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FUNDAMENTOS PARA

GESTÃO DE RESÍDUOS
DE SERVIÇOS DE SAÚDE

Comissão de Resíduos

Organizadoras
Mônica Spadafora Ferreira
Rita de Cássia Ruiz

1ª edição
São Paulo
2022
Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde

Comissão de Resíduos do Instituto Butantan

Organizadoras Membros da Comissão de Resíduos


Mônica Spadafora Ferreira Aline Navogin Pego Temotio
Rita de Cássia Ruiz Elisabeth Christina Nunes Tenorio
Vânia Gomes de Moura Mattaraia Giuseppe Puorto
Glaucia Colli Inglez
Produção editorial Jorge Pereira Neves Alamini
MKX Editorial Joselene dos Santos Silva
Rita De Cássia Ruiz
ISBN Sandro Rodrigues Da Silva
978-85-64429-04-8 Sonia Aparecida De Andrade
Tadeu Foa Binsztajn
Fevereiro de 2022 Vanessa Evelin Jesus
Vânia Gomes de Moura Mattaraia

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ferreira, Mônica Spadafora


Fundamentos para gestão de resíduos de
serviços de saúde / Mônica Spadafora Ferreira,
Rita de Cássia Ruiz, Vânia Gomes de Moura
Mattaraia. -- São Paulo, SP : MKX Editorial,
2022.
ISBN 978-85-64429-04-8

1. Gestão de saúde 2. Resíduos - Gestão


3. Serviços de saúde I. Ruiz, Rita de Cássia.
II. Mattaraia, Vânia Gomes de Moura. III. Título.

22-103218 CDD-363.728
Índices para catálogo sistemático:

1. Resíduos : Reciclagem : Problemas sociais 363.728

Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

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ção, modificação, reprodução ou comercialização sem a autorização expressa de seus autores.
Este material foi elaborado com base nas normativas e legislações vigentes. Visto a possibilidade
da implementação de novas diretrizes, os autores recomendam que os leitores informem-se sobre
possíveis atualizações.
APRESENTAÇÃO
Esta obra traz uma atualização de temas
importantes à gestão de resíduos de serviços
de saúde, consolidada na experiência adquiri-
da no gerenciamento destes resíduos em uma
instituição pública voltada à pesquisa, ensino e
produção de imunobiológicos. Nela, estão apre-
sentados os principais fundamentos e critérios
importantes para elaboração do plano de ge-
renciamento de resíduos de saúde, os aspectos
legais e éticos envolvidos, bem como uma abor-
dagem prática que vai da descrição das embala-
gens existentes para o acondicionamento destes
resíduos até a complexa construção de abrigo
para acondicionar as várias classes de resíduos,
que deve atender às particularidades e ao nível
de periculosidade de cada uma das classes.
Para isso, contamos com a participação de
uma equipe composta por profissionais com
diferentes formações, que atuam em diversos
setores da instituição, que se uniram a fim de
relatar a experiência adquirida nas diferentes
etapas que envolvem o gerenciamento dos re-
síduos de serviço de saúde, que deve priorizar
a proteção ambiental e segurança de todos os
envolvidos. As informações aqui reunidas foram
compiladas a partir de uma extensa consulta à
diversas referências, obtidas de fontes seguras e
que contribuíram para a harmonização dos pro-
cedimentos na boa prática de cuidados e mane-
jo dos resíduos gerados no Instituto Butantan.
Fundamentos para Gestão de Resíduos de
Serviços de Saúde está sendo disponibilizado
para a comunidade, com a confiança de que
a experiência adquirida em anos de trabalho,
desenvolvido coletivamente, pode contribuir
para a melhoria de outras instituições, tanto
públicas como privadas, resultando em ganhos
social, ambiental e econômico para toda cadeia
envolvida. Esperamos que esta obra sirva de
base para a habilitação de pessoas interessadas
na sustentabilidade e segurança, pré-requisitos
fundamentais à prática do descarte adequa-
do dos resíduos de serviço de saúde que deve
ser aprimorado e atualizado constantemente,
a partir da adequação a novas resoluções e a
experiência e conhecimento de colegas enga-
jados no processo da construção e preservação
do meio ambiente no Brasil.

As Organizadoras
A COMISSÃO
O Instituto Butantan (IBu), em 2021, com-
pletou 120 anos dedicados a pesquisar, desen-
volver, fabricar e fornecer produtos e serviços
para a Saúde da População. Reconhecido mun-
dialmente como centro de pesquisa biomédica
e, igualmente, referência como centro produtor
de vacinas e soros do Brasil.
Por toda sua longevidade, conta com rico
patrimônio histórico e paisagístico, sendo tom-
bado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico (CONDEPHAAT) em 1981, é uma das
principais referências turísticas da cidade de
São Paulo, recebendo cerca de 300 mil visitan-
tes por ano. Ainda visando cumprir sua missão,
promove cursos de capacitação, recebendo
anualmente uma média de 1.300 alunos, além
de divulgar a Ciência por meio de várias ações
educativas, museológicas, ambientais e de lazer.
O resultado desse esforço teve um impor-
tante papel na conscientização de todos os
colaboradores sobre a importância do manejo
seguro e ambientalmente adequado de resídu-
os. Mudanças e adequações a fim de respeitar
as questões ambientais foram inseridas na ro-
tina de cada colaborador, nos laboratórios de
pesquisa e das áreas produtivas, no biotério, na
área cultural e administrativa, formando uma
corrente coesa cujo objetivo é garantir a saúde
e preservação do meio ambiente.
A Comissão de Resíduos do Instituto
Butantan foi criada em 2012 e, desde a sua pri-
meira formação, mantém o caráter consultivo,
trabalhando conjuntamente com a Gerência
de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente
Institucional.
A satisfação por todas as medidas imple-
mentadas não permite concluir esse texto sem,
antes, agradecer o apoio recebido pela Diretoria
Técnica do Instituto Butantan, pela Presidência
da Fundação Butantan e por cada colega que, di-
reta ou indiretamente, vem contribuindo para o
sucesso da gestão de resíduos no nosso Instituto.

Vânia Gomes de Moura Mattaraia


Presidente da Comissão de Resíduos do
Instituto Butantan
COORDENADORAS Aline Navogin Pego Temotio
Arquiteta e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura
Mônica Spadafora Ferreira e Urbanismo da Universidade Presbiteriana
Farmacêutica-Bioquímica pela Faculdade de Mackenzie. Pós-Graduação em Sustentabilidade
Ciências Farmacêuticas da Universidade de São das Edificações pela Universidade Presbiteriana
Paulo (USP). Mestra e Doutora em Imunologia Mackenzie. MBA em Gestão de Projetos pela
pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Coordenadora de
USP. Pesquisadora Científica do Laboratório Arquitetura na Fundação Butantan.
de Imunogenética do Instituto Butantan.
Presidente da Comissão de Resíduos do Alissandra Pinheiro Lopes Lima
Instituto Butantan de 2012 a 2015. Curso de Bióloga pela Universidade Santa Úrsula. MBA
Extensão Universitária em Proteção Radiológica em Gestão e Tecnologias Ambientais pela
(ICB-USP). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(USP). Mestra pelo Programa de Pós-Graduação
Rita de Cássia Ruiz em Ciência Ambiental (PROCAM) pelo Instituto
Biomédica pela Universidade de Mogi das de Energia e Ambiente (IEE) da USP. Bióloga da
Cruzes (UMC). Mestra em Microbiologia e Fundação Butantan.
Imunologia pelo Programa de Pós-Graduação
em Microbiologia e Imunologia da Universidade Cecilia Mari Abe
Federal de São Paulo (UNIFESP). Doutora em Biomédica pela Universidade Federal do Estado
Ciências pelo Programa de Pós-Graduação de São Paulo (UNIFESP). Mestra em Microbiologia
em Microbiologia e Imunologia (UNIFESP). e Imunologia e Doutora em Ciências pelo
Pesquisadora Científica do Laboratório de Curso de Pós-Graduação em Microbiologia e
Bacteriologia do Instituto Butantan. Membro Imunologia da UNIFESP. Curso de Extensão
da Comissão de Resíduos do Instituto Butantan Universitária em Proteção Radiológica (ICB-
desde 2012. Coordenadora do Grupo de USP). Pesquisadora Científica do Laboratório de
Trabalho destinado aos Resíduos Infectantes do Bacteriologia do Instituto Butantan.
Instituto Butantan desde 2014.
Danylo Marques Ferreira
Vânia Gomes de Moura Mattaraia Bacharel em Química Industrial pela Faculdade
Zootecnista pela Universidade Federal Rural Oswaldo Cruz (em andamento). Técnico em
de Pernambuco (UFRPE). Mestra e Doutora em Química pela Etec de Cidade Tiradentes. Técnico
Produção Animal pela Universidade Estadual em Química na Fundação Butantan.
Paulista (UNESP). Pesquisadora Científica do
Instituto Butantan. Diretora Técnica do Biotério
Central do Instituto Butantan. Coordenadora Debora Mastantuono
dos Cursos de Lato sensu da Escola Superior do Bacharel em Química Ambiental pela
Instituto Butantan. Presidente da Comissão de Universidade de São Paulo (USP). Pós-Graduada
Resíduos desde 2016. em Química Tecnológica pelo Centro Universitário
UNIFIEO. Analista de Projetos e Operações na
Orizon Valorização de Resíduos SA.
COLABORADORES
Débora Tibana Ito
Aline Cunha Barbosa Licenciatura e Bacharelado em Qiímica com Ênfase
Engenheira Ambiental pela Universidade Tecnológico pela Universidade Presbiteriana
São Marcos. Pós-Graduada em Engenharia Mackenzie. Especialista em Análise Instrumental
de Segurança do Trabalho pela Universidade Avançada pelas Faculdades Oswaldo Cruz.
Cruzeiro do Sul. Especialista em Gerenciamento Analista Ambiental da Silcon Ambiental.
Ambiental pela Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz” da Universidade de São Elisabeth Christina Nunes Tenório
Paulo (ESALQ/USP). Engenheira Ambiental no Biomédica pela Universidade da Mogi
Instituto Butantan. das Cruzes. Pós-Graduada e Mestra em
Microbiologia pela Universidade de São Paulo. Cultural da Escola Superior do Instituto
Pesquisadora Científica, Diretora do Núcleo Butantan.
de Produção de Vacinas Virais, Presidente da
Comissão Interna de Biossegurança da Área de Márcia Freitas Gomes
Desenvolvimento Bioindustrial e Qualidade. Tecnóloga em Gestão Ambiental pela
Membro da Comissão de Resíduos do Instituto Universidade Paulista (UNIP). Analista de Meio
Butantan desde 2012. Ambiente Sênior da Fundação Butantan.

Giovana Cappio Barazzone Neuzeti Maria dos Santos


Química pela Universidade de São Paulo Administradora Hospitalar pela Universidade
(USP). Doutora em Química Orgânica pela Camilo Castelo Branco. MBA em Gestão e
USP. Pesquisadora Científica do Laboratório de Tecnologias Ambientais pela Universidade
Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan. de São Paulo (USP). Mestrado Profissional
em Ambiente Saúde e Sustentabilidade pela
Giuseppe Puorto Faculdade de Saúde Pública da USP. Sócia-
Biólogo pela Universidade de Mogi das Cruzes Diretora da GLH Assessoria e Consultoria
(UMC). Especialista em Serpentes pelo Instituto Ambiental.
Butantan. Diretor do Centro de Desenvolvimento
Cultural. Sonia Aparecida de Andrade Chudzinski
Bacharel em Química e Tecnologia pela
João Tadeu Foá Binsztajn Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Arquiteto e Urbanista pela Faculdade de Mestra e Doutora em Ciências Biológicas
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São (Biologia Molecular) pela Universidade Federal
Paulo (USP). Pós-Graduado em Administração, de São Paulo (UNIFESP). Pesquisadora Científica
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). MBA em do Laboratório de Biofármacos no Instituto
Gestão de Projetos pela FGV. Coordenador de Butantan. Membro da Comissão de Resíduos
Arquitetura na Fundação Butantan. Responsável do Instituto Butantan desde 2012. Membro
Técnico pelo Instituto Butantan nos Órgãos de Suplente da Comissão Técnica Nacional de
Preservação (Condephaat e Conpresp) desde Biossegurança (CTNBio).
2016. Membro da Comissão de Resíduos do
Instituto Butantan desde 2018. Vanessa Evelin Jesus
Tecnóloga em Saneamento Ambiental pela
Jussara Maria Rosin Delphino Universidade Estadual Paulista (Unicamp) e
Bacharel em Direito pela Universidade Engenheira Ambiental pela Universidade São
Mackenzie. Pós-Graduada em Direito Marcos. Pós-Graduada (MBA) em Gestão e
Constitucional pelo Instituto Internacional Tecnologias Ambientais pela Escola Politécnica
de Ciências Sociais e Direito Constitucional da Universidade de São Paulo (USP) e Engenheira
Comparado pela Universidade de Salamanca, de Segurança do Trabalho pela Faculdade
Espanha. Mestra em Gestão e Políticas Públicas Oswaldo Cruz. Gerente de Segurança do Trabalho
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Assessora e Meio Ambiente da Fundação Butantan.
PREFÁCIO
Os autores do Livro Fundamentos para Gestão
de Resíduos de Serviços de Saúde trabalham efe-
tivamente no assunto há vários anos. O conteú-
do do Livro reflete as experiências adquiridas na
prática diária por uma equipe de profissionais de
áreas específicas correlatas e complementares. O
aprendizado foi revisto, reformulado e atualizado
periodicamente e agora os autores nos brindam
com um livro muito bem apresentado. O texto é
agradável e de fácil compreensão mas, acima de
tudo, não foge do tema do capítulo e apresenta
a solução e os caminhos a serem seguidos pelo
leitor. Os temas dos capítulos estão apresenta-
dos em uma sequência coerente, permitindo ao
leitor o entendimento global do assunto bem
como a sua implementação em qualquer serviço
de saúde. Os autores dos capítulos são de notó-
rio reconhecimento profissional e técnico nos te-
mas que abordam, além do comprometimento,
dedicação e profissionalismo ímpares.
O livro aborda, inicialmente, as bases jurídi-
cas relativas ao plano de gerenciamento de re-
síduos. Em seguida, apresenta a caracterização
e classificação dos resíduos, além das embala-
gens para acondicionamento desses. O plano
de gerenciamento de resíduos é então apresen-
tado, sendo seguido por assuntos específicos:
equipamentos de proteção individual e coleti-
va, resíduos infectantes, de carcaças, químicos,
de medicamentos, comuns e rejeitos radioati-
vos. O último capítulo aborda sobre os abrigos
adequados ao armazenamento de resíduos.
O Livro Fundamentos para Gestão de
Resíduos de Serviço de Saúde é leitura obriga-
tória para os profissionais da área da saúde. É
uma referência para todos os profissionais que
têm o compromisso e a missão de trabalhar no
atendimento público à saúde.
Os autores sentem-se realizados com a con-
clusão da primeira edição, mas sabem que um li-
vro é essencialmente uma obra inacabada e está
em constante construção. Este é o pensamento
que sempre norteou o trabalho desses autores.
Nossa gratidão e exaltação aos autores por
prepararem este livro com tanto desvelo e serieda-
de. Temos agora, efetivamente, uma obra referên-
cia para subsidiar a implementação do plano de
gerenciamento de resíduos em serviços de saúde.

Rui Curi
Diretor Executivo da Fundação Butantan
SUMÁRIO
1 Visão Jurídica Relativa ao Plano de
Gerenciamento de Resíduos de Serviços
de Saúde, 1

2 Caracterização e Classificação dos Resíduos


de Serviços de Saúde, 9

3 Embalagens e Recipientes para


Acondicionamento de Resíduos de Serviços
de Saúde, 19

4 Plano de Gerenciamento de Resíduos de


Serviços de Saúde, 31

5 Equipamentos de Proteção Individual e


Coletiva, 42

6 Resíduos Infectantes – Grupo A, 65

7 Resíduos de Animais: Carcaças e Peças


Anatômicas – Subgrupos A2 e A4, 81

8 Resíduos Químicos – Grupo B, 91

9 Resíduos de Medicamentos – Grupo B, 105

10 Rejeitos Radioativos – Grupo C, 117

11 Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e


Outros Resíduos, 131

12 Abrigos Destinados ao Armazenamento de


Resíduos de Serviços de Saúde, 149
Índice de Fluxogramas
Fig. 2.1 Classificação e simbologia dos
diferentes grupos de resíduos de
serviços de saúde, 14

Fig. 4.1 Etapas envolvidas na Gestão dos


Resíduos de Serviços de Saúde, 41

Fig. 6.5 Fluxograma contendo a destinação


de resíduos infectantes (Grupo A),
exceto carcaças, 79

Fig. 7.3 Fluxograma para descarte de


Carcaças de Animais, 88

Fig. 8.3 Fluxograma para descarte de


Resíduos Químicos, 103

Fig. 9.5 Fluxograma para descarte de


Medicamentos, 114

Fig. 10.6 Fluxograma para descarte de Rejeitos


Radioativos, 129

Fig. 11.1 Fluxograma para descarte de


materiais recicláveis e não
recicláveis, 136

Fig. 11.2 Fluxograma para segregação e


acondicionamento para pilhas,
baterias, REE, lâmpadas, RCC e
amianto, 144

Fig. 11.3 Fluxograma para segregação e


acondicionamento para latas de
tinta, botijas, embalagens para gelo
reutilizável e madeira, 145

Fig. 11.4 Fluxograma para segregação e


acondicionamento para poda
de vegetação de porte arbóreo,
óleos lubrificantes e materiais
contaminados, 146
1
Visão Jurídica Relativa
ao Plano de Gerenciamento
de Resíduos de Serviços
de Saúde

Jussara Maria Rosin Delphino


1 Visão Jurídica Relativa ao Plano
de Gerenciamento de Resíduos
de Serviços de Saúde

1.1. INTRODUÇÃO
O meio ambiente é essencial para a conservação da vida no planeta, porém o ser hu-
mano o vem degradando no decorrer do tempo, por meio de desmatamento, emissão de
gases poluentes e descarte inapropriado de resíduos industriais e afins. Para minimizar os
impactos ambientais causados pela ação humana, foram editadas leis e realizadas conferên-
cias internacionais a fim de abordar o assunto, o que não demonstrou ser o suficiente para a
resolução de tais questões (Moreira et al, 2021).
O Brasil está entre as 10 nações que mais geram resíduos sólidos urbanos (RSU) no mun-
do. Isso é decorrente do crescente desenvolvimento das cidades, quase sempre desorde-
nado, da limitação dos recursos naturais e da enorme quantidade de poluentes e resíduos
gerados nas diversas atividades humanas (Octavio Neto, 2019).
As legislações ambientais vieram, de forma gradativa, incluir a questão dos resíduos só-
lidos no ordenamento jurídico. Atualmente, os resíduos sólidos são amplamente regulados
por leis, decretos, resoluções e normas técnicas (Leonardo Silva, 2017).
Este capítulo pretende apresentar uma breve retrospectiva das principais normas jurídi-
cas que regulamentam o descarte de Resíduos de Serviços de Saúde no Brasil e, além disso,
esclarecer dúvidas frequentes daqueles que, de áreas não jurídicas, sentem dificuldade no
entendimento e atendimento da legislação.
A retrospectiva terá início na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano, que ocorreu em Estocolmo, a qual se preocupou com a necessidade de um critério
e de princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo inspiração para preservar e me-
lhorar o meio ambiente humano.

1.2. HISTÓRICO
Em 1972, foi realizada a I Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Humano em Estocolmo, que teve como objetivo discutir as consequências da degradação
do meio ambiente e seus impactos nas mudanças climáticas e na qualidade da água. Além
disso, nessa conferência debateu-se sobre as medidas importantes para a redução dos de-
sastres naturais e as soluções para a modificação da paisagem. A partir daí, as bases do de-
senvolvimento sustentável foram elaboradas a fim de limitar a utilização de pesticidas na
agricultura e reduzir a quantidade de metais pesados lançados na natureza.

2 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Esta conferência influenciou a Política Ambiental do Brasil, pois o país era signatário do
Tratado.
Desde então, houve um grande avanço no tratamento das questões ambientais, porém,
em relação aos resíduos, muita coisa ainda precisa ser feita. A destinação adequada e o re-
torno dos resíduos sólidos para a cadeia produtiva, em todas as regiões do país, ainda são os
maiores desafios dos centros urbanos.
Segue uma breve linha do tempo, que mostra a evolução das legislações ambientais no
Brasil, publicada pelo Superior Tribunal de Justiça e atualizada por Hendges.
„„ 1973: foi criada a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), que tem como
objetivo a gestão dos recursos ambientais. Já em novembro de 1974, sob a Lei N°
6.151/1974 foi constituído o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que traça
diretrizes sobre o meio ambiente. A partir dessa lei o desenvolvimento do país não
pode se dar a qualquer custo. (Moreira et al, 2021);
„„ 1975: iniciou-se o controle da poluição provocada por atividades industriais. Por
meio do Decreto-Lei 1.413, empresas poluidoras ficam obrigadas a prevenir e corri-
gir os prejuízos da contaminação do meio ambiente;
„„ 1977: foi promulgada a Lei 6.453, que estabelece a responsabilidade civil em casos
de danos provenientes de atividades nucleares;
„„ 1981: editada a Lei 6.938, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente
(PNMA), de 31 de agosto de 1981. Cria o Sistema Nacional de Meio Ambiente, inte-
grada por um órgão colegiado: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), que
tem como objetivo “a preservação ambiental propícia à vida, visando a assegurar, no
país, condições para o desenvolvimento socioeconômico, os interesses da seguran-
ça nacional e a proteção da dignidade da pessoa humana”. Em outras palavras, a lei
assessora, estuda e propõe ao Governo, as linhas de direção que devem ser tomadas
nas políticas governamentais para a exploração e preservação do meio ambiente e
dos recursos naturais. (Moreira et al. 2021). A promulgação dessa lei inova ao apre-
sentar o meio ambiente como objeto específico de proteção;
„„ 1985: editada a Lei 7.347, que disciplina a ação civil pública como instrumento processu-
al específico para a defesa do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
„„ 1988: promulgada a Constituição Federal, a primeira a dedicar capítulo específico ao
meio ambiente. Avançada, ela impõe ao Poder Público e à coletividade, em seu art. 225,
o dever de defender e preservar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras;
„„ 1989: promulgada a Lei N° 7.735, que cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) com o objetivo “de cuidar da preservação,
conservação, uso racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais”;
„„ 1990: criada a Secretaria do Meio Ambiente, vinculada à Presidência da República,
com status de Ministério;
„„ 1991: o Brasil passa a dispor da Lei de Política Agrícola (Lei 8.171), que tem um capí-
tulo especialmente dedicado à proteção ambiental e também obriga o proprietário
rural a recompor sua propriedade com reserva florestal obrigatória;
„„ 1998: publicada a Lei 9.605, que dispõe sobre crimes ambientais. A lei prevê san-
ções penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.
Considerada um marco, influenciou diversas mudanças que ocorreram posterior-
mente na legislação ambiental;
„„ 2000: publicada a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei N°
9.985/00), que prevê mecanismos para a defesa dos ecossistemas naturais e de pre-
servação dos recursos naturais neles contidos;
„„ 2001: sancionado o Estatuto das Cidades (Lei 10.257), que dota o ente municipal de
mecanismos visando a permitir que seu desenvolvimento não ocorra em detrimento
do meio ambiente;

1 – Visão Jurídica Relativa ao Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde 3


„„ 2010: sancionada a Lei N° 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) e altera a Lei N° 9.605/1998, que estabelece diretrizes à gestão integrada e ao
gerenciamento ambiental adequado dos resíduos sólidos;
„„ 2015: realizada a Conferência das Partes (COP 21) das Nações Unidas sobre mudança
do clima, na França. O Brasil chega à reunião como o único país em desenvolvimento
a se comprometer com a redução absoluta das emissões de gases de efeito estufa
para conter o aquecimento global, cujas metas são 37% até 2025 e 43% até 2030.

Apesar de haver um extenso regramento sobre o tema, no Direito Ambiental nem sem-
pre as normas são a principal fonte para a resolução de conflitos. Muitas vezes, os princípios
atuam fornecendo diretrizes para a aplicação dessas normas ao caso concreto, com o intuito
de resguardar e proteger o meio ambiente.
Nesse sentido, alguns dos princípios fundamentais do Direito Ambiental são: Princípio In
Dubio Pro Natura (na dúvida, pró-natureza), Princípios da Prevenção e Precaução, Princípio
do Poluidor-Pagador, Princípio da Responsabilidade, Princípio do Desenvolvimento
Sustentável e Princípio da Função Social e Ambiental da Propriedade.
Dessa forma, em casos nos quais não há uma interpretação única diante de uma norma,
os princípios ganham força no sentido de estabelecerem que deva prevalecer a interpreta-
ção normativa, cuja aplicação seja mais benéfica ao meio ambiente.

1.3. A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS


A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei N° 12.305/2010, estabeleceu alguns
princípios básicos para o desenvolvimento ambiental, entre os quais de destacam os seguintes:
„„ Prevenção e a precaução;
„„ Reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômi-
co e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;
„„ Estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo;
„„ Poluidor-pagador e o protetor-recebedor;
„„ Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.

Nesse contexto, a citada lei definiu o resíduo sólido como: “material, substância, obje-
to ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação
final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tor-
nem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam,
para isso, soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível”.
De outro lado, a mesma lei conceitua os rejeitos como uma subespécie de resíduo sólido
que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por proces-
sos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresente outra possibilidade
que não a disposição final, ambientalmente adequada. As expressões: resíduos e rejeitos
são, muitas vezes, utilizadas como sinônimas. No entanto, essa concepção está equivocada.
Apesar de possuírem semelhanças em alguns aspectos, cada termo conta com característi-
cas próprias e particularidades que devem ser compreendidas. Maiores informações sobre
esses termos encontram-se no capítulo seguinte.
A PNRS classifica os tipos de resíduos considerando a sua origem, entretanto, maiores
informações sobre os grupos constam detalhadamente no Capítulo 2.

4 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


1.4. RESOLUÇÕES E NORMATIVAS
A NBR 10004/04, abreviação adotada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas), define os resíduos sólidos como resíduos nos estados sólido e semissólido, que
resultam de atividades industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e
de varrição. E, ainda, os fluídos ou lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como deter-
minados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública
de esgotos ou corpos de água ou exijam, para isso, soluções técnica e economicamente
inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível.
Essa mesma norma dispõe sobre a classificação dos resíduos sólidos, quanto aos seus
riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que possam ser gerenciados
adequadamente. A classificação dos resíduos está abordada no Capítulo 2.
Convém ressaltar que a Lei Federal N° 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), é de cumprimento obrigatório pelos Estados e Municípios.
Em 2018, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a Resolução RDC
N° 222 (revisão da RDC N°. 306 de 2004) que regulamenta as boas práticas de Gerenciamento
dos Resíduos de Serviços de Saúde de forma harmonizada com as Resoluções do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), listadas a seguir:
„„ Resolução 275/2001, que estabelece código de cores para os diferentes tipos de
resíduos;
„„ Resolução 358/2005, que dispõe sobre o tratamento e a destinação final dos resídu-
os dos serviços de saúde.

Em complementação a esse regramento, citamos ainda:


„„ Portaria N° 280 do Ministério do Meio Ambiente, que institui o Manifesto de
Transporte de Resíduos (MTR) nacional, uma ferramenta online, em que o gerador
presta informações sobre a movimentação de seus resíduos;
„„ Resolução ANTT 5947/2021, da Agencia Nacional de Transportes Terrestres, que
atualiza as instruções complementares ao regulamento do transporte terrestre de
produtos perigosos;
„„ Norma Regulamentadora (NR) 32 de 2005 do Ministério do Trabalho e Previdência do
Brasil, que dispõe sobre Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde;
„„ Instrução Normativa N° 13 de 2012 e N° 1 de 2013, ambas editadas pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que publica
a Lista Brasileira de Resíduos Sólidos, a qual será utilizada pelo Cadastro Técnico Federal
de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais,
pelo Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental e
pelo Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos, bem como por futuros
sistemas informatizados do Ibama que possam vir a tratar de resíduos sólidos;
„„ ABNT NBR 12.809/2013, que dispõe sobre resíduos de serviços de saúde — gerencia-
mento de resíduos de serviços de saúde intraestabelecimento.

1.5. A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS


O Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR) é um dos
Instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) instituída pela Lei N° 12.305,
de 2 de agosto de 2010 e regulamentada pelo Decreto N° 7.404, de 23 de dezembro de 2010.

1 – Visão Jurídica Relativa ao Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde 5


A PNRS está basicamente ancorada nesse Sistema de Informações e a evolução de sua
concepção envolverá o Sistema Nacional de Informações sobre Meio Ambiente (SINIMA) e o
Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento Básico (SINISA), atual SNIS, coordena-
do pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). (https://sinir.gov.br)
A fim de viabilizar a responsabilidade compartilhada quanto ao reaproveitamento e des-
tinação correta de resíduos, surge o instrumento da logística reversa que é definido pela
Lei 12.305/2010, no seu artigo 3°, parágrafo 8°, como: “instrumento de desenvolvimento
econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios des-
tinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final
ambientalmente adequada”.
O processo da logística reversa atribui responsabilidade às empresas, juntamente com
os municípios, para a correta gestão de resíduos, especialmente aqueles que poderão retor-
nar ao ciclo produtivo.

1.6. ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADES


Um ponto importante da Lei 12.305/2010 (PNRS) é a fixação da responsabilidade com-
partilhada dos geradores de resíduos (fabricantes, importadores, distribuidores e comer-
ciantes) no procedimento de Logística Reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo. A
Lei acima citada, no seu artigo terceiro, deixa explicita que a responsabilidade será compar-
tilhada pelo ciclo de vida dos produtos, com o objetivo de minimizar o volume de resíduos
sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e
à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos. O manejo correto dos re-
síduos é essencial tanto para o meio ambiente como para a proteção da saúde e segurança
das pessoas.
Para evitar acidentes, contaminações e outros riscos à saúde são essenciais que sejam
cumpridos os preceitos das normas que promovam segurança e proteção. O fornecimento
de equipamentos de proteção individual (EPIs), bem como a capacitação para uso corre-
to dos mesmos é dever da empresa. Paralelamente, o colaborador deve se comprometer a
utilizar os dispositivos protetores corretamente e sempre manusear resíduos com prudên-
cia e responsabilidade, conforme previsto na NR-6 do Manual de Segurança e Medicina do
Trabalho, e também na NR-32, sobre Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde.
A legislação brasileira abrange várias normas que garantem a saúde e a segurança do
trabalhador que manuseia o resíduo. Dentre elas, destacamos a RDC N° 222/2018 da Anvisa,
que determina que os envolvidos diretamente com os processos de higienização, coleta,
transporte, tratamento e armazenamento de resíduos devam ser submetido a exame mé-
dico admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissional,
em conformidade com o estabelecido no PCMSO da Portaria N° 3214 do MTE (Ministério da
Economia/Secretaria do Trabalho).

