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1808 REGAL RIVER CIR - OCOEE - FLORIDA - 34761
Phone Number: (407) 745-1558
e-mail: cedetusa@cedet.com.br
Editor:
Thomaz Perroni
Revisão e preparação:
Francisco do Nascimento
Diagramação:
Virgínia Morais
Capa:
Vicente Pessôa
Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo
FICHA CATALOGRÁFICA
Campagnolo, Ana Caroline.
Guia de bolso contra mentiras feministas / Ana Caroline Campagnolo — Campinas, sp: Vide Editorial, 2021.
isbn: 978-65-87138-75-6
1. Feminismo.
I. Título ii. Autor
cdd — 305.42
Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou
forma, seja ela eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão
expressa do editor.
Você não vale nada como feminista se não admite a
glória dos homens. A responsabilidade pessoal é a base.
Você deve buscar a informação, você deve buscar a
felicidade. Pare de pedir ao Estado e à burocracia para
mandarem pessoas que façam você feliz. Essa não é a
receita da liberdade das mulheres. Isso é um retrocesso.
Isso faz do Estado o guardião das mulheres
e elas ficam passivas.
— Camille Paglia, feminista americana
Ph.D. pela Universidade de Yale
Sumário
COMO USAR ESTE LIVRO
PREFÁCIO DA ORGANIZADORA
AS MENTIRAS
I. As mulheres são sempre oprimidas e os homens, sempre privilegiados
II. Toda grande escritora e filósofa do passado era feminista
III. Terrível Idade Média!
IV. Antes do feminismo, mulher não podia governar, liderar ou se destacar
V. Também não podia estudar...
VI. ...E nem votar!
VII. A mulher tem que entrar na política (por cota) para defender seus interesses
VIII. A mulher não podia trabalhar antes do feminismo
IX. Mulheres ganham menos que homens fazendo o mesmo trabalho
X. O casamento é opressor
XI. O “aborto seguro” é um direito da mulher
XII. Precisamos do feminismo para combater a violência
XIII. O feminismo é um movimento espontâneo que representa todas as mulheres
XIV. A teoria de gênero é necessária para acabar com o preconceito
XV. O pronome neutro é uma forma de combater a discriminação
AGRADECIMENTOS
NOTAS DE RODAPÉ
COMO USAR ESTE LIVRO
Querido leitor, Este guia de bolso está organizado no formato “perguntas e respostas” para facilitar a sua
consulta e referenciação. Vários parágrafos foram pensados para que você pudesse copiá-los e usá-los na internet,
em trabalhos escolares ou em discussões com amigos. Outros trechos são mais detalhados e podem orientar
estudos mais aprofundados sobre os temas em questão.
Apesar de ser um livro de bolso, conciso e objetivo, há uma vasta bibliografia que fundamenta cada resposta.
Você encontrará essas referências bibliográficas nas páginas finais. Use-as para demonstrar que esses argumentos
não saíram da nossa cabeça iluminada e inventiva, mas do corpo teórico do próprio movimento feminista, de
pesquisas recentes e da história universal.
O livro, é claro, funciona como uma unidade e pode ser lido do início ao fim como uma narrativa que se
desenvolve um capítulo depois do outro. No entanto, ele também foi pensado para funcionar a modo de
consulta: você pode escolher qual mentira feminista o interessa mais e ler apenas o capítulo reservado a ela, para
depois partir para outra que não necessariamente está na sequência.
Boa leitura!
PREFÁCIO DA ORGANIZADORA
O desejo de parecer sem ser e a vontade de debater sem saber são dois grandes inimigos da vida intelectual. Para
a maioria das perguntas, seria mais honesto simplesmente dizer “não sei”. Mas, para a maioria de nós, é muito
difícil tomar essa atitude quando todos ao redor só querem alguém para chamar de “vencedor do debate”. Se por
um lado é imensa a alegria de escrever este livro, por outro é triste saber que a razão da sua urgência é
exatamente a pressa em debater sem os devidos cinco, dez ou quinze anos de estudo. Isso seria o ideal, mas
também é verdade que não vivemos no mundo ideal, e sim no possível, onde temos que fazer o melhor que
podemos. Foi com esse espírito que reuni alguns amigos para entregar a vocês este guia de bolso — urgente e, por
isso mesmo, resumido.
Outra preocupação também me move: a introdução cada vez mais precoce dos jovens na disputa política. Os
ideólogos transformaram a sala de aula e a internet em uma guerra de trincheiras (sem a trégua de Natal). O
movimento feminista já havia deixado claro, com Simone de Beauvoir, que “o pessoal é político”. E desde que
essa ideia simplista se tornou popular, ninguém mais tem sossego para estudar, refletir, duvidar, permanecer em
dúvida ou, simplesmente, levar quinze anos para chegar a uma conclusão, independentemente de qual seja.
Diante dessa premissa segundo a qual “o pessoal é político”, muita gente despreparada é cobrada a se posicionar.
Com isso em mente, dedico este guia de bolso a todos os jovens e adolescentes brasileiros que, despertos do
sono ideológico, investem hoje boa parte do seu tempo — seja na internet, seja na escola, na igreja, onde
estiverem — a mostrar a verdade a outras pessoas. Ver o esforço e a coragem de tantos jovens (e também de
alguns promotores, juízes, advogados, jornalistas, médicos, professores e donas de casa) foi a minha maior
motivação para elaborar um texto mais acessível e enxuto do que meu outro livro, Feminismo: perversão e
subversão. Este guia traz, portanto, uma abordagem mais popular das principais questões em torno da condição
da mulher através dos tempos — um guia que pode ser lido e entendido por qualquer pessoa e, em todos os
sentidos, cabe no bolso de qualquer um.
Hoje podemos ter certeza de que a reação ao movimento feminista é uma realidade no Brasil. Meu primeiro
livro, publicado em 2019, ajudou a fortalecê-la, bem como o resultado do pleito eleitoral de 2018, que me tornou
deputada estadual e a única mulher conservadora do parlamento catarinense. Que seja só o começo.
AS MENTIRAS
I.
As mulheres são sempre oprimidas e os homens, sempre
privilegiados
Vamos ao exemplo histórico de Estatira (346 a.C.–323 a.C.). Ela era, segundo
Alexandre Magno, a mulher mais perfeita da Ásia. Provavelmente por causa de sua
beleza, foi poupada da escravidão. Estatira era filha de Dário III e, como Alexandre,
o Grande, havia vencido o imperador aquemênida, este tinha o direito de espoliar e
escravizar o povo vencido. Poderíamos afirmar com certeza que o leitor não conhece
a história de nenhum homem que tenha sido poupado da escravidão para assumir
um lugar de poder na realeza tão somente por ser bonito. Mas foi exatamente o que
aconteceu com Estatira. O mesmo livro que conta sua história5 conta também que
Não se pode concordar com as premissas feministas de que à mulher não era
permitido o direito de educar-se nos tempos antigos: essa restrição se dava
justamente pelo fato de o método de ensino ser demasiadamente rígido e muitas
vezes cruel, em ambientes tremendamente hostis e inapropriados para moças.
Vejamos o que escreveu o historiador Pedro Paulo Funari6 sobre a educação na
Antiguidade:
Nessa sociedade de ferro, desde a mais tenra infância, os garotos eram criados
como futuros guerreiros, submetidos a condições muito duras, tanto para seu
corpo quanto para seu espírito. Os meninos tinham uma educação militar rígida e
ficavam o tempo todo treinando para a guerra. Quando nascia, se a criança fosse
considerada forte e saudável, ao pai era permitido que a criasse, caso contrário, o
bebê era jogado de um penhasco. Aos 7 anos, todos os garotos deixavam suas
mães. Aos 20 anos, o homem espartano adquiria uns poucos direitos políticos.
Aos 30, casava-se, adquiria mais alguns. Entretanto, apenas aos 60 estaria
liberado de suas obrigações para com o Estado.
Até hoje, a maioria das mulheres, quando pode escolher, opta por áreas de
conhecimento ou especialidades consideradas mais fáceis.7
Segundo a pesquisa do Censo de Educação Superior 2015,8 a lista das profissões
preferidas pelas mulheres é dominada por graduações em humanidades, como
pedagogia e direito, ou formações ligadas à saúde, como enfermagem e
fisioterapia. Já no ranking dos cursos com mais homens matriculados aparecem
com destaque disciplinas de exatas, como engenharia e tecnologia.
Não à toa, as áreas de preferência masculina são chamadas de ciências duras. Além
disso, dados da Glassdoor9 indicam que as mulheres recebem salários maiores que os
profissionais do sexo masculino em profissões consideradas mais leves ou menos
arriscadas: modelo, promotora de vendas, pesquisadora assistente, especialista em
compras, profissional de mídias sociais, profissional de comunicação, entre outras.
Hoje, as mulheres são maioria nas universidades e também são as que mais
permanecem no Ensino Médio. Segundo dados do MEC em 2016, as mulheres eram
59,8% do total de bolsistas. Apesar de já terem ultrapassado os homens há décadas,
existem muitos favorecimentos que ainda estão em vigência. No último dia da
mulher, um site brasileiro11 listou 16 bolsas de estudo no exterior que só foram
disponibilizadas para mulheres, entre elas a American Association of University
Women, o programa Faculty for The Future Fellowship da Fundação Schlumberger,
o programa Science Amabassador lançado pela Cards Against Humanity,12o Prêmio
Viva Seu Sonho da Soroptimist, e as bolsas Margaret McNamara.
As mulheres também são muito menos afetadas em crimes violentos. Até mesmo a
feminista australiana Germaine Greer, reconhecida internacionalmente como uma
das mais importantes feministas do século XX, admitiu que “[...] os homens sempre
e em todos os lugares têm maiores probabilidades de morrerem de forma violenta do
que as mulheres”.16
Só no Brasil, dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública
apontam que em 2020, das 50.033 vítimas de mortes violentas intencionais, 91,3%
foram homens.17
E, não supreendentemente, esses números são similares às estatísticas de todos os
demais países.
John Stuart Mill, em sua obra A sujeição das mulheres, tentou argumentar em
favor das mulheres para que se eliminassem as diferenças de tratamento entre os
sexos, devidas à inferioridade da força física do sexo feminino, outorgadas pela lei
da época.18
Mill, um homem do século XIX, não possuía conhecimento necessário para entender
por que algumas limitações acometiam as mulheres, assim como toda a sociedade
antes e depois dele, até a década de 1930 — quando foram descobertos os
hormônios sexuais e seus efeitos no cérebro e no corpo do homem e da mulher. Não
se sabia, por exemplo, o que diferenciava a força física do sexo masculino com
relação ao feminino, ou ainda, o porquê da predileção de cada sexo por
determinadas áreas de conhecimento. Como explicar às mulheres, antes disso, que
certas atividades não eram tão adequadas a elas, se a resposta ainda nem sequer
existia? Se hoje, com um extraordinário avanço científico e com a vasta quantidade
de informações a que temos acesso, ainda vemos pessoas negando e duvidando da
própria ciência — sobretudo no que diz respeito à ideologia de gênero —, que dirá
em épocas passadas, quando ainda não existia nem mesmo uma resposta
minimamente lógica e quase tudo era interpretado como opressão.
II.
Toda grande escritora e filósofa do passado era feminista
Natália Sulman1
O mesmo acontece com grandes escritoras dos séculos passados. Com dificuldades
de reconhecer que muitas mulheres são grandes sem precisar de ideologias modernas,
as feministas costumam chamar essas mulheres de protofeministas, coisa que nunca
foram. Fazem isso com Jane Austen e se viajarmos mais demoradamente, por fim,
chegaremos à figura de Hipátia de Alexandria. Por parte das feministas, esta já não é
objeto de crítica, mas de louvor; ela ocupa lugar de destaque no altar dos ícones
cultuados pelos círculos revolucionários desde o século passado. Autoconvencidos de
que, no mundo clássico, se a mulher manifestasse o desejo de enveredar pelo
caminho do conhecimento, ela teria necessariamente de ser revolucionária
(anacronismo), as feministas passaram a reverenciá-la como precursora do
movimento. Para isto concorreram dois fatos biográficos da Sábia de Alexandria:
Hipátia fora reconhecida como filósofa platônica e tomou a resolução de não se
casar.
Explicar para uma engajada a incoerência do seu anacronismo lhe causa horror: a
escolha de Hipátia nada tem a ver com emancipação e libertação sexual. Antes, o
que a orienta é a sua escolha pela virgindade e purificação espiritual, isto é, dois
princípios neoplatônicos antagônicos à liberação sexual das feministas.
Com tudo isso, deve ficar claro que, sempre que alguém afirmar que uma filósofa
antiga representa, retroativamente, os ideais da causa feminista, está incorrendo em
anacronismo. Este erro, como explicado, consiste na alocação da mentalidade
revolucionária em algum dado momento do passado, com o propósito de dar às suas
ideias o prestígio dos autores antigos. As revolucionárias põem as cartas nos dois
lados da mesa: enquanto evocam os nomes clássicos, a academia as abraça; enquanto
louvam a revolução sexual, as jovens progressistas as aplaudem. Como se vê, é um
jogo de impressionante perversão, posto que o real adversário é destruído — não
porque é derrotado, mas porque sequer é convidado para o debate.
III.
Terrível Idade Média!
As mulheres do medievo europeu eram infelizes e oprimidas
Ricardo da Costa1 “Como as mulheres eram infelizes na Idade Média! Elas não
podiam fazer nada”. Em algum momento você já ouviu isso, não é verdade? Mas
como podemos saber o que acontecia na vida das pessoas há mil anos? No
coração das mulheres? De todos os períodos da nossa história, a Idade Média é o
mais injustiçado na imaginação popular. Ela é considerada a época com mais
ignorância, brutalidade, sujeira, falta de educação. Caro leitor, adianto que é
muito difícil desfazer essa mitologia,2mas pretendo esclarecer pelo menos esse
ponto sobre as mulheres.
Por todas as partes nesse período mais recuado da Idade Média encontramos
mulheres que se destacaram em seus afazeres. Nas Ilhas Britânicas, Etelfleda de
Wessex (c. 869–918), após a morte de seu marido, o rei da Mércia Etelredo II (morto
em 911), governou o reino e mandou construir várias cidades fortificadas. No
continente, a duquesa Inês da Borgonha (c. 990–1068) foi participante muito ativa
da política de seu tempo, e chegou inclusive a governar o ducado da Aquitânia
durante a menoridade de seu filho, Guilherme VII, a Águia (1023–1058).9
No mesmo século XI, outra mulher de grande destaque foi a Condessa Matilde de
Canossa (ou de Toscana, 1046– 1115).10
Além de governante, também ficou famosa por seu desempenho militar.11
Ela teve participação ativa na Questão das investiduras (1075–1122) — disputa pela
autoridade que faria as nomeações na Igreja Católica, se o imperador ou o Papa — e
como mediadora do conflito entre o Imperador Henrique IV (1050–1106) e o Papa
São Gregório VII (c. 1015–1085).12
Isso para nos referirmos somente às mulheres bem-nascidas, casadas com
governantes ou elas próprias governantes. Em toda a Alta Idade Média (séc. V–X),
elas dedicaram suas vidas à Igreja: santas, monjas, poderosas abadessas — isso sem
contar as que ofereceram seu sangue, as mártires (por exemplo, entre muitas
centenas de outras, Santa Inês de Roma [c. 291–304], Santa Cecília [†c. 230], Santa
Ágata [séc. III], Santa Blandina [séc. II], Genoveva [423–c.5.512]).13
Além da já citada Rainha Clotilde (c. 474–545), cuja conversão e influência na
conversão de seu marido mudou o rumo da história do Ocidente, é de se perder a
conta a quantidade de mulheres medievais bastante influentes: Attracta (séc. V–VI),
Cwyllog (séc. VI), Dimpna (sécs. VI–VII), Bertha de Kent (c. 565–601), Rictrude (c.
614– 688), Chrodoara (†c. 633), Helena de Bruxelas (†c. 640), Burgundofara (†c.
643 ou 655), Begga de Landen (613–693), Batilda (626–680), Aldegunda (c. 639–
684), Valdetrude de Mons (†688), Amalberga de Maubege (séc. VII), Begneta (séc.
VII), Cwenburh of Wimborne (séc. VIII), Amalberga de Temse (c. 741–772),
Anstrudis († 688), Angadrisma (†c. 695), Berlinda (†c. 702), Bertha de Artois
(†725), Edburga de Minster-in-Thanet (†759), Ava (séc. IX), Edith de Polesworth
(†c. 960), Santa Cunegunda de Luxemburgo (975–1033), Santa Gisela (c. 985–1065)
— esta última se casou com Estêvão, príncipe dos húngaros, convertendo-o (é o
famoso Santo Estêvão [c. 975–1038], fundador da Dinastia de Arpad).14
Santa Gisela era irmã do imperador Santo Henrique II (973–1024), que foi casado
com Santa Cunegunda de Luxemburgo (975–1033). A lista feminina medieval é
interminável.15
E o que mais impressiona é a determinação, a profunda (e fecunda) força religiosa da
fé feminina. Vou contar só um (belo) exemplo de vida. Rictrude (c. 614–688) nasceu
pagã, se converteu e se casou com Adalberto I de Ostrevent, duque de Douai (†c.
652). Após o assassinato de seu marido por parentes dela (provavelmente ressentidos
por ela ter se casado com um inimigo de seu povo, os gascões), Rictrude recusou se
casar novamente. Resistiu à pressão do rei da Nêustria e da Borgonha, Clóvis II
(633–657), e entrou para o mosteiro de Marchiennes (condado de Flandres).16
E se tornou abadessa, ou seja, administradora da vida espiritual dos monges e
monjas daquele mosteiro (sim, Marchiennes era um dos mosteiros duplos —
monasteria duplicia — isto é, masculino e feminino, todos submetidos a uma só
regra, vivendo em alas separadas, mas sujeitos a uma mesma autoridade, que podia
ser exercida, como no caso de Marchiennes, por uma mulher). Ela era também
governante de suas posses, ampliadas graças ao trabalho de secagem dos pântanos,
drenagem e desmatamento.
