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Lois Weber

Trabalho por Pedro Rocha Lima

Florence Lois Weber (1879-1939)foi uma muito relevante figura na era do cinema mudo
estadunidense, exercendo não apenas a função de realizadora mas também as de intérprete,
roteirista e criadora de figurinos e cenários. Em um momento histórico e geográfico de
pouquíssima visibilidade dada a mulher como força criativa e de trabalho, que era os Estados
Unidos do início do século XX, Lois Weber, de maneira vanguardista, deu à luz obras que
propiciavam não só o debate de gênero como também um convite à auto-observação de
posições sociais de classes e suas questões.

Trajetória de sua carreira


Nascida no estado da Pensilvânia em uma família de diretrizes cristãs, Lois teve uma breve
carreira na música como pianista e cantora soprano, até que após um acidente em uma
apresentação decide substituir a música pelo teatro, tendo como uma de suas inspirações para
tal o desejo de converter seus futuros companheiros teatrais ao cristianismo. Após um
pequeno sucesso em papéis interpretando majoritariamente “Soubrettes”( personagens
arquetípicas de jovens criadas) e insatisfeita com a posição singular de atriz, Weber inicia seu
processo como força criativa e passa a escrever roteiros e criar ideias para cenários, enquanto
simultaneamente casa-se com Phillips Smalley, futuro companheiro em aventuras
cinematográficas.
Foi introduzida ao universo do cinema por meio de sua entrada em uma das maiores
produtoras de filmes da época, a francesa Gaumont, onde conheceu Alice Guy Blachè, também
importantíssima figura feminina na história da sétima arte e que, como declara
posteriormente Lois, foi de grande ajuda nessa sua penetração inicial no meio de criação de
películas. Em seguida, seu marido também junta-se à Gaumont, onde passam a trabalhar
juntos como roteiristas e realizadores, porém , sendo Lois claramente a força criativa maior
dessa dupla que era creditada em seus filmes como “The Smalleys”. Nessa altura, Weber
executava o guião; a direção; a edição ; a criação de cenários e figurinos e também revelava o
negativo dos rolos de seus filmes.
No ano de 1917, com auxílio financeiro da Universal Studios, Lois Weber torna-se uma das
primeiras mulheres que são simultaneamente realizadora e dona de seu próprio estúdio,
devido à criação de sua empresa “Lois Weber Productions”, administrada por seu marido. Em
seus estúdios fazia-se presente uma conduta alternativa ao modo industrial homogêneo, já
que ao contrário da mentalidade industrial quantitativa de maior parte dos estúdios vigentes
na época, Weber cultivava em seus espaços a atenção para com a qualidade de suas
produções, sem dar muita atenção à quantidade produzida.
A partir dos anos 20 o cinema entrava em um novo terreno, com a introdução do som; a
mudança na mentalidade do público, que já não se importava tanto com temáticas sociais( um
dos principais temas das obras de Weber) e o cinema se firmando como negócio lucrativo,
chamando uma maior atenção para si, ocasionando um fenômeno de uma ainda maior
diminuição do espaço feminino no ramo, já que entre os homens e mulheres que buscavam
oportunidades, os homens eram privilegiados. Apesar de tudo isso, Lois continua a fazer filmes
até 1934 e em 1939, aos 60 anos de idade, morre devido uma úlcera perfurada.
Temáticas abordadas em seu trabalho

Como dotada de uma perspectiva naturalmente feminina, Lois Weber busca estender isso
à seus filmes, de forma que em grande parte deles as personagens protagonistas são
mulheres, um movimento extremamente incomum para a época. Essas mulheres
eventualmente eram retratadas à moda de seu tempo, contidas em uma imagem
estereotipada que envolvia como características a incapacidade de se defender sem a ajuda de
um homem (exemplo contido no curta “Suspense”[1913]) ou na qualidade romântica da
mulher pura e angelical, numa personagem que simboliza a personificação da verdade, no
longa “Hipócritas”(1915) que apesar de sua convencionalidade como ideia de feminino, foi
representada como uma mulher nua, sendo essa uma escolha inédita no cinema até então,
não apenas pela nudez em si, que é dita como uma das primeiras aparições de uma nudez
completa na história cinematográfica , mas pela conotação dela, sem carga sexual alguma,
buscando um retrato da beleza não erótica do corpo feminino.
Contudo, as figuras femininas por vezes carregavam adjetivos vanguardistas dentro do
universo fílmico, como a persistente e trabalhadora protagonista do longa “Shoes”(1916) que
acaba por se prostituir a fim de obter um par de sapatos, já que por ser a única trabalhadora
de uma família de 6 , não possuía condições de comprá-los. Porém, e aqui mora a beleza dessa
história, mesmo após o acontecido a personagem principal é mostrada com dignidade e
merecedora de empatia. Ao final do longa têm-se uma lição de moral, característica típica de
produções da fase inicial do cinema presente também em outros trabalhos de Weber.
Simultaneamente a essa apresentação de uma feminilidade ora convencional ora não
convencional, Weber buscava expor determinadas questões sociais, apontando problemáticas
relativas à desigualdade e à pobreza como no relato íntimo de “Shoes” ; relativas à ética, e
nesses casos muitas vezes Lois carimbava sua faceta ideológica cristã nas obras, perceptível no
moralista “Hipócritas”, recheado de simbolismos cristãos e valorizações de figuras religiosas,
onde vemos um espelho mágico que retrata a verdadeira e paradoxal face de quem é
refletido, sendo um discurso que busca englobar a sociedade como um todo; ou também
relativos ao corpo feminino como no longa “Where are my children” em que de maneira
corajosa Weber expõe a necessidade de criar diálogos a respeito de métodos contraceptivos e
aborto, e os coloca como assunto de interesse público.Apesar de uma abordagem
vanguardista pelo simples fato de Lois ter abordado o assunto (que inclusive lhe custou
censuras em certos estados), a maneira de sua apresentação é moralista e julgadora,
representando aquelas que realizaram aborto como indecentes e irracionais.

