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CURSO DE

DROGAS DE ABUSO
(Lícitas e Ilícitas)

MÓDULO I I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os
créditos do conteúdo aqui contido é dado a seus respectivos autores descritos nas referências
bibliográficas.

MÓDULO II

O ÁLCOOL

O uso de bebidas alcoólicas é tão antigo quanto a própria Humanidade.


Beber moderada e esporadicamente faz parte dos hábitos de diversas
sociedades. Determinar o limite entre o beber social, o uso abusivo ou nocivo
de álcool e o alcoolismo (síndrome de dependência do álcool) é por vezes
difícil, pois esses limites são tênues, variam de pessoa para pessoa e de
cultura para cultura. Estima-se que cerca de 10% das mulheres e 20% dos
homens façam uso abusivo do álcool; 5% das mulheres e 10% dos homens
apresentam a síndrome de dependência do álcool ou alcoolismo. Sabe-se
também que o álcool está relacionado a 50% dos casos de morte em acidentes
automobilísticos, 50% dos homicídios e 25% dos suicídios. Freqüentemente
pessoas portadoras de outras doenças mentais (p. ex., ansiedade, pânico,
fobias, depressão) apresentam também problemas relacionados ao uso de
álcool.

De forma direta, o tema específico do alcoolismo foi incorporado pela


OMS à Classificação Internacional das Doenças em 1967 (CID-8), a partir da 8ª
Conferência Mundial de Saúde. No entanto, essa questão não pode ser vista
apenas como um fato cronológico. A questão do impacto sobre a saúde
provocado pelo abuso do álcool já vinha sendo objeto de discussão pela OMS
desde o início dos anos 50, compondo um processo longo de maturação (que
até hoje ainda é objeto de contendas médico-científicas). Consta que em 1953
a OMS, através do seu Expert Comittee on Alcohol, já havia decidido que o
álcool deveria ser incluído numa categoria própria, intermediária entre as
drogas provocadoras de dependência e aquelas apenas formadoras de hábito.
O alcoolismo figura entre as cinco doenças mais incapacitantes do mundo
(WHO,2003).

O Alcoolismo pode ser caracterizado por 04 (quatro) fases:

Fase 1: (Fase social, sem dependência física, apenas dependência


Emocional). Inicia-se na primeira vez que se bebe (lembrando-se que dois
fatores são fundamentais: Predisposição Orgânica e Benefícios, do contrário a
doença não se desenvolve). O primeiro sintoma é a dependência Emocional. O
desenvolvimento emocional pára e a pessoa torna-se pouco tolerante. Como
geralmente isso acontece na infância ou na adolescência, a mudança
emocional geralmente não é percebida, pois confunde-se com malcriação,
infantilidade ou temperamento forte. A partir daí, a doença desenvolve-se mais
ou menos devagar, dependendo da predisposição orgânica. Bebe-se pouco e
socialmente, não há perdas em virtude do uso. Não há problemas físicos.

Fase 2: (Fase social, sem dependência física, apenas dependência emocional).


O organismo modifica-se: tem-se a tolerância aumentada (bebe-se mais que na
fase 1). Não há problemas em conseqüência da ingestão de álcool. Não há
problemas físicos. Não há dependência física, apenas emocional.

Fase 3: (Fase problemática, com dependência física e emocional). Bebe-se


muito (altíssima tolerância). O beber torna-se um problema. Muitos problemas
emocionais, ressacas constantes, problemas em decorrência da bebida ,
problemas familiares, problemas de relacionamento. Há o inicio da síndrome de
abstinência, começam as "PARADAS ESTRATÉGICAS", pode-se haver
internações. Há boas expectativas de recuperação física. Há muitas perdas.
Perda de controle.

Fase 4: (Fase problemática, com dependência física e emocional). Bebe-se


muito pouco, menos que na fase 1. Inicia-se a atrofia do cérebro. Pode-se ter
delírios. Pode-se ter as mãos trêmulas por períodos excessivamente longos.
Problemas físicos e emocionais extremos. Pode-se ter Esquizofrenia. Muitas
vezes confunde-se com PMD (psicose maníaco-depressiva). Há poucas
expectativas de recuperação física. Perdas extremas.

O indivíduo é considerado alcoolizado se estiver com taxa a partir de 0,6


gramas de álcool por litro de sangue. A taxa de álcool no sangue varia de
acordo com o peso, altura e condições físicas de cada um. Mas, em média, a
pessoa não pode ultrapassar a ingestão de duas latas de cerveja ou duas
doses de bebidas destiladas, se não, já está considerado alcoolizado.

O álcool é um depressor de muitas ações no Sistema Nervoso Central, e


esta depressão é dose-dependente. Apesar de ser consumido especialmente
pela sua ação estimulante, esta é apenas aparente e ocorre com doses
moderadas, resultando da depressão de mecanismos controladores inibitórios.
O córtex, que tem um papel integrador, sob o efeito do álcool é liberado desta
função, resultando em pensamento desorganizado e confuso, bem como
interrupção adequada do controle motor. O etanol se difunde pelos lipídios,
alterando a fluidez e a função das proteinas. Altas concentrações de álcool
pode diminuir as funções da bomba Na+ K+/ATPase no transporte de elétrons,
este efeito compromete a condução elétrica. O etanol afeta diversos
neurotransmissores no cerébro, entre eles o neurotransmissor inibitório, o ácido
gama-aminobutirico (GABA).

A interação entre etanol e o receptor para o GABA se evidencia em


estudos que demonstram haver redução de sintomas da síndrome de
abstinência alcoólica através do uso de substâncias que aumentam a atividade
do GABA, como os inibidores de sua recaptação e os benzodiazepínicos,
mostrando a possibilidade do sistema GABAérgico ter efeito na fisiopatologia
do alcoolismo humano. O etanol potencializa as ações de receptor GABA
através de um mecanismo que é independente do receptor benzodiazepínico.

As vias neuronais que utilizam GABA desempenham importante ação


inibitória sobre as demais vias nervosas. O receptor para o GABA encontra-se
associado ao canal de cloro e ao receptor de benzodiazepínicos, formando um
complexo funcional. Quando o GABA se acopla ao seu receptor, promove o
aumento na frequência de abertura dos canais de cloro, permitindo assim a
passagem de maior quantidade do íon para o meio intracelular, tornando-se
ainda mais negativo e promovendo, assim, hiperpolarização neuronal. Baixas
concentrações alcoólicas promoveriam facilitação da inibição GABAérgica no
córtex cerebral e na medula espinhal.