Como muitos textos medievais, Cidade das Damas foi escrito em forma de
alegoria.30
Cristina narra, em primeira pessoa, que recebeu a visita de três damas coroadas: a
Razão, a Retidão e a Justiça. Em um dos diálogos, a personificação da Razão diz a
Cristina:
Como a natureza, discípula do Mestre Divino, poderia ter mais poder do que
Aquele que lhe confere sua autoridade? Deus teve em seu pensamento eterno a
ideia do homem e da mulher. Quando quis criar Adão do limo da terra no campo
de Damasco, assim o fez, e levou-o até o Paraíso Terreno, que era e continua
sendo o lugar mais formoso deste mundo. Ali o deixou dormindo e formou o
corpo da mulher com uma de suas costelas, para significar que ela deveria
permanecer a seu lado como sua companheira, não estar a seus pés como uma
escrava, e que ele haveria de querê-la como a sua própria carne.
humano. Pelo contrário, se trata da alma, reflexo da imagem divina, e esta alma,
na verdade, Deus a criou tão boa, nobre e idêntica no corpo do varão quanto no
da mulher. Como dizíamos, a mulher foi criada pelo Soberano Trabalhador no
Paraíso Terreno, e de qual substância? Não de vil matéria, mas da mais nobre
criada, pois Deus a fez do corpo do homem”.31
Não posso discordar de Cristina: a mulher foi criada para estar ao lado do homem
como sua companheira, não estar a seus pés como uma escrava! Graças ao
pensamento teológico católico e à Igreja, o Ocidente se abriu para a igualdade
entre os sexos, diferentemente de outros mundos e religiões.32
IV.
Antes do feminismo, mulher não podia governar, liderar ou se
destacar
Essa é uma mentira contada apenas para nos dar a impressão de que não podemos
fazer ou conquistar qualquer coisa sem a chancela do feminismo. É possível citar
uma lista de mulheres que governaram, lideraram ou receberam destaque político
muito antes de existir qualquer tipo de feminismo. Por exemplo, Enheduanna,
professora e poeta, foi a primeira mulher a receber o título de personalidade de
grande importância para a política no império acadiano. Isso aconteceu mais de 4
mil anos atrás, ainda no início das grandes civilizações. Há também Hatshepsut, que
foi rainha-faraó do Egito 15 séculos antes de Cristo; Aspásia de Mileto, que foi
professora do estadista Péricles no século V a.C.; e Cleópatra, última governadora do
reino ptolemaico do Egito no ano 30 a.C. Podemos citar alguns exemplos bíblicos
como a juíza Débora, que fazia as vezes de general de guerra em Israel, ou a Rainha
Ester, que tem um livro inteiro na Bíblia dedicado a si. Na era medieval e moderna
há grandes autoridades como a Rainha Brunilda (543–614 d.C.), a nobre e militar
italiana Matilde de Canossa (1045– 1115), a monja e médica naturalista Hildegarda
de Bingen (1098–1179), a Rainha Isabel de Castela (1451–1504), a indígena
Malinche que acompanhou Cortés na conquista do México (1500–1529), a Rainha
Catarina de Médici (1519–1589), a Rainha Elizabeth I (1533–1603), entre tantas
outras das quais você certamente recorda.
Antes que digam que essas mulheres eram exceção e que a maioria das outras
mulheres vivia uma vida comum e, muitas vezes, até subserviente, não esqueçamos
que a maioria esmagadora dos homens também vivia uma vida comum: súdito,
escravo, servo ou trabalhador em condição de subsistência. É muito fácil criar uma
impressão de opressão absoluta contra a mulher quando você compara as mulheres
mais sofridas com os homens mais poderosos. Não é assim que se faz uma análise
honesta da condição social de um período histórico. Com certeza, existiram muito
mais homens poderosos do que mulheres poderosas; mas também existiram muito
mais escravos homens trabalhando nas pirâmides e galés de navios do que mulheres.
De fato, ela foi a mãe espiritual e militar de um povo em guerra constante contra
seus vizinhos4e a Bíblia só fez elogios a seu respeito. Ao falar de todos os outros
juízes (homens), não há essa concessão, pois todos são criticados ou classificados por
seus defeitos. Quase todos nós conhecemos a história de Sansão e Dalila, pois Sansão
foi um juiz que se deixou levar por suas fraquezas sexuais. Mas quanto aos defeitos
de Débora, não é possível afirmar nada. O texto diz que “Débora, uma profetisa,
liderava Israel naquela época [...] e os israelitas a procuravam para que ela decidisse
suas questões”. O conflito principal que laureia a juíza acontece quando o exército
cananeu avança contra Israel após uma coalizão de vários reis importantes liderados
por Jabin, de Hasor, no norte de Israel. Os arqueólogos confirmam a expansão das
tribos hebreias e é razoável supor que isso gerasse insatisfação. A superioridade
técnica dos cananeus (novecentos carros de ferro) assustava inclusive Barac, o
homem enviado por Débora para liderar a batalha pelo lado israelita. Barac chegou
a responder: “Se vieres comigo [para a guerra], vou; se não vieres comigo, não
vou”.5
Tal episódio, com base histórica situada no século XII a.C., é apresentado duas
vezes: uma em prosa narrativa e outra em verso épico. Alguns pesquisadores
mencionaram que esses trechos podem ser os mais antigos da Bíblia, escritos por
sacerdotes aproximadamente 600 ou até mil anos antes de Cristo. O teólogo José
Ademar Kaefer comentou que “as mulheres na sociedade tribal tinham muito mais
força e projeção que na monarquia”. No comentário bíblico de uma tradução
católica, lemos a seguinte deferência à conduta irrepreensível de Débora: “É uma
mulher valente e decidida; Barac é o homem indeciso; a mulher é profetisa e possui a
palavra de Deus; o homem é militar e está desanimado”.6
Lutero,7 pai do protestantismo, também elogiou Débora afirmando que ela e outras
mulheres governantes “foram muito bem na administração”. Para encerrar, basta
saber que o contra-ataque organizado por Débora atraiu os inimigos para uma
região pantanosa que inviabilizou seus carros e possibilitou a vitória de Israel.
Já a Rainha Jezabel recebeu destaque entre hebreus cerca de 3 mil anos atrás pela
sua má influência sobre o Rei Acabe, o que mais uma vez indica que algumas poucas
mulheres (assim como alguns poucos homens) realmente ascendiam ao poder não
apenas formalmente, mas de fato, influenciando e mudando o destino de povos
inteiros.
Eles respiravam poder, política e cidadania em seu cotidiano, portanto, estar fora
do jogo por não ter nascido em Atenas não era muito agradável para Aspásia.
Mesmo com todo poder que tinha, Péricles não conseguia oficializar seu casamento
com ela por causa das leis atenienses (ele estava separado da sua primeira esposa).
Isso nos faz pensar nas condições sociais da época: geralmente, comenta-se sobre as
mulheres estarem excluídas do processo democrático ateniense, mas elas não eram as
únicas. A maioria dos homens também ficava de fora. Eram milhares de escravos
somente em Atenas, “em sua maioria prisioneiros de guerra [...] 30 mil trabalhavam
nas minas de prata [...] 25 mil eram escravos rurais e 73 mil eram escravos
urbanos”.10
Escravos e estrangeiros também não eram considerados cidadãos. As regras eram
rígidas mesmo para o grande líder Péricles, que era, sem dúvidas, um cidadão
ateniense. No diálogo Menexêno, Platão faz referência clara e elogiosa aos talentos
retóricos e às aulas de oratória ministradas por Aspásia.11
Ela é citada ao lado de outra filósofa (e sacerdotisa) chamada Diotima de Mantineia,
como uma das personalidades mais importantes a orientar o grande filósofo
Sócrates. Ela realmente foi grande entre os grandes de sua época.
Livros com tons feministas têm feito listas de grandes mulheres, mas sempre
deixando de enfatizar que elas floresceram antes de o feminismo aparecer. Um desses
livros, chamado Mulheres, mitos e deusas,12 afirma o seguinte:
Convém citar ainda a Rainha Cleópatra VII Filopátor que comandou o Egito de 51
a.C. a 30 a.C., última governante da dinastia ptolomaica. Ela foi, provavelmente, a
sétima Cleópatra, responsável por popularizar o título como se fosse seu próprio
nome. Sua importância e influência foram tão inegáveis que várias produções
cinematográficas contaram sua história: desde muito jovem disputando a liderança,
sua ambição levou o Egito a uma guerra civil; impedida de entrar no palácio, ela
convenceu alguns servos a enrolarem-na em um tapete até que conseguisse entrar no
quarto de Júlio César. Sua inteligência e coragem convenceram César a devolver-lhe
o trono.
Encontramos inúmeros nomes atravessando apenas a história da Antiguidade, mas
há também a Idade Média e a moderna. Radegunda viveu no século VI d.C. e foi
rainha do reino franco de Soissons após ter se casado com Clotário I.
Levando em conta que seu marido era insuportável, ela se abrigou na Igreja
Católica, que abriu suas portas e permitiu que ela fundasse monastérios. É
considerada santa, sua festa litúrgica acontece todo dia 13 de agosto e há uma
belíssima escultura feita por Louis Desprez em sua homenagem na Igreja de São
Germano de Auxerre, em Paris.
V.
Também não podia estudar...
Ana Caroline Campagnolo
Só mesmo alguém que não leu muita coisa pode chegar à conclusão de que as
mulheres só começaram a estudar após o advento do feminismo, ou seja, a partir dos
séculos XIX e XX. A verdade é que muitas mulheres foram grandes intelectuais,
doutoras, professoras e até mentoras de políticos poderosos muito antes do
surgimento da primeira feminista. Para começo de conversa, além do caso famoso de
Aspásia de Mileto, que foi mentora de um grande estadista da Grécia Antiga no
século V a.C., e das inúmeras filósofas da Antiguidade como Areta de Cirene, que
viveu no século IV a.C., podemos destacar Hipátia de Alexandria, que foi
matemática há 1.500 anos.
No entanto, sempre que citamos as gregas, alguém aparece para dizer que isso só
acontecia porque ainda não estavam sob o domínio da Igreja Católica e da Idade das
Trevas. É outra inverdade. Régine Pernoud pesquisou e escreveu sobre a Idade
Média, recebendo o Prêmio Gobert em 1997. Ela foi uma historiadora francesa
reconhecida no mundo todo, arquivista e paleógrafa. Em uma de suas obras7 explica
que, por volta do ano 1.000 d.C., “era muito comum confiar uma criança, menino
ou menina, a um mosteiro para que fosse educada”, mesmo não existindo nenhum
feminismo por lá. Aliás, muitos mosteiros da época eram chamados de “mosteiros
duplos” por terem alas masculinas e femininas; as meninas, portanto, podiam
estudar. Durante a Idade Média, a Igreja patrocinou os estudos de inúmeras
intelectuais posteriormente consideradas “doutoras da Igreja”. Inclusive, foi a
própria Igreja que criou as universidades no Ocidente e sustentou inúmeros homens
e mulheres para que pudessem se dedicar à vida intelectual.
Até o Papa já se pronunciou a respeito. Bento XVI afirmou que Santa Hildegarda
era um exemplo digno para explicar como viviam as pessoas inteligentes do medievo.
“Hildegarda manifesta a versatilidade de interesses e a vivacidade cultural dos
mosteiros femininos da Idade Média, ao contrário dos preconceitos que ainda pesam
sobre aquela época”.8
De fato, Hildegarda de Bingen (1098–1179) é a mais famosa da nossa lista.
Evidentemente, porque seus talentos eram tão impressionantes que não há quem
deixe de mencioná-la. Escreveu músicas e poemas originais e com impressionante
harmonia gregoriana. Era também médica naturalista, cientista, terapeuta,
dramaturga, escritora, teóloga, monja e abadessa da Renânia. Foi canonizada, é
considerada santa e doutora da Igreja — ou seja, tem reconhecida importância para
a doutrina da fé católica. Levando em conta que, no século XII, os conhecimentos de
medicina estavam centralizados nos judeus e árabes, pode-se dizer que os tratados de
medicina de Hildegarda foram os únicos apresentados no Ocidente naquela época.
Tão importante quanto Catarina foi Teresa, freira carmelita e mística. Teresa
d’Ávila (1515–1582) escreveu diversas obras e foi uma das reformadoras da Ordem
Carmelita. Por falar em reforma, há também Catarina de Bora (1499–1552), esposa
do reformador Martinho Lutero, que não deixou nenhum livro de sua autoria, mas
foi companheira intelectual à altura do marido e defendeu o acesso à educação para
outros homens e mulheres. Mas se Catarina de Bora não publicou nenhum livro,
outra protestante o fez: Anne Dutton, uma importante teóloga do século XVII, cujos
textos são lembrados até hoje.
Para concluir: não é verdade que as mulheres não podiam estudar absolutamente
nada ou foram sempre proibidas de aprender a ler, embora seja verdadeiro dizer que,
em alguns momentos da história, a maioria das pessoas (tanto homens quanto
mulheres) não tinha acesso à alfabetização ou à erudição. Ainda assim, olhe ao seu
redor. Em pleno século XXI, certamente conhecemos muitas pessoas diplomadas ou
graduadas, mas não conhecemos muitas pessoas verdadeiramente cultas ou eruditas.
Apesar de uma infinidade de conteúdos educativos gratuitos e acesso quase irrestrito
à alta cultura, quantas feministas você conhece que verdadeiramente vivem uma vida
de belas-artes, saberes científicos e cultura erudita, apreciando o melhor da
literatura, da música, da filosofia ou da física quântica? É difícil entender por quais
razões elas cobram erudição e refinamento intelectual das mulheres de séculos atrás
quando elas mesmas não parecem nada eruditas — e também soam muito mal-
educadas. Igualmente, é bastante incomum encontrar feministas com apreço pela
nobre atividade de alfabetizar e educar seus próprios filhos — algumas chegam a
considerar essa hipótese uma analogia a escravidão —, o que nos leva a crer que
talvez não estejam tão verdadeiramente preocupadas com educação assim. Há que se
considerar duas possibilidades: talvez as pessoas fossem mais cultas em tempos
passados do que parecem ser hoje, ou talvez apenas não existissem tantas pessoas
assim interessadas em erudição. Colocar a culpa de absolutamente tudo no
machismo superestrutural é muito mais fácil do que investigar seis milênios de
história.
Ou seja: não é verdade que você não poderia estudar, ser artista ou filósofa se o
feminismo não existisse.
VI.
...E nem votar!
As feministas costumam afirmar que a mulher não podia estudar, trabalhar ou votar
antes do feminismo, mas nunca provam de que forma, real e concretamente, o
feminismo conseguiu garantir ou obrigar a garantia do direito ao voto. Que tamanho
e que força o movimento feminista tinha no início do século XX para abrir a porta
da democracia contra a vontade da outra metade da humanidade — os homens — e
exigir a aceitação do voto da mulher? Existe alguma possibilidade de as feministas
terem conquistado o voto medindo forças contra os homens? Simone de Beauvoir
(1908–1986), feminista da segunda onda, escreveu que a mulher “não pode
enfrentar o macho na luta”. Então elas fizeram alguma coisa além de manifestações
ou passeatas? Isso é suficiente para garantir algum direito que os homens não
quisessem dar? Como os homens conquistaram o direito de votar? Essas questões
precisam ser apreciadas quando o assunto é o voto feminino ou sufrágio universal.
Mas a França foi um dos últimos países da Europa a conceder o voto à mulher. As
francesas só puderam votar em 1945. Até o Brasil — que dizem estar sempre
atrasado — concedeu esse direito às mulheres antes do que a França. A feminista
francesa Simone de Beauvoir escreveu um livro importante para o movimento logo
após a liberação do voto feminino: O segundo sexo. Neste livro, ela estava bastante
descontente com o comportamento apático de algumas mulheres e o feminismo
ineficiente de outras.
O site do Tribunal Superior Eleitoral2 informa que o homem brasileiro que não se
alista não pode atualizar seu título de eleitor e evoca o texto de 1824:
Ou seja, mesmo hoje, sem o alistamento militar obrigatório, os homens não podem
ser contratados por órgãos públicos mesmo se forem aprovados em concurso, não
podem regularizar a documentação para empregos formais e não podem tirar
passaporte, portanto, não conseguem viajar para fora do país. Dito de outro modo,
o trabalho e o sustento de um homem estão ligados a obrigações cidadãs que ele tem,
mas as mulheres não. Uma pessoa lúcida chama esse fenômeno de privilégio e com
um pouco de esforço consegue entender a relação óbvia entre votar e servir à nação
durante uma guerra.
Esse assunto não passava batido. Nas disputas do parlamento sobre a extensão ou
não do direito ao voto, alguns deputados — como o catarinense Lacerda Coutinho
— argumentavam que quem não fosse convocado à guerra também não deveria ser
convocado à eleição. A alegação era tão séria — não era o machismo de sempre,
como dizem as feministas — que a sufragista brasileira Leolinda
Aqui no Brasil, entre as sufragistas que se destacaram estavam Leolinda Daltro, que
fundou o Partido Republicano Feminino, e a bióloga Bertha Lutz, que liderou a “luta
pelo voto”. Quando pesquisamos sobre o movimento sufragista no país,
encontramos muitas homenagens a Bertha, que organizou o primeiro congresso
feminista do país, a União Universitária Feminina, a Liga Eleitoral Independente, a
União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas. Ela também
fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher em 1919. Muito bonita a
intenção da Liga de Bertha Lutz, mas, em 1883, Izabel de Souza Mattos já havia sido
diplomada em odontologia pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e também
já havia obtido autorização para votar durante o período imperial (e as sufragistas
eram republicanas). A própria Bertha já era bióloga quando começou a defender o
direito das mulheres de estudar.
