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Guia de bolso contra mentiras feministas

Ana Caroline Campagnolo (org.)


1ª edição — novembro de 2021 — CEDET
Copyright © by Ana Caroline Campagnolo

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Editor:
Thomaz Perroni

Revisão e preparação:
Francisco do Nascimento

Diagramação:
Virgínia Morais

Capa:
Vicente Pessôa

Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo

FICHA CATALOGRÁFICA
Campagnolo, Ana Caroline.
Guia de bolso contra mentiras feministas / Ana Caroline Campagnolo — Campinas, sp: Vide Editorial, 2021.
isbn: 978-65-87138-75-6
1. Feminismo.
I. Título ii. Autor

cdd — 305.42

ÍNDICE PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO


1. Feminismo — 305.42

VIDE Editorial — www.videeditorial.com.br

Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou
forma, seja ela eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão
expressa do editor.
Você não vale nada como feminista se não admite a
glória dos homens. A responsabilidade pessoal é a base.
Você deve buscar a informação, você deve buscar a
felicidade. Pare de pedir ao Estado e à burocracia para
mandarem pessoas que façam você feliz. Essa não é a
receita da liberdade das mulheres. Isso é um retrocesso.
Isso faz do Estado o guardião das mulheres
e elas ficam passivas.
— Camille Paglia, feminista americana
Ph.D. pela Universidade de Yale
Sumário
COMO USAR ESTE LIVRO
PREFÁCIO DA ORGANIZADORA
AS MENTIRAS
I. As mulheres são sempre oprimidas e os homens, sempre privilegiados
II. Toda grande escritora e filósofa do passado era feminista
III. Terrível Idade Média!
IV. Antes do feminismo, mulher não podia governar, liderar ou se destacar
V. Também não podia estudar...
VI. ...E nem votar!
VII. A mulher tem que entrar na política (por cota) para defender seus interesses
VIII. A mulher não podia trabalhar antes do feminismo
IX. Mulheres ganham menos que homens fazendo o mesmo trabalho
X. O casamento é opressor
XI. O “aborto seguro” é um direito da mulher
XII. Precisamos do feminismo para combater a violência
XIII. O feminismo é um movimento espontâneo que representa todas as mulheres
XIV. A teoria de gênero é necessária para acabar com o preconceito
XV. O pronome neutro é uma forma de combater a discriminação

AGRADECIMENTOS
NOTAS DE RODAPÉ
COMO USAR ESTE LIVRO
Querido leitor, Este guia de bolso está organizado no formato “perguntas e respostas” para facilitar a sua
consulta e referenciação. Vários parágrafos foram pensados para que você pudesse copiá-los e usá-los na internet,
em trabalhos escolares ou em discussões com amigos. Outros trechos são mais detalhados e podem orientar
estudos mais aprofundados sobre os temas em questão.

Apesar de ser um livro de bolso, conciso e objetivo, há uma vasta bibliografia que fundamenta cada resposta.
Você encontrará essas referências bibliográficas nas páginas finais. Use-as para demonstrar que esses argumentos
não saíram da nossa cabeça iluminada e inventiva, mas do corpo teórico do próprio movimento feminista, de
pesquisas recentes e da história universal.

O livro, é claro, funciona como uma unidade e pode ser lido do início ao fim como uma narrativa que se
desenvolve um capítulo depois do outro. No entanto, ele também foi pensado para funcionar a modo de
consulta: você pode escolher qual mentira feminista o interessa mais e ler apenas o capítulo reservado a ela, para
depois partir para outra que não necessariamente está na sequência.

Boa leitura!

PREFÁCIO DA ORGANIZADORA
O desejo de parecer sem ser e a vontade de debater sem saber são dois grandes inimigos da vida intelectual. Para
a maioria das perguntas, seria mais honesto simplesmente dizer “não sei”. Mas, para a maioria de nós, é muito
difícil tomar essa atitude quando todos ao redor só querem alguém para chamar de “vencedor do debate”. Se por
um lado é imensa a alegria de escrever este livro, por outro é triste saber que a razão da sua urgência é
exatamente a pressa em debater sem os devidos cinco, dez ou quinze anos de estudo. Isso seria o ideal, mas
também é verdade que não vivemos no mundo ideal, e sim no possível, onde temos que fazer o melhor que
podemos. Foi com esse espírito que reuni alguns amigos para entregar a vocês este guia de bolso — urgente e, por
isso mesmo, resumido.

Outra preocupação também me move: a introdução cada vez mais precoce dos jovens na disputa política. Os
ideólogos transformaram a sala de aula e a internet em uma guerra de trincheiras (sem a trégua de Natal). O
movimento feminista já havia deixado claro, com Simone de Beauvoir, que “o pessoal é político”. E desde que
essa ideia simplista se tornou popular, ninguém mais tem sossego para estudar, refletir, duvidar, permanecer em
dúvida ou, simplesmente, levar quinze anos para chegar a uma conclusão, independentemente de qual seja.
Diante dessa premissa segundo a qual “o pessoal é político”, muita gente despreparada é cobrada a se posicionar.

Com isso em mente, dedico este guia de bolso a todos os jovens e adolescentes brasileiros que, despertos do
sono ideológico, investem hoje boa parte do seu tempo — seja na internet, seja na escola, na igreja, onde
estiverem — a mostrar a verdade a outras pessoas. Ver o esforço e a coragem de tantos jovens (e também de
alguns promotores, juízes, advogados, jornalistas, médicos, professores e donas de casa) foi a minha maior
motivação para elaborar um texto mais acessível e enxuto do que meu outro livro, Feminismo: perversão e
subversão. Este guia traz, portanto, uma abordagem mais popular das principais questões em torno da condição
da mulher através dos tempos — um guia que pode ser lido e entendido por qualquer pessoa e, em todos os
sentidos, cabe no bolso de qualquer um.

Hoje podemos ter certeza de que a reação ao movimento feminista é uma realidade no Brasil. Meu primeiro
livro, publicado em 2019, ajudou a fortalecê-la, bem como o resultado do pleito eleitoral de 2018, que me tornou
deputada estadual e a única mulher conservadora do parlamento catarinense. Que seja só o começo.
AS MENTIRAS
I.
As mulheres são sempre oprimidas e os homens, sempre
privilegiados

Ana Caroline Campagnolo Catharine Caldeira1

As feministas afirmam que as mulheres sempre foram o sexo oprimido e os homens


sempre foram exclusivamente privilegiados por um sistema patriarcal. Para elas, a
libertação da mulher acontecerá tão somente pela extinção desse sistema, cujo real
significado2nada tem a ver com o que é tão propalado pelo movimento feminista,
que vê o patriarcado não como uma forma social ancestral, mas um tipo de
mecanismo ideologicamente orientado. Mas a história e a própria realidade nos
revelam justamente o contrário. Em Sexo privilegiado, o historiador israelense
Martin Van Creveld fez uma extensa e profunda pesquisa e constatou que, ao longo
dos séculos, a mulher sempre foi privilegiada, uma vez que, por ser do sexo
fisicamente mais frágil, carecia de mais proteção e cuidado em relação aos demais, e
por isso mesmo eram-lhe dispensados maiores vantagens e mais privilégios.3
Em entrevista concedida para a jornalista Helen Lewis,4 o psicólogo e escritor Jordan
B. Peterson, autor do best-seller 12 regras para a vida: um antídoto para o caos,
desmontou com alguns poucos argumentos a falácia de que a sociedade é dominada
pelo sexo masculino, mostrando que o movimento feminista vale-se de uma amostra
ínfima e seletiva de homens bem-sucedidos para representar a totalidade deles na
sociedade. Tais exemplos superam tanto as mulheres quanto a maioria dos outros
homens também. Peterson vai além e nos traz outras estatísticas que refutam os
pressupostos feministas do privilégio masculino, explicando que, se hoje as mulheres
vivem mais e desfrutam de crescentes facilidades e condições mais seguras, é porque
ao longo da história muitos homens se sacrificaram para que isso fosse possível.

Embora as mulheres tenham atuado eventualmente na realização de tarefas que


exigem demasiada força física para a compleição do sexo feminino, isso não é uma
constante, e sim uma exceção, que inclusive se estende até os dias atuais — mesmo
com todas as facilidades e avanços tecnológicos que o mundo pós-moderno tem
proporcionado. É raro, por exemplo, vermos mulheres em ofícios árduos e perigosos,
trabalhando em canteiros de obras, extração florestal, aterros sanitários, plataformas
de petróleo, usinas nucleares e tantas outras. E mesmo quando escolhem essas áreas,
a maioria opta por funções ou setores administrativos, seja por demandarem menos
esforço físico, seja porque oferecem menores riscos. Ainda assim, com frequência o
movimento feminista insiste em afirmar que o sexo feminino foi e continua sendo
alvo da opressão de um sistema que, na verdade, as resguarda.

Vejamos os privilégios femininos, começando pelo maior deles — a dispensa da


mais terrível das atividades humanas: a guerra (ao mesmo tempo em que são
protegidas dela sob a alegação do alto valor de suas vidas). A alegação feminista de
que os homens sempre procuraram meios de oprimir as mulheres é anulada diante da
maior prova que eles poderiam dar em favor da vida delas, que é protegê-las dos
campos de batalhas — e protegê-las neles. As mulheres não foram senão protegidas
desses perigos, tanto pelas suas próprias condições naturais de reprodução e
maternidade, quanto pelas demais características físicas de seus corpos e a saúde
frágil de seus organismos.

Vamos ao exemplo histórico de Estatira (346 a.C.–323 a.C.). Ela era, segundo
Alexandre Magno, a mulher mais perfeita da Ásia. Provavelmente por causa de sua
beleza, foi poupada da escravidão. Estatira era filha de Dário III e, como Alexandre,
o Grande, havia vencido o imperador aquemênida, este tinha o direito de espoliar e
escravizar o povo vencido. Poderíamos afirmar com certeza que o leitor não conhece
a história de nenhum homem que tenha sido poupado da escravidão para assumir
um lugar de poder na realeza tão somente por ser bonito. Mas foi exatamente o que
aconteceu com Estatira. O mesmo livro que conta sua história5 conta também que

fosse em tempos de guerra ou de paz, as mulheres da nobreza persa viajavam em


carros faustosos, com suas joias, mobiliário e cofres entalhados e engastados com
pedras preciosas, além de uma verdadeira coorte de escravos e protegidas pela
escolta dos cem mil mortais, uma tropa de elite.

A lista é extensa. Os privilégios sociais concedidos às mulheres começam desde a


mais tenra infância. Quando crianças, são tratadas com mais gentileza, recebendo
cuidado e proteção por mais tempo. Os meninos, ao contrário, desde muito cedo
tendem a ser induzidos a renunciar a qualquer condição de fraqueza, são ensinados a
serem valentes, corajosos e correrem os mais diversos riscos, muitas vezes
materializados por ritos de passagem, algo comum em todas as culturas.

Não se pode concordar com as premissas feministas de que à mulher não era
permitido o direito de educar-se nos tempos antigos: essa restrição se dava
justamente pelo fato de o método de ensino ser demasiadamente rígido e muitas
vezes cruel, em ambientes tremendamente hostis e inapropriados para moças.
Vejamos o que escreveu o historiador Pedro Paulo Funari6 sobre a educação na
Antiguidade:

Nessa sociedade de ferro, desde a mais tenra infância, os garotos eram criados
como futuros guerreiros, submetidos a condições muito duras, tanto para seu
corpo quanto para seu espírito. Os meninos tinham uma educação militar rígida e
ficavam o tempo todo treinando para a guerra. Quando nascia, se a criança fosse
considerada forte e saudável, ao pai era permitido que a criasse, caso contrário, o
bebê era jogado de um penhasco. Aos 7 anos, todos os garotos deixavam suas
mães. Aos 20 anos, o homem espartano adquiria uns poucos direitos políticos.
Aos 30, casava-se, adquiria mais alguns. Entretanto, apenas aos 60 estaria
liberado de suas obrigações para com o Estado.
Até hoje, a maioria das mulheres, quando pode escolher, opta por áreas de
conhecimento ou especialidades consideradas mais fáceis.7
Segundo a pesquisa do Censo de Educação Superior 2015,8 a lista das profissões
preferidas pelas mulheres é dominada por graduações em humanidades, como
pedagogia e direito, ou formações ligadas à saúde, como enfermagem e
fisioterapia. Já no ranking dos cursos com mais homens matriculados aparecem
com destaque disciplinas de exatas, como engenharia e tecnologia.

Não à toa, as áreas de preferência masculina são chamadas de ciências duras. Além
disso, dados da Glassdoor9 indicam que as mulheres recebem salários maiores que os
profissionais do sexo masculino em profissões consideradas mais leves ou menos
arriscadas: modelo, promotora de vendas, pesquisadora assistente, especialista em
compras, profissional de mídias sociais, profissional de comunicação, entre outras.

Aqui cabe um comparativo muito pedagógico. Frequentemente temos visto as


feministas reclamarem da falta de patrocínio ou de salários desiguais para as
jogadoras do futebol feminino em relação ao futebol masculino. “Marta reclama da
desigualdade de tratamento entre homens e mulheres no futebol profissional” é uma
das manchetes que encontramos na aba de notícias do Google. Sempre que existe
desigualdade, as mulheres reclamam. E os homens? Considerado o modelo mais
conhecido do Brasil, Marlon Teixeira respondeu uma pergunta do entrevistador10
sobre o seu salário ser menor do que o salário das modelos mulheres. Ele disse: “Não
dá para comparar. O [salário] feminino é muito maior. E eu acho que elas merecem
mesmo. Quantos homens compram revista de moda? Quantos homens se importam
com a nova bolsa que vai ser lançada?”. As respostas de Marlon e Marta
exemplificam o debate das últimas décadas: toda vez que os homens apresentam
ligeira vantagem em qualquer setor, a mídia, os políticos, as ONGs e as
universidades se movimentam para tentar virar o jogo e equalizar as relações. O
mesmo não acontece quando os homens estão em desvantagem.

Hoje, as mulheres são maioria nas universidades e também são as que mais
permanecem no Ensino Médio. Segundo dados do MEC em 2016, as mulheres eram
59,8% do total de bolsistas. Apesar de já terem ultrapassado os homens há décadas,
existem muitos favorecimentos que ainda estão em vigência. No último dia da
mulher, um site brasileiro11 listou 16 bolsas de estudo no exterior que só foram
disponibilizadas para mulheres, entre elas a American Association of University
Women, o programa Faculty for The Future Fellowship da Fundação Schlumberger,
o programa Science Amabassador lançado pela Cards Against Humanity,12o Prêmio
Viva Seu Sonho da Soroptimist, e as bolsas Margaret McNamara.

Ainda segundo o historiador Martin Van Creveld, na fase adulta as mulheres


sofrem menos pressão para competir ou atingir determinado grau de desempenho,
tanto no ambiente profissional quanto no esportivo. A mulher que não trabalha fora
de casa e é sustentada pelos pais ou pelo marido comumente não é julgada pela
sociedade como se fosse uma desocupada ou preguiçosa. Já o homem que faz tal
escolha, não raro é depreciado pela sociedade e tido como malandro. Como
trabalhadoras, as mulheres fazem menos que a metade do trabalho produtivo da
humanidade, muito em decorrência da fragilidade física de seus corpos, e
principalmente porque o trabalho árduo e perigoso colocaria em risco suas vidas — e
ninguém espera isso de uma mulher. Consequentemente, as mulheres sempre tiveram
maior dificuldade de se sustentarem sozinhas, ao passo que essa condição sempre
gerou outro indiscutível privilégio que é o de estar na invejável posição de, muitas
vezes, poder consumir sem ter trabalhado. Convenhamos: fora a dispensa da guerra,
não há privilégio maior do que não precisar trabalhar para sobreviver.

Em séculos passados, quando mulheres eram desassistidas ou desamparadas, não


tendo família, parentes ou um marido para lhes proverem subsistência, a sociedade
buscou meios de ajudá-las, sobretudo quando atendidas pelas diversas instituições
cristãs de caridade. Demonizado pelas feministas, o cristianismo edificou
enormemente tanto as relações humanas quanto a figura feminina, dignificada pela
imagem da Virgem. Na era medieval, o Amor Cortês13 — conceito europeu de
atitudes para enaltecer o amor — fez florescer a prática em que o homem aceitava a
independência da mulher cortejada, agindo de forma corajosa e honrada e fazendo
de si próprio merecedor do amor dela.

No que tange à condenação e ao aprisionamento, um estudo de 2015 da Faculdade


de Direito da Universidade de Michigan descobriu que o número de acusações
apresentadas pelos promotores após a prisão de mulheres tende a ser atenuado,
fazendo com que as sentenças para os homens sejam em média 63% mais longas.14
Outro estudo do mesmo ano15 mostra que as mulheres tinham 46% a menos de
probabilidade de serem mantidas presas antes de um julgamento, de terem fianças
mais baixas, e 58% a menos de probabilidade de serem condenadas à prisão e
sentenças mais baixas em casos de incêndio criminoso, receptação e invasão de
domicílio.

As mulheres também são muito menos afetadas em crimes violentos. Até mesmo a
feminista australiana Germaine Greer, reconhecida internacionalmente como uma
das mais importantes feministas do século XX, admitiu que “[...] os homens sempre
e em todos os lugares têm maiores probabilidades de morrerem de forma violenta do
que as mulheres”.16
Só no Brasil, dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública
apontam que em 2020, das 50.033 vítimas de mortes violentas intencionais, 91,3%
foram homens.17
E, não supreendentemente, esses números são similares às estatísticas de todos os
demais países.

Mas mesmo diante de tantos exemplos, as feministas insistem no mito de que as


mulheres sempre foram o sexo oprimido da sociedade, seja pela distorção da própria
realidade ou pela habitual desonestidade histórica e intelectual do movimento. Mas
mesmo diante de tais fatos, pode-se presumir o motivo pelo qual tanto insistem no
senso comum da opressão sofrida pelas mulheres: uma interpretação equivocada da
proteção dedicada pelos homens ao sexo feminino em épocas passadas.

John Stuart Mill, em sua obra A sujeição das mulheres, tentou argumentar em
favor das mulheres para que se eliminassem as diferenças de tratamento entre os
sexos, devidas à inferioridade da força física do sexo feminino, outorgadas pela lei
da época.18
Mill, um homem do século XIX, não possuía conhecimento necessário para entender
por que algumas limitações acometiam as mulheres, assim como toda a sociedade
antes e depois dele, até a década de 1930 — quando foram descobertos os
hormônios sexuais e seus efeitos no cérebro e no corpo do homem e da mulher. Não
se sabia, por exemplo, o que diferenciava a força física do sexo masculino com
relação ao feminino, ou ainda, o porquê da predileção de cada sexo por
determinadas áreas de conhecimento. Como explicar às mulheres, antes disso, que
certas atividades não eram tão adequadas a elas, se a resposta ainda nem sequer
existia? Se hoje, com um extraordinário avanço científico e com a vasta quantidade
de informações a que temos acesso, ainda vemos pessoas negando e duvidando da
própria ciência — sobretudo no que diz respeito à ideologia de gênero —, que dirá
em épocas passadas, quando ainda não existia nem mesmo uma resposta
minimamente lógica e quase tudo era interpretado como opressão.

Algumas restrições só foram deixando de existir com o advento e o avanço do


capitalismo, ao contrário do que alegam as feministas quando insistem na mentira de
que tudo o que as mulheres obtiveram foi graças ao feminismo. A inserção no
mercado de trabalho, a independência financeira das mulheres, a entrada em
instituições superiores de ensino, a igualdade de direitos entre os sexos, o aumento
da qualidade de vida das mulheres, entre tantas outras, são todas consequências
diretas e indiretas do avanço do livre mercado, e também do esforço de homens
inovadores para facilitar a vida dos seres humanos, sobretudo a vida das mulheres.
Não à toa, imperativos biológicos que se desdobram principalmente no campo da
engenharia elétrica e mecânica fazem com que os homens detenham uma média de
90% das patentes no mundo.19
Essas e outras conquistas são fruto da natureza masculina, predominantemente
construtora.

Em O herói de mil faces, o antropólogo e mitólogo Joseph Campbell elabora a


“Jornada do Herói” (também conhecida como monomito), conceito de jornada
cíclica presente em diversos mitos. Muito utilizada na indústria cinematográfica —
principalmente após a adaptação feita pelo roteirista Christopher Vogler —, ela
mostra como as provações vividas pelo herói ao atravessar as fronteiras do ordinário
resultam não apenas em aprendizado individual, bem como em benefício ao mundo
comum.
A verdade é que o fato de as mulheres terem sofrido algum tipo de opressão (afinal,
ninguém está isento de tal condição, seja pela inata maldade humana, seja pela
desigualdade social, pelas perseguições de diversas naturezas ou por Estados tiranos
e totalitários) nem de longe é sinal de uma conspiração arquitetada por todos os
homens do planeta com a finalidade de tornar a vida das mulheres um martírio. Até
mesmo a justificativa de a diminuição desta suposta opressão ser um mérito do
movimento feminista não encontra sustentação lógica. Pois ao mesmo tempo que as
feministas querem nos convencer de que seus protestos foram os responsáveis por
mudar e melhorar a vida das mulheres, também alegam que às mulheres sempre
foram negados todo tipo de poder e privilégios sociais, em qualquer época e lugar.
Mas a conta não fecha. Se os homens, tão tiranos quanto os pintam as feministas,
oprimiam tanto seus pares do sexo feminino, por qual razão se renderiam a um
grupo de mulheres histéricas — apenas por causa de alguns protestos? Ou os homens
não são tão tiranos e opressores como as feministas alegam, ou as mulheres sempre
tiveram mais poder e privilégios do que elas supunham. E ambas as alternativas as
desmentem. Enquanto isso, os homens, que sempre viveram uma realidade muito
pior, procuraram meios de preservar a vida das mulheres e de torná-la mais fácil e
melhor — nas trincheiras, nos trabalhos mais árduos, perigosos e insalubres, ou,
ainda, para construir uma sociedade mais confortável e prover os recursos
necessários para a subsistência da humanidade. Assim foi durante toda a história, e
provavelmente sempre será. Conforme atestado por Camile Paglia, uma das mais
lúcidas feministas:20

A economia moderna, com sua vasta rede de produção e distribuição, é uma


epopeia masculina, na qual as mulheres encontraram um papel produtivo — mas
as mulheres não foram suas autoras. Certamente, as mulheres modernas são fortes
o suficiente agora para dar crédito a quem merece!

II.
Toda grande escritora e filósofa do passado era feminista

Natália Sulman1

Um elemento facilmente observável nos discursos de nosso século é o esquecimento


do choque entre as mentalidades que mudam de uma época para outra. Ora por
força da incultura, ora por motivação ideológica, nós ouvimos frases de efeito do
tipo: “As filósofas antigas eram revolucionárias!”, “Platão era comunista!”,
“Agostinho era machista”, “Hipátia era feminista!”. Diante disso, toda pessoa bem
formada e honesta se vê cercada, e mesmo asfixiada, pelo subjetivismo e o
anacronismo da nossa época. Pelo subjetivismo porque, na linguagem ideológica, o
referente se mantém sempre na esfera mental, sem jamais participar da realidade
concreta. E pelo anacronismo porque os ideólogos atribuem ao passado ideias e
sentimentos de seu próprio tempo, sem nenhum rigor histórico.
Com efeito, a constituição da linguagem ideológica faz-se longe, muito longe do
amor à verdade, que é a filosofia. O objeto sobre o qual debruça-se a filosofia não é
outra coisa senão o ser, a realidade; a ideologia, no entanto, conduz o homem “para
um mundo de quimeras, […] substituindo a realidade pela ideia, enquanto mero
produto da mente, sem aquela ‘adequação’ com a coisa, segundo a definição clássica
da verdade”.2
Estudando os clássicos, percebemos que os conceitos são constituídos para elucidar,
significar a experiência com a realidade; na linguagem ideológica, em contraposição,
eles são meios para encobri-la, para afastá-la dos sentidos sob mil subterfúgios
retóricos. Isto é claramente observado quando alguém do sexo (realidade concreta)
feminino afirma-se do gênero (sob a acepção de nome ideológico) masculino. O
agente retórico convida o seu interlocutor a negar a sua própria experiência da
realidade para aceitar a imposição de uma ideia. A percepção diz: “É uma mulher”,
mas o imperativo conceitual subjetivo o obriga a dizer: “É um homem”.
Filosoficamente, este é um jogo doentio, que põe em xeque a sentença aludida acima:
Veritas est adaequatio rei et intellectus (a verdade é a adequação entre a coisa e o
intelecto).

A aplicação objetiva desta violência do subjetivo à política real acaba por se


dissolver na Realpolitik, na força totalitária. E esta força, que primeiro fora aplicada
à economia, aplica-se hoje à cultura. Nossa experiência cotidiana nos grandes
centros urbanos confirma isto. Os frutos da mentalidade revolucionária renascem
sob a forma da desarmonia sonora do funk, da ética infame das telenovelas, dos
novos paradigmas de comportamento nas redes sociais, entre outros. Os agentes da
Revolução têm mais trabalhado nas letras dos funks ou nas cenas de nudez explícita
da televisão do que na difusão de Marx e Engels. Afinal, isto não é mais preciso. Os
“filósofos” revolucionários, principalmente os expoentes da Escola de Frankfurt e do
Neogramscismo, deram-se conta de que o discurso a favor do igualitarismo, por
exemplo, não surte os efeitos desejados enquanto a sociedade permanece ancorada
na família que, dentre outros valores, advoga a causa da propriedade, sob a herança.

Este salto qualitativo da ação dos meios revolucionários engendrou mudanças


profundas na sociedade, sobretudo a partir do âmbito cultural, com o objetivo de
que as pessoas comuns as aderissem, sem que tomassem consciência de tal adesão.
Não à toa as novas gerações afirmam que o novo é sempre melhor, como se fosse
uma verdade universal e inquestionável. Contrariam, portanto, o prudente cânone
do conservadorismo: “A mudança pode não ser uma reforma salutar: a inovação
precipitada pode ser uma voraz conflagração em vez de uma tocha de progresso”.3
Até porque é impossível defender um progresso sem algum aporte no passado.
Afinal, como afirma José Pedro Galvão de Sousa (tradutor de Voegelin no Brasil), o
homem é naturalmente tradicional:

Vive e se aperfeiçoa graças à educação que lhe é dada e ao acervo de bens


acumulados pelos seus ancestrais. Sem herança, sem tradição, não há progresso,
isto é, sem a entrega de um patrimônio de cultura de uma geração a outra.
Originariamente a palavra traditio significa exatamente essa transmissão ou
entrega, sem a qual as sociedades se imobilizariam ou retrocederiam à barbárie.
Por onde vemos que a tradição, longe de ser conservadorismo estático, é a própria
movimentação da dinâmica social, ligando o presente ao passado e ao futuro. Se
nos colocarmos, por exemplo, no terreno das ciências, como será possível
conceber aí o progresso sem a tradição, ou seja, sem aprendermos com a
experiência dos que nos precederam e sem tomarmos conhecimento das suas
descobertas e invenções? Se um cientista fizesse tábua rasa destas aquisições e
pretendesse começar

tudo de novo, estaria regressando à idade do homem das cavernas.4


Daí o absurdo dos anacronismos extravagantes dos adeptos da mentalidade
revolucionária. Aliás, uma extravagância que eles usam enquanto tática discursiva,
mais precisamente, a técnica da transposição.

Transposição significa, como conceitua um bom filólogo espanhol,5 asseverar o


valor de um novo pensamento sob o prestígio das fontes antigas. Através da citação,
ou da alusão, das passagens e dos autores de antiguidade e prestígio reconhecidos, e
fazendo-se uso de modificações amiúde sutis, a fim de transformar o significado
original, põe-se em destaque os pontos que têm em comum com o futuro, e oculta-se
os opostos.

Podemos observar este fenômeno quando ouvimos o discurso histérico das


feministas aludindo a uma participação retroativa das filósofas do passado nas
reivindicações do movimento. Mais, através do trabalho de dois filósofos expoentes,
respectivamente, dos períodos clássico e medieval, demonstremos que aquela tática
discursiva não é um caso exclusivo do movimento feminista, mas é uma técnica
maximamente utilizada no âmbito da revolução cultural. Retornemos, pois, a Platão
e a Santo Agostinho.

Platão foi transformado em um comunista! Esta ideia, mutatis mutandis, recebera


contribuições significativas de diversos engajados no transcurso da história moderna.
Em Pohlmann e Nartrop temos o Platão socialista; em Wilamowitz e Stenzel, o
Platão nazi; e, em Popper, o mestre de Aristóteles encarna o engenheiro social por
excelência. Estes “entendidos” de Platão não fizeram mais do que pôr em evidência a
abolição da propriedade, do dinheiro e da família por parte da classe governante da
República e, como se o monumento da filosofia platônica se reduzisse à cartilha dos
centros universitários, esqueceram-se de todo o resto. Que a estrutura da Pólis
platônica é uma metáfora para a estrutura da alma, isto a perspicácia dos enragés
não fora capaz de captar — provavelmente por um misto de ignorância e malícia.
Nem que Platão despreza o materialismo; e, longe das massas, defende uma
aristocracia do espírito. Ademais, os revolucionários não perceberam que a tônica da
narrativa consiste numa ironia pela qual as teses defendidas são o contrário do
sentido superficial do diálogo.
Igualmente superficial é afirmar que os filósofos cristãos eram a perfeita tipificação
do machismo. É verdade que eles eram patriarcais, mas sugestionar uma acepção de
machismo no patriarcado dos antigos é uma declaração de ignorância. Não há um
desnível ontológico entre homem e mulher fora do discurso ideológico, isto é, na
realidade cristã. As Sagradas Escrituras afirmam a igualdade ontológica entre os
sexos: Nisto não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl
3, 28). As diferenças residem em outras esferas, mas não na esfera do ser. Na
realidade concreta, por exemplo, na qual a compleição feminina tem exigências
particulares. Por isso diz o Santo de Hipona: “A mulher, que é mulher só no corpo,
renova-se também no espírito de sua mente no conhecimento de Deus conforme a
imagem d’Aquele que a criou, na qual não há homem ou mulher”.6
Portanto, o que temos percebido é que além de tentar usurpar o mérito de todas as
mulheres que fazem algo grandioso hoje em dia — exigindo que dividam suas glórias
e partilhem suas conquistas com o coletivo de engajadas ideológicas —, o feminismo
também quer tomar posse da história das grandes mulheres do passado e dizer que
elas tinham uma “pitadinha de feministas” mesmo quando o movimento não existia.
Por exemplo, a grande teóloga Hildegarda de Bingen, uma personagem histórica que
é constantemente sequestrada pelas engajadas ideológicas de hoje. É preciso um
malabarismo invejável para conseguir colocar filósofas antigas ou freiras católicas
como Hildegarda na condição de feministas. A Igreja Católica é extremamente
criteriosa ao reconhecer a santidade dos seus ícones e jamais conferiria o título de
“doutora da Igreja” sem que a intelectual em questão tivesse amor pela própria
Igreja muito mais do que qualquer “engajamento de classe”. Sobre Hildegarda, o
Papa Bento XVI,7 certamente um dos mais conservadores, afirmou: “Importante
figura da Idade Média, que se distinguiu pela sabedoria espiritual e santidade de
vida”. Ora, se há algo que as feministas verdadeiramente desprezam é a santidade.

Há também Artemisia, personagem renascentista que foi estuprada pelo seu


professor de arte. Dizem que ela tinha um pé no feminismo por sua obra mais
famosa mostrar uma mulher degolando um homem numa história de vingança. Mas
Artemisia era cristã e suas obras eram inspiradas nos textos bíblicos, não tem
feminismo nenhum nisso e não há feminismo nenhum na história de Judite,
inspiração da artista em sua tela mais famosa. A pintura retrata um costume dos
tempos bíblicos: era comum perseguir e assassinar estupradores e outros tipos de
criminosos, sendo que a própria história de Judite foi elogiada na Bíblia. O portal
BBC8 chegou a afirmar na legenda de uma das obras de Artemisia apresentada na
matéria que ela havia subvertido uma história bíblica em sua pintura. Não foi nada
disso.

O mesmo acontece com grandes escritoras dos séculos passados. Com dificuldades
de reconhecer que muitas mulheres são grandes sem precisar de ideologias modernas,
as feministas costumam chamar essas mulheres de protofeministas, coisa que nunca
foram. Fazem isso com Jane Austen e se viajarmos mais demoradamente, por fim,
chegaremos à figura de Hipátia de Alexandria. Por parte das feministas, esta já não é
objeto de crítica, mas de louvor; ela ocupa lugar de destaque no altar dos ícones
cultuados pelos círculos revolucionários desde o século passado. Autoconvencidos de
que, no mundo clássico, se a mulher manifestasse o desejo de enveredar pelo
caminho do conhecimento, ela teria necessariamente de ser revolucionária
(anacronismo), as feministas passaram a reverenciá-la como precursora do
movimento. Para isto concorreram dois fatos biográficos da Sábia de Alexandria:
Hipátia fora reconhecida como filósofa platônica e tomou a resolução de não se
casar.

Explicar para uma engajada a incoerência do seu anacronismo lhe causa horror: a
escolha de Hipátia nada tem a ver com emancipação e libertação sexual. Antes, o
que a orienta é a sua escolha pela virgindade e purificação espiritual, isto é, dois
princípios neoplatônicos antagônicos à liberação sexual das feministas.

O neoplatonismo entendia que há dois tipos de prazer: o puro e o impuro. O


primeiro é o prazer que não se mistura à dor, como a amálgama do sexo. Só há
relação sexual quando o desejante carece do seu objeto de desejo. Esta carência
produz uma dor que até é esquecida no momento do gozo, porém subsiste. Já os
prazeres puros estão no domínio do estético e do gnosiológico, como a visão, o
olfato, a audição e o conhecimento. Ninguém sofre por haver um ano que não vê a
Monalisa no Louvre, como sofreria por estar há um ano sem dormir com o seu
parceiro. Assim buscando purificar-se dessa amálgama entre o prazer e a dor, e,
portanto, distante de qualquer princípio revolucionário, Hipátia permaneceu virgem.

Outro elemento biográfico acerca da Sábia de Alexandria que causaria horror às


feministas é o que se conta numa anedota. Um de seus alunos, cativado pelos
meneios encantadores da filósofa, foi por ela surpreendido. O discípulo
experimentou a conflagração do fogo que arde sem se ver. Hipátia, tendo descoberto
a paixão oculta do seu pupilo, a fim de curá-lo, estendeu-lhe um lençol manchado de
sangue e disse: “Este é o símbolo de minha natureza suja. Isto que tu amas não é
belo!”.

Com tudo isso, deve ficar claro que, sempre que alguém afirmar que uma filósofa
antiga representa, retroativamente, os ideais da causa feminista, está incorrendo em
anacronismo. Este erro, como explicado, consiste na alocação da mentalidade
revolucionária em algum dado momento do passado, com o propósito de dar às suas
ideias o prestígio dos autores antigos. As revolucionárias põem as cartas nos dois
lados da mesa: enquanto evocam os nomes clássicos, a academia as abraça; enquanto
louvam a revolução sexual, as jovens progressistas as aplaudem. Como se vê, é um
jogo de impressionante perversão, posto que o real adversário é destruído — não
porque é derrotado, mas porque sequer é convidado para o debate.

III.
Terrível Idade Média!
As mulheres do medievo europeu eram infelizes e oprimidas

Ricardo da Costa1 “Como as mulheres eram infelizes na Idade Média! Elas não
podiam fazer nada”. Em algum momento você já ouviu isso, não é verdade? Mas
como podemos saber o que acontecia na vida das pessoas há mil anos? No
coração das mulheres? De todos os períodos da nossa história, a Idade Média é o
mais injustiçado na imaginação popular. Ela é considerada a época com mais
ignorância, brutalidade, sujeira, falta de educação. Caro leitor, adianto que é
muito difícil desfazer essa mitologia,2mas pretendo esclarecer pelo menos esse
ponto sobre as mulheres.

Com as invasões bárbaras no século V, a Europa ocidental se fragmentou em vários


reinos. O Império Romano não resistiu às pressões externas daquelas tribos.
Vândalos no norte da África, visigodos na Península Ibérica, francos na atual França,
anglos e saxões na Inglaterra, muitas foram as culturas que se assentaram no
território romano.3
O Império já havia se convertido ao cristianismo desde o imperador Constantino, o
Grande (272–337).4
Os bárbaros foram se convertendo aos poucos. E em boa parte graças às mulheres!
Isso porque, na maioria dos casos, elas se convertiam antes de seus maridos.5
O exemplo mais famoso é o da conversão do rei dos francos, Clóvis I (481–509), ao
catolicismo, graças à insistência de sua segunda esposa, a Rainha Santa Clotilde (c.
474–545).6
Aliás, a educação na corte era estendida às mulheres: as esposas de Clotário I (497–
561), Ingunda (c. 510–546) e Santa Radegunda (c. 520–587) receberam educação
religiosa e intelectual. Radegunda, inclusive, fundou mosteiros e a famosa Abadia de
Poitiers, que teve como uma de suas monjas a escritora Baudonívia (séc. VI).7
Ou seja: desde muito cedo, a organização da Igreja Católica, a única instituição que
sobreviveu à crise do Império Romano, favorecia o estudo e a leitura nas bibliotecas
de seus mosteiros — inclusive femininos.

