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2012, Juvenal de Carvalho.

SUMÁRIO
Todos os direitos desta edição reservados à

EDITORA E DISTRIBUIDORA DE LIVROS


MARTINS E MARTINS LTDA. APRESENTAÇÃO | 7

REVrSÃO e NORMALTZAÇÂO
oCAMTNHODAESCOLA | 9
Flávia Rosa
A OUTM ESCOLA QUE ENCONTREI NO CAMINHO | 1L
CAPA, PROJETO GRÁFICO e EDITORAÇÃO
AVOZ DO TAMBOR | 14
Ro drigo O y ar zâb al S chlabítz
SABER OWIR | 1-7
LIMPARAMENTE? I 19
AIMAGEMDAÁFRICA I 23
curDADo coM o QUE FALA | 26

NOVOSCAMINHOSNAESCOLA | 28
AS RTQUEZAS DAÁFRICAI | 2e
C331c Carvalho, Juvenal de.
Uma conversa sobre as Áfricas/ Juvenal de Carvalho. - Salvador:
os TNVASORES | 32
Martins e Marúns, 2012.
59 p.
| 3s
A RESTSTÊNCIA DO§ AFRICANOS

ATNVENÇÃO DE UM NOVO MAPA | 38


ISBN 978-85-65063-15-9

1. História. 2. Afríca. 3. Educação. 4. Literatura infanto-juvenil.


A UNIAO DE TODOS OS AFRICANOS | 41

L Título. os ESTADOS AFRICANOS ANTES DA IN\IA.SÃO I 43

CDD - 028.5 ANTTGUIDADE DOS POVOSAFRICANOS | 45


os ELos ENTRE OS POVOS AFRICANOS | 48
oNDETUDOCOMEÇOU! | 50
os srlÊNcros DA ESCOLA | 53
REFERÊNCTAS I 57
llmtinn&}litrtim

EDITORA E DISTRIBUIDOM DE LIVROS


MARTINS E MARTINS LTDA.
Rua Comendador Gomes Costa,49, sala 3 - Barris - 40070-L20 - Salvador/BA
Telefar (71-) 3013-6592 - E-mail edmartinsemartins@yahoo.com.br
I Ágô, Juvenal!
APRESENTAçAO

Agô, para paÍticipar desse diálogo entre educadores paÍa Educação


das Relaçôes Étnico-Raciais.
Juvenal nos convida parâ um oportuno diálogo com a nossa ances-
tralidade negra. O seu texto inicia com a palavra agô. Agô é um pedido de
licença na língua ioruba. Pedir agô, significa um profundo respeito também
com o patrimônio ancestral dos nossos educandos.
O nosso estudante terá a noção da existência de línguas estrangeiras
e de outras saberes de origem africana. Imagine saber que só na Nigéria
fala-se mais de duzentas Iínguas. Mais importante ainda será quando o
nosso educando tiver a oportunidade de percebeÍ tantas palavras africanas
que estão em nosso vocabulário no dia a dia, graças a presença do povo
banto. Os bantos foram os primeiros a serem retirados de suas comunida-
des africanas para serem escravizados no Brasil. Por causa deles, falamos
samba, andu, dendê, caçula, fubá, quitute, jiló, calunga, tanga, sunga, qui-
tanda, dengo, carimbo, moleque, bunda, mocó, umbanda senzala, cabula,
xodó, cochilo e muito mais.
Juvenal cria camlnhos de uma geografia da curiosidade e do afeto
transformando pessoas pelo desejo de aprender pâra ser.
A geografla surge com alocalizaçáo no espaço e escolhas de cami-
nhos com autonomia. Uma geografia que centra o sujeito nos seus desejos
Dedico esse trabalho ao velho, aos velhos, e metas. Os caminhos estão nos bairros, nas cidades, nos estados, nos pa-
todos os velhos, sábios que sâo, exemplos íses e nos continentes. O caminho para a escola está dentro dos caminhos
de vida, que merecem nosso respeito e con- do mundo.
sideração, a quem todos nós devemos pedir
"Quando morre um velho é como se uma biblioteca inteira
a benção!
fosse incendiada"
Quando o velho Didi entra em cena âcontece o encontro da sabedo-
ria com a curiosidade, um tempo que é real e um tempo que corre apressa-
do pela ação e necessidade de contabilizar tudo que se encontra pela frente.
Uma das reflexôes possíveis está na relação entre currículo, uma nota, um
número para passar de ano e a possibilidade de aprender transformando-se
pelo conhecimento e pela escuta do outro.
E preciso escutar e sentir o conhecimento
que transforma conhe- OS CAMINHOS DO SABER
r irnentos em práticas e sentimentos'
A escuta do velho sábio acontece na
exclusão'
rcciprocidade do saber no mund'o fora da escola sem nenhuma Agô, agô, eu Peço agô!
Iissemomentolembraafaladeumsábiodamodernidadeafricanaquenos
Essa é uma provocaçào
diz: "Epreciso ouvidos limpos para hálito puro"' "O conhecimento é como um iardiln
," rraofor:.rttirado, não pode ser colhido'"
que nos leva a várias reflexões:
de jovens
"Como nos limpar dos preconceitos que maculam a alma
ccriançasnegras.olo.a,'do-"snolugardainferioridadeedavergonhade
e de aprender? Estamos educan-
srras origens? Qual é o conceito de ensinar
que estamos educando?"
o CAMINHo tr4ryc9!4-
do para que? O que esperamos das pessoas
cami-
a escola. posso ir por vários
o sol se levanta e 1á vou eu para
"A fruta só dá no temPo" mesmo' Logo na esquina' no
cruzamento com
nhos, mas escolho sempre o velho que
oautornãosóconta..HistóriadasÁfricas,,,masdesenhalugares pela casa de Seu Didi' Um preto
a nova e larga
arnbientesdandovidaahistóriapelacuriosidadedojovemNascimento.os "rr""iJ'lpasso
com sabedorias e a histó- sempre está na Porta'
provérbios são como elos que juntam a oralidade
ao longo de séculos
ria que precisamos saber além do que temos repetido
Nascimento: - Bençáo seu Didi
da nossa educação.
o futuro ele nos chama atenção
Quando o autor cria o diáiogo sobre ilumine e abra seus ca-
presente em função de uma seu Didi: _ Minha mãe que the abençoe, the
para compreender a história que se tealizano
do passado que com cettezavai repercutir
no futuro' Quando "o mínhosl
história
velho viaja para qualquer lugar", cria uma
demanda interna para o exercício disse que
responde desse jeito' Mãe me
Eu nunca entendo porque ele
dosdoishemisfériosdocérebro.Falardehistóriaparacrianças,importa os dias e já era assim desde
quando elafaz\a o
o velho sempre está 1á, tod'os
emmexercomaimaginação.Nessashistórias,todaaminhaidentificação O Seu Didi iâfrcxaa1i vendo
tudo' vendo to-
mesmo caminho que eu faço' passa'
é com o Nascimento' que para o velho o tempo não
o tempo passâr' Mas parece
Quem não sabe pergunta' É
de's" jeito que as Histórias das Africas e dos, vendo
véu por véu do fundo da memória mais de 90
do Brasil vão sendo desveradas retirand.o enverhece, apesar de já ter
se faz presente como uma verdade Todo mundo diz que ele não
r1o seu Didi. o tambor como brincadeira Cabelos brancos e um olhar
atento' boa me
anos. Sua pele é lisa e brilhante'
ancestral' que ele é muil«r
serena' Seu jeito dá impressão
mória, fala de maneira firme e
ovelhodesenhaummapaesemostranasuahabilidadedeajudar no Seu Didi'
sábio. Aqui no bairro todo
mundo admira' respeita e confia
de viver'
na descoberta de caminhos novos de saber e
qu('
muitas coisas' muito mais do
AduPé Juvenal! rt()s
Dizem também que ele sabe
VanilaMachailo imaginamos.Conhecetoi"'daquiedemuitosoutroslugares'coisastlttt'
acontecemagolaecoisasquejáaconteceramhámuitotempo.Litrttarlst'i
( onio é que ele pode saber tudo isso. Ninguém sabe. É um ministério. Mãe
A OUTRA ESCOTA QUE ENCONTREI NO CAMINHO
rliz que ele tem poderes mágicos, que tudo ouve e tudo vê, que viaja para
r;tralguer lugar e para qualquer tempo!! Será que isso é possível?