1.7. CONSIDERAÇÕES FINAIS


A PNRS busca minimizar conflitos gerados entre diversos setores da sociedade (produto-
res, distribuidores e consumidores finais), exigindo que se busque soluções e instrumentos
para sua operacionalidade, ou seja, explicita que a responsabilidade do ciclo de vida do bem
produzido é compartilhada, entre todos os envolvidos no processo de produção até a sua
disposição final.

6 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Recomenda-se que toda empresa/instituição geradora ou envolvida com a gestão de
RSS desenvolva um modelo de gestão participativo e compartilhado, com atribuição de
responsabilidades para todas as áreas internas, desde a alta direção, pesquisadores, pro-
fessores, funcionários, alunos e empresas terceirizadas que lhe prestam serviço, tais como:
alimentação, limpeza, gerenciamento de obras, coleta e disposição final de resíduos.
As legislações não devem ser vistas apenas com o olhar punitivo, sendo atendidas de forma
minimalista, a fim de evitar o ônus decorrente de uma “não conformidade”, mas serem atendi-
das de maneira plena, buscando ineditismo e a vanguarda de ações que resultem no bônus
para a sociedade e para o meio ambiente, visando a preservação da natureza e do planeta.

REFERÊNCIAS
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sólidos – Classificação. 2. Ed. 31/05/2004, válida a partir de 30/11/2004.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Norma ABNT NBR N° 12808/1993 – Resíduos de
serviços de saúde.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO (ALESP). Lei N° 12.300, de 16 de Março de 2006.
Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e define princípios e diretrizes no Estado de São Paulo.
Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2006/lei-12300-16.03.2006.html.
BORGES L.A.C.; REZENDE, J.L.P.; PEREIRA, J.A.A. Evolução da Legislação Ambiental no Brasil. 2009. Revista
em Agronegócios e Meio Ambiente, v.2, n.3, p. 447-466, set./dez. 2009 - ISSN 1981-9951. 454.
BRASIL. Lei N° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
N° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm.
BRASIL. Lei N° 6.151, de 04 de dezembro de 1974. Dispõe sobre o Segundo Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND), para o período de 1975 a 1979. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6151.htm.
BRASIL. Lei N° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus
fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm.
BRASIL. Lei N° 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Dispõe sobre a extinção de órgão e de entidade autár-
quica, cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7735.htm.
BRASIL. Ministério da Infraestrutura. Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Resolução N° 5.947,
de 1 de Junho de 2021. Atualiza o Regulamento para o Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos e
aprova as suas Instruções Complementares e dá outras providências. Revogar as Resoluções ANTT N°
420, de 12 de fevereiro de 2004; N° 701, de 25 de agosto de 2004; N° 1.644, de 26 de setembro de 2006;
N° 2.657, de 15 de abril de 2008; N° 2.975, de 18 de dezembro de 2008; N° 3.383, de 20 de janeiro de
2010; N° 3.632, de 9 de fevereiro de 2011; N° 3.648, de 16 de março de 2011; N° 3.665, de 4 de maio
de 2011; N° 3.762, de 26 de janeiro de 2012; N° 3.763, de 26 de janeiro de 2012; N° 3.886, de 6 de setem-
bro de 2012; N° 3.887, de 6 de setembro de 2012; N° 4.081, de 11 de abril de 2013; N° 5.232, de 14 de
dezembro de 2016; N° 5.581, de 22 de novembro de 2017; e N° 5.848, de 25 de junho de 2019.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria N° 280, de 29 de Junho de 2020. Regulamenta os arts.
56 e 76 do Decreto N° 7.404, de 23 de dezembro de 2010, e o art. 8° do Decreto N° 10.388, de
5 de junho de 2020, institui o Manifesto de Transporte de Resíduos – MTR nacional, como ferra-
menta de gestão e documento declaratório de implantação e operacionalização do plano de ge-
renciamento de resíduos, dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos e complementa
a Portaria N° 412, de 25 de junho de 2019. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/
portaria-n-280-de-29-de-junho-de-2020-264244199.

1 – Visão Jurídica Relativa ao Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde 7


BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada - RDC N° 222. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços
de Saúde e dá outras providências. Publicado no DOU em 29/03/2018.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. Portaria N. ° 485, de 11 de Novembro de 2005. Aprova a
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Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especifi-
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-breve-resumo-da-evolucao-da-legislacao-ambiental-no-brasil. Acessado em 28/08/2021.

8 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


2
Caracterização e Classificação
dos Resíduos de Serviços
de Saúde

Rita de Cássia Ruiz


Mônica Spadafora Ferreira
2 Caracterização e Classificação
dos Resíduos de Serviços
de Saúde

O crescimento populacional, aliado ao aumento da diversidade da oferta de produtos,


tem suscitado a importância da conscientização da população sobre o uso e a destinação
adequada dos resíduos, a fim de minimizar o impacto ambiental acarretado pelo descarte
incorreto. A Resolução 001/86-CONAMA, que dispõe sobre critérios básicos e diretrizes ge-
rais para a avaliação de impacto ambiental, o define como:

“Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio am-


biente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante de atividades
humanas que, direta ou indiretamente, afetem: a saúde, segurança e o bem-estar
da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e
sanitárias; o meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.”

Assim, o gerenciamento de resíduos sólidos tornou-se a principal ferramenta para a re-


dução dos impactos tanto na saúde pública como no âmbito socioambiental que a destina-
ção inadequada de resíduos pode acarretar.

2.1. ASPECTOS GERAIS


Desde 2010, a chamada Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei
N° 12.305/2010, regulamenta que toda a cadeia dos setores, público ou privado, envolvida
na geração de resíduos em todo o território nacional deve gerir os resíduos sólidos com
transparência.
A PNRS define como rejeitos:

“Resíduos sólidos: aqueles em que todas as possibilidades de tratamento e recupe-


ração por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis foram es-
gotadas, sendo a disposição final, ambientalmente adequada, a única opção”.

e como resíduos:

“Todo material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades hu-


manas em sociedade, cuja destinação final se procede, se propõe a proceder ou
se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases

10 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu
lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou que exijam para
isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível”.

A PNRS também dispõe sobre aspectos que visam à sustentabilidade como: estímulo ao
consumo sustentável; incentivo à reciclagem e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos; a
destinação, ambientalmente adequada, dos rejeitos ou resíduos e o fim das áreas de descar-
te impróprias como, por exemplo, os “lixões”. Vale lembrar que, a destinação de resíduos em
lugares inadequados possibilita: acidentes com materiais perfurocortantes; contaminação
do solo e da água acarretando prejuízo tanto para população, como para vegetação local.
Com isso, a obrigatoriedade das instituições destinarem, adequadamente, os resíduos ge-
rados durante as suas atividades, visa extinguir ou amenizar quaisquer riscos que venham
a comprometer o meio ambiente e/ou a saúde de todos os seres vivos. Para isso, o geren-
ciamento de resíduos prevê que a instituição conheça os resíduos gerados e, a partir disso,
estabeleça regras seguras para a manipulação e disposição do resíduo, conforme as norma-
tivas específicas para cada classe de resíduo. Desta forma, o conhecimento da classificação
dos resíduos é fundamental para implantação de um processo seguro.

2.2. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS


A classificação dos resíduos sólidos é essencial para a execução dos procedimentos de
gerenciamento até sua disposição final a fim de atender a PNRS 12.305/2010. De acordo
com a PNRS, os resíduos sólidos podem ser classificados quanto a sua origem ou a atividade
que o gerou, a sua natureza e composição e o seu nível de periculosidade, ou os potenciais
riscos ao meio ambiente e à saúde pública que possam acarretar.

2.2.1. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS


CONFORME A PERICULOSIDADE
A norma NBR 10004/2004 da ABNT estabelece a classificação dos resíduos sólidos
quanto aos potenciais riscos ao meio ambiente e a saúde pública, através da identificação
do processo ou atividade que lhes deu origem e as características de seus constituintes,
conforme segue:

2.2.1.1. RESÍDUOS CLASSE I – PERIGOSOS


Os resíduos considerados perigosos são aqueles que têm características que podem co-
locar em risco tanto o meio ambiente como as pessoas que os manipulam diretamente ou
as que venham a ter algum outro tipo de contato com o resíduo. Define-se como resíduo pe-
rigoso todo resíduo que apresenta uma das seguintes características: inflamabilidade, cor-
rosividade, toxicidade, reatividade e/ou patogenicidade. Essa classe de resíduos é originária
principalmente de indústrias, hospitais e clínicas e atividades no campo. Alguns exemplos
encontram-se descritos na Tabela 2.1.

2 – Caracterização e Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde 11


Tabela 2.1. Características de resíduos considerados perigosos à Saúde Pública e ao
Meio Ambiente
Resíduos Características
Resíduo hospitalar Patogênicos
Produtos químicos Tóxico, Corrosivo, Inflamável, Reativo
Medicamentos Tóxicos
Produtos radioativos Radioativo
Lâmpadas fluorescentes Tóxico
Pilhas e baterias Corrosivo, Tóxico
Tinta e solventes Inflamável, Tóxico

2.2.1.2. RESÍDUOS CLASSE II – NÃO PERIGOSOS


Os resíduos não perigosos são aqueles que considerando os aspectos físico-químicos,
biológicos, qualitativo e/ou quantitativo não apresentam as características inflamabilida-
de, corrosividade, toxicidade, reatividade e/ou patogenicidade e nem apresentam o risco
de desencadear uma reação química. Embora não perigosos, exercem impacto no meio
ambiente, caso não sejam destinados adequadamente. Dependendo das características,
os resíduos da classe II podem ser classificados como não inertes (Classe IIA) ou inertes
(classe IIB).

CLASSE IIA – NÃO INERTES


Embora as características de periculosidade estejam ausentes nessa classe, a classe
IIA pode apresentar outras propriedades como ser biodegradável, comburente ou solú-
vel em água, podendo também exercer impacto ao meio ambiente. Os resíduos desta
classe são variáveis, sendo os mais comuns os resíduos orgânicos com características
semelhantes aos do lixo doméstico. Estes, mesmo não tendo capacidade de destruição
ou contaminação, apresentam potencial de interferir no solo, rios, atmosfera poluindo
o meio ambiente. Outros exemplos desta classe são: resíduos orgânicos, resíduos ori-
ginários de indústrias alimentícias e restaurantes, madeira, têxteis, poliuretano, gesso,
borracha, papel/papelão, sucata de metais ferrosos e não ferrosos, plástico polimerizado,
entre outros.

CLASSE IIB – INERTES


Esta classe de resíduos, além de não apresentarem características dos resíduos de
classe I, por não sofrerem transformação física, química ou biológica quando submetidos
a temperatura média ou em presença de água, não interferem na potabilidade poden-
do permanecer inalterados por longos períodos de tempo. Esta classe inclui resíduos
originários da indústria, do campo, do comércio, da construção civil e até mesmo de
instituições que prestam serviços de saúde desde que não contaminados com nenhum
outro tipo de resíduo. Entulho, isopor, alumínio, aço, ferro, plástico e vidro são exem-
plos de resíduos inertes os quais podem ser reciclados ou dispostos em aterros sanitários
já que, por não liberarem substâncias que alteram o solo ou a água, não prejudicam o
meio ambiente.

12 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


2.2.2. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS PELA ORIGEM
A PNRS (12.305/2010) classifica os resíduos conforme a sua origem, nos seguintes grupos:
„„ Resíduos sólidos urbanos: divididos em resíduos domiciliares, originários de ativi-
dades domésticas em residências e em resíduos de limpeza urbana, originários de
varrição e outros serviços de limpeza urbana;
„„ Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: exceto os classificados como
resíduos sólidos urbanos, citados anteriormente;
„„ Resíduos da construção civil: gerados nas construções, reformas, reparos e demoli-
ções, bem como na preparação e escavação de terrenos para obras civis;
„„ Resíduos de estabelecimentos comerciais: gerados no comércio, bem como na pres-
tação de serviços, como papéis, plásticos, isopor, papelão, entre outros;
„„ Resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais
alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;
„„ Resíduos sólidos de mineração: gerados na atividade de pesquisa, extração ou be-
neficiamento de minérios;
„„ Resíduos agrossilvopastoris: gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, inclu-
ídos os relacionados a insumos (orgânicos e inorgânicos) utilizados nessas atividades,
como: dejetos da criação de animais; resíduos associados a culturas da agroindústria, bem
como da silvicultura; embalagens de agrotóxicos, fertilizantes e insumos relacionados;
„„ Resíduos Industriais: gerados nos processos produtivos e instalações industriais po-
dendo ser resíduos de alta periculosidade;
„„ Resíduos de serviços de saúde: gerados nos serviços que prestam atendimento à saú-
de como: hospitais, ambulatórios, clínicas, institutos de pesquisa e ensino, entre outros,
conforme definido pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). Dada a importância dessa categoria
para os demais capítulos, as especificidades importantes para a destinação adequada
dos resíduos de serviços de saúde serão abordadas no próximo item.

2.4. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE


O desenvolvimento científico, o aumento na produção de resíduos perigosos e o cres-
cente conhecimento sobre as possíveis ameaças à vida que os resíduos de serviços de saúde
(RSS) podem acarretar têm feito com que o poder público se atente a regulamentar toda a
cadeia envolvida no processo, através de normativas. A Resolução CONAMA N° 358/2005,
normativa que regulamenta o gerenciamento de RSS, determina que a responsabilidade do
descarte adequado dos serviços de saúde é solidária, cabendo a todos envolvidos, desde o
responsável legal pelo local da geração até os transportadores e operadores das instalações
de tratamento e disposição final.
No que diz respeito ao gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde, a RDC
222/2018 define como:

“...um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir


de bases científicas, técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a ge-
ração de resíduos e proporcionar um encaminhamento seguro, de forma eficiente,
visando à proteção dos trabalhadores e a preservação da saúde pública, dos recur-
sos naturais e do meio ambiente.”

2 – Caracterização e Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde 13


Os resíduos de serviços de saúde são classificados considerando suas características es-
pecíficas, visto que desde o manuseio até a destinação final há a necessidade de cuidados
para que a segurança seja preservada. Esse grupo contempla resíduos resultantes de insti-
tuições de serviços de saúde que, de acordo com a RDC 222/18, são:

“Serviços de atenção à saúde humana e animal, inclusive assistência domiciliar; la-


boratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias, serviços de
embalsamamento; serviços de medicina legal; drogarias e farmácias (inclusive as
de manipulação); estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde; centros de
controle de zoonose; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distri-
buidores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de aten-
dimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de piercing e tatuagem, salões de
beleza e estética, dentre outros afins.”

Considerando a diversidade de resíduos gerados nos serviços de saúde, eles foram sub-
divididos em cinco grupos que abrangem: resíduo infectante (grupo A), resíduo químico
(grupo B), resíduo radioativo (grupo C), resíduo comum (grupo D) e resíduo perfurocortante
(grupo E). Cada um desses grupos possui uma simbologia característica, conforme mostra-
do na Figura 2.1.

Classificação dos Resíduos de Serviço de Saúde

Comum e
Infectante Químico Radioativo Perfurocortante
Reciclável

Grupo A Grupo B Grupo C Grupo D Grupo E

Cultura de
microrganismos, Produtos Resíduos
Rejeitos de Agulhas, escalpes,
peças anatômicas, químicos e similares aos
radionuclídeos lâminas de bisturi
carcaças, luvas, medicamentos domiciliares
gazes

Figura 2.1. Classificação e simbologia dos diferentes grupos de resíduos de serviços


de saúde.

2.4.1. GRUPO A: RESÍDUOS INFECTANTES


São considerados resíduos do grupo A todos os resíduos sólidos ou líquidos com a possí-
vel presença de agentes biológicos ou de seus produtos, que por suas características podem
apresentar riscos à saúde (humana, animal) ou ao meio ambiente. Entende-se por agentes
biológicos microrganismos, capazes ou não de originar algum tipo de infecção, alergia ou
toxicidade, como bactérias, fungos, vírus, clamídias, riquétsias, micoplasmas, parasitas e ou-
tros agentes, linhagens celulares, príons, imunobiológicos, venenos, toxinas, DNA recombi-
nante e organismos geneticamente modificados (OGM).

14 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


De acordo com a RDC 202 Anvisa (2018), os resíduos infectantes são subdivididos em
cinco grupos: A1, A2, A3, A4 e A5.

2.4.1.1. SUBGRUPO GRUPO A1


Inclui os seguintes resíduos:
„„ Culturas e estoques de microrganismos;
„„ Resíduos de fabricação de produtos biológicos, exceto os hemoderivados;
„„ Meios de cultura e instrumentais utilizados para transferência;
„„ Inoculação ou mistura de culturas;
„„ Resíduos de laboratórios de manipulação genética (Organismos Geneticamente
Modificados);
„„ Resíduos resultantes da atividade de ensino e pesquisa ou atenção à saúde de indiví-
duos ou animais, com suspeita ou certeza de contaminação biológica;
„„ Resíduos resultantes de atividades de vacinação com microrganismos vivos atenua-
dos ou inativados, incluindo frascos de vacinas com expiração do prazo de validade,
com conteúdo inutilizado, vazios ou com restos do produto;
„„ Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeitadas por conta-
minação ou por má conservação, ou com prazo de validade vencido;
„„ Sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos, recipien-
tes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou
líquidos corpóreos na forma livre.

2.4.1.2. SUBGRUPO GRUPO A2


Inclui os seguintes resíduos:
„„ Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais sub-
metidos a processos de experimentação com inoculação de microrganismos, bem
como suas forrações, e os cadáveres de animais suspeitos de serem portadores de mi-
crorganismos de relevância epidemiológica e com risco de disseminação, que foram
submetidos ou não a estudo anátomo - patológico ou a confirmação diagnóstica.

2.4.1.3. SUBGRUPO GRUPO A3


Inclui os seguintes resíduos:
„„ Peças anatômicas (membros) do ser humano; produto de fecundação sem sinais vi-
tais, com peso menor que 500 gramas ou estatura menor que 25 centímetros ou
idade gestacional menor que 20 semanas, que não tenham valor científico ou legal
e não tenha havido requisição pelo paciente ou por seus familiares.

2.4.1.4. SUBGRUPO GRUPO A4


Inclui os seguintes resíduos:
„„ Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores;
„„ Filtros de ar e gases aspirados de área contaminada; membrana filtrante de equipa-
mento médico-hospitalar e de pesquisa, entre outros similares;
„„ Sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções
de pacientes que não contenham agentes de classe 4, e nem apresentem relevância
epidemiológica e risco de disseminação, ou microrganismo causador de doença emer-
gente cujo o mecanismo de transmissão seja desconhecido, ou com suspeita de prion;
„„ Peças anatômicas (órgãos e tecidos, incluindo a placenta) provenientes de procedi-
mentos cirúrgicos ou de estudos anatomopatológicos ou de confirmação diagnóstica;

2 – Caracterização e Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde 15


„„ Tecido adiposo proveniente de lipoaspiração, lipoescultura ou outro procedimento
de cirurgia plástica que gere este tipo de resíduo;
„„ Recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, que não con-
tenham sangue ou líquidos corpóreos na forma livre;
„„ Cadáveres, carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes
de animais não submetidos a processos de experimentação com inoculação de
microrganismos;
„„ Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós-transfusão.

2.4.1.5. SUBGRUPO GRUPO A5


Inclui os seguintes resíduos:
„„ Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos de alta infectividade para prions, de casos suspei-
tos ou confirmados, bem como quaisquer materiais resultantes da atenção à saúde
de indivíduos ou animais, suspeitos ou confirmados, e que tiverem contato com ór-
gãos, tecidos e fluidos de alta infectividade para príons. Os tecidos e fluidos de alta
infectividade para príons são aqueles assim definidos em documentos oficiais pelos
órgãos sanitários competentes.

Maiores informações sobre a manipulação, segregação, acondicionamento e destinação


final de resíduos do Grupo A podem ser consultadas nos Capítulos 6 e 7.

2.4.2. GRUPO B - RESÍDUOS QUÍMICOS


Resíduos do grupo B são aqueles que contém produtos químicos que apresentam periculo-
sidade à saúde pública ou ao meio ambiente por possuírem características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade, mutagenicida-
de ou outro resíduo que, acima de uma determinada quantidade, apresente algum risco. As
características dos produtos químicos podem ser encontradas nas Fichas de Informações
de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ), que devem sempre estar disponíveis nos locais de
fácil acesso e boa visibilidade, próximo de onde os reagentes estão estocados ou em uso. Vale
ressaltar que a FISPQ não se aplica aos produtos farmacêuticos e cosméticos.
No grupo B, estão inclusos:
„„ Produtos farmacêuticos;
„„ Resíduos de saneantes, desinfetantes, resíduos contendo metais pesados, reagentes
de laboratório, inclusive os recipientes contaminados por estes;
„„ Efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores);
„„ Efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em análises clínicas;
„„ Demais produtos considerados perigosos: tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos.

Maiores informações sobre a manipulação, segregação, acondicionamento e destinação


final de resíduos do grupo B estão descritas nos Capítulos 8 e 9.

2.4.3. GRUPO C – REJEITOS RADIOATIVOS


Rejeitos do grupo C são aqueles resultantes de atividades humanas que contenham
radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas
normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e para os quais a reutilização é
imprópria ou não prevista. Enquadram-se neste grupo quaisquer materiais provenientes de

16 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


laboratórios de pesquisa e ensino na área de saúde, laboratórios de análises clínicas e ser-
viços de medicina nuclear e radioterapia que contenham radionuclídeos em quantidade
superior aos limites de eliminação determinados pela CNEN.
Maiores informações sobre a manipulação, segregação, acondicionamento e destinação
final de resíduos do grupo C estão descritas no Capítulo 10.

2.4.4. GRUPO D – RESÍDUOS COMUNS


O grupo D inclui os resíduos que não apresentam risco biológico, químico ou radioló-
gico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares.
Exemplos de resíduos deste grupo gerados em serviços de saúde são:
„„ Papel de uso sanitário e fralda, absorventes higiênicos, peças descartáveis de vestu-
ário, gorros e máscaras descartáveis, resto alimentar de paciente, material utilizado
em antissepsia e hemostasia de venóclises, luvas de procedimentos que não entra-
ram em contato com sangue ou líquidos corpóreos, equipo de soro, abaixadores de
língua e outros similares não classificados como A1;
„„ Sobras de alimentos e do preparo de alimentos;
„„ Resto alimentar de refeitório;
„„ Resíduos provenientes das áreas administrativas;
„„ Resíduos de varrição, flores, podas e jardins;
„„ Resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde;
„„ Forrações de animais de biotério sem risco biológico associado;
„„ Pelos de animais.
Neste grupo estão incluídos, também, materiais com potencial de serem encaminha-
dos à reutilização, recuperação, compostagem ou reciclagem, desde que estes materiais
não apresentem contaminação biológica, química ou radiológica. No entanto, aqueles que
por quaisquer motivos não sejam destinados ao reaproveitamento devem ser classificados
como rejeitos e a sua disposição deverá atender às normas ambientais vigentes.
Maiores informações sobre a manipulação, segregação, acondicionamento e destinação
final de resíduos do grupo D estão descritas no Capítulo 11.

2.4.5. GRUPO E – RESÍDUOS PERFUROCORTANTES


O grupo E é constituído de todo o material perfurocortante ou escarificante que possi-
bilite a ruptura dos sacos plásticos ou outra embalagem utilizada no acondicionamento de
outros grupos de resíduos. São exemplos de materiais desse grupo:
„„ Lâminas de barbear; agulhas; escalpes; ampolas de vidro; brocas; limas endodôn-
ticas; pontas diamantadas; lâminas de bisturi; lancetas; tubos capilares; ponteiras
de micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas e todos os utensílios de vidro que-
brados no laboratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea, placas de Petri) e outros
similares.
Considerando as mais diversas atividades das instituições de serviços de saúde, possivel-
mente haja vários outros resíduos perfurocortantes, não listados na RDC 222/18. Portanto,
é de suma importância que qualquer profissional destas instituições avalie se o resíduo a
ser descartado apresenta o potencial perfurocortante, avaliando a presença de cantos, bor-
das, pontos ou protuberâncias rígidas e agudas capazes de cortar ou perfurar. Vale lembrar
que esses resíduos são os principais responsáveis por acidentes de trabalho, tanto pelos

2 – Caracterização e Classificação dos Resíduos de Serviços de Saúde 17


indivíduos que trabalham diretamente com esse material, na própria instituição geradora,
como por aqueles responsáveis pelo transporte dos resíduos até a disposição final, sendo o
descarte inadequado a principal causa.
Os resíduos perfurocortantes podem estar contaminados ou não com resíduos infec-
tantes, químicos ou radioativos e dessa forma deverão ter o seu descarte adequado à sua
origem. Maiores informações sobre a manipulação, segregação, acondicionamento e desti-
nação final de resíduos do grupo E podem ser encontradas nos Capítulos 6, 8, 10 e 11.

2.4.6 OUTROS RESÍDUOS GERADOS


EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
As instituições geradoras de serviços de saúde podem também gerar outros tipos de
resíduos, que não os contemplados nos cinco grupos de RSS descritos acima. Alguns desses
resíduos podem ser encaminhados para Logística Reversa, atendendo as normativas am-
bientais que preveem a sensibilização ecológica, incentivo à sustentabilidade e consumo
consciente. Alguns exemplos desses:
„„ Componentes eletroeletrônicos;
„„ Pilhas e baterias;
„„ Lâmpadas;
„„ Cartuchos e toners, óleo lubrificante e materiais contendo lubrificantes.

Por outro lado, os resíduos de construção civil, de madeira, resultante de podas de árvore,
materiais contendo amianto, latas de tinta vazias contendo borra, botijas de gás refrigeran-
te, entre outros, cuja classificação encontra-se descrita nos itens 2.2.1 e 2.2.2, têm segrega-
ção e destinação adequadas previstas e estão respaldadas por resoluções específicas.
Maiores informações sobre a manipulação, segregação, acondicionamento e destinação
final destes resíduos encontram-se descritas no Capítulo 11.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Resolução
CONAMA N° 1, de 23 de janeiro de 1986. Publicado no DOU em 17/02/1986. Norma ABNT NBR
N° 10004/2004 – Resíduos sólidos – Classificação. Segunda edição, 31.05.2004, válida a partir de
30.11.2004.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Resolução
CONAMA 358. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e
dá outras providências. Publicado no DOU em 04/05/2005.
BRASIL. Lei N° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera
a Lei N° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC N° 222. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços
de Saúde e dá outras providências. Publicado no DOU em 29/03/2018.

18 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


3
Embalagens e Recipientes
para Acondicionamento de
Resíduos de Serviços de Saúde

Aline Cunha Barbosa


Danylo Marques Ferreira
Elisabeth Christina Nunes Tenório
3 Embalagens e Recipientes para
Acondicionamento de Resíduos
de Serviços de Saúde

3.1. ASPECTOS GERAIS


Os resíduos sólidos dos serviços de (RSS) são classificados em função de suas caracte-
rísticas e consequentes riscos que podem acarretar ao meio ambiente e à saúde, portanto,
para cada grupo de resíduos são necessárias embalagens adequadas para sua contenção
objetivando evitar derramamento, vazamentos e resistência às ações de punctura, ruptu-
ra e tombamento, de acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada RDC N° 222/2018 da
Anvisa, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de
Serviços de Saúde e Resolução CONAMA 358 de 2005.

3.2. NORMATIVAS RELACIONADAS ÀS EMBALAGENS


As metodologias utilizadas na avaliação e validação, acondicionamento e transporte dos re-
síduos sólidos de saúde, baseiam-se nas Resoluções da Agência Nacional de Transporte Terrestre
(ANTT), nas Portarias do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) e
nas Normas Brasileira (NBR) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), tais como:
„„ ABNT NBR 32/2005. Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde.
Ministério do Trabalho e do Emprego, Portaria n.º 485, de 2005.
„„ ABNT NBR 7500/2021. Identificação para o transporte terrestre, manuseio, movi-
mentação e armazenamento de produto.
„„ ABNT NBR 9191/2008. Sacos plásticos para acondicionamento de lixo – Requisitos e
Métodos de Ensaio.
„„ ABNT NBR 9195/2000. Sacos plásticos para acondicionamento lixo – Determinação
da resistência à queda livre.
„„ ABNT NBR 12807/2013. Resíduos de serviços de saúde – Terminologia.
„„ ABNT NBR 12808/2016. Resíduos de serviços de saúde – Classificação.
„„ ABNT NBR 13853/2018. Coletores para resíduos de serviços de saúde perfurantes ou
cortantes – Requisitos e métodos de ensaio.
„„ ABNT NBR 15911-3/2010. Contentor móvel de plástico – Parte 3: Contentor de qua-
tro rodas com capacidade de 660 L, 770 L e 1 000 L, destinado à coleta de resíduos
sólidos urbanos (RSU) e de saúde (RSS) por coletor compactador.
„„ Portaria INMETRO N° 326/2006. Aprova o Regulamento de Avaliação da Conformidade
para Embalagens Utilizadas no Transporte Terrestre de Produtos Perigosos.

20 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


„„ Resolução N° 5.947/2021 da ANTT. Atualiza o Regulamento do Transporte Terrestre
de Produtos Perigosos e aprova suas Instruções Complementares.
„„ Resolução RDC N° 222/2018 da Anvisa. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o
Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde.

3.3. EMBALAGENS PARA RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE – RSS


Os RSS são divididos em cinco grupos. A RDC 222/18, da Anvisa, define os grupos como:
„„ Grupo A: aqueles com presença de agentes biológicos e que podem apresentar risco
de infecção;
„„ Grupo B: aqueles que contêm substâncias químicas que apresentam risco à saúde
pública ou ao meio ambiente, possuem características de inflamabilidade, corrosivi-
dade, reatividade e toxicidade;
„„ Grupo C: rejeitos radioativos;
„„ Grupo D: classificados como resíduos comuns, tais como os resíduos domésticos;
„„ Grupo E: materiais perfurocortantes e todos os utensílios de vidros quebrados.

