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DIÁRIO
D E N A TA L

NATAL, DEZEMBRO DE 2006 - NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE


1 9 9 9 - 2 0 0 0 - 2 0 0 1
D IV O EPOCACAO k*.— -
Joana Lima/DN

EDITORIAL

A editoria de Educação do Diário de N atal produz, se­


m analm ente, sem pre nas edições de 0 POTI, im portan­
tes reportagens sobre fatos e personagens que m arcaram
a história da educação no Rio Grande do Norte e do Bra­
sil. Nesta edição do D N Educação estamos republicando
algum as dessas reportagens que apresentaram repercus­
são na sociedade e no m eio acadêmico, devido ao inedi-
tism o de nom es ainda desconhecidos do grande público,
em bora tenham u m a obra digna de reconhecimento. Foi
assim com Isabel Gondim, com Antônio Gomes da Rocha
Fagundes, com o jornalista Cristóvam Dantas e com os pri­
meiros professores do Seridó. A nível nacional destaca­
m os as figuras dos historiadores potiguares Rodolfo Gar­
cia e Tobias Monteiro, da professora Beatriz Bandeira R iff
e do cientista Rôm ubArgentière, além do grande ícone da
educação brasileira, Paulo Freire, cuja experiência de 40 A EQUIPE D O PROJETO LER QUE DN EDUCAÇÃO
horas realizada emAngicos(RN) o im ortalizou no m undo TRABALHOU NESTA EDIÇÃO: Diretor Geral: Reportagens:

ADRIANA AMORIM, ROBERTO Albimar Furtado Adriana Amorim, Valéria Credidio


inteiro. Assim, com o o D N Educação, essas reportagens Francisco Francerie e Eugênio Parcelle
CAVALCANTI,VALÉRIA CREDIDIO E Promoções e Projetos Especiais:
têm sido utilizadas por professores e alunos como fonte pes­ Afonso Laurentino Ramos
Diagramação:
FRANCISCO FRANCERLE Roberto Cavalcanti
quisa em sala de aula. Editor do Suplemento: Telefone:4009 0190 / 92
Francisco Francerie francerk@diariodenatal.com.br

RECONHECIMENTO AO DN EDUCAÇAO W Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê Ê M ÊÊÊÈÊm m


0 Diário de Natal, que sempre acreditou e incentivou a cultura e a educação no Rio Grande do Norte, tem recebido inúmeras mensagens
de reconhecimento por parte de importantes nomes da educação no Brasil, devido ao trabalho que vem sendo desenvolvido pelo DN
Educação ao longo de 12 anos. Para nós que fazemos o DIÁRIO DE NATAL e toda equipe do DN Educação, mais que um motivo de
orgulho, é a certeza de estarmos no caminho certo. É nossa parcela de contribuição para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte. A
Editoria de Educação do Diário de Natal trabalha em parceria com o Projeto Ler, produzindo atualmente o DN Educação (edição
mensal), o Programa Educação em Comunidade, transmitido pela Rádio Poti; a página de Educação nas quartas-feiras; e no domingo,
em 0 Poti, as grandes reportagens temáticas e, ainda, as matérias especiais sobre a história das escolas do RN, além de participar
semanalmente do programa Grandes Temas da TV Universitária.
“Sua existência representa um incentivo às defendia que era uma educação melhorpara todos. As matérias cercame reelaboramseuspróprios conhecimentos - percursos
atividades educacionais, contribuindo para veiculadaspetaDNEducaçãopermitiram-nosperceberseressa seguros em direção a uma consciência cristã".
resgatara valorização da escola. Sem também a causa defendidaporessejornal. Nossa visitaaAngicos, eu Dra.Ana Maria do Vale
alarde, sem sensacionalismo, o DN pelaprimeira vez, ePauloFreiretrinta anos depois da experiência (Professora da UERN e coordenadora do Instituto Paulo Freire Nordeste - IPF/NE)
Educação vem, durante esses 14 anos de que o tomou conhecido em todo omundo, serviuparaestreitarmos
existência, divulgando as iniciativas nossa relaçãocom umjornal compromissado comas questões Os meios de comunicação têm um imenso poder naformação
positivas na área de edúcação e políticase educacionais. Continuamos acompanhando a trajetória da consciência de um povo, então, oDiário
denunciando a problemática do setor. É doDN -Educaçãoem diferentes momentos. Hoje, todos nós que de Natal, através do DNEducação, vem
importante dizer que a existência do DNEducação vem fazemos oInstituto PauloFreiresentimo-nos orgulhososem haver assumindo a sua responsabilidade social na
também estimulando a iniciativa de outros meios de testemunhado ocaminharde umjornal compromissado com uma construção de uma sociedade na qual todos
comunicação que passaram a se interessar pela divulgação do educaçãopública dequalidade. Parabénsa toda equipe do Diário tenham direito a uma vida digna. Quando
noticiário sobre educação1’. deNatal e, deforma muito carinhosa e reconhecida, a todosaqueles lançou, deforma pioneira, oDNEducação,
Ana Maria Cocentino Ramos quefazem oDNEducação peta magnífico trabalho que vem evidenciava a responsabilidade,
(jornalista e idealizadora do Projeto Ler)
prestando à educação brasileira, à educaçãopotiguar". assegurando, inclusive a sua regular
Moacir Gadotti
continuidade".
"Aomanifestar meusparabénsaoDiário de (Presidente do Instituto Paulo Freire) Eleika Bezerra
Natal cm especialaoDNEducação, gostariade (Ex-Secretária de Educação de Natal)
sociabilizar, comos leitorese leitorasdesse 'A existência doDNEducação denota, em si, o
jornal, umfato ocorridoem 1993. Lembro, com compromisso doDiário deNatal com as "Com o novo século, com as desejáveis e
nitidez, quandoPauloFreiree eu recebemos questõespolítico sociais eeducacionais. Sua inevitáveis mudanças políticas que
das mãosdo diretordessejornal - Sr.Albimar atuaçãojunto às escolaspúblicas eprivadas, devolvam prioridade efetiva à educação,
Furtado edeAfonsoLaurentino, uma muito além de evidenciar opapelda imprensa nosso Estado e nosso país necessitam cada
coletânea de edição do DNEducação. Naquele na construção de uma novasociedade, o que vez mais de um veículo como o DN
instante, PauloFreire,folheando oencarteespecial de 1993 passa necessariamentepela educação, EDUCAÇÃO, ao qual orgulhosamente nos
emocionou-seao vercomo umjornal doNordesteprestava tão contribui, decisivamente naformação dos associamos desde o seu nascimento".
expressiva homenagemao seu trabalho. PauloFreire tinha claroque próprios educandos e dos educadores. Instados Marcos Guerra
não era uma homenagema ele, mas, sobretudo, à causaque ele ao debate eà reflexão, reconhecemcriticamente a realidadeque os (Ex-Secretário Estadual de Educação)
DNOEDUCAÇÃO 'N aTM, DEZEMBRO DK 2006

MEMÓRIA RÔMULO ARGENTIÈRE: SUCESSO E OSTRACISMO DE UM CIENTISTA NO RN, AUTOR DE MAIS DE 30 LIVROS

Pioneiro da ciência foi esquecido no RN


EUGÊNIO PARCELLE
ESPECIAL PARA O P O TI

Ele conheceu o mundo, viajou por vários países, falava privilegiado em áreas estratégicas, como energia
oito idiomas e era respeitado pela comunidade nuclear, teoria da relatividade e astronomia. Autor de
científica, mas morreu na miséria em Carnaúba dos mais de 30 livros e um sem números de artigos
Dantas, interior do Rio Grande do Norte. Por onde publicados em revistas e jornais, conheceu o poder,
andava, chamava a atenção pela altura e voz possante, mas terminou praticamente esquecido. Seu nome:
além do conhecimento RômuloArgentière.

N um país de m em ória curta, não p or M arinês D antas, que incorporou


é de se estranhar o fato de poucos ao nom e o Argentière, que tinha ape­
conhecerem a história e o legado dei­ nas 21 anos, m as assum iu o ro m an ­
xado por Argentière. Mesmo no Rio ce, apesar de todo o falatório de Car­
Grande do Norte, onde desenvolveu n aúba dos D antas sobre a diferença
várias pesquisas sobre m inerais ra ­ de idade. Hoje, com 38 anos, doente
dioativos, os livros científicos e as es­ renal aguardando um transplante em
colas desconhecem ou ignoram sua São Paulo, faz hem odiálise todos os
trajetória, que m ostra u m a atualida­ dias e sobrevive com um salário m í­
de desconcertante. Só para d ar um nim o pago pelo INSS. O aluguel do
exemplo, o que pode ser considera­ pequeno apartam ento que m ora em
do um a grande obra, que levou d é­ Natal é pago pela Prefeitura de Car­
cadas de estudos, d en o m in ad a "O naúba dos Dantas e o plano de saúde
Ciclo D'Água no N ordeste Brasileiro pago p o r V ing-un Rosado, u m dos
- Um estudo de física no globo”, con­ amigos que Argentière contou.
tinua inédita, como os originais guar­
dados na Fundação Vingt-un Rosado, DIFICULDADES
em Mossoró. D urante os três primeiros anos de
Numa época em que falar em m a­ vida com Rômulo, tudo foi maravi­
terial radioativo era segredo de esta­ lhoso. Depois disso, as dificuldades
do, Argentière ousou e escreveu arti­ com eçaram a rondar a vida do casal,
gos antevendo o uso da energia n u ­ chegaram as doenças, os filhos de Ar­
clear como elem ento de destruição, gentière dilapidaram o que ele tinha,
o que chegou a cau sar p roblem as M arinês com eçou a costurar de dia e
com as autoridades. Por outro lado, de noite para com prar remédios e ali­
n a d écad a de 40, foi c o n su lto r do mentos para o marido. Alguns amigos DEPOIMENTO
Exército Brasileiro para questões que com o Vingt-un Rosado, sabendo dos
envolvessem a manipulação de m iné­ problem as de saúde e da situação fi­
rios radioativos. Em 1950, redigiu o
anteprojeto que culm inou, seis anos
nanceira, levaram -no ao m édico e
pleitearam junto ao então governador
Uma história a ser resgatada
depois, n a C om issão N acional de Garibaldi Filho um a pensão pelos ser­
Energia Nuclear. viços p restad o s ao Rio G rande do ConheciArgentièremenino, no inícioda décadade50. ORio Grande do Nortejá teve mais de dois mil mi-
Sua paixão pelo Nordeste com e­ Norte. A pensão foi concedida num Um irmão de papai, Cristóvão Dantas, veio para Natal neradores, trabalhando em veios de tantalita, clumbita,
çou quando conheceu a região, acom­ dia, Argentière faleceu no outro, se­ sersecretário deAgricultura, nogovernodeSylvioPedro­ monazita e outros minérios - materiais que tinham im­
panhando especialistas norte-am e­ quer sabendo da notícia. E Marinês sa. Tio Cristóvãofez, provavelmente, o primeiro Museu portância, interesse inclusive internacional. Argentière
ricanos, pesquisando m inérios para não pôde ser beneficiada. de Minerais do RN. No instante em que ocorriaa guerra sempre esteve próximo dessas atividades, por saber da
indústria bélica, num a missão envia­ Hoje, as lem branças estim ulam a na Coréia, começa a seativar o setor mineral no Brasil, importância dessesaluviões. Ele tinha um volumede in­
da pelo presidente Getúlio Vargas. O vida de Marinês. No álbum de fotos, comadiscussãode mineraisradioativos. Então, havia uma formações muitogrande, sempreprocuravadivulgarsuas
h o m em que foi aluno de M adam e as im agens de u m am or ainda p re­ procura muito grande eArgentièresejuntou aJoel Dan­ pesquisas emjornais e revistas técnicas. Mas vale ressal­
Curie - física polonesa ganhadora do servado. "Sempre o respeitei e conti­ taseum prospectordeminériosJoséAntôniodeUma, para tarque o valordesses minérios éepisódico, o interesseco­
Prêmio Nobel por duas vezes - que nuo respeitando", disse, lem brando trabalharem no Estado. mercial caiu muito ao longo dos anos.
conheceu W ernerVon Braun - cien­ que tudo que fez foi po r amor. "Não Comecei a terum contato maispessoalcomeleatravés OfatoéqueArgentièreeraumapessoamuitoativa, sem­
tista alem ão pioneiro das pesquisas m e arrependo de ter dedicado m inha de um amigocomum, oprofessorAntônio Soares, nos idos prepesquisando, trabalhando muito. Infelizmente,faleceu
com foguetes - e trocou correspon­ juventude a ele. Acho que u m dia Rô­ de 60a 65, quandoforam realizados em Natal um encon­ praticamentena miséria, acompanhadoapenaspelamu­
dência com Einstein, passou a vir com m ulo Argentière vai ser reconhecido tronacionaldeAstronomia Quantomaisoconhecia mais lher, na qual encontrou conforto esolidariedade. Sua his­
freqüência ao Rio Grande do Norte, pelo trabalho que fez". oadmirava Ele não alardeava oseu currículo, mas tinha tória precisaser resgatadapara que as novasgerações co­
escolhendo a terra seca do interior R ôm ulo A rgentière faleceu em um conhecimentoamplo. SemprevinhaaNatalcomocon­ nheçam e valorizem o trabalho que realizou no Estado.
potiguar como seu novo lar. m arço de 1995. Um p ouco d a sua sultor. Oassunto minerais radioativoserasua especialida­
D aí com eça u m a nova história. o b ra e n c o n tr a -s e p re s e rv a d a n a de, considerado uma áreade segurança nacional. Issofez *Edgar Ramalho Dantas é professor do Departamento de Engenharia
Viúvo e com dois filhos adultos em Fundação V ingt-un Rosado, doação com que a bibliografia sobreoassuntofosse restrita Civil e Geologia da UFRN.
São Paulo, apaixonou-se, aos 68 anos, de M arinês.
N m i, DEZEMBRO BE, 2006 OEDUGAÇAO
CONTINUAÇÃO DA PAG. 4

ENTREVISTA VEVG-UN ROSADO

s laços de amizades adquiridas no Rio compartilharam a história deArgentière, regis­ próprio Vingt- un Rosado e Isaura Éster Rosado.

