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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – Volume I

João Vitor Andrade, Juliana Cristina Martins de Souza, José Gilberto Prates

Editora Amplla

Campina Grande, janeiro de 2022


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2022 - Editora Amplla
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Copyright © Editora Amplla
Editor Chefe: Leonardo Pereira Tavares
Design da Capa: Editora Amplla
Diagramação: Higor Costa de Brito

Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – Volume I está licenciado sob CC BY 4.0.
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ISBN: 978-65-88332-98-6
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-0

Editora Amplla
Campina Grande – PB – Brasil
contato@ampllaeditora.com.br
www.ampllaeditora.com.br

2022
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CONSELHO EDITORIAL aaaaa
Andréa Cátia Leal Badaró – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Andréia Monique Lermen – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Antoniele Silvana de Melo Souza – Universidade Estadual do Ceará
Bergson Rodrigo Siqueira de Melo – Universidade Estadual do Ceará
Bruna Beatriz da Rocha – Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais
Caio César Costa Santos – Universidade Federal de Sergipe
Carina Alexandra Rondini – Universidade Estadual Paulista
Carla Caroline Alves Carvalho – Universidade Federal de Campina Grande
Carlos Augusto Trojaner – Prefeitura de Venâncio Aires
Carolina Carbonell Demori – Universidade Federal de Pelotas
Cícero Batista do Nascimento Filho – Universidade Federal do Ceará
Clécio Danilo Dias da Silva – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Daniela de Freitas Lima – Universidade Federal de Campina Grande
Denise Barguil Nepomuceno – Universidade Federal de Minas Gerais
Dylan Ávila Alves – Instituto Federal Goiano
Edson Lourenço da Silva – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí
Elane da Silva Barbosa – Universidade Estadual do Ceará
Érica Rios de Carvalho – Universidade Católica do Salvador
Gilberto de Melo Junior – Instituto Federal do Pará
Higor Costa de Brito – Universidade Federal de Campina Grande
Italan Carneiro Bezerra – Instituto Federal da Paraíba
Ivo Batista Conde – Universidade Estadual do Ceará
Jaqueline Rocha Borges dos Santos – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Jessica Wanderley Souza do Nascimento – Instituto de Especialização do Amazonas
João Henriques de Sousa Júnior – Universidade Federal de Santa Catarina
João Manoel Da Silva – Universidade Federal de Alagoas
João Vitor Andrade – Universidade de São Paulo
Joilson Silva de Sousa – Instituto Federal do Rio Grande do Norte
José Cândido Rodrigues Neto – Universidade Estadual da Paraíba
Jose Henrique de Lacerda Furtado – Instituto Federal do Rio de Janeiro
Josenita Luiz da Silva – Faculdade Frassinetti do Recife
Josiney Farias de Araújo – Universidade Federal do Pará
Karina de Araújo Dias – SME/Prefeitura Municipal de Florianópolis
Laíze Lantyer Luz – Universidade Católica do Salvador
Lindon Johnson Pontes Portela – Universidade Federal do Oeste do Pará
Lucas Capita Quarto – Universidade Federal do Oeste do Pará
Lúcia Magnólia Albuquerque Soares de Camargo – Unifacisa Centro Universitário
Luciana de Jesus Botelho Sodré dos Santos – Universidade Estadual do Maranhão
Luís Paulo Souza e Souza – Universidade Federal do Amazonas
Luiza Catarina Sobreira de Souza – Faculdade de Ciências Humanas do Sertão Central
Manoel Mariano Neto da Silva – Universidade Federal de Campina Grande
Marcelo Alves Pereira Eufrasio – Centro Universitário Unifacisa
Marcelo Williams Oliveira de Souza – Universidade Federal do Pará
Marcos Pereira dos Santos – Faculdade Rachel de Queiroz
Marcus Vinicius Peralva Santos – Universidade Federal da Bahia
Marina Magalhães de Morais – Universidade Federal de Campina Grande
Nadja Maria Mourão – Universidade do Estado de Minas Gerais
Natan Galves Santana – Universidade Paranaense
Nathalia Bezerra da Silva Ferreira – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Neide Kazue Sakugawa Shinohara – Universidade Federal Rural de Pernambuco
Neudson Johnson Martinho – Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso
Patrícia Appelt – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Paulo Henrique Matos de Jesus – Universidade Federal do Maranhão
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Rafael Rodrigues Gomides – Faculdade de Quatro Marcos
Reângela Cíntia Rodrigues de Oliveira Lima – Universidade Federal do Ceará
Rebeca Freitas Ivanicska – Universidade Federal de Lavras
Renan Monteiro do Nascimento – Universidade de Brasília
Ricardo Leoni Gonçalves Bastos – Universidade Federal do Ceará
Rodrigo da Rosa Pereira – Universidade Federal do Rio Grande
Sabrynna Brito Oliveira – Universidade Federal de Minas Gerais
Samuel Miranda Mattos – Universidade Estadual do Ceará
Shirley Santos Nascimento – Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia
Silvana Carloto Andres – Universidade Federal de Santa Maria
Silvio de Almeida Junior – Universidade de Franca
Tatiana Paschoalette Rodrigues Bachur – Universidade Estadual do Ceará
Telma Regina Stroparo – Universidade Estadual do Centro-Oeste
Thayla Amorim Santino – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Virgínia Maia de Araújo Oliveira – Instituto Federal da Paraíba
Virginia Tomaz Machado – Faculdade Santa Maria de Cajazeiras
Walmir Fernandes Pereira – Miami University of Science and Technology
Wanessa Dunga de Assis – Universidade Federal de Campina Grande
Wellington Alves Silva – Universidade Estadual de Roraima
Yáscara Maia Araújo de Brito – Universidade Federal de Campina Grande
Yasmin da Silva Santos – Fundação Oswaldo Cruz
Yuciara Barbosa Costa Ferreira – Universidade Federal de Campina Grande
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2022 - Editora Amplla
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Editor Chefe: Leonardo Pereira Tavares
Design da Capa: Editora Amplla
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde [livro


eletrônico] / organização João Vitor Andrade, Juliana
Cristina Martins de Souza, José Gilberto Prates. ––
Campina Grande : Editora Amplla, 2022.
2 v.

Formato: PDF
ISBN: 978-65-88332-98-6 (Volume 1)
ISBN: 978-65-88332-99-3 (Volume 2)

1. Enfermagem. 2. Medicina. 3. Odontologia. 4. Saúde


coletiva. I. Andrade, João Vitor. II. Souza, Juliana Cristina
Martins de. III. Prates, José Gilberto. IV. Título.
CDD-610

Sueli Costa - Bibliotecária - CRB-8/5213


(SC Assessoria Editorial, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:


1. Ciências médicas 610

Editora Amplla
Campina Grande – PB – Brasil
contato@ampllaeditora.com.br
www.ampllaeditora.com.br

2022
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PREFÁCIO aaaaa
A coleção “Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde” apresenta,
em dois volumes, a produção científica sobre as abordagens educativas em Ciências da
Saúde nos mais variados contextos. Tem-se na obra desde estudos originais (construídos
com métodos quantitativos e qualitativos) até estudos de revisão (narrativa, integrativa
ou sistemática).
As Ciências da Saúde são uma das oito áreas do conhecimento classificadas pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e,
indiscutivelmente, possuem importância imensurável para a sociedade. Destaca-se que
no intento de desvelar fenômenos complexos, explorando novas fronteiras do
conhecimento e do trabalho humano, a presente obra se constitui da união das Ciências
da Saúde com as Ciências Humanas, conforme preceitos da Ciência Moderna, que
estimula o cruzamento e a interação de áreas de saberes diferentes.
Além disso, estrutura-se em uma perspectiva multidisciplinar, contendo estudos
oriundos das cinco regiões brasileiras, cujos autores possuem variadas formações. Com
tal robustez, indubitavelmente esse material servirá como suporte para muitas pessoas,
desde acadêmicos e profissionais, até a população em geral. Tendo em vista a relevância
da temática, objetivou-se elencar de forma categorizada, nos dois volumes, os estudos
de acordo com grandes áreas das Ciências da Saúde.
O volume 1 apresenta estudos relacionados aos fundamentos das profissões das
Ciências da Saúde; a saúde da mulher, saúde da criança e do adolescente, saúde do
adulto e do idoso, destacando as abordagens e técnicas educacionais, questões
epidemiológicas, bem estar e saúde integral.
No volume 2 estão agrupadas as publicações com foco físico, biológico e
bioquímico; aspectos legislativos e históricos e saúde coletiva. Chama-se atenção para
as práticas integrativas e complementares, doenças crônicas e cuidado em saúde,
temáticas predominantes neste segundo volume.
Os variados temas nessa coleção, divulgada pela plataforma confiável e
consolidada da Editora Amplla, garantirão aos leitores uma leitura profícua e sobremodo
proveitosa. Explorem e compartilhem o material. Ademais, desejamos uma excelente
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leitura, na certeza que a presente obra contribuirá para o fortalecimento da literatura
científica no tocante às abordagens educativas em ciências da saúde.

João Vitor Andrade


Enfermeiro, Especialista em Docência em Ciências da Saúde. Residente em Enfermagem em Saúde
Mental e Psiquiátrica na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Juliana Cristina Martins de Souza


Enfermeira, Especialista em Enfermagem em Geriatria e Gerontologia e em Enfermagem em Saúde
Mental e Psiquiátrica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

José Gilberto Prates


Enfermeiro, Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica, em Terapia Comportamental Cognitiva e em
Educação Profissional. Mestre e Doutor em Ciências da Saúde pela Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO aaaaa
CAPÍTULO I - A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO NOS
CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE .......................................................................................................... 11
CAPÍTULO II - A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA .................................................................................................................................................. 20

CAPÍTULO III - EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL........................................... 35

CAPÍTULO IV - Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em enfermagem.... 48

CAPÍTULO V - METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS DA


ÁREA DA SAÚDe .............................................................................................................................................. 67

CAPÍTULO VI - METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-19 ..81

CAPÍTULO VII - METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO PERMANENTE
DA EQUIPE DE ENFERMAGEM ............................................................................................................................. 96

CAPÍTULO VIII - GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE .......... 110

CAPÍTULO IX - MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA ................................................................................................................................................. 129

CAPÍTULO X - Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica ...................................................................................................................................... 138

CAPÍTULO XI - PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO ........ 153

CAPÍTULO XII - RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A EXECUÇÃO DA MONITORIA DE BIOQUÍMICA PARA O CURSO DE
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS ............................................................................................................ 162

CAPÍTULO XIII - SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS NO
PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS ...................................................................................... 169

CAPÍTULO XIV - TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE
VIDA DE PATÓGENOS E VETORES........................................................................................................................ 186

CAPÍTULO XV - Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem ..... 199

CAPÍTULO XVI - USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE ......................................... 207

CAPÍTULO XVII - A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO ..... 218

CAPÍTULO XVIII - A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA............................... 232

CAPÍTULO XIX - ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA ................................. 242
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CAPÍTULO XX - Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero .......................258

CAPÍTULO XXI - DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL ........................................................ 277

CAPÍTULO XXII - ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS
PUERPERAIS ................................................................................................................................................. 290

CAPÍTULO XXIII - CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA..................................................................................................................................... 312

CAPÍTULO XXIV - INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO
INTEGRATIVA ................................................................................................................................................. 322

CAPÍTULO XXV - MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS ...............................338

CAPÍTULO XXVI - O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE
CORROBORAM ESSE FENÔMENO ....................................................................................................................... 350

CAPÍTULO XXVII - PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA .......................... 360

CAPÍTULO XXVIII - Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura .................................................................................................................... 375

CAPÍTULO XXIX - TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA .......................... 386

CAPÍTULO XXX - AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................ 398

CAPÍTULO XXXI - ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ ANOS EM
UM ESTADO NORDESTINO ................................................................................................................................ 409

CAPÍTULO XXXII - CONSTRUÇÃO INTERPROFISSIONAL PARA DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE SAÚDE MENTAL AOS
ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO ............................................................................... 418

CAPÍTULO XXXIII - EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE HANSENÍASE NO ESPAÇO ESCOLAR: VIVÊNCIA DE DISCENTES DE
ENFERMAGEM................................................................................................................................................433

CAPÍTULO XXXIV - ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO ..................... 444

CAPÍTULO XXXV - ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 465

CAPÍTULO XXXVI - Lesões CARACTERÍSTICAS DE MAUS-TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO .................. 481

CAPÍTULO XXXVII - NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES ...........................492

CAPÍTULO XXXVIII - ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS ............... 503

CAPÍTULO XXXIX - DOENÇAS PROSTÁTICAS .......................................................................................................... 523

CAPÍTULO XL - EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM CENTRO


DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE ..........................................................................................................534
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CAPÍTULO XLI - identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil ....... 549

CAPÍTULO XLII - INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS
REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE ......................................................................... 568

CAPÍTULO XLIII - O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS .........................583

CAPÍTULO XLIV - PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO .................................................................................................................................................. 600

CAPÍTULO XLV - PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA ..................... 614

CAPÍTULO XLVI - REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO ......................................................................................................................... 627

CAPÍTULO XLVII - REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO
BIOMÉDICO .................................................................................................................................................. 644

CAPÍTULO XLVIII - SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................... 656
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CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE
CONCEITOS DA DISCIPLINA
SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O
ENSINO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO
DA ÁREA DA SAÚDE
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-1
Carolyne Reduzina Queirós ¹
Roberta Oliveira Caetano ²
Patrícia Aparecida Baumgratz de Paula ³
¹ Graduanda do curso de Nutrição. Universidade Federal de Juiz de Fora Campus Avançado Governador Valadares –
UFJF/GV
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

² Graduanda do curso de Odontologia. Universidade Federal de Juiz de Fora Campus Avançado Governador Valadares
– UFJF/GV
³ Professora Adjunta do Departamento de Nutrição. Universidade Federal de Juiz de Fora Campus Avançado
Governador Valadares – UFJF/GV

RESUMO
A disciplina de Sociologia da Saúde ministrada para os cursos de graduação da área da saúde de
uma Instituição de Ensino Superior, aborda algumas temáticas, como o corpo e o processo
saúde-doença. Esta disciplina, fruto de uma construção social e cultural, contribui para a
formação dos futuros profissionais de saúde estimulando um pensamento crítico sobre a
aplicabilidade destas temáticas nas situações cotidianas que estes poderão vivenciar na vida
profissional. O corpo possui múltiplos significados, e assim como o processo saúde e doença
pode ser entendido sob vários olhares, que são estabelecidos de acordo com a sociedade e a
cultura em que estão inseridos. Assim, na sociedade brasileira atual, estes conceitos vêm
sofrendo mudanças, pois são construídos e reconstruídos no cotidiano das salas de aula e dos
serviços de saúde, buscando valorizar o cuidado em saúde humanizado, integral e
interprofissional, com respeito à autonomia dos usuários dos serviços. O presente ensaio tem
por objetivo o aprofundamento da discussão sobre a Sociologia da Saúde, enfatizando a
importância da compreensão dos tópicos abordados nessa disciplina. Logo, acredita-se que a
Sociologia da Saúde poderá ajudar na troca de saberes entre o docente e discentes, no
crescimento e no desenvolvimento acadêmico-profissional destes, buscando, também a
valorização dos aspectos cognitivos que possam contribuir para uma atuação ética, solidária,
criativa, responsável e comprometida politicamente com as questões humanas e sociais.

Palavras-chave: Sociologia da Saúde. Educação em Saúde. Processo Saúde-Doença. Corpo.

A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE
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1. INTRODUÇÃO
O estudo da Sociologia da Saúde potencializa reflexões analíticas sobre as
questões da sociedade contemporânea, como viver saúde e doença, condições de
liberdade e constrangimento, e de autonomia e dependência. A disciplina de Sociologia
da Saúde contempla o corpo e a saúde como construção social e os principais conceitos
sociológicos relevantes para a análise dos condicionantes sociais no processo saúde-
doença (CARAPINHEIRO, 2011).
A educação em saúde, inserida de modo transversal nessa disciplina, torna
possível a aplicação de conhecimentos socioculturais de uma população, juntamente
com os conhecimentos técnico-científicos da dimensão biológica, para que seja possível
traduzir a complexidade do processo e conceito de saúde-doença, proporcionando o
cuidado à saúde de maneira humanizada (CÂMARA, et al., 2012).
Nesse sentido, a Sociologia da Saúde, ministrada para os cursos de graduação da
área da saúde de uma Instituição de Ensino Superior (IES), tem como principais
abordagens os seguintes eixos temáticos: o corpo e o processo saúde-doença.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A compreensão da corporeidade humana passa a ser pensada como fenômeno


social e cultural, onde os males que afetam o corpo expressam que o indivíduo pertence
a determinado tempo e grupo social (PIMENTA, OLIVEIRA, 2020).
Dentro desse contexto, o processo saúde-doença não pode ser pensado somente
a partir do viés biológico, deve-se levar em consideração a subjetividade dos usuários
dos serviços de saúde, como estes vivenciam a doença, e sobretudo os aspectos sociais
e culturais inerentes a esse processo.
Logo, as questões referentes à saúde e à doença devem ser discutidas a partir
dos contextos socioculturais específicos nos quais as mesmas ocorrem (LANGDON, WIIK,
2010).
O presente capítulo tem por objetivo aprofundar na discussão sobre a Sociologia
da Saúde, enfatizando a importância da compreensão desta, na formação de
profissionais capazes de ter um olhar integral sobre a saúde do seu paciente,
respeitando os saberes destes.

A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE
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2. AS NUANCES DO CORPO
Cada cultura age e constrói o corpo com suas próprias particularidades e sua
história corporal recebe mudanças de acordo com o tempo e o discurso empregado
(BARBOSA, 2011).
O corpo desde a Grécia antiga até a sociedade contemporânea sempre foi objeto
de estudo e filósofos como Platão, Sócrates e Aristóteles refletiram sobre o corpo neste
período. Sócrates via o homem de forma integral, o conjunto homem e alma era
importante para a interação do ser com o mundo. Aristóteles defendia que as ações
humanas deveriam ser realizadas em conjunto, corpo e alma, no processo de realização.
Por outro lado, Platão tinha o pensamento de que o corpo era uma prisão para alma,
uma visão dualista. Sendo assim é perceptível a influência que os pensadores gregos
exerceram na forma sistematizada do pensamento ocidental (CASSIMIRO; GALDINO; SÁ,
2012).
Em paralelo a essas concepções sobre o corpo, nesse período, a representação
do corpo também era veiculada ao belo, à prática de exercícios físicos, tendo um
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

elemento de glorificação, além de possuir interesse do Estado (SENA et al., 2019).


Assim, para se realizar um estudo e uma avaliação ampliada do objeto corpo é
necessário buscar contextos educativos diversos para compreender as constituições das
identidades, ou seja, buscar explicações e interpretações em diversas áreas do
conhecimento como sociologia, filosofia, história, e principalmente, a antropologia
(SILVA; ATHAYDE; LARA, 2020). O corpo permite acesso privilegiado para análises da
cultura, visto que é um patrimônio inesgotável de símbolos sensíveis ao ser humano que
replicam e modulam sua cultura e natureza (GIACOMINI, 2004).
Logo, o corpo é complexo e possui várias nuances, cabendo uma reflexão nos
mais variados campos de pesquisa. O corpo possui múltiplos sentidos, é edificação de
desejos, racionalidade e necessidades humanas, é imagem, informações e símbolos, é
objeto de expressão e liberdade (LARA, 2004). A cultura como fonte de análise das
práticas corporais expressa o coletivo e a influência das manifestações dos grupos
étnico-raciais, tradicionais, indígenas, diferentes faixas etárias, gênero, práticas
sagradas ou profanas, família e até grupo escolar (SILVA; ATHAYDE; LARA, 2020).

A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE
13
aaaaaaaaaaaaa Quanto mais se aprofunda no estudo do homem e sua história, é perceptível que
este é um ser corporal (SANTIN, 2001). De inúmeras maneiras diferentes, é importante
ressaltar a influência da religião na modificação do corpo dos fiéis (RIGONI;
PRODÓCIMO, 2013).
A religião sempre foi um fator determinante para educar os comportamentos e
a partir de seus conhecimentos teológicos controlar o corpo e a alma. A exemplo disso
tem-se: o cristianismo da Igreja Católica, que impunha desde o jejum alimentar até o
uso do silício; o pentecostalismo que possui comprometimento com os valores morais e
uma concepção de corpo conservadora que deve ser protegido dos perigos mundanos;
o Candomblé e a Umbanda, que utilizam o próprio corpo como ato ritual (SILVA;
ATHAYDE; LARA, 2020).
Diferentes modos de relacionar-se e sentir seu próprio corpo é influenciado por
modelos de pensamento e comportamento compartilhados socialmente, ou seja, as
representações sociais influenciam a maneira de ver e viver o corpo (CAMARGO, 2011).
Nessa perspectiva, as sociedades globalizadas e de consumo bombardeiam por
todos os lados, seja na televisão, no cinema, nas revistas ou nos editoriais de beleza, a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ideia de modificações da aparência corporal, buscando a plasticidade do corpo, ou seja,


para alcançar o padrão desejável é necessária uma rotina de exercícios intensos, dietas
radicais e procedimentos estéticos como as cirurgias plásticas (SIQUEIRA; FARIA, 2008).
Ao se levar em consideração esses aspectos, Le Breton relata a influência no
modo de pensar, de agir, de vestir e de comer, que a sociedade contemporânea tem
sobre o corpo dos indivíduos, buscando a aprovação do outro e gerando um sentimento
de pertencimento à um grupo social (LE BRETON, 2006). Devido a isso, enraíza-se a
bipolaridade de que o corpo é mais um “ter” do que “ser”, ou seja, a construção
simbólica de que o corpo é resultado da construção social e cultural (GOMES, 2011),
sendo cada vez mais é influenciado pelos meios de comunicação em massa.
Logo, a disciplina Sociologia da Saúde permite a compreensão do corpo,
enquanto significados, valores e representações sociais, bem como do processo saúde-
doença, conforme irá se abordar a seguir.

A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE
14
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3. CONCEPÇÕES DE SAÚDE E DOENÇA
Existem vários conceitos de saúde e de doença, que são estabelecidos segundo
a sociedade, cultura, e o entendimento do ser e do meio, bem como, o momento no
qual está inserido (CÂMARA, et al., 2012).
Assim, com o passar dos anos, ocorreram avanços, limitações, e diferentes
definições que se complementam, com diferentes modelos explicativos, que se
estendem desde a Antiguidade até os dias atuais (CRUZ, 2012).
Durante a Antiguidade, a dimensão mágico-religiosa ou xamanística acreditava
que as causas das doenças poderiam estar relacionadas aos elementos naturais e aos
espíritos sobrenaturais. Também, durante este período foi vivenciado o modelo
holístico, baseado nas medicinas orientais, que contemplava a noção de equilíbrio, com
a ideia de proporção justa ou adequada com a saúde e a doença. O equilíbrio significava
a saúde, com relação entre os elementos e humores do corpo humano, e com um
desequilíbrio deste, surgia então a doença. O cuidado em saúde, compreendia
reencontrar este equilíbrio, tido como totalidade (CRUZ, 2012).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Ainda têm-se o modelo empírico-racional (hipocrático), que teve seus primórdios


no Egito. Este trazia a tentativa dos primeiros filósofos em encontrar explicações não
sobrenaturais de diversas causas, dentre elas, a saúde e a doença. Saúde na concepção
hipocrática, é fruto do equilíbrio dos humores, sendo a doença o desequilíbrio destes, e
a atenção em saúde dependia da compreensão destes desequilíbrios para buscar voltar
ao equilíbrio (CRUZ, 2012).
Cabe destacar, o modelo de medicina científica ocidental ou Modelo Biomédico
ou Mecanicista que ainda predomina na atualidade e teve suas origens vinculadas ao
período Renascentista. Para esse modelo, o conceito de doença significava um desajuste
ou falha nos mecanismos de adaptação, uma perturbação da estrutura ou função de um
órgão, sistema, organismo ou de todas as suas funções vitais (CRUZ, 2012).
Alguns autores também trouxeram suas contribuições para o entendimento do
processo de saúde-doença, sendo críticos à concepção de saúde e doença proposta pelo
Modelo Biomédico, dentre eles se destacaram: Canguilhem, Foucault e Capra
Em Canguilhem há um deslocamento teórico das análises quantitativas da saúde
e uma problemática inerente à normação, fazendo com que o vital seja pensado, como

A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE
15
aaaaaaaaaaaaa a imbricação do biológico com o social, gerando um reposicionamento político, crítico
sobre saúde e doença (MASCARO, 2020). Como afirma Foucault (2011), o processo
saúde-doença na concepção biomédica está focado no controle do espaço social, no
controle dos corpos. E, Capra (1982) destacou a concepção fragmentada do modelo
biomédico, uma teoria mecanicista, onde o homem é visto como corpo-máquina.
Cabe ressaltar que durante as décadas subsequentes, outras abordagens sobre
saúde e doença foram surgindo. Todavia, destaca-se que a nova concepção de saúde a
identifica como bem-estar e qualidade de vida, e não simplesmente a ausência de
doença, deixando de ser um estado estático, biologicamente definido, sendo
compreendida como um estado de vida dinâmico, socialmente produzido. Com isso, visa
não somente diminuir o risco de doenças, mas também aumentar as chances de saúde
e de vida, por meio de políticas públicas saudáveis (BUSS, 2000).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo do corpo permite compreender como as influências sociais, religiosas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

e culturais guardam uma relação direta com o período histórico. Este influencia na
construção e representação do corpo e do processo saúde-doença. Nesse sentido, o
corpo não é apenas algo biológico e mecânico, ele está inscrito numa construção social
e cultural.
Ademais, destaca-se a importância do estudo das concepções de saúde e doença
sob esse olhar, pois pensar o processo saúde-doença a partir da ausência da doença no
corpo físico torna essa discussão limitada e reducionista.
Logo, a compreensão das categorias corpo e processo saúde-doença dentro da
disciplina de Sociologia da Saúde proporciona aos discentes, a aproximação do
conhecimento teórico aprendido na sala de aula com a sua futura prática profissional.
Sendo assim, deve-se levar em consideração que a assistência humanizada aos usuários
dos serviços deve ir além do corpo físico e das doenças presentes neste, considerando
o indivíduo como um todo, bem como, a sociedade e a cultura em que este está
inserido.

A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE
16
aaaaaaaaaaaaa
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A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE
17
aaaaaaaaaaaaa
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A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


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A IMPORTÂNCIA DA ABORDAGEM DE CONCEITOS DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA DA SAÚDE PARA O ENSINO


NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA DA SAÚDE
19
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO II
A PANDEMIA DE COVID-19 E OS
DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA
UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-2
Amanda Silva Passos ¹
Italo Franklin Silva Cutrim ²
Italo Vinicius Rabelo Borges ³
Sthefann Aparecida Silva ⁴
Valbiana Cristina Melo de Abreu Araujo ⁵
Maria Áurea Lira Feitosa ⁶
¹ Graduanda do curso de Odontologia. Universidade Federal do Maranhão – UFMA
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

² Graduando do curso de Odontologia. Universidade Federal do Maranhão – UFMA


³ Graduando do curso de Educação Física. Universidade Federal do Maranhão – UFMA
⁴ Graduanda do curso de Pedagogia. Universidade Federal do Maranhão – UFMA
⁵ Mestranda em Odontologia. Programa de Pós-Graduação em Odontologia – UFMA
⁶ Professora Associada do Departamento de Odontologia. Universidade Federal do Maranhão– UFMA

RESUMO
A COVID-19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2,
potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. Com o aumento de sua
prevalência, medidas preventivas foram tomadas visando diminuir a disseminação do vírus. Dentre
as medidas, tem-se o isolamento social, que foi implementado de modo gradual e distinto em
diferentes países. A situação de emergência fez com que instituições como as de ensino superior
(IES) migrassem para o ensino remoto emergencial (ERE). Com um novo modelo de ensino por meio
de aula virtual, os docentes precisaram adaptar-se aos meios tecnológicos e buscar formas de trazer
a efetividade da aula presencial para a online. O objetivo deste trabalho foi abordar os desafios
impostos à docência universitária diante da pandemia da COVID-19 com base em evidências
científicas presentes na literatura. Utilizou-se trabalhos disponíveis nas bases de dados LILACS,
BIREME, BVS, Google acadêmico, PUBMED e Scielo. Assim, os estudos realizados mostram que no
contexto de isolamento social, os professores de IES passaram a utilizar novas ferramentas para
ministrar aulas respeitando o distanciamento, mostrando-se ansiosos em cumprir as demandas
técnicas necessárias para realizar o ensino remoto. Pesquisas apontaram que a saúde mental dos
docentes também pode ter sido afetada pelo distanciamento decorrentes do confinamento, medo
do vírus e mudanças no sistema educacional. Dessa forma, os achados da literatura sugerem que o
distanciamento social gerou desafios à docência como a mudança em translacionar conhecimento
de forma remota e impactos negativos na saúde mental.

Palavras-chave: COVID-19, docentes, saúde mental, educação superior.

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
20
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A COVID-19, infecção respiratória causada pelo vírus SARS-CoV-2, é caracterizada
por sua transmissibilidade, fator que proporcionou o alcance global da disseminação do
vírus. O SARS-CoV-2 é um betacoronavírus descoberto na cidade de Wuhan, província
de Hubei, na China, em dezembro de 2019 (BRASIL, 2021). Indícios sugerem que os
primeiros casos surgiram em outubro de 2019, porém a doença foi identificada apenas
em dezembro, e caracterizada, até então, como uma epidemia cuja origem postulou-se
ser zoonótica, porém ainda desconhecida (SCHUCHMANN, 2021). O primeiro caso de
coronavírus no Brasil foi confirmado em fevereiro de 2020 pelo Ministério da Saúde em
um homem de 61 anos, de São Paulo, com histórico de viagem para a Itália (BRASIL,
2020). Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a
Covid-19 como uma pandemia (BBC, 2020). As manifestações mais comuns da Covid-19
são: febre, tosse seca e fadiga. As complicações que levam à morte podem incluir
insuficiência respiratória, sepse, insuficiência de múltiplos órgãos incluindo lesão no
coração, fígado e rins (WHO, 2020). O SARS-CoV-2 pode ser propagado não só por meio
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

da tosse, espirro e gotículas respiratórias contendo o vírus, mas também durante


hábitos básicos de socialização como o aperto de mão, caso seja seguido do toque nos
olhos, nariz e boca (BRASIL, 2021).
Com o objetivo de barrar a disseminação do vírus, o Ministério da Saúde passou,
então, a recomendar medidas de isolamento social para toda a população brasileira
(SCHUCHMANN, 2021). O comportamento recomendado para a contenção do vírus
inclui a constante higienização das mãos, adoção de etiqueta respiratória e uso de
máscaras faciais, além de medidas progressistas de distanciamento social, as quais
determinaram o fechamento de escolas e universidades, tendo em vista a proibição de
eventos em massa e aglomerações, e, até mesmo a completa proibição da circulação
nas ruas para atividades consideradas não essenciais. Medidas como essas têm sido
implementadas de modo gradual e distinto em diferentes países, com maior ou menor
intensidade, e seus resultados podem vir a depender de aspectos socioeconômicos,
culturais, individualidades dos sistemas políticos de saúde, bem como de procedimentos
operacionais na sua implementação (AQUINO, 2020).

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
21
aaaaaaaaaaaaa Nesse contexto, o impacto do isolamento social como medida de contenção do
vírus repercutiu no estado emocional de indivíduos ao redor do mundo. Foram relatados
sintomas como: perturbação emocional, depressão, estresse, mau-humor,
irritabilidade, insônia e estresse pós-traumático (REIS, 2021). Diante de uma situação de
emergência, em respeito ao isolamento social, muitas instituições educacionais
necessitaram migrar para o ensino remoto emergencial (ERE) e dar cobertura aos seus
estudantes enquanto as instituições de ensino superior (IES) continuam fechadas e o
confinamento segue em casa. Adaptados com o ensino presencial, os docentes foram
confrontados com uma nova realidade. As aulas online tornaram-se uma forma de
continuar repassando conhecimento e de possibilitar contato com os alunos frente às
medidas restritivas (BEHAR, 2020). Com tais mudanças, a cobrança sobre os docentes
tornou-se maior, resultando em adoecimento de grande parte dessa classe, seja pela
pressão proveniente do âmbito acadêmico ou devido ao medo e angústias (SHAW,
2020). Dentre os distúrbios mentais mais citados, tem-se o transtorno depressivo leve,
transtorno afetivo bipolar, ansiedade e síndrome do esgotamento profissional (ARAÚJO
et al., 2020; WANG, 2020).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Desse modo, é de significativa importância medidas que proporcionem


assistência psicológica aos docentes, visando minimizar os efeitos da pandemia, tanto
na vida profissional como no seu cotidiano, além de acesso a cursos que capacitem esses
trabalhadores, para as novas técnicas virtuais do processo de ensino-aprendizagem.
Diante do exposto, esse trabalho, por meio de uma revisão integrativa da literatura,
abordará os desafios impostos à docência diante do distanciamento social no período
da pandemia da COVID-19.

2. MÉTODOS
Para esta revisão de literatura foi realizado levantamento bibliográfico nas bases
de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), National Library of Medicine (PUBMED),
Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico (Google Scholar). A busca
dos artigos científicos foi feita utilizando os termos “COVID-19”, “university teachers”,
“docentes”, “distance learning”, “mental health”, "psychological status”, “stress”,
combinados pelo operador booleano “AND”.

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
22
aaaaaaaaaaaaa Os artigos encontrados foram selecionados de acordo com os seguintes critérios
de inclusão: artigos publicados em 2020 e 2021, nos idiomas inglês, português ou
espanhol e artigos que estivessem disponíveis gratuitamente e que tratassem sobre os
impactos psicológicos nos docentes universitários diante dos novos métodos de ensino
impostos pela pandemia de COVID-19. Foram excluídos artigos que não abordassem a
perspectiva dos docentes diante da educação no cenário pandêmico e os artigos
duplicados.
Com base nesse critério de busca, foram localizados 68 artigos, e, após leitura do
título e resumo foram selecionadas 22 publicações que tinham acesso gratuito, nos
idiomas inglês, português ou espanhol. Os 22 artigos restantes foram lidos na íntegra
para verificação dos critérios de inclusão e, destes, foram excluídos 6 por não abordarem
mudanças no processo de ensino/aprendizagem no meio universitário diante da Covid-
19 ou seus impactos psicológicos.

Figura 1 – Fluxograma

Artigos localizados por


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

meio de pesquisa em bases de


dados n=68

Artigos excluídos
após leitura do título e
resumo
n=46
Artigos selecionados para
verificação de critérios de inclusão
n=22

Artigos excluídos
após leitura integral do texto
n=6

Artigos incluídos na
revisão
n=16
Fonte: Autoria própria.

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
23
aaaaaaaaaaaaa
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os 16 trabalhos selecionados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão
foram descritos na Tabela 1.
Tabela 1 - Artigos escolhidos para revisão
Autor e ano Título Métodos e objetivos Resultados e conclusão

Artigo original.
Analisar possíveis
Identifying
causas que podem
factors that
afetar a efetividade O questionário foi respondido por
influenced
do 700 pessoas, constatando que a
wellbeing
ensino/aprendizagem, utilização de vários dispositivos e
and learning
o conforto humano e ausência de interação com os
effectiveness
o bem-estar após a colegas foram fatores que
NADDEO e FIORILLO, during the
transição das salas de poderiam influenciar o
2021. sudden
aula para o elearning ensino/aprendizagem, podendo ser
transition
devido à COVID-19. apontados como uma base para
into
Foram desenvolvidos futura investigação e otimização
eLearning
questionários para na saúde e bem-estar de
due to the
distribuição entre professores e alunos.
COVID-19
alunos e professores
lockdown
de uma universidade
na Itália.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Dentre as doenças emocionais


Artigo original.
Stress, encontradas nos docentes, tem-se
Verificar o estado
Anguish, o estresse (89,4%) e ansiedade,
emocional dos
Anxiety and (94,2%). A resiliência, manifestou-
docentes diante da
Resilience of se no nível de 60,9% dos
URCOS et al.,2020 Covid-19 por meio de
University pesquisados, concluindo que o
questionário sobre
Teachers in estado emocional da maioria dos
estresse, angústia,
the Face of professores é baixo e a resolução
ansiedade e
Covid-19 por meio de sua resiliência é
resiliência.
média-alta.

The Impact of
the COVID-19
Pandemic Artigo original.
and Estimar o estado
Entre os docentes entrevistados,
Emergency psicológico, desafios
31,4% apresentavam sofrimento
Distance do ensino a distância,
grave e 38,2%, sofrimento leve a
Teaching on atividades de
moderado. Os docentes
the enfrentamento e
AKOUR et al.,2020 apresentaram níveis variados de
Psychological preocupações
sofrimento psicológico, porém
Status of relacionadas à
muitos apresentaram motivação
University pandemia entre
moderada (45,8%) e elevada
Teachers: A docentes da Jordânia
(27,0%) no ensino à distância.
Cross- no COVID-19 por meio
Sectional de questionário.
Study in
Jordan

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
24
aaaaaaaaaaaaa Autor e ano Título Métodos e objetivos Resultados e conclusão

Artigo original.
Teacher
Avaliar a experiência
Experiences A maior parte dos professores
de estresse e cargas
in Converting entrevistados vivenciou elevada
excessivas de
Classes to carga de trabalho e estresse na
MAREK et al.,2021 trabalho no período
Distance pandemia, com aulas online
de ensino online
Learning in quando comparado às aulas
durante a pandemia
the COVID-19 presenciais.
de COVID-19, por
Pandemic
meio de entrevistas.

Artigo original.
Online Segundo a maioria dos
estudar as percepções
teaching- professores, a motivação dos
de professores e
learning in docentes está associada a serem
alunos sobre os
higher convencidos que o ensino online
modos de
education tem mais vantagens que o
MISHRA et al.,2020 ensino/aprendizagem
during presencial. A percepção dos alunos
online durante a
lockdown sobre o ensino-aprendizagem
pandemia da COVID-
period of online é vista como uma
19, com aplicação de
COVID-19 alternativa para conclusão do
questionários aos
pandemic curso e acesso as aulas.
docentes.

Artigo original.
Estudar como a
necessidade de Os professores mais velhos de
Technostress
adaptação dos universidades foram os que mais
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

in Spanish
professores sofreram com as consequências
University
universitários às aulas negativas da tecnologia, devido à
ALBILLEIRA et al., 2021 Teachers
online afetou seu sua longa experiência em salas de
During the
desempenho aula. Eles observaram que na aula
COVID-19
profissional devido ao online ocorria um desajuste entre
Pandemic
technostress, por as demandas e os recursos.
meio de questionário
online.

Double
Artigo original.
Burden of
Avaliar a prevalência
COVID-19
e preditores de
Pandemic
sofrimento e Os níveis de angústia e
and Military
insegurança entre a insegurança foram considerados
Occupation:
comunidade da altos, enfatizando a necessidade
GHANDOUR et Mental
Universidade de de cuidados não somente na saúde
al.,2020 Health
Birzeit durante o física, mas também à saúde
Among a
bloqueio de COVID- mental durante a pandemia de
Palestinian
19, por meio de COVID-19.
University
pesquisa online com
Community
alunos, docentes e
in the West
funcionários.
Bank

The impact of Artigo original. Os professores mostraram escores


confinement Verificar o nível de mais baixos para estresse, sinais
AMARAL-PRADO et
in the estresse, a resiliência, depressivos e maior resiliência.
al.,2020
psychosocial os sintomas Essa pesquisa aponta para a
behaviour depressivos e as importância do cuidado da saúde

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
25
aaaaaaaaaaaaa Autor e ano Título Métodos e objetivos Resultados e conclusão

due COVID- estratégias utilizadas mental, principalmente durante a


19 among pelos membros da pandemia.
members of Universidade Estadual
a Brazilian de Campinas, no
university Brasil, antes e no
período do COVID-19.
As informações foram
coletadas durante os
testes finais do
semestre de 2018 a
2020.

Psychological
Artigo original.
Stress and Níveis mais elevados de estresse e
Avaliar associação
Vocal normalidade nos sintomas vocais
entre a alteração nos
Symptoms foram vistos antes do isolamento
níveis de estresse
Among social, com aulas presenciais.
psicológico e
University Porém, durante a transição para o
sintomas vocais entre
Professors in ensino remoto foi verificado
os professores
BESSER, LOTTEN e Israel: estresse e sintomas vocais. O
universitários
ZEIGLER-HILL, 2020 Implications estresse na fase de transição para
israelenses diante da
of the Shift to o ensino online foi associado a
necessidade do ensino
Online níveis maiores de sintomas vocais,
online síncrono
Synchronous em particular para aqueles que
durante a pandemia
Teaching relataram altos níveis de estresse
de COVID-19, por
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

During the psicológico durante a fase anterior


meio de questionário
COVID-19 ao ensino online.
online.
Pandemic

An
Artigo original. Expor Os resultados mostraram que os
Exploratory
as barreiras para o docentes e alunos enfrentaram
Study of the
alcance da qualidade barreiras auto impostas, bem
Obstacles for
LASSOUED, no ensino a distância como obstáculos pedagógicos,
Achieving
ALHENDAWI e durante a pandemia técnicos, financeiros ou
Quality in
BASHITIALSHAAER, do Coronavírus em organizacionais. Apesar do ensino
Distance
2020 amostra de online tornar-se uma necessidade
Learning
professores e alunos urgente diante da pandemia, a
during the
de universidades saúde mental deve ser
COVID-19
árabes. considerada.
Pandemic

Mostrou-se que os docentes não


Comentário. Discorrer
estavam habilitados para uso de
sobre os impasses da
novas tecnologias, havendo
Saúde mental adoção do modo
necessidade de capacitações.
de docentes online de educação e
Estudos mostraram que docentes
SILVA et al., 2020 universitários as repercussões na
estavam sendo acometidos pelo
em tempos saúde mental de
estresse, ansiedade, depressão e
de pandemia professores
incertezas, resultando em
universitários no
síndrome do esgotamento
Brasil.
profissional.

COVID-19: Revisão de literatura. As novas exigências


SANTOS, SILVA e
ensino Estudar na literatura acompanhadas do ensino remoto,
BELMONTE, 2021
remoto experiências do repercutiu em mudanças na rotina

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
26
aaaaaaaaaaaaa Autor e ano Título Métodos e objetivos Resultados e conclusão

emergencial ensino online pelo social e laboral dos docentes.


e saúde corpo docente Sendo essa classe afetada em
mental de universitário e dos termos financeiros, afetivos e
docentes impactos na saúde motivacionais. Junto à pandemia,
universitário mental desses vários sentimentos e novos
profissionais durante desafios alcançaram os docentes,
o isolamento social sendo importante o equilíbrio físico
decorrente da e mental no meio educacional e
pandemia do COVID- fora dele.
19.

Pesquisa original.
Estado
Aferir os níveis de
emocional
estresse, ansiedade e Os docentes apresentaram
del
depressão do corpo sintomas de depressão (32,2%),
profesorado
docente diante da ansiedade (49,4%) e estresse
OZAMIZ-ETXEBARRIA de colegios y
reabertura de escolas (50,6%). Com os presentes
et al., 2021. universidades
e universidades após achados, enfatiza-se a emergência
en el norte
6 meses de do cuidado da saúde mental dos
de españa
afastamento das docentes.
ante la covid-
aulas presenciais, por
19
meio de questionário.

Além de se deparar com a


utilização de novas tecnologias, os
docentes também se preocupam
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

com a falta de interação e


Sustentar a Revisão narrativa. afetividade com os alunos.
transferência Problematizar a Podendo esse ser um fator que
no ensino docência em tempos interfira no pleno aprendizado dos
CHARCZUK, 2021 remoto: de pandemia e alunos durante aulas online.
docência em argumentar com Porém, leva-se em consideração
tempos de embasamentos na que as duas formas de ensino
pandemia psicanálise. (remoto e presencial) podem ser
efetivas, desde que a capacitação e
disposição dos docentes estejam
envolvidas no processo de
adaptação ao novo.

A pandemia da COVID-19 gerou


impactos no ensino superior, com
destaque no curso de Odontologia,
Revisão bibliográfica.
O ensino da pois apresenta uma grande carga
Análise de achados na
odontologia horária de práticas clínicas.
literatura referente ao
SILVA G. C. et al., 2021 no contexto Entretanto, o ensino híbrido (online
uso de ferramentas
da pandemia e presencial) é visto como uma
digitais no ensino da
da COVID-19 opção promissora no intuito de
odontologia.
não atrasar a carga horária teórica
e promover discussões de casos
clínicos.

COVID-19 Artigo original. Na pandemia, a psiquiatria e


pandemia Reexaminar e outras ciências da saúde mental
JAKOVLJEVIC et al.,
and public melhorar o apresentaram-se como
2020
and global entendimento básico fundamental apoio ao bem-estar

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
27
aaaaaaaaaaaaa Autor e ano Título Métodos e objetivos Resultados e conclusão

mental de como as ciências dos pacientes com COVID-19 e


health from da saúde mental suas famílias, profissionais de
the podem ajudar a saúde e a sociedade.
perspective progredir construindo
of global uma sociedade
health compassiva e uma
security civilização empática
que seria mais eficaz
na prevenção e
superação de
epidemias por meio
do estudo de aspectos
psicológicos e
psiquiátricos da
COVID-19.

Fonte: Autoria própria.

Mudanças no ensino desencadeadas pela pandemia de Covid-


19
Visando barrar a disseminação do vírus SARS-CoV-2, a manutenção do
distanciamento social impulsionou transformações no modo de transmitir
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

conhecimento aos alunos dentro do ambiente universitário (SILVA et al., 2020). Nesse
contexto de mudanças, os professores de ensino superior passaram a utilizar novas
ferramentas para ministrar aulas respeitando o distanciamento. Dentre os espaços
virtuais usados para substituir a sala de aula presencial estão as plataformas online
Moodle, Microsoft Teams, Google Classroom e Skype (AKOUR et al., 2020). Um estudo
realizado na Universidade de Mizoram, na Índia, constatou que além da plataforma
online de ensino da própria universidade, os professores também utilizaram redes
sociais como Facebook, WhatsApp, Telegram e email para tratar de assuntos
acadêmicos com os alunos (MISHRA et al., 2020). Sobre a disposição das aulas online,
segundo Marek e colaboradores, o modo de ensino mais utilizado por professores foi a
combinação de entre aulas síncronas e assíncronas (MAREK et al., 2021).
Todas essas mudanças são significativas tendo em vista que a pandemia impôs
esse novo padrão de ensino, estruturado sobre ferramentas tecnológicas, de forma
repentina (AMARAL-PRADO et al., 2020). Além disso, deve-se considerar, também, que
antes do estabelecimento da pandemia em 2020 a maioria dos professores realizava
todas as suas atividades acadêmicas de forma exclusivamente presencial, segundo

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
28
aaaaaaaaaaaaa pesquisa realizada em universidades espanholas (ABILLEIRA et al., 2021). Diante desse
cenário, os docentes se mostraram ansiosos em cumprir as demandas técnicas
necessárias para realizar o ensino remoto (conexão, áudio, vídeo, apostilas), deixando
para segundo plano o estabelecimento da ligação entre docente, conhecimento e
discente (CHARCZUK, 2021). No entanto, apesar dos desafios presentes na utilização das
novas modalidades de ensino, acredita-se que a presença de tecnologias de
comunicação e informação no ambiente acadêmico se manterá mesmo após o período
de pandemia, visto que essas tecnologias oferecem vantagens adaptativas estruturais
que foram incorporadas pelas instituições de ensino (SILVA et al., 2021).

Desafios enfrentados pelos professores no período remoto


Diante das mudanças implementadas pela massificação do ensino online durante
a pandemia da COVID-19 os docentes universitários têm transformado o exercício da
profissão com criatividade (SANTOS et al., 2021). No entanto, esse cenário está repleto
de desafios que precisam ser enfrentados pelos profissionais da educação que atuam
no ensino superior. Entre esses obstáculos estão a falta de confiança dos docentes na
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

eficácia do ensino online; desmotivação; apego ao hábito da prática presencial; escassez


na oferta de preparo da comunidade acadêmica para a implementação do modo online;
baixa velocidade de conexão de internet e o fato de o ambiente doméstico não ser
conveniente para a prática da docência (LASSOUED et al., 2020). Professores também
relataram que o desconforto ao trabalhar no ambiente digital usando a tecnologia como
ferramenta e a necessidade de adaptar aulas para que se tornassem mais
compreensíveis tendo em vista a distância entre aluno e professor foram barreiras a
serem vencidas (MAREK et al., 2021). O estabelecimento do eLearning também afetou
a percepção de conforto e bem-estar físico dos professores, pois estes relataram que
dores relacionadas à postura podem surgir após duas horas de aula, além de sentirem
necessidade de mudar de posição, mas permanecer na mesma postura durante toda a
aula (NADDEO et al., 2021).

Estado psicológico dos professores


O isolamento social, que é uma medida imposta para evitar a disseminação da
Covid- 19, tem um grande impacto na saúde mental das pessoas. Esse impacto está

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
29
aaaaaaaaaaaaa relacionado de forma negativa ao estado emocional, pois elevou significativamente os
níveis de estresse (89,4%), ansiedade e angústia (92,3%), principalmente em mulheres
e na faixa etária de 44 a 54 anos (CASIMIRO-URCOS et al., 2020). O confinamento trazido
pelo isolamento influencia diretamente o estilo de vida de forma negativa e pode causar
muitos problemas psiquiátricos individuais e coletivos, como pânico, ansiedade,
depressão, transtornos de estresse pós-traumático, entre outros sintomas
(JAKOVLJEVIC et al., 2020)
É evidente o impacto psicológico e social em professores universitários
decorrentes do isolamento social desta pandemia, causados pelo confinamento, medo
do vírus e mudanças no sistema educacional no mundo todo (CASIMIRO-URCOS et al.,
2020). O medo decorrente da Covid-19 e suas medidas de prevenção, dentre elas o
isolamento social, podem levar à decadência o estado psicológico de vários
componentes da sociedade, incluindo os acadêmicos. Por ser um acontecimento sem
precedentes no país, em que a maior parte das atividades educacionais aconteciam
dentro das instituições de ensino, acabou gerando inúmeros desafios para os
professores universitários, que tiveram que adotar estratégias de ensino diferentes das
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

usadas dentro das salas de aula (AKOUR et al., 2020.)


Infelizmente, as mudanças nacionais e globais na metodologia de ensino
decorrentes da Covid-19 têm impactado negativamente a atividade docente, pois tem
produzido precariedade e intensificação no trabalho. Nesse cenário, o professor, que
prestava um serviço pontual e específico, passou a ter que cumprir metas muito
maiores, flexíveis e aceitar a multiplicidade de tarefas e pressões, de ordem física e
mental, para se manter empregável (SANTOS et al., 2021). Nesse contexto, resolução de
problemas foi a estratégia de enfrentamento mais frequente utilizada pelos professores
(AMARAL-PRADO et al., 2020).
Com relação à saúde mental dos docentes universitários, pesquisas foram
realizadas com docentes de universidades de vários países ao redor mundo, sendo
observados quadros de insegurança, sofrimento, estresse, angústia, depressão,
ansiedade e technostress (AKOUR et al., 2020; BESSER et al., 2020; CASIMIRO URCOS et
al., 2020; GHANDOUR et al., 2020; ABILLEIRA et al.,2021; OZAMIZ-ETXEBARRIA et al.,
2021). Em contrapartida, estudos que estabeleceram um comparativo entre o nível de
sofrimento de professores e alunos constataram que os alunos apresentaram maior

A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
30
aaaaaaaaaaaaa grau de sofrimento e foram mais afetados durante o ensino emergencial (AMARAL-
PRADO et al., 2020; GHANDOUR et al., 2020). Além disso, com respeito ao tempo
empregado com atividades do ensino à distância, os docentes relataram menor tempo
gasto com eLearning em comparação com os discentes (NADDEO et al., 2021).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pandemia da COVID-19 exigiu que estratégias de ensino online fossem
adotadas nas universidades ao redor do mundo. No entanto, a transição entre ensino
presencial e remoto impôs novos desafios ao trabalho docente como sobrecarga laboral;
coincidência de demandas profissionais e domiciliares no mesmo ambiente;
necessidade de adquirir novos conhecimentos sobre recursos digitais, bem como
urgência de adaptar material para aulas no formato online. Diante desse cenário,
professores universitários podem se ver pressionados a atender uma nova realidade na
qual a aula virtual se tornou a forma de translacionar conhecimento respeitando o
isolamento social. Estudos inseridos neste trabalho concluíram que a saúde mental dos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

docentes também pode ter sido afetada pelo distanciamento decorrentes do


confinamento, medo do vírus e mudanças no sistema educacional. Dessa forma, os
achados da literatura sugerem que o distanciamento social gerou desafios à docência
como a mudança na forma de compartilhar conhecimento remotamente e impactos
negativos na saúde mental.

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A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


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A PANDEMIA DE COVID-19 E OS DESAFIOS IMPOSTOS À DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA
34
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO III
EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM
SAÚDE: EXPERIÊNCIA
INTERPROFISSIONAL
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-3
Amanda Neves da Costa 1
Renan Dutra da Cunha 1
Thereza Cristina da Costa Patricio 2
Emmy Uehara Pires 3
Luciene de Fátima Rocinholi 4
Jaqueline Rocha Borges dos Santos 5
1 Graduando (a) em Psicologia. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ.
2 Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
- UFRRJ.
3 Professora Adjunta do Departamento de Psicologia. Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Psicologia (PPGPSI). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ.


4 Professora Associada do Departamento de Psicologia e Docente dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e

em Educação Agrícola. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ.


5 Professora Adjunta do Departamento de Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro –

UFRRJ.

RESUMO
O presente artigo oferece um relato das experiências práticas e teóricas vivenciadas por
alunos do PET-Saúde Interprofissionalidade da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, no município de Seropédica, e das relações construídas com tutores,
preceptores e profissionais da saúde local. As atividades se desenvolveram em quatro
Unidades Básicas do município e foram realizadas por oito integrantes dos cursos de
Farmácia e Psicologia, contando com a presença de professoras tutoras da própria
universidade, de dois preceptores e da equipe de saúde dos serviços. São discutidos e
relatados o processo e as experiências interprofissionais de ida a campo, a relação com
os preceptores e com a equipe de saúde, as supervisões e reuniões na UBS, e as reuniões
de grupo do PET-Saúde. Por fim, a partir da experiência, foi possível constatar a
relevância dessas iniciativas e necessidades da criação de novos projetos como esse e
manutenção dos mesmos considerados fundamentais para a formação plena do
profissional de saúde.

Palavras-chave: Interprofissionalidade. Educação e Humanização em Saúde. Relação


docente-tutor-preceptor.

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 35


aaaaaaaaaaaaa
ABSTRACT
This article provides a report of the practical and theoretical experiences accomplished
by undergraduate students of PET-Saúde Interprofissionalidade from Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, in the municipality of Seropédica, and reports the
relationships that was built with tutors, preceptors and local health professionals. The
activities were developed in four Health Basic Units of the municipality and were
accomplished by eight members of Pharmacy and Psychology undergraduate courses,
with the presence of tutor professors from the university itself, two preceptors and the
health services team. The process and the interprofessional practical experiences, the
relationship with the preceptors and the health team, the supervisions and the meetings
in the Health Basic Units, and the PET-Saúde group meetings are reported and discussed.
Finally, from experience, it was possible to see the relevance of these initiatives and the
needs of creating new projects like this and maintaining them as essential for the full
training of health professionals.

Keywords: Interprofessionality. Health Education and Humanization. Student-tutor-


preceptor relationship.

1. INTRODUÇÃO
Na última década, a formação profissional em saúde passou por muitas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

mudanças visando reorientar a lógica do ensino. A implementação de estratégias


metodológicas mais ativas e mudanças curriculares com papel extensionista,
impulsionando a relação ensino, serviço e comunidade já foram medidas extremamente
relevantes para a transformação do futuro profissional da área. Entretanto, ainda não
eram suficientes para vencer uma barreira fortemente cultural estabelecida tanto nas
universidades quanto nos locais de atuação: a divisão do trabalho por especificidade
profissional. O embate da incoerência quanto ao formar separadamente profissionais
para que no futuro trabalhem juntos e a implicação disto na qualidade do serviço
ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) trouxeram a necessidade de medidas que
permitissem a Educação Interprofissional (EIP) (COSTA, 2016, p.197).
A EIP possibilita vivências em que: “duas ou mais profissões aprendem umas com
as outras para melhorar a colaboração e a qualidade do atendimento” (REEVES, 2016,
p.186). Assim, os profissionais utilizam competências específicas de suas áreas em prol
de realizar um trabalho colaborativo em que ações coletivas possam promover uma
atenção mais adequada às necessidades das pessoas, das famílias e da comunidade no
âmbito dos cuidados primários à saúde. Nessa perspectiva, é possível obter resultados

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 36


aaaaaaaaaaaaa que atendam não somente à melhoria do serviço prestado, mas também o fim da
competição entre os profissionais de saúde, demonstrando na prática que a
responsabilidade coletiva deve estar acima da necessidade de poder dentro de uma
equipe (ESCALDA; PARREIRA, 2018, p.1718). Portanto, a colaboração interprofissional é
um recurso para enfrentar problemas do modelo de atenção e da força de trabalho, e
contribuir para elevar a efetividade dos sistemas de saúde (MADRUGA et al., 2015,
p.806).
Além disso, dentro de uma prática interprofissional, é importante salientar a
importância da humanização em saúde. Em 1999, foi criado, pela Secretaria da
Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, o Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar (PNHAH), com o objetivo central de fomentar uma mudança
estrutural nos atendimentos da área hospitalar. Assim, procurou-se promover uma
melhora na qualidade e eficácia dos atendimentos hospitalares através da capacitação
dos profissionais de saúde com a valorização da vida humana e da cidadania atrelados à
atenção em saúde, além de realizar parcerias e trocas de conhecimentos e ser
responsável pelo desenvolvimento de uma série de indicadores de resultados e sistemas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de incentivo ao tratamento humanizado (NOGUEIRA-MARTINS; BOGUS, 2004, p.45).


O sistema de saúde como um todo, e não apenas a área hospitalar, se tornou o
foco da implementação da humanização em saúde em 2003, quando o Ministério da
Saúde definiu a Humanização do SUS, momento no qual o Programa de Humanização
passa a ser denominado Política Nacional de Humanização (PNH). Desta forma, a
humanização da saúde, promovida através deste programa, direcionou-se à promoção
de mudanças no cuidado dos profissionais, orientado pelo respeito à autonomia e à
cultura dos próprios usuários, além da valorização dos diferentes sujeitos participantes
no processo de produção de saúde e do estreito contato com a promoção da saúde.
Ademais, pode-se pensar que a humanização em saúde também é responsável por
contribuir para práticas interprofissionais, uma vez que tem como um dos objetivos
democratizar as relações de trabalho entre os próprios profissionais de saúde
(NOGUEIRA-MARTINS; BOGUS, 2004, p.45-46).
Tendo em vista a necessidade de introduzir a EIP nos cursos de graduação
buscando a prática da humanização em saúde, foi criado no Brasil o Programa de
Educação pelo Trabalho para a Saúde do Ministério da Saúde (PET-Saúde). O programa

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 37


aaaaaaaaaaaaa destina-se a fomentar grupos interprofissionais de aprendizagem tutorial pelo trabalho,
visando à formação dos profissionais da saúde para uma prática colaborativa, necessária
para a integralidade do cuidado, um dos princípios do SUS (CAMARA et al., 2015, p.819).
Portanto, o PET-Saúde da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) buscou
se inserir em Unidades Básicas de Saúde do município de Seropédica com intuito de
agregar e aprender com os diferentes profissionais e suas visões sobre um mesmo caso
clínico.
Considerando o exposto, as Unidades Básicas de Saúde fazem parte da Atenção
Primária à Saúde, e estas, por sua vez, são consideradas a “porta de entrada” do SUS.
Possuem como principal função permitir a articulação de ações que visam a promoção
da saúde e a prevenção de complicações, além de possuir equipes interprofissionais
como forma de trabalho em equipe. Neste nível de atenção à saúde, a Estratégia da
Saúde da Família (ESF) adquire a posição de principal modalidade de atuação, agindo
nos territórios por meio do diagnóstico situacional e favorecendo o cuidado em saúde
das famílias nas comunidades nas quais atua de forma compromissada (SANTOS et al.,
2015, p.990).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo relatar a experiência teórica
e de campo vivida pelo PET-Saúde Interprofissionalidade da UFRRJ no município de
Seropédica e a relação construída com tutores, preceptores e profissionais da saúde
local.

2. PERCURSO METODOLÓGICO
O seguinte artigo trata-se de um relato de experiência interprofissional de alunos
integrantes de um dos grupos do PET – Saúde e Interprofissionalidade UFRRJ no
município de Seropédica (RJ), no período do segundo semestre de 2019. A experiência
se deu a partir das atividades desenvolvidas em quatro Unidades Básicas de Saúde da
cidade. Integraram este grupo 8 estudantes dos cursos de farmácia e psicologia,
contando também com a presença de professoras tutoras da UFRRJ, além da preceptora
que é Assistente Social do Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), o preceptor
Psiquiatra do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e a equipe dos serviços.
As atividades desenvolvidas se subdividiram em: 1) saídas a campo e 2) a
experiência de supervisão. O primeiro ponto corresponde aos momentos em que os

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 38


aaaaaaaaaaaaa alunos estavam inseridos fora dos muros da universidade, em trabalhos em conjunto
com a preceptora e a equipe das unidades. Já o segundo ponto está relacionado com o
processo de supervisão, tanto nas próprias unidades em conjunto com a equipe, como
com as tutoras e o grupo completo de alunos.
Para desenvolvimento do relato, com auxílio das tutoras, inicialmente se
escolheu uma temática geral para o artigo e a partir desta se determinou os tópicos mais
relevantes e marcantes da vivência, baseado nas informações encontradas no diário de
bordo dos alunos e em suas recordações da ida a campo. Em seguida, os alunos
subdividiram entre si os tópicos que teriam mais familiaridade para relatar e baseado
em informações encontradas na literatura se desenvolveu a discussão do presente
estudo.

3. DISCUSSÃO
Ida a campo
A ida a campo se iniciou no mapeamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS)
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de Seropédica, que são serviços que ficam próximas à população, e buscam ser a porta
de entrada da Atenção Primária. Essas unidades têm o intuito de promover saúde e
prevenir doenças, e com isso contam com programas como a ESF e o Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS), além de uma equipe multiprofissional de saúde,
para que possam avaliar cada paciente e fazer encaminhamentos necessários (VALLE,
2018). Nas unidades do município de Seropédica, isso não se difere, em algumas delas
também existem programas como o da Saúde do Trabalhador e o IST/AIDS.
Este mapeamento tinha como intuito avaliar quais unidades os alunos iriam se
inserir, como também conhecer como funcionam esses programas da atenção primária
em cada serviço, e, por fim, apresentar os membros do PET-Saúde Interprofissionalidade
para os profissionais das equipes de cada programa. A ida a campo não se caracteriza
apenas por fazer alguma atividade para algum usuário, mas sim também entender cada
serviço visitado e cada profissional apresentado. Esse percurso era importante à medida
que cada local possui sua própria particularidade e com isso, apresentar uma forma de
funcionar diferente.

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 39


aaaaaaaaaaaaa A ESF, um dos programas existentes como forma de expandir o trabalho da
atenção básica, foi onde o grupo de alunos fez suas atividades, sendo a principal
marcada por visitas domiciliares, em conjunto com a assistente social-preceptora do
programa PET, e os agentes comunitários de saúde. As visitas domiciliares são uma
forma de assistência à saúde das famílias, nas quais os agentes comunitários e, caso
necessário, junto com outros profissionais, vão até a casa dessas famílias para prestar
uma assistência direta. Com a chegada da equipe do PET, essas visitas passaram a contar
com os alunos de forma interprofissional, sendo assim, além dos agentes e da
preceptora – que como assistente social do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)
também fazia algumas visitas – passaram a ter estudantes do curso de farmácia e
psicologia.
As visitas permitiram ver de perto o trabalho dos Agentes Comunitários. Segundo
Costa et al. (2013, p.2154), os agentes são profissionais de saúde, que também são
membros da comunidade, e trabalham como mediadores entre as UBS e a população. A
comunicação é uma das ferramentas de trabalho desses agentes que precisam contatar
famílias usuárias da ESF daquela unidade. Isto é, eles conseguem ser um agente
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

transmissor de informações, e assim podem concretizar ações, como por exemplo,


explicar formas de ter hábitos mais saudáveis promovendo educação em saúde. Por fim,
as visitas domiciliares feitas pelos agentes são uma forma de fazer com que a atuação
da atenção básica de saúde saia dos muros da instituição.
O ato de ir a campo nas visitas domiciliares, além de ser uma forma de conhecer
essas famílias, também era uma forma de ver como era cada território de cada UBS, e
assim poder observar como era o trajeto que a população precisava fazer para chegar
aos serviços. Dentro das quatro UBS em que as atividades transcorreram, foram
visitadas casas de pacientes acometidos por diversas condições médicas, tais como
derrames, paralisia cerebral, esquizofrenia, e também uma visita a um lar de idosos do
município.
Outro ponto importante das visitas foi conhecer e compreender o território,
como cada moradia apresenta características inerentes ao local, percebendo assim
como tal comunidade e ambiente funcionam em conjunto. Isso foi importante na visita
do lar de idosos, pois os alunos e a preceptora notaram que o local não possuía uma
infraestrutura adequada. Notou-se que havia apenas dois funcionários para cuidar de

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 40


aaaaaaaaaaaaa cerca de doze idosos. Essa escassez de pessoal sinalizava um ambiente descuidado e
em condições precárias de limpeza, além da desorganização das consultas médicas
daqueles moradores. Devido a essa visita, foram pensadas em formas de acionar o
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), para que aqueles idosos pudessem
ter uma condição de vida mais adequada.
A observação do local é também uma forma de perceber como era o ambiente e
a dinâmica familiar. Este aspecto pode afetar o cuidador e a pessoa que está sendo
assistida, sendo que o primeiro chamou maior atenção do grupo. Durante algumas
visitas, pôde-se perceber que estes cuidadores demonstravam também precisar de
assistência, muitas vezes, perceptível em simples conversa. Por exemplo, alguns
cuidadores tinham a fala calma, mas sempre voltada para a necessidade de cuidar
daquelas pessoas que precisavam deles, outras já tinham um jeito mais agitado, mas
também voltados para mesma necessidade. Mesmo com perfis de cuidado diferentes,
e ainda, compreendendo que necessitavam cuidarem de si mesmos, era deixado como
segundo plano, já que suas preocupações buscavam se voltar para o outro.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Relação com a preceptora e as profissionais da UBS


De acordo com Madruga et al. (2015, p.809), o papel do preceptor dentro da
prática interprofissional é de extrema importância. Ele auxilia no estreitamento da
relação universidade-comunidade nas UBS, bem como fornece subsídios e
direcionamentos sobre a prática de saúde na formação dos estudantes. Desse modo, a
preceptora, de forma empática, expansiva e didática, incluiu os alunos do grupo PET-
Saúde Interprofissionalidade na equipe das UBS às quais fazia parte. Além disso, exercia
um papel de aproximação entre os agentes comunitários e os alunos que
acompanhavam as visitas, de modo a constituir um grupo único e integrado.
O laço criado entre estudantes-preceptora e estudante-profissionais da UBS foi
crucial para o desenvolvimento e entendimento do conceito de interprofissionalidade.
As vivências e os conhecimentos trocados, agregaram não apenas aos envolvidos
diretamente, mas também à população que faz uso do serviço (FERREIRA, 2007, p.71).
Nesta perspectiva, graças à possibilidade de vivenciar essa relação aberta e
transparente, os alunos do PET-Saúde Interprofissionalidade em muitos relatos de suas

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 41


aaaaaaaaaaaaa experiências acabaram por perceber a importância do trabalho interprofissional com a
preceptora e os profissionais do local de atuação.
Como exemplificação, torna-se interessante relatar uma das visitas realizadas
entre estudantes, uma agente comunitária e a preceptora. Esta sempre se direcionava
aos discentes enquanto futuros profissionais e não apenas enquanto alunos, solicitando
compartilhamento de conhecimento, percepções e intervenções sempre que
necessárias nas visitas. Este tratamento se aplicava também aos agentes comunitários,
que pareciam todos se sentirem confortáveis com a sua presença. A horizontalidade na
forma de se relacionar e o comprometimento com suas atividades eram algo que
chamava a atenção em seu fazer profissional.
Em uma das visitas a uma casa de uma idosa que havia sofrido Acidente Vascular
Cerebral (AVC) e que estava sob os cuidados de sua filha, que recebeu a equipe, pode-
se verificar algumas destas afirmações. Antes da visita, a preceptora se reuniu em uma
sala com os alunos e com a agente responsável pelo caso, solicitando que a última o
apresentasse e tirasse as dúvidas dos alunos presentes no local. Além disso, informações
sobre o território foram compartilhadas a fim de se entender melhor o contexto ao qual
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

a visita iria se desenrolar e as dinâmicas de adoecimento e cuidado de muitas famílias


ali presentes.
O que mais chamou a atenção é o olhar atento e integral à situação e as
intervenções por partes da preceptora, que serviram de grande aprendizado de como
fazer e pensar a saúde na Atenção Básica. Na visita, ela levantou questionamentos à
filha da senhora que havia sofrido AVC — cuidadora e, também, alguém que necessitava
de cuidados — que permitiram reflexões e elaborações por parte dela própria, que
estava cansada e adoecendo por conta de cuidados exaustivos oferecidos à sua mãe e
uma falta de atenção a suas próprias necessidades de saúde. Com a visita, a equipe
pôde, junto com a própria usuária, permiti-la questionar acerca de seus cuidados, da
importância de aceitar ajuda de terceiros, do seu retorno à vida social (incluindo idas à
igreja e visitas a amigos), ao lazer e um maior cuidado com o próprio corpo.

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 42


aaaaaaaaaaaaa Supervisões interdisciplinares
3.3.1. Reuniões na UBS com a preceptora e a equipe
Antes da ida a campo, a preceptora sempre se reunia com os alunos e o agente
comunitário atuante na UBS, em alguns momentos com outros profissionais da saúde
envolvidos no caso. Nestas reuniões, repassávamos o histórico clínico do paciente até o
momento e era um espaço para discussões quanto às medidas tomadas até então e o
que poderia ser diferente. Alunos e profissionais trocavam conhecimento em prol de um
objetivo comum: melhorias para a qualidade de vida do paciente. Esses espaços de
supervisão com o preceptor e os profissionais atuantes na UBS proporcionam o
encontro sobre noções e conceitos de cuidado em saúde que, na academia, são difíceis
de serem ensinados, e somente a experiência no campo possibilita aprender (CAMPOS;
BELISÁRIO, 2001, p.141).
Após as visitas também ocorria uma reunião na própria UBS para se relatar a
experiência vivenciada por cada um, em que muitas vezes o olhar de diferentes
profissionais e alunos de diferentes cursos proporcionava pontuações importantes e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

distintas sobre um mesmo paciente. Nesse momento, surgiam novas ideias de


intervenções para o caso clínico, desde a possibilidade de interação medicamentosa até
terapia em um grupo familiar.
Deste modo, os profissionais da UBS percebiam o papel do aluno acadêmico e a
contribuição no trabalho em conjunto. Em diversos momentos, as equipes das UBS
sinalizaram apreciar a presença, o auxílio e a participação dos alunos, tal como
observado na literatura sobre o efeito da presença dos grupos PET-Saúde
Interprofissionalidade em Unidades de Atenção Básica (RODRIGUES et al., 2012, p.190;
REEVES, 2016, p.192).

3.3.2. Reuniões do grupo PET e a importância das supervisões


A interprofissionalidade esteve presente não somente nas atuações em campo.
Era possível ser percebida também nas reuniões do próprio grupo de discentes e
tutoras, que aconteciam em uma frequência de duas a três semanas na própria
universidade. Nelas, todos tinham espaço de fala, e a troca de opiniões e percepções
dos alunos de distintos cursos de graduação era sempre algo muito produtivo. Ainda, de
maneira similar, também era interessante notar como cada caso era visto e analisado

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 43


aaaaaaaaaaaaa de forma variada, e, ao final, a sua construção era estabelecida em conjunto e de forma
interprofissional. Com isso, ao invés de ser aplicada a uma ótica de apenas um grupo de
profissionais específicos, a interprofissionalidade presente nas reuniões permitia que as
situações fossem entendidas de formas muito mais ampliadas, levando em conta a troca
de conhecimentos específicos de cada graduação.
Nas reuniões, todos eram instigados a compartilhar suas vivências, e sempre que
algum membro estava ausente ou em silêncio, as tutoras buscavam fazer com que este
interagisse com o grupo explicitando suas percepções e porventura, suas angústias.
Todas as percepções e os conhecimentos de cada membro eram valorizados e
aproveitados nos encontros, estando todos abertos a compartilhar e receber novas
informações e perspectivas. Era notável o empobrecimento da discussão nos dias aos
quais todos os integrantes pertencentes a um curso em específico não compareciam.
Nestas ocasiões, era possível observar sobre a importância do trabalho interprofissional
em um entendimento mais detalhado sobre a experiência.
As reuniões tinham também como função servir como suporte teórico e técnico
para a atuação prática dos alunos. Insere-se aqui, portanto, a importância da supervisão
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

para a atuação interprofissional e da responsabilidade inerente a este processo. Como


nos mostra Ferreira (2007, p.34), a supervisão que está interessada também no
desenvolvimento profissional — além, claro, com o compromisso com o serviço —,
associa o controle com a educação e visa a resolução dos problemas através de uma
ação sistemática e planejada de maneira cooperada com os supervisionados. Ainda de
acordo com Ferreira (2007, p.37), há a sugestão de uma nova nomenclatura criada por
Campos (2001), nomeada de “supervisão matricial”, que expõe bem o efeito
potencializador desta prática. Deste modo,

o termo supervisão significa olhar de fora e em uma posição de autoridade


superior (super visão), supostamente capaz de identificar e corrigir
equívocos. Por outro lado, o termo matriz traz a ideia de um lugar (espaço
comum) onde as coisas são geradas; ou seja, um saber externo
potencializando, questionando e se compondo com o saber local, de cada
equipe, para produzir, dentro do espaço coletivo, novos saberes, novos
modos de fazer as coisas (CAMPOS, 2001 apud FERREIRA, 2007, p.37-38).

Em nossas supervisões, podíamos nos apoiar em profissionais que possuíam um


olhar mais experiente e externo da situação. Detalhes antes não percebidos,
conhecimentos mais aprofundados do sistema de saúde, bem como anos de experiência

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 44


aaaaaaaaaaaaa eram compartilhados pelas tutoras nas reuniões de grupo. Além disso, todas nossas
dúvidas, receios e inseguranças eram tratados e atendidos de forma que houvesse a
melhor resolução possível, tanto para os discentes quanto para o próprio serviço no qual
o PET estava atuando. Com isso, as tutoras responsáveis podiam enxergar a situação
através das vivências de cada aluno em campo, auxiliando na construção de casos e
estratégias de ação, no reconhecimento de equívocos e contribuindo para o
desenvolvimento profissional de cada um.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho interprofissional é uma estratégia que busca integrar os diversos
profissionais de saúde para se pensar no paciente, de maneira conjunta, em seus
diferentes aspectos. Conforme apresentado acima, é possível perceber a importância
da interprofissionalidade à medida que os participantes buscavam ter um olhar conjunto
sobre cada indivíduo, levando aspectos de cada profissão. Através da experiência
relatada foi possível se notar a troca gerada entre alunos-tutores-profissionais da saúde.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Além disso, deve-se salientar a importância das visitas domiciliares, pois estas
aproximavam os usuários aos serviços de saúde, e ressalta ainda mais a relevância do
papel dos Agentes Comunitários de Saúde. Por outro lado, deve-se ressaltar o quanto
ainda não são valorizados dentro da área.
Os processos de supervisão, tanto nos serviços com a preceptora e os
profissionais de saúde das unidades, como do próprio PET com as tutoras, ampliavam
os conhecimentos obtidos dentro da parte prática. Isto é, nestes encontros era possível
observar de maneira mais aprofundada o processo de compartilhamento de
conhecimentos de cada profissão, bem como a ampliação da visão de cada caso.
Ademais, com a elaboração dos mesmos, era possível pensar quais tipos de intervenções
poderiam ser feitas para determinadas situações. As reuniões se mostraram essenciais
para transformar cada momento ou sentimento vivenciado de maneira singular ou em
dupla, e consequentemente, ser transmitido a todo o grupo.
Por fim, desafios também surgiram ao longo do período que ocorria o programa
PET, um deles representado pela dificuldade de conciliar os horários dos alunos do
grupo, como também a dificuldade da inserção em campo. Ainda, o prosseguimento das
visitas foi interrompido devido à pandemia de Sars-CoV-2 em 2020, que impossibilitou

EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 45


aaaaaaaaaaaaa que os alunos seguissem com a parte prática. Dessa forma, os estudantes não puderam
continuar realizando as visitas domiciliares, e assim não conseguiram acompanhar os
casos visitados anteriormente. Apesar da dificuldade para entrada em campo, o
surgimento da pandemia, e a visualização da interprofissionalidade entre os diferentes
cursos na prática, as discussões teóricas foram essenciais para um melhor preparo dos
alunos e melhor compreensão de suas atuações em grupo.

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EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA INTERPROFISSIONAL 47


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO IV
ENSINO REMOTO DURANTE A
PANDEMIA: REFLEXÕES E
REPERCUSSÕES NA FORMAÇÃO EM
ENFERMAGEM
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-4
Ary Wittor Freire Miranda Angelim Agra ¹
João Paulo Xavier Silva ²
Ariadne Gomes Patricio Sampaio ³
¹ Graduando do curso de Enfermagem no Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (UNILEÃO)
² Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde na Universidade
Estadual do Ceará – UECE.
³ Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentável pela Universidade Federal do Cariri – UFCA.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RESUMO
Sendo o processo de ensino um agente em constante transformação, mostra-se a relevância em
compreender as suas particularidades, para, assim, melhor assistir educandos e educadores.
Diante da pandemia do vírus SARS-COV-2, o processo ensino-aprendizagem necessitou de
mudanças e adaptações, buscando atender a necessidades e compreender as perspectivas na
formação em enfermagem. O presente estudo objetiva refletir acerca da formação em
enfermagem considerando as repercussões do ensino remoto provido durante a pandemia de
Covid19. O ensino em enfermagem, baseando-se nos preceitos determinados pelas diretrizes
curriculares nacionais de 2001, deve concretizar implicações com humanização, empatia,
proatividade e, sobretudo, sensibilizações ao exercício do cuidar. A educação, não sendo um
processo estático, precisa ser desenvolvida respeitando às vivências ímpares, à alteridade, além
de ser desenvolvida sob o viés de compreensão das especificidades dos sujeitos, bem como suas
importâncias para a construção da malha sociopolítica do ensino. Dessa forma, busca-se um
ensino democratizador, isto é, transformador, receptivo, compreensivo, acolhedor e,
consequentemente, libertador. Logo, a enfermagem, por ter destaque no enfrentamento a
grandes doenças e por ser protagonista na compreensão do cuidado, deve, antes de tudo,
buscar ser um instrumento libertário, ou melhor, um instrumento que, a partir da educação
democrática, promova transformações individuais, seja nos profissionais, seja nos pacientes,
para, por fim, transformar a malha social. Ademais, espera-se, na atualidade, que o ensino em
enfermagem, essa ciência e arte, sensibilize a novos profissionais corajosos, altruístas e
resilientes para, assim, estarem implicados a vivenciarem situações várias de modo profícuo.

Palavras-chave: Educação em Enfermagem. COVID-19. Instruções para Profissionais de


Enfermagem.

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
48
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Historicamente, a humanidade sempre se questionou sobre qual deveria ser o
melhor método de construção e de transmissão do conhecimento. Na formação em
enfermagem, os pressupostos apontam para vulnerabilidades que perduram durante
quase todos os períodos históricos do Brasil, uma vez que o modelo de ensino, tido até
a atualidade, vem desde o início do século XX, quando, em 1923, o protótipo modo Anna
Nery foi implantado no país. Essa formação necessita de aprimoramento, além de
sensibilização para um senso de justiça, solidariedade, humanidade e, sobretudo,
alcance para todos. Dessa maneira, o processo de ensino é um agente em constante
modificação, isto é, está sujeito às inovações das conjunturas históricas, sociais,
culturais e políticas dos países (SILVA et al, 2021).
Nessa perspectiva, o Brasil possui uma metodologia baseada em um projeto de
ensino vertical e, até certo nível, ditatorial, uma “Educação-bancária”, como explicou
Freire, ou seja, o entendimento do professor como detentor de todo o conhecimento e
os alunos como simples receptáculos a espera de serem preenchidos. Contudo, essa
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

forma de educar não considera e, no geral, não aproveita o arcabouço de repertório que
os discentes adquiriram no seu desenvolvimento educacional fora do núcleo acadêmico
normativo. Isto significa, que os alunos também são agentes transformadores do seu
conhecimento e, por isso, devem ser respeitados como sujeitos ativos nesse processo
(FREIRE, 1996).
Regem a formação em enfermagem, no Brasil, as Diretrizes Curriculares
Nacionais de 2001 (Resolução CNE/CES No. 3, de 7 de novembro de 2001), essas
sugerem a uma formação generalista, focada no profissional humanizado, ético, crítico,
reflexivo e empático, sendo tais subjeções essenciais as questões de educação, além de
comprometidas com as questões sociais. Todavia, apesar dessas diretrizes, muitos
obstáculos interferem para que essas subjetividades sejam postas em prática, haja vista
que, teoricamente, essas sensibilizações não podem ser transmitidas, mas sim
desenvolvidas a partir de um processo “Ensino-educação”, base do ideário freiriano,
baseado na alteridade; isto é, a compreensão da importância do outro para a construção
coletiva/pessoal (BRASIL, 2001; FREIRE, 1996).

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
49
aaaaaaaaaaaaa Outrossim, diante da pandemia do vírus SARS-COV-2, Covid-19, os modos de
vivenciar as sociedades e de se relacionar na malha social foram modificados, porquanto
foram necessárias medidas restritivas para evitar o contágio desse vírus e para, dessa
forma, preservar a vida. Diante disso, as instituições de educação também tiveram que
modificar suas formas de lecionar e de interagir com os alunos na tentativa de se
enquadrarem nesse cenário, além de tentarem manter o cronograma de assuntos.
Entretanto, essa modificação afetou e “interseccionalizou” dimensões – domésticas,
educacionais, sociais, emocionais, psicológicas e outras – que, anteriormente a
pandemia, desfrutavam de determinada autonomia (LIRA et al, 2020).
A Pandemia da COVID-19 trouxe para o processo ensino-aprendizagem, de modo
quase obrigatório, remodelações importantes as formas tradicionais de educar, já que
aulas presenciais foram substituídas e reconfiguradas, agora ajustadas ao ensino
remoto, modelo híbrido (aulas síncronas e assíncronas). Assim, por conta do
distanciamento, tal modelo, por sua vez, intensificou os obstáculos as relações
interpessoais, porquanto realidades destintas de privilégios e de marginalizações
acabaram por ser, ainda mais, escancaradamente vivenciadas (GALVÃO et al, 2021).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Ao longo do desenvolvimento das civilizações humanas, a educação, no geral,


sempre foi compreendida como um privilégio restrito às camadas sociais consideradas
elitizadas. De maneira análoga, com a consolidação do sistema capitalista, as dimensões
civilizatórias foram moduladas para atenderem as necessidades impostas pelo capital,
isto é, nessas sociedades modernas, tudo possui algum nível de potencialidade de
transformar-se em mercadoria. Dessa maneira, o processo de ensino também é alvo
dessa lógica mercantilista, haja vista que tal instrumento de construção coletiva adquiriu
uma profunda base econômica, ou seja, o poder aquisitivo dos indivíduos consegue
determinar não somente a efetivação da garantia a educação, mas também a qualidade
dessa garantia (PITO A.; NUNES, 2020).
Assim, a educação no âmbito nacional, apesar de ser, constitucionalmente,
considerada como universal, apresenta profundas desigualdades quanto a sua
efetivação para às numerosas camadas sociais, especialmente a educação na saúde,
sobretudo, em enfermagem. Desse modo, a educação superior brasileira, no geral,
possui duas vertentes: a financiada pelo Estado e a controlada pela iniciativa privada. A
primeira é diretamente atrelada a burocracia estatal, isto é, permeada pela

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
50
aaaaaaaaaaaaa vontade governamental que, em muitos casos, reflete nos baixos investimentos
públicos nesse setor, o que, por conseguinte, afetam as infraestruturas dessas
instituições e os desenvolvimentos acadêmicos dos discentes. A segunda, baseada no
modelo mercantilista, consegue ofertar um ensino com maior disponibilidade de
recursos e de infraestruturas, uma vez que dispõe de verbas que, teoricamente, são
diretamente revertidas para a qualificação dessas estruturas (BEZERRA, 2020).
Por consequência, durante o período pandêmico, tal cenário de desigualdade foi,
ainda mais, reiterado, já que o modelo estatal não conseguiu, rapidamente, adequar-se
a essa nova realidade e o modelo mercantilista teve que se remodelar para continuar o
processo de ensino, ou seja, para continuar a lucrar. Dessa forma, os estudantes de
enfermagem desses dois modelos foram sujeitos a uma discriminação educacional que
deve ser considerada para o entendimento do processo de capacitação acadêmica dos
alunos, que, possivelmente, poderá afetar a segurança do aprendizado dos discentes e,
assim, seu futuro profissional (SILVA et al, 2021).
Considerando esses pressupostos, desenvolveu-se um estudo do tipo revisão
bibliográfica, de caráter teórico-reflexivo, aportando-se na literatura científica para
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

elucidar os aspectos relacionados à formação em enfermagem e as repercussões do


ensino remoto no processo formativo. Desse modo, o objetivo do texto é refletir acerca
da formação em enfermagem considerando as repercussões do ensino remoto provido
durante a pandemia de Covid19.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM: resgate de Florence à
contemporaneidade
A princípio, desde os primórdios da enfermagem, quando pessoas,
especialmente mulheres, davam assistência aos enfermos, viu-se a necessidade e a
importância de cuidados mais estruturados. Ainda antes de Cristo, os enfermos
recebiam cuidados para suas enfermidades que, à época, eram consideradas como
castigos divinos. Passando-se os tempos, tornando-se uma profissão, esses cuidados
foram tomando destaque nas sociedades. O destaque maior se tratando de cuidados
padronizados foi salientado quando, já em 1840, foram desenvolvidos métodos para

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
51
aaaaaaaaaaaaa cuidados e para tratamentos de feridos de guerra, por uma mulher muito religiosa e
rica, denominada Florence Nightingale, a “Dama da Lamparina” (MIGUEL et al, 2019).
Precursora da enfermagem moderna, Florence Nightingale, que contrariou o
destino, sendo uma mulher da alta sociedade da época, a qual não se permitia o trabalho
e a educação a mulheres, instaurou um modus operandi especializado em cuidados a
guerrilheiros na Criméia. Assim, observaram-se evoluções positivas e significativas aos
enfermos, fazendo com que essas atenções prestadas fossem reconhecidas e se
tornassem fatores de estudos. Após a guerra, Florence fundou uma escola no Hospital
Saint Thomas, essa que serviu de modelo para novas instituições que foram fundadas
posteriormente (MIGUEL et al, 2019).
Semelhante a Florence, uma brasileira baiana chamada de Anna Nery, tornou-se
referência em cuidados e, por isso, tornou-se um símbolo da enfermagem no Brasil.
Essa, por sua vez, vivenciando um período de maiores progressões nos papeis de gênero,
pôde executar com maior aceitação e liberdade, foi, por seus filhos, à guerra do
Paraguai, quando também, como Nightingale, se doou e instaurou modos de cuidados
que auxiliaram os guerrilheiros a melhores prognósticos. Herdou o nome de Anna Nery,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

a primeira Escola de Enfermagem fundada no Brasil, que funciona até hoje vinculada à
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Surgiu no contexto do movimento
sanitarista brasileiro do início do século XX registrando um papel histórico-social de
vanguarda de expansão e de desenvolvimento da enfermagem brasileira (EEAN, 2021).
A enfermagem, na perspectiva científica, se adota de teorias - Teoria
Ambientalista, Teoria do Déficit de Autocuidado, Teoria das Necessidades Humanas
Básicas e várias outras -usadas para auxiliar na evolução dos discentes, contribuindo
com o processo ensino-aprendizagem. Tais teorias norteiam o desenvolvimento
intelectual, tanto quanto auxilia a desenvolver sensibilidades e humanidades, causando
implicações ímpares. Desse modo, são essenciais no processo de enfermagem, pois
corroboram com o cuidado em suas infinitas dimensões humanas -Arte e Ciência-, que
por sua vez promovem ao educando bases firmes para seguir, exemplos que figuraram
a assertiva de bons prognósticos para as fragilidades dos enfermos (DOMINGUES;
CHAVES, 2005).
A enfermagem vive um momento importante e peculiar no cenário da ciência e
da tecnologia. Isso porque, evidencia-se o investimento que vem sendo empreendido,

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa paulatina e sistematicamente, sendo voltada à arte de cuidar, isto é, à edificação de uma
prática cientificamente fundamentada em vista da constituição de um campo de ciência
próprio e apropriado à abordagem das pessoas que necessitam de atenção, de bem-
estar, de conforto, e, sobretudo, de alívio dos sofrimentos. Tal assistência ofertada,
através do cuidado, deve ser essencialmente humanizada e receptivas as percepções
holísticas (FERREIRA, 2011).
Partindo das contribuições de Ferreira (2011), a ciência é interligada à pesquisa
e, por isso, não se pode compreender uma sem a outra, porquanto são pilares
interdependentes que, mutuamente, estão no redimensionamento a aplicação de
teorias e de métodos. Se a ciência se faz com teoria e com método, o cuidado de
enfermagem se faz com ciência e arte. Nessa perspectiva, é necessário sublimar que o
sentido de nossa ciência, da enfermagem, está a dimensão do exercício, espaço de
prática de sua arte, campo de aplicabilidade de seus conhecimentos.
Sendo assim, portar à relação de discussão sobre as teorias de enfermagem
para, por conseguinte, compreender a aplicação à pesquisa e ao cuidado de
enfermagem – enfoques conceituais e epistemológicos do cuidado de enfermagem, os
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

modelos assistenciais e os modelos de cuidar da enfermagem, os processos de cuidar-


assistir, sobretudo da sistematização da assistência e da linguagem diagnóstica de
enfermagem, objeto do temário central em evidência -, promovendo-se o ensejo de
criticar, de refutar, de refletir, de (re)afirmar e de confirmar os saberes em
(re)construção desde a gênese da profissão por Florence Nightingale (FERREIRA, 2011).
Segundo a linha de raciocínio de Gomes et al (2007), a partir das descobertas nas
áreas científicas de física e química, ocorridas ao final do século XIX, houve progresso na
medicina. Justamente porque trabalhos desenvolvidos por Pasteur e Kock, nas áreas de
microbiologia e de imunologia; Teoria Microbiana da infecção na Academia de Paris com
pesquisas sobre osteomielite, relacionando-a a estafilococos, e da infecção puerperal,
relacionando-a a estreptococos; dentre outras descobertas, todas situações
influenciaram para mudanças na história da ciência médica. Outras descobertas tão
extraordinárias quanto essas foram gradativamente sendo divulgadas e empregadas
para desvendar os mistérios da doença, do diagnóstico e da terapêutica. Assim, diante
desses avanços científicos, ampliou-se as atividades médicas e do fazer técnico, na figura
do pessoal paramédico.

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa Para Gomes et al (2007) a enfermagem existia a sombra da medicina, sua função
era obedecer e servir. Ressaltando que, à época, a maioria dos profissionais de
enfermagem eram antigos pacientes e pessoas admitidas para serviços gerais, as quais
eram promovidas a equipe de enfermagem. As consequências advindas desse enorme
contingente de pessoas que se denominavam da enfermagem, uma vez que sem possuir
o conhecimento e a educação para compreender o processo de cuidar, são percebidas
ainda na atualidade. Isso porque fomentou o que, aparentemente, era percebido como
"ações de enfermagem", de outro modo, poderia constituir em imitações de
enfermagem, as imitações que enfocam mais “no quê, quando e como fazer algo” e
menos no “porquê”, o que, simbolicamente, significou a marca histórica do imaginário
de submissão da enfermagem.
Com o advento dos princípios científicos, a enfermagem investigou o “por que
fazer”. Isso porque no intento de se tornar científica a enfermagem se equiparou mais
ao saber médico e, consequentemente, aos princípios científicos de anatomia e
fisiologia, microbiologia e imunologia, bioquímica e biofísica, o que permitiu o início da
sua consolidação e das suas ações enquanto uma ciência. A partir disso, as etapas do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

processo do cuidar eram relacionadas a um princípio científico que correspondia ao


porquê de suas diligências, fortalecendo a cientificidade do trabalho da enfermagem. A
partir desse momento o cuidado da enfermagem deve satisfazer as necessidades físicas,
biológicas, psicológicas e sociais dos pacientes, além de basear-se em princípios
científicos (HENRIQUES et al, 2021).
É necessário compreender que, historicamente, as relações de poder
transcenderam as barreiras burocráticas e se tornaram intrínsecas as relações humanas,
seja social, seja profissional. A enfermagem moderna, por meio de Florence, foi
desenvolvida em uma estrutura social disciplinadora, de outro modo, a partir do
momento em que os centros de cuidado são transferidos das ordens religiosas para a
comunidade médica, é construída uma estrutura de poder que considera o médico
como detentor da ciência da saúde – aquela que utilizaria práticas racionais para curar
os pacientes – e, consequentemente, as profissões adjacentes como meras engrenagens
a serem comandadas pelo médico e que devem responder a ele, de forma submissa,
como, ainda, é o caso da enfermagem. Dessa forma, não é à toa que essa superestrutura
tenha se desenvolvido, porquanto, no passado, o principal gênero responsável por

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa ocupar tal profissão era o feminino, ou seja, todas as concepções sociais que
inferiorizam a mulher enquanto um sujeito que deve ser submisso e passivo às
ordenações masculinas vai, por conseguinte, refletir na enfermagem (ANDRADE, 2007).
Nesse sentido, conquanto as transformações sociopolíticas e educacionais que
consolidaram, e ainda consolidam, a enfermagem enquanto uma profissão científica, a
sociedade ainda perpetua esse imaginário opressor. É necessário compreender que
parte da comunidade não concebe a assistência de enfermagem enquanto uma prática
epistemológica que deve ser reconhecida como ciência, uma vez que apresentar uma
metodologia rigorosa para prestar um atendimento qualificado e humanizado. Isso
porque o modelo biomédico, isto é, aquele que assimila o cuidar em saúde apenas como
uma simples forma de curar as patologias humanas, ainda é supervalorizado por parte
da comunidade. Assim, é fundamental que a prática de enfermagem – a partir dos seus
profissionais – contribua para a ampliação do conceito de saúde, de outro modo, que
fortaleça o entendimento social que a saúde vai além da ausência de doenças ou de
tratamentos medicamentosos. Assim, o conceito ampliado de saúde é uma
interdependência das dimensões humanas, e que a enfermagem é a profissão que
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ocupa a dimensão do cuidar, o que, simbolicamente, poderá significar a superação dessa


visão docilizadora que sujeita a ciência do cuidar a uma existência submissa e, desse
modo, meramente subserviente (ANDRADE, 2007).
A ética faz parte do currículo como disciplina no ensino da enfermagem,
justamente porque o ensino deve permitir a criação de espaços para a reflexão,
objetivando fazer raciocinar adequadamente para conduzir com competência,
comprometimento e responsabilidade a profissão. O enfermeiro tem como
compromisso ético participar das ações que visem a satisfazer às necessidades de saúde
da população, como integrante da sociedade, devendo respeitar a vida, a dignidade e os
direitos da pessoa humana em todo o seu ciclo vital, sem discriminação de nenhuma
espécie, exercendo suas atividades com competência, responsabilidade, justiça e
honestidade, prestando assistência à saúde, visando à promoção do ser humano como
um todo, e exercer a profissão com autonomia, respeitando os preceitos legais da
Enfermagem. Assim devendo ser o profissional de enfermagem na contemporaneidade
(BRASIL, 2007).

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa Estando relacionada, de forma rigorosa, à qualidade dos serviços prestados, a
ética na enfermagem deve ser exatamente vivenciada pelos profissionais da área. Isso
porque são pessoas que atuam nos cuidados a enfermos, gestantes, crianças e idosos.
Dessa forma, significa que precisam trabalhar com respeito à dignidade, aos direitos
humanos e, sobretudo, à vida. O papel da enfermagem, em qualquer função que venha
a exercer, é zelar pela saúde, pelo bem-estar e pela segurança dos indivíduos. É
imprescindível ser honesto, admitir os possíveis erros, ajudar os colegas em dificuldade,
não competir com outros profissionais de forma desleal, respeitar a pluralidade de
opiniões e negar-se a realizar atividades, caso não tenha conhecimento ou competência
técnica. Dessa maneira, adotar uma conduta ética no trabalho, de acordo com princípios
da profissão e valores morais e conduzindo-se pelas normas da própria organização, é
algo essencial para os enfermeiros que buscam o crescimento na carreira (BRASIL,
2007).
Com a mercantilização do ensino/educação, sustentado pelo modelo capitalista,
iniciou-se a fomentação de um processo que não prioriza a implicação profissional, de
outro modo, o desenvolvimento de um profissional autônomo e resiliente que interligue
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

o seu arcabouço teórico e prático em prol de uma atuação profissional especializada em


atender as necessidades individuais dos pacientes. Justamente porque, esse
desenvolvimento se propõe, unicamente, a saturar os alunos com assuntos e com
repertórios sem, propriamente, desenvolver esses arcabouços teóricos para a vida
prática. Dessa forma, ao não se ensinar habilidades excepcionais para o mercado de
trabalho, que estão cada vez mais em alta, como liderança, empatia, resiliência, dentre
outras, permite-se que esse profissional não esteja, corretamente, apto a suprir as novas
necessidades/exigências de um mercado de trabalho em constante transformação,
especialmente o do cuidar (RICARDO, 2010).
Logo, é necessário, no mercado de trabalho da saúde, uma educação no cuidado
holístico e humanizado, entretanto há barreiras para concretização, isso porque, desde
o processo de formação, as instituições educacionais dificilmente instigam ou buscam
desenvolver formas e atividades lúdicas e práticas que auxiliem a fomentação e
sensibilização de habilidades essenciais para o cuidado humanizado (RICARDO, 2010).
Partindo das contribuições de Byung-Chul Han (2015), a noção de produtividade,
advindas do Liberalismo e Neoliberalismo, consiste no entendimento de que os

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa indivíduos estão sendo expostos a discursos que idealizam o excesso de produtividade
como modelo ideal de alcance de objetivos. De outro modo, esse imaginário social se
interligou profundamente na forma como os sujeitos vivenciam suas dimensões sociais,
priorizando, antes de tudo, a quantidade em detrimento de qualidade, uma vez que a
falha, nessa sociedade, tornou-se sinônimo de pouco esforço ou vontade.
Com isso, para Han (2015), as instituições educacionais também foram vítimas
desse processo explorador, o que permitiu a priorização do excesso de assuntos e de
matérias sem que, necessariamente, fosse compreendido a relevância psicossocial de
tais áreas para a construção, no caso da saúde, de um profissional humanizado. Assim,
competências que são primordiais para permitir uma introspecção do profissional de
saúde enquanto cuidador para com o paciente, cada vez mais, são inviabilizadas por essa
superestrutura. Isto é, esse processo fez com que surgisse um ideário social que valesse
não do desenvolvimento de competências necessárias, mas só da exposição e da
valorização da quantidade de assuntos que se vê em aula e não necessariamente
implicações de qualidade.
Dessarte, os profissionais de enfermagem em formação, no que concerne o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

processo de desenvolvimento de habilidades como a empatia, a resiliência, a liderança,


são necessárias atividades práticas simulando vivências, trazendo a realidade para o
processo ensino-aprendizagem. Isso significa, aulas que realmente contribuam para
uma compreensão da necessidade de ser empático, de se colocar no lugar do paciente,
experienciando as realidades vividas. Além disso, compreender a realidade e entendê-
la, aumentando o cuidado especializado, humanizado e, sobretudo, autônomo e
específico para cada paciente (RICARDO, 2010).

A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS E SUAS REPERCUSSÕES NO ENSINO DE


ENFERMAGEM
Para a epidemiologia, termos singulares são dispostos para definir situações
diferentes que ocorrem no planeta. Essas palavras - surto, endemia, epidemia e
pandemia -, mesmo com relações a doenças em determinado período e local, têm
especificidades distintas, ou seja, surto dispõe para quando ocorre um aumento de uma
patologia a um grupo de pessoas em um lugar restrito determinado, por exemplo, uma
diarreia pelo rotavírus numa escola. Quanto ao termo endemia, o significado é

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa diferente, isto é, significa que uma doença é recorrente em uma determinada região,
mas sem aumento significativo no número de casos, exemplo disso é a Dengue na cidade
de Juazeiro do Norte durante o verão. Por outro lado, a definição de epidemia está
interligada ao de endemia, porquanto, esta aumenta seus números de casos em um
determinado local de forma significativa e, além disso, transcende para outras regiões,
cidades ou estados vizinhos. A palavra pandemia está disposta para quando uma
enfermidade/epidemia atinge níveis mundiais (INSTITUTO BUTANTAN, 2021).
O Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (Sars-CoV-2), causador da
Coronavirus Disease 2019 (Covid-19), discerniu-se no final de 2019, na cidade de Wuhan,
China. A grande circulação de pessoas entre territórios/países, resultante do processo
de globalização, cúmplice à rápida disseminação e à alta transmissibilidade do vírus,
conduziu a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar a doença, em 2020, uma
emergência de saúde pública de interesse mundial. Justamente porque, o vírus já havia
sido detectado em 215 territórios/países em março do mesmo ano, com altas taxas de
mortalidade em todo o mundo e riscos de colapsos dos serviços de saúde, por
dificuldade em atender à demanda, elevando a doença ao status de pandemia (SOUSA
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

et al, 2021).
No enfrentamento a grandes doenças e a pandemias, a enfermagem ocupou-se
sempre de um lugar de destaque. Justamente porque, tal ciência, por ser protagonista,
isto é, está na linha de frente do atendimento em saúde, seja na triagem, seja no
acompanhamento do paciente, seja no cuidado intensivo, seja em ambos os segmentos
do cuidado, o que, simbólica e materialmente, significa a fundamental atuação da
assistência de enfermagem nos seus diversos setores. Na pandemia da Influenza A, Edith
Fraenkel, enfermeira que combateu a gripe espanhola ainda como vigilante sanitária,
exemplifica a relevância dos promotores do cuidar. Ela foi afirmada como “sócia remida
da Cruz Vermelha Brasileira” por seu esmero junto ao corpo social durante a pandemia
de gripe espanhola. Ela chegou a tornar-se chefe do serviço de visitadoras sanitárias,
com orientações para evitar contaminação, além de seguir combatendo outras doenças,
como a tuberculose (COREN, 2021; GOULART, 2005).
Dessa forma, é evidente que as contribuições da enfermagem em períodos de
crise oferecem melhores resultados esperados. Isso porque, com orientações para
prevenção e promoção em saúde, há melhores prognósticos. Na Pandemia da Gripe

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa Espanhola, instruções, vide: não se comunicar com os doentes, evitar aglomerações,
desinfecção de casas e quintais com creolina, beber água filtrada e fervida, lavagem
frequente das mãos, ferver a roupa dos doentes, usar chá de eucalipto e, ainda,
incentivo a vacinar-se contra a varíola (se não funcionasse ao menos estaria protegido
contra uma patologia) dadas pelos profissionais da época, ajudaram a evitar
contaminações e mortes. Como também acontece hoje, referente a Covid-19, com
orientações semelhantes acrescidas do uso de máscara e álcool a 70% e subtraindo
orientações comprovadamente ineficazes, comunicação com os indivíduos
contaminados sem equipamento de proteção individual, ferver roupas, entre outras,
por exemplo (KIND; CORDEIRO, 2020).
Retornando-se para o contexto atual, indivíduos igualmente foram acometidos
por uma pneumonia fatal. Tais contextos pandêmicos, do presente e do passado,
remetem-nos a compreensão dos cuidados e dos ensinos nesses períodos, justamente
porque, por se tratar de períodos de crise, há de trazer ensinamentos inovadores e
oportunos de contribuição para saúde e, igualmente, para educação. Uma pandemia é,
também, uma construção intelectual que, uma vez realizada, tem sua própria vivacidade
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

e história. A percepção da doença é configurada por similitudes nas quais a interação


entre ideias não ocorre apenas em uma direção, seja de respostas intelectuais ou
políticas, seja de mudanças biológicas (ARAÚJO et al, 2021; GOULART, 2005).
No contexto pandêmico supracitado, a sociedade teve que reorganizar-se em
diversos contextos para um processo adaptativo à convivência com o vírus, dentre esses
contextos, ressalta-se que a formação em saúde precisou reajustar sua metodologia
para dar seguimento ao processo formativo. Inicialmente, a substituição por aulas em
meios digitais das atividades presenciais em instituições de ensino superior, sendo essas
públicas ou privadas, foi autorizada pelo Ministério da Educação do Brasil, em caráter
excepcional, independentemente do tipo, essas atividades poderiam ocorrer com o
auxílio das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), com a ressalva que cada
curso respeitasse suas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Cabe mencionar ainda
que, para a enfermagem, esse ensino remoto adotado durante a pandemia da Covid-19
deve ser uma situação temporária (BRASIL, 2020; SOUSA et al, 2021).
Apesar de o ensino remoto ocorrido em tempos pandêmicos ser diferente do
tradicional Ensino a Distância (EaD), isto significa, possuir aulas síncronas e assíncronas,

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa respectivamente ao vivo e gravadas, com disponibilização de materiais para os grupos
de alunos. Assim, a interrupção de atividades presenciais acelerou a adoção de
planejamento para utilização das plataformas digitais, com organização diferenciada,
para que as atividades oportunizassem uma aprendizagem ativa, que fosse efetiva tanto
para os professores quanto para os alunos, auxiliando para boas implicações no
processo ensino-aprendizagem (SOUSA et al, 2021).
Educadores, cada vez mais, empenham-se para tornar o momento de pandemia
em um período de aprendizado e de reforço dos valores da enfermagem. Em virtude de
que profissionais da enfermagem passaram a ser percebidos como essenciais, uma força
de trabalho imprescindível na linha de frente em situações de tensão, como no caso de
pandemias. Assim, no intento de auxiliar na construção e na transformação educacional,
é percebida a necessidade de profissionais corajosos, altruístas e, sobretudo, resilientes,
para vivenciar situações conflitantes que, nesse caso, refere-se ao período pandêmico
(SOUSA et al, 2021).
Em decorrência da pandemia da Covid-19, intensificou-se as demandas e
precarizações das condições de trabalho dos educadores, deflagrando-se em danos à
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

saúde do trabalho. Isso porque, docentes necessitaram adaptar seu ambiente


doméstico para transformá-lo em locais de trabalho, encarecendo seus gastos
financeiros com internet, com manutenção ou aquisição de aparelhos eletrônicos, com
mobiliários, com energia elétrica, dentre outros, sem essencialmente haver
compensação pelos gestores/empregadores (SOUSA et al, 2021).
Outrossim, no geral, as realidades socioeconômicas dos discentes, em especial
daqueles de segmentos da sociedade mais fragilizados, expõem a superestrutura de
desigualdade que implica prejuízo ao processo de ensino-aprendizagem da
enfermagem. Isso porque, a realidade da grande maioria dos educandos brasileiros é
disposta de poucos recursos materiais e financeiros, ficando aquém no processo de
atualizações para as novas realidades impostas pela pandemia da COVID-19. Além dos
problemas estruturais de núcleos familiares problemáticos e/ou desestruturados,
permitindo com que haja mais dificuldades somadas ao exercício do estudar
(CAMACHO, 2020).
Todavia, nessa vivência nova, o ambiente virtual de aprendizagem permitiu ao
educador elaborar o planejamento remoto de suas aulas, mediada por dispositivos

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa tecnológicos diversos. Também, várias instituições de ensino superior (IES), realizaram
planejamentos de retorno das atividades acadêmicas e administrativas de forma
remota, oportunizando de discussões sobre essa modalidade de ensino e de novas
experiências voltadas para a capacitação do professor (CAMACHO, 2020).
Segundo as contribuições de Camacho (2020), oportunizou-se novas
experiências, devendo o professor buscar refletir acerca do ensino remoto na visão
docente e na visão discente (colocando-se no lugar do outro). Para tal, a procura inicial
deve ser voltada para um planejamento que vise a amenizar angústias sobre a
apresentação da disciplina, desde o conteúdo programático, disponibilidade das
atividades com suas respectivas pontuações e objetivos de aprendizagem, sendo esse
processo denominado de “Ambientação”. Em algumas oportunidades, mostrou-se
importante ser criado tutoriais explicativos sobre o acesso às atividades para auxílio na
condução das aulas, desfazendo e elucidando dúvidas no ensino remoto.
A priori, o ensino remoto deve ser globalizante, isto é, ser inclusivo para
diferentes discentes. Ademais, propondo medidas e ações que visem a garantir
melhorias da qualidade do ensino, com o incentivo para uma vasta formação dos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

docentes e para a ruptura de barreiras atitudinais. Em suma, o ensino remoto permitiu


o desenvolvimento de reflexões sobre a complexidade futura diante da Pandemia do
Covid-19, ou seja, o momento é de novas experiências e de avançar experimentando os
desafios operantes na atual conjuntura (COSTA et al, 2020).
Nesse ínterim, o ensino sofreu o impacto direto da pandemia da Covid-19,
especialmente a enfermagem, justamente porque o curso é conhecido pelo uso de
laboratórios, pela amplitude prática e pelas realizações de estratégias de ensino que
permitem a investigação/experimentação acadêmica. E, com a virtualização das
disciplinas, muitas estratégias de ensino precisaram ser modificadas para favorecer o
desenvolvimento das habilidades e competências dos estudantes (COSTA et al, 2020).
Nessa proporção, como integrante do trabalho coletivo em saúde, a Enfermagem
deve compartilhar da perspectiva de saúde como qualidade de vida e proteção frente
ao novo coronavírus. Deve-se também coparticipar da integralidade das ações de saúde
individual e coletiva, da participação e do controle social e, por fim, da inclusão à
educação. Assim, em meio às vicissitudes, compete às IES, às escolas, ao poder público,
à sociedade organizada, aos professores, aos estudantes e as famílias dialogarem sobre

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
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aaaaaaaaaaaaa métodos sustentáveis e inclusivos a todos, que garantam implicações técnicas e que
promovam a formação profissional de qualidade e não provoquem possíveis
adversidades justificadas por um contexto completamente atípico (CORREIA et al, 2021).
Destarte, os profissionais de enfermagem assumem papéis decisivos no cuidado
e promoção de saúde, da assistência à gestão. Visto que se tornam excepcionais para a
garantia da Universalidade, Equidade e Integralidade, princípios básicos do Sistema
Único de Saúde (SUS), pois coadunam para realizações destes. Dessa maneira, a
concretização de uma educação que possibilite a construção de profissionais de
enfermagem engajados na efetivação desses princípios se implica, cada vez mais,
necessária, porquanto essa compreensão de democracia na saúde é essencial para
possibilitar um sistema mais inclusivo e, sobretudo, compreensivo quanto às diferenças,
o que, simbolicamente, pode significar a superação das profundas desigualdades
impostas pela superestrutura social que possam interferir na garantia de um dos
princípios mais básicos a vida humana: o da saúde (BRASIL, 1990; CORREIA et al, 2021).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Infere-se, portanto, à face do exposto, que tal material teórico, fruto de uma
abordagem bibliográfica, pode auxiliar na elaboração de reflexões sobre o processo
ensino-aprendizagem, especialmente no contexto remoto do ensino de enfermagem.
Nesse cenário, ressalta-se que ao evidenciar as perspectivas referentes ao ensino
remoto em enfermagem, pode-se potencializar uma expertise acadêmica que se
relacionam as especificidades necessárias para o desenvolvimento educacional
democrático.
Por conseguinte, tais perspectivas devem ser assimiladas para a aceitação e para
compreensão plena das essencialidades do papel dos alunos na construção
epistemológica colaborativa. Nesse sentido fomenta-se uma práxis participativa e
libertadora para o desenvolvimento de um modelo pedagógico que não somente
capacite teoricamente, mas também promova transformações individuais, coletivas e,
por consequência, na malha sociopolítica da educação.

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
62
aaaaaaaaaaaaa
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Andréia de Carvalho. A enfermagem não é mais uma profissão submissa.
Revista Brasileira de Enfermagem [online]. 2007, v. 60, n. 1, pp. 96-98.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-71672007000100018. Epub
28 Mar 2008. ISSN 1984-0446. Acesso em: 07 nov. 2021.

ARAÚJO, Anna Raquel Lima et al. O trabalho remoto de enfermeiros docentes em


tempos de pandemia. Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso de
Bacharelado em Enfermagem: Regime especial de aprendizagem remota na
perspectiva do docente de graduação, sob orientação da professora Carolinne
Kilcia Carvalho Sena Damasceno, apresentado ao Centro Universitário
Uninovafapi, em 8 de dezembro de 2020. Escola Anna Nery [online]. 2021, v. 25,
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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Ensino remoto durante a pandemia: reflexões e repercussões na formação em


enfermagem
66
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO V
METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO
REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO
DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS DA
ÁREA DA SAÚDE
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-5
Johnny do Nascimento Brito ¹
Ana Lívia Marques Silva ¹
Luíza Vitória da Silva ¹
Lia Maria Bastos Peixoto Leitão ²
Ito Liberato Barroso Neto ³
Isabel Carvalho Vianna 4
Ana Lúcia do Carmo Delmiro 4
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

¹ Graduando (a) do curso de Medicina. Centro Universitário Christus – UNICHRISTUS


² Docente do curso de Medicina. Centro Universitário Christus – UNICHRISTUS
³ Professor Doutor do curso de Medicina. Centro Universitário Christus – UNICHRISTUS
4 Fisioterapeuta, Mestre, Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas. Universidade de Fortaleza – UNIFOR

RESUMO
A simulação realística é uma metodologia que tem sido cada vez mais adotada nos processos de
ensino e aprendizagem, tendo se mostrado bastante eficaz ao aprimorar habilidades técnicas,
de liderança e de raciocínio clínico. O objetivo deste estudo é identificar na literatura o uso dessa
metodologia, enquanto tecnologia aplicada à educação na área de saúde, seus campos de
aplicação e impactos na capacitação dos discentes e profissionais de saúde a partir de estudos
disponíveis. A pesquisa fundamentou-se na busca de artigos nas bases de dados PUBMED,
SciELO e LILACS. Foram selecionados 12 artigos dentre os trabalhos publicados nos últimos 10
anos, no idioma inglês ou português e disponíveis na íntegra. A metodologia de simulação
apresentou vantagens, comparando-a com o modo tradicional de ensino, visto que o discente
da graduação adquire um papel ativo no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a
simulação realística mostrou-se muito útil no aperfeiçoamento técnico de profissionais da saúde
já formados. Tal aplicabilidade tornou-se ainda mais evidente no contexto da pandemia de
Covid-19 vivido atualmente, durante o qual o desenvolvimento de novas habilidades e o
aprendizado de novos protocolos foram necessários ao enfrentamento dessa questão de saúde
pública mundial. Conclui-se que a metodologia de simulação realística é uma ferramenta
fundamental para o preparo dos futuros e atuais profissionais da saúde.

Palavras-chave: Educação em saúde. Simulação realística. Métodos de ensino.

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
67
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Nos cursos de graduação na área da saúde, a metodologia tradicional de ensino,
na qual o professor é o transmissor de conteúdo e o aluno executa uma relação
intrínseca entre o aprendizado e a memorização, tem dado espaço para metodologias
práticas de aprendizado nas últimas décadas (ROMAN et al., 2017). A partir das relações
constantes entre a teoria e a prática, buscou-se aprimorar métodos que proporcionam
o pensamento criativo e a aprendizagem significativa para o aluno da área da saúde
(YAMANE et al., 2019). Diante das novas perspectivas de ensino, o uso da metodologia
de simulação realística surge como um fator importante para melhorar o desempenho
associado à assimilação dos conteúdos propostos, envolvendo habilidades técnicas, de
liderança, raciocínio clínico e outros (BRANDÃO et al., 2014).
As situações simuladas exigem do estudante solução imediata, pois possibilita o
erro e assegura espaço para a intervenção do docente nos momentos de discussão
reflexiva, em que há correção e pontuação das melhorias que deverão ser aplicadas em
situações na realidade (ZIV et al., 2005). Dessa forma, a metodologia de simulação
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

realística vem sendo mais bem compreendida, requerida e estimulada nas graduações
dos cursos da saúde como metodologia de ensino-aprendizagem capaz de interferir
positivamente, mobilizando conteúdos por meio da problematização, na qual o discente
é exposto ao problema. Ou seja, as simulações realísticas são vistas como formas de
aprendizagem em que a retenção do conhecimento é prolongada, sendo mais agradável
e prazerosa que o ensino tradicional (FLATO; GUIMARÃES, 2011).
O psiquiatra William Glasser descreveu, a partir da "pirâmide do aprendizado",
percentuais de retenção de conteúdos por métodos de estudo, sugerindo retenção de,
aproximadamente, 10% de aprendizado pela leitura, 20% pela oratória, 30% pelo
audiovisual, 50% por demonstrações práticas, 70% pela discussão em grupo e 90% pela
prática, propondo que a participação ativa do processo ensino-aprendizagem é mais
efetiva (BARROS et al., 2018). Estes números indicam que as metodologias de a de
simulação realística podem ser aplicadas com eficiência para o aprendizado. Nesse
contexto, o objetivo deste estudo é identificar na literatura o uso dessa metodologia,
enquanto tecnologia aplicada à educação na área de saúde, seus campos de aplicação e

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
68
aaaaaaaaaaaaa impactos na capacitação dos discentes e profissionais de saúde a partir dos estudos
disponíveis.

2. METODOLOGIA
Neste estudo, foi realizada uma pesquisa em outubro de 2021, utilizando-se
como bases de dados as plataformas PUBMED, SciELO e Literatura Latino-americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Os descritores empregados na pesquisa foram:
simulação realística, simulação realística e ensino, simulação realística e educação em
saúde. Como critérios de inclusão, foram considerados artigos disponíveis na íntegra,
nos idiomas português ou inglês, publicados nos últimos 10 anos. Foram excluídos os
trabalhos que não obedeceram aos critérios de inclusão, bem como aqueles cujo teor
do título, resumo e texto completo, após análise progressiva, divergiram do escopo do
presente estudo. À guisa de ilustração, trabalhos que detalhavam técnicas de
elaboração de protocolos ou equipamentos específicos de simulação sem abranger a
experiência da utilização deles foram excluídos. Ademais, foram removidos 3 artigos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

duplicados após a realização de todas as etapas de seleção prévias.


Dessa forma, foram encontrados 359 artigos a partir dos descritores e dos
critérios de inclusão explicitados. As etapas posteriores de análise dos trabalhos,
mencionadas acima, resultaram em 12 artigos selecionados e efetivamente incluídos no
estudo, conforme demonstra o fluxograma abaixo (figura 1).

Figura 1 – Fluxograma de seleção dos artigos utilizados na presente revisão

Fonte: Autoria própria.

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
69
aaaaaaaaaaaaa
3. RESULTADOS
A síntese dos artigos encontrados é apresentada nas tabelas 1 e 2, que
sumarizam as seguintes informações: título do artigo, ano de publicação, tipo de estudo,
aplicação ou tipos de simulações avaliadas e considerações do artigo sobre a
metodologia de simulação realística. Na tabela 1, há a lista dos estudos de revisão que
avaliaram artigos sobre simulação realística, enquanto na tabela 2 há a lista dos estudos
que avaliaram a aplicação de estratégias envolvendo simulação realística.
Tabela 1 – Estudos que avaliaram achados de artigos sobre simulação realística
Aplicação das Considerações do artigo
Ano de Tipo de
Título do artigo Autores simulações sobre simulações
publicação estudo
avaliadas realísticas
Aquisição de 2019 SANTANA, Breno Revisão Simulações Simulações realísticas com
competências para de Sousa; PAIVA, integrativa realísticas de pacientes padronizados,
administração Alberto Augusto de literatura. administração de simuladores virtuais ou de
segura de Martins; MAGRO, medicamentos por fidelidade variável
medicamentos por Marcia Cristina estudantes de contribuem para ganho de
meio da simulação da Silva. enfermagem. conhecimento, habilidades
realística: revisão e atitudes.
integrativa
A simulação 2014 BRANDÃO, Revisão Simulações Proporciona maior
realística como Carolina Felipe integrativa realísticas aplicadas associação de
ferramenta Soares; de literatura. à educação médica conhecimentos;
educacional para COLLARES, Carlos na graduação. desenvolvimento de
estudantes de Fernando; capacidades crítica e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

medicina MARIN, Heimar reflexiva.


de Fátima.
Simulação clínica na 2019 LINN, Amanda Revisão Simulações Ferramenta eficiente para
educação de Chlalup; sistemática. realísticas na educação continuada;
enfermagem em CAREGNATO, Rita qualificação de resultado positivo nos
terapia intensiva: Catalina Aquino; estudantes e quesitos confiança,
revisão integrativa SOUZA, Emiliane profissionais de comunicação,
Nogueira. enfermagem com competências técnicas e
pacientes críticos. assistência a pacientes
críticos.
Simulação realística 2019 YAMANE, Revisão Simulações Melhora das competências
como ferramenta de Marcelo integrativa realísticas no técnicas,
ensino na saúde: Tsuyoshi. et al. de literatura. ensino dos cursos comportamentais,
uma revisão de graduação em profissionais e conceituais;
integrativa saúde no Brasil. destaca a escassez de
estudos além da Medicina
e Enfermagem.
Simulação realística 2021 MORAIS, Yolanda Revisão Simulações Melhora da satisfação,
como mediadora do de Jesus; sistemática. realísticas no segurança e desempenho
processo ensino- SANTOS; Valéria processo ensino- no processo ensino-
aprendizagem na Regina aprendizagem na aprendizagem, com
graduação em Cavalcante; graduação em evoluções técnicas,
farmácia: revisão SOLER, Orenzio. Farmácia. clínicas, nas práticas de
sistemática cuidado e capacidade de
solucionar problemas.
Fonte: Autoria própria.

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
70
aaaaaaaaaaaaa Tabela 2 – Estudos sobre o uso de estratégias da simulação realística
Considerações do
Ano de Tipos de
artigo sobre
Título do artigo publicaçã Autores Tipo de estudo simulações
simulações
o avaliadas
realísticas
Implementação 2021 SANTOS, Estudo pré e Simulação em Impacto positivo
do treinamento Thiago pós-teste. cenário simulado na aquisição de
dos profissionais Martins et al. de COVID-19. conhecimento de
de saúde durante profissionais
COVID-19: um acerca do
design pré e pós- protocolo para a
teste para COVID-19.
treinamento de
simulação
Implicações da 2020 NAVA, Layse Estudo Aplicação de A simulação
simulação na Farias; quantitativo, questionário mostrou efeito
autoconfiança e MAGRO, quase semiestruturado e positivo para
conhecimento de Marcia experimental. escala de ganho de
profissionais na Cristina da autoconfiança conhecimento e
atenção primária: Silva. após aula teórica e de autoconfiança
quase oficinas com para profissionais
experimento práticas e de saúde
exercícios
simulados
interativos.
Modelo de 2017 MOURA- Estudo Simulação O modelo
avaliação de JÚNIOR, Luiz prospectivo, realística em mostrou-se
progressão de Gonzaga et al. analítico, modelo de ensino adequado, seguro,
competência e observacional, metodizado, revelou o perfil do
habilidades em pareado. composto por 3 aluno, a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

endossuturas por etapas: pré-teste, competência


meio de ensinamento dos evolutiva da
treinamento em conceitos e performance em
laboratório de estação de endossuturas e
habilidades treinamento para análise crítica da
cirúrgicas absorção dos carga de
conceitos de treinamento para
videocirurgia. evoluir até atingir
a proficiência nos
procedimentos
bariátricos.
Simulação de 2021 RUFACH, Estudo Simulação prática A simulação
intubação Daniel; descritivo e de intubação com auxiliou no uso do
pediátrica usando SANTOS, observacional. videolaringoscópio videolaringoscópi
um Silvia; artesanal em o, com redução
videolaringoscópi TEREBIZNI, manequins. do tempo de
o de baixo custo Marcelo. intubação
no cenário da experimental
pandemia de médio.
COVID-19
Simulação 2020 BELLAGUARD Estudo Atividade de A simulação
realística como A, Maria Lígia descritivo simulação com clínica é
ferramenta de dos Reis et al. qualiquantitativ atores no importante
ensino na o. laboratório de ferramenta no
comunicação de práticas simuladas. processo ensino-
situação crítica aprendizagem,
em cuidados emerge a
paliativos observação e
melhora confiança
na necessidade de
manter diálogos
interprofissionais
e com a família.

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
71
aaaaaaaaaaaaa Ano de Tipos de
Considerações do
artigo sobre
Título do artigo publicaçã Autores Tipo de estudo simulações
simulações
o avaliadas
realísticas
Simulação 2021 FARIAS DA Estudo do tipo Aplicação de pré e O curso de
realística é GUARDA, antes-depois pós-teste após simulação
associada a Suzete controlado. curso de simulação realística em AVC
aumento na Nascimento et realística de foi associado a um
autopercepção de al. atendimento a aumento na
segurança de pacientes com autopercepção de
profissionais de AVC. segurança dos
saúde no participantes em
atendimento a atender pacientes
pacientes com vítimas de AVC
acidente vascular agudo.
cerebral
agudo: um estudo
antes-depois
controlado
Uso de 2020 Estudo Utilização de Os Simuladores de
simuladores em PORTO, Júlia prospectivo de Simuladores de Cirurgia
cirurgia Tonietto et al. coorte. Cirurgia Videolaparoscópic
videolaparoscópic Videolaparoscópic a se mostraram
a na formação a. ferramentas
médica: estudo promissoras no
prospectivo de treinamento de
coorte com habilidades
acadêmicos de cirúrgicas na
medicina de uma formação médica.
universidade no
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Sul do Brasil
Fonte: Autoria própria.

4. DISCUSSÃO
A simulação realística como metodologia de ensino
Entende-se por metodologia de simulação realística um método de ensino-
aprendizagem, que pode englobar pacientes padronizados (simulados por atores),
realidade virtual associada ao uso de softwares, manequins de alta fidelidade, peças
anatômicas e outros métodos que permitem a imersão do estudante em um ambiente
de simulação semelhante aos ambientes de situações reais (BRANDÃO; COLLARES;
MARIN, 2014). Essa representação simulada de situações reais possibilita ao discente
experimentar a tarefa a ser executada em um ambiente controlado, submetendo-o ao
desenvolvimento de competências necessárias para sua atuação profissional (LINN;
CAREGNATO; SOUZA, 2018).
Deste modo, afere-se que o uso da metodologia de simulação acrescenta
modificações no modo tradicional de ensino, já que o professor deixa o seu papel de
transmitir conhecimento e passa a instruir o aluno a participar ativamente do seu

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
72
aaaaaaaaaaaaa processo de aprendizado, ou seja, o discente perde seu papel passivo no processo de
ensino-aprendizagem (SANTANA; PAIVA; MAGRO, 2020). Neste formato, o
conhecimento é disseminado e, a partir das atividades de simulação, é capaz de
promover melhorias para maior apreensão do conteúdo (NAVA; MAGRO, 2020). Essa
metodologia é aplicada difusamente nos Estados Unidos da América, bem como em
países da Europa, há algum tempo, baseado na necessidade do aprendizado
significativo, expondo os alunos a uma condição hipotética, todavia de forma assistida
em um cenário montado, sem os riscos de uma situação real (YAMANE et al., 2019).

Os impactos da aplicação da metodologia de simulação


realística
Um estudo de Yamane e colaboradores (2019) apresenta a metodologia de
simulação realística como ferramenta de aprendizado nas graduações em saúde, sendo
importante para assimilação da teoria com a prática, proporcionando maior retenção
de conteúdo. Foi observado que a melhoria das habilidades técnicas, atitudes de
liderança, tomadas de decisão, trabalho em equipe e o desempenho dos alunos na
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

relação estudante de saúde e paciente foi significativa para as competências básicas


exigidas. Essas melhorias também foram observadas no estudo de Santana e
colaboradores (2020), que destaca elementos de liderança e trabalho em equipe como
habilidades desenvolvidas pelo uso do método. Outro fator considerável foi a
atratividade do método para os alunos da graduação, que relataram maior confiança e
envolvimento com as atividades executadas, principalmente quando comparadas com
as atividades teóricas (YAMANE et al., 2019).
Uma revisão integrativa feita por membros da Universidade Federal do Pará
avaliou 16 estudos envolvendo simulação realística na graduação em farmácia,
mostrando evidências de melhorias nas áreas de gestão técnica da assistência
farmacêutica, da gestão clínica do medicamento, da prática do cuidado farmacêutico,
da resolução de problemas relacionados com medicamentos e da empatia pelos
pacientes após a implementação dessa metodologia na graduação, com uso de
aplicativos, softwares e pacientes virtuais (MORAIS; SANTOS; SOLER, 2021).
O uso de manequins para a administração segura de medicamentos no contexto
da educação em enfermagem mostrou-se proveitoso para aqueles com pouca

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
73
aaaaaaaaaaaaa experiência, uma vez que proporciona maior segurança. Assim, a metodologia de
simulação realística atua facilitando o progresso de competências nos estudantes dessa
área, como julgamento clínico e reconhecimento de problemas no processo da
medicação. Encontrou-se também que o uso de realidade virtual com simulações
baseadas em telas com tecnologia tridimensional proporciona simulações mais
fidedignas quando comparadas às simulações com uso de manequins. Porém, além do
alto custo, não há treinamento relevante de habilidades psicomotoras necessárias para
as atuações reais (SANTANA; PAIVA; MAGRO, 2020).

O método de simulação realística aplicado para profissionais


da saúde
O método de simulação realística apresenta um formato capaz de fomentar
melhorias na educação, pois é uma técnica de ensino inovadora, permitindo a
progressão de qualidade das habilidades das equipes profissionais, desenvolvendo
novas aquisições técnicas e propiciando ações interdisciplinares (SANTOS et al., 2021).
Nesse contexto, sabe-se que essa metodologia se encontra em expansão, sendo
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

exaltada como importante recurso na formação de profissionais da saúde atualmente


(PORTO et al., 2020). Logo, por garantia de segurança e bem-estar das pessoas
envolvidas no processo, a simulação realística vem sendo aplicada como metodologia
de aperfeiçoamento técnico de profissionais da saúde (BRANDÃO; COLLARES; MARIN,
2014).
A aplicação do método em questão no aprimoramento das habilidades dos
profissionais já atuantes mostrou-se relevante, inclusive, no recente e atual contexto
vivido mundialmente: a pandemia de Covid-19. Nesse período, novas habilidades
precisaram ser desenvolvidas pelas equipes de saúde, especialmente aquelas
relacionadas à proteção dos profissionais (RUFACH; SANTOS; TEREBIZNIK, 2021). Um
procedimento que recebeu atenção especial foi a intubação endotraqueal, devido ao
alto nível de exposição dos profissionais durante a sua prática. Nesse contexto,
evidenciou-se a vantagem da videolaringoscopia, técnica que aumenta a distância entre
a boca do paciente e a do operador. Em comparação com a laringoscopia tradicional, o
uso da videolaringoscopia é incomum, sendo recomendadas simulações a fim de tornar
o procedimento familiar (RUFACH; SANTOS; TEREBIZNIK, 2021).

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
74
aaaaaaaaaaaaa Em um estudo argentino, no qual se descreveu a prática de intubação em um
grupo de pediatras, usando um manequim de cabeça infantil com um
videolaringoscópio artesanal de baixo custo, o tempo médio de intubação diminuiu
significativamente da primeira para a segunda tentativa, evidenciando-se a relevância
da simulação (RUFACH; SANTOS; TEREBIZNIK, 2021). Destaca-se, no entanto, que a
aplicabilidade da simulação realística in situ não se limita ao treinamento de uma técnica
ou de um procedimento, mas pode servir também à aprendizagem de novos protocolos
(SANTOS et al., 2021).
Um estudo brasileiro desenvolvido por Santos e colaboradores (2021), avaliou
um treinamento por meio de simulação realística realizado por profissionais de saúde
que atuam em unidade de terapia intensiva (UTI) e pronto-socorro, com o objetivo de
disseminar um novo protocolo de gerenciamento de vias aéreas para COVID-19 em um
grande hospital. Como resultado, observou-se o sucesso da aquisição de conhecimento
dos profissionais acerca do protocolo, avaliando quesitos como reconhecimento da
insuficiência respiratória em um paciente com síndrome respiratória aguda grave (SARS)
e início do tratamento para o quadro. Também foram ressaltados os benefícios da
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

simulação in situ, a qual permite treinar os profissionais de saúde durante a continuação


do trabalho clínico, possibilitando o treinamento de uma equipe multidisciplinar, pois
ele ocorre durante o horário de atendimento da equipe, utilizando os recursos do local
de trabalho.
Dessa forma, a relevância da simulação realística para profissionais da saúde é
evidente e tem sido comprovada por distintos estudos. Para melhor exemplificar tal
afirmação, destaca-se um estudo brasileiro no qual médicos cirurgiões de várias
especialidades tiveram suas habilidades em suturas avaliadas antes e depois da
participação de um curso com simuladores de cavidade abdominal, constatando-se
progressão das habilidades (MOURA-JÚNIOR et al., 2017). Merece realce, também, o
estudo desenvolvido por Porto e colaboradores (2020), no qual averiguou-se melhora
do desempenho de acadêmicos de medicina na realização de cirurgias
videolaparoscópicas simuladas após exercícios simulados.

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
75
aaaaaaaaaaaaa O desenvolvimento da habilidade de comunicação a partir das
simulações realísticas
No Brasil, uma das competências presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais
dos cursos de graduação em Medicina é a comunicação (BRASIL, 2004). Nas
adversidades cotidianas, a comunicação de notícias difíceis é vista como desafios, pois
exigem profissionalismo e empatia. Uma das possibilidades de treinamento dessa
habilidade baseia-se no Protocolo SPIKES, que visa adequar o ambiente da comunicação,
perceber o conhecimento prévio do paciente acerca da doença em questão e informá-
lo o quanto ele quiser saber, adequando a linguagem à sua realidade e esclarecendo
quaisquer dúvidas, definindo, ao fim da conversa, o planejamento terapêutico do
paciente (BAILE et al., 2000; BUCKMAN, 1984).
No estudo brasileiro desenvolvido por Bellaguarda e colaboradores (2020),
avaliou-se, por meio de uma simulação cênica, com atores, a percepção dos estudantes
de enfermagem frente à comunicação de situação crítica em cuidados paliativos. No
referido trabalho, os estudantes apontaram como dificuldades inerentes a esse
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

processo a incerteza de quando e como falar do cuidado paliativo, aliado às dificuldades


na expressão da comunicação. Os resultados alcançados por meio da simulação foram
o aprendizado baseado em experiência, a observação de potencialidades e fragilidades
nas tomadas decisórias, bem como a compreensão da importância da relação
paciente/família/profissional no cuidado durante essa difícil etapa. Ressalta-se, ainda,
que, para a obtenção de tais resultados, foi essencial o feedback realizado por docentes
após a simulação, o qual permitiu a percepção por parte dos alunos de como aperfeiçoar
suas habilidades e atitudes frente à situação vivenciada.
Por sua vez, Linn e colaboradores (2018) trouxeram a abordagem da simulação
realística para as circunstâncias dos pacientes críticos em UTI, abordando o interesse
internacional de desenvolvimento da metodologia para essa área, objetivando a
qualificação da assistência. Apesar de pouco explorada no Brasil, a aplicabilidade desse
método em situações críticas na UTI mostrou-se positiva. Nesse trabalho, com ênfase
na comunicação efetiva de enfermeiros intensivistas com a equipe e familiares do
paciente, foram apresentados resultados favoráveis ao uso da simulação realística.
Comprovou-se ainda melhora nas tomadas de decisões clínicas em situações de piora

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
76
aaaaaaaaaaaaa do quadro clínico dos pacientes internados após as simulações, elevação do nível de
conhecimento e confiança dos profissionais envolvidos. Nessa conjuntura, observou-se
que a simulação realística contribui para o aprimoramento da comunicação efetiva, a
qual requer empatia e inteligência emocional.

A melhoria do autocontrole, da autopercepção e da


autoconfiança
Visando o bem-estar do paciente, destaca-se que a avaliação de habilidades
técnicas e de habilidades não técnicas são essenciais nas condições simuladas,
orientadas em protocolos pré-definidos, contribuem para a integridade do paciente,
assegurando o desenvolvimento do trabalho em equipe e o controle dos aspectos
emocionais do aluno (CARVALHO, 2016). Entre tais aspectos, destacam-se a
autopercepção e a autoconfiança. As emergências são exemplos de situações nas quais
estes pontos são essenciais para o controle de estresse e ansiedade pelos profissionais.
Dessa forma, as capacitações voltadas para esses contextos devem favorecer o
desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de tomada de decisões (NAVA;
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

MAGRO, 2020).
Diante disso, um estudo brasileiro comprovou a eficácia da capacitação mediada
pela estratégia de simulação no ganho de conhecimento e autoconfiança de
profissionais da atenção primária à saúde no atendimento de situações clínicas
agudizadas, como parada cardiorrespiratória (PCR) e obstrução de vias aéreas por
corpos estranhos (OVACE) (NAVA; MAGRO, 2020). Corroborando com esses achados,
Farias da Guarda e colaboradores (2021) associaram um curso de simulação realística
de acidente vascular cerebral (AVC) ao aumento na autopercepção de segurança dos
participantes em atender pacientes vítimas de AVC agudo.

Limitações da aplicação da metodologia de simulação


realística
Apesar dos benefícios explicitados, a utilização da metodologia de simulação
realística apresenta limitações tecnológicas e de recursos no contexto da realidade
social brasileira (LINN; CAREGNATO; SOUZA, 2018). Isso acarreta, por exemplo, na pouca
disponibilidade de simuladores de alta fidelidade, afetando o realismo das simulações

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
77
aaaaaaaaaaaaa e, por conseguinte, delimitando o alcance de sua serventia. Cita-se também o alto custo
para construção e manutenção da infraestrutura para os cenários realísticos, que pode
ser inviável para diversas instituições (YAMANE et al., 2019). Por fim, além das questões
tecnológicas e financeiras, destaca-se, ainda, que a baixa aderência às etapas do
processo e falta de capacitação dos profissionais envolvidos podem interferir
diretamente na verossimilhança e produtividade das simulações realísticas, acarretando
redução da associação dos conhecimentos teóricos com a prática simulada (NAVA;
MAGRO, 2020).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos achados encontrados nos estudos selecionados e dos aspectos
abordados na discussão, podemos concluir que o uso da metodologia de simulação
realística aplica-se como ferramenta fundamental para o preparo dos futuros
profissionais da saúde, capacitando-os para a atuação plena em situações de ambientes
ambulatoriais e hospitalares que exigem habilidades técnicas bem como relações com
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

pacientes, familiares e equipe multidisciplinar.


O método de simulação realística permite ao acadêmico o treino das habilidades
em um ambiente seguro e controlado onde o erro é permitido, havendo possibilidade
de falhas e correções, reduzindo riscos, evitando ferir a integridade dos pacientes e
permitindo o aperfeiçoamento das atuações profissionais. Além disso, neste estudo,
evidenciou-se melhorias nos aspectos de comunicação, autoconfiança, habilidades
técnicas, liderança e outros, revelando-se diversos pontos positivos para o uso dessa
metodologia nos cursos de graduação em saúde.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Professora Dra. Lia Maria Bastos Peixoto Leitão e ao Professor
Dr. Ito Liberato Barroso Neto por todo o apoio concedido na elaboração da presente
pesquisa. Indubitavelmente, suas contribuições foram fundamentais para a execução
deste trabalho e em muito agregou à formação dos autores discentes.

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
78
aaaaaaaaaaaaa
REFERÊNCIAS
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MORAIS, Yolanda de Jesus; SANTOS, Valéria Regina Cavalcante; SOLER, Orenzio.


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2017.

METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
79
aaaaaaaaaaaaa NAVA, Layse Farias; MAGRO, Marcia Cristina da Silva. Implicações da simulação na
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METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO REALÍSTICA APLICADA À EDUCAÇÃO DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS


DA ÁREA DA SAÚDe
80
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO VI
METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO
ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS
DURANTE A PANDEMIA DO COVID-19
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-6
Juliana Casanovas de Carvalho ¹
César Augusto Abreu-Pereira ²
Rosana Costa Casanovas ³
Thiago Barbalho Lima 4
¹ Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
² Universidade Estadual Paulista - UNESP
³ Universidade Federal do Maranhão - UFMA

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Objetivo: propor metodologias ativas de ensino-aprendizagem remoto emergencial, na


disciplina de Técnicas Cirúrgicas, do curso de Medicina Veterinária da Universidade
Estadual do Maranhão, avaliando seu impacto na formação dos discentes. Metodologia:
Foi realizada uma pesquisa de caráter quantitativo, por meio do aplicativo Google
Forms, entre abril e julho de 2021. Resultados: a metodologia aplicada no presente
trabalho obteve aceitação de forma integral (69,2%) e de forma parcial (23,1%) dos
discentes, indicando uma boa adaptação. Dentre os recursos utilizados na disciplina, os
de maior porcentagem de apreciação foram: o encaminhamento de vídeos com
demonstração didática das técnicas (76,9%) e o acompanhamento do docente via
WhatsApp (96,2%); o acompanhamento em tempo real de pacientes (84,6%); treino de
manobras e técnicas em cadáveres (72,7%). A partir das práticas no hospital veterinário,
50% dos discentes indicaram ter maior confiança na realização das técnicas
apresentadas e, após o treinamento em cadáveres, 63,6% dos participantes sentiram-se
mais habilidosos e confiantes em relação às manobras apresentadas. Conclusão: A
adaptação emergencial da disciplina de Técnicas Cirúrgicas permitiu que os alunos
tivessem o maior contato possível com os conteúdos programados de modo que o
aprendizado não fosse comprometido de forma significativa com a mudança brusca de
metodologia implementada.

Palavras-chave: Covid-19. Metodologia. Técnicas cirúrgicas.

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
81
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O Coronavírus (SARS-CoV-2), causador da COVID-19, uma infecção respiratória
que gera de quadros assintomáticos até os mais graves, é caracterizado pela alta
transmissibilidade e, consequentemente, rápida disseminação. Por este motivo, a
Organização Mundial da Saúde (OMS), decretou situação e pandemia de COVID-19,
também estabeleceu recomendações para a contenção do vírus. Nesse sentido, além
das orientações à toda população sobre a adequada higienização das mãos e objetos,
foram determinadas estratégias de distanciamento social (WHO, 2020).
O Ministério da Educação, através da Portaria nº 343 publicada em 17 de março
de 2020, suspendeu as aulas presenciais enquanto durasse a situação de pandemia do
novo coronavírus, substituindo-as por aulas em meios digitais, o que implicou em
readequação das instituições universitárias de todo Brasil, na tentativa da manutenção
do ensino na graduação (BRASIL, 2020). Diante desse desafio, se fez necessária a busca
de meios e tecnologias digitais de comunicação e informação, como forma de garantir a
educação de qualidade. De acordo com Borstel, Fiorentin e Mayer (2020), o processo
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

pandêmico, que parecia lento e gradual, foi sistemático, remodelando as condições do


processo ensino-aprendizagem, incumbindo aos estudantes e profissionais da educação
diversas adaptações.
Nessa concepção, a modalidade de ensino à distância prevê dos alunos uma
construção e condição de autonomia pela busca do seu conhecimento, como também
pressupõe que tenham uma satisfação com os estudos e assuntos disponibilizados nas
plataformas digitais (ISHIDA; STEFANO; ANDRADE, 2013). As vantagens são visíveis
quando os alunos têm suas expectativas e necessidades respondidas de maneira
positiva, conseguido assim manter a rotina de estudos, a interatividade com os materiais
e com os professores, consequentemente, o desenvolvimento de uma prática que
motiva a autoaprendizagem. Ademais, para os discentes essa modalidade é benéfica
devido a economia do tempo, tornando-se conveniente em relação às demais atividades
pessoais e rotineiras (EMANUELLI, 2011; SOUZA; REINERT, 2010; MONTIEL et al., 2014).
Em contrapartida, o ensino não presencial provoca sentimentos de solidão no
aluno, que por vezes sente-se desmotivado pela necessidade de interação, atenção e
apoio por parte dos docentes. Para Emanuelli (2011), a insatisfação pode ser devido ao

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
82
aaaaaaaaaaaaa desapontamento pela falta da relação presencial entre professor/aluno e entre colegas
de turma. A autora retrata ainda a dificuldade dos docentes em responder às
necessidades individuais diante da turma; o domínio técnico insuficiente quanto ao uso
dos recursos tecnológicos, como computador e ferramentas tecnológicas; e as
dificuldades de acesso à internet de maneira síncrona. Souza & Reinert (2010), trazem
um outro aspecto nesta discussão: a ausência de hábito da autoaprendizagem, que recai
sobre a baixa autonomia do estudante, com consequente reflexo na dificuldade de
apresentar um papel ativo e interativo.
Acerca do papel do professor, nesse novo contexto de ensino-aprendizagem,
este foi necessário ser revisto e atualizado, visando manter a qualidade do ensino,
diante desse atual cenário catastrófico. O que se torna desafiador é a construção de um
planejamento institucional que seja compatível, tanto com seu potencial tecnológico,
quanto com as características de seu público-alvo, ou seja, o corpo discente (SUGITA et
al., 2020). Assim, entende-se que a pandemia expôs um novo desafio: prover, para o
usuário, a sensação de imersão, de encontrar-se dentro do ambiente, a partir da
navegação e interação nesse meio virtual, ao mesmo tempo para o educador,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

respeitando os princípios educacionais e a abordagem pedagógica que acredita, no


intuito de não transformar esse momento em uma simples educação à distância.
O uso de tais metodologias emergenciais, não tradicionais, no ensino da cirurgia,
especificamente, deve ocorrer com cautela, sob a hipótese de substituir a relação
humana-animal tão relevante para a formação dos médicos veterinários, seja pela
presença do mediador em plataformas virtuais, seja pelo distanciamento dos discentes
em cenários de prática, uma vez que o ensino das técnicas cirúrgicas nas escolas de
Medicina Veterinária sempre foi caracterizado por carga horária prática extensa, sendo
estas ministradas, muitas vezes, com o uso de animais vivos para que fosse demonstrada
a técnica operatória em questão para os alunos, e em seguida, os próprios acadêmicos
pudessem realizá-la, para o desenvolvimento e aquisição de habilidade cirúrgica. As
operações fundamentais para execução sistematizada de procedimento cirúrgicos
(diérese, hemostasia, exérese e síntese) foram descritas há dois séculos e, juntamente
com os conceitos da assepsia, devem ser ensinados de forma palpável para a adequada
formação do médico veterinário (NETTO et al., 2016).

