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Capitulo 1- onde tudo termina

Sabázia, 997/07/03 às 23:30


Palaios o Mercador

Em seu pequeno quarto, mobilhado o suficiente por alguém
que prezasse apenas por seu conforto. Estava Palaios, já
próximo a sua hora de dormir, repousado de forma que
pudesse continuar a escrever em seu diário sendo iluminado
apenas por algumas velas que enfeitavam sua cómoda,
escrevendo sobre as coisas que havia observado ao decorrer
de sua semana difícil e cansativa. Minutos depois de ter as
apagado para dormir, ouve fortes batidas vindo do andar de
baixo, fortes o suficiente para achar que estariam tentando
arrombar sua porta, uma atrás da outra até cessarem de forma
repentina, desconfiado do que poderia ser, sai de sua cama e
vai em direção a janela em uma tentativa de enxergar algo
mesmo com a chuva e a neblina tampando boa parte da sua
visão para a rua, ao perceber uma figura estranha do outro
lado da rua parada ao lado da padaria que ficava de para sua
frente à sua casa, Palaios que daquele ângulo e com toda
aquela obstrução não enxergaria muito mais que uma silhueta,
decide abrir a gaveta de sua cómoda e puxar uma adaga que
aparentava nunca ter sido usada desde sua fabricação e
caminha lentamente para o andar de baixo em direção à porta.

Sabázia, 997/07/04 às 06:00


Varis o Cavaleiro

Era uma manhã fria e agitada nas ruas frente ao templo dos
doze, localizado na grande cidade importadora, Sabázia.
Manhã que sucedeu uma fatídica noite, cruel e violenta... Era
notório o falatório incansável de pessoas curiosas que lotavam
as ruas para saber o que havia acontecido e o porquê de tantos
guardas. Um cavaleiro que estava presente se destacava ao
caminhar com pressa e preocupação em seu cenho,
carregando algo parecido com um livro. Andando como se
estivesse a procura de alguém, desviando de seus
companheiros enquanto passava por aquela cena do crime,
onde havia um corpo caído e sem vida em meio de seu próprio
sangue, um ser de linhagem infernal, um jovem adulto
hadeliano de um metro e setenta e oito aproximadamente,
pequenos chifres quase imperceptíveis em sua cabeça, sua
calda de tamanho médio comparada à sua altura, com a pele
avermelhada e com longos e anarquizados cabelos
encaracolados verdes-jade. Depois de percorrer por toda cena
do crime para encontrar-se com seu comandante, o cavaleiro
para perto de uma tenda improvisada, longe de todo aquele
tumulto, longe o suficiente para que o cheiro enjoatvo do
sangue não pudesse ser algo incomodo. Ao lado da porta, um
meio-orc de pele meio acinzentada, mandíbula ressaltada e
que aparentava ter seus dois metros de altura de puro musculo
e pouco cérebro, com vestimentas vermelhas e rudimentares,
um brasão de uma serpente estampada no peito e levando em
conta suas roupas, apenas um jovem escudeiro fazendo a
guarda do local.
— Com licença, procuro o senhor comandante da guarda da
cidade — disse o cavaleiro com um olhar distante.
— Brauk está aqui — Disse o escudeiro com uma péssima
dicção devido aos seus dentes proeminentes enquanto
apontava para a tenda sem ao menos olhar para quem
perguntava.
Por dentro daquela tenda com pouca iluminação, era
totalmente escura e fechada com um leve cheiro de mofo,
coisa que não aparentava incomodar em nada o cavaleiro e
que por sua vez examinava o local, pessoa por pessoa até
encontrar quem procurava.
— SENHOR COMANDANTE BRAUK! — gritou o
cavaleiro parado em frente a porta prestando continência ao
avistar seu superior.
Por um breve momento todos que estavam na tenda ficaram
em silêncio ao observar aquele ser esguio porem esbelto em
sua armadura com uma serpente como brasão enfeitando-a,
segurando seu elmo contra o próprio corpo e deixando seu
rosto amostra. Um jovem alto elfo dos reinos distantes de
Paphos, com seus traços finos, pele bronzeada e com seus
cabelos cor de cobre. O choque de todos por tal cena
incomum se dava também ao fato da espada em suas costas
parecer tão pesada e maior quanto a pessoa que a carregava.
Sem ceder aos olhares, o jovem elfo se aproxima da mesa
onde o comandante da guarda, um humano, nativo de
Charroux, de pele negra, careca, um enorme bigode e fortes
traços faciais estava sentado escrevendo seus relatórios, ao se
aproximar diz com um tom de voz um pouco mais baixo que
antes, porém ainda firme.
— Senhor, me chamo Varis, cheguei ontem de madrugada e
hoje é meu primeiro dia de serviço em seu pelotão, os
superiores do reino ordenaram que eu começasse logo dada a
situação e além disso trago informações sobre o hadeliano.
O cavaleiro tenta olhar para os relatórios na mesa enquanto
fala, mas o comandante, que parecia ter terminado de escrever,
se ajeita na cadeira e o encara diretamente com um olhar
severo. “Ótimo”, disse em tom de ironia ao cravar seus olhos
em Varis.
— A segunda surpresa do dia, espero que até ele acabar não
tenham outras à minha espera... bom, desembuche.
Varis que neste instante havia ido longe em seus pensamentos
se fez uma pergunta que ele mesmo respondeu. “O que faz a
todos o respeitarem?” a resposta que ele imaginava não eram
sobre as possíveis glorias do passado, suas respostas
passavam bem longe disso, para ele, era somente pelo fato de
sua presença, uma presença quase que onipotente que sentiu
ao entrar na tenda e que foi confirmada após se encararem, a
presença de alguém que possivelmente esbanja confiança para
suas tropas, em seus pensamentos não era um bom soldado ou
coisa do tipo na sua frente e sim um possível bom líder.
— Encontramos algo na túnica do hadeliano, senhor, um
bolso falso com uma espécie de diário dentro.
Depois de se encararem por mais alguns segundos e Varis
perceber que o comandante estivera esperando que
continuasse a falar, ele complementa.
— Bem e isso não é tudo, senhor! Folheei as primeiras
páginas e descobri a identidade daquele coitado caído sem
vida, seu nome era Palaios, um mercador da caravana do sol.
—Mande que os guardas avisem e interroguem a líder da
caravana, ela deve saber alguma coisa — disse o comandante
enquanto passava a mão na cabeça.
— Tomei a iniciativa de pedir que alguns guardas fossem até
ela antes de te consultar. Mas não acho que precisemos
interroga-la, aparentemente podemos estar em posse de algo
que nos dê mais informações sobre isso do que qualquer
pessoa poderia nos dar. Confiante nas suas palavras, ele abre o
diário em cima da mesa de seu comandante colocando-o por
cima de quaisquer documentos que por ali estavam.
Vendo que o novato cavaleiro de seu pelotão estava
totalmente confiante em suas palavras e ações, Brauk decide
dar a ele um voto de confiança.
— Você irá se sentar ao meu lado e lerá o diário, quero que
apenas leia as partes que julgar importante para começarmos a
investigação e você só tem até a tarde para me impressionar
ou passarei o caso adiante então comece logo...

