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canastras

e colmeias
GUIA DE CONVIVÊNCIA ENTRE
APICULTORES E TATUS-CANASTRA NO
CERRADO DO MATO GROSSO DO SUL

Arnaud Desbiez, Bruna Oliveira e Liana John


o conflito
Um animal muito discreto, difícil de des. Eles perdem o mel derramado e as
encontrar, de hábitos noturnos, cons- novas gerações de abelhas. E ainda têm
trutor de refúgios subterrâneos usados de repor os materiais danificados. A pro-
por diversas espécies e inofensivo ao ho- dução de mel é prejudicada. Além disso,
mem anda tirando o sono dos apicul- precisam evitar novos ataques dos tatus...
tores instalados no Cerrado de Mato No Mato Grosso do Sul, trabalham
Grosso do Sul. cerca de 700 apicultores, com cerca de
É o tatu-canastra! 21 mil colmeias. Muitos recorrem às flo-
Por viver em um ambiente alterado radas silvestres, além das plantações de 10
pelo homem e com pouco alimento na- eucaliptos, para garantir a rentabilidade 10
tural disponível, alguns tatus-canastra da produção. Por isso, sem saber, insta- 1
desta região usam seu olfato apurado lam colmeias perto das tocas de canastras.
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para descobrir novas fontes de comida. Mas nem todos têm problemas, conforme 1
E acabam localizando larvas de abe- revelou uma pesquisa realizada junto aos
lhas, “escondidas” em colmeias empi- apicultores, resumida no mapa ao lado. 1
lhadas perto de suas tocas! Nas áreas onde a vegetação nativa
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Grandes e capazes de ficar em pé nas está mais preservada, as floradas são 20
1 10
patas traseiras, esses tatus-canastra con- mais abundantes para servir de pasto 40
seguem alcançar e derrubar as colmeias às abelhas e também há cupinzeiros à
com a cabeça. Depois, com suas unhas vontade, para sustentar a população de 20 40
fortes, próprias para quebrar a terra en- tatus. Eles não têm necessidade de bus- 1
durecida dos cupinzeiros, eles abrem as car outras fontes de alimento.
caixas de abelhas e comem as larvas. Onde os ambientes naturais são cor- 10 10
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Em geral, os canastras derrubam tados por estradas e cercados por la- 1
uma caixa por noite. Mas, se não encon- vouras e pastagens, porém, os recursos
tram logo as larvas, chegam a danificar são mais escassos. Animais silvestres e
até 5 caixas! Os quadros de mel e os res- apicultores se aproximam, recorrem a
tos das colmeias abertas ficam espalha- áreas de mata menores. Não há cupins
dos pelo chão e atraem outros animais e formigas suficientes para alimentar CONFLITOS TATUS / APIÁRIOS DISTRIBUIÇÃO DO TATU-CANASTRA
silvestres, como iraras, furões, mutuns e todos os canastras. Então alguns deles COM perdas no último ano DISTRIBUIÇÃO DE APICULTORES DO MS
seriemas. Oportunistas, eles aproveitam usam suas habilidades em busca de ali- COM perdas nos últimos 5 anos Associações de apicultores
a refeição “gratuita” sem cerimônias. mentos alternativos. SEM perdas no último ano 10 Número de apicultores locais
Para os apicultores, os danos são gran- E ESTÁ CRIADO O CONFLITO! SEM perdas nos últimos 5 anos
dia. Prefere passar a maior parte do
seu tempo debaixo da terra, em suas
tocas fundas, de 30 cm de diâmetro e
até 5 metros de comprimento.

quem é o
Quando precisa se alimentar, sai da
toca tarde da noite, confiando em seu
olfato apurado para se orientar no escu-