O que de efetivo sabemos é que Celina Guimarães Viana,6 natural do Rio Grande
do Norte, foi a primeira mulher brasileira a ter um título de eleitor, emitido um mês
após a Lei 660/1927. É conhecida por esse fato, mas a repercussão impressionou até
a ela mesma — que reconhece que o esforço nunca foi seu, nem de nenhum
movimento feminista. Em uma entrevista, conta que foi o seu marido quem teve a
iniciativa e correu atrás do documento que a fez entrar para a história como a
primeira mulher da América Latina a obter um título de eleitor:
Eu não fiz nada! Tudo foi obra de meu marido, que empolgou-se na campanha de
participação da mulher na política brasileira e, para ser coerente, começou com a
dele, levando meu nome de roldão. Jamais pude pensar que, assinando aquela
inscrição eleitoral, o meu nome entraria para a história. E aí estão os livros e os
jornais exaltando a minha atitude. O livro de João Batista Cascudo Rodrigues [...]
colocou-me nas alturas. Até o cartório de Mossoró, onde me alistei, botou uma
placa rememorando o acontecimento. Sou grata a tudo isso que devo
exclusivamente ao meu saudoso marido.
E por mais interessante que isso pareça, realmente houve uma votação sobre o voto
feminino e a maioria das mulheres da convenção votou não. Isso aconteceu em 1848
em Seneca Falls. E aconteceu novamente cem anos depois.
Aqui cabe uma explicação. Quando se estuda história, existem fontes primárias e
fontes secundárias. As fontes primárias e mais importantes são aquelas que foram
produzidas na mesma época em que os fatos aconteciam. Chesterton viveu na mesma
época em que acontecia a luta do sufrágio e acompanhou tudo de perto. Ele e as
feministas que produziram fontes primárias sobre o movimento sufragista deixam
claro a baixa adesão das mulheres comuns. A tudo isso podemos somar outra
afirmação do livro O segundo sexo de Beauvoir: “Recusar a cumplicidade com o
homem seria para elas [as mulheres] renunciar a todas as vantagens que a aliança
com [os homens] pode lhes conferir”.8
Por fim, no Brasil, o Decreto 21.076 que permitia o voto feminino foi assinado em
1932 por Getúlio Vargas. Para as mulheres, o voto era facultativo, e para todos os
homens, era obrigatório. Também era obrigatório para mulheres que votassem caso
fossem funcionárias públicas. É divertido lembrar às feministas brasileiras de que
elas só podem votar graças a um ditador fascista. Também é muito engraçado
imaginar que Vargas fosse feminista, pois certamente não era nem quereria ser.
Mas, afinal, se não foram as feministas que conseguiram a autorização para o voto
feminino, quem foi? Uma resposta simplista pode ser bem escandalosa: foram os
homens que planejaram a República, a democracia e o liberalismo — e foi a
evolução cultural deles que permitiu às mulheres fazer parte dessas conquistas.
Quase todas as boas coisas que os homens têm feito pelas mulheres foram feitas sem
nenhuma coação (até porque as mulheres não teriam força para “enfrentar o macho
na luta”, como disse Simone de Beauvoir). Os homens, estes sim, derramaram suor e
sangue para acessarem o voto.
Resumindo: todos os povos onde os homens obtiveram licença para votar passaram
por guerras e batalhas sangrentas, mas, nesses mesmos povos, as mulheres obtiveram
as mesmas conquistas sem nenhum sangue derramado. Estima-se que apenas nos
Estados Unidos foram 600 mil homens mortos na luta pela República no século
XVIII. Se somarmos todas as mulheres do mundo inteiro que morreram pelo
sufrágio universal não chegaremos ao número de mil. Talvez não cheguemos a cem.
Fica o desafio de pesquisar e citar dez nomes femininos de mulheres sacrificadas na
“luta pelo voto feminino”.
Olympe de Gouges (1748–1793) foi uma mulher que morreu lutando, não
exatamente pelo voto feminino, mas por direitos políticos. Mas é interessante
lembrar que Olympe incentivou uma revolução que se insurgiu também contra uma
mulher, a Rainha Maria Antonieta e, depois, quem mandou matá-la, em 1793, foi
Robespierre, o mesmo líder revolucionário da esquerda que ela apoiou na França.
Mas acredito que possamos mencionar algumas militantes sufragistas que
realmente tenham lutado com “unhas e dentes” ou, melhor, “arriscando a própria
pele”, ainda que nunca tenham empreendido uma guerra de verdade. Emily Wilding
Davison (1872–1913) morreu pisoteada durante uma manifestação sufragista no
início do século XX. Foi atropelada por um cavalo da frota do Rei George V, mas
até hoje se especula que pode ter se atirado contra o cavalo. Ou seja, os episódios
são raros e ainda duvidosos.
O apoio ao voto feminino não tinha dono, não era coisa exclusiva de feministas.
Vários movimentos operavam ao mesmo tempo. Emmeline liderava a Women’s
Social and Political Union (WSPU) e as suas filhas se envolveram na mesma
organização. Christabel foi presa por cuspir em um policial em 1905, Adela e Sylvia
foram presas em 1906 durante uma manifestação no Parlamento. E Emmeline foi
presa pela primeira vez em fevereiro de 1908 por tentar entrar no Parlamento para
entregar um documento de seu interesse.
Sylvia Pankhurst publicou seu livro em 1931, The Suffrage Movement, e conta que
sua irmã e a mãe Emmeline lhe disseram: “Tu tens ideias próprias. Não queremos
isso. Queremos que todas as nossas mulheres sigam as suas instruções e marchem em
linha como um regimento”. Ora, esse não era um movimento de todas as mulheres?
Pelo visto, não era — como ainda hoje não é.
Eu estava demasiado cansada e doente para discutir, por isso não respondi. Sentia-
me oprimida por um sentimento de tragédia, triste com a sua crueldade. A sua
glorificação da autocracia parecia-me completamente alheia à luta que
travávamos, aquela luta negra que ainda vive nas minhas células. Pensei nas outras
pessoas que tinham sido afastadas por pequenas diferenças de opinião.
Estranhamente, a luta pelo voto feminino (inclusive a luta liderada por Emmeline)
arrefeceu quando a guerra começou. As sufragistas da WSPU suspenderam suas
atividades militantes, houve uma trégua com o governo e todas que estavam presas
foram soltas. Será que as mulheres ligaram os pontinhos? Talvez tenham percebido
que quem vota também deve lutar. Com os primeiros sinais do início da Primeira
Guerra Mundial em 1914, Emmeline e sua turma mudaram de foco: o objetivo então
era mandar os meninos e homens para a guerra. Todos os homens deveriam se
alistar, disso dependia a vida das mulheres inglesas. As mulheres que não
concordavam com Emmeline continuavam a serem convidadas a cair fora da WSPU.
O medo da guerra era tão descarado que Emmeline e suas feministas fizeram parte
de um movimento chamado Pluma Branca. Segundo o diário de Sylvia, Emmeline
teria viajado “por todo o país, fazendo discursos pró-recrutamento. Suas apoiadoras
entregaram a pluma branca a cada homem jovem que elas encontrassem vestindo
roupas civis e se reuniam no Hyde Park com cartazes dizendo: ‘Prendam todos eles’”.
É mais fácil acreditar firmemente que “muitas feministas” perceberam que, se elas
tivessem que lutar na guerra para obter o direito ao voto, estariam fazendo um mau
negócio. Por fim, as primeiras reformas pelo voto na Inglaterra saíram quando a
guerra terminou. E o que nos perguntamos todo o tempo é: quão longe as sufragistas
estavam dispostas a ir? E quantas sufragistas realmente estavam dispostas? Algumas
delas explodiram bombas e outras fizeram greve de fome. Em uma matéria sobre a
morte de Emily Davison, lemos a explicação da autora Diane Atkinson de que
elas iam às mesmas igrejas de políticos importantes aos domingos, por exemplo, e
os confrontavam com o tema [do sufrágio feminino] [...]. Elas descobriam onde os
políticos jogavam golfe e estragavam a diversão deles. Elas alteraram os limites do
que era visto como um comportamento aceitável de mulheres, numa dimensão
nunca vista.12
Também interrompiam discursos políticos e provocavam a polícia13 para serem
presas, conseguindo assim atrair a atenção para sua causa.
E a questão é justamente esta: os homens não queriam destruir essas mulheres, eles
não tinham medo e muito provavelmente achavam graça. Chesterton,15 que estava
na Inglaterra e conhecia as sufragistas pessoalmente, escreveu:
A guerra é algo pavoroso, mas [...] na guerra descobrem-se duas coisas urgentes:
quantos rebeldes estão vivos e quantos estão dispostos a morrer [...]. A objeção às
sufragistas não se deve a serem sufragistas militantes. Ao contrário, deve-se a não
serem militantes o suficiente.
Uma revolução é algo militar, ela tem todas as virtudes militares, dentre as quais a
virtude de chegar ao fim. Dois grupos combatem com armas mortais, mas, sob
certas regras de honradez arbirária, o grupo que vence se apossa do governo e
começa a governar. [...] Ora, as sufragistas não podem empreender uma guerra
civil nesse sentido militar e decisivo. Em primeiro lugar, porque são mulheres; em
segundo lugar, porque são pouquíssimas.
E para que não digam que essas são palavras enviesadas de um antifeminista,
lembramos de Kate Millet, autora de Política sexual, que também reclamava da
baixa adesão ao feminismo em seu livro. Betty Friedan, uma feminista americana
consagrada como uma das maiores escritoras da segunda onda, algumas décadas
após a “conquista” do voto na América do Norte, escreveu:
O sexo [feminino] não lutou na Revolução Francesa, não libertou os escravos nos
Estados Unidos, não derrubou o czar russo, não expulsou a Grã-Bretanha da
Índia, mas quando a ideia de liberdade humana move a mente dos homens, ela
também move a mente das mulheres.16
Foi nesse contexto que todas as vezes, em todas as partes do mundo, que houve
um aumento da liberdade humana, as mulheres conquistaram uma parte dela para
si.
Na maioria dos países foi assim por décadas e décadas: todos os homens lutavam
nas guerras e mesmo assim alguns homens não podiam votar. Nenhuma mulher
podia votar, mas também não ia à guerra. Até que em algum momento, todos
puderam votar, mas alguns continuaram não precisando ir à guerra e, nesse caso,
foram precisamente as mulheres. Não há como ser mais claro. A grande questão aqui
é que muitas mulheres podem realmente estar interessadas em votar, mas,
certamente, não são muitas que estão e estiveram dispostas a lutar e morrer pelo
voto. Essa é a diferença fundamental entre a conquista do direito ao voto pelos
homens e a concessão de direito ao voto feito às mulheres.
Alguém que ignore todos os dados históricos mencionados poderia argumentar que
esse desinteresse político das mulheres era fruto de uma cultura que não as
estimulava ao engajamento no debate público. No entanto, hoje há uma imensidão
de campanhas de incentivo, ações afirmativas e programas públicos voltados a
aumentar a participação das mulheres na vida pública. Mesmo com essa excessiva
propaganda de “conscientização” feminina, amplo acesso aos meios de comunicação
e trabalho, as mulheres continuam relativamente desinteressadas. A contrario sensu,
isso não acontece em outros âmbitos. No mercado de trabalho, as mulheres
adentraram maciçamente. Nas universidades, já são a maioria das diplomadas. A
educação de base é a mesma para homens e mulheres. Continuarão a usar a desculpa
do machismo? Ninguém considerará a hipótese de que homens em geral e as
mulheres em geral podem ter preferências diferentes? Ninguém terá coragem de dizer
o que salta aos olhos? É preferível deixar essa resposta com Ludwig von Mises, que
escreveu em 1922:
VII.
A mulher tem que entrar na política (por cota) para defender
seus interesses
Em 1979, quase cinco mil pessoas lotaram o The Felt Forum no Madison Square
Garden para ouvir Ayn Rand (1905–1982), na época com 74 anos e milhares de
livros vendidos. Meio século atrás, ela era uma escritora bem-sucedida, uma
intelectual famosa e respeitada que renegava o movimento feminista. Perguntaram-
lhe, naquele evento:
“Sra. Rand, em seus livros você retrata mulheres muito fortes. Eu queria saber por
que você acha que, no mundo, nós não temos líderes femininas fortes”, ao que ela
respondeu: “Você está falando da libertação das mulheres e todo esse movimento
[feminista]? [Essa] é uma questão totalmente falsa. Mulheres são seres humanos e
precisam de líderes assim como os homens [...] mas vamos analisar na política.
Elas precisam de
líderes que sejam homens ou mulheres de acordo com os méritos dos líderes. Não
existe tal coisa, uma líder exclusiva para mulheres, assim como seria ridículo dizer
que vamos ter líderes exclusivos para homens”.
Neste ponto, ela foi interrompida pelo apresentador, um homem, que disse para
uma mulher o que as mulheres querem: “Mas a questão é que as mulheres acham,
por causa de inibidores culturais que foram colocados sobre elas, que algum tipo de
liderança feminina é necessária para compensar, para quebrar essas barreiras e
corrigir erros do passado”. Ayn Rand prontamente respondeu: “Você pode fazer isso
apenas através da educação. Se as mulheres sentem que há preconceito contra elas,
você corrige isso espalhando as ideias certas, de que intelectualmente as mulheres
não são inferiores aos homens, mas fisicamente elas certamente são”, e foi
novamente interrompida pelo entrevistador que disse que essa conscientização e
educação eram exatamente o que as feministas estariam fazendo naquelas décadas de
1960 e 1970. A filósofa e autora não concordou: “Não, elas estão pedindo poder do
governo [leis, privilégios] e esmola [cotas] do governo. Elas saem por aí tirando
empregos dos homens, pois você tem que ter uma cota de tantas mulheres...”, sendo
novamente interrompida, mas, dessa vez, por fortes aplausos da plateia. E continuou
dizendo que “não se combate um mal com outro. Se as mulheres acham que são
vítimas — eu não acho, mas vamos supor que as mulheres tenham sido injustiçadas
— que não pratiquem o que dizem que foi feito contra elas”.
— Então o que as mulheres devem fazer? Ficar em casa assando pão? — Não;
procurem qualquer carreira que elas queiram, exceto estivador ou jogador de futebol
americano, e lutem
— Você lutaria por alguma coisa? — Como é que eu vim parar aqui? (aplausos).
Ayn Rand usou a história de sua própria vida para explicar algo óbvio: se uma
mulher quiser chegar onde os homens estão, deve lutar como os homens lutaram, ou
seja, estar disposta aos mesmos esforços e sacrifícios sem facilidades, sem trapaça,
sem privilégios governamentais.
Na minha opinião, oportunidades iguais é tudo que o feminismo deve exigir [...] a
responsabilidade pessoal é a base do meu código. Você deve buscar a informação,
você deve buscar a felicidade. Pare de pedir ao Estado e à burocracia para
mandarem pessoas que façam você feliz. Essa não é a receita da liberdade das
mulheres. Isso é um retrocesso. Isso faz do Estado o guardião das mulheres e elas
ficam passivas.2
É nesse momento — se concordarmos com a definição da feminista Camille — que
temos liberdade para dizer que “não precisamos do feminismo”. Paglia está
afirmando o que já é ponto pacífico para os liberais, e levando em conta que o
liberalismo veio antes do feminismo, essa é apenas uma pauta mal copiada pelas
feministas. Mal copiada porque o feminismo não luta por oportunidades iguais,
mas por ações afirmativas que levem a resultados iguais pela força de lei — aquilo
mesmo a que Rand se referiu como “migalhas do governo”, com o que não
podemos concordar se formos honestos.
É interessante observar que mesmo alguns portais feministas divulgam esses dados
sem se dar conta da contradição:
O TSE identificou que 16.131 candidatos não tiveram nenhum voto. Mais
interessante: 89,3% deles, ou
14.417 destas pessoas, eram mulheres. Esses nomes, na verdade, são incluídos pelo
partido apenas como forma de cumprir a cota [...]. Assim, estas ações afirmativas
não tiveram o sucesso que as feministas sonharam e tanto lutaram [...] mas talvez
a desilusão com os pífios resultados obtidos nas eleições explique o pouco
interesse feminino com a militância partidária.3
Ou seja, as feministas conseguiram colocar mais de 14 mil mulheres em situação
de “candidatura-fantasma”. Tal acontecimento é consequência direta de uma
política forçada de cotas, uma vez que as mulheres não são impedidas de
participar da política, e mais: compõem maioria do eleitorado (52%), sendo
dotadas de plenas condições para exercer a cidadania e soberania, tanto como
eleitoras quanto como candidatas.
Por fim, é preciso deixar claro que acabar com as desigualdades é impossível, e
tentar fazer isso através do congelamento de resultados é um ciclo sem fim.
Estatísticas demonstram que, entre bretões, o QI médio do filho mais velho é maior
do que o dos filhos nascidos depois; 22% dos filhos mais velhos obtêm diploma e
apenas 11% dos quartos filhos; além disso, gêmeos costumam ter uma média mais
baixa de QI do que os não-gêmeos. Até diferenças geográficas contam. Segundo
Tomas Sowell, a maioria das terras férteis do mundo está nas zonas temperadas em
detrimento dos trópicos e há mais avanço tecnológico e prosperidade no litoral do
que no interior ou nas montanhas. Deveríamos criar cotas para gêmeos e caçulas?
Quem mora em regiões montanhosas deveria ter descontos maiores para comprar
um iPhone?13 A desigualdade é uma característica indelével da própria identidade; é
o que permite a autenticidade e a conquista do sucesso.
VIII.
A mulher não podia trabalhar antes do feminismo
Cristiane Corrêa1
Cada vez mais esse tipo de afirmação sobre o trabalho tem se tornado comum entre
as pessoas que atribuem ao feminismo a liberdade feminina. A figura da mulher
trabalhadora é vendida como uma grande conquista política do movimento, mas a
realidade supera a narrativa ideológica.
É certo afirmar que autores têm opiniões diferentes sobre os registros do uso do
fogo no cozimento, mas há um consenso sobre o fato de que, antes disso, os homens
consumiam alimentos crus, como raízes, folhas, grãos, além de carnes cruas,
portanto a economia era de subsistência e a comida era buscada também por
mulheres. Isso significa que a mulher já estava inserida no contexto do trabalho de
coleta e preparo dos alimentos.
Assim que os homens passaram a se agrupar e a cambiar bens, forma que mais
tarde deu nome à mercadoria, a união de algumas aldeias possibilitou a formação de
cidades e, posteriormente, de impérios e civilizações. A complexidade das relações
humanas deu espaço a diferentes formas de identidade do trabalho. A história dos
modos de produção que o ser humano desenvolveu no decorrer do tempo pode ser
chamada de “história dos regimes de trabalho”: primitivo, escravo, feudal,
capitalista e comunista.