Linguagem Cinematográfica

No momento histórico em que Lois começou a realizar suas obras (no início da década de
10 do século XX), o cinema situava-se entre um modo de representação primitivo, na qual
ainda com dificuldade de enxergar o cinema como uma arte com potencial expressivo
particular absorveu-se diversas expressões da linguagem teatral, como a câmera estática
simulando uma perspectiva de plateia; a maneira com que as personagens se locomoviam no
espaço do enquadramento sempre tendendo ao centro e as próprias atuações que tendiam ao
espectro do performático e exagerado, diferente da busca, agora ordinária, do realista. E entre
o movimento de vanguardas dos anos 20 que apresentou diversas inovações do ponto de vista
estilístico e ampliou as possibilidades de uso de certas ferramentas da linguagem
cinematográfica, especialmente no que abrange a estética das imagens, o ritmo das
montagens e os movimentos de câmera.
Dessa forma, traçando um espaço de localização histórica da cineasta em questão, torna-se
mais clara a análise de sua própria expressão artística que possui características mais
conservadoras, onde muitas vezes ela opta por enquadramentos estáticos, assim como planos
gerais e planos inteiros que naturalmente implicam uma distância entre a personagem e o
telespectador, um plano mais conveniente se for pensado à luz das hereditariedades da
linguagem teatral no cinema. Contudo, Weber também explora técnicas pouco usadas até
então, como a “split screen” na curta “suspense” na qual através dessa técnica e de uma
montagem paralela, Lois cria uma atmosfera que faz jus ao nome da obra; efeitos especiais no
longa “Hipocritas”, como um espírito saindo de um corpo por meio de justaposição de
imagens, ou um caráter fantasmagórica dado ao corpo de uma personagem, nesse longa
Weber também busca pesquisar as potencialidades expressivas da câmera, por meio de
poucos mas presentes movimentos da mesma ; assim como o uso de flashback e de grandes
planos no longa “Shoes”. Nesse longa, percebe-se um uso maduro da montagem, dinâmica e
certeira; uma abertura a diferentes ângulos de câmera e um uso inteligente dos grandes
planos que, sendo esse um relato íntimo, fomentam muito nossa sensibilidade e empatia pela
protagonista.

Conclusão

A título de conclusão, Lois Weber foi uma figura chave na história do cinema mudo,
fornecendo perspectivas de abordagens temáticas e de usos da linguagem cinematográfica
que até então não haviam sido exploradas. Possuía um claro protagonismo na indústria foi, no
ano de 1916 a pessoa realizadora mais bem paga de Hollywood e também foi comparada ao
lado de D.W Griffith(considerado uma figura essencial no amadurecimento da expressão
audiovisual) como uma das maiores figuras de seu tempo, possuía sua própria produtora e
ainda assim foi esquecida, caiu em um ostracismo gradativo que culminou no fato de seu
nome e sua história não constarem nos estudos acadêmicos cinematográficos, o motivo sendo
o fato de ser mulher.
Seu valor como contribuidora à sétima arte é inquestionável, desenvolveu uma linguagem
madura e refinada e foi pioneira no uso de determinadas técnicas audiovisuais. Sua inclusão
como uma das protagonistas na história inicial do cinema no ambiente de estudos acadêmicos
é uma necessidade, o valor dela é de outras tantas mulheres que contribuíram ao
desenvolvimento cinematográfico é inestimável.

Bibliografia

https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2019/04/lois-weber-pioneira-diretora-de-
cinema-que-chocou-o-mundo.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lois_Weber

https://www.academia.edu/34832034/Shelley_Stamp_Lois_Weber_in_Early_Hollywood_

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