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Atos apócrifos de Judas Tadeu e Simão

Atos apócrifos de Judas Tadeu e Simão

“A história destes dois apóstolos é contada em um único relato em Memórias apostólicas de


Abdias. A ação apostólica deles é realizada em conjunto. 
Judas Tadeu é um dos apóstolos mais populares. Todo dia 28 de cada mês, igrejas lotam
para prestar-lhe homenagem. O seu dia é 28 de outubro. 
Foi Santa Brígida da Suécia (1303-1373) que propagou a devoção a São Judas Tadeu como
Santo das causas urgentes. Jesus lhe teria aparecido aconselhando a invocar São Judas
Tadeu para resolver os seus problemas. 

Perfil 
Nome: Judas é um nome comum entre os judeus. Tadeu significa “o corajoso”. Simeão é o
diminutivo de Samuel e significa “Deus ouviu”. Simão era chamado também de Cananeu ou
o Zelota. 
Parentesco: Tadeu e Simão eram considerados irmãos (Lc 6,16). 
Morte: Ambos morreram martirizados no dia primeiro de julho, na cidade de Suanir, por se
negarem a sacrificar aos ídolos. 

Principais feitos apostólicos narrados nos Atos Apócrifos 


• Ambos travaram batalha teológica e doutrinária com os magos Zaroém e Arfaxat, da
Pérsia. 
• Na Babilônia, eles realizam curas, milagres, expulsam demônios, batizam, ordenam
presbíteros, diáconos, clérigos e fundam igrejas. 
• Na Babilônia, Simão e Judas consagram Abdias como bispo local. 

Alguns atos apócrifos de Judas e Simão 


As narrativas apócrifas sobre Judas Tadeu e Simão não são muitas. 

Judas e Simão se preparam para desafiar os magos Zaroém e Arfaxat. 


Na continuidade da narrativa sobre Tiago, o Irmão do Senhor, Memórias apostólicas de
Abdias afirma que o dito acima se refere a Tiago. Quanto a seus irmãos, mais velhos que ele,
Simão chamado o Cananeu e Judas chamado Tadeu e Zelota, também eles apóstolos de
nosso Senhor Jesus Cristo, que entraram na religião por revelação do Espírito Santo e pela
fé, no início da sua pregação tiveram de enfrentar logo dois magos, Zaroém e Arfaxat, que
tinham fugido da Etiópia da presença de São Mateus apóstolo. A doutrina deles, com efeito,
era perversa: blasfemavam o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, chamando-
o o Deus das trevas. Acrescentavam que Moisés era um mago e que todos os profetas de
Deus tinham sido enviados pelo Deus das trevas. 
Diziam, além disso, que a alma humana tinha uma parte divina e que o corpo, ao contrário,
tinha sido feito por um deus mau, e por isso é composto de substâncias opostas: com
algumas a carne se alegra enquanto a alma se entristece; e com outras a alma se alegra e o
corpo, ao contrário, se aflige. Acrescentavam ao número dos deuses o sol e a lua, e
ensinavam que a água também era divina. Do Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo,
afirmavam que era um produto da imaginação: que não era verdadeiro homem, que não
nascera de uma virgem, que não fora na verdade tentado nem verdadeiramente padecera,
nem fora de verdade sepultado, e que depois do terceiro dia não ressurgira dos mortos. 
A Pérsia, contaminada por essa doutrina, depois de Zaroém e Arfaxat, mereceu encontrar
através dos bem-aventurados apóstolos Simão e Judas o grande mestre, isto é, o Senhor
Jesus Cristo, que tinha proclamado que enviaria do céu o Espírito Santo, segundo a
promessa que dizia: “Vou para o Pai e vos envio o Espírito Paráclito” [Jo 15,26; 16,7]. 

Simão e Judas viajam para a Pérsia 


Tendo empreendido a viagem com a precisa intenção de libertar, assim que chegassem, a
Pérsia da triste sedução dos mestres acima citados, os apóstolos Simão e Judas encontraram
o exército que partia para a guerra, guiado pelo comandante supremo do rei da Babilônia,
Xerxes, Varardac. Este havia declarado a guerra contra os hindos, que tinham invadido o
território da Pérsia: em seu séquito iam sacrificadores, adivinhos, magos, encantadores,
cada um conforme seu próprio encargo, sacrificando aos demônios, dava o vaticínio da
própria falácia. 
Aconteceu que, no dia em que os apóstolos se achavam entre os soldados, aqueles embora
se cortassem e derramassem o próprio sangue, não conseguiam dar ao comandante o
vaticínio a propósito da guerra. Dirigiram-se por isso ao templo da cidade próxima para
consultar ali os deuses. Ouviram então um deles que com enorme mugido assim
sentenciava: “Há homens estrangeiros caminhando convosco para irem à batalha; por isso
não vos podem dar vaticínios. Foi-lhes com efeito concedido tal poder por Deus, que nenhum
de nós ousa falar em sua presença”. 

