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Agricultura
Sustentável
Manual de formação
Título:
Agricultura Sustentável: Manual de formação
Curso:
Agricultura Sustentável (UFCD 7580)
Propriedade e edição:
Espaço Visual - Consultores de Engenharia Agronómica, Lda.
p. 5 INTRODUÇÃO
p. 7 1. SOLO E CLIMA
8 1.1 Definição, tipos, classificação, funções e constituintes do solos
11 1.2 Estrutura do solo: propriedades físico-químicas
12 1.3 Produtividade do solo
15 1.4 Fertilidade e nutrição mineral
20 1.5 Manutenção e melhoramento da estrutura do solo
21 Erosão
22 Mineralização da matéria orgânica (MO)
24 Compactação do solo
25 Redução da biodiversidade
27 Salinização
28 Cheias e desabamentos de terras
29 1.6 Água no solo
32 1.7 Elementos do clima e principais fatores
35 1.8 Caraterização do clima em Portugal e na região
38 1.9 Aquecimento global
p. 39 2. BOTÂNICA AGRÍCOLA
40 2.1 Noções de morfologia externa
41 Raiz
45 Caule
46 Folha
47 Fruto
49 2.2 Fisiologia vegetal e órgãos das plantas
51 2.3 Fatores de crescimento vegetal, ciclo vegetativo e ciclo de cultura
3
55 3.2 Equilíbrio ambiental
56 3.3 Ecossistema agrícola e o Homem como agente modificador de ecossistemas
p. 90 CONCLUSÃO
p. 92 BIBLIOGRAFIA
4
INTRODUÇÃO
A insustentabilidade ambiental causada pelo recurso às prá-
ticas agrícolas intensivas, tem vindo a consciencializar a
população mundial para o consumo de produtos suficientes, sus-
tentáveis e saudáveis.
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1. SOLO E CLIMA
1.1 Definição, tipos e
classificação, funções
e constituintes dos solos
Segundo a SSSA (2008), o solo é definido como o Na perspetiva da Estratégia Temática de Prote-
material não consolidado, mineral ou orgânico, exis- ção do Solo da União Europeia, solo é definido como
tente à superfície da terra e que serve de meio natu- “a camada superior da crosta terrestre, formada por
ral para o crescimento das plantas. partículas minerais, matéria orgânica, água, ar e or-
Na ótica da Soil Survey Staff (2014), o solo “é um ganismos vivos. Constitui a interface entre a terra,
corpo natural composto de sólidos (minerais e maté- o ar e a água e aloja a maior parte da biosfera”.
ria orgânica), líquidos e gases que ocorre à superfície Pode-se dizer que praticamente todas as defi-
da terra, ocupa espaço e é caraterizado por um ou nições expressam um consenso global, sobre a de-
ambos dos seguintes critérios: tem horizontes, ou ca- finição de solo.
madas, distinguíveis do material inicial em resultado
das adições, perdas, transferências e transformações
de energia e matéria, ou tem a capacidade para su-
portar plantas enraizadas em ambiente natural”.
8
SOLO ARGILOSO SOLO FRANCO SOLO ARENOSO
Possuem consistência fina; Possuem consistência fina; Consistência granulosa
como a areia;
Elevado índice de fertilidade; Proporção equilibrada
entre argila, areia e limo; Baixa fertilidade;
Maior capacidade de retenção
de água (baixa drenagem); Boa retenção de água Elevada porosidade;
e matéria mineral que
Reduzido arejamento; Elevada permeabilidade;
as plantas necessitam;
Baixa permeabilidade; Boa drenagem e bom
Solo semipermeável;
arejamento.
Difíceis de trabalhar;
Considerados os melhores
Facilmente compactáveis. solos para a agricultura.
Figura 1
Tipos de solo: argiloso, franco e arenoso
Importa também referir que a classificação dos solos está baseada no grau
de evolução dos perfis, ou seja, quando se observa um corte da superfície até
à rocha-mãe (cf. figura 2), verifica-se, num solo evoluído, uma sobreposição
de camadas que diferem pela cor, tamanho dos constituintes, sua disposição,
etc. Este corte vertical constitui o perfil pedológico e as camadas são os seus
diferentes horizontes.
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O [Solo maduro] Camada de restos de plantas e animais na superfície do solo
Figura 2
Perfil pedológico do solo (horizonte)
O solo desempenha uma grande variedade de Relativamente à sua constituição (cf. figura 3),
funções vitais, de carácter ambiental, ecológico, so- podemos salientar que o solo é constituído essencial-
cial e económico, constituindo um importante elemen- mente por matéria mineral sólida, matéria orgânica;
to paisagístico, patrimonial e físico para o desenvolvi- água com substâncias dissolvidas e ar.
mento de infraestruturas e atividades humanas.
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1.2 Estrutura do solo:
Propriedades físico-químicas
As propriedades físicas do solo influenciam a Esta categorização leva a que a textura seja uma
forma como o solo se integra no ecossistema e a informação importante na agricultura, pois permite
possibilidade de o manipular. O sucesso ou fracasso conhecer a influência direta na infiltração e na re-
dos projetos agrícolas pode estar dependente das tenção de água, no arejamento e na coesão do solo,
propriedades físicas do solo, dado serem as utiliza- bem como na nutrição das plantas. A textura do solo
das na classificação de perfis e em levantamentos é definida pela proporção relativa de partículas mine-
sobre a aptidão do mesmo para projetos agrícolas e rais de várias dimensões que entram na constituição
ambientais. A ocorrência e crescimento de diferentes da terra fina. Ou seja, indica as quantidades relativas
espécies vegetais estão diretamente relacionados às de areia, limo e argila que existem no solo (ou em
propriedades físicas do solo. O movimento de água cada horizonte).
e a deposição ou arrastamento dos nutrientes e po- Conhecer a textura de um solo é essencial, uma
luentes químicos dissolvidos na mesma são igual- vez que o comportamento físico-químico dos solos
mente influenciados pelo tipo de solo. minerais depende fortemente das proporções rela-
As propriedades físicas que caraterizam o solo tivas de areia, limo e argila. Assim, quando houver
são a estrutura, a textura, a porosidade, a permea- predomínio de partículas minerais de maior diâmetro,
bilidade, a coesão e a cor. A textura é a propriedade o solo é classificado como arenoso; quando houver
física do solo que menos sofre alteração ao longo predomínio de minerais coloidais, o solo é classifica-
do tempo, permitindo, desta forma, catalogar o solo do como argiloso.
em tipos.
11
1.3 Produtividade do solo
POROSIDADE: pH:
Refere-se aos espaços do solo que não são ocu- O potencial hidrogeniónico (pH) é a medida do
pados por partículas. Está diretamente relacionada grau de acidez de uma solução e é definido pelo teor
à textura e estrutura dos solos (capacidade de dre- de iões hidrónio (H3O+) livres, por unidade de volume.
nagem interna e retenção de água de um perfil). De Quanto menor for o valor do pH, mais ácida será a
forma geral, os solos de textura fina têm menor po- solução. Se o pH do solo/substrato for inadequado,
rosidade e solos arenosos têm maior porosidade. a produção pode diminuir significativamente, até ao
ponto de não ser economicamente interessante man-
ESTRUTURA: ter a cultura. Deve-se igualmente ter em conta que
Envolve não só a forma, a natureza, a dimensão
existem águas cujo teor em carbonato ou bicarbo-
e o arranjo das partículas simples e dos agregados
nato pode ser muito elevado (águas alcalinas); a sua
(torrões, na linguagem comum) ou pedes, mas tam-
utilização, por rega ou pulverização, pode acarretar
bém a geometria dos vazios, ou seja, as suas dimen-
problemas significativos se não forem corretamente
sões, formas e distribuição.
aciduladas. Em suma, é possível concluir, que o pH
influencia o solo ou substrato, assim como as solu-
PERMEABILIDADE:
ções nutritivas em vários aspetos, nomeadamente na
É a maior ou menor facilidade com que a água,
disponibilidade de nutrientes e na sua solubilidade (cf.
o ar e as raízes atravessam o solo. Os solos que se
quadro 1). Pelo exposto, verifica-se a importância do
deixam atravessar facilmente denominam-se per-
conhecimento do pH do solo/substrato, o pH da água
meáveis; os que oferecem mais resistência, classifi-
de rega ou o pH da dissolução nutritiva utilizada em
cam-se por impermeáveis.
fertirrigação. Aconselha-se que o produtor disponha
COESÃO: de equipamentos (sondas) que indiquem de forma
É a forma como as partículas do solo se encon- direta o pH.
tram ligadas entre si. Os solos com partículas que
apresentam uma baixa capacidade de agregação são
chamados leves ou soltos, os que verificam o inverso
denominam-se compactos ou fortes.
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SOLOS MUITO ÁCIDOS SOLOS MUITO ALCALINOS
pH < 5 pH > 8
Deficiência de praticamente
Deficiente absorção do fósforo
todos os micronutrientes
Quadro 1
Efeito do pH na disponibilidade e solubilidade dos nutrientes no solo
É necessário ter em atenção a alguns fertilizan- de adubos ou de corretivos orgânicos, originando as-
tes utilizados em fertirrigação (MAP, MKP, ácido fos- sim problemas de toxicidade. Desta forma, a correção
fórico, ácido nítrico e sulfato de amónio), pois tendem do excesso de acidez do solo torna-se fundamental.
a acidificar a água de rega; outros (nitrato potássico, Para esta correção, recorre-se normalmente ao pro-
nitrato cálcico, nitrato magnésico e sulfato potássico), cesso da calagem, ou seja, da aplicação de um corre-
pelo contrário, tendem a alcalinizá-la; daí a necessi- tivo que permite a subida dos valores do pH do solo.
dade de conhecer a reação dos fertilizantes e as suas
misturas uma vez dissolvidos na água de rega, para
evitar perdas de nutrientes devido à formação de pre-
cipitados (perda de cálcio e magnésio como carbona-
to cálcico ou magnésico; de enxofre como sulfato cál-
cico; de fósforo como fosfato cálcico e de ferro como
sulfato de ferro).