Essa tradição de educação de corte para as mulheres provavelmente foi mantida, e


lentamente expandida. No século IX, uma aristocrata chamada Dhuoda (c. 803–
843) escreveu uma obra intitulada Manual para meu filho.8
O rapaz, chamado Guilherme, tinha dezesseis anos e havia entrado na corte do Rei
Carlos, o Calvo (823–877). São ensinamentos religiosos e uma apresentação de
obrigações morais e sociais — fidelidade ao rei, aos bispos e padres. É um escrito de
educação — hoje diríamos de pedagogia. O fato de ela ter escrito uma obra sugere
que deveria haver uma estrutura educacional, mesmo rudimentar, aberta às
mulheres, pelo menos às de nascimento privilegiado.

Por todas as partes nesse período mais recuado da Idade Média encontramos
mulheres que se destacaram em seus afazeres. Nas Ilhas Britânicas, Etelfleda de
Wessex (c. 869–918), após a morte de seu marido, o rei da Mércia Etelredo II (morto
em 911), governou o reino e mandou construir várias cidades fortificadas. No
continente, a duquesa Inês da Borgonha (c. 990–1068) foi participante muito ativa
da política de seu tempo, e chegou inclusive a governar o ducado da Aquitânia
durante a menoridade de seu filho, Guilherme VII, a Águia (1023–1058).9
No mesmo século XI, outra mulher de grande destaque foi a Condessa Matilde de
Canossa (ou de Toscana, 1046– 1115).10
Além de governante, também ficou famosa por seu desempenho militar.11
Ela teve participação ativa na Questão das investiduras (1075–1122) — disputa pela
autoridade que faria as nomeações na Igreja Católica, se o imperador ou o Papa — e
como mediadora do conflito entre o Imperador Henrique IV (1050–1106) e o Papa
São Gregório VII (c. 1015–1085).12
Isso para nos referirmos somente às mulheres bem-nascidas, casadas com
governantes ou elas próprias governantes. Em toda a Alta Idade Média (séc. V–X),
elas dedicaram suas vidas à Igreja: santas, monjas, poderosas abadessas — isso sem
contar as que ofereceram seu sangue, as mártires (por exemplo, entre muitas
centenas de outras, Santa Inês de Roma [c. 291–304], Santa Cecília [†c. 230], Santa
Ágata [séc. III], Santa Blandina [séc. II], Genoveva [423–c.5.512]).13
Além da já citada Rainha Clotilde (c. 474–545), cuja conversão e influência na
conversão de seu marido mudou o rumo da história do Ocidente, é de se perder a
conta a quantidade de mulheres medievais bastante influentes: Attracta (séc. V–VI),
Cwyllog (séc. VI), Dimpna (sécs. VI–VII), Bertha de Kent (c. 565–601), Rictrude (c.
614– 688), Chrodoara (†c. 633), Helena de Bruxelas (†c. 640), Burgundofara (†c.
643 ou 655), Begga de Landen (613–693), Batilda (626–680), Aldegunda (c. 639–
684), Valdetrude de Mons (†688), Amalberga de Maubege (séc. VII), Begneta (séc.
VII), Cwenburh of Wimborne (séc. VIII), Amalberga de Temse (c. 741–772),
Anstrudis († 688), Angadrisma (†c. 695), Berlinda (†c. 702), Bertha de Artois
(†725), Edburga de Minster-in-Thanet (†759), Ava (séc. IX), Edith de Polesworth
(†c. 960), Santa Cunegunda de Luxemburgo (975–1033), Santa Gisela (c. 985–1065)
— esta última se casou com Estêvão, príncipe dos húngaros, convertendo-o (é o
famoso Santo Estêvão [c. 975–1038], fundador da Dinastia de Arpad).14
Santa Gisela era irmã do imperador Santo Henrique II (973–1024), que foi casado
com Santa Cunegunda de Luxemburgo (975–1033). A lista feminina medieval é
interminável.15
E o que mais impressiona é a determinação, a profunda (e fecunda) força religiosa da
fé feminina. Vou contar só um (belo) exemplo de vida. Rictrude (c. 614–688) nasceu
pagã, se converteu e se casou com Adalberto I de Ostrevent, duque de Douai (†c.
652). Após o assassinato de seu marido por parentes dela (provavelmente ressentidos
por ela ter se casado com um inimigo de seu povo, os gascões), Rictrude recusou se
casar novamente. Resistiu à pressão do rei da Nêustria e da Borgonha, Clóvis II
(633–657), e entrou para o mosteiro de Marchiennes (condado de Flandres).16
E se tornou abadessa, ou seja, administradora da vida espiritual dos monges e
monjas daquele mosteiro (sim, Marchiennes era um dos mosteiros duplos —
monasteria duplicia — isto é, masculino e feminino, todos submetidos a uma só
regra, vivendo em alas separadas, mas sujeitos a uma mesma autoridade, que podia
ser exercida, como no caso de Marchiennes, por uma mulher). Ela era também
governante de suas posses, ampliadas graças ao trabalho de secagem dos pântanos,
drenagem e desmatamento.

Em Marchiennes, Rictrude foi enterrada, e em sua lápide está escrito o seguinte:


Virtutis ager, pietatis imago (“fazenda de virtude, imagem da piedade”).17
Após sua morte, foram registrados milagres no túmulo de Rictrude, e por isso, seus
ossos foram trasladados para Paris. No século XVIII, com o terror da Revolução
Francesa (1793), seus restos mortais infelizmente foram perdidos, e provavelmente
profanados — os sedentos revolucionários já haviam fechado o mosteiro em 1791.18
Cada mulher é um mundo, uma história sempre fascinante. Desde a peregrina Egéria
(séc. IV)19e de Santa Monica (c. 332–387), mãe de Santo Agostinho,20até a escritora
Cristina de Pisan (1364–1430)21e a mártir Joana D’Arc (1412–1431)22— passando
por Santa Hildegarda de Bingen (1098–1179)23e Heloísa (c. 1100–1163)24, Eleanor
de Aquitânia (1122–1204)25e Blanca de Castela (1188–1252)26—, a Idade Média foi
um tempo pródigo de mulheres fortes. E devotas. Foi também, como não poderia
deixar de ser, pródigo de mulheres que viveram plenamente sua sexualidade.27
É um mundo esquecido pelos movimentos feministas do séc. XX porque as mulheres
da Idade Média semearam o cristianismo pelo continente europeu, religião odiada
pelas testosterônicas revolucionárias porque é considerada “opressora”.28
Mas, pelo contrário, segundo essa fé, homem e mulher foram criados conjuntamente
e queridos por Deus, e portanto têm eles a mesma dignidade. E Ele quer o homem e
a mulher um para o outro, porque foram feitos um para o outro.29
Com essa nova dignidade, as mulheres ascenderam socialmente e culturalmente.
Processo longo e não sem retrocessos, como é natural com tudo o que diz respeito ao
que é humano. E para não dizer que não falei de espinhos, encerro essa brevíssima
nota sobre as mulheres medievais com a primeira escritora na história a viver de seus
escritos — após a morte do marido, com três filhos para criar! —, Cristina de Pisan
(1364–1430), que escreveu um livro para defender seu sexo: Cidade das Damas
(1405), um manual de educação dedicado a Margarida de Borgonha (1393–1442),
Delfina da França.

Como muitos textos medievais, Cidade das Damas foi escrito em forma de
alegoria.30
Cristina narra, em primeira pessoa, que recebeu a visita de três damas coroadas: a
Razão, a Retidão e a Justiça. Em um dos diálogos, a personificação da Razão diz a
Cristina:

Como a natureza, discípula do Mestre Divino, poderia ter mais poder do que
Aquele que lhe confere sua autoridade? Deus teve em seu pensamento eterno a
ideia do homem e da mulher. Quando quis criar Adão do limo da terra no campo
de Damasco, assim o fez, e levou-o até o Paraíso Terreno, que era e continua
sendo o lugar mais formoso deste mundo. Ali o deixou dormindo e formou o
corpo da mulher com uma de suas costelas, para significar que ela deveria
permanecer a seu lado como sua companheira, não estar a seus pés como uma
escrava, e que ele haveria de querê-la como a sua própria carne.

Se o Soberano Trabalhador não se envergonhou criando o corpo feminino, por


que a natureza se envergonharia? Dizer isso é o cúmulo da loucura e, além disso,
como foi formado o corpo da mulher? Não sei se vos dais conta de que ela foi
formada à imagem de Deus. Como pode haver línguas que lhe neguem uma marca
tão nobre? No entanto, há loucos que acreditam, quando ouvem dizer que Deus
fez o homem à Sua imagem, que se trata do corpo físico. Nada mais falso, já que
Deus ainda não havia tomado o corpo

humano. Pelo contrário, se trata da alma, reflexo da imagem divina, e esta alma,
na verdade, Deus a criou tão boa, nobre e idêntica no corpo do varão quanto no
da mulher. Como dizíamos, a mulher foi criada pelo Soberano Trabalhador no
Paraíso Terreno, e de qual substância? Não de vil matéria, mas da mais nobre
criada, pois Deus a fez do corpo do homem”.31
Não posso discordar de Cristina: a mulher foi criada para estar ao lado do homem
como sua companheira, não estar a seus pés como uma escrava! Graças ao
pensamento teológico católico e à Igreja, o Ocidente se abriu para a igualdade
entre os sexos, diferentemente de outros mundos e religiões.32

IV.
Antes do feminismo, mulher não podia governar, liderar ou se
destacar

Ana Caroline Campagnolo

Essa é uma mentira contada apenas para nos dar a impressão de que não podemos
fazer ou conquistar qualquer coisa sem a chancela do feminismo. É possível citar
uma lista de mulheres que governaram, lideraram ou receberam destaque político
muito antes de existir qualquer tipo de feminismo. Por exemplo, Enheduanna,
professora e poeta, foi a primeira mulher a receber o título de personalidade de
grande importância para a política no império acadiano. Isso aconteceu mais de 4
mil anos atrás, ainda no início das grandes civilizações. Há também Hatshepsut, que
foi rainha-faraó do Egito 15 séculos antes de Cristo; Aspásia de Mileto, que foi
professora do estadista Péricles no século V a.C.; e Cleópatra, última governadora do
reino ptolemaico do Egito no ano 30 a.C. Podemos citar alguns exemplos bíblicos
como a juíza Débora, que fazia as vezes de general de guerra em Israel, ou a Rainha
Ester, que tem um livro inteiro na Bíblia dedicado a si. Na era medieval e moderna
há grandes autoridades como a Rainha Brunilda (543–614 d.C.), a nobre e militar
italiana Matilde de Canossa (1045– 1115), a monja e médica naturalista Hildegarda
de Bingen (1098–1179), a Rainha Isabel de Castela (1451–1504), a indígena
Malinche que acompanhou Cortés na conquista do México (1500–1529), a Rainha
Catarina de Médici (1519–1589), a Rainha Elizabeth I (1533–1603), entre tantas
outras das quais você certamente recorda.

Antes que digam que essas mulheres eram exceção e que a maioria das outras
mulheres vivia uma vida comum e, muitas vezes, até subserviente, não esqueçamos
que a maioria esmagadora dos homens também vivia uma vida comum: súdito,
escravo, servo ou trabalhador em condição de subsistência. É muito fácil criar uma
impressão de opressão absoluta contra a mulher quando você compara as mulheres
mais sofridas com os homens mais poderosos. Não é assim que se faz uma análise
honesta da condição social de um período histórico. Com certeza, existiram muito
mais homens poderosos do que mulheres poderosas; mas também existiram muito
mais escravos homens trabalhando nas pirâmides e galés de navios do que mulheres.

Mesmo depois que o pensamento feminista se popularizou, muitas mulheres ainda


negaram pertencimento e dívida para com o movimento. Uma pesquisa realizada
pelo DataFolha em 2019 no Brasil mostrou que somente 39% das brasileiras
entrevistadas se consideram feministas — contra 52% dos homens que disseram
apoiar a causa.1
Enquanto isso, na Alemanha, uma pesquisa semelhante mostrou que apenas 8% das
mulheres se considera do movimento.2
Ou seja, podemos seguramente afirmar que a maioria das mulheres não se considera
feminista.

É o caso da primeira mulher a ser eleita Primeira-Ministra na Inglaterra: Margaret


Thatcher. Se alguém tentou usar com ela o argumento de que só pôde governar os
britânicos por causa do movimento feminista, certamente saiu espanado. Ela é
autora do axioma: “O feminismo é puro veneno”. Outras mulheres se destacaram no
mundo todo, assim como a Dama de Ferro, sem dar crédito a nenhuma organização
feminista. Todos deveriam se informar sobre quem foi Princesa Isabel, Irena Sendler,
Milada Harakova, Sophie Scholl, Edna Ismail, Corrie ten Boom e tantas outras.

Falemos um pouco mais sobre algumas dessas mulheres de destaque começando


pela Idade Antiga (período histórico entre 3.500 a.C. e 476 d.C.). A Bíblia é um livro
milenar escrito e reunido durante a Antiguidade e nela encontramos alguns relatos
sobre mulheres que foram a autoridade máxima de seu povo. O livro do Êxodo
menciona uma princesa egípcia que teria adotado Moisés. No início do século XX,
arqueólogos descobriram que Hatshepsut (1508 a.C.–1458 a.C.) não foi apenas
esposa-real, mas tornou-se a única faraó mulher da história, tendo ficado no poder
por mais de 20 anos. Ela desenvolveu um relacionamento relativamente positivo com
os povos vizinhos e foi uma das maiores governantes quando se tratava de construir
obras públicas: foram centenas de projetos novos, centenas de estátuas de si mesma,
reformas monumentais e a construção de uma tumba enorme. Quem for ao Egito
será instigado a conhecer um dos seis pontos turísticos mais visitados no país: o
enorme Templo da Rainha Hatshepsut, um imponente trabalho da arquitetura
egípcia. É recorrente a ideia de que seu reinado foi um período de paz e
prosperidade. Não existia nenhuma mentora feminista naquela época.
Aparentemente, Hatshepsut entendeu e decifrou sozinha os meandros do poder. Foi
mais poderosa do que qualquer homem de sua época.

Se continuarmos usando a Bíblia como livro histórico, encontramos outras


mulheres como Hatshepsut. O nome “Débora” em hebraico significa “abelha”.
Entre as abelhas, a autoridade máxima é sempre uma fêmea. A abelha-rainha
mantém a ordem social da colmeia, além de ser a mãe de todos os seus súditos.
Débora foi o nome da única juíza mulher que “reinou” sobre Israel. Apesar de a
Bíblia não mencionar que ela tenha tido filhos biológicos, coincidentemente, no
capítulo quinto do livro dos Juízes, ela se autointitula “mãe do povo” em um poema3
que diz: “Já tinham desistido, até que eu, Débora, me levantei, levantou-se uma mãe
em Israel”.

De fato, ela foi a mãe espiritual e militar de um povo em guerra constante contra
seus vizinhos4e a Bíblia só fez elogios a seu respeito. Ao falar de todos os outros
juízes (homens), não há essa concessão, pois todos são criticados ou classificados por
seus defeitos. Quase todos nós conhecemos a história de Sansão e Dalila, pois Sansão
foi um juiz que se deixou levar por suas fraquezas sexuais. Mas quanto aos defeitos
de Débora, não é possível afirmar nada. O texto diz que “Débora, uma profetisa,
liderava Israel naquela época [...] e os israelitas a procuravam para que ela decidisse
suas questões”. O conflito principal que laureia a juíza acontece quando o exército
cananeu avança contra Israel após uma coalizão de vários reis importantes liderados
por Jabin, de Hasor, no norte de Israel. Os arqueólogos confirmam a expansão das
tribos hebreias e é razoável supor que isso gerasse insatisfação. A superioridade
técnica dos cananeus (novecentos carros de ferro) assustava inclusive Barac, o
homem enviado por Débora para liderar a batalha pelo lado israelita. Barac chegou
a responder: “Se vieres comigo [para a guerra], vou; se não vieres comigo, não
vou”.5
Tal episódio, com base histórica situada no século XII a.C., é apresentado duas
vezes: uma em prosa narrativa e outra em verso épico. Alguns pesquisadores
mencionaram que esses trechos podem ser os mais antigos da Bíblia, escritos por
sacerdotes aproximadamente 600 ou até mil anos antes de Cristo. O teólogo José
Ademar Kaefer comentou que “as mulheres na sociedade tribal tinham muito mais
força e projeção que na monarquia”. No comentário bíblico de uma tradução
católica, lemos a seguinte deferência à conduta irrepreensível de Débora: “É uma
mulher valente e decidida; Barac é o homem indeciso; a mulher é profetisa e possui a
palavra de Deus; o homem é militar e está desanimado”.6
Lutero,7 pai do protestantismo, também elogiou Débora afirmando que ela e outras
mulheres governantes “foram muito bem na administração”. Para encerrar, basta
saber que o contra-ataque organizado por Débora atraiu os inimigos para uma
região pantanosa que inviabilizou seus carros e possibilitou a vitória de Israel.

Porém, nem sempre os israelitas venceram. Passaram por diversas diásporas,


invasões e perseguições. Em uma dessas situações, derrotados, foram dominados
pelos persas e quase aniquilados no que poderia ter sido o primeiro holocausto. O
texto bíblico8 registra que “no dia 13 do primeiro mês, os secretários do rei foram
chamados [...]. A ordem era massacrar e, assim, eliminar os judeus, jovens e velhos,
mulheres e crianças [...] e confiscar todos os seus bens”. Hamã, inimigo do povo
judeu, havia conseguido autorização do Rei Assuero para um verdadeiro genocídio,
porém, novamente os judeus foram salvos por uma mulher. Ester era o nome dela. O
livro bíblico escrito em sua homenagem detalha a sua biografia desde a humilhação
até o trono, até o momento em que a sua intervenção salvou Israel. A história se
passa na cidade persa de Susã, no século V a.C., e não é preciso mencionar que não
havia resquícios de feminismo na Bíblia ou na aristocracia persa.

Antes de deixarmos a Bíblia de lado para consultarmos outras fontes históricas,


convém mencionar brevemente a grande rainha de Sabá, também conhecida como
Makeda, e a princesa fenícia filha de Etbaal, Jezabel.

Os historiadores não são unânimes acerca da existência da rainha de Sabá, mas


aqueles que afirmam que ela de fato reinou sobre a Etiópia se baseiam na
correspondência dos textos sagrados da Bíblia e do Alcorão (onde ela é chamada de
“Bilqis”) e também no documento Kebra Nagast, uma compilação de relatos etíopes,
onde ela é chamada pelo nome “Makeda”. No Kebra Nagast disponível em tradução
para o espanhol, encontramos o relato mais detalhado do encontro entre a rainha de
Sabá e o Rei Salomão. Segundo o texto, Salomão e Makeda passaram a noite juntos
e, desta união, nasceu o Rei Menelik I, fundador da dinastia de Salomão na Etiópia.
Para o historiador romano Flávio Josefo, ela teria se chamado “Nicauli” e vivido no
século X a.C. Em 2008, arqueólogos alemães ligados à Universidade de Hamburgo9
e coordenados pelo professor Helmut Ziegert anunciaram a descoberta de restos do
palácio dessa lendária rainha.

Já a Rainha Jezabel recebeu destaque entre hebreus cerca de 3 mil anos atrás pela
sua má influência sobre o Rei Acabe, o que mais uma vez indica que algumas poucas
mulheres (assim como alguns poucos homens) realmente ascendiam ao poder não
apenas formalmente, mas de fato, influenciando e mudando o destino de povos
inteiros.

Alguns séculos depois, chegamos ao apogeu da civilização grega. É de se esperar


que todos tenham aprendido na escola sobre a história da Grécia Antiga, de seus
filósofos e políticos. Aspásia de Mileto, mulher grega e filósofa, fez parte dessa
história. Ela foi professora e mentora de Péricles (495 a.C.–429 a.C.), um estadista
importante em Atenas. Péricles era um grande orador, líder e general. Ele promoveu
a arte, a cultura e a democracia em Atenas. Ele e Aspásia tinham um relacionamento
e tiveram um filho, mas ela não era de Atenas e sim de Mileto (cidade que ficava ao
sul da Jônia, na Ásia Menor). Não costuma ser muito determinante saber onde nosso
cônjuge nasceu, a menos que você esteja buscando cidadania no exterior. De certa
forma, esse era o caso de Aspásia e Péricles.

Eles respiravam poder, política e cidadania em seu cotidiano, portanto, estar fora
do jogo por não ter nascido em Atenas não era muito agradável para Aspásia.
Mesmo com todo poder que tinha, Péricles não conseguia oficializar seu casamento
com ela por causa das leis atenienses (ele estava separado da sua primeira esposa).
Isso nos faz pensar nas condições sociais da época: geralmente, comenta-se sobre as
mulheres estarem excluídas do processo democrático ateniense, mas elas não eram as
únicas. A maioria dos homens também ficava de fora. Eram milhares de escravos
somente em Atenas, “em sua maioria prisioneiros de guerra [...] 30 mil trabalhavam
nas minas de prata [...] 25 mil eram escravos rurais e 73 mil eram escravos
urbanos”.10
Escravos e estrangeiros também não eram considerados cidadãos. As regras eram
rígidas mesmo para o grande líder Péricles, que era, sem dúvidas, um cidadão
ateniense. No diálogo Menexêno, Platão faz referência clara e elogiosa aos talentos
retóricos e às aulas de oratória ministradas por Aspásia.11
Ela é citada ao lado de outra filósofa (e sacerdotisa) chamada Diotima de Mantineia,
como uma das personalidades mais importantes a orientar o grande filósofo
Sócrates. Ela realmente foi grande entre os grandes de sua época.

Livros com tons feministas têm feito listas de grandes mulheres, mas sempre
deixando de enfatizar que elas floresceram antes de o feminismo aparecer. Um desses
livros, chamado Mulheres, mitos e deusas,12 afirma o seguinte:

Houve também outras mulheres que se destacaram na Antiguidade como poetisas


ou pitonisas, hábeis na política, aguerridas nas batalhas ou ainda tão destras na
música como sábias na arte de governar. Para algumas, o destino reservou
privilégios, enquanto outras foram recobertas pelo esquecimento ou pela sombra
do menosprezo.

Lembrando, obviamente, que desprezo e esquecimento podem acometer tanto


mulheres quanto homens. O mesmo vale para os privilégios.

Convém citar ainda a Rainha Cleópatra VII Filopátor que comandou o Egito de 51
a.C. a 30 a.C., última governante da dinastia ptolomaica. Ela foi, provavelmente, a
sétima Cleópatra, responsável por popularizar o título como se fosse seu próprio
nome. Sua importância e influência foram tão inegáveis que várias produções
cinematográficas contaram sua história: desde muito jovem disputando a liderança,
sua ambição levou o Egito a uma guerra civil; impedida de entrar no palácio, ela
convenceu alguns servos a enrolarem-na em um tapete até que conseguisse entrar no
quarto de Júlio César. Sua inteligência e coragem convenceram César a devolver-lhe
o trono.
Encontramos inúmeros nomes atravessando apenas a história da Antiguidade, mas
há também a Idade Média e a moderna. Radegunda viveu no século VI d.C. e foi
rainha do reino franco de Soissons após ter se casado com Clotário I.

Levando em conta que seu marido era insuportável, ela se abrigou na Igreja
Católica, que abriu suas portas e permitiu que ela fundasse monastérios. É
considerada santa, sua festa litúrgica acontece todo dia 13 de agosto e há uma
belíssima escultura feita por Louis Desprez em sua homenagem na Igreja de São
Germano de Auxerre, em Paris.

Um nome muitíssimo mais conhecido é o de Isabel de Castela. A Amazon Prime


disponibilizou um longo seriado sobre sua vida; são dezenas de capítulos mostrando
a força e determinação de uma mulher que continuou rainha de si e do seu povo
mesmo após o casamento de protocolo com Fernando II de Aragão. Foi Rainha de
Castela e Leão de 1474 até sua morte em 1504. As feministas costumam repetir que
a Inquisição perseguia as mulheres (e algumas até gostam de parecer bruxas), mas
talvez não saibam que foi uma mulher, a Rainha Isabel, que reiniciou as atividades
do tribunal em 1478. Graças a ela, a Espanha foi um dos maiores impérios do século
XVI. Foi ela quem expulsou os mouros de Granada, unificou a Espanha e levantou
dinheiro para as viagens de Cristóvão Colombo, que chegou à América. Ou seja, a
Rainha Católica não deve nada ao movimento feminista, mas as feministas da
América devem muito a ela.

Há uma imperatriz da Rússia conhecida como “A Grande” (por aí medimos a sua


força). Seu nome era Sofia, mas quando se converteu à Igreja Ortodoxa mudou-o
para Catarina — era Catarina II, que reinou de 1762 até sua morte em 1796. Seu
governo revitalizou a Rússia e a fez respeitada como uma das maiores potências
europeias, e também levou a nobreza russa ao seu apogeu. Dizem que fez tudo isso
após uma conspiração contra seu próprio marido, mas não dizem nem dirão que ela
teve qualquer ajuda feminista para se tornar Catarina, a Grande.

E nós poderíamos continuar dissertando sobre os grandes feitos de Catarina e de


várias outras mulheres, mas acredito que esses exemplos foram suficientes para
demonstrar nosso ponto. As feministas querem se apropriar de muitas conquistas e
avanços dos quais não participaram. É o caso de rainhas, filósofas e governantes que
brilharam no passado sem nenhuma contribuição feminista. É também o caso de
muitas mulheres de hoje em dia que chegaram muito longe sem nenhuma ajuda
significativa desse movimento. Assim como as feministas tentam colocar suas digitais
no esforço individual de grandes mulheres do passado, tentarão fazê-lo com o seu,
com o meu e com o de todas as mulheres de hoje. Lembre-se: você é responsável
pelos seus atos e você é agente das suas próprias realizações.

V.
Também não podia estudar...
Ana Caroline Campagnolo

Só mesmo alguém que não leu muita coisa pode chegar à conclusão de que as
mulheres só começaram a estudar após o advento do feminismo, ou seja, a partir dos
séculos XIX e XX. A verdade é que muitas mulheres foram grandes intelectuais,
doutoras, professoras e até mentoras de políticos poderosos muito antes do
surgimento da primeira feminista. Para começo de conversa, além do caso famoso de
Aspásia de Mileto, que foi mentora de um grande estadista da Grécia Antiga no
século V a.C., e das inúmeras filósofas da Antiguidade como Areta de Cirene, que
viveu no século IV a.C., podemos destacar Hipátia de Alexandria, que foi
matemática há 1.500 anos.

Há também a médica naturalista Hildegarda de Bingen (1098 d.C.–1179 d.C.),


Heloísa de Paráclito (c. 1164), Catarina de Siena (1347–1380), a linguista e
matemática Maria Gaetana Agnesi (1718–1799), a mística Teresa d’Ávila (1515–
1582), a artista italiana de arte barroca Artemisia Gentileschi (1593–1653), a
ilustradora científica Maria Sibylla Merian (1647–1717), a escritora Mary Astell
(1666– 1731), a matemática chinesa Wang Zhenyi (1768–1797), a conhecidíssima
escritora Jane Austen (1775–1817), a paleontóloga inglesa Mary Anning (1799–
1847) e tantas outras. Muitas que apareceram após o levante do feminismo também
se destacaram sem ter nenhum engajamento com as feministas de sua época: Edith
Stein, Hanna Arendt, Ayn Rand, Judith Reisman, Phyllis Schlafly etc.

A civilização mesopotâmica é um dos primeiros conteúdos de história que


estudamos na escola. Nesta civilização, destaca-se o reinado de Sargão da Acádia —
que conseguiu unificar boa parte do território mesopotâmico —, mas poucos
ouviram falar de sua filha, a princesa Enheduanna. Ela é a autora mais antiga de que
se tem conhecimento, tendo escrito cerca de 40 obras literárias por volta de 4.300
anos atrás. É provável que outros escritores tenham produzido obras anteriores, mas
permaneceram anônimos, enquanto ela fazia questão de assinar seus textos. Até
estátuas foram erguidas em sua homenagem. Foi no Iraque, em 1927, que os
pesquisadores descobriram fragmentos de tabletes com escrita cuneiforme
relacionados a ela: “Mais de 100 fragmentos cobertos com cânticos, poemas,
músicas e histórias [...]. Desde a descoberta e escavação, pelo menos três grandes
trabalhos de Enheduanna foram traduzidos para o inglês [...], dois são cânticos de
devoção a Inanna, a poderosa deusa do amor, da guerra e da fertilidade”.1
Uma matéria publicada pela revista Aventuras na História explicou que não era
estranho que mulheres fossem íntimas da produção literária naquela região: “A
literatura na Mesopotâmia também contou com a presença feminina [...].
Enheduanna não foi a única. Historiadores revelam que muitas esposas de reis
também escreviam poesias. Além disso, era comum a adoração a uma deusa escriba
chamada Nidaba”, relatam os pesquisadores.2
Uma das mais famosas intelectuais da Antiguidade é a já mencionada Aspásia de
Mileto, que geralmente é lembrada porque influenciou e lecionou para um dos
maiores estadistas da Grécia Antiga: Péricles. Mas há outras tão grandes quanto ela.
Hipátia de Alexandria, que viveu mais de dois milênios atrás, foi educada pelo
próprio pai para que um dia pudesse sucedê-lo. Ela teve acesso a uma enorme e
conhecida biblioteca em Alexandria — destruída, anos depois, durante a ocupação
islâmica do califa Omar. Era filha do diretor de um museu em Alexandria e foi
influenciada por ele para estudar astronomia, lógica, religião, poesia, artes, ciências
exatas, álgebra, aritmética e até princípios de medicina. Dizem também que vivia sob
rigorosa disciplina, o que, naquela época, fazia parte do entendimento do que era
ideal para mente e corpo. Um dos seus alunos, chamado Sinésio de Cinere, grande
filósofo que acabou sendo nomeado bispo de Ptolemais, dedicou a ela um memorial.3
É considerada por muitos como a primeira mulher matemática. Ela construiu um
astrolábio, um hidrômetro e um higroscópio. Tudo isso sem a ajuda de feminismo
nenhum.

Em um dos livros feministas infanto-juvenis que se dedicam a comentar sobre a


vida de Hipátia de Alexandria, encontra-se uma afirmação assim: “Em uma época
em que as mulheres ficavam confinadas em casa [...] a vida de Hipátia era
extraordinária”.4
É recorrente o comentário de que as esposas gregas viviam reclusas, mas isso é muito
improvável. A maioria das pessoas eram pobres e precisavam trabalhar para viver. O
historiador Pedro Paulo Funari escreveu que “o casamento na Grécia Antiga
reproduzia a diferença entre ricos e pobres. Estes, camponeses ou artesãos, tinham
que trabalhar para sobreviver e casavam-se cedo”.5
Então, quando provamos esse ponto acerca da impossibilidade do confinamento
para humilhar as mulheres, as feministas reaparecem dizendo que, na verdade, só as
mulheres ricas e abastadas é que viviam reclusas. Talvez isso ocorresse quando uma
mulher podia mandar seus escravos fazerem algo por ela, o que certamente não
torna essa mulher uma oprimida. Lendo sobre a história de poder e influência de
Aspásia de Mileto sobre Péricles, Sócrates, outros filósofos e a cultura da época, é
difícil acreditar que as mulheres não podiam sair de casa. O mesmo acontece com a
vida de Hipátia. Como conhecer a história de Hipátia e concluir que as mulheres não
podiam nada? Segundo o professor Miguel Spinelli,6 apenas na Grécia Antiga
dezessete mulheres contemporâneas do filósofo Jâmblico foram citadas por ele como
“pitagóricas ilustres”, isso cerca de 300 anos antes de Cristo. Hipárquia, esposa de
Crates, é outro exemplo de mulher muito sábia e merecidamente reconhecida como
filósofa. Vale citar também Asioteia de Flios (393–270 a.C.), professora de física na
Academia de Platão, e Areta de Cirene (século IV a.C.), professora de filosofia
moral.

No entanto, sempre que citamos as gregas, alguém aparece para dizer que isso só
acontecia porque ainda não estavam sob o domínio da Igreja Católica e da Idade das
Trevas. É outra inverdade. Régine Pernoud pesquisou e escreveu sobre a Idade
Média, recebendo o Prêmio Gobert em 1997. Ela foi uma historiadora francesa
reconhecida no mundo todo, arquivista e paleógrafa. Em uma de suas obras7 explica
que, por volta do ano 1.000 d.C., “era muito comum confiar uma criança, menino
ou menina, a um mosteiro para que fosse educada”, mesmo não existindo nenhum
feminismo por lá. Aliás, muitos mosteiros da época eram chamados de “mosteiros
duplos” por terem alas masculinas e femininas; as meninas, portanto, podiam
estudar. Durante a Idade Média, a Igreja patrocinou os estudos de inúmeras
intelectuais posteriormente consideradas “doutoras da Igreja”. Inclusive, foi a
própria Igreja que criou as universidades no Ocidente e sustentou inúmeros homens
e mulheres para que pudessem se dedicar à vida intelectual.

Até o Papa já se pronunciou a respeito. Bento XVI afirmou que Santa Hildegarda
era um exemplo digno para explicar como viviam as pessoas inteligentes do medievo.
“Hildegarda manifesta a versatilidade de interesses e a vivacidade cultural dos
mosteiros femininos da Idade Média, ao contrário dos preconceitos que ainda pesam
sobre aquela época”.8
De fato, Hildegarda de Bingen (1098–1179) é a mais famosa da nossa lista.
Evidentemente, porque seus talentos eram tão impressionantes que não há quem
deixe de mencioná-la. Escreveu músicas e poemas originais e com impressionante
harmonia gregoriana. Era também médica naturalista, cientista, terapeuta,
dramaturga, escritora, teóloga, monja e abadessa da Renânia. Foi canonizada, é
considerada santa e doutora da Igreja — ou seja, tem reconhecida importância para
a doutrina da fé católica. Levando em conta que, no século XII, os conhecimentos de
medicina estavam centralizados nos judeus e árabes, pode-se dizer que os tratados de
medicina de Hildegarda foram os únicos apresentados no Ocidente naquela época.

“Dialogou com as mais notáveis personalidades do seu tempo, incluindo papas e


imperadores”,9 escreveu um dos prefaciadores de uma obra biográfica. Essa
influência se deve aos seus estudos de “teologia cósmica”, amplos, minuciosos e
preciosos. O abade francês Bernardo de Claraval era seu defensor incansável,
principalmente depois que ela começou a relatar as admiráveis visões que teve. Os
documentos10sobre ela apontam que “foi diversas vezes convidada a pregar em
público — e os clérigos que a escutavam pediam-lhe depois que lhes enviasse por
escrito os sermões proferidos”. Ela foi a maior mística da Idade Média, obviamente
sem precisar de feminismo nenhum. Certamente mais estudada, erudita e sábia do
que as feministas que você conhece.

Heloísa de Paráclito (1090–1164) foi contemporânea de Hildegarda. Muitos a


conhecem pela história de amor “Abelardo e Heloísa”, mas ela foi muito mais do
que uma apaixonada. Foi importante estudiosa, intelectual e religiosa. Quando tinha
17 anos, Heloísa foi enviada a Paris para estudar e depois teve um caso amoroso
com seu professor, Pedro Abelardo. Ou seja, meninas estudavam. Heloísa era culta e,
em especial, era muito boa com latim, grego, hebraico, lógica e dialética. Quantas
mulheres (ou feministas) de hoje você conhece que também são boas nisso? Quando
chegamos a este ponto, ouvimos outra objeção: mas na Idade Média tudo era
obscuro e as mulheres só serviam para ter filhos. As únicas mulheres que podiam
estudar estavam no convento, dizem as feministas. Então, convém mencionar a
duquesa Leonor de Aquitânia (1122– 1204), que não estava em convento algum e
teve dez filhos11que não a impediram de estudar, governar e lutar. Foi uma das
mulheres mais ricas e poderosas da Idade Média, tornando-se rainha consorte da
França e, depois, rainha da França e da Inglaterra ao mesmo tempo. O mais
impressionante sobre sua biografia é que ela liderou exércitos inteiros durante as
Cruzadas. Era culta e de uma família erudita. Muitos governantes homens da época
eram analfabetos, mas ela era fluente em oito idiomas, aprendeu também
matemática e astronomia, tendo discutido leis e filosofia com doutores da Igreja. A
historiadora Régine Pernoud escreveu: “Enquanto uma Leonor de Aquitânia e uma
Branca de Castela dominam realmente seus séculos, exercem poder sem contestação
no caso da ausência do rei, seja por doença ou morte, e têm suas chancelarias, suas
alfândegas, seus campos de atividade pessoal (que poderiam ser reivindicados)”.12
Dois séculos depois, destaca-se Catarina de Siena (1347– 1380), que foi filósofa
escolástica e teóloga. Atuou também politicamente, teve papel fundamental no
convencimento do Papa para que retornasse de Avignon para Roma e não hesitava
em opinar sobre o Grande Cisma do Ocidente. Ou seja, influenciou a história do
papado, o que não é pouca coisa. Seu principal tratado é O diálogo da Providência
Divina. Também escrevia para cardeais e príncipes.

Tão importante quanto Catarina foi Teresa, freira carmelita e mística. Teresa
d’Ávila (1515–1582) escreveu diversas obras e foi uma das reformadoras da Ordem
Carmelita. Por falar em reforma, há também Catarina de Bora (1499–1552), esposa
do reformador Martinho Lutero, que não deixou nenhum livro de sua autoria, mas
foi companheira intelectual à altura do marido e defendeu o acesso à educação para
outros homens e mulheres. Mas se Catarina de Bora não publicou nenhum livro,
outra protestante o fez: Anne Dutton, uma importante teóloga do século XVII, cujos
textos são lembrados até hoje.

