Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO: Este artigo trata da Lei Geral de Proteção de Dados e os reflexos de sua
aplicabilidade às relações de trabalho. O problema de pesquisa visa estabelecer se
na aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados haverá responsabilização do
empregador no tratamento de dados pessoais do empregado. Para isso, aborda-se
inicialmente os aspectos gerais da Lei Geral de Proteção de Dados. Em seguida,
identifica-se os momento da aplicação da Lei nas relações de trabalho. E finalmente,
no terceiro tópico, será estudado o entendimento do Tribunal Regional da 4ª Região
e do Tribunal Superior do Trabalho nas decisões sobre o tema. Para tanto, utilizou-
se o método dedutivo na análise geral da Lei Geral de Proteção de Dados e suas
implicações com as relações de trabalho, por meio de pesquisa bibliográfica, do
entendimento jurisprudencial, bem como publicações em revistas e periódicos
jurídicos. A princípio, infere-se que é possível responsabilizar o empregador no
tratamento de dados pessoais do empregado na aplicação da Lei Geral de Proteção
de Dados. Por outro lado, cogita-se que a Lei não foi desenvolvida para ser aplicada
às relações de trabalho. Por fim, conclui-se que a Lei Geral de Proteção de Dados
deve ser verificada na esfera trabalhista visando à proteção do trabalhador, dada a
sua situação de vulnerabilidade perante o empregador, e em caso de
descumprimento desta Lei, em razão da responsabilidade do empregador, que
sejam aplicadas as sanções previstas e que haja comportamento preventivo na
aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados nas relações de trabalho.
ABSTRACT: This article deals with the General Data Protection Law and the
consequences of its applicability to labor relations. The research problem aims to
establish whether, in the application of the General Data Protection Law, the
employer will be held responsible for the processing of the employee's personal data.
For this, the general aspects of the General Data Protection Law are initially
addressed. Then, the moment of application of the Law in labor relations is identified.
And finally, in the third topic, the understanding of the Regional Court of the 4th
Region and the Superior Labor Court in decisions on the subject will be studied.
Therefore, the deductive method was used in the general analysis of the General
Data Protection Law and its implications for labor relations, through bibliographical
research, jurisprudential understanding, as well as publications in magazines and
legal journals. At first, it is inferred that it is possible to hold the employer responsible
for the processing of personal data of the employee in the application of the General
1
Artigo elaborado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC II.
2
Acadêmico no curso de Bacharelado em Direito da Faculdades Integradas São Judas Tadeu. E-mail:
josenice.codesso@sjt.edu.br.
3
Orientadora do Acadêmico no curso de Bacharelado em Direito da Faculdades Integradas São Judas Tadeu. E-mail:
barbara.cezaro@saojudastadeu.edu.br.
2
Data Protection Law. On the other hand, it is thought that the Law was not developed
to be applied to labor relations. Finally, it is concluded that the General Data
Protection Law must be verified in the labor sphere, aiming at the protection of the
worker, given his situation of vulnerability before the employer, and in case of non-
compliance with this Law, due to the responsibility of the employer , that the
prescribed sanctions are applied and that there is preventive behavior in the
application of the General Data Protection Law in labor relations
INTRODUÇÃO
4
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de 23
de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 13 mai.
2022.
5
SARLET; MARINONI; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 497.
5
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
9
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de 23
de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 19 jun.
2022.
10
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406compilada.htm. Acesso em 28 out. 2022.
11
Ibidem.
12
Ibidem.
13
Ibidem.
7
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LXXII - conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo
sigiloso, judicial ou administrativo.17
16
RAMOS, Lara Castro Padilha; GOMES, Ana Virgínia Moreira. Lei geral de proteção de dados pessoais e seus reflexos nas
relações de trabalho. SCIENTIA IURIS, Londrina, v.23, n.2, p. 127-146, jul. 2019. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/article/view/35794/25803. Acesso em: 13 mai. 2022.
17
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Congresso Nacional, 2022. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 27 set. 2022.
18
SOLER, F. G. Proteção de Dados: reflexões práticas e rápidas sobre a LGPD. São Paulo: Saraiva, 2021. p. 61. E-book.
9
dados. De tal forma que os direitos do titular estão dispostos dos artigos 17 ao 22 da
LGPD e a ele são garantidos os direitos de liberdade, intimidade e de privacidade. 19
A intenção da lei é dar garantia aos titulares de que haja tratamento de seus
dados mediante uma finalidade específica. Também, que não sejam revelados sem
motivação. E ainda, como direito subjetivo, que sejam invocados para bloqueio,
eliminação e exclusão, a qualquer tempo, dos dados desnecessários e ao final da
relação entre o titular e quem detém seus dados.