tatu-canastra?
ro e encontrar cupins e formigas. Anda
desajeitado, nas pontas das unhas,
como se estivesse de salto alto, mas
pode percorrer cerca de 6 quilômetros
O maior entre os tatus existentes no com a mãe por mais de dois anos. Isso por noite, em busca de comida.
mundo, o canastra pesa até 50 quilos torna muito baixa a taxa de reprodu- Para romper a terra endurecida
e mede 1,60 metro, do focinho até a ção da espécie: contando a gestação e dos cupinzeiros, usa sua poderosa
ponta da cauda. Seu dorso, cauda, ca- o período de cuidados, a estimativa é garra dianteira, de até 20 cm de
beça e pernas são recobertos por uma de um filhote a cada 3 anos para cada comprimento. As patas diantei-
carapaça resistente, semelhante a uma fêmea. E elas só chegam à maturidade ras também são adaptadas para
armadura, mas na barriga ele tem uma sexual em torno dos 7 anos de idade. cavar, o que esse tatu faz com
pele rosada e desprotegida. Apesar de seu tamanho, o tatu- muita rapidez.
É chamado de tatu-gigante, tatu-car- -canastra é quase desconhecido nas Pelo fato de trocar de toca
reta ou tatuaçu, devido ao seu tamanho. regiões onde ocorre, sejam matas, com bastante frequência, o
O nome científico – Priodontes maximus cerrados ou campos abertos, desde a canastra é muito importante
– também faz referência ao seu porte. Venezuela até o norte da Argentina, para diversas outras espécies
O tempo de vida de um tatu-ca- incluindo boa parte do Brasil Central. de mamíferos, aves, répteis e
nastra pode chegar a 20 anos. Após Muito tímido e desconfiado, com mesmo invertebrados. Entre os
uma gestação de 5 meses, a fêmea tem visão e audição precárias, ele não cir- “visitantes” figuram animais gran-
apenas um filhote. Ele permanecerá cula por ambientes abertos durante o des, como antas e queixadas, que se
refrescam na terra jogada ao redor da
toca. Já os “inquilinos” incluem de ta-
manduás-mirins e jaguatiricas a aves,
lagartos e insetos. Mais de 50 espécies
diferentes de vertebrados usam as to-
cas abandonadas do tatu-canastra para
se abrigar, para se proteger do excesso como o Cerrado do Mato Grosso do
de frio ou calor, para buscar alimento Sul – precisam recorrer a outras fon-
(incluindo raízes e sementes expostas) e tes de alimento, por falta de cupinzei-
para caçar (presas refugiadas nas tocas). ros suficientes. Então surgem os con-
Em ambientes mais preservados, flitos com os apicultores. O canastra
como o Pantanal, os tatus-canastra vi- aprende a procurar larvas de abelhas
vem sem incomodar ninguém, cum- e passa a frequentar apiários. E os
prindo seu papel de construtores de apicultores, já limitados em sua ativi-
tocas e controladores de cupins. Mas dade por dispor de poucas áreas com
em ambientes muito fragmentados plantas melíferas, ainda precisam li-
por estradas, lavouras e pastagens – dar com o novo desafio.
É INÚTIL CAPTURAR E LEVAR
O TATU-CANASTRA PARA LONGE
DAS COLMEIAS
A área de vida de um tatu-canastra adulto
tem cerca de 25 km2 no Pantanal, onde o

ideias e
ambiente natural está mais preservado. No
Cerrado fragmentado, cada tatu precisa de
uma área ainda maior para sobreviver. Isso

tentativas sem
significa que, ao ser solto, o mesmo tatu-ca-
nastra tende a voltar às colmeias em busca
de mais larvas de abelhas ou outro tatu-ca-

efeito
Com a intenção de reduzir os prejuízos com a nastra pode se instalar naquele território
perda de caixas e larvas de abelhas, atacadas pelo temporariamente disponível, com mesmo
tatu-canastra, alguns apicultores experimentaram risco para as colmeias.
soluções por conta própria. Veja o que NÃO vale a pena fazer para
evitar o conflito entre apicultores e tatus-canastra:
NÃO DÁ CERTO USAR ESPANTALHOS
E OBJETOS BARULHENTOS
O tatu-canastra enxerga mal e tem uma audi-
ção ruim. Seu sentido mais desenvolvido é o
faro. Ele pode até notar a presença de espan-
talhos, CDs brilhantes pendurados e panos sol-
tos, logo quando são instalados. Pode ainda se
assustar com fogos de artifício, nas primeiras
vezes em que forem utilizados. Mas tende a
ignorar tudo isso depois de um tempo. O cheiro
das larvas de abelhas (e a fome) é o que real-
mente o atrai para perto das colmeias.