Artemisia Gentileschi-Lomi nasceu na Itália em 1593 e foi a primeira mulher a ser


membro da academia de pintura de Florença. Foi um homem, Orazio Gentileschi
(seu próprio pai), quem a incentivou a ingressar no mundo das artes. Ele era um
pintor famoso e ela também se tornou famosa após pintar retratos e inúmeras obras
inspiradas em mulheres da Bíblia.13
Entre seus quadros mais conhecidos estão Judite

decapitando Holofernes e Susana e os anciãos (sua primeira pintura, feita quando


ela tinha apenas 17 anos). A pintura de Judite faz referência ao livro bíblico
(considerado apócrifo pelos protestantes) que conta como Judite ajudou o povo de
Israel matando o general Holofernes. O livro registra muitos versos em homenagem
a Judite: “Bendita sejas, filha, pelo Deus Altíssimo, mais que todas as mulheres da
Terra, e bendito seja o Senhor Deus, Criador do Céu e da Terra, que te conduziu a
cortar a cabeça do chefe dos nossos inimigos”.14
Eis uma grande mulher, Artemisia, prestando homenagem a outra grande mulher,
Judite.
Talvez os exemplos religiosos não sejam muito convincentes, o que seria um
desprezo bobo, principalmente se levarmos em conta que a humanidade sempre
viveu religiosamente. Mas para o caso dos leitores que têm preconceito com
mosteiros ou conventos, vale citar Maria Sibylla Merian (1647–1717). Ela foi uma
das primeiras a observar e estudar os insetos, um conhecimento que começou com o
incentivo de um homem — como já vimos ser muito comum na história de grandes
estudiosas —, seu padrasto. Lançou um livro em 1675 com ilustrações da natureza.
Em 1699, viajou para estudar. Ou seja, as mulheres estudavam e viajavam para
estudar antes de o feminismo existir.

Para concluir: não é verdade que as mulheres não podiam estudar absolutamente
nada ou foram sempre proibidas de aprender a ler, embora seja verdadeiro dizer que,
em alguns momentos da história, a maioria das pessoas (tanto homens quanto
mulheres) não tinha acesso à alfabetização ou à erudição. Ainda assim, olhe ao seu
redor. Em pleno século XXI, certamente conhecemos muitas pessoas diplomadas ou
graduadas, mas não conhecemos muitas pessoas verdadeiramente cultas ou eruditas.
Apesar de uma infinidade de conteúdos educativos gratuitos e acesso quase irrestrito
à alta cultura, quantas feministas você conhece que verdadeiramente vivem uma vida
de belas-artes, saberes científicos e cultura erudita, apreciando o melhor da
literatura, da música, da filosofia ou da física quântica? É difícil entender por quais
razões elas cobram erudição e refinamento intelectual das mulheres de séculos atrás
quando elas mesmas não parecem nada eruditas — e também soam muito mal-
educadas. Igualmente, é bastante incomum encontrar feministas com apreço pela
nobre atividade de alfabetizar e educar seus próprios filhos — algumas chegam a
considerar essa hipótese uma analogia a escravidão —, o que nos leva a crer que
talvez não estejam tão verdadeiramente preocupadas com educação assim. Há que se
considerar duas possibilidades: talvez as pessoas fossem mais cultas em tempos
passados do que parecem ser hoje, ou talvez apenas não existissem tantas pessoas
assim interessadas em erudição. Colocar a culpa de absolutamente tudo no
machismo superestrutural é muito mais fácil do que investigar seis milênios de
história.

As mulheres são ativas no campo da medicina desde que o mundo é mundo. A


mesma coisa vale para as místicas e sacerdotisas. Elas contribuíram
consideravelmente para a filosofia e a alquimia durante a Antiguidade. Foi uma
mulher, a filósofa Teano, quem cunhou o Teorema da Proporção Áurea. Mil anos
antes de Cristo, Rosvita de Gandersheim, que foi escritora e poetisa, incentivou
veementemente que as mulheres estudassem, dando um exemplo incorrigível. As
universidades italianas surgiram por volta do ano 1.000 d.C. e desde então as
mulheres puderam assistir a suas aulas e palestras. Muitas mulheres contribuíram
para as pesquisas acadêmicas dentro dos conventos e, mais tarde, nas universidades.
Laura Maria Caterina Bassi é considerada a primeira professora universitária a
assumir a cadeira de anatomia, em 1731, na Universidade de Bolonha. Foi o Papa
Bento XIV quem a nomeou como única mulher do grupo de estudos Benedittini.
Mas Elena Piscopia já havia recebido o diploma universitário mais de cem anos antes
e fora empossada como professora de matemática na Universidade de Pádua em
1678. Tudo isso sem feminismo nenhum.

Ou seja: não é verdade que você não poderia estudar, ser artista ou filósofa se o
feminismo não existisse.

VI.
...E nem votar!

Ana Caroline Campagnolo

As feministas costumam afirmar que a mulher não podia estudar, trabalhar ou votar
antes do feminismo, mas nunca provam de que forma, real e concretamente, o
feminismo conseguiu garantir ou obrigar a garantia do direito ao voto. Que tamanho
e que força o movimento feminista tinha no início do século XX para abrir a porta
da democracia contra a vontade da outra metade da humanidade — os homens — e
exigir a aceitação do voto da mulher? Existe alguma possibilidade de as feministas
terem conquistado o voto medindo forças contra os homens? Simone de Beauvoir
(1908–1986), feminista da segunda onda, escreveu que a mulher “não pode
enfrentar o macho na luta”. Então elas fizeram alguma coisa além de manifestações
ou passeatas? Isso é suficiente para garantir algum direito que os homens não
quisessem dar? Como os homens conquistaram o direito de votar? Essas questões
precisam ser apreciadas quando o assunto é o voto feminino ou sufrágio universal.

A França, país da revolução iluminista, terreno fértil do pensamento esquerdista e


feminista, é o país recordista em manifestações, passeatas e reclamações políticas de
todo tipo.

Mas a França foi um dos últimos países da Europa a conceder o voto à mulher. As
francesas só puderam votar em 1945. Até o Brasil — que dizem estar sempre
atrasado — concedeu esse direito às mulheres antes do que a França. A feminista
francesa Simone de Beauvoir escreveu um livro importante para o movimento logo
após a liberação do voto feminino: O segundo sexo. Neste livro, ela estava bastante
descontente com o comportamento apático de algumas mulheres e o feminismo
ineficiente de outras.

Muitos costumam se espantar ao serem informados que países como Armênia,


Estônia, Geórgia, Azerbaijão, Quirguistão, Zimbábue ou Quênia concederam à
mulher o direito de votar nos anos 1910, enquanto países considerados mais
“modernos” como Portugal, Mônaco ou Andorra só o fizeram décadas depois (em
1931, 1962 e 1970, respectivamente). No Reino Unido, as mulheres podem votar
desde 1928; na Suécia, desde 1921; na Dinamarca e na Islândia, desde 1915. E as
finlandesas receberam esse direito em 1906. Isso nos deixa pensativos.
Se o país mais feminista do mundo, a França, foi o mais atrasado da Europa a
permitir o voto feminino, então o feminismo não fez muita diferença por lá. Se o
movimento tivesse realmente a força que dizem que tinha, a própria Simone de
Beauvoir não teria se queixado dele. Ela escreveu:

Os proletários fizeram a revolução na Rússia, os negros, no Haiti, os indochineses


bateram-se na Indochina: [mas] a ação das mulheres nunca passou de agitação
simbólica; só ganharam o que os homens concordaram em lhes conceder; elas
nada tomaram, elas receberam. Isso porque não têm os meios concretos de se
reunir em uma unidade que se afirmaria em se opondo.1
Esse trecho foi publicado em 1949; as mulheres da França já podiam votar, mas,
para a filósofa feminista, elas tinham “recebido” esse direito — elas não o teriam
tomado; suas conquistas teriam sido todas “concedidas” pelos homens.

Temos mais exemplos. Desde 1918, as mulheres podem votar na Alemanha. Ou


seja, conseguiram esse direito antes da Inglaterra e da França, que tinham um
movimento sufragista muito mais agitador. A própria Gilla Dölle, diretora do
Arquivo do Movimento Feminista alemão em Kassel, afirmou: “Na Alemanha não
houve uma Emmeline Pankhurst que jogava pedras em vidraças e era presa”. Ou
seja, quanto mais se analisa a história dos países da Europa e Américas, mais se
percebe que não há nenhuma relação direta determinante entre “agitação de
movimentos feministas” e “conquistas femininas”.

O debate pela ampliação do direito ao voto acontecia porque muitos homens


também não podiam votar tanto no Brasil quanto em outras nações. Na terra de
Emmeline Pankhurst, o Reino Unido, antes de 1932 apenas uma parcela minúscula
de homens podia votar, o que significa que milhares e milhares de britânicos deram
suas vidas na Primeira Guerra Mundial que começou em 1914 sem nunca terem
exercido o direito que as sufragistas mulheres reivindicavam.

A mesma coisa se fez no Brasil. Na Constituição de 1824, eram considerados aptos


a votar para o governo local apenas cidadãos com mais de 25 anos e renda anual
mínima de 100 mil réis. Para votar em deputados, era preciso ter renda mínima de
200 mil réis. Mas quando se tratava de lutar as guerras do país, todos os homens
eram convocados e, mais uma vez, milhares de homens arriscavam suas vidas sem
receber esse direito aparentemente tão relevante para as mulheres sufragistas. Apesar
dessa inegável falta de proporção entre os direitos e deveres masculinos, muitos
ainda alegam que a cidadania no Brasil foi sempre uma “cidadania machista”, já que
a Constituição outorgada por D. Pedro I dava a entender que o cidadão ativo era
exclusivamente masculino.

O site do Tribunal Superior Eleitoral2 informa que o homem brasileiro que não se
alista não pode atualizar seu título de eleitor e evoca o texto de 1824:

Desde as primeiras formações sociais com a acomodação de Portugal após o


descobrimento, fez-se necessário defender o território de possíveis invasões e
conflitos locais. O artigo 145 da Constituição de 1824 demandou que todos os
brasileiros seriam obrigados a pegar em armas para sustentar a independência, a
integridade do Império e defendê-lo de seus inimigos [...]. A Constituição Federal
de 1988 apenas confirmou essa obrigatoriedade.

Ou seja, mesmo hoje, sem o alistamento militar obrigatório, os homens não podem
ser contratados por órgãos públicos mesmo se forem aprovados em concurso, não
podem regularizar a documentação para empregos formais e não podem tirar
passaporte, portanto, não conseguem viajar para fora do país. Dito de outro modo,
o trabalho e o sustento de um homem estão ligados a obrigações cidadãs que ele tem,
mas as mulheres não. Uma pessoa lúcida chama esse fenômeno de privilégio e com
um pouco de esforço consegue entender a relação óbvia entre votar e servir à nação
durante uma guerra.

Esse assunto não passava batido. Nas disputas do parlamento sobre a extensão ou
não do direito ao voto, alguns deputados — como o catarinense Lacerda Coutinho
— argumentavam que quem não fosse convocado à guerra também não deveria ser
convocado à eleição. A alegação era tão séria — não era o machismo de sempre,
como dizem as feministas — que a sufragista brasileira Leolinda

decidiu que suas alunas também deveriam participar do esforço de mobilização


militar e organizou aulas de esgrima para elas [...]. Para os políticos, o recado de
Dona Leolinda era muito claro: se tomar armas era condição de exercer o voto, as
mulheres estavam dispostas a defender a pátria,

relata Teresa Cristina Marques.3


O relato é empolgante, mas pouco representa. Aquelas alunas estavam brincando de
esgrima com a professora que as induzia a isso, enquanto todas as outras milhões de
mulheres do Brasil estavam muitíssimo longe da intenção de compor as fileiras da
frente no campo de batalha.

Para ilustrar, podemos citar o episódio “Stop ERA” da América do Norte: as


mulheres temiam tanto a possibilidade de alistamento militar que, lideradas por uma
antifeminista, fizeram campanha com os políticos para que derrubassem a Emenda
dos Direitos Iguais. As antifeministas e donas de casa venceram essa batalha
lideradas por Phyllis Schlafly e a ERA foi rejeitada.

Aqui no Brasil, entre as sufragistas que se destacaram estavam Leolinda Daltro, que
fundou o Partido Republicano Feminino, e a bióloga Bertha Lutz, que liderou a “luta
pelo voto”. Quando pesquisamos sobre o movimento sufragista no país,
encontramos muitas homenagens a Bertha, que organizou o primeiro congresso
feminista do país, a União Universitária Feminina, a Liga Eleitoral Independente, a
União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas. Ela também
fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher em 1919. Muito bonita a
intenção da Liga de Bertha Lutz, mas, em 1883, Izabel de Souza Mattos já havia sido
diplomada em odontologia pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e também
já havia obtido autorização para votar durante o período imperial (e as sufragistas
eram republicanas). A própria Bertha já era bióloga quando começou a defender o
direito das mulheres de estudar.

O evento mais famoso (talvez o pioneiro) do que as feministas chamam de “luta


pelo voto no Brasil” foi uma marcha organizada por Leolinda Daltro, que contou
com a presença de apenas cem mulheres. Apenas cem mulheres! Outros momentos
históricos demonstram o desinteresse das mulheres da época. Foi só em 1916 que a
Câmara recebeu “a primeira manifestação formal de uma mulher solicitando direitos
políticos”,4 apresentada por uma professora chamada Mariana de Noronha Horta
(ou seja, as mulheres podiam estudar). A própria Bertha Lutz, não tendo sido eleita
após anos defendendo os “direitos da mulher”, é prova desse desinteresse: ela se
candidatou em 1933 e não recebeu votos suficientes (ou seja, as mulheres que já
podiam votar não quiseram eleger uma mulher que dizia ter conquistado o direito ao
voto).

Em 1919, o Senador Justo Chermont apresentou o primeiro projeto de lei para


incluir as mulheres como votantes. A contribuição do movimento sufragista foi
recolher assinaturas para um abaixo-assinado. O projeto não vingou. Com a Lei nº
660 de 25 de outubro de 1927, o primeiro estado brasileiro a institucionalizar o voto
foi o Rio Grande do Norte. A decisão foi tomada pelo governador Juvenal
Lamartine. Mesmo depois de habilitadas, apenas 10% das mulheres compareceram
às urnas para votar no primeiro ano após a aprovação. Depois do decreto nacional
de Vargas em 1932 liberando as mulheres para votarem, nos meses seguintes o
“alistamento eleitoral foi realizado no Brasil inteiro. Em alguns estados o número de
mulheres que havia se inscrito ficou aquém do esperado”.5
Ninguém estava lhes impedindo, e ainda assim não compareceram às urnas. Como
disse Simone de Beauvoir, havia muita “agitação simbólica” sem resultado efetivo.

O que de efetivo sabemos é que Celina Guimarães Viana,6 natural do Rio Grande
do Norte, foi a primeira mulher brasileira a ter um título de eleitor, emitido um mês
após a Lei 660/1927. É conhecida por esse fato, mas a repercussão impressionou até
a ela mesma — que reconhece que o esforço nunca foi seu, nem de nenhum
movimento feminista. Em uma entrevista, conta que foi o seu marido quem teve a
iniciativa e correu atrás do documento que a fez entrar para a história como a
primeira mulher da América Latina a obter um título de eleitor:

Eu não fiz nada! Tudo foi obra de meu marido, que empolgou-se na campanha de
participação da mulher na política brasileira e, para ser coerente, começou com a
dele, levando meu nome de roldão. Jamais pude pensar que, assinando aquela
inscrição eleitoral, o meu nome entraria para a história. E aí estão os livros e os
jornais exaltando a minha atitude. O livro de João Batista Cascudo Rodrigues [...]
colocou-me nas alturas. Até o cartório de Mossoró, onde me alistei, botou uma
placa rememorando o acontecimento. Sou grata a tudo isso que devo
exclusivamente ao meu saudoso marido.

A declaração de Celina Guimarães exemplifica perfeitamente as queixas de Simone


de Beauvoir: as mulheres não conquistaram, elas receberam. As mulheres não
estavam interessadas nem engajadas o suficiente. Algumas poucas mulheres podiam
estar interessadas, mas mudanças sociais requerem mais do que isso. Aliás, no início
do século XX, G. K. Chesterton7 também mencionava o fato de que as sufragistas
eram poucas e a maioria das mulheres realmente não demonstrava muito interesse na
luta pelo voto feminino. Ele escreveu:

Se, por exemplo, todas as mulheres resmungassem por um voto, elas o


conseguiriam em um mês [...] mas seria necessário que todas as mulheres
resmungassem [...]. A objeção à filosofia das sufragistas é simplesmente a de que a
maioria dominante das mulheres não concorda com elas. [...] Essas pessoas
[feministas] estão praticamente dizendo que as mulheres podem votar tudo, exceto
o [próprio] sufrágio feminino.

E por mais interessante que isso pareça, realmente houve uma votação sobre o voto
feminino e a maioria das mulheres da convenção votou não. Isso aconteceu em 1848
em Seneca Falls. E aconteceu novamente cem anos depois.

A feminista Esther Vilar comentou sobre isso em um debate contra Alice


Schwarzer: estranhamente, em vários plebiscitos feitos na Suíça, as mulheres foram
consultadas e votaram reincidentemente contra a inclusão do direito feminino ao
voto. Esther escreveu, em seu livro O homem domado, publicado em 1971:

Na Suíça, um dos Estados mais desenvolvidos do mundo, as mulheres ainda não


possuem o direito de voto geral. Há pouco tempo e em determinado cantão suíço
pediram às mulheres para votar sobre a introdução do direito de voto feminino —
a maioria decidiu-se contra. Os homens suíços ficaram atônitos, pois julgavam que
essa situação indigna era o resultado da sua tutela centenária.

Aqui cabe uma explicação. Quando se estuda história, existem fontes primárias e
fontes secundárias. As fontes primárias e mais importantes são aquelas que foram
produzidas na mesma época em que os fatos aconteciam. Chesterton viveu na mesma
época em que acontecia a luta do sufrágio e acompanhou tudo de perto. Ele e as
feministas que produziram fontes primárias sobre o movimento sufragista deixam
claro a baixa adesão das mulheres comuns. A tudo isso podemos somar outra
afirmação do livro O segundo sexo de Beauvoir: “Recusar a cumplicidade com o
homem seria para elas [as mulheres] renunciar a todas as vantagens que a aliança
com [os homens] pode lhes conferir”.8
Por fim, no Brasil, o Decreto 21.076 que permitia o voto feminino foi assinado em
1932 por Getúlio Vargas. Para as mulheres, o voto era facultativo, e para todos os
homens, era obrigatório. Também era obrigatório para mulheres que votassem caso
fossem funcionárias públicas. É divertido lembrar às feministas brasileiras de que
elas só podem votar graças a um ditador fascista. Também é muito engraçado
imaginar que Vargas fosse feminista, pois certamente não era nem quereria ser.

Mas, afinal, se não foram as feministas que conseguiram a autorização para o voto
feminino, quem foi? Uma resposta simplista pode ser bem escandalosa: foram os
homens que planejaram a República, a democracia e o liberalismo — e foi a
evolução cultural deles que permitiu às mulheres fazer parte dessas conquistas.
Quase todas as boas coisas que os homens têm feito pelas mulheres foram feitas sem
nenhuma coação (até porque as mulheres não teriam força para “enfrentar o macho
na luta”, como disse Simone de Beauvoir). Os homens, estes sim, derramaram suor e
sangue para acessarem o voto.

Vários movimentos lutavam pelo sufrágio universal antes do feminismo. O


liberalismo clássico, por exemplo, apareceu muito antes de qualquer bandeira
feminista. Tanto é assim que o voto feminino era defendido por parlamentares
liberais em todo o mundo. Aqui no Brasil, um de seus grandes defensores era o
senador José Antônio Saraiva, do Partido Liberal,9 e seu colega de partido, o
deputado César Zama. O movimento pelo sufrágio universal não era uma questão de
sexo, mas de cidadania plena, pois pretendia incluir a maioria dos homens que
também não podia votar. Para os sufragistas universais, o voto deveria ser concedido
independente de religião, cor, raça, propriedade ou condição financeira. Para outros,
era preciso educar as pessoas primeiro. A cartilha sobre “O voto feminino no
Brasil”,10publicada pelas Edições Câmara, explica que “enquanto Mill defendia o
sufrágio universal para eleitores qualificados, isto é, alfabetizados, Comte não
apreciava a ideia de haver muita gente interferindo no governo, pois achava que isso
abriria espaço para paixões políticas” e todo esse debate acontecia antes de qualquer
primeira passeata promovida por coletivos do feminismo.

Resumindo: todos os povos onde os homens obtiveram licença para votar passaram
por guerras e batalhas sangrentas, mas, nesses mesmos povos, as mulheres obtiveram
as mesmas conquistas sem nenhum sangue derramado. Estima-se que apenas nos
Estados Unidos foram 600 mil homens mortos na luta pela República no século
XVIII. Se somarmos todas as mulheres do mundo inteiro que morreram pelo
sufrágio universal não chegaremos ao número de mil. Talvez não cheguemos a cem.
Fica o desafio de pesquisar e citar dez nomes femininos de mulheres sacrificadas na
“luta pelo voto feminino”.

Aliás, não há problema em tentar ajudar o leitor nesta busca.

Olympe de Gouges (1748–1793) foi uma mulher que morreu lutando, não
exatamente pelo voto feminino, mas por direitos políticos. Mas é interessante
lembrar que Olympe incentivou uma revolução que se insurgiu também contra uma
mulher, a Rainha Maria Antonieta e, depois, quem mandou matá-la, em 1793, foi
Robespierre, o mesmo líder revolucionário da esquerda que ela apoiou na França.
Mas acredito que possamos mencionar algumas militantes sufragistas que
realmente tenham lutado com “unhas e dentes” ou, melhor, “arriscando a própria
pele”, ainda que nunca tenham empreendido uma guerra de verdade. Emily Wilding
Davison (1872–1913) morreu pisoteada durante uma manifestação sufragista no
início do século XX. Foi atropelada por um cavalo da frota do Rei George V, mas
até hoje se especula que pode ter se atirado contra o cavalo. Ou seja, os episódios
são raros e ainda duvidosos.

O caso mais conhecido é o das sufragistas lideradas por Emmeline Pankhurst


(1858–1928). É bem relevador conhecermos a trajetória de luta dessa mulher para
entendermos por que a maioria das mulheres não estava tão engajada assim como
dizem na busca pelo direito de votar. Ela criou um movimento que não era apenas
sufragista, mas acima de tudo socialista. Seu próprio marido, Richard, foi o primeiro
a aderir aos ideais revolucionários.

O apoio ao voto feminino não tinha dono, não era coisa exclusiva de feministas.
Vários movimentos operavam ao mesmo tempo. Emmeline liderava a Women’s
Social and Political Union (WSPU) e as suas filhas se envolveram na mesma
organização. Christabel foi presa por cuspir em um policial em 1905, Adela e Sylvia
foram presas em 1906 durante uma manifestação no Parlamento. E Emmeline foi
presa pela primeira vez em fevereiro de 1908 por tentar entrar no Parlamento para
entregar um documento de seu interesse.

Emmeline reclamava que outros políticos se envolviam demais em questões


partidárias e deixavam o sufrágio feminino em segundo plano. Pontuou algo assim
quando fez parte do Partido Trabalhista Independente. Talvez isso acontecesse
exatamente porque política se faz com partidos e não com fetiches ou interesses
pessoais. O exemplo democrático de Pankhurst também não era dos melhores. Ela
resistia em democratizar o WSPU e chegou a cancelar as reuniões anuais. Revoltadas
com essa postura, Teresa Billington-Greig e Charlotte Despard saíram da
organização e criaram a Women’s Freedom League. A Women’s Franchise League
(WFL) também apoiava os sindicatos e fazia aliança com partidos socialistas. Os
grupos pró-sufrágio que eram conservadores, portanto, faziam oposição direta aos
coletivos como esse. A própria Pankhurst contrariava a WFL por achar que eram
moderados demais.

A condução radical da WSPU continuou a mostrar a verdadeira face do movimento


feminista. Antigas lideranças abandonaram o projeto. A própria filha de Pankhurst,
Adela, saiu da organização brigando com a família, pois ela não apoiava os atos de
violência e vandalismo que vinham acontecendo. Tamanha era a cegueira ideológica
que Emmeline e Christabel também expulsaram do movimento sufragista a própria
filha/irmã Sylvia e compraram uma passagem para mandar Adela para a Austrália.
Adela nunca mais reencontrou a mãe.

Sylvia Pankhurst publicou seu livro em 1931, The Suffrage Movement, e conta que
sua irmã e a mãe Emmeline lhe disseram: “Tu tens ideias próprias. Não queremos
isso. Queremos que todas as nossas mulheres sigam as suas instruções e marchem em
linha como um regimento”. Ora, esse não era um movimento de todas as mulheres?
Pelo visto, não era — como ainda hoje não é.

É comum encontrarmos mulheres que já foram atacadas, difamadas, prejudicadas


ou expulsas de algum projeto apenas por não concordarem com a cartilha feminista.
As duas feministas que lideravam a WSPU chegaram a proibir que Sylvia usasse o
termo suffragettes. Ou seja, assim como as feministas de hoje, elas queriam ser as
donas da pauta, as donas da luta. Muito estranho para quem realmente estivesse
interessada na conquista do voto feminino. Sylvia escreveu ainda:

Eu estava demasiado cansada e doente para discutir, por isso não respondi. Sentia-
me oprimida por um sentimento de tragédia, triste com a sua crueldade. A sua
glorificação da autocracia parecia-me completamente alheia à luta que
travávamos, aquela luta negra que ainda vive nas minhas células. Pensei nas outras
pessoas que tinham sido afastadas por pequenas diferenças de opinião.

Estranhamente, a luta pelo voto feminino (inclusive a luta liderada por Emmeline)
arrefeceu quando a guerra começou. As sufragistas da WSPU suspenderam suas
atividades militantes, houve uma trégua com o governo e todas que estavam presas
foram soltas. Será que as mulheres ligaram os pontinhos? Talvez tenham percebido
que quem vota também deve lutar. Com os primeiros sinais do início da Primeira
Guerra Mundial em 1914, Emmeline e sua turma mudaram de foco: o objetivo então
era mandar os meninos e homens para a guerra. Todos os homens deveriam se
alistar, disso dependia a vida das mulheres inglesas. As mulheres que não
concordavam com Emmeline continuavam a serem convidadas a cair fora da WSPU.

O medo da guerra era tão descarado que Emmeline e suas feministas fizeram parte
de um movimento chamado Pluma Branca. Segundo o diário de Sylvia, Emmeline
teria viajado “por todo o país, fazendo discursos pró-recrutamento. Suas apoiadoras
entregaram a pluma branca a cada homem jovem que elas encontrassem vestindo
roupas civis e se reuniam no Hyde Park com cartazes dizendo: ‘Prendam todos eles’”.

A Ordem da Pluma Branca, que começou em agosto de 1914, tinha o objetivo de


humilhar e constranger qualquer homem britânico (mesmo aqueles que não podiam
votar) caso não estivessem na guerra lutando para proteger as mulheres e as crianças
inglesas. Qualquer homem que não se alistasse no exército ou não estivesse usando
uniforme de guerra receberia, das feministas de plantão, uma pena branca como
símbolo de sua covardia. Não é preciso dizer que essas feministas que constrangiam
os homens a irem para a guerra não tinham elas mesmas nenhuma intenção ou
coragem de ir.

Durante a guerra, Emmeline viajou para a Rússia e voltou de lá transformada. Em


uma famosa entrevista, ela criticou o líder russo e sinalizou que o comunismo queria
destruir a civilização. Ao voltar de viagem, descobriu que o voto feminino estava
prestes a ser aprovado — justamente depois que as ações militantes diminuíram. A
família nunca mais foi a mesma, desunida por divergências políticas. Christabel, que
fora radical ao lado da mãe na direção da WSPU acabou se tornando uma cristã
adventista. A própria Emmeline que já tinha composto o Partido Trabalhista,
acabou, depois da Primeira Guerra Mundial, tornando-se uma anticomunista filiada
ao Partido Conservador que tinha vencido as eleições com maioria absoluta. Ela
teria dito que sua experiência “na guerra e [...] no outro lado do Atlântico mudaram
consideravelmente” seu ponto de vista.

O Portal G1 publicou uma matéria sobre o centenário do voto na Inglaterra. No


portal, lemos que

alguns historiadores acreditam que o papel desempenhado pelas mulheres durante


a Primeira Guerra Mundial contribuiu mais para a adoção da lei de 1918 do que
as ações extremas das sufragistas. Nos campos, nas fábricas, nos escritórios e nas
lojas, as mulheres assumiram postos deixados pelos homens que partiram para o
front. Seu papel na sociedade foi profundamente transformado.11
Ou seja, diversos fatores sociais e econômicos que apareceram “naturalmente”
foram muito mais eficientes na expansão do voto do que a própria “luta” pelo
voto — o que, obviamente, não foi dito nestes termos pelo Portal G1. O
historiador citado na matéria, Joshua Goldstein, autor do livro Guerra e gênero,
afirma que “muitas feministas esperavam que seu esforço patriótico durante a
guerra apoiasse sua demanda de ter direito ao voto”.

É mais fácil acreditar firmemente que “muitas feministas” perceberam que, se elas
tivessem que lutar na guerra para obter o direito ao voto, estariam fazendo um mau
negócio. Por fim, as primeiras reformas pelo voto na Inglaterra saíram quando a
guerra terminou. E o que nos perguntamos todo o tempo é: quão longe as sufragistas
estavam dispostas a ir? E quantas sufragistas realmente estavam dispostas? Algumas
delas explodiram bombas e outras fizeram greve de fome. Em uma matéria sobre a
morte de Emily Davison, lemos a explicação da autora Diane Atkinson de que

elas iam às mesmas igrejas de políticos importantes aos domingos, por exemplo, e
os confrontavam com o tema [do sufrágio feminino] [...]. Elas descobriam onde os
políticos jogavam golfe e estragavam a diversão deles. Elas alteraram os limites do
que era visto como um comportamento aceitável de mulheres, numa dimensão
nunca vista.12
Também interrompiam discursos políticos e provocavam a polícia13 para serem
presas, conseguindo assim atrair a atenção para sua causa.

Emmeline incentivou Edith Garrud (1872–1971) a ensinar jiu-jitsu para as


integrantes do movimento sufragista — o que ela já estava fazendo com frequência
em 1910. A filha de Emmeline, Sylvia Pankhurst, afirmou em um discurso14 de 1913:
“A polícia sabe jiu-jitsu. Eu aconselho vocês a aprenderem jiu-jitsu. As mulheres
devem praticá-lo, assim como os homens”. Emmeline conseguiu um grupo de 30
mulheres que serviam para protegê-la com pedaços de pau escondidos nas roupas.
Tudo bem concluirmos que esse pequeno grupo tinha uma aparência de luta, mas, se
falarmos a sério, não há a menor condição de as considerarmos um páreo para
qualquer pelotão, guarda municipal ou meia dúzia de homens dispostos a destruí-las.

E a questão é justamente esta: os homens não queriam destruir essas mulheres, eles
não tinham medo e muito provavelmente achavam graça. Chesterton,15 que estava
na Inglaterra e conhecia as sufragistas pessoalmente, escreveu:

A guerra é algo pavoroso, mas [...] na guerra descobrem-se duas coisas urgentes:
quantos rebeldes estão vivos e quantos estão dispostos a morrer [...]. A objeção às
sufragistas não se deve a serem sufragistas militantes. Ao contrário, deve-se a não
serem militantes o suficiente.

Uma revolução é algo militar, ela tem todas as virtudes militares, dentre as quais a
virtude de chegar ao fim. Dois grupos combatem com armas mortais, mas, sob
certas regras de honradez arbirária, o grupo que vence se apossa do governo e
começa a governar. [...] Ora, as sufragistas não podem empreender uma guerra
civil nesse sentido militar e decisivo. Em primeiro lugar, porque são mulheres; em
segundo lugar, porque são pouquíssimas.

E para que não digam que essas são palavras enviesadas de um antifeminista,
lembramos de Kate Millet, autora de Política sexual, que também reclamava da
baixa adesão ao feminismo em seu livro. Betty Friedan, uma feminista americana
consagrada como uma das maiores escritoras da segunda onda, algumas décadas
após a “conquista” do voto na América do Norte, escreveu:

O sexo [feminino] não lutou na Revolução Francesa, não libertou os escravos nos
Estados Unidos, não derrubou o czar russo, não expulsou a Grã-Bretanha da
Índia, mas quando a ideia de liberdade humana move a mente dos homens, ela
também move a mente das mulheres.16
Foi nesse contexto que todas as vezes, em todas as partes do mundo, que houve
um aumento da liberdade humana, as mulheres conquistaram uma parte dela para
si.

Na maioria dos países foi assim por décadas e décadas: todos os homens lutavam
nas guerras e mesmo assim alguns homens não podiam votar. Nenhuma mulher
podia votar, mas também não ia à guerra. Até que em algum momento, todos
puderam votar, mas alguns continuaram não precisando ir à guerra e, nesse caso,
foram precisamente as mulheres. Não há como ser mais claro. A grande questão aqui
é que muitas mulheres podem realmente estar interessadas em votar, mas,
certamente, não são muitas que estão e estiveram dispostas a lutar e morrer pelo
voto. Essa é a diferença fundamental entre a conquista do direito ao voto pelos
homens e a concessão de direito ao voto feito às mulheres.
Alguém que ignore todos os dados históricos mencionados poderia argumentar que
esse desinteresse político das mulheres era fruto de uma cultura que não as
estimulava ao engajamento no debate público. No entanto, hoje há uma imensidão
de campanhas de incentivo, ações afirmativas e programas públicos voltados a
aumentar a participação das mulheres na vida pública. Mesmo com essa excessiva
propaganda de “conscientização” feminina, amplo acesso aos meios de comunicação
e trabalho, as mulheres continuam relativamente desinteressadas. A contrario sensu,
isso não acontece em outros âmbitos. No mercado de trabalho, as mulheres
adentraram maciçamente. Nas universidades, já são a maioria das diplomadas. A
educação de base é a mesma para homens e mulheres. Continuarão a usar a desculpa
do machismo? Ninguém considerará a hipótese de que homens em geral e as
mulheres em geral podem ter preferências diferentes? Ninguém terá coragem de dizer
o que salta aos olhos? É preferível deixar essa resposta com Ludwig von Mises, que
escreveu em 1922:

Enquanto o movimento feminista se limite a buscar igualar os direitos jurídicos de


mulheres e homens, dar segurança quanto às possibilidades legais e econômicas de
desenvolver suas faculdades e de manifestá-las mediante atos que correspondam a
seus gostos, a seus desejos e a sua situação financeira, serão somente um ramo do
grande movimento liberal que encarna a ideia

de uma evolução livre e tranquila. Se, ao ir além destas reivindicações, o


movimento feminista crê que deve combater instituições da vida social com a
esperança de remover, por este meio, certas limitações que a natureza impôs ao
destino humano, então já é um filho espiritual do socialismo. Porque é
característica própria do socialismo buscar nas instituições sociais as raízes das
condições dadas pela natureza, e, portanto, independentes da ação do homem, e
pretender, ao reformá-las, reformar a natureza humana mesma.

VII.
A mulher tem que entrar na política (por cota) para defender
seus interesses

Ana Caroline Campagnolo

Todos já perceberam que, na política, cada homem pensa de um jeito. Existem


homens socialistas e outros liberais; existem homens que querem a redução da carga
tributária e outros que querem taxar grandes fortunas. Homens eliminam outros
homens quando são inimigos políticos — lembre-se de Trotsky ou de Thomas More.
Homens perseguem outros homens até a morte, plantam armadilhas, instalam
escutas, cortam cabeças, desafiam para duelos mortais. Lembre-se do primeiro
secretário do tesouro e do vice-presidente dos EUA, que se enfrentaram em um duelo
de pistolas: assim morreu Alexander Hamilton com um tiro no abdômen em 1804.
Se os homens pensam tão diferentemente entre si, por que as mulheres deveriam ser
todas iguais ou defender a mesmíssima coisa? Não deveriam e não defendem. Não é
verdade que as feministas querem mais mulheres na política. Posso afirmar com
propriedade e experiência. Sou a única mulher conservadora do parlamento
catarinense e não tenho dúvidas de que as feministas prefeririam que um homem
esquerdista tivesse sido eleito em meu lugar. O que elas querem são mais feministas
na política. Já passou da hora de entender que essas duas coisas não são sinônimas.
“Mulher” e “feminista” não são a mesma coisa.

Representar os interesses feministas é possível, porque elas são como um partido,


estão ligadas por adesão a uma ideologia. Representar as mulheres, todas as
mulheres, é impossível. Ser mulher é uma condição de nascimento, não uma opção
política por adesão. Assim como os homens não conseguem se unir em um mesmo
partido, também não o conseguem as mulheres.

O argumento vendido pelas feministas é de que a presença da mulher na política


tem um valor inerente ao seu sexo, ou seja, somente por ser mulher já se cumpre um
papel importante. Como se eleger uma mulher fosse bom em si mesmo, afinal, é uma
presença feminina. Ninguém melhor do que uma filósofa influente e de sucesso para
responder a essa falsa premissa de representatividade feminina.

