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Vida útil das estruturas de concreto

Disponivel em
http://www.altoqi.com.br/suporte/Eberickgold/Eberick.htm#Textos_explicativos/Vida_util_das_estruturas_de_concreto.htm
Publicado em 2003.
André Matte Sagave; M.Eng.
Silvia Santos; Dra.

Artigo

De acordo com Silva (2001) os termos vida útil e durabilidade estão tão próximos que, por
vezes, são utilizados de maneira equivocada. A durabilidade é uma qualidade da estrutura e a
vida útil é a quantificação desta qualidade.

A qualidade de uma obra recém concluída, ou mesmo ao longo de sua vida útil, está
diretamente ligada à qualidade do projeto. Entenda-se por projeto, o conjunto de todos os
projetos que formam uma obra: arquitetônico, estrutural, hidro-sanitário, elétrico, telefônico
entre outros tantos. A falta de compatibilidade entre alguns deles pode levar à redução de vida
útil de uma estrutura.

Para Siemes et. al.(1998), com relação à durabilidade, a atual forma de projetar estruturas é
até razoável, porém qualitativa. Os critérios de desempenho não são estabelecidos de forma
adequada e a vida útil das estruturas não é expressa de forma quantitativa. Uma vida útil
satisfatória poderá ser atingida com a utilização de um cobrimento mínimo adequado,
limitação da relação a/c máxima e da abertura de fissuras, entre outros, porém sem o
estabelecimento de um valor numérico de referência para quantificar esta vida útil. Outrossim,
dependendo do ambiente em que a obra está inserida, esta abordagem poderá ser inadequada
ou extremamente rigorosa.

Diante deste contexto é possível notar um aprimoramento das normas voltadas às estruturas
de concreto (DIN 1045:1988; BS 8110:1997; ACI 318/318R:1996 e NBR 6118:2003).
Percebe-se uma valorização das etapas de projeto e execução, determinando responsabilidades
com uma manutenção preventiva prevista em projeto e estabelecendo que os diferentes
elementos de uma construção podem ter a vida útil e manutenção preventiva diferenciadas.

Conceitos e Critérios

A associação dos conceitos de vida útil e durabilidade é, muitas vezes, inevitável. De acordo
com Souza e Ripper (1998), uma vez conhecidas as características de deterioração do
concreto e da estrutura, a durabilidade será o parâmetro que relaciona a aplicação destas
características a uma determinada obra. Dependendo da agressividade do ambiente esta obra
irá se comportar de maneiras diferentes. Este comportamento definirá a sua vida útil. Ou seja,
um mesmo concreto apresentará desempenho (vida útil) diferente se exposto a um ambiente
marítimo ou rural, por exemplo.

Segundo Andrade (1992) a vida útil das estruturas é o período "durante o qual a estrutura
conserva todas as características mínimas de funcionalidade, resistência e aspectos externos
exigíveis".
Segundo o CEB, em seu boletim BI 213/214 (1993), os requisitos básicos de projeto versus
durabilidade são os que uma estrutura de concreto será projetada, construída e utilizada de
forma que, mesmo sobre influência das condições ambientais, mantenha condições de
segurança, utilização e aparência aceitável durante um período de tempo implícito ou
explícito, sem exigir altos custos de manutenção e/ou reparos. Salienta ainda que a vida útil
das estruturas está prevista para um período de 50 anos. Entretanto, estruturas especiais
podem ser projetadas para um período de 100 anos ou mais e, ainda, outras estruturas podem
requerer um tempo de vida útil mais curto, menores que 25 anos.

O texto da nova NBR 6118:2003 estabelece que, por vida útil de projeto, “entende-se o
período de tempo durante o qual se mantêm as características das estruturas de concreto,
desde que atendidos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo
construtor”. O novo texto não apresenta nenhum modelo de previsão de vida útil, tão pouco
define um período mínimo (numérico), como apresentado no boletim BI 213/214 (1993) do
CEB. Todavia, é claro com relação aos requisitos e exigências relativos à durabilidade das
estruturas. É dada ênfase para a previsão da manutenção das estruturas, já na fase de projeto e
ao controle tecnológico do concreto (NBR 12655:1996) preparado em obra e/ou produzido
em centrais dosadoras. Preconiza ainda que deve ser estudado e produzido para a obra um
manual no qual devem constar os requisitos de utilização e manutenção preventiva que
garantam a vida útil prevista para a estrutura.

Modelos de previsão de vida útil

A vida útil das estruturas está intimamente ligada à manifestações patológicas que estas
venham a apresentar. O surgimento de patologias em estruturas de concreto tem sua origem
em falhas que ocorrem durante as fases de realização de uma construção: concepção, projeto,
execução e utilização.