O Grande do Norte mantêm-se preserva­ trando inclusive em dois livros da Coleção Mos- Em entrevista ao Diário de Natal, Vingt- un, fala
dos sobretudo pelo respeito à obra do soroense, denominados "Rômulo Argentière, o sobre esta amizade e também a importância do
pesquisador. Vingt-un Rosado fo i um dos que País de Mossoró e Outros Países", de autoria do trabalho deArgentière para o Estado.

"Uma homenagem vinda de Mossoró


Como o senhor conheceu Rômu­ n a d écada de 40, ju n ta m e n te com
lo Argentière e começaram a relação Frederico de Marco. É considerado
de amizade? um dos m ais destacados pesquisa­
Antino Campos e Silva era u m tanto dores no terreno da atom ística, d a
filho adotivo m eu e de América, ainda geologia e da mineralogia. Foi um dos
ginasiando Campos me provocou para fundadores do Observatório de Ca­
lhe dar algum as inform ações sobre pricórnio, entre outros.
paleontologia do Rio Grande do Norte.
Ele não sabia que eu era um simples Qual a importância das pesquisas
amador, m as o pouco que conhecia de Argentière para o RN?
do assunto, transmiti-lhe de im edia­ Não tem os elementos para qualifi­
to, inclusive a bibliografia. Uma am i­ car as pesquisas de Argentière na área
zade afetuosa consolidou-se através m ineral do Seridó, m as sei que elas
do tem po. A lgumas vezes ele foi o foram num erosíssim as, tratando de
nosso hóspede na casa de Tibau. Lá, aluviões de tantalitas, monazitas e ou­
ele redigiu "Os Bilhetes de Tibau", um a tros. Apesar de sua im portância, ele
maravilha de estilo e de calor h u m a­ term inou a vida na miséria, chegou
no. Tive o privilégio d a am izade de até a passar fome.
dois gran d es cien tistas atrav és de
Campos: Azis Nacib A'bSaber e Rô­ Como o senhor observou este
mulo Argentière. Eu e dona América drama humano?
fizemos algum as visitas ao cientista Familiares de Rômulo falsificaram
de C arnaúba dos Dantas. Argentière a sua assinatura e venderam casas, car­
era um cientista de nom e nacional e ros, telefones e o deixaram, de repen­
internacional. Encontrou em Marinês te, passando fome no Seridó. Esqueci­
Dantas a com panheira, a enferm eira do de São Paulo, abandonado pelo Rio
dedicada, u m a verdadeira heroína do Grande do Norte, encontrou em Ma-
país do Seridó, que acudiu o sábio rinês Dantas a amiga, a enfermeira, a
paulista nas horas mais dolorosas da m enina que trabalhava até a m adru­
sua vida. Encontramos Argentière em gada na fabricação de confecções para
março de 1982, ele estava em p en h a­ a m anutenção do cientista. Um proje­
do num esforço que durou quase 40 to da Assembléia concedendo-lhe um a
anos para escrever "O Ciclo da Água pensão justa e merecida, morreu nas
no Nordeste Brasileiro". Este acervo, gavetas do governador José Agripino.
com certeza incompleto, encontra-se O deputado Frederico Rosado ense­
hoje em poder da m inha fundação, jou um encontro entre Argentière e o
por um a decisão de Marinês. Só u m gi­ governador Garibaldi Filho. Um car­
gante como Argentière poderia con­ cinoma de estômago estava reclaman­
cluí-lo. A m orte não perm itiu fazê-lo. do um a cirurgia urgente. Levei-o ao
Tomou ele u m interesse todo es­ grande cirurgião Em ani Rosado. A ci­
pecial em esclarecer um problem a de rurgia durou seis horas, preveniu-se
história de Mossoró. No atual m u n i­ Emani de que ela seria da maior gra­
cípio de Monteiro Lobato, havia um a vidade e do mais alto risco. Termina­
fazenda cham ada Mossoró. O Viscon­ da a operação, Em ani preveniu: "Se o
de de Mossoró e o Visconde de Tre- m intos a plantar café quando voltas­ explosões atômicas, escreveu u m ar­ çado 10 anos depois do livro de Ar­ paciente superar o pós-operatório so­
m em bé eram irmãos. O primeiro acu­ se o inverno. O Visconde de Mossoró tigo sobre a possibilidade de uso de gentière e o h o m em chegava a lua brevivera de três a seis meses". No dia
dira Mossoró na tragédia de 1877, n o ­ era irm ão do Visconde deTrem embé, u m a arm a secreta e devastadora. As em 1969. Argentière iniciou o jo rn a­ 16 de março o governador Garibaldi
meado Barão e depois Visconde, esco­ avô de Monteiro Lobato. Argentière Forças Armadas cham aram -no para lismo científico brasileiro, escreven­ Filho me telefonou com unicando que
lhendo o nom e de m inha cidade. O não descansou enquanto não locali­ explicar como sabia de u m segredo do milhares de artigos nos jornais de acabava de assinar o decreto que con­
m undo não é tão grande q u anto se zou a fazenda Mossoró no atual m u ­ guardado a sete chaves pelos am eri­ Chateaubriand. Trabalhou para a Co­ cedia a Rômulo um a pensão especial
pensa: Rodrigo Lobato Marcondes Ma­ nicípio de Monteiro Lobato. Argen­ canos. É que ele analisava as infor­ missão nacional de Energia, do CNPq de 10 salários mínimos. Sabia que Ar­
chado p resid iu a Província do Rio tière foi profeta de viagens espaciais, m ações divulgadas com certa im pru­ e fez levantam ento mineralógico em gentière esperava com a maior ansie­
G rande do Norte. O presid en te e o explosões atômicas, previsões m eteo­ dência. Depois da derrota d a Alema­ todo o território brasileiro, principal­ dade esta notícia, preferi não com uni­
barão eram concunhados. Visitando rológicas por satélites e energias alter­ nha, ele escreveu um livro "AViagem m ente n a região Nordeste. Foi p io ­ car-lhe, mas o dia seguinte assinalou
Mossoró, Rodrigo aconselhou os fa­ nativas. Em 1943, dois anos antes das à Lua”. O primeiro Sputnick seria lan­ neiro tam bém da nucleação artificial a m orte do grande cientista.
DWOEDUCAÇÃO N ajal, dezembro de 2006

RESGATE U M A RETROSPECTIVA DAS MATÉRIAS DO D IÁ R IO DE NATAL SOBRE O EDUCADOR PAULO FREIRE

As palavras não morrem


VALÉRIA CREDIDIO
DA EQUIPE DO D IÁ R IO DE NATAL

Com uma série de seis matérias, publicadas a partir de esquecidas. As matérias, de autoria de vários jornalistas
seu segundo número, o DN Educação abria sua que integraram a editoria de educação do Diário de
tradição em não apenas demonstrar o que a educação Natal, tiveram como tema a experiência em Angicos,
atual faz em seu dia-a-dia, mas em resgatar as com a aplicação do método de alfabetização de adultos
importantes experiências educacionais, muitas vezes em 40 horas, de autoria do mestre Paulo Freire.

Paulo Freire, seu m étodo e os re­


sultados obtidos voltaram a ser tem a
de m atéria no ano seguinte, em 1993,
quando o educador retom ou a Angi­
cos, 30 anos depois da experiência ter
tido êxito e ter sido suspensa por ordem
do governo militar brasileiro, levando
Freire ao exílio.
O material foi todo trabalhado pela
jornalista e então editora do DN Edu­
cação Ana M aria Cocentino Ramos,
que acom panhou o educador em sua
visita a Angicos. Retornando ao inte­
rior, Paulo Freire se encontrou com
educadores de todo o Estado, que lo­ MATÉRIA PUBLICADA DIA
taram o auditório do CEFET. O encon­ 13/05/2003- CAPA DO “M UITO ”
tro foi u m a prom oção co n ju n ta do O POTI - ATUALIZADA
DIÁRIO DE NATAL - DN EDUCAÇÃO
em parceria com a Secretaria Munici­
pal de Educação, tendo professora Ana
Maria do Vale como titular, e a Secre­
taria Estadual de Educação, que tinha
à época professor Marcos Guerra como
secretário. Marcos Guerra, aliás, foi Os jornalistas Albimar
participante ativo da experiência em Furtado e Carlos Lira
Angicos, sendo u m dos monitores dos recebem Paulo Freire
eirados de cultura, como eram conhe­
cidas as turm as de alunos. potiguares, o DN Educação publicou fensormais ilustre, mas não desperan- em nosso Estado nos anos 60 e que ganhando u m espaço específico, o
A repercussão desta volta a Angi­ u m a edição especial sobre o evento. çada, pois as palavras não morrem", m arcaram profundam ente nossa his­ DN Educação".
cos não ficou restrita ao Rio Grande Publicada no dia 18 de abril de 1996, dizia a matéria do DN Educação, como tória cultural. Refiro-me à C am pa­ A p esquisadora ainda ressalta a
do Norte. Entrevistas, vídeos, confe­ a edição trazia entrevistas im portan­ um alento a todos os órfãos. n h a "De p é no c h ã o ta m b é m se im portância do trabalho jornalístico
rências, palestras, livros, artigos e teses tes com Marcos Guerra e Ana Maria Quatro anos depois de sua morte, a p re n d e a ler", d e se n v o lv id a em realizado no resgate histórico de ati­
foram publicados a partir dessa visita Freire, historiadora e esposa de Paulo Paulo Freire voltou às páginas do DN Natal, n a época do prefeito Djalma vidades tão im portantes. "Extrapo­
de Paulo Freire, cujas referências de Freire, além de contar com os depoi­ Educação. A professora Ana Maria do Maranhão, às "Escolas Radiofônicas", lando o espaço m id iático em q ue
análise foram colhidas a partir do m a­ m entos de Moacir Gadotti e José Eus- Vale defendeu sua tese de Doutorado vinculadas ao M ovimento de Educa­ atua, interferindo ativam ente na rea­
terial registrado pela im prensa jorna­ táquio Romão, diretores do Instituto tendo como tem a a influência do edu­ ção de Base (MEB) e "As 40 horas de lidade social, o Diário de Natal expli­
lística local. Paulo Freire. cador pernam bucano no sindicalismo Angicos", cuja orientação político- cita seu com prom isso com a notícia,
O reencontro com os educadores A edição contou, tam b ém , com docente. O trabalho, que teve como tí­ pedagógica do educador Paulo Frei­ com a cultura, com a educação, com
potiguares foi possível, novam ente, um a retrospectiva do projeto de Angi­ tulo "Diálogo e Conflito - a presença do re projetaram essas experiências para a população. Testem unho hoje como
três anos depois, em abril de 1996. Na cos e o depoim ento do escritor Carlos pensam ento freireano na formação do o País e para o m undo. "O acervo do o fiz h á 10 anos o esforço e a inicia­
ocasião, Paulo Freire esteve proferin­ Lyra, que teve seu livro "A experiência sindicalismo docente", foi retratado Diário de N atal registra e preserva tiva do Diário em perm anecer um a
do palestra, onde ressaltou a im por­ de Angicos" apreendido como m ate­ em m atéria especial para o tablóide essa história m arcada por desafios, "consciência em ação" ajudando a
tância da educação pública e lançou rial subversivo. do Diário de Natal. esperanças e desesperanças - m arca divulgar e a m anter viva a m em ória
u m apelo às autoridades do Rio Gran­ No ano seguinte, a edição de maio Todos esses trabalhos a p o n tam do cenário histórico daqueles anos. O e o legado de Paulo Freire u m a histó­
de do Norte: a revitalização do Atheneu do DN Educação marcava o adeus ao para a trajetória diferenciada traçada em penho jornalístico do Diário não ria q ue precisa ser co n h ecid a p o r
Norte-Riograndense. Ápelo este que educador, vítima de um a parada car­ pelo Diário, como opinou a professo­ term inou no m om ento em que as ex­ m uitos e revisitada por todos aque­
não foi atendido até hoje. díaca. "Com 75 anos, barba e cabelos ra Ana Maria do Vale. Para ela, vale um periências citadas foram interrom pi­ les e aquelas que possuem um com ­
Para m arcar m ais u m en co n tro brancos que lhe davam um a aparên­ destaque especial p a ra as m atérias das pelo Golpe de 1964. Ao contrário, prom isso político social com a ed u ­
entre Paulo Freire e seus filhos, como cia de profeta, Paulo Freire deixa a ca­ que m ostram as experiências de Edu­ o seu com prom isso com as questões cação popular conscientizadora", fi­
ele próprio denom inou os docentes tegoria dos professores sem seu de- cação e C ultura P opular realizadas culturais e educacionais evoluíram nalizou Ana M aria do Vale.
DNOEDUCAÇAO
)A PÁG.7
ARTIGO

MARCOS GUERRA *
O acaso e a
necessidade
Há 40 anos, tornam-se in­
dissociáveisPauloFreireeAngi­
cos. Confirma-se uma lei dafi­
losofia natural da biologia mo­
derna - "lehasard et la necessi­
te"- enunciadapelofrancêsJac­
ques Monod. Pouco se estudou
as razõesdosucessodoqueficou
conhecido como As 40 horas de
Angicos, mas é inegável seu
papel decisivopara renovar teo­
rias e práticas da educação, e
não somente para a formação
dos alunos e monitores dos Cír­
culos de Cultura. Muito se reco­
nhece opapelfundamental da­
quilo quefoi também um labo­
ratório experimental, para pro­
moverajustes e consolidaro que
mais tarde se chamou "Método
Paulo Freire". Irmanados em
Angicos, o mestre Paulo Freire,
alunos e monitores.
Talvez,novamente,asteoriasdo
bióJogodoInstxtutoPasteur,Prêmio
Nobel deMedicina, explicariam o
nascimento do DNEducação. No
inícioda décadade90, as notícias
sobre educação só apareciam nas
páginaspoliciaisenasquedenun­
ciavamdesmazeloe ineficáciados
serviços públicos. Hoje, após 120
edições,podemosconsiderarquese
consolidou umespaçonobre, críti­
EDIÇÃO ESPECIAL DO DN EDUCAÇAO POR
OCASIÃO DA VIN D A DE PAULO FREIRE A co, construtivo, propositivo.
NATAL E ANGICOS Como no início dos anos 60,
a alfabetização de jovens e
adultos reconquista um espa­
ço nobre nas políticas governa­
mentais, sob a liderança do
nosso Ministro da Educação,
que propõe metas ambiciosas.
Nova coincidência? Cristovam
Buarque visitou Angicos em
No alto: Multidão no auditório do CEFET assistindo
julho de 2001 e num arroubo
em 1993 a palestra de Paulo Freire. No detalhe, capa
da edição especial sobre a obra do educador, em generoso, confirmando sua
1996; a jornalista Ana Maria Cocentino Ramos ampla visão estratégica, escre­
entrega a Paulo Freire edições do DN Educação, em veu no CorreioBrasiliense: "An­
Angicos; e Monitores treinados em 1963 para gicos deveria ser declarado Pa­
atuarem no programa 40h de Alfabetização. trimônio Histórico da Huma­
nidade pela Unesco. Nessa ci­
dade (...) começou a maior ex­
periência pedagógica do sécu­
lo 20, o método Paulo Freire.
DN OBDUCACAO Natal, dezembro de 2006

MATÉRIA PUBLICADA
D IA 27/04/2003 -
CAPA DO M UITO
O POTI - ATUALIZADA

A professora Maria
Arisnete Câmara de
Morais é pesquisadora da
vida e obra da também
educadora Isabel Gondim

MEMÓRIA LIV R O RESGATA V ID A E O B R A D A ESCRITORA E E D U C A D O R A P O T IG U A R ISABEL G O N D IM

Um a intelectual múltipla
FRANCISCO FRANCERLE
. EDITOR DO D N E D U C A Ç Ã O

Para alguns, Isabel Gondim é apenas o nome de uma Escola escritora e feminista Nísia Floresta Brasileira Augusta, apesar de
Estadual situada no Largo Acrísio Freire, no bairro das Rocas; conterrâneas, nascidas na Vila Imperial de Papari, atual
para outros, ela é aquela que nutria séria rivalidade com a município de Nísia Floresta, no Rio Grande do Norte.

