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Arquiyo/DN
r iN O J FD Uf iUf iAr j A
f í n jrn îAnM Natal, agosto /setembro de 2006
Arquivo/DN
1\ yfais dequatromilhões deindivíduosforamseqüestrados DN EDUCAÇÃO
NESTA EDIÇÃO IVIdesuas terrasnaAMcaetomaram-seescravosnoBrasil. Diretor Geral:
Albimar Furtado___________________________
Projetos Especiais
Editor do Suplemento:
Reportagens
Revisão
Diagramação
fmncerie@diariodenatal.com.br
áreas tão distintas como história, literatura, local, por defender, em um júri, "Formação do mercado de trabalho
economia, religião e costumes, obra de refe um escravo negro que assassina ■ Enciclopédia virtual Wikipédia no Nordeste: Escravos e trabalhado
rência, inédita no país, abre ao leitor novas ra o seu senhor. res livres no Rio Grande do N orte"
■ B ib lio te *
maneiras de compreensão da exclusão huma
ca Nacional do RJ 1 Julie A . Cavignac - artigo "A etnici-
na, social e cultural imposta ao negro no Bra
dade encoberta: índios’ e ‘Negros’ no
sil, um drama nacional que pode ser percebi
■ Fundação Raimundo Ottoni de Cas Rio Grande do N orte"
do ainda nos dias atuais.
tro Maia, Rio de Janeiro
■ Revis/â
■ Site da Prefeitura de Mossoró ta História Viva (Ed. n. 3)
0
escrava, questionando a afirm ação de que não
U niversidade de São Paulo (USP) e havia escravos no RN em função da econom ia
autor de diversos livros, é estudioso pecuária. Fala sobre Mossoró, uma das cidades
sobre a escravidão no Brasil. Nessa entrevista,pioneiras na luta pela abolição da escravatu
ele fa la sobre os diversos aspectos econômicos, ra, defendendo um m aior reconhecim ento a
históricos, antropológicos e sociológicos que nível nacional. Fala, ainda, sobre os efeitos da
m arcaram e continuam influenciando a pre discrim inação presente entre jovens e adoles
sença dos negros no Rio Grande do Norte e no centes até mesmo em sala de aula e dos avan
Brasil. Fala sobre a utilização da m ão-de-obra ços dos movimentos dos negros no Brasil.
A presença negra no RN
FRANCISCO FRANCERLE negros para negar a existência de argu Adiscriminação emnome de "raça" sentido, fomentar aquele mito da de vergadura seja tarefa apenas de um go
DA EQUIPE DO DIÁRIO DE NATAL mentos racistas nos desafios. E em (biológica) é um fenômeno mais clara mocracia racial brasileira contribui verno. A política de cotas nas universi
DN EDUCAÇÃO - N oRN M a-seque
muitas de suas obras, o escritor men mente definido a partir do século XIX. para a persistência de um racismo dades é significativa, no sentido de iden
p raticam en te não houve escravidão
cionou a mescla de raças como marca Critérios anteriores de discriminação doloroso, embora em versão light. tificar um problema grave (desequilí
africana, você concorda com essa tese?
da historicidade brasileira. É preci (família de nascimento, pobreza, de Para as vítimas do racismo, todo pre brio do número de estudantes afro-des-
MARCOS SILVA - A capitania e de so, portanto, ir além das observações sempenho de atividades desvalorizadas conceito (inclusive o light) é terrível. cendentes em relação aos percen
pois província do Rio Grande do Norte presentes naquele livro de viagem. A socialmente) não desapareceram, ape Crianças, jovens e adultos sofrem, tuais da população brasileira), mas
História potiguar aparece em dife nas foram e continuam a ser reatuali- sim, quando percebem o desprezo ainda muito tímida, pois não dis
não foi uma grande concentradora de
rentes gêneros de seus escritos, e a zados - já ouvi, neste século XXI, refe que está contido em determinadas cute nem ataca o conjunto do pro
escravos africanos porque não abrigou,
presença africana deve ser identifi rências grosseiras aos portadores de designações ("negrinha", "cabelo cesso educacioná nem o nível qua
em maior escala, atividades econômi
cada nesses vários gêneros. determinados sobrenomes. Consoli- ruim", etc.). E quase nunca o teor cri litativo das instituições que ofere
cas geradoras de rendas para a compra
dou-se, no Brasil, uma discriminação minoso desse racismo é salientado cem aquelas vagas. Considero uma
de escravos. Isso não elimina a predo
Q ual a co n trib u ição de C âm ara racial difusa, que não foi inscrita na le para quem o pratica, escolas e outras conquista, também, o ensino de
minância das relações escravistas na
Cascudo n a historiografia do RN no gislação formal (proibição de casamen instituições tratam o preconceito, História da África nas escolas fun
América portuguesa e no Brasil impe que se refere à escravidão? tos entre pessoas de diferentes raças, muitas vezes, como "brincadeira" ou damental, básica e média, para su
rial, inclusive naquela capitania/pro- A História do Rio Grande do Norte por exemplo), mas se manteve muito "coisa de criança". Uma questão que perarmos a imagem exclusivamen
víncia. Vale lembrar que, além do exter registra apenas uma personalidade po forte para desvalorizar grandes parce merece maior discussão é a tendên te portuguesa e européia de forma
mínio de índios durante o período co tiguar como ex-escravo - Félix José do las da população, em termos econô cia a afirmar que o racismo nasce dos ção do Brasil. Falta ensinar, tam
lonial, houve prática de escravização e Nascimento (1802//1904). Câmara Cas micos, estéticos e morais. Se a época do movimentos anti-racistas, como se bém, a História indígena.