Eu sempre fui curioso. Ainda vou descobrir como o velho sabe tanta
coisa, como conhece tantas histórias. Não acredito muito nesta conversa
r .'lDizemt""-;:il1',,iÍlmffi
clc poderes especiais. um dia vou descobrir qual é o segredo do seu Didi.
Ué!! Onde está o velho? Pensei que ficava aqui sentado o dia todo'
Será que devo entrar? A porta está aberta mesmo. Seu Didi frcarâ"retado"?
Sempre que passo por aqui tenho vontade de parar, conversar e pergun-
tar, mas tenho que ir para a escola, aprender com os liwos, se não minha mãe
Vou arriscar, quando é que poderei sair mais cedo da escola novamente?
ficará "retada" comigo. Agora veja bem, se o seu Didi sabe tantas coisas eu não
Melhor eu tentar conversar com ele agora, antes que seja tarde.
p.deria aprender com ele também? Quem sabe não seria mais divertido?
Nossa!!! OIha só para esse salão como é grande e iluminado. De onde
vem toda essa luz? O que será essa estátua deste velho aqui na porta? Pare-
Ele podia me dizer o que vai cair na prova de Matemática, hummm
ce que está tomando conta para não deixar ninguém entrar!!
seria bala!l o Seu Didi deve saber como era esse bairro antes da avenida e dos
prédios do outro lado. É o assunto de Geografial! Ainda tem o projeto África,
Uaul! OIha sópara esses três grandes tambores! E esses objetos de
cssa eu quero ver se ele sabe. Todos os professores cobrarão isso. Não sei o
metal, que instrumentos são esses que eu nunca vi?
que farei. A professora está falando dos povos que construíram o Brasil. o
livro fala mais dos portugueses, mas ela quer que a gente fale de todos, como
Onde está o Seu Didi?Será que está ali? Vou 1á. Deixaram os sapatos
é que eu vou fazer? E tenho que ligar tudo com a Africa? seu Didi sabe lá
aqui na entrada. Farei o mesmo e vou lá ver o que tem depois daquela porta
alguma coisa sobre isso? Como fazparaconhecer tantas coisas? sei não, mas
no outro lado do salão. O velho deve estar por 1á. Mas esse chão é de barro?ll
ainda vou descobrir e, se ele sabe mesmo, vou pedir para me ajudar!!!

Nossa, nunca pensei que existia esse quintal tão grande, com tantas
Trimmmmmmmmmmmmm, hora da aula, mais um dia..........nin_
plantas e pássaros. O velho morra aqui sozinho? Mas onde ele está?
guóm merecel! Não sei para que tudo isso! Mas não tem jeito, aqui estou eu.
Opa, cadê a professora? Não veio hoje? Será que ela está com problemas?
Nascimento: - Seu Didi? Seu Didi? O senhor está por aqui?

Nascimento: - Posso ir para casa, diretora? Tenho que ajudar minha


Olha como é um lugar tão calmo e silencioso, dâ para ouvir os pás-
rrrãc e vou aproveitar para adiantar o trabalho sobre Africa.
saros cantando e as folhas balançando. Esse barulho de água vem de onde?
Vou ver se ele está por 1á.
Diretora: Está bem, você pode ir.

Aqui tem também uma fonte de água saindo das pedras!! O que o
Viva, viva. Não acredito. Era o que eu precisava. Agora vou conversar
( ()rn () Seu Dic1i. velho está fazendo, sentado em baixo daquela ârvore perto da fonte? Acho
melhor eu ir embora para não interromper a viagem dele.
O problema é gue eu
Seu Didi: - Entre meu filho. Ciências, Geografi.a, Português"' todas' Uma loucura'
pode me ajudar nâo é?
preciso tirar 10' Será que vou conseguir? O senhor
que o senhor sabe muito sobre a Áfrita e que poder
ir para qualquer
Nascimento: - O senhor nem se virou! bir"- 1r

lugar, entáo pensei que poderia me ensinar!


Seu Didi: - Venha até aqui Nascimento, eu estava esperando.
Seu Didi: - E a escola não ensina o que você
precisa saber meu fiIho?

Nascimento: - Agô, agô, é assim que se diz, Seu Didi?


preciso tirar
Seu Didi: - Sim, esse é um jeito de pedir licença, meu fiIho. Nascimento: - Bem, eles falam alguma coisa' mas eu
1-0ll Acho que o senhor sabe mais e pode me
dá umas dicas' Não é?
Agoiá. Você pode chegar.

O velho dá um sorriso leve, balança a cabeça e


fica olhando para as
Nascimento: - O senhor sabia que eu viria?
águas que correm da fonte e diz:
Seu Didi: - Hahahahahahaha. Sabia sim Nascimento.
- Quando tinha a sua idade, meu avô me contava muitas
Seu Didi:
de seguir para o
Nascimento: - Desculpe, eu não queria atrapalhar. Histórias sobre a terra dos nossos antepassados' Antes
Orum ele me deu esse tambor de presente'
Seu Didi: - Não tem problema meu frlho. Sente-se ao meu lado e me
essa? Foi seu
diga o que trouxe você até aqui? Nascimento: - Nossa! É bonito! Que tipo de madeira é
avô que fez esses desenhos? Eu posso tocar?
Nascimento: - Tenho muitas perguntas para the fazer. Dizern que
o senhor pode ver tudo e ir para qualquer lugar sem sair daqui, que pode
atravessar o tempo, saber coisas do passado, ver coisas que ainda nâo acon-
teceram. O senhor pode me ajudar?

Seu Didi: - O que você quer? Saber sobre o futuro?

Nascimento: - Na verdade eu quero saber do futuro e do passado.


Preciso saber se passarei de ano. Tirei muitas notas baixas e agora preciso
ganhar l-0 nas provas para passar em várias matérias.

Seu Didi: - Como posso the ajudar?

Nascimento: - Nesta unidade tem um projeto sobre a África, 1á na


escola.Todas as disciplinas trabalharão com esse tema. Até Matemática,
AVOZ DO TAMBOR Seu Didi: - Essa aí é bem novinha. Foi meu bisavô quem plantou. Na
itfric é considerada uma arvore sagrada. Cresce tanto que pode até fazer
uma casa aí dentro.
'Ô'segreáodo velho não se çompra c.qr[dinhéiro,

Nascimento' - É do tempo do seu bisavô? É novinha mesmo'!!!!!!!!

Seu Didi:- Calma, Nascimento, calma. Tudo tem seu tempo, sua Seu Didi: - Venha, para começar vou the ensinar a ouvir as vozes des-
hora. Esse tambor está na minha família jâ Íaz múto tempo. Ele girou se tambor. Se sua mente e seu coração estiverem puros, sem pensamentos
pelo mundo, atravessou a Kalunga grande com nossos ancestrais, passou ou sentimentos estranhos, você poderá conversar com o Tambor. Os ve-
por muitas mãos e hoje está aqui. Guarda muitos segredos que não po- Ihos, sábios de todos os tempos ouvirão suas perguntas.
dem ser revelados de qualquer jeito. É preciso provar que merece saber.
Vivendo, fazendo, ouvindo, aprendendo, com tempo vai provando que Nascimento: - Eu toco o Tambor e o senhor responde o que eu quero

merece saber. saber? É assim?

Nascimento: - Mas Seu Didi, quanto tempo isso leva? Demora mui- Seu Didi: - Quem responde são os velhos, eu e muitos outros, sábios
to? É que minhas provas serão no mês que vem. daqui, dali, de ontem e de hoje.

Seu Didi: - O tempo de hoje é muito diferente do meu tempo. Tudo é Nascimento: - Como isso é possível? Um tambor que fala? Que per-
ligeiro, tudo é para agora, tudo tem pressa. Mas o tempo do tambor é outro. mite a gente conveÍsar com velhos sábios?

Você quer aprender com o Tambor? Então, algumas coisas levam um dia,
outras levam sete, algumas coisas levam um ano, outÍas levam sete, depen- feito com a madeira de uma árvore
Seu Didi: - É um Tambor especial,
de. Você quer saber mesmo? Tem tempo para começar agora? antiga, muito antiga, de um tempo em que tudo era água neste mundo e
a terra foi surgindo e se espalhando devagar. Então a primeira árvore foi
Nascimento: - Sim meu velho, eu tenho. Posso ficar aqui até a hora plantada.
do almoço!!!
Nascimento: - O Tambor é desse temPo?

O velho dá um sorriso novamente.


Seu Didi: - Ele foi feito com um pedaço do tronco de uma ârvote
Seu Didi: - Então sente aqui ao meu lado, aos pés deste Baobá. sagrada, imensa, com uma grande copa, tâo grande que abriga muita gen"
te. Os velhos, sábios de todos os tempos, se reuniam embaixo dos seus
Nascimento: - Baobá? Esse é o nome dessa árvore, seu Didi? Nossa! galhos para convelsar, ouvir e contar suas Histórias, discutir e decidir as
Como é grandona! coisas da comunidade. E assim ainda fazem em muitas partes do conti-
nente africano.
Nascimento: - Então quando perguntar ao Tambor, eu conversarei SABER OUVIR
com todos esses sábios? Como é mesmo que funciona isso?

Seu Didi: - Como eu lhe disse, o tambor guarda muitos segredos. É


possível conversar com ele e, através dele, com outras pessoas, de outros
lugares e de outras épocas. Ao tocar ouço outros velhos, outros sábios fa-
lando.
Seu Didi: - Calma meu filho. Esqueça o caderno. Aqui você não deve
anotar nada.
Nascimento: - Poderei perguntar o que quiser?