É INEFICAZ ESPALHAR CABELO


HUMANO, PERFUME OU OUTROS ODORES
O olfato do tatu-canastra é excelente. Ele dis-
tingue os cheiros de seu interesse (as larvas)
e despreza os demais. Além disso, o aroma
de um perfume, o odor de um produto quími-
co ou de cabelo humano não duram tempo
É CRIME MATAR O TATU-CANASTRA É INJUSTO ELIMINAR UM ANIMAL TÃO suficiente para prevenir sua aproximação
Como as demais espécies da fauna bra- RARO, CONSIDERADO UM “FÓSSIL VIVO” das colmeias.
sileira, o tatu-canastra é protegido pela O tatu-canastra é naturalmente raro (poucos
Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/98). indivíduos, espalhados pelo território, longe um
Quem matar, perseguir, caçar, apanhar, do outro). Ele já está sujeito à morte por atro- NÃO ADIANTA USAR TAMBORES
utilizar espécimes da fauna silvestre, na- pelamento, envenenamento e fogo. Também NO LUGAR DE CAVALETES
tivos ou em rota migratória, está sujeito a tem uma taxa de reprodução muito baixa, Os tatus-canastra são suficientemente fortes
detenção e multa. pois cada fêmea tem apenas um filhote a para tombar tambores de 200 litros vazios,
E com agravante, se a espécie estiver cada 3 anos. Eliminar um único tatu-canas- utilizados como suporte para as colmeias.
ameaçada de extinção ou a caça for à noi- tra representa uma perda enorme. Sobretudo Mesmo se forem fixados no chão, os tambo-
te. Além disso, não é ético eliminar um ani- quando a espécie começa a ser tornar mais res não têm altura suficiente para prevenir
mal tão importante para o meio ambiente conhecida e pode até contribuir para o turismo a derrubada das caixas. A fixação das col-
e para outras espécies, apenas porque de observação de fauna (e o turista atento à meias sobre os tambores é difícil, seja com
ele está tentando sobreviver. fauna beneficia a venda de mel). amarrações ou pregos.
a convivência
é possível
A melhor solução para o
conflito entre canastras e
apicultores é tirar as colmeias
do alcance dos tatus. 1. CAVALETES DE METAL OU MADEIRA COM
Em geral, os apicultores instalam PLATAFORMA A 1,30 M DO CHÃO
caixas de abelhas em bordas de matas Custa menos que outras soluções. Os materiais são fáceis
de obter e resistem bem às tentativas do tatu de alcançar as
e cerrados (além de eucaliptais) para colmeias. No caso dos cavaletes de madeira, o material deve
aproveitar as florações de árvores e ar- ser forte e fixado de maneira firme. No caso dos cavaletes de
bustos nativos. Os tatus-canastra tam- metal, a fixação no chão deve ser resistente. Exige manuten-
bém circulam por estes locais, em busca ção. O apicultor trabalha com as colmeias no alto ou precisa
de cupinzeiros e formigueiros. É difícil usar um degrau de acesso às caixas.
evitar que encontrem as caixas, princi-
palmente porque o odor das larvas de
abelhas atrai os tatus e eles estão famin-
tos, à procura de alimento. Assim, os
apicultores devem conhecer as habili- pelos apicultores para tirar as col-
dades do canastra para impedir que ele meias do alcance dos tatus. Veja os
chegue até as colmeias. prós e os contras de cada alternativa e
A altura das caixas em relação ao quais funcionaram melhor, com bom
solo é muito importante. Os tatus são custo-benefício.
grandes, mas precisam se equilibrar em Em todos os casos, a visita dos api-
pé, nas patas traseiras, para alcançar as cultores aos apiários deve ser constante,
colmeias e tentar derrubá-las com a ca- pelo menos a cada 10 ou 15 dias. Caso 2. CERCA DE ALAMBRADO COM
beça. Se as colmeias ficarem a 1,30 me- algum tatu-canastra encontre as col- MURO DE CONCRETO NA BASE
tro do chão, o tatu já não alcança. meias e consiga superar os obstáculos, Funciona bem para apicultura fixa. Permite colocar as caixas
A firmeza dos suportes que susten- ele passa a identificar aquele local com em qualquer altura. A cerca deve ficar aberta quando o apicul-
tam as colmeias também é essencial. alimento e tende a voltar. Se uma cai- tor trabalha, para fuga rápida em caso de ataque das abelhas.
xa do apiário foi derrubada, o apicultor Estrutura dura vários anos. O custo de implantação é alto, mas
Eles devem resistir à força do tatu para se dilui pelo tempo de utilização. Impede também a entrada de
não serem empurrados e derrubados. logo deve adotar medidas preventivas outros animais pelo solo, como irara e furão. A base deve ser
Diversas tentativas já foram feitas para evitar novas perdas. bem feita, para que eles não passem por baixo da cerca.
3. CERCA ELÉTRICA EM VOLTA DAS COLMEIAS 5. CAVALETES COM PREGOS NA
É muito durável. Permite manter as caixas baixas, mas a PLATAFORMA, NAS BORDAS DAS CAIXAS
cerca deve ficar aberta e desligada para fuga rápida, caso Permite trabalhar com as colmeias mais baixas e tem baixo
as abelhas ataquem. Impede a entrada de outros animais, custo de implantação, mas o método não é muito eficiente. As
como irara, furão, macaco-prego e bugio. O custo de insta- caixas podem ficar entre 1 m e 1,30 m do chão. Os pregos devem
lação é alto. Exige manutenção constante, com limpeza de ser grandes, colocados na plataforma, junto às caixas. Não preci-
galhos e capins, para não interromper a corrente elétrica. sam ser retirados quando o apicultor manipula as colmeias, mas
devem ser verificados e pregados novamente, se estiverem soltos.

4. CAVALETES ENTRE 1 M E 1,30 M


DO CHÃO, COM AMARRAÇÃO 6. CAVALETES LARGOS, COM
Permite trabalhar com as colmeias mais baixas e tem COLMEIAS A 20 CM DAS BORDAS
baixo custo de implantação. A amarração com arame é Permite trabalhar com as colmeias mais baixas. O custo
mais resistente. A amarração com corda simples é frágil. A de implantação é de médio a alto, dependendo da disponibili-
amarração com corda em X é bem eficiente, sobretudo dade de madeira. As caixas podem ficar entre 1 m e 1,30 m do
se for usado um pedaço de pau para apertar o X. Seja qual chão. O posicionamento centralizado na plataforma, com as
for o material utilizado, o apicultor é obrigado a desamarrar colmeias a 20 cm da borda, deixa as caixas fora do alcance do
e amarrar novamente sempre que for manipular as caixas. tatu. A plataforma deve ser feita com uma peça única, senão o
Se a amarração não for bem feita a colmeia fica vulnerável. canastra se coloca entre as tábuas e alcança as caixas.
7. COLMEIAS PARAFUSADAS EM 9. QUATRO PNEUS EMPILHADOS
PALLETS SOBRE PNEUS EM LUGAR DO CAVALETE
Quatro caixas são parafusadas em um pallet e colocadas Os pneus devem ser grandes, com 30 cm de largura cada.
sobre 2 ou 3 pneus de caminhão, cheios de areia. As cai- Quatro juntos formam uma plataforma a 1,20 de altura do chão.
xas ficam mais baixas e mais acessíveis para trabalhar. Os O material é mais acessível e barato para alguns apicultores,
materiais são fáceis de obter. Mas o método nem sempre mas as caixas ficam altas, mais difíceis de trabalhar. A fixação
funciona e o transporte é difícil, pode exigir uso de empilha- dos pneus – no chão e entre eles – é importante. O conjunto
deira. Mais indicado para apicultura fixa. deve ficar bem firme, do contrário o tatu consegue derrubar.