comercialização desses homens e mu cudo não identifica os brilhantes ir Nazismo foi uma primavera para os as evidências discriminatórias bro
lheres, como se observa na chamada mãos Souza (Auta, Elói e Henrique Cas- racistas, o segundo pós-guerra repre tassem da imaginação mórbida de Com o analisa o fato de a cidade de
"Guerra dos bárbaros", estudada por triciano) como negros, o que chega a senta um período mundial de com poucas pessoas, ou da imitação de M ossoró ter sido u m a das pioneiras
Câmara Cascudo e, mais recentemen surpreender, pois essa faceta dos irês bate a esse tipo de discriminação, padrões estrangeiros (principalmen do abolicionism o? Os historiadores
te, por Pedro Puntoni. É preciso definir evidencia uma sofisticada presença dando início ao fim do apartheid no te, estadunidenses). n a cio n á s aceitam isso?
quais as modalidades de trabalho que afro-descendente na cena intelectual e sul dos EEUU (que se encerrou ape A forte ligação entre Mossoró e
vigoraram na agricultura e na pecuária artística do estado, e até depõe a favor nas nos anos 60). Ao mesmo tempo, O m ovim ento negro avançou no Ceará contribm para entender esse pio-
potiguares, e seus desdobramentos em da capacidade potiguar de reconhecer a redefinição de raça humana como país? E r.o governo Lula, d á p a ra en u neirismo, antecipando-se à LeiÁurea. O
relação a outros setores da população, o alto talento entre negros - Auta de fenômeno étnico, com a prioridade m erar m u itas conquistas? fim da escravidão não deve ser resumi
para não pensarmos, de forma ideali Souza foi contemporânea do grande atribuída à experiência cultural em O movimento avançou muito, prin do à ação abolicionista, para não esque
zada, que a capitania e a província es Poeta Cruz e Souza, violentamente dis relação ao viés exclusivamente bioló cipalmente desde as lutas contra a di cermos da capacidade de ação e luta dos
tiveram à margem das relações escra criminado em Santa Catarina e no Rio gico, expandiu-se significativamen tadura de 1964/1984, sem esquecer de próprios escravos, mesmo enquanto o
vistas dominantes na colônia e no im de Janeiro. Há comentários de Câma te, e os estudos de Gilberto Freyre, lutas coletivas e iniciativas individuais sistema escravista funcionava plena
pério, para entendermos outras mo ra Cascudo, muito interessantes, na desde o início dos anos 30, são muito anteriores (Lima Barreto, Imprensa e mente. É preciso estudar as relações com
dalidades de exploração do trabalho e quele livro, sobre o fim da escravidão expressivos dessa tendência. A mídia teatro negros, a afirmação da identida plexas durante a vigência da escravidão,
de dominação social. na província do Rio Grande do Norte, brasileira, na maior parte, segue essa de negra em artistas e intelectuais de que incluíam a definição de águns po
indicando alforrias condicionais à atitude, embora alimente o mito de peso, como Ruth de Souza, Clementi deres para os próprios escravos e por
E sobre Cascudo, ele tam b ém disse prestação de serviços pelo alforriado que o Brasil é e sempre foi uma de na de Jesus, Clóvis Moura e Paulinho eles mesmos, expressos na capacidade
que p ra tica m e n te n ão existiam n e a seu antigo senhor, enquanto este mocracia racial. A perseguição poli da Viola). Ele conseguiu divulgar más de negociar com seus senhores deter
gros por esses lados. A pesquisa do his vivesse. É um tema que merece ser cial contra candomblés e a desvalo a existência de modalidades racistas no minadas condições de vida e trabalho. O
toriad o r foi ab ran gen te ou até hoje retomado e ampliado, porque evi rização estética do corpo negro (cor Brasil, conquistou espaços afirmativos pioneirismo do Ceará é más conhecido
ele está sendo m al-interpretado? dencia a existência de escravidão e a da pele, tipo de cabelo), até meados para os padrões estéticos e culturais nacionalmente que o exemplo de Mos
Essa afirmação de Câmara Cascu definição de novos laços de depen do século XX, indicam como a dis africanos, váorizou a trajetória históri soró. É possível que isso se deva à máor
do foi feita no livro "Viajando o Ser dência, após a alforria. criminação foi forte entre nós. Mesmo ca dos afro-descendentes no pás. O amplitude do primeiro (abrangendo uma
tão", e mereceu críticas muito cedo. hoje, ouço relatos de amigos sobre fato de um caná mmto influente de te província inteira). Váe à pena procurar
Não podemos esquecer, todavia, que a Comoanalisaatualmenteadiscrimi- racismos informais, entre crianças de levisão ter produzido uma novela com explicar essa experiência e as relações
primeira obra-prima do etnógrafo, 'Va n açãorad árw B rasiM atuação damídia, classe média ou mais pobres, contra protagonista negra merece atenção. de trabalho e poder que passam a vigo
queiros e Cantadores", fala dos poetas estimula ou combate o rad an o ? os colegas negros e mestiços. Nesse Não penso que uma política dessa en rar após a abolição locá.