Em solos muito ácidos, é frequente as plantas
apresentarem sintomas de toxicidade ou de carên-
cia em elementos nutritivos. Nestes solos, existe um
elevado risco das culturas absorverem em excesso os
metais pesados incorporados, através da aplicação
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O calcário é o corretivo de acidez mais usado. Segundo o Manual Prático das
Boas Práticas Agrícolas (MADRP, 2004), na sua aplicação deve-se ter em conta
os seguintes aspetos:
• A quantidade e tipo de calcário a aplicar de- • Em pomares, olivais e vinhas: deve-se fazer
pende dos resultados das análises de solo e a distribuição antes da instalação da cultura
faz parte da recomendação de fertilização in- (metade da quantidade é incorporada com a
dicada pelo laboratório; mobilização profunda e a restante com a re-
gularização do terreno);
• Se a quantidade de calcário recomendada for
superior a 7 t/ha, a aplicação deve ser fracio- • Os estrumes devem ser espalhados no terre-
nada ao longo de 2 ou 3 anos, nunca exceden- no após a aplicação do calcário, os chorumes
do em cada um aquele valor – é aconselhável devem ser aplicados em primeiro lugar;
analisar a terra antes de cada aplicação;
• O efeito da calagem prolonga-se, geralmente,
• A calagem deve ser realizada de preferência por três ou quatro anos, ao fim dos quais deve
no outono, antecedendo a cultura da rotação ser pedida nova análise de terra que indicará a
mais sensível à acidez do terreno. O calcário necessidade, ou não, de efetuar nova correção
deve ser uniformemente espalhado por toda da acidez;
a área a corrigir e bem misturado com a terra,
através de mobilização adequada; • Se o produtor aplicar outro tipo de corretivo,
por exemplo cal viva ou cal apagada, deverá
• Os adubos amoniacais e os superfosfatos, ter em atenção que são muito mais ativos,
bem como os estrumes, não devem ser mis- devendo, por isso, adaptar as doses a utilizar.
turados com o calcário;
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1.4 Fertilidade e
nutrição mineral
Os nutrientes essenciais que um solo deve apre- A falta ou excesso de qualquer um dos macro
sentar e de que as plantas necessitam dividem-se ou micronutrientes poderá provocar anomalias no
em três grupos, sendo os primeiros e segundos ne- crescimento e desenvolvimento da planta. A resposta
cessários em maiores quantidades e os últimos em da planta à falta ou excesso de nutrientes aparece
pequenas doses: geralmente nas folhas, onde é possível notar o apa-
recimento de zonas claras (clorose) ou zonas escuras
Macronutrientes principais: (necrose), podendo também atingir outros órgãos.
Azoto (N), Fósforo (P) e Potássio (K).
A capacidade de fornecimento destes nutrientes
Macronutrientes secundários: está dependente de vários fatores, entre os quais:
Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Enxofre (S). • Quantidade de nutrientes presentes no solo;
• Reação do solo (valor de pH);
Micronutrientes: • Reações observadas entre os nutrientes com
Boro (B), Ferro (Fe), Zinco (Zn), Manganês (Mn), as partículas do solo e matéria orgânica;
Cobre (Cu), Molibdénio (Mo) e Cloro (Cl). • Grau de salinização do solo;
• Caraterísticas do solo: textura e estrutura;
• Microrganismos presentes no solo.
15
A prática de uma fertilização racional pressupõe, por conseguinte, a exis-
tência de informação técnico-científica que permita responder com segurança
às seguintes questões:
• Que nutrientes são necessários aplicar ao so- • Quais as épocas mais apropriadas para pro-
lo e/ou à cultura? ceder à sua aplicação?
• Quais as quantidades mais adequadas des- • Quais as técnicas de aplicação a adotar de
ses nutrientes? forma a obter uma melhor eficácia no apro-
• Quais os fertilizantes tecnicamente mais fa- veitamento desses nutrientes pela cultura?
voráveis para aplicar esses nutrientes tendo
em conta as condições de solo, de clima e da
própria cultura?
A fim de dar resposta a todas estas questões, é Nos planos de fertilização que se estabeleçam
necessário proceder à avaliação do estado nutricio- a nível de uma exploração agrícola, deverão procurar
nal das plantas. utilizar-se de forma sistemática todos os subpro-
dutos da exploração que possuam valor fertilizante,
Para determinar a deficiência ou excesso de nu- tais como estrumes, resíduos das culturas, lamas e
trientes nas plantas, existem várias metodologias: águas residuais, entre outros. Poderá recorrer a ou-
• Observação visual: observar sintomas de de- tros fertilizantes obtidos no exterior, nomeadamente
ficiência nutricional junto das culturas; adubos químicos, adubos orgânicos e adubos orga-
• Análise do solo: avaliar a fertilidade do solo e nominerais, para satisfazer o défice da exploração
o estado nutricional da planta; em nutrientes.
• Análise foliar: isolada ou complementar, de- O cálcio (Ca), potássio (K) e magnésio (Mg) são os
termina o teor de nutriente da folha. primeiros nutrientes a esgotar, dando lugar a óxidos
prejudiciais às plantas. O sódio e os óxidos de alumí-
A formulação das recomendações de fertilização nio são os compostos mais prejudiciais ao desenvol-
deve ser feita através de laboratórios credenciados, vimento das raízes. Para corrigir problemas de solos
responsáveis pela realização de análises de terra pobres em nutrientes, deve-se procurar adubar com
e/ou análises foliares. Tais recomendações poderão, matéria orgânica. Os macro e os micronutrientes são
localmente, ser melhor detalhadas, adaptadas ou absorvidos e transportados pelos tecidos vegetais de
complementadas com o contributo de técnicos agrí- diferentes formas.
colas em função de um conhecimento mais completo
das realidades locais e do agricultor.
16
A mobilidade desses elementos diz respeito à sinais de deficiência em boro, cálcio, manganês ocor-
facilidade com que chegam aos tecidos mais apicais rem geralmente nos ramos mais jovens, enquanto o
da planta, ou seja, nas partes mais jovens, em cres- magnésio, potássio e fósforo apresentam sintomas
cimento. A mobilidade é um fator variável entre nu- nas folhas mais velhas. As funções e sintomas de
trientes e se os mesmos se encontram na planta ou deficiência dos macronutrientes é representada no
não. Por este motivo, os sintomas de deficiência po- quadro seguinte (cf. quadro 2).
dem ser detetados em partes diferentes na planta:
Quadro 2
Funções e sintomas de deficiência dos macronutrientes nas plantas
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O azoto é o nutriente geralmente mais consu- Por outro, as transformações a que são sujei-
mido pelas plantas. Dado o seu comportamento bio- tos os nutrientes altamente solúveis, como o azoto,
químico, a sua gestão no sistema solo-cultura ou e sem capacidade de serem retidos no complexo de
solo-rotação de culturas é difícil de realizar com se- adsorção do solo, faz com que sejam arrastados nas
gurança. Por um lado, não é possível determinar com águas de escoamento superficial e nas águas de per-
rigor a quantidade de azoto que um solo é capaz de colação, perdendo-se para a produção agrícola. Além
fornecer a uma cultura ao longo do seu período de disso, contribuem para a poluição das águas superfi-
vegetação ativa, sendo, daí, difícil calcular a quanti- ciais e subterrâneas.
dade a aplicar através da fertilização.
Figura 4
Progressão da folha por deficiência de azoto
18
À medida que as águas das chuvas penetram Este fenómeno é mais comum em solos desco-
nas camadas mais profundas, podem ocorrer vários bertos. Caso esta perda seja superior à reposição dos
fatores, como o vento e temperatura, que podem le- nutrientes arrastados, as plantas podem começar a
var ao arrastamento dos nutrientes. mostrar sinais de deficiência.
Diminuição do tamanho
Cl Atua nos processos de osmose; das folhas; Necrose;
(cloro) Necessário para a fotossíntese. Folíolos do ápice das folhas
velhas tornam-se murchos.
Quadro 3
Funções e sintomas de deficiência dos micronutrientes nas plantas
19
1.5 Manutenção
e melhoramento
da estrutura do solo
À medida que a população mundial aumenta, a A degradação do solo, traz inúmeros inconve-
necessidade de proteger o solo como recurso vital, nientes para o solo agrícola, nomeadamente, por-
sobretudo para produção alimentar, também cresce. que reduz a sua disponibilidade e viabilidade a longo
prazo, reduzindo ou alterando a sua capacidade para
No território português assiste-se a dois perío- desempenhar funções a ele associadas. A perda de
dos temporais: capacidade do solo para realizar as suas funções, dei-
xando de ser capaz de manter ou sustentar a vege-
1) Estação seca e longa proporciona taxas de tação, é designada por desertificação.
formação do solo relativamente baixas;
É importante salientar as principais ameaças
2) Concentração da precipitação no outono/in- sobre o solo. São elas:
verno, favorece a perda de solo por erosão • Erosão;
(agravada pelo relevo dobrado da maioria do • Mineralização da matéria orgânica;
território) e cria condições favoráveis para a • Compactação do solo;
lixiviação dos nutrientes, que se vão libertan- • Redução da biodiversidade;
do dos minerais constituintes da rocha mãe, • Salinização;
durante a sua longa meteorização. • Cheias e desabamentos de terras.
20
Erosão
A erosão resulta da remoção das partículas mais atividades humanas (cf. figura 5), principalmente a
finas do solo por agentes edáficos como a água e o gestão inadequada do solo, podendo este ter tam-
vento, que as transportam para outros locais. Deste bém algumas caraterísticas intrínsecas que o tor-
fenómeno resulta a redução da espessura do solo, nem propício à erosão (possuir camada arável fina,
perda de funções e, em caso extremo, extinção do pouca vegetação ou teores reduzidos de matéria or-
próprio solo, podendo ainda resultar na contamina- gânica). No entanto, este fenómeno pode ser desen-
ção de ecossistemas fluviais e marinhos, assim co- cadeado por uma combinação de fatores, dos quais
mo danos em reservatórios de água, portos e zonas salientam-se: fortes declives dos terrenos agrícolas;
costeiras. Esta é a principal ameaça ambiental para o clima territorial (por exemplo, longos períodos de
a sustentabilidade e capacidade produtiva do solo e seca seguidos de chuvas torrenciais) e as catástrofes
da agricultura. A erosão tem sido intensificada pelas ecológicas (nomeadamente incêndios florestais).