Nascimento: Como assim? Se eu não anotar nada o que eu vou fa-


Seu Didi: - Poderá perguntar sim, mas lembre-se que ele é um Tam-
zet paracontar as histórias lá na escola? Vou esquecer! Vou atrapalhar as
bor mágico. Pode levar você para qualquer lugar, em qualquer época. É pre-
coisas!
ciso ouvir bem, prestar atenção para não confundir o que é daqui com o que
é de lá. Está pronto para começar?
Didi: - Se sua mente estiver pronta você aprenderá rápido e de
Seu
verd"ade e não se esquecerá de nada. Preste bem atenção em tudo, ouvlr
Nascimento: - Massa! Gostei. É isso mesmo que eu queria. Vou pegar
bem, saber escutar é o primeiro passo para quem quer contar bem as higtó'
meu caderno para anotar, não quero perder nada que o Tambor falar.
rias. Esqueça o caderno e se concentre, converse com o Tambor, ouça o que
ele diz, ouça os velhos que falam através dele. :

Nascimento: -'Está certo seu Didi, vou ouvir o tambor com toda
atenção e não vou anotar nada. Podemos começar, Eu preciso saber 80'
bre aquelas guerras e aquela gente morrendo de fome. Mas como saberei
a quem perguntar? Como saberei se estou ouúndo direito, se quem fala
através do tambor é aesmo um velho sábio?

Seu Didi: - Cuidado, vejabem o que você fala menino. Molhe as mâoe
e a cabeça aqui nesta fonte para limpar a sue mente dos monstros, dae
ideias erradas que the falaram sobre a África.

Nascimento: - Ideias erradas? Não entendi. Ninguém nunca mê dl88e


nada. Às vezes vejo alguma coisa na TV. Quando era menor vi aquele de'
senho dos bichos voltando para casa na África, Madagascar.., minha mâc
adora os filmes de Tarzan que ela via quando criança.
Seu Didi: - OIhe aí o que você está dizendo? Mesmo sem perceber LIMPARA MENTE?
$Ocâ tem um bocado de informaçâo. Será que elas gão verd.ad.eiras? Para
htrgulhar nas Histórias das Áfricas é preciso se libertar dos muitos pre-
Conceitos qUe nos ensinam Deixe a água desta fonte, limpara sua mente.

Nascimento: - Certo, lavarei as mãos e a cabeça.

Seu Didi: - Muito bem, lembre-se sempre disso. Agora segure o Tam- irobr"
Seu Didi: - Falaram muitas mentiras,irnrrit", coisas
bor e faça o primeiro toque. "rrrdm
essa terra. Até hoje ainda falam. Pode começar pelo nome. Desde quando
aquele:pedaço de terra passou a ser chamadó de r{frica? Será que os habi
Meio acanhado, começo a tocar...
tantes deste espaço chamavam tudo de África? Será que um morador do
Tumm, tum. Tutu, tutum, tutum, e perguntar...!!
reino d.e Oyó sabia da existência de um morador do reino do Ndongo e

considerava o mesmo como irmão?


Nascimento: - Nossall Entâo aquela terra não se chamava África? De Seu Didi: - Você não acha estanho quando escuta um nome inglês
onde é que vem esse nome e o que significa? ou até mesmo japonês, mas se espanta quando é um nome africano!! Já
pensou nisso? Ki-zerbo foi um sábio de Burkina Faso, um país da Áfricn
Seu Didi: - A palavra Africapode ser encontrada nos tempos do Im- Ocidental.
pério Romano, mas ninguém sabe ao certo sua origem e significado. pode
ter origem no nome de um povo berbere, os Afrig, que viviam ao sul de Nascimento: - O senhor que dizer que o nome Africafoi uma invenção?
Cartago. Neste caso signiflcaria "regiâo dos Afrig". Talvez seja derivado do
latim ou do grego, significando ensolarado ou isento de frio. No hindu pode Seu Didi: - Sim, é isso. O nome que os habitantes daquelas terras
signifrcar o que está a Ocidente. Assim diz o sábio Ki-zerbo. usavam para identificar o lugar nós não sabemos. Nem mesmo sabemos
se eles tinham um nome para definir toda região. O que existe no outro
Nascimento: - Como é que é? Ki-zerbo? Que nome estranho seu Didi. Iado da Kalunga Grande é uma porção enorme de terra que já recebeu mui
Queméele?Éafricano? tos nomes. Núbia, Sudão, Guiné, Líbia, Senegâmbia são palavras que, em
algum momento foram usadas para se referir ao que hoje chamamos dc
África.

Nascimento: - Seu Didi, se nem o Tambor sabe qual era o nome da


quela terra como é que passou a ser chamada de África?

Seu Didi: - Tudo virou África quando pessoas de diferentes lugart's


foram sequestradas, forçadas a atravessar a Kalunga Grande e a viver jtrrr
tas aqui, nessa terra que hoje chamamos Brasil. Assim, um foi descobrindtr
as tradições, o jeito de ser do outro. Perceberam que eram parecidos crl
muitas coisas importantes e foram se juntando

Nascimento: - E viraram africanos?

Seu Didi: - Não, primeiro formaram grupos que se identifica


vam pelo nome dos portos onde embarcaram. Eram Minas, Angtll;rs,
Cabindas...lTambém eram chamados de negros da Guiné. Depois a palavr;r
África passou a ser usada para identificar todo mundo que vinha a I'orça rltr
outro lado da Kalunga Assim nasceu uma nova identidadc para orÍ'rt'rttar
os desafios de viver no Brasil
Nascimento: - Kalunga não é um tipo de rato? Como é que o senhor A IMAGEM DA AFRICA
fala atravessar a Kalunga Grande?

Nascimento: - Nossa!! Eu pensava que o nome sempre fOi eeee. E tem


Seu Didi: - As palavras podem ter muitos significados. Podem mudar mais mentiras que eu preciso apagat?
de sentido dependendo do lugar e do tempo em que são usadas. Para os po-
vos da África Central, Kalunga pode significar muitas coisas, por exemplo,
seu Didi: - os europeus não usaram só a força. Também lnvcntEram
mar. Kalunga Grande é aquilo que chamamos de oceano Atiântico.
muitas ideias para poderem dominar e explorar. Construíram Unm lm1gem
negativa pa ra dizer que os africanos eram inferiores e desse jeitO tentrV*m
Nascimento: - Entendo. Kalunga Grande é o Atlântico. Isso quer di- justificar toda a violência da exploração.
zer qloe o nome Áfri." só se espalhou e passou a ser usado por todo mundo
depois dessa travessia?
Nascimento: - Imagem negativa?

Seu Didi; - Sim, o nome Africa só se espalhou depois que pessoas Seu Didi: - Eles dizem qu" a Áfric" é um lugar de clima ruim, qUGDta ê
de diferentes lugares foram sequestradas e forçadas afazer a travessia da
sem vida. Lugar de morte, fome, miséria, violência, corrupção e masm€Íla,
Kalunga. Passaram então a se identifrcar usando os nomes dos portos onde gelVl'
No pensamento dos euÍopeus, o africano é descrito como primitivO,
foram embarcados, depois como filhos da África.
gem, atrasado, irracional e exótico. Por tudo isso seria inferior.

Nascimento: Os africanos sâo sempre tratados deste jeito negativo?

SeuDidi: - Não, nem sempre. À, .rur"r, falam dessa maneira negati-,


va, mas em muitos momentos frcam em silêncio, não falam nada, omitem,
Íazemde contam que o continente não existe, . África fica invisível.

Nascimento: - Invisível?

Seu Didi: - Sim, o continente africano desaparece do mapa, não exis-


te, não é citado. veja os liwos da sua escola. só agora começaram a falar
alguma coisa sobre a Africa. Você já reparou na televisão? Quando a África
aparece? Quase nunca e quando é citada é só daquele jeito negativo' Um
silêncio, que só é rompido para reafirmar as imagens negativas'

Nascimento: - Poxa!Áfri.a invisível ou tratada de forma negâtival E

o que mais?
SeuDidi: - Fomos acostumados a ver a Atfrica como um lugar que construir uma imagem negativa sobre a maior parte da população, mais
tudo é igual, uma coisa única, homogênea em todos os aspectos físicos, de 50%, a maioria que é explorada, discriminada, excluída do poder e da
ambientais ou humanos. riqueza.

Nascimento: - Qual éo problema disso? Nascimento: - Quem é que lucra com isso?