Sabázia, 997/07/03 às 23:37


Palaios

Com receio de abrir e preocupado por pensar em quem
poderia ser tão tarde da noite, Palaios fecha seus olhos com a
mão apoiada na maçaneta, conta até três, respira
profundamente enquanto abre seus olhos, esconde a adaga
atrás de suas costas e em seguida abre a porta para a rua se
preparando para o pior. Mas para sua surpresa não havia nada
lá, apenas a visão da rua que por conta da neblina era difícil
enxergar sequer o outro lado, ao se virar despreocupadamente,
convencido de que poderia estar ficando louco por causa do
que viu uma semana atrás, no momento em que se dirigia para
dentro...

Sabázia, 997/07/04 às 06:20


Varis

“Querido diário... estou aqui parado na recepção da caravana
do sol, aqui é onde todos os mercadores se encontram para
receberem atualizações, me perguntei o motivo de ter sido
chamado no dia de hoje, já que estive aqui ontem. Pelo visto
foi outra reclamação vazia que fizeram de mim, mesmo Elna
não ligando, percebo que ela está ficando de saco cheio a cada
reclamação. Tanto que desmarcou nosso encontro e chegou ao
ponto de me dar este diário e me fazer prometer que iria
escrever tudo o que eu quisesse, “Palaios, sei que não suporta
as pessoas da cidade pelo o que elas falam de você, mas tenha
um pouco de paciência, faça que a mesma prevaleça sobre sua
ira, porém não a guarde, pois pode lhe fazer mal” logo depois
desse discurso me deu este diário...”.
— Acho que lendo a primeira coisa que ele escreveu além de
respeitoso, não sei, nos ajuda na investigação e a entendermos
um pouco sobre ele e suas relações. Aparentemente ele
recebia muitas reclamações de clientes, e tem outro ponto, eu
não sou o melhor entendedor, mas pelo pouco que sei,
hadelianos não costumam confiar nas pessoas e ao meu ver
acho que Palaios confiava na Elna, até demais... — disse
Varis sem tirar os olhos do diário.
“Hoje acordei de bom humor, com um clima agradável e
cheiro de torta de maça na minha janela vinda direto da
padaria do outro lado da rua, uma rua que cheirava a café da
manhã, com toda certeza meu cheiro favorito, fiquei por um
tempo fazendo um dos meus hobbies favoritos, olhar as
pessoas passarem de cima da janela e logo sai para trabalhar,
um ponto fixo perto das tavernas, são sempre dias iguais, se
eu não me esforçar em observar os detalhes as coisas vão aos
poucos parando de fazer sentido então me prendo em saber
como as coisas funcionam, observar as pessoas e saber os que
a motivam...”.
— Tem muitos trechos que ele tenta focar em não falar sobre
seu dia e sim coisas que observa, parece que rotinas do dia a
dia simplesmente são deixadas de lado e sempre comentando
sobre o que sentiu observando tal coisa, até um cachorro
moribundo tem sua página.
Após ler mentalmente um certo trecho do diário, Varis
esboça um sorriso sínico em seu rosto, coisa que não
demonstrara até então e volta a ler o trecho “Duas semanas
para a passeata anual dos servos de Afrodite e já há vestígios
de pessoas novas na cidade, um alto elfo com vestimentas
pretas, um pingente de coração e cabelos alaranjados saindo
para fora de seu capuz, algo que não se vê todo dia a luz da
manhã. Passaria batido se eles não aparentassem estar
investigando algo... mesmo com o famoso “garoto da hora das
bruxas” à solta por aí, só vemos guardas investigando o caso e
esse cara não me parece nada com um guarda”. “Porra de
hadeliano, realmente não deixa escapar nada, até eu estou
nessas malditas páginas...” pensou Varis ainda sorrindo que só
se preocupou em esconder de seu comandante quando o
percebeu encarando.

Sabázia, 997/07/03 às 23:40


Palaios

Palaios é bruscamente puxado e jogado para trás com uma
extrema ferocidade, ao mergulhar de forma brutal e se chocar
contra o chão molhado, tentou rapidamente se levantar mas
não havia ar em seus pulmões para isso, ainda caído tentando
enxergar quem teria o derrubado mesmo que no fundo já
imaginando quem poderia ser, ouve de fundo um sussurro
“siopí”, um certo desespero estava tomando conta de seus
pensamentos até se lembrar de sua adaga mas não teve tempo
o suficiente pois quando tentou dar uma investida para se
levantar sentiu uma dor agudo em suas costelas que o fizeram
gritar estrondosamente enquanto rolava, o gosto de sangue
enchia por completo sua boca, havia tomado um chute tão
forte que chegou a tira-lo do chão por instantes.