DNOEDUCACÃO Na h l , agosto /setembro de 2006
C Ó D IG O S
O código de Manu, o mais antigo
conjunto de leis da índia, identificava
seis tipos de servos: o cativo de guer
ra; o servo doméstico; o servo nascido
de mulher escrava na casa do senhor;
o homem comprado ou ganho; o her
dado; e o que foi feito escravo por não .... I.IIIM,
ter como pagar uma multa.
Poderiam adquirir a liberdade, traição transformavam-se em escra mica das terras descobertas no con
nas seguintes condições: o escravo vos do poder público, no palácio real; tinente americano, os colonos ten
de guerra, se deixasse em seu lugar os filhos desses condenados podiam taram escravizar a mão-de-obra in
outro, que se encarregasse das tare ser castrados e usados como eunucos dígena, mas os índios revelaram-se
fas a ele incumbidas; e o escravo por e vigias dos haréns; as adúlteras, ex pouco dóceis, revoltando-se ou fu
dívida, se liquidasse seu débito. Um pulsas de casa, não tinham alternati gindo para as florestas. Eram pouco
escravo que salvasse a vida do se va senão venderem-se como escravas; resistentes às doenças transmitidas
nhor não só teria direito à liberda os devedores podiam tomar-se escra pelos colonizadores e não aceitavam
de, como receberia um prêmio. vos do credor. Essas práticas vigora a exploração a que estes o.s queriam
A China não conheceu a compra e ram na China até o século XVI. submeter. Contavam ainda com o
venda de escravos, mas havia pessoas apoio dos missionários, que propu
escravizadas por diversas razões: mise O S D E S C O B R IM E N T O S nham um abrandamento no trato
ráveis vendiam a liberdade para não E A E S C R A V ID Ã O com os indígenas como forma de fa
morrer de fome; réus de crime de alta No início da exploração econô cilitar seu trabalho de catequese. A Princesa Isabei assinou a Lei Aurea Abolicionista José do Patrocínio
* t ♦
dos índios. O enorme desenvolvimento ção de cana-de-açúcar com mão-de- Áurea é assinada pela Princesa Isa escravos que continuaram a
que a escravidão tomou em todo o con obra negra e depois transportaram essa linha de bel, extinguindo oficialmente a es viver na probreza e sem
tinente está ligado ao surto da economia experiência para o Brasil. Não se pode cravidão no Brasil. A assinatura da direitos básicos com o saúde e
açucareira, que exigia abundante mão- esquecer, todavia, que o tráfico negrei frente da Lei Áurea decorre não só como con- educação
de-obra nas plantações. ro era uma atividade altamente lucra seqüência das pressões de movimen
O apogeu do tráfico negreiro foi tiva tanto para os traficantes, quanto intelectualidade tos aboficionistas e do contexto que
atingido no século XVIII, com o cons para a Coroa portuguesa. se formava com a assinatura das leis
tante aumento do uso de produtos A atividade do tráfico negreiro ini- antiescravista acima citadas, mas também sofreu
tropicais na Europa. Entre 1781 e 1790 cia-se oficialmente em 1559, quando influência dos movimentos de re
eram importados 82 mil escravos por a metrópole portuguesa decide permi sistência à escravidão promovidos
ano, dos quais 35 mil por ingleses, 24 tir o ingresso de escravos vindos da
pelos próprios escravos e das pres
mil por franceses, 18 mil por portu África no Brasil. Antes disso, porém,
wm sões que a Inglaterra exercia sobre
gueses, quatro mil por holandeses e transações envolvendo escravos afri
o governo brasileiro, uma vez que o
mil por dinamarqueses. canos já ocorriam no Brasil, sendo a perlotadas. Quando desembarcavam fim da escravidão era de interesse
As principais regiões fornecedo escassez de mão-de-obra um dos prin em solo brasileiro, os escravos afri A o proclam ar a igualdade
inglês, já que ocorria nesta nação o
ras eram o golfo da Guiné, a região de cipais argumentos dos colonos. canos eram vendidos em praça públi entre todos os homens, o
Capturados nas mais diversas si processo de Revolução Industrial e
Angola e Moçambique. Quando a es ca. Os mais fortes e saudáveis eram cristianismo aliviou o regime
cravidão se radicou fortemente no tuações, como nas guerras tribais e esse processo lhe garantiria a am
os mais valorizados. A atividade do pliação dos seus mercados consu de escravidão
continente americano, a Igreja Cató na escravização por dívidas não tráfico negreiro foi extremamente lu
lica reconheceu expressamente a va pagas, os escravos africanos provi midores. Quando a Lei Áurea foi as
crativa e perdurou até 1850, sendo sinada, beneficiou apenas 750 mil
lidade da instituição, enquanto a ati nham de lugares como Angola, Mo oficialmente extinguida nesse ano
tude das demais igrejas cristãs não çambique, Guiné e Benin. Eram ne escravos, menos de um décimo da
com a Lei Eusébio de Queirós. população negra existente no Brasil.