Figura 5
Erosão/degradação em solos agrícolas
21
Mineralização da
matéria orgânica (MO)
A matéria orgânica (MO) tem o capacidade de melhora a infiltração e retenção da água, aumenta a
influenciar positivamente as caraterísticas do solo capacidade de troca e, assim, contribui para o acrés-
físicas (densidade, porosidade...), químicas (libertação cimo da produtividade agrícola.
e fixação de nutrientes, regulação do pH...) e bioló- O controlo da matéria orgânica do solo é um pro-
gicas (fonte de alimento e substrato para o desen- cesso complexo, devendo ser conduzido com vista a
volvimento de microrganismos...). Embora a MO se reduzir as perdas. Estes objetivos podem ser facilita-
encontre em quantidades reduzidas (± 2 a 4%) nos dos pela racionalização das práticas agrícolas, com a
solos minerais, tem um papel fundamental na me- oportunidade das épocas de intervenção, mobiliza-
lhoria de sua fertilidade e no aumento da produti- ção reduzida, sementeira direta, agricultura biológica,
vidade vegetal. A manutenção da matéria orgânica introdução de prados/pastagens e incorporação de
do solo é bastante importante, do ponto de vista físi- resíduos (estrume/chorume).
co-químico, dado que contribui para a sua estrutura,
Figura 6
Matéria orgânica
22
São várias as funções da matéria orgânica presente no solo. Destacam-se
algumas das principais:
Segundo dados oficiais do Gabinete Europeu do a região de Entre Douro e Minho, apresenta baixos
Solo, cerca de 75% da superfície analisada no sul da níveis de matéria orgânica. Nas restantes regiões, as
Europa tem solos com teores de matéria orgânica condições climáticas (pouca humidade e temperatu-
baixa (3,4%) ou muito baixa (1,7%). Atualmente, há ras elevadas) favorecem a perda de matéria orgânica
uma tendência a favor da adoção de técnicas agrí- através da sua decomposição. O recomendável pelas
colas de conservação, a fim de aumentar o teor de boas práticas agrícolas é que o teor de matéria orgâ-
carbono no solo e evitar as perdas deste e as suas nica do solo seja melhorado para valores não inferio-
emissões adicionais para a atmosfera sob a forma res a 2%. Para tal, dever-se-á atender às seguintes
de CO2. Há, todavia, um limite para a quantidade de práticas agrícolas:
matéria orgânica e de carbono que poderá ser arma- • Incorporação de corretivos orgânicos de for-
zenada nos solos. As práticas agrícolas e silvícolas ma periódica;
têm um impacto importante sobre o solo agrícola, • Corretivos orgânicos provenientes das explo-
podendo também ter em solos adjacentes não agrí- rações agrícolas;
colas e águas subterrâneas, nomeadamente em ter- • Compostos de resíduos sólidos urbanos (RSU);
mos de emissão de substâncias contaminantes. • Lamas provenientes do tratamento de efluen-
A maioria dos solos em Portugal Continental, tes de diferentes origens.
com exceção das áreas de maior pluviosidade, como
23
Compactação do solo
A compactação é uma das principais ameaças Este problema tem vindo a agravar-se nos úl-
da degradação dos solos agrícolas e florestais. Em timos anos com a utilização de máquinas agrícolas
Portugal, pouco é feito para mitigar os seus efeitos na cada vez maiores, sem o aumento da área de con-
sustentabilidade do solo e das importantes funções tato pneu-solo, exercendo uma maior pressão so-
que este desempenha para o ambiente. Segundo o bre o solo, aumentando, assim, a sua compactação.
MADRP (2004), Portugal é dos poucos países da Eu- O grau de compactação do solo que uma máquina
ropa que continua a realizar lavouras profundas na agrícola exerce depende do tipo de pneu, das suas
preparação dos solos, estando este sujeito a uma dimensões, da velocidade de trabalho, do número de
pressão mecânica devido ao uso de máquinas para a vezes que circula sobre no mesmo local e da carga
instalação de vinhas e outras fruteiras; que na agri- suportada. Importa salientar que a compactação do
cultura extensiva pratica o pastoreio e que na inten- solo pode ocorrer em diferentes profundidades e, na
siva é obrigado a regar. Estes fatores são suficientes maioria das vezes, não se distribui de maneira unifor-
para aumentar os riscos de compactação irreversível me ao longo da lavoura (cf. figura 8).
dos solos (cf. figura 7).
Figura 7
Efeitos da compactação
(agregados do solo)
Figura 8
Efeito das máquinas
agrícolas no solo
24
Independentemente da profundidade dos danos causados, as consequên-
cias da compactação são similares:
Redução da biodiversidade
Um dos princípios para termos uma agricultu- São diversos os motivos pelos quais existe preo-
ra consolidada e mais sustentável é a preservação e cupação pela biodiversidade:
ampliação da biodiversidade ou diversidade biológica. • Na natureza, a biodiversidade é uma das suas
Mas afinal como definimos biodiversidade? propriedades fundamentais, responsável pelo
equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas;
A biodiversidade é definida como a variedade • A biodiversidade representa um imenso po-
e a variabilidade existente entre os organismos vi- tencial de uso económico.
vos e as complexidades ecológicas nas quais elas
ocorrem. Refere-se à variedade de vida; à varieda- No entanto, nos últimos tempos tem-se vindo
de de espécies de flora, fauna e microrganismos; a assistir a uma redução drástica da biodiversidade,
à variedade de funções ecológicas desempenhadas fruto do aumento da taxa de extinção de espécies
pelos organismos nos ecossistemas; e à variedade causado pelas atividades antrópicas, ou seja, ativi-
de comunidades, habitats e ecossistemas formados dades desenvolvidas pelo homem.
pelos organismos.
25
A intervenção humana em habitats previamen- Assim, torna-se importante tomar práticas agrí-
te estáveis aumentou significativamente, gerando colas, já anteriormente adotadas na agricultura tradi-
perdas maiores de biodiversidade devido à prática cional, que foram abandonadas ao longo dos tempos.
intensiva da de atividade humana, inclusive a agro- De entre essas práticas destacam-se:
pecuária, através da exploração excessiva de espécies • Rotação de culturas;
de plantas e animais, uso de híbridos, monocultu- • Cultivo em faixas;
ras, contaminação do solo, água e atmosfera por po- • Utilizar variedades com variabilidade genética,
luentes (produtos fitofarmacêuticos, adubos quími- melhoradas e cultivadas ao longo dos tempos
cos, resíduos de indústrias e esgotos domésticos), e conservadas de gerações em gerações;
introdução de espécies e doenças exóticas, mudan- • Consociamento de culturas;
ças climáticas, além de outras atividades desenvol- • Adubação verde;
vidas pelo homem. • Crescimento da vegetação espontânea;
A monocultura (cf. figura 9) representa um dos • Sementeira direta;
maiores problemas do modelo agrícola praticado na • Adição de matéria orgânica (MO) através de
atualidade, pois não permitindo a diversificação de resíduos da exploração.
espécies numa determinada área, as pragas, doenças
e plantas espontâneas ocorrem de forma mais inten-
sa sobre as culturas, tornando o sistema de produção
mais instável e mais sujeito às adversidades.
Figura 9
Monocultura (milho)
26
Salinização
A salinização consiste na acumulação de sais caraterísticas do solo impedem a lavagem de sais),
solúveis de sódio, magnésio e cálcio nos solos, redu- manutenção das estradas com sais durante o inver-
zindo a fertilidade dos mesmos. É um dos principais no e exploração excessiva de águas subterrâneas em
processos de degradação do solo (cf. figura 10). O au- zonas costeiras (provocada pela crescente urbaniza-
mento da área regada e as perspetivas de mudanças ção, indústria e agricultura nestas zonas), conduzin-
climáticas podem levar a um acréscimo da área afe- do a uma diminuição do nível dos lençóis freáticos
tada por este problema. e à intrusão da água do mar.
Este processo resulta de fatores como a irriga- A salinização do solo afeta cerca de 1 milhão
ção (a água das regas tem maiores quantidades de de hectares (ha) na UE, sobretudo nos países me-
sais, em particular em regiões de fraca pluviosidade, diterrâneos, constituindo uma das principais causas
com elevadas taxas de evapotranspiração ou cujas de desertificação.
Figura 10
Efeito da salinização
em solos agrícolas
27
Cheias e desabamentos de terras
As cheias e desabamentos de terras, são consi-
derados acidentes naturais intimamente relaciona-
dos com a gestão do solo.
As cheias podem, em alguns casos, resultar do
facto do solo não desempenhar o seu papel de con-
trolo dos ciclos da água devido à compactação ou à
impermeabilização, podendo também ser favorecidas
pela erosão causada pela desflorestação, abandono
de terras ou até pelas próprias caraterísticas do solo.
Figura 11
Cheias e desabamentos de terras em solos agrícolas
28
1.6 Água no solo
Para além de ser utilizada na produção de cultu- do nível de atividades metabólicas, do estado hídrico
ras (alimento) para consumo humano, é importante do ar e do solo e de um conjunto de outros fatores.
na produção de pastos e matérias-primas para ra- De modo geral, os tecidos em crescimento ou com
ções animais. alta atividade metabólica não suportam graus eleva-
O conteúdo de água, além de variar com os tipos dos de desidratação, tornando evidente que a água
de células e tecidos, também é bastante influenciado executa funções vitais e, sem ela, a vida como é co-
pelas condições ambientais e pela fisiologia das plan- nhecida poderia não existir.
tas. Assim, o conteúdo de água de plantas depende
29
Importância do ciclo da água no solo:
O vapor de água na atmosfera em condições es- Como a água que entra possui um potencial su-
peciais forma nuvens, podendo retornar à superfície perior àquela que se encontra no solo, infiltra-se
na forma de chuva (estado líquido), granizo ou neve espontaneamente. Quando a chuva ou rega termina,
(estado sólido). A chuva, principal forma de precipita- a água continua a movimentar-se no solo procuran-
ção em Portugal, ao atingir a superfície do solo, infil- do sempre estados de menor potencial: redistribui-
tra-se, ficando armazenada nos seus poros, com uma ção. No período de infiltração e redistribuição, a água
percentagem da mesma disponível para as plantas. pode ser absorvida pela planta, devido ao potencial
A este processo denomina-se infiltração. de água nas plantas ser menor do que no solo.
Pode, no entanto, ocorrer escoamento super-
ficial. Esse escoamento, pode ser maior ou menor,
dependendo da intensidade da chuva, do declive e
das caraterísticas físicas do solo. Em geral, quanto
maior o escoamento superficial maiores são as per-
das de solo por erosão.
Parte da água consumida pela planta tem ação refrigeradora. Com altas
temperaturas, se a planta mantiver um nível de humidade satisfatório, todas
as partes que a compõem (folhas, caule, flores, frutos) terão capacidade para
manter um nível de temperatura adequado.
Essa ação refrigeradora é possível devido ao flu- Por este motivo, surge a necessidade de gran-
xo de água que passa por toda a extensão da plan- des superfícies radiculares e foliares (de absorção e
ta. Quando atinge a zona apical da planta, a água é de evaporação). Na ligação entre ambos estes ór-
transferida para a atmosfera: transpiração. Do mes- gãos, pelo xilema, o movimento da água é basica-
mo modo, a água retida na superfície do solo pode mente por fluxo em massa, daí a necessidade de va-
passar diretamente para a atmosfera: evaporação. sos condutores especializados, rígidos e desprovidos
O fluxo de água do solo para a atmosfera através de membranas.
da planta é realizado na raiz e nas folhas por difusão,
através das células (via celular) ou embebida nas suas
paredes (via apoplasto).