Em 1979, quase cinco mil pessoas lotaram o The Felt Forum no Madison Square
Garden para ouvir Ayn Rand (1905–1982), na época com 74 anos e milhares de
livros vendidos. Meio século atrás, ela era uma escritora bem-sucedida, uma
intelectual famosa e respeitada que renegava o movimento feminista. Perguntaram-
lhe, naquele evento:

“Sra. Rand, em seus livros você retrata mulheres muito fortes. Eu queria saber por
que você acha que, no mundo, nós não temos líderes femininas fortes”, ao que ela
respondeu: “Você está falando da libertação das mulheres e todo esse movimento
[feminista]? [Essa] é uma questão totalmente falsa. Mulheres são seres humanos e
precisam de líderes assim como os homens [...] mas vamos analisar na política.
Elas precisam de

líderes que sejam homens ou mulheres de acordo com os méritos dos líderes. Não
existe tal coisa, uma líder exclusiva para mulheres, assim como seria ridículo dizer
que vamos ter líderes exclusivos para homens”.

Neste ponto, ela foi interrompida pelo apresentador, um homem, que disse para
uma mulher o que as mulheres querem: “Mas a questão é que as mulheres acham,
por causa de inibidores culturais que foram colocados sobre elas, que algum tipo de
liderança feminina é necessária para compensar, para quebrar essas barreiras e
corrigir erros do passado”. Ayn Rand prontamente respondeu: “Você pode fazer isso
apenas através da educação. Se as mulheres sentem que há preconceito contra elas,
você corrige isso espalhando as ideias certas, de que intelectualmente as mulheres
não são inferiores aos homens, mas fisicamente elas certamente são”, e foi
novamente interrompida pelo entrevistador que disse que essa conscientização e
educação eram exatamente o que as feministas estariam fazendo naquelas décadas de
1960 e 1970. A filósofa e autora não concordou: “Não, elas estão pedindo poder do
governo [leis, privilégios] e esmola [cotas] do governo. Elas saem por aí tirando
empregos dos homens, pois você tem que ter uma cota de tantas mulheres...”, sendo
novamente interrompida, mas, dessa vez, por fortes aplausos da plateia. E continuou
dizendo que “não se combate um mal com outro. Se as mulheres acham que são
vítimas — eu não acho, mas vamos supor que as mulheres tenham sido injustiçadas
— que não pratiquem o que dizem que foi feito contra elas”.

— Então o que as mulheres devem fazer? Ficar em casa assando pão? — Não;
procurem qualquer carreira que elas queiram, exceto estivador ou jogador de futebol
americano, e lutem

por suas carreiras como qualquer homem tem que lutar.

— Você lutaria por alguma coisa? — Como é que eu vim parar aqui? (aplausos).

Ayn Rand usou a história de sua própria vida para explicar algo óbvio: se uma
mulher quiser chegar onde os homens estão, deve lutar como os homens lutaram, ou
seja, estar disposta aos mesmos esforços e sacrifícios sem facilidades, sem trapaça,
sem privilégios governamentais.

Em uma matéria sobre esse mesmo assunto publicada na Revista Exame


recentemente, várias mulheres proeminentes foram entrevistadas: “Chegamos longe,
mas não precisava ter sido tão difícil”, comentou a empresária Luiza.1
A questão é justamente essa: é difícil, e o nome dessa dificuldade não é “machismo”,
é “mercado”. Em outra entrevista, desta vez para o canal GNT em 2017, a filósofa
Camille Paglia, mesmo sendo feminista, delimitou com clareza o que seria uma luta
justa por igualdade:

Na minha opinião, oportunidades iguais é tudo que o feminismo deve exigir [...] a
responsabilidade pessoal é a base do meu código. Você deve buscar a informação,
você deve buscar a felicidade. Pare de pedir ao Estado e à burocracia para
mandarem pessoas que façam você feliz. Essa não é a receita da liberdade das
mulheres. Isso é um retrocesso. Isso faz do Estado o guardião das mulheres e elas
ficam passivas.2
É nesse momento — se concordarmos com a definição da feminista Camille — que
temos liberdade para dizer que “não precisamos do feminismo”. Paglia está
afirmando o que já é ponto pacífico para os liberais, e levando em conta que o
liberalismo veio antes do feminismo, essa é apenas uma pauta mal copiada pelas
feministas. Mal copiada porque o feminismo não luta por oportunidades iguais,
mas por ações afirmativas que levem a resultados iguais pela força de lei — aquilo
mesmo a que Rand se referiu como “migalhas do governo”, com o que não
podemos concordar se formos honestos.
É interessante observar que mesmo alguns portais feministas divulgam esses dados
sem se dar conta da contradição:

O TSE identificou que 16.131 candidatos não tiveram nenhum voto. Mais
interessante: 89,3% deles, ou

14.417 destas pessoas, eram mulheres. Esses nomes, na verdade, são incluídos pelo
partido apenas como forma de cumprir a cota [...]. Assim, estas ações afirmativas
não tiveram o sucesso que as feministas sonharam e tanto lutaram [...] mas talvez
a desilusão com os pífios resultados obtidos nas eleições explique o pouco
interesse feminino com a militância partidária.3
Ou seja, as feministas conseguiram colocar mais de 14 mil mulheres em situação
de “candidatura-fantasma”. Tal acontecimento é consequência direta de uma
política forçada de cotas, uma vez que as mulheres não são impedidas de
participar da política, e mais: compõem maioria do eleitorado (52%), sendo
dotadas de plenas condições para exercer a cidadania e soberania, tanto como
eleitoras quanto como candidatas.

Aqui, provavelmente, alguma feminista aparecerá para afirmar que o problema


continua sendo o sistema e que, afinal de contas, precisa-se de mais cotas ainda. Nós,
porém, podemos sugerir com tranquilidade que as mulheres não estão ocupando
sequer os seus 30% por simples desinteresse. Em outras áreas, onde elas
demonstraram real interesse de participação, já se tornaram maioria (como nas
universidades), ou estão pelo menos muito perto de ser 50% (como no mercado de
trabalho). Um artigo científico publicado na Scielo Brasil foi claro sobre essa
inserção: “A melhora nos índices de escolaridade das mulheres pode ser percebida
em todos os níveis educacionais, porém mais intensamente no grupo com nível
superior, estrato no qual apenas 25% eram mulheres em 1970, mas que no ano 2000
passa a ser majoritariamente feminino (53%)”.4
As mulheres também são maioria na entrega e publicação de artigos científicos, mas
não há nenhum sistema de cotas regulando o que as revistas elegem para publicar.
Também se destacam na gestão do nosso sistema público de saúde. Inclusive, nas três
últimas edições da mostra “Brasil, aqui tem SUS”, dos 78 trabalhos premiados mais
de 50 foram escritos por autoras femininas. Isso tudo para mostrar que as mulheres
são capazes, sem o auxílio de cotas, de ocupar os espaços públicos se realmente for
do seu interesse.

Como se não bastassem os problemas e injustiças intrínsecos dessas ações


afirmativas, nós já temos exemplos de mulheres sendo diretamente prejudicadas por
um sistema cotista aparentemente instalado para beneficiá-las. Vamos ao caso mais
recente, o Chile.

As feministas chilenas lutaram por “paridade de gênero” (o certo é “sexo”) na


política do país. Isso significa: queriam igualdade no número absoluto de homens ou
mulheres ocupando cadeiras elegíveis. Em 29 de outubro de 2020, o Instituto
Humanitas Unisinos comemorou com a seguinte matéria: “Paridade de gênero na
elaboração da Constituição chilena é vitória do movimento feminista”. O texto
conta ao leitor que o Chile será o primeiro país a ter uma carta magna escrita em
condição de paridade de sexo por causa de uma “cota” aprovada em 2020. Os
constituintes eleitos serão metade homem, metade mulher. Segundo os especialistas
citados pela matéria, esse foi um fruto feminista. “A proposta de nova Constituição
venceu por 78,9% dos votos, contra 21%. Além da paridade de gênero, os eleitores
também decidiram que o novo documento será redigido por meio de uma
Assembleia Constituinte composta por 155 membros, inteiramente renovada, sem a
participação de legisladores já eleitos”,5explica. Uma das entrevistas mencionou que
até algumas políticas de direita apoiaram a tal “paridade”. Em 16 de maio de 2021,
manhã de domingo, vários portais noticiaram com entusiasmo as expectativas de que
mulheres seriam beneficiadas nos assentos da Assembleia Constituinte, que seriam
eleitos nas horas seguintes. A CNN publicou: “Como o Chile está montando a 1ª
Constituinte do mundo com igualdade de gênero: chilenos elegem neste fim de
semana a Assembleia que reformará Constituição do país; por regra, número de
homens e mulheres deverá ser igual”.6
A expectativa de que as mulheres saíssem na “vantagem” em comparação ao que
ocorreria em uma eleição sem cotas era geral. Porém, o que aconteceu foi que, três
dias após a votação, algumas mulheres eleitas foram prejudicadas e as notícias
deixaram de ser tão animadoras: o portal Poder 360 anunciou que “Paridade na
Constituinte faz mulheres cederem 11 cadeiras a homens no Chile”. Explicando: 699
mulheres e 674 homens foram eleitos, mas apenas 77 mulheres puderam assumir o
cargo; contra 78 homens, já que a norma também previa que o sexo “que superasse
o outro em quantidade de votos deveria ceder lugar para corrigir a disparidade”.7
O site Agência Brasil8 publicou: “As candidatas mulheres foram as mais votadas nas
eleições [...] mas a lei de igualdade de gênero, criada para evitar um predomínio
masculino, obrigou-as a ceder vagas aos homens, segundo o Serviço Eleitoral
chileno”. Em outro trecho, o prejuízo feminino foi escancarado: “O mecanismo de
‘correção de resultados por sexo’ das eleições de domingo (16) acabou por favorecer
os homens quando o seu espírito, embora visasse à paridade, foi pensado para
beneficiar as mulheres [...] das 11 mulheres que cederam lugares aos homens, quatro
foram indígenas”. Se não existisse esse sistema feminista de cota, 89 mulheres e 66
homens teriam sido eleitos; mas, por causa do sistema de paridade, foram apenas 77
mulheres.

Podemos imaginar outros cenários em que cotas semelhantes poderiam ter


prejudicado diretamente às mulheres. Décadas atrás, o movimento feminista chegou
a sussurrar nos corredores da política a necessidade de estabelecer cotas de resultado
para o ingresso nas universidades. Se tivesse sido aprovado, esse sistema prejudicaria
diretamente as mulheres do nosso país, além de ser, evidentemente, inerentemente
injusto. Segundo a revista Exame,9“há mais de duas décadas as mulheres são maioria
nas universidades brasileiras”. Segundo o INEP, em 2006 as mulheres representavam
56,4% das matrículas em cursos de graduação; em 2016, esse número subiu para
57,2%. Um estudo mais recente da OCDE revelou que as mulheres brasileiras têm
34% mais probabilidade de se formar no ensino superior do que seus pares do sexo
masculino. Camila de Moraes,10analista de educação, explica que “a taxa de
conclusão do ensino médio, por exemplo, já é consideravelmente mais elevada entre
meninas que meninos. Além disso, meninos têm uma tendência maior de repetir o
ano e de abandonar a escola que meninas”. As mulheres também são maioria nos
cursos de pós-graduação, e não apenas no Brasil: nos Estados Unidos, para cada 100
homens na universidade há 140 mulheres; e, na Suécia, 150 mulheres para cada 100
homens.11
Essa reviravolta demonstra que indivíduos ou coletivos podem mudar seu status ou
condição sem ajuda de ações afirmativas. Vejamos o caso da Escócia: até o século
XIV era filosoficamente tímida, mas apresentou ao mundo um número gigantesco de
grandes intelectuais do século XVIII em diante — Adam Smith, David Hume, James
Mill, Thomas Carlyle... E o Japão, que era tecnologicamente atrasado, hoje é
pioneiro em inovação e criou um trem-bala de invejar os Estados Unidos. O que
diríamos dos judeus? Ostracizados e perseguidos de inúmeras formas, após a
Segunda Guerra Mundial, “constituindo apenas 1% da população mundial,
receberam 22% dos prêmios Nobel de química, 32% dos de medicina e 32% dos de
física”12 — o que, mais uma vez, demonstra que representatividade é muito mais do
que igualdade de condições.

Por fim, é preciso deixar claro que acabar com as desigualdades é impossível, e
tentar fazer isso através do congelamento de resultados é um ciclo sem fim.
Estatísticas demonstram que, entre bretões, o QI médio do filho mais velho é maior
do que o dos filhos nascidos depois; 22% dos filhos mais velhos obtêm diploma e
apenas 11% dos quartos filhos; além disso, gêmeos costumam ter uma média mais
baixa de QI do que os não-gêmeos. Até diferenças geográficas contam. Segundo
Tomas Sowell, a maioria das terras férteis do mundo está nas zonas temperadas em
detrimento dos trópicos e há mais avanço tecnológico e prosperidade no litoral do
que no interior ou nas montanhas. Deveríamos criar cotas para gêmeos e caçulas?
Quem mora em regiões montanhosas deveria ter descontos maiores para comprar
um iPhone?13 A desigualdade é uma característica indelével da própria identidade; é
o que permite a autenticidade e a conquista do sucesso.

VIII.
A mulher não podia trabalhar antes do feminismo

Cristiane Corrêa1

Quando o povo adota um ponto de vista em massa, interrompe-se todo


pensamento crítico.
— William Powers

Cada vez mais esse tipo de afirmação sobre o trabalho tem se tornado comum entre
as pessoas que atribuem ao feminismo a liberdade feminina. A figura da mulher
trabalhadora é vendida como uma grande conquista política do movimento, mas a
realidade supera a narrativa ideológica.

Antes de levantar qualquer discussão sobre a mulher e o trabalho é preciso refletir


sobre o que significa o ato de trabalhar e como a humanidade se desenvolveu a partir
disso. Independentemente de suas crenças — se para você Deus criou o homem, ou
se somos fruto de uma grande explosão cósmica, não importa —, o fato é que o
trabalho surge no momento em que o ser humano passa a existir.

Desde antes da elaboração das ferramentas de pedra, o homem precisou buscar


formas de se sustentar. O trabalho passou a ser uma necessidade básica do ser
humano. Essa é a primeira evidência antropológica de que o conjunto de atividades
— produtivas ou criativas — que o homem exerce para atingir determinado fim é
inevitável para sua sobrevivência. Logo, o ato de trabalhar está associado àquilo que
é estritamente necessário, ou seja, àquilo que não se pode deixar de ter. Um estudo
publicado pela Universidade de Harvard indicou que cozinhar teria sido o primeiro
ofício exclusivo dos seres humanos.2
A especialização no preparo dos alimentos já existia nos primórdios da humanidade,
como comprovam os utensílios encontrados perto de fósseis da época. “Além de ser
a primeira profissão, é também aquela que nos definiu como espécie”, defende Chris
Organ, biólogo de Harvard e um dos coautores do estudo. Com o Homo erectus a
atividade teria surgido há 2 milhões de anos.

É certo afirmar que autores têm opiniões diferentes sobre os registros do uso do
fogo no cozimento, mas há um consenso sobre o fato de que, antes disso, os homens
consumiam alimentos crus, como raízes, folhas, grãos, além de carnes cruas,
portanto a economia era de subsistência e a comida era buscada também por
mulheres. Isso significa que a mulher já estava inserida no contexto do trabalho de
coleta e preparo dos alimentos.

Os povos primitivos andavam em bandos que migravam entre as regiões em busca


de alimento; entre eles havia pouca diferenciação política e a ausência de líderes
permanentes era uma característica comum nesse período, excluindo assim qualquer
ideia de depreciação da mulher por conta da divisão do trabalho baseada no sexo.
Geralmente as mulheres cuidavam da coleta enquanto homens caçavam o alimento,
porém esses papéis não eram rigidamente definidos:

Os últimos 100 mil anos do período Paleolítico assistiram ao aperfeiçoamento dos


artefatos, num processo de crescente elaboração cultural que deu origem ao arco,
à flecha, às lanças e a utensílios variados de argila, osso e dentes. Além disso, as
modificações do ambiente terrestre se refletiam nos hábitos dos homens,
contribuindo para a sedentarização de alguns grupos, isto é, sua fixação em
determinadas regiões.3
A coleta e a caça como meio de subsistência deram lugar ao sedentarismo. Antes
nômades, agora essas comunidades vão em busca de moradia próxima aos rios e
terras férteis. O homem passa a ter uma maior percepção do seu poder
transformador do meio e maior consciência da transformação daquilo que se
dispunha na natureza para a criação de utensílios, o que possibilitou novos
arranjos sociais. Essa primeira forma humana de organização social foi
aumentando e se tornando complexa. Com conhecimento para domar animais,
cultivar a terra e entender o clima para produção de seus próprios alimentos, o
homem já não esperava simplesmente pela provisão da natureza; ele, aos poucos,
aprendia a dominá-la. O trabalho passa a ter uma função diferente; agora
habitando em aldeias, surgem para os povos os pequenos comércios, ainda que
sem a moeda e o dinheiro como os conhecemos — a troca de alimento, utensílios
ou mão de obra funciona como meio de subsistência.

Assim que os homens passaram a se agrupar e a cambiar bens, forma que mais
tarde deu nome à mercadoria, a união de algumas aldeias possibilitou a formação de
cidades e, posteriormente, de impérios e civilizações. A complexidade das relações
humanas deu espaço a diferentes formas de identidade do trabalho. A história dos
modos de produção que o ser humano desenvolveu no decorrer do tempo pode ser
chamada de “história dos regimes de trabalho”: primitivo, escravo, feudal,
capitalista e comunista.

É evidente que, no contexto primitivo, homens e mulheres trabalhavam dentro da


comunidade colaborando com a subsistência do grupo. A partir do momento que as
grandes civilizações começaram a se estabelecer, o trabalho passou a ser associado à
escravidão, e consequentemente a relação com o labor sofreu mudanças significativas
e as relações de poder apareceram. É importante destacar que homens e mulheres
exerceram poder uns sobre os outros. O fato é que os que detinham o poder se
tornaram senhores de escravos, os quais faziam os mais diversos trabalhos.

Em algumas civilizações, como por exemplo no Egito Antigo, havia o escravo e o


camponês livre, que também era obrigado a prestar serviços ao Estado na forma de
trabalho temporário sem remuneração. Talvez poucas pessoas conheçam a Rainha
Hatshepsut, uma mulher considerada por alguns egiptólogos como um dos faraós
mais bem-sucedidos, influentes e longevos (1479–1458 a.C.) do Antigo Egito, onde a
configuração social fora estabelecida com escravos e servos.4
Nesse período, foram identificados três tipos de escravidão: 1. Os cativos de guerra:
civis ou militares na condição de prisioneiros tornavam-se mão de obra e fonte de
recursos. Pessoas livres que cometessem atos ilícitos eram forçados a desistir de sua
liberdade. Outros já nasciam escravos pois possuíam mãe escrava; 2. Os próprios
egípcios vendiam-se para o trabalho forçado, prática que ocorria como pagamento
de dívidas. Não apenas o devedor tornava-se escravo, mas seus filhos e esposa
também; além disso, todos os bens eram entregues ao credor. Vender-se como
escravo por comida ou abrigo também era prática comum; 3. Os trabalhadores
recrutados, embora não fossem considerados propriedade como os outros escravos,
eram forçados a trabalhar para o Estado como se fosse um dever: trabalhavam na
construção de pirâmides, em expedições militares, mineração, exploração de
pedreiras etc.

Segundo o historiador militar israelense Martin Van Creveld, cem mil homens
foram recrutados todos os anos para construir as famosas pirâmides do Egito, e
quando não davam conta de puxar as suas cargas, eram chicoteados.5
Ainda segundo o autor, o trabalho no decorrer da história foi sendo considerado um
fardo e não um privilégio. É por isso que declarações como de Mary Astellm,
segundo a qual “os homens foram projetados para a ação e o trabalho e as mulheres,
não”,6 se tornaram comum em épocas passadas, porque o ofício na maioria das
vezes esteve associado à força e ao desgaste físico. Além disso, o trabalho braçal,
sempre mais pesado, foi designado aos homens principalmente em contextos
escravocratas.

Isso não significa que as mulheres não sofreram nesses períodos; porém, a natureza
do trabalho era diferente. Muitas mulheres viviam sexualmente à mercê de seus
donos, motivo pelo qual acabavam sendo bem alimentadas e razoavelmente vestidas,
além de viverem em locais toleráveis.7
Outras tinham mais sorte e podiam servir como amas de leite, domésticas ou
cozinheiras.

Entre as mulheres livres, a fragilidade física e a consequente relutância em se


afastar de casa, principalmente por preocupações naturais com o cuidado dos filhos,
sempre ditaram a natureza do trabalho feminino.8
Um fato curioso para refletirmos sobre o tema do trabalho ainda no contexto do
Antigo Egito é que a alimentação era produzida principalmente para a nobreza e
para os faraós. Quem não era escravo precisava trabalhar diariamente, como fazia a
maioria dos homens, ou se concentrava no cuidado da sua família, função
majoritariamente exercida por mulheres. Elas executavam tarefas de limpeza,
cuidado com os filhos, e principalmente faziam as vezes de uma cozinheira.9
Não é difícil concluir que, tendo maior familiaridade com a prática culinária, as
mulheres tinham mais probabilidade de trabalhar servindo nobres e faraós.

Em um contexto em que o trabalho braçal era essencial para o desenvolvimento da


civilização e para a expansão de um reino, qualquer trabalho considerado mais leve
sobrava para aqueles que tinham menos força física. Nesse caso, além de ter menos
força e condição física para executar trabalhos forçados, as mulheres tinham mais
habilidade para cozinhar devido à própria dedicação à prática no seio da família. É
claro que não se trata de uma competição para ver qual sexo sofreu mais ou menos
com o trabalho na história, mas diante de um contexto em que homens eram
forçados a trabalhar até a exaustão, ter o privilégio de servir em uma cozinha é algo
a ser destacado, principalmente quando pesquisadores apontam para essa prática
como a primeira profissão existente.

Sem nenhuma ajuda do feminismo, as mulheres podem ter sido as primeiras


trabalhadoras beneficiadas da história. E, como já ficou claro a essa altura, as
mulheres sempre trabalharam — e nunca foi por causa do feminismo.

Com a queda do Império Romano, o regime de trabalho escravo foi perdendo a


legitimidade na Europa Ocidental. Embora a prática tenha resistido por muito
tempo, já não era mais viável socialmente como fora antes; portanto, já
enfraquecido, esse sistema foi dando espaço para novas configurações sociais e o
trabalho no campo ganhou cada vez mais força. As mulheres, quando não escravas,
eram “trabalhadoras livres” nas lavouras. O pesquisador e historiador Pedro Paulo
Funari afirma:

Havia, entretanto, diferenças muito grandes entre o estilo de vida da elite e dos
humildes camponeses. Estes últimos — a grande maioria da população — viviam
numa grande simplicidade, em famílias nucleares, compostas por pai, mãe e filhos,
e em que todos trabalhavam para garantir a sobrevivência da família.10
Com o fim da Idade Antiga e início da Idade Média, surgiram os feudos: o senhor
feudal era a autoridade e a produção agrícola era o carro-chefe da economia. O
senhor feudal provia para o servo proteção e segurança quanto às necessidades
básicas, enquanto os servos cuidavam das terras pertencentes ao senhorio. Nesse
regime de trabalho, a função de cada uma das partes era bem estabelecida: o clero
era responsável por cuidar da espiritualidade e intelectualidade, a nobreza
governava e dava proteção aos servos, que por sua vez trabalhavam nas terras.

O curioso é que a mulher não estava restrita apenas à função de servo, ou seja,
além de trabalhar no campo, a mulher também podia assumir o senhorio dos feudos.
Sua situação dependia menos do seu sexo e mais da sua classe social. A Igreja dava
espaço para que as pessoas pudessem desenvolver uma vida eclesiástica que envolvia
formação acadêmica e, consequentemente, assumir a função de senhor feudal. A
pastora de Nanterre, Santa Genoveva, como ficou conhecida, assim como outras
mulheres de sua época foi uma abadessa, uma senhora feudal, cujo poder era
respeitado do mesmo modo que o de outros senhores; algumas dessas mulheres
usavam o báculo como os bispos; administravam, muitas vezes, vastos territórios
com cidades e paróquias.11
Registros cartorários do século XII12 trazem evidências de que, a par de suas funções
religiosas, algumas mulheres exerciam, mesmo na vida laica, um poder que muitos
homens invejariam no presente. A historiadora medievalista Régine Pernoud
registrou que

nos atos notariais é muito frequente ver uma mulher casada agir por si própria,
abrindo, por exemplo, uma loja ou um negócio, e isto sem ser obrigada a
apresentar uma autorização do marido. Finalmente, os registros das derramas (nós
diríamos os registros dos recebedores), quando nos foram conservados, como é o
caso de Paris, no fim do século XIII, mostram uma multidão de mulheres que
exerciam profissões: professora, médica, boticária, educadora, tintureira, copista,
miniaturista, encadernadora etc.13
Com a Revolução Industrial vieram as mais recentes transformações sociais: o
êxodo rural aumentou os números de cortiços urbanos em uma nova realidade
burguesa cada vez mais definida e os regimes de trabalho capitalista e comunista
começaram a se desenvolver. É nesse cenário que mulheres e crianças (a partir de 6
anos) passam a ser mão de obra nas fábricas ao lado dos homens. Com salários
baixos, toda a família do operário era obrigada a trabalhar. O que os
pesquisadores dizem sobre o trabalho dessa época não é nada animador:

A princípio, os donos de fábricas compravam o trabalho das crianças de


orfanatos; mais tarde, como os salários

do pai e da mãe não eram suficientes para manter a família, os filhos foram
obrigados a trabalhar em fábricas ou minas.14
Para muitos, até hoje o trabalho é uma necessidade desagradável. Em geral, eles
têm boa razão para pensar assim; quem já visitou uma fundição ou uma mina é
capaz de entender. Embora as condições de trabalho nas fábricas tenham
melhorado, deixando o ambiente de produção mais justo nos últimos séculos, nem
sempre foi assim. Durante a Revolução Industrial, o cenário era desestimulante: as
jornadas eram exaustivas, os ambientes ofereciam péssimas condições e os salários
eram realmente baixos. E, nessa época, bem como antes dela, as mulheres já
trabalhavam. A mão de obra feminina e infantil era a menos remunerada,
portanto havia mais procura para que ambos ocupassem o chão das fábricas.
Quanto mais mão de obra, maior a concorrência, então naturalmente os homens
passaram a ver as mulheres no mercado de trabalho como concorrentes.

Sindicatos e associações começaram a surgir para atender os interesses de cada sexo


no mercado de trabalho. Esses trabalhadores ficaram conhecidos como
proletariados. Alguns socialistas utópicos se destacaram na época por levantar
discussões sobre as condições e configurações de trabalho, mas suas críticas não se
limitavam a isso; estendiam-se também às famílias.15
Charles Fourier foi o pioneiro na defesa dos “direitos da mulher”. É dele a frase
segundo a qual “em determinada sociedade, o grau de emancipação geral pode ser
medido pelo grau da emancipação da mulher”. Porém, o conceito de emancipação
não estava dissociado de uma crítica à formação familiar; o discurso, agora político,
via no trabalho um dos pilares do regime capitalista. Isso porque desde a Reforma
Protestante ocorrida no século XVI, muitas famílias, influenciadas pelo calvinismo,
valorizavam o trabalho. Esse movimento criou uma ética favorável ao lucro, ao
trabalho árduo e ao enriquecimento pessoal, o que também foi significador para a
nova visão do trabalho no seio social.

Max Weber, sociólogo alemão, aponta a religião como elemento fundamental no


processo de valorização do trabalho. Em sua conhecida obra Ética protestante e o
espírito do capitalismo, o autor aponta para o fato de que os protestantes
consideravam a dedicação ao trabalho como uma virtude e que essa visão ajudou o
capitalismo a ter sucesso em vários países.

A força econômica das famílias cristãs, pautadas nos ideais da Reforma, vinha da
crença de que a prosperidade financeira era um sinal da bênção de Deus sobre eles;
logo, faziam do trabalho um meio de exercer a fé. Ao contrário do sentido de castigo
atribuído ao trabalho anteriormente, com a fé protestante surgiram os conceitos de
vocação e predestinação. Nunca o trabalho tinha sido visto de forma tão positiva, o
que gerou uma nova maneira de viver uma vida disciplinada, com apego ao ofício e
valorização da poupança.

Diante de uma sociedade que experimentava uma Revolução Industrial e


trabalhava incansavelmente por baixos salários em meio a grande degradação moral,
era comum que o pouco que as pessoas ganhavam se perdesse na prostituição e nos
demais vícios. Enquanto isso, as famílias cristãs que se mantinham fiéis aos seus
princípios prosperavam. Surgem então, cada vez mais frequentemente, grupos
políticos com a necessidade de questionar a origem da família, da propriedade
privada e do Estado.

Vários movimentos utópicos surgiram na Europa durante esse período. O


sansimonismo floresceu na França na primeira metade do século XIX, inspirado por
ideias do aristocrata francês Henri de Saint-Simon. O movimento defendia uma
“união de trabalho’’ na qual todos cooperariam para vantagens mútuas e iguais. Em
1816, Simon16 publicou L’Industrie, o primeiro de vários ensaios declarando que a
felicidade humana está em uma sociedade produtiva baseada em igualdade
verdadeira e trabalho útil. Os sansimonianos promoviam um estilo de vida
comunitário, livre do casamento, pois o consideravam uma tirania. Essa comunidade
pregava que princípios femininos de paz e compaixão deveriam substituir os valores
masculinos, que são naturalmente mais agressivos. Esses discursos utópicos atraíram
muitas mulheres para o socialismo, onde a ideia de emancipação estava relacionada
não apenas a uma vida comunitária de união de trabalho, mas também a uma vida
de liberação sexual.

Consequentemente, mais tarde o marxismo — que também mantinha um discurso


focado na desconfiguração familiar visando à destruição do sistema capitalista —
atraiu mulheres que formaram movimentos políticos para defender os ideais
materialistas. Escreveu Marx que, “se a origem da família celestial não é mais que a
prefiguração da mesma família terrena humana, é esta que deve ser destruída”.17
No livro de memórias de Lênin, a marxista alemã Clara Zetkin conta que o
“camarada Lênin” falou com ela repetidas vezes sobre a questão feminina.
Efetivamente, ele atribuía ao movimento feminino uma grande importância, como
parte essencial do movimento de massa, que em determinadas condições poderia ser
uma parte decisiva na Revolução Bolchevique. Para Lênin, as mulheres precisavam
ser “libertadas” dos lares, precisavam trocar a economia familiar pelo chão das
fábricas. Era assim que o pilar do capitalismo, a família, enfraqueceria, dando
espaço para o Estado socialista, que visava implementar um sistema de trabalho
comunista.

Até aqui, conseguimos perceber que a mulher nunca parou de trabalhar. Com ou
sem feminismo, a mulher trabalhava, assim como o homem. Tanto mais se fosse
pobre. Percebemos também que capitalistas e socialistas têm sempre uma utilidade
para dar às mulheres, mas libertá-las da necessidade de trabalhar, de fato, nunca é
uma opção. A mulher capitalista trabalha para a família, dizem os socialistas. A
mulher socialista, também o dizem eles, deve trabalhar para o Estado, para a
sociedade.

O comunismo é um sistema de supervalorização estatal. O trabalhador serve ao


Estado, não a particulares. O produto do seu trabalho é dividido. Nada pode ser
chamado de próprio e o Estado é dono de tudo, podendo fazer o que quiser com os
meios e bens de produção. Em contraste, o capitalismo é um sistema econômico que
gera, até hoje, inúmeras formas e meios de trabalho para o ser humano. Esse regime
de trabalho tem sido o contexto em que as mulheres mais crescem profissionalmente.
O sexo feminino tem conquistado cada vez mais o seu espaço no mercado de
trabalho: mais do que ocupar mesas em empresas de diversos setores, tem crescido
também o número de mulheres em cargos de liderança, e cresce a atuação feminina
no empreendedorismo. Um número cada vez maior de mulheres decide abrir seu
próprio negócio e isso tem um impacto positivo na economia.

Mesmo com todas as vantagens do regime de trabalho dentro do sistema


capitalista, ainda hoje dificilmente um coletivo político formado por mulheres
feministas irá defendê-lo. Elas seguem na defesa de um regime de trabalho socialista
ou comunista, rejeitando completamente o livre mercado. O feminismo prega
liberdade, mas defende a servidão. Na verdade, no decorrer da história a maior luta
do movimento feminista foi para que o trabalho feminino fosse subserviente ao
Estado, e servisse como um meio de afastar a mulher da sua família, visando a
destruição do sistema capitalista. O correto a dizer é que o feminismo não luta por
mulheres que desejam trabalhar livremente visando o próprio lucro ou o
fortalecimento da economia familiar; sua luta é para que a mulher sirva ao Estado e
renegue a família em nome de uma ideologia política.

Não é uma tarefa muito difícil questionar as pautas do movimento feminista


marxista; basta observar a realidade para constatar que a narrativa ideológica não se
sustenta. Os fatos mostram que o trabalho foi considerado algo desagradável, difícil
e humilhante na maior parte do tempo. Consequentemente, era imposto como
castigo, fosse na forma de escravidão, fosse na forma de corveias.18
A era moderna marca a valorização do ofício através de uma movimentação religiosa
e a politização do trabalho através dos movimentos ideológicos; o que antes era uma
necessidade de subsistência passa a ser visto como um meio de conquista ou um sinal
de poder.
IX.
Mulheres ganham menos que homens fazendo o mesmo trabalho

Ana Caroline Campagnolo & David Amato1

Alguns especialistas e vários oportunistas já tentaram explicar a diferença salarial


entre os sexos e apontaram as seguintes explicações: preconceito e discriminação
contra mulheres, cultura machista, falta de incentivo às mulheres, dificuldade de
acesso ao mercado de trabalho e educação precária oferecida às mulheres.

As feministas costumam dizer que as mulheres têm recebido sempre salários


menores que os homens pelo mesmo trabalho. Não é verdade que as mulheres em
geral trabalham o mesmo tanto que os homens em geral. Quase sempre, o diferente
grau de dedicação ao trabalho tem se refletido nos salários: mais horas extras
trabalhadas, mais fins de semana perdidos, menos licenças e férias sendo usufruídas.

Thomas Sowell explica que, historicamente, os homens sempre trabalharam mais


do que as mulheres e também sempre buscaram e conseguiram estar nos trabalhos
mais bem remunerados. Primeiramente, por causa da sua superior força física, mas
também por outros fatores. Ele escreveu:

As diferenças entre a força física masculina e a feminina [foram] um fator muito


importante durante as longas épocas da história em que a maioria das pessoas, na
maioria dos países, trabalhava na agricultura ou em outras profissões que exigiam
muita força.2
Até hoje, esse tipo de trabalho ainda é majoritariamente desempenhado pelos
homens.

O relatório da Secretaria de Estatísticas de Trabalho dos EUA publicado em 2020


provou que os 10 empregos mais perigosos eram desempenhados por homens,
motivo pelo qual eram mais bem pagos: pescadores, madeireiros, pilotos de
aeronaves, fazendeiros e pecuaristas, telhadores, trabalhadores do ferro e do aço,
coletores de lixo e materiais recicláveis, instalação e reparo de maquinário industrial,
motoristas de caminhão, trabalhadores da construção.3
Além de estarem em todos os trabalhos difíceis, os homens também trabalham por
mais tempo ao longo da vida e ao longo da semana. Outro relatório publicado pela
mesma Secretaria de Estatística de Trabalho dos EUA mostrou que apesar de as
mulheres constituírem a maioria das pessoas trabalhando, das cerca de 256 bilhões
de horas de trabalho totais, 56% foram contribuídas por homens e 44% por
mulheres.4
Ou seja, é razoável que os homens estejam recebendo mais salários se eles trabalham
mais horas todas as semanas.
Outra diferença fundamental entre homens e mulheres e que não tem nada a ver
com ideologia ou machismo é a capacidade de engravidar. Segundo o portal Insper,
o que mais contribui para a desvalorização das mulheres no quesito salarial

foram as interrupções ao longo da carreira e a quantidade de horas trabalhadas


inferior à dos homens. Em várias partes do mundo, a maternidade é o ponto de
inflexão

na carreira das executivas [...]. Entre continuar pisando fundo no trabalho e pegar
leve para passar mais tempo com os filhos enquanto eles são pequenos, um
número grande de mulheres escolhe a segunda opção — e, nesses casos, as apostas
de sucesso profissional acabam sendo depositadas no marido.5
Em artigo publicado no site RealClear Markets, Dean Kalahar traça uma
interessante constatação:

Talvez o maior motivo [da diferença salarial] seja a biologia. As mulheres


representam 50% da força de trabalho, mas dão à luz 100% dos bebês. E se as
mulheres optam por ter filhos, seus incentivos mudam e isso afeta suas escolhas de
empregos, carreiras, serviço contínuo e horas gastas no trabalho.6
Pode parecer injusto num primeiro olhar, mas a realidade é que os salários são
oferecidos com base em resultado e produção. Neste viés, o machismo não apita
nada. Os empresários decidem sobre o que é mais lucrativo e eficiente, razão pela
qual não deixariam de contratar as mulheres se elas, de fato, produzissem o
mesmo que um homem por salários menores. Se isso fosse verdadeiro, as empresas
estariam, até hoje, como faziam durante a Revolução Industrial, preferindo
funcionárias mulheres.