Seu Didi: - O problema é que desse jeito nem se percebe que os luga- Seu Didi : - O racismo tem um papel essencial na imposição de um
res e âs culturas são diferentes, que as pessoas têm experiências, técnicas jeito de ser, de um modo de vida europeu. Esse racismo beneficia umá pe-
de trabalho, formas de governar e línguas üferentes. Imagine que em um quena parcela da população, aquela que é dona de quase tudo, terras, fábri-
só país como a Nigéria se fala mais de duzentas línguas. Quando toda essa cas, rede TV rádio..
diversidade de saberes, costumes e histórias é anulada, o que frca é uma
invençâo, uma África homogênea vista como um lugar ruim, atrasad.o e Nascimento: - Como é que essas coisas erradas são divulgadas?
sem cultura.
Seu Didi: - São várias as maneiras de espalhar tais ideias. A repres-
Nascimento: - Hum, África invisível ou tratada de forma negativa e são, a desqualificação, afolclorização e a comercializaçâo de tudo que élige'
homogênea!! Essas ideias sobre a África ainda existe? do às tradiçoes, hábitos, crenças e valores de origem africana sâo formas de
espalhar os preconceitos. Você nem percebe, mas acaba seguindo a trilha,
Seu Didi: - Sim, existe até hoje. Não foram abolidas. Ainda tem muita
gente que acredita e defende, sutil ou abertamente, esses preconceitos.

Nascimento: - Por que tem gente que faz isso seu Didi?

Seu Didi: - Lembre-se sempre, meu filho, que para dominar uma pes-
soa ou um povo podem usar a violência física, a violência das ideias ou as
duas juntas. Criar e espalhar preconceitos têm sido uma forma, usada pelos
europeus, para inferiorizar, escravizar, dominar e explorar os milhões de
africanos e de seus descendentes.

Nascimento: - E depois daAbolição? Os preconceitos não foram abo-


lidos também?

Seu Didi: - Depois da Abolição o discurso foi atualizado. A partir daí


criaram aquele silêncio sobre a África que passou a ser tratada como uma
realidade homogênea e distante. Isso não acontece por acaso. Trata-se de
CUIDADO COM O QUE FAIA mas musicas, alguns contos populares, histórias para dormir...Tudo isso
são mecanismos de reproduçâo destas imagens. Às verus até mesmo quem
Nascimento: - A gente também divulga os preconceitos? combate os preconceitos acaba reproduzindo sem perceber.

Seu Didi: - Divulga sim. Pense no jeito que todo mundo fala. A pala- Nascimento: - Humm, eu pensei que a escola é que transmitia essas
vra "negro" sempre é usada como sinônimo de coisa ruim. É a "coisa que tá ideias?
preta"; é o "humor negro"; a "lista negra", a "mala preta", a "nuvem negra",
a "ovelha negrâ" ... não é assim que falam toda vez que querem dizer que Seu Didi: - A escola também faz isso, mas antes dela tem uma longa
uma situação não está legal? Quando falamos isso, mesmo sem perceber, caminhada. Em nosso tempo os meios de comunicação possuem um PaPel
mesmo sem querer, estamos reproduzindo preconceitos. muito importante. A televisão, por exemPlo, alcança mais gente, em maig
Iugares, em menos tempo. Enquanto conveÍSamos agui com O nosso tem-
Nascirnento: - Eu não entendi o que o senhor quer dizer não? O que bor, quantos estão nas escolas? E quantos estáo vendo um progrâme nâ
tem de errado nesses palawas? TV?

Seu Didi: - Preste atenção. Você tirou notas baixas não foi? Nascimento: - Eu acho que tem mais gente vendo TV do que indo
para escola. A televisão influencia muita gente, náo é não?
Nascimento: - Foi sim, a coisa tá preta para mim. Ainda bem que o
senhor está me ajudando. Seu Didi: - A televisão é um dos principais instrumentos utilizadog
para espalhar ideias e ditar comportamentos, para estabelecer, reproduZir
Seu Didi: - Está vendo? Por que você não diz que a coisa está branca? e consolidar um jeito de pensar e agir. Quando a criança vai para â escola iá

Quem disse que está preto é ruim e o branco é bom? Depende. Tanto preto Ieva todas essas ideias
quanto branco podem serbom e bonito, quanto podem ser ruim e feio, mas
a gente fala como se sempre o preto, o negro fosse ruim.

Nascimento: - O jeito que falamos reproduz o racismo! Nunca tinha


pensado nisso. Uma coisa inocente como a nossa fala?

Seu Didi: - Será que a fala é inocente mesmo?

Nascimento: - Estou começando a achar que nâo.

Seu Didi: - Bem, seja como for, a fala não é o único jeito de espalhar
os preconceitos. Meios de comunicação, jornais e revistas, cinema, tele-
visão, Iiteratura, poesia, textos dos doutores, piadas das esquinas, algu-
NOVOS CAMINHOS NA ESCOTA AS RTQUEZAS DA ÁrRtCAt

Nascimento: - Como fica a escola nessa jogada? Nascimento: - Seu Didi, eu fiquei com uma dúvida. Pelo o que o §enhor
falou é errado dizsl qug al+fricatoda é a mesme coisa, que é só problema?
SeuDidi: - A escola continua send"o mais um poderoso instrumento
para ampliar, reforçar e confirmar os preconceitos. Também na escola a Seu Didi: - Você tem razão meu filho. É muito comum as pessoas
AÍricaé invisível, tratada de maneira negativa e homogênea. Mas as coisas acreditarem que o continente africano é uma coisa só, que é tudo igual, que
é um único país. Lembra-se da Copa do mundo de 2010?
estão mudando. Olhe você aqui conversando comigo!

Nascimento: - Mas é lógico que lembro, foi a Copa da Áfricalt


Nascimento: - É, começaram a mudar depois daquela lei, não é?

Seu Didi: - Esta vendo o que você acabou de falar? A Copa foi na
Seu Didi: - Verdade. Tem muita novidade boa acontecendo em todas
África do Sul, um país específico, mas todo mundo fala que foi a "Copa da
as áreas. Liwos novos, professores se formando, projetos como esse da sua
Africa". Curioso não é? Ninguém disse que a copa de 2006 foi da Europa ou
escola..l As mudanças estão acontecendo, mas também tem muita coisa que a de 201-4 será daAmérica.
ainda por fazer e muitos caminhos para percorrer.
Nascimento: - Uél Mas a itfrir não é um país? Eu pensei que fosqe
Nascimento: - Agora eu entendo o que o senhor queria dizer quando igual ao Brasil, tem diferença aqui e ali, mas é um país só, não é assim nâo?
falou que devo limpar a minha mente. Todo,mundo já sabe um pouco sobre
Ãfríca através das coisas que ouvimos na TV na imprensa, nas igrejas. Eu Seu Didi: - Não, de jeito nenhum. Atualmente a África é um conti'
preciso me livrar das ideias negativas, pois elas são uma barreira para que nente com 55 países. Agora mesmo acabou de ser criado um novo paÍs, o
possa conhe cer a Africa. Sudao do Su]. Além disso, você não deve e§quecer que dentro de cada um
destes países existe uma grande diversidade de línguas, religiÔes, de coetu'
mes, de cÍenças e valores. Não podemos dizer que todos vivem do meamo
Seu Didi: -Bom, era isso mesmo. Agora que já escurecemos as ideias
jeito, com os mesmos problemas.
poderemos conversar.

Nascimento: - A falta de comida não é um problema que afeta todo


Nascimento: - Escurecemos as ideias? Não entendi nada seu Didi!
continente?

Seu Didi: - Hahahahúa! Quero dizer que agora a mente está limpa, Seu Didi: Nunca se esqueça do que falei: DIVERSIDADETI Sim, exia-
que você começou a se liwar de um bocado de ideias erradas, está tudo bom
te lugar onde pessoas não tem o que comer. Palses do Chifre da Áfirica sâo
e bonito. Podemos conversar sobre outras Histórias. exemplos disso, mas isso nâo quer dizer que todos o§ africano§ Pa§§âm fomê.
Republica Democrática do Congo, o Gabão... todos também têm petróleo. o
Marrocos, o Saara ocidental, Tunísia, Senegal possuem reservas de fosfato....

Nascimento: - Como é possível toda essa riqueza?l


{
Seu Didi: - Porque o solo africano é muito antigo e isso favorccc a
J formação desses minerais.

'/
Nascimento: - O senhor falou que aríqueza é o grande problenra!
Desde quando riqueza é problema?

Seu Didi: - Ela atrai a cobiça, o olho gordo dos países da Europa, rlori
EUA que fazem de tudo para tomar conta, parafrcar com essas riquezas.

ôa
i aRcÉua a-

Nascimento: - O grande problema então é apobreza não é?

Seu Didi: - Em qual país? A Etiópia e a Somália são pobres, mas mui-
tos outros países são ricos, muito ricos, talvez esse sim seja o grande pro-
blema africano.
Ô ouro ÔManganês
Ô Prata a Bauxita
$ rerro ô cromo
Nascimento: - E a África tem riqueza? A gente só ouve falar miséria ô cobre ô Platina
Ô cobalto ÔDiamantê
sobre os africanos? ô Niquêl Á Petróleo
Ô Estanho O Gás natural
Ô chumbo Ôcaruao
Ôzinco ôurânio
Seu Didi: - Tem riqueza sim, e não é pouca não. Angola, por exem- Íl
plo, tem petróIeo, diamantes, ferro. AÁfrica do Sul tem muito ouro, carvâo, Produçâo ds pstróloo ê gáa
Produção minoral
-
diamantes, manganês e urânio que é um mineral radioativo, um daqueles I -
-
EÍploÍação ÍloÍêstal

que podem ser usados parafazer bombas atômicas. A Guiné tem Bauxita. A
t)o §ul
Zãrnbia tem cobalto e cobre. A Líbia, o Egito, a Nigéria, o Sudão, O congo, a
l;otrlr':,trl.tlrl,trio rlo I l Mottrlr' I)ilrlorrr,tlirlttl
OS INVASORES Seu Didi: Não, são duas coisas diferentes, em momeRtos diferentcs,
Primeiro invadiram e colonizaram as Américas. Só depois que esse laclo cla
Kalunga ficou independente é que invadira* a Áfri.t.
Nascimento: - Foi isso que provocou a invasão colonial na Africa?