Segundo o historiador militar israelense Martin Van Creveld, cem mil homens
foram recrutados todos os anos para construir as famosas pirâmides do Egito, e
quando não davam conta de puxar as suas cargas, eram chicoteados.5
Ainda segundo o autor, o trabalho no decorrer da história foi sendo considerado um
fardo e não um privilégio. É por isso que declarações como de Mary Astellm,
segundo a qual “os homens foram projetados para a ação e o trabalho e as mulheres,
não”,6 se tornaram comum em épocas passadas, porque o ofício na maioria das
vezes esteve associado à força e ao desgaste físico. Além disso, o trabalho braçal,
sempre mais pesado, foi designado aos homens principalmente em contextos
escravocratas.
Isso não significa que as mulheres não sofreram nesses períodos; porém, a natureza
do trabalho era diferente. Muitas mulheres viviam sexualmente à mercê de seus
donos, motivo pelo qual acabavam sendo bem alimentadas e razoavelmente vestidas,
além de viverem em locais toleráveis.7
Outras tinham mais sorte e podiam servir como amas de leite, domésticas ou
cozinheiras.
Havia, entretanto, diferenças muito grandes entre o estilo de vida da elite e dos
humildes camponeses. Estes últimos — a grande maioria da população — viviam
numa grande simplicidade, em famílias nucleares, compostas por pai, mãe e filhos,
e em que todos trabalhavam para garantir a sobrevivência da família.10
Com o fim da Idade Antiga e início da Idade Média, surgiram os feudos: o senhor
feudal era a autoridade e a produção agrícola era o carro-chefe da economia. O
senhor feudal provia para o servo proteção e segurança quanto às necessidades
básicas, enquanto os servos cuidavam das terras pertencentes ao senhorio. Nesse
regime de trabalho, a função de cada uma das partes era bem estabelecida: o clero
era responsável por cuidar da espiritualidade e intelectualidade, a nobreza
governava e dava proteção aos servos, que por sua vez trabalhavam nas terras.
O curioso é que a mulher não estava restrita apenas à função de servo, ou seja,
além de trabalhar no campo, a mulher também podia assumir o senhorio dos feudos.
Sua situação dependia menos do seu sexo e mais da sua classe social. A Igreja dava
espaço para que as pessoas pudessem desenvolver uma vida eclesiástica que envolvia
formação acadêmica e, consequentemente, assumir a função de senhor feudal. A
pastora de Nanterre, Santa Genoveva, como ficou conhecida, assim como outras
mulheres de sua época foi uma abadessa, uma senhora feudal, cujo poder era
respeitado do mesmo modo que o de outros senhores; algumas dessas mulheres
usavam o báculo como os bispos; administravam, muitas vezes, vastos territórios
com cidades e paróquias.11
Registros cartorários do século XII12 trazem evidências de que, a par de suas funções
religiosas, algumas mulheres exerciam, mesmo na vida laica, um poder que muitos
homens invejariam no presente. A historiadora medievalista Régine Pernoud
registrou que
nos atos notariais é muito frequente ver uma mulher casada agir por si própria,
abrindo, por exemplo, uma loja ou um negócio, e isto sem ser obrigada a
apresentar uma autorização do marido. Finalmente, os registros das derramas (nós
diríamos os registros dos recebedores), quando nos foram conservados, como é o
caso de Paris, no fim do século XIII, mostram uma multidão de mulheres que
exerciam profissões: professora, médica, boticária, educadora, tintureira, copista,
miniaturista, encadernadora etc.13
Com a Revolução Industrial vieram as mais recentes transformações sociais: o
êxodo rural aumentou os números de cortiços urbanos em uma nova realidade
burguesa cada vez mais definida e os regimes de trabalho capitalista e comunista
começaram a se desenvolver. É nesse cenário que mulheres e crianças (a partir de 6
anos) passam a ser mão de obra nas fábricas ao lado dos homens. Com salários
baixos, toda a família do operário era obrigada a trabalhar. O que os
pesquisadores dizem sobre o trabalho dessa época não é nada animador:
do pai e da mãe não eram suficientes para manter a família, os filhos foram
obrigados a trabalhar em fábricas ou minas.14
Para muitos, até hoje o trabalho é uma necessidade desagradável. Em geral, eles
têm boa razão para pensar assim; quem já visitou uma fundição ou uma mina é
capaz de entender. Embora as condições de trabalho nas fábricas tenham
melhorado, deixando o ambiente de produção mais justo nos últimos séculos, nem
sempre foi assim. Durante a Revolução Industrial, o cenário era desestimulante: as
jornadas eram exaustivas, os ambientes ofereciam péssimas condições e os salários
eram realmente baixos. E, nessa época, bem como antes dela, as mulheres já
trabalhavam. A mão de obra feminina e infantil era a menos remunerada,
portanto havia mais procura para que ambos ocupassem o chão das fábricas.
Quanto mais mão de obra, maior a concorrência, então naturalmente os homens
passaram a ver as mulheres no mercado de trabalho como concorrentes.
A força econômica das famílias cristãs, pautadas nos ideais da Reforma, vinha da
crença de que a prosperidade financeira era um sinal da bênção de Deus sobre eles;
logo, faziam do trabalho um meio de exercer a fé. Ao contrário do sentido de castigo
atribuído ao trabalho anteriormente, com a fé protestante surgiram os conceitos de
vocação e predestinação. Nunca o trabalho tinha sido visto de forma tão positiva, o
que gerou uma nova maneira de viver uma vida disciplinada, com apego ao ofício e
valorização da poupança.
Até aqui, conseguimos perceber que a mulher nunca parou de trabalhar. Com ou
sem feminismo, a mulher trabalhava, assim como o homem. Tanto mais se fosse
pobre. Percebemos também que capitalistas e socialistas têm sempre uma utilidade
para dar às mulheres, mas libertá-las da necessidade de trabalhar, de fato, nunca é
uma opção. A mulher capitalista trabalha para a família, dizem os socialistas. A
mulher socialista, também o dizem eles, deve trabalhar para o Estado, para a
sociedade.
na carreira das executivas [...]. Entre continuar pisando fundo no trabalho e pegar
leve para passar mais tempo com os filhos enquanto eles são pequenos, um
número grande de mulheres escolhe a segunda opção — e, nesses casos, as apostas
de sucesso profissional acabam sendo depositadas no marido.5
Em artigo publicado no site RealClear Markets, Dean Kalahar traça uma
interessante constatação:
No Brasil, cerca de 40% das mulheres em cargos de gestão pedem demissão depois
que têm filhos. Outras não chegam a abandonar o emprego, mas ficam menos
propensas a aceitar cargos que exijam longas jornadas. As que optam por
continuar acelerando a carreira e, ao mesmo tempo, criar crianças pequenas,
partem para a terceirização — contratam vários funcionários para dar conta do
lar e da logística. É comum encontrar casas de executivas com várias empregadas,
babás, folguistas e
motorista. Esse tipo de arranjo doméstico, porém, não deve ter vida longa. Na
última década, o número de empregados domésticos caiu 12% no país. No longo
prazo, à medida que a economia brasileira avançar, a tendência será uma queda
ainda mais acentuada na oferta desse tipo de mão de obra. Sem falar que, se a
ascensão feminina no mundo corporativo brasileiro depender da permanência de
outro grande grupo de mulheres no serviço doméstico, temos aí um problema
“intragênero”.7
Outro fator determinante é a preferência e a inclinação dos homens e mulheres
para certos tipos de trabalho e a disposição (ou não) de aceitar qualquer tipo de
emprego. Dados do portal Folha apontaram que as mulheres ainda são maioria
das docentes nos cursos ligados a cuidados interpessoais como educação,
enfermagem, nutrição, psicologia, saúde coletiva e assistência social,8 áreas que,
segundo o senso comum, combinam mais com as mulheres. E mais: na medicina, o
número de mulheres cresce especialmente nas áreas de ginecologia e obstetrícia,
pediatria, oftalmologia, cirurgia plástica e neurocirurgia.
Mas não são todas as mulheres que ganham menos do que os homens. Aquelas
mulheres que vivem como se fossem homens — que pensam muito em trabalho e em
dinheiro — acabam recebendo os altos salários que as feministas alegam que os
homens sempre tiveram. Em um artigo científico publicado em 2016, o economista
Thomas Sowell afirmou:
Em seu livro Who Stole Feminism, a feminista Christina Hoff Sommers lista uma
série de episódios em que as feministas contaram mentiras absurdas para nações
inteiras e ninguém percebeu nem reagiu. Certa vez, Gloria Steinem escreveu a Naomi
Wolf e afirmou aos leitores que 150 mil mulheres morriam por complicações
anoréxicas todo ano. Era mentira. A estatística real era de 100 a 400 mortes anuais.
Uma diferença absurda entre mentira e verdade apenas para vender a bandeira de
que o feminismo era necessário para combater o padrão de beleza.
O mesmo acontece com outras pautas. Tempos depois, as feministas mentiram
alegando que a violência doméstica era a maior causa de nascimentos de bebês com
alguma deficiência ou anomalia. Depois, mentiram que a violência doméstica subia
40% durante o evento de futebol americano Super Bowl. Em tradução livre,
Christina contou tudo isso para explicar que “o feminismo americano é atualmente
dominado por um grupo de mulheres que buscam persuadir o público de que as
mulheres americanas não são as criaturas livres que pensamos ser”.17
Não é diferente em nenhum lugar do mundo.
Voltemos à economia de mercado para resumir: (1) mais mulheres do que homens
trabalham a tempo parcial e o trabalho a tempo parcial tende a pagar menos do que
o trabalho a tempo inteiro; (2) mais mulheres do que homens preferem dar mais
atenção à qualidade de vida do que ao dinheiro; (3) mais homens do que mulheres
escolhem profissões perigosas e fisicamente extenuantes; (4) mais mulheres deixam a
força de trabalho para cuidar dos filhos e isso desempata as condições igualitárias de
carreira; (5) somente mulheres engravidam; (6) a disparidade salarial concentra-se
nos salários anuais brutos; (7) a remuneração total é mais precisa do que os salários
brutos, pois as mulheres preferem receber uma parte maior de sua remuneração na
forma de seguro saúde e outros benefícios adicionais (como pensões).
Poderíamos encerrar esse capítulo de muitas formas, mas a conclusão do relatório
preparado pela CONSAD Research Corporation para o Departamento de Trabalho
dos Estados Unidos em 2009 resume a questão:
X.
O casamento é opressor
Quem já passou por um divórcio sabe bem que seu gosto não é o de uma
conquista. Mas não se pode negar que o casamento, assim como a família, é uma
instituição em crise. Hoje em dia, poucos são os que passam incólumes pelos
estilhaços de sua destruição. Temos amigos, parentes, conhecidos que são afetados
de uma maneira ou outra pelo divórcio e pelas crises familiares dele decorrentes.
Pouco é preciso para se constatar tal afirmação; uma simples pesquisa pelos mais
conhecidos buscadores nos trará uma enxurrada de dados que o certificam —
aumento do número de divórcios, diminuição dos casamentos...
No entanto, quase ninguém é capaz de entrever a causa primeira que iniciou todo
esse processo de desestabilização social. Em seu clássico A revolução sexual
americana, o sociólogo Pitirim Sorokin1 pontua que foram poucos os acontecimentos
que modificaram tanto o comportamento dos indivíduos como essa revolução,
colocando-a à altura das demais revoluções, apesar de não possuir os mesmos
impactos econômicos e políticos imediatos como as outras.
Aliás, essas percepções não são novas para nenhum sociólogo ou historiador;
Aristóteles já as tinha feito quando tratava da decadência de Esparta e, ao elencar
algumas das razões de sua debacle, menciona a devassidão de suas cidadãs,
despreocupadas com os assuntos da Pólis e voltadas para si mesmas. Nesse mesmo
sentido, Sorokin discorre sobre a aristocracia inglesa e as consequências de sua
liberdade sexual ainda no século XIX: o resultado foi o encolhimento do número
total de membros, a diminuição das famílias, e, por causa disso, a diminuição da
influência social e política exercida pela nobreza na Inglaterra.
Todas essas asserções não são consideradas de maneira nenhuma pelas feministas.
Mary Eberstadt2 afirma que existe uma vontade de não crer no lado negativo da
revolução e do feminismo em geral. A autora ainda vai além: subscreve a tese de que
a introdução da pílula anticoncepcional como prática comum das mulheres
ocidentais fez com que houvesse uma alteração profunda, quase antropológica, na
condição humana em geral. Contudo, tudo isso é renegado pelas feministas em suas
obras, de modo que essas mudanças são só abordadas de maneira laudatória, como
“avanços” ou “conquistas”.
Uma das ditas primeiras conquistas feministas foi o divórcio. No Brasil, a lei 6.515
de 1977 o disciplinou. Entretanto, é mais do que necessário mencionar que não se
trata de nenhuma forma de inovação social, muito menos se pode dizer que tenha
sido desencadeado pelas próprias mulheres — as alterações legais foram de autoria
de deputados. Aliás, historicamente o divórcio sempre foi uma prática comum,
muito antes da existência da atual cultura ocidental (e também em lugares distantes
do Ocidente). Moisés já entregava cartas de divórcio no deserto onde viviam as
tribos israelitas. Entre os gregos de Atenas, por exemplo, ambos os cônjuges podiam
dar início ao divórcio. Em Roma, como entre os helenos, não havia empecilho para
nenhuma das partes, conservando a mulher o dote que lhe fora dado por sua família
paterna em caso de separação. Ademais, segundo os classicistas, pouca ou nenhuma
depreciação era destinada aos divorciados. Desnecessário dizer que os próprios
romanos desde tempos remotos plasmaram as leis para que o divórcio fosse
realizado. No mundo islâmico, por sua vez (que de feminista não tem nada), havia
igualdade para marido e mulher iniciarem o processo de separação séculos atrás. Na
verdade, se compararmos os direitos esponsais no casamento muçulmano em relação
aos pré-islâmicos, veremos que as mulheres passaram a ter muito mais igualdade e
privilégio, até então inexistentes na cultura local — se, realmente, divórcio for
encarado como uma conquista. Nada disso foi graças ao feminismo, uma vez que
tudo aconteceu muito antes do surgimento do movimento.
O que mais nos salta aos olhos a partir da análise do tema é que o divórcio é
percebido como bom, independente do que lhe suceda; um tipo de liberação do
cativeiro. É um pressuposto jamais discutido, tomado como axioma desde o qual
parte o discurso feminista. Mas quais seriam os efeitos negativos escondidos? Aqui,
já não se trata de mero debate político, mas de investigação científica com dados
colhidos por instituições de pesquisa e órgãos governamentais de estatística. Segundo
Eberstadt,3 é insofismável o fato de que o casamento monogâmico e heterossexual
traz benefícios àqueles que o contraem. Em comparação com solteiros, os casados
são mais felizes e saudáveis, bem como têm melhor desempenho profissional.
Ademais, diz Eberstadt, “as mulheres cujos maridos sustentam a casa tendem a ser
mais felizes do que as outras. Os homens casados ganham mais e trabalham mais do
que os solteiros” (tradução livre). Além disso, outra pesquisadora americana, Joan
DelFattore,4fez uma descoberta pessoal e científica quando foi diagnosticada com
câncer. Os médicos lhe sugeriram um tratamento cirúrgico e, por isso mesmo,
delicado e de difícil recuperação. Então, perguntaram se era casada ou se tinha
filhos. A pergunta a surpreendeu, mas fez com que percebesse que a necessidade de
apoio familiar era vital para a sobrevivência pós-operatória de muitos pacientes,
sobretudo os mais debilitados. A partir daí, elencou dados que demonstram que o
apoio social proporcionado por um cônjuge é vital em situações tais, levando,
inclusive, a escolhas que podem ser difíceis, mas que também salvam vidas.
Sobre isso, pouco se vai ouvir das feministas. Nenhuma refutação é feita ou
comentário tecido acerca desses assuntos. Para elas, família é intrinsecamente má e,
por isso, deve ser extinta. As feministas não sabem que ideias têm consequências, as
quais são sentidas sobretudo por aqueles que elas dizem defender. O que para elas é
libertação, para muitos é simples desgraça.
É por isso que afirmei em meu primeiro livro que o movimento feminista, apesar de
revestir-se de uma fundamentação teórica enorme, tem mais por objetivo a mudança
das bases da sociedade do que qualquer tipo de conscientização dos membros dela.
Por isso, cada passo dado rumo à concretização dos ideais feministas é uma descida
em direção ao caos social, à diminuição da inteligência, à degradação cultural e
social. Trata-se de um conjunto de fatos que não deve ser analisado apartando-se uns
dos outros, mas em seu todo e sob todos os seus ângulos. Independentemente de
como se autointitulem, do subgrupo ao qual pertençam, do partido a que estejam
filiadas, as feministas sempre estão comprometidas com o desmantelamento dos
pilares cristãos e tradicionalmente familiares. O feminismo é anticivilizacional.
Enquanto a maioria for ignorante desse turbilhão silencioso que está consumindo
inúmeras vidas e famílias, seremos fáceis presas de qualquer revolucionário disposto
a falar o que quiser e não sofrer nenhuma consequência pelo que disse.
XI.
O “aborto seguro” é um direito da mulher
Singer diz que “a vida de um feto” não tem mais valor do que a vida de um animal
não humano, porque o embrião “não possui” a “racionalidade, autoconsciência,
consciência, capacidade de sentir etc.”, e que, portanto, apesar de se tratar de uma
vida e de um exemplar da espécie humana, o feto não seria pessoa. Em seu livro
chamado Ética prática, o bioeticista diz que a morte de bebês recém-nascidos
poderia ser aceita com base no mesmo critério que ele usa para defender o direito ao
aborto. Isso escancara como é absurdo relativizar a vida do embrião, pois a lógica
que desprotege o embrião e o feto é a mesma lógica que se aplica para justificar a
morte de um bebê num infanticídio.