O portal Insper chamou atenção para esse dilema:

No Brasil, cerca de 40% das mulheres em cargos de gestão pedem demissão depois
que têm filhos. Outras não chegam a abandonar o emprego, mas ficam menos
propensas a aceitar cargos que exijam longas jornadas. As que optam por
continuar acelerando a carreira e, ao mesmo tempo, criar crianças pequenas,
partem para a terceirização — contratam vários funcionários para dar conta do
lar e da logística. É comum encontrar casas de executivas com várias empregadas,
babás, folguistas e

motorista. Esse tipo de arranjo doméstico, porém, não deve ter vida longa. Na
última década, o número de empregados domésticos caiu 12% no país. No longo
prazo, à medida que a economia brasileira avançar, a tendência será uma queda
ainda mais acentuada na oferta desse tipo de mão de obra. Sem falar que, se a
ascensão feminina no mundo corporativo brasileiro depender da permanência de
outro grande grupo de mulheres no serviço doméstico, temos aí um problema
“intragênero”.7
Outro fator determinante é a preferência e a inclinação dos homens e mulheres
para certos tipos de trabalho e a disposição (ou não) de aceitar qualquer tipo de
emprego. Dados do portal Folha apontaram que as mulheres ainda são maioria
das docentes nos cursos ligados a cuidados interpessoais como educação,
enfermagem, nutrição, psicologia, saúde coletiva e assistência social,8 áreas que,
segundo o senso comum, combinam mais com as mulheres. E mais: na medicina, o
número de mulheres cresce especialmente nas áreas de ginecologia e obstetrícia,
pediatria, oftalmologia, cirurgia plástica e neurocirurgia.

A Noruega é o país que há muito figura no topo dos rankings de igualdade de


gênero.9
Apesar do equilíbrio entre os gêneros masculino e feminino no que tange aos pilares
salariais e representativos, inclusive politicamente, certos aspectos não mudam.
Independentemente do quanto o governo tente mudar por meio de ações afirmativas,
leis e incentivos, o número de engenheiros compreende só 10% de mulheres,
enquanto o de enfermeiros, só 10% de homens. Mesmo com uma mudança discreta
de percentual, os índices voltam ao mesmo patamar em um ou dois anos, o que
rendeu até um documentário sobre esse “paradoxo da igualdade”. Mas o fenômeno
não se restringe à Noruega: pesquisadores encontraram o mesmo padrão em diversos
lugares do mundo por um motivo simples, mas obliterado pela agenda feminista e de
(ideologia de) gênero, que é a biologia. Homens e mulheres são biologicamente
diferentes e, consequentemente, possuem tendências para diferentes áreas. Outro
estudo, do Dr. Richard Lippa,10 englobando 200 mil entrevistados em 53
países,11descobriu que em todos eles, da Noruega à Arábia Saudita, os homens
tinham mais interesse por carreiras mais técnicas e as mulheres por profissões mais
sociais. De acordo com o relatório Mulheres na América: Indicadores de Bem-Estar
Social e Econômico, feito pela Casa Branca,12os homens simplesmente escolhem ou
desempenham empregos com melhor remuneração. Em 2009, apenas 7% das
profissionais do sexo feminino estavam empregadas nas áreas da computação e
engenharia com salários relativamente altos, enquanto o número de profissionais do
sexo masculino era de 38%. Mulheres eram mais prevalentes nas áreas de educação
e saúde, com salários relativamente mais baixos.

Embora existam fatores culturais e de expectativa social, esses resultados não


seriam tão predominantes se não fossem o reflexo natural da biologia. Em suma, as
preferências femininas naturais contra a disposição masculina de aceitar empregos
pesados, arriscados, perigosos, humilhantes e distantes de casa contribui para que os
homens continuem recebendo, em média, mais do que as mulheres, pois trabalham
mais do que elas.

Mesmo aquelas matérias embebidas de viés feminista falam sobre isso:

São áreas da economia, como escritórios de advocacia e bancos de investimentos,


que costumam ter como política valorizar e remunerar muito mais os profissionais
que estão sempre à disposição, ao alcance do celular, disponíveis para encontrar
clientes ou participar de reuniões. Essas atividades pagam proporcionalmente
muito mais para quem trabalha 70 horas por semana do que para os profissionais
com uma carga horária de 44 horas.13
Não espanta ninguém descobrir que são justamente os homens que estão dispostos
a trabalhar essas 70 horas semanais.

Mas não são todas as mulheres que ganham menos do que os homens. Aquelas
mulheres que vivem como se fossem homens — que pensam muito em trabalho e em
dinheiro — acabam recebendo os altos salários que as feministas alegam que os
homens sempre tiveram. Em um artigo científico publicado em 2016, o economista
Thomas Sowell afirmou:

Em 1971, as mulheres solteiras na casa dos trinta que trabalharam continuamente


desde o ensino médio ganhavam um pouco mais do que os homens com a mesma
descrição. Já em 1969, mulheres acadêmicas que nunca se casaram ganhavam mais
do que homens acadêmicos que nunca se casaram.14
Em 2008, mulheres solteiras e sem filhos entre 22 e 30 anos ganhavam quase 10%
a mais do que seus colegas homens na maioria das cidades dos EUA, segundo
análise de dados feito pela empresa Census Bureau,15 localizada em Nova York.
São inúmeras as publicações onde Sowell e outros economistas mostram que a
desproporção salarial está muito mais ligada à divisão de tarefas do que a supostas
injustiças insufladas pelos movimentos feministas. Em seu livro Affirmative Action
Reconsidered: Was It Necessary in Academia?, o autor conclui que: (1) há
questões mal concebidas e suposições infundadas gerando um sem-número de
ações afirmativas; (2) as chamadas diferenças salariais entre os sexos são, em
grande parte, diferenças entre mulheres casadas e afins; e (3) que a origem dessas
diferenças está na divisão de responsabilidades na família, e não na discriminação
do empregador.

De acordo com o autor best-seller e especialista de carreiras Marty Nemko, “os


dados são claros: pelo mesmo trabalho, homens e mulheres recebem praticamente o
mesmo. A mídia precisa olhar além das reinvindicações das organizações
feministas”.16
Muitos nunca ouviram nada a esse respeito, pois as feministas gostam de pesquisas
fajutas e manchetes tendenciosas.

Em seu livro Who Stole Feminism, a feminista Christina Hoff Sommers lista uma
série de episódios em que as feministas contaram mentiras absurdas para nações
inteiras e ninguém percebeu nem reagiu. Certa vez, Gloria Steinem escreveu a Naomi
Wolf e afirmou aos leitores que 150 mil mulheres morriam por complicações
anoréxicas todo ano. Era mentira. A estatística real era de 100 a 400 mortes anuais.
Uma diferença absurda entre mentira e verdade apenas para vender a bandeira de
que o feminismo era necessário para combater o padrão de beleza.
O mesmo acontece com outras pautas. Tempos depois, as feministas mentiram
alegando que a violência doméstica era a maior causa de nascimentos de bebês com
alguma deficiência ou anomalia. Depois, mentiram que a violência doméstica subia
40% durante o evento de futebol americano Super Bowl. Em tradução livre,
Christina contou tudo isso para explicar que “o feminismo americano é atualmente
dominado por um grupo de mulheres que buscam persuadir o público de que as
mulheres americanas não são as criaturas livres que pensamos ser”.17
Não é diferente em nenhum lugar do mundo.

Um breve parêntese que pode ser pesquisado pelos interessados: em entrevista a


Alex Jones,18 jornalista e comandante do canal InfoWars, o produtor e diretor de
cinema Aaron Russo, ao referir-se à emancipação das mulheres, citou Nicholas
Rockefeller como um grande engodo. O propósito real da introdução das mulheres
no mercado produtor seria poder taxá-las também, dobrando o número de
contribuintes, além de reduzir drasticamente a influência da família sobre cada filho,
que passaria, portanto, ao controle do Estado. Isso não é mais novidade para quem
já conhece os textos da feminista Alexandra Kollontai, que escreveu, sem meias
palavras, que as mulheres devem deixar a dependência em relação ao marido para
passarem à dependência estatal.

E para darmos um tom brasileiro ao assunto, podemos citar a pesquisadora e


socióloga Agenita Ameno:19

Os homens sobressaíram em tudo: nas artes, na política, nas ciências, nas


revoluções [...]. Danem-se todos os argumentos de emancipação feminina que vou
interpretar como sendo a mais descabida e lustrosa mentira que já pregaram e que,
às vezes, fico tentada a considerar quase um crime perfeito contra a mulher [...]. A
mulher não largou suas tinas de lavar roupa ou suas foices de cortar plantações
impulsionada por súbita consciência das limitações em que vivia. Foi empurrada
pelo motor da história, cuja engrenagem era formada por uma classe de homens,
os burgueses com sede de expansão.

Mas esse é um assunto demasiado longo para poucas linhas.

Voltemos à economia de mercado para resumir: (1) mais mulheres do que homens
trabalham a tempo parcial e o trabalho a tempo parcial tende a pagar menos do que
o trabalho a tempo inteiro; (2) mais mulheres do que homens preferem dar mais
atenção à qualidade de vida do que ao dinheiro; (3) mais homens do que mulheres
escolhem profissões perigosas e fisicamente extenuantes; (4) mais mulheres deixam a
força de trabalho para cuidar dos filhos e isso desempata as condições igualitárias de
carreira; (5) somente mulheres engravidam; (6) a disparidade salarial concentra-se
nos salários anuais brutos; (7) a remuneração total é mais precisa do que os salários
brutos, pois as mulheres preferem receber uma parte maior de sua remuneração na
forma de seguro saúde e outros benefícios adicionais (como pensões).
Poderíamos encerrar esse capítulo de muitas formas, mas a conclusão do relatório
preparado pela CONSAD Research Corporation para o Departamento de Trabalho
dos Estados Unidos em 2009 resume a questão:

Este estudo leva à inequívoca conclusão de que as diferenças na remuneração de


homens e mulheres são o resultado de uma multiplicidade de fatores e que a
diferença bruta de salários não deve ser usada como base para justificar ação
corretiva. Na verdade, pode não haver nada a ser corrigido. As diferenças nos
salários brutos podem ser quase inteiramente o resultado de escolhas individuais
feitas por trabalhadores e trabalhadoras.20

X.
O casamento é opressor

e o divórcio é uma conquista do feminismo

Ana Caroline Campagnolo

Quem já passou por um divórcio sabe bem que seu gosto não é o de uma
conquista. Mas não se pode negar que o casamento, assim como a família, é uma
instituição em crise. Hoje em dia, poucos são os que passam incólumes pelos
estilhaços de sua destruição. Temos amigos, parentes, conhecidos que são afetados
de uma maneira ou outra pelo divórcio e pelas crises familiares dele decorrentes.
Pouco é preciso para se constatar tal afirmação; uma simples pesquisa pelos mais
conhecidos buscadores nos trará uma enxurrada de dados que o certificam —
aumento do número de divórcios, diminuição dos casamentos...

No entanto, quase ninguém é capaz de entrever a causa primeira que iniciou todo
esse processo de desestabilização social. Em seu clássico A revolução sexual
americana, o sociólogo Pitirim Sorokin1 pontua que foram poucos os acontecimentos
que modificaram tanto o comportamento dos indivíduos como essa revolução,
colocando-a à altura das demais revoluções, apesar de não possuir os mesmos
impactos econômicos e políticos imediatos como as outras.

Trata-se, nas palavras do autor, de um evento silencioso, sem sangue derramado


por mártires ou heróis, mas cujo campo de batalha foi tanto o interior dos cômodos
domésticos como o próprio íntimo das pessoas. O resultado, perceptível aos olhos de
um observador de 1950, década em que foi escrito o livro de Sorokin, já era
notoriamente negativo: disparo do número de divórcios, filhos negligenciados,
delinquência juvenil etc.

Aliás, essas percepções não são novas para nenhum sociólogo ou historiador;
Aristóteles já as tinha feito quando tratava da decadência de Esparta e, ao elencar
algumas das razões de sua debacle, menciona a devassidão de suas cidadãs,
despreocupadas com os assuntos da Pólis e voltadas para si mesmas. Nesse mesmo
sentido, Sorokin discorre sobre a aristocracia inglesa e as consequências de sua
liberdade sexual ainda no século XIX: o resultado foi o encolhimento do número
total de membros, a diminuição das famílias, e, por causa disso, a diminuição da
influência social e política exercida pela nobreza na Inglaterra.

Todas essas asserções não são consideradas de maneira nenhuma pelas feministas.
Mary Eberstadt2 afirma que existe uma vontade de não crer no lado negativo da
revolução e do feminismo em geral. A autora ainda vai além: subscreve a tese de que
a introdução da pílula anticoncepcional como prática comum das mulheres
ocidentais fez com que houvesse uma alteração profunda, quase antropológica, na
condição humana em geral. Contudo, tudo isso é renegado pelas feministas em suas
obras, de modo que essas mudanças são só abordadas de maneira laudatória, como
“avanços” ou “conquistas”.

Portanto, façamos uma análise acerca dessas “conquistas” e desses “avanços” em


relação ao casamento e vejamos qual a realidade por trás dessas falácias.

Uma das ditas primeiras conquistas feministas foi o divórcio. No Brasil, a lei 6.515
de 1977 o disciplinou. Entretanto, é mais do que necessário mencionar que não se
trata de nenhuma forma de inovação social, muito menos se pode dizer que tenha
sido desencadeado pelas próprias mulheres — as alterações legais foram de autoria
de deputados. Aliás, historicamente o divórcio sempre foi uma prática comum,
muito antes da existência da atual cultura ocidental (e também em lugares distantes
do Ocidente). Moisés já entregava cartas de divórcio no deserto onde viviam as
tribos israelitas. Entre os gregos de Atenas, por exemplo, ambos os cônjuges podiam
dar início ao divórcio. Em Roma, como entre os helenos, não havia empecilho para
nenhuma das partes, conservando a mulher o dote que lhe fora dado por sua família
paterna em caso de separação. Ademais, segundo os classicistas, pouca ou nenhuma
depreciação era destinada aos divorciados. Desnecessário dizer que os próprios
romanos desde tempos remotos plasmaram as leis para que o divórcio fosse
realizado. No mundo islâmico, por sua vez (que de feminista não tem nada), havia
igualdade para marido e mulher iniciarem o processo de separação séculos atrás. Na
verdade, se compararmos os direitos esponsais no casamento muçulmano em relação
aos pré-islâmicos, veremos que as mulheres passaram a ter muito mais igualdade e
privilégio, até então inexistentes na cultura local — se, realmente, divórcio for
encarado como uma conquista. Nada disso foi graças ao feminismo, uma vez que
tudo aconteceu muito antes do surgimento do movimento.

O que mais nos salta aos olhos a partir da análise do tema é que o divórcio é
percebido como bom, independente do que lhe suceda; um tipo de liberação do
cativeiro. É um pressuposto jamais discutido, tomado como axioma desde o qual
parte o discurso feminista. Mas quais seriam os efeitos negativos escondidos? Aqui,
já não se trata de mero debate político, mas de investigação científica com dados
colhidos por instituições de pesquisa e órgãos governamentais de estatística. Segundo
Eberstadt,3 é insofismável o fato de que o casamento monogâmico e heterossexual
traz benefícios àqueles que o contraem. Em comparação com solteiros, os casados
são mais felizes e saudáveis, bem como têm melhor desempenho profissional.
Ademais, diz Eberstadt, “as mulheres cujos maridos sustentam a casa tendem a ser
mais felizes do que as outras. Os homens casados ganham mais e trabalham mais do
que os solteiros” (tradução livre). Além disso, outra pesquisadora americana, Joan
DelFattore,4fez uma descoberta pessoal e científica quando foi diagnosticada com
câncer. Os médicos lhe sugeriram um tratamento cirúrgico e, por isso mesmo,
delicado e de difícil recuperação. Então, perguntaram se era casada ou se tinha
filhos. A pergunta a surpreendeu, mas fez com que percebesse que a necessidade de
apoio familiar era vital para a sobrevivência pós-operatória de muitos pacientes,
sobretudo os mais debilitados. A partir daí, elencou dados que demonstram que o
apoio social proporcionado por um cônjuge é vital em situações tais, levando,
inclusive, a escolhas que podem ser difíceis, mas que também salvam vidas.

Ainda nesse mesmo caminho, Grover e Helliwell5 elaboraram um estudo sobre a


felicidade entre os casados, os solteiros e suas possíveis causas, e avaliaram diversos
conjuntos de pessoas, divididos em diversos subgrupos de acordo com o tempo de
casamento e de vida. Notaram que existe uma curva de satisfação e felicidade
experimentada pelos casados. Tão logo se casam, experimentam um aumento de
qualidade de vida, que decresce em alguns anos, mas volta a aumentar à medida que
a meia-idade e a velhice chegam. Ao compará-los com os solteiros, percebe-se a
diferença dos níveis de felicidade: os casados são mais felizes que os celibatários, o
que se nota, sobretudo, com o avanço da idade; ao que tudo indica, afirmam os
pesquisadores, as dificuldades da vida são amenizadas quando se tem um parceiro ao
lado, ainda mais se os dois forem melhores amigos.

Sobre isso, pouco se vai ouvir das feministas. Nenhuma refutação é feita ou
comentário tecido acerca desses assuntos. Para elas, família é intrinsecamente má e,
por isso, deve ser extinta. As feministas não sabem que ideias têm consequências, as
quais são sentidas sobretudo por aqueles que elas dizem defender. O que para elas é
libertação, para muitos é simples desgraça.

Em 2011, Hyun Sik Kim publicou um artigo em que avaliou as consequências do


divórcio sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças. Os dados colhidos por Kim
são consideráveis e mostram o desempenho escolar dos estudantes antes e depois do
divórcio, e daqueles cujos pais se mantiveram casados. Já são notáveis os dados que
mostram uma queda da performance escolar ainda antes do divórcio, o que deixa
claro que há frutos amargos colhidos mesmo antes do término da relação familiar.
Posteriormente, a performance continua abaixo da apresentada pelos alunos cujos
pais são casados. Amato ainda constatou que “comparadas com as crianças que
tiveram os dois pais biológicos presentes, aquelas cujos pais são divorciados estavam
em desvantagem em diversos domínios da vida: desempenho escolar,
desenvolvimento cognitivo e psicossocial, bem como as relações sociais em geral”6
(tradução livre).

Na economia também há relação direta, assim como na vida dos filhos. O


casamento saudável dos pais tem impacto direto na vida das crianças e adolescentes,
principalmente dos mais pobres. Em 1995, nos Estados Unidos, entre as famílias
negras que vivem na pobreza, 85% das crianças não tinham pai presente.7
Thomas Sowell mostrou dados segundo os quais

os padrões e desempenhos educacionais nas escolas americanas iniciaram um


declínio de muitas décadas nesses mesmos anos, seja ele mensurado por resultados
nos testes, avaliações dos estudantes pelos professores, relatos dos estudantes
sobre o tempo que passavam estudando ou queixas dos empregadores sobre a
falta de habilidades básicas entre os jovens que contratavam.

Outros tantos estudos do mesmo gênero também comprovaram a existência de


uma correlação entre delinquência juvenil e divórcio.

É por isso que afirmei em meu primeiro livro que o movimento feminista, apesar de
revestir-se de uma fundamentação teórica enorme, tem mais por objetivo a mudança
das bases da sociedade do que qualquer tipo de conscientização dos membros dela.
Por isso, cada passo dado rumo à concretização dos ideais feministas é uma descida
em direção ao caos social, à diminuição da inteligência, à degradação cultural e
social. Trata-se de um conjunto de fatos que não deve ser analisado apartando-se uns
dos outros, mas em seu todo e sob todos os seus ângulos. Independentemente de
como se autointitulem, do subgrupo ao qual pertençam, do partido a que estejam
filiadas, as feministas sempre estão comprometidas com o desmantelamento dos
pilares cristãos e tradicionalmente familiares. O feminismo é anticivilizacional.
Enquanto a maioria for ignorante desse turbilhão silencioso que está consumindo
inúmeras vidas e famílias, seremos fáceis presas de qualquer revolucionário disposto
a falar o que quiser e não sofrer nenhuma consequência pelo que disse.

XI.
O “aborto seguro” é um direito da mulher

Ana Derosa & Marlon Derosa1

Ouvimos com frequência que o aborto seguro é um direito da mulher. Discutiremos


essa questão a partir de três perspectivas: 1) conhecimento científico ou dedução
racional simples sobre o que há no ventre materno; 2) noções sobre “direito
reprodutivo” ou “direito ao aborto”; e 3) breve análise dos riscos do procedimento
de aborto legal.
Primeiramente, é um fato científico comprovado há quase 200 anos, por meio de
experimentos biológicos e da embriologia médica, que o bebê no ventre materno é
uma vida humana já a partir da concepção.2
O embrião, na concepção, já detém a sua carga genética própria, o seu DNA,3sendo
possível diagnosticar por meios técnicos o seu sexo4e a existência ou não de mais de
100 síndromes e doenças genéticas. Mesmo nas primeiras duas semanas de vida, o
embrião já é capaz de se auto-organizar e, portanto, tem um certo grau de
autonomia,5necessitando apenas do ambiente adequado e de nutrientes, de maneira
similar a um bebê já nascido, que também precisa de um ambiente e nutrientes
adequados para sobrevivência conforme a sua idade.6
A falta de autonomia, portanto, não pode ser argumento para desproteger o
embrião, pois todos nós temos graus relativos de autonomia, e não é a autonomia o
que define quem deve ou não ser protegido, mas sim a natureza do ente.7
Não sendo possível negar que o embrião é uma vida humana, surge então o
argumento, por parte dos favoráveis ao aborto, de que o embrião ainda não seria
uma pessoa.

Um dos maiores expoentes da ideia de que o embrião não é uma pessoa é o


renomado bioeticista pró-aborto Peter Singer.8
Ele e seus discípulos reconhecem que o embrião ou o feto são vidas humanas,9 mas o
considera uma vida de menor valor, um ser humano “não-pessoa”.

Singer diz que “a vida de um feto” não tem mais valor do que a vida de um animal
não humano, porque o embrião “não possui” a “racionalidade, autoconsciência,
consciência, capacidade de sentir etc.”, e que, portanto, apesar de se tratar de uma
vida e de um exemplar da espécie humana, o feto não seria pessoa. Em seu livro
chamado Ética prática, o bioeticista diz que a morte de bebês recém-nascidos
poderia ser aceita com base no mesmo critério que ele usa para defender o direito ao
aborto. Isso escancara como é absurdo relativizar a vida do embrião, pois a lógica
que desprotege o embrião e o feto é a mesma lógica que se aplica para justificar a
morte de um bebê num infanticídio.

Singer diz que

um bebê recém-nascido de uma semana não é um ser racional e autoconsciente e


há muitos animais não humanos cuja racionalidade, autoconsciência, consciência,
capacidade de sentir, etc., excedem a de um bebê humano com uma semana ou um
mês de idade.10
Há também outros autores que defendem a mesma tese.11
Esse pensamento claramente desumano não é opinião de uma minoria de radicais.
Se observarmos o modo de ação de algumas entidades que lutam pelo “direito ao
aborto” no mundo, vemos também que elas não querem simplesmente aprovar o
aborto até 12 ou 24 semanas, mas até o final da gestação. Algumas ainda são
contrárias a que se puna o abandono de bebês eventualmente nascidos vivos
durante um procedimento de aborto, os chamados “sobreviventes de abortos”.12
As falácias e manipulações utilizadas para desumanizar e relativizar a vida do bebê
no ventre são muitas. Alguns dizem que se não há atividade cerebral, “não há
vida”, porque um adulto com morte cerebral é considerado morto. Essa lógica é
incoerente, porque a morte cerebral só é declarada quando a pessoa tem um dano
cerebral irreversível, o que não se aplica de forma alguma a um feto, que, ao
contrário, está com cérebro em formação e terá plena atividade cerebral
naturalmente, a menos que tenha o seu desenvolvimento interrompido.

Outros defendem o acesso ao aborto até 20, 22 ou 24 semanas de gestação porque


até essa idade gestacional o feto supostamente não sente dor. Mas a incapacidade de
sentir dor é um argumento só utilizado quando convém, já que em alguns lugares do
mundo são realizados abortos após essa idade gestacional. Isso nos leva a concluir
que a preocupação com a dor que o feto poderá sentir durante o procedimento que
irá matá-lo não é uma preocupação real; prova disso é que a ideia de limitar o
aborto a essa idade gestacional, justamente pela sensibilidade à dor, sofre dura
oposição.13
O que esses argumentos buscam em comum é estabelecer “critérios” para se obter
permissão para o aborto a partir da escolha de características, habilidades e marcos
de desenvolvimento do bebê. São sempre arbitrários e desconsideram a natureza
daquele que está no ventre materno.

O ser humano tem dignidade intrínseca e deve ser respeitado pela sua natureza, não
pelo que é capaz de fazer. O filósofo Severino Boécio (480–525) definia o ser
humano enquanto pessoa por sua “substância individual de natureza racional”,
enquanto Kant adverte que o ser humano jamais deve ser meio, mas sempre fim em si
mesmo.14
É verdade que outras correntes filosóficas virão debater o conceito de pessoa e
abrigar leituras reducionistas, capazes de desproteger a vida no útero. Porém, explica
o Dr. André Gonçalves que “a concepção atual de direitos humanos considera o ser
humano como tal, sem se valer”15 da categoria de pessoa. Ou seja, os direitos
humanos são devidos a todo ser humano, a toda vida humana. Afirmar que é preciso
ser pessoa para ser protegido é outra maneira de se criar critérios para a relativização
de direitos.

É importante lembrar que “a definição de pessoa foi originalmente elaborada para


caracterizar o ser humano real”,16que começa pela realidade posta; um ser humano,
seja este visto a olho nu ou percebido empiricamente por meio de instrumentos
biomédicos em forma embrionária, como ser humano único, irrepetível, com
identidade própria e distinto do pai e da mãe em sua condição genética.17
Assim, estejamos nós na cidade, numa prisão ou no ventre materno, quando
percebemos a realidade de que há um ser da nossa espécie habitando ali, devemos
saber que seus direitos humanos devem ser respeitados. Não cabe a ninguém
questionar se o outro sente dor ou se é pessoa, para depois decidir se os direitos
humanos se aplicam ou não.

Em comum a toda relativização da vida humana há a tentativa de se retirar o


direito por meio da criação de critérios estranhos. Ora se usa um critério de 12
semanas, ora se fala em sensibilidade à dor; mas para a total relativização durante e
até após a gestação, usa-se o critério do “não ser pessoa”, como se fossem as nossas
habilidades que nos tornassem dignos de sermos protegidos pelos direitos humanos.

Em segundo lugar, discute-se o direito da mulher. Se o nascituro é uma vida


humana, a mulher não pode ter o direito de abortar, porque isso viola o direito de
uma outra pessoa: o direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos,
inviolável e inalienável, conforme o Artigo V da nossa Carta Magna.

Ainda assim, muitos insistem em usar a expressão “direito reprodutivo” para


defender o aborto. É verdade que abortos sempre aconteceram, assim como muitos
outros crimes, mas o fato de sempre terem ocorrido não os justifica nem os torna
moralmente aceitáveis. Apenas no último século é que o aborto se tornou um
instrumento político internacional com vasto financiamento e estratégia elaborada
para sua implantação.

Se procuramos entre autores do direito com viés liberal18 a origem do chamado


“direito reprodutivo” e do direito ao aborto, verificamos que o tema em si foi
discutido de forma ampla apenas recentemente, no Congresso Internacional de Saúde
e Direitos Reprodutivos de Amsterdã em 1984, tornando-se mais claramente
reconhecido no plano internacional em 1994 com a Conferência Internacional sobre
População e Desenvolvimento, na cidade do Cairo, Egito, e logo depois ratificado na
Conferência de Pequim em 1995. Entre os partidários dos direitos sexuais e
reprodutivos, há a interpretação majoritária de que o aborto deveria ser legalizado,
mas isso nem sempre é explícito. Esses autores liberais reconhecem que isso só “serve
de fonte interpretativa e diretiva para a implementação de leis”.

É interessante que esses autores liberais admitam que as origens do chamado


direito reprodutivo e do direito ao aborto são de concepção ideológica e marxista,
citando Engels e sua “divisão sexual do trabalho” na criação ideológica da luta de
classes e sua respectiva projeção numa “luta de sexos”. A ideologia foi
posteriormente usada de modo conveniente por grupos de poder global a partir da
década de 1950, especialmente com a criação do Conselho Populacional em 1952,
vastamente documentada em seu percurso estratégico.19
Em termos geopolíticos, desejava-se utilizar o aborto e os “direitos reprodutivos”
como estratégia para implementação do controle populacional a nível global, o que
temos denunciado há anos20e que é admitido pelos autores liberais acima citados.21
Mas não é preciso ir muito fundo para ver que objetivos geopolíticos e populacionais
estão “ocultos” atrás do discurso de uma suposta preocupação com as mulheres,
uma vez que o “direito reprodutivo” foi reconhecido nas conferências sobre
“populações”. Trata-se claramente de uma união de interesses de ideólogos
marxistas, ideólogos feministas e elites globais (os chamados metacapitalistas), os
quais nutrem planos claros de controle populacional e social.22
Isso está também documentado no artigo acadêmico escrito por funcionários da
famosa Planned Parenthood publicado em 1970, onde listaram as assustadoras
propostas de controle populacional discutidas entre ecologistas, demógrafos e
ideólogos.23
Esses planos visam o controle de natalidade por meio da redução do número de
nascimentos, tendo como maior foco os países pobres,24 só que, certos de que a mera
argumentação em prol do acesso ao aborto para reduzir a população não seria bem
aceita em nível global, trataram de embalar a proposta dentro do debate por
“direitos reprodutivos”.

Em terceiro lugar e por fim, discute-se o “aborto seguro”. A falácia feminista


resume-se no seguinte slogan: o aborto, além de ser um “direito”, poderia ser seguro.
Para começo de conversa, ele jamais será seguro para o nascituro, que é assassinado.
Mas, infelizmente, nessa narrativa o bebê não é levado em consideração. E para a
mulher? Para ela, busca-se evitar que elas saibam de todos os possíveis riscos de
curto e longo prazo, que são consequências do procedimento de se interromper
abrupta e violentamente o processo natural de gestação para o qual a mulher foi
biologicamente constituída e preparada ciclicamente durante toda a vida fértil.

Dentre inúmeros estudos na área, alguns são feitos por parceiros de clínicas ou
institutos ligados à indústria do aborto.25
Assim, diante de um cenário com vasta e “diversificada” produção acadêmica, é
possível ver que o aborto traz sim diversos riscos para qualquer mulher, mesmo se
realizado em clínicas legalizadas ou hospitais: as possíveis complicações imediatas
para a saúde física incluem doença inflamatória pélvica, infertilidade, placenta
prévia, infecções, lesões uterinas e hemorragias. Estudos apontam que complicações
imediatas, em situação de aborto legal, podem chegar a 11% no procedimento
cirúrgico,26e os riscos podem ser maiores no aborto farmacológico.27
No Canadá, onde há forte subnotificação de abortos legais, estima-se 4 mil mulheres
ao ano com complicações do aborto.28
Complicações tardias incluem maior risco de parto prematuro em gestações
subsequentes, com relação bem consolidada, e aumento no risco de câncer de mama
apontado em muitos estudos, porém com alguns poucos estudos conflitantes.29
No âmbito da saúde psicológica, depressão, ansiedade, remorso, culpa, abuso de
drogas, Transtorno de Estresse Pós-Traumático são apontados em muitos estudos.30
Dizer que o aborto seguro é um direito da mulher faz parte de uma narrativa que
oculta objetivos geopolíticos, os quais não envolvem a preocupação com o bem da
mulher e das famílias. Além disso, o argumento mostra-se inconsistente em todos os
seus elementos, já que não pode ser considerado um direito o descarte da vida
humana, nem se pode considerar segura uma intervenção médica que vai contra a
natureza da mulher e que apresenta claros riscos para a sua saúde física e
psicológica, independentemente da forma com que seja feita.

XII.
Precisamos do feminismo para combater a violência

Isaque de Miranda1

“Nem toda mulher gosta de apanhar; só as normais. As neuróticas reagem”. Este


polêmico aforismo, atribuído ao dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, vem
ressoando há décadas na cultura popular brasileira, geralmente comentado e
analisado como a reverberação de uma espécie de consenso impronunciável
compartilhado pelos integrantes de uma sociedade machista e patriarcal, da qual o
autor — apesar de reconhecido e até mesmo adulado nos meios progressistas pela
habilidade de desnudar como poucos a hipocrisia e os distúrbios de ordem moral
camuflados sob a carapaça de normalidade do cidadão de bem que vive de
aparências — era ele mesmo apontado como um protótipo dessa mentalidade
retrógrada a ser superada.

Autodeclarado reacionário e moralista, por vezes descrito como pornográfico,


misógino e misantropo por seus detratores, Nelson Rodrigues gostava de criar
contradições e tinha no desconforto do público um de seus objetivos estéticos.
Deixou uma obra literária marcada pelo estilo atroz, de fórmulas narrativas
habitualmente carregadas de morbidez e obscenidades que evocavam os mais
degradantes impulsos humanos — perversões sexuais, traições conjugais, estupros,
incestos, parricídios, infanticídios, prostituição, homossexualismo e toda sorte de
tabus morais são a matéria-prima imaginativa de grande parte de seus escritos
ficcionais mais célebres. Em sua obra, a prática do pecado inevitavelmente conduz os
personagens a uma condição existencial de sofrimento, geralmente resultando em um
desfecho sinistro, onde a imoralidade leva homens e mulheres ou à condenação ou
ao arrependimento e à redenção. “Minha peça tem um moralismo agressivo. Nos
meus textos, o desejo é triste, a volúpia é trágica e o crime é o próprio Inferno. O
pobre espectador vai para casa apavorado com todos os seus pecados passados,
presentes e futuros”,2 explicava ele.

Tão hiperbólica quanto a máxima que abre este breve artigo são as variadas
interpretações que ela permite. Se por um lado as falanges da “lacração” hodierna
não hesitariam em “cancelar” o escritor e acusá-lo de estar estimulando a violência
contra a mulher, um pequeno esforço cognitivo pode ser o suficiente para, depois do
choque inicial, reconhecer nas entrelinhas uma consideração da suposta disposição
feminina à postura de resignação ante à condição de vítima. Contextualizando: a
mulher que se entrega a algum tipo de degradação movida pelo ímpeto incontrolável
das emoções é uma figura constante em sua obra. As personagens rodrigueanas, para
o bem ou para o mal, são extremas na forma como sentem e reagem. Elas estão
dispostas a se submeter aos impulsos e praticar os atos mais abomináveis quando
movidas pelo amor ou pelo ódio. Todas as convenções são suplantadas diante de
uma irracionalidade primitiva que nos recônditos transforma até as mais
aparentemente puras meninas de família em feras incontroláveis e perigosas, capazes
de destruir um homem ou se entregar à autoimolação por ele, pouco importando se
ele merece ou não toda essa entrega. Tudo na mulher é sobre a mulher, nunca sobre
o homem.

Muito dessa percepção sobre o sexo feminino contida na obra de Nelson tem uma
origem bastante sombria: o assassinato de seu irmão Roberto em 26 de dezembro de
1929 pela escritora feminista Sylvia Serafim Thibau — que costumava assinar seus
artigos sob o pseudônimo “Petit Source”. “O assassínio de meu irmão marcou a
minha obra de ficcionista, de dramaturgo, de cronista, assim como a minha obra de
ser humano. E esse assassinato está marcado no meu teatro, nos meus romances, nos
meus contos. Esse crime me mudou inteiramente”, declarou certa vez.

No dia 26 de dezembro, a redação do jornal Crítica,3 de propriedade de Mário


Rodrigues, pai do célebre dramaturgo, não tinha nada de muito importante para
destacar na capa da sua próxima edição, de modo que se decidiu publicar uma
manchete sobre o “rumoroso pedido de desquite” envolvendo Sylvia e o médico João
Thibau Júnior, seu esposo à época. A reportagem sensacionalista especulava o
motivo da separação: o suposto caso que a mulher teria mantido com o renomado
médico radiologista Manuel Dias de Abreu, com quem ela recentemente havia
realizado um malsucedido procedimento experimental de depilação com uso de raio-
X. Acompanhando a matéria, o desenho de um clínico apalpando a perna de uma
mulher com a saia suspensa e anágua exposta — obra de Roberto, que era o
responsável pelas ilustrações no jornal do pai, onde também Nelson, aos 17 anos, já
atuava como repórter policial.

Descrita nas páginas do folhetim como “uma escritora moderna, reivindicadora


dos direitos da mulher no século”,4 Sylvia havia sido procurada durante o dia para
contar a sua versão dos fatos, mas recusou-se a receber os jornalistas e combinou de
comparecer à redação no início da noite, mas só chegou lá por volta das 22h,
acompanhada por um amigo; foi recebida por Roberto, a quem teria tentado
convencer a não publicar a reportagem. Apesar do encontro, a manchete acabou
saindo e no dia seguinte a capa expôs toda a situação constrangedora envolvendo os
consortes, que eram muito ativos na alta sociedade, propagando ainda mais o
escândalo.