Nascimento: - Como é que os invasores tinham contato com a África


Seu Didi: - A desculpa dos europeus quando invadiram itfrica er^
^ enquanto dominavam as Américas?
que estavam levando civilização. Você acredita nisso? Eu não! Eles estavam
de olho nas riquezas. Por muito tempo fizeram comercio apenas no litoral,
Seu Didi: - Foi um momento de comer pelas beiradas, construindo
mas depois mandaram viajantes, missionários, cientistas, aventureiros de
feitorias e em alguns pontos do litoral para f.azer comércio com o§ sobera-
toda ordem explorarem o interior e finalmente aconteceu a invasão.
nos africanos. Levaram tempo para ocupaÍ e colonizar todo o continente.

Nascimento: - Pelo que o senhor fala existe riqueza em todo conti-


Nascimento: - Mas por que não invadiram logo?
nente, uns lugares mais outros menos. E todos esses tesouros são explora-
dos por gente, por empresas da Europa ou dos EUA?
Seu Didi: - Nãotinham forçaparainvad.ir. Existia muitos países af:ri-
canos, organizados política e militarmente. Alguns países pequenos e ou-
Seu Didi: - Você está certo. Tudo mesmo. Até objetos antigos, da épo-
tros grandes e muito grandes. Nestas condições uma invasâo seria desas-
ca do Egito faraônico, estão espalhadas em museus como o de Londres,
tÍosa tanto do ponto de vista econômico quanto em vidas humanas.
Paris e New York.

Nascimento: - Seu Didi a minha cabeça náo para de pensar e as dú-


Nascimento: - Até peça de museus?
vidas aumentaram. Se os reinos eram organizados e possuíam até força
militar como foi mesmo que aconteceu a invasão? Os europeus não evam
Seu Didi: - Os egípcios fazem um esforço para que as peças sejam
mais fortes?
devolvidas, mas ainda tem muita coisa rodando mundo afora.

Seu Didi: - No começo nâo eram não. Acabaram desenvolvendo alian-


Nascimento. -Tá falou tanto de diversidade, mas eu aca-
aí, o senhor
bo de descobrir uma coisa que acontece em todo continente, a exploração ças com alguns dirigentes locais e relaçôes comerciais trocando produtos
de consumo europeu por metais preciosos, especiarias ou gente a depender
das riquezas! Será que tem mais elos entre todos os africanos?
da região. Assim foram ganhando força ao mesmo tempo em que os países
africanos se enfraqueciam.
Seu Didi: - A invasão colonial tomou conta de todo continente.

Nascimento: - O que levou os europeus a mudarem de posiçâo e in-


Nascimento: - Sei. A invasão que colonizou o continente? Foi a mes-
vadir a África?
ma que aconteceu no Brasil não é?
Seu Didi: - O prolongado comércio acabou enfraquecendo as econo- A RESISTÊNCM DOS AFRICANOS
mias africanas. As guerras para capturar e escravizar se generalizaram. Os
efeitos disso são difíceis de calcular. Os estados africanos perderam força.

Nascimento: e os países europeus?

Seu Didi: - A Europa passava por transformações técnicas que intro- Nascimento: - Depois de iniciada, a invasão foirâpída?
duziram novos armamentos, meios de transporte e de comunicações. Com
o vapor e as ârmas de repetição o equilíbrio entre os Estados foi rompido e Seu Didi: - Calcula-se que, quando a invasão começou 90%, do terri-
os europeus puderam dar vazâo à cobiça pelas riquezas africanas. tório africano era governado pelos próprios africanos. Pouco tempo depois,
quando teve início a primeira grande guerra europeia, essa proporção se
inverteu. Neste momento só a Etiópia e a Libéria conseguiram manter sua
independência.

Nascimento: - Os africanos não resistiram a essa invasão?

Seu Didi: - Inicialmente os Europeus se reunião,fr.zeram acordos en-


tre eles dividindo o território africano. Neste momento não houve resis-
tência porque a partilha era no papel. Depois começou a ocupação efetiva e
as reações aparecerem das mais variadas formas. Havia a turma que queria
negociar, mas havia também a turma que lutou. Mas tenha cuidado. Um
povo que lutou hoje poderia negociar amanhã e vice-versa. Assim diz o sá-
bio Ki-zerbo.

Nascimento: - Se eles lutaram, por que não conseguiram derrotar os


invasores?

Seu Didi: - A resistência foi uma marca. No que hoje é Angola, os


invasores portugueses frzeram "guerÍas de pacificação", é assim que eles
chamavam, até o começo da segunda guerra europeia. A questão é que cada
lislado, cada país seguia o seu caminho. Dentro de cada país também havia
divisão sobre como reagir. Divididos, não montaram uma frente única para
Itr[ar e acabaram derrotados.
virou princr-
Seu Didi: - Foi uma virada mesmo' O que era secundário
Nascimento: - Como foi essa colonização?
pal.Aextraçãoderecursosmineraispassouaserfeitaemumaescalanunca
Seu Didi: - Cada país invasor organizou a ârea dominada de um jeito. vista. A exploração da mão de obra africana aumentou'
Dependia do interesse econômico, dos recursos disponíveis e do discurso
Nascimento: -E do ponto de vista demográfico?
colonizador. Os ingleses não enviavam grande quantidade de gente para as
colônias. Pretendiam tirar o máximo gastando o mínimo possível. Usavam
Seu Didi: - A distribuição da populaçâo mudou' O
efeito mais visível
até aliados locais para assumir tarefas menores na administraçâo.
foioesvaziamentodocampoeasuperlotaçãodascidades.Entreosefeitos
existentes,
sociais você deve destacar o aprofundamento das desigualdades
Nascimento: - E os Portugueses agiam do mesmo jeito? parâ casos
a invenção de novas e a divisão que acabou abrindo caminho

SeuDidi: - Não, bem diferente. Portugal mandavam muitos colonos comoaguerradeRuanda.osinvasoresexploravamasdiferençasparame-


e fazía uma ocupação militar mais pesada. O discurso dizia que iam levar
thor dominar. "dividir para dominar" erao lema'
o modo de vida português para os nativos. Isso significa impor a língua, os
Nascimento: - O senhor falou da política também"
costumes, a fé... tudo.

Nascimento: - A invasão colonial teve muito impacto na vida dos


SeuDidi:-Ainvasãocolonialmodificouomapaafricano,inventou
da invasão havia
africanos? novos países. Esse foi o impacto mais forte e visível. Antes
que existem
mais de 10 mil Estados e tudo foi reduzido a poucas dezenas
Seu Didi: - Teve sim. Impacto econômico, demográfico, social, mili- atualmente.
tar e político.
Nascimento, - M"i, de 1-0 mil? Nossa!l E a invasão acabou com tudo
isso?
Nascimento: - Pode explicar cada um deles?

Seu Didi: - Vamos compreender cada uma destas questões. Presta SeuDidi:-Exatamente.Osinvasoresmisturarampovosdiferentes'
que não se conheciam ou que eram inimigos' Ao mesmo
tempo sepâraram
atenção Nascimento. Os europeus tomaram as terras, certo? A agricultura
misturar
deixou de ser voltada para o consumo das pessoas do lugar. Ela foi desviada aliados e irmãos. "Dividir para dominar" lembra? E eu acrescento
derrotados ptt
paÍa a produção de mercadorias para a exportação, coisas como o amen- para d.ividir e dominar' Os colonizadores foram expulsos'
com c'ssos
doim no que hoje é o Senegal, o cacau na Costa do ouro, que hoje é gana, liticamente, mas deixaram desenhado um novo mapa político
países que você vê aí.
borracha na zonada tropical, mercadorias que interessavam aos mercados
na Europa.

Nascimento: - Sim, mas como essa virada aconteceu?


A rNVENçAO DE UM NOVO MAPA

Nascimento: - Ué, esses países não existiam?

Seu Didi: - Egito, Etiópia... sim, mas a maioria dos países que você vê
no mapa atual foi invenção colonial. Procure a "reino da Nigéria, de Angola,
da Costa do Marfim, de Moçambique ou Africa do Sul" antes da invasão e

você não vai encontrar. Alguns países como Gana, Benin ou Zimbábue têm
nomes de grandes reinos que existiram no passado, mas não são a conti-
nuidade desses reinos antigos. A atual República de Gana está localizada
em um lugar diferente do antigo Reino de Gana.

