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COMO ESCREVER SÉRIES – ROTEIROS A PARTIR DOS

MAIORES SUCESSOS DA TV – Sônia Rodrigues, Ed. ALEPH.


As séries de TV dramáticas alcançaram na última década um novo patamar de
prestígio e uma importância até então inédita na trajetória da televisão. Com o
nível de qualidade de roteiro e de produção altíssimo, os seriados de TV são
hoje, em termos de narrativa, o que o romance foi para o século 19 e o cinema,
para o século 20. A partir de exemplos de mais de 60 séries de sucesso, entre
elas Breaking Bad, Família Soprano, Homeland, House of Cards e Scandal,
Sonia Rodrigues explora os alicerces do que é um bom roteiro, demonstrando
através de engenharia reversa os detalhes de sua construção. Com uma
linguagem clara e extensa pesquisa, Como Escrever Séries fornece aos leitores
ferramentas para entender os elementos estruturais da escrita de roteiros e
ensina sobre as especificidades do formato. É um livro tanto para profissionais
da área quanto para fãs de séries em geral, que, além de poder conhecer mais
sobre como seus programas favoritos são feitos, poderão identificar os
paralelos traçados entre todos eles, enriquecendo sua experiência de
telespectador.

Fichamento

Segundo Aristóteles a construção de um personagem segue critérios de possibilidade,


verossimilhança e necessidade. Essa definição facilita muito a escrita. O personagem faz
(e fala) o que faz porque pode, porque é crível e por necessidade da trama.

Um personagem bem construído está preso a obstáculos pré-definidos.

Um bom obstáculo costuma ter relação com a maior qualidade ou a maior fraqueza do
protagonista.

Objetivo está sempre ligado ao talento. Já o problema ou o obstáculo está relacionado ao


desejo e ao amor.

PERSONA é a máscara social do indivíduo, para Jung. INFLAÇÃO seria a possessão do


indivíduo pelos arquétipos que podem destruí-lo, e a SOMBRA seria o duplo negativo de
todas as pulsões associais, incompatíveis com a sociedade ou com o ego idealizado.

A conclusão de uma narrativa é, conceitualmente, um novo equilíbrio.

Série dramáticas são:


 Antalogias de histórias.
 Apresentam arco sem fim dos personagens.
 São necessariamente narrativas longas, narrativas que continuam numa próxima numa
próxima temporada.
 Precisam de processo colaborativo de escrita e os roteiros não estão sujeitos às
oscilações da audiência no decorrer da temporada.
 São entregues por temporada para produção.
 Podem ser séries com narrativa se esgotando num episódio ou séries com narrativas
que se estendem.
 Costumam se dividir em séries de especialistas ou séries de personagens.
Beats são cenas em que as ações e falas dos personagens puxam a narrativa para frente,
mudam o rumo dos acontecimentos. Dependem do desejo, da fraqueza, da atitude do
personagem. Pode representar mudança de atitude, mas sempre representará emoção.
Todas as cenas tem emoção em final de episódio ou em final de ato porque isso é a
essência do drama. Ação ou fala que demonstra emoção é diferente de gancho porque a
emoção não traz, necessariamente, suspense.

Cenas de respiração são cenas que afrouxam a tensão, mostram como a vida é bela ou
boba ou prosaica, antes de um beat que leve tudo para o confronto, as lágrimas, o tiro.

Em drama, a cena de reiteração costuma marcar características das quais as personagens


não conseguem se livrar e podem imprimir horror e compaixão ao contexto. Em outros
momentos, a cena de reiteração imprime humor ao drama.

Um ato dramático não se faz só com beats. Precisamos de cenas de reiteração e cenas de
respiração.

Arco é a historyline desenvolvida através dos episódios. Estamos aqui falando da história A
numa trama seriada.

Bíblia é a descrição do projeto com a storyline, mundo inconfundível, estratégias,


narrativas pensadas, perfil dos personagens principais, sinopses dos episódios da primeira
temporada.
Na bíblia da série poderão estar definidas estratégias narrativas ou pelo menos indicadas.
Isso significa dizer como a trama será contada: de forma linear, intercaladas, com
sequências que se encaixam.

