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Aula 1º

ENTRE A ÁFRICA E O BRASIL

Fonte: Nova Escola. Disponível em: https://novaescola.org.br/arquivo/africa-brasil/. Acesso em: 11 dez. 2019.

Quando o meu sonho me ilumina eu É o amor pela terra e pela cultura. A


escrevo África. terra me ilumina.
África me faz e me rodeia. Eu amo essa A cultura me encanta.
gente cheia de África. Minha alma é atravessada por imensos
O chão da África tem cheiro de mim. rios,
Na África, todos os caminhos nos levam como rio Nilo, que nasce no meu corpo
às fontes da terra e às origens do mundo. [...].
E o que me torna africano? Morgado Mbalate

Caros(as) alunos(as), a história do Brasil é composta pelo encontro de povos e culturas do continente
americano, europeu e africano. Desconhecer um desses continentes na confecção dessa história é
desconhecer parte do que somos. Se, por um lado, temos um farto material sobre a história dos europeus
na composição de nossa história, o mesmo não se dá em relação às sociedades americanas e africanas. Esta
disciplina busca contribuir na diminuição desse desconhecimento em relação às sociedades africanas e suas
contribuições na história do Brasil.
Bons estudos!

Objetivos de aprendizagem

Ao término desta aula, vocês serão capazes de:

• identificar o continente africano, sua geografia física e humana;


• perceber a magnitude, variedade e especificidades das sociedades africanas;
• compreender a dinâmica das relações das sociedades africanas em seu espaço histórico-geográfico.
História da África 8
Em seios negros o Brasil Colônia se nutriu e cresceu.
Seções de estudo Com mãos, suores e sangue negros, prosperou e se tornou
nação. Munanga e Gomes (2006) expõem que “aprender a
1. Conhecendo a Lei n.º 11.645, de março de 2008 conhecer sobre o Brasil e sobre o povo brasileiro é aprender a
2. África, muito prazer! conhecer a história e a cultura de vários povos [...]”. Além de
ser, segundo Borges (2010) “[...] uma oportunidade histórica
de reparar danos, que se repetem há cinco séculos”.
1 - Conhecendo a Lei n.º 11.645, de Sendo assim, para a disciplina propomos seguir a ordem
março de 2008 do périplo português (viagem de circum-navegação em torno
O processo histórico de formação do povo brasileiro do continente), descrevendo a África na sua maioria Atlântica,
conta com cerca de quatro milhões de africanos escravizados exceto o Moçambique, que se situa no Índico.
trazidos para o Brasil como simples mão de obra. Porém, Em virtude disso, tomadas de decisões políticas
muito mais do que sua força de trabalho, essas pessoas de importantes foram feitas durante a primeira década do século
saberes milenares trouxeram consigo suas línguas e culturas. XXI no Brasil, como foi o caso, por exemplo, da Lei n.º
11.645/08. Vejamos:

LEI N.º 11.645, DE 10 DE MARÇO DE 2008

Altera a Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996,


modificada pela Lei n.º  10.639, de 9 de janeiro
de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, para incluir no currículo oficial
da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Figura 1: Escravidão negra no Brasil. Disponível em: https://slideplayer.com.br/ Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
slide/1778712/7/images. Acesso em: 07 dez. 2019.
seguinte Lei:
Em situação de maioria numérica e inferioridade social,
Art. 1.º O art. 26-A da Lei n.o 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
fizeram sua resistência silenciosa mantendo vivas suas
passa a vigorar com a seguinte redação:
tradições e transferindo-as, num processo sutil e inteligente,
aos seus dominadores. “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino
Nas cozinhas introduziram o gosto pelo dendê e médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história
pela pimenta. Às crianças e sinhazinhas transmitiram suas e cultura afro-brasileira e indígena.
linguagens, músicas, estórias, jogos, mitos, crenças e medos.
§ 1.º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá
A África mantém-se como um continente diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a
desconhecido para a maioria da população formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos,
brasileira, incluindo seus docentes. Em nossas tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos
escolas, não se aborda o passado nem o presente
negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena
africano, muito embora esse passado esteja tão
brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
presente no cotidiano nacional, por meio das
palavras faladas, da cultura, das religiões, das resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e
instituições, da economia etc (Disponível em: política, pertinentes à história do Brasil.
https://www.geledes.org.br/africa-lugar-das- § 2.º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos
primeiras-descobertas-invencoes-e-instituicoes-
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o
humanas/. Acesso em: 07 dez. 2019).
currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
Elisa Larkin Nascimento (2001, p. 120) narra que “a literatura e história brasileiras” (NR).
carga negativa que esse continente possui no imaginário
Art. 2.º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
social brasileiro subsidia e fundamenta os estereótipos racistas
diariamente veiculados sobre afrodescendentes no Brasil”. Brasília, 10 de março de 2008;
O estudo do continente africano é de suma importância para 187º da Independência e 120o da República.
o profissional docente. De modo que o mesmo compreenda:
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
• fortalecimento de uma identidade étnica; Fernando Haddad
• reconheça a África como parte da história do Brasil;
• compreenda sua ocupação espacial; Portanto, a Lei n.º 11.645/08 amplia a Lei n.º 10.639/03,
• diversidade étnica e cultural; estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de história e
• transformações históricas; cultura afro-brasileiras e indígenas nos currículos escolares da
• relações étnicas; rede de ensino pública e privada.
• relações extra-África negra. Basicamente, a Lei n.º 11.645 decorre de uma série de
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antigas demandas de várias representações sociais, em especial destacada por grandes florestas tropicais em razão de estar na
dos movimentos negros e indígenas, além de apontar para um latitude zero do globo – a linha do equador: Camarões, Congo,
novo momento das relações do Estado com os movimentos Gabão, Guiné Equatorial, República Centro-Africana, República
sociais organizados e a Educação. Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe e Chade.
Seu intuito é propor atividades acadêmicas relevantes
• África Oriental – também conhecida como “Chifre da África”,
em relação aos conhecimentos das diversas populações
por sua forma física do extremo leste africano, encontram-se
africanas e indígenas, suas origens e contribuições para o
onze países bem distintos, tantos nos aspectos físicos como
nosso cotidiano e história, num movimento de construção e
humanos: Burundi, Dijbuti, Eritréia, Etiópia, Quênia, Ruanda,
redimensionamento curricular e de ação educativa, salientando
Somália, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia e Uganda. É na divisa
a importância do contexto e sua diversidade cultural.
entre Uganda, Tanzânia e Quênia que existe o lago Vitória, que é
A aprovação dessa Lei tem se constituído em uma das
considerado a nascente do rio Nilo.
principais iniciativas das ações afirmativas adotadas no Brasil
e que tem contribuído para a disseminação do estudo da • África Meridional – onze países que a compõe: África do Sul,
história da África, dos africanos e dos indígenas brasileiros, da Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, Malauí, Moçambique,
luta das pessoas negras e índias no país e da sua presença na Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue. Observa-se uma
formação da nação brasileira. grande diversidade natural neste espaço, em razão de possuir
grandes vales férteis e vastos desertos como o Kalahari, sendo
2 - África, muito prazer! no delta do Okavango (Botsuana).
CASTRO, Ana Pessoa de Souza. A África, desvendando um continente.
Slideshare, 2012. Disponível em: https://pt.slideshare.net/anapessoa22/a-
frica-desvendando-um-continente. Acesso em: 07 dez. 2019.

Desses onze países, o Sudão do Sul é o mais recente


(independente em 2011), advém da divisão do antigo Sudão
em dois países. A divisão aconteceu após um referendo, no
qual a maioria dos votantes (quase 99%) decidiu pela divisão,
a população do norte é muçulmana e a população do sul é
composta por diversos grupos étnicos, na maioria cristã e
religiões animistas.

Figura 2: Mapa político do continente africano. Disponível em: https://


suburbanodigital.blogspot.com/2015/04/paises-da-africa-e-suas-capitais.html.
Acesso em: 07 dez. 2019.

O continente africano é composto por 54 países, 48


são continentais e 6 são insulares (ilhas). Geograficamente, a
África pode ser dividida em cinco grupos: África do Norte ou
Setentrional, África Ocidental, África Central, África Oriental
e África Meridional.

• África do Norte ou Setentrional – é a área situada ao norte Figura 3: Vegetação do continente africano. Fonte: COSTA E SILVA, Alberto da.
A enxada e a lança: África antes dos portugueses. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova
do continente. Banhada pelo Mar Mediterrâneo, em sua Fronteira, 1996, p. 9.

maioria, fazendo parte desta região seis países: Argélia, Egito,


Líbia, Marrocos, Saara Ocidental e Tunísia. Também não se No continente africano são faladas cerca de duas mil
pode esquecer que ao sul desta região se encontra o deserto línguas. Muitas dessas línguas são comuns ao mesmo tronco
do Saara. linguístico. Estando assim agrupadas em cinco grandes
grupos: Afroasiática, Nilo-saariana, Nígero-congolesa (bantos
• África Ocidental – são quinze nações que dividem um espaço e não-bantos), Coissã e Austronésia (Disponível em: https://
caracterizado por áreas desérticas (Saara, ao norte) e florestas pt.slideshare.net/anapessoa22/a-frica-desvendando-um-
tropicais: Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, continente. Acesso em: 07 dez. 2019).
Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria,
Senegâmbia, Serra Leoa e Togo. Esses grupos são definidos da seguinte forma:

• África Central – oito países fazem parte desta região, • Família Afroasiática: falada no norte da África e em parte do
História da África 10
Sahel, eram chamadas anteriormente de hamito-semíticas. São Reconhecemos a magnitude desse continente que abrigou/
cerca de 300 línguas, com mais de 20 milhões de falantes. Foram abriga diversos grupos étnicos, milhares de línguas, múltiplas
introduzidas na África no século VII, com as invasões Islâmicas. tradições, culturas e religiosidades.
Incluem as línguas do grupo semítico (árabe/amárico), cuxítico
(somali), chádico (hauçá) e berbere (regiões desérticas).

