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RESENHA TEMÁTICA DOS ARTIGOS "FAZENDO POLÍTICA EM OUTROS CONGRESSOS:

TRAMAS RELIGIOSAS, PRÁTICAS MIDIÁTICAS E A ESTÉTICA DA


POLÍTICA NAS PERIFERIAS URBANAS DO RIO DE JANEIRO" E "PRESOS
DO LADO DE FORA:
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS COMO ZONAS DE EXÍLIO URBANO"
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DE CARLY BARBOZA MACHADO

Alice Rosana Bento de Oliveira


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

MACHADO, Carly Barboza. Fazendo política em outros Congressos: tramas religiosas e


práticas midiáticas e a estética da política nas periferias urbanas do Rio de Janeiro. Debates do
NER, Porto Alegre, v.2, n. 38, p. 19 - 59, 2020.

Machado, Carly. Presos do lado de fora: comunidades terapêuticas como zona de exílio urbano. Em:
RUI, Taniele; FIORE, Mauricio (editores). Working Paper Series: comunidades terapêuticas no
Brasil. Brooklyn: Social Science Research Council, junho de 2021.

Carly Barboza Machado é antropóloga, doutora em Ciências Sociais pela UERJ, com mestrado em
Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social também pela UERJ e possui graduação em Psicologia pela
UFRJ. É professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em cursos de graduação e no programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais. Atua como coeditora da Revista Religião e Sociedade. É coordenadora do
grupo de pesquisa Distúrbio - Dispositivos, Tramas Urbanas, Ordens e Resistências e compõe
a equipe do Observatório Fluminense. Atualmente atua no cargo de Secretária Adjunta da Associação
Brasileira de Antropologia (ABA), na gestão 2021-2022 de sua Diretoria.

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O pentecostalismo e suas vertentes político-midiáticas

Os trabalhos da antropóloga Carly Barboza Machado abordam discussões que mostram como o
pentecostalismo, ao ser relacionado com a mídia e a política, se torna um dos atributos centrais da
política brasileira nos dias de hoje como um novo modo de fazer política; pentecostalismo periférico.

Em seu trabalho, Machado (2020), a autora expõe como a governança pentecostal, nas
periferias urbanas, se estabelece na ideia de dar “a volta por cima”, podendo ou não se consolidar:

“O pentecostalismo das periferias urbanas se constituiu como um campo de quedas e


retornos, escândalos e glórias, derrotas e vitórias, e em meio a isso, de muitas lutas e provações. É
um pentecostalismo que habita as cadeias, as delegacias, as ruas, as bocas de fumo, e assume que é
lá, onde mora o "pecado”, que se deve oferecer um projeto de redenção. “Onde abundou o pecado,
superabundou a graça” (Romanos 5:20). Atravessar o tempo do suplício aguardando o tempo da
vitória é parte das possibilidades do campo pentecostal, assim como o tempo da redenção, mesmo
quando confirmado o pecado ou o crime, e seu veredicto. A justiça dos homens e a justiça de Deus
operam lado a lado, mas não necessariamente juntas. Na moralidade pentecostal, mesmo o caído
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pode se levantar pela graça.”

Complementado o pensamento com a leitura do artigo Machado (2021), pode-se


compreender como o pentecostalismo faz um trabalho importante nas periferias urbanas no Brasil,
com as Comunidades Terapêuticas, dando refúgio para aqueles que buscam escapar do vício das
drogas/crimes e até mesmo de ameaças de morte feitas em decorrência de ditos crimes. Fazendo
com que a perspectiva da fé pentecostal, antes vista por mim como uma inclinação extremamente
rigorosa e inflexível, mudasse. Mas não podendo esquecer, é claro, de como as tentativas de
conversão para o cristianismo são constantes e geram uma restrição da liberdade religiosa nessas
zonas de exílio urbano que são, em sua maioria, ligadas a igrejas e organizações religiosas.

Com o exílio, Machado destaca que, em conversas realizadas para a formulação do artigo
(2021), entrevistados contaram o encantamento de se sentirem acolhidos e de pertencer a um lugar,
o poder do abraço, de ser escutado, aconselhado, de se sentir amado e humano.

2 MACHADO, Carly Barboza. Fazendo política em outros Congressos: tramas religiosas e


práticas midiáticas e a estética da política nas periferias urbanas do Rio de Janeiro. Debates do
NER, Porto Alegre, v.2, n. 38, p. 49, 2020.

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"No caso de Silvio, a igreja foi a inscrição urbana que viabilizou sua recuperação até o
momento. A partir da igreja, Silvio recuperou seu trabalho de pedreiro, seja nas intermináveis obras da
própria igreja, seja na casa de seus irmãos. A comunidade religiosa evangélica na qual Silvio congrega
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lhe possibilitou um território de vida e de afeto. “Eles me amam, eles cuidam de mim”.

A autora coloca também em evidência, a importância que o afeto advindo da fé pentecostal


reflete na sociedade periférica e que por mais que se saiba a respeito da reprodução da violência, é
preciso aprender como sair dessa realidade de ciclos viciosos para um melhor controle da violência:

“[...]um cenário complexo, emaranhado e constituído por muitos becos sem saída e poucas
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rotas de fuga.”

Um dos exemplos de representação de característica específica e muito forte do


pentecostalismo é estar em todos os lugares, com músicas de todos os gêneros e isso implica em
uma quebra de barreiras que faz com que as periferias urbanas se sintam pertencentes. A música
pentecostal midiática, tem um grande papel na harmonia da política nas periferias urbanas do Rio de
Janeiro, já fazendo parte de sua cultura, e essa função pode ser vista como uma forma de enfrentar
os problemas, de criar laços, de dar significados a vida. Esses diversos gêneros que a música gospel
abrange, traz a caracterização do dia-a-dia pesado (com uma chance de vitória) que os trabalhadores
das periferias levam.

Os mediadores políticos dos ministérios, analisados e expostos pela antropóloga Carly em


seu artigo (2020), põem em pauta a criação de experiências políticas nas periferias; que seria a
forma de fazer política em que os cidadãos são colocados frente a políticos com a ideia de serem
ouvidos, vistos e se verem (hipoteticamente) refletidos em seus governantes, fazendo-se valer de
“somos todos iguais perante a Deus” e assim os políticos cultivam relações no dia-a-dia com os
eleitores, formando laços morais e políticos; fazendo ações sociais e melhorias momentâneas em
suas vidas. Portanto, a análise vinda dos artigos é de que a relação de política e mídia ante a
população, tem a mediação da religião.

3 Machado, Carly. Presos do lado de fora: comunidades terapêuticas como zona de exílio
urbano. Em: RUI, Taniele; FIORE, Mauricio (editores). Working Paper Series: comunidades
terapêuticas no Brasil. Brooklyn: Social Science Research Council, p.157, junho de 2021.
4 Machado, Carly. Presos do lado de fora: comunidades terapêuticas como zona de exílio
urbano. Em: RUI, Taniele; FIORE, Mauricio (editores). Working Paper Series: comunidades
terapêuticas no Brasil. Brooklyn: Social Science Research Council, p.159, junho de 2021.
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