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
83
aaaaaaaaaaaaa A formação cirúrgica abrange complexos conceitos teóricos e práticos,
particularmente os relacionados às técnicas cirúrgicas e suas fases fundamentais, dentre
as quais destaca-se o desenvolvimento de habilidades manuais, essencial na formação
do profissional. Sendo assim, frente às dificuldades educacionais impostas pela
pandemia, o objetivo desse trabalho foi analisar a utilização de metodologias ativas de
ensino-aprendizagem no ensino remoto emergencial, na disciplina de técnicas
cirúrgicas, do curso de medicina veterinária da Universidade Estadual do Maranhão,
possibilitando a criação de um modelo palpável e efetivo para o ensino de técnicas
cirúrgicas.

2. METODOLOGIA
Tipo de Estudo
Trata-se de um estudo de avaliação metodológica, com abordagem quantitativa
dos dados.

Cenário da Investigação e Participantes da Pesquisa


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

O trabalho foi direcionado aos alunos do sétimo período do curso de Medicina


Veterinária da Universidade Estadual do Maranhão. Os alunos foram selecionados por
conveniência e tiveram o direito de declinar a participação na pesquisa. Os critérios de
inclusão foram: ter idade superior a 18 anos e cursar a disciplina de Técnicas Cirúrgicas
no semestre 2020.2. Em parceria com os monitores da matéria, foi elaborado,
primeiramente, um modelo de aulas teóricas em ambiente virtual que garantisse a
imersão do aluno nas técnicas e conceitos explanados; e de aulas práticas, com
ocupação limitada (escalonamento em duplas), respeitando a exigência de
distanciamento entre os alunos. As práticas foram realizadas tanto no centro cirúrgico
do Hospital Veterinário Universitário Francisco Edilberto Uchoa, onde os alunos
presenciaram cirurgias em tempo real, com auxílio dos residentes e docentes, como
também em laboratório, nas quais fizeram uso das técnicas expostas em cadáveres
congelados, desenvolvendo assim as habilidades manuais. A dupla de alunos que
participavam das práticas gravavam e transmitiam os procedimentos para os que
acompanhavam de forma remota. Alguns vídeos foram gravados e editados de forma
assíncrona, para posterior envio aos alunos e discussão. Os alunos deveriam preparar

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
84
aaaaaaaaaaaaa relatórios cirúrgicos dos vídeos de procedimentos enviados, os quais seriam discutidos
no início das aulas, havendo um momento para sanar dúvidas dos temas que foram
abordados previamente.

Instrumento, Procedimento e Período de Coleta de Dados


Para avaliar a metodologia utilizada, foi realizada uma pesquisa, virtualmente,
por meio do aplicativo Google Forms, entre os meses de abril e julho de 2021. O Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido foi anexado juntamente com o formulário da
pesquisa, onde foram destacados os riscos e benefícios diante da participação no
mesmo, sendo esses relacionados ao cansaço físico, devido ao tempo dispensado para
responder aos questionários, e à elaboração soluções que beneficiem o processo de
aprendizado dos discentes na disciplina de Técnicas Cirúrgicas, respectivamente. Como
forma de minimizar as influências, indicamos que os participantes fizessem o
preenchimento do formulário em ambiente calmo e arejado, utilizando-se de pausas,
caso necessárias.
Foi utilizado um questionário, produzido pelos autores da pesquisa, que continha
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

10 perguntas acerca das temáticas: aprendizagem e método ativo no ambiente virtual,


fortalezas e fragilidades das aulas on-line e práticas e apoio docente (Quadro 1). Os
estudantes responderam às perguntas com “Sim”, “Não” ou “Em parte”, além de terem
sido incitados a colaborar com sugestões para um ensino remoto mais efetivo da
disciplina.

Organização e Coleta de Dados


Após a aplicação do questionário, os dados foram tabulados e analisados de
forma estatística, com exposição das variáveis, em forma de percentuais. O modelo do
formulário está esquematizado no Tabela 1, exposto abaixo.

Aspectos Ético-legais
O projeto foi submetido e obteve aprovação através do Parecer n o 4.743.378
junto ao Comitê de Ética e Pesquisa da Plataforma Brasil

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
85
aaaaaaaaaaaaa Tabela 1 - Esquema do questionário proposto

Perguntas Respondidas com “Sim”, “Não” e “Em parte”)

1. Você considera o conteúdo teórico ministrado em ambiente virtual completo e bem


explanado?
2. Os vídeos editados e encaminhados facilitaram o entendimento e compreensão das
técnicas apresentadas?
3. A disponibilidade do docente no WhatsApp e em plantões de dúvidas foi
importante para o melhor entendimento do conteúdo?
4. O acompanhamento das técnicas e procedimentos com pacientes, em tempo real,
foi importante para melhor entender a teoria ministrada?
5. Você conseguiu sanar dúvidas e entender melhor os procedimentos realizados com
auxílio dos residentes/docente?
6. Após presenciar a rotina cirúrgica e os procedimentos realizados você se sentiu
mais confiante para praticar as técnicas ministradas?
7. Você participou de alguma das práticas disponibilizadas com cadáveres?
8. Essa experiência acrescentou habilidades manuais e confiança para realizar técnicas
ministradas?
9. Conseguiu treinar alguma das manobras específicas de cirurgias ou padrões de
sutura apresentados em aulas teóricas?
10. Você considera que as metodologias teóricas e práticas utilizadas, bem como os
métodos avaliativos, garantiram, no ensino à distância de caráter emergencial, um
bom entendimento das técnicas cirúrgicas e um bom aproveitamento da disciplina?
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Elaboração própria.

3. RESULTADOS
O formulário foi preenchido por um total de 26 alunos. Todos os participantes
leram e concordaram com o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) anexo
ao questionário.

Diante da pergunta “Você considera o conteúdo teórico ministrado em ambiente


virtual completo e bem explanado?” 14 alunos (53,8%) responderam com “sim”; 11
alunos (42,3%) responderam com “em parte”; e 1 aluno (3,8%) respondeu com “não”.
Na segunda pergunta “Os vídeos editados e encaminhados facilitaram o entendimento
e compreensão das técnicas apresentadas?” foram obtidas 20 respostas (76,9%) “sim”;
6 respostas (23,1%) “em parte”. Nenhum aluno assinalou “não” nessa pergunta. Os
resultados foram expostos noS Gráfico 1 e 2, abaixo.

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
86
aaaaaaaaaaaaa Gráfico 1. Perfil de respostas obtidas com a pergunta “Você considera o conteúdo teórico
ministrado em ambiente virtual completo e bem explanado?”

Fonte: Elaboração própria.

Gráfico 2. Padrão obtido a partir das respostas à pergunta “Você considera o conteúdo teórico
ministrado em ambiente virtual completo e bem explanado?”
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Elaboração própria.

Perguntados sobre “A disponibilidade do docente no WhatsApp e em plantões


de dúvida foi importante para o melhor entendimento do conteúdo?” obtivemos 25
respostas (96,2%) “sim” e 1 resposta (3,8%) “em parte”. Não foram obtidas respostas
“não”. O gráfico 3 obtido com estas respostas está representado abaixo.

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
87
aaaaaaaaaaaaa Gráfico 3. Padrão obtido com as respostas recebidas para a questão “A disponibilidade do
docente no WhatsApp e em plantões de dúvida foi importante para o melhor entendimento
do conteúdo?”

Fonte: Elaboração própria.

Ao serem perguntados se “O acompanhamento das técnicas, com pacientes, em


tempo real foi importante para melhor entender a teoria ministrada”, 22 alunos (84,6%)
responderam “sim” e 4 (15,4%) responderam “em parte”. Nenhum aluno respondeu
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

“não”. Tais respostas foram expostas no Gráfico 4, abaixo

Gráfico 4. Padrão de respostas obtido dada a pergunta “O acompanhamento das técnicas, com
pacientes, em tempo real foi importante para melhor entender a teoria ministrada?”.

Fonte: Elaboração própria.

Em relação à pergunta “Você conseguiu sanar dúvidas e entender melhor os


procedimentos realizados com auxílio dos residentes/docente?” 20 alunos (76,9%)

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
88
aaaaaaaaaaaaa indicaram “sim” como resposta, 2 alunos (7,7%) indicaram “não” como resposta, e 4
alunos (15,4%) indicaram “em parte” como resposta. Feita a pergunta “Após presenciar
a rotina cirúrgica e os procedimentos realizados você se sentiu mais confiante para
praticar as técnicas ministradas?” os discentes indicaram 13 respostas (50%) “sim”; 2
respostas (7,7%) “não” e 11 respostas (42,3%) “em parte”. Esses dados foram
demonstrados no Gráfico 5 e 6.

Gráfico 5. Padrão de respostas referente à pergunta “Você conseguiu sanar dúvidas e entender
melhor os procedimentos realizados com auxílio dos residentes/docente?”.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Elaboração própria.

Gráfico 6. Esquematização dos resultados à pergunta “Após presenciar a rotina cirúrgica e os


procedimentos realizados você se sentiu mais confiante para praticar as técnicas
ministradas?”.

Fonte: Elaboração própria.

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
89
aaaaaaaaaaaaa Os resultados encontrados a partir da pergunta “Você participou de alguma das
atividades disponibilizadas com cadáveres?” foram que 11 alunos (42,3%) responderam
“sim” e 15 alunos (57,7%), “não”. Tais resultados foram indicados no Gráfico 7, a seguir.

Gráfico 7. Padrão de respostas obtidas com o questionamento “Você participou de alguma das
atividades disponibilizadas com cadáveres?”.

Fonte: Elaboração própria.


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Para a pergunta “Essa experiência acrescentou habilidades manuais e confiança


pra realizar técnicas ministradas?”, dentre os 11 alunos que participaram das práticas
com cadáveres, 7 (63,6%) indicaram “sim” e 4 (36,4%) indicaram “em parte” como
resposta. Feita a pergunta “Conseguiu treinar alguma das manobras específicas de
cirurgias ou padrões de sutura apresentados em aulas teóricas?”, dos 11 alunos que
participaram da prática com cadáveres, 8 (72,7%) responderam à pergunta com “sim” e
3 (27,3%) com “em parte”.Para a décima primeira pergunta, “Você considera que as
metodologias teóricas e práticas utilizadas, bem como os métodos avaliativos,
garantiram, no ensino à distância de caráter emergencial, um bom entendimento das
técnicas cirúrgicas e um bom aproveitamento da disciplina?”, obteu-se 18 respostas
(69,2%) “sim”, 2 respostas (7,7%) “não” e 6 respostas (23,1%) “em parte”. Este
compilado está demonstrado no Gráfico 8, a seguir.

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
90
aaaaaaaaaaaaa Gráfico 8. Padrão de respostas obtidas para a pergunta “Você considera que as metodologias
teóricas e práticas utilizadas, bem como os métodos avaliativos, garantiram, no ensino à
distância de caráter emergencial, um bom entendimento das técnicas cirúrgicas e um bom
aproveitamento da disciplina?”.

Fonte: Elaboração própria.

4. DISCUSSÃO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

O ensino remoto emergencial tornou-se a realidade de milhões de estudantes e


professores ao redor do mundo em 2020, e com a perspectiva de continuação da
pandemia e necessidade de manutenção do distanciamento social, faz-se imprescindível
a geração de conhecimento acerca do tema. Esse cenário incita a utilização de
ferramentas do ensino a distância (EAD) para ministrar aulas que em situações comuns
seriam ministradas de forma presencial, mas por questões atípicas precisam ser
aplicadas de forma remota (MOHAMMED et al., 2020).
O impacto dessa mudança abrupta no ensino foi amenizado devido à capacidade
de adaptação às atividades de ensino remoto e domínio das tecnologias pelos
estudantes, porém torna-se primordial que o professor tenha conhecimento e
habilidades necessárias para manusear tais recursos (JOYE et. Al., 2020). A partir disso o
trabalho criou uma metodologia singular, pautada em métodos de ensino e
aprendizagem que promovam a centralidade e a participação ativa do aluno, mesmo em
ambiente virtual, além de fomentar reflexão, criticidade, trabalho em equipe,
curiosidade, e valores éticos. Além disso, a relação humana-animal, tão relevante para
a formação veterinária, foi incluída fazendo uso do distanciamento dos discentes em

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
91
aaaaaaaaaaaaa cenários de prática, aspirando à aquisição de habilidade cirúrgica. e execução de
procedimentos cirúrgicos, como diérese, hemostasia, exérese e síntese, de assepsia,
para que a formação dos acadêmicos não fique defasada e incompleta em momento
pandêmico (NETTO et al., 2016).
Em consonância com Dosea e colaboradores, em 2020, que obtiveram um alto
índice de aceitação do processo de aprendizagem pelos acadêmicos (85%), a
metodologia aplicada no presente trabalho obteve aceitação de forma integral por
69,2% dos alunos e de forma parcial por 23,1% dos discentes, indicando uma boa
adaptação. Dentre os recursos utilizados na disciplina, os de maior porcentagem de
apreciação foram: o encaminhamento de vídeos com demonstração didática das
técnicas apresentadas (76,9%) e o acompanhamento do docente via WhatsApp (96,2%);
o acompanhamento em tempo real de pacientes (84,6%); o treino de manobras e
técnicas em cadáveres (72,7%). Além disso, a partir das práticas no hospital veterinário,
50% dos discentes indicaram ter maior confiança na realização das técnicas
apresentadas e, após o treinamento em cadáveres, 63,6% dos participantes, sentiram-
se mais habilidosos e confiantes em relação às manobras apresentadas. Dessa forma,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

em consenso com Vieira et. al. (2020), a pesquisa indica que a maioria dos alunos avaliou
positivamente os esforços para a manutenção das atividades de ensino remoto, tanto
no que se refere às dinâmicas que estão sendo desenvolvidas, quanto à adesão às
atividades.
Contudo é mister salientar que nesse processo de “ficar em casa” os estudantes
percebem queda na produtividade, alterações de humor e sentimentos de angústia e
ansiedade. A satisfação com a vida hoje é menor quando comparada a do período
anterior à pandemia. O ensino remoto exige mais autonomia do aluno, que precisa
dedicar, muitas vezes, um tempo extra para acessar os materiais e estudar, geralmente,
sozinho. Percebe-se, portanto, um contraste em relação à modalidade presencial, onde
há uma interação maior entre os alunos e entre discentes e docentes, seja pela
proximidade ou pelo ambiente propício ao diálogo, quando esse é criado pelos
participantes (VIEIRA, 2020). Esse sentimento de inadequação com o ambiente virtual
ratifica-se em uma disciplina de caráter essencialmente prático. Ainda que tenha
ocorrido a oferta de episódios de acompanhamento de rotina cirúrgica e treinos, foi
relatada a carência dessas atividades pelos discentes, que sugerem a necessidade de

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
92
aaaaaaaaaaaaa maior número de experiências práticas. Ainda assim, para a maioria dos participantes,
há uma influência positiva do isolamento social na satisfação, pois confiam na eficácia
dessa medida preventiva frente ao COVID-19, o que gera a sensação de segurança, e
possibilita a aprovação evidenciada por muitos, que, em caráter emergencial, a
disciplina foi ministrada de forma válida e eficiente.
Outro ponto interessante evidenciado com o preenchimento dos formulários é
que 66,7% dos alunos que sugeriram como melhoria da metodologia um maior número
de práticas, não participaram do treino de manobras e síntese em cadáveres. A
participação desses alunos nessa atividade poderia acrescido inúmeros benefícios aos
mesmos no desenvolvimento de suas habilidades manuais.
Percebeu-se uma redução nos níveis de Satisfação com a Vida desde o início da
pandemia, estando de acordo com os achados de Nogueira (2001), que mostra a
importância da interação como forma de dar sentido às experiências e oferecer apoio,
importantes elementos no processo de adaptação às novas rotinas. A adoção da
metodologia apresentada no ensino remoto, assim como salientado nas observações de
Vieira (2020), na Universidade Federal de Santa Maria, apesar de trazer alguns desafios,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

parece estar contribuindo para manter diversos aspectos da qualidade de vida e


melhoria da saúde mental dos discentes.

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METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


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93
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METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS NO ENSINO DE TÉCNICAS CIRÚRGICAS DURANTE A PANDEMIA DO COVID-


19
95
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO VII
METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS
SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO
UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO
PERMANENTE DA EQUIPE DE
ENFERMAGEM
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-7
Carla Aparecida Spagnol ¹
Eliana Aparecida Villa ²
Anna Alessandra Mattos de Meira ³
Raquel Fernandes Costa 4
Soleane Franciele da Silva 5
Junia Melo de Oliveira 6
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

¹ Professora Associada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG.


² Professora Associada aposentada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG.
³ Enfermeira do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG.
4 Enfermeira do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG.
5 Enfermeira graduada pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista de iniciação

científica Fapemig no período 2017 a 2019- UFMG.


6 Enfermeira graduada pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG.

RESUMO
Objetivo: analisar o uso de metodologias ativas na educação permanente da equipe de
enfermagem de um hospital universitário de Minas Gerais. Método: estudo de caso realizado
com doze técnicos de enfermagem participantes da capacitação. Estes responderam a um
questionário avaliativo e, posteriormente, participaram de um grupo focal, descrevendo suas
impressões acerca das metodologias de ensino. Resultados: As metodologias ativas
promoveram a integração do grupo e levantaram pontos conflitantes do trabalho, gerando
reflexão e descontração. Possibilitaram aprofundar conhecimentos e compartilhar experiências,
questionando a responsabilidade e participação da enfermagem na equipe multidisciplinar.
Destacou-se a importância de se colocar no lugar do outro para redução de riscos na assistência
e compromisso com o trabalho. Conclusão: As metodologias ativas foram consideradas
adequadas, pois, proporcionaram uma experiência rica e reflexiva voltada para melhorias do
processo de trabalho e qualidade da assistência.

Palavras-chave: Enfermagem. Educação permanente. Capacitação de recursos humanos em


saúde. Educação em saúde. Hospitais de Ensino.

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
96
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Na educação permanente em saúde (EPS) é essencial o uso de uma metodologia
adequada à temática a ser explorada, à situação de trabalho e ao objetivo esperado,
como ferramenta de um ensino no qual o trabalhador é agente do seu saber. Uma
metodologia que venha propiciar mudança de comportamento, objetivando como
consequência última, a melhoria da assistência.
Neste estudo buscou-se compreender as metodologias ativas, ancoradas na
pedagogia crítica freiriana, pautando-se em princípios como: o educando no centro do
processo de aprendizagem; a autonomia do sujeito; a problematização e reflexão da
realidade; o trabalho em equipe e o professor como facilitador do processo (DIESEL, et
al., 2017).
Seguindo essa abordagem, pode-se afirmar que:

em contraposição ao método tradicional, em que os estudantes possuem


postura passiva de recepção de teorias, o método ativo propõe o movimento
inverso, ou seja, passam a ser compreendidos como sujeitos históricos e,
portanto, a assumir um papel ativo na aprendizagem, posto que têm suas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

experiências, saberes e opiniões valorizadas como ponto de partida para


construção do conhecimento (DIESEL, et al., 2017).

Os pressupostos da EPS brasileira refletem uma ação fundamentada em Freire,


pois pressupõe uma formação ética, humana e sociocultural, não somente técnica,
refutando as formas de intervenção profissional alienadas baseadas na reprodução do
fazer (COSTA, et al., 2018).
Diante do exposto, para este estudo elaborou-se a seguinte questão norteadora:
o uso de metodologias ativas na EPS proporciona, de fato, uma aprendizagem reflexiva,
dialógica e baseada na realidade do trabalho cotidiano?
Para responder essa questão foram realizadas duas experiências educativas
junto aos técnicos de enfermagem (TE) de um hospital universitário, utilizando-se como
estratégia a “Oficina dos Sentidos” e a “Dramatização”.
A “Oficina dos Sentidos” constituiu-se como um espaço de reflexão da prática
profissional, onde foram estimulados os cinco sentidos (SPAGNOL, et al., 2012). A
Oficina foi realizada com três grupos de quatro TE, em um encontro de duas horas para
cada grupo. O local foi o laboratório de técnicas da Escola de Enfermagem, parceira do
hospital em estudo. Foi desenvolvida em 03 etapas: integração do grupo e aquecimento;

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
97
aaaaaaaaaaaaa percepção dos sentidos; reflexão do grupo e encerramento, descritos sinteticamente a
seguir:
1. Integração do grupo e aquecimento- integração e descontração do grupo para
seu desenvolvimento. A música foi um recurso que permeou toda Oficina, utilizando
diferentes ritmos, de acordo com as atividades.
2. Percebendo os sentidos- os olhos dos participantes foram vendados e cada
um dos sentidos (olfato, tato, paladar, audição e visão) foi explorado por meio de
diferentes técnicas e objetos (pedrinhas, algodão, farinha, frutas, perfume, entre
outros) e os participantes estimulados a relatarem suas percepções durante a vivência.
3. Reflexão do grupo e encerramento- os participantes analisaram e refletiram
acerca da prática profissional e das relações interpessoais, a partir das percepções e
sentimentos vivenciados durante a Oficina.
A segunda estratégia utilizada foi a “Dramatização”, uma atividade em que os
atores formulam suas próprias frases, determinam a direção da cena e o facilitador
busca transformar as situações em uma experiência válida para o processo de ensino-
aprendizagem (SOUZA, 2010).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A dramatização, “além de constituir um recurso pedagógico, pode propiciar ao


sujeito, por meio do lúdico, um meio de reelaborar, refletir e desenvolver, sobretudo, o
pensamento crítico”. O aprendiz, mediante a situação de dramatização, “representa
simbolicamente aquilo que gostaria, de fato, que acontecesse e inconscientemente
expressa o que mais lhe afeta, bem como aquilo que nem percebe que lhe faz sofrer
(SOUZA, 2010, p. 5).”
No presente estudo, essa estratégia também foi desenvolvida no laboratório de
técnicas de enfermagem, que ofereceu um cenário adequado para a livre encenação dos
participantes. Foi utilizado como roteiro, um caso real de evento adverso, relacionado à
uma situação de troca de dieta enteral, ocorrido na unidade de internação. Foram
realizados dois encontros de três horas para cada grupo de seis TE.
Após a leitura do caso, os participantes dividiram-se assumindo o papel de um
dos personagens. Ressalta-se que o desfecho do caso não estava no roteiro, de maneira
que os profissionais tiveram que resolver, a seu modo, a situação problema, antes da
encenação.

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
98
aaaaaaaaaaaaa Ao final da dramatização, o grupo buscou problematizar a experiência e a
resolução do caso. Esse momento configurou-se como um espaço para discutirem a
situação vivenciada, as dificuldades percebidas, as competências e habilidades, bem
como as dúvidas e reflexões acerca da prática profissional.
Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar o uso de metodologias ativas na
educação permanente da equipe de enfermagem de um hospital universitário de Minas
Gerais.

2. METODOLOGIA
Para analisar a utilização das metodologias ativas implementadas na capacitação
dos profissionais de enfermagem, realizou-se uma pesquisa qualitativa, do tipo estudo
de caso.
No estudo de caso utilizam-se estratégias de investigação qualitativa para
mapear, descrever e analisar o contexto, as relações e as percepções a respeito da
situação, fenômeno ou episódio em questão, tornando-se útil para gerar conhecimento
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

sobre características significativas de eventos vivenciados como intervenções e


processos de mudança (YIN, 2015).
O cenário do estudo foi um hospital geral universitário de Minas Gerais, que
possui 547 leitos. Destaca-se que essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de
uma Universidade Pública do estado, sob o número: CAAE 46290215.9.0000.5149, o que
garante o sigilo e o anonimato da instituição e dos envolvidos.
Os participantes foram 12 técnicos de enfermagem (TE) das clínicas médica e
cirúrgica, que aceitaram participar da investigação, após terem assinado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Ressalta-se que, o convite foi feito para todas as
categorias profissionais da enfermagem, mas, somente TE aceitaram.
Os critérios de inclusão foram: atuar como enfermeiro, técnico e/ou auxiliar de
enfermagem nas unidades de clínica médica e cirúrgica e aceitar participar da pesquisa.
Os critérios de exclusão foram: profissionais que se encontravam de férias e em licença
e, aqueles que aceitaram participar, mas não compareceram em todas as etapas da
intervenção educativa.
Para a coleta de dados foi aplicado, logo após a atividade, um questionário com
perguntas relacionadas ao perfil dos profissionais e questões acerca dos objetivos; do

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
99
aaaaaaaaaaaaa conteúdo; das estratégias de ensino e do material didático utilizado. Esse questionário
buscou apreender as percepções dos participantes acerca da metodologia de ensino
utilizada. As respostas serviram de apoio para nortear a condução de um grupo focal,
que permitiu aprofundar alguns aspectos da avalição das metodologias empregadas.
O grupo focal foi realizado em dezembro de 2017, estando presentes oito, dos
doze participantes na Oficina e na Dramatização. As respostas foram gravadas e
posteriormente transcritas.
A organização e a análise dos dados coletados foram feitas por meio da análise
de conteúdo temática. Este tipo de análise consiste em descobrir os núcleos de sentido
que compõem uma comunicação significativa para o objetivo analítico visado (BARDIN,
2011).
Após a transcrição das respostas, foi realizada uma leitura flutuante, que
permitiu o conhecimento de todo o conteúdo. A etapa seguinte foi a organização do
material para responder algumas normas de validade: exaustividade;
representatividade; homogeneidade e pertinência dos conteúdos aos objetivos do
trabalho. Em seguida, determinou-se as unidades de registro e a forma de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos que orientaram a


análise (BARDIN, 2011).
Seguidos esses passos, emergiram três categorias temáticas que foram
analisadas à luz do referencial teórico. Para garantir o sigilo e o anonimato dos sujeitos
da pesquisa utilizou-se números para cada participante: 01, 02, 03 e assim
sucessivamente.

3. RESULTADOS
O perfil dos participantes mostra que 67% são do sexo feminino; com idade
média de 38,6 anos; 67% tem de 10 a 15 anos de formados; 51% tem menos 2 anos de
serviço na instituição; 58% possui formação superior, apesar de exercerem a função de
TE. Os participantes atribuíram conceito ótimo para o conteúdo (83,3%) abordado, tanto
na oficina quanto na dramatização, ótimo para a metodologia (91,6%) e sequência das
atividades realizadas (66,6%).
A partir das respostas do grupo focal foram extraídas as unidades de significado
que deram origem às categorias temáticas apresentadas a seguir.

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
100
aaaaaaaaaaaaa “A enfermagem como protagonista no processo de ensino aprendizagem na
educação permanente”
Na visão dos trabalhadores o uso de metodologias ativas na EP estimulou os
profissionais a apreender a realidade, transformá-la e compreender que sua ação
consciente e competente é fundamental para o desenvolvimento de um melhor
processo de trabalho na saúde.
(...) eu achei muito interessante, que fez a gente refletir, porque a gente deve
conferir mais. Por que o erro acontece mesmo, na rotina, às vezes, a menina [funcionária
do Serviço de Nutrição e Dietética] chega, bota aquele monte de dieta junto (...) Então,
foi muito produtivo (...) faz a gente refletir mais, ter mais cuidado, pra evitar erros né.
(...) E quando você atua naquilo, você grava para o resto da vida. Você está sempre
pensando naquilo, procura se policiar mais, evitar a distração (04).
Você vê a diferença de um professor que fala o tempo todo e o outro que chama
a sua atenção porque te coloca ali no meio, fazendo, é muito diferente! Você de repente
vê e todos estão ali junto, participando (06).
Considera-se relevante o momento de discussão compartilhada no processo de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

educação permanente que também leva à autorreflexão, para que o profissional se


perceba como protagonista do processo de aprendizagem, alguém que participa e por
isso aprende, como apontaram os participantes 02 e 05:
Acho que a questão é o diálogo (...) discutir junto, a gente conversou e discutiu
com as meninas [as técnicas de enfermagem] que tinham participado, cada uma colocou
a sua visão. E nas outras metodologias não, a gente vê que só tem conteúdo, mas
ninguém sabe o que que a gente absorveu daquele conteúdo (02).
Foi assim, um método que pra gente foi bem interessante, pelo menos pra mim,
dos outros treinamentos que eu já fiz aqui. Todo mundo interagiu ali e conseguiu depois
debater e se expressar (...) e ficou ligado. Porque normalmente a gente cochila mesmo,
infelizmente (05).
As metodologias ativas utilizadas admitem uma prática pedagógica ética, crítica,
reflexiva e transformadora, ultrapassando os limites do treinamento puramente técnico
para, efetivamente, alcançar a formação do sujeito como um ser histórico, inscrito na
dialética da ação-reflexão-ação, como apontou o participante 05:

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
101
aaaaaaaaaaaaa (...) não foi só aquela coisa que a pessoa chega, fala, fala, às vezes você está até
cochilando e no final você nem sabe o que a pessoa falou, ou então, nem assimilou. Como
a gente participou ali, estava acontecendo com a gente. Então, acredito que ficar no
lugar do outro muda tudo, pelo menos no meu caso foi assim (05).
De acordo com os relatos, a metodologia ativa promove maior reflexão das ações
e relações no ambiente de trabalho, comparada à metodologia tradicional com aulas
expositivas:
Eu acho que houve um despertar diferente da outra metodologia, porque a outra
[tradicional] você vem no treinamento e quando você sai você fala: o que que falou lá?
Ah! a mesma coisa de sempre, que a gente já tá cansado de saber! Eu sei que eu tenho
que conferir a dieta antes de ligar, mas porque que eu não faço? Então, esse: porque que
eu não faço? foi o que essa metodologia [metodologia ativa] despertou na gente, coisa
que a outra não faz, entendeu? Acho que isso trouxe uma conscientização muito grande,
coisa que os outros treinamentos não trazem, é só teoria mesmo, que a gente nem
lembra depois (02).
O uso de metodologias ativas na educação permanente realizada junto aos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

trabalhadores tem favorecido um processo de construção do saber fazer e do saber ser.


Por meio de estratégias participativas, otimizou-se a aquisição de conhecimento de
maneira que os participantes pudessem buscar mudanças no seu comportamento e no
ambiente laboral.
“Reflexões acerca do processo de trabalho a partir da vivência no lugar do
outro”
As respostas mostraram que o trabalhador, ao vivenciar o papel do paciente na
dramatização, pôde discutir sobre a mecanização do processo de trabalho e refletir
acerca da relação trabalhador-paciente.
As estratégias de ensino permitiram que os participantes tivessem um “novo
olhar” para a prática profissional, buscando formas para mudança no processo de
trabalho, a partir da sua realidade laboral e, também, uma vivência de capacitação
diferente da habitual, que despertou a atenção e o interesse dos profissionais. Além
disso, proporcionou enxergar o lado do paciente, observar como o outro recebe o
cuidado e refletir sobre o próprio processo de trabalho que ocorre, muitas vezes, de
forma acelerada e impessoal. Apontou, ainda, a dificuldade dos trabalhadores de refletir

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
102
aaaaaaaaaaaaa sobre os próprios atos devido à mecanização do trabalho, influenciando no cuidado do
outro, resultando numa clareza da necessidade de promover uma mudança de hábitos.
É essa questão da automatização mesmo, a correria. O paciente já entra no
hospital inseguro (...). Então, ele chega pra fazer um procedimento, e se faz de uma
forma automática, que você não explica, que você não passa essa segurança, né, você
acaba gerando uma ansiedade maior nele (...) então é a questão da humanização
mesmo, de se colocar no lugar do outro (01).
Portanto, as respostas apontam que os trabalhadores, ao assumirem a posição
do assistido, perceberam as imposições profissionais que são feitas aos pacientes
cotidianamente e a necessidade de humanizar as relações e o cuidado prestado.
“Dramatização: uma possibilidade de problematizar o erro humano e a
segurança do paciente”
Ao analisar a fala dos participantes, verificou-se pontos em comum, que
interferem no cuidado e na segurança do paciente como: pré-julgamento; sobrecarga
de trabalho; estresse; falta de trabalho em equipe; culpabilização e punição diante do
erro, entre outros.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A relação entre o erro e a segurança do paciente foi um assunto relevante da


discussão entre os participantes que viram, por meio da metodologia utilizada, um
momento de reflexão e de avaliação das suas ações. Ao vivenciarem o caso proposto, os
trabalhadores se depararam com conflitos internos, questões profissionais e pessoais,
problemas do trabalho e nas relações da equipe, além de dificuldades do dia a dia.
Os TE relataram que foi possível fazer uma discussão acerca do erro,
desvinculada do viés da culpa e da punição, o que permitiu focar na resolução do
problema em uma perspectiva educativa e preventiva.
Assim, a Dramatização, realizada por meio da simulação de um caso real, levou
os profissionais a pensarem sobre a empatia, percebendo a importância de se prevenir
o erro e assegurar a qualidade da assistência.
Eu fiz o papel do paciente (...) Ai eu me coloquei na pele do paciente. Agora eu
confiro a dieta umas 10 vezes antes de colocar, confiro mesmo (...) mas aí, teve uma
dieta lá [na unidade] e eu lembrei do treinamento na hora (...) eu lembrei e olhei o nome,
cheguei lá no quarto do paciente olhei de novo, conferi no rótulo de novo (...) e fiz

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
103
aaaaaaaaaaaaa questão de olhar até a pulseira [do paciente], coisa que eu não fazia, mas agora eu faço
(...)! e eu fico pensando: e se eu ligo uma dieta errada? (03).
No entendimento dos TE, o enfermeiro diante do erro do profissional de
enfermagem, deve pesquisar as causas que ocasionaram aquela situação para corrigir,
mas, principalmente, prevenir os eventos adversos, priorizando a segurança do paciente
e não apenas “culpabilizando” o profissional.
(...) o enfermeiro que tinha que corrigir aquilo, tinha que punir? Eu acho que não,
a questão é conscientizar mesmo, levar a pessoa a ter consciência do erro pra não
acontecer de novo. Porque a punição seria pior, a pessoa ia ficar mais (…) não ia ter essa
consciência (01).
(...) eu fiz o papel da técnica que errou, então, todo mundo aqui sabe trabalhar,
mas erra, ou por alguma distração ou por algum motivo (...), a gente espera que o
enfermeiro primeiro foque em resolver o problema, principalmente do paciente (...) ali
[na dramatização], foi o que a pessoa que fez o enfermeiro fez (...) no dia foi muito
bacana, ele focou em resolver o problema (...) e não só apontou o dedo pra quem errou.
E, infelizmente, não é isso que acontece! (04).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

As barreiras de prevenção para minimizar o risco do erro são essenciais para


evitar falhas individuais, organizacionais ou sistêmicas. A causa dos eventos adversos
geralmente está atrelada à fatores diversos, de maneira que, melhores condições de
trabalho, o trabalho em equipe e a interdisciplinaridade são fundamentais nos serviços
de saúde.
Na dramatização teve a questão da dieta, mas, tem muito erro da farmácia, erro
com medicação (...). Então, serviu pra isso também. Vamos supor, a farmácia manda
remédio errado (…) você não sabe, e fala assim: ah, deve ser isso mesmo, a farmácia
mandou. Às vezes nem é. Então, não é só com a dieta, a gente fica mais conscientizado
com a medicação também, né? (01).
Ainda sobre a prevenção de riscos, os participantes pontuaram a necessidade de
colocar o paciente como protagonista do cuidado, considerando suas necessidades e o
seu contexto histórico-cultural. Faz-se necessário reconhecer as angústias e
inseguranças do paciente, solucionar suas dúvidas e orientá-lo em seus cuidados de
forma integral e humanizada.

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
104
aaaaaaaaaaaaa (...) acontece que... focou tanto na dieta errada; em saber de quem que foi o erro
e tal e ao paciente não se dá nenhuma explicação! Eu percebi isso e (...) às vezes
acontece muito isso. A tendência da gente é tentar resolver sem dar polêmica (06).
Os profissionais relataram a importância da utilização de metodologias ativas
que proporcionem a discussão do processo de trabalho e o que pode, de fato, produzir
mudanças comportamentais que visam a segurança do paciente e do próprio
profissional.
Pelo fato de a gente ter vivenciado essa situação, trouxe mais consciência. Às
vezes você pode cometer um erro, uma coisa que a gente poderia evitar. Então, achei
muito interessante a dinâmica porque traz essa consciência de como evitar, né? (04).
Se você não ficar atenta, você pode sim ligar uma dieta ou fazer uma medicação
errada. Então, tudo ali [dramatização] era uma brincadeira, mas era uma brincadeira
muito séria, porque a gente cuida de seres humanos e dependendo do erro, pro paciente
vai trazer muitos danos, mas imagina também pra pessoa que faz aquilo? (...) Deve ser
uma coisa horrorosa sabe, eu penso todos os dias (...) Deus me livre de tá numa situação
dessa (05).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Verifica-se que as metodologias ativas utilizadas proporcionaram vivências


significativas para os TE, o que contribuiu para estarem voltados para um cuidado mais
humanizado e atentos para possíveis falhas e erros no cotidiano, a partir de uma
perspectiva educativa e não punitiva.

4. DISCUSSÃO
Na área da saúde a formação dos profissionais deve ter como objetivo a (re)
estruturação do processo de trabalho, a partir da problematização da realidade. Assim,
ressalta-se na EPS a característica do trabalho educativo grupal, que permite explorar as
experiências de cada um e o compartilhamento de suas vivências, que servem à
reconstrução do conhecimento e uma visão crítica de seu trabalho (CASTANHO, 2012).
Nessa direção, um estudo realizado em diversos municípios mineiros mostra que
a EPS foi concebida como uma forma de problematizar o cotidiano nos serviços de
saúde, pois, possui uma importância estratégica para fortalecer os trabalhadores na
busca de práticas inovadoras na assistência, no ensino, na gestão e na participação social
(SILVA, et al., 2017).

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
105
aaaaaaaaaaaaa A EPS busca focar o profissional como protagonista do seu processo educativo
(DUARTE e OLIVEIRA, 2012). Isso faz com que “seu ideário sobre as práticas educativas
tangencie concepções da educação libertadora (freireana) e aponta para a experiência,
a colaboração e o uso de evidências no desenvolvimento das melhores práticas”
(VENDRUSCOLO, et al., 2021, p. 9).
Para tal, torna-se necessário consolidar as parcerias entre os serviços de saúde e
os estabelecimentos de ensino para que professores, alunos e profissionais possam
compartilhar experiências e saberes, além de reconstruir metodologias que rompam
com a lógica do ensino tradicional e provoquem inquietações e indagações no processo
de ensino-aprendizagem (LUZ, et al., 2020).
A partir da vivência e de atividades práticas é possível mostrar que alteridade e
autorreflexividade estão presentes, uma experiência pedagógica que propicia ligar os
dois polos: o ideal e o real, numa ação que vai ao encontro do outro “com
estabelecimento de prioridades, de discernimento e tomada de decisão em consonância
com o possível, o viável e o correto” (VILLA e CADETTE, 2014, p. 25).
Nessa perspectiva, a utilização de metodologias ativas na EPS permite, a partir
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de situações reais e por meio de estratégias problematizadoras, confrontar


conhecimentos prévios e evidências científicas (SOUZA, 2016). Um estudo de revisão
acerca da EP em Centros de Terapia Intensiva evidenciou que a utilização de simulação
ou demonstração prática despertou o interesse, a curiosidade e a confiança nos
profissionais, pois, são metodologias fundamentadas na resolução de problemas
(OLIVEIRA, et al., 2020).
Dessa forma, destaca-se que a dramatização, quando utilizada como um recurso
pedagógico, propicia a reconstrução de saberes por meio da vivência e do discurso do
outro, a partir de lugares a serem transitados, visto que para o imaginário tudo é
possível. Isso permite ao indivíduo vivenciar uma experiência que emerge do seu
processo de aprendizagem e pode transformar sua prática (SOUZA, 2010).
Em suma, as metodologias ativas permitem uma

análise crítico-reflexiva das temáticas, e estas reflexões acerca da forma de


cuidar no ambiente de trabalho influenciam positivamente a maneira de
pensar e agir no dia a dia profissional. Desta forma, possibilita a apropriação
de novos saberes, e a construção coletiva do conhecimento encorajando
mudanças em prol de práticas seguras na assistência à saúde no cotidiano do
SUS (AMARAL, et al., 2021, p. 16).

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
106
aaaaaaaaaaaaa O uso das metodologias ativas na EPS proporciona uma aprendizagem reflexiva,
dialógica e baseada na realidade do trabalho no cotidiano da saúde, pois, são estratégias
de ensino que têm como eixo a problematização. Isso contribui, não só no campo
profissional em seu aspecto técnico, mas também nos aspectos emocionais e éticos, ao
possibilitar se colocar no lugar do outro, evidenciando a importância do respeito à
individualidade do usuário.
Destaca-se algumas limitações do estudo como o número reduzido de
trabalhadores nas capacitações ofertadas, que pode estar associado à sobrecarga de
trabalho, ao absenteísmo e à carga horária da capacitação, não estar computada no
dimensionamento de pessoal e na jornada de trabalho. Além disso, não houve adesão
de enfermeiros e auxiliares de enfermagem, o que limitou a compreensão da equipe de
enfermagem em sua totalidade.
Esse estudo pode contribuir na produção técnico científica sobre EPS, mas seus
resultados não podem ser generalizados, o que aponta a necessidade da realização de
outros trabalhos para ampliar a compreensão acerca das metodologias ativas no
processo de capacitação dos trabalhadores nos serviços de saúde.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As respostas demonstraram que a Oficina dos Sentidos e a Dramatização são
estratégias dinâmicas, capazes de motivar a equipe, promoverem a participação do
grupo, além de permitirem um processo de ensino aprendizagem dialógico e reflexivo,
a partir da problematização da prática profissional. Em contrapartida, os participantes
assinalaram que, nas metodologias tradicionais o trabalhador ocupa um lugar passivo,
o que torna a atividade cansativa e monótona.
Os participantes enfatizaram que as metodologias utilizadas possibilitaram
trazer à tona questões difíceis de serem abordadas numa discussão acerca da realidade
do trabalho, como o erro humano, desvinculada do viés da culpa e da punição.
Relataram que a capacitação pôde ser focada a resolução do problema, em uma
perspectiva educativa e preventiva, visando assegurar a segurança do paciente e não
somente a exposição do erro.
Por fim, ao vivenciarem o papel do paciente, os trabalhadores puderam discutir
a mecanização do processo de trabalho e as imposições que, muitas vezes, são feitas

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
107
aaaaaaaaaaaaa aos pacientes pelos profissionais de saúde. Assim, as metodologias ativas permitiram
refletir acerca das condições de trabalho, da relação trabalhador-paciente e da
necessidade de humanização do cuidado.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Minas Gerais (FAPEMIG), ao conceder uma bolsa de iniciação científica por meio do
Edital 01/2016 da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais.

REFERÊNCIAS
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teórica. Revista Thema, v. 14, n. 1, p. 268-288, 2017.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

SPAGNOL, Carla Aparecida, et al. Experiências pedagógicas vivenciadas na disciplina


Competências e habilidades para a gestão de pessoas nas organizações de saúde.
Rev. Enferm. Cent. O. Min., v.2, n. 3, p. 451-462, 2012.

SOUZA, Marilei de M Tavares. Dramatização como Recurso Pedagógico em


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YIN, Robert K. Estudo de caso. Planejamento e métodos. 5ed. Porto Alegre (RS):
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CASTANHO, Pablo. Uma Introdução aos Grupos Operativos: Teoria e Técnica. Rev.
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DUARTE, Maria de Lourdes Custódio; OLIVEIRA, Aládia Inês. Compreensão dos


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METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
108
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práticas em enfermagem na atenção primária à saúde. Cogitare Enfermagem,
v.26, n.1, p. e72725, 2021.

LUZ, Karla Emanuelle Silva, et al. Aplicação de metodologias ativas em núcleo de


educação permanente nas organizações de saúde. Revista Eletrônica Acervo
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VILLA, Eliana Aparecida; CADETTE, Matilde Meire Miranda. Ensino de administração em


enfermagem: metodologias de construção do saber. In: SPAGNOL, Carla
Aparecida; VELLOSO Isabela Câncio Silva. (Orgs.) Administração em
enfermagem: estratégias de ensino. Coopmed, 2014. p. 17-28.

SOUZA, Maria Conceição Bernardo de M. The Psychiatric Nursing/Mental Health


Education: advances, limitations and challenges. SMAD. Rev Eletrônica Saúde
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OLIVEIRA, Jacqueline Aparecida, et al. Educação permanente em enfermagem no centro


de tratamento intensivo. Revista de Enfermagem UFPE on line, v.14, 2020.

AMARAL, Adaíse Passos de Souza, et al. Metodologias ativas: relato de experiência da


participação em curso de especialização na área da Saúde. Revista Docência do
Ensino Superior, v. 11, n.1, p. 1-20, 2021.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

METODOLOGIAS ATIVAS: OFICINA DOS SENTIDOS E DRAMATIZAÇÃO UTILIZADAS NA EDUCAÇÃO


PERMANENTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM
109
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO VIII
GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE
FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL,
ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-8
Milena Beatriz Rodrigues Félix ¹
Uriel Alexandre Bonafé ¹
Caroline Pereira Teixeira ¹
Fernanda Quintão Ferreira 2
Letícia Vicente Lopes ³
Wanderson Bassoli dos Santos 4
Álvaro César de Oliveira Penoni 5
Raquel Alves Costa 6
1 Graduando do curso de Psicologia. Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2 Graduando do curso de Medicina. Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ
3 Graduando do curso de Educação Física. Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ
4 Farmacêutico da secretaria municipal de saúde de São João del Rei-MG.
5 Professor Adjunto do Departamento de Educação Física. Universidade Federal de São João del Rei – USJ
6 Professora Adjunta do Departamento de Ciências Naturais. Universidade Federal de São João del Rei – USJ

RESUMO
O contexto da formação em saúde vem sendo alvo de inúmeras discussões e pesquisas nos últimos
anos. Esse tema é importante para pensar o tipo de cuidado em saúde que está sendo ofertado nos
serviços, assim como, quais relações de trabalho se estabelecem dentro destes, e, para além disso,
se faz relevante também para que se possa questionar a posição político-social que o processo
formativo em saúde ocupa. Um foco que tem sido presente e a avaliação da formação de
competências comuns e específicas para a formação interprofissional. Dessa forma é importante
diagnosticar a interprofissionalidade e suas competências entre os cursos de saúde de uma
universidade, desde a sua formação, possibilidades de inserção da formação interprofissional
integrada nesses cursos. Neste presente trabalho, foi realizado um estudo com grupos focais com
discentes dos cursos de educação física, medicina e psicologia, preceptores da área de saúde e
docentes que atuam nesses cursos com o intuito de avaliar a formação interprofissional perpassando
na formação dos futuros profissionais de saúde e no serviço. Para tal, analisou-se as falas de alunos,
docentes e preceptores profissionais da saúde sobre a integração de ensino e serviço entre os cursos
de saúde de uma universidade do interior de Minas Gerais com o SUS e estimulou-se uma reflexão
sobre possíveis mudanças curriculares nos cursos de saúde dessa universidade. Existem alguns
exemplos de currículos em universidades no Brasil focando uma formação mais integrada entre os
cursos de saúde e essa discussão pode ser uma oportunidade de reflexão para outras universidades.

Palavras-chave: Educação Interprofissional. Ensino e serviço. Formação em saúde. Grupos Focais

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 110


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O contexto da formação em saúde vem sendo alvo de inúmeras discussões e
pesquisas nos últimos anos. Tal tema se faz de extrema relevância para que se possa
pensar o tipo de cuidado em saúde que está sendo ofertado nos serviços, assim como,
quais relações de trabalho se estabelecem dentro destes, e, para além disso, se faz
relevante também para que se possa questionar a posição político-social que o processo
formativo em saúde ocupa. Nesse sentido, ressalta-se que no cenário brasileiro a
formação em saúde é de responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo
definido pela Constituição Federal de 1988, como competência deste “ordenar a
formação de recursos humanos na área de saúde” (p. 120). Assim, ressalta-se como o
funcionamento e implementação desse sistema está imbricado intimamente com o
processo de formação no qual seus futuros profissionais estão inseridos.
A formação em saúde, hoje, não busca apenas dotar os sujeitos de uma pura
capacitação técnico-científica. Ela deve estar intimamente relacionada com questões de
relevância social para a melhora da qualidade em saúde, oferecendo condições para que
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

se atue também sobre as necessidades da saúde, do controle social e da gestão


(CECCIM; FEUERWERKER, 2004). Devendo, assim, estar interligada em toda sua
constituição e execução com o modo no qual o sistema público de saúde opera, não
visando apenas adaptar-se a ele, mas também, principalmente, aprimorá-lo.
Nesse sentido de buscar cada vez mais uma formação voltada para o SUS, o
Ministério da Saúde investe em uma série de estratégias e programas para fomentar
transformações nesse processo formativo, e por consequência, na própria saúde pública
brasileira. Dentre estes, destaca-se o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde
(PET-Saúde), que consiste em um instrumento para viabilizar o aperfeiçoamento
profissional em serviço, assim como, iniciação ao trabalho de graduandos, visando o
fortalecimento da Estratégia Saúde da Família, de acordo com as necessidades do SUS
(BRASIL, 2008). Em seu último edital, de 2018, tal programa trouxe como eixo central de
discussão a Interprofissionalidade como ponto nodal para o fortalecimento da saúde
pública nacional.
A Educação Interprofissional (EIP) tem surgido, nos últimos anos, como
estratégia a ser seguida e fomentada para a formação em saúde, não só nacional mas

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 111


aaaaaaaaaaaaa também mundialmente. A Organização Mundial de Saúde (OMS/WHO) lança um
documento em 2010 denominado “Marco para a Educação Interprofissional e Prática
Colaborativa”, no qual aponta a EIP como estratégia inovadora para o enfrentamento
da crise em saúde, assim como essencial para a formação de recursos humanos
preparados para a prática colaborativa em saúde (WHO, 2010). A interprofissionalidade
é um conceito complexo, que é por muitas vezes confundido e usado de forma errônea,
como sinônimo de multiprofissional ou interdisciplinar. Porém, aqui, reconhece-se esta
enquanto prática que se dá em ocasiões em que representantes de duas ou mais
profissões aprendem com os outros,sobre os outros, e, entre si, visando, assim,
aperfeiçoar a colaboração para melhorar a qualidade dos cuidados em saúde (BARR;
LOW, 2003).
Nesse sentido, torna-se imprescindível que práticas de EIP sejam adotadas
dentro das formações acadêmicas em saúde, visando atender as necessidades de
fortalecimento do SUS. Mas, para tal, é necessário que se compreenda, primeiramente,
o cenário atual que essa formação se encontra, as potencialidades para a
interprofissionalidade nessa, e, as percepções dos atores envolvidos sobre a temática.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Desse modo, é essencial compreender as percepções dos graduandos, discentes e


preceptores sobre a implementação da EIP, e sobre os diversos aspectos que a
circundam, entendendo esses atores enquanto sujeitos ativos do processo de mudança
das práticas formativas em saúde.
Para contextualizar esse problema dentro do campo teórico, recorre-se à
contribuição de Casanova, Batista e Ruiz-Moreno (2015); Rossit, Batista e Batista (2003);
e Souto, Batista e Batista (2014). Respectivamente, o primeiro trata da percepção de
residentes multiprofissionais sobre o trabalho em equipe, tendo como eixo a noção de
EIP. Já o seguinte, avaliou a formação interprofissional por egressos de cursos da saúde,
e teve essa apontada como importante para o desenvolvimento de competências
comuns, colaborativas e específicas, necessárias para a qualidade do cuidado integral à
saúde. No último, os autores apontam que estudantes de psicologia compreendem a EIP
como relevante para a melhora do cuidado em saúde. Analisando as três pesquisas,
percebe-se uma consonância para os aspectos positivos resultantes da prática
interprofissional no processo de formação. Além, de demonstrar também como os

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 112


aaaaaaaaaaaaa próprios atores envolvidos neste processo podem ter clareza sobre como tais
fenômenos interprofissionais se dão dentro de sua própria trajetória formadora.
Dessa forma, a compreensão que os próprios atores envolvidos no processo de
formação em saúde têm de sua realidade e das possibilidades de mudanças é
fundamental para a vivência da EIP. Além disso, destaca-se tal questão como relevante
para o campo teórico, pois através dela pode-se propor estratégias para intervenção e
reorientação das práticas em saúde, contribuindo, assim, com a melhora e
fortalecimento da saúde pública nacional. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi
compreender as percepções de discentes, docentes e preceptores envolvidos na
formação dos cursos de Educação Física, Medicina e Psicologia de uma universidade no
interior de Minas Gerais, no Brasil, sobre mudanças curriculares com foco na Educação
Interprofissional. Além disso, verificou-se como esses atores percebiam como foi e está
sendo construída a identidade profissional enquanto profissional da saúde dos discentes
dos curso; sobre o trabalho em saúde no SUS; sobre o trabalho em equipe e a
interprofissionalidade; sobre o processo de formação em saúde dentro dessa
universidade estudada nos cursos citados e levantou-se as potencialidades e as
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

dificuldades de um processo de mudança curricular com foco na EIP dentro desses


cursos e que servem de modelo para outros cursos da área da saúde no Brasil e no
mundo.

2. METODOLOGIA
Este trabalho foi qualitativo, defendendo a noção de que o conhecimento não é
neutro, e de que a investigação dos fenômenos humanos tem características específicas
que diferem do modelo das ciências naturais, que os significados que buscam ser
descritos e analisados advém das próprias interações sociais (CHIZZOTTI, 2003). Assim,
conforme Gondim (2003, p. 122) assume-se que “o que é investigado não é
independente do processo de investigação”. Além disso, define-se como um estudo
exploratório, visto que procura-se uma aproximação da temática abordada, para se
construir uma visão geral desta (GIL, 2008).
A técnica de coleta - e produção - de dados utilizada foi o método de grupos
focais. Nestes a investigação se deu tendo o próprio grupo como unidade de análise,
para além da soma dos membros unitários que o compõem. Assim, houve a coleta dos

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 113


aaaaaaaaaaaaa dados pelas interações grupais ao se discutir tópicos sugeridos pelo moderador,
trazendo à tona aspectos que não foram possíveis sem a interação grupal (GONDIM,
2003). Segundo Backes, Colomé, Erdmann e Lunardi (2001, p. 439), “o grupo focal
representa uma fonte que intensifica o acesso às informações acerca de um fenômeno,
seja pela possibilidade de gerar novas concepções ou pela análise e problematização de
uma ideia em profundidade”.
O processo de utilização desse método se deu com a realização de grupos focais
com cinco populações de discentes da universidade do interior de Minas Gerais:
Educação Física (Bacharelado/Licenciatura); Medicina; Psicologia (Integral/Noturno);
docentes dos respectivos cursos; preceptores da rede de saúde que atuam na mesma
cidade do interior (MG). Realizou-se dois encontros com cada uma dessas populações,
sendo utilizado o critério de saturação para definir o término, para definir quando o
tema pretendido já foi suficientemente tocado, levando, agora, apenas às repetições. O
número total de participantes foi 25 pessoas, sendo que cada encontro contou em
média com 4 a 8 participantes. O convite aos participantes dos respectivos eixos foi feito
por e-mail e mídias sociais. Tal tipo de abordagem se faz importante para a execução de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

grupos focais, visto que é necessário que estes participantes sejam sujeitos que se
proponham a discutir o tema em questão, sendo mais provenientes a tal aqueles que
demonstrem interesse de participar. Além disso, como forma de caracterizar aquele
grupo que está sendo trabalhado, os participantes serão convidados a responder um
questionário para caracterização do perfil sociodemográfico. Este, assim como o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)- (aprovado com o número CAAE
31639720.2.0000.5151 aprovado pelo comitê de ética em pesquisa humana), foram
enviados através de um link de um formulário online, da plataforma Google Forms, no
qual o participante deu o seu consentimento para participar da pesquisa.
A intencionalidade do grupo focal foi buscar compreender as potencialidades e
limitações da Educação Interprofissional dentro do contexto de formação dessa
universidade do interior. Para isso, foi estruturado um roteiro contendo questões
centrais sobre a percepção dos atores ali envolvidos, tendo como plano de fundo a
discussão sobre o processo de integração curricular. O roteiro teve poucos itens, com
diferentes níveis de complexidade, em que o aprofundamento da discussão se deu ao
longo do grupo. Foram abordadas questões relacionadas ao entendimento dos atores

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 114


aaaaaaaaaaaaa sobre a EIP; perspectivas do trabalho em saúde e no SUS; possibilidades de atuação
profissional; construção da identidade profissional; trabalho em equipe; dilemas do
trabalho em equipe; horizontalidade e tomada de decisões; confiança da formação para
com o trabalho em saúde; aproximação e integração ensino-serviço como uma forma
de aprendizagem; sugestões sobre mudanças curriculares com foco na formação
interprofissional.
Os encontros foram realizados em uma plataforma de videoconferência com
vídeo e áudio durante o ano de 2020. Assim, buscou-se a realização de um grupo focal
online síncrono, tal qual relatado na revisão de estudos apresentada por Bordini e Sperb
(2013). O tempo de duração do grupo foi de 90 a 110 minutos, sendo que todos os
encontros tiveram a presença de um moderador e de um apoio (ou mais de um),
atuando oportunamente, como segundo moderador. O papel do moderador foi de
introduzir a discussão; enfatizar ao grupo que não há respostas certas ou erradas;
observar e encorajar os participantes, encorajando a palavra de cada um; buscar as
"deixas" dentro do grupo para aprofundar e construir relação com a discussão; observar
as comunicações não-verbais e o ritmo próprio dos participantes, dentro do tempo
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

previsto para o debate (TRAD, 2009).


Os encontros foram gravados e posteriormente transcritos para análise, após a
transcrição dos dados coletados foi realizada uma leitura flutuante de todo o material,
e, posteriormente, para facilitar a produção de resultados, as respostas foram
categorizadas dentro de grandes temas explorados na pesquisa. Foi feita uma análise
temática não-apriorística, em que não houve a definição prévia pelos pesquisadores em
que núcleos as falas se dividem (CAMPOS, 2004). A análise contemplou dois momentos
complementares: análise específica de cada grupo e análise cumulativa e comparativa
do conjunto de grupos realizados, de acordo com a tabela de categorias de análise
(Tabela 1). Após a análise dos dados coletados, os participantes foram convidados, por
e-mail, para receber a devolutiva da análise.

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 115


aaaaaaaaaaaaa Tabela 1 - Categorias de análise
CATEGORIA DEFINIÇÃO

I. Sentido ampliado Elaborado a partir do conceito ampliado de saúde, que tem


de saúde como questões centrais as condições históricas, econômicas,
políticas e socioculturais, que interferem/prejudicam a
qualidade de vida humana. Este conceito extrapola a visão
biológica/doença.

II. Habilidades e Competência como a capacidade de mobilizar


competências para o conhecimentos; habilidades e atitudes no sentido de
SUS. solucionar desafios da prática profissional no Sistema Único
de Saúde (SUS).

III. Formação Tipo de formação profissional prevista nos PPCs:


para o trabalho em multiprofissional e/ou interprofissional.
equipe

IV. Visão crítica da Posicionamento reflexivo e dialógico para atuar na realidade


sociedade social, intervindo nas políticas públicas (PP) de saúde.

V. Integração Estratégia de inserção durante a formação inicial, com o


Ensino-serviço objetivo da aprendizagem e da reflexão a partir do ambiente
real de trabalho.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

VI. Educação Formação para o sentido do aprender e do ensinar


permanente incorporados ao cotidiano institucional do trabalho em órgãos
de saúde.

VII. Políticas Formação dos profissionais para reflexão, elaboração,


públicas e gestão intervenção e gestão de PP em saúde.
Fonte: Autoria própria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A formação em saúde, integrando conhecimentos teóricos e instrumentais com
a possibilidade do trabalho em campo, é a aspiração para todas as profissões de saúde
atualmente. Essa mentalidade se opõe aos modelos mais clássicos de educação, que
ainda imperam no ensino brasileiro, e que vão na contramão de uma educação bancária
(FREIRE, 2005), e convoca o estudante para um protagonismo maior dentro do seu
processo de aprendizagem. De acordo com Vilela e Mendes (2003) a educação dos
profissionais de saúde deve pautar-se nos conhecimentos experimentados, vividos; pois
estes permitem formar profissionais com capacidade de solucionar problemas. Assim,

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 116


aaaaaaaaaaaaa tal afirmativa reforça a proximidade que a universidade deve ter com o serviço, para
iniciar o preparo ao futuro profissional no ambiente de trabalho.
No entanto, de acordo com nossas análises nos grupos focais, o que foi possível
notar é que integrar a prática em saúde ainda não é unânime e não se dá de modo linear
em todas as graduações da área da saúde abordadas neste trabalho. O que percebeu-
se é que nem todos os cursos da saúde do campus Sede dessa universidade do interior
conseguem implantar todas as recomendações das novas Diretrizes Curriculares
Nacionais. Esse fato fica claro na percepção dos graduandos em psicologia, que
apontam: “[...] fica muito no campo teórico e não parte para a prática, por isso não dá
para construir essa identidade.” ao se referir à construção de um profissional para atuar
no SUS. Concomitantemente, estudantes de medicina reconhecem uma formação
aproximada com o sistema público, visto que esta é a única graduação do campus Sede,
que possui o campo de prática inserido no funcionamento da rede de saúde pública no
município de São João del Rei. Entretanto, como apontado, o processo não é linear, e
mesmo nesta graduação há pontos a se discutir sobre tal inserção.
Essa ausência da integração ensino-serviço na formação em saúde é percebida
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

pelos profissionais de saúde, que são preceptores nos campos de estágio. Isso é
percebido após as análise das falas: os preceptores julgam que ocorre um
distanciamento entre formação teórica dentro da universidade com a prática exigida
para trabalhar no SUS. Algumas falas que ilustram tal afirmativa são: “[...] na época não
existia estágio, formação falha em saúde pública [...]”; “[...] capacitei por conta própria,
fora da universidade [...]”; “[...] não tinha uma visão de saúde coletiva [...]”; “[...] os
alunos chegam com a visão de saúde privada no SUS”.
Segundo Camara, Grosseman e Pinho (2015), previamente, há muitos relatos na
literatura sobre a importância de uma graduação em que os estudantes dos cursos de
saúde participem, efetivamente, atuando por meio de estágios nos dispositivos de
saúde pública. Dessa maneira, esses desenvolvem assim um aprendizado teórico e
prático sobre o SUS e a atenção primária; os autores chamam de "importância do saber-
fazer”. A possibilidade de um dispositivo de atenção primária receber mais de um curso
estagiando em sua unidade evidencia cada vez mais que a atenção primária é um
excelente cenário para a educação interprofissional.

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 117


aaaaaaaaaaaaa No âmbito da proposta de uma disciplina interdisciplinar, e possíveis estágios
neste mesmo segmento, tem-se uma forma de garantir a responsabilidade social e, ao
mesmo tempo, garantir – integralmente – o bom desempenho do futuro profissional
para o SUS. Ademais, há de se considerar que o trabalho em rede não é formado pela
mesma classe de trabalho. O bom funcionamento do SUS exige uma interação direta
dos profissionais e que cada um reconheça o papel do outro para saber como agir. Nesse
sentido, conseguir essa vivência na formação é uma maneira de promover o melhor
funcionamento da saúde pública.
Além disso, é preciso sempre salientar que a universidade precisa ter um
responsabilidade social com a comunidade; assim, a formação de estágios de todas as
áreas da saúde e serviços públicos é vital para que esse dever seja cumprido.

Entendimento e Vivência Interprofissional no Trabalho em


Equipe
Por meio das falas dos preceptores observa-se uma deficiência na formação
acadêmica para trabalho em equipe nos serviços do SUS e na própria vivência do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

trabalho sobre interprofissionalidade. O entendimento de trabalho em equipe com


competências atribuídas é precário e escasso tanto formação quanto no trabalho e
existem ainda muitas práticas profissionais pautadas na individualidade, como foi
revelado em uma fala do GF (Grupo Focal) de preceptores: “[...] Conhecimento é poder,
eu faço, mas não vou falar como é”.
Diante de um cenário de trabalho como relatado pelos preceptores, fica evidente
que o lugar que o docente assume dentro de um contexto de EIP (Educação
Interprofissional) é determinante para uma boa formação de profissionais da saúde.
Aimportância deste papel central do docente, possuindo a competência de mediador as
situações de aprendizagem inseridos em um contexto dentro da sala de aula ou estágios
em EIP. Desta forma, o mediador contém um conjunto de características que vão desde
o compromisso pela EIP, intencionalidade para o trabalho em equipe e criatividade e
manejo para compartilhar as vivências com os estudantes (REEVES, 2016).
Ao analisar as falas que ocorrem nos GF, é possível notar que uma demanda em
comum entre todos os discentes, foram sobre a “não existência" ou “quase nenhuma”
possibilidade de educação interprofissional dentro dos respectivos currículos. Um dos

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 118


aaaaaaaaaaaaa relatos no GF do curso de educação física foi de que não existe conversa entre os
profissionais da saúde e que tais conhecimentos não se integram. Tais relatos
evidenciam que, hoje, não existem possibilidades de EIP dentro do curso de educação
física. Já no curso de medicina, é trazido pelos participantes que o contato com a EIP
depende da participação em projetos de extensão como o PET-Saúde, evidenciando que
no currículo regular esse debate não é efetivamente feito. Algo semelhante aos relatos
do GF do curso de psicologia, sobre uma falta de possibilidades práticas para realizarem
a vivência deste trabalho em equipe e também aconteceram falas que demonstram que
este entendimento sobre a EIP fica somente no campo teórico. Portanto, a demanda
mais evidente nas falas dos alunos de psicologia é sobre a não existência de estágios
obrigatórios em dispositivos do SUS e também ausência da possibilidade de uma
formação interprofissional com outros cursos da área da saúde.
É extremamente importante a instituição de uma cultura acadêmica que se
oriente sob os valores das práticas colaborativas e principalmente compartilhadas entre
os próprios docentes acadêmicos, alterando assim a práxis universitária atual que se
situa em uma lógica de profissionais acadêmicos centrados em si mesmos, realizando
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

trabalhos isolados visando publicações (CAMARA et al, 2015).


Um ponto em comum entre os relatos das docentes e uma das falas de um aluno
do GF, é sobre o atravessamento da hierarquização dentro do sistema de saúde, que
demonstra causar um distanciamento entre os profissionais da saúde. Essa
hierarquização é observada nas falas de todos os GF, porém o de Medicina sendo o curso
que possui maior participação em estágios nos dispositivos do SUS, esses relatos se
apresentam de forma mais prática, como no GF de medicina:“[...] Acho que existe uma
hierarquização dos profissionais como se eles tivessem níveis de importância diferentes
e isso muitas vezes dificulta a interação entre eles [...]”. E também no GF dos docentes:
“[...] O servidor trabalha em um sistema sucateado e com sérios problemas de
hierarquia[...]”.

Potencialidades e Desafios na Implementação de Currículos


de Formação Interprofissional
No que tange a discussão de desafios e potencialidades na implementação de
currículos com caráter de formação interprofissional, os GF mostraram diferentes

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 119


aaaaaaaaaaaaa pontos de aproximação entre os envolvidos, evidenciando importantes características
de como os cursos buscam se integrar e o quanto estão distanciados. Nota-se um desafio
que se apresenta em comum em todos os GF, que é a própria percepção sobre a
deficiência do trabalho interprofissional que se tem dentro da formação dos cursos e
nos serviços onde atuam os preceptores ouvidos.
Nos GF de discentes os participantes relataram que os cursos, muitas vezes, não
dão o devido preparo para essas experiências interprofissionais e que o contato com
esse tema não é regulamentado nas ementas. Desta forma, o trabalho interprofissional
e a aproximação com a temática da EIP fica dependente de programas de extensão,
como o próprio PET-saúde interprofissionalidade - o que é uma dificuldade, pois acaba
dificultando o acesso dos discentes e docentes à temática, criando barreiras na
disseminação desse tipo de conhecimento.
Em consonância, o GF dos preceptores relataram a apreensão de que dentro da
rede municipal existem alguns perfis de profissionais que possuem resistência ao
trabalho multi e interprofissional, evidenciando assim um desafio que vai além dos
currículos dos cursos na universidade.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

No GF da Educação Física e também no dos preceptores, surgiram discussões


sobre a importância do debate da saúde pública para a construção dos currículos
interprofissionais e como isso é escasso atualmente na realidade vivida pelos
participantes dos GF. Segundo os discentes, o curso de educação física não oferece a
possibilidade de pensar e falar sobre o tema da EIP e que para isso acontecer os alunos
teriam que: “[...] Pensar fora da caixa”. Diante disto, uma demanda evidente trazida
pelos alunos do curso foi a necessidade dos docentes levarem mais conhecimentos
sobre políticas públicas e outras áreas de atuação da saúde para dentro do curso de
educação física.
Outra dificuldade que surgiu em comum nos diferentes GF foi a resistência dos
próprios docentes às mudanças curriculares e à inclusão desse tipo de temática na
formação. Os participantes discutiram o fato de que, muitas vezes, ocorre um choque
geracional entre o corpo docente e os discentes, no qual existe uma falta de
disponibilidade de atualização dos professores demonstrando assim um engessamento
dentro de suas respectivas áreas de especialização sem espaço para um
compartilhamento de saber entre os cursos e, portanto, gera uma deficiência na

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 120


aaaaaaaaaaaaa formação dos discentes. Desta forma os alunos ficam submetidos a uma formação
acadêmica isolada, aplicando conteúdos que ficam somente dentro de suas respectivas
áreas de formação. No GF da psicologia foi, inclusive, sugerido que mais programas de
educação continuada sobre EIP sejam fornecidos para os docentes, a fim de diminuir a
defasagem desse tipo de conhecimento entre eles. Além disso, parece existir uma falta
de consenso entre os docentes de diferentes departamentos o que pode dificultar a
inserção desse tipo de discussão em uma futura tentativa de implementação de EIP
dentro dos currículos.
Outro importante fator dificultador que surgiu nas falas dos GF foi sobre o
distanciamento que existem entre os cursos, este além de físico, pois os cursos da área
de saúde ocupam prédios e até estão em campus distintos, também não possuem os
mesmos horários de aula. O distanciamento também é de formação e acontece devido
a uma falta de comunicação entre departamentos dos cursos. Alguns relatos evidenciam
isto, como no GF de docentes: “[...] Os cursos não conversam entre si”. Também há
relatos no GF de medicina: “[...] Têm que ser vontade dos cursos fazer a EIP acontecer”.
E relatos similares no GF de psicologia: “[...] Necessidade de melhorar o contato entre
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

os departamentos dos cursos da UFSJ”.


Outros desafios foram suscitados nos debates, porém de forma isolada ou
distinta entre os GF. No de medicina, foi relatado como um fator dificultador os próprios
comportamentos dos alunos. Isso porque os participantes do GF relataram que, de
forma geral, os discentes de medicina pouco se interessam e valorizam disciplinas com
discussões mais humanizadas ou cujo foco vai além da porção biomédica da profissão,
o que dificultaria a inserção desses debates no curso devido a uma falta de interesse por
parte de alguns discentes.
No GF da psicologia uma dificuldade particular relatada está relacionada ao
campo de prática da cidade. Este é muito pequeno e repleto de alunos, se tornando
saturado. Tal comentário pode ser contextualizado quando leva-se em conta a criação
de um curso de psicologia na tradicional universidade particular do município e cada vez
mais a instituição particular se ocupa, por meio de arranjos políticos, uma maior atuação
no campo de saúde da cidade, fazendo arranjos melhores do que uma instituição pública
poderia oferecer, ocasionando assim uma certa concorrência por atuação de campo em
um município de pequeno porte. Nesse sentido, existe uma dificuldade de criação de

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 121


aaaaaaaaaaaaa vínculos entre município e universidade pública, o que prejudica diretamente os
estágios.
Os discentes da medicina relataram como potencialidade específica do curso a
disciplina de Práticas de Integração Ensino-Serviço-Comunidade (PIESC). Pois nesta é
requerido que sejam feitas intervenções na comunidade e em famílias específicas e,
muitas vezes, as demandas de cuidado dessas pessoas alvo das intervenções são
múltiplas. Nesse aspecto, seria interessante se pensar em planos de cuidado
transversais e interprofissionais, pois eles seriam mais eficientes. Uma aluna esclareceu
isso neste GF ao dizer: “[...] No albergue tem atuação de alunos da Educação Física, pelo
menos tinha, e da Psicologia e a gente não se encontrava com essas pessoas. A gente
estava criando um projeto terapêutico para esses idosos. Se a gente tivesse como
comunicar [...]”.
No GF dos discentes da psicologia os debates evidenciaram diversas
potencialidades de implementação de uma EIP dentro do currículo do curso. Em um
primeiro momento os alunos apontaram que o atual currículo já possui uma intenção
clara de formar psicólogos com pensamento e ação crítica, e com isso já propiciaria uma
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

possível implementação de EIP dentro do curso. Em contrapartida um detalhe que esses


alunos trouxeram foi que o curso de psicologia da UFSJ não é muito voltado para o SUS
o que, muitas vezes, limita esse tipo de estudo e discussão de ocorrer (ainda que isso
seja discutível, uma vez que a interprofissionalidade é uma demanda para a saúde como
um todo, tanto no sistema público como no privado).
O GF dos preceptores apresentou como importante desafio dentro do campo de
atuação dos profissionais da saúde a intensa sobrecarga das horas de trabalho de todos
os envolvidos na rede de saúde, e frequentemente sofrem do acúmulo de funções, o
que prejudica o exercício da preceptoria.
Frente aos diversos relatos sobre as dificuldades, também foi trazido pelos
participantes falas que demonstram diversas potencialidades que já existem nos cursos
e nos serviços para uma implementação de EIP.
Os preceptores relataram como seria produtivo existir uma aproximação entre
os docentes e eles, pois, desta forma, as disciplinas poderiam ser lecionadas com as
teorias já existentes e necessárias com as práticas atuais que são praticadas dentro dos
serviços de saúde. Para além desta interlocução, a presença dos preceptores em

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 122


aaaaaaaaaaaaa estágios e supervisões também seria um ganho para a prática, considerando que eles
poderiam contribuir com as próprias experiências práticas em serviços inseridos na
rede, colaborar compartilhando sobre o seu real funcionamento e o seu processo de
atendimento, além de levantar os problemas institucionais que cercam os mesmos. Tais
medidas ao mesmo tempo que se constituem como desafiadoras, também podem
impactar de uma maneira positiva a implementação da prática interprofissional nos
currículos.
O GF dos preceptores apontaram que hoje se tem como grande potencialidade
dos currículos o estímulo à educação permanente de preceptores para que eles sempre
estejam atualizados e para que sempre possam criar ambientes de ensino dentro da
prática, favorecendo um serviço interprofissional. Este grupo e o da Educação Física, em
consonância com os demais sugeriram a importância de se ter uma Unidade Curricular
que aborde essa temática da interprofissionalidade de forma profunda.
As docentes que participaram do GF são pertencentes ao departamento de
ciências básicas e ambas ofertam Unidades Curriculares no 3º período do curso de
Medicina. Nesse sentido, a contribuição de ambas se limitou um pouco no que tange às
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

potencialidades e dificuldades do currículo ao passo que elas não conhecem a fundo o


que de fato ocorre nos demais períodos do curso. No entanto, ao trazerem
potencialidades elas reforçam que os primeiros períodos do curso de medicina têm uma
chave para essa resposta uma vez que nesse momento do curso os discentes são
sensibilizados a esse tipo de discussão e é o momento em que eles mais possuem
contato com diferentes profissionais.
Por tanto no que tange a discussão de potencialidades é fundamental ressaltar
que todos os GF relataram perceber a importância de se trabalhar a
interprofissionalidade entre os cursos de saúde em uma universidade do interior. Isso
mostra que, apesar de existirem dificuldades, o investimento nesse tipo de educação e
currículo parece ser válido e produtivo. Apesar disso, ainda é escasso o trabalho do tema
dentro dos currículos dos cursos.
Nesse sentido, as discussões trazidas nos GF demonstraram que a formação
interprofissional é um pilar fundamental para melhorar as formas de relacionamento
interpessoal com as demais profissões. Isso é interessante ao se pensar em um cuidado
integral ao usuário no SUS.

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 123


aaaaaaaaaaaaa Ao buscar por essas experiências de EIP nos cursos de graduação no Brasil fica
evidente uma baixa adesão dos cursos de saúde com a proposta interdisciplinar,
entretanto em algumas universidades que implementaram em seus currículos essas
experiências de EIP apresentaram resultados exitosos. Toassi e Ferla (2017) relatam que
sempre houve um desassossego sobre a formação profissional em saúde na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) refletindo as tensões que ocorrem
no trabalho nos serviços de saúde com uma lógica uniprofissional. Dessa forma, a equipe
propunha uma experiência de vivência interprofissional.

Relações de Poder Entre as Profissões de Saúde


Um fator comum em relação a todos os grupos focais é a presença de discurso
que denuncia a existência de uma hierarquia entre as profissões: a soberania da classe
médica. Sabe-se que tal fenômeno é reflexo de uma construção social histórica, que tem
no médico a figura central de saber e cura. Esse tipo de pensamento dificulta e se opõe
à lógica interprofissional (SENS e STAMM 2019).
Uma prática médico-centrada não deveria ter espaço dentro do cenário de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

saúde, em especial o brasileiro que é referenciado pelo Sistema Único de Saúde. Esse
tipo de pensamento hegemônico contribui para antigas correntes sanitaristas que
definem a saúde apenas como ausência de doença. E limita a noção de saúde como um
conceito ampliado, que abarca outros fatores que fogem à abrangência do olhar médico.
Assim, não teria sentido o médico ainda deter todo o saber-poder sobre saúde, sendo
que ele não é mais o único ator de cuidado e preservação desta.
As relações de poder instituídas ecoam dentro da formação profissional. Tal
fenômeno ratifica-se dentro dos grupos focais, como observado no GF de educação
física: “[...] um médico tem mais valor, por exemplo, que um educador físico”. Se até na
educação para a saúde tal pensamento se constrói, o quão ingênuo seria crer que isso
não tem impactos diretos na assistência?
Porém, não se busca apontar a figura do médico como a única responsável pelas
relações de poder. Todos os campos constroem muros para legitimar e validar seu saber
e, especialmente, seu poder frente aos demais. Nesse contexto, é válido ressaltar o
fenômeno conceituado como tribalismo profissional, que diz sobre o fechamento das

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 124


aaaaaaaaaaaaa distintas classes profissionais sobre si mesmas e o estabelecimento de diferentes tipos
de relações de poder com as demais.
Isto vai contra as práticas interprofissionais, pois evidencia a falta de
democratização e horizontalidade. Além disso, tal comportamento causa isolamento
entre algumas classes trabalhadoras. Nesse projeto em questão, ficou nítido o
isolamento da psicologia e, principalmente, da educação física. Tal fenômeno pode ser
observado através da fala de uma das discentes desse GF de educação física: “[...] que
um médico tem mais valor, por exemplo, que um educador físico”.
Alguns autores ao discutir sobre o fenômeno que acomete as classes de saúde a
se fecharem sobre si mesmas e estabelecerem relações de poder com as demais
conceituaram o termo tribalismo profissional.
Existir uma hierarquia tão evidente também causa problemas na comunicação,
considerando que ocorre uma centralidade nas decisões tomadas dentro do serviço de
saúde. A educação interprofissional acredita na importância de existir a comunicação
colaborativa para equilibrar essa relação interpessoal, as tomadas de decisão
compartilhadas e os interesses em comum focados no usuário do SUS. Tal afirmação,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

vai ao encontro do estudo de Ojeda e Strey (2008), no qual afirmam que projetos que
são construídos isoladamente e sem ampla discussão no cenário de saúde, podem trazer
embutidos neles, estratégias de poder. Nesse sentido, torna-se relevante adotar
práticas que possam promover discussões com temáticas comuns que busquem
compreender o saber do profissional em busca de desconstruir saberes hierarquizados.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Logo, através da revisão bibliográfica e discussões provenientes dos grupos
focais, foi possível perceber o distanciamento entre as áreas da saúde trabalhadas em
questão, o desenvolvimento da prática ainda está centrada no curso de medicina e os
cursos de psicologia e educação física lutam por estágios em UBS. Outro ponto
importante é o envolvimento de interesses políticos por estágios na rede pela
universidade particular/ Potencialidade na melhoria de atendimento aos usuários da
rede/ Compartilhamento e experiência da prática no serviço de saúde por vários alunos
de cursos da saúde.

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 125


aaaaaaaaaaaaa Tal temática contribui fortemente para salientar a importância em possuir
formação interprofissional entre os cursos de medicina, psicologia e educação física

AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos participantes da pesquisa: discentes dos cursos de educação
física, medicina, psicologia, preceptores e docentes da área da saúde que contribuíram
com esse trabalho.

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GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 127


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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

GRUPOS FOCAIS E CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL, ENSINO E SERVIÇO NA SAÚDE 128


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO IX
MONITORIA ACADÊMICA DE
BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE
ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO
DE EXPERIÊNCIA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-9
Ana Paula de Oliveira Soares ¹
Laura Caldas dos Santos ¹
Lucas Tadeu Lopes de Aragão ¹
Mariana Letícia Gomes de Azevedo ¹
Abrahão Alves De Oliveira Filho ²
¹ Graduando do curso de Odontologia. Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
² Professor do curso de Odontologia. Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RESUMO
O presente artigo trata da importância da monitoria na disciplina de bioquímica geral do
curso de odontologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) no campus
de Patos-PB, mais especificamente em um período de pandemia do novo coronavírus,
onde tudo teve que ser realizado de forma remota. Assim, a monitoria foi de grande
valor para facilitar a comunicação dos alunos com o professor e tirar as dúvidas dos
alunos por meio de discussões, questionários semanais e a indicação de vídeos das
atividades práticas. Vale ressaltar, que o benefício é mútuo, não só os alunos e o
professor, já citados, mas também os monitores que aprofundam o conhecimento sobre
a disciplina e passam por uma experiência diferente de interação social no âmbito
acadêmico. Ademais, não só a monitoria, mas a própria disciplina faz-se crucial para a
formação acadêmica e o dia a dia clínico de um cirurgião-dentista, abordando assuntos
imprescindíveis como metabolismo dos carboidratos, o funcionamento da insulina,
diabetes mellitus, precursores hormonais como o colesterol, entre vários outros
assuntos essenciais.

Palavras-chaves: Monitoria, Bioquímica, Odontologia, Pandemia

MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA
129
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
As práticas educacionais brasileiras tiveram início, ainda no período colonial, com
as atividades jesuíticas de catequização dos indígenas, formação dos padres e da elite.
Nesse sentido, no século XVII, as universidades passaram por um processo de
organização do ensino, sob influência das instruções dos jesuítas, e contaram com a
participação de estudantes nas atividades pedagógicas como forma de apoio aos demais
alunos, dando forma ao que se conhece por monitoria (FRISON; MORAES, 2010).
Ao longo do tempo as universidades se tornaram centros de ensino, pesquisa e
extensão e possibilitaram aos acadêmicos a obtenção de novas competências que
agregam na sua formação pessoal, acadêmica e profissional. O programa de monitoria
é um dos alicerces do ensino superior e foi instituído no Brasil com a Lei 5.540, de 28 de
novembro de 1968. Esta reporta, no Capítulo III Do corpo docente, artigo 41 a criação
de atividades de monitoria para as disciplinas dos cursos de graduação com o intuito de
proporcionar a aprendizagem teórica e prática através de um suporte adicional aos
graduandos (SANTOS, 2019).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A monitoria consiste numa modalidade de ensino-aprendizagem de natureza


complementar, a qual serve como apoio na formação acadêmica (DOS SANTOS;
NASCIMENTO, 2014). Esse serviço de assistência pedagógica visa oportunizar o
desenvolvimento de habilidades técnicas e aprofundamento teórico, proporcionando o
aperfeiçoamento acadêmico (HAAG et al, 2008). Ademais, proporciona troca simultânea
de conhecimentos plurais, que visa consolidar o aprender e o ensinar (GONÇALVES et
al., 2021).
É indubitavelmente os benefícios proporcionados pela monitoria aos alunos,
professores e monitores. A interação de discente e discente-monitor oportuniza a
identificação das dificuldades e fragilidades dos discentes com os assuntos da disciplina,
levando assim estas ao professor orientador com o objetivo de em comunhão pensar a
respeito e tomar atitudes para amenizá-las ou até mesmo resolvê-las (DE QUEIROZ et
al.,2019). Diante disso, os discentes-monitores servem, muitas vezes, de intermediários
entre o professor e os estudantes.
Frente à pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19), fez-se
necessário que as instituições de ensino se adaptassem a tal. O ensino remoto foi uma

MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA
130
aaaaaaaaaaaaa das medidas adotadas para continuação do ensino, mas com ela vieram inúmeras
dificuldades, como problemas de conexão de rede, adaptação dos discentes e docentes
às tecnologias, aos novos métodos de aprendizagem e avaliação, entre outros. Logo,
tornou-se ainda mais necessário o incentivo aos estudos, sendo a criatividade uma das
principais aliadas nesse novo estilo de ensino. A monitoria acadêmica, então, ganhou
mais um desafio, além de também se adaptar a nova realidade, contribuir para o
aprendizado dos discentes de forma a garantir da melhor maneira a adsorção de
conteúdos, compreendendo as adversidades advindas do meio virtual (MIRANDA et al.,
2020).
O estudo das chamadas ciências básicas como, fisiologia, farmacologia,
bioquímica, entre outras, muitas vezes é alvo de discussões, sobre as suas reais
importâncias na prática clínica do dia a dia, questionando, assim, as suas aplicações
clínicas. Desse modo, muitos alunos ainda desmerecem disciplinas como a bioquímica
em virtude das disciplinas mais específicas que promovem o treinamento mecânico de
atividades profiláticas e cirúrgicas que são realizadas rotineiramente em atendimentos.
Todavia, a bioquímica e as outras ciências básicas são cruciais para o entendimento do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

contexto clínico do paciente, sendo assim essenciais para o diagnóstico e planejamento


de tratamento dos pacientes. Na bioquímica, por exemplo, é passado o conhecimento
para que o aluno entenda o funcionamento de uma doença comum como a diabetes
mellitus. Visto que a presença da diabetes muda de maneira significativa o manejo do
paciente, logo faz-se necessário o real entendimento de todo o processo dessa doença,
e isso é passado aos alunos na bioquímica (DE OLIVEIRA et al., 2007).
Portanto, o presente trabalho tem por finalidade relatar as experiências dos
discentes monitores da disciplina de Bioquímica Geral, desenvolvidas no curso de
Odontologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no segundo semestre
de 2021. Além disso, atentar para a importância da monitoria diante do ensino superior
remoto, seus desafios, contribuições para formação e despertar da docência como
acréscimo profissional dos licenciados em formação.

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma análise descritiva, de ordem de relato de experiência, vivenciada
através da participação no Programa Institucional de Monitoria versão 2020.2e da

MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA
131
aaaaaaaaaaaaa Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O trabalho envolve as ações da
monitoria de bioquímica geral voltada para curso de odontologia, em que todas as
atividades foram realizadas sob supervisão do professor orientador ao longo do período
letivo, entre os meses de junho a outubro de 2021.
A disciplina de Bioquímica geral faz parte dos componentes curriculares
obrigatórios do 2º período do curso de Odontologia da UFCG. Dispõe de uma carga
horária de 60 horas e 4 créditos, sendo dividida em aulas teóricas e práticas. A matéria
aborda, nas aulas teóricas, as estruturas e os processos metabólicos que envolvem o
anabolismo e o catabolismo das biomoléculas (carboidratos, aminoácidos, proteínas,
lipídios, ácidos nucléicos e vitaminas) e as interações dos diferentes ciclos metabólicos
no organismo humano (Ciclo de Krebs, fosforilação oxidativa, glicólise, gliconeogênese
e glicogenólise). De forma complementar, as exposições práticas abrangem atividades
fundamentais de reconhecimento e manuseio dos instrumentos laboratoriais,
caracterização das biomoléculas, cadeia de transporte de elétrons e dosagem de glicose
no sangue. Durante o semestre 2020.2 a disciplina contou com a participação de 35
discentes.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

3. RELATO DE EXPERIÊNCIA
Para participar do programa de monitoria 2020.2 da UFCG os candidatos
deveriam, dentre outras atribuições: estar regularmente matriculados em curso de
graduação ou ensino básico da universidade referida; ter disponibilidade de 12 horas
semanais para realizar as atividades de monitoria; ter cursado a disciplina de interesse
bem como ter atingido, no mínimo, média 7,0 na mesma; apresentar Coeficiente de
Rendimento Acadêmico (CRA) equivalente a, no mínimo, nota 6,0 e não participar de
outros programas acadêmicos com exceção daqueles que fornecem algum auxílio ao
estudante. Na seleção dos monitores, foram classificados aqueles que atenderam aos
requisitos do Edital PRE/UFCG nº 12/2021 de forma que para a disciplina de Bioquímica
Geral do curso de odontologia foram selecionados quatro monitores.
Em decorrência da pandemia da COVID-19 e das modificações na metodologia
de ensino, as atividades de monitoria foram exercidas de forma remota, síncrona e
assíncrona, com apoio de ferramentas digitais, as quais auxiliaram para aprimorar o
aprendizado dos alunos e aproximar ao máximo a vivência acadêmica do semestre

MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA
132
aaaaaaaaaaaaa remoto ao presencial. Dessa maneira e seguindo a Resolução CSE/UFCG nº 11/2020, os
monitores - bolsistas e voluntários - participaram da elaboração de atividades teóricas,
de cunho discursivo e objetivo, que abordaram os conteúdos expostos nas aulas, bem
como contribuíram com aulas práticas de forma remota, por meio do envolvimento na
gravação dos experimentos. Como parte do planejamento da monitoria, foram
selecionados horários de plantões de dúvidas para que os discentes monitores, com
auxílio do professor orientador, sanassem possíveis dúvidas dos alunos matriculados na
disciplina como forma de ajudar na compreensão dos assuntos. Ao final do semestre
todos os discentes matriculados presentes nas aulas obtiveram aprovação na disciplina
cursada.
Nos cursos superiores, a prática da monitoria tem sido utilizada com muita
frequência, como estratégia de apoio ao ensino das diferentes disciplinas, seja nos
cursos de saúde como nos demais cursos de graduação. De acordo com Da Cunha
Figueiredo; Filippin; Vendrusculo (2016) a monitoria acadêmica é uma importante
ferramenta por exerce papel fundamental no aprimoramento dos conhecimentos e na
solução de dificuldades que impedem o aprendizado eficaz e eficiente de determinados
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

conteúdos ou técnicas. Diante do exposto, a monitoria é essencial para o auxílio dos


discentes na construção do conhecimento, ademais, em tempos de pandemia, sua
importância tornou-se mais perceptível , uma vez que o ensino remoto impõe aos
discentes um processo de aprendizado diferente do modelo presencial e nesse sentido,
a atuação do monitor é crucial, pois ele pode ser um facilitador desse processo.
Assim, este relato de experiência apresenta uma análise quantitativa e
qualitativa do desempenho dos discentes regularmente matriculados na disciplina de
bioquímica geral do curso de graduação em Odontologia (Bacharelado) da UFCG no
período letivo de 2020.2. Trata-se, portanto, de um instrumento de grande relevância
para reafirmar a importância do programa de monitoria na formação dos graduandos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bioquímica, embora ocupe um lugar de extrema importância nos cursos das
áreas de saúde, é apontada pelos discentes como complexa e de difícil compreensão
(GOMES; RANGEL, 2006). Segundo Nunes (2007), o programa de monitoria acadêmica
demonstra potencial para contribuir com o aprimoramento do ensino e vai de encontro

MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA
133
aaaaaaaaaaaaa ao que Albuquerque et al. (2012) aponta ao tratar da necessidade de táticas de ensino
que possibilitem o discente reconhecer, considerar e entender a relevância dos
conteúdos da bioquímica na prática clínica.
Destarte, ao avaliar quantitativamente o desempenho dos alunos matriculados
na disciplina de Bioquímica Geral do curso de Odontologia entre os meses de junho à
outubro, respectivos ao semestre de 2020.2, observou-se que dos 36 alunos
matriculados regularmente (100%), 35 foram aprovados (97,23%) e apenas 1 foi
reprovado por falta (2,77%) (Tabela 1).

Tabela 1 – Avaliação quantitativa do desempenho dos alunos no semestre 2020.2

Alunos Número %

Matriculados 36 100

Aprovados 35 97, 77

Reprovados 0 0

Trancamentos 0 0

Reprovados por falta 1 2,77


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Elaborada pelos autores, 2021.

Com esses resultados pode-se afirmar que os métodos de aprendizagem


supriram as necessidades da disciplina, tendo em vista que todos os alunos presentes
nas aulas foram aprovados. A monitoria, apesar de ter sofrido mudanças, foi satisfatória
e conseguiu suprir as necessidades dos alunos.
A bioquímica geral apresentada em alguns cursos superiores, como a
Odontologia, aborda muitos assuntos de química do ensino médio e, por isso, imagina-
se que o aluno da graduação já tenha conhecimentos que facilitem seu aprendizado.
Porém, na prática ainda conseguimos ver falhas, essas que podem de alguma forma
retardar o aprendizado, como o esquecimento dos assuntos, que algumas vezes levou
os alunos a interpretarem o assunto como sendo mais complexo que outros
(BECKHAUSER et al.). Por esse motivo, após as aulas ministradas pelo professor, algumas
das atividades de monitoria consistiram em atividades práticas próximas da realidade
dos discentes, a fim de, além de revisar os conteúdos vistos anteriormente, facilitar o
aprendizado dos assuntos novos, o que notoriamente refletiu nos resultados
satisfatórios de aprovação.

MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA
134
aaaaaaaaaaaaa Os momentos de interação entre discentes e monitores enriqueceram os
conhecimentos de ambos. Durante a resolução das atividades surgiram
questionamentos que refletiram a percepção de cada um sobre os assuntos, que mesmo
diante da facilidade dos meios tecnológicos ainda procuraram o auxílio da monitoria.
Logo, percebeu-se que a monitoria, mesmo sendo virtual, foi de grande ajuda. Diante
de inúmeras técnicas de aprendizagem, o contato com os monitores se faz necessário,
especialmente pela experiência dos mesmos por, além de já terem concluído a
disciplina, também terem feito isso de forma remota.

5. CONCLUSÃO
A disciplina de Bioquímica Geral está presente na grade curricular de inúmeros
cursos como uma das bases para outras disciplinas e embora alguns assuntos sejam
abordados superficialmente no ensino médio, ainda há dúvidas sobre. A monitoria se
faz presente para facilitar o aprendizado dos discentes esclarecendo dúvidas e
facilitando a compreensão dos assuntos, além de enriquecer o conhecimento de ambos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

envolvidos, abrindo portas para possível interesse em aprofundar os conhecimentos


sobre e atribuí-los em sua área de formação. Diante da necessidade do ensino remoto,
a monitoria se fez ainda mais necessária e eficaz, contornando as dificuldades que
surgiram e acrescentando meios que tiveram resultados satisfatórios, enaltecendo sua
importância.

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MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


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MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

MONITORIA ACADÊMICA DE BIOQUÍMICA GERAL NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UFCG: UM RELATO DE


EXPERIÊNCIA
137
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO X
NEUROCIÊNCIA, APRENDIZAGEM E
ENSINO SUPERIOR: ABORDAGENS DE
ESTUDOS QUE INFLUENCIAM NA
PRÁTICA ACADÊMICA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-10
Bárbara de Frias Leite ¹
Clecia Cristina da Silva Souza ²
¹ Fonoaudióloga. Especialista em neurociência aplicada à aprendizagem, UFRJ/IPUB e em Neurociência aplicada aos
transtornos mentais, comportamentais e de aprendizagem, Centro de Formação Premium/Brasília.
² Fonoaudióloga. Especialista em Linguagem, CEFAC/RJ – Brasil. Especialista em Educação Especial, UNIRIO/RJ - Brasil.

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A pesquisa de campo a seguir tem por objetivo trabalhar a estimulação cognitiva e


implementar abordagens de estudos para a aprendizagem e aprimoramento de funções
executivas dos discentes; além de compreender suas percepções acerca das dificuldades
vividas na academia. O trabalho é de natureza descritiva exploratória, qualitativa e
quantitativa e a amostragem ocorreu no Centro Universitário Redentor, faculdade do
município de Itaperuna/RJ. Conclui-se que a estimulação cognitiva se apresenta como
base essencial ao suporte para estudos bem como o aprimoramento cognitivo, dado
notório aumento no desempenho acadêmico alcançado, reconhecido pelos discentes
do presente estudo.

Palavras-chave: Aprendizagem. Educação. Cognição. Fonoaudiologia Educacional.

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
138
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O sistema educacional em nível superior requer do aluno comprometimento,
empenho e dedicação. A universidade tem o objetivo de formar cidadãos em diversas
áreas do conhecimento a fim de contribuir para que o discente esteja qualificado tanto
para o mercado de trabalho, quanto para atuar de forma positiva no crescimento da
sociedade (FELICETTI, 2014).
As metodologias ativas de ensino-aprendizagem são um conjunto de medidas as
quais apresentam como base comum a problematização e resolução de problemas por
meio de jogos, atividades e desafios que promovam a aprendizagem de maneira
prazerosa. Neste contexto, o papel do professor é atuar enquanto organizador e
articulador do conhecimento, ao passo que as funções desempenhadas pelo aluno
passam a ser de construção, modificação e integração de ideias e conteúdos que
envolvam a aprendizagem (CODEA, 2019).
As abordagens de aprendizagem contribuem para a efetividade do estudo, ao
viabilizar a conquista do aluno na aquisição de realizações positivas em seu
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

conhecimento. A partir disso, torna-se indispensável que o discente amplie, crie e


planeje suas próprias formas e metas para a obtenção de um melhor desempenho e
aprendizado em sala de aula. Além disso, as atividades de metodologias ativas são
capazes de estimular a participação do aluno; além de respeitar a liberdade de escolha
do discente diante dos desafios estrategicamente apresentados para que desenvolvam
suas capacidades (CODEA, 2019).
A aplicabilidade da Neurociência na prática acadêmica é um desafio
multidimensional, pois envolve primariamente a vontade do professor em melhorar e
compreender sua prática. Ainda, atua na busca por novas maneiras de analisar e superar
os diversos desafios da sala de aula, considerando a aprendizagem é um conjunto de
possibilidades que decorre da construção do processo educacional (GUILLÉN, 2017).
Aprender, em termos celular-neuronal implica na ocorrência de mudanças
estruturais no cérebro em nível cortical, especificamente neuronal, de uma forma geral.
Isso ocorre em função de haver o desenvolvimento de um tecido cortical
caracteristicamente mais compacto e pesado; além de claro, existir um nível de

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
139
aaaaaaaaaaaaa organização neuronal com neurônios corticais maiores e mais espessos, com mais
dendritos e formação de novas sinapses mais efetivas (GRIVAS, 2013).
Partindo dessa premissa, é importante analisar a perspectiva única que cada
cérebro tem de adaptar-se, interagir com outros cérebros e criar possibilidades de uma
vida acadêmica compartilhada, por exemplo. Aprender, como antes mencionado,
promove mudanças em nosso cérebro a nível celular, já que, o mesmo constitui uma
rede complexa neuronal essencial à consolidação da base da compreensão e da razão,
orientada a partir de uma combinação de fatores epigenéticos (RELVAS, 2012).
Diversos estudos apontam como controversa a existência de um estilo próprio e
individual de aprendizagem para cada aluno; além colocá-lo com reduzidas chances de
aplicabilidade em grandes classes, com muitos alunos. Apesar disso, considera-se de
vital importância proporcionar a escolha de maneiras diversas de estudar, pois isso pode
aumentar a motivação do aluno e, indiretamente, elevar seu nível de aprendizagem
(AQUINO, 2007).
Além disso, o processo de aprendizagem apresenta um caráter dinâmico e não
ocorre de forma linear, como uma somatória de conteúdos acrescidos e aos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

anteriormente estabelecidos. Trata-se de uma trajetória complexa e gradual a qual


exigirá do aluno ações direcionadas com a finalidade de aprofundar, ampliar e construir
seu conhecimento por meio da interação com interno e o externo (AQUINO, 2007).
A neuroplasticidade permite aos neurônios se ajustem, desenvolvam e
interconectem em resposta às novas situações ambientais. Este processo natural é
desenvolvido pelo sistema nervoso o qual está intimamente envolvido com o
nascimento e a migração de neurônios à outra parte do córtex cerebral bem como a
promoção de novos circuitos por meio das sinapses. Com isso, pode-se dizer que o
processo de neuroplasticidade é dinâmico e que envolve adaptações, sobretudo
aprendizagem e alterações físicas do cérebro (RELVAS, 2012).
É importante salientar que, a neuroplasticidade está diretamente associada ao
processo de ensino-aprendizado ou ainda com a reaprendizagem. A capacidade de
formação de novos neurônios e conexões no cérebro está associada ao ato de aprender
e à memória, na qual a sinapse química se sustenta na ligação de neurotransmissores a
receptores nos processos que levam à formação de memórias e consolidação do
aprendizado. Os mecanismos da consolidação das memórias de longa duração possuem

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
140
aaaaaaaaaaaaa um trabalho eletrofisiológico chamado de potenciação e depressão da memória de
longa duração. A potenciação consiste no aumento persistente da resposta de
neurônios à uma breve estimulação repetitiva de um axônio ou de um conjunto de
axônios que fazem sinapses entre eles. Já no processo de depressão, essa inibição da
memória de longa duração reside na resposta sináptica como consequência da
estimulação repetitiva de uma via aferente (IZQUIERDO, 2018).
Segundo Silva (2019), o que é aprendido é transformado em memória e
permanece por meio da consolidação da informação. Os processos de aprendizagem são
classificados de acordo com o que a ciência se baseia. Ou seja, em processos
experimentais, tal como condicionamento clássico e operante; habituação e
sensibilização. Todas essas propriedades e características apresentam em comum o
processo de memória designado a partir de um input acionado. Esse mecanismo tem
como objetivo armazenar o conhecimento adquirido, sob formas de “gavetas” para a
sua aplicação subsequente. Dessa forma, a partir da atuação da memória, será possível
codificar e decodificar a informação gerada e, com isso, evocar, extinguir e reconsolidar
as informações.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Ainda nesse contexto, é de grande importância que o educador entenda as


funções executivas como não responsáveis apenas pelo direcionamento e
gerenciamento das habilidades cognitivas, e sim por atuar na regulação das emoções
(OLIVEIRA e LENT, 2018).
As funções executivas têm um papel fundamental ao desenvolvimento cognitivo
e socioemocional. Além disso, estão também associadas à teoria da mente e ao
descentramento do indivíduo de sua própria perspectiva para considerar o ponto de
vista de outras pessoas. Essas funções executivas manifestam-se em ambientes os quais
demandam criatividade, respostas rápidas a problemas novos, planejamento e
flexibilidade cognitiva. Uma parte substancial das funções executivas consiste em
desenvolver modelos mentais desses processos (GOLDBERG, 2002).
De modo geral, as diversas abordagens de aprendizagem envolvem processos
neurais como memória de trabalho; controle inibitório; flexibilidade cognitiva;
planejamento e organização; automonitoramento e desenvolvimento de funções
executivas. Com isso, os aprendizes são incentivados a empregar ferramentas que
conhecem bem como elaborar outras mais eficazes. Todos os mecanismos aqui

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
141
aaaaaaaaaaaaa mencionados objetivam a resolução de problemas e ainda a discussão coletiva ou
individual acerca da eficácia das diversas formas de aprendizado, a fim de saber como,
quando e por que usá-las (AQUINO, 2019).

2. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo tem como base uma revisão bibliográfica e pesquisa de
campo. Este trabalho teve início após a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisas do
Centro Universitário Redentor, sob o número 71618717.3.0000.5648, e nele foi utilizado
o método descritivo exploratório, qualitativo e quantitativo de intervenção, tendo como
público-alvo estudantes de nível superior do Centro Universitário Redentor, localizado
no município de Itaperuna/RJ. Os dados da pesquisa foram coletados através de um
questionário entregue no próprio ambiente acadêmico; aos alunos de ambos os sexos;
idades distintas e cursos de Humanas/Saúde; após assinarem o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido sobre a pesquisa.
Ao todo, responderam 27 perguntas estruturadas, sendo todas objetivas cujos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

conteúdos versaram em áreas da neurociência, aprendizagem e ensino superior,


relacionadas às abordagens de estudos na prática acadêmica. As respostas dos
questionários foram avaliadas e analisadas. Os dados dos resultados obtidos foram
expressos em tabelas, descritas individualmente. As conclusões sobre a pesquisa estão
sintetizadas e apresentadas nas considerações finais deste artigo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados da pesquisa foram coletados durante o período de agosto a dezembro
de 2017. Treze alunos da instituição Centro Universitário Redentor assumiram o
compromisso de participar da pesquisa, porém, somente onze responderam ao
questionário proposto e foram orientados, participando de todo o processo de
estimulação cognitiva até o período da primeira verificação (V1). Destes, oito
retornaram após a verificação 2 (V2) para responder as perguntas novamente. A partir
da segunda verificação, o cálculo de porcentagem passou a se basear no total de oito
participantes (ou seja, 100% = oito).

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
142
aaaaaaaaaaaaa Tabela 01 - Análise dos resultados no processo de pré-intervenção das funções executivas - V1
e V2.
Sim Não Às vezes
Variáveis
V1 V2 V1 V2 V1 V2
Possui organização nos estudos? 5 8 6 0 0 0
Realiza anotações durante as aulas? 9 8 2 0 0 0
Em seus estudos, utiliza abordagens de aprendizagem? 5 8 4 0 2 0
Já teve acesso a estimulação cognitiva para auxiliar os estudos? 6 8 5 0 0 0
É difícil manter o foco de atenção durante os estudos? 7 0 4 8 0 0
Fonte: Autoria própria.

Foi feito o levantamento de algumas questões em torno da necessidade da


organização de estudos, a fim de beneficiar o aluno com um maior entendimento sobre
a matéria exposta em sala de aula. Para tanto, uma rotina de estudos foi introduzida aos
alunos do estudo a fim de que aderissem a essa técnica e posteriormente os resultados
do rendimento acadêmico pudessem ser comparados. Com isso, considerou-se
indispensável à influência positiva que um profissional tem ao auxiliar o estudante no
planejamento de sua rotina de estudos a partir da análise de necessidades individuais.
De igual forma as técnicas de ensino-aprendizagem foram caracterizadas como
essenciais à estimulação em nível cognitivo, pois visam impulsionar o interesse do aluno
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

em pensar, buscar conhecer acerca do assunto e procurar aperfeiçoar sua capacidade


cognitiva. A estimulação das funções executivas permite ainda que o conhecimento
percorra desafios em nível cerebral, levando-o a desenvolver novas rotas e aprimorar o
aprendizado. Com isso, pode-se dizer que sem a implementação da técnica de
estimulação, não haverá prática para desenvolver as estratégias, pois os alunos
adquirem conhecimento sobre as mesmas e, com o amadurecimento, evoluem cada vez
mais.
Tabela 02 - Análise dos resultados pré (V1) e pós-intervenção (V2) das funções executivas.
Adequado(a)
Adequado(a) Inadequado(a)
Variáveis Parcialmente
V1 V2 V1 V2 V1 V2
A motivação em sala de aula é: 3 5 1 0 7 3

Você considera seu nível de atenção: 4 6 1 1 6 1


Fonte: Autoria própria.

Outro aspecto indispensável à análise da consolidação do conhecimento reside


no campo das emoções. O sistema límbico é o nosso sistema emocional, é nele que
ocorre a categorização das experiências vividas e dos estados emocionais, ambos
capazes de mudar o comportamento. Alegria, medo, raiva, estresse, felicidade e amor

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
143
aaaaaaaaaaaaa são exemplos de estados emocionais que podem afetar positiva ou negativamente as
experiências de aprendizagem. Em face dessa circunstância, é importante ressaltar
como a motivação torna-se imprescindível ao processo de aprendizagem, sobretudo um
elemento que permite ocorrer maturação significativa do desenvolvimento cerebral.
Ainda, é válido trazer a influência positiva que a parceria discente-docente tem sobre o
processo de ensino-aprendizagem. O sucesso não é alcançado sozinho, e sim com o
professor. Contudo, é necessário ponderar as situações, pois a relação entre emoção e
cognição é vital ao processo de consolidação da atenção em sala de aula (GUILLÉN,
2017).
A existência de um ambiente afetivo favorável em sala de aula é fundamental
para uma aprendizagem efetiva. A rede de recompensa cerebral tem como principal
figura o circuito dopaminérgico mesolímbico, responsável pela integração de várias
estruturas cerebrais. Esse sistema é associado ao reforço de comportamento da
aprendizagem e tem o núcleo de accumbens como uma das estruturas principais. Dessa
forma, considera-se que a presença de variáveis como empatia, ambiente e estado
emocional são essenciais à consolidação desse processo (LENT, 2001).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

De acordo com Fonseca (2014), muitos professores sabem que se o objetivo da


instrução ou do ensino for meramente para despejar ou debitar algum tipo de
informação na cabeça dos alunos, o processo de consolidação da aprendizagem não
ocorre da maneira mais efetiva. Ainda, se essa mesma ação for limitada a reproduzir ou
repetir determinadas habilidades motoras e cognitivas, como se vertessem água para
dentro de um copo vazio, a educação não terá muito sucesso. Por isso, quando falamos
em aprendizagem, maturação e desenvolvimento são extremamente importantes
conhecer todo esse aparato biológico e as áreas envolvidas a nível cerebral.
Para obter melhores resultados, a reeducação tem de ser, necessariamente,
individualizada, pois cada aluno é um ser único, um ser total e evolutivo. Logo, um caso
especial. Com isso, a compreensão acerca das interfaces entre cérebro e os
comportamentos estará sendo ampliada. Isso exerce impacto direto e positivo sobre as
transformações dinâmicas do ser humano e, como consequência, nos processos
educativos. O fato é que novas formas de aprendizagens viabilizam outras perspectivas
que permitem alcançar um resultado satisfatório. Contudo, isso não depende apenas
dos processos anatômicos e fisiológicos do sistema nervoso, mas também de condições

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
144
aaaaaaaaaaaaa comportamentais e externas, ou seja, um conjunto de situações do qual a biologia faz
parte (DÍAZ, 2011).
Tabela 03 - Análise dos resultados pré (V1) e pós-intervenção (V2) das funções executivas.
Leitura
Coletiva Individual Decorando
Variáveis Diária
V1 V2 V1 V2 V1 V2 V1 V2
Sua preferência para estudar é:
O entendimento do conteúdo é mais 0 0 11 8 5 0 6 8
satisfatório:
Fonte: Autoria própria.

Segundo Gardner (2013), as diferenças entre os estudantes podem ser descritas


de inúmeras maneiras, e priorizar qualquer uma seria uma simplificação. Para os
propósitos dessa pesquisa, será abordado aspectos sobre estudantes com ênfases em
inteligências distintas. Todavia, para seguir com esse argumento, não se pode endossar
e de modo algum, rotular e identificar diferenças em propensões potenciais ou
intelectuais.
Dessa maneira, pode-se observar que as abordagens de aprendizagem em cada
aluno terão a sua individualidade, onde o sistema educacional superior terá que se
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

submeter à uma compreensão mais apurada em relação a esse cérebro que chegou até
a universidade. Isso ocorre em função dos processos de aprendizagem demandarem
refinamento da informação. Sendo assim, todo conhecimento adquirido por meio da
forma de aprendizagem individualizada requer do aluno um desafio de produzir uma
aprendizagem qualificada, ou seja, o material aprendido torna-se evoluído em
diferentes estágios da aprendizagem.
Segundo Lave (2013), o conhecimento sempre sofre construção e transformação
em seu uso. A aprendizagem é um aspecto integral que conecta a atividade cerebral
com o mundo, em todos os momentos. O fato de haver aprendizagem não é a questão,
a problemática é saber como esse cérebro aprende no cotidiano acadêmico, pois, o
processo que envolve a aquisição desse conhecimento é complexo. Não é uma simples
questão de absorver um determinado conteúdo. Ao contrário, as coisas classificadas em
categorias naturais, como “corpos de conhecimento”, “educandos” e “transmissão
cultural”, exigem reconceituação.
Com base na ideia de que o desenvolvimento cognitivo é individual em cada ser
humano, assume-se que de forma única mecanismos biológicos, químicos, fisiológicos e

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
145
aaaaaaaaaaaaa psicológicos estarão envolvidos nesse processo, onde esse cérebro irá desencadear
inúmeras atividades cerebrais a partir do estímulo acionado. Além disso, significa
envolver-se em uma atividade de aprendizagem capaz de expandir o que se conhece
além da situação imediata, em vez de involuir o próprio entendimento de forma
“metacognitiva”, pensando sobre os próprios processos cognitivos (LIMA, 2011).
Tabela 04 - Análise dos resultados pré (V1) e pós-intervenção (V2) das funções executivas.
Diário Véspera Não Estuda 5a6h 7a8h
Variáveis
V1 V2 V1 V2 V1 V2 V1 V2 V1 V2
Estudo para as avaliações é: 4 6 7 2 0 0
Tempo médio de sono diário é: 8 3 3 5
Fonte: Autoria própria.

Durante o sono, o cérebro ensaia o que aprendeu durante o dia. Isso significa
que correntes cerebrais se solidificam quando estamos dormindo, via mecanismo de
sinapses entre as espinhas dendríticas e axônios de outros neurônios. É possível
entender e pesquisar acerca dos sinais elétricos que correm várias vezes pelo mesmo
conjunto de neurônios. Além disso, um neurônio pode inclusive conectar-se a outro por
meio de várias sinapses, tornando as correntes cerebrais ainda mais fortes (OAKLEY,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2019).
É como se um “faxineiro sináptico” viesse remover as espinhas dendríticas que
não estão sendo usadas. Partindo desse princípio, novas espinhas e suas sinapses
começam a crescer somente o indivíduo estiver realmente focado na nova informação
que quer aprender. Porém, as mesmas podem desaparecer facilmente se o discente não
as exercitar. Ou seja, senão usá-las, poderá perdê-las (OAKLEY, 2019).
Sinapses são formadas pela a comunicação entre dois neurônios. Há dois tipos
de sinapse: a elétrica e a química. A elétrica permite que o estímulo elétrico passe de
um neurônio para o outro. Já a sinapse química é a realizada por meio da liberação de
neurotransmissores entre neurônios. Além disso, a atenção e a formação de memórias
têm papel essencial na aquisição de novas habilidades aprendizagem. É através da
atenção que se filtra as informações relevantes no meio atenção seletiva e se mantém
sob foco esta informação desejada atenção sustentada e focalizada (LIMA, 2005).
A memória operacional ou de trabalho ocupa a função de selecionar, analisar,
conectar, sintetizar e resgatar as informações já consolidadas e apreendidas na memória
de longo prazo. A memória operacional faz a conexão entre as informações novas e
aquelas já aprendidas (LIMA, 2005).

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
146
aaaaaaaaaaaaa Tabela 05 – A didática do professor e seu impacto no aproveitamento acadêmico.
Verificação 1 Verificação 2
Variáveis
(V1) (V2)
N % N %
Apresentação descritiva 3 27,27 6 75

Tempo de fala cadenciado 5 45,45 1 12,5

Ministrar aulas em círculos 1 9,09 0 0

Abordagem dinâmica da disciplina 4 36,36 4 50

Conduzir as aulas de maneira convidativa 3 27,27 2 25

Alternar o conteúdo da disciplina em teoria e prática 5 45,45 5 62,5


Fonte: Autoria própria.

O clima de aprendizagem, também denominado de clima motivacional, parece


ser um requisito fundamental ao enfrentamento de desafios com a motivação,
persistência, emoções e alterações no comportamento dos estudantes no contexto
educacional. Ao reconhecer esses aspectos, a comunidade educacional poderia ter um
dos pontos de partida para avaliar o contexto e propor mudanças nas diretrizes
educacionais. Neste sentido, em um ambiente em que o professor oferece apoio à
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

autonomia, o clima de aprendizagem torna-se adequado e tem como consequências o


aumento da motivação intrínseca dos estudantes. Ao contrário, quando o clima de
aprendizagem é inadequado ou controlado, os professores não fornecem respostas
significativas para o processo de ensino e aprendizagem (VILA et al, 2008).
É importante ressaltar que não existe um modelo correto a ser seguido de
aprender, o segredo está em como o aluno estará mediante a experiência vivenciada
dentro de sala de aula com o professor. A partir desse momento, ele mesmo irá criar
seu próprio modelo de aprendizagem, o que permite predizer que as funções executivas
estão realizando o seu trabalho com a experiência objetiva, especulativa, reflexiva e
operante, ou seja, características de um aluno pesquisador (VILA et al, 2008).
A tabela 6 explorou qual seria o comprometimento do aluno durante a pesquisa.
Ficou constatado que 27,27% dos participantes consideram a atuação da pesquisa muito
importante, porque é através do trabalho do Fonoaudiólogo que se tem uma direção
para cada tipo de dificuldade e se tem também um olhar diferenciado sobre todas as
dificuldades identificadas nos alunos.

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
147
aaaaaaaaaaaaa Tabela 06 – Análise dos resultados em relação ao comprometimento com a pesquisa durante a
verificação 1.
Verificação 1
Variáveis
(V1)
N %
Apresentação do tema 11 100

Aplicação das abordagens 11 100

Assinatura do TCLE 11 100

Frequência da E.COG. 11 100

Abandono da E.COG. 3 27,27


Legenda: Estimulação Cognitiva (E.COG.); Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Fonte: Autoria própria.

Esta oscilação de resultado durante o processo de intervenção fonoaudiológica


destaca a importância da postura profissional que está inserida e do comprometimento
dos alunos na instituição. Essa postura deve transmitir disponibilidade articulada com
aspectos de interdisciplinaridade de acordo com a estrutura e a rotina acadêmica
encontradas na universidade. É importante lembrar ainda, que qualquer mudança na
teoria e na prática inserida durante a aprendizagem diferenciada do discente, irá gerar
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

desconforto, principalmente porque não é algo habitual em sua rotina acadêmica.


(OLIVEIRA, 2013).
Portanto, as tabelas 6 e 7 parte de uma afirmação que a neurociência do
cotidiano explica como o comportamento humano reage ao seu dia a dia e como o
comprometimento acadêmico sofre influência interna e externa nessas áreas cerebrais
em que o aluno ainda está em processo de maturação cerebral, ou seja, áreas
responsáveis pelas funções cognitivas e pela consciência (córtex cerebral).
Segundo Siegel (2016), a tomada de decisão de um jovem adulto inicia-se por um
processo de integração que este cérebro desenvolveu de forma positiva ou negativa. Em
outras palavras, o encéfalo desenvolve uma visão mental e obtém uma aprendizagem
por meio de um estímulo que é ofertado.

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
148
aaaaaaaaaaaaa Tabela 07 – Análise dos resultados em relação ao comprometimento com a pesquisa durante a
verificação 2.
Verificação 2
Variáveis
(V2)
N %
Aplicação das abordagens
8 100
Análise dos resultados com os alunos
8 100
Responderam ao questionário
8 100
Frequência da E.COG.
8 100
Devolutiva após os resultados das verificações 8 100
Legenda: Estimulação Cognitiva (E.COG.).
Fonte: Autoria própria.

A tabela 7 deixa evidente que é de extrema importância para esse entendimento,


ocorrer à inserção de novas abordagens de aprendizagem nas universidades, mesmo
que para a análise dos resultados do estudo em questão o número de estudantes tenha
sido menor na verificação 2 em relação ao resultado da verificação 1. Isso nos mostra
que essa premissa está vinculada ao crescimento de um entendimento e que de certa
forma fugiu um pouco aos aspectos convencionais da sala de aula, voltando-se para um
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

olhar mais abrangente acerca do desenvolvimento humano cognitivo.


De acordo com Wenger (2013), o tipo de teoria social de aprendizagem aborda
aspectos diferentes do problema. Porém, cada discente terá o seu próprio foco,
entusiasmo, emoção e comprometimento que constituirá um nível de coerência de
princípios para qual objetivo o aluno propiciará sua aprendizagem. Pois, estudar reflete
a natureza do conhecimento, do conhecer e dos conhecedores e, consequentemente,
sobre o que importa na aprendizagem.
Conforme a pesquisa de Aaron (2015), cada dia eventos agudos ressoam ao
longo do tempo, impactando experiências emocionais ao mudar a forma como
interagimos com o mundo. Nossas descobertas sugerem que as ativações sustentadas
do circuito de recompensa em escalas de tempo mais curtam estão associadas a uma
tendência de sustentar experiências positivas em escalas de tempo mais longas do
mundo real.
A neurociência é uma aliada no processo de aprendizagem e no entendimento
desse cérebro que chegou ao ensino superior, o que evidencia tamanha complexidade
de fatores que o cérebro representa dentro de uma diversidade humana. Logo, é preciso

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
149
aaaaaaaaaaaaa estudar continuamente. Portanto, é de suma importância estimular a prática de hábitos
responsáveis por estimular áreas do encéfalo que estão envolvidas nas funções
cognitivas como, por exemplo, a leitura e o raciocínio lógico. Ainda, é recomendado
saber a importância do reconhecimento dos mecanismos cerebrais que subjazem às
habilidades que os alunos devem adquirir efetivamente e principalmente compreender
as razões biológicas dos comportamentos, mesmo aqueles chamados desvios de
conduta. Nesses casos, caberia ao professor desenvolver metodologias diferenciadas,
além de demonstrar flexibilidade em suas maneiras de avaliar e criar vínculos mais
positivos e de interesse com seus discentes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de estudos bibliográficos e pesquisas acadêmicas realizadas, fica claro
o quanto a neurociência no âmbito escolar pode ser utilizada como ferramenta. O
estudo ainda permitiu verificar que a ideia de aprendizagem no ensino superior é
complexa, pois cada aluno quando inserido nesse âmbito acadêmico, adquire
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

comportamentos, conhecimentos, habilidades e competências acerca de vivências


internas e externas de diferentes formas. Esse movimento pode resultar no
desenvolvimento de uma personalidade e um processo de aprendizagem em adulto,
positivo ou não, e essa perspectiva irá variar de acordo com o que o acadêmico almeja.
Com base nessa análise, reflexões acerca do que é se compreender enquanto
indivíduos adultos também foram feitos, pois o cérebro que é inserido na faculdade não
possui uma hierarquia a ser seguida em relação ao processo da importância do
aprender; ter autoconhecimento; viver experiências e desenvolver pró atividade para
aprender e orientar a aprendizagem. Somado a isso, a presença da motivação é condição
ímpar para que a aprendizagem ocorra de forma solidificada e as informações sejam
armazenadas com qualidade. Além disso, pesquisas no campo da neurociência têm
trazido um riquíssimo repertório de estudos para a compreensão desse processo e
aberto um leque de possibilidades para que a universidade se torne um ambiente rico e
significativo para os alunos.
Ao analisar cada situação, fica evidente a importância de se considerar a
localidade, qualidade do ambiente físico, motivação, memória, estilo de aprendizagem,

Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
150
aaaaaaaaaaaaa nível de stress dos alunos, estrutura familiar, alimentação e a condição alimentícia como
fatores que exercem influência direta no processo de aprendizagem de cada discente.
Por fim, é evidente que a melhoria da qualidade do ensino superior no país
depende de uma melhor formação acadêmica dos profissionais da educação em relação
ao desenvolvimento cerebral dos alunos. Ainda, é de extrema importância que o
professor e o pedagogo tenham conhecimento da neurociência como ferramenta base,
pois assim, melhorias no processo de aprendizado dos alunos seriam alcançadas.

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Neurociência, aprendizagem e ensino superior: Abordagens de estudos que influenciam na


prática acadêmica
152
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XI
PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO
PERMANENTE EM SAÚDE: A
IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-11
Priscila da Silva Azevedo Leite ¹
Rosa Gouvêa de Sousa ²
Priscila Totarelli Monteforte ³
¹ Graduanda do curso de Medicina. Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ – Campus Dom Bosco
² Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal de São João del Rei. Professora no curso de medicina pela
Universidade Federal de São João del Rei.
³ Doutora e pós doutora em farmacologia, pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora adjunto da
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) nos cursos de medicina e biologia.

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A Educação Permanente em Saúde (EPS) é uma proposta pedagógica destinada a


trabalhadoras e trabalhadores do campo da saúde. A EPS é pautada nas demandas do
cotidiano laboral, que incluem e valorizam o processo de ensino-aprendizado, no dia-a-
dia do trabalhador, levando os profissionais a entenderem e melhorarem seu processo
de trabalho individual e coletivo. A EPS tem amparo legal na Política Nacional de
Educação Permanente em Saúde, sendo uma ferramenta estratégica do Sistema Único
de Saúde (SUS), uma vez que interfere no aperfeiçoamento e na formação dos
profissionais do SUS, propondo o encontro entre o mundo da formação e o mundo do
trabalho, através da interseção do ensino reflexivo na realidade dos profissionais,
contribuindo para melhorias dos serviços de saúde. Em 2017, a universidade autora
deste projeto, por meio de professores, estudantes e profissionais do SUS e em parceria
com o curso de graduação de Medicina e com a Comissão de Residência Médica,
implantou um programa de extensão em educação permanente na região de Saúde
Centro-Sul de Minas Gerais. Atualmente, o projeto abrange 8 cidades da região. No ano
de 2018, os profissionais do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foram
convidados a participarem e junto com os profissionais do SUS compõem, atualmente,
o projeto. Sob a luz de argumentos de Ricardo Ceccim e Laura Feuerwerker que teorizam
sobre o quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção e
controle social, apresentaremos, nesse estudo, reflexões sobre a importância da
educação permanente para a formação.

Palavras-chave: Educação permanente. Educação em saúde. Interprofissionalidade.

PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 153


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Embora grande parte dos profissionais que atuam no setor da saúde no Brasil,
trabalhem diretamente ou indiretamente com o Sistema Único de Saúde (SUS), a
formação profissional dos mesmos não é capaz de contemplar a complexidade e a forma
de atuação na rede de atenção à saúde e do trabalho em equipe (CAMPOS, 2003). Na
tentativa de reduzir essa contradição entre formação e atuação profissional, e em
consonância com a Constituição Federal de 1988 que prevê a assistência integral às
necessidades em saúde dos usuários, compete também ao SUS, a formação na área da
Saúde (BRASIL, 1988). Consta na Lei nº 8.080, Lei Orgânica da Saúde, que estão incluídas
no campo de atuação do SUS, a ordenação da formação de Recursos Humanos na área
da saúde (BRASIL, 1990). Com a gradativa consolidação do SUS e a determinação
constitucional de manter sob competência do Sistema a ordenação da formação dos
recursos humanos na saúde, os Ministérios da Saúde (MS) e da Educação (MEC)
brasileiros assumem, em parceria, estratégias para condução dos processos de
formação e qualificação profissional na saúde e que envolvem o ensino formal e a EPS
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

(HADDAD, p. 98-114, 2008,).


Com o propósito de superar as concepções tradicionais de educação na área da
saúde, os ministérios apresentam, em novembro de 2003, e instituem, em fevereiro de
2004, por meio da Portaria nº 198/04, a Política Nacional de Educação Permanente em
Saúde (PNEPS), como uma proposta de ação estratégica que objetiva contribuir para
transformar e qualificar as práticas de saúde, a organização das ações e dos serviços, os
processos de formação e as práticas pedagógicas, com vistas ao desenvolvimento dos
trabalhadores da saúde.
A implementação da PNEPS implica em trabalho intersetorial, capaz de articular
o desenvolvimento individual e institucional, as ações, os serviços, a gestão e a atenção
à saúde (BRASIL, 2007). Nesta direção, a atual PNEPS, reformulada em 2007, mediante
a Portaria nº 1996/07, prevê que, para dar conta das peculiaridades e desigualdades
sociais do país, são necessárias estratégias de integração ensino-serviço, com maior
comprometimento do setor saúde e do setor educação, dos trabalhadores do SUS,
pesquisadores, docentes e estudantes, com o objetivo de construir uma política nacional

PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 154


aaaaaaaaaaaaa de formação e desenvolvimento para os profissionais, condizentes com as diretrizes e
princípios desse novo modelo assistencial (BRASIL, 2007).
A portaria do Ministério da Saúde nº 1.996 (BRASIL, 2013), que dispõe sobre as
diretrizes para a implantação da PNEPS, completará em 2022. Sua efetivação depende
de diversos atores. Ricardo Ceccim e Laura Feuerwerker (2004) identificam esses atores
como sendo indissolúveis e formadores de um quadrilátero composto por: ensino,
gestão, atenção e controle social. Uma proposta de ação estratégica para transformar a
organização dos serviços e dos processos formativos, as práticas de saúde e as práticas
pedagógicas implicaria trabalho articulado entre o sistema de saúde (em suas várias
esferas de gestão) e as instituições de ensino. Colocaria em evidência a formação para
a área da saúde como construção da educação em serviço/educação permanente em
saúde: agregação entre desenvolvimento individual e institucional, entre serviços e
gestão setorial e entre atenção à saúde e controle social (CECCIM & FEUERWERKER,
2004).
O bom funcionamento das redes de saúde e a qualidade dos serviços está
diretamente relacionada com a forma de atuação dos profissionais, sendo assim, a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

formação, tanto técnico-científica quanto a formação de perfil profissional interferem


tanto na atenção individualizada ao usuário de saúde quanto na atenção da saúde
coletiva. Por isso, tornou-se imprescindível e obrigatório o comprometimento das
instituições de ensino em todos os níveis, com o SUS e com o projeto tecnoassistencial
definido nas Leis n. 8.080/90 e 8.142/90.
A responsabilidade por este tema é compartilhada com a universidade autora do
trabalho, em especial com os departamentos da área da saúde. Foi a partir dessas
diretrizes que surgiu o projeto de extensão em educação permanente a fim de
desenvolver uma metodologia formativa que preze, não pelo acúmulo de palestras,
cursos e técnicas, mas que possa tornar os profissionais artífices de sua formação e
protagonistas na promoção de saúde, com entendimento de suas funções e dos
componentes da rede de cada serviço e competência para articulá-los, de forma a
melhorar o serviço de saúde da região e tornar a rede mais coesa e resolutiva.

PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 155


aaaaaaaaaaaaa
2. DESENVOLVIMENTO
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, através do Plano Diretor
de Regionalização divide o Estado em regiões ampliadas de saúde, na qual a cidade
onde fica a universidade é polo da Região de saúde composta por 18 municípios
(MALACHIAS, LELES & PINTO, p.189, 2010), que contam com 69 equipes de Estratégia
de Saúde da Família, 15 Núcleos Ampliados de Estratégia de Saúde da Família e 21
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e um Centro de Referência
Especializado (CREAS), constituindo o SUAS da região.
Com a promoção da política pública do Programa Mais Médicos (PMM), pela Lei
12.871, de 2013, há a reordenação das relações entre instituições de educação e de
saúde com fins ao provimento e fixação de profissionais em regiões prioritárias do SUS
são fortalecidas (BRASIL, 2013). Em 2016, há a assinatura do Contrato Organizativo de
Ação Pública Ensino Saúde (COAPES), parceria entre a universidade e o município local.
Em 2017, foi organizado o Núcleo de Educação Permanente Interprofissional, parte
integrante da comissão de integração ensino-serviço, liderada pela Gerência Regional de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Saúde da Região.
Uma das interfaces que conecta a integração ensino-serviço é a educação. Na
saúde, uma das expressões da educação se faz pela educação permanente. A demanda
por projetos acerca deste tema cresceu e tomou contornos intersetoriais, com isso, foi
proposto o programa de extensão em EPS. Dessa forma, foi organizada proposta sobre
educação permanente para profissionais da saúde e assistência social, docentes,
preceptores e discentes e apresentada à Comissão Intergestora Regional e em fóruns da
Assistência Social.
A equipe do projeto de extensão percorreu os 18 municípios que compõem a
Região de Saúde para levantar as necessidades de profissionais, usuários e gestores e
identificou além de temas técnico-científicos, também a necessidade de se promover
espaços de formação de compromisso e de solidariedade entre as pessoas, com trocas
afetivas e simbólicas. Além disso, foi identificada escassez de ações de educação
permanente (SOUSA ET AL, 2021).
Ao final do ano de 2018, foi oferecido às secretarias de saúde dos municípios da
Região de Saúde, o curso de formação em Educação Permanente em Saúde, sendo a

PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 156


aaaaaaaaaaaaa adesão voluntária realizada por 8 municípios da Região. Essa adesão envolveu a
articulação direta da universidade com os gestores municipais e suas secretarias de
saúde. Após o convênio com as prefeituras, os profissionais atuantes no SUS e no SUAS
fizeram a inscrição. Para atingir todos os municípios, o projeto trabalhou por um
movimento em ondas, com trocas entre os vários sujeitos envolvidos, com
deslocamentos entre territórios e encontros por processo grupal.
Os municípios narravam suas vivências no SUS e no SUAS, em conjunto com a
universidade, por meio de ação e reflexão. As atividades eram quinzenais e
demandavam movimentos de aprendizagem sobre processos educacionais e
andragogia. O material didático foi construído baseado em referenciais teóricos da
Educação como a pedagogia para a autonomia e os temas eram escolhidos de acordo
pelas trabalhadoras e trabalhadores em parceria com gestores, envolvendo
metodologias ativas e ludicidade.
Esta escolha se deu, pois os processos educacionais em Saúde são trabalhados
em um conjunto de metodologias ativas de ensino-aprendizagem baseadas na teoria
interacionista de educação, para a qual o processo de aprendizado advém da interação
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

do sujeito com sua vida (REGO, 1995, p.93 apud. Lima in Oliveira, et al. 2017, p.16) e que
conversam com os princípios da EPS e com o quadrilátero da formação em saúde:
atenção, ensino, gestão e controle social. Dessa forma, se pode promover a educação
em saúde que não seja apenas centrada em procedimentos técnicos, sistemas orgânicos
e tecnologias altamente especializadas ,e sim nos sujeitos que compõem os dois
sistemas.
Os profissionais participam das ações em pequenos grupos e o mediador da
aprendizagem recebe nesta proposta o nome de facilitador (a). O programa tem uma
estrutura organizacional que incentiva a integração e educação permanente de todas e
todos os envolvidos. O fundamento desta proposta de EPS é a construção de relações
por afetos e gestos, por processo educacional ético e respeitoso, com espaços
democráticos de fala, em que todas as opiniões tenham importância, sejam livres de
amarras hierárquicas (SOUSA ET AL, 2021). Na perspectiva do quadrilátero,
trabalharemos com a análise sistêmica e longitudinal dos quatro atores: controle social,
universidade, gestão e trabalhadores. Iniciaremos pela universidade.

PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 157


aaaaaaaaaaaaa Durante o programa, se identificou que a figura de professor e aluno ainda figura
no imaginário das pessoas que estavam em educação permanente. Foi perceptível o
quão difícil é romper com a educação bancária e construir a valorização da educação
popular e das vivências enquanto promotoras de saberes. Mudar o modelo mecanicista
para uma concepção problematizadora tem sido um grande desafio dentro da EPS.
Quanto ao ensino, cabe destacar que a metodologia ativa aplicada gerava um
estranhamento a priori. A coordenação de grupo atentou-se para isso e para inclusão
de todos os profissionais na atividade. Outros dois nós no que tange ao ensino são o
distanciamento entre o SUS e a Universidade e a postura de “aguardo” sobre instruções
e expectativas sobre “próximos passos”.
Outro componente do quadrilátero, a gestão, foi, talve,z um dos maiores
desafios do programa, Ceccim e Feuerwerker (2004, p. 59) apontam: "todos os que
entram na roda têm poderes iguais sobre o território de que falam". Os atores
envolvidos não executam apenas ações centradas na doença, eles planejam, propõem,
refletem sobre formas de atenção e gestão.
Pensar a Educação Permanente como forma de subversão da ordem hierárquica
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

pré-estabelecida assustou e afastou em um primeiro momento o gestor, até que este


entendeu que a sua posição não seria tomada e o que se pretendia era um debate
coletivo onde todos tinham direito à voz, sem sofrer retaliação.
No que tange à experiência na região, primeiramente observou-se a baixa
adesão de gestores nos processos grupais, que foi significativamente menor que dos
demais profissionais como agentes comunitários, enfermeiros assistentes sociais,
técnicos em enfermagem, farmacêuticos, motoristas, auxiliares administrativos e de
serviços gerais e médicos. Havia uma dificuldade de mobilidade da equipe, com
priorização de outras ações da gestão. Além disso, os gestores centravam sua parceria
a partir de resultados imediatos do projeto, visando maior captação de verbas para os
municípios.
Quanto às trabalhadoras e trabalhadores do SUS e do SUAS existiram muitos
movimentos frente à adesão e participação. Foram, sem dúvida, os mais interessados
em fazer EPS, porém muitas vezes ficaram atados por falta de compreensão da gestão,
de escassez de recursos ou não-reconhecimento. As falas nos encontros retrataram
jornadas de trabalho intensas, baixa remuneração, falta de bonificação e de plano de

PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 158


aaaaaaaaaaaaa carreira. Foram frequentes as faltas de estrutura mínima para a aplicação dos trabalhos
de educação permanente, de espaço físico, de materiais como computadores e até
mesmo salas que foram previamente emprestadas mas que estavam indisponíveis para
a ação.
Quanto ao controle social, composto por usuários, por trabalhadores, gestores,
prestadores e estudantes não cabe de forma alguma hierarquia e pensamentos
homogêneos. A heterogeneidade é característica que se faz presente nesse espaço. A
dificuldade do projeto foi aproximar o controle dos demais componentes do
quadrilátero.

3. CONCLUSÕES
São muitos os questionamentos levantados no percurso de se fazer Educação
Permanente na Região de Saúde descrita. Segundo Ceccim e Feuerwerker (2005, p.165)
a interação entre os segmentos do quadrilátero “deveria dignificar as características
locais, valorizar as capacidades instaladas e desenvolver as potencialidades existentes
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

em cada realidade”. Os autores concluem revelando que a metodologia para tal


aprendizagem estaria na “aprendizagem significativa e na efetiva e criativa capacidade
de crítica, bem como da produção de sentidos , autoanálise e autogestão” (CECCIM E
FEUERWERKER, 2005, p.168).
Entretanto, os agentes do quadrilátero apresentam situações que são
desafiadoras para a EPS. Trabalhar com os sujeitos envolvidos em Educação Permanente
tem sido desafiador para a formação, sendo necessária a participação ativa de todas e
todo.

4. REFERÊNCIAS
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medicina preventiva. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003.

BELLO, Patricia Aymbere. Reflexões sobre a educação permanente em saúde e os


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Monografia (Especialização)- Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2016.

PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 159


aaaaaaaaaaaaa BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório da VIII Conferência Nacional de Saúde. Brasília,
1986.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 198/04, de 13 de fevereiro de 2004. Brasília


(DF): MS; 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 1.996, de 20 de agosto de 2007.


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PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 160


aaaaaaaaaaaaa MELO, Joaquim Alberto Cardoso. Educação sanitária: uma visão crítica. Cadernos do
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PROJETOS DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: A IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO 161


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XII
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A
EXECUÇÃO DA MONITORIA DE
BIOQUÍMICA PARA O CURSO DE
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-12
Daniel Rodrigues da Silva 1
Heloísa Mara Batista Fernandes de Oliveira 2
Raline Mendonça dos Anjos 3
Abrahão Alves de Oliveira Filho 3
¹ Graduado do curso de Ciências Biológicas. Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

² Farmacêutica-Bioquímica- Hospital Universitário Ana Bezerra-UFRN


³ Professor(a) dos cursos de Ciências Biológicas e Odontologia. Universidade Federal de Campina Grande
– UFCG

RESUMO
A monitoria nos cursos de nível superior, estão estabelecidas na Lei de diretrizes e bases
da educação brasileira, promulgada no dia 20 de dezembro de 1996, trazendo uma
proposta de ensino-aprendizagem, onde o monitor desenvolve atividades supervisionas
pelo professor, que tornam o ensino mais atraente e de fácil compreensão. Tal proposta,
e de grande valia para a disciplina de bioquímica, visto que a mesma requer do aluno
uma maior atenção pelo seu nível de complexidade. Com base, nessa perspectiva o
presente trabalho teve como objetivo, descrever as experiências vivenciadas na
monitoria à distância da disciplina de bioquímica, no curso de Ciências Biológicas da
Unidade Acadêmica Ciências Biológicas – UACB, Campus Patos-PB, da Universidade
Federal de Campina Grande – UFCG, durante o semestre 2020.2. O estudo elucida que
todos os alunos matriculados obtiveram êxito na aprovação da disciplina, e de maneira
mais relevante a contribuição da monitoria para aluno-monitor na formação adequada,
para que no futuro eventuais exigências e dificuldades sejam superadas. Portanto, o
monitor em seu papel, busca caminhos que facilitam a compressão e interpretação dos
alunos, despertando interesse no processo de aprendizagem.

Palavras-chaves: Monitoria. Aprendizagem. Bioquímica.

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A EXECUÇÃO DA MONITORIA DE BIOQUÍMICA PARA O CURSO DE


LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
162
aaaaaaaaaaaaa
ABSTRACT
Monitoring in higher education courses is established in the Law of guidelines and bases
of Brazilian education, enacted on December 20, 1996, bringing a teaching-learning
proposal, where the monitor develops activities supervised by the teacher, which make
the most attractive and easy-to-understand teaching. This proposal is of great value to
the discipline of biochemistry, as it requires greater attention from the student due to
its level of complexity. Based on this perspective, the present work aimed to describe
the experiences lived in the distance monitoring of the discipline of biochemistry, in the
Biological Sciences course of the Biological Sciences Academic Unit - UACB, Campus
Patos-PB, of the Federal University of Campina Grande - UFCG, during the semester
2020.2. The study elucidates that all enrolled students were successful in passing the
discipline, and more relevantly, the contribution of monitoring for student-monitor in
the proper training, so that in the future any demands and difficulties are overcome.
Therefore, the monitor in its role, seeks ways that facilitate the compression and
interpretation of students, arousing interest in the learning process.

Keywords: Monitoring. Learning. Biochemistry.

1. INTRODUÇÃO
A monitoria encontra-se prevista na Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

qual estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Em seu artigo 84, a referida
lei dispõe que “os discentes da educação superior poderão ser aproveitados em tarefas
de ensino e pesquisa pelas respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de
acordo com seu rendimento e seu plano de estudos” (BRASIL, 1996).
A monitoria nas disciplinas do ensino superior vai além da obtenção de uma
certificação, enriquecimento do currículo ou uma contagem de pontos nas atividades
independentes do curso. Sua importância vai mais além, seja no aspecto pessoal de
ganho intelectual do monitor, seja na contribuição dada aos alunos monitorados e,
principalmente, na relação de troca de conhecimentos, durante o programa, entre
professor orientador e aluno monitor. O monitor experimenta em seu trabalho docente,
de forma amadora, a primeira experiência da profissão de professor (MOURA;
NOGUEIRA, 2018).
No curso de ciências biológicas o programa de monitoria é ofertado pela
disciplina de bioquímica, objetivando o crescimento profissional dos discentes na
educação superior (SIMÕES et al., 2020). A Bioquímica é a parte da Biologia responsável
pelo estudo das estruturas, da organização e das transformações moleculares que

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A EXECUÇÃO DA MONITORIA DE BIOQUÍMICA PARA O CURSO DE


LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
163
aaaaaaaaaaaaa ocorrem na célula. A magnitude da bioquímica nunca foi tão percebida, desde impactos
na biotecnologia, bem como, avanços na medicina; agricultura; ciência; meio ambiente,
e demais áreas que mantém profunda relação com o futuro da humanidade
(LEHNINGER, 1995).
Para que o estudante de biologia entenda os mecanismos bioquímicos
envolvidos no metabolismo celular, é necessário que ele tenha conhecimentos básicos
em bioquímica. Tais conhecimentos podem ser compreendidos como o substrato físico-
químico da vida e consiste no estudo da estrutura e função das principais substâncias
orgânicas e inorgânicas que compõem os seres vivos: proteínas, glicídios, lipídios, ácidos
nucléicos, vitaminas, água e nutrientes minerais essenciais (GOMES; RANGE, 2006).
Entretanto, existem algumas dificuldades no processo de ensino e aprendizado
da disciplina de Bioquímica. Isto, por se tratar de uma temática que envolve noções
físico-químico para compreensão e aplicação na prática. (YOKAICHIYA; GALEMBECK;
TORRES, 2004). Nesse sentido, várias iniciativas devem ser empregadas para facilitar a
compreensão durante a abordagem dos conteúdos da bioquímica. Tendo em vista, o
aprimoramento de ensino da disciplina, tornando-a mais atraente e compreensível
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

(NORMAM; SCHMIDT, 1992.)


Com base nesse contexto, a monitoria é uma prática de ensino, que proporciona
melhores condições de aprendizagem durante a formação de alunos em cursos de
graduação. Nesse sentido, é possível conduzir as práticas pedagógicas, estabelecendo
novas relações entre teoria e prática no ambiente acadêmico (MENDES; ARAÚJO, 2012).
Com o desencadeamento da pandemia do novo coronavírus, no ano de 2020, o
modelo de ensino sofreu uma repentina modificação, passando do ensino presencial
para a modalidade à distância (GONÇALVES; JESUS, 2021). A portaria do Ministério da
Educação (MEC) Nº 343, de 17 de março de 2020, que dispõe sobre a substituição das
aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia
do Novo Coronavírus - COVID-19 (BRASIL, 2020), fez com que atuassem em uma nova
abordagem a disciplina de bioquímica e os planejamentos da monitoria. As aulas
práticas foram suspensas até o final da pandemia, ocasionando a condução das aulas de
forma remota, utilizando diversos dispositivos digitais (BARROS et al., 2021).
Dessa forma, este relato de experiência foi elaborado com o objetivo de
descrever as experiências vivenciadas na monitoria à distância da disciplina de

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A EXECUÇÃO DA MONITORIA DE BIOQUÍMICA PARA O CURSO DE


LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
164
aaaaaaaaaaaaa bioquímica, no curso de Ciências Biológicas da Unidade Acadêmica Ciências Biológicas –
UACB, Campus Patos-PB, da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, durante
o semestre 2020.2.