• Família Nilo-saariana: compreende uma centena de línguas


com 30 milhões de falantes. Faladas em territórios do Nilo: Sudão
Vale a pena
(Nuer), Etiópia, Quênia e Tanzânia (Massai) e Uganda (Padola).

• Família Nígero-congolesa: é a maior família linguística do


mundo. Na África é a maior em área geográfica, quantidade
de falantes e número de línguas distintas. São cerca de 1.500
línguas com mais de 300 milhões de falantes. Estão concentradas
em toda a extensão da África subsaariana. Possui dois Vale a pena ler
importantes subgrupos: Oeste-africanas (antigas sudanêsas)
– do Senegâmbia à Nigéria e Banto – em toda a extensão dos COSTA E SILVA, A. da. A enxada e a lança: África antes
territórios subequatoriais. dos portugueses. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
DIAMOND, J. Armas, gémenes y acero: La sociedad humana
• Família Coissã: e a menor das famílias linguísticas africanas.
y SUS destinos. Madri: Debate, 1998.
O nome da língua deriva do nome dos seus falantes: os
OLIVA, A. R. A História da África nos bancos escolares:
povos Khoi (Hotentotes) e San (Bosquímanos). É composta de
representações e imprecisões na literatura didática. Estudos Afro-
aproximadamente 40 línguas, com cerca de cem mil falantes
asiáticos, v. 25, n. 3, p. 421-461, 2003. Disponível em: http://www.
concentrados no deserto de Kalahari e países do sudeste
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101546X200
africano (Angola, Namíbia, Botsuana e África do Sul e numa
3000300003. Acesso em: 07 dez. 2019.
pequena parte da Tanzânia). Evidências arqueológicas sugerem
que os Coissã (ou Khoisan) apareceram na África meridional há
cerca de 60.000 anos atrás. Assim, as línguas khoisan podem
estar entre as mais antigas da humanidade.

• Família Autronésia: esta família é falada no sudeste asiático e Vale a pena acessar
no Pacífico. Sua presença aqui é explicada pelo simples fator da
proximidade geográfica da Ilha de Madagascar, onde é falada, África. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
com o continente africano. África. Acesso em: 07 dez. 2019.
CASTRO, Ana Pessoa de Souza. A África, desvendando um continente. Slideshare, Geografia do continente africano. Disponível em: http://www.
2012. Disponível em: https://pt.slideshare.net/anapessoa22/a-frica-desvendando-
um-continente. Acesso em: 07 dez. 2019. sogeografia.com.br/Conteudos/Continentes/Africa/. Acesso
em: 07 dez. 2019.
História geral da África. Disponível em:
Retomando a aula h t t p : / / w w w. u n e s c o . o r g / n e w / p t / b r a s i l i a /
education/inclusive-education/general-history-of-africa/.
Acesso em: 07 dez. 2019.
Lei n.° 11. 645/08. Disponível em:
Chegamos, assim, ao final da primeira aula. Espera-se h t t p : / / w w w. p l a n a l t o. g o v. b r / c c i v i l _ 0 3 / _ a t o
que agora tenha ficado mais claro o entendimento 2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 07 dez. 2019.
de vocês sobre o continente africano. Vamos, então,
recordar:

1 – Conhecendo a Lei n.º 11.645, de março de 2008


Vale a pena assistir
Nesta seção, vimos como a Lei 11.654, de março de
2008, é relevante para o ensino de História. Essa lei propõe Entrevista: África: passado e presente (conferência do
ações afirmativas quanto ao ensino de cultura e história Dr. Alberto da Costa e Silva). Disponível em: https://www.
afro-brasileira, evidenciando, assim, as especificidades e youtube.com/watch?v=gJVnA8Va1is. Acesso em: 07 dez.
as complexidades das sociedades africanas e como esses 2019.
grupos (pessoas escravizadas trazidas do continente africano) Entrevista: Alberto da Costa e Silva - História da África
influenciaram na formação da cultura brasileira. além dos documentos oficiais. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=3sIBOHhxBsA. Acesso em: 07 dez.
2 – África, muito prazer! 2019.
Filme: Os Deuses devem estar loucos.
Na segunda seção, compreendemos a localização
Disponível em: https://www.youtube.
geográfica dos países e regiões, a historicidade dessas
com/watch?v=uJUh9zFXRbE. Acesso em: 07 dez. 2019.
divisões e a linguística desse continente complexo e rico.

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