30
A junção dos processos de transpiração e evapo- A água do solo não permanece estática e, de for-
ração que traduzem a libertação da água na atmos- ma geral, nem todos os poros do solo ficam preen-
fera pelo solo e pelas plantas é categorizado como chidos com água. Em solos não saturados, uma parte
evapotranspiração (cf. figura 12). dos poros fica cheia de ar, constituindo a atmosfera
Quando o volume de água ultrapassa a capaci- do solo, fundamental para a respiração dos microrga-
dade de armazenamento do solo, o excedente é per- nismos e das raízes de plantas. Nos poros cheios de
colado para horizontes mais profundos, podendo água pode-se observar movimento de água em todas
chegar a profundidades abaixo da raiz, levando a que as direções, em geral de regiões mais húmidas para
essa água não possa ser aproveitada pela planta. regiões mais secas. Por exemplo, quando horizon-
A água perdida é responsável pela composição do tes mais superficiais se encontram mais secos que
“lençol freático”, que será o principal responsável na os horizontes mais profundos, é possível observar a
recarga dos aquíferos subterrâneos. ascensão capilar, ou seja, um movimento ascendente
de água que, em alguns casos, pode atingir a super-
fície do solo.
Figura 12
O comportamento da água no solo
31
1.7 Elementos do clima
e principais fatores
De forma mais precisa, o clima é a descrição es- Importa salientar que as plantas são extrema-
tatística do tempo em termos de médias e desvios mente sensíveis às condições ambientais, em par-
de determinados parâmetros relevantes ao longo de ticular à temperatura. Estas mudanças ao nível cli-
várias décadas, tipicamente três, ou seja, trinta anos. mático são suscetíveis de terem efeitos expressivos
Os parâmetros considerados relevantes são, na mai- sobre o crescimento e desenvolvimento das plantas
or parte das situações, a temperatura, a precipitação, e, por consequência, na produtividade e qualidade
o vento, entre outros. do produto.
No âmbito agrícola, as condições meteorológicas Eventos climáticos extremos (como por exemplo
afetam drasticamente a produtividade. A distribuição granizo, saraiva ou tromba de água) podem causar
geográfica das culturas e pastagens varia em função importantes perdas na produção e na qualidade, en-
do clima e do fotoperíodo. A quantidade total de pre- quanto mudanças climáticas podem, por exemplo,
cipitação, assim como o seu padrão de variação são antecipar o ciclo fenológico e, por consequência, a
aspetos importantes para os sistemas agrários. colheita, promover o aparecimento de novas e/ou
A agricultura em Portugal poderá ressentir-se intensificar as atuais pragas/doenças ou aumentar a
com as alterações climáticas (não confundir com o variabilidade interanual da produtividade e qualidade.
conceito de variabilidade climática), dado que os mo-
delos climáticos projetam, para este século, um au-
mento da temperatura do ar, uma diminuição da pre-
cipitação na época estival (com consequente redução
da humidade do solo) e um aumento do número e
gravidade das secas e ondas de calor.
32
Os elementos climáticos podem ser classificados em dois tipos: simples
ou complexos.
Os primeiros são considerados elementos me- Os elementos complexos descrevem o efeito cli-
teorológicos, por norma medidos em estações me- mático de causas que estão relacionadas entre si ou
teorológicas, convencionais ou automáticas (tempe- que atuam conjuntamente para produzir certos as-
ratura, precipitação, humidade, vento, nebulosidade, petos particulares da paisagem (aridez do solo, conti-
insolação, pressão atmosférica, entre outros). nentalidade do clima, conforto humano e rendimento
das culturas).
Figura 13
Elementos climáticos: insolação, precipitação, nebulosidade, vento
33
Os fatores climáticos são os elementos naturais e humanos capazes de
influenciar e alterar as caraterísticas ou a dinâmica do clima, em escalas tem-
porais e espaciais diversas.
O clima e a sua variabilidade são o resultado da Os fatores mais representativos são a latitude, a
ação conjunta desses fatores climáticos, que podem altitude, as massas de ar, a continentalidade, as cor-
ser externos ou internos ao sistema climático (cf. fi- rentes marítimas, o relevo e a vegetação.
gura 14).
CLIMA TERRESTRE
é influenciado por
Intevenção humana
Forçamentos radioativos:
composição atmosférica,
Intercâmbio de energia:
albedo-heteogeneidade da
hidrosfera/atmosfera,
superfície (fisografia, vegetação) hidrosfera/litosfera (proximidade do mar)
Correntes planetárias:
circulação geral da atmosfera, correntes
marítimas, fisiografia e vegetação
Figura 14
Fatores do clima (internos e externos)
34
1.8 Caraterização do
clima em Portugal
35
Por outro lado, pode-se ainda fazer a compara- das principais variáveis climáticas que caraterizam
ção das principais variáveis climáticas em Portugal o território.
continental, ou seja, radiação solar, precipitação, tem- Entre os mais elevados níveis de radiação e tem-
peratura média do ar e evapotranspiração. peratura e a precipitação geram déficits hídricos que,
O potencial produtivo da generalidade das espé- em grande parte do território, são claramente supe-
cies vegetais depende da comparação e conjugação riores a 30% (Silva, 2016) (cf. figura 16).
Figura 15
Variação dos principais elementos do clima em Portugal Continental (fonte: Silva, 2016)
Norte Litoral: mediterrânico com influência maríti- Norte Interior: clima temperado/mediterrânico com
ma; amplitudes térmicas anuais baixas, raramente influência continental; maior amplitude térmica anual
ultrapassando os 10ºC; verões relativamente frescos do país, podendo atingir os 20ºC; invernos rigorosos,
e invernos suaves; maioria dos meses são húmidos; frios e longos, com precipitações menos intensas e
precipitação mais ou menos abundante ao longo do frequentes, por vezes, em forma de neve; verões
ano, principalmente durante o outono e inverno. muito quentes e secos; existência de meses secos
no verão.
Sul: clima temperado mediterrânico, ou seja, verões
muito quentes e longos (5 a 6 meses secos); invernos Regiões montanhosas: clima de altitude, isto é, ve-
curtos e suaves, pouco chuvosos e com precipitações rão fresco e húmido; inverno rigoroso; precipitação
escassas e irregulares, concentradas no fim do outo- elevada ao longo de todo o ano, sendo em forma de
no e no inverno. neve no inverno.
36
Figura 16
Especificidade do clima em Portugal Continental: conjuntos climáticos (fonte: SNIRH - Apambiente)
37
1.9 Aquecimento global
38
2. BOTÂNICA
AGRÍCOLA
2.1 Noções de
morfologia externa
A forma e a fisiologia das plantas variam intraes- No entanto, o corpo da maioria das plantas é di-
pecificamente (entre os indivíduos da mesma espé- vidido em duas partes principais (cf. figura 17):
cie) por três causas fundamentais: • Uma localizada sob o solo, constituída pelas
• Variabilidade ontogénica (ou seja, plasticidade raízes (A);
ontogénica); • Outra área constituída pelo caule, folhas, flo-
• Variabilidade ambiental (ou seja, plasticidade res e frutos (B).
fenotípica);
• Variabilidade genética (ou seja, plasticidade
genética).
Folha
Raiz Caule
A
Figura 17
Constituição externa
de uma planta vascular
40
Raiz
A raiz é o órgão vegetal responsável pelo supor- de substâncias de reserva, de modo a formar o que
te da planta e absorção dos nutrientes inorgânicos designamos de seiva bruta. A classificação das raízes
presentes no solo (água e sais minerais); condução do podem ser quanto à forma e quanto à localização.
material absorvido e a acumulação de diversos tipos
Tuberculosa: Fasciculada:
Planta com raízes muito grossas, contêm subs- A planta não tem uma raiz principal mas possui
tâncias de reserva (ex: nabo, cenoura, beterraba). muitas raízes (adventícias) de tamanho idêntico, mais
ou menos ramificadas, finas, delicadas com abun-
Aprumada: dantes pelos radiculares fazendo lembrar um feixe
Planta com uma raiz principal espessa e outras (ex: trigo, milho).
raízes mais finas e pelos radiculares que saem da
principal (ex: pinheiro, feijoeiro).
Figura 18
Raízes tuberculosas, aprumadas e fasciculadas
41
Raiz subterrânea Raiz aquática Raiz aérea
folha folha
raízes
secundárias
raiz principal
caule
raízes
aéreas
raízes
secundárias tronco hospedeira
Figura 19
Raízes subterrâneas, aquáticas e aéreas
42
Figura 20
Raízes tuberosas
Figura 21 Figura 22
Raízes tabulares Raízes adventícias
43
Figura 23 Figura 24
Raízes aéreas Raízes aéreas e respiratórias
Figura 25
Raízes sugadoras/haustórias
44
Caule
O caule é originado a partir do caulículo do em- Os rizomas são caules que apresentam gemas
brião da planta e tem como principais funções dar laterais e crescem sob a superfície do solo emitindo
suporte às folhas, flores e frutos conectando com a algumas folhas, como o gengibre e a samambaia.
raiz; conduzir a água e nutrientes e pode ainda ser Os tubérculos são muito utilizados na alimenta-
órgão de reserva e meio de reprodução assexual. ção porque armazenam substâncias nutritivas, como
por exemplo a batata-inglesa.
Os caules aéreos (cf. figura 26), podem classifi- Formados por caule e folhas modificadas, o cau-
car-se segundo as seguintes tipologias: tronco, haste, le tipo bolbo é geralmente redondo, sendo que na
colmo, espique e estolhão. sua parte inferior há raízes; e na posterior, folhas com
reservas nutritivas. Alguns caules tipo bolbo são mui-
Os caules subterrâneos desenvolvem-se sobre to utilizados na alimentação humana, como o alho
o solo e são ricos em substâncias nutritivas. Eles são e a cebola.
classificados em rizomas, tubérculos e bolbos (cf. fi-
gura 27).
ESTOLHO ESPIQUE
Figura 26
Exemplificação de caules aéreos
45
TUBÉRCULO RIZOMA BOLBO
Figura 27
Exemplificação de caules subterrâneos
Folha
As folhas originam-se a partir de protuberân- especializado das plantas especialmente adaptado
cias formadas por divisões periclinais das células nas à transpiração, gutação, respiração e fotossíntese.
camadas mais superficiais localizadas próximas ao Ao nível da constituição, uma folha completa possui:
meristema apical caulinar. É considerado um órgão limbo, pecíolo, bainha e estípulas (cf. figura 28).