Nascimento: - Explique mais esse negócio de novo mapa.

Seu Didi: - Ao conquistarem a independência os lideres africanos


não voltaram para as formações de reinos e impérios que existiam antes
da invasão. Optaram por manter as fronteiras bem parecidas com as que os
invasores europeus inventaram. Hoje a AÍricatem 55 países.

Nascimento: - Como os africanos conseguiram expulsar os invasores?

Seu Didi: - Sempre houve resistência contra os invasores. Porém, de- África hoje: diúsão po1ítica

pois da segunda guerrâ, aquela onde os europeus mataram 50 milhões de


pessoas, depois desta guerra terrível os invasores saíram arrasados, fracos. Seu Didi: - A maioria foi assim, mas nem todos. OIha a diversirlarL'
novamentel Em alguns casos foi preciso uma longa e dura luta armada prtr:r
Nascimento: - Os africanos se aproveitaram dessa fraqueza? derrotar os invasores. Assim foi na Argélia contra os franceses e, mais r,r
dical ainda, foi a luta em Angola, Guiné e Moçambique contra os port u!ltr('
Seu Didi: - Sim.As organizações de estudantes e de trabalhadores se ses. Esses foram os últimos a serem expulsos.
multiplicaram e deram mais gás a luta contra a dominação. Ampliaram a
denúncia, a mobilização e a organizaçâo contra os invasores. Nascimento: - Os invasores deixaram um abacaxi parâ os afrirattos
não foi?
Nascimento: - E venceram assim?
Seu Didi: Deixaram sim. As instituiçircs administrativ:rs, t'stolirs,
t'xí'rcitcls, postos foram as mesmas. A cconorlia cor-rt ir-ru«rrr srrbrlrrlirtitrl;r ;to
mercado ocidental. O pior de tudo foi a manutenção das línguas do invasor A UNIÃO DE TODOS OS AFRICANOS
que acabou sendo um poderoso instrumento de dominação, de imposição
de costumes, ideias e valores. Nascimento: - É verdade que as pessoas que lutaram pelas indepen-
dências tentaram juntar tudo, criar um só país?
Nascimento: - Por que eles não conseguiram acabar com esse modelo?
Seu Didi: - Você deve estar falando do Pan-africanismo.
Seu Didi: - Os lideres mais radicais e nacionalistas foram assassina-
dos ou foram vitimas de golpes de estado. A luta de independência foi diri- Nascimento, - E, foiessa palavra aí que eu ouvi lá na escola.
gente por gente formada na cultura do dominador, queriam ser livres, mas
aceitaram a herança de ideias, de jeito de ser, das Iínguas, das estruturas, - O Pan-africanismo, do mesmo jeito que o nome África,
Seu Didi:
das fronteiras. Assim diz o Oliver. foi uma das ideias que surgiram foram do continente. Líderes negro§ nas
Américas, iutando contra o racismo, desenvolveram a ideia de unidade afri-
Nascimento: - Então aÁfrica de hoje tem uma marca forte deste período? cana, de África como casa comum dos negros. Os dirigentes das lutas de
independência naÁfrica foram formados fora e tiveram contatos com e§§âS
Seu Didi: - É ,ma herdeira direta da invasáo colonial. ideias.

Nascimento: - Enfrentar os problemas com essa herança fica muito Nascimento: -E o que isso tem a ver com a uniào dos novos países
mais difícil não é? africanos?

Seu Didi: - Sem dúvida. Tudo isso transforma a caminhada dos povos Seu Didi: - Kwame Nkrumah, que liderou a independência de Gana,
africanos no mundo contemporâneo numa grande corrida de obstáculos. É participou de um dos congressos pan-africanistas e era um defensor da
assim que a Africavem sendo inventada a cada dia. ideia de criar países mais amplos, juntando vários. Não era o único' Os que
acreditavam nisso tentarâm construir a unidade de todo o continente ou
Nascimento: - Eu posso dizer que a exploração comercial, os tráficos de partes dele.
e a invasão colonial são a origem dos problemas atuais da África?

Nascimento: - E essa ideia prosperou?


Seu Didi: - Essas nào são as únicas causas dos problemas, mas eu di-
ria que nào é possível entender a África de hoje sem considerar tais coisas. muito adiante não. A organizaçâo da unidade afrí-
Seu Didi: - Não foi
Agora, depois desse tempo de construção destes Estados pós-coloniais, não cana (OUA), hoje chamada de União Africana (UA), é um resultado disso,
se pode desprezar as opçôes e decisões dos dirigentes de cada países. Entre os países uma uniâo que prosperou foi a que Julius Nyerere liderou
unindo Tanganica e Zanzibar para criar a Tanzânia.

Nascimento; - Por que a ideia do Pan-africanismo não produziu mais


fusôes como está?
Seu Didi: - Cada movimento que lutava pela independência, tinha OS ESTADOS AFRICANOS ANTES DA INVASAO
sua maneira de ver o mundo e de como deveria ser depois da independên-
cia. Cada um, tinha interesse de controlar o poder. Isso tudo aconteceu Seu Didi: - Exato. Algumas sociedades africanas, como os pequenos
numa época que o mundo estava dividido entre socialistas e capitalistas. grupos de caçadores e coletores nunca organizam estruturas políticas es-
Cada país novo era visto como uma peça que poderia mudar o equilíbrio tatais. Mas, a maioria construiu Estados desde muito cedo. Impérios gi-
entre URSS e EUA. Então, era muito difícil resolver todas as diferenças e gantescos, com muito poder econômico, político e militar como foi o caso
conciliar todos os interesses. do Egito, de Gana, Mali, Songhai. Reinos como o da Etiópia, Kush, Axum,
Kanen, Congo, Ndongo, Matamba, Lunda, Monomotapa, Benin, Oyó. Fo"
Nascimento: - Mas os africanos não eram unidos antes da invasão ram estados com grande território e muita gente sob seu comando. Alguns
colonial? Voltar para isso não seria mais útil? duraram séculos, outros duraram milênios.

Seu Didi: - Os defensores do pan-africanismo falavam isso. Haveria Nascimento: mas isso aí não dá 10 mil?
um passado comum a todos os africanos. Deveriam buscar inspiração neste
passado para construir um novo tempo. Ganhou força um movimento que Seu Didi: - Certamente que não. Eu citei para você apenas Impórios
frcou conhecido como Renascimento africano. Histórias e tradições deve- e alguns dos Reinos grandes e médios. Mas a maioria era de pequenos rei.
riam ser valorizadas. Mas isso não foi suficiente para superar os interes- nos, considerando o território e o numero de habitantes. Curiosamente
ses de quem queria controlar as riquezas do continente. Também não dava esses foram os mais duradouros. Enquanto os grandes reinos e impérios
para apagar o fato de que antes da colonização existiam milhares de países, não resistiram às invasões, os menores sobreviveram com grande vigor.
não era uma coisa só. Assim diz Oliver.

Nascimento: Mais de l-0 mil, não é? O senhor disse que já existiam Nascimento: - Invasôes? Teve outra além da invasão colonial euro
todos esses países na África, antes da invasão europeia. peia?

Seu Didi: - Antes dos europeus invadiram, a África enfrentou n in


vasão árabe-mulçumana. Pouco depois da morte daquele que os islârnicos
chamam respeitosamente de "o profeta" os árabes unificados invaeliram rr

Egito. Daí, se espalharam pelo norte da África. O litoral africano, no l;rrlo


do oceano Índico já tinha contato com os Árabes de longas datas. Pel«rs <lois
Iados o islamismo se expandiu peh África.

Nascimento: - Então os árabes tomaram conta de tudo?

Seu Didi: - Árabe nâo é a mesma coisa que Islâmico. Nem todo st'
guidor de Maomé é árabe. A expansão islâmica foi rnuito rnálior clo elrrc a
expansão Árabe. Assim essa crença atravessou o deserto e foi até áreas da ANTIGUIDADE DOS POVOS AFRICANOS
África ocidental onde habitavam povos como os Hauças ou Iorubás. Eu
gosto de dizer que o Islão foi amplamente africanizado. Nascimento: - Anteriores? São mais antigos do que isso?

Nascimento: Foi essa invasão que criou os Estados africanos? Seu Didi: - Bem mais antigos. O contato introduziu novas práticas e
crenças, mas não deu origem aos Estados.
Seu Didi: - Não, de jeito nenhum. Em todo lugar os árabes já encon-
traram os povos organizados politicamente. Os Estados lorubás, os Hau- Nascimento: - E quem foi que construiu então?
ças, o Império de Gana e o Egito são anteriores a esse contato.
Seu Didi: - Os próprios africanos, meu filho! As chefaturas, os peque-
nos reinos e os grandes impérios apareceram na África antes de qualquer
outro lugar. O Estado Egípcio é a prova disso. Os africanos organizaram
seus Estados de formas variadas, mas o papel preponderante dos mais ve-
lhos, dos anciãos é bastante difundido. O poder que vem dos ancestrais,
dos costumes, da comunidade.