10. MANTER AS COLMEIAS LONGE DA VEGETAÇÃO NATIVA


8. CERCA DE ALAMBRADO SEM Método barato, mas pode reduzir a produção de mel, pois as
MURO DE CONCRETO NA BASE abelhas precisam ir mais longe atrás das flores. Não tem eficiên-
Eficiente como prevenção, se nunca houve dano. Se o tatu cia garantida. Por depender da vegetação nativa, o canastra pre-
já encontrou alimento ali, ele cava por baixo da cerca. Método fere circular por Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Re-
de custo alto, mas muito durável, com pouca manutenção. O servas Legais (RLs). Mas se sentir o odor das larvas de abelhas
apicultor trabalha com caixas baixas, mas deve manter a cerca e associar determinadas áreas abertas com a disponibilidade de
aberta, para fugir caso as abelhas ataquem. alimento, o tatu pode andar também por lavouras ou pastagens.
oportunistas
de passagem
Quando acontece de um ta- expostos, espalhados pelo chão.
tu-canastra encontrar um api- Mesmo os quadros com larvas
ário e conseguir derrubar col- de abelhas não são totalmente
meias, podem aparecer outros consumidos. E o cheiro de “ali-
animais dispostos a se alimentar mento disponível” atrai a fauna
das sobras. oportunista, ou seja, animais
O canastra não come mel, prontos para aproveitar opor-
ele está em busca de larvas de tunidades criadas pelos outros.
abelhas e vai destruindo as cai- Conheça as espécies capazes de
xas até chegar a elas. Os favos de farejar essa “refeição fácil”, mesmo
mel são desprezados, mas ficam quando estão só de passagem.

IRARA (Eira barbara) TAMANDUÁ-BANDEIRA xas em apiários. Pode acontecer de algum deles
É um carnívoro de corpo alongado, garras fortes (Myrmecophaga tridactyla) passar junto a colmeias já derrubadas e aprovei-
e cauda espessa, aparentado com a ariranha. É o maior dos tamanduás, com 1 a 1,20 metro tar a oportunidade de comer mel e larvas, depois
Sobe em árvores e circula por matas, cerrados de comprimento, somando a cabeça e o corpo, de as abelhas se dispersarem.
e campos abertos. Tem cerca de 60 a 70 cm de mais 60 a 90 cm de cauda, coberta com pelos Não necessita de medidas específicas para
comprimento, mais uns 40 cm de cauda. A cor fartos e longos. A visão e a audição são ruins, deixar de ter acesso às colmeias. Se o tatu-ca-
do pelo pode variar, mas tende a ser marrom- mas o olfato é bem desenvolvido. Tem as patas nastra não alcançar nem derrubar as caixas, os
-escuro com a cabeça ligeiramente mais clara. dianteiras fortes, com garras poderosas e as tamanduás não terão o que comer no apiário.
Costuma caçar pequenos mamíferos, como usa para se defender de predadores, pois não
ratos silvestres, mas também se alimenta de tem dentes. As garras são adaptadas para abrir
frutas, invertebrados e répteis. E gosta muito de cupinzeiros, formigueiros e troncos apodrecidos,
mel, tanto que seu nome comum, emprestado em busca de seu alimento principal: cupins, for-
do tupi-guarani, quer dizer “comedor de mel”. migas e larvas.
Se encontrar colmeias desprotegidas, conse- Vive em cerrados e campos, circulando também
gue subir nos cavaletes mais baixos e abrir por lavouras e pastagens. Pode ser visto tanto
buracos com as garras, mas não tem força de dia como de noite. Geralmente é solitário,
para destruir as caixas. Pode farejar o mel com exceção da fêmea com filhote (carregado
espalhado pelo tatu-canastra e aproveitar os no dorso da mãe).
favos derrubados por ele. Dentre as medidas Não tem força para derrubar colmeias e parece
para impedir o acesso dos tatus-canastra às ser sensível às picadas de abelhas, portanto
colmeias, as cercas de alambrado e elétrica não se aproxima muito delas. Não há nenhum
também funcionam para as iraras. registro de tamanduás-bandeira destruindo cai-
MUTUM-DE-PENACHO (Crax fasciolata)
Ave grande, diurna, assemelhada a galos
e galinhas, exceto pela cauda de penas
retas. Alcança mais de 80 cm de altura
e pesa pouco menos de 3 kg. Ocorre no
Pantanal e nos cerrados do Brasil, Para-
guai e Bolívia, além do norte da Argentina.
O macho e a fêmea têm plumagens bem
diferentes. O macho tem dorso preto, com
ventre branco e bico amarelo. A fêmea é
preta com listras brancas no dorso, tem
ventre marrom claro e bico preto. Ambos
ostentam penas enroladas no alto da ca-
beça, mas as do macho são pretas e as da
fêmea são brancas e pretas.
Anda aos casais ou em pequenos grupos
familiares. Prefere beiras de matas, sem
se aventurar muito por campos abertos.