Estípula
Pecíolo Limbo
Bainha
Caule
Figura 28
Constituição da folha
46
Fruto
O fruto resulta do amadurecimento do ovário, A partir da fecundação, inicia-se o desenvolvi-
garantindo a proteção e auxiliando a dispersão das mento da semente através de uma série de trans-
sementes surgidas após a fecundação. Ocorre ex- formações no saco embrionário e outros tecidos do
clusivamente nas angiospermas. No sentido mor- óvulo. A parede do ovário desenvolve-se para peri-
fológico, não apenas aquelas estruturas conhecidas carpo, o qual é formado por três camadas: exocarpo
como “frutas” (maçã, laranja, etc.), mas também as (epicarpo), mesocarpo e endocarpo.
conhecidas como “legumes” (feijão, ervilha, etc.) e
“cereais”(arroz, milho, etc.) são frutos.
Os frutos são importantes na classificação botâ-
nica por possuírem uma estrutura constante.
Epicarpo:
É de facto a porção mais externa do fruto, oriun-
Endocarpo Epicarpo
da da epiderme da folha carpelar. Normalmente é
uma camada membranácea e muito fibrosa.
Mesocarpo:
É a porção intermediária (entre o epicarpo e en-
docarpo). Às vezes armazena alguma substância de
reserva. Oriunda dos parênquimas da folha carpelar.
Endocarpo:
É a porção (camada) mais interna, geralmente
mais rígida, envolve a semente. Oriunda da epiderme
interna do ovário.
Mesocarpo Sementes
Figura 29
Estrutura básica de um fruto
47
Quanto à abertura, os frutos podem classificar-se em:
Baga: Drupa:
Frutos que apresentam um ou mais carpelos, Frutos com apenas um carpelo, uma só semen-
com uma ou mais sementes (ex: tomate, uva, laran- te, concrescida com o endocarpo. (ex: ameixa, azei-
ja, abóbora). tona, pêssego).
48
2.2 Fisiologia vegetal
e órgãos da planta
As plantas precisam de mecanismos para equi- A existência de tricomas brancos (apêndices epi-
librar a entrada e saída de água – fluxo contínuo ao dérmicos formados por uma ou mais células que pro-
longo da planta. No entanto, existem adaptações na movem a proteção do vegetal) impede que a planta
planta para minimizarem a perda de água por trans- eleve a sua temperatura e aumente a sua taxa de
piração de modo a evitar desidratação. transpiração, pois o facto de serem brancos refletem
mais radiação.
Dentro das adaptações estruturais, temos o es- O enrolamento das folhas, perante situações de
pessamento da cutícula (camada de cutina, substância pouca água, leva a uma menor perda de água porque
impermeável resultante da celulose, na epiderme das a área de superfície em contacto com o meio exterior
plantas) e o desenvolvimento de espinhos que dimi- é reduzida. Isto acontece à custa das células bulifor-
nuem a perda de água por transpiração. mes (células epidérmicas em forma de bolha) que
A localização de estomas (estruturas celulares ficam plasmolisadas, isto é, quando existe perda de
responsáveis pela troca gasosa das plantas com o água reagem diminuindo o seu volume, resultando
meio ambiente) em cavidades e na página inferior no enrolamento da folha, caso contrário, a entrada de
minimizam a perda de água, pois quando colocados água nestas células faria com que estas dilatassem
em cavidades, uma pequena quantidade de água na e a folha abriria.
cavidade leva a um aumento da pressão desta nessa
mesma cavidade, levando à diminuição na taxa de
perda de água.
49
Floema Xilema
Figura 30
Tecidos especializados (Xilema e Floema)
Existem ainda adaptações fisiológicas como a O levar a cabo de outros tipos de fotossíntese pa-
abcisão foliar, queda de folhas que leva à diminuição ra além da dita “normal” (C3), como a C4 e a CAM,
da perda de água, visto que esta acontece principal- o estabelecer de ritmos circadianos de abertura dos
mente ao nível das folhas; e a posição foliar, em que a estomas e que são apenas controlados por mecanis-
orientação da folha varia em relação ao sol (condições mos endógenos, e a produção da fito-hormona ABA
de luminosidade) para estabelecer um equilíbrio entre (ácido abcísico) leva à perda de folhas por parte da
as necessidade fotossintéticas e a perda de água. planta para que esta possa entrar num estado de
latência que facilite a resistência a uma situação de
seca extrema.
50
2.3 Fatores de crescimento,
ciclo vegetativo
e ciclo da cultura
Etileno: Citocininas:
É produzido nos tecidos de raízes e folhas enve- Presente em vários tecidos das plantas, as cito-
lhecidas. Estimula a abscisão das folhas, promove a cinas atuam estimulando a divisão celular, promovem
maturação dos frutos e inibe o crescimento das raí- o desenvolvimento de gomos laterais e retardam o
zes e dos gomos laterais. Quando os frutos iniciam envelhecimento das plantas.
o processo de amadurecimento são produzidos os
etilenos, acelerando o processo.
51
Giberelinas:
Oriundas dos cloroplastos e tecidos das folhas,
as giberelinas atuam ao estimular o alongamento de
caules e gomos, e também no desenvolvimento do
fruto. Possuem como funções principais, promover
a germinação das sementes e estimular a floração
de algumas plantas.
Figura 31
Crescimento da planta
52
3. ECOLOGIA
3.1 Ecologia, população,
habitat, comunidade
biótica e ecossistema
A palavra “ecologia” deriva do grego oikos, com funcionais que a tornam habitável. Neste capítulo,
o sentido de “casa”, e logos, que significa “estudo”. dar-se-á ênfase a determinados conceitos que inte-
Assim, o estudo do “ambiente da casa” inclui todos gram a ecologia ambiental.
os organismos contidos nela e todos os processos
População: Habitat:
Seres vivos da mesma espécie que habitam, ao Lugar onde cada organismo vive (aquático, ter-
mesmo tempo, uma determinada área. restre, entre outros).
54
3.2 Equilíbrio ambiental
O interesse nas relações solo-água-planta de- A água possui três valores intrínsecos: econó-
corre do facto de constituírem conhecimento essen- mico, social e ambiental. O valor económico da água
cial e suporte indispensável para aplicações em áreas reflete os custos da sua disponibilização, sendo estes
tão diversas como a agricultura, biologia, hidrologia facilmente calculáveis. Já os valores social e ambien-
e hidrogeologia, engenharia dos recursos hídricos e tal são difíceis de determinar e normalmente igno-
engenharia do ambiente. rados. Um “mercado da água” pressupõe a determi-
A agricultura exerce pressão sobre o meio am- nação do preço da água que reflita, por um lado, os
biente, particularmente sobre a água em termos de custos de disponibilização e, por outro, a disposição
quantidade e de qualidade. As medidas de política do agricultor a pagar.
europeias e nacionais tentam promover o uso sus- Cerca de 80% a 95% da massa de uma planta é
tentável da água apoiando as boas práticas agrícolas; constituída por água. Este é portanto o principal fa-
o solo, as plantas e a atmosfera interagem direta- tor limitador do crescimento vegetal. A fotossíntese
mente uns com os outros, influenciando, reagindo e transpiração são mecanismos nos quais a planta
quimicamente e promovendo alterações físico-quí- perde água, sendo, no entanto, esta perda essencial
micas e biológicas. para os processos fisiológicos da planta.
Um dos principais elementos que interage com
o solo-planta-atmosfera e o mais conhecido e estu-
dado é a água. A melhoria da eficiência da utilização
de água pela agricultura depende em larga medida
de investimentos avultados em infraestruturas e da
adoção de métodos de rega mais evoluídos do que os
tradicionalmente utilizados.
55
3.3 Ecossistema agrícola e o
Homem como modificador
de ecossistemas
Abióticos: Bióticos:
Em conjunto constituem o biótopo (ambiente Representados pelos seres vivos que compõem
físico e fatores químicos e físicos). A radiação solar a comunidade biótica ou biocenoses. Compreendem
é um dos principais fatores físicos dos ecossistemas os organismos heterotróficos dependentes da ma-
terrestres pois é através dela que as plantas realizam téria orgânica e os autotróficos responsáveis pela
fotossíntese, libertando O2 para a atmosfera e trans- produção primária, ou seja, a fixação do CO2.
formando a energia luminosa em energia química.
Energia:
Caraterizada pela força motriz que aporta nos
diversos ambientes e garante as condições neces-
sárias para a produção primária num determinado
ambiente, ou seja, a produção de biomassa a partir
de componentes inorgânicos.
56
4. RESÍDUOS E
EFLUENTES DAS
EXPLORAÇÕES
4.1 Resíduos e
efluentes produzidos
pelas explorações
A agricultura apresenta uma situação generali- Perante a lei, o produtor de resíduos é respon-
zada de abandono e queima de resíduos agrícolas. sável pelo seu destino final (Decreto-Lei 178/2006
Estes fatores contribuem para impactos ambientais de 5 de setembro, com alterações do Decreto-Lei n.º
significativos, como é o caso da contaminação dos 73/2011 de 17 de junho). Os resíduos não devem ser
solos e aquíferos, da propagação de maus cheiros e acumulados na exploração nem em quantidades ele-
incêndios, da transmissão de doenças e um impacto vadas, nem por longos períodos de tempo. Logo que
visual negativo. possível, devem ser encaminhados, através de ope-
Considerando todos estes aspetos e tendo em radores licenciados, para destinos adequados, para
conta a legislação existente (Decreto-Lei 178/2006 reciclagem ou para eliminação, e de forma a não pre-
de 5 de setembro, com alterações do Decreto-Lei judicar o solo, a água, a saúde pública e o ambiente.
n.º 73/2011 de 17 de junho) que responsabiliza os Preferencialmente, devem ser procurados destinos
produtores de resíduos pelo destino final, pelos cus- que permitam a valorização de resíduos.
tos de gestão e transporte e proíbe a sua queima a Ao encaminhar os resíduos da sua exploração,
céu aberto, enterramento e abandono pura e sim- o agricultor e o operador a quem entrega, deverão
ples, é necessário que todas as entidades envolvi- ser acompanhados pelo Guia de Acompanhamento
das assumam um compromisso para sensibilização de Resíduos e Certificado de Receção com estado
dos agricultores. “concluída”, respetivamente, onde consta o tipo de
resíduo, qual a quantidade e as identificações do
transportador e do destinatário (cf. figura 32).