diferiu muito dessa. gociados com os traficantes em troca
de produtos como fumo, armas e A abolição da escravidão, apesar
A B O L IÇ Ã O D A E S C R A V A T U R A de garantir a liberdade, não alterou
aguardentes e transportados nos cha
Escravidão negra mados navios negreiros. Esses na A abolição da escravatura foi pro em nada as condições socioeconômi-
vios tinham destinos como as cida cessada de forma gradual e decor cas dos ex-escravos, que continuaram
no Brasil des do Rio de Janeiro, Salvador, Re reu de toda uma situação formada a viver, de uma forma geral, na pobre
A escravidão negra no Brasil durou cife e São Luís, e delas eram transpor com o decorrer do processo históri za, sem escolaridade e sofrendo com
cerca de trezentos anos. Os negros vin tados para regiões mais distantes. co. Em 1850, o tráfico negreiro é ofi a discriminação. Não impediu tam
dos daÁfrica, segundo as diversas teses Durante as viagens, muitos escra cialmente extinto com a Lei Eusébio bém que a superexploração de mão-
sobre a escravidão no Brasil, foram tra vos morriam em decorrência das pés de Queirós. Com o fim da principal de-obra em regime de escravidão e o
zidos com o objetivo de constituir a simas condições sanitárias existen fonte de obtenção de escravos, o tráfico de pessoas continuassem sendo
mão-de-obra do colonizador portu tes nas embarcações, que vinham su- preço destes eleva-se significativa praticados até os dias atuais.
Escravidão no RN
negro, cujo advento coincidiu com a fundação colher algodão em Serra Negra do Norte, Timbaú- Norte, onde a população escrava, no início do sécu
■»B
ENGENHOS
Em 1775, eram localizados 22
dos 27 engenhos e engenhocas
existentes: São José do Mipibu,
Goianinha, Canguaretama (enge
nho Cunhaú), Vila Flor, Extremoz,
Coité (hoje Macaíba, onde havia
o engenho Ferreiro Torto), Arês,
São Gonçalo e Ceará-Mirim
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Nakl, agosto/setembro de 2006 PN O EDUCAÇAO
Revisar a história
os estudos sobre o Rio Grande do Norte, as "Na maioria destes escritos, se muito encontramos, são Segundo a antropóloga, hoje, no Rio Grande do
Arquivo/DN
Comunidades quilombolas no RN
antropóloga Julie Cavignac,no artigo Fora algumas raras exceções, os grupos de dez comunidades, que apresentam ca
COMUNIDADESONDEA
KILOMBODESENVOLVE
ATIVIDADES?
. Moita Verde, em Parnamirim
. Capoeiras, em Macaíba
. Grossos e Pavilhão, em Bom Jesus
. Sítio Pega e Sobrado, em Portalegre
. Nova Descoberta, em Ielmo Marinho
. Gameleira, em São Tomé
. Aroeira, em Pedro Avelino
. Jatobá, em Patu
. Boa Vista dos Negros, em Parelhas
. Macambira, em Bodó
. Sibaúma, emTibau do Sul
. Negros do Riacho, em Currais Novos
afirmação é da professora
A
e cultural, do desconhecimento, por bém uma limitação na raiz do pro gógico, muitas vezes, sem a acui
Wilma Coelho, autora da parte dos professores, da história blema", expbcou. dade necessária, pois esse livro
tese de Doutorado que de dos negros e seus descendentes, re Sobre a Lei 10.639/2003, Wilma didático se constitui como parte
fende justam ente a condição de forçada por livros didáticos mal for acredita que ainda existem lacunas im p ortan te da co n stru ção d a'
que os alunos negros são relega mulados. "Na escola ainda se repro a serem preenchidas. "Mesmo identidade da criança".
dos em sala de aula. Produzido duz a idéia do senso comum de que assim, é a única forma de se discu Por outro lado, disse, isso pode
na Universidade Federal do Rio vivemos num paraíso racial, o des tir o problema, sendo um dos ca desencadear na criança negra uma
Grande do Norte (UFRN), sob dobramento desse discurso, é a re minhos para se debater questões autonegação e baixa auto-estima.
orientação do professor Dr. José produção de preconceito”. como as cotas para as minorias nas Em conseqüência, também a crian
Willington Germano, o trabalho, Dessa forma, disse, tanto os pro universidades públicas". Já em re ça branca percebe que tem um di
agora publicado em livro, sob o fessores da rede pública quanto os lação aos livros didáticos, a profes ferencial na escola e na sociedade,
título de "A cor ausente", versa da privada não estão preparados sora analisa que, em muitos casos, e poderá também reproduzir esses
sobre a formação de professores para lidar com esta questão em sala o negro e o índio ainda aparecem de procedimentos. "A criança negra
para o trato da questão racial ofe de aula. "Primeiro porque a questão modo desumanizado e desprovido que recebe esse ensinamento fixa
recida pelo Instituto de Educação racial não fazia parte do conteúdo de referência familiar. a idéia de que está no lugar da mi
do Estado do Pará, nas décadas obrigatório dos currículos de for "O nocivo disso é que livros di séria, no lugar da feiúra, no lugar
de 1970 e 1980. mação de professores. A ausência dáticos se constituem uma obra da preguiça, que só serve o futebol, A tese da professora W ilm a
De acordo com Wilma, os pro da disciplina História da África, na didática e, em geral, professores e a escola tende a reforçar essas prá Coelho foi transformada no
blemas do racismo no Brasil são re maioria dos cursos de licenciatura da Educação Básica tendem a sa- ticas discriminatórias que estão pre livro “A cor ausente”
sultados da falta de estrutura social em História, no Brasil, indica tam cralizar esse instrum ento peda sentes na sociedade", concluiu.
