x Z xn Z xn−1 Z x3 Z x2
f (x̃)(dx̃)n = ··· f (x1 )dx1 dx2 · · · dxn−1 dxn
a a a a a a
1 Zx f (u)
= du (n ∈ N), (4.7)
Γ(n) a (x − u)1−n
A prova da fórmula de Cauchy pode ser encontrada em diversos livros textos (por
exemplo, em [7]). A continuação analítica da (4.7) nos dá um definição para a integral de
ordem não inteira (historicamente chamada de ordem fracionária). Essa integral de ordem
fracionária é a pedra fundamental do cálculo fracionário de Riemann-Liouville, assim como
de diversas outras formulações [7]. As integrais fracionárias obtidas a partir da (4.7) são
chamadas de integrais à direita e à esquerda de Riemann-Liouville:
α 1 Zx f (u)
a Jx f (x) = du (α ∈ R+ ) (4.8)
Γ(α) a (x − u)1−α
e
α 1 Zb f (u)
x Jb f (x) = du (α ∈ R+ ), (4.9)
Γ(α) x (u − x)1−α
com a < b e a, b ∈ R, são chamados de integrais fracionárias à esquerda e à direita de
Riemann-Liouville de ordem α ∈ R+ , respectivamente.
Prova (veja [9]): Vamos apresentar a prova para as derivadas à direita (para as derivadas
à esquerda segue uma prova similar). Da definição (4.8) temos
α β 1 Z x Z t
a Jx a Jx f (x) = (x − t)α−1 (t − u)β−1 f (u)dudt. (4.11)
Γ(α)Γ(β) a a
Como as integrais existem para f ∈ L1 [a, b], usando o Teorema de Fubini podemos trocar
a ordem de integração
α β 1 Z xZ x
a Jx a Jx f (x) = (x − t)α−1 (t − u)β−1 f (u)dtdu
Γ(α)Γ(β) a u
(4.12)
1 Z x Z x
= f (u) (x − t)α−1 (t − u)β−1 dtdu.
Γ(α)Γ(β) a u
α β 1 dn β−α+n
Z 1
a Dx (x − a) = (x − a) sβ (1 − s)n−α−1 ds
Γ(n − α) dxn 0
(4.19)
Γ(β + 1) dn
= (x − a)β−α+n ,
Γ(n − α + β + 1) dxn
R1 β
onde identificamos 0s (1 − s)n−α−1 ds = B(n − α, β + 1) com a função Beta de Euler.
Temos duas possibilidades para a derivada (4.19). A primeira, quando α − β ∈ N, o lado
direito da (4.19) se reduz à um polinômio de grau inteiro n − (α − β) ∈ {0, 1, 2, ..., n − 1}
e, portanto, a derivada é nula. Na segunda, quando α − β ∈
/ N a derivada é não nula:
0 se α − β ∈ N
α β
a Dx (x − a) = Γ(β + 1) (α ∈ R+ , β > −1), (4.20)
(x − a)β−α se α − β ∈
/N
Γ(β − α + 1)
α (x − a)−α α (b − x)−α
a Dx 1 = , x Db 1 = . (4.22)
Γ(1 − α) Γ(1 − α)
bem conhecida Lei dos Expoentes para as derivadas e integrais de ordem inteira m, n ∈ N+ ,
m n
a Jx a Jx f (x) = a Jxna Jxm f (x) = a Jxm+n f (x),
(4.23)
Dxm Dxn f (x) = Dxn Dxm f (x) = Dxm+n f (x),
sendo Dxn e a Jxm as derivadas e integrais usuais de ordem inteira. Enquanto a primeira
relação em (4.23) é estendida para as integrais fracionárias de Riemann-Liouville (4.8) e
(4.9) (veja a (4.15)), para as derivadas de Riemann-Liouville (4.16) e (4.17) podemos ter
situações como:
α β
a Dx a Dx f (x) = a Dxβ a Dxα f (x) 6= a Dxα+β f (x),
(4.24)
α β β α α+β
a Dx a Dx f (x) 6= a Dx a Dx f (x) = a Dx f (x).
Em outras palavras, a Lei dos Expoentes não é satisfeita pelas derivadas fracionárias
de Riemann-Liouville (4.16) e (4.17), que consequentemente não formam um semigrupo.
Vamos ilustrar as situações expostas em (4.24) com dois exemplos.
Exemplo 1 No caso da primeira relação em (4.24), vamos tomar f (x) = (x − a)−1/2 com
α = β = 1/2. Então, usando (4.20) obtemos a Dx1/2 f (x) = 0, e portanto a Dx1/2 a Dx1/2 f (x) =
0, mas a Dx1/2+1/2 f (x) = Dx1 f (x) = −(x − a)−3/2 /2.
Exemplo 2 No caso da segunda relação em (4.24), vamos tomar f (x) = (x − a)1/2 com
√
α = 1/2 e β = 3/2. Então, usando (4.20) obtemos a Dx1/2 f (x) = π/2 e a Dx3/2 f (x) = 0.
Portanto, temos a Dx1/2 a Dx3/2 f (x) = 0, mas a Dx3/2 a Dx1/2 f (x) = a Dx1/2+3/2 f (x) = Dx2 f (x) =
−(x − a)−3/2 /4.
Em (4.24) consideramos apenas derivadas à esquerda, mas os mesmos resultados podem ser
automaticamente estendidos para derivadas à direta. No que segue o restante do capítulo,
utilizaremos apenas derivadas e integrais à esquerda.
Vamos investigar agora a generalização de algumas regras clássicas do cálculo usual
envolvendo mais de uma função na mesma derivada. Essas generalizações são importantes
para simplificar o cálculo de derivadas fracionárias de funções mais complexas.