Escrita de um roteiro brilhante é resultado de imaginação criativa e formato muito bem


determinado. Não existe especulação nem improviso. Existe trabalho duro em cima do que
foi definido no início da criação.

O que é escrever uma narrativa de ficção televisiva?


É selecionar e combinar elementos da realidade para que o espectador possa se
identificar, de alguma forma, com a trama. Essa identificação do que é conhecido abre
caminho para uma surpresa com o que é desconhecido e inesperado que produz o efeito
desejado, no caso de séries dramáticas, pelo roteirista.

Narrativa Linear
A linearidade em séries policiais, de espionagem, é compreensível. Já existe um suspense
permanente, um quebra-cabeça de fatos, uma lista de caminhos possíveis para desvendar
o mistério principal e os secundários. Além disso o roteirista ainda vai querer adicionar
dificuldades à compreensão da trama? Não devemos, no entanto, confundir linearidade
com passo a passo. Qualquer narrativa de ficção pressupõe cortar movimentos
desnecessários que se tornam tediosos porque, entre outras coisas, podem ser
pressupostos pelo espectador. A narrativa linear apenas coloca os acontecimentos mais
importantes na ordem que interessa à elucidação do caso, como em House, ou do crime,
em The Mentalist.

Narrativa de Encaixe
Funciona um pouco como a narrativa de Dickens. E como funciona... imperdível para se
aprender a escrever assim um dia.

A narrativa de alternância, em geral mantém a linearidade, as histórias, os eventos estão


acontecendo em paralelo, mas são mostrados de forma alternada. [...] Quanto mais linear
for a narrativa, menor a tendência do espectador para apertar o botão de zapear no
controle remoto. Ser muito criativo mantendo a linearidade é uma proeza em roteiros de
séries.
Atualização lida com esses dois sentimentos humanos: a curiosidade e o desejo de mudar
a realidade. As pessoas querem saber como foi que as coisas aconteceram, o que fez as
coisas chegarem a esse ponto, e gostariam de ter suas fichas apostadas no que “poderia
ser diferente”.
Como escreveu Umberto Eco, no livro “Interpretação e Superinterpretação”, toda obra têm
três intenções: a do autor, a do leitor e a do texto. A do autor Nós nunca saberemos ao
certo. Inclusive porque o autor pode ter esquecido o que pretendia quando escreveu tal ou
qual fala. Ou pode se enganar a respeito. A do leitor depende de muitas variáveis,
incluindo horizonte de leitura, expectativas, conceitos e preconceitos.

Exercício:
 Localizar como os outros roteiristas apresentam os personagens;
 Identificar a storyline, o gênero, a categoria da série;
 O tipo de narrativa dominante;
 O arco do protagonista;
 Quais ações e falas puxaram a trama para adiante;
 Como foram conduzidas as duas ou três histórias que aparecem em cada bloco ou em
cada episódio.

O repertório de um escritor consiste no que alguns estudiosos chama de realidade


“extratextual”. São as normas sociais, familiares, e as alusões narrativas. Alusões literárias,
cinematográficas, televisivas. Isso não consiste em teoria inútil, nem se confunde com
senso comum sujeito a interpretações e relativismo.
O conjunto de obras literárias, teatrais, cinematográficas, televisivas e a maneira como se
interage com elas é a primeira fonte de inspiração no processo de levantar sua própria
série.

É muito difícil, ou talvez faça mais sentido dizer que é impossível conseguir imaginar uma
trama, uma narrativa original. Consciente ou inconscientemente escritores e roteiristas
criam histórias a partir de um repertório pessoal ou do repertório da cultura em que estão
inseridos.

Pergunta muito importante para o arco do personagem principal: qual mudança você
imagina para o protagonista? Tem a ver com força e fraqueza, precisa se relacionar com
outros personagens, tem a ver com problema e com pensata? As perguntas devem ser
feitas antes de começar a escaleta.

Uma estrutura confortável de escaleta gastará o primeiro ato apresentando os


personagens e as situações que eles enfrentam; o ato II apresentará a ruptura; o III o
aprofundamento da ruptura com seus obstáculos e auxílios, o IV a divisão; o V, a decisão
ou o gancho para o episódio seguinte.

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