O ser humano tem dignidade intrínseca e deve ser respeitado pela sua natureza, não
pelo que é capaz de fazer. O filósofo Severino Boécio (480–525) definia o ser
humano enquanto pessoa por sua “substância individual de natureza racional”,
enquanto Kant adverte que o ser humano jamais deve ser meio, mas sempre fim em si
mesmo.14
É verdade que outras correntes filosóficas virão debater o conceito de pessoa e
abrigar leituras reducionistas, capazes de desproteger a vida no útero. Porém, explica
o Dr. André Gonçalves que “a concepção atual de direitos humanos considera o ser
humano como tal, sem se valer”15 da categoria de pessoa. Ou seja, os direitos
humanos são devidos a todo ser humano, a toda vida humana. Afirmar que é preciso
ser pessoa para ser protegido é outra maneira de se criar critérios para a relativização
de direitos.
Dentre inúmeros estudos na área, alguns são feitos por parceiros de clínicas ou
institutos ligados à indústria do aborto.25
Assim, diante de um cenário com vasta e “diversificada” produção acadêmica, é
possível ver que o aborto traz sim diversos riscos para qualquer mulher, mesmo se
realizado em clínicas legalizadas ou hospitais: as possíveis complicações imediatas
para a saúde física incluem doença inflamatória pélvica, infertilidade, placenta
prévia, infecções, lesões uterinas e hemorragias. Estudos apontam que complicações
imediatas, em situação de aborto legal, podem chegar a 11% no procedimento
cirúrgico,26e os riscos podem ser maiores no aborto farmacológico.27
No Canadá, onde há forte subnotificação de abortos legais, estima-se 4 mil mulheres
ao ano com complicações do aborto.28
Complicações tardias incluem maior risco de parto prematuro em gestações
subsequentes, com relação bem consolidada, e aumento no risco de câncer de mama
apontado em muitos estudos, porém com alguns poucos estudos conflitantes.29
No âmbito da saúde psicológica, depressão, ansiedade, remorso, culpa, abuso de
drogas, Transtorno de Estresse Pós-Traumático são apontados em muitos estudos.30
Dizer que o aborto seguro é um direito da mulher faz parte de uma narrativa que
oculta objetivos geopolíticos, os quais não envolvem a preocupação com o bem da
mulher e das famílias. Além disso, o argumento mostra-se inconsistente em todos os
seus elementos, já que não pode ser considerado um direito o descarte da vida
humana, nem se pode considerar segura uma intervenção médica que vai contra a
natureza da mulher e que apresenta claros riscos para a sua saúde física e
psicológica, independentemente da forma com que seja feita.
XII.
Precisamos do feminismo para combater a violência
Isaque de Miranda1
Tão hiperbólica quanto a máxima que abre este breve artigo são as variadas
interpretações que ela permite. Se por um lado as falanges da “lacração” hodierna
não hesitariam em “cancelar” o escritor e acusá-lo de estar estimulando a violência
contra a mulher, um pequeno esforço cognitivo pode ser o suficiente para, depois do
choque inicial, reconhecer nas entrelinhas uma consideração da suposta disposição
feminina à postura de resignação ante à condição de vítima. Contextualizando: a
mulher que se entrega a algum tipo de degradação movida pelo ímpeto incontrolável
das emoções é uma figura constante em sua obra. As personagens rodrigueanas, para
o bem ou para o mal, são extremas na forma como sentem e reagem. Elas estão
dispostas a se submeter aos impulsos e praticar os atos mais abomináveis quando
movidas pelo amor ou pelo ódio. Todas as convenções são suplantadas diante de
uma irracionalidade primitiva que nos recônditos transforma até as mais
aparentemente puras meninas de família em feras incontroláveis e perigosas, capazes
de destruir um homem ou se entregar à autoimolação por ele, pouco importando se
ele merece ou não toda essa entrega. Tudo na mulher é sobre a mulher, nunca sobre
o homem.
Muito dessa percepção sobre o sexo feminino contida na obra de Nelson tem uma
origem bastante sombria: o assassinato de seu irmão Roberto em 26 de dezembro de
1929 pela escritora feminista Sylvia Serafim Thibau — que costumava assinar seus
artigos sob o pseudônimo “Petit Source”. “O assassínio de meu irmão marcou a
minha obra de ficcionista, de dramaturgo, de cronista, assim como a minha obra de
ser humano. E esse assassinato está marcado no meu teatro, nos meus romances, nos
meus contos. Esse crime me mudou inteiramente”, declarou certa vez.
Foi, por exemplo, a “defesa da honra” que levou o célebre escritor Euclides da
Cunha a duelar com o militar Dilermando de Assis, amante que havia engravidado
sua esposa Ana Emília Ribeiro durante período de sua ausência, enquanto ele
participava de uma expedição na região do Amazonas. A situação se prolongou por
anos, até que em 15 de agosto de 1909, o autor de Os sertões, homem reconhecido
pela genialidade estilística e pensamento ordenado, ao não encontrar a esposa em
casa, foi tomado pela cólera e saiu para matar o rival. Apesar de atingido por um
disparo, Dilermando, exímio atirador, revidou rápido para neutralizar Euclides, que
caiu morto. Em 1916, Euclides da Cunha Filho também desafiou o algoz de seu pai e
acabou tendo o mesmo fim. Em ambos os episódios, Dilermando foi absolvido sob a
alegação de ter atirado em legítima defesa, mas durante o resto de sua vida foi
marginalizado por sua ação enquanto o escritor passou a ser “santificado pela
sociedade por ter morrido em nome de um princípio tão caro a todos — a honra”.5
A abordagem adotada pelos jornais da época, condescendente à atitude dos
desonrados, é notória: tanto Euclides da Cunha, que acabou morto, quanto Sylvia
Serafim Thibau, que matou, não são tratados como agentes provocadores dos
desfechos trágicos acima descritos, recaindo a culpa sobre os próprios alvos de seus
disparos, ambos homens. Se por um lado o Crítica, por motivos óbvios, realizou
uma pesada campanha de ataques morais contra a escritora feminista, descrevendo-a
em suas manchetes e matérias com inúmeros insultos como “meretriz”, “porca
sifilítica”, “cadela de pernas felpudas” e “literata do mangue”, outros jornais, como
o Diário Carioca, argumentavam que a cena sangrenta que ela protagonizou na
redação do Crítica não podia ser considerada uma eventualidade ou surpresa, já que
“não se pode exigir que pessoas que ainda não perderam de todo o pudor se
conformem em ver atassalhada a sua honra numa linguagem que ofende toda a
sociedade”,6descrevendo, inclusive, que “a acusada, logo depois de haver sido
autuada em flagrante, sempre animada, entreteve amistosa palestra com várias
senhoras de nossa melhor sociedade, que ali foram protestar-lhe sua solidariedade”.7
Segundo Karla Carloni, grande parte da opinião pública estava a favor de Sylvia:
Pare e pense: como a maioria das pessoas que você conhece reagiriam se ouvissem
alguém afirmando que, em números absolutos, morrem muito mais homens do que
mulheres no contexto doméstico? Que, na prática de determinadas categorias de
agressão doméstica, mulheres estão à frente dos homens? Que as mulheres iniciam a
maior parte dos episódios de violência? Ou que, levando em consideração apenas
agressões físicas restritas (não incluindo abusos sexuais ou assassinatos), o número
de autores é semelhante em ambos os sexos? Em 2000, John Archer, pesquisador e
professor de psicologia da University of Central Lancashire, no Reino Unido,
publicou um estudo meta-analítico intitulado Sex Differences in Aggression Between
Heterosexual Partners e colocou sob questionamento as metodologias adotadas na
produção científica relacionada à temática da violência doméstica, que normalmente
parte de perspectivas enviesadas e não leva em consideração critérios que indicam
uma maior influência de comportamentos e atitudes de mulheres nos casos
analisados, confirmando com dados que, apesar de o número de assassinatos
praticados no contexto doméstico levado a cabo por homens seja consideravelmente
maior, uma grande parte das ocorrências de violência nesse contexto seria
provocada, direta ou indiretamente, por agressões de menor potencial ofensivo
deflagradas por mulheres.
Uma das pioneiras em abordagens mais amplas nos estudos sobre homicídios
perpetrados por mulheres, Coramae Richey Mann, professora emérita de
criminologia e da Universidade de Illinois em Chicago e autora de livros sobre o
tema, como Female, Crime and Delinquency (1984) e When Women Kill (1996),
examinou casos de 296 mulheres presas por homicídio em seis grandes cidades
norte-americanas entre os anos de 1979 e 1983 e descobriu que aproximadamente
metade dos crimes foram cometidos contra um companheiro no contexto doméstico.
Cerca de 70% desses homicídios ocorreram enquanto as vítimas estavam
desacordadas ou embriagadas e em 60% dos casos houve premeditação.10
Em outra pesquisa sobre prisões, realizada no ano de 1991, Mann também
reconheceu que mulheres assassinas normalmente recebem sentenças mais brandas,
conforme observou Philip W. Cook em sua obra Abused Men: The Hidden Side of
Domestic Violence:
Antes que prossigamos, é preciso afirmar aqui: nem toda feminista é mal-
intencionada. Por mais que discordemos no aspecto macro de nossas cosmovisões,
podemos concordar em premissas fundamentais para a existência de um debate
intelectualmente honesto e produtivo, como por exemplo, a análise ampla e
imparcial de fatos e estatísticas. Em um contexto no qual se tenta a todo custo impor
uma determinada perspectiva de interpretação, seja ela feminista ou antifeminista, o
debate fica inviabilizado, pois se transforma em um embate de dogmas. Assim como
não posso partir do pressuposto da “vontade de Deus” para convencer uma
feminista de meus argumentos, ela não pode partir do pressuposto da existência de
uma conspiração masculina universal para oprimir as mulheres, pois nos dois casos
trata-se de uma questão de fé. Levando isso em consideração, da mesma forma como
seria desonesto fingir que o potencial de letalidade das agressões cometidas por
pessoas do sexo masculino contra pessoas do sexo feminino é muito mais
considerável do que o oposto — já que essa afirmação lógica advém da própria
determinação biológica —, também é desonesto fingir que o problema da violência
doméstica é um problema de gênero, segundo o qual apenas os homens seriam
capazes de praticar agressões.
Digo isso porque foi uma autodeclarada feminista, Eva Solberg, líder da ala
feminina do Partido Moderado da Suécia, que em 2015 apresentou os primeiros
questionamentos quanto ao caráter sexista adotado nas políticas de Estado
relacionadas à questão da violência doméstica. A partir dos dados estatísticos
levantados pelo projeto Partner Abuse State of Knowledge (PASK), que resumiu mais
de 1.700 artigos científicos sobre o tema, ela concluiu que os relatórios utilizados
para fundamentar tanto a abordagem quanto as próprias medidas do governo sueco
para prevenção, tratamento ou reparação do problema da violência familiar foram
elaboradas a partir de desinformação, colocando em prática políticas públicas sob
uma visão unilateral misândrica, que representa os homens como únicos
perpetradores do ciclo da violência. Em um artigo que publicou sobre o tema, ela
denunciou:
de que homens são agressores e mulheres sempre são vítimas]. A pesquisa [do
projeto PASK] também fornece evidências para seus relatos de que, sim, as
mulheres também usam da violência dentro das famílias. Tanto os parceiros
quanto os filhos podem ser vítimas. Se virmos as mulheres apenas como vítimas,
isso não coloca esses homens e seus filhos em uma posição de desvantagem? Se
nós, como mulheres, não defendermos esses homens, quem então o fará? Qualquer
forma de violência é ilegal e deve ser combatida [...]. Temos que começar a falar
sobre este problema difícil e complicado. E devemos começar a reconhecer o fato
de que a violência doméstica, em pelo menos metade de suas ocorrências, é
perpetrada por agressoras. Caso contrário, nossos esforços para proteger os mais
vulneráveis entre nós, as crianças, nunca serão mais do que apenas uma aspiração.
Continuaremos a falhar na tentativa de ajudar as famílias a romper com esse
padrão destrutivo.13
Os pontos levantados por Solberg levaram uma renomada psicóloga australiana,
Bettina Arndt, a investigar a situação da violência doméstica em seu país, e as
conclusões às quais ela chegou são estarrecedoras. No artigo publicado em agosto
de 2016, “The Domestic Violence Industry”,14 ela aponta diversas manipulações
de dados utilizados para criar a impressão de que a Austrália estaria vivendo uma
“epidemia de casos de violência doméstica contra a mulher”, quando na verdade,
os números reais indicavam uma considerável redução nos índices ao longo dos
anos anteriores: a porcentagem de mulheres agredidas por parceiros ou ex-
parceiros havia caído de 2,6% em 1996 para 1,06% em 2012.
Nos estudos sobre a violência contra a mulher, deu-se grande relevância à noção
de gênero, utilizada em parcela reduzida dos estudos relativos a crianças e
adolescentes. Os dois campos utilizaram o termo violência doméstica ou
intrafamiliar, mas a aproximação e ênfase à ideia de família difere bastante, assim
como foi tensa a composição da defesa dos direitos individuais dos sujeitos
envolvidos com a defesa da família e sua integridade. O tema família foi pouco
presente na produção científica acerca das violências atinentes às mulheres, mas
quase obrigatório no campo das crianças e adolescentes.15
Conforme observam as autoras, parece existir uma forte tendência à desvinculação
da família como objeto de análise em estudos relacionados à agressão praticada
contra a mulher, tomando “a violência como traço constitutivo da
masculinidade”, ao passo que quando o foco de estudo são crianças e
adolescentes, a questão passa a ser tratada sob perspectiva, e nunca partindo da
abordagem de um problema de gênero. Talvez por isso pouco se fale do fato de
que as mães são as maiores praticantes de violência doméstica contra crianças e
adolescentes.
XIII.
O feminismo é um movimento espontâneo que representa todas
as mulheres
David Amato
Qualquer um que saiba alguma coisa de história sabe que as grandes mudanças
sociais são impossíveis
Menos conhecido e igualmente pioneiro em seu ofício, Ivy Lee foi o responsável
pelo resgate da reputação da dinastia Rockefeller, lançando-a à filantropia. Defensor
da comunicação das instituições, Lee foi contratado como conselheiro e informante
publicitário após o Massacre de Ludlow (1914),9quando homens, mulheres e
crianças foram mortos em retaliação a uma greve de mineiros de carvão empregados
pela Colorado Fuel & Iron Company, dirigida pela família. No entanto, esse não foi
o único escândalo onde os tentáculos da fundação estiveram presentes: ela também
financiou Margaret Sanger e sua Liga Americana de Controle de Natalidade10(hoje
Planned Parenthood);11esteve envolvida na esterilização de pelo menos 35% das
mulheres porto-riquenhas na década de 30;12/13em criminosos experimentos com
sífilis em guatemaltecos na década de 40;14e no financiamento da fraude científica de
Alfred Kinsey, pesquisa que foi elaborada às custas do abuso de centenas de crianças
e utilizada para pavimentar as bases da revolução sexual nos EUA na década de 60,
conforme denunciado e amplamente documentado pela escritora Judith Reisman.15
Vale lembrar que a obsessão com o controle populacional por parte de John D.
Rockefeller III o levou a criar o Population Council.16
Ao atuar como investigador-chefe em 1953 para o Comitê Especial sobre Fundações
Isentas de Impostos e suas atividades subversivas, Norman Dodd citou Rowan
Gaither, então presidente da Fundação Ford como defensor da fusão do capitalismo
e do comunismo em um sistema de controle global.17
/18Elencada como maior agente filantrópica dos estudos femininos desde o início dos
anos 1970,19sua atuação também é contundente no Brasil. É o que consta no
relatório “Os 40 anos da Fundação Ford no Brasil: uma parceria para a mudança
social”.20
Publicado em 2002, ele mostra como a fundação teve papel primordial no
desenvolvimento do movimento feminista, nos estudos sobre as relações de gênero e
das Ciências Sociais. Lista, ainda, ONGs feministas financeiramente contempladas,
tais como a SOS-Corpo — Instituto Feminista para a Democracia,21CFEMEA —
Centro Feminista de Estudos e Assessoria,22Coletivo Feminista Sexualidade e
Saúde,23ECOS — Comunicação e Sexualidade,24e CEPIA — Cidadania, Estudo,
Pesquisa, Informação e Ação.25
Essas organizações são listadas como parte de uma articulação estimulada pelas
conferências da ONU em organização transnacional. Em julho passado, a fundação
anunciou o comprometimento de mais de US$ 500 milhões em prol da desigualdade
de gênero e do fortalecimento de movimentos e direitos feministas.26
Em 2004, a Fundação MacArthur publicou o Programa de População e Saúde
Reprodutiva no Brasil: Lições Aprendidas,27celebrando o lobby abortista praticado
por inúmeras organizações feministas, que, por sua vez, foram agraciadas com
concessões financeiras oriundas da fundação. Por último, mas não menos
importante, a Open Society — ponta de lança do famigerado George Soros —
anunciou recentemente o comprometimento de US$ 100 milhões para “apoiar a
mobilização e liderança política feminista”.28
Somadas apenas as concessões dessas quatro fundações ao longo de suas existências,
chegaremos à incrível cifra de US$ 56 bilhões. Para todos os efeitos — sejam eles
benéficos ou maléficos —, é inegável que a irradiação de tanto dinheiro ajuda a
esculpir os rumos da política em escala global, principalmente quando boa parte dele
é destinado ao fomento de agendas revolucionárias. Aparentemente controversa, essa
aliança foi documentalmente provada por Antony Sutton na Trilogia de Wall
Street,29 onde ele mostra que a guerra entre marxistas e a nata capitalista não passa
de uma imensa fraude, cuja fachada visa mascarar uma relação de submissão e
subserviência dos primeiros para com os segundos. O comunismo e outros embustes
escarlates nunca defenderam a revolução social propriamente dita, mas sim a ruptura
dos tecidos necessários para a entrega do poder totalitário a uma elite plutocrata.
