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OLÁ, PROF!
Espero que este material faça a diferença em suas aulas para que elas sejam
sempre sem tédio!
r
ise Xavie
Prof.ª De
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SUMÁRIO
FÁBULA DA CONVIVÊNCIA.................................................................................................................4
SEMENTES...............................................................................................................................................5
A HISTÓRIA DO LÁPIS...........................................................................................................................6
CARROÇA VAZIA....................................................................................................................................7
BAGAGEM DA VIDA................................................................................................................................8
PARÁBOLA DAS PEDRAS......................................................................................................................9
O CARPINTEIRO....................................................................................................................................10
LENÇÓIS SUJOS.....................................................................................................................................11
A VIAGEM DE TREM..............................................................................................................................12
O TOCO DE LÁPIS.................................................................................................................................13
SOPA DE PEDRAS.................................................................................................................................14
AS TRÊS PENEIRAS..............................................................................................................................15
A CORRIDA DE SAPINHOS..................................................................................................................16
A ASSEMBLEIA DOS RATOS...............................................................................................................17
A RAPOSA E A CEGONHA....................................................................................................................18
A PISCINA DE CROCODILOS...............................................................................................................19
A ÁGUIA E A GALINHA.........................................................................................................................20
UMA IDEIA TODA AZUL.......................................................................................................................21
A MOÇA TECELÃ...................................................................................................................................22
O RETORNO DO PATINHO FEIO......................................................................................................24
O CORAÇÃO DE BAOBÁ......................................................................................................................25
A LENDA DO FLOQUINHO DE ALGODÃO.......................................................................................26
A OUTRA NOITE...................................................................................................................................27
FELICIDADE CLANDESTINA...............................................................................................................28
A ÚLTIMA CRÔNICA.............................................................................................................................29
O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU................................................................................................30
NÓIS MUDEMO.....................................................................................................................................31
COM SUA VOZ DE MULHER...............................................................................................................33
O PADEIRO............................................................................................................................................35
CAFEZINHO............................................................................................................................................36
FELIZ E ORGULHOSO, ENVAIDECIDO MESMO.............................................................................37
FALECEU ONTEM A PESSOA QUE ATRAPALHAVA SUA VIDA...................................................38
VER VENDO...........................................................................................................................................39
O TEMPO...............................................................................................................................................40
ANINHA E SUAS PEDRAS...................................................................................................................41
ORA DIREIS OUVIR ESTRELAS.........................................................................................................42
TIMIDEZ.................................................................................................................................................43
METADE.................................................................................................................................................44
A ARTE DE SER FELIZ.........................................................................................................................45
É PRECISO MUDAR..............................................................................................................................46
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FÁBULA DA CONVIVÊNCIA
Durante uma era glacial, quando parte do globo terrestre esteve coberto
por gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram indefesos,
por não se adaptarem às condições do clima hostil.
Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos, numa tentativa
de se proteger e sobreviver, começou a se unir, ajuntar-se mais e mais. Assim,
cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos,
aqueciam-se mutuamente naquele inverno tenebroso.
Porém, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais
próximos, justamente aqueles que ofereciam mais calor, aquele calor vital,
questão de vida ou morte. Então, todos se afastaram-se feridos, magoados e
sofridos. Dispersaram-se, por não suportarem por mais tempo os espinhos de
seus semelhantes.
Doía muito. Mais essa não foi a melhor solução porque separados logo
começaram a morrer congelados. Os que não morreram voltaram a se
aproximar, pouco a pouco, com jeito, com medo, com cuidado, de tal forma
que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o
suficiente para conviver sem magoar, sem causar danos recíprocos. Assim,
suportaram-se resistindo à longa era glacial. Sobreviveram.
Conclusão: O melhor do relacionamento não é aquele que une pessoas
perfeitas, mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos do
outro, a admirar suas qualidades.
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4
SEMENTES
Autor desconhecido
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5
A HISTÓRIA DO LÁPIS
Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que
existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre
conduzi-lo em direção à Sua vontade.
Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o
apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado.
Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma pessoa melhor.
Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo
que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente
algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça.
Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma
exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece
dentro de você.
Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira,
saiba que tudo que você fizer na vida irá deixar traços, e procure ser consciente de cada
ação.
Autor desconhecido
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6
CARROÇA VAZIA
Num certo dia, um pai convidou o filho para irem de Maratona a Atenas
a pé. O filho aceitou com entusiasmo, e disse:
– Que bom! Meu querido pai, quem sabe se não vejo os ilustres sábios a
discursarem na ágora de Atenas. E foram caminhando...
Depois de um certo tempo, pararam para descansar debaixo de frondosas
árvores à beira de um riacho. Se fartaram de beber água e descansaram sob as
sombras ouvindo as melodias dos pássaros. Nesse ínterim, também se ouvia um
barulho. O menino apurou os ouvidos e disse:
– Esse barulho deve ser de uma carroça.
– Isso mesmo, disse o pai do menino. É uma carroça vazia...
O filho perguntou ao pai:
– Papai, como o senhor pode saber se a carroça está vazia se ainda não a
vimos?