Na visão da pesquisadora e pro­ e a vida de Isabel G ondim co n ti­ potiguares somente aos 89 anos, em Nilton Patriota. A m aior hom ena­ tam b ém dizia que ela era o tipo
fessora da UFRN Maria Arisnete Câ­ nuam a ser objetos de pesquisa. Em 1928, quando se tom ou a primeira gem que ela recebeu do poder públi­ com pleto e acabado da represen­
mara de Morais, a educadora Isabel junho passado foram completados mulher a integrar o quadro de sócios co, até o momento, foi a escola com tação d e u m a professora.
Gondim foi um a intelectual múltipla, 73 anos de sua m orte e os seus bió­ efetivos do instituto Histórico e Geo­ seu nome, no bairro das Rocas, cujo U m dos docum entos preciosos
com um a vida longa dedicada à edu­ grafos até hoje som ente valorizam gráfico do Rio Grande do Norte, ao decreto de criação data de 1934, um sobre Isabel Gondim é o seu testa­
cação, à história e à literatura, num a seus livros, mas sem maior aprofun­ lado de homens ilustres como Nestor ano após a sua morte. mento, que ela ditou aos 92 anos de
época em que a intelectualidade re­ damento. Qual o conteúdo e a his­ Lima, Antônio Soares e Câmara Cas­ Nas obras de Câm ara Cascudo, idade, em 1931, quando já não podia
duzia-se a um número muito peque­ tória das edições dessas obras? Esse cudo. Entretanto, aos 48 anos, ainda M aria A risnete en co n tro u várias mais escrever. Sentindo o valor gran­
no de homens privilegiados. foi o desafio da pesquisadora, que em 1883, a escritora já era sócia cor­ referências sobre Isabel Gondim. dioso de suas obras, ela recomendou
"Isabel Gondim, um a nobre fi­ começou a reconstrução da vida da respondente do Instituto Arqueológi­ Q uando o escritor C âm ara Cascu­ sumo'cuidado na edição de suas com­
gura de mulher" é o título do livro da educadora interpretando a realida­ co e Geográfico Pernambucano. do conheceu a escritora, já havia posições a fim de não haver altera­
pesquisadora Maria Arisnete, cuja de de até dois séculos. Após sua morte, foi homenagea­ um a diferença de idade em tom o ção no texto nem no sentido de algum
edição ocorreu com a participação da pela Academia Norte-rio-gran- dos 50 anos. Ele falava que ela era período. "Neste aspecto, reside am o-
do Projeto Ler/ Diário de Natal. Ao RECONHECIMENTO dense de Letras, que a tom ou patro­ a professora mais antiga do Esta­ dem idade de seu pensar e agir e a
com em orar cento e sessenta e qua­ Como escritora, Isabel Gondim na da Cadeira n° 8, sendo ocupada do, que era séria e sisuda e que vivia plena consciência da obra que lega­
tro anos de seu nascimento, as obras teve seu reconhecimento em terras por Matias Maciel e, atualmente, por e te rn a m en te p a ra trabalhar. Ele va à posteridade", analisou Arisnete.
Natal, dezembro de 2006 DNOEPIfCAÇÃO
CONTINUAÇÃO DA PÁG. 8

Uma vida dedicada à educação AS OBRAS

Reflexões às minhas
Para Isabel Gondim, o magistério é mais im portante do
que a poesia ou qualquer outra atividade. Alguns de seus li­ alunas, opúsculo
vros tratam de noções de educação moral, religião, civilida­
de, higiene e caligrafia. Quando assum iu o cargo de profes­ destinado à educação e
sora prim ária em Natal em 1866, na Ribeira, ela se dedicou
direito da mulher, da
inteiram ente à tarefa de educar.
Sua dedicação fez surgir seu principal livro: "Reflexões
infância à maternidade;
às minhas alunas". Aprim eira edição data de 1874 e a segun­
da de 1879, ambas no Rio de Janeiro. A terceira é 1910. A se­
gunda teve um a tiragem de cinco mil exemplares, que se es­
gotaram. Em m enos de dez anos, editou-se esse livro duas • Brasil, poemeto, traços da
vezes. É um m anual de orientações à mulher, abordando história do pais;
tem as sobre a m enina escolar, a m oça em sua puberdade, a
m oça em sua juventude, a m ulher casada e a m ulher mãe.

• Sedição de 1817 na Capitania


HOMENAGEM À EDUCADORA
Isabel Gondim nasceu em 5 de julho de 1839, no Sítio Ri­
beiro, na Vila Imperial de Papari, atualm ente Nísia Floresta.
Morreu em 10 de julho de 1933, à rua Frei Miguelinho, n° 91, Norte e adjacentes;
n a Ribeira. Nasceu e viveu durante o regime de escravidão. “O Preceptor
Participou dos salões e conversou com as damas do Primei­
ro e do Segundo Remados. Viu o regime escravocrata ser t*C :1a.
abolido e a República ser instaurada.
Drama histórico, episódio da
Para a pesquisadora Maria Arisnete, a história do Brasil
da época de Isabel Gondim não é indiferente à história de :
hoje. Seus livros desenham as origens de nosso próprio ca­ ÁS UNHAS ALUI IAS
m inhar enquanto nação, construção de cidadania, civilida­ propaganda sobre a moralidade
de e retraça o nosso próprio estar hoje, configurando esta : «YíRÜO DOS E. M O S TO BMZIÉ dos nossos teatros:
história. O mais instigante em sua pesquisa foi o fato de, como
mulher, ter o privilégio de analisar a história de vida de outra . y jMI/IÍÍU*
m ulher que teve outros horizontes de vida. Isso m ostra que
é possível escrever no controverso período m arcado por • O preceptor. Pequeno poema
restrições e tabus. consagrado à educação escolar;
"Eu mulher, em pleno século XXI vejo Isabel G ondim
com o u m a m ulher que m ostra um a sólida bagagem in te­
lectual e que desem penha o papel principal entre as atri­
• A Lira Singela, composições
zes que se configuram nesta narrativa. Esta é a ho m en a­
gem que presto à m ulher Isabel G ondim e às anônim as in ­ “Reflexões às minhas alunas” metrificadas; Inéditas;
telectuais que os desvios da história escondem ", concluiu
a pesquisadora.
;% Noções Históricas do Estado do
RIVALIDADE COM NÍSIA
Apesar de conterrâneas da antiga Papari, havia um clima CAPITANIA ORA ESTADO DO Rio Grande do Norte;
de rivalidade entre Isabel Gondim e a famosa escritora femi­ RIO GRANDE DO NORTE
nina potiguar Nísia Floresta Brasileira Augusta. "Muito rígi­
da em seus princípios, Isabel não admitia certos com porta­ • Curso de Caligrafia, com
m entos que fugiam aos padrões da época e Nísia tinha um a
visão de m undo totalm ente diferente, daí esse possível con­ diferentes traslados;
flito entre as duas", explicou Maria Arisnete.
Ao ser convidada a falar sobre Nísia Floresta, a educado­
ra Isabel Gondim disse, num a carta, em 1884, o que pensa­ • Elementos de educação, para
va a respeito de sua conterrânea: "Devo, a bem da verdade, Isabel
dizer que a história da vida dessa m ulher é de tal modo in­ Gondim escolas primárias de ambos os
U m a n u b r e figura
decorosa que seria conveniente ficar sepultada entre nós e de mulher sexos;
jamais transpor as raias do Rio Grande do Norte nessa tão
prezada terra natal".
i
• Resumo da história do Brasil,
A A U TO R A
Maria Arisnete Câmara de Morais é Doutora em Educa­ A LYRA SINGELA para escolas primárias,
ção pela Unicamp/SP com Pós-Doutorado na Ecole des Flau­
tes Etudes em Sciences Sociales/Paris, e pesquisadora do
CNPq. Coordena a Base de Pesquisa Gênero e Práticas Cul­ • Romance familiar.
turais: abordagens históricas, educativas e literárias e pesqui­ ISABEL G O NDIM , UMA NOBRE
sa a história dos impressos e a formação das leitoras. É tam ­ FIGURA DE MULHER - LIVRO DE
bém professora do D epartam ento de Educação da UFRN. DE ARISNETE CÂMARA
/

DNPEDUCAÇAO N atal, dezembro de 2006

DOCUMENTO PESQUISA RESGATA V ID A E O B R A D O JO R N A LIS TA C H R IS TÓ V A M D A N TA S

Lembranças de um bravo sertanejo


VALÉRIA CREDIDIO
DA EQUIPE D O D IÁ R IO DE NATAL

' 'Sou dos que mais acreditam na vitória do sertanejo sobre as Datado de 1920, o documento foi entregue ao Governo do
condições ingratas do meio. Mais tarde ou mais cedo, ela se Estado potiguar, sendo considerado de extrema importância,
concretizará". A afirmativa faz parte do texto de abertura do abordando questões como o aproveitamento da água,
documento “A Lavoura Seca do Rio Grande do Norte”, de autoria melhoria dos solos, das lavouras e das relações sociais do
do agrônomo Christóvam Dantas. hom em do campo.

Mais de 80 anos depois, o documento de Chris­ pela imprensa. E m esmo nunca tendo abordado
tóvam Dantas continua vivo e atual, com o serta­ diretamente a crise política em seus artigos, Chris­
nejo lutando ainda por melhores condições de vida tóvam republicou um artigo onde se posiciona­
e convívio com o clima semi-árido do sertão nor­ va ante o programa norte-am ericano da Aliança
destino. O documento, na realidade, é apenas um para o Progresso. Dizia o texto: "Se o Plano Mars­
exemplo de toda a visão de futuro e experiência de hall produziu os frutos esperados é porque ele
Christóvam Dantas, agrônomo porfoimação e jor­ brotou e em anou das necessidades da própria
nalista por vocação. Europa(...}. A Aliança para o Progresso estará fa­
Através de seus artigos, publicados na gran­ dada ao insucesso, se não se inspirar tam bém na
de maioria dos jornais da cadeia Associados, in ­ m esm a fonte. Se ela objetiva o fortalecimento e
clusive o DIÁRIO DE NATAL, Christóvam conta­ a vigorização de nossas democracias, ainda em ­
va e com entava com o leitor os fatos políticos e brionárias, que as suas linhas de ação e as respon­
econômicos locais, fazendo u m paralelo com a sabilidades de seu funcionamento partam de nós
realidade mundial e citando autores e intelectuais mesmos. Então, sim, engendraríamos um instru­
internacionais. m ento de promoção de nosso bem estar comum,
Parte destes resultados integra o trabalho desen­ coroado pela boa compreensão e o espírito sin­
volvido pelo jornalista Christian Vasconcelos, que cero de ajuda e de colaboração(...)".
atendendo a um pedido do Conselho Regional de Uma forte característica de Christóvam em
Economia do Rio Grande do Norte, iniciou uma pes­ seus artigos, muitos escritos em Natal e repassa­
quisa sobre os artigos econômicos publicados na dos para os principais jornais dos Diários Asso­
LEME
LEMBRANÇAS DE UM BRAVO SERTANE 0
imprensa potiguar. Qual não foi a surpresa do pes­ ciados, é a citação de pensadores e intelectuais
quisador ao detectar que cerca de 90% dos artigos internacionais, fazendo um a análise e traçando
Christian Vasconcelos pesquisa a obra de Cristóvam
publicados eram de autoria de u m único autor: um paralelo entre esses pensadores e a realida­
para o Conselho Regional de Economia
Christóvam Dantas. de brasileira. Em "A Capitania Preguiçosa", p u ­
"Tomando conhecimento do fato, ficou resol­ blicado no DIÁRIO em 20 de fevereiro de 1962, o
vido que o livro seria publicado apenas com o MATÉRIA PUBLICADA D IA jornalista cita o sociólogo francês Roger Bastide,
seu trabalho, havendo um resgate dos temas e da 06/07/2003 - CAPA DO MUITO que chamava a atenção para o Brasil, um a terra
sua im portante colaboração à época", explicou a O POTI - ATUALIZADA de contrastes, havendo u m a grande diferencia­
economista Virgínia Ferreira, então Presidente do ção de teor de riqueza que se observava entre as
Conselho Regional de Economia. Por falta de unidades da nossa Federação.
apoio, o projeto do livro ficou engavetado cerca Para Christóvam, em virtude de um conjun­
de oito anos, sendo retomado, em 2003, com o to de causas, derivadas de nossa formação histó­
apoio do DIÁRIO DE NATAL. "É um trabalho de rica, jamais conseguimos nivelar ou, pelo menos,
extremo valor não apenas para a econom ia do atenuar essas situações. Em seu texto, ele faz um
Estado, mas para o jornalismo e para sua história", resgate histórico, dos fins do século XVIII, quan­
ressaltou Virgínia. do São Paulo foi batizada de Capitania Preguiço­
Aopção pelo jornalismo teve como principal in- sa, levando em conta o ciclo do açúcar no Nor­
centivador o fundador dos Diários Associados, deste, representando um setor economicamen­
Assis Chateaubriand, que acreditava em novos re­ te vivo e dinâmico da nação, enquanto o Centro
datores, dando preferência aos nordestinos. Chris­ e o Sul padeciam de infantismo estrutural.
tóvam era considerado um dos fundadores dos As­ No entanto, em 1962, São Paulo já surgia como
sociados em São Paulo, auxiliando Chatô nas mis­ a grande potência econômica do Brasil. Christó­
sões mais importantes. vam analisa da seguinte forma: "...juntam ente
Em u m de seus artigos, "P o lítica co m P com outras unidades sulinas, São Paulo é o nervo
minúsculo", Christóvam destaca a crise política m otor da economia brasileira. O seu setor dota­
vivida durante o governo de Aluízio Alves, que do de maior impulso criador, o Nordeste não exi­
culminou com a saída de três secretários de Es­ biu m á s ím peto de crescimento e de expansão
tado: Calazans Fernandes, da Educação; Eider de antanho, não acom panhando a cadência e o
Toscano, da Agricultura, e Ivanaldo Bezerra, do De­ ritmo de transbordam ento do Meridão. O Oeste
partam ento de Assistência ao Cooperativismo. O e o Extremo-Norte constituem ainda esperanças
artigo, na verdade, foi publicado após a crise, fa­ econômicas e zonas à espera do sopro anim ador
zendo, tam bém, um a análise do enfoque dado do desenvolvimento".
N ato ., dezembro de 2006 DNOEDÜCAÇAO
CONTINUAÇÃO DA PAG. 10