58
Figura 32
Guia de Acompanhamento de Resíduos
59
O transporte destes resíduos pode ser efetuado equiparados aos resíduos domésticos e urbanos e
pelo agricultor, desde que se faça acompanhar pela não contaminados com substâncias perigosas. Deve,
Guia de Acompanhamento de Resíduos, anteriormente porém, informar-se previamente na Junta de Fre-
descrito. Ao agricultor constitui a responsabilidade de guesia ou Câmara Municipal sobre as condições de
manter estas guias acessíveis e em boas condições, utilização do contentor de resíduos que pode colocar,
por um período de cinco anos, para futuras ações de quantidades, tarifas, dias e horários de recolha, etc.
fiscalização.
No caso da utilização de contentores de resíduos Aquisição de guia de resíduos
https://siliamb.apambiente.pt/pages/public/login.xhtml
domésticos, o agricultor deve utilizar apenas o que
se encontrar mais próximo da sua habitação ou ex-
ploração para depositar pequenas quantidades, em Manual de utilizador da plataforma SILIAMB
https://apoiosiliamb.apambiente.pt/content/manual
situações esporádicas, de resíduos da exploração, -de-utilizador-do-módulo-e-gar-0?language=pt-pt
Os EP’s, sendo resíduos resultantes da atividade que estabelece as regras sanitárias, de sanidade ani-
agropecuária e, em casos de manuseamento inade- mal e de saúde pública relacionadas com subpro-
quado, representam riscos para a saúde pública e dutos animais não destinados a consumo humano
animal. Este facto cria a necessidade de controlar os aplicáveis à recolha, ao transporte, à armazenagem,
seus núcleos de produção e a sua composição para ao manuseamento, à transformação e à utilização ou
que se possa optar por um destino final ambiental- eliminação de subprodutos animais e à colocação no
mente correto. mercado e, em certos casos específicos, à exportação
Relativamente à gestão dos efluentes pecuários e ao trânsito de subprodutos animais e dos produtos
e de forma a integrar a regulamentação das ativida- deles derivados (artigo 1º) limitando possíveis utiliza-
des pecuárias previstas no Decreto-Lei nº 214/2008, ções indevidas na alimentação animal, no consumo
foi criado um quadro de licenciamento para enca- humano ou na sua eliminação.
minhamento dos efluentes pecuários (Portaria nº A Portaria nº 631/2009 complementa as nor-
631/2009), mantendo-se até hoje válido e em arti- mas de exercício pecuário indo mais além, pois inflige
culação com o Novo REAP (Decreto-Lei nº 81/2013), disposições a cumprir no que à gestão de efluentes
sendo objetivo integrar esta nova portaria com a le- pecuários diz respeito (artigo 3º e artigo 4º). Em con-
gislação vigente, nomeadamente, com o Decreto-Lei creto, legisla o encaminhamento que se dá a esses
nº 122/2006 transposto para o ordenamento jurídico mesmos resíduos, que só pode ser assegurado por
português do Regulamento (CE) nº 1774/2002 do utilização própria ou transferência para terceiros para
Parlamento Europeu e do Conselho, de 3 de outubro, efeitos de valorização agrícola.
60
4.2 Tratamento e eliminação
de resíduos e efluentes
Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 178/ Pelo exposto, sempre que um produtor de resí-
2006 de 5 de setembro, com alterações do Decreto- duos pretender encaminhar os seus resíduos a um
Lei n.º 73/2011 de 17 de junho (a designada Lei-Qua- operador deverá aceder ao seguinte site:
dro dos Resíduos) foi criada a Autoridade Nacional
de Resíduos, que prevê, no seu enquadramento le- https://siliamb.apambiente.pt/pages/public/login.xhtml
61
4.3 Caraterísticas dos
resíduos e efluentes da
exploração, composição,
valor fertilizante e
impacto ambiental
Figura 33
Resíduos agrícolas das explorações
62
No caso dos efluentes pecuários, devemos sa- Os efluentes pecuários, contêm uma gama de
lientar que a sua constituição varia com a propor- microrganismos do trato digestivo variada, sendo
ção de fezes e urina, sendo estas influenciadas pela alguns patogénicos. Desta forma, a caraterização nu-
espécie pecuária, estado reprodutivo, sexo e idade tricional dos efluentes deve ser o mais precisa pos-
do animal, pelo regime alimentar, pela qualidade e sível pois, a sua aplicação em terrenos agrícolas está
quantidade de água ingerida, pelo tipo de instalações, condicionada pelo seu conteúdo nutricional, mais es-
pelo material das camas (palhas de arroz, milho ou pecificamente à quantidade de azoto total, fósforo e
serradura), bem como pelo método de limpeza dos potássio. A aplicação é obrigatoriamente realizada de
pavilhões de acordo com o Anexo II do Código das acordo com as necessidades nutricionais da cultura
Boas Práticas Agrícolas (CBPA) (MADRP, 1997). que serão cultivadas até ao final do ano civil seguinte
e com o estado de fertilidade do solo (Rosas, 2003).
• Chorumes: fezes, urina, escorrências de silos • Solo (FOCOS) (conforme Reg. nº 1069/2009).
e nitreiras;
63
Segundo Pinto (2014), uma forma de se verifi- após um determinado período de tempo, observa-se
car o valor fertilizante destes resíduos é comparar o desenvolvimento das duas culturas, onde se apli-
culturas com datas de sementeira aproximadas (cf. fi- caram dois tipos de fertilizante diferentes (ex: lamas
gura 34), em que se apliquem fertilizantes diferentes. versus fertilizante orgânicos – estrume).
Ou seja, sendo a sementeira feita no mesmo período,
Figura 34
Avaliação do valor fertilizante
de culturas de milho
No caso de utilizar lamas, os poluentes condicio- Com em conta a proteção do ambiente, são tam-
nantes da valorização são os metais pesados, os con- bém regulamentadas as quantidades máximas anu-
taminantes orgânicos e os organismos patogénicos. ais de metais pesados que se podem introduzir nos
Por outro lado, nos efluentes pecuários, a carga solos, de acordo com a alínea b) do ponto 14 do Ane-
poluente centra-se na elevada concentração de azoto xo VI da Portaria n.º 631/2009 (referente aos efluen-
sob a forma de nitrato, podendo também apresentar tes pecuários) e a alínea b) do ponto 2 do Artigo 9.º do
contaminação orgânica e patogénica. Decreto-Lei 276/2009 (referente às lamas). Os efei-
No caso do nitrato, este é libertado através da tos que os microrganismos podem causar em caso
incorporação de fertilizantes azotados para a água e de contaminação levam a que, de acordo com a alínea
para o solo em grandes extensões territoriais, uma b) do ponto 14 do Anexo VI da Portaria n.º 631/2009
vez que o azoto não assimilado pelas plantas lixivia (referente aos efluentes pecuários) e com o ponto 1
muito facilmente. do artigo 9.º do Decreto-Lei 276/2009 (referente às
lamas), as lamas e os efluentes pecuários tenham de
cumprir os valores-limite.
64
4.4 Técnicas de tratamento
e de eliminação dos
resíduos e dos efluentes
Assim, o tratamento dos efluentes pecuários Segundo o artigo n.º4 da Portaria n.º 631/2009
tem como objetivos: de 9 de junho, o encaminhamento, tratamento e
destino final dos efluentes pecuários, incluindo den-
a) Recuperar a energia residual (biogás) presen- tro da própria exploração, podem ser assegurados
te nos efluentes pecuários; pelos seguintes procedimentos:
65
c) Tratamento em unidade de tratamento térmi- Na gestão e tratamento dos efluentes pecuá-
co ou de produção de energia ou de materiais, rios, podem ser aplicadas nomeadamente as seguin-
com ou sem recuperação de energia térmica tes técnicas ou processos:
gerada pela combustão, sendo a componen- a) Separação mecânica;
te das camas dos animais constituída essen- b) Arejamento dos efluentes líquidos;
cialmente por biomassa agrícola ou florestal c) Tratamento biológico;
considerada como resíduo vegetal para efei- d) Compostagem;
tos do regime de licenciamento aplicável; e) Compostagem em conjunto com outras ma-
térias de origem vegetal ou animal;
d) Tratamento em unidade de compostagem ou f) Tratamento anaeróbio;
de produção de biogás, nos termos da pre- g) Lagoas anaeróbias;
sente portaria ou no âmbito do regime geral h) Evaporação e secagem;
de gestão de resíduos, aprovado pelo Decre- i) Tratamento térmico;
to-Lei n.º 178/2006, de 5 de setembro. j) Aplicação de aditivos para redução de odores;
l) Outros reconhecidos como adequados.
https://www.dgadr.gov.pt/reap/procedimentos-
aplicaveis-as-atividades-pecuarias
66
4.5 Compostagem
Os objetivos da compostagem são diversos, dos O local escolhido deve ser próximo daquele em
quais se salientam: que o composto irá ser utilizado. Deverá ter água per-
• Converter o material orgânico que não está to pois a chuva pode não ser suficiente para hume-
em condições de ser incorporado no solo num decer convenientemente a pilha.
material que é admissível para misturar com A forma e o tamanho da pilha também influ-
o solo; enciam a velocidade da compostagem, derivado do
• Destruir a viabilidade das sementes de infes- efeito de arejamento e dissipação do calor da pilha.
tantes e os microrganismos patogénicos; O tamanho ideal da pilha pode ser variável, podendo
• Reduzir e estabilizar a matéria orgânica que se ser considerado um bom volume de 1,5m x 1,5m x
destina ao aterro sanitário. 1,5m para a generalidade dos materiais. No entanto,
o volume deve depender do sistema e das tecnolo-
O processo de compostagem ou o processo de gias de compostagem utilizadas.
digestão anaeróbia seguida de compostagem, quan-
do realizado com resíduos apropriados e sob condi-
ções controladas, permite efetuar a valorização de
resíduos orgânicos biodegradáveis, produzindo um
fertilizante – o composto – com elevado valor agro-
nómico e ambiental (APA, 2008).
Segundo Brito (2003), a pilha de compostagem
não deve ficar exposta diretamente ao sol ou vento
para não secar, nem à chuva para não ficar sujeita à
lixiviação de nutrientes. É, portanto, conveniente um
local levemente ensombrado e com cortinas contra
Figura 35
o vento. Pilha de compostagem
67
A aplicação ao solo de compostos orgânicos, resultantes do processo de
compostagem devem atender a um conjunto de caraterísticas:
Figura 36
Resíduos orgânicos utilizados na compostagem
68
4.6 Enquadramento legal e
código de boas práticas
Registo:
• Portaria 1023/2006 de 20 setembro – defi-
ne os elementos que devem acompanhar o
pedido de licenciamento das operações de ar-
mazenagem, triagem, tratamento, valorização
e eliminação de resíduos.
