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Revista Interdisciplinar do Pensamento Científico.

ISSN: 2446-6778
Nº X, volume X, artigo nº X, ---/--- 2017
D.O.I: http://dx.doi.org/10.20951/2446-6778/vXnXaX

VARIAÇÃO DE TEMPERATURA E RETRAÇÃO EM AÇOS: UM


ESTUDO COMPARATIVO

Larissa Bernardo de Carvalho1

Graduanda em Engenharia Civil

Luan de Souza Cândido2

Graduando em Engenharia Civil

Matheus Amaral Rocha 3

Engenheiro Civil especialista em Segurança do Trabalho

Resumo: As estruturas de concreto são sujeitas a esforços de variação de temperatura e


retração que, quando não previstas no seu dimensionamento, podem causar graves
patologias. O presente artigo tem como objetivo fazer um estudo comparativo de quantitativo
de aço entre uma estrutura de concreto armado considerando a variação de temperatura e
retração e a mesma estrutura considerando os esforços citados separadamente e a estrutura
sem considerar estes esforços. A análise foi feita dos quatro casos gerados a partir da mesma
estrutura e foram realizadas com a ajuda do software Eberick. Estas estruturas tem as
mesmas dimensões de vigas e pilares e as mesmas espessuras de lajes. Após analisar o
resultado do quantitativo de aço referente às estruturas, pode-se concluir que a estrutura que
foi levado em conta somente a retração, obteve um número de aço majorado se comparado
à estrutura considerada exclusivamente variação de temperatura.

Palavras-chave: Variação de temperatura, retração, aço e concreto.

Abstract: Concrete structures are subjected to temperature variation and retraction efforts
which, when not provided for in their design, can cause serious pathologies. The present
article aims to make a comparative quantitative study of steel between a reinforced concrete
structure considering the variation of temperature and retraction and the same structure
considering the efforts cited separately and the structure without considering these efforts.
The analysis was made of the four cases generated from the same structure that were

1 Centro Universitário Redentor, Engenharia Civil, Itaperuna-RJ, laricarvalho01@hotmail.com


2 Centro Universitário Redentor, Engenharia Civil, Itaperuna-RJ, luan.s.c@hotmail.com
3 Universidade Federal Fluminense Engenharia Civil, Niteroi-Rj, mathrocha@hotmail.com

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performed with the help of Eberick software. These structures have the same dimensions of
beams and pillars and the same thicknesses of slabs. After analyzing the result of the steel
quantitative related to the structures, it can be concluded that the structure that was taken
into account only the retraction, obtained an increased steel number when compared to the
structure considered exclusively temperature variation.
Keywords: Variation of temperature, retraction steel and concrete.

INTRODUÇÃO

As estruturas sofrem efeitos de variação de temperatura e retração por toda a sua vida
útil, sendo incumbida à esta a responsabilidade de resistir a todas estas ações de forma eficaz.
Ao sofrer essas ações a estrutura está sujeita a deformações (MONTEIRO, 2008).

O autor citado acima ainda aponta que ao dimensionar uma estrutura de concreto
armado deve ser previsto de antemão meios para combater esses esforços para que não
ocorra inúmeras patologias que poderão ocasionar problemas no desempenho da estrutura.

A medida preventiva comumente utilizada para que a estrutura responda de forma


satisfatória a essas alterações causadas pelas ações de retração e variação de temperatura
é a adoção de juntas de dilatação, que é colocada a cada 15 m (MILLER, 2016).

Ainda conforme o autor acima, quando usada essa junta de dilatação, não é usual
considerar a variação de temperatura e retração nos cálculos, visto que se entende que
somente ela já basta para conter os efeitos causados por esses esforços.

A junta de dilatação, segundo a NBR 6118 (2014), é uma interrupção do concreto com
a intenção de diminuir as tensões internas que possam atrapalhar qualquer movimento da
estrutura. Ou seja, as juntas de dilatação são separações com o intuito de que a estrutura se
movimente separadamente sem que ocasione esforços.

A NBR 6118 na versão de 1980, permitia desconsiderar os efeitos de variação de


temperatura e retração quando se utilizava junta de dilatação a cada 30 m (BASTOS, 2006).

Entretanto, a NBR 6118 (2014) no item 24.4 especifica que deve ser usado a junta de
dilação unicamente quando for utilizado concreto simples.

Em casos onde não há a pretensão de projetar a junta de dilatação devem ser


considerados os efeitos de variação de temperatura e retração no projeto estrutural (BASTOS,
2006).

Este artigo tem o objetivo de fazer uma análise de comparação de quantitativo de aço
e concreto entre uma estrutura de concreto armado considerando a variação de temperatura

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e retração, a mesma estrutura considerando separadamente os efeitos já citados e a estrutura
sem quaisquer considerações destes esforços.