Para que a tecnocracia tenha sucesso, é necessário ter um sistema abrangente para
a gestão ordenada de todos os seres humanos e todas as facetas da operação
social. Isso inclui o econômico, político, social e religioso. Além disso, essas áreas
não devem ser meramente compatíveis; elas devem estar tão completamente
emaranhadas umas às outras que as distinções entre elas não sejam óbvias para os
indivíduos.30
Uma das proposições modernas úteis para a realização dessa tarefa reside no
“capitalismo das partes interessadas” (stakeholder capitalism). Klaus Schwab,
fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial (organização segundo a qual
em 2030 “você não terá nada e será feliz”31 /32) foi provavelmente a primeira
pessoa a popularizar o termo no livro Stakeholder Capitalism: A Global Economy
that Works for Progress, People and Planet. Embora Schwab não minta ao
explicar como as corporações se tornaram dominantes no âmbito global,
superando a capacidade de arbitragem dos governos nacionais, a proposta para
superar as dicotomias entre “capitalismo de acionistas” e “capitalismo de Estado”,
em torno das “responsabilidades sociais”, assemelha-se mais à síntese para uma
governança mundial, principalmente após a publicação de seu livro mais recente,
Covid-19: The Great Reset,33no qual a atual pandemia é utilizada como pretexto
para um reinício de praticamente todas as áreas da vida humana.
A esta altura você deve estar se perguntando qual o maior entrave em tudo isso.
Pois bem. Excetuando os de ordem metafísica — e sem medo de incorrer em clichês
—, a resposta não poderia ser mais simples: a família. Um antigo negócio, a abolição
da família foi sistematicamente defendida no materialismo histórico de Karl Marx e
Friedrich Engels nos livros O Manifesto do Partido Comunista35e A origem da
família, da propriedade privada e do Estado.36
Em 2001, o projeto de programa do Partido Comunista Revolucionário dos Estados
Unidos37 manteve o entendimento de que a família nuclear era a base da sociedade,
sendo responsável pela transmissão da propriedade e de valores tradicionais às
crianças. Indo além, reforçava o fato de que as inserções femininas em novos postos
de trabalho não se deram via revolução socialista, e sim por conta das necessidades
industriais capitalistas, celebrando o fato como impulsor nos casos de fragmentação
de lares e o vertiginoso aumento das taxas de divórcio.
XIV.
A teoria de gênero é necessária para acabar com o preconceito
Chris Tonietto1
Muito se fala que a teoria de gênero é uma luta contra o preconceito e uma forma de
se combater a intolerância. Essa é mesmo uma boa propaganda e passa uma
aparência de virtude. É um marketing midiático na tentativa de ocultar a verdade, já
que muitos compram o “produto” apenas pela sua aparência. Entretanto, qual é o
seu conteúdo? O que realmente se busca com a imposição dessa teoria? Confluência
entre diferentes escolas de pensamento e entre o denominado establishment
universitário e a agenda política de grandes fundações internacionais, a “teoria de
gênero” constitui, antes de tudo, uma operação de engenharia social. Desenvolvida
ao longo de décadas, ela alcança sua forma madura nos escritos da filósofa pós-
estruturalista norte-americana Judith Butler e baseia todo seu poder de
convencimento em uma flagrante caricatura da realidade, substituída por um
discurso de forte impacto imaginativo, embora radicalmente incoerente e ilógico.
Trata-se, portanto, de uma ideologia.
XV.
O pronome neutro é uma forma de combater a discriminação
Lara Brenner1
e Fernando Pestana2 Segundo a lógica aristotélica, partir duma falsa premissa implica
chegar a uma falsa conclusão. Logo, dizer que a linguagem neutra deve ser
legitimada por ser “apenas um mecanismo de combate à discriminação de gênero”
constitui uma falácia, pois não existe absolutamente nenhuma prova de que a
alteração na base profunda da estrutura morfofonológica da língua (com
desdobramentos sintáticos seríssimos) tenha provocado ou provoca mudanças de
comportamento discriminatório. Mudanças estruturais da língua acontecem
organicamente, mas não com o objetivo de alterar a mundividência humana — a
língua nunca muda perenemente por imposição dum grupo social minoritário. O que
muda comportamentos e o que gera o fim ou a minimização dum preconceito são a
boa criação e, sobretudo, a educação — com debates sérios e comprometidos contra
a discriminação.
“Ah, mas isso é machismo estrutural! Por que a forma gramatical masculina, e não
a feminina ou outra, é usada para representar seres de sexos diferentes?”. Simples.
Todos sabemos que o português (como língua neolatina) deriva do latim. Nesta
língua antiga, havia três gêneros gramaticais: masculino, feminino e neutro. Com a
evolução/transformação natural, orgânica, espontânea e socialmente compartilhada
(e não por imposição) da língua, as formas neutras latinas, por semelhança fonética
às masculinas, passaram a fazer parte do gênero masculino. Não faz o menor sentido
imaginar que a língua latina fosse inicialmente inclusiva e, subitamente, tenha se
transformado numa língua segregadora de gênero. Tratou-se de mudança espontânea
adotada e aderida pelos falantes. Note que o português nem existia quando se deu
tal fenômeno; esse sistema foi apenas herdado por nós ao longo da história da
língua.
Logo, toda palavra portuguesa que representa uma neutralidade sexual se encaixa
no gênero gramatical masculino. Portanto, afirmar que houve uma escolha
heteropatriarcal do gênero masculino para representar ao mesmo tempo “homens e
mulheres” é uma ignorância, motivada pela confusão existente sobre a palavra
“gênero”. Por isso, é preciso esclarecer a diferença entre “sexo”, “gênero
biopsicossocial” e “gênero gramatical”.
profissionais devem ter muita paciência e carinho com AQUELUS (ES ALUNES
ADOLESCENTES).
Isso é um entrave à aceitação duma mudança artificial da língua, pois tudo que
intuitivamente fere a gramática internalizada do falante é rechaçado por ele; essa
rejeição nada tem a ver com preconceito de ordem biopsicossocial, pois o usuário da
língua tem como principal objetivo uma comunicação clara, que atinja o maior
número possível de indivíduos que dominam o mesmo código usado por ele,
independentemente de como ele se identifica biopsicossocialmente. Ou seja, é preciso
valorizar o intuitivo e o natural quando se trata de conversar.
2. Por outro lado, todas as palavras do português têm um dos dois gêneros que a
gramática da língua diz que existem — masculino OU feminino —, mesmo que
designem objetos inanimados, desprovidos de sexo biológico. Vejamos os seguintes
exemplos: Eu sempre gostei daquela parede branca.
Para ampliar ainda mais a explanação contida neste artigo, acompanhe o seguinte
raciocínio: moço ] moça; monge ] monja; cantor ] cantora; oficial ] oficiala; freguês
Se isso fosse um teste psicotécnico, quais palavras você diria pertencerem ao mesmo
gênero? As do lado direito, certo? Sabe por quê? Simples. Todas elas têm uma marca
em comum: a vogal A que vem ao fim delas. É essa marca que indica o gênero
feminino. Fácil, não? Já as da esquerda têm um padrão de terminação, alguma marca
em comum? Obviamente não! Afinal, temos O, E, R, L, S, Z, ÃO...
Sabe o que isso quer dizer? Que não existe uma marca distintiva para indicar o
masculino. Logo, o suposto machista e tão criticado “O” não é a marca do
masculino; se assim fosse, o que fazer com todas estas palavras masculinas: elefante,
reitor, bacharel, japonês, ateu, herói etc.? Por outro lado, percebemos claramente a
marca do feminino (-a), de maneira que, se há algum privilégio de gênero em nosso
idioma, ele recai sobre o feminino, cuja marcação não deixa margem para dúvida.
Deveríamos nós, então, acusar a língua de ser feminista? Evidentemente, não.
Esse é o ponto chave para acabar com essa discussão sobre o emprego do E ou de
outra letra (como X) para uma linguagem supostamente inclusiva, abarcando seres
humanos que se identificam como pertencentes a diferentes gêneros ou a gênero
nenhum. Afinal, é justamente a ausência de uma marca distintiva de masculino que
nos permite usar “todos” e “bem-vindos” para um público misto de homens e
mulheres: “Todos que aqui estão, sejam bem-vindos!”.
Desse modo, dizer que os gêneros masculino e feminino marcam uma categorização
estritamente binária que (supostamente) exclui pessoas que não se identificam com o
sexo biológico de nascimento ou que não se identificam com nenhum sexo é
ignorância, má-fé ou real vontade de provocar uma revolução sociológica pela
subversão da estrutura fonomorfológica do idioma.
Pouquíssimas são as palavras na língua que têm ligação direta com o sexo (ou
gênero) dos seres humanos. Como ressalta Gisella Collischonn,4 doutora em
Linguística, apenas 6,5% dos substantivos aproximadamente estão relacionados com
sexo — ou seja, pares do tipo menino/menina são minoria em português, apesar de
substantivos como bolo, que termina em “o” e é masculino, e casa, que termina em
“a” e é feminino, serem bastante comuns. Por outro lado, em relação aos
substantivos terminados em “e”, observou-se perfeito equilíbrio entre palavras
femininas (a ponte) e masculinas (o pote), não cabendo, portanto, qualquer
associação entre essa vogal e um suposto gênero neutro na língua.
Não custa dizer que, se alguém ainda acha não haver a intenção de se levar a
linguagem neutra às escolas, está bastante equivocado. Basta observar que o Partido
dos Trabalhadores ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6925 no
Supremo Tribunal Federal contra um decreto estadual de Santa Catarina que proíbe
o uso de termos “sem gênero” em escolas e órgão públicos locais. Ou seja, o fim da
ação é permitir esse uso em sala. Nesse mesmo sentido, o Colégio Franco-Brasileiro,
no Rio de Janeiro (RJ), emitiu um comunicado à comunidade escolar afirmando que
vai promover estratégias para adotar a chamada linguagem neutra de gênero nos
espaços formais e informais de aprendizagem da escola. Também o Colégio Apoio,
em Recife (PE) figurou recentemente no noticiário por uma “aula de linguagem
neutra” ministrada ao 8º ano. Inúmeros são os casos semelhantes — não só no
Brasil, mas no mundo. Basta uma rápida pesquisa no Google para se ter prova. E a
relação de tais investidas com o feminismo também é inegável, tendo sido registrada
há décadas nos trabalhos de feministas como Monique Wittig, grande promotora da
revolução sexual pela linguagem.
Quem impõe, quem força uma suposta inclusão do X ou do E (ou de outra letra) só
o faz por razões ideológicas, e não linguísticas, pois a língua não é machista, é
morfologicamente inclusiva por natureza. Querer alterar a língua para satisfazer
determinadas pautas é desconsiderar todo o seu percurso histórico, que usa todos
tanto para homens quanto para homens e mulheres juntos (havendo uma plateia só
de mulheres, usamos todas, com a marca de feminino A).
“Ah, mas a língua muda e devemos respeitar as mudanças! Não podemos parar no
tempo!”. Sim! Mas saiba que a língua muda organicamente, e não por imposição
dum grupo social que acha que, trocando O/A por E ou X, os preconceituosos vão
parar de ser como são. As mudanças linguísticas são sempre um processo espontâneo
por meio dum uso e adesão constante da maioria da sociedade, sem nenhum tipo de
imposição ou grito. Com base nos pontos aqui trazidos, fica fácil perceber que tais
deturpações impingidas à força geram muito mais confusão e discordância do que
esclarecimento e coesão social.
AGRADECIMENTOS
Muito obrigada a todos vocês, leitores e eleitores, pela resposta impressionante à
minha vocação, por terem transformado meu primeiro livro num sucesso
imprevisível e feito da reação ao feminismo uma realidade no Brasil. Sou grata a
cada um de vocês e, por essa razão, produzi este material. Meu agradecimento
especialíssimo aos convidados que ajudaram a escrever este volume: Ana e Marlon
Derosa, Catharine Caldeira, Chris Tonietto, Cristiane Corrêa, David Amato,
Fernando Pestana, Isaque de Miranda, Lara Brenner, Natália Sulman e Ricardo da
Costa. Agradeço à equipe da Livraria Campagnolo, minha livraria virtual. Registro
minha gratidão aos amigos Thomaz Perroni e Giuliano Bonesso, da Vide Editorial,
que nunca disseram “não” a algum dos meus sonhos. Aos meus parceiros do curso
de política Clube Campagnolo: Daniel Henrique Sagave, Isaque de Miranda,
Douglas Pereira Lopes e João Marcos Campagnolo. Vocês são verdadeiros irmãos e
é com esse amor que enxergo o que sempre fizeram por mim. Aos meus assessores
parlamentares estendo uma gratidão constante, pois, como tenho dito a eles, não vou
muito longe se eles me faltarem. Aos meus pais, por serem exemplo. Ao meu marido,
Thiago Lívio Quintairos Galvão, que me deu seu sobrenome e o tempo precioso de
convívio familiar para que eu pudesse tocar este e todos os outros projetos que
executei.
Minha gratidão inexprimível ao Deus da Bíblia, o único que existe. Agradeço por
ter me tirado da situação de “vítima silenciada e oprimida” para a condição de
autoridade e legisladora. Se, como dizem as feministas, não tenho talento nenhum,
só me resta agradecer a Deus por esse milagre. Se, como dizem meus amigos, mereço
estar onde estou, só me resta agradecer a Deus pelos talentos. Resumindo: em tudo
que as feministas colocaram as garras para me prejudicar, Deus operou com graça
para me abençoar. Devo tudo a Ele e nada a elas.
NOTAS DE RODAPÉ
I.
1 Mora em Belo Horizonte, Minas Gerais. Estuda sobre feminismo de forma independente; graduada em
Marketing com especialização em marketing digital e design gráfico, produz conteúdo para internet sobre
mulheres e ideologia.
2 O significado literal de patriarcado é “regra do pai”. Vem do grego πατριάρχης (patriarkhēs), “pai de uma
raça” ou “chefe de uma raça, patriarca”. A definição mais geral define o patriarcado como o sistema social cujo
responsável pela família ou por uma pequena comunidade é o homem. Ele pode ser ou não o pai dos filhos sob
sua responsabilidade e tem poder sobre as tradições vividas por aqueles que tutela. Em uma cultura patriarcal, o
homem assume a responsabilidade e a autoridade política, moral e religiosa sobre as mulheres e os filhos
confiados à sua proteção. Matéria completa publicada por Brasil Paralelo, disponível em:
https://conteudo.brasilparalelo.com.br/historia/o-que-e-patriarcado/.
3 VAN CREVELD, Martin. Sexo privilegiado: o fim do mito da fragilidade feminina. Rio de Janeiro: Ediouro,
2004.
4 “Jordan Peterson discute com uma feminista: o que é patriarcado”. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=27h_xA3Bsis
5 ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e deusas. 3ª ed., São Paulo: Aleph, 2019, p. 167.
6 FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6ª ed., São Paulo: Contexto, 2020, p. 32.
8 “As carreiras preferidas por homens e por mulheres no Brasil”. Revista Exame. Disponível em:
https://exame.com/carreira/as- carreiras-preferidas-por-homens-e-por-mulheres-no-brasil/
10 “Modelo é uma das poucas profissões em que a mulher ganha mais do que o homem”. Estadão. Matéria
publicada por Mariana Belley em 29/04/2015. Disponível em: https://emais.estadao.com.br/ noticias/moda-e-
beleza,modelo-e-uma-das-poucas-profissoes-em- que-a-mulher-ganha-mais-do-que-o-homem,1678451
11 “Dia Internacional da Mulher: 16 programas e organizações que oferecem bolsas exclusivas para elas”. Site
Estude Fora. Publicado por Gustavo Sumares em 08/03/2021. Disponível em: https://www.
estudarfora.org.br/bolsas-exclusivas-para-mulheres/
12 https://www.cardsagainsthumanity.com/
13 https://www.britannica.com/art/courtly-love
14 h t t ps : / / r e pos i t o r y. l a w. u m i c h. e d u / c g i / v i e w c o n t e n t . cgi?
article=1164&context=law_econ_current
16 Van Creveld, Martin. Sexo Privilegiado: o fim do mito da fragilidade feminina. Rio de Janeiro: Ediouro,
2004. P. 363.
17 Crescimento das mortes violentas intencionais. Anuário Brasileiro de Segurança Pública – 2021. Disponível
em: https://forumseguranca. org.br/wp-content/uploads/2021/07/anuario-2021-completo-v6- bx.pdf
18 Mill, John Stuart. A Sujeição da Mulheres. São Paulo: La Fonte, 2019.
19 https://www.nber.org/system/files/working_papers/w17888/ w17888.pdf
20 https://www.aei.org/society-and-culture/camille-paglia-defends- men/
II.
1 Mora no Recife, é Mestre em Filosofia e pesquisa os elementos literários dos diálogos platônicos.
2 SOUSA, José Pedro Galvão de. Apresentação. In: VOEGELIN, Eric. A nova ciência da política. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1979. p. 6.
3 KIRK, Russell. The conservative mind: From Burke to Eliot. Washington D.C.: Regnery Publishing, 1986. p.
8-9.
4 SOUSA, José Pedro Galvão de. Apresentação. In: VOEGELIN, Eric. A nova ciência da política. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1979. p. 6.
5 BERNABÉ, Alberto. Platón y el orfismo: diálogos entre religión y filosofía. Madrid: Abada Editores, 2011.
397 p. 234,
6 AGOSTINHO, Santo. Patrística – Comentário ao Gênesis. São Paulo: Paulus, 2005. p. 75-76.
8 “A história de Artemisia Gentileschi, a pintora violentada que se vingou pela arte em pleno século 17”. BBC.
Matéria publicada em 14/01/2017 por Irene Velasco. Disponível em https://www.bbc.com/ portuguese/geral-
38594660
III.
1 Medievalista, professor titular da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), acadêmico correspondente
no exterior da Reial Acadèmia de Bones Lletres de Barcelona (RABLB) e professor efetivo do corpo docente do
Programa de Doctorado Internacional a Distancia “Transferencias Interculturales e Históricas en la Europa
Medieval Mediterránea” da Universitat d’Alacant (UA, Espanha).
2 ECO, Umberto. “Introdução à Idade Média”. In: ECO, Umberto (dir.). Idade Média – bárbaros, cristãos e
muçulmanos. Lisboa: D. Quixote, 2014, p. 13-40.