ARTIGO

CHRISTIAN VASCONCELOS *

Sobre o jornalista
Christóvam Dantas...
ChristóvamDantas é um norte-rio-grandenseque
a sociedadepotiguarprecisa resgatardo anonimato.
Agrônomo por formação e jornalista por opção
ou, talvez, por imposição da vida, eleacabou de toda
sortesendo um dosprecursoresdojornalismo econô­
mico brasileiro.
Seus artigos, ainda que se pudesse discordar da
orientação político-ideológica, tinham sempre a ca­
racterística de serem fundamentados em dados re­
sultantes deestudos epesquisas recentes, evidencian­
do que Christóvam estava "antenado"coma realida­
de desua época, e queprocurava evitar especulações.
Para o grande público, por intermédio de vários
veículos da mídia impressa, Christóvam Dantas es­
creveu regularmente durante mais de 30 anos. Mi­
lharesdeartigosdessenorte-rio-grandenseforam vei­
culados na Revista ONorte, que circulava na então
capitalfederal - oRiodeJaneiro; emARepública, pe­
riódico local; no Diário de São Paulo; no Diário de
Natal e em OPoti; e nos demais veículos da rede dos
Associados.
Na década de 20, com pouco mais de 20 anos,
Christóvamjá escrevia para ONorte e paraA Repú­
blica. Estes veículos publicavam crônicas sobre a so­
ciedade norte-americana, enviadas por ele, que lá se
encontravafazendo um curso de especialização em
genética do algodão.
Na imprensa natalense, especificamente no Diá­
rio de Natal, a equipe que comigo catalogou sua
produção conseguiu registrar um total de 1.629 ar­
tigos, dos quais 975 publicados entre outubro de
1951 e dezembro de 1955;e 654, entre agosto de 1961
eagosto de 1964;períodos em que Christóvam aqui
residiu, servindo a governos estaduais.
Já em São Paulo, onde sua produção foi muito
mais ampla, pois lá viveu a maior parte de sua vida
cómojornalista, oreconhecimento chegou coma con­
cessão do Prêmio Hipólito da Costa, conferido pela
FIESP, por intermédio do Fórum Roberto Simonsen,
em maio de 1960. EssePrêmio destinava-se a distin­
guir ojornalista que mais se destacara no trato dos
problemas da indústria, no decorrerdo ano anterior.
Na vasta produção de Christóvam, os artigos que
considero de maior atualidade são aqueles relacio­
nados com a economia internacional, especialmen­
te os que tratam daformação de blocos econômicos.
Para que se tenha uma idéia, em 1961 - há 42anos,
portanto, elejá escrevia sobre a tendência mundial
favorável à formação de blocos econômicos, aler­
tando para o papel do Brasil, em relação aos de­
mais países da América do Sul.
Resgatar a obra de Christóvam, que nãofoi con­
densada em livros mas que influenciou gerações, é
tarefa gigantesca. Porém, considero um esforçofun­
damental, para que oRio Grande do Norte e oBrasil
possam conhecer um pouco mais de si mesmos.
- * Jornalista
f M >

PtaVL, DEZEMBRO DE 2006

RECONHECIMENTO A U TO R DA PRIM EIRA EDIÇÃO DO LIVRO “LEITURAS POTIGUARES”, O PROFESSOR


A N T Ô N IO GOMES DA ROCHA FAGUNDES, 20 ANOS APÓS SUA MORTE, É HO M ENAG EADO PELO PROJETO LER
DO D IÁ R IO DE NATAL E PELO GOVERNO DO ESTADO CO M O PATRONO DE COLEÇÃO DE FASCÍCULOS

História de um ícone entre


os educadores do Estado
FRANCISCO FRANCERLE
EDITOR D O D N EDU C A Ç Ã O

Ele era um m estre em praticam ente tudo que fazia. Foi surpreendia. O Professor Fagundes é um ícone da
alfaiate, professor, escritor, fotógrafo e até poeta. Mas o zelo educação no Rio Grande do Norte o que já lhe valeu ser
do professor Antônio Gomes da Rocha Fagundes à causa da patrono de duas escolas que têm seu nome, um a em Natal e
educação no Estado, ora desbravando ou construindo outra em Mossoró, e o Prêmio Fernando Chinaglia 1981,
escolas, ora ensinando ou disciplinando é o que mais concedido pela União Brasileira de Escritores.

A palavra austeridade sempre foi sua marca técnicas cartográficas. Mas nesse m esm o ano,
desde a sala de aula até os gabinetes dos cargos transferiu-se para Natal para trabalhar no Grupo
que ocupou. Foi assim na Casa da Cultura do RN, Escolar Frei Miguelinho. \
na Associação dos Professores, no Instituto de Pro­ Aos 20 anos de idade, o Professor Fagundes
teção à Infância e na Academia Norte-rio-gran- resolveu se casar e, sem elhantem ente a seu pai,
dense de Letras, de onde foi membro fundador História de um ícone entre os educadores do Estado escolheu um a prima. Era a prim a Maroquinha,
ocupando a cadeira de n° 14, que tem como pa­ 18 anos, órfão de pai e mãe que se tornou Maria
trono o seu primo Joaquim Fagundes e é ocupa­ de Almeida Fagundes. Segundo Mário Sérgio de
da por Armando Negreiros. No Departamento Es­ Sá Leitão, neto do professor Fagundes, o casal
tadual de Educação, cargo correspondente ao de não teve filhos, mas assumiu os três sobrinhos ór­
secretário de Estado, ele conseguiu legalizar, n a­ fãos de pai (José de Sá Leitão) e filhos de Nazi-
cionalmente, a profissão dos professores forma­ nha, cunhada do professor: JoséWaldemcio, Gil-
dos pela Escola Normal, atitude copiada depois por van e Teresinha. Em 1927 foi nom eado para tra­
todas as escolas de magistério do país. E na Esco­ balhar em Mossoró, onde teve um a participação
la Sete de Setembro que foi por ele construída. MATÉRIA PUBLICADA estratégica na resistência às Tropas do cangacei­
Após mais de 20 anos de sua morte, o profes­ DIA 28/09/2003- NAS ro Virgulino Lampião. Ele foi diretor da Escola
sor Fagundes voltou a ser hom enageado pelo PÁGINAS 12 E 13 DO Normal de Mossoró. Dirigiu o Grupo Escolar 30
Projeto Ler/DN Educação do DIÁRIO DE NA3AL CADERNO DE CIDADES de setembro, assistiu o Colégio Diocesano Santa
e Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Des­ DE O POTI-ATUALIZADA Luzia e foi nom eado Inspetor de Ensino Primá­
portos. Autor da primeira edição do livro "Leituras rio. Mas aí veio o Movimento Revolucionário de
Potiguares", em 1935, que era u m a coletânea de 1930 e novamente foi convocado para a direção
escritores locais, o professor Fagundes é agora o da Escola Normal de Natal que passava por um
patrono da série de 12 fascículos escritos por im ­ m om ento de crise.
portantes escritores sobre a história e a geogra­ Em 1939 veio a sua nom eação para a direto­
fia do Rio Grande do Norte. A coordenação da Co­ ria geral do Departam ento de Educação, o prin­
leção teve a responsabilidade da jornalista Reja­ Com os imortais da cipal cargo n a área de educação do estado, onde
ne Cardoso e a supervisão da professora Isaura Academia de Letras, conseguiu a legalização do diploma de professor
Amélia de Souza Rosado Maia. onde o professor e construiu quatro prédios para grupos escola­
Fagundes ocupava a res. Depois saiu para assumir, durante dez anos,
PRIMEIRO EMPREGO cadeira de n° 14 a cadeira de português no Atheneu Norte Rio-
Antônio Fagundes nasceu no sítio Paú, em grandense, ingressando, em seguida, na Liga de
um engenho que cultivava a cana para a fabrica­ do tio-padrinho Salustiano Rocha. Foi escreven­ onde foi diplomado como professor primário. Ensino do Rio Grande do Norte, instituição m an­
ção de açúcar e aguardente, vizinho ao municí­ te no cartório onde o tio era tabelião. Começou Assumiu a função de professor no Grupo Es­ tenedora da Escola Doméstica de Natal. Ali, ele
pio de Vila Flor, nas proximidades de Canguare- daí, certamente, o seu grande gosto pelas letras. colar Tenente José Correia, n a cidade de Assu ensinou matemática, pedagogia, psicologia geral
tama. Seus pais eram prim os legítimos, Pedro Estudou no Colégio Santo Antônio, até 1907, (1916 a 1923), onde veio a escrever o seu prim ei­ e educacional, servindo com m uita dedicação à
Regalado e Leonor Miquilina da Rocha Fagundes. n o A th en eu o n d e fez o c h a m a d o 'c u rso de ro livro: "História e Geografia do município de educação da mulher potiguar. A diretora da ED,
Ele se orgulhava em dizer que aprendeu a ler na m adureza', n a Escola de Aprendizes Artífices, Açu", publicado em 1923. Com esta obra, ele se professora Noilde Ramalho, dedica-lhe profun­
famosa "cartilha do ABC" de Laudelino Rocha. onde recebeu seu diploma de alfaiate. Na época, credenciou a ingressar n a Academia Norte-rio- d a adm iração: “Professor F agundes e ra um
Com apenas seis anos de idade começou a tra­ ele se destacou n a profissão, recebendo o título grandense de Letras. Ali tam bém fez um esboço hom em simples, sem muitas ambições e muito
balhar, quando veio para Natal n a com panhia de Oficial de Alfaiate e n a Escola Normal de Natal, de um a Carta Geográfica, u m trabalho feito com justo na arte de julgar”.
N aim , dezembro de 2006 DNOEDUCAÇAO

DEPOIMENTOS

OprofessorFagundesfoi um
homem voltadopara a
educação, à saladeaula oseu
território, à matemática, seu
fascínio. Lembrardo professor
Fagundes ésentiroseuchegar.
Deandar levecomoa brisae
agradável como ofavorecimento
do vento. Magro, estatura
mediana, olharprofundo como
sequisesseatravésda luz de seus
olhos imprimira luz doseusaber
na mente deseu interlocutor.
Lembrardo prof. como diretora
daEDé revivera sua presença
diária no cumprimento de um
horário que nem o tempo nem
motivo cilgumalheio à escola, o
faziafaltoso. -

Noilde Ramalho
(D iretora da Escola Doméstica de Natal)

O professor Fagundes tam bém teve pensão e... DESAPAREÇA!".