3.3.1. GRUPO A
Todas as embalagens destinadas a esse grupo devem ser identificadas pelo símbolo de
risco biológico, com rótulo de fundo branco, desenho e contornos pretos, acrescido da ex-
pressão RESÍDUO INFECTANTE (Figura 3.1).

INFECTANTE

Figura 3.1. Símbolo Infectante.

Para esse grupo, são utilizadas embalagens como sacos plásticos e caixas perfurocortan-
tes. Ambas as embalagens estão disponíveis em diferentes tamanhos ou formatos.
Saco para coleta de resíduo biológico em polietileno, BRANCO LEITOSO, com símbolo de
resíduo infectante, classe II, tipo A, em conformidade com NBR 9191/2008 e NBR 7500/2018
(Figura 3.2).

Figura 3.2. Embalagem para descarte de resíduos sólidos infectantes.

3 – Embalagens e Recipientes para Acondicionamento de Resíduos de Serviços de Saúde 21


Coletor para descarte de material perfurocortante infectante, em material resistente a
base de papelão que possa ser incinerado, revestido internamente com saco plástico, cinto
de revestimento, com sistema de abertura e fechamento isento de ruptura, deformação ou
perfuração, com alça de transporte, na cor amarela, com símbolo de resíduo infectante, em
conformidade com a NBR 13853/2020 e NBR 7500/2018 (Figura 3.3).

Figura 3.3. Embalagem para descarte de resíduos perfurocortantes infectantes.

Coletor para descarte de material perfurocortante infectante, confeccionado em material


resistente, em polipropileno, com símbolo de resíduos infectantes, com sistema de abertura e
fechamento com tampa, bocal e sobretampa de fechamento, na cor amarela, em conformidade
com a NBR 13853/2020 e NBR 7500/2018 (Figura 3.4). Esse tipo de embalagem deve ser utiliza-
do em áreas onde há controle de geração de partículas, como cabines de segurança biológica.

Figura 3.4. Embalagem para descarte de resíduos perfurocortantes infectantes.

Coletor para descarte de material sólido infectante, em material resistente a base de


papelão duplo ondulado, superfície interna lisa, que possa ser incinerado, revestido interna-
mente com saco plástico, lacre na tampa, bandeja interna de segurança em papelão duro,
sistema de abertura e fechamento isento de ruptura, deformação ou perfuração, no formato
retangular, na cor parda, com símbolo de resíduo infectante, em conformidade com a NBR
13853/2020 e NBR 7500/2018. (Figura 3.5).

Figura 3.5. Embalagem para descarte de resíduos infectantes.

22 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


3.3.2 - GRUPO B
Os resíduos pertencentes a esse grupo são identificados por meio de símbolo e frase
de risco associado à periculosidade do resíduo químico (Figura 3.6). Faz-se necessário ob-
servar que outros símbolos e frases que compõem o Sistema Globalmente Harmonizado
de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos – GHS (Globally Harmonized System
of Classification and Labelling of Chemicals) também podem ser usados nas embalagens
do grupo B.
O GHS é uma abordagem técnica desenvolvida para definir os perigos específicos de
cada produto químico, criando critérios de classificação utilizando dados disponíveis sobre
os produtos químicos e seus perigos já definidos para organizar e facilitar a comunicação
da informação de perigo em rótulos e FISPQ´s (Fichas de Informação de Segurança para
Produtos Químicos) (https://unece.org/ghs-rev8-2019).

Figura 3.6. Símbolo tóxico.

Para esse grupo, são utilizadas embalagens como sacos plásticos, caixas perfurocortan-
tes e bombonas plásticas, todas disponíveis em diferentes tamanhos ou formatos.
Saco para coleta de resíduos químicos em polietileno, na cor laranja, sem transparên-
cia, com símbolo de resíduo tóxico, em conformidade com a NBR 9191/2008 e 7500/2018
(Figura 3.7).

Figura 3.7. Embalagem para descarte de resíduos sólidos tóxicos.

Coletor para descarte de material perfurocortante tóxico confeccionado em material


resistente, a base de papelão que possa ser incinerado, revestido internamente com saco
plástico, cinto de revestimento, com sistema de abertura e fechamento isento de ruptura,
deformação ou perfuração, com alça de transporte, na cor laranja, com símbolo de resíduo
tóxico, em conformidade com a NBR 13853/2020 e NBR 7500/2018 (Figura 3.8).

3 – Embalagens e Recipientes para Acondicionamento de Resíduos de Serviços de Saúde 23


Figura 3.8. Embalagem para descarte de materiais perfurocortantes químicos.

Coletor para descarte de material perfurocortante tóxico confeccionado em material


resistente, em polipropileno, com símbolo de resíduo tóxico, com sistema de abertura e fe-
chamento com tampa, bocal e sobretampa de fechamento, na cor laranja, em conformidade
com a NBR 13853/2020 e NBR 7500/2018 (Figura 3.9).

Figura 3.9. Embalagem para descarte de materiais perfurocortantes químicos.

Bombona em polietileno alta densidade, no formato retangular, para acondicionamento


e transporte de rejeitos líquidos, com tampa com vedação eficiente e removível, com bo-
cal simples, lacre catraca e alça superior esmagada, com certificado compulsório INMETRO,
deve ser do grupo de embalagem II (ANTT 5.947/2021) (Figura 3.10).

Figura 3.10. Embalagem para descarte de materiais líquidos.

24 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


3.3.3 - GRUPO C
Representado pelo símbolo internacional de presença de radiação ionizante (trifó-
lio) em rótulo de fundo amarelo, acrescido da expressão MATERIAL RADIOATIVO, REJEITO
RADIOATIVO ou RADIOATIVO (Figura 3.11).

GRUPO C

RESÍDUO
RADIOATIVO

Figura 3.11. Símbolo de material radioativo.

3.3.4 - GRUPO D
Resíduos do grupo D são similares aos resíduos domiciliares e devem ser embalados em sacos
em polietileno, reforçado, qualquer cor, exceto branca, conforme NBR 9191/2008 (Figura 3.12).

Figura 3.12. Embalagem para descarte de resíduos comuns.

3.3.5 - GRUPO E
Destinado a materiais perfurocortantes ou escarificantes, apresentam na embalagem
apropriada o símbolo infectante ou tóxico (químico). As caixas podem ser plásticas ou de
papelão reforçado e são encontradas em diferentes tamanhos e formatos, nas cores amare-
la, laranja ou parda (Figura 3.13).
GRUPO E

RESÍDUO
RESÍDUO
QUÍMICO
PERFUROCORTANTE

Figura 3.13. Símbolos presentes nas caixas destinadas à perfurocortantes infectantes e químicos.

3 – Embalagens e Recipientes para Acondicionamento de Resíduos de Serviços de Saúde 25


3.3.6 - GRUPO DE RECICLÁVEIS
Materiais recicláveis são aqueles que, após sofrerem uma transformação física ou quími-
ca, podem ser reutilizados, seja sob a forma original ou como insumos para a produção de
outros materiais. A embalagem dos materiais recicláveis deve apresentar transparência e,
preferencialmente, ser de uma cor diferente das utilizadas para o descarte de resíduos dos
outros grupos.
O saco destinado ao armazenamento de materiais recicláveis deve ser de polietileno, re-
forçado, transparente, de acordo com a NBR 9191/2008 e alterações posteriores (Figura 3.14).

Figura 3.14. Embalagem para descarte de materiais recicláveis.

3.3.8 - COLETOR PARA ACONDICIONAMENTO DE RESÍDUOS


São recipientes utilizados para o acondicionamento de resíduos sólidos infectantes, quí-
micos, comuns ou recicláveis. Devem ser identificados com a simbologia adequada e forra-
dos com o saco correspondente. Podem ser de pedal ou com tampa basculante.

Figura 3.15. Modelos de coletores com pedal e tampa basculante.

3.3.7 - COLETORES, CONTAINERS E CAÇAMBAS


Coletores e containers podem ser utilizados para acondicionar temporariamente
grandes e médios volumes de resíduos sólidos das diferentes classes e para tanto
devem ser identificados com a simbologia adequada (Figura 3.16a). Caçambas são
geralmente utilizadas para transporte de podas de árvores, madeira e resíduos de
Construção Civil (Figura 3.16b).

26 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Figura 3.16. Modelos de coletores, containers (a) e caçambas (b) para resíduos sólidos.

3.4. ORIENTAÇÕES GERAIS SOBRE A AQUISIÇÃO DE


EMBALAGENS PARA ACONDICIONAMENTO DE RSS
3.4.1. VALIDAÇÃO DE EMBALAGENS
Com frequência, são encontradas em uso embalagens de resíduos em péssimas condi-
ções, principalmente as caixas de perfurocortantes. O principal motivo é que os fornecedo-
res não seguem as normativas estabelecidas para as embalagens para RSS e, por outro lado,
os responsáveis pelas compras nas instituições desconhecem as exigências.
A aquisição de embalagens destinadas ao acondicionamento dos resíduos deve, portan-
to, passar por um processo de validação devido à diversidade de modelos e qualidade dos
produtos disponíveis no mercado. Para tanto, deve-se solicitar aos fornecedores, amostras
das embalagens antes da aquisição.
A validação consiste em analisar criteriosamente cada embalagem (sacos plásticos,
bombonas de plástico, coletores de perfurocortante (de papelão ou plástico) e caixas de
papelão para o transporte externo de resíduos. Sugere-se, quando possível, que essa valida-
ção seja realizada por profissionais da área de Segurança do Trabalho e de Meio Ambiente e
Gestão de Resíduos, junto com o departamento de compras e estoque da Instituição.
Deve-se realizar uma série de testes e se possível estabelecer uma rotina de emissão
de relatório com as avaliações que foram realizados na amostra. Dessa forma, será possível
elaborar um registro com as descrições necessárias para a compra adequada das diferentes
embalagens para o acondicionamento correto dos RSS e deve-se fazer uma contínua avalia-
ção a cada nova aquisição de materiais.
Diante da complexidade e diversidade dos resíduos gerados numa instituição de saúde,
a compra de diferentes tipos de embalagens se faz necessária e deve atender as normas
vigentes (item 3.2). A compra deverá atender à diversidade e o volume de resíduos gerados
que devem ser avaliados a partir de um levantamento previamente realizado de acordo com
o PGRSS. Além disso, deve-se considerar que a geração de resíduos é um processo dinâmico
e por isso deve ser periodicamente atualizado para atender a demanda institucional.

3.4.1.1. AQUISIÇÃO DE EMBALAGENS NO SERVIÇO PÚBLICO


Para compras realizadas por órgãos públicos é necessário verificar se a descrição das
embalagens já está no sistema definido pela Administração Pública na qual se localiza a
instituição. No processo de compras públicas no Estado de São Paulo, foi necessário ade-
quar o Sistema Integrado de Informações Físico-Financeiras (Siafisico), que se constitui,

3 – Embalagens e Recipientes para Acondicionamento de Resíduos de Serviços de Saúde 27


basicamente, de um Cadastro Único de Fornecedores e um Cadastro Único de Materiais e
Serviços, num banco de dados com preços praticados para todos os órgãos da Administração
Direta ou Indireta do Estado de São Paulo, que efetuam as aquisições de bens e serviços e a
inclusão de novos itens, com a descrição detalhada do produto.

3.4.2. ETAPAS DO PROCESSO DE VALIDAÇÃO


O processo começa pela realização da descrição das embalagens em conformidade com
as normas vigentes (item 3.2) para facilitar o processo de compras, seguido pela etapa de
avaliação, montagem e validação das embalagens, finalizando pela emissão de pareceres de
aprovação ou de reprovação das amostras enviadas pelos fornecedores.
As amostras envidadas por cada fornecedor devem ser avaliadas de acordo com as nor-
mas específicas de cada embalagem, quanto a:
„„ Material utilizado;
„„ Dimensões (comprimento/largura);
„„ Capacidade volumétrica;
„„ Transparência;
„„ Cor;
„„ Presença de lacre;
„„ Simbologia correspondente ao resíduo (infectante, químico, radioativo entre outros);
„„ Codificação da embalagem;
„„ Eficiência e remoção das tampas (no caso das bombonas);
„„ Formato;
„„ Instruções de montagem (para as caixas).

3.4.2.1. EXIGÊNCIAS E TESTES PARA VALIDAÇÃO DAS EMBALAGENS


Para cada tipo de embalagem ou recipiente, devem ser consideradas algumas exigên-
cias de acordo com as normas e são sugeridos alguns testes.

3.4.2.1.1. SACOS PLÁSTICOS


Nos sacos plásticos, deve ser verificada a aparência da embalagem, simbologia,
matéria-prima utilizada na confecção, resistência ao levantamento, queda livre e ca-
pacidade volumétrica. Os sacos plásticos, exceto os transparentes para recicláveis,
devem ser confeccionados em polietileno de boa qualidade para que no teste de
transparência da embalagem, não se consiga visualizar uma figura quando estiver po-
sicionada atrás do material, a abertura deve ser de fácil separação para não provocar
rasgos. Além disso, as soldas devem ter continuidade, homogeneidade e uniformida-
de a fim de evitar possíveis vazamentos.
Nos sacos de plásticos para descarte de resíduos de serviço de saúde devem
estar impressas informações obrigatórias, como CNPJ do fabricante, capacidade no-
minal em litros e quilogramas, de acordo com a capacidade da embalagem e símbolo
correspondente ao grupo de resíduo a que se destina.
O símbolo deve estar localizado a 1/3 de altura da embalagem, de baixo para
cima, e ocupar área mínima equivalente a 5% da face do saco plástico.
As dimensões dos sacos são determinadas pela NBR 9191/2008, onde são infor-
madas a largura e altura mínima, com desvio padrão de ± 1,0 cm de acordo com a
capacidade de cada embalagem conforme descrito na Tabela 3.1.

28 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Tabela 3.1. Dimensões de sacos plásticos para acondicionamento de RSS
Capacidade Largura (cm) Altura mínima (cm)
30 litros 59 62
90 litros 92 90
100 litros 75 105

A capacidade volumétrica deve ser no mínimo igual à capacidade nominal de acordo


com a especificação do fabricante.
Devem constar na embalagem as seguintes advertências:
„„ Manter fora do alcance de crianças;
„„ Uso exclusivo para lixo;
„„ Saco não adequado a conteúdos perfurocortantes.

Visando a segurança dos colaboradores que manipulam os resíduos acondicionados em


sacos de plástico, o teste de resistência ao levantamento e o teste de queda livre são realiza-
dos de acordo com a NBR 9191/2008 e 9195/2000. O primeiro teste consiste em preencher a
embalagem com material que simule a aparência e consistência de resíduos, permanecen-
do suspenso durante 2 minutos. No segundo teste, o saco de plástico também é preenchido
com resíduos e sofre uma queda de 0,80 m de altura. Em ambos os testes, é observado se há
o rompimento da embalagem.

3.4.2.1.2. COLETORES DE RESÍDUOS PERFUROCORTANTES


Para as caixas de papelão ou plásticas utilizadas no acondicionamento de resíduos per-
furocortantes infectantes, na cor amarela e químicos, na cor laranja, devem ser avaliadas a
simbologia, cor, volume, montagem e composição do kit (saco, bandeja, cinta). Para as cai-
xas de papelão de coloração parda para acondicionamento de grandes volumes, além dos
itens mencionados, deve-se avaliar a qualidade do lacre para fechamento do saco interno.

3.4.2.1.3. COLETOR PARA ACONDICIONAMENTO DE RESÍDUOS


Deve ser fabricado em polietileno de alta densidade (PEAD), com pedal de acionamento
para abertura da tampa evitando o contato com o resíduo no caso de resíduos infectantes
e químicos.

3.4.2.1.4. EMBALAGENS HOMOLOGADAS PARA O TRANSPORTE EXTERNO


Devido ao rigor na fabricação de embalagens homologadas, pois passam por processos
de validação conforme a Resolução N° 5.947/2021 da ANTT, deve-se solicitar ao fornecedor
o certificado compulsório emitido pelo INMETRO e verificadas apenas a simbologia de ho-
mologação impressa nas embalagens (Figura 3.17). Esse processo de homologação garante
que as embalagens não sofram nenhum tipo de avaria em condições normais durante o
transporte externo. As embalagens homologadas mais utilizadas são bombonas de polie-
tileno de alta densidade (PEAD) com volumes de 5 e 20 litros, para o acondicionamento de
resíduos líquidos, e caixas de papelão em papelão duplo ondulado na cor parda, superfície
interna lisa, com fita adesiva para fechamento externo, emenda de fechamento colado, com
saco plástico classe II com lacre de nylon, com volumes de 15, 20 e 35 kg para o acondicio-
namento e transporte externo de resíduos químicos sólidos.

3 – Embalagens e Recipientes para Acondicionamento de Resíduos de Serviços de Saúde 29


Figura 3.17. Embalagens com simbologia de homologação do INMETRO.

5. PROCESSO DE COMPRAS
Após a realização dos testes, deve-se emitir um relatório discriminando quais embala-
gens foram aprovadas ou reprovadas para a contratação do fornecedor.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução – RDC N° 222, de 2018. Dispõe sobre
o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. 2018.
BRASIL. Lei 8.078 de 11/09/90. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Resolução
CONAMA N° 358, de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços
de saúde e dá outras providências. 2005.
BRASIL. Ministério do Trabalho e do Emprego. Portaria n.º 485, de 2005. Aprova a Norma Regulamentadora
n.º 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde.

30 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


4
Plano de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de Saúde

infectant
Resíduos

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Mônica Spadafora Ferreira


Rita de Cássia Ruiz
Vanessa Evelin Jesus
Aline Cunha Barbosa
Vânia Gomes de Moura Mattaraia
Neuzeti Maria dos Santos
4 Plano de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de Saúde

De acordo com a Lei N° 12.305/2010, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), o gerenciamento de resíduos sólidos (GRS) engloba um conjunto de ações envol-
vidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e
destinação ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final dos rejeitos,
de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com o Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS).
A PNRS determina que estão sujeitos à elaboração do PGRS, os geradores de resíduos
dos serviços públicos de saneamento básico, de resíduos industriais, de mineração, de resí-
duos de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços que gerem resíduos peri-
gosos ou mesmo caracterizados como não perigosos que, por sua natureza, composição ou
volume e que não são equiparados aos resíduos domiciliares pelo poder público municipal.
Além dessas, empresas de construção civil; de serviços de transportes originários de portos,
aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários, com passagem de fronteira,
empresas responsáveis por atividades agrossilvopastoris e geradores de resíduos de servi-
ços de saúde também devem elaborar o PGRS.
Como o objetivo deste manual é contribuir no gerenciamento específico dos resíduos
de serviços de saúde (RSS), trataremos aqui, especificamente, do Plano de Gerenciamento
de Resíduos de Serviços de Saúde ou PGRSS.

4.1. ASPECTOS GERAIS


O PGRSS é um documento técnico obrigatório, de responsabilidade da instituição,
onde devem constar todos os aspectos envolvidos na gestão dos resíduos gerados até a
destinação ambientalmente segura, conforme consta nas resoluções da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) RDC 222/2018 e do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) N° 358/2005. As ações relativas ao gerenciamento dos resíduos de serviços de
saúde devem ser descritas detalhadamente, respeitando as características e riscos de cada
uma das classes de resíduos produzidos. A descrição deve abranger a geração do resíduo
e todas as etapas referentes ao manejo: tais como segregação, acondicionamento, coleta,
armazenamento, transporte, tratamento, destinação e a disposição final ambientalmente
adequada para cada grupo de resíduo gerado, bem como as ações de proteção à saúde
pública, do trabalhador e do meio ambiente.

32 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


4.2. EXIGÊNCIAS LEGAIS PARA IMPLANTAÇÃO DO PGRSS
A implantação do PGRSS requer, inicialmente, um levantamento dos marcos legais e regu-
lamentares referentes à temática dos resíduos sólidos no país, envolvendo as esferas federal,
estadual e municipal, além das normas internas da instituição, conforme descrito na CONAMA
358/05. As principais normativas que orientam o PGRSS são: PNRS, Lei Federal 12.305 que aborda
os instrumentos e diretrizes relacionados à gestão de resíduos sólidos e o Decreto 10.936/2022,
que regulamenta a Lei 12.305/2010; a RDC 222/2018 (Anvisa), que dispõe sobre Boas Práticas de
Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde, a Resolução 358/2005 do (CONAMA), que
dispõe sobre o tratamento e disposição final dos RSS, a NR32/2005 do Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE), que dispõe sobre a segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de
saúde, a Resolução N° 5.232/2016 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que
regulamenta o transporte rodoviário de produtos perigosos, a Instrução Normativa N° 13/2012
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que defi-
ne a lista brasileira de resíduos sólidos, a Portaria N° 280/2020 do Ministério do Meio Ambiente,
que institui o Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR) e as Normas Brasileiras da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). De acordo com a PNRS, os estados e municípios estão
obrigados à elaboração do plano estadual dos resíduos sólidos com orientações mais restriti-
vas, respeitando as particularidades de cada região. No caso do Estado de São Paulo, por exem-
plo, a Lei N° 12.300/2006 estabelece as diretrizes e instrumentos para a gestão dos resíduos
sólidos. Nos casos em que o gerador possua instalação radiativa, adicionalmente, deve atender
às regulamentações específicas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
De acordo com a RDC 222/2018, o PGRSS deve ser apresentado no prazo de 180 dias, a
partir do início do funcionamento do estabelecimento gerador.
Vale destacar que a elaboração do PGRSS deve estar sempre em conformidade com as ações de
proteção à saúde pública, do trabalhador e do meio ambiente atendendo as regulamentações sani-
tária e ambiental, bem como as normas de coleta e transporte dos serviços locais de limpeza urbana.
Para atendimento das normas legais, os tópicos essenciais no PGRSS são:
a) Caracterização da instituição com detalhamento das áreas e as atividades exercidas;
b) Determinação dos tipos e quantidade estimada dos resíduos gerados classifica-
dos como RSS (infectante, químico, radioativo, comum e perfurocortante) e outros,
como: eletroeletrônicos, recicláveis, resíduos de construção civil, poda, entre outros;
c) Definição dos responsáveis por cada etapa do gerenciamento;
d) Descrição dos procedimentos operacionais relativos ao gerenciamento de cada
grupo de resíduo gerado na instituição, incluindo segregação, acondicionamento,
identificação, coleta, armazenamento, transporte, tratamento (quando necessário) e
a disposição final ambientalmente adequada de todos os resíduos;
e) Definição dos indicadores e formas de monitoramento de todas as etapas do gerenciamento;
f ) Descrição das ações a serem adotadas em situações de emergência e acidentes de-
correntes da manipulação dos RSS;
g) Descrição das medidas preventivas e corretivas de controle de vetores e pragas ur-
banas, incluindo a tecnologia utilizada e a periodicidade de sua implantação;
h) Descrição dos programas de capacitação e treinamento dos funcionários envolvidos
na prestação de serviço de limpeza e conservação, quer sejam da instituição ou ter-
ceirizados, de todas as unidades geradoras;
i) Apresentação do documento comprobatório da capacitação e treinamento dos fun-
cionários envolvidos no gerenciamento de resíduos;
j) Apresentação da cópia do contrato de prestação de serviços e da licença ambiental
das empresas prestadoras de serviços envolvidas na destinação dos RSS;
k) Apresentação do documento comprobatório de operação de venda ou de doação dos
RSS destinados à recuperação, à reciclagem, à compostagem e/ou logística reversa.

4 – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde 33


4.3. ELABORAÇÃO DO PGRSS
O PGRSS deve ser elaborado respeitando as atribuições específicas da instituição con-
forme descrito na RDC 222/2018. Para a implantação do PGRSS, sugere-se a implantação de
um modelo de gestão integrada, compartilhada e participativa (Santos, 2019). A elaboração,
implantação e desenvolvimento do PGRSS devem envolver os setores de higienização e lim-
peza, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) ou Comissões de Biossegurança e
os Serviços de Engenharia de Segurança e Medicina no Trabalho (SESMT), onde houver obri-
gatoriedade de existência desses serviços, através de seus responsáveis, abrangendo toda
a comunidade do estabelecimento. Para isso, sugere-se criar uma comissão multidisciplinar
e multissetorial, incluindo gestores e colaboradores com diferentes formações profissionais
(enfermeiras, médicos, farmacêuticos, químicos, biólogos, biomédicos, engenheiros, veteri-
nários, zootecnistas, administradores e outros). É importante que haja, entre os membros da
comissão, profissionais com qualificação para orientar e deliberar sobre as ações relativas ao
gerenciamento dos resíduos a fim de apoiar o setor de Gestão Ambiental (GA) que deve ser o
responsável pela implantação dos procedimentos a serem adotados de acordo com as normas
em vigor. É recomendável que a comissão multidisciplinar se reúna periodicamente para dis-
cutir e definir as ações práticas a serem tomadas pela GA. Outra possibilidade é a contratação
de uma empresa ou de uma consultoria da área ambiental para implantar o PGRSS.

ETAPAS GERAIS PARA ELABORAÇÃO DO PGRSS


a) Designar um profissional responsável pela elaboração e implantação do PGRSS, com
os seguintes requisitos: ter registro ativo junto ao seu conselho de classe; apresentar
a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) ou documento similar;
b) Definir o modelo de gestão administrativa de resíduos sólidos que deve estar baseada na res-
ponsabilidade compartilhada e participativa, envolvendo as diferentes áreas da instituição;
c) Descrever a instituição com detalhamento das áreas físicas e atividades desenvolvi-
das nelas;
d) Mapear as áreas geradoras das diferentes classes de resíduos;
e) Realizar um levantamento qualitativo dos resíduos gerados em cada setor da institui-
ção através da realização prévia de um diagnóstico que pode ser realizado a partir da
elaboração de um questionário a ser respondido por membros de todos os setores;
f ) Levantar as normas legais em vigor que tratam da destinação dos diferentes resídu-
os gerados pela instituição;
g) Estabelecer os procedimentos operacionais com o objetivo de padronizar o correto
manuseio e destinação de cada resíduo encontrado nos diferentes setores;
h) Identificar os fluxos e volumes de coleta realizada no interior da instituição, bem
como definir os custos de tratamento para cada tipo de resíduo gerado;
i) Definir ações a serem tomadas no caso de emergência, de acidentes, bem como
ações de controle integrado de pragas e de manuseio de químicos, compreendendo
medidas preventivas e corretivas, assim como de prevenção de saúde ocupacional.

4.4. IMPLANTAÇÃO DO PGRSS


Para a implantação do PGRSS, sugerem-se as ações abaixo, que devem ser adaptadas
conforme as particularidades da instituição:
a) Designação de Grupos de Trabalho (GTs), que devem ser formados por membros da
comissão multidisciplinar, previamente definida, com conhecimento técnico nos

34 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


diferentes tipos de resíduos, a fim de serem responsáveis pelas ações a serem imple-
mentadas para o manuseio de cada tipo de resíduo;
b) Elaboração do diagnóstico situacional dos resíduos gerados em cada setor da insti-
tuição e todos os procedimentos referentes à destinação dos mesmos, a ser informa-
do pelos responsáveis de cada área;
c) Designação dos facilitadores, colaboradores indicados pelos gestores de cada setor
da instituição, os quais serão responsáveis pela implantação das ações referentes ao
correto descarte e destinação dos resíduos após capacitação. O facilitador deverá
atuar como agente multiplicador e promotor de capacitação dos colaboradores do
seu setor, emitir relatórios quando solicitado e comunicação de alteração do tipo/
volume do resíduo gerado na sua área, bem como relatar as não-conformidades
identificadas ao setor GA;
d) Elaboração de treinamentos e capacitações para os facilitadores e todos os envolvi-
dos no manejo, sendo colaboradores da instituição ou de empresas prestadoras de
serviço com o objetivo de definir as orientações para o correto manejo e descarte
para cada tipo de resíduo;
e) Elaboração de um Manual de Descarte de Resíduos específico para a instituição,
que deverá conter orientações e fluxogramas para o correto manejo e destinação
para cada tipo de RSS ou outros resíduos que venham a ser gerados na instituição. O
material contendo as orientações deverá ser disponibilizado para todos os setores,
colaboradores, estudantes e outros envolvidos nas atividades da instituição;
f ) Realização de atividades de sensibilização sobre a temática ambiental, como semi-
nários, oficinas, campanhas de conscientização.

4.5 ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DOS RESÍDUOS


GERADOS NA INSTITUIÇÃO
No diagnóstico, deve-se entender a complexidade do estabelecimento de saúde, com
visita às diferentes áreas da instituição para obter as informações sobre as atividades re-
alizadas, obter dados relativos aos tipos de resíduos gerados em setor, de acordo com a
classificação da RDC 222/2018 (A, B, C, D, E – detalhada no capítulo 2). Deve-se estimar as
quantidades geradas de cada tipo de resíduo com a finalidade de estabelecer os procedi-
mentos adequados ao manuseio correto nas etapas de segregação, acondicionamento, des-
contaminação (quando necessária), identificação, fluxo de coleta, locais de armazenamento,
transporte interno e externo, e disposição final ambientalmente adequada. Deve-se ainda,
verificar a existência de rede coletora com tratamento de esgoto e de instalações (abrigo)
utilizadas para armazenamento dos resíduos. Nesse caso, é importante que se atente tam-
bém ao destino do efluente gerado durante a limpeza do abrigo. No caso da instituição ge-
rar rejeitos radioativos, o diagnóstico deve contemplar informações importantes que visem
garantir que o tempo de decaimento radioativo seja adequado ao tipo de resíduo gerado.
Além disso, essas informações também serão utilizadas na definição dos equipamentos de
proteção individual e proteção coletiva adequados à instituição.
Para a obtenção de todas essas informações, propõe-se a elaboração de um formulário que
vise a realização de um diagnóstico situacional da instituição onde o tipo, volume e periodicida-
de de geração dos diferentes resíduos possam ser levantados. É importante que o preenchimen-
to do formulário seja realizado durante a visita de representantes da comissão multidisciplinar,
juntamente com o responsável do setor, que permitirá identificar as especificidades e complexi-
dade da área visitada e será fundamental na determinação de procedimentos seguros.
É importante que durante o diagnóstico seja verificado se as ações existentes estão em
conformidade com as normas que garantem a proteção à saúde pública, do trabalhador e
do meio ambiente, de acordo com a regulamentação sanitária e ambiental, bem como com

4 – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde 35


as normas de coleta e transporte dos serviços locais de limpeza urbana da região. Todas es-
sas informações permitirão que sejam posteriormente implantadas melhorias e orientações
que visem garantir a segurança de todos os colaboradores.
Ainda durante o diagnóstico, deve-se verificar se existem e estão corretamente valida-
das as documentações relativas ao PGRSS, como: contrato de prestação de serviços e licença
ambiental das empresas os prestadores de serviço para destinação dos RSS, documentação
relativa à doação ou venda dos RSS, destinados à recuperação, reciclagem, compostagem
ou mesmo a logística reversa.
E, por fim, deve-se analisar a existência de programas de capacitação/treinamento para
os colaboradores de todas as áreas da instituição, incluindo os responsáveis pelo serviço de
limpeza e conservação sejam eles próprios ou terceirizados. É importante que todos os trei-
namentos oferecidos e a participação dos colaboradores estejam devidamente registrados.
Ao término do período destinado ao diagnóstico, deve ser redigido um relatório ao ges-
tor para o esclarecimento e ajustes pertinentes para cada área visitada. O relatório deve ser
baseado em fatos comprobatórios e deve conter a descrição de todos os procedimentos
relacionados à gestão dos RSS, os aspectos problemáticos, o levantamento de ações ne-
cessárias e propostas de melhorias. Para garantir que a análise seja eficaz para a elaboração
do plano, é preciso que o relatório de diagnóstico seja sintético, estruturado, ressaltando as
ações descritas de forma clara e objetiva. O diagnóstico deve no final apresentar e dimensio-
nar os investimentos necessários para implantação do PGRSS.