DIVg)EDUCACAO Nækl , agosto/setembro de 2006
A identidade negra
em sala de aula
Foto: Joana Lima/DN
Legislação determinou
prazo de um ano para
que todas as escolas
públicas e privadas
insiram, nos currículos,
o ensino da história e
cultura afrobrasileira
ADRIANA AMORIM cravidão sempre foi abordada de uma manei ra, a Secretaria Estadual de Educação está
Nos Centros Escolares DA EQUIPE DO DIÁRIO DE NATAL ra negativa, impedindo que os próprios alunos fazendo uma tentativa de resgatar a verdadei
afros descendentes se vejam positivamente, ra história e cultura afro-brasileira e africa
tem os apenas 150 alunos omo ensinar o que não se conhece? Esta pa seja na formação de sua herança ou da histó na, além de mostrar aos professores a im
que se consideram afros
descendentes. Há uma
C rece ser a questão mais discutida nas esco ria do Brasil, como explicou Eduardo Pereira,
las de Ensino Médio de todo o Brasil, em professor de História lotado na Subcoordena-
virtude da promulgação da Lei 10.639, de 9 de ja
doria do Ensino Médio (SUEM), da Secretaria
neiro de 2003, que estabelece a obrigatoriedade do de Educação do Estado.
portância de abordar em sala de aula a ques
tão da identidade negra. "A SUEM montou,
este ano, um grupo de profissionais das áreas
das Ciências Humanas e Linguagem, no sen
ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Afri Segundo ele, existe um paradoxo quando se tido de propor alguns trabalhos que visem
situação em que o aluno cana. No Rio Grande do Norte, o tema é ainda aborda a questão da identidade negra. "Nos cen preencher essa lacuna, além de atender o
mais polêmico, principalmente porque a ausên tros escolares, temos apenas 150 alunos que se
que a lei pede", disse, enfatizando que o pro
negro não quer se cia da história da África também é uma lacuna
nos currículos das principais instituições de En consideraram afros descendentes. Agora, imagine jeto está em parceria com a Universidade Fe
enxergar” sino Superior presentes no Estado. que são mais de 70 comunidades quilombolas no deral do Rio Grande do Norte (UFRN).
Apesar de a lei existir há mais de três anos, ape Estado. Ou seja, há uma situação em que o aluno "Nosso objetivo é estreitar ainda mais os
nas algumas escolas da Rede Estadual de Ensino negro não quer se enxergar negro", disse, ressal laços com a academia e discutir ações que
iniciaram trabalhos pontuais, mas muitos sequer tando que, embora a Lei tenha um propósito po viabilizem, principalmente, uma mudança
avançaram. Agora, a legislação determinou um sitivo, a temática pode ser ainda mais negativa de postura dos professores das diversas dis
prazo de um ano para que todas as escolas públi caso os professores não estejam preparados para ciplinas que, ao trabalharem seus conteú
cas e privadas insiram em seus currículos o ensi tal. "Nós temos um sério problema, mas que es dos, possam valorizar essa identidade negra
no da cultura afro-brasileira. peramos solucioná-lo". e com isso levar uma posição crítica para a
No entanto, o grande problema é que a es Para isso, de acordo com Eduardo Perei sala de aula", explicou.
Nm a l , agosto/setembro de 2 0 0 6
Capacitação
O primeiro passo do projeto foi a realização de uma capacitação com os professores da
área das Ciências Humanas, envolvendo as disciplinas de História, Geografia, Filosofia, So
O s p ro fe sso re s
ciologia, Cultura e Economia do RN, como explicou Elizabeth Jácome, subcoordenadora do
p re te n d e m
Ensino Médio. "Como nós trabalhamos com a interdisciplinaridade, os professores da área
f a z e r u m a p ro
da Ciência também podem fazer parte, bem como os profissionais de Sinais e Códigos", disse.
d u ç ã o d id á tica
A capacitação aconteceu nos dias 4 e 5 de outubro, no Instituto de Formação Superior Pre
so b re o t e m a
sidente Kennedy, com representantes das 282 escolas de Ensino Médio de todo o Rio Gran
q u e s ir v a d e elo
de do Norte. Sob coordenação de Elizabeth e de Aliete Cavalcante, o evento teve como tema
d e c o m u n ic a
central "As novas perspectivas sobre o estudo da história e da cultura africana".
çã o e n t r e e le s e
"Junto com os professores, pretendemos articular propostas que viabilizem ações po
o alu n o
líticas e pedagógicas da referida
legislação resultando em uma Fotos: Arquivo/DN
ompra escravos
s sexos de 14a 24 anos de
dude na rua conde dSu
QifíícsicR&m? ejs iz \
N
ou quinta... Mossoró foi a segunda
cidade brasileira a libertar os escravos.
