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Resumo
Em situação de incêndio, as estruturas de concreto devem assegurar a capacidade de suporte para permitir a
fuga dos usuários e as ações de combate ao fogo em segurança e, minimizar a propagação do sinistro para
os compartimentos vizinhos. Normas específicas para projeto de estruturas de concreto em incêndio são
comuns nos países desenvolvidos. Em dezembro de 2004, foi publicada a NBR 15200 – “Projeto de
estruturas de concreto em situação de incêndio”, a qual fornece o método tabular e permite o uso de métodos
simplificados de dimensionamento para elementos de concreto, cujas dimensões são inferiores àquelas
recomendadas pelo método tabular. Neste trabalho são apresentadas particularidades do comportamento
estrutural de elementos de concreto armado sujeitos a flexão simples, as quais podem ser consideradas em
projeto. Adicionalmente, são apresentados os princípios de cálculo do método analítico norte-americano
adaptado às diretrizes nas normas brasileiras para avaliar a resistência ao fogo de vigas e lajes de concreto.
Palavras-Chave: concreto armado; incêndio; segurança; dimensionamento.
Abstract
Concrete structures must ensure the load bearing capacity to allow the evacuation of the users and the fire
fighting actions in safety, and to reduce the fire spreading to the neighbouring compartments. Standards for the
fire design of the concrete structures are usual in the developed countries. On December, 2004 the Brazilian
standard NBR 15200 – “Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio” (“Design of concrete
structures in fire condition”) was published, giving the tabular method and allowing the use of simplified methods
in the fire design of concrete members; nevertheless, there are neither specification nor detailing of any
simplified methods. This paper presents some aspects of the behaviour of concrete members under simple
flexure load which can play an positive rule in the fire design. In addition, the principles of the calculation of the
simplified method to assess the fire resistance of slabs and beams, proposed by PCI – Portland Cement
Association (U.S.A.), are presented as an alternative method to evaluate the fire resistance of slabs and beams.
Keywords: reinforced concrete; fire design; fire safety; calculation methods.
1
As origens do método tabular da NBR 15200:2004 são encontradas em COSTA & SILVA (2005a), COSTA
& SILVA (2005b) e COSTA et al. (2005b).
fck
fcd,θ = κ c,θ ⋅ (2.2)
γc
onde: fcd,θ = resistência de cálculo do concreto à compressão à temperatura elevada θ
(°C) [MPa];
γc = coeficiente de minoração da resistência característica do concreto à
compressão em situação excepcional [adimensional], inferior ao normalmente utilizado à
temperatura ambiente.
Tabela 2.1: Fatores de redução para a resistência κc,θ (concreto) e κs,θ (aço), e para o módulo de
elasticidade κcE,θ (concreto) e κsE,θ (aço) (NBR 15200:2004).
Concreto Aço
temperatura κs,θ κsE,θ
agregado silicoso agregado calcáreo
θ (°C) tração compressão
CA 50 CA 60
κc,θ κcE,θ κc,θ κcE,θ CA 50 CA 60 CA 50 e CA 60
20 1 1 1 1 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
100 1 1 1 1 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
200 0,95 0,90 0,97 0,94 1,00 1,00 0,89 0,90 0,87
300 0,85 0,72 0,91 0,83 1,00 1,00 0,78 0,80 0,72
400 0,75 0,56 0,85 0,72 1,00 0,94 0,67 0,70 0,56
500 0,6 0,36 0,74 0,55 0,78 0,67 0,56 0,60 0,40
600 0,45 0,20 0,6 0,36 0,47 0,40 0,33 0,31 0,24
700 0,3 0,09 0,43 0,18 0,23 0,12 0,10 0,13 0,08
800 0,15 0,02 0,27 0,07 0,11 0,11 0,08 0,09 0,06
900 0,08 0,01 0,15 0,02 0,06 0,08 0,06 0,07 0,05
1000 0,04 0,00 0,06 0,00 0,04 0,05 0,04 0,04 0,03
1100 0,01 0,00 0,02 0,00 0,02 0,03 0,02 0,02 0,02
1200 0 0 0 0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
f yk (2.5)
f yd,θ = κ s,θ ⋅ f yd = = κ s,θ ⋅ f yk
γs
onde: fyd,θ = resistência de cálculo do aço em situação de incêndio, à temperatura elevada
θ (°C) [MPa];
fyd = resistência de cálculo do aço à temperatura ambiente [MPa];
γs = coeficiente de minoração da resistência característica do aço em situação
excepcional [adimensional], inferior ao normalmente utilizado à temperatura ambiente2.
2
A NBR 8681:2003 recomenda adotar γs = 1,0 na verificação da capacidade resistente em situações
excepcionais.
3
Em inglês, a forca de reação de compressão e denominada “thrust”; a tradução livre do inglês para o
português e “empurrão”.
