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Oralidade de Português

Introdução: Hoje vou apresentar um livro de título (nós matamos o cão tinhoso) de Luís
Bernardo Honwana. Este livro publicado em 1964 é constituído por 7 contos e é considerado
uma obra fundacional da literatura moçambicana moderna. Os contos incluídos no livro são
“Nós Matámos o Cão-Tinhoso”, “Dina”, “Papa, Cobra, Eu”, “As Mãos dos Pretos”,
"Inventário de Imóveis e Jacentes”, "A Velhota" e "Nhinguitimo".
Biografia de Honwana:
Nasceu na cidade de Lourenço Marques em Moçambique em 1942 e tem atualmente 80
anos. Aos 17 anos foi para a capital estudar jornalismo. Em 1964 tornou-se militante da
Frente da Libertação Moçambicana que tinha como propósito conseguir a independência de
Portugal. Em 1970 foi estudar Direito na Universidade de Lisboa e desde aí que se foi
integrando em vários partidos e organizações. Em 1991, fundou e foi o primeiro Presidente
do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa. Em 1992 entrou para secretário da UNESCO e
foi nomeado Diretor com base na África do Sul.
Daí adiante este tem se mantido não muito exposto, mas, no entanto, ainda não perdeu o
nome nestes grandes e importantes títulos que lhe foram concebidos.
Contextualização histórico-literária: Quando Honwana tinha vinte e dois anos este foi preso
pela policia política. Foi durante esse tempo passado na prisão que escreveu o seu único
livro, o que está a ser estudado com o objetivo de demonstrar o racismo do poder colonial
português que era representado na época. O livro chegou a exercer muita influência
bastante importante na geração pós-colonial de escritores moçambicanos. Muitos destes
contos escritos na época foram narrados maioritariamente por crianças que mostravam o
como era a situação na época. O universo social e cultural moçambicano durante a época
colonial e o que é mais representado ao longo do livro apresenta questões sociais de
exploração e de segregação social, a distinção de classe e de educação. Cada conto
representa uma personagem diferente e uma diferente posição social.

Género Literário: o livro em estudo constituído por 7 contos é caracterizado como ficção
aquando o género literário.
Outras obras de Luís Bernardo:
Como referido anteriormente Luís Bernardo apenas é conhecido pela sua única obra
publicada, neste caso a em estudo, mas, no entanto, com uma profunda pesquisa este
também escreveu e participou em mais duas
A primeira tem de título A velha casa de madeira e zinco publicada em 2017 e a segunda
tem de título Ricardo Rangel: insubmisso e generoso que se baseia em 18 fotos de Ricardo
Rangel e algumas dedicações ao mesmo.

Resumo de dois dos 7 contos que constituem o livro:


Apesar de estar contextualizado com os 7 contos e a que cada um se refere decidi apenas
resumir e explicar em que é que estes dois se baseiam. Todos os contos tentam mostrar a
cultura e a sociedade, as questões de racismo ou de situações parecidas, mas cada conto
passa-se uma história diferente com personagens diferentes, mas sempre com o objetivo de
marcar e passar a ideia.

O primeiro conto que mais me chamou a atenção e o mais extenso tem de subtítulo «nós
matamos o cão tinhoso «que é narrado através dos olhos de um menino moçambicano
negro chamado Ginho. A história desenvolve-se á volta de um cão vadio que está doente,
abandonado e a morrer. Estava muito doente e por isso causava nojo e desconforto nas
pessoas, apesar de não ter ânimo nem para correr atrás das galinhas: “As galinhas nem
fugiam, porque ele não se metia com elas” (p.11) Ginho é objeto de bullying e de
segregação racial por parte dos seus colegas principalmente no futebol. Este começa a
sentir pena do cão e desenvolve um sentimento de empatia em relação a ele.