claro com uma mancha escura no dorso,


razão pela qual também é chamado de
tamanduá-de-colete. Tem visão limitada,
mas a audição é relativamente boa, assim
como o olfato. Circula mais à noite, solitá-
rio, por matas ciliares e cerrados. Passa
boa parte do seu tempo no alto de arbus-
tos e árvores, sobretudo aquelas cobertas SERIEMA (Cariama cristata)
por jitiranas ou cipós, pois busca alimento Ave pernalta, diurna, típica dos cerrados
em cupinzeiros e formigueiros localizados mais abertos, circula sem cerimônia por
no alto, nos troncos. lavouras e pastagens, sem se incomodar
Durante o dia recorre a abrigos em ocos de com a presença humana. Tem entre 70 e
árvores caídas ou ocupa as tocas abando- 90 cm de altura e pesa algo em torno de
nadas por outros animais, incluindo o tatu- 1,4 kg. A plumagem é cinzenta e tanto o
-canastra. Não tem força nem tamanho macho como a fêmea ostentam uma crista
para derrubar colmeias, mas pode se de penas arrepiadas no alto da cabeça e
alimentar das sobras de mel e larvas de longas pestanas. Os olhos e o bico têm co-
abelhas, dos quadros quebrados e dei- res vivas, parecendo maquiagem. Andam
aos casais e, eventualmente, formam pe- Sobe em galhos de árvores apenas para
xados no chão. dormir.
quenos grupos.
Alimenta-se de insetos, pequenos roedores, A dieta é bem variada, composta por fru-
TAMANDUÁ-MIRIM lagartinhos, serpentes, vermes e ovos. Mata tos, folhas, brotos de plantas, caramujos,
(Tamandua tetradactyla) suas presas com o bico. Não tem força ou gafanhotos, pererecas, lagartixas e outros
É bem menor do que o tamanduá-bandei- habilidade para furar caixas de abelhas, animais pequenos. Pode aproveitar a
ra, com cerca de 50 a 80 cm de compri- mas há registros de seriemas se alimen- oportunidade de comer larvas de abe-
mento mais uma cauda preênsil, de 40 tando nas colmeias já derrubadas. lhas, se as encontrar já derrubadas.
a 60 cm. Pesa cerca de 4,5 kg. O pelo é
outros tatus TATU-GALINHA
(Dasypus novemcinctus)
Conhecido igualmente como tatu-preto e
TATU-DE-RABO-MOLE-GRANDE
(Cabassous tatouay)
Apelidado também de tatu-rabo-de-sola-
nha. De cor marrom-claro, anda na ponta
dos dedos, como uma bailarina. Circula
por campos e brejos, junto a cerrados mais
tatu-nove-bandas. Tem a carapaça brilhan- -grande. Pesa em torno de 6,5 kg e mede abertos. Seus alimentos principais são
te, com nove cintas móveis e as orelhas 70 cm. É relativamente difícil de encontrar cupins, formigas e larvas.
são no alto da cabeça. É bem ágil, corre rá- no Mato Grosso do Sul, onde circula por
pido e pode dar grandes saltos. Pesa de 5 matas ciliares e campos, mas não entra
a 7 kg e mede cerca de 1 metro do focinho nas lavouras. A carapaça é cinza-escura
à ponta da cauda. Prefere comer insetos, com uma faixa mais clara na borda. Tem
mas ocasionalmente se alimenta de vege- orelhas mais para os lados da cabeça. Pos-
tais, pequenos vertebrados, ovos e carniça. sui garras grandes e curvadas com o dedo
do meio bem maior e mais forte. O rabo não
tem placas, nem anéis protetores, por isso
o nome. Permanece muito tempo em seus TATU-DE-RABO-MOLE-PEQUENO
No Brasil ocorrem 10 espécies de tatus. túneis e tocas, chegando a se cobrir total- (Cabassous unicinctus)
Seis destas espécies vivem no Mato Gros- mente de terra enquanto se alimenta. Tem Como seu parente próximo, também é cha-
so do Sul, incluindo o tatu-canastra. Todos grande preferência por formigas e muito mado de tatu-rabo-de-sola-pequeno. Tem a
incluem invertebrados em suas dietas, se- eventualmente come outros insetos. mesma cor e mesma aparência do “primo”
jam insetos adultos, ovos ou larvas. Alguns grande, porém sem a faixa clara em sua ca-
são mais especializados, outros menos. TATU-BOLA (Tolypeutes matacus) rapaça. Pesa de 1,5 a 4,8 kg e mede 65 cm.
Mas, com exceção do canastra, nenhum É o menor de todos os tatus brasileiros, só Passa mais de 90% de seu dia debaixo da ter-
deles tem tamanho ou força para predar pesa 1 kg e mede 31 cm. Quando se sente ra, em seus túneis e tocas, mas pode ser visto
colmeias, embora não desprezem uma ameaçado, consegue se fechar totalmen- em saídas bem rápidas, em campos abertos.
oportunidade de comer sobras espalhadas te, formando uma bola “blindada” por sua Seus alimentos principais são formigas e
pelo chão. carapaça dura. Daí derivam seus nomes cupins. No Brasil ocorre uma subespécie des-
Nenhum dos outros tatus necessita de me- comuns, incluindo tatu-bolita e tatu-boli- se tatu: Cabassous unicinctus unicinctus.
didas específicas para deixar de ter acesso
às colmeias. Se o tatu-canastra não alcan-
çar nem derrubar as caixas, nenhum deles
chega até o apiário.

