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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Letras / Departamento de Estudos da Linguagem


Material de apoio para disciplinas da graduação em Letras
Professor: Luciano Monteiro

Roteiro para elaboração de paráfrases e inserção de citações


Este roteiro reproduz (literalmente) os passos que segui para redigir um trecho da minha tese. Como precisava
explicar em detalhes um assunto que não domino profundamente e tinha receio de dizer algo errado, escolhi a estratégia
mais segura, seguindo bem de perto o que dizem os autores da bibliografia. É um bom exercício para fazer paráfrases com
qualidade e evitar o risco de plágio ao elaborar um texto acadêmico. O primeiro passo é ler e fazer marcações e anotaçoes.

Lembretes como Isso facilita para


esse nos ajudam
1. Saiba onde buscar as informações necessárias:
retomar do ponto
a planejar o que onde você parou
falta escrever. ontem.

Linguística espacial VIDOS, p.81-84 / CÂMARA JR, p.103 e 140-141 / ROBINS, p.155 / BASSETTO, 78-81

2. Organize as referências por ordem crescente de complexidade / especificidade:

“Alguns dos princípios da linguística estético-idealista, associados a estudos dialetais, deram origem na Itália à
chamada escola ‘neolinguística’. Os neolinguistas procuraram determinar os processos de difusão das
inovações sobre as áreas geográficas [...] e também extrair conclusões históricas das divergências de evolução
em áreas centrais e periféricas, tendo em vista que estas últimas tendem a um maior conservadorismo de
traços linguísticos” (ROBINS, 1979, p.155)

“os linguistas italianos Giulio Bertoni e Matteo Bartoli, muitos anos depois de Gilliéron, criaram um método de
linguística areal, por meio do qual eram capazes de classificar as áreas linguísticas de uma língua ou de um
grupo de línguas como representantes contemporâneas de estágios linguísticos de desenvolvimento. Dividiram
um território linguístico em áreas isoladas, áreas laterais, áreas principais e áreas desaparecidas (isto é, áreas
homogêneas que desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes) / se intitulavam
novos linguistas, «Neolinguistas», em oposição aos neogramáticos. Seu preparo teórico é, na realidade,
antineogramático” (CÂMARA JR., 1975, p.103)
“Bartoli e Bertoni [...] desenvolveram uma técnica de linguística areai, que está muito distante da abordagem
estética à linguagem [...] A doutrina de Croce é, entretanto, fácil de se determinar na formação filosófica de
todos os autores italianos. Era ele a favor de uma visão da linguagem como algo intimamente ligado à cultura
e essencialmente dependente da história, do ponto de vista hegeliano. Daí a repugnância em reduzir a
linguística histórica a leis fixas de desenvolvimento, tais como as leis fonéticas ou algo semelhante.
Podemos mencionar, por exemplo, a História da Língua Roma, por Giacomo Devoto, para quem a história de
uma língua não deve ser a gramática histórica no sentido atribuído pelos neogramáticos, mas a história de uma
cultura vista através da linguagem” (CÂMARA JR., 1975, p.140)
“Bertoldi previu uma abordagem estético-técnica na sua discussão de problemas concretos da linguística indo-
europeia e românica. Acentua ele o fato de, muitas vezes, ser uma metáfora poética ou o impulso estilístico a
fonte dos vocábulos e seus significados” (CÂMARA JR., 1975, p.141)
“Este método, mais que os anteriores, é uma decorrência da geografia linguística. Seu principal mentor foi
Matteo Bartoli, com Introduzione alla neolinguistica, de 1925 [...] Durante certo período, contou com a
colaboração de Giulio Bertoni (1878-1942), antigo seguidor do idealismo de KarI Vossler. Bertoni aproveitou
alguns postulados teóricos de Vico, Humboldt. Schuchardt. Gaston Paris. Ascoli. Croce c de seu mestre
Vossler.
Bartoli, que havia sido discípulo do neogramático Meyer-Lübke, entusiasmou-se com os resultados da geografia
linguística e opôs-se aos princípios neogramáticos, sobretudo a suas leis fonéticas, consideradas demasiado
rígidas. Entretanto, embora se declarem adversários dessas leis, na prática os neolinguistas as aplicam e até
propõem outras novas, ainda que com o nome diferente de norme areali (“normas de área"), fixadas conforme
a posição da palavra no espaço. [...]
Utilizando-se dos dados da geografia linguística, estabelece relações cronológicas entre os vários fenômenos
linguísticos, o que anteriormente só se obtinha através de documentação nem sempre disponível” (BASSETO,
2001, p.78)