Na tarde de 27 de dezembro de 1929, Sylvia Serafim Thibau se dirigiu novamente à


sede do jornal procurando o seu proprietário, Mário Rodrigues. Como ele não
estava presente, nem o seu primogênito Mário Filho, quem a atendeu foi Roberto.
Sugerindo que precisava conversar em privado, ela foi conduzida pelo desenhista até
o gabinete da redação. Minutos depois, a “Petit Source” sacou uma arma calibre 22
e atirou a queima-roupa no abdômen de Roberto Rodrigues, que ficaria agonizando
por dias antes de vir a óbito. Seu pai, inconsolável, também veio a falecer poucos
meses depois, abalado pelo desgosto. Detida imediatamente por um detetive presente
na cena do crime, Sylvia se entregou sem resistência. “Vim aqui para matar Mário
Rodrigues ou um de seus filhos”, teria declarado logo após realizar o ato que mais
tarde seria rememorado como a primeira tragédia de Nelson Rodrigues, o mito
fundador de seu pensamento e estilo.

Os desdobramentos do assassinato de Roberto Rodrigues alcançaram grande


repercussão e moveram a opinião pública nos meses seguintes, tanto que o
julgamento de Sylvia Serafim acabou sendo o primeiro da história do Brasil a ter
transmissão ao vivo pelo rádio. Apesar da forte campanha do jornal Crítica contra a
assassina, o júri acabou por absolvê-la após sua defesa adotar uma linha de
argumentação que volta e meia lograva êxito em julgamentos envolvendo homicídios
cometidos por homens: a defesa da honra — em uma condição na qual seu
descontrole seria uma consequência do texto difamatório publicado no jornal sobre
assunto de foro íntimo.

Inocentada, a escritora viria a se envolver anos depois com o tenente-aviador


Armando Menezes, com quem teve um filho, mas logo também acabou rejeitada por
ele. Após ser flagrada usando documentos falsificados, teve prisão decretada sob a
alegação de ter cometido o crime de estelionato. Após fuga e uma tentativa
fracassada de suicídio, foi presa preventivamente na enfermaria de uma casa de
detenção em Niterói, onde pôs fim à própria vida, ingerindo um vidro de
barbitúrico, no dia 27 de abril de 1936, aos 33 anos.

O excludente relacionado à “perturbação dos sentidos e da inteligência”,


empregado pela defesa de Sylvia para inocentá-la do homicídio, foi abolido do
Código Penal Brasileiro em 1940. Até então, o impulso incontido na “defesa da
honra” era um argumento utilizado para justificar legalmente a prática de atos de
violência desproporcionais à ofensa recebida, cometidos, por exemplo, em casos
envolvendo adultério, podendo ocasionar a diminuição da pena ou até mesmo a
absolvição do réu, como aconteceu com a assassina do irmão de Nelson Rodrigues.
Em uma rápida pesquisa sobre o tema na internet, o leitor poderá encontrar diversos
artigos e tratados relacionando o excludente à uma hipotética mentalidade machista
preponderante na legislação brasileira da época, que supostamente privilegiava os
homens com uma condição de leniência ante à prática do que hoje se chama de
feminicídio

— uma análise enviesada, simplista e bastante reducionista, pois a “defesa da


honra” era a motivação de atos de agressão praticados contra pessoas de ambos os
sexos.

Foi, por exemplo, a “defesa da honra” que levou o célebre escritor Euclides da
Cunha a duelar com o militar Dilermando de Assis, amante que havia engravidado
sua esposa Ana Emília Ribeiro durante período de sua ausência, enquanto ele
participava de uma expedição na região do Amazonas. A situação se prolongou por
anos, até que em 15 de agosto de 1909, o autor de Os sertões, homem reconhecido
pela genialidade estilística e pensamento ordenado, ao não encontrar a esposa em
casa, foi tomado pela cólera e saiu para matar o rival. Apesar de atingido por um
disparo, Dilermando, exímio atirador, revidou rápido para neutralizar Euclides, que
caiu morto. Em 1916, Euclides da Cunha Filho também desafiou o algoz de seu pai e
acabou tendo o mesmo fim. Em ambos os episódios, Dilermando foi absolvido sob a
alegação de ter atirado em legítima defesa, mas durante o resto de sua vida foi
marginalizado por sua ação enquanto o escritor passou a ser “santificado pela
sociedade por ter morrido em nome de um princípio tão caro a todos — a honra”.5
A abordagem adotada pelos jornais da época, condescendente à atitude dos
desonrados, é notória: tanto Euclides da Cunha, que acabou morto, quanto Sylvia
Serafim Thibau, que matou, não são tratados como agentes provocadores dos
desfechos trágicos acima descritos, recaindo a culpa sobre os próprios alvos de seus
disparos, ambos homens. Se por um lado o Crítica, por motivos óbvios, realizou
uma pesada campanha de ataques morais contra a escritora feminista, descrevendo-a
em suas manchetes e matérias com inúmeros insultos como “meretriz”, “porca
sifilítica”, “cadela de pernas felpudas” e “literata do mangue”, outros jornais, como
o Diário Carioca, argumentavam que a cena sangrenta que ela protagonizou na
redação do Crítica não podia ser considerada uma eventualidade ou surpresa, já que
“não se pode exigir que pessoas que ainda não perderam de todo o pudor se
conformem em ver atassalhada a sua honra numa linguagem que ofende toda a
sociedade”,6descrevendo, inclusive, que “a acusada, logo depois de haver sido
autuada em flagrante, sempre animada, entreteve amistosa palestra com várias
senhoras de nossa melhor sociedade, que ali foram protestar-lhe sua solidariedade”.7
Segundo Karla Carloni, grande parte da opinião pública estava a favor de Sylvia:

A cobertura do crime feita pelos principais jornais e, posteriormente, o resultado


do julgamento de Sylvia nos fazem refletir. As palavras em sua defesa podiam estar
relacionadas ao seu prestígio social e à sua atuação na imprensa, mas também, ao
estranhamento de uma possível vilania feminina.8
A análise do exposto em fontes produzidas no período demonstra que a alegação
de “defesa da honra” não se sustentava ante a opinião pública ou mesmo os
tribunais meramente sob um suposto imperativo cultural misógino, tendo em vista
que o mesmo princípio que era aplicado para absolver homens também foi aceito
para justificar o homicídio cometido por uma mulher. Além do mais, podemos
concluir que se algo permanece culturalmente imutável desde a primeira metade
do século XX é o consenso social em torno da ideia de que a mulher é
praticamente incapaz de fazer mal a alguém, tendo sempre o seu potencial de
letalidade ignorado, mesmo quando dá início a situações que descambam para a
agressão física. Outra conclusão é que essa narrativa se sustenta até os dias
presentes, tanto que tem servido como combustível para a produção e aprovação
de milhares de projetos de lei em todas as casas legislativas brasileiras —
embasados em não muito mais do que um sentimento de revanchismo coletivo do
sexo feminino sobre o masculino, já que, segundo as crenças e narrativas
predominantes, em tempos não muito distantes os homens teriam feito do Estado
uma ferramenta para “oprimir” ou mesmo “exterminar” as mulheres —,
consolidando-se assim um fenômeno chamado pelos acadêmicos de assimetria de
gênero: o tratamento diferenciado concedido a homens e mulheres na abordagem
legal e em políticas de Estado que deveriam contemplar todas as pessoas.

Em um pronunciamento realizado no dia 15 de maio de 2021, na Assembleia


Legislativa de Santa Catarina, durante debates em torno da aprovação de mais um
projeto que reforçava o estereótipo de maior vulnerabilidade do sexo feminino —
para fazê-lo, portanto, digno de receber mais privilégios estatais negados aos homens
—, a deputada estadual Ana Caroline Campagnolo apresentou os números obtidos
em uma pesquisa realizada no site da Câmara Federal, compilando a quantidade de
projetos de lei protocolados entre janeiro de 2019 e maio de 2021: foram 1.131
referências às mulheres, ao passo que se produziu apenas 4 proposições voltadas aos
homens.9
A parte mais significativa da narrativa que sustenta a indústria de criação de leis que
privilegiam as mulheres é baseada no discurso do combate à violência doméstica.
Quem em sã consciência poderia se opor a isso? Qualquer pessoa que conserva pelo
menos o mínimo de civilidade necessário para se conviver em sociedade vai se
declarar contrário à prática de agressões contra pessoas inocentes e indefesas. O pulo
do gato está na apropriação da pauta justa, que é a busca pela redução e controle
dos efeitos do fenômeno social, instrumentalizada para apresentar a agressividade
injusta como um problema de gênero. Podemos dizer que o movimento feminista foi
muito bem-sucedido nessa estratégia, já que de uma ponta à outra do espectro
político brasileiro, fora raríssimas exceções individuais, todos os parlamentares
legislam crentes e convencidos dessa falácia, até porque, é eleitoralmente melhor não
pensar muito a respeito, já que esse consenso também pode ser observado na
sociedade.

Pare e pense: como a maioria das pessoas que você conhece reagiriam se ouvissem
alguém afirmando que, em números absolutos, morrem muito mais homens do que
mulheres no contexto doméstico? Que, na prática de determinadas categorias de
agressão doméstica, mulheres estão à frente dos homens? Que as mulheres iniciam a
maior parte dos episódios de violência? Ou que, levando em consideração apenas
agressões físicas restritas (não incluindo abusos sexuais ou assassinatos), o número
de autores é semelhante em ambos os sexos? Em 2000, John Archer, pesquisador e
professor de psicologia da University of Central Lancashire, no Reino Unido,
publicou um estudo meta-analítico intitulado Sex Differences in Aggression Between
Heterosexual Partners e colocou sob questionamento as metodologias adotadas na
produção científica relacionada à temática da violência doméstica, que normalmente
parte de perspectivas enviesadas e não leva em consideração critérios que indicam
uma maior influência de comportamentos e atitudes de mulheres nos casos
analisados, confirmando com dados que, apesar de o número de assassinatos
praticados no contexto doméstico levado a cabo por homens seja consideravelmente
maior, uma grande parte das ocorrências de violência nesse contexto seria
provocada, direta ou indiretamente, por agressões de menor potencial ofensivo
deflagradas por mulheres.

Uma das pioneiras em abordagens mais amplas nos estudos sobre homicídios
perpetrados por mulheres, Coramae Richey Mann, professora emérita de
criminologia e da Universidade de Illinois em Chicago e autora de livros sobre o
tema, como Female, Crime and Delinquency (1984) e When Women Kill (1996),
examinou casos de 296 mulheres presas por homicídio em seis grandes cidades
norte-americanas entre os anos de 1979 e 1983 e descobriu que aproximadamente
metade dos crimes foram cometidos contra um companheiro no contexto doméstico.
Cerca de 70% desses homicídios ocorreram enquanto as vítimas estavam
desacordadas ou embriagadas e em 60% dos casos houve premeditação.10
Em outra pesquisa sobre prisões, realizada no ano de 1991, Mann também
reconheceu que mulheres assassinas normalmente recebem sentenças mais brandas,
conforme observou Philip W. Cook em sua obra Abused Men: The Hidden Side of

Domestic Violence:

Para cada categoria de ofensa, as mulheres recebiam sentenças máximas em média


mais curtas que as dos homens. Muitas assassinas que matam seus esposos são
condenadas por homicídio de primeiro grau e nem mesmo são registradas nas
estatísticas do Departamento de Justiça, porque pagam ou persuadem um homem
para matar por elas. Nas estatísticas do Departamento de Justiça, uma morte
encomendada sequer é registrada como uma esposa matando o marido, mas sim
como um homicídio com ofensores múltiplos. Todavia, é importante destacar que
a grande maioria dos incidentes de violência doméstica não resultam em morte ou
mesmo em ferimento grave.11
O ponto levantado por Cook indica outro problema relacionado à assimetria de
tratamento entre os sexos no que diz respeito ao combate à violência injustificada:
os critérios e metodologias de coleta de duvidosos ou reticentes, o despreparo dos
agentes envolvidos e as subnotificações ou distorções que transformam em uma
missão quase impossível para qualquer pesquisador o levantamento de dados e
mapeamento das agressões praticadas contra homens nos ambientes domésticos, já
que praticamente não existem ações oficiais que assegurem a captação dessas
informações. Do negacionismo arraigado em todos os setores da sociedade às
concepções das próprias vítimas sobre a forma como enxergam a sua condição,
passando pela quase completa negligência dos governos em promover medidas
especializadas no atendimento às demandas masculinas em contrapartida às
incontáveis iniciativas voltadas ao bem-estar da mulher, não há muito interesse em
investigar as causas e encontrar soluções para a violência doméstica sob uma
perspectiva de fato equânime; ou pior, existe sim um esforço para transformar em
motivo de chacota qualquer ação estatal que considere os homens em suas
demandas e particularidades.
O Disque Direitos Humanos (ou Disque 100), é um serviço mantido desde 2011
pelo Governo Federal que, apesar de ser um sistema de compilação de dados baseado
apenas em denúncias e não em crimes constatados ou julgados, tem suas estatísticas
constantemente recortadas e utilizadas pela mídia e por políticos e militantes para
propagar a ideia de prevalência de violência praticada contra grupos específicos,
como mulheres, negros e homossexuais. Em um levantamento realizado pelo
pesquisador independente Daniel Reynaldo, a partir de percentuais relativos ao ano
de 2019 e sem incluir denúncias onde o autor ou a vítima não tiveram o sexo
identificado, pode-se obter informações como, por exemplo, de que 46,17% das
agressões praticadas contra crianças foram realizadas por mulheres, enquanto os
homens seriam responsáveis por 36,8%.

Tão “surpreendente” quanto é o empate técnico no que diz respeito ao número de


denúncias relacionados à violência contra idosos: 41,47% das agressões praticadas
por mulheres contra 39,42% dos homens.12
Por mais que o Disque 100 não possa ser tratado seriamente como fonte segura de
informação — apesar de as feministas utilizarem constantemente dispositivos dessa
natureza, como se fossem fontes inequívocas para construir narrativas que apontem
a violência doméstica como um problema de gênero —, ele representa um indicativo
de que, sim, mulheres podem ser tão agressivas quanto homens, podendo ser tanto
vítimas quanto perpetradoras de crimes contra outras pessoas em ambientes
domésticos.

Antes que prossigamos, é preciso afirmar aqui: nem toda feminista é mal-
intencionada. Por mais que discordemos no aspecto macro de nossas cosmovisões,
podemos concordar em premissas fundamentais para a existência de um debate
intelectualmente honesto e produtivo, como por exemplo, a análise ampla e
imparcial de fatos e estatísticas. Em um contexto no qual se tenta a todo custo impor
uma determinada perspectiva de interpretação, seja ela feminista ou antifeminista, o
debate fica inviabilizado, pois se transforma em um embate de dogmas. Assim como
não posso partir do pressuposto da “vontade de Deus” para convencer uma
feminista de meus argumentos, ela não pode partir do pressuposto da existência de
uma conspiração masculina universal para oprimir as mulheres, pois nos dois casos
trata-se de uma questão de fé. Levando isso em consideração, da mesma forma como
seria desonesto fingir que o potencial de letalidade das agressões cometidas por
pessoas do sexo masculino contra pessoas do sexo feminino é muito mais
considerável do que o oposto — já que essa afirmação lógica advém da própria
determinação biológica —, também é desonesto fingir que o problema da violência
doméstica é um problema de gênero, segundo o qual apenas os homens seriam
capazes de praticar agressões.

Digo isso porque foi uma autodeclarada feminista, Eva Solberg, líder da ala
feminina do Partido Moderado da Suécia, que em 2015 apresentou os primeiros
questionamentos quanto ao caráter sexista adotado nas políticas de Estado
relacionadas à questão da violência doméstica. A partir dos dados estatísticos
levantados pelo projeto Partner Abuse State of Knowledge (PASK), que resumiu mais
de 1.700 artigos científicos sobre o tema, ela concluiu que os relatórios utilizados
para fundamentar tanto a abordagem quanto as próprias medidas do governo sueco
para prevenção, tratamento ou reparação do problema da violência familiar foram
elaboradas a partir de desinformação, colocando em prática políticas públicas sob
uma visão unilateral misândrica, que representa os homens como únicos
perpetradores do ciclo da violência. Em um artigo que publicou sobre o tema, ela
denunciou:

Como política, recebo telefonemas de pais a quem é negada a permissão para


verem seus filhos. Também ouvi muitas crianças que relataram terem sido
expostas à situações de vulnerabilidade mediante processos que deveriam protegê-
las. Isso é totalmente inaceitável [...]. Conversei com muitos pais e filhos que
testemunharam uma realidade completamente diferente [da narrativa

de que homens são agressores e mulheres sempre são vítimas]. A pesquisa [do
projeto PASK] também fornece evidências para seus relatos de que, sim, as
mulheres também usam da violência dentro das famílias. Tanto os parceiros
quanto os filhos podem ser vítimas. Se virmos as mulheres apenas como vítimas,
isso não coloca esses homens e seus filhos em uma posição de desvantagem? Se
nós, como mulheres, não defendermos esses homens, quem então o fará? Qualquer
forma de violência é ilegal e deve ser combatida [...]. Temos que começar a falar
sobre este problema difícil e complicado. E devemos começar a reconhecer o fato
de que a violência doméstica, em pelo menos metade de suas ocorrências, é
perpetrada por agressoras. Caso contrário, nossos esforços para proteger os mais
vulneráveis entre nós, as crianças, nunca serão mais do que apenas uma aspiração.
Continuaremos a falhar na tentativa de ajudar as famílias a romper com esse
padrão destrutivo.13
Os pontos levantados por Solberg levaram uma renomada psicóloga australiana,
Bettina Arndt, a investigar a situação da violência doméstica em seu país, e as
conclusões às quais ela chegou são estarrecedoras. No artigo publicado em agosto
de 2016, “The Domestic Violence Industry”,14 ela aponta diversas manipulações
de dados utilizados para criar a impressão de que a Austrália estaria vivendo uma
“epidemia de casos de violência doméstica contra a mulher”, quando na verdade,
os números reais indicavam uma considerável redução nos índices ao longo dos
anos anteriores: a porcentagem de mulheres agredidas por parceiros ou ex-
parceiros havia caído de 2,6% em 1996 para 1,06% em 2012.

Segundo Arndt, das distorções e omissões deliberadas de dados — como por


exemplo, a informação de que “23% dos jovens na Austrália testemunharam um
incidente de violência física ou psicológica contra sua mãe ou madrasta” sem
informar que uma proporção quase idêntica, 22%, dos jovens australianos também
haviam presenciado episódios de violência doméstica contra seus pais ou padrastos
—, extrai-se as narrativas necessárias para se manter uma indústria movida pela
guerra dos sexos: todos os anos, milhões são investidos pelos governos para
sustentar pesquisas, projetos, campanhas e organizações que retroalimentam a
escalada do ginocentrismo estatal, produzindo legislações e políticas públicas cada
vez mais hostis ao homem, de modo que em diversos países, a mera denúncia de
violência psicológica é suficiente para que uma mulher possa privá-lo da companhia
dos filhos, expropriar seus bens e destruir sua reputação, já que diversas leis que
tratam a violência doméstica como um problema de gênero não exigem os padrões
normais de prova e presunções de inocência, tornando o homem culpado até que
consiga provar o contrário, mergulhando-o em um processo desgastante que, pelo
menos socialmente, torna-se quase impossível de ser revertido.

Muito dessa estratégia se sustenta no domínio quase hegemônico da perspectiva


feminista na produção acadêmica sobre o tema da violência doméstica. Em sua
dissertação de mestrado intitulada Assimetria e simetria de gênero na violência por
parceiro íntimo em pesquisas realizadas no Brasil, Thays Berger Conceição analisou
79 publicações acadêmicas relacionadas ao tema e constatou “forte liderança da
linha teórica feminista nos discursos dos pesquisadores”, observando que apenas
25,3% dos estudos contemplaram uma abordagem mais ampla da questão. As
publicações de viés feminista predominantes apresentaram, em sua maioria,
pesquisas qualitativas, das quais 81,1% contêm amostras compostas exclusivamente
por relatos de mulheres. Dos estudos analisados, apenas 16,2% contemplam a
violência bidirecional, onde ambos os envolvidos admitem ter cometido algum tipo
de agressão contra seus companheiros, chamando atenção o fato de que “nenhum
estudo desta linha teórica referiu a violência que a mulher comete contra seu
parceiro”.

No estudo Violência e saúde: estudos científicos recentes, realizado a partir da


análise de 234 artigos publicados entre 1980 e 2005, as autoras destacam a
ocorrência de um crescente enviesamento das pesquisas a partir de movimentos
estimulados por organismos internacionais como a Organização Mundial da Saúde
(OMS), que ao reorientar o modo tradicional de tratar diagnósticos, deu espaço à
ascensão de abordagens de análise até então marginais, como as perspectivas de
gênero e raça/etnia sob a intervenção de “movimentos sociais” e “ações militantes”.
Essas novas “visões” são críticas aos conceitos tradicionais explicativos adotados
para mensuração de dados sociológicos, como família, geração, classe social ou
identidade de bases nacionais, suprimindo critérios e direcionando as pesquisas para
conclusões convenientes a fins ideológicos específicos.

Nos estudos sobre a violência contra a mulher, deu-se grande relevância à noção
de gênero, utilizada em parcela reduzida dos estudos relativos a crianças e
adolescentes. Os dois campos utilizaram o termo violência doméstica ou
intrafamiliar, mas a aproximação e ênfase à ideia de família difere bastante, assim
como foi tensa a composição da defesa dos direitos individuais dos sujeitos
envolvidos com a defesa da família e sua integridade. O tema família foi pouco
presente na produção científica acerca das violências atinentes às mulheres, mas
quase obrigatório no campo das crianças e adolescentes.15
Conforme observam as autoras, parece existir uma forte tendência à desvinculação
da família como objeto de análise em estudos relacionados à agressão praticada
contra a mulher, tomando “a violência como traço constitutivo da
masculinidade”, ao passo que quando o foco de estudo são crianças e
adolescentes, a questão passa a ser tratada sob perspectiva, e nunca partindo da
abordagem de um problema de gênero. Talvez por isso pouco se fale do fato de
que as mães são as maiores praticantes de violência doméstica contra crianças e
adolescentes.

Um estudo conduzido pela epidemiologista especialista em violência doméstica


Heidi Stöckl indicou que a maioria dos infanticídios que ocorrem no mundo inteiro
são cometidos pelas próprias mães. Na revisão publicada por ela e outras colegas em
2017, intitulada Child Homicide Perpetrators Worldwide: A Systematic Review,
pode-se constatar o indicativo de que as próprias mães são responsáveis por 100%
dos assassinatos cometidos contra recém-nascidos com menos de 1 dia. Comparando
dados de países como Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, África do Sul, Hungria,
Suíça, Islândia e Finlândia, o estudo também demonstra que os meninos são as
maiores vítimas de infanticídio, e as mães são as responsáveis pela maioria dos
assassinatos praticados contra crianças de qualquer idade, apesar de que em alguns
países os pais aparecem como os assassinos prevalentes. Os dados também
demonstraram que quando um dos padrastos ou madrastas é o homicida, costuma
ser aquele escolhido pela mãe como companheiro, e não o pelo pai.

The Global Prevalence of Intimate Partner Homicide: A Systematic Review, um


outro estudo conduzido por Stöckl e patrocinado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), aponta uma estimativa que costuma ser bastante replicada pelo
ativismo feminista: quatro em cada dez (38,6%) mulheres assassinadas no mundo
foram mortas por maridos ou namorados, enquanto esposas ou namoradas foram
responsáveis por “apenas” 6,3% dos casos de assassinato contra homens. Porém, o
que não se fala é que em números absolutos, muito mais homens foram assassinados
no Brasil, já que os mesmos são as maiores vítimas da violência global; sendo assim,
a aplicação das estimativas produzidas pela pesquisadora indica um número de
quase 4 mil homens assassinados anualmente por parceiras ou ex-parceiras no Brasil;
em contrapartida, pouco menos de 2 mil mulheres foram mortas em condições
semelhantes. Os dados frios não têm ideologia: ela está contida na forma como estes
são apresentados.

Enquanto a violência doméstica for tratada pelo viés da vitimização da mulher e


dos preconceitos estabelecidos do homem como um predador incontrolável e
estuprador em potencial — ou seja, como um problema de gênero —, continuará
ignorada a real causa que precisa ser combatida, a saber: a incomunicabilidade entre
os sexos que corrói os relacionamentos e desfragmenta as famílias. Continuando as
coisas como estão, o abismo irá apenas se alargar, o que reforçará ainda mais os
índices de violência e ruptura entre homens e mulheres — como bem constatou Erin
Pizzey, criadora do primeiro abrigo para mulheres vítimas de violência, e que
abandonou o feminismo ao perceber que a ideologia havia se transformado em um
grande negócio: às custas dos sofrimentos que a crescente aplicação da ideologia tem
provocado a pessoas de ambos os sexos, a elite do movimento lucra muito e
abocanha cada vez mais poder com a indústria construída em torno dessa questão.

XIII.
O feminismo é um movimento espontâneo que representa todas
as mulheres

David Amato

Qualquer um que saiba alguma coisa de história sabe que as grandes mudanças
sociais são impossíveis

sem o fermento feminino.

— Karl Marx, em correspondência a Ludwig Kugelmann1 Se o feminismo algum


dia foi um movimento orgânico e espontâneo, deve ter sido dois séculos atrás, pois
nas últimas décadas os números mostram que as mulheres não passaram de massa
manobrada de interesses internacionais de poder. Quem porventura ainda não
tenha pesquisado por “women’s studies” juntamente a “Rockefeller
Foundation”2em seu mecanismo de busca preferido — alterando também a
fundação para Ford,3MacArthur4ou Open Society5—, ao fazê-lo ficará, no
mínimo, intrigado com o gigantesco número de resultados apresentados. É
possível ampliar ainda mais o leque ao trocar o termo “estudos femininos” (os
braços acadêmicos do feminismo) por “women’s rights” (direitos das mulheres),
“reproductive rights” (direitos reprodutivos), “gender equality” (igualdade de
gênero), ou até mesmo “feminism/feminist” (feminismo/feminista). Esses termos
são apenas algumas das embalagens convidativas utilizadas para escamotear o
conteúdo feminista (ou parte dele). O leitor poderá testar outras combinações à
medida que for entendendo as regras do grande jogo que, longe de mera teoria da
conspiração, há muito apresenta-se como uma conspiração aberta.

Mas o que explicaria o financiamento de fundações multibilionárias para esse


movimento? Estariam todas imbuídas de excelsas intenções de justiça social e de
progresso? Por qual motivo a esquerda, que sempre vociferou contra os grandes
capitalistas, estaria sendo agraciada com um suntuoso aporte de capital direcionado
a ONGs que impõem um verdadeiro governo paralelo? O acesso para as camadas
mais profundas daquilo que paira na superfície começa quando entendemos que
estamos lidando com um investimento de longo prazo. Afinal, famílias dinásticas,
banqueiros e financistas não abrem suas carteiras sem a possibilidade de retorno.

Popularizada na década de 70 com o filme Todos os homens do presidente, a


expressão “follow the money” (siga o dinheiro) já era utilizada tanto no jornalismo
investigativo como no debate político estadunidense. Ela sugere que esquemas de
corrupção deixam rastros de dinheiro, o que não seria diferente em modelos cujas
concessões financeiras — ainda que legais — produzam também corrupção, porém
em escala moral, intelectual e até mesmo espiritual. No apêndice do best-seller
Feminismo: perversão e subversão,6 detalhei algumas das infindáveis concessões
(grants) de fundações globalistas ao movimento feminista, que foi alvo de
manipulação até mesmo pela indústria de tabaco na icônica campanha Tochas da
Liberdade.7Arquitetada por Edward Bernays — tido como pioneiro nas relações
públicas e defensor da propaganda como braço executivo de um governo invisível8
—, modificou a relação das mulheres com o consumo de cigarro por meio de
engenhosa manipulação da via cultural.

Menos conhecido e igualmente pioneiro em seu ofício, Ivy Lee foi o responsável
pelo resgate da reputação da dinastia Rockefeller, lançando-a à filantropia. Defensor
da comunicação das instituições, Lee foi contratado como conselheiro e informante
publicitário após o Massacre de Ludlow (1914),9quando homens, mulheres e
crianças foram mortos em retaliação a uma greve de mineiros de carvão empregados
pela Colorado Fuel & Iron Company, dirigida pela família. No entanto, esse não foi
o único escândalo onde os tentáculos da fundação estiveram presentes: ela também
financiou Margaret Sanger e sua Liga Americana de Controle de Natalidade10(hoje
Planned Parenthood);11esteve envolvida na esterilização de pelo menos 35% das
mulheres porto-riquenhas na década de 30;12/13em criminosos experimentos com
sífilis em guatemaltecos na década de 40;14e no financiamento da fraude científica de
Alfred Kinsey, pesquisa que foi elaborada às custas do abuso de centenas de crianças
e utilizada para pavimentar as bases da revolução sexual nos EUA na década de 60,
conforme denunciado e amplamente documentado pela escritora Judith Reisman.15
Vale lembrar que a obsessão com o controle populacional por parte de John D.
Rockefeller III o levou a criar o Population Council.16
Ao atuar como investigador-chefe em 1953 para o Comitê Especial sobre Fundações
Isentas de Impostos e suas atividades subversivas, Norman Dodd citou Rowan
Gaither, então presidente da Fundação Ford como defensor da fusão do capitalismo
e do comunismo em um sistema de controle global.17
/18Elencada como maior agente filantrópica dos estudos femininos desde o início dos
anos 1970,19sua atuação também é contundente no Brasil. É o que consta no
relatório “Os 40 anos da Fundação Ford no Brasil: uma parceria para a mudança
social”.20
Publicado em 2002, ele mostra como a fundação teve papel primordial no
desenvolvimento do movimento feminista, nos estudos sobre as relações de gênero e
das Ciências Sociais. Lista, ainda, ONGs feministas financeiramente contempladas,
tais como a SOS-Corpo — Instituto Feminista para a Democracia,21CFEMEA —
Centro Feminista de Estudos e Assessoria,22Coletivo Feminista Sexualidade e
Saúde,23ECOS — Comunicação e Sexualidade,24e CEPIA — Cidadania, Estudo,
Pesquisa, Informação e Ação.25
Essas organizações são listadas como parte de uma articulação estimulada pelas
conferências da ONU em organização transnacional. Em julho passado, a fundação
anunciou o comprometimento de mais de US$ 500 milhões em prol da desigualdade
de gênero e do fortalecimento de movimentos e direitos feministas.26
Em 2004, a Fundação MacArthur publicou o Programa de População e Saúde
Reprodutiva no Brasil: Lições Aprendidas,27celebrando o lobby abortista praticado
por inúmeras organizações feministas, que, por sua vez, foram agraciadas com
concessões financeiras oriundas da fundação. Por último, mas não menos
importante, a Open Society — ponta de lança do famigerado George Soros —
anunciou recentemente o comprometimento de US$ 100 milhões para “apoiar a
mobilização e liderança política feminista”.28
Somadas apenas as concessões dessas quatro fundações ao longo de suas existências,
chegaremos à incrível cifra de US$ 56 bilhões. Para todos os efeitos — sejam eles
benéficos ou maléficos —, é inegável que a irradiação de tanto dinheiro ajuda a
esculpir os rumos da política em escala global, principalmente quando boa parte dele
é destinado ao fomento de agendas revolucionárias. Aparentemente controversa, essa
aliança foi documentalmente provada por Antony Sutton na Trilogia de Wall
Street,29 onde ele mostra que a guerra entre marxistas e a nata capitalista não passa
de uma imensa fraude, cuja fachada visa mascarar uma relação de submissão e
subserviência dos primeiros para com os segundos. O comunismo e outros embustes
escarlates nunca defenderam a revolução social propriamente dita, mas sim a ruptura
dos tecidos necessários para a entrega do poder totalitário a uma elite plutocrata.

Há quase um século, o célebre escritor H. G. Wells publicou o livro A conspiração


aberta: diagramas para uma revolução mundial, defendendo a incorporação de
inúmeros movimentos capitaneados por um único, possibilitando assim a
instauração de uma Nova Ordem Mundial. Bem-sucedida, a receita hoje é
representada pelo modelo tecnocrático, conforme explicado por Patrick Wood em
seu livro Technocracy Rising: The Trojan Horse of Global Transformation:

Para que a tecnocracia tenha sucesso, é necessário ter um sistema abrangente para
a gestão ordenada de todos os seres humanos e todas as facetas da operação
social. Isso inclui o econômico, político, social e religioso. Além disso, essas áreas
não devem ser meramente compatíveis; elas devem estar tão completamente
emaranhadas umas às outras que as distinções entre elas não sejam óbvias para os
indivíduos.30
Uma das proposições modernas úteis para a realização dessa tarefa reside no
“capitalismo das partes interessadas” (stakeholder capitalism). Klaus Schwab,
fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial (organização segundo a qual
em 2030 “você não terá nada e será feliz”31 /32) foi provavelmente a primeira
pessoa a popularizar o termo no livro Stakeholder Capitalism: A Global Economy
that Works for Progress, People and Planet. Embora Schwab não minta ao
explicar como as corporações se tornaram dominantes no âmbito global,
superando a capacidade de arbitragem dos governos nacionais, a proposta para
superar as dicotomias entre “capitalismo de acionistas” e “capitalismo de Estado”,
em torno das “responsabilidades sociais”, assemelha-se mais à síntese para uma
governança mundial, principalmente após a publicação de seu livro mais recente,
Covid-19: The Great Reset,33no qual a atual pandemia é utilizada como pretexto
para um reinício de praticamente todas as áreas da vida humana.

Altamente criticado pelos adeptos do capitalismo das partes interessadas, o


economista Milton Friedman — cujo nome e pensamento lastrearam a doutrina do
capitalismo de acionistas — foi enfático ao afirmar que empresários com
“consciência social [...] são fantoches involuntários das forças intelectuais que vêm
minando a base de uma sociedade livre nas últimas décadas”.34
Se a consciência social genuína dota o indivíduo de entendimento para um contexto
maior — o que é louvável —, o que impediria que grupos organizados como as
fundações acima listadas se antecipassem, manipulando e subvertendo tal
entendimento como forma de tirar proveito? Seria mera coincidência que qualquer
negócio não adepto das práticas politicamente corretas financiadas por elas esteja
fadado ao escrutínio da extrema-imprensa e da histeria dos guerreiros da justiça
social? Ao que tudo indica, estamos diante de um formidável esquema de destruição
de toda e qualquer concorrência, seja ela de empreendimento ou pensamento ante o
adestramento coletivista.

A esta altura você deve estar se perguntando qual o maior entrave em tudo isso.
Pois bem. Excetuando os de ordem metafísica — e sem medo de incorrer em clichês
—, a resposta não poderia ser mais simples: a família. Um antigo negócio, a abolição
da família foi sistematicamente defendida no materialismo histórico de Karl Marx e
Friedrich Engels nos livros O Manifesto do Partido Comunista35e A origem da
família, da propriedade privada e do Estado.36
Em 2001, o projeto de programa do Partido Comunista Revolucionário dos Estados
Unidos37 manteve o entendimento de que a família nuclear era a base da sociedade,
sendo responsável pela transmissão da propriedade e de valores tradicionais às
crianças. Indo além, reforçava o fato de que as inserções femininas em novos postos
de trabalho não se deram via revolução socialista, e sim por conta das necessidades
industriais capitalistas, celebrando o fato como impulsor nos casos de fragmentação
de lares e o vertiginoso aumento das taxas de divórcio.

Como podemos ver, a sanha contra a tradição não é gratuita: parafraseando um


aforismo atribuído a Gustav Mahler,38a tradição não é o culto às cinzas, mas a
preservação da chama. Por conseguinte, a extinção da chama de muitos em
detrimento de alguns poucos determinará a quais linhagens estará garantida a
unidade histórica. A abolição da família — tida como “tênia da exploração” por
Shulamith Firestone39e execrada por inúmeras teóricas feministas — não seria
possível sem o feminismo e sua missão de minar as relações entre homens e
mulheres, movimento para o qual a busca pela igualdade acaba se mostrando um
engodo para encobrir a proposital quebra harmônica entre a complementaridade
divina dos sexos. Tamanha desordem foi impulsionada pelo sequestro de estudos
biomédicos por feministas na década de 60,40que passaram a trabalhar
dialeticamente imperativos biológicos versus papéis sociais em busca da mudança do
paradigma familiar, papel crucial do que hoje conhecemos como ideologia de
gênero,41negócio ao qual centenas de milhões de dólares são vertidos pelas fundações
globalistas.42
Em O livro negro de Lilith: o resgate do lado sombrio

do feminino universal, a escritora Barbara Koltuv ressalta:

Toda a mitologia a respeito de Lilith é repleta de imagens de humilhação,


diminuição, fuga e desolação, sucedidas por uma profunda raiva e vingança, na
pele de uma mulher sedutora e assassina de crianças.43
Dificilmente uma legenda representaria tão bem o arquétipo feminista, não sendo
por acaso que muitas delas associam suas imagens e coletivos à figura mitológica
em questão.44
Em que pese todas as injustiças e desigualdades existentes, o feminismo não
representa nem defende as mulheres. Tampouco age de maneira voluntária e
espontânea. Ao canalizar a energia feminina — grandiosa ao ponto de trazer
novas almas a este mundo —, manipuladores conduzem um exército que crê estar
lutando pelo matriarcado, quando tudo o que faz é destruir os últimos abrigos
contra um pré-anunciado totalitarismo patriarcal nunca antes visto. Se cumprir
seu propósito, tanto o livro quanto este capítulo mostrarão que, tão certo quanto
a frase de Marx ao considerar o fermento (agitação) feminino como crucial nas
revoluções, é o fato de que nem todas as massas devem ser fermentadas.