2. MATERIAL E METÓDOS
Trata-se de um relato de experiência, forma metodológica que permite a
descrição de experiências vivenciadas, de natureza qualitativa, uma vez que evidencia
aspectos subjetivos do ser humano.
Esse relato, foi realizado por meio do trabalho desempenhado pelo monitor na
disciplina de bioquímica para o curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de
Campina Grande, no período de julho de 2021 a outubro de 2021.
A disciplina de bioquímica é contemplada para a realização da monitoria no
Curso de Ciências Biológicas com uma carga horária de 60 horas e quatro (4) créditos,
ofertada no 4º período noturno e no 2º período diurno. Houve a participação de três
monitores, dois bolsistas e um voluntário.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

No âmbito da disciplina é fundamental conhecer e compreender as estruturas,


os processos metabólicos que envolvem o anabolismo e o catabolismo das
biomoléculas, bem como as interações dos diferentes ciclos no organismo humano.
Saber operar os instrumentos de um laboratório e interpretar os resultados obtidos
experimentalmente em aulas práticas.
O ensino remoto foi considerado uma alternativa para realização das aulas pelo
professor, bem como para os encontros da monitoria, podendo ser realizado de distintas
maneiras, uma vez que este oferece uma maior flexibilidade de horários, exigindo maior
gerenciamento do estudo pelo estudante. Tivemos que utilizar ambientes virtuais que
se configuram como a sala de aula apresentando diversas ferramentas de
disponibilização de materiais e de interação.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A bioquímica passou a ser considerada de grande valia no século XX, por tratar
assuntos que possuem um grau completo do estudo e capacidade de intervenção nos
mecanismos moleculares que regulam a vida. Trata-se de uma ciência, focada na

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A EXECUÇÃO DA MONITORIA DE BIOQUÍMICA PARA O CURSO DE


LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
165
aaaaaaaaaaaaa estrutura e a função de componentes celulares como proteínas, carboidratos, lipídios,
ácidos nucleicos e outras biomoléculas (FERRI, 2013).
Sendo assim, a disciplina de bioquímica no tocante a formação superior, exige
um alto grau de complexidade, visto que maior parte dos discentes relatam dificuldades
de compressão e desinteresse pela matéria (GARRIDO et al., 2010). Albuquerque e
colaboradores (2012) propõe uma maneira mais dinâmica para o ensino e
aprendizagem, na abordagem dos conteúdos, onde os conhecimentos do professor e
monitor somados, proporcionam um estilo inédito de ensinar.
Acoplado a isso, a monitoria em parceria com a professor da disciplina foram
realizadas atividades que buscam melhorar o desempenho e aprendizado dos alunos em
aulas teóricas e práticas. Dentre as atividades desenvolvidas pelo monitor pôde-se
destacar: a elaboração de atividades teóricas sobre as temáticas ministradas, tendo em
vista a fixação dos conteúdos por parte dos alunos; esclarecimentos sobre conceitos e
ideias que envolvem a disciplina, por meio das tecnologias digitais; elaboração e
execução de vídeos-aulas, de caráter prático e realização de plantões semanalmente,
com finalidade de sanar possíveis dúvidas sobre os conteúdos.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A partir da análise quantitativa, que envolve o desempenho dos discentes,


observa-se que dos 48 alunos matriculados na disciplina de bioquímica, do curso de
Ciências Biológicas no semestre 2020.2, todos (100%) foram aprovados. Fica evidente,
que a proposta empregada pela monitoria para auxiliar a disciplina de bioquímica, foi
compensada com êxito, por meio da aprovação total dos alunos. Mostrando eficiência,
por meio do uso das mídias sociais em período pandêmico.
Nesse sentido é que Lira, Nascimento, Silva E Maman (2015) afirmam que por
meio da monitoria, o monitor e os alunos monitorados consigam apresentar soluções
que o futuro exige em sua carreira profissional, já que experienciaram tal exigência no
ambiente acadêmico. Assim, observa-se que todas as metodologias usadas no decorrer
da monitoria, proporcionarão resultados positivos, para que posteriormente eventuais
dificuldades fossem superadas.

4. CONCLUSÃO
Diante do exposto, pode-se concluir que, a monitoria ofertada no curso de
Ciências Biológicas, proporciona aos alunos uma oportunidade a mais de aprendizado e

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A EXECUÇÃO DA MONITORIA DE BIOQUÍMICA PARA O CURSO DE


LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
166
aaaaaaaaaaaaa de detecção das dificuldades que os mesmos venham a desenvolver durante a disciplina,
já que além do professor, os discentes vão ter contato também com o monitor, este que
é também responsável pelo auxílio dos alunos nas aulas práticas e teóricas, procurando
sanar as dúvidas que surgirem. Diante disso, fica evidente a importância do monitor
junto à disciplina de bioquímica, uma vez que o principal objetivo é buscar um melhor
rendimento dos alunos.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE A EXECUÇÃO DA MONITORIA DE BIOQUÍMICA PARA O CURSO DE


LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
168
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XIII
SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS:
UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE
PARÂMETROS PERSONALIZADOS NO
PROCESSO DE AVALIAÇÃO
ENVOLVENDO SERES HUMANOS
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-13
Diana Sampaio Braga ¹
José do Nascimento Soares ²
Rodrigo Souza da Silva ³
Antonio Luiz da Silva 4
¹ Formação de Psicólogo (UEPB); Licenciatura Plena em Psicologia (UEPB); Mestrado em Psicologia Social (UFPB);
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Doutorado em Psicologia Social (UFPB). Professora da UEPB – Universidade Estadual da Paraíba.


² Graduação em Pedagogia (FPB – Faculdade Internacional da Paraíba). Especializando em Neuropsicopedagogia –
(IESP). Ator Paraibano.
³ Graduação em Fisioterapia (UFPB); Especialização em Saúde e Gestão Pública (FIP-PB). Atua como chefe de Triagem
e diagnóstico na FUNAD - Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência.
4 Formação de Psicólogo (UEPB); Licenciatura Plena em Psicologia (UEPB); Especialização em Gestão Escolar (FAK-CE);

Mestrado em Antropologia (UFPB); Doutorado em Psicologia (UFRN). Psicólogo da FUNAD – Fundação Centro
Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência no estado da Paraíba e do ICPAC – Instituto dos Cegos da Paraíba
Adalgisa Cunha, atuando na avaliação de pessoas e psicodiagnóstico.

RESUMO
Este ensaio refletirá sobre o processo de avaliação, entendendo que todas as realidades
podem ser avaliadas. Avaliam-se coisas, processos e pessoas. Considerando que a avaliação
é um ato humano, destacar-se-á a figura do avaliador. Compreende-se que quem avalia
utiliza parâmetros oriundos tanto de sua trajetória pessoal quanto de sua formação
intelectual. Muitas vezes, contudo, os parâmetros avaliativos acabam personalizados de
modo particular, prevalecendo a trajetória pessoal de quem avalia. Argumentar-se-á que os
parâmetros personalizados comumente se referenciam na família, na escola, na
autorreferência próxima, na classe social, na condição econômica e cultural do avaliador.
Entende-se que, por permearem o processo de avaliação, esses elementos podem afetar a
percepção do avaliador. Defende-se que generalizar parâmetros personalizados,
acriticamente, pode trazer riscos para processo de avaliação. Defender-se-á a importância
de critérios científicos que levem em consideração tanto aspectos clínicos quanto políticos
e sociais na avaliação.

Palavras-Chaves: Avaliação. Parâmetros. Autorreferência. Avaliador. Avaliando.

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
169
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO: A RESPEITO DA AVALIAÇÃO E SOBRE AVALIAR
Tudo, absolutamente tudo, pode ser avaliado. Podem-se avaliar coisas, objetos,
ideias, constructos, coisas materiais, processos subjetivos. Pessoas também podem e
devem ser avaliadas. E, assim como as coisas, a avaliação de um ser humano pode ser
feita por exames laboratoriais, por testes, pela observação e pelos mais diferentes meios
criados pelo engenho humano.
Mas, o que é mesmo a avaliação? De acordo com Luckesi (2008, p. 33), a
avaliação pode ser caracterizada como “um juízo de valor”, esse juízo é realizado “com
base em caracteres relevantes da realidade do objeto de avaliação”, e “conduz a uma
tomada de decisão”. Ampliando em alguma medida a observação do autor acima
trazido, vale dizer que toda avaliação tem julgamento, que tem tanto a realidade
percebida quanto a realidade subjetiva antes mesmo de ter a decisão final. Mas, de
qualquer maneira, é a avaliação que determina rumos, que propõe consertos, quem
organiza ajustes, que faz situações deslancharem para melhor.
É claro que avaliar pessoas é bem diferente de avaliar coisas. Assim sendo, o ato
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de olhar para o outro, ou para partes dele, e extrair daí uma opinião, com vistas a uma
possível tomada de decisão, ainda que cercado de liturgias científicas, com mediação de
instrumentos ou maquinários padronizados, mesmo nos enquadres da isenção
laboratorial, não é uma ação confortável. Saber, por exemplo, que um parecer pode
alterar significativamente o ‘status’ social do indivíduo, podendo estigmatizá-lo dentro
de uma sociedade que já é excludente com os diferentes, pode conferir ao processo
avaliativo uma carga de subjetividade não planejada no cronograma do evento.
Em qualquer situação, toda avaliação ou ato de avaliar comporta ao menos dois
entes importantes: o sujeito que avalia e o sujeito/objeto a ser avaliado. Por isso, abre-
se aqui um parêntese para dizer que embora seja difícil admitir, por romantismo ou por
acriticidade, todo ato avaliativo ocorre, em maior ou menor medida, dentro de uma
relação desigual. De um lado sempre vai estar o sujeito que sabe, que julga, que avalia
e que toma decisão, com ou sem ajuda de maquinário, de modo mais autoritário ou
mais democrático. Do outro, encontra-se, seja pessoa ou coisa, aquele que se tornará
objeto do saber externo, objeto do julgamento alheio e objeto da possível tomada de
decisão. Quando se pensa, por exemplo, na relação avaliativa envolvendo educadores e

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
170
aaaaaaaaaaaaa educando, pacientes e médicos, sabe-se bem qual é a palavra final que costuma
prevalecer, mesmo que exista resistência ao possível resultado a ser estabelecido.
É, portanto, inquestionável que há poderes desiguais no ato de avaliar e o
esforço tem de ser no sentido de diminuir todo e qualquer ranço de injustiça, de falta
de ética, de agressão e dano ao avaliado.
Por conta de sua complexidade, a avaliação não pode ser tomada como uma
atividade qualquer que possa ser feita de modo acrítico e irrefletido. Enquanto
julgamento, pautado na realidade, com vistas a uma tomada de posição não deveria ser
uma ação construída numa reta de mão única. Na verdade, ela deveria ser o que
realmente é: caminho que se bifurca ou que se abre em várias direções, atingindo
multifacetadas dimensões, pressupondo posturas epistemológicas e ontológicas
convergentes dentro da pluralidade e da diversidade de saberes interdisciplinares.
Toda avaliação compõe ou deveria compor um ritual, precisa ser processual. E
assim o é porque, enquanto caminho que se abre a várias direções, precisa tanto se
importar com a dureza, com a métrica, com a cientificidade da testagem, do exame, da
imagem, coisas que parecem garantir certa estabilidade na formatação da ‘grafia’ de um
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

indivíduo, quanto com a leveza da percepção da condição humana e com a agudeza até
‘instintiva e intuitiva’ que a experiência de avaliar adiciona à bagagem do avaliador.
Quando um humano avalia outro humano ele precisa, com retidão intelectual,
questionar o que fundamenta e quais são os conteúdos que vêm antes de sua avaliação.
Vale por em relevo que ao avaliarmos pessoas muitas dimensões humanas são,
silenciosamente, evocadas ou também esquecidas. É importante frisar que na ação de
avaliar, quer se queira ou não, o avaliador, mesmo que não se dê conta, está inteiro. Em
toda e qualquer avaliação, aquele que avalia não se desintegra, não se separa, utilizando
apenas uma de suas muitas dimensões. Seria, inclusive, um insulto à inteligência
humana acreditar que, no momento de uma avaliação, a avaliadora se limparia numa
espécie de manto de neutralidade fictícia. No ato de avaliar, aquele que avalia encontra-
se com o bojo de suas histórias, experiências, cargas culturais, posições políticas,
convicções religiosas, condições econômicas, relações existenciais etc. A pessoa não
deixa de ser negra, indígena, branca, homossexual, heterossexual, feminista, machista,
de direita, de esquerda, conservadora, progressista, moderada, extremista, católica,

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
171
aaaaaaaaaaaaa protestante, pentecostal, umbandistas, etc, na hora de avaliar. Na avaliação a pessoa
continua sendo o que sempre foi.
Ao que se pode perceber, nenhum avaliador avalia sozinho. Ele avalia de dentro
de sua história. Dessa forma, os atravessamentos identitários objetivados em possíveis
grupos de pertença, etnia, classe social, religião, preferência sexual, modo de ser e
existir perpassam todo ato de avaliar, independente do campo científico que na
avaliação esteja sendo considerado. “Dessa maneira, as concepções que temos sobre a
avaliação são construídas coletivamente por nossos processos de socialização, nossas
trajetórias de vida e educacionais, e exprimem o conhecimento socialmente produzido
sobre a realidade que nos cerca” (CORDEIRO; MIRANDA, 2020, p. 124). Seriam possíveis
isenção e neutralidade no ato de avaliar humanos?
Pode um avaliador encerrar uma avaliação ao estilo prego batido e ponta virada?
Ao final do processo nem sempre o ato está concluído em definitivo; pois se
honestamente esmiuçado, a convicção da completude do sujeito avaliado pode não
restar ainda de todo determinada no ato de avaliar, porque o sujeito pode ser muito
mais. Uma avaliação honesta deveria deixar sempre à avaliadora a seguinte pergunta:
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

esse sujeito não iria além se as suas condições existenciais fossem diferentes ou mesmo
se fossem melhoradas? Por isso, é necessário desconfiar do avaliador que não tem
dúvida, do avaliador que avalia e conclui de cara, como se tivesse uma bola de
advinhação.
Assim como os atravessamentos existenciais dos avaliadores, também seus
julgamentos nem sempre são exclusivamente científicos. Imagine-se, pois, que alguém
esteja avaliando fenômenos como inteligência, desempenho escolar, condição física
para a prática esportiva, comportamento social adequado ou socialmente conflitante
etc... É bastante óbvio que os modelos que são típicos de determinado universo cultural
serão tomados como parâmetros. Serão eles compartilhados por todos os grupos
sociais? Serão eles válidos?
Conforme Jodelet (1991), os seres humanos costumam elaborar no senso
comum uma identidade para objetos que os mobilizam a fim de saber como manejá-los
e o que se pode esperar deles. Fazendo uma aplicação desse argumento retirado da
teoria das representações sociais, pode-se imaginar que o avaliador não somente avalia,
mas também acaba construindo ‘teorias’ sobre a imagem adequada do avaliando

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
172
aaaaaaaaaaaaa enquanto pratica o exercício da função avaliativa. Por essa razão, julga-se importante
saber com clareza que aspectos psicossociais de cunho ético, identitário, político e
afetivo, por exemplo, atravessam o ato de avaliar e que são vivenciados por todos os
atores envolvidos no processo. Avaliando e avaliador compartilham os mesmos
universos culturais, sociais, econômicos? A resposta será: nem sempre. É nesta
perspectiva que Bicalho e Vieira (2018) definem a avaliação como tendo, ou
necessitando ter, “uma importante dimensão dialógica na medida em que envolve
concepções acerca de quem avalia e de quem é avaliado”.
Considerando a problemática acima mencionada, partindo-se da prática
profissional, em diálogo com diferentes autores, neste ensaio objetiva-se refletir sobre
o processo de avaliação, com destaque especial para a figura daquele que avalia. Parte-
se da pressuposição de que todo avaliador desenvolve ou acaba assumindo parâmetros
avaliativos em sua prática profissional. Destaca-se que estes parâmetros, mesmo
eivados de intelectualidade, não são necessariamente neutros, nem apenas acadêmicos
ou somente científicos. Como são construídos ao longo da trajetória existencial e
profissional, esses parâmetros terminam sendo muitas vezes misturados e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

personalizados de um jeito particular. Argumentar-se-á que os parâmetros


personalizados utilizados pelos avaliadores são retirados de sua referência na família,
na escola, na autorreferência próxima, na classe social, na condição econômica e
cultural, sendo, portanto, elementos de sua subjetividade e identidade particulares.
Conclui-se que, por permearem o processo de avaliação, esses elementos podem afetar
a percepção dos avaliadores e avaliadoras, levando-os a possíveis equívocos.

2. QUEM AVALIA TEM PARÂMETROS


Não dá pra dizer que, na posição de avaliadores, se pode avaliar sem critérios,
aliás, isso nem seria possível. Falando da avaliação no processo educacional, para Grillo
e Lima (2010, p. 18): “A avaliação traduz um referencial teórico-metodológico, resultado
de posição epistemológica assumida criticamente pelo docente, às vezes incorporada
pelo senso comum, outras por experiências anteriores, ou mesmo herdada por imitação
de um professor mais experiente”. Criticamente ou não, conscientes ou não, na
avaliação, comumente a adoção de critérios se transformam em parâmetros. Aliás,
antes de se chegar ao avaliando e ao processo de avaliação, muitos desses parâmetros

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
173
aaaaaaaaaaaaa já estão postos por antecipação na plataforma mental do avaliador. Eles fazem parte
tanto dos repertórios oriundos das trajetórias humanas quanto dos repertórios
apreendidos no caminho acadêmico. Contudo, embora eles também provenham da
história científica de cada profissional, como perpassam a história humana individual,
muitas vezes, assumem um arranjo misturado e acabam sendo personalizados ou, para
ser um pouco mais redundante, autopersonalizados. Esses critérios se escalonam de
modos diferentes. E, em maior ou menor medida, toda avaliação profissional se perfila
e toma forma solidificada a partir das experiências, das vivências e das condições
pessoais daquele e daquela que avalia. Seguindo uma lógica mais didática, neste tópico
serão postos em questão os lugares de onde os avaliadores retiram alguns de seus
critérios que acabam se transformando em seus parâmetros.

Parâmetro da autorreferência familiar


Quando se avalia, muitas vezes, se utiliza modelos herdados, sobretudo quando
se está vivendo num universo mental compartilhado. Esses modelos podem advir da
mais remota a mais recente experiência dentro da ancestralidade familiar. Aqui se
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

recorre à memória comparativa de vivências junto a avós, pais, primos, parentes,


especialmente se esses parentes foram antecessores do mesmo campo profissional dos
avaliadores em questão. Frente a uma situação específica, muitas vezes o avaliador pode
se perguntar como seu parente e seu pai agiriam.

Parâmetro da autorreferência escolar


Modelos escolares podem ser tanto herdados quanto construídos
conjuntamente. Imagine-se que os modelos escolares são construídos numa escala
longa de anos. À hora da avaliação, muitas vezes se recorre à história pessoal de
percursos escolares e universitários, como se pensava, como se costumava agir, como
eram obtidas as conquistas, como se foi avaliado e como os professores agiam. A história
de educação formal acompanhará a avaliadora como modelo, como parâmetro, quase
que inquestionável, em sua prática avaliativa. Muitas vezes é possível que, num
exercício mnêmico, o avaliador possa se pegar pensando sobre quais aquisições ele já
tinha na idade em que se encontra o avaliando. Quando se pega para avaliar a
capacidade de uma criança aos 08 anos que ainda não sabe ler, por exemplo, é bem

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
174
aaaaaaaaaaaaa provável que um avaliador recorde-se de sua experiência de alfabetização. O avaliador
toma frequentemente a si como modelo.

Parâmetro da autorreferência próxima


No processo de avaliação, além de se tomar como modelo, a avaliadora também
se interessa muito por aquele modelo que está ao alcance da sua mão. Ela procurará
observar os marcos do avaliando e compará-los, por exemplo, com os de seus filhos,
sobrinhos, afilhados, vizinhos mais achegados etc... Frequentemente vai se pegar
pensando que o filho de sua colega de trabalho, naquela idade já estava de tamanho
“X”, tinha peso “Y”, sabia fazer “N” coisas, etc. É comum, mesmo sem se comentar, que
se tenha em mente a escolarização dos filhos, filhos dos amigos, parentes e vizinhos,
quando a avaliadora se depara com problemas de escolaridade ou com outros atrasos
em determinadas habilidades a serem observadas nos avaliandos.

Parâmetro da classe social como referência


Mesmo que isso não seja uma deliberação consciente, todo avaliador avalia a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

partir dos modelos herdados e construídos por sua classe social. São os valores que seu
grupo social entende como salutares que saltarão aos seus olhos. Espera-se, inclusive,
que todas as classes sigam seu modelo. Imagine-se que uma família de classe média
jamais deixará seu filho se envolver com uma atividade profissional precoce. Assim,
quando uma criança oriunda de outra família é vista numa atividade laborativa, o
julgamento se faz automático, indicando que se deve, por exemplo, tomar a decisão de
denunciá-la ou encaminhá-la a órgãos competentes. Na avaliação cotidiana o parâmetro
da classe social não pode ser mascarado.

Parâmetro da condição econômica como referência


Quando se avalia alguém, a avaliadora o faz também a partir de sua condição
financeira, esquecendo, inclusive, que a carteira alheia pode não ter as mesmas moedas
que ela tem ao final do mês. É importante saber, por exemplo, onde aquele avaliando
mora. Sua casa tem quantos cômodos? Há ambiente para estudar? Dorme com quantas
pessoas? Qual seu bairro? Seu pai está empregado? Quanto ganha? Ele precisa trabalhar
para ajudar aos pais, seja em atividades domésticas ou fora do lar? O salário de uma

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
175
aaaaaaaaaaaaa família é uma mola definidora de todos os saltos e vôos de seus membros. E muitas
vezes o dinheiro da família não apenas define, mas molda, determina o futuro.

Parâmetro cultural compartilhado como referência


É usual que o avaliador siga o modelo cultural da classe social e econômica a que
pertence na hora de sua avaliação. Por isso mesmo, não deve passar despercebido que
toda classe social e econômica se assenta num determinado padrão cultural. Ao se
avaliar uma criança que não sabe ler, estando ela na idade esperada para tal aquisição,
importa saber se ela foi estimulada, qual foi a escola que teve, qual a escolaridade de
seus pais, quando se deu seu contato com as letras e com os livros. É válido investigar
se ela tem acesso a teatro, cinema, biblioteca, internet, se ela se interessa por música e
qual estilo prefere. É bom saber quais práticas de esportes ela tem acesso. Nos relatos
finais é preciso dar espaço para descrição de quais são suas brincadeiras, se segue o
ritmo do brincar sazonal, se tem acesso a brinquedos eletrônicos, se o seu brincar ocorre
ao ar livre, em apartamentos, etc... Importa lembrar que na cultura de classe média
todas essas condições de estimulações intelectuais estão contempladas. Nas demais
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

classes sociais também?

3. MOMENTO DE DISCUSSÃO
Embora os parâmetros dos avaliadores sejam autorreferidos, confeccionados
com base em várias fontes, aqui foram destacados separados apenas por questões
didáticas. Na verdade eles não interferem nas avaliações assim tão arrumadinhos. De
qualquer forma, é necessário que se pense sobre eles porque eles têm consequências
importantes.
A desatenção aos muitos condicionantes da vida também estão refletidos nos
vários arcabouços teóricos disponíveis. Quando se toma obras clássicas da psicologia do
desenvolvimento, da pedagogia e da pediatria, por exemplo, percebe-se que elas
focalizavam suas análises em um único parâmetro mais acessível de infância,
adolescência, adulteza e velhice. Via de regra, as pessoas consideradas eram oriundas
da etnia caucasiana, que residiam na zona urbana, pertenciam ao mundo ocidental e
eram provenientes das classes econômicas médias ou altas (OZELLA, 2002). O
entendimento de uma infância como um fenômeno plural e multifacetado, que só pode

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
176
aaaaaaaaaaaaa ser compreendida a partir da sua relação com seu contexto mais amplo tem sido
estabelecido pelo campo dos Estudos da Infância, num movimento recente e talvez
ainda não tenha sido suficientemente trabalhado.
Retomando a discussão, vale lembrar que Bicalho (2013) aponta que os
parâmetros de normalidade e patologia nos quais costuma-se ancorar o processo de
avaliação são também extraídos dos repertórios de valores dados por pares, os quais
compartilham em comum ou tácito acordo os mesmos grupos identitários. Assim sendo,
é importante que a formação de avaliador produza interrogações sobre a partir de que
fontes estes profissionais estão construindo seus entendimentos acerca do ser humano
e dos fenômenos que o circundam.
Então, tomar parâmetros ao redor das referências pessoais, parâmetros
personalizados, é bom ou ruim? Longe do maniqueísmo, do bem e do mal, do certo e
do errado como realidades estanques, é preciso deixar claro que não se trata de coisa
boa ou ruim. Se trata de uma interferência que precisa ser analisada e não apenas
incorporada.
É importante saber que a família do avaliador e a família do vizinho da avaliadora
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

podem não ter feito os mesmos caminhos de seus avaliandos. Há casos em que famílias
pertencentes à mesma parentela estendida acabam tendo condições sociais, culturais e
econômicas completamente diferentes, não sendo possível que se espere delas os
mesmos resultados finais.
Cada avaliador precisa tomar consciência acerca dos valores que ele traz
embutidos em si. Quais valores de sua classe social podem, de fato, ser compartilhados
por outras famílias da humanidade? Também é preciso ter ciente a que classe social o
avaliador pertence. Segundo Gama (2009, p. 190): “Como sabemos, as teorias de
avaliação não são neutras e sempre correspondem a diferentes concepções sociais de
mundo”. É necessário que se saiba como sua classe se comporta frente às demandas da
vida, o que ela pensa e como age em relação à escola, à saúde, ao emprego, à dor, por
exemplo. Mas é preciso que a avaliadora não espere das outras classes o
comportamento demonstrado publicamente pela sua.
Vale salientar que todo sistema escolar, por exemplo, privilegia aprendizagens e
modos de resolução de problemas típicos de uma classe social mais dominante, muitas
vezes divergindo dos modos que são adquiridos a partir de diferentes situações sociais

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
177
aaaaaaaaaaaaa do cotidiano de muitos dos alunos das classes subalternas. Isso, por si, aponta como
pode ser nocivo medir um avaliando por critérios familiares de um grupo que não é o
seu. Portanto, nem sempre vai ser possível avaliar uma criança das camadas populares
tomando-se critérios das classes médias ou altas. Também nem sempre vai ser possível
avaliar uma criança supondo um critério mais universal. Crianças avaliadas por métricas
de classes diferentes das suas acabarão sendo prejudicadas na avaliação do seu
desempenho, sobretudo se apresentarem formas de raciocínios discrepantes dos
requeridos pelos professores e avaliadores que desconhecem seus modos de vida.
É possível que crianças que embora já tenham adquirido os conceitos científicos
e o desenvolvimento cognitivo necessários para responder a uma determinada questão,
não consigam expressar seus conhecimentos através de um caminho de resolução
alheio ao seu. Aliás, essa realidade já foi mostrada no célebre estudo “na vida dez, na
escola zero”, de Carraher, Carraher e Schiliemann (1982).
É válido como exercício, de vez em quando, que a avaliadora interrogue a si: por
pertencer à classe social à qual pertence, qual foi a qualidade de vida que ela teve, quais
os estímulos lhe foram dados, quantos apoios recebeu? Teria o que tem se não tivesse
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

tido tudo aquilo que teve ao longo da vida?


Em larga medida, os avaliadores pertencem ou se sentem pertencendo às classes
médias. Mais raramente são ricos ou podem se considerar pertencendo às classes altas.
No entanto, via de regra, não se sentem pobres ou pertencendo ao povo mais pobre de
uma nação, mesmo quando os salários que recebem não são tão compatíveis com
aquele ideal que eles assumem por suas profissões. Será que isso não tem uma
implicação?
Parece que os profissionais universitários que se tornam avaliadores, mesmo
quando não pertenciam às classes médias por origem, ao adentrarem num curso
superior, vão adquirindo, de imediato e paulatinamente, um conjunto de valores típicos
dessas classes. Assim, são automaticamente alçados ao ideário majoritário das classes
médias. Será que, consciente ou não, isso não deságua num compromisso social, político
e de classe?
Outra pergunta importante é: a quem serve a classe média? A quem serviria a
sua avaliação? Com que ideais está comprometida? Num ponto ainda mais implicante,
muitos desses profissionais que acenderam às classes médias por um título universitário

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
178
aaaaaaaaaaaaa irão servir aos interesses das classes financeiramente mais elevadas. Refletindo sobre a
psicologia, informa Ana Bock (2017, p. 15): “Nós nos instalamos no Brasil, como
profissão, claramente a serviço da burguesia, da elite brasileira, no projeto que essa elite
produziu, alimentou, desenvolveu de modernização do País”. É bem verdade que a
autora estava falando de psicólogos e para psicólogos. Mas isso certamente vale para
outras profissões. Por pertencerem ou se sentirem da classe média, todo ideário das
profissões universitárias, não apenas o da psicologia, tem sido um ideário que muito se
harmoniza com a classe média que serve e reproduz valores, obviamente, ligados às
classes mais abastadas. Nas palavras de Gama (2009, p. 190): “Cada classe cria sua
concepção de mundo, mas é a da classe dominante que se torna hegemônica e é
reproduzida constantemente”. Como fugir dessa armadilha? Como avaliar sem,
necessariamente, controlar o outro em função de uma classe que não é a sua?
Os ideais de um grupo comportam também as suas concepções prévias de bem-
estar e de valores gerais. Em confrontos ideológicos esses ideais exógenos podem
obscurecer a percepção das demandas pessoais dos outros grupos, os quais acabarão
sendo pensados a partir de parâmetros de satisfação nem sempre convergentes e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

compartilhados por todo mundo.


Os valores das classes médias e das classes mais abastardas são bons? São
melhores do que os valores das outras camadas da população? São ideais a serem
atingidos? Perguntas espinhosas. Frequentemente os valores das classes médias e das
classes altas são postos como ideais a serem alcançados às demais classes sociais.
Contudo, não custa frisar que o real nem sempre está tão perto do ideal...
É preciso que se chame a atenção para esta ilusão. Ao se filiarem às classes
médias, pondo-se entre as classes altas e as classes populares, consciente ou não, os
avaliadores das profissões universitárias, e não somente a maioria dos psicólogos, se
desvencilham das classes economicamente vulneráveis. E novamente está correta Bock
(2017) ao apontar que a psicologia brasileira, como ciência e profissão, pouco fez para
auxiliar na transformação social. Mas, e a Medicina, a Pedagogia, a Fisioterapia, a
Fonaudiologia, a Terapia Ocupacional, o Serviço Social, de que lado estão na hora de
avaliar?
É que, de fato, quanto mais populares forem as classes trabalhadoras, quanto
menores forem os seus salários, suas aquisições, seus capitais culturais, mais distantes

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
179
aaaaaaaaaaaaa elas estarão dos avaliadores formados por profissões universitárias, formados nos
padrões e mentalidades das classes médias e que se encontram a serviço das classes
mais privilegiadas em larga escala. E é preciso dizer que o distanciamento é recíproco,
nem sempre vão conseguir se entender enquanto alteridades.
De qualquer forma, a condição de classe, originária ou alcançada por título
universitário, não pode ficar adormecida acriticamente quando se avalia alguém.
Ao lado da condição de classe social, a condição econômica não pode ser
elemento a passar despercebido. É bom nunca perder de vista que aquela renda que a
família do avaliador teve foi quem lhe deu condições de ser quem ele é na maioria dos
casos. O emprego, o salário, o lugar onde morava a vida toda influíram e confluíram para
ser quem ele se tornou. E é fato que a renda familiar definiu a sua vida, define a vida de
seus filhos, indica quem pode ser seu amigo, determina a escola onde seu filho estudará
e dirá também qual marca de roupa vestirá. Como ensinou Bourdieu (2007), as
preferências são todas predeterminadas pelas circunstâncias históricas, reais ou
imaginadas, e acabam conseguindo o poder de colocar nos mesmos lugares
simbólicos/subjetivos todos aqueles e aquelas que são resultantes de condições
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

materiais concretas/objetivas aproximadas. São essas condições que promovem a


distinção entre o nós e os outros. Elas criam assim campos para os semelhantes, os quais
vão de escolas às igrejas, pondo abismos separatistas na direção daqueles que são
diferentes.
É claro que não se pode falar de modo nivelado quando se pensa em condição
econômica e/ou em classe social. Está também claro que numa população de ricos, os
ricos não são ricos igualmente, nas camadas empobrecidas, os pobres não são todos
pobres do mesmo modo e nas classes médias as condições serão sempre diferentes.
Está cada vez mais claro, por exemplo, que ser pobre no Sertão é bem diferente de ser
pobre na periferia de uma grande cidade.
Como avaliadores, é possível ser neutro na hora de avaliar? Eis a questão. É
possível que o avaliador não tome seus filhos, seu cabedal como parâmetros mais
silenciosos? É possível fugir do personalismo que carrega? Seria possível se esvaziar dos
seus valores herdados e/ou adquiridos? A avaliadora poderia mesmo se livrar dos se
conceitos e modelos preconcebidos, se aproximando dos desiguais, dos diferentes sem
tantas das suas cargas históricas? A avaliação e os avaliadores deveriam seguir uma

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
180
aaaaaaaaaaaaa orientação como a de Feliciano (2005, p. 586): “Ao invés de buscar a eliminação da
ideologia, já que a neutralidade não passa de uma ilusão, deve-se pretender a
convivência crítica que reduza a incursão excessiva de juízos de valor”.
Já que é quase inevitável não se tomar como parâmetro, talvez fosse bom fazer
um exercício que buscasse valorizar a alteridade. Assim, antes de ir adiante, é necessário
ainda acrescentar que frente a um avaliando, é importante entender que existem
padrões pessoais, familiares, sociais, econômicos e culturais diferentes. Pode ser que
uma criança não estar alfabetizada aos 07 ou 08 anos seja tolerável fora da classe a que
o avaliador pertence, não sendo motivo para assim a rotula-la de deficiente
apressadamente.

4. POR UM MODELO DE AVALIAÇÃO PARA O DIAGNÓSTICO


Do que se veio discutindo, parece ter ficado claro que os modelos personalistas
de avaliação, os quadros comparativos baseados nas autorreferências não dão conta de
modo correto, colocando a avaliação, o avaliando e o avaliador em riscos.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Está claro que na busca por parâmetros, as profissões universitárias têm a


obrigação de se filiarem a modelos científicos e no caso de profissões que lidam com
diagnósticos humanos, além dos critérios clínicos é importante atenção aos aspectos
sociais.
E, claro, mesmo dentro de um campo específico, seja na educação ou na saúde,
todos os avaliadores podem ser de diferentes correntes teóricas e praticar as mais
variadas metodologias. Portanto, é necessário que se apossem dos elementos que
ensinaram aqueles e aquelas que antecederam as atuais gerações de avaliadores. Das
muitas coisas que os pais e mães das ciências ensinaram, parece que algumas delas
ainda devem ser praticadas.
Vale ressaltar nessa esteira, que todo comportamento clínico, enquanto ação
científica, se baseia na observação sistemática dos fenômenos. Todo comportamento
científico e clínico tem um roteiro metodológico para responder a uma pergunta. Ambos
os comportamentos, tanto o científico em diversas situações quanto o científico e clínico
utilizado na avaliação de pessoas, podem e devem auxiliar pareceres preconizados por
instrumentos padronizados. São esses instrumentos que irão diferenciar, por exemplo,
uma criança que escuta de uma que escuta só parcialmente. São esses instrumentos que

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
181
aaaaaaaaaaaaa diferenciarão crianças que pensam, que elaboram, que raciocinam, que levantam
hipóteses mentais, de outras que não conseguem lidar com abstrações.
Nesse sentido, os arcabouços teóricos, clínicos e metodológicos pautados na
ciência deverão continuar servindo de bússola, fornecendo diretrizes para os passos de
um processo de avaliação, se afinando com as particularidades objetivas e subjetivas
dos sujeitos (REPPOLD; SERAFIN, 2013).
Além disso, entende-se ainda que a observação sistemática precisa contemplar
a análise dos condicionantes sociais aos quais os sujeitos estão expostos. No campo da
psicologia, por exemplo, os testes e outros instrumentos de avaliação devem ser
averiguados e validados, com regularidade, em segmentos diversos da população para
serem, de fato, representativos, sendo esta uma preocupação constante do CFP -
Conselho Federal de Psicologia (Resolução Nº 009 /2018). Dados auferidos destes
recursos precisam ser interpretados à luz de um contexto socioeconômico e político
concreto. De certa forma, o critério da permanente validação e revalidação também
serve para as demais profissões que utilizam instrumentos construídos pelo engenho
humano. Não é possível que um instrumento/equipamento como o verificador de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

pressão arterial seja válido ad infinitum.


E mesmo do ponto de vista científico e clínico também é importante pensar que
a identificação de um comportamento atípico ou de escores desviantes da média nem
sempre são dados suficientemente robustos para uma conclusão. Pode ser que sejam
apenas discrepantes e precisem ser vistos com mais tolerância metodológica e agudeza
clínica. Por exemplo, sabe-se que a dislexia, uma dificuldade de linguagem, expressa na
aquisição da leitura e da escrita, pode ser sinalizada de forma falsa como deficiência
intelectual em função da baixa pontuação nos testes de medidas verbais (RODRIGUES;
MECCA; OLIVEIRA; UEIK; BUENO; MACEDO, 2014). Na dislexia, porém, a cognição não
está prejudicada ao nível de uma deficiência intelectual. O avaliador pode, por outro
lado, se confrontar com um avaliando que apresente, de fato, um QI - Cociente de
Inteligência - característico da deficiência intelectual, mas que não apresenta
repercussões prejudiciais na sua vida. E como deve proceder? Que perguntas deve fazer
ao instrumento de avaliação?
O campo subjetivo, respeitado na sua natureza singular, lembra que a anomalia,
como bem definida por Canguilhem (2002), pode ser apenas um aspecto que difere do

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
182
aaaaaaaaaaaaa padrão predominante e dominante, mas que não se configura, por si só, em uma
patologia. As diferenças, os desvios dos padrões usuais, não necessitam,
automaticamente, de patologização. Assim, não será apenas uma medida estatística que
vai definir isso, mas a forma como essa variação afeta a esfera orgânica familiar,
profissional e interna da pessoa, como também as suas respostas aos desafios da vida.
No que diz respeito aos modelos teóricos que fundamentam a atuação,
essenciais para a compreensão do humano, estes também podem ser aprimorados
permanentemente. Nessa direção, Primi (2010) pontua que a possibilidade de diálogo
entre a teoria e a prática no ato de avaliar permite a ampliação das
perspectivas teóricas, podendo também propiciar a identificação de que certas
interpretações nem sempre são adequadas para um sujeito ou grupo específico,
contribuindo assim para o desenvolvimento da ciência.

5. PALAVRA PARA FINALIZAR


O processo avaliativo é mediado por vários elementos importantes. Entre eles
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

encontramos os critérios legitimados de ordem científica, os quais prescrevem o roteiro


de passos a serem seguidos, selecionam os instrumentos e técnicas devidamente
regulamentados para medir os construtos investigados e critérios velados de natureza
subjetiva, chamados aqui de parâmetros personalizados.
Entende-se que, para além dos critérios acadêmicos acumulados nos percursos
formativos, os parâmetros personalizados também orientam o ato de avaliar e são
pautados na trajetória individual e nos referenciais coletivos partilhados pelos grupos
aos quais os avaliadores estão vinculados. Tais medidas, não impessoais, podem trazer
implicações às interpretações das informações coletadas e às conclusões emitidas nos
relatórios e laudos.
Considerando estas frestas da avaliação, o artigo buscou discutir, refletindo
como esses conteúdos humanos podem interferir nas análises conclusivas da avaliação.
Dentre eles, destacou-se a classe social, a condição econômica e o universo cultural
partilhado, por estarem subjacentes a todos os outros elencados no texto e por serem
campos que fornecem padrões específicos de normalidade e patologia particulares a um
grupo. Compreendeu-se que o estabelecimento de definições sobre inteligência e idade
certa para aquisição de habilidades, por exemplo, sem considerar a heterogeneidade de

SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
183
aaaaaaaaaaaaa oportunidades sociais e acadêmicas, acabam mascarando a singularidade dos sujeitos,
vendo patologias onde as preocupações deveriam ser voltadas, sobretudo, para
questões sociais importantes.
Considerou-se que avaliadores e avaliadoras, como categoria profissional
majoritariamente constituída por pessoas oriundas da classe média, quando avaliam
pessoas de classe socialmente vulneráveis podem estar utilizando critérios de bem-
estar, marcos de desenvolvimento, saúde e doença que não se alinham à idiossincrasia
dos processos de subjetivação oriundos de contextos marcados por privações materiais
imperativas e outras formas de se relacionar com a vida em sociedade.
Neste sentido, pensa-se que a formação acadêmica precisa cada vez mais criar
campos de aproximação entre estudantes e a população economicamente vulnerável.
Isto servirá para favorecer a comunicação, diminuir o estranhamento, reduzir a
intolerância às diferenças, bem como, em outro extremo, desbaratar a complacência
exacerbada que produz diagnósticos questionáveis. Também se deve evocar reflexões
sobre em quais dimensões subjetivas e sociais costuma-se ancorar a compreensão dos
fenômenos avaliados e como foram elaborados ao longo da vida daquele e daquela que
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ocupava função avaliativa.


As instituições universitárias precisam instigar uma postura assertiva diante de
modelos teóricos que, embora consolidados, dificilmente apresentam caráter universal.
Estimular a compreensão de que o processo avaliativo é um campo epistemológico
propício para, a partir da observação e da coleta de dados, permitir a emergência de
novas ideias. Por fim, defende-se que é urgente incentivar um direcionamento
constante à aquisição de conhecimentos científicos que possam auxiliar no manejo
destes conteúdos autorreferenciais.

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SOBRE O ATO DE AVALIAR PESSOAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O USO DE PARÂMETROS PERSONALIZADOS
NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ENVOLVENDO SERES HUMANOS
185
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XIV
TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE:
MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE
FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE
VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-14
Paulo José dos Santos de Matos ¹
Luana Brunelly Araujo de Lima ²
Rebeca Correa Rossi 2
Ana Lúcia Moreno Amor ³
¹ Bacharel em Saúde e Graduando em Enfermagem - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
² Bacharela em Saúde e Graduanda em Medicina - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
³ Bióloga. Professora Adjunto do Centro de Ciências da Saúde - UFRB
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RESUMO
As doenças infecciosas e parasitárias compreendem um conjunto de doenças
negligenciadas, de elevada prevalência e relevância no contexto da Saúde Pública no Brasil
e no mundo, possuindo associação direta com precárias condições socioambientais e
econômicas. Estratégias lúdicas e visuais para a promoção da saúde, colaboram na
construção e síntese de conhecimentos em Parasitologia Humana. Este estudo planejou e
confeccionou maquetes e esquemas ilustrativos de ciclos parasitários para apresentá-los em
feiras de saúde nos espaços comunitários e/ou escolares, a fim de trabalhar no
conhecimento do público de ação sobre profilaxia, sintomatologia e diagnóstico dos agentes
envolvidos. Inicialmente, foram feitos testes com alguns materiais, para que as maquetes
fossem resistentes e maleáveis ao constante manuseio, visto que seriam transportadas para
diversos locais para as apresentações. Optou-se por biscuit, massa de modelar e tipo cami /
tecido não tecido (TNT). Algumas informações relevantes foram trabalhadas e recebidas no
processo de interação com o público de ação em duas escolas públicas, uma instituição
federal de ensino superior, em um centro de acolhimento de crianças e em uma unidade de
saúde da família localizadas em municípios do Recôncavo da Bahia no período de 2017 a
2019. Acredita-se que o desenvolvimento e aplicabilidade deste produtos educativos,
contribuiram para a realização de ações de educação em saúde de modo que os envolvidos
no processo educativo consigam ser agentes ativos no combate ao encontro do parasito (de
veiculação hídrica, alimentar e/ou vetorial) com o hospedeiro em um ambiente. Tornando-
os agentes transformadores da realidade da qual estão inseridos.

Palavras-chave: Educação em Saúde. Tecnologia educacional. Ludicidade. Parasitologia.

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
186
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
As tecnologias em saúde podem se configurar como metodologias e
intervenções utilizadas na promoção da saúde, como também na prevenção,
tratamento e cuidado de possíveis doenças ou agravos (SANTOS; FROTA; MARTINS,
2016), ressaltando uma característica educativa inserida na mesma.
O uso da tecnologia como instrumento colaborativo na construção do
conhecimento torna-se cada vez mais necessário, pois, segundo Schall e Modena (2005),
o termo “tecnologia” refere-se a algo que, quando desenvolvido, vem no intuito de
facilitar a realização de um trabalho, bem como viabilizar o entendimento e aplicação
de uma ação. E, no caso da saúde, pode ser definida como um conhecimento aplicado
que permite a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças, e a reabilitação de
suas consequências (VIANA et al., 2011).
Nesse contexto, ressalta-se que as acentuadas mudanças sociais têm levado, de
modo cada vez mais incisivo, a discussões relacionadas à qualidade da formação dos
profissionais de saúde. As metodologias de ensino tradicionais, geralmente
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

conteudistas, que ainda são aplicadas em disciplinas de alguns cursos de graduação,


favorecem a memorização de conteúdos. No entanto, não estimulam o
desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes requeridas para o pleno
exercício da profissão (STELLA; PUCCINI, 2008).
Na tentativa de que essa atual demanda educacional e profissional, que abrange
os estudantes do pré-escolar até a pós-graduação, seja cumprida, faz-se necessário a
utilização de tecnologias para aprimorar as metodologias ativas que são voltadas à
promoção do aprendizado e não apenas da memorização dos discentes de cursos de
saúde, possibilitando, desta forma, a ampliação do senso crítico e uma maior facilidade
de acesso à informação, uma vez apreendida (DIAS-LIMA et al., 2019), podendo
colaborar na formação de outros agentes transformadores da realidade da qual estão
inseridos.
Pois, os discentes das universidades, por sua vez, tem a oportunidade de
compartilhar os conhecimentos apreendidos na academia com a comunidade, através
da Extensão Universitária, que pode ser conceituada, segundo o Plano Nacional de
Extensão Universitária (FORPROEX, 2012), como o processo de educação, científica e

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
187
aaaaaaaaaaaaa cultural que articula a Pesquisa e o Ensino, de forma interdisciplinar, indissociável e
complementar, tornando viável uma relação entre a Universidade e a Sociedade e que,
de certa forma, suscite transformações. Segundo Vicente e Souza (2016), a extensão
universitária pode ser entendida como uma forma de “ponte” entre os diversos setores
de sociedade e as instituições de ensino superior. Tais relações entre Sociedade e
Universidade funcionam como uma via de mão dupla, pois possibilitam que os discentes
levem conhecimentos e/ou algum tipo de assistência para a comunidade, sendo que,
como resultado dessa relação, ambas as partes enriquecem, de forma mútua, recíproca
e de maneira harmoniosa (VICENTE; SOUZA, 2016; FORPROEX, 2012).
O uso de novas tecnologias na construção de metodologias ativas para a
promoção do aprendizado tem sido um tema em discussão na literatura científica,
ressaltando-se, para esta finalidade, a importância da ludicidade no processo de
compartilhamento de saberes entre os discentes com a população de determinada
comunidade (ROLOFF, 2009).

A ludicidade entra neste espaço como integrador e facilitador da


aprendizagem, como um reforço positivo, que desenvolve processos sociais
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de comunicação, expressão e construção de conhecimento explorando a


criatividade (ROLOFF, 2009, pp. 01-02).

Assim, diante do exposto, relata-se a idealização, construção e aplicação de


tecnologias educativas valendo-se da ludicidade com temas em Parasitologia Humana,
para a promoção e fixação do aprendizado dos envolvidos, através de maquetes físicas
e esquemas do ciclo biológico de patógenos ou vetores ou da ação destes no organismo
humano.

2. DESENVOLVIMENTO
Trata-se de um relato de experiência, gerado a partir da construção de maquetes
e esquemas físicos com o objetivo de compartilhar os conhecimentos apreendidos na
universidade com a comunidade, após cursar os componentes curriculares Parasitologia
Humana e Biointeração II e integrar o Grupo de Estudos em Parasitologia Humana no
Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
(UFRB).
As atividades de educação em saúde, de natureza extensionista, com a utilização
dos produtos educativos produzidos, ocorreram entre os anos de 2017 e 2019. Tiveram,

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
188
aaaaaaaaaaaaa como público de ação, escolares de duas escolas públicas e crianças de um centro de
acolhimento na faixa etária de 07 a 13 anos de idade, discentes de uma instituição
federal de ensino superior, e usuários de uma unidade de saúde da família, ambientes
localizados em municípios do Recôncavo da Bahia (Brasil).
A construção das maquetes se baseou em ciclos de parasitos e vetores
prevalentes na região do Recôncavo da Bahia, com o objetivo de facilitar a compreensão
dos diversos públicos sobre o estudo destes agentes, procurando entender a
importância sobre medidas profiláticas em saúde para controle e combate dos mesmos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A primeira maquete confeccionada e apresentada foi sobre o ciclo de vida do
Aedes aegypti, inseto vetor de arbovírus que causa doenças como dengue, zika,
chikungunya e outras (FIGUEIREDO; PAIVA; MORATO, 2017). Todas as etapas do ciclo de
vida do mosquito (ovo, larva, pupa e adulto) foram feitas com massa de modelar, e os
insetos adultos (macho e fêmea) foram diferenciados por suas antenas plumosa e pilosa,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

respectivamente, feitas com pena artificial, e o tamanho da fêmea um pouco maior que
o macho. A apresentação da maquete foi feita em associação com exemplares reais do
mosquito, em que o público tinha a oportunidade de visualizar tanto os modelos da
maquete quanto os espécimes no microscópio e lupa optica. Este produto foi
apresentado nos trabalhos de Santos Junior et al. (2018).
Outras duas maquetes, em forma de esquemas sobre a ação parasitária de
protozários intestinais no organismo humano, foram confeccionadas, uma para Giardia
duodenalis (parasito do intestino delgado) (Figura 1A) e outra Entamoeba histolytica
(parasito do intestino grosso) (Figura 1B).
Os materiais utilizados para esta confecção foram: papelão e cola branca, para
ser a base; papel emborrachado para forrar a base; biscuit para representar os parasitos
em sua forma de trofozoíto e cisto, bem como as frutas e os vegetais; argila para simular
as fezes; cano de PVC e pano com microvilos para reproduzir o intestino e canetinhas,
para identificação do ciclo no esquema. Nessas maquetes esquemáticas, os ciclos de
vida dos parasitos foram representados pelo mecanismo de infecção, forma infectante,
habitat do parasito, eliminação pelo hospedeiro e contaminação do meio.

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
189
aaaaaaaaaaaaa A proposta de estudar e confeccionar as maquetes destes dois protozoários
intestinais possibilitou a ampliação da visão dos acadêmicos envolvidos como
pesquisadores e, a partir das experiências, buscar novas metodologias que fossem
eficazes para a promoção dos conhecimentos sobre a amebíase e a giardíase. Como
fruto destas pesquisas, trabalhou-se com o aplicativo Kahoot! (disponível em
www.kahoot.com) que possibilita a interação entre palestrante/docente e
ouvinte/estudante, em um jogo de perguntas e respostas, previamente elaboradas. Ele
permite que, ao final de uma aula/palestra perguntas sejam feitas sobre o assunto
ministrado, permitindo ao palestrante verificar se os conteúdos foram, de fato,
apreendidos de forma (PASSOS et al., 2021a) eficaz. Caso a taxa de erro de uma
determinada questão for maior que a de acerto, o palestrante tem a oportunidade de
fazer uma breve revisão e explicar o porquê da resposta correta, podendo, a partir daí,
avançar para as outras questões. Ao final do quiz, o aplicativo mostra um ranking com a
pontuação de cada jogador.

Figura 1 – Maquetes esquemáticas dos ciclos de vida dos parasitos Giardia duodenalis e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Entamoeba histolytica no organismo humano.

A B
Fonte: Paulo José dos Santos de Matos, Grupo de Estudos em Parasitologia Humana – GEPaH /
2017-2018.

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
190
aaaaaaaaaaaaa Além das maquetes que apresentam, de maneira didática, os ciclos biológicos de
parasitoses e vetor relevantes no contexto local, foram desenvolvidos protótipos em
biscuit de ovos, adultos e cistos de parasitos (Figura 2). Com o intuito demonstrativo, os
protótipos possibilitaram que o público de ação visualizasse a morfologia dos ovos dos
helmintos Enterobius vermicularis, Ascaris lumbricoides, Taenia sp e de Trichuris
trichiura (SANTOS JUNIOR et al., 2018); bem como, em outros modelos, formas
evolutivas dos helmintos Schistosoma mansoni, Enterobius vermicularis, Ancylostoma
duodenale, Strongyloides stercoralis e Trichuris trichiura; e dos protozoários Giardia
duodenalis, Entamoeba coli e Entamoeba histolytica (Figura 2).

Figura 2 - Protótipos em biscuit de formas evolutivas de parasitos.


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A
Fonte: Luana Brunelly Araujo de Lima - Grupo de Estudos em Parasitologia Humana – GEPaH /
2018-2019.

Com cuidado para não danificar o material, os apresentadores e participantes


das ações puderam manusear os produtos na diversas abordagens educativas nos
ambientes trabalhados, já que não estavam fixados a nenhuma estrutura. E visualizaram
exemplares por meio de microscopia ou lupa de mão (para adultos de A. lumbricoides)
(Figura 3 – A a D). Essas ações foram socializadas em algumas publicações do GEPaH
(ROSSI et al., 2017; LIMA et al., 2018; MATOS; ANASTASIOU; MORENO-AMOR, 2018;
SANTOS JUNIOR et al., 2018; MATOS et al., 2019; PASSOS et al., 2021a).
Salienta-se que a escolha dos patógenos foi em decorrência da prevalência
encontrada em algumas pesquisas do próprio grupo de estudos em municípios do

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
191
aaaaaaaaaaaaa Recôncavo da Bahia (AMOR et al., 2017; ANDRADE et al., 2018; SANTOS et al., 2019;
SANTOS et al., 2020; PASSOS et al., 2021b). Trabalhando como um feedback junto às
comunidades, colaborando na socialização de medidas de prevenção, controle e
combate aos mesmos.
Autores como Assis et al (2010), Nogueira (2016), Araújo e Campos-Velho (2013),
Santos et al. (2016), Matozinhos e Franco (2016) e Lacerda et al (2013) discutem, de
forma transversal e direta, sobre a importância do uso de metodologias ativas para a
disseminação dos conhecimentos que tangem a Parasitologia Humana para a
população, mais especificamente para escolares. Apresentam estratégias lúdicas para a
promoção do conhecimento e ressaltam que, a utilização da linguagem e de
metodologias lúdicas no ensino de Parasitologia Humana, mostrou-se efetiva, visto que,
de acordo com os resultados obtidos, o público participante conseguiu relatar que
apreendeu o conteúdo de maneira eficaz. Fato também verificado nas comunidades
trabalhadas neste relato.

Figura 3 – Abordagens educativas em Parasitologia Humana utlizando maquetes.


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A B

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
192
aaaaaaaaaaaaa C D

Fonte: Grupo de Estudos em Parasitologia Humana – GEPaH / 2017-2019.


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

As ações educativas em Parasitologia Humana, alimentam o arcabouço de


conhecimentos também dos acadêmicos envolvidos, de modo que possa utilizá-lo em
suas formações, especialmente para graduações da área de saúde. Colaborando assim
na orientação de comunidades e de pacientes quanto às medidas de prevenção a
parasitos patogênicos, preferencialmente aos mais endêmicos no município de trabalho
do profissional. Demonstrando para a população de trabalho que, ações de higiene
(alimentar, pessoal, ambiental), podem surtir efeitos positivos no que tange ao combate
a tríade epidemiológica da infecção, evitando com isso o encontro do parasito com o
hospedeiro no ambiente.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de maquetes para apresentação do ciclo de vida de parasitos e
vetores demonstraram bastante efetividade ao instigar a curiosidade do público de ação
trabalhado. O uso de instrumentos lúdicos e o diálogo para a educação em saúde
mostraram resultados efetivos com esse público, além de ter apresentado eficácia no

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
193
aaaaaaaaaaaaa ensino-aprendizagem de conteúdos da Parasitologia Humana. Principalmente o público
infantojuvenil, ao participar da visualização das maquetes, mostrou-se atento e
participativo quanto à explanação das questões sobre prevenção aos agentes
parasitários e insetos vetores de patógenos.
Pode-se observar que as ações extensionistas voltadas para educação em saúde
precisam utilizar de ferramentas que permitam a inserção do sujeito no processo de
ensino – aprendizagem. Desse modo, é de suma importância investir na formação
extensionista de estudantes da área da saúde, para que, tanto na graduação quanto na
atuação profissional, sejam atores de ações de educação em saúde de qualidade para
uma efetiva promoção da saúde junto às comunidades trabalhadas.

AGRADECIMENTOS
À Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Criação e Inovação (PPGCI) e à Pró-
Reitoria de Extensão (PIBEX) da UFRB, pela inserção dos discentes nos Programas
Institucionais de Iniciação Científica (PIBIC)/Tecnológica (PIBITI) e de Extensão (PIBEX),
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

respectivamente, permitindo-os participar da criação, desenvolvimento e aplicação de


produtos educativos em comunidades diversas.
Aos demais membros do Grupo de Estudos em Parasitologia Humana (GEPaH) e
às comunidades que gentilmente aceitaram participar das ações de pesquisa e
extensionistas.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

TECNOLOGIA EDUCATIVA EM SAÚDE: MAQUETES ESQUEMÁTICAS DE FORMAS PARASITÁRIAS E CICLOS DE


VIDA DE PATÓGENOS E VETORES
198
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XV
TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM
SAÚDE E SEU PAPEL
TRANSFORMADOR NO ENSINO DE
ENFERMAGEM
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-15
Brenda Cardoso Arruda Ferreira ¹
Thaís Araújo Vianna ¹
Mariana Keller Campos Lima ²
Yasmim Souza Rodrigues ¹
Jamile Santana Dos Santos Barbosa ¹
Sandra Conceição Ribeiro Chícharo ³
Alex Coelho da Silva Duarte 4
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

¹ Graduanda do curso de Enfermagem. Universidade Castelo Branco/Ucb – Brasil


² Enfermeira, Pós graduada em Saúde da Família pela Universidade Estácio de Sá; Docente do curso técnico de
enfermagem do CAP Paulo Gissoni da UCB. Rio de Janeiro, RJ – Brasil
³ Enfermeira, doutoranda em ciências do cuidado a saúde, mestre em ensino na Saúde pela UFF, especialista em
terapia intensiva e docência do ensino superior – Brasil
4 Graduação em Enfermagem pelo Centro Universitário Universus Veritas – (UNIVERITAS) – Brasil

RESUMO
Objetivos: Analisar o papel das tecnologias educacionais para enfermagem.
Metodologia: Trata-se de um estudo de revisão integrativa, descritiva de literatura nas
bases de dados. Resultados: Vista ainda como método instrucional por alguns e como
tecnologia educacional por outros, a alfabetização científica tem ganhado seu espaço,
por ter cada pessoa uma habilidade de aprender diferenciada, de acordo com seus
conhecimentos prévios, motivação e inteligibilidade. Conclusão: A EAD propõe um
ensino que facilite o processo de aprendizagem para um número massivo de alunos,
auxiliando a autonomia, numa comunicação bidirecional entre professores e alunos,
utilizando recursos tecnológicos atuais, numa proposta metodológica diferenciada.

Palavras-chave: Ensino a distância; educação; enfermagem em saúde comunitária

Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem 199


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O ensino à distância surge da necessidade do aprimoramento profissional de
massa; que por motivos diversos não poderiam estar presentes em instituições de
ensino. O tutor é visto como mediador, estabelecendo uma rede de comunicação a ser
percorrida pelo aluno, este por sua vez deverá ser disciplinado e motivado para que
supere as dificuldades, tendo como fruto de seu esforço e dedicação o aprendizado
desejado1.
Assim, na primeira década do século XXI observa-se, não somente uma expansão
das iniciativas em educação à distância (EAD) na área da enfermagem promovidas pelas
instituições de ensino superior para diferente públicos, mas também a utilização da
informática nas disciplinas presenciais. Esses fatos são evidenciados pelo
desenvolvimento de cursos online mediados por ambiente virtuais de aprendizagem,
pela criação de disciplinas na modalidade a distância e de objetos educacionais digitais
em diferentes contextos do ensino de enfermagem2.
O ensino de habilidade na área de enfermagem está em constante
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

aperfeiçoamento devido a complexidade do processo de cuidar, devendo ser


fundamentado em evidências integrando conhecimentos teóricos com a realização de
práticas. Da mesma forma as atividades curriculares não podem cuidar descuidar da
segurança do paciente nos ambientes de cuidado e do estudante inserido no campo de
prática3.
O processo de integração das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação
(TDIC) em contextos educativos tem oferecido diferentes possibilidades para recriar
espaços de aprendizagem a partir de recursos inovadores que promovem a participação
ativa do educando. Essas tecnologias assumem um papel de destaque quando
instituídas para a produção e a difusão de informações, além de contribuírem para o
desenvolvimento de novas formas de aprender e adquirir conhecimento e habilidades
no ensino e nas práticas de saúde4.
Distanciando-se do que se compreende por um conhecimento centrado na cura,
para assumir um propósito de produção de saberes integrado, o ensino de Enfermagem
perpassa pela reflexão sobre novas mudanças nas práticas pedagógicas, no

Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem 200


aaaaaaaaaaaaa (re)direcionamento e domínio de habilidades que incluam o uso educativo de novas
tecnologias de informação e comunicação5.
O desafio de transpor este interesse de transformação do modelo
assistencial é encorajado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), que orientam a
formação para atender aos princípios instituídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS)6.
Dessa forma, destaca-se a necessidade de aprofundar os estudos sobre a
integração das TDIC no ensino de Enfermagem, uma vez que esses recursos podem
potencializar novas mudanças na formação profissional. Com isso, objetiva-se analisar a
produção científica sobre a integração das TDIC no processo de ensino-aprendizagem
na graduação em Enfermagem.
Educação é conceituada como a ação de desenvolver as faculdades psíquicas,
intelectuais e morais, sendo que o resultado dessa ação é o conhecimento e a prática
dos hábitos sociais, boas maneiras7.
Educação também pode ser definida como uma fração da experiência de cultura
de si próprio. Está presente sempre que há relações entre pessoas e intenções de
ensino-aprendizagem. Acontece em variados ambientes, inclusive fora da escola, já que,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

por toda parte, há redes e estruturas sociais de transmissão de saber de uma geração a
outra8.

2. MÉTODO
Trata-se de um estudo de revisão integrativa, descritiva de literatura nas bases
de dados, sendo um método de pesquisa que permite a síntese de múltiplos estudos
publicados e possibilita conclusões gerais a respeito de uma área de estudo bem
definida. Para a seleção inicial dos artigos encontrados, foi realizada uma análise de
todos os textos disponíveis, a fim de separá-los para uma análise.
A revisão integrativa, finalmente, é a mais ampla abordagem metodológica
referente às revisões, permitindo a inclusão de estudos experimentais e não-
experimentais para uma compreensão completa do fenômeno analisado. Combina
também dados da literatura teórica e empírica, além de incorporar um vasto leque de
propósitos: definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, e análise de
problemas metodológicos de um tópico particular. A ampla amostra, em conjunto com

Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem 201


aaaaaaaaaaaaa a multiplicidade de propostas, deve gerar um panorama consistente e compreensível de
conceitos complexos, teorias ou problemas de saúde relevantes para a enfermagem9.
A busca efetuou-se, através da Plataforma da Biblioteca Virtual em Saúde - BVS,
utilizando as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE),
Base de Dados de Enfermagem (BDENF), e por meio do Portal Google Acadêmico. Após
isso, os textos foram dispostos em quadros, para que fosse possível organizar os artigos
obtidos em cada base, e as publicações duplicadas foram eliminadas de uma delas,
sendo consideradas as que disponibilizavam o texto completo. Após a pré-seleção dos
artigos, por meio da leitura flutuante, uma segunda análise foi realizada, através da
leitura minuciosa das publicações selecionadas, para definir a inclusão e a exclusão
dessas produções de acordo com critérios preestabelecidos.

3. RESULTADO E DISCUSSÃO
Inicialmente foram filtrados e selecionados no total de 26 artigos, disponíveis na
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

íntegra, nos idiomas inglês e português, publicados a partir do ano de 2015. Entretanto,
3 encontravam-se duplicados e 14 foram excluídos pelo título e resumo, por não
contemplarem a revisão proposta. Portanto, foram selecionados nesta presente revisão
um total de 9 artigos.
Diante do exposto, mostra-se a importância do uso de novas ferramentas na
educação em saúde da população e como tecnologias educacionais podem ser eficazes
nesse processo. Com o estudo, evidencia-se a importância do conhecimento do público-
alvo ao qual se almeja atingir, independente de qual seja o tipo de TE que se pretende
abordar. Esse conhecimento proporciona uma maior interação com esse público e
aborda o conteúdo educativo de acordo com a realidade, sem correr o risco de que o
material se torne “fora de alcance” para esse público10.

Contribuições para a área da enfermagem


O conceito de Tecnologias Cuidativo-Educacionais, por meio do processo de
cuidar-educar e educar-cuidar, demonstrou possibilidades de potencializar a autonomia
e o empoderamento de quem a(s) utiliza e a(s) recebe. Dessa forma, permitiu o

Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem 202


aaaaaaaaaaaaa autocuidado e o autogerenciar do cuidar-educar no cotidiano do serviço em âmbito
hospitalar11.
A incorporação de novas tecnologias acarreta novas demandas, muitas vezes
aumentando a intensidade do trabalho, requisitando a multidisciplinaridade do
conhecimento e trabalhadores com especialidades diversas e complementares. O
processo de inovação é complexo, não linear, incerto e requer interação entre os
profissionais, instituições e gestores12.
A inovação tecnológica, quando usada em favor da saúde contribui, diretamente
com a qualidade, eficácia, efetividade e segurança do cuidado, ou seja, quando utilizada
de maneira adequada cria condições que contribuem para um viver saudável entre os
indivíduos que na sociedade são produtos e produtores. Assim acredita-se que há
espaço para a tecnologia e o cuidado ético/humanizado13.
A enfermagem, a partir da sua evolução, enquanto disciplina prática, com vistas
a construção de teorias, define e (inter) relaciona conceitos fundamentais, os quais
constituem um conjunto de conhecimentos próprios, capazes de estabelecê-la como
ciência do cuidar, educar e gerenciar suas práticas. Nas últimas décadas, tem-se
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

percebido um processo crescente na produção de estudos com foco no


desenvolvimento de conceitos para fins de subsidiar a atuação da Enfermagem e demais
profissões da área da Saúde. Os pesquisadores têm voltado olhares para revelar
situações cotidianas que anteriormente eram compreendidas como senso comum. Essa
dinâmica ocorre devido a determinados conceitos, que embora pareçam claros,
apresentam terminologia imprecisa, confusa e com inconsistência de definições com as
teorias14.
A TCE se apresenta como uma possibilidade inovadora de conceber/justificar
produtos e processos tecnológicos desenvolvidos, validados e/ou utilizados, sob uma
perspectiva que transcenda meramente sua concepção como tecnologias educacionais
ou assistenciais de modo isolado, ou seja, sem que haja a inter-relação entre o cuidar-
educar. Assim, uma TCE desvela-se no momento em que o ser humano manifesta níveis
de consciências durante sua práxis profissional15.

Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem 203


aaaaaaaaaaaaa
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho tem como objetivo analisar o papel das tecnologias educacionais para
enfermagem. A temática deste artigo que trata de “Tecnologias em Saúde e
Enfermagem” nos impulsiona a refletir sobre as influências da tecnologia sobre o
desenvolvimento da humanidade. Longe de esgotarmos o assunto, busca-se neste
contexto, entender que a tecnologia é importante para a saúde porque tem implicações
para interpretar a história, a prática contemporânea e o futuro das profissões e,
sobretudo porque influencia as ações e as concepções.
A tecnologia revela a maneira como as pessoas lidam com a natureza e cria as
condições de intercurso com as quais nos relacionamos uns com os outros. As novas
tecnologias, presentes nos momentos da vida das pessoas alteram a estrutura de seus
interesses, ou seja, as coisas sobre as quais se pensa; alteram o caráter dos símbolos,
isto é, as coisas com que pensamos e alteram, porque não dizer, a natureza da
comunidade, ou seja, a arena na qual os pensamentos se desenvolvem. Portanto, é
também um erro definir a tecnologia apenas como instrumentos e técnicas ou associá-
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

la a compreensão de superioridade, especialização e profissionalismo16.


Ao se refletir sobre o impacto da tecnologia na prática de enfermagem
precisaremos compreender que é crucial um equilíbrio entre a tecnologia e a presença
verdadeira da(o) enfermeira(o) para assegurar o papel da enfermagem no sistema de
cuidado em saúde16. Ou seja, o que determina se uma tecnologia desumaniza ou
despersonaliza ou objetifica o cuidado de enfermagem não é a tecnologia por si só, mas
principalmente como as tecnologias operam nos contextos das pessoas; quais são os
significados a elas atribuídos; como um indivíduo ou um grupo cultural define o que é
humano; e o que o potencial da técnica enfatiza, a ordem racional ou a eficiência. Assim
como a tecnologia, o cuidado humano é uma realidade construída socialmente. O poder
que qualquer tecnologia exerce deriva de como ela atua em uma dada situação e de sua
significância.

REFERÊNCIAS
1
Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário oficial da união [Internet]. Brasília, DF; 1996 [acesso em
19 Jul 2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm

Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem 204


aaaaaaaaaaaaa
2
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https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/109037/000916659.pdf?sequence=
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3
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4
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enfermagem. In Congresso Internacional de Educação e Tecnologias: Encontro de
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Enfermagem: revisão integrativa de literatura. J. R. pesq. cuid. fundam [Internet].
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https://doi.org/10.9789/2175-5361.2017.v9i1.265-272

6
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percepção sobre a formação pedagógica. Rev Recien [Internet]. 2018 [acesso em: 15
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

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3088.2018.8.24.42-53

7
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Positivo; 2010.

8
Gadotti, M. Educação popular, educação social, educação comunitária: conceitos e práticas
diversas, cimentadas por uma causa comum. In Revista Diálogos: pesquisa em
extensão universitária[online]. In IV Congresso Internacional de Pedagogia Social:
domínio epistemológico. Brasília. 2012 [citado em 13 Jul 2021] 18(1). 10-32.
Disponível em:
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RDL/article/view/3909/2386

9
Bastable SB. O enfermeiro como educador: princípios de ensino-aprendizagem para a
prática de enfermagem.3 ed. Porto alegre Artmed; 2010.

10
Lanzoni GM, Magalhães AL, Costa VT, Erdmann AL, Andrade SR, Meirelles BH. Tornando-
se gerente de enfermagem na imbricada e complexa fronteira das dimensões
assistencial e gerencial. Rev. Eletr. Enferm. [Internet]. 2015 [acesso em: 19 Jul 2021];
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11
Salbego C, Nietsche EA, Teixeira E, Girardon-Perlini NM, Wild CF, Ilha S. Tecnologias
cuidativo-educacionais: um conceito emergente da práxis de enfermeiros em
contexto hospitalar. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [acesso em: 19 Jul 2021]; 71
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Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem 205


aaaaaaaaaaaaa
12
Salvador PT, Oliveira RK, Costa TD, Santos VE, Tourinho FS. Tecnologia e inovação para o
cuidado em enfermagem. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2012 [acesso em: 19 Jul 2021]
20(1): 111-17. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0753

13
Teixeira AC, Barbieri-Figueiredo MC. Empoderamento e satisfação profissional em
Enfermagem: uma revisão integrativa, em consonância com a Teoria Estrutural. Rev
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http://dx.doi.org/10.12707/RIV14024

14
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percepção sobre a formação pedagógica. Rev Recien [Internet]. 2018 [acesso em: 19
Jul 2021] 8 (24); 42-53. Disponível em: http:// doi.org/10.24276/rrecien2358-
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16
Sabino LM, Brasil DR, Caetano JA, Santos MC, Alves MD. Uso de tecnologia leve-dura nas
práticas de enfermagem: análise de conceito. Aquichan [Internet]. 2016 [acesso em:
19 julho de 2021]; 16(2): 230-39. Disponível em:
https://doi.org/10.5294/aqui.2016.16.2.10
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

17
Santos JB, Araújo EJ. A educação do campo no campo da educação popular. Rev. Ed.
Popular [Internet]. 2020 [acesso em: 19 Jul 2021];18(3):56-3. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/reveducpop/article/view/48761 .

18
Bauli RA, Müller VR. (2020). Educador social no Brasil: normatização e profissionalização.
Convergencias [Internet]. 2019 [citado 19 de julio de 2021];2(4):153-71. Disponible
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19
McCutcheon K, Lohan M, Traynor M, Martin D. A systematic review evaluating the impact
of online or blended learning vs. face-to-face learning of clinical skills in
undergraduate nurse education. J Adv Nurs [Internet]. 2015 [cited 2021 Jul 19];
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20
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https://doi.org/10.1590/1983-1447.2017.02.66204

Tecnologias educacionais em saúde e seu papel transformador no ensino de enfermagem 206


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XVI
USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS
GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA
SAÚDE
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-16
João Vitor Andrade 1
Juliana Cristina Martins de Souza 1
Fabíola Maria dos Santos 2
Beatriz de Frias Leite 3
Cecília Pena Macário Condack 3
Alessandra Santos da Fonseca 4
¹ Enfermeiro (a). Especialista em Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica. Universidade de São Paulo - USP.
² Graduanda em Farmácia. Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL.
³ Graduanda em Farmácia. Universidade Federal do Rio de Janeiro (Campus Macaé) - UFRJ.
4 Graduanda em Enfermagem. Universidade Paulista - UNIP.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RESUMO
O presente estudo tem por objetivo analisar a literatura cientifica sobre as metodologias
ativas de ensino utilizadas em graduações das ciências da saúde no Brasil. Constitui-se
em uma revisão narrativa de literatura nas bases Portal CAPES, BVS e Google Scholar. As
metodologias ativas contribuem positivamente para a consolidação do paradigma
critico-reflexivo, visto que se centram na figura do aluno. E no presente estudo, foi
identificado que nos 14 cursos das ciências da saúde no Brasil há a utilização de
metodologias ativas, sendo relatadas 15 metodologias ativas diferentes, aplicadas a
estes cursos. Ou seja, o conhecimento referente as metodologias ativas tem sido
replicados. Demarca-se que as diferentes metodologias ativas de ensino, aprendizagem
e avaliação desempenham um papel de destaque na mudança do paradigma do ensino
universitário, sendo imprescindíveis para tal. Por fim, novas pesquisas são necessárias a
fim de aprimorar o conhecimento científico sobre metodologias ativas como parte do
processo de ensino e aprendizagem no ensino superior.

Palavras-chave: Ensino. Ciências da Saúde. Educação. Metodologias Ativas. Método de


Ensino.

USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 207


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade há uma ampla discussão sobre a necessidade de
mudanças no paradigma do ensino universitário técnico-positivista para o crítico-
reflexivo (ROGET; SERÉS, 2014; COTTA; COSTA, 2016). “Essas mudanças requerem uma
profunda transformação epistemológica e metodológica, de cunho humanístico,
mediada por processos formativos da pessoa para além de resultados e produtos”
(COTTA; COSTA, 2016, p.16). O desafio que se evidencia é a busca de novos projetos
educacionais que tenham como objetivo a aprendizagem significativa, a partir do
desenvolvimento de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) dos alunos,
capacitando-os para as diferentes demandas da sociedade atual. Assim, as diferentes
metodologias ativas de ensino, aprendizagem e avaliação desempenham um papel de
destaque nesta mudança (ANDRADE et al., 2020).
Brown e Glasner (2010), descrevem a importância do professor diversificar os
métodos, permitindo assim que os alunos exerçam aquelas competências que já estão
presentes, bem como aquelas que não têm facilidade. A diversidade entre os métodos,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

procuram atingir as diversas dimensões dos sujeitos (ZABALZA, 2009). Sinaliza-se que
mesmo com as múltiplas discussões em relação ao supra referido, ainda é escassa a
literatura em relação à eficácia das metodologias ativas no ensino em ciências da saúde.
Ademais, tal eficácia é questionada por defensores das metodologias tradicionais
(COTTA et al., 2018).
Ante ao explicitado, o tema do presente estudo são as metodologias ativas de
ensino utilizadas em graduações das ciências da saúde, e o problema em estudo é como
tais metodologias têm sido utilizadas na formação de futuros profissionais da área da
saúde, sobretudo para desenvolvimento técnico e crítico destes profissionais.
O estudo em questão tem como hipóteses, que as diferentes metodologias ativas
de ensino, aprendizagem e avaliação desempenham um papel de destaque nesta
mudança do paradigma do ensino universitário, sendo ferramentas imprescindíveis para
tal, visto que proporcionam o estímulo ao exercício da autonomia, do espírito crítico,
reflexivo e criativo, bem como da corresponsabilidade e autoavaliação por parte alunos
(ANDRADE et al., 2020). Sendo, portanto, bastante utilizadas nos mais diversos cenários
de ensino nas graduações de ciências da saúde no Brasil e no mundo.

USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 208


aaaaaaaaaaaaa Ante ao explicitado o presente estudo tem por objetivo geral, analisar a literatura
cientifica sobre as metodologias ativas de ensino utilizadas em graduações das ciências
da saúde no Brasil. E como específicos, conhecer as metodologias ativas utilizadas nas
graduações em ciências da saúde e mapear as competências desenvolvidas através
destas metodologias.
Estudos como o presente, reúnem diversos dados e informações a partir de
estudos já existentes, e assim, serve de base para incorporar a construção cientifica de
determinado tema (LAKATOS; MARCONI, 2003). Ademais, contribuem no fomento dos
debates de determinadas temáticas, colaborando na aquisição, garimpo e atualização
do conhecimento. Sendo amplo e apropriado para descrever e discutir o
desenvolvimento, explicitando o ‘estado da arte’ do assunto em questão, a partir de um
ponto de vista teórico-conceitual (ÂNIMA EDUCAÇÃO, 2014; GOSSENHEIMER;
CARNEIRO; CASTRO, 2015).

2. MÉTODO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

O presente estudo constitui-se em uma revisão de literatura do tipo narrativa.


Para a busca bibliográfica utilizou-se os Descritor em Ciências da Saúde (DeCS): “Ensino”,
“Ciências da Saúde” e “Educação”, e as palavras-chaves “Metodologias Ativas”,
“Método de Ensino” e “Métodos Ativos de Ensino Aprendizagem”, sendo esses inseridos
na biblioteca do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Portal CAPES), na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e no Google
Scholar. A seleção dos estudos se deu pela leitura dos títulos e resumos para pré-definir
quais seriam incluídos e excluídos da pesquisa e posteriormente, dos textos na íntegra
de todos os estudos selecionados. Buscou-se os DeCS no título, resumo ou corpo de
estudos, sem recorte de período temporal no tocante a publicação desses estudos.
Nesse sentido, definiu-se que seriam incluídas produções disponíveis na íntegra, nos
idiomas português, inglês e espanhol, artigos e livros permitam uma melhor coerência
com a temática desenvolvida nesta pesquisa. Foram excluídas publicações que não
explanavam sobre “o uso de metodologias ativas em graduações das ciências da saúde
no Brasil” e que não tinham relação com o foco do presente estudo.

USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 209


aaaaaaaaaaaaa
3. RESULTADOS
Tipos de Metodologias Ativas
Ratifica-se que repensar a formação não é somente querer que professores
mudem a forma de lecionar e sim, pressupor o fortalecimento do movimento que
envolve propostas que vão desde uma reforma curricular, com consequentes
modificações dos projetos pedagógicos de cursos, até um plano da inovação de uma
disciplina ou conteúdo curricular, uma vez que ambos podem contribuir para a
transformação do processo de ensino aprendizagem na Saúde (CARVALHO et al., 2016;
MOREIRA et al., 2021; SOARES et al., 2021). Pontua-se que o supra referido é o que
impede o avanço da educação nas graduações em ciências da saúde no Brasil, visto que
por meio do ensino tradicional, os alunos simplesmente aprendem a replicar técnicas e
não a serem críticos e compreenderem o que está por trás de se realizar ou não um
procedimento.
Existem múltiplas metodologias ativas, e estas, possuem diferentes finalidades,
assim, tem-se a descrição dos dados encontrados na presente pesquisa, onde as
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

metodologias ativas foram empregadas em cursos da área da saúde, com a finalidade


de desenvolver competências, expostas na Tabela 1.
Tabela 1 - Metodologias ativas utilizadas em graduações das Ciências da Saúde no Brasil, 2021
AUTOR(ES) METODOLOGIA COMPETÊNCIA
ESTUDO CURSO
ANO UTILIZADA DESENVOLVIDA
Quebrando o
tabu: a
realização de ANDRADE; ARAÚJO;
Dialógica; Reflexão e Critica;
um workshop SOUZA Enfermagem
Problematização Análise da Realidade
sobre 2019
prevenção do
suicídio
Desejos ante a
Enfermagem;
inexorável ANDRADE; LINS;
Medicina; Problematização Análise da Realidade
finitude: antes MENDONÇA
Nutrição; e Reflexão
de morrer eu 2021
Psicologia
quero...
Crítica;
Júri simulado
Comunicação;
como método COTTA; FERREIRA;
Enfermagem; Capacidade de
ativo de ensino, ANDRADE, Júri simulado
Nutrição Argumentação;
aprendizagem e 2018
Tomada de Decisão e
avaliação
Trabalho em Equipe
La efectividad Análise da Realidade;
COTTA et al. Enfermagem; Portfólio
del proceso de Crítica e Trabalho em
2018 Nutrição Reflexivo
enseñanza, Equipe

USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 210


aaaaaaaaaaaaa ESTUDO
AUTOR(ES)
CURSO
METODOLOGIA COMPETÊNCIA
ANO UTILIZADA DESENVOLVIDA
aprendizaje y
evaluación del
Portafolio
Reflexivo versus
el Método
Tradicional
según la
percepción de
los estudiantes
Construindo-se
terapeuta
ocupacional no
grupo de JOAQUIM; Grupo de Análise da Realidade;
Terapia
reflexão da MARCOLINO; CID, Reflexão da Crítica e Aquisição de
Ocupacional
prática: um 2017 Prática Experiências
espaço para
ação-reflexão-
ação
Mind map
physio game:
uma proposta
de gamificação
no ensino Solidificação de
MOREIRA et al. Mind Map Physio
remoto de um Fisioterapia Conhecimentos e
2021 Game
curso de Reflexão.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

fisioterapia
durante a
pandemia da
covid-19
Gincana
anatômica -
Solidificação de
metodologia
Conhecimentos;
ativa no ensino- SOARES et al. Medicina Gincana
Revisão de Conteúdo
aprendizagem 2021 Veterinária Anatômica
e Trabalho em
da Medicina
Equipe
Veterinária:
relato de caso
Estudo
comparativo da
metodologia
ativa “gincana” Solidificação de
GOSSENHEIMER;
nas Conhecimentos;
CARNEIRO;
modalidades Farmácia Gincana Revisão de Conteúdo
CASTRO,
presencial e e Trabalho em
2015
à distância Equipe
em curso de
graduação de
Farmácia
Relatório final
de estágio
Solidificação de
supervisionado
Relatório de Conhecimentos;
i e ii no centro SOUZA, 2019 Serviço Social
Estágio Revisão de Conteúdo
de referência da
e Reflexão
assistência
social (CRAS)

USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 211


aaaaaaaaaaaaa ESTUDO
AUTOR(ES)
CURSO
METODOLOGIA COMPETÊNCIA
ANO UTILIZADA DESENVOLVIDA
A utilização de
jogos didáticos
como estratégia Solidificação de
ACRANI et al
de Biologia Jogos Didáticos Conhecimentos e
2020
aprendizagem Revisão de Conteúdo
no ensino de
biologia
Espiral
construtivista
em cursos de Aquisição e
graduação em OLIVEIRA; DAMICO; Educação Espiral Solidificação de
educação física: FRAGA, 2018 Física Construtivista Conhecimentos;
ensinando Revisão de Conteúdo
sobre o Sistema
Único de Saúde
Aprendizagem
baseada em
problemas e
COMPARSI; KAIM; Aprendizagem
projetos na Reflexão e Critica;
ANTUNES, Biomedicina Baseada em
formação em Análise da Realidade
2019 Problemas
saúde da
faculdade CNEC
Santo Ângelo
Aprendizagem
Baseada em Solidificação de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Equipes na Aprendizagem Conhecimentos;


NASCIMENTO et al.
Fonoaudiologia: Fonoaudiologia Baseada em Revisão de Conteúdo
2019
experiência na Equipes e Trabalho em
formação em Equipe
Saúde Coletiva
Recursos de
gamificação e
materiais
manipulativos
como proposta Aquisição e
Gamificação e
de metodologia MARANHÃO; REIS, Solidificação de
Odontologia Materiais
ativa para 2019 Conhecimentos;
Manipulativos
motivação e Revisão de Conteúdo
aprendizagem
no curso de
graduação em
odontologia
Fonte: Autoria própria.

Ressalta-se que o objetivo do presente estudo não foi esgotar o conhecimento


sobre metodologias ativas no tocante às ciências da saúde e sim, relatar o estado da arte
sobre o assunto, nesta perspectiva, demarca-se que se teve êxito, visto que se tem
detalhado na Tabela 1, os 14 cursos das ciências da saúde no Brasil e 15 metodologias
ativas diferentes, aplicadas a estes cursos. Ou seja, o conhecimento referente as
metodologias ativas tem sido replicados e a literatura científica tem sido alimentada

USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 212


aaaaaaaaaaaaa pelos diferentes cursos da área da saúde, destaca-se ainda, que 100% dos estudos são
recentes, sendo o mais antigo, publicado em 2015.
Salienta-se também sobre a necessidade de mudanças nos currículos
estruturados desde o início das graduações, deixando de contemplarem o paradigma
técnico-positivista, tornando-se currículos inovadores projetados a partir do paradigma
crítico-reflexivo, sobretudo por ser uma necessidade urgente da sociedade do
conhecimento atual (ANDRADE; ARAÚJO; SOUZA, 2019; ANDRADE; LINS; MENDONÇA,
2021). Ademais, é importante pensar que os currículos devem ter enfoque em processos
formativos de pessoas com participação ativa, crítica, reflexiva e comprometida com a
sociedade (com responsabilidade social além da competência técnica) (COMPARSI;
KAIM; ANTUNES, 2019; NASCIMENTO et al., 2019; MARANHÃO; REIS, 2019).

Metodologias Ativas
Ao longo da história a educação passou por significativas mudanças, destacando-
se a mudança de paradigma do ensino universitário, onde se tem uma nova dinâmica
entre educador e educando (ANDRADE et al., 2020; SOUZA, 2019; ACRANI et al., 2020).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Destaca-se que nessa nova perspectiva o educando assume uma postura ativa, sendo o
principal responsável pela construção de seu conhecimento, enquanto o educador atua
único e exclusivamente como facilitador desse processo (FARIAS, MARTIN e CRISTO,
2015; OLIVEIRA; DAMICO; FRAGA, 2018).
Nesta perspectiva, as metodologias ativas contribuem positivamente para a
consolidação do paradigma critico-reflexivo, visto que se centram na figura do aluno, o
colocando como protagonista do processo de ensino-aprendizagem. Santos e
colaboradores (2017) afirmam que as metodologias ativas possibilitam a aprendizagem
a partir das experiências reais ou simuladas, oportunizando conhecimento para que no
futuro os profissionais possam solucionar, com êxito, desafios advindos da prática
profissional e social nos mais diversos contextos e situações. Pontua-se que por meio
das metodologias ativas o aluno observa, reflete, compara, infere, comenta e crítica e
não apenas ouve aulas expositivas, quase sempre monologadas ao invés de dialogadas
(COTTA et al., 2018; ANDRADE et al., 2020).
Indubitavelmente um maiores desafios do Ensino Superior nas Ciências da
Saúde, na atualidade, é formar profissionais aptos a enfrentar mudanças, seja no campo

USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 213


aaaaaaaaaaaaa tecnológico, científico e social, uma vez que estes estão em constante mudança e
exigem, por conseguinte, capacidade contínua de adaptação e aperfeiçoamento das
novas formas de trabalho e vida (JOAQUIM; MARCOLINO; CID, 2017; FINI, 2018;
ANDRADE et al., 2020). Diante disso, percebe-se que a formação profissional deve estar
pautada numa metodologia libertadora e não em métodos restritos a memorização de
conteúdo. Pontua-se ainda, que a formação profissional em saúde representa uma das
mais importantes fontes de possibilidade de implantação de um modelo contra
hegemônico de atenção e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), em termos de
princípios e diretrizes (CARVALHO et al., 2016; COTTA; FERREIRA; ANDRADE, 2018;
ANDRADE et al., 2020).
Demarca-se que as profissões de nível superior da área da saúde, reconhecidos
no Brasil são: serviço social, biologia, biomedicina, educação física, enfermagem,
farmácia, fisioterapia; fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição,
odontologia, psicologia e terapia ocupacional, sendo importante conhecer e mapear as
metodologias ativas que têm sido utilizadas na formação de profissionais nas áreas
supra referidas.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Assim, dentre outras competências e habilidades específicas de cada uma destas


profissões da saúde, o Conselho Nacional de Saúde define, em linhas gerais, que o
profissional deverá estar apto à resolução de problemas de saúde, tanto em nível
individual como coletivo; a tomar decisões apropriadas; ao exercício da liderança, da
administração e do gerenciamento. Neste sentido, as metodologias ativas podem ser
compreendidas como um modelo de formação profissional que viabiliza a formação de
um profissional com um perfil mais condizente com os princípios e necessidades da atual
política de saúde (BRASIL, 2001; MESQUITA, MENESES E RAMOS, 2016; ANDRADE et al.,
2020).
O presente estudo, estudo apresenta subsídios importantes para tal discussão,
esta discussão. Por fim, sugere-se que novos estudos sejam realizados com o objetivo
de investigar o papel das metodologias ativas e crítico-reflexivas na formação de alunos
em profissionalização, ou seja, em que medida os alunos formados no paradigma crítico-
reflexivo são capazes de enfrentar a complexidade e os problemas de natureza prática
no cotidiano. Além de estudos que mapeiem as metodologias ativas mais efetivas no
desenvolvimento das competências (conhecimento, habilidades e atitudes).

USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 214


aaaaaaaaaaaaa
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De fato, as diferentes metodologias ativas de ensino, aprendizagem e avaliação
desempenham um papel de destaque na mudança do paradigma do ensino
universitário, sendo imprescindíveis para tal. Proporcionando o estímulo ao exercício da
autonomia, do espírito crítico, reflexivo e criativo, bem como da corresponsabilidade e
autoavaliação por parte alunos. Ademais, são amplamente utilizadas nas graduações em
ciências da saúde no Brasil, visando o desenvolvimento de competências.
Por fim, novas pesquisas são necessárias a fim de aprimorar o conhecimento
científico sobre metodologias ativas como parte do processo de ensino e aprendizagem
no ensino superior.

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USO DE METODOLOGIAS ATIVAS NAS GRADUAÇÕES DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE 217


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XVII
A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE
CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO
DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-17
Etienne Sá Rodrigues ¹
Ozivan Amorim Martins 1
Johny Adrian Rodrigues Nascimento Oliveira 1
Wendel Vitor Pereira Durans 1
Celciane Oliveira da Silva 1
Vitor Rogerio Sarges 2
¹ Graduação em Biomedicina. Faculdade UNINASSAU
2 Graduação em Biologia. Universidade Federal do Maranhão - UFMA

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Segundo dados do Ministério da Saúde o câncer de colo de útero possui o terceiro maior
índice de mortalidade no Brasil, e isso devido a falta de informação e também pela falta
de políticas voltadas as mulheres que possibilitem o recrutamento para a realização do
exame citopatológico. O presente artigo tem como objetivo discutir sobre a importância
do exame de citologia oncótica, mais conhecido como Papanicolaou, na prevenção do
câncer de colo uterino. Nos dias de hoje é uma das patologias com maior possibilidade
de diagnóstico precoce, sendo o exame de citológico um método de rastreamento
universal para câncer de colo uterino. A pesquisa em questão é de natureza qualitativa
e descritiva, onde se realizou uma revisão integrativa da literatura em livros, sites,
artigos, revistas eletrônicas nos últimos anos relacionados ao tema que deu suporte
para a realização do artigo. Sobre os resultados constatou-se que ainda existe uma
resistência pela maioria das mulheres em se submeterem ao exame de Papanicolaou,
desconsiderando a importância do exame no diagnóstico e prevenção do câncer de colo
de útero. Por meio deste estudo se espera a conscientização da população feminina
sobre a importância do exame citopatológico na prevenção contra o câncer de colo de
útero.

Palavras-chave: Exame citológico. Câncer de colo de útero. Prevenção.

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 218


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O exame de citologia oncótica também popularmente conhecido como
Papanicolaou, é considerado o melhor procedimento para detectar as primeiras lesões
que aparecem, devendo ser realizado de forma rotineira pelas mulheres entre 25 e 64
anos de idade. Contudo, fatores sociais, econômicos e comportamentais fazem com que
a adesão ao exame não seja satisfatória, o que diminui os indicadores de sobrevida
quando a doença é diagnosticada está em estágio avançado (SILVA et al., 2015).
Segundo o INCA (2020) o câncer do colo uterino se configura como o terceiro
câncer mais incidente no mundo, e a quarta causa mais frequente de morte por câncer
em mulheres, em que cerca de 570 mil casos novos por ano no mundo, sendo
responsável por 311 mil óbitos de mulheres por ano. No Brasil a principal estratégia
recomendada pelo Ministério da Saúde é detecção precoce de rastreamento de câncer
do colo do útero, por meio da realização da coleta do material para o exame
citopatológico.
Guimarães (2012) ressalta é preciso evidenciar que dentre todos os tipos de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

câncer, o câncer de colo uterino é o que apresenta um dos mais altos índices de
prevenção e cura, pois apresenta etapas bem definidas, longo período para evolução
das lesões precursoras e facilidade de detecção das alterações na fase inicial.
Através de medidas de detecção precoce do exame citopatológico aliado ao
tratamento no início do estágio, apresentam resultados significativos em relação às
taxas de incidência de câncer, que pode chegar a 90%. Segundo a Organização Mundial
de Saúde - OMS (2013), quando o rastreamento é realizado dentro dos padrões de
qualidade, diminui efetivamente as taxas de incidência e mortalidade por esse câncer.
São vários os fatores de risco que podem contribuir para a ocorrência do câncer
de colo de útero, dentre eles os mais importantes são: o início precoce da atividade
sexual, multiplicidade de parceiros sexuais, paridade, tabagismo, higiene íntima
inadequada, imunossupressão, infecções sexualmente transmissíveis, deficiências
nutricionais e o uso prolongado de contraceptivos orais, porém o principal precursor do
câncer cervical consiste na infecção pelo HPV. (INCA, 2010)
Mediante a todas essas informações expostas nesse estudo, levantou-se a
discussão sobre a qual norteou a problemática encontrada: qual o grau de

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 219


aaaaaaaaaaaaa conhecimento da mulher sobre a importância do exame citopatológico na prevenção do
câncer de colo uterino? E como as ações de atenção primária à Saúde (APS) podem ser
trabalhadas na conscientização das mulheres na faixa etária da prevenção do câncer de
colo uterino através da realização do exame.
Embora seja um exame de simples execução e que não requer equipamentos e
materiais sofisticados, exige-se um profissional qualificado de conhecimento específico
da cérvice, capaz de saber localizar e diferenciar os epitélios quando existentes
(ectocérvice e endocérvice), lembrando que a qualidade da coleta interfere diretamente
na fidedignidade do exame.
Portanto, se deseja por meio deste estudo buscar mais esclarecimentos sobre
este assunto que é relevante para a nossa sociedade, e da mesma forma incentivar na
construção de estratégias que visem reduzir o alto índice de casos, contribuindo para
melhoraria da assistência prestada as mulheres.

2. MATERIAL E MÉTODOS
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa descritiva, os


dados foram coletados continuamente a partir da elaboração do estudo. A coleta de
dados foi efetivamente intensificada no período de junho a agosto de 2021 através de
leituras sucessivas e fichamentos, dos materiais selecionados, que em seguida, foram
analisados e confrontados com a literatura pertinente.
Após a seleção dos dados o material foi analisado criticamente para extrair
reflexões sobre a temática em pauta, os resultados serão descritos textualmente,
obedecendo a uma sistemática para uma melhor compreensão dos aspectos analisados
e obtenção dos objetivos propostos.
Foi elaborado um plano para a coleta dos dados com informações necessárias
para este estudo, levando em conta os dados mais relevantes. Realizou-se um
levantamento bibliográfico nas bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde), Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System
Online), SciElo (Scientific Electronic Library Online) e PubMed (US National Library of
Medicine). Foram selecionados 20 (vinte) artigos, publicados no período de 2010 a 2021,
utilizando os descritores: exame citológico, câncer de colo de útero, prevenção.

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 220


aaaaaaaaaaaaa Os critérios para a inclusão partiram da eleição dos artigos seguiu alguns
critérios pré-estabelecidos, tais como: ter sido publicado entre o período de 2010 e
2021; estar disponível na íntegra online; estar nos idiomas português, inglês e espanhol.
As publicações que não atendessem esses critérios foram desconsideradas para a
pesquisa. Foram utilizadas como critérios de exclusão, obras que não abordassem
especificamente o tema sobre a importância da prevenção do exame citopatológico e
os benefícios para a saúde da mulher.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO DO EXAME CITOPATOLÓGICO E OS
BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE DA MULHER
O exame Papanicolaou é também conhecido como citologia oncótica, citologia
oncológica, oncologia esfoliativa e pap test. É um método desenvolvido pelo médico
George Papanicolaou (1943) para a identificação, através do microscópio de células
esfoliadas do colo uterino, atípicas, malignas ou pré-malignas (INCA, 2010).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (2011) o exame citopatológico é


considerado:

O melhor procedimento para detectar as primeiras lesões que aparecem,


devendo ser realizado de forma rotineira pelas mulheres entre 25 e 64 anos
de idade. É um dos métodos mais bem sucedidos para a prevenção do câncer
de colo de útero, além de ser de suma importância na estratégia para detectar
lesões precocemente, antes que a mulher apresente alguma sintomatologia
clínica.

Para Derchain, Longatto Filho e Syrjanen (2005), o exame citopatológico envolve


a coleta de células esfoliadas do colo do útero e a análise microscópica das mesmas após
a coloração, o que permiti identificar a anomalias e avaliar as ameaças quanto a
existência de lesão prognóstica indetectável clinicamente, encaminhando a paciente
para uma investigação mais precisa, se necessário. As principais vantagens do exame
citopatológico são a agilidade e a simplicidade com que é realizado.
O principal propósito do exame citopatológico é detectar o câncer de colo de
útero em estágio inicial ou anormalidades nas células que podem estar associadas ao
desenvolvimento deste tipo de tumor, onde também podem ser encontradas condições
não cancerígenas, tais como infecções viróticas no colo do útero, verrugas genitais

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 221


aaaaaaaaaaaaa causadas pelo HPV (papilomavírus humano) e herpes, infecções vaginais causadas por
fungos, como a candidíase ou por protozoários. Além disso, através do exame se
encontram fontes de conhecimentos acerca dos níveis hormonais especialmente o
estrogênio e progesterona (DIAS, et al., 2015).
O Ministério da Saúde sugere a prática do exame citopatológico em mulheres
sexualmente ativas com idade entre 25 a 64 anos, a cada três anos após dois exames
com resultados negativos realizados anualmente. Essa faixa etária merece atenção
devido ao maior risco de aparecimento de lesões de alto grau, passíveis de serem
tratadas em tempo hábil e porque a maioria das infecções pelo HPV são eliminadas
espontaneamente até os 25 anos (BRASIL, 2011).
O exame de citologia oncótica salienta-se pela importância na prevenção e
diagnóstico do câncer de colo uterino, como um exame simples e barato, assim como
pela capacidade de lesões neoplásicas ou pré neoplásicas, sendo possível assim
interromper a evolução dessas lesões. É valido ressaltar que a citologia oncótica também
é utilizada para rastreamento de outros tipos de cânceres que não o uterino (CORREA
et al., 2017).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Dias et al., (2015) corrobora afirmando que o exame citopatológico é um modo


simples que permite detectar alterações da cérvice uterina, a partir de células
descamadas do epitélio. Este método é mais indicado para o rastreamento do câncer de
colo de útero por ser um exame rápido e indolor, de fácil execução, efetuado em nível
ambulatorial, que tem se mostrado efetivo e eficiente para aplicação coletiva, além de
ser de baixo custo.
É de total relevância conhecer acerca da importância do exame citopatológico
para a vida da mulher, assim como na prevenção do câncer de colo de útero e outras
doenças. As adolescentes são mais vulneráveis, pois geralmente começam a vida sexual
muito cedo, e com múltiplos parceiros, estão mais desprotegidas aos fatores de risco do
câncer de colo uterino, pois não possuem conhecimentos sobre a doença, e também
não possuem hábito da prática do exame e as consultas de apresentação dos resultados
(SILVEIRA et al., 2016).
É importante que as mulheres sejam conscientes sobre a importância da
realização do exame papanicolaou, que detecta precocemente o câncer de colo uterino,
levando em conta que os fatores sócios culturais e econômicos influenciam diretamente

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 222


aaaaaaaaaaaaa na decisão da prática do exame, assim como na percepção que elas têm sobre a
importância do exame.
Alguns estudos apontam que mesmo as mulheres conhecendo sobre
importância da prevenção, muitas procuram fazer o exame preventivo somente quando
já estão com algum sintoma, Silva (2014) trata sobre um ponto relevante relacionado a
fatores considerados como obstáculos que as mulheres colocam para justificar falta de
periodicidade na coleta do exame: o medo de colher o exame e do resultado, a distância
do serviço de saúde, a vergonha, a demora no agendamento e no retorno do resultado,
entre outros.
Em outros casos as mulheres demonstram nenhum conhecimento sobre o
exame que em sua maioria acham que o exame serve apenas para detectar DST’s
(doenças sexualmente transmissíveis), e acham necessário fazê-lo apenas na presença
de alguns sinais e sintomas como dor e corrimento.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) existe uma fase pré- clínica do
câncer do colo uterino que a mulher não apresenta sintomas. Eis o motivo pelo quais
muitas mulheres não recorrem à ajuda no estado inicial da doença. Assim, devido o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

avanço da doença vão surgindo sintomas como sangramento vaginal, corrimento e dor,
e em seus estágios mais avançados pode ocorrer dor pélvica, alterações urinárias e
intestinais (DUNCAN; SCHMIDT; GIUGLIANI, 2006)
Atualmente no Brasil a principal estratégia utilizada para detecção precoce da
doença (prevenção secundária) é a realização do exame preventivo do câncer do colo
do útero. O exame citopatológico é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como
parte da Atenção Primária à Saúde (APS) e das políticas de saúde da mulher, para realizar
o rastreamento, o diagnóstico e o tratamento do câncer de colo uterino (TOMASI et al.,
2015).
Lins et al., (2014) ressaltam que sobre os benefícios do exame citopatológico, é
totalmente relevante o rastreamento para o diagnóstico precoce da doença, assim
como é de prioridade a qualidade do profissional que vai realizar esse exame, sendo que
o biomédico habilitado em citologia oncótica é um dos principais profissionais da área
da saúde preparados e aptos a diagnosticar esse tipo de lesão.
É importante a criação de estratégias para que haja uma maior adesão no
número de mulheres as áreas de cobertura do exame citológico. São essencial o

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 223


aaaaaaaaaaaaa desenvolvimento de políticas de educação em saúde para a conscientização das
mulheres sexualmente ativas, assim como de profissionais de saúde que trabalham
diretamente no atendimento destas, facilitando as chances de se detectar os casos em
estágio inicial, dando mais expectativa de cura, proporcionado um melhor auxílio no
cuidado da saúde da mulher (FIGUEIREDO et al., 2010).

OS FATORES QUE DIFICULTAM A ADESÃO DAS MULHERES AO EXAME


CITOPATOLÓGICO
Segundo Santos (2015) o câncer é uma das doenças que mais causa temor aos
que são acometidos e para seus familiares, pois gera inúmeros consequências ao
paciente acometido como: mudança de hábitos, dificuldades diversas, alterações
emocionais e a busca de justificativas para a sua presença. Diante do medo gerado, um
dos motivos para a não realização do exame ginecológico pode advir deste receio, que
é também um dos motivos que fazem com que as mulheres não retornem para saber o
resultado.
Segundo Instituto Nacional de Câncer (INCA), o diagnóstico feito em estágio mais
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

avançado da doença pode estar relacionado a vários fatores como:

1. A dificuldade de acesso da população feminina aos serviços e programas


de saúde;
2. A baixa capacitação de recursos humanos envolvidos na atenção
oncológicas;
3. A capacidade do Sistema Único de Saúde para absorver a demanda que
chega às unidades de saúde;
4. As dificuldades dos gestores municipais em definir estabelecer um fluxo
assistencial, orientados por critérios de hierarquização dos diferentes
níveis de atenção, que permite o manejo e encaminhamento adequado de
casos suspeitos para investigação em outros níveis de sistemas (BRASIL,
2006, p.08).
Segundo Rocha et al., (2012) afirma que possíveis fatores de ordem
socioeconômica e cultural são identificados pelas mulheres para que ainda não realizam
o exame de Papanicolau. As razões variam desde sentimentos negativos como
vergonha, medo, desconforto, desconfiança, nervosismo e insegurança, até dificuldades
de acesso ao serviço como desinformação, falta de tempo, rotina de trabalho, não ter
onde deixar os filhos e o desestímulo pelo parceiro.
Santos (2015) colabora com esta afirmação ressaltando que um dos principais
fatores dificultadores na adesão das mulheres ao exame preventivo são a vergonha e

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 224


aaaaaaaaaaaaa timidez, onde a exposição do órgão sexual se faz necessário para a realização do
procedimento. Outro fator é a falta de conhecimento sobre o seu próprio corpo, o que
gera insegurança à mulher.
Os fatores de ordens sociais, econômicos e principalmente comportamentais são
os que mais dificultam a adesão ao exame, onde os indicadores apontam que há um
número expressivo de sobrevida quando a doença é diagnosticada já em estágio
avançado. Estudos têm apontado que as mulheres que pertencem aos seguimentos de
maior classe social e com maior grau de escolaridade têm maior probabilidade de
realizarem os exames preventivos.
Para Lozeratto et al., (2013) aponta que o nível de escolaridade das mulheres
seguramente influencia a compreensão sobre a gravidade do câncer de colo de útero.
As mulheres que apresentam baixo nível de escolaridade são as que têm menos chances
de adesão ao exame. Certamente essas mulheres podem não reconhecer a importância
do exame, ou não possuem o conhecimento necessário para buscar rastreamento e
tratamento, ou acesso ao serviço de saúde.
Ferreira (2009) discorre sobre o nível de percepção entre as mulheres sobre a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

doença e o exame de citologia oncótica que ainda é muito baixa, e que a falta de
conhecimento traz pouca reflexão sobre a importância do exame. Com isso a adesão é
prejudicada, pois ainda há um número considerado alto de mulheres que nunca se
submeteram ao exame, além disso, poucas mulheres conhecem de fato sobre os sinais
e sintomas do câncer do colo uterino.
A baixa adesão ao exame citológico sem dúvida é um sério problema que precisa
ser discutido, e que se desenvolvam estratégias mais eficientes para alertar as mulheres,
e independentemente do estado civil da mulher, de sua faixa etária, do seu grau de
escolaridade e nível socioeconômico, é necessário que estas sejam conscientizadas
sobre a prevenção e o diagnóstico precoce. Para mudar essa realidade cabe aos
profissionais de saúde desmistificar e encorajar as mulheres, assim como o Estado
facilite ainda mais pra que a informação chegue até as mulheres para realização do
exame preventivo (GARCIA et.al, 2017).
Apesar do exame de citologia esteja disponível gratuitamente na rede pública de
saúde, e seja considerado o melhor método para detecção precoce do câncer do colo
uterino, nem sempre foi assim. Durante muito tempo o Brasil não dispunha de um

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 225


aaaaaaaaaaaaa programa estruturado para a realização do exame preventivo, sendo uma das principais
razões desse baixo cenário. E pensando em melhorar esta pendência foi criado o
programa Estratégia Saúde da Família (ESF) (INCA, 2011).
A criação da Estratégia Saúde da Família (ESF) vem sendo um modelo adotado
de assistência constituído por equipes responsáveis pelo acompanhamento de um
número de famílias de uma área geográfica limitada, favorecendo o acesso da população
ao programa, e possibilita ainda a identificação e busca ativa de mulheres da faixa etária
para o rastreamento e tratamento, melhorando a adesão e consequentemente o
controle dessa neoplasia (INCA,2011).
A ESF tem como objetivo assegurar o acesso à Atenção Básica, criando vínculo
entre a equipe de saúde e a clientela, garantindo a integridade do atendimento. Através
desse tipo de estratégias espera-se por parte população que se adquira conhecimento,
que está se envolva e haja de fato uma real valorização das práticas preventivas, não
apenas para a prevenção do câncer de colo de útero, mas como também para outros
tipos de mortes (AMORIM et al., 2006).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE NA COLETA DO EXAME


CITOPATOLÓGICO
No Brasil em conformidade com a legislação por meio do (RDC
302/2005/ANVISA), existem programas de controle interno e externo da qualidade que
devem ser colocados em prática e executados nos laboratórios clínicos, a fim de detectar
erros diagnósticos, assistindo todas as fases do processo principalmente a questão da
diminuição de resultados falso-negativos onde 20% dos quais são atribuídos a falhas de
escrutínio. Assim, esses programas têm a finalidade mostrar com exatidão e
confiabilidade dos laudos citopatológico (TAVARES et al., 2007).
Para Bortolon (2012) o controle de qualidade no setor de citopatologia baseia-
se em técnicas de detecção, correção e redução de deficiências no processo. A Coleta
do material, processamento técnico, análise dos esfregaços citopatológicos,
seguimentos das mulheres com exame citopatológico alterado e controle de qualidade
são consideradas ações básicas para o bom funcionamento de um programa de
prevenção do CCU (Bortolon et al.,2012).

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 226


aaaaaaaaaaaaa É necessário intensificar a preocupação com a qualidade das amostras
citológicas, instituir sua vigilância por meio de medidas de controle da qualidade e
oferecer capacitação e atualização aos profissionais envolvidos, enfatizando cuidados
não só na coleta do material, como em todas as outras etapas do exame, visando
identificar os principais fatores relacionados a adequabilidade da amostra que limitam
ou tornam os esfregaços insatisfatórios para a análise (Bortolon et al.,2012).
A garantia da qualidade requer um sistema operacional orientado para o
resultado e que envolva todos os aspectos da função laboratorial, incluindo pessoal,
procedimentos operacionais e controle interno e externo da qualidade. São necessários
sistemas de checagem que assegurem níveis aceitáveis de acurácia e consistência dos
laudos emitidos (Bortolon et al.,2012).
Existem dois aspectos sobre o controle de qualidade em citopatologia: o
Monitoramento Interno da Qualidade (MIQ) é possível identificar se o material coletado
apresenta problemas por causas anteriores à sua entrada ou por problemas
relacionados aos procedimentos do próprio laboratório. E o Monitoramento Externo da
Qualidade (MEQ) compreende diferentes formas de avaliação do produto final e de seus
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

executores, sendo efetuado por pessoal externo ao laboratório. (BRASIL, 2016).


Diante de todas as informações levantadas nesta pesquisa, constatou-se a sobre
a importância do exame citopatológico na prevenção do câncer de útero. É um método
seguro que não proporciona riscos à vida do paciente, não havendo necessidade do uso
de equipamento sofisticado, sedação ou anestesia para sua realização (CORREA et al.,
2017).
Segundo o Ministério da Saúde, o exame citopatológico, é uma estratégia de
rastreamento preconizado de extrema importância para a prevenção, priorizado as
mulheres entre 25 a 59 anos de idade. Por meio do exame pode-se chegar uma redução
de 80% da mortalidade por este tipo de câncer, detectando precocemente as lesões
precursoras com alto potencial de malignidade. (BRASIL, 2011)
Em relação às principais causas apresentadas pelas mulheres a não realização do
exame citopatológico, Silvia et al (2016), descreve a vergonha ao se despir diante de um
estranho, associado a este fator tem as questões culturais, a desinformação, o
desconhecimento, o baixo nível socioeconômico que influi diretamente para tal

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 227


aaaaaaaaaaaaa situação. Assim, à medida que diminui os fatores socioeconômicos, aumenta a
prevalência de mulheres sem cobertura pelo exame.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2010), em seus relevantes estudos
descreve que o baixo nível de instrução das mulheres afeta o comprometimento e o
cuidado com a sua própria saúde tornando-as mais vulneráveis a esse tipo de
enfermidades. As mulheres por utilizarem com menor frequência os serviços que visam
à promoção da saúde da mulher e a prevenção de doenças estão expostas a um maior
risco.
Bortolon (2012) ressalta sobre a importância da coleta do material e a realização
do exame citológico. Este deve ser feito por um profissional capacitado, garantindo o
controle da qualidade que esses exames são determinados. Outro fator de suma
relevância é em relação à clareza dos resultados obtidos para que não ocorram
divergências entre os laudos, e principalmente para que haja uma preocupação na
padronização das análises, pois a cada dia o exame citopatológico vem ganhado força
quanto ao seu diagnóstico e tratamento clínico, e no combate do câncer de colo de
útero.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exame citopatológico é um dos mais importantes exames para a saúde da
mulher. O exame é simples, e tem reduzido em 70% as mortes por câncer de colo de
útero. É incontestável que a prevenção e rastreamento precoce influência na sobrevida
das mulheres, e para que isso ocorra são necessárias mais informações sobre o assunto.
O exame de citologia oncótica é um método seguro e de baixo custo, além de
provocar mínima invasão corporal. É uma técnica que se destaca não somente no
diagnóstico de neoplasias e metástases, mas também na detecção precoce de doenças,
quanto pode ser considerada uma medida de prevenção. Ainda se destaca como uma
promissora área de atuação para o biomédico, o qual poderá atuar tanto na área técnica
quanto na área analítica.
Considerado sendo um importante preventivo para a mulher, o exame citológico
permite a diminuição dos altos índices de mortalidade pelo câncer do colo uterino. Mas
é necessário se estabelecer um padrão de qualidade das amostras, porém, a qualidade

A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 228


aaaaaaaaaaaaa depende necessariamente dos profissionais envolvidos e dos procedimentos no
momento da realização da coleta.
Com base nos resultados discutidos neste estudo, foi possível observar que
fatores psicológicos, culturais, biológicos, estruturais e socioeconômicos influenciam na
adesão ao exame citopatológico. Em relação ao conhecimento sobre a importância do
exame como detector precoce do câncer de colo uterino, entende- se que os fatores
sócios culturais e econômicos são os que mais influenciam na decisão da mulher ao se
submeter ao exame.
Dessa forma, cabe aos profissionais e aos responsáveis pela gestão dos serviços
de saúde elaborar estratégias que minimizem as interferências causadas pelos fatores
que levam a não realização do exame citopatológico, de modo que o maior número
possível de mulheres seja atendido e a finalidade do exame seja alcançada, com redução
no número de casos de câncer de colo uterino na população feminina.
Ao final deste estudo verificou-se que o seu objetivo proposto foi alcançado, e
vale ressaltar que diante do que foi apresentado é imprescindível que se crie estratégias
favoráveis a atenção a saúde da mulher de maneira mais centralizada, principalmente
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

na educação e na informação sobre a doença. Dessa forma orientando o maior número


de mulheres quanto à importância do exame citopatológico na prevenção do câncer do
colo do útero.

REFERÊNCIAS
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A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 229


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A IMPORTÂNCIA DO EXAME DE CITOLOGIA ONCÓTICA NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO 231


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XVIII
A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM
SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-18
Bárbara Queiroz de Figueiredo ¹
Francisca Rafaela Pereira de Amorim Castro Rosa ²
Iane Andrade Maciel Feldner Cunha ²
Maria Jacilene de Araújo Gomes ²
¹ Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM).
² Graduanda do curso de Medicina. Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos (IMEPAC).

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A assistência pré-natal é de grande importância, e deve ser iniciada assim que descobrir
a gravidez, pois a realização adequada através de medidas preventivas, ações de
promoção à saúde e a identificação de fatores de risco em tempo oportuno, contribui
na redução da mortalidade materna e infantil no qual irá permitir um desenvolvimento
saudável. Por experiência empírica nos trabalhos com as gestantes nas unidades de
saúde, percebeu-se a importância de trabalhar com pequenos distúrbios durante o
período gravídico, sendo certo que, instruir nossas gestantes acerca destas pequenas
dúvidas e intercorrências na gestação, poupá-las-á de idas desnecessárias ao Pronto
Socorro de referência e principalmente amenizará as aflições psicológicas que as
gestantes sofrem neste período. Além disso, o acompanhamento pré-natal, por meio de
ações preventivas, busca assegurar o saudável desenvolvimento da gestação e
possibilitar o nascimento de um bebê saudável, com preservação de sua saúde e de sua
mãe. Estudos têm demonstrado que um pré-natal qualificado está associado à redução
de desfechos perinatais negativos, como baixo-peso e prematuridade, além de reduzir
as chances de complicações obstétricas, como eclâmpsia, diabetes gestacional e mortes
maternas.

Palavras-chave: Gestação. Assistência. Pré-natal. SUS.

A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 232


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A assistência pré-natal é de grande importância, e deve ser iniciada assim que
descobrir a gravidez, pois a realização adequada através de medidas preventivas, ações
de promoção à saúde e a identificação de fatores de risco em tempo oportuno, contribui
na redução da mortalidade materna e infantil no qual irá permitir um desenvolvimento
saudável. Vale destacar que o início precoce da atenção à gestante, além de possibilitar
o acompanhamento das condições de saúde materna e fetais, proporcionam a
identificação e implementação de intervenções sobre os fatores de risco. Nesse sentido,
a inexistência dos cuidados pré-natais ou a realização de forma inadequada pode
acarretar o aumento dos índices de mortalidade materna e infantil (LANSKY et al., 2014).
No Brasil, mesmo tendo uma cobertura de assistência pré-natal com
acompanhamento, o número de óbitos maternos continua elevado. Complicações
como, infecções, hemorragias e hipertensão arterial, são causas de morbimortalidade
materna. A mortalidade materna ainda é no Brasil, um grave problema de saúde pública.
Nesse sentido, em 2016, no Brasil, o número de óbitos maternos foi muito elevado nas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

regiões do Nordeste e no Sudeste (BRASIL, 2020). A realização do pré-natal através do


acolhimento e triagem de risco gestacional possibilita a identificação de fatores de risco
ou complicações que podem comprometer a saúde materna e fetal e assim se torna
factível realizar ações promotoras de novas condições para a evolução de uma gestação
saudável e um parto tranquilo (ARAÚJO et al., 2008).
Nesse contexto, destaca-se o papel da atenção primária de saúde, cujas ações
educativas e assistenciais colaboram efetivamente na redução da mortalidade materna
no âmbito da atenção pré-natal, uma vez que o profissional que atua no atendimento
deve ser qualificado e capacitado com conhecimento técnico cientifico e clinico para
garantir um resultado satisfatório (OLIVEIRA et al., 2017). Sob essa perspectiva, o
objetivo deste estudo foi de ressaltar a importância da atenção básica no
acompanhamento das gestantes, principalmente sob o âmbito de educação em saúde.

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo revisão narrativa da literatura, que
buscou evidenciar, por meio de análises empíricas e atuais, a importância da atenção

A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 233


aaaaaaaaaaaaa básica no acompanhamento das gestantes, principalmente sob o âmbito de educação
em saúde. A pesquisa foi realizada através do acesso online nas bases de dados National
Library of Medicine (PubMed MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (Scielo),
Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR), Google Scholar, Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) e EBSCO Information Services, no mês de novembro 2021. Para a busca das
obras foram utilizadas as palavras-chaves presentes nos descritores em Ciências da
Saúde (DeCS): em inglês: "primary care", "SUS", "pregnant women", "education",
"care"" e em português: "atenção primária", "SUS", "gestantes", "educação",
"assistência"
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos originais, que
abordassem o tema pesquisado e permitissem acesso integral ao conteúdo do estudo,
publicados no período de 2002 a 2021, em inglês e português. O critério de exclusão foi
imposto naqueles trabalhos que não estavam em inglês ou português, que não tinham
passado por processo de Peer-View e que não abordassem o tema da pesquisa. A
estratégia de seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas: busca nas bases de dados
selecionadas; leitura dos títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

que não abordavam o assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra
dos artigos selecionados nas etapas anteriores. Assim, totalizaram-se 23 artigos
científicos para a revisão narrativa da literatura, com os descritores apresentados acima.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A Atenção Primária à Saúde (APS) é o conjunto de iniciativas, de facetas
individuais e coletivas, para cuidar da população no ambiente em que vive, como uma
forma de intervenção precoce na história natural das doenças, a fim de potencializar a
promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a
reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde, com o objetivo de desenvolver
uma atenção integral que impacte positivamente na situação de saúde das
coletividades. É conhecida como a porta de entrada dos usuários nos sistemas de saúde,
ou seja, é o atendimento inicial, que tem como objetivo orientar as pessoas sobre a
prevenção de doenças, solucionar possíveis casos de agravos e direcionar os mais graves
para outros níveis de atendimento, devendo sempre se orientar pelos princípios da

A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 234


aaaaaaaaaaaaa universalidade, da acessibilidade, continuidade do cuidado, integralidade da atenção,
responsabilização, humanização e equidade (BRASIL, 2020).
No Brasil, a Atenção Primária funciona, portanto, como um filtro capaz de
organizar o fluxo dos serviços nas redes de saúde, dos mais simples aos mais complexos,
desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo no
local mais próximo da vida das pessoas, sob diversas estratégias governamentais
relacionadas, sendo uma delas a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que leva serviços
multidisciplinares às comunidades por meio das Unidades de Saúde da Família (USF),
por exemplo. Além disso, consultas, exames, vacinas, radiografias e outros
procedimentos também são disponibilizados aos usuários nas USF (ARAÚJO et al., 2008).
Do ponto de vista dos autores Martins et al. (2017), um sistema de saúde
baseado na atenção primária à saúde orienta suas estruturas e funções para os valores
de equidade e solidariedade social, e pode ser considerado como prestador de cuidados
primários quando possui os quatro atributos essenciais (acesso do primeiro contato do
indivíduo com o sistema de saúde; longitudinalidade; integralidade; e coordenação de
atenção), aumentando seu poder de interação com indivíduos e comunidade, quando
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

apresenta também os atributos derivados (orientação familiar, atenção à saúde pessoal


e familiar; orientação da comunidade; e competência cultural).
No cenário brasileiro, a prática médica tradicional, centrada no modelo
Flexneriano, médico-assistencial privatista e hospitalocêntrico, começou a ser
questionada final do século XX. O inflamado cenário que se desenhou com a Reforma
Sanitária na década de 1970 e que perdurou durante o processo de luta pela
redemocratização entrou para a história da saúde pública nacional. Após negociações
entre diversos representantes sociais, a 8a Conferência Nacional de Saúde, realizada em
1986, foi o pilar para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores e mais
ambiciosos sistemas de saúde do mundo (TOMASI et al., 2017).
Em 1988, por ocasião da promulgação da Constituição da República Federativa
do Brasil, foi instituído no país o Sistema Único de Saúde (SUS), que passou a oferecer a
todo cidadão brasileiro acesso integral, universal e igualitário a serviços de saúde.
Considerado um dos mais abrangentes sistemas de saúde públicos do mundo. O SUS
beneficia cerca de 180 milhões de brasileiros e realiza por ano cerca de 2,8 bilhões de

A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 235


aaaaaaaaaaaaa atendimentos, desde procedimentos ambulatoriais simples a atendimentos de alta
complexidade, como vacinação a um transplante de órgãos (VIELLAS et al., 2014).
Sequencialmente em 2003, para que efetivar os princípios do SUS no cotidiano
das práticas de atenção e gestão em saúde, criou-se no brasil o Humaniza SUS, o qual
dentre suas funções destacasse a de implementar processos de acompanhamento e
avaliação, ressaltando saberes gerados no SUS e experiências coletivas bem-sucedidas.
Junto a isso, foi vinculado também macro objetivos, destacando-se a ampliação dos
processos de formação e produção de conhecimento em articulação com movimentos
sociais e institucionais (CARVALHO et al., 2004).
Consoante a óptica de Cunha et al. (2009), o processo de tornar-se mãe tange o
âmago das bases vinculares da mulher e, ao longo desse período, transcorrem decisões
e transformações capazes de designar como esse percurso será trilhado. Diante de tal
perspectiva, é possível perceber a complexidade da gestação, a qual perpassa o âmbito
psicológico, social, fisiológico e cultural. Nesse contexto, é precípuo que o profissional
da área da saúde saiba auxiliar a gestante e a família ao longo do processo da gravidez
(VIELLAS et al., 2014; POLGLIANE et al., 2014).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Assim, apesar de, em tese, gerar um filho ser um fenômeno único para todas as
mulheres, a condição social e o acesso à informação, inferem diretamente nas
particularidades da gestação, tornando-a um processo distinto para cada mulher. Assim,
sob o viés de Cunningham (2010) a assistência à mãe durante o período gravídico é
fundamental para a redução dos níveis de morbimortalidade materna e perinatal.
Entretanto, ainda que haja estudos que corroborem a eficácia do acompanhamento pré-
natal, a educação em saúde para gestantes não é explorada suficientemente
(POLGLIANE et al., 2014).
Acrescenta-se o fato de a atenção básica ser um palco oportuno para
desenvolver a educação em saúde, tendo em vista a relação mais próxima estabelecida
pela equipe, tal como o destaque dado à promoção da saúde. É fato que, em decorrência
da atual pandêmica conjuntura, a carência por informação de diversas famílias não
deixou de existir, logo, faz-se imprescindível que a Equipe de Saúde da Família (ESF)
saiba articular-se para garantir que as mulheres tenham o melhor acompanhamento
gestacional (CUNHA et al., 2009).

A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 236


aaaaaaaaaaaaa Por experiência empírica nos trabalhos com as gestantes nas unidades de saúde,
percebeu-se a importância de trabalhar com pequenos distúrbios durante o período
gravídico, sendo certo que, instruir nossas gestantes acerca destas pequenas dúvidas e
intercorrências na gestação, poupá-las-á de idas desnecessárias ao Pronto Socorro de
referência e principalmente amenizará as aflições psicológicas que as gestantes sofrem
neste período. Para tanto, foram escolhidos, pelo estudo de Lopes et al. (2010), a serem
abordados em práticas de educação em saúde, as seguintes afecções: náusea e vômito,
síndrome dolorosa, leucorreia, hemorroidas, cefaleia e edema. Tomando como norte
informações da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
(FEBRASGO), essas queixas comuns na gravidez frequentemente se associam às
adaptações do organismo ao período gravídico (LANSKY et al., 2014).
A gestação é um período que dispõe de alterações físicas atreladas ao perfeito
crescimento e desenvolvimento fetal. Todavia, tais mudanças podem repercutir de
modo mais pronunciado em algumas mulheres, e desencadear dores e limitações nas
atividades diárias, de modo a afetar a qualidade de vida materna (SOUZA et al., 2002).
Nesse âmbito, um grande número de gestantes parece sentir dorsalgia ou dores
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

associadas às suas articulações pélvicas, em alguma etapa de sua gravidez. A intensidade


e a duração da dor geralmente oscilam durante o período gravídico, e, em geral, de uma
gestação para a próxima, na mesma mulher (SPERANDIO et al., 2004).
Em primeira instância, queixas de náusea e vômitos são os principais
acometimentos relatados por gestantes no início da gravidez. Cerca de 1 a 3% desses
sintomas podem evoluir para o quadro mais grave, a hiperêmese gravídica (OLIVEIRA et
al., 2017). De etiologia desconhecida, parece ter relação com a elevação da
gonadotrofina coriônica, que tem seu ápice por volta de 12 semanas e regride após esse
período. Desse modo, esses sintomas tendem a melhorar após o primeiro trimestre, mas
em 20% das mulheres podem persistir até o final da gestação (ZUGAIB, 2016).
Nesse viés, outra condição muito frequente é a síndrome dolorosa na gestação,
capaz de causar importantes transtornos físicos e sociais. Atualmente, esse
acometimento é considerado uma ocorrência normal e até esperada na gravidez, o que
contribui para a falta de adoção de medidas profiláticas e de alívio. Destaca-se que os
sintomas dessa síndrome localizam-se na região lombar, e são caracterizados por dor. A
presença de síndrome dolorosa na gestante, portanto, corrobora o relato da literatura

A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 237


aaaaaaaaaaaaa que afirma que a gestação é um período propício para tais desconfortos (BHUTTA et al.,
2014).
A progesterona, passível de promover edema cerebral e vasodilatação, pode
causar outro sintoma muito noticiado, a cefaleia, comumente relatada no 2º e 3º
trimestres. À vista disso, no período gravídico, ocorre uma hemodiluição, que diminui a
força coloidosmotica intravascular, logo, acarretam dores de cabeça. Pode ainda, estar
associada a patologias previas, tais como enxaquecas, sinusite e doenças hipertensivas
(DOMINGUES et al., 2015).
Nessa perspectiva, no 3º trimestre de gravidez, uma das queixas mais comuns
das gestantes é o edema. Esse, ocorre devido ao aumento da volemia e da estase
sanguínea nos membros inferiores por compressão das veias ilíacas e cava inferior, pelo
útero gravídico. Além disso, o aumento da permeabilidade capilar, pela ação esteroidal
na parede dos vasos e o aumento da pressão intravascular são causas do
extravasamento de fluidos para o espaço extravascular. Assim sendo, a conduta
terapêutica baseia-se em medidas paliativas, tais como evitar tempos prolongados na
posição ortostática, realizar repouso periódico em decúbito lateral esquerdo e utilizar
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

meias elásticas, e cabe ressaltar que não é indicada a prescrição de diuréticos nem de
dieta hipossódica (MARTINS et al., 2017).
Outro acometimento percebido deve-se ao aumento do volume uterino, esforço
excessivo ou constipação intestinal, que contribuem para a elevação da pressão local. A
pressão venosa no plexo hemorroidário permanece alta, haja vista que a veia cava
dificulta o retorno venoso e favorece a dilatação das veias locais. Além disso, constata-
se um relaxamento nos coxins de sustentação, originando a hemorroida. Não é
recomendada a realização de procedimentos cirúrgicos para correção de hemorroidas
nesta população, sendo o tratamento realizado com anestésicos locais e pela prevenção
da constipação (TOMASI et al., 2017).
Indubitavelmente, na gestação o corrimento fisiológico pode ser aumentado
sem estar associado a qualquer patologia. Logo, alterações relacionadas ao fluxo vaginal
podem causar insegurança na mulher, mesmo que habitualmente sejam resultantes das
adaptações do organismo gravídico. Desse modo, explica-se esse fenômeno pela alta
concentração de estrogênio que estimula a secreção de muco pelas glândulas
endocervicais, além do aumento da vascularização, os quais elevam a transudação da

A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 238


aaaaaaaaaaaaa mucosa. Todavia, faz-se precípuo destacar a importância do acompanhamento integral
da gestante durante todo o período gravídico, haja vista que corrimentos vaginais
podem estar associados a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e outras
afecções, tais como a vaginose bacteriana e a candidíase (CARVALHO et al., 2004).
Além disso, o acompanhamento pré-natal, por meio de ações preventivas, busca
assegurar o saudável desenvolvimento da gestação e possibilitar o nascimento de um
bebê saudável, com preservação de sua saúde e de sua mãe (LIMA et al, 2017). Estudos
têm demonstrado que um pré-natal qualificado está associado à redução de desfechos
perinatais negativos, como baixo-peso e prematuridade, além de reduzir as chances de
complicações obstétricas, como eclâmpsia, diabetes gestacional e mortes maternas
(SILVA et al., 2014).
No entanto, apesar da alta cobertura de pré-natal entre as gestantes usuárias do
Sistema Único de Saúde (SUS), estudo com amostra nacional realizado em 2011/2012
que analisou a adequação pré-natal conforme as recomendações do Ministério da
Saúde, demonstrou que apenas 21,6% das mulheres receberam acompanhamento pré-
natal considerado. Tal achado reforça que somente a alta cobertura de consultas no
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

acompanhamento pré-natal não garante necessariamente a qualidade da assistência


prestada (MATOS et al., 2013).
Todas as orientações fornecidas pelos profissionais de saúde às gestantes
durante o acompanhamento pré-natal são parte importante nesse processo de
cuidado. Embora relevantes, no entanto, estudos nacionais têm identificado falha dos
profissionais de saúde em oferecer orientações sobre a gestação, importância e técnicas
para o aleitamento materno, como se preparar para o parto e cuidados básicos com o
recém-nascido. Estudo que avaliou a qualidade da atenção pré-natal na rede básica de
saúde do Brasil,7 identificou que apenas 60% das gestantes brasileiras atendidas no SUS
receberam todas as orientações preconizadas durante o acompanhamento pré-natal
(LEAL et al., 2004).
Neste sentido, a Atenção Primária à Saúde (APS) configura-se como espaço
estratégico para um pré-natal de baixo risco e de qualidade (ARAÚJO et al., 2008). No
Brasil, a APS, norteada pela Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), destaca que é
competência da equipe de saúde o acolhimento e a atenção à saúde da gestante e da
criança, englobando a prevenção de doenças, a promoção da saúde e o tratamento de

A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 239


aaaaaaaaaaaaa agravos ocorridos durante o período gestacional até o período puerperal e os cuidados
com a criança. Nesse cenário, a atuação compartilhada entre os profissionais da saúde
possibilita diferentes olhares sobre as práticas no acompanhamento pré-natal,
garantindo uma atenção integral e aumentando o potencial de resolutividade (BRASIL,
2020).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A assistência à mulher gestante é algo diferencial e imprescindível para o cuidado
com a saúde feminina mundial, e o resultado do presente estudo possibilitou esclarecer
sobre a importância da realização do pré-natal durante a gestação onde visa o bem estar
do binômio mãe e bebê almejando desfecho adequado. Constata-se que a assistência
pré-natal vai além de recepcionar a gestante aos serviços de saúde, pois inclui também
o acolhimento, comunicação, capacidade de escuta e a atuação do profissional de
saúde.

REFERÊNCIAS
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

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A SIGNIFICÂNCIA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE GESTACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA 241


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XIX
ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS
MATERNAS DECORRENTES DA
FISIOLOGIA GRAVÍDICA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-19
Bárbara Queiroz de Figueiredo ¹
Ana Paula Ferreira Araújo ¹
Júlia Fernandes Nogueira ¹
Lunalva Gabrielli Veras Sousa ²
¹ Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM).
² Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário Uninovafapi.

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A gestação produz profundas alterações no organismo materno com o objetivo


fundamental de adequá-lo às necessidades orgânicas próprias do complexo materno-
fetal e do parto. Inicialmente estas alterações se devem às ações hormonais
provenientes do corpo lúteo e da placenta e a partir do segundo trimestre, bem como
modificações bioquímicas, anatômicas e mecânicas geradas pelo crescimento do feto ao
longo da gestação, e também ao crescimento uterino. De forma geral, todas as
adaptações visam promover condições para um desenvolvimento fetal adequado e em
completo equilíbrio com o organismo materno. No entanto, algumas modificações
podem agravar entidades mórbidas pré-existentes ou produzir sintomas que, mesmo
fisiológicos, são incômodos. As principais modificações da fisiologia materna ocorrem
no sistema cardiocirculatório, respiratório e gastrintestinal, além das metabólicas e
hematológicas.

Palavras-chave: Fisiologia. Gestação. Hemodinâmica. Obstetrícia.

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 242


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A gestação produz profundas alterações no organismo materno com o objetivo
fundamental de adequá-lo às necessidades orgânicas próprias do complexo materno-
fetal e do parto. Inicialmente estas alterações se devem às ações hormonais
provenientes do corpo lúteo e da placenta e a partir do segundo trimestre, bem como
modificações bioquímicas, anatômicas e mecânicas geradas pelo crescimento do feto ao
longo da gestação, e também ao crescimento uterino. As principais modificações da
fisiologia materna ocorrem no sistema cardiocirculatório, respiratório e gastrintestinal,
além das metabólicas e hematológicas. Assim, o conhecimento acerca dessas alterações
é fundamental, visando reconhecer quais são fisiológicas e quais são patológicas
gravídicas (ALVES, 2020). Praticamente todos os sistemas apresentam mudanças
funcionais ou estruturais com a evolução da gestação, e o objetivo deste estudo é
evidenciar e descrever as principais alterações e adaptações sistêmicas fisiológicas
gravídicas.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo revisão narrativa da literatura, que
buscou evidenciar, por meio de análises empíricas e atuais, as principais alterações
adaptativas que ocorrem durante a gestação. A pesquisa foi realizada através do acesso
online nas bases de dados National Library of Medicine (PubMed MEDLINE), Scientific
Electronic Library Online (Scielo), Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR),
Google Scholar, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e EBSCO Information Services, no mês
de outubro 2021. Para a busca das obras foram utilizadas as palavras-chaves presentes
nos descritores em Ciências da Saúde (DeCS): em inglês: "physiology", "pregnancy",
"changes", "hemodynamics" e em português: "fisiologia", "gestação", "alterações",
"hemodinâmica"
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos originais, que
abordassem o tema pesquisado e permitissem acesso integral ao conteúdo do estudo,
publicados no período de 2002 a 2021, em inglês e português. O critério de exclusão foi
imposto naqueles trabalhos que não estavam em inglês ou português, que não tinham
passado por processo de Peer-View e que não abordassem o tema da pesquisa. A

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 243


aaaaaaaaaaaaa estratégia de seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas: busca nas bases de dados
selecionadas; leitura dos títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles
que não abordavam o assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra
dos artigos selecionados nas etapas anteriores. Assim, totalizaram-se 21 artigos
científicos para a revisão narrativa da literatura, com os descritores apresentados acima.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As adaptações anatômicas e bioquímicas de todos os aparelhos e sistemas na
gestação decorrem, em quase sua totalidade, da reação orgânica à presença do
concepto e seus tecidos, da sobrecarga hormonal experimentada pela gestante ou da
ação mecânica desencadeada pelo útero gravídico. De forma geral, todas as adaptações
visam promover condições para um desenvolvimento fetal adequado e em completo
equilíbrio com o organismo materno. No entanto, algumas modificações podem agravar
entidades mórbidas pré-existentes ou produzir sintomas que, mesmo fisiológicos, são
incômodos (ALVES, 2020).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Sistema tegumentar
Dentre as alterações fisiológicas, as de pigmentação acomete cerca de 90% das
pacientes grávidas, e destas, a mais comum é a linha nigra, que é o escurecimento da
linha alba, e fatores responsáveis pela pigmentação dessas áreas incluem maior
população de melanócitos e maior susceptibilidade ao estímulo hormonal. A elevação
dos níveis de hormônio melanocítico estimulante (MSH), estrógeno e progesterona
foram implicados na etiologia da hiperpigmentação. Sob essa perspectiva, o quadro é
mais persistente em mulheres que fizeram uso de anticoncepcionais orais, o que reforça
a teoria sobre a influência dos níveis de progesterona e estrógeno e em mulheres
susceptíveis, expostas à radiação solar (FERNANDES et al., 2014).
Alterações vasculares também são comuns na gravidez, os vasos sanguíneos se
dilatam e proliferam em resposta ao estrogênio e outros fatores, contribuindo para a
formação de aranhas vasculares, sendo que a produção placentária de estrógenos leva
à proliferação da microvascularização de todo o tegumento, fenômeno conhecido como
angiogênese e, associado ao estado hiperprogestogênico, ocorre vasodilatação de toda
a periferia do organismo (URASAKI et al., 2019). Observam-se, assim, eventos vasculares

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 244


aaaaaaaaaaaaa da pele e dos anexos, como eritema palmar, telangiectasias, hipertricose e aumento de
secreção sebácea e da sudorese, bem como a alopecia, que pode ocorrer por causa das
alterações hormonais. Ademais, o melasma afeta entre 50 e 75% das gestantes e
geralmente, com início no segundo trimestre, tem uma proporção maior em mulheres
da raça negra, sendo sua etiologia multifatorial, podendo contribuir o uso de
anticoncepcionais orais, fatores genéticos e raciais, exposição solar, entre outros (BRÁS
et al., 2015).
As estrias também apresentam-se como queixas entre as gestantes,
caracterizadas por lesões longas, lineares e, geralmente, paralelas, decorrentes da
ruptura de fibras de colágeno e elastina, que surgem em oposição às linhas de tensão
da pele. A causa exata é desconhecida, mas considera-se a associação de fatores
hormonais, particularmente, a ação de adrenocorticais e estrógenos placentários, com
estresse do tecido conjuntivo, e podem manifestar-se em decorrência de predisposição
racial e genética. Ademais, o ambiente hiperestrogênico promove hirsutismo (aumento
da pilosidade do corpo) e eflúvio telogênico (queda de cabelo), cuja recuperação total
ocorre normalmente entre 6 e 9 meses após o parto (PURIM et al., 2012).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Sistema esquelético
As articulações, de modo geral, sofrem processo de relaxamento durante a
gravidez, com acúmulo de líquido, também denominado embebição gravídica. Nas
articulações dos membros inferiores, esse fenômeno pode predispor a gestante a dores
crônicas, entorses, luxações e até fraturas. Além disso, durante a gravidez, observa-se
que as articulações da bacia óssea (sínfise púbica, sacrococcígea e sinostoses
sacroilíacas) se apresentam com maior elasticidade, aumentando a capacidade pélvica
e modificando a postura e a deambulação da gestante, o que prepara o organismo para
a parturição (WU et al., 2004). Essas modificações, por sua vez, parecem estar
associadas à ação da relaxina e são mais evidentes na sínfise púbica, em que os ramos
ósseos podem estar afastados até 2 cm. Tais modificações são imprescindíveis para o
fenômeno de expulsão fetal, pois elas permitem o aumento dos diâmetros e estreitos
da pelve materna (BURTI et al., 2006).
O aumento do volume abdominal e das mamas desvia anteriormente o centro
de gravidade materno e, por instinto, a gestante direciona o corpo todo posteriormente,

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 245


aaaaaaaaaaaaa de forma a compensar e encontrar novo eixo de equilíbrio que permita que ela se
mantenha ereta. Por essa razão, surgem hiperlordose e hipercifose da coluna vertebral,
aumento da base de sustentação, com afastamento dos pés e diminuição da amplitude
dos passos durante a deambulação (marcha anserina). Existe, dessa forma, participação
de novos grupos musculares que não são rotineiramente utilizados. Além disso, o
aumento da flexão cervical causa compressão de raízes cervicais que originam os nervos
ulnar e mediano, acarretando fadiga muscular, dores lombares e cervicais, e parestesias
de extremidades (CONTI et al., 2003).

Sistema digestório
Muitas gestantes se queixam do aumento de apetite e sede. A resistência à ação
da leptina e as alterações da secreção do hormônio antidiurético (ADH), em nível de
osmolaridade distinto da não grávida, parecem ser as explicações para tais alterações
de sensibilidade na gestante. Mudanças nas preferências alimentares são comuns e
podem chegar a configurar verdadeiras perversões do paladar, com desejos de ingerir
terra, sabão, carvão, entre outros, situação denominada malada. Ademais, náuseas e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

vômitos são ocorrências muito prevalentes no primeiro trimestre e desaparecem ao


longo da gravidez. Por vezes, podem ser de difícil manejo, acompanhados de perda
significativa de peso, o que configura hiperêmese gravídica. Os aspectos emocionais e
psíquicos da paciente também exercem efeito no quadro clínico (COSTA et al., 2010).
A sialorreia, ou secreção salivar exacerbada, é desencadeada por estímulo
neurológico do quinto par craniano (nervo trigêmeo) e do nervo vago, e relaciona-se
mais à dificuldade de deglutição decorrente das náuseas do que propriamente ao
aumento de secreção salivar. Outrossim, as adaptações vasculares orais decorrentes dos
altos níveis de esteroides sexuais circulantes causam hipertrofia e hipervascularização
gengival, fato que resulta em gengiva edemaciada e facilmente sangrante, o que
dificulta a limpeza local, bem como o pH salivar é mais baixo, podendo propiciar
proliferação bacteriana (REIS et al., 2020).
Sabe-se que a progesterona é um potente relaxante de fibras musculares lisas, e
o estrógeno, por sua vez, age como indutor dos efeitos progestogênicos no organismo
materno. Esses efeitos levam a relaxamento do esfíncter esofágico inferior e redução de
seu peristaltismo com aumento da incidência de refluxo gastroesofágico. A pirose é,

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 246


aaaaaaaaaaaaa portanto, uma queixa comum da gestante. A hipotonia da vesícula biliar, por sua vez,
predispõe ao surgimento de litíase biliar, em especial pela associação com o aumento
do colesterol total desde o início da gestação (REZENDE et al., 2013).
Ademais, a contratilidade da musculatura lisa dos intestinos também se encontra
reduzida, causando obstipação. A permanência prolongada do bolo fecal no lúmen
intestinal expõe os alimentos ao contato com enzimas digestivas por tempo mais
prolongado e aumenta a absorção de água, o que contribui para piora da obstipação.
Além disso, com o aumento do volume uterino, ocorrem alterações anatômicas que
desviam o estômago e o apêndice para cima e para a direita de sua localização habitual,
e os intestinos para a esquerda. Por vezes, o apêndice cecal ocupa o flanco direto,
dificultando o diagnóstico clínico de apendicite na gravidez (CUNNINGHAM et al., 2021).