Desta forma, dentro de uma organização, cada um dos sujeitos tem uma
função, nas quais o encarregado, chamado de DPO (Data Protection Officer)
funciona como o canal de comunicação entre os setores de uma empresa na
aplicação de Compliance20, no que diga respeito à proteção de dados, e ainda, o
caminho de acesso ao titular dos dados e à própria Agência reguladora.
Além do encarregado, tem-se o controlador, que vem a ser o responsável
pela tomada de decisão, ou seja, é quem controla a forma do tratamento dos dados,
desde a coleta à exclusão, responsável por boa parte das obrigações; e ainda o
operador, que é quem realiza o tratamento dos dados dos titulares em nome do
controlador, dentro da base legal.
Art. 50. Os controladores e operadores, no âmbito de suas competências,
pelo tratamento de dados pessoais, individualmente ou por meio de
associações, poderão formular regras de boas práticas e de governança
que estabeleçam as condições de organização, o regime de funcionamento,
os procedimentos, incluindo reclamações e petições de titulares, as normas
de segurança, os padrões técnicos, as obrigações específicas para os
diversos envolvidos no tratamento, as ações educativas, os mecanismos
internos de supervisão e de mitigação de riscos e outros aspectos
relacionados ao tratamento de dados pessoais .21
consultada caso haja dúvida sobre algum procedimento a ser tomado pelo
controlador na tomada de decisão, a fim de promover a adequação organizacional
no que tange à proteção de dados.
Por conseguinte, é necessário que quem realiza o tratamento de dados, seja
pessoa física ou jurídica e independente do modelo de negócio ou atividade, cumpra
a LGPD. Em caso de descumprimento, estão previstas sanções administrativas,
civis e penais, como suspensão ou proibição de atividades que se utilizem do
tratamento de dados pessoais e aplicação de multa.
As sanções previstas pela ANPD por descumprimento estão dispostas no
artigo 52 da LGPD, e poderão ser através desde advertências até a aplicação de
multas simples ou diárias, podendo chegar ao valor expressivo de R$ 50.000.000,00
(cinquenta milhões de reais), além do bloqueio e eliminação dos dados. 23
Por isso, entende-se que os dados pessoais devam ser utilizados de forma
responsável, de maneira que o usuário/cidadão sinta-se seguro ao compartilhar suas
informações a determinado agente, e que este último, ao promover o devido
tratamento, o faça de maneira transparente ao titular dos dados. Desta forma, a
LGPD veio trazer equilíbrio entre desenvolvimento e tecnologia e a privacidade dos
dados pessoais.
Dessa forma, assim visto os aspectos gerais da LGPD, passa-se a verificar no
próximo tópico os reflexos de sua aplicabilidade nas relações de trabalho.
Desta forma, fica claro que é primordial que seja dado ao trabalhador a
garantia da dignidade da pessoa humana, visto estar subordinado ao empregador na
relação de trabalho. É necessário que sejam estabelecidas medidas que
proporcionem uma relação de igualdade entre o empregado e o empregador. E
garantir que não haja discriminação nas relações de trabalho.
Nesse sentido, o Direito do Trabalho deve estar voltado e atento aos direitos
de intimidade e privacidade do trabalhador, visto que, além de representar a garantia
da dignidade da pessoa humana à proteção jurídica, também faz jus às adequações
pelas quais passa o mercado de trabalho na atualidade, no que diz respeito ao
tratamento de dados do empregado, seja por via física ou automatizada.
Além disso, a Consolidação das Leis do Trabalho traz como proteção ao
empregado, vítima de danos, a leitura do artigo 223-C: “A honra, a imagem, a
intimidade, a liberdade de ação, a autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer e a
integridade física são os bens juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.” 26
Não deve ser esquecido dos poderes exercidos pelo empregador sobre os
empregados. O poder diretivo é o de organização das atividades, cargos e funções
30
ROMAR, Carla Teresa Martins. Direito do Trabalho Esquematizado. 5. ed. Coord. Pedro Lenza. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018, p. 64.
31
SANTOS, Flavia Alcassa dos. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a Exposição de Dados Sensíveis nas Relações
de Trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 10ª Região, Brasília, v. 24, n. 2, 2020.
32
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de
23 de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 19
jun. 2022.
33
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Congresso Nacional, 2022. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 20 jun. 2022.