A precursora, na verdade, foi Aracape, uma
pequena cidade no interior do Ceará, que
QUEM É
Rubens Coelho nasceu em Mila-
gres-CE, morou 11 anos em Fortale
K u b a iiü Cotelt*©
' -"tf
«***k».' • - - f’t't't.T1' •'
poucos
escravos
e o Rio Grande do Norte não devastada por uma aterrorizante
Segunde WandeHey
Poeta dos Escravos no RN
Arquivo/DN
onsiderado o maior poeta do Rio Gran
Maranhão e presidida no ano de 1915. Aprimeira edição traz um estudo de juízo em obras p o steriores". (Manuel
por padre João Maria Ca Gotardo Neto que analisa os dois poetas, o baiano Rodrigues de M elo)*
valcanti de Brito. Castro Alves e o potiguar Segundo Wanderley, che
DNOEDUCAÇÃO Natal, agosto/setembro de 2 0 0 6
Gerações
vos no semi-árido potiguar, a professora teve como
fio condutor a investigação do depoimento de Dona
Cacilda Neves de Oliveira, que se diz neta de Milita-
na, uma das escravas de Antônia Rufina Praxedes e
Lúcio Manoel Fernandes, proprietários em 1885 da
Fazenda Sabemuito, localizada no município de Ca-
raúbas. "Junto ao depoimento de Dona Cacilda, ana
lisei o inventário de Dona Antônia, bem como ou
tros documentos cartoriais e paroquiais, além de en
de
trevistas e fotografias", disse.
Dessa forma, em busca de elementos junto aos
descendentes de Dona Militana e de sua família,
Goretti procurou saber alguns indicadores socioe-
conômicos ao longo das seis gerações. Com base
nesse mapeamento, a professora conseguiu ana
lisar a inserção das gerações dos descendentes da
escrava liberta Luíza, estabelecendo uma relação
entre a ascendência genealógica e a forma de dis
persão dessa família, sobretudo a escolaridade e
a profissão dos descendentes.
A escrava Luíza
Escravos Dona Cacilda Neves é neta de escrava
Herança
A pesquisa da professora, feita através do mapea
mento das gerações dos descendentes da escrava Luíza,
revelou dados interessantes com transformações políti
cas, econômicas, sociais e culturais. Um dos principais
dados está relacionado à educação. Em um universo de
quase 300 pessoas entrevistadas, apenas quatro conse
guiram chegar ao nível superior.
Isso revela que o percentual afro descendente do RN
está abaixo do percentual brasileiro, que está entre 2% e
2,5%. "O melhor rendimento escolar, em termos quantita
tivo e qualitativo, foi observado na quarta geração, quando
houve o ingresso em todos os níveis de ensino", observou.
De acordo com a pesquisadora, o entrelaça
mento desses indicadores socioeconômicos levou
à constatação de que as condições dessa família
afro-brasileira vivendo no semi-árido norte-rio- A pesquisa trabalhou com a
grandense se insere nas condições de pobreza
em que se encontra a maioria da população, nor genealogia, indicadores e
malmente agravada entre os afros descendentes.
Por outro lado, essa realidade se refletiu dire distribuição da fam ília
tamente nas profissões exercidas. O quadro so-
cioeducacional das seis gerações dos descenden mapeada nos m unicípios de
tes da liberta Luíza mostra que a situação é mais
crítica entre os homens, que além de não conse Caraúbas, Severiano Melo, Itaú
guirem bom desempenho escolar, a maioria con
tinuou trabalhando na agricultura. No caso das e Mossoró”
mulheres, a maioria tornou-se dona-de-casa ou
doméstica, preservando traços de submissão pa
triarcal. "Chegamos à conclusão de que os nos
sos descendentes de escravos ainda não conse
guiram conquistar o seu espaço na sociedade",
concluiu a professora.
Descobertas
O interesse de Maria Goretti sobre essa temática surgiu com a
constatação de que ainda existiam inventários que citavam os escra
vos no Rio Grande do Norte. "O fato me surpreendeu, pois a versão
de Câmara Cascudo, dentre outros historiadores, era de que Rui Bar
bosa teria mandado queimar tais documentos após a Abolição. Pes
quisando melhor aquele historiador, deparei-me com sua Tese Patriar-
calista para as relações escravistas do Sertão, comum entre todos os
pesquisadores das áreas Sociais", disse.
