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Lucca Tartaglia
Oribê Editorial—2020
©Oribê Editorial, 2020
Editoração: Mayã Fernandes
Revisão dos poemas e projeto gráfico: Lucca Tartaglia
Revisão da apresentação: Bianca Cabral
Diagramação: Oribê Editorial
Capa: Lucca Tartaglia
Auxílio Jurídico: Ana Karoline A. de Freitas
[11] Clave
A travessia
]:[
Anace Lima
9
clave
11
META FÍSICA
além do ser
há um bicho que adoece
de tanto pensar
12
FLOR ESTA DE VAGAR
13
FÓSFORO
depois de iluminar
anoitece a cabeça
e permanece
assombrado
14
DEDÁ-LOS
15
CAIXA
16
SEM FIO
17
ACERO
1.
aprendo a lento esse jeito de amar feito
quem deixa
2.
procuro uma forma de residir fora da casa
um furo
3.
a maneira exata do animal quando cresce
a mata
4.
um modo de possessão que não seja possuir
18
ISTRICE
1.
um candeeiro prenhe de luz
a cozer, no meão, pelo avesso, uma estrela
devora, de vagar, a claridade
2.
com a fenda dos anos
o carneiro abriu a pastagem
e para carpir o balido
inumou a voragem no vinco
3.
um coração aceso de pedra
erguido
um gume ferido de olor e sumo
lâmpada de anelo afogueada
cânfora enraizada no revés do chão
19
4.
do concreto das casas
extrairá o aspecto improvável da floração
o aspecto de flor
bruto e ainda quente
como um fruto a residir no coração inaudito
a semente
20
correspondênciatoda
21
21
LES TROIS-FRÈRES
que desconhece.
22
WELL
1.
depois da floração
do gracejo
o corpo despenca e
no tombo
entende
2.
depois
a chuva amainou o rigor da terra
serenando o gesto e a dureza
a crueza interna
do chão
23
PEREZSER
1.
morre um homem agarrado a um cavalo
2.
há um pássaro azul e uma jaula
sem canto sem grade
feita de couro e pena
3.
há um touro no prado e um homem agarrado
à mesma cena da noite anterior
4.
há um manto sobre o cavalo na campina
um lábaro sem cor e - por cima do brasão -
um lema
24
NAVALHA
1.
há um poço, mas a água é muito limpa,
a moça,
há o silêncio da moça atada ao poço,
o repouso da moça, o meu sossego,
o repouso da moça às vezes é o poço.
2.
o relâmpago, no seu lugar pôr o mar depois da cintilação,
deixar o trovão arrebentar em rumores de luz
4.
às vezes, há uma poça,
o moço,
há o remorso do moço às vezes,
os olhos do moço, aquela casa,
os olhos do moço como brasa
e um clarão
25
FARIA
1.
se houvesse
um chão que
me guardasse
seguro
se houvesse um muro
uma muralha
2.
se houvesse
uma antemanhã
uma anteaurora
se houvesse um estio
que apagasse
a corrente
3.
se houvesse
um lugar
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uma casa
um telhado de colmo
4.
se houvesse
uma explicação
um animal de grande porte
um corte profundo
na superfície
da pedra
5.
se houvesse
um homem sentado à porta
uma criança morta uma senhora
rezando baixo
fora de casa
a espera
6.
se houvesse
um mar que
me desse
firmeza
27
se houvesse a certeza
dos líquidos
28
TÍTULO
velejando estreito
num rio feito de míngua
vai lento zelando o casco
e o vento de não partir
e assim
as coisas principiam
a ilusão de eternizar
assim
o seu leme, mestre, segredava
contra os pés revoltos e antigos
do menino falante
o murmúrio distante dos mares
e das marés
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MACHADO
como se dissessem
regresso
30
DRUMMONEDO
2.
mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse raimundo
ou casto ou joão ou edmundo
ainda que não fosse uma solução
seria uma rima
e rimar - hoje em dia -
faria toda a diferença.
3.
joão armava para teresa
que armava para raimundo
que armava para maria
que armava para joaquim
que armava para lili
que não amava ninguém
31
já lili - nunca mais vi.
4.
as portas todas à frente
- nenhuma chave na mão
e agora?
bicho sem nome
e agora?
32
CASA
1.
você prende a luz
eu aprendo
sua presença
- lola - não cabe
3.
não direi o seu nome
em voz alta - a falta
mora no que some
o ouvido
procura a palavra que me
consome e a chama
ascende
33
embora você dentro seja
ensurdecedoramente
4.
chamei as coisas
de você - dei o seu
timbre
a entonação
repetidamente
chamei a mesa de você
a porta de você
a escada de você
e de você o carro
a esquina
a rua
repetidas vezes
como num mantra
incendiei as coisas
com o seu nome
34
nada
você
35
NATO
36
catálogoparadepois
37
5. 1.