Os efeitos a exposição crônica ao etanol poderia explicar alguns dos


fenômenos observados no alcoolismo, como a tolerância e a dependência. A
rápida tolerância ao aumento do influxo de cloro mediado pelo GABA inicia-se
já nas primeiras horas e estabelece-se durante o uso crônico do álcool. O
álcool seletivamente altera a ação sináptica do glutamato no cérebro. O
sistema glutamatérgico, que utiliza glutamato como neurotransmissor, e que é
uma das principais vias excitatórias do sistema nervoso central, também
parece desempenhar papel relevante nas alterações nervosas promovidas pelo
etanol. O glutamato é o maior neurotransmissor excitatório no cérebro, com
cerca de 40% de todas as sinápses glutaminergicas. As ações pós-sinápticas
do glutamato no sistema nervoso central são mediadas por dois tipos de
receptores: Um tipo é o receptor inotrópico que são os canais ionicos que
causa despolarização neuronal. O 2o tipo de receptor glutamato é o
metabotrópico ( visto que suas respostas necessitam de passos metabólicos de
sinalização celular), enquanto as ações intracelulares são mediadas pela
proteína G. Um dos receptores glutamatos inotrópicos tem duas famílias
separadamente identificadas tanto nas características farmacológica, biofísica
e molecular conhecidas como o receptor NMDA (n-metil-D-aspartato), voltagem
dependente, que sustenta as correntes associado a canais de ions permeáveis
ao cálcio ao sódio e ao potássio e a segunda família de receptores inotropicos
glutamato, o receptor AMPA/Ka (agonista preferencial é a a -amino-3-hidroxi-5-
metil-4-isoxazol propiato). O glutamato participa da plasticidade sináptica e
potencialização longo-tempo (LTP) parecendo ter um papel critico na memória
e na cognição. O efeito eletrofisiológico predominante do etanol é reduzir a
neurotransmissão glutaminergica excitatória. Observou-se que baixas
concentrações do etanol são capazes de inibir a ação estimulante mediada
pelo NMDA sobre células hipocampais em cultura. O etanol inibe a corrente do
receptor NMDA em concentração associadaos com a intoxicação em vivo.
Estes achados poderiam também participar da gênese de dependência física
ao álcool, através de processo inverso ao observado pelo GABA, ou seja, uma
vez retirado o etanol, as vias glutaminérgicas produzem superexcitação do
SNC , gerando convulsões, ansiedade e delirium. O influxo de ions cálcio para
a célula desempenha importante função na liberação dos neurotransmissores
na fenda sináptica como também, na atividade de segundo mensageiro celular.
O etanol, em concentrações de 25mM parece inibir a passagem de cálcio
através dos canais iônicos, diminuindo a liberação de neurotransmissores. Este
também poderia ser um dos mecanismos de produção da dependência e da
tolerância, uma vez que retirada o álcool, esses canais ionicos aumentariam o
fluxo de cálcio e, como conseqüência a neurotransmissão, gerando os sinais e
sintomas da síndrome de abstinência.
Tabela de Efeitos do Álcool no Organismo
* Tomando-se por base a ingestão de álcool por um indivíduo que
pese 70 kg
Quantidade de álcool por litro de Efeitos
sangue (em gramas)*
0,2 a 0,3 g/l - equivalente a um copo de As funções mentais começam a ficar
cerveja, um cálice pequeno de vinho, uma comprometidas. A percepção da distância e
dose de uísque ou outra bebida destilada da velocidade são prejudicadas
0,3 a 0,5 g/l - dois copos de cerveja, um O grau de vigilância diminui, assim como o
cálice grande de vinho, duas doses de campo visual. O controle cerebral relaxa,
bebidas destiladas dando sensação de calma e satisfação
0,51 a 0,8 g/l - três ou quatro copos de Reflexos retardados, dificuldades de
cerveja, três copos de vinho, três doses de adaptação da visão a diferenças de
uísque luminosidade, superestimação das
possibilidades e minimização de riscos e
tendência à agressividade
0,8 a 1,5 g/l - a partir dessa taxa, as Dificuldades de controlar automóveis,
quantidades são muito grandes e variam de incapacidade de concentração e falhas na
acordo com o metabolismo, com o grau de coordenação neuromuscular
absorção e com as funções hepáticas de
cada indivíduo
1,5 a 2,0 g/l Embriaguez, torpor alcoólico, dupla visão
2,0 a 5,0 g/l Embriaguez profunda
5,0 g/l Coma alcoólica
Fontes: Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo e médicos.

Conteúdo das principais bebidas em nosso meio


Concentração de álcool / gramas Unidades de
Bebidas
de álcool álcool
1 lata de cerveja - 350 ml 5% = 17 gramas de álcool 1,5
1 dose de aguardente - 50 ml 50% = 25 gramas de álcool 2,5
1 copo de chope - 200 ml 5% = 10 gramas de álcool 1
1 copo de vinho - 90 ml 12% = 10 gramas de álcool 1
1 garrafa de vinho - 750 ml 12% = 80 gramas de álcool 8
1 dose de destilados (uísque, pinga,
40%-50% = 20g - 25g de álcool 2-2,5
vodca etc.) - 50 ml
40% - 50%+300g-370 gramas de
1 garrafa de destilados - 750 ml 30-37
álcool
Fonte: Site Alcoolismo
Embora o alcoolismo seja uma doença tratável, ainda não há cura. Isto
significa que mesmo que um dependente de álcool esteja sóbrio por muito
tempo e tenha sua saúde de volta, ele ainda está suscetível a recaídas e deve
continuar a evitar todas as bebidas alcoólicas. “Reduzir” não adianta; parar é
necessário para uma recuperação bem sucedida.
Contudo, até indivíduos determinados a ficarem sóbrios podem ter
recaídas, antes de chegar à sobriedade de longo prazo. Recaídas são muito
comuns e não significam que uma pessoa fracassou ou não pode
eventualmente se recuperar do alcoolismo. Tenha em mente também que todo
dia que um dependente do álcool fica sóbrio antes de uma recaída é
extremamente valioso, tanto para o indivíduo quanto para sua família. Se
ocorre uma recaída, é muito importante tentar parar de beber de novo e obter o
apoio necessário para não beber mais. A recaída não destrói as conquistas que
ocorreram durante a abstinência, na maioria das vezes.
A natureza do tratamento depende da gravidade do alcoolismo do
indivíduo e dos recursos disponíveis na comunidade. O tratamento pode incluir
a desintoxicação (o processo de retirar álcool do sistema de uma pessoa com
segurança); tomar medicamentos receitados pelo médico, como disulfiram
(AntabuseÆÊ) ou a Naltrexona (ReVia™), para ajudar a evitar o retorno à
bebida uma vez que já parou; e aconselhamento individual e/ou em grupo. Há
tipos de aconselhamento promissores que ensinam a recuperar dependentes
de álcool e a identificar situações e sentimentos que levam à necessidade de
beber e de descobrir novas maneiras de lidar com a ausência do álcool.
Quaisquer destes tratamentos podem ser ocorrer tanto em hospital, como em
tratamento residencial ou ambulatorial (o paciente fica em sua casa e vai às
consultas, até todos os dias).
Como o envolvimento com a família é importante para a recuperação,
muitos programas oferecem aconselhamento conjugal e terapia familiar como
parte do processo de tratamento. Alguns programas podem oferecer par o
dependente recursos vitais da comunidade como assistência legal, treinamento
de trabalho, creche e aulas para

A próxima tabela apresenta alguns conselhos sobre o importante papel


da família, escrito pela Drª. Neliana Buzi Figlie (Psicóloga, Mestre em Saúde
Mental, pós-graduanda do depto de Psiquiatria da UNIFESP/EPM e
pesquisadora da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas):

O Papel da Família
A primeira idéia que nos vem a mente quando falamos em família é: casal heterossexual, com
dois filhos, um animal de estimação, o homem como chefe da família e a mulher como dona de
casa.
Quando temos esta estrutura, torna-se fácil definir a família. Mas nem sempre isso é real. Por
família, devemos entender várias formas de relacionamento com compromisso. Por exemplo:
um alcoólatra solteiro que mantém uma relação amigável com a família do vizinho, casais
homossexuais, irmãos de criação, entre outros. A família pode ser aquela que tem acesso ao
dependente, sem ser necessariamente a família consangüínea.

