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Chega Lara ( jovem mulher) com uma mala a uma parte vazia de uma praça. Senta-se
num banco ao lado de um velho que dá de comer aos pombos. Ao se sentar Lara retira
fotografias da sua mala e encara-as com carinho e mágoa.
VELHO
Sabias que os pombos são capazes de voar até 80 km por hora? Fascinante, não? …
Eles vivem por muito pouco tempo, 3 a 5 anos em cidades, aos seus olhos o mundo mal
se modifica. Tu és daqui?
LARA
Sou.
VELHO
LARA
VELHO
LARA
VELHO
Agora temos esses prédios espelhados. (riso sarcástico) A poeira foi varrida.
LARA
VELHO
LARA
(Angustiada afasta a mala para perto de si) Bem, tenho que ir. (levanta-se; pega na
mala) foi um prazer.
Uma sequência de planos da paisagem local, casas aos pedaços, lixos espalhados pela
relva, o próprio velho e Lara em meio a essas casas, ar onírico. MONTAGEM mais
dinâmica que do início.
LARA(V.O)
Névoas, nebulosas figuras do tempo, às vezes nem parece que me pertencem, as minhas
memórias, flashes coloridos que me orbitam e que me escapam. O que sou eu sem elas?
Como posso viver sem saber o que vivi? Como posso me ancorar se não sei o que é
familiar? Se não sei o que é intrusão, confabulações de mim mesma, ou algo
autêntico…
LARA
ESTRANGEIRO
LARA
O que é?
ESTRANGEIRO
LARA
ESTRANGEIRO
Me faz lembrar da onde vim dos lugares, das pessoas… mas não com pesar, sei que
levo minha casa pra onde for.
LARA
ESTRANGEIRO
Sim… é muito além do espaço, é um olho que te vê, um braço que te acolhe.
LARA
ESTRANGEIRO
Lara senta-se em um banco, abre sua mala, retira um cachecol, o cheira com calma ,
retira um brinquedo desgastado.
5 EXT. RUA-DIA
Lara caminha quando repentinamente um homem passa correndo e leva a sua mala. Lara
persegue-o por ruas e vielas até que, muito cansada desiste e senta-se n umas
escadas. Ao olhar para os lados vê inscrito em uma parede o seguinte poema de
Fernando Pessoa:
a antiga errônea fé