Transporte:
• Portaria n.º 335/97 de 16 de maio – regras
de transporte de resíduos dentro do territó-
rio nacional;
• Despacho n.º 8943/97 de 9 de outubro – in-
dica as Guias a utilizar para o transporte de
resíduos, em conformidade com o art.º 7º da
Portaria n.º 335/97.
69
No âmbito da produção, encaminhamento, armazenamento, transporte e
tratamento dos efluentes pecuários, devemos atender ao seguinte enquadra-
mento legislativo:
Efluentes Pecuários:
70
4.7 Licenciamento e plano
de gestão de efluentes
71
O Plano de Gestão de Efluentes Pecuários (PGEP) a submeter é elaborado
com os seguintes elementos:
72
5. PRODUÇÃO
AGRÍCOLA
SUSTENTADA
5.1 Proteção integrada
A Proteção Integrada tem como finalidade con- culturais, em especial, com a fertilização, instalação
tribuir para o equilíbrio dos ecossistemas agrários e e condução das culturas, regas, podas, mondas dos
impedir que os inimigos das culturas ultrapassem frutos e conservação das colheitas.
intensidades de ataque que acarretem significativos
prejuízos económicos. O grande objetivo é limitar a As normas da produção integrada incluem:
aplicação de produtos fitofarmacêuticos e privilegiar • Os planos de fertilização por parcela e cultura,
os meios de luta biológica, biotécnica, física, genética baseados nas análises de terras e de plantas;
e cultural. • As metodologias de colheita de amostras para
O uso de produtos fitofarmacêuticos como meio análise e determinações laboratoriais;
de luta só pode ter lugar quando o ataque da praga • Os tipos, as quantidades, as épocas e as téc-
ou da doença tenha atingido um nível que provoque nicas de aplicação dos fertilizantes;
prejuízos económicos significativos (nível económi- • Os procedimentos a observar na instalação e
co de ataque), ou quando haja razões tecnicamente condução das culturas (compassos de planta-
válidas, devidamente justificadas, pela importância ção, densidades de sementeira, variedades e
e extensão do inimigo a combater. Nestes casos, só porta-enxertos, podas, monda de frutos, ma-
podem ser utilizados produtos indicados nas “Listas neio da água, condução da rega, conservação
de produtos fitofarmacêuticos aconselhados em pro- dos frutos, etc).
teção integrada das culturas”, publicadas para cada
cultura abrangida. Estas normas incluem procedimentos obrigató-
Os agricultores obrigam-se a articular a proteção rios e facultativos ou de orientação e permitem a sua
integrada com a aplicação correta de outras técnicas atualização ou adaptação periódicas.
74
A publicação da diretiva n.º 2009/128/CE de 21 agroflorestais e incentiva mecanismos naturais de
de outubro, conhecida por “Diretiva Quadro do Uso luta contra os inimigos das culturas”.
Sustentável de Pesticidas” (DUS), veio estabelecer Para a prática da proteção integrada é necessá-
um quadro de ação a nível comunitário para uma uti- rio o conhecimento da cultura, dos seus inimigos, da
lização sustentável dos pesticidas através da redução intensidade do seu ataque, dos diversos fatores que
dos riscos e efeitos da sua utilização na saúde huma- contribuem para a sua nocividade (bióticos, abióticos,
na e no ambiente, promovendo o recurso à proteção culturais e económicos) e dos organismos auxiliares
integrada e a abordagens ou técnicas alternativas, da cultura, de forma a se efetuar, adequadamente,
tais como as alternativas não químicas aos pestici- a estimativa do risco resultante da presença des-
das. Segundo a mesma diretiva, a proteção integrada ses inimigos.
consiste na “avaliação ponderada de todos os mé- De acordo com a diretiva do uso sustentável de
todos de proteção das culturas disponíveis e a sub- pesticidas, os Estados Membros e os utilizadores
sequente integração de medidas adequadas para profissionais devem tomar medidas necessárias pa-
diminuir o desenvolvimento de populações de orga- ra promover uma proteção fitossanitária com baixa
nismos nocivos e manter a utilização dos produtos utilização de pesticidas (compreende a proteção in-
fitofarmacêuticos e outras formas de intervenção a tegrada e o modo de proteção biológico), dando prio-
níveis económica e ecologicamente justificáveis, re- ridade sempre que possível a métodos não químicos,
duzindo ou minimizando os riscos para a saúde hu- e à adoção de práticas e produtos fitofarmacêuticos
mana e o ambiente. A proteção integrada privilegia o de menor risco para a saúde humana, organismos
desenvolvimento de culturas saudáveis com a menor não visados e ambiente.
perturbação possível dos ecossistemas agrícolas e
75
2 Utilizar métodos e instrumentos adequados
de monitorização dos inimigos das culturas
Na seleção dos meios de luta, deve ser dada pre- fruta atacada pela mosca da fruta), à luta biológica
ferência aos meios de luta não químicos, sempre que (largada de auxiliares), à luta biotécnica ( reguladores
estes permitam um controlo adequado dos inimi- de crescimento de insetos, feromonas), à luta física
gos das culturas. Neste sentido devemos dar privilé- (mobilização do solo, monda natural de infestantes).
gio, nomeadamente, à luta cultural (enterramento da
Na tomada de decisão, quando se opta pelos informação para que os utilizadores profissionais de
meios de luta química devem ser selecionados os entre os PF’s mais seletivos escolham aqueles que
produtos fitofarmacêuticos mais seletivos para o al- apresentam menores efeitos secundários para o ho-
vo biológico em causa. A DGAV deve disponibilizar mem, os organismos visados e o ambiente.
76
6 Reduzir a utilização dos produtos fitofarmacêuticos
e outras formas de intervenção ao mínimo necessário
A problemática da resistência dos inimigos das • Meios de luta alternativos à luta química;
culturas aos PF’s deve ser encarada com alguma • Rotação de culturas;
ponderação e cautela. • Criação de zonas de refúgio;
De entre as várias estratégias para minimizar a • Utilizar dose mínima eficaz (rótulo);
resistência dos inimigos das culturas salientam-se • Respeitar restrições de aplicação do PF im-
as seguintes: postas pelo rótulo;
• Alternância de PF’s com modos de ação;
• Efetuar a monitorização dos níveis de eficá-
cia obtidos.
77
A Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) é a entidade respon-
sável por promover e coordenar as atividades técnicas inerentes à implemen-
tação da proteção integrada das culturas.
Para suportar a aplicação dos princípios gerais a regime das normas técnicas aplicáveis à proteção
DGAV divulgou um documento com o conceito, princí- integrada, produção integrada e modo de produção
pios e componentes de proteção integrada (volume I). biológico, e cria, igualmente, um regime de reconhe-
De acordo com o artigo 55º, do Regulamento cimento de técnicos em proteção integrada, produção
(CE) n.º 1107/2009 de 21 de outubro, os produtos integrada e modo de produção biológico, no âmbito
fitofarmacêuticos devem ser objeto de uma utiliza- da produção agrícola primária, revogando o Decreto-
ção adequada. Este inclui a aplicação dos princípios -Lei n.º 189/95 de 26 de julho.
de boas práticas fitossanitárias e o cumprimento das O Decreto-Lei n.º 37/2013 de 13 de março, pro-
disposições da diretiva 2009/128/CE, em especial os cede à primeira alteração ao decreto-lei n.º 256/2009
princípios gerais da proteção integrada. de 24 de setembro, que estabelece o regime das nor-
Com base nos pressupostos anteriores, todos mas técnicas aplicáveis à proteção integrada, à pro-
os produtos fitofarmacêuticos autorizados em Por- dução integrada e ao modo de produção biológico.
tugal para o combate dos inimigos das culturas são
passíveis de ser utilizados em proteção integrada, A prática da proteção e da produção integradas
devendo ser aplicados os mais seletivos tendo em pressupõe que técnicos e agricultores tenham conhe-
conta o alvo biológico em vista e com o mínimo de cimentos específicos. Para conhecimento dos téc-
efeitos secundários para a saúde humana, os orga- nicos habilitados para tal fim, devemos aceder a uma
nismos não visados e o ambiente. De modo a su- listagem atualizada dos técnicos detentores de for-
portar a escolha do produto fitofarmacêutico mais mação regulamentada para apoio técnico em prote-
adequado, a DGAV divulgou num documento o perfil ção integrada, em produção integrada ou em modo
dos produtos, em particular, a toxicidade para o Ho- de produção biológico no site da DGADR.
mem e organismos não visados, nomeadamente os
organismos aquáticos, aves e outros vertebrados, Para consultar mais informações sobre a práti-
abelhas e outros polinizadores, organismos do solo ca da proteção integrada deveremos consultar o site
e artrópodes auxiliares. da DGAV:
O Decreto-Lei n.º 256/2009 de 24 de setembro
estabelece os princípios e orientações para a práti- https://www.dgav.pt/
78
5.2 Produção integrada
5. Equilíbrio do ciclo dos nutrientes, reduzindo 10. Minimização de alguns dos efeitos secun-
as perdas ao mínimo; dários decorrentes das atividades agrícolas.