O alcoolismo não é causa, mas sim efeito

O alcoolismo é um sintoma que ao surgir, se interpõe entre o indivíduo, a família e outros


relacionamentos sociais, influenciando todo curso de vida.
Todo sintoma tem uma causa.
RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO
As causas podem ser as mais variadas possíveis:
*Conflitos emocionais ou pessoais
*Dificuldade escolares, sociais e/ou profissionais
*Acréscimo ou perda de um dos membros da família
*Crises familiares
*Consumo de bebida para o controle da ansiedade
*Consumo de bebida para fuga de problemas
*Separações, divórcios ou término de relacionamento amorosos
*Ausência de pais
*Filhos de alcoólatras: aprendizagem de comportamento
*Pressão Social ("Quem não bebe não é macho!")
Embora o sintoma traga sérios prejuízos e desvantagens para a vida do dependente, o
alcoolismo tem uma função na vida deste. Podemos dizer que a pessoa "aprendeu a funcionar
com o álcool ", seja qual for a causa. Se o álcool é retirado, como o dependente vai funcionar
(psicológica e fisicamente)?
Fica a questão: " Como funcionar sem a bebida ?". Daí a dificuldade de abandonar o hábito de
beber, embora a pessoa perceba as conseqüências negativas em sua vida.
Mas existem Fatores Protetores que podem evitar a continuação do hábito ou as recaídas:
*Boas oportunidades de trabalho
*Boas oportunidades educacionais
* Recursos da Comunidade: serviços sociais, lugares com o número reduzido de traficantes,
tratamento clínico e psicológico, grupos de auto-ajuda (AA,NA) , etc.
*Família: amor materno e paterno, relacionamento conjugal positivo, moradia definida, bom
relacionamento.
Nem sempre estes fatores existem simultaneamente. Em alguns casos basta um destes itens
para motivar o dependente para tornar-se abstinente.
ATENÇÃO: Existem famílias em que ocorre a necessidade de uma pessoa alcoólatra para que
ela funcione.
Exemplo: "Eu bebo porque você me deixa nervoso."
"Mas eu só fico nervosa quando você bebe."
A família tem um padrão de comunicação que define comportamentos. Em alguns casos,
quando o alcoolista "se cura", alguém pode piorar.
A família não tem controle sobre o beber do alcoólatra, mas este beber acaba afetando a vida
da família.
Como mudar esta situação:
1- Aprender o que é Alcoolismo (conceito de dependência, tolerância, síndrome de abstinência
e recaídas).
2- Entender o funcionamento da família: Qual é o real papel de cada membro ?
3- Pedir e procurar ajuda: as conseqüências físicas, sociais e emocionais do alcoolismo são
difíceis de serem suportadas, principalmente quando os vizinhos começam a comentar, alguns
familiares a recriminar o apoio dado, contas a pagar, demissões... Nestes momentos de crise é
bom contar com um amigo para desabafar, um terapeuta para orientar ou mesmo a procura da
religião para confortar o sofrimento.
O alcoolismo não é fraqueza ou falta de moral. Trata-se de uma dependência física e
psicológica que controla o comportamento do dependente.
MITOS
Existem falsas noções sobre alcoolismo. É importante sabermos quais são elas para
modificarmos nossos pensamentos e/ou atitudes:
1- "Para quem bebia pinga, uma cerveja não faz mal"
Álcool é álcool! Uma cerveja grande eqüivale a uma dose de whisky, pinga ou um copo de
vinho.
2- "Se eu tenho emprego, não sou alcoólatra "
O alcoolismo atinge até mesmo grandes executivos, que conseguem desempenhar suas
atividades, mas que não excluí o consumo abusivo. O outro lado da moeda são os cargos
pequenos , onde o indivíduo necessita tomar pelo menos uma dose antes de trabalhar para
evitar as famosas ressacas ou tremedeiras que acabam por prejudicar seu desempenho.
3- "Mas ele(a) uma boa pessoa!"
Ser alcoólatra não é sinônimo de que a pessoa seja um mau caráter. Contudo, quando
intoxicada, a pessoa perde a consciência de seus atos, mas não quer dizer que possua uma
personalidade má.
4- "Mas nós temos um bom lar"
Muitos alcoólatras permanecem com suas famílias por longos anos, mantendo muitas vezes
uma família de aparência.
5- "Mas ele(a) não bebe sempre"
Beber diariamente não caracteriza o alcoólatra. Uma pessoa que bebe uma dose diária tem um
beber social. Se o número de doses for igual ou maior que 21( para homens ) e 14 ( para
mulheres ), mesmo que o consumidor beba uma vez por semana, já é um beber abusivo.
6- "Mas ele é tão inteligente que não pode ser um alcoólatra"
Esta é uma fala comum entre os patrões quando começam a desconfiar do consumo de álcool
de seu funcionário.
Lembre-se: Não há relação entre inteligência e alcoolismo.
7- "Ele desempenha seu trabalho brilhantemente e raramente falta"
Que bom! Este funcionário ainda não deixou que seu consumo afetasse seu trabalho, mas e
depois do expediente?
8- "Mas eu nunca o vi beber"
Quando pensamos na figura do alcoólatra, a primeira imagem é o estereótipo do consumidor
que não sai do bar. Porém, existem muitos alcoólatras que compram sua bebida e a bebem nos
lugares mais inesperados.
9- "Todo alcoólatra é um vagabundo ou beberrão"
Não pense que o alcoólatra é apenas aquele que fica jogado na sarjeta. Muitos são pessoas
respeitáveis, que têm a aparência bem cuidada.
10- "Mas ele(a) veio de uma boa família"
Alcoolismo acontece com qualquer pessoa, independente do nível social, econômico ou de
status.
11- "Com a internação ele(a) irá se curar"
Na maioria das vezes a internação é vista como "Salvadora da Pátria", mas para alguns
familiares que já passaram por esta experiência , sabem que a afirmação acima nem sempre é
verdadeira.
Em alguns casos a internação pode ser eficaz quando o dependente está motivado ou quando
ele está muito doente.
Pensemos: em um ambiente protegido de problemas , pressão social e bebida, com cuidado 24
horas por dia, tornar-se fácil atingir a abstinência. Quando ocorre o retorno para o seu meio de
origem : amigos, problemas, bares, bebidas e cobranças continuam a existir. Por tal o
tratamento ambulatorial em alguns casos pode ser mais efetivo.
12- "O alcoolismo só atingem os homens"
A realidade é que existe mais homens do que mulheres alcoólatras. Contudo, existem mulheres
alcoólatras e por ser considerada uma dependência masculina, é esperado que as mulheres
escondam sua dependência por vergonha ou culpa.
COMO A FAMÍLIA ACABA AGINDO
Para amenizar sentimentos ruins ou de pressão social, profissional, escolar e por que não
dizer familiar, os parentes acabam atuando de forma a proteger a alcoólatra, isentando-o de
seus atos ou diminuindo sua auto-estima. Veja alguns casos:
1- O familiar que presta socorro 24 horas por dia
Se o patrão reclama a ausência do funcionário e o familiar dá "desculpas", fica cômodo para o
alcoólatra permanecer escondido e protegido. Uma vez assumido um compromisso a
responsabilidade é de quem o assumiu, mas vem o pensamento: "Se o patrão o ver desta
forma (ressaca), irá demiti-lo".
Questão: Com o passar do tempo, havendo a diminuição na qualidade do trabalho e
aumentando o número de faltas, o patrão não irá demiti-lo?
2- Policiar intensivamente
O dependente deve ter consciência de que não deve beber e não somente o familiar. Ilusão
pensar que você poderá controlar os hábitos do dependente 25 horas por dia, todos os dias.
Acontece um desgaste duplo: o ato de fiscalizar gera ansiedade e nervosismo e
consequentemente , a ausência de seus próprios compromissos para ter tempo de fiscalizar.
Com o familiar preocupando-se pelo dependente, para que o dependente vai se preocupar ?
3- Perda de controle
Os familiares tornam-se tão preocupados em controlar o beber do dependente ou evitar
recaídas, que chegam a abandonar suas próprias vidas (lazer, trabalho, estudos...). O beber de
forma indireta passa a dominar os pensamentos e ações dos familiares.
Lembre-se que esta preocupação tem que ser do dependente e não sua. Por mais que ele
esteja despreocupado, você apenas poderá lembrá-lo e ajudá-lo, mas não atuar por ele.
4- Agressão Física
Infelizmente ocorrem casos de espancamento e atos de violência com alguns familiares,
principalmente esposas e filhos. Quando restam os sinais de agressão é comum filhos
deixarem de ir à escola ou esposas evitarem sair de casa por vergonha. Indiretamente estas
atitudes omitem os atos do alcoólatras.
Violência é crime! Não se esconda e procure ajuda! Você sabe que existe a Delegacia da
Mulher e o SOS Criança?
5- Os passivos
Apatia não ajuda!
O familiar apático tenta se esconder em seu mundo e não se confronta com o beber e suas
conseqüências.
6- Os acusadores
São aqueles que acreditam que o alcoólatra é o problema da família, tornando
responsabilidade do dependente todas as ações dos outros membros da família.
Intensifica o rebaixamento da auto-estima - O dependente se sente o pior dos piores, sem
saída para mudar seu conceito.
7- Símbolo da perfeição
Tratam-se de familiares que tentam chamar atenção do alcoólatra através de seu
comportamento exemplar, comparando-se a este em todo o momento. Também é comum a
comparação entre irmãos ou cônjuges. Tal atitude somente contribui para que o dependente se
sinta pequeno, sem valor.