Nascimento: - Como é possível se dizem para a gente que os africa-


nos não sabem se governar?

Seu Didi: - Aí mais üma daquelas ideias que precisamos eliminar.


Como não sabem se governar se foram eles que criaram os Estados mais
antigos?

Nascimento: - O Estado mais antigo é af.ricano?

Seu Didi: - O Egito faraônico! Você já ouviu falar dele não é?

Nascimento: - O Egito é mesmo fascinante. Eu ainda vou visitar para


conhecer as pirâmides e os templos. O senhor já falou dele aqui na nossa
conversâ. Sabe que eu não fazia amenor ideia de que o Egito flca na África?

Seu Didi: - Imagino. Ainda hoje tem gente que nega. Dizem que o
Egito fica na Ásia, no Oriente Médio, no oriente próximo!! No mundo ára-
be... em um bocado de lugar, menos na África. Aí, quando vamos ao mapa,
não tem como negar. Então apârece outra invenção, passam a dizer que Nascimento: - Nossa! E teve mais??
o Egito foi uma sociedade criada por brancos, mas o Egito Faraônico é o
maior exemplo da antiguidade e anterioridade das sociedades africanas. Seu Didi: - Poderíamos continuar falando sobre a matemática, â g€-
ometria, a arquitetura, a física, química, zoologia e você teria uma ideia do
Nascimento: - E não foi? Já vi um monte de vezes na televisão filmes legado egípcio. Assim diz El-Nadoury
sobre Cleópatra, aquela rainha egípcia, e ela era branca.l
Nascimento: - Como podemos saber o que aconteceu neste tempo se
Seu Didi: - Hummm, bem lembrado Nascimento. Mas quando foi não havia escrita?
que ela governou o Egito? Ela se tornou rainha depois da invasão gÍega,
jâno frnalzinho do Egito, depois de longos séculos de ataques e invasões. Seu Didi: - A anterioridade africana se manifesta em todas as dimen-

Quando essa turma conseguiu dominar, o Egito já não era mais o mesmo. sões. A escrita também nasceu na África com os Hieróglifos egípcios. Eles
Quando eles invadiram as grandes e pequenas realizaçôes que caracterizam escreviam em pedras, nas paredes dos monumentos e também em papiros.
aquilo que chamamos de Egito dos faraós já tinham sido produzidas. Assim Porém, mesmo quem não tem escrita pode transmitir sua cultura e sua
fala Anta Diop. História através da palavra, da fala.

Nascimento: - Realizações? o que o senhor quer dizer? Nascimento: - Hummm seu Didi, sei não. Eu sempre soube que a
palavra dita se perde com o tempo. O que vale mesmo é a escrita.
Seu Didi: - Os egípcios construíram uma sociedade fantástica, fasci-
nante como você disse. Souberam aproveitar todas as possibilidades que o Seu Didi: - Muito do que hoje está escrito foi inicialmente transmiti*
meio oferecia. Criaram complexos sistemas de irrigação para reter as águas do pela oralidade. A escrita tem tantos problemas quanto a oralidade. Uma
do Nilo e leva-las para áreas nas quais a enchente não chegava. Exploravam não é melhor do que a outra. Podemos aprender tanto com a escrita quanto
minérios, fabricavam joias, construíram templos, palácios e monumentos com a fala.
grandiosos. Parafazer tudo isso, desenvolveram conhecimentos e técnicas
em todas as áreas. Coisas que abriram caminho para toda a ciência que veio
muito depois.

Nascimento: - Então as ciências não foram criadas pelos gregos?


: 'Um pioirérbio
é o cavalci gue pode levar
alguém rapidamente à descoberta de ideias,"
Seu Didi: - Gregos? Esqueça isso. Nós estamos conversando sobre
História antiga, antiga de verdade. Citarei apenas um exemplo, a Medicina.
Dizem que o pai da medicina é um grego não é? Mas os egípcios possuíam
conhecimento profundo sobre o corpo humano, sobre como diagnosticar e
como tratar doenças, qual o nome que devemos usar para isso?
OS ELOS ENTRE OS POVO§ AFRICANOS Seu Didi: - É provável que sim. Os fortes construÍdoa nrt füontdral
são prova de contato. Porém, o que mais espalhou a cultura qípelr fol a
derrota de Kush. Esse Império tinha crenças e costumes Ínf,urnelrdor pah
Nascimento: - Olhando desse jeito que o senhor fala o Egito foi mui-
Egito. No tempo em que a capital era Méroe, Kush compctlf COIU outfo
to importante para a humanidade não é?
reino, o de Axum, que crescia muito. Derrotados milítarmcntt por ArÍum
os Kushitas se dispersaram rumo ao oeste e assim espalhar*m trrçor dll
Seu Didi: - Sem dúvida. Agrandeza da sociedade egípcia em milênios
culturas do Nilo. Assim diz, Oliver.
de História produziu maravilhas nas ciências e nas técnicas. Uma riqueza,
esplendor e grandiosidade que nào tem igual.
Nascimento: - Hummm!

Nascimento: -Mas o Egito vivia isolado do resto da África nâo e? Ele


tinha mais contatos com povos da Ásia e da Europa?
Seu Didi: - Interessante lembrar que Histórias de lorubre ! Hruçrt
sobre os fundadores dos seus reinos falam de viajantes vindos do lcrtrll
Seu Didi: As ligações do Egito com outras partes daÁfrica eram imen-
Nascimento: - Então os povos se deslocavam pelo continentt?
sas. Subindo o Nilo no rumo das cataratas está a região chamada de Núbia
onde estava localizadas as cidades de Kerma, Napata e Méroe ou o reino
Seu Didi: - Sim, por vários motivos. A vastidão das terrae e I vt-
de Kush; mas acima ficavam os reinos de Axum e da Etiópia. Os soberanos
riedade de ambientes sempre estimularam os grupos humanos â ga loco-
do Império kushita cultuavam os mesmos deuses egípcios e construíam
moverem, a procurarem outros sítios, a disputarem fontes de riquezaa c a
pírâmides. As relaçôes de cooperação, de comércio, de disputas, conflitos,
Íazerem comércio.
invasôes e dominação eram tão intensas que podemos falar de um mesmo
complexo cultural na região do Nilo.
Nascimento : - Jâ faziiamaté ô comércio?

Nascimento: - Os Egípcios tinham contato com povos que viviam


Seu Didi: - As trocas comerciais sâo antigas. Todo tipo de produto e
próximo do Atlântico?
com quantidades variadas, trocas com povos próximos e em longa distân-
cia também. Os deslocamentos e as trocas são processos que promoveram
Seu Didi: - Há muita controvérsia sobre isso. Muitas pistas indicam
o contato e a difusão de práticas culturais.
que existiu contato até em regiões muito distantes. Uma delas é um relato
informando que o Faraó chamado Necão II organizou uma viagem maríti-
ma que deu a volta no continente. Foi o primeiro afazer o périplo africano!
Mas há controvérsias. Assim diz Hamid Zayed.

Nascimento: - Pelo mar? Sei não, parece difícil. Não era mais fácil
eles terem contato por terra?
T

oNDE TUDO COMEçOU! Nascimento: Engraçado, então posso dizer qut'


afro descendente?

Nascimento: - Os Estados, as ciências, o comércio... ! Desse jeito que


Seu Didi: - Sempre fica alguma dúvida se todos orr trrrllvl,lrr,,, rlrrr
o senhor fala até parece que tudo começou na África!
andam por este planeta são seres humanos. Quando l)('llri,ttilr rii t,ril , r I l .l
pessoas que cometem atrocidades como os torturadorcs, ( )ri r':r r ,rt,l.' ,r r l, r ,
SeuDidi: -Temrazâo. Você nunca deve esqueceÍ que os povos deste
os racistas, os intolerantes, como aquele do bigodinho, vo( ír |,i rrrrtlrr l,rl'rr
continente são mais antigos, anteriores, muito anteriores do que qualquer
outro na face da Terra. Afrnal foi nesta área que a humanidade entrou em
Nascimento: - Qual? Hitler, aquele alemão racist;r!'
cena!

Seu Didi: - EIe mesmo. Quando eu lembro genlt' ,urllnr lri. rrtrr,r i
Nascimento: - A humanidade nasceu na África? Como a vida pode ter
dúvida danada. Porém, se forem seres humanos, Sapiens S,r1rt,,n,,, I rlr,, ,li
começado na África se 1á é tudo quente, deserto e seco?
zem os cientistas, então são descendentes de africanos. N,to itrrplp lir .r , i,l
da pele, o tipo de cabelo ou o traçado do nariz, não impor l,r r rrr l l l t r .r,,,
r rr
Seu Didi: - Nós conversamos sobre a Copa que aconteceu na África
físico aparente. Se forem Sapiens Sapiens são afrodesccnrllrrlt.ri
do Sul, lembra? Você assistiu aos jogos pela TV? Parecia que era um lu-
gar quente? Os jornalistas estavam encapotados, parecendo uns pinguins.
Nascimento: -Mas isso foi a muito tempo. Como ó r; rtr, o rrt. rrI l,r 1,, "
I'
Como você explica isso? O continente africano é muito grande. Tem todo
saber que foi desse jeito?
tipo de ambiente.