4.6. AÇÕES NECESSÁRIAS PARA IMPLANTAÇÃO DO PGRSS


Após a realização do diagnóstico, devem-se decidir quais as metas a curto, médio e longo
prazo a serem atingidas, indicar o momento adequado para iniciar a execução do plano e defi-
nir um cronograma. Para tanto, deve-se hierarquizar os problemas diagnosticados, verificando
sua gravidade ou urgência e os custos de sua resolução (financeiros, humanos e materiais) e
seguir um roteiro para a construção do plano de acordo com as legislações sanitárias e ambien-
tais. Sempre que possível, deve-se utilizar recursos computacionais na gestão dos resíduos.

4.6.1. ANÁLISE E ELABORAÇÃO DE MEMORIAIS DESCRITIVOS


De posse dos dados colhidos no diagnóstico, deve-se elaborar os memoriais descritivos,
por unidade/elemento e tipo de resíduo, de cada uma das etapas do manejo, apontando os
materiais, instalações e equipamentos utilizados. Para isso, é importante:
a) Descrever, por meio de planta baixa, os fluxos de coleta para cada tipo de resíduo
em cada unidade/elemento evitando a circulação desnecessária de resíduos no
estabelecimento;
b) Descrever as rotinas e processos de higienização e limpeza do serviço gerador de
RSS. É importante ressaltar que os procedimentos de higiene devem ser descritos e
adequados às recomendações de segurança ocupacional. O processo de higieniza-
ção dos locais de armazenamento dos resíduos, incluindo a limpeza dos contêine-
res, deve ser descrito com riqueza de detalhes, mencionando quais produtos serão
usados na limpeza, frequência de higienização e os EPIs necessários e adequados;
c) Descrever as ações referentes aos processos de prevenção de saúde do trabalha-
dor, considerando as particularidades e riscos inerentes às rotinas de cada unidade,
como: uso de EPIs apropriados à atividade, treinamentos obrigatórios que versem
sobre cada grupo de resíduos e imunizações necessárias no caso de áreas que mani-
pulam agentes infecciosos;

36 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


d) Identificar quais resíduos com potencial de reciclagem gerados serão devidamen-
te aproveitados, visto que essa definição depende da disponibilidade de recicla-
gem da região em que a Instituição está localizada. Toda instituição deve priorizar
e estimular ações e práticas que possibilitem a reciclagem dos resíduos com esse
potencial. A Lei N° 12.305/2010 instituiu a elaboração de acordos setoriais entre
poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes para
implantar a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. Um
desses instrumentos é a logística reversa, que objetiva viabilizar a coleta e resti-
tuição dos resíduos sólidos à indústria para reaproveitamento ou outra destinação
ambientalmente adequada;
e) Anexar ao PGRSS os documentos comprobatórios de operação de venda ou de do-
ação dos RSS destinados à recuperação, à reciclagem, à compostagem e à logística
reversa. Esses documentos devem ser mantidos arquivados em meio físico ou eletrô-
nico por no mínimo cinco anos, para fins de inspeção sanitária;
f ) Descrever as medidas preventivas e corretivas de controle integrado de vetores e pra-
gas urbanas, incluindo a tecnologia utilizada e a periodicidade de sua implantação.
g) Estabelecer cronograma de implantação e elaborar o programa de investimentos
em ativos (materiais e equipamentos) e em obras para adequação da infraestrutura
local, no que couber;
h) Descrever as ações preventivas e corretivas, explicitando como serão executadas em
situações de gerenciamento incorreto, bem como, descrever as ações a serem ado-
tadas em situações de emergência ou acidentes.

4.6.2. ETAPAS DE MANEJO DOS RESÍDUOS


QUE DEVEM CONSTAR NO PGRSS
O PGRSS deve conter as etapas do manejo e a descrição do gerenciamento dos resíduos
em seus aspectos intra e extra estabelecimento, desde a geração até disposição final, que
inclui as seguintes etapas, definidas conforme a RDC 222/2018:
„„ Segregação: separação dos resíduos, conforme a classificação dos Grupos estabe-
lecida na RDC 222/2018, no momento e local de sua geração, de acordo com as ca-
racterísticas físicas, químicas, biológicas, o seu estado físico e os riscos envolvidos;
„„ Acondicionamento: ato de embalar os resíduos segregados em sacos ou recipientes que
evitem vazamentos e, quando couber, sejam resistentes às ações de punctura, ruptura e
tombamento, e que sejam adequados física e quimicamente ao conteúdo acondicionado;
„„ Identificação: conjunto de medidas que possibilita o reconhecimento, pelo manipu-
lador, dos riscos existentes nos resíduos acondicionados, bem como a identificação
do setor gerador o que permite o rastreamento em caso de acidente. A identificação
deve ser clara, legível e condizente com o tamanho do recipiente, saco, coletor ou
caixa utilizados no acondicionamento do resíduo. Além disso, todos os ambientes
destinados ao armazenamento de resíduos devem ser identificados com a simbolo-
gia específica ao grupo de resíduo armazenado;
„„ Armazenamento temporário: guarda temporária dos coletores de resíduos, em am-
biente próximo aos pontos de geração, visando agilizar a coleta no interior das ins-
talações e otimizar o deslocamento entre os pontos geradores e o ponto destinado
à apresentação para coleta externa;
„„ Transporte interno: traslado dos resíduos dos pontos de geração até o abrigo tem-
porário ou o abrigo externo;
„„ Armazenamento externo: guarda dos coletores de resíduos em ambiente exclusivo,
com acesso facilitado à coleta externa;

4 – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde 37


„„ Tratamento interno: tratamento que a instituição deve realizar nos resíduos que não
podem deixar a instituição sem um tratamento prévio (vide Capítulo 6 – Infectantes).
No caso dos rejeitos radioativos, a instituição deve descrever o tempo de decaimen-
to específico para cada radionuclídeo utilizado (vide Capítulo 10 – Radioativos), an-
tes da disposição final;
„„ Coleta e transporte externo: remoção dos RSS do abrigo de resíduos da instituição
até a unidade de tratamento ou disposição final, utilizando-se técnicas que garan-
tam a preservação das condições de acondicionamento e a integridade dos tra-
balhadores, da população e do meio ambiente, devendo estar de acordo com as
orientações dos órgãos de limpeza urbana;
„„ Tratamento externo: descrição dos tipos de tratamento utilizados para cada grupo de
resíduos e os equipamentos e instalações de apoio, incluindo as tecnologias de trata-
mento adotadas, nome da empresa responsável, localização das unidades de trata-
mento, endereço e telefone do responsável técnico pelo sistema de tratamento, nome,
RG, profissão e registro profissional. Devem ser anexados os documentos comproba-
tórios (licenças, alvarás, documentos de monitoramento definidos pelo órgão am-
biental) dos sistemas e tecnologias adotados. De acordo com a Resolução CONAMA
358/2005, os sistemas de tratamento de resíduos de serviços de saúde são passíveis
de fiscalização e de controle pelos órgãos de vigilância sanitária e de meio ambiente;
„„ Destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a
reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação, o aproveitamento ener-
gético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes, entre elas, a dis-
posição final ambientalmente adequada;
„„ Disposição final ambientalmente adequada: prática de dispor os resíduos sólidos no
solo previamente preparado para recebê-los, de acordo com critérios técnico-cons-
trutivos e operacionais adequados, e com licenciamento ambiental de acordo com
a Resolução CONAMA 237/97.

4.6.3. DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA PARA TRANSPORTE DE RSS


A coleta e transporte externos dos resíduos de serviços de saúde devem seguir as
Normas ABNT NBR 12810/2020, NBR 14619/2021, NBR 7500/2009 e NBR 13221/2021 e esta-
rem de acordo com as exigências da Resolução ANTT 5232/2016.
Segundo a Norma ABNT 10004/2004, os resíduos de serviços de saúde são considera-
dos perigosos por apresentarem características de patogenicidade, toxicidade, reatividade,
corrosividade e inflamabilidade. O transporte de substâncias perigosas requer do expedidor
(estabelecimento de saúde gerador dos RSS) os seguintes documentos:
„„ Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR): documentação que especifique identi-
ficação do expedidor: a classificação, a quantidade e o tipo de acondicionamento a
que estão submetidos os resíduos, a identificação do transportador e da instalação
de tratamento. O MTR é um documento numerado, autodeclaratório, obrigatório
gerado pelo Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos
(SINIR). O SINIR consiste em um sistema de coleta, integração, sistematização e dis-
ponibilização de dados de operacionalização e implantação dos planos de geren-
ciamento de resíduos sólidos. Nos estados em que já se utiliza a ferramenta online
MTR ou sistema com informações compatíveis com os requisitos do MTR, os usuários
deverão utilizar apenas o sistema estadual ou sistema municipal, quando estiver dis-
ponibilizado, cabendo ao órgão ambiental estadual providenciar a integração com
o SINIR, de forma a manter o MTR nacional quanto à periodicidade das informações
coletadas e geradas pelo sistema estadual, conforme estabelecido na Portaria MMA
280/2020. Para os demais estados, que não dispõem de sistema MTR, os usuários

38 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


deverão utilizar diretamente o MTR nacional, disponível por meio do link: https://
mtr.sinir.gov.br/#/.
„„ Certificado de Aprovação de Destinação de Resíduos de Interesse (CADRI): No caso
do Estado de São Paulo, a Companhia Ambiental do Estado (CETESB) exige a emissão
do CADRI (validade de 2 anos) que deve ser solicitado pela instituição disponível no
link: https://www.cetesb.sp.gov.br/licenciamento/pdf/CADRI.pdf. Para a solicitação
do CADRI, é necessária a apresentação de uma carta de anuência da unidade de
tratamento com Licença Ambiental vigente, apresentar informações de caracteriza-
ção qualitativa e estimativa de geração anual de cada resíduo. Conforme a Norma
Técnica CETESB P4.262/2003, é obrigatório o envio do relatório de destinação dos
resíduos do Grupo B – Químicos.

4.7. CAPACITAÇÃO SOBRE O DESCARTE DOS RESÍDUOS


As capacitações devem abranger todos os colaboradores da instituição e terceirizados,
além de estagiários, estudantes e gestores. Ela deve ser realizada de forma inicial e de educa-
ção continuada com registro de participação. Para atender as necessidades da implantação
e manutenção do PGRSS é indicado que sejam realizadas as seguintes capacitações:
a) Capacitação inicial para os membros da comissão multidisciplinar da instituição que
deve ser oferecida por profissionais com experiência em gestão de resíduos que po-
dem ser ou não da própria instituição;
b) Capacitação periódica dos facilitadores (representantes das diferentes áreas da ins-
tituição). As capacitações devem contemplar os diferentes grupos de resíduos e a
periodicidade deve ser também definida em função da rotatividade de colaborado-
res a fim de garantir a manutenção da prática adequada. Essa capacitação pode ser
ministrada pelos membros da comissão multidisciplinar. Cada setor deverá designar
um ou mais facilitadores conforme a necessidade da área;
c) Capacitação dos estagiários, estudantes e gestores dos diferentes setores, unidades
e laboratórios que compõem a instituição. Essa capacitação pode ser oferecida pelos
facilitadores, que têm como uma de suas funções multiplicar as informações rece-
bidas nos seus treinamentos. Cada área terá suas particularidades e necessidades,
que deverão ser estabelecidas de acordo com as orientações da comissão e da GA;
d) Capacitação dos colaboradores terceirizados das empresas de limpeza e coleta. Essa
capacitação deve ser realizada pelo setor de GA da instituição, com a colaboração
dos membros da comissão multidisciplinar, se necessário.
e) A periodicidade dos programas de capacitação em todos os níveis, desde os colabo-
radores, estagiários, facilitadores e empresas prestadoras de serviços, deve ser defi-
nida em função das mudanças no fluxo, volume e tipos de resíduos gerados e deve
ser mantida em virtude de não conformidades em quaisquer etapas do manejo, a
fim de garantir a manutenção da prática adequada e segura.

4.7.1. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA CAPACITAÇÃO


Tópicos a serem abordados nos programas de capacitação:
„„ Noções gerais sobre o ciclo da vida dos materiais;
„„ Noções gerais sobre legislação ambiental, limpeza pública e vigilância sanitária;
„„ Definições, tipo e classificação dos resíduos e seus potenciais de risco;
„„ Conhecimento sobre o sistema de gerenciamento dos resíduos gerados que deve
contemplar as normas internas para a segregação, acondicionamento e transporte
dos resíduos gerados;

4 – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde 39


„„ Conhecimento sobre as formas de se reduzir a geração de resíduos abordando a
reutilização de materiais (reciclagem e logística reversa);
„„ Reconhecimento dos símbolos de identificação das classes de resíduos;
„„ Orientações sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva;
„„ Orientações sobre biossegurança;
„„ Orientações especiais e treinamento em proteção radiológica;
„„ Orientações e providências a serem tomadas no caso de acidentes e de situações
emergenciais.

4.8. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO PERIÓDICA DO PGRSS


O PGRSS é um documento que deve ser monitorado e atualizado periodicamente pela
instituição, conforme as necessidades detectadas. Toda instituição geradora de RSS deve
manter cópia desse documento, em meio físico ou eletrônico, possibilitando a consulta dos
funcionários, pacientes, representantes dos órgãos de vigilância sanitária ou ambiental, ou
público em geral. Esse documento, de total responsabilidade da instituição, é fundamental
para a regularização da instituição perante os órgãos ambientais.

4.8.1. INDICADORES PARA AVALIAÇÃO


Seguem abaixo os principais indicadores a serem utilizados na revisão periódica do PGRSS:
„„ Acompanhamento da taxa de acidentes com perfurocortantes, resíduos químicos
e outros;
„„ Avaliação da variação do volume gerado de cada tipo de resíduo;
„„ Atenção ao surgimento de novos resíduos, não contemplados anteriormente;
„„ Adequação do percentual de resíduo destinado à reciclagem;
„„ Avaliação dos programas de capacitação propostos;
„„ Avaliação dos custos com RSS.

4.9. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Deve-se salientar que o PGRSS é específico para cada instituição, mesmo nocaso de di-
ferentes instituições que desenvolvam as mesmas atividades. Cada instituição deve atender
a legislação do município onde está localizada. As informações necessárias para elaboração
do PGRSS vêm da análise da situação existente, que pode ser obtida a partir da análise dos
dados coletados no diagnóstico. O PGRSS pode sofrer mudanças no plano inicial, no decor-
rer da pesquisa, diagnóstico e desenho da proposta, constituindo uma base sólida para os
acertos e ajustes.
Considerando que a responsabilidade do descarte adequado, preconizada no gerencia-
mento de resíduos, é compartilhada e, portanto, envolve a unidade geradora, a instituição
a que pertence, a empresa responsável pelo transporte e a empresa responsável pela des-
tinação, a gestão dos RSS deve atender a quatro frentes, conforme ilustrado na Figura 4.1.

40 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Unidade geradora Serviço
do resíduo de coleta

Geração Segregação Transporte interno Abrigo


Acondicionamento
Tratamento
Identificação Coleta externa
e transporte
Empresa
contratada
Tratamento
de acordo
Disposição
com o
FINAL
tipo de
resíduo

Gestão Emissão de
Laudo/certificado
dos
Resíduos
Arquivamento
(Indicadores do
Gerenciamento)

Figura 4.1. Etapas envolvidas na Gestão dos Resíduos de Serviços de Saúde.

4.10. LEGISLAÇÃO E NORMAS PARA A IMPLANTAÇÃO DO PGRSS


A seguir, estão listadas as principais normas e resoluções a serem consultadas na elabora-
ção do PGRSS. Nessa listagem, estão incluídas algumas resoluções específicas para o Estado
de São Paulo. Cada instituição deve consultar a legislação específica do seu Estado/Município.

4.10.1. LEGISLAÇÃO
„„ Lei Federal N° 12.305 de 02/08/2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos
e dá outras providências.
„„ Decreto N° 10.936 de 12/01/2022. Regulamenta a Lei N° 12.305 de 02/08/2010, que
instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
„„ Resolução RDC N° 222 de 28/03/2018. Regulamenta as Boas Práticas de Geren​cia-
mento dos Resíduos de Serviços de Saúde e dá outras providências.
„„ Resolução RDC N° 50 de 21/02/2002 (Anvisa). Dispõe sobre o regulamento técnico
para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de esta-
belecimentos assistenciais de saúde.
„„ Resolução CONAMA 358 de 29/04/2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição
final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências.
„„ Resolução ANTT 5232 de 12/02/2016. Aprova as instruções complementares ao re-
gulamento do transporte terrestre de produtos perigosos.

4 – Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde 41


„„ NR32/2005 MTE Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde.
„„ Instrução Normativa N° 13 de 18/12/2012 e N° 1 de 25/01/2013 – Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
„„ BRASIL. Ministério do Meio Ambiente – Portaria N° 280, de 29 de junho de 2020.
Institui o Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR nacional).
„„ Lei Estadual N° 12.300 de 16/05/2006. Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos
e define princípios e diretrizes. Estado de São Paulo.
„„ Resolução Estadual Conjunta SS/SMA/SJDC 01 de 29/06/1998. Aprova as diretrizes
básicas e regulamento técnico para apresentação e aprovação do plano de gerencia-
mento de resíduos sólidos de serviços de saúde. Estado de São Paulo.
„„ Resolução Estadual Conjunta SS/SMA/SJDC-SP 01 de 15/07/2004. Estabelece classi-
ficação, as diretrizes básicas e o regulamento técnico sobre Resíduos de Serviços de
Saúde Animal - RSSA. Estado de São Paulo.
„„ Decisão de Diretoria da CETESB 224/2007. Dispõe sobre a homologação da revisão
da Norma Técnica P4.262/2003, que trata do gerenciamento de resíduos químicos
provenientes de estabelecimentos de serviços de saúde. Estado de São Paulo.

4.10.2. NORMAS TÉCNICAS


„„ Norma ABNT NBR 7503/2020 – Transporte terrestre de produtos perigosos – Ficha de
emergência e envelope – Características, dimensões e preenchimento.
„„ Norma ABNT NBR 10004/2004 – Resíduos sólidos – Classificação.
„„ Norma ABNT NBR 12807/2013 – Resíduos de serviços de saúde – Terminologia.
„„ Norma ABNT NBR 12808/2016 – Resíduos de serviços de saúde – Classificação.
„„ Norma ABNT NBR 12809/2013 – Gerenciamento de RSS intraestabelecimento.
„„ Norma ABNT NBR 12810/2020 – Gerenciamento extraestabelecimento.
„„ Norma ABNT NBR 12235/1992 – Armazenamento de resíduos sólidos perigosos.
„„ Norma ABNT NBR 13221/2021 – Transporte terrestre de produtos perigosos
– Resíduos.
„„ Norma ABNT NBR 13853/1997 – Coletores para resíduos de serviços de saúde perfu-
rantes ou cortantes – Requisitos e métodos de ensaio.
„„ Norma ABNT NBR 14619:2021 – Transporte terrestre de produtos perigosos –
Incompatibilidade química.
„„ Norma ABNT NBR 14725/2010 – Informações sobre segurança, saúde e meio am-
biente - Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ).

REFERÊNCIAS
SANTOS, N. M.; GÜNTHER, W. M. R. (2019). Gestão de resíduos em uma instituição de pesquisa em saúde:
avanços rumo à sustentabilidade. In: Inovação nas práticas e ações rumo à sustentabilidade. Disponível
em: http://colecoes.sibi.usp.br/fsp/items/show/3421. Acesso em: 30 de dezembro de 2021.

42 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


5
Equipamentos de Proteção
Individual e Coletiva

Vanessa Evelin Jesus


Elisabeth Christina Nunes Tenório
5 Equipamentos de Proteção
Individual e Coletiva

5.1. INTRODUÇÃO
De acordo com dados da Plataforma do Observatório Digital de Saúde e Segurança
do Trabalho, criado por iniciativa conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) no ano de 2020, foram registrados 446,9 mil
acidentes de trabalho no país, e o número de acidentes de trabalho com morte, notificados
para a população com vínculo de emprego regular foi da ordem de 1,9 mil. Esses números
mostram a importância do uso dos equipamentos de proteção individual e coletiva.

5.2. ASPECTOS GERAIS


Os Equipamentos de proteção, sejam individuais ou coletivas, são fundamentais para
realização das atividades em segurança, além de ser um atendimento legal.
Equipamento de Proteção Individual (EPI) é todo dispositivo ou produto, de uso indivi-
dual, utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção contra riscos suscetíveis de ameaçar
a segurança e a saúde deste no ambiente de trabalho (NR 6 da Portaria 3.214 do Ministério
do Trabalho e Previdência).
Equipamento de Proteção Coletiva (EPC) é todo dispositivo de uso coletivo, destina-
do a proteger a integridade dos trabalhadores no exercício de suas funções. O uso dos
Equipamentos de Proteção Coletiva é mencionado nas Normas Regulamentadoras do
Ministério do Trabalho e Previdência NR 4 e NR 9.
A utilização de forma correta dos EPIs e EPCs traz benefícios a todos, pois eles promo-
vem a saúde e segurança do colaborador, evitando doenças ocupacionais, acidentes e até
mesmo óbitos, e também resguardam a empresa do ponto de vista legal. Todos os cuida-
dos e atenção em relação à saúde e segurança devem ser tomados de forma prioritária. Os
colaboradores devem ser treinados para a utilização dos EPIs e EPCs e a participação no
treinamento deve ser registrada.

44 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


5.3. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI
A recomendação de uso dos EPIs deve estar baseada na análise técnica realizada por
um profissional da área de segurança do trabalho, que definirá por meio do Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) quais riscos ocupacionais aos quais o colaborador
está exposto e quais são as formas de mitigação. É importante ressaltar que esses equipa-
mentos devem ser aplicados após avaliação e conclusão de que não é possível eliminar o
risco na fonte geradora. Nesses casos, seu fornecimento é obrigatório por parte do empre-
gador e seu uso, guarda e conservação é de obrigatoriedade do colaborador.
A escolha do EPI deve estar de acordo com o risco ocupacional ao qual o trabalhador
será submetido, considerando que cada tipo de EPI pode apresentar diferentes especifica-
ções, sendo necessário selecioná-lo de acordo com o risco existente.
Importante reforçar que a responsabilidade pela segurança é de todos os envolvidos
e não somente da área de segurança do trabalho, bem como, é obrigação da instituição
garantir que os profissionais façam o uso adequado dos equipamentos de proteção indivi-
dual. Os EPIs devem ser utilizados durante todo o expediente de trabalho, seguindo todas
as determinações da organização.
O uso de EPIs deve ser validado pelo Departamento de Segurança do Trabalho da
Instituição e deve atender as normas e legislações vigentes de segurança do trabalho, ges-
tão de meio ambiente, boas práticas de fabricação e de biossegurança.
Sugere-se que a entrega dos EPI’s aos colaboradores seja registrada e controlada pelo
gestor ou responsável da área. O registro pode ser em formato de formulário, e deve per-
manecer disponível na área de atividade, de fácil acesso para preenchimento, controle e
fiscalização. Quando houver o desligamento do colaborador, esse formulário deve ser en-
caminhado ao Departamento de Segurança do Trabalho da Instituição. No caso de EPI’s
perdidos ou danificados, é de responsabilidade da empresa substituí-lo imediatamente. Os
EPIs deverão ser trocados quando houver desgaste, perda ou tiverem alcançado o prazo
estimado de uso definido pela área de Segurança do Trabalho.
O uso de EPIs é imprescindível para o manejo dos resíduos de serviços de saúde em ge-
ral, pois evitam acidentes e a contaminação dos colaboradores que realizam essa atividade.
Todo e qualquer EPI requer Certificado de Aprovação (CA). Esse CA é expedido pelo ór-
gão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do
Trabalho e Previdência.

5.4. PRINCIPAIS TIPOS DE EPI


A NR-15 do Ministério de Trabalho e Previdência, que estabelece as “Atividades e
Operações Insalubres”, é composta de uma parte geral e mantém 13 anexos, que definem
os Limites de Tolerância para agentes físicos, químicos e biológicos, quando é possível
quantificar a contaminação do ambiente, ou listando ou mencionando situações em que
o trabalho é considerado insalubre qualitativamente. O “Limite de Tolerância” exposta na
NR-15 apresenta a intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo
de exposição ao agente, que não causará danos à saúde do trabalhador, durante a sua
vida laboral.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 45


5.4.1. PROTEÇÃO AUDITIVA
A proteção auditiva é importante para que o colaborador quando exposto a ruídos pos-
sa se proteger e com isso garantir sua saúde e segurança. Ruídos fora dos parâmetros exigi-
dos em normas, podem levar a danos temporários ou permanentes na audição.
Existem no mercado algumas opções para esse objetivo e cabe à instituição avaliar as
opções e fornecer a que melhor se adequar a atividade, trazendo proteção e conforto ao
usuário.
Na Tabela 5.1, alguns modelos desse EPI.

Tabela 5.1. Modelos de EPI para proteção auditiva

Item Descrição
Proteção Auditiva - Tipo moldavel com cordão 15DB
Proteção do sistema auditivo do usuário contra níveis de
pressão sonora superiores ao estabelecido na NR-15, ane-
xos I e II

Proteção Auditiva - Concha com haste sobre a cabeça 21DB


Proteção do sistema auditivo do usuário contra níveis de
pressão sonora superiores ao estabelecido na NR 15, anexos
I e II.

5.4.2. PROTEÇÃO DE OLHOS E FACE


As proteções para olhos e face visam proteger a integridade física do colaborador em
relação aos acidentes na face, ocasionados por impacto, partículas volantes, líquidos, radia-
ção infravermelha e ultravioleta, fômites. Assim, seu uso é imprescindível para promover a
saúde e segurança do colaborador durante sua rotina de atividades. Na Tabela 5.2, alguns
modelos desse EPI.

Tabela 5.2. Modelos de EPI para proteção de olhos e face


Item Descrição
Óculos com lente incolor de sobrepor nos óculos de grau
Adequados às pessoas que utilizam óculos graduado. Os
óculos devem ser colocados sobrepostos aos óculos pes-
soais de grau. Utilizado para proteção dos olhos do usuário
contra impactos de partículas volantes e contra os raios
ultravioleta (u6), no caso das lentes incolor.

46 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Item Descrição
Óculos lente incolor
Óculos lente incolor, contra impactos de partículas volantes
multidirecionais em atividades de pesquisa e laboratoriais.

Proteção facial – Óculos com lente incolor anti-risco com


armação preta
Proteção dos olhos do usuário contra impactos de partículas
volantes multidirecionais, indicado para possibilidades de
fortes impactos em atividades de manutenção, construção e
serviços técnicos.
Óculos ampla-visão com lente incolor e elástico para cabeça
Proteção dos olhos do usuário contra impactos de partículas
volantes multidirecionais e respingos de produtos líquidos
agressivos.

Óculos autoclavável antiembaçante incolor para sala limpa


Proteção dos olhos do usuário contra impactos de partículas
volantes multidirecionais e respingos agressivos, em salas
limpas onde seja necessário a esterilização por autoclave
até 121 °C. A vida útil da armação é de aproximadamente 45
ciclos de autoclavagem.
Protetor facial incolor com suspensão de catraca (uso sem
capacete)
Proteção dos olhos e face do usuário contra impactos de
partículas volantes, raios ultravioletas (u6), no caso “protetor
facial v-gard headgear modelo 190”; contra raios ultraviole-
tas (u2.5), no caso “protetor facial v-gard headgear modelo
190 plus”.

5.4.3. PROTEÇÃO RESPIRATÓRIA


As proteções respiratórias têm a função de proteger as vias respiratórias contra agentes
nocivos à saúde humana. Elas são de extrema importância, pois atuam filtrando partículas/
agentes químicos, físicos ou biológicos e evitando com isso a absorção pelas vias respirató-
rias e pulmões.
Cabe destacar que, para as máscaras com a aplicação de filtros/cartuchos removíveis, se
faz necessário realizar trocas periódicas com base nas informações do fabricante e rotina de
uso, pois se houver o uso do referido EPI sem a eficiência necessária, isso poderá provocar
a intoxicação do colaborador ou a sua contaminação por agente biológico, por exemplo.
Na Tabela 5.3, alguns modelos desse EPI.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 47


Tabela 5.3. Modelos de EPI para proteção respiratória
Item Descrição1
Respirador PFF-1 valvulado (poeiras e nevoas)
Proteção das vias respiratórias do usuário contra poeiras e
névoas não oleosas, em concentração não superiores a 10
(dez) vezes o limite de exposição ocupacional (LT ou TLV)
desses particulados.

Respirador PFF-2 valvulado (poeiras nevoas e fumos)


Proteção das vias respiratórias do usuário contra poeiras,
névoas e fumos (PFF-2).

Respirador PFF-3 valvulado (poeiras nevoas e fumos


radionuclídeos)
Proteção das vias respiratórias contra poeiras, névoas, fumos
e radionucliídeos (PFF-3).

Respirador facial inteira


Proteção das vias respiratórias do usuário contra a inalação
de partículas sólidas, quando utilizado com filtros mecânicos
ou combinados e contra gases e vapores, quando utilizado
com filtros químicos ou combinados.

Respirador semifacial azul médio


Proteção das vias respiratórias do usuário contra a inalação
de partículas sólidas, quando utilizado com filtros mecânicos
ou combinados, e contra gases e vapores, quando utilizado
com filtros químicos ou combinados.