Sabázia, 997/07/04 às 07:28


Varis

— Algo de interessante cavaleiro? — pergunta Brauk com a
mão repousada em seu queixo.
— Não, não, era apenas a página do cachorro moribundo...
ela se estende até uma reflexão sobre a vida — diz Varis
enquanto inclinava sua cabeça para baixo tentando esconder
seu rosto.
“Chegou o dia da passeata em nome de Afrodite, seus servos
e muitos outros que moram pelas cidades próximas de Sabázia
a usam como ponto de partida, é um dia empolgante, mas ao
mesmo tempo não muito, muitas pessoas que passam por mim
estão sempre com olhares afiados e cochichando. As vezes
esqueço que por conta de ser o que sou isso acontece, com
festivais ou não isso sempre acontece...”.
— O festival de Afrodite nesta cidade não foi há tanto tempo
assim, mas o que eu queria perguntar era se o senhor por
acaso acha que poderia ser algum crime de discriminação por
parte de algum habitante? ...
— Bem... não temos tantos hadelianos por Sabázia. Por conta
de serem uma raça da linhagem infernal de Hades, eles sofrem
para serem aceitos desde a mensagem em voz de trovão vinda
de Zeus, já tivemos casos de agressões em tavernas e afins,
admito que por culpa de muitos guardas com “poeira nos
olhos” isso ainda é um pouco frequente... mas nunca chegou
ao extremo do assassinato, e da forma que analisei, uma morte
muito passional — distraído enquanto pensava sobre o que
dizia, Brauk com sua mão esquerda busca uma caneca de
hidromel que por ali estava e dá um profundo e longo gole
desejando que as respostas estivessem no fundo de seu copo.
— Algumas coisas deveriam ser mudadas na cidade, mas
como da missa não sei nem a metade, quem sou para opinar...
Varis percebendo que poderia entrar em algum assunto
delicado sobre a cidade, volta rapidamente seus olhos para as
páginas do diário e começa a ler de onde havia parado.
“De tarde mais ou menos, com o festival no seu fim e meu
expediente acabando, fui em direção a taverna para
comemorar já que havia diversas promoções e estava exausto,
no caminho para lá estava meio distraído, mas não o
suficiente para não perceber uma moça, uma jovem humana
com uma coroa de flores em sua cabeça e ao que parecia uma
clériga de Afrodite, tinha uma altura mediana para as moças
de Sabázia. Enquanto ela se virava depois de ter tocado uma
criança e a curado com um símbolo luminoso que saia de sua
mão, fui tentando observe-la mais detalhadamente, ela tinha
cabelos médios na altura dos ombros com uma cor cinza meio
lilás ao ser iluminada pelas luzes das tochas, seus grandes
olhos da cor de seu cabelo refletia pura compaixão e amor que
jamais vi igual em nenhum outro ser, do lado de sua boca uma
pinta que dava todo o charme na composição de seu rosto com
traços únicos e belos, eu nunca senti tal coisa por alguém e
quando estava para me aproximar fui interrompido por
ninguém menos que o maldito do Padaleck que surgiu de uma
das vielas, sempre que a Elna não está na cidade ela deixa pro
Padaleck tomar conta das coisas como segundo no comando
da caravana mas nunca fica pela maldita da caravana, está
sempre nas ruas perambulando e estranhamente nunca
recebeu uma reclamação sequer por causa disso... quando fui
me dar conta ele estava me arrastando para a taverna e aquela
moça já havia ido embora junto da criança, porra de elfo...
mas ele não foi tão mal assim naquela noite, Padaleck
substitui bem aquela moça”.
— Que tipo de elfo ele aparenta ser? — pergunta Varis
levantando uma de suas sobrancelhas para cima em forma de
questionamento.
— O elfo da floresta mais charlatão que Elna poderia ter
encontrado por aí, é o segundo em comando, mas sempre está
pelas ruas ou fora da cidade, se não me engano mora no porão
da base da caravana, mas parece um mochileiro sempre
fazendo algo fora, costuma ficar algumas apenas semanas pela
cidade ao menos ele e Elna parecem se dar bem.
Quanto a Palaios eu estive pensando se já o vi antes, mas
acho que sim, algumas vezes apenas, sou sempre muito
ocupado desde que o “garoto da hora das bruxas” chegou na
cidade e decidiu nunca mais sair... além disso já podemos
descarta-lo por hora já que não parece ser como ele opera.

Sabázia, 997/07/03 às 23:46


Palaios

Estando alguns metros do ser encapuzado, Palaios já de pé
porem com muita dificuldade para manter sua respiração nota
em sua volta um domo, um domo translucido que ao cair da
chuva não havia barulho algum, ao pensar que poderia ser um
feitiço pensou também que naquele momento tudo que
gostaria era ter sua vida tediosa de volta, mas sabia que sua
curiosidade teria o levado até este momento e por talvez
acreditar que não seria o próximo. Observando de longe
aquele ser o encarando com sua adaga em mãos e outra que
teria trago com ele para o executar, sabia que seria impossível
o enfrentar de mãos nuas pois aquele filho da puta em sua
frente além de uma extrema agilidade era do tamanho ou
maior que a porta de sua casa, parados em meio a chuva como
se estivessem em um duelo porém um injusto duelo onde um
deles teria agido covardemente, Palaios não via outra escolha
a não ser correr o mais rápido dali e ao se virar para isso,
sente algo sendo fincado na parte posterior de sua coxa e com
isso o chão se ergueu mais uma vez em seu encontro duro e
frio, com o sangue quente tentou novamente se levantar não
se importando com a dor mas o ser encapuzado que se divertia
com toda a cena era tão ágil quanto um gato de rua e
silenciosamente já estava mais uma vez diante de Palaios. Ao
ser virado de barriga para cima depois de cair no chão de peito
e sentir sua perna ser aberta da coxa a panturrilha em uma dor
inigualável pela adaga que foi arremessada em sua direção
com uma extrema maestria e destreza, gritava e pedia por
ajuda mas não conseguia ao menos se ouvir por conta do
domo que ocupava boa parte da rua, tentando ao máximo se
libertar do ser que estava em cima de suas pernas e se
aproximando de seu rosto, se cansando cada vez mais e não
tendo resultado, Palaios começa a ceder aos poucos a ideia de
que daquela noite não passaria e quando estava finalmente
por cima, não aparentava nenhum pouco ter todo o tamanho
que tinha alguns metros longe, com a adaga em mãos
posicionando-a entre as costelas, penetra lentamente a lamina
enquanto o encarava sorrindo e ao mesmo tempo chorando, ao
retirar cuidadosamente a adaga, põem seus dedos entre os
lábios de Palaios e balança a cabeça em forma de negação
como se o quisesse conforta-lo com toda aquela gesticulação,
como se estivesse reconsiderando mas não era seu intuito.
Seguido de tudo isso seu semblante muda por completo e
começa uma chuva de estocadas no abdômen em diversas
posições diferentes sem pausa alguma entre elas, apenas algo
continuo. O último momento de suspiro de Palaios ao sentir o
cheiro de merda e sangue em suas narinas além da dor que
logo desapareceria era a visão daquela pessoa por cima dele
com a adaga o abrindo do peito a barriga como um porco que
estava abatido na mesa de um açougue qualquer e então um
eterno fechar de palco.