Diversos autores têm se preocupado com o levantamento das causas dos problemas
patológicos em estruturas de concreto, tentando buscar aquelas responsáveis pelo maior
número de ocorrências. Todavia, as causas podem ser tantas que as conclusões nem sempre
são concordantes, especialmente porque as pesquisas ocorrem em realidades diferentes, o que
significa técnicas de concepção e construção diferentes, além de distintos ambientes de
exposição das estruturas. Além disso, os resultados das avaliações ainda podem ser
influenciados pelos critérios de avaliação do observador. O quadro 1 apresenta uma análise
percentual de problemas patológicos que influenciam na redução de vida útil das estruturas,
realizada por diversos autores (SOUZA e RIPPER, 1998).
Quadro 1: Análise percentual das causas de problemas patológicos em estruturas de concreto (SOUZA E
RIPPER, 1998)

Diante deste panorama, diversos modelos de previsão de vida útil (curva de desempenho
versus tempo) vêm sendo estudados, especialmente nas últimas décadas, uma vez que a
durabilidade passou a ser tratada com mais ênfase por projetistas e construtores de estruturas
de concreto.

A maioria dos trabalhos voltados a este assunto é direcionada para modelos matemáticos de
previsão da vida útil das estruturas por meio do estudo da corrosão das armaduras, uma vez
que este fenômeno apresenta um grande índice de ocorrência patológica nas estruturas de
concreto e, a degradação por ele causada, pode reduzir significativamente o desempenho das
mesmas (HELENE, 1993; ANDRADE, 1997).

Kraker (1982), citado por Silva (2001), apresenta um dos primeiros trabalhos sobre a
aplicação de métodos probabilísticos na previsão da vida útil de estruturas, com uma
explanação filosófica da utilização da análise da confiabilidade para este fim. Considera a
influência do meio, as propriedades da estrutura (material e geometria), os estados limites e os
critérios de segurança.

Tuutti (1980) propõe um modelo simplificado de previsão de vida útil das estruturas
relacionado com o ataque por corrosão das armaduras (figura 1). O autor chama de iniciação
o tempo decorrido até a despassivação da armadura que corresponde à vida útil de projeto. A
propagação compreende o acúmulo progressivo da deterioração, até que se alcance um nível
inaceitável da mesma. A partir deste ponto a manutenção torna-se obrigatória. A soma destes
tempos (iniciação e propagação) corresponde à vida útil da estrutura.
Figura 1 : Esquema do processo de corrosão do aço no concreto (TUUTTI, 1980)

Ainda com base no fenômeno da corrosão das armaduras, Helene (1994) citado por Andrade
(2001) apresenta um diagrama mais detalhado com relação à vida útil (figura 2). Neste caso, a
vida útil de projeto coincide com o período de iniciação, já definido anteriormente. A vida útil
de serviço corresponde o período de tempo até o surgimento das primeiras manifestações de
degradação que nas estruturas de concreto podem ser fissuras, destacamentos ou até perda de
resistência. A vida útil residual é definida como o período de tempo durante o qual a estrutura
ainda atenderá às suas funções e é determinada após uma vistoria e/ou uma intervenção a
qualquer momento de utilização da estrutura. Segundo o autor são definidas três vidas úteis
residuais: “uma mais curta contada até a despassivação da armadura, outra até o aparecimento
de manchas, fissuras ou destacamento do concreto e outra longa contada até a perda
significativa da capacidade resistente do componente estrutural ou seu eventual colapso”.
Figura 2: Vida útil baseada no fenômeno da corrosão das armaduras em estruturas de concreto
(HELENE, 1994), citado por Andrade (2001).

Há ainda outros modelos de previsão de vida útil das estruturas, voltados especificamente
para a etapa de iniciação do processo corrosivo ou para a etapa de propagação. Entre eles
pode-se citar o Modelo de Yamamoto (1995), Modelo de Mejlbro (1996) para a etapa de
iniciação e os modelos de Liu (1996) e Andrade et al.(1989) para a etapa de propagação.
Basicamente, todos os modelos consideram as condições ambientais, as características do
concreto e de projeto em suas formulações.

Considerações Finais

É consenso no meio técnico que melhorando as características do concreto é possível se obter


estruturas mais duráveis, quando submetidas a uma determinada condição de exposição
(agressividade do ambiente).

A fim de avaliar como a alteração das características do concreto e da obra


influenciam no processo de previsão da vida útil das estruturas, muitos modelos matemáticos
foram desenvolvidos e estão disponíveis na literatura. Cada um apresenta características
próprias de aplicação, diferindo com relação à lógica empregada no seu desenvolvimento e a
maior ou menor facilidade de aplicação do mesmo.

Diante de um determinado modelo, o projetista de estruturas, alterando as variáveis


pertinentes (fck, relação água/cimento, cobrimento da armadura, agressividade do ambiente,
entre outros), terá condições de dimensionar efetivamente a mesma considerando os
parâmetros de durabilidade requeridos para otimizar a vida útil.

O novo texto na NBR 6118:2007, apesar de não deixar explícito uma metodologia para a
previsão da vida útil e um valor numérico para a mesma, deixa bastante claro a importância
do quesito durabilidade na elaboração de um projeto, no que se refere a execução e a
manutenção de estruturas de concreto.

Cabe ao projetista de estruturas, aos construtores e aos usuários lançar mão de todos esses
artifícios a fim de minimizar os custos decorrentes de manutenção, uma vez que se sabe que
os gastos relativos à manutenção preventiva são consideravelmente inferiores se comparados
aqueles relativos à manutenção corretiva.

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