Sistema respiratório
A progesterona age diretamente na via aérea superior, levando a um aumento
de suas secreções e edema dos seus tecidos, e pode provocar congestão nasal, e
também promove ação estimulante sobre os centros respiratórios cerebrais e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

consequente aumento da frequência respiratória e do volume corrente, sendo que o


volume-minuto está elevado, resultando em alcalose respiratória (diminuição da pCO2
e aumento da pressão parcial de oxigênio [pO2]), compensada pelo aumento da
excreção renal de bicarbonato (PINTO et al., 2015). Além disso, alterações anatômicas
da caixa torácica podem ser notadas tão logo se inicia a gestação. Assim, observam-se
elevação diafragmática de aproximadamente 4 cm e maior capacidade de excursão
desse músculo, que aumenta em cerca de 2 cm. Ademais, a amplitude de movimento
do diafragma se reduz ao longo da gravidez devido ao aumento do volume abdominal
que ocorre com o crescimento uterino (ZUGAIB, 2019).
Outrossim, na grávida, presencia-se aumento do volume corrente com redução
da reserva expiratória e preservação da reserva inspiratória. A elevação do volume
corrente pretende suprir as demandas de oxigênio, que sofrem aumento por conta da
maior massa eritrócitária e da quantidade total de hemoglobina circulante, e o oxigênio
que participa das trocas pulmonares excede em 20 a 30% as novas necessidades. A
hemodiluição e a queda da hemoglobina induzem o aumento do volume corrente para
compensar o fato de que a frequência respiratória em si não se altera, mas as

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 247


aaaaaaaaaaaaa necessidades de oxigênio estão maiores, e esse aumento do volume corrente determina
aumento do volume-minuto também (SILVA et al., 2015).
A capacidade pulmonar total (somatório das duas capacidades já relatadas) está
reduzida na gravidez em aproximadamente 200 mL em razão da elevação do diafragma
à custa da redução do volume residual. Todo esse mecanismo favorece a condução
aérea pulmonar e reduz as resistências aérea e vascular. A facilidade da movimentação
do ar nas estruturas brônquicas e alveolares é resultado de ação da progesterona, que
tem efeito direto na musculatura lisa dos brônquios, além do centro respiratório,
diminuindo o limiar de estímulo desse centro pelo dióxido de carbono e aumentando a
ventilação. Essas alterações do sistema respiratório causam à gestante sensação de
dispneia (CUNNINGHAM et al., 2021).

Sistema urinário
Anatomicamente, os rins apresentam aumento de cerca de 1 cm em seus
diâmetros durante a gestação, e modificações vasculares das arteríolas renais são fruto
das adaptações circulatórias maternas descritas previamente. Assim, o aumento da
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

volemia associado à redução da resistência vascular periférica provoca elevação do fluxo


plasmático glomerular, com consequente aceleração do ritmo de filtração glomerular.
Essas alterações podem ser observadas logo na décima semana de gestação, com
aumento gradativo ao longo da gravidez e redução discreta próxima ao termo (ZUGAIB,
2019).
A osmolaridade plasmática também se modifica na gravidez por conta da
ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e da redução do limiar para
secreção de ADH. A liberação de ADH e o mecanismo de sede são, portanto,
desencadeados por menores níveis osmóticos. Esses fatos denotam menor capacidade
renal de concentrar urina. As grávidas, em geral, filtram maiores quantidades de sódio
e água no glomérulo, o que é compensado por maior reabsorção tubular desses
elementos, resultado da ação da aldosterona e do ADH (REZENDE et al., 2013).
Ao contrário do que ocorre em mulheres não grávidas, o padrão de excreção
urinária é maior à noite em função do repouso em decúbito, com maior mobilização dos
fluidos extravasculares e menor capacidade de reabsorção de água livre. Dessa forma, é
muito comum a queixa de noctúria durante a gravidez. Essas alterações se devem, em

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 248


aaaaaaaaaaaaa grande proporção, à influência da postura materna sobre o débito cardíaco, que se
apresenta particularmente maior nas ocasiões em que a gestante se encontra em
decúbito lateral esquerdo, principalmente no terceiro trimestre (CUNNINGHAM et al.,
2021).
A bexiga também se encontra mais elevada ao longo da gestação, com retificação
do trígono vesical, provocando refluxo vesicoureteral. Incontinência urinária é queixa
comum, embora mecanismos protetores estejam mais desenvolvidos, como aumento
do comprimento absoluto e funcional da uretra e aumento da pressão intrauretral
máxima. Durante o trabalho de parto, a compressão da apresentação fetal sobre a
bexiga acarreta edema e microtraumas na mucosa, aumentando as chances de
hematúria e infecção. As modificações gravídicas do sistema urinário aumentam o risco
de formação de cálculos e de infecções do trato urinário, estas últimas muito frequentes
na gestação (ZUGAIB, 2019).

Sistema cardiocirculatório
A primeira adaptação circulatória observada na gestante advém de alterações do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

volume e da constituição do sangue. O volume sanguíneo materno aumenta


consideravelmente durante a gravidez, atingindo valores 30 a 50°/o maiores do que os
níveis pré-gestacionais. As variações relacionadas ao aumento da volemia se associam a
diferenças individuais e à quantidade de tecido trofoblástico, sendo maior em gestações
múltiplas e menor em gestações com predisposição a insuficiência placentária. O papel
da hipervolemia no organismo materno está associado ao aumento das necessidades de
suprimento sanguíneo nos órgãos genitais, especialmente em território uterino, cuja
vascularização apresenta-se maior na gestação. Além disso, tem função protetora para
gestante e feto em relação à redução do retorno venoso, comprometido com as
posições supina e ereta, e também para as perdas sanguíneas esperadas no processo de
parturição (OLIVEIRA et al., 2013).
Em geral, o aumento de volume plasmático é da ordem de 45 a 50% em
comparação com os valores da mulher não gestante, enquanto o volume de células
vermelhas se eleva em cerca de 30%, estabelecendo, portanto, estado de hemodiluição.
Consequentemente, a viscosidade plasmática está menor, o que reduz o trabalho
cardíaco. Esses processos adaptativos se iniciam já no primeiro trimestre de gestação,

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 249


aaaaaaaaaaaaa por volta da sexta semana, com expansão mais acelerada no segundo trimestre, para,
finalmente, reduzir sua velocidade e estabilizar-se nas últimas semanas do período
gravídico. Dessa forma, observa-se aumento de 15% do volume plasmático ao fim do
primeiro trimestre e de aproximadamente mais 25 % ao fim do segundo trimestre
(ZUGAIB, 2019).
Apesar da hemodiluição fisiológica observada na gestante, o volume eritrocitário
absoluto apresenta aumento considerável. Em média, mulheres grávidas possuem 450
mL a mais de eritrócitos, com maior incremento no terceiro trimestre. A produção de
hemácias está acelerada, provavelmente, em função do aumento dos níveis plasmáticos
de eritropoetina, o que é confirmado pela discreta elevação do número de reticulódtos
apresentado pelas gestantes. A vida média dessas células é menor durante a gestação.
A concentração de hemoglobina se encontra reduzida durante a gravidez, resultado da
hemodiluição previamente discutida. Considerando-se que a produção eritrocitária seja
maior no terceiro trimestre, essa redução relativa dos valores de hemoglobina é menor
no fim da gravidez (CUNNINGHAM et al., 2021).
Ademais, existe aumento da produção da maioria dos elementos figurados do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

sangue na gravidez. A leucocitose pode estar presente na gravidez normal, com valores
de leucócitos totais entre 5.000 e 14.000/mm³. Durante o parto e o puerpério imediato,
os valores de leucócitos se elevam de modo significativo, podendo chegar a
29.000/mm³, achado possivelmente relacionado à atividade das adrenais no momento
de estresse. Outrossim, as proteínas inflamatórias da fase aguda apresentam aumento
em todo o período gestacional, sendo que proteína C reativa apresenta níveis
plasmáticos mais elevados no momento próximo ao parto (SOUZA et al., 2002; ZUGAIB,
2019).
Os níveis plaquetários estão discretamente reduzidos na gravidez normal. Parte
desse evento ocorre pelo fenômeno da hemodiluição, mas o consumo de plaquetas
também está envolvido nesse processo, e certo grau de coagulação intravascular no
leito uteroplacentário pode ser uma justificativa para esse achado. Além disso, o
aumento da produção de tromboxano A2 está associado à maior agregação plaquetária
e, assim, à redução da contagem plaquetária. Ademais, praticamente todos os fatores
de coagulação apresentam-se elevados na gestação, com exceção dos fatores XI e XIII,

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 250


aaaaaaaaaaaaa e fibrinogênio e dímero D têm seus níveis elevados em até 50% com o decorrer da
gravidez (REZENDE et al., 2013).
A queda da pressão arterial sistêmica média é mais acentuada no segundo
trimestre e retoma para níveis pré-gravídicos próximo ao parto. Durante as contrações
uterinas do trabalho de parto, a pressão arterial se eleva, o que é desencadeado pelo
aumento do débito cardíaco e pela ação das catecolaminas liberadas pelo estímulo da
dor. O aumento da pressão venosa nos membros inferiores é justificado pela
compressão das veias pélvicas pelo útero volumoso. Por essa razão, há maior chance de
a gestante apresentar hipotensão, edema, varizes e doença hemorroidária. A
compressão uterina também pode ocorrer sobre vasos maiores, como a veia cava
inferior, quando a gestante se encontra na posição supina a partir da segunda metade
da gravidez. A redução da pré-carga nessas ocasiões provoca hipotensão seguida de
bradicardia por reflexo vagal, podendo se manifestar com quadro de lipotimia (síndrome
da hipotensão supina) (CUNNINGHAM et al., 2021).
Com o decorrer da gravidez, o diafragma se eleva por conta do aumento do
volume abdominal. Esse deslocamento altera a posição cardíaca, que está intimamente
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

relacionada à localização do diafragma. Assim, o coração se apresenta desviado para


cima e para a esquerda, ligeiramente rodado para a face anterior do tórax. Além desse
deslocamento, o volume do órgão está maior como um todo, em função do aumento do
volume sistólico e da hipertrofia dos miócitos. Pequenas alterações do ritmo cardíaco
são frequentes, em especial as extrassístoles ventriculares e taquicardias paroxísticas
supraventriculares. O sopro cardíaco sistólico é comum em decorrência da redução da
viscosidade sanguínea e do aumento do débito cardíaco. Cerca de 90% das gestantes
apresentam sopro sistólico leve; 20%, sopro diastólico; e 10%, sopro contínuo,
consequente à hipervascularização local das mamas. Por razão das modificações
anatômicas e funcionais do coração, pode haver alterações eletrocardiográficas
fisiológicas nas ondas T e Q, no segmento ST e desvio do eixo cardíaco para a esquerda.
Orienta-se, portanto, cuidado especial na interpretação o e no diagnóstico de alterações
do eletrocardiograma (ECG) e de cardiomegalia em gestantes (OLIVEIRA et al., 2020;
ZUGAIB, 2019).

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 251


aaaaaaaaaaaaa Sistema endócrino
O hipotálamo exerce importante papel no sistema endócrino por ação parácrina
e autócrina, atuando na regulação da atividade da hipófise. Durante a gravidez, as
concentrações de diversos hormônios produzidos pelo hipotálamo têm aumento na
circulação periférica. Isso decorre da produção placentária de variantes idênticas aos
hormônios hipotalâmicos, como hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH),
hormônio liberador da corticotrofina (CRH), hormônio hipotalâmico estimulador da
tireotrofina, somatostatina e hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH)
(NEVES et al., 2007).
Durante a gestação normal, a hipófise aumenta de tamanho à custa de
hipertrofia e hiperplasia da sua porção anterior, a adeno-hipófise, especialmente dos
lactótrofos, promovidas pela ação estimulante do estrógeno. Seu volume e peso chegam
a dobrar ao fim da gravidez, sem maiores complicações quando a gestação e o parto
cursam de forma tranquila. A expansão volumétrica pode, no entanto, acarretar falência
da glândula quando ocorre sangramento profuso no período periparto e isquemia
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

hipofisária (síndrome de Sheehan) (ZUGAIB, 2019).


Em relação à adeno-hipófise, observa-se aumento considerável da produção de
prolactina, que chega a níveis dez vezes maiores que em mulheres não gestantes (cerca
de 200 ng/mL). A elevação desse hormônio tem por finalidade preparar as glândulas
mamárias para a produção de leite no pós-parto. A produção e a secreção de hormônio
do crescimento (GH), por sua vez, permanecem normais no primeiro trimestre, mas,
com o aumento da secreção desse hormônio pelo sinciciotrofoblasto, os níveis séticos
de GH aumentam ao longo da gestação (REZENDE et al., 2013).
Além disso, os altos níveis de progesterona parecem aumentar a produção e a
secreção do hormônio melanotrófico da hipófise (MSH), e os níveis de hormônio
adrenocorticotrófico (ACIH) aumentam progressivamente em função da produção
hipofisária e placentária. Por outro lado, a produção placentária de esteroides sexuais
leva ao decréscimo da secreção de gonadotrofinas hipofisárias (LH e FSH). Os hormônios
produzidos pela neuro-hipófise são o hormônio antidiurético (ADH, que, na espécie
humana, corresponde à arginina-vasopressina) e a ocitocina. Os níveis de ocitocina

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 252


aaaaaaaaaaaaa mantêm-se constantes durante a gestação, elevando-se na fase ativa e no período
expulsivo do trabalho de parto (ZUGAIB, 2019).
A regulação da tireoide está evidentemente alterada na gravidez em razão de
três modificações do organismo materno: redução dos níveis séricos de iodo pelo
aumento da taxa de filtração glomerular e pelo consumo periférico, aumento da
produção e da glicosilação da globulina transportadora de hormônios tireoidianos (TBG),
com consequente aumento das frações ligadas dos hormônios e stimulação direta dos
receptores de TSH pelo hCG. Essas alterações provocam sobrecarga funcional da
tireoide, mas não costumam causar aumento volumétrico acentuado da glândula, de
forma que a presença de bócio merece investigação quando presente (NEVES et al.,
2007).
O aumento generalizado das atividades do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e
do sistema renina-angiotensina-aldosterona fazem da gravidez um período de
hipercortisolismo e hiperaldosteronismo, e na presença de ambiente com altos níveis
de progesterona, ocorre refratariedade da resposta tecidual ao cortisol. O
hiperaldosteronismo relativo, por sua vez, mantém o balanço eletrolítico de sódio, de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

acordo com as alterações do volume plasmático. Os níveis circulantes e excretados de


andrógenos adrenais, como o sulfato de deidroepiandrosterona (DHEA-S), encontram-
se reduzidos, possivelmente pelo consumo e pela metabolização em estrógeno
placentário. Os níveis maternos de androstenediona e de testosterona, por sua vez,
encontram-se maiores na gestação (REZENDE et al., 2013).
Durante a gravidez normal, a função endócrina ovariana está relacionada à
produção de progesterona pelo corpo lúteo. Sua importância se limita até a sétima
semana de gravidez, pois está associada à manutenção da gestação até o período em
que o trofoblasto cresce suficientemente para sua autonomia hormonal. A produção de
outras substâncias como a relaxina se associa a mecanismos de relaxamento sistêmico
das fibras de colágeno e musculares, responsáveis pela acomodação da gestação e pelo
processo de parturição. A produção de andrógenos (androstenediona e testosterona)
está elevada, mas não acarreta maiores repercussões, já que a placenta possui
mecanismos de proteção fetal, convertendo esses hormônios em estradiol
(CUNNINGHAM et al., 2021).

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 253


aaaaaaaaaaaaa Sistema nervoso central
As principais queixas das gestantes quanto ao sistema nervoso central (SNC)
relacionam-se às discretas alterações de memória e de concentração, geralmente no
último trimestre, e sonolência. Acredita-se que a sonolência esteja associada aos altos
níveis de progesterona, hormônio conhecidamente depressor do SNC e à alcalose
respiratória causada pela hiperventilação. Estudos apontam que a memória verbal e a
velocidade de processamento estão menores quando em comparação a mulheres não
gestantes. A lentificação geral do SNC é comum e progressiva, podendo corresponder a
alterações vasculares das artérias cerebrais média e posterior. O psiquismo da mulher
se modifica no ciclo gravídico-puerperal. Assim, manifestações como hiperêmese
gravídica, enxaquecas e alguns distúrbios psiquiátricos (episódios conversivos ou
isolados de hipomania e depressão) possivelmente se relacionam com alterações
vasculares e hormonais exclusivas da gravidez (MAIA et al., 2015).
Ademais, modificações da acuidade visual podem estar presentes e decorrer de
alterações da córnea, como edema localizado. A pressão intraocular costuma estar
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

reduzida pelo aumento da velocidade de reabsorção do humor aquoso. As alterações


retinianas da conformação vascular ao exame de fundo de olho, por sua vez, são motivo
de investigação, já que não estão presentes em gestante hígida, podendo denotar
acometimento localizado por síndrome hipertensiva (FIGUEIREDO et al., 2018). Como já
discutido, a mucosa nasal apresenta-se edemaciada e hipervascularizada e a hiposmia
pode ser uma queixa da gestante. A acuidade auditiva também pode estar
discretamente comprometida, com regressão após o parto, bem como zumbidos e
vertigem são queixas raras, mas que estão presentes em gestantes cujas modificações
vasculares locais foram mais acentuadas (REZENDE et al., 2013).

Modificações locais: genitália interna e externa


Durante a gestação, os ovários se tornam responsáveis pelo aporte
progestagênico até a 7ª semana, quando a autossuficiência trofoblástica de institui.
Além disso, a síntese androgênica permanece constante, assim como a secreção de
relaxina. Nesse mesmo contexto, as tubas uterinas, anteriormente dispostas
perpendicularmente ao maior eixo uterino, estiram-se em posição vertical, além de
apresentar hipertrofia muscular discreta (semelhante aos ligamentos largo e redondo),

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 254


aaaaaaaaaaaaa deciduação irregular e, consequentemente, uma diminuição funcional temporária
(ZUGAIB, 2019).
O útero, responsável pela acomodação fetal, é afetado pelo estiramento e
hipertrofia muscular, evidenciados melhor na região do fundo, além de ampliar em
cerca de 500 a 1000 vezes sua capacidade: devido a essa ampliação, altera-se de
localização pélvica para abdominal. Somado a isso, a contratilidade uterina apresenta-
se mais frequente, com tendência irregular no início da gestação e, gradativamente,
ampliando a ritmicidade, a intensidade e a duração. De modo semelhante, o colo uterino
inicia um processo intenso de amolecimento e cianose logo no 1º mês, o que altera a
vascularização e favorece o edema local, a hipertrofia e a hiperplasia glandular. Próximo
ao período do parto, as alterações do colo se amplificam, indicando a condução do
trabalho de parto e favorecendo a passagem do concepto (LOWDERMILK, 2012; ZUGAIB,
2019).
Por consequência das demais alterações, a vagina tende a ficar hiperemiada e
edemaciada (sinal de Chadwick), tendo em vista a hipervascularização e retenção
sanguínea regional. Assim como no útero, a musculatura vaginal passa por hipertrofia,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

aumento de tecido conjuntivo, de acúmulo hídrico e de elasticidade, fatores que


corroboram o acúmulo de glicogênio superficial e, ainda, favorecem a proliferação de
possíveis organismos nocivos. Assim como na vagina, a vulva também se modifica em
coloração e vascularização, proporcionando hipercromia e retenção hídrica, fatores que
favorecem a condução gestacional e o trabalho de parto (CUNNINGHAM, 2021;
LOWDERMILK, 2012).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Toda gestante experimenta no transcorrer da gravidez uma série de alterações
multissistêmicas em seu corpo. O conhecimento dessas alterações é fundamental,
visando reconhecer quais são fisiológicas e quais são patológicas. As mudanças que
ocorrem no organismo materno são decorrentes de reações ao concepto, alterações
hormonais, modificações bioquímicas, e modificações anatômicas e mecânicas geradas
pelo crescimento do feto ao longo da gravidez, e praticamente todos os sistemas
apresentam mudanças funcionais ou estruturais com a evolução da gestação.

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 255


aaaaaaaaaaaaa
REFERÊNCIAS
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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ALTERAÇÕES ADAPTATIVAS MATERNAS DECORRENTES DA FISIOLOGIA GRAVÍDICA 257


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XX
ASSISTÊNCIA DO ENFERMEIRO NA
EDUCAÇÃO EM SAÚDE, NO CÂNCER DE
COLO DO ÚTERO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-20
Rafaela Lima de Oliveira ¹
Lorena Albuquerque de Sousa Lima ²
Luciano Godinho Almuinha Ramos ³
¹ Graduanda do curso de enfermagem. Centro Universitário IBMR
² Graduanda do curso de enfermagem. Centro Universitário IBMR
³ Mestre em Enfermagem, Professor orientador. Centro Universitário IBMR

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Este estudo versa sobre a assistência do enfermeiro na educação em saúde na rede


básica, voltada para a mulher com câncer de colo de útero. Objetiva-se destacar a
assistência do enfermeiro na educação em saúde, no atendimento ao câncer de colo do
útero voltada para atenção básica. Para isso, foi utilizada a seguinte questão norteadora:
Como se dá a assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do
útero voltada para a atenção básica? Como critérios de inclusão foram utilizados artigos
científicos entre os anos de 2010 a 2020, nas bases de dados, LILACS e SCIELO, em inglês,
francês e espanhol. Como critérios de exclusão foram excluídos artigos fora do espaço
temporal de pesquisa e que não abordavam a temática. Os resultados obtidos através
dos 17 artigos científicos selecionados, trouxeram efetivação a elaboração de três
categorias temáticas trazendo como principal foco a assistência do enfermeiro no
atendimento a paciente com câncer do colo do útero. Conclui-se a atuação do
enfermeiro nas equipes da Estratégia da Saúde da Família é de importância
fundamental, suas atividades são desenvolvidas em múltiplas dimensões, como a
realização das consultas de enfermagem, do exame de Papanicolau e ações educativas
diversas junto à equipe de saúde e comunidade.

Palavras-chave: Educação em saúde. Câncer de colo do útero. Atenção primária.


Assistência de enfermagem.

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 258


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O câncer é uma doença que se caracteriza pela perda do controle da divisão
celular com capacidade de invadir outras estruturas orgânicas. O câncer de colo do útero
é um dos mais de 100 tipos desta doença, também chamado de câncer cervical. Este
demora anos para se desenvolver, e está associado a infecção por subtipos oncogênicos
do vírus HPV (papilomavírus humano), em especial os subtipos HPV-16 e o HPV-18. Por
ser uma infecção muito comum, cerca de 80% das mulheres ativas sexualmente, irão
adquirir ao longo de suas vidas alguns dos subtipos deste vírus. Nos dias atuais cerca de
290 milhões de mulheres são portadoras do papilomavírus humano (HPV), e dentre
essas mulheres, cerca de 32% delas irão desenvolver o câncer do colo do útero, o que é
equivalente a uma incidência de 500 mil casos de câncer do colo do útero por ano.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o câncer de colo de útero é o terceiro tumor
maligno mais frequente na população feminina, sendo a quarta causa de morte em
mulheres no Brasil (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ DE ALENCAR GOMES DA
SILVA, 2020).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Os fatores de risco para desenvolvimento deste tipo de câncer se dão através da


multiplicidade de parceiros sexuais, tabagismo, atividade sexual precoce, uso
prolongado de pílulas anticoncepcionais e pré disposição genética (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2011).
A infecção pelo vírus do HPV, pode ser parcialmente evitada com o uso de
preservativos, assim como o câncer de colo do útero pode ser prevenido através do
exame preventivo Papanicolau ou colpocitologia cervical (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
O exame preventivo Papanicolau é um método para identificação e prevenção
da infecção do HPV e do desenvolvimento do câncer do colo do útero, onde é realizado
de forma que se identifica alteração celular, antes mesmo que a infecção apresente
sintomas, como verrugas genitais ou feridas no colo do útero e sangramentos
repentinos acompanhados de dor (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).
Para a abordagem a essas mulheres no atendimento em rede básica de saúde, a
realização do exame preventivo torna-se uma maneira eficaz de rastreamento da
doença. A realização deste procedimento, de forma indolor, rápida e simples, é
periódica a cada três anos após dois exames anuais consecutivos negativos, sua

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 259


aaaaaaaaaaaaa indicação é para mulheres do grupo alvo de 25 a 64 anos de idade que tenham iniciado
a vida sexual, podendo ser realizado em postos de saúde unidades de saúde de rede
pública e em clínicas que tenham profissionais capacitados.
Considerando a resolução COFEN N° 381/2011, que entende a coleta de material
para colpocitologia oncótica pelo método Papanicolau como um procedimento
complexo que demanda competência técnica e cientifica em sua execução, Art. 1°,
vemos o enfermeiro como o profissional capacitado para a abordagem a essa mulher,
em seu primeiro contato com a unidade básica, que procura atendimento com grandes
medos e receios de complicações desta doença. De acordo com o código de ética dos
profissionais de enfermagem, a coleta de material para colpocitologia oncótica pelo
método Papanicolau é privativa do enfermeiro, observadas as disposições legais da
profissão (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2011).
A atitude preventiva e a educação em saúde para o cuidado e melhoria da
qualidade de vida das mulheres são um importante componente para a detecção
precoce da infecção pelo papilomavirus humano e também para a detecção do câncer
de colo do útero. Na atenção primaria existe toda uma sistematização para
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

rastreamento e detecção do câncer de colo de útero ressaltando os benefícios da


realização do Papanicolau, juntamente com a educação dos profissionais e da população
(SOUZA, et al., 2015).
A educação em saúde é um dos pontos primordiais para a prevenção deste tipo
de câncer, é uma estratégia para alcançar resultados positivos e efetivos, as ações da
enfermagem, como, informações ao estimulo ao sexo seguro, ao não uso do tabaco,
mudança comportamental referente a vida sexual, prática de exercícios físicos e
alimentação rica em nutrientes (SANTOS, et al.,2011). Ações citadas anteriormente
junto ao acompanhamento ginecológico regular são formas de prevenir e conscientizar
sobre o risco de infecção pelo HPV e desenvolvimento do câncer de colo do útero
(SANTIAGO, et al., 2014).
Diante disto, esta pesquisa tem o intuito de demonstrar como a assistência do
enfermeiro, na atenção primária em saúde, é de extrema importância para a prevenção
e acompanhamento das mulheres que sofrem deste agravo.

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 260


aaaaaaaaaaaaa
2. METODOLOGIA
A prática baseada em evidências é uma abordagem que encoraja o
desenvolvimento e/ou utilização de resultados de pesquisas na prática clínica, devido à
quantidade e complexidade de informações na área da saúde, há necessidade de
produção de métodos de revisão de literatura e para alcançar o objetivo proposto, foi
utilizado este tipo de metodologia (MENDES, et al.,2008).
Para o levantamento dos artigos foi realizada uma busca online na BVS, LILACS,
SCIELO. Todo o processo de desenvolvimento da pesquisa e seleção dos artigos foi
conduzido por dois pesquisadores independentes. No processo de montagem, foi
utilizado além da busca na literatura dos estudos primários, extração de dados e
avaliação dos estudos primários incluídos.
Elegeu-se a seguinte questão norteadora: Como se dá a assistência do
enfermeiro na educação em saúde no câncer de colo do útero voltada para a atenção
básica?
A partir da busca dos estudos selecionados conforme os critérios de inclusão, foi
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

utilizado artigos científicos entre os anos de 2010 a 2020, em inglês, francês e espanhol,
artigos disponíveis na íntegra, artigos originais que abrangessem os objetivos propostos
e abordassem o tema: assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de
colo do útero, totalizando 30 artigos.
Conforme os critérios de exclusão, os artigos que não apresentavam a temática,
artigos de revisão, artigos que não se relacionavam aos objetivos desta pesquisa,
dissertações ou teses, foram descartados. Dessa forma foram excluídos um total de 13
artigos. Sendo que, após a leitura, selecionou-se apenas 17 artigos para a elaboração
final do estudo pelos bancos de dados.
A seguir, uma figura do fluxograma sobre os artigos que compuseram a amostra
final da revisão.

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 261


aaaaaaaaaaaaa Figura 1 – Fluxograma de busca e seleção dos 17 artigos. Rio de janeiro, RJ, Brasil, 2020

Fonte: Dados da pesquisa.

Observando o fluxograma 1, podemos analisar a ordem de busca e a predileção


dos artigos que compuseram a elaboração da revisão, sendo iniciado pelo banco de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

dados e sequencialmente a seleção dos artigos, exclusão e a escolha para amostra final.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quadro 1 – Quadro expositivo dos artigos pesquisados neste estudo. Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
2020.
AUTOR/ANO TÍTULO OBJETIVOS

CARVALHO, et al., 2018 Trajetórias assistenciais de Analisar as trajetórias na assistência


mulheres entre diagnóstico e das mulheres residentes no
início de tratamento do Município do Rio de Janeiro
câncer de colo uterino. diagnosticadas com câncer de colo
uterino que foram encaminhadas
para tratamento em unidade de
referência na atenção oncológica.

OLIVEIRA, et al., 2017 Intervenções de enfermagem Analisar as intervenções de


na prevenção do câncer enfermeiros que podem
cérvico-uterino: perspectivas proporcionar mudanças de
das clientes. comportamentos, hábitos e estilos de
vida para prevenção do câncer
cérvico-uterino, na perspectiva das
clientes.

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 262


aaaaaaaaaaaaa AUTOR/ANO TÍTULO OBJETIVOS

CARVALHO, et al., 2015 Integralidade do cuidado no Avaliar a integralidade no cuidado de


Programa de Controle do mulheres atendidas pelo Programa
Câncer de Colo Uterino: visão de Controle do Câncer de Colo
das usuárias com alteração na Uterino.
citologia oncótica.

SOUZA, et al., 2015 Educação popular como Avaliar a percepção de mulheres


instrumento participativo sobre o câncer do colo do útero,
para a prevenção do câncer através da prática de educação
ginecológico: percepção de popular como instrumento
mulheres. participativo.

CORREIO, et al., 2015 Controle do câncer do colo do Compreender o processo do trabalho


útero: ações desenvolvidas do enfermeiro da Estratégia de Saúde
pelo enfermeiro à luz do da Família (ESF) no controle do câncer
discurso do sujeito coletivo do colo do útero do munícipio de
Carpina-PE

SANTIAGO, et al., 2014 Conhecimento e prática das O objetivo do estudo foi descrever o
mulheres atendidas na conhecimento e a prática sobre o
unidade de saúde da família Papanicolaou das mulheres entre 25
sobre o Papanicolaou. a 59 anos atendidas pela Estratégia
de Saúde da Família.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

SILVA, et al., 2013 Atenção básica em saúde: Objetivou-se analisar os eixos teórico-
prevenção do câncer de colo conceituais estruturantes da consulta
do útero na consulta de de enfermagem ginecológica na
enfermagem. atenção básica (AB) e discutir as
principais condutas implementadas
para prevenção do câncer do colo do
útero (CCU).

VIANA, et al., 2013 Formação do enfermeiro para Objetivou-se analisar a formação do


a prevenção do câncer de colo enfermeiro para a prevenção do
uterino. câncer de colo uterino no contexto da
estratégia saúde da família.

NASCIMENTO, et al., 2012 Conhecimento cotidiano de O objetivo deste estudo foi apreender
mulheres sobre a prevenção as representações sociais elaboradas
do câncer de colo do útero. por 64 mulheres da cidade de
Teresina durante os meses de
outubro e novembro de 2009, acerca
da prevenção do câncer de colo do
útero, bem como analisar como essas
representações influem na realização
do exame de prevenção.

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 263


aaaaaaaaaaaaa AUTOR/ANO TÍTULO OBJETIVOS

DANTAS, et al., 2012 A consulta de enfermagem na Identificar o significado da consulta


prevenção do câncer cérvico- de enfermagem na prevenção do
uterino para mulheres que a câncer cérvico-uterino realizada
vivenciaram. segundo os preceitos da enfermagem
humanística, para as mulheres que a
vivenciaram.

TOMASI, et al., 2012 Estrutura e processo de Descrever e analisar a adequação da


trabalho na prevenção do estrutura e processo das equipes do
câncer de colo de útero na Programa de Melhoria do Acesso e da
Atenção Básica à Saúde no Qualidade (PMAQ-AB) na prevenção
Brasil: Programa de Melhoria do câncer de colo de útero na
do Acesso e da Qualidade – Atenção Básica no Brasil.
PMAQ.

MELO, et al., 2012 O enfermeiro na prevenção Analisar o desenvolvimento da


do câncer do colo do útero: o prevenção e detecção precoce do
cotidiano da atenção câncer do colo do útero no cotidiano
primária. assistencial da enfermeira que atua
nas equipes da Estratégia Saúde da
Família, a partir de suas atribuições,
propostas pelo Ministério da Saúde.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

VASCONCELOS, et al., 2011 Conhecimento, atitude e Avaliar o conhecimento, a atitude e a


prática relacionada ao exame prática do exame colpocitológico
colpocitológico entre usuárias entre usuárias de uma unidade básica
de uma unidade básica de de saúde (UBS) e verificar sua
saúde. associação com variáveis
sociodemográficas.

SANTOS, et al., 2011 Saberes e práticas de Descrever os saberes e práticas de


mulheres idosas na prevenção idosas sobre o câncer cérvico-uterino
do câncer cérvico-uterino. e analisar as ações preventivas para
esta neoplasia
SOARES, et al., 2011 Câncer de colo uterino: Compreender como os serviços de
Atenção integral à mulher nos saúde do Sistema Único de Saúde
serviços de saúde estão organizados para contemplar a
integralidade na atenção à mulher
com câncer de colo uterino.

VALE, et al., 2010 Avaliação do rastreamento do Analisar se o rastreamento do câncer


câncer do colo do útero na do colo uterino em Amparo, Estado
Estratégia Saúde da Família de São Paulo, Brasil, avançou no
no Município de Amparo, São sentido de seguir as recomendações
Paulo, Brasil. vigentes ao longo de sete anos da ESF.

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 264


aaaaaaaaaaaaa AUTOR/ANO TÍTULO OBJETIVOS

CIRINO, et al., 2010 Conhecimento, atitude e Identificar o conhecimento, atitude e


práticas na prevenção do prática na prevenção do câncer de
câncer de colo uterino e HPV colo uterino e infecção pelo HPV na
em adolescentes. população adolescente e avaliar as
situações que as tornam vulneráveis.

Fonte: Dados da pesquisa.

Analisando o Quadro 1 podemos observar a estrutura e organização dos artigos


selecionados para a elaboração e desenvolvimento desta revisão integrativa, tendo em
sua composição, autores, título do artigo e o assunto abordado.
A busca dos artigos científicos foi realizada entre setembro e dezembro de 2020,
e para a apresentação das etapas de seleção dos artigos de acordo com as informações
adquiridas, foi elaborado uma tabela como metodologia com os principais dados dos
artigos científicos escolhidos.
Dos dezessete artigos selecionados no campo deste estudo, todos tiveram
publicação entre 2010 e 2018, sendo em maior quantidade as apresentações dos artigos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de 2013 e 2015.
Os resultados obtidos através dos 17 artigos científicos selecionados, trouxeram
efetivação a elaboração de três categorias temáticas: Tipos de intervenções que o
enfermeiro realiza na prevenção do Câncer do Colo do Útero, O papel do enfermeiro no
atendimento à mulher com Câncer do Colo do Útero e O acolhimento à mulher nas
consultas das unidades básicas de saúde.

Categoria 1 – Tipos de intervenções que o enfermeiro realiza


na prevenção do Câncer do Colo do Útero
Ao analisar os artigos ficou evidente que as ações desenvolvidas pelo profissional
enfermeiro são fundamentais na prevenção e detecção precoce do câncer do colo
uterino, sendo o mesmo atuante na atenção primária onde realiza relevantes condutas
visando à promoção e prevenção de agravos na saúde da mulher.
As atribuições que a enfermagem executa utilizando os lugares da comunidade
para a realização de promoção, orientação, atendimentos individuais ou coletivos, por
meio do processo de enfermagem visando à melhoria da qualidade de vida, torna-se um

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 265


aaaaaaaaaaaaa fator importante na prevenção do câncer do colo do útero dentro da atenção primária
(VASCONCELOS, et al., 2011; VALE, et al., 2010).
Durante a consulta de enfermagem pode-se realizar atividades educativas com
cada mulher, orientando e enfatizando aspectos referentes à prevenção e realçando
medidas preventivas.
Podemos citar três tipos de intervenções que podem ser executadas
individualmente ou coletivamente pela enfermagem para a prevenção ou controle do
câncer de colo do útero, são elas: Comportamentais: As que estimulam as usuárias a
realizarem o exame de detecção precoce; Cognitivas: As que conscientizam e informam
essas mulheres sobre as ações que devem ser realizadas para a prevenção e controle
das patologias; e Sociais: Onde a enfermagem atua de forma indireta, onde as próprias
pessoas ou a unidade possam ser treinadas para essa ação e também por meio da
atuação direta do enfermeiro, possibilitando o aumento do conhecimento sobre as
medidas preventivas.
Para atuação satisfatória, faz-se necessário que o profissional conheça a cultura
e a realidade da população alvo, pois o comportamento preventivo está intimamente
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ligado também aos fatores sociais, psicológicos e ambientais.


A estratégia mais eficaz no combate ao câncer do colo do útero é a prevenção
mediante diagnóstico em estágios iniciais, porém, o rastreamento precoce entre as
mulheres nem sempre é possível em virtude da dificuldade de acesso dessa população
aos serviços de saúde. Deste modo, reduzem-se as chances de prevenção e intensificam-
se os riscos da doença (GUIMARÃES, et al., 2012).
Entre as estratégias desenvolvidas nas Unidades básicas de saúde na perspectiva
de um melhor atendimento à saúde da mulher, evidencia-se o método de colpocitologia
oncótica ou exame de Papanicolau que objetiva detectar preferencialmente as lesões
precursoras do câncer do colo do útero ou este o mais precocemente possível
(CARVALHO, et al., 2018).
Nessa metodologia, considerada de realização simples, com rigor técnico, por
meio da coleta de um esfregaço, são obtidas amostras celulares do epitélio da
ectocérvice e endocérvice. Uma das formas de abordagem que podem ser satisfatórias
com as mulheres é o acolhimento, e quando é realizado de forma correta cria-se um

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 266


aaaaaaaaaaaaa vínculo de credibilidade e confiança entre profissional e a paciente facilitando assim de
forma positiva e humanizada a passagem de informações (SILVA, et al., 2012).
Para um melhor resultado das ações do enfermeiro nas unidades básicas de
saúde, destacam-se a importância de um sistema de controle das mulheres da sua área
de abrangência por meio de um rastreamento. O sucesso desta ação está diretamente
ligado a um número suficiente de profissionais capacitados para realizar os exames, bem
como o diagnóstico correto e o tratamento das mulheres e como indicado nas diretrizes,
contar sempre com um sistema de referência e contrarreferência efetivo nos diferentes
níveis de atenção à saúde (OLIVEIRA, et al., 2017).
O enfermeiro atuante na Estratégia Saúde da Família desenvolve ações e
intervenções que preconizam na Política Nacional da Atenção Básica a prevenção de
doenças ou agravos à saúde da população, que firmam a comunicação com os usuários
através do acolhimento e vínculo, como explicado na PNAB (SOUZA, et al., 2013).
Pode-se afirmar que o profissional mais dinâmico no rastreamento do câncer do
colo do útero é o enfermeiro, pois ele fornece informações e segurança às mulheres
sobre o exame, abrindo espaços de acolhimento nas consultas de enfermagem.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Categoria 2 – O papel do enfermeiro no atendimento à mulher


com câncer do colo de útero.
A importância de conhecer as práticas de atenção à saúde e a maneira como se
efetivam no cotidiano do trabalho para a produção do cuidado tanto para a área da
gestão quanto da organização dos serviços de saúde, são de relevância para a
configuração da integralidade (CIRINO, et al., 2010).
Não somente como princípio do SUS e Brasil, 2020, mas também como boas
práticas de saúde para a melhoria do cuidado, sobretudo na atenção à mulher,
expressam-se também na escuta, no vínculo e nas concepções que as mulheres, os
trabalhadores de saúde e os gestores do sistema de saúde apresentam das formas de
fazer saúde, e como atentam para a possibilidade de coparticipação no processo de
construção de saúde para todos (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, 2018).
As Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) são consideradas porta de
entrada do usuário no sistema de saúde, espaço em que o enfermeiro é importante

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 267


aaaaaaaaaaaaa integrante da equipe multiprofissional da Estratégia Saúde da Família (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2010).
Conforme o tamanho da área de abrangência, distribuem-se equipes que têm
como desafio, o trabalho integrado e a responsabilidade pelas pessoas ali residentes.
Nesse contexto, os enfermeiros exercem atividades técnicas específicas de sua
competência, administrativas e educativas. Através do vínculo com as usuárias,
concentra esforços para reduzir os tabus, mitos e preconceitos e buscando o
convencimento da clientela feminina sobre os seus benefícios da prevenção. Para o
planejamento das atividades e estratégias, são consideradas e respeitadas as
peculiaridades regionais, envolvimento das lideranças comunitárias, profissionais da
saúde, movimentos de mulheres e meios de comunicação (MELO, et al., 2012).
O enfermeiro que está inserido na atenção primária tem o papel de gerente e
provedor da assistência à saúde e como função primordial o rastreamento desta
neoplasia por intermédio das consultas individuais e coleta do exame citopatológico
(MELO, et al., 2012).
A responsabilidade do enfermeiro é de contribuir com a compreensão da
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

realidade em todas as suas dimensões, dispondo a romper com as ações do modelo


queixas-condutas, para que a realidade seja compreendida em sua integralidade.
(DANTAS, et al., 2012).
De acordo com Viana MP, et al. 2013 entre as suas ações, o processo de educação
em saúde serve para subsidiar a adesão satisfatória das usuárias aos serviços, facilitando
o entendimento e sensibilizando-as à realização do exame preventivo, bem como, para
mudanças de comportamento que viabilizem uma vida saudável e de boa qualidade
(OMASI, et al., 2015).
É parte das atribuições do enfermeiro, realizar assistência integral às mulheres
que procuram a unidade de saúde, neste caso, a realização da consulta de enfermagem
e coleta de material para a citologia oncótica, além disto, há ainda que manter a
disponibilidade dos materiais necessários para a realização do exame colpocitológico,
fato que nem sempre se faz cumprir a contento, na realidade mencionada por alguns
profissionais.

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 268


aaaaaaaaaaaaa Categoria 3 – O acolhimento à mulher nas consultas das
unidades básicas de saúde.
“Acolher é dar acolhida, admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a agasalhar,
receber, atender, admitir” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). O acolhimento como ato ou
efeito de acolher expressa, em suas várias definições, uma ação de aproximação, ou
seja, uma atitude de inclusão. Essa atitude implica, por sua vez, estar em relação com
algo ou alguém (NASCIMENTO, et al., 2012). Nesse sentido, de ação de inclusão, que
queremos afirmar o acolhimento como uma das diretrizes de maior relevância ética e
estética da Política Nacional de Humanização do SUS, onde a ética se refere ao
compromisso com o reconhecimento do outro (SOARES, et al., 2011). Na atitude de
acolhê-lo em suas diferenças, suas dores, suas alegrias, seus modos de viver, sentir e
estar na vida, porque traz para as relações e os encontros do dia-a-dia a invenção de
estratégias que contribuem para a dignificação da vida e do viver e, assim, para a
construção de nossa própria humanidade e a política porque implica o compromisso
coletivo de envolver-se neste “estar com”, potencializando protagonismos e vida nos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

diferentes encontros (OLIVEIRA, et al., 2017).


O acolhimento implica no estabelecimento de relações de aproximação de modo
humanizado (CORREIO, et al., 2015), na perspectiva do desenvolvimento da autonomia
e sua efetivação estará relacionada com a utilização dos recursos disponíveis que se
adequem e concorram para a resolução dos problemas dos usuários (CARVALHO, et al.,
2015).
O acolher inicia-se no primeiro instante de um contato entre pessoas, é a
atenção, o ouvir, enfim, é uma relação de respeito mútua, necessária ao
desenvolvimento do trabalho, que vai aos poucos, organizando uma sociedade menos
individualista e mais passível de mudanças, de acordo com a necessidade do outro
(MEDEIROS, et al., 2010).
Foi realizado uma pesquisa no banco de dados da SCIELO sobre um estudo
avaliativo, de natureza qualitativa, em que se realizou um monitoramento sistemático
das mulheres atendidas pelo PNCCU em uma UBS no ano de 2012. Estima-se que, na
faixa etária de 25 a 64 anos, público alvo do PNCCU, residiam no território dessa UBS
2.600 mulheres, a pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética da

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 269


aaaaaaaaaaaaa Universidade Estadual de Londrina, sob o parecer nº 053/2013, CAAE nº
15588213.0.0000.5231, onde as mulheres participantes do estudo referiram
fragilidades e potencialidades quanto ao acesso e ao acolhimento do serviço de saúde
como medidas complementares para a garantia da continuidade do cuidado e do
consequente alcance da integralidade do serviço prestado. De acordo com as falas das
usuárias, a dificuldade da continuidade do cuidado já fica evidente no momento da
coleta do preventivo, sendo ressaltado como algo constrangedor, chato, vergonhoso e
horrível, resultando na recusa da mulher em realizar o tratamento. As consequências do
primeiro encontro entre profissional e usuário alteram de forma decisiva a passagem do
usuário pela unidade e a resolução de seus problemas. Mesmo expressando esses
sentimentos, a maioria das participantes do estudo reconhecem o exame como
necessário para o diagnóstico de patologias e que sua realização deve ser constante. Os
resultados nos levam a pensar sobre o problema do acesso ao tratamento necessário,
durante o processo de construção do SUS, foi propagado que a implementação da
Estratégia da Saúde da Família, suas ações e serviços, ampliaram o acesso aos usuários,
essa afirmação é válida quando se pensa na dimensão quantitativa do acesso e aumento
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

do número de pessoas atendidas pelo sistema na Atenção Básica. No entanto, torna-se


indispensável passar do enfoque estritamente quantitativo para o qualitativo, ou seja,
considerar, além do primeiro atendimento, a continuidade do cuidado na rede de
atenção e a qualidade do cuidado ao usuário.
As potencialidades e fragilidades no cuidado às mulheres que tiveram resultado
do exame de citologia alterado nos remete à proposta do acolhimento como diretriz
operacional dos serviços de saúde, este acontece, na relação usuário-serviço como um
dispositivo para propiciar o acesso. O vínculo entre equipe-população, desencadeia o
cuidado integral e modifica a clínica, processo mediado pela capacidade dos
trabalhadores de recepcionar, atender, escutar, dialogar, tomar decisão, amparar,
orientar e negociar.
Entretanto, apesar do que foi relatado pelas outras entrevistadas, uma usuária
declarou não haver escuta por parte do trabalhador de saúde. O contato para informar
sobre o diagnóstico, foi feito de maneira impessoal, e o encaminhamento para outro
serviço realizado não obteve esclarecimento sobre o agravo e tratamento proposto.
Esse depoimento nos leva a inferir que, nessa situação, o atendimento não esteve

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 270


aaaaaaaaaaaaa centrado no usuário, o que faz com que o mesmo assuma a condição de objeto, sendo
colocado à margem do plano terapêutico, com a ausência de interação e vínculo pode-
se gerar expectativas que não são alcançadas e frustrações com relação ao cuidado
prestado.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dezessete artigos científicos selecionados destacaram que a maioria das
mulheres possuem conhecimento sobre o câncer de colo do útero, e que ao longo da
vida trocaram informações com outras sobre o tema proposto como também relataram
que já obtiveram acesso ao atendimento de saúde através da Atenção Primária. Como
meio de prevenção primária, as ações educativas foram destacadas, e na prevenção
secundária, a realização do exame preventivo Papanicolau pelos profissionais de saúde.
As práticas que podem interferir na prevenção do Câncer de Colo do Útero, foram
evidenciadas nas características comportamentais das mulheres em não usar
preservativo nas relações sexuais e não realizar a colpocitologia oncótica de forma
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

periódica. Foi evidenciado que o cuidado contínuo das mulheres na prevenção do câncer
do colo de útero, é reflexo de um acolhimento ineficaz, o que caracteriza uma
propagação maior da doença.
É evidente que o acolhimento é como uma ação que por meio de diálogos
corresponsabiliza o usuário no processo da produção da saúde.
No cenário da prevenção do câncer de colo do útero, a atuação do enfermeiro
nas equipes da ESF revelou-se de importância fundamental, suas atividades são
desenvolvidas em múltiplas dimensões, entre elas: realização das consultas de
enfermagem e do exame de Papanicolau, ações educativas diversas junto à equipe de
saúde e comunidade, gerenciamento e contatos para o provimento de recursos
materiais e técnicos, controle da qualidade dos exames, verificação, comunicação dos
resultados e encaminhamentos para os devidos procedimentos quando necessário.
A análise realizada neste estudo trouxe claridade à importância do enfermeiro,
assim como de sua integração com os outros componentes da equipe de saúde e com a
comunidade. Nessa atuação de aspecto e olhar múltiplo é que se constrói o vínculo
necessário à prática que se resulta benéfica e se alicerça no conhecimento da realidade

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 271


aaaaaaaaaaaaa local e avaliação constante dos resultados para sistematizar as ações que visam à
redução do dano pela doença.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus, a nossa família e aos que nos apoiaram durante o
desenvolvimento desta obra.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Assistência do enfermeiro na educação em saúde, no câncer de colo do útero 276


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXI
DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO
TRABALHO DE PARTO VAGINAL
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-21
Anna Eduarda Linhares Rodrigues ¹
Bárbara Queiroz de Figueiredo ²
Deison Danrlei Roehrs ³
Marianna Dutra Milagre 4
¹ Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário Uninovafapi.
² Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário de Patos de Minas.
³ Graduando do curso de Medicina. Centro Universitário de Goiatuba.
4 Graduanda do curso de Medicina. Universidade de Uberaba.

RESUMO
O parto consiste em um processo global no qual o feto, a placenta e as membranas fetais
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

são expulsos do trato reprodutor materno. Já o trabalho de parto refere-se às


subsequentes contrações uterinas, que dilatam o colo uterino, de modo a facilitar a
saída do feto e da placenta. Os fatores preparatórios para o trabalho de parto
geralmente começam a atuar entre 34 e 38 semanas gestacionais. Embora ainda existam
incertezas quanto aos desencadeadores do trabalho de parto, sabe-se que diversos
hormônios agem direta ou indiretamente como pontapé inicial desse mecanismo
fisiológico. Para que o parto aconteça, uma cascata de alterações endócrinas iniciadas
pelo cérebro do bebê resulta na ativação de uma variedade de substâncias hormonais e
inflamatórias que têm o efeito de coordenar três eventos principais: amadurecimento
de sistemas e órgãos fetais essenciais, especialmente os pulmões, para os desafios na
vida fora do útero, transformar o colo do útero da mulher em uma estrutura mole e
prontamente dilatável e iniciar as contrações do útero que direcionarão o bebê através
do canal de parto para que aconteça o nascimento.

Palavras-chave: Parto; Gestação; Obstetrícia; Ocitocina.

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 277


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O parto consiste em um processo global no qual o feto, a placenta e as
membranas fetais são expulsos do trato reprodutor materno. Já o trabalho de parto
refere-se às subsequentes contrações uterinas, que dilatam o colo uterino, de modo a
facilitar a saída do feto e da placenta. Os fatores preparatórios para o trabalho de parto
geralmente começam a atuar entre 34 e 38 semanas gestacionais e embora ainda
existam incertezas quanto aos desencadeadores do trabalho de parto, sabe-se que
diversos hormônios agem direta ou indiretamente como pontapé inicial desse
mecanismo fisiológico (ZUGAIB, 2019).
Um dos fatores responsáveis por estimular as contrações uterinas na mãe é
uma cadeia de produção de hormônios fetais. Inicialmente, o hormônio liberador de
corticotrofina (CRH placentário) é secretado pelo hipotálamo do feto. Em seguida, esse
hormônio ativa a produção de adrenocorticotrofina (ACTH) pela hipófise. Por sua vez, o
ACTH estimula a secreção de cortisol pelo córtex da suprarrenal. Finalmente, o cortisol
participa na síntese de estrógenos. Assim, a contração do útero dá-se pela atuação de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

esteroides (LOWDERMILK et al., 2012).


Ademais, a ocitocina também exerce uma atividade importante neste momento,
sendo produzida pelo hipotálamo e armazenada na neuro-hipófise que, durante a
gestação, também é produzido pela decídua. Assim, ao se ligar a um receptor de
membrana nas células miometriais, ativa a formação do trifosfato de inositol, segundo
mensageiro, que libera cálcio armazenado no retículo sarcoplasmático e dessa forma
deflagra contrações uterinas. Sua concentração sérica é máxima por volta da 36ª
semana de gestação e não declina até o parto. Entretanto, sua eficácia maior ocorre em
uma fase mais avançada do trabalho de parto, pois antes do parto é observado um
acréscimo dos receptores miometriais de ocitocina (REZENDE et al., 2013).
Aliado a isso, a teoria da gangorra afirma que o parto ocorre em virtude do
estiramento miometrial crescente determinado pelo crescimento do concepto. Esse
estímulo contínuo que desencadearia o mecanismo regulador básico da distensão e
contração miometrial na gestação, dado pela clássica lei de Frank-Starling, em que a
distensão excessiva da fibra muscular leva a sua contração reflexa, é inibido pela alta
concentração de progesterona que mantém o útero refratário às contrações. Uma vez

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 278


aaaaaaaaaaaaa que ocorre diminuição da concentração de progesterona, o parto é deflagrado, e a
prostaglandina só deflagraria o parto diante de baixas concentrações de progesterona
(ZUGAIB, 2019).
Outrossim, a teoria prostaglandínica prevê que as prostaglandinas são
produzidas pela decídua, pelo miométrio e pelas membranas fetais, principalmente pelo
âmnio. O ácido araquidônico, precursor das prostaglandinas, é liberado pelos
fosfolípides das membranas celulares. O segundo estágio na síntese das prostaglandinas
é marcado pela redução/oxidação desse ácido pela ação da enzima COX, sendo a COX-1
produzida durante toda a gravidez, e a COX-2, cuja produção está aumentada em
resposta à ação das citocinas e dos fatores de crescimento mais marcadamente no
período próximo ao parto. Assim, a COX-2 seria a responsável pela liberação de
prostaglandinas pelas membranas fetais (LAWRENCE et al., 2016). Diante de tal
explanação, o objetivo deste estudo foi de caracterizar a fisiologia do trabalho de parto,
bem como suas principais fases.

2. METODOLOGIA
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo revisão narrativa da literatura, que


buscou evidenciar, por meio de análises empíricas e atuais, o determinismo fisiológico
do trabalho do parto. A pesquisa foi realizada através do acesso online nas bases de
dados National Library of Medicine (PubMed MEDLINE), Scientific Electronic Library
Online (Scielo), Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR), Google Scholar,
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e EBSCO Information Services, no mês de novembro
2021. Para a busca das obras foram utilizadas as palavras-chaves presentes nos
descritores em Ciências da Saúde (DeCS): em inglês: "delivery", "mechanism",
"deciduous", "oxytocin", "physiology" e em português: "parto", "mecanismo",
"decídua", "ocitocina", "fisiologia"
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos originais, que
abordassem o tema pesquisado e permitissem acesso integral ao conteúdo do estudo,
publicados no período de 2002 a 2021, em inglês e português. O critério de exclusão foi
imposto naqueles trabalhos que não estavam em inglês ou português, que não tinham
passado por processo de Peer-View e que não abordassem o tema da pesquisa. A
estratégia de seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas: busca nas bases de dados

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 279


aaaaaaaaaaaaa selecionadas; leitura dos títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles
que não abordavam o assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra
dos artigos selecionados nas etapas anteriores. Assim, totalizaram-se 14 artigos
científicos para a revisão narrativa da literatura, com os descritores apresentados acima.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Fisiologia das contrações uterinas


A queixa dolorosa relatada pelas pacientes relaciona-se com a contração e
resulta da projeção da apresentação fetal contra o segmento inferior e da compressão
dos órgãos vizinhos, sendo as contrações com intensidade de 40 a 50 mmHg não
identificadas pelas gestantes. Já a as fibras miometriais podem ser excitadas, sendo que
a resposta uterina a eventos estressantes está relacionada à produção de catecolaminas
(adrenalina e noradrenalina) e é seguida por alterações da contratilidade, por vezes
associadas ao trabalho de parto prematuro. Ademais, a capacidade elástica do
miométrio é representada pelas características de extensibilidade e retratilidade. A
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

extensibilidade diz respeito à capacidade de adaptação da parede miometrial às


alterações do conteúdo uterino ao longo da gestação e, principalmente, no trabalho de
parto (CUNNINGHAM et al., 2021).
A retratilidade, por outro lado, refere-se à redução abrupta do volume de líquido
amniótico (rotura das membranas ovulares), e é seguida pelo encurtamento das fibras
contráteis miometriais (com aumento de sua espessura), mantendo-se praticamente
inalterado o tônus uterino. Na expulsão fetal, à medida que a apresentação avança pelo
canal de parto, a parede uterina, por causa da retratilidade, mantém-se adaptada sobre
o corpo fetal, e após a expulsão do feto, a parede adapta-se sobre a placenta. Depois da
dequitação, ainda em razão da retratilidade, as fibras miometriais comprimem os vasos
que as atravessam, garantindo a hemostasia local (que caracteriza clinicamente o
chamado “globo vivo de Pinard”). Ademais, a tonicidade é representada pela pressão
intrauterinano intervalo de duas contrações e pode estar alterada para mais (hipertonia)
ou para menos (hipotonia) (LOWDERNILK et al., 2012).
Outrossim, o útero apresenta atividade contrátil durante toda a gestação. Essas
contrações são de dois tipos: de alta frequência e baixa amplitude (tipo A), geralmente

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 280


aaaaaaaaaaaaa localizadas, com frequência de 1 contração/min e intensidade de 2 a 4 mmHg; e de alta
amplitude (contrações de Braxton Hicks ou tipo B), cuja intensidade é de 10 a 20 mmHg
e se difundem de forma parcial ou total pelo útero. Sua frequência aumenta
progressivamente com a evolução da gestação, tendo acréscimo máximo nas quatro
semanas que antecedem o parto. Antes de 28 semanas de gestação, elas são
quiescentes e, a partir de então, há aumento gradual e coordenado na frequência e na
intensidade. Desse modo, o início do trabalho de parto é marcado pela ocorrência de
duas contrações a cada 10 minutos, com intensidade de 20 a 40 mmHg (ZUGAIB, 2019).

Análise qualitativa e quantitativa das contrações uterinas


Uma maneira mais simples de avaliar o trabalho uterino durante o parto é por
meio da atividade uterina expressa pelo produto entre a intensidade e a frequência de
contrações em 10 minutos, cuja unidade de medida é denominada Unidade Montevidéu
(mmHg/10 minutos). Dessa forma, a análise quantitativa da pressão amniótica avalia as
contrações uterinas quanto a sua intensidade e sua frequência em determinado
intervalo. O tônus uterino representa a menor pressão entre duas contrações, e a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

intensidade de cada contração é dada pela elevação que ela determina na pressão
amniótica acima do tônus uterino, e a frequência corresponde ao número de contrações
no período de 10 minutos (CUNNINGHAM et al., 2021).
As contrações são percebidas pela palpação quando sua intensidade é superior
a 10 mmHg. Dessa forma, o início e o fim das ondas contráteis não podem ser
percebidos, o que determina uma subquantificação clínica. A duração clínica da
contração uterina (em média 70 segundos, podendo variar de 40 a 100 segundos) é mais
curta que a duração real (200 segundos). As contrações uterinas tornam-se dolorosas
quando a intensidade é superior a 15 mmHg, valor suficiente para dilatar e distender o
útero moldando indiretamente o canal de parto, e esse efeito sobre o útero permanece
por cerca de 60 segundos, ao menos em sua forma palpável. O tônus uterino é inferior
a 10 mmHg. Contudo, em algumas situações patológicas, ele pode ser superior a 30
mmHg, tornando as contrações imperceptíveis. A principal delas é o descolamento
prematuro da placenta, em que não se observa o tônus uterino de repouso (REZENDE
et al., 2013).

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 281


aaaaaaaaaaaaa Contrações uterinas durante a gestação
Durante a gestação, o miométrio apresenta crescimento constante e, em virtude
do bloqueio progestagênico, há baixa frequência de contrações. Ademais, até por volta
de 28 semanas de gestação, as contrações predominantes são as do tipo A, quando,
então, as do tipo B tornam-se mais frequentes, atingindo incremento máximo quatro
semanas antes do início do trabalho de parto. No entanto, ambos os tipos de contrações
estão sujeitos ao bloqueio progestagênico e essas contrações não são dolorosas, sendo
admitido por alguns autores que sua principal função é estimular a circulação fetal. Já o
seu efeito sobre a formação e preparo do segmento inferior não está claro. Um fator
importante é que o maior incremento do peso fetal se dá a partir de 28 semanas de
gestação, o que coincide com a maior frequência das contrações de Braxton Hicks (tipo
B) (LAWRENCE et al., 2016).
Nas últimas semanas de gravidez, as contrações de Braxton Hicks apresentam
frequência maior e, em consequência disso, ocorrem distensão do segmento inferior do
útero e pequeno grau de encurtamento cervical, o que justifica a percepção de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

diminuição do volume do abdome nessa fase (queda do ventre). Constituem motivo


frequente de queixas por parte das gestantes, e a conduta frente à queixas de incômodo
por causa dessas contrações é simplesmente a administração de antiespasmódicos
(escopolamina, por exemplo) e o repouso relativo. Assim, essas contrações
absolutamente fisiológicas devem ser bem distinguidas das contrações dolorosas que
de fato modificam o colo, constituindo trabalho de parto. A principal distinção, além da
sensação dolorosa, é a ausência de ritmo nas contrações de Braxton Hicks e a sua
cessação com a tomada de uterolítico ou com o repouso (ASHEIM et al., 2017).

Contrações uterinas durante o parto


O diagnóstico de trabalho de parto se firma diante de contrações uterinas
regulares e da modificação cervical progressiva. O início desse trabalho é considerado
quando a dilatação atinge 2 cm, estando a atividade uterina compreendida entre 80 e
120 unidades Montevidéu. As contrações uterinas se iniciam na parte superior do útero,
local em que são mais intensas, e se propagam com intensidade decrescente pelo corpo
do útero até atingir o segmento inferior. A essas três características das contrações
uterinas intraparto deu-se o nome de tríplice gradiente descendente. A manutenção

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 282


aaaaaaaaaaaaa desse tríplice gradiente descendente é fundamental para o adequado desenrolar do
trabalho de parto. Durante a fase de dilatação, a frequência das contrações uterinas é
de 2 a 3 em 10 minutos, com intensidade de aproximadamente 30 mmHg
(CUNNINGHAM et al., 2021).
Já no período expulsivo, pode chegar a 5 contrações em 10 minutos, com
intensidade de 50 mmHg. Nessa fase, soma-se às contrações uterinas a contração
voluntária da musculatura abdominal, denominada puxo, cuja função é aumentar a
pressão abdominal e facilitar a expulsão do feto. A cada contração uterina, durante o
trabalho de parto, admite-se que sejam impulsionados do território placentário cerca
de 300 mL de sangue, determinando aumento do retorno venoso ao coração e
consequente incremento do volume ejetado na sístole cardíaca. Soma-se a esse
incremento, após a expulsão do feto, a diminuição da pressão exercida pelo útero
gravídico sobre a veia cava inferior. Esses fenômenos devem ser observados de forma
cuidadosa, sobretudo em pacientes cardiopatas ou com síndromes hipertensivas graves,
pois o aumento súbito do retorno venoso pode predispor a quadro de edema pulmonar
agudo (GUPTA et al., 2017).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Contrações uterinas no puerpério


Após a expulsão fetal, o útero continua a apresentar contrações rítmicas cuja
função é propiciar a dequitação fisiológica. Todavia, essas contrações são indolores e,
após duas ou três contrações, a placenta é impelida para o canal de parto. Esse primeiro
momento do secundamento constitui o chamado tempo corpóreo e dura entre 6 e 10
minutos. As contrações que ocorrem no puerpério imediato têm como principal função
auxiliar a dequitação e a hemostasia (ZUGAIB, 2019).
Esse fenômeno de miotamponamento determina a “laqueadura viva” dos vasos
uterinos e faz com que o útero fique devidamente contraído, o que foi denominado
“globo de segurança”. Decorridas as primeiras 12 horas após o parto, registra-se uma
contração em 10 minutos, e nos dias subsequentes sua intensidade e sua frequência
reduzem-se. Vale salientar que, durante as mamadas, a sucção do leite determina a
liberação de ocitocina, o que causa aumento na frequência das contrações e
ocasionalmente pode provocar desconforto na puérpera (dor de tortos) (LAWRENCE et
al., 2016).

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 283


aaaaaaaaaaaaa Determinismo do parto
Na primeira metade da gestação, o útero se expande por hiperplasia e hipertrofia
celular, ocorrendo em seguida acomodação da unidade fetoplacentária e crescimento
contínuo por estiramento do miométrio. Com a progressão da gravidez, o útero
apresenta contrações de dominância não fúndica e então, mais próximo ao parto, há
início da dominância fúndica e coordenação das contrações. O processo de
amadurecimento cervical que ocorre algumas semanas antes da dominância fúndica
envolve diminuição da concentração total de colágeno; alteração da solubilidade do
colágeno, dependendo da degradação e também da síntese das fibras de colágeno com
estrutura mais fraca, e aumento da colagenólise (LEMOS et al., 2017).
Associada a esta situação, existe uma forte resposta inflamatória caracterizada
pela maior concentração de macrófagos, neutrófilos e eosinófilos e pelo aumento de
interleucinas (IL-8) e prostaglandinas. A ativação uterina é realizada pelas uterotropinas,
cuja principal função é tornar o útero responsivo aos estímulos contráteis determinados
pelas uterotoninas. As uterotropinas são representadas pelos receptores da ocitocina,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

receptores de prostaglandinas, gap junctions, IL (1-beta, 6 e 8) e cicloxigenase (COX). As


uterotoninas incluem as prostaglandinas e a ocitocina. Levando em conta o exposto, a
gênese do trabalho de parto não pode ser considerada apenas em termos de
contratilidade miometrial. Ademais, é preciso incluir as alterações bioquímicas no tecido
conjuntivo, que determinam o amadurecimento e o esvaecimento cervical (LOWE,
2002).

3.6.1. Parturição
O parto é caracterizado por contrações das fibras miometriais, cujas principais
funções são a dilatação cervical e a expulsão do feto através do canal de parto. Essas
contrações são dolorosas, porém, antes do seu início, o útero sofre modificações
fisiológicas e bioquímicas locais concomitantes ao aumento da frequência de contrações
indolores (contrações de Braxton Hicks), até que o verdadeiro trabalho de parto seja
deflagrado. O processo fisiológico que regula tais modificações não possui um marco
bem definido como as fases clínicas do parto, contudo, pode ser dividido em quatro
etapas: quiescência (fase 1), ativação (fase 2), estimulação (fase 3) e involução (fase 4)
(CUNNINGHAM et al., 2021).

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 284


aaaaaaaaaaaaa A quiescência (fase 1) é caracterizada por relativa ausência de resposta a agentes
que determinam a contratilidade uterina. Ela se inicia com a implantação do zigoto e
perdura por quase toda a gestação. Apesar de algumas poucas contrações serem
observadas nesse período, elas não modificam a estrutura cervical nem causam
dilatação do colo uterino. A ativação (fase 2) prepara o útero e o canal cervical para o
trabalho de parto e dura aproximadamente 6 a 8 semanas. Esta preparação determina
algumas modificações cervicais e caracteriza-se pela descida do fundo uterino (REZENDE
et al., 2013).
A estimulação (fase 3), que pode ser clinicamente dividida em três períodos
(dilatação, expulsão e dequitação) e cujo fenômeno mais importante são as contrações
uterinas efetivas. Para um adequado trabalho de parto, essas contrações devem
apresentar uma frequência regular entre duas e cinco contrações a cada 10 minutos,
intensidade de 20 a 60 mmHg (média de 40 mmHg) e duração entre 30 e 90 segundos
(média de 60 segundos). Já a involução (fase 4) destaca-se pelo retorno ao estado pré-
gravídico (puerpério). Seu início ocorre após a dequitação e é caracterizado por uma
contração persistente que promove a involução uterina (GUPTA et al., 2017).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A fase de dilatação, ou primeiro período, inicia-se com as primeiras contrações


dolorosas, cuja principal ação é a modificação da cérvix. Assim, esse período começa
com as primeiras modificações cervicais e termina com a dilatação completa do colo
uterino (10 cm) de modo a permitir a passagem fetal. Essas modificações abrangem dois
fenômenos distintos: o esvaecimento cervical e a dilatação propriamente dita. Nas
primíparas: primeiro ocorrem o esvaecimento, de cima para baixo, e depois a dilatação
do orifício externo; já nas multíparas, são simultâneos (LIAO et al., 2005).
O esvaecimento ou apagamento do canal cervical consiste na incorporação do
colo à cavidade uterina, terminando com a formação de um degrau ao centro da
abóbada cervical. Esse processo ativo é decorrente de alterações bioquímicas que levam
à fragmentação e à redisposição das fibras de colágeno e à alteração na concentração
de glicosaminoglicanas. Próximo ao termo, ocorre aumento de infiltrado inflamatório
no canal cervical decorrente de mudanças locais que promovem a maturação cervical e
da lise de fibras de colágeno. Em modelos animais, a colagenólise está sob a influência
de prostaglandinas, principalmente da prostaglandina E2, e de alguns hormônios
esteroides placentários (VELHO et al., 2012).

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 285


aaaaaaaaaaaaa A dilatação do orifício externo do colo tem como principal finalidade ampliar o
canal de parto e completar a continuidade entre útero e vagina. À medida que a
dilatação cervical progride, surge um espaço entre o polo cefálico e as membranas
ovulares (âmnio e cório), no qual ficará coletado o líquido amniótico (bolsa das águas),
cuja função é auxiliar as contrações uterinas no deslocamento do istmo. A bolsa das
águas se forma no polo inferior do ovo no decorrer do trabalho de parto, e sua rotura
causa a saída parcial do seu conteúdo líquido, ocorrendo, via de regra, no período em
que a dilatação cervical é maior que 6 cm. Todavia, essa rotura pode ser precoce (no
início do trabalho de parto) (SOUZA et al., 2011).
Quando a rotura ocorre contemporânea à expulsão do feto, é denominada
“nascimento de feto empelicado”. A dilatação cervical é representada por uma curva
sigmoide dividida em fase latente e fase ativa, sendo a última composta de três
subdivisões: aceleração: quando velocidade de dilatação começa amodificar-se e a
curva eleva, aceleração máxima: quando a dilatação passa de 2 a 3 cm a 8 a 9 cm e
desaceleração: que precede a dilatação completa (ROCHA et al., 2009).
A fase latente apresenta como característica contrações mais eficazes (em
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

termos de coordenação e intensidade) sem, contudo, determinar modificações


significativas na dilatação cervical. Apesar de ser difícil estabelecer exatamente a
duração fisiológica do parto, o tempo é um dos parâmetros mais importantes para
identificar alterações na evolução do parto. Assim, de forma geral, a fase latente
normalmente dura 8 horas, porém com variações conforme a paridade e mesmo entre
gestantes de mesma paridade. A dilatação nessa fase é em torno de 0,35 cm/h, e sua
evolução e duração dependem das modificações que ocorrem nas duas semanas que
precedem o parto. Outrossim, a fase latente será considerada prolongada quando durar
mais que 20 horas em primíparas e mais que 14 em multíparas (ZUGAIB, 2019).
A fase ativa normalmente se inicia com dilatação cervical de 4 cm e dura em
média 6 horas nas primíparas, com velocidade de dilatação 1,2 cm/h, e 3 horas nas
multíparas, com velocidade de dilatação de 1,5 cm/h. Considera-se que ocorreram
mudanças nas características das gestantes (maior índice de massa corporal, idade
materna mais elevada no primeiro parto) e também na prática clínica (maior uso de
ocitocina e analgesia) (CAUS et al., 2012).

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 286


aaaaaaaaaaaaa O diagnóstico de trabalho de parto está condicionado à presença de contrações
uterinas com ritmo e características peculiares (pelo menos duas em 10 minutos),
combinadas a alterações progressivas no colo uterino (esvaecimento e dilatação de pelo
menos 2 cm) e à formação da bolsa das águas. Dessa forma, não se deve considerar
isoladamente a presença de contrações ou mesmo quantificar a dilatação cervical, mas
sim todo o conjunto.Na segunda fase do parto, denominada expulsão ou segundo
período, o feto é expelido do útero através do canal de parto por meio da ação
conjugada das contrações uterinas e das contrações voluntárias dos músculos
abdominais (puxos). Nesse período, ocorre a maioria dos fenômenos mecânicos do
parto e o canal de parto é completamente formado, ou seja, o segmento inferior do
útero, o canal cervical totalmente dilatado e a vagina formam uma única cavidade
(ASHEIM et al., 2017).
O segundo período inicia-se com a dilatação completa e se encerra com a saída
do feto. Uma vez completada a dilatação, o útero fica imobilizado pela ação de
contenção dos ligamentos largo (lateralmente), redondo (superiormente) e uterossacro
(posteriormente); e a resultante de força das contrações miometriais converge sobre o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

orifício interno do colo uterino, contra o qual a apresentação fetal é impelida (LIAO et
al., 2005). A descida do polo cefálico pelo canal de parto é representada por uma curva
hiperbólica e compreende duas fases bem definidas: fase pélvica e fase perineal. A fase
pélvica caracteriza-se pela dilatação completa do colo uterino e pela apresentação
acima do plano +3 de De Lee, enquanto a fase perineal apresenta a cabeça rodada e em
um plano inferior a +3 de De Lee. A duração do período de expulsão está condicionada
à proporção cefalopélvica e à eficiência contrátil do útero e da musculatura abdominal.
Assim, pode durar em média 30 minutos nas multíparas e 60 minutos nas primíparas
(LAWRENCE et al., 2016).
É difícil determinar o intervalo máximo de tempo que seria seguro para a duração
do segundo período. Avaliam que diante de vitalidade fetal normal o período expulsivo
pode se prolongar por um tempo maior e consideram período expulsivo prolongado
quando ultrapassa, em primíparas, 3 horas sem analgesia e, em multíparas, 2 horas sem
analgesia. Relatam, ainda, que a duração do segundo estágio teria acréscimo de 1 hora
em sua duração caso fosse realizada analgesia epidural (ZUGAIB, 2019).

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 287


aaaaaaaaaaaaa Nesse período, também chamado de secundamento ou dequitadura, o útero
expele a placenta e as membranas (após o nascimento do feto). Seu descolamento
ocorre em virtude da diminuição do volume uterino depois da expulsão fetal, associada
às contrações uterinas vigorosas e indolores. Há dois tipos clássicos de descolamento,
o central (descolamento de Baudelocque-Schultze) e o marginal ou periférico
(descolamento de Baudelocque-Duncan), definidos, respectivamente, quando
começam no centro ou lateralmente (CUNNINGHAM et al., 2021).
Classicamente, no descolamento central, a primeira face placentária visualizada
na rima vulvar é a face fetal e no periférico visualiza-se na rima a face materna. O
descolamento central é mais frequente e apresenta sangramento após a dequitação,
com formação de hematoma retroplacentário. O descolamento marginal, menos
comum, tem escoamento de sangue antes da total expulsão da placenta. A dequitação
ocorre entre 10 minutos e 1 hora após o parto. Fisiologicamente, sabe-se que ela deve
ocorrer dentro de 20 a, no máximo, 30 minutos. Porém, em 80% dos partos, a
dequitação se dá nos primeiros 10 minutos (REZENDE et al., 2013).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fisiologia do parto é complexa, o que dificulta até mesmo o diagnóstico de
início do trabalho de parto, e as alterações no colo e na frequência das contrações
uterinas são provavelmente os dois sinais clínicos mais usados para avaliar o parto,
embora este último não reflita a força do parto. Ademais, controvérsias também
persistem sobre qual o melhor meio para se avaliar e quantificar a contratilidade
uterina.

REFERÊNCIAS
ASHEIM, V., et al. Perineal techniques during the second stage of labour for reducing
perineal trauma. Cochrane Database Syst Rev., v. 34, n. 6, p. 1-19, 2017.

CAUS, E. C. M., et al. O processo de parir assistido pela enfermeira obstétrica no


contexto hospitalar: significado para as parturientes. Escola Anna Nery, v. 16, n.
1, p. 34-40, 2012.

CUNNINGHAM, F. G., et al. Obstetrícia de Williams, 25ª edição, Editora McGraw, 2021.

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 288


aaaaaaaaaaaaa
GUPTA, J. K., et al. Position in the second stage of labour for women without epidural
anaesthesia. Cochrane Database Syst Rev., v. 12, n. 5, p. 1-13, 2017.

LAWRENCE, A., et al. Maternal positions and mobility during first stage labour. Cochrane
Database Syst Rev., v. 39, n. 8, p. 1-25, 2016.

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LIAO, J. B., et al. Normal labor: Mechanism and duration. Obstet Gynecol Clin North
AM., v. 32, n. 4, p. 145-164, 2005.

LOWDERMILK, D. L. et al. Saúde da Mulher e Enfermagem Obstétrica. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2012.

LOWE, N. K. The nature of labor pain. Am J Obstet Gynecol., v. 186, n. 1, p. 16-24, 2002.

REZENDE, J. M., et al. Obstetrícia. 11ª edição, Guanabara Koogan, 2013.

ROCHA, I. M. S., et al. O partograma como instrumento de análise da assistência ao


parto. Revista Brasileira da Escola de Enfermagem, v. 43, n. 4, p. 880-889, 2009.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

SOUZA, T. G., et al. A humanização do nascimento: percepção dos profissionais de saúde


que atuam na atenção do parto. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 32, n. 3, p.
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VELHO, M. B., et al. Vivência do parto normal ou cesáreo: revisão integrativa sobre a
percepção das mulheres. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 21, n. 2, p. 458-
466, 2012.

ZUGAIB, M. Obstetrícia. 4ª edição, Editora Manole, 2019.

DETERMINISMO FISIOLÓGICO DO TRABALHO DE PARTO VAGINAL 289


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXII
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE
O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM
TRANSTORNOS MENTAIS PUERPERAIS
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-22
Carla Patrícia Rodrigues Moreira Leal ¹
Luciano Godinho Almuinha Ramos ²
¹ Graduando do curso de Enfermagem. Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação – IBMR
² Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal Fluminense. Especialista em Oncologia Clínica pela Universidade
Veiga de Almeida. Professor DNS1 do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação-IBMR

RESUMO
O presente estudo versa sobre a atuação do enfermeiro durante o pós-parto, com
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

pacientes com transtornos mentais puerperais. Tem como objetivo destacar a


importância da atuação do enfermeiro durante o pós-parto de mulheres que
apresentam transtornos mentais no puerpério. Foi efetuada uma revisão integrativa
com a seguinte questão norteadora: Qual a importância da atuação do enfermeiro
durante o pós-parto, frente a pacientes com transtornos mentais puerperais? A busca
das publicações foi realizada nas bases de dados Medline, Lilacs, BDENF e Scielo. De
acordo com os critérios de inclusão, foram selecionados dez artigos, sete publicados na
língua portuguesa e três publicados na língua inglesa, com texto disponível na íntegra,
entre os meses de março a maio de 2021, utilizando-se os seguintes descritores:
“Transtornos mentais”, “depressão pós-parto”, “gravidez”, “papel do enfermeiro”. Para
a discussão foi realizada a categorização dos trabalhos por similaridade de conteúdo,
sendo construídas três categorias de discussão para a análise: “Depressão pós-parto -
Uma realidade solitária no cuidado com a puérpera”; “Papel do enfermeiro com
pacientes com transtornos mentais puerperais – O início de uma longa jornada” e
“Estratégias e protocolos na assistência às puérperas com transtornos mentais
puerperais”. Conclui-se que há a necessidade de que o enfermeiro tenha conhecimento
sobre transtornos mentais puerperais para, assim, acompanhar a mulher de forma
ampla, oferecendo-lhe uma assistência integral, a partir do período gestacional até o
puerpério, reduzindo o risco de agravos futuros à sua saúde e à de seu bebê.

Palavras-chave: Transtornos mentais. Depressão pós-parto. Gravidez. Papel do


enfermeiro.

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
290
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Receber a confirmação de uma gravidez é para a mulher, na maioria das vezes,
um momento de realização, de concretização de um sonho. No entanto, os nove meses
de gestação e principalmente o período compreendido entre a primeira hora pós-parto
e o quadragésimo segundo dia (período puerperal ou puerpério), são acompanhados de
muitas mudanças envolvendo a recente mãe (puérpera), mas também todo o seu círculo
de relações. Um número substancial de mulheres, vivencia durante este período,
sintomas perturbadores que podem fazer desta experiência a pior da sua vida (MACEDO
et al., 2014).
Com o nascimento de um bebê, é comumente se afirmar que “nasce também
uma mãe”, uma vez que a puérpera ao receber o seu filho nos braços, recebe também
um aumento brusco de responsabilidade por se tornar, a partir daquele momento,
referência de um ser vivo totalmente dependente de seus cuidados e assistência, além
de se deparar com a necessidade de uma reorganização psicossocial e de adaptação a
um novo papel e identidade. Estas mudanças, juntamente com as desordens físicas e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

hormonais próprias do puerpério, podem gerar desânimo, insegurança, reforçando a


condição de vulnerabilidade natural e inerente a esta fase da sua vida, mas que tende a
cessar naturalmente ao longo dos meses, com o fortalecimento e confiança na relação
do binômio mãe-bebê e com o apoio do parceiro, de familiares e amigos próximos. Ou
não, estas alterações podem frustrar o sentimento inicial de felicidade da recém-mãe, o
que pode culminar em alguma doença intercorrente da gravidez e do puerpério, como
algum tipo de transtorno mental (MONTENEGRO & FILHO, 2017).
De acordo com a definição presente no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (American Psychiatric Association, 2014), o transtorno mental é
uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na
regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção
nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao
funcionamento mental. Esta psicopatologia, está frequentemente associada a
sofrimento ou incapacidade significativa que afeta atividades sociais, profissionais ou
outras atividades importantes.

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
291
aaaaaaaaaaaaa Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2010), os transtornos mentais
constituem um agravante à saúde pública, mais de 400 milhões de pessoas sofrem de
algum transtorno mental. E nesse contexto, estudos atuais demonstram que em relação
aos homens, as mulheres são mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças mentais,
embora esta diferença esteja cada vez mais próxima, principalmente no que concerne a
transtornos depressivos, (OPAS, 2017). Onde a gestação e o puerpério podem surgir
como fatores predisponentes do desenvolvimento e exacerbação de problemas de
saúde mental (MACEDO et al., 2014).
Entre os transtornos mentais que podem surgir no decorrer da gravidez e após o
nascimento do bebê, destaca-se a depressão pós-parto (DPP). A DPP se diferencia de
outros tipos de depressão, ela se insere em uma trilogia de distúrbios da psiquiatria
perinatal, classicamente caracterizada por três entidades distintas: O “Baby Blues”, tido
também como “Blues” puerperal ou tristeza puerperal, as psicoses puerperais e as
depressões pós-parto; e se destaca como protagonista de diversos trabalhos científicos
que abordam esta temática. Esta doença é capaz de gerar alterações somáticas e
cognitivas, no pós-parto é uma condição em que a mulher se encontra num estado de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

profunda tristeza, logo após a dar à luz ao seu filho, não existe uma causa especifica,
mas estudos mostram que diversos fatores podem desencadear o aparecimento da
depressão. A violência obstétrica, violência por parte do parceiro, a gravidez de alto
risco, a descoberta de alterações genéticas no feto, a gravidez na adolescência e até
mesmo o baixo nível socioeconômico, são fatores de predisposição.
Deste modo, acredita-se que o papel do enfermeiro seja de suma importância
para diminuir consideravelmente a ocorrência destas doenças na mulher, pois ele é o
profissional que mais interage com a gestante desde o pré-natal até ao nascimento do
bebê. Através da consulta de enfermagem, este profissional pode identificar situações
de risco e intercorrências no ciclo gravídico-puerperal, que podem desencadear algum
tipo de transtorno mental futuro. Ele poderá, desta forma, intervir precocemente
anulando o surgimento destas patologias ou evitando o seu avanço para formas mais
graves, com uma abordagem humanizada, focada na mulher como protagonista deste
grande evento e assim, proporcionar uma assistência adequada e melhor qualidade de
vida, não somente para a esta, mas para todos os que fazem parte do seu círculo de
relações e em particular, para o recém-nascido (BRASIL, 2000).

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
292
aaaaaaaaaaaaa Assim, o presente trabalho teve como objetivo destacar a importância do
enfermeiro durante o pós-parto, frente a pacientes com transtornos psicológicos
puerperais.

2. MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa do tipo revisão integrativa com a seguinte questão
norteadora: Qual a importância da atuação do enfermeiro durante o pós-parto, frente
a pacientes com transtornos mentais puerperais? Este método tem como finalidade
sintetizar os resultados obtidos em pesquisas realizadas sobre um mesmo tema ou
questão, de forma ordenada e abrangente, fornecendo informações mais amplas sobre
um assunto ou problema da área da saúde. Constituindo, assim, um corpo de
conhecimento científico mais acessível, pois possibilita ao profissional da área o alcance
de diversas pesquisas realizadas, em um único estudo. Além de servir como meio de
facilitar o preenchimento de lacunas do conhecimento, através do estimulo para a
realização de novos estudos (ERCOLE et.al., 2014).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Para a elaboração da revisão integrativa foram percorridas as seguintes etapas:


definição do objetivo e objeto de pesquisa; formulação da questão norteadora: “Qual a
importância da atuação do enfermeiro durante o pós-parto, frente a pacientes com
transtornos mentais puerperais? ”; busca das referências, por meio da Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS), que faz procura simultânea nas principais bases de dados de amplitude
nacional e internacional, sendo selecionadas por este filtro, as bases: Lilacs (Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BDENF (Base de dados em
Enfermagem) e MEDLINE (Sistema On-line de Busca e Análise de Literatura Médica), e
também através base de dados SciELO (Scientific Electronic Library On-line), no período
de março a abril de 2021, utilizando os descritores: “transtornos mentais”, “depressão
pós-parto”, “gravidez” e “papel do enfermeiro”, indexados nos Descritores em Ciências
da Saúde (DECS). Optou-se pela utilização do operador booleano “AND” entre os
descritores selecionados, em detrimento do operador booleano “OR”, para se ampliar
o número de resultados possíveis, definindo-se como estratégia de procura:
“transtornos mentais” AND “depressão pós-parto” AND “gravidez” AND “papel do
enfermeiro”, da qual resultaram 3 artigos (todos da base de dados Medline). Devido ao
número reduzido de artigos mais 5 passos estratégicos de procuram foram

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
293
aaaaaaaaaaaaa estabelecidos: 1° passo: “depressão pós-parto” AND “gravidez” AND “papel do
enfermeiro”, 8 artigos foram encontrados (nas bases de dados Medline, Lilacs, BDENF e
Scielo); 2° passo: “transtornos mentais” AND “gravidez” AND “papel do enfermeiro”, 13
resultados de pesquisa (Base de dados: Scielo e Medline); 3° passo: “gravidez” AND
“papel do enfermeiro”, 197 documentos encontrados para a pesquisa (base de dado:
Medline, Lilacs e BDENF) ; 4° passo: “depressão pós-parto” AND “papel do enfermeiro”,
47 artigos disponíveis para a pesquisa (Scielo, Medline, Lilacs e BDENF); 5° passo:
“transtornos mentais” AND “depressão pós-parto” AND “papel do enfermeiro, com 3
resultados apenas para esta pesquisa (base de dados Medline). A presença constante
do descritor ”papel do enfermeiro” em todas as etapas de procura foi enfocada por ser
primordial da questão norteadora, juntamente com o descritor “depressão pós-parto”.
No entanto também foi feita a busca isolada do descritor “gravidez” em conjunto com
o descritor “papel do enfermeiro” e destes dois com o descritor “transtornos mentais”,
visto o contexto gravidez funcionar como desencadeador da depressão pós-parto e
neste âmbito surgirem documentos relevantes para o trabalho. O mesmo não foi feito
com o descritor “transtornos mentais”, pois este não representa uma situação de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

desenvolvimento da DPP, ele pode surgir como consequência da gestação, do puerpério,


e da qual faz parte a DPP e outros transtornos puerperais. Entendeu-se que a sua
pesquisa isolada traria uma variedade de conteúdo com pouca expressão para o estudo.
Em seguida foi efetuada a procura pelos artigos, de forma on-line, onde os
critérios de inclusão foram: responder à questão norteadora, ter publicação em língua
portuguesa, inglesa, espanhola ou francesa, conter texto completo e com
disponibilidade on-line na íntegra, gratuito, com publicação realizada no máximo há 5
anos (2016 a 2021), pois pensou-se que um corte temporal superior, tornasse o estudo
desatualizado; e os de exclusão foram: artigos pagos, artigos de revisão, resumo de
artigos, capítulos de livros, estudos, artigos que não respondessem à questão
norteadora, artigos disponíveis em sites não reconhecidos pela comunidade científica e
artigos publicados fora do período citado.
A extração das informações dos artigos, em um primeiro momento, foi feita
através de uma leitura dos títulos e de uma leitura dos seus resumos, e em um segundo
momento, pela leitura integral desses artigos, objetivando-se a eleição daqueles que
realmente apresentassem aspetos relevantes para o estudo, procedida pela elaboração

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
294
aaaaaaaaaaaaa de um banco de dados com as informações pertinentes e do preenchimento do quadro
sinóptico. Em relação à avaliação dos artigos, esta foi realizada através de uma leitura
crítica, conforme é possível observar na figura 1, que evidencia a seleção total dos
artigos encontrados nas bases de dados e após a aplicação dos critérios de inclusão e
exclusão, até à eleição do número final de artigos. Para finalizar a revisão integrativa,
houve a criação de categorias de discussão, com análise dos tópicos que se sobressaíram
na leitura.

Figura 1 – Esquematização da seleção total dos artigos elegíveis para o estudo


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Autoria própria.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme a informação compilada no Quadro 1, distribuída entre os seguintes
tópicos: título, autor do artigo, ano de publicação, base de dados, objetivo e método,
podemos observar que: esta revisão teve a sua amostra composta por 10 artigos, sendo
7 escritos na língua portuguesa e 3 na língua inglesa; em relação à base de dados de
origem, 6 se encontravam na base de dados SCIELO, 1 na base de dados BDENF, 1 na
base de dados LILACS e 2 se duplicaram na base de dados BDENF e LILACS.
Quanto ao ano de publicação, os artigos elegíveis para esta revisão integrativa,
seguiram o recorte temporal previamente estabelecido no critério de inclusão - os
últimos 5 anos - onde foram obtidos: 3 (30%) artigos do ano de 2020, 2 (20%) artigo do

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
295
aaaaaaaaaaaaa ano de 2019, 2 artigos (20%) do ano de 2018, 2 artigo (20%)) do ano de 2017 e 1 artigo
do ano de 2016 (10%). Nesta busca não foram encontrados artigos publicados durante
o primeiro semestre do ano vigente (2021).
No que diz respeito à metodologia desenvolvida nos estudos escolhidos,
tivemos: 1 (10%) artigo que apresentou abordagem descritiva qualitativa, 1 (10%) com
abordagem descritiva quantitativa, 1 (10%) estudo com abordagem exploratória, 1
(10%) com abordagem transversal, 1 (10%) com abordagem correlacional e 5 (50%)
seguiram uma abordagem de levantamento bibliográfico. Quanto ao tipo de pesquisa,
predominaram os estudos de revisão integrativa.

Quadro 1 – Distribuição dos artigos elegíveis após leitura integral do conteúdo


Base
Ano de
Título do artigo Autor de Objetivo Método
publicação
dados
A1 - Content
and format Explorar diferenças
Osma,
preferences of étnicas nas
Suso-
a depression SCIELO preferências de
Ribera, 2020 Exploratório
prevention conteúdo e formato
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Martínez-
program: A para um programa
Borba e
study in preventivo de
Barrera
perinatal depressão perinatal
women
Identificar na
Viana literatura as
A2 - Estratégias BDENF
MDZS, estratégias utilizadas Levantamento
de Enfermagem 2020 /
Fettermann pelos (as) bibliográfioc/Revisão
na Depressão
FA, Cesar LILACS enfermeiros (as) na integrativa
Pós-Parto.
MBN prevenção da
depressão pós-parto.
Identificar na
produção científica
Silva JF da,
sobre as
A3 - Nascimento
MFC, Silva ações/intervenções
Intervenções do
Enfermeiro na AF da, que podem ser Levantamento
atenção e Oliveira OS 2020 BDENF desenvolvidas pelo bibliográfioc/Revisão
prevenção da de, Santos enfermeiro na integrativa
depressão EA, Ribeiro atenção e prevenção
puerperal. FMSS
de danos da
depressão puerperal.

A4 - Depressão Identificar sinais e Estudo descritivo


Aloise, BDENF
pós-parto: 2019 sintomas de quantitativo
Ferreira & /
Identificação de Depressão Pós-Parto
Lima LILACS
Sinais, sintomas (DPP) e fatores

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
296
aaaaaaaaaaaaa Base
Ano de
Título do artigo Autor de Objetivo Método
publicação
dados
e fatores associados em
associados em mulheres no
maternidade de puerpério mediato,
referência em entre 48h e 72h.
Manaus.
A5 - Avaliar o perfil
Postpartum clínico
Depression: epidemiológico de
Epidemiological mulheres com
Araújo,
Clinical Profile LILACS suspeita de
Aquino, 2019
of Patients Depressão Estudo transversal
Fagundes e
Attended In a Pós-Parto em uma
Santos
Reference maternidade pública
Public de referência de
Maternity in Salvador, no estado
Salvador-BA da BA
Conhecer a
assistência de
enfermagem
designada para
mulheres com
quadro de depressão
A6 -.Depressão Levantamento
pós-parto, bem
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

pós-parto: um Souza et. al SCIELO bibliográfioc/Revisão


2018 como, sensibilizar
olhar criterioso integrativa.
profissionais e
da Equipe de
acadêmicos de áreas
Enfermagem
afins para aspectos
relacionados ao
diagnóstico,
percepção familiar e
tratamento da DPP
em puérperas.
Sistematizar o
A7 - Ações do conhecimento
programa de Baratieri, produzido sobre as
puerpério na ações de programas
Tatiane; de atenção pós- Levantamento
atenção 2018 SCIELO
parto no âmbito da bibliográfioc/Revisão
primária: uma Natal,
APS, tanto em nível integrativa
revisão Sonia nacional, como
integrativa.
internacional.

A8 - O
enfermeiro no
pré-natal de Conhecer o papel do
alto Risco: enfermeiro no Estudo qualitativo
Junior et.al 2017 SCIELO
papel atendimento ao pré- descritivo.
profissional natal de alto risco
realizado na atenção
secundária.

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
297
aaaaaaaaaaaaa Base
Ano de
Título do artigo Autor de Objetivo Método
publicação
dados
Investigar as
A9 - Stressful
relações entre
Life Events and
variáveis
Women’s
sociodemográficas,
Mental Health Alvarenga 2017 SCIELO Estudo correlacional
estressores durante
During & Frizzo observacional
a gestação e a saúde
Pregnancy and
mental da mulher na
Postpartum
gestação e no
Period
puerpério
A10 - Ações de
Identificar evidências
Educação em
acerca das
Saúde na
Camillo BS, percepções de
Atenção Levantamento
Nietsche gestantes e
Primária a 2016 SCIELO bibliográfioc/Revisão
EA, Salbego puérperas sobre as
Gestantes e integrativa
C et al. ações de educação
Puérperas:
em saúde na atenção
Revisão
primária
Integrativa.
Fonte: Autoria própria.

Para a análise crítica dos estudos selecionados foi realizada a categorização dos
trabalhos por similaridade de conteúdo, tendo-se construído 3 categorias de discussão:
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

“Depressão pós-parto - Uma realidade solitária no cuidado com a puérpera”; “Papel do


enfermeiro com pacientes com transtornos mentais puerperais – O início de uma longa
jornada” e “Estratégias e protocolos na assistência às puérperas com transtornos
mentais puerperais”.

Depressão pós-parto - uma realidade solitária no cuidado


com a puérpera
No que concerne à análise dos artigos que compuseram a amostra deste estudo,
verificou-se que existe desconhecimento em relação aos transtornos mentais
puerperais que podem acometer as grávidas e as recém-mães. Geralmente a depressão
pós-parto surge como único diagnóstico de alterações mentais no pós-parto (JUNIOR,
2017).
O puerpério para algumas mulheres pode se tornar um período desgastante, isto
porque além de passar por diversas mudanças hormonais, esta mulher enfrentará uma
nova função em sua vida, o papel materno, que pode se tornar assustador e
comprometer a relação mãe e bebê. Porém todo este carrossel de emoções é natural e

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
298
aaaaaaaaaaaaa esperado dentro deste quadro perinatal, o que dever ser observado é a exacerbação
dessa sintomatologia, que pode evoluir para algo patológico. O conhecimento por parte
dos profissionais de saúde, dos sinais e sintomas associados às doenças psicológicas
puerperais, a diferenciação do fisiológico e do patológico, a ciência que existem outras
doenças mentais decorrentes da vulnerabilidade psicológicas destas mulheres e não
somete a depressão pós-parto, é essencial para desenvolver uma assistência adequada,
um tratamento eficaz e evitar maiores danos à gestante ou puérpera e ao seu bebê.
(VIANA et. al., 2020).
Segundo o Manual Técnico do Ministério da Saúde: Atenção Humanizada ao
Recém- Nascido- Método Canguru (2016), a depressão pós parto pode atingir cerca de
15% das puérperas, seus sintomas desenvolvem-se de forma tardia. Incluem: sinais de
tristeza, cansaço, irritabilidade sentimentos de solidão e falta de interesse em realizar
atividades diárias com o bebê. As puérperas apresentam um comportamento mecânico
e operatório no qual as trocas com a criança se mostram pobres, sem expressões de
afeto e as interações lúdicas são quase inexistentes. Não conseguindo ajustar sua
linguagem à da criança, a mãe a priva de estímulos e informações, o que traz prejuízos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

cognitivos e emocionais para o recém-nascido.


O baby Blues é um transtorno mental no qual apresenta os mesmos sintomas
que a DPP mas diferencia-se em intensidade e duração. Ele ocorre de forma imediata e
pode regredir a maneira que a mãe vai se adaptando a nova rotina de cuidados com o
bebê. Por apresentarem semelhanças e poucos estudos na área, é comum que haja
equívoco no diagnóstico destas patologias, gerando falhas no cuidado com a puérpera.
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) também é comum neste
contexto e pode acontecer em consequência de intercorrências durante o parto,
violência obstétrica ou complicações neonatais no qual a mulher experimenta
sentimentos de angustia, dor, medo intenso e perda de controle. Após viver um parto
traumático, algumas mulheres passam a apresentar, no pós-parto, recordações aflitivas
do parto, por meio de imagens, ideias, sonhos ou emoções, e desenvolvem fugas de
situações, pessoas, lugares e pensamentos que a remetam para o momento do parto.
Associado a esse quadro, elas também apresentam hiperexcitabilidade e
entorpecimento afetivo. Esses sintomas podem se agravar quando não tratados,
podendo levar esta mulher a um quadro de Psicose puerperal, uma condição na qual

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
299
aaaaaaaaaaaaa apresenta grave comprometimento emocional e psíquico com necessidade de
intervenção psiquiátrica (CANTILINO et. al., 2010).
Assim, é importante ressaltar que, a identificação precoce dos sinais
apresentados pela mulher desde o pré-natal é fundamental e vai direcionar os cuidados
que serão prestados pelo Enfermeiro, por este motivo é importante que o profissional
esteja atento as relações familiares, contexto social e função psíquica desta mulher, a
atendendo com atenção e respeito, não desvalorizando suas tristezas e dores, para que
não haja agravos na saúde.

Papel do enfermeiro com pacientes com transtornos mentais


puerperais – o início de uma longa jornada
No que diz respeito ao papel do enfermeiro no contexto transtornos mentais
puerperais, observou-se que, em relação à depressão pós-parto, a maioria dos
profissionais de enfermagem não tem uma definição formada sobre esta doença em
particular, nem sobre outros transtornos mentais que possam aflorar no puerpério, e
assim, não conseguem correlacioná-la com fatores que possam gerar maiores agravos à
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

puérpera. Mas, de acordo com a análise realizada, eles se consideram capazes para
identificar uma possível patologia a partir de diversas características apresentadas pela
mulher, como: desinteresse pelo bebê e pela realização dos cuidados que este necessita,
desânimo ao falar do recém-nascido, apatia, entre outros (CAMILO, 2016).
Esta identificação de prováveis patologias mentais puerperais tem sua origem
durante o pré-natal, visto que grande parte dos enfermeiros tem a assistência no pré-
natal como um dos cuidados mais importantes a ser prestado às gestantes. É
considerado um momento para estabelecer empatia com a paciente, criar laços,
oferecer acolhimento e deste modo possibilitar a identificação de alguma
sintomatologia psicopatológica. Assim, uma estratégia efetiva encontrada nos artigos
analisados, é a realização de grupos de gestantes, que procura atender as necessidades
educativas, proporcionando espaços favoráveis para as trocas de ideias, expectativas
entre gestantes, com compartilhamento de experiências das que já passaram por
depressão pós-parto, familiares e profissionais da saúde (VIANA et.al., 2020).
Além disso, como as consultas no pré-natal, as do pós-natal e a visita domiciliar
(VD) puerperal realizada pelas equipes de atenção primária à saúde aparece nos artigos

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
300
aaaaaaaaaaaaa analisados como uma das intervenções do enfermeiro, que abre espaço para o
acolhimento à mulher e ao seu bebê, proporcionando-lhe educação e promoção em
saúde. (Silva et.al, 2020). A visita domiciliar pode-se mostrar um importante momento
para estas equipes detectarem mudanças físicas, comportamentais e emocionais
precocemente, desenvolver ações educativas, identificar riscos e vulnerabilidades da
família, estabelecer vínculo profissional-usuário e potencializar a proteção à saúde da
mulher e da criança no pós-parto. (BARATIERI & NATAL, 2018).
Este aspecto se conecta com uma estratégia que ganhou relevância entre os
artigos da amostra, que foi a importância dada pela enfermagem ao agir em equipe,
estabelecer vínculos, realizar uma abordagem familiar para que haja uma resposta
positiva na prevenção e tratamento da depressão pós-parto e de outros transtornos
mentais puerperais. Este fato foi mais evidente em estudos sobre a ação dos
enfermeiros que trabalham em saúde pública. De acordo com a análise feita, estes
profissionais se mostram com melhor preparo para identificar e tratar mulheres com
doenças mentais puerperais e assim, encaminhá-las quando necessário para unidades
especializadas (SOUZA et.al., 2018).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Seguindo a linha de raciocínio dos fatos apresentados, podemos afirmar que o


enfermeiro que trabalha nas unidades de saúde, tem aptidão para trabalhar com a
saúde mental das gestantes e puérperas e deve estar incluído no seu plano de cuidados,
a detecção de um possível quadro de depressão puerperal ou outra psicopatologia
decorrente do pós-parto. Uma vez que, em consonância com o Conselho Federal de
Enfermagem (Resolução COFEN Nº 524/2016), compete ao enfermeiro garantir a
integralidade do cuidado à mulher e ao recém-nascido, inseparável das questões físicas,
emocionais, de seu contexto familiar, comunitário e de relações sociais desde o pré-
natal até ao puerpério, por meio da consulta de enfermagem (BRASIL, 2016).
Pensa-se, ainda, que o acompanhamento permanente nas consultas de pré-natal
e nas visitas domiciliares, favoreça a criação de laços entre os profissionais as gestantes
e suas famílias, facilitando a construção de uma anamnese mais fidedigna, a observação
mais realista da rotina das gestantes e puérperas, das suas relações familiares e sociais,
facilitando assim a identificação de alguma vulnerabilidade, de algum predisponente ou
sintomatologia que possa ser sugestiva de transtorno mental puerperal ou de risco de
desenvolvimento. Diversos estudos confirmam a importância do conhecimento dos

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
301
aaaaaaaaaaaaa fatores de risco e de proteção da depressão pós-parto para o planejamento e execução
de ações preventivas ainda na fase pré-natal, para viabilizar a promoção do cuidado
integral à gestante e puérpera (ARRAIS et. al., 2018).
No entanto a ausência de um conhecimento específico que visa acoplar práticas
e estratégias para cuidar desta problemática, dificultam a percepção imediata de algum
comportamento indicador de transtorno mental puerperal e quando este é
precocemente detectado não há uma conduta protocolada pela instituição, ou
embasada empiricamente, o que prejudica a definição de um diagnóstico correto da
patologia e, por consequência, a realização do devido atendimento. (COSTA et. al.,
2018). Neste âmbito, torna a conduta assistencial de enfermagem, frágil e ineficiente,
resultando em casos subdiagnosticados. Com isto, a patologia pode se exacerbar
acometendo ainda mais a saúde da mãe e, por conseguinte, a do bebê (MACIEL et. al.,
2019).
A falta de estudos científicos sobre esta tônica, a ausência de estímulos à sua
abordagem com as gestantes e seus familiares nas unidades de saúde e a inexistência
de um aprofundamento sobre a saúde mental puerperal na disciplina de saúde da
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

mulher a nível acadêmico ou como uma especialidade de pós-graduação, também pode


estar entre um dos agentes facilitadores da banalização da doença e para o seu
anonimato entre muitos dos profissionais de enfermagem. Juntamente com estes
aspectos podemos incluir a sobrecarga de trabalho dos enfermeiros, presente em
algumas literaturas, como um dos obstáculos para o aprofundamento sobre a saúde
mental durante a gravidez e no pós-parto (sinais e sintomas, fatores predisponentes,
entre outros), para se dedicarem mais às informações explicitas e implícitas
(movimentos corporais, silêncio) apresentadas pela grávida ou puérpera e sua família,
bem como para o desenvolvimento de estratégias que possam enfraquecer o
surgimento de alguma psicopatologia puerperal (BITTI et. al., 2018).
Tal como os enfermeiros da atenção básica, os enfermeiros da área de
obstetrícia, conforme os artigos analisados da amostra, também se deparam com
limitações no enfretamento dos transtornos puerperais, apesar de possuírem um maior
desafio de adequação técnica do modelo de identificação e prevenção da depressão
pós-parto e de outros transtornos mentais advindos do pós-parto, com investimento em
métodos de conforto e cuidados, bem como o uso adequado de tecnologia disponível e

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
302
aaaaaaaaaaaaa desejável, afim de minimizar as consequências decorrentes do parto e do pós-parto,
uma vez que podem ser determinantes para o desencadear de algum tipo de transtorno
mental puerperal. Assim, neste cenário o papel do enfermeiro foi muito associado a
apoio emocional, com oferta de palavras de afeto e de conforto tanto à gestante, quanto
à família, afim de tranquiliza-los, diminuir a angústia e a ansiedade (ALOISE, FERREIRA &
LIMA, 2017).
Supõe-se que o escasso tempo de relacionamento entre profissional e paciente
seja um aspecto limitante para criar laços e dificultar, assim, a detecção por parte do
enfermeiro obstetra, de uma sintomatologia psicopatológica. Associado a este aspecto
temos também a falta de preparo e conhecimento destes profissionais sobre as doenças
mentais puerperais e de seus fatores desencadeantes. Muitos estudos apontam como
fatores de risco de desenvolvimento de transtornos mentais puerperais os problemas
decorrentes do momento do parto, ausência do companheiro e/ou da família mais
próxima na hora do parto (BITTI et. al., 2018).
Deste modo, a incorporação de uma equipe multiprofissional, da qual façam
parte profissionais da área de saúde mental, médicos, enfermeiros, técnicos de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

enfermagem, assistentes sociais, entre outros, nas equipes de saúde de hospitais


obstétricos, poderia ser uma mais valia na identificação e manejo de casos de
transtornos mentais ou com risco de evolução no pós-natal. Além disso, deve-se
considerar a necessidade de implantar ações voltadas para o acompanhamento da
gestante no momento do parto, visando treinar as equipes de saúde, especialmente os
enfermeiros, a fim de capacitá-los para oferecerem à mulher um suporte global
(biológico, psicológico e social) e humanizado de que necessita nesse momento tão
delicado, sabendo que este apoio pode ser benéfico para a redução do risco de
depressão puerperal e outras comorbidades mentais no futuro. (HARTMANN et. al.,
2017).
Ou seja, embora o Ministério da Saúde disponibilize manuais descriminando a
atuação do enfermeiro em relação aos aspectos emocionais da gravidez e do puerpério,
esta é superficial e a nível conceitual, sem destacar uma conduta em caso de suspeita
de alteração psicológico e muito menos referenciando um cuidado assistencial onde a
saúde mental é avaliada holisticamente. Limita-se a um foco meramente informativo e

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
303
aaaaaaaaaaaaa educacional sobre as diferentes etapas da gravidez, as alterações físicas inerentes a
estas, e sobre os cuidados com o bebê (BRASIL, 2006).
Também se observa por parte deste órgão uma preocupação pela amplitude e
integralidade do cuidado à mulher durante o pré e o pós-natal, com estratégias
humanizadas, como por exemplo, com a criação de alguns programas específicos como
é o caso da “Rede Cegonha”, existente em alguns municípios, que estende a assistência
ao binômio mãe-bebê até aos dois anos de idade deste, o “Método Canguru”, que visa
estreitar o vínculo mãe-filho pelo contato pele-a-pele, especialmente no ambiente
neonatal, eles se destinam à garantia do cuidado ao bebê e de sua adaptação à nova
realidade, eles não incorporam programas que abordam a assistência à mulher de forma
global. Apesar do Método Canguru ajudar a diminuir a ansiedade e a angustia materna
e surja nas literaturas como um atenuante para o desenvolvimento de transtornos
mentais no pós-parto (BRASIL, 2017).
É necessário também, que o setor da saúde e os seus profissionais estejam
abertos para as mudanças sociais que ocorrem e cumpram de maneira mais ampla o seu
papel de educadores e promotores da saúde. As gestantes constituem o foco principal
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

do processo de aprendizagem, porém a enfermagem não pode deixar de atuar, com os


seus companheiros e familiares (BRASIL, 2006). A posição do homem na sociedade está
mudando e algumas literaturas já ressaltam que transtornos puerperais, como a
depressão pós-parto, não é exclusiva das mulheres, muitos pais já foram diagnósticos
com a doença e que igualmente à depressão pós-parto materna, influência a saúde e
desenvolvimento do bebê. Portanto, os estes profissionais devem promover o
envolvimento dos homens no contexto gestacional e puerperal (CAPARRÓS-GONZÁLEZA
& RODRIGUEZ-MUÑOZ, 2020).

Estratégias e protocolos na assistência às puérperas com


transtornos mentais puerperais
Dos estudos analisados neste trabalho se mostraram muito vagos em
estratégias, protocolos de assistência ou mecanismos de rastreio, identificação de sinais
e sintomas reveladores de transtornos mentais puerperais. A aplicação da escala de
Edimburgo - Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) – que é uma escala utilizada
para medir a sintomatologia depressiva, foi a única escala de rastreamento

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
304
aaaaaaaaaaaaa referenciada. Segundo os estudos ela se mostrou fidedigna em relação aos resultados
evidenciados (AlVARENGA et. al., 2017).
Também foi considerada simples, rápida de realizar e autoaplicável, sendo a sua
disseminação na área da saúde sugerida, uma vez que pode ser ideal para uso na rotina
clínica de profissionais que não são especializados na área da saúde mental e por não
onerar os serviços especializados. O amplo uso da escala poderá assim, ser associado a
um aumento nos índices de diagnóstico e tratamento da doença, minimizando assim
seus possíveis efeitos nocivos sobre a mãe e o filho (ARAUJO et. al., 2019).
Alguns estudos realizados pelo Ministério da Saúde também vão ao encontro dos
resultados encontrados pelos estudos da amostra e firmam a importância desta escala
nas unidades de saúde pública e privada. Porém ressaltam uma afirmativa que pode
justificar a aplicabilidade acanhada desta escala no Brasil, ao contrário de outros países,
como Reino Unido, onde esta é utilizada rotineiramente com as puérperas, que é a
carência de estudos comprobatórios sobre a consolidação de resultados favoráveis ao
uso da escala de rastreamento de depressão pós-parto e de outros transtornos mentais
pelo país, principalmente entre as capitais e entre populações de zona rural ou com
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

baixos níveis de escolaridade ou não alfabetizadas (BRASIL, 2013).


Além disso, por se tratar de uma escala de rastreamento, o diagnóstico só poderá
ser confirmado por meio de instrumentos de diagnóstico clínico e por profissionais
treinados. A falta de verba para a compra de equipamentos e para capacitar os
profissionais, pode se mostrar também, um entrave para a utilização destes
instrumentos, especialmente se tratando de regiões do Brasil mais carentes de recursos
humanos especializados e financeiros (BRASIL, 2013).
Outras literaturas também nos mostraram particularidades passíveis de reflexão
no que concerne à fraca adesão ao uso de procedimentos de rastreamento, prevenção,
tratamento dos transtornos mentais puerperais como, o conhecimento limitado e
despreparo de alguns enfermeiros, em conjunto com a lacuna existente nas unidades
de saúde em relação à abordagem da saúde mental no pré-natal. Estas, revelam um
panorama ainda disseminado no país de que a “depressão pós-parto é doença de rico”.
Podendo, assim, serem predisponentes da insensibilidade apresentada por estes
profissionais para enxergarem as necessidades das pacientes durante o quadro
gestacional e puerperal, e da subestima dos seus relatos, seus sinais e sintomas, não

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
305
aaaaaaaaaaaaa conseguindo vislumbrar, por conseguinte, as escalas de rastreamento, como a EPDS, ou
outros recursos, como instrumentos com aplicabilidade nas suas atividades diárias e
com benefícios para a saúde das gestantes, puérperas e de seus bebês (FIOCRUZ, 2020).
Um outro dado que surgiu na nossa analise amostral, embora de forma muito
discreta, foi a utilização da tecnologia a favor da prevenção da depressão pós-parto. O
estudo internacional revelou que as mulheres perinatais dão preferência ao
recebimento de informação e prevenção da depressão perinatal on-line: por e-mail ou
por sites especializados. O interesse por um programa de prevenção da depressão pós-
parto de forma individualizada, privada, onde o acesso à informação está disponível para
ser acessado onde e quando for mais conveniente para estas, se expressou
positivamente de forma unânime. O que levou os autores do estudo a exaltarem
esforços para o desenvolvimento de programas e recursos no formato on-line para a
prevenção e tratamento das psicopatologias puerperais, difundindo efetivamente, o uso
global das tecnologias a fim de impactar as mulheres perinatais em todo o mundo
(OSMA et. al., 2019).
De acordo com pesquisadoras da FIOCRUZ (2020), a orientação on-line sobre
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

psicopatologias no puerpério é uma estratégia muitas vezes recorrida aqui no Brasil.


Porém o tema é abordado na internet, principalmente em blogs, com uma qualidade de
informação variável. Onde a maioria das postagens se referem a encorajamento,
empoderamento da mulher e sobre confiar no serviço de saúde. Deste modo, pensa-se
que, programas de prevenção, rastreio on-line, como o mencionado no estudo da nossa
amostra, seria uma alternativa bem aceite no país. Não apenas pela familiaridade do
público alvo com o meio de apresentação do conteúdo, mas também por ser uma forma
de acesso à informação, atualmente, acessível na maior parte do território brasileiro.
Além do mais, também é um recurso que permite manter a privacidade das
gestantes e puérperas, garantido a confidencialidade dos dados registrados, sendo uma
forma menos constrangedora para estas exporem as suas angústias, medos e
sentimentos. Pois, as mesmas pesquisadoras também relataram em seus trabalhos que,
por mais que o pré-natal no Brasil não aborde a saúde mental das mulheres, apenas
metade das que manifestam sintomas depressivos procuram algum tipo de
atendimento especializado. O estigma de que depressão pós-parto é “frescura”, é
“doença de rico” e do sentimento de ser considerada uma “mãe má e incapaz de cuidar

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
306
aaaaaaaaaaaaa de seu filho”, é a uma barreira na busca de tratamento pelas gestantes e mães (FIOCRUZ,
2020).

4. CONCLUSÃO
Com este estudo entendemos que a gestação é um período crítico do ciclo vital
da mulher, que exige adaptações e reorganização psíquica, e que é imprescindível ao
enfermeiro o domínio sobre a fisiologia da gravidez e como esta afeta a condição clínica
da mulher para minimizar agravos futuros, tanto para a sua saúde, quanto para a do
bebê. No entanto existe desconhecimento, por parte destes profissionais, em relação
aos transtornos mentais puerperais e limitado número de pesquisas sobre esta
temática, que amplifiquem o seu conhecimento e definam, assertivamente, a sua
atuação.
Verificamos também que a depressão pós-parto é tema quase exclusivo de
diversos estudos que abordam a questão saúde mental durante a gestação e o pós-
parto, dando com isso a falsa ideia de que é única doença dentro das psicopatologias
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

puerperais e que apenas ela é passível de acometer as grávidas e puérperas, o que


consolida ainda mais a lacuna no aprendizado dos enfermeiros sobre este assunto.
Neste contexto, restrito à depressão pós-parto, a atuação do enfermeiro é
ressaltada, principalmente a dos enfermeiros que trabalham no pré e pós-parto, onde a
consulta de enfermagem é entendida como o momento crucial para a identificação de
qualquer alteração psicopatológica sugestiva desta doença. No entanto, é também onde
o fechamento correto do diagnóstico seguido de um encaminhamento adequado,
esbarra nesse conhecimento deficitário da maioria dos profissionais, o que contribui
para um avanço da doença e de um somatório de complicações decorrentes.
Assim, entende-se como uma necessidade urgente: a introdução da saúde
mental nos programas nacionais de pré-natal, capacitação dos enfermeiros na área de
saúde mental puerperal, estimulo para a promoção da educação permanente,
investimento em meios de reconhecimento, diferenciação e acompanhamento dos
transtornos mentais puerperais, incitação à realização de pesquisas que busquem
identificar fatores de risco e contribuam para o desenvolvimento de protocolos de
cuidados assistenciais, sem deixar de lado a atenção humanizada, assim como escalas
de rastreamento para identificação em tempo hábil de um possível quadro patológico.

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
307
aaaaaaaaaaaaa O que trará benefícios na detecção precoce das doenças mentais puerperais, assim
como de outros embaraços que possam afetar o ciclo gravídico puerperal. Podendo,
desta forma, repercutir positivamente na prevenção de problemas futuros na saúde da
mãe e do bebê, na relação e estabelecimento de vínculos entre eles.
Apesar deste estudo apresentar como limitação o pouco tempo para a pesquisa,
o que pode ter influenciado o número reduzido de artigos e bibliografia encontrada
sobre o assunto, particularmente em relação à atuação do enfermeiro, que muitas vezes
nos deixou em um círculo vicioso, com um discurso repetitivo, foi assimilado o quanto
ainda existe para ser realizado neste âmbito e como isso é importante. A saúde mental
perinatal é uma questão de saúde pública pelo seu alto impacto na vida da mulher e
pelos efeitos nocivos que pode acarretar sobre a sua saúde a da criança e sobre as suas
relações familiares.
A fim de contribuir mais para o conhecimento na área da saúde mental no
período puerperal, apontamos sugestões de temas para trabalhos futuros, como: “O
impacto da pandemia nos transtornos mentais puerperais” e “Os impactos dos
transtornos mentais puerperais ao recém-nato e a primeira infância” pois destacam-se
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

como assuntos extremamente relevantes, atuais e pouco explorados.

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ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO DURANTE O PÓS-PARTO DE PACIENTES COM TRANSTORNOS MENTAIS


PUERPERAIS
311
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXIII
CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE
NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-23
Lucas Daylor Aguiar da Silva ¹
Cibelly de Fátima Vieira Ferreira ²
Gleiciane Carneiro Araujo ³
Daniele Meira Conde Marques 4
Rosana Costa Casanovas 5
¹ Graduando do curso de Odontologia. Universidade Federal do Maranhão – UFMA
² Graduanda do curso de Odontologia. Universidade Federal do Maranhão – UFMA
³ Graduanda do curso de Odontologia. Universidade Federal do Maranhão – UFMA
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

4 Professora do Departamento de Odontologia I. Universidade Federal do Maranhão – UFMA


5 Professora do Departamento de Odontologia I. Universidade Federal do Maranhão – UFMA

RESUMO
A violência doméstica contra a mulher é um grande desafio para o setor de saúde, pois a
suspeita e a confirmação da agressão é dificultada por alguns fatores culturais e pela
conduta errada do profissional. Esta revisão integrativa tem como objetivo fazer uma
investigação das evidências científicas disponíveis na literatura sobre o tema, buscando
entender se na prática o cirurgião-dentista é um agente notificador da violência doméstica
contra a mulher no Brasil. Foram utilizados como descritores: “Violência contra a Mulher”
ou “Violência doméstica” ou “Violence Against Women” ou “Domestic Violence” e
“Odontólogos” ou “Cirurgião-dentista” ou “Dentista” ou “Dentists”, nas bases de dados
LILACS/BVS, Pubmed e SciELO. A seleção inicial dos artigos foi realizada por meio dos títulos
de pesquisas, correspondentes aos últimos dez anos (2011-2021). Os critérios de inclusão
englobam estudos transversais de recorte territorial no Brasil, redigidos na língua
portuguesa ou inglesa, publicados durante o período mencionado. Foram excluídas as
produções sem relevância para a problemática do estudo, artigos de revisão ou escritos em
idiomas diferentes do português e inglês. De acordo com os critérios de inclusão adotados,
3 artigos foram selecionados para o trabalho. Os cirurgiões-dentistas não se mostram aptos
a identificarem casos de violência doméstica ou, quando conseguem identificar, acabam
omitindo sua suspeita ou diagnóstico por falta de conhecimento sobre a legislação vigente.

Palavras-chave: Violência contra a mulher. Violência doméstica. Cirurgião-dentista.


Notificação compulsória.

CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA
312
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A violência se constitui como um fenômeno de saúde pública multifacetado.
Caracteriza-se como qualquer ação feita intencionalmente e dirigida a alguém para lhe
causar danos físicos, psicológicos, sociais ou espirituais; independente de classe social,
etnia ou grau de escolaridade (MINAYO; SOUZA, 1998; MINAYO, 2006; DE PAULA et al,
2019).
Essa situação pode impactar a qualidade de vida dos indivíduos e da comunidade
afetada, causar traumas físicos e mentais e levar a óbitos, além de encarecer os gastos
públicos, já que é requerido atendimentos e serviços multiprofissionais em saúde e
segurança, evidenciando a necessidade de se atuar na prevenção e tratamento de base
interdisciplinar, intersetorial e com engajamento social. (MINAYO, 2006; DE ARAÚJO et
al, 2021)
A violência doméstica é a representação de um grande desafio para os
setores de saúde porque a suspeita e confirmação dessa problemática são dificultadas
por alguns fatores de ordem cultural e, principalmente, pela falta de orientação e dos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

profissionais dos serviços e usuários que têm medo de enfrentar os desdobramentos


posteriores (BRASIL, 2001).
A Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003, estabelece a notificação
compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for
atendida em serviços de saúde, públicos ou privados. Em 10 de dezembro de 2019, a
norma sofreu alterações. Sob o nº 13.931, a lei dispõe sobre a notificação compulsória
dos casos em que houver indícios ou confirmação de violência contra a mulher em todo
território nacional. Estes devem ser obrigatoriamente comunicados à autoridade policial
no prazo de 24 horas, para as providências cabíveis e para fins estatísticos (BRASIL, 2017;
BRASIL, 2019).
É importante que o cirurgião-dentista esteja preparado para notificar, saber
como fazer e entender seu papel nesse contexto. Caso contrário, haverá casos
subnotificados. Ao se recusar a atender casos de violência, o profissional negligencia
uma parte das ações de saúde e omite os vestígios deste problema. Profissionais de
outras categorias relatam o pouco tempo de atuação como um dos fatores de não terem

CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA
313
aaaaaaaaaaaaa contato com esse tipo de problema, o que contribui ainda mais para a subnotificação
(KIND et al., 2013).
Na rotina da clínica odontológica, o cirurgião-dentista pode se defrontar com
uma situação de violência contra a mulher como o profissional que reconhece os sinais
de violência ou como aquele que trata as lesões decorrentes das agressões sofridas pela
vítima (SILVA et al, 2010). Lesões como lacerações de lábios, da língua, de palato duro e
palato mole, de mucosa alveolar, contusões, presença de queimaduras, machucados no
canto da boca, acompanhadas ou não de hematomas e perdas de elementos dentais,
podem ser identificados como possíveis sinais de violência doméstica (SILVA, 2019). As
lesões sofridas em contexto de violência doméstica apontam na mesma direção,
existindo uma grande convergência em indicar a região da cabeça, concretamente o
pescoço e, notadamente, a face, como o local do corpo mais atingido (Dourado;
Noronha, 2015). Assim, o cirurgião-dentista é o profissional na área da saúde com
maiores chances de detectar essas lesões e é um importante profissional na atuação da
reabilitação física dessas vítimas (MARQUES, 2016; SILVA, 2019), contribuindo para a
reconquista da autoestima da vítima.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Pode-se afirmar que essa situação mostra a gravidade da violência doméstica e


a necessidade de as equipes de saúde estarem preparadas para identificar as mulheres
em situação de violência, mesmo que elas não façam a denúncia e, a partir daí, buscar
estratégias preventivas desses agravos através de ações de promoção à saúde
(FIGUEIREDO et al, 2012). Dessa forma, este trabalho tem como objetivo fazer uma
investigação das evidências científicas disponíveis na literatura sobre o tema, buscando
entender se na prática o cirurgião-dentista é um agente notificador da violência
doméstica contra a mulher no Brasil.

2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica acerca do papel do cirurgião-
dentista como agente notificador da violência doméstica contra a mulher. Com isso, o
problema da pesquisa foi: “Na prática, o cirurgião-dentista é um agente notificador ativo
da violência doméstica contra a mulher?”.
A coleta de dados foi realizada em outubro de 2021, utilizando-se como
descritores: “Violência contra a Mulher” ou “Violência doméstica” ou “Violence Against

CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA
314
aaaaaaaaaaaaa Women” ou “Domestic Violence” e “Odontólogos” ou “Cirurgião-dentista” ou
“Dentista” ou “Dentists”, nas bases de dados LILACS/BVS, Pubmed e SciELO. A seleção
inicial dos artigos foi realizada por meio dos títulos de pesquisas, correspondentes aos
últimos dez anos (2011-2021).
Os critérios de inclusão englobam estudos transversais de recorte territorial no
Brasil, redigidos na língua portuguesa e inglesa, publicados durante o período
mencionado. Foram excluídas as produções sem relevância para a problemática do
estudo, artigos de revisão ou escritos em idiomas diferentes do português e inglês.
Após a leitura na íntegra de 11 trabalhos, para confirmação da elegibilidade das
publicações, foram excluídos 8 artigos por não corresponderem aos critérios de
inclusão. Dessa forma, um total de 3 artigos compuseram o quadro de revisão deste
trabalho (figura 1).

Figura 1 – Fluxograma de seleção dos artigos


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Autoria própria.

CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA
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aaaaaaaaaaaaa
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para análise, os resultados foram reunidos em um quadro, no qual é possível
encontrar: autor, data, objetivo, conclusão e se o cirurgião-dentista é um agente ativo
na identificação da violência doméstica em mulheres (Quadro 1).
Quadro 1 – Identificação de artigos por meio de autor, ano, objetivo, conclusão e sua relação
com o problema da pesquisa
O cirurgião-dentista é
um agente ativo na
Autor Objetivo Conclusão identificação da
violência doméstica
em mulheres?
Descrever a
percepção e atitude
A percepção e a atitude
frente à violência
dos cirurgiões-dentistas
intrafamiliar entre
são falhas em relação à
cirurgiões-dentistas
GARBIN et al., notificação da violência
atuantes nas Não
2016 intrafamiliar, o que
unidades básicas de
dificulta o diagnóstico
saúde em 24
precoce das vítimas
municípios do
desse tipo de violência.
interior do estado de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

São Paulo, Brasil.


Os profissionais
Avaliar o analisados conhecem a
conhecimento do importância do
cirurgião-dentista cirurgião-dentista no
CARVALHO; frente à violência que se refere à
GALO; DA doméstica em violência doméstica, Não
SILVA, 2013 crianças, mulheres e mas apresentam
idosos, no município dificuldades na
de Guaratinguetá, SP, identificação e nos
Brasil procedimentos frente à
violência.
Averiguar o
Apesar dos avanços
conhecimento de
observados nessa área do
cirurgiões-dentistas
ensino de
graduados entre os
graduação, o cirurgião-
anos de 1998 e 2009
dentista ainda necessita
pela Faculdade
TORNAVOI; desenvolver
de Odontologia de
GALO; DA competências Não
Ribeirão Preto da
SILVA, 2011. e habilidades no que se
Universidade de
refere ao tema violência
São Paulo (Forp-USP)
doméstica, tanto no
ante o tema violência
diagnóstico quanto às
doméstica
condutas a serem
contra crianças,
seguidas.
mulheres e idosos.
Fonte: Autoria própria.

CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA
316
aaaaaaaaaaaaa Trata-se de estudos de campo, descritivos, que avaliaram por meio de
questionários, o nível de conhecimento do cirurgião-dentista sobre o tema violência
doméstica e sua conduta diante dessa circunstância.
No trabalho de Tornavoi, Galo e Da Silva (2011), 27% dos entrevistados
atenderam mulheres violentadas e 35% desconfiaram que alguma paciente tenha
sofrido maus-tratos. Baixos índices de profissionais de Odontologia das redes pública e
privada que já atenderam e/ou suspeitaram de mulheres que foram vítimas da violência
doméstica também foram encontrados por Carvalho et al. (2013).
No estudo de Garbin et al. (2016), a maioria dos participantes (55%) relataram
não ter o dever de notificar casos de violência e apenas 26% dos cirurgiões-dentistas
notificaram ocorrências, quando diagnosticados por eles.
Dentre os sinais que conduziram a desconfiança dos profissionais entrevistados
de que seu paciente é vítima da violência doméstica, os mais citados na investigação de
Carvalho et al. (2013) foram: escoriações e edemas na boca, marcas no punho ou nos
joelhos, fraturas dentais, avulsão dental, arranhões nos braços, escoriações e edemas
em outras partes do corpo (pernas, braços), perturbações psicológicas e queimaduras.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

No entanto, há um déficit na formação acadêmica constatado por Tornavoi, Galo


e Da Silva (2011) e Carvalho et al. (2013), no qual a maioria dos cirurgiões-dentistas
afirmou não receber orientação no quesito violência doméstica contra mulheres
durante a faculdade e/ou pós graduação. Isso se reflete na prática clínica: grande parte
dos profissionais não sabe como notificar um caso de violência intrafamiliar (GARBIN et
al., 2016). Entre as causas encontradas estão o desconhecimento do assunto em si, da
legislação existente e da obrigatoriedade da notificação compulsória, além de sentirem-
se despreparados para diagnosticar/identificar maus-tratos, inclusive ignorando a
existência do documento nas fichas de atendimento, o que pode sugerir uma possível
negligência com o problema (GARBIN et al., 2016; TORNAVOI; GALO; DA SILVA, 2011;
Carvalho et al., 2013).
Para Tornavoi, Galo e Da Silva (2011), entre as condutas indicadas quando da
verificação de violência doméstica, prevaleceu o diálogo com a vítima e em menor
percentual a comunicação dos fatos às autoridades competentes. Já para Carvalho et al.
(2016), 40% dos profissionais da rede pública e 36% da privada comunicaram os casos
confirmados aos órgãos responsáveis. No estudo de Garbin et al. (2016), parte

CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA
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aaaaaaaaaaaaa significativa afirmou se sentir no dever de tomar alguma atitude (60,0%) e uma menor
proporção revelou que não tomaria nenhuma atitude ou não soube responder à questão
(10%). Entre os que se propunham a agir de alguma forma, 36% relataram que
notificariam o caso aos órgãos responsáveis, 31% orientariam as vítimas a procurar
ajuda e 18% buscariam mais informações sobre as providências cabíveis e legais
possíveis de serem tomadas.
Sobre o que poderia ser feito para melhorar o setor Saúde no sentido de torná-
lo mais apto a lidar com casos de pessoas maltratadas, uma parcela de profissionais
indicou a preparação da equipe (Garbin et al., 2016), não só para identificar as lesões
decorrentes de abusos, como também para efetuar a notificação de casos confirmados
ou suspeitos de violência doméstica.
Segundo Tornavoi, Galo e Da Silva (2011), mesmo com os avanços observados
nesta área do ensino de graduação, o cirurgião-dentista ainda necessita desenvolver
habilidades e competências no que se refere ao tema violência doméstica, tanto no
diagnóstico quanto nas condutas a serem seguidas.
Grande parte dos cirurgiões-dentistas não conhece a legislação e não entende a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

relevância ou o que significa uma notificação compulsória para a identificação de uma


situação epidemiológica. O conhecimento sobre os casos de maus-tratos é diretamente
proporcional ao combate à violência intrafamiliar. É dever dos profissionais notificarem
todo caso de identificação de violência atendidos por eles, aos órgãos competentes
locais. Não saber como proceder faz com que os profissionais sintam-se
despreparados.Dessa forma, alguns não realizam a notificação ou qualquer
responsabilidade no encaminhamento de um caso de violência (GARBIN et al. 2016).
A notificação compulsória não é caracterizada como uma denúncia policial e
deve ser realizada pelo cirurgião-dentista independente do consentimento da paciente,
quando houver indícios ou confirmação de violência doméstica. Assim, é necessário
registrar o ocorrido no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) para
apoiar a formulação e implementação de políticas públicas de enfrentamento à violência
no Brasil (BRASIL, 2019).
Os resultados apresentados por Garbin et al. (2016) mostraram que mesmo com
a obrigatoriedade por lei, a notificação não é gerada. Sugere-se, então, que os
cirurgiões-dentistas e outros profissionais da saúde tenham o adequado respaldo legal

CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA
318
aaaaaaaaaaaaa da Unidade Básica de Saúde (UBS) ao comunicarem a suspeita ou diagnóstico de
violência aos órgãos competentes de maneira oportuna, apoiando, assim, as medidas
existentes. Esses profissionais não devem ser apontados como únicos responsáveis pela
delação dos casos, dessa forma, preservando sua segurança pessoal e uma relação
saudável profissional-paciente.
Ainda assim, para Carvalho et al. (2013), o cirurgião-dentista é o profissional que
tem a maior possibilidade de ter contato com uma vítima, visto que 50% das lesões
oriundas dessa prática referem-se a traumas orofaciais, cabendo ao dentista orientar,
diagnosticar e encaminhar o paciente a serviços de assistência especializados. O
diagnóstico de maus tratos deve fazer parte da rotina do exame no consultório
odontológico devido a alta prevalência de violência doméstica nos dias atuais.
Esse tema deve ser pauta de discussão entre profissionais da saúde que atuam
no atendimento ao paciente odontológico com a finalidade de conhecer essa realidade
e exercer uma coparticipação efetiva como tentativa de diminuir esse agravo
importante na saúde e na sociedade. (Carvalho et al. (2013). Em contrapartida, Tornavoi,
Galo e Da Silva (2011) afirmam ser necessário que haja uma maior abordagem da
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

temática no ensino de graduação para que os futuros cirurgiões-dentistas se sintam


aptos a notificar casos de violência doméstica.
Por fim, todos os autores apresentaram soluções para a diminuição dos casos e
sua possível erradicação. Suas sugestões estão pautadas no conhecimento, sendo ele no
treinamento dos futuros profissionais durante a graduação ou no treinamento de
profissionais que atuem na saúde do paciente odontológico para que tenham segurança
ao notificar a suspeita ou diagnóstico de violência doméstica.

4. CONCLUSÃO
Conclui-se, portanto, que os cirurgiões-dentistas não se mostram aptos a
identificarem casos de violência doméstica, ou, quando conseguem identificar, acabam
omitindo sua suspeita ou diagnóstico por falta de conhecimento sobre a legislação
vigente, ou seja, não sabem como proceder com a notificação e encaminhamento aos
órgãos especiais. Se faz necessário o treinamento dos profissionais das redes de
atendimento ao paciente odontológico, assim como o treinamento de alunos da

CIRURGIÃO-DENTISTA COMO AGENTE NOTIFICADOR DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA
319
aaaaaaaaaaaaa graduação em Odontologia, para que consigam notificar casos de violência doméstica
quando foram oportunos.

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REVISÃO INTEGRATIVA
321
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXIV
INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA
AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES
FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO
INTEGRATIVA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-24
Révora Silvério de Mendonça 1
Ivania Vera 2
Roselma Lucchese 3
Renata Silva Lopes 4
1 Pediatra. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Gestão Organizacional. Universidade Federal de Catalão –
UFCAT.
2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem com ênfase à saúde do idoso. Universidade Federal de Catalão – UFCAT.
3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo – USP.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

4 Enfermeira. Mestre em Gestão Organizacional. Universidade Federal de Catalão – UFCAT.

RESUMO
Neste estudo, objetivou-se sistematizar as evidências científicas produzidas a partir de
questionários aplicados para avaliar relações familiares em puérperas. Trata-se de
revisão integrativa realizada nas bases de dados LILACS, SciELO, MEDLINE® e PubMed®
de investigações publicadas entre os anos de 2015 e 2021. Utilizaram-se os descritores
controlados em saúde “family relations” AND “Postpartum period” AND “surveys and
questionnaires”. Foram selecionados oito artigos, os quais discorreram sobre as relações
familiares em puérperas, sobretudo acerca das relações do binômio mãe-filho.
Destacaram-se os instrumentos Family APGAR e Medical Outcomes Study Family and
Marital Functioning Measures, que avaliaram as relações das puérperas com os demais
familiares. Os trabalhos apontaram a importância das relações familiares saudáveis, o
que implica na relevância de profissionais de saúde treinados quanto à existência e à
aplicação de instrumentos como o Family APGAR e o Medical Outcomes Study Family
and Marital Functioning Measures, potencializando ações de planejamento e práticas
assertivas no atendimento da família e da puérpera.

Palavras-chave: Relações familiares. Período pós-parto. Inquéritos e questionários.

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
322
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Relações familiares interferem no ciclo de vida do ser humano, em especial em
momentos de vulnerabilidade, como o período pós-parto. Quando essas relações
ocorrem de forma harmoniosa, elas formam uma rede de apoio, pautando-se na
cooperação e no cuidado mútuo, tornando-se promotoras da saúde física e mental de
seus integrantes (ARAÚJO et al. 2018; SILVA, et al. 2015). A funcionalidade familiar
adequada apresenta relação positiva com o estado mental e a adesão a tratamentos
(LU, 2015), além de constituir recurso importante à adaptação à parentalidade
(MARTINS, 2019), demonstrando que a família concebe importante suporte de estímulo
à saúde.
Nesse sentido, tem-se no puerpério uma das transições mais significativas no
ciclo de vida familiar, resultando em mudanças no estilo de vida, nos papéis e nos
relacionamentos familiares, podendo afetar a qualidade de vida de seus integrantes. O
nascimento também proporciona troca de conhecimentos entre os familiares. As
primeiras semanas pós-parto representam um momento crucial no desenvolvimento do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

vínculo materno, com implicações no desenvolvimento emocional da criança (TAKÁCS


et al., 2020). Ao mesmo tempo, o estímulo à formação de uma rede de apoio familiar
pode ser benéfico, fortalecer a construção de saberes e oferecer apoio psicológico e
ferramentas para o cuidado do filho e de si mesma, superando os desafios e dificuldades
inerentes ao período vivenciado (ANDRADE et al., 2015).
Esse momento de intensa fragilidade demanda dos profissionais de saúde a
necessidade de se investigarem os fatores que interferem nesse processo, como as
relações familiares (ANDRADE et al., 2015), considerando que elas também representam
um período potencial para aguçar as relações familiares funcionais. Relações familiares
são consideradas funcionais quando a família se organiza para a resolução dos
problemas e fornece apoio aos membros; são disfuncionais quando a família não
assume as funções exigidas em momentos de crise (RIGO & BÓS, 2020; TAVARES et al.,
2020).
Considerando que, para mensurar a qualidade das relações familiares, vários
estudos aplicaram instrumentos distintos já validados (FERREIRA et al., 2019; FALCÓN &
ALOMALIZA, 2017; TESTON; SILVA & MARCON, 2017) e no intuito de corroborar a

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
323
aaaaaaaaaaaaa construção de ações mais assertivas em relação à Atenção à Saúde do binômio mãe-
filho e da família, objetiva-se aqui uma revisão integrativa para sistematizar as
evidências científicas produzidas a partir de questionários aplicados para avaliar
relações familiares em puérperas.

2. METODOLOGIA
A presente investigação orientou-se pela revisão integrativa da literatura, que é
um método utilizado pela medicina baseada em evidências para sintetizar
conhecimento e expor estudos relevantes para a prática clínica. Utiliza técnicas que
agrupam e resumem resultados de pesquisas sobre um tema ou questão, de modo
sistemático e ordenado, com vistas a contribuir e aprofundar o tema pesquisado
(MENDES; SILVEIRA & GALVÃO, 2019).
O processo de elaboração da revisão integrativa permeia seis fases a serem
seguidas. A primeira é a elaboração da pergunta norteadora; na segunda, são feitas
buscas na literatura; na terceira, é realizada a coleta de dados; na quarta, os estudos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

incluídos passam por análise crítica; na quinta, discutem-se os resultados e, na sexta, a


revisão e a síntese do conhecimento são apresentados (MENDES; SILVEIRA & GALVÃO,
2019).
Para elaboração da questão norteadora, utilizou-se a estratégia PICO (SANTOS;
PIMENTA & NOBRE, 2007) em que P representa paciente ou problema; I, intervenção;
C, controle ou comparação; e O, desfecho. Ante o tema de interesse, ficaram
estabelecidos: P como puérperas; I como relações familiares; C como critérios de
inclusão e exclusão estabelecidos e O como instrumentos utilizados para avaliar relações
familiares das puérperas com suas famílias e as evidências apontadas pelos estudos.
Assim, constituiu-se a questão norteadora: Quais foram as evidências científicas
apontadas pela aplicação dos instrumentos para avaliação das relações familiares das
puérperas e o conhecimento produzido pelo método aplicado nas investigações
analisadas?
A busca dos artigos ocorreu no dia 10 de setembro 2020 e no 30 de março de
2021 nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciência da Saúde
(LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE®), US
National Library of Medicine (PubMed®) e Scientific Electronic Library Online (SciELO).

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
324
aaaaaaaaaaaaa Foram empregados os seguintes critérios de inclusão: artigos originais disponíveis na
íntegra, gratuitos, publicados nos últimos 5 anos, entre 1° de janeiro de 2015 e 30 de
março de 2021, nos idiomas inglês, português ou espanhol e que contemplassem o
objeto de estudo definido como “questionários que avaliaram as relações familiares de
puérperas”. Os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)/Medical Subject Headings
(MeSH) utilizados foram: “family relations” AND “postpartum period” AND “surveys and
questionnaires”. A figura 1 retrata o passo percorrido por essa revisão integrativa.

Figura 1 – Fluxograma da seleção de artigos. Catalão (GO), Brasil, 2020


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: autoria própria.


MEDLINE®: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online; LILACS: Latino-Americana
e do Caribe em Ciência da Saúde; SciELO: Scientific Electronic Library Online.

A classificação dos estudos orientou-se pela descrição de evidência proposta por


Stetler et al. (1998). Os artigos foram classificado em nível I para metanálise de múltiplos
estudos controlados; nível II para estudo individual com delineamento experimental;
nível III para estudo com delineamento quase-experimental; nível IV para estudo com
delineamento não experimental; nível V para relatório de casos ou dado, obtido de
forma sistemática, de qualidade verificável; nível VI para opinião de autoridades
respeitáveis baseada na competência clínica ou opinião de comitês de especialistas
(STETLER et al., 1998).