Então disse o pai:
– Ora, é muito fácil saber se uma carroça está vazia por causa do barulho.
Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que ela faz.
O menino virou adulto, e quando ele via uma pessoa falando demais,
inoportuna, se intrometendo nas conversas dos outros, tinha a impressão de
ouvir a voz do pai dizendo: "Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho."
Autor desconhecido
@portuguessemtedio
7
BAGAGEM DA VIDA
Quando sua vida começa,você tem apenas uma mala pequenina de mão...
À medida que os anos vão passando, a bagagem vai aumentando. Porque
existem muitas coisas que você recolhe pelo caminho... Porque pensa que são
importantes.
A um determinado ponto do caminho começa a ficar insuportável carregar
tantas coisas. Pesa demais ! Então você pode escolher: Ficar sentado a beira do
caminho, esperando que alguém o ajude, o que é difícil, ...pois todos que
passam por ali já tem sua própria bagagem.
E ai, você pode ficar a vida inteira esperando. Ou você pode aliviar o peso,
esvaziando a mala. Mas, o que tirar ? Primeiro, você começa tirando tudo para
fora, e descobrindo o que tanto tem dentro. AMIZADE AMOR AMIZADE AMOR
Nossa ! Tem bastante, e o curioso... Não pesa nada ! Porém, tem algo ainda
pesando.... Você faz força para tirar.... É a RAIVA , e como ela pesa ! Aí você
começa a tirar, tirar e aparecem a INCOMPREENSÃO, o MEDO, o PESSIMISMO
Nesse momento, o DESÂNIMOquase te puxa pra dentro da mala ...
Mas você puxa-o para fora com toda a força, e aparece um SORRISO, que
estava sufocado no fundo de sua bagagem.... Pula para fora outro sorriso e mais
outro, e aí sai a FELICIDADE.
Você coloca as mãos dentro da mala de novo e tira pra fora a TRISTEZA.
Agora, você vai ter que procurar a PACIÊNCIA dentro da mala, pois vai precisar
bastante.... Procure então o resto: FORÇA ESPERANÇA CORAGEM ENTUSIASMO
EQUILÍBRIO RESPONSABILIDADE TOLERÂNCIA BOM HUMOR.
Tire a PREOCUPAÇÃO também, e deixe de lado. Depois você pensa o que
fazer com ela... Bem, sua bagagem está pronta para ser arrumada de novo... Mas
pense bem no que vai colocar lá dentro ! Agora é com você... E não se esqueça
de fazer isso mais vezes.
Autor desconhecido
@portuguessemtedio
8
PARÁBOLA DAS PEDRAS
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9
O CARPINTEIRO
Autor desconhecido
@portuguessemtedio
10
LENÇÓIS SUJOS
Autor desconhecido
@portuguessemtedio
11
A VIAGEM DE TREM
A vida não passa de uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, alguns
acidentes, agradáveis surpresas em muitos embarques e grandes tristezas em alguns
desembarques.
Quando nascemos, entramos nesse magnífico trem e nos deparamos com algumas
pessoas, que julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco, nossos pais.
Infelizmente isso não é verdade, em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos
do seu carinho, amizade e companhia insubstituível. Isso porém não nos impedirá que durante
o percurso, pessoas que se tornarão muito especiais para nós, embarquem. Chegam nossos
irmãos, amigos, filhos e amores inesquecíveis!
Muitas pessoas embarcarão nesse trem apenas a passeio, outras encontrarão no seu
trajeto somente tristezas e ainda outras circularão por ele prontos a ajudar quem precise.
Vários dos viajantes quando desembarcam deixam saudades eternas, outros tantos
quando desocupam seu assento, ninguém nem sequer percebe.
Curioso é constatar que alguns passageiros que se tornam tão caros para nós,
acomodam-se em vagões diferentes dos nossos, portanto somos obrigados a fazer esse trajeto
separados deles, o que não nos impede é claro que possamos ir ao seu encontro. No entanto,
infelizmente, jamais poderemos sentar ao seu lado, pois já haverá alguém ocupando aquele
assento.
Não importa, é assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas,
porém, jamais, retornos. Façamos essa viagem então, da melhor maneira possível, tentando
nos relacionar bem com os outros passageiros, procurando em cada um deles o que tiverem
de melhor, lembrando sempre que em algum momento eles poderão fraquejar e precisaremos
entender, porque provavelmente também fraquejaremos e com certeza haverá alguém que
nos acudirá com seu carinho e sua atenção.
O grande mistério afinal é que nunca saberemos em qual parada desceremos, muito
menos nossos companheiros de viagem, nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado.
Eu fico pensando se quando descer desse trem sentirei saudades. Acredito que sim, me
separar de muitas amizades que fiz será no mínimo doloroso, deixar meus filhos continuarem a
viagem sozinhos será muito triste com certeza… Mas me agarro na esperança que em algum
momento estarei na estação principal e com grande emoção os verei chegar.
Estarão provavelmente com uma bagagem que não possuíam quando embarcaram e o
que me deixará mais feliz será ter a certeza que de alguma forma eu fui uma grande
colaboradora para que ela tenha crescido e se tornado valiosa.