um a m arcante atuação junto a esco­
las particulares, foi assim com o Giná­ LIVROS PUBLICADOS
sio Sete de Setembro, um a das m aio­ O professor Fagundes editou, ao
res escolas particulares da cidade, que todo, sete livros, a maioria de conteú­
dirigiu de 1943 a 1959. Nessa época, a do didático. Alguns ficaram por publi­
escola funcionava em um prédio n a car. "Os livros que estão inéditos fica­
m a Princesa Isabel, conseguindo trans­ rão aguardando o tem po que tudo "Mestrede inúmerasgerações, em
feri-lo para a m a Seridó. A planta do destrói", como disse o próprio Fagun­ sua longaexperiência
prédio foi desenhada pelo próprio pro­ des anos antes de falecer, aos 86 anos demonstrou tirocínioe correção
fessor Fagundes que administrou a obra de idade, em 10/10/1982. Seu primei­ exemplar. Homem simples, afável,
e a inaugurou em 12/10/1944.0 Giná­ ro livro foi "História e Geografia do m u­ reto,foi um modelo exemplarde
sio Sete de Setembro foi um a escola re­ n icípio de A çu" (1923),"L eituras pai e cidadão honrado quepara
conhecidamente modelar. Potiguares" (1935) - Coletânia de poe­ ampliarseu orçamento
Além das inúm eras funções que tas e escritores sobre o RN, "Educação doméstico instalou em sua
assum iu no magistério, o professor e E nsino" (publicação oficial), 'O residência um externato
Fagundes m ilitou n a im p re n sa de Cruzeiro', 'Vida e Apostolado de D. Joa­ particular. Dedicou todasua vida
Mossoró e Natal, escrevendo no jo r­ quim Antônio de Almeida - Io bispo de ao ensino. Dirigiu váriasescolas,
nal A República sobre educação, famí­ Com os imortais da Academia de Letras, onde o professor Fagundes Natal', 'Os símbolos nacionais' (duas foi secretáriodeEducação e
lia e sobre a pátria. Ainda encontra­ ocupava a cadeira n° 14 edições), 'O Rio Grande do Norte'. A diretordo GinásioSetede
va tem po para escrever poesias e se Publicar: 'Notas sobre Canguaretama', Setembro comdedicação,
dedicar à arte de fotografar, ainda no do de bens materiais e não gostava de imortal daANL, professor e escritor José 'O Vigário Bartolomeu', 'Cento e vinte abnegaçãoesacrifício. Quando
tem po das m áquinas de fole e nega­ falsos elogios. Com serenidade, ele re­ Melquíades, em discurso no dia 10de fe­ crônicas sobre educação', 'Marcelo e foi presidentedaAssociaçãodos
tivos em chapas de vidro. solvia seus problem as, com lógica, vereiro de 1983. "Fagundes tinha um suacasa', 'Dúvidas e dificuldades dalín- Professoresfoi um dosfundadores
De acordo com a poetisa Aldenita razão e respeito. Mas quando ferido, modo especial de disciplinar. Ao sur­ gua vernácula' e 'Reminiscências'. da revistaEnsino, ao lado deJosé
de Sá Leitão, da Associação de Jorna­ agia energicamente, era impetuoso. preender um aluno em flagrante indisci­ De acordo com seu filho, JoséWal- Saturnino eManoel Varelade
listas e escritoras do Brasil e da Acade­ Na sua delicada missão de diretor de plina, costumava dar-lhe as costas e vi­ denício, a dificuldade que encontrou Albuquerque".
m ia Feminina de Letras, o professor escola era altivo e autoritário, simples­ rava-se para um aluno inocente e dispa­ para publicar a 2aedição de Leituras Po­
Fagundes não parecia ser um a pessoa mente respeitado por todos. Algumas de rava o sermão; depois, voltava-se para o tiguares lhe causou profundas mágoas Luís GM Bezerra
muito comunicativa, mas prezava pela suas atitudes seguem até hoje sua histó­ verdadeiro culpado e, com autoridade, la­ que levou para o túmulo. Mesmo assim, (Desportistas e ex-dirigente daTelern)
amizade conquistada. Era desprendi­ ria. Uma delas foi relatada pelo também vrava a sentença final: “Cinco dias de sus­ jamais teve um gesto de revolta.
D NO ED UCAÇAO

A doce comunisía das letras

1*V r.AWAMW

MATÉRIA PUBLICADA D IA
31/03/2002- P Á G .5- CIDADES
O POTI - ATUALIZADA

p e r f il BEATRIZ SANCHO BANDEIRA RYFF, 96, MILITANTE, POETA E DESCENDENTE DE ÍNDIOS DO OESTE POTIGUAR

A doce comunista das letras


FRANCISCO FRANCERLE
EDITOR D O D N EDU C A Ç Ã O

Para quem viveu com os m ilitares nos calcanhares, chegar Essa é a doce Beatriz Sancho Bandeira Ryff, descendente
aos 96 anos esbanjando saúde, lucidez e sim patia é, antes de índios da região do Oeste potiguar, que foi destaque na
de tudo, um a dádiva de Deus, até m esm o em se tratando m ídia nacional na passagem dos 80 anos do Partido
de um a com unista histórica. C om unista Brasileiro.

Filha do mossoroense Alípio Ban­ NATAL. Aposentada como professora do Partidão e pela sensibilidade da Escola Nacional de Música.
deira e da Gaúcha Rosália Nanei Ba- de técnica vocal do Conservatório Na­ atriz, poetisa, tradutora e cantora que "E a Beatriz não vai querer can ­
gueira Leal, abolicionistas ferrenhos, cional de Teatro, no Rio de Janeiro, sempre foi. "M euprimeiro livro quem tar?", foi assim que o escritor Graci-
ela tem sido, nos últimos anos, tem a Beatriz Bandeira te m na sua expres­ m e deu foi m eu avô, 'As Primaveras', liano Ramos perg u n to u p o r ela no
de m atéria nas revistas Veja/Istoé e são de voz o m aior trunfo de joviali­ de Casimiro de Abreu. Foi tam bém o seu livro M em órias do Cárcere, onde
Jornal do Brasil, além de figurar nos dade. Apesar dos 92 anos, fala com avô que lhe ensinou francês. "Sempre aparece a Beatriz em plena cela do
verbetes do "Dicionário de Mulheres", segurança e com todas a letras e fo­ tive o ideal n a cabeça e a arte no san­ presídio da Frei Caneca, onde o escri­
de Hilda Agnes H übner Flores, e no nem as. E realm ente de impressionar. gue que, m isturando, resulta n a fór­ tor tam bém estava preso. "Quando
"Dicionário Mulheres do Brasil - de "O segredo de se falar como jovem é m u la d a jovialidade. Por isso, sou eu soltava m inha voz, eu era podero­
1500 a 2000", de Jorge Zahar. falar corretam ente e com proprieda­ avessa ao tem po". Seu am or à m úsi­ sa ”, lem bra. Na prisão, eu segurava
Guerreira por natureza, talvez seja de, observando todos os aspectos da ca vem da infância. Como ela m esm a n a cela e n in g u ém m e im pedia de
Beatriz Bandeira a m ilitante com u­ sonoridade. Isso, aliando-se a um a sem pre diz, nas entrevistas, foi alfa­ cantar paródias. "Praia m aravilhosa/
nista de mais idade atualm ente. Ela form a afetuosa e sim pática de falar, é betizada com poesia e am am entada Cheia de balas m il/ Vermelha e ra ­
nasceu em 8 de novembro de 1909, u m a verdadeira arm a nas m ãos do com m úsica. A m ãe tocava bando- dio sa/ Sentinela do Brasil", dizia a
no Rio de Janeiro, o nde m o ra e de com unicador", ensinou. fim, seu pai Alípio além de militar era paródia de Cidade M aravilhosa em
onde concedeu entrevista, p o r tele­ A vida de Beatriz Bandeira foi sem­ escritor e seu avô lhe dava poesias hom enagem à Praia Vermelha, lugar
fone, à rep o rtag em do DIÁRIO DE pre m arcada pela força de resistência p a ra ler. Form ou-se em piano pela de vitórias da esquerda.
Natal, dezembro de 2006 DNOEDUCAÇAO
CONTINUAÇÃO DA PÁG. 14

PROFESSORA
Estudou inglês com o Barão de Itararé
Cursou os ensinos primário e se­
cundário com sua mãe, até o ano de "Eu sou avessa ao tempo. Ninguém m ente o contrário: era ríspida e de ter­ Graciliano Ramos, com quem cons­ A VISITA A MOSSORÓ
1930. Posteriormente, ingressou na Es­ diz que sou u m a m ulher quase cente­ nura não tinha nada. Ela passou um a truiu um a longa amizade até a hora Em 1980, visitou Mossoró, pela se­
cola Nacional de Música, no Rio de Ja­ nária. Acho que sou privilegiada por tem porada no Brasil e foi homenagea­ da m orte do escritor. "Quando ele não gunda vez, quando foi à cidade pela
neiro, sendo diplomada em Piano, no ter convivido com pessoas tão espe­ d a pelas mulheres do partido. queria ver ninguém, m e recebia com primeira vez, era adolescente e tinha
ano de 1933. ciais. Uma das m inhas grandes satis­ Beatriz conviveu com pessoas com alegria", disse. ido para conhecer a avó índia, mãe de
Tomou-se professora de Canto Or- fações na vida foi conhecer, pessoal­ quem aprendeu. Foi assim com Carlos Entre os com panheiros de prisão, seu pai. Dessa época nasceu o poem a
feônico em Florianópolis e depois em mente, Che Guevara. Era um a pessoa Marighela, que conheceu em Porto ela recorda do Barão de Iatararé (Apa- "Mossoró", quando retratou a aridez do
São Leopoldo. Residiu muitos anos no doce e maravilhosa, cheia de ternura, Alegre, em 1947. Com Olga Benário, rício Torelli), escritor e chargista do clima e a coragem do hom em , frente
Rio Grande do Sul, para onde seu pai fazendo jus à sua tradicional frase: Hay esposa de Luís Carlos Prestes, Nise da Globo. Foi com ele que ela aprendeu às intempéries d a região. De Mossoró,
foi transferido, em mais um castigo que endurecerse, pero sin perder la Silveira, Maria Werneck de Castro, Eu­ inglês. "Ele jogava para m inha cela cai­ ela diz lem brar de figuras ilustres e tra­
que recebeu no Exército p or suas ati­ ternura jamás!", declara. Já a mãe do gênia Moreira, casada com o dramatur­ xas de fósforos com exercícios de in­ dicionais, como Vingt-un Rosado e a fa­
tudes interpretadas como insubordina­ Che Guevara, conta Beatriz, era justa- go Álvaro Moreira, e Eneida, além de glês dentro". mília de Ronald de Góes.
ção. Lá, exerceu o cargo de Superin­
tendente de Educação Artística da Se­
cretaria de Educação do Estado.
Alípio foi soldado
De volta ao Rio, foi professora do M0 SS0 R0
Conservatório Nacional de Teatro e fi­
de Rondon e cl^nano
liou-se à Juventude Comunista, por in­ Em um vento momo de salitre efogo
termédio de Costa Leite, um ex-oficial abreflores de sal nos velhos muros Alípio Bandeira, filho legítimo de
das Forças Armadas que havia perdi­ Esquálidos meninos macilentos O dilon A bdolino Pinto B andeira e
do a patente por ser comunista. Mais tangem bandos de cabras esqueléticas e, deV icência Ainélia, nasceu em Mos­
tarde, integrou-se à Aliança Nacional sob um sol que queima e um chão que soró, aos 15 de agosto de 1872. Em
Libertadora responsável pelo levante abrasa, A reia B ranca, Alípio, aos 15 anos,
de 1935 e levada para a sala 4 da De­ teve seu prim eiro em prego. No seu
desenham Portinaris na paisagem,
tenção da Rua Frei Caneca, onde co­ prim eiro livro, "As Sertanejas", ele
"índio é terra que anda"
nheceu figuras ilustres como Gracilia- can ta a sua terra, as im agens d a in ­
no Ramos e Olga Benário, esposa do
disse um poeta.
fância, as paisagens físicas e h u m a ­
principal expoente do comunism o no
Eeu vejo em tuagente,
nas da sua Mossoró.
Brasil, Luís Carlos Prestes, que foi en ­ retorcidas raízes, rijos caules, O dilon A bdolino B an d eira era
tregue ao nazismo pelo governo de Ge- e essaforça que brota de entranhas joalheiro exímio, m orreu deixando
túlio Vargas. minerais donaV icência com 11 filhos, em si­
Seu primeiro exílio foi em Monte­ da terra calcinada, e seprolonga tuação de verdadeira pobreza. Alí­
vidéu, no Uruguai, onde casou-se com em duras caminhadas. pio preocupou-se com o sustento de
o jornalista Raul Ryff, que veio a ser Mossoró, Mossoró, sua m ãe e oito irm ãos m enores e co­
chefe da Casa Civil, do presidente João predestinada aurora, m eçou a estudar e trabalhar n a Es­
Goulart. Foi no Uruguai que publicou pioneira de lutas precursoras cola M ilitar do Ceará. Em 1893, já
o livro Ouro e Sândalo, de crônicas castigada e sofrida sentinela está n a Escola M ilitar da Praia Ver­
poéticas, e Poemas de Sempre. De volta de histórias vigílias. melha. Na revolta da Armada, foi sol­
ao Brasil, foi colaboradora da revista Um vento momo de salitre efogo dado valoroso de Floriano Peixoto, de
Leitura e do jornal AM anhã e M omen­ abreflores de sal nos velhos muros quem se to rn ara fervoroso adm ira­
to Feminino e de vários outros jornais e lagrimas de dor choram meus olhos dor. Foi soldado, prosador, p o eta e
gaúchos e cariocas, sempre usando o p a trio ta , Alípio p erco rreu o M ato
de saudade e de ausências consumidas.
pseudônim o de Djane Martins. Publi­ Grosso, Amazonas, Pará, Acre, Bahia,
cou ainda Mensagem, Roteiro e Profis­ São e Rio G rande do Sul.
Beatriz Ryff
são de fé, todos de poemas, e mais A Poetisa No extremo Norte, serviu sob o co­
Beatriz Ryff no colo de sua mãe, em 1910
resistência, de memórias. m ando do general Olímpio da Silvei­
ra, n a expedição do Acre. Em 7 de no­
DEPOIMENTO vembro de 1906, ingressou n a Igreja
Da sala de aula direto para o exílio Positivista, casando com dona Rosá­
BeatrizSanchoBandeiraRyjféuma Freire, que comandou a PolíciaMilitar lia Nanei Bagueira Bandeira, filha do
Com o golpe militar, em 1964, foi tivista que teve problemas com os ar­ das mais importantes mulheres daHis­ doRNePatronodasuaAcademiapara general médico Joaquim Bagueira.
dem itida pelo regime militar do cargo tigos insubordinados que escreveu, tóriadoBrasilnoSécubXXPoetaemi­ formaçãodeoficiais. Em 1922 escreveu a "pequenina
de professora de técnica vocal. Ela e o analisando a política de Artur Bemar- litante comunista, esteve na prisão (no Visitei-aporduas vezesnoRiodeJa­ teoria da punição, vulgarm ente ch a­
marido foram procurar asilo n a em ­ des, com o "A punição vulgarm ente períododolevantecomunistade1935)ao neiro, ondedeu-meexemplaresdosseus m a d a de castig o ", p u b lic a d a no
baixada d a Iugoslávia. Com a Anistia, cham ada de castigo". lado de grandes expoentes da esquerda livrosdepoesiaecontou-mehistóriasde 'C orreio da M anhã' q u e teve u m a
voltou para o Rio, m antendo sempre Beatriz tem dois filhos gêm eos - brasileira. Seu pai, Alípio Bandeira, foi seu exílb após ogolpe de 1964. Princi­ grande repercussão n a im prensa do
sua postura política em defesa da de­ Sérgio, que é um a hom enagem a Luís um mossoroenseilustre, ojkial doExér­ palmenteosperíodospassadosnaex-Iu- País. O utra grande paixão de Alípio
mocracia e da justiça social. Em 1990, Carlos Prestes, e Tito Bruno, um a dupla cito Brasileiro, que assessorou Cândido goslávia, ondeficou amigadoMarechal foi a defesa do silvícola brasileiro. Per­
publicou um livro de memórias, "A re­ hom enagem : ao Marechal Tito, que RondoneFbrianoPeixoto.Autorde vá­ Tito(nomedoseuprimogênitaemhome­ tenceu à Legião dos Mortos im ortais
sistência". Do exílio em Belgrado, os unificou a Iugoslávia em 1945, depois rios livrossobreproblemas brasileiros, é nagem ao marechal). Estáatualmente de Rondon. Ele foi um dos mais de­
Ryff foram para Paris, onde Raul traba­ d a Segunda Guerra Mundial, e a Gior­ nomedepraçaemMossoró. com96anos. votados servidores do Serviço de Pro­
lhou para a tevê francesa e Beatriz fez dano Bruno, filósofo italiano que foi Beatriz éviúvadeRaulRyff, secretá­ Nossa ligação vemdofato deAlípio teção aos índios.
a cobertura de desfiles de m oda para queim ado n a fogueira da Inquisição. riodeimprensadeJoãoGoulartemãode Bandeira, seupai, serprimodomeuavô Lutou pela im plantação do Cen­
um a agência de notícias brasileira. Tito Bruni Bandeira Ryff (foi o secretá­ TitoRyff,economista,quefoisecretáriodo tro Agrícola de Mossoró, pelo batiza-
epai de criação,AntônioLúciode Góes,
Olivro "A fom e",deKnutHamsun, rio de Estado e Desenvolvimento Eco­ GovernodoRb deJaneiro, por trêsoca­ dor de Rondônia. E quando foi con­
ex-prefeitodeAreiaBranca.
doado pelo subalterno e amigo de seu nôm ico e Turismo do Governo An­ siões(GovernosdeLeonelBrizolaedeAn­ vidado para substituir o interventor
pai, Costa Leite, viria a transformar to­ thony Garotinho), no Rio de Janeiro. tony Garotinho). É também prima, em no Rio Grande do Norte, Irineu Jofi-
Ronald de Góes
talm ente sua trajetória de vida. O pai, Já foi, tam bém , por duas vezes, secre­ lo grau, do Coronel do ExércitoMilbn A rquiteto e Urbanista, professor da UFRN li, ele disse que não aceitaria para não
Alípio Bandeira, era um a militar posi­ tário de Brizola. desgostar os amigos.
DNOEDUCAÇÃO Näkl , dezembro de 2006