Sabázia, 997/07/04 às 12:50


Varis

Ao se aproximar de seu tempo limite, Varis Levanta da
cadeira e se espreguiça virando seus olhos para Brauk e
comenta que antes de entrar na tenda estava lendo parte do
diário para ter certeza de que poderia ser útil, procurando por
algo que chamasse sua atenção e tendo encontrado exatamente
o que estava buscando na sua lida rápida nas páginas antes de
se apresentar.
— Bom, já folheei boa parte do diário, citei as partes da Elna
e do Padaleck por parecerem realmente amigos dele, percebi
que são bastante citados mas só comentei da primeira aparição
de cada no diário para você me informar quem eram, ainda
tem algumas páginas que restam e gostaríamos que
levássemos em conta o crime passional pois pelo que eu vi na
lida que dei no diário antes de vir pra cá, me mostrou que
Palaios conhecia o assassino mas não citou seu nome e que foi
testemunha no assassinato de alguém, eu realmente não
entendi o motivo dele não dizer de quem se tratava, pelo o que
entendi foi que ele tratou a pessoa como um conhecido e
também como um desconhecido, descreveu também sobre ter
se visto do outro lado da rua mas não sabia ao certo se teria
sonhado ou algo do tipo. Devo sair um pouco para tomar um
ar se o senhor permitir, estamos aqui tem algumas horas e
mesmo que fique de tarde irei continuar investigando pela
cidade...
— Você realmente tem muita iniciativa e já veio com isso em
mente, entendo porque te colocaram no caso sem ao menos te
apresentarem a cidade direito, se realmente foi algum
conhecido devemos por guardas observando os dois, não
podemos dar um mole de chamar atenção pra um só, pois
pode ser ou não o suspeito e Padalack supostamente não está
na cidade mas não muda que também é um suspeito, irei
mandar que o procurem mas cautelosamente. Bom acho que
você me provou ser competente em continuar com a
investigação sozinho, pode ir e levar o diário com você, o
tempo que eu te dei era apenas para tirar suas dúvidas e te
ajudar se possível, caso ache algo me procure na prefeitura,
deixarei alguém encarregado de dissipar o povo, limpar as
ruas e enterrar aquele pobre hadeliano, vou estar pela
prefeitura fazendo minhas próprias anotações sobre outro caso.
Aliás qual seu nome mesmo? ...
— Varis Psithos, senhor... — disse enquanto se virava para a
porta da tenda mas antes complementa com algo — Esqueci
de lhe perguntar uma coisa, em que lugar fica a casa do
hadeliano mesmo?
— Fica saindo a esquerda da tenda, seguindo a rua até a forja
você irá virar a direta e encontrará a praça da cidade, umas
três ruas atrás da praça de frente pra uma padaria é ali onde
ele mora, você deve encontrar com alguns guardas pelo
caminho que por sinal a essa hora devem estar voltando, direi
que você estará no comando por hora então qualquer coisa
não fique com vergonha de dar ordens.
Saindo da tenda e se adaptando ao ambiente do lado de fora
depois de passar horas sentado. Varis dá uma olhada de longe
no corpo estirado no chão e pensa consigo “só irei conseguir
tirar alguma informação verdadeira de noite mas não vou
desperdiçar mais meu tempo na tenda com aquele velho, e
isso pra mim já basta por hora, bom que o comandante parece
não ligar muito para esse caso em especifico e acho que fica
mais fácil investigar como cavaleira da guarda” ao passar suas
mãos no rosto enquanto abaixa a cabeça, Varis ao levantar seu
olhar passando do chão para o horizonte, percebe algo
familiar caído por lá. Um rei de copas cuidadosamente
posicionado, que para a visão de muitos ao sair da tenda
poderia ser apenas uma carta aleatória caída aparentando ser
um lixo jogado na rua, para Varis havia um significado e ao se
levantar depois de tê-la pego, sua expressão muda de um
nobre e novato cavaleiro para alguém com uma expressão de
soberba e extrema arrogância como se fosse superior a todos
em sua volta.

Capitulo 2

Passando lentamente seu olhar por todos os becos que


pudessem dar até a tenda, avista de longe um beco que mesmo
com o início da tarde que estava clara e iluminada, era
estranhamente escuro de uma total penumbra que deixava
evidente aos bons olhos a presença de magia no local. No
estante em que Varis chega no local a magia que havia por ali
é dissipada deixando que o beco fosse iluminado novamente
pelo sol e podendo ser melhor visualizado, haviam latas de
lixo por todo o beco e com um grande fedor de comida
estragada saindo delas. Sentado no meio de tudo aquilo havia
um pequeno ser horrendo quase monstruoso, vestindo um
roupão grande demais para seu tamanho e com um dos braços
esticado para frente segurando uma espécie de carta com
sinete em formato de coração, sua pele era esverdeada e
gosmenta, com pequenos chifres em sua cabeça careca, na
parte de trás um rabo com um grande e pontiagudo ferrão
além dos profundos olhos azuis como o mar que encaravam
Varis.
Ignorando-o completamente, Varis observa atentamente algo
embaixo da criatura ali sentada e exclama com uma feição de
desgosto.
— Hunf! Muito engraçado, leia para mim o que está escrito...
vocês diabretes são tão engraçados, fingem esquecer que são
servos. Aliás quem é ai embaixo?
— Pessoa curiosa, Drasro com fome, pessoa paralisada com
veneno de Drasro, lanche para mais tarde — diz o diabrete
com um grande sorriso em seu rosto.
— Parece que ser curioso nessa cidade é mais um defeito do
que outra coisa, só não me arrume problemas com esse corpo
e leia isso de uma vez.
— Bem, vamos lá “Não perca o rastro, sabemos que está por
Sabázia, assim que o encontrar prenda-o, mas tenha total
certeza, não podemos deixar que fuja novamente. Você só
voltará para casa quando tiver acabado o serviço. Assinado: O
rei de copas”. Drasro achar que alguém não voltará tão cedo
HaHaHa!
— Maldito! já estou nesse fim de mundo de cidade tem
semanas, quando que de favor isso virou obrigação... acha que
sou obrigado a resolver suas merdas... — disse Varis sem ao
menos prestar atenção no que havia dito.
— Ora, ora, Drasro acaba de presenciar insubordinação?
Estendendo sua mão em direção a Drasro, o diabrete sente
seu corpo pesar igual a uma bigorna, arregalando os grandes
olhos azuis sem poder se mexer, acompanha com o olhar
Varis caminhando calmamente em sua direção com a palma
de sua outra mão brilhando em uma cor gélida até que sente
um frio toque em seu rosto, seus olhos em estado vegetativo
como se estivesse em transe, só conseguia sentir uma extrema
vergonha e invasão de privacidade até que sente novamente o
calor do ambiente e uma forte dor de cabeça ao tentar se
lembrar dos últimos minutos e ao piscar vê Varis parado no
mesmo lugar de quando chegou ao beco.
— Não esqueça de entregar isto — disse Varis em tom de
deboche ao jogar a carta do valete de copas na direção de
Drasro que tateava o ar tentando pega-la sem entender muito
bem enquanto Varis dava as costas e caminhava para a rua
principal.
De volta para a rua principal indo em direção a casa de
Palaios. Varis deixa toda sua postura anterior ao sair do beco,
cuidadosamente pega o diário em sua bolsa e volta a ler
enquanto caminha até a forja no fim da rua.