Amigos, façamos com que a nossa estada nesse trem seja tranquila, que tenha valido a
pena e que quando chegar a hora de desembarcarmos o nosso lugar vazio traga saudades e
boas recordações para aqueles que prosseguirem a viagem.
Autor desconhecido
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12
O TOCO DE LÁPIS
Pedro Bandeira
@portuguessemtedio
13
SOPA DE PEDRAS
Era final de um dia frio e começava a nevar. Um mendigo estava vagando pelo campo ,
sentia muita fome e frio, quando deparou com uma casa muito bonita. Ao se aproximar, notou
que lá dentro havia uma família reunida em volta de uma lareira. Os adultos conversavam, as
crianças brincavam e a empregada colocava a mesa para o jantar.
Juntou alguns gravetos que conseguiu arranjar próximo ao bosque; acendeu uma fogueira
e tirou uma panela velha de dentro de uma sacola. Colocou neve dentro da panela para
aquecer, e acrescentou uma pedra de bordas arredondadas para ferver junto.
Foi até a casa, pela porta dos fundos, e solicitou um pouco de comida. Como a resposta foi
negativa, pediu então, um pouco de sal.
-Mas por que o senhor quer um pouco de sal?
-É que eu vou fazer uma sopa de pedra e seria muito bom se tivesse algum tempero.
Logo depois, voltou à casa e pediu à empregada se ela poderia arrumar alguns legumes,
um resto de cenoura, um pouco de batata, etc. Conseguiu e foi colocar em sua panela.
A cozinheira começou a ficar curiosa. Separou outros legumes e foi até ele para ver o que
estava acontecendo.
-Tome, consegui mais alguns legumes e uns outros temperos. Deixe-me ver o que está
fazendo.
Olhando para dentro da panela com água fervendo, pode notar que no fundo havia uma
pedra.
-O senhor está mesmo cozinhando uma pedra?!!
-Sim, esta sopa é uma delícia !! A senhora nunca experimentou?
-Cozinho a muitos anos, mas sopa de pedra eu nunca tinha visto !
-Ela fica muito melhor quando se acrescenta alguns ingredientes, como pedaços de carne
de frango, tomates e bons temperos. Mas o segredo está na pedra !
Como boa cozinheira que era, entrou dentro da casa e foi providenciar os ingredientes que
faltavam e tratou de trazer outros, só para ver como ficava a sopa.
Percebendo a movimentação que acontecia fora da casa, a família procurou saber o que
estava ocorrendo.
Tomando conhecimento do fato, o senhor foi falar com o mendigo e , morrendo de
curiosidade acabou experimentando da iguaria.
-Muito interessante... até que é bem gostosa!!
O mendigo foi, aos poucos acrescentando em sua sopa, tudo o que lhe davam, sob os
olhares curiosos de todos. Tudo fervia dentro daquela panela, inclusive a pedra. E enquanto
esperavam pelo resultado, tiveram a oportunidade de conversarem e até de fazerem uma
outra fogueira bem maior para se aquecerem.
Quando a sopa ficou pronta, o mendigo pediu alguns pratos, pois só tinha um. O senhor
da casa assim o fez. Cada um foi servido pelo mendigo e degustaram da deliciosa sopa. Todos
comeram e adoraram...o sabor realmente ficara muito diferente com a pedra.
E de longe, podia-se ver uma casa não só iluminada por dentro mas, por fora também,
pessoas que nunca tinham se visto, confraternizavam-se ao redor de uma panela velha cheia
de sopa de pedra.
O que se pode tirar dessa história é uma enorme lição de vida. Podemos fazer tudo dar
certo se realmente quisermos e soubermos usar os temperos certos, mesmo tendo uma pedra
como o único ponto de partida.
Conto Tradicional Português
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14
AS TRÊS PENEIRAS
Olavo foi transferido de projeto. Logo no primeiro dia, para fazer média com o
novo chefe, saiu-se com esta:
— Chefe, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito do Silva. Disseram
que ele...
Nem chegou a terminar a frase, Juliano, o chefe, aparteou:
— Espere um pouco, Olavo. O que vai me contar já passou pelo crivo das três
peneiras?
— Peneiras? Que peneiras, Chefe?
— A primeira, Olavo, é a da VERDADE. Você tem certeza de que esse fato é
absolutamente verdadeiro?
— Não. Não tenho, não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram. Mas
eu acho que...
E, novamente, Olavo é interrompido pelo chefe:
— Então sua história já vazou a primeira peneira. Vamos então para a segunda
peneira que é a da BONDADE. O que você vai me contar, gostaria que os outros
também dissessem A SEU respeito?
— Claro que não! Deus me livre, Chefe! - diz Olavo, assustado.
— Então, — continua o chefe — sua história vazou a segunda peneira. Vamos ver a
terceira peneira, que é a da NECESSIDADE. Você acha mesmo necessário me contar
esse fato ou mesmo passá-lo adiante?
— Não chefe. Passando pelo crivo dessas peneiras, vi que não sobrou nada do que
eu iria contar — fala Olavo, surpreendido.