Tabela 3.1: Classificação da construção, quanto à restrição a dilatação térmica (ASTM Designation E119-83
apud GUSTAFERRO (2000) e CMIFC (1985)).
Estrutura Características do elemento estrutural Classificação
Vão único isostático de múltiplos compartimentos: irrestrito
Lajes de concreto, unidades pré-moldadas ou com forma de aço
Pilar-parede
incorporada.
Vão intermediário de múltiplos compartimentos: restrito
Sistemas de lajes de concreto moldadas in loco;
Concreto pré-moldado onde a dilatação térmica é resistida pelas
construções adjacentes.
Vigas firmemente fixadas aos elementos do arranjo estrutural (pórtico, por restrito
exemplo).
Arranjo estrutural de
Todos os tipos de lajes de piso ou cobertura, moldadas in loco (tais como lajes restrito
concreto (pórtico)
sobre vigas, lajes lisas e lajes nervuradas), onde o sistema de lajes é moldado
com os elementos do arranjo estrutural.
Interior e exterior de vãos de sistemas pré-moldado com fixação moldada in restrito
loco resultando em uma restrição equivalente àquela conseguida em vigas
moldadas in loco firmemente fixadas aos demais elementos do arranjo
estrutural.
Todos os tipos de lajes de piso pré-fabricadas e de cobertura, aonde a restrito
dilatação térmica é restrita pelo sistema estrutural de piso único ou cobertura.
4
Pórtico 2-D ou 3-D.
5
Underwriters Laboratories Inc. Disponível em: http://www.ul.com/ [acesso em 16.11.2005].
pd θc,sup
x20 °C MR-
Md_,fi = Mplastificação
x1
diagrama resultante de momentos (soma
dos efeitos do carregamento e da ação
térmica)
Md+,fi = Mplastificação pontos de inflexão em situação de incêndio Md+,fi = Mplastificação
Figura 3.3: Efeito do calor sobre o diagrama de momento fletor de uma viga contínua de dois vãos com
carregamento distribuído uniforme “p” sem o efeito da restrição a dilatação térmica.
Durante o incêndio, a armadura negativa se mantém fria, longe da face exposta ao calor,
enquanto a armadura positiva é aquecida e perde resistência com o aumento de
temperatura; por isso, a armadura negativa pode absorver a parcela de momento
adicional devido à redistribuição.
Geralmente, a redistribuição de momentos que ocorre durante o incêndio é suficiente para
escoar o aço da armadura negativa e reduzir o momento positivo solicitante.
O diagrama final dos momentos redistribuídos depende da quantidade relativa de
armaduras positivas e negativas existentes e da intensidade da ação térmica na
resistência à flexão dos momentos nos apoios e vãos (BUCHANAN (2001)).
Algumas precauções devem ser tomadas, para que a redistribuição de momentos se
6
Supplement to the National Building Code of Canada (Associate Committee on the National Building Code
1990).
7
Para lajes, b = 1 m = 100 cm.
8
Para lajes, b = 1 m = 100 cm.
9
Para o diagrama de tensões simplificado (retangular) do concreto, pode-se assumir que a profundidade da
zona comprimida af = 0,8.xfi, onde xfi é a profundidade da linha neutra “x” em situação de incêndio.
concreto aco
coeficiente κc,θ coeficiente κs,θ
resistências fck,θ e fcd,θ resistências fyk,θ e fyd,θ
características geométricas:
As, d, b
ou
aumentar “b” e “c1”
NÃO
lajes e vigas ou
redistribuição de momentos MRd,fi ≥ Md,fi
hiperestáticas
lajes isostáticas ou
efeitos da restrição térmica
e hiperestáticas
Ok!
onde: T = força de reação de compressão dos apoios sobre a seção da laje [kN];
10
Embora o módulo de elasticidade secante do concreto (Ecs) seja apropriado para análises elásticas nos
estados limites de serviço, o item “8.2.8 Módulo de elasticidade” da NBR 6118:2003 permite usá-lo, na
avaliação do comportamento de elemento estrutural isolado, como módulo de elasticidade único, à tração e
à compressão.
e = z 0 − ∆ m áx (4.7)
onde: z0 = distância entre a linha de ação da forca “T” e o centro geométrico da seção
transversal da laje indeformada (Figura 4.3) [m];
∆máx = maior flecha do vão considerado (Figura 4.3).
configuração inicial
configuração deformada
0,4.xfi
0,8.xfi Fc,fi
centro geométrico da laje
z0 ∆máx e = z0 - ∆máx
T
yT T
Fs,fi
Figura 4.3: Diagrama do corpo livre para uma laje de concreto armado isostática com restrição a dilatação
térmica.