BUSCANDO SOLUÇÕES

A solução ideal seria a "cura do alcoolismo", mas esta solução depende da motivação do
dependente e do familiar. Se o dependente não tem esta motivação, a melhor solução para a
família seria efetuar algumas modificações nos comportamentos dos familiares, objetivando a
interrupção ou pelo menos dificultar, o curso do alcoolismo.
1- Não atuar pelo alcoólatra
É importante a família quebrar o sistema de proteção, atribuindo a responsabilidade dos
problemas e conseqüências do beber ao próprio alcoólatra.
2- Pensar mais em você
Só podemos ajudar alguém quando estamos bem, caso contrário, como oferecer algo que não
temos para dar?
O dependente causa um abalo na vida do familiar e este tende a abandonar algumas de suas
atividades. Retome-as, cumpra suas responsabilidades e cuide mais de si mesmo. Quando o
alcoólatra passa a perceber que você não está mais seguindo o ritmo dele, ele começa
apensar: "o que está acontecendo?".
3- Adquirir conhecimento
Informe-se : é importante saber alguns conceitos básicos para poder entender e ajudar o
alcoólatra. Por exemplo: nos primeiros dias em que o dependente fica sem beber, é comum um
hálito alcoólico, que dá a impressão de consumo, denominada "Hálito de Vinagre. A família se
desespera, fiscaliza ou cobra, fato este que pode levar o alcoólatra a beber. Se os familiares
tem este tipo de informação, a atitude muda.
4- Conversar
Evite falar com o dependente apenas assuntos relacionados ao álcool. Procure mantê-lo
interessado e também interessar-se sobre outros aspectos da vida. E, lembre-se: o alcoolismo
é conseqüência e não causa. Porém existem pessoas que chegam a um grau de dependência
tão elevado, que mal restam outros aspectos de vida para conversar. Nestes casos procure
estimular ou mesmo apontar este "vazio" na vida do alcoólatra, tentando ajuda-lo a enxergar o
que ele pode fazer para modificar seu futuro.
5- Recaídas
Prepare-se! Por mais estabilizada que esteja a situação de abstinência, as recaídas são
previstas no processo.
Tenha em mente que o voltar a beber pode ser passageiro, principalmente se forem tomadas
as medidas adequadas.
6- Limites
Seja compreensivo e amigo com firmeza, sabendo definir limites e regras, principalmente sobre
sua competência e do dependente.
No primeiro momento a reação é de raiva, ódio e explosão! Tente se acalmar e refletir sobre a
situação. Não gaste suas energias em falar com uma pessoa intoxicada. Espere os efeitos
passarem para haver um diálogo consciente. Neste diálogo, procure colocar o que você espera
e até onde você agüenta (seus próprios limites).
7-Aspecto Social
Com a abstinência, perde-se ou ocorre uma diminuição no convívio social com os amigos do
bar. Daí vem as frustrações: falta de amigos e falta de bebida.
Propiciar atividades de lazer ou de convívio familiar para tentar abrandar estas frustrações são
importantes. Atividades físicas acabam sendo as mais comuns , mas também pense em
passeios, vídeo, cinema, teatro, leitura, visitas a casa de parentes e amigos, buscar filhos na
escola, etc.
8- EVITE: Não dar importância ou ignorar os fatos
Expulsar de casa
Julgar o dependente como o único culpado
Policiar intensivamente
9- Procurar ajuda profissional
Não se deixe levar pelo sentimento de fracasso. Os profissionais de saúde existem para ajudar
tanto o dependente, como o familiar. Em alguns casos é necessário uma atuação técnica e não
apenas familiar.
Será que não é uma exigência muito grande a família acreditar que deve dar conta de tudo
sozinha?
10- Procurar Recursos da Comunidade
Existem grupos de Auto-Ajuda (AA e NA), religião e palestra...enfim, tudo que o dependente
possa sentir como eficaz para ajudá-lo.
ATENÇÃO: Nem sempre o que é melhor para a família, é melhor para o dependente. O
principal envolvido precisa estar motivado.
Vale ressaltar que estes recursos podem ser utilizados simultaneamente a um tratamento. Não
existe um único detentor do saber ou uma forma única de cura.