— Pois é Olavo! Já pensou como as pessoas seriam mais felizes se todas usassem
essas peneiras? — diz o chefe sorrindo e continua — Da próxima vez em que surgir um
boato por aí, submeta-o ao crivo dessas três peneiras: Verdade — Bondade —
Necessidade, antes de obedecer ao impulso de passá-lo adiante, porque: PESSOAS
INTELIGENTES FALAM SOBRE IDÉIAS, PESSOAS COMUNS FALAM SOBRE COISAS e
PESSOAS MEDÍOCRES FALAM SOBRE PESSOAS.
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15
A CORRIDA DE SAPINHOS
Monteiro Lobato
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16
A ASSEMBLEIA DOS RATOS
Monteiro Lobato
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17
A RAPOSA E A CEGONHA
Fábulas de Esopo. [tradução de Heloísa Jahn]. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994.
@portuguessemtedio
18
A PISCINA DE CROCODILOS
Um milionário promove uma festa em uma de suas mansões e, em determinado
momento, pede que a música pare e diz, olhando para a piscina onde cria crocodilos:
- Quem pular na piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro lado ganhará
todos os meus carros. Alguém se habilita?
Espantados, os convidados permanecem em silêncio e o milionário insiste:
- Quem pular na piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro
lado ganhará meus carros e meus aviões. Alguém se habilita?
O silêncio impera e, mais uma vez, ele oferece:
- Quem pular na piscina, conseguir atravessá-la e sair vivo do outro
lado ganhará meus carros, meus aviões e minhas mansões.
Neste momento, alguém salta na piscina. A cena é impressionante.
Luta intensa, o destemido se defende como pode, segura a boca dos crocodilos com
pés e mãos, torce o rabo dos répteis. Nossa!!! Muita violência e emoção. Parecia filme
do Crocodilo Dandy!
Após alguns minutos de terror e pânico, sai o corajoso homem, cheio de arranhões,
hematomas e quase despido. O milionário se aproxima, parabeniza-o e pergunta:
- Onde quer que lhe entregue os carros?
- Obrigado, mas não quero seus carros.
Surpreso, o milionário pergunta:
- E os aviões, onde quer que lhe entregue?
- Obrigado, mas não quero seus aviões.
Estranhando a reação do homem, o milionário pergunta:
- E as mansões?
- Cara, eu também sou rico, já tenho mansões, carros e aviões. Não quero nada
que é seu.
Impressionado, o milionário pergunta:
- Mas se você não quer nada do que ofereci, o que quer então?
E o homem respondeu irritado:
- ACHAR O SACANA QUE ME EMPURROU NA PISCINA!
José Joaquim
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19
A ÁGUIA E A GALINHA
"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em
sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia
milho e ração própria para galinhas.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto
passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
– Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia
– De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia.
Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
– Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este
coração a fará um dia voar às alturas.
– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a
disse:
– Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e
voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as
galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos
experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à graça:
– Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia.
Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para
fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos
das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:- Águia, já que você é uma águia, já que você
pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se
experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do
sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse
momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana,
sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou… voou… até
confundir-se com o azul do firmamento…”
Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas há pessoas que nos fazem pensar como
galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, abramos as asas e voemos. Voemos como águias. Cada pessoa
tem dentro de si uma águia. Ela quer nascer. Sente o chamado das alturas. Busca o sol. Por isso somos
constantemente desafiados a libertar a águia que nos habita. Sejamos águias em nossas vidas e não
galinhas!
E você, já se preparou para alçar seus voos?"
Leonardo Boff.
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20
UMA IDEIA TODA AZUL
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo, Global, 2005.
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21
A MOÇA TECELÃ
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E
logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia
passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o
horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca
acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na
lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida
pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a
chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os
pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar
a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear
para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que
o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que
entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. Mas tecendo e tecendo, ela
própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria
bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida,
começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu
desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato
engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos,
quando bateram à porta. Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o
chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida. Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça
pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os
esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas
coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram
dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa
para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta
imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas,
e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e
ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os
pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear
o mais alto quarto da mais alta torre.
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22
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave,
advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os
cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria
fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio
com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de
novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas
exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e
jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos,
as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as
maravilhas que continha.
E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura acordou, e, espantado, olhou
em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu
seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o
peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a
devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
Marina Colasanti
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23
O RETORNO DO PATINHO FEIO
Alfonso era o mais belo cisne do lago Príncipe de Astúrias. Todos os dias ele
contemplava sua imagem refletida nas águas daquele chiquérrimo e exclusivo
condomínio para aves milionárias. Mas Alfonso não se esquecia de sua origem
humilde.
– Pensar que, não faz muito tempo, eu era conhecido como o Patinho Feio…
Um dia, ele sentiu saudades da mãe, dos irmãos e dos amiguinhos da escola.
Voou até a lagoa do Quaquenhá. O pequeno e barrento local de sua infância. A pata
Quitéria conversava com as amigas, chocando sua quadragésima ninhada. Alfonso
abriu suas largas asas brancas.
– Mamãe! Mamãe! Você se lembra de mim?