Um dia Ginho e o seu grupo de rapazes são persuadidos e chantageados pelo Doutor de
Veterinária para estes matarem o cão. O doutor mostra que isto era como se fosse um jogo
de caça e apesar da forte ligação que Ginho tinha com o cão este acabara por ser
pressionado para matá-lo de modo a ser aceite pelos colegas. Ginho apesar de tudo e tentar
convencer os amigos que era incorreto e depois de várias discussões entre estes, a história
acaba com Ginho a confessar com remorso a responsabilidade que sente apesar de este ter
sido forçado e terem-lhe persuadido apenas para este se integrar e ser aceite.
Significados de algumas nomeações:
O cão tinhoso: representa o sistema colonial decadente, em via de ser destruído, e o
prelúdio de uma nova sociedade purificada, sem discriminação de qualquer tipo. O cão
tinhoso serve de figura para o regime colonial apodrecido, nojento; mas também traz a
imagem do negro africano visto da mesma forma, e que por incomodar demais precisa ser
morto.

Os olhos azuis: como uma cor ambígua podendo ser simbólica do negro colonial dominado
ou a assimilação de um negro
O homicídio do cão: este homicídio pode ser visto como um processo de aprendizagem para
a personagem que encontra afetividade. a descrição da morte faz pensar no quanto o ser
humano pode ser cruel e despropositado em suas ações.
O segundo conto tem se subtítulo as «mãos dos pretos» narrado em primeira pessoa onde
um aluno que ouve do professor que as mãos dos pretos eram mais claras que o resto do
corpo porque ainda há poucos séculos os avós deles andavam com elas apoiadas ao chão,
passando a citar, como bichos do mato onde estas não viam o sol e apenas o resto do corpo
é que ia escurecendo. No mesmo dia ouve da Dona Dolores, mulher negra já idealizada com
tudo o que diziam dos negros que quando o aluno a questionou de as mãos serem claras
este respondeu que assim Deus as tinha feito para não sujar as mãos da comida dos patrões
ou outras tarefas que devessem ficar limpas. (o tremendo disparate que era passado como
ideia na época em relação a estes era sempre com base na segregação e no racismo e
mesmo na escravidão).
Ainda nesse mesmo dia também que lhe foi explicada uma de várias hipóteses que corria no
ar na época que se baseava na ordem de Deus há muitos anos atrás decidiram fazer pretos,
sendo o processo assim: «Pegaram em barro, enfiaram em moldes usados de cozer o barro
das criaturas, levaram-nas para os fornos celestes; como tinham
pressa e não houvesse lugar nenhum ao pé do brasido, penduraram-nas nas chaminés. «
A explicação para as mãos destes ficarem claras e que se agarravam enquanto o barro cozia.
Ouvida esta história todos desataram a rir

Até que o menino insistiu perguntar á mãe até esta lhe responder com sinceridade dizendo
que Deus fez os assim porque o tinha que ser assim. Até que se arrependeu porque os
outros homens (os brancos etc.) os levavam para casa para serem escravizados ou algo
assim. E concluindo a explicação lógica para não se fazer entender mal perante o filho foi
que tinham as palmas das mãos claras porque Deus assim fez iguais ás mãos dos homens
que davam graças para não serem pretos.
Era esta estupefacta ideologia que foi transmitida e ia-se transmitindo de família em família
que estes eram assim por estas razões que hoje em dia são meros disparates.

Apreciação Critica:
"Nos matamos o Cão Tinhoso" é um conto que questiona a situação de discriminação racial
e de tudo o resto que lhe está inerente, concluindo-se, assim, que este livro tem claras
componentes político-ideológicas. Todavia, desenha com nitidez, uma problemática ética
que, indo tocar as questões do bem e do mal, concentra, em si mesma, essas propostas. Do
lado do mal, tem-se a opressão, a violência e a injustiça, que pode ser entendida, pelo
sacrifício do cão, metáfora de um povo, ou ainda, o sistema colonial, decrépito e
envelhecido, sem força para enfrentar uma força determinada em abate-lo para reerguer
um Moçambique livre. Do lado do Bem assume-se um crime que não quis, mas ajudou a
cometer. Tem consciência da dimensão do seu erro. Sofre e confessa-se ao leitor.
Esta obra embala o leitor e consegue envolver qualquer um até ao fim.

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