r e s g a te TESE DE PED A G O G A C O N T A H IS T Ó R IA DOS EDUCADO RES D O SERIDÓ

Quem não lembra da


primeira professora?
FRANCISCO FRANCERLE
DA EQUIPE D O D IÁ R IO DE NATAL

É praticamente impossível não lembrar da primeira Floripes Medeiros, ou dona Lipe, como é carinhosamente
professora, principalmente quando se começou a estudar chamada. Ela foi a primeira professora de praticam ente todas
num a pequena cidade de interior. É assim em qualquer parte as gerações de moradores da cidade. Foi ela quem ensinou a
do mundo, é assim em Ipueira, um a pequena cidade da região ler e a escrever tanto pobres quanto fazendeiros e até os que
Seridó do Estado. Lá, todos conhecem a professora vieram a se tornar políticos na região.

A história da professora Floripes é


apenas um a das m uitas histórias de
professoras primárias que exerceram
a profissão ao longo do século XX, entre
os anos de 1901 e 1979, e que agora
estão sendo resgatadas peía professo­
ra de Pedagogia do CERES, em Caicó,
Grinaura Medeiros.
“Abraço de Gerações: memórias de
professoras primárias no Seridó - um a
viagem pelo século XX “ é o título da
tese que Grinaura apresentou à Univer­
sidade Federal do Rio Grande do Norte
ao concluir a Pós-Graduação em nível
de doutoramento.
A pesquisa resgata não apenas a
história da educação nas cidades do
interior do Estado, mas, sobretudo, re­
constitui a m em ória e a trajetória de
vida das primeiras professoras. A tese
constitui um corpo de saberes germi­
nados pelas narrativas de professoras
participantes do processo de escolari­
zação da Região do Seridó
“Para construí-la, entrevistei três
gerações sucessivas de professoras em
cinco cidades dessa região: Caicó,
Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do
Seridó e São João do Sabugi As profes­ Grinaura Medeiros é professora do curso de Pedagogia da CERES - UFRN.na cidade de Caicó MATÉRIA PUBLICADA
soras foram trazidas para a cena da D IA 08/06/2003 -
história por meio de suas mem órias inauguração de salas de aula", afir­ CULTURA ESCOLAR A pesquisa dar a saber, ainda, sobre CAPA DO M UITO
deixando para as gerações vindouras, m o u a professora G rinaura M edei­ O projeto da professora Grinaura os processos histórico-educativos, os O POTI - ATUALIZADA
o legado im emorial de suas vidas pes­ ros, acrescentando que no Seridó ape­ revela a prática da cultura escolar e modelos de escolaridade vivenciados
soais e profissionais”. nas um a cidade hom enageou um an ­ possibilita um novo olhar sobre os pro­ em épocas distintas, as conexões das
Essas professoras construíram a tigo professor dando nom e a u m a es­ cessos educativos e inovações adota­ práticas escolares com os contextos his­
educação em suas cidades, sem p ra­ cola, a Escola Professor Raim undo das pelos professores. “Percebem os tóricos em que se realizam, e ainda,
ticam ente recurso nenhum , a histó­ Guerra, em Caicó. claramente a transformação do ensi­ aprofunda as discussões sobre a práti­
ria de cada u m a delas se confunde Mas a indicação dos professores foi no n a sala de aula, no relacionam en­ ca da entrevista enquanto instrumento
com a h istó ria d a p ró p ria cidade. precedida de um a consulta popular, nas to entre professores, alunos e p á s. Foi de captação de narrativas, o aprofun­
"Apesar disso, não são lem bradas em escolas e comunidade. Já o estudo foi possível resgatar tam bém objetos da damento dos estudos sobre subjetivi­
docum entos, historiografias e sequer realizado através de um levantamento cultura escolar, como a palmatória, o dade e memória como componentes do
têm o nom e citado nos discursos de biográfico e fotográfico dos professores. quadro de giz, o tinteiro e o birô”, disse. argumento de validação do trabalho.
Natal, dezembro de 2006 DNOEDUGAÇAO

População escolheu
professores do século
C ontando com o apoio dos alunos Tribunal Regional Eleitoral que cedeu
de Pedagogia do CERES, das Secretarias u m a s eletrônicas. Só em Caicó foram
M unicipais de Educação e das Prefeitu­ cinco mil eleitores. As professoras Na-
ras M unicipais, a professora G rinaura thércia Cunha de Morais, com 104 anos,
tam bém realizou a eleição do Professor recebeu u m a das m aiores votações de
do Século, nos anos de 2001 e 2002. Essa Jardim do Seridó. Ao longo do seu pro­
foi u m a m aneira de envolver a com uni­ jeto, a professora Grinaura Medeiros con­
dade n a sua pesquisa, despertando o in ­ seguiu resgatar curiosidades e histórias
teresse pela história de vida dos profes­ em ocionantes desses profissionais.
sores, que contribuíram p ara a constru­ São os exemplos tam bém do profes­
ção da própria história das cidades. Em sor Juvenal Medeiros, que construiu a
cad a cidade foi realizada a eleição do primeira escola de São Fernando e a pro­
seu professor do século. fessora M aria Calixto de Medeiros, que,
Foi grande a euforia d a população voluntariam ente, dava aulas no chão de
com a escolha do professor do Século, sua cozinha para crianças carentes em
p rincipalm ente nas escolas, cujos alu ­ Jardim de Piranhas. Um trabalho valio­
nos e educadores, além das famílias dos so que aco m p an h a os alunos durante
professores envolvidos e diretores de to d a vida. Mesmo sem te r o m erecido
escolas prestaram grande contribuição reconhecim ento da sociedade, o m aior
n a indicação, escolha e divulgação dos prêm io dessas professoras sem pre foi e
candidatos. ainda continua sendo a satisfação de ver
As eleições tiveram a colaboração do o sucesso dos seus alunos.

Professores p esq u isad o s


n a R egião do Seridó:
Almira de Araújo (Acari); Myrtilla Moura Lima Lobo, Rai­
m undo Guerra, Teodora Vale Lopes, Pedro Gurgel do Ama­
ral e Oliveira, Joaquim de Farias Coutinho, João Agripino
Dantas e José Gurgel de Araújo, Iglê Irene Silva Santos (Caicó),
Teresinha Medeiros Góis (Cruzeta); Floripes Medeiros (Ipuei-
ra); Maria Calixto de Medeiros (Jardim de Piranhas); Na-
thércia Cunha de Morais (Jardim do Seridó); Luiza de Me­
deiros Morais Silva (Ouro Branco); Itan Pereira da Silva (Pa­
relhas); Juvenal Medeiros (São Fernando); Francisco Quini­
no de Medeiros e Josefa Fernandes ( São João do Sabugi);
Francelina Medeiros da Silva (São José do Seridó); Maria
Cândida Faria (Serra Negra do Norte) e Beatriz Torres de
Araújo (Timbaúba dos Batistas).
DNPEDUCAÇÃO NATAL, DEZEMBRO DE 2006

REVELANDO O B R A C O N C E IT U A D A N O BRASIL E N O M U N D O , MAS D E S C O N H E C ID A N O RN

U m potiguar que escreveu


a História do País
ADRIANA AMORIM
DA EQUIPE D O D IÁ R IO DE NATAL

Um dos maiores nomes da historiografia brasileira Assim é de maio de 1873, que foi advogado, jornalista, bibliotecário e autor
definida, por intelectuais e admiradores, a figura de Rodolfo Augusto de várias obras, as quais, ainda hoje, são importantes referências
de Amorim Garcia, um potiguar nascido em Ceará-Mirim, no dia 25 para estudantes e pesquisadores no Brasil e no mundo.

No entanto, está cada vez mais raro encon­


trar algum norte-rio-grandense que conheça
a m em ória desse ilustre historiador. Por isso,
o Projeto Ler do DIÁRIO DE NATAL abre um O início de uma jornada
espaço que visa resgatar a vida e obra de in­
telectuais norte-rio-grandenses que colabo­ Pretendendo seguir a carreira das arm as, Rodolfo Gar­
raram com a história do Brasil. Rodolfo Gar­ cia cursou o Colégio Militar do Ceará, e, m á s tarde, a Es­
cia, por representar u m im portante intelec­ cola Militar da P rá a Vermelha, no Rio de Janeiro, de onde
tual do século XX, é o nosso hom enageado. acabaria sendo desbgado. R etornando ao Nordeste, m a­
De suas obras, destacam -se "Dicionário triculou-se na Faculdade de Direito do Recife, de onde
de brasileirismo: peculiaridades p ern am b u ­ s á u Bacharel e Doutor, em 1908. Q uando estudante, co­
canas" (1915), "Nomes de aves em língua laborou no jo m á "Estado de Pernam buco" è n a revista
Tupi: Contribuição para a lexiografla p o rtu ­ "Cultura Acadêmica". Rodolfo ainda foi professor de His­
guesa" (1913) e "Nomes Geográficos p ecu ­ tória, Geografia, Francês e Português.
liares ao Brasil" (1920). Mas o seu trabalho Na década de 1910, Rodolfo resolve voltar para o Rio de Ja­
mais conhecido, o ensaio "História Política e neiro, cidade onde é radicado. Na época, passou a colaborar
Administrativa do Brasil (1500-1810)" só foi em vários jom ás, revistas e boletins publicados por institui­
publicado em 1956, sete anos após sua morte, ções cá tu rá s.
em 14 de novem bro em 1949. Muitas de suas Em 1921, Rodolfo começou a trabalhar no Instituto Histó­
obras foram publicadas no Rio de Janeiro, ci­ rico e Geográfico Brasileiro, passando de sócio efetivo a bene­
dade onde passou grande parte de sua vida, mérito em 9 de julho de 1943. Em 8 de dezembro de 1930, as­
falecendo aos 76 anos. sumiu a direção do Museu Histórico Nacioná. Lá, ele criou,
Não existem informações claras sobre os em 1932, o Curso de Museus. Dois anos mais tarde, deixou o
motivos que levaram o historiador a deixar a cargo e, imediatamente, foi indicado pelo Governo para assu­
sua terra natal, mas, de acordo com Luiz Gar­ mir a direção da Biblioteca Nacioná, em 17 de novembro de
cia, seu neto, a causa seria algum envolvimen­ 1932. E em 13 de abril de 1935, o historiador foi empossado
to político. "Contava a m inha avó, que, n u m como membro da Academia Brasileira de Letras.
certo dia, m eu avô chegou em casa com seu Rodolfo Garcia foi um dos prim eiros escritores nasci­
chapéu cortado ao m eio p o r u m facão. Foi dos no Rio Grande do Norte. Erudito e incansável pesqm -
quando ela decidiu levar a família inteira para sador, foi um divulgador da história do Brasil. Ativo no
Recife, em Pernambuco", explicou. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e na Biblioteca
Ainda segundo Luiz, Rodolfo Garcia era bas­ Poucos conhecem a vida e a obra do historiador potiguar, Rodolfo Garcia N acioná, o escritor publicou diversas coleções de docu­
tante reservado e passava a m aior p arte do m entos e edições críticas.
tem po trancado em seu escritório, onde, geral­ Foi ele um dos m á s notáveis colaboradores do "Dicioná­
mente, recebia intelectuais e amigos. "Eu era rio Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil", organizado
A obra “Escritos pelo Instituto Histórico, no q u á contribuiu com "Etnografia
criança quando convivi com ele, por isso con­
Avulsos” e o Indígena" e "História das Explorações científicas no Brasil".
versávamos pouco. Só posso dizer que ele era
clássico “Ensaio Apesar de nunca ter escrito nada sobre o Rio Grande do
um hom em misterioso".
sobre a História Norte, Rodolfo Garcia é considerado um dos poucos historia­
Luiz Garcia tem 68 anos, nascido no Rio de
Política e dores brasileiros que tiveram suas obras conceituadas no
Janeiro e é jornalista do jornal im presso O
Administrativa m undo todo. Cláudio Gávão, professor de História da Univer­
Globo/RJ. Seu pai, Marcelo, foi o últim o dos
do Brasil”, da sidade Federá do Rio Grande do Norte (UFRN), diz que Ro­
quatro filhos de Rodolfo Garcia a falecer. "Ape­ Coleção
sar de não ter sido o filho m á s velho, m eu p á dolfo Garcia poderia ter váorizado m á s a sua terra. "Com
Documentos
morreu aos 94 anos, há aproximadamente um toda a sua capacidade e inteligência, m e entristeço por ele ter
Brasileiros
mês. Ele, certamente, seria um a boa fonte de perdido contato com o Rio Grande do Norte", lamentou.
c o n sá ta sobre m eu avô", disse.
Naial, dezembro de 2006 DNOEDUCACAO
CONTINUAÇÃO DA PAG. 18