38
5. 2.
39
5. 3.
40
5. 4.
41
5. 5.
é preciso aprender:
a) inglês b) espanhol c) francês d) mandarim
42
5. 6.
43
5. 7.
44
5. 8.
45
5. 9.
46
consertoemsolmenor
47
ESCALPO
4. 2.
devo conter o animal
de não arrebanhar o cercado
porque
de certo
há de vir o deserto e a sede
há de vir
3.
arei a terra branca
e com o animal
- aguilhado -
o sulco a vala
a força o guia
os nomes de antes
2.
ao lado
livro-me
48
como são as aves
no regaço dos poemas
feito sol
dando a sítio
a fronte descoberta
dos animais de corte
5.
dou
aos amigos de agora
nomes antigos
como fossem
os amigos de antes
agora
49
CRISÁLIDA
1.
cultivo
em um canteiro de húmus
o fogo que nenhuma torrente
saberá encontrar
atento à cavidade
e ao arranjo das pedras em torno
guardando a fagulha nova
contra o vento
2.
feito presa que soubesse
a natureza da fome no íntimo da caçada
50
LÍQUEN
na parede do segredo
desde cedo a sede queima
51
LUGAR
era só a casa
sozinha
sozinha
com ninguém do lado
52
TAURUS
trago sempre
um fio
um elo
entre os lados
se no repente da luta
a mão perde o pavio
um golpe macio breve
um animal ausente
o corpo
o homem
e a cabeça não
53
SALTO
33.
coser o cenho
alinhavando a escuta
e - na luta - abrandar
a língua e a fala
cuidando os lábios
de não achar a morte
polindo a voz
de não rachar
2.
serenar o peito escavado
apaziguando os ramos
e adiando a floração no coração das coisas intranquilas
54
4.
à beira
deito a pedra do sono
e acendo a noite inteira
como um oceano estreito
como um aceno
uma ascese
e espero a palavra
que há de lavar a sebe
das paredes e do chão
3.
o inimigo está à volta
jerónimo - está à volta
e não para o giro
55
1.
para fora da ciranda
um deus anda discreto
mudo
como a semente
a rebentar no solo
22.
de rodear a terra
e por ela os pés
- disse -
56
o galho porém
se fizer na clavícula raiz
calcanhar e cimo
0.
lavrando o campo
a semente
em cada bosque
- no verso -
busca
uma árvore
por existir
um fruto
por amanhecer
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PROMETEU
1.
que vinha trazer o fogo
que logo vinha
- disse -
trazer a chama
2.
que vinha com a noite inteira
depois da primeira hora
deitar o motor da fome
sobre o fado
o caminho feito
sobre o leito da escuridão e da espera
3.
que vinha espantar o negrume e o perfume
do medo
ateando
58
no vazio sem nome
um cuidado um ruído
um desvio
um segredo
que vinha
59
MAMUTE
1.
MAR
conjunção adversativa
2.
ATENSÃO
quando subir a maré
3.
SÉU
paraíso possessivo
4.
POR VIRTUDE DO MUITO IMAGINAR
transforma-se o amador na coisa armada
5.
NOTA PESSOAL
o poema é um fugidor
6.
HÁ UMA GOTA DE TANG
em cada dilema
60
7.
AVE MARÍTIMA
cheia de graxa
8.
HOMENS TRABALHAM NO RIO
entulhos e detritos no fundo
9.
EX-TENSÃO LÍRICA
dispositivo utilizado para limitar a corrente
10.
O BRASIL
são os outros
11.
NATUREZA DOMÉSTICA
selva densa e civilizada dos quintais
12.
UM AVIÃO PASSA
um poema nice
13.
HOMNIBUS
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sem ascento
14.
MORRO
em cada um
15.
LINHA VERMELHA
por medida de segurança
16.
RUA LUÍS DE CAMÕES
tape o direito da vista
17.
AQUELA ZONA
cosmopolidíssima
18.
TEXTÍCULO
frágil rúptil um saco
19.
ALGUNS
são muito bons são curiosos são apenas trocadilhos
62
20.
OFFSINA
trabalhar a pedra no meio do caminho
21.
MANUEL
assim eu quereria o meu último poema
63
COLOFÃO
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SOBRE O AUTOR
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parentes, amores, a Lola, etc). Aqui, no lugar onde os tempos
ensaiam parar, a criatura segue nascendo e seguirá nascendo
até nunca mais.
Contato
Instagram: @luccatartaglia
E-mail: tartaglialucca@gmail.com
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SOBRE NÓS
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Todos os direitos desta edição são reservados à Oribê Editorial
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