A CAFEÍNA

A forma pura da cafeína foi extraída das plantas em


1820, mas, atualmente, pode ser produzida em laboratório.
É o estimulante legal mais usado no mundo. A cafeína é
mais comumente associada ao café e às bebidas à base de
cola que contém cafeína e flavorizantes extraídos de fontes
naturais (grãos de café e nozes de cola, respectivamente).
O café é a bebida que contém cafeína mais consumida no mundo. O
cafeeiro é originário da Etiópia, tendo chegado à Arábia no século XIII e à
Turquia no século XVI. Mas é somente com sua chegada à Itália, no princípio
do século XVII, que se dá sua grande expansão, pois começaram a surgir,
desde então, casas de café por toda Europa, servindo de local de encontro e
discussões sérias. Na segunda metade do século XVII, o café chegou à
América. Antes de ser consumido da maneira que conhecemos, o café, há
cerca de 700 anos, foi uma comida, depois vinho e também remédio. No século
XVII, em vários condados da Alemanha e na Rússia Czarista, consumidores de
café foram condenados à morte.Tendo se popularizado com sua chegada à
Europa, foram os Estados Unidos, após sua independência, que se tornaram o
principal consumidor mundial, respondendo hoje pelo consumo de cerca de 1/3
(um terço) do café cultivado no mundo. O Brasil entra, por sua vez, na
estatística do café com o primeiro lugar entre os produtores, vindo
acompanhado da Colômbia, detentora do segundo. Atualmente é também
cultivado em Java, Sumatra, Índia, Arábia, África Equatorial, Hawai, México,
Antilhas, América Central e outros países da América do Sul.
O chá contém quantidade significativa de cafeína e teofilina, enquanto
que o chocolate (cacau) contém quantidades relativamente baixas de cafeína e
teobromina. Teofilina e teobromina são parentes químicos da cafeína. O café
foi inicialmente usado para ajudar a manter as pessoas acordadas nas noites
frias, durante longos eventos religiosos.
A cafeína não produz uma verdadeira euforia, mas causa dependência
psicológica, aumenta a vivacidade, a performance mental e a motora,
especialmente nos fadigados. Estes sintomas, junto com alguns dos efeitos de
doses altas - por exemplo, agitação e até convulsões - acontecem
principalmente pelo bloqueio dos receptores de adenosina. A adenosina é um
hormônio local auto-regulável que modula (normalmente inibe) a função da
maioria das células no corpo. A quantidade de cafeína em 2 ou 3 xícaras de
café bloqueia 50% dos receptores de adenosina.

A cafeína é a 1,3,7-trimetilxantina - um pó branco cristalino muito


amargo. Na medicina, a cafeína é utilizada como um estimulante cardíaco e um
diurético. Ela também produz um "boost" de energia, ou um aumento no estado
de alerta - por isso motoristas e estudantes tomam litros e café para
permanecerem acordados. A cafeína é uma droga que causa dependência -
física e psicológica. Ela opera por mecanismos similares às anfetaminas e à
cocaína. Seus efeitos, entretanto, são mais fracos do que estas drogas, mas
ela age nos mesmos receptores do sistema nervoso central (SNC).
A ligação da adenosina, um neurotransmissor natural, aos seus
receptores, diminui a atividade neural, dilata os vasos sanguíneos, entre outros.
A cafeína se liga aos receptores da adenosina e impede a ação da mesma
sobre o SNC. A cafeína estimula a atividade neural e causa a constricção dos
vasos sanguíneos, pois bloqueia a ação da adenosina. Muitos medicamentos
contra a dor de cabeça, tal como a Aspirina Forte, contém cafeína – na dor de
cabeça vascular, a cafeína irá contrair os vasos sanguíneos e aliviar a dor.
Com o aumento da atividade neural, a glândula pituitária (localizada sobre os
rins, libera grandes quantidades de adrenalina, que, causa uma série de
efeitos no corpo humano, como a taquicardia, aumento da pressão arterial,
abertura dos tubos respiratórios (por isso muitos medicamentos contra a asma
contém cafeína), aumento do metabolismo e contração dos músculos, entre
outros. Um outro modo de ação da cafeína é o bloqueio da enzima
fosfodiesterase, responsável pela quebra do mensageiro cAMP, então os sinais
excitatórios da adrenalina persistem por muito mais tempo. Repare como as
estruturas da cafeína, adenosina e cAMP são similares. A cafeína também
aumenta a concentração de dopamina no sangue (assim como fazem as
anfetaminas e a cocaína), por diminuir a recaptação desta no SNC. A
dopamina também é um neurotransmissor (relacionado com o prazer) e
suspeita-se que seja justamente este aumento dos níveis de dopamina que
leve ao vício da cafeína.

Sistema Cardiovascular

Duas a três xícaras de café forte (aproximadamente 250 mg de cafeína),


numa pessoa que não faz uso regular da bebida, pode causar aumento
da freqüência cardíaca (taquicardia). Em alguns casos pode haver
sensação de palpitação produzida pela ocorrência de extra-sístoles.

Há também maior probabilidade de haver um aumento da pressão


sangüínea desencadeada pela cafeína, juntamente com vasodilatação e
aumento do fluxo sangüíneo para os tecidos em geral, incluindo as
coronárias.

Os vasos sangüíneos cerebrais, por sua vez, apresentam diminuição do


calibre. Essa vasoconstricção cerebral é a propriedade que justifica o
emprego da cafeína no tratamento de crises de enxaqueca, onde a
vasodilatação existente é responsável pelo quadro, e é combatida pela
cafeína.

Sistema Respiratório

A cafeína possui dois efeitos importantes no sistema respiratório. Ela


estimula os neurônios do centro respiratório do cérebro proporcionando
um aumento discreto da freqüência e a intensidade da respiração,
juntamente com um efeito local nos brônquios, produzindo um
satisfatório efeito broncodilatador. Essas propriedades sugerem
benefícios no consumo regular de cafeína por pacientes asmáticos.

Sistema Genitourinário

A ingesta aguda de cafeína produz um moderado aumento no volume de


urina e na excreção urinária de sódio, diminuindo a reabsorção de sódio
e de água nos túbulos renais. Assim sendo ela tem algum efeito
diurético que pode ser útil no alívio de cólicas menstruais (dismenorréia)
produzidas pela retenção de líquidos. Esse efeito de alívio na
dismenorréia e realçado pelos efeitos analgésicos da substância.