Os valores da Tabela 4.1 provém de ensaios de Tabela 4.1: Altura da linha de ação da força “T”
lajes maciças de concreto moldado in loco, em relação à base de lajes de concreto
moldadas in loco (CRSI (1980) apud LIM
conduzidos por ISSEN et al. (1970) e LIN et al. (2003)).
(1983) apud LIM (2003), considerando o menor
grau de restrição. tempo (h) yT (mm)
2 25
3 32
4 38
O ACI 216R (1989) permite considerar o efeito positivo da restrição a dilatação térmica
apenas para lajes de concreto.
armado
armado
T
∆l T ∆l
A c ⋅ Ec
l A c ⋅ Ec l
protendido
protendido
∆l
l
(nomograma - Figura 4.3)
∆ℓ
Ok!
Figura 4.5: Fluxograma de cálculo dos efeitos da restrição térmica no projeto de lajes isostáticas.
A eq. (4.9) é utilizada para calcular o momento positivo resistente, pertencente a uma
seção “x1” qualquer da estrutura, a ser considerado na redistribuição.
p ⋅ l ⋅ x1 p d ⋅ x1 x
2 (4.9)
Mx = d − − MRd _,fi ⋅ 1 = MRd+,fi
1 2 2 l
onde: Mx1 = valor de cálculo do momento atuante em situação de incêndio na seção x1
qualquer da viga [kN.m];
x1 = distância entre a seção do valor de cálculo do momento resistente positivo e o
apoio de extremidade da viga [m].
Para vigas contínuas quaisquer, com carregamento uniforme distribuído, “x1” é a distância
entre o apoio de extremidade e o momento positivo máximo da viga (Figura 3.3). Quando
as vigas contínuas são simétricas, o cálculo da distância “x1” é simplificado (eq. 4.10).
⎧ l MRd _,fi (4.10)
⎪ − → vigas contínuas assimétricas
⎪2 p⋅l
x1 = ⎨
⎪ 2 ⋅ MRd+,fi
⎪⎩ → vigas contínuas simétricas
l
5 Combinação de ações
No dimensionamento, duas combinações de ações podem ser usadas: e a combinação
de ações excepcionais para o projeto em situação de incêndio conforme as NBR
8681:2003 e a estimativa simplificada da NBR 15200:2004, tendo por base a combinação
de ações normais (Tabela 5.1).
Na equação completa, o fator de redução para combinação excepcional das ações ψ0j =
ψ02, para a situação de incêndio é 70% do valor usado para quaisquer outras situações
excepcionais (Tabela 5.2).
6 Análise térmica
O campo de temperaturas utilizado é função do tempo de aquecimento e está associado
às dimensões do elemento estrutural. O aquecimento considerado deve basear-se na
curva-padrão ISO 834 (1975) usada como referencia pela NBR 14432:2000 para
determinar os níveis de exigência ao fogo dos elementos construtivos em função da
ocupação do edifico.
O campo de temperaturas pode ser obtido por perfis de temperatura fornecidos pela
literatura técnica (ACI 216R (1989), HARMATHY (1993), EN 1992-1-2:2004) ou, por
programas de computador apropriados, por exemplo, o Super-TempCalc® – Temperature
Calculation and Design (FSD (2002)), para análise térmica bidimensional de transferência
de calor de elementos em concreto, aço e misto concreto-aço.
7 Conclusões
Os esforços adicionais induzidos pela ação térmica às estruturas hiperestáticas adicionais
podem trazer benefícios aumentando a resistência ao fogo das estruturas sujeitas a flexão
simples. Nas estruturas de concreto moldadas in loco, o monolitismo podem conferir uma
rigidez adicional suficiente para restringir a deformação térmica em estruturas isostáticas,
provendo um aumento de resistência.
Os efeitos benéficos da restrição à dilatação podem otimizar o projeto de lajes e vigas de
concreto em situação de incêndio, conduzindo a um dimensionamento econômico.
Entretanto, a segurança do dimensionamento depende da à rigidez das ligações dos
elementos e das ancoragens das armaduras, os quais devem ser preestabelecidos no
projeto a temperatura ambiente.
A norma NBR 15200:2004 permite o emprego de métodos simplificados para
dimensionamento. Com base na literatura norte-americana, um método simplificado
incluindo exemplos de aplicação, foi apresentado.
8 Agradecimentos
Ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à CAPES –
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo apoio dado a esta
pesquisa; à School of Mechanical, Aerospace and Civil Engineering of The University of
Manchester Institute of Science and Technology, Manchester – U.K., pela disponibilidade
de equipamentos necessários e biblioteca para edição deste texto.
9 Referências
ALMAND, K. H.; LIE, T. T.; LIN, T. D. Fire resistance of building elements. In: LIE, T. T.
Structural fire protection. New York: ASCE, 1992.
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (ACI Committee 216). Guide for determining the