14
Além disso, ainda na fase pré-contratual, na qual não existe vínculo jurídico
entre o empregador e o candidato à vaga, haverá tratamento de dados por
empregadores ou agências de emprego. Nessa fase não se deve ter acesso aos
dados sensíveis do candidato, sendo permitida a coleta de dados que realmente
estejam relacionados à vaga, bem como a escolaridade e atribuições técnicas
inerentes ao cargo que pretende se eleger.37
E no caso em que um candidato não seja selecionado para o preenchimento
da vaga não há motivos para o armazenamento de seus dados por conta da
empresa controladora. Com a vigência da LGPD, se o candidato der o
consentimento para a empresa manter seus dados e com a finalidade específica e
estabelecida, como exemplo, uma futura oferta de emprego, nesse caso, não haverá
óbice.38
Já durante a vigência do contrato de trabalho, para que haja o tratamento de
dados aplicam-se as hipóteses previstas nos incisos II, V e IX do artigo 7º da Lei:
Não deve ser esquecido que nos últimos dois anos sentiu-se os efeitos da
pandemia da COVID-19, e com ela a transformação do trabalho presencial e remoto.
Nesse sentido, as modalidades home office e teletrabalho passaram a emergir nas
relações laborais e com elas um aumento da troca de informações e dados
36
BRASIL. Lei 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei
nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis n º 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de
julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm. Acesso em 22 nov. 2022.
37
VALE, Silvia Isabelle Ribeiro Teixeira do; LACERDA, Rosangela Rodrigues Dias de. Lei geral de proteção de dados e
relação de emprego: controvérsias. Revista LTr: Legislação do Trabalho. São Paulo, v. 85, n. 1, p. 69-80, jan./2021.
38
Ibidem.
39
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de
23 de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 17
out. 2022.
16
46
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de
23 de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 19
jun. 2022.
47
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm. Acesso em 17 out. 2022.
48
CORREIA, Henrique; BOLDRIN, Paulo Henrique Martinucci. Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Direito do
Trabalho. Repertório de Jurisprudência IOB, v. II, n 01/2021. Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/09/25/lei-geral-de-protecao-de-dados-lgpd-e-o-direito-trabalho/. Acesso
em jul. 2022.
49
ALCANTARA, Silvano Alves. Legislação trabalhista e rotinas trabalhistas. Curitiba: Intersaberes, 2016.p 56.
50
PINHEIRO, Iuri; BOMFIM, Vólia. A lei geral de proteção de dados e seus impactos nas relações de trabalho. In: MIZIARA,
Raphael; MOLLICONE, Bianca; PESSOA, André (Org.) Reflexos da LGPD no Direito e no Processo de Trabalho. São
Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2022. p. 72.
18
51
ALVES, Amauri Cesar; ESTRELA, Catarina Galvão. Consentimento do trabalhador para o tratamento de seus dados pelo
empregador: análise da subordinação jurídica, da higidez da manifestação de vontade e da vulnerabilidade do trabalhador no
contexto da LGPD. Revista Síntese Trabalhista e Previdenciária, v. 31, n. 375, set. 2020, p. 35.
52
CORREIA, Henrique; BOLDRIN, Paulo Henrique Martinucci. Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Direito do
Trabalho. Repertório de Jurisprudência IOB, v. II, n 01/2021. Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/09/25/lei-geral-de-protecao-de-dados-lgpd-e-o-direito-trabalho/. Acesso
em jul. 2022
53
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm. Acesso em 17 nov. 2022.
54
Ibidem.
19
Informativos 11455 e 19156 do TST. Por outro lado, também já foi decidido pela
exigência de CID, conforme Informativo 126 do TST 57.
Diante das controvérsias, há o entendimento de que algumas doenças
impõem a dispensa da apresentação de CID, em face de sua gravidade, até mesmo
para evitar tratamento considerado discriminatório. Entretanto, doenças
consideradas simples, merecem ser referidas em atestado até mesmo para que o
empregador possa organizar as rotinas diárias da empresa. Por isso, à luz da LGPD,
um atestado médico que não contenha a CID deve ser recebido, uma vez que a não
aceitação pode vir a ser motivo para uma eventual ação trabalhista. 58
Não menos importante, há a questão das convenções coletivas e os acordos
coletivos de trabalho. Pois o acesso aos dados versam sobre direitos fundamentais
dos trabalhadores como intimidade e privacidade, entre outros. Para isso, depende a
autorização individual de cada titular para o uso de seus dados. 59Por consequência,
a proteção de dados poderá ser tratada através da negociação coletiva em nome
dos trabalhadores.