Cartuchos para serem acoplados em respiradores (que utilizam cartuchos) para


exposição a agentes químicos
Cartucho mod. 6003 (VO + GA) amarelo
Filtro para máscara de proteção respiratória; do tipo quí-
mico; classe do filtro: 1; aplicação para vapores orgânicos e
gases ácidos; deve ser embalado em material que garanta a
integridade do produto; o filtro deverá estar de acordo com
a Norma NBR13.696/96 ou versão mais atual.

48 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Item Descrição1
Cartucho mod. 6004 (amonia + metilan) verde
Filtro para máscara de proteção respiratória; do tipo quími-
co; classe do filtro: 1; aplicação para amônia e metilamina;
deve ser embalado em material que garanta a integridade
do produto; o filtro deverá estar de acordo com a Norma
NBR 13.696/96 ou versão mais atual.
Cartucho mod. 6005 (Formold) preto/ocre
Proteção Respiratória – Cartucho mod. 6005 (Formold) preto
Filtro para máscara de proteção respiratória; do tipo quími-
co; classe 1; aplicação para formaldeído; deve ser embalado
em material que garanta a integridade do produto; o filtro
deverá estar de acordo com a Norma NBR 13.696/96 ou
versão mais atual.
Cartucho mod. 6006 (multigas) ocre
Filtro para máscara de proteção respiratória; do tipo quími-
co; multigases; classe do filtro: 1; aplicação para vapores or-
gânicos, cloro, ácido clorídrico, ácidos clorídrico, dióxido de
enxofre, sulfeto de hidrogênio (apenas para fuga); utilizado
ainda para amônia/metillamina, formaldeído e fluoreto de
hidrogênio; deve ser embalado em material que garanta a
integridade do produto; o filtro deverá estar de acordo com
a Norma NBR 13.696/96 ou versão mais atual.
Cartucho mod. 6009 (mer + cloro) laranja
Filtro para máscara de proteção respiratória; do tipo quími-
co; classe do filtro: 1; aplicação para vapor de mercúrio ou
gás cloro; deve ser embalado em material que garanta a
integridade do produto.

Retentor para filtro mod. 501


É um adaptador para acoplar em conjunto com o filtro me-
cânico no cartucho químico.
Protege as vias respiratórias do usuário contra a inalação de
partículas sólidas, quando utilizado com filtros mecânicos
ou combinados, e contra gases e vapores, quando utilizado
com filtros químicos ou combinados.
Filtro mecânico mod. 501
O filtro mecânico é indicado para uso em conjunto com o
cartucho químico, onde exista a geração de particulados,
como poeira, nevoas e fumos. Além da proteção respiratória
contra particulados, este filtro impede que o cartucho quí-
mico sature durante a exposição destes particulados. Deve
ser trocado sempre que se encontrar saturado (entupido),
perfurado, rasgado ou quando o usuário perceber o cheiro
ou gosto do contaminante.
1
Deve-se ressaltar que, no caso de uma pandemia, onde indivíduos assintomáticos podem
estar portando o vírus, as máscaras com válvulas não são recomendadas, pois permitem a
saída de partículas contendo o agente infeccioso.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 49


5.4.4. PROTEÇÃO DE CABEÇA
A Norma que estabelece os tipos e classes de capacetes de segurança para uso ocupa-
cional é a NBR 8221 (2019). Ela fixa os requisitos mínimos quanto às características físicas e
de desempenho, além de prescrever os ensaios para a avaliação dos referidos capacetes,
que são destinados à proteção da cabeça contra impactos e penetrações no uso ocupacio-
nal (Tabela 5.4).

Tabela 5.4. Modelos de EPI para proteção da cabeça


Item DESCRIÇÃO
Capacete aba frontal – Suspensão Fas-Trac com jugular
elástico
Utilizado para proteção da cabeça do usuário contra impac-
tos (batida contra, atingido por) e perfurações provenientes
da queda de objetos.
Proteção da cabeça do usuário contra impactos de objetos
sobre o crânio e contra choques elétricos.

5.4.5. PROTEÇÃO DAS MÃOS


A proteção das mãos é importante, para que possamos manter sua integridade e funcio-
nalidade sem perder a sensibilidade necessária à atividade a ser realizada.
Na Tabela 5.5, alguns modelos deste EPI.

Tabela 5.5. Modelos de EPI para proteção das mãos


Item Descrição
Luva de procedimento em látex lisa – não estéril – com pó
Utilizada para proteção do usuário contra agentes biológi-
cos. São recomendadas para uso em laboratórios e ou ativi-
dades que não exijam esterilidade.

Luva de procedimento em látex lisa – estéril – com pó


Utilizada para proteção do usuário contra agentes bioló-
gicos. São recomendadas para uso em laboratórios e ou
atividades que exijam esterilidade. Possui internamente
pó lubrificante para melhor calçamento e absorção da
transpiração.

50 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Item Descrição
Luva de procedimento em látex lisa – estéril – sem pó
Utilizada para proteção do usuário contra agentes biológi-
cos. São recomendadas para uso em laboratórios e ou ativi-
dades que exijam esterilidade. Estas luvas são isentas de pó
lubrificante e apresentam mínimo teor de proteínas do látex
natural e de resíduos químicos. São especialmente recomen-
dadas para uso em áreas limpas que exijam a ausência de
desprendimento de particulados e também aos profissionais
que apresentam predisposição a reações alérgicas aos com-
ponentes do pó lubrificante.
Luva nitrílica descartável fina - azul
Utilizado para proteção química do usuário e contra agentes
biológicos. São recomendadas para uso em laboratórios e
ou atividades que não exijam esterilidade. Ausência de pó
lubrificante. Aprovado para proteção das mãos do usuário
contra agentes químicos, tais como classe b – detergentes,
sabões, amoníaco e similares e classe c – tipo 3: álcoois e
tipo 6: ácidos orgânicos.
Luva de vinil com amido - azul
Utilizado para proteção química do usuário e contra agentes
biológicos. São recomendadas para uso em laboratórios e
ou atividades que não exijam esterilidade. Possui interna-
mente pó lubrificante atóxico que não causa alergia na pele
para melhor calçamento e absorção da transpiração.
Aprovado para proteção das mãos do usuário contra agentes
químicos tais como classe b – detergentes, sabões, amoníaco e
similares e classe c – tipo 3: álcoois e tipo 6: ácidos orgânicos.
Luva para baixa temperatura (-35 °C)
Utilizado para proteção térmica das mãos do usuário para
contato em superfície extremamente fria de equipamentos,
peças e/ou materiais de até 35 °C negativos. Recomenda-se
a realização de um teste preliminar a fim de se certificar de
que a luva é adequada às condições reais de utilização.

Luva para alta temperatura


Utilizado para proteção térmica das mãos do usuário para
contato em superfície aquecida de equipamentos, peças e/
ou materiais. A vida útil do equipamento depende das con-
dições de uso e conservação.
Recomenda-se a realização de um teste preliminar a fim de
se certificar de que a luva é adequada às condições reais
de utilização.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 51


Item Descrição
Luva de neoprene bicolor
Utilizado para proteção contra umidade e térmica das mãos
do usuário para contato de vapores e em superfície aqueci-
da de equipamentos, peças e/ou materiais. Recomenda-se
a realização de um teste preliminar a fim de se certificar de
que a luva é adequada às condições reais de utilização.

Luva nitrílica
Utilizada para proteção do usuário durante atividades de
limpeza em geral, aplicação de pintura e manipulação de
produtos químicos.

Luva textil cinza revestida com nitrílica preta


Utilizado para proteção do usuário durante manuseio roti-
neiro de materiais não agressivos, proteção intermediaria
para risco de cortes. Ótima maleabilidade para trabalhos
leves a moderados. Indicado para trabalhos em geral de
manutenção, zeladoria e expedições a campo para coleta de
animais.

Creme protetor para a pele


Indicado para proteger a pele do usuário contra bactérias
aeróbias, mesófilas, coliformes totais e fecais e fungos, indi-
cado também contra a agressividade dos agentes químicos,
como água, solventes, óleo mineral, óleo diesel, thinner,
mek, acetona, querosene, alguns ácidos e bases diluídos em
água (ácido sulfúrico a 15%, ácido acético a 15%, ácido clorí-
drico a 15% e hidróxido de sódio a 10%), tem ação antissép-
tica, deve ser aplicado antes da colocação das luvas.

52 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


5.4.6. PROTEÇÃO DOS PÉS
A proteção dos pés é importante para que possamos caminhar em segurança (Tabela 5.6).

Tabela 5.6. Modelos de EPI para proteção dos pés


Item Descrição
Calçado tipo sapato com fechamento elástico – branco
Proteção dos pés contra impactos de quedas de objetos
sobre os artelhos e batidas.

Calçado tipo botina modelo cadarço com biqueira de


composite
Proteção dos pés e tornozelo do usuário em locais onde haja
risco de queda de materiais sobre os artelhos, em áreas de
riscos quanto a objetos pontiagudos e cortantes.
Calçado tipo bota cano longo branca solado bege – biqueira
composite
Proteção dos pés em locais úmidos e encharcados.

Calçado tipo bota cano longo preta solado verde – biqueira


de composite
Proteção dos pés em locais úmidos, lamacentos, encharca-
dos, com derivados de petróleo, óleos, produtos químicos,
ácidos e solventes.

Calçado tipo bota de couro com fechamento em ziper –


mod. P. Forest – biqueira de polipropileno
Proteção dos membros inferiores do usuário contra lesões
provocadas por materiais ou objetos cortantes, partículas
volantes, escoriantes, perfurantes e picadas de animais
peçonhentos. Indicado para excursões em campo (Mata) e
manejo de animais onde exista o risco mencionado.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 53


5.4.7. PROTEÇÃO DO TRONCO E CORPO INTEIRO
Sua proteção é importante para promover a proteção contra riscos de origem térmica,
mecânica, química, biológica, radioativa e umidade.
Na Tabela 5.7, alguns modelos desse EPI.

Tabela 5.7. Modelos de EPI para proteção do tronco e corpo inteiro


ITEM DESCRIÇÃO
Avental impermeavel branco – 1,20 x 0,70 m
Proteção do tronco do usuário contra umidade proveniente
de operações com o uso de água, fluidos líquidos biológicos
e respingos de produtos químicos em baixas concentrações
(diluído).

Avental branco frontal modelo barbeiro


Proteção do tronco e membros superiores do usuário contra
riscos de origem química.

Avental amarelo frontal modelo barbeiro tipo Tychem QC


Proteção do tronco e braço do usuário para proteção contra
respingos em uma variedade de ambiente industrial, como
refino de petróleo, produção de celulose e papel, proces-
samento de alimentos, processamento químico e indústria
farmacêutica.

Macacão de Tyvek com capuz e bota acoplada


Proteção do crânio, pescoço, tronco, membros superiores
e membros inferiores do usuário onde exista alto risco de
contaminação por agentes biológicos e químicos.

54 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


ITEM DESCRIÇÃO
Macacão de Tyvek 127 com capuz
Proteção do corpo e cabeça do usuário em atividades que
existam riscos de contaminação por agentes biológicos e
químicos, na forma de partículas secas e semiúmidas, maio-
res que 0,5 mícrons, tóxicas ou alergênicas.

Macacão de Tychem QC com capuz – amarelo


Proteção do tronco, membros superiores e membros inferio-
res do usuário contra riscos de origem química.

Capa de chuva impermeavel – laranja


Proteção do tronco, cabeça e braços do usuário contra in-
tempéries e ou operações com uso de água.

Sobretudo termico (câmara fria) de nylon resinado gramatu-


ra 150 g/m2 verde musgo
Utilizado como proteção térmica para o tronco e braços do
usuário contra agentes térmicos – frio, para temperatura
ambiente abaixo de -5 °C.

5.5. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA (EPC)


Os EPCs são equipamentos que demandam de engenharia para seu dimensionamento,
são muitas vezes sistemas complexos que necessitam de manutenção periódica que se tor-
na crucial para o bom funcionamento e proteção aos usuários.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 55


Existem EPCs específicos para cada tipo de atividade, todos com o mesmo objetivo de
proteger os colaboradores no exercício de algumas funções. Os equipamentos de prote-
ção coletiva usados por profissionais da área da saúde são distintos daqueles necessários a
quem atua no setor de construção civil, portanto no caso dos EPCs a diversidade é grande
dentro da mesma atividade.
Os equipamentos de proteção coletiva são utilizados por mais de um colaborador e
têm o objetivo de proteger a saúde e a segurança dos colaboradores e evitar acidentes.
Importante que esses equipamentos sejam instalados em locais bem sinalizados e de fácil
acesso para uso e manutenção.
As Normas Regulamentadoras N° 4 e N° 9 do Ministério do Trabalho e Previdência fa-
zem referência ao uso do equipamento de proteção coletiva. Segundo a NR 4, é de res-
ponsabilidade do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho (SESMT) aplicar o seu conhecimento em saúde e segurança do trabalho (SST)
para reduzir ou, se possível, eliminar os riscos existentes em todos os ambientes de uma
determinada empresa.
Alguns EPCs são obrigatórios como equipamentos de segurança nas atividades realizadas
em laboratórios, tais como: chuveiro de emergência e lava olhos, outros são obrigatórios para
qualquer atividade, como: os extintores de incêndio e outros são específicos de acordo com a
atividade, tais como: as cabines de segurança biológica e capelas de exaustão química.

5.5.1. PRINCIPAIS TIPOS DE EPCS


Como citado anteriormente, a NR 15 do Ministério de Trabalho e Previdência define os
limites de tolerância para agentes físicos, químicos e biológicos. A avaliação quantitativa de
agentes aos quais o trabalhador está exposto exige a determinação da intensidade, no caso
de agentes físicos, e da concentração ambiental, no caso dos agentes químicos. Devem ser
realizadas avaliações quantitativas para ruído contínuo (Anexos n° 1 e n° 2), calor (Anexo n°
3), radiações ionizantes (Anexo n° 5), vibração (Anexo n° 8), agentes químicos (Anexo n° 11) e
poeiras minerais (Anexo n° 12). Abaixo relacionamos alguns dos equipamentos de proteção
coletiva mais frequente em instituições de saúde.

5.5.1.1. CABINE DE SEGURANÇA BIOLÓGICA


As cabines de segurança biológicas (CSB) são projetadas para uso coletivo fornecendo
proteção individual, proteção ao produto manipulado e ao meio ambiente.
Os modelos existentes podem ser configurados como tipo A ou tipo B. As principais
diferenças entre os tipos são as porcentagens de ar exaurido e o ar que é recirculado dentro
da cabine, bem como, o tipo de sistema de exaustão. Algumas cabines podem recircular
ar dentro da zona de contenção, enquanto outras devem exaurir o ar diretamente para a
atmosfera externa por meio de dutos dedicados.
A seguir, apresentamos as definições dos tipos de CSB, de acordo com a classificação da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2013).

56 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


5.5.1.2. CABINE DE SEGURANÇA BIOLÓGICA CLASSE I
É uma cabine em que o fluxo de ar ocorre de fora para dentro, pela abertura frontal,
sem recirculação do ar. O ar da cabine passa por um filtro HEPA antes de ser liberado para o
interior do laboratório.
Essas cabines protegem o operador, mas não o material que está sendo manipulado e
podem ser usadas quando se está trabalhando com microrganismos de baixo ou moderado
risco.

5.5.1.3. CABINE DE SEGURANÇA BIOLÓGICA CLASSE II


As cabines classe II apresentam abertura frontal na qual uma parte do ar é recirculado.
Esse tipo de cabine protege o operador, o material a ser manipulado e o meio ambiente.
Existem dois tipos de cabine classe II:

5.5.1.3.1. CABINE DE SEGURANÇA BIOLÓGICA CLASSE II A


Nessa classe de cabine, 30% de ar ambiente entra pela abertura frontal, 70% é recircula-
do para o interior da cabine passando por um filtro HEPA e 30% é exaurido para dentro ou
fora do laboratório, passando por filtro HEPA. Usadas na ausência de substâncias químicas
voláteis, radioativas ou tóxicas.

5.5.1.3.2. CABINE DE SEGURANÇA BIOLÓGICA CLASSE II B


Na cabine classe II B, 70% de ar ambiente entra pela abertura frontal, 30% é recirculado
para o interior da cabine passando por um filtro HEPA e 70% é exaurido para fora do laborató-
rio através de outro filtro HEPA, por um sistema de exaustão. São indicadas para manipulação
de cultura de micobactérias e com algumas substâncias tóxicas, voláteis e/ou radioativas.

5.5.1.4. CABINE DE SEGURANÇA BIOLÓGICA CLASSE III


As cabines classe III são hermeticamente fechadas, impermeáveis a gases e todo o tra-
balho é realizado com luvas de borracha que estão presas à câmara. O ar que entra passa
por um filtro HEPA e o ar que sai pelo exaustor passa por dois filtros HEPA, dispostos sequen-
cialmente. Todos os equipamentos necessários (centrífuga, incubadora etc.) devem estar
dentro da cabine. É indicada para o trabalho com microrganismos de alto poder infectante.
Oferece o mais alto grau de proteção ao operador e ao meio ambiente.
Na Associação Brasileira de Normas Técnica (ABNT) não consta uma norma que regu-
lamente cabines de segurança biológica. Esse fato propicia informações variadas, que às
vezes criam conflitos. Portanto, a seguir apresentamos a Tabela 5.8, que compara as carac-
terísticas das cabines de biossegurança obtida do Guia de Biossegurança em Microbiologia
em Laboratórios do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Institutos Nacionais de
Saúde dos Estados Unidos (CDC-NIH), sexta edição, 2020. Ressaltamos, ainda, que a unidade
de velocidade do ar usada na Tabela 5.8 é pés/min, o que equivale no Brasil a m/seg.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 57


Tabela 5.8. Características dos diferentes tipos de cabines de segurança biológica*
Tipo Velocidade Fluxo de ar Produtos Produtos Classe Proteção
frontal químicos químicos de risco
tóxicos não tóxicos
voláteis e voláteis e
radionuclídeos radionuclídeos
Classe 75 Na frente através de Sim Exaustão para 1e2 Operador e
I HEPA para o exterior fora1,2 ambiente,
ou na sala através de amostra
HEPA. não
Classe 75 Recirculado para a Sim Não 1,2 e 3 Operador,
II, A1 área de trabalho do (grande % de ar ambiente e
gabinete através de recirculado) amostra
HEPA; O saldo de 30%
pode ser exaurido por
meio de HEPA de volta
para a sala ou para
fora por meio de uma
unidade de dossel.
Classe 100 30% recirculado, 70% Sim Sim 1,2 e 3 Operador,
II B1 exaurido. O ar do (pequenas ambiente e
gabinete de exaustão quantidades de amostra
deve passar por um produtos quí-
duto dedicado para o micos toxícos e
exterior através de um traços de radio-
filtro HEPA. nucleotídeos)
Classe 100 Sem recirculação; Sim Sim1,2   Operador,
I, B2 exaustão total para o ambiente e
exterior através de um amostra
filtro HEPA.
Classe 100 Semelhante a II, A1, Sim Quando exau- 1,2 e 3 Operador,
II, A2 mas tem velocidade rido para o ar ambiente e
de ar de admissão de livre1,2 amostra
100 pés/min e plenums
estão sob pressão ne-
gativa para o ambien-
te; o ar de exaustão
pode ser canalizado
para o exterior através
de uma unidade de
dossel.
Classe N/A O ar fornecido é filtra- Sim Sim (pequenas 3e4 Alta pro-
III do. O ar de exaustão quantidades)1,2 (orga- teção ao
passa por dois filtros nismos operador,
HEPA em série e é letais ambiente e
expelido para o exte- amostra
rior por meio de uma
conexão rígida.
1
A instalação requer um duto especial para o exterior, um filtro de carvão em linha e um motor à prova
de faísca (à prova de explosão) e outros componentes elétricos no gabinete. A descarga de um gabinete
Classe I ou Classe II, Tipo A2 em uma sala não deve ocorrer se forem usados produtos químicos voláteis.
2
Em nenhuma circunstância a concentração química deve se aproximar dos limites de explosão infe-
riores dos compostos.

58 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


5.5.1.5. CAPELAS DE EXAUSTÃO/CABINES DE SEGURANÇA QUÍMICA
As cabines de segurança química são utilizadas para manipulação de substâncias quí-
micas que liberam gases tóxicos, irritantes, corrosivos e vapores. É uma cabine de exaustão
que protege o profissional da inalação de vapores e gases liberados por reagentes químicos
e evita a contaminação do ambiente laboratorial, com vapores e gases nocivos.
A velocidade de exaustão da capela deverá ser verificada periodicamente, a fim de exa-
minar se o sistema de exaustão tem força suficiente para promover a exaustão de gases
leves, que rapidamente, ocupam as camadas superiores e dos gases pesados que tendem a
permanecer nas partes baixas da capela (Figura 5.1).

Figura 5.1. Exemplos de modelos de capelas de exaustão.


Fonte: Unifal-MG – Riscos Ambientais – Equipamentos de proteção coletiva – Cabines de
exaustão química. Disponível em: https://www.unifal-mg.edu.br/riscosambientais/node/14.

5.5.1.6. CHUVEIRO DE EMERGÊNCIA E LAVA OLHOS


O chuveiro de emergência é utilizado para banhos em caso de acidentes com produ-
tos químicos ou material biológico sobre o profissional. Deve ter aproximadamente 30 cm
de diâmetro, com jato de água forte (15 minutos de fluxo continuo sob a ducha) acionado
por alavancas de mão, cotovelo, joelhos ou pé e ser de fácil acesso, próximo às áreas labo-
ratoriais, para possibilitar a remoção imediata da substância. É um EPC que reduz os danos
para o colaborador.
O lava-olhos deve ser utilizado quando ocorrer respingo ou derramamento acidental de
materiais biológicos ou químicos na mucosa ocular. Em geral, é instalado junto aos chuvei-
ros ou às pias do laboratório. Porém, o uso de óculos de proteção, como EPI, ajuda a evitar
esse tipo de situação.
Alguns modelos de lava-olhos vêm acoplados ao chuveiro de emergência (Figura 5.2).
A equipe do laboratório deve ser treinada para o uso deste equipamento, uma vez que
jatos fortes de água podem prejudicar ainda mais o olho atingido. No caso de lava olhos
portáteis, a água deve ser trocada diariamente. Os equipamentos devem ser revisados pe-
riodicamente, sendo essas revisões registradas em protocolos.
Pode-se utilizar, também, o frasco lava-olhos. A água contida no frasco deve ser trocada
pelo menos uma vez por semana e realizado o registro da troca da água.
As áreas dos chuveiros e lava olhos deverão estar sempre desimpedidas para uso ime-
diato, quando necessário.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 59


Figura 5.2. Exemplos de modelos de chuveiro de emergência e lava-olhos.
Fonte: https://www.unifal-mg.edu.br/riscosambientais/system/files/imce/chuveiros%20
e%20lava%20olhos_0.jpg.

5.5.1.7. AUTOCLAVES
As autoclaves são equipamentos utilizados para esterilizar materiais termorresistentes
por meio de calor úmido (vapor) sob pressão por determinado período de tempo. A combi-
nação de alta temperatura, pressão e umidade promove a termocoagulação e desnaturação,
causando a morte dos microrganismos.
A esterilização por autoclave é utilizada para materiais termorresistentes que não são
descartáveis, como vidraria de laboratório, soluções e meios de cultura, material cirúrgico,
utensílios de aço inoxidável e diversos EPIs. As autoclaves também são utilizadas para des-
contaminar resíduos infectantes.
Diferentes tipos de autoclaves são utilizados em laboratório, de acordo com o volume e
tipo de material a ser esterilizado (Figura 5.3).
As autoclaves são fundamentais para garantir a destruição dos microrganismos. No inte-
rior dos laboratórios com nível de biossegurança 3 e 4 (NB-3 e NB-4), é obrigatório o uso de
autoclaves com porta dupla e sistema de descontaminação do ar ou do condensado antes
de ser descartado (por incineração e filtração), deve ter sistema de barreira com estanquei-
dade entre as áreas. A eficácia na descontaminação por autoclavação a vapor depende de
alguns cuidados e atenção específica, como:
a) Volume da carga a ser processada;
b) Volume e dimensões dos recipientes e a sua distribuição na autoclave;
c) Qualificação comprovada a sua eficácia e adequabilidade por meio de testes de dis-
tribuição e de penetração de calor (de testes físicos) e por indicadores biológicos
(Bacillus stearothermophilus), para atingir as condições de esterilização desejadas;
d) Monitoramento da qualidade da esterilização.

É recomendado obedecer às orientações do fabricante quanto à operação e manuten-


ção preventiva, bem como verificar a correta distribuição dos materiais dentro das autocla-
ves. Os materiais devem ser dispostos paralelamente uns aos outros com espaços de pelo
menos um centímetro entre um e outro. Esse cuidado favorece a circulação de vapor e faci-
lita a secagem.

60 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Figura 5.3. Exemplos de modelos de autoclaves.
Fonte: https://celitron.com/images/content/product/medical-solutions/prod_medical_large.
jpg.

5.5.1.8. EXTINTORES DE INCÊNDIO


Os extintores de incêndio são equipamentos obrigatórios e devem obedecer a algumas
especificações, de acordo com os materiais e substâncias utilizados no local:
„„ Extintor de água (mangueira): indicado para incêndios em papel e madeira;
„„ Extintor de CO2 – dióxido de carbono (gás): indicado para incêndios em equipamen-
tos elétricos;
„„ Extintor PQS – bicarbonato de sódio ou potássio (pó químico) e de espuma: indicado
para incêndios em líquidos ou gases inflamáveis.

É necessário, também, seguir alguns requisitos como treinamento, local adequado,


identificação, validade e integridade.

5.5.1.8.1. CLASSES DE INCÊNDIO E EXTINTORES


Existem diferentes classes de incêndio e, por isso, há extintores específicos para cada
uma delas. Apesar dos incêndios parecerem todos iguais, em um primeiro momento, são ini-
ciados por materiais diferentes. Por isso, essa distinção no momento da ação de combate é
fundamental para identificar o problema e combatê-lo de forma eficaz, reduzindo os danos
patrimoniais e, principalmente, os humanos.
Divididas de acordo com o tipo de material gerador do fogo, as cinco classes de in-
cêndio são fundamentais para todo o processo de combate, desde a instalação de sis-
temas preventivos à utilização dos extintores corretos. Na Tabela 5.9, seguem as classes
de incêndio.

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 61


Tabela 5.9. Classes de incêncio e tipos de extintor indicados
Tipo de extintor
Classes de incêndio Classe Classe
Água Espuma CO2 BC ABC FE36
K D
A
Papel, madeira,
tecido, borracha Sim Sim Não Não Sim Sim Não Não
e fibras

B
Gasolina, que-
rosene, óleo, Não Sim Sim Sim Sim Sim Não Não
solvente e GLP

C
Equipamentos Não Não
elétricos (conduz (conduz Sim Sim Sim Sim Não Não
energizados corrente) corrente)

D
Pó de alumínio, Não Não
magnésio, zir- (pode (pode
Não Não Não Não Não Sim
cônio, potássio provocar provocar
e titânio explosão) explosão)

Óleo e gordura Não Não Não Não* Não Não Sim Não

GLP: gás liquefeito de petróleo. * Extintores de pó extinguem o fogo, porém, por não
efetuarem o resfriamento simultaneamente, permitem a reignição devido à alta tempe-
ratura do óleo.
Fonte: https://contrafogojung.com.br/informacoes-importantes-2/#toggle-id-2

Dessa forma, de acordo com essas classes temos os extintores apropriados (Figura 5.4):
„„ Água (H₂O): é indicado para incêndios de classe A. Seu princípio de extinção é por
resfriamento e age em materiais como madeiras, tecidos, papéis, borrachas, plásti-
cos e fibras orgânicas. É proibido o seu uso para incêndios da classe B e C.
„„ Gás Carbônico (CO²): o extintor composto por dióxido de carbono é indicado para
incêndios de classe B e C, pois não conduz eletricidade. Seu princípio de extinção
ocorre por abafamento e resfriamento e age em materiais combustíveis e líquidos
inflamáveis e fogo oriundo de equipamentos elétricos.
„„ Pó Químico B/C: seu princípio de extinção é por meio de reações químicas, 95% de
bicarbonato de sódio e 5% de estearato de potássio/magnésio. É indicado principal-
mente para incêndios de classe B (líquidos inflamáveis) e de classe C (equipamentos
elétricos), pois não é condutor de eletricidade.
„„ Pó Químico A/B/C: é indicado para incêndios da classe A, B e C. Seu princípio de
extinção é por meio de reações químicas e abafamento (para incêndios da classe
A) e pode ser usado para a contenção de fogo de praticamente qualquer natureza.

62 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


„„ Espuma Mecânica: é composto por detergente concentrado, sendo que a espuma é
gerada através da reação do batimento mecânico do detergente com a água e o ar.
É indicado para incêndios da classe A e B, sendo proibido para incêndios de classe C.
Seu princípio de extinção é por meio de abafamento e resfriamento.


Gás Pó Espuma
Água químico
carbônico químico mecânica
A/B/C

A B B A A

PAPEL, MADEIRA, LÍQUIDOS LÍQUIDOS PAPEL, MADEIRA, PAPEL, MADEIRA,


TECIDO, SÓLIDOS E GASES E GASES TECIDO, SÓLIDOS TECIDO, SÓLIDOS
EM GERAL INFLAMÁVEIS INFLAMÁVEIS EM GERAL EM GERAL

B B
C C
B C
LÍQUIDOS LÍQUIDOS
E GASES E GASES
PR

PR

EQUIPAMENTOS EQUIPAMENTOS
OI

OI

INFLAMÁVEIS INFLAMÁVEIS
BI

BI

ELÉTRICOS ELÉTRICOS
DO

DO

LÍQUIDOS
E GASES
EQUIPAMENTOS
ELÉTRICOS C C
INFLAMÁVEIS

PR
OI
BI
DO
EQUIPAMENTOS EQUIPAMENTOS
ELÉTRICOS ELÉTRICOS

Figura 5.4. Tipos de extintor de incêndio.


Fonte: https://www.escolaengenharia.com.br/tipos-de-extintores.

5.6. DESCARTE DE EPIS E EPCS

5.6.1. DESCARTE DE EPIS


Quanto ao descarte dos EPIs, os mesmos deverão seguir a classificação dos mesmos, de
acordo com o tipo de material manuseado: infectante, químico, radioativo ou comum.
Importante informar que a vida útil de cada EPI dependerá das condições de uso e
conservação.