Quitéria levantou-se muito espantada.
– Se-se-senhor cisne… quanta honra… mas creio que o senhor se confunde…
– Mamãe…?
– Como poderia eu ser mãe de tão belo e nobre animal?
Não adiantou explicar. Dona Quitéria balançava a cabeça.
– Esse cisne é mesmo lindo… mas doido de pedra, coitado…
Alfonso foi então procurar a Bianca. Uma patinha linda do pré-primário. Que
vivia chamando Alfonso de feio.
– Lembra de mim, Bianca? Gostaria de me namorar agora? He, he, he…
– Deus me livre! Está louco? Uma pata namorando um cisne! Aberração da
natureza…
Alfonso respirou fundo. Nada mais fazia sentido por ali. Resolveu procurar um
famoso bruxo da região. Com alguns passes mágicos, o feiticeiro e astrólogo Omar
Rhekko resolveu o problema. Em poucos dias, Alfonso transformou-se num pato
adulto. Gorducho e bastante sem graça. Dona Quitéria capricha fazendo lasanhas para
ele.
– Cuidado para não engordar demais, filhinho.
Bianca faz um cafuné na cabeça de Alfonso.
– Gordo… pescoçudo… bicudo…. Mas sabe que eu acho você uma gracinha?
Viveram felizes para sempre.
Marcelo Coelho.
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O CORAÇÃO DE BAOBÁ- LENDA AFRICANA
No coração da África, havia uma extensa planície. E no centro dessa planície, erguia-se uma alta e
frondosa árvore. Era o baobá.
Um dia, embaixo do sol escaldante do meio-dia africano, corria pela planície um coelhinho, que,
cansado, quando viu o baobá, correu a abrigar-se à sua sombra. E ali, protegido pela árvore, ele se sentiu
tão bem, tão reconfortado, que olhando para cima não pôde deixar de dizer:
- Que sombra acolhedora e amiga você tem, baobá! Muito obrigado!
O baobá, que não costumava receber palavras de agradecimento – como muitos de nós também não
recebemos - ficou tão reconhecido, que fez balançar os seus galhos e tremular suas folhinhas, como
numa dança de alegria.
O coelho, percebendo a reação da árvore, quis aproveitar-se um pouquinho da situação e disse assim:
- É, realmente sua sombra é muito boa.... Mas e esses seus frutos que eu estou vendo lá em cima?
Não me parecem assim grande coisa...
O baobá, picado no seu amor próprio, caiu na armadilha. E soltou, lá de cima de seus galhos, um
belo e redondo fruto, que rolou pelo capim, perto do coelhinho.
Este, mais do que depressa, farejou o fruto e o devorou, pois ele era delicioso. Saciado, voltou para
a sombra da árvore, agradecendo:
- Bem, sua sombra é muito boa, seu fruto também é da melhor qualidade. Mas... e o seu coração,
baobá? Será ele doce como seu fruto ou duro e seco como sua casca?
O baobá, ouvindo aquilo, deixou-se invadir por uma emoção que há muito tempo não sentia.
Mostrar o seu coração? Ah... Como ele queria... Mas era tão difícil... Por outro lado, o coelhinho havia se
mostrado tão terno, tão amigo... E assim, hesitante, o baobá foi lentamente abrindo o seu tronco. Foi
abrindo, abrindo, até formar uma fenda, por onde o coelho pôde ver, extasiado, um tesouro de moedas,
pedras e joias preciosas, um tesouro magnífico, que o baobá ofereceu a seu amigo.
Maravilhado, o coelho pegou algumas joias e saiu agradecendo:
- Muito obrigado, bela árvore! Jamais vou te esquecer!
E chegando à sua casa, encontrou sua esposa, a coelha, a quem presenteou com as joias. A coelha,
mais do que depressa, enfeitou-se toda com anéis, colares e braceletes e saiu para se exibir para suas
amigas.
A primeira que ela encontrou foi a hiena, que, assaltada pela inveja, quis logo saber onde ela havia
conseguido joias tão faiscantes.
A coelha lhe disse que nada sabia, mas que fosse falar com seu marido.
A hiena não perdeu tempo: foi ter com o coelho, que lhe contou o que havia acontecido.
No dia seguinte, exatamente ao meio-dia, corria a hiena pela planície e repetia passo a passo tudo o
que o coelho lhe havia contado.
Foi deitar-se à sombra do baobá, elogiou-lhe a sombra, pediu-lhe um fruto, elogiou-lhe o fruto e
finalmente pediu para ver-lhe o coração.
O baobá, a quem o coelhinho na véspera havia tornado mais confiante e mais generoso, dessa vez
nem hesitou. Foi abrindo o seu tronco, foi abrindo, bem devagarinho, saboreando cada minutinho de
entrega.
Mas a hiena, impaciente, pulou com suas garras no tronco do baobá, gritando:
- Abra logo esse coração, eu não aguento esperar! Ande! Eu quero todo esse tesouro para mim, eu
quero tudo, entendeu?
O baobá, apavorado, fechou imediatamente o seu tronco, deixando a hiena de fora a uivar
desesperada, sem conseguir pegar nenhuma joia.