A representação
do negro pela
imprensa do
século X IX O Italiano e artista gráfico Angelo Agostini
foi um dos principais críticos do escravismo
\ intensificação do abolicionismo no Isso porque, antes da década de Brasileira contiaaEscravidão, tinha como 1883, a Confederação Abolicionista Em
LX Brasil, nadécada de 1880, não podia 1880, os militantes antiescravistas não preocupação primordial a "péssimaima- São Paulo, ojornal "Redenção", criado em
JL Aser omitida pela imprensa, que tinham acesso fácil aos jornais de gem" doBrasüno exterior devido aescra- 1887, por Antônio Bento, mobilizou os
transmitia notícias e assuntos que refle prestígio, pois estes adotavam uma vidão. Já a "RevistaIlustrada", do imigran "caifazes", militantes que empreendiam
tiam, de uma fornia ou de outra, os inte posição cautelosa devido à depen te italiano Angelo Agostini, criticava de ações radicais como fugas e sublevações
resses dos leitores. Assim, nada mais na dência dos anunciantes, muitos umafoima satíricaatravésde chargesotia- de escravos.
tural de que, no período, o escravo ocupas deles senhores de escravos, apesar balho escravo e seus defensores. Estes jornais publicavam tudo o
se os vários espaços dos jornais. da crise do escravismo e a amplia Outros veículos que também ti quepudesse contribuirpara o avanço das
No início, as adversidades para o de ção dos grupos sociais urbanos con veram um papel destacado na campa idéias contrárias ao escravismo: resumos
senvolvimento de publicações abolicio- trários ao cativeiro, nem todos os nha abolicionista na capital do Império de conferências, datas e locais de eventos
nistaseramimensas.Entretanto,jánapri- jornais aderiram à campanha abo na época foram os jornais de José do destinados à obtenção de fundos para a
meira metade do século XIX, no Rio de licionista. Patrocínio, a "Gazeta da Tarde", durante campanha, alforrias e violências cometi
Janeiro, circularam diversos pasquins cri A "Gazeta de Notícias", de Ferreira de todaadécadade 1880, eo "CidadedoRio, das contra os escravos. Tiveramum papel
ticando a escravidão, embora tivessem Araújo, fundada em 1876, foi o pioneiro, a partir do final de 1887. Na redação da fundamental na extinção legal da escra
um alcance fimitadoeumatiragempeque na cidade do Rio de Janeiro. "O Abolicio "Gazeta da Tarde", na Rua Uruguaiana, vidão no Brasil, na medida em que veicu
na alcançando 400 ou 500 exemplares. nista", criado, em 1880, pela Sociedade no centro da cidade, organizou-se, em lavam a campanha abolicionista
Naeu, agosto/setembro de 2 0 0 6 DNOEDOCAÇÃO
Q UEM É
Gilberto Maringoni é jornalista, histo
riador e artista gráfico. Formado em ar
quitetura pela FAUUSP. Colaborou para
revistas COIRO Atenção!; Carta Capital; Veja;
Istoé; Visão e Afinai, e parajornais como
O Estado de São Paulo; Folha de São Pauio;
Jornal da Tarde; Jornal do Brasil; Zero Hora,
de Porto Alegre; Hoje em dia, de Belo Ho
rizonte e Jornal do Comércio, de Recife.
Publicou por mais de dez anos, em quin
ze jornais, a tira em quadrinhos Romeu.
0 abolicionismo ilustrado perdício não me aprofundar no assunto. Além Tem trabalhos publicados nas revistas Flui-
A ilustração começou no Brasil em uma data do mais, ele viveu numa das épocas de maio de Glacial (França), Seleções BD (Portugal)
precisa: no Jornal do Comércio de 14 de dezem res transformações da história do Brasil, que e no jornal Punto Final (Chile). É autor
bro de 1837, chamada de Caricatura (uma espé deixava para trás os restos da economia co dos livros "O dia em que o sol não nas
cie de folheto litografado), de autoria de um ar lonial, baseada no escravismo, recebeu um ceu" (Editora Salamandra); "Deus e o
tista consagrado na época: Manoel de Araújo montante considerável de capitais externos Diabo na terra da mídia" (Circo Editorial);
Porto Alegre, que estudou em Paris nesse ano, e e construía as bases de uma sociedade de clas "Os filhos da Dinda" (Scritta Editorial);
trouxe a novidade. ses profundamente desigual e injusta, mas "Como não enlouquecer no trânsito" (Edi
Apartir daí a influência francesa em nossa ilus moderna", explicou. tora 34); "A imagem e o gesto - fotobiogra-
tração foi marcante, até que em 1859 desembarca Na sua pesquisa, o jornalista aponta, fun fia de Carlos Marighella" (Editora Funda
no Brasil um piemontês, nascido em Farcelle, damentalmente, duas coisas. A primeira é que ção Perseu Abramo), e "AVenezuela que
Itália, a 8 de abril de 1843, neto materno de uma Agostini, embora seja um dos mais destacados se inventa: poder, petróleo e intriga nos
senhora parisiense que passara a infância e a ativistas pelo abolicionismo, acompanhou o pro tempos de Chávez" (Editora Fundação
adolescência em Paris, onde estudou pintura. jeto que a minoria branca tinha para o país: uma Perseu Abramo). Atualmente colabora com
Esse jovem artista era Angelo Agostini, que sociedade baseada no liberalismo, no trabalho a Agência Carta Maior, a revista Repúbli
já em 1864 estreava no pasquim Diabo Coxo, o assalariado, que relegou os negros à própria ca e a editora Boitempo.
primeiro periódico ilustrado editado em São sorte. "Secundariamente, mostro a passagem
Paulo, começando a desenvolver um estilo muito de um tempo em que a imprensa era uma ati
pessoal, diferente da característica francesa, cu vidade artesanal, de poucas pessoas, para um
nhando um traço que depois seria chamado de empreendimento capitalista de grande porte, a
f brasileiro, que criaria uma escola desenvolvida exigir pesados investimentos em maquinário,
até o final do século XIX por outros artistas. pessoal e matérias-primas".