Seu Didi: - O tambor,me diz muitas coisas. Com ek ('u l){rEEr r,rr.r,l
Nascimento: - Todo tipo?
sar com muita gente sábia
e ver muitas coisas. Na longa calrr ir rlr,rr la r p rr, rl1;11

origem a humanidade, muitas pistas foram deixadas, "con11'l,rrl.rr,", lrr,'.,llt


muito quentes como o deserto do Saara, até
Seu Didi: - Sim, desde os
zadas.
os muito frios como as áreas altas da banda oriental. Se você precisar falar
de uma característica das paisagens africanas, pode afirmar que nele existe
Nascimento: - Descobrir essas pistas é o trabalho da«;rrll.r,, pr!à!rr!r.i
uma grande diversidade, uma grande variedade de ambientes. Todo mundo
que estudam história, que parecem detetives do passado?
sabe que a vida floresce onde há variedade, pluralidade, diversidade.

Seu Didi: - Isso. Os fósseis funcionam como um quebra r,rlrr'(.r (';rrl,r


Nascimento: - Foi aí que a espécie humana surgiu?
achado, cada pista é um pedacinho do quadro. Até aqui, tu<kr rlrr, 1,1 r,11
contrado sô Íaz confrrmar que o palco onde a humanidade en t ror r í'l r r Í'r r;r r
Seu Didi: - Foi sim. Tem muita gente que não gosta de ouvir isso, mas
nesta Terra foi a banda Oriental e Sul do continente african<1.
o processo de evolução que deu origem aos seres humanos, independente
de qualquer aparência física que tenha hoje, aconteceu na Africa.
Nascimento: - Mas essa informação é verdadeira? Podernos r orrÍr,rr
nisso?
Seu Didi: - A tecnologia dos últimos tempos permitiu constatar que OS SITENCIOS DA ESCOTA
as diferenças físicas entre as pessoas são absolutamente desprezíveis. Per-
mite afirmar que, geneticamente, todos os habitantes da Terra são Sapiens
sapiens, muito embora tenhamos aquela dúvida sobre certas pessoas. Os
"Y"jÍ;t'rffi,'#H,1:
, ,,
biólogos desse tempo, com o teste do DNA mitocondrial, chegam à mesma
conclusão dos arqueólogos: todos os Sapiens sapiens são descendentes de
africanos. São dois caminhos diferentes que levam a mesma conclusão. Nascimento: - Tem mais uma coisinha que eu rr;'io r,trlt,rrilrr ral lrt,ll
Nós já temos tanto assunto para estudar, será que prcr irr,r ttr!ãtrrr lrl lritr
Nascimento: - Seu Didi, eu que pensei que não poderia ter vida por- mais esse negócio de História da itfrica?
que era tudo seco, que as pessoas fugiam de 1á, pois não tinham como so-
breviverl Seu Didi: - Você tem razão. Tem muita coisa qtrt,uo r.rralrrrr n!l r,'*,l,r
que poderia ser retirada e nâo faria nenhuma falta. Iirr«;rr*trrll lael lrtrr lit
Seu Didi: - Existe vida nos desertos também, mas nem tudo é deser- sas muito importantes que nunca ou quase nunca sâo lt,rl*rrlrre
to. Existem áreas como muita água. Pense no rio Nilo, no Níger, no Congo,
no Zambeze, na região dos Grandes lagos. As pessoas foram se agrupando Nascimento: - É o caso da História da AÍrica'?
t,
nas proximidades destas bacias e aí construíram grandes sociedades, al-
gumas, como já falei muito anteriores a qualquer outra, de qualquer outra ll r I lnlltlrrxl, rrr,r,,
Seu Didi: - Sim, a Africaé um exemplo desse silôrrt
parte do mundo. não é o único não. O que você já estudou sobre os <Lrrrun rla lenrr rlrrl,
moramos?
Nascimento: - Curioso, na escola parece que tudo veio da Grécia e de

Roma, mas pelo o que o senhor fala a África veio primeirol Nascimento: - Como assim donos da terra?

Seu Didi: -Perfeito. Pense e veja: quando Roma começou? Roma não Seu Didi: - Viu? Você nem sabe do que se tratirl Mrri nelu Ítryt+r plr,,
vale, é muito recente. Pense na Grécia que foi um pouco mais antiga. Quan- cupado, você não é o único.
do a península da Ática começou a ser povoada? Quando ganhou alguma
importância? Nesta época o Egito era o que mesmo? Jâeraum grande país, Nascimento: - De quem o senhor está falanr|r?
com grandes realizações.
Seu Didi: - Quando os portugueses invadir;ull ..rr+t lll*, rlrl lr,,lr.
Seu Didi: - Agora eu tenho que parar. Nosso tempo acabou! chamamos Brasil, já tinha gente morando aqui nao í,'/ ( )rlregrne rlrr lr,r r,r
já moravam aqui.

Nascimento: - Espera aí, não entendi! O st'nlror l,rlorr lr,11rrrr rln lr,r
ra? Mas não eram os índios que moravam aqrri? (Jrrr,rorrvr,tirt ri r,qrrrr rll
llcgros da terra?
Seu Didi: - Era assim que os invasores falavam dos vários povos que Seu Didi: - Isso mesmo Nascimento. Nada acontece por acaso. O si-
aqui moravam. Só depois passaram a ser vistos como uma coisa só e a se- Iêncio sobre certos povos e a supervalorizaçáo de outros não é por acaso.
rem chamados de índios. Falam o tempo todo da Europa e quase nada da Africa.

Nascimento: - Ué, não eram índios? Como devemos falar deles Nascimento: -Ano passado minha colega perguntou para a professo-
então? ra se não estudaríamos o capitulo sobre a África e ela disse que o tempo era
curto por isso só ia falar das coisas mais importantes.
Seu Didi: - Eu gosto de dizer que eles eram os donos das terras! Gosto
também de procurar saber o nome de cada um desses povos. Tupinambás, Seu Didi: - Veja como é interessante. Estava no livro, mâs a profes-
Xavantes, Kiriri... São muitos. É outua História que não aparece na escola sora não tratou do assunto por que não achava importante. Este ano a
professora é outra não é? Ainda bem. Não frque zangado com sua antiga
Nascimento: - Eu nunca tinha pensado assim. Por que será que isso professora. É bem provável que ela tenha ouvido a vida toda que é assim.
acontece? Um dia ela vai aprender que todos os outros povos produziram sociedades
fantásticas e que para entender isso tem que conhecer os Negros da Terra
Seu Didi: - Para o pensamento racista, tudo que não é europeu está e os Negros da Guiné.
fora da História. As criaçôes, crenças,valores e costumes de outros povos
são apagados ou inferiorizados. Assim parece que tudo que existe foi criado Nascimento: - Mas Seu Didi, se todos os seres humanos são afrodes-
pelos europeus e todo mundo passa a acreditar que eles têm direito defazer cendente, existe negro, existe branco?
o que bem desejar. Escravizar, torturar, matar, explorar as riquezas.
Seu Didi: - Na prática existe sim. Veja a o endereço das "balas perdi-
Nascimento: - Tá certo, mâs o que isso tem a ver com o que eu estudo das", não são acasos. As ideias raciais foram transformadas em um sistema
na escola? de vantagens práticas, cotidianas. Veja as escolas, hospitais, a política, as
terras, as fábricas, as favelas e cadeias, os salários mais altos e os mais bai
Seu Didi: - Conhecer um pouco da História das Áfricas e dos donos xos... onde tem negro? Veja que as desigualdades sociais aqui no Brasil tem
dessa terra ajudará a derrubar as ideias preconceituosas. Pode ajudar as cor. Isso não começou hoje...
pessoas a entenderem os crimes que foram cometidos quando houve a
invasão e a escravização. Um verdadeiro genocídio que deu origem as de- Nascimento: - É tanta diferença, tanto preconceito e discriminaçâo!
sigualdades de hoje. Estudando um pouco da História todo mundo pode
entender porque o Brasil está desse jeito. Seu Didi: - Você tem razão. O que foi dito e feito no passado nâo sc
apaga facilmente. Por isso agora não basta dizer que somos todos iguais. Íi
Nascimento: - Hummm!! Por isso nunca fala da África ou dos índios, preciso agir para construir essa igualdade. Ainda tem muita coisa para sor
quero dizer dos donos da terra? feita, mas nós estamos caminhando.
Nascimento: - Ufa! Tem muita coisa que eu preciso apagar e aprender Referências
novamente. Assim eu vou frcar doido.
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çào "Veja: um olhar sobre a Independência de Angola". Filiaclo à ÂNIIUI l c
à Associação de Pesquisadores Negros do Brasil.

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