E por mais que ela arranhasse a árvore, ela nada conseguiu.
A partir desse dia é que a hiena ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos,
pensando encontrar ali algum tesouro.
Mal sabe ela que esse tesouro só existe enquanto o coração é vivo e bate forte.
Quanto ao baobá, nunca mais ele se abriu.
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A LENDA DO FLOQUINHO DE ALGODÃO
Havia uma pequena aldeia onde o dinheiro não entrava. Tudo o que as pessoas compravam
tudo o que era cultivado e produzido por cada um, era trocado. A coisa mais importante, a
coisa mais valiosa, era o AMOR.
Quem nada produzia quem não possuía coisas que pudessem ser trocadas por alimentos, ou
utensílios, dava seu AMOR. O AMOR era simbolizado por um floquinho de algodão.
Muitas vezes era normal que as pessoas trocassem floquinhos sem querer nada em troca. As
pessoas davam seu AMOR, pois sabiam que receberiam outros num outro momento ou outro
dia.
Um dia, uma mulher muito má, que vivia fora da aldeia convenceu um pequeno garoto a
não mais dar seus floquinhos. Desta forma, ele seria a pessoa mais rica da cidade e teria o que
quisesse. Iludido pelas palavras da malvada, o menino, que era uma das pessoas mais
populares e queridas da aldeia, passou a juntar AMOR e, em pouquíssimo tempo, sua casa
estava repleta de floquinhos, ficando até difícil de circular dentro dela.
Daí então, quando a cidade já estava praticamente sem floquinhos, às pessoas começaram
a guardar o pouco AMOR que tinham e toda a HARMONIA da cidade desapareceu. Surgiram a
GANÂNCIA, a DESCONFIANÇA, o primeiro ROUBO, o ÓDIO, a DISCÓRDIA, as pessoas se
OFENDERAM pela primeira vez e passaram a IGNORAR-SE pelas ruas.
Como era o mais querido da cidade, o garoto foi o primeiro a se sentir-se TRISTE e
SOZINHO, o que o fez procurar a velha para perguntar-lhe se aquilo fazia parte da riqueza que
ele acumularia. Não a encontrando mais, ele tomou uma decisão. Pegou uma grande carriola,
colocou todos os seus floquinhos em cima e caminhou por toda a cidade distribuindo
aleatoriamente seu AMOR.
A todos que dava AMOR, apenas dizia:
- Obrigado por receber meu AMOR.
Assim, sem medo de acabar com seus floquinhos, ele distribuiu até o último AMOR sem
receber um só de volta.
Sem que tivesse tempo de sentir-se sozinho e triste novamente, alguém caminhou até
ele e lhe deu AMOR. Um outro fez o mesmo... Mais outro... E outro...
Até que, definitivamente, a aldeia voltou ao normal e o AMOR voltou a ser distribuído.
Não devemos fazer as coisas pensando em receber algo em troca. Mas devemos, sempre,
lembrar que os outros existem. O sentimento sincero nos é oferecido espontaneamente.
Aqueles que te quiserem bem se lembrarão de você. Receber sem cobrar é mais verdadeiro...
Receber AMOR é muito bom. E o simples gesto de lembrar que alguém existe é a forma
mais simples de fazê-lo.
Resultado de imagem para floco de algodão. Este é o meu floquinho para você !!!
Não acumule seus floquinhos... Distribua-os a todos... Eles podem ser na forma de um
abraço, um beijo, um aperto de mão, um telefonema, uma oração, uma carta e também um e-
mail ! Distribua...
E lembre-se: NUNCA GUARDE O AMOR QUE VOCÊ TEM! É DANDO AMOR, QUE SE RECEBE
AMOR!
Autor desconhecido
@portuguessemtedio
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A OUTRA NOITE
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e
chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo
e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens,
estava um luar lindo, de Lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade
eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal
fechado para voltar-se para mim:
– O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem
mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma
outra - pura, perfeita e linda.
– Mas, que coisa. . .
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva.
Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador
ou pensava em outra coisa.
– Ora, sim senhor. . .
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito
obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito
um presente de rei.
Rubem Braga
@portuguessemtedio
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FELICIDADE CLANDESTINA
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto
enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da
blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria
de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho
barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do
Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra
bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho.
Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de
cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem
notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela
não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.
E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e
que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar
num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim
numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o
livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em
breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu
modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia
seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava,
andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranquilo e
diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo.
Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.
Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com
meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não
escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às
vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja
precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro
esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E
eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa,
apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua
casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco
elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe
boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui
de casa e você nem quis ler!
@portuguessemtedio
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A ÚLTIMA CRÔNICA
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na
realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar
inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de
cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto
da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta
perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou
num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais
nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na
lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço
então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de
mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e
palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça,
toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as
perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que
compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém,
que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso,
aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a
redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a
aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-
lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A
meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do
bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia
triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom
deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em
torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira
qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta
como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E
enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a
menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente
põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam,
discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…”. Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-
las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A
mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de
bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer
intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se
encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba
sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Fernando Sabino
@portuguessemtedio
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O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU
Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite,
estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava
pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas
cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de
cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam
crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas, compridas, como fitas
de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas
não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O
melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se
tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não
conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa,
enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa.
Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A
esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha
crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas
enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O
sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde,
toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite,
sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.
Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e
quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do
guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a
porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os
hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o
quintal. Para a rua.
Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia
inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os
favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes,
vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas,
carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um
administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição
racional.
E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a
estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne
de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada
e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se
cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao
prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.
E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a
um policial: “Por que o senhor não mata o dono da orelha?”
@portuguessemtedio
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NÓIS MUDEMO
@portuguessemtedio
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-Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se
chama?
Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:
– Eu sou “Nóis mudemo”, lembra?
Comecei a tremer.
– Sim, moço. Agora lembro. Como era mesmo o seu nome?
– Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa.
– O que aconteceu?
– Ah! Fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu. Comi o pão que o
diabo amasso. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro. Fui boia-fria, um “gato” me
arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como
escravo, passei fome, fui baleado quando conseguir fugi. Peguei tudo quando é
doença. Até na cadeia já fui pará. Nóis ignorante as veis fais coisa sem querê fazê. A
escola fais uma farta danada. Eu não devia tê saído daquele jeito, fessora, mais não
aguentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui falá direito. Ainda hoje
não sei.
-Meu Deus!
Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais para mim. Descontrolada,
comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei
o rapaz, o que restava do rapaz que me olhava atarantado.
O ônibus buzinou com insistência. O rapaz afastou-me de si suavemente.
– Chora não, fessora! A senhora não tem curpa.
Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!
Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas vingadoras
apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma
assassina a caminho da guilhotina. Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas,
ele muda, nós mudamos… Super usada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina
dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna, a língua que a
criança aprendeu com seus pais e irmãos e colegas – e se torna o terror dos alunos. Em
vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando
centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.
E os Lúcios da vida, os milhares lúcios da periferia e do interior, barrados nas salas
de aula:
“Não é assim que se diz, menino!” Como se o professor quisesse dizer: “Você está
errado! Os seus pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A
certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas
raízes! Diminua-se ! Desfigure-se! Fique no seu lugar!
Seja uma sombra!”
E siga desarmado para o matadouro da vida…
Fidêncio Bogo
@portuguessemtedio
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COM SUA VOZ DE MULHER
Aquele deus era dono daquela cidade como um mortal seria dono de fazenda ou sítio. Não
era grande a cidade. O templo, casas, e campo ao redor. Mas porque era dono daquela cidade,
o deus era também responsável pela felicidade dos seus habitantes.
E um dia, pelas preces, percebeu que os habitantes não eram felizes.
- Nada lhes falta, disse o deus, em voz alta. Cuido para que as estações se sigam em boa
ordem. Garanto-lhes colheita no campo e comida na mesa. Nenhum grão apodrece nas
espigas. Nenhum ovo gora nos ninhos. E seus filhos crescem. Por que então não são felizes?
Porém os homens desconhecem as perguntas dos deuses. E embora tivesse falado em voz
tão alta que poderia ser ouvida de uma estrela a outra, ninguém lhe respondeu.
A cidade estava na palma da mão do deus. E ainda assim tão longe que ele não via os
sentimentos daquelas pessoas.
- Irei até lá, disse a alta voz. Entre eles, verei melhor que se passa.
E tendo decidido, abriu seus imensos guarda-roupas à procura de uma identidade com a
qual apresentar-se no mundo dos mortais. Havia ali peles e couros de todos os animais, da lisa
pele da gazela à áspera couraça do rinoceronte. O pescoço da girafa pendia de um cabide,
plumas coloridas despontavam na prateleira e numa gavetinha enfileiravam-se as preciosas
carapaças dos insetos. Mas dessa vez não seria como animal que desceria à terra. Remexeu
entre as peles dos humanos, suspendeu uma escura, bronzeada de sol, hesitou por um
instante. Depois escolheu a mais lisa e macia, fechou-se bem dentro dela, cobriu-se com uma
túnica. E desceu.
E eis que aquela mulher de longos cabelos apareceu na cidade dizendo que era deus, e
ninguém acreditou. Fosse deus, teria vindo como guerreiro, herói, ou homem poderoso. Fosse
deus, apareceria como leão, touro bravio ou águia lançando-se das nuvens. Até o crocodilo e a
serpente poderiam abrigar deus em seu corpo.
Mas uma mulher vinda das ruas estreitas nada mais podia ser que uma mulher.
E assim o deus prendeu seus longos cabelos sobre a nuca e foi procurar um trabalho. Mas a
uma mulher não se dá trabalho de ferreiro, nem se põe na carroça a conduzir cavalos. Uma
mulher não é aquela que comanda soldados. Uma mulher não é sequer aquela que conduz o
arado. E depois de muita procura, o deus-mulher só conseguiu empregar-se em uma casa para
ajudar nas tarefas domésticas.