3. RESULTADOS
Foram selecionados, para análise final, oito artigos. Em relação à base de dados,
houve maior prevalência (n=6; 75%) da PubMed®. Em relação ao Nível de Evidência,
encontraram-se quatro estudos longitudinais (50%) classificados em nível III e quatro
estudos transversais (50%) classificados em nível IV (STETLER et al., 1998). No que

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
325
aaaaaaaaaaaaa concerne ao idioma, todos os artigos foram publicados em língua inglesa (100%). Em
relação ao ano de publicação, houve maior prevalência em 2018 (n=2; 25%), 2019 (n=2;
25%) e 2020 (n=2; 25%). Para melhor visualização dos achados desta revisão integrativa,
elaborou-se o quadro 1 com informações de interesse extraídas dos artigos
selecionados.
Quadro 1 – Extração de informações dos artigos selecionados. Catalão, Goiás, Brasil, 2020
Base de dados,
tipo de estudo,
Autoria Instrumentos Resultados Conclusão
Nível de
Evidência e n
Binda et al. PubMed®, CARE-Index e There was an The evaluation of the
(2019) transversal EPDS increased risk of quality of mother-
analítico, Nível IV psychomotor child interaction and
e 181 development interventions that
participantes delay with low- promote maternal
quality mother- sensitivity , promote
child good results in
interaction, children with
exclusive psychomotor
breastfeeding development delay
<6 months and
partner doesn’t
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

help with
childcare
Cornelius, PubMed®, REAP, WAVE Higher The partner has
Desrosiers e estudo e SRPS relationship relevant influences
Kershaw longitudinal, power was on changes in health
(2016) Nível III, 157 protective behavior over time
casais against smoking
escalation for
females
Farré-Sender MEDLINE®, EPDS, VPSQ, Emotional The women’s risk
et al. (2018) estudo MAS, ETI-SR, abuse, family factors in pregnancy
longitudinal GHQ-12, STAI psychiatric is important to
prospectivo, e PBQ history, and prevent disturbances
Nível III e anxiety during of Mother–infant
251 mulheres pregnancy were bonding
significant
predictors of
Mother–infant
bonding
disturbances

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
326
aaaaaaaaaaaaa Base de dados,
tipo de estudo,
Autoria Instrumentos Resultados Conclusão
Nível de
Evidência e n
Feligreras- PubMed®, EPDS, STAI,
Depressive and Perceived social
Alcalá, Frías- estudo Duke-UNC-
Anxiety support, self-efficacy
Osuna e Del- transversal, Nível 11, Family
symptoms in caring for the
Pino-Casado IV e 212 APGAR,
found a positive newborn and sense
(2020) puérperas Lawton,
association with of coherence can be
FSOC-S,
perceived protective factors for
Caregiver
burden and depressive and
Strain Index e
negative anxiety symptoms in
Holmes and
associations the puerperium;
Rahe
with self-
efficacy in care,
social support
and sense of
coherence
Nakano et al. PubMed®, PBQ e EPDS Maternal The findings
(2019) longitudinal de negative emphasize the
base feelings and importance of
populacional, postpartum identifying mothers
Nível III e 1.060 depression were with depression to
mães associated with assess possible
higher levels of impaired maternal
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

impaired bonding
maternal
bonding
Ngai e Ngu MEDLINE®, MOS-FMFM e There is a The study provides
(2016) longitudinal, FSOC-S decline in evidence that family
Nível III e 220 marital sense of coherence
casais functioning in plays a significant
postpartum and role in promoting
a strong family family and marital
sense of functioning during
coherence was puerperium
associated with
better family
and marital
functioning in
the puerperium
Zdolska- PubMed®, ACL, EPDS, The bond with a The relationships of
Wawrzkiewicz Observacional ECR, MFAS e child during maternal
et al. (2019) transversal, Nível PBQ pregnancy was attachment, self-
IV e 86 mãe- a significant image as a mother
filhos predictor of the during and after
bond with the pregnancy influence
child after birth the
bond with the child
after delivery

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
327
aaaaaaaaaaaaa Base de dados,
tipo de estudo,
Autoria Instrumentos Resultados Conclusão
Nível de
Evidência e n
Zdolska- PubMed®, ECR, ACL e The relationship A deeper
Wawrzkiewicz transversal, Nível PBQ between the understanding of the
et al. (2020) IV e 86 puérperas new mothers to relationship between
their own mothers’ styles of
mothers attachment to their
interfere on own mothers may
representation improve the help
of one’s mother system directed at
as a mother. young mothers

EPDS: Edinburgh Postnatal Depression Scale; REAP: Rapid Eating Assessment for Patients;
WAVE: Wave Performance Culture Framework; SRPS: Sexual Relationship Power Scale; VPSQ:
Vulnerable Personality Style Questionnaire; MAS: Marital Adjustment Scale; ETI-SR: Early
Trauma Inventory; GHQ-12: General Health Questionnaire; STAI: State-Trait Anxiety Inventory;
PBQ: Postpartum Bonding Questionnaire; Duke-UNC-11: functional social support
questionnaire; FSOC-S: Family Sense of Coherence Scale Short Form; MOS-FMFM: Medical
Outcomes Study Family and Marital Functioning Measures; ACL Adjective Check List; ECR:
Experiences in Close Relationships; MFAS: Maternal-Fetal Attachment Scale.

Após leitura e a extração das informações de interesse, observaram-se os


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

seguintes instrumentos utilizados na avaliação das relações familiares: Postpartum


Bonding Questionnaire (PBQ; n=4; 50%) (ZDOLSKA-WAWRZKIEWICZ et al., 2019; 2020;
NAKANO, et al., 2019; FARRÉ-SENDER, et al., 2018); Family Sense of Coherence Scale
Short Form (FSOC-S; n= 2; 25%) (NGAI & NGU, 2016; FELIGRERAS-ALCALÁ; FRÍAS-OSUNA
& DEL-PINO-CASADO, 2020); Experiences in Close Relationships (ECR; n=2; 25%)
(ZDOLSKA-WAWRZKIEWICZ et al., 2019; 2020); Maternal-Fetal Attachment Scale (MFAS;
n=1; 12,5%) (ZDOLSKA-WAWRZKIEWICZ et al., 2019); Marital Adjustment Scale (MAS;
n=1; 12,5%) (FARRÉ-SENDER, et al., 2018); CARE-Index (n=1; 12,5%) (BINDA; FIGUEROA-
LEIGH & OLHABERRY, 2019); Sexual Relationship Power Scale (SRPS; n=1; 12,5%)
(CORNELIUS; DESROSIERS & KERSHAW, 2016); Medical Outcomes Study Family and
Marital Functioning Measures (MOS-FMFM; n=1; 12,5%) e Family APGAR (n=1; 12,5%)
(FELIGRERAS-ALCALÁ, FRÍAS-OSUNA & DEL-PINO-CASADO, 2020).
Quanto às temáticas envolvidas, três artigos (37,5%) debruçaram-se diretamente
sobre as relações entre mãe e filho e os fatores envolvidos (NAKANO et al., 2019; FARRÉ-
SENDER et al., 2018; BINDA; FIGUEROA-LEIGH & OLHABERRY, 2019). Os outros cinco
(62,5%) versaram sobre as relações familiares amplas no período perinatal e os aspectos
e desfechos que permeiam esses vínculos (FELIGRERAS-ALCALÁ, FRÍAS-OSUNA & DEL-

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
328
aaaaaaaaaaaaa PINO-CASADO, 2020; ZDOLSKA-WAWRZKIEWICZ et al., 2019; 2020; CORNELIUS;
DESROSIERS & KERSHAW, 2016; NGAI & NGU, 2016).
No que tange aos aspectos do binômio mãe-filho, foram observados depressão
pós-parto e sentimentos negativos como fatores fortemente associados ao prejuízo do
vínculo entre mãe e filho, sugerindo que as gestações indesejadas necessitam
acompanhamento mais próximo, e a depressão pós-parto requer diagnóstico e
condução precoce, para prevenir prejuízo do vínculo (NAKANO et al., 2019).
Acrescentaram-se, como preditor que agrava as relações, a ansiedade durante a
gestação, o abuso emocional na infância e os antecedentes familiares psiquiátricos
(FARRÉ-SENDER et al., 2018). Baixo vínculo materno, associado a outros fatores, como
ausência paterna e desmame precoce, correlacionou-se à maior risco de atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor da criança (BINDA; FIGUEROA-LEIGH & OLHABERRY,
2019).
Com relação às demais relações familiares das puérperas, a qualidade desses
vínculos, em especial com as mães, influenciou no processo de vinculação com a criança
após o parto, sugerindo maior vigilância dessa relação familiar (ZDOLSKA-
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

WAWRZKIEWICZ et al., 2019; 2020). Ainda, o relacionamento conjugal apresenta


influências positivas importantes nas mudanças de comportamento no período
perinatal, reforçando a relevância da promoção dessa relação (CORNELIUS; DESROSIERS
& KERSHAW, 2016). Famílias que apresentam forte senso de coerência familiar
apresentaram melhor funcionalidade familiar, constituindo fator protetor para sintomas
de depressão e ansiedade no período puerperal, o que justifica a necessidade de
abordagem precoce e integral de apoio às famílias durante todo o ciclo perinatal, com o
objetivo de diagnosticar e conduzir as vulnerabilidades (FELIGRERAS-ALCALÁ, FRÍAS-
OSUNA & DEL-PINO-CASADO, 2020; NGAI & NGU, 2016).

4. DISCUSSÃO
As pesquisas analisadas na presente revisão integrativa apontaram que a
aplicação de instrumentos na Atenção à Saúde da puérpera, mesmo quando não
abordaram toda a amplitude das relações familiares e se restringiram ao binômio mãe-
filho, foram relatadas como instrumentos que auxiliaram muito na Atenção à Saúde da
mulher e da família. Eles implicaram em fazer um diagnóstico dessa situação e

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
329
aaaaaaaaaaaaa apontaram as fragilidades e as potencialidades, o que muito colaborou e colaboraria às
ações assertivas na Atenção à Saúde da mulher. Também reforçaram o puerpério como
um momento de vulnerabilidade da mulher e da família, e que é preciso que
profissionais da área da saúde estejam empenhados em se atualizarem quanto à
aplicação de tais instrumentos e à revisitação e reelaboração de suas práticas. A
principal limitação deste estudo concerne à amostra selecionada, pois foram incluídos
apenas artigos disponíveis gratuitamente on-line.
A base de dados PubMed® abrange grande parte da literatura internacional da
área médica e biomédica, com mais de 30 milhões de citações e resumos, justificando a
maior prevalência de artigos encontrados nela (BVS, 2018). Quanto aos desenhos dos
estudos, ao passo que a pesquisa longitudinal fornece fontes de dados entre relação
causa e efeito, por permitir o acompanhamento ao longo do tempo, a pesquisa
transversal apresenta baixo custo, objetividade e relativa rapidez em seu emprego,
justificando os achados deste trabalho (CASTRO; LIMA & ASSUNÇÃO, 2019; ATHIAS,
2011). A totalidade de artigos analisados foi em língua inglesa, possivelmente pelo
reconhecimento do inglês no âmbito mundial, o que possibilitou maior número de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

citações (BITETTI & FERRERAS, 2017). Em relação aos anos de publicação, houve
predomínio de 2018, 2019 e 2020, o que pode ser justificado pela publicação de
documentos técnicos pela World Health Organization (WHO) com ênfase nos aspectos
relacionados à saúde da mulher e da criança na Atenção Primária, corroborando a
atualidade da temática envolvida (WHO, 2018).
O emprego dos instrumentos encontrados nos artigos selecionados se deu em
busca da verificação das relações familiares, com o objetivo específico de avaliar o
vínculo entre mãe e filho ou as relações conjugais – e não as relações das puérperas com
demais familiares. Dentre os instrumentos, o PBQ foi o mais prevalente, mas alguns
aspectos podem inferir a limitação ao PBQ, como avaliação restrita da relação mãe e
filho sem abranger a qualidade dos demais vínculos familiares da puérpera e o fato de
ainda estar em fase de validação para a população brasileira (BALDISSEROTTO et al.,
2018; GARCIA-ESTEVE et al., 2016; OHASHI et al., 2016).
Dentre os artigos selecionados nesta revisão, dois instrumentos foram utilizados
com o objetivo de avaliar as relações familiares das puérperas de forma ampla. O MOS-
FMFM deriva de uma escala mais extensa, desenvolvida a partir de um estudo

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
330
aaaaaaaaaaaaa observacional com pacientes crônicos (TARLOV et al., 1989), com o propósito de avaliar
a satisfação em relação à vida familiar e ao funcionamento conjugal, tendo sido validado
no Brasil e de relativamente fácil aplicação (GONÇALVES et al., 2011; GRIEP et al., 2005).
O Family APGAR compreende um instrumento validado para a população brasileira, de
fácil acesso, aplicação e interpretação, que engloba questões inerentes ao puerpério,
como afetividade, companheirismo, disponibilidade da família para mudanças de
papéis, tempo compartilhado junto e capacidade resolutiva (CAMPO-ARIAS &
CABALLERO-DOMÍNGUEZ, 2020; VERA et al., 2014; DUARTE, 2001).
As evidências encontradas na análise dos artigos reforçam a importância de se
observarem as relações familiares no momento puerperal. A abordagem da relação
entre mãe e filho se faz importante, pois se trata de um período em que a puérpera
convive de forma integral e ativa com o concepto, configurando esta como sua principal
relação familiar nessa fase. As primeiras experiências afetivas por meio da relação com
a mãe são de fundamental importância para o desenvolvimento psíquico adequado da
criança, influenciando em futuras relações sociais (SOUSA; ANTONIASSI JÚNIOR &
FIGUEIREDO, 2018). Corroborando os achados deste artigo, sugere-se que o prejuízo nas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

relações entre mãe e filho associou-se a fatores como depressão materna e gestação
não planejada (CAVALCANTE et al., 2017). Também houve prejuízo no desenvolvimento
cognitivo e de linguagem em crianças que possuíam padrão de apego inseguro com suas
mães, enfatizando a importância das relações iniciais no desenvolvimento da criança
(SAUR et al., 2018).
Outro aspecto evidenciado diz respeito às influências da rede de apoio familiar
durante o ciclo puerperal. Estudo com mães adolescentes evidenciou que apoio social e
familiar adequado favorece a adaptação à maternidade, permitindo vinculação saudável
ao concepto (ESTEVES et al., 2018). Também experiências positivas entre os casais e suas
famílias facilitaram o processo de transição da conjugalidade para parentalidade (CRUZ
& MOSMMAN, 2015). Ainda, experiências como o senso de coerência fortalecem a
qualidade do relacionamento familiar, culminando em benefícios para o desfecho
parental, sendo necessário incentivar ações que busquem melhorar o senso de
coerência familiar e materna em todo período perinatal (HILDINGSSON, 2017; SHOREY
& NG, 2020).

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
331
aaaaaaaaaaaaa O período puerperal representa um momento de vulnerabilidade e mudanças de
ordem fisiológica, hormonal, psicológica, social e emocional. Os vínculos familiares
fornecem uma rede de apoio, permitindo difusão de valores, orientações e hábitos
(SATURNINO et al., 2019; ESTEVES et al., 2018). Assim, torna-se imperioso o
treinamento dos profissionais de saúde para utilização de instrumentos capazes de
avaliar a funcionalidade familiar nas perspectivas que tangem ao período puerperal
(BARBOSA & ANGELO, 2016).

5. CONCLUSÃO
Os instrumentos levantados nesta revisão integrativa foram: Postpartum
Bonding Questionnaire, Experiences in Close Relationships, Maternal-Fetal Attachment
Scale, Marital Adjustment Scale, CARE-Index, Sexual Relationship Power Scale, Medical
Outcomes Study Family and Marital Functioning Measures, Family Sense of Coherence
Scale Short Form e Family APGAR. Em sua maioria, avaliam as relações entre mãe e filho
ou as relações conjugais no puerpério. Dois instrumentos, o Medical Outcomes Study
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Family and Marital Functioning Measures e o Family APGAR, avaliam as relações


familiares de forma ampla. Contudo, todos eles demonstraram robustez em identificar
como são essas relações, seja entre mãe e filho, conjugal ou em relação à família como
um todo, potencializando ações de planejamento e práticas assertivas no atendimento
da família e da puérpera.
O Medical Outcomes Study Family and Marital Functioning Measures e o Family
APGAR consistem em instrumentos bem estruturados e aplicáveis à triagem da
qualidade das relações, além de apontarem questões importantes, como dificuldades e
entraves familiares, e fatores de risco, como depressão materna e gestação não
planejada. Representam ferramentas consolidadas que possibilitam restabelecer a
relação dos profissionais com a família e contribuem para o planejamento da Atenção à
Saúde das puérperas.
Em relação à temática proposta, alguns estudos trouxeram a importância das
relações conjugais saudáveis e o bom-senso de coerência familiar como aspectos
positivos para melhoria das relações familiares e do processo de parentalidade.
Também foram evidenciados estudos que apontaram fatores desfavoráveis às relações
familiares, como adoecimento materno, depressão gestacional e gestação não

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
332
aaaaaaaaaaaaa planejada, com prejuízo para o binômio mãe-filho, inclusive com consequência em
relações futuras da criança.
Os trabalhos apontaram a importância das relações familiares saudáveis para o
processo de parentalidade e da promoção de vínculo seguro ao binômio mãe-filho.
Nesse sentido, faz-se primordial avaliar de forma oportuna e precoce a qualidade dessas
relações. Para tal, é indispensável que os profissionais de saúde estejam cientes da
existência de instrumentos como o Medical Outcomes Study Family and Marital
Functioning Measures e o Family APGAR e também o quanto essas ferramentas podem
colaborar nas ações de promoção da saúde e prevenção de agravos crônicos,
principalmente no tocante à funcionalidade familiar.

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repercussões na saúde da criança. Escola Anna Nery – Revista de Enfermagem,
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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO DAS RELAÇÕES FAMILIARES EM PUÉRPERAS: REVISÃO


INTEGRATIVA
337
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXV
MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS
DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS
GESTACIONAIS
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-25
Bárbara Andrade Cruz ¹
Bárbara Queiroz de Figueiredo ²
Bianca Araújo Fontenele ³
Lorena Martins Nagata 4
¹ Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário Euroamericano.
² Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário de Patos de Minas.
³ Graduanda do curso de Medicina. Instituto de Educação Superior do Vale do Paranaíba.
4 Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário de Goiatuba.

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) é uma das complicações mais


frequentes da gravidez. Embora de prognóstico favorável nos casos leves, suas formas
mais graves, como a eclâmpsia e a síndrome HELLP, constituem as principais causas de
morbidade e mortalidade materna e perinatal, sendo responsáveis por 15% das mortes
maternas nos Estados Unidos da América (EUA) e cifras ainda maiores em países em
desenvolvimento. Embora o curso da DHEG tenha início na ocasião da placentação, as
manifestações clínicas geralmente são tardias, ou seja, ocorrem no último trimestre da
gravidez. Entretanto, quando essas manifestações surgem em idades gestacionais
precoces, guardam relação direta com os piores resultados maternos e perinatais,
devendo alertar para a presença de hipertensão arterial prévia à gestação, trombofilias
ou doença renal preexistente. A única exceção é a doença trofoblástica gestacional, que
pode estar associada à DHEG no início da gestação.

Palavras-chave: Hipertensão; Gestação; Eclâmpsia; Fisiopatologia.

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 338


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) é uma das complicações
mais frequentes da gravidez. Embora de prognóstico favorável nos casos leves, suas
formas mais graves, como a eclâmpsia e a síndrome HELLP, constituem as principais
causas de morbidade e mortalidade materna e perinatal, sendo responsáveis por 15%
das mortes maternas nos Estados Unidos da América (EUA) e cifras ainda maiores em
países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), na
América Latina e no Caribe as complicações hipertensivas são a causa da maioria das
mortes maternas (25,7%), sendo por isso consideradas as principais intercorrências para
as gestantes dessas regiões. Na avaliação da mortalidade materna na cidade de São
Paulo, no período de 1995 a 1999, verificou-se que a hipertensão arterial foi a principal
causa durante o ciclo gravídico-puerperal, estando presente em 17,7% dos casos.
Destes, a DHEG foi responsável por 69,7% (ZUGAIB, 2019).
A DHEG caracteriza-se pela presença de hipertensão arterial, edema e/ou
proteinúria a partir da 20 semanas de gestação, em pacientes previamente
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

normotensas.139 Define-se hipertensão arterial quando a pressão arterial sistólica é


igual ou superior a 140 mmHg e/ou a pressão arterial diastólica é igual ou superior a 90
mmHg, adotando-se como pressão arterial diastólica a fase V de Korotkoff
(desaparecimento do som) com a paciente sentada, sendo essas medidas confirmadas
após 4 horas de repouso. Atualmente, não se valoriza mais o diagnóstico de DHEG diante
do incremento de 30 mmHg na pressão arterial sistólica e 15 mmHg na pressão arterial
diastólica. A exclusão desses critérios deve-se à pouca praticidade desta proposta e a
investigações que não demonstraram complicações nesse grupo de gestantes
(LOWDERMILK et al., 2012).
No entanto, esses casos devem merecer atenção especial caso ocorram
concomitantemente elevação de ácido úrico e proteinúria patológica (≥ 300 mg/24 h).
Considera-se proteinúria patológica a presença de 300 mg ou mais de proteínas
excretadas na urina coletada durante 24 horas. A identificação de proteinúria por meio
de fita reagente em amostra isolada de urina é recurso propedêutico importante por
fornecer resultado imediato; entretanto, não dispensa confirmação quantitativa em
volume de 24 horas. O edema generalizado constitui sinal de alerta para possível

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 339


aaaaaaaaaaaaa desenvolvimento de DHEG. Está presente quando ocorre inchaço de mãos e face. O
aumento súbito de peso (> 1 kg/semana) deve ser considerado sinal clínico de
importância na identificação do edema generalizado (REZENDE et al., 2013).
Existem várias classificações para as síndromes hipertensivas na gestação,
incluindo a pré-eclâmpsia: desenvolvimento de hipertensão arterial, com proteinúria
significativa e/ou edema de mãos e face que ocorre após 20 semanas. Era considerada
hipertensa a mulher com pressão arterial sistólica de pelo menos 140 mmHg e/ou
pressão arterial diastólica de pelo menos 90 mmHg. A proteinúria significante era
definida como pelo menos 0,3 g/l em urina de 24 horas ou de pelo menos 1+ pelo
método quantitativo de fita (ZUGAIB, 2019).
Já a eclâmpsia caracteriza-se com o aparecimento de convulsões em paciente
com pré-eclâmpsia, e a hipertensão crônica como hipertensão arterial persistente
anterior à gravidez ou anterior a 20 semanas e que se mantém após o puerpério.
Ademais, hipertensão transitória é definida pela elevação dos níveis pressóricos no final
da gestação ou início do puerpério (24 horas de pós-parto), sem proteinúria e que
retorna aos valores normais em até 10 dias após o parto. Ademais, Aasíndrome HELLP é
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

uma pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia com hemólise, elevação de enzimas hepáticas e


plaquetopenia. Algumas condições potencialmente graves associam-se frequentemente
à DHEG: descolamento prematuro de placenta (DPP), coagulação intravascular
disseminada (CIVD), hemorragia cerebral, edema pulmonar, insuficiência hepática e
insuficiência renal aguda. As complicações perinatais incluem prematuridade, restrição
do crescimento fetal (RCF), sofrimento fetal e morte perinatal (CUNNINGHAM et al.,
2021). Desse modo, o objetivo deste estudo é evidenciar os mecanismos fisiopatológicos
das síndromes hipertensivas gestacionais.

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo revisão narrativa da literatura, que
buscou evidenciar, por meio de análises empíricas e atuais, os mecanismos
fisiopatológicos das síndromes hipertensivas gestacionais. A pesquisa foi realizada
através do acesso online nas bases de dados National Library of Medicine (PubMed
MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Cochrane Database of Systematic
Reviews (CDSR), Google Scholar, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e EBSCO Information

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 340


aaaaaaaaaaaaa Services, no mês de novembro 2021. Para a busca das obras foram utilizadas as palavras-
chaves presentes nos descritores em Ciências da Saúde (DeCS): em inglês:
“hypertension”, “pregnancy”, “eclampsia”, “physiopathology” e em português:
"hipertensão”, “gestação”, “eclampsia”, “fisiopatologia.
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos originais, que
abordassem o tema pesquisado e permitissem acesso integral ao conteúdo do estudo,
publicados no período de 2002 a 2021, em inglês e português. O critério de exclusão foi
imposto naqueles trabalhos que não estavam em inglês ou português, que não tinham
passado por processo de Peer-View e que não abordassem o tema da pesquisa. A
estratégia de seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas: busca nas bases de dados
selecionadas; leitura dos títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles
que não abordavam o assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra
dos artigos selecionados nas etapas anteriores. Assim, totalizaram-se 14 artigos
científicos para a revisão narrativa da literatura, com os descritores apresentados acima.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A etiologia da DHEG permanece desconhecida, o que dificulta a sua prevenção


primária. Muitas teorias já foram sugeridas, mas a maioria delas foi abandonada com o
passar do tempo. Algumas dessas teorias que ainda são consideradas serão
apresentadas a seguir.

Doença em três estágios


É proposto um mecanismo imune da pré-eclâmpsia em 3 estágios. A princípio
haveria um estágio 0, pré-concepcional, no qual se acentua a importância do sêmen
paterno. A exposição pré-concepcional ao sêmen/líquido seminal apresenta antígenos
paternos ao complexo maior de histocompatibilidade (major histocompatibility complex
[MHC]), induzindo a acumulação de células T regulatórias e tornando a mãe tolerante
aos aloantígenos feto-paternos. A incapacidade dessa imunorregulação aumentaria o
risco de pré-eclâmpsia. Essa teoria explicaria por que a pré-eclâmpsia é mais comum na
primeira gravidez e por que gestações subsequentes com o mesmo parceiro oferecem
proteção à doença (CHANDIRAMANI et al., 2008).

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 341


aaaaaaaaaaaaa O estágio 1 é o da desregulação imunológica, resposta parcial da tolerância
materna ao trofoblasto. O estágio 2 caracteriza a placentação defeituosa, na qual
tomariam parte, além do trofoblasto extravilositário, as células natural killer (NK) e os
macrófagos. A placentação defeituosa conduz ao estresse oxidativo e à liberação
aumentada na circulação materna de diversos fatores. Finalmente, o estágio 3 é o da
reação inflamatória materna sistêmica exaltada e o da disfunção endotelial, que
conduzem ao diagnóstico clínico da pré-eclâmpsia – hipertensão e proteinúria (SIBAI et
al., 2005).

3.1.1. Estágio 1
Após a concepção, células T regulatórias que interagem com a indoleamina 2,3-
dioxigenase, junto com o reconhecimento pelas células NK deciduais do HLA-C fetal
situado no trofoblasto extravilositário, podem, pela imunorregulação, facilitar a
placentação. A falência parcial desse mecanismo ocasiona o estágio 1 (PODYMOW et al.,
2008).

3.1.2. Estágio 2
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Na pré-eclâmpsia, pouquíssimas artérias espiraladas exibem transformação


completa no seu segmento miometrial, ou seja, está praticamente ausente a segunda
onda de migração trofoblástica. Além disso, especialmente na pré-eclâmpsia, muitas
artérias espiraladas miometriais não transformadas exibem lesões obstrutivas de
aterose aguda, levando a maior estreitamento do lúmen do vaso e a risco aumentado
de trombose, com consequente infarto de áreas placentárias (CUNNINGHAM et al.,
2021).

3.1.3. Estágio 3
O terceiro estágio na etiopatogênese da pré-eclâmpsia envolve resposta
materna com ativação global do sistema inflamatório e disfunção da célula endotelial. A
disfunção endotelial sistêmica é a causa de outras condições que caracterizam a pré-
eclâmpsia, como hipertensão e proteinúria. Especificamente, o vasospasmo determina
a hipertensão, o aumento da permeabilidade capilar glomerular causa a proteinúria, os
distúrbios na expressão endotelial de fatores da coagulação resultam em coagulopatias,
e a vasoconstrição e a isquemia da lesão endotelial podem conduzir à disfunção

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 342


aaaaaaaaaaaaa hepática. A biopsia renal das pacientes toxêmicas revela o edema difuso da célula
endotelial glomerular conhecido como endoteliose capilar glomerular, expressão da
disfunção endotelial glomerular considerada por muitos a lesão patognomônica da
toxemia (LOWDERMILK et al., 2012).
Evidências indicam que o estresse oxidativo pode representar um ponto de
convergência para diversos fatores potencialmente determinantes da disfunção
endotelial. Há indícios de que a placenta seja a principal fonte das espécies reativas de
oxigênio (ROS) que iniciam os eventos fisiopatológicos. O perfil lipídico das mulheres
com pré-eclâmpsia também predispõe ao estresse oxidativo. Ácidos graxos livres,
triglicerídeos (Gallos et al., 2013) e lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) estão
elevados. A lipoproteína de baixa densidade (LDL) na sua fração pequena (LDL-pequeno)
também está aumentada, o que favorece a sua oxidação (oxLDL) (REZENDE et al., 2013).
Outrossim, fatores antiangiogênicos placentários, como o FMC-like
tirosinoquinase-1 solúvel (sFlt-1), estão superexpressados na toxemia. O sFlt-1 é uma
variante do Flt-1, que é receptor do fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF)
e do fator de crescimento placentário (PlGF). O sFlt-1, por meio de seu domínio ligante,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

interage com o VEGF e o PlGF na corrente sanguínea, impedindo a ligação desses fatores
angiogênicos com os seus receptores de membrana do endotélio. Assim, o sFlt-1 age
como antagonista dos fatores do crescimento e sua concentração encontra-se elevada
5 a 6 semanas antes do aparecimento clínico da toxemia (ZUGAIB, 2019).

Deficiência da invasão trofoblástica


A presença da DHEG, mesmo em situações nas quais não exista feto (como nas
moléstias trofoblásticas gestacionais), e o fato de a retirada da placenta iniciar o
processo de resolução da doença, com melhora dos sintomas, sugerem que a placenta
tenha papel de destaque na patogênese da pré-eclâmpsia (ZUGAIB, 2019).
No primeiro trimestre, ocorre a primeira onda de invasão do trofoblasto, que
atinge os vasos da decídua. A placentação normal completa-se com a invasão da camada
muscular média das artérias espiraladas do endométrio pelo sinciciotrofoblasto até
aproximadamente o final da 20a semana, diminuindo a resistência vascular e
aumentando o fluxo sanguíneo placentário. A placenta torna-se órgão extremamente
vascularizado, que permite as trocas materno-fetais. Esse processo vascular deriva de

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 343


aaaaaaaaaaaaa um intrincado balanço de fatores angiogênicos, antiangiogênicos, citocinas,
metaloproteinases, moléculas do processo principal de histocompatibilidade, antígenos
leucocitários e fatores de crescimento que cada dia mais são implicados na
fisiopatologia da doença. Embora a segunda onda tenha sido mais valorizada, é pouco
provável que a primeira onda seja normal, considerando-se as alterações nos vasos
deciduais (SIBAI, 2002).
Na DHEG, o fluxo uteroplacentário diminui, o que leva à diminuição da
oxigenação fetal. Esse efeito é causado pela invasão inadequada do trofoblasto
intravascular, impedindo as mudanças fisiológicas normais, principalmente das artérias
miometriais.101,149 Por diversos motivos, contrariamente ao esperado para uma
gestação normal, as artérias espiraladas não modificadas pela invasão deficiente do
trofoblasto intravascular mantêm a camada muscular média com diâmetro menor e alta
resistência. Além disso, também podem surgir alterações ateromatosas na parede dos
vasos (JAMES et al., 2004).
Admite-se ainda que essas alterações na perfusão placentária possam ser
responsáveis pela ativação endotelial seguida de vasoespasmo (responsável pela
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ocorrência de hipertensão arterial, oligúria e convulsões), pelo aumento da


permeabilidade capilar (responsável pela ocorrência de edema, proteinúria e
hemoconcentração) e pela ativação da coagulação (responsável pela plaquetopenia)
(SIBAI et al., 2005).

3.2.1. Fatores imunológicos


Embora ainda sejam desconhecidos os mecanismos imunológicos que protegem
o feto de uma possível rejeição, tais mecanismos têm sido aventados para explicar a
falta de tolerância entre os tecidos maternos e fetais. Esse fenômeno é responsável pela
resposta inflamatória exacerbada que impede a placentação adequada. Os possíveis
mecanismos incluem o excesso de carga antigênica fetal, a ausência de anticorpos
bloqueadores que teriam um efeito protetor contra a imunidade celular materna, a
ativação de polimorfonucleares e do complemento, além da liberação de citocinas
citotóxicas e interleucinas. O desequilíbrio entre a quantidade dos dois tipos de
linfócitos T, com predomínio dos linfócitos T helper 2 (Th2) em relação aos linfócitos T

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 344


aaaaaaaaaaaaa helper 1 (Th1), que produzem citocinas, poderia favorecer a instalação da DHEG
(CUNNINGHAM et al., 2021).
Entre os fatores epidemiológicos que fortalecem o evolvimento da resposta
imunológica na DHEG, destaca-se o fato de essa doença ser mais comum na nulípara do
que na multípara. Entretanto, quando há troca de parceiro, sua incidência aumenta. A
maioria dos estudos sobre desfechos obstétricos em pacientes submetidas à reprodução
assistida com uso de ovodoação relata uma frequência de 20 a 50% de doença
hipertensiva, mesmo quando os dados são corrigidos para a idade das pacientes (que
usualmente são mais velhas quando necessitam dessa técnica). Supõe-se que a
exposição prévia a um mesmo antígeno paterno tenha efeito protetor e um antígeno
diferente apresente efeito contrário (LIMA et al., 2018).

3.2.2. Lesão endotelial e alterações inflamatórias


Embora a pré-eclâmpsia pareça se originar na placenta, o tecido mais afetado na
apresentação clínica da doença é o endotélio vascular. O endotélio é uma das estruturas
vasculares mais complexas e apresenta várias funções importantes. A prevenção da
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

coagulação sanguínea, o controle do tônus vascular e a mediação de trocas entre os


espaços intra e extravascular (facilitando ou regulando a passagem de determinadas
substâncias) têm importância na DHEG. O endotélio intacto impede a formação de
trombos (LIMA et al., 2018).
Na presença de lesão vascular, que pode ser mecânica, química ou metabólica,
iniciam-se a cascata de coagulação e a adesão de plaquetas. O endotélio também produz
substâncias vasoativas que podem ser vasodilatadoras ou vasoconstritoras. Dentre as
vasodilatadoras podem ser citados a prostaciclina e o óxido nítrico. É sabido que os vasos
de mulheres com pré-eclâmpsia e os do cordão umbilical de seus recém-nascidos
produzem menos prostaciclina do que os de gestantes normais, tendo o óxido nítrico
efeito semelhante ao da prostaciclina (MORAIS et al., 2013).
Diante de lesão endotelial, a produção de ambas as substâncias diminui. Com o
processo desencadeado pelo aumento da resistência placentária, com liberação de
citocinas e prostaglandinas pró-inflamatórias pela placenta, o endotélio entraria em
estresse oxidativo (com produção de ânion superóxido). Essa reação seria a responsável
pelo aumento na permeabilidade capilar. Nesse caso, além de a célula endotelial perder

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 345


aaaaaaaaaaaaa a capacidade das funções normais, passa a expressar novas funções, produzindo
substâncias vasoconstritoras, como endotelina e fatores pró-coagulantes (fator ativador
XII e fator tecidual). As lesões ateromatosas vasculares também podem ser resultado do
estresse oxidativo. Nesse caso, a lesão endotelial da pré-eclâmpsia apresenta
semelhanças com o que acontece na aterosclerose, em que se supõe que o estresse
oxidativo desempenhe papel importante (MELO et al., 2015).
A mudança na permeabilidade vascular endotelial seria a responsável pelo
extravasamento de proteínas sanguíneas para o terceiro espaço (mecanismo
responsável pelo aparecimento de proteinúria na fase clínica da doença). Dessa forma,
a pressão coloidosmótica do capilar terminal estaria diminuída, o que promoveria
também a diminuição do retorno do líquido extravasado pela pressão hidrostática no
início do capilar, levando a perda de líquido para o terceiro espaço (edema) e
hemoconcentração (ZANATELLI et al., 2016).

3.2.3. Fatores ligados à angiogênese


As gestantes produzem uma variante solúvel do receptor para o fator de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

crescimento endovascular denominada fms- -like tyrosine kinase solúvel (sFlt1). Esse
receptor possibilita a ligação com o fator de crescimento endovascular (VEGF), mas não
promove a resposta biológica intracelular que o receptor presente na membrana
provoca. Outra molécula que reage com o sFlt1 é uma variante do fator de crescimento
produzida pela placenta, denominada fator de crescimento placentário (PlGF, do inglês
placental growth factor). O VEGF e o PlGF são potentes estimuladores da expansão
vascular, mecanismo essencial para o desenvolvimento da unidade uteroplacentária.
Ademais, mulheres com pré-eclâmpsia apresentam níveis mais elevados de sFlt1 e
endoglina solúvel (s-Eng) e mais baixos de PlGF e VEGF quando comparadas a mulheres
com gestações sem complicações. Os níveis circulantes de sFlt1 e PlGF mostram-se
alterados várias semanas antes do aparecimento da doença clínica e correlacionam-se
com a gravidade da doença. Dessa forma, o sFlt1 apresenta efeito antiangiogênico
(CUNNINGHAM et al., 2021).

Predisposição genética
Há evidências epidemiológicas do envolvimento genético na DHEG. Assim, filhas
de mães com pré-eclâmpsia têm maior incidência da doença. Entretanto, o mecanismo

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 346


aaaaaaaaaaaaa exato da herança ainda é desconhecido. Vários polimorfismos gênicos, como o fator de
necrose tumoral (TNF), linfotoxina-alfa e interleucina-1 beta já foram associados à pré-
eclâmpsia, assim como uma variante do gene do angiotensinogênio e a mutação do gene
da metilenotetra-hidrofolato redutase, uma enzima que metaboliza a homocisteína
(ZUGAIB, 2019).

Fatores nutricionais
Além das causas incontroláveis, fatores ambientais podem aumentar a chance
da instalação da DHEG. Há muitos anos, a deficiência ou o excesso de alguns nutrientes
têm sido responsabilizados por contribuir para o aparecimento dessa doença. Alguns
estudos sugeriram associação inversa entre o consumo de cálcio na dieta e o nível de
pressão arterial, mas o seu mecanismo ainda é desconhecido e os resultados dos
estudos disponíveis são conflitantes; estudos controlados não mostraram benefício da
suplementação, e outros sugeriram benefício apenas em populações com dieta
deficitária nesse nutriente. Baseando-se em indícios da presença de marcadores do
estresse oxidativo na placenta e na circulação materna, estudos sugeriram que algumas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

substâncias antioxidantes poderiam, igualmente, evitar a instalação da DHEG


(ZANATELLI et al., 2016).

Estresse
Estudos epidemiológicos demonstram que o risco relativo de DHEG é maior em
situações de estresse. Na prática clínica, é de conhecimento antigo que o estresse é
importante fator no aumento isolado da pressão arterial. Da mesma forma, pode-se
supor que, se os fatores emocionais também interferem no sistema imunológico, então
facilitam a deposição de imunocomplexos, dificultando a placentação normal. Em
consequência da hipoxia placentária, surgiriam os radicais livres, os quais promoveriam
a lesão do endotélio. Embora estas hipóteses sejam interessantes, a resposta a um
determinado fator estressante é variável de um indivíduo para outro, tornando difícil
estabelecer o seu real valor (SIBAI et al., 2005).
Estudos experimentais com animais expostos a estímulos estressantes (som,
imobilização e superpopulação) revelaram sinais de pré-eclâmpsia. Os resultados desses
estudos demonstram que quanto maior o nível de estresse, maiores os níveis de pressão

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 347


aaaaaaaaaaaaa arterial. Este achado é explicado pelas alterações endoteliais, com aumento da atividade
simpática vasoconstritora. Ademais, apesar de a hipertensão arterial ser a manifestação
mais frequente da DHEG, os achados patológicos indicam que o fator de importância
primária não é o aumento da pressão arterial, mas a redução da perfusão tecidual. Esta,
por sua vez, é secundária ao vasoespasmo arteriolar e à lesão endotelial, que elevam a
resistência periférica total e a pressão arterial. Dessa maneira, na DHEG ocorrem
alterações em todos os órgãos (MELO et al., 2015).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A rotina propedêutica cuidadosa, com ênfase na anamnese e no exame físico, é
fundamental para o diagnóstico precoce. O diagnóstico de DHEG deve ser presumido
nas gestantes com hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria significativa após 20
semanas de gestação. A probabilidade de acerto no diagnóstico clínico é maior se a
paciente for primigesta e com história familiar de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia. Embora
o curso da DHEG tenha início na ocasião da placentação, as manifestações clínicas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

geralmente são tardias, ou seja, ocorrem no último trimestre da gravidez. Entretanto,


quando essas manifestações surgem em idades gestacionais precoces, guardam relação
direta com os piores resultados maternos e perinatais, devendo alertar para a presença
de hipertensão arterial prévia à gestação, trombofilias ou doença renal preexistente. A
única exceção é a doença trofoblástica gestacional, que pode estar associada à DHEG no
início da gestação.
Durante o pré-natal, o diagnóstico de DHEG deve ser o mais precoce possível,
com o objetivo de impedir a evolução para formas mais graves da doença. Além da
rotina geral de pré-natal, as gestantes com risco para o desenvolvimento de DHEG
devem ser submetidas a consultas mais frequentes de pré-natal para controle mais
apurado do ganho ponderal, medida da pressão arterial, pesquisa de proteinúria e
dosagem sérica de ácido úrico e ureia/creatinina. No caso de mulheres com
antecedentes de hipertensão arterial crônica, diabetes ou colagenoses, é prudente a
solicitação desses exames laboratoriais já na primeira consulta de pré-natal para futuras
comparações.

MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 348


aaaaaaaaaaaaa
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MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS GESTACIONAIS 349


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXVI
O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA
CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E
OS FATORES QUE CORROBORAM
ESSE FENÔMENO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-26
Bárbara Queiroz de Figueiredo ¹
Marianna Dutra Milagre ²
Luis Ferreira Neto ²
Sabrina Siqueira Porto ¹
¹ Graduandas do curso de Medicina. Centro Universitário de Patos de Minas.
² Graduandos do curso de Medicina. Universidade de Uberaba.

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

O explante de mama é a remoção da prótese de silicone, principalmente por questões


de saúde, decorrente da reposta imunológica do organismo mediada por citocinas e
interleucinas. Após a análise dos estudos, apesar de evidenciarem uma necessidade de
mais pesquisas para realmente comprovar a associação entre os implantes de silicone e
o desenvolvimento de quadros clínicos, foi verificado que o motivo crucial pela busca da
retirada dos implantes de silicone são as possíveis e complicações relacionas às
próteses, como a síndrome inflamatória induzida por adjuvantes (ASIA), doença do
silicone (BII), linfomas e seromas. Portanto, com o movimento ascendente de
autoaceitação corporal e com a amenização dos sintomas, como fadiga, artralgia,
mialgia, neurastenia, dor no peito e fotossensibilidade em parte dos pacientes
submetidas ao explante de mama, a procura é cada vez mais frequente por esse
procedimento.

Palavras-chave: Explante de mama; ASIA; Cirurgia Plástica.

1. INTRODUÇÃO
O silicone foi primariamente introduzido na medicina em 1947, para uso
em curativos e, sendo, inicialmente, considerado uma substância inerte, estável, com
consistência que imitava o tecido humano e resistente à degradação. A partir da década

O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
350
aaaaaaaaaaaaa de 1960, a substância começou a ser utilizada para próteses e implantes, principalmente
mamários, sob forma de um gel envolto por uma cápsula de elastômero rígida. No
entanto, desde o início de seu uso, alguns estudos apontaram que o silicone injetável
desencadeava reações locais graves e que apareciam em locais distantes da região
implantada, sugerindo que o material não era imunologicamente inerte, como antes se
acreditava (MIRANDA, et al. 2020).
Sob esse contexto, a síndrome autoimune induzida por adjuvantes (ASIA),
que engloba doenças autoimunes desencadeadas por silicone e outras substâncias
estranhas, associa-se, frequentemente, à prótese mamária, sendo as doenças mais
comumente descritas e seus agentes desencadeadores: linfomas e síndrome da
miofasceíte macrofágica. (JARA et al., 2017). Do ponto de vista fisiopatológico, nesses
casos, os sintomas podem começar a partir do primeiro mês do pós-operatório, sendo
um deles a ativação do sistema imune, onde ocorre a liberação de citocinas,
interleucinas e células imunológicas contra o organismo, reação que é mais propensa a
ocorrer em pacientes que possuem histórico familiar de doenças autoimunes, alergia a
alguns medicamentos e uma deficiência de vitamina D. (SPEROTTO et al., 2021).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Assim, nota-se que essas problemáticas podem ocorrer com indivíduos


que possuem próteses, como o implante mamário de silicone, sendo seus sintomas
clínicos, na maioria das vezes, variados, e que sua terapêutica pode começar de maneira
medicamentosa, porém, se os sintomas persistirem, deve-se optar pela retirada do
implante mamário (SPEROTTO et al., 2021). Apesar de muitos avanços na investigação
dos mecanismos biológicos subjacentes a estas condições, ainda é necessário validar os
critérios diagnósticos existentes e determinar qual deles é o mais específico para ser
utilizado na prática clínica, bem como discutir com o cirurgião qual o desejo e a indicação
médica para cada caso (SOARES et al., 2021).
Desse modo, a busca pelo explante de silicone está cada vez mais
frequente entre as mulheres, seja por intercorrências relacionadas à prótese e
preocupações sobre doenças sistêmicas relacionadas ao silicone, seja devido mudanças
atuais sobre percepções da beleza feminina estética (TANNA, 2021). Sob essa
perspectiva, o presente estudo tem, como objetivo, por meio de Revisão Literária,
investigar as evidências atuais sobre explantes mamários de silicone, bem como as

O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
351
aaaaaaaaaaaaa principais motivações corroboradas para essa cirurgia, principalmente relacionadas à
ASIA.

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo revisão integrativa da literatura. Para
a elaboração da questão de pesquisa da revisão integrativa utilizou a estratégia PICO
(Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). O uso dessa estratégia
para formular a questão de pesquisa na condução de métodos de revisão possibilita a
identificação de palavras-chave, as quais auxiliam na localização de estudos primários
relevantes nas bases de dados. Assim, a questão de pesquisa delimitada foi: “por que os
casos de explante de mama aumentaram tanto, seria devido os novos padrões estéticos
e doença da silicose?” Dessa maneira, compreende-se que P=mulheres que querem
fazer o explante de mama; I=cirurgia de explante de mama; C=mulheres que não
querem fazer o explante de mama e O= aumento do interesse em explante de mama.
A partir do estabelecimento das palavras-chave da pesquisa, foi realizado o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

cruzamento dos descritores “explantion of silicone breast”; “silicone implant illness”;


“ASIA syndrome”; “breast implant removal” “explante de mama”, “complicações”; nas
seguintes bases de dados: National Library of Medicine (PubMed MEDLINE), Scientific
Electronic Library Online (Scielo), Google Scholar, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e
EBSCO Information Services. A pesquisa bibliográfica foi de cunho exploratório, partindo
da identificação, da seleção e da avaliação de trabalhos e de artigos científicos
considerados relevantes para dar suporte teórico para a classificação, a descrição e a
análise dos resultados.
A busca foi realizada no mês de abril de 2021. Foram considerados estudos
publicados no período compreendido entre 2013 e 2021. A estratégia de seleção dos
artigos seguiu as seguintes etapas: busca nas bases de dados selecionadas; leitura dos
títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles que não abordavam o
assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra dos artigos
selecionados nas etapas anteriores. Foram analisadas fontes relevantes inerentes ao
tema, utilizando como um dos principais critérios a escolha de artigos atuais, originais e
internacionais. Após leitura criteriosa das publicações, 2 artigos não foram utilizados

O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
352
aaaaaaaaaaaaa devido aos critérios de exclusão. Assim, totalizaram-se 27 artigos científicos para a
revisão integrativa da literatura, com os descritores apresentados acima.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As mamoplastias de aumento são amplamente realizadas no Brasil e têm
apresentado cada vez mais resultados satisfatórios e seguros. Contudo, por envolver a
utilização de implantes de silicone na grande parte dos casos, considerados como um
corpo estranho, estão, portanto, sujeitas a complicações e intercorrências (FRANCO et
al., 2013).
Nesse contexto, de acordo com Kaplan et al. (2021) e Rohrich et al. (2019), o
termo “doença do silicone” tem se popularizado nas mídias sociais e se tornado uma
preocupação para os consumidores. Essa doença englobaria sintomas, na maioria dos
casos, inespecíficos que foram atribuídos aos implantes mamários, entre eles estão
fadiga, dor no peito, queda de cabelo, cefaleia, calafrios, fotossensiblidade e erupções
na pele. Porém, os autores afirmam que até o momento não há evidências suficientes e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

concretas para categorizar a formação dessa síndrome, já que poucos dispositivos


médicos até hoje foram estudados tão de perto quanto as cápsulas de silicone. De
acordo com os resultados dos artigos selecionados, muitos motivos podem estar
relacionados ao aumento de explantes mamários entre eles destacam a melhora dos
sintomas inespecíficos após a explantação, citados por Maijers et al. (2013), por
Carvalho et al. (2016), por Colaris et al. (2016), por Wee et al. (2020), e por Lee et al.
(2020). Contudo, cabe relatar que a maioria dos estudos não eram compostos de casos
controle para que houvesse comprovação de tal evento.
Para Magnusson et al. (2019), desde 1960 já era debatido uma suposta ligação
entre implantes mamários e doenças sistêmicas e esse problema persiste na atualidade
sendo rotulado de “doença do implante mamário”, o qual tem gerado preocupações e
maior procura por cirurgiões plásticos. Na era moderna, das redes sociais, esse termo
inclui todas as complicações relacionadas aos implantes mamários. O crescimento das
mídias sociais como uma fonte de informação para os pacientes funciona como uma
forma de compartilhar experiências, delinear sintomas e discutir estratégias, mas afasta
os pacientes de uma resolução científica precisa (ALIJOTAS-REIG et al., 2017).

O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
353
aaaaaaaaaaaaa As queixas supostamente relacionadas aos implantes mamários, denominadas
doença do silicone (BII), foram analisadas por Kappel et al. (2020) em um estudo
retrospectivo no qual mulheres que tiveram ou ainda têm próteses de silicone foram
solicitadas a preencher um questionário acerca dos sintomas apresentados. No total,
101 questionários foram avaliados e foi possível perceber que as mulheres que tiveram
implantes de silicone por um período médio de 15 anos relataram diversas queixas de
saúde relacionadas a BII, enquanto aquelas sem implantes dificilmente tiveram esses
sintomas. Algumas mulheres confirmaram que após a explantação dos implantes houve
uma melhora das suas queixas por um período médio de acompanhamento de 3,5 anos.
Assim, os autores acreditam que anteriormente a implantação de próteses de silicone
as mulheres devem ser informadas acerca dos possíveis efeitos danosos à saúde (BORBA
et al., 2020).
Estudo semelhante foi realizado por Boer et al. (2017), os autores analisaram a
efetividade da explantação do implante mamário de silicone na melhoria de queixas
associadas a uma resposta inflamatória ou doença autoimune. No passado, o conjunto
de sintomas foi nomeado de diferentes formas, como doença adjuvante humana,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

complexo de sintomas relacionados ao silicone, siliconose e mais recentemente de


síndrome autoimune/inflamatória induzida por adjuvantes (ASIA). Desse modo, em
alguns pacientes o silicone pode agir como uma espécie de adjuvante que resulta em
respostas do sistema imunológico. Assim, a realização do explante de mama foi
acompanhada de melhorias das queixas em aproximadamente 75% dos pacientes,
porém naqueles com doenças autoimunes foi necessária adicionalmente uma terapia
imunossupressora para obter resultados positivos. No entanto, os autores acreditam
que mais pesquisas devem ser feitas sobre o assunto para de fato chegar a uma
conclusão sobre a certeza de uma relação entre implantes mamários e ASIA (MARTÍNEZ-
RAMOS et al., 2018).
Na coorte realizada por Maijers et al. (2013), na qual foram incluídas 80
mulheres, das quais 65% foram diagnosticadas com ASIA. Após a explantação 36 de 52
mulheres tiveram significante redução dos sintomas. Esse resultado foi obtido também
pelo trabalho de Wee et al. (2020) quando foram explantados os implantes juntamente
com a cápsula.

O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
354
aaaaaaaaaaaaa De acordo com Tanna et al. (2021) há atualmente uma demanda crescente para
a remoção do implante devido a uma maior preocupação com a sua segurança, já que
muito se tem discutido sobre a contribuição dos implantes para o desenvolvimento de
doenças sistêmicas. Mais recentemente, cresceram as pesquisas em relação ao silicone
e o desenvolvimento de uma doença específica, o linfoma anaplásico de grandes células
(BIA-ALCL). Além disso, essa patologia pode ser considerada rara e possivelmente
associada aos implantes mamários texturizados e tem como principais sintomas,
seroma, inchaço no seio, contratura capsular e erupção cutânea (LEBERFINGER et al.,
2017).
O tempo de latência desde a colocação do implante até a manifestação da
doença é variável, por volta de 1 a 32 anos, com média de 10,5 anos segundo Medina et
al. (2016). Por sua vez, para Palma (2019), o tempo médio desde a colocação até o
diagnóstico do BIA-ALCL é cerca de 10 anos. Contudo, os autores acreditam que os
implantes mamários texturizados não podem ser considerados como agentes
causadores no linfoma, sendo somente um fator de risco do BIA-ALCL. Isso ocorre pois
em relação aos implantes lisos, estes possuem maiores irregularidades e concavidades,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

assim como área de superfície, que facilitam a adesão bacteriana e a formação de um


biofilme (REAL et al., 2019).
Dessa maneira, Batista et al. (2017) descreveram um relato de caso raro no Brasil
de uma paciente de 44 anos apresentando queixa de desconforto e aumento em sua
mama direita e que posteriormente foi diagnosticada com BIA-ALCL. Os autores afirmam
que pouco ainda se sabe sobre o mecanismo que levaria implantes mamários a
desencadearem o BIA-ALCL, porém o prognóstico é satisfatório em grande parte dos
casos. No caso da paciente em questão foi necessária a realização da remoção do
explante com capsulectomia total, retirando todo o tecido suspeito. Porém, é necessário
ter maiores provas para lidar com outros casos e guiar as decisões clínicas.
Outra complicação dos implantes mamários de silicone foi destacada por Hillard
et al. (2017), sendo a ruptura da prótese. Apesar dos implantes de silicone terem se
modernizado e serem utilizados na medicina por aproximadamente 6 décadas, a ruptura
pode ocorrer em alguns casos, tendo maiores chances depois de 6 a 8 anos após a
implantação. Paciente sintomáticos com implantes rompidos tem a opção de serem

O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
355
aaaaaaaaaaaaa submetidos a explantação de acordo com recomendações médicas adequadas a cada
caso.
Segundo Franco et al. (2013), uma complicação pouco comum para implantes de
silicone são seromas tardios, que se manifestam sem causa definida. Assim, no estudo
realizado pelos autores foram analisadas 3 pacientes que apresentaram esse quadro no
pós-operatório, sendo que em dois foi necessária a realização de retirada bilateral das
próteses e na última paciente foi feita a troca por outra das mesmas especificações. É
válido ressaltar que o conteúdo dos seromas foi diferente nos 3 casos, sendo
sanguinolento acompanhado por grumos e coágulos na primeira mulher,
serossanguinolenta na segunda e um achado mais raro, pus estéril na terceira. Diante
disso, o explante de mama envolve uma série de alterações psicológicas da paciente que
deve contar com o suporte do cirurgião (WIDYA et al., 2020).
Além disso, deve-se destacar que com o decorrer dos anos há um novo
movimento de padrão estético baseado na segurança com o próprio corpo e
autoaceitação que leva mulheres a procurarem por remoção de suas próteses. Em parte,
isso está relacionado à uma publicidade negativa atribuída aos implantes mamários
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

devido às mudanças relacionadas aos hábitos corporais. (TANNA et al., 2021).


O explante de mama tem se tornado uma cirurgia considerada, de certo modo,
comum na atualidade, principalmente pelo medo de complicações, como o BIA-ALCL e
outros sintomas sistêmicos. Porém, além da remoção, segundo Avashia et al. (2020) o
manejo secundário das deformidades da mama também deve ser tratado
individualmente. O paciente após a remoção dos implantes mamários deve
compreender que a mama enfrentou mudanças devido ao envelhecimento e em relação
ao seu volume e tamanho. Desse modo, deve-se discutir com o cirurgião qual o desejo
e a indicação médica para cada caso, logo, esse paciente pode ser submetido à apenas
o processo de explantação ou explante seguido por técnicas como restauração de
volume e contorno de mama.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O implante de próteses de silicone é a cirurgia mais realizada no mundo e um
dos procedimentos cirúrgicos mais desejados no Brasil. Contudo, nos últimos anos,
observa-se um crescente aumento na procura do explante mamário, assim, esse estudo

O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
356
aaaaaaaaaaaaa objetivou realizar uma revisão bibliográfica para identificar os principais fatores
contribuintes para tal fato. Diante do exposto, percebe-se que o motivo crucial pela
busca da retirada dos implantes de silicone são as possíveis doenças e complicações
relacionas às próteses, exemplificadas por Síndrome inflamatória induzida por
adjuvantes (ASIA), doença do silicone (BII), linfomas e seromas.
Apesar dos estudos evidenciarem uma necessidade de mais pesquisas para
realmente comprovar a associação entre os implantes de silicone e o desenvolvimento
de quadros clínicos, a discussão realizada pela mídia sobre esse tema somada ao
movimento ascendente de autoaceitação corporal, além da amenização de sintomas,
como fadiga, artralgia, mialgia, neurastenia, dor no peito, fotossensibilidade, em parte
das pacientes submetidas ao explante de mama, contribuem para a procura cada vez
mais frequente por esse procedimento.

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O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
358
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O RECENTE AUMENTO DA BUSCA PELA CIRURGIA DE EXPLANTE DE SILICONE E OS FATORES QUE


CORROBORAM ESSE FENÔMENO
359
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXVII
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA
SÍNDROME CLIMATÉRICA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-27
Bárbara Queiroz de Figueiredo ¹
Amanda Rosa Alfonso ²
Ana Luisa Bucar Cardoso ²
Isadora Bucar Cardoso ²
¹ Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM)
² Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário de Goiatuba (UNICERRADO)

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A transição menopáusica é uma progressão endocrinológica gradual que leva as


menstruações regulares cíclicas e previsíveis das mulheres, características dos ciclos
ovulatórios, para o fim dos períodos menstruais, associada à senescência ovariana. A
síndrome do climatério compreende como os sintomas que mulheres sob esse período
apresentam, relacioados á queda da produção de estrogênios, e geralmente é composta
por sintomas vasomotores e modificações atróficas. Entre os primeiros, os mais
disseminados e incômodos são as ondas de calor, também denominadas fogachos, e tais
sintomas podem ocorrer mesmo antes de estabelecida a menopausa. Sob esse
contexto, é importante observar que a transição até a menopausa e os anos de vida
após trazem consigo questões relacionadas com qualidade de vida, prevenção e
tratamento de doenças. Por isso, a assistência à mulher climatérica é algo diferencial e
imprescindível para o cuidado com a saúde feminina mundial, que envelhece
continuamente, e entender os multifatores que rodeiam essa população e a realidade
em que vivem é fundamental.

Palavras-chave: Menopausa. Climatério. Sintomas. Senilidade.

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 360


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A transição menopáusica é uma progressão endocrinológica gradual que leva as
menstruações regulares cíclicas e previsíveis das mulheres, características dos ciclos
ovulatórios, para o fim dos períodos menstruais, associada à senescência ovariana. Com
o aprimoramento dos tratamentos clínicos e foco crescente na atenção preventiva à
saúde, houve aumento da expectativa média de vida e, como consequência, grande
parte das mulheres pode esperar viver pelo menos um terço da vida após a menopausa
(HOFFMAN et al., 2014).
Compreende-se como climatério é o período fisiológico que se inicia desde os
primeiros indícios de falha ovariana, mesmo que os ciclos continuem regulares ou até
ovulatórios, e termina na senectude (senilidade). Esta, por definição, se inicia aos 65
anos de idade. Portanto, cada mulher pode iniciar seu climatério de forma diferente,
tanto em cronologia quanto em sintomatologia, e importante ressaltar que nem sempre
o climatério é sintomático (PASSOS et al., 2017).
Já a perimenopausa é o período “ao redor da menopausa”, ou seja, é o período
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

que compreende os anos que precedem a menopausa, já na presença de distúrbios da


duração do ciclo menstrual e os doze meses que se seguem após o término das
menstruações, até a confirmação definitiva da interrupção das menstruações, e pode-
se preceder à última menstruação em dois a oito anos. Já a menopausa em si é definida
como a última menstruação devido à falência ovariana e, assim, seu diagnóstico é
retrospectivo. A idade média de ocorrência da menopausa é de 51 anos, sendo que 10%
das mulheres apresentam seu último fluxo menstrual antes dos 45 anos (HOFFMAN et
al., 2014).
Ao nascimento, as mulheres possuem cerca de 1 a 2 milhões de folículos
primordiais nos ovários. Ao tempo da menopausa, restam-se apenas algumas centenas
ou poucos milhares desses folículos. Durante os 40 anos da vida reprodutiva, o
mecanismo de atresia prevalece, sendo que a taxa de perda folicular é linear até 35 a 38
anos de idade, seguida de uma redução vertiginosa até a menopausa. Por volta dos 40
anos, os ovários começam a diminuir de tamanho, e esse número se desacelera durante
a perimenopausa e termina 5 a 10 anos após a menopausa (NILSON, 2008).

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 361


aaaaaaaaaaaaa Na perimenopausa, o número de folículos ovarianos se reduz substancialmente,
e os remanescentes respondem de modo inadequado ao hormônio foliculoestimulante
(FSH) e ao hormônio luteinizante (LH), com a maturação irregular dos folículos, e o
resultado disso são ciclos irregulares decorrentes da anovulação. Então, a menopausa
resulta da perda de sensibilidade ovariana às gonadotrofinas, relacionada com a
diminuição numérica e a disfunção dos folículos. Essas alterações podem preceder a
menopausa em até 5 anos, e a diminuição do número e da qualidade dos folículos
acarreta redução da secreção de estrógenos e de inibina B (VIGETA et al., 2004). Sob
essa perspectiva, a síndrome do climatério pode acometer mulheres sob esse período,
e o objetivo dessa pesquisa foi explanar acerca da síndrome, destacando os principais
sintomas relacionados a ela.

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo revisão narrativa da literatura, que
buscou evidenciar, por meio de análises empíricas e atuais, as principais alterações que
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ocorrem na síndrome climatérica. A pesquisa foi realizada através do acesso online nas
bases de dados National Library of Medicine (PubMed MEDLINE), Scientific Electronic
Library Online (Scielo), Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR), Google
Scholar, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e EBSCO Information Services, no mês de
novembro 2021. Para a busca das obras foram utilizadas as palavras-chaves presentes
nos descritores em Ciências da Saúde (DeCS): em inglês: "menopause", "climacteric",
"symptoms", "climacteric syndrome" e em português: "menopausa", "climatério",
"sintomas", "síndrome climatérica".
Como critérios de inclusão, foram considerados artigos originais, que
abordassem o tema pesquisado e permitissem acesso integral ao conteúdo do estudo,
publicados no período de 2000 a 2021, em inglês e português. O critério de exclusão foi
imposto naqueles trabalhos que não estavam em inglês ou português, que não tinham
passado por processo de Peer-View e que não abordassem o tema da pesquisa. A
estratégia de seleção dos artigos seguiu as seguintes etapas: busca nas bases de dados
selecionadas; leitura dos títulos de todos os artigos encontrados e exclusão daqueles
que não abordavam o assunto; leitura crítica dos resumos dos artigos e leitura na íntegra

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 362


aaaaaaaaaaaaa dos artigos selecionados nas etapas anteriores. Assim, totalizaram-se 23 artigos
científicos para a revisão narrativa da literatura, com os descritores apresentados acima.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A síndrome do climatério compreende como os sintomas que mulheres sob esse
período apresentam, relacioados á queda da produção de estrogênios, e geralmente é
composta por sintomas vasomotores e modificações atróficas. Entre os primeiros, os
mais disseminados e incômodos são as ondas de calor, também denominadas fogachos,
e tais sintomas podem ocorrer mesmo antes de estabelecida a menopausa (NELSON,
2008). Sob esse contexto, é importante observar que a transição até a menopausa e os
anos de vida após trazem consigo questões relacionadas com qualidade de vida,
prevenção e tratamento de doenças.

Alterações neuroendócrinas
Durante a vida reprodutiva da mulher, o hormônio liberador de gonadotrofinas
(GnRH) é liberado de forma pulsátil pelo núcleo arqueado do hipotálamo basal medial.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Ele se liga aos receptores de GnRH nos gonadotrofos hipofisários para estimular a
liberação cíclica das gonadotrofinas: hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo
estimulante (FSH). Essas gonadotrofinas, por sua vez, estimulam a produção dos
esteroides sexuais ovarianos, o estrogênio e a progesterona, bem como de um peptídeo
hormonal, a inibina (NELSON, 2008).
No decorrer dos anos reprodutivos, o estrogênio e a progesterona exercem
feedback positivo e negativo sobre a produção das gonadotrofinas hipofisárias e sobre
a amplitude e a frequência da liberação de GnRH. Produzida nas células da granulosa, a
inibina exerce uma importante influência no feedback negativo sobre a secreção de FSH
pela adeno-hipófise, e esse sistema endócrino rigorosamente regulado produz ciclos
menstruais ovulatórios regulares e previsíveis (HALBE, 2000).
A transição de ciclos ovulatórios até a menopausa normalmente se inicia no final
da quinta década de vida, quando os níveis de FSH se elevam discretamente e levam a
aumento da resposta folicular ovariana. Esse aumento, por sua vez, produz elevação
global nos níveis de estrogênios (estradiol, principalmente). No entanto, esse aumento

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 363


aaaaaaaaaaaaa do FSH é atribuído à redução da secreção ovariana de inibina, e não à redução na
produção de estradiol (NELSON, 2008).
Já no final da transição menopáusica, a mulher apresenta redução da
foliculogênese e maior incidência de ciclos anovulatórios em comparação com mulheres
no meio da idade reprodutiva. Além disso, nesse período, os folículos ovarianos sofrem
uma taxa acelerada de perda até que, finalmente, ocorre exaustão no suprimento de
folículos. Essas alterações, incluindo o aumento nos níveis de FSH, refletem a redução
na qualidade e na capacidade de secreção de inibina pelos folículos em fase de
envelhecimento (GOLD et al., 2013).
Com a insuficiência ovariana na menopausa, a liberação de hormônio esteroide
ovariano cessa, abrindo a alça de feedback negativo. Subsequentemente, o GnRH é
liberado com frequência e amplitude máximas e, como resultado, os níveis circulantes
de FSH e LH aumentam e se tornam quatro vezes maiores que nos anos reprodutivos
(LIU et al., 2014).
Portanto, na síndrome climatérica, de início, ocorre um aumento nos níveis de
FSH e, posteriormente, com maior redução dos folículos, não haverá estradiol (E2)
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

suficiente para comandar a retroalimentação positiva responsável pela ovulação. Isto


faz com que o LH também se eleve, embora em menores proporções que o FSH. Os
níveis elevados de FSH e LH estimulam o estroma ovariano que, em consequência,
promove níveis de estrona (E1) mais elevados que os de E2 (NELSON, 2008; LORENZI et
al., 2005).
Aliado a isso, o hormônio antimülleriano (AMH), uma glicoproteína dimérica
membro da família do fator beta transformador de crescimento e produzida pelas
células da granulosa nos pequenos folículos antrais em crescimento nos ovários, é um
marcador de reserva do número de folículos ovarianos. No entanto, os níveis de AMH
no soro independem do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, diminuindo a níveis
indetectáveis na pós-menopausa. Ademais, os androgênios podem estar normais ou
diminuídos no início da menopausa, entretanto, mesmo que os níveis de testosterona
estejam reduzidos, essa diminuição é inferior à de E2 (NELSON, 2008).
O ovário pós-menopáusico continua sua produção de androstenediona e
testosterona e a suprarrenal também mantém a secreção desses hormônios, e, por isso,
o estrogênio circulante mais importante na mulher após a menopausa é a estrona e sua

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 364


aaaaaaaaaaaaa principal fonte provém da conversão periférica da androstenediona, processada
basicamente no tecido adiposo (SILVEIRA et al., 2007).
É importante salientar que, após a menopausa, as mulheres não têm níveis
absolutamente ausentes de estrogênios, haja vista que existe um mecanismo de
aromatização da androstenediona em estrona. Como essa conversão ocorre
principalmente no tecido adiposo, as mulheres obesas tendem a produzir níveis mais
altos de estrona. Apesar de ser biologicamente mais fraca que o E2, a estrona se liga ao
receptor hormonal específico e causa efeitos estrogênicos nas células-alvo. Além disso,
uma pequena quantidade de estrona pode ser convertida em estradiol (NELSON, 2008).
O sulfato de desidroepiandrosterona (SDHEA) é produzido quase exclusivamente
pela suprarrenal, e, com o avanço da idade, observa-se declínio na produção suprarrenal
de SDHEA. Outros hormônios suprarrenais também são reduzidos com a idade. A
androstenediona atinge seu ponto máximo entre 20 e 30 anos e caindo para 62% em
relação a esse nível em mulheres com idade entre 50 e 60 anos. A pregnenolona diminui
em 45% entre a vida reprodutiva e a menopausa (CASTELO-BRANCO, et al., 2006).
Os ovários contribuem para a produção desses hormônios durante os anos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

reprodutivos, porém, após a menopausa, somente a glândula suprarrenal mantém essa


síntese hormonal. Ou seja, os principais esteroides sexuais, estradiol e testosterona,
circulam no sangue ligados a um transportador de glicoproteínas produzido no fígado,
conhecido como globulina de ligação ao hormônio sexual (SHBG, de sex hormone-
binding globulin). A produção de SHBG declina após a menopausa, o que pode aumentar
os níveis de estrogênio e testosterona livres ou não ligados (BLUMEL et al., 2012).

Alterações no ciclo menstrual e sintomas urogenitais


A queixa mais frequente na transição menopausal é a irregularidade menstrual,
refletindo a perda progressiva da função reprodutiva ovariana. Tende a se iniciar com
encurtamento dos ciclos e progredir para períodos de amenorreia cada vez mais longos
até a parada total dos ciclos. A amenorreia prolongada é o sintoma mais característico
da deficiência de estrogênio, e o padrão de fluxo menstrual também pode variar, sendo
comum ocorrer sangramento aumentado. Devido à flutuação hormonal e variação
importante nos níveis de estrogênio, muitas vezes sem oposição adequada da
progesterona em função dos ciclos anovulatórios, o desenvolvimento de patologias

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 365


aaaaaaaaaaaaa orgânicas como miomas e pólipos é favorecido. E, nos casos de sangramento uterino
intenso, é mandatória a investigação e exclusão de patologias endometriais, com
atenção às hiperplasias endometriais e ao carcinoma de endométrio (GONÇALVES et al.,
2003).
Foram identificados receptores de estrogênio em vulva, vagina, bexiga, uretra,
musculatura do assoalho pélvico e fáscia endopélvica. Assim, essas estruturas
compartilham responsividade hormonal semelhante, e são suscetíveis à supressão de
estrogênio característica da menopausa. Sem a influência trófica do estrogênio, a vagina
perde colágeno, tecido adiposo e capacidade de retenção de água. À medida que as
paredes vaginais se retraem, as dobras desaparecem e a vagina assume uma aparência
rosa-pálido com superfícies achatadas. Como resultado, a superfície vaginal se torna
friável e propensa a sangramentos, mesmo com traumas menores (NELSON, 2008).
Haja vista que há receptores de estrogênio e de progesterona na maior parte dos
músculos e dos ligamentos pélvicos, em razão da baixa produção estrogênica na fase
final da menopausa, a atrofia geniturinária pode resultar em uma grande variedade de
sintomas que afetam a qualidade de vida, como disúria, urgência miccional e infecções
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

recorrentes no trato urinário. Especificamente, o afinamento da mucosa uretral e da


bexiga pode provocar uretrite com disúria, dispareunia, incontinência de urgência e de
frequência urinária (TANG, 2003).
Além disso, o encurtamento uretral, associado às alterações atróficas
menopáusicas primárias, resulta em incontinência urinária por estresse. Há
estreitamento dos vasos sanguíneos da parede vaginal e, ao longo do tempo, a vagina
se contrai e perde flexibilidade. Além disso, o pH vaginal se torna mais alcalino, o que
cria ambientes vaginais menos hospitaleiros para os lactobacilos e mais suscetíveis a
infecções por patógenos fecais e urogenitais (SILVA et al., 2008).
Além das alterações vaginais, à medida que a produção de estrogênio diminui na
fase final da transição menopáusica, o epitélio vulvar gradualmente sofre atrofia e há
redução da secreção das glândulas sebáceas. A gordura subcutânea nos lábios maiores
desaparece, levando a recolhimento e retração do prepúcio clitoriano e da uretra, fusão
dos lábios menores e estreitamento e estenose do introito vaginal. Como resultado
dessas alterações, os sintomas clínicos associados à atrofia vulvovaginal incluem

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 366


aaaaaaaaaaaaa ressecamento, irritação e prurido vaginais, dispareunia e infecções recorrentes no trato
urinário (MEDEIROS et al., 2006).
No entanto, em mulheres na pós-menopausa, o pH vaginal é geralmente neutro
e a flora predominante é frequentemente composta por E. coli e outras bactérias gram-
negativas. Isso parece ocorrer porque a deficiência de estrogênio associada à
menopausa causa disfunção das células epiteliais vaginais, incluindo diminuição do
estoque de glicogênio, menor habilidade para acidificar a secreção vaginal e menor
produção de lubrificação vaginal (KASUGA et al., 2004; NILSON, 2008).

Alterações no metabolismo ósseo e desenvolvimento de


osteoporose
Em mulheres saudáveis pré-menopáusicas, o estrogênio limita a
expressão da proteína RANKL nos osteoblastos e, consequentemente, a formação de
osteoclastos e a reabsorção óssea. A osteoprotegerina (OPG) se liga ao RANKL e limita
ainda mais a disponibilidade deste ligante para estimular osteoclastos, e o RANKL
restante se liga aos precursores de osteoclastos. Estes se fundem, se diferenciam em
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

osteoclastos e iniciam o processo de reabsorção óssea, que é seguida pelo surgimento


de osteoblastos que reconstroem o osso (HOFFMAN et al., 2014).
Nas mulheres pós-menopáusicas, os níveis reduzidos de estrogênio levam a
aumento na expressão do ligante de RANKL, e essa sobreprodução pode ultrapassar a
capacidade competitiva natural da OPG. Consequentemente, haverá RANKL em excesso
disponível para se ligar ao RANK sobre os precursores de osteoclastos. Assim, é possível
haver aumento em número, atividade e tempo de vida dos osteoclastos, assim como
redução na taxa de apoptose. Segue-se reabsorção óssea sem que os osteoblastos
consigam preencher totalmen- te as falhas deixadas. Assim, o aumento do RANKL após
a menopausa leva a excesso de reabsorção óssea e potencialmente à osteoporose pós-
menopáusica (PASSOS et al., 2017).
A osteoporose é um distúrbio esquelético que compromete a resistência dos
ossos em razão de redução progressiva na massa óssea (caracteristicamente maior nos
ossos trabeculares) com maior risco de fratura, sendo a osteopenia ea precursora da
osteoporose. A osteoporose primária se refere a perdas ósseas associadas ao
envelhecimento e à deficiência estrogênica menopáusica. Como os níveis de estrogênio

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 367


aaaaaaaaaaaaa caem após a menopausa, perde-se o seu efeito regulador da reabsorção óssea. Como
resultado, a reabsorção óssea é acelerada e, em geral, não é contrabalançada por
formação óssea compensatória. Já a osteoporose secundária é causada por outras
doenças ou medicações. A quantidade de osso a qualquer momento reflete o equilíbrio
existente entre as atividades osteoblástica (construção) e osteoclástica (reabsorção),
influenciadas por múltiplos agentes estimuladores e inibidores (NILSON, 2008).
Como observado, tanto o envelhecimento como a perda de estrogênio levam a
aumento significativo da atividade osteoclástica. Além disso, qualquer redução na
ingestão ou na absorção intestinal de cálcio reduz o nível sérico de cálcio ionizado. Isso
estimula a secreção do hormônio da paratireoide (PTH) que mobiliza o cálcio dos ossos
por meio de estimulação da atividade osteoclástica. Especificamente, o aumento nos
níveis de PTH induz a produção de vitamina D (VIGETA et al., 2004).
Por outro lado, a elevação na concentração de vitamina D resulta em aumento
nos níveis séricos de cálcio por meio de vários efeitos: (1) estimulação dos osteoclastos
para mobilização do cálcio dos ossos, (2) aumento da absorção intestinal de cálcio, (3)
estimulação da reabsorção renal de cálcio. Em mulheres normais pré-menopáusicas,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

essa sequência de eventos leva a aumento nos níveis séricos de cálcio, fazendo com que
o PTH retorne aos valores normais. Entretanto, em mulheres pós-menopáusicas, a
deficiência de estrogênio aumenta a sensibilidade do osso ao PTH. Portanto, para
qualquer dado nível de PTH, mais cálcio será retirado dos ossos (SILVEIRA, 2012).
Recomenda-se, por isso, a suplementação de cálcio para as mulheres pós-
menopáusicas, a fim de manter níveis adequados. Um dos efeitos esperados é bloquear
os efeitos do PTH sobre a reabsorção óssea. Além disso, também tem sido sugerida
suplementação de vitamina D para esse grupo de pacientes. Embora essa vitamina ative
os osteoclastos, seus efeitos cumulativos positivos sobre a absorção intestinal e a
reabsorção renal de cálcio são suficientes para que sirva como auxiliar na prevenção de
perda óssea (HOFFMAN et al., 2014).

Alterações vasomotoras
Os fogachos se caracterizam por aumento na pressão arterial sistólica tanto na
vigília quanto durante o sono. Além disso, a frequência cardíaca aumenta entre 7 e 17
batimentos por minuto. Os fogachos também podem ser acompanhados de palpitações,

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 368


aaaaaaaaaaaaa ansiedade, irritabilidade e pânico, e a temperatura da pele retorna gradativamente ao
nível normal no prazo de 30 minutos ou mais (FREITAS et al., 2004).
Um episódio de fogacho dura entre 1 e 5 minutos, e a temperatura da pele
aumenta em razão de vasodilatação periférica, e essa alteração é particularmente
acentuada nos dedos das mãos e dos pés. A maior parte das mulheres sente uma onda
de calor repentina que se estende por todo o corpo, em particular na parte superior e
na face. A sudorese inicia-se principalmente na parte superior do corpo e corresponde
ao período de aumento na condutância da pele (NILSON, 2008).
A fisiopatologia dos sintomas vasomotores ainda não está totalmente
esclarecida. A causa provável desse sintoma comum é a ocorrência de alguma disfunção
nos centros termorreguladores centrais do hipotálamo. A área pré-óptica medial do
hipotálamo contém o núcleo termorregulador responsável pelo controle da
transpiração e da vasodilatação, o mecanismo primário de perda de calor em seres
humanos, que aciona os mecanismos de dissipação de calor sempre que exposto a
alterações de temperatura. Esses mecanismos mantêm a temperatura interna do corpo
em uma faixa normal regulada, denominada zona termorreguladora. Além disso,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

suspeita-se de que a abstinência do estrogênio ou as rápidas oscilações em seus níveis


sejam os fatores responsáveis, mas não suas baixas concentrações (VERAS et al., 2006).
Em resumo, sugere-se que reduções e oscilações significativas nos níveis de
estradiol resultam em redução na densidade de receptores pré-sinápticos a2-
adrenérgicos inibidores e em um aumento na liberação hipotalâmica de serotonina e
norepinefrina. Ademais, a norepinefrina e a serotonina diminuem o ponto de ajuste do
núcleo termorregulador e permitem o disparo dos mecanismos de perda de calor por
alterações sutis na temperatura interna do corpo (FERNANDES et al., 2004).
Na maioria das mulheres, os fogachos são transitórios. Aproximadamente 50%
relatam a resolução dos sintomas dentro de poucos anos. Em cerca de 90% dos casos os
sintomas se resolvem em 8 anos. Entretanto, algumas mulheres continuam a apresentar
fogachos frequentes e intensos muitos anos após a menopausa. Aproximadamente 10%
das mulheres na metade para o final da sexta década de vida relatam fogachos
significativos. Não está claro por que os fogachos persistem por muitos anos em algumas
mulheres e resolvem-se em outras (NILSON, 2008).

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 369


aaaaaaaaaaaaa Alterações cardiovasculares
As razões que explicam a proteção relativa de mulheres pré-menopáusicas
contra doenças cardiovasculares (DCV) são complexas,mas talvez haja uma contribuição
significativa dos níveis altos de lipoproteína de alta densidade (HDL) encontrados em
mulheres mais jovens, o que é um efeito estrogênico. Entretanto, após a menopausa,
esse benefício desaparece ao longo do tempo, de forma que mulheres na faixa dos 70
anos passam a ter risco idêntico ao de homens na mesma faixa etária (SANTOS et al.,
2007).
O risco de DCV aumenta exponencialmente nas mulheres à medida que entram
no período pós-menopausa e os níveis de estrogênio declinam. Os níveis de HDL
diminuem e os de colesterol total aumentam. Depois da menopausa, o risco de
coronariopatia duplica nas mulheres e, aproximadamente aos 60 anos, os lipídeos
aterogênicos atingem níveis mais altos do que em homens. Ademais, observa-se
aumento de fibrinogênio, do inibidor-1 do ativador de plasminogênio e do fator VII, pro-
vocando um estado de relativa hipercoagulabilidade, ontribuições para aumentar o risco
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de doença cardiovascular e vascular encefálica em mulheres de mais idade (NILSON,


2008).

Alterações psicossociais
Entre todas as alterações, a mais comum é a depressão, que parece acumular
riscos para seu desenvolvimento a partir da perimenopausa inicial, perimenopausa
tardia e pós-menopausa. O mecanismo pelo qual as mulheres climatéricas apresentam
esse aumento de risco ainda é desconhecido. A variação dos níveis séricos de estrogênio
parece estar mais associada com efeitos depressivos do que com a própria concentração
hormonal absoluta (KASUGA et al., 2004).
Dados recentes apontam para relação do aumento nos níveis de testosterona
com depressão, independentemente do estágio menopausal. Entre outros fatores
contribuintes, estão baixa escolaridade, presença de sintomas vasomotores, falta de
suporte social e eventos estressantes no decorrer da vida. Além disso, as mudanças
evidentes desse período – a perda da capacidade reprodutiva e o próprio
envelhecimento – propiciam transtornos psicológicos associados que também podem
contribuir para o quadro depressivo ou ansiolítico (SILVA et al., 2006).

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 370


aaaaaaaaaaaaa Ademais, dificuldades para iniciar e manter o sono são comuns em mulheres na
menopausa. A fragmentação do sono em geral está associada a fogachos e resulta em
fadiga durante o dia, alteração no estado de humor, irritabilidade e problemas com a
memória de curto prazo. Mesmo mulheres com poucos sintomas vasomotores podem
apresentar insônia e sintomas de humor relacionados com a menopausa. Noctúria,
urgência e frequência urinária, condições mais comuns em mulheres menopáusicas,
também são fatores importantes. Os distúrbios respiratórios do sono (DRSs), que
incluem graus variados de obstrução faríngea, são condições muito mais comuns em
mulheres menopáusicas e seus companheiros (MALHEIROS et al., 2014).
É importante ressaltar que a transição menopáusica é um evento hormonal e
sociocultural complexo. Durante essa fase, fatores psicossociais também contribuem
para os sintomas do humor e da cognição, tendo em vista que toda mulher que passa
pela transição menopáusica enfrenta estresse emocional adicional proveniente de
fatores como relacionamento com adolescentes, início de doença grave, cuidado de pais
idosos, divórcio ou viuvez, mudanças na carreira ou aposentadoria (VERAS et al., 2006).
A cultura ocidental enfatiza a beleza e a juventude e, durante o processo de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

envelhecimento, algumas mulheres sofrem com a percepção de perda de status, função


e controle. Entretanto, o final dos ciclos menstruais previsíveis e da fertilidade podem
ser importantes, simplesmente porque representam uma mudança, não importando
como o envelhecimento e o final da vida reprodutiva são vistos pela mulher e por sua
cultura. Para algumas mulheres, a aproximação da menopausa pode ser encarada como
uma grande perda, tanto para aquelas que aceitaram a concepção e a criação dos filhos
como seu papel mais importante na vida quanto para aquelas que não tiveram filhos,
talvez não por livre escolha. Por essas razões, a percepção da menopausa iminente
talvez seja um período de perdas capaz de desencadear depressão e outros transtornos
psicológicos (KASUGA et al., 2004).
O crescimento dos filhos e sua saída de casa, a sensação de que perderam grande
parte da vida, no caso daquelas que optaram por focar em uma profissão ou na família,
as mudanças no corpo, a velhice que se aproxima ante um futuro incerto, as alterações
funcionais do marido associadas à idade, a aposentadoria, o relacionamento com pais
idosos, a perda de familiares e a mudança na vivência da sexualidade constituem mais
alguns dos muitos desafios a serem enfrentados pela mulher climatérica. Esses eventos,

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 371


aaaaaaaaaaaaa quando vivenciados de maneira inadequada, podem comprometer a qualidade de vida
e bem-estar (GONÇALVES et al., 2003).
A partir do exposto, é evidente que a atenção em saúde a mulheres climatéricas
deve considerar tanto os sintomas físicos quanto os psicológicos. Portanto, o climatério
é carregado de conotações negativas que são totalmente ignoradas e negligenciadas por
muitas pessoas na sociedade, restringindo-se a uma fase triste, sofrida que lembra o
envelhecimento. São também, atribuídos vários significados para as mulheres,
especialmente, da perda da juventude, das potencialidades, da beleza e até do desejo
sexual e do respeito da sociedade, dependendo do tipo de cultura em que vivem
(NILSON, 2008).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A assistência à mulher climatérica é algo diferencial e imprescindível para o
cuidado com a saúde feminina mundial, que envelhece continuamente, e entender os
multifatores que rodeiam essa população e a realidade em que vivem é fundamental.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Diante da escassez de estudos sobre o tema desta pesquisa na literatura nacional e


internacional, os resultados deste estudo permitirão antever subsídios para as políticas
públicas voltadas para a saúde da população aqui retratada, no sentido de minimizar a
sintomatologia, tendo como perspectivas a melhoria de sua qualidade de vida e o
fortalecimento para a senilidade.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA SÍNDROME CLIMATÉRICA 374


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXVIII
PRINCIPAIS CAUSAS DE PARADA
CARDIORRESPIRATÓRIA EM
GESTANTES E ATUAÇÃO DO
ENFERMEIRO NAS ENTRELINHAS DA
LITERATURA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-28
Wesley Felipe Gonçalves de Queiroz ¹
Julia Freitas da Silva ²
João Vitor Andrade 2
Juliana Cristina Martins de Souza 2
Regina Aparecida Cabral 3
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

¹ Enfermeiro. Universidade de Franca - UNIFRAN.


² Enfermeira (o). Especializanda (o) em enfermagem em saúde mental e psiquiátrica. Universidade de São Paulo - USP.
³ Enfermeira. Mestrado em Promoção de Saúde. Professor Adjunto do Departamento de Artes. Universidade de
Franca - UNIFRAN.

RESUMO
Objetivo: identificar as principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes, e destacar
a atuação do enfermeiro diante desta condição. Método: trata-se de uma revisão narrativa de
literatura. Foram utilizados como fonte de pesquisa materiais disponíveis na Biblioteca Virtual
de Saúde, site do Ministério da Saúde e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia
e Obstetrícia (FEBRASGO). Para busca foram utilizados os seguintes descritores: Gravidez de Alto
Risco; Parada Cardíaca; Mortalidade Materna; Cuidados de Enfermagem. O período de busca foi
entre dezembro de 2020 a março de 2021. Revisão bibliográfica: verificou-se que complicações
na gestação, tais como síndromes hipertensivas, tromboembolismo, hemorragias graves, entre
outras, juntamente com as causas cardíacas e iatrogênicas não diagnosticadas ou tratadas, em
seus quadros de maior gravidade podem provocar parada cardiorrespiratória, podendo resultar
em mortalidade materna e fetal. Considerações finais: o enfermeiro por meio da orientação e
acompanhamento no período pré-natal pode evitar e detectar precocemente tais complicações;
e ainda capacitar sua equipe no atendimento às intercorrências, garantindo materiais e
medicamentos adequados, otimizando assim as chances de sobrevivência da mãe e do feto.

Palavras-chave: Gravidez de Alto Risco. Parada Cardíaca. Mortalidade Materna. Cuidados de


Enfermagem.

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
375
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A gestação geralmente é um período muito aguardado e único na vida de uma
mulher, onde ela descobre o verdadeiro significado da palavra amor e realização. Esta
nova fase traz alegria e também alterações fisiológicas, psicológicas e sociais (CARVALO,
2007). É necessário que o corpo da mulher passe por um processo de adaptação
fisiológica que será atribuído aos hormônios da gravidez. Entende-se que essas
adaptações têm como importante objetivo, proteger o funcionamento fisiológico da
mulher e promover um perfeito desenvolvimento fetal, desta forma todos os seus
sistemas orgânicos gerais serão adaptados para esse período, isto significa que ocorrerá
mudanças em seu sistema cardiovascular, respiratório, tegumentar,
musculoesquelético, neurológico, gastrointestinal e endócrino (LOWDERMILK; KITTY;
PARRY, 2013).
A gravidez é um processo natural que possui alta porcentagem de um desfecho
positivo que é o nascimento do bebê saudável. No entanto, a ocorrência de distúrbios
relacionados às mudanças fisiológicas da gestação ou algumas alterações já existentes
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

antes da gravidez, que quando não acompanhadas pelos profissionais da saúde, podem
ameaçar a saúde da mãe e do feto podendo levar a morte de ambos (CARVALHO;
FONSECA; RUZI, 2009; ANDRADE et al., 2018).
A saúde das gestantes tem sido objeto de inúmeros estudos na atualidade, pois
sabe-se que nos países pobres e em desenvolvimento as taxas de mortalidades
maternas são altas e que há uma carência na saúde reprodutiva o que resulta em 1
morte materna a cada 48 partos. Nesse sentido, este objetivo só será alcançado por
meio de promoção integral da saúde das mulheres e através da garantia da presença de
profissional qualificado na assistência. A redução da mortalidade materna é ainda um
grande desafio para os serviços de saúde e sociedade como um todo, e por ser uma
tragédia evitável em 92% dos casos, é considerada, diante destas estatísticas, uma das
mais graves violações dos direitos humanos das mulheres (BRASIL, 2009).
Dentre as complicações que podem surgir na gestação, sabe se que as síndromes
hipertensivas da gravidez, os traumas, os tromboembolismos venosos, sepses,
embolismo pelo fluido amniótico, hemorragias graves, doenças cardíacas congênitas e
as causas iatrogênicas, em suas formas mais graves podem resultar em parada

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
376
aaaaaaaaaaaaa cardiorrespiratória (PCR) na gestante, isto significa que a equipe tem dois potenciais
pacientes em situação de risco, a mãe e o feto (CARVALHO; FONSECA; RUZI, 2009;
SANT’ANA et al., 2010).
Dados epidemiológicos mostram que a PCR na gestação é uma intercorrência
rara que se faz vítima 1:30.000/1.20.000, com baixa taxa de sobrevivência materna,
sendo de 58,9%, sendo que no mundo acontece diariamente 800 mortes maternas
(FEBRASGO, 2017). Sendo o enfermeiro o profissional presente e atuante no ciclo
gravídico é de responsabilidade dele fornecer orientações seguras e corretas para as
gestantes, com a finalidade de promover educação em saúde minimizando os medos e
possíveis problemas futuros (RICCI, 2019). Ante ao supra referido, o objetivo deste
trabalho foi identificar as principais causas de PCR em gestantes, e destacar a atuação
do enfermeiro diante desta condição.

2. MÉTODO
Tratou-se de uma revisão narrativa de literatura. De acordo com Marcone e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Lakatos (2003), as revisões de literatura do tipo narrativa, reúnem diversos dados e


informações a partir de estudos já existentes que servirá de base para a construção de
determinado tema. Tendo potencial de combinar dados da literatura empírica e teórica
que podem ser direcionados à definição de conceitos, identificação de lacunas nas áreas
de estudos, revisão de teorias sobre um determinado tópico (MARCONE; LAKATOS,
2003).
Foram utilizados como fonte de pesquisa materiais disponíveis na Biblioteca
Virtual de Saúde (BVS), site do Ministério da Saúde (MS) e da Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstétricia (FEBRASGO), disponíveis em sítios da rede
mundial de computadores. Os descritores utilizados para a busca foram: Gravidez de
Alto Risco, Parada Cardíaca, Mortalidade Materna, Cuidados de Enfermagem.
Os critérios para inclusão dos estudos foram artigos publicados na língua
portuguesa e disponibilizados na íntegra, a partir de 2009 até 2020, sendo excluídos
aqueles que não eram pertinentes ao objetivo proposto ou em outra língua.
Posteriormente a leitura e compreensão dos artigos, foram selecionados 16 referenciais
para a construção do texto presente neste trabalho, sendo 9 livros, 5 artigos e 2
documentos oficiais. O período de busca foi entre dezembro de 2020 a março de 2021.

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
377
aaaaaaaaaaaaa
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A esfera mais íntima de um casal é quando juntos decidem se reproduzir, é neste
ciclo da vida que a grande maioria das mulheres se sentem realizadas e vivem o
sentimento mais puro da palavra amor e felicidade (RICCI, 2019). Normalmente a
gestação torna-se um marco na vida dos seres humanos, pois a maternidade e a
paternidade requerem um amadurecimento intenso e um aperfeiçoamento em suas
buscas e aprendizados com grande importância para a nova vida a ser vivida pelo casal.
Esse período é considerado normal diante da ausência de intercorrências envolvendo a
mãe e o feto num prazo de três trimestres que corresponde a 42 semanas
(LOWDERMILK; KITTY; PARRY, 2013).
O período gestacional é acompanhado de alterações fisiológicas e anatômicas no
corpo da mulher, todas essas alterações são necessárias para fornecer um bom
desenvolvimento fetal, satisfazer as demandas metabólicas da mulher e suprir
necessidades fetais. Sendo que essas alterações podem ainda afetar de forma drástica
as ações médicas e de enfermagem durante algumas intercorrências que venham a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

surgir nesse ciclo. Dentre todos os sistemas atingidos pela reorganização corporal, os de
maiores importâncias são: cardiovascular e respiratório (CLARCK et al., 2001).
As alterações no sistema cardiovascular são bem extensas, tanto
anatomicamente quanto fisiologicamente. O volume sanguíneo e o débito cardíaco são
aumentados, esse aumento está totalmente ligado ao volume plasmático circulante,
levando a redução da resistência dos vasos periféricos e da pressão sanguínea, tendo
maior pico de manifestação por volta do terceiro trimestre de gestação e segue até o
momento do parto (MONTENEGRO; REZENDE FILHO, 2017).
É notada uma leve hipertrofia cardíaca, resultante da elevação dos volumes
sanguíneos circulantes e ao débito cardíaco elevado, já que o rendimento cardíaco
aumenta para 150% dos valores normais para a não grávida e sabe se que o útero recebe
até 30% do débito cardíaco (CLARCK et al., 2001).
Conforme o útero vai se deslocando para a cavidade abdominal o retorno venoso
ao coração se torna prejudicado, isto ocorre pela compressão aorto-cava, já que o útero
com 20 semanas ou mais comprime a veia cava inferior, os vasos ilíacos e a aorta
abdominal, sendo indispensável tal conhecimento para determinar condutas corretas e

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
378
aaaaaaaaaaaaa menos prejudiciais em determinadas intercorrências. Essa compressão pode resultar na
síndrome da hipotensão supina, por isto é indicado à posição lateral esquerdo que
permite a restauração do débito cardíaco (MONTENEGRO; REZENDE FILHO, 2017).
Em decorrência de o feto necessitar de oxigênio e de uma forma de eliminar o
dióxido de carbono, os requisitos de oxigênio materno aumentam em até 30% e a
diminuição na capacidade funcional residual em 25%. O estrogênio elevado provoca o
relaxamento do gradil costal que além de permitir a expansão torácica provoca a
ventilação por minuto aumentada. A circunferência do tórax aumenta cerca de seis
centímetros (cm) e conforme a idade gestacional aumenta o diafragma desloca 4 cm
para cima, a respiração abdominal é substituída pela torácica, desta forma a gestante
apresenta dificuldade para o relaxamento diafragmático, sabe se que 60 a 70% das
gestantes são acometidas pela dispneia (LOWDERMILK; KITTY; PARRY, 2013).
Todas essas alterações fisiológicas e anatômicas, podem favorecer o surgimento
de doenças ou complicações daquelas pré-existentes. As síndromes hipertensivas são
descrita pelo aumento da pressão arterial (PA) durante o ciclo gravídico que ocasiona
excessivo aumento de peso relacionado à retenção de fluidos e proteínas materna,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

geralmente ocorre nas últimas 10 semanas de gestação e em até 48 horas pós-parto e


suas causas ainda são desconhecidas, mas alguns fatores podem predispor o seu
aparecimento, tais como: hipertensão crônica, doenças renais, Diabetes mellitus,
histórico familiar, obesidade, incompatibilidade do fator Rh, gravidez múltipla e má
nutrição (TAMEZ; SILVA, 2017).
O aumento da PA na gestação pode ocasionar o aparecimento de complicações
como a pré-eclâmpsia, que é uma condição especificamente da gravidez, definida pelos
níveis da PA superior a 140/90 mmHg, surge após a vigésima semana de gestação e
evolui progressivamente para leve ou grave e por meio disso para a eclâmpsia, sendo
caracterizada pelo surgimento de atividades convulsivas e coma na gestante. Quando a
eclâmpsia é do tipo grave ela evolui para síndrome de HELLP, descrita por meio de suas
siglas, H relacionado com a hemólise condição da fragmentação das células do sangue,
EL com a elevação das enzimas hepáticas e LP com a baixa contagem das plaquetas
(RICCI, 2019).
Durante o ciclo gravídico o risco de acontecer tromboembolismos venosos
aumenta cinco vezes, se estendendo até o puerpério. As tromboses venosas profundas

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
379
aaaaaaaaaaaaa (TVP’s) gestacionais são predominantes no membro inferior esquerdo e no segmento
íleo-femoral, resultado da compressão acentuada nas veias e artérias esquerda e direita
contra a quinta vértebra lombar ocasionado pelo aumento do útero gravídico. Trata-se
de uma complicação difícil de ser diagnosticada já que alguns sinais e sintomas podem
ser confundidos com os da gestação, tais como: edemas, dores nos membros inferiores
(MMII), entre outros (OLIVEIRA; MARQUES, 2016).
Entre as complicações mais rara e incomum na gestação temos o embolismo pelo
fluído amniótico, provocado pela penetração dos componentes do líquido amniótico na
circulação materna, podendo ocorrer em qualquer fase do ciclo gestatório, no momento
do parto ou após o mesmo. Ainda não se tem ações preventivas para este problema,
apesar de suas elevadas taxas de mortalidade (MONTENEGRO; REZENDE FILHO, 2017).
Algumas infecções que surgem na fase gestacional principalmente as do sítio
urogenital quando não diagnosticadas e tratadas de início e com agilidade podem
evoluir para um quadro de sepse, definido como uma síndrome da resposta inflamatória
aguda correspondente a um foco infeccioso, complicação com altas taxas de
mortalidade e morbidades. Na gestação é ainda mais complicado o tratamento já que
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

algumas diretrizes de tratamento têm se a gestação como fator de exclusão (CORDIOLI


et al., 2013).
O sangramento durante a gestação é sério e potencialmente fatal podendo
ocorrer do início até o da final gestação. Vários fatores estão relacionados a esse evento,
tais como: abortamento, gravidez ectópica, doenças trofoblástica gestacional,
descolamento de placenta e placenta prévia, podendo evoluir para hemorragias graves
e com um desfecho negativo para a mãe ou o feto (RICCI, 2019).
Além destes agravantes, toda gestante está propícia a sofrer qualquer tipo de
trauma, já que mantém suas atividades rotineiras como de costume. Cerca de 8% das
gestações são complicadas por traumas físicos, sendo uma causa não obstétrica a que
mais causa óbito nessa fase. A morte materna por este motivo é resultado de trauma
craniano e choque hemorrágico, 50% de vítimas desse tipo de trauma é recorrente de
acidentes automobilísticos e seu efeito na gestação é influenciado pela idade
gestacional. Os traumas abdominais são classificados por contuso causado comumente
por acidentes automobilísticos e os traumas abdominais penetrantes, ocasionados por

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
380
aaaaaaaaaaaaa ferimento de arma de fogo ou objetos perfurocortantes (LOWDERMILK; KITTY; PARRY,
2013).
Todos os agravos discorridos anteriormente juntamente com causas cardíacas e
iatrogênicas não diagnosticadas ou tratadas, em seus quadros de maior gravidade
podem provocar a intercorrência mais grave nesse período que é a PCR, este evento na
gestante refere que temos dois pacientes em risco, a mãe e o feto (CARVALHO;
FONSECA; RUZI, 2009; SANT’ANA et al., 2010). A PCR é definida como a ausência
mecânica da atividade cardíaca, pela respiração agonizante ou falta da mesma (apnéia)
e pela confirmação da falta de pulso detectável, resumidamente é a falta de circulação
e respiração (CHEREGATTI; AMORIM, 2010).
Sendo assim, a equipe deve estar capacitada para adotar as intervenções de uma
forma rápida e segura a fim de otimizar as chances de sobrevivência do binômio (mãe-
filho). É nesse momento que o enfermeiro tem o papel fundamental de liderar a equipe,
considerar e identificar pontos que possam dificultar os procedimentos adotados e estar
de prontidão para auxiliar nos procedimentos de reanimação cardiopulmonar (RCP) ou
numa cesárea de emergência (SANT’ANA et al., 2010).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Diante de uma PCR devem ser iniciadas as manobras de RCP de forma rápida
e segura. Na gestante é necessário lembrar-se das modificações fisiológicas e
assim tornar o procedimento efetivo. Deve se posicionar a paciente gestante de 20
semanas ou mais em decúbito dorsal e promover o desvio manual do útero gravídico,
realizando assim a descompressão da veia cava inferior, desta forma iniciar as
compressões torácicas que devem ser realizadas logo acima da metade do crânio caudal
do esterno
(CARVALHO; FONSECA; RUZI, 2009). O profissional que estiver executando as
compressões torácicas deve manter esta ação eficaz, em um ritmo de 100 a 120
compressões por minuto, com profundidade de cinco a seis centímetros para dentro do
tórax, totalizando um total de 30 compressões para duas ventilações, que deverá ser
realizada por meio da ambúmáscara com oxigênio (0²) a 100%, evitando a ventilação
excessiva, promovendo o retorno total do tórax e minimizando as interrupções da
técnica (BRASIL, 2016).
Caso o médico detecte ritmos cardíacos chocáveis como: taquicardia ventricular
sem pulso ou fibrilação ventricular, o uso do desfibrilador será indispensável e também

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
381
aaaaaaaaaaaaa é considerada uma prioridade na RCP dentre a condição da paciente, deve ser utilizado
o mesmo protocolo de desfibrilação para as pacientes não grávidas, sendo de choque
único, com 120 a 200 joules, disparado através do desfibrilador bifásico pelo médico e
imediatamente realizar um novo ciclo de massagens torácicas (FEBRASGO, 2017).
Ainda sobre a ventilação, é necessário realizar pressão contínua sobre a
cartilagem cricóide para evitar risco de regurgitação, já que muitas gestantes
apresentam insuficiência do esfíncter esofágico. Deve ser fornecido um acesso venoso
de grande calibre para administração de drogas vasopressoras, que no feto possuem
efeitos negativos por promoverem diminuição do fluxo sanguíneo uterino, mas que são
indispensáveis na recuperação da gestante (SANT’ANA et al., 2010).
O tempo máximo que o médico tem para determinar se o caso da mãe poderá
ser revertido ou não é de 4 a 5 minutos, caso a resposta seja negativa, deverá ser
comunicado a equipe obstétrica para realizar a cesárea de emergência, que será
realizada no mesmo local sem quaisquer possibilidades de ser transportada. Caso idade
gestacional menor que 20 semanas não deve ser considerada essa opção, pois o
tamanho do útero não compromete o débito cardíaco materno, entre 20 a 23 semanas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

este procedimento é indicado apenas com a visão de salvar a mãe já que a sobrevivência
do feto é improvável. Portanto, quando a idade gestacional é acima de 24 semanas o
objetivo é salvar a mãe e o feto (ZUGAIB; FRANCISCO, 2019).
Além de toda a problemática da RCP materna, a equipe médica e de enfermagem
ainda poderá se deparar com possíveis complicações no binômio, na mulher pode
ocorrer: ruptura de vísceras, lacerações de órgãos, fraturas no esterno e na costela, e
hemotórax. Por outro lado, no recém-nascido (RN) pode ocorrer intoxicação pelos
medicamentos utilizados durante a PCR, acidemia fetal e hipóxia, por isso a PCR em
gestantes se torna uma situação de alto estresse. Neste contexto, para atendimento a
esta gestante se faz necessário uma equipe capacitada, com princípios de humanização,
éticos e de trabalho em equipe, também se faz importante os recursos de materiais,
instrumentais e ambiência (CLARCK et al., 2001).
Após atendimento da PCR com sucesso, a paciente deve ser encaminhada para
unidade de terapia intensiva (UTI), onde será iniciada uma série de medidas terapêuticas
para evitar uma nova PCR, deverão ser solicitados exames laboratoriais pelo médico. O
controle da temperatura, glicemia e sinais vitais será realizado de forma rigorosa, a

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
382
aaaaaaaaaaaaa iniciação de antiarrítmicos e sedação é comum diante dessas condições. O prognóstico
neurológico vai depender do tempo de parada, podendo resultar em sequelas graves
como estado semi ou vegetativo. Com a sobrevida do RN, se necessário este deverá ser
acompanhado na UTI neonatal, onde todos os recursos estarão disponíveis, recebendo
assim o tratamento e a assistência de acordo com sua necessidade (BRASIL, 2016).
No entanto, é de extrema importância que o enfermeiro promova educação
continuada e treinamentos para a equipe de enfermagem, pois a educação é o único
instrumento para mudanças e melhorias em todo o aspecto do cuidado. É um dever
proporcionar à equipe a aquisição de conhecimentos com o objetivo de capacitar o
profissional, considerando a realidade da instituição e a proporção do cuidado a
população servida dos serviços (SOUZA; LIMA, 2015).
Sendo assim, é necessário dar ênfase na atuação do enfermeiro já que sua
presença permanece em todo ciclo gravídico-puerperal, seja ele, no planejamento
familiar, no pré-natal, intraparto e puerpério. É o profissional da saúde mais atuante
nesse ciclo, tendo a responsabilidade de fornecer informações e orientações seguras,
corretas e científicas, e ainda com a perspicácia para detectar pontos que possam ser
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

prejudiciais para a gestação. Este momento é ideal para influenciar a saúde de toda a
parentalidade e a realização da promoção em saúde (LOWDERMILK; KITTY; PARRY,
2013).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
GEGETR Os profissionais de saúde, em especial o enfermeiro necessita dominar
os conhecimentos sobre as modificações anatômicas e fisiológicas da gestação, como
também saber prevenir e reconhecer precocemente as complicações obstétricas nesse
período, a fim de auxiliar no tratamento e evitar intercorrências, tais como a PCR.
Em suma, o enfermeiro dentro de suas competências, tem a oportunidade de
atuar na promoção de saúde durante o período pré-natal, objetivando evitar, diminuir
e controlar os agravos à saúde da mulher gestante. E ainda, capacitar sua equipe no
atendimento otimizado às intercorrências, garantindo materiais e medicamentos
adequados, como também o planejamento da assistência, pessoas treinadas e
ambiência. Contribuindo cada vez mais para redução das taxas de mortalidade materna
e fetal.

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
383
aaaaaaaaaaaaa
AGRADECIMENTOS
Minha gratidão a Universidade de Franca (UNIFRAN) e aos colaboradores do
estudo.

REFERÊNCIAS
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gerias em decorrência de disfunções no período gravídico-puerperal. In: V -
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2018.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

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Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
384
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ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R. P. V. Obstetrícia. 4 ed. Barueri: Manole; 2019. p. 1424.


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Principais causas de parada cardiorrespiratória em gestantes e atuação do enfermeiro


nas entrelinhas da literatura
385
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXIX
TRAUMA FÍSICO EM MULHERES
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-29
Emanuella Pereira Ribeiro 1
Raiane Araujo Brito 2
Rayssa do Nascimento Sousa 3
Maria Antônia Rodrigues da Silva Lima 4
Glenda Lyara Ribeiro Queiroz 5
Andrea Pereira da Silva Reis 6
1,4,5
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí;
2,3
Graduanda em Enfermagem pela Universidade Estadual do Piauí;
6
Enfermeira, doutoranda e mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí- UFPI.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RESUMO
Introdução: A violência física é determinada através do uso de força contra um indivíduo, e pode
ocasionar sequelas negativas a qualidade de vida e saúde. Uma em cada quatro mulheres, que
estiveram em um relacionamento terão sofrido violência de seus parceiros, e que apesar das
particularidades de cada uma é possível traçar um perfil da vulnerabilidade. A violência física,
pode resultar em fraturas, contusões, queimaduras, entre outras injúrias, principalmente na
região da cabeça e pescoço. Objetivo: Identificar os tipos de traumas físicos em mulheres vítimas
de violência. Metodologia: Trata-se de um estudo de revisão integrativa. Para o levantamento
dos dados foram utilizadas as seguintes bases de dados: LILACS, MEDLINE e BDENF. Inicialmente
foram aplicadas a combinação: “(Violence Against Women) AND (physical abuse) OR (physical
violence) AND (Wounds and Injuries) OR (trauma)”, obtendo-se um total de 440 artigos, sendo
posteriormente selecionados 19. A amostra do estudo contou com 6 artigos. Resultados e
discussão: Observou-se que o tipo de violência física mais relatada foi o espancamento
caracterizado por chutes, tapas, puxões de cabelo, torções de braço, empurrões e socos, que
facilmente podem provocar traumatismo cranioencefálico, torácico, politraumas, entre outros.
Além disso, com a pandemia observou-se um aumento do número de feminicídios e casos de
violência contra mulher. Conclusão: Faz-se necessário investir na capacitação dos profissionais
da saúde, para que seja possível identificar e notificar adequadamente as ocorrências, com o
intuito de dar maior visibilidade aos casos de trauma gerados pela violência contra a mulher,
assim como desenvolver uma assistência acolhedora e sensível.

Palavras-chaves: Ferimentos e Lesões. Mulher. Violência Contra Mulher. Violência Física.


Trauma.

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 386


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A violência contra a mulher tem consequências negativas na qualidade de vida e
saúde das vítimas. A partir da realização da convenção de Belém do Pará em 1994, a
violência contra a mulher passou a ser entendida como atos ou condutas ancoradas por
questões de gênero que tenham como resultado sofrimento físico, psicológico, sexual
ou morte (OEA, 1994). De acordo com Guimarães e Pedroza (2015), este fenômeno
reflete questões históricas, sociais e culturais, que são relacionadas às questões de
gênero e poder sobre a mulher, sustentados por padrões patriarcais e machistas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, uma em cada quatro mulheres
com idade igual ou inferior a 24 anos (pobres, especialmente), que estiveram em um
relacionamento, terão sofrido violência de seus parceiros (OMS, 2021). A literatura
aponta também que no perfil da vulnerabilidade à violência estão incluídas: raça preta
ou parda, histórico de violência na infância, consumo de álcool e/ou outras drogas e,
mais recentemente, a condição de isolamento social durante a pandemia por COVID-19
(SANTOS et al., 2020; VIEIRA; GARCIA, MARCIAL, 2020; VIANA et al., 2018).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, estão previstos cinco tipos de violência


doméstica e familiar contra a mulher, sendo: violência moral através de calúnia,
difamação ou injúria; a violência sexual, através dos atos que forcem a mulher a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada usando de
intimidação, ameaça, coação ou uso da força. Entre os atos estão incluídos impedir que
a mulher use métodos contraceptivos além de casamento, aborto, prostituição
forçados; violência patrimonial entendida como condutas de controle sobre os bens
materiais da mulher podendo ser instrumentos de trabalho, documentos pessoais,
dinheiro ou recursos incluindo destruí de objetos pessoais e deixar de pagar pensão
alimentícia; violência psicológica que se caracteriza por ações que causem prejuízo a
saúde psicológica e autodeterminação da mulher seja através de humilhação,
isolamento, constrangimento, ameaça entre outros, estando em dispositivo legal a
partir de julho de 2021. E, a violência física que é compreendida como ações danosas à
integridade ou saúde corporal da mulher (BRASIL, 2006; BRASIL, 2021).
Dessa forma, a repercussão da violência física na saúde das mulheres pode,
segundo Garbin et al. (2006), resultar em fraturas, contusões, queimaduras, entre

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 387


aaaaaaaaaaaaa outras injúrias, sobretudo na região da cabeça e pescoço. (OLIVEIRA et al., 2019).
Ademais, pode ser classificada conforme a gravidade do ato infringido, variando de
danos transitórios e de fácil resolução a prejuízos permanentes, com produção de lesões
severas (MINAYO, 2006).
Faz-se importante evidenciar que os homens são os principais perpetradores de
violência física contra a mulher, visto que dados apontam que ainda no primeiro
semestre de 2020 cerca de 648 mulheres foram assassinadas no Brasil por razões ligadas
ao gênero. Em 90% dos casos, o criminoso era o companheiro ou ex-companheiro das
vítimas - mulheres negras, majoritariamente (GFBSP, 2021).
Segundo Leite et al. (2019), dentre as agressões físicas relatadas por mulheres,
67% foram desencadeadas pela recusa do parceiro em usar preservativo durante as
relações sexuais. Além disso, dados do Ministério da Saúde indicam que em 2018 uma
em cada três mulheres que efetuaram denúncias de agressão relataram ter sofrido,
também, alguma forma de violência física por parceiro íntimo, sendo que as maiores
proporções de vitimização se deram através do estrangulamento (BRASIL, 2020).
Desse nodo, ganha-se evidência o fato de que o estudo é capaz de fomentar
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

capacitações que façam com que a equipe desenvolva uma assistência acolhedora e
sensível, como também fortaleça a rede de apoio à vítima.

2. OBJETIVOS
Identificar na literatura científica evidências acerca dos tipos de traumas físicos
sofridos por mulheres vítimas de violência.

3. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com abordagem exploratória e
descritiva que tem por finalidade descrever os tipos de traumas de mulheres vítimas de
violência. Para a sistematização da busca pelo material a ser utilizado no presente
estudo, foram seguidas seis etapas, sendo elas: identificação do tema e da pergunta
norteadora, determinação dos critérios de inclusão e exclusão, busca nas bases de
dados, análise das literaturas, discussão dos resultados e exposição da revisão
integrativa (MENDES, SILVEIRA & GALVÃO, 2008).

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 388


aaaaaaaaaaaaa A pergunta norteadora foi elaborada a partir da estratégia PICO – Problema;
Intervenção; Controle ou comparação; Desfecho: P= mulheres; I= violência contra a
mulher; C não foi utilizado um controle específico; O = tipos de traumas físicos.
Posteriormente, a pergunta guia foi elaborada: “Quais os tipos de traumas físicos
sofridos por mulheres vítimas de violência?”.
O levantamento dos dados se sucedeu entre os meses de agosto e setembro de
2021. Utilizou-se como fonte de pesquisa a Biblioteca Virtual em Saúde – BVS, por meio
das bases de dados Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde -
LILACS, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online - MEDLINE e a Base de
Dados em Enfermagem - BDENF. Foram aplicadas as seguintes combinações de
Descritores em Ciência da Saúde - DECs e Medical Subject Headings - MESH e utilizando
os operadores booleanos: ("Violence Against Women") AND ("physical abuse") OR
("physical violence") AND (“Wounds and Injuries”) OR (trauma).
Os critérios de inclusão estabelecidos foram: artigos de pesquisa originais,
completos, escritos nas línguas portuguesa e/ou inglesa que respondessem à pergunta
norteadora, e publicados entre os anos de 2016 e 2021. Já como critério de exclusão
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

foram utilizados: resumos publicados em anais, teses, dissertações, trabalhos de


conclusão de curso, revisões de literatura e artigos repetidos nas fontes de bases de
literatura.
Inicialmente, foi realizada uma busca pelos artigos na BVS, empregando a
combinação de descritores com os operadores booleanos, obtendo-se um total de 440
artigos. Posteriormente, os critérios de inclusão foram empregados, resultando na
triagem de 179 artigos. Esses passaram por análise de título e resumo por dois autores,
com vistas em selecionar os que se enquadravam de acordo com a pergunta norteadora
e os critérios de exclusão, permitindo a escolha de 19 artigos. Por fim, as literaturas
disponíveis foram lidas na íntegra para avaliação final, evidenciando que apenas 6
respondiam à pergunta norteadora, possibilitando o desenvolvimento do presente
estudo.

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 389


aaaaaaaaaaaaa
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Dos 19 artigos selecionados, foi efetuada uma leitura analítica e criteriosa dos
trabalhos disponíveis, resultando na seleção de apenas 6 artigos. A seguir, na Tabela 1,
estão as principais informações dessas literaturas.
Tabela 1 - Títulos, autor, ano, objetivos, tipo de estudo e principais resultados das literaturas
encontradas nesse estudo.
TIPO DE
TÍTULO AUTOR/ANO OBJETIVOS RESULTADOS
ESTUDO
Fatores BARROS, et Identificar os Estudo Registraram-se 32.308 casos
associados aos al., 2021 fatores transversal, de violência contra mulher e
homicídios de associados aos quantitativo e 1.162 homicídios. As
mulheres homicídios em observacional chances de homicídio foram
vítimas de mulheres que maiores para mulheres:
violência tinham vítimas de violência física
notificação (2,39 vezes mais), agressão
prévia de por objeto de corte (2,32
violência, no vezes mais), agressão por
estado de arma de fogo (6 vezes mais)
Pernambuco, e quando houve reincidência
2011 a 2016. da violência (3,82 vezes
mais).
O impacto do MAHMOOD Avaliar o impacto Estudo Aumentos significativos na
bloqueio et al., 2021 da pandemia de transversal violência foram observados
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

relacionado ao COVID-19 na do período pré-bloqueio ao


COVID-19 na violência de período de bloqueio para
prevalência de gênero, qualquer violência (32,1% a
violência comparando a 38,7%, p= 0,001). Com
conjugal contra prevalência de relação a violência física o
as mulheres na violência aumento foi de 4,9%, entre
região do conjugal contra eles torcer o braço ou puxar
Curdistão do mulheres antes e cabelo (9,0% a 13,0%, p =
Iraque durante os 0,004) e bater (5,2% a 9,2%,
períodos de p = 0,003), aumentos
bloqueio significativos já que se
relacionados ao referem a uma pesquisa
COVID-19 apenas dos primeiros 3
meses de quarentena.
Traumas em SOUSA et al., Identificar os Estudo Nesse estudo identificou-se
mulheres 2020 traumatismos descritivo, que 52,6% sofreram
vítimas de mais comuns em retrospectivo violência
violência: uma mulheres vítimas com enfoque física/espancamento; 45,4%
análise em de violência física quantitativo. sofreram traumatismo
Recife-PE atendidas em um cranioencefálico enquanto
hospital público 23,7% tiveram politraumas,
da cidade do traumas nas extremidades e
Recife/PE. face (8,6% cada),
raquimedular e torácico
(5,3% cada), de tórax (2,6%)
e vascular (0,7%).

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 390


aaaaaaaaaaaaa TÍTULO AUTOR/ANO OBJETIVOS
TIPO DE
RESULTADOS
ESTUDO
Imagem SOUZA et al., Compreender Estudo Permitiu-se compreender,
corporal de 2018 repercussões da qualitativo, no discurso do sujeito
mulheres que violência exploratório e coletivo das mulheres, as
sofreram física na imagem descritivo repercussões da violência
violência física corporal da física principalmente na
mulher. imagem corporal da mulher.
As agressões mais
observadas foram: ofensas
verbais, socos, empurrões,
bofetadas, tentativas de
asfixia, puxões de cabelo,
beliscões, chutes, tapas e
uso de objetos (arremesso,
perfuração, espancamento).
As áreas mais atingidas
foram: cabeça, pescoço,
face, braços, costas, tórax e
pernas. Observou-se que as
agressões físicas contribuem
para o desencadeamento de
problemas de saúde como
as dores articulares,
obesidade e a suspeita de
acidente vascular cerebral.
Afetam-se as mulheres
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

emocionalmente, pelas
repercussões negativas que
foram além das lesões
físicas, provocando baixa
autoestima e depressão
nessas mulheres.
Preditores da LEAL et al., Avaliar a Estudo Observou-se que o principal
violência física 2017 ocorrência da descritivo e local de ocorrência da
contra violência física analítico com violência contra essas
mulheres perpetrada abordagem mulheres foi o próprio
usuárias da contra mulheres quantitativa domicílio, praticado na
atenção usuárias da maioria das vezes pelo
primária à Atenção Primária parceiro íntimo, por meio de
saúde à Saúde (APS) e tapas e chutes. Quando
os fatores questionadas sobre o
associados. sentimento de medo,
referiram medo do próprio
companheiro. Entretanto,
das que procuraram ajuda,
recorreram às autoridades
policiais.
Violência física AZANAW et Avaliar a Estudo A magnitude da violência
e fatores al., 2019 magnitude e os transversal de física entre as empregadas
associados fatores base foi alta. Ao se tornarem
entre associados à comunitária empregadas domésticas
empregadas violência física mulheres acabaram que
domésticas que contra sofrendo violência física
moram na empregadas durante a vida. As chances
cidade de doméstica de violência física foram
Debre-Tabor, praticamente dobradas

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 391


aaaaaaaaaaaaa TÍTULO AUTOR/ANO OBJETIVOS
TIPO DE
RESULTADOS
ESTUDO
noroeste da entre trabalhadoras
Etiópia: o domésticas que viviam em
consumo de áreas rurais anteriormente,
álcool pelo em comparação com a
empregador urbana. Outro fato que pode
aumenta a estar relacionada a esse
violência achado é que a empregada
doméstica? doméstica geralmente não
obtém informações
suficientes sobre a violência,
e não podem se proteger
facilmente.
Fonte: Autoria própria.

Diante das análises dos artigos encontrados, observou-se que o tipo de violência
física mais relatada foi o espancamento - caracterizado por chutes, tapas, puxões de
cabelo, torções do braço, empurrões e socos, que facilmente podem provocar
traumatismo cranioencefálico e/ou torácico, politraumas, entre outros. Além desses,
foram citados com notoriedade enforcamento e traumas causados por objetos
cortantes e perfurantes (BARROS, et al., 2021; LEAL et al., 2017; MAHMOOD et al., 2021;
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

SOUSA et al., 2020; SOUZA et al., 2018). Desse modo, faz-se importante identificar como
esses traumas se manifestam clinicamente, para a identificação dos casos em unidades
de pronto atendimento, principalmente em casos de recorrência.
Segundo Barros et al. (2021) a reincidência de violência contra a mulher foi um
dos principais fatores associados aos feminicídios e às violências físicas direcionadas a
mulheres em Pernambuco, Brasil, sendo o uso de arma de fogo a principal ferramenta
utilizada, mas também há registro de agressão corporal, enforcamento, espancamento,
ataque com objeto perfurante e/ou cortante, envenenamento e líquidos quentes.
Equitativamente a esse estudo, uma pesquisa realizada no estado de Porto Alegre
analisou que 83% (n= 36 casos, dos inquéritos analisados no período de 2006 a 2010)
dos casos de feminicídios haviam denunciado violência anteriormente (MARGARITES,
MENEGHEL, CECCON, 2017).
Segundo o órgão público Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos, a quantidade de ligações para o “Ligue 180”, número destinado a receber
denúncias de violências contra mulher, aumentou cerca de 9% após o início do
isolamento social que teve como objetivo reduzir a expansão da pandemia de COVID-

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 392


aaaaaaaaaaaaa 19. Além disso, trás que a maioria das violências foram infringidas por residentes da
mesma casa da vítima (SENADO, 2020).
Ademais, um estudo de Okabayashi et al. (2020) ressalta o aumento de mais de
50% da quantidade de prisões em flagrante dos perpetradores de violência contra a
mulher em São Paulo ao comparar o mês de março de 2019 e 2020. Nesse mesmo
estudo, com os dados coletados, é possível concluir que no primeiro trimestre de 2020
teve um aumento de 138% em comparação com o primeiro trimestre de 2018, e um
aumento de 38% em comparação com o mesmo período de 2019 no número de
feminicídios. Assim como evidencia Mahmood et al. (2021) em seu estudo, que
observou um aumento da violência em mulheres de 32,1% a 38,7% nos primeiros três
meses de pandemia, e entre as violências físicas constatou-se aumento de torções de
braço, puxões de cabelo e bater. Esse aumento possivelmente está vinculado ao
isolamento social implantado desde o inicio da pandemia, já que as mulheres vítimas de
violência, foram obrigadas a conviver por mais tempo com seus agressores na
residência, além disso, limitou-se os ganhos financeiros e reduziu o convívio social.
Já Petrosky et al. (2017) relatou em seu estudo que aproximadamente uma a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

cada 10 vítimas sofreu alguma forma de violência antes do feminicídio. A associação


entre raça/cor/etnia e a violência praticada por parceiro íntimo é evidenciada pelos
fatos, uma vez que essas mulheres jovens de minoria racial/étnica são afetadas de forma
desproporcional, permitindo a associação da violência como reflexo da condição social
em que as vítimas se encontram. Discussões e ciúmes foram situações citadas como
precursoras dos feminicídios relacionados à violência por parceiro íntimo.
À vista disso, faz-se fundamental direcionar os esforços de intervenção a essas
mulheres em maior vulnerabilidade. Para isso, pode-se ensinar os jovens a reconhecer
comportamentos ou situações que podem ser indicativos de violência, bem como
habilidades de relacionamento saudável e seguro, como a comunicação não-violenta.
A atual forma de notificar a violência contra a mulher é por meio da ficha de
notificação individual do Sistema de Agravos de Notificação – SINAN, com a ficha de
agravo de VIOLÊNCIA INTERPESSOAL/AUTOPROVOCADA que sofreu atualização em
2015 e acrescentou mais alguns tipos de agressão (BRASIL, 2016). Se notificada correta
e rapidamente a ocorrência, essa ficha pode ser um grande aliado na redução dos
feminicídios.

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 393


aaaaaaaaaaaaa Para que de fato haja uma minimização considerável, é preciso que haja uma
articulação entre as redes de atenção à saúde e os demais setores municipais, como
Casa de Proteção, Delegacia Especializada da Mulher e Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS). Desse modo, cabe aos profissionais de saúde estarem aptos a
identificar se as lesões apresentadas pelas mulheres derivam de violência física.
Ressalta-se também, que esse tipo de violência não é praticada unicamente por
parceiros íntimos, mas também por familiares, desconhecidos ou colegas de trabalho,
como mostra o estudo de AZANAW et al. (2019). Nesse sentido, é de suma importância
que os profissionais de saúde tenham conhecimento de quem são os agressores, quais
os meios utilizados para a execução do ato e quais as características socioeconômicas e
culturais dessas vítimas. Desse modo, o profissional deve prestar uma assistência
cuidadosa a cada mulher atendida de forma integral, rastreando sempre os
determinantes sociais de saúde e como eles podem estar relacionados às manifestações
clinicas de cada indivíduo, para que seja possível direcionar intervenções preventivas,
terapêuticas e paliativas, melhorando a qualidade de vida dessas mulheres.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa pôde-se observar que há uma
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

quantidade ínfima de artigos que relacionam os tipos de traumas físicos sofridos por
mulheres vítimas de violência física com as manifestações clínicas. Assim, faz-se possível
crer que o presente estudo surge como mais um meio de acesso à informação sobre
esta temática, sendo capaz de contribuir na tomada de decisões para o enfrentamento
desse problema.
Dessa forma, torna-se notório que a abordagem analítica de relatos de violência
contra mulheres é essencial para o reconhecimento desses casos pelos profissionais da
saúde, além de ser determinante para a determinação, o planejamento e a
implementação de intervenções que visem a redução do feminicídio.

5. CONCLUSÃO
Diante do exposto, pode-se afirmar que o tipo de violência física mais
mencionado nos relatos de ocorrência foi o espancamento, podendo ser caracterizado
por chutes, tapas, puxões de cabelo, torções dos braços, empurrões e socos,
ocasionando traumatismo cranioencefálico, torácico, politraumas, dentre outros.

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 394


aaaaaaaaaaaaa Ademais, foram descritos como métodos utilizados o enforcamento, corte e a
perfuração.
Nesse contexto, faz-se necessário investir na capacitação dos profissionais da
saúde, para que seja possível identificar e notificar adequadamente as ocorrências, com
o intuito de dar maior visibilidade aos casos de trauma gerados pela violência contra a
mulher.
Além disso, o grupo multidisciplinar em saúde, principalmente o enfermeiro, que
tem como uma das suas funções liderar a equipe, deve desenvolver uma assistência
acolhedora e sensível, como também fortalecer a rede de apoio à vítima.
Portanto, faz-se essencial que a violência praticada contra mulheres seja
reconhecida pelos profissionais da área da saúde, com a finalidade de combater, tratar
e prevenir os traumas dela resultantes.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

TRAUMA FÍSICO EM MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 397


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXX
AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE
PEDICULOSE EM ESCOLARES DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-30
Eduarda Ferreira da Silva ¹
Fred da Silva Julião ²
¹ Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Instituto Federal Baiano Campus Santa Inês - IF Baiano
Campus Santa Inês
² Docente no Instituto Federal de Educação Baiano Campus Santa Inês Santa Inês – IF Baiano Campus Santa Inês

RESUMO
Infestação por Pediculus humanis capitis, pediculose, conhecido como piolho da cabeça,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

afeta principalmente crianças em idade escolar. Objetivou-se relatar ações educativas


sobre pediculose por piolho da cabeça em escolares da educação infantil nos municípios
baianos de Cravolândia, Santa Inês e Ubaíra. Este foi um estudo realizado com diretoras
de duas escolas públicas e uma particular de Educação Infantil e Fundamental I,
elaborado a partir de uma realidade vivenciada através de uma atividade de extensão
com alunos de Licenciatura em Ciências Biológicas, denominada “Mostra Parasitológica:
Promovendo Educação e Saúde” que teve piolho como um dos temas. Foi aplicado um
questionário padronizado, em forma de entrevista, com perguntas relacionadas a
ocorrência da pediculose e medidas de prevenção e erradicação. Os resultados
mostraram que nas três escolas já tiveram ou tem casos de pediculose, que é um tema
tratado em sala de aula e no ambiente escolar, através de atividades lúdicas, palestras
com pessoas da saúde, além de projetos direcionados ao tema piolho. Os pais também
são convocados a participarem junto à escola, contribuindo na prevenção e erradicação
da pediculose. A temática na educação infantil é importante, por estar vinculada à
realidade da comunidade escolar, prejudicando os escolares.

Palavras-chave: Doença parasitária. Piolho. Saúde na escola.

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 398


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A pediculose é uma doença parasitária causada por um ectoparasita
denominado piolho (FRANCESCHI et al., 2007). Existem três espécies de piolho que
acometem seres humanos: Pediculus humanus corporis (piolho do corpo); Pediculus
humanus capitis (piolho da cabeça) e Phthirus pubis (piolho dos pêlos pubianos). Sendo
mais prevalente o piolho da cabeça (BARBOSA et al., 2003; PAULA, 2013).
A pediculose é um importante problema de saúde pública, sobretudo em países
subdesenvolvidos. No Brasil, por exemplo, diante das diferenças socioeconômicas
existentes, ocorre a permanência desse agravo, principalmente em locais onde o
contato entre as pessoas é muito próximo, como nos centros de educação infantil
(GABANI et al., 2010).
Um dos malefícios da pediculose é a interferência no rendimento escolar devido
à diminuição da auto-estima, o que comprometem as atividades diárias da criança. Além
disso, o piolho do couro cabeludo, comumente, causa infecções secundárias por causa
dos arranhões causados pela coceira intensa provocada pelos piolhos. Há trabalhos que
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

registram ser uma das principais causas de impetigo nas populações de países em
desenvolvimento (BURGESS, 1995).
A orientação dos profissionais da educação é um fator importante no combate a
pediculose, que se torna um problema de saúde pública, principalmente em locais como
escolas, onde a transmissão do piolho é mais facilitada devido ao maior contato físico e
grande quantidade de pessoas (SOUZA, 2008; GODOI, 2011). Segundo Linardi (2002) as
crianças infestadas podem apresentar baixo desempenho escolar por dificuldade de
concentração, consequência do prurido contínuo e distúrbios do sono. Em casos mais
graves, crianças podem desenvolver anemia devido à hematofagia do piolho.
Segundo Barbosa et al. (1998), a pediculose é um problema onde a transmissão
ocorre pelo contato direto com pessoas que estejam infestadas, mais comum em
aglomerações, como escolas. Também pode acontecer através do compartilhamento de
objetos pessoais, como travesseiros, pentes, escovas, bonés, lenço, capacete, sendo
fatores de risco para a disseminação da pediculose. Para prevenir a pediculose, o ideal
é evitar esse compartilhamento, bem como evitar o contato direto cabeça com cabeça
ou cabelo com cabelo de pessoas infestadas.

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 399


aaaaaaaaaaaaa A pediculose atinge, crianças de todos os níveis sociais, vários estudos
epidemiológicos mostram a ocorrência dessa patologia em escolas tanto públicas como
particulares as quais são frequentadas por diferentes classes sociais (PAULA, 2013). É no
ambiente escolar que no Brasil encontram-se pelo menos, 30% das crianças infestadas
pelo P. h. capitis, na faixa etária entre 4 a 12 anos (BARBOSA; PINTO, 2003).
Estudos apontam que medidas educacionais colaboram para o sucesso da
indicação de tratamento precoce e da prevenção da pediculose (GOLDSCHMIDT;
LORETO, 2012). A realização dessa pesquisa nas escolas de educação infantil, visou
conhecer ações educativas voltadas para a prevenção e erradicação da pediculose no
ambiente escolar.
O presente estudo relata ações educativas sobre pediculose por piolho da
cabeça em escolares da Educação Infantil e Fundamental I nos municípios baianos de
Cravolândia, Santa Inês e Ubaíra.

2. METODOLOGIA
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

O presente estudo foi realizado em duas escolas públicas e uma particular de


Educação Infantil e Fundamental I dos municípios baianos de Cravolândia, Santa Inês e
Ubaíra. esses municípios foram escolhidos para a pesquisa pelo fato de já ter sido feita
atividade de Educação e Saúde, intitulada de “Mostra Parasitológica: promovendo
educação e saúde”
O período do trabalho foi de agosto a setembro de 2021, quando ainda estavam
em atividade virtual por conta do distanciamento social como prevenção do covid-19,
para coletar os dados necessários foi aplicado um questionário padronizado, com
perguntas relacionadas a ocorrência da pediculose e medidas de prevenção e
erradicação. sendo aplicado em forma de entrevista aos representantes das escolas de
educação infantil e fundamental I.
O trabalho foi realizado por uma estudante em fase final de curso, de graduação
em Licenciatura em Ciências Biológicas, sendo orientada por um professor com
experiência na área de Parasitologia. O estudo foi autorizado pelas diretoras das três
escolas de Educação Infantil e Fundamental I, mediante um termo de consentimento
livre e esclarecido, onde os entrevistados poderiam desistir a qualquer momento da
realização da pesquisa sem que tivesse nenhum prejuízo para eles.

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 400


aaaaaaaaaaaaa
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A educação é a base para capacitar às pessoas e contribuir na melhoria das
condições de vida e saúde da população, é preciso que haja o comprometimento em
conjunto tanto de pais como de professores quando se trata de assuntos relacionados
ao estudante. Os Parâmetros Curriculares Nacionais mostram que no contexto atual o
cuidado com o próprio corpo e com a saúde são temas que ganham um novo olhar e é
papel principal da escola propiciar a abordagem desses temas e leva-los à discussão no
ambiente escolar.
O que me motivou a fazer esta pesquisa com o tema Pediculose, foi a experiência
vivenciada numa atividade de extensão denominada “VI Mostra Parasitológica:
promovendo educação e saúde”, nas escolas do Vale do Jiquiriçá. A Mostra
Parasitológica é uma proposta lúdica em execução desde o ano de 2013, durante a
oferta da disciplina de Parasitologia, ministrada para o curso de licenciatura em Ciências
Biológicas no IF Baiano Campus Santa Inês. Embora tenha como alvo os estudantes do
ensino fundamental e ensino médio já foi apresentada também para alunos de pré-
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

escola, alunos de graduação, profissionais de saúde e para comunidade, em praça


pública. O projeto visa proporcionar ao público um ambiente em que se sintam bem
acolhidos, com estratégias de aprendizagem instigantes e dinamizados (SOUZA et al.,
2021).
A realização da Mostra Parasitológica é feita em grupos de um a três estudantes,
onde cada grupo fica responsável por apresentar sobre um determinado parasito. Na
versão VI, responsável por apresentar sobre o tema Pediculose, onde objetivou-se
registrar a percepção dos estudantes das escolas visitadas a respeito do tema piolho. Foi
possível verificar o conhecimento dos estudantes sobre piolho, através de pôster e jogo
de trilha com perguntas sobre o assunto abordado, sendo realizados de forma lúdica,
participativa e interativa, incentivando os estudantes a memorizar o que estava sendo
dito durante a apresentação, obtendo assim um melhor aprendizado. Notou-se durante
o processo da apresentação o interesse e participação dos estudantes e visitantes, com
o intuito de sanar as dúvidas existentes e aprender um pouco mais sobre esse tema que
é enfrentado cotidianamente. As curiosidades eram frequentes na medida em que esses
estudantes descobriam aos poucos fatos desconhecidos por eles a respeito dos piolhos.

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 401


aaaaaaaaaaaaa Descobriram que conheciam apenas um tipo de piolho e que na verdade existem três
tipos, e que eles são incapazes de voar e pular, apenas se rastejam. Foi possível analisar
após a exposição do assunto, que houve relevância no esclarecimento das dúvidas dos
estudantes. No decorrer do processo explicativo, estudantes e visitantes, puderam
interagir, expondo seus conhecimentos a respeito do tema, e demonstraram-se
bastante interessados. Foram observados resultados positivos e proveitosos no
processo de aprendizagem. Foi através desse trabalho nas escolas me veio o incentivo
de realizar esse trabalho de pesquisa. No decorrer das apresentações em uma certa
escola de Educação Infantil e Fundamental I, foi causado um certo impacto, no momento
da apresentação, pois tinha uma estudante que estava infestada. Quando iniciada a
apresentação ela se mostrou bastante curiosa e interessada, sempre prestando
bastante atenção e fazendo perguntas sobre tudo. A infestação apresentada pela aluna
dava para visualizar nitidamente as lêndeas aderidas nos fios de cabelo. Foi dado
continuidade a apresentação tirando as possíveis dúvidas dela com bastante cuidado
para não a constranger. Foi conversado com a diretora da escola, onde relatou que o
caso da aluna estava sempre reincidindo. Tratava-se de uma estudante de família que
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

vive em situação de vulnerabilidade social. A diretora chegou até a mencionar que essa
estudante já foi internada por conta da pediculose, pois se encontrava com uma
infestação que acabou lhe causando feridas no couro cabeludo e anemia. Para que a
escola consiga ajudar o estudante numa situação como essa é preciso medidas
educacionais e projetos dentro da escola que tenham a participação dos pais, como por
exemplo, palestras com pessoas da saúde e com os próprios professores, que possam
passar informações a respeito do tema visando esclarecimentos sobre qualquer dúvida
existente.
As três diretoras afirmaram que já tiveram casos de pediculose nas escolas. A
primeira diretora afirmou que os casos ocorrem esporadicamente, principalmente no
tempo frio. A segunda afirmou que são bem poucos casos presenciados, enquanto que
a terceira diretora afirmou ser bem frequente a presença de casos, não sendo muitos,
mais acontece de tá reincidindo nos mesmos alunos. Os maiores picos de infestação,
ocorrem com o início ou reinício das atividades letivas. (MARCONDES, 2001, p. 194).
Relativo a quais os sintomas comuns que ajudam a identificar os estudantes com
pediculose, as respostas que mais predominaram foram coceira intensa e presença de

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 402


aaaaaaaaaaaaa lêndeas. Em uma das escolas a diretora relatou presenciar até mesmo o próprio piolho
e feridas no couro cabeludo. O principal diagnóstico é feito quando é visto o piolho, mas
a coceira é a principal fonte de alerta para a infestação. Muitas vezes é confundida com
outros problemas do couro cabeludo como alergias, caspa, seborreia. A presença de
lêndea pode detectar o estágio de infestação e deve-se começar logo o tratamento
(BARBOSA e PINTO, 2003). O melhor tratamento é o pente-fino seguido da remoção com
as mãos do piolho e lêndeas.
Quando questionado se já teve algum estudante que apresentou formas graves
da doença, e quais os sintomas apresentados, apenas uma das três diretoras
entrevistadas respondeu que foi presenciado lesões causadas pelo ato de coçar. É
importante salientar, que a pediculose também pode causar infecções secundárias
devido ao intenso prurido e consequentemente coceira intensa, que pode causar feridas
no couro cabeludo, essas feridas tornam-se porta de entrada para bactérias. Dessa
forma, assim que a infestação se torna pública, as causas psicológicas causam um grande
desconforto, levando a criança a um sentimento de vergonha (ANDRADE, 2006; GODOI,
2011). As crianças infestadas podem apresentar baixo desempenho escolar por
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

dificuldade de concentração, consequência do prurido contínuo e distúrbios do sono.


Em casos mais graves, crianças podem desenvolver anemia devido à hematofagia do
piolho (LINARDI, 2002).
Quando há algum estudante com piolho, é comunicado aos pais através de um
bilhete, e a diretora da escola particular também comentou que além desse comunicado
feito aos pais, é feita uma campanha intensa na escola, sem identificar se há casos para
que não venha constranger o aluno, são realizadas palestras com pessoas da saúde e
também projetos direcionados ao tema piolho. O procedimento adotado pelas escolas
é de fundamental importância pois os pais quando são avisados entram em contato com
a direção ou representantes das escolas e podem juntos solucionar o problema, pois é
algo que precisa ser trabalhado em conjunto, escola e família. Segundo Barbosa e Pinto
(2003), após o uso de medidas educacionais direcionadas para a pediculose, houve uma
diminuição de 90% na prevalência da doença. Tais resultados também foram
encontrados por Andrade et al (2005) que constataram mudança de hábitos, de atitudes
e de valores em educadores e alunos, após atividades educativas adequadas à realidade
escolar.

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 403


aaaaaaaaaaaaa As três diretoras afirmam utilizar estratégias de controle e prevenção a
pediculose, quando aparece casos, trabalhando com projetos de uma forma lúdica em
sala de aula, sequências didática e palestras. Quanto à frequência que os docentes falam
do piolho na escola ou em sala de aula, é necessário falar sempre para controlar a
infestação e não somente quando se tem casos, já que esta é constante no ambiente
escolar. Programas educacionais podem ser desenvolvidos nas escolas, como exemplo
o Programa Educacional conhecido como Disque Piolho, criado no Departamento de
Biologia do Instituto Oswaldo Cruz, realizada pelo Núcleo de Parasitologia, que têm por
objetivo esclarecer à população sobre a biologia do inseto e as consequências de sua
infestação, além de resgatar o uso do pente fino e alertar a população sobre os perigos
do uso indiscriminado de produtos químicos e tóxicos (ANDRADE,2006).
O tema pediculose já foi e é tratado em sala de aula nas três escolas, e uma das
diretoras abordou que principalmente depois da apresentação da Mostra Parasitológica
na escola é que motivou ainda mais a comunidade escolar a trabalhar o conteúdo com
os estudantes de uma forma mais lúdica. Ensinar de forma lúdica, principalmente com
jogos educacionais sobre determinado tema como a pediculose, é mais fácil de se atrair
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

a atenção das crianças pois elas se divertem, brincam e aprendem ao mesmo tempo
(SOUZA et al., 2021). De acordo com Neves (2007), as atividades lúdicas propiciam, aos
escolares, auxílio na exploração da criatividade e melhora das atitudes no processo de
ensino e aprendizagem, já que eles podem descobrir, inventar e elaborar estratégias
para promoverem mudanças.
Todas as diretoras afirmaram que falar sobre pediculose no ambiente escolar
pode trazer benefício as escolas. A diretora da escola de ensino particular comentou
sobre falar da forma correta com um projeto bem elaborado com a presença também
dos pais, pois é algo que tem que ser trabalhado em conjunto para que se tenha um
resultado satisfatório, onde se possa passar as informações necessárias, a fim de evitar
uma proliferação da infestação entre os estudantes. O ensino gera o conhecimento,
consequentemente a escola é beneficiada por possuir educadores em saúde, além de
alunos disciplinados que frequentam as aulas e difundem esse aprendizado dentro de
casa, então a escola passa a ter maior controle com a infestação do piolho. É importante
a participação da família na educação junto à escola para que se tenha a extensão das
ações e interações socioeducativas do espaço formal escolar (SILVA et al., 2013).

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 404


aaaaaaaaaaaaa Quando interrogado sobre se a criança com pediculose é discriminada pelos
colegas, e qual faixa etária é pior nesse caso, uma das diretoras afirmou nunca ter
presenciado no ambiente escolar, enquanto as outras duas afirmaram que acontece e
que a faixa etária pior é a de 9anos. Foi detalhado um acontecimento por uma das
diretoras, onde uma aluna que se apresentava com pediculose era tão discriminada
pelos colegas de sala de aula que aquele espaço acabava se tornando constrangedor
para ela, que chegava muitas vezes a sair chorando da sala por conta da discriminação.
Uma das diretoras afirmou que essa discriminação depende muito de como a escola
conduz o processo, pois na escola dela, acontece sim, mais não é algo permitido, e que
quando se é presenciado uma situação assim que elas procuram sempre conversar com
os estudantes mostrando para eles que devemos ter respeito pelo outro e que o piolho
é algo que qualquer um pode ter. O fato de algumas pessoas terem a sua autoestima
afetada pode comprometer o aprendizado e ser causa de falta de motivação nos estudos
ou mesmo abandono dos estudos. Outro fator relevante provocado pela pediculose em
jovens e criança é o preconceito, associando ao desconforto, vergonha, isolamento e
segregação que muitas crianças e adolescentes são vítimas. De acordo com Indriunas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

(2011), essa discriminação gera uma série de problemas de ordens social e emocional,
atingindo principalmente as crianças em fase escolar. Dessa forma, a criança se sente
envergonhada, além de incomodada e irritada por causa da infestação.
Duas das diretoras entrevistadas afirmaram que a escola é o principal meio de
transmissão da pediculose, e uma delas afirmou que a escola não é o principal mais um
dos, pois para se adquirir a pediculose basta o contato com o agente e isso o aluno
também tem fora da escola, como em parquinhos e na própria casa através da troca de
objetos pessoais, como pente, escovas e etc. Como muitas crianças passam uma boa
parte do tempo na escola, ela passa a ser a principal fonte de transmissão do piolho. Na
escola a transmissão pode acontecer facilmente, pois os alunos ficam por muito tempo
num mesmo ambiente, normalmente fechados e os bichinhos pulam de cabeça para
cabeça. É importante que os pais auxiliem no controle da pediculose, olhando as cabeças
das crianças, passando pene fino e que dê o apoio e retorno que a escola necessita pois
para que se consiga um resultado satisfatório é necessário um trabalho em conjunto
entre escola e família. Segundo Souza et al (2006), o alto grau de contaminação pelo
ectoparasita está associado à dinâmica escolar, na medida em que, muitas atividades e

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 405


aaaaaaaaaaaaa brincadeiras são desenvolvidas em grupo favorecendo a transmissão pelo contato direto
entre as crianças.
Deve-se considerar a pediculose como problema de saúde pública, na medida
em que, ocasionam diversos malefícios à criança, como os déficits de aprendizagem,
concentração e mau desempenho na escola, citados por duas diretoras. Uma vez que a
infestação do piolho corrobora para a irritabilidade do portador, consequentemente,
influencia negativamente no rendimento escolar. Além disso, o sono e a capacidade de
se concentrar também ficam prejudicados, oriundos do incômodo gerado pelo
ectoparasita. O principal grupo alvo da infestação pelo ectoparasita, são crianças em
idade escolar.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo possibilitou conhecer as ações educativas sobre pediculose por piolho
da cabeça em escolares da educação infantil nas três escolas onde foi realizado. A
pediculose acontece independente da classe social do aluno, podendo ser vista tanto
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

em escolas públicas como nas particular, sendo um problema de saúde pública antigo,
mais que ainda encontra se presente na atualidade, trazendo sintomas físicos e
psicológicos, comprometendo o aprendizado do estudante.
É um problema de saúde a ser tratado coletivamente, onde a comunidade
escolar juntamente com a família, precisa participar com atitudes preventivas de
controle e prevenção da doença.
É importante que a escola desenvolva estratégias voltadas a saúde escolar e
coletiva para capacitar professores e mobilizar pais e alunos para que estes possam ter
autonomia no cuidado de sua própria saúde, buscando uma melhoria na qualidade de
vida dos mesmos.
Assim, é essencial a implantação de um plano de ação nas escolas que vise a
prevenção e erradicação da infestação pelo ectoparasita, por meio da educação em
saúde para a conscientização e informação dos educadores, educandos e pais.