TATU-PEBA
(Euphractus sexcinctus)
Também chamado de tatu-peludo ou pa-
pa-defunto. É muito comum e fácil de ver.
Vive em busca de alimento. Tem o corpo
achatado, com pelos esparsos, e a cabe-
ça triangular. Pesa de 4 a 6,5 kg e mede
70 cm. Consome desde frutos a pequenos
animais vertebrados, invertebrados e até
matéria orgânica em decomposição.
turas junto à natureza, sejam estas no métodos aprovados pelo INPI. Para o
Pantanal ou no Cerrado. apicultor, a certificação pode viabilizar
Os apicultores podem se beneficiar um aumento no preço do produto, che-
melhor do selo, se incluírem referências, gando a dobrar o valor do quilo de mel.
fotos e explicações sobre o Canastras e Embora esta certificação hoje se restrin-
Colmeias em folhetos ou informativos, ja ao Pantanal, os apicultores do Cerra-
em seus sites, nos sites de associações e do de Mato Grosso do Sul também estão

a convivência
cooperativas ou em comunicações via aptos a obter uma certificação para suas
Redes Sociais. Podem ser vídeos ou fo- áreas. E a atribuição do selo Canastras e
o selo canastra tos, mostrando as adaptações feitas no Colmeias pode facilitar o processo.

atrai bons negócios e colmeias


apiário; o investimento em informação;
a participação nas pesquisas realizadas
pelo Projeto Tatu-Canastra. Podem ser
As certificações e os selos, como o
Canastras e Colmeias, ainda podem
levar ao pagamento por serviços am-
lives, pequenos textos, figuras, qualquer bientais. Embora não existam, no Bra-
Associar a imagem dos apicultores à conservação de toda essa fauna nativa, forma de comunicação positiva, capaz sil, muitas experiências concretas desse
proteção ao tatu-canastra ajuda a ampliar divulgando informações sobre a biodi- de deixar bem claro que a convivência meio de compensação pelo trabalho
o mercado de mel no Mato Grosso do versidade presente em seus canaviais, entre tatus-canastra e apicultores é pos- ambientalmente correto de produtores,
Sul e em todo o Brasil, além de favore- nas embalagens e sachês de açúcar. sível, desejável e está funcionando! a possibilidade não deve ser descartada.
cer exportações, sobretudo para nichos Do mesmo modo, os apicultores do Isso amplia o alcance do programa Boa parte de nossa apicultura é prati-
de mercado de produtos ecologicamente Mato Grosso do Sul dispõem do selo apicultores amigos do tatu-canastra, cada em áreas de vegetação nativa e in-
corretos. É uma oportunidade de com- Canastras e Colmeias, como produtores mostrando os esforços feitos a um pú- crementa a polinização natural, um dos
pensar eventuais perdas das colmeias amigos do tatu-canastra. O selo foi cria- blico mais numeroso, comprovando a serviços ambientais de maior visibilidade.
com o aumento de preços proporcionado do pelos pesquisadores do Projeto Tatu- convivência pacífica com esse animal A abelha Apis mellifera não é originária
pela certificação. Existem muitos casos -Canastra, em parceria com apicultores. raro e extraordinário! das Américas, mas foi trazida da Europa e
de marketing bem sucedidos, no mundo Ele indica, ao consumidor, o mel produ- África há muitos anos. A espécie se adap-
e no Brasil, quando a convivência de ati-
vidades humanas com a conservação da
zido sem prejudicar os animais.
O selo deve constar da embalagem a indicação de tou bem e se mostrou mais versátil que as
abelhas nativas sem ferrão na reprodução
fauna nativa se torna possível e essa infor-
mação chega ao consumidor final.
de mel, dando visibilidade ao apicultor
amigo do tatu-canastra. É um dife- procedência de muitas plantas da vegetação brasileira
e das mais diversas culturas (também in-
Um dos exemplos brasileiros é o da rencial valioso, sobretudo em pontos No Pantanal do Mato Grosso do Sul, troduzidas, como é o caso de eucaliptos
marca de açúcar Native, de Sertãozinho, de venda associados ao turismo de desde 2015, existe uma certificação di- ou laranjas). Assim, sua polinização, pro-
São Paulo. Desde 2002, a presença de observação de fauna silvestre e em su- ferenciada para o mel produzido lo- movida pelos apicultores, pode realmente
fauna nativa é monitorada nas Reservas permercados, entrepostos e lojas espe- calmente: a Indicação de Procedência ser considerada um serviço ambiental.
Legais, nas Áreas de Preservação Perma- cializadas de cidades onde os turistas (IP). A identificação do mel como pan- Vale notar que os diferentes selos e
nente e no meio dos canaviais. Graças a passam, antes e depois de suas aven- taneiro é uma atribuição do Instituto certificações não se excluem. O mesmo
medidas de proteção da fauna nativa, Nacional de Propriedade Industrial produtor pode obter – e exibir – várias
adotadas pela empresa, pelo menos 340 (INPI) com base em normas comprovações de respeito à
espécies nativas de mamíferos, aves, rép- discutidas entre pesquisa- natureza e à fauna. Quanto
teis e anfíbios transitam, vivem e até se dores, apicultores, associa- mais disposto a prote-
reproduzem dentro das fazendas, numa ções e cooperativas. ger fauna e flora, maior
convivência controlada e pacífica com O selo IP garante ao a simpatia do consumidor
máquinas agrícolas e trabalhadores. consumidor que o mel foi bem informado e mais sau-
A Native associou sua imagem à produzido no Pantanal, com dáveis os negócios!
de vegetação nativa de venções humanas no ambiente.
alta qualidade, a ser Já o título de “engenheiro dos ecos-
preservada e protegida sistemas” está diretamente ligado aos