3 COSTA, Ricardo da. “Do fim do Mundo Antigo à Alta Idade Média (100-600 d.C.)”. In: International
Studies on Law and Education – 7 (janeiro-abril 2011), p. 97-102. Internet, https://www.ricardocosta.
com/artigo/do-fim-do-mundo-antigo-alta-idade-media.
5 WEMPLE, Suzanne Fonay. “As mulheres do século V ao século X”. In: DUBY, Georges, PERROT, Michelle
(dir.). História das Mulheres no Ocidente. Vol. 2: a Idade Média. Porto: Edições Afrontamento, s/d, p. 228.
6 COSTA, Ricardo da. “A gênese da concepção monárquica no Ocidente cristão (sécs. IV-VI)”. In: Mirabilia
25 (2017/2), p. 1-24. Internet, https://www.ricardocosta.com/artigo/genese-da-monarquia-no-ocidente.
7 DUMÉZIL, Bruno. “Santa Radegunda. Cerca de 520-587”. In: LE GOFF, Jacques (dir.). Homens e mulheres
da Idade Média. São Paulo: Estação Liberdade, 2013, p. 48-50.
8 DHUODA. La Educación Cristiana de mi hijo (introd., trad. y notas de Marcelo Merino). Pamplona:
Ediciones Eunate, 1995.
9 LABARGE, Margaret Wade. La mujer en la Edad Media. Madrid: Nerea, 1989, p. 22-23.
10 FUMAGALLI, Vito. Matilde di Canossa. El poder y la soledad de una mujer del Medioevo. México: Fondo
de Cultura Económica, 1999.
11 GOLINELLI, Paolo. “Nonostante le fonti: Matilde di Canossa donna”. In: PIO, Berardo Pio (ed.). Scritti di
Storia Medievale offerti a Maria Consiglia De Matteis. Spoleto: Fondazione Centro Italiano di Studi Sull’Alto
Medievo, 2011, p. 249-266. Internet, https:// www.mgh-bibliothek.de/dokumente/b/b072402.pdf.
12 MAIRE VIGUEUR, Jean-Claude. “Matilde de Canossa. 1045/1046/1115”. In: LE GOFF, Jacques (dir.).
Homens e mulheres da Idade Média. São Paulo: Estação Liberdade, 2013, p. 147-149.
13 PERNOUD, Régine. Idade Média. O que não nos ensinaram. São Paulo: Linotipo Digital, 2016, p. 143.
14 SODANO, Giulio. “A Hungria”. In: ECO, Umberto (dir.). Idade Média – Catedrais, cavaleiros e cidades.
Lisboa: D. Quixote, 2013,
15 “Female / Women Saints A-Z”. In: Catholic Online Saint & Angels. Internet,
https://www.catholic.org/saints/female.php.
16 UGÉ, Karine. “The Legend of Saint Rictrude”. In: Anglo-Norman Studies 23, 2000, pp. 281-297.
17 “Rictrudis, S.”. In: Vollständiges Heiligen-Lexikon (Léxico Completo de Santos), Band 5. Augsburg 1882, s.
95-96. Internet, http://www.zeno.org/Heiligenlexikon-1858/A/Rictrudis,+S.
18 GADY, Alexandre. “O vandalismo revolucionário”. In: ESCANDE, Renaud (dir.). O Livro Negro da
Revolução Francesa. Lisboa: Alethéia Editores, 2010, p. 208-216, e OZOUF, Mona. “Descristianização”. In:
FURET, François; OZOUF, Mona. Dicionário Crítico da Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1989, p. 26-39.
19 ARCE, Agustín (ed.). Itinerario de la Virgen Egeria (381-384). Madrid: Biblioteca Autores Cristianos, 1996.
20 COSTA, Ricardo da. “Santa Mônica – A criação do ideal da mãe cristã”. In: Grupos de Trabalho III —
Antiguidade Tardia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995, p. 21-35. Internet, https://www.ricardocosta. com/artigo/santa-
monica-criacao-do-ideal-da-mae-crista.
21 CRISTINA DE PIZÁN. La Ciudad de las Damas (edición a cargo de Marie-José Lemarchand). Madrid:
Ediciones Siruela, 2000.
22 SACKVILLE-WEST, V. Santa Joana D’Arc. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. (Nascida em 6 de janeiro
de 1412, queimada como herege em 30 de maio de 1431, canonizada em 16 de maio de 1920)..
23 HILDEGARDA DE BINGEN. Libro de las obras divinas (trad. de María Isabel Flifisch, María Eugenia
Góngora y María José Ortúzar). Barcelona: Herder, 2009; PERNOUD, Régine. Hildegarda de Bingen. A
consciência inspirada do século XII. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
24 ABELARDO E HELOÍSA. Historia calamitatum. História das minhas calamidades e Cartas de Heloísa
(prefácio, tradução e notas de Abel Nascimento Pena). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.
25 MEADE, Marion. Eleonor de Aquitânia. Uma biografia. São Paulo: Brasiliense, 1991.
27 COSTA, Ricardo da; SANTOS, Armando Alexandre dos. “A imagem da mulher medieval em O Sonho
(1399) e Curial e Guelfa (c. 1460)”. In: eHumanista/IVITRA vol. 5 (2014), p. 424-
28 Um clássico do gênero feminista de meias verdades é o de RANKE- HEINEMANN, Uta. Eunucos pelo
Reino de Deus. Mulheres, sexualidade e a Igreja Católica. Rio de Janeiro: Record, Rosa dos Tempos, 1996.
30 SILVA, Matheus Corassa da; COSTA, Ricardo da. “A Alegoria. Do Mundo Clássico ao Barroco”. In:
OSWALDO IBARRA, César; LÉRTORA MENDONZA, Celina (coords.). XVIII Congreso Latinoamericano de
Filosofía Medieval – Respondiendo a los Retos del Siglo XXI desde la Filosofía Medieval. Actas. Buenos Aires:
Ediciones RLFM, 2021, p. 87-96. Internet, https://www. ricardocosta.com/artigo/o-mundo-da-alegoria-virtudes-e-
vicios- no-barroco.
31 CRISTINA DE PIZÁN. La Ciudad de las Damas (edición a cargo de Marie-José Lemarchand). Madrid:
Ediciones Siruela, 2000, cap. I, 9, p. 81.
32 “...impressiona-me o progresso que ela [a mulher] fez na sociedade cristã da Idade Média – o que
evidentemente não nos pode levar a pensar que ela atingiu a igualdade com o homem; mas avançou-se muito... E
será pior mais tarde; creio profundamente que não há pior período para a condição feminina na Europa do que o
século XIX. (...) Guardemo-nos da ideia de que o progresso é irreversível, linear, constante, dos tempos mais
longínquos até a época contemporânea. Hoje, o número de mulheres que chegam às mais altas funções é muito
pequeno. No Ocidente, não se compara o número de mulheres primeiras-ministras com o que havia de rainhas
governando ou de regentes na Idade Média (o grifo é meu).” – LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 112-113.
IV.
1 “Por que o feminismo é mal visto pela maioria das mulheres?”. Matéria publicada em 16/04/2019 por
Rafaella Fraga. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/noticia/ 2019/ 04/ por-que-o-feminismo-e-
mal-visto-pela-maioria-das-mulheres- cjuk4fssl00q001p5780644b2.html
2 “Por que tantas mulheres jovens não se identificam como feministas”. Matéria publicada em 19/02/2019 por
Christina Scharff. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47283014
3 Livro dos Juízes, capítulo 5, verso 7. Bíblia Sagrada. NVI (Nova Versão Internacional). RJ: Thomas Nelson,
2020.
4 O livro dos Juízes de Israel, nos capítulos 4 e 5, mostra que duas mulheres salvaram o povo naquela ocasião.
Uma delas era política, a Juíza Débora, mas a outra era uma mulher comum: Jael estava em sua própria casa
(tenda) quando conseguiu matar o general inimigo com uma estaca e um martelo justamente por parecer
inofensiva.
5 Livro dos Juízes, capítulo 4, verso 8. Bíblia do Peregrino. SP: Paulus, 2017.
6 “Débora: a mulher que pode ter dado origem à Bíblia”. Revista Super Interessante. Matéria publicada em
08/07/2016 por Reinaldo José Lopes. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/ debora-a-mulher-que-
pode-ter-dado-origem-a-biblia/
7 Bíblia de Estudo da Reforma. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. Comentário do texto 4.4 de
Juízes, p.389.
9 “Arqueólogos alemães encontram palácio da rainha de Sabá na Etiópia”. Matéria consultada 2008 e
arquivada. Disponível em: https://web.archive.org/web/20080510105716/http://br.noticias.ya hoo. com / s /
080520 08 / 4 0 / saude -a rqueologos-a lem aes- encontram-palacio-da-rainha-saba-na-etiopia.html
10 FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6ª ed. SP: Contexto, 2020. p.41.
11 Menexêno. (235e2-9) Sócrates: – “[...] não é nada espantoso que eu seja capaz de discursar, uma vez que,
por sorte, tenho por mestra aquela que certamente não é insignificante em retórica; pelo contrário, tem formado
muitos outros bons oradores, dos quais um se destacou entre os helenos: Péricles, filho de Xantipo”.
12 ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e deusas. 3ª ed. São Paulo: Aleph, 2019. p.189.
V.
1 SCHATZ, Kate. Mulheres incríveis: artistas e atletas, piratas e punks, militantes e outras revolucionárias que
moldaram a história do mundo. Bauru, SP: Altral Cultural, 2017. p.11.
2 “Saiba quem foi Enheduana, a primeira escritora da história”. Revista Aventuras na História. Matéria
publicada em 28/10/2020 por Penélope Coelho. Disponível em: https://aventurasnahistoria.
uol.com.br/noticias/reportagem/saiba- quem-foi- enheduana- primeira-escritora-da-historia.phtml
3 ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e deusas. 3ª ed. São Paulo: Aleph, 2019. p.192.
4 SCHATZ, Kate. Mulheres incríveis: artistas e atletas, piratas e punks, militantes e outras revolucionárias que
moldaram a história do mundo. Bauru, SP: Altral Cultural, 2017. p.105.
5 FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6ª ed. SP: Contexto, 2020. p.47.
6 SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos: Primeiros mestres da filosofia e da ciência grega. 2ªed., Porto
Alegre: Edipucrs, 2003, p.116.
7 PERNOUD, Régine. Santa Hildegarda de Bingen: Mística e Doutora da Igreja. Dois Irmãos, RS: Minha
Biblioteca Católica, 2020. p.9
9 PERNOUD, Régine. Santa Hildegarda de Bingen: Mística e Doutora da Igreja. Dois Irmãos, RS: Minha
Biblioteca Católica, 2020. p.10.
10 PERNOUD, Régine. Santa Hildegarda de Bingen: Mística e Doutora da Igreja. Dois Irmãos, RS: Minha
Biblioteca Católica, 2020. p.11.
11 PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram. São Paulo: Linotipo Digital, 2016. pp. 135-
139.
12 PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram. São Paulo: Linotipo Digital, 2016. pp. 138.
13 O livro mais recente do historiador Ricardo da Costa detalha: “Artemisia herdou do pai (também pintor) o
apreço por Caravaggio, de quem assumiu um naturalismo com forte ênfase teatral. Um dos temas de sua obra é o
das mulheres-arquétipos, paradigmas, modelos, padrões eternos de seu ideal – fortes, decididas, guerreiras,
partícipes dos mitos, das tradições religiosas – e Susana e os Anciãos se encaixa precisamente neste modelo
artístico.” COSTA, Ricardo da. Visões da Idade Média. Santo André, SP: Armada, 2020. pp.312-313.
14 Livro de Judite, capítulo 13, verso 18. Bíblia de Jerusalém. 1ª edição. 13ª reimpressão. São Paulo: Paulus,
2002.
VI.
1 BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: fatos e mitos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. p.16.
3 MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino no Brasil. 2ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados.
Edições Câmara, 2019, p.86
4 MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino no Brasil. 2ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados.
Edições Câmara, 2019, p.83.
6 VAINSENCHER, Semira Adler. “Celina Guimarães Viana”. Pesquisa Escolar Online. Recife: Fundação
Joaquim Nabuco. 28 de julho de 2008. Consultado em 13 de junho de 2021.
7 CHESTERTON, Gilbert K. O que há de errado com o mundo. Campinas, SP: Ecclesiae, 2013. p.101
8 BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: fatos e mitos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016. p.17.
9 Alguns liberais também eram contra o sufrágio feminino porque temiam o momento de transição para o
regime republicano e queriam evitar qualquer risco ou agitação. cf. O voto feminino no Brasil, p.72.
10 MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. O voto feminino no Brasil. 2ª ed. Brasília: Câmara dos Deputados.
Edições Câmara, 2019, p.41.
11 “Há cem anos as britânicas conquistaram o direito ao voto”. Matéria do Portal G1. Publicada por France
Presse em 06/02/2019. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/ha-100-anos- as-britanicas-
conquistaram-o-direito-ao-voto.ghtml
12 “A longa luta das sufragistas pelo direito de votar”. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/a-longa-luta-
das-sufragistas-pelo- direito-de-votar/a-42461154
13 BURNET, Andrew (org.). 50 discursos que marcaram o mundo moderno. Porto Alegre, RS: L&OM, 2019.
p.13.
14 “As inglesas que usaram o jiu-jitsu para lutar pelo direito ao voto”. Matéria da BBC News. Publicada por
Camila Ruz e Justin Parkinson em 24 de dezembro de 2015 . Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/noticias/2015/12/151102_suffragettes_jiu_jitsu_mv
15 CHESTERTON, Gilbert K. O que há de errado com o mundo. Campinas, SP: Ecclesiae, 2013. pp.99-100.
16 FRIEDAN, Betty. A mística feminina. 1ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2020.
VII.
1 “Cotas para mulheres”. Revista Exame. Publicado por Fabiane Stefano em 12/08/2015. Disponível em:
https://exame.com/revista- exame/cotas-para-mulheres/
2 “O lugar do homem no feminismo”. Programa Saia Justa. 18 de agosto de 2017. Barbara Gancia conversou
com Camille Paglia, escritora e ativista feminista, durante sua estadia em Salvador, para uma série de palestras
sobre o papel do homem no feminismo. Disponível em: https://youtu.be/A3Y0KXFAJV8
3 “A política de cotas para as mulheres no Brasil: importância e desafios para avançar”. Portal Gênero
Número. Publicado por Hildete Pereira de Melo em 13/09/2018. https://www.generonumero. media/a-politica-de-
cotas-para-as-mulheres-no-brasil-importancia- e-desafios-para-avancar/
4 GUEDES, Moema de Castro. A presença feminina nos cursos universitários e nas pós-graduações:
desconstruindo a idéia da universidade como espaço masculino. Scielo Brasil. 02/2008. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0104- 59702008000500006
6 “Como Chile está montando a 1ª Constituinte do mundo com igualdade de gênero”. Matéria da CNN.
Escrita por Juliana Elias em 16 de maio de 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.
com.br/internacional/2021/05/16/como-chile-esta-montando-a-1- constituinte-do-mundo-com-igualdade-de-
genero.
7 “Paridade na Constituinte faz mulheres cederem 11 cadeiras a homens no Chile”. Matéria do Poder 360.
Publicada em 20 de maio de 2021. Disponível em: https://www.poder360.com.br/ internacional/paridade-na-
constituinte-faz-mulheres-cederem-11- cadeiras-a-homens-no-chile/
9 “Cotas para mulheres”. Revista Exame. Publicado por Fabiane Stefano em 12/08/2015. Disponível em:
https://exame.com/revista- exame/cotas-para-mulheres/
10 “Mulheres são maioria nas universidades brasileiras, mas têm mais dificuldades em encontrar emprego”.
Matéria do portal de Economia do G1. Publicada em 10/09/2019. Disponível em: https://
g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2019/09/10/ mulheres-sao-maioria-nas-universidades-
brasileiras-mas-tem-mais- dificuldades-em-encontrar-emprego.ghtml.
11 SOWELL, Thomas. Fatos e Falácias da Economia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2018. p.79.
12 SOWELL, Thomas. Discriminação e disparidades. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2019. p.21.
13 Sobre as anomalias, podemos começar pela provocada pelo sistema de cotas raciais em um país altamente
miscigenado como o Brasil. Cotas sociais seriam mais adequadas, mas a questão racial produziu anomalias como
a defendida pela então ministra dos Direitos Humanos Luislinda Valois, que em setembro de 2017 defendeu a
instalação de bancas de verificação racial para evitar fraudes, ou seja, algo que alegraria imensamente o pantone
de pele usado pelos nazistas, por exemplo. A desconexão com a realidade é tamanha que a mesma ministra,
também desembargadora, citou “trabalho escravo” como justificativa ao pedido de salário de R$ 61 mil.
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/09/26/interna_ gerais,903556/ministra-defende-bancas-para-
evitar-fraudes-nas- cotas-raciais.shtml
VIII.
1 Professora graduada em pedagogia desde 2009. Orienta um grupo de estudos para mulheres cristãs sobre o
tema feminismo e cristianismo, tema ao qual dedica seus estudos há quase dez anos.
2 Artigo “Energetic Consequences of Thermal and Nonthermal Food Processing”, publicado na revista
acadêmica Proceedings of the National Academy of Sciences; Tese de doutorado, Harvard University (acessado:
06/08/21 - http://nrs.harvard.edu/urn-3:HUL. InstRepos:10368128).
3 BRAICK, Patrícia Ramos; Mota, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio, volume único.
3.ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.
4 David, Rosalie (1 de abril de 1998). “The Ancient Egyptians: Beliefs & Practices”. [S.l.]: Sussex Academic
Press. p. 91.
5 VAN CREVELD, Martin. Sexo Privilegiado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 129.
6 VAN CREVELD, Martin. Sexo Privilegiado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 132.
7 VAN CREVELD, Martin. Sexo Privilegiado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 130.
8 VAN CREVELD, Martin. Sexo Privilegiado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 132.
9 ORNELLAS, L. H. A alimentação através dos tempos. 1.ed. Rio de Janeiro, RJ: FENAME, 1978. 288 p. il.
(Série Cadernos Didáticos). Biblioteca(s): Biblioteca Rui Tendinha.