79
Quando aplicados nas explorações agrícolas, os e rastreabilidade, assegurando, simultaneamente, o
princípios da produção integrada visam a obtenção de desenvolvimento fisiológico equilibrado das plantas
produtos agrícolas sãos, de boas caraterísticas orga- e a preservação da qualidade do ambiente.
noléticas e de conservação, de modo a respeitar as
exigências das normas nacionais e internacionais re-
lativas à qualidade dos produtos, segurança alimentar
80
2 A densidade de plantação ou sementeira deve ser adequada
às caraterísticas edafoclimáticas da região
a) Deve estabelecer-se, para a exploração agrí- c) Quanto às rotações das culturas anuais, para
cola, um plano de fertilização e um plano de as quais já existam normativos específicos
rega, por parcela homogénea e cultura, no apresentados e discutidos em Conselho Téc-
caso das culturas perenes, ou por rotação, nico, devem aplicar-se os princípios estabele-
no caso das culturas anuais, no qual são de- cidos para essas mesmas famílias.
finidos, os tipos, as quantidades, as épocas
e as técnicas de aplicação dos fertilizantes e
água, os quais devem ser revistos periodica-
mente em função das análises de solo e água
e da planta;
b) A rotação apropriada de culturas constitui um
processo eficaz para a redução substancial da
ocorrência de inimigos das culturas (infestan-
tes, pragas e doenças), bem como de manter
ou aumentar a fertilidade do solo, contribuin-
do para a melhoria do rendimento económico
da cultura;
81
5 Os fertilizantes a aplicar devem obedecer às normas legais vigentes,
devendo, em especial, ser isentos ou possuir teores muito baixos
de metais pesados ou de outras substâncias perigosas para o
ambiente, e ser apenas usados fertilizantes com micronutrientes
quando a sua necessidade for tecnicamente reconhecida
a) Para a prática da fertilização racional é neces- atingir níveis de produção considerados acei-
sário conhecer o teor do solo em nutrientes, táveis, tendo em conta a fitotecnia utilizada.
a par de outras caraterísticas físicas e quími- As amostras para análise foliar, devem ser
cas do solo; colhidas de acordo com os procedimentos es-
b) É necessário conhecer as necessidades da tabelecidos, sendo as determinações analíti-
cultura em nutrientes, a qualidade da água de cas a solicitar aos laboratórios as seguintes:
rega, a composição dos corretivos orgânicos azoto, fósforo, potássio, cálcio, magnésio,
e o comportamento dos fertilizantes quando ferro, manganês, zinco, cobre e boro. Para
aplicados ao solo; decidir sobre as quantidades dos nutrientes
c) Em produção integrada, e no caso das cultu- a aplicar, é essencial conhecer, para além do
ras de ar livre, é obrigatório uma análise de estado de fertilidade do solo, as quantidades
terra de quatro em quatro anos, aconselhan- de nutrientes que são veiculadas pela água
do-se a realização de uma análise anualmen- de rega, sendo necessária a sua análise;
te, para avaliar o estado de fertilidade do solo; g) A análise da água de rega é obrigatória, de
d) Para as culturas protegidas é obrigatória a quatro em quatro anos, salvo nos casos em
realização de uma análise de terra anualmen- que os resultados analíticos indiciem teores
te, aconselhando-se uma segunda análise no de alguns parâmetros que excedam os valo-
fim do ciclo de cada cultura; res máximos recomendados pelo Decreto-Lei
e) O solo fornece nutrientes minerais em for- nº 236/98 de 1 de agosto, caso em que se
mas disponíveis para as plantas – em siste- aconselha a monitorização anual de tais pa-
mas de produção intensiva são, muitas vezes, râmetros. A amostra da água de rega acom-
necessárias quantidades superiores às dis- panhada da respetiva ficha informativa con-
ponibilizadas através da mineralização dos forme os anexos VI e VII do Decreto-Lei n.º
minerais e decomposição da matéria orgâni- 236/98, deve ser colhida de acordo com os
ca, pelo que o nível de nutrientes no solo, em procedimentos estabelecidos, sendo as de-
especial de azoto, fósforo e potássio, tem de terminações analíticas a solicitar aos labora-
ser aumentado através de fertilizações; tórios as seguintes: bicarbonatos, boro, clore-
f) As análises foliares devem ser feitas todos os tos, condutividade elétrica, razão de adsorção
anos e são recomendáveis sempre que a cul- de sódio, magnésio, nitratos, pH e sódio;
tura apresentar aspetos anómalos ou não
82
h) Recomenda-se, além disso, a determinação j) A utilização de lamas de depuração só é per-
do ferro, do manganês, dos sulfatos e dos só- mitida se for proveniente de ETAR’s (Esta-
lidos em suspensão, sempre que se obser- ções de Tratamento de Águas Residuais) tra-
vem entupimentos do equipamento de rega. tadas, de acordo com as normas legais em vi-
Por outro lado, e sabendo que, de um modo gor (Decreto-Lei nº 118/2006 de 21 de junho,
geral, em Portugal, os solos são pobres em anexo VIII – Quadro IV);
matéria orgânica, aconselha-se a sua aplica- l) As amostras dos estrumes, lamas e com-
ção sempre que os seus teores no solo sejam postos preparados exclusivamente a partir
inferiores a 1,0%; de resíduos de origem vegetal e ou animal
i) A aplicação de estrumes e outros corretivos provenientes de explorações agrícolas, agro-
orgânicos deverá ser antecedida da sua aná- pecuárias ou florestais, tal como das indús-
lise, de forma a poderem ser contabilizadas trias agroalimentares e da celulose, deverão,
nas recomendações de fertilização as quan- acompanhadas da respetiva ficha informativa,
tidades de nutrientes veiculadas por aqueles ser enviadas ao laboratório para análise, sen-
produtos e verificada a presença de alguns do as determinações analíticas a solicitar as
metais pesados em teores que, eventual- seguintes: matéria seca, carbono orgânico,
mente, impeçam a sua utilização como ferti- azoto total, fósforo total, potássio total, cálcio
lizantes. As analises só devem ter lugar para total, magnésio total e zinco total.
produtos da exploração porque todos aque-
les que são sujeitos a comercialização estão
obrigatoriamente sujeitos a realizar análises
a pedido do fabricante ou do comercializador.
A amostra de estrumes e outros corretivos
orgânicos acompanhada da respetiva ficha
informativa, deve ser colhida de acordo com
os procedimentos estabelecidos;
83
Produção integrada animal
No que respeita à componente animal é neces- e alimentação animal, a profilaxia e saúde animal e a
sária a aplicação de técnicas que estabelecem um gestão de efluentes de origem animal.
adequado equilíbrio e salvaguarda do bem-estar ani-
mal, devendo ter em conta, nomeadamente, o maneio
O exercício da produção integrada implica de- De acordo com o Decreto-Lei n.º 180/95 de 26
terminadas obrigações e compromissos aos agricul- de julho e legislação complementar, é obrigatório o
tores que devem ser registados em caderno próprio agricultor anexar os comprovativos da aquisição dos
denominado “caderno de campo”. Este deve obe- produtos fitofarmacêuticos e fertilizantes e os bo-
decer ao modelo oficial estabelecido pela entidade letins emitidos pelos laboratórios que efetuaram as
competente. Aconselha-se o registo da ocorrência análises exigidas. É obrigatório o agricultor facultar o
dos estados fenológicos da cultura, das operações caderno de campo às entidades competentes, sem-
culturais efetuadas e as datas em que tenham sido pre que solicitado, de acordo com a legislação em vi-
realizadas, da incidência dos inimigos da cultura, dos gor. Este responsabilizar-se-á, com a sua assinatura,
auxiliares e da aplicação de produtos fitofarmacêuti- pela veracidade das operações registadas no caderno.
cos e fertilizantes. Aconselha-se também atualizar o
caderno de campo semanalmente.
84
Controlo e certificação
O controlo das regras e dos princípios aplicá- A lista de Organismos de Certificação pode ser
veis e a certificação dos produtos obtidos segundo a consultada no site do IPAC (Instituto Português de
produção integrada, antes da colocação no mercado, Acreditação), na secção “Entidades acreditadas” em
encontram-se delegadas em organismos de controlo nas subsecções “Produtos da agricultura, floresta e
e certificação reconhecidos pela DGADR. De forma a pesca” e “Produtos alimentares, bebidas e tabaco”:
assegurar a aplicação uniforme e eficaz do sistema
de controlo, a DGADR dispõe de procedimentos do- http://www.ipac.pt/
Figura 37
Símbolo da Produção Integrada
85
5.3 Modo de produção
biológico
86
Os principais objetivos a cumprir no modo de produção biológico são:
• Equilíbrio ecológico;
• Manutenção e aumento da biodiversidade dos
6 Reciclar os resíduos vegetais e
ecossistemas;
animais obtidos na própria exploração
• Reciclagem de nutrientes;
• Não utilização de OGM’s (organismos geneti- • Recorrer ao enterramento direto ou à com-
camente modificados). postagem (preferencial);
• Restituição ao solo dos elementos nutritivos
assimiláveis pelas plantas;
2 Combinação das melhores • Reduzir ao mínimo a utilização de recursos
práticas ambientais não renováveis.
87
Na vertente da pecuária biológica, os principais objetivos a cumprir são:
Figura 39
Os animais devem ter acesso a espaços livres como pastagens em Agricultura Biológica
88
No que respeita ao enquadramento legislativo, Quanto ao controlo dos inimigos das culturas,
podemos é imperativo ressalvar que o referencial dever ser dada preferência à aplicação de meios de
europeu da agricultura biológica é constituído pelos proteção preventivos (artigo 12º, do Regulamento n.º
Regulamentos (CE) nº 834/2007 e 889/2008 e suas 834/2007, de 28 de junho), nomeadamente: cultu-
alterações. Estabelecendo o Regulamento (CE) nº rais, biológicos e biotécnicos.
834/2007 as normas relativas à produção biológica e No entanto, sempre que não seja possível, pro-
à rotulagem dos produtos biológicos e o Regulamen- teger adequadamente as culturas, com base nestes
to (CE) nº 889/2008 estabelecendo normas de exe- meios de luta, podem ser utilizados produtos fitofar-
cução do Regulamento (CE) nº 834/2007, no que res- macêuticos homologados, com base nas substân-
peita à produção biológica, à rotulagem e ao controlo. cias ativas constantes do anexo II do Regulamento
Na Europa, a Agricultura Biológica é alvo de le- n.º 889/2008, de 05 de setembro.
gislação específica, estabelecendo normas detalha- Ter em atenção que sempre que o agricultor os
das cujo cumprimento é controlado e certificado por utilizar, deverá justificar no caderno de campo a ne-
organismos acreditados para o efeito. O Eurofolha cessidade de utilizar os referidos produtos. E no caso
(cf. figura 40) é o símbolo que identifica obrigatoria- da utilização de armadilhas ou distribuidores, é de
mente todos os produtos alimentares biológicos pré- realçar que estas últimas, devem impedir a liberta-
-embalados na União Europeia. Este novo logótipo, ção de substâncias no ambiente e o contacto com
obrigatório desde 1 de julho de 2012, veio substituir as culturas.
o tradicional selo circular, que até aqui foi usado de
forma voluntária.
Figura 40
Logotipo europeu de Agricultura Biológica (Eurofolha)
89
CONCLUSÃO
A s discussões sobre os impactos ambientais e sociais da agri-
cultura convencional, juntaram-se às questões de foro am-
biental globais. Para fomentar a atividade é necessário o aumento
de pesquisas integradas sobre as práticas agrícolas sustentáveis
mais adequadas a cada região.
Só adotando métodos agrícolas mais sustentá- Uma mudança desta natureza, exige que se po-
veis, é que os agricultores conseguirão produzir ali- nham de parte os métodos convencionais de agricul-
mentos suficientes para satisfazer as necessidades tura intensiva e se adote o sistema conhecido como
de uma população crescente e responder às altera- agricultura de conservação ou sustentável.
ções climáticas.
Figura 39
Representação de um sistema agrícola sustentável
91
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info@agrob.pt
224 509 055