Era uma boa casa a que a acolheu. A esposa diligente, o marido trabalhador. Poeira não se
juntava nos cantos, embora a trouxessem em suas sandálias. E os filhos cresciam como
crescem filhos que não tem doenças. Porém, pouco sorriam. Cumpriam suas tarefas de dia. À
noite juntavam-se no estábulo para aproveitar o calor dos animais. As mulheres fiavam. Os
homens consertavam ferramentas ou faziam cestos. Ninguém falava. As noites eram longas
depois de longos dias. Os humanos se entediavam.
Até mesmo o deus, de fuso na mão, se entediava. E uma noite, não suportando a mesmice
dos gestos e do silêncio, abriu a boca e começou a contar.
Contou uma história que se havia passado no seu mundo, aquele mundo onde tudo era
possível e onde viver não obedecia regras pequenas como as dos homens. Era uma longa
história, uma história como ninguém nunca havia contado naquela cidade onde não se
contavam histórias. E as mulheres ouviram de olhos bem abertos, enquanto o fio saía fino e
delicado entre seus dedos. E os homens ouviram esquecidos de suas ferramentas. E o menino
que chorava adormeceu no colo da mãe. E as outras crianças vieram sentar-se aos pés do deus.
@portuguessemtedio
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E ninguém falou nada enquanto ele contava, embora em seus corações todos estivessem
contando com ele.
A noite foi curta aquela noite.
Na noite seguinte, reunidos todos no estábulo, como todas as noites, o deus não falou. As
mulheres olhavam para ele de vez em quando, por cima do fuso. Os homens evitavam fazer
barulho, deixando o silêncio livre para ele.
Todos esperavam. Mas as crianças, que brincavam com o deus-mulher durante o dia, vieram
juntar-se ao seu redor.
Uma puxou de leve a saia do deus-mulher e pediu:
- Conta!
E com sua voz de mulher o deus contou.
Assim, noite após noite, o deus entregou suas histórias à família como até então lhes havia
entregado as frutas maduras cheias de sementes. E não apenas àquela família, porque logo o
vizinho da frente soube, e à noite apresentou-se com os seus no estábulo também para ouvir. E
depois foi a vez do vizinho do lado. E em pouco tempo o estábulo estava cheio, e as pessoas
amontoavam-se nas janelas e porta.
Agora, durante o dia, enquanto aravam, martelavam, enquanto erguiam o machado, os
homens lembravam-se das histórias que tinham ouvido à noite, e tinham a impressão de
também navegar, voar, cavalgando trovões e nuvens como aquelas personagens. E as
mulheres estendiam lençóis como se armassem tendas, repreendiam o cão como se
domassem leões, e atiçando o figo chuçavam dragões. Até o pastor com suas ovelhas não
estava mais só, e as ovelhas eram sua legião.
Os homens sorriam debruçados sobre suas tarefas, as mulheres cantavam e tinham gestos
amplos nos braços, e as crianças se enrodilhavam estremecidos de medo e prazer. O tédio
havia desaparecido.
Foi quando uma mulher que havia estado no estábulo passou a repetir as histórias do deus
para outros habitantes da cidade. Repetir exatamente, não. Aqui e ali acrescentava coisas,
tirava outras e cada história, sendo a mesa, era outra. Mais do que contar, recontava. Depois
houve um rapaz, que também. E, o tempo passando, ninguém mais podia dizer com certeza de
onde tinha vindo esta ou aquela história, e quem a havia contado primeiro.
Ninguém podia dizer, tampouco, qual o paradeiro daquela mulher de longos cabelos presos
sobre a nuca, que um dia havia aparecido na cidade vinda não se sabe de onde. E que em outro
dia havia partido com seu carregamento de histórias.
Marina Colasanti
@portuguessemtedio
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O PADEIRO
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e
abro a porta do apartamento — mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo
instante, me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do
pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um locaute, greve dos patrões, que
suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da
manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o quê do governo.
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E
enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci
antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a
campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:
— Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
“Então você não é ninguém”?
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes
lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou
outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era;
e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o
padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém…
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma e se despediu ainda sorrindo. Eu não
quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos
importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno.
Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma
passagem pela oficina ― e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros
exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante
porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera
sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem
cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade
daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro”!
E assobiava pelas escadas.
Rubem Braga
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CAFEZINHO
Rubem Braga
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FELIZ E ORGULHOSO, ENVAIDECIDO MESMO
Nani
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FALECEU ONTEM A PESSOA QUE ATRAPALHAVA SUA VIDA
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VER VENDO
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O TEMPO
Mário Quintana
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ANINHA E SUAS PEDRAS
Cora Coralina
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ORA DIREIS OUVIR ESTRELAS
Olavo Bilac
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TIMIDEZ
– e um dia me acabarei.
Cecília Meireles
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METADE
Oswaldo Montenegro
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A ARTE DE SER FELIZ
Cecilia Meireles
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É PRECISO MUDAR
É preciso mudar! Basta existir para mudar, tudo que existe MUDA.
Caminhe por outra rua, mude os móveis de lugar
Use aquela roupa velha. Na pressa pode esperar
Corte, pinte seu cabelo… sem seguir nenhum modelo
Pois é preciso Mudar
Bráulio Bessa
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