Todo o ambiente político propício foi bem apro O estudo levou o autor a observar que, embo
veitado por Agostini, que se tornou um dos ra Agostini fosse um abolicionista, isso não im
maiores críticos do reinado. plicava um compromisso maior com os negros ou
Republicano, anticlericale, principalmente, abo com as classes populares. "Era um homem da
licionista, Angelo Agostini é considerado por mui elite ilustrada, com seus parâmetros e visões de
A im portância de Agostini tos um legítimo brasileiro - embora nunca tenha se mundo. Era genial, mas eüüsta, como Joaquim
naturalizado, paia que não pensassem que, nos em Nabuco, Rui Barbosa e outros", enfatizou.
é decisiva na im plantação bates políticos, ele teria medo ou fraqueza. Afinal, Mesmo assim, Maringoni não diminui a im
corria o risco permanente de deportação. portância do chargista para a história da impren
de uma im prensa Mas, mesmo que ele se dissesse abolicionis sa no País. "Agostini atuou por 44 anos na im
ta, não chegou a viver esses ideais, pois era um prensa. É uma das carreiras mais longas de nossa
ilustrada e de agitação no homem da elite, que não tinha um necessário história. Sua importância é decisiva na implan
compromisso com os negros, como defendeu tação de uma imprensa ilustrada e de agitação em
país. Seus painéis sobre a Gilberto Maringoni, em sua tese de Doutorado nosso país. Além disso, seus painéis sobre a es
concluída em julho deste ano, pela Universidade cravidão são o melhor retrato visual da barbárie
escravidão são o m elhor de São Paulo (USP). A pesquisa durou cinco anos, social dos anos 1880", disse.
mas o interesse por Agostini vem de longe. Come Na opinião do jornalista, Agostini deve ser
retrato visual da barbárie çou nos anos 1980, quando conheceu parte do tra apontado, na história das Histórias em Qua
balho dele. Planejou uma biografia. Adiou o pro drinhos, como um dos principais precursores,
social dos anos 1880 jeto. Adaptou a idéia no doutorado. ao lado do suíço Rudolph Topffer e do ale
Aos 47 anos, Maringoni despertou para o as mão Willheim Busch. "Ele fez aqui algo que
sunto ao adquirir em sebos grande parte das co não existia em parte alguma: um romance se
leções dos jornais editados por Agostini. "Tinha riado totalmente ilustrado, com duração de 24 Jornalista e historiador G ilb erto Maringoni
o material na mão e achei que seria um des anos, recheado de interrupções".
S A IB A M AIS dizer: 'Bom, enquanto não me deportam, eu aproveito para tal do começo do século nas páginas da famosa revista O Malho.
Durante 46 anos, de 1864 a 1910, Angelo Agostini, além da sá dizer o que sinto e o que eu penso...'". Continuou desenhando nas páginas de O Malho até às véspe
tira e crítica política, desenvolveu uma perspicaz e minuciosa ob No Vida Fluminense, até 1871, Agostini desenvolve sua obser ras de sua morte, num domingo, 23 de janeiro de 1910, cansado
servação do tipo humano brasileiro, especialmente o carioca. vação sobre o tipo popular, retratando o caixeiro em domingo, o pelos anos de trabalho e atingido pela morte de seu amigo de 50
Como outros artistas e propagandistas republicanos, criou um sím mascate, o chim do pesado, a mucama alcoviteira, a mulatinha cheia anos, Joaquim Nabuco, que falecera no dia 17, em Washington.
bolo do homem nacional: um índio soberbo, ao estilo de "O Gua de dengos e a sinhazinha. Também desenvolveu a fundo a metamor No sábado Agostini participou de uma reunião com os antigos
rani" , que sempre aparece nos seus desenhos, carregando os des fose de importantes figuras da corte em cmmais característicos. membros da Confederação Abolicionista para homenagear o
mandos do Império: impostos, parlamento, políticos, "afilhada- Agostini, além do traço, percorria os salões com óleos e aqua velho companheiro de lutas.
gem" ou observando inconformado as trapalhadas da corte. relas com paisagens do Brasil e da Europa, e também aproveita Alquebrado pelos anos e fustigado pelo violento verão, ele vol
Em 1869, Agostini intensifica sua atividade abolicionista va a ocasião para ironizar outros artistas plásticos com caricatu tou para sua casa, triste e saudoso, falecendo no dia seguinte.
sendo interpretado por José do Patrocínio assim: "Quando o es ras de suas obras. Fazia isso regularmente desde 1872.0 adven Deixou uma obra memorável, num volume surpreendente em
cravismo pretendeu levantar a opinião, chamando-o estran to de abolição e da República não aquietou o lápis do desenhis quantidade e qualidade, criando um estilo único, pioneiro e pre
geiro, audaz, hóspede ingrato, Angelo sorria-se e limitava-se a ta. Ele continuou satirizando os políticos e os costumes da capi- cursor da caricatura nacional.
DN© VESTIBULAR N ame , agosto/setembro de 2 0 0 6
ARTIGO BRASÍLIACARLOSFERREIRA»