“Neolinguística não é outra coisa senão a corrente Neogramática alicerçada nos princípios da Geografia
Linguística. A Neolinguística, cujo nome aparece pela primeira vez em 1925 (BARTOLI, 1925), tem sido
considerada em princípio como uma reação contra os neogramáticos, e mais exatamente contra o predomínio
das “leis fonéticas” na doutrina destes últimos [...] não eram contrários às “leis fonéticas”, antes, até haviam
estabelecido outras leis parecidas. [...]
A Linguística Espacial, servindo-se da Geografia Linguística, consegue estabelecer certas normas areais, que
derivam da posição da palavra no espaço. Ela, como a Geografia Linguística, nos faz ver de que modo a história
linguística deixa suas próprias marcas no espaço. O método da Linguística Espacial pode prestar serviços úteis
ao estabelecer as relações cronológicas entre diversos fenômenos linguísticos. Por exemplo, se uma palavra
estava documentada mais cedo do que outra, supunha-se que era mais antiga” (VIDOS, 1996, p.81)

5 normas areais segundo Bassetto (2001) 5 normas areais segundo Vidos (1996)
1 Havendo palavras diferentes em fases 1 Quando, de duas fases cronológicas de uma palavra,
cronológicas distintas para um significado, a forma uma se encontra numa área isolada ou distante das
da área mais afastada ou de acesso difícil costuma correntes de tráfico e de difícil acesso, esta costuma ser a
ser a mais antiga. mais antiga
2 As formas de regiões periféricas são mais 2 Se de duas fases cronológicas, uma aparece (ou
antigas que as correspondentes centrais apareceu) em áreas laterais e a outra na área central, a
3 São mais antigas as palavras conservadas em primeira costuma representar a fase mais antiga e a

áreas mais amplas que as correspondentes segunda a mais recente

encontradas em áreas mais restritas 3 Quando de duas fases cronológicas, uma aparece (ou

4 Regiões de latinização mais tardia costumam apareceu) num território mais extenso que a outra, a que

conservar formas mais antigas está mais amplamente difundida costuma ser a mais antiga

5 Palavras desaparecidas, arcaizadas ou menos 4 Territórios colonizados (romanizados) mais tarde

usuais costumam ser as mais antigas (BASSETO, costumam conservar uma fase mais antiga

2001, p.79-81) 5 De duas fases, a desaparecida ou menos vital costuma


ser a mais antiga (VIDOS, 1996, p.81-83)
3. Responda com as informações reunidas: quando / quem / por que / o que / como ?

QUANDO Matteo Bartoli, com Introduzione alla neolinguistica, de 1925 (BASSETO, 2001, p.78)

QUEM Giulio Bertoni e Matteo Bartoli, muitos anos depois de Gilliéron, criaram um método de linguística
areal (CÂMARA JR., 1975, p.103) Seu principal mentor foi Matteo Bartoli / discípulo do neogramático
Meyer-Lübke / contou com a colaboração de Giulio Bertoni, antigo seguidor do idealismo de KarI Vossler.
Bertoni aproveitou alguns postulados teóricos de Vico, Humboldt. Schuchardt, Gaston Paris, Ascoli, Croce
e de seu mestre Vossler (BASSETO, 2001, p.78) é a corrente Neogramática alicerçada nos princípios da
Geografia Linguística (VIDOS, 1996, p.81) Alguns dos princípios da linguística estético-idealista,
associados a estudos dialetais, deram origem na Itália à chamada escola ‘neolinguística’. (ROBINS, 1979,
p.155)

POR QUE entusiasmou-se com os resultados da geografia linguística e opôs-se aos princípios
neogramáticos, sobretudo a suas leis fonéticas, consideradas demasiado rígidas (BASSETO, 2001, p.78)
tem sido considerada em princípio como uma reação contra os neogramáticos, e mais exatamente contra
o predomínio das “leis fonéticas” na doutrina destes últimos [...] não eram contrários às “leis fonéticas”
(VIDOS, 1996, p.81)

O QUE determinar os processos de difusão das inovações sobre as áreas geográficas [...] e também extrair
conclusões históricas das divergências de evolução em áreas centrais e periféricas, tendo em vista que
estas últimas tendem a um maior conservadorismo de traços linguísticos (ROBINS, 1979, p.155) classificar
as áreas linguísticas de uma língua ou de um grupo de línguas como representantes contemporâneas de
estágios linguísticos de desenvolvimento (CÂMARA JR., 1975, p.103) estabelece relações cronológicas
entre os vários fenômenos linguísticos, o que anteriormente só se obtinha através de documentação nem
sempre disponível (BASSETO, 2001, p.78) faz ver de que modo a história linguística deixa suas próprias
marcas no espaço (VIDOS, 1996, p.81)

