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Bom, como tem muita gente nova, por aqui, resolvi re-editar esse post que é mais do
que atual, sobre os mitos que se têm em relação ao movimento e, assim que puder
escrevo outro, mais recente, OK?
Feminismo, pra mim, é uma palavra linda, que me lembra libertação, alegria, felicidade,
conquista, fraternidade, força, luta. Infelizmente, essa não é a imagem que o feminismo
tem pra maioria das pessoas. Isso é o resultado da estigmatização do movimento.
Eu fico mesmo impressionada como o feminismo conseguiu, entre todos, ser um dos
movimentos sociais com maiores conquistas concretas, que refletem na vida de todas
as pessoas e, ao mesmo tempo, ser um dos movimentos socias mais desacreditados e
vítima de agressões de pessoas completamente desinformadas (ou mal intencionadas).
Não vou escrever sobre a história do movimento. Isso levaria muito tempo e muito
espaço, então, sugiro a leitura de alguns dos arquivos que coloquei aí abaixo.
Mas, acho que seria importante, pra todo mundo que a gente refletisse e discutisse, aqui,
o que sabemos e como vemos esse Movimento que tem tido uma influência direta nas
nossas vidas, mesmo sem a gente pensar nisso. Convido todos vocês, homens e
mulheres, a participar desse debate.
Eu comecei a "me sentir feminista" mais ou menos em 86, 87 e, nessa época, já tinha
gente fazendo história, há muito tempo. Mulheres às quais eu peço a benção, porque
elas têm nos ajudado a exercer direitos que, hoje, nos parece tão naturais:
ao voto e à eleição;
a ter maior igualdade de salários perante aos homens;
a alguma proteção contra os assédio sexual no ambiente
de trabalho;
a alguma proteção contra a violência doméstica (vejam
as delegacias das mulheres, por exemplo)
muito mais direito a exercer sua sexualidade
saudavelmente (menor importância da virgindade antes do
casamento, maior pressão sob os homens para que
"contribuma" para o prazer e orgasmo feminino etc.);
a ser vista, em termos de saúde, integralmente, em todas
nossas fases, não apenas como parte da "saúde materno-
infantil";
a licença-maternidade de 120 dias;
a uma legislação civil menos sexista;
e por aí vai... (alguém quer acrescentar outras conquistas?)
Imaginem, as meninas que estão começando a vida agora, como estão encontrando o
caminho muito mais "fácil"? por isso acho que essas mulheres que lutaram, para que
tivéssemos assegurados todos esses direitos, merecem, no mínimo, muito mais do nosso
respeito, né?
Essa é um dos equívocos que mais me irritam e que as pessoas repetem "ad eternum"
sem pensar no que estão falando. Claro que sabemos que somos diferentes, mas o que
discutimos é que não é possível aceitar que essas diferenças biológicas determinem o
poder de um gênero sobre o outro. Não é porque parimos e amamentamos, que vamos
ter que ser as únicas a cuidar das crianças, por exemplo.
Pra ser honesta, encontrei, entre as mulheres do movimento, pessoas muito "bem-
amadas" porque a consciência adquirida fez com que elas não precisassem ter sempre
um homem que justificasse a sua existência. São bem amadas por elas mesmas.
Também encontrei, entre as feministas, muitas vezes, casamentos bem ajustados, por
serem baseados em valores muito sólidos de companheirismo, compartilhamento da
vida, sem exploração de um pelo outro. (Um exemplo é da nossa querida Beth S com
Ivan, que viveram felizes quase 25 anos. Beth S. foi uma das fundadoras do SOS Corpo
um dos grupos mais importantes do Brasil e é uma dessas feministas maravilhosas a
quem peço a benção.)
Acho engraçado que algumas pessoas que conheci no blog, quando me encontraram
pessoalmente, comentaram que eu sou muito "feminina". Na verdade, não fico
procurando ser uma coisa ou outra, nem acho que uma está dissociada da outra. Sou
apenas a mulher que aprendi a ser. Sim, porque como dizia Simone de Beauvoir, "não
nascemos mulheres, nos tornamos mulheres".
Lembro, sempre, de uma reunião da qual participei, que aconteceu em Nova York (95),
preparatória para a Conferência Internacional da Mulher (Beijing). Estava no
"caucus" (grupo) de mulheres da America Latina, sentada lá e admirando aquele monte
de mulheres fortíssimas, inteligentes, cheias de idéias pra mudar o mundo, entre
espelhos e batons, compartilhados fraternamente. Isso é ser feminista, pra mim.
Esqueça o estereótipo. Como todas as mulheres, as
feministas são diversificadas, umas um pouco mais,
outras um pouco menos vaidosas, mas poucas das que
eu conheci se encaixa nem de longe no estereótipo de
mulher com perna cabeluda e "malarrumada", que muita
gente imagina do que é "uma feminista".
Se a gente não tiver alguém que seja radicalmente a favor do direito da mulher a
"decidir sobre o próprio corpo", nunca conseguiremos exercer esse direito, portanto,
antes de falar que as feministas são "radicais", pensem que esse radicalismo delas já
significou - e ainda vai significar - muitas conquistas para vocês.
Não diria raivosas, mas "mulheres difíceis", sem dúvida. Já vi e me meti em muita briga
dentro do movimento. Mas como vimos nesse post aqui, isso não é característica
apenas das feministas, né?
Mas, não queremos os homens de "outro lado", queremos que eles sejam nossos
companheiros, porque num mundo que que as mulheres têm direito iguais, as condições
da sociedade melhoram como um todo, pra todo mundo.
O problema é que os homens têm medo disso. E aí é mais fácil ridicularizar o que não
se sabe como lidar, né? Francamente, tenho apenas pena dos que estão perdendo a
oportunidade de viver relações adultas e, realmente, satisfatórias.
Agora, quanto aos homens que batem nas mulheres, matam e estupram... esses
queremos apenas na cadeia, que é o lugar deles.
Conheci feministas que são mães maravilhosas. Amamentaram, tiveram partos naturais,
dedicaram-se às suas filhas ou filhos, mas, sempre sem esquecer que elas têm outros
papéis no mundo, que antes de mães são mulheres, e acho que isso cria, até, uma relação
bem mais saudável.
Sem dúvida, as lésbicas são muito benvidas no movimento e temos todo respeito por
elas. Porque são mulheres, como nós. Porque estão lutando pelo direito a exercer a sua
sexualidade da mesma forma que todas nós estamos. Mas esse rótulo de que toda
feminista é lésbica é uma das coisas mais machistas que se repete como forma de se
reduzir a profunda diversidade do movimento. Não, nem toda feminista é lésbica. Mas,
ainda bem, temos várias companheiras lésbicas no movimento, que só vêm enriquecer
nossos pensamentos, com sua diversidade.
Foram elas que disseram que masturbação não é pecado e não faz mal, mas ajuda a
mulher a conseguir o orgasmo. Aliás, elas foram a primeiras a lembrar que orgasmo é
um direito...
Portanto, querid@s, de frígidas, não temos nada, muito pelo contrário, em alguns casos,
somos até mais espertinhas que a maioria ;-)
Conclusão
Enfim, viver já é complicado. Pra todo mundo. O melhor seria se a gente pudesse
vencer esses estereótipos, ter mais respeito e ver cada um(a) como é, com todas as suas
nuances...
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