XIV.
A teoria de gênero é necessária para acabar com o preconceito

Chris Tonietto1

Muito se fala que a teoria de gênero é uma luta contra o preconceito e uma forma de
se combater a intolerância. Essa é mesmo uma boa propaganda e passa uma
aparência de virtude. É um marketing midiático na tentativa de ocultar a verdade, já
que muitos compram o “produto” apenas pela sua aparência. Entretanto, qual é o
seu conteúdo? O que realmente se busca com a imposição dessa teoria? Confluência
entre diferentes escolas de pensamento e entre o denominado establishment
universitário e a agenda política de grandes fundações internacionais, a “teoria de
gênero” constitui, antes de tudo, uma operação de engenharia social. Desenvolvida
ao longo de décadas, ela alcança sua forma madura nos escritos da filósofa pós-
estruturalista norte-americana Judith Butler e baseia todo seu poder de
convencimento em uma flagrante caricatura da realidade, substituída por um
discurso de forte impacto imaginativo, embora radicalmente incoerente e ilógico.
Trata-se, portanto, de uma ideologia.

A teoria de gênero é uma ferramenta ideológica que tenta convencer a sociedade de


que não há diferença natural ontológica entre homem e mulher, uma vez que sua
premissa básica é a de que toda diferença implica necessariamente em desigualdade,
desembocando, por sua vez, em supostos preconceitos. Neste sentido, não é demais
esclarecer que a existência da própria diferença entre os seres (cada qual com suas
virtudes, talentos e habilidades) é fruto da natureza humana que, per si, estabelece a
desigualdade de condições.

Destarte, é preciso compreender que homens e mulheres são iguais em dignidade,


porém são naturalmente distintos em papéis sociais. E essa realidade é negada pelos
ideólogos. No tocante à identidade de gênero, cumpre salientar que há um grande
esforço empreendido pelos seus teóricos com a proposital tentativa de se negar e/ou
anular as diferenças entre os sexos em nome de uma aparente luta pela igualdade e
pela diversidade.

Muito embora a aparência seja a luta contra o preconceito e o respeito à


pluralidade, o conteúdo dessa ideologia é a desconstrução da identidade humana,
dos valores fundantes da sociedade e de seus costumes. O discurso dos ideólogos é
no sentido de que a questão do gênero teria o condão de desconstruir a
heterossexualidade ou heteronormatividade que eles chamam de compulsória, já que,
nas palavras de Judith Butler em seu livro Problemas de gênero: feminismo e
subversão da identidade, por exemplo, as leis proibitivas tanto instalam bem como
reforçam a denominada economia sexual masculinista. Em um bom português, é
como se houvesse uma tendência à imposição da heterossexualidade através das
normas vigentes no ordenamento jurídico pátrio (e até da linguagem ou das roupas
que escolhemos usar).

A “teoria de gênero” constitui um ponto de interseção entre a teoria crítica da


Escola de Frankfurt e a análise foucaultiana das relações de poder na sociedade e do
chamado “micropoder”, contribuindo de forma extremamente eficaz com os
projetos globalistas de destruição da família e de reengenharia social. É importante
salientar que se trata de uma realidade concreta, que não possui, contudo, raiz
objetiva, natural, tampouco científica. Submetida aos objetivos de militâncias
revolucionárias e anticristãs, o “gênero” passa a funcionar como instrumento de
desconstrução das categorias “homem” e “mulher” e da instituição familiar, sem a
qual sequer a sociedade existiria. Isso porque trata-se de uma teoria
desconstrucionista do próprio ser, ou seja, atinge a esfera ontológica.
A teoria de gênero é, segundo a literatura especializada, a “ideologia mais radical
da história, já que, se imposta, destruiria o ser humano em seu núcleo mais íntimo e
simultaneamente acabaria com a sociedade”.2
Tal teoria, além de ser um subproduto “intelectual” universitário sem qualquer
respaldo científico e cuja transposição para a esfera pedagógica constitui
irresponsável manobra ideológica, é fomentadora de transformações sociais e
culturais.

Indispensável afirmar que Friedrich Engels, Margaret Sanger, Shulamith Firestone e


Judith Butler são nomes de apenas alguns personagens que, agindo nos bastidores,
contribuíram — ou têm contribuído — direta ou indiretamente para o avanço da
agenda de gênero e para a efetivação dessas transformações no decurso do tempo.
Jorge Scala, advogado e exímio especialista no estudo de gênero, explica que “como
acontece com todo corpo de ideias, o gênero não surgiu no horizonte cultural por
‘geração espontânea’. Várias correntes de pensamento confluíram, contribuindo com
diversos elementos”. Desta feita, nota-se com nitidez que, historicamente, há um
plano orquestrado, organizado, antidemocrático e conduzido a destruir as bases do
povo, especificamente a da família, que é célula-mater da sociedade, e que tem sido
catapultado por um projeto totalitário e de poder consubstanciado na agenda de
gênero.

Na esteira da desconstrução a que se presta tal ideologia, em seu livro A dialética


do sexo, Shulamith Firestone exorta as mulheres, por exemplo, a se libertarem da
ditadura do biologismo, da “tirania da biologia”, por meio da qual o “ser” mulher,
segundo a citada autora, seria escravizado até mesmo pela maternidade. Aqui fica
claro que o intento da ideologia de gênero, além de atentar contra a natureza
humana, é também negar a realidade biológica, afastando-se, por completo, da
ciência. De outro giro, na ótica da feminista Simone de Beauvoir, o ser humano
nasce neutro, como se fosse uma “tábula rasa”: “Ninguém nasce mulher, torna-se
mulher”, esvaziando-se assim o status ontológico em detrimento do gênero que seria
uma construção social.

A grande responsável pela articulação do conceito de “gênero” foi Judith Butler


que, como filósofa pós-estruturalista — da mesma linha que Jacques Derrida —,
trabalha muito bem com a manipulação semântica e com a subversão da linguagem,
lócus estratégico para a implementação de uma nova cultura que seria insuflada na
produção de confusão por meio da depuração conceitual. Nessa perspectiva, o
trabalho engenhoso de Butler consiste, principalmente, num esforço crítico para
“superar” as determinações históricas e as relações de poder que, segundo sua visão,
teriam dado origem ao conceito de “mulher”.

Em sua principal obra, Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade,


Judith Butler — que foge à óbvia constatação biológica da dualidade sexual da
espécie humana, e também considerando a ciência como carregada de ideologia —
declara não haver realidade objetiva e concreta que fundamente a correspondência
entre a identidade física do sexo feminino e o conceito de “mulher”. Uma vez
dissolvido o conceito de “mulher”, o propósito do movimento feminista tornar-se-ia
mais abrangente, não se restringindo a reivindicações tópicas tradicionalmente
definidas como “direitos da mulher”, mas consistindo na realização prática da
“crítica” frankfurtiana.

Em síntese, a ideologia de gênero consiste no esvaziamento jurídico do conceito de


homem e de mulher. A ideia é clara: afirma-se que o sexo biológico é apenas um
mero discurso ou um dado corporal de cuja “ditadura nós devemos nos libertar”
pela composição arbitrária de um “gênero” que seria o devir, um “fluir” totalmente
indeterminado. É, portanto, um verdadeiro combate à realidade objetiva e à
inteligência, haja vista que desconstrói a natureza humana. Não se trata de uma
valorosa luta contra o preconceito e a discriminação, mas sim tem o objetivo de
promover uma verdadeira colonização ideológica que, no decorrer dos anos, pode
culminar na destruição do próprio ser humano.

XV.
O pronome neutro é uma forma de combater a discriminação

Lara Brenner1

e Fernando Pestana2 Segundo a lógica aristotélica, partir duma falsa premissa implica
chegar a uma falsa conclusão. Logo, dizer que a linguagem neutra deve ser
legitimada por ser “apenas um mecanismo de combate à discriminação de gênero”
constitui uma falácia, pois não existe absolutamente nenhuma prova de que a
alteração na base profunda da estrutura morfofonológica da língua (com
desdobramentos sintáticos seríssimos) tenha provocado ou provoca mudanças de
comportamento discriminatório. Mudanças estruturais da língua acontecem
organicamente, mas não com o objetivo de alterar a mundividência humana — a
língua nunca muda perenemente por imposição dum grupo social minoritário. O que
muda comportamentos e o que gera o fim ou a minimização dum preconceito são a
boa criação e, sobretudo, a educação — com debates sérios e comprometidos contra
a discriminação.

Ainda existem muitas perguntas sobre a “linguagem neutra”. Já que alguns


desejam alterar a estrutura da língua portuguesa para se sentirem mais
confortavelmente identificados com seu gênero biopsicossocial, precisamos
inevitavelmente tratar de algumas questões de ordem linguística. O principal
argumento de quem defende a “linguagem neutra” é o de que “a língua portuguesa é
machista”, pois, quando os usuários do idioma se referem a seres de sexos diferentes
(para ficar bem claro: seres com aparelho reprodutor e órgão sexual feminino ou
masculino) usam, em geral, palavras de gênero gramatical masculino. Numa plateia
formada só por mulheres, usamos “Sejam bem-vindas!”. Numa plateia formada só
por homens, usamos “Sejam bem-vindos!”. E, numa plateia formada por 100
mulheres e 10 homens, por exemplo, usamos “Sejam bem-vindos!” também. A partir
disso, usa-se a argumentação de que “a língua portuguesa é machista”, pois se
privilegia a forma masculina: “Sejam bem-vindos!”, mesmo havendo mais mulheres
que homens na plateia.

O problema é que quem argumenta assim desconhece que o gênero gramatical


masculino não corresponde só e obrigatoriamente a pessoas do sexo masculino, mas
também a um público misto ou genérico, caso em que o gênero gramatical masculino
passa a ter um caráter neutralizador do ponto de vista sexual — ou seja, quando se
diz, por exemplo, que “o brasileiro lê pouco”, não se está querendo dizer que só os
brasileiros do sexo masculino leem pouco, e sim que “brasileiros e brasileiras” leem
pouco. E provavelmente leem pouco mesmo caso se permitam cair nas falácias
feministas. Dizer “o homem brasileiro não é bobo” é uma forma de neutralização
gramatical natural da nossa língua para abarcar ambos os sexos.

“Ah, mas isso é machismo estrutural! Por que a forma gramatical masculina, e não
a feminina ou outra, é usada para representar seres de sexos diferentes?”. Simples.
Todos sabemos que o português (como língua neolatina) deriva do latim. Nesta
língua antiga, havia três gêneros gramaticais: masculino, feminino e neutro. Com a
evolução/transformação natural, orgânica, espontânea e socialmente compartilhada
(e não por imposição) da língua, as formas neutras latinas, por semelhança fonética
às masculinas, passaram a fazer parte do gênero masculino. Não faz o menor sentido
imaginar que a língua latina fosse inicialmente inclusiva e, subitamente, tenha se
transformado numa língua segregadora de gênero. Tratou-se de mudança espontânea
adotada e aderida pelos falantes. Note que o português nem existia quando se deu
tal fenômeno; esse sistema foi apenas herdado por nós ao longo da história da
língua.

Logo, toda palavra portuguesa que representa uma neutralidade sexual se encaixa
no gênero gramatical masculino. Portanto, afirmar que houve uma escolha
heteropatriarcal do gênero masculino para representar ao mesmo tempo “homens e
mulheres” é uma ignorância, motivada pela confusão existente sobre a palavra
“gênero”. Por isso, é preciso esclarecer a diferença entre “sexo”, “gênero
biopsicossocial” e “gênero gramatical”.

“Sexo” é o conjunto de características físicas/biológicas que, sobretudo nos seres


humanos, distinguem o sistema reprodutor. “Gênero biopsicossocial” é a condição
humana resultante do papel sexual socialmente assumido por um indivíduo. “Gênero
gramatical”, por sua vez, é a categoria linguística que não passa de uma propriedade
formal da gramática. Assim, o “gênero gramatical” só tem a ver com a língua em si,
e não com a condição humana biopsicossocial chamada “gênero”. E poderíamos ir
adiante afirmando que as pessoas têm sexo e as palavras têm gênero, nunca o
contrário.
Muitos confundem os conceitos acima, o que torna o debate ainda mais difícil. No
entanto, agora esclarecidos, é preciso dizer que a gramática do português não é
discriminatória, pois não toma partido de seres biologicamente sexuados nem de
seres biopsicossocialmente não identificados por um sexo específico. A língua
portuguesa, como qualquer língua, está preocupada tão somente com a comunicação
entre os indivíduos, da maneira mais clara possível. Assim, sejamos honestos, o texto
abaixo lhe parece claro?

TODES ES MENINES que estão na fase da adolescência necessitam de bastante


atenção, porque ELUS lidam com inúmeras dificuldades nesse período de transição
para a vida adulta. SUES AMIGUES, também nessa fase, por passarem pelo
mesmo, não são SUES melhores CONSELHEIRES, de modo que UME ADULTE
certamente deve se fazer presente para prestar assistência a ELUS. Nessas horas,
em ambiente escolar, MUITES DES PROFESSORIES servem como
VERDADEIRES PSICÓLOGUES – e ESTUS

profissionais devem ter muita paciência e carinho com AQUELUS (ES ALUNES
ADOLESCENTES).

Isso é um entrave à aceitação duma mudança artificial da língua, pois tudo que
intuitivamente fere a gramática internalizada do falante é rechaçado por ele; essa
rejeição nada tem a ver com preconceito de ordem biopsicossocial, pois o usuário da
língua tem como principal objetivo uma comunicação clara, que atinja o maior
número possível de indivíduos que dominam o mesmo código usado por ele,
independentemente de como ele se identifica biopsicossocialmente. Ou seja, é preciso
valorizar o intuitivo e o natural quando se trata de conversar.

Quando se subverte a estrutura de um código linguístico, ocorre o que se chama de


agramaticalidade, isto é, a ausência de características próprias duma língua. A
sensação do falante diante de “Todes es menines”, com o objetivo falacioso de
“combater a discriminação de gênero”, é tão incômoda quanto “Bebeu refrigerante
um eu”. Segundo o linguista português João Veloso3 A Maria [feminino] é uma
vítima [feminino] da situação em que se meteu.

A testemunha abonatória [feminino] deste julgamento foi o Vítor [masculino].

O Joel [masculino] é uma criança muito simpática [feminino].

2. Por outro lado, todas as palavras do português têm um dos dois gêneros que a
gramática da língua diz que existem — masculino OU feminino —, mesmo que
designem objetos inanimados, desprovidos de sexo biológico. Vejamos os seguintes
exemplos: Eu sempre gostei daquela parede branca.

O automóvel novo da minha mãe é vermelho.

As por t a s escancaradas da casa amarela anunciavam uma boa notícia.


Palavras como parede, automóvel, porta, casa e notícia, não designando machos
nem fêmeas, têm um “gênero gramatical” intrínseco que faz com que as palavras que
delas dependem na frase apresentem certas marcas formais, por efeito, única e
exclusivamente, da concordância gramatical com que iniciei estas notas. Estes
exemplos bastariam, em meu entender, para desfazer a ideia pouco questionada de
que, no português, o gênero ainda tem alguma relação com o sexo biológico ou
cultural/identitário.

Para ampliar ainda mais a explanação contida neste artigo, acompanhe o seguinte
raciocínio: moço ] moça; monge ] monja; cantor ] cantora; oficial ] oficiala; freguês

] freguesa; juiz ] juíza; alemão ] alemã; judeu ] judia.

Se isso fosse um teste psicotécnico, quais palavras você diria pertencerem ao mesmo
gênero? As do lado direito, certo? Sabe por quê? Simples. Todas elas têm uma marca
em comum: a vogal A que vem ao fim delas. É essa marca que indica o gênero
feminino. Fácil, não? Já as da esquerda têm um padrão de terminação, alguma marca
em comum? Obviamente não! Afinal, temos O, E, R, L, S, Z, ÃO...

Sabe o que isso quer dizer? Que não existe uma marca distintiva para indicar o
masculino. Logo, o suposto machista e tão criticado “O” não é a marca do
masculino; se assim fosse, o que fazer com todas estas palavras masculinas: elefante,
reitor, bacharel, japonês, ateu, herói etc.? Por outro lado, percebemos claramente a
marca do feminino (-a), de maneira que, se há algum privilégio de gênero em nosso
idioma, ele recai sobre o feminino, cuja marcação não deixa margem para dúvida.
Deveríamos nós, então, acusar a língua de ser feminista? Evidentemente, não.

Esse é o ponto chave para acabar com essa discussão sobre o emprego do E ou de
outra letra (como X) para uma linguagem supostamente inclusiva, abarcando seres
humanos que se identificam como pertencentes a diferentes gêneros ou a gênero
nenhum. Afinal, é justamente a ausência de uma marca distintiva de masculino que
nos permite usar “todos” e “bem-vindos” para um público misto de homens e
mulheres: “Todos que aqui estão, sejam bem-vindos!”.

Desse modo, dizer que os gêneros masculino e feminino marcam uma categorização
estritamente binária que (supostamente) exclui pessoas que não se identificam com o
sexo biológico de nascimento ou que não se identificam com nenhum sexo é
ignorância, má-fé ou real vontade de provocar uma revolução sociológica pela
subversão da estrutura fonomorfológica do idioma.

Pouquíssimas são as palavras na língua que têm ligação direta com o sexo (ou
gênero) dos seres humanos. Como ressalta Gisella Collischonn,4 doutora em
Linguística, apenas 6,5% dos substantivos aproximadamente estão relacionados com
sexo — ou seja, pares do tipo menino/menina são minoria em português, apesar de
substantivos como bolo, que termina em “o” e é masculino, e casa, que termina em
“a” e é feminino, serem bastante comuns. Por outro lado, em relação aos
substantivos terminados em “e”, observou-se perfeito equilíbrio entre palavras
femininas (a ponte) e masculinas (o pote), não cabendo, portanto, qualquer
associação entre essa vogal e um suposto gênero neutro na língua.

Como se não bastasse, vale dizer que o argumento a favor da linguagem


supostamente neutra se contradiz em sua própria origem. Ao forçar a ligação direta e
obrigatória entre o gênero sexual e o gênero da palavra, cria-se o seguinte problema:
se afirmam atualmente que há dezenas de gêneros biopsicossociais além do
masculino e do feminino (como queer, agênero, andrógeno, gênero fluido, bigênero
etc.), deveria haver, por uma questão de paridade, uma terminação para cada um
dos gêneros.

Ora, se o feminino tem um gênero para si (terminado em -a, como “todas”), e o


masculino tem um gênero para si (terminado em -o, como “todos”), então todos os
que não se encaixam em masculino e feminino aceitariam para si um gênero só
(terminado em -e, como “todes”)? Onde estaria a distinção? Aceitariam os não-
binários terem todas as suas diferenças neutralizadas num singelo -e? Por dedução
lógica, portanto, deveríamos criar uma terminação para cada uma das dezenas de
gêneros, não é? Evidentemente, não. O argumento é contraditório desde o berço.

Na França, o Ministério da Educação proibiu a linguagem neutra nas escolas, pois


a medida atrapalha o aprendizado dos alunos e prejudica as pessoas com deficiência
mental:

Ao defenderem a reforma imediata e abrangente da grafia, os promotores da


escrita inclusiva violam os ritmos do desenvolvimento da linguagem de acordo
com uma injunção brutal, arbitrária e descoordenada, que ignora a ecologia do
verbo,

asseveram Hélène d’Encausse, secretária da Academia Francesa, e Marc Lambron,


diretor da Academia Francesa. Segundo o documento elaborado, o conceito de
igualdade entre homens e mulheres deve ser efetivamente construído, promovido e
garantido pelo país, mas sem sujeição à linguagem neutra. “Essas armadilhas
artificiais são inoportunas e atrapalham os esforços dos alunos com deficiência
mental admitidos no âmbito do serviço público”, conclui o comunicado.

As implicações da adoção de uma linguagem artificial em sala de aula ferem o


princípio dinâmico e orgânico de mudanças ocorridas na língua ao longo do tempo,
que têm adesão espontânea a partir do uso compartilhado por toda a sociedade.
Tentar impor o ensino de um dialeto artificial aos alunos em fase de
desenvolvimento linguístico-gramatical significa ignorar a própria natureza da
Fonologia e Morfologia do Português (ou de qualquer língua). Não é à toa que o
gramático Evanildo Bechara,5 ocupante da 33ª cadeira da Academia Brasileira de
Letras, afirma: “A gramática é como um edifício: você mexe na parte externa, que é
a pintura, que são as palavras, mas não na estrutura, na parte interna”.

Não custa dizer que, se alguém ainda acha não haver a intenção de se levar a
linguagem neutra às escolas, está bastante equivocado. Basta observar que o Partido
dos Trabalhadores ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6925 no
Supremo Tribunal Federal contra um decreto estadual de Santa Catarina que proíbe
o uso de termos “sem gênero” em escolas e órgão públicos locais. Ou seja, o fim da
ação é permitir esse uso em sala. Nesse mesmo sentido, o Colégio Franco-Brasileiro,
no Rio de Janeiro (RJ), emitiu um comunicado à comunidade escolar afirmando que
vai promover estratégias para adotar a chamada linguagem neutra de gênero nos
espaços formais e informais de aprendizagem da escola. Também o Colégio Apoio,
em Recife (PE) figurou recentemente no noticiário por uma “aula de linguagem
neutra” ministrada ao 8º ano. Inúmeros são os casos semelhantes — não só no
Brasil, mas no mundo. Basta uma rápida pesquisa no Google para se ter prova. E a
relação de tais investidas com o feminismo também é inegável, tendo sido registrada
há décadas nos trabalhos de feministas como Monique Wittig, grande promotora da
revolução sexual pela linguagem.

Dificilmente a linguagem neutra vai prosperar, tendo adesão majoritária da


sociedade, uma vez que tal linguagem (sobretudo na fala) não é nada espontânea,
pois não nasce de mudanças morfológicas (e fonológicas) orgânicas e naturais. São
mudanças “criadas em laboratório”, diferentemente dos metaplasmos
naturais/orgânicos/espontâneos ocorridos em “vosmecê ] você”, por exemplo. O
mais interessante é perceber que a sociedade historicamente sempre percebeu tal
ocorrência de forma intuitiva, sem o menor esforço. A problematização atual de uma
questão tão simples é que se mostra completamente contraintuitiva. Não faz sentido
incluir um gênero neutro (alunes, em vez de alunos), aumentando o número de
morfemas do português, criando-se problemas em cascata, se a neutralidade já existe
nessas formas não marcadas.

Quem impõe, quem força uma suposta inclusão do X ou do E (ou de outra letra) só
o faz por razões ideológicas, e não linguísticas, pois a língua não é machista, é
morfologicamente inclusiva por natureza. Querer alterar a língua para satisfazer
determinadas pautas é desconsiderar todo o seu percurso histórico, que usa todos
tanto para homens quanto para homens e mulheres juntos (havendo uma plateia só
de mulheres, usamos todas, com a marca de feminino A).

“Ah, mas a língua muda e devemos respeitar as mudanças! Não podemos parar no
tempo!”. Sim! Mas saiba que a língua muda organicamente, e não por imposição
dum grupo social que acha que, trocando O/A por E ou X, os preconceituosos vão
parar de ser como são. As mudanças linguísticas são sempre um processo espontâneo
por meio dum uso e adesão constante da maioria da sociedade, sem nenhum tipo de
imposição ou grito. Com base nos pontos aqui trazidos, fica fácil perceber que tais
deturpações impingidas à força geram muito mais confusão e discordância do que
esclarecimento e coesão social.
AGRADECIMENTOS
Muito obrigada a todos vocês, leitores e eleitores, pela resposta impressionante à
minha vocação, por terem transformado meu primeiro livro num sucesso
imprevisível e feito da reação ao feminismo uma realidade no Brasil. Sou grata a
cada um de vocês e, por essa razão, produzi este material. Meu agradecimento
especialíssimo aos convidados que ajudaram a escrever este volume: Ana e Marlon
Derosa, Catharine Caldeira, Chris Tonietto, Cristiane Corrêa, David Amato,
Fernando Pestana, Isaque de Miranda, Lara Brenner, Natália Sulman e Ricardo da
Costa. Agradeço à equipe da Livraria Campagnolo, minha livraria virtual. Registro
minha gratidão aos amigos Thomaz Perroni e Giuliano Bonesso, da Vide Editorial,
que nunca disseram “não” a algum dos meus sonhos. Aos meus parceiros do curso
de política Clube Campagnolo: Daniel Henrique Sagave, Isaque de Miranda,
Douglas Pereira Lopes e João Marcos Campagnolo. Vocês são verdadeiros irmãos e
é com esse amor que enxergo o que sempre fizeram por mim. Aos meus assessores
parlamentares estendo uma gratidão constante, pois, como tenho dito a eles, não vou
muito longe se eles me faltarem. Aos meus pais, por serem exemplo. Ao meu marido,
Thiago Lívio Quintairos Galvão, que me deu seu sobrenome e o tempo precioso de
convívio familiar para que eu pudesse tocar este e todos os outros projetos que
executei.

Minha gratidão inexprimível ao Deus da Bíblia, o único que existe. Agradeço por
ter me tirado da situação de “vítima silenciada e oprimida” para a condição de
autoridade e legisladora. Se, como dizem as feministas, não tenho talento nenhum,
só me resta agradecer a Deus por esse milagre. Se, como dizem meus amigos, mereço
estar onde estou, só me resta agradecer a Deus pelos talentos. Resumindo: em tudo
que as feministas colocaram as garras para me prejudicar, Deus operou com graça
para me abençoar. Devo tudo a Ele e nada a elas.
NOTAS DE RODAPÉ
I.

1 Mora em Belo Horizonte, Minas Gerais. Estuda sobre feminismo de forma independente; graduada em
Marketing com especialização em marketing digital e design gráfico, produz conteúdo para internet sobre
mulheres e ideologia.

2 O significado literal de patriarcado é “regra do pai”. Vem do grego πατριάρχης (patriarkhēs), “pai de uma
raça” ou “chefe de uma raça, patriarca”. A definição mais geral define o patriarcado como o sistema social cujo
responsável pela família ou por uma pequena comunidade é o homem. Ele pode ser ou não o pai dos filhos sob
sua responsabilidade e tem poder sobre as tradições vividas por aqueles que tutela. Em uma cultura patriarcal, o
homem assume a responsabilidade e a autoridade política, moral e religiosa sobre as mulheres e os filhos
confiados à sua proteção. Matéria completa publicada por Brasil Paralelo, disponível em:
https://conteudo.brasilparalelo.com.br/historia/o-que-e-patriarcado/.

3 VAN CREVELD, Martin. Sexo privilegiado: o fim do mito da fragilidade feminina. Rio de Janeiro: Ediouro,
2004.

4 “Jordan Peterson discute com uma feminista: o que é patriarcado”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=27h_xA3Bsis

5 ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e deusas. 3ª ed., São Paulo: Aleph, 2019, p. 167.

6 FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6ª ed., São Paulo: Contexto, 2020, p. 32.

7 Documentário Hjernevask. “Lavagem Cerebral – O Paradoxo da Igualdade”, em português, expôs a farsa da


ideologia de gênero, em 2010. O sociólogo e humorista Harald Eia investigou omotivo pelo qual as mulheres
continuavam a optar por profissões tipicamente femininas e homens continuavam atraídos por carreiras
consideradas masculinas. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=gwE4aPotnRE&t=17s

8 “As carreiras preferidas por homens e por mulheres no Brasil”. Revista Exame. Disponível em:
https://exame.com/carreira/as- carreiras-preferidas-por-homens-e-por-mulheres-no-brasil/

9 Disponível em: https://www.glassdoor.com/research/gender-pay- gap/

10 “Modelo é uma das poucas profissões em que a mulher ganha mais do que o homem”. Estadão. Matéria
publicada por Mariana Belley em 29/04/2015. Disponível em: https://emais.estadao.com.br/ noticias/moda-e-
beleza,modelo-e-uma-das-poucas-profissoes-em- que-a-mulher-ganha-mais-do-que-o-homem,1678451

11 “Dia Internacional da Mulher: 16 programas e organizações que oferecem bolsas exclusivas para elas”. Site
Estude Fora. Publicado por Gustavo Sumares em 08/03/2021. Disponível em: https://www.
estudarfora.org.br/bolsas-exclusivas-para-mulheres/

12 https://www.cardsagainsthumanity.com/

13 https://www.britannica.com/art/courtly-love

14 h t t ps : / / r e pos i t o r y. l a w. u m i c h. e d u / c g i / v i e w c o n t e n t . cgi?
article=1164&context=law_econ_current

15 “From Initial Appearance to Sentencing: Do Female Defendants Experience Disparate Treatment?”.


Publicado em 2015 no Science Direct. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/
article/abs/pii/S0047235215000665

16 Van Creveld, Martin. Sexo Privilegiado: o fim do mito da fragilidade feminina. Rio de Janeiro: Ediouro,
2004. P. 363.

17 Crescimento das mortes violentas intencionais. Anuário Brasileiro de Segurança Pública – 2021. Disponível
em: https://forumseguranca. org.br/wp-content/uploads/2021/07/anuario-2021-completo-v6- bx.pdf
18 Mill, John Stuart. A Sujeição da Mulheres. São Paulo: La Fonte, 2019.

19 https://www.nber.org/system/files/working_papers/w17888/ w17888.pdf

20 https://www.aei.org/society-and-culture/camille-paglia-defends- men/

II.

1 Mora no Recife, é Mestre em Filosofia e pesquisa os elementos literários dos diálogos platônicos.

2 SOUSA, José Pedro Galvão de. Apresentação. In: VOEGELIN, Eric. A nova ciência da política. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1979. p. 6.

3 KIRK, Russell. The conservative mind: From Burke to Eliot. Washington D.C.: Regnery Publishing, 1986. p.
8-9.

4 SOUSA, José Pedro Galvão de. Apresentação. In: VOEGELIN, Eric. A nova ciência da política. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1979. p. 6.

5 BERNABÉ, Alberto. Platón y el orfismo: diálogos entre religión y filosofía. Madrid: Abada Editores, 2011.
397 p. 234,

6 AGOSTINHO, Santo. Patrística – Comentário ao Gênesis. São Paulo: Paulus, 2005. p. 75-76.

7 Catequese do Papa Bento XVI sobre Santa Hildegarda em 08 de setembro de 2010.

8 “A história de Artemisia Gentileschi, a pintora violentada que se vingou pela arte em pleno século 17”. BBC.
Matéria publicada em 14/01/2017 por Irene Velasco. Disponível em https://www.bbc.com/ portuguese/geral-
38594660

III.

1 Medievalista, professor titular da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), acadêmico correspondente
no exterior da Reial Acadèmia de Bones Lletres de Barcelona (RABLB) e professor efetivo do corpo docente do
Programa de Doctorado Internacional a Distancia “Transferencias Interculturales e Históricas en la Europa
Medieval Mediterránea” da Universitat d’Alacant (UA, Espanha).

2 ECO, Umberto. “Introdução à Idade Média”. In: ECO, Umberto (dir.). Idade Média – bárbaros, cristãos e
muçulmanos. Lisboa: D. Quixote, 2014, p. 13-40.

3 COSTA, Ricardo da. “Do fim do Mundo Antigo à Alta Idade Média (100-600 d.C.)”. In: International
Studies on Law and Education – 7 (janeiro-abril 2011), p. 97-102. Internet, https://www.ricardocosta.
com/artigo/do-fim-do-mundo-antigo-alta-idade-media.

4 LEITHART, Peter. Em defesa de Constantino. O crepúsculo de um Império e a aurora da cristandade.


Brasília, DF: Editora Monergismo, 2020.

5 WEMPLE, Suzanne Fonay. “As mulheres do século V ao século X”. In: DUBY, Georges, PERROT, Michelle
(dir.). História das Mulheres no Ocidente. Vol. 2: a Idade Média. Porto: Edições Afrontamento, s/d, p. 228.

6 COSTA, Ricardo da. “A gênese da concepção monárquica no Ocidente cristão (sécs. IV-VI)”. In: Mirabilia
25 (2017/2), p. 1-24. Internet, https://www.ricardocosta.com/artigo/genese-da-monarquia-no-ocidente.

7 DUMÉZIL, Bruno. “Santa Radegunda. Cerca de 520-587”. In: LE GOFF, Jacques (dir.). Homens e mulheres
da Idade Média. São Paulo: Estação Liberdade, 2013, p. 48-50.

8 DHUODA. La Educación Cristiana de mi hijo (introd., trad. y notas de Marcelo Merino). Pamplona:
Ediciones Eunate, 1995.

9 LABARGE, Margaret Wade. La mujer en la Edad Media. Madrid: Nerea, 1989, p. 22-23.

10 FUMAGALLI, Vito. Matilde di Canossa. El poder y la soledad de una mujer del Medioevo. México: Fondo
de Cultura Económica, 1999.
11 GOLINELLI, Paolo. “Nonostante le fonti: Matilde di Canossa donna”. In: PIO, Berardo Pio (ed.). Scritti di
Storia Medievale offerti a Maria Consiglia De Matteis. Spoleto: Fondazione Centro Italiano di Studi Sull’Alto
Medievo, 2011, p. 249-266. Internet, https:// www.mgh-bibliothek.de/dokumente/b/b072402.pdf.

12 MAIRE VIGUEUR, Jean-Claude. “Matilde de Canossa. 1045/1046/1115”. In: LE GOFF, Jacques (dir.).
Homens e mulheres da Idade Média. São Paulo: Estação Liberdade, 2013, p. 147-149.

13 PERNOUD, Régine. Idade Média. O que não nos ensinaram. São Paulo: Linotipo Digital, 2016, p. 143.

14 SODANO, Giulio. “A Hungria”. In: ECO, Umberto (dir.). Idade Média – Catedrais, cavaleiros e cidades.
Lisboa: D. Quixote, 2013,

15 “Female / Women Saints A-Z”. In: Catholic Online Saint & Angels. Internet,
https://www.catholic.org/saints/female.php.

16 UGÉ, Karine. “The Legend of Saint Rictrude”. In: Anglo-Norman Studies 23, 2000, pp. 281-297.

17 “Rictrudis, S.”. In: Vollständiges Heiligen-Lexikon (Léxico Completo de Santos), Band 5. Augsburg 1882, s.
95-96. Internet, http://www.zeno.org/Heiligenlexikon-1858/A/Rictrudis,+S.

18 GADY, Alexandre. “O vandalismo revolucionário”. In: ESCANDE, Renaud (dir.). O Livro Negro da
Revolução Francesa. Lisboa: Alethéia Editores, 2010, p. 208-216, e OZOUF, Mona. “Descristianização”. In:
FURET, François; OZOUF, Mona. Dicionário Crítico da Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1989, p. 26-39.

19 ARCE, Agustín (ed.). Itinerario de la Virgen Egeria (381-384). Madrid: Biblioteca Autores Cristianos, 1996.

20 COSTA, Ricardo da. “Santa Mônica – A criação do ideal da mãe cristã”. In: Grupos de Trabalho III —
Antiguidade Tardia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995, p. 21-35. Internet, https://www.ricardocosta. com/artigo/santa-
monica-criacao-do-ideal-da-mae-crista.

21 CRISTINA DE PIZÁN. La Ciudad de las Damas (edición a cargo de Marie-José Lemarchand). Madrid:
Ediciones Siruela, 2000.

22 SACKVILLE-WEST, V. Santa Joana D’Arc. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. (Nascida em 6 de janeiro
de 1412, queimada como herege em 30 de maio de 1431, canonizada em 16 de maio de 1920)..

23 HILDEGARDA DE BINGEN. Libro de las obras divinas (trad. de María Isabel Flifisch, María Eugenia
Góngora y María José Ortúzar). Barcelona: Herder, 2009; PERNOUD, Régine. Hildegarda de Bingen. A
consciência inspirada do século XII. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

24 ABELARDO E HELOÍSA. Historia calamitatum. História das minhas calamidades e Cartas de Heloísa
(prefácio, tradução e notas de Abel Nascimento Pena). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.

25 MEADE, Marion. Eleonor de Aquitânia. Uma biografia. São Paulo: Brasiliense, 1991.

26 PERNOUD, Régine. La reina Blanca de Castilla. Barcelona: El Acantilado, 2013.

27 COSTA, Ricardo da; SANTOS, Armando Alexandre dos. “A imagem da mulher medieval em O Sonho
(1399) e Curial e Guelfa (c. 1460)”. In: eHumanista/IVITRA vol. 5 (2014), p. 424-

28 Um clássico do gênero feminista de meias verdades é o de RANKE- HEINEMANN, Uta. Eunucos pelo
Reino de Deus. Mulheres, sexualidade e a Igreja Católica. Rio de Janeiro: Record, Rosa dos Tempos, 1996.

29 Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Paulus Editora, 1992, p. 94-95.

30 SILVA, Matheus Corassa da; COSTA, Ricardo da. “A Alegoria. Do Mundo Clássico ao Barroco”. In:
OSWALDO IBARRA, César; LÉRTORA MENDONZA, Celina (coords.). XVIII Congreso Latinoamericano de
Filosofía Medieval – Respondiendo a los Retos del Siglo XXI desde la Filosofía Medieval. Actas. Buenos Aires:
Ediciones RLFM, 2021, p. 87-96. Internet, https://www. ricardocosta.com/artigo/o-mundo-da-alegoria-virtudes-e-
vicios- no-barroco.