COMO Dividiram um território linguístico em áreas isoladas, áreas laterais, áreas principais e áreas
desaparecidas (isto é, áreas homogêneas que desapareceram deixando apenas umas poucas formas
remanescentes) (CÂMARA JR., 1975, p.103) Utilizando-se dos dados da geografia linguística (BASSETO,
2001, p.78)

3
4. Elabore o texto com base no roteiro formado pelas respostas (utilize as
estratégias de desenvolvimento do parágrafo sugeridas por MORENO e GUEDES).

Na Itália, onde a tradição comparatista e a dialetologia eram bastante consolidadas, o entusiasmo


em torno das pesquisas de geografia linguística aliado à influência da filosofia de Croce na formação dos
linguistas (CÂMARA JR., 1975, p.140) motivou a criação de um novo método.1 Essa abordagem,
conhecida como linguística espacial ou neolinguística, foi apresentada em 1925, na Introdução à
Neolinguística, de Matteo Bartoli. Sua base metodológica foi elaborada por Bartoli, que era discípulo de
Meyer-Lübke, a partir dos princípios neogramáticos, e por Giulio Bertoni, que combinava “postulados
teóricos de Vico, Humboldt, Schuchardt, Gaston Paris, Ascoli, Croce e de seu mestre Vossler” (BASSETO,
2001, p.78).
Com base nos dados levantados pela geografia linguística, o método espacial procurava explicar
a difusão das mudanças fonéticas em um ou mais territórios, mostrando que a história da língua deixava
suas marcas no espaço (VIDOS, 1996, p.81). A comparação entre usos encontrados nas áreas linguísticas
investigadas permitia associar as diferentes formas de uma palavra às etapas de sua evolução e
estabelecer “relações cronológicas entre os vários fenômenos linguísticos, o que anteriormente só se
obtinha através de documentação nem sempre disponível” (BASSETO, 2001, p.78). Em cada território era
possível encontrar “áreas isoladas, áreas laterais, áreas principais e áreas desaparecidas (isto é, áreas
homogêneas que desapareceram deixando apenas umas poucas formas remanescentes)” (CÂMARA JR.,
1975, p.103).
Embora adotassem a expressão “neolinguística” para marcar sua oposição ao programa
neogramático, devido à rigidez da concepção de leis fonéticas e à prevalência destas sobre outros fatores
causais (CÂMARA JR., 1975, p.103; BASSETO, 2001, p.78; VIDOS, 1996, p.81), os praticantes do método
espacial não descartavam as leis fonéticas. Eles elaboraram normas areais2 para indicar as regularidades
encontradas na relação entre a cronologia dos processos de mudança e a distribuição espacial das formas
registradas. Isso possibilitava interpretar historicamente o grau de difusão de uma determinada forma e
inserir numa cronologia as diferentes formas registradas em áreas centrais, consideradas mais
inovadoras, ou em áreas periféricas, consideradas mais tradicionais e conservadoras (ROBINS, 1979,
p.155).

MONTEIRO, Luciano. Modernismo como política de língua:


o Congresso da Língua Nacional Cantada (1937). Tese de doutorado,
Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem. UFF, 2021.
Disponível em: https://app.uff.br/riuff/handle/1/24834

1 O ecletismo dessa abordagem explica as discrepâncias encontradas na sua descrição por diferentes autores. Por
exemplo, Robins (1979) a descreve como “princípios da linguística estético-idealista, associados a estudos dialetais”
(ROBINS, 1979, p.155) e Vidos (1996), como “a corrente Neogramática alicerçada nos princípios da Geografia
Linguística” (VIDOS, 1996, p.81).
2 As normas areais são as seguintes: 1) se em diferentes períodos históricos há palavras distintas para designar a

mesma coisa, a palavra mais antiga é aquela registrada no local mais isolado; 2) se no mesmo período histórico há
duas formas análogas, a forma registrada em áreas periféricas é mais antiga que a correspondente encontrada em
áreas centrais; 3) as formas difundidas em áreas mais extensas são mais antigas que aquelas encontradas em áreas
mais limitadas; 4) regiões de colonização mais recente tendem a conservar formas mais antigas em comparação com
aquelas colonizadas anteriormente; 5) formas desaparecidas ou pouco utilizadas tendem a ser mais antigas que
aquelas de uso corrente (BASSETO, 2001, p.79-81; VIDOS, 1996, p.81-83).

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