não apague o
nesta condição. A pro- benefícios para a fauna das vizinhan-
cura por larvas de abelhas ças, decorrente do hábito de mudar
nos apiários é um recurso constantemente de casa. Em média,

tatu-canastra!!
extremo para o canastra, sina- um tatu-canastra cava uma toca a
lizando o quanto seu hábitat está cada três noites, abandonando a “ve-
fragmentado ou degradado, a pon- lha” morada por uma nova. Desta
to de não oferecer comida suficiente. forma, ele altera o ambiente natural
Ali, esse comportamento do tatu-ca- e viabiliza novos espaços para outras
nastra indica baixa qualidade das áre- espécies.
No alfabeto iniciado por as de vegetação nativa e aponta para a Ao analisar mais de 55 mil ima-
necessidade de restauração. Nos dois gens de armadilhas fotográficas colo-
A de abelha, B de bola casos, ele é um “bioindicador” confi- cadas em frente às
e C de casa não pode ável, orientando as necessárias inter- tocas de tatus-
faltar o T de tatu!

Aprendemos bem cedo, na escola, o realiza sua “tarefa” de controlador de


nome de alguns bichos interessantes e cupins e formigas de madrugada, en-

A - Abelha
úteis em nossas vidas. Logo nos primeiros quanto dormimos (por isso é nosso
ensaios da leitura e escrita lá estão a abe- amigo “quase secreto”). Muitos turistas
lha e o tatu, cada um com seus afazeres. observadores de fauna adorariam ver

B-
Apesar do risco dos ferrões, ninguém um animal tão raro em seu ambien-
duvida da serventia das abelhas, agen- te natural. Vindos do mundo inteiro,
tes de polinização, fabricantes de cera e esses visitantes se mostram dispostos