31 CRISTINA DE PIZÁN. La Ciudad de las Damas (edición a cargo de Marie-José Lemarchand). Madrid:
Ediciones Siruela, 2000, cap. I, 9, p. 81.

32 “...impressiona-me o progresso que ela [a mulher] fez na sociedade cristã da Idade Média – o que
evidentemente não nos pode levar a pensar que ela atingiu a igualdade com o homem; mas avançou-se muito... E
será pior mais tarde; creio profundamente que não há pior período para a condição feminina na Europa do que o
século XIX. (...) Guardemo-nos da ideia de que o progresso é irreversível, linear, constante, dos tempos mais
longínquos até a época contemporânea. Hoje, o número de mulheres que chegam às mais altas funções é muito
pequeno. No Ocidente, não se compara o número de mulheres primeiras-ministras com o que havia de rainhas
governando ou de regentes na Idade Média (o grifo é meu).” – LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 112-113.

IV.

1 “Por que o feminismo é mal visto pela maioria das mulheres?”. Matéria publicada em 16/04/2019 por
Rafaella Fraga. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/noticia/ 2019/ 04/ por-que-o-feminismo-e-
mal-visto-pela-maioria-das-mulheres- cjuk4fssl00q001p5780644b2.html

2 “Por que tantas mulheres jovens não se identificam como feministas”. Matéria publicada em 19/02/2019 por
Christina Scharff. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47283014

3 Livro dos Juízes, capítulo 5, verso 7. Bíblia Sagrada. NVI (Nova Versão Internacional). RJ: Thomas Nelson,
2020.

4 O livro dos Juízes de Israel, nos capítulos 4 e 5, mostra que duas mulheres salvaram o povo naquela ocasião.
Uma delas era política, a Juíza Débora, mas a outra era uma mulher comum: Jael estava em sua própria casa
(tenda) quando conseguiu matar o general inimigo com uma estaca e um martelo justamente por parecer
inofensiva.

5 Livro dos Juízes, capítulo 4, verso 8. Bíblia do Peregrino. SP: Paulus, 2017.

6 “Débora: a mulher que pode ter dado origem à Bíblia”. Revista Super Interessante. Matéria publicada em
08/07/2016 por Reinaldo José Lopes. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/ debora-a-mulher-que-
pode-ter-dado-origem-a-biblia/

7 Bíblia de Estudo da Reforma. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. Comentário do texto 4.4 de
Juízes, p.389.

8 PETERSON, Eugene H. Livro de Ester, capítulo 3, versos 12-

9 “Arqueólogos alemães encontram palácio da rainha de Sabá na Etiópia”. Matéria consultada 2008 e
arquivada. Disponível em: https://web.archive.org/web/20080510105716/http://br.noticias.ya hoo. com / s /
080520 08 / 4 0 / saude -a rqueologos-a lem aes- encontram-palacio-da-rainha-saba-na-etiopia.html

10 FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6ª ed. SP: Contexto, 2020. p.41.

11 Menexêno. (235e2-9) Sócrates: – “[...] não é nada espantoso que eu seja capaz de discursar, uma vez que,
por sorte, tenho por mestra aquela que certamente não é insignificante em retórica; pelo contrário, tem formado
muitos outros bons oradores, dos quais um se destacou entre os helenos: Péricles, filho de Xantipo”.

12 ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e deusas. 3ª ed. São Paulo: Aleph, 2019. p.189.

V.

1 SCHATZ, Kate. Mulheres incríveis: artistas e atletas, piratas e punks, militantes e outras revolucionárias que
moldaram a história do mundo. Bauru, SP: Altral Cultural, 2017. p.11.

2 “Saiba quem foi Enheduana, a primeira escritora da história”. Revista Aventuras na História. Matéria
publicada em 28/10/2020 por Penélope Coelho. Disponível em: https://aventurasnahistoria.
uol.com.br/noticias/reportagem/saiba- quem-foi- enheduana- primeira-escritora-da-historia.phtml

3 ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e deusas. 3ª ed. São Paulo: Aleph, 2019. p.192.
4 SCHATZ, Kate. Mulheres incríveis: artistas e atletas, piratas e punks, militantes e outras revolucionárias que
moldaram a história do mundo. Bauru, SP: Altral Cultural, 2017. p.105.

5 FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6ª ed. SP: Contexto, 2020. p.47.

6 SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiros mestres da filosofia e da ciência grega. 2ªed., Porto
Alegre: Edipucrs, 2003, p.116.

7 PERNOUD, Régine. Santa Hildegarda de Bingen: Mística e Doutora da Igreja. Dois Irmãos, RS: Minha
Biblioteca Católica, 2020. p.9

8 Catequese do Papa Bento XVI sobre Santa Hildegarda em 08 de setembro de 2010.

9 PERNOUD, Régine. Santa Hildegarda de Bingen: Mística e Doutora da Igreja. Dois Irmãos, RS: Minha
Biblioteca Católica, 2020. p.10.

10 PERNOUD, Régine. Santa Hildegarda de Bingen: Mística e Doutora da Igreja. Dois Irmãos, RS: Minha
Biblioteca Católica, 2020. p.11.

11 PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram. São Paulo: Linotipo Digital, 2016. pp. 135-
139.

12 PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram. São Paulo: Linotipo Digital, 2016. pp. 138.

13 O livro mais recente do historiador Ricardo da Costa detalha: “Artemisia herdou do pai (também pintor) o
apreço por Caravaggio, de quem assumiu um naturalismo com forte ênfase teatral. Um dos temas de sua obra é o
das mulheres-arquétipos, paradigmas, modelos, padrões eternos de seu ideal – fortes, decididas, guerreiras,
partícipes dos mitos, das tradições religiosas – e Susana e os Anciãos se encaixa precisamente neste modelo
artístico.” COSTA, Ricardo da. Visões da Idade Média. Santo André, SP: Armada, 2020. pp.312-313.

14 Livro de Judite, capítulo 13, verso 18. Bíblia de Jerusalém. 1ª edição. 13ª reimpressão. São Paulo: Paulus,
2002.

VI.

1 BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: fatos e mitos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. p.16.

2 https://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-eleitoral/publicacoes/ revistas- da- eje /ar t igos/ revista-


eletronica- eje- n.-2- ano- 4 / certificado-de-alistamento-militar-2013-uma-exigencia-inocua

3 MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino no Brasil. 2ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados.
Edições Câmara, 2019, p.86

4 MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino no Brasil. 2ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados.
Edições Câmara, 2019, p.83.

5 RIBEIRO, Antônio Sérgio. “A mulher e o voto”. 21/09/2012. Artigo disponível em:


https://www.al.sp.gov.br/repositorio/ bibliotecaDigital/277_arquivo.pdf

6 VAINSENCHER, Semira Adler. “Celina Guimarães Viana”. Pesquisa Escolar Online. Recife: Fundação
Joaquim Nabuco. 28 de julho de 2008. Consultado em 13 de junho de 2021.

7 CHESTERTON, Gilbert K. O que há de errado com o mundo. Campinas, SP: Ecclesiae, 2013. p.101

8 BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: fatos e mitos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. p.17.

9 Alguns liberais também eram contra o sufrágio feminino porque temiam o momento de transição para o
regime republicano e queriam evitar qualquer risco ou agitação. cf. O voto feminino no Brasil, p.72.

10 MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino no Brasil. 2ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados.
Edições Câmara, 2019, p.41.

11 “Há cem anos as britânicas conquistaram o direito ao voto”. Matéria do Portal G1. Publicada por France
Presse em 06/02/2019. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/ha-100-anos- as-britanicas-
conquistaram-o-direito-ao-voto.ghtml

12 “A longa luta das sufragistas pelo direito de votar”. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/a-longa-luta-
das-sufragistas-pelo- direito-de-votar/a-42461154

13 BURNET, Andrew (org.). 50 discursos que marcaram o mundo moderno. Porto Alegre, RS: L&OM, 2019.
p.13.

14 “As inglesas que usaram o jiu-jitsu para lutar pelo direito ao voto”. Matéria da BBC News. Publicada por
Camila Ruz e Justin Parkinson em 24 de dezembro de 2015 . Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/noticias/2015/12/151102_suffragettes_jiu_jitsu_mv

15 CHESTERTON, Gilbert K. O que há de errado com o mundo. Campinas, SP: Ecclesiae, 2013. pp.99-100.

16 FRIEDAN, Betty. A mística feminina. 1ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020.

VII.

1 “Cotas para mulheres”. Revista Exame. Publicado por Fabiane Stefano em 12/08/2015. Disponível em:
https://exame.com/revista- exame/cotas-para-mulheres/

2 “O lugar do homem no feminismo”. Programa Saia Justa. 18 de agosto de 2017. Barbara Gancia conversou
com Camille Paglia, escritora e ativista feminista, durante sua estadia em Salvador, para uma série de palestras
sobre o papel do homem no feminismo. Disponível em: https://youtu.be/A3Y0KXFAJV8

3 “A política de cotas para as mulheres no Brasil: importância e desafios para avançar”. Portal Gênero
Número. Publicado por Hildete Pereira de Melo em 13/09/2018. https://www.generonumero. media/a-politica-de-
cotas-para-as-mulheres-no-brasil-importancia- e-desafios-para-avancar/

4 GUEDES, Moema de Castro. A presença feminina nos cursos universitários e nas pós-graduações:
desconstruindo a idéia da universidade como espaço masculino. Scielo Brasil. 02/2008. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0104- 59702008000500006

5 Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/604179-em- edicao-paridade-de-genero-na-


elaboracao-da-constituicao-chilena-e-vitoria-do-movimento-feminista.

6 “Como Chile está montando a 1ª Constituinte do mundo com igualdade de gênero”. Matéria da CNN.
Escrita por Juliana Elias em 16 de maio de 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.
com.br/internacional/2021/05/16/como-chile-esta-montando-a-1- constituinte-do-mundo-com-igualdade-de-
genero.

7 “Paridade na Constituinte faz mulheres cederem 11 cadeiras a homens no Chile”. Matéria do Poder 360.
Publicada em 20 de maio de 2021. Disponível em: https://www.poder360.com.br/ internacional/paridade-na-
constituinte-faz-mulheres-cederem-11- cadeiras-a-homens-no-chile/

8 https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2021- 05/ mulheres-sao-mais-votadas-no-chile-mas-lei-


obriga-ceder-lugares.

9 “Cotas para mulheres”. Revista Exame. Publicado por Fabiane Stefano em 12/08/2015. Disponível em:
https://exame.com/revista- exame/cotas-para-mulheres/

10 “Mulheres são maioria nas universidades brasileiras, mas têm mais dificuldades em encontrar emprego”.
Matéria do portal de Economia do G1. Publicada em 10/09/2019. Disponível em: https://
g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2019/09/10/ mulheres-sao-maioria-nas-universidades-
brasileiras-mas-tem-mais- dificuldades-em-encontrar-emprego.ghtml.

11 SOWELL, Thomas. Fatos e Falácias da Economia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2018. p.79.

12 SOWELL, Thomas. Discriminação e disparidades. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2019. p.21.

13 Sobre as anomalias, podemos começar pela provocada pelo sistema de cotas raciais em um país altamente
miscigenado como o Brasil. Cotas sociais seriam mais adequadas, mas a questão racial produziu anomalias como
a defendida pela então ministra dos Direitos Humanos Luislinda Valois, que em setembro de 2017 defendeu a
instalação de bancas de verificação racial para evitar fraudes, ou seja, algo que alegraria imensamente o pantone
de pele usado pelos nazistas, por exemplo. A desconexão com a realidade é tamanha que a mesma ministra,
também desembargadora, citou “trabalho escravo” como justificativa ao pedido de salário de R$ 61 mil.
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/09/26/interna_ gerais,903556/ministra-defende-bancas-para-
evitar-fraudes-nas- cotas-raciais.shtml

VIII.

1 Professora graduada em pedagogia desde 2009. Orienta um grupo de estudos para mulheres cristãs sobre o
tema feminismo e cristianismo, tema ao qual dedica seus estudos há quase dez anos.

2 Artigo “Energetic Consequences of Thermal and Nonthermal Food Processing”, publicado na revista
acadêmica Proceedings of the National Academy of Sciences; Tese de doutorado, Harvard University (acessado:
06/08/21 - http://nrs.harvard.edu/urn-3:HUL. InstRepos:10368128).

3 BRAICK, Patrícia Ramos; Mota, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio, volume único.
3.ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.

4 David, Rosalie (1 de abril de 1998). “The Ancient Egyptians: Beliefs & Practices”. [S.l.]: Sussex Academic
Press. p. 91.

5 VAN CREVELD, Martin. Sexo Privilegiado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 129.

6 VAN CREVELD, Martin. Sexo Privilegiado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 132.

7 VAN CREVELD, Martin. Sexo Privilegiado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 130.

8 VAN CREVELD, Martin. Sexo Privilegiado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 132.

9 ORNELLAS, L. H. A alimentação através dos tempos. 1.ed. Rio de Janeiro, RJ: FENAME, 1978. 288 p. il.
(Série Cadernos Didáticos). Biblioteca(s): Biblioteca Rui Tendinha.

10 FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6ª ed. SP: Contexto, 2020. p.54.

11 PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média. Editora e Livraria Ltda, São Paulo, 2020; p.144.

12 PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média. Editora e Livraria Ltda, São Paulo, 2020; p.144.

13 PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média. Editora e Livraria Ltda, São Paulo, 2020; p.151

14 SALVIANO, Vozes Femininas nos Avivamentos. Editora Ultimato, 2020. p.24.

15 ENGELS, Friedrich. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. Editora: Edipro; Edição de Bolso (1
fevereiro 2017).

16 O livro do Feminismo (Vários autores). Globo Livros; 1ª edição.

17 MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach. Tese 4.

18 O livro do Feminismo (Vários autores). Globo Livros; 1ª edição. p.127.

IX.

1 É assessor e consultor parlamentar em inteligência e metapolítica, com publicações em portais jornalísticos e


de opinião como Mídia Sem Máscara.

2 SOWELL, Thomas. Fatos e Falácias da Economia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2018. p.79

3 https://www.bls.gov/news.release/pdf/cfoi.pdf/

4 https://www.bls.gov/iif/oshwc/cfoi/cfch0009.pdf.
5 “Cotas para mulheres?”. Matéria do portal Insper. Publicado em 12/06/2015. Disponível em:
https://www.insper.edu.br/noticias/ cotas-para-mulheres/

6 https://www.realclearmarkets.com/articles/2012/11/05/the_
female_wage_gap_is_a_major_economic_myth_99969.html

7 “Cotas para mulheres?”. Matéria do portal Insper. Publicado em 12/06/2015. Disponível em:
https://www.insper.edu.br/noticias/ cotas-para-mulheres/

8 “Na pós-graduação, mulheres são maioria entre estudantes mas minoria entre docentes”. Matéria da Folha
de São Paulo. Publicada por Sabine Righetti. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.
br/educacao/2021/03/na-pos-graduacao-mulheres-sao-maioria- entre-estudantes-mas-minoria-entre-
docentes.shtml.

9 “Here’s How Every Country in the World Ranks on Gender Equality”. Portal Undispatch. Disponível em:
https://www. undispatch.com/heres-every-country-world-ranks-gender-equality/

10 “Sex Differences in Personality Traits and Gender-Related Occupational Preferences across 53 Nations:
Testing Evolutionary and Social-Environmental Theories”. Disponível em: https://
www.researchgate.net/publication/23179757_Sex_Differences_ in_Personality_Traits_and_Gender-
Related_Occupational_ Preferences_across_ 53 _Nations_Testing_Evolutionary_and_ Social-
Environmental_Theories.

11 https:// www.researchgate.net /publication / 23179757_ Sex_ Differences _in _Personality_Traits _and


_Gender- Related _ Occupational _ Preferences _across _ 53 _ Nations _Testing _ Evolutionary_and_Social-
Environmental_Theories.

12 https:// www2 .census.gov/ l ibrary/publications/ 2011 /demo/womeninamerica.pdf.

13 “Cotas para mulheres?”. Matéria do portal Insper. Publicado em 12/06/2015. Disponível em:
https://www.insper.edu.br/noticias/ cotas-para-mulheres/

14 https:// www.nationalreview.com / 2016/ 08/pay- gap- studies- disprove-myth-sexism-responsible/

15 https://imdiversity.com/villages/women/young-single-womens-pay- exceeds-male-peers/

16 https://www.cbsnews.com/news/the-gender-pay-gap-is-a-complete- myth/

17 SOMMERS, Christina Hoff. Who Stole feminism?: how women have betrayed women. Touchstone. Simon
& Schuster. 1995.

18 “Aaron Russo talks Rockefeller Elite” (12 minutes). https://www. youtube.com/watch?v=7gwcQjDhZtI

19 AMENO, Agenita. Crítica à tolice feminina. Rio de Janeiro: Record, 2001. pp.23-25.

20 https://www.shrm.org/hr-today/public-policy/hr-public-policy-
issues/documents/gender%20wage%20gap%20final%20report.pdf

X.

1 Sorokin, Pitirim A. The American sex revolution. 1956. Boston: Sargent, 1956.

2 EBERSTADT, Mary. Adão e Eva depois da Pílula: os paradoxos da Revolução Sexual. São Paulo:
Quadrante, 2019.

3 EBERSTADT, Mary. Adão e Eva depois da Pílula: os paradoxos da Revolução Sexual. São Paulo:
Quadrante, 2019. p.26.

4 Joan DelFattore. “Death by Stereotype? Cancer Treatment in Unmarried Patients”. New England Journal of
Medicine. Setembro, 2019

5 Shawn Grover & John F. Helliwell, 2019. “How’s Life at Home? New Evidence on Marriage and the Set
Point for Happiness,” Journal of Happiness Studies, Springer, vol. 20(2), 373-390, Fevereiro, 2019.
6 Amato, Paul R. “Children of Divorce in the 1990s: An Update of the Amato and Keith (1991) Meta-
Analysis.” Journal of Family Psychology, 2001.

7 SOWELL, Thomas. Discriminação e disparidades. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2019. p.132.

XI.

1 Casados, moram em Florianópolis. Ela é mestre e doutora em farmacologia pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), autora do livro Abortos ocultos e a mentalidade contraceptiva. Ele é Mestre em bioética
pela Fundação Jérôme Lejeune (Espanha), editor de dezenas de projetos editoriais e coautor de três livros sobre
bioética e aborto.

2 COLONNA, F. De ovi mammalium et hominis genesi (1827), by Karl Ernst von Baer. The Embryo Project
Encyclopedia. Disponível em [https://embryo.asu.edu/pages/de-ovi-mammalium-et-hominis- genesi-1827-karl-
ernst-von-baer]. Acesso em 07/08/2021.

3 DEROSA, Ana. “Quando começa a vida humana? A ciência responde. Estudos Nacionais. 11/04/2017.
Disponível em [https:// www.estudosnacionais.com/4930/quando-comeca-a-vida-humana- a-ciencia-responde/].
Acesso em 06/08/2021.

4 KALUGER, G. KALUGER M. Human Development: The Span of Life, pág. 28-29. 1974.

5 SHAHBAZI et al. 2016. “Self-organization of the human embryo in the absence of maternal tissues”. Nature
Cell Biology. Volume 18, pp.. 700–708 (2016)

6 DEROSA, Ana. DEROSA, Marlon. GONÇALVES, Luan. Abortos ocultos e a mentalidade contraceptiva.
Florianópolis, SC. 1ª edição. ID Editora. 2020.

7 DEROSA, Marlon. DEROSA, Ana (PHD). “As evidências do início da vida na concepção vs. opiniões e
subjetividades”. 06/04/2018. Disponível em [https://www.estudosnacionais.com/7385/ as- evidencias-do-inicio-da-
vida-na- concepcao-vs-opinioes- e- subjetividades]. Acesso em 06/08/2021.

8 SINGER, Peter. Ética Prática. Martins Fontes. 4ª edição. São Paulo- SP. 2018

9 DEROSA, Marlon. “Aborto é assassinato? Debate sobre assassinato de bebês 1 mês após o nascimento usa
lógica do aborto”. Disponível em [https://www.estudosnacionais.com/12261/aborto-e-assassinato-

10 SINGER, ibid., p. 116.

11 GIUBILINI, Alberto. MINERVA, Francesca. After-birth abortion: why should the baby live? J. BMJ-J Med
Ethics 2013;39:261–263

12 JUNIOR, João Corrêa Neves. 26/02/2019. “Democratas barram Lei de Proteção a bebês sobreviventes de
abortos”. Disponível em [https://www.estudosnacionais.com/10902/democratas-barram- lei-de-protecao-a-bebes-
sobreviventes-de-abortos/]. Acesso em 06/08/2021.

13 Planned Parenthood. “20 Week Ban (HF 1312 / SF 1609)”. Disponível em


[https://www.plannedparenthoodaction.org/ planned-parenthood-minnesota-advocate/blog/20-week-ban-hf- 1312-
sf-1609]. Acesso em 06/08/2021.

14 FERNANDES, André Gonçalves. Livre para nascer: O aborto e a lei do embrião humano. Vide Editorial. 1ª
Edição. Campinas, SP. 2018. p. 39.

15 Op. Cit. pág. 49.

16 Op. Cit. pág. 50.

17 GARCIA, SML. FERNÁNDEZ, CG. Embriologia. 3 ed. Porto Alegre, RS. Artmed, 2011. 668 p.

18 PEGORER, Mayara Alice Souza; ALVES, Pedro Gonzaga. “O reconhecimento dos direitos sexuais e
reprodutivos da mulher como direitos fundamentais frente aos novos paradigmas sociais: reafirmando a
democracia”.. Artigo. UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná. Disponível em
[http://www.publicadireito. com.br/artigos/?cod=3dd48ab31d016ffc]. Acesso em 06/08/2021.
19 SANTOS, Lília Nunes. Aborto: A atual discussão sobre a descriminalização do aborto no contexto de
efetivação dos direitos humanos. 1ª Edição. Curitiba, PR. Editora Juruá. 2018. Pág. 29-41.

20 DEROSA, Marlon (Org.). Precisamos falar sobre aborto: mitos e verdades. 3ª Edição. Florianópolis, SC.
2019. Capítulo 1 e 3. 640 p.

21 PEGORER e ALVES.

22 MAZZA, George. O que você precisa saber sobre aborto. Capítulo

III.

23 Robin Elliott, Lynn C. Landman, Richard Lincoln and Theodore Tsuoroka. “U.S. Population Growth and
Family Planning: A Review of the Literature. Family Planning Perspectives”. Vol. 2, No. 4 (Oct., 1970), pp. i-xvi.
Published by: Guttmacher Institute. DOI: 10.2307/2133834. Disponível em [https://www.jstor.org/stable/
pdf/2133834.pdf]. Acesso em 06/08/2021.

24 Memmorandum 200 - NSSM 200. 10/12/1974. Kissinger Report. Disponível em


[https://pdf.usaid.gov/pdf_docs/PCAAB500.pdf]. Acesso em 06/08/2021.

25 Exemplo de centro de estudos que publica artigos científicos sobre o tema e é oficialmente ligado às clínicas
de aborto Planned Parenthood, Marie Stopes International, bem como ao Conselho Populacional. Bixby Center.
Programs and Partners. [https://bixbycenter.ucsf.edu/ programs-and-partners]. Acesso em 06/08/2021.

26 LANFRANCHI, Angela. GENGLES, Ian. RING-CASSIDY

27 NIIMARKI, M. Immediate complications after medical compared with surgical termination of pregnancy.
Obs Gynecol. 2009; 114(4): 795;804.

28 DEROSA, M (Org.) In: FRANTZ, Patrícia. Cap. 12. “Agravos à saúde física e mental relacionados ao
aborto”. Pág. 430.

29 LANFRANCHI, Angela. GENGLES, Ian. RING-CASSIDY

30 MACNAIR, Rachel. Peace Psychology Perspectives on Abortion (2016); Ver também: DEROSA, Marlon
(Org.) Precisamos falar sobre aborto: mitos e verdades. 3ª Edição. Florianópolis, SC. 2019. In: Capítulos 12 e 13.

XII.

1 Graduado de História tendo trabalhado na área como professor

2 ASSIS, Júlio. “Contraditório Coerente”. Jornal O Tempo. Publicado em 23/06/2012. Disponível em:
https://www.otempo.com.br/ opiniao/julio-assis/contraditorio-coerente-1.207495

3 Crítica, p. 1, 26 de dez. 1929. Disponível em: http://memoria.bn.br/ DocReader/372382/2636.

4 RODRIGUES, Sonia (Org.). Nelson Rodrigues por ele mesmo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 42.

5 VOGEL, Arno; FERREIRA, Regiane. A tragédia da Piedade: o grande drama da República. Anuário
Antropológico/2014. Brasília: UnB, 2015, p. 166.

6 Diário Carioca, p. 3, 27 dez. 1929. Disponível em: http://memoria. bn.br/docreader/093092_01/4968.

7 Diário Carioca, p. 3, 27 dez. 1929. Disponível em: http://memoria. bn.br/docreader/093092_01/4968.

8 CARLONI, Karla. “O corpo e as subjetividades de Sylvia Serafim: violência de gênero, imprensa e


protagonismo feminino no Rio de Janeiro (1920-1930)”. In: Mulheres tecendo o tempo: experiências e
experimentos no medievo e na contemporaneidade / Karla Carloni, Carolina Coelho Fortes (Org.). Curitiba: CRV,
2020, p. 69.

9 CAMPAGNOLO, Ana Caroline. “Feminismo: indústria de leis sexistas”. YouTube, 2021. Disponível em:
https://youtu.be/ xkGHkiEUTKA.
10 ALVIM, Simone F.; SOUZA, Lídio. Homens, mulheres e violência. Rio de Janeiro: Instituto Nooos, 2004,
p.41.

11 COOK, Philip W. Abused Men: The Hidden Side of Domestic Violence. EUA: Praeger, 1997, p. 22.

12 REYNALDO, Daniel. “Disque Direitos Humanos: perfis étnicos e sexuais dos agressores e das vítimas”.
Quem?, 2021. Disponível em: https://quemnumeros.com/2021/09/18/disquedh/. Acesso em 26/09/2021.

13 SOLBERG, Eva. “Våld i nära relationer är inte en könsfråga”. Nyheter24, 2015. Disponível em:
https://nyheter24.se/ debatt/801568-eva-solberg-moderaterna-vald-i-nara-relationer-ar- inte-en-konsfraga. Acesso
em 26/09/2021.

14 ARNDT, Bettina. “The Domestic Violence Industry”. 2016. Disponível em:


https://www.bettinaarndt.com.au/articles/the- domestic-violence-industry/. Acesso em 26/09/2021.

15 CONCEIÇÃO, Thays B; BOLSONI, C. C.; LINDNER S. R.;

XIII.

1 MARX, Karl. Marx to Kugelmann In Hanover. Marx and Engels Correspondence. Dez. 1868. Londres:
International Publishers, 1968. Marxists.org. Disponível em: [https://www.marxists.org/ archive/marx/works/

2 THE ROCKEFELLER FOUNDATION. Our History. Disponível em:


[https://www.rockefellerfoundation.org/about-us/our-history/] Acesso em: 07 ago 2021.

3 FORD FOUNDATION. About Ford: Our origins. Disponível em:


[https://www.fordfoundation.org/about/about-ford/our-origins/] Acesso em: 07 ago. 2021.

4 MACARTHUR FOUNDATION. Our History. Disponível em: [https://www.macfound.org/about/our-


history] Acesso em: 08 ago. 2021.

5 OPEN SOCIETY FOUNDATIONS. Financials. Disponível em:


[https://www.opensocietyfoundations.org/who-we-are/financials] Acesso em: 07 ago. 2021.

6 CAMPAGNOLO, Ana Caroline. Feminismo: Perversão e Subversão. Campinas, SP: Vide Editorial, 2019, p.
379-387.

7 DIGITAL HISTORY. Torches of Freedom Campaign. Digital History – Histoire Numérique. Disponível em:
[https://biblio. uottawa.ca/omeka2/jmccutcheon/exhibits/show/american-women- in-tobacco-adve/torches-of-
freedom-campaign] Acesso em: 07 ago. 2021.

8 BERNAYS, Edward. Propaganda. Nova York: Horace Liverright, 1928, p. 20. Disponível em:
[https://www.voltairenet.org/IMG/pdf/

9 LIBRARY OF CONGRESS. Ludlow Massacre: Topics in Chronicling America. Library of Congress.


Disponível em: [https:// guides.loc.gov/chronicling-america-ludlow-massacre/selected- articles] Acesso em: 07 ago.
2021.

10 THE ROCKEFELLER FOUNDATION. Family Planning. The Rockefeller Foundation. Disponível em:
[https://rockfound. rockarch.org/pt/family-planning] Acesso em: 07 ago. 2021.

11 PLANNED PARENTHOOD. Our History.Disponível em: [https:// www.plannedparenthood.org/about-


us/who-we-are/our-history] Acesso em: 07 ago. 2021.

12 REPORT Indicates New Campaign: 35% Puerto Rican Women Sterelized. In: Committee for Puerto Rican
Decolonization, Box 1240 Peter Stuyvesant Station, New York, N.Y. 10009, (212) 260-1290. Freedom Archives.
Disponível em: https://www. freedomarchives.org/ Documents/ Finder/ DOC512 _scans/512.
PR.WomenSterilized.Article.pdf Acesso em: 07 ago. 2021.

13 ORDOVER, Nancy. Puerto Rico. Eugenic Archive. Disponível em: [https://eugenicsarchive.ca/discover/


connections/530ba18176f0db569b00001b] Acesso em: 07 ago. 2021.

14 STEMPEL, Jonathan. Johns Hopkins, “Bristol-Myers must face $1 billion syphilis infections suit”. Reuters,
4 jan. 2019. Disponível em: [https://www.reuters.com/article/us-maryland-lawsuit-infections- idUSKCN1OY1N3]
Acesso em: 07 ago. 2021.

15 REISMAN, Judith. Kinsey: Crimes and Consequences: The Red Queen and The Grand Scheme. Arizona:
Inst for Media Education, 1998.

16 POPULATION COUNCIL. Timeline. Population Council. Disponível em:


[https://www.popcouncil.org/about/timeline] Acesso em: 07 ago. 2021.

17 GRIFFIN, G. Edward. Transcript of Norman Dodd Interview. 1982. Supreme Law Firm. Disponível em:
[http://www.supremelaw. org/authors/dodd/interview.htm] Acesso em: 07 ago. 2021.

18 NORMAN DODD On Tax Exempt Foundations. Kevin Gallangher. Disponível em:


[https://www.youtube.com/ watch?v=YUYCBfmIcHM] Acesso em: 07 ago. 2021.

19 CAMPANELLA, Claudia; WIMPEE, Rachel. The Fairy Godmothers of Women’s Studies. Rockefeller
Archive Center, 30 mar. 2020. Disponível em: [https://resource.rockarch.org/story/ field-building-fairy-
godmothers/] Acesso em: 07 ago. 2021.

20 BROOKE, Nigel; WITOSHYNSKY, Mary (orgs). Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: uma parceria
para a mudança social. São Paulo / Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002.
Disponível em: [https://www.fordfoundation. org/media/1719/2002-os_40_anos_da_fundacao_ford_no_brasil.
pdf] Acesso em 07 ago. 2021.

21 SOS CORPO: Instituto Feminista para a Democracia. Disponível em: https://soscorpo.org/ Acesso em: 08
ago. 2021.

22 CEFEMEA: Centro Feminista de Estudos e Assessoria. Disponível em: [https://www.cfemea.org.br/] Acesso


em: 08 ago. 2021.

23 COLETIVO FEMINISTA Sexualidade e Saúde. Disponível em: [https://www.mulheres.org.br/] Acesso em:


07 ago. 2021.

24 ECOS: Comunicação e Sexualidade. Disponível em: https://www. ecos.org.br/ Acesso em: 07 ago. 2021.

25 CEPIA: Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação. Disponível em: [https://cepia.org.br/] Acesso em:
07 ago. 2021.

26 FORD FOUNDATION. Ford Foundation Commits $420 million to Treckle Gender Inequality arond the
Globe post COVID-19. Ford Foundation. Disponível em: [https://www.fordfoundation. org/the-latest/news/ford-
foundation-commits- 420 -million-to- tackle-gender-inequality-around-the-globe-post-covid-19/] Acesso em: 07
ago. 2021.

27 CORRÊA, Sonia. Et al. The Population and Reproductive Health Programme in Brazil 1990-2002: Lessons
Learned: A Report to the John D and Catherine T MacArthur Foundation. In: Reproductive Health Matters, v.
13, n. 25, p. 72-80, 2005. Disponível em: [https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1016/ S0968-
8080%2805%2925165-0?] Acesso em: 07 ago. 2021.

28 OPEN SOCIETY FOUNDATIONS. Open Society Foundations commit 100 million to support feminist
political mobilization and leadership. 30 jun. 2021. Disponível em: [https://www.
opensocietyfoundations.org/newsroom/open-society-foundations- commit-100-million-to-support-feminist-
political-mobilization- and-leadership] Acesso em: 08 ago. 2021.

29 SUTTON, Antony. The Wall Street Trilogy. Canadá: Global Alliance Publications, 2018.

30 WOOD, Patrick. Technocracy Rising: The Trojan Horse of Global Transformation. Arizona: Coherent
Publishing, 2015, p. 5.

31 WORLD ECONOMIC FORUM. Publicado no Twitter. Disponível em:


[https://twitter.com/wef/status/828646291399913472] Acesso em: 07 ago. 2021.

32 LOPEZ, Daniel. “Você não terá nada, mas será feliz. Será?”. Gazeta do Povo, 15 ago. 2021. Disponível em:
[https://www.gazetadopovo. com.br/vozes/daniel-lopez/voce-nao-tera-nada-mas-sera-feliz-sera/] Acesso em: 07
ago. 2021.

33 SCHWAB, Klaus. Covid-19: The Great Reset. Suíça: Forum Publishing, 2020.

34 FRIEDMAN, Milton. “A Friedman doctrine - The Social Responsibility of Business Is to Increase Its
Profits”. The New York Times, 13 set. 1970. Disponível em: [https://www.nytimes. com / 1970 /09 / 13
/archives/a- friedman- doctrine- the- social- responsibility-of-business-is-to.html] Acesso em: 07 ago. 2021.

35 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista (1848). São Paulo: Boitempo Editorial,
2005.

36 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 10 ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1985.

37 DRAFT Programme. Chicago: RCP Publications, 2001. Disponível em: [https://revcom.us/margorp/progtoc-


e.htm] Acesso em: 07 ago. 2021.

38 LANCE; CORLYSS_D (orgs.). Gustav Mahler’s Paraphrase of Thomas More. The Classical Music Guide
Forums. Disponível em: [http://classicalmusicguide.com/viewtopic.php?t=38761] Acesso em: 07 ago. 2021.

39 FIRESTONE, Shulamith. The Dialectic of Sex. Nova York: Bantam Books, 1970, p.11-12.

40 HARAWAY, Donna. Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. Nova York: Routlegde,
1991.

41 CONFERÊNCIA EPISCOPAL PERUANA. A ideologia de gênero: seus perigos e alcances. Lima, abr. 1998.
Disponível em: [https:// img.cancaonova.com/noticias/pdf/281960_IdeologiaDeGenero_
PerigosEAlcances_ConferenciaEpiscopalPeruana.pdf]. Acesso em: 07 ago. 2021.

42 2017-2018 GLOBAL Resources Report: Government and Philanthropic Support for Lesbian, Gay, Bisexual,
Transgender and Intersex Communities. Disponível em: [https:// globalresourcesrepor t .org / w p - content /
uploads / 2020 / 05/ GRR_2017-2018_Color.pdf] Acesso em: 07 ago. 2021.

43 KOLTUV, Barbara. O Livro de Lilith: O Resgate do Lado Sombrio do Feminino Universal. 2ª ed. São
Paulo: Cultrix, 2017, p. 39.

44 LEVINE, Kendra. “Reclaiming Lilith as a Strong Female Role Model”. Senior Theses, 5. Disponível em:
https://digitalcommons. linfield.edu/relsstud_theses/. Acesso em: 07 ago. 2021.

XIV.

1 Advogada e Deputada Federal eleita com bandeiras conservadoras e apoiada pela comunidade católica.

2 SCALA, Jorge. Ideologia de Gênero: o neototalitarismo e a morte da família. 201. p. 11.

XV.

1 Professora de língua portuguesa, graduada e pós-graduada em Direito; fundadora do Expressando Direito —


Curso Prático de Português Jurídico; professora do Núcleo de Formação da Brasil Paralelo; professora de O Novo
Mercado, a maior escola de marketing digital do Brasil; professora de cursos preparatórios para vestibular.

2 Mora em Portugal. É professor de Língua Portuguesa graduado em português-literaturas pela Universidade


Federal do Rio de Janeiro e mestrando em Linguística pela Faculdade de Letras do Porto. Autor do best-seller A
gramática para concursos públicos, atua há 20 anos em preparatórios para concursos.

3 https://ojoaoveloso.wordpress.com/.

4 “Por que a distinção entre gênero social e gramatical na língua portuguesa é necessária no idioma”. Matéria
do Portal Zero Hora publicada em 12/12/2015. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs. com.br/porto-
alegre/noticia/2015/12/por-que-a-distincao-entre- genero-social-e-gramatical-na-lingua-portuguesa-e-necessaria-
ao- idioma-4928930.html.
5 https://istoe.com.br/a-lingua-sob-pressao.

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