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 406


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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PEDICULOSE EM ESCOLARES DA EDUCAÇÃO INFANTIL 408


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXI
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS
INTOXICAÇÕES EXÓGENAS
ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ
ANOS EM UM ESTADO NORDESTINO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-31
Jonas Pêcego Costa ¹
Amanda Sebastiana Lima Correia ²
Ana Christina de Sousa Baldoino ³
Ana Maria da Costa Oliveira 4
Eduarda Siqueira Camêlo 5
Emanuel Thomaz de Aquino Oliveira 6
Filipe Melo da Silva 7
¹ Graduando do curso de Enfermagem. Faculdade de Ensino Superior de Floriano- FAESF
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2
Graduanda do curso de Enfermagem. Universidade Federal do Piauí - UFPI
3 Graduanda do curso de Enfermagem. Universidade Estadual do Piauí - UESPI
4 Graduanda do curso de Enfermagem. Universidade Estadual do Piauí - UESPI
5 Graduanda do curso de Enfermagem. Faculdade de Ensino Superior de Floriano- FAESF
6 Residente em Enfermagem Obstétrica pela Universidade Federal do Piauí - UFPI
7 Mestrando em ciências e saúde pela Universidade Federal do Piauí-UFPI

RESUMO
Introdução: A intoxicação exógena representa impactos nocivos ocasionados pelo surgimento de
manifestações clínicas e/ou laboratoriais. Estudos mostram aumento de casos de intoxicações
pediátricas, destacando-se acidentes domésticos, responsáveis por milhões de chamados ao centro de
informações e assistência toxicológica. A maior parte desses casos ocorrem de forma não intencional,
ocasionando alta demanda de hospitalização e mortes de crianças e adolescentes. Objetivo: Caracterizar
o perfil epidemiológico dos casos de intoxicações exógenas acidentais em crianças em um estado
nordestino. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa descritiva, realizada a partir de coleta de dados no
site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram coletados dados
referentes às intoxicações exógenas de forma acidental ocorridas em crianças menores de 10 anos no
estado do Piauí, onde foram analisadas variáveis segundo dados clínicos e sociodemográficos. Resultados:
No período analisado foram notificados 361 casos por intoxicação exógena acidental em crianças menores
de 10 anos no estado do Piauí. Sendo as maiores frequências encontradas no ano de 2015 [122 (33,8%)],
em crianças de 1 a 4 anos [284 (78,7%)] de cor parda [240 (66,5%)] e do sexo masculino [197 (54,6%)]. A
maioria dos acidentes ocorreram devido a intoxicação medicamentosa [155(42,9%)], sendo confirmadas
de forma clínicos [217(60,1%)]. A maioria dos casos evolui para cura sem sequela [320(88,6%)].
Conclusão: Esses dados apontam a importância de incluir ações educativas abordando a temática nos
diversos setores, para que haja uma maior conscientização e fiscalização por parte dos cuidadores de
crianças a fim de prevenir esse tipo de acidente.

Palavras-chave: Vulnerabilidade em Saúde. Epidemiologia. Criança.

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ ANOS


EM UM ESTADO NORDESTINO
409
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A intoxicação exógena ou envenenamento caracteriza-se como um complexo de
impactos nocivos ocasionados pelo surgimento de manifestações clínicas e/ou
laboratoriais que sucedem em uma desarmonia biológica, fomentado através do
contato de uma ou mais fontes tóxicas com o organismo vivo (VILAÇA; VOLPE; LADEIRA,
2019).
Existem diversos tipos de intoxicações, no qual se destacam aquelas que ocorrem
devido à exposição inadequada ao uso de medicamentos, agrotóxicos agrícolas e
domésticos, utilização de drogas ilícitas, raticidas, produtos de químicos de limpeza,
alimentos e bebidas. A maior parte dos casos de intoxicação exógena ocorrem de forma
não intencional, ou seja, acidental (ALVIM et al., 2020; BATISTA et al., 2018).
Essas intoxicações acidentais representam um grave problema de saúde pública
global devido ao quantitativo expressivo de atendimentos prestados em hospitais de
diferentes continentes. Estima-se que no mundo aproximadamente 45 mil crianças e
adolescentes morrem por ano oriundo de intoxicações não intencionais, com incidência
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de 1,8 por 100 habitantes, sendo responsável por uma demanda enorme de
hospitalização desse público. No Brasil, são registrados por ano cerca de 4,8 milhões de
casos de intoxicações, e destes em torno de 0,1% a 0,4% resultam em óbito (AGUIAR et
al., 2020; VILAÇA; VOLPE; LADEIRA, 2019; ALVIM et al., 2020).
Um estudo realizado no Estado do Piauí sobre o perfil epidemiológico de
intoxicação exógena entre 2013 e 2017 identificou 1.161 casos de intoxicações
acidentais, representando a segunda maior circunstância de intoxicação, enquanto que
a tentativa de suicídio foi a principal causa relacionada de intoxicação, correspondendo
a 18,9% e 37,7% respectivamente (SAMPAIO et al., 2021).
Pesquisas recentes têm mostrado um crescente número de casos de acidentes
domésticos envolvendo crianças nos últimos anos, e esse fato está relacionado com a
fase, que é marcada pela curiosidade aguçada e contínuo aprendizado. As intoxicações
pediátricas estão entre os acidentes domésticos mais comuns na infância, sendo
responsáveis por milhões de chamados ao centro de informações e assistência
toxicológica (SOBRAL et al., 2020).

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ ANOS


EM UM ESTADO NORDESTINO
410
aaaaaaaaaaaaa Devido à vulnerabilidade do público infantil aos diversos tipos de intoxicações e
a ausência de informações a respeito desta problemática, faz-se necessário a realização
deste estudo, visando contribuir para uma melhor compreensão das características dos
casos de envenenamentos pediátricos. Neste contexto, este estudo tem como objetivo
caracterizar o perfil epidemiológico dos casos de intoxicação exógena acidental em
crianças em um estado nordestino.

2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, com abordagem quantitativa,
realizado a partir das notificações dos casos confirmados de intoxicação exógena
acidental em crianças menores de 10 anos no estado do Piauí, entre o período de 2015
a 2019. Os dados foram coletados a partir do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN) disponíveis no site do Departamento de Informática do Sistema
Único de Saúde (DATASUS).
Foram consideradas as seguintes variáveis: ano de notificação, idade, cor/raça,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

sexo, agente tóxico, critério confirmação e evolução. Os dados foram organizados e


analisados por meio de planilhas do programa Microsoft Office Excel 2016, em seguida,
foram agrupados em tabelas e gráficos. Por se tratar de um estudo com base em dados
secundários e de domínio público, dispensou-se a submissão ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP), de acordo com a Resolução nº 510/2016.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos períodos de 2015 a 2019, foram notificados 361 casos de intoxicação
exógena acidental em crianças menores de 10 anos no estado do Piauí. A maioria desses
casos ocorreu no ano de 2015 [122 (33,8%)] seguido de 2016 [90 (24,9%)], no sexo
masculino [240 (66,5%)], na faixa etária de 1 a 4 anos [284 (78,7%)], naqueles de
cor/raça parda (Tabela 1).

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ ANOS


EM UM ESTADO NORDESTINO
411
aaaaaaaaaaaaa Tabela 1 - Características sociodemográficas dos casos de intoxicação exógena acidental em
crianças menores de 10 anos no estado do Piauí, 2015-2019
Variáveis n %
Ano
2015 122 33,8
2016 90 24,9
2017 49 13,6
2018 47 13,0
2019 53 14,7
Idade
< 1 ano 25 6,9
1 a 4 anos 284 78,7
5 a 9 anos 52 14,4
Cor/raça
Branca 17 4,7
Preta 8 2,2
Amarela 2 0,6
Parda 240 66,5
Ignorado 94 26,0
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Sexo
Masculino 197 54,6
Feminino 164 45,4
Fonte: DATASUS, 2021.

Em uma análise realizada por Aguiar e colaboradores (2020) no estado da Bahia


entre os anos de 2013 a 2017, pode-se observar semelhanças com esse estudo, em que
o número de casos de intoxicação exógena em menores de 14 anos foi relativamente
alto nos anos analisados, apresentando 2.494 notificações.
O presente estudo identificou que os casos foram, principalmente, notificados
em crianças menores de 5 anos. Resultado também encontrado por Santos, Nóbrega e
Gomes (2018) em seu estudo realizado no estado do Maranhão. Paiva et al. (2017)
explica que esse fato ocorre principalmente pela fase do desenvolvimento infantil,
descobrindo novos objetos, ambientes e habilidade para abertura de recipientes.
Consequentemente predispõe aos riscos de intoxicação por produtos químicos
domésticos e medicamentos por via oral.
Com relação à cor/raça, é possível observar que cerca de 66,5% das crianças que
sofreram intoxicação no estado foram aquelas de cor parda. Tal resultado assemelha-se

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ ANOS


EM UM ESTADO NORDESTINO
412
aaaaaaaaaaaaa aos resultados encontrados no estudo de Rodrigues et al. (2021) onde também foi
identificado em sua pesquisa uma maior prevalência de intoxicação exógena em
crianças de cor parda, no qual, o total de casos foi representado por 83,8% das
notificações.
Quanto ao sexo, o presente resultado corrobora com o desenvolvido por Aguiar
e colaboradores (2020), onde foi possível identificar uma maior frequência de
notificações de intoxicação exógena infantil no sexo masculino. Assim, de acordo com
Rodrigues et al. (2021) esse fator pode estar relacionado com a maneira em que essas
crianças são educadas, onde em sua grande maioria devido a padrões da sociedade,
meninos obtêm uma liberdade de forma precoce para realizarem atividades diferentes
das meninas.
Com relação aos agentes tóxicos envolvidos nos acidentes, foi possível constatar
os medicamentos como agente prevalente, sendo esse responsável pela maioria das
intoxicações [155(42,9%)], seguido dos produtos de uso domiciliar que representaram
o segundo maior número dos casos [75(20,8%)] (Figura 1).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Figura 1 - Notificações por Agente Tóxico em crianças menores de 10 anos no estado do Piauí,
2015-2019

Outro 14
Alimento e bebida 3
Planta tóxica 17
Drogas de abuso 2
Prod. Químico 27
Cosmético 21
Prod. uso domiciliar 75
Prod. Veterinário 7
Raticida 18
Agrotóxico doméstico 5
Agrotóxico agrícola 4
Medicamento 155
Ign/Branco 13
0 50 100 150 200
Fonte: DATASUS, 2021.

Em uma análise realizada por Lopes, Fernandes e Lucio Neto (2020), no estado
Maranhão, observou-se resultados que vão de encontro com o presente estudo, no
qual, em seus resultados foi possível identificar maior frequência de intoxicação
exógena devido ao uso de medicamentos. Segundo Aguiar e colaboradores (2020)

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ ANOS


EM UM ESTADO NORDESTINO
413
aaaaaaaaaaaaa existem razões que contribuem para que ocorra esse maior acometimento devido à
intoxicação farmacológica, onde o armazenamento inapropriado nos domicílios e as
diversidades dos fármacos levam a criança a associar a doces.
Além disso, outro fator intrínseco que precisa ser destacado é a administração
de medicamentos em domicílio pelos responsáveis das crianças, considerando os riscos
de intoxicação medicamentosa. Dessa forma, a superdosagem infantil, equívoco nos
horários de administração e a negligência da vigilância dos pais com as medicações são
fatores que podem provocar intoxicação infantil e até letalidade (LEITE et al., 2021).
Quanto ao critério de confirmação e evolução dos casos, pode-se observar que
no período analisado, o maior número de casos foi confirmado pelo critério clínico
[217(60,1%)] seguido da forma clínico-epidemiológico [124(34,3%)], onde a maioria das
notificações evoluíram para cura sem sequela [320(88,6%)] (Tabela 2).
Tabela 2 - Características clínicas dos casos de intoxicação exógena acidental em crianças
menores de 10 anos no estado do Piauí, 2015-2019
Variáveis n %
Critério confirmação
Clínico-Laboratorial 7 1,9
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Clínico-epidemiológico 124 34,3


Clínico 217 60,1
Ignorado 13 3,6
Evolução
Cura sem sequela 320 88,6
Cura com sequela 6 1,7
Óbito por intoxicação Exógena 2 0,6
Perda de Seguimento 1 0,3
Ignorado 32 8,9
Fonte: DATASUS, 2021.

Comparando o presente resultado com o estudo feito por Cardoso et al. (2020),
onde ambos tiveram ênfase na intoxicação medicamentosa, explanaram o critério de
confirmação clínico como 100%, corroborando com os presentes achados. Isso pode
estar mais associado à facilidade do método, o conhecimento do caso pelos
profissionais, entre outros fatores.
Ademais, a mesma tabela mostra em relação ao prognóstico desses pacientes,
em que a grande maioria (88,6%) evoluíram para cura sem sequelas. No mesmo estudo

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ ANOS


EM UM ESTADO NORDESTINO
414
aaaaaaaaaaaaa citado anteriormente por Cardoso et al. (2020) no caráter medicamentoso, 98,7%
obtiveram cura. Em outra pesquisa realizada por Silva, Oliveira e Soares (2020) no estado
de Sergipe, mostra a distribuição dos casos segundo a evolução, onde 98,5% sucederam
também para cura sem sequelas.

4. CONCLUSÃO
Diante do exposto, observa-se que as intoxicações exógenas em seus diversos
aspectos ainda são um grande problema de saúde pública, principalmente no que diz
respeito ao acometimento em crianças menores de 10 anos, realidade que ainda
encontra-se de forma agravante no estado. Os principais achados desse estudo indicam
que os grupos mais acometidos pelas intoxicações exógenas são crianças na faixa etária
de 1 e 4 anos, pardas e do sexo masculino. Os medicamentos são os principais
causadores de intoxicação, seguidos de produtos de uso domiciliar. A maioria dos casos
foram confirmados através de exame clínico e evoluíram para cura sem sequelas.
Esses dados apresentados, apontam e justificam a importância de incluir ações
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

educativas abordando o tema intoxicações exógenas em campanhas em creches,


escolas, espaços públicos e em redes sociais com a finalidade de minimizar a alta no
números de casos, como também incentivar que haja uma maior fiscalização por partes
dos cuidadores e responsáveis das crianças para evitarem esse tipo de acidente, seja
pelo uso de medicamentos, produtos de uso domiciliar ou outros tipos de substâncias
químicas tóxicas à saúde.

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EM UM ESTADO NORDESTINO
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ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INTOXICAÇÕES EXÓGENAS ACIDENTAIS EM MENORES DE DEZ ANOS


EM UM ESTADO NORDESTINO
417
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXII
CONSTRUÇÃO INTERPROFISSIONAL
PARA DISSEMINAÇÃO DE
CONHECIMENTO SOBRE SAÚDE
MENTAL AOS ADOLESCENTES EM
REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE
JANEIRO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-32
Jaqueline Rocha Borges dos Santos 1
Matheus de Lima Rodrigues 2
Renata Soares da Fonseca 2
Dayanne Lima Silva Santos 2
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Beatriz Santos Rabello 3


Maria Clara Monteiro Souza 3
Matheus Macedo Andrade 3
1 Professora Adjunta do Departamento de Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro –

UFRRJ
2 Graduando/a do Curso de Farmácia. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ
3 Graduando/a do Curso de Psicologia. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ

RESUMO
O universo da saúde mental é cercado pela necessidade de discussão a respeito do estigma
social. A visão estigmatizada e colocações em populações vulneráveis são presenciadas em
enfermidades que acometem o Sistema Nervoso Central. Durante um ano foram elaboradas
palestras em escolas públicas, de educação básica, em regiões periféricas do estado do Rio
de Janeiro, além da divulgação de materiais educativos em saúde mental para alcance geral
da população. As palestras alcançaram alunos de 15 a 17 anos, em sua maioria negros e
mulheres, que demonstraram interesse acerca da temática sobre saúde mental. Os
materiais educativos atingiram um público de 24.378 pessoas. Desse modo, a discussão foi
bem aceita pelo público alcançado a partir da interação ativa nas atividades que foram
propostas. Ações permanentes em ensino-serviço-comunidade devem ser continuadas com
a intenção de alcançar a sociedade, de forma mais ampla, e promover a inclusão social de
populações vulneráveis.

Palavras-Chave: Estigma Social; Educação em Saúde; Interprofissionalidade; Saúde Mental;


Uso Racional de Medicamentos.

CONSTRUÇÃO INTERPROFISSIONAL PARA DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE SAÚDE MENTAL


AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
418
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Uma das grandes problemáticas que se apresenta atualmente é a grande
construção histórica e cultural de nossa dinâmica social, com influências cada vez mais
florescentes de princípios neoliberais, meritocráticos e capitalistas. Tal dinâmica nos
coloca certos princípios e valores dos quais são absorvidos constantemente por nós, seja
por processos educacionais, culturais, relacionais e principalmente quando pensamos
no ser ético e moral da nossa contemporaneidade. Esses padrões e construções sociais
nos permeiam nos mais diversos campos de nossas vidas, seja desde processos de
autoconhecimento individual, concepções de positividade sobre o mundo e sobre sua
vida, vide o grande “boom” de livros de autoajuda nas nossas livrarias, até como
produzir efetivamente em seu trabalho, se portar ao coletivo e principalmente como
alcançar o seu grande e desejado “sucesso”, seja profissional, pessoal ou relacional.
Nos é ensinado a viver intensamente todas as áreas e os processos de nossas
vidas que se constroem, que precisamos nos agarrar nas oportunidades da vida a
qualquer preço. Mas, esse lugar da intensidade tem sido tomado como sinônimo de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

rapidez. Vivemos hoje quase que em uma “ditadura da rapidez”. Uma corrida maluca
em que precisamos crescer rápido, amadurecer rápido, nos apaixonarmos rapidamente,
construir uma família rapidamente; para o caso de as mulheres engravidarem rápido,
trabalhar rápido para chegar ao topo “rápido”. De acordo com Han (2015, p. 19), estar
culturalmente neste lugar da “pura inquietação” nos faz não produzir novos
movimentos e, na verdade, acelerar e reiterar lógicas já existentes. O que nos coloca a
pensar criticamente, sobre qual o papel social que nos é atribuído dentro dessa lógica
imediatista, o papel de reprodução de convenções sociais. Hoje termos uma vida ativa
significa estarmos em completo estado de agitação, seja no trabalho, nas relações
pessoais, nas formas de lazer e como essa “agitação ad eternum” é refletida em nossos
corpos? Corpos esses que não agem por si só e estão no plano da imanência, conjugados
e articulados intrinsecamente com nossas mentes e subjetividades. Quais impactos essa
cultura do imediatismo mais escancarada a partir de nosso século proporciona nas
crianças e jovens que estão crescendo nesse período? Queríamos então com essa
experiência de trabalho a partir desses questionamentos, ouvir experiências de

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
419
aaaaaaaaaaaaa adolescentes sobre o tema da ansiedade e entender quais são as concepções e
implicações que estão na nossa juventude a respeito desse tema.
Assim, primeiro entendemos que adolescência é um processo do
desenvolvimento humano em que o indivíduo passa por constantes conflitos em
diversos âmbitos de sua vida. Tem-se uma concepção infundada e bem difundida em
nosso senso comum de que a adolescência é uma etapa transitória do desenvolvimento
humano, em que os sujeitos passam da infância para a adultez. Essa noção de
transitoriedade invisibiliza muitas vezes os constantes conflitos característicos dessa
fase e faz com que não depreendemos a devida atenção a essas questões.
Essas transformações configuram um ambiente propício para a insurgência de
sofrimento. Deve se considerar que nesse período, inúmeras características
psicopatológicas, frequentemente transitórias, emergem, sem que constituam
verdadeiros quadros nosológicos (LEVISKY, 2002). A construção de uma identidade é
demandada de maneira demasiada neste período de vida. Existe uma pressão externa
para expressões de si, estas que devem ser aceitas pelo seu meio, ou seja, de acordo
com as concepções culturais e sociais atreladas a produtividade, ao “o que você vai
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

querer ser?” que acompanha a vida de nossos jovens. Mas eles já não são algo? Por que
essa incompletude se coloca sempre aos adolescentes?
Na adolescência, os sentimentos e quadros de ansiedade são comuns, estando
assim, manifestados em situações de apreensão do futuro, com uma preocupação
exacerbada sobre rompimento e declínio de vínculos, sejam estes de amizades,
relacionamentos ou os que se expressam em um processo de falência do que antes era
conhecido e confortável, e a partir desse novo cenário surgem os sintomas. Outrossim,
a expansão dos sintomas de ansiedade nos adolescentes também possui base na
amplificação de novos meios de produção. Estes se ambientam na coerção para a
eficiência e perfeição, orientando os indivíduos a buscarem um local de excelência que
se demonstra inalcançável.
A ansiedade, em termos objetivos, é uma resposta natural do nosso corpo frente
aos mais diversos estímulos correlacionados ao perigo e atenção que recebemos do
ambiente. A problemática que se torna patológica é quando de certa forma perdemos
essa filtragem do que é estímulo de alerta e ficamos sempre nesse estado ansioso
perdendo até, de certa forma, o controle sobre essas sensações. Em nosso senso

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
420
aaaaaaaaaaaaa comum, atualmente, a ansiedade tem se popularizado e, se tratando de crianças e
adolescentes, tem estado presente na maioria dos discursos sejam de mães e pais,
familiares, professores e professoras etc. É preciso olhar com cautela para essas
inferências e até mesmo diagnósticos rápidos que na grande maioria podem ser
infundados.
Atualmente os diagnósticos têm sido cada vez mais rápidos e centralizados no
saber médico, o que acarreta uma dificuldade do paciente em buscar um diagnóstico
que o forneça seu planejamento terapêutico ideal. É trabalho exímio conscientizar sobre
a importância que este tratamento seja realizado com abordagem interprofissional para
fornecer aos casos de ansiedade nas crianças e adolescentes um tratamento
multimodal, com orientação aos pais e à criança, terapia cognitivo-comportamental,
psicoterapia dinâmica, intervenções familiares, terapia familiar e uso de psicofármacos
para tratamento farmacológico (CASTILLO et al., 2000).
Todavia, não é raro, tampouco incomum, a automedicação na tentativa de
amenizar os sintomas de ansiedade e outros transtornos utilizando psicofármacos de
forma inadequada, perigosa e, muitas vezes, abusiva, seja quando pacientes aumentam
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

a dose prescrita de um medicamento controlado sem avaliação médica, ou ainda


quando faz-se o uso de substâncias controladas que anteriormente haviam sido
prescritas para situações pontuais, na tentativa de amenizar os sintomas de ansiedade
ou outro transtorno, induzir o sono, melhorar o humor, dentre outros. Certos
medicamentos estão envolvidos em fenômenos de tolerância, e para fornecer o mesmo
efeito o aumento da dose é requerido. A automedicação traz sérios riscos à saúde,
comprometendo a qualidade de vida do paciente, oferecendo riscos de morte e
podendo causar dependência, uma questão importante de saúde pública.
A interprofissionalidade consegue proporcionar um ambiente de ideias mais
seguro, coeso e colaborativo. Dessa maneira, quando se trata da saúde mental, o
trabalho conjunto dos cursos de saúde facilita a compreensão de áreas que não são
estudadas dentro de cada graduação, fazendo compilados de aprendizados, os quais
beneficiam os discentes e as pessoas impactadas por esses no presente e no futuro
(CECCIM, 2018). Dessa forma, quanto mais cedo o aprendizado interprofissional for
praticado entre os estudantes universitários, melhor será a formação individual do
profissional, além de promover a experiência do trabalho interprofissional. Nesse

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
421
aaaaaaaaaaaaa sentido, transformando o discente em um futuro trabalhador mais adaptado ao trabalho
em equipe, pois conseguirá pensar no todo e não mais apenas focado na sua área.
Portanto, proporciona a capacidade de aprender e ensinar (SILVA, et al., 2021).
Além disso, a educação interprofissional prévia constitui um fator importante
quando se trata de saúde mental, pois essa temática envolve áreas de conhecimento
múltiplos, pois envolve mecanismos sociais, farmacológicos e psicológicos (OLIVEIRA e
DALTRO, 2020). Logo, a interprofissionalidade na educação, como em projetos
acadêmicos, auxiliará o discente na tomada de decisões e na forma de interação com o
outrem, seja ele um participante ouvinte de uma palestra, ou um paciente. A saúde
mental pode afetar um grupo diverso de sintomas e comportamentos, que serão melhor
assistidos por um grupo interprofissional. Com isso, ter discentes interagindo com
outros discentes das mais variadas áreas da saúde auxiliará na postura futura já como
formado, além de incrementar na postura como indivíduo. Logo, a
interprofissionalidade vai além de saber trabalhar com outro profissional depois de
formado, mas construir esse processo desde sua formação acadêmica.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2. MÉTODO
Para a concretização das atividades, foram realizadas reuniões quinzenais, de
forma remota, respeitando os protocolos de segurança da pandemia de COVID-19. Para
tanto, a cada reunião foi apresentado um artigo, capítulo de livro, problemáticas sociais
e experiências próprias que agregassem à formação do grupo extensionista e integrasse
o propósito de interprofissionalidade. A partir dessas frequentes reuniões, ideias
metodológicas e didáticas surgiram na intenção de alcançar o público com informação
sobre educação em saúde.
A partir da troca de experiências, com caráter interprofissional, além de
interdisciplinar, foram abordadas questões atuais para que pudessem ser abordadas em
contextos acadêmicos. Racismo, homofobia, machismo e o impacto na saúde mental
estavam presentes em todas as reuniões como principal foco de estudo. Diante disso,
ocorreu a iniciativa de palestras em unidades escolares de regiões periféricas do estado
do Rio de Janeiro. Desse modo, pensando no contexto social em que os alunos estão
inseridos, ficou decidido a abordagem sobre ansiedade.

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422
aaaaaaaaaaaaa Com foco nos estudantes de Ensino Médio, a ansiedade foi pautada de forma a
correlacionar com o ano de provas militares, concursos, vestibulares e entrada no
mercado de trabalho. Além disso, a pandemia do novo coronavírus foi crucial para o
aumento da ansiedade no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Somado às decisões que
adolescentes, de 15 a 17 anos, precisam tomar sobre sua vida pós escola, é pressuposto
a importância da abordagem temática sobre esse transtorno psíquico.
Para tanto, buscando levar informação a populações minoritárias,
principalmente negros e mulheres, foco principal do trabalho, foram contatadas escolas
de regiões periféricas, na Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro. Escolas
Públicas de ensino (n=2) aderiram a demanda e iniciativa do projeto e cederam, dentro
da programação anual de ensino, as palestras como atividades extracurriculares. Além
do mais, também foi autorizado, por ambas as escolas, a realização do levantamento de
dados a respeito de informações socioeconômicas e étnico-raciais por parte dos alunos.
Outrossim, metodologias foram procuradas e elaboradas para que pudesse
haver uma conexão aproximada entre os palestrantes e os assistidos. Métodos que, de
maneira simples, pudessem relacionar o cotidiano dos mesmos com a abordagem
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

central. Desse modo, buscou-se fomentar a interação para que os alunos pudessem se
sentir confortáveis em falar sobre o tema e contar suas experiências, tanto de maneira
aberta, quanto de forma anônima.
Por fim, com os resultados obtidos através das palestras, foram realizadas
publicações nas redes sociais do projeto, que englobam Twitter, Instagram e Facebook.
Esses materiais educativos em saúde mental foram elaborados pelos integrantes do
projeto de extensão a partir das histórias e experiências contadas nos dias das atividades
nas unidades de ensino. Dessa maneira, pode-se levar o que foi desenvolvido dentro da
atividade para um público maior, através de linguagem lúdica, com o intuito de alcançar
pessoas de todas as classes sociais e, principalmente, informá-las a respeito de saúde
mental, interprofissionalidade e uso abusivo de psicofármacos. Nesse sentido, foram
utilizados imagens, vídeos e recursos de cada plataforma para alcançar o maior número
de pessoas possível tendo, ao final, cumprido a idealização de educação em saúde.

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
423
aaaaaaaaaaaaa
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De maneira dinâmica, reuniões quinzenais foram realizadas para que pudesse
ocorrer troca de informação e conhecimento acerca da temática sobre saúde mental.
As reuniões, realizadas de forma virtual, por conta da pandemia da COVID-19;
propuseram leitura de artigos científicos encontrados na base de dados Pubmed,
somados aos capítulos de livros e vivências do cotidiano. Desse modo, a temática sobre
ansiedade foi abordada em diversos momentos, principalmente, após a divulgação pela
Organização Pan-americana de Saúde (Opas) e Ministério da Saúde sobre o aumento de
ansiosos no Brasil. Essas reuniões possibilitaram a interação entre os participantes, além
de serem realizadas discussões sobre temáticas abordadas nos dois cursos de graduação
envolvidos com esse trabalho (Farmácia e Psicologia), com o objetivo de interpor
conhecimento e compreender a melhor maneira de atingir o público-alvo. Sendo assim,
ao iniciar a demanda sobre a necessidade de levar informação sobre ansiedade às
escolas de regiões periféricas do estado do Rio de Janeiro, foi unânime, tanto entre a
equipe quanto às escolas, a necessidade de abordar a temática sobre ansiedade.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Para que fosse compreendido, de uma maneira mais clara, quem seria o público
abordado, foram elaborados formulários, aprovados pelo Comitê de Ética na Pesquisa
com Seres Humanos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). A primeira
questão se referia à idade dos adolescentes. Na Figura 1 podemos notar a distribuição
das idades dos estudantes que participaram das palestras. Desse modo, foi possível
traçar metodologias presentes que fizessem com que eles interagissem com os
palestrantes de maneira a incentivar uma discussão agregadora. Com os resultados e,
sendo observado que a maioria do público possuía 17 anos e estava no terceiro ano do
ensino médio, fica conclusivo que a razão pela tendência de discussão sobre ansiedade
é dada pelas decisões do futuro, como vestibulares, provas militares, concurso públicos
e entrada no mercado de trabalho.

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
424
aaaaaaaaaaaaa Figura 1 - Distribuição de idades presentes nas palestras

Fonte: Autoria própria.

Segundo a Lei número 12.288/2010 que institui o Estatuto da Igualdade Racial,


configura-se população negra o somatório de pessoas que se autodeclara pardo e negro,
conforme os critérios do IBGE (BRASIL, 2010). De acordo com essa lei o presente estudo
observou que a população alcançada com as palestras, em maioria se definem negras.
Afinal, de acordo com a Figura 2, a população negra representa um somatório de 56,8%,
ficando acima de todas as demais classificações representadas no gráfico. Tendo em
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

vista a localidade das escolas, sendo uma da Baixada Fluminense (Nova Iguaçu) e a outra
em uma região periférica do município do Rio de Janeiro (Anchieta) essa análise gráfica
confirma que, em maioria, essas escolas públicas são constituídas por pessoas negras e
que a divisão socioespacial do estado do Rio de Janeiro ainda demonstra a periferização
de pessoas negras. Além disso, quando se observa o percentual de indivíduos por gênero
(Figura 3) têm-se um valor muito superior ao do gênero feminino, o que demonstra a
facilidade desse gênero em querer estudar e debater sobre o assunto abordado na
palestra. Confirma-se assim que os indivíduos do sexo masculino possuem dificuldade
de cuidar da própria saúde mental, afinal sentem receio de serem vistos como fracos
(SIS/SAÚDE, 2020).
A partir dessas análises demonstra-se a importância da articulação de palestras
sobre saúde mental nas escolas públicas, visto que a taxa de participação masculina se
mostrou inferior à feminina, pois o percentual de procura por parte de indivíduos do
gênero masculino representa metade do percentual feminino, aproximadamente. Com
isso, ações desse tipo dentro das escolas poderão modificar o pensamento sobre o

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
425
aaaaaaaaaaaaa cuidado próprio por parte dos meninos, e isso poderá surtir efeito nos homens que
tornar-se-ão no futuro.
Além disso, a importância de falar sobre saúde mental no meio escolar, em locais
de periferia do Rio de Janeiro auxilia na tentativa de amenizar as dúvidas que esses
adolescentes possam ter sobre o local que devem ocupar na sociedade. Assim, a palestra
sobre ansiedade demonstrou-se estrategicamente importante para conhecimento
desses adolescentes sobre sua própria saúde mental.

Figura 2 - Raça/Cor dos estudantes que participaram da atividade proposta, a partir de


autodeclaração
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Autoria própria.

Figura 3 - Gênero dos estudantes que participaram da palestra

Fonte: Autoria própria.

A ansiedade pode se relacionar aos fenômenos bastante diversos. A ansiedade


tem uma relação intrínseca com a emoção do medo que pode variar frente aos

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426
aaaaaaaaaaaaa diferentes estímulos e, por isso, os transtornos de ansiedade diferem entre si. O medo,
muitas das vezes, se associa às reações ansiosas. O Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais 5 (DSM-5), define ansiedade conforme segue:

“Os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham


características de medo e ansiedade excessivos e perturbações
comportamentais relacionados. Medo é a resposta emocional a ameaça
iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça
futura. Obviamente, esses dois estados se sobrepõem, mas também se
diferenciam, ...” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p.189)

A partir das respostas que obtivemos dos adolescentes através do


formulário, no qual eles responderam quais seriam as definições para ansiedade, uma
das palavras mais colocadas foi medo. A Figura 4 aponta a definição de ansiedade
sinalizada pelos estudantes que participaram da atividade proposta. É interessante
observar essa correlação quase que intrínseca e cotidiana da emoção do medo com a
ansiedade. Outra resposta frequente relacionada com medo foi “medo do futuro” e “se
preocupar com algo do futuro”. Ao correlacionar com a realidade de nossos
adolescentes e considerando os depoimentos que escutamos nos encontros, a nossa
dinâmica social que deposita pressões sobre esses jovens a respeito de suas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

perspectivas de futuro, cada vez mais reitera os jovens nesse lugar de ansiedade pelo
que possa vir a ser sua trajetória de vida que ainda é repleta de incertezas. Serra et al.
(1980) realizaram uma pesquisa de opinião sobre medo e ansiedade na adolescência.
Os pesquisadores constataram que o medo no período da adolescência é voltado aos
sinais ou perigos subjetivos relacionados à chamada crise de identidade. Ao relacionar
com a ansiedade, as categorias mais regulares no estudo foram associadas à solidão, ao
desconhecido, à rejeição e ao futuro.

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
427
aaaaaaaaaaaaa Figura 4 - Definição de ansiedade para os estudantes do ensino médio que participaram da
atividade proposta

Fonte: Autoria própria.

Como já colocado, a ansiedade trata-se de um estado emocional humano, e será


uma reação emocional normal quando consistir em uma resposta adaptativa do
organismo, que influencia no desempenho do indivíduo e tem eixos psicológicos e
fisiológicos. Já na ansiedade patológica, a intensidade ou frequência da resposta não
corresponde à situação que a desencadeia, ou quando não existe um objeto específico
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ao qual se direcione (BRAGA et al., 2010).


Através do sistema límbico, informações externas são avaliadas de acordo com
o grau de perigo que oferecem e são comparadas com situações anteriores registradas
na memória e outras estruturas associadas ao sistema de luta e fuga ou sistema cerebral
de defesa. As bases neuronais destes mecanismos se vinculam com os sistemas:
gabaérgico, serotoninérgico, dopaminérgico, entre outros (BRAGA et al., 2010). A
neurofisiologia da ansiedade consiste em um estado da ativação do eixo hipotálamo-
hipófise-adrenal (HPA), gerando alterações no ciclo do sono e da vigília, bem como:
taquicardia, tensão muscular, tremor, entre outros (BRAGA et al., 2010).
As manifestações da ansiedade patológica são dispostas em tipos de transtornos
da ansiedade, tais como: transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de
ansiedade de separação, transtorno de estresse pós-traumático, transtornos fóbicos,
transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de pânico.
No transtorno de ansiedade generalizada há excessivo e racionalmente
inexplicável medo ou sentimentos de pânico relacionados às diversas situações. Há

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
428
aaaaaaaaaaaaa tensão a todo instante de forma que qualquer situação é ou pode ser um gatilho para
uma crise de ansiedade (CASTILLO et al., 2000).
As fobias específicas estão associadas a medo exacerbado e persistente que se
direciona especificamente a uma situação, objeto ou acontecimento, e que não
envolvam exposição pública ou ataques de pânico (CASTILLO et al., 2000).
O transtorno obsessivo-compulsivo se caracteriza pela presença de ideias
obsessivas e/ou de comportamentos compulsivos, interferindo ocupacional e
socialmente a vida do indivíduo (SCHOLL et al., 2017).
Já no transtorno do pânico ocorrem ataques de pânico com medo ou mal-estar
intenso com sintomas físicos e cognitivos. Os sintomas iniciam de repente e atingem sua
intensidade máxima em até 10 minutos. Devido à recorrência dos ataques, são
observadas modificações comportamentais frente ao medo de novos ataques de
ansiedade e crises de pânico (SALUM et al., 2009).
Por fim, como meio de divulgação, a partir dos resultados obtidos foram
elaborados materiais educativos em saúde mental (Figura 5) para divulgação em redes
sociais. Com o objetivo de aumentar o alcance e conceder acessibilidade de informações
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

científicas plausíveis com a ciência, foram realizadas discussões acerca dos resultados
obtidos nas palestras e decidiu-se pela elaboração de materiais que apresentassem fácil
entendimento, aliados aos vídeos de curta duração, além da utilização de recursos
oferecidos pelas plataformas com o intuito de que os mesmos chegassem ao maior
número de pessoas possível. De maneira semanal, foram elaborados materiais sobre
ansiedade, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, prevenção à saúde
mental, informações esclarecedoras frente às fake news, sugestões de vídeos, filmes e
palestras, dentre outras temáticas. Ao longo do ano de 2020 e 2021, foram alcançadas
em média 24.378 pessoas que se envolveram através de curtidas, visualizações,
comentários e debates nos chats.

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
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aaaaaaaaaaaaa Figura 5 - Materiais educativos em saúde mental publicados na página do projeto

Fonte: Autoria própria.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir à extrema importância da valorização social de concepções e
princípios interdisciplinares, principalmente atrelado aos diagnósticos relacionados à
ansiedade. Entender a saúde de forma coletiva e em rede é um dos passos para que se
possa construir novos caminhos que questionem esses paradigmas de valorização de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

saberes médicos centralizados e medicalizantes.


De modo interativo, atingir adolescentes com informações sobre saúde mental
representa uma forma de acolhimento e entendimento sobre sentimentos, decisões e
seus futuros. Ações que envolvem essa temática são necessárias diariamente para que
pessoas sejam alcançadas, de diferentes nichos e posições sociais. De maneira
complementar, a discussão foi bem aceita por ambas as escolas através das interações
e resultados obtidos. As palestras que tinham duração de 1 (uma) hora, foram
prolongadas para 2 (duas) horas em ambas as escolas por conta da interação ativa dos
estudantes. O número expressivo alcançado nas redes sociais demonstra a necessidade
e urgência do debate sobre saúde mental, incluindo, principalmente, vozes de minorias
que foram por tantos anos caladas. Portanto, ações que envolvam o conceito de ensino-
serviço-sociedade necessitam ser contínuas para o fortalecimento do conhecimento
acerca de saúde mental e os riscos da automedicação.

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AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
430
aaaaaaaaaaaaa
REFERÊNCIAS
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mentais: DSM-5 [Recurso eletrônico]. (5a ed.; M. I. C. Nascimento, Trad.). Porto
Alegre: Artmed, 2014.

BRAGA, J. E. F.; PORDEUS, L. C.; SILVA, A. T. M. C.; PIMENTA, F. C. F.; DINIZ, M. F. F. M.;
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SCHOLL, C. C. et al. Qualidade de vida no Transtorno Obsessivo-Compulsivo: um estudo


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CONSTRUÇÃO INTERPROFISSIONAL PARA DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE SAÚDE MENTAL


AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
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SILVA, M. N. et al. Jogo InterRaps: Uma estratégia de ensino interprofissional em Saúde


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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

CONSTRUÇÃO INTERPROFISSIONAL PARA DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE SAÚDE MENTAL


AOS ADOLESCENTES EM REGIÕES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO
432
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXIII
EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE
HANSENÍASE NO ESPAÇO ESCOLAR:
VIVÊNCIA DE DISCENTES DE
ENFERMAGEM
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-33
Ezequiel Moura dos Santos ¹
Marcela Claudia de Paula Oliveira ²
Thyeli Ellen dos Santos Moreno ³
Beatriz Mendes Neta 4
Kaio Lucas Cavalcante da Silva 5
Adrienny Nunes da Silva Tavares 6
¹ Enfermeiro Residente em Atenção Básica e Saúde da Família. SMS Jaboatão dos Guararapes-PE.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

² Mestranda em Hebiatria. Programa de Pós Graduação em Hebiatria – UPE.


³ Enfermeira. Universidade Federal de Pernambuco.t
4 Enfermeira Residente em Atenção Básica. Associação Caruaruense de Ensino Superior e Técnico (ASCES) - Centro

Universitário Tabosa Almeida (UNITA).


5 Graduando em Letras – Universidade Federal do Agreste de Pernambuco – UFAPE.
6 Enfermeira da Estratégia de Saúde da Família do município de Jaboatão dos Guararapes e Coordenadora da

Supervisão de Qualidade do Hospital Jaboatão Prazeres do Estado de Pernambuco.

RESUMO
A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, que afeta os nervos periféricos, configurando
assim um problema importante de saúde pública. Esta investigação aborda a vivência dos
acadêmicos de enfermagem em serviços básicos de saúde, que realizam atividades de educação em
saúde no Programa de Controle da Hanseníase. Os objetivos foram relatar a vivência de alunos do
último período do curso de enfermagem a respeito de uma abordagem de educação em saúde sobre
Hanseníase em uma escola na Zona da Mata Pernambucana. Trata-se de um estudo descritivo-
qualitativo, do tipo relato de experiência que teve como foco a intervenção no contexto social da
produção dos serviços na comunidade, por meio de elaboração de estratégias de educação em saúde
no ensino básico, abordando temas relacionados ao processo de saúde-doença na comunidade. Os
significados evidenciaram as atividades educativas fundadas nas normas do Programa de Controle
da Hanseníase e na tradição de que educação em saúde é transmitir informações necessárias ao
cuidado e adesão ao tratamento. Mostrou-se um modo impessoal de desenvolver os conteúdos
educativos e um discurso oriundo da prática educativa tradicional. Concluímos que a realização das
atividades de educação em saúde despertou a curiosidade dos pais e estudantes sobre os temas
abordados, estimulando o interesse na busca de ampliar e adquirir conhecimento sobre os
conteúdos.

Palavras-chave: Promoção em Saúde. Hanseníase. Espaço Escolar.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE HANSENÍASE NO ESPAÇO ESCOLAR: VIVÊNCIA DE DISCENTES DE


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1. INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa e de fácil disseminação.
Transmitida pela inalação do Mycobaterium leprae, possui longo período de incubação
e agride preferencialmente células da pele e os nervos periféricos (células de Schwann)
(PASSOS et al. 2020). Essa doença apresenta elevados níveis de infectividade, mas índice
baixo de patogenicidade, encontrando nos seres humanos seu reservatório e a
capacidade de ocasionar lesões incapacitantes/deformantes (MONTEIRO et al., 2017;
SANTOS et al., 2017).
A hanseníase se expressa por meio de algumas manifestações clínicas, entre elas,
a paucibacilar, caracterizada por apresentar poucas bactérias e menos de cinco lesões
na pele e é subdividida em forma indeterminada (FI) e tuberculóide (FT). A multibacilar
é uma manifestação clínica que se caracteriza por conter vários microrganismos e acima
de cinco lesões cutâneas, sendo classificada em forma dimorfa (FD) e virchowiana (FV)
(CAMPOS et al. 2020; JUNIOR, ANDREA & CAVALLI, 2020).
Em sua forma indeterminada, caracteriza-se pela presença de mácula solitária,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

mal definida, com baixa sensibilidade, facilmente confundida com lesões causadas por
fungos, popularmente conhecida como “pano branco”. Já a forma tuberculóide (leve) é
identificada por uma ou mais lesões (<5) em forma de placa bem delimitada de
coloração avermelhada ou acastanhada, com centro plano e esbranquiçado, também
com diminuição de sensibilidade (VÊLOSO et al., 2018).
Em relação às manifestações multibacilares, a forma dimorfa (moderada) é
designada pela vasta amplitude de acometimento dos nervos, com grandes lesões
avermelhadas, limites imprecisos, podendo apresentar hipo ou hipersensibilidade local.
A forma virchowiana, também conhecida como grave, caracteriza-se por infiltração
difusa, grande quantitativo de lesões tuberosas e nodulares na cor marrom-
avermelhada com alterações sensitivas semelhantes à forma anterior (MARTINS et al.,
2020).
A hanseníase é frequentemente endêmica em países da América em especial no
Brasil, e está entre as patologias negligenciadas por diversos setores públicos. Estas
doenças prevalecem em condições de pobreza e contribuem para a manutenção da
situação de disparidade social da população (BRASIL, 2010). No Brasil e no mundo, é

EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE HANSENÍASE NO ESPAÇO ESCOLAR: VIVÊNCIA DE DISCENTES DE


ENFERMAGEM
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aaaaaaaaaaaaa popularmente conhecida como o termo pejorativo “lepra” (atualmente em desuso),
essa patologia ocasiona julgamento social negativo, afastando o doente do convívio
social e rejeição familiar, o que gera transtornos no contexto biopsicossocial do
indivíduo afetado, pois analisando historicamente, essa doença era sinônimo de morte
(EVANTEZI, SHIMITZU & GARRAFA, 2020).
A identificação de novos casos, assim como acompanhamento daqueles pré-
existentes, requer notificação compulsória e investigação obrigatória, através da ficha
de notificação/investigação hanseníase, que alimenta o Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN) (FERREIRA et al., 2020).
Essa patologia manifesta também as chamadas reações hansênicas, que
consistem no aparecimento súbito de episódios sintomáticos, que pode ocorrer antes,
durante ou depois do início do tratamento e possui dois tipos de reações, as de tipo I –
reversa definida pelo surgimento de novas lesões, piora das lesões pré-existentes e
neurites, e as de tipo II – eritema nodoso hansênico identificada com ou sem reações
sistêmicas, como febre, dores articulares e mal estar, além de neurite, orquite e nódulos
subcutâneos dolorosos (SANTOS et al., 2019). Diante disso, é estabelecido um
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

tratamento e avaliado o grau de incapacidade do acometido pela doença (CAMPOS et


al. 2020).
Na avaliação de um paciente com suspeita de tal patologia é realizado uma
anamnese e exame físico direcionado para a investigação sintomatologia desta doença.
Desse modo, são analisadas as queixas e alterações típicas para então o paciente ser
classificado quanto ao seu grau de incapacidade. Assim, é feito o teste de força muscular
e de sensibilidade dos olhos, pés e mãos, que varia de 0 a 2, sendo 2 o grau de maior
incapacidade física (SILVA et al., 2018). Além disso, solicita-se a baciloscopia de BAAR e
são lançadas estratégias de educação em saúde para promoção da saúde (SOUZA et al,
2019).
Uma estratégia oferecida pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) para
profilaxia da hanseníase é a vacina BCG (Bacilo de Calmette e Guérin), desenvolvida a
partir de uma bactéria do gênero Mycobaterium, oferece uma proteção contra essa
patologia e é administrada ao nascer em todos os nascidos vivos, podendo ser
reaplicada nos casos de crianças que tiveram contato intradomiciliar com portadores da
hanseníase (SANTOS et al., 2021).

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aaaaaaaaaaaaa Com isso, considera- se como grave problema de saúde pública em algumas
regiões do Brasil, principalmente no Nordeste (MOREIRA et al. 2017). Outro fator
importante é que esta doença ainda continua presente nos países endêmicos, nos quais,
observam-se regiões de transmissão ativas e atualmente, aumento nos índices em
menores de 15 anos, considerado como um notável indicador da magnitude do
problema. Por isso, a hanseníase é uma doença de notificação compulsória e requer
investigação obrigatória (BRASIL, 2016).
Historicamente as ações de educação em saúde tem uma forte tendência a
serem pensadas e executadas de maneira centralizada pelos serviços e profissionais do
setor saúde. É fundamental destacar a importância da participação da comunidade
escolar nos programas que discutem temas relacionados à saúde, pois a construção da
concepção ampliada de saúde por meio de práticas pedagógicas necessita da
contribuição de todos eles.
O enfermeiro, especificamente o que faz parte de uma Estratégia de Saúde da
Família (ESF), contribui de diversas maneiras na atenção às pessoas com hanseníase, tais
como: acolhimento, investigação diagnóstica, solicitação de exames, dispensação de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

medicações, acompanhamento durante o tratamento e após a alta, busca ativa do ciclo


de convivência do doente, aplicação da sistematização da enfermagem, promoção do
autocuidado, dentre outras inúmeras intervenções que podem ser traçadas diante
desses casos (MENESES et al., 2020).
Diante deste contexto, os processos de formação em saúde realizados por
profissionais de saúde em diversos aspectos são importantes para o combate da
hanseníase, em especial na esfera educacional, como no Programa de Saúde na Escola
(PSE). Vale destacar que, segundo CORIOLANO-MARINUS e colaboradores (2012), a
escola se torna um espaço de educação e formação em saúde, no qual muitas atividades
e práticas lúdicas podem resultar no protagonismo dos educandos no contexto da
própria saúde e de seus familiares, promovendo reflexões, discussões e construção de
conhecimento acerca da formação educativa por facilitar sua aprendizagem.
Nesse sentido, a abordagem informativa sobre a hanseníase, por meio de
metodologia educativa em saúde, pode contribuir para promover autonomia e a
participação dos alunos no cuidado com a saúde por meio de saber empírico-científico
com o propósito de formar multiplicadores de conhecimento na esfera educacional

EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE HANSENÍASE NO ESPAÇO ESCOLAR: VIVÊNCIA DE DISCENTES DE


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aaaaaaaaaaaaa (MELO et al., 2016). Sendo assim, este relato de experiência teve como objetivo relatar
a vivência de alunos do último período do curso de enfermagem a respeito de uma
abordagem de educação em saúde sobre Hanseníase em uma escola na Zona da Mata
Pernambucana no ano de 2019.

2. MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo com uma abordagem qualitativa, do tipo relato
de experiência que teve como foco a intervenção no contexto social da produção dos
serviços na comunidade, por meio de elaboração de estratégias de educação em saúde
no ensino básico, abordando temas relacionados ao processo de saúde-doença na
comunidade. O público alvo foram pais e alunos do sétimo e oitavo ano do ensino
fundamental. A abordagem de educação em saúde ocorreu em uma escola pública no
município de São Lourenço da Mata - PE, a qual foi estruturada em dois eixos temáticos
(Introdução e principais conceitos e meios de prevenção e promoção em saúde sobre
hanseníase) no período de março a junho de 2019.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A abordagem de educação em saúde foi estruturada por meio de uma roda de


discussão sobre a hanseníase, onde foram abordados os seguintes temas: fatores sócio
demográficos da hanseníase no município, detecção dos principais sinais da doença,
mitos e verdades sobre a doença, onde se realiza o diagnóstico e o tratamento da
hanseníase. Ocorreu também a distribuição de folhetos informativos sobre o assunto
em questão.
De início, para a elaboração a ação foi realizada busca em diferentes bases de
dados - SCIELO; BVS; Google Acadêmico, LILACS e Pubmed e CAPES - acerca dos
conteúdos a serem desenvolvidos no momento. Seguiram-se as seguintes etapas:
escolha do tema, levantamento da literatura preliminar, busca de fontes, leitura do
material, avaliação dos estudos, organização e divisão lógica do assunto e por fim a
elaboração da abordagem metodológica. Para a busca dos periódicos nas bases de
dados foi realizado o cruzamento dos descritores “Hanseníase” and “Educação em
Saúde" and “Abordagem em saúde” em português, e “Leprosy” and “Health education"
and “Health approach” no idioma inglês entre os anos de 2015 a 2019.
A escolha da escola teve como principal critério estar introduzida na área
geográfica de abrangência dos alunos e também pelos profissionais da mesma que

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aaaaaaaaaaaaa manifestaram interesse em desenvolver um trabalho educativo com vistas à educação
em saúde. As ações do projeto foram realizadas por metodologias ativas, envolvendo
atividades lúdicas e construtivistas onde os pais e alunos eram os protagonistas ativos e
a realização das abordagens educativas foram estimuladas o enaltecimento dos
conhecimentos prévios dos alunos e dos responsáveis a respeito da hanseníase, como
também foram avaliados os seus comportamentos e interações nas dinâmicas em
coletivo.
Os métodos pedagógicos adotados na abordagem foram escolhidos seguindo o
critério da adequação ao conteúdo a ser trabalhado naquele dia. Foram utilizadas a
discussão dialogada, dinâmica de reconhecimento do grupo, exposição de cartazes
sobre o conteúdo e dinâmica da sensibilidade corporal. Foi realizada com presença
média de dez adolescentes e seis mães. O tempo médio de duração da ação em saúde
sobre hanseníase foi de uma foi 1 hora e 30 minutos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Participaram do estudo adolescentes e responsáveis, familiares, que estavam


presentes no espaço escolar. Quando questionados se já tinham ouvido falar alguma vez
sobre hanseníase, cerca de 40% dos pais responderam que sim. Após indagar sobre esta
temática, foi demonstrada uma abordagem teórico-expositivo por meio de cartolinas,
roda de discussão, dinâmicas interativas e metodologias ativas na construção coletiva
do conhecimento sobre os principais conceitos da hanseníase em forma de slides,
seguindo os principais pontos: “O que é Hanseníase”, “Diagnósticos”, “Prevenção”,
“Formas de identificação” e “Principais cuidados na comunidade” e a dinâmica de
reconhecimento do grupo - “Quem sou eu?”- no qual cada participante tinha como
orientação relatar um pouco de sua história e sua realidade social. Procurou-se
desenvolver o assunto com a maior naturalidade possível.
Souza et al. (2020) consideraram fundamental o fortalecimento do vínculo escola
e ESF potencializam ações educativas relacionadas à saúde, além de reiterar que a
promoção da saúde deve ser constituída de abordagens, perspectivas, técnicas e demais
características que oferecem uma aprendizagem significativa àqueles que aprendem,
em especial tratando-se de crianças.

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aaaaaaaaaaaaa Diante disso, foi utilizada uma linguagem objetiva, simples e clara, possibilitando
assim o desenvolvimento dos conceitos, num clima de tranquilidade e respeito, cuja
metodologia despertou a consciência dos pais e alunos. Em um estudo realizado por
Silveira e colaboradores (2017), nota-se a importância de uma abordagem
horizontalizada, das crianças e adolescentes (educando) com o profissional de saúde
(educador) para o processo de ensino-aprendizagem em saúde dessa faixa etária, como
também da utilização de metodologias atrativas e compreensíveis para esse público
alvo.
Posteriormente, o grupo geral foi dividido em grupos menores (6 pessoas) para
início da “Dinâmica da Sabedoria”, no qual havia uma caixa com diversas perguntas
referentes ao tema abordado, que foi repassada entre eles, enquanto músicas eram
entoadas pelo grupo. O participante que estivesse com a caixa respondia uma pergunta
lá contida, isso procedeu com todos os participantes. Em seguida, ao serem
questionados sobre os conhecimentos adquiridos sobre hanseníase após a vivência da
abordagem educativa, foi relatada uma aquisição de novas informações, através de
relatos dos integrantes em roda de discussão e relato escrito. Freitas et al. (2019) em
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

seu estudo que avaliou evidências científicas na literatura a respeito das práticas
educativas sobre hanseníase desenvolvidas com adolescentes demonstrou que tais
atividades culminam em um maior conhecimento sobre a doença, bem como
diminuição de estigmas e mitos sobre o assunto. Considera também a função
fundamental do enfermeiro para oportunizar esse tipo de conhecimento através de uma
linguagem clara e objetiva.
Logo após, foi realizada com os participantes que desejaram testes de
sensibilidade em manchas do corpo (avaliar a ausência ou presença da sensibilidade
dérmica). O exame dermatoneurológico ou teste de sensibilidade constitui uma
ferramenta essencial para diagnóstico clínico da hanseníase, uma vez que avalia de
maneira simples e eficaz as respostas do paciente frente ao estímulo (BRASIL, 2017). No
público em questão ninguém apresentou perda da sensibilidade, mas todos foram
aconselhados a procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima, para consulta
com profissional da saúde. No público em questão ninguém apresentou perda da
sensibilidade, mas todos foram aconselhados a procurar a Unidade Básica de Saúde
(UBS) mais próxima, para consulta com profissional da saúde e, após a intervenção,

EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE HANSENÍASE NO ESPAÇO ESCOLAR: VIVÊNCIA DE DISCENTES DE


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aaaaaaaaaaaaa parte das pessoas presentes afirmaram desconhecer ou dar pouca importância a
hanseníase.
Desta forma, a estratégia de educação em saúde favoreceu uma melhor
abordagem do conteúdo sobre hanseníase no espaço escolar, a vista que despertou a
percepção e a curiosidade dos pais e estudantes sobre os temas abordados, estimulando
o interesse na busca de ampliar e adquirir conhecimento sobre os conteúdos. Este fato
colabora com os estudos de Silva e Paz (2010) no qual a prática participativa em grupo
de educação em saúde no espaço escolar favorece a troca de informações e dessa forma
promove a uma visão ampla da doença e diminuição do estigma e discriminação dos
portadores da Hanseníase, além de estar ligado a metodologia Freiriana onde o ato de
aprender é um processo contínuo de transformação e transmissão do saber (FREIRE,
2007).
A metodologia do estudo foi definida como parâmetro por ser uma estratégia
dialógica que facilita uma construção coletiva do conhecimento, além de possibilitar aos
alunos conhecimentos sobre a temática viabilizando um trabalho interdisciplinar com o
setor saúde/escola, potencializando o alcance das atividades de educação em saúde
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

sobre a doença, inclusive com possibilidades concretas de inseri-la como tema


transversal nos componentes curriculares da escola. Dessa forma, pode-se dizer que a
troca de experiências e diálogo nos grupos do estudo promoveu no processo de
construção coletiva a participação do sujeito, incentivando a emancipação e instigando
o papel do cidadão como indivíduos críticos e corresponsáveis pela construção do
processo de saúde/doença e promoção da saúde na comunidade (OLIVEIRA, 2002).

4. CONCLUSÃO
Por meio desta abordagem a ação em saúde sobre hanseníase promoveu e
estimulou a criação de vínculo afetivo com diferentes agentes e formação destes como
colaboradores do desenvolvimento do conhecimento em saúde ambiente coletivo. A
partir dos conteúdos abordados, os profissionais de saúde devem incentivar a formação
em saúde a respeito da hanseníase, em especial no espaço escolar, já que através desse
estudo, pôde-se confirmar nos participantes, a escassez de informações acerca dessa
doença. Por consequência, o estudo permitiu a criação de olhares mais sensíveis às

EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE HANSENÍASE NO ESPAÇO ESCOLAR: VIVÊNCIA DE DISCENTES DE


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aaaaaaaaaaaaa peculiaridades do processo saúde doença, resultando, assim, em ações mais efetivas na
esfera da promoção da saúde.
Vale salientar ainda a importância na realização de novas pesquisas e estudos
permitindo a avaliação e desenvolvimento do processo educativo, capacitação dos
profissionais junto às Equipes de Saúde da Família e a compreensão da população acerca
da educação em saúde no espaço escolar. Dessa forma, a ação pode ser vista como uma
importante ferramenta para a formação dos acadêmicos de Enfermagem na
transformação de futuros profissionais pensantes, capazes de atuar com o que tem de
mais real: o dia-a-dia. E, deste modo, fortalecer e transformar a realidade do nosso
Sistema Educacional, a fim de construir uma cidadania mais inclusiva e participativa.

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE HANSENÍASE NO ESPAÇO ESCOLAR: VIVÊNCIA DE DISCENTES DE


ENFERMAGEM
443
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXIV
ESCOLHA PROFISSIONAL:
CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE
JOVENS DO ENSINO MÉDIO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-34
Gustavo Pivatto dos Santos ¹
Aline Bogoni Costa ²
¹ Mestre em Educação e Novas Tecnologias - UNINTER - Centro Universitário Internacional
² Doutora em Psicologia pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

RESUMO
A escolha profissional está relacionada a diversas características pessoais e contextuais
em constante interação e transformação. Este artigo teve como objetivo identificar as
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

concepções e sentimentos de jovens do Ensino Médio sobre a escolha profissional, em


uma escola privada de um município do Extremo Oeste, no Estado de Santa Catarina.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que contou com 10 (dez) participantes. As
informações foram coletadas por meio de entrevistas semiestruturadas, interpretadas
pelo método de análise do discurso. Verificou-se que a concepção dos jovens acerca do
trabalho é idealizada e atrelada a sentimentos positivos de felicidade, satisfação e
prazer. Já os principais sentimentos relacionados a escolha profissional foram em sua
maioria negativos e resultam em angústia, medo e ansiedade. Os resultados
caracterizaram o processo de escolha como subjetivo e muitas vezes inconsciente,
fundamentado em identificações realizadas pelo Outro.

Palavras-chave: Escolha profissional. Concepções. Sentimentos. Jovens do Ensino


Médio. Psicologia.

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 444


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A escolha de uma profissão é um processo geralmente acompanhado de
expectativas psicológicas e sociais, que envolve a família, os amigos e a escola (DIAS;
SOARES, 2012; SOARES 2002). Tais expectativas constroem-se vinculadas aos sentidos e
significados do trabalho, que possibilita ao ser humano a capacidade de criar e de se
descrever por meio de sua ação, ocupando, assim, um lugar central na vida e na
sociedade (ANTUNES, 2005a, 2005b).
O processo de constituição da identidade vai ocorrendo na medida em que o
jovem ocupa papéis ocupacionais, na participação em grupos, na criação de vínculos
com os referenciais externos e na socialização em contextos de trabalho (CRUZ; AGUIAR,
2011; LEMOS et al., 2007; OLIVEIRA, 2017). A partir de um viés psicanalítico, percebe-se
que a identificação acontece quando o sujeito se constitui e se transforma através da
assimilação inconsciente de traços, atributos e qualidades das pessoas significativas em
seu convívio diário (SOARES; AGUAIR; GUIMARÃES, 2010).
A sociedade pós-industrial, também denominada de sociedade da informação,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

experimenta diversas mudanças (LEMOS et al., 2007). As informações advindas das


possibilidades tecnológicas, em que as pessoas estão imersas e, ao mesmo tempo,
submetidas, permeiam alterações inclusive no mercado de trabalho. Os trabalhadores
são desafiados a se adaptarem e participarem dessas mudanças, o que pode provocar
desorientações de carreira, colocando-se em xeque, crenças, valores e pressupostos do
trabalhador em relação aos seus projetos de vida. Mesmo diante dessas características,
os jovens que se preparam para ingressar em uma profissão, na maior parte das vezes,
não são orientados para compreender e tomar decisões de escolha de carreira (LEMOS
et al., 2007; NEPOMUCENO; WITTER, 2010).
Questões multifatoriais, advindas da família, escola, professores, colegas,
tecnologia, meios de comunicação, etc. influenciam na decisão dos jovens por uma
carreira e lhes trazem diversas inquietações (NEPOMUCENO; WITTER, 2010). Nesse
sentido, numa interface entre escolha profissional, carreira e psicanálise o objetivo do
presente artigo é compreender quais as concepções e os sentimentos de jovens do
Ensino Médio sobre a escolha profissional.

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 445


aaaaaaaaaaaaa
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Trabalho e Identidade
O trabalho estrutura a vida psíquica e social, é se constitui em um fator central
para o entendimento da constituição humana e da identidade (RABELO; CASTRO; SILVA,
2016). Não pode ser apenas uma imposição ou uma obrigação feita às pessoas, e sim
uma oportunidade à construção do ser social. Ou seja, funcionar como um operador de
identidade, como um meio de construção e de desenvolvimento do indivíduo (JOBERT,
2014). Ao mesmo tempo em que ele é uma produção para o mundo externo, é também
uma produção interna, ou seja, permite a produção da própria identidade. A relação
entre trabalho e identidade integra-se à dinâmica da vida, constituindo-se como uma
das principais fontes de sentidos aos sujeitos, em uma relação dialética de
transformação contínua (IVATIUK; YOSHIDA, 2010; JOBERT, 2014; SOUZA et al., 2009).
Considerando-se a centralidade do trabalho para a constituição da identidade, o
processo de escolha profissional é um marco no desenvolvimento humano. Em nossa
sociedade, cada vez mais cedo, os jovens são instigados com relação a sua escolha
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

profissional (COLOMBO; PRATI, 2014; TEODOSIO; PADILHA, 2016), colocados diante de


dilemas, a exemplo da busca por sucesso profissional seguindo a modelos sociais
(profissões de sucesso) e realização pessoal (DIAS; SOARES, 2012).
Em uma interlocução com a Psicanálise, pode se considerar que a identidade é
formada por influência do estágio do espelho, no qual a criança, ao se ver no espelho,
se identifica com uma imagem antecipatória de si mesmo. Esse acontecimento é
essencial para a formação do Ego e é o momento inaugural da estruturação edípica. Ao
sair da fase identificatória do estágio do espelho, a criança está alienada no imaginário
da mãe, ela mantém com a sua mãe uma relação de identificação, seu objeto falo, o
objeto de desejo da mãe. Existe, nesse processo, a relativização: ser ou não ser o falo da
mãe? A figura do pai exerce, nesse momento, a privação. Surge, então, a lei do pai e a
percepção do desejo da mãe como submetido a lei do Outro. Assim, todo desejo
depende do desejo do Outro. E, no terceiro e último tempo, acontece a diferenciação,
ou seja, a separação através da castração efetivada pelo pai (BLEICHMAR; BLEICHMAR,
1992). Assim, a escolha profissional indica para as identificações existentes entre o
jovem e os pais. O cenário edípico vivenciado na infância apresenta-se novamente

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 446


aaaaaaaaaaaaa durante a adolescência, o que provoca a reorganização do processo identificatório. Na
busca da construção de sua identidade, de conquista de seu espaço na rede de
significações, o adolescente passa por uma situação de luto com relação a infância, do
distanciamento dos pais e da ambiguidade afetiva, manifesta-se aqui uma relação de
amor e ódio com relação aos pais, o que traz uma implicação depressiva à experiência
de escolher (ANDRADE et al., 2016).

A escolha profissional dos jovens


Na perspectiva psicanalítica, a escolha profissional não pode ser compreendida
apenas embasada em processos racionais e conscientes. Prevalece algo de
incompreensível à consciência em todo o processo de escolha (TORRES, 1998).
Estudos apontam que quando o jovem não se sente seguro, vivencia influências
sociais, como da família, de colegas, de professores, de amigos, para optar por uma
profissão. Muitas vezes, essas influências são pressões sociais que acabam por
impossibilitar que os jovens realizem uma exploração vocacional sistematizada, baseada
no autoconhecimento, no entendimento das profissões e na sua empregabilidade.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Nesse cenário, são comuns as opções profissionais sem maiores reflexões identitárias e
sem levar em conta habilidades e interesses do jovem (COLOMBO; PRATTI, 2014;
SOARES, 2002). O processo da escolha profissional, portanto, encontra-se sobreposto a
uma complexa rede de fatores que comporta tanto uma dimensão individual quanto
social, envolvendo influências do meio familiar, dos grupos de pares, da formação
educacional, do mundo do trabalho e, mais amplamente do contexto social, político,
econômico e cultural. Todos esses fatores atuam continuamente, influenciando e sendo
influenciados pela trajetória vocacional (ALMEIDA; MELO-SILVA, 2011, p.75). Além
disso, o jovem busca a individualidade, deixando para trás o papel de criança e nesse
processo podem surgir conflitos no contexto familiar, principalmente quando os pais
compreendem as decisões do jovem como algo conflituoso aos seus interesses
(ALMEIDA; MELO-SILVA, 2011; NEIVA, 2013).
Nesse sentido a influência da família pode caracterizar-se positiva e
negativamente (NEIVA, 2013). Conforme Andrade (1997 apud ALMEIDA; MELO-SILVA,
2011 p. 77): “[...]a família, pela transmissão de conceitos, mitos e valores, pode
influenciar tanto contribuindo para a decisão profissional dos filhos como, por outro

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 447


aaaaaaaaaaaaa lado, sendo impeditiva de um processo de escolha autônomo”. Os pais podem se
mostrar inseguros diante da escolha e a ansiedade que é despertada pode acabar
influenciando na decisão dos jovens, sugerindo determinadas profissões ou
determinando-as (ALMEIDA; MELO-SILVA, 2011; NORONHA; OTATTI, 2010).
Outro aspecto importante é que a a escolha dos jovens também reaviva a escolha
dos pais, ocasionando conflitos antigos que, muitas vezes, não foram resolvidos. Isso
ocorre porque os pais podem vislumbrar esse momento como uma forma de possibilitar
a reparação de suas próprias escolhas. Essa interferência dos pais na escolha é
prejudicial ao processo de escolha do jovem, uma vez que é feita baseada em preceitos
que não são seus genuinamente (ALMEIDA; MELO-SILVA, 2011; COLOMBO; PRATTI,
2014; NEIVA, 2013; NEPOMUCENO; WITTER, 2010).
A influência do grupo de pares, a exemplo dos amigos e relacionamentos
afetivos, também é relevante no processo de escolha. Além das identificações que se
constituem, a interação com esse grupo permite aos jovens compartilharem seus
anseios e expectativas com relação ao futuro, possibilitando trocas de informações
sobre os fatos pessoais, sobre as profissões e o mercado de trabalho (NEIVA, 2013). Ao
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

mesmo tempo, a influência desse grupo também pode ser negativa na medida em que
o adolescente pode deixar de lado sua individualidade na tentativa de agradar aos seus
pares, tomando escolhas que vão contra seus interesses como forma de se sentir
reconhecido e pertencente ao grupo (CRUZ; AGUIAR, 2011; NEIVA, 2013).
Fatores macrossociais também precisam ser considerados como mercado de
trabalho, importância social, remuneração, tipo de trabalho (braçal/intelectual) e as
habilidades necessárias para o seu desempenho (NEPOMUCENO; WITTER, 2010;
COLOMBO; PRATI, 2014; NEIVA, 2013). No contexto brasileiro, as frequentes mudanças
no mercado de trabalho, motivadas por questões sociais, históricas e econômicas
impactam a escolha profissional. Os projetos profissionais dos jovens podem ser
influenciados pela busca de segurança, ao invés da identificação e habilidades, o que
impacta na necessidade de grande capacidade de adaptação e de flexibilidade dos
jovens no momento de escolha (CRUZ; AGUIAR, 2011; LEMOS et al., 2007;
NEPOMUCENO; WITTER, 2010; TEODOSIO; PADILHA, 2016). Considerando-se a
complexidade desse momento o presente artigo buscou compreender as concepções e

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 448


aaaaaaaaaaaaa os sentimentos de jovens do ensino médio relacionados ao seu processo de escolha
profissional.

3. MÉTODO
A abordagem adotada para o alcance dos objetivos de pesquisa foi qualitativa,
de cunho exploratório e explicativo. Essa abordagem privilegia o aperfeiçoamento sobre
o entendimento de um grupo social específico, preocupando-se com elementos da
realidade e focalizando no entendimento e explicação da dinâmica das relações sociais
(GERHARDT; SILVEIRA, 2009; PRODANOV; FREITAS, 2013). A pesquisa exploratória tem
como meta fornecer informações sobre o objeto, orientando a formulação de hipóteses.
Já a explicativa, visa identificar aspectos que contribuem para a ocorrência de uma
determinada situação (GERHARDT; SILVEIRA, 2009).
O acesso ao local da pesquisa, uma escola privada de um munícipio do Extremo
Oeste Catarinense, foi viabilizado por meio de autorização de seu coordenador, a quem
foi apresentado o projeto. Foram convidados a participar da pesquisa 10 (dez) alunos do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

terceiro ano do Ensino Médio, dos quais 6 (seis) compareceram nas entrevistas.
Posteriormente foi estendido o convite da participação aos alunos do segundo ano do
Ensino médio, dentre os quais 4 (quarto) se voluntariaram, totalizando 10 (dez)
participantes. Para a apresentação dos resultados os alunos foram identificados com
nomes fictícios, escolhidos pelos autores.
Em relação aos preceitos éticos, este trabalho pautou-se na Resolução
nº466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), tendo sido aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa com Seres Humanos sob o parecer de número 2.149.142 e CAAE
número 69784917.3.0000.5367. Nesse sentido, os pais e/ou responsáveis legais pelos
pesquisados autorizaram previamente a participação dos mesmos, mediante
concordância com as informações da pesquisa e consentimento por meio de assinatura
do Termo de Anuência à participação dos jovens e Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) da pesquisa. Os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos e
procedimentos do estudo, manifestando, previamente aos procedimentos de coleta de
informações, sua concordância e consentimento em assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 449


aaaaaaaaaaaaa As informações foram coletadas por meio da realização de entrevistas
semiestruturadas. Segundo Prodanov e Freitas (2013, p. 106), neste tipo de
instrumento: “não existe rigidez de roteiro; o investigador pode explorar mais
amplamente algumas questões, tem mais liberdade para desenvolver a entrevista em
qualquer direção”.
Realizou-se uma entrevista com cada participante, com duração aproximada de
uma hora, as quais foram gravadas em áudio mediante assinatura do Termo de
Autorização de uso de Imagem e, posteriormente, foram transcritas para a análise dos
dados. Pelo fato de se tratar de uma pesquisa qualitativa, o critério de saturação foi
escolhido no decorrer do processo de coleta de informações. O local de realização das
entrevistas da pesquisa foi uma sala reservada disponibilizada pela escola.
As informações coletadas nas entrevistas foram interpretadas por meio da
análise de discurso (AD). A AD é uma forma de interpretação baseada por diversas
epistemologias, que pertencem a área da linguística, do materialismo histórico e da
psicanálise (CAREGNATO; MUTTI, 2006). Há uma diversidade de linhas de AD, mas elas
partem de algo em comum que seria, segundo Caregnato e Mutti (2006, p. 680): “uma
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

rejeição da noção realista de que a linguagem é simplesmente um meio neutro de


refletir, ou descrever o mundo, e uma convicção da importância central do discurso na
construção da vida social”. Na AD, foca-se no sentido do discurso, através do
interdiscurso e do intradiscurso. O interdiscurso significa os saberes constituídos na
memória do dizer; sentidos do que é dizível e circula na sociedade; saberes que existem
antes do sujeito; saberes pré-construídos constituídos pela construção coletiva. O
intradiscurso é a materialidade (fala), ou seja, a formulação do texto; o fio do discurso;
a linearização do discurso. Dessa forma, a interpretação do discurso deve ser sempre
relativa com o interdiscurso e intradiscurso, chegando as representações o sujeito
através das marcas linguísticas. Não foi trabalhada a forma e o conteúdo, mas sim os
efeitos de sentido que puderam ser compreendidos com a interpretação (CAREGNATO;
MUTTI, 2006). A seguir inicia-se a apresentação dos resultados da pesquisa.

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 450


aaaaaaaaaaaaa
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS ACHADOS DA PESQUISA
Concepções dos jovens sobre a escolha profissional
Considera-se concepção de trabalho a compreensão sobre trabalho elaborada
por cada indivíduo a partir do meio social, de sua cultura e da sua experiência. Chiocca,
Favretto e Favretto, (2016, p. 26) afirmam: “o significado social do trabalho é um aspecto
importante da sociedade, uma vez que o mesmo colabora com o sentido atribuído
culturalmente ao trabalho”.
Na escolha por uma profissão os jovens tomam para si responsabilidades,
assumem papéis e compromissos perante a todos, colocando-se ativos no mundo. Neste
processo, pode construir a crise de identidade, permeado pelas incertezas e dúvidas em
relação ao que se deseja realizar, ao projeto profissional na vida (COLOMBO; PRATTI,
2014). Tal decisão, no entanto, assume uma posição central na vida das pessoas e na
dinâmica do funcionamento social (CHIOCCA; FAVRETTO; FAVRETTO, 2016). Estas
representações do trabalho estão presentes nos discursos dos jovens pesquisados.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Trabalho, eu acho, que é algo essencial para o ser humano. [...] Ver o trabalho
como algo a mais a ser feito, algo que vai preencher a vida da pessoa e não,
simplesmente, fazer uma coisa automática. Eu não acredito que o trabalho
tem que ser automático ou que a pessoa vai fazer por dinheiro, por
exemplo[...]. (Nisa)

[...]eu acho que é importante uma pessoa sempre ela gostar do que faz. Então
para mim o trabalho não só é tua fonte de renda, também tem que ser uma
coisa que vai te dignificar como indivíduo. Se tu fizer uma coisa que tu gosta
para a tua vida, se tu trabalhar com uma coisa que tu se identifique tu vai ser
uma pessoa mais satisfeita[...]. (Nero)

A análise desses discursos permite compreender o desejo dos jovens que, em


sua escolha, o trabalho possa constituir-se como satisfação, um fazer que possibilite
prazer, e, não apenas, uma atividade monótona e destituída de significado. Lussi e
Pereira (2014, p. 208) apontam o trabalho como: “uma importante ferramenta para a
emancipação social das pessoas e um recurso que promove o autoconhecimento e a
autorrealização”. Evidencia-se ainda que a busca por satisfação profissional ocorre
relacionada aos valores pessoais. Trabalhar com algo que gostem, as aspirações e
desejos tais como a realização profissional e os interesses, ou seja, fatores intrínsecos
são os mais importantes para eles, seriam os fatores determinantes na decisão
profissional (NORONHA; OTATTI, 2010; SOUZA et al., 2009; LOPES; PAULA, 2011).

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 451


aaaaaaaaaaaaa Cabe considerar também que a cultura se apresenta com uma infinidade de
objetos na dimensão do ter, que buscam amenizar o nosso irremediável falta-a-ser. A
ética tradicional por sua vez, trata do serviço dos bens, ou seja, a ética do ter, como
tendo a função de medir a estatura moral do sujeito segundo suas posses ou segundo o
desabono do desejo, a modéstia, a temperança, ou seja, a moral do poder e do status
quo (LACAN; MILLER, 1991).
Fazer aquilo que se gosta e que dá prazer está instituído como uma forma
coletiva compartilhada de prazer, segundo Mansano e Carvalho (2016, p.33): “... a
norma social da obrigatoriedade do trabalho foi torcida e passou a falar a linguagem dos
jovens, ao mesmo tempo em que se apoia no discurso dos pais e das instituições
sociais”.
Partindo das concepções expressadas pelos interlocutores dessa pesquisa,
entende-se que a necessidade de satisfação e de realização são valores positivados e
passados para esses jovens, permeados pela cultura e pelo modo de vida em voga. Ser
bom significa ser bem-sucedido, conforme representa a fala a seguir: “Eu acredito que
é essencialmente algo [...]que te gere uma renda, que você possa sobreviver, mas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

também que te satisfaça como pessoa, você não faça aquilo só porque você precisa, que
você faça aquilo porque você gosta também[...].” (Gaia)
Nesse contexto, o ser feliz, muitas vezes, não é uma concepção real e própria de
felicidade, mas advém da percepção do Outro, ou seja, os pares que afirmam ou
desabonam a felicidade no trabalho. Ou seja, torna-se “alguém” a partir daquilo que se
tem e o que se tem pode ser avaliado ou quantificado pelo Outro e, assim, pode ser
validado socialmente. A fala de Hermes é representativa deste aspecto:

É uma profissão que eu possa exercer no futuro que me traga realização


profissional, pessoal e eu acredito que o lado financeiro não importe tanto,
porque eu penso que quando tu vai escolher uma profissão, se tu objetivar o
dinheiro você não vai ser feliz no que faz. (Hermes)

Levando-se em conta o tempo que a pessoa se dedica ao trabalho ao longo da


vida bem como que, por meio dele, irá constituir aspectos centrais as suas relações
sociais e estabelecer seu estilo de vida, a escolha profissional está fortemente ligada a
busca por felicidade (LARA et al., 2005). Neste aspecto, percebem-se contradições entre
um fazer realizador e o retorno financeiro. Ao mesmo tempo que os participantes citam
a necessidade de se sentirem felizes e realizados, também está presente em seu

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 452


aaaaaaaaaaaaa discurso, a necessidade de retorno financeiro para o trabalho realizado. A busca por
realizações, prazer e satisfação prevalecem em detrimento ao retorno financeiro nos
seus discursos sobre a escolha por um trabalho, conforme representa o seguinte trecho
de fala:

É quando tu faz algo que tu gosta, que tu se identifica, que tu faz por amor,
porque a partir do momento que tu faz um trabalho que você não gosta, pra
mim não é..., é tipo uma obrigação. Tu tá fazendo ali porque tu quer um
salário, mas não é aquele adequado, mas, a partir do momento que tu faz
algo que tu goste, isso passa totalmente a ser diferente. (Anila)
A felicidade e a satisfação como analisado no discurso é algo muito importante
para esses jovens, mas a felicidade plena está ligada ao princípio do prazer e é
irrealizável, porque o princípio do prazer se dirige num sentido para a eliminação total
da tensão, e assim, a ausência total de tensão seria a morte, logo, a felicidade total
pensada pelo princípio do prazer é impossível (FREUD, 1930). Certa fantasia pode ser
evidenciada no discurso de Aura: “Trabalho é uma coisa que eu possa gostar, não pelo
dinheiro eu acredito, que eu tenho que me importar em fazer o que eu gosto e receber
algo que eu acho que eu deva merecer[...]”.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Deve-se levar em conta que, o princípio da realidade impõe que nem todos os
impulsos podem ser satisfeitos imediatamente, e, ainda, que parte deles não podem
sequer ser satisfeitos. A felicidade só pode constituir-se como algo a ser buscado, e não
está ligada a uma promessa de realização plena. A forma de felicidade possível seria a
tentativa de eliminação da tensão pela via da satisfação, ou por uma satisfação
substitutiva (FREUD, 1930).
Identificar-se com um ou outro tipo de trabalho é algo central ao processo de
escolha, pois confere o desejo por uma identidade profissional ao jovem, a qual
representará seus interesses e, preferências, e, ao mesmo tempo, possibilitará que seja
identificado no mundo por meio da escolha realizada (COLOMBO; PRATTI, 2014). Freud
propôs a identificação como um processo que ocorre na esfera inconsciente, não
podendo ser percebido diretamente. Nesse entendimento, a relação de identificação
acontece entre o eu e o objeto, onde o primeiro se assemelha a característica do
segundo (ROUDINESCO,1998). A identificação negativa com profissionais que não se
realizaram na profissão permeia o entendimento do que não pode basear a escolha por

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 453


aaaaaaaaaaaaa um trabalho e/ou o que não pode ser o futuro no trabalho, como representadas nas
seguintes falas:

[...]minha mãe trabalhou a vida inteira no banco e não gostava disso, por
causa dela, na verdade, que eu tive essa visão, de escolher definitivamente
fazer o que eu gostasse [...]. Minha mãe chegou a ficar muito doente porque
ela fazia o que não gostava e era muito estresse, então por causa dela eu
decidi que eu realmente iria fazer o que eu gostava. (Gaia)

[...]eu vejo muita gente que, por exemplo, se formou em Ciências Contábeis
e está trabalhando em uma coisa totalmente diferente disso, só um
exemplo... Eu acho que isso não pode acontecer porque tu vai passar tua vida
inteira trabalhando praticamente... então, é essencial tu fazer uma coisa que
tu goste também. (Nero)

A escolha profissional pode ser considerada uma questão emergente na


conjuntura atual. Foucault (1979, p.23) considera que a emergência significa o
aparecimento do assunto no contexto das conversas informais, sendo de valor para os
estudiosos. Dessa forma, pais, filhos e sociedade podem ser considerados e analisados
como um coletivo díspar de forças (MANSANO; CARVALHO, 2016). Ocorre uma luta,
onde existem duas perspectivas diferentes, e seus participantes, pais e filhos, acabam
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

se colocando como adversários, não porque querem mas, porque a questão do trabalho
suscita concepções de mundo diferentes, nas quais existem valores e expectativas
diversas (MANSANO; CARVALHO, 2016).
O jovem sente e sofre a angústia que os pais experimentam no trabalho e, diante
disso, utilizam esses parâmetros na construção do seu próprio ser, tomando essas
experiências e recordações como fontes daquilo que desejam para si e aquilo que não
desejam (TEIXEIRA; HASHIMOTO, 2005). Os pais, por sua vez, têm a preocupação com o
trabalho tradicional, com a segurança, deixando em segundo plano a questão da
realização e satisfação profissional que é indefinida e idealizada, o que têm importância
seria uma colocação profissional rentável e estável enquanto os jovens buscam uma
colocação que seja atrativa como uma fonte de interesse, lazer, renda e prazer
(MANSANO; CARVALHO, 2016). Nesse sentido, a fala de Nice é representativa:

[...]eu já tive vários amigos que fazem Direito, porque os pais mandaram
fazer, entende? Tu vai ficar trancado por exemplo né, não sei se é em todo
caso, numa sala vendo processo ou o que seja a vida inteira uma coisa que tu
não gosta[...]. (Nice)

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 454


aaaaaaaaaaaaa A busca do prazer na profissão advém da tecnologia da comunicação, em
específico, da internet, que apresenta muitos componentes subjetivos, articulados à
noção de prazer e gozo. Esse imperativo do prazer propõe a ilusão de uma existência
sem dor, sem sofrimento e sem dificuldades, dessa forma, como diz Mansano e Carvalho
(2016, p.31): “Com isso, diversas imagens de prazer e satisfação se sucedem na
produção subjetiva capitalística: para os jovens, trata-se de “curtir a vida”, como eles
dizem, de “ter prazer em tudo o que se faz”. Nesse caso, uma das exigências em relação
a escolha de uma carreira é que ela gere prazer e satisfação, como relatam as falas a
seguir:

Eu acho que quando a pessoa é obrigada a fazer alguma coisa, porque


particularmente pra mim quando eu sou obrigada a fazer o que não quero,
não é um trabalho que eu queira e sim uma obrigação. (Anila)

Aquilo que a pessoa força a você fazer, algo forçado, porque a pessoa vai ser
infeliz, a pessoa não vai gostar de estar naquele ambiente. (Inca)

Entende-se, que os jovens pesquisados, apresentam em seus discursos, a


primazia por satisfação no seu fazer profissional e que isso pode ser ilusório,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

considerando o contexto de trabalho atual. Aquilo que esses jovens buscam é um


trabalho no qual possam realizar aquilo que gostam e ter satisfação, de modo que o
retorno financeiro aparece como a consequência menos importante.

Sentimentos com relação à escolha e ao futuro profissional


A escolha profissional é um processo marcado por sentimentos e “é nesse
contexto de conflitos, ressignificações e readaptações, próprios do processo de
adolescer, que a escolha da profissão representa a primeira grande decisão do
adolescente” (ALMEIDA E MELO-SILVA, 2011, p.75). O fato de ser considerada a primeira
grande decisão emerge nos adolescentes sentimentos distintos, conforme pode ser
percebido na fala a seguir:

Eu não acho que escolher seja o problema, escolher, desde criança, a gente é
inclinado para alguma coisa. O problema é que a gente é muito novo para
puxar para nós uma responsabilidade tão grande...É um futuro. A partir de
agora são todas escolhas nossas e as consequências são diretas daquilo que
nós escolhermos[...]. (Gaia)

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 455


aaaaaaaaaaaaa Dessa forma a escolha profissional pode se tornar um momento de grande
angústia, permeado pelas dúvidas e pressões para que seja efetiva, tanto para a pessoa,
como reconhecida pelos demais envolvidos socialmente.

[...] eu penso que a escolha profissional é um momento muito importante,


mas ao mesmo tempo um momento muito intenso, tenso pra gente. [...] Traz
um pouco de medo com certeza, pelo fato de não saber ao certo que que tá
reservado, o que que vai acontecer no futuro, a incerteza, mas ao mesmo
tempo é um sentimento de curiosidade. (Hermes)

A fala de Hermes permite evidenciar o quão importante é para a identidade dos


jovens a escolha de uma carreira e, como essa escolha, suscita medo caso não se torne
realizadora. Percebe-se, desse modo, um medo presente tanto pelo processo de
escolher como em quanto a escolha afeta seu futuro. Os sentimentos de prazer pela
possibilidade de fazer algo importante para si e para a sociedade, atrelados a concepção
do trabalho, destoam no discurso de se perceber neste momento, sendo sobrepostos
pelo medo. Desse modo, as contradições desse momento de vida são bastante
evidentes, a fala a seguir apresentada é representativa desse aspecto: “Eu acho que é
uma escolha muito importante, porque basicamente é aquilo que eu vou fazer pro resto
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

da vida, não obrigatoriamente, mas na maioria dos casos define o que tu vai fazer pro
resto da tua vida [...]”. (Neil)
A escolha profissional é, as vezes, idealizada como uma opção irreparável nas
concepções destes jovens. Escolher deve ser algo assertivo para eles, pois, caso
contrário, haverá graves consequências negativas. Dessa forma, o, erro na escolha
significa um erro de vida, que acarreta atraso, frustração e, ainda, talvez a necessidade
de serem feitas novas escolhas de carreira ou profissionais (LARA et al., 2005; SOUZA et
al., 2009; NEPOMUCENO; WITTER, 2010; NORONHA; OTATTI, 2010). Estes jovens
parecem não estar dispostos a experimentar a frustação de escolher errado e, ao
mesmo tempo, a sociedade não lhes permite isso, o que parece ser o ponto central para
serem geradas angustias e medo.
O que acontece quando a possibilidade frustração é negada? O Ego é uma
instância do psiquismo que passa por um longo processo de construção, é um mediador
que tem uma função defensiva, para a proteção do Ego existem os mecanismos de
defesa que agem sobre as angústias, no caso a negação seria um dos mecanismos mais
básicos e ineficazes, seria uma tentativa de não aceitar conscientemente algo que aflige

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 456


aaaaaaaaaaaaa o Ego (FADIMAN; FRAGER, 1986). Nesse mecanismo, os pensamentos perturbadores são
proibidos da memória. Se a pessoa não pensar sobre o que lhe aflige ela não irá sofrer
o estresse associado por ter de lidar com aquilo, contudo, pessoas que utilizam esse
mecanismo podem pagar um alto custo em termos de energia psíquica necessária para
manter o estado de negação (FADIMAN; FRAGER, 1986).
Dessa maneira a questão de sempre buscar a satisfação e a felicidade pode ser
entendida como uma recusa dos pensamentos que geram sofrimento ou tristeza.
Acredita-se que esses jovens acabam deixando de lado esses pensamentos numa
tentativa de evitar a frustração que isso pode causar a sua psique.
O fator que gera tantos sentimentos negativos nesses jovens ao escolher uma
profissão é a questão de não se tratar de uma escolha unilateral, não depender apenas
de seu desejo ou daquilo que gostariam de fazer, e sim de um conflito multifacetado
que envolve como principais fatores as pressões sociais, concepções familiares, de
pares, da escola, a situação financeira, estilo de vida e a situação vivida atualmente pelo
jovem dentre outros (LOPES; PAULA, 2011; ALMEIDA; MELO-SILVA, 2011; NEIVA, 2013).
Trata-se de um momento de ansiedade e tensão e além das influências externas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

que são diversas há a existência de diversos conflitos inconscientes que estão


acontecendo na mente dos jovens (SOARES; AGUIAR; GUIMARAES, 2010). Extratos de
fala como os de Biela e Nisa representam esses sentimentos: “Muito nervosismo, muita
ansiedade, muita incerteza[...]” (Biela) e “Eu acho que é muito importante, é uma
decisão muito importante e é isso que me deixa mais assustada[...]” (Nisa)
Um importante aspecto do desejo humano vem do conceito de Lacan (1987,
p.203), do grande Outro, que é quem, desde o início da vida, dá as palavras para desejar.
Eu sou o que o outro não é e, portanto, meu desejo e minha existência são definidos
pelo desejo e pela falta do outro, que traz inseguranças. É o Outro que indica o que
desejar, ou seja, os pais, os pares e a sociedade. Esse Outro está presente nos discursos
desses jovens e em suas escolhas quando são influenciadas pelos vários fatores já
citados (CHECCHIA, 2004; FIGUEIREDO; MACHADO, 2000). “[...]existem fatores também
que influenciam, mas aí vai de pessoa pra pessoa, alguns fatores seriam família, amigos,
enfim, o meio social [...]” (Gaia). Assim sendo, percebeu-se como o inconsciente, além
da influência externa direta, afeta a escolha profissional, dentre os fatores de influência
estão o mais citado é a influência da família, mais especificamente dos pais.

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 457


aaaaaaaaaaaaa O contexto familiar exerce grande importância no desenvolvimento psicossocial
dos jovens, por todas as expectativas que este âmbito abarca, a decisão irá refletir todas
essas demandas, podendo aflorar o desejo familiar que pode divergir do desejo daquele
que escolhe. Dessa forma, as escolhas profissionais dos pais e suas experiências no
mundo do trabalho, influenciam na elaboração dos conceitos desses jovens sobre as
profissões. As opiniões, crenças e valores decorrentes do âmbito familiar podem se
expressar de maneira explícita ou implícita. Mesmo as influências se apresentando de
maneira explicita não se pode dizer que, necessariamente, o jovem irá realizar uma
escolha assertiva, pois este agir de acordo ao projeto profissional proposto pela família
(ANDRADE et al., 2016).
O sentimento de insegurança em relação a escolha foi o mais citado entre os
jovens, conforme exemplifica a fala de Neil:

Assim, a minha insegurança é mais na questão porque a gente aqui, é uma


questão mais tipo, é muito difícil centrar, então essa acho que é minha, meu
maior assim, minha dúvida agora. Mas, fora isso não. Eu me sinto confiante
que é o que eu quero. Tenho dúvida de mim mesmo, do meu potencial,
quanto a estudar suficiente pra passar, pra entrar numa faculdade, pra
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

conseguir[...].

A mistura de sentimentos, ou até a dificuldade para identificar qual o que


predomina em relação ao momento da escolha foi frequentemente percebido nas falas
dos participantes. O que corrobora com o que é discutido por Souza et al. (2009) que
salientam que a mistura de sentimentos que esses jovens carregam com relação as suas
vidas e a escolha profissional, a ansiedade, a incerteza e a insegurança com relação ao
futuro profissional são comumente citados quando se trata de escolha profissional.
No que se refere aos sentimentos negativos Lara et al. (2005, p.60) afirmam que
existe uma razão para a suscitação de tantos sentimentos negativos

[...] a escolha traz sentimentos que, muitas vezes, não são agradáveis, tais
como: medo, dúvida, angústia, confusão, incerteza, receio e insegurança.
Esses sentimentos surgem pelo fato de os adolescentes atribuírem a si
mesmos a responsabilidade da escolha, e que essa definirá seu futuro, além
do mais, é por meio da profissão que os adolescentes ocuparão seu lugar na
sociedade.
Todavia falas como “[...]eu vou sair de casa, que eu vou, sei lá, vou ser
independente, isso acho que uma coisa que, mas não é pelo fato de ah, ser
independente, mas tipo que eu vou ser a responsável por mim mesma então eu acho
que é basicamente isso[...]” (Neil) denotam otimismo em relação a possibilidade de

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 458


aaaaaaaaaaaaa poder escolher por conta própria. A expectativa com relação a seus futuros e a
possiblidade de terem autonomia e se autodeterminarem também representa
sentimentos positivos envolvidos no processo de escolha profissional (CARVALHO;
MARINHO-ARAUJO, 2010).
Da mesma forma que essa escolha gera sentimentos negativos também existe
por parte de alguns a expectativa de felicidade no futuro como corrobora Costa (2007,
p.81) que declara:

[...] uma escolha profissional que esteja em sintonia com o conhecimento de


si mesmo e da realidade do mercado de trabalho em que se insere o
orientando, uma escolha refletida e discutida que envolve angústia,
dificuldades, concessões e também alegrias, no sentido de a pessoa se
assumir como responsável por si.

Há muitas contradições que permeiam a escolha dos jovens: ao mesmo tempo


em que há angústia, medo, insegurança, há também a felicidade pela “emancipação”,
por consolidar uma identidade atrelada a um trabalho. Por meio da escolha profissional
o jovem irá participar da sociedade, deixará a adolescência para ingressar na vida adulta
(LARA et al., 2005). Essa situação se constitui como uma situação de conflito e por isso
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

envolve tantos sentimentos como os explicitados pelos participantes

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, objetivou-se identificar as concepções e sentimentos de jovens do
Ensino Médio sobre a escolha profissional, em uma escola privada de um município do
Extremo Oeste, no Estado de Santa Catarina. Verificou-se que a concepção acerca do
trabalho é positivamente idealizada e ele traria felicidade, satisfação e prazer. Já os
principais sentimentos com relação a escolha profissional seriam em sua maioria
negativos e provocam angústia, medo e ansiedade.
Foi notável a dificuldade da escolha profissional e dos fatores que afetam essa
escolha como pode ser percebido na análise do discurso dos participantes. A escolha
pode ser vista como um meio da construção da identidade e, por meio dessa escolha, o
jovem se consolida e se expressa para a sociedade. No entanto, devido a cultura e aos
modos de vida vigentes, pode-se perceber a busca da satisfação e do prazer, que são
valores midiáticos da sociedade e, muitas vezes, fantasiosos.

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 459


aaaaaaaaaaaaa O processo de escolha é muito subjetivo e inconsciente, a escolhas são
fundamentadas em identificações que são advindas de todo um processo que envolve
o desejo do Outro. Neste trabalho, bem como em outras elaborações que buscam
relacionar escolha de carreira e psicanálise, verificou-se que de forma direta ou indireta
os jovens escolhem uma profissão que atenda ao desejo do Outro, fator que deve ser
atentado pelas escolas e profissionais que se relacionam aos jovens neste período do
ciclo de vida, visto que a atuação consolidada e a parte de tais aspectos pode favorecer
processos mais conscientes a respeito da escolha profissional e de carreira.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ESCOLHA PROFISSIONAL: CONCEPÇÕES E SENTIMENTOS DE JOVENS DO ENSINO MÉDIO 464


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXV
ESTUDO RETROSPECTIVO DA
PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME
NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-35
Enilda Fontoura dos Santos ¹
Simone Martins de Castro ²
Jéssie Haigert Sudati ³
¹ Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ensino na Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA – campus
Bagé.
2 Coordenadora do Serviço de Referência em Triagem Neonatal do estado do RS e Professora Associada da Faculdade

de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.


³ Professora Adjunta da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA – campus Dom Pedrito.

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A doença falciforme é uma hemoglobinopatia resultante da alteração na estrutura da


molécula da hemoglobina, que é caracterizada pela mutação pontual que ocorre no
gene da globina beta. Quando em heterozigose, denomina-se traço falciforme. O
objetivo deste estudo foi verificar a prevalência do traço falciforme nas crianças nascidas
no município de Dom Pedrito no estado do Rio Grande do Sul, durante o período de
2010 a 2014. Para isso, realizou-se um estudo retrospectivo baseado em uma pesquisa
documental dos resultados de exames rastreados pelo Serviço de Referência em
Triagem Neonatal do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas. Os resultados
encontrados apontaram que a frequência da presença do traço falciforme foi de 1,37%.
O coeficiente de cobertura do Programa de Triagem Neonatal, durante o período,
atingiu a média de 87,7%. Os resultados obtidos evidenciaram a presença significativa
da hemoglobina S (87,5%) em comparação com as outras hemoglobinas anormais. A
prevalência do traço falciforme no município confirma a incidência esperada, que é
muito semelhante aos padrões nacionais divulgados. Ainda, poderá servir como
parâmetro para que o tema anemia falciforme possa ser incluído nas ações educativas
em saúde. Assim como ações epidemiológicas poderão ser elaboradas a nível municipal.

Palavras-chave: Anemia falciforme. Hematologia. Triagem neonatal.

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 465


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A doença falciforme (DF) é a patologia herdada mais frequente nos seres
humanos (LOBO; MARRA; SILVA, 2007). Essa doença pode acarretar na alteração da
estrutura da hemoglobina (Hb) que é caracterizada pela mutação pontual no gene da
globina beta (β), originando alteração no arranjo hemoglobínico. A mutação resulta na
denominada hemoglobina S (HbS) que é formada no lugar da HbA. O resultado desta
alteração estrutural acarreta na substituição do aminoácido ácido glutâmico pelo
aminoácido valina localizado no códon 6 da cadeia beta (β) (ZAGO, 2002).
Quando a doença se apresenta em indivíduos homozigotos (SS) é denominada
anemia falciforme (AF) e significa que a criança herdou, de ambos os pais, o gene da
hemoglobina S. Porém, o gene HbS pode associar-se com várias outras hemoglobinas,
também anormais de cunho hereditário, entre elas destacam-se a hemoglobina C (HbC),
hemoglobina D (HbD) e beta-talassemia, desencadeando combinações classificadas
como, hemoglobinopatias SC, SD e S/beta-talassemia. As formas sintomáticas da doença
falciforme (DF) incluem o gene HbS em homozigose (SS) ou associado a outra Hb
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

também anormal (ZAGO, 2002).


A AF caracteriza-se por apresentar a forma mais grave da DF e também, por ser
a mais predominante entre as DF (NAOUM, 2000). A gravidade do quadro clínico da DF
está relacionada com a concentração de HbS presente, podendo ser maior em pessoas
que apresentem maior quantidade de HbS, ou seja, indivíduos afetados com a forma
homozigótica (HbSS) e poderá ser mais leve nas formas em que o gene HbS apresenta-
se combinado com outras hemoglobinas também anormais (GUALANDRO, 2002).
Conforme Alberto e Costa (2002, p. 30) “a heterozigose para hemoglobina S
define uma situação relativamente comum, mas clinicamente benigna em que o
indivíduo apresenta na eletroforese de hemoglobina, as hemoglobinas A e S”. O Manual
de Diagnóstico e Tratamento de Doenças Falciformes, publicado pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA), aponta que alguns estudos demográficos realizados em
portadores da heterozigose AS, não obtiveram nenhum resultado que associe
mortalidade a esta característica genética. Porém, a literatura cita vários relatos de
riscos ligados ao fenótipo AS, relacionando-o a doenças e a condições incomuns, porém

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 466


aaaaaaaaaaaaa deve-se ter muito cuidado neste tipo de ligação, pois na maioria das vezes não fica
evidente uma relação a este fenótipo (ALBERTO; COSTA, 2002).
O Ministério da Saúde (MS) no ano de 2001, através do Programa Nacional de
Triagem Neonatal (PNTN) incluiu as hemoglobinopatias, por meio da Portaria n° 822/01
(BRASIL, 2001). Esta portaria trouxe inúmeros benefícios, entre eles o de permitir igual
alcance da triagem neonatal a todos os recém-nascidos (RN) no Brasil e também fez com
que a pesquisa para erros inatos do metabolismo ficasse apropriada as particularidades
étnicas da população brasileira (RAMALHO; MAGNA; PAIVA-E SILVA,2003).
A triagem neonatal (TN), além de detectar outros tipos de hemoglobinopatias
com manifestações clínicas expressivas, tais como beta talassemia, e a maioria das alfas
talassemia, também identifica os portadores do traço falciforme, que na maioria das
vezes não apresentam sintomas, mas que sua detecção é de grande relevância na
genética para questões de aconselhamento genético (BRASIL, 2002).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5% da população
mundial são portadoras de genes que carregam hemoglobinas anormais (World Health
Organization, 2006).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Segundo a publicação do PNTN, a DF abrange de forma heterogênea todos os


estados brasileiros, retratando assim a dimensão da questão no Brasil (BRASIL, 2013).
Conforme Zago (2002) “a DF originou-se na África e foi trazida às Américas pela
imigração forçada dos escravos”. O autor também diz que a doença pode ocorrer entre
brancos, mas que ela atinge mais a população de negros e pardos (ZAGO, 2002). De
acordo com Ramalho, Magna, e Paiva-e-Silva (2003) “o alto grau de miscigenação que
ocorre em nosso país invalida totalmente a conotação racial das hemoglobinopatias”.
Ainda para estes autores a associação da doença com a conotação raça somente é
relevante para explicar a origem da DF.
Considerando o alto grau do processo de miscigenação em todas as regiões do
Brasil, este trabalho justifica-se pela necessidade de identificar o real perfil
epidemiológico no município de Dom Pedrito/RS para a presença do TF, pois este não
possui dados divulgados sobre o tema em estudo. A determinação da prevalência do TF
no município de Dom Pedrito/RS será conhecida no desenvolvimento desta pesquisa e
servirá como parâmetro para que o tema AF possa ser incluído nas ações educativas em
saúde, principalmente em relação ao planejamento familiar. Assim como ações

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 467


aaaaaaaaaaaaa epidemiológicas, voltadas para a melhoria da saúde pública, poderão ser elaboradas a
nível municipal.
Diante do exposto, o objetivo geral deste artigo é descrever o cenário
epidemiológico do TF no município de Dom Pedrito, para que seja retirada da
invisibilidade a DF nesta população. Desta forma, tem-se como objetivos específicos (i)
obter dados da prevalência do TF entre os recém-nascidos triados pelo PNTN para traçar
o perfil epidemiológico; (ii) quantificar o total de nascidos vivos durante o período em
estudo para avaliar a cobertura do PNTN e (iii) analisar a importância da inserção da
eletroforese da hemoglobina como sendo uns dos exames solicitados no pré-natal.

2. METODOLOGIA
Este trabalho contém uma pesquisa de abordagem quantitativa do tipo
descritiva documental. Deste modo, a prevalência do TF em crianças nascidas no
município de Dom Pedrito/RS foi quantificada por meio de um estudo retrospectivo de
revisão de banco de dados do Sistema VEGA Triagem do Serviço de Referência em
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Triagem Neonatal (SRTN) do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV) no


município de Porto Alegre/RS, no período de 1º de janeiro de 2010 a 31 de dezembro
de 2014. Já, para a cobertura do PNTN no município foi revelada a partir de dados
fornecidos pela SMSMA de Dom Pedrito/RS e pelo Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde (DATASUS).
De acordo com informações de nascimentos do DATASUS nasceram no
município de Dom Pedrito/RS neste período 2.329 RN. Destes, 2.044 se submeteram ao
exame de TN através do PNTN, fazendo parte da rede pública de saúde, alvo do presente
estudo. A partir deste número de RN, formaram-se dois grupos de estudo: RN com a
presença de hemoglobinas variantes (Hb FAS/FAC/FAD) e outro grupo sem a presença
de hemoglobinas variantes (com o perfil padrão normal HbFA). Os testes neonatais
realizados na rede privada de saúde do município de Dom Pedrito não foram
considerados nesta pesquisa, pois não constam como fonte de dados pesquisados.
O presente estudo respeitou a resolução N° 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde do Ministério da Saúde, que aborda a pesquisa envolvendo seres humanos. O
projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Federal do Pampa
(UNIPAMPA) e também ao Comitê de Ética em Pesquisa do HMIPV para avaliação

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 468


aaaaaaaaaaaaa através da Plataforma Brasil, foi aprovado com Parecer de n° 1.562.093. Para a coleta
de dados, foram utilizados dois locais, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) no
município de Dom Pedrito/RS e o Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV)
no município de Porto Alegre/RS.
A análise estatística dos dados da pesquisa foi realizada por ANOVA de uma via,
seguido pelo teste de Duncan. A diferença entre os grupos foi considerada significativa
quando p<0,05. As médias dos grupos foram calculadas e o desvio padrão demonstrado.
Os gráficos foram criados usando o programa GraphPad Prisma 5.0. Esta pesquisa não
recebeu financiamento para a sua realização.

3. RESULTADOS
No período de 1° de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2014, segundo dados
pesquisados no DATASUS, nasceram 2.329 crianças no município de Dom Pedrito/RS
(BRASIL, 2016) e foram triados, conforme dados do SRTN, 2.044 RN, pelo PNTN na rede
pública de saúde. A partir deste grupo de RN triados pelo PNTN, foi possível investigar o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

padrão hemoglobínico, a prevalência de hemoglobinas anormais, a prevalência do TF e


o coeficiente de cobertura do PNTN no município de Dom Pedrito/RS.

Padrão hemoglobínico dos recém-nascidos, no município de


Dom Pedrito/RS
Os perfis foram classificados, segundo os padrões HbFA, HbFAS, HbFAC e HbFAV,
considerando padrão normal HbFA. Conforme apresentado na Tabela 1, a porcentagem
de RN com a condição padrão normal hemoglobínico (HbFA) apresentou a maior
frequência no período em estudo, 98,43% (2.012) dos RN triados, a condição de
heterozigose para HbS (HbFAS) foi de 1,37% (28), heterozigose para HbC (HbFAC) foi de
0,15% (03) e a presença de heterozigose para HbFAV foi de 0,05% (01) (HbV trata-se de
uma Hb variante que ainda não foi identificada).

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 469


aaaaaaaaaaaaa Tabela 1- Padrão hemoglobínico dos recém-nascidos triados na rede pública no
município de Dom Pedrito/RS, 2010-2014.
Perfil Número de RN Prevalência (%)

HbFA 2.012 98,43

HbFAS 28 1,37

HbFAC 03 0,15

HbFAV 1 0,05

Total 2.044 100


Fonte: VEGA triagem SRTN do HMIPV. Hb= hemoglobina; RN= recém-nascido.

A presente pesquisa evidenciou que dos 2.044 RN triados pelo PNTN, 2.012 RN
(98,43%) apresentaram padrão hemoglobínico normal e 32 RN (1,57%) o padrão
alterado para heterozigose. Não foi evidenciado nenhum caso de DF.

Prevalência de hemoglobinas anormais no município de Dom


Pedrito/RS
Com os dados obtidos do número de Hb anormais de RN triados no município de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Dom Pedrito, foi possível obter dois tipos de resultado: um relacionado à prevalência de
padrões Hb anormais por ano (2010 a 2014) (Figura 1), e outro referente à prevalência
no período total do estudo (Figura 2).
A partir dos 32 RN que apresentaram algum tipo de Hb anormal entre os 2.044
RN triados, investigou-se a presença das HbS, HbC e HbV (Hb variante, ou seja, sem
identificação).
Conforme apresentado na Figura 1, em 2010 houve 6 RN com a presença da HbS
(HbFAS) e 2 RN com a presença de HbC (HbFAC); em 2011 houve 5 RN com a presença
da HbS (HbFAS) e 1 RN com a presença da Hb variante (HbFAV).
No ano de 2012, houve 4 RN com a presença HbS (HbFAS); no ano de 2013 houve
8 RN com a presença HbS (HbFAS) e no ano de 2014 houve 5 RN com a presença da HbS
(HbFAS) e 1 RN com HbC (HbFAC). Não houve casos de HbC nos anos de 2011, 2012 e
2013. Para a HbV, há registro somente no ano de 2011.
A prevalência com que as hemoglobinas anormais HbS, HbC e HbV (heterozigose)
ocorreram, estratificado por ano, foi avaliada e os dados mostraram que não houve
diferença estatisticamente significativa (p<0,05).

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 470


aaaaaaaaaaaaa Figura 1 - Distribuição do número de recém-nascidos, em relação aos tipos de
hemoglobinas anormais, estratificados por ano no município de Dom Pedrito/RS

Fonte: VEGA triagem SRTN do HMIPV. Hb=hemoglobina.

Conforme ilustrado na Figura 2, os resultados encontrados para prevalência de


Hb anormais no período total do estudo, revela que a HbS (heterozigose) foi
significativamente mais prevalente quando comparada às outras duas Hb anormais
(média: 5,6; desvio padrão: 1,5; p<0,05) apresentando 28 casos (87,5%) nos cinco anos
analisados; a HbC (heterozigose) com 3 casos (9,38%) (média: 0,6; desvio padrão: 0,89)
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

e a HbV (heterozigose) com 1 caso (3,12%) (média: 0,2; desvio padrão: 0,44), sendo esta,
a forma mais rara encontrada na população em estudo.

Figura 2 - Incidência do número de recém-nascidos por tipo de hemoglobinas


anormais, no período de 2010 a 2014 em Dom Pedrito/RS

Fonte: VEGA triagem SRTN do HMIPV.

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 471


aaaaaaaaaaaaa Não houve diferença significativa entre a prevalência ocorrida quando
comparados os grupos HbC e HbV, no período total do estudo (p<0,05).

Prevalência do traço falciforme no município de Dom


Pedrito/RS
Do total de 2.044 RN triados pelo PNTN, 32 RN (1,57%) apresentaram o padrão
hemoglobínico alterado. Desses, 28 foram identificados com a HbS (heterozigose),
caracterizando a prevalência do TF em 1,37%.
Como pode ser visto na Tabela 2, no ano de 2010 foram identificados 1,3% com
a presença do TF entre os 448 RN triados pelo PNTN, no ano de 2011 houve 1,2% com
TF entre os 412 RN participantes do PNTN, no ano de 2012 houve 0,9% 36 com TF entre
os 419 RN triados, no ano de 2013 houve 2,2% RN com TF entre os 350 RN que se
submeteram a TN e no ano de 2014 houve 1,2% com a presença do TF entre os 415 RN
triados pelo PNTN.
Tabela 2- Prevalência do Traço falciforme em recém-nascidos no município de Dom Pedrito/ RS
Ano Nº de HbFAS Nº de RN Triados %
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2010 6 448 1,3

2011 5 412 1,2

2012 4 419 0,9

2013 8 350 2,2

2014 5 415 1,2

Total 28 2044 1,37


Fonte: VEGA triagem SRTN do HMIPV. HbFAS= Heterozigose para HbS, Traço falciforme.

A presente pesquisa evidenciou a proporção de um RN com a presença do TF


para cada 73 RN triados pelo PNTN (1:73) no município de Dom Pedrito/RS no período
de 2010 a 2014.

Coeficiente de cobertura do PNTN no município de Dom


Pedrito/RS
Em 2010 houve o registro de 492 nascidos vivos, e no mesmo período 448
crianças foram triadas pelo PNTN, resultando em 91,1% o coeficiente de cobertura. Em
2011, houve 457 nascidos vivos e 412 RN triados, correspondendo a uma cobertura de

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 472


aaaaaaaaaaaaa 90,1%. Em relação a 2012, houve 481 nascidos vivos, e 419 RN triados, resultando em
uma cobertura de 87,1% do PNTN. Em 2013, houve 433 nascidos vivos e 350 RN triados,
correspondendo a 81,0% a cobertura do PNTN. E no ano de 2014 houve 466 nascidos
vivos e 415 RN triados para TN, correspondendo a 89,0% a cobertura do PNTN neste
período.
O coeficiente de cobertura do PNTN, no município de Dom Pedrito/RS durante o
período em estudo, atingiu a média de 87,7%. Conforme pesquisa realizada pela
Secretaria Estadual de Saúde (SES) em parceria com o sistema VEGA triagem do HMIPV
o número de RN triados na rede pública do estado totalizou uma média de cobertura de
74,70% no período de 2010 a 2014, no estado do RS.
Tabela 3 - Taxa de cobertura do PNTN, no período de 2010 a 2014 no município de Dom
Pedrito/RS
Ano Nascidos vivos Nº de RN Triados %
2010 492 448 91,1
2011 457 412 90,2
2012 481 419 87,1
2013 433 350 81,0
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2014 466 415 89,0


Total 2329 2044 87,7
Fonte: DATASUS e SMSMA/Dom Pedrito, RS; RN=recém-nascido.

A cobertura do PNTN para o RS foi de 75,54% (2010), 75,38% (2011), 73,84%


(2012), 74,47% (2013) e 74,29% (2014). Já, a cobertura encontrada para Dom Pedrito
apresentou 91,1% (2010), 90,2% (2011), 87,1% (2012), 81,0% (2013) e 89,0% (2014).
Após análise estatística, os dados não apresentaram diferença significativa entre
as duas coberturas, RS e Dom Pedrito (p<0,05). Segundo Nota Informativa do PNTN
(2012), o programa atingiu 83% de cobertura nacional em 2011. Nesta mesma Nota foi
divulgado que 100% dos estados brasileiros contam com Serviços de Referência em
Triagem Neonatal (SRTN).

4. DISCUSSÃO
A presente pesquisa evidenciou a presença significativa da HbS (87,5%) em
comparação com as outras Hb anormais encontradas no estudo. Isto reforça os dados

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 473


aaaaaaaaaaaaa já presentes na literatura, os quais se referem à HbS como a Hb mais comum entre as
Hb alteradas no Brasil (ZAGO, 2002).
A prevalência de 1,37% da presença do TF no grupo de 2.044 RN, triados pelo
PNTN em Dom Pedrito, estão de acordo com Naoum (1984) que revelou, após estudos,
a prevalência de 2% de portador do TF no Brasil. A cada 73 RN triados pelo PNTN, no
período de 1° de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2014 no município de Dom
Pedrito/RS, um RN apresentou o padrão hemoglobínico para heterozigose da HbS,
caracterizando o TF. Já para o estado do Rio Grande do Sul, juntamente com o estado
do Paraná e Santa Catarina, a prevalência do TF é de um registro de TF para cada 65
crianças nascidas vivas (BRASIL, 2009).
A partir de publicações do PNTN, percebe-se que nos estados do Rio Grande do
Sul, Paraná e Santa Catarina a prevalência da condição de heterozigose para HbS é
menor em comparação com outros estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país.
Em estudo realizado com 548.810 RN, no estado do Paraná, distribuídos em 22
regionais de saúde revelou um resultado do genótipo FAS de 1,52% e a prevalência da
AF e da interação S/beta-talassemia foi de 2,2 e 2,7 a cada 100 mil nascidos vivos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

(WATANABE, et al., 2008). Comparando estes dados com a prevalência de 1,37% do TF


para o município de Dom Pedrito/RS, confirma-se que nos estados da região sul do Brasil
a prevalência do TF assemelha-se consideravelmente.
Comparando o resultado desta pesquisa com dados já descritos para outras
regiões do estado do RS, também se verifica que os resultados são similares, e que
coincidem com dados disponibilizados na literatura, como por exemplo, um estudo
piloto realizado em 1.615 neonatos, no município de Porto Alegre/RS o qual apresentou
uma prevalência de 1,2% para a condição genética de portador da HbS, sendo que para
a HbC a frequência encontrada foi de 0,4% (DAUDT, et al., 2002). Ainda, este mesmo
estudo revelou que para cada 62 RN triados, um é portador do gene para
hemoglobinopatia S ou C, indo ao encontro dos dados obtidos em Dom Pedrito, onde
para cada 64 RN triados, um apresenta Hb alteradas S, C ou V.
Outro estudo também realizado no estado do Rio Grande do Sul, envolvendo
117.320 RN, distribuídos em sete regiões do estado, a frequência para Hb alteradas é de
1,4%, e somente um caso de AF, sendo que não foi evidenciada nenhuma diferença
estatística entre as regiões (SOMMER, et al., 2006).

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 474


aaaaaaaaaaaaa A prevalência encontrada para o município de Dom Pedrito/RS, confirma a
incidência do TF esperada para a região sul do Brasil. Desta forma, este dado reforça a
importância que estudos populacionais têm na construção de um perfil epidemiológico
para que estratégias em saúde pública possam ser formuladas e direcionadas a uma
condição genética que atinge todas as regiões do país.
O TF é uma condição genética herdada que não manifesta a doença e não
apresenta qualquer alteração em exames de rotina (hemogramas). Com isso, as pessoas
podem ser portadoras assintomáticas da HbS sem o conhecimento de sua condição
(BRASIL, 2004).
Com isso, ações não diretivas que tem como objetivo esclarecer a população em
geral sobre o que é a AF e como pode ser diagnosticada, bem como a importância da
realização da TN (teste do pezinho) podem mudar o percurso da doença no país.
Uma das ações oferecidas pelo MS através da rede cegonha com o intuito de
detectar precocemente a DF e o TF durante o pré-natal, é a inclusão do exame de
eletroforese de hemoglobina na lista dos procedimentos oferecido pelo SUS a todas as
gestantes da rede pública de saúde (BRASIL, 2013).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Desta forma, a presente pesquisa também analisa esta ação com base nos
resultados encontrados para a prevalência do TF no município. A TN para
hemoglobinopatias oferecida pela rede pública através do PNTN está implantada no
Brasil desde 2001. Mulheres nascidas antes deste período, que não foram triadas pelo
PNTN, desconhecem sua condição genética de possíveis portadoras do TF ou de
qualquer outra hemoglobinopatia de sintomatologia branda. Embora, se saiba que a
forma homozigótica da HbS, que caracteriza AF, apresenta um quadro clínico bem
característico, existem também outras apresentações da DF mais brandas em que as
manifestações clínicas são mais leves em comparação com a AF (NAOUM, 2000;
GUALANDRO, 2002).
A HbS associadas a outras Hb anormais formam combinações, podendo acarretar
em complicações importantes quando o portador dessa característica genética for
gestante, conforme estudos realizados na Universidade Federal de Minas Gerais
(CARDOSO, 2012). Neste estudo, dois grupos de gestantes foram comparados, um com
AF e outro que apresentava a forma mais branda das DF, a chamada hemoglobinopatia
SC. Estes dados confirmaram que durante a gravidez a ocorrência de complicações é

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 475


aaaaaaaaaaaaa igual entre as gestantes. Isto constata a importância da identificação precoce e do
atendimento especializado (CARDOSO, 2012). Embora a situação de ser portadora de
uma das formas de apresentação das DF não contra indique uma gravidez, a gestante
com DF é sempre encaminhada ao pré-natal de alto risco (GUALANDRO, 2002).
A identificação da presença da HbS pelo exame de eletroforese de hemoglobina,
em homozigose ou heterozigose não oferecerá risco para o neonato, pois ele nascerá
com níveis altos de HbF que o protegerão das manifestações clínicas da doença. Os
níveis da HbF tendem a reduzir a partir do terceiro ou quarto mês de vida, quando
poderão surgir as manifestações clínicas da doença (BRASIL, 2006).
Não há dados disponíveis da prevalência do TF em mulheres em idade fértil no
município de Dom Pedrito. A disponibilização do exame de eletroforese de hemoglobina
para gestantes como forma de identificar a DF e o TF possibilita identificar gestantes
com alguma forma branda de hemoglobinopatia e que ainda não tinha sido
diagnosticada antes da gestação, como forma de prevenir complicações durante o pré-
natal. Isto poderá gerar benefícios em relação ao planejamento familiar, pois auxiliará o
casal a tomar decisões para uma próxima gestação. Porém, o impacto da informação ao
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

descobrir a probabilidade de se ter um filho com a DF será confirmado ou não somente


com o resultado do teste do pezinho, isto acarretaria um quadro de ansiedade na mãe.
A descoberta da condição genética para as hemoglobinas alteradas através do
exame de eletroforese de hemoglobina teria um impacto em relação à prevenção de
novos casos da AF caso fosse disponibilizado antes do pré-natal a todos os casais
interessados com orientação genética não diretiva, para que decisões reprodutivas
possam ser feitas respeitando sempre os direitos fundamentais.
Outro aspecto analisado nesta pesquisa foi com relação ao tamanho da amostra
de 2.044 sujeitos (RN) que se submeteram a TN na rede pública através do PNTN em
relação ao total de nascidos vivos no município de 2.329 durante o período de 2010 a
2014. A cobertura do PNTN esteve acima de 80% em todos os anos, com uma média de
87,7%.
Os dados mostram que não houve diferença estatisticamente significativa entre
os dados da cobertura do PNTN no município quando comparados a dados da cobertura
no estado do RS referentes ao mesmo período do estudo. No entanto, a média da
cobertura ao PNTN no município de Dom Pedrito apresentou-se maior em comparação

ESTUDO RETROSPECTIVO DA PREVALÊNCIA DO TRAÇO FALCIFORME NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO-RS 476


aaaaaaaaaaaaa com a média no RS, indicando que o município está bem estruturado em relação ao fluxo
de atendimento ao PNTN, embora se saiba que a demanda é relativamente pequena em
comparação com centros maiores.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos resultados, considera-se ter atingido os objetivos iniciais
desta pesquisa, que eram elucidar a frequência do TF, bem como suas características
epidemiológicas em RN nascidos no município de Dom Pedrito/RS e triados pelo PNTN,
entre os anos de 2010 a 2014. Estes resultados confirmam os dados já presentes na
literatura, os quais são muito semelhantes aos padrões nacionais e estaduais divulgados.
Sabe que esta condição genética do TF está presente e atinge várias famílias no
município, para cada RN triado com o TF, geralmente outra pessoa do seu convívio
familiar também pode portar esta mesma condição genética, e que na maioria das vezes
nunca foram triados, pois o PNTN foi implantado a partir de 2001.
Em relação à prevenção de novos casos da AF, acredita-se que a disponibilidade
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de exames específicos para detecção da AF e o TF para todos os casais interessados em


saber sua condição genética antes da concepção, para que decisões reprodutivas
possam ser feitas respeitando sempre os direitos fundamentais, geraria um maior
impacto na prevenção de novos casos da AF.
Espera-se que os resultados obtidos sirvam de parâmetros para ações
relacionadas ao planejamento familiar possam ser construídas e formuladas a partir
deste estudo populacional. Campanhas informativas poderiam ser estabelecidas para
que mães armazenem o resultado da TN (teste do pezinho) de seus filhos, a fim de que
estes possam tomar decisões conscientes na fase reprodutiva.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

480
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXVI
LESÕES CARACTERÍSTICAS DE MAUS-
TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE
CABEÇA E PESCOÇO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-36
Laryssa Nayam Carvalho de Araújo ¹
Alícia Maria Lima Soares ¹
Diego Moura Soares ²
Renato de Souza Melo ³
Jéssica Gomes Alcoforado de Melo 4
¹ Cirurgião-Dentista Graduado pela Faculdade de Integração do Sertão – FIS.
² Doutor em Odontologia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.
³ Doutor em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.
4 Mestre em Odontologia pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RESUMO
A violência inserida no contexto familiar além de um ato criminoso acarreta
consequências que atuam de promovem impactos negativos no desenvolvimento de
uma criança, violência essa que ocorre em sua grande maioria no âmbito familiar com o
agravante de permanecer sob o sigilo desses familiares. A violência infantil é tida como
um importante problema de saúde pública, trazendo consequências duradouras que
afetam todo o desenvolvimento das crianças e adolescentes submetidos a tais atos.
Traumas físicos e psicológicos acontecem de forma mais recorrente, resultando em um
aumente no número de óbitos, que por sua vez gera preocupação nas autoridades e
profissionais de saúde que atuam na linha de frente, sendo responsáveis pela
identificação de comportamentos que possam indicar de forma direta ou indireta
possíveis casos de maus-tratos. Entre os muitos tipos de violência, algumas se
apresentam como mais recorrentes, como a negligência familiar, a violência física e
psicológica, bem como o abuso sexual, lesões orofaciais, lesões em tecidos moles e
duros da face, lesões e fraturas ósseas que desferidas contra esses indivíduos.

Palavras-chave: Violência Infantil. Ferimentos e Lesões. Abuso Sexual na Infância.


Defesa da Criança e do Adolescente.

Lesões CARACTERÍSTICAS DE MAUS-TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO 481


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O papel que a família exerce sob a vida de uma criança pode afetar positiva ou
maneira negativamente seu desenvolvimento social, distorcendo o olhar social lançado
de forma positiva ao longo do tempo de que a família era vista apenas de maneira
benéfica, proporcionando bem-estar entre seus membros (COSTA e DUARTE, 2000).
Estudos recentes constatam que a experiência de violência é frequentemente
encontrada no âmbito familiar, onde essa violência exercida a crianças não advém de
uma conjuntura atual, ela é herdade ao longo de gerações, tendo sua origem no
passado, onde essas atitudes encontravam-se veladas, mascarada pela sociedade, a qual
mantinha sob sigilo estas práticas desempenhadas por tais famílias (COSTA e DUARTE,
2000).
A prática da agressão e maus-tratos infantis vai muito além do ato criminal de
quem o comete, tal atitude deve ir além de parâmetros estabelecidos, pois tal ato reflete
em problemas futuros que englobam a sociedade como todo, gerando respostas que
vão além de problemas sociais, culturais, comportamentais, entre outras (RODRIGUES,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

1997; SALZEDAS, 1992). Segundo o ministério da saúde (2004), a violência tornou-se um


sério problema público de saúde devido à magnitude alcançada, pois compromete de
maneira drástica a saúde do indivíduo acometido. A violência infantil não é foge a tal
regra, pois tem se tornado um grande ato de direitos violados, negação de liberdade,
ausência de dignidade e a incapacidade da criança violada venham obter um
desenvolvimento de forma saudável. Devido ao fato de que grande parte dessas
violências serem ocasionadas, em grande parte, em uma fase primordial do
desenvolvimento da criança, algumas manifestações são potencializadas, onde tais
manifestações geram traumas de ordem físicas, psicológicas e comportamentais (SILVA,
2000). Grande parte destas agressões são causadas no ambiente doméstico onde estas
crianças residem, sendo deflagradas na grande maioria dos casos por seus familiares no
geral ou pelos cônjuges de seus parentes. Os indivíduos acometidos por tais atos
apresentam características comportamentais peculiares que podem auxiliar na
identificação, tais como comportamentos estranhos, dificuldade de socialização, choro
interrupto (SILVEIRA, MARYNK e NÉTTO, 2005).

Lesões CARACTERÍSTICAS DE MAUS-TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO 482


aaaaaaaaaaaaa O número de vítimas de violência bem como o número de óbitos de crianças
causado por maus-tratos vem preocupando o setor da saúde pública, pois as
autoridades entendem que este aumento está ligado a um processo multifatorial
(CAVALCANTE, 2009; SALIBA et al., 2007). As lesões de maus-tratos se apresentam na
região da cabeça e pescoço como locais mais atingidos (SALES-PERES et al., 2008;
SCHRAIBER et al., 2002) bem como por serem estruturas corporais que quando
traumatizadas são de fácil detecção, por sua variação e posição anatômica, como
também pela necessidade de interação e relação interpessoal com a sociedade
(CARDOZO, 1997; MONTOVANI et al., 2006). Desse modo, o objetivo deste trabalho é
realizar uma revisão da literatura narrativa sobre as lesões características de maus-
tratos infantil na região de cabeça e pescoço.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os maus-tratos infantil foi visto por muito tempos como um olhar negligente,
onde a maioria dos casos não eram devidamente notificados, pois eram vistos como
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

assunto íntimo de família e decididos por seus responsáveis, sendo que a maioria desses
casos ocorriam no âmbito familiar, ambiente onde a maioria dessas crianças sofriam
violências (DAY et al., 2003). Os casos de violência a menores ganharam visibilidade no
final do século XIX, através do conhecimento do caso de uma menina que foi vítima de
maus-tratos, a americana Mary Ellen que tinha apenas 8 anos de idade. Este foi o
primeiro caso notificado de violência e abuso a crianças e adolescentes, resultando na
condenação do agressor. Subsequente a este fato, foi fundada a Sociedade de
Prevenção da Crueldade contra Criança, no ano de 1874, em Nova Iorque (DAY et al.,
2003).
A violência contra crianças e adolescentes vai além de casos de traumas físicos,
ela impacta também outros aspectos importantes, dentre eles o crescimento e
desenvolvimento do menor, o psicológico e a cognição, fatores estes que acabam
contribuindo para que futuramente essas vítimas se tornem possíveis agressores (ASSIS,
2004). Através da observação desses fatores, viu-se a necessidade de que as equipes
multiprofissionais e da sociedade andassem em conjunto, evitando novos casos de
agressões (CAVALCANTI, 2000). Porém, segundo Cavalcanti (2001), o Brasil ainda não
consegue obter números fidedignos dos casos reais de maus tratos. Afirma-se que 12%

Lesões CARACTERÍSTICAS DE MAUS-TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO 483


aaaaaaaaaaaaa das crianças no Brasil menores de 14 anos compreendem as vítimas mais afetadas por
agressões (UCHOA, 1994).
Segundo o Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinam), no ano de 2017,
foram realizadas 85.293 notificações de diferentes tipos de agressões contra crianças e
adolescentes, 69,5% são decorrentes de violência física, 27.1% de violência psicológica
e 3,3% de episódios de tortura. A Sociedade Brasileira de Pediatria enfatiza que um
número significativo dessas agressões resulta em hospitalização e óbito, entre 2009 e
2014 houve 35.855 encaminhamentos para hospitalização e 3.296 óbitos.
Existe uma grande frequência de atos de violência contra crianças e
adolescentes, mas no Brasil a apresentação destes índices que indicam tais números é
falha, devido, principalmente, à falta de notificações, segundo a Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à infância e à Adolescência (ABRAPIA). A violência a esses
jovens é tida como um problema histórico e social, e é por isso que as equipes de saúde
que atuam nos serviços públicos estão adotando uma postura diferenciada, intervindo
em casos de violências que ferem os princípios morais dos jovens (FERREIRA e
SCHRAMM, 2000).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Como forma de obtenção de dados, é imprescindível que esses jovens sejam


assistidos por um cirurgião-dentista com um olhar diferenciado, separadamente dos
pais ou responsáveis, pois é através desse contato que ele poderá observar durante a
anamnese e da observação clínica, mudanças ou aspectos que indiquem possíveis
vítimas de violência (GOLDER, 1995).

Tipos de Maus-tratos infantis


Os maus-tratos infantis podem ser vistos por diferentes aspectos, sendo eles
identificados por características comuns como negligência, violência psicológica, abuso
sexual e violência física.

2.1.1. Negligência
A negligência está associada ao descuido e falta de zelo com os cuidados básicos
para um desenvolvimento saudável da criança, onde muitas vezes o responsável
abandona intencionalmente os tratamentos dentários em que a criança necessita para
manter uma boa saúde oral, afim de evitar processos avançados de cáries extensas
acompanhados de quadros que apresentam dor e infecção, colocando em risco a vida

Lesões CARACTERÍSTICAS DE MAUS-TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO 484


aaaaaaaaaaaaa dessa criança. Abandono familiar, abandono escolar, a falta de imunização através das
vacinas ofertadas nos serviços públicos de saúde, são algumas das diversas
características (BAPTISTA et al., 2017; MATHUR e HOPRA, 2013; SALES-PERES et al.,
2008).

2.1.2. Violência Psicológica


A violência psicológica contra crianças e adolescentes embora seja pouco
notificada, é a que mais prevalece entre outras formas de abuso, ela contribui
negativamente para a construção pessoal dessa criança, como também na construção
que ela fará do mundo através do seu sentimento de solidão e desamparo, e das suas
relações interpessoais, afetando-a no seu processo de socialização, como também,
vindo a interferir no seu desenvolvimento a nível psicológico (HART, 1987; ROSENBERG,
1987). Como violência psicológica está compreendida qualquer ação que venha ferir a
moral e a autoestima de qualquer indivíduo, caracterizada pela presença de
xingamentos, chantagens, opressão a liberdade de escolha e expressão, ausência de
carinho e atenção, privação do contato pessoal com outras pessoas, entre outras
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

características que se assemelhem a estes tipos de comportamento (MINISTÉRIO DA


SAÚDE, 2002).

2.1.3. Abuso Sexual


O abuso sexual corresponde ao caso mais difícil de ser identificado e notificado,
por não apresentar sinais físicos visíveis e, em sua grande maioria, serem omitidos por
muitos familiares, onde estes negam-se a prestar tais informações por sentir
desconforto e constrangimento em relatar determinada situação (MCDONALD e AVERY,
2002). Esses abusos surgem quando o menor é obrigado a manter o ato sexual, podendo
estes ocorrer devido ao ato de incesto, assédio sexual, pedofilia, pornografia infantil,
dentre outras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016). Algumas
infecções orofaciais demandam atenção, pois algumas patologias estão diretamente
relacionadas ao abuso sexual, tais como: gonorreia (principalmente em crianças que
ainda não entraram no período da puberdade), sífilis, herpes do tipo II, condiloma
acuminado, são fortes relações com a violência e abuso sexual (VIEIRA, 1998).

Lesões CARACTERÍSTICAS DE MAUS-TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO 485


aaaaaaaaaaaaa 2.1.4. Violência Física
A violência física é mais facilmente detectável, devido ao fato de que na grande
maioria das vezes os casos acontecem dentro dos lares desses jovens, apresentando em
grande parte dos casos como agressor seus respectivos pais, responsáveis ou familiares,
que cometem tal violência justificando estar educando a criança (ANDRADE, COLARES e
CABRAL, 2011). Muitas vezes o agressor culpa esse jovem por problemas que não dizem
respeito a ele, onde problemas externos como por exemplo divórcios, problemas
psicológicos, desemprego, problemas financeiros, contribuem com o surgimento das
lesões causadas pelas agressões físicas, dentre elas as que são identificadas como lesões
orofaciais (NILCHIAN et al., 2012).

2.1.5. Lesões Orofaciais


As lesões orofaciais sem uma justificativa plausível dos responsáveis levantam
uma suspeita de violência física, onde tais lesões atingem tecidos moles e duros, além
de laceração destes tecidos, fraturas, hematomas que dependendo da sua característica
de cor apresentada nos demonstra uma estimativa de tempo em que ocorreu essa lesão
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

(hematomas com aspectos de cor vermelho e azulado representa lesões ocorridas entre
1 a 3 dias do ocorrido, com coloração amarelada com aspectos esverdeados nos indica
que a lesão ocorreu entre 4 a 7 dias do ato de violência, e quando a lesão apresentar
uma coloração castanha com aspectos de cor amarelada é indicativo que a mesma
ocorreu entre 8 a 26 dias transcorridos da agressão), entre outros aspectos que
demandam atenção (CAVALCANTI, 2001; MARQUES e COLARES, 2003; NAIDOO, 2000;
RESENDE, 2013). Porém, é pertinente lembrar que pacientes infantis são os mais
acarretados a traumas na região da boca (NEEDLEMAN, 1986). Algumas características
são observadas durante o exame clínico, chamando atenção do Cirurgião dentista para
vítimas de abusos e maus tratos.

2.1.6. Lesões na boca


Apresentam aspectos como laceração do frênulo lingual e labial provenientes de
abuso sexual, queimaduras em língua e palato, gengivas laceradas ou com ferimentos,
petéquias no palato (HENDLER e SUTHERLAND, 2007), equimoses nas bochechas
indicam socos ou bofetadas (CARVALHO, 2002), eritemas inexplicáveis,
pseudomembranas e vesículas com a presença de drenagem purulenta ou petéquias no

Lesões CARACTERÍSTICAS DE MAUS-TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO 486


aaaaaaaaaaaaa palato, na junção entre palato duro e mole particularmente podem ser evidências de
sexo oral forçado (PERCINOTO et al., 2014).

2.1.7. Lesões de lábios


Apresentam em sua maior parte traumas persistentes, laceração desse tecido
labial, queimaduras causadas por objetos ou por introdução de alimentos em
temperatura elevada, queimadura causada por cigarros, e cicatrizes na comissura labial
(DUBOWITZ e BENNETT, 2007).

2.1.8. Lesões causadas por mordidas


Essas lesões serão avaliadas desde a anamnese, onde o responsável apresentará
ou não inconsistência na explicação do caso até a averiguação do tamanho da lesão e
do formato oval (podendo ser apresentar laceração em formato ovóide), que
corresponde ao formato da mordida humana, tamanho e disposição do posicionamento
dos dentes. Estes aspectos ajudará o profissional distinguir se a mordida foi causada por
outra criança ou por um adulto (AVON, 2004). O tamanho do arco é útil para determinar
se o agressor foi uma criança ou adulto, onde se a largura canino a canino for menor
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

que três centímetros, a mordida provavelmente foi de uma criança, após o terceiro dia
as impressões dos dentes tornam-se mais visíveis (MASSONI et al., 2010).

2.1.9. Lesões de tecidos duros


Compreendem fraturas em dentes, maxila ou mandíbula, sendo necessária a
avaliação em conjunto de estruturas localizadas próximas a face, fraturas nasais,
hemorragias orbitárias e de retinas, hematomas na orelha são algumas partes que
também podem ser observadas (MARQUES e COLARES, 2003; NAIDOO, 2000;
NEEDLEMAN, 1986).

2.1.10. Dentes
Podem apresentar fraturas dentárias, dentes com presença de mobilidade ou
que foram avulsionados da loja óssea, restos radiculares, todos estes indicam possível
violência física, principalmente quando o responsável não sabe explicar o motivo dessas
lesões e fraturas (TSANG e SWEET, 1999).

Lesões CARACTERÍSTICAS DE MAUS-TRATOS INFANTIS NA REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO 487


aaaaaaaaaaaaa 2.1.11. Maxila e Mandíbula
São fraturas que acometem tecidos duros da face, podendo conter fraturas
observadas no processo condilar, ramo da mandíbula e sínfise, onde esses traumas
podem acarretar problemas de má-oclusão (MARQUES e COLARES, 2003).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversos tipos de lesões advindas da violência a crianças foram identificados,
onde a maioria delas acontecem em âmbito familiar por parentes de primeiro e segundo
grau ou por cônjuges de familiares em sua grande maioria. Entre as formas de violência
mais citadas, podemos destacar traumas que se revelam através do campo psicológico
e comportamental, bem como lesões orofaciais provenientes de abuso sexual e lesões
provenientes de abuso físico como as que merecem maior destaque, pois interferem e
comprometem diretamente no crescimento e desenvolvimento de crianças e
adolescentes.
Ainda que os aspectos comportamentais integrem um direcionamento para o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

diagnóstico inicial, leões orofaciais são preponderantes para tal diagnóstico, por serem
encontradas com maior frequência e em decorrência da gravidade da lesão. Podemos
destacar como exemplos a laceração de frênulo labial e freio lingual, marcas detectadas
provenientes de mordidas, hematomas e seus aspectos clínicos de observação de cor,
fraturas e avulsões dentárias, fraturas na mandíbula e maxila, hemorragias orbitárias,
dentre outras. Apesar dos aspectos clínicos, o contexto social e econômico também é
um fator que contribui fortemente na identificação dos casos de violência infantil,
devido ao fato de que a maioria dos casos deste tipo de violência se dá em ambientes
que possuem notória fragilidade e desestruturação do seio familiar, deixando assim as
crianças expostas a esse estado de vulnerabilidade.

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aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXVII
NÍVEIS DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO
DE HUMOR EM ADOLESCENTES
ESCOLARES
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-37
Marcos Antônio Araújo Bezerra ¹
Viviane Pereira da Silva ²
Jenifer Kelly Pinheiro ³
Cícero Cleber Brito Pereira 4
Cícero Rodrigo da Silva 5
Cícero Idelvan de Morais 6
¹ Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Universidade Estadual do Ceará – UECE. Docente do Centro Universitário Dr. Leão
Sampaio – UNILEÃO.
² Graduanda em Licenciatura em Educação Física Centro Universitário Dr. Leão Sampaio – UNILEÃO.
³ Mestranda em Educação Física. Universidade Federal de Sergipe – UFS. Docente do Centro Universitário Dr. Leão Sampaio –
UNILEÃO.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

4 Mestre em Ensino em Saúde. Universidade Estadual do Ceará – UECE. Docente do Centro Universitário Vale do Salgado – UNIVS.
5 Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente. Universidade Estadual do Ceará – UECE. Docente do Centro Universitário Dr. Leão

Sampaio – UNILEÃO.
6
Mestrando em Ciências da Saúde – FMABC. Docente do Centro Universitário Dr. Leão Sampaio – UNILEÃO.

RESUMO
A pesquisa objetivou analisar as possíveis diferenças dos componentes dos distúrbios do humor com
os níveis de atividade física de adolescentes escolares. Trata-se de um estudo transversal, com
abordagem descritiva e analítica, com amostra de 145 adolescente escolares de 15 a 17 anos de
idade, de ambos os sexos, da rede pública estadual de Altaneira-CE. Para mensuração da atividade
física foi utilizado o questionário internacional de atividade física (IPAQ) versão curta e a escala de
humor de Brunel (BRUMS). A análise de dados foi feita através do programa estatístico Statistical
Package for Social Sciences (SPSS), versão 18, utilizando-se estatísticas descritivas por distribuição de
frequência (absolutas e percentuais), média e desvio padrão. A associação das variáveis foi analisada
por meio do teste qui-quadrado (x²) de Pearson, adotando um alfa <0,05. Para tamanho de efeito
usou-se o D de Cohen. No estudo observou-se que a maioria dos escolares se demostrou fisicamente
ativo (81; 55,9%), com maior proporção para o sexo masculino (51; 62,2%) e nos distúrbios dos
transtornos do humor (DTH), a maioria dos escolares apresentaram níveis baixo de DTH (128;
87,79%), destacando-se os componentes dos distúrbios do humor: tensão, depressão e o escore
geral apresentou diferenças estatisticamente significativas entre os níveis de atividade física dos
adolescentes escolares. Conclui-se que a maioria dos escolares é fisicamente ativa, possui níveis
baixos de distúrbios do humor e que os componentes dos distúrbios do humor: tensão, depressão
e o escore geral apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os níveis de atividade
física dos adolescentes escolares.