ARTIGO

A Biblioteca "Rodolfo
Garcia"
Quando cheguei ao Rio e
fui visitá-lo, Rodolfo Garcia
já tinha 73 anos de idade.
Quem me levou até ele foi
Josué Montello, que era seu
sucessorna direçãodaBiblio­
teca Nacional.
Quissabertudo a meu res­
peito eficou surpresoquando ■ I I 1
falei sobresua atuação como
DiretordoMuseu HistóricoNacionaleda BibliotecaNa­
cional; equando lhefalei com entusiasmo sobreo Ceará-
Mirim, um vale seu e de Nilo Pereira.
Adiantei-lhe então que eu estava ingressando numa
geração dos jovens nordestinos nômades, que emigra­
vam de suas terras secas lá no Nordeste para virem ba­
talharpor um lugarao sol, na selvadasgrandes cidades.
ComeleeNilo, eu me incorporava também à mesma ca­
tegoria dos desterrados de sua terra natal, ao sentirem-
se irmanados naqueleexílioenum acendradoamorpelo
Rio Grande do Norte e pelo Nordeste.
Váriosanosantes, em 1934, Rodolfojá seelegera, com
vinte votos, para aAcademiaBrasileiradeLetras, na Ca­
deira n°.39, tendo Vamhagen como seu Patrono e tendo
outros três historiadores, OliveiraLima,AlbertodeFaria
e Rocha Pombo, como seus antecessores, além de Elma-
no Cardim, OttoLaraResende, RobertoMarinho eMarco
Maciel como seus sucessores. Sala principal da Academia
Eraàprimeira vista, um homemfrio efechado, de trato Brasileira de Letras, cuja biblioteca
difícil, ríspido e quase rude. Parecia estar sempre com tem o nome de Rodolfo Garcia
raiva numa zanga agravada por duas rugas verticais
que acompanhavam o seu nariz de alto a baixo. MATÉRIA PUBLICADA DIA
Mas nem por isto era menor opoder de sua lideran­ 17/04/2005 ■CAPA DO MUITO
ça sobre uma das mais ilustres gerações de mestres bra­ O POTI ■ ATUALIZADA
sileiros - Capistrano deAbreu, Afonso Celso, João Ribei­
ro, OliveiraViana, BarbosaUmaSobrinho, PedroCalmon,
AjrânioPeixoto,Afonso Taunay, PauloSetúbal, ViriatoCor­
reia, Miguel Osório e OctávioMangabeira - reunidos na
"Academia Garciana",que levavaoseu nome. Eles todos ARTIGO
compunham um grupo de sábios, que conheciam todos
os segredos da história brasileira e da língua portugue­
sa, sabendo-os de cor e salteado.
Chegando àAcademia Brasileira deLetras, em 1999, Rodolfo Garcia
sessentaecincoanosdepois, quiseramosdesígniosdodes­
tino que eu, como acadêmico, recebesse a honrosa mis­ Rodolfo Garciaproporcionou, com oEnsaio sobre a Histó­ de rodapé erros e imprecisões dos
são de construira suaBibliotecaPública - com 60mil li­ ria política e administrativa do Brasil (1500-1810), editado autores - um conjunto de operações
vros e uma Sala de Vídeo-Conferência, em 1.300 metros pela primeira vez em 1956, um apoio seguro para os pesqui­ que nos permitem hoje consultar
quadrados - toda computadorizada, climatizada esono­ sadores do passado colonial brasileiro. Essa, contudo, é so­ com segurança livrosfundamentais
rizada, sendo hoje, modéstia a parte, a mais moderna mente a parte mais visível de uma longa atividade realizada para o conhecimento do nossoperío­
biblioteca brasileira. de modo silencioso e obscuro, naquela especialidade que os his­ do colonial, como, para lembrar os
Após três anos de muitas lutas e esforços, ela será toriadores chamam de erudição histórica. Filiadoà linha prin­ mais conhecidos, Tratado da terra e
inaugurada no próximo dia 20 dejulho, quando aAca­ cipal da erudição brasileira, que vem de Varnhagem e passa da gente do Brasil e Diálogo das grandezas do Brasil. Embora
demia Brasileira de Letras estará comemorando o seu por Capistrano de Abreu, Rodolfo Garcia, ao partir do Recife não se dedique a teorizações, nem a interpretações dos fatos
108°. aniversário defundação. com destino aoRio deJaneiro, em 1914,já havia escritoNomes históricos (paraa EscolaMetódica a que seestava ligado, a pri­
Equis o destino também que eu tivesse condições de de aves em língua tupi e levava consigo o seu Dicionário de meirafase do conhecimento histórico, a erudição, excluía a ta­
exigir, como contrapartida de tanto trabalho, que essa brasileirismos. Merecem destaque, mais que a História políti­ refa interpretativa dosfatos), Rodolfo Garcia sabia, aqui e ali,
nossaBibliotecafossebatizada, parasempre, com onome ca e administrativa do Brasil, o trabalho que ele realizou sobre temperar suas narrativas da história política e administrati­
de um dos meus antecessores, o inesquecível acadêmico obras fundamentais para o conhecimento do período colo­ va com fatos pitorescos e sugestivos. A maior das pequenas
e conterrâneo Rodolfo Garcia. nial brasileiro, um trabalho que consistiu em, através da apli­ alegrias do trabalho devoto do erudito, envergado na solidão
cação de técnicas e conhecimentos especializados, verificar a do convívio com documentos de três ou quatro séculos, era
* M urilo Melo Filho nasceu em Natal/RN,é jornalista, Acadêmico e
D ire to r da Biblioteca Rodolfo Garcia autenticidade das obras e dos textos,fixar a autoria, reconsti­ encontrar a vida palpitando presa nos papéis velhos.
da Academia Brasileira de Letras(RJ) tuir elementos biográficos dos autores e as circunstâncias dos
* Prof. Depto. História UFRN, Dr. em História Social, USP)
seus escritos, estabelecer a datação precisa, corrigir em notas
DN€D EDUCAÇÃO N aial, dezembro de . 2006.

HISTÓRIA POUCO CONHECIDO DOS POTIGUARES, O HISTORIADORTOBIAS MONTEIRO FOI FIGURA IMPORTANTE,
TENDO SIDO CHEFE DE GABINETE DO PRESIDENTE CAMPOS SALES E SECRETÁRIO DE RUI BARBOSA

Um historiador muito
à frente de seu tempo
VALÉRIA CREDIDIO
DA EQUIPE D O D IÁ R IO DE NATAL

Quem passa pela rua Historiador Tobias Monteiro, no bairro de Campos Sales e foi secretário particular e amigo de Rui Barbosa.
Lagoa Nova, não faz idéia da importância que este potiguar tem na "Um nome permanente na história do jornalismo brasileiro e na
história brasileira. Figura pouco conhecida do grande público, galeria mais alta dos historiadores", ressaltou Luiz da Câmara
Tobias Monteiro foi jornalista, senador pelo Rio Grande do Norte, Cascudo, em depoimento publicado, juntamente com tantos
ocupou cargos de confiança do então presidente da República outros, na coletânea de Augusto Medeiros e Nestor Santos lim a.

Para os autores da obra, Tobias Montei­


ro, que faleceu em agosto de 1953, aos 86
anos, deixou o país órfão de u m hom em
que dedicou sua vida tanto ao estudo de
nosso passado histórico e social quanto à
participação direta nos problem as políti­
cos do Brasil. O livro de autoria
Nascido em Natal, no dia 29 de julho na de Tobias Monteiro,
casa em frente à igreja do Rosário, o filho Je- recentemente
suíno Rodolfo e Maria Inácia Monteiro foi editado pelo
para o Rio de Janeiro, então capital do Im ­ Senado: “O
pério, depois de ter concluído o ensino bá­ presidente Campos
sico n a capital potiguar. Mesmo sem recur­ Sales na Europa”
sos e condições financeiras, o jovem Tobias
Monteiro foi ajudado por sua inteligência,
que despertou o interesse de José Bernardo
de Medeiros, que o auxiliou em sua estada
n a corte, através de um a pensão paga pela
Assembléia Legislativa da Província.
Com a oportunidade nas mãos, Montei­
ro ingressou no jornalismo. Conhecido por
seu pulso firme, integrou a equipe de reda­
ção do Jornal do Commércio durante os úl­
timos anos da m onarquia e os primeiros da
República. Foi abolicionista e republicano
histórico, tendo participação ativa na polí­
tica republicana após a instalação do regi­
m e em 1889.
No governo provisório da República
foi oficial de gabinete e secretário p a rti­
cular de Rui Barbosa, m inistro d a Fazen­
do. De acordo com pesquisas realizadas
por Augusto M edeiros e ao qual era liga­
do, tam bém , por u m a fraternal am iza­
de, consolidada nos tem pos de luta c o n ­
tra o regim e im perial.
Também por conta de sua amizade com MATÉRIA PUBLICADA D IA
Rui Barbosa, durante o governo de Floriano 31/03/2002- PÁG.S - CIDADES
Peixoto, Monteiro foi preso e sofreu várias O POTI - ATUALIZADA
perseguições.
Naiíu ', dezembro de 2006 DNOEDUCAÇÃO
CONTINUAÇÃO DA PAG. 20
ARTIGO REJANE MENDES M. DE MAGALHÃES *
O JORNALISTA
Apesar disso, nunca se calou nem deixou de exercer o jorna­
lismo, sua vocação descoberta ainda na infância, quando escre­
via em Natal nos jornais estudantis "A Idéia" e "A Luz". Tobias do Rego M onteiro
No Rio de Janeiro, colaborou com seus artigos para o jor-
' nal "Gazeta da Tarde". No entanto, sua ambição era ir para a Nasceu emNatal efaleceu emPetrópolis, RJ. Filho de
redação de um grande jornal de combate, como "O País", de JesuínoRodolphodoRegoMonteiroeD.MariaInáciado
Quintino Bocaiuva. E conseguiu, escrevendo alguns artigos Rego Monteiro. Tendo terminado os estudos prelimina­
publicados pelo periódico. res em Natal, matriculou-se na Faculdade de Medicina
Depois de várias tentativas, Tobias M onteiro ingressou do Rio deJaneiro, cujo curso interrompeu no 4oano.
realm ente no mercado jornalístico, atuando no Jornal do Bra­ Sua vocação pela imprensa revelou-se muito cedo,
sil, no Correio Paulista - neste através de cartas assinadas fundando e redigindo em Natal os jornais literários
com o pseudônim o de José Estevão - no Diário de Notícias, quinzenais A Idéia no período de 1879 -1880 eA Luz
com andado por Rui Barbosa, e no Jornal do Comércio, onde de 1882-1883.
obteve m aior projeção por defender os interesses do país. Após a Proclamação da República, trabalhou
Entre os anos de 1894 e 1902, como redator político do no Diário Oficial e depois secretariou o Ministro
Jornal do Commércio, destacou-se com o um a das maiores e da Fazenda Rui Barbosa.
mais combativas figuras da imprensa brasileira. De acordo com Segundo Carlos Viana Bandeira, cunhado de Rui,
os pesquisadores, cabia a Tobias M onteiro escrever as fam o­ foi o Conselheiro Manuel Pinto de Sousa Dantas que,
sas "Varias" que naquele tem po, tinham o poder de derrubar por meio de uma carta de apresentação pediu a Rui
ministérios. que desse um lugar na redação de OPaís ou Diário de
Por defender causas nacionalistas, o jornalista conquistou a Notícias a Tobias. Rui teve muito boa impressão dele
amizade e o respeito de nomes importantes da política e da his­ e, quando tornou-se ministrofez de Tobias seu oficial
tória brasileira, como Prudente de Morais, Rio Branco e Campos degabinete, encarregado de redigira correspondência
Sales. E foi com Campos Sales que Tobias Monteiro foi à Euro­ pessoal. Tobias frequentava assiduamente a casa de
pa na missão presidencial destinada à busca de soluções das dí­ Rui no Flamengo e participava dos assuntos ligados à
vidas externas brasileiras.
família. Conhecia o temperamento de Rui e o descre­
"Na história da imprensa das primeiras décadas da Repúbli­ via como um homem de gênio forte que se convertia
ca, a ele caberá um lugar destacado, entre os nossos jornalistas numafera quando contrariado. Foi Tobias que oacon­
de maior porte", destacam os pesquisadores. selhou a consultar o médico Dr. Francisco de Castroem
Apesar de sua atuação política ser bastante relevante, enquan­ agosto de 1891, quando Rui foi acometido de uma
to jornalista, sua passagem pela vida pública foi rápida. Tobias broncopneumonia.
Monteiro foi oficial de gabinete de Rui Barbosa durante sua ges­ Dedicado, na época da Revolta daArmada, Tobias
tão à frente da pasta da Fazenda na República, e secretariou, em acompanhou Rui, da casa do Dr. Francisco de Castro
caráter particular, o presidente eleito Campos Sales, durante via­ para a legação do Chile e daí para a lancha que con­
gem à Europa, antes mesmo de tom ar posse. Carta de Tobias Monteiro para Rui Barbosa e
duziu seu chefe ao navio Madalena que o levaria ao
Além dos dois cargos de confiança, Tobias Monteiro foi sena­ Procuração de Rui Barbosa para Tobias Monteiro
exílio. Nesta época, depois de uma série de peripécias,
dor da República pelo Rio Grande do Norte, ocupando a vaga dei­ (Acervo da Casa Rui Barbosa)
Tobiasfoi preso, recolhido à Casa de Correção no Rio
xada por Ferreira Chaves, no ano de 1921, ficando apenas por dois de Janeiro e em seguida buscou o exílio em Buenos
anos. Sua saída deu-se com a renúncia ao mandato, porque não Aires. Na sua volta ao Brasil, articulou a aquisição do
concordava com o fato de regras e conveniências das várias fac­ Jornal do Brasil do qualfoi redator secretário, e obte­
ções políticas serem postas acima dos interesses coletivos. ve de Rui a procuração, datada de 11/03/1892, para
De acordo com os pesquisadores, Tobias Monteiro tinha outra tratar dos termos da compra.
compreensão da vida política, preocupando-se em dar à socie­ Historiador; escreveu para oJornal do Comércio e
dade brasileira a direção desejada pela maioria da população, para o CorreioPaulistano em defesa da política do Go­
colocando os princípios acima dos interesses do momento. Ao verno Prudente de Morais e secretariou o Presidente
renunciar ao mandato de senador, Tobias Monteiro passou a se Campos Sales. Durante o governo deste último inter­
dedicar completamente à vida intelectual. mediou a aproximação de Rui com o presidente, mas
Certa vez, ele mesmo declarou: "É melhor voltar aos meus al­ tal não aconteceu.
farrábios". Os alfarrábios citados são velhos papais, os arquivos Na viagem realizadapeloDr. Campos Salesem 1898
onde muito havia sobre a evolução da história do Brasil. pordiversos países daEuropa,já então eleito Presiden­
Na ânsia de reparar injustiças e inverdades de historiadores te da República, Tobias Monteiro o acompanhou na
e repor fatos e homens dentro da verdade histórica, Tobias Mon­ função de redator doJornal do Comércio e, no desem­
teiro começou a escrever um a série de livros que figuram entre penho desta tarefa publicou nas colunas do mesmo
o que de melhor existe n a historiografia brasileira, mesmo não jornal uma série sob o título "Cartassem Título "-po­
tendo conseguido cumprir seu plano de trabalho. lêmicas e entrevistas, artigos políticos datados do Rio
Entre obras estão "A elaboração da Independência", "His­ e publicados também no CorreioPaulistano de SP, sob
tória do Primeiro Reinado" em três volumes, tida como sua opseudônimo deJoséEstevão -1900-1901; "OSr Cam­
principal obra. Há tam bém "Pesquisas e D epoim entos", no pos Sales na Europa", notas de um jornalista, 1900;
qual traz inform ações preciosas sobre a vida da m onarquia "Do Rio ao Paraná", Rio de Janeiro, 1903; Pesquisas e
brasileira nos seus últim os instantes, os exatos dois dias que depoimentos para a História, 1913;As origens da guer­
precederam a Proclamação da República. ra e o Dever do Brasil, Rio deJaneiro, FranciscoAlves,
O conjunto de sua obra mereceu o Prêmio Machado de Assis, 1913;Funcionários edoutores, FranciscoAlves, 1917;His­
da Academia Brasileira de Letras, que ele mesmo destinou à Casa tória do Império vol. I, II e III-1927,1939,1946.
do Estudante do Brasil. "O que interessava a Tobias na sua tare­ Foi Senador em 1921, pelo Rio deJaneiro, na vaga
fa de historiador era a verdade dos acontecimentos a expor e nar­ deJoaquim Ferreira Chaves que assumira o Ministé­
rar. Era dar seus preciosos caracteres, situando-as nos limites cer­ rio da Marinha. Renunciou o mandato em 1923.
tos de sua ação, dentro de cada acontecimento. Suas narrativas
históricas eram escritas em um estilo que situa o escritor entre * Rejane Mendes M. de Magalhães,
os melhores homens de letras com que já contou o país", fina­ chefe do setor Ruaino da
Fundação Casa de Rui Barbosa
lizam Nestor Santos Lima e Augusto Medeiros.
DNOEDUCAÇAO N,MU,, DEZEMBRO DE 2006