10 FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. 6ª ed. SP: Contexto, 2020. p.54.
11 PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média. Editora e Livraria Ltda, São Paulo, 2020; p.144.
12 PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média. Editora e Livraria Ltda, São Paulo, 2020; p.144.
13 PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média. Editora e Livraria Ltda, São Paulo, 2020; p.151
15 ENGELS, Friedrich. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. Editora: Edipro; Edição de Bolso (1
fevereiro 2017).
IX.
2 SOWELL, Thomas. Fatos e Falácias da Economia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2018. p.79
3 https://www.bls.gov/news.release/pdf/cfoi.pdf/
4 https://www.bls.gov/iif/oshwc/cfoi/cfch0009.pdf.
5 “Cotas para mulheres?”. Matéria do portal Insper. Publicado em 12/06/2015. Disponível em:
https://www.insper.edu.br/noticias/ cotas-para-mulheres/
6 https://www.realclearmarkets.com/articles/2012/11/05/the_
female_wage_gap_is_a_major_economic_myth_99969.html
7 “Cotas para mulheres?”. Matéria do portal Insper. Publicado em 12/06/2015. Disponível em:
https://www.insper.edu.br/noticias/ cotas-para-mulheres/
8 “Na pós-graduação, mulheres são maioria entre estudantes mas minoria entre docentes”. Matéria da Folha
de São Paulo. Publicada por Sabine Righetti. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.
br/educacao/2021/03/na-pos-graduacao-mulheres-sao-maioria- entre-estudantes-mas-minoria-entre-
docentes.shtml.
9 “Here’s How Every Country in the World Ranks on Gender Equality”. Portal Undispatch. Disponível em:
https://www. undispatch.com/heres-every-country-world-ranks-gender-equality/
10 “Sex Differences in Personality Traits and Gender-Related Occupational Preferences across 53 Nations:
Testing Evolutionary and Social-Environmental Theories”. Disponível em: https://
www.researchgate.net/publication/23179757_Sex_Differences_ in_Personality_Traits_and_Gender-
Related_Occupational_ Preferences_across_ 53 _Nations_Testing_Evolutionary_and_ Social-
Environmental_Theories.
13 “Cotas para mulheres?”. Matéria do portal Insper. Publicado em 12/06/2015. Disponível em:
https://www.insper.edu.br/noticias/ cotas-para-mulheres/
15 https://imdiversity.com/villages/women/young-single-womens-pay- exceeds-male-peers/
16 https://www.cbsnews.com/news/the-gender-pay-gap-is-a-complete- myth/
17 SOMMERS, Christina Hoff. Who Stole feminism?: how women have betrayed women. Touchstone. Simon
& Schuster. 1995.
19 AMENO, Agenita. Crítica à tolice feminina. Rio de Janeiro: Record, 2001. pp.23-25.
20 https://www.shrm.org/hr-today/public-policy/hr-public-policy-
issues/documents/gender%20wage%20gap%20final%20report.pdf
X.
1 Sorokin, Pitirim A. The American sex revolution. 1956. Boston: Sargent, 1956.
2 EBERSTADT, Mary. Adão e Eva depois da Pílula: os paradoxos da Revolução Sexual. São Paulo:
Quadrante, 2019.
3 EBERSTADT, Mary. Adão e Eva depois da Pílula: os paradoxos da Revolução Sexual. São Paulo:
Quadrante, 2019. p.26.
4 Joan DelFattore. “Death by Stereotype? Cancer Treatment in Unmarried Patients”. New England Journal of
Medicine. Setembro, 2019
5 Shawn Grover & John F. Helliwell, 2019. “How’s Life at Home? New Evidence on Marriage and the Set
Point for Happiness,” Journal of Happiness Studies, Springer, vol. 20(2), 373-390, Fevereiro, 2019.
6 Amato, Paul R. “Children of Divorce in the 1990s: An Update of the Amato and Keith (1991) Meta-
Analysis.” Journal of Family Psychology, 2001.
7 SOWELL, Thomas. Discriminação e disparidades. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2019. p.132.
XI.
1 Casados, moram em Florianópolis. Ela é mestre e doutora em farmacologia pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), autora do livro Abortos ocultos e a mentalidade contraceptiva. Ele é Mestre em bioética
pela Fundação Jérôme Lejeune (Espanha), editor de dezenas de projetos editoriais e coautor de três livros sobre
bioética e aborto.
2 COLONNA, F. De ovi mammalium et hominis genesi (1827), by Karl Ernst von Baer. The Embryo Project
Encyclopedia. Disponível em [https://embryo.asu.edu/pages/de-ovi-mammalium-et-hominis- genesi-1827-karl-
ernst-von-baer]. Acesso em 07/08/2021.
3 DEROSA, Ana. “Quando começa a vida humana? A ciência responde. Estudos Nacionais. 11/04/2017.
Disponível em [https:// www.estudosnacionais.com/4930/quando-comeca-a-vida-humana- a-ciencia-responde/].
Acesso em 06/08/2021.
4 KALUGER, G. KALUGER M. Human Development: The Span of Life, pág. 28-29. 1974.
5 SHAHBAZI et al. 2016. “Self-organization of the human embryo in the absence of maternal tissues”. Nature
Cell Biology. Volume 18, pp.. 700–708 (2016)
6 DEROSA, Ana. DEROSA, Marlon. GONÇALVES, Luan. Abortos ocultos e a mentalidade contraceptiva.
Florianópolis, SC. 1ª edição. ID Editora. 2020.
7 DEROSA, Marlon. DEROSA, Ana (PHD). “As evidências do início da vida na concepção vs. opiniões e
subjetividades”. 06/04/2018. Disponível em [https://www.estudosnacionais.com/7385/ as- evidencias-do-inicio-da-
vida-na- concepcao-vs-opinioes- e- subjetividades]. Acesso em 06/08/2021.
8 SINGER, Peter. Ética Prática. Martins Fontes. 4ª edição. São Paulo- SP. 2018
9 DEROSA, Marlon. “Aborto é assassinato? Debate sobre assassinato de bebês 1 mês após o nascimento usa
lógica do aborto”. Disponível em [https://www.estudosnacionais.com/12261/aborto-e-assassinato-
11 GIUBILINI, Alberto. MINERVA, Francesca. After-birth abortion: why should the baby live? J. BMJ-J Med
Ethics 2013;39:261–263
12 JUNIOR, João Corrêa Neves. 26/02/2019. “Democratas barram Lei de Proteção a bebês sobreviventes de
abortos”. Disponível em [https://www.estudosnacionais.com/10902/democratas-barram- lei-de-protecao-a-bebes-
sobreviventes-de-abortos/]. Acesso em 06/08/2021.
14 FERNANDES, André Gonçalves. Livre para nascer: O aborto e a lei do embrião humano. Vide Editorial. 1ª
Edição. Campinas, SP. 2018. p. 39.
17 GARCIA, SML. FERNÁNDEZ, CG. Embriologia. 3 ed. Porto Alegre, RS. Artmed, 2011. 668 p.
18 PEGORER, Mayara Alice Souza; ALVES, Pedro Gonzaga. “O reconhecimento dos direitos sexuais e
reprodutivos da mulher como direitos fundamentais frente aos novos paradigmas sociais: reafirmando a
democracia”.. Artigo. UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná. Disponível em
[http://www.publicadireito. com.br/artigos/?cod=3dd48ab31d016ffc]. Acesso em 06/08/2021.
19 SANTOS, Lília Nunes. Aborto: A atual discussão sobre a descriminalização do aborto no contexto de
efetivação dos direitos humanos. 1ª Edição. Curitiba, PR. Editora Juruá. 2018. Pág. 29-41.
20 DEROSA, Marlon (Org.). Precisamos falar sobre aborto: mitos e verdades. 3ª Edição. Florianópolis, SC.
2019. Capítulo 1 e 3. 640 p.
21 PEGORER e ALVES.
III.
23 Robin Elliott, Lynn C. Landman, Richard Lincoln and Theodore Tsuoroka. “U.S. Population Growth and
Family Planning: A Review of the Literature. Family Planning Perspectives”. Vol. 2, No. 4 (Oct., 1970), pp. i-xvi.
Published by: Guttmacher Institute. DOI: 10.2307/2133834. Disponível em [https://www.jstor.org/stable/
pdf/2133834.pdf]. Acesso em 06/08/2021.
25 Exemplo de centro de estudos que publica artigos científicos sobre o tema e é oficialmente ligado às clínicas
de aborto Planned Parenthood, Marie Stopes International, bem como ao Conselho Populacional. Bixby Center.
Programs and Partners. [https://bixbycenter.ucsf.edu/ programs-and-partners]. Acesso em 06/08/2021.
27 NIIMARKI, M. Immediate complications after medical compared with surgical termination of pregnancy.
Obs Gynecol. 2009; 114(4): 795;804.
28 DEROSA, M (Org.) In: FRANTZ, Patrícia. Cap. 12. “Agravos à saúde física e mental relacionados ao
aborto”. Pág. 430.
30 MACNAIR, Rachel. Peace Psychology Perspectives on Abortion (2016); Ver também: DEROSA, Marlon
(Org.) Precisamos falar sobre aborto: mitos e verdades. 3ª Edição. Florianópolis, SC. 2019. In: Capítulos 12 e 13.
XII.
2 ASSIS, Júlio. “Contraditório Coerente”. Jornal O Tempo. Publicado em 23/06/2012. Disponível em:
https://www.otempo.com.br/ opiniao/julio-assis/contraditorio-coerente-1.207495
4 RODRIGUES, Sonia (Org.). Nelson Rodrigues por ele mesmo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 42.
5 VOGEL, Arno; FERREIRA, Regiane. A tragédia da Piedade: o grande drama da República. Anuário
Antropológico/2014. Brasília: UnB, 2015, p. 166.
9 CAMPAGNOLO, Ana Caroline. “Feminismo: indústria de leis sexistas”. YouTube, 2021. Disponível em:
https://youtu.be/ xkGHkiEUTKA.
10 ALVIM, Simone F.; SOUZA, Lídio. Homens, mulheres e violência. Rio de Janeiro: Instituto Nooos, 2004,
p.41.
11 COOK, Philip W. Abused Men: The Hidden Side of Domestic Violence. EUA: Praeger, 1997, p. 22.
12 REYNALDO, Daniel. “Disque Direitos Humanos: perfis étnicos e sexuais dos agressores e das vítimas”.
Quem?, 2021. Disponível em: https://quemnumeros.com/2021/09/18/disquedh/. Acesso em 26/09/2021.
13 SOLBERG, Eva. “Våld i nära relationer är inte en könsfråga”. Nyheter24, 2015. Disponível em:
https://nyheter24.se/ debatt/801568-eva-solberg-moderaterna-vald-i-nara-relationer-ar- inte-en-konsfraga. Acesso
em 26/09/2021.
XIII.
1 MARX, Karl. Marx to Kugelmann In Hanover. Marx and Engels Correspondence. Dez. 1868. Londres:
International Publishers, 1968. Marxists.org. Disponível em: [https://www.marxists.org/ archive/marx/works/
6 CAMPAGNOLO, Ana Caroline. Feminismo: Perversão e Subversão. Campinas, SP: Vide Editorial, 2019, p.
379-387.
7 DIGITAL HISTORY. Torches of Freedom Campaign. Digital History – Histoire Numérique. Disponível em:
[https://biblio. uottawa.ca/omeka2/jmccutcheon/exhibits/show/american-women- in-tobacco-adve/torches-of-
freedom-campaign] Acesso em: 07 ago. 2021.
8 BERNAYS, Edward. Propaganda. Nova York: Horace Liverright, 1928, p. 20. Disponível em:
[https://www.voltairenet.org/IMG/pdf/
10 THE ROCKEFELLER FOUNDATION. Family Planning. The Rockefeller Foundation. Disponível em:
[https://rockfound. rockarch.org/pt/family-planning] Acesso em: 07 ago. 2021.
12 REPORT Indicates New Campaign: 35% Puerto Rican Women Sterelized. In: Committee for Puerto Rican
Decolonization, Box 1240 Peter Stuyvesant Station, New York, N.Y. 10009, (212) 260-1290. Freedom Archives.
Disponível em: https://www. freedomarchives.org/ Documents/ Finder/ DOC512 _scans/512.
PR.WomenSterilized.Article.pdf Acesso em: 07 ago. 2021.
14 STEMPEL, Jonathan. Johns Hopkins, “Bristol-Myers must face $1 billion syphilis infections suit”. Reuters,
4 jan. 2019. Disponível em: [https://www.reuters.com/article/us-maryland-lawsuit-infections- idUSKCN1OY1N3]
Acesso em: 07 ago. 2021.
15 REISMAN, Judith. Kinsey: Crimes and Consequences: The Red Queen and The Grand Scheme. Arizona:
Inst for Media Education, 1998.
17 GRIFFIN, G. Edward. Transcript of Norman Dodd Interview. 1982. Supreme Law Firm. Disponível em:
[http://www.supremelaw. org/authors/dodd/interview.htm] Acesso em: 07 ago. 2021.
19 CAMPANELLA, Claudia; WIMPEE, Rachel. The Fairy Godmothers of Women’s Studies. Rockefeller
Archive Center, 30 mar. 2020. Disponível em: [https://resource.rockarch.org/story/ field-building-fairy-
godmothers/] Acesso em: 07 ago. 2021.
20 BROOKE, Nigel; WITOSHYNSKY, Mary (orgs). Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: uma parceria
para a mudança social. São Paulo / Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002.
Disponível em: [https://www.fordfoundation. org/media/1719/2002-os_40_anos_da_fundacao_ford_no_brasil.
pdf] Acesso em 07 ago. 2021.
21 SOS CORPO: Instituto Feminista para a Democracia. Disponível em: https://soscorpo.org/ Acesso em: 08
ago. 2021.
24 ECOS: Comunicação e Sexualidade. Disponível em: https://www. ecos.org.br/ Acesso em: 07 ago. 2021.
25 CEPIA: Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação. Disponível em: [https://cepia.org.br/] Acesso em:
07 ago. 2021.
26 FORD FOUNDATION. Ford Foundation Commits $420 million to Treckle Gender Inequality arond the
Globe post COVID-19. Ford Foundation. Disponível em: [https://www.fordfoundation. org/the-latest/news/ford-
foundation-commits- 420 -million-to- tackle-gender-inequality-around-the-globe-post-covid-19/] Acesso em: 07
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27 CORRÊA, Sonia. Et al. The Population and Reproductive Health Programme in Brazil 1990-2002: Lessons
Learned: A Report to the John D and Catherine T MacArthur Foundation. In: Reproductive Health Matters, v.
13, n. 25, p. 72-80, 2005. Disponível em: [https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1016/ S0968-
8080%2805%2925165-0?] Acesso em: 07 ago. 2021.
28 OPEN SOCIETY FOUNDATIONS. Open Society Foundations commit 100 million to support feminist
political mobilization and leadership. 30 jun. 2021. Disponível em: [https://www.
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political-mobilization- and-leadership] Acesso em: 08 ago. 2021.
29 SUTTON, Antony. The Wall Street Trilogy. Canadá: Global Alliance Publications, 2018.
30 WOOD, Patrick. Technocracy Rising: The Trojan Horse of Global Transformation. Arizona: Coherent
Publishing, 2015, p. 5.
32 LOPEZ, Daniel. “Você não terá nada, mas será feliz. Será?”. Gazeta do Povo, 15 ago. 2021. Disponível em:
[https://www.gazetadopovo. com.br/vozes/daniel-lopez/voce-nao-tera-nada-mas-sera-feliz-sera/] Acesso em: 07
ago. 2021.
33 SCHWAB, Klaus. Covid-19: The Great Reset. Suíça: Forum Publishing, 2020.
34 FRIEDMAN, Milton. “A Friedman doctrine - The Social Responsibility of Business Is to Increase Its
Profits”. The New York Times, 13 set. 1970. Disponível em: [https://www.nytimes. com / 1970 /09 / 13
/archives/a- friedman- doctrine- the- social- responsibility-of-business-is-to.html] Acesso em: 07 ago. 2021.
35 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista (1848). São Paulo: Boitempo Editorial,
2005.
36 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 10 ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1985.
38 LANCE; CORLYSS_D (orgs.). Gustav Mahler’s Paraphrase of Thomas More. The Classical Music Guide
Forums. Disponível em: [http://classicalmusicguide.com/viewtopic.php?t=38761] Acesso em: 07 ago. 2021.
39 FIRESTONE, Shulamith. The Dialectic of Sex. Nova York: Bantam Books, 1970, p.11-12.
40 HARAWAY, Donna. Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. Nova York: Routlegde,
1991.
41 CONFERÊNCIA EPISCOPAL PERUANA. A ideologia de gênero: seus perigos e alcances. Lima, abr. 1998.
Disponível em: [https:// img.cancaonova.com/noticias/pdf/281960_IdeologiaDeGenero_
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42 2017-2018 GLOBAL Resources Report: Government and Philanthropic Support for Lesbian, Gay, Bisexual,
Transgender and Intersex Communities. Disponível em: [https:// globalresourcesrepor t .org / w p - content /
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43 KOLTUV, Barbara. O Livro de Lilith: O Resgate do Lado Sombrio do Feminino Universal. 2ª ed. São
Paulo: Cultrix, 2017, p. 39.
44 LEVINE, Kendra. “Reclaiming Lilith as a Strong Female Role Model”. Senior Theses, 5. Disponível em:
https://digitalcommons. linfield.edu/relsstud_theses/. Acesso em: 07 ago. 2021.
XIV.
1 Advogada e Deputada Federal eleita com bandeiras conservadoras e apoiada pela comunidade católica.
XV.
3 https://ojoaoveloso.wordpress.com/.
4 “Por que a distinção entre gênero social e gramatical na língua portuguesa é necessária no idioma”. Matéria
do Portal Zero Hora publicada em 12/12/2015. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs. com.br/porto-
alegre/noticia/2015/12/por-que-a-distincao-entre- genero-social-e-gramatical-na-lingua-portuguesa-e-necessaria-
ao- idioma-4928930.html.
5 https://istoe.com.br/a-lingua-sob-pressao.