“Acho que dentre os três anos que conheço a Elna nunca a vi
tão irritada quanto hoje cedo, “a reunião com os taverneiros e
comerciantes de merda” nas palavras dela. Ocorreram hoje de
manhã por causa da taxa exorbitante que um dos nobres da
cidade havia posto sobre os vinhos que vinham de Andorra,
óbvio que para a gente eles taxam as melhores coisas, estava
ao ponto de explodir ou até pior... mas algo curioso aconteceu
nessa semana, logo após ela deixar a cidade, algumas tavernas
foram isentas de pagar a taxa e a nossa caravana também dado
o reconhecimento que somos “a maior caravana da cidade de
forma que atraímos mais e mais pessoas para o crescimento da
mesma” como disse o enunciado desse nobre de merda mas o
fato curioso não era apenas sobre isso e sim que um dia depois
ele apareceu morto, encostado em um canto da rua com
diversas taças em volta do corpo, todas cheias com o próprio
sangue, um corte limpo no pescoço... isso com toda certeza foi
um aviso para o próximo que fizer algo parecido, Padaleck diz
que esse é o preço que se cobra por aqui, independente de
quem seja”
Virando na rua que levava da forja até a praça, Varis
guardava novamente o diário em sua bolsa para prestar mais
atenção no caminho e nas pessoas em sua volta, tentava ouvir
o máximo que podia sobre as teorias que estavam circulando
na boca dos plebeus sobre a noite anterior, algumas eram
sobre o castigo divino dos Deuses do Olimpo sobre a raça dos
hadelianos e que ele seria apenas o começo, outras que ele
dormia com a mulher de algum nobre poderoso e teve o que
merecia. Nada que aparentasse ser verdadeiramente útil de
alguma forma apenas algo que o traria mais dificuldades se
não encontrasse logo pois o torneio de Sabázia em nome de
Atena traria diversos cavaleiros e outras pessoas para
tumultuar ainda mais a cidade, pensando na dor de cabeça que
poderia ter e na fome que estava, continuou seu caminho para
a praça almejando parar para comer algo perto da casa de
Palaios.
O frio que havia feito de manhã parecia querer persistir para
o início da tarde na forma de um grande temporal, nuvens
carregadas com algumas rajadas de vento que sopravam de
uma ponta a outra faziam com que algumas pessoas que
estavam na praça procurassem abrigo, em volta, comércios de
todos os tipos enfeitavam e chamavam atenção para a praça de
Sabázia, de alfaiates, sapateiros, até uma grande taverna
menos escondida que as outras. Para fugir do clima que estava
cada vez pior, Varis dá uma apertada no passo seguindo pelo
meio da pra praça pensando caso começasse a chover não
seria tão mal entrar em algum estabelecimento por um tempo,
principalmente algum com comida. Ao enxergar um grupo da
guarda da cidade mais a frente, vindo na sua direção, Varis se
lembrou das palavras de Brauk sobre o grupo voltando que
encontraria no caminho, fazendo com que chegasse à
conclusão que estaria indo para o caminho certo, continuou
seguindo na direção do grupo até passar por eles e começar a
contar as ruas até chegar na terceira que de forma curiosa
realmente tinha cheiro de café da manhã como estava escrito
no diário.
Mesmo não sendo no centro da cidade ao redor da praça a
padaria “estrela cadente” parecia tão bem frequentada quanto
as tavernas três ruas abaixo, era grande e com uma bela
vidraça digna de castelos ou catedrais feitas por nobres que
não tinham onde mais enfiar suas moedas, possivelmente
pertencesse a algum.
Varis que por sorte havia conseguido fugir a tempo da
tempestade que agora tomava forma do lado de fora do
estabelecimento, se acomodava em uma mesa perto das
grandes janelas e observava como o clima de Sabázia tinha
tendência a mudar de forma brutal e repentina, sentindo o
cheiro de chuva e distraído com as pesadas gotas que
despencavam dos telhados sobre o chão de pedras da rua que
formavam uma enorme poça, distraído por seus pensamentos
ou talvez pela fome que estava porém o suficiente para não
notar uma pessoa do seu lado, uma jovem garçonete de
cabelos dourados. Com um sorriso simpático, mas automático
em seu rosto, esperando uma deixa para interceptar a atenção
daquele cavaleiro que parecia desligado do mundo a sua volta.
— Sor? — a garçonete aproximava sua mão de forma sutil e
cuidadosa na direção do ombro direito do cavaleiro.
Tocado de volta para a realidade, Varis retorna seu olhar para
dentro da padaria — você por acaso conhece a pessoa que
mora do outro lado da rua? ...
— Sim, ele morreu na noite de ontem pelo o que ouvi...
costumava frequentar muito aqui e adorava nossas tortas de
maça, ouvi também que foi algo horrível a forma que morreu,
não teria coragem de olhar para ele nesse estado... não íamos
abrir hoje por ordem do dono em forma de luto, ele também é
um hadeliano mas disse que seria pior se ficasse sozinho hoje
e pediu pra estendermos um pouco o horário... mas então, vai
querer alguma coisa ou só veio se abrigar da chuva, sor? —
dizia cada palavra com um certo pesar na voz.
— Vou querer uma torta de maçã e um pouco de cerveja para
acompanhar, acho que essa cidade deu um bom motivo pros
céus chorarem...
Após ter acabado de comer e ainda com o copo em mãos.
Varis deixa suas coisas na mesa e sai para a frente da padaria
que ainda servia de refúgio para algumas pessoas que
esperavam a chuva cessar, dá uma última golada e repousa o
copo em uma mesa vazia perto da saída. Do lado de fora um
frio que faria qualquer cavaleiro tremer por dentro de sua
armadura, Varis não demonstrava nem ao menos
descontentamento pelo clima, para ele aparentava ser mais um
dia normal. Andou poucos metros e não deixou de notar desde
que pois os pés naquela rua a sua forma estreita e que mesmo
após limparem com a ajuda da chuva ainda havias vestígios de
sangue pelo caminho, mostrando o local de origem da morte
de Palaios.
Olhando em direção as janelas da casa no andar de cima,
dava pra notar uma certa movimentação como se tivessem
pessoas andando pelo lugar mas nada que desse para
distinguir estando do lado de fora em meio a chuva, voltando
para o estabelecimento e recolhendo suas coisas.
Varis vai em direção a porta da frente da casa para checar se
estava aberta, tendo sorte de estar destrancada ele entra sem
um pingo de preocupação, ouvindo barulhos vindo do andar
de cima e tentando se familiarizar com o primeiro andar, logo
tentou não fazer ruídos ao andar e por ser proficiente só tentou
ao máximo que sua armadura não fizesse tanto estardalhaço
mas com um certo receio ele proferiu “siopí” enquanto fazia
um movimento de fechar e abrir as mãos e voltou a caminhar
normalmente pelo primeiro andar com seu pensamento em
duas possibilidades, torcia para que sua segunda sugestão
fosse a correta pois não teria mais que procurar pela cidade,
subindo cautelosamente pelas escadas enquanto se esgueirava
para a parede ao lado da porta do quarto no andar de cima,
notou que a mesma estava semiaberta e tentou espiar. Porém
tendo uma grande decepção enquanto olhava para dentro do
quarto, haviam guardas sentados em volta do quarto cantando
e outros dançando com o odor da mais pura negligencia e
despreocupação com uma leve pitada de álcool pelo ambiente,
indignado com o que estava vendo, Varis cerra seus punhos e
diz para si mesmo “não vou mais perder tempo no meio dos
humanos, é inacreditável que todas as merdas que acontecem
por esse mundo têm o dedo de seres tão inferiores, o Rei que
me perdoe mas vou agir do meu jeito...”