Deve-se ressaltar que a estrutura que foi utilizada para estudo de comparação do caso
tem como base o município de Itaperuna-RJ, referenciando-se assim à variação de
temperatura e o estudo do solo para este município.

2 Variação de temperatura e retração

Para calcular as variações de volume e de comprimento de uma peça, de acordo com


Bastos (2006), é preciso conhecer o seu coeficiente de dilatação térmica (αte). Este
coeficiente determina a deformação referente à variação de temperatura de 1° C.

Para o concreto armado a NBR 6118 (2014) diz que pode ser admitido o coeficiente
de dilatação térmica igual a 10−5° C.

A retração é o nome dado à ocorrência do aumento gradativo da deformação de um


elemento de concreto em consequência a sua exposição a um ambiente com umidade relativa
menor à saturação da pasta de cimento hidratado, também é devido às reações químicas
relacionadas às características do material. Alguns exemplos destas características são os
componentes da mistura, o grau de hidratação e a microestrutura do concreto (SOUZA, 2014).

Soares (2015) define a retração como sendo redução de volume provocada pela perda
de umidade de um elemento de concreto em qualquer estado, fresco ou endurecido.

A retração, segundo Bastos (2006), é uma particularidade comum e natural do


concreto. As deformações provocadas por ela são independentes do estado de tensões
aplicadas ao concreto, ou seja, estas deformações começam antes mesmo do concreto ser
submetido a ações ou carregamentos.

O autor citado acima ainda aponta que, devido a sua complexidade, a retração é
dividida em três partes: capilar, química e por carbonatação, e serão explicadas a seguir.

Retração capilar: é a evaporação da água que não foi utilizada na reação química de
hidratação do concreto, sendo ela a principal causa da redução de volume.

Retração química: é a minoração do volume causado pela reação de hidratação do


cimento.

Retração por carbonatação: é a diminuição do volume do concreto causado pela


reação dos componentes secundários com o gás carbônico.

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Inúmeros fatores provocam a ampliação dos efeitos da retração na estrutura. Souza
(2014) aponta alguns deles sendo a elevação do fator água e cimento, intensificação da
temperatura ambiente e aumento da superfície de contato entre a estrutura de concreto e o
ambiente extrínseco.

Por outro lado, o autor anteriormente citado também diz que o aumento da resistência
característica a compressão (𝑓𝑐𝑘 ), elevação do tamanho do agregado e a majoração do
modulo de elasticidade do concreto ajudam a diminuir os efeitos de deformação causados
pela retração.

A retração e variação de temperatura causam diversos efeitos indesejáveis à estrutura.


Alguns destes efeitos são: majoração das flechas nas lajes e vigas, fissuração, inserção de
esforços não desejáveis em estruturas aporticadas, etc (ARAÚJO, 2002).

Araújo (2002) descreve que para o concreto chegar a um resultado de resistência a


tração suficiente a ponto de evitar as fissuras preliminares é preciso que ocorra a cura
distendida. As armaduras também ajudam a evitar o aparecimento de fissuras na superfície
da peça de concreto.

A figura 01 apresenta uma estrutura de concreto com fissuração.

Figura 01 – Fissuração em laje de concreto armado


Fonte: Sindiconet, online
3 MATERIAIS E MÉTODOS

Seguindo as diretrizes da NBR 6118 (2014), foram utilizados os seguintes critérios


para o dimensionamento da estrutura:

 Classe de agressividade ambiental (CAA)

Levando em consideração que a edificação é localizada na área urbana, num terreno


situado no município de Itaperuna, utilizou-se a classe de agressividade II, que é caracterizada
como moderada.

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 Resistência característica do concreto e do aço

A resistência característica a compressão do concreto (𝑓𝑐𝑘 ) é de 30 MPa e a resistência


característica do aço (𝑓𝑦𝑘 ) de CA-50 é de 500 Mpa e CA-60 é de 600 Mpa.

 Coeficiente de minoração do concreto e do aço

Utilizou-se o coeficiente de segurança do concreto (γ𝑐 ) de 1,4 e o do aço (γ𝑠 ) de 1,15.

O software empregado com a finalidade de auxiliar no dimensionamento da estrutura


foi o Eberick 2018 Next. Essa é a única versão do programa, até o momento, que permite que
seja adicionado em suas configurações a variação de temperatura e retração.

Como já mencionado acima, o local escolhido para servir de base para o


dimensionamento da estrutura foi o município de Itaperuna.

Segundo o Climatempo (online) a variação de temperatura referente a esse município


é de 12°C. Essa medida climatológica foi obtida através de observações no período recorrente
de 30 anos. Sabe-se que era necessário informações de fonte mais confiáveis para obtenção
desta variação de temperatura, entretanto, não foi encontrado em nenhuma outra fonte tais
dados, nem mesmo houve a manifestação do município de Itaperuna sobre os mesmos.

A ação de retração é calculada automaticamente pelo programa.