Teorema 4.4.1 Sejam f e g duas funções definidas em [a, b] tal que a Dxα f (x) e a Dxα g(x)
existam. Sejam ainda c1 , c2 ∈ R duas constantes quaisquer. Então, a Dxα (c1 f (x) + c2 g(x))
existe, e
α
a Dx (c1 f (x) + c2 g(x)) = c1a Dxα f (x) + c2a Dxα g(x). (4.25)
Capítulo 4. Calculo Fracionário 28
Prova: A prova segue diretamente da definição (4.16) pois derivadas e integrais usuais são
operadores lineares .
Outra regra importante do cálculo é a chamada Regra do Produto, ou Regra
de Leibniz. A regra para derivada primeira do produto de duas funções f (x) e g(x),
Dx1 (f (x)g(x)) = (Dx1 f (x)) g(x) + f (x) (Dx1 g(x)), pode facilmente ser estendida para deri-
vada de ordem inteira m ∈ N+ qualquer:
k=0 k k=n k
A prova do Teorema é mais elaborada e pode ser encontrada, por exemplo, em [7, 9]. É
importante notar que diferente da Regra de Leibniz para derivadas inteiras (4.26), para
derivadas fracionárias (4.27) a derivada do produto só é aplicável à funções analíticas.
Finalmente, terminamos esta seção com a Regra da Cadeia. Para derivadas de
Riemann-Liouville essa regra é importante para ilustrar o quão complicado pode ser calcular
derivadas fracionárias de funções simples. Na prática, o resultado que vamos enunciar sem
prova é de pouca, ou mesmo nenhuma, utilidade prática devido a sua complexidade. A
falta de uma regra simples para a derivada de funções compostas é a maior dificuldade para
o uso do Cálculo Fracionário em aplicações. A Regra da Cadeia para derivadas inteiras de
ordem m já é de pouca utilidade quando m é grande. Essa regra é dada pela fórmula de
Faà di Bruno
P
onde a segunda soma estende-se sobre todas as combinações de inteiros positivos
P1 , P2 , ..., Pm tais que
m
X m
X
lPl = m e Pl = k. (4.29)
l=1 l=1
α
a Dx f (x) = Dxma Jxm−α f (x). (4.32)
onde Dxm−na Jxm−n = 1 já que Dxm−n e a Jxm−n são derivadas e integrais usuais de ordem
inteira, e usamos a definição (4.16) .
Além de mostrar que as definições (4.16) e (4.17) não são únicas, o Lema acima
permite provar que a derivada fracionária de Riemann-Liouville (4.16) é a operação inversa
à integral de Riemann-Liouville (4.8):
Capítulo 4. Calculo Fracionário 30
α α
a Dx a Jx f (x) = f (x). (4.34)
α α
a Dx a Jx f (x) = Dxma Jxm−α a Jxα f (x) = Dxm a Jxm f (x) = f (x) . (4.35)
Teorema 4.5.3 Seja α ∈ R+ e n = [α] + 1. Consideremos ainda que a Jxn−α f (x) exista.
Então,
n−1
α α (x − a)α−k−1
lim Dn−k−1a Jxn−α f (x).
X
a Jx a Dx f (x) = f (x) − (4.37)
Γ(α − k) z→a+ x
k=0
A prova do Teorema (4.5.3) pode ser encontrada em diversos livros textos, por exemplo,
veja [9].
31
Por exemplo, na gravitação newtoniana o fluxo total através de uma superfície S esférica
de raio r é
Z
→
− → − Z Z
GM 2
Fluxo = F · d A = F dA = r dΩ = 4πGM, (5.1)
S S S r2
→
− GM
onde F = r2
r̂ é o campo de gravitação newtoniano, dA = r2 dΩ é o elemento de área
da superfície esférica S, e dΩ é o elemento de ângulo sólido. Vamos supor agora que para
distâncias de centenas a milhares de anos-luz o módulo do campo de gravidade não é mais
inversamente proporcional ao quadrado da distância, mas sim dado por:
Gα M
Fα = , (5.2)
r2α
[L]1+2α
onde 0 < α ≤ 1 e a constate de gravitação Gα tem dimensão [M ][T ]2
, sendo [L], [M ] e [T ]
as unidades de comprimento, massa e tempo, respectivamente. Neste caso, para o fluxo
total do campo ser independente da distância deveríamos ter um espaço com dimensão
não inteira, de forma que o elemento de área seja dado por dA = r2α dΩ. Neste caso:
Z
→
− →
− Z Z
Gα M 2α
Fluxo = F α · d A = Fα dA = r dΩ = 4πGα M. (5.3)
S S S r 2α
Em um tal espaço com dimensão não inteira, como em um espaço fractal, os operadores com
derivadas inteiras não são bem definidos. Nesta situação as equações de campo envolveriam
derivadas fracionárias [2]. Neste contexto podemos definir o campo de gravitação à partir
de um operador gradiente com derivadas fracionárias de um potencial φα como
!
→
− Γ(1 − 2α) Gα M Gα M
F α = ∇α φα = −0 Drα r̂ = − r̂, (5.4)
Γ(1 − α) rα r2α
Γ(1 − 2α) Gα M
φα = − .
Γ(1 − α) rα
a gravitação. Vamos ainda considerar apenas órbitas circulares. Neste caso, o módulo da
força centrípeta é igual ao módulo da força de gravitação fracionária (5.2), ou seja,
v2 Gα M m
m = ,
r r2α
6 Conclusão
Referências
[3] https://science.nasa.gov/astrophysics/focus-areas/what-is-dark-energy
[6] H. Goldstein, C. Poole and J. Safko, Classical mechanics, 3 ed., San Francisco :
Addison Wesley, (2002).
[7] K. B. Oldham and J. Spanier, The Fractional Calculus, Academic Press, New York
(1974).