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ENGENHARIA AMBIENTAL E SANEAMENTO BÁSICO

TAMIRES DE OLIVEIRA FREITAS

MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Campos dos Goytacazes / RJ 2016


Em decorrência da crise ambiental vivenciada atualmente, o meio ambiente
passou a ser alvo de debates e discussões em nível mundial, sendo reconhecido na
Declaração Universal dos Direitos Humanos como um direito fundamental à vida.
Nos últimos anos, o desenvolvimento tecnológico da humanidade foi inigualável.
Em nenhum outro período histórico foram feitas tantas descobertas, em todos os campos
da ciência, gerando uma incrível capacidade de produção e de controle dos elementos
naturais. No entanto, também é o período histórico em que o ser humano gerou os meios
que podem levá-lo à extinção. O processo em curso, de contaminação excessiva do meio
ambiente natural, foi acelerado com a Revolução Industrial e sua compreensão é
fundamental para a conscientização da gravidade da situação e para a obtenção dos meios
necessários a sua superação. A Revolução Industrial foi um fenômeno internacional, que
ocorreu de maneira gradativa, a partir de meados do século XVIII e provocou mudanças
profundas nos meios de produção humanos até então conhecidos, afetando diretamente
nos modelos econômicos e sociais de sobrevivência humana. Esse fenômeno
revolucionário teve início na Inglaterra no século XVIII e rapidamente se espalhou por
outros recantos do planeta, promovendo o crescimento econômico e possibilitando uma
maior geração de riqueza, que por sua vez traria prosperidade e melhor qualidade de vida.
No entanto, essa revolução desencadeou dois processos que muito afetam o meio
ambiente: o consumo dos recursos naturais, que servem de matéria-prima para a
fabricação dos mais diversos produtos, e o lançamento de poluentes na natureza.
Até o final do século XIX, a demanda por matérias-primas e energia, assim como
o nível de geração de resíduos resultante das atividades econômicas produtivas em todo
o mundo, não eram capazes de comprometer a dinâmica dos ambientes naturais. No
entanto, no decorrer do século XX houve o agigantamento do sistema econômico mundial
e uma consequente projeção deste sobre o sistema ecológico, revelando as graves
consequências desse entroncamento entre os dois sistemas, em razão da probabilidade de
exaustão dos recursos naturais e da capacidade limitada dos ecossistemas absorverem as
agressões impostas pela desmedida expansão econômica e pelo progresso tecnológico.
O modelo de desenvolvimento econômico originado no século XX se tornou
incapaz de conciliar as necessidades e exigências (consumistas) que lhe são intrínsecas,
com a preservação das condições básicas que proporcionasse a garantia da qualidade de
vida das sociedades. Em decorrência do desenvolvimento acelerado do capital e a busca
de garantir maior lucratividade, a natureza passou a ser cada vez mais devastada. Visando
amenizar os efeitos do capitalismo sobre o meio ambiente, foram realizados vários
debates referentes à superação desses problemas com a busca de alternativas que
pudessem diminuir os efeitos da poluição e a devastação ambiental. O modelo de
produção industrial capitalista originado em fins do século XIX, impulsionado por uma
demanda produtivo-consumista (produção em massa, culto ao consumo ilimitado,
individualismo exacerbado e associação da felicidade à aquisição de bens materiais)
trouxe um movimento de saturação dos recursos naturais e uma série de problemas que,
ao longo do tempo, levaram à insustentabilidade das sociedades contemporâneas. Os
danos ambientais provocados pela atividade humana têm sido, há algumas décadas, fonte
de preocupação e pesquisa das comunidades científicas, que têm alertado para as graves
consequências do uso indiscriminado dos recursos naturais, tais como o aquecimento
global, a desertificação, a destruição dos ecossistemas, provocada pelo desmatamento, e
a poluição com reflexos imediatos na saúde e sobrevivência das pessoas.
O problema ambiental, embora possa apresentar diferenças nacionais e regionais,
é antes de tudo um problema mundial que envolve todos os Estados e todos os setores da
sociedade em geral. Assim sendo, é necessário criar formas de proteção da natureza que
sejam planetárias que não fiquem dependentes somente de interesses locais dos governos
nacionais
Nesse contexto de crise ambiental convém ressaltarmos, que o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado está no rol dos direitos que todos os homens
possuem, independentes de raça, sexo, cor ou religião, sendo reconhecido na Declaração
Universal dos Direitos Humanos como um direito fundamental diretamente relacionado
à saúde e a qualidade de vida. Sendo, portanto, um bem jurídico que necessita de uma
proteção especial por parte do poder público. No entanto, clara é a falta de efetividade de
tal direito na sociedade contemporânea e a crise ambiental que nela se instalou.
A quantidade e a seriedade dos problemas ambientais que as sociedades vêm
enfrentando nas últimas décadas, atribuem à própria economia a necessidade de analisar
e reavaliar a questão ambiental e buscar formas de conciliar desenvolvimento econômico
com proteção ambiental, considerando que meio ambiente e desenvolvimento não são
desafios separados, mas estão inevitavelmente interligados. O desenvolvimento não se
mantém se a base de recursos ambientais se deteriora. Por sua vez, o meio ambiente não
pode ser protegido se o crescimento econômico não levar em consideração as
consequências de uma destruição ambiental global.
Com o incremento das discussões a respeito da proteção ao meio ambiente,
principalmente em virtude do tema do aquecimento global e das funestas implicações por
ele trazidas, vemos também, a todo instante, a invocação de uma velha sentença: a de que