Capitulo 3 O fim de algumas coisas são o


início de outras

Sabázia, 997/07/05 às 03:00



Após passar o resto de sua tarde buscando informações de
onde Palaios havia sido enterrado, Varis estava de frente as
gigantescas e enferrujadas grades do cemitério de Sabázia, um
dos cinco cemitérios que haviam na cidade, sendo um deles
um cemitério da realeza que ficava nas redondezas do castelo
Burnabel, castelo que teve seu nome dado pelo primeiro rei,
Sabázio Burnabel o serpente, que também deu nome a cidade
importadora, o outro cemitério que havia relevância na cidade
era um ao oeste, era chamado de "cemitério dos heróis", onde
heróis de guerra eram enterrados, tanto guardas quanto
pessoas que morreram em atos heroicos pela cidade, porém
esse onde Varis estava prestes a entrar era completamente
abandonado, quase que de proposito, era muito escuro e sujo,
olhando da grade para seu interior era possível ver algumas
lapides quebradiças entre outras tombadas como se tivessem
sido marginalizadas pelo tempo. "Em comparação com os
outros cemitérios podemos dizer que é aqui que eles
empurram a sujeira pra debaixo do tapete. Enterrado em um
cemitério de ladrões e assassinos, nascer hadeliano no
continente de Olímpia é quase a mesma coisa que nascer na
miséria..."
Agora com roupas mais leves e escuras, vestido com um
grande manto escarlate com capuz cobrindo sua cabeça, Varis
retira de um de seus bolsos uma espécie de anel com uma joia
preta e o coloca em seu dedo anelar, no momento em que ele
o coloca seus olhos verdes vão de imediato para um completo
branco gélido, suas feições mudam completamente mas
diferente dessa vez, se antes ele pudesse parecer arrogante,
neste exato momento ele era a própria personificação da
mesma. "Drasro, quantos você contou lá dentro?" disse Varis
em um tom de voz baixo, quase como se não quisesse abrir a
boca para falar. Em apenas segundos, o ser verde e horrendo
que translúcido momentos atrás aparece sobrevoando por
cima das grades do cemitério com grandes asas curvas saindo
da parte de trás do roupão, se aproximou de Varis ainda no ar
e disse suavemente "pessoas duas, Drasro contou duas".
— Ótimo, isso vai ser mais rápido do que o esperado —
disse Varis puxando a ponta de seu capuz para cobrir melhor
seu rosto enquanto o diabrete já no chão abria as portas do
cemitério balbuciando algo.
— Não acha que o Rei ficará descontente com o que o senhor
fez na casa do hadeliano? — Digo, Drasro não esta
reclamando, Drasro gostou de limpar a casa pro senhor e fazer
um banquete delicioso com a carne daqueles guardas mas ele
disse para não chamar atenção desnecessária... Ah, consegui
abrir!
— Não importa, a missão é mais importante do que qualquer
um nessa cidade, muito mais ainda do que aqueles que me
tiram do sério... só espero que você também não me tire —
Varis sorria com os olhos enquanto encarava diretamente
Drasro que sentia mesmo estando de costas, um sorriso
forçado e quase monstruoso em sua direção que o fez gelar.


Já dentro do cemitério, com uma imensa escuridão os
cercando devido a pouca iluminação, Varis parecia não
enfrentar problemas para enxergar, já que alguns elfos
nasciam com o dom de enxergar claramente no escuro
absoluto, e por sorte, havia nascido com esse dom. Após uns
minutos de busca para encontrar uma estatua especifica que
constava em suas anotações, Varis para de frente a uma
grande estatua de um anjo sem o braço esquerdo, anda umas
três lápides para a direita, e por fim, para em uma cova sem
lápide. Determinado que havia encontrado, esboça um sorriso
e diz com toda satisfação " é aqui, Drasro!".
— Senhor, por que o hadeliano é tão importante? — disse
Drasro agachando sobre a terra e enterrando sua mão sobre ela
para escavar.
— Todos os assassinatos foram direcionados a nobres ou a
alguém importante, é quase impossível entrar e fazer o que
estamos fazendo agora sem sermos vistos, e além disso não
foram muitos, alguns foram até discretos, poucos tinham
alguma pista que desse um norte especifico. Mas esse,
olhando o diário e vendo que ele confirma nossas suspeitas.
Se acreditamos que Momo está na cidade, ela foi descuidada...
— enquanto falava com Drasro, Varis que por sua vez,
gesticulava graciosamente com uma de suas mãos sobre o ar
formando símbolos com seus dedos, até sussurrar as exatas
palavras de forma que só ele pode escutar "fos", e logo após
isso, uma energia luminosa se formou em cima da palma de
sua mão com o formato semelhante a uma mini estrela
incandescente, como se ele tivesse por alguns segundos
voltado no tempo e a roubado das noites mais estreladas que
havia vivido em toda sua vida, iluminando completamente o
ambiente em sua volta fazendo com que a alguns metros dali
um dos guardas soltasse uma grande exclamação.