5.6.2. DESCARTE DE EPCS


O descarte dos EPCs deve se basear no tipo de material utilizado no equipamento. As
Cabines de Segurança Biológica possuem filtros que devem ser trocados conforme o uso e
os mesmos devem ser descontaminados, de acordo com o nível de Biossegurança da área,
antes de serem encaminhados para o descarte como resíduos Infectantes do Grupo A1
(Mais informações no Capítulo 6 – Resíduos Infectantes ).
As cabines de segurança química também possuem filtros que devem ser descartados
como resíduos químicos do Grupo B (Mais informações no Capítulo 8 – Resíduos Químicos ).

5 – Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva 63


REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Microbiologia Clínica
para o Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. Módulo 1: Biossegurança e
Manutenção de Equipamentos em Laboratório de Microbiologia Clínica/Agência Nacional de
Vigilância Sanitária. – Brasília: Anvisa, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC N° 222. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços
de Saúde e dá outras providências. Publicado no DOU em 29/03/2018.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 15 – Atividades e Operações Insalubres. Brasília, 2014.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 23 – Proteção contra incêndio, Portaria 3.214/78.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança
e em Medicina do Trabalho, Portaria 3.214/7.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 6 – Equipamento de Proteção Individual – EPI, Portaria
3.214/78.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA,
Portaria 3.214/78.
BRASIL. Tecnologista da Fundacentro explica por que máscara com válvula não protege contra Covid-19.
Disponível em: https://www.gov.br/fundacentro/pt-br/assuntos/noticias/noticias/2021/marco/tec-
nologista-da-fundacentro-explica-por-que-mascara-com-valvula-nao-protege-contra-covid-19.
Acessado em: 25/11/2021.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH. Biosafety in
Microbiological and Biomedical Laboratories. 6. ed. 2020. Disponível em: https://www.cdc.gov/labs/
pdf/SF__19_308133-A_BMBL6_00-BOOK-WEB-final-3.pdf. Acessado em 21/10/2021.
INSTRUÇÃO TÉCNICA N° 21/2018 – Sistemas de proteção por extintores de incêndio .
SMARTLAB. Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho. Disponível em: https://smartlabbr.
org/sst. Acessado em 24/10/2021. Acessado em: 25/11/2021.

64 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


6
Resíduos Infectantes –
Grupo A

RISCO
BIOLÓGICO

Rita de Cássia Ruiz


Elisabeth Christina Nunes Tenório
Mônica Spadafora Ferreira
6 Resíduos Infectantes – Grupo A

As resoluções CONAMA 358/2005 e a RDC 222/2018 são as responsáveis por regulamen-


tar as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (RSS). A fim de
atender adequadamente às especificidades dos diferentes RSS, esses resíduos foram clas-
sificados em cinco grupos (A, B, C, D e E), conforme descrito no Capítulo 2. Este capítulo
destina-se a abordar aspectos importantes ao gerenciamento correto dos resíduos do grupo
A (infectantes), visando facilitar a implementação de um processo que prevê minimizar os
riscos inerentes ao grupo, preservando a saúde (humana e animal) e o meio ambiente.

6.1. ASPECTOS GERAIS


Nos resíduos do grupo A, também denominados de resíduos infectantes, estão inclusos
os resíduos sólidos ou líquidos com a possível presença de agentes biológicos que podem ser
de origem humana, animal ou vegetal, incluindo também os produtos ou derivados desses
agentes. Considera-se agentes biológicos os microrganismos capazes ou não de originar algum
tipo de infecção, alergia ou toxicidade, tais como: bactérias, fungos, vírus, clamídias, riquétsias,
micoplasmas, parasitas, linhagens celulares, príons, imunobiológicos, venenos, toxinas, DNA
recombinante e organismos geneticamente modificados, este último, regrado por leis específi-
cas. Essa cautela se dá porque os agentes inclusos nesse grupo apresentam características pe-
culiares variáveis, como patogenicidade, virulência, mutagenicidade, resistência a tratamento, a
processos de esterilização ou outro tipo de descontaminação, entre outras diferenças.
Devido à variedade e complexidade dos resíduos que compõem o grupo dos infectan-
tes, o grupo A foi subdividido nos seguintes subgrupos: A1, A2, A3, A4 e A5.
A descrição dos resíduos contemplados em cada um dos subgrupos está descrita no
Capítulo 2. No entanto, para a manipulação ou disposição de quaisquer materiais que su-
postamente possam apresentar algum agente biológico, há a necessidade de se conside-
rar a classificação de risco do agente (OMG ou não) e o nível de biossegurança necessário
à sua manipulação, conforme descrito a seguir.

6.2. ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS


Considera-se Organismo Geneticamente Modificado (OGM) todo microrganismo, de ori-
gem vegetal ou animal, cujo genoma (DNA ou RNA) tenha sido modificado por quaisquer

66 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


técnicas de engenharia genética, como fusão celular, mutação natural ou induzida, clona-
gem de organismos, etc. O genoma de um organismo pode ser modificado pela introdução
de genes exógenos, eliminação de genes próprios ou remanejamento de genes do organis-
mo manipulado. Em função dessa manipulação, a Biossegurança – que é um conjunto de
ações, regras e procedimentos voltados para a prevenção, controle e minimização de riscos
advindos da prática de diferentes tecnologias, seja na clínica, em laboratório ou no meio
ambiente – prevê atenção diferenciada na obtenção e manipulação de qualquer OGM (Site
CTNBio: http://ctnbio.mctic.gov.br/inicio).
Todas as atividades e projetos envolvendo OGM ou seus derivados devem ser precedidos
de uma análise detalhada e criteriosa das condições experimentais, atendendo o nível de
biossegurança adequado à Classe de Risco do OGM manipulado, conforme descrito no item
a seguir.

6.3. CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES BIOLÓGICOS


CONFORME A CLASSE DE RISCO
Todos os agentes biológicos que afetam o homem, os animais ou as plantas estão clas-
sificados em uma determinada classe de risco que considera: a patogenicidade, virulên-
cia, endemicidade, entre outras características, conforme estabelecido pelo Ministério da
Saúde (2017). As diferentes classes variam de 1 a 4, seguindo a ordem crescente de risco.
Parâmetros como a forma de transmissão, o risco de propagação no ambiente, a existência
de medidas profiláticas de tratamento eficaz são fundamentais para o enquadramento do
agente biológico a uma das classes de risco. No entanto, no caso dos OGMs, a determinação
do grau de risco biológico inclui, além do risco do organismo ao meio ambiente, à saúde
humana, dos animais e vegetais, o risco do organismo doador, receptor, bem como o risco
potencial do OGM resultante da manipulação (Portaria Nº 2.349, de 14/09/2017).
As características gerais para a definição de cada classe de risco são:
„„ Classe de risco 1: incluem aqueles que apresentam baixo risco, tanto individual como
para a comunidade. Estes agentes são conhecidos por não acarretarem doenças ao
homem ou aos animais adultos sadios, como por exemplo Lactobacillus sp. e Bacillus
subtilis. Nessa classe, também estão incluídos os OGMs que contenham sequências
de DNA/RNA que não causem agravos à saúde humana e animal e/ou efeitos adver-
sos aos vegetais e ao meio ambiente;
„„ Classe de risco 2: incluem aqueles que apresentam risco individual moderado e li-
mitado risco à comunidade. Estes agentes apresentam potencial de causar infec-
ção tanto no homem como nos animais, com potencial limitado de propagação na
comunidade e no meio ambiente. No entanto, para os agentes patogênicos desta
classe há medidas terapêuticas e profiláticas eficazes, são exemplos: Schistosoma
mansoni, Vírus da Rubéola e OGM cuja sequência de DNA/RNA inserido apresenta
moderado risco de agravo à saúde humana e animal com baixo risco de dissemina-
ção e de causar efeitos adversos nos vegetais e no meio ambiente;
„„ Classe de risco 3: incluem aqueles que apresentam risco individual alto e risco mo-
derado à comunidade. Nesta classe, estão os microrganismos com transmissão por
via respiratória, patogênico ao homem ou aos animais, com infecção potencialmen-
te letal, podendo se propagar de pessoa para pessoa, mas com medidas de trata-
mento e/ou de prevenção existentes. São exemplos: Bacillus anthracis e Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV), bem como os OGMs que contenham sequências
de DNA/RNA, com alto risco de agravo à saúde humana e animal, que tenha baixo
ou moderado risco de disseminação e de causar efeitos adversos aos vegetais e ao
meio ambiente;

6 – Resíduos Infectantes – Grupo A 67


„„ Classe de risco 4: incluem aqueles que apresentam alto risco tanto individual como
para a comunidade. O Ministério da Saúde inclui, nessa classe, os agentes biológicos
que representam grande ameaça para o ser humano ou para os animais, represen-
tando grande risco àqueles que os manipulam. Os agentes desta classe apresen-
tam elevada transmissibilidade, em especial por via respiratória, entre indivíduos
ou transmissibilidade desconhecida e se disseminados na comunidade ou no meio
ambiente, o risco de dano é alto. Nesse grupo estão as infecções em que não há, até
o momento, medidas profiláticas ou terapêuticas acarretando doenças de alta gra-
vidade e alta capacidade de disseminação. São exemplos dessa classe: Vírus Ebola,
Vírus Lassa e OGMs que contenham sequências de DNA/RNA com alto risco de agra-
vo à saúde humana e animal, que tenham elevado risco de disseminação e de causar
efeitos adversos aos vegetais e ao meio ambiente.

6.4. NÍVEL DE BIOSSEGURANÇA NECESSÁRIO À


MANIPULAÇÃO DE AGENTES BIOLÓGICOS
A definição da classe de risco norteia o nível de biossegurança (NB) necessário à mani-
pulação dos diferentes agentes biológicos. Entende-se como NB o grau de contenção ne-
cessário à manipulação segura de agentes biológicos considerando: a proteção dos seres
humanos, dos animais, das plantas e do ambiente. O NB consiste na combinação de aspec-
tos que envolvem procedimentos norteados pelas normas de biossegurança atendendo: a
boa prática (padrões e especiais), a infraestrutura (desenho, instalações físicas e equipamen-
tos de proteção), a formação de recursos humanos (treinamento teórico-prático do traba-
lhador) as quais estabelecem medidas obrigatórias. Este conjunto de normas é classificado
em quatro níveis (NB1 a NB4), obedecendo à ordem crescente de segurança.
As instalações físicas, acesso aos laboratórios, vestimentas apropriadas, cabines de se-
gurança (nível de contenção), sistema de ar são alguns exemplos de itens de biossegurança
que podem ser necessários de acordo com a classe de risco do agente biológico. Vale lem-
brar que o uso de avental, máscara e luvas são imprescindíveis à manipulação de quaisquer
materiais classificados como infectantes.
O nível de biossegurança para manipulação dos diferentes agentes biológicos é subdi-
vidido em:
„„ NB1: Agente biológico classe de risco 1;
„„ NB2: Agente biológico classe de risco 2;
„„ NB3: Agente biológico classe de risco 3;
„„ NB4: Agente biológico classe de risco 4.

Os aspectos considerados na atribuição do NB, necessários à manipulação dos diferentes


agentes biológicos, são: virulência, modo de transmissão, estabilidade, concentração e volu-
me a serem manipulados, origem do agente biológico, disponibilidade de medida profilática
e tratamentos eficazes, dose necessária à infecção, tipo de ensaio a ser realizado e até as carac-
terísticas gerais do próprio manipulador, como estado de saúde, EPIs utilizados, experiência e
treinamentos realizados. Portanto, devemos considerar que alguns desses aspectos podem
variar em um determinado momento. Isso quer dizer que, em um determinado ensaio com
um agente biológico de classe 3, a manipulação pode ser possível no NB2. Por outro lado, em
outra situação, a manipulação do mesmo agente, mas para um ensaio que requeira trabalhar
com um volume ou concentração maior, seja necessário o NB3. No caso do Mycobacterium
tuberculosis, que é classificado como classe de risco 3, o exame bacterioscópico pode até ser
realizado em uma área NB2, enquanto para o cultivo bacteriano é necessário o NB3.

68 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


É importante ressaltar que, no caso da realização de um experimento que envolva mais
de um agente biológico, o nível de biossegurança deve estar em conformidade com a bios-
segurança do organismo de maior classe de risco.

6.4.1. NOÇÕES GERAIS SOBRE AS EXIGÊNCIAS


DE CADA NÍVEL DE BIOSSEGURANÇA
Toda a área em que haja a possível presença de algum agente biológico, independen-
temente da classe de risco, deve ser identificada no local de acesso, conforme a Figura 6.1.

RISCO
BIOLÓGICO

Figura 6.1. Modelo de identificação de uma área com possível presença de agente
biológico.

Para cada NB, são considerados os seguintes níveis de contenção:


„„ Contenção Primária: proteção da equipe e do ambiente de trabalho com atenção à
conduta de uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e equipamentos de
proteção coletiva (EPC).
„„ Contenção Secundária: proteção do meio ambiente externo ao local onde são ma-
nuseados os agentes biológicos incluindo a conduta e as instalações físicas.

Segue abaixo o resumo dos principais aspectos a serem contemplados em cada NB. Infor-
mações sobre o tratamento necessário para cada NB encontram-se descritos no item 6.6.3.

NÍVEL DE BIOSSEGURANÇA 1 (NB1)


Esse nível de contenção laboratorial se aplica aos laboratórios de ensino básico e de
pesquisa onde são manipulados os microrganismos pertencentes à classe de risco 1, com
menor grau de risco para o trabalhador e para o meio ambiente ou OGMs cujo o organismo
receptor ou parental seja da classe de risco 1.
A área destinada à NB1 não necessita ser totalmente separada das outras dependências
do laboratório. O trabalho, em geral, é conduzido sobre a bancada. Os trabalhadores devem
receber treinamento específico que inclua os procedimentos realizados no laboratório, su-
pervisionados por profissional com treinamento em Microbiologia ou ciência correlata.
É previsto que no NB1 haja utilização de EPIs adequados que protejam de aerossóis e
que visem evitar derramamentos. Equipamentos de contenção específicos não são necessá-
rios. Além disso, cuidados como descontaminação diária da bancada de trabalho, controle
rigoroso da presença de insetos/roedores e destinação adequada dos resíduos gerados são

6 – Resíduos Infectantes – Grupo A 69


exigências de uma área NB1. A área de manipulação não necessita de uma estrutura física
específica, separada das demais dependências. Contudo, é necessário apenas um planeja-
mento espacial e funcional adequados à adoção das Boas Práticas Laboratoriais.
Nessas áreas, o trabalho é conduzido, em geral, em bancada e equipamentos de conten-
ção específica também não são exigidos. No entanto, mesmo não havendo necessidade de
isolamento das demais áreas, o laboratório deve conter porta, janelas lacradas, pia para lava-
gem das mãos; bancadas com superfície lisa que facilitem a higienização, mobiliário confec-
cionado com materiais resistentes à desinfetantes, ácidos, solventes orgânicos. Câmara de
proteção biológica (classe I) é necessária ao manuseio de materiais com agentes biológicos,
como culturas primárias, estoques e amostras para diagnóstico.

NÍVEL DE BIOSSEGURANÇA 2 (NB2)


Esse nível de contenção é aplicável às áreas onde são manipulados microrganismos
ou OGMs cujos organismos receptor ou parental sejam pertencentes à classe de risco 2,
como laboratórios clínicos, laboratórios de pesquisa ou hospitalares, de nível primário
de diagnóstico. Os quesitos básicos necessários a essas áreas implicam, além da adoção
das boas práticas, o uso de barreiras físicas primárias (cabine de segurança biológica e
equipamentos de proteção individual) e secundárias que contemplem uma organização
estrutural e laboratorial.
A área destinada a NB2 deve ter acesso limitado, portanto deve estar localizada sepa-
radamente da área pública. A estrutura prevê portas trancadas, local para paramentação,
pia para lavagem das mãos, superfícies de trabalho de fácil manutenção, bancos imper-
meáveis, mobiliário resistente a produtos adequados de limpeza, iluminação adequada
e janelas lacradas. Além disso, há a necessidade da presença de equipamentos como la-
va-olhos e cabine de segurança (classe II). Idealmente, a área deve possuir o sistema de
descontaminação. No entanto, na impossibilidade, o autoclave deve estar localizado bem
próximo à área e apenas o material devidamente acondicionado em embalagens lacra-
das pode sair da área para descontaminação imediata. Todo trabalhador dessa área deve
receber treinamentos técnicos específicos e periódicos sob a supervisão de um profissio-
nal com conhecimento das normas de Biossegurança e do(s) patógeno(s) específico(s) a
ser(em) manipulado(s) nesta área.

NÍVEL DE BIOSSEGURANÇA 3 (NB3)


Esse nível de contenção é aplicável aos locais onde forem desenvolvidos trabalhos com
agentes infecciosos ou OGMs resultantes de agentes infecciosos classe de risco 3, portanto,
com potencial de causar doenças graves, potencialmente letais e/ou com fácil transmissibi-
lidade, como por exemplo agentes transmissíveis por aerossol. A área destinada a NB3 deve
ser totalmente independente, garantindo a inacessibilidade de pessoas não autorizadas à
entrada. A presença de barreiras físicas, autoclave de porta-dupla, cabine de segurança bio-
lógica classe III, sistema de entrada e exaustão de ar controlado por filtros, sistema de áudio
e vídeo que possibilite o contato com o ambiente externo e uma área destinada à paramen-
tação dos trabalhadores são necessidades específicas ao NB3. Além disso, todos os procedi-
mentos previstos para uma área NB2 devem ser também atendidos. EPIs específicos, como
vestimenta protetora completa e máscara facial contendo respirador, devem ser utilizadas
no NB3. Todos os resíduos gerados nessa área deverão ser autoclavados ainda no interior da
instalação e o efluente originário dessas instalações deverá ser tratado em caixas de con-
tenção, antes de ser liberado no sistema de esgotamento sanitário. Todos os procedimentos
que envolverem a manipulação de agentes infecciosos em área NB3 devem ser realizados
em cabines de segurança biológica.

70 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


A equipe profissional autorizada a circular nesta área deve receber treinamento es-
pecífico periódico, supervisionado por profissional experiente e capacitado na manipu-
lação desse(s) agente(s), que inclua além dos aspectos de biossegurança no manejo do
agente biológico, normas para a utilização da área e medidas a serem tomadas em caso
de emergência.

NÍVEL DE BIOSSEGURANÇA 4 (NB4)


A contenção NB4 é aplicável aos locais onde forem desenvolvidos trabalhos com agentes
infecciosos de classe 4 ou que envolvam OGMs resultantes de organismo receptor ou parental
classificado como classe de risco 4 ou sempre que envolver organismo receptor, parental ou do-
ador com potencial patogênico desconhecido. O laboratório de nível de Biossegurança 4, ou de
contenção máxima, é indicado para o trabalho que envolva agentes de risco elevado de trans-
missão por aerossóis, exóticos e perigosos com alto risco de contaminação por agentes, poten-
cialmente, fatais. Da mesma forma do preconizado para as áreas NB3, todos os resíduos gerados
nas instalações NB4, bem como os seus efluentes, deverão ser descontaminados previamente.
Os resíduos deverão ser autoclavados em um autoclave de dupla porta e os efluentes só deve-
rão ser escoados para o sistema de esgotamento sanitário, após passarem por um processo de
descontaminação.
Técnicos especializados e treinados em procedimentos de Biossegurança que estejam
sob o controle direto das autoridades sanitárias podem acessar e trabalhar em uma área
NB4. Além disso, dada a grande complexidade do trabalho, a equipe do laboratório deve
ter um treinamento específico e completo direcionado para a manipulação de agentes in-
fecciosos extremamente perigosos. É necessária a elaboração de um manual de trabalho
pormenorizado que deve ser testado previamente por meio de exercícios de treinamen-
to. Os trabalhadores devem ser supervisionados por profissionais altamente competentes,
treinados e com vasta experiência no manuseio dos agentes de classe de risco 4, além do
conhecimento dos procedimentos de segurança específicos.
As manipulações com agentes de classe de risco 4, conduzidas no laboratório, devem ser
realizadas em cabine de segurança biológica Classe III, ou cabines Classes I ou II, nesse caso,
usadas em associação com roupas de proteção pessoal com pressão positiva, ventiladas por
sistema de suporte de vida.

6.5. MATERIAIS PERFUROCORTANTES


É considerado perfurocortante qualquer material, objeto ou instrumento que contenha
cantos, bordas, pontos ou protuberâncias rígidas e agudas capazes de cortar ou perfurar o
saco plástico branco, destinado ao descarte de resíduos infectantes.
Os materiais perfurocortantes são classificados como resíduos do grupo E, mas a sua
destinação deve também estar de acordo com a classe de resíduo potencialmente presente.
Desta forma, o descarte de materiais perfurocortantes, com suspeita de conter contaminan-
tes infectantes, deve atender, além dos cuidados inerentes ao fato de serem perfurocortan-
tes, os cuidados com materiais infectantes da classe específica.
Vale lembrar que o grupo E é o principal responsável por acidentes de trabalho en-
volvendo profissionais da área de saúde. O descarte seguro dos materiais perfurocortan-
tes infectantes deve ser feito em recipientes adequados, resistentes, padronizados na cor
amarela, contendo o símbolo de material infectante, podendo ser de material plástico ou
de papelão (Figura 6.2). O descarte inadequado de material perfurocortante, bem como o
transporte fora de um recipiente seguro e o desrespeito ao limite da caixa de descarte, são
exemplos de inconformidades muito comuns entre os acidentes com esse tipo de resíduo.

6 – Resíduos Infectantes – Grupo A 71


Figura 6.2. Recipientes para descarte de materiais infectantes perfurocortantes .

A lista de materiais perfurocortantes, que devem ser descartados em um recipiente especí-


fico, é grande, alguns exemplos de materiais com essas características, comuns às instituições
de serviço de saúde são: lâminas e lamínulas; agulhas; seringas; ampolas e frascos de vidro;
lâminas de bisturi; pipetas Pasteur; tubos de vidro; espátulas; pipetas sorológicas; ponteiras;
microplacas; tubos com protuberâncias (microtubos), entre outros. Entretanto, é importante
que todo profissional que trabalhe em alguma área geradora de resíduo infectante avalie o
material a ser descartado, quanto ao potencial de perfurar o saco branco destinado ao descar-
te de resíduos sólidos infectantes, independente de ele fazer parte de qualquer lista. Havendo
a possibilidade de ruptura, o material deve ser descartado nas caixas homologadas para esse
fim, disponíveis no mercado em diferentes tamanhos (Capítulo 3).
Vale ressaltar que o descarte de materiais perfurocortantes, contendo resíduos quími-
cos, deve ser realizado na caixa destinada a resíduos perfurocortantes tóxicos, essas caixas
são de cor laranja e apresentam a simbologia utilizada na identificação de resíduos quími-
cos, conforme descrito nos Capítulos 3 e 8.
Os resíduos perfurocortantes, assim como os demais resíduos infectantes, também po-
dem conter substâncias de diferentes grupos como químico e radioativo. O gerenciamento
adequado em cada um desses casos encontra-se descrito no item 6.6.5.

6.6. PROCEDIMENTOS PARA O DESCARTE


A gestão adequada de resíduos infectantes envolve diferentes etapas que se estão des-
critas abaixo e sumarizadas no Fluxograma I.

6.6.1. SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO


Os resíduos infectantes devem ser segregados dos demais grupos de resíduos no ato
da geração, respeitando as características físicas, químicas, biológicas, a compatibilidade do
material bem como os riscos envolvidos. Para essa classe de resíduo, há embalagens apro-
priadas que devem respeitar as especificações determinadas na NBR 7.500 da ABNT.
Os resíduos infectantes sólidos devem ser acondicionados em sacos ou recipientes que
evitem vazamento e resistam à ruptura e punctura (Figura 6.3). Desse modo, os materiais des-
tinados ao acondicionamento devem atender as especificações descritas na NBR 9.191/2000

72 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


da ABNT. O saco plástico destinado ao acondicionamento de resíduos sólidos do grupo A deve
ser de cor branca leitosa, identificado com a simbologia de infectante e fechado com o au-
xílio de um lacre de Nylon. Os sacos destinados aos resíduos infectantes jamais deverão ser
fechados a partir da utilização das suas extremidades para a realização de um nó. Além deste,
há caixas de papelão homologadas ou plásticas destinadas ao descarte de material perfu-
rocortante. Os resíduos líquidos devem ser acondicionados em recipientes resistentes, com
tampas rosqueadas e de material compatível com o liquido a ser descartado.

Figura 6.3. Saco plástico destinado ao acondicionamento de resíduos sólidos do grupo A.

Os sacos plásticos brancos devem ser mantidos em recipientes laváveis, resistentes a va-
zamento, com cantos arredondados, tampa com sistema de abertura não manual, contendo
a simbologia de infectantes. Tanto os sacos como as caixas (papelão ou plásticas) devem ser
lacrados, adequadamente, ao atingirem a capacidade máxima de 2/3. Os sacos ou caixas
contendo resíduos infectantes nunca poderão ser esvaziados ou reaproveitados para outra
finalidade e devem ser retirados das áreas geradoras, pelo menos, uma vez a cada 24 horas,
conforme a orientação da RDC 222/2018. Em função disso, recomenda-se que o tamanho do
saco e a lixeira sejam adequados ao volume gerado na unidade, diariamente.

6.6.2. TRATAMENTO NA UNIDADE GERADORA


Resíduos do grupo A que necessitam de descontaminação na unidade geradora (sub-
grupos A1, A2 e A5) poderão ser submetidos ao método físico ou químico. Para isso, os re-
síduos devem ser acondicionados inicialmente em recipientes compatíveis ao método de
descontaminação, sacos, caixas ou frascos resistentes ao calor ou material equivalente com-
patível ao agente químico descontaminante.
A descontaminação física é realizada por meio da autoclavagem a 121 °C por 30 a 60 mi-
nutos, em equipamento compatível com Nível III de inativação microbiana (Inativação de bac-
térias vegetativas, fungos, vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias com redução
igual ou maior que 6Log10, e inativação de esporos do B. Stearothermophilus ou de esporos
do B. subtilis com redução igual ou maior que 4Log10). Para a descontaminação química, há
diferentes compostos que podem ser utilizados. No entanto, a escolha deve atender especifica-
mente a forma e classe do agente biológico (Tabela 6.1). Tanto o processo de descontaminação
física, como os de descontaminação química necessitam de controle e validação periódicos.
Sempre que possível, a autoclavagem deve ser o método de escolha, visto que o proces-
so é mais eficaz, não gera resíduo químico e a sua validação é mais simples. Na impossibilida-
de da realização do tratamento físico, o tratamento químico deve ser adotado, observando
a Portaria Anvisa RDC N° 31/2011. Um lembrete muito importante é que o material tratado
quimicamente nunca deverá ser submetido à autoclavação.

6 – Resíduos Infectantes – Grupo A 73


Tabela 6.1. Tipos de descontaminação química para diferentes agentes biológicos
Bactérias Fungos Vírus
Vegetativa Esporo
2% 2% 2% 2%
Glutaraldeído
30 mim 3h 30 mim 30 mim
8% (sol. alcoólica)
4% (v/v) 4% (v/v) 4% (v/v)
Formaldeído 10% (sol. Aquosa)
30 min 30 min 30 min
18 h
Conforme Conforme
Fenóis
orientações do NR orientações do NR
sintéticos
fabricante fabricante
1% 1% 1% 1%
% de cloro
(10.000 ppm) (10.000 ppm) (10.000 ppm) (10.000 ppm)
ativo
10 min 30 min 10 min 10 min
Compostos Conforme
quaternários orientações do NR NR NR
de amônio fabricante
Formaldeído 0,3 g/m UR 0,3 g/m UR 0,3 g/m UR 0,3 g/m UR
em estado de 80% de 80% de 80% de 80%
gasoso 4h 4h 4h 4h
Gás de
10 mg/mL 10 mg/mL 10 mg/mL 10 mg/mL
dióxido de
2h 2h 2h 2h
carbono
NR: Não Recomendável; UR: Umidade Relativa.
Adaptado de: Guia de Biossegurança Instituto Butantan.

6.6.3. MATERIAL COM PRESENÇA OU


SUSPEITA DE AGENTES BIOLÓGICOS
O conhecimento de quais resíduos do grupo infectante são gerados pela instituição
é de suma importância ao estabelecimento de procedimentos seguros para que a des-
tinação final seja adequada. Por isso, é extremamente recomendável que as instituições
façam um levantamento dos resíduos gerados para, a partir disso, estabelecer procedi-
mentos seguros.
Todo o material com suspeita ou presença de agentes biológicos deve ser tratado na
unidade geradora, antes da disposição para a destinação final.
Para a escolha do tipo de tratamento (físico ou químico) devem ser considerados a classe
de risco do agente biológico presente, o nível de biossegurança (NB), o estado físico (sólido/
líquido) e o tamanho ou volume do material a ser descontaminado (Tabela 6.2).
O tratamento escolhido deve ser eficaz e único. É importante salientar que materiais
que tenham sido submetidos à descontaminação química não podem ser descontamina-
dos por autoclavação, devido ao risco de liberação de gases tóxicos. Além disso, sempre
que possível, a descontaminação física deve ser priorizada, visto que além de ser mais
facilmente validada, é um procedimento mais limpo já que não gera resíduo químico. Na
Tabela 6.2, constam alguns exemplos de materiais e respectivos tratamentos, consideran-
do o nível de biossegurança.

74 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Tabela 6.2. Procedimentos para o descarte de resíduo infectante com suspeita ou presença
de agentes biológicos
Resíduo Tratamento na
Acondicionamento/
com suspeita ou presença de Unidade Geradora
destinação
agentes biológicos Nível de Biossegurança
NB-1 e NB-2: tratamento
Resíduos originários de laboratório
químico ou físico Saco branco
de manipulação genética, filtros de
NB-3 e NB-4: tratamento Resíduo infectante
cabines, módulos e áreas
físico
OGM
NB-1 e NB-2: tratamento
Rede de esgoto#
Resíduos originários de laboratório químico ou físico
de manipulação Genética NB-3 e NB-4: tratamento Tratamento de
físico efluentes
Meios de cultura (sólido e semissólido); NB-1 e NB-2: tratamento
Materiais contendo sangue ou outros químico ou físico
fluidos corpóreos; NB-3 e NB-4: tratamento
Recipientes; materiais de laboratório físico
NB-1: Não necessita de Saco branco
Sólido
tratamento Resíduo infectante
NB-2: tratamento químico
EPIs
ou físico
NB-3 e NB-4: tratamento
físico
NB-1 e NB-2: tratamento
Rede de esgoto#
químico ou físico
Meios de cultura e soluções
NB-3 e NB-4: tratamento Tratamento de
físico efluentes
Líquido
NB-1 e NB-2: tratamento
Contendo sangue ou outros fluidos Rede de esgoto#
químico ou físico
corpóreos
NB-3 e NB-4: tratamento Tratamento de
(Humano ou animal)
físico efluentes
Filtros de ar de áreas, cabines e módu- NB-1: não necessita de
Resíduo infectante
los contaminados tratamento
Outros
NB-2, NB-3 e NB-4: trata- Saco branco
Membranas filtrantes
mento químico ou físico Resíduo infectante
#
Apenas soluções com pH na faixa de 6,5 a 7,5. Fora desta faixa, o pH da solução deverá ser
ajustado antes do descarte. Quando houver presença de antibiótico, seguir a destinação
conforme Tabela 6.4.