E ainda, de tamanha importância, se faz necessária a apreciação do
tratamento dos dados pessoais quando da extinção do contrato de trabalho.
Conforme disposição do artigo 15 da LGPD, uma vez extinta a sua necessidade,
devem ser eliminados os dados pessoais. Por outro lado, o artigo 16, caput, traz as
exceções que devem ser consideradas quando da fase pós-contratual.
55
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Informativo TST nº 191, de 19 de fevereiro a 1º de março de 2019.
Jurisprudência. Brasília, 2019. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/95672. Acesso em: 26 jun. 2022.
56
Ibidem.
57
Ibidem.
58
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Informativo TST nº 191, de 19 de fevereiro a 1º de março de 2019.
Jurisprudência. Brasília, 2019. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12178/95672. Acesso em: 26 jun. 2022.
59
CORREIA, Henrique; BOLDRIN, Paulo Henrique Martinucci. Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o Direito do
Trabalho. Repertório de Jurisprudência IOB, v. II, n 01/2021. Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/09/25/lei-geral-de-protecao-de-dados-lgpd-e-o-direito-trabalho/. Acesso
em jul. 2022
20
Não podem ser esquecidas que algumas informações são obrigatórias por
exigência legal, e não podem ser eliminadas pelo empregador, como documentos
que comprovem a relação de emprego, devido à fiscalização trabalhista e
previdenciária. E em caso de divergência em matéria trabalhista, se o empregador
necessite de produção de prova, que possa armazenar os dados pelo mínimo da
prescrição bienal, caso em que não se faz necessário o consentimento do titular.
Dessa forma, havendo a necessidade de o empregador manter o
armazenamento dos dados do empregado, não fica autorizado a divulgar esses
dados para terceiros, principalmente se puder trazer algum malefício ao titular. É a
chamada anonimização de dados prevista na LGPD.
Cabe lembrar que antes do advento da LGPD o Poder Judiciário já
evidenciava o cuidado com os dados pessoais expostos dos sujeitos trabalhistas, na
medida em que o tratamento não fosse dado além do necessário à publicidade
processual. Por isso também o uso do sigilo das peças processuais. 61
O empregado também não poderá ser prejudicado ao ajuizar uma
reclamatória trabalhista, e que de má-fé seu nome seja inscrito em uma lista que
venha comprometer sua reputação ou sua reinserção no mercado de trabalho.
Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite, poderá ocorrer o dano moral nesses casos.
60
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de
23 de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 17
out. 2022.
61
MINHARRO, Erotilde Ribeiro dos Santos. Provas digitais, lei geral de proteção de dados e publicidade processual. In:
MIZIARA, Raphael; MOLLICONE, Bianca; PESSOA, André (Org.) Reflexos da LGPD no Direito e no Processo de Trabalho.
São Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2022. p. 486.
62
LEITE, C. H. B. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2022. E-book. p. 132.
21
Pode-se dizer, então, que o trabalhador como titular dos dados que tiver seus
direitos violados à luz da LGPD poderá informar à ANPD, para que este órgão
fiscalizador promova as medidas cabíveis, a fim de que o empregador atenda a
determinação legal da prevista neste regramento jurídico.
Além disso, o descumprimento da LGPD resultará em ações trabalhistas
movidas contra o empregador, cujos conflitos poderão se dar por atos
discriminatórios na utilização dos dados, acarretando danos ao titular, por
vazamento de dados sensíveis, gerando obrigações de pagar por danos morais e
materiais, e o chamamento da ANPD pelo juiz responsável pelo caso concreto. 63
Quanto à responsabilidade do controlador ou operador, no exercício do
tratamento de dados, e no dano causado, quando da violação da LGPD, o artigo 42
traz a previsão. O controlador trata-se do próprio empregador e o operador uma
empresa ou um funcionário contratado por ele para o exercício da função. 64
Além disso, o próprio Código Civil determina no artigo 927 que aquele
cometer ato ilícito dos artigos 186 e 187, e causador de dano a outrem é obrigado a
63
LIMA, Adrianne. LGPD no Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2021.
64
JUNIOR, Vicente Vasconcelos Coni; FILHO, Rodolfo Pamplona. A lei geral de proteção de dados e seus reflexos nas
relações jurídicas trabalhistas. In: MIZIARA, Raphael; MOLLICONE, Bianca; PESSOA, André (Org.) Reflexos da LGPD no
Direito e no Processo de Trabalho. São Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2022. p. 126.
