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Resumo: Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse pela arte
feminista institucional, enquanto arte produzida, essencial mas não
exclusivamente, por mulheres, com particular incidência nas assimetrias das
relações de poder analisadas numa perspetiva de género. Esse interesse -
sentido a nível internacional, mas principalmente nos países do norte da
Europa e nos EUA - é notório em diferentes formas de expressão artística,
sobretudo naquelas que têm a imagem como matéria-prima essencial, e onde
podem incluir-se a videoarte, a fotografia e, naturalmente, o cinema. Na
História da sétima arte, podem distinguir-se diferentes tipos de propostas
assumidamente militantes, constituindo as mesmas objetos de análise da
presente comunicação. Nesse sentido, o nome de Alice Guy Blaché, a primeira
realizadora em toda a História do Cinema, constitui uma referência essencial;
mas também serão analisados os trabalhos heterogéneos e igualmente densos
de Lois Weber, Germaine Dulac, e mais tarde, de Agnès Varda e Vera
Chytilová. Os nossos principais objetivos serão refletir sobre a forma como
essas mulheres percebem os movimentos feministas do seu próprio tempo e
os mimetizam no cinema. Será possível, ao analisarmos as suas imagens,
falarmos de uma “arte com sexo”, com carácter de denúncia e objetivos
políticos? De que forma podem estes filmes ser vistos na contemporaneidade?
Palavras-chave: Feminismo; cinema; precursoras; denúncia.
Contato: anacatarinapereira4@gmail.com
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Docente na Universidade da Beira Interior e investigadora do LabCom.
Pereira, Ana Catarina. 2016. “Mulheres-cineastas: uma estética da diferenciação nas primeiras
décadas da história do cinema”. In Atas do V Encontro Anual da AIM, editado por Sofia
Sampaio, Filipe Reis e Gonçalo Mota, 388-393. Lisboa: AIM. ISBN 978-989-98215-4-5.
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Artista com aparente noção da sua responsabilidade social, Alice Guy Blachè
apelou assim a que mais mulheres colocassem a sua suposta sensibilidade ao
serviço do cinema: “There is nothing connected with the staging of a motion
picture that a woman cannot do as easily as a man, and there is no reason why
she cannot completely master every technicality of the art.” (cit. Panosky
2005, 15) No momento histórico em que proferia estas declarações, o
considerável número de mulheres a trabalhar na realização e produção de
filmes não possibilitava a antevisão de uma indústria que seria dominada pelo
género masculino. O seu pioneirismo e discurso otimista viriam, no entanto, a
ser esquecidos e contraditos.
A par de Alice Guy, Lois Weber e Germaine Dulac constituem duas
referências incontornáveis (mas igualmente esquecidas) na História de uma
arte à qual a última realizadora procuraria atribuir credibilidade e estatuto
intelectuais. Relembre-se, sobre este aspeto, que os anos 20 coincidem com um
período de desenvolvimento de uma série de teorias vanguardistas,
essencialmente europeias, que buscam legitimar o cinema enquanto meio
artístico, independente do teatro e da literatura. Nesse contexto — mais do que
Louis Delluc, que postula a relação dos elementos significantes, no espaço e no
tempo, através do conceito de “fotogenia” (o estado de concordância entre a
matéria e a sua imagem, funcionando o cinema como um dispositivo que nada
acrescenta à beleza do mundo, mas antes permite o seu maior entendimento)
—, Germaine Dulac consagrará a ideia de um “cinema das essências”, enquanto
arte de emoção (mais do que sentimento), distinta de um cinema teatral. O
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BIBLIOGRAFIA
Canudo, R. 1923. Manifeste des sept arts - L’usine aux images. Paris: Séguier et
Arte.
Grilo, J. M. 2010. As lições do cinema: Manual de filmologia. Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa: Edições
Colibri.
Panosky, R. 2005. International female film directors: Their contributions to the
film industry and women's roles in society. Honors Scholar Theses. Paper 5.
University of Connecticut. Disponível em:
http://digitalcommons.uconn.edu/srhonors_theses/5. Acedido a 10 de
julho de 2015.
FILMOGRAFIA
La fée aux choux. Realização de Alice Guy Blaché, 1896. Filme disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=MTd7r0VkgnQ
Les résultats du féminisme. Realização de Alice Guy Blaché, 1906. Filme
disponível em : http://www.youtube.com/watch?v=dQ-oB6HHttU
La souriante madame Beudet. Realização de Germaine Dulac, 1922.
L’invitation au voyage. Realização de Germaine Dulac, 1927.
Where are my children? Realização de Lois Weber, 1916.
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