Simão e Judas testemunham a fé em Cristo diante do Rei da Pérsia, Xerxes 


Tendo sabido disso, o comandante supremo do rei Xerxes, Varardac, mandou que os
procurassem no exército. Tendo-os encontrado, perguntou-lhes de onde eram, e por que
tinham ido àqueles lugares. Respondeu-lhe o santo apóstolo Simão: “Se perguntas pela
origem, somos judeus; se pela nossa condição, somos servos de Jesus Cristo; se queres
saber o motivo da nossa presença, viemos para a vossa salvação, a fim de que abandoneis o
falso culto dos ídolos e possais [assim] conhecer o Deus que está nos céus”. 
“Por ora - disse o comandante Varardac, respondendo-lhe - estou para entrar em combate a
fim de manter afastados os indos que desejam invadir a Pérsia, antes que consigam ganhar
o auxílio das forças dos medos contra nós. Por isso não é agora o momento oportuno de
discutir as vossas coisas. Se depois o regresso for feliz e favorável a nós, eu vos ouvirei”.  
O apóstolo Judas (respondeu): “Senhor, ouve-me, é mais conveniente que conheças aquele
com cuja força e com cujo auxílio podes vencer, ou ao menos encontrar calmos aqueles que
contra ti se rebelaram”. 
Então o comandante Varardac disse: “Como ouço que os vossos deuses estão diante de vós
e vos dão os vaticínios, quero que nos predigais o futuro, a fim de que eu possa saber o
resultado da batalha”. 

Simão propõe um desafio 


Simão então respondeu: “A fim de que te dês conta de que erram aqueles que tu pensas
possam predizer-te o futuro, demos a eles a palavra para responder-te. Quando houverem
dito aquilo que não sabem, nós provaremos que eles mentiram em tudo”. Tendo elevado
uma prece ao Senhor, prosseguiu: “Em nome do Senhor nosso Jesus Cristo ordenamos que
deis, segundo o costume, o vaticínio àqueles que estavam acostumados a vos interrogar”. A
este seu comando aqueles fanáticos começaram a se agitar, e a dizer: “Haverá uma guerra e
tanto de um lado como do outro poderão morrer muitos combatentes”. Diante disso, os
apóstolos de Deus em um ímpeto de júbilo prorromperam em riso. Varardac lhes disse:
“Estou imerso em grande temor e vós estais rindo?” E os apóstolos: “Que cesse o teu temor,
pois com nossa chegada entrou a paz nesta província. Por isso deixa de lado o teu projeto
defensivo. Com efeito amanhã, a esta mesma hora, ou seja a terceira, virão a ti aqueles que
mandaste à frente junto com os embaixadores dos indos, os quais vos anunciarão que as
terras invadidas estão restituídas ao vosso domínio, pagarão quanto vos devem, tratarão a
paz consentindo de bom grado em vossa proposta, não importando as condições que
fixardes, e estabelecerão convosco um pacto firmíssimo”. 
Mas os principais sacerdotes do comandante zombaram desse modo de falar, dizendo:
“Senhor, não dês crédito a esses homens vãos e mentirosos, estrangeiros e por isso
desconhecidos; são vãos e mentirosos e por isso dizem coisas agradáveis para não serem
presos como espiões. Os nossos deuses, que nunca se enganam, te deram o vaticínio: sê
cauteloso e pronto para todas as emergências; não sigas aqueles que ansiosamente tentam
tranquilizar-te para que, enquanto te achares menos atento, de repente, possas ser atacado
facilmente e do modo mais violento”. Mas o santo apóstolo Simão respondeu: “Escuta-me,
comandante. Nós estrangeiros e desconhecidos, mentirosos quanto queiras, não te
ordenamos que esperes um mês. Nós te dissemos ‘espera um só dia e amanhã de manhã
por volta da hora terceira chegarão aqueles que enviaste’. Com eles virão os representantes
dos indos, os quais receberão de ti as condições de paz, e serão em seguida tributários dos
persas”. 
Depois de ouvirem essas coisas, os sacerdotes persas, que estavam no exército, gritavam
abertamente: “Nossos magníficos deuses, em suas vestes douradas, cheias de pedras
preciosas, purpúreas e tecidas de ouro, entre as taças, o linho e a seda, e todo o esplendor
do reino babilônico, ao dar os vaticínios divinos, algumas vezes podem errar; mas esses
esfarrapados, sem personalidade alguma, como é que ousam atribuir-se tanto? O simples
fitá-los é uma injúria. E tu, comandante, não punes esses, cuja simples presença é uma
injúria aos nossos deuses?” Respondeu o comandante: “É estranho que forasteiros,
miseráveis e desconhecidos, afirmem com tanta constância aquilo que parece contrário ao
testemunho dos nossos deuses”. 
Os chefes dos sacerdotes lhe responderam: “Manda que sejam postos sob custódia, para que
não fujam”. E o comandante: “Não só ordenarei que sejam postos sob custódia, mas vós
mesmos ficareis sob vigilância até amanhã, a fim de que aquilo que se verificar se pode ou
não comprovar o testemunho deles. Depois se verá quem verdadeiramente deve ser
condenado”.

 
 
A continuidade destes relatos sobre os atos apócrifos e vida de Judas Tadeu e
Simão encontram-se no livro Vida secreta dos apóstolos e apóstolas à luz dos Atos
Apócrifos, p. 284-304, Editora Vozes, e de autoria de Frei Jacir de Freitas Faria. 

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