6.6.4. RESÍDUOS COM AUSÊNCIA DE AGENTES BIOLÓGICOS


Os resíduos característicos de serviço de saúde que não apresentem agentes biológicos,
exceto algumas exceções, não necessitam ser descontaminados na unidade geradora, antes
da disposição final, conforme exemplificado na Tabela 6.3. No entanto, resíduos originários de
área destinada à manipulação de OGM (mesmo na ausência do microrganismo), bem como
sangue, outros fluidos corpóreos e culturas primárias de células de origem humana são exem-
plos de resíduos que, mesmo na ausência de agentes biológicos, devem ser tratados previa-
mente, antes da disposição final devido ao potencial risco de contaminação (Tabela 6.3).

6 – Resíduos Infectantes – Grupo A 75


Os resíduos com presença de antibiótico devem receber atenção especial, mesmo na ausência
de algum agente biológico. Os antibióticos podem ser classificados como termolábeis ou termoes-
táveis. Os termolábeis são neutralizados pelo calor e, após isso, podem ser descartados diretamente
na rede de esgoto, caso estejam em uma faixa de pH entre 6,5 a 7,5 e não contenham nenhum outro
componente prejudicial ao meio ambiente, enquanto que para os termoestáveis, por não haver neu-
tralização, devem ser obrigatoriamente destinados como resíduo químico (Tabela 6.4).

Tabela 6.3. Procedimentos para o descarte de resíduos de saúde com ausência de


microrganismos
Tratamento na Acondiciona-
Resíduo
Unidade geradora mento/
Ausência de microrganismo
Nível de biossegurança destinação
NB-1 e NB-2: tratamento
Saco Branco
Resíduos sólidos originários de labora- químico ou físico
Resíduo
tório de manipulação genética NB-3 e NB-4: tratamento Infectante
físico
OGM
NB-1 e NB-2: tratamento
Rede de Esgoto#
Resíduos líquidos originários de labora- químico ou físico
tório de manipulação genética NB-3 e NB-4: tratamento Tratamento de
físico efluentes
Meios de cultura
(sólido e semissólido); Saco Branco
Não necessita de
Sólido Materiais de Laboratório; Recipientes; EPIs Resíduo
tratamento
Materiais Perfurocortantes Infectante
Caixa Perfurocortante (Resíduo Infectante)
Meios de cultura e soluções, sem anti-
Não necessita de
biótico ou qualquer produto químico
tratamento
perigoso
Meios de cultura e soluções contendo
Tratamento físico
antibiótico*
Culturas de células de linhagem ou
Líquido cultura primária de origem ANIMAL Tratamento químico ou Rede de Esgoto#
Contendo sangue e outros fluidos físico (opcional)
corpóreos de origem ANIMAL
Contendo sangue ou outros fluidos
corpóreos de origem HUMANA Tratamento químico ou
Culturas primária de células origem físico
HUMANA
Frascos de soros e vacinas
Não necessita de
Bolsas transfusionais contendo sangue tratamento Saco Branco
Outros ou hemocomponentes Resíduo
Resíduos de fabricação de produtos Tratamento químico ou Infectante
biológicos físico
# Apenas soluções com pH na faixa de 6,5 a 7,5. Fora desta faixa, o pH da solução deverá ser
ajustado antes do descarte. Quando houver presença de antibiótico, seguir a destinação
conforme Tabela 6.4.

76 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Tabela 6.4. Exemplos da destinação de resíduos contendo antibiótico

Sensibilidade Antibiótico Tratamento Destinação


Anfotericina B, Penicilina,
Termolábil Estreptomicina, Gentamicina, Físico Rede de esgoto#
Ampicilina, Neomicina
Termoestável Cloranfenicol, Canamicina Não se aplica Resíduo químico
# Apenas soluções com pH na faixa de 6,5 a 7,5. Fora desta faixa, o pH da solução deverá ser
ajustado antes do descarte.

6.6.5. MATERIAL CONTENDO RESÍDUOS DE DIFERENTES GRUPOS


Os resíduos infectantes (grupo A) ou perfurocortantes (grupo E) podem conter resíduos
de outros grupos, como químico e/ou radioativo. Nesse caso, o descarte deve sempre prio-
rizar o resíduo de maior risco presente no material, conforme exemplificado na Tabela 6.5.

Tabela 6.5. Procedimentos para o descarte de resíduos contendo resíduos de diferentes classes

Classes de Resíduos Destinar como



Químico não Infectante
Radioativo (T ½ curta)**
perigoso
Radioativo (T ½ longa)*** Radioativo

Infectante Químico
Químico perigoso* Radioativo (T ½ curta)**
Radioativo (T ½ longa)*** Radioativo
Radioativo (T ½ curta)** Infectante
-
Radioativo (T ½ longa)*** Radioativo
* É considerado reagente químico perigoso qualquer componente que apresente caracterís-
tica: inflamável, corrosiva, tóxica ou explosiva, incluindo alguns medicamentos.
** Rejeitos de T1/2 curta (< 100 dias) devem ser armazenados, até o decaimento, em reci-
piente e blindagem adequados.
*** Rejeitos de vida T1/2 longa (> 100 dias), quando necessário, devem ser descontaminados
por tratamento químico.

6.6.6. IDENTIFICAÇÃO
O gerenciamento adequado dos resíduos prevê garantir a rastreabilidade do material ge-
rado ao longo de toda cadeia. Para isso, é de extrema importância que todo o resíduo retira-
do da unidade geradora possa ser rastreado até a disposição final, sendo fundamental que
todo saco branco contendo resíduo infectante seja identificado, preferencialmente, por uma
etiqueta padrão definida pela instituição. A identificação deve conter todas as informações
adequadas ao tipo de resíduo gerado que possibilite, no caso de qualquer intercorrência, iden-
tificar o local responsável pelo descarte, bem como o tipo de agente biológico presente. Para
isso, a etiqueta adesiva padronizada, após o preenchimento, deve ser colada em um local de
fácil visualização. A Figura 6.4 apresenta um modelo de etiqueta, com informações que po-
dem garantir a rastreabilidade no caso de quaisquer incidentes. Vale ressaltar que nenhuma
embalagem contendo resíduo infectante deve sair da instituição sem a devida identificação.

6 – Resíduos Infectantes – Grupo A 77


Resíduos infectantes
Setor gerador

Responsável setor

Responsável descarte

Data de saída

Produto (quando aplicável)

N° lote (quando aplicável)

Figura 6.4. Modelo de etiqueta para identificação de embalagens contendo resíduos do


grupo A (infectante).

6.6.7. TRANSPORTE INTERNO


Os resíduos infectantes devem ser retirados da unidade geradora diariamente. A reti-
rada dos resíduos e o transporte, até um abrigo temporário na própria instituição, deverão
ser realizados por funcionários devidamente paramentados e previamente capacitados.
Considera-se abrigo temporário uma área externa à unidade geradora na qual os resíduos
infectantes ficarão armazenados, de forma segura, até a retirada pela empresa especializada
do município em que a instituição está localizada.
Atendendo as normas técnicas, o abrigo deve estar localizado em uma área isolada, segura
e de fácil acesso à retirada. Esta área deve ser passível de higienização periódica, deve conter
contêineres brancos, do tipo basculante, identificados com a simbologia infectante para arma-
zenamento dos sacos. As embalagens contendo resíduos infectantes tanto na unidade geradora
como no abrigo temporário, nunca devem ser depositadas diretamente no chão. Desse modo,
é importante que a quantidade de dispositivos para o armazenamento esteja de acordo com a
geração diária de resíduo infectante da instituição. As informações técnicas para a construção de
um abrigo temporário para resíduos do grupo A encontram-se detalhadas no Capítulo 12.

6.6.8. TRANSPORTE EXTERNO E DESTINAÇÃO FINAL


Devidos aos riscos, à saúde e ao meio ambiente, existentes no transporte de resíduos infectan-
tes, para toda a cadeia que envolve desde a retirada do resíduo até a disposição final há normativas
regulamentadoras. A coleta e o percurso devem ser realizados por empresas especializadas no trans-
porte dos resíduos infectantes. Para isso, entre os inúmeros cuidados necessários ao transporte está
a necessidade de que a retirada do material seja realizada por funcionários devidamente treinados
e paramentados adequadamente. Todo o material transportado deve ser encaminhado para uma
unidade de tratamento que inative a contaminação biológica do Município.
Dessa maneira, para que a coleta seja realizada, há a necessidade da emissão do Manifesto
de Transporte de Resíduos (MTR) (Portaria Nº 280, de 29 de junho de 2020 do Ministério do
Meio Ambiente). O MTR é um documento numerado, autodeclaratório, que identifica o expe-
didor, a classe e a quantidade dos resíduos transportados. Além disso, deve constar também o
tipo de acondicionamento (que deve atender a regulamentação em vigor) e as identificações
do transportador e da instalação de tratamento à qual o resíduo será destinado. Esse docu-
mento é expedido pelo Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos
(SINIR), maiores informações poderão ser adquiridas no Capítulo 4.

78 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Embora a ficha de Emergência contendo informações de segurança e orientações sobre
medidas de proteção, no caso de algum acidente com o resíduo transportado, tenha deixa-
do de ser obrigatória é aconselhável que, para a segurança dos envolvidos no transporte e
meio ambiente, essa prática seja mantida
Vale ressaltar que há uma vasta legislação que preconiza o descarte dos resíduos in-
fectantes e, com isso, pode haver divergências entre as exigências previstas pelos órgãos
federal, estadual e municipal. Nesses casos, a fim de se evitar inconformidades e possíveis
autuações, deve-se atender sempre a legislação mais restritiva. Assim, é fundamental con-
sultar as leis dos diferentes órgãos, antes do estabelecimento das regras internas para o
gerenciamento dos resíduos infectantes em um determinado município.
A Figura 6.5 apresenta o fluxograma para a destinação de resíduos infectantes, mas não
contempla as carcaças, cujos procedimentos encontram-se descritos no Capítulo 7.

Resíduo Grupo A

Segregação e acondicionamento

Ausência de microrganismos Presença de microrganismos (OGM ou não)

Líquido Sólido Sólido Líquido

Fluidos Perfuro- Não Perfuro- Não Tratamento


corpóreos Outros Perfuro- Perfuro- na unidade
-cortante -cortante
humanos -cortante -cortante geradora

Tratamento Caixa Caixa NBS NBS


na unidade perfurocortante perfurocortante 1e2 3e4
geradora amarela amarela

Tratamento
Rede de esgoto* Tratamento na do
unidade geradora efluente

Saco branco com


etiqueta de Rede de esgoto*
identificação

Transporte externo

Unidade de tratamento
* Exceto líquidos contendo
antibióticos termoestáveis ou
Aterro sanitário químicos perigosos. Ambas as
exceções devem ser
descartadas como
Certificado de destinação Resíduo Químico.

Figura 6.5. Fluxograma contendo a destinação de resíduos infectantes (Grupo A), exceto carcaças.

6 – Resíduos Infectantes – Grupo A 79


REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 7500/2021. Identificação para o transpor-
te terrestre, manuseio, movimentação e armazenamento de produto.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 9191/2008. Sacos plásticos para acondi-
cionamento de lixo – Requisitos e Métodos de Ensaio.
BOTOSSO, V.F.; TREZENA A.G.; UTESCHER, C.L.A.; AZEVEDO, I.L.M.J; TENÓRIO, E.C.N.; SABBAGA,
M.C.Q.B.E.; SANTÁNNA, S.S.; ELIAS, W.P.E. Guia de Biossegurança Instituto Butantan, 3 ed. 64 p. 2014.
BRASIL. Ministério da Ciência Tecnologia Informação e Comunicação. Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio). Resolução Nº 18, de 23 de março de 2018. Republica a Resolução Normativa
N° 2, de 27 de novembro de 2006, que “Dispõe sobre a classificação de riscos de Organismos
Geneticamente Modificados (OGM) e os níveis de biossegurança a serem aplicados nas atividades
e projetos com OGM e seus derivados em contenção”.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC Nº 31. Regulamenta a indicação de uso de produtos saneantes na categoria
“Esterilizante”, para aplicação sob a forma de imersão, e a indicação de uso de produtos saneantes
atualmente categorizados como “Desinfetante Hospitalar para Artigos Semicríticos”. Publicado no
DOU em 04/07/2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada - RDC Nº 222. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços
de Saúde e dá outras providências. Publicado no DOU em 29/03/2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Classificação de risco dos agentes biológicos. 3 ed. Brasília, 2017. Disponível
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/classificacao_risco_agentes_biologicos_3ed.pdf.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 2.349, de 14 de setembro de 2017. Aprova a Classificação de
Risco dos Agentes Biológicos elaborada em 2017, pela Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS),
do Ministério da Saúde.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Resolução
CONAMA 358. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e
dá outras providências. Publicado no DOU em 04 de maio de 2005.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria N° 280, de 29 de junho de 2020. Institui o Manifesto de
Transporte de Resíduos (MTR nacional).
HIRATA, M.H.; MANCINI FILHO, J.; HIRATA, R.D.C. Manual de Biossegurança. 3 ed. Barueri: Manole, 2017.
SPADAFORA-FERREIRA M.; LOPES, A.P.; RUIZ, R.C.; ANDRADE, A.S.; JESUS, V.E.; MATTARAIA, V.G.M.;
SANTOS, N.M. Guia Prático de Descarte de Resíduos do Instituto Butantan. 48 p. 2014. ID: lil-744974.
TEIXEIRA, P.; VALLE, S. Biossegurança Uma abordagem Multidisciplinar. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz, 2010. DOI: https://doi.org/10.7476/9788575413067.

80 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


7
Resíduos de Animais:
Carcaças e Peças Anatômicas –
Subgrupos A2 e A4

Giuseppe Puorto
Mônica Spadafora Ferreira
Rita de Cássia Ruiz
Vânia Gomes de Moura Mattaraia
7 Resíduos de Animais:
Carcaças e Peças Anatômicas –
Subgrupos A2 e A4

Este capítulo tem como objetivo abordar características específicas para o gerenciamen-
to adequado dos resíduos oriundos da manipulação de animais utilizados em instituições
de pesquisa, ensino e produção de imunobiológicos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera como carcaça de animal
todo produto de retalhação e cadáver, como o corpo do animal após a morte (RDC 222
ANVISA, 2018, ou outra que venha a substituir). Para facilitar a compreensão, utilizaremos
neste capítulo a denominação carcaça para animais vertebrados e invertebrados mortos,
assim como suas peças ou fragmentos anatômicos.
As instituições de ensino e de pesquisa em saúde podem utilizar, em diferentes ativida-
des, várias espécies de animais, tanto de pequeno como de médio e grande porte. Animais
de pequeno porte, como roedores (ratos, camundongos, hamsters, cobaias), lagomorfos
(coelhos), artrópodes, anfíbios e serpentes são utilizados, por exemplo, como modelos de
experimentação in vivo, enquanto animais de outros portes como galináceos, caprinos, ovi-
nos e equídeos são exemplos de animais que podem ser utilizados na obtenção e produção
de imunobiológicos, soros hiperimunes, extração de hormônios, entre outros. Os suínos, por
serem modelos muito semelhantes aos humanos, são muito utilizados nas faculdades de
medicina, em estudos de novas técnicas cirúrgicas, no uso de dispositivos médicos ou nos
xenotransplantes. Por outro lado, macacos, por exemplo, são utilizados nos estudos para
validação de vacinas, porém, o seu uso é extremamente restrito.
Além do uso no ensino e pesquisa científica, há instituições em que os animais são man-
tidos para outros fins, como exposição pública, conservação, teste para validação de fárma-
cos ou na obtenção de matéria prima, para a utilização em técnicas de diagnóstico.
Embora exista uma tendência em restringir a utilização de animais, em algumas situa-
ções nas quais modelos alternativos não podem ser viáveis, ainda assim, há aplicações cuja
utilização de animais tornam-se fundamentais. Dessa forma, a disposição correta tanto dos
cadáveres como das carcaças deve atender à regulamentação definida pelos órgãos am-
bientais e sanitários, além da necessidade de considerar o porte do animal e o procedimen-
to ao qual ele foi submetido.

7.1. ASPECTOS GERAIS


Todas as Instituições que mantêm animais para pesquisa, ensino, validação de produ-
tos farmacêuticos, produção de imunobiológicos enquadram-se como instituições de ser-
viço de saúde e, portanto, são geradoras de resíduos de serviço de saúde (RSS). Devido à

82 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


complexidade e variabilidade de animais que podem ser utilizados nessas instituições, o ge-
renciamento dos resíduos de carcaças deve atender às características peculiares do animal e
dos procedimentos aos quais os animais possam ter sido submetidos, o que é fundamental
na classificação das carcaças.

7.2. CLASSIFICAÇÃO DAS CARCAÇAS


Considerando que os resíduos são classificados em função dos riscos potenciais ao
meio ambiente e à saúde, como também em função da sua natureza e origem (ABNT NBR
12808/1993, ou outra que a venha substituir), os animais ou seus fragmentos, utilizados em
instituições de serviço de saúde, são classificados como resíduos do grupo A (Resíduos in-
fectantes). Dada a variabilidade dos resíduos infectantes, conforme detalhado no Capítulo 2,
o grupo A foi subdividido nos subgrupos A1, A2, A3, A4 e A5. No entanto, as carcaças de
animais ou seus derivados podem ser classificadas como resíduos do subgrupo A2 ou do
subgrupo A4, dependendo da sua utilização.

7.2.1. SUBGRUPO A2
O Subgrupo A2 contempla carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos prove-
nientes de animais submetidos a processos de experimentação com inoculação de micror-
ganismos, bem como suas forrações. Os cadáveres de animais portadores ou suspeitos de
conter algum microrganismo de relevância epidemiológica e com risco de disseminação,
submetidos ou não a estudo anatomopatológico ou confirmação diagnóstica, também fa-
zem parte deste subgrupo (RDC Nº 222, de 28 de março de 2018 – Anvisa).

7.2.2. SUBGRUPO A4
O subgrupo A4 contempla diferentes resíduos do grupo infectante, conforme descrito
no Capítulo 2. No entanto, no que se refere aos animais, nesse subgrupo estão incluídos
cadáveres, carcaças, peças anatômicas, vísceras ou outros resíduos provenientes da mani-
pulação de animais cujo processo de experimentação não tenha incluído inoculação de mi-
crorganismos, ou seja, sem risco de infecção.

7.3. ANIMAIS GENETICAMENTE MODIFICADOS E OUTROS


Deve-se ressaltar que as pesquisas realizadas com animais geneticamente modifica-
dos (AnGM) devem seguir normativas referentes à biossegurança (Comissão Nacional de
Biossegurança – CTNBio) e ao controle de experimentação animal (Conselho Nacional de
Controle de Experimentação Animal – CONCEA).
Maiores detalhes sobre o descarte de AnGM ou sobre animais inoculados com OGM,
que depende das particularidades do microrganismo, devem ser tratados especificamen-
te na Comissão Interna de Biossegurança da própria instituição. Nessa instância, os poten-
ciais efeitos adversos do microrganismo ou dos seus derivados sobre o ambiente, a saúde

7 – Resíduos de Animais: Carcaças e Peças Anatômicas – Subgrupos A2 e A4 83


humana e animal devem ser considerados para cada caso específico (Resolução Nº 18, de 23
de março de 2018 – CTNBio).
No caso da utilização de animais na produção de radiofármacos, por exemplo, o uso é ainda
mais restritivo. Além da instituição geradora necessitar de licença especial para essa atividade,
as diretrizes da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) devem ser também atendidas.

7.4. PROCEDIMENTOS PARA O DESCARTE


Os procedimentos descritos a seguir referem-se ao descarte de carcaças ou de seus
derivados oriundos de animais utilizados em atividades de ensino, pesquisa ou produção
de imunobiológicos, classificados como subgrupo A2 ou A4. O descarte seguro, ambiental-
mente adequado, prevê as etapas descritas a seguir.

7.4.1. SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO


A segregação das carcaças deve respeitar, inicialmente, a espécie do animal. Órgãos
ou carcaças de pequenos roedores como: camundongos, ratos, cobaias e hamsters, bem
como de coelhos, macacos, serpentes, anfíbios, invertebrados, entre outros, devem ser
segregadas por espécie animal. O acondicionamento deve ser em embalagens distintas a
fim de facilitar o melhor controle dos resíduos gerados. Além disso, órgãos ou carcaças de-
vem ser separados de quaisquer outros resíduos infectantes, químicos ou comuns, ainda
no local da geração do resíduo. No caso de carcaças que apresentem protuberância per-
furocortante, como no caso das serpentes, recomendamos que estas sejam protegidas,
principalmente as peçonhentas, antes do acondicionamento, evitando assim, possíveis
acidentes durante a manipulação ou transporte. Para garantir a segurança, deve-se amar-
rar a boca do animal ou remover as suas presas (Figura 7.1).
Carcaças de animais de médio e grande porte, como suínos, caprinos e equinos, sa-
dios ou doentes, podem ser esquartejadas para o descarte, conforme critério do médico
veterinário. Nesse caso, todas as partes devem ser embaladas em sacos específicos para
resíduos infectantes, podendo ser enterradas ou destinadas à empresa de coleta de resí-
duos orgânicos ou de resíduos contaminados onde serão incineradas, conforme as leis
ambientais que ditam o destino dos materiais contaminados (Resolução Normativa Nº 42,
de 25 de julho de 2018 – CONCEA).
Os sacos plásticos utilizados para o acondicionamento das carcaças devem atender
às especificidades da ABNT – NBR 9191, sendo da cor branca leitosa, resistente, iden-
tificado pela simbologia de substância infectante. O acondicionamento deve ser feito
respeitando o limite máximo de 2/3 da capacidade do saco, que deverá ser fechado com
lacre de nylon.
Nos casos em que a necropsia seja realizada, é desejável que a segregação ocorra du-
rante esse procedimento. Na ausência de uma área própria para a necropsia ou a critério
do médico veterinário responsável, a segregação pode ser realizada em uma área isolada,
destinada ao enterro de animais que devem manter uma distância mínima de 150 metros de
qualquer fonte de água (EMBRAPA, 2019).

84 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Figura 7.1. Serpente peçonhenta, (A) com detalhe das presas inoculadoras e (B) com a boca
amarrada protegendo as presas.

7.4.1.1. ÓRGÃOS OU ANIMAIS ARMAZENADOS EM PRESERVANTES


QUÍMICOS
Para o descarte de órgãos, tecidos ou carcaças armazenadas em produtos químicos,
como álcool ou formol, deve-se:
„„ Separar o líquido dos frascos que contenham as peças;
„„ Armazenar o líquido em um recipiente compatível à classe do produto químico utili-
zado como preservante. Esse recipiente deverá ser destinado como resíduo do gru-
po B, conforme instruções apresentadas no Capítulo 8;
„„ Acondicionar as carcaças em sacos específicos para o descarte de resíduos infectantes;
„„ Destinar os frascos, após esvaziamento, também como resíduo químico.

É imprescindível que o saco destinado ao acondicionamento de carcaças apresente re-


sistência compatível com o peso do material acondicionado.

7 – Resíduos de Animais: Carcaças e Peças Anatômicas – Subgrupos A2 e A4 85


7.4.2. TRATAMENTO
Segundo o Art. 16 da Resolução CONAMA 358, os resíduos do Subgrupo A2, por conterem
ou apresentarem suspeitas de conter microrganismos, devem ser submetidos ao processo de
descontaminação ou tratamento para redução de carga microbiana compatível com nível III
de inativação, ainda na instituição geradora. Por outro lado, os resíduos do Subgrupo A4, por
não apresentarem nenhum risco de estarem infectados, não necessitam desse tratamento.
Em caso de haver necessidade de outra solução, por exemplo, em função do porte do ani-
mal, deve-se obter previamente a autorização dos órgãos ambiental e da saúde competentes.

7.4.3. IDENTIFICAÇÃO
Os sacos de resíduos infectantes, contendo carcaças ou seus derivados, depois de la-
crados, devem ser obrigatoriamente identificados com uma etiqueta adesiva resistente. A
etiqueta deverá conter as especificações necessárias ao tipo de material para que, em caso
de necessidade, a rastreabilidade do material esteja garantida (Figura 7.2 ). É imprescindível
que a etiqueta seja aderida em um local de fácil visualização.

Resíduos infectantes
carcaças de animais
Setor gerador

Responsável setor

Responsável descarte

Data de saída

Tipo de carcaça

Quantidade

Figura 7.2. Etiqueta para identificação do resíduo infectante de carcaça .

7.4.4. TRANSPORTE

7.4.4.1. TRANSPORTE INTERNO


Os sacos identificados, contendo as carcaças ou peças anatômicas, devem ser armazena-
dos temporariamente na área geradora, em freezers, câmaras frias ou em abrigos específicos
refrigerados, dentro da própria instituição. Todo transporte interno deverá ser realizado por
funcionário devidamente paramentado e capacitado para o transporte desse tipo de resíduo.
Sacos contendo carcaças não devem ser armazenados em contêineres destinados aos
resíduos infectantes A1 ou em qualquer outra área que não a qualificada para o recebimen-
to de carcaças.

86 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


7.4.4.2. TRANSPORTE EXTERNO
As carcaças ou os cadáveres de animais devem ser retirados da instituição em veículos
refrigerados e transportados por empresa especializada, autorizada pelo município em con-
formidade com as exigências legais da ANTT N° 5232/2016 do Ministério dos Transportes,
bem como do Ministério de Infraestrutura (MI).
A instituição geradora do resíduo deve emitir documento de controle do transporte de
resíduos, em conformidade com as exigências legais da Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT). O MTR é de utilizaçao obrigatória em todo o território nacional, para to-
dos os geradores de resíduos sujeitos à elaboração de Plano de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos, conforme disposto no art. 20 da Lei N° 12.305, de 2 de agosto de 2010, que instituiu
a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O resíduo deve ser encaminhado até a destinação
final, ambientalmente adequada, juntamente com o Manifesto de Transporte de Resíduos
(MTR) (Portaria Nº 280, de 29 de junho de 2020 do Ministério do Meio Ambiente, ou outra
que venha a substituir).
O MTR é um documento numerado, autodeclaratório, obrigatório, emitido pelo
Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (SINIR). SINIR con-
siste em um sistema de coleta, integração, sistematização e disponibilização de dados
de operacionalização e implantação dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos. O
MTR emitido exclusivamente pelo Gerador, deverá acompanhar o transporte do resíduo
até a destinação final ambientalmente adequada e é válido em todo o território nacional.
No entanto, deve-se observar as exigências legais para o município de geraçao e desti-
nação dos resíduos. Além desse documento, há uma Ficha de Emergência que contém as
informações de segurança do produto ou resíduo transportado, juntamente com as orien-
tações sobre as medidas de proteção e ações em caso de haver alguma emergência du-
rante o transporte. No entanto, em 2016 a Resolução N° 5.232 da ANTT (Agência Nacional
de Transportes Terrestres) retirou a obrigatoriedade dos veículos que transportam produ-
tos classificados como perigosos portarem essa ficha de emergência.
Outro documento que, embora importante, também não seja obrigatório, é a emissão
do laudo veterinário para o transporte de carcaça. A emissão desse documento garante
maior segurança a toda a cadeia envolvida no transporte até a destinação final do resíduo.

7.5. DESTINAÇÃO FINAL


As carcaças, peças anatômicas ou cadáveres acondicionados de forma refrigerada, que
são retirados pela empresa especializada, podem ser encaminhados para:
I. Aterro sanitário ou local devidamente licenciado para disposição final de resíduos
dos serviços de saúde onde serão incinerados;
II. Sepultamento em cemitério de animais.

As empresas responsáveis pela destinação final desse tipo de resíduo devem emi-
tir o CDF (Certificado de Destinação Final de Resíduos). Esse documento é emitido pelo
Destinador e atesta a tecnologia, ambientalmente adequada, aplicada ao tratamento e/ou
destinação final dos resíduos sólidos recebidos em suas respectivas quantidades, conforme
as informações contidas no MTR.
Em situações especiais de campo e com apreciação de um médico veterinário, as car-
caças podem ser enterradas e cobertas com terra, cal, incineradas ou submetidas a outro
destino, desde que aprovado pela autoridade veterinária do local. Em experimentos espe-
ciais e de alto nível de biossegurança, deve haver indicação dos procedimentos corretos de
descarte a serem seguidos. Resolução Normativa Nº 42, de 25 de julho de 2018 – CONCEA.

7 – Resíduos de Animais: Carcaças e Peças Anatômicas – Subgrupos A2 e A4 87


No caso do transporte de carcaças, que envolvam risco biológico, é recomendável con-
sultar a portaria Nº 2.349, de 14 de setembro de 2017, que define a Classificação de Risco dos
Agentes Biológicos, elaborada em 2010 pela Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS) do
Ministério da Saúde.

Segregação de carcaças conforme o porte do animal

Carcaças de pequeno porte


Carcaças de médio
(camundongos, ratos,
e grande porte
coelhos, serpentes)

Segregação de outros resíduos Segregação de outros resíduos


infectantes e/ou químicos infectantes e/ou químicos

Remoção ou proteção de partes


com potencial de perfuração.

Carcaças não Carcaças Carcaças Carcaças não


contaminadas contaminadas contaminadas contaminadas

Tratamento para inativação


da carga microbiana

Acondicionamento
em saco branco

Identificação com etiqueta


“Resíduo infectante de carcaças de animais”

Coleta e transporte interno


Acondicionamento em freezer ou câmara fria.

Documentos Coleta e transporte externo


para transporte por empresa especializada

Certificado de
Incineração Sepultamento
destinação

Figura 7.3. Fluxograma para descarte de Carcaças de Animais.