Palavras Chave: Atividade motora. Transtorno do humor. Comportamento do adolescente.

NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 492


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O conceito atividade física é definida como qualquer movimento corporal que
requeira gasto de energia, produzido através dos músculos esqueléticos (OMS, 2020). É
fato que a prática regular de atividade física reduz riscos de doenças como depressão,
ansiedade e melhora o estado de humor, que por sua vez é definido como um estado
emocional (SOUZA et al., 2019).
Ferreira et al. (2020) relatam que transtornos mentais comuns estão
relacionados a falta de atividade física e de acordo com os dados, mesmo que as
recomendações de saúde atuais para a pratica de atividades físicas (≥300 minutos /
semana) não sejam atendidas, níveis mínimos de atividades físicas podem reduzir a
chance de transtornos mentais comuns.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% dos adolescentes, são
considerados inativos, fato esse que acarreta em possíveis riscos à saúde (SILVA, 2020).
Dados epidemiológicos mostram que no Brasil, 67,8% dos adolescentes são
considerados inativos (FERREIRA, 2021). Segundo Stein (2019), a inatividade física gera
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

cerca de 30% a mais de chance de levar o indivíduo á óbito. No que se refere aos
transtornos mentais, Gaia (2021) retrata que 20% dos adolescentes de todo o mundo,
sofrem com algum tipo de transtornos mentais, entre eles, o transtorno do humor.
Justifica-se á presente pesquisa, pela lacuna do conhecimento acerca da
associação entre as variáveis a serem analisadas em regiões de pequeno porte do
nordeste brasileiro, uma vez que, a prática regular de atividade física vem se
demonstrando como fator crucial para uma melhor qualidade de vida. O objetivo da
presente pesquisa foi analisar as possíveis diferenças dos componentes dos distúrbios
do humor com os níveis de atividade física de adolescentes escolares.

2. MÉTODO
Trata-se de um estudo do tipo transversal, com abordagem descritiva e analítica.
A população a que se direciona o estudo foi composta por escolares, na faixa etária de
15 a 17 anos, da rede pública estadual de Altaneira-CE. A determinação do tamanho
amostral foi adotando uma porcentagem de ocorrência do fenômeno de 50%,
estimando ainda um intervalo de confiança de 95% e erro de estimativa de 5%. Com

NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 493


aaaaaaaaaaaaa base no total da população (231) esse estudo avaliou uma amostra total de 145
adolescentes escolares.
Foram inclusos na pesquisa, adolescentes de ambos os sexos, regulamente
matriculadas e assíduas e presente em sala no dia de coleta além da anuência a
assentimento participar do projeto de pesquisa e que assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido. Foram exclusos escolares que fazem o uso regular de
inibidores seletivos de recaptação de serotonina visto que adolescentes com o uso desse
medicamento afetariam os possíveis resultados da pesquisa.
Para identificar as características gerais dos escolares foi aplicado um
questionário estruturado, pelo pesquisador, contendo informações acerca do sexo,
idade, escolaridade dos pais, renda familiar, estado civil dos pais, ocupação dos pais e
cor da pele.
Para obtenção dos dados referentes ao nível de atividade física foi utilizado o
questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) na versão curta, proposto por
Matsudo (2001). Na avaliação dos níveis de atividade física, foram considerados inativos
as crianças escolares que na somatória do tempo de atividade física moderada ou
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

vigorosa não conseguiram atingir 300 minutos semanais, sendo considerados ativos as
crianças escolares com acumulo de pelo menos 300 minutos de atividade física
moderada ou vigorosa por semana (PROCHASKA; SALLIS; LONG, 2001).
No que se refere ao estado de humor, foram analisados os estados subjetivos do
humor: Tensão, Depressão, Raiva, Vigor, Fadiga e Confusão Mental, onde foram
considerados fatores negativos (Tensão, Depressão, Raiva, Fadiga e Confusão Mental) e
fator positivo o Vigor. Para identificação do distúrbio total de humor (DTH) foi utilizada
a formula proposta por (MORGAN et al., 1987).

DTH= (Tensão + Depressão + Raiva + Fadiga + Confusão mental) – Vigor + 100

Foi utilizada a mediana (101) da BRUMS para classificar as crianças escolares com
alto (≥101) e baixo DTH (<101) (FORTES et al.,2014)
A variável atividade física foi mensurada através do questionário internacional
de atividade física (IPAQ), na sua versão curta proposta por Matsudo (2001), o
questionário consiste em quanto tempo a pessoa gastou em exercícios físicos na última
semana, pode estimar o tempo para exercícios moderados e vigorosos em diferentes

NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 494


aaaaaaaaaaaaa ambientes da vida. As atividades físicas de intensidade moderada requerem uma certa
quantidade de trabalho físico para tornar a respiração mais forte do que o normal,
enquanto as atividades físicas de intensidade vigorosa são exercícios que exigem muito
trabalho físico e tornam a respiração muito mais forte do que o normal. Dentre todas as
questões deste recurso, apenas as respostas que possuem um tempo ativo de pelo
menos 10 minutos foram analisadas, sendo descartadas as respostas hipotéticas com
esse valor.
Os distúrbios do humor, foram analisadas através da escala de humor de Brunel
(Brums), proposta por Rohlfs (2008) é desenvolvido para fornecer propostas de
mensuração rapidamente do estado emocional por adultos e adolescentes, além da
simplicidade da escala, o BRUMS promoveu a coleta de dados no ambiente de pesquisa
sobre verificação do perfil emocional. BRUMS contém 24 indicadores confusão (C),
fadiga (F), depressão (D), raiva (R), tensão (T) e vigor. O questionário é apresentado
através de uma escala Likert de 5 pontos onde 0 representa nada, e 4 extremamente os
fatores T, D, R, F e C são considerados fatores negativos e o vigor classificado como fator
positivo.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Os dados foram coletados via formulário online (Google forms), disponibilizado


pelo professor de Educação Física da instituição, ressalta-se que o professor recebeu
treinamento especifico para orientação do preenchimento junto aos escolares. O
formulário foi disponibilizado entre os meses de setembro e outubro de 2021. O
pesquisador apresentou o TCLE, bem como os objetivos da pesquisa aos voluntários do
estudo, momento esse que foram relatados todos os riscos e benefícios da pesquisa
para os participantes.
O tratamento preparatório para a análise dos dados resultará na elaboração de
um banco de dados, ou seja, na tabulação e digitação no programa Microsoft Excel®,
2013. Em seguida, as análises dos dados da pesquisa foram conduzidas através do
programa estatístico JASP. No presente estudo foi realizadas análises estatísticas
descritivas por distribuição de frequência (absolutas e percentuais), além das medidas
de média e desvio padrão.
O Teste t para amostras independentes foi utilizado diferenciar o padrão do
humor de acordo com os níveis de atividade física. O tamanho do efeito foi estimado a
partir do teste D de Cohen. Valores abaixo de 0.30 são considerados fracos, de 0.30 a

NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 495


aaaaaaaaaaaaa 0.80 são considerados moderado e maiores de 0.80 são considerados fortes. (COHEN,
1977). A associação das variáveis foi conduzida por meio do teste qui-quadrado (x²) de
Pearson, adotando um alfa <0,05.
O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas do Centro
Universitário Dr. Leão Sampaio, sob o numero 52362821.9.0000.5048.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Destaca-se a maioria dos adolescentes escolares como sendo do sexo masculino
(77; 53,1%), com idade média de 16,15±0,79 anos. Observou-se que a maior proporção
dos adolescentes escolares possuía renda familiar abaixo de um salário-mínimo
(113;77,9%) e se autodeclararam pardos (106;73,1%). Em relação aos pais dos escolares,
observou-se que a maioria não possui cônjuge (76;52,4%), não tem ocupação laboral
(95; 65,5%) e que são alfabetizados (90;62,1%). Na análise inferencial observou-se a não
associação estatística entre a variável sexo e as características sociodemográficas e
socioeconômicas (p>0,05) (TABELA 1).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Tabela 1 – Distribuição das proporções das características gerais da amostra estratificado por
sexo. Altaneira, CE, 2021
Masculino Feminino
VARIÁVEIS p-valor*
(n=77) (n=68)
Renda (%)
Menor que um salário mínimo 62 (80,5%) 51 (75%)
0,424
Maior que um salário mínimo 15 (19,5%) 17 (25%)
Cor da pele (%)
Não Pardo 20 (26%) 19 (27,9%)
0,790
Pardo 57 (74%) 49 (72,1%)
Estado civil (%)
Sem cônjuge 37 (48,1%) 39 (57,4%)
Com cônjuge 40 (51,9%) 29 (42,6%) 0,263
Função Laboral (%)
Sem função laboral 51 (66,2%) 44 (64,7%)
0,847
Com função laboral 26 (33,8%) 24 (35,3%)
Escolaridade (%)
Não Alfabetizado 32 (41,6%) 23 (33,8%)
Alfabetizado 45 (58,4%) 45 (66,2%) 0,338
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.
* Qui-Quadrado.

A maioria dos escolares se demostrou fisicamente ativo (81; 55,9%), com maior
proporção para o sexo masculino (51; 62,2%) (FIGURA 1).

NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 496


aaaaaaaaaaaaa Figura 1 – Distribuição das proporções dos níveis de atividade física de adolescentes escolares
de acordo com o sexo, Altaneira, CE, 2021.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Quanto aos distúrbios dos transtornos do humor (DTH), a maioria dos escolares
se demonstraram com níveis baixo de DTH (128; 87,79%) (FIGURA 2).

Figura 2 – Distribuição das proporções dos distúrbios dos transtornos do humor de


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

adolescentes escolares de acordo com o sexo, Altaneira, CE, 2021.

Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

Destaca-se que os componentes dos distúrbios do humor: tensão, depressão e


o escore geral apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os níveis de
atividade física dos adolescentes escolares. Um efeito moderado dos níveis de atividade
física foi encontrado sob os componentes tensão e depressão.

NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 497


aaaaaaaaaaaaa Tabela 2 – Descrição e comparação dos componentes do DTH de acordo com os níveis de
atividade física de adolescentes escolares, Altaneira, CE, 2021.
D de
Componentes do DTH Descritiva Comparativa
Cohen
Ativo Inativo
Média DP Média DP t p-valor
Confusão Mental 5,31 3,85 6,53 4,28 -1.776 0.078 -0.297
Tensão 5,87 3,95 7,29 4,34 -2.035 0.044 * -0.340
Depressão 3,50 3,39 4,90 4,76 -1.987 0,002* -0.332
Raiva 4,93 4,29 6,14 5,04 -1.531 0.128 -0.256
Vigor 8,51 3,69 9,07 3,60 -0.916 0.361 -0.153
Fadiga 6,65 4,09 8,01 4,68 -1.827 0.070 -0.306
Escore Geral 117,7 17,23 123,8 21,58 -1.828 0,007* -0.306
Fonte: Dados da pesquisa, 2021.

No presente estudo, mais da metade dos adolescentes entrevistados atenderam


às recomendações de praticar mais de 300 minutos de atividade física semanal, sendo
classificados como ativos fisicamente. Pesquisa realiza por Viana, Fumagalli e Ilha (2020)
encontrou resultados semelhantes ao presente estudo, onde 66,5% dos escolares se
demonstraram fisicamente ativos. Com relação à convergência dos artigos, os níveis de
atividade física podem estar relacionados aos benefícios trazidos por tal prática, como
melhora da saúde física, melhora da saúde mental, bem como parte de uma rotina de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

tratamento para algum processo de adoecimento (SILVA, 2016.)


No estudo de Ramos et al., (2017) os indivíduos do sexo masculino apresentam
níveis de atividade física elevados 54,5%, quando comparados aos indivíduos do sexo
feminino, vindo esse fator a corroborar com os dados da presente pesquisa. Essa
tendência de atividade física elevada quando comparados os grupos, pode estar
relacionada com o fato dos indivíduos do sexo masculino terem uma maior afinidade
por esportes e outras atividades culturais que demandam um gasto energético elevado,
favorecendo assim a inclusão desses indivíduos na pratica de atividade e exercícios
físicos, além é claro, das diferenças biológicas entre os grupos, podendo ainda ser
incluídas variáveis comportamentais, socioculturais e psicológicas, uma vez que os
indivíduos do sexo masculino são frequentemente mais incentivados a se envolver em
atividades físicas mais vigorosas quando comparados os grupos (DUMITH,2016).
Quanto aos distúrbios do humor Barreto e Verardi (2017) encontraram em sua
pesquisa resultados semelhantes ao presente estudo, uma vez a maioria dos
participantes também apresentam baixos transtornos do humor. Os baixos níveis de
DTH apresentados pela maior parte dos participantes dos dois estudos, podem estar

NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 498


aaaaaaaaaaaaa relacionados a prática de atividade física, mantendo assim uma correlação negativa, que
foi demonstrada por Zhang et al., (2020) em estudo pra verificar a relação entre
atividade física e o estado de humor que demonstrou que o distúrbio de humor foi
significativamente reduzido nos grupos que mantiveram níveis de atividade física
moderada e alta, quando comparados ao grupo de baixo nível de níveis de atividade
física.
Já sobre as variáveis apresentadas na tabela 2, no estudo de Matias et al. (2020),
indivíduos que apresentam bons níveis de prática de atividade física, tendem a
apresentar melhor níveis humorais, uma vez que quanto maior o tempo de exposição a
pratica física, melhores respostas relacionadas à ansiedade, depressão, tensões e outros
acometimentos psicológicos foram relatadas, evidenciando assim uma melhora
significativa dentre o grupo considerado ativo na pratica de atividade física, vindo
portanto a corroborar com o presente estudo, onde os participantes que são
considerados ativos, apresentam índices de DTH expressivamente inferiores quando
comparados aos participantes que se encontram no grupo inativos, demonstrando
assim uma diferença entre a realização de atividade física e menores índices de DTH.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

De acordo com presente estudo, adolescentes que adotam um comportamento


inativo, ou seja, gastam demasiado tempo em atividades que não promovem
mobilidade física e uma maior demanda energética, tendem a apresentar maiores níveis
de DTH em comparação com o grupo fisicamente ativo, especificadamente os
componentes tensão e depressão.
Quanto ao componente depressão, Hrafnkelsdottir et al., (2018) demonstrou
que aqueles adolescentes que apresentaram comportamento inativo superior a 5,3h
por dia, apresentaram um risco elevado em comparação com os que não apresentaram
o mesmo comportamento, com redução de no risco relativo entre 56 a 69% nos relatos
de sintomas de DTHs, se destacando entre eles a depressão, corroborando assim com o
presente estudo.
Segundo Chi et al., (2021), a realização de atividade física está diretamente
relacionada a níveis mais baixos de sintomas como ansiedade, insônia e depressão que
notadamente elevam os níveis de tensão, reduzindo assim a sua qualidade de vida.

NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 499


aaaaaaaaaaaaa
4. CONCLUSÃO
Conclui-se que a maioria dos escolares é fisicamente ativa, possui níveis baixos
de distúrbios do humor e que os componentes dos distúrbios do humor: tensão,
depressão e o escore geral apresentaram diferenças estatisticamente significativas
entre os níveis de atividade física dos adolescentes escolares.
Aponta-se como limitações da presente pesquisa a utilização de questionários
para mensuração das variáveis, uma vez que o uso de medidas indiretas como os
questionários podem levar a medidas subestimadas ou superestimadas por partes dos
adolescentes. Recomenda-se a realização de novas pesquisas, que levem em
consideração as limitações do destaque, podendo abranger também alunos engajados
em atividades de período integral.

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NÍVEis DE ATIVIDADE FÍSICA E ESTADO DE HUMOR EM ADOLESCENTES ESCOLARES 502


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXVIII
ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS
IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA
DOENTES CELÍACOS
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-38
Rosildo da Silva ¹
Ionne Martins Soares Dantas ²
Heryka Myrna Maia Ramalho ³
Gineide Conceição dos Anjos 4
Maria Aparecida Medeiros Maciel 5
¹ Doutorando em Biotecnologia da Saúde. Universidade Potiguar - UnP
² Mestranda em Ciências e Tecnologia da Inovação - UFRN
³ Professora Doutora do Departamento de Pós-graduação em Biotecnologia - UnP
4 Professora Doutora do Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN
5 Professora Doutora do Departamento de Pós-graduação em Biotecnologia - UnP
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RESUMO
Diversos fatores têm colaborado para o desenvolvimento de alimentos com
propriedades funcionais, dentre os quais destacam-se o surgimento de doenças crônicas
não-transmissíveis e os hábitos modernos de alimentação. Neste contexto, as massas
alimentícias impactam significativamente na economia mundial e o Brasil, está entre os
cinco maiores produtores de matéria prima. Nesta perspectiva, o aumento na produção
dos alimentos funcionais, está atrelado ao valor nutricional básico com ação terapêutica
extensiva. Destacando os doentes celíacos, a única terapia eficiente consiste em uma
dieta nutricional isenta de glúten. Mundialmente, a doença celíaca está vinculada a uma
das intolerâncias alimentares de maior frequência, e impacta diretamente na qualidade
de vida dos envolvidos. O desenvolvimento de alimentos à base de biomassas vegetais
isentas de glúten, tem sido amplamente explorado para produção de alimentos
funcionais. No presente trabalho, são abordados aspectos teóricos da doença celíaca,
com foco na fisiopatologia e diagnósticos clínicos multifacetados, bem como alimentos
isentos de glúten e suas importâncias nutricionais. A pesquisa bibliográfica foi realizada
em bases de dados científicos, com foco nos descritores doença celíaca, alimentos
funcionais e biomassas isentas de glúten. Os artigos contemplados foram escolhidos em
função das abordagens voltadas para o tema proposto.

Palavras-chave: Doença celíaca. Fisiopatologia e diagnósticos. Alimentos funcionais.


Biomassas vegetais isentas de glúten.

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 503


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1. INTRODUÇÃO
Devido aos avanços na tecnologia de alimentos e ciências nutricionais, muitos
novos produtos alimentícios foram desenvolvidos e comercializados, oferecendo
maiores benefícios para a saúde e grande potencial para reduzir o risco de doenças.
Muitos desses produtos foram rotulados como alimentos funcionais ou nutracêuticos,
formalmente classificados na Europa como suplementos dietéticos (BITZIOS et al, 2011;
LEITE et al., 2013; MULLIN; DELZENNE, 2017; POLI et al., 2018).
No Brasil, o registro de um alimento funcional só pode ser realizado após
comprovação das propriedades funcionais, com base nas seguintes definições: i) todo
alimento (ou ingrediente) que além das funções nutricionais básicas, quando consumido
como parte da dieta, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos benéficos à saúde,
devendo ainda, ser seguro para consumo sem supervisão médica; ii) alimento que
beneficia uma ou mais funções alvo do corpo, além de exercer efeitos nutricionais que
sejam relevantes para melhoria da saúde e bem-estar e/ou redução do risco de doenças
(BRASIL, 1999a; NIVA, 2007; VIDAL et al., 2012). Além disso, precisa informar sobre o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

consumo previsto ou recomendado pelo fabricante, com destaques para a finalidade, as


condições de uso e o valor nutricional (PIMENTEL et al., 2005).
O Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), regulamentou os alimentos funcionais através das seguintes resoluções do
Ministério da Saúde (MS): ANVISA/MS 16/99; ANVISA/MS 17/99; ANVISA/MS 18/99;
ANVISA/MS 19/99 (BRASIL, 1999a; 1999b; 1999c; 1999d).
Neste cenário, os alimentos funcionais também atendem a um grupo de pessoas
que sofrem restrições alimentícias por serem doentes celíacos. Esta doença é vinculada
a uma enteropatia imunomediada que se desenvolve em indivíduos susceptíveis a
reação adversa pela ingestão de glúten, uma proteína presente na farinha de trigo e em
diversos cereais (CAIO et al., 2019; DE GEORGE, et al., 2017; SHAN et al., 2002; WIESER,
2007).
A doença celíaca acomete cerca de 0,5% a 1% da população mundial, tendo sido
evidenciado que predominantemente, a população de cor branca é quem mais sofre
desta enfermidade, com baixa predominância em Africanos, Japoneses ou Chineses
(CAIO et al., 2019; DE GEORGE, et al., 2017; KELLEHER, 2003; MONT-SERRAT et al., 2008).

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 504


aaaaaaaaaaaaa Dados mais atualizados mostraram que a prevalência global da doença celíaca
no período 1991 a 2016, atingiu 275.818 indivíduos (1,4%), com base em exames de
sangue. Este percentual cai para 0,7% (138.792 indivíduos), com base em resultados de
biópsia. No Brasil, a incidência relatada foi 0,2% (SINGH et al., 2018).
No entanto, devido a miscigenação racial, no Brasil, há relatos de sua ocorrência
crescente na população de cor branca, parda ou preta com resultados sorológicos que
mostraram 0,15% a 1,7% da população diagnosticada com doença celíaca (CAIO et al.,
2019; CATASSI et al., 2002; LANDABURO; PÉREZ, 2002; RAUEN et al., 2005).
Apesar desta doença ser amplamente diagnosticada em indivíduos adultos, dos
quais 20% têm mais de 55 anos de idade, a prevalência majoritária é para mulheres. No
entanto, pode se manifestar em qualquer faixa etária com grande variedade de
sintomas/manifestações (VILPPULA et al., 2009). Estudos realizados em doadores de
sangue, mostraram que a prevalência da doença é 1:474 em adultos e 1:184 em crianças
(PRATESI et al., 2003), com incidência por localização geográfica, tais como: 1:681 em
Brasília, 1:417 em Curitiba, 1:273 em Ribeirão Preto e 1:214 em São Paulo (SDEPANIAN;
GALVÃO, 2009).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Atualmente a única terapia eficiente para pacientes celíacos é a dieta livre de


glúten, a qual ganhou popularidade entre pessoas saudáveis que não têm distúrbios
relacionados ao glúten, em função dos alimentos isentos de glúten auxiliar na perda de
peso e/ou minimização do risco futuro de doenças gastrintestinais (RAI et al., 2018).
Nesta perspectiva, o desenvolvimento de alimentos livres de glúten tem sido
amplamente explorado em pesquisas em que se utilizam como alternativa ao trigo,
diferentes biomassas vegetais para produção de alimentos funcionais.

2. METODOLOGIA
A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dados do Google acadêmico,
PubMed, Scielo, Medline, e Science Direct, com os descritores alimentos funcionais,
biomassas isentas de glúten, doença celíaca, terapias e diagnósticos, com filtros
preferenciais para o período 2000 a 2020, porém, não limitantes. Um total de 110
artigos foram avaliados, dos quais 82 foram escolhidos em função das abordagens
voltadas para o tema proposto.

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 505


aaaaaaaaaaaaa
3. RESULTADOS
Aspectos teóricos da Doença Celíaca
A doença celíaca está correlacionada ao funcionamento do intestino delgado e
se caracterizada pela má absorção de água e de nutrientes. Indivíduos geneticamente
susceptíveis a esta enfermidade, são acometidos por alterações inflamatórias e/ou
autoimunes, geralmente desencadeadas pela ingestão de glúten. O processo
inflamatório pode levar a baixos teores de absorção de vários nutrientes importantes
para o sistema fisiológico humano (CAIO et al., 2019; DE GEORGE, et al., 2017;
JENNINGS; HOWDLE, 2003; KAGNOFF, 2007; KELLEHER, 2003; MCMANUS; MONT-
SERRAT et al., 2008).
O glúten constitui 90% das proteínas do endosperma do grão do trigo, e de
acordo com a solubilidade se divide em glutenina e gliadina (BOBBIO; BOBBIO, 1995).
Especificamente, consiste em um tipo de proteína, formada por prol-aminas e
gluteninas, que está presente em diversos cereais e tem como característica:
elasticidade e coesividade, aderência, ser insolúvel em água, sofrer hidratação e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

aumentar o rendimento das preparações alimentícias (CASTRO et al., 2007).


A intolerância permanente ao glúten desencadeia atrofia total ou subtotal da
mucosa do intestino delgado proximal, dificultando a absorção de nutrientes. A ingestão
de glúten conduz à infiltração da mucosa intestinal por linfócitos intra-epiteliais como
CD4+ e CD8+ (grupamento de diferenciação 4 e 8, respectivamente) da lâmina própria,
levando, em última instância, a hiperplasia criptal e atrofia vilosa. Fatores genéticos são
determinantes no desenvolvimento da doença, que se agrava em função de outras
ocorrências, tais como: ingestão de alimentos ricos em glúten, infecções virais e disbiose
da microbiota intestinal (BAHIA et al., 2010; CAIO et al., 2019; DE GEORGE, et al., 2017;
SIQUEIRA et al., 2014).
A fisiopatologia desta doença é complexa e tem diagnóstico clínico multifacetado
que envolve outros distúrbios como gastrointestinal ou extra intestinal com potencial
subclínico, bem como seronegativo, não responsivo e refratário (SILVA; FURLANETTO,
2010). Embora a biópsia intestinal continue sendo o diagnóstico padrão, testes
sorológicos altamente sensíveis e específicos, como transglutaminase tecidual,
anticorpos endomisial e desamidados de peptídeos gliadinas, tornaram-se

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 506


aaaaaaaaaaaaa gradualmente muito importantes no trabalho de diagnóstico da doença celíaca (NOBRE
et al., 2007; RODRIGO, 2006; PRATESI; GANDOLFI, 2005).
De forma abrangente, pacientes celíacos apresentam dermatite herpetiforme,
anemia, hipoplasia de esmalte dentário, inflamação oral recorrente, baixa estatura,
osteoporose, artrite, problemas neurológicos, elevação inexplicável dos níveis
transaminase, e infertilidade feminina. Portanto, o diagnóstico da doença celíaca requer
um alto grau de acurácia, seguido de rastreamento e teste confirmatório, com biópsia
intestinal, até que se posa constatar quadro clínico correlacionado à enteropatia
imunomediada (CAIO et al., 2019; DE GEORGE, et al., 2017; KELLEHER, 2003; MONT-
SERRAT et al., 2008).
Resumidamente, o diagnóstico da doença celíaca está baseado em exame
clínico, anamnese, histopatológico do intestino delgado, marcadores séricos e o
fechamento do diagnóstico com biopsia intestinal para observação das vilosidades,
criptas e linfócitos intraepiteliais (CAIO et al., 2019; MONT-SERRAT et al., 2008).
A enteropatia imunomediada pode aparecer em qualquer idade do indivíduo e
se caracteriza por uma grande variedade de sinais clínicos e sintomas, que vão muito
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

além do trato gastrointestinal. Em crianças pequenas, problemas gastrintestinais são


comuns e incluem diarreia crônica, distensão abdominal, redução de peso e
retardamento de crescimento. No entanto, em indivíduos de qualquer idade,
manifestações extra intestinal estão se tornando cada vez mais comuns (CAIO et al.,
2019; DE GEORGE, et al., 2017; KELLEHER, 2003; MONT-SERRAT et al., 2008).
Neste contexto, fatores genéticos são os de maior influência (90% a 95% dos
casos), com diagnósticos correlacionados ao marcador HLA DQ2, e em percentual
inferior (5% a 10%) ao marcador HLA DQ8. No entanto, evidenciou-se também, que a
não existência destes biomarcadores não elimina a presença da doença celíaca (KOTZE
et al., 2014; PEREIRA et al., 2006; SILVA; FURLANETTO, 2010).
Estes marcadores (HLA DQ2 e DQ8) são expressos pelas células apresentadoras
de antígenos, fazendo interação entre gliadina e glúten, com receptores de células T,
resultando em uma reação imunológica cruzada, com lesão tecidual intestinal e
formação de anticorpo IgAantigliadina, anticorpo IgAantiendomísio e anticorpo
IgAantitransglutaminase (FERREIRA et al., 2009; BAHIA et al., 2010).

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 507


aaaaaaaaaaaaa O endomísio é o elemento do tecido conjuntivo que reveste a musculatura lisa
do intestino, a transglutaminase após ação a gliadina, torna-se um peptídeo que ao se
ligar as moléculas HLA DQ2/DQ8 acarreta uma grande resposta proliferativa de clones
de linfócitos T CD4+, desenvolvendo resposta Th1 com liberação de citocinas indutoras
da produção de metaloproteinases, atrofiando as vilosidades e causando hiperplasia das
células das criptas da mucosa, já à Th2, desencadeia a produção de anticorpos contra
endomísio e transglutaminase (SIQUEIRA et al., 2014).
O biomarcador HLA DQ2 é comum de ser encontrado na população em geral. No
entanto, a desregulação da resposta imunitária, atrelados com outros mecanismos
genéticos, citocinas ou agentes infecciosos (ainda não identificados), aceleram o
desencadeamento da doença celíaca, que está categorizada e classificada clinicamente
em diversos subtipos: clássica, atípica, silenciosa e latente (NOBRE et al. 2007;
SDEPANIAN et al., 1999).
A forma clássica caracteriza-se, predominantemente, por sintomas
gastrintestinais e síndrome de má absorção e se manifesta, principalmente, entre os 6 a
24 meses de idade, com sintomas de vômitos, diarreia ou constipação crônica, dor e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

distensão abdominal, baixa de peso e sinais de desnutrição, déficit de crescimento,


anorexia, fraqueza, esteatorreia, edema, flatulência, atrofia da musculatura glútea e
anemia (RAUEN et al., 2005; SDEPANIAN et al., 2009; SIQUEIRA et al., 2014; TACK et al.,
2010).
A forma atípica (ou não clássica) diferencia-se pela presença de poucos sintomas
gastrintestinais e uma maior associação com sintomas extra intestinais que agregam ao
indivíduo características adicionais, tais como: baixa estatura, anemia por deficiência de
ferro, anemia por deficiência de folato, anemia por deficiência de vitamina B12, artralgia
ou artrite, dor e distensão abdominal, diarreia ou obstipação intestinal, vômitos,
osteoporose, infertilidade, atraso puberal, alteração do ciclo menstrual, neuropatias,
hipoplasia do esmalte dentário, aborto, ulceras aftosas, alteração das enzimas
hepáticas, dermatite herpetiforme, epilepsia, distúrbios psiquiátrico (LURZ et al., 2009;
PRATESI; GANDOLFI, 2005; SIQUEIRA et al., 2014; TACK et al., 2010).
A forma silenciosa da enteropatia imunomediada se caracteriza pelo diagnóstico
ocasional, histológico ou sorológico, em indivíduos assintomáticos e principalmente
entre familiares de primeiro grau, sendo comprovada via biopsia intestinal. Alguns

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 508


aaaaaaaaaaaaa pacientes relatam que após uma dieta sem glúten, tiveram aumento do apetite,
diminuição da fadiga e melhoria do estado físico e mental (CICLITIRA, 2001; DI-
SABATINO; CORAZZA, 2009; HUSBY et al., 2012; TACK et al., 2010).
A forma latente tem duas modalidades: i) o paciente tem diagnóstico prévio, com
histologia normal e com evolução na dieta isenta de glúten; ii) o paciente tem mucosa
intestinal normal com dieta livre (contendo glúten), nos quais a doença se manifesta
tardiamente. Neste caso, o indivíduo tem biopsia jejunal normal e consome glúten,
entretanto, é possível encontrar alterações inflamatórias moderadas ou mesmo
infiltrações linfocitárias intraepitelial, podendo apresentar sintomas intestinais ou
mesmo extra intestinais (HUSBY et al., 2012; SDEPANIAN et al., 1999; TACK et al., 2010).
O tratamento da doença celíaca continua sendo uma condição desafiadora em
função de ter como única forma de tratamento a dieta isenta de glúten que possibilita
a melhoria da qualidade de vida, amenizando sintomas e prevenindo a ocorrência da
doença, problemas ulcerativos, adenocarcinoma intestinal e linfoma (CAIO et al., 2019;
DE GEORGE, et al., 2017; GUANDALINI; ASSIRI, 2014; KELLEHER, 2003; MONT-SERRAT et
al., 2008).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Alimentos Funcionais e suas Importâncias Nutricionais


O termo alimento funcional foi originalmente introduzido no Japão em meados
dos anos 1980 e se refere aos alimentos processados, contendo ingredientes que
auxiliam em funções específicas do corpo além de serem nutritivos e terem efeito
específico sobre a saúde devido a sua constituição química e que não promovam risco
ao indivíduo (ABDEL-SALAM, 2010).
As evidências científicas de alimento funcional compreendem: i) composição
química ou caracterização molecular, e/ou formulação do produto; ii) ensaios
bioquímicos; iii) ensaios nutricionais e/ou fisiológicos, e/ou toxicológicos em animais de
experimentação; IV) estudos epidemiológicos; v) ensaios clínicos; vi) evidências
científicas vinculadas à organismos internacionais de saúde e legislação
internacionalmente reconhecidas sob propriedades e características do produto e
comprovação de uso tradicional, observado na população, capaz na eficácia e controle
de segurança desses produtos para a saúde (PIMENTEL et al., 2005; VIDAL et al., 2012).

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 509


aaaaaaaaaaaaa Os alimentos e ingredientes funcionais podem ser classificados quanto a sua
fonte ou origem, como benefícios que promovem no sistema gastrointestinal; sistema
cardiovascular; metabolismo de substratos; crescimento; desenvolvimento e
diferenciação celular, além do comportamento das funções fisiológicas e antioxidante
(SOUZA et al., 2003).
De forma abrangente, os alimentos além das suas funções nutricionais têm ações
metabólicas e fisiológicas, tais como: i) importância para o desenvolvimento do sistema
nervoso central; ii) auxiliam na prevenção de doenças cardiovasculares; iii) reduzem
processos inflamatórios e doenças autoimunes; iv) combatem artrite reumatoide e
psoríase e alguns tipos de câncer; v) minimizam os sintomas da menopausa; vi) reduzem
os níveis de colesterol sanguíneo; vii) controlam índices glicêmicos, hipertensão e peso
corporal; viii) melhora da função reprodutiva, e aumentam os níveis de testosterona; ix)
reduzem o colesterol sérico e aumentam a capacidade antioxidante na
hipercolesterolemia; x) aumentam a atividade de enzimas antioxidantes em condições
de estresse oxidativo (CHEN et al.; 2020; DE ARAÚJO et al., 2020; FIGUEIREDO;
MODESTO-FILHO, 2008; MACIEL et al., 2017a; 2017b; 2015a; 2015b; SARTORELLI;
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

CARDOSO, 2006; SLAVIN, 2004; SOARES et al., 2009; VIDAL, et al., 2012).
Os produtos alimentícios podem variar entre nutrientes isolados, produtos de
biotecnologia, suplementos dietéticos, alimentos processados, bem como derivativos
de vegetais. Uma alimentação adequada, portanto, retrata os desafios da atualidade por
ser fundamental para que a manutenção, reparo, processos vitais, crescimento ou
desenvolvimento de um indivíduo sejam atingidas. Portanto, a alimentação saudável é
apontada como um dos principais fatores na redução dos riscos de contração de
doenças no ser humano (CARDOSO, 2006; DELZENNE, 2017; MAHAN, 2005; MULLIN;
NEUMANN et al., 2002; SARTORELLI; SOUZA et al., 2003; SOARES et al., 2009; VIDAL et
al., 2012).
Devido aos avanços na tecnologia de alimentos e ciências nutricionais, muitos
novos produtos alimentícios foram desenvolvidos e comercializados, oferecendo
maiores benefícios para a saúde e o potencial para reduzir o risco de doenças. Muitos
desses produtos alimentícios foram rotulados como alimentos funcionais ou
nutracêuticos, formalmente classificados na Europa como suplementos dietéticos
(BITZIOS et al, 2011; DE ARAÚJO et al., 2018; LEITE et al., 2013; LIMA et al., 2018;

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 510


aaaaaaaaaaaaa MULLIN; DELZENNE, 2017; PÉREZ et al., 2017; POLI et al., 2018; SILVA et al., 2016; ZUIN
et al., 2020).
Diversos fatores têm colaborado para o desenvolvimento de alimentos com
propriedades funcionais, dentre os quais destacam-se dois aspectos importantes: i) os
hábitos modernos de alimentação que têm característica de alimentação pouco
balanceada e carente de nutrientes essenciais ao organismo; ii) o crescente
aparecimento de doenças crônicas não-transmissíveis que acarretam diminuição da
expectativa de vida (ANJO, 2004; CHEN et al., 2020; DELMAS-BEAUVIEUX et al., 1996;
ZUIN et al., 2020).
De acordo com Moraes; Colla (2006) as substâncias biologicamente ativas
encontradas nos alimentos funcionais podem ser classificadas como: ácidos graxos poli-
insaturados, alimentos nitrogenados e sulfurados, compostos fenólicos, fibras,
pigmentos e vitaminas, prebióticos, eprobióticos. Os ácidos graxos poli-insaturados
(ômega 3 e ômega 6) são os destaques, e podem ser encontrados nos peixes de águas
frias (salmão, atum, sardinha, bacalhau), bem como óleos vegetais, sementes de linhaça,
nozes e alguns vegetais.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Os compostos fenólicos são classificados como fenóis simples, fenóis compostos


e os flavonoides, que é mais amplamente encontrado nos tecidos vegetais, sua principal
função é ação antioxidante com capacidade de inibir a oxidação de lipoproteínas de
baixa densidade (LDL) assim reduzindo a formação de trombos (RIBEIRO; SERAVALLI,
2004; RAUHA et al., 2000).
Os alimentos nitrogenados e sulfuradossão compostos orgânicos de proteção
contra carcinogênese e mutagênese sendo precursor das enzimas de purificação do
fígado, como os glucosinolatos, e estão presentes no brócolis, couve-flor, repolho,
rabanete, palmito e alcaparra. Estes alimentos, são ativadores das enzimas de
detoxificação do fígado (ANJO, 2004; MITHEN et al., 2000; MULLIN; DELZENNE, 2017).
As fibras têm elevado peso molecular, não sofrem hidrolises pela ação
enzimática do intestino, porém, sofrem fermentações por algumas bactérias. São
encontradas nos vegetais (grãos, verduras, raízes e hortaliças) e têm um papel muito
importante na função cardiovascular e trato digestivo (PIMENTEL et al., 2005).

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 511


aaaaaaaaaaaaa Os carotenoides são antioxidantes naturais que estão presentes nos alimentos
com pigmentação amarela, laranja ou vermelha. São precursores da vitamina A e
Licopeno (BOREL, 2018).
A vitamina E é o principal componente transportado na corrente sanguínea
protegendo os lipídios da peroxidação, e a vitamina C tem sua principal ação protetora
contra danos causados pela exposição as radiações e medicamentos além de seu uso na
conservação de alimentos. Neste cenário, o selênio pode interagir com a vitamina A e E
na prevenção de carcinomas, bem como na terapia da imunodeficiência adquirida
(BIANCHI; ANTUNES, 1999; GAZZONI, 2003; SUMIDA, et al., 2021).
Os prebióticossão oligossacarídeos não digeríveis, porém fermentáveis, sua
principal função é mudar a atividade e a composição da microbiota intestinal,
estimulando o crescimento dos grupos endógenos de população microbiana, como as
Bifidobactériase os Lactobacillos que são benéficos para a saúde humana (BLAUT, 2002).
Já os probióticos são microorganismos vivos que podem ser incluídos na alimentação
como suplementos, também conhecidos como bioterapêuticos, bioprotetores e
bioprofiláticos, sua aplicação mais correlacionada para prevenir as infecções entéricas e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

gastrointestinais (BLAUT, 2002; REIG; ANESTO, 2002; PÉREZ-ARMENDÁRIZ; CARDOSO-


UGARTE, 2020).
Maciel et al. (2015b) agregaram valor biotecnológico ao aproveitamento do
rejeito do pedúnculo do caju (Acacardium occidentale L.) objetivando a produção de
alimentos funcionais com propriedade antioxidante. Por uma questão de
conscientização ambiental e pensando em uma alimentação saudável, a pesquisa
consistiu na utilização da farinha do caju (FC) para produção da biomassa denominada
FCB, que corresponde a mistura FC (obtida do bagaço de caju) enriquecida com berinjela
(Solanum melongena L.) desidratada. Antioxidantes de alimentos são substâncias
naturais ou sintéticas utilizadas para preservar alimentos pela inibição de processos de
deterioração. É conhecido que aditivos antioxidantes presentes na alimentação
industrializada, contém diversos tipos de agentes químicos que são amplamente
utilizados na conservação de alimentos. Alguns deles (como os sais de sódio e os
sintéticos BHA, BHT, galato de propila, terc-butil-hidroquinona, 2,4-hexadienoatos)
sofrem restrições severas em função de apresentarem efeitos adversos, tais como:
alergias, problemas gastrintestinais, disfunção imunológica, efeitos mutagênico e

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 512


aaaaaaaaaaaaa carcinogênico. O referido estudo, produziu de um aditivo natural denominado BIO-FCB
(bioaditivo de alimento a base da farinha FCB) contendo propriedades umectante e
antioxidante.

4. BIOMASSAS ALIMENTÍCIAS ISENTAS DE GLÚTEN


Da Silva et al. (2021) desenvolveram uma biomassa nutricional a base de
Manihot esculenta Crantz suplementada com o vegetal Ipomoea batatas (L.) Lam. (na
proporção 1:1), suas caracterizações físico-químicas e aplicação no preparo de biscoitos
do tipo Cookies. A espécie Manihot esculenta Crantz (macaxeira) por possuir elevado
valor nutricional, apresenta-se como uma alternativa eficaz no desenvolvimento de
novos produtos alimentícios funcionais. A raiz da macaxeira possui um alto teor de
amido e seu valor energético detém 30% de carboidratos. As matérias primas foram
adquiridas comercialmente, higienizadas com solução clorada, seguido de corte,
secagem em estufa com circulação de ar, trituraçãoe peneiramento. As análises
bromatológicas da biomassa suplementada mostraram: 6,25% de umidade, 7,68% de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

proteínas, 81,99% de carboidratos, 0,43% de lipídios, 1,98% de fibras, 1,65% de cinzas,


93,75% de sólidos totais, pH 6,19 e foi ausente para crescimento bacteriano. Para os
Cookies obteve-se: 8,85% de umidade; 2,75% de proteínas, 68,78% de carboidratos,
11,42% de lipídios, 6,12% de fibras, 2,06% de cinzas, 91,14% de sólidos totais, pH 7,32.
Os níveis calóricos foram 351,70 (MEIB) e 362,60±1,85 (Cookies). A análise sensorial
realizada para o produto alimentício (Cookies) contemplou 285 provadores que
demonstraram aceitação acima de 75%.
Di Cairano et al. (2021) utilizaram farinhas subexploradas (trigo sarraceno,
milheto, sorgo, lentilhas e grão-de-bico) para o desenvolvimento de biscoitos sem glúten
com reduzido índice glicêmico. A presença de farinha de grão de bico aumentou a dureza
dos biscoitos. A análise sensorial demonstrou as formulações estavam acima do limite
de aceitação; a desintegração e a facilidade de engolir foram os impulsionadores dessa
aceitação. Os biscoitos experimentais apresentaram valores similares entre si com
índice glicêmico menor, em comparação com produtos comerciais.
Cervini et al (2021) prepararam biscoitos isentos de glúten usando 100% de uma
mistura de farinha disponível comercialmente, e suas misturas com 15%, 30% e 45%
(p/p) de um novo ingrediente rico em amido resistente, obtido a partir de amido de

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 513


aaaaaaaaaaaaa sorgo branco recozido (RSWS). Diferenças na composição química foram relatadas em
funçaõ dos níveis crescentes do ingrediente rico em RSWS. O menor teor de proteína e
o maior teor de fibra foram obtidos quando o nível de RSWS aumentou na receita. No
que se refere aos parâmetros de qualidade, o uso do RSWS influenciou na dureza dos
biscoitos, sendo o maior valor obtido para o 45-RSWS. Alguns dos atributos sensoriais
selecionados, juntamente com o escore geral de aceitabilidade, foram influenciados
negativamente pela adição do RSWS. Segundo os autores, o uso de RSWS pode
contribuir para a criação de produtos alimentícios isentos de glutén, com propriedades
de amido de digestão lenta, e isso pode ser alcançado sem comprometer drasticamente
a qualidade e os atributos sensoriais do alimento.
Lafia et al. (2020) desenvolveram, caracterizaram e avaliaram sensorialmente
biscoitos doces, salgados e do tipo raivinhas, com a adição de 40% de farinha de batata-
doce, por ser fonte de proteína. Foi realizada a caracterização físico-química dos
biscoitos, e verificou-se que houve melhoramento das características nutricionais, com
elevado teor protéico. A análise sensorial mostrou que as diferentes formulações de
biscoitos apresentaram boa aceitação em todos os seus atributos e proporcionaram boa
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

intenção de compra pelos avaliadores.


De Araújo et al. (2021) utilizaram rejeito orgânico do caju para formular biscoitos
isentos de glúten, à base da farinha de caju processada. A composição química dos
biscoitos mostrou perfil alimentar rico em fibras e carboidratos. Em relação às
características sensoriais, os biscoitos demonstraram um perfil de aceitação satisfatório
em vários atributos analisados. Quanto à análise microbiológica, nenhuma presença
significativa de microorganismos foi detectada. A farinha de caju processada mostrou-
se nutricionalmente aceitável e juntamente com a aceitação sensorial dos biscoitos, foi
considerada como uma biomassa adequada para a produção de diversos produtos de
panificação.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ALIMENTOS FUNCIONAIS E SUAS IMPORTÂNCIAS NUTRICIONAIS PARA DOENTES CELÍACOS 522


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XXXIX
DOENÇAS PROSTÁTICAS
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-39
Tamara Silva ¹
Pedro Hernán Cabello Acero ²
¹Doutoranda em Biotecnologia. Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia. Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia - INMETRO
² Professor Adjunto Doutor da Escola de Ciências da Saúde. Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO

RESUMO
A mudança estrutural da pirâmide etária da população brasileira tem gerado, nas
últimas décadas, um aumento substancial nas patologias de etiologia genética e crônico-
degenerativas, provocando forte impacto socioeconômico na população idosa. O câncer
de próstata (CaP) e a hiperplasia benigna prostática (HBP) são duas das doenças
consideradas mais agressivas e estão aumentando na população com faixa etária mais
avançada. Tais patologias apresentam etiologia multifatorial, com ênfase para idade e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

fatores genéticos, e possuem altos índices de morbidade e mortalidade. Desde que o


antígeno específico prostático foi purificado em 1979, diversas estratégias de
diagnóstico envolvendo o rastreamento populacional tem sido alvos de intenso debate.
Assim, adotaram-se novos procedimentos de diagnóstico, tratamento e gerenciamento
das doenças prostáticas, com os avanços nas técnicas cirúrgicas, nos exames de imagem,
na utilização de radiação e de agentes imuno e hormonioterápicos. Devido à enorme
carga, principalmente do CaP no Brasil e no mundo todo, abordagens inovadoras para o
diagnóstico precoce e tratamento dessas patologias são necessárias.

Palavras-chave: Câncer de Próstata. Hiperplasia Benigna Prostática. Doenças


prostáticas. Rastreamento precoce.

DOENÇAS PROSTÁTICAS 523


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O câncer é caracterizado pela proliferação anormal de células, devido à perda do
controle da divisão destas, ocorrendo então a formação de tumores. Basicamente
qualquer célula do corpo humano tem o potencial para se transformar em tumoral,
sendo o início do processo de carcinogênese marcado por diversas alterações no
material genético levar à desregulação da expressão de diversos genes essenciais para
o correto funcionamento dos tecidos. A literatura descreve os hallmarks do câncer com
uma base sólida para o entendimento da patogênese tumoral e que podem ser divididos
de acordo com as funções fisiológicas que modificam: a autossuficiência em sinais de
crescimento, evasão aos supressores tumorais e evasão a morte celular, potencial
replicativo ilimitado, indução de angiogênese, ativação de invasão e metástase,
instabilidade genômica e mutacional, inflamação promotora de tumores, desregulação
do metabolismo e a evasão ao sistema imune (Hanahan e Weinberg, 2011; Hollstein et
al., 2017).
A fisiopatologia do câncer envolve ainda a construção de um microambiente
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

tumoral arquitetado pelas próprias células tumorais, pela matriz extracelular (MEC) e
por diversas células que são recrutadas e que contribuem para a manutenção e suporte
ao crescimento contínuo e descontrolado do tumor. O estroma tumoral é composto por
fibroblastos associados ao tumor (CAFs), as células endoteliais, os pericitos, as células
tronco tumorais (CSCs) e as células inflamatórias que incluem células imunes inatas e
adaptativas como os macrófagos associados ao tumor (TAM), os linfócitos CD8, CD4 e
Th, as células NK e os granulócitos. O recrutamento desses tipos celulares pode ocorrer
por diferentes origens, seja a partir do tecido normal adjacente, derivadas de células
saudáveis que sofrem subsequentes mutações, ou ainda advindas da medula óssea
(Yuan et al., 2016; Yang e Lin, 2017; Denton et al., 2018; Taniguchi et al., 2019).

2. EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER
Um quadro extremamente desafiador vem sendo formado há algumas décadas
no cenário brasileiro devido à mudança em sua composição etária. Sabe-se que a
população idosa está aumentando e com isso podemos observar uma progressão de
diversas doenças, dentre elas o câncer de próstata (CaP) que é considerado

DOENÇAS PROSTÁTICAS 524


aaaaaaaaaaaaa característico da terceira idade. Segundo a estimativa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em 2043 um quarto da população terá idade superior a
60 anos. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), para cada ano do
biênio 2020/2022 foi estimado 625 mil novos casos de câncer, sendo 65.840 casos de
câncer de próstata, com risco estimado de 62,95/100 mil homens, e 66.280 casos de
câncer de mama, com risco estimado de 61,61/100 mil mulheres, fazendo com que esses
sejam os tipos mais incidentes em homens e mulheres, respectivamente, com exceção
do câncer de pele não melanoma. Em particular, os dados a respeito da neoplasia
prostática são expressamente preocupantes pois se trata de uma patologia que, quando
diagnosticada precocemente, as chances de cura são de 80 a 90%. Visto que os homens
aderem pouco aos tratamentos de prevenção e possuem menos iniciativa de se
consultar periodicamente com um médico, é se de esperar que doenças relacionadas à
população masculina, e suas possíveis complicações, terminem por levá-los a quadros
mais graves.
Em decorrência desses números alarmantes, atualmente o câncer é considerado
uma das doenças que mais causam problemas de saúde pública gerando grande impacto
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

econômico não apenas aos familiares dos indivíduos afetados, mas também ao sistema
de saúde do país devido aos custos relacionados ao diagnóstico e tratamento.
Como mencionado, devido ao aumento da expectativa de vida da população, são
cada vez mais frequentes as alterações envolvendo a próstata. Face ao exposto,
daremos ênfase a duas patologias cujas alterações são clinicamente mais severas, a
hiperplasia benigna prostática (HBP) e o câncer de próstata.

3. FISIOPATOLOGIA DA PRÓSTATA
Anatomia da Próstata
A próstata é uma glândula exócrina do sistema genital masculino, localizada a
frente do reto e abaixo da bexiga. Esta glândula possui forma arredondada, pesando em
torno de 20 g, mede cerca de 4 cm de comprimento e 4 a 5 cm de largura. Seu
desenvolvimento é estimulado pela testosterona e sua principal função é secretar o
fluido seminal (Umbreit et al., 2012). Este órgão é revestido por uma cápsula
denominada cápsula prostática, cuja formação é composta por uma camada de tecido

DOENÇAS PROSTÁTICAS 525


aaaaaaaaaaaaa conjuntivo, que por sua vez é formado por fibras de colágeno e elastina, além de
musculatura lisa. Anatomicamente a próstata é dividida em quatro zonas distintas:
central, de transição, periférica e estroma fibromuscular anterior (Omabe e Ezeani,
2011; Ovalle e Nahirney, 2013).
A zona central é conhecida pelo seu formato cônico e envolve a uretra e os
ductos seminais e nela se originam boa parte dos processos inflamatórios. A região da
zona de transição é localizada entre as zonas periférica e central e, frequentemente é
associada à hiperplasia benigna prostática (HBP). Já a zona periférica é composta pelo
tecido glandular presente no ápice e o tecido posterior encontrado próximo a cápsula
prostática, e é comumente associada à formação de carcinomas (Hammerich et al.,
2009; Packer et al., 2016).
Analisando a histologia prostática, é visível a presença de pelo menos mais duas
estruturas básicas, o epitélio glandular e o estroma. Com relação ao epitélio glandular,
este é composto por células secretoras, basais e neuroendócrinas, que se organizam
formando ductos e ácinos. As células luminais ou secretoras apresentam formato
colunar, com citoplasma eosinofílico e núcleo redondo, sendo responsáveis pela
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

secreção de uma variedade de produtos no lúmen como o antígeno específico da


próstata (PSA), zinco, ácido cítrico, fosfatase ácida, além de expressar algumas
citoqueratinas (Toivanen e Shen, 2017).
As basais se apresentam com núcleo ovoide e citoplasma sutil, expressam
grandes quantidades de citoqueratinas e estão intercaladas entre a membrana basal e
as células secretoras. As células neuroendócrinas possuem alta expressão de
cromogranina e sinafofisina e estão localizadas na camada de células basais. O estroma
fibromuscular ou prostático contém fibroblastos e células musculares que auxiliam a
eliminação das secreções para a uretra, devido a sua capacidade contrátil (Ovalle e
Nahirney, 2013; Yacoub e Oto, 2018).
O desenvolvimento da próstata ocorre sob ação hormonal de androgênios como
testosterona e androstenediona, ambos responsáveis pelos processos de morfogênese,
citodiferenciação, proliferação e produção de secreções específicas da próstata. De
forma geral, a testosterona é produzida nos testículos através do estímulo do hormônio
luteinizante da hipófise, que entra nas células prostáticas por difusão simples e é
rapidamente metabolizada pela enzima 5-alfa redutase, que converte essa testosterona

DOENÇAS PROSTÁTICAS 526


aaaaaaaaaaaaa em um subproduto mais ativo, a di-hidrotestosterona (DHT). Por sua vez, a DHT se liga
aos receptores de androgênio (AR) que se encontram no citoplasma das células
prostáticas e logo após ocorre a fosforilação, dimerização e translocação do complexo
DHT-AR para o núcleo. Tal complexo promove a transcrição de genes que contém
elementos responsivos aos androgênios (AREs) e que possuem diversas funções no
desenvolvimento e manutenção da glândula prostática. O complexo DHT-AR também
atua em outros eventos associados ao câncer e a HBP, sendo considerado um
importante alvo na intervenção clínica com a finalidade de impedir o crescimento
tumoral (Niu et al., 2010; Walters et al., 2010; Zhou et al., 2015; Caffo et al., 2016; Grosse
et al., 2012).

Doenças da próstata
Grande parte das lesões provocadas por adenocarcinomas prostáticos ocorrem
na zona periférica da glândula, com menos frequência ocorrem na zona de transição e
quase nenhuma surge na zona central. No entanto, as lesões consideradas benignas e
provocadas pela HBP são mais comuns na zona de transição, que pode aumentar
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

consideravelmente de tamanho. Quando um processo de inflamação é iniciado, este


acontece proeminente nas zonas periférica e de transição, porém é bastante variável, e
quando a inflamação é encontrada na zona de transição frequentemente está associada
a nódulos e atrofia. Na maioria dos casos, a inflamação na zona periférica ocorre em
associação com atrofia.

3.2.1. Hiperplasia Benigna Prostática (HBP)


A HBP ocorre a medida que a glândula prostática cresce de forma anormal,
porém sem que ocorra a invasão de tecidos vizinhos. Esta patologia é caracterizada
como um tumor benigno que é dependente da DHT para seu desenvolvimento e é
considerada pelos especialistas a doença geniturinária não-maligna mais comum na
população idosa masculina brasileira (De Marzo et al., 2007; Minutoli et al., 2016).
Devido ao aumento do volume da glândula, a bexiga e a uretra são comprimidas
provocando a manifestação de alguns sintomas como a noctúria, a polaquiúria,
esvaziamento incompleto da bexiga, infecções urinárias recorrentes, insuficiência renal,
entre outros (Chughtai et al., 2016).

DOENÇAS PROSTÁTICAS 527


aaaaaaaaaaaaa 3.2.2. Câncer de próstata (CaP)
A neoplasia prostática é considerada bastante heterogênea em relação a sua
morfologia, ao comportamento biológico e manejo terapêutico (Marshal e Graaff, 2001;
Cambruzzi et al., 2010). Inicialmente a doença pode demonstrar evolução silenciosa,
muitas vezes sem que o indivíduo afetado apresente sintoma algum, ou quando
apresenta pode ser confundido com o aumento natural da glândula prostática como
consequência do processo de envelhecimento. No entanto, quando o câncer se
encontra em fase avançada, os sintomas variam desde dor aguda ao urinar, insuficiência
renal, impotência sexual e outras manifestações gerados por processos metastáticos,
como por exemplo dores ósseas (Nunes et al., 2010; Hollstein et al., 2017).
Mediante a progressão das células neoplásicas e perda da sua especificidade,
estas podem se diferenciar e, através do processo da angiogênese, migrar para os
tecidos adjacentes, como o da bexiga, das vesículas seminais e também para os sistemas
linfático e hematopoiético. Entretanto, alguns tumores podem continuar localizados
durante muitos anos enquanto outros podem realizar metástases de maneira rápida,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

variando assim o curso clínico da doença (Gundem et al., 2015). Apesar de alguns
estudos sugerirem que condição genética, hormonal e inflamatória do organismo dos
indivíduos possam se apresentar como fatores de suscetibilidade para o
desenvolvimento das patologias, a relação entre HBP e CaP ainda não é totalmente
compreendida (Chughtai et al., 2016).

4. FATORES DE RISCO
Diversos fatores de risco parecem contribuir para o desenvolvimento do CaP
como predisposição genética, processos inflamatórios, dieta hiperlipídica, fatores
hormonais, a idade e também a etnia. De maneira geral, indivíduos obesos e/ou
fumantes apresentam um risco aumentado para a manifestação da forma mais agressiva
do CaP, bem como maiores complicações. A etnia é outro agente influenciador que deve
ser considerado no qual homens de ascendência africana têm as maiores taxas de
incidência e mortalidade de CaP (ACS, 2016). Contudo, estudos adicionais em relação a
essas populações são necessários para entender melhor a base genética do câncer
prostático (Rebbeck, 2017).

DOENÇAS PROSTÁTICAS 528


aaaaaaaaaaaaa Fatores genéticos relacionados ao CaP
Diversos genes considerados importantes para a origem de uma neoplasia são
responsáveis por produzir componentes de vias bioquímicas, como as de sinalização que
regulam o desempenho celular. As proteínas que são codificadas por proto-oncogenes,
em geral, conduzem a progressão do ciclo celular apenas quando os fatores de
crescimento estão disponíveis. No entanto, estas proteínas podem sofrer alterações de
modo que passam a emitir sinais proliferativos sem a necessidade de formação de novas
células, causando assim o crescimento desordenado. Há também as proteínas que são
produzidas por supressores tumorais e quando alteradas podem perdem sua função de
inibição do crescimento celular, de reparo do DNA e do incentivo à apoptose de células
danificadas, acarretando um acúmulo de mutações que contribui para a gênese tumoral.
As modificações que ocorrem nos proto-oncogenes os convertem em oncogenes
proporcionando efeito dominante que favorece a perda do controle celular, diferente
dos genes supressores tumorais que precisam de dois eventos mutacionais devido ao
seu caráter recessivo (Alberts et al., 2010; Raven et al., 2014). De maneira geral o câncer
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

é uma desordem na qual as alterações genéticas e epigenéticas se reúnem e podem


modificar uma célula normal em tumoral. Alguns fenômenos epigenéticos, como as
alterações das histonas e a metilação do DNA, apresentam um importante papel para o
desenvolvimento natural e são essenciais no planejamento correto da expressão gênica
(Rugo et al., 2020).

Fatores inflamatórios relacionados ao CaP


Mesmo sem ter uma causa anteriormente estabelecida, vários processos
inflamatórios podem estimular o desenvolvimento e progressão do processo da
tumorigênese. Entretanto é importante ressaltar que apesar de alguns estudos terem
associado o processo de inflamação crônica e a formação de tumores, nem todas as
doenças inflamatórias crônicas aumentam o risco de câncer e algumas delas podem até
reduzi-lo, como a psoríase por exemplo (Grivennikov et al., 2010). Todavia, quando
comparamos à indivíduos saudáveis, 20% dos indivíduos afetados pela HBP apresentam
risco elevado de desenvolver a neoplasia prostática por conta da inflamação crônica da
próstata (Lorusso e Rüegg, 2008).

DOENÇAS PROSTÁTICAS 529


aaaaaaaaaaaaa Alterações nas células relacionadas ao processo inflamatório, os mediadores
inflamatórios, como IFN-γ, TNF-α, NF-κ B, CSF-1R, CCL-2 e diversas interleucinas (IL)
presentes podem influenciar a progressão tumoral e sua metástase devido a uma falha
no controle da resposta imune (Naugler e Karin, 2008). De forma geral, as citocinas
podem regular e induzir um grande número de respostas tanto em condições
patológicas como fisiológicas, e são caracterizadas de acordo com sua função no
organismo. A IL-6 e TNF, por exemplo, são umas das principais citocinas da imunidade
inata, o IFN-γ é responsável pelo acionamento de células inflamatórias e NF-κβ é um
ativador central de cascatas antiapoptóticas em resposta a diversos estímulos. Com base
na literatura, estima-se que o processo inflamatório crônico é responsável por 1 em cada
4 casos de diferentes tipos de câncer sendo então alvo de diversas propostas
terapêuticas promissoras para alguns tipos de câncer (Panday et al., 2016).

5. RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO PRECOCE


Como o CaP pode apresentar comportamento biológico variado, alguns fatores
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

prognósticos estão bem definidos, como o diagnóstico realizado pela combinação do


exame de toque retal (DRE), verificação dos níveis de PSA total e livre (Antígeno
Específico Prostático), uso da ultrassonografia transretal da próstata (TRUS) e, nos casos
em que já suspeita de formação tumoral, se faz necessária a determinação do grau de
diferenciação histológica de tumor, de acordo com a classificação de Gleason (INCA,
2018). Apesar da utilização do PSA como padrão ouro e dos outros métodos clínicos ou
patológicos para diagnósticos de doenças prostáticas, muitos pesquisadores mostraram
pouca melhora no índice de mortalidade de indivíduos afetados.
No geral a terapêutica do CaP é realizada através de tratamentos com o objetivo
de promover um efeito paliativo, curar e/ou impedir seu retorno. Atualmente alguns
dos métodos que existem para tratar o câncer são imunoterapia, terapia-alvo,
hormonioterapia, quimioterapia, radioterapia e cirurgia, sendo as duas últimas as mais
utilizadas (James et al., 2016). É importante salientar que os tratamentos propostos
proporcionam efeito mais satisfatório quando o diagnóstico é realizado precocemente.
A descoberta tardia pode ocasionar implicações na progressão da doença e também na
qualidade de vida do indivíduo afetado.

DOENÇAS PROSTÁTICAS 530


aaaaaaaaaaaaa
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se que seja de suma importância a realização de estudos que possam
promover o rastreamento de alterações em diversos genes provavelmente associados
ao desenvolvimento sobretudo do CaP uma vez que estes podem contribuir para o
diagnóstico precoce, através da descoberta de marcadores moleculares, e possibilitar o
desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas.

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DOENÇAS PROSTÁTICAS 533


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XL
EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS
INDIVÍDUOS PORTADORES DE
COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM
CENTRO DE HEMOTERAPIA NO
ESTADO DE SERGIPE
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-40
Weber de Santana Teles ¹
Claudiana Nunes Santos ²
Paloma Dias Pádua ³
Max Cruz da Silva 4
Ruth Cristini Torres 5
Paulo Celso Curvelo Santos Júnior 6
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Ângela Maria Melo Sá Barros 7


Marcel Vinícius Cunha Azevedo 8
Maria Hozana Santos Silva 9
¹
Doutor em saúde e ambiente. Centro de Hemoterapia de Sergipe – HEMOSE
²
Biomédica. Universidade Tiradentes - UNIT
³
Biomédica. Universidade Tiradentes - UNIT
4
Graduando em enfermagem. Faculdade Pio Décimo – FAPIDE
5
Doutora em saúde e ambiente. Instituto de Hemoterapia e Hematologia de Sergipe – IHHS
6
Mestre em saúde e ambiente. Universidade Tiradentes – UNIT
7
Mestre/doutoranda em enfermagem. Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
8
Mestre em saúde da família. Centro Universitário Estácio de Sergipe
9
Mestre em saúde e ambiente. Faculdade Ages de Medicina

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
534
aaaaaaaaaaaaa
RESUMO
Os distúrbios hemorrágicos hereditários provocam alterações no processo de
coagulação sanguínea, sendo as hemofilias A e B e a doença de Von Willebrand as mais
comuns. Objetivo: Levantamento científico das condições clínicas dos portadores de
coagulopatias e análise de resultados dos indivíduos que realizaram o diagnóstico
laboratorial em um Centro de Hemoterapia Sergipano. Métodos: Trata-se de uma
pesquisa com 212 pacientes, abrangendo fatores epidemiológicos. Os dados foram
estruturados no Microsoft Excel 2016 e analisados estatisticamente no IBM Statistical
Package for Social Sciences (SPSS) 22,0. Resultados: 59% (125) dos pacientes são do sexo
masculino e 41% (87) são do sexo feminino (41%), sendo que, dos pacientes masculinos,
97,9% (92) apresentaram hemofilia A, 100% tiveram hemofilia B (12) e 20,0% (21) a
doença de Von Willebrand; no sexo feminino, 2,1% (2) foram diagnosticadas com
hemofilia A, 80,0% (84) com a doença de Von Willebrand e 0% (0) com hemofilia B.
Houve, ainda, 0,5% (1) dos casos com deficiência de fator VII, sendo esta num sujeito do
sexo feminino. Dos pacientes que obtiveram o diagnóstico da coagulopatia no Centro
de Hemoterapia, houve uma maior prevalência da doença de Von Willebrand, seguida
da hemofilia A e, por último, da hemofilia B. Conclusão: Observa-se, através dos
resultados encontrados, que pacientes atendidos em um Centro de Hemoterapia do
estado de Sergipe apresentam semelhanças com pacientes de outros hemocentros
quanto ao perfil epidemiológico; no entanto, enquanto houve investimentos em
tratamento para coagulopatias, houve grande melhoria na qualidade de vida dos
portadores.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Palavras-chave: Epidemiologia. Coagulopatias. Hemoterapia. Hemofilias.

1. INTRODUÇÃO
As coagulopatias hereditárias (hemofilias A e B e doença de Von Willebrand) são
distúrbios hemorrágicos decorrentes da deficiência qualitativa ou quantitativa de um ou
mais fatores da coagulação sanguínea, as quais se caracterizam por episódios de
sangramentos com grau variável, pós-traumáticos ou espontâneos, ocasionados pela
diminuição na formação de trombina, proteína necessária para o processo da
coagulação (BRASIL, 2010).
Entre as coagulopatias hereditárias a que apresenta maior índice é a Doença de
Von Willebrand, uma vez que é classificada pelo tipo 1, sendo a forma em que mais
ocorre, com apresentação de sintomas mais moderados; por sua vez, o subtipo 2N e o
tipo 3 não acontecem com frequência, apresentando episódios hemorrágicos graves.
(BRASIL, 2016).
As principais manifestações clínicas dos episódios hemorrágicos são os
sangramentos, que acontecem seja de forma espontânea, por cirurgia ou induzida por

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
535
aaaaaaaaaaaaa trauma (GUYTON, 2011). Nesse sentido, a realização de uma anamnese aprimorada é
fundamental para guiar o diagnóstico, tendo em vista uma atenção maior em relação à
presença de sangramentos ocasionados por pequenos cortes ou após extração dentária,
hematomas (intramuscular), hemartroses (intra-articular), equimoses espontâneas e
histórico familiar (REZENDE, 2010).
Atualmente, a gravidade da hemofilia tem sido definida das seguintes formas:
leve – quando não há sangramentos involuntários; moderada – quando há a presença
de sangramentos associadas a pequenos traumas, e grave – quando há sangramentos
de forma espontânea ou após pequenas lesões (SRIVASTAVA ET AL. 2013).
O diagnóstico laboratorial das hemofilias A e B é realizado através de exames
laboratoriais para triagem, quais sejam: Tempo de Protrombina (TP) e Tempo de
Trobomplastina Parcial Ativada (TTPA) sob a investigação do fator VIII e/ou fator IX,
tempo de coagulação e contagem de plaquetas. Diante disso, se a deficiência acometer
o fator IX, não é obrigatório exame posterior; no entanto, se a deficiência acometer o
fator VIII, é necessário utilizar outros métodos para avaliar o antígeno de Von Willebrand
no plasma por eletroimunoensaio, para descarte de alguma probabilidade entre a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

doença de Von Willebrand e a Hemofilia A, devido a ambos possuírem uma deficiência


no fator FVIII (BRASIL, 2016).
Desse modo, o diagnóstico da Doença de Von Willebrand é realizado através de
uma anamnese e do histórico familiar com sintomatologia hemorrágica, sendo
acompanhado por testes laboratoriais mais específicos que indiquem uma deficiência
no fator de Von Willebrand. Portanto, é de importância clínica a avaliação do período
de tempo em que ocorreram as manifestações de sangramentos, pois existe a
possibilidade de a Doença de Von Willebrand (DVW) ser de forma adquirida ou
secundária a doenças malignas e autoimunes (BARBOSA ET AL. 2007).
Ressalta-se, nesse contexto, que os testes mais específicos para o diagnóstico
são, a saber: o cofator de ristocetina (FVW: RCo), o teste imunológico para o FVW (FVW:
Ag) e o teste que avalia a função do FVIII (FVIII: C). Além disso, o tempo de sangramento
(TS) e a contagem plaquetária também são realizados para fechar o diagnóstico DVW
(BARBOSA ET AL. 2007).
Entretanto, surgem, devido ao sangramento, consequências, por isso é
necessário intervir por meio de uma interrupção fisiológica através da aplicação

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
536
aaaaaaaaaaaaa endovenosa dos fatores de coagulação (FVIIIR, FVIII, FIX e FEIBA) deficientes no plasma.
Tem-se em vista que a maneira mais segura de reposição dos fatores da coagulação é
pelo uso dos concentrados liofilizados específicos (BRASIL, 2008; COVAS, 2007).
Existem dois tipos de tratamento que utilizam concentrado de fatores da
coagulação, a saber: o tratamento sob demanda e o tratamento profilático. O
tratamento por demanda se trata da reposição de concentrado dos fatores de
coagulação após a ocorrência de episódios hemorrágicos, e o tratamento profilático, por
sua vez, indicado aos pacientes com hemofilias graves, tem como intuito principal evitar
o aparecimento das hemartroses de repetição, as quais podem ocasionar alterações
funcionais definitivas (BRASIL, 2011).
O Congresso Mundial de Hemofilia salienta que a terapêutica da hemofilia tenha
a atuação de uma equipe multidisciplinar e ressalta também que o paciente e a equipe
devem expor possibilidades de implantação de tratamento domiciliar, para uma maior
comodidade, permitindo, assim, que o hemofílico exerça normalmente suas atividades
(SOUZA, 2012).
De acordo com a audiência pública para aquisição de concentrado de fator de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

coagulação, são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde os concentrados de fator


VIII e IX. O kit é composto por uma ampola com pó, seringa, algodão e curativos. O
acesso a qualquer uma das doses dos tratamentos deve utilizar um cálculo de acordo
com o peso corporal do paciente, o grau da hemofilia e a atividade do nível de fator
circulante (BRASIL, 2018).
Conforme a Federação Brasileira de Hemofilia (WFH, 2014) todo paciente
hemofílico pode levar doses domiciliares (DD) para sua residência, dependendo da
gravidade da hemofilia. Para isso, é necessário possuir um cadastro, um CTH, e realizar
todos os exames prescritos pelo hematologista e, posteriormente, ser treinado para
infusão intravenosa.
O diagnóstico das coagulopatias possibilita uma ação mais precoce da equipe
multiprofissional que as monitoram ou acompanham, assegurando um suporte
satisfatório para os pacientes, oferecendo-lhes melhoria na qualidade de vida (OLIVEIRA,
2009). Diante disso, a conduta do Biomédico na equipe supracitada é de suma
importância, através dos achados laboratoriais corretos e precisos, para que os
hematologistas deem continuidade ao tratamento profilático da hemofilia.

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
537
aaaaaaaaaaaaa Baseado nisto, o presente estudo teve como objetivo realizar um levantamento
científico das condições clínicas de indivíduos de coagulopatias e analisar os resultados
dos indivíduos que realizaram o diagnóstico laboratorial em um centro de hemoterapia
no estado de Sergipe.

2. METODOLOGIA
Foi feito um estudo de caráter exploratório transversal por meio da análise dos
prontuários de pacientes portadores de coagulopatias atendidos em ambulatório e no
setor de transfusão do centro de hemoterapia no estado de Sergipe. Trata-se de uma
pesquisa com 212 pacientes que possuem coagulopatias, como as Hemofilias A e B e a
Doença de Von Willebrand, abrangendo fatores epidemiológicos, clínicos, diagnósticos
e terapêuticos, como gênero, idade, naturalidade, profissão, tipo de hemofilia, exames
diagnósticos, sintomas, locais acometidos e medicações.
Os resultados acerca do diagnóstico foram obtidos apenas dos indivíduos que
realizaram os testes de fator VIII, de Cofator VW, de Cofator de Ristocetina, de Fator IX
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

e de TTPA e que obtiveram seu diagnóstico no centro de hemoterapia do estado de


Sergipe.
Todos os dados foram estruturados no Microsoft Excel 2016 – a partir de onde
foi criado o banco de dados – e analisados estatisticamente no IBM Statistical Package
for Social Sciences (SPSS), versão 22,0, utilizando-se a aplicação do teste Qui-quadrado
de Pearson, com intervalo de confiança de 95%, sendo determinada a frequência
absoluta, a relativa e a significância estatística (p<0,05) e descrita em gráficos e tabelas.
O diagnóstico laboratorial das hemofilias A e B foram realizados através do
Método Coagulométrico. Para dosagem de fatores, utilizam-se estes reagentes: Plasma
deficiente no Fator que se quer determinar, Tampão Imidazol, Tromboplastina (Tempo
de Protombina - TP: FII, FV, FVII, FX) ou Cefalina + Cálcio (Tempo de Tromboplastina
Parcial Ativado - TTPA: FVIII, FIX, FXI, FXII). Utiliza-se ainda um plasma deficiente apenas
no fator que se quer determinar e rico nos demais fatores, pois assim se torna possível
corrigir possíveis interferências no teste. O tempo medido será proporcional à
quantidade de fator do paciente (Lillicrap, 2016).
Para o diagnóstico da Doença de Von Willebrand, foi aplicado o método
Imunoturbidimétrico, o qual consiste na mistura de um plasma que contém Fator Von

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
538
aaaaaaaaaaaaa Willebrand Antigénico (FVW:Ag) com o Reagente Látex e o reagente tampão, o que faz
as partículas de látex aglutinarem. Com isso, o grau de aglutinação é diretamente
proporcional à concentração de FVW:Ag contida no plasma, sendo determinado a partir
da medição da diminuição de luz transmitida. Além disso, é pesquisada também a
atividade de Cofator de Ristocetina, em que se avalia a capacidade de ligação do FVW à
glicoproteína Ib de plaquetas normais, com adição da ristocetina que promove essa
interação (Lillicrap, 2016).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No que diz respeito a este estudo, foram pesquisados 212 pacientes portadores
de coagulopatias hereditárias atendidos no centro de hemoterapia do estado de Sergipe
durante todo o período de 1997 a 2017, sendo 125 dos pacientes relacionados ao sexo
masculino (59%) e 87 ao sexo feminino (41%).
De acordo com a pesquisa realizada acerca dos 212 pacientes estudados, 40,6%
(86) têm naturalidade em Aracaju, 29,2% (62) são de interiores de Sergipe, 26,4% (56)
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

são de outros estados e 3,8% (8) não puderam ser identificados.


Em relação às profissões dos sujeitos pesquisados, verificou-se que 41,5% (88)
são estudantes, 4,2% (9) são comerciantes e professores, seguidos dos aposentados,
com 3,3% (7), e dos 2,4% (5) que são lavradores. Além disso, 22,2% (47) possuem outras
profissões ou não foram identificados (Tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição sóciodemográfica dos indivíduos portadores de coagulopatias atendidos
no centro de hemoterapia do estado se Sergipe
VALOR ABSOLUTO VALOR ABSOLUTO
VARIÁVEL
(n) (%)
Gênero
Feminino 87 41
Masculino 125 59
Naturalidade
Aracaju 86 40,6
Interior de Sergipe 62 29,2
Outros Estados 56 26,4
Não identificado 8 3,8
Profissão
Aposentado(a) 7 3,3
Estudante 88 41,5
Comerciante 9 4,2
Professor(a) 9 4,2
Lavrador 5 2,4

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
539
aaaaaaaaaaaaa VARIÁVEL
VALOR ABSOLUTO VALOR ABSOLUTO
(n) (%)
Outros(as)* 47 22,2
Não identificado 47 22,2
Fonte: Elaboração própria

Cerca de um em cada 10.000 indivíduos tendem a nascer com hemofilia, em


lugares que há ferramentas de diagnóstico disponíveis. Em geral, essa coagulopatia
acomete aproximadamente 400.000 portadores no mundo, sendo a hemofilia A (80-
85%) mais comum que a hemofilia (WFH, 2011).
Quanto ao gênero, 59% (125) dos pacientes são do sexo masculino, sendo que,
desse total, 97,9% (92) apresentaram hemofilia A, 100% hemofilia B (12) e 20,0% (21) a
doença de Von Willebrand; já no que se refere ao sexo feminino, foram diagnosticado
um índice de 41% (87), sendo 2,1% (2) com hemofilia A, 80,0% (84) com a doença de
Von Willebrand e 0% (0) com hemofilia B. Houve ainda 100% (1) com caso de deficiência
de fator VII, sendo esta do sexo feminino (p<0,001) (Figura 1).

Figura 1 - Coagulopatias divididas pelo gênero dos indivíduos atendidos no centro de


hemoterapia do estado de Sergipe
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

COAGULOPATIAS

100

80

60

40
Masculino
20
Feminino
0
Hemofilia A Hemofilia B Von Willebrand Deficiência de
fator VII

Feminino Masculino

Fonte: Elaboração própria.

Pode-se observar uma predominância de casos de hemofilia A no sexo


masculino, seguidos da hemofilia B e da doença de Von Willebrand. Já no sexo feminino,
percebe-se que a doença de Von Willebrand foi a mais prevalente, seguida da hemofilia
A e B com uma porcentagem bem inferior.

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
540
aaaaaaaaaaaaa Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015) 98,30% dos hemofílicos A são do
sexo masculino e 1,70% são do sexo feminino. Já no que diz respeito à hemofilia B,
97,23% são do sexo masculino e 2,77% são do sexo feminino. Em relação à doença de
Von Willebrand, por sua vez, 65,91% dos pacientes são do sexo feminino e 34,09% são
do sexo masculino.
Considerando-se a pesquisa realizada, foi visto que a hemofilia A tem maior
índice em indivíduos do sexo masculino. Essa prevalência acontece devido ao modo de
transmissão que ocorre através de uma mutação genética no cromossomo X (XhY), o
qual é responsável pela codificação dos fatores VIII e IX da coagulação sanguínea.
Geralmente, o sexo feminino é caracterizado como portador da doença por apresentar
dois cromossomos X, necessitando, por isso, que os dois sofram mutação para que a
mulher seja hemofílica (BRASIL, 2008).
Em relação à faixa etária, houve maior prevalência de indivíduos com idade
inferior a 20 anos em todas as coagulopatias acima citadas, enquanto a mínima foi
superior a 71 anos, representando 0,5% (1) da população (p=0,296) (Figura 2).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Figura 2 - Classificação da faixa etária dos pacientes com Hemofilia A e B, Doença de Von
Willebrand e Deficiência de fator VII atendidos no centro de hemoterapia do estado se Sergipe

FAIXA ETÁRIA

50
40
30
20
10
0
Hemofilia A Hemofilia B Von Willebrand Deficiência de
fator VII
Inferior a 20 anos Entre 21 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos
Entre 51 e 60 anos Entre 61 e 70 anos Superior a 70 anos

Fonte: Elaboração própria.

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), indivíduos na faixa etária


de 20 a 30 anos são os mais acometidos, no entanto, pela falta da notificação e dos
registros dos Centros de Hemoterapia no programa Web coagulopatias, esses dados
apresentam-se inconsistentes.

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
541
aaaaaaaaaaaaa No que se refere aos locais acometidos devido às consequências das
coagulopatias hereditárias, observa-se que, na hemofilia A, o local com maior
acometimento foi o joelho, visto que 60,6% (57) dos pacientes obtiveram algum
sangramento nesse local, seguido do tornozelo, com 43,6% (41), do cotovelo, com 38,3%
(36), do pé, com 30,9% (29), e o local menos acometido foi a mão, com 24,5% (23) dos
pacientes. Na hemofilia B, por sua vez, o joelho e o tornozelo foram os mais atingidos,
num total de 41,7% (5) dos pacientes, seguidos da mão, com 25% (3), do pé, com 16,7%
(2), e, por último, o cotovelo, com 8,3% (1) dos pacientes acometidos.
Já na doença de Von Willebrand e na deficiência do fator VII, os pacientes
detectados não apresentaram nenhum local acometido entre os que foram
selecionados; no entanto, houve sangramentos em outros locais que serão citados mais
adiante. É importante salientar que todos os resultados apresentaram significância
estatística (p=0,001) (Tabela 2).
Ainda em relação à tabela 2, os sintomas mais recorrentes em pacientes com
hemofilia A e B foram o hematoma, com 67% (63) e 83,3% (10) dos pacientes
apresentando essa sintomatologia, respectivamente. Já na doença de Von Willebrand e
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

na deficiência do fator VII, o sangramento vaginal foi o sintoma com maior prevalência,
com 39 (37,1%) e 1 (100%) dos pacientes, respectivamente.
Observa-se também a presença de duas sintomatologias consequentes de
sangramentos excessivos e de repetição, que foram exclusivas dos pacientes com
hemofilia A, a saber: a artropatia, com 2 (2,1%) pessoas acometidas, e a sinovectomia,
com 3 (3,2%) indivíduos diagnosticados.
Tabela 2 - Prevalência dos acometimentos e sintomas dos pacientes com coagulopatia
hereditária atendidos em um centro de hemoterapia do estado de Sergipe
COAGULOPATIA
VARIÁVEL Hemofilia Hemofilia Von Deficiência TOTAL p
A B Willebrand de fator VII
Locais acometidos
Joelho 57 (60,6%) 5 (41,7%) 0 (0%) 0 (0%) 62 0,001
Cotovelo 36 (38,3%) 1 (8,3%) 0 (0%) 0 (0%) 37 0,001
Tornozelo 41 (43,6%) 5 (41,7%) 0 (0%) 0 (0%) 46 0,001
Mão 23 (24,5%) 3 (25%) 0 (0%) 0 (0%) 26 0,001
Pé 29 (30,9%) 2 (16,7%) 0 (0%) 0 (0%) 31 0,001
Sintomas
Hematoma 63 (67%) 10 (83,3%) 10 (9,5%) 0 (0%) 83 0,001
Hemartrose 52 (55,3%) 7 (58,3%) 0 (0%) 0 (0%) 59 0,001
Epistaxe 11 (11,7%) 2 (16,7%) 12 (11,4%) 0 (0%) 25 0,936

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
542
aaaaaaaaaaaaa COAGULOPATIA
VARIÁVEL Hemofilia Hemofilia Von Deficiência TOTAL p
A B Willebrand de fator VII
Sangramento 2 (2,1%) 0 (0%) 39 (37,1%) 1 (100%) 42 0,001
Vaginal
Sangramento 43 (45,7%) 6 (50%) 11 (10,5%) 0 (0%) 60 0,001
Oral
Outros 35 (37,2%) 3 (25%) 18 (17,1%) 0 (0%) 56 0,014
Sangramentos
Artropatia 2 (2,1%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 2 0,469
Sinovectomia 3 (3,2%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 3 0,282
Fonte: Elaboração própria.

A articulação intra-articular com maior abrangência são o joelho e o tornozelo,


devido ao suporte que essas regiões sofrem, o que ocasiona sangramentos que
pressionam as cápsulas articulares, causando dor e uma reação inflamatória na camada
sinovial, além da adoção de uma postura antálgica com espasmo muscular associado
(Eickhoff, 1997).
As manifestações clínicas como hemartrose e hematomas que ocasionam dor,
intumescência e imobilidade são as principais características da hemofilia. Devido a
estágios de sangramentos recorrentes, desenvolve-se a atropatia, que é uma hipotrofia
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

muscular e perda da mobilidade articular (Friedman, 2008).


A figura abaixo, tomando os pacientes diagnosticados em um centro de
hemoterapia do estado de Sergipe, demonstra que a maior prevalência nos distúrbios
da coagulação sanguínea é ocasionada pela doença de Von Willebrand, seguida da
hemofilia A e, por último, há a hemofilia B (Figura 3).

Figura 3 - Diagnóstico laboratorial das hemofilias A E B, e Doença de Willebrand em um centro


de hemoterapia do estado de Sergipe

DIAGNÓSTICO

27

39

Hemofilia A Hemofilia B Von Willebrand

Fonte: Elaboração própria.

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
543
aaaaaaaaaaaaa Sendo observado que há uma semelhança nas manifestações clínicas
hemorrágicas, é importante que seja realizado um diagnóstico preciso entre as
hemofilias A e B, a doença de Von Willebrand e a deficiência de fator VII, para com isso
lhes assegurar um tratamento correto. Em face disso, o clínico deve rastrear o histórico
do paciente e lhe solicitar os exames laboratoriais (DRELICH, 2017).
Os resultados presentes na pesquisa indicaram que em média, os resultados dos
exames laboratoriais realizados pelos pacientes com hemofilia A foram: 11,66% para
dosagens de fator VIII e 59,7% para Tempo de Tromboplastina Ativada (TTPA). Em
relação à hemofilia B, por sua vez, foi realizada uma dosagem de fator IX, resultando em
média 5,6%, e 53,4% para Tempo de Tromboplastina Ativada (TTPA) dos resultados. Já
na doença de Von Willebrand, houve dosagem de fator VIII com uma média de 53,85%,
seguido de 53% para cofator de VW, de 30% para ristocetina e de 42,2% para Tempo de
Tromboplastina Ativada (TTPA) dos resultados obtidos.
Tabela 3 - Diagnóstico laboratorial das hemofilias e doença de Von Willebrand
PARÂMETROS
COAGULOPATIA Cofator Cofator de
Fator VIII Fator IX TTPA*
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

VW* Ristocetina
Hemofilia A 11,66% - - - 59,7

Hemofilia B - - - 5,6% 53,4

Von Willebrand 53,85% 53% 30% - 42,2

Fonte: Elaboração própria.

A gravidade do quadro hemorrágico é diretamente proporcional a quantidade


de fator circulante no plasma. De modo geral, as hemofilias A e B são classificadas em
graves quando apresentam níveis plasmáticos inferiores a 1%, moderadas quando
apresentam níveis entre 1% e 5% e leves, quando maior que 5%, podendo ir até 40%
(WHITE, 2001).
Quanto às medicações utilizadas no tratamento das coagulopatias hereditárias
estudadas na pesquisa, pode-se observar que 84,0% (79) dos pacientes com hemofilia A
fazem uso do fator VIII e 4,8% (5) dos pacientes que possuem a doença de Von
Willebrand. Observa-se ainda o uso do fator VIIIr 46,8% (44) para pacientes com
hemofilia A e apenas 1,0% (1) para a doença de Von Willebrand. Por sua vez, 44,8% (47)
dos portadores da doença de Von Willebrand fazem uso do FVIIIy, como também 7,4%

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
544
aaaaaaaaaaaaa (7) dos portadores da hemofilia A. Já o fator IX, 83,3% (10) dos hemofílicos B fazem uso,
além disso, hemofílicos A e pacientes com a doença de Von Willebrand também com
1,1% (1) e 1,9% (2), respectivamente. Já o fator VII (100%) para a deficiência de fator VII.
Por fim, a dose domiciliar 60,6% (57) para a hemofilia A, 41,7% (5) para a hemofilia B, e
5,7% (6) para a doença de Von Willebrand (Figura 3).

Figura 4 - Medicamentos utilizados por pacientes atendidos no ambulatório de um centro de


hemoterapia do estado de Sergipe
MEDICAÇÕES

100%
50%
0%
Fator Fator Fator Fator IX Fator VII D.D
VIII VIIIr VIIIy
Hemofilia A Hemofilia B
Von Willebrand Deficiência de Fator VII
Fonte: Elaboração própria.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Os sangramentos devem ser tratados com a infusão do fator deficiente, os quais


são comercializados, sendo obtidos tanto o fator VIII como o Fator IX, a partir de plasma
humano ou por tecnologia recombinante. Para isso, deve-se considerar que o nível
plasmático do fator a ser alcançado varia conforme a localização do sangramento ou
com o procedimento a ser realizado Mannucci, 2001; Bolton, 2003; Mannucci, 2008).

4. CONCLUSÃO
Não obstante as limitações deste estudo, como a utilização de prontuários para
a coleta de dados com algumas informações incompletas, acredita-se que esta pesquisa
atingiu seus objetivos. O conhecimento no tocante às coagulopatias hereditárias
ocasiona uma melhoria na qualidade de vida dos portadores devido ao tratamento
fornecido pelos Centros de Hemoterapia; portanto, é necessário que os profissionais
envolvidos estejam cientes em relação à fisiopatologia da doença, para que, através da
anamnese do paciente e dos exames laboratoriais indicados, possa ser realizada a
conduta mais adequada, já que são semelhantes no que diz respeito à apresentação

EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
545
aaaaaaaaaaaaa clínica dessas doenças hemorrágicas, podendo dificultar o diagnóstico e interferir, dessa
forma, no tratamento.
Por fim, diante desta pesquisa, propõe-se a elaboração de outros estudos
relacionados às coagulopatias, com o intuito de contribuir para a identificação das
necessidades e dos cuidados, pelos profissionais de saúde, dos pacientes acometidos,
como também para uma maior divulgação dessas doenças para a população em geral,
de maneira a possibilitar um maior esclarecimento com consequente melhoria na
qualidade de vida dos portadores de coagulopatias.

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EPIDEMIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE COAGULOPATIAS ATENDIDOS EM


CENTRO DE HEMOTERAPIA NO ESTADO DE SERGIPE
548
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XLI
IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DE
RISCOS RELACIONADOS AO
DESENVOLVIMENTO DE AVC NO
BRASIL
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-41
Amanda Marcele Barreto Pereira ¹
Ivete do Socorro de Souza Coelho ²
Wanessa da Silva Benjamin ³
Akim Felipe Santos Nobre 4
¹ Biomédica. Pós Graduanda em Banco de Sangue e Hematologia Clínica- EDUCAMINAS
² Biomédica. Pós Graduada em Nutrição Aplicada a Estética- UNYLEYA. Pós Graduanda em Biomedicina Estética-
NEPUGA
³ Biomédica. Pós Graduanda em Auditoria, Planejamento e Gestão em Saúde- EDUCAMINAS
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

4 Biomédico. Mestre e Doutor em Doenças Tropicais. Universidade Federal do Pará- UFPA

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar e descrever os fatores de riscos
predominantes que desencadeiam o Acidente Vascular Cerebral (AVC), bem como os seus
sintomas, diagnósticos, tratamentos, prevenções e reabilitações em pacientes acometidos
em virtude desta patologia. As etapas deste projeto se deram por meio de pesquisas
bibliográficas em revistas, artigos científicos e formulários eletrônicos. No decorrer do
trabalho realizou-se uma enquete on-line para obter informações acerca das principais
dúvidas da população referente ao AVC, cujo, os participantes concordaram em assinar o
Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) para contribuir com a pesquisa. Em
relação ao Brasil, pôde se constatar que o índice de AVC é muito elevado, devido às
principais causas estarem relacionadas aos fatores de riscos ambientais (modificáveis), os
quais podem ser evitados e controlados, como a hipertensão arterial, as dislipidemias, o
sedentarismo entre outros. Trata-se de um problema de saúde pública, pois a cada ano
cresce o número de casos de indivíduos acometidos pelo AVC. Logo é importante salientar
que pouco se vê um conjunto de mobilizações em prol da disponibilização de
conhecimentos por parte dos órgãos responsáveis pela saúde pública. Prova disso são os
números obtidos por meio da enquete realizada, visto 34,65% dos participantes mostraram
interesse em conhecer os fatores de riscos que podem levar ao AVC. Portanto, haja vista
que o AVC é um transtorno que pode ser evitado através de hábitos de vida mais saudáveis,
é importante a orientação constante da população sobre seus riscos e formas de prevenção.

Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral. Fatores de Riscos. Diagnóstico. Prevenção.

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 549


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Foi Hipócrates quem descreveu, pela primeira vez, a paralisia repentina que é
frequentemente associada com o Acidente Vascular Cerebral (AVC), o qual pode ser
definido como um déficit neurológico súbito causado por um problema nos vasos
sanguíneos no sistema nervoso central (SÍRIO-LIBANÊS, 2018). O AVC é dividido em dois
subtipos: Isquêmico (AVCI), que ocorre por meio da obstrução ou redução brusca do
fluxo sanguíneo em uma artéria cerebral; e o Hemorrágico (AVCH), que decorre do
rompimento de um vaso cerebral com o extravasamento de sangue em algum ponto do
sistema nervoso central. Esta doença acomete mais o sexo masculino e é uma das
principais causas de mortalidade, incapacitação e internações em todo mundo
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).
O surgimento desta doença pode ser motivado por diversos fatores de riscos, os
quais são classificados em fatores genéticos (não modificáveis) e fatores ambientais
(modificáveis). Os não modificáveis estão relacionados à idade, à raça, ao sexo e ao
histórico familiar; os modificáveis, por sua vez, possuem relação direta com a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

hipertensão arterial, as dislipidemias (alterações nos níveis de gordura no sangue), o


sedentarismo, o consumo excessivo de álcool e de drogas ilícitas, o tabagismo, a
diabetes mellitus, as cardiopatias, a obesidade, o estresse e a depressão (NANDRUZ
JUNIOR, 2009).
Por meio de estudos epidemiológicos, foi possível identificar os principais fatores
de riscos para o AVC. Surgiram, desse modo, as estratégias utilizadas para a sua
prevenção. Dentre elas estão o controle da hipertensão arterial; o controle de diabetes;
o controle do colesterol; a dieta balanceada rica em frutas, vegetais, grãos e peixes; o
consumo moderado de álcool; a suspensão do tabagismo; o consumo adequado de
água; e a prática recorrente de exercícios físicos. A partir disso, percebe-se que a
adequação dos hábitos de vida diária é primordial para a prevenção do AVC. Ademais, é
de suma importância ter o conhecimento desses agravantes, para, assim, evitar e
diminuir o alto índice de ocorrências desta patologia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
Os sinais e sintomas do AVC dependem da causa, do local e da gravidade do
distúrbio. Eles ocorrem subitamente e podem incluir alteração no nível de consciência
(tontura, confusão, instabilidade e redução no nível de consciência); disfunções

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 550


aaaaaaaaaaaaa motoras, como fraqueza nos braços, nas pernas ou na face; entorpecimento ou paralisia
na face, em geral, de um só lado; repuxo ou flacidez de um dos lábios da boca e paralisia
dos músculos faciais; cefaleia repentina, intensa e seguida por rigidez no pescoço
(HAFEN et al., 2008).
O diagnóstico do AVC é realizado por meio de exames de imagem, que permitem
identificar a área do cérebro afetada e o tipo do acidente cerebral. Nesse contexto, a
tomografia computadorizada de crânio é o método de imagem mais utilizado para a
avaliação inicial do AVCI agudo, uma vez que demonstra sinais precoces de isquemia
(LIMA; PAGLIOLI; HOEFEL FILHO, s/d).
Durante o atendimento emergencial, deve ser analisado se o paciente apresenta
ao menos um déficit focal de instalação súbita, verificar os sinais vitais, como pressão
arterial e temperatura, checar a glicemia, administrar oxigênio, colocar acesso venoso,
deitar o paciente de lado em crises convulsivas. Além disso, é necessário determinar o
início dos sintomas, por meio de um questionário direcionado ao paciente ou ao seu
acompanhante, para que possam ser feitos os devidos tratamentos urgenciais e
medicamentosos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

O AVC é uma emergência médica; sendo assim, o paciente deve ser encaminhado
imediatamente para o atendimento, após seus primeiros sintomas, para que seja feito
um tratamento eficaz cujo resultado seja a redução dos danos à saúde, para que sejam
evitados riscos maiores de complicações em seu quadro clínico. Quando se tem as
informações adequadas, os sintomas do AVC podem ser reconhecidos com facilidade.
Considerando que o AVC é a segunda causa de mortalidade e a primeira causa
de incapacidade de pessoas em todo o mundo e que leva a limitações na vida do
paciente, segundo a OMS, buscamos fazer um levantamento bibliográfico sobre o tema
para que seja possível transmitir os principais fatores de riscos, alertar sobre os sinais e
sintomas e informar seu diagnóstico, tipos de tratamento e reabilitações em pacientes
acometidos. Desse modo, devido à importância do tema e ao seu grau de
morbi/mortalidade em indivíduos, torna-se necessária a investigação, o diagnóstico e o
esclarecimento acerca das políticas públicas existentes para sua prevenção.

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 551


aaaaaaaaaaaaa
2. METODOLOGIA
As etapas desta pesquisa compreendem estudos científicos de artigos publicados
em revistas e revisões bibliográficas, durante o período de 2008 a 2019. Do ponto de
vista de seus objetivos a pesquisa será exploratória e explicativa a respeito da
Identificação dos Fatores de Riscos que Desenvolvem o AVC no Brasil. Foram realizados
levantamentos de dados publicados por meio eletrônico, através de web sites e artigos
científicos. O estudo abrange o campo da neurologia patologia, fisiologia humana,
imagenologia e farmacologia.
Os artigos científicos foram obtidos através de pesquisa em web site do
Ministério da Saúde, na base de dados da Anvisa, OMS, PUBMED, Scielo (Scientific
Electronic Library Online), Google Acadêmico, BVS (Biblioteca Virtual da Saúde). Artigos
científicos, que carregam dados relevantes acerca dos fatores de riscos que
desenvolvem o AVC, incidência e alternativas de minimização do problema. As palavras-
chaves utilizadas na pesquisa: Acidente Vascular Cerebral, Fatores de Riscos, Sintomas
e Prevenção.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Além disso, houve a criação de uma enquete on-line para obter informações
quanto as principais dúvidas da população referente ao AVC, elaborar um questionário,
juntamente com um informativo educacional relacionado ao tema abordado na
pesquisa de opinião.
Os participantes da pesquisa concordaram em assinar o Termo de
Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).

3. RESULTADOS
LEVANTAMENTO DE DADOS E INFORMAÇÕES NOS ARTIGOS/TEXTOS
ANALISADOS
Diante dos resultados obtidos por meio de estudos transversais, foi possível
identificar os principais fatores que levam ao desenvolvimento do AVC no Brasil, os quais
se dividem em dois grandes grupos: ambientais (modificáveis) e genéticos (não
modificáveis) representados na tabela 1.

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 552


aaaaaaaaaaaaa Tabela 1- Fatores de riscos estabelecidos para o AVC
Fatores Ambientais Fatores Genéticos
Hipertensão Idade
Dislipidemias Sexo
Sedentarismo Raça/Cor
Cardiopatias Genética Familiar
Álcool e Drogas Ilícitas
Tabagismo
Diabetes Mellitus
Obesidade
Estresse e Depressão
Fonte: Autoria própria (2020)

Consoante Carvalho e Deodato (2016, p. 182-184), “os fatores de risco


considerados não modificáveis são aqueles em que os profissionais de saúde não podem
intervir tratar ou modificar” e “os fatores de risco modificáveis são fatores sobre os quais
podemos intervir influenciar, mudar, prevenir ou tratar”. Nesse sentido, é importante
que o profissional submetido ao atendimento da vítima do AVC obtenha o
conhecimento adequado para lidar com qualquer tipo de perfil, a fim de não contribuir
para o agravamento do estado do paciente.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Dentre os fatores não modificáveis podemos citar (idade, sexo, raça/cor e


genética/história familiar). Já em relação aos fatores de risco modificáveis, de acordo
com Castro et al. (2009), a hipertensão é o fator mais preponderante, seguida pelo
diabetes mellitus, dislipidemia, insuficiência coronariana e etilismo. De acordo com os
dados coletados pelos pesquisadores, obtém-se o seguinte gráfico:

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 553


aaaaaaaaaaaaa Gráfico 1 - Principais fatores de risco modificáveis

080% 074%
070%
060%
050%
040% 039%
040%
030%
019%
020%
010% 4%
000%
Principais fatores de risco modificáveis

Hipertensão Diabetes mellitus Dislipidemia


Insuficiência coronariana Etilismo

Fonte: Autoria própria (2020).

OS PRINCIPAIS SINTOMAS DO AVC


De acordo com Santos e Waters (2020, p. 2751), “o AVC é uma síndrome
neurológica focal ou global repentina de provável origem vascular, classificada como
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

uma das principais causas de internações hospitalares e mortalidade”. Por essa razão, é
natural que o seu desenvolvimento seja acompanhado por determinados sinais, cuja
identificação é fundamental para o desenvolvimento de um atendimento e intervenção
rápidos e eficazes.
A entrada de um paciente acometido pelo AVC exige a aplicação de medidas
adequadas de identificação, sistematizadas em protocolos de atendimento os quais
recomendam como primeiro passo a percepção de sinais de alerta, como déficits
neurológicos repentinos (SÍRIO-LIBANÊS, 2018).
Coelho et al. (2008) expõem uma incidência de sintomas perceptíveis em um
paciente vítima de AVC, dentre os quais pode-se apontar como os mais recorrentemente
identificáveis a dor de cabeça, a perda de visão e a paralisia unilateral. Os demais
sintomas listados pelo estudo desenvolvido podem ser observados no fluxograma
abaixo:

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 554


aaaaaaaaaaaaa Figura 1 - Fluxograma dos sintomas do AVC

Fonte: Autoria própria (2020).

GRUPOS POPULACIONAIS MAIS AFETADOS PELO AVC


Em conformidade com os estudos analisados, foram definidos os seguintes
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

critérios de análise dos grupos populacionais: sexo (masculino e feminino), faixa etária
e raça/cor (negros, pardos e brancos). A partir disso, foi possível chegar aos seguintes
resultados. O primeiro deles apresenta o fato de que há uma incidência maior de casos
de AVC entre sujeitos do sexo masculino (BARELLA et al., 2019).

Gráfico 2 - Porcentagem de ocorrência do AVC dividida por sexo

SEXO
Masculino Feminino

49% 51%

Fonte: Autoria própria (2020).

As vítimas do AVC, em grande parte, correspondem aos sujeitos acima


dos 60 anos de idade, uma vez que o avanço da idade se constitui como um fator de
risco não modificável que duplica a possibilidade de ocorrência do problema. Além

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 555


aaaaaaaaaaaaa disso, é fundamental apontar que o AVC, nessa faixa de idade, ocorre com mais
frequência devido incidência de outras patologias relacionadas ao seu desenvolvimento.
Segundo Lotufo e Bensenor (2013), o número de pessoas negras que sofrem AVC
é maior que o de pardos e de brancos. Isso se deve, principalmente, pelo fato de haver
maior incidência de casos de hipertensão entre negros, fator de risco modificável
considerado como a causa prevalente do AVC. Além disso, a incidência de doença
cerebrovascular é predominante, também, entre negros, em decorrência de variáveis
socioeconômicas.

FERRAMENTAS DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTOS UTILIZADOS NO


MANEJO CLÍNICO DA DOENÇA
O atendimento inicial de pacientes com suspeita de AVC deve contar com uma
equipe multidisciplinar, composta por profissionais da “enfermagem, neurologia,
radiologia, neurorradiologia intervencionista, neurocirurgia, farmácia, unidade
neurointensiva e unidade crítica geral ou neurológica” (SÍRIO-LIBANÊS, p. 03, 2018). A
informação do horário do início dos sintomas é importante nesse momento, bem como
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

a descrição dos sinais que foram apresentados.


Em seguida, exames neurológicos como tomografia de crânio, angiotomografia
e ressonância magnética são necessários, além da aferição da pressão arterial e do
controle da glicemia, uma vez que “evidências mostram que hiperglicemia nas primeiras
24 horas após o AVC isquêmico é associada com piora do prognóstico” (ALBERT
EINSTEIN, 2011, p). Além disso, é importante que sejam realizados exames de
neuroimagem, como tomografia de crânio, angiotomografia e ressonância magnética.
Os objetivos da realização dos exames de imagem são:

descartar a presença de lesões cerebrais de causa não vascular que se


colocam como diagnósticos diferenciais (tumores, abscessos etc.) e, na
presença de lesões cerebrais de causa vascular, permitir a diferenciação entre
quadros isquêmicos (AVCI) e hemorrágicos (AVCH). (SÍRIO-LIBANÊS, p. 13,
2018)

É necessário seguir rigorosamente uma série de procedimentos em tempo


adequado, para evitar que possíveis complicações graves atinjam os pacientes vítimas
de AVC. Nesse sentido, o Ministério da Saúde elaborou um Manual de Rotinas, o qual
contém um protocolo de atendimento que deve ser seguido. Os procedimentos a serem
adotados são apresentados no fluxograma abaixo:

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 556


aaaaaaaaaaaaa
Figura 2 - Fluxograma do atendimento
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Brasil (2009).

O fluxograma, dividido por marcas de tempo que vão desde o tempo zero
(chegada do paciente) aos 60 minutos. Inicialmente, como pode ser visto, é necessário
identificar os sinais de AVC para, em seguida, encaminhar o paciente à sala de urgência,
onde receberá os devidos cuidados administrados pelo médico emergencista e pela
equipe de enfermaria. Em seguida, deverá ser realizado o exame de imagem – a
depender do resultado deste, os procedimentos seguintes sofrerão alterações.
Finalmente, serão administrados medicamentos.

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 557


aaaaaaaaaaaaa PESQUISA ON-LINE
Durante a realização desta pesquisa, foi criada uma enquete on-line a fim de
obter informações acerca das principais dúvidas da população referentes ao AVC e
elaboração de um questionário e um informativo educacional relacionado ao tema
abordado na pesquisa de opinião.
Participaram da enquete 31 participantes anônimos, dos quais 26
compartilharam dúvidas iguais e/ou que se interligavam. Por meio desse processo, foi
possível fazer uma análise de dados e a construção de um gráfico que contém assuntos
mais constantes entre os respondentes, conforme ilustrado no gráfico 3.

Gráfico 3 - Assuntos constantes na enquete on-line


050%
045% 34,65%

040%
035%
030%
025% 023%
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

020%
015% 015%
015% 012%
010%
005%
000%

Fatores de Risco e prevenção AVCI e ACH


Tratamento Sinais e sintomas
Sequelas

Fonte: Autoria própria (2020).

Para a elaboração do questionário, foram utilizadas as dúvidas expressas pelos


participantes. Houve, em seguida, uma filtragem das perguntas recebidas, que foram
divididas em tópicos de assuntos frequentes e diversificados. A partir disso, chegou-se
à quantia de 31 questões, as quais foram, ao final, resumidas a 10 perguntas bem
desenvolvidas, cujo conteúdo desse conta de sanar as principais dúvidas dos
participantes da pesquisa.
Um dos assuntos mais abordados pelos internautas foram os fatores de riscos
para o desenvolvimento do AVC e qual sua forma de prevenção. Os participantes, em
sua maioria, não possuíam conhecimento acerca dos fatores de risco pré-estabelecidos

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 558


aaaaaaaaaaaaa e se eles se limitavam apenas à hipertensão arterial e ao triglicerídeos, ou se o AVC pode
ocorrer devido a outras causas evidentes. Outra dúvida manifestada referiu-se aos tipos
da doença e qual a diferença entre elas.
Observou-se, também, o mesmo nível de questionamentos sobre o tratamento
e os sinais e sintomas da doença, uma vez que se tratam de assuntos que geram muitas
dúvidas entre a população, que, na grande maioria das vez, não possui conhecimento
efetivo.
Com um percentual menor de interesse entre os participantes, há as sequelas do
AVC, sobre as quais alguns possuem incertezas se elas são reversíveis ou irreversíveis,
quais são e o que podem causar na rotina diária de um paciente acometido pela
patologia.
Além dos tópicos constantes, surgiram duas questões diversificadas sobre o AVC,
uma a qual engloba sua nomenclatura e outra relacionada ao uso inadequado de
medicamentos, sem a prescrição médica.
Em razão disso tudo, criou-se um informativo educacional que pudesse ser capaz
de responder todas as curiosidades e incertezas dos respondentes. Nele há informações
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

sucintas acerca do AVC, do AVCI e do AVCH; sobre os fatores de riscos, a prevenção, os


sinais e sintomas, o tratamento, as sequelas, a reabilitação; além das respostas das
indagações variadas que surgiram na pesquisa.

4. DISCUSSÃO
Como foi mencionado na introdução deste projeto, Hipócrates, grego
considerado pai da Medicina, já havia descrito o fenômeno da paralisia repentina que é
associada ao AVC. Logo, pode-se assumir que o conhecimento acerca desse problema
vem sendo desenvolvido desde o período antes de Cristo. Curiosamente, mesmo com
tantos estudos engendrados ao longo do tempo, o AVC ainda é a segunda maior causa
de óbitos no mundo, segundo a OMS (2018).
Esse problema é ocasionado, em parte, pela falta de contato de uma quantidade
expressiva de pessoas com informações importantes para prevenir a doença, como os
fatores de risco e os cuidados que devem ser tomados para evitá-la, por exemplo. Tal
premissa pôde ser confirmada a partir do contato com sujeitos que expressaram sua
curiosidade por meio de uma enquete disponibilizada nas principais redes sociais –

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 559


aaaaaaaaaaaaa Instagram, Facebook e Whatsapp –, cujo objetivo era identificar as principais dúvidas
sobre o AVC e seu desenvolvimento.
A partir da pergunta “Quais são as suas principais dúvidas sobre o AVC?”, vários
questionamentos surgiram. O qual serviu como base para a constituição de um
informativo que disponibiliza para a população um conjunto de informações pertinentes
sobre o AVC, tais como a definição do problema, os principais fatores de risco, os
sintomas, o tratamento, entre outros. A construção de um informativo desse tipo
garante a relevância do estudo aqui apresentado, uma vez que há um claro retorno para
a sociedade, a qual necessita de, cada vez mais, informação séria e comprometida com
a ciência.
Embora exista uma página no site do Ministério da Saúde dedicada à
apresentação de informações sobre a doença, é necessário criar maneiras de levar essa
informação para o cotidiano das pessoas. Um modo eficaz seria a veiculação campanhas
publicitárias criadas para a televisão, uma vez que o televisor ainda é, atualmente, o
meio de comunicação mais presentes nas casas dos brasileiros. Sendo assim, pensar em
formas de utilizá-lo como um veículo informacional é importante para ajudar a diminuir
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

a incidência/reincidência de casos e aumentar os cuidados pessoais, para evitar que


mais indivíduos sejam vítimas do AVC.
Além dessa mobilização, é importante que se pense acerca da alimentação dos
brasileiros e os impactos que ela pode causar, haja vista que problemas como diabetes,
hipertensão arterial, colesterol em excesso e obesidade – todos, de algum modo,
relacionados à alimentação – são fatores de risco para o desenvolvimento do AVC.
Conforme Sichieri (2019, s/n), “um aspecto muito negativo da alimentação no Brasil é o
alto consumo de açúcar e alto consumo de sal”, o que pode ser justificado pelo consumo
de alimentos ultraprocessados, que passam por técnicas e processamentos com alta
quantidade de sal, açúcar, gorduras, realçadores de sabor e texturizantes. O problema
da alimentação associado à ausência de atividades físicas constitui, também, um
agravante para a situação do AVC. Nesse ínterim, a prática de exercício, como corrida,
natação, ciclismo, pode ajudar a diminuir o risco de desenvolvimento de AVCs.
O tabagismo, que constitui, também, o quadro de fatores de risco, é um
problema que merece ser destacado, uma vez que, consoante Pinto et al. (2017), no
Brasil, em 2015, ocorreram 10.812 óbitos que correspondem à relação entre o ato de

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 560


aaaaaaaaaaaaa fumar e o AVC. Do mesmo modo, Castro et al. (2009), Santos e Waters (2020), Carvalho
e Deodato (2016) são autores que indicam o tabagismo como uma prática que pode
desencadear o AVC. Isso demonstra que o combate a esse tipo de dependência precisa
ser mais efetivo, por meio de uma reformulação da Política Nacional de Controle do
Tabaco.
Em relação a fatores não modificáveis, como gênero, observa-se maior
recorrência de AVC entre homens, conforme Barella et al. (2019), Castro et al. (2009) e
Carvalho e Deodato (2020). No entanto, as taxas apontadas pelos estudos apresentam
uma diferença muito pequena entre vítimas masculinas e femininas. Essa realidade
pode ser explicada devido a uma cultura de negligência do homem em relação aos
cuidados com a saúde. Isso ocorre, entre outras razões, devido a um modelo
hegemônico de masculinidade, ou seja, “à medida que o homem é visto como viril,
invulnerável e forte, procurar o serviço de saúde, numa perspectiva preventiva, poderia
associá-lo à fraqueza” (GOMES et al., 2007, p. 571).
Como já foi mencionado anteriormente, o tempo é fator primordial quando um
sujeito é acometido pelo AVC, pois quanto mais rapidamente é realizada a intervenção
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

clínica e a aplicação dos protocolos de atendimento, menores são as chances de o


paciente desenvolver sequelas graves, como as incapacitantes. O reconhecimento dos
sintomas e o encaminhamento para a tomografia, por exemplo, são etapas
fundamentais nesse processo.
Entretanto, a depender da instituição para a qual o paciente é encaminhado,
principalmente se for parte do sistema público de saúde, essa intervenção pode não ser
eficiente, não pela falta de conhecimento dos protocolos por parte dos profissionais
responsáveis pelo atendimento inicial, mas sim pela ausência de aparelhos de exames
de imagem. Fazem parte do senso comum histórias as quais mencionam uma espera
demasiada pela realização de exames neurológicos de imagem, o que, em alguns casos,
contribui para a evolução ao óbito.
Atualmente, há pesquisas sendo desenvolvidas para a utilização de Inteligência
Artificial na prevenção, no diagnóstico e no tratamento do AVC. Nesse sentido, a
tendência é que, cada vez, novas tecnologias passem a ser inseridas nos protocolos de
atendimento das instituições hospitalares, no intuito de garantir atendimento e
tratamento de qualidade.

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 561


aaaaaaaaaaaaa
5. CONCLUSÃO
• A partir desta pesquisa, pôde ser constatado que a hipertensão arterial se apresenta
como um dos principais fatores de risco modificáveis para o AVC.
• Em relação aos fatores de risco não modificáveis, figura como um dos principais a
herança genética do paciente.
• Entre os sintomas de AVC identificados nos estudos, os mais recorrentes são a dor
de cabeça, a perda de visão e a paralisia unilateral.
• Os exames de neuroimagem são ferramentas fundamentais para a identificação do
AVC.
• A produção de um informativo, como o que foi produzido a partir da enquete
disponibilizada, garante a relevância do estudo aqui apresentado, uma vez que há
um claro retorno para a sociedade, a qual necessita de, cada vez mais, informação
séria e comprometida com a ciência.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 562


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6. INFORMATIVO EDUCACIONAL
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 563


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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 565


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identificação dos fatores de riscos relacionados ao desenvolvimento de avc no brasil 567


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XLII
INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS
PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS
TERAPÊUTICAS REALIZADAS NO CENTRO DE
HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-42
Weber de Santana Teles ¹
Ione Alves Santos ²
Isabela Santos Alcântara ³
Max Cruz da Silva 4
Ângela Maria Melo Sá Barros 5
Ruth Cristini Torres 6
Marcel Vinícius Cunha Azevedo 7
Paulo Celso Curvelo Santos Júnior 8
¹ Doutor em Saúde e Ambiente. Centro de Hemoterapia de Sergipe – HEMOSE
² Biomédica. Universidade Tirandes – UNIT
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

³ Biomédica. Universidade Tiradentes –UNIT


4 Graduando do curso de enfermagem. Faculdade Pio Décimo – FAPIDE
5 Mestre/doutoranda em enfermagem. Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
6 Doutora em saúde e ambiente. Instituto de Hematologia e Hemoterapia de Sergipe – IHHS
7 Mestre em saúde família. Centro Universitário Estácio de Sergipe
8 Mestre em saúde e ambiente. Universidade Tirandes – UNIT

RESUMO
A sangria ou flebotomia terapêutica é uma técnica realizada por diversas civilizações, iniciada
aproximadamente há 2.500 anos. Atualmente, essa prática consiste na retirada de sangue total,
objetivando a diminuição da viscosidade sanguínea ou produtos metabólitos, aliviando sintomas e
melhorando a qualidade de vida dos pacientes. O objetivo do estudo foi de analisar o perfil epidemiológico
e a indicação dos pacientes que realizaram sangrias terapêuticas no setor ambulatorial do Centro de
Hemoterapia de Sergipe (HEMOSE), tratando-se de uma análise retrospectiva e descritiva, avaliando-se
gênero, faixa etária, indicação terapêutica, profissão, localização, quantidades de procedimentos, volume,
intercorrências, dosagens da hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht) e ferritina. No período entre 2005 a
2018, foram avaliados 577 prontuários de pacientes que realizam o procedimento de sangria terapêutica,
totalizando o número de 2.792 sangrias, concluindo-se que o maior índice 94,6% (546) do sexo masculino;
além disso, dos 577 analisados, 61% (352) residem na capital; a faixa etária se encontra entre 41 a 60
anos; em relação à profissão, o maior índice foi de aposentados 13% (75); o maior número de pacientes
teve diagnóstico de hiperferritinemia, totalizando 63,4% (366), sendo a maioria pertencente ao sexo
masculino, com 65,6% (358); já no sexo feminino, por sua vez, a poliglobulia foi a indicação de maior
prevalência, com 41,3% (13), sendo a poliglobulia indicação que mais recorre a sangrias terapêuticas.
Conclui-se através deste estudo, que de acordo com o número de pacientes o maior índice de indicação
para a realização de sangrias terapêuticas no Centro de Hemoterapia de Sergipe é o da hiperferritinemia,
com maior prevalência nos indivíduos do sexo masculino, residentes da capital, estando entre a quarta e
a sexta décadas de vida.

Palavras–chave: Sangria, Flebotomia, Poliglobulia, Hemocromatose, Hiperferritinemia.

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
568
aaaaaaaaaaaaa
ABSTRACT
Bloodletting or therapeutic phlebotomy is a technique performed by several civilizations, which began
approximately 2,500 years ago. Currently, this practice consists of the removal of whole blood, aiming at
decreasing blood viscosity or metabolite products, relieving symptoms and improving the quality of life
of patients. This study aims to analyze the epidemiological profile and indication of patients who
underwent therapeutic bleeding in the outpatient sector of the Sergipe Hemotherapy Center (HEMOSE),
in a retrospective and descriptive analysis, evaluating gender, age, therapeutic indication, profession,
location, number of procedures, volume, complications, hemoglobin (Hb), hematocrit (Ht) and ferritin
dosages. In the period between 2005 and 2018, 577 medical records of patients undergoing the
therapeutic bleeding procedure were evaluated, totaling 2,792 bleedings, concluding that the highest rate
was 94.6% (546) male; in addition, of the 577 analyzed, 61% (352) reside in the capital; the age group is
between 41 to 60 years old; in relation to profession, the highest rate was 13% retirees (75); the largest
number of patients had a diagnosis of hyperferritinemia, totaling 63.4% (366), with the majority being
male, with 65.6% (358); in females, in turn, polyglobulia was the indication with the highest prevalence,
with 41.3% (13), and polyglobulia was the most frequent indication for therapeutic bleeding. It is
concluded through this study that, according to the number of patients, the highest index of indication
for therapeutic bleeding in the Hemotherapy Center of Sergipe is that of hyperferritinemia, with higher
prevalence in male individuals, residents of the capital, being between the fourth and sixth decades of
life.

Keywords: Bleending. Phlebotomy. Polygllobulia. Hemochromatosis. Hyperferritinem.

1. INTRODUÇÃO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A sangria ou flebotomia terapêutica é uma técnica que foi realizada por diversas
civilizações e teve início aproximadamente há 2.500 anos. Atualmente, essa prática
consiste na retirada de sangue total através da punção uma veia calibrosa na fossa
atencubital anterior. Pode ser usada como paliativo no controle da hiperviscosidade
sanguínea ou remoção de produtos metabólitos que se apresentem em excesso na
corrente sanguínea ou em órgãos parenquimatosos, aliviando, com isso, sintomas e
melhorando a qualidade de vida dos pacientes (COOK, 2010; DE PALMA, 2007).
Na era Hipocrática, muitos médicos especulavam e criavam teorias sobre a
eficiência da sangria terapêutica, entre as quais a mais aceita era a teoria humoral, que
revelava os quatro “humores do corpo”, os quais se tratavam do sangue, da fleuma, da
bile amarela e da bile preta. Acreditava-se que esses fluidos estariam relacionados com
o temperamento das pessoas, o que era associado com a causa das doenças, portanto,
através do sangramento, deveria se obter um estado de equilíbrio, garantindo-se, assim,
uma boa saúde (DE PALMA, 2007).
Uma variante importante da flebotomia eram os instrumentos utilizados para a
sua prática, o que se dava por meio de lancetas e até mesmo sanguessugas. Além das

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
569
aaaaaaaaaaaaa diversas indicações que existiam para esse procedimento, foi difundida a ideia de
prevenção de doenças, e as pessoas acreditavam nisso (PARAPIA, 2008).
Conforme a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 34, de 11 de junho de
2014, do Ministério da Saúde, que dispõe sobre as boas práticas no ciclo do sangue,
ficou estabelecida a necessidade de haver protocolos dos procedimentos e indicações
para realização da sangria terapêutica pelos serviços de hemoterapia (BRASIL, 2014). Os
protocolos supracitados fazem parte do escopo do Sistema de Gestão da Qualidade de
atendimento no setor ambulatorial do banco de sangue.
De acordo com o procedimento da sangria terapêutica, ela é realizada sob o
acompanhamento da equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros e técnicos de
enfermagem), mediante o preenchimento do CPST (Controle do Procedimento - Sangria
Terapêutica) e a receita médica contendo as informações laboratoriais do paciente, as
indicações e o número de sangrias a serem feitas (HEMOSE, 2018). Entre as principais
indicações para a sangria nos dias atuais estão: Hemocromatose, Policitemia vera e
secundária, além da Porfiria cutânea tarda associada ou não à Hepatite C, entre outras
(PERES, 2016).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

O excesso de ferro no organismo causa a Hemocromatose, que pode ser primária


ou secundária. A Hemocromatose primária ou hereditária está relacionada a excessiva
absorção do ferro pelas células reticuloendoteliais, e ao aumento do mineral nos
tecidos, estando relacionada principalmente às mutações do gene HFE, sendo as mais
frequentes: C282Y, H63D e S65C. A forma secundária está ligada, por sua vez, à
produção ineficaz de eritrócitos, acometendo pacientes politransfundidos e com anemia
hemolítica (SOUTO, 2016; LEAL, 2013). Os sinais clínicos mais característicos são a
hiperpigmentação da pele, o diabetes e a cirrose (CANÇADO, 2010).
A policitemia vera, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é
classificada como neoplasia mieloproliferativa, na qual se dá a exagerada hematopoese
devido à mutação no éxon 14 do gene JAK2, na maioria dos casos (ZERBINI, 2011;
FREITAS, 2015). Enquanto isso, a policitemia secundária é causada pela hipóxia tecidual,
gerando uma elevação dos eritrócitos devido ao aumento da produção de
eritropoietina, estando relacionada à doença pulmonar obstrutiva crônica, a viver em
altitudes elevadas, a distúrbios renais, hepáticos e genéticos (MACEDO, 2015). De
acordo com a Associação Brasileira de Porfíria (ABRAPO, 2017) a hiperviscosidade

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
570
aaaaaaaaaaaaa sanguínea gerada pela eritrocitose pode ocasionar eventos trombóticos,
esplenomegalia, além do fato de que a doença pode evoluir para uma Leucemia
Mielóide Crônica (ABRAPO, 2017).
As porfírias, por sua vez, são doenças raras divididas em um grupo de oito
patologias metabólicas, destaca-se que sua causa primária está relacionada com
mutações nos genes que codificam enzimas defeituosas envolvidas na biossíntese do
grupo heme (FERREIRA, 2016). A porfiria cutânea tarda é a mais comum das porfirias,
causada pela deficiência da enzima uroporfirinogênio descarboxilase. O quadro clínico
é caracterizado por lesões bolhosas crônicas, hipertricose e hiperpigmentação, podendo
desenvolver-se para uma fotomutilação em áreas fotoexpostas. A presença de
hemossiderose hepática pode ocasionar sobrecarga de ferro nos pacientes, retrando
uma característica clínica muito importante (saturação de ferro e ferritina aumentados)
(POBLETE, 2016).
Em face do exposto, é imprescindível ressaltar que a dosagem da ferritina,
principal proteína envolvida no armazenamento do ferro, tem enorme significado na
triagem de portadores de hemocromatose e outros desequilíbrios do ferro, a sangria
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

terapêutica seria realizada nesses casos, vale ressaltar que a ferritina também se eleva
em condições inflamatórias, doença hepática causada por vírus da hepatite B e C,
doença hepática alcoólica, doença autoimune, entre outras. Portanto, tendo em vista
os vários significados da elevação da ferritina, é necessária a sua interpretação correta,
sendo avaliada juntamente com testes laboratóriais do metabolismo do ferro e teste
molecular para detecção da mutação no gene HFE, contribuíndo para o estabelecimento
da conduta terapêutica adequada (BARROS, 2017; ESPER, 2015; PETRONI, 2017;
RODRIGUES, 2017).
O presente estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico e a
indicação dos pacientes que realizaram sangrias terapêuticas no setor ambulatorial do
Centro de Hemoterapia de Sergipe – HEMOSE –, avaliando gênero, faixa etária,
indicação terapêutica, profissão, localização, frequência de procedimentos de acordo
com diagnóstico, volume, intercorrências, dosagens de hemoglobina (Hb), hematócrito
(Ht) e ferritina.

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
571
aaaaaaaaaaaaa
2. METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada no setor ambulatorial e no setor de transfusão do Centro
de Hemoterapia do Estado de Sergipe – HEMOSE –, que fica localizado na Avenida
Presidente Tancredo Neves, S/N, Bairro Capucho, no município de Aracaju/SE. Trata-se
de uma análise retrospectiva e descritiva de 577 pacientes atendidos pelo setor
ambulatorial, durante o período compreendido entre os anos de 2005 a 2018.
Foram analisados prontuários dos pacientes contendo informações
epidemiológicas (gênero, idade, profissão, localização), indicação para realização da
sangria, número de bolsas e volume coletado, intercorrências e diagnóstico laboratorial
(Hb, Ht e ferritina).
Por meio do programa Microsoft Excel 2010, foram construídos os bancos de
dados. A análise estatística se deu através do Programa IBM Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS), versão 22.0, utilizando-se o teste do Qui-Quadrado de Pearson
em um intervalo de confiança de 95%. A partir dos resultados obtidos, foram
confeccionados os gráficos e as tabelas.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período compreendido entre 2005 a 2018, foram avaliados 577 prontuários
de pacientes que realizam o procedimento de sangria terapêutica, totalizando-se o
número de 2.792 sangrias. Desse montante, 94,6% (546) são do sexo masculino e 5,4%
(31) do sexo feminino. Outro aspecto observado é que 61% (352) residem na capital
sergipana, 36,4% (210) em interiores de Sergipe e 2,6% (15) são de outros estados. Em
relação ao estado profissional, por sua vez, o maior índice foi de aposentados, com 13%
(75), e o menor foi de autônomos, com 3,8% (22) (Tabela 1).
Uma pesquisa realizada por BARTON, 2005 nos Estados Unidos, demonstra
resultados semelhantes à pesquisa no Centro de Hemoterapia de Sergipe, no que diz
respeito ao sexo masculino ser o mais afetado pelas indicações clínicas. Conforme dados
do estudo realizado por CAIXETA, 2008 no Hospital Universitário da Universidade
Federal de Santa Catarina – HU-UFSC – a grande parte dos pacientes reside na capital,
resultado semelhante ao da atual pesquisa (Tabela 1).

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
572
aaaaaaaaaaaaa Tabela 1 - Distribuição sociodemográfica dos indivíduos que realizaram sangria terapêutica no
HEMOSE no período de 2005 a 2018
VARIÁVEL VALOR ABSOLUTO VALOR RELATIVO
(n) (%)
Gênero
Feminino 31 5,4
Masculino 546 94,6
Cidade Atual
Aracaju 352 61
Interior de Sergipe 210 36,4
Outros Estados 15 2,6
Profissão
Aposentado(a) 75 13
Autônomo(a) 22 3,8
Comerciante 64 11,1
Professor(a) 27 4,7
Motorista 36 6,2
Outros* 353 61,2
*Outros: Administrador, Advogado, Agente Administrativo, Agente de Polícia, Agricultor,
Assistente Social, Auditor Técnico de Tributos, Bancário, Bombeiro, Cameló, Carteiro, Chapista,
Cobrador, Condutor de Almoxarifado, Contador, Do Lar, Economista, Empresário, Encarregado,
Enfermeiro, Engenheiro, Engenheiro, Estudante, Fotógrafo, Gerente, Industriário, Jornalista,
Lavrador, Marceneiro, Marítimo, Mecânico, Médico, Militar, Músico, Oficial de Justiça, Oficial
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de Manutenção, Policial, Programador, Promotor, Químico industrial, Representante, Serviços


Básicos, Servidor ou Funcionário Público, Taxista,Técnico Administrativo, Técnico agrícola,
Técnico de Contabilidade, Técnico de Edificações, Técnico de Enfermagem, Técnico de
Laboratório,Técnico de Manutenção, Técnico de Petróleo, Técnico de Rede, Técnico de
Segurança, Técnico em Agropecuária e Vendedor.
Fonte: Elaboração própria.

Em relação à indicação como fundamento para a realização da sangria


terapêutica, a hipeferritinemia apresenta maior índice no indivíduo do sexo masculino,
com 65,6% (358), e o menor índice foi à porfiria em indivíduos do sexo feminino, com
9,7% (03). Ressalta-se que, dentre todas as indicações para a realização da flebotomia
terapêutica, a poliglobulia no sexo feminino expressa maior prevalência, com 41,9%
(13), sendo sua significância estatística (p=0,001), confirmando uma diferença
estatística altamente significante entre os dois gêneros (Tabela 2).

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
573
aaaaaaaaaaaaa Tabela 2 - Indicação para realização de sangria terapêutica quanto ao gênero dos indivíduos
pesquisados no HEMOSE no período de 2005 a 2018
GÊNERO
INDICAÇÃO Masculino Feminino TOTAL P
n (%) n (%)
Hiperferritinemia 358 (65,6%) 8 (25,8%) 366
Hemocromatose 130 (23,8%) 5 (16,1%) 135
Poliglobulia 42 (7,7%) 13 (41,9%) 55 0,001
Porfiria 4 (0,7%) 3 (9,7%) 7
Outros* 12 (2,2%) 2 (6,5%) 14
*Outros: Hematócrito alto, Hemoglobina alta, Eritrocitose, Cardiopatia e Hipertensão Arterial.
Fonte: Elaboração própria.

Em doenças em que ocorre a sobrecarga de ferro os homens são os mais


acometidos em comparação com as mulheres. Tal resultado é explicado pelo fato de
que o acúmulo de ferro é mais lento nas mulheres, devido à perda sanguínea mensal
através da menstruação, fato que condiz com os dados do presente estudo, o que revela
que a hiperferritinemia, a hemocromatose e a porfiria estão mais presentes no sexo
masculino (BARTON, 2005).
Entre as indicações para a realização do procedimento da flebotomia
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

terapêutica, a de maior prevalência é a hiperferritinemia, concentrações séricas de


ferritina acima de 1.000mg/l, é um indicativo de sobrecarga de ferro (AYMONE, 2013).
A indicação de menor prevalência é a porfiria, segundo a Associação Brasileira de Porfiria
(ABRAPO,2017), visto se tratar de uma doença rara. Nesse sentido, estima-se que
1/10.000 pessoas seja portadora do gene e que somente 1 a 5/100.000 pessoas
desenvolverão algum tipo de porfiria.
A Association For The Study Of The Liver relata que a hemocromatose hereditária
é a causa genética mais comum de sobrecarga de ferro (EASL, 2010). No presente
estudo, a hemocromatose aparece como sendo o diagnóstico de sobrecarga de ferro
mais proeminente, com 135 casos (Tabela 2).
O estudo realizado por CAIXETA, 2008 apresentou que o maior número de
indivíduos possuía porfiria, sendo 18 dos 50 pacientes, dado oposto ao que a presente
pesquisa obteve no HEMOSE, uma vez que, entre as indicações avaliadas, esta teve o
menor número: assim, dos 577 prontuários analisados, somente 07 dos pacientes
apresentavam diagnóstico de porfiria (Tabela 2).

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
574
aaaaaaaaaaaaa Com os dados obtidos a respeito da faixa etária, notou-se uma prevalência em
relação aos pacientes submetidos à sangria terapêutica que estão no intervalo de idade
dos 41 aos 60 anos, o que sugere a susceptibilidade desses indivíduos às doenças em
que a sangria se faz necessária, e somente 04 pacientes tinham menos de 20 anos, sendo
notória a significância estatística na hiperferritinemia (p=0,001) (Tabela 3). Dados
similares foram encontrados por outros estudos (CAIXETA, 2008; LINARDI, 2008;
WAHLBRIN, 2017).
Tabela 3 - Indicação para realização do procedimento de sangria terapêutica de acordo com a
idade da primeira sangria realizada nos indivíduos atendidos no HEMOSE no período de 2005 a
2018.
FAIXA ETÁRIA
INDICAÇÃO 21 31 41 51 61 TOTAL P
<20 a a a a a >70
30 40 50 60 70
Hiperferritinemia 2 8 58 106 122 61 9 366 0,001
Hemocromatose 1 7 16 40 47 21 3 135 0,082
Poliglobulia 1 5 9 11 11 10 8 55 0,393
Porfiria 0 2 0 3 1 1 0 7 0,670
Outros* 0 2 3 3 4 2 0 14 0,555
*Outros: Hematócrito alto, Hemoglobina alta, Cardiopatia e Hipertensão Arterial.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Elaboração própria.

Conforme a Figura 1 constatou-se nesse estudo que os pacientes com


hiperferritinemia 39,2% (1095) e hemocormatose 33,6% (940) realizaram maior
quantidade de procedimentos, porém, se fosse avaliada a mesma quantidade de
pacientes por indicação, os indivíduos com poliglobulia realizariam mais sangrias que as
outras indicações.

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
575
aaaaaaaaaaaaa Figura 1 - Quantidade de flebotomias realizadas entre 2005 a 2018, evidenciadas por grupos
de indicações

1200 1095
940
1000

800 661
600

400

200 63
33
0
Hiperferritinemia Hemocromatose Poliglobulia Porfiria Outros*

Fonte: Elaboração própria.

Pesquisa realizada por CAIXETA, 2008, analisando-se 50 procedimentos de


sangria, demonstrou que a hemocromatose foi responsável pelo maior número dos
procedimentos de flebotomia, com 43,5%; em contrapartida, um estudo com 105
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

sangrias terapêutica realizadas por Angulo26, no Hemocentro de Ribeirão Preto,


demonstrou que 88% dos procedimentos foram decorrentes da eritrocitose, porém, no
HEMOSE 39,2% (1095) dos procedimentos de flebotomia são realizados por pacientes
com a indicação de hiperferritinemia.
De acordo com a tabela a seguir, observa-se, através da média de sangrias
efetuadas para cada indicação, que os pacientes com poliglobulia recorrem mais vezes
à sangria terapêutica 12,0 (DP +/- 16,25 (Tabela 4).
Tabela 4. Parâmetros relacionados a quantidade de flebotomias realizadas e volume coletado
a partir da indicação dos pacientes que realizaram sangria terapêutica no HEMOSE no período
de 2005 a 2018
PARÂMETROS
INDICAÇÃO Média Desvio Mínimo Máximo
padrão
Hiperferritinemia
Quantidade de Flebotomia 2,99 2,57 1 21
Volume Coletado 419,8 37,15 215 450
Hemocromatose
Quantidade de Flebotomia 6,96 9,77 1 74
Volume Coletado 410,9 44,02 266,66 500
Poliglobulia
Quantidade de Flebotomia 12,02 16,25 1 103

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
576
aaaaaaaaaaaaa PARÂMETROS
INDICAÇÃO Média Desvio Mínimo Máximo
padrão
Volume Coletado 413,3 41,73 300 483,33
Porfiria
Quantidade de Flebotomia 4,71 3,94 1 11
Volume Coletado 410,9 73,13 250 450
Outros*
Quantidade de Flebotomia 4,5 4,22 1 14
Volume Coletado 370,9 78,58 250 450
Fonte: Elaboração própria.

Quanto ao volume coletado nas 577 sangrias, a média geral do volume


sanguíneo retirado foi de 405,1 ml. As recomendações a respeito do volume coletado
nas flebotomias terapêuticas variam entre 350 a 500 ml de sangue. No entanto, essa
quantidade não é determinada pela doença do paciente, mas sim de acordo com a
condição clínica dele, a qual é avaliada pelo médico para a realização de tal
procedimento (HEMOSE, 2018).
Durante a realização das sangrias dos indivíduos pesquisados, houve
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

algumas intercorrências, 66, um número pequeno se o compararmos ao total de


sangrias realizadas 2792. Sendo a hipertensão a intercorrência mais frequente 29%,
divergindo com isso dos resultados encontrados no trabalho de CAIXETA, 2008 uma vez
que nele a interecorrência mais comum foi a hipotensão (Figura 2).

Figura 2 - Quantidade de intercorrências sofridas em relação a indicação para sangria


terapêutica realizada no HEMOSE no período de 2005 a 2018
29%
30
25 21
17,7
20
15 11,3 11,3
10
5 1,6 1,6 1,6 1,6 1,6 1,6
0

INTERCORRÊNCIAS

Fonte: Elaboração própria

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
577
aaaaaaaaaaaaa De acordo com os dados da figura abaixo, constata-se que a poliglobulia é a
indicação que apresenta as maiores médias para hemoglobina, com 18,7 g/dL (DP +/-
1,81), e hematócrito, com 57% (DP +/- 6,67) (Figura 3).

Figura 3 - Valores de hemoglobina e hematócrito pré-sangria terapêutica no HEMOSE no


período de 2005 a 2018, evidenciado por indicações
70
60 57,47
53,24
50 44,34 44,74 46,78

40
30
18,72 17,8
20 15,04 15,23 15,53

10
0
Hiperferritinemia Hemocromatose Poliglobulia Porfiria Outros*
Ht Hb
Fonte: Elaboração própria.

A poliglobulia ou policitemia é a indicação com maior elevação nesses


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

parâmetros, devido à sua característica representada pelo aumento no número dos


eritrócitos, evidenciando, assim, um aumento do hematócrito e da concentração de
hemoglobina (SOTO, 2008). Tais dados assemelham-se a estudos de CAIXETA, 2008 e
ANGULO, 1999.
Os resultados obtidos dos prontuários avaliados em relação à ferritina sérica
revelaram que os pacientes com o diagnóstico de hemocromatose apresentam uma
concentração média de ferritina mais elevada em relação às outras enfermidades
1149,2 ng/mL (DP +/-1261,9) (Figura 4).

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
578
aaaaaaaaaaaaa Figura 4 - Valores da ferritina nos pacientes que realizaram sangrias terapêuticas no período de
2005 a 2018, evidenciado por indicações

Outros* 658,8

Porfiria 453,85

Poliglobulia 600,44

Hemocromatos 1159,21
e
Hiperferritinemi 1074,75
a

0 200 400 600 800 1000 1200


Ferritina

Fonte: Elaboração própria.

O diagnóstico de sobrecarga de ferro tem como uma das principais bases a


concentração de ferritina sérica, portanto pacientes com hemocromatose
apresentaram altos níveis dessa proteína. Estudos envolvendo 12 pacientes portadores
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de hemocromatose hereditária, realizados por VALADÃO, 2014 constataram que todos


os doentes apresentavam ferritina sérica elevada em relação aos índices considerados
normais, dados semelhantes foram encontrados em FERREIRA, 2017.

4. CONCLUSÃO
Através deste estudo, pode-se constatar que a indicação com o maior número
de pacientes para a realização de sangrias terapêuticas no HEMOSE é a
hiperferritinemia, sendo, em sua maioria do sexo masculino 94,6%, residentes da capital
– Aracaju – 61%, a faixa etária mais acometida foi entre a quarta e a sexta décadas de
vida. Com os dados obtidos, observou-se que a poliglobulia é a indicação com maior
recorrência à flebotomia terapêutica, sendo tal indicação mais prevalente no sexo
feminino 41,9%.
Devido às informações encontradas nesta pesquisa, sugere-se que, nos casos de
hiperferritinemia, o médico solicite exames para a constatação do diagnóstico,
informando-o na solicitação, a confirmação do diagnóstico pode ser através de um teste
molecular para pesquisa da mutação no gene HFE, o rastreio genético é útil para

INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
579
aaaaaaaaaaaaa identificar quais mutações estão mais indicadas para rastreamento da população com
sobrecarga de ferro no Brasil, além de possibilitar um diagnóstico precoce em familiares
que podem apresentar a mutação e a expressão da doença, garantido portanto, uma
melhor expectativa e qualidade de vida para essas pessoas.
Sugere-se que os resultados dos exames de acompanhamento dos pacientes
pós-sangria sejam registrados nos prontuários, objetivando, com isso, uma maior
segurança, verificando-se, portanto, a eficácia do tratamento e a melhoria dos
atendimentos ofertados pelo setor ambulatorial do HEMOSE.
Por fim, almeja-se que os resultados deste estudo contribuam para o
desenvolvimento de novos outros, e para a qualidade das instituições de hemoterapia
que realizam a sangria terapêutica, acrescentando conhecimento a todos aqueles
envolvidos no tratamento.

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INDICAÇÕES E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS ÀS SANGRIAS TERAPÊUTICAS


REALIZADAS NO CENTRO DE HEMOTERAPIA DE SERGIPE – HEMOSE
582
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XLIII
O PAPEL DO ENFERMEIRO NO
TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO
HEMATOPOIÉTICAS
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-43
Tamires de Oliveira Silva Benicá ¹
Sany Cristina de Torres Nascimento ²
Giovana Carbone Pereira ³
Luciano Godinho Almuinha Ramos 4
¹ Graduando do curso de Enfermagem. Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação - IBMR
² Graduando do curso de Enfermagem. Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação - IBMR
3 Graduando do curso de Enfermagem. Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação - IBMR
4 Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal Fluminense - UFF, Especialista em Oncologia Clínica pela

Universidade Veiga de Almeida - UVA, Professor Conteudista na Rede de Ensino Ensina-Me e Professor DNS 1 pelo
Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação - IBMR
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

RESUMO
Este estudo versa sobre o papel do enfermeiro frente ao transplante de células tronco
hematopoiéticas. Tem como objetivo destacar a importância do trabalho do enfermeiro no
transplante de células tronco hematopoéticas. O presente estudo trata-se de uma revisão
integrativa com a seguinte questão norteadora: Qual o papel do enfermeiro, frente ao cuidado
do paciente, no transplante de células tronco hematopoiéticas? Para a realização do artigo foi
promovida uma revisão integrativa de literatura onde foram selecionadas obras da Biblioteca
Virtual de Saúde, BVS Enfermagem Brasil, com os seguintes descritores da base DeCS
“Assistência de Enfermagem”, “Papel do Enfermeiro” e “Transplante de Células-Tronco
Hematopoiéticas” nos idiomas português e inglês entre 2011 e 2020. Como critérios de
exclusão: foram descartados os artigos que não se enquadram ao tema proposto, assim como
artigos de revisão de literatura. Como critérios de inclusão: foram utilizadas obras publicadas
entre os anos de 2011 a 2020 nos idiomas Português e Inglês. O artigo foi subdivido em três
categorias que ajudaram a identificar o enfermeiro frente ao transplante de células tronco
hematopoiéticas. Foi abordado os conhecimentos necessários para realização do transplante, o
enfermeiro frente aos cuidados paliativos e, por fim, o papel do enfermeiro frente a avaliação
psicológica dos pacientes durante o transplante de células tronco hematopoiéticas. Concluiu-se
que o cuidado exercido pelo enfermeiro é feito de forma integral e o profissional capacitado
atua em diversos níveis, desde os mais básicos aos mais complexos e é protagonista no cuidado
de pacientes habilitados ao transplante de células tronco hematopoiéticas.

Palavras-chave: Assistência de Enfermagem; Papel do Enfermeiro; Transplante de Células


Tronco Hematopoiéticas.