Sistema Digestivo

A cafeína estimula a secreção gástrica de ácido clorídrico e da enzima


pepsina no ser humano, em doses a partir de 250 mg (duas xícaras de
café forte). Essa característica da cafeína a contra-indica em pacientes
com úlcera digestiva. Entretanto, em pessoas sem nenhuma patologia
digestiva a cafeína não tem sido associada a um maior risco de úlcera
péptica. Essa associação ainda não foi difinitivamente investigada e
esclarecida através de pesquisas clínicas convincentes.

Sitema Endócrino

A cafeína tem sido associada à um aumento nos níveis de ácidos graxos


livres no sangue, portanto, funcionaria como uma substância capaz de
mobilizar gorduras. Esse efeito não teria influência da tolerância, ou
seja, ele se observaria tanto em pessoas que usam cafeína
esporadicamente, como nos usuários crônicos.

O efeito termogênico, de aumento dos níveis de ácidos graxos, ocorre


devido a uma mobilização das gorduras de seus depósitos (lipólise),
muito provavelmente em conseqüência da ação da cafeína como
antagonista dos efeitos da adenosina no tecido adiposo. Atualmente já
existem evidências de que possa ter algum efeito da cafeína no
emagrecimento de pessoas obesas, principalmente quando ingerida
junto com as refeições.

A NICOTINA

O tabaco é uma planta cujo nome científico é Nicotiana tabacum, da qual


é extraída uma substância chamada nicotina. Começou a ser utilizada
aproximadamente no ano 1000 a.C., nas sociedades indígenas da América
Central, em rituais mágico religiosos, com o objetivo de purificar, contemplar,
proteger e fortalecer os ímpetos guerreiros, além disso, esses povos
acreditavam que essa substância tinha o poder de predizer o futuro. A planta
chegou ao Brasil provavelmente pela migração de tribos tupis-guaranis.
Conforme Malbergier (2003), a dependência de nicotina é a mais comum
das dependências. Nos Estados Unidos, 50% da população adulta, no
momento, é ou já foi dependente de nicotina. No Brasil, segundo os dados do
Instituto Nacional de Câncer (INCA), um terço da população adulta fuma, sendo
11,2 milhões de mulheres e 16,7 milhões de homens. Os homens fumam em
maior proporção que as mulheres em todas as faixas etárias. Porém, a mulher
vem aumentando sua participação, principalmente nas faixas etárias mais
jovens. No Brasil, como também vem ocorrendo em vários países do mundo,
observa-se maior consumo de cigarros nas classes com menor poder aquisitivo
e menor escolaridade. Os indivíduos tendem a começar a fumar ao redor dos
15 anos e somente 10% após os 19 anos. Alguns fatores aumentam o risco de
se tornar um fumante: hereditariedade, uso/abuso de álcool e outras drogas,
déficit de atenção e sintomas depressivos. Cerca de 92% dos fumantes têm
consciência de que o Cerca de 92% dos fumantes têm consciência de que o
ato de fumar é nocivo e ameaça sua saúde. Desses, 70% desejam parar de
fumar, mas poucos (em torno de 5%) conseguem fazê-lo sem ajuda
profissional; ainda carece de comprovação em relação aos benefícios à saúde.

A nicotina em estado bruto já era conhecida em 1571, e o produto


purificado foi obtido em 1828. A fórmula molecular, C10H14N2, foi estabelecida
em 1843, e a primeira síntese em laboratório foi publicada em 1904. A nicotina
é um dos poucos alcalóides líquidos, à temperatura ambiente. É um líquido
incolor e inodoro, oleoso; quando exposto ao ar ou à luz, adiquire uma
coloração marrom e um odor característico do tabaco.

A nicotina age de duas maneiras distintas: tem um efeito estimulante e,


após algumas tragadas profundas, tem efeito tranquilizante, bloqueando o
stress. Seu uso causa dependência psíquica e física, provocando sensações
desconfortáveis na abstinência. Em doses excessivas, é extremamente tóxica:
provoca náusea, dor de cabeça, vômitos, convulsão, paralisia e até a morte. A
dose letal (LD50) é de apenas 50 mg/kg. Na indústria, é obtida através das
folhas do tabaco, e é utilizada como um inceticida (na agricultura) e vermífugo
(na pecuária). Pode ainda ser convertido para o ácido nicotínico e, então, ser
usado como suplemento alimentar.

Abaixo disponibilizamos algumas informações do Centro Brasileiro de


Informações sobre Drogas Psicotrópicas, a respeito dos efeitos do Tabaco no
organismo:

Efeitos no cérebro

Os principais efeitos da nicotina no Sistema Nervoso Central são: elevação


leve no humor (estimulação) e diminuição do apetite. A nicotina é considerada
um estimulante leve, apesar de um grande número de fumantes relatarem que
se sentem relaxados quando fumam. Essa sensação de relaxamento é
provocada pela diminuição do tônus muscular. Essa substância, quando usada
ao longo do tempo, pode provocar o desenvolvimento de tolerância, ou seja, a
pessoa tende a consumir um número cada vez maior de cigarros para sentir os
mesmos efeitos que originalmente eram produzidos por doses menores. Alguns
fumantes, quando suspendem repentinamente o consumo de cigarros, podem
sentir fissura (desejo incontrolável por cigarro), irritabilidade, agitação, prisão
de ventre, dificuldade de concentração, sudorese, tontura, insônia e dor de
cabeça. Esses sintomas caracterizam a síndrome de abstinência,
desaparecendo dentro de uma ou duas semanas.A tolerância e a síndrome de
abstinência são alguns dos sinais que caracterizam o quadro de dependência
provocado pelo uso de tabaco.

Efeitos no resto do corpo

A nicotina produz um pequeno aumento no batimento cardíaco, na pressão


arterial, na freqüência respiratória e na atividade motora. Quando uma pessoa
fuma um cigarro, a nicotina é imediatamente distribuída pelos tecidos. No
sistema digestivo provoca queda da contração do estômago, dificultando a
digestão. Há um aumento da vasoconstricçao e na força das contrações
cardíacas.

Efeitos tóxicos

A fumaça do cigarro contém várias substâncias tóxicas ao organismo. Dentre


as principais, citamos a nicotina, o monóxido de carbono, e o alcatrão. O uso
intenso e constante de cigarros aumenta a probabilidade de ocorrência de
algumas doenças como por exemplo a pneumonia, câncer de pulmão,
problemas coronarianos, bronquite crônica, além de câncer em regiões do
corpo que entram em contato direto com a fumaça como garganta, língua,
laringe e esôfago. O risco de ocorrência de enfarte do miocárdio, angina e
derrame cerebral é maior nos fumantes quando comparado aos não fumantes.
Existem evidências de que a nicotina pode provocar úlceras gastro-intestinais.
Entre outros efeitos tóxicos provocados pela nicotina, podemos destacar ainda
náuseas, dores abdominais, diarréia, vômitos, cefaléia, tontura, bradicardia e
fraqueza.