65
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de
23 de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 28
out. 2022.
22
73
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de
23 de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 07
nov. 2022.
74
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. 4. Região. Recurso Ordinário Trabalhista nº 0020333-43.2021.5.04.0731. 4ª.
Turm https://www.tst.jus.br/informativos-lp/-/asset_publisher/0ZPq/document/id/27098787a. Relator Desembargador. André
Reverbel Fernandes. Porto Alegre, 24 de março de 2022. Disponível em: https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos. Acesso
em 07 nov. 2022.
75
BRASIL, Tribunal Regional do Trabalho. 4. Região, 1ª Seção de Dissídios Individuais, 0022381-34.2021.5.04.0000 MSCIV,
Relatora Desembargadora Angela Rosi Almeida Chapper. Porto Alegre, 22 março de 2022. Disponível em:
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos. Acesso em 27 jun. 2022.
76
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. CSJT - Ato Conjunto TST.CSJT.GP nº 4, de 12.3.2021, DEJT de 19.3.2021 –
Republicação. Disponível em: https://www.tst.jus.br/informativos-lp/-/asset_publisher/0ZPq/document/id/27098787. Acesso em
07 nov. 2022.
25
77
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Ato n. 190/TST.GP, de 29 de maio de 2020. Disponível em:
https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/172914. Acesso em 07 nov. 2022.
78
BRASIL, Superior Tribunal do Trabalho. E-RR-933-49.2012.5.10.0001, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais. Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 2022. Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, 25 fev.
2022. Disponível em: https://jurisprudencia.tst.jus.br. Acesso em 07 nov. 2022.
79
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de
23 de abril de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 07
nov. 2022.
80
BRASIL, Superior Tribunal do Trabalho. E-RR-933-49.2012.5.10.0001, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais. Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 2022. Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, 25 fev.
2022. Disponível em: https://jurisprudencia.tst.jus.br. Acesso em 07 nov. 2022.
26
CONSIDERAÇÕES FINAIS
(re) adequação devem ser promovidas pelas organizações a fim de garantir o direito
dos titulares e de evitar demandas na esfera trabalhista.
E para finalizar, vislumbra-se que o assunto não se esgota aqui, visto a LGPD
tratar-se de uma nova legislação e sua abrangência está aberta a novos
entendimentos e percepções por parte de pesquisadores e de doutrinadores de
nosso ordenamento jurídico.
REFERÊNCIAS
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc115.htm.
Acesso em: 26 mai. 2022.
LEITE, C. H. B. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2022. E-
book.
MINHARRO, Erotilde Ribeiro dos Santos. Provas digitais, lei geral de proteção de
dados e publicidade processual. In: MIZIARA, Raphael; MOLLICONE, Bianca;
PESSOA, André (Org.) Reflexos da LGPD no Direito e no Processo de Trabalho.
São Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2022.
PIERONI, Verissa Coelho Cabral. Noções gerais sobre proteção de dados nas
relações de emprego. In: MIZIARA, Raphael; MOLLICONE, Bianca; PESSOA, André
(Org.) Reflexos da LGPD no Direito e no Processo de Trabalho. São Paulo:
Thompson Reuters Brasil, 2022.
PINHEIRO, Iuri; BOMFIM, Vólia. A lei geral de proteção de dados e seus impactos
nas relações de trabalho. In: MIZIARA, Raphael; MOLLICONE, Bianca; PESSOA,
André (Org.) Reflexos da LGPD no Direito e no Processo de Trabalho. São
Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2022.
32
RAMOS, Lara Castro Padilha; GOMES, Ana Virgínia Moreira. Lei geral de proteção
de dados pessoais e seus reflexos nas relações de trabalho. SCIENTIA IURIS,
Londrina, v.23, n.2, p. 127-146, jul. 2019. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/iuris/article/view/35794/25803. Acesso em:
13 mai. 2022.
ROQUE, Andre. A tutela coletiva dos dados pessoais na lei geral de proteção de
dados pessoais (LGPD). Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP, Rio de
Janeiro, ano 13, v. 20, n. 2, mai./ago. 2019. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/redp/article/view/42138/30270. Acesso em 13 mai.
2022.
VALE, Silvia Isabelle Ribeiro Teixeira do; LACERDA, Rosangela Rodrigues Dias
de. Lei geral de proteção de dados e relação de emprego: controvérsias. Revista
LTr: Legislação do Trabalho. São Paulo, v. 85, n. 1, p. 69-80, jan./2021.