A estrutura utilizada para fazer o estudo dos casos é composta por 10 (dez)
pavimentos, sendo ele dividido em térreo, 02 (duas) garagens, pavimento de uso comum
(PUC) e 06 (seis) tipos. Este tipo é subdividido em 04 (quatro) apartamentos.
A área total construída da edificação é de 8093,97m².
É importante ressaltar que nos 04 (quatro) casos foram utilizados a mesma estrutura.
A figura 02 apresenta a estrutura de concreto armado usada na elaboração do estudo
de quantitativo de aço e concreto.

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Figura 02 – Estrutura de concreto armado
Fonte: Arquivo
Os resultados apresentados no item abaixo serão resultantes do estudo da estrutura
considerando 04 (quatro) casos:

01 – Sem variação de temperatura e retração;

02 – Variação de temperatura e retração;

03 – Somente variação de temperatura;

04 – Unicamente a retração.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o lançamento e processamento de todos os elementos no software Eberick 2018


Next, foi gerado uma tabela com a quantidade de aço em quilograma (kg) de todos os
elementos utilizados na elaboração das estruturas.

As tabelas 01 e 02 são referentes a esses quantitativo.

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Tabela 01 – Quantitativo de aço nas estruturas.

Casos de Massa total


estudo + 10% (kg)
Sem variação
de temperatura 234427,3
e retração
Com variação
de temperatura 364358,8
e retração
Variação de
248552,5
temperatura

Retração 353244,5

Fonte: Arquivo
O gráfico a seguir apresenta os acréscimos em procentagem de aço das estruturas
comparadas com a estrutura sem consideração de variação de temperatura e retração.

Massa Total de aço +10% (kg)


400000
350000
300000 55,43%
50,68%
&
250000
200000 6,03% &
150000
&
100000
50000
0
Sem variação de Com variação de Variação de Retração
temperatura e temperatura e temperatura
retração retração

Gráfico 01 – Porcentagem de quantitativo de aço


Fonte: Arquivo

Como pode-se observar na tabela e gráfico apresentados acima, houve uma grande
variação no quantitativo de aço.

Como o tema abordado nesse artigo é muito pouco explorado no mundo da


engenharia, não é possível compreender completamente o porquê de a consideração dos
esforços de variação de temperatura, que causa a dilatação térmica, e retração ocasionarem
tamanhas alterações na estrutura.

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O mercado de trabalho da engenharia civil carece de estudos relacionados a esse
assunto, visto que, se for obedecer a todas as especificação da NBR 6118 de 2014, o correto
seria utilizar somente os esforços já citados como meio de diminuir as tensões internas nas
estruturas de concreto armado.

4 Conclusões

Neste trabalho foi realizado um estudo de comparação de quantitativo de aço referente


a uma estrutura de concreto armado considerando 04 (quatro) casos diferentes como citados
no item anterior.

Os resultados obtidos através desse comparativo foi que a estrutura com a


consideração de variação de temperatura e retração obteve efeitos majorados sobre o
quantitativo do aço em relação à estrutura que não foi considerado nenhum desses esforços,
havendo um acréscimo de 55,43%.

O responsável por essa grande variação de quantitativo de aço é o efeito de retração,


que obteve aumento de 50,68%, visto que seu montante de aço supera em larga escala os
valores do aço da estrutura considerando somente a variação de temperatura, que apresentou
uma elevação de 6,03%.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de concreto –


Procedimento. NBR 6118. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.

ARAÚJO, J.M. Estruturas de Concreto- Modelo de previsão de fluência e retração do


concreto. Rio Grande do Sul, 2002.

BASTOS, P. S. S. Fundamentos do concreto armado. Bauru, 2006.

CLIMATEMPO. Variação de temperatura mensal em Itaperuna/RJ. Disponível em:


<https://www.climatempo.com.br/climatologia/302/itaperuna-rj>. Acesso em 10 maio de 2018.

MILLER, C.P. Concreto armado. Apostila da Disciplina de concreto armado I. Centro


Universitário Redentor: Itaperuna-RJ, 2016.

MONTEIRO, Q. A. B. Avaliação da necessidade de junta de dilatação em estruturas


porticadas de betão armado. Tese (Mestrado em Engenharia Civil). Faculdade de
Engenharia Universidade do Porto – FEUP, 105p. 2008.

SINDICONET. Fissuração no concreto. Disponível em:


<https://www.sindiconet.com.br/informese/trincas-em-paredes-pilares-e-lajes-manutencao-
checkup-e-inspecao-predial>. Acesso em 11 de maio de 2018.

SOARES, R. V. Estudos dos esforços oriundos de retração e variação de temperatura


em estruturas de concreto armado. Pontifícia Universidade Católica – PUC. São Paulo.
2015.

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SOUZA, M. L. M. Estudo da fluência e retração na análise de um tabuleiro em vigas
múltiplas de uma ponte rodoviária. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em
Engenharia Civil). Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ, 67p. 2014.

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