C-
fornecedoras de mel. Mas, no caso dos a acordar de madrugada e ficar horas
tatus, às vezes falta conhecimento para esperando a chance de fotografar uma
enxergar alguma coisa positiva, como o coruja, por exemplo. E dariam tudo
fato de todos eles controlarem com efi- para registrar uma espécie considerada
ciência os cupins e as formigas. “fóssil-vivo”. O sucesso nas redes sociais
Existem muitas razões para tra- e entre seus pares seria garantido!
balhar em favor da conservação de E por ser o tatu-canastra tão raro,
todos os tatus e motivos redobrados há quem diga que avistar um deles na
para proteger o raro tatu-canastra, um natureza é ter sorte por um ano!
amigo “quase secreto” dos homens, Na maior parte de sua área de ocor-
verdadeiro fóssil vivo, bioindicador rência, o canastra se alimenta apenas
da qualidade de áreas de vegetação dos dois insetos problemáticos para
nativa e engenheiro dos ecossistemas. o homem: o cupim e a formiga. As-
Devido ao hábito de sair da toca bem sim, sua presença numa determinada
tarde da noite, o canastra geralmente área, sem conflitos, indica a existência
-canastra, pesquisadores contaram dessas carapaças estão preservadas calidade da Bahia é chamada de Tatu- cais de cordas, chamados de charango
mais de 70 outras espécies de verte- por paleontólogos e arqueólogos, açu = tatu grande. Outra localidade, ou (em quechua) kirkincho, cuja tra-
brados (mamíferos, aves e répteis, so- em exibição em museus, em diversas do Pará, é conhecida como Tatuoca = dução é tatu. Hoje, tais instrumentos
bretudo) utilizando os buracos. Para províncias da Argentina. toca ou casa do tatu. E não podemos são feitos em madeira. No Pará, os xi-
os “inquilinos”, as tocas abandonadas A palavra tupi-guarani tatu, por esquecer o tatu-bola Fuleco, eleito crin fabricavam flautas de boas-vindas
são refúgio térmico (contra frio ou sinal, faz referência à carapaça: ta = mascote da Copa do Mundo, realiza- com o rabo do tatu e as usavam para
calor), abrigo contra predadores e casca ou couraça e tu = denso, encor- da no Brasil em 2014. anunciar sua chegada a aldeias amigas,
recurso de alimentação (favorecem a pado. Tatu, portanto, quer dizer cara- Os tatus frequentam muitas músi- sendo recebidos por sons semelhantes.
predação de vertebrados e invertebra- paça grossa. cas infantis, novas e antigas. Estão nas Tatu é o nome de uma dança no Rio
dos refugiados nas tocas ou mesmo a Os tatus estão em nomes de locali- histórias da tradição oral e na literatu- Grande do Sul, cantada e sapateada.
coleta de sementes, raízes e frutos). dades, cursos d’água e acidentes geo- ra escrita e televisada. E deram origem Os homens portam esporas, para fazer
Para os turistas, as mesmas tocas são gráficos, por todo o Brasil. Existe um a vários trava-línguas, que vem a ser barulho enquanto sapateiam vigorosa-
um bônus, viabilizando o encontro rio no Maranhão chamado Tatuaba = jogos verbais com sílabas parecidas, mente. As damas têm passos delicados.
com outros animais, além - quem lugar dos tatus. Uma cidade paulista é ditas rapidamente de forma a dificul- Também no Mato Grosso há uma dan-
sabe? - do próprio construtor. conhecida como Tatuí = rio do tatu. tar a pronúncia. Um dos mais conhe- ça chamada tatu, descrita no livro Can-
Como os demais tatus, o canastra Um bairro da cidade de São Paulo é cidos é Tatu Taí: “O tatu taí? Não, mas cioneiro de Trovas do Brasil Central, de
é exclusivo do continente america- Tatuapé = caminho do tatu. Uma lo- a mulher do tatu tá e a mulher do tatu Antônio Americano do Brasil (1973).
no e está presente em nossa cultura tando é a mesma coisa que o tatu tá”. Mesmo com tantas referências e
e hábitos. Há relatos do uso de ca- Mas existem outros mais complicados relevância, nem o maior dos tatus, o
rapaças de tatu-canastra servindo como: “Tal tatu tá tendo trictraque, “amigo quase secreto”, “bioindicador”
de berço para crianças. Ou sacos de troca o treio da tramoia, da traquina e “engenheiro dos ecossistemas” con-
arroz e feijão. E, vale lembrar, dá-se da jiboia e a jiboia que não boia sem- segue se defender sozinho de ameaças
o nome de canastra a cestos qua- pre zoia tal tatu com seu tabaco, tal ao seu ambiente ou à sua vida, como
drados feitos de ripas de madeira qual paca de soslaio”. a redução de vegetação nativa; o atro-
entrelaçadas ou pequenas malas Contos e lendas indígenas, de pelamento nas estradas; queimadas; a
de viagem quadradas. diversas etnias das três Améri- caça como alimento ou como troféu
Por seu tamanho, os tatus- cas, fazem referência a tatus (suas garras são cobiçadas por cole-
-canastra evocam a memória ou mesmo têm esses animais cionadores) e o envenenamento por
ancestral dos povos america- como protagonistas. Para os agroquímicos (principalmente for-
nos antigos, como os nativos terena, do Mato Grosso do micidas). O canastra já está na lista
da Terra do Fogo, que che- Sul, há muito tempo o tatu- de espécies amea-
garam a se abrigar embaixo -canastra cavou um bu- çadas de extinção
de carapaças de gliptodon- raco e dele ti- da União Inter-
tes. Desaparecidos há rou um jabuti, nacional para
apenas 10 mil anos, com o qual pre- Conservação da
eles foram os ances- senteou o cacique. Natureza (IUCN)
trais gigantes dos ta- E o jabuti se tornou como uma espécie
tus modernos, com o alimento preferido vulnerável.
cerca de 1,50 metro dessa etnia. Ele e todos os tatus
de altura e 2 a 3 me- Na Bolívia, carapaças de precisam de proteção ativa para
tros de comprimen- tatu eram usadas para a con- continuar a existir e não serem
to. Algumas fecção de instrumentos musi- apagados do mapa brasileiro!
canastras
e colmeias equipe
O Projeto Canastras e Col- Coordenação:
meias estuda e propõe soluções Arnaud Desbiez
para promover a convivência
pacífica entre apicultores e tatus- Pesquisa:
Arnaud Desbiez e Bruna Oliveira
-canastra no Cerrado de Mato
Grosso do Sul, garantindo a ne- Tratamento de dados
cessária proteção aos apiários e sintetizados no mapa:
à fauna silvestre. Este guia é um Katia Ferraz e colaboradores
dos produtos da equipe dedi-
Elaboração do mapa:
cada ao tema e tem uma versão Bruna Oliveira
em pdf, disponível online no site
www.canastrasecolmeias.org.br Ilustrações
e acessível também pelo QRCode: (capa emétodos de proteção):
Ronald Rosa

(tatu-canastra pg. 23)


Luccas Longo realização
Redação:
Bruna Oliveira e Liana John

Edição:
Liana John

Projeto Gráfico: patrocinadores


Agradecemos a todos os api- Matheus Jeremias Fortunato
cultores entrevistados, pela dispo-
sição em nos ensinar sobre o uni-
verso da apicultura e nos ajudar na
busca de soluções para viabilizar
a convivência com os tatus-ca-
nastra, em especial Adriano Ada- colaboradores
mes, Davi Borges, Elizeu Lima de
Araújo e Vania Maria B. Furtado,
pela colaboração nos testes de ma-
teriais e métodos de proteção aos
canastras e colmeias.
este guia
indica
COMO promover a convivência entre apiculto-
res e tatus-canastra e PORQUE proteger o tatu-
-canastra e demais espécies da fauna silvestre.
Em www.canastrasecolmeias.org.br existe uma
versão online deste guia, materiais para copiar e
mais informações sobre selos e certificações do
mel produzido no Mato Grosso do Sul.

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