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Mochilão
Gostaria de agradecer a você que contribuiu adquirindo esse livrinho.
Para você leitor que curte uma história bem contada e um poema vem comigo,
e além disso algumas fotos pra dar aquela ênfase.
Boa leitura.
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Ubatuba / SP
Não sei ao certo quando foi que tomei gosto pela andança, mas um dia
andei e soube, instintivamente, que andar era meu caminho.
A maioria das pessoas nas quais cruzei pelo caminho carregavam em sua
bagagem data, rota e regresso. E me lembro bem quando, ainda criança,
viajava com minha família e a data de volta era absurdamente dolorosa pra
mim. Eu não queria voltar.
Minha mãe dizia que gostava de viajar mas amava voltar para casa. Eu não.
Aos que carregam em sua alma olhos lúcidos, era possível já observar os traços
de caráter explícitos em mim no auge de minha criancice: sou uma desertora.
Uma clandestina. Cigana. Permaneço o quanto for necessário: um dia, um
mês ou um ano. A partida para mim é sempre um mistério: de repente acordo
e percebo que chegou a hora de partir. É assim a vida de quem faz da morada o
próprio corpo.
Voltar dói, aperta o peito e aflige a alma. Para os espíritos viajantes, voltar é
desentendimento, agonia e prisão. E é por isso que vemos tantas pessoas
buscando uma vida nômade ou uma forma de viver na estrada. Elas querem
manter aquele sentimento para sempre. Mas será que é possível?
Tenho buscado um equilíbrio. Há dias que dói mais, em outros me questiono
se não estou sendo ingrato. Mas no final percebo que não é isso, é apenas eu
querendo lutar contra a minha natureza.
Eu chegava nas cidades e ficava o tempo que queria e ia embora quando sentia,
por intuição ou por vontade mesmo. Sem necessidade de bater o ponto.
Experimentar uma vida sem escolhas. Entregar seu destino a uma carona de
beira de estrada, substituir o dinheiro por outras formas de pagamento,
trocando trabalho, ajuda, palavras e conversas por alimentação e
hospedagem. Doar o seu tempo para algo que você acredita genuinamente,
fazer voluntariado comunitário, conhecer alguém novo todos os dias, ver a
natureza na sua mais pura forma e experimentar sentimentos que até então
você desconhecia. Tudo isso para descobrir a paz de poder ser quem você quiser
ser.
É isso que a estrada em longos períodos faz com você. E quando você volta,
você precisa aprisionar o grande pássaro que um dia voou alto, que cresceu
suas asas, em uma gaiola que ele nunca escolheu estar.
Tudo que sei é que agora estou aqui e, um dia, num suspiro hei de acordar e
saber: é hora de partir.
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Morrão, chapada Diamantina/ Ba
Eu preferi mudar
Viver diferente
Agregar histórias e pensar no presente
pertenço ao mundo e deixo meu toque em cada lugar.
A simplicidade me agrada.
Fim