a proteção da natureza é prejudicial ao crescimento ou desenvolvimento econômico.
Foi este, por exemplo, o argumento para a não-assinatura do protocolo de Kioto
e, mais recentemente no Brasil, para que se pressionassem o licenciamento ambiental das
hidrelétricas do Rio Madeira. Não faltam, nestas acaloradas divergências, que se pretende
agora, por este pretexto, impedir que nações menos desenvolvidas cresçam e disputem
em situação de igualdade com os países desenvolvidos assim.
Se observarmos com atenção, veremos que a promoção do meio ambiente,
principalmente no comércio e indústria, se manifesta através do aumento substancial da
busca por eficiência e inovação. É evidente que o interesse pelo meio ambiente exerceu
uma benéfica influência pela maior economia dos motores de automóveis, sem que isso
tenha implicado perda de potência. Da mesma forma, o tratamento de resíduos industriais
tem proporcionado excelentes fontes de receita para industrias que com ele tem se
preocupado. Usinas de cana têm vendido a energia obtida com o bagaço e o setor de
reciclagem passa por um paulatino e vultoso desenvolvimento.
Além disso, com maior ou menor estupefação, o crescimento da sociedade da
informação traz em seu bojo toda uma nova economia, com sites, softwares e tecnologias
que a cada vez ocupam maior espaço na economia e que possuem como característica
fundamental o fato de serem pouco impactantes à natureza.
Os efeitos benéficos da temática do meio ambiente ao desenvolvimento são
tamanhos que hoje não poucos economistas se dedicam com afinco a esta discussão,
chegando até mesmo a se questionar se apenas este fenômeno dentro das empresas seria
capaz de mudar o mundo.
Ante a problemática ambiental vivenciada atualmente, o discurso da
responsabilidade social empresarial se configura como uma forma de compensar ou
minimizar os impactos oriundos do processo de desenvolvimento capitalista, e por meio
dessas ações busca-se conquistar novos mercados, assegurando assim a manutenção e
desenvolvimento do sistema capitalista em curso.
A preservação passa a ser o lema das grandes empresas, que cientes da
necessidade de garantir a produção e o lucro futuro, tendem a investir em tecnologias que
reduzam o nível de destruição do meio ambiente, a consciência ecológica empresarial tem
sido motivada, em parte, pelas pressões contínuas do poder público, da opinião pública e
dos consumidores, e em muitos casos pela possibilidade de melhorar sua imagem junto a
determinados mercados, o que resulta no aumento do número de consumidores, melhores
empregados, melhores fornecedores, entre outras vantagens. Uma empresa que é vista
como socialmente responsável possui uma vantagem estratégica em relação àquela que
não tem essa imagem perante o público. O crescente nível de informação e
conscientização da sociedade está alterando a gestão das empresas e impelindo-as a
assumirem novos compromissos. Modelos e sistemas de gestão inovadores estão sendo
propostos para adaptar as empresas às exigências de uma economia globalizada. Para
sobreviver e serem competitivas nesse ambiente turbulento as empresas procuram, cada
vez mais, cumprir as obrigações legais e atender as exigências do mercado consumidor.
Quanto à igualdade, a interferência desta discussão também se impõe. O
desenvolvimento de biocombustíveis pode mover efetivamente o aparecimento de novas
nações no cenário energético. Além disso, a cada dia mais pessoas cedem ao
entendimento de que a tutela ao meio ambiente é incompatível com a miséria e a exclusão
social. De fato, de nada adiantar gerar uma nova economia não-impactante, se o acesso
dela estiver restrito a apenas um punhado de favorecidos.
Se por um lado é inexorável reconhecer a não incompatibilidade entre meio
ambiente e desenvolvimento, o é também constatar que a proteção ao primeiro impõe um
monumental esforço de reconstrução de uma sociedade. Isto não significa destruir o que
existe, mas impõe o maior controle e desestímulo a setores que hoje ainda desempenham
um papel econômico preponderante. Não se trata, portanto, de impedir o aumento da
riqueza, mas de distribuí-lo, infelizmente não por justiça social, mas por necessidade de
preservação de nossas gerações futuras.
Com efeito, a preservação do meio ambiente não é necessariamente incompatível
com a desigualdade, mas o é com a miséria. Não é com a riqueza, mas é com a ostentação.
Não é com o consumo, mas é com o desperdício.
Portanto, embora seja em vários setores promotor do desenvolvimento, em outros
efetivamente impõe dificuldades. Faz-se então necessário uma reconstrução que apesar
de não implicar renúncia ao crescimento econômico, certamente trará prejuízos a
indivíduos e empresas que jamais se preocuparam com a preservação. Este fenômeno é
absolutamente natural em uma sociedade capitalista e, não fosse pelo meio ambiente,
certamente aconteceria pela natureza cíclica do sistema, por guerras ou outros fenômenos.
Melhor que seja pela qualidade de vida e em nome das futuras gerações.
Obviamente, como sempre ocorre, esta reconstrução, não é natural, sendo uma
resultante de conflitos sociais, políticos e econômicos que se expressam das mais variadas
maneiras e nos mais diversos ambientes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. São


Paulo: Atlas, 2007.

DUARTE, Marise Costa de Souza. Meio Ambiente Sadio: direito fundamental em crise.
1ª. ed. (ano 2005), 2ª tir. Curitiba: Juruá, 2006.

NEIVA, Vitor. Meio Ambiente x Desenvolvimento. Será mesmo?. Edição nº44.


Responsabilidade social, 2007. Disponível em:
http://www.responsabilidadesocial.com/artigo/meio-ambiente-x-desenvolvimento-sera-
mesmor/. Acessado em 23/08/2016.

NETO, Francisco Paulo de Melo; FRÓES, César. Responsabilidade Social e Cidadania


Empresarial – A Administração do Terceiro Setor. 2ª ed. Rio de Janeiro: Qualitymark,
2001.

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