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 583


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) é uma especialidade de
tratamento para doenças hematológicas, onco-hematológicas, imunológicas ou
hereditárias. O procedimento consiste na infusão endovenosa de células estaminais que
possuem o potencial de renovação e origem para outros tipos de células sanguíneas com
a finalidade de restaurar a função da medula doente ou lesada e auxiliar no processo
imune dos pacientes (INCA, 2018).
Inicialmente, o processo de transplante era usado como medida radicalizada e
desesperada em pacientes que não respondiam ao tratamento padronizado contra as
disfunções hematológicas, entretanto, com o avanço da tecnologia, aprimorou-se o
cuidado e o suporte do tratamento. Dessa forma, o transplante passou a ser uma forma
de transformação para doenças imunológicas, hematológicas, oncológicas e
hereditárias. A compreensão mais ampla do método possibilitou a utilização do
procedimento como uma estratégia terapêutica cada vez mais recorrente para
tratamento dos distúrbios ocasionados pelo mau funcionamento do sangue e, muitas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

das vezes, mostra-se como uma única solução para cura de pacientes acometidos, além
de manifestar resultados satisfatórios na recuperação do paciente (INCA, 2012).
Desenvolvidas pela medula óssea, as células tronco possuem uma capacidade de
autorrenovação e diferenciação em diversas categorias. A estrutura medular é
composta por um tecido gelatinoso que preenche o interior dos ossos e possui como
principal função o desenvolvimento das células sanguíneas presentes no organismo
(RNTC, 2021).
As disfunções atribuídas à medula podem despertar doenças hematológicas,
onco-hematológicas, imunológicas e até mesmo hereditárias que podem também ser
tratadas com a modalidade terapêutica do transplante, dentre elas: leucemia mieloide
aguda, síndromes mielodisplásicas, tumores de células germinativas, amiloidose,
anemia aplástica grave e anemia falciforme (CENTRO DE CRIOGENIA BRASIL, 2014).
Para que o processo de transplante seja realizado, é necessário a coleta de
células tronco. Essas células podem ser encontradas na medula óssea, sangue periférico
obtido por meio de aférese - separação de células a partir do sangue recolhido - cordão

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 584


aaaaaaaaaaaaa umbilical e placenta após o nascimento de uma criança (HOSPITAL ISRAELITA ALBERT
EISNTEIN, 2021).
Segundo o Registro Nacional de Doadores Voluntários da Medula Óssea
(REDOME), há dois tipos de doadores do TCTH compreendidos em: autólogo e
alogênico. O transplante autólogo consiste na infusão de células precursoras da medula
óssea que são retiradas do próprio paciente transplantado. Essas células são retiradas
antes do transplante e passam por um tratamento severo com altas doses de
quimioterapia e, às vezes, radioterapia com a finalidade de distinguir células saudáveis
das células doentes (INSTITUTO ONCOGUIA, 2015).
No transplante alogênico, o paciente recebe as células tronco que são retiradas
de um doador com níveis altos de compatibilidade do material sanguíneo, esse doador
pode ser aparentado ou não. A preferência do transplante é sempre da família, todavia,
há casos em que o paciente não possui boa compatibilidade com os membros. Então,
procura-se os não aparentados compatíveis pelo Registro Nacional de Doadores
Voluntários da Medula Óssea (REDOME, 2015).
Algumas literaturas abordam ainda sobre os doadores singênicos. Nesse tipo de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

transplante, as células são provenientes de um irmão gêmeo idêntico. As fontes de


células tronco oriundas do irmão são raras e nem sempre podem ser utilizadas,
entretanto, possuem um padrão ideal de compatibilidade (INCA, 2012).
Transplantar células tronco hematopoiéticas é uma intervenção extremamente
intensa e pode gerar riscos à vida do paciente, entretanto, o processo de transplante
possui uma capacidade potencialmente curativa para diversas espécies de doenças
malignas e não malignas (CARVALHO, 2011).
Frente a este procedimento, o enfermeiro está ligado diretamente ao cuidado
do paciente, prevenção e detecção precoce de complicações que o procedimento pode
gerar (GUALBERTO, 2012) .
Para promover um cuidado de alta qualidade o profissional necessita ter
conhecimento científico para atuar na implementação de planos terapêuticos durante
todo o processo de transplante e deve estar em um lugar de liderança na efetivação das
atividades privativas do enfermeiro (TANNURE; GONÇALVES, 2010).

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 585


aaaaaaaaaaaaa Segundo a Resolução COFEN 358/2009, “...a Sistematização da Assistência de
Enfermagem organiza o trabalho profissional quanto ao método, pessoal e
instrumentos, tornando possível a operacionalização do processo de Enfermagem.".
O enfermeiro que atua diretamente com o TCTH necessita estar interessado e
capacitado para exercer a profissão com afinco, a fim de prestar cuidados de forma
sistematizada, desenvolvendo o conhecimento, habilidades e cuidados necessários
durante todo o processo de transplante. A Resolução COFEN - 629/2020 assegura que
o enfermeiro deve manter suas funções voltadas para o “planejar, executar, coordenar,
supervisionar e avaliar os procedimentos hemoterápicos e de Enfermagem nas
Unidades, visando assegurar a qualidade do sangue, hemocomponentes e
hemoderivados, coletados e infundidos” (COFEN, 2020).
Diante da especialidade do cuidado de enfermagem no transplante de células
tronco hematopoiéticas, este trabalho visa destacar a importância do enfermeiro no
processo de transplante de células tronco hematopoiéticas.

2. METODOLOGIA
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, que objetiva agrupar


informações de diversos estudos já realizados sobre o tópico selecionado auxiliando no
embasamento teórico do estudo proposto (WHITTEMORE; KNAFL, 2005).
Após a definição da questão norteadora “Qual o papel do enfermeiro, frente ao
cuidado do paciente, no transplante de células tronco hematopoiéticas?”, a base de
dados BVS Enfermagem Brasil foi utilizada como fonte de pesquisa com auxílio dos
descritores da base DeCS “Assistência de Enfermagem”, “Papel do Enfermeiro” e
“Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas”.
Como critérios de inclusão foram utilizados: artigos selecionados que
abordassem a atuação do enfermeiro no processo de transplante de células-tronco
hematopoiéticas, publicados nos últimos entre os anos 2011 e 2020, nos idiomas
português e inglês. Foram descartados os artigos que não se enquadram ao tema
proposto, assim como artigos de revisão de literatura.
Ao realizar a busca na base selecionada, os descritores combinados ao período e
idiomas selecionados trouxeram 12 resultados. Após a leitura dos títulos e resumos, dos
12 resultados, 4 não atendiam ao tema proposto, portanto, foram descartados e uma

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 586


aaaaaaaaaaaaa obra consistia em uma tese de mestrado que originou 1 dos artigos selecionados ao final
do processo, sendo assim, foi selecionada para embasamento teórico. Os 7 artigos
restantes, passaram por um processo de leitura na íntegra onde obtiveram aprovação
para compor a amostra deste estudo.
Os artigos selecionados passaram pelo processo de leitura e construção de
resenha crítica individual para coleta de dados pertinentes, desta forma, permitindo a
visualização de suas principais características e identificação dos artigos relacionados ao
tema.

Figura 1 - Fluxograma de busca e seleção de artigos. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2020.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Autores.

O fluxograma acima relata as etapas realizadas para a seleção dos artigos deste
estudo. Inicialmente, foi encontrado um universo de 12 artigos na base utilizada, após a
análise dos resumos e conclusões sobraram 7 artigos que se enquadram no tema

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 587


aaaaaaaaaaaaa abordado. Após leitura na íntegra, os 7 artigos se mantiveram na apresentação final
deste estudo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os critérios utilizados para inclusão de artigos na revisão foram: artigos
selecionados que abordassem a atuação do enfermeiro no processo de transplante de
células-tronco hematopoiéticas, publicados nos últimos entre os anos 2011 e 2020, nos
idiomas português e inglês. O Quadro 1 demonstra a divisão dos artigos que foram
selecionados para a composição do estudo.
Quadro 1. Artigos selecionados para o estudo. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021.
AUTOR/ANO TÍTULO OBJETIVO

Crooks. et Monitoring patient distress and Monitorar pacientes aptos a


al/2013 related problems before and after realizarem o transplante horas após
hematopoietic stem cell os mesmos se qualificarem;
transplantation. estruturar a coordenação da equipe
multidisciplinar para ajudar a aliviar
a angústia dos pacientes e reduzir os
problemas ao longo do tempo da
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

qualificação de três a seis meses


após o procedimento.

Lima & O cuidado de enfermagem em Identificar atividades de cuidado dos


Bernardino/2014 unidade de transplante de enfermeiros de uma unidade de
células-tronco hematopoiéticas transplante classificadas segundo o
referencial canadense.

Harden &. Early Intervention With Melhorar a qualidade de vida


Schembri/2014 Transplantation Recipients to iniciando antecipadamente os
Improve Access to and Knowledge cuidados paliativos em pacientes
of Palliative Care. submetidos ao processo de
transplante de medula óssea e
aperfeiçoar o acesso a esses
cuidados e os conhecimentos antes
mesmo da admissão do paciente no
transplante e aprimorar o acesso a
esses cuidados e os conhecimentos
antes mesmo da admissão do
paciente no transplante.

Thomson. et Transitions of Care A Fornecer uma abordagem


al/2014 Hematopoietic Stem Cell sistemática útil visando à
Transplantation Nursing padronização dos métodos de
Education Project Across the ensino do paciente em várias
Trajectory. funções profissionais de
enfermagem durante a trajetória do

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 588


aaaaaaaaaaaaa AUTOR/ANO TÍTULO OBJETIVO

mesmo no transplante de células


hematopoiéticas, integrar os
cuidados paliativos na gestão
integral dos receptores e famílias do
paciente submetido ao transplante
de células tronco hematopoiéticas e
discutir os efeitos colaterais e a
toxicidade observados dos regimes
de alta dose de condicionamento e
os resultados do TCTH.

Tierney. et Palliative care of hematopoietic Fornecer apoio para a integração


al/2014 cell transplant recipients and precoce dos cuidados paliativos no
families. tratamento dos receptores e
famílias de transplante de células
tronco hematopoiéticas (TCTH).

Huang. et Experience of nurses caring for Explorar a vivência dos enfermeiros


al//2014 child with hematopoietic stem cuidando de crianças submetidas ao
cell transplantation in general TCTH e isoladas numa ala pediátrica.
pediatric ward: a descriptive
phenomenological approach.

Sabo./2011 Compassionate presence: The Compreender os efeitos do trabalho


Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

meaning of hematopoietic stem de enfermagem sobre a saúde


cell transplant nursing. psicossocial e o bem-estar dos
enfermeiros do TCTH.

O Quadro 1 traz os artigos selecionados para este artigo separados em autor e


ano, título e objetivo do estudo para uma visualização mais compreensível e detalhada.

Transplante de células tronco: conhecimentos necessários


para realização desta atividade.
O transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) equivale a uma
modalidade de tratamento vista como um procedimento altamente invasivo e de alta
complexidade, que envolve o uso de medicações quimioterápicas, sessões de
radioterapia, hemotransfusões e outros métodos que podem ocasionar em inúmeros
riscos a vida do paciente (THOMSON et al, 2015).
No entanto, em muitos casos, mostra-se como uma única solução para pacientes
com doenças hematológicas, oncológicas, hereditárias e imunológicas (LIMA;
BERNARDINO, 2014).

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 589


aaaaaaaaaaaaa Considerando que as doenças que acometem as funções hematológicas e a
espécie de recurso terapêutico utilizado são extremamente agressivas, o paciente que
é submetido ao processo transplante necessita de cuidados específicos e contínuos para
recuperação do comprometimento orgânico decorrentes do tratamento (LIMA;
BERNARDINO, 2014).
A presença de enfermeiros capacitados e com conhecimentos específicos
científicos que auxiliem efetivamente na elaboração de planos terapêuticos totalmente
detalhados é de suma importância no processo de transplante, na recuperação e
prevenção de complicações que podem manifestar-se no período de reabilitação do
paciente (LIMA; BERNARDINO, 2014).
Wanda Horta (1970) define a enfermagem como a ciência e a arte de assistir o
paciente de forma a torná-lo independente, atuando na educação, recuperação e
manutenção da sua saúde. O estudo evidencia o profissional de enfermagem como um
dos principais protagonistas na realização no cuidado de pacientes transplantados.
Uma assistência prestada de forma eficaz pelo profissional capacitado permite
que as necessidades de caráter físico, educacional e psicossocial sejam supridas de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

forma que ocasione em resultados positivos na recuperação do paciente. (HUANG et al,


2014)
A relação enfermeiro-paciente permite que os profissionais de saúde estejam
relacionados diretamente aos pacientes e à família, atuando de forma crucial na
elaboração de estratégias, na forma gerencial e assistencial (LIMA; BERNARDINO, 2014).
De acordo com a Resolução 629/2020, do COFEN, dispõe sobre as competências
do enfermeiro em hemoterapia na coleta, armazenamento, prescrição dos cuidados de
enfermagem, controle de qualidade, assistência a doadores e pacientes, além de outras
atividades, anexas à resolução.
O enfermeiro assistencial executa suas atividades voltadas ao ambiente, à
proteção do paciente, verificação e acompanhamento de dados do paciente, cuidados
relacionados ao procedimento, execução da sistematização da assistência de
enfermagem, atendimento a solicitação dos pacientes, cuidados com a terapia
intravenosa, cuidados com a terapia medicamentosa, entre outros (LIMA; BERNARDINO,
2014).

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 590


aaaaaaaaaaaaa Já, o enfermeiro gerencial atua na coordenação e na liderança de suas equipes,
monitorando o processo de trabalho para o cumprimento das técnicas, influenciando
diretamente sobre a assistência prestada ao paciente, interferindo no cuidado, no
tempo de hospitalização, na redução de custos e contribuindo diretamente para a
satisfação do paciente e da família (COFEN, 2018).
Subdividido em duas categorias, o processo gerencial no transplante abrange os
cuidados técnicos gerais e os cuidados técnicos específicos. Os cuidados técnicos gerais
estão correlacionados à proteção do paciente, incluindo o armazenamento dos
pertences pessoais, paramentação e uniformização da instituição, além da higienização
das mãos como parte do protocolo geral (LIMA; BERNARDINO, 2014).
Por outro lado, cuidados técnicos específicos abrangem o recebimento das
bolsas de sangue do cordão umbilical congelado para o transplante, cuidados com o
armazenamento das bolsas, além de requisição de células mesenquimais a outras
instituições para tratamento de doença de enxerto contra o hospedeiro (LIMA;
BERNARDINO, 2014).
Dispõe ainda ao gerenciamento a supervisão do ensinar, a orientação e a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

observação de pontos positivos e negativos do serviço prestado. O enfermeiro gerencial


fica responsável pela organização e distribuição de acordo com as necessidades do
cliente e de cada membro da equipe, adequando assim de forma precisa a qualidade da
assistência da enfermagem (COFEN, 2018).
A sistematização da assistência de enfermagem deve ocorrer em todas as fases
do transplante, ainda mais por se tratar de uma atividade privativa do enfermeiro (LIMA;
BERNARDINO, 2014). A orientação e supervisão da equipe de enfermagem bem como o
registro de todas as informações obtidas pelo processo de enfermagem são essenciais
para um cuidado eficaz, de forma a torná-lo mais científico baseado na condição clínica
individual do paciente e menos intuitivo (TANNURE; GONÇALVES, 2010).
O processo de enfermagem é um método científico que favorece a prestação do
cuidado de modo organizado. Consiste em realizar o cuidado em etapas que devem ser
previamente estabelecidas, tais como, coleta de dados, diagnóstico, planejamento,
implementação dos cuidados de enfermagem e avaliação dos resultados obtidos
(TANNURE; GONÇALVES, 2010).

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 591


aaaaaaaaaaaaa Por fim, foi visto que na unidade de transplante o enfermeiro capacitado
desempenha um papel importante no cuidado dos pacientes acometidos, atuando tanto
nos níveis mais básicos quanto nos mais complexos, favorecendo uma melhora na
qualidade de vida dos pacientes e dos acompanhantes.

Cuidados paliativos: uma realidade presente no processo de


transplante
Os cuidados paliativos consistem em ações que são realizadas com intuito de
melhorar a qualidade de vida. O alívio de sintomas de doenças que comprometem o
estado físico, psicossocial e espiritual também estão inclusos nesses cuidados (Harden,
K. & Josette A. Schembri 2016). De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia e
com a Sociedade Americana de Oncologia Clínica, os cuidados paliativos devem ser
praticados desde o diagnóstico da doença e durante todo o processo do tratamento
(HARDEN; JOSETTE , 2016).
Alguns autores defendem que os cuidados paliativos conferem em cuidados
interdisciplinares especializados para pacientes com doenças graves e possuem como
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

objetivo minimizar os sintomas e angústias (TIERNEY, 2014).


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os cuidados paliativos
consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a
melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que
ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação
precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais,
psicológicos e espirituais.
Através da implementação precoce e da orientação sobre a importância dos
cuidados paliativos, a aceitação do tratamento pelo paciente, a qualidade de vida,
humor e sobrevida melhoram significativamente (HARDEN; JOSETTE , 2016).
Considerando os sintomas físicos, emocionais e psicológicos que o paciente
acumula durante todo o processo da doença, faz-se necessário a adoção precoce da
conduta terapêutica, respeitando os limites do próprio paciente, visando à melhora dos
sintomas e o empoderamento mental. (INCA, 2021)
O profissional de enfermagem deve liderar os cuidados paliativos e estar à frente
na educação dos pacientes e de suas famílias. O enfermeiro possui um papel importante

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 592


aaaaaaaaaaaaa na identificação das necessidades e conhecimento de cada paciente, desta forma
executam de forma integral todos os cuidados voltados para a manutenção da vida.
(HARDEN; JOSETTE , 2016).
Tal processo permite que os enfermeiros mantenham suas ações voltadas
principalmente na prevenção de infecções, além disso, ele também exerce um papel
fundamental no alívio da dor em pacientes que desenvolvem mucosite, inflamação na
parte interna da boca e na garganta que pode ocasionar em úlceras (TIERNEY, 2014).
Complementar a isso, é relatado também que os cuidados estão diretamente
ligados à melhoria na qualidade de vida, como a diminuição dos sintomas, manutenção
do humor e, consequentemente, diminuição da carga dos prestadores de cuidados
(TIERNEY, 2014).
De acordo com o Manual de Cuidados Paliativos da Academia Nacional de
Cuidados Paliativos, o enfermeiro tem como responsabilidades avaliar
sistematicamente os sinais e sintomas do paciente, auxiliar a equipe multidisciplinar
conforme a prioridade do cliente, reforçar as orientações clínicas e inserção da família
no âmbito dos cuidados. É de extrema importância que os profissionais sejam
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

capacitados, visto que, ele é o elo entre sua equipe, seus pacientes e a família dos
mesmos.
Por fim, entende-se que os cuidados paliativos compreendem um cuidado
sensível e um processo de educação, visto que, as ações praticadas pelos profissionais
exigem uma proximidade física e afetiva. A comunicação entre o enfermeiro-paciente
deve ser clara e as orientações devem ser feitas de forma que se concretizem na prática,
gerando confiança para ambos os lados.

Acometimento psicológico: o papel do enfermeiro na


avaliação psicológica
A modalidade terapêutica do transplante de células tronco hematopoiéticas é
vista muitas vezes como uma única solução para pacientes com doenças
comprometedoras do sistema hematológico (LIMA; BERNARDINO, 2014).
Entretanto, alguns fatores psicológicos provocados por sofrimentos psíquicos ao
decorrer do processo influenciam de forma significativa no tratamento e são agravantes
em potencial para resultados indesejáveis. Podendo ser até mais desafiadoras do que as

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 593


aaaaaaaaaaaaa questões médicas tratadas durante o próprio processo de transplante, portanto, tratar
o paciente e a família como centro da pesquisa e do cuidado possibilita uma diminuição
nas taxas de morbidades psicossociais. (CROOKS et al., 2013)
O diagnóstico de doenças que podem gerar comprometimento orgânico grave
possui a capacidade de provocar um sofrimento psíquico no paciente, contribuindo para
a não adesão e má adesão do tratamento de forma efetiva (SABO, 2011).
Segundo o Caderno de Atenção Básica - Saúde Mental 2013, fatores marcantes
na vida de uma pessoa podem provocar sofrimento psicológico, fatores esses que
podem ser desencadeados por sentimentos de impotência perante uma condição clínica
preocupante. Pacientes de TCTH, caracteristicamente, já sofrem com a pressão
psicológica em torno da doença que os levou até o procedimento em questão.
O paciente ansioso dificulta o acesso à informação e, em muitos casos, a família
não compreende e não sabe como auxiliar nas questões emocionais. O empoderamento
e a orientação quanto ao assunto facilitam a comunicação entre o paciente e o
profissional de saúde. (THOMSON et al., 2015).
Pacientes habilitados para realizar o transplante muitas vezes não possuem a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

certeza ou não percebem a necessidade do método terapêutico devido à falta de


conhecimento acerca do tema. A ausência de uma orientação bem prestada sobre a
modalidade terapêutica de transplante em todas as suas fases, pode ocasionar em
medo, ansiedade e falta de confiança do paciente com a equipe multidisciplinar
(HARDEN; JOSETTE, 2016). É imprescindível que os pacientes aptos ao transplante sejam
bem orientados sobre todo o processo para que ele reconheça a importância e a
necessidade do cuidado.
De acordo com a Política Nacional da Saúde Mental, afirma-se que é de direito
do paciente receber o maior número de informações a respeito tanto da sua doença
quanto de seu tratamento. Isto é, um paciente plenamente orientado sobre todo o
processo facilita sua adesão ao tratamento e entendimento do mesmo, assim,
contribuindo para a comunicação efetiva entre família, paciente e profissional.
O enfermeiro desempenha um papel extremamente importante na orientação e
qualidade de vida dos enfermos (HARDEN; JOSETTE, 2016).
Cuidar permitiu que uma conexão entre os enfermeiros, pacientes e familiares
fosse iniciada abrindo espaço para uma melhor assistência, portanto, quando essa

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 594


aaaaaaaaaaaaa conexão não é alcançada, os enfermeiros vêem seu trabalho se tornar pouco eficaz - o
que não representa o propósito da profissão (SABO, 2011).
Compreender o sofrimento, tornou-se um processo natural na relação
enfermeiro-paciente. O profissional que consegue se conectar firmemente com o
paciente, abre oportunidade para que haja uma comunicação efetiva e um melhor
posicionamento entre ambas as partes favorecendo o sentimento de esperança (SABO,
2011). .
A Resolução COFEN Nº 0599/2018 dispõe sobre as competências do enfermeiro
no campo da saúde mental. Dentre as competências podemos ressaltar o
estabelecimento de um relacionamento terapêutico onde o profissional cuida do
atendimento das necessidades, participa de ações de psicoeducação e promoção de
vínculo terapêutico, escuta atenta e compreensão empática no âmbito de atividades da
enfermagem aos pacientes e seus familiares.

4. CONCLUSÃO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Enfermeiros são figuras indispensáveis e essenciais durante todo o processo de


transplante, visto que são os profissionais que estabelecem uma relação mais extensa e
dedicam grande parte do seu tempo ao longo do tratamento aos enfermos. É necessário
que estejam totalmente aptos e capacitados cientificamente para exercer a prática do
cuidado, garantindo uma assistência efetiva ao paciente e seus familiares.
A ausência do conhecimento acerca desta atividade, gera insegurança e ocasiona
um déficit na orientação que deveria ser bem realizada. A desconfiança por parte do
paciente se faz presente e nesses casos pode influenciar diretamente e de forma
significativa na qualidade da assistência, podendo provocar uma piora no quadro clínico
e gerar possíveis frustrações para a família.
Manter a sistematização da assistência da enfermagem e uma orientação de
qualidade é de suma importância para evitar resultados inesperados e indesejáveis
durante e após o transplante.
É necessário que o enfermeiro tenha suas ações voltadas às questões biológicas,
sociais, espirituais e psicológicas do paciente, sempre utilizando com atenção os
diagnósticos de enfermagem, de acordo com as necessidades apresentadas pelo

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 595


aaaaaaaaaaaaa indivíduo e família, exercendo o cuidado de forma que essas necessidades sejam
supridas e seu estar físico, espiritual, mental e social seja restaurado.
Constatou-se que o enfermeiro frente ao transplante atua de forma integral e é
protagonista no cuidado de pacientes habilitados ao transplante.
O cuidado que este profissional possui varia em níveis mais básicos, desde a
implementação do processo de enfermagem, cuidados durante toda esta etapa,
realização de cuidados paliativos até a recuperação pós transplante, favorecendo uma
melhora na qualidade de vida dos pacientes e acompanhantes.
No entanto, o conhecimento identificado neste estudo sobre o papel do
enfermeiro frente ao transplante de células tronco hematopoiéticas, nas publicações,
mostrou-se reduzido. Todavia, entre os artigos pesquisados, a importância do
enfermeiro nesta atividade demonstrou que a qualidade assistencial prestada é
fundamental e faz a diferença nesta prática prestada.
Pretendeu-se com este estudo contribuir para o conhecimento acerca do papel
do enfermeiro frente ao transplante, possibilitando a realização de novas pesquisas
científicas, cursos de aprimoramento e capacitação, propiciando uma melhora na
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

performance do enfermeiro na área.

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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

O PAPEL DO ENFERMEIRO NO TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS 599


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XLIV
PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS
PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO
DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-44
Weber de Santana Teles ¹
Marcela Santos Rabelo ²
Max Cruz da Silva 3
Ângela Maria Melo Sá Barros 4
Ruth Cristini Torres 5
Marcel Vinícius Cunha Azevedo 6
Paulo Celso Curvelo Santos Júnior 7
Verônica de Lourdes Sierpe Geraldo 8
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

¹ Doutor em Saúde e Ambiente. Centro de Hemoterapia de Sergipe HEMOSE


² Biomédica. Universidade Tirandes – UNIT
3Graduando do curso de enfermagem. Faculdade Pio Décimo – FAPIDE
4 Mestre/doutoranda em enfermagem. Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
5 Doutora em saúde e ambiente. Instituto de Hematologia e Hemoterapia de Sergipe – IHHS
6 Mestre em saúde família. Centro Universitário Estácio de Sergipe
7 Mestre em saúde e ambiente. Universidade Tirandes – UNIT
8 Doutora em ciências parasitologia. Universidade Tiradentes - UNIT

RESUMO
De acordo com o ministério da Saúde, todo centro de hemoterapia no Brasil deverá realizar os testes para
detecção de sífilis, hepatite B e C, HIV, HTLV I/II, doença de Chagas. A triagem clinica tem a intenção de
promover a identificação dos candidatos por via de um questionário que pode causar a inaptidão da
doação caso os mesmos possuam hábitos de risco, sendo considerados possíveis portadores de patologias
transmissíveis pela transfusão terapêutica. O presente estudo teve como objetivo avaliar os níveis de
hemoglobina e prevalência das doenças infecciosas dos candidatos à doação sanguínea em banco de
sangue do nordeste brasileiro a fim de melhor entender o perfil do candidato à doação de sangue. Trata-
se de uma análise transversal longitudinal de dados de 32.929 candidatos à doação sanguínea atendidos
em banco de sangue do nordeste brasileiro. Dos 32.929 candidatos a doação de sangue decorrente do
ano de 2019, a taxa em geral de doadores para o sexo feminino foi de 35,2% (11.585) e para homens um
total de 64,8% (21.344). Quanto a reatividade sorológica foi maior no indivíduo do sexo masculino
apresentou 6,8% (2.272). Ao correlacionar as variáveis como sexo e Hb os indivíduos do sexo masculino,
19.664 (92,1%) tiveram Hb normal, 428 (2%) com Hb baixa e 1.252 (5,9%) caracterizando Hb alta.
Considera-se também que os resultados encontrados neste estudo estão em conformidade com outras
pesquisas e que as informações obtidas fornecem uma melhor compreensão do perfil dos candidatos a
doação de sangue.

Palavras-chave: Doação De Sangue. Triagem Laboratorial. Hemoglobina

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
600
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
O processo de doação de sangue, no Brasil, consiste em um ato voluntário
regulamentado pela Lei Federal 10.205, de 21 de março de 2001, que dispõe sobre a
coleta, processamento, estocagem, distribuição e aplicação do sangue, de seus
componentes e derivados. Esta Lei regulamenta que as unidades pertencentes à rede
de Serviços de Hemoterapia, sendo eles públicos e/ou privados, devem agir de forma
hierárquica e integrada de acordo com o regulamento do Ministério da Saúde (BRASIL,
2017).
Faz-se necessário estabelecer critérios bem definidos na fase inicial de triagem
clínico-epidemiológica e laboratorial, essa preocupação é justificada, pois existe uma
grande variabilidade de perfis de riscos de transmissão de doenças. (SALAZAR et al.,
2017).
A transfusão de sangue é uma medida terapêutica amplamente utilizada em
todo o mundo, pois, nas últimas décadas, muitas doenças que afetam grandes parcelas
da população passaram a ter o sangue e seus derivados como elementos básicos de seu
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

tratamento, o que vem elevando a demanda por produtos hemoterápicos (RIBEIRO,


2004).
O ciclo hemoterápico tem início com o candidato à doação de sangue, que será
submetido à triagem clínica, caso esse candidato não passe por essa triagem ele será
considerado inapto. E se passar, terá seu sangue coletado e receberá alimentação e
hidratação após a coleta. Essa bolsa de sangue será processada e armazenada, e ficará
aguardando os resultados dos exames sorológicos dos doadores para ser liberada para
a transfusão (Figura 1). Somente os candidatos considerados aptos na triagem clínica
são submetidos à triagem sorológica (BRASIL, 2016).

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
601
aaaaaaaaaaaaa Figura 1 - Fluxograma do ciclo sangue e processamento desde a entrada do doador até a saída
do hemocomponente para transfusão.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Adaptado de Brasil, 2013.

A triagem clinica tem a intenção de promover a identificação dos candidatos por


via de um questionário que pode causar a inaptidão da doação caso os mesmos possuam
hábitos de risco, sendo considerados possíveis portadores de patologias transmissíveis
pela transfusão terapêutica (QUEIROZ, 2012; URIAS, 2009).
Atualmente são considerados parâmetros de inaptidão clínica à doação:
comportamento sexual de risco, amamentação, doenças infecciosas e cardiovasculares,
epilepsia, gravidez, histórico de reação transfusional, idade menor que 16 anos e maior
que 69 anos, jejum no dia da doação, período menstrual, baixo peso ou sobrepeso,
piercings e tatuagens, procedimentos dentários, uso de drogas, vacinas, temperatura

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
602
aaaaaaaaaaaaa corporal elevada, uso de certos medicamentos e algumas cirurgias, além da mensuração
da dosagem de hemoglobina (BRASIL, 2016).
Este último trata-se do maior fator de inaptidão entre homens e mulheres, seja
devido à quantidade insuficiente ou a exacerbação dos níveis de hemoglobina,
acarretando no aumento de indivíduos considerados inaptos, seja por fatores
nutricionais ou fatores fisiológicos (AZEVEDO, 2015).
Apesar da determinação da concentração da hemoglobina ser um critério de
exclusão, ele corresponde ao último estágio da deficiência de ferro, dessa forma, a
simples dosagem da hemoglobina, com o resultado abaixo do valor referência, permite
a exclusão do candidato para a doação de sangue, mas não exclui os demais candidatos,
os quais poderão estar também com uma deficiência de ferro em um estágio menos
grave (CANÇADO, 2001).
Assim, referente à aptidão do paciente para realizar a doação, é necessário
salientar a relevância que tem o valor quantitativo da hemoglobina no sangue, uma vez
que, é preciso que a mesma possua níveis equitativos semelhantes ao valor de
referência determinada pela ANVISA (2016).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Ainda na triagem laboratorial, adotam-se valores mínimos e máximos de


hemoglobina, sendo igual ou superior a 12g/dL e igual ou inferior a 16g/dL no gênero
feminino, enquanto no masculino encontra-se na faixa entre 13 e 18g/dL8. Porém, a
Food and Drug Administration (FDA), eleva-se a taxa mínima como 12,5g/dL em ambos
os gêneros, enquanto a American Association of Blood Banks (AABB) recomenda uma
taxa mínima de 13,5g/dL para os homens e de 12, 5g/dL para mulher (CANÇADO, 2001).
Após essa etapa o doador é levado até o setor de coleta para dar início à doação
sanguínea, a bolsa de sangue total (ST) precisa ser passada por um processo de
centrifugação, promovendo o fracionamento do ST em hemocomponentes distintos e
levando a sua respectiva finalidade terapêutica (BRASIL, 1993).
Pesquisa realizada CANÇADO (2001) demonstra que a doação de sangue acaba
por reduzir a quantidade de ferro do organismo, podendo ser causa importante da
deficiência de ferro, principalmente nos indivíduos que fazem doação várias vezes por
ano e nas mulheres, as quais apresentam o ciclo menstrual (BRITTENHAM, 2005).
Visando à segurança dos produtos hemoterápicos, o exame clínico é responsável
pelos elevados índices de inaptidão dos candidatos à doação de sangue, juntamente

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
603
aaaaaaaaaaaaa com os elevados custos financeiros envolvidos na garantia da segurança transfusional.
Portanto, garantir a produção de hemoterápicos, aliando segurança e qualidade,
constitui atualmente um dos desafios dos serviços de hemoterapia (BRENER, ET AL,
2002)
O presente estudo teve como objetivo avaliar os níveis de hemoglobina dos
candidatos à doação sanguínea em um banco de sangue do nordeste brasileiro a fim de
melhor entender o perfil do candidato à doação de sangue.

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma análise transversal longitudinal de dados de 32.929 candidatos
à doação sanguínea que foram atendidos em um banco de sangue do nordeste brasileiro
no período de 02 de janeiro a 30 de dezembro do ano de 2019, conforme os padrões
estabelecidos na Resolução de Diretoria Colegiada nº 34, de 11 de junho de 2014,
utilizado para estipular os valores de normalidade em que se envolve uma taxa entre
12,5 a 16g/dL de Hb para o gênero feminino e 13 a 18g/dL para o masculino.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

A pesquisa ocorreu através do banco de dados do software HEMOVIDA, em que


foram analisadas variáveis sociodemográficas, como o gênero e a localidade onde o
indivíduo reside, sendo obtidos no cadastro da instituição, e variável clínica de triagem
(dosagem de Hb), obtido através do contador de hemoglobina Hemocue Hb 201 DM,
em que uma amostra sanguínea, através do método in vitro, é colocada no aparelho, o
qual indicará a quantidade de Hb.
Os dados foram tabulados e rodados pelo programa IBM SPSS Statistics 22.0,
onde foi elaborado os valores absolutos, relativos, termos de medidas centrais e
parâmetros de amplitude, transformando-os em gráficos para melhor visualização dos
resultados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 32.929 candidatos a doação de sangue decorrente do ano de 2019, a taxa
em geral de doadores para o sexo feminino foi de 35,2% (11.585) e para homens um
total de 64,8% (21.344) (Figura 2).

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
604
aaaaaaaaaaaaa Figura 2 - Avaliação do gênero dos candidatos a doação de sangue em um banco de sangue do
nordeste brasileiro no período de janeiro a dezembro do ano de 2019.
CANDIDATOS À DOAÇÃO DE SANGUE

Feminino
Masculino

Fonte: Elaboração própria.

A prevalência dos candidatos à doação serem do sexo masculino já se


tornou algo comum em diversos bancos de sangue, assim como na literatura, mostrada
em diversos estudos, entre eles em RAMOS (2010) e CANÇADO (2001), o que ratifica os
índices do presente estudo, sendo observada a superioridade do homem no quesito
doação sanguínea, visto que o número foi de 21.344, representando quase 10 mil
doações a mais que o sexo feminino.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Quanto aos exames de sorologia a taxa de reatividade sorológica foi maior no


indivíduo do sexo masculino apresentou 6,8% (2.272) e 3,7% (1.230) do sexo feminino.
Entretanto em relação aos homens observa prevalência a a sífilis, hepatite C e HIV,
enquanto os indivíduos do sexo feminino maior prevalência de hepatite B, HTLV e
Chagas. Estudos realizados em um hemocentro no Brasil informa que no total de
157.549 indivíduos que passaram pela triagem laboratorial, 8.475 foram considerados
sorologicamente inaptos, sendo os três principais motivos a hepatite B, Sífilis e HIV
(Santos et al., 2008).
Pesquisa realizada por Araújo, 2010 a maioria da população doadora de sangue
é do gênero masculino, no entanto ultimamente vem crescendo o número de
candidatos a doação do gênero feminino, tal fato pode estar associado à meta
governamental definida na década noventa, que estabelece e incentiva a participação
das mulheres na doação de sangue (SOUZA, 2017).
Ao correlacionar as variáveis como sexo e Hb os indivíduos do sexo masculino,
19.664 (92,1%) tiveram Hb normal, 428 (2%) com Hb baixa e 1.252 (5,9%) caracterizando
Hb alta. Por outro lado, a prevalência de Hb nos doadores de sexo feminino, 9.323

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
605
aaaaaaaaaaaaa (80,5%) obtiveram Hb normal, 2.149 (18,5%) com Hb baixa e 113 (1%) definindo Hb alta
(Figura 3).

Figura 3 - Níveis de variação de hemoglobina avaliados pelo gênero dos candidatos à doação
de sangue em um banco de sangue no período de janeiro a dezembro do ano de 2019.

20000

15000
Hb normal
10000 Hb baixa
Hb alta
Hb alta
5000
Hb baixa
0
Hb normal
Masculino
Feminino
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fonte: Elaboração própria.

Dentre a Hb mais baixa registrada quanto ao sexo masculino foi de 10,2 e máxima
de 20,6, permanecendo uma média de 15,3 (desvio padrão de 1,020). Quanto ao sexo
feminino, houve uma Hb mínima de 7,7 e máxima de 17,8, com média de 13,4 (desvio
padrão de 0,935) (Tabela 1).
Tabela 1 - Parâmetros das medidas de termos centrais e amplitude referente aos níveis de
hemoglobina dos indivíduos candidatos à doação em um banco de sangue do nordeste
brasileiro no período de janeiro a dezembro do ano de 2019

GÊNERO PARÂMETROS
MÉDIA DESVIO MÍNIMO MÁXIMO
PADRÃO
Masculino 15,3 1,020 10,2 20,6
Feminino 13,4 0,935 7,7 17,8
Total 14,6 1,275 7,7 20,6
Fonte: Elaboração própria.

Entretanto, os casos de rejeições por anemia (índices baixos de Hb) é mais


frequente em mulheres (RAMOS, 2010; CAMPOS, 1994) fato encontrado na pesquisa,
demonstra o número de 2148 inaptas, enquanto a população masculina apresentou 428
indivíduos inaptos pela baixa quantidade de Hb. Essa relação do sexo feminino com a

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
606
aaaaaaaaaaaaa baixa quantidade de Hb pode ser devido à ocorrência das anemias serem mais comuns
em mulheres, principalmente a ferropriva, e à necessidade adicional em períodos pós-
menstrual, como induz (RAMOS, 2010).
As variações gerais, encontradas no banco de sangue do nordeste brasileiro,
correspondentes aos níveis de Hb foi de 7,7 a 20.6; uma amplitude muito maior que as
encontradas no estudo de Lisot, 2004 que quando comparadas a presente pesquisa, a
média encontrada no gênero masculino, correspondente a 15.3, foi semelhante, porém,
a média do gênero feminino, correspondente a 13.4, foi levemente divergente.
De acordo com CAMPOS (1994), uma das causas da inaptidão na triagem clinica
dos candidatos à doação de sangue é a anemia. No banco de sangue do nordeste
brasileiro, 7,8% (2576) dos doadores sanguíneo apresentaram valores abaixo do normal,
em relação ao nível acima das normas e legislações preconizadas, obteve-se um valor
de 3,8% (1254) da amostra.
O principal fator para inaptidão presente no estudo foi a Hb baixa, sendo a
anemia ferropriva a mais comum no mundo, atingindo principalmente mulheres em
idade de fertilidade, grávidas, adolescentes e crianças (BRASIL, 2003), os valores baixos
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

de hemoglobina geraram inaptidão de 7.8% dos candidatos à doação, porcentagem


relativamente semelhante a estudos como o de AZEVEDO (2015).
Quanto à frequência de doadores por localidade, moradores da zona urbana
apresentam maior número 52,5% (17.298) do número geral de doadores, seguido por
outras localidades, 47,5% (15.668) (Figura 4).

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
607
aaaaaaaaaaaaa Figura 4 - Distribuição dos candidatos à doação por localidade no período de janeiro a
dezembro do ano de 2019
FREQUÊNCIA DE DOADORES

Frequência de Doadores

Outras localidades

Zona urbana

14500 15000 15500 16000 16500 17000 17500

Fonte: Elaboração própria.

Em relação aos doadores que residem na zona urbana, dos 17.298 doadores,
64,8% (11.206) são do sexo masculino e 35,2% (6.092) são do sexo feminino (Figura 5).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Figura 5 - Avaliação do gênero dos indivíduos residentes em zona urbana que doaram sangue
em um banco de sangue, no período de janeiro a dezembro do ano de 2019.

Gênero dos doadores da zona urbana

Feminino (35,2%)
Masculino (64,8%)

Fonte: Elaboração própria.

Dos doadores do sexo masculino 97,6% (10.942) apresentaram a Hb normal,


2,1% (231) com Hb baixa e 0,3% (33) com a Hb alta. Quanto ao sexo feminino 78,6%
(4.789) possui Hb normal, 20,6% (1.253) com Hb baixa e 0,8% (50) com Hb alta (Figura
6).

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
608
aaaaaaaaaaaaa Figura 6. Níveis de variação de hemoglobina avaliados pelo gênero dos candidatos à doação de
sangue em um banco de sangue do nordeste brasileiro que residem na zona urbana no
período de janeiro a dezembro do ano de 2019

15000
Hb normal
10000
Hb Alta Hb Baixa
5000 Hb Baixa Hb Alta
0
Hb normal
Feminino
Masculino

Fonte: Elaboração própria.

Ressaltamos que os doadores de sangue que residem na zona urbana a mínima


e máxima de Hb para o sexo masculino foram de 8 e 19,2 respectivamente e a média de
15,1. Enquanto isso, o sexto feminino obteve uma Hb mínima de 7, máxima de 17,8 e
média com 13,2 (Tabela 2).
Tabela 2 - Parâmetros das medidas de termos centrais e amplitude referente aos níveis de
hemoglobina dos indivíduos candidatos à doação em um banco de sangue do nordeste
brasileiro residentes da zona rural no período de janeiro a dezembro do ano de 2019.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

GÊNERO PARÂMETROS
MÉDIA DESVIO MÍNIMO MÁXIMO
PADRÃO
Masculino 15,2 1,001 10,3 19,2
Feminino 13,3 0,902 8,4 17,8
Total 14,5 1,260 8 19,2
Fonte: Elaboração própria.

O baixo nível de hemoglobina está relacionado com o maior índice de inaptidão


do gênero feminino. A deficiência de ferro, nos indivíduos do gênero feminino acontece
porque a reserva de ferro é menor do que no sexo masculino em razão dos fatores
hormonais, e a condição de estarem mais suscetíveis à deficiência de absorção ou
grande perda de vitaminas e minerais. Entretanto a investigação clínica para esses
pacientes é de suma importância para encontrar a fonte da baixa quantidade de Hb e
apresentar a melhor forma terapêutica para normalizar estes índices (BRASIL, 2003;
VIEIRA, 2010).
A pesquisa realizada por CAMACHO (2014) demonstrou um índice de 2,8% de
candidatos à doação de sangue de indivíduos, do gênero feminino com nível de anemia,
quanto ao nível de hematócrito prevaleceu baixo, 18,5% envolvendo todos os indivíduos

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
609
aaaaaaaaaaaaa do gênero feminino, sendo que 20,6% residem em zona urbana. Tal fato torna-se
comum em mulheres, devido aos fatores fisiológicos (gestantes ou com menstruação
abundante), dietas, deficiência de vitaminas, deficiência de ferro (RODRIGUES, 2010).

4. CONCLUSÃO
Os estudos que investigam os fatores que estão associados aos tipos de
inaptidões para doação de sangue auxiliam a delinear o perfil do candidato a doação de
sangue gerando subsídios de ações para a captação e mobilização de campanhas
aumentar o número de doações de sangue e reduzir o descarte de bolsas de sangue.
Diante a pesquisa realizada, a principal causa da inaptidão foi relacionada à Hb,
sendo os indivíduos do sexo masculino, 428 (2%) com Hb baixa, 1.252 (5,9%)
caracterizando Hb alta. Por outro lado, a prevalência de Hb nos doadores de sexo
feminino, 2.149 (18,5%) com Hb baixa e 113 (1%) definindo Hb alta.
Dessa forma, comprova-se que as mulheres apresentam maior inaptidão por
anemia do que os homens, apesar dos mesmos doarem mais sangue do que elas. Este
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

perfil em relação ao gênero e a dosagem de hemoglobina reforça a necessidade de


extremo cuidado durante a triagem clínica para selecionar candidatos saudáveis, de
maiores esclarecimentos para este público sobre as condições necessárias à doação de
sangue e, ainda, de políticas públicas que incentivem a doação do público feminino.
Além dos motivos de inaptidão mais recorrente e discutida neste estudo,
importante salientar na importância da doação para a sociedade e da qualidade do
hemocomponentes que será gerado, vislumbrando na eficácia dos procedimentos
transfusionais e na confiabilidade dos serviços hemoterápicos, acrescendo cada vez
mais para o bem comum e para a saúde dos receptores.

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PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
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Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

PERFIL DOS CANDIDATOS INAPTOS PARA DOAÇÃO DE SANGUE EM BANCO DE SANGUE DO NORDESTE
BRASILEIRO
613
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XLV
PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS
PERSISTENTES NAS UNIDADES DE
TERAPIA ITENSIVA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-45
Bárbara Queiroz de Figueiredo ¹
Dieison Danrlei Roehrs ²
Francisca Rafaela Pereira de Amorim Castro Rosa ³
Karla Pereira Resende ³
¹ Graduanda do curso de Medicina. Centro Universitário de Patos de Minas.
² Graduando do curso de Medicina. Centro Universitário de Goiatuba.
³ Graduanda do curso de Medicina. Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos.

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o cuidado a pacientes de alta complexidade


requer intervenções adequadas com o fito de se mitigar quaisquer consequências,
resultantes da atuação das equipes de saúde, que podem ser consideradas como
iatrogenias. Ademais, vale ressaltar que as iatrogenias influenciam negativamente a
saúde do paciente, o que corrobora o aumento na permanência hospitalar e as chances
de contaminação, além de elevarem os custos de financiamento da UTI. Nesse sentido,
pode-se elencar algumas práticas iatrogênicas, como a realização de procedimentos
desnecessários e invasivos, manipulação inadequada de medicamentos, quedas, além
de perfis de pacientes com maior sensibilidade nas intervenções médicas, como idosos,
recém-nascidos e doentes crônicos. Pôde-se identificar que as principais iatrogenias
presentes na UTI estão associadas a medicamentos, à imprudência decorrente da
sobrecarga de trabalho da equipe médica, à contaminação dos instrumentos utilizados
e aos cuidados de saúde e procedimentos hospitalares.

Palavras-chave: Iatrogenia, eventos adversos, erros de medicação, UTI.

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 614


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
No contexto da evolução médica e hospitalar, a segurança do paciente sempre
foi um tema importante e que tem por objetivo mitigar riscos ao doente (SOUZA; ALVES;
ALENCAR, 2018). A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera ainda que essa
segurança deve ser buscada com o intuito de reduzir quaisquer riscos desnecessários
aos cuidados realizados pela equipe médica e multiprofissional.
Quando se trata do atendimento em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI),
essa preocupação se intensifica, tendo em vista que este setor hospitalar promove o
cuidado a pacientes de alta complexidade e qualquer intervenção inadequada pode
representar uma piora de quadro ou mesmo um óbito. Em face do exposto, percebe-se
a importância do estudo sobre iatrogenia diante de um ambiente de sensibilidade como
o da UTI. Segundo Padilha (2006), a iatrogenia pode ser definida como consequências
indesejadas ou efeitos adversos de procedimentos, que são resultado da atuação da
equipe médica. Outro tópico relevante a ser mencionado é que a iatrogenia causa o
aumento da permanência hospitalar, o que é indesejável devido ao aumento do risco de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

infecção, aumento das filas e do tempo de atendimento (PENA; MILLEIRO, 2017) e aos
elevados custos de funcionamento de uma UTI (GUIMARÃES, et. Al, 2015).
De acordo com Dutra (2017), o estudo sobre a iatrogenia na UTI merece uma
discussão detalhada, já que esse ambiente possui características particulares que
podem aumentar a chance de prejuízos terapêuticos ao paciente, como a alta
rotatividade de pacientes durante os plantões, a grande diversidade de medicações
utilizadas, os procedimentos específicos que são realizados no setor e a complexidade
dos equipamentos de suporte à vida - além da gravidade dos pacientes internados que
já foi citada.
De modo sintético, Matos (2011) expõe que algumas práticas iatrogênicas se
destacam, entre as quais podem ser citadas: realização de procedimentos
desnecessários, manipulação inadequada de medicamentos, lesões pro pressão
(escaras) e quedas. Ademais, alguns perfis de pacientes, a exemplo de idosos, recém
nascidos e doentes crônicos possuem uma sensibilidade maior a qualquer intervenção
médica ou medicamentos, e dessa forma são mais vulneráveis às ações iatrogênicas.
Assim, a presente revisão tem como objetivo identificar as etiologias dos efeitos

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 615


aaaaaaaaaaaaa adversos das práticas médicas e verificar de que maneira esses eventos iatrogênicos
podem ser evitados sob um contexto de terapia intensiva.

2. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo revisão integrativa da literatura. Para
a elaboração da questão de pesquisa da revisão integrativa utilizou a estratégia PICO
(Acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). O uso dessa estratégia
para formular a questão de pesquisa na condução de métodos de revisão possibilita a
identificação de palavras-chave, as quais auxiliam na localização de estudos primários
relevantes nas bases de dados. Assim, a questão de pesquisa delimitada foi: “quais são
as principais iatrogenias que ocorrem na terapia intensiva?” Dessa maneira,
compreende-se que P= pacientes internados em terapia intensiva com eventos
iatrogênicos, I= iatrogenias, C= pacientes internados em terapia intensiva sem eventos
iatrogênicos, O=causas das iatrogenias.
A partir do estabelecimento das palavras-chave da pesquisa, foi realizado o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

cruzamento dos descritores “iatrogenia, efeitos adversos, enfermagem, unidades de


terapia intensiva”, nas seguintes bases de dados: National Library of Medicine (PubMed
MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Cochrane Library, Google Scholar,
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e EBSCO Information Services.
A pesquisa bibliográfica foi de cunho exploratório, partindo da identificação, da
seleção e da avaliação de trabalhos e de artigos científicos considerados relevantes para
dar suporte teórico para a classificação, a descrição e a análise dos resultados. A busca
foi realizada nos meses de abril e maio de 2021. Foram considerados estudos publicados
no período compreendido entre 2015 e 2021. A estratégia de seleção dos artigos seguiu
as seguintes etapas: busca nas bases de dados selecionadas; leitura dos títulos de todos
os artigos encontrados e exclusão daqueles que não abordavam o assunto; leitura crítica
dos resumos dos artigos e leitura na íntegra dos artigos selecionados nas etapas
anteriores.
Foram analisadas fontes relevantes inerentes ao tema, utilizando como um dos
principais critérios a escolha de artigos atuais, originais e internacionais. Após leitura
criteriosa das publicações, 2 artigos não foram utilizados devido aos critérios de

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 616


aaaaaaaaaaaaa exclusão. Assim, totalizaram-se 30 artigos científicos para a revisão integrativa da
literatura, com os descritores apresentados acima.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Foi possível visualizar que, dentre os artigos listados, todos os autores
consultados reconhecem a definição de evento iatrogênico, sendo este considerado um
fator de risco e agravante de saúde, bem como que fatores como carga horária de
trabalho excessiva, cansaço, falta de atenção e de conhecimento, estresse, estado de
saúde mental prejudicado, negligência e imprudência podem levar a ocorrência do
evento iatrogênico (RIPARDO, 2019).
De acordo com Bittencourt, et al. (2018), a iatrogenia pode estar relacionada a
um ato observacional, monitorização, intervenções terapêuticas e falhas profissionais
por negligência, inabilidade, preparação deficiente para execução de tarefas, percepção
inadequada ou uma má utilização da comunicação. Nesse cenário, segundo Ripardo, et
al. (2019), em estudo exploratório, descritivo e retrospectivo, os setores que registraram
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

atos iatrogênicos foram: emergência, com cinco ocorrências (45%); clínica médica e
unidade de infectologia, com duas ocorrências cada uma (18%); e unidades de oncologia
e hemodiálise, com uma ocorrência cada. Identificaram-se, nos 100 prontuários
analisados, o total de 42 fatores de risco de iatrogenia em 31 idosos.
De acordo com análise de Maia, et al. (2017), foram registrados 63.933 eventos
adversos relacionados com a assistência à saúde no período de junho/2014 a
junho/2016. Desses eventos, 417 (0,6%) evoluíram para óbito. Dos 417 registros de
óbitos, em 22 (5,3%) casos foi possível encontrar a respectiva investigação registrada no
banco de dados do FormSUS. Havia, ainda, outros 392 registros no Formsus de
investigações de óbitos não identificados no banco de dados de notificação, e outros
never events, os quais não puderam ser quantificados separadamente por não haver
essa distinção no banco de dados.
O tipo de incidente foi classificado como “outro” em 133 notificações (31,9%),
das quais 52% foram reclassificadas. Tal processo resultou na inclusão dos seguintes
tipos de incidentes: “infecção relacionada com a assistência à saúde”,
“medicamento/fluidos intravenosos”, “sangue/produtos derivados do sangue”, “artigos
médicos/equipamentos” e “infraestrutura/ edifício/instalações”.

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 617


aaaaaaaaaaaaa Iatrogenias medicamentosas
Estudo de Leite, et al. (2018), permitiu inferir sobre as questões iatrogênicas
praticadas pela equipe de UTI, sendo mais comumente observados os erros de
medicação entre esses profissionais. Outrossim, de acordo com Mauro, et al. (2019),
além dos fatores como falhas na administração de medicamentos, outras falhas nos
cuidados prestados pela equipe de saúde foram apontadas como fatores que
contribuem para a ocorrência de erros e estão diretamente ligados aos princípios
básicos de administração de medicamentos. Sendo assim, de acordo com Dutra, et al.
(2017), esses erros podem acontecer desde a prescrição, dispensação do farmacêutico
e administração, que pode estar relacionada à dose, horário, paciente certo, entre
outros.
Aliado a isso, segundo Souza, et al. (2018), falta de conhecimento sobre
medicamentos e de informação sobre pacientes; falhas na administração de doses;
problemas relacionados com os dispositivos de infusão de fármacos atribuídos a má
compreensão da prescrição; ordens verbais de medicação sem estar prescrito, são
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

fatores que corroboram esse tipo de iatrogenia. Ademais, de acordo com estudo Costa,
et al. (2019), a omissão de doses medicamentosas foi a principal causa em eventos
iatrogênicos em idosos hospitalizados no hospital em questão, sendo que os dados
foram coletados de 100 prontuários, dos quais se identificou, por meio de um
instrumento criado pelos autores, que esse elemento foi a iatrogenia mais frequente,
em 83% dos casos.
Sob esse contexto, segundo Dhawan, et al. (2015), a medicação errada era o tipo
mais comum de erro (48%) ocorrendo no perioperatório, seguido por overdose (38%),
via de administração incorreta (8%), sob dosagem (4%) e omissão (2%). Opioides,
estimulantes cardíacos e vasopressores foram os culpados mais comuns. 42% de
administração de medicação errada ocorreu após troca de seringa, troca de ampola de
droga ocorreu em 33%, e a escolha errada do medicamento foi feita em 17%. A alta
quantidade de medicamentos prescritos para pacientes internados em UTI´s é um
indicador de risco, pois o aumento do número de medicamentos prescritos é
diretamente proporcional ao desenvolvimento de interações medicamentosas e efeitos
adversos, aumentando o tempo de internação.

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 618


aaaaaaaaaaaaa Além das interações medicamentosas, a polifarmácia reforça a iatrogenia, como
demostrado em estudo de Alvim, et al. (2015), que concluiu que as interações
medicamentosas potenciais relacionadas aos antimicrobianos ocorreram em 46% dos
pacientes, sendo 51% classificadas como contraindicadas ou de gravidade importante.
Desse modo, segundo Fernandes, (2019), as intervenções farmacêuticas poderiam
contribuir na diminuição de erros de medicação, melhorar os resultados clínicos do
paciente e reduzir os custos do tratamento. Outrossim, estudo de campo qualitativo de
Santos et al. (2020), observou-se que muitas vezes a pessoa que prepara a medicação
não é a mesma que administra, o que corrobora em uma não sinergia.
Em relação a população pediátrica, conforme Machado, et al. (2015), os erros
mais encontrados na amostra pediátrica do estudo foram os erros de dose, diluição e
intervalo em um neonatal na UTI, haja vista que a avaliação do diluente prescrito é
frequentemente não incluída na análise da prescrição e geralmente relatada em estudos
sobre erros na fase de administração, sendo o erro de dose o mais frequente tipo de
erro. Outro ponto relevante, sob o âmbito das iatrogenias advindas de paradas
cardiorrespiratórias (PCR), segundo estudo de campo qualitativo de Pereira, et al.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

(2021), alguns eventos iatrogênicos são advindos da administração e diluição errônea


de fármacos como adrenalina, vasopressina, amiodarona, lidocaína e sulfato de
magnésio. A adrenalina, por ser uma droga adrenérgica, pode provocar grande
estimulação de receptores adrenérgicos e isso pode levar a picos de pressão arterial
elevada devido a estimulação de receptores alfa 1.

Iatrogenias por imprudência relacionada a sobrecarga de


trabalho
Segundo Júnior et al (2019), em estudo descritivo, concluiu-se que desafios como
sobrecarga de trabalho, falhas associadas à estrutura física e material, condições do
ambiente (desorganização) e interrupções frequentes corroboram a maior chance de
conduta iatrogênica. Aliado a isso, perante estudo qualitativo, descritivo e exploratório
de Barros et al (2019), ressaltou-se que jornadas de trabalho excessivas podem conduzir
ao desenvolvimento de estresse e fadiga devido à privação de sono, e estes podem
afetar, de alguma maneira, os processos cognitivos do profissional, assim, estes podem

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 619


aaaaaaaaaaaaa ser fatores que dificultam a aplicabilidade adequada das medidas de controle de
infecções e de outras ações que visam à segurança do paciente.
Segundo estudo de Santana, et al. (2015), a maioria dos entrevistados destacou,
como principais fatores que corroboram erros nas UTI´s, o cansaço físico e psicológico
dos profissionais, trabalho realizado de forma mecânica sem visão holística para o
paciente, pressa na realização das atividades, problemas pessoais trazidos de casa, falta
de treinamento adequado e organização do setor e sobrecarga de trabalho. Ademais,
de acordo com Souza, et al. (2018), o turno da manhã foi onde se observou maior
incidência de eventos adversos, que podem ser atribuídos pela maior frequência de
procedimentos. Já os registros da noite foram correlacionados com o número de horas
de trabalho ser maior do que os outros turnos, consequentemente, levando à fadiga e
ao estresse.

Iatrogenias por falta de descontaminação de instrumentos


De acordo com Amaral, et al. (2019), constatou-se como bases iatrogênicas em
UTI’s a falta de higienização das mãos de forma rotineira, haja vista que as infecções
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

referentes à assistência à saúde (IRAS) podem ser ocasionadas por microrganismos


presentes na mucosa e pele dos pacientes (endógenas) ou por microrganismos
disseminado a partir de outro paciente, ambiente circulante ou pelo próprio profissional
de saúde (exógenas), comprovando que o principal motivo para não aderirem à
higienização das mãos, não é pela ausência de produtos bons, mas sim pela negligência
da prática.
Aliado a isso, de acordo com estudo quantitativo e descritivo de Oliveira et al.
(2019), torniquetes foram reutilizados nas unidades de terapia intensiva (UTI) sem
estarem sujeitos a processos recorrentes de descontaminação, e verificou-se que os
profissionais compartilham esses dispositivos entre si e os usam sucessivamente por
períodos entre duas semanas e sete anos e meio. Assim, o reaproveitamento do
torniquete pode comprometer a segurança do paciente se o reprocessamento (limpeza,
desinfecção, esterilização) não for adequado, dado o tipo de material do torniquete e a
microbiota encontrada. Ademais, segundo Dutra et al. (2019), infecções constantes em
UTI’s são as pneumonias associadas à ventilação mecânica (PAV), infecção que se inicia
após a intubação endotraqueal e o estabelecimento da ventilação mecânica invasiva, e

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 620


aaaaaaaaaaaaa que tem, como agente causador, um microrganismo que não estava presente ou
incubado.
Ainda sobre o tema, segundo Mendes et al. (2017), a contaminação de
equipamentos nas unidades e a desinfecção com álcool 70% foi comprovada, bem como
deve haver 1 lavatório a cada 5 leitos de não isolamento com torneiras ou comandos
que dispensem o contato com as mãos e a provisão de insumos necessários para
lavagem das mãos como água, sabão e papel toalha, além de reforçar sobre os materiais
e equipamentos que devem ser individualizados para cada leito. Segundo estudo
transversal, descritivo e quantitativo de Korb et al. (2019), profissionais desconhecem o
tempo mínimo para que a preparação alcoólica destrua os microrganismos nas mãos.
Com relação aos itens que devem ser evitados por associarem-se à possibilidade de
colonização, a maioria dos participantes correspondeu às expectativas ao assinalarem
as respostas corretas.

Iatrogenias por cuidados de saúde procedimentos


hospitalares
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Oliveira et al. (2019), observaram que a maiorias das falhas iatrogênicas ocorrem
durante o atendimento inicial ao paciente, bem como que, em alguns casos, os
profissionais não souberam detectar corretamente o evento iatrogênico nem as
condutas imediatas necessárias. Conforme estudo de Leyes, et al. (2020), 107 eventos
adversos foram detectados, dentro do espaço amostral de 174 pacientes, sendo que
35% deles apresentaram algum evento relacionado a segurança, como a descarga
acidental de tubos, cateteres e drenos e extubações não programadas. Dos 107 eventos
detectados, 76,6% geraram algum tipo de dano, constituindo-se em eventos adversos,
sendo que a maioria (75,6%) produziu prolongamento da permanência na UTI.
Segundo revisão literária de Barakat-Johnson, et al. (2019), muitos pacientes
graves requerem dispositivos médicos que são colocados na boca, nariz ou ao redor da
orelha para monitoramento e fins terapêuticos, assim, podem ocorrer danos na inserção
do dispositivo. Outrossim, os danos podem ser causados por fitas adesivas que irritam a
pele e podem causar atrito ou por tubos endotraqueais que estão muito apertados e
causar pressão e fricção. Aliado a isso, segundo análise de Cavalcanti, et al. (2020), há
diversos fatores de risco para o desenvolvimento de lesões por pressão relacionadas ao

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 621


aaaaaaaaaaaaa dispositivo médico, o que inclui a gravidade do paciente, o tempo de internação, a
umidade, fricção da pele, a idade, o uso de drogas de vasoativas e os sedativos, sendo
os materiais, que em sua maioria têm estrutura rígida e não maleável, fatores de risco
para predisposição.
Segundo Marques, et al. (2018), o prejuízo ao paciente, prolongamento no
tempo de internação e uso improdutivo de recursos, são algumas das consequências das
falhas de comunicação, bem como as iatrogenias mais relatadas no estudo foram:
infiltração, obstrução ou flebite em acesso venoso periférico antes de 72 horas da
punção, úlcera por pressão, queda, perda de sonda nasoenteral, sinais flogísticos em
acesso venoso central, lesão por contenção, hematomas por técnica incorreta de
enoxaparina sódica, administração de medicação por via incorreta e hiperemia de
inserção em dreno a vácuo. Assim, pode-se observar, conforme estudo de Dias et al,
(2020), que a lesão por pressão (LPP) foi um dos eventos adversos que ocorreu com
maior frequência na UTI, e como uma causa externa, corresponde à segunda maior
causa de morbidade hospitalar em homens.
Sob contexto de pandemia de Covid-19, estudo de Beverina, et al. (2020),
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

ressaltou que várias causas podem levar a uma redução do número de glóbulos
vermelhos nesse cenário, como sangramento causado pela doença subjacente ou
induzida por procedimentos invasivos, hematopoiese com restrição de ferro secundária
a inflamação e redução do tempo de vida das células vermelhas. Aliado a isso, a
quantidade diária de sangue retirada para os frequentes exames de sangue pode
representar fator de piora. Com o objetivo de diminuir a anemia iatrogênica, a Society
of Critical Care Medicine e a American Association of Blood Banks apoiaram a campanha
“Escolhendo com Sabedoria”, ressaltando que os médicos não peçam teste de
diagnóstico em intervalos regulares (como todos os dias), mas sim em resposta a
perguntas específicas, e que não façam testes de sangue em série com pacientes
clinicamente estáveis.
Sob esse contexto, de acordo com Eulmesekian, et al. (2019), os principais
eventos adversos admitidos na coorte foram infecções associadas a cuidados de saúde,
complicações de procedimentos (como pneumotórax associado à linha central),
adversidades medicamentosas (como hipoglicemia secundária à infusão de insulina),
complicações cirúrgicas (como sangramento após cirurgia), diagnósticos incorretos e

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 622


aaaaaaaaaaaaa eventos adversos do sistema (como atraso em um procedimento que causa
deterioração do paciente). Outro evento adverso comum nas UTI´s é a extubação não
planejada, definida como a remoção precoce ou o mau posicionamento inadequado do
tubo endotraqueal na via aérea.
Ainda são pontuados, segundo Souza, et al. 2018, o difícil manejo da
sedoanalgesia e a aplicação de protocolos que permitem o manejo do nível neurológico
e da agitação do paciente, visto que esses fatores o põem em risco ao evento
iatrogênico. Além dos eventos mencionados, identificaram-se outros incidentes isolados
que estão minimamente relacionados aos cuidados. Perda de acesso venoso central,
que tem como fatores a infecção do cateter, a retirada acidental, a má fixação, a
obstrução e a autorretirada. Também, a perda de dreno cefálico, retirada de sondas
vesicais pelo paciente e falhas de identificação de sondas enterais.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude do que foi exposto neste trabalho compreende-se a necessidade de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

identificar e verificar tanto a etiologia das iatrogenias, quanto as possíveis formas de


evitá-las no que concerne à UTI. Dessa forma, ressalta-se que a prática iatrogênica em
pacientes assistidos pela medicina intensiva pode causar danos diversos, desde a piora
do quadro clínico, quanto ao óbito, sendo que entre esses dois panoramas há o aumento
de risco de infecções, aumento da permanência hospitalar gerando instabilidade na
demanda e oferta de leitos e custos elevados para a funcionalidade da UTI. Com a
objetividade de realizar uma pesquisa eficiente foi instaurada uma análise de revisão
descritiva sustentada pela estratégia PICO, mediante a isso a metodologia possui uma
base forte e com respaldo cientifico criterioso.
Mediante aos achados na literatura categoriza-se as iatrogenias em:
medicamentosa, imprudência relacionada à sobrecarga de trabalho, falta de
descontaminação dos instrumentos e por procedimentos hospitalares. Infere-se,
portanto, que ao descobrir a etiologia iatrogênica é possível a tentativa de evita-la,
exemplo disso é a iatrogenia pela falta de descontaminação dos instrumentos, a qual
caso fosse feito a devida higienização evitaria microrganismos indesejáveis causadores
de infecções. Logo, com a análise da etiologia iatrogênica esta pesquisa alcança seu

PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 623


aaaaaaaaaaaaa objetivo tanto de elencar as origens iatrogênicas, quanto interpretar suas ocorrências
para raciocinar as prováveis prevenções.

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PRINCIPAIS EVENTOS IATROGÊNICOS PERSISTENTES NAS UNIDADES DE TERAPIA ITENSIVA 626


aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XLVI
REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM
PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE
REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO –
RELATO DE CASO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-46
Mônica Barbosa de Sousa Freitas ¹
¹ Mestre em Administração em Serviços de Saúde. Florida Christian University – FCU.

RESUMO
A revascularização do miocárdio é um procedimento conhecido como ponte safena, na
qual o cirurgião faz uso de um segmento de artéria ou veia para o desvio da corrente
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

sanguínea a aorta para as coronárias. A fisioterapia é um processo de reabilitação


bastante utilizado no pós-operatório de cirurgias cardíacas para tratamentos de
possíveis complicações pulmonares como atelectasias, derrame pleural e pneumonia,
com o objetivo de acelerar o processo de recuperação pulmonar, que acontece
normalmente apenas 15 dias após a cirurgia. Paciente do sexo masculino de 62 anos,
aposentado, com história de vida pregressa envolvendo o consumo de bebida alcoólica
e tabagista, porém se encontra com 32 anos que deixou de utilizá-los, promovendo um
estilo de vida saudável, na qual tinha o costume de praticar esporte envolvendo
caminhada, onde exercia todos os dias e algumas vezes umas pedaladas de bicicletas,
considerado dois esportes favoritos do paciente. No relato de caso mencionado, o
paciente idoso de 62 anos, com comorbidade baseada na hipertensão, sofreu uma
revascularização do miocárdio, isso no pós-operatório fez com que procurasse apoio de
uma reabilitação, com o intuito de melhorar sua qualidade de vida pós-procedimento.
Podemos concluir que o papel da fisioterapia é muito importante no pós-operatório de
uma cirurgia cardíaca, sendo que cada dia mais sofisticada.

Palavras-chave: Fisioterapia. Revascularização do miocárdio. Doenças cardiovasculares.

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
627
aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
As doenças não transmissíveis nos dias atuais são as mais responsáveis pelas
taxas de morbimortalidade no país. Entre elas podemos destacar as doenças
cardiovasculares. Os fatores que influenciam a ocorrência das doenças cardiovasculares
estão relacionados por diversos meios considerados riscos para o adoecimento por tais
agravos, como hábitos de vida prejudiciais, envolvendo o tabagismo, alimentação
incorreta, sedentarismo e consumo de álcool (KOERICH, 2016).
De acordo com Kaufman, et al. (2011) a manifestação clínica principal da
corionopatia é a angina pectoris (dor no peito) advinda da isquemia miocárdica,
consequência do desequilíbrio em decorrência da diminuição da oferta e consumo de
oxigênio miocárdico. “Com isso o tratamento pode ser realizado através de meios
farmacológico, por via cateterismo percutâneo, e por via cirúrgica através da
revascularização do miocárdio (RM)” (CARVALHO, 2006 p. 51).
A revascularização do miocárdio é um procedimento conhecido como ponte
safena, na qual o cirurgião faz uso de um segmento de artéria ou veia para o desvio da
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

corrente sanguínea a aorta para as coronárias. Este procedimento é realizado muitas


vezes com a circulação extracorpórea (CEC), ou seja, utilizando um equipamento como
forma de substituir as funções o coração e do pulmão durante o procedimento cirúrgico.
Em alguns casos a cirurgia ocorre com o coração do paciente batendo e o pulmão
funcionando.
A cirurgia de revascularização é um tratamento que atua como opção para
pacientes que sofrem de bloqueios nas artérias coronárias assim como a angioplastia
ocasionando o implante do stent. Segundo Farid et al., (2018) é um procedimento
cirúrgico que tem por função de reestabelecer o fluxo sanguíneo na região onde ocorre
a obstrução, uma vez que a diminuição da oferta de oxigênio e nutrientes ocorre o
comprometimento do tecido cardíaco. Com isso, a realização da cirurgia de
revascularização do miocárdio permite um descanso do organismo relacionado ao
acometimento mais grave, como é o caso do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), que
ocasiona um quadro de necrose tecidual no coração.
Segundo a Organization for Economic Co-operation and Development – OECD
(2013), ressaltam que além de ações relacionadas a promoção e prevenção de doenças

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
628
aaaaaaaaaaaaa articulados no tratamento de isquemia do coração, ainda a cirurgia de revascularização
do miocárdio e angioplastia coronariana são intervenções importantes para este fato.
De acordo com Cavenaghi, et al. (2011), relatam que alguns casos da intervenção
percutânea não ser suficiente, a Cirurgia de Revascularização do Miocárdio (CRM) tem
sido realizada de forma regular no sistema Único de Saúde (SUS), com isso apesar de
inúmeros benefícios alcançados, algumas intercorrências no pós-operatório são
frequentemente comuns, tais como, atelectasia, pneumonia, broncoespasmos,
insuficiência respiratória, dentre outras.
A cirurgia de revascularização do miocárdio é um procedimento as quais
pacientes que sofrem de patologias cardíacas são submetidas a esse tipo de processo,
onde normalmente acontece, quando não há mais recursos suficientes para regressão
da obstrução das artérias. Assim, a cirurgia cardíaca possui uma grande função
fundamental de diminuir as complicações entre os sistemas músculosesqueléticas e
cardiovascular, obtendo um propósito do indivíduo retomar as atividades diárias, o que
se dá com programas estruturados de reabilitação cardíaca (TITOTO et al., 2005).
Szylińska, (2018); Vegni, (2008), dizem que as complicações no CRM, são as mais
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

frequentes no pós-operatório, geralmente correlacionados com fatores intraoperatório


acredita-se que a posição supina por tempo prolongado, o manuseio da região torácica,
a drenagem pleural, os efeitos dos analgésicos e a circulação extracorpórea levam as
devidas alterações na mecânica pulmonar, o que interfere negativamente nos volumes,
capacidade e força na musculatura respiratória. Como forma de minimizar os efeitos
deletérios da CRM, o programa de reabilitação cardíaco-pulmonar, é bastante crucial na
recuperação desses pacientes, dando-se início logo que possível (TREVISAN et al., 2015).
O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO, na
RESOLUÇÃO Nº 454, DE 25 DE ABRIL DE 2015, reconhece a especialidade do profissional
Fisioterapeuta Cardiovascular, relatando, no Art. 1º:

Reconhecer e disciplinar a atuação do Fisioterapeuta Cardiovascular, que se


caracteriza pelo exercício profissional em todos os níveis de atenção à saúde,
em todas as fases do desenvolvimento ontogênico, e nos diversos grupos
populacionais e atenção aos que necessitam do enfoque de promoção,
prevenção, proteção, educação, intervenção terapêutica e recuperação
funcional de indivíduos com doenças cardíacas e vasculares periféricas e
síndrome metabólica, nos seguintes ambientes, independentemente da sua
natureza administrativa: I – hospitalar; II – ambulatorial (clínicas,
consultórios, unidades básicas de saúde); III – domiciliar (COFFITO, 2015 p.
96).

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
629
aaaaaaaaaaaaa A fisioterapia é um processo de reabilitação bastante utilizado no pós-operatório
de cirurgias cardíacas para tratamentos de possíveis complicações pulmonares como
atelectasias, derrame pleural e pneumonia, com o objetivo de acelerar o processo de
recuperação pulmonar, que acontece normalmente apenas 15 dias após a cirurgia
(ROMANINI et al., 2006).
A reabilitação cardiopulmonar é executada por uma equipe multidisciplinar, que
oferece vários suportes os aspectos físico, psíquico, social, vocacional e espiritual. O
profissional fisioterapeuta é parte integrante dessa equipe, favorecendo o
funcionamento cardiopulmonar e na educação nos hábitos de vida do indivíduo
(SZYLIŃSK, 2018; SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2014).
Todos os pacientes que sofrem e cirurgias cardiovasculares, são candidatos a
participarem de um programa estruturado e reabilitação cardíaca e respiratória, com
isso os pacientes passam a obterem uma recuperação física e emocional de maneira
mais rápida e acentuada na sua vida diária. Considerando esse contexto o objetivo geral
desse artigo é demonstrar a eficácia da reabilitação fisioterapêutica no pós-operatório
em pacientes que sofrem a cirurgia de revascularização do miocárdio.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2. METOLOGIA DA PESQUISA – RELATO DE CASO


Paciente do sexo masculino de 62 anos, aposentado, com história de vida
pregressa envolvendo o consumo de bebida alcoólica e tabagista, porém se encontra
com 32 anos que deixou de utilizá-los, promovendo um estilo de vida saudável, na qual
tinha o costume de praticar esporte envolvendo caminhada onde exercia todos os dias
e algumas vezes umas pedaladas de bicicleta, considerados dois esportes favoritos do
paciente.
Contudo, existia no paciente um certo problema cardíaco considerado genético
a qual se queixava a muito tempo. Além de apresentar um problema cardíaco o mesmo
apresenta comorbidade como hipertensão, onde faz-se uso do fármaco Diovan de
160mg, através de exames de sangue receitado pelo médico, o hemograma, o paciente
apresenta colesterol alto, isso fez com que passasse a ingerir medicação com objetivo
de diminuir o nível de colesterol. Na sua residência em um certo período, paciente
passou a se queixar de uma dor no peito – angina pectoris, sintoma a qual fez com que

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
630
aaaaaaaaaaaaa procurasse assistência de um profissional médico cardiologista, onde foi submetido a
exames para melhor diagnóstico, dentre eles:
Ecocardiograma: exame realizado através de imagens obtidas através do som,
será observado pelo médico especialista se o fluxo sanguíneo está adequado e se o
coração está batendo e maneira adequada.
Eletrocardiograma: um exame simples, onde no paciente é ligado eletrodos
como meio de avaliar a ritmicidade cardíaca em repouso. Teste Ergométrico: é um teste
considerado completo de extrema importância para detectar alguma patologia cardíaca,
este exame é identificado frequência cardíaca; pressão arterial; ECG; e avaliação dos
sintomas. É um exame realizado numa bicicleta ou esteira, onde é monitorado o coração
de como ele responde à atividade física. Hemograma: um tipo de exame completo de
sangue, na qual é avaliado as células que os compõe. Além disso tem o objetivo de
avaliar se o paciente apresenta alguma doença crônica como anemia, insuficiência renal
e cardíaca ou doenças pulmonares e entre outras.
Com os exames realizados, o especialista não identificou patologia alguma na
qual pudesse ocasionar danos ao paciente, receitando-lhe atividades normais,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

atribuindo exercícios físicos. Entretanto, receitou-lhe medicações devido a angina de


pectoris sentida pelo paciente.
Ao longo do tempo o paciente retornou por ordens médicas às suas atividades
continuando a praticar exercícios físicos, porem ao praticar desistiu pelo retorno à dor
no peito esquerdo – angina pectoris, na qual se queixou, fazendo com que procurasse
um outro especialista cardiologista, para melhores esclarecimentos da enfermidade. A
partir foram realizados novos exames, onde detectou-se um início de obstrução de um
vaso que estava causando uma isquemia cardíaca, dificultando o fluxo sanguíneo no
miocárdio. Com isso todas as suas atividades foram suspensas.
Após ser detectado a isquemia, foi realizado um tratamento invasivo, por ser
considerado uma patologia grave, denominada como intervenção percutânea –
cateterismo, que por sua vez não foi o suficiente, recomendando-lhe um procedimento
cirúrgico, a revascularização do miocárdio, através da ponte safena e uma mamária.
Após o procedimento foi recomendado ao paciente, tratamentos permanentes
com fármacos sendo eles: Concárdio-2,5mg e o Ácido Acetil Salicílico-100mg e uma
intervenção fisioterapêutica como forma de melhorar as funções cardio-pulmonar e

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
631
aaaaaaaaaaaaa motora, dando-lhes um repouso de suas atividades de 90 dias, dentre esse intervalo foi
recomendado um retorno em 30 dias ao especialista. Nesse intervalo até o retorno
foram realizadas as intervenções fisioterapêuticas, onde submeteu-se a 10
atendimentos após alta-hospitalar, atendimento Homecare.

INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICA REALIZADA


Após alta hospitalar, o paciente retornou à sua residência e no segundo dia deu-
se início às intervenções fisioterapêuticas, onde de início foi repassado todo o protocolo
ao paciente, explicando as funções de cada intervenção a ser realizada. Deram-se início
no 10º dia de Pós-Operatório, nas quais foram realizadas durante os atendimentos
fisioterapia respiratória e motora.
No momento das intervenções foram observados alguns sinais vitais como
Saturação de oxigênio através do aparelho oxímetro e ao mesmo tempo verificando com
o mesmo aparelho a Frequência Cardíaca - FC e a Pressão Arterial – PA aferido pelo
esfigmomanômetro juntamente com o estetoscópio – aparelho de pressão manual.
Tabela 1 - Verificação dos sinais vitais antes das intervenções fisioterapêuticas
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Pós- Pressão Saturação Frequência


Dia Data
Operatório Arterial SaO2 Cardíaca
1º 04/02/2021 10º Dia - PO 110/80mm/Hg 98% 84bpm
2º 05/02/2121 11º Dia - PO 110/70mm/Hg 98% 72bpm
3º 07/02/2021 13º Dia - PO 110/80mm/Hg 99% 79bpm
4º 08/02/2021 14º Dia - PO 110/80mm/Hg 98% 74bpm
5º 09/02/2021 15º Dia - PO 110/80mm/Hg 99% 76bpm
6º 10/02/2021 16º Dia - PO 120/80mm/Hg 98% 71bpm
7º 11/02/2021 17º Dia - PO 110/70mm/Hg 98% 72bpm
8º 12/02/2021 18º Dia - PO 110/80mm/Hg 98% 61bpm
9º 13/02/2021 19º Dia - PO 110/70mm/Hg 98% 74bpm
10º 15/02/2021 21º Dia - PO 110/90mm/Hg 99% 63bpm
Obs: No 12º e 20º dias de atendimento o paciente realizava o protocolo prescrito pela
fisioterapeuta, pois em relação ao dia da semana, não se realizava o atendimento com
a profissional - dia de domingo.
Fonte: Autoria própria.

Ao verificar os sinais vitais considerados importantes, foi dado início ao protocolo


do dia, reabilitações voltadas para o sistema respiratório relacionado ao cardio-
pulmonar acompanhado de reabilitações motoras. Protocolo a qual será apresentado
na tabela 2, onde é observado o passo a passo de cada intervenção até o dia em que o
paciente recebeu sua alta fisioterapêutica.

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
632
aaaaaaaaaaaaa Tabela 2 - Protocolo de reabilitação fisioterapêutica no pós-operatório de revascularização do
miocárdio
Data Dia Fisioterapia Respiratória Fisioterapia Motora
1º 04/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Caminhada com o
• Inspiração fracionada em longo tempo de 1 min.
período de tempo – apnéia contando
3 seg. – 2x5
• Inspiração fracionada em curto
período de tempo – 2x5
• Encerrando com Inspiração
fracionada dinâmica – 2x5
2º 05/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Caminhada com o
• Inspiração Profunda – 2x5 tempo 1:30 min.
• Inspiração fracionada em tempos
curtos 2x10
• Freno Labial – 2x10
• Encerrando com respiração
fracionada
em tempo curto de forma dinâmica 2x5
3º 07/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Abdução de MMSS -
• Inspiração profunda com apnéia – 3X10
2x5 • Flexão de MMSS - 3x10
• Expirações abreviadas 2x5 • Abdução de ambos os
• Encerrando com inspiração membros 3x10
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Fracionada com curto período de • Flexão de ambos os


tempo dinâmica – 2x5. membros 3x10
• Encerrando com uma
caminhada com o
tempo de 2:00min.
4º 08/02/2021 • Respiração Diafragmática - 2x5 • Abdução de MMSS –
• Expiração Abreviada – 2x10 3x10
• Freno Labial – 2x10 • Flexão de MMSS - 3x10
• Inspiração Profunda – 2x10 • Circundução de ombro
• Encerrando com inspiração 3x10 horário e anti-
fracionada com curto período de horário – 3x10
tempo - dinâmica – 2x10 • Movimento de MMSS
efeito Kabat – 3x10
• Movimento de MMII –
subir e descer escada -
3x10
• Encerrando com a
caminhada com tempo
de 2:30 min.
5º 09/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Flexão de MMSS com
• Inspiração fracionada com tempos ambos os membros
curtos - 2x5 juntos com um peso de
• Expiração abreviada 2x10 uma almofada - 2x10
• Encerrando com inspiração • Abdução de MMSS
fracionada com curtos período dos de com um peso de uma
tempo –dinâmica – 2x5 almofada 2x10

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
633
aaaaaaaaaaaaa Data Dia Fisioterapia Respiratória Fisioterapia Motora
• Circundução de ombro
com um peso de uma
almofada 2x10
• Encerrando com uma
caminhada de 3:00min
6º 10/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Movimento medial de
• Expiração com a boca aberta 2x10 MMSS, trabalhando
• Inspiração Profunda – 2x5 peitoral com um peso
• Encerrando com Inspiração de uma almofada –
Fracionada com cuttos períodos de 3x10
tempo – 2x10 • Flexão dos MMSSs,
juntos com um peso de
uma almofada 3x10
• Subir e descer escada
3x10
• Encerrando com uma
caminhada 3:30 min.
7º 11/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Circundução de Ombro
• Expiração com boca aberta – 2x10 – 3x10
• Freno Labial – 2x10 • Abdução de ambos os
• Encerrando com inspiração membros juntos 3x10
fracionada • Movimento de MMSS
com curto período de tempo – dinâmico – efeito Kabat - 3x10
• Subir e descer escada –
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

2x10
3x10
• Encerrando com uma
caminhada de 4:00min
8º 12/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Flexão de MMSS 3x10
• Inspiração Fracionada com longo • Abdução de MMSS
tempo -2x10 3x10
• Expiração abreviada- 2x10 • Subir e descer escada
• Freno Labial – 2x10 3x10
• Encerrando com inspiração • Encerrando com uma
fracionada com curto período de caminhada de
tempo 2x10 -dinâmica. 4:30min.
9º 13/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Movimento em
• Freno Labial 2x10 direção mediana
• Expiração com a boca aberta -2x10 trabalhando peitoral –
• Expiração Abreviada – 2x10 3x10
• Encerrando com inspiração • Movimento de MMSS
fracionada com curto período de com efeito kabat com
tempo – 2x10 uma almofada – 3x10
• Subir e descer escada
3x10
• Encerrando com a
caminhada 5:00 min.
10º 15/02/2021 • Respiração Diafragmática – 2x5 • Subir e descer escadas
• Inspiração profunda – 2x5 3x10
• Freno labial – 2x10

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
634
aaaaaaaaaaaaa Data Dia Fisioterapia Respiratória Fisioterapia Motora
• Expiração com a boca aberta 2x10 • Encerrando com uma
• Encerrando com inspiração caminhada de
fracionada 5:30min.
com curto período de tempo 2x10 -
dinâmica.
Fonte: Autoria própria.

Como foi mencionado anteriormente a cada protocolo executado no paciente


eram realizados a verificação dos sinais vitais, como forma de observar a resposta desses
sinais perante os esforços físicos realizados, sendo observado na tabela 3.
Tabela 3 - Verificação dos sinais vitais depois das intervenções fisioterapêuticas
Pós- Pressão Saturação Frequência
Dia Data
Operatório Arterial SaO2 Cardíaca
1º 04/02/2021 10º Dia - PO 110/80mm/Hg 98% 84bpm
2º 05/02/2121 11º Dia - PO 100/70mm/Hg 98% 82bpm
3º 07/02/2021 13º Dia - PO 110/90mm/Hg 99% 83bpm
4º 08/02/2021 14º Dia - PO 120/80mmHg 98% 75bpm
5º 09/02/2021 15º Dia - PO 110/70mm/Hg 98% 79bpm
6º 10/02/2021 16º Dia - PO 120/90mm/Hg 98% 75bpm
7º 11/02/2021 17º Dia - PO 120/70mmHg 98% 77bpm
8º 12/02/2021 18º Dia - PO 130/80mm/Hg 98% 76bpm
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

9º 13/02/2021 19º Dia - PO 120/80mm/Hg 98% 76bpm


10º 15/02/2021 21º Dia - PO 110/80mm/Hg 99% 68bpm
Obs: No 12º e 20º dias de atendimento o paciente realizava o protocolo prescrito pela
fisioterapeuta, pois em relação ao dia da semana, não se realizava o atendimento com
a profissional - dia de domingo.
Fonte: Autoria própria.

3. RESULTADOS
No relato de caso mencionado, o paciente idoso de 62 anos, com comorbidade
baseada na hipertensão, sofreu uma revascularização do miocárdio, isso no pós-
operatório fez com que procurasse apoio de uma reabilitação, com o intuito de melhorar
sua qualidade de vida pós-procedimento. Com isso podemos verificar um paciente que
faz uso de medicamento hipertensivo de acordo com as aferições, podemos observar
que apresenta sinais bastante satisfatórios, para inicio e continuidade ao tratamento.
Nos primeiros dias de reabilitação o paciente com sinais vitais animadores, apresentava-
se com deambulação lenta, ombros fechados, dificuldade em movimentar os membros
superiores devido a incisão a qual sofreu, dificuldade na movimentação do MIE devido

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
635
aaaaaaaaaaaaa a incisão de sefenectomia a qual foi submetido, ainda com isso o paciente se queixava
de dor na cervical e nos ombros ao movimento, entretanto apresentava-se em bom
estado de saúde relacionado a frequência cardíaca, pressão arterial e saturação. No
primeiro e segundo dia, podemos observar protocolos simples executado pelo paciente,
com reabilitação motora baseada em caminhada entre um minuto a um minuto e meio,
executado com velocidade lenta e intensidade lenta, encerrando com inspiração
fracionada dinâmica, onde o paciente apresentou dificuldade ao executá-la devido a
aderência relacionada a incisão, porem não apresentou fadiga e dispneia contribuindo
com o avanço do tratamento, observando de forma benéfica sua saturação assim como
a pressão arterial que permaneceram constante sem nenhum empecilho em continuar
com a reabilitação.
Paciente respondendo bem ao tratamento nos dois primeiros dias foi
recomendado uma reabilitação motora de forma mais exigida do seu organismo, como
função de contribuir no aumento da amplitude de movimento dos MMSS, a qual
apresentava com diminuição na sua amplitude, seno executado de velocidade lenta com
intensidade também lenta, após executar os exercícios respiratórios, encerrando com a
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

caminhada com tempos entre dois a dois minutos e meio, a partir desse momento
observou-se uma pequena evolução do paciente baseada em deambulação a qual
apresentava com mais segurança e agilidade, assim como uma pequena melhora na
abertura dos membros ao executar os movimentos assim como na diminuição das algias
nas quais o paciente relatava. Observando sempre os sinais como saturação, pressão
arterial e frequência cardíaca, que apresentavam bastantes satisfatórios para avançar
com mais exigência ao tratamento.
Nos protocolos baseados entre o terceiro e quarto dia, em pequeno esforço foi
observado firmeza muscular respiratório durante a execução dos exercícios assim como
uma evolução mais significativa na amplitude de movimento dos MMSS. Nos MMII além
da caminhada, foi executado treinamentos baseados entre subir e descer escada, sendo
treinada numa escada mais baixa como forma de preparar a musculatura inferior para
escadas mais elevadas. Observou-se que foi executada de maneira segura, com força
muscular satisfatória, sem apresentar edema devido a incisão ocorrida com a
safenectomia, ou mesmo cansaço muscular.

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
636
aaaaaaaaaaaaa Os MMII apresentavam-se com excelente circulação sanguínea contribuindo
para avançar na reabilitação motora inferior. Esse avanço permitiu uma pequena força
muscular tornando a caminhada segura, com postura adequada, segurança advinda do
paciente em executá-la, fazendo com que obtivesse firmeza na sua boa recuperação. A
caminhada bem executada entre dois a dois minutos e meio. Maior satisfação entre os
sinais vitais que contribuíram para o avanço do protocolo. Durante esses protocolos foi
recomendado ao paciente, não permanecer por muito tempo sentado, não manter o
MIE elevado ao sentar-se. Na região do tórax no local da incisão - esternotomia realizar
uma massagem de intensidade leve nas laterais com o intuito de retirar a
aderência causada pelo procedimento, facilitando os movimentos a serem executados
pelos MMSS.
Nos protocolos recomendados entre o quinto e sexto dia foi observado uma
força muscular respiratória bem desenvolvida no momento da execução, executada
pelo paciente de maneira segura e eficaz, com velocidade rápida e eficiente. Na
reabilitação motora as queixas do paciente em relação às algias desapareceram
passando a dormir de maneira tranquila e desenvolvendo seus movimentos com mais
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

firmeza e com segurança. Ao realizar os movimentos motores o pacientes que antes


deambulava no inicio lento, passou a realizar de maneira mais rápida e tranquila. Os
movimentos de subir e descer escada foram realizados com muita tranquilidade, apesar
da escada já possuir um nível elevado, isso fez com que o paciente gerasse um pouco de
força muscular nos MMII. A partir do sexto dia as reabilitações respiratórias, foram
realizadas de maneira rápida, no momento da execução dos exercícios dinâmicos a
dificuldade que o paciente sentia em abrir os braços, passou a exercer com mais rapidez
e segurança. Em relação aos sinais vitais em hipótese alguma o paciente se queixou de
cansaço, algia, e dificuldade na circulação devido a incisão, sendo que a caminhada foi
com um aumento de três a três minutos. Frequência cardíaca com resposta positiva
assim como pressão arterial e saturação, favorecendo o avanço do protocolo.
Durante o sétimo e oitavo dia de protocolo tanto a reabilitação respiratória
quanto a motora foram exercidas de maneira a qual o paciente se sentia seguro de todas
as execuções. Com manobras rápidas, tranquila e com bom êxito. Na motora, exercícios
rápidos na execução, tranquilo e eficaz. Durante a caminhada foi observados passos
largos, com força mais acentuada, postura correta e com força muscular respiratória

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
637
aaaaaaaaaaaaa bem eficaz. Obtendo respostas satisfatórias eficientes nos sinais vitais. A caminhada foi
realizada com tempos entres quatro a quatro meio minutos, seno realizados fora de sua
residência, para que pudesse realiza-los em espaço amplo e arejado, com o objetivo de
fortalecimento tanto respiratório quanto motor, assim como postural. Nas execuções
entre o nono e décimo dia a contribuição do paciente foi bastante satisfatória. Onde o
mesmo retornou suas atividades normais as quais tinha costume de realiza-los, as algias
desapareceram, caminhadas sendo realizadas com velocidade rápida, segura e eficaz,
saturação satisfatória, pressão arterial bem controlada pela medicação e uma boa
qualidade de vida apresentada no paciente.

4. DISCUSSÃO
A cirurgia de revascularização do miocárdio é considerada um procedimento
bastante seguro, de baixo risco e com resultados excelentes a curto, médio e longo
prazo, porem o que vem causar preocupação pós–operatório é a fração de ejeção do
sangue no ventrículo esquerdo, ou seja, se a contratilidade cárdica estiver boa o
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

procedimento pode ser considerado de risco baixo. Entretanto se a contratilidade


estiver bastante comprometida devido a infartos prévios, os riscos tendem a ser mais
altos. Umas das complicações também da revascularização do miocárdio é a
esternotomia e o desvio cardiopulmonar. A esternotomia é uma incisão muito utilizada
na cirurgia, fazendo-se o uso de circulação extracorpórea (CEC), podendo contribuir para
complicações pós-operatórias como atelectasia, e infecções pulmonares e falência de
múltiplos órgãos, redução o volume residual, diminuição da capacidade pulmonar total,
e diminuição da capacidade vital. Pode ocorrer também nos pulmões um aumento do
extravasamento do de agua extravascular advindo pelas células inflamatórias. De
acordo com (Kohli et al., 2006) essas complicações podem aparecer em pessoas mais
idosas, pacientes com comorbidades frequentes como, diabetes mellitus, obesidades e
alguns outros fatores como a internação na unidade de terapia intensiva por mais de
três dias.
Essas complicações fazem com que pacientes procuram auxilio ao profissional
fisioterapeuta no pós-operatorio, como meio de contribuir na recuperação funcional
respiratória e motora. Nos resultados observamos o desenvolvimento do paciente
perante o tratamento assim como os sinais vitais com respostas positivas para o avanço

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
638
aaaaaaaaaaaaa do tratamento. De acordo com Schneider, 2018, relata que a fisioterapia diminui dores
nas costas assim como diminui a necessidade de tomar remédios, com isso os efeitos
colaterais dos analgésicos por exemplo são reduzidos.
Durante os resultados observou-se a segurança do paciente na execução os
exercícios, atribuindo força muscular, respiratória e motora. Em confirmação a esse
estudo Silveira (2011) realizou um estudo de revisão bibliográfica, na qual utilizou 10
artigos randomizados, onde foi comprovado que os pacientes que se submeteram a uma
cirurgia cardíaca, receberam fisioterapia respiratória para tratamento das complicações
pulmonares no pós-operatório. O objetivo da intervenção era verificar os sinais
relacionados a pressão positiva quando comparada as intervenções da fisioterapia
convencional respiratório. Concluiu que são existe melhor técnica a ser utilizada, ou seja,
toas as técnica respiratórias são eficazes para tratamento pós operatório de pacientes
que se submetem de cirurgia cardíaca.
Durante o tratamento, foi observado no paciente aumento significativo nos
sinais vitais como pressão arterial, frequência cardíaca e saturação, facilitando a
participação o paciente nas intervenções sem apresentar sintomas as quais pudessem
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

interferir nas sequencias dos exercícios, concluindo a eficácia da fisioterapia


respiratória, retornando o paciente as suas atividades diárias. Corroborando com o
experimento os autores Botega et al., (2010) realizaram um estudo que teve como
objetivo avaliar o comportamento das variáveis cardiovasculares perante uma
reabilitação cardiovascular hospitalar, em pacientes que sofreram um procedimento
cirúrgico a revascularização o miocárdio, estudo que compareceram 14 pacientes entre
idades de 55,4 a 6,4 anos, sendo que 78,6% é do sexo masculino. Com diagnostico prévio
de insuficiência coronariana. O protocolo era baseado em exercícios de baixo impacto
para extremidades superiores e inferiores de exercícios baseados em caminhada
realizados no pré e pós-operatório entre 3 e 4 dias . as variáveis foram avaliada no
repouso e pós exercício. Protocolo: frequência cardíaca, pressão arterial, pressão
arterial diastólica, pressão arterial média, e escala de índice de percepção de Esforço.
Houve um aumento significativo da frequência cardíaca durante a análise individual.
Além disso, ocorreu uma correlação negativa entre a escala de índice de percepção de
esforço com pressão arterial sistólica e pressão arterial média. Concluíram que os

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
639
aaaaaaaaaaaaa exercícios mostraram bastantes seguros nas mudanças fisiológicas das variáveis
analisadas em todo o experimento do valor recomendado para fase e hospitalização.
O relato de caso descrito acima desmonta juntamente com os autores que a
fisioterapia respiratória, ocasiona um grande fortalecimento muscular respiratório
assim como resultando numa recuperação e adaptação do paciente nos pós-operatório
de procedimento cardíaco. A mobilização precoce de MMSS, deambulação, subir e
descer escadas, foram uma das intervenções motoras que contribuíram para o
desenvolvimento e fortalecimento do sistema músculo esquelética do paciente,
favorecendo uma boa circulação, sem sinal de edema, fadiga, dormência no caso da
safenectomia por ausência da veia safena, aumento de amplitude de movimento nos
MMSS resultando na motivação e satisfação trazendo bem-estar as atividades diárias.
Segundo Pinheiro (2012) e Silva (2010), relatam que o exercício terapêutico torna-se um
elemento central na assistência fisioterapêutica, com o objetivo de aprimorar a
funcionalidade física diminuindo as incapacidades. Além de prevenir fraqueza muscular
e deformidades osteomioarticulares.
Contribuindo com o experimento realizado no relato de caso Borges et al. (2009),
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

a fisioterapia motora no pós-cirúrgico é bastante importante no que se refere a


locomoção. Nos seus estudos, foram observados que os pacientes que receberam
atendimento fisioterapêutico de rotina, baseado em treinamento continuo de
deambulação, subir e descer escadas, apresentaram um enorme desempenho funcional
em comparado ao grupo que não recebeu o mesmo protocolo. Ainda corroborando com
os estudos, Machado et al. (2017), Santos (2015) observaram uma progressão no
pacientes relacionado a fraqueza muscular. Melhora a qual foi evidenciado após a
aplicação da mobilização precoce sobre a força muscular periférica, resultando em
progressão.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cirurgia de revascularização do miocárdio tem sido um procedimento utilizado
com bastante frequência perante a comunidade médica. Dessa forma as complicações
pós-cirúrgicas pulmonares são bastante comum, podemos destacar a atelectasia e a
pneumonia. Conforme foi abordado ao longo do estudo a fisioterapia está relacionada
a diminuição das complicações respiratórias, no pós procedimento cirúrgico,

REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
640
aaaaaaaaaaaaa contribuindo na redução da perda de força muscular, redução de morbidade e
mortalidade, e ate mesmo o restabelecimento emocional e cognitivas desses pacientes.
A fisioterapia respiratória é uma intervenção direciona na gestão dos cuidados
em paciente que forem de patologias cardíacas, tanto no pré quando no pós-operatório,
contribuindo para melhor prognóstico do paciente. No pré-operatório atua como
prevenção de algumas complicações pulmonares, no pós-operatório tem como função
principal reexpansão pulmonar. Assim como a mobilização precoce gerou um certo
impacto positivo nas variáveis relacionadas na hemodinâmica e respiratória, gerou um
ganho de força muscular periferia de maneira significativa, limitou as complicações
musculoesqueléticas e pulmonares assim como impulsionou a recuperação do paciente.
Podemos concluir que o papel da fisioterapia é muito importante no pós-
operatório de uma cirurgia cardíaca, sendo que cada dia mais sofisticada. Assim a
fisioterapia atua com diversas técnicas e manobras com ou sem auxilio de aparelhos
denominados incentivadores respiratórios, visando minimizar as complicações,
acelerando o processo de recuperação do paciente, devolvendo-o a qualidade de vida
satisfatória.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

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REABILITAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTE NO PÓS-OPERATÓRIO DE REVASCULARIZAÇÃO DO


MIOCÁRDIO – RELATO DE CASO
643
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XLVII
REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA:
UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE
MASCULINA E ATUAÇÃO DO
BIOMÉDICO
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-47
Camila Sousa de Araujo Ferreira ¹
Ana Paula Muniz Serejo 2
Johny Adrian Rodrigues Nascimento Oliveira 3
Alan da Silva Lira 4
Márcio Anderson Sousa Nunes 5
¹ Graduação em Biomedicina. Universidade CEUMA
2Departamento de Farmácia. Faculdade UNINASSAU
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

3Graduação em Biomedicina. Faculdade UNINASSAU


4Mestrado em Ciência animal. Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
5Mestrado em Biologia Parasitária. Universidade CEUMA

RESUMO
INTRODUÇÃO: A infertilidade, é definida como uma impossibilidade de conceber filhos após um
ano de tentativas com atividade sexual regular, sem o uso de contraceptivo. Com a evolução das
pesquisas que está diretamente ligada com o desenvolvimento da reprodução humana assistida,
fez com que tivesse um amplo significado nos limites de fecundidade masculina e feminina,
sendo possível a reprodução ser mediada por procedimentos múltiplos com o objetivo de se ter
a fecundação artificial OBJETIVO: Levantar, reunir, avaliar criticamente a metodologia da
pesquisa e sintetizar os resultados de diversos estudos primários, buscando responder a uma
pergunta de pesquisa claramente formulada. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão
sistemática, um tipo de investigação científica, considerando estudos observacionais
retrospectivos ou estudos experimentais de recuperação e análise crítica da literatura e
testando hipóteses. RESULTADOS: A reprodução humana assistida, teve ações encontradas
através da evolução da biomedicina, respaldando a ciência e objetivando pessoas que queiram
constituir uma família. CONCLUSÃO: A infertilidade masculina pode ser tanto de origem
genética, idiopática, doenças ou lesões, frequentemente entre os homens inférteis. Com o
desenvolvimento e aumento do uso de tecnologias de reprodução assistida, o entendimento da
infertilidade masculina tem grandes implicações não somente para compreender os motivos da
infertilidade, mas, também para determinar o prognóstico e o manejo desses casais.

Palavras-Chaves: Infertilidade Masculina. Reprodução Humana. Fertilização. Biomédico.


Técnicas de reprodução.

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
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aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
A infertilidade, é definida como uma impossibilidade de conceber filhos após um
ano de tentativas com atividade sexual regular, sem o uso de contraceptivo. Ter filhos,
é um importante projeto de vida pessoal e social, sendo que, os casais inférteis tem três
caminhos a escolher, a aceitação da infertilidade, impossibilidade de ter filhos ou a
adoção e medidas terapêuticas, no caso o tratamento da infertilidade. Caso a
infertilidade seja diagnosticada e logo tratada, pode-se estabelecer uma gravidez
natural, porém se o problema não for solucionado efetivamente nesse caso a
reprodução assistida, se tornará uma alternativa (DE GEYTER, 2012).
Com a evolução das pesquisas que está diretamente ligada com o
desenvolvimento da reprodução humana assistida, fez com que tivesse um amplo
significado nos limites de fecundidade masculina e feminina, sendo possível a
reprodução ser mediada por procedimentos múltiplos com o objetivo de se ter a
fecundação artificial (SILVA; VERZELETTI,2014). As técnicas mais utilizadas com esse
objetivo são as de inseminação artificial, fertilização in vitro e a injeção
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

intracitoplasmática de espermatozoides. Existem novas possibilidades no tratamento da


infertilidade, surgindo ferramentas que auxiliam técnicas novas, avaliando e permitindo
chegar a um objetivo final com maior eficácia. Um exemplo, é o diagnóstico genético
pré-Implantacional (PGD) (BARROS et al., 2020).
O relatório anual da ANVISA, através do Sistema Nacional de Produção de
Embriões (SisEmbrio), no ano de 2013 informou que mais de 52 mil transferências
embrionárias foram realizadas no Brasil (SISEMBRIO,2013). No ano de 2011, pela
primeira vez foi divulgado o número de embriões transferidos, um total de 33 mil, ou
seja, havendo um aumento de 63% em dois anos, representando um aumento na
procura e nas instituições relatando as suas atividades junto a ANVISA
(SISEMBRIO,2011).
A reprodução humana assistida, teve ações encontradas através da evolução da
biomedicina, respaldando a ciência e objetivando pessoas que queiram constituir uma
família. Através de outras atividades estabelecidas, o biomédico é atribuído para a
realização de exames de biologia molecular, citogenética humana, genética humana

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
645
aaaaaaaaaaaaa molecular e a técnica de PCR, assumindo a emissão de laudos e a responsabilidade
técnica laboratorial (LEITE, HENRIQUES, 2014).
A relevância do tema, faz-se necessário compreender que a fertilização in vitro,
tem uma importância na qualidade de vida de homens e mulheres que desejam ter
filhos. Sendo assim, torna-se evidenciado a eficácia desse tipo de técnica como forma
de oferecer melhores soluções para homens e mulheres inférteis. No Brasil, a legislação
relacionada à pesquisa nos procedimentos de reprodução humana está representada
pela resolução do CFM 1.358/92, referindo-se as técnicas de fertilização in vitro. Desta
maneira, este trabalho visa organizar as informações disponíveis da reprodução
humana, permitindo uma discussão sobre o tema. No Brasil, com a ampla utilização e
crescimento dessa tecnologia, hoje ainda se encontra uma literatura escassa se tratando
de reprodução humana e suas técnicas (HEUSCHKEL., 2015).

2. MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão sistemática, um tipo de investigação científica,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

consideradas estudos observacionais retrospectivos ou estudos experimentais de


recuperação e análise crítica da literatura, testando hipóteses e têm como objetivo
levantar, reunir, avaliar criticamente a metodologia da pesquisa e sintetizar os
resultados de diversos estudos primários, buscando responder a uma pergunta de
pesquisa claramente formulada.
Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico, por meio de livros,
artigos em revistas/periódicos, teses, dissertações, sites governamentais e normas e
legislação vigente no país, publicados em português. Esse levantamento, teve como
objetivo compilar informações sobre o histórico, regulamentação e principais técnicas
utilizadas da reprodução humana, sendo que as bases de dados consultadas foram:
Centro Latino Americano e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), National Library of
EUA (Medline), Scientific Eletronic Library Online (SciElo). Os descritores utilizados para
a busca de artigos foram: reprodução humana, técnicas de reprodução, infertilidade
masculina, técnicas laboratoriais. O período da pesquisa incluiu estudos publicados
entre 2011 a 2021.

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
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aaaaaaaaaaaaa
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
CAUSAS FREQUENTES DA INFERTILIDADE MASCULINA E AS TÉCNICAS DE
REPRODUÇÃO
3.1.1. Reversão da vasectomia
Embora azoospermia obstrutiva, seja causa de infertilidade masculina em baixa
percentagem comparada a outras causas como varicocele, é o seu diagnóstico, que atrai
atenção do ponto de vista custo-efetividade. Sendo assim torna-se essa atenção maior,
e é atribuída ao fato que a vasectomia, é a forma mais comum de obstrução encontrada
no tratamento da infertilidade. Reversão de vasectomia, é requisitada por 2 a 6% dos
homens para restaurar a fertilidade e além disso, a reversão, é considerada uma
modalidade efetiva de tratamento que tem sido muito utilizada pela comunidade
urológica (BARROS et al., 2020).
Até então, o único tratamento disponível para restaurar a fertilidade após a
vasectomia, era a reconstrução do trato reprodutivo, o tratamento dos pacientes com
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

obstrução do trato seminal, varia desde o reparo microcirúrgico da obstrução até a


captação espermática e a FIV com ICSI. Correção cirúrgica, é realizada por meio da
microcirurgia dos vasos deferentes ou epidídimo, mas, antes de realizar o procedimento
cirúrgico, a parceira deve ser avaliada para determinar se existe infertilidade feminina.
Além disso, o procedimento microcirúrgico, tem uma melhor relação custo-efetividade
do que a captação de espermatozoides e FIV ou ICSI, os quais interferem em ambos os
componentes do casal. De máxima importância, a reconstrução microcirúrgica, caso
tenha sido um sucesso, permite que os casais tenham mais filhos sem assistência médica
adicional (ZEGERS-HOCHSCHILD et al., 2014)
Entretanto, existem situações que no qual a captação espermática com FIV/ICSI
é considerada de eleição para casais, em que o homem apresenta azoospermia
obstrutiva; apesar disto, o sucesso e a ampla disposição da FIV/ICSI têm resultado em
controvérsia sobre o manejo mais efetivo desta condição. A técnica de ICSI, deve ser
realizada em quase todos os casos em que o espermatozoide é retirado do testículo ou
epidídimo de um homem com azoospermia obstrutiva, porque as técnicas de captação
espermática raramente produzem uma quantidade suficiente de espermatozoides para

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
647
aaaaaaaaaaaaa realizar inseminação intrauterina ou FIV sem micromanipulação de gametas,
fornecendo as taxas de fertilização de 45 a 75% por ovócito inseminado quando o
espermatozoide é retirado cirurgicamente do epidídimo ou testículo. Em geral, as taxas
de gravidez clínica variam de 26 a 57% e as de recém-nascidos vivo em boas condições
variam de 18 a 54% (PEREIRA et al.,2016)
A idade da parceira, considera-se importante, porque a fertilidade feminina
diminui progressivamente após os 35 anos de idade, e é limitada após os 40 anos. Devido
ao fato de que o intervalo médio entre a reversão de vasectomia e a gravidez pós-
procedimento seja de 12 meses, casais consideram a captação espermática com ICSI
quando a parceira possui mais de 37 anos de idade. Embora casais nos quais a parceira
possui 40 anos as taxas de sucesso com FIV com ou sem ICSI diminuiriam rapidamente,
foi demonstrado recentemente que vale a pena realizar reconstrução microcirúrgica do
trato masculino, mesmo em casos em que a parceira tenha idade superior a 35 anos de
idade. Mulheres acima de 35 anos de idade, devem ser sempre avaliadas antes de
qualquer tratamento adotado para infertilidade (CASTRO et al.,2014, LINS et al., 2014)
Claramente, o custo por nascimento para reconstrução em casos de azoospermia
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

obstrutiva, é menor do que os associados com FIV/ICSI, esta informação é usada na


decisão do algoritmo para os casais que desejam ter o retorno do potencial fértil, após
a vasectomia. A decisão final sobre o melhor método, reconstrução microcirúrgica ou
captação de espermatozoide com FIV/ICSI, é feita pelo casal bem informado em
conjunto com o especialista em medicina reprodutiva (SOARES, COSTA, SILVA., 2012).

3.1.2. DOENÇAS
A criptorquidia, caracteriza-se pela descida incompleta dos testículos para o
escroto, ficando na região abdominal ou no canal inguinal, causando azoospermia
secretora. No caso de posição do testículo na região inguinal, a criptorquidia, deve ser
corrigida cirurgicamente (orquidopexia: reposição do testículo na bolsa escrotal) até os
2 anos de vida. Na posição do testículo na cavidade abdominal (por não se palpar na
região inguinal), deve ser feito a tomografia axial computadorizada (TAC), para saber
sua localização, uma vez localizado, a criança deve ser operada porque o testículo intra-
abdominal transforma-se numa neoplasia maligna, se o exame não permitir a
visualização do testículo na cavidade abdominal, é considerado uma ausência congênita

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
648
aaaaaaaaaaaaa do testículo (anorquidia), o que obriga a tratamento hormonal virilizante. O escroto,
encontra-se situado no exterior do corpo, porque os espermatozoides têm de estar a
uma temperatura inferior à temperatura do corpo, no entanto a necessidade de
correção assim que se detecte, caso contrário, podem surgir problemas de infertilidade
(LOURENÇO; LIMA, 2016)
No caso da anomalia endócrina, surge em crianças do sexo masculino, com
anorquidia, criptorquidia, diminuição do volume testicular, atraso de crescimento ou
atraso das características sexuais secundárias próprias da puberdade, tais como a
pilosidade, voz e o pênis, em termos endocrinológicos, deve-se ser estudada. Portanto,
os défices do desenvolvimento sexual, irão ser tratados com testosterona e a
estimulação da produção de espermatozoides. (LOURENÇO; LIMA, 2016)
Na anomalia do cariótipo, é a causada por de alteração do número ou da
estrutura dos cromossomos, causando azoospermia secretora ou perda da qualidade do
sêmen. As anomalias nos espermatozoides, causam incapacidade de fecundação,
paragem do desenvolvimento embrionário, perda da qualidade embrionária, falhas da
implantação, abortamentos de repetição ou fetos com anomalias estruturais.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

(LOURENÇO; LIMA, 2016)


A azoospermia obstrutiva (AZO), deve-se a uma obstrução ou a ausência
congênita dos canais genitais excretores, nestes casos, a produção de espermatozoides
no testículo é alterada, mas a excreção está comprometida, pelo que no ejaculado não
se observam espermatozoides. Na ausência congênita dos canais deferentes, causada
por mutações do gene, os pacientes devem efetuar ecografia renal (existem casos
associados a malformações dos rins) e ecografia pélvica (para verificar se existem
malformações das vesículas seminais ou malformações/obstrução dos canais
ejaculadores). A mulher, também deve efetuar o rastreio genético, uma vez que a
população é portadora de mutações com cerca de 25% (DE CARVALHO et al., 2014). Mais
frequentemente, a AZO é secundária a infecções genitais (tuberculose; doenças de
transmissão sexual: sífilis, gonorreia, clamídia, micoplasma, micoses, HPV, herpes
genital) e a cirurgia escrotal (correção de hidrocelo, varicocele, remoção de quistos de
epidídimo, exérese de tumores testiculares), que originam obstrução dos EPD (CHEN et
al., 2012).

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
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aaaaaaaaaaaaa A azoospermia secretora (AZS), tem várias causas genéticas e secundárias.
Nestes casos, o testículo não produz espermatozoides ou produz em número
insuficiente, pode ser devida a criptorquidia, anomalias do cariótipo, mutações
genéticas do cromossomo Y, distúrbios endócrinos, infeção testicular (parotidite),
exposição a tóxicos ambientais e profissionais (LOURENÇO; LIMA, 2016).
Outra anomalia seria a anatômica, que causa alteração da morfologia dos
genitais externos (disgenesia gonadal), alterações do tamanho e forma do pênis
(micropénis) bem como da localização do meato urinário (hipospádias; epispádias),
alterações do tamanho e da localização dos testículos (hipotrofia: diminuição moderada
do volume; atrofia: diminuição marcada do volume; criptorquidia; anorquidia: ausência
congénita do testículo) (VENTIMIGLIA., et al 2017).
No caso da varicocele, a introdução da técnica de ICSI no ovócito possibilitou que
homens com alterações seminais gerassem seus próprios filhos com ela, homens com
infertilidade masculina grave, podem ter descendentes gerados com seu material
genético, a correção cirúrgica permanece uma excelente opção para devolver fertilidade
ao casal com uma relação custo-benefício muito superior a qualquer procedimento de
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

reprodução assistida. Estima-se, uma melhora nos parâmetros seminais após correção
da varicocele, de aproximadamente 70 a 120%, e uma taxa de gravidez aproximada de
33 a 46% num período de até 12 meses após a cirurgia, sendo que a melhora nos
parâmetros espermáticos ocorre num período de seis a nove meses após a cirurgia.
(MACEDO; FONSECA, 2015)
Destaca-se que a importância da idade da parceira, é de fundamental
importância na orientação do melhor tratamento do paciente com varicocele, ou seja,
homens cujas parceiras apresentam idade superior a 37 anos não devem se submeter à
varicocelectomia, e sim o casal deve ser encaminhado para clínicas de reprodução
assistida entretanto, o paciente jovem deve ser submetido à varicocelectomia um
estudo recente demonstrou que, pacientes submetidos a um procedimento de
inseminação intrauterina, a porcentagem destes estabeleceu uma gravidez superior em
pacientes operados de varicocele (33,3%) comparado a pacientes portadores de
varicocele e que não foram submetidos a cirurgia de correção da varicocele (11%)
(MACEDO; FONSECA, 2015).

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
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aaaaaaaaaaaaa Com o advento das técnicas de reprodução assistida, muitos profissionais que
tratam o casal infértil têm oferecido como tratamento de escolha a ICSI. Estudos
demonstram que a FIV/ICSI, além de não ser mais eficaz que a varicocelectomia, do
ponto de vista econômico, ela é muito mais cara que o reparo cirúrgico da varicocele.
Schlegel, demonstrou que o custo por nascimento com FIV/ICSI foi de US$ 89.091
comparado a US$26.268 após a varicocelectomia, assim sendo, a varicocelectomia, é
mais vantajosa em valores econômicos do que as técnicas de reprodução assistida
(MACEDO; FONSECA, 2015).
Desta forma, pacientes com varicocele clinicamente detectável e com esposas
de idade inferior a 38 anos devem ser submetidos à varicocelectomia. Entretanto,
quando tiver mais de 37 anos de idade, técnicas de reprodução assistida devem ser
consideradas as de primeira escolha. É importante destacar, que a análise seminal, deve
ser realizada a cada três meses após a varicocelectomia por pelo menos um ano ou até
o paciente estabelecer a gravidez de sua parceira. A inseminação intra-uterina ou as
técnicas de reprodução assistida, são estimuladas quando a infertilidade conjugal
permanecer apesar de uma varicocelectomia anatomicamente bem realizada.
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

(VENTIMIGLIA., et al 2017, DA SILVA GALLO; CROSARA LETTIERI GRACINDO, 2016).


O tratamento cirúrgico, elimina com sucesso mais de 90% das varicoceles. A
Associação Americana de Urologia e a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva,
recentemente descreveram que o reparo da varicocele é considerado como a primeira
opção de tratamento quando existe a presença de infertilidade associada com
varicocele e exames normais das parceiras (ZEGERS-HOCHSCHILD et al., 2014) Além
disso, Evers e Collins, ao realizar uma revisão sistemática de sete estudos controlados,
observaram que a varicocelectomia não foi efetiva para o tratamento da infertilidade
nos pacientes com varicocele clinicamente detectáveis. Entretanto, esta meta-análise
talvez não tenha poder suficiente para detectar pequenas alterações pelo baixo número
de pacientes em alguns grupos de pacientes operados (CHEN et al., 2012).
De uma maneira geral, a cirurgia de correção da varicocele (subinguinal
microcirúrgica) em pacientes com varicocele clinicamente detectável, independe da
histologia testicular, tipo de alteração na qualidade seminal ou níveis de FSH, antes da
cirurgia. Pacientes azoospérmicos, talvez devam ser submetidos à varicocelectomia
antes de serem encaminhados para clínicas de reprodução assistida, quanto maior o

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
651
aaaaaaaaaaaaa grau de varicocele, maior a chance de melhora na qualidade seminal após a
varicocelectomia, pacientes com esposas com idade superior a 37 anos, devem ser
submetidos a técnicas de reprodução assistida e não à varicocelectomia (MACEDO;
FONSECA, 2015).

3.1.3. TRAUMA FÍSICO (LESÕES DO ESCROTO)


No trauma físico, a localização do escroto, torna-se mais propenso a sofrer
lesões, decorrentes de pancadas fortes (pontapé ou esmagamento), também ocorrem
diante de lesões provocadas por disparos ou feridas cortantes, atingindo o escroto. A
lesão testicular, é provocada tem intensa e repentina decorrentes de náuseas e vômitos,
utiliza-se bolsas de gelo, tais como medicamentos para reduzir a dor e náuseas. Um
exame de ultrassom, revela o rompimento ou não dos testículos e se houver, precisa ser
cirúrgica. Estas lesões, destroem a produção de hormônios como a testosterona ou do
esperma. (SOARES, COSTA, SILVA 2012).
As lesões causam hidrocelo, que é a acumulação congênita de líquido no escroto
na túnica vaginalis, causando a diminuição da qualidade do sêmen e a varicocele, que é
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

a varizes do escroto, devem ser eliminadas através de cirurgia a partir do momento em


que a varicocele incomoda ou se torna observável (CASTRO et al.,2014)

3.1.4. CAUSA DESCONHECIDA (FATOR IDIOPÁTICO)


Cerca de 10% dos casos de infertilidade, parecem apresentar todo o sistema
genital sem problemas, mas mesmo assim são inférteis. Este parâmetro foi já avaliado
na parte feminina, mas vários testes masculinos foram desenvolvidos e estão
disponíveis (SOARES, COSTA, SILVA 2012).

3.1.5. ATUAÇÃO DO BIOMÉDICO NA REPRODUÇÃO HUMANA


A Biomedicina, é definir como, cuidado com a vida, tem seu amplo aspecto nas
áreas de atuação que vai além da analise clinica até a área de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico. A reprodução humana, foi uma das ações mais
encontradas na evolução da biomedicina, respaldando a ciência, através de pessoas que
queiram constituir uma família sendo que não são capazes de produzi-las naturalmente.
(LEITE; HENRIQUES, 2014).

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
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aaaaaaaaaaaaa É um profissional que tem ampla área e atuação, de acordo com o Conselho
Federal de Biomedicina, o biomédico é capacitado para atuar na reprodução humana
assistida através das técnicas de identificação e classificação de ovócito, processamento
seminal, criopreservação seminal, classificação embrionária, criopreservação
embrionária, biopsia embrionária. Na genética, participando de pesquisas, atuando
como coordenador ou membro da equipe, assumindo responsabilidade técnica e
elaborando e firmando laudos. Em embriologia, realiza a manipulação de gametas e pré-
embriões. (BARBOSA et al, 2014).
De acordo com a resolução Nº 4, de junho de 1995 do Conselho Federal de
Biomedicina, é de competência do profissional biomédico, realizar exames laboratoriais
de DNA. No Artigo 5º da resolução Nº 78, de 29 de abril de 2002 do Conselho Federal de
Biomedicina, atribui-se ao biomédico à realização de exames e técnicas de PCR,
assumindo a responsabilidade técnica e a emissão de laudos.
Segundo CFBM (CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA) No 3º parágrafo do
Artigo 5º da mesma resolução é dito que é atribuição do profissional biomédico, além
das outras atividades estabelecidas, a realização de exames de Biologia Molecular,
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Citogenética Humana e Genética Humana Molecular (DNA), podendo para tanto realizar
as analises, assumir a responsabilidade técnica, firmar os respectivos laudos e transmitir
os resultados dos exames laboratoriais a outros profissionais, como consultor ou
diretamente aos pacientes, como aconselhador genético.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A infertilidade masculina pode ser tanto de origem genética, idiopática, doenças
ou lesões, frequentemente entre os homens inférteis. Com o desenvolvimento e
aumento do uso de tecnologias de reprodução assistida, o entendimento da
infertilidade masculina tem grandes implicações não somente para compreender os
motivos da infertilidade, mas, também para determinar o prognóstico e o manejo desses
casais.
A evolução tecnológica vem ocasionando melhorarias no acesso a informações,
tratamento na área das ciências da saúde, vale ressalta a importância da atuação do
profissional Biomédico nesse processo. Com resultados positivos em assuntos que
dificultam a geração e nascimento de uma criança por casais com diagnostico de

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
653
aaaaaaaaaaaaa infertilização. Podendo contribuir de maneira parcial ou total o homem, a mulher ou o
casal com a falha no processo de concepção e gestação.
Nos dias atuais, as diversas técnicas de reprodução assistida e biotecnologia
reprodutiva têm ajudado casais com dificuldades reprodutivas, essas novas técnicas
querem contribuir com a realização de um sonho, embora as condições de fertilidade
do casal não sejam as melhores.

REFERÊNCIAS
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uma revisão sistemática. Rev. Ciên. Saúde, [s. l], v. 5, n. 2, p. 20-27, 2020

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dos fatores sócio-econômico-culturais sobre a formulação das legislações e guias
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REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA: UMA REVISÃO SOBRE A INFERTILIDADE MASCULINA E ATUAÇÃO DO


BIOMÉDICO
655
aaaaaaaaaaaaa
CAPÍTULO XLVIII
SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA
DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
DOI: 10.51859/amplla.pae1986-48
Edilaine Soares Santos de Souza ¹
Antônio Marcos de Souza Prates ¹
Rachel Silva Lima ¹
Fabiele Perpétua Chagas Sabatim Barros ¹
Giovanni de Almeida 2
Fabrício Longuinho de Melo ³
1 Graduado(a)do curso de Odontologia. Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP.
5 Graduando do curso de Odontologia. Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP.
6 Graduando em Odontologia. Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP.

RESUMO
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Objetivo: dissertar acerca da Síndrome da apneia obstrutiva do sono, no que tange a


fatores de risco, sinais e sintomas, diagnósticos e tratamento. Materiais e Métodos: à
base bibliográfica, responsável belo embasamento teórico desta revisão bibliográfica,
foi obtida por meio da pesquisa nas bases de dados LILACS, MEDLINE, Google Scholar e
Scielo, por intermédio das palavras chaves “Síndromes da Apneia do Sono” e “Apneia
obstrutiva do sono”. Resultados: o resultado desta pesquisa se perfez nesta revisão
literária, cujos resultados demostram que os fatores de risco abrangem aspectos físicos,
genéticos e hábitos que, de maneira geral, ocasionam a obstrução da via aérea superior.
Dentre estes fatores de risco, foi encontrado um empasse entre os autores a respeito
da maior incidência de SAOS nos indivíduos do sexo feminino. Com relação às formas de
diagnóstico, o exame de polissonografia é considerado o padrão ouro, todavia alguns
autores apresentam a oximetria noturna como alternativa. Por fim, o tratamento
conservador mais utilizado é o aparelho de pressão contínua em vias aéreas superiores,
já nas terapias cirúrgicas a uvulopalatoplastia é a mais realizada, entretanto em casos
mais graves o profissional deve recorrer a cirurgias maiores como avanço
maxilomandibular. Conclusão: Por intermédio dos dados averiguados, conclui-se que os
fatores de risco devem ser analisados, de forma precisa, por intermédio de um
diagnóstico que abranja a história clínica, exames físicos e complementares, a fim de
determinar, de forma individual, o melhor tratamento para o paciente, seja ele
conservador ou radical.

Palavras-chaves: Apneia obstrutiva do sono. Síndromes da Apneia do Sono.


Odontologia.

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 656


aaaaaaaaaaaaa
1. INTRODUÇÃO
Apneia obstrutiva do sono (AOS) é caracterizada como uma patologia na qual
ocorrem bloqueios recorrente, parciais/hipopneia ou totais/apneia, da via aérea
superior, durante o sono. Quando a AOS está vinculada a outros 5 sintomas ou mais,
sejam eles noturnos, diurnos ou doenças, denomina-se de Síndrome da apneia
obstrutiva do sono (SAOS) (SANTOS et al.,2021).
Estes bloqueios obstrutivos recorrentes, provocam um incentivo gradativamente
maior no esforço respiratório, causando pequenos despertares noturnos com perda da
estrutura normal do sono, diminuição do sono profundo, sonolência diurna excessiva e
diminuição da capacidade cognitiva e de concentração. Ademais, a redução do fluxo
aéreo, acarreta distúrbios nas trocas gasosas, com, consequente, hipercápnia e
hipoxemia. Estas alterações, por sua vez, geram stress oxidativo, insulinorresistência e
alterações inflamatórias endoteliais ateroscleróticas, as quais afetam diversos órgãos e
sistemas, principalmente o sistema cerebral e cardiovascular (NETO et al.,2021).
Alguns fatores podem predispor o indivíduo a desenvolver a SAOS, são estes:
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

anormalidades craniofaciais, ser do sexo masculino, crescimento de tecido mole e tecido


linfoide da faringe, obstrução nasal, obesidade, idade avançada, consumo de álcool,
menopausa, fumo, histórico familiar. Além destes, alguns fatores podem estar
associados, como: hipertensão pulmonar, hipertensão arterial sistêmica angina noturna,
refluxo gastroesofágico e arritmias cardíacas relacionadas ao sono (CHAVES JUNIOR et
al.,2011).
O diagnóstico da SAOS se baseia nas constatações feitas a partir da história
clínica, exame físico e testes de registro do sono, como por exemplo: polissonografia de
noite inteira, polissonografia completa domiciliar, polissonografia do tipo split-night,
oximetria noturna e polissonografia diurna (nap-study) (BITTENCOURT, CAIXETA.,2010).
A Aplicação de pressão positiva nas vias aéreas (PAP) é o tratamento mais
comum para SAOS em adultos, todavia outros tratamentos também podem ser
empregados, como: aparelhos orais, terapias posicionais, estimulador do nervo
hipoglosso, perda de peso e tratamento cirúrgico (LEE, SUNDAR.,2021).

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 657


aaaaaaaaaaaaa Em suma, esta revisão bibliográfica tem como objetivo explanar sobre fatores de
risco, sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento da síndrome da apneia obstrutiva do
sono.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo consiste em uma revisão, não sistemática, da literatura. Com
a finalidade de obter dados para fundamento bibliográfico, realizou-se uma pesquisa
exploratória nas seguintes bases de dados: LILACS (Literatura Latino-americana e do
Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online), Google
Scholar e MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), utilizando-
se das palavras chaves “Sindromes da apneia obstrutiva do sono” e “Apneia obstrutiva
do sono” e suas respectivas traduções em inglês.
Foram inclusos, neste estudo, os artigos publicados nos anos de 2010 à 2021,
escritos em português ou inglês e que contêm dados concernentes a fatores de risco,
sinais e sintomas, diagnóstico ou tratamento da Síndrome da apneia obstrutiva do sono
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

. Todavia, no que tange aos critérios de exclusão, estes compreenderam aqueles artigos
publicados em outras línguas, que não fosse o inglês e o português, artigos publicados
fora do período imposto nos critérios de inclusão e aos que não possuíam dados a
respeito dos temas abordados.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Fatores de risco
De acordo com Senaratna et al.(2017) a prevalência de SAOS, na população
geral, esta entre 9% e 38%. Neste âmbito, são diversas as condições consideradas de
risco para tal patologia.
Os aspectos vinculados à anatomia craniofacial do paciente podem modificar as
propriedades mecânica da via aérea superior e aumentar a sua propensão ao colapso
durante o sono, como as alterações de retrognatia, micrognatia, macroglossia,
hipertrofia das amídalas e deslocamento inferior do osso hioide, sendo este
determinante da severidade da SAOS, quanto mais distante do plano mandibular maior
a severidade (REIS et al.,2020).

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 658


aaaaaaaaaaaaa Em consonância com Pacheco et al.(2016), a incidência da Síndrome de apneia
obstrutiva do sono é maior em homens, sendo nas mulheres aumentada após a
menopausa e em situações onde a paciente possui a síndrome dos ovários policísticos.
Com isso, essas condições sugerem que os hormônios femininos desenvolvem uma
função de proteção contra a patologia em questão. Acredita-se que a influência
hormonal pode atuar no controle ventilatório, no comportamento mecânico das vias
aéreas superiores e na distribuição da gordura corporal.
Em contradição, outros estudos propõem que a incidência da SAOS em mulheres
seja maior que o que foi, anteriormente, publicado. Este fato se baseia em uma sub-
representação das mulheres nestas pesquisas, bem como um subdiagnóstico ou
classificação errada da patologia. Os erros no diagnóstico são realizados devido às
diferenças clínicas da SAOS em homens comparado a mulheres, como: maior altura,
peso, maior pressão arterial pela manhã, menor duração de ondas lentas do sono, maior
quantidade de eventos de micro-despertar e eventos de apneia do sono mais
complexos. (ZAW, et al.,2021; ZHOU, et al.,2021).
Ersoy e Mercan (2021), em seu estudo retrospectivo com 682 adultos, obtiveram
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

resultados que caracterizou o perfil dos 74,4% que apresentaram a SAOS. Em geral o
alto risco esteve vinculado a homens, com idade maior que 50 anos, usuário de álcool,
hipertensos, com doença pulmonar obstrutiva crônica e com sobrepeso ou obesos. No
tange a idade, constatou-se que quanto maior a idade maior foi à prevalência de SAOS
e de fatores de riscos vinculados à mesma.
Quanto à obesidade, em graus mais elevados, índice de massa corporal (IMC)
igual ou superior a superior 40 kg/m², a incidência de SAOS pode chegar de doze a trinta
vezes maiores quando comparada a pacientes com peso normal. Além disso, aumenta
o risco de desenvolver diabetes, hipertensão arterial sistêmica e aumento de colesterol,
contribuindo, assim, para com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares
(PACHECO, et al. 2016). No estudo de Pinto et al. (2016), foram avaliados 100
pacientes com Apneia Obstrutiva do sono. A prevalência de pacientes sem
comorbidades foi de 33%, no entanto 67% da amostra com comorbidades estiveram
divididas, em ordem decrescente, em hipertensão, obesidade, depressão, doença do
refluxo gastroesofágico, diabetes mellitus, hipercolesterolemia e asma.
Devido à depressão que provocam no sistema nervoso central, as bebidas

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 659


aaaaaaaaaaaaa alcoólicas reduzem o reflexo de despertar que ocorre durante os eventos obstrutivos,
dessa forma induzem ao sono de má qualidade e aumentam a frequência e a duração
das apnéias. Já o fumo pode ocasionar edema e disfunção das vias aéreas superiores, o
que gera aumento da resistência ao fluxo aéreo (PACHECO et al.,2016).
Cerca de 2/5 da variância de SAOS é atribuída a fatores genéticos, sendo que a
prevalência em parentes de primeiro grau pode ser de até 84%. Indivíduos da mesma
família compartilham de características genéticas que formam o fenótipo da síndrome,
como o controle neural das vias aéreas superiores, a distribuição de gordura corpórea e
o comando central da respiração (PACHECO et al.,2016; PALLANGYO et al.,2021).

Sinais e Sintomas
Os principais sinais e sintomas verificados em pacientes com SAOS são: sensação
de asfixia noturna, ronco alto vinculado a períodos de silêncio, movimentação noturna,
sonambulismo, cefaleia matinal, hipersonolência diurna, cansaço excessivo, impotência
sexual, déficits cognitivos, irritabilidade, depressão e ansiedade (DE PAULA et al.,2020;
NETO et al.,2021).
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

Diagnóstico
O diagnóstico de SAOS é realizado por meio da história clínica, exame físico,
acrescido da confirmação por exames complementares, como, por exemplo, a
polissonografia. No atendimento inicial, a escala de sonolência de Epworth pode ser
utilizada para comprovar a sonolência patológica. Trata-se de um questionário com oito
itens que classificam o paciente em sem hipersonolência diurna, quando a pontuação
estiver ter 0 e 9 pontos, e em doentes com hipersonolência diurna, para pontuações
igual ou superior a 10 pontos (NETO et al.,2021).
No que tange a gravidade da apneia obstrutiva do sono (AOS), esta pode ser
classificada mediante ao uso do Índice de Apneia/Hipopneia (IAH) o qual foi imposto
pela Academia Americana de Medicina do Sono (AAMS). A classificação é dividida em
leve, moderada e severa de acordo com a incidência de eventos apnéicos por hora de
sono. Quando a quantidade de eventos por hora estiver entre 5 e 15 a AOS é
considerada como leve, já de 15 a 30 eventos/hora é considerada como moderada e
grave quando ultrapassa este valor. (BACCI et al.,2017; SANTOS et al.,2021).

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 660


aaaaaaaaaaaaa No decorrer do exame físico deve ser avaliado a altura, peso e o Índice de massa
corporal (IMC) do paciente, sendo que IMC ≥ 30 kg/m² classifica o paciente como obeso.
Também é recomendada a medição da circunferência do pescoço, na altura da
membrana cricotireoidea, sendo valores acima de 40 cm associados a um maior risco de
ser diagnosticado com SAOS (GUIMARÃES, 2010).
As avaliações da cavidade nasal, oral e das vias aéreas, são da mesma forma,
importantes. Na análise da cavidade nasal, o profissional deve averiguar possíveis causas
de obstrução nasal, como: edema de mucosa (rinite alérgica), desvio de septo,
assimetria de tecido mole, presença de pólipos, hipertrofia de cornetos e colapso da
válvula nasal. Já no que toca ao exame da cavidade oral e da orofaringe, deve ser
avaliado a proporção relativa da língua (macroglossia), presença de palato ogival,
hipertrofia adenoamigdaliana, de úvula e de paredes faríngeas. No estudo das vias
aéreas superiores o olhar do examinador deve ser voltado a faringe, a qual pode estar,
em um estado de anormalidade, reduzida lateralmente, no diâmetro anteroposterior
(GUIMARÃES, 2010).
A análise craniofacial, realizada na forma direta ou tridimensional, por meio do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

exame clínico, é fundamental para determinar o diagnóstico de SAOS. Nesta análise as


anormalidades mais frequentes que atingem paciente portadores de tal patologia, são
a micrognatia, redução da altura da face, retrognatia, deslocamento da articulação
temporomandibular e dimensão linear sagital diminuída da base do crânio, da parte
óssea da orofaríngea, nasofaringe e maxila (LIMA e SILVA et al., 2017).
Com relação aos exames complementares, a polissonografia é considerada
padrão ouro para o diagnóstico dos transtornos do sono. Esta consiste na averiguação
contínua, em ambiente calmo e apropriado, da respiração (saturação de oxigênio, fluxo
de ar e esforço respiratório), atividade encefálica, movimento dos olhos, frequência
cardíaca e movimento dos membros inferiores, por meio do uso de eletroencefalograma
(EEG), eletro-oculograma (EOG), eletromiograma (EMG) e eletrocardiograma (ECG)
(BARBOSA et al.,2021).
A polissonografia pode ser dividida em polissonografia de noite inteira,
polissonografia completa domiciliar, polissonografia do tipo split-night e polissonografia
diurna (nap-study). A de noite inteira é realizada no laboratório sob supervisão de um
técnico habilitado, já a polissonografia completa domiciliar é feita no domicilio do

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 661


aaaaaaaaaaaaa paciente e é indicada para aqueles que não conseguem se locomover para o laboratório.
A polissonografia do tipo Split-night é indicado para casos graves de SAOS, pois, em uma
mesma noite, faz-se o um registro inicial para diagnóstico de SAOS e a titulação positiva
de vias aéreas. Por fim, a diurna ou nap-study, é realizada durante o dia, por um tempo,
comumente, curto. Seu resultado não é reconhecido para diagnóstico de SAOS
(BITTENCOURT, CAIXETA.,2010).
Em contrapartida, segundo Rodrigues Filho et al.(2021) o exame de oximetria
noturna pode substituir a polissonografia, uma vez que aquela, comparada a esta, possui
menor custo, é mais acessível e confortável, além de poder ser utilizada, de forma
confiável, em pacientes com doenças neuromusculares e doenças potencialmente
hipóxicas. Já Bittencourt e Caixeta (2010) afirmam que o exame de oximetria noturna
possui baixa especificidade e não o recomendam para a realização do diagnóstico de
SAOS.
Em suma, o diagnóstico de SAOS, é determinado quando o paciente apresenta a
soma dos critérios 1+2+4 ou 3+4, evidenciados no quadro 1.
Quadro 1. Critérios para diagnóstico da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO


1 2 3 4
Pelo menos uma Polissonografia: ≥ 5 Polissonografia: ≥ 15 O distúrbio não pode
queixa: eventos respiratórios eventos respiratórios ser melhor explicado
✓ Episódios de por hora de sono por hora de sono por outro distúrbio
sono não (apneias, hipopneias (apneias, hipopneias do sono, doenças
intencionais e despertares e despertares médicas ou
durante a vigília. relacionados ao relacionados ao neurológica. Uso de
✓ Sonolência esforço respiratório). esforço respiratório). medicações ou
excessiva Evidência de esforço Evidência de esforço distúrbio por uso de
diurna, sono não respiratório durante respiratório durante substâncias.
reparador. todo ou parte de todo ou parte de
✓ Fadiga ou cada evento. cada evento.
insônia
✓ Acordar com
pausas
respiratórias,
engasgos ou
asfixia.
✓ Companheiro
relatar ronco
alto e/ou pausas
respiratórias no
sono.
Fonte: Adaptado de Bittencourt e Caixeta, (2010).

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 662


aaaaaaaaaaaaa Tratamento
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono pode ser tratada de forma não
cirúrgica, por meio de um tratamento conservador, ou em um tratamento
cirúrgico/radical. A abordagem recomendada necessita abranger os fatores que
contribuem para a SAOS, bem como a sua gravidade, ambos avaliados de forma
individual a cada paciente.

3.4.1. Tratamento Conservador


O tratamento conservador ou não cirúrgico abrange o uso de aparelho de
pressão contínua, aparelhos orais, estimulador do nervo hipoglosso, terapias posicionais
e intervenções comportamentais.
O tratamento com o aparelho de pressão contínua em via aérea (PAP) ou
Continuous positive airway pressure – CPAP é a terapêutica, regularmente, mais
utilizada, pois é de baixo risco, simples de usar, eficaz e não invasiva (QUEIROZ,VALERA.
2014). Uma vez empregada, à terapia proporciona, ao paciente, melhoras cognitivas,
diminuição da sonolência diurna, aumento na qualidade do sono e diminuição do
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

despertar noturno (LUEKITINUN et al.,2021; JIANG et al.,2021).


Os aparelhos orais, atualmente, se dividem em retentores linguais e dispositivos
de avanço mandibulares e são utilizados para tratamento da SAOS leve e moderada.
Ambos os aparelhos, são utilizados, durante o sono, com a finalidade de reduzir os
eventos obstrutivos na via aérea. Os retentores linguais são mais indicados para
pacientes edêntulos e que possuem apenas respiração nasal, por isso não são muito
utilizados. Já os dispositivos de avanço mandibular possuem indicação ampla e tem
como função aumentar as vias aéreas através da movimentação da mandíbula (anterior
e inferiormente), desloca a língua, o palato mole e o osso hióide, além de ativar os
músculos masseter e submentonianos. Seus efeitos secundários e indesejáveis são:
diminuição do trepasse vertical e horizontal, desconforto articular e posição póstero-
inferior da mandíbula. Por isso, seu uso não deve ser constante e indefinido (VINHA et
al.,2010).
Neste mesmo cenário, Marco-Pitarch et al.(2021), em seu estudo prospectivo
com 41 pacientes em tratamento com dispositivo de avanço mandibular, observaram

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 663


aaaaaaaaaaaaa um aumento no volume médio das vias aéreas faríngeas e uma redução significativa do
Índice de Apneia/Hipopneia (IAH) destes pacientes.
No que tange a terapia posicional, trata-se de uma estratégia comportamental,
na qual faz uso de um item para estimular o paciente a dormir na posição lateral. É
utilizado para tratar a apneia posicional (AKBARIAN et al.,2021). A este respeito, Suzuki
et al.(2021) pesquisou os efeitos de um dispositivo de terapia de posição colocada no
pescoço juntamente com o uso de aparelho oral sobre os parâmetros do sono em
pacientes com SAOS. Seus resultados mostraram uma diminuição do IAH médio, da
duração do ronco e do índice de excitação espontânea dos pacientes.
O procedimento de estimulação do nervo hipoglosso é indicado para pacientes
intolerantes ao tratamento com PAP. Ele tua através da neuroestimulação direta do
nervo hipoglosso em simultaneidade com a respiração, a fim de abrir as vias aéreas por
intermédio do enrijecimento e protrusão da língua. A terapia em questão proporciona
reduções nos índices respiratórios desordenados, nas queixas subjetivas de sono e na
sonolência diurna (OLSON, JUNNA.,2021).
Dentre as intervenções comportamentais estão a perda de peso e o incentivo à
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

evitar a ingestão de bebidas alcoólicas e o uso de tabaco. Em conformidade com


Nastalek, et al.(2021) a diminuição de peso corporal, em seu estudo por meio da cirurgia
bariátrica, está associado a uma redução considerável na quantidade de distúrbios
respiratórios vinculados ao sono, assim como na melhora da eficiência do sono.

3.4.2. Tratamento Radical


As opções de tratamento cirúrgico incluem: adenotonsilectomia, tonsilectomia
lingual, uvulopalatoplastia, faringoplastia de expansão e avanço maxilomandibular.
A adenotonsilectomia é a cirurgia mais realizada para tratamento da SAOS em
crianças, todavia sua indicação também abrange aos adultos. Sua eficácia varia entre
25% e 71%, sendo dependente de fatores como obesidade, idade avançada e IAH
elevado. A Tonsilectomia lingual pode ser utilizada concomitantemente a
adenotonsilectomia ou como alternativa posterior à ineficiência desta. Já a
uvulopalatoplastia, possui como principal objetivo a diminuição da obstrução
retropalatal e o colapso da faringe. Sua indicação é para paciente que possuem
obstrução ao nível do véu. Quanto à faringoplastia de expansão, esta permite o avanço

SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 664


aaaaaaaaaaaaa do palato mole e a imobilização da parede lateral da faringe. A cirurgia consiste
inicialmente na realização de tonsilectomia bilateral e posteriormente na rotação
ântero-superolateral do músculo palatofaríngeo (ALHELALI.,2021).
O avanço da maxila e da mandíbula é indicado para tratamento de pacientes com
SAOS moderada a grave. Esta terapia proporciona a expansão das vias aéreas em vários
planos de espaço, disponibilizando ao paciente um tratamento eficiente e definitivo
(PINTO, et al.,2013). Na pesquisa de Rocha et al. (2021), com 56 pacientes, na qual
avaliou mudanças no espaço aéreo superior após a realização da cirurgia de avanço
maxilomandibular, notou-se que a cirurgia aumentou o volume das vias aéreas e a área
mínima axial em média, respectivamente 73,6 ± 74,75% e 113,5 ± 123,87%.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por intermédio dos dados averiguados, conclui-se que os fatores de risco devem
ser analisados, de forma precisa, por intermédio de um diagnóstico que abranja a
história clínica, exames físicos e complementares, a fim de determinar, de forma
Pesquisas e abordagens educativas em ciências da saúde – VOLUME I

individual, o melhor tratamento para o paciente, seja ele conservador ou radical.

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