CONTINUAÇÃO DA PÁG. 21

Viagem oficial proporcionou encontro


Em sua viagem à Europa, acom ­
panhando o então presidente eleito
Campos Salles, antes de sua posse,
Tobias Monteiro teve a oportunida­
de de conhecer, e entrevistar, Émile
Zola, um consagrado escritor francês,
considerado criador e representan­
te mais expressivo da escola literária
naturalista além um a im portante fi­
gura n a liberalização p o lític a da
França. Acredita-se que Zola foi as­
sassinado p o r d esco n h ecid o s em
1902, quatro anos depois de ter pu­
blicado o famoso artigo J'accuse, em
que acusa os responsáveis pelo pro­
cesso fra u d u le n to d e q u e Alfred
Dreyfus foi vítima.
O seu fam oso artig o J'a c c u se
(Acuso), com o su b títu lo C arta a
Félix Faure, Presidente da Repúbli­
ca, p u b licad o no jo rn a l lite rá rio
L'Aurore, era tão incisivo que levou
à revisão do processo, dando um a
nova dinâm ica ao processo que ter­
m inaria anos depois do assassinato pr Emile Zola, um dos maiores
de Zola, com a reabilitação do oficial defensores do caso Dreyfus, que foi
Alfred Dreyfus em 1906, injustam en­ entrevistado porTobias Monteiro e,
te acusado de traição. abaixo, o livro “História do Império”,
Após a publicação de J'accuse, deTobias Monteiro, e o outro é um
Zola foi processado por difamação e estudo de Eloy de Souzæ“ Tobias
condenado a um ano de prisão. Ao Monteiro - Jornalista e historiador”
saber desta injusta condenação, Zola
partiu para o exílio em Inglaterra.
Após o seu regresso, quando já não
corria o risco de ser preso dada a evo­ Capitão Dreyfus e o
lução positiva do processo, publicou, livro de Jean-Denis
no "LaVérité en marche", vários ar­ Breedin.um dos mais
tigos sobre o caso. completos relatos
A entrevista foi feita em Paris, no sobre o caso
dia 24 de junho de 1898, onde Zola
faz um relato de sua defesa do caso
Dreyfus, um caso que marcou a his­
tória política da França.
De acordo com relatos publica­
dos em diversos livros, inclusive "O
Caso Dereyfus", de Jean-Denis Bre-
din, quatro anos antes da conversa
entre Tobias Monteiro e Émile Zola,
em 1894, um a grave crise política sa­
cudiu a Terceira República francesa m u d ar a sorte de u m caso judicial A traição do judeu tinha u m papel a dos militares, ficaram os represen­ porém , levaria o presidente da Re­
O País polemizava sobre a culpa ou que parecia destinado ao esqueci­ cum prir na situação política e inter­ tantes da ordem; católicos tradicio­ pública a indultá-lo, mas apenas em
inocência de um capitão do exérci­ m en to : um o u tro oficial francês, nacional das elites gaulesas. nalistas, anti-semitas, nacionalistas, 1906 o capitão seria plenam ente rea­
to cham ado Alfred Dreyfus, senten­ F erd in an d -W alsin E sterhazy, foi Muitas vozes ergueram-se contra conservadores anti-republicanos. bilitado, por decisão da Corte de Ape­
ciado - em dezem bro do m esmo - à acusado pelos m esm os crim es de a m anobra, reforçando o movimen­ Com Dreyfus, republicados, judeus, lação, um tribunal civil.
prisão perpétua pela suposta venda Dreyfus e, em 1898, condenado por to pela reab ertu ra do processo. O radicais, anticleriscais e toda gente O confronto deixaria suas marcas:
de segredos militares aos alemães. alta traição. mais famoso dos paladinos pela rea­ progressista. em 1905, o Parlamento decidiria pela
No início, a população apoiou a Para m uitos jornalistas e políti­ bilitação do capitão injustiçado escre­ Reclamada pela opinião pública, separação entre o Estado e a Igreja,
condenação, em grande medida pela cos da época, ficava clara a intenção veria um panfleto que seria lem bran­ um a nova corte marcial foi convo­ dando fim a um a das mais antigas
pressão exercida por grupos anti-se­ do com ando do exército, colocando do por gerações: Jáccuse - Eu acuso cada. R eunida em Rennes, em se­ heranças da ordem feudal e sacra­
mitas, para que Dreyfus, judeu, sim ­ a corte marcial contra Esterhazy acal­ - de Émile Zola, que denunciava o tem bro de 1899, outra vez Dreyfus m entando um novo ordenam ento
bolizava a deslealdade de todos os m ava a caça aos antiptriotas, m as exército francês p or falsificar provas foi considerado culpado e sua senten­ institucional - sob o qual se desenvol­
judeus franceses. Dreyfus continuaria preso n a Ilha do para obter a condenação de Dreyfus. ça confirmada. veriam as lutas sociais responsáveis
Um fato novo, p o rém , viria a Diabo, na costa da Guiana Francesa. A França estava dividida. Ao lado A gravidade dos enfrentamentos, pela fundação do século XX.
Nakl, dezembro de 2006 F I M t ) t i f ' O l f C A C A O
--------------------------------------------- —

CASA DE RUI BARBOSA


Durante o trabalho de pesquisa para a
realização deste trabalho sobre Tobias Monteiro,
fiz diversas pesquisas sobre a vida e a atuação
profissional do historiador. Parte desta pesquisa
foi engrandecida graças à colaboração da
Fundação Casa de Rui Barbosa, principalmente
no que diz respeito ao material ilustrativo da
matéria. Com o auxílio da Fundação pudem os
ter acesso a docum entos e fotos da época em
que Tobias Monteiro exercia a função de
secretário particular de Rui Barbosa, e fotos do
próprio historiador.
A Fundação é sediada n a casa onde residiu o
grande jurista e intelectual brasileiro entre 1895
e 1923, data de sua morte. Comprada pelo
governo brasileiro em 1924, juntam ente com a
biblioteca, os arquivos e a propriedade
intelectual das obras de Rui Barbosa, a casa foi
aberta ao público como m useu - o primeiro
m useu-casa do Brasil - em 1930.
Hoje, a Casa de Rui Barbosa hom enageia a
m em ória do Patrono, não apenas publicando-
lhe as Obras Completas, estudando sua vida e
divulgando suas idéias e sua atuação como
intelectual, advogado, político e jornalista. Mais
do que isso, tom ou-se u m espaço reservado ao
trabalho intelectual: aqui se trabalha, aqui se
pensa, aqui se estuda, aqui se lê, aqui se escreve,
aqui se consultam livros e documentos, aqui se
preservam livros e docum entos para serem
consultados, aqui se publicam livros, aqui se
m ostram livros e docum entos de pessoas que,
como Rui, escreveram.
As principais atividades da Fundação Casa
de Rui Barbosa são a m anutenção, preservação
e difusão do Museu Casa de Rui Barbosa e
respectivo parque; formação, preservação e
difusão do acervo bibliográfico e documental,
destacando-se os laboratórios técnicos;
desenvolvimento de estudos e pesquisas em
suas áreas de atuação (estudos ruianos, de
política cultural, história, direito e filologia) e em
cultura brasileira em geral; publicação dessas
pesquisas e participação de pesquisadores em
eventos acadêmicos e científicos; formação e
qualificação de pesquisadores; utilização plena
do seu auditório com atividades de dança,
música, literatura, teatro e cinema; uso de
outras dependências para a realização de
exposições de acervo ou relacionadas a
trabalhos em andam ento e de cursos,
congressos e seminários.
Situada circunstancialm ente n a cidade do
Rio de Janeiro, a Fundação Casa de Rui Barbosa
preserva e divulga acervos de interesse nacional,
por constituírem patrim ônio cultural
importante, e reaÜza trabalhos de alcance
internacional, sem perder de vista a im portância
O ex-ministro
do atendim ento diário ao visitante e ao usuário
da Fazenda Rui
de nossos serviços, desde a simples visita ao
Barbosa, de
jardim até o pesquisador em penhado em
quem Tobias
complexo trabalho acadêmico.
Monteiro foi
A equipe do Projeto Ler/D N Educação agradece a colaboração secretário
do Instituto H istórico e Geográfico do RN particular
DNOEDUCAÇÃO N atai, dezembro de 2006

DN EDUCAÇAO 14 ANOS
Editado pela primeira vez em agosto de 1992, o DN Educação foi pioneiro no Brasil e no m undo ao publicar u m caderno destinado
especialmente à causa da educação e à m elhoria da qualidade do ensino no Rio Grande do Norte. Nessa trajetória de 14 anos, o
compromisso com a educação foi a nossa batuta,o nosso leste, m erecendo o reconhecimento, a nível nacional, de autoridades
ligadas à educação, bem como de instituições que trabalham n a defesa dos direitos da criança e do adolescente, como o
UNICEF, Instituto Ayrton Senna e Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e Fundação Abrinq para os Direitos da
Infância, através de vários prêmios conquistados.
Isso é o reconhecimento de um trabalho que começou com a jornalista Ana Maria Cocentino Ramos, prosseguiu com
Eugênio Parcelle e agora continua com os jornalistas Francisco Francerle, Valéria Credidio e Adriana Amorim que
formam a editoria de Educação do Diário de Natal.
Desde o ano passado, o DN Educação tem publicado edições temáticas sobre assuntos ligados à educação, cultura e
história do Rio Grande Norte que têm gerado grande repercussão, devido ao ineditismo o à profundidade do tem a
abordado. Foi assim com as duas edições dos "Museus do RN", a publicação sobre "Nísia Floresta Brasileira
Augusta", "A escravidão africana no RN", "Os festejos juninos" e “O sertão virou sala de aula”, num a
reconstituição da viagem de Cascudo pelo sertão potiguar em 1934.
Essas edições pretendem ampliar a discussão sobre os temas propostos, tanto a nível
acadêmico quanto em sala de aula, junto aos alunos do Ensino Fundamental e Médio. A
idéia é que sirvam mesmo de ferramenta de trabalho, como aconteceu com a EjD O CAÇiiO i
edição de "Nísia Floresta" que foi adotada como principal fonte
de pesquisa pela Fundação Assis Chateaubriand e
Fundação Banco do Brasil em recente concurso de
redação para todo o país. Além das secretarias de
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Educação do município e do Estado que têm mi
utilizado as edições como material pedagógico.

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Os jornalistas Francisco Francerle, Silvana Belkiss,
Valéria Credidio e Adriana Amorim trabalharam nas
edições temáticas do DN Educação

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