Tabaco e gravidez

Quando na gravidez a mãe fuma "o feto também fuma", passando a receber as
substâncias tóxicas do cigarro através da placenta. A nicotina provoca aumento
do batimento cardíaco no feto, redução do peso do recém-nascido, menor
estatura, além de alterações neurológicas importantes. O risco de, abortamento
espontâneo, entre outras complicações durante a gravidez é maior nas
gestantes que fumam. Durante a amamentação, as substâncias tóxicas do
cigarro são transmitidas para o bebê através do leite materno.

Tabagismo passivo

Os poluentes do cigarro dispersam-se pelo ambiente, fazendo com que os não-


fumantes próximos ou distantes dos fumantes, inalem também as substâncias
tóxicas, tornando-se fumantes passivos. Estudos comprovam que filhos de pais
fumantes apresentam uma incidência 3 vezes maior de infecções respiratórias
(bronquite, pneumonia, sinusite) do que filhos de pais não fumantes.

Aspectos Gerais

O hábito de fumar é muito frequente na população. A associação do


cigarro com imagens de pessoas bem sucedidas é uma constante nos meios
de comunicação. Este tipo de propaganda é um dos principais fatores que
estimulam o uso do cigarro. Por outro lado, as campanhas contra o fumo vem
recebendo um destaque cada vez maior em diversos países, ganhando apoio
de grande parte da população e gerando um movimento popular de
intolerância. Neste sentido, o "espaço" dos fumantes vem sofrendo restrições
consideráveis ao longo dos últimos anos.

XAROPES

Os xaropes nada mais são que formulações farmacêuticas com grande


quantidade de açucares e nesse líquido é acrescentada a substância
medicamentosa que vai trazer o efeito benéfico desejado. Nesse caso, existem
xaropes onde a substância medicamentosa ativa é a codeína. Outra substância
medicamentosa ativa acrescentada ao xarope é o zipeprol, uma substância
produzida em laboratório, portanto sintética, de grande toxidade que atua no
cérebro e faz com que a pessoa se sinta sonolenta, com a sensação de leveza,
vendo ou sentindo coisas diferentes e pode causar convulsões. Devido a isso,
foi proibida a fabricação e a venda de medicamentos à base de zipeprol no
Brasil. Há também uma medicação feita com uma solução aquosa, às vezes
com pouco de álcool que são as chamadas gotas para tosse. A substância
ativa dessas gotas é geralmente a codeína ou o zipeprol. Essas duas
substâncias são chamadas de antitussígenas (medicamentos para combater a
tosse).

A codeína, ou metilmorfina, é um alcalóide natural (opiáceo natural) que


compõe o ópio. O ziprepol é uma substância sintética (opióide), isto é,
fabricada em laboratório.Indicadas para tosses irritativas e sem expectoração
(tosse seca), são chamadas de substâncias antitussígenas, estando presentes
em xaropes e gotas para tosse como, por exemplo: Belacodid, Gotas Binelli,
Tussaveto etc. Os métodos usuais de administração são oral ou endovenoso. A
duração do efeito é de 3 a 6 horas. A codeína é um narcótico de origem natural
mais amplamente empregado na clínica médica. Mesmo sendo menos potente
que outros opiáceos, seu uso continuado induz a certa tolerância.

O zipeprol, devido a sua grande toxicidade, foi recentemente banido do


Brasil (ou seja, está proibido fabricar ou vender remédios à base desta
substância no território nacional). No ano de 1991, foram retirados do comércio
remédios com o ziprepol como, por exemplo: Eritós, Nantux, Silentós e
Tussaveto. Isto ocorreu pelo fato de ter havido várias mortes de jovens que
abusavam destas substâncias, principalmente crianças em situação de rua.

Os xaropes e gotas à base de codeína só podem ser vendidos nas


farmácias brasileiras com a apresentação da receita do médico, que fica retida
para posterior controle. Isto nem sempre acontece, pois há estabelecimentos
que, para ganhar mais dinheiro, vendem estas substâncias por "baixo do
pano".

Efeitos físicos e psíquicos

A codeína possui os vários efeitos das drogas do tipo opiáceo. Assim, é capaz
de dilatar a pupila, de dar uma sensação de má digestão e produzir prisão de
ventre. O ziprepol, além da possibilidade de produzir convulsões, pode também
produzir náuseas.

A codeína e o ziprepol são drogas capazes de inibir e bloquear o centro


da tosse, no cérebro. Assim, mesmo que haja um estímulo para retirá-lo, o
centro não reage, estando bloqueado pela droga. Também agem em mais
regiões do cérebro, inibindo outros centros que comandam as funções de
nossos órgãos. Com a codeína, a pessoa sente menos dor (é analgésico), e
pode ficar sonolenta. A pressão do sangue, o número de batimentos do
coração e a respiração podem ficar diminuídos.

O ziprepol pode atuar no cérebro, fazendo a pessoa sentir-se aérea,


flutuando, sonolenta, vendo ou sentindo coisas diferentes. Com freqüência,
leva também a acessos de convulsão. A codeína, quando tomada em doses
maiores do que a terapêutica, produz uma acentuada depressão das funções
cerebrais. Como conseqüência, a pessoa fica apática, a pressão do sangue cai
muito, o coração funciona com grande lentidão e a respiração torna-se muito
fraca. A pele fica fria, pois a temperatura do corpo diminui, e meio azulada, por
respiração insuficiente. A pessoa pode ficar em estado de coma, inconsciente,
e se não for tratada, pode morrer. A codeína leva rapidamente o organismo a
um estado de tolerância. Assim, não é incomum saber-se de casos de pessoas
que tomam vários vidros de xaropes ou de gotas para continuar sentindo os
mesmos efeitos. E, se deixam de tomar a droga, já estando dependentes,
aparecem os sintomas da chamada síndrome de abstinência. Calafrios,
cãibras, cólicas, nariz escorrendo, lacrimejamento, inquietação, irritabilidade e
insônia são os sintomas mais comuns da abstinência.

Com o ziprepol há, também, o fenômeno da tolerância, embora em


intensidade menor. O pior aspecto do uso crônico (repetido), dos produtos à
base de ziprepol, é a possibilidade da ocorrência de convulsões.

Nomes comerciais
• Belacodid, Belpar, Benzotiol, Codelasa, Gotas Binelli, Naquinto,
Pastilhas Veabon, Pastilhas Warton, Setux, Tussaveto, Tussodina, Tylex
(substância ativa: codeína).
• Eritós, Nantux, Silentós, Tussiflex (substância ativa: zipeprol).