Sabázia, 997/07/05 às 03:00


Acheron o Guarda

Sentado em meio a escuridão parcial de uma pequena e velha
cabana de madeira sem tetos ou portas, iluminado apenas por
pequenas chamas de uma fogueira feita de pedras, sentindo a
brisa da madrugada misturada a um lugar abandonado,
vandalizado pelo tempo e natureza encontrava-se Acheron,
com seu parceiro de vigia, Orupic. Estava para completar
quatro anos que conheciam, a data mais exata para eles era
uma semana depois da ultima participação de Sabázia em
uma grande guerra, uma guerra territorial que levou meses de
duração contra duas pequenas "cidades irmãs" Pandia e
Nemea que haviam rompido os contratos de aliança quando
seu antigo rei havia falecido com suspeitas por parte de um
conselheiro enviado de Sabázia. Orupic, que na época estava
iniciando nas forças militares da cidade com apenas dezesseis
anos de idade como escudeiro de Sor Anfrid, um cavaleiro
conhecido pela sua alcunha de a Aurora prateada ou o
Cavaleiro prateado, dada tanto por seus inimigos quanto seus
aliados pelos seus feitos em batalhas que o destacavam e a
forma como se vestia. Foi ordenado por Sor Anfrid que o
jovem escudeiro ficasse na cidade até seu retorno e protegesse
as pessoas caso a mesma fosse invadida, algo que mais tarde
se concretizaria além de sua morte em batalha, pego em uma
emboscada. É dito que lutou até o fim de sua vida, e que com
diversas lanças fincadas em seu corpo, suplicou por Ares e
levou consigo quatro para as portas do mundo de Hades.
Acheron, por ser bem mais velho que seu parceiro, já fazia
parte da guarda da cidade e ocupava na época o segundo
cargo mais importante da mesma, junto de outras três pessoas
formavam os mestres de armas e conselheiros diretos do
comandante da guarda, separados por mestre e conselheiro do
ataque, defesa e contra-ataque, sendo ele o mestre e
conselheiro da parte defensiva da cidade, era chamado por
muitos de a Grande torre por seu porte físico e por sua grande
determinação.
Após a morte do seu filho mais velho, um cavaleiro que
lutava nas linhas de frente, a determinação de Acheron havia
sido rachada com a noticia. Totalmente frustrado com a falta
de efetividade das poucas estratégias colocadas em pratica por
Thorven, que na época era o Lorde comandante da guarda da
cidade, em uma das visitas do conselho ao Lorde comandante
em sua tenda, um confronto direto sobre as estratégias falhas e
um breve descontrole que durou tempo o suficiente pra mudar
todo o rumo da guerra havia estourado, Acheron tinha partido
pra cima de Thorven e como era muito maior que os outros
dois que estavam na sala, por um tempo não houve
impedimento algum da parte deles e após desferir o primeiro
soco e subjugar o Lorde comandante por cima da mesa de
estratégias, outro soco veio em sequencia que o fez perder a
consciência e depois outro, e mais outro, até que uma chuva
de socos foram desfigurando o rosto de Thorven que estava
caído desacordado com o corpo inteiramente mijado, Brauk e
Targus, ambos mestres de armas que olhavam consentindo
com tudo aquilo decidem agir e impedir que o mestre de
defesa fosse adiante.
Levado para uma cela e acusado de traição, Acheron passou
uma parte da guerra por lá enquanto Thorven estava sendo
cuidado na ala médica em estado de emergência. Brauk
assumiu a liderança da guerra e deixou que Targus cuidasse
da cidade enquanto levava boa parte das tropas em um ataque
direto e inesperado que havia dado certo e posto um fim a
guerra, porém enquanto o ataque acontecia, homens de Pandia
e de Nemea já haviam se infiltrado em Sabázia disfarçados de
camponeses, as duas cidades se defendiam de um ataque, sem
que Brauk soubesse, Sabázia enfrentava o mesmo destino.
Solto após prometer ajudar na defesa de sua cidade e por ser
melhor que Targus nesse quesito não houve alguma
contradição. Juntou algumas pessoas que podiam lutar dado a
falta de homens e teve sucesso na defesa da cidade, com a
volta de Brauk com o restante das tropas, Sabázia havia ganho
a guerra de fato. Targus foi morto na invasão dando sua vida
para salvar suas tropas e emitindo a ordem de soltura de seu
amigo, Thorven também havia sido morto na invasão mas
uma morte totalmente diferente, tendo sua língua arrancada e
seus pulsos cortados, a palavra "traidor" estava espalhada e
escrita em sangue por todos os cantos em seu quarto, mais
tarde um boato se espalhou que ele vendia informações para
os espiões inimigos e que pretendia perder a guerra
propositalmente em troca de dinheiro e uma posição melhor.
Brauk virou o Senhor comandante da guarda da cidade,
Acheron foi solto e rebaixado direto para guarda, posto que
permaneceu até os dias atuais.
— O senhor sente falta dos seus dias de glória? — disse
Orupic enquanto mexia na panela de ensopado.
— Eu sinto falta é do meu filho, não ligo muito pra forma
como estou servindo, se eu puder proteger minha família é o
que importa... não gosto de remoer o passado, gosto de olhar
para frente e ver as coisas boas que ainda me cercam —
Acheron parecia ter sido pego de surpresa com a pergunta mas
ainda sim mostrava felicidade em seu rosto — Mas então,
hoje não estamos aqui para falarmos de glórias do passado,
vamos falar sobre sua nomeação para cavaleiro marcada para
amanhã.
— Quase que não consigo pregar os olhos de tanta animação,
fiquei a semana toda animado com isso, finalmente estou
preparado! Além disso tenho algo para te dizer — Orupic
estava de pé enquanto falava com muito entusiasmo em sua
voz.
— Antes que você diga qualquer coisa, eu gostaria que você
aceitasse um presente, de coração. — saindo da iluminação da
fogueira e indo em direção a uma salinha da cabana, não
demorou muito para que Acheron voltasse trazendo algo em
suas mãos e o revelando — Está aqui é a espada da minha
família, meu filho a empunhava tempos trás... não poderia
deixa-la parada como um enfeite, minha filha é boa no arco e
flecha mas péssima empunhando uma espada, decidimos
juntos que você faria bom uso, e como eu o ensinei quase tudo
que sabe, achei justo que tivesse uma espada que fosse digna
as suas habilidades, pegue, é sua!
Orupic puxa a espada enquanto Acheron segurava a bainha,
levanta ela contra a luz da fogueira e a observa, analisando
cada detalhe esculpido em seu aço e cabo e exclama da forma
mais feliz que uma voz poderia soar — Ela é perfeita! E vai
fazer todo sentido com o que eu tenho para dizer, e trata-se de
um pedido que tenho em meu nome e de sua filh.. — Antes
que pudesse completar a frase, é interrompido por Acheron ao
avistar de longe uma forte luz, quase como se uma estrela
acabasse de cair do céu.
— Que porra é aquela? Acho que uma estrela caiu do céu!
Nunca vi nada igual, vamos até lá, na volta você me conta o
que você queria pedir — Acheron achando que poderia ser um
presságio de sorte dada pelos Deuses saiu na frente mas parou
do lado de fora para esperar que fossem juntos até lá. Porém
chegando próximo viu que poderia estar e estava
completamente enganado...

