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Opera Mundi - Índia: energia nuclear coloca em risco pescadores e camponeses em Tamil Nadu 14/07/13 00:17

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ÁSIA
13/07/2013 - 08h00 | Luis A. Gómez | Calcutá

Índia: energia nuclear coloca em risco


pescadores e camponeses em Tamil
Nadu
Região foi alvo de tsunami que varreu Sudeste Asiático em 2004.
Alarme cresceu após onda afetar usina no Japão em 2011

No extremo sul do país, justo onde termina a terra e se adivinha à distância as praias do Sri Lanka, o
tsunami de 2004 invadiu a costa da Índia e levou 12405 vidas. As águas lamberam várias dezenas de
metros de terra firme no Estado de Tamil Nadu, o mais afetado pelo desastre. Foi assim, na zona
costeira perto da aldeia de Idindharakai, onde o governo hindu há poucos dias começou a operar a nova
planta nuclear de Koodankulam. O alarme é geral entre a população, salvo alguns burocratas e o
governo russo, que financia o projeto.

Leia mais:
Mineração, pobreza e repressão à guerrilha maoísta afligem indígenas na Índia

Arquivo pessoal

Moradores de Idindharakai e de outras


comunidades – pescadores e
camponeses pobres em sua maioria – se
organizaram no Movimento Popular
contra a Energia Nuclear (PMANE, por
sua sigla em inglês).
[S.P. Udayakumar, do PMANE: "globalização nuclear" segue "a mesma lógica da hipocrisia norte-
americana"]

Milhares protestam constantemente, enfrentando desarmados a polícia. Segundo S.P. Udayakumar,


figura principal do PMANE, “hoje há 312 denúncias contra 227 mil pessoas (nomeadas e não
nomeadas), com acusações como a insurreição contra 8500 pessoas e de ‘guerra conta o Estado’
contra outras 13500.”

As manifestações contra a planta nuclear começaram há 12 anos, quando foi inaugurado o projeto, mas
se intensificaram no final de 2011, depois do desastre provocado pelas ondas na Usina de Fukushima
Daiichi, no Japão.

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Recentemente o diretor responsável pelo


local, presente na hora do vazamento de
material radioativo, faleceu de câncer.

Em 10 de setembro do ano passado, em


uma das maiores concentrações do
movimento, milhares de pessoas
pretendiam marchar da praia até a planta,
mas foram interceptadas por um
contingente de 6 mil policiais, que usou
cassetetes e disparou livremente. Morreu
Anthony Joseph, um pescador de 48
anos.

Queima do carvão

Os acontecimentos poderiam ser


analisados levando em conta que a Índia,
terceiro produtor mundial de carvão,
precisa de alternativas de matriz
energética: pouco mais de 51% da
energia produzida vem da queima de
carvão. Dessa forma, a mudança
climática e a necessidade de energias
limpas poderiam explicar o problema,
mas não explicam o uso de materiais de
baixa qualidade e a falta de inspeção das
obras por parte do governo, como o
PMANE denunciou nos últimos dois anos.

Tampouco explica a férrea resistência da


população, que organiza concentrações
massivas, noites de vigília com crianças
na praia e, também, moveu processos contra o governo em diversas cortes por todas as irregularidades.
“Faz tempo que apresentamos uma ação na Suprema Corte de Nova Délhi, exigindo cópias do Informe
de Avaliação do Local e do Informe de Análise de Segurança. Isso está para ser resolvido”, exemplifica
a Opera Mundi Udayakumari.

Repressão em frente a Koodankulam, em setembro de 2012:

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De toda forma, a produção de carvão cresce anualmente. E o acordo de financiamento para


Koodankulam segue vigente, como explicou o embaixador russo Alexander Kadakin. “Somos o amigo
genuíno da Índia”, disse em um evento em maio, “sócio privilegiado, estratégico e especial”.

De fato, Kadakin não somente aprovou o acordo nuclear entre russos e hindus, ele também atacou as
pessoas que protestam, acusando-as de receber financiamento “externo” e negando as denúncias.
“Nada está errado. Se algo estivesse errado, como poderia uma pasta militar conjunta ultrapassar os 20
bilhões de dólares?”, arrematou.

Bandeiras negras

Depois da repressão em setembro veio a solidariedade, como a dos sobreviventes do desastre químico
provocado pela Union Carbide em Bhopal (1984). Sessenta cientistas indianos publicaram uma carta
pedindo ao governo mais segurança e transparência na instalação de Koodankulam e A.
Gopalakrishnam, ex-diretor do Comitê de Controle da Energia Atômica da Índia, publicou há alguns dias
uma análise detalhando as falhas técnicas do projeto.

Por sua vez, o governo hindu acusou o PNAME de ser parte de uma conspiração contra o
desenvolvimento. E, baseado nisso, congelou contas e fundos recebidos do exterior de mais de 20
ONGs que tiveram contato com o conflito. “Dissemos muitas vezes que o governo não tem prova
alguma que comprove suas alegações”, disse o dirigente, que há dois meses divulgou suas finanças e
propriedades para demonstrar que não recebe financiamento algum.

Nesse sentido, e com Koodankulam pronta para produzir energia elétrica, o governo acelerou a
construção de outra planta em Chutka, no estado de Maya Pradesh. Ali, dezenas de milhares de índios
gondi foram retirados de suas comunidades para a construção de represas do projeto nuclear. E
começaram a se preocupar, não apenas por seus territórios, casas e modos de vida. Essa região no
centro da Índia tem uma intensa atividade sísmica. Desta vez, o dinheiro e o apoio vêm de Washington.

O PMANE protestou em Idindharakai no dia 23 de junho, em uma marcha de bandeiras negras, contra a
visita do secretário de Estado John Kerry, que veio entre outras coisas para ratificar o acordo nuclear
entre os Estados Unidos e o governo em Délhi. Os ativistas tâmeis dizem que esta “globalização
nuclear” segue “a mesma lógica da hipocrisia norte-americana, enfocada no dinheiro e a decepção
imperialista.”

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