ANTIDEPRESSIVOS

A depressão é uma característica comum das doenças mentais,


independentemente de sua natureza ou origem. Uma pessoa com
histórico de qualquer transtorno psiquiátrico grave corre quase o mesmo
risco de desenvolver depressão que alguém que já padeceu um episódio
de depressão maior no passado. Muitos pacientes esquizofrênicos
podem apresentar depressão crônica, Este diagnóstico apresenta um
problema teórico para a psquiatria, já que esquisofrenia e os transtornos
afetivos tem supostamente origens biológicas diferentes. O diagnóstico
dual — abuso de substâncias químicas e algum outro transtorno
psiquiátrico, geralmente um transtorno afetivo — constitui uma crescente
e séria preocupação psiquiátrica. Independentemente de o abuso de
drogas causar ou não depressão, esta leva ao abuso de drogas ou
ambos distúrbios têm uma causa comum; um círculo vicioso inicia-se
quando os dependentes químicos começam a tomar drogas para aliviar
sintomas causados por essas mesmas drogas.

Os antidepressivos são drogas que aumentam o tônus psíquico


melhorando o humor e,conseqüentemente, melhorando a psicomotricidade
de maneira global. São vários os fatores que contribuem para a etiologia da
depressão emocional e, entre eles, destaca-se cada vez mais a importância
da bioquímica cerebral. Acredita-se que o efeito antidepressivo se dê às
custas de um aumento da disponibilidade de neurotransmissores no SNC,
notadamente da serotonina (5-HT), da noradrenalina ou norepinefrima (NE) e
da dopamina (DA). Ao bloquearem receptores 5HT2 (da serotonina) os
antidepressivos também funcionam como antienxaqueca. O aumento de
neurotransmissores na fenda sináptica se dá através do bloqueio da
recaptação da NE e da 5HT no neurônio pré-sináptico ou ainda, através da
inibição da Monoaminaoxidase (MAO) que é a enzima responsável pela
inativação destes neurotransmissores. Será, portanto, nos sistemas
noradrenérgico o serotoninérgico do Sistema Límbico o local de ação das
drogas antidepressivas empregadas na terapia dos transtornos da
afetividade, Ballone GJ (2003).

Os antidepressivos podem ser dividos em:


1 - Antidepressivos Tricíclicos (ADT)
2 – Inibidores Seletivos de Recaptação da Serotonina
3 - Antidepressivos Atípicos
4 - Inibidores da Monoaminaoxidase (IMAO)

Não iremos entrar em detalhes sobre a farmacologia de cada grupo, pois


não é objeto principal desta sessão.

Principais Antidepressivos Tricíclicos (ADT)


Nome Químico Nome Comercial
AMITRIPTILINA Amytril, Tryptanol
CLOMIPRAMINA Anafranil

IMIPRAMINA Imipra, Tofranil


MAPROTILINA Ludiomil
NORTRIPTILINA Pamelor

Principais Antidepressivos Inibidores


Seletivos de Recaptação da Serotonina
Nome Químico Nome Comercial
CITALOPRAM Cipramil, Parmil
FLUOXETINA Daforim, Deprax, Eufor,
Fluxene, Nortec, Prozac,
Verotina
NEFAZODONA Serzone
PAROXETINA Aropax, Pondera,
Cebrilin
SERTRALINA Novativ, Tolrest, Zoloft

Principais Antidepressivos Atípicos


Nome Químico Nome
Comercial
AMINEPTINA Survector
FLUVOXAMINA Luvox
MIANSERINA Tolvon
MIRTAZAPINA Remeron
REBOXETINA Prolift
TIANEPTINA Stablon
TRAZODONA Donaren
VENLAFAXINA Efexor

Principais Antidepressivos IMAOs


Nome Químico Nome Químico
TRANILCIPROMINA TRANILCIPROMINA
MOCLOBEMIDA MOCLOBEMIDA
SELEGILINA SELEGILINA

OS BARBITÚRICOS

Grupo de substâncias depressoras do Sistema Nervoso


Central, quimicamente derivados do ácido barbitúrico. Entre
eles se incluem o fenobarbital, dial, amobarbital, pentobarbital
e secobarbital. Eles são usados como antiepilépticos (anticonvulsivos),
anestésicos, sedativos, hipnóticos e - menos comumente - como ansiolíticos
ou drogas anti-ansiedade. Na psiquiatria, alguns deles têm aplicação como
anti-impulsivos.
Os barbitúricos têm uma pequena margem de segurança entre as
dosagens terapêutica e tóxica e são freqüentemente letais em superdose.
Devido à sua maior margem de segurança, os benzodiazepínicos têm
substituído amplamente os barbitúricos como sedativos/hipnóticos,
ansiolíticos e mesmo como anti-epilépticcos. A tolerância aos barbitúricos se
desenvolve rapidamente e o risco de uso nocivo ou de dependência é alto.
Os pacientes que usam estas drogas por períodos prolongados podem
tornar-se dependentes, mesmo quando a dose prescrita não é ultrapassada.
Assim sendo, eles podem desencadear síndromes de abstinência quando de
sua privação ou, mais traumatico ainda, podem induzir à convulsões quando
interrompidos bruscamente.
Conforme Rotman F. (2002), podemos enumerar os efeitos
provocados pelo uso abusivo e indiscriminado dos barbitúricos, em:

- Dependência física (a administração repetida de barbitúricos cria, no


sistema nervoso central, um transtorno fisiológico que obriga à continuação
do consumo destas drogas para evitar o aparecimento da síndrome de
abstinência)
- Dependência psicológica (o viciado fica obcecado em obter os barbitúricos,
e persiste em usá-lo apesar do conhecimento prévio de que eles são nocivos
física, psicológica e socialmente)
- Tolerância (são necessárias doses progressivamente maiores de
barbitúricos para se gerarem os mesmos efeitos iniciais)
- Depressão do centro respiratório
- Depressão do sistema nevoso central (principalmente do hipotálamo,
sistema límbico, córtex cerebral)
- Depressão dos centros termorreguladores localizados no hipotálamo
- Depressão dos centros vasomotores localizados na medula
- Redução do volume de urina, gerada por alterações hemodinâmicas no rim
e também pelo aumento da secreção do hormônio antidiurético hipofisário
- Interferência na transmissão nervosa periférica do sistema autonômico
ganglionar
- Interferência na liberação de neurotransmissores no sistema nervoso central
- Sensação de anestesia
- Vertigem
- Espasmo da laringe
- Potencialização dos efeitos do álcool e dos narcóticos
- Crise de soluço
- Sedação
- Redução da atividade motora
- Estimulação do sistema microssomial enzimático, aumentando a velocidade
de degradação de várias drogas
Abstinência Barbitúrica

A síndrome de abstinência barbitúrica de moderada gravidade é representada


pelo aparecimento dos seguintes sintomas:
- Hipotensão arterial na posição de pé.
- Transpiração excessiva
- Hiperatividade dos reflexos
- Náusea
- Vômitos
- Ansiedade
- Apreensão
- Taquicardia
- Tremor corporal
- Abalos musculares
A síndrome de abstinência barbitúrica de importantíssima gravidade é
representada pelo aparecimento das seguintes manifestações:
- Convulsão
- Obnubilação
- Alucinações visuais
- Desorientação
- Delírio
- Estado parecido com o delirium tremens da abstinência alcoólica
------ FIM MÓDULO II -----

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