Sabázia, 997/07/05 às 03:26


Varis o Valete de copas

— Maldito! Quer me cegar? — disse Drasro em uma língua
infernal. Quando percebeu o que havia dito se corrigiu para a
língua comum, estando um pouco mais calmo e com menos
surpresa na voz — Isso por acaso era pra ajudar Drasro?
— Continua cavando e não se meta! To chamando a atenção
deles pra cá, preciso de uma coisa... — Varis com um grande
sorriso malicioso em seu rosto se manteve espreitando de
longe enquato as duas figuras vinham se aproximando.
Ao sentir que estavam próximos o suficiente, Varis diminiu a
intensidade da luz em suas mãos e a lançou pro alto de modo
que somente o lugar em sua volta fosse iluminado ao invés de
quase metade do cemitério como a mesma estava fazendo
minutos atrás. Adaptando-se ao ambiente em que a luz
artificial não fosse mais um problema para seus olhos, os dois
homens podiam ver a cena em sua frente com extrema clareza,
um pouco assustados e sem reação ao certo seus olhos foram
diretamente pro homem alto e encapuzado os encarando,
passaram de relance pra alguem que parecia agachado
cavando algo com as próprias mãos e em seguida pra a cova
que já se encontrava semiaberta com boa parte do torso
amostra.
— Profanadores de criptas! — disse o jovem garoto humano,
de cabelos castanhos claros, barba por fazer, vestido com
roupas da guarda e muita agressividade no olhar enquanto
brandia uma espada em sua mão direita — Parem agora o que
estão fazendo!
— Não dou satisfação para os mortos — disse Varis em um
tom de voz tanto suave quanto debochado com um semblante
macabro cubrindo parte de seu rosto e de braços abertos para
ambos os homens em sua frente.
Recuperado da supresa, o velho homem que aparentava seus
cinquenta e tantos anos e que já havia visto de quase tudo, não
estava nem um pouco assustado com o fato de serem
profonadores ou coisa do tipo, mas sim com a pressão e o
calafrio que a presença de ambas as pessoas em sua frente
passavam, analise essa que veio com a idade e a experiência,
mesmo achando que poderia estar enganado quanto a esse
sentimento, sempre achou melhor ser cuidadoso.
— Se acalme Orupic, não precisa tomar a iniciativa só para
me impressionar, pode deixar comigo — Disse Acheron
colocando a mão nos ombros do jovem garoto, ao desviar seus
olhos de Varis por alguns segundos, sentiu sua boca se encher
de sangue e um frio congelante penetrando seus ossos além de
uma dor indescritível, olhando para a altura de seu peito viu
uma translúcida lâmina negra o atravessando e em questões de
segundos suas pernas cederam de encontro ao chão, de joelhos
virou a cabeça para ver se o ser encapuzado ainda estava no
mesmo lugar e para sua surpresa ele ainda continuava parado
com os braços abertos, finalmente olhando para trás tentando
entender o que havia acontecido, viu Varis terminando de
abaixar seu capuz com um olhar sereno enquanto segurava
com sua outra mão o cabo da lâmina. Com um estalar de
dedos Varis dissipou a imagem parada ao lado de Drasro e
sussurrou para Acheron — ilusões são coisas tão intrigantes
não é mesmo? Irei lhe contar como acabo de tirar sua vida
então tente não morrer enquanto eu falo, acho já deve ter
ouvido falar sobre o elmo de Hades e eu vou supor que sim já
que você está usando suas ultimas energias para se agarrar a
vida e não deve ter muitas forças para falar. Quando eu
diminui a intensidade do orbe de luz, eu...
Interrompendo Varis com seus últimos resquícios de força,
Acheron fica novamente de pé e diz com raiva e irritação em
sua voz — Garoto! Se você for se gabar de qualquer merda,
apenas me mate de uma vez e me poupe de ouvir ladainhas,
seu monte de lixo!
Varis completamente irritado se cala com uma expressão de
nojo, no momento em que estava para puxar o cabo da espada
negra que havia sido projetada de seu anel, sente algo
perfurando sua costela através das costas do homem parado
em sua frente, com o pulo repentino para trás com uma das
mãos no ferimento, a surpresa tomou conta do seu cenho ao
ver o corpo daquele homem gigante caindo para o seu lado,
sem a obstrução podia se ver Orupic, retirando a espada de
dentro de seu parceiro com um rosto de puro ódio e fúria.
Movido por todos aqueles sentimentos, grita
escandalosamente — Filho da puta tagarela, qualquer
sentimento de tristeza que eu pudesse ter, ouvindo sua voz, se
torna ódio! — Orupic com lagrimas em seus olhos, rangia
tanto os dentes que aparentava que a qualquer momento fosse
rosnar de raiva enquanto encarava aquele elfo com um olhar
de indiferença após a surpresa ter passado.
Quando deu o primeiro passo em direção ao elfo, sentiu uma
pontada em sua coluna, ao cambalear sem entender o que era,
olhou para trás e viu o diabrete sobrevoando silenciosamente
sobre sua cabeça com uma cauda semelhante a de um
escorpião fincada em suas costas, Orupic conseguiu resistir
mais dois passos e caiu paralisado sem poder se mexer.
— Resolvido — disse Drasro dando as costas e voltando a
cavar.
— Ele está morto?
— Não, veneno de Drasro só paralisa, bom comer enquanto
está fresco.
Se aproximando do jovem caído no chão com os olhos
lacrimejando, Varis se agaixa, invoca sua espada e diz —
Advinha quem vai ouvir minha voz antes de morrer? E aliás
eu não vou apenas matar você, irei armazenar sua alma com
minha lâmina, carinhosamente a batizei de "Cocytos" o rio
das lamentações, um bom nome não acha? A do seu amigo
está nela por sinal, a dor que ele sentiu foi uma lâmina
perfurando sua alma, você saberá como é. Não precisa ficar
ansioso, acha que pode ferir um Deus e não ser castigado?
A

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