88 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Norma ABNT NBR Nº 10004/2004 – Resíduos
sólidos – Classificação. Segunda edição 31/05/2004, válida a partir de 30.11.2004.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Norma ABNT NBR Nº 12808/1993 – Resíduos
de serviços de saúde.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Norma ABNT NBR Nº 9191/2002 – Sacos plás-
ticos para acondicionamento de lixo – Requisitos e métodos de ensaio.
BRASIL. Ministério da Ciência Tecnologia Informação e Comunicação. Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (CONCEA). Resolução Normativa Nº 30, de 2 de fevereiro de 2016. Baixa a
Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou de Pesquisa
Científica – DBCA.
BRASIL. Ministério da Ciência Tecnologia Informação e Comunicação. Conselho Nacional de Controle
de Experimentação Animal (CONCEA). Resolução Normativa Nº 25, de 29 de setembro de 2015.
Baixa o Capítulo “Introdução Geral” do Guia Brasileiro de Produção, Manutenção ou Utilização
de Animais para Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica do Conselho Nacional de Controle e
Experimentação Animal – CONCEA.
BRASIL. Ministério da Ciência Tecnologia Informação e Comunicação. Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (CONCEA). Resolução Normativa Nº 42. Baixa o Capítulo “Equídeos manti-
dos em instalações de instituições de ensino ou pesquisa científica” do Guia Brasileiro de Produção,
Manutenção ou Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou Pesquisa Científica do Conselho
Nacional de Controle de Experimentação Animal. Publicado no DOU em 26 de julho de 2018.
BRASIL. Ministério da Ciência Tecnologia Informação e Comunicação. Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio). Resolução Nº 18, de 23 de março de 2018. Republica a Resolução Normativa
N° 2, de 27 de novembro de 2006, que “Dispõe sobre a classificação de riscos de Organismos
Geneticamente Modificados (OGM) e os níveis de biossegurança a serem aplicados nas atividades
e projetos com OGM e seus derivados em contenção”.
BRASIL. Ministério da Ciência Tecnologia Informação e Comunicação. Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio). Resolução Nº 26, de 25 de maio de 2020. Dispõe sobre as normas de trans-
porte de Organismos Geneticamente Modificados – OGM e seus derivados.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada - RDC Nº 222. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços
de Saúde e dá outras providências. Publicado no DOU em 29/03/2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 2.349, de 14 de setembro de 2017. Aprova a Classificação de
Risco dos Agentes Biológicos elaborada em 2017, pela Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS),
do Ministério da Saúde.
BRASIL. Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Instrução Normativa MAPA Nº 22.
Define as normas para habilitação de médico veterinário privado para emissão de Guia de Trânsito
Animal –(GTA) e aprova na forma dos Anexos de I a V da presente Instrução Normativa, os modelos
de formulários nela dispostos. Publicado no DOU em 21/06/2013.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Resolução
CONAMA 358. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e
dá outras providências. Publicado no DOU em 04 de maio de 2005.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria Nº 280, de 29 de junho de 2020. Regulamenta os Arts.
56 e 76 do Decreto N° 7.404, de 23 de dezembro de 2010, e o art. 8º do Decreto N° 10.388, de 5 de
junho de 2020. Institui o Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR) nacional como ferramenta de
gestão e documento declaratório de implantação e operacionalização do plano de gerenciamento
de resíduos, dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos e complementa a Portaria N°
412, de 25 de junho de 2019. Publicado no DOU em 30/06/2020.
BRASIL. Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil/Agência Nacional de Transportes Terrestres
(ANTT). Diretoria Colegiada. Resolução Nº 5.232, de 14 de dezembro de 2016. Aprova as Instruções

7 – Resíduos de Animais: Carcaças e Peças Anatômicas – Subgrupos A2 e A4 89


Complementares ao Regulamento Terrestre do Transporte de Produtos Perigosos, e dá outras pro-
vidências. A Diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres ANTT, no uso de suas atribui-
ções, fundamentada no Voto DSL - 211, de 9 de dezembro de 2016, no que consta dos Processos
nos50500.310609/2016-05 e 50500.056919/2015-80;
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (Embrapa) – Comunicado Técnico 144. Métodos
de destino final de animais mortos de médio e grande porte no Brasil – Rodiney de Arruda Mauro;
Marta Pereira da Silva – Brasília-DF-Brasil, 2019. ISSN 1983-9731. Disponível em: https://ainfo.cnp-
tia.embrapa.br/digital/bitstream/item/202600/1/Metodo-de-destino-final-de-animais-mortos.pdf.
Acesso em 05/02/2022.
LOPES, A.P.; SPADAFORA-FERREIRA, M.; SANTOS, N.M.; RUIZ, R.C.; ANDRADE, S.A.; JESUS, V.E.;
MATTARAIA, V.G.M. Guia prático de descarte de resíduos do Instituto Butantan. São Paulo: Instituto
Butantan, 2014. 48 p. Disponível em: https://analiticaqmcresiduos.paginas.ufsc.br/files/2014/07/
gestao-guia_pratico_descarte_residuos_Butantan.pdf. Acesso em 05/02/2022.

90 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


8
Resíduos Químicos –
Grupo B

Giovana Cappio Barazzone


Aline Cunha Barbosa
Debora Mastantuono
Débora Tibana Ito
Sonia A. de Andrade Chudzinski
8 Resíduos Químicos – Grupo B

As substâncias químicas estão associadas a uma série de benefícios à vida. Por outro lado,
o inerente potencial dos riscos envolvidos no manuseio dessas substâncias aumenta a impor-
tância da implantação de programas eficazes de gerenciamento de resíduos, a fim de evitar
o comprometimento da segurança e saúde de trabalhadores, população e meio ambiente.

8.1. ASPECTOS GERAIS


Produtos químicos fora de especificação, obsoletos ou alterados, excedentes, vencidos
ou sem previsão de utilização, produtos de reações químicas, de análises químicas, sobras de
amostras contaminadas, de preparação de reagentes, de saneantes, desinfetantes; soluções
contendo metais pesados, efluentes de processadores de imagens (reveladores e fixadores);
frascos ou embalagens de reagentes, sobras de limpeza de equipamentos de laboratórios
e materiais contaminados com substâncias químicas que ofereçam riscos à saúde humana
e/ou ao meio ambiente, são exemplos de resíduos químicos oriundos de estabelecimento
de saúde, que devem ser descartados de acordo com as características e normas vigentes.
A gestão desses resíduos é um processo dinâmico, que adota critérios como compatibili-
dade e reatividade, que auxiliam a destinação correta e segura dos mesmos (Andrade, 2015).

8.2. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS QUÍMICOS


Os resíduos químicos podem se apresentar na forma sólida, semissólida, líquida ou ga-
sosa, e podem possuir vários graus de periculosidade, de acordo com suas características de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.
Os resíduos químicos são classificados conforme ABNT-NBR-10004:2004:
a) resíduos classe I: Perigosos.
b) resíduos classe II: Não Perigosos.

92 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


De acordo com a Resolução ANTT 5947/2021, os produtos perigosos são subdivididos
em 9 classes, de acordo com o risco ou o mais sério dos riscos que apresentam. A classifica-
ção dos resíduos químicos é a mesma utilizada para os produtos químicos. São elas:
„„ Classe 1: Explosivos
ƒƒ Subclasse 1.1: substâncias e artigos com risco de explosão em massa.
ƒƒ Subclasse 1.2: substâncias e artigos com risco de projeção, mas sem risco de ex-
plosão em massa.
ƒƒ Subclasse 1.3: substâncias e artigos com risco de fogo e com pequeno risco de
explosão ou de projeção, ou ambos, mas sem risco de explosão em massa.
ƒƒ Subclasse 1.4: substâncias e artigos que não apresentam risco significativo.
ƒƒ Subclasse 1.5: substâncias muito insensíveis, com risco de explosão em massa.
ƒƒ Subclasse 1.6: artigos extremamente insensíveis, sem risco de explosão em
massa.

„„ Classe 2: Gases
ƒƒ Subclasse 2.1: gases inflamáveis.
ƒƒ Subclasse 2.2: gases não inflamáveis, não tóxicos.
ƒƒ Subclasse 2.3: gases tóxicos.

„„ Classe 3: Líquidos inflamáveis


„„ Classe 4: Sólidos inflamáveis; substâncias sujeitas à combustão espontânea; subs-
tâncias que, em contato com a água, emitem gases inflamáveis
ƒƒ Subclasse 4.1: sólidos inflamáveis, substâncias autorreagentes e explosivos sóli-
dos insensibilizados.
ƒƒ Subclasse 4.2: substâncias sujeitas à combustão espontânea.
ƒƒ Subclasse 4.3: substâncias que, em contato com a água, emitem gases
inflamáveis.

„„ Classe 5: Substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos


ƒƒ Subclasse 5.1: substâncias oxidantes.
ƒƒ Subclasse 5.2: peróxidos orgânicos.

„„ Classe 6: Substâncias tóxicas e substâncias infectantes


ƒƒ Subclasse 6.1: substâncias tóxicas.
ƒƒ Subclasse 6.2: substâncias infectantes.

„„ Classe 7: Material radioativo


„„ Classe 8: Substâncias corrosivas
„„ Classe 9: Substâncias e artigos perigosos diversos, incluindo substâncias que apre-
sentam risco ao meio ambiente (poluente)

A Tabela 8.1 apresenta as classes de risco, pictogramas e exemplos.

8 – Resíduos Químicos – Grupo B 93


Tabela 8.1. Classificação dos resíduos químicos: risco, pictogramas e exemplos
Exemplos de
Classe Subclasse Descrição Exemplos
pictogramas
Substâncias e artigos com
risco de explosão em massa
(uma explosão em massa é a Trinitrofluorenona, Perclorato
1.1
que afeta virtualmente toda a de Amônio
carga de modo praticamente
instantâneo)
Substâncias e artigos com
Cartuchos para armas,
1.2 risco de projeção, mas sem
explosivos
risco de explosão em massa
Explosivos Substâncias e artigos com
risco de fogo e com pequeno
Fogos de artifício,
1.3 risco de explosão e/ou de
sinalizadores
1 projeção, mas sem risco de
explosão em massa
Substâncias e artigos que não Sinalizadores de fumaça,
1.4
apresentam risco significativo ácido tetrazol-1-acético
Substâncias muito insensí-
veis, com risco de explosão
em massa (com a probabi- Artigos explosivos muito
1.5
lidade de iniciação ou de insensíveis
transição de queima para a
detonação muito pequena)
Artigos extremamente
Artigos explosivos
1.6 insensíveis, sem risco de
extremamente insensíveis
explosão em massa
Gases 2.1 Gases inflamáveis GLP, propileno
Gases não inflamáveis, Nitrogênio, oxigênio
2.2
não tóxicos comprimido
2
2.3 Gases tóxicos Cloreto de nitrosila, gás cloro

Líquidos inflamáveis

3 3 Líquidos inflamáveis Etanol, metanol

Sólidos Inflamáveis Sólidos inflamáveis, substân-


Substâncias 4.1 cias autorreagentes e explosi- Ácido pícrico, naftaleno
sujeitas a vos sólidos insensibilizados
combustão Substâncias sujeitas a com- Sulfeto de sódio ou potássio
4.2
espontânea; bustão espontânea anidro
Substâncias que,
em contato com a
4 água, emitem gases
inflamáveis Substâncias que, em contato
Boro-hidreto de sódio,
4.3 com água, emitem gases
metildiclorossilano
inflamáveis

94 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Exemplos de
Classe Subclasse Descrição Exemplos
pictogramas
Substâncias Permanganato de potássio,
5.1 Substâncias oxidantes
oxidantes e dicromato de amônio
peróxidos orgânicos

5
Ácido peracético (proxitane),
5.2 Peróxidos orgânicos
peróxido de ciclo-hexanona

Substâncias tóxicas 6.1 Substâncias tóxicas Acrilamida, ácido arsênico

6
6.1 Substâncias infectantes Resíduos clínicos

Material radioativo

Acetato de uranila, metil [3H]


7 7 Material radioativo benzilato de quinoclidilina e
[3H] nioinositol

Substâncias
corrosivas

Ácido Clorídrico, ácido


8 8 Substâncias corrosivas
sulfúrico, hidróxido de sódio

Substâncias e
artigos perigosos
diversos

Substâncias e artigos Azul de Trypan


perigosos diversos (carcinogênico)

9 9

Baterias de lítio (substâncias


Risco ao meio ambiente/
que oferecem risco ao meio
poluente
ambiente)

Fonte: Associação Brasileira da Indústria Química. Departamento de Assuntos Técnicos. O


que é o GHS? Sistema harmonizado globalmente para a classificação e rotulagem de produ-
tos químicos. São Paulo: ABIQUIM/DETEC, 2005. 69p.

8 – Resíduos Químicos – Grupo B 95


8.3. SEGREGAÇÃO
Os resíduos químicos devem ser segregados nas áreas geradoras no momento da geração.
Antes de manipular, deve-se ler o rótulo e a Ficha de Informação de Segurança do
Produto Químico (FISPQ) dos reagentes de modo a conhecer suas características físico-quí-
micas e sua periculosidade.
A FISPQ pode ser visualizada no site do fabricante do reagente. A Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) disponibiliza em seu site fichas similares
à FISPQ para consulta (http://sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/produtos/produto_consulta_
completa.asp).
Em caso de não disponibilidade da FISPQ, pode-se consultar o resíduo/produto pelo
número CAS (Chemical Abstracts Service) pelo site www.cas.org.
Durante a segregação, os resíduos químicos perigosos devem ser separados dos não
perigosos, lembrando que os resíduos químicos incompatíveis NUNCA devem ser mistura-
dos (Andrade, 2015) e, além disso, deve-se atentar à compatibilidade dos resíduos com os
frascos de armazenamento.
A Tabela 8.2 apresenta a incompatibilidade química de algumas substâncias, entretanto,
recomenda-se que sempre se leia a FISPQ de cada produto químico (origem do resíduo)
antes da realização do descarte.

Tabela 8.2. Tabela de incompatibilidade química


Incompatível com
Substância
(Não devem ser armazenadas ou misturadas com):
Acetileno Cloro, bromo, flúor, cobre, prata, mercúrio
Ácido nítrico (concentrado), ácido sulfúrico (concentrado),
Acetona
peróxido de hidrogênio
Acetonitrila Oxidantes, ácidos
Ácido crômico, ácido nítrico, ácido perclórico, peróxido de
Ácido acético
hidrogênio, permanganatos
Metais mais comuns, aminas, óxidos metálicos, anidrido
acético, acetato de vinila, sulfato de mercúrio, fosfato de
Ácido clorídrico
cálcio, formaldeído, carbonatos, bases fortes, ácido sulfúri-
co, ácido clorossulfônico
Ácido clorossulfônico Materiais orgânicos, água, metais na forma de pó
Ácido crômico Ácido acético, naftaleno, cânfora, glicerina, álcoois, papel
Ácido fluorídrico (anidro) Amônia (anidra ou aquosa)
Ácido nítrico (concentrado) Ácido acético, acetona, álcoois, anilina, ácido crômico
Ácido oxálico Prata e seus sais, mercúrio e seus sais, peróxidos orgânicos
Ácido perclórico Anidrido acético, álcoois, papel, madeira
Ácido sulfúrico Cloratos, percloratos, permanganatos, peróxidos orgânicos
Metais alcalinos e alcalino- Dióxido de carbono, tetracloreto de carbono e outros hi-
-terrosos (como sódio, po- drocarbonetos clorados, quaisquer ácidos livres, quaisquer
tássio, lítio, magnésio, cálcio) halogênios, aldeídos, cetonas
Álcool amílico, etílico e metílico Ácido clorídrico, ácido fluorídrico, ácido fosfórico
Alquil-alumínio Hidrocarbonetos halogenados, água
Amideto de sódio Ar, água
Mercúrio, cloro, hipoclorito de cálcio, iodo, bromo, ácido
Amônia anidra
fluorídrico, prata

96 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Incompatível com
Substância
(Não devem ser armazenadas ou misturadas com)
Ácido crômico, ácido nítrico, ácido perclórico, compostos
Anidrido acético hidroxilados, etileno glicol, peróxidos, permanganatos,
soda cáustica, potassa cáustica, aminas
Anidrido maleico Hidróxido de sódio, piridina e outras aminas terciárias
Anilina Ácido nítrico, peróxido de hidrogênio
Azidas Ácidos
Ácido clorídrico, ácido fluorídrico, ácido fosfórico, ácido
Benzeno
nítrico concentrado, peróxidos
Amoníaco, acetileno, butadieno, butano, metano, propano,
Bromo outros gases derivados do petróleo, carbonato de sódio,
benzeno, metais na forma de pó, hidrogênio
Carvão ativo Hipoclorito de cálcio, todos os agentes oxidantes
Cianetos Ácidos
Sais de amônio, ácidos, metais na forma de pó, enxofre,
Cloratos
materiais orgânicos combustíveis finamente divididos
Ácidos fortes, amoníaco, carbonatos, sais metálicos, álcalis
Cloreto de mercúrio
fosfatados, sulfitos, sulfatos, bromo, antimônio
Amoníaco, acetileno, butadieno, butano, propano, metano,
Cloro outros gases derivados do petróleo, hidrogênio, carbonato
de sódio, benzeno, metais na forma de pó
Bases fortes, metais alcalinos, alumínio, magnésio, agentes
Clorofórmio
oxidantes fortes
Cobre metálico Acetileno, peróxido de hidrogênio, azidas
Éter etílico Ácido clorídrico, ácido fluorídrico, ácido sulfúrico, ácido fosfórico
Hidróxido de sódio, hidróxido de potássio, compostos
Fenol
halogenados, aldeídos
Ferrocianeto de potássio Ácidos fortes
Formaldeído Ácidos inorgânicos
Fósforo (branco) Ar, álcalis, agentes redutores, oxigênio
Hidrazina Peróxido de hidrogênio, ácido nítrico, qualquer outro oxidante
Hidretos Água, ar, dióxido de carbono, hidrocarbonetos clorados
Hidrocarbonetos (como
benzeno, butano, propano, Flúor, cloro, bromo, ácido crômico, peróxidos
gasolina, etc.)
Ácidos fortes, metais alcalinos, agentes oxidantes fortes,
Hidróxido de amônio
bromo, cloro, alumínio, cobre, bronze, latão, mercúrio
Óxido de bário, dióxido de chumbo, pentacloreto e triclo-
Hidroxilamina
reto de fósforo, zinco, dicromato de potássio
Hipocloritos Ácidos, carvão ativado
Fenol, glicerina, nitrometano, óxido de ferro, amoníaco,
Hipoclorito de sódio
carvão ativado
Iodo Acetileno, hidrogênio
Nitrato de amônio, ácido crômico, peróxido de hidrogênio,
Líquidos inflamáveis
ácido nítrico, peróxido de sódio, halogênios
Acetileno, ácido fulmínico (produzido em misturas etanol-
Mercúrio
--ácido nítrico), amônia, ácido oxálico

8 – Resíduos Químicos – Grupo B 97


Incompatível com
Substância
(Não devem ser armazenadas ou misturadas com)
Ácidos, metais na forma de pó: líquidos inflamáveis, clora-
Nitratos tos, enxofre, materiais orgânicos ou combustíveis finamen-
te divididos, ácido sulfúrico
Oxalato de amônio Ácidos fortes
Óxido de etileno Ácidos, bases, cobre, perclorato de magnésio
Óxido de sódio Água, qualquer ácido livre
Pentóxido de fósforo Álcoois, bases fortes, água
Percloratos Ácidos
Perclorato de potássio Ácidos
Glicerina, etileno glicol, benzaldeído, qualquer ácido livre,
Permanganato de potássio
ácido sulfúrico
Peróxidos (orgânicos) Ácidos (orgânicos ou minerais)
Peróxido de benzoíla Clorofórmio, materiais orgânicos
Cobre, crômio, ferro, maioria dos metais e seus sais, mate-
Peróxido de hidrogênio riais combustíveis, materiais orgânicos, qualquer líquido
inflamável, anilina, nitrometano, álcoois, acetona.
Qualquer substância oxidável, como etanol, metanol, ácido
acético glaciar, anidrido acético, benzaldeído, dissulfito de
Peróxido de sódio
carbono, glicerina, etileno glicol, acetato de etila, acetato
de metila, furfural, álcool etílico, álcool metílico
Potássio Tetracloreto de carbono, dióxido de carbono, água
Acetileno, ácido oxálico, ácido tartárico, ácido fulmínico,
Prata e seus sais
compostos de amônio
Tetracloreto de carbono, dióxido de carbono, água, ver
Sódio
também em metais alcalinos
Sulfetos Ácidos
Sulfeto de hidrogênio Ácido nítrico fumegante, gases oxidantes
Teluretos Agentes redutores
Tetracloreto de carbono Sódio
Zinco Enxofre
Zircônio Água, tetracloreto de carbono
Fonte: Hirata, M.H.; Mancini, J. Filho. Manual de Biossegurança, 2012.

Alguns reagentes químicos são incompatíveis com PEAD (polietileno de alta densidade),
presentes nas embalagens destinadas ao descarte, e estão listados na Tabela 8.3.

Tabela 8.3. Substâncias utilizadas em serviços de saúde que não são compatíveis com
embalagens de Polietileno de Alta Densidade (PEAD)
Substância Substância
Ácido butírico Dietil benzeno
Ácido nítrico Dissulfeto de carbono
Ácidos concentrados Éter
Bromo Fenol Clorofórmio
Bromofórmio Nitrobenzeno

98 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Substância Substância
Álcool benzílico o-diclorobenzeno
Anilina Óleo de canela
Butadieno Óleo de cedro
Ciclo-hexano p-diclorobenzeno
Cloreto de etila Forma líquida Percloroetileno
Cloreto de tionila Solventes bromados e fluorados
Bromobenzeno Solventes clorados
Cloreto de Amila Tolueno
Cloreto de vinilideno Tricloroeteno
Cresol Xileno/xilol

Os resíduos químicos podem conter resíduos de outros grupos, como infectantes ou


radioativos. Nesses casos, proceder conforme descrito na Tabela 8.4.

Tabela 8.4. Procedimentos para o descarte de resíduos químicos contendo diferentes grupos
Classe de resíduos Descartar como resíduo
Químico Infectante7 – Rede de esgoto
NÃO Radioativo (T ½ curta)3 – Rede de esgoto6
perigoso1 Infectante Infectante
Radioativo (T ½ longa)4 – Radioativo
Infectante Radioativo
Reciclável5 – Químico
Químico Infectante7 – Químico
perigoso2 Radioativo (T ½ curta)1 – Químico
Infectante Químico
Radioativo (T ½ longa)2 – Radioativo
Infectante Radioativo
Reciclável3 – Químico
1
Soluções aquosas de sais inorgânicos de metais alcalinos e alcalinos terrosos (NaCl, KCl,
CaCl2, MgCl2, Na2SO4, MgSO4, tampões PO4-3).
2
É considerado reagente QUÍMICO PERIGOSO qualquer componente que apresente carac-
terísticas: inflamável, corrosiva, tóxica ou explosiva, incluindo alguns medicamentos.
3
Rejeitos de T1/2 curta (< 100 dias), devem ser armazenados em recipiente e blindagem
adequados e aguardar o decaimento na área geradora. Posteriormente devem ser encami-
nhados de acordo com a classe da mistura (químico ou infectante).
4
Rejeitos de T1/2 longa (> 100 dias), devem ser armazenados em recipiente e blindagem ade-
quados. Se necessário, realizar tratamento químico para descontaminar o resíduo infectante,
desde que compatível com o resíduo químico, se houver e encaminhar como radioativo.
5
Os produtos que podem ser destinados como reciclável são aqueles que não possuem pic-
togramas ou símbolo indicativo de produto perigoso. Vale ressaltar que produtos, como por
exemplo, álcool etílico e hipoclorito de sódio (≥ 2,5%), utilizados como produtos químicos
ou produtos de limpeza são considerados produtos perigosos e devem ser destinados como
resíduos químicos mesmo que não contenham pictograma (ANTT N° 5947/2021).
6
Conforme CNEM NN 8.01 Gerência de Rejeitos Radioativos de Baixos e Médios Níveis de
Radiação.
7
Após o tratamento físico ou químico dos microrganismos, antibióticos ou meio de cultura.

8 – Resíduos Químicos – Grupo B 99


8.4. RESÍDUOS CONTENDO MERCÚRIO
De acordo com a RDC N° 173, de 15 de setembro de 2017, e a RDC N° 145, de 21 de março
de 2017 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é proibida em todo o territó-
rio nacional a fabricação, importação e comercialização, assim como o uso em serviços de
saúde, do mercúrio e do pó do mesmo não encapsulado para liga de amálgama (indicados
para uso em Odontologia) e dos termômetros e esfigmomanômetros. Para a realização do
descarte/tratamento do mercúrio de forma ambientalmente correta e de acordo com a le-
gislação vigente, deve-se seguir as premissas de segurança e de gestão de resíduos de sua
instituição e verificar qual(is) a(s) empresa(s) especialista(s) mais indicada(s) para receber/
tratar tal resíduo e a forma mais adequada de transporte do mesmo. Exemplos de segrega-
ção e destinação de resíduos químicos e mercuriais de forma correta foram realizados no
Instituto Butantan (Andrade, 2015; Mastantuono, 2015).

8.5. ACONDICIONAMENTO E IDENTIFICAÇÃO


As embalagens a serem utilizadas para o descarte dos diversos resíduos químicos devem
ser adequadas a cada tipo de resíduo (ver Capítulo de Embalagens para armazenamento de
resíduos). A utilização de outras embalagens que não sejam específicas deve ser evitada.
Os resíduos químicos perfurocortantes devem ser acondicionados em recipiente rígido,
estanque, vedado, de cor laranja e identificado com a simbologia de substância tóxica. As
caixas de cor laranja de perfurocortantes devem ser acondicionadas em sacos plásticos de
cor laranja com simbologia de tóxico, conforme imagem do Capítulo de Embalagens para
armazenamento de resíduos.
Os resíduos perfurocortantes que não cabem na caixa de 20 L de cor laranja podem ser
acondicionados em caixas de papelão homologadas para transporte externo de resíduos
perigosos, devidamente identificadas.
„„ Os resíduos químicos vencidos devem permanecer em suas embalagens originais.
„„ Frascos vazios devem ser encaminhados como resíduos com número ONU (O
número ONU é um número de série determinado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) para identificar produtos químicos e/ou que oferecem perigo à vida)
3509, específico para embalagens vazias e não limpas respeitando a incompatibi-
lidade química.

Devem ser usadas bombonas homologadas para acondicionamento de resíduos líqui-


dos, sacos laranja para frascos plásticos vazios e outros itens não perfurocortantes e caixas
de papelão para frascos cheios e frascos de vidro vazios (conforme imagem do Capítulo de
Embalagens para armazenamento de resíduos). Todas devem estar identificadas com a eti-
queta, devidamente preenchida, conforme modelo (Figura 8.1).

8.6. TRANSPORTE INTERNO


A retirada dos resíduos químicos das unidades geradoras inicia-se por uma solicitação
ao setor responsável pelo gerenciamento de resíduos, mediante preenchimento de um for-
mulário (Figura 8.2). Os resíduos químicos devem ser encaminhados a um local apropriado
ou abrigo onde permanecerão até o momento da coleta externa.

100 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Resíduos químicos
N° de controle da embalagem

Descrição

Setor gerador

Responsável setor

Tipo Sólido Gasoso

Líquido Perfurante

Periculosidade Explosivo Corrosivo

Inflamável Perigosos diversos

Oxidante/peróxido Não perigoso

Tóxico

Armazenamento Data início Data final

Quantidade final

Responsável descarte

Figura 8.1. Etiqueta para identificação de resíduos químicos.

8.7. DESTINAÇÃO FINAL E/OU TRATAMENTO


Os resíduos químicos são coletados e encaminhados para destinação final por empresas
especializadas que tenham a responsabilidade de submetê-los ao tratamento específico.
A destinação dos resíduos químicos perigosos depende da aprovação do órgão am-
biental de cada estado. Na solicitação ao órgão, o gerador, além da destinação pretendida,
deve fornecer as informações de caracterização qualitativa e a estimativa de geração anual
de cada resíduo, a carta de anuência do recebedor e demais documentos pertinentes ao
processo.
Dentre as formas de tratamento e destinação de resíduos químicos perigosos, citam-se:
a) Tratamento externo para recuperação.
b) Tratamento para descarte.
c) Incineração.
d) Aterros industriais, etc.

A destinação dos resíduos químicos perigosos deve ser realizada em sistema (tratamen-
to, disposição ou ambos) licenciado pelo órgão ambiental do estado, conforme fluxograma
na Figura 8.3.

8 – Resíduos Químicos – Grupo B 101


Figura 8.2. Formulário para coleta de resíduos químicos.

102 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Segregação dos Resíduos Químicos conforme estado físico

Sólidos Líquidos

Caixa Vidrarias que não cabem Reagentes


Frascos Não
perfuro- em caixas perfurocor- vencidos
plásticos perfuro-
-cortante tantes laranja ou frascos
vazios -cortante
(laranja) (quadradas ou não) de vidro
vazios

Acondicionar em saco
Acondicionar em
plástico laranja com
caixa de papelão
etiqueta para identificação
resistente
de Resíduo Químico

Encaminhar para o transporte interno em caixa de


plástico aberta
Descarte de
produtos, soluções,
Solicitar a coleta interna com o envio de formulário reações, misturas
com as informações dos resíduos (respeitando a
compatibilidade)
em bombonas
Análise técnica, segregação virtual e agendamento homologadas com
da coleta etiqueta para
identificação

Armazenamento temporário em abrigo para


resíduos químicos

Segregação e acondicionamento conforme


compatibilidade para o transporte
Documentos
para
transporte Coleta e transporte externo por empresa especializada
externo
Certificado
Tratamento ambiental adequado de destinação

Figura 8.3. Fluxograma para descarte de Resíduos Químicos.

8 – Resíduos Químicos – Grupo B 103


REFERÊNCIAS
ANDRADE, A.S.; MASTANTUONO, D.; ABREU, B.C.G.; ICHIKAWA, V.M.; SANTOS, N.M.; SPADAFORA-
FERREIRA, M., BARAZZONE, G.C. Segregação de Resíduos Químicos por Compatibilidade e Reatividade
no Instituto Butantan. Orbital: The Electronic Journal of Chemistry, 7: 44-52, 2015.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC N° 173/2017.
Proíbe em todo o território nacional a fabricação, importação e comercialização, assim como o
uso em serviços de saúde, do mercúrio e do pó para liga de encapsulado indicados para uso em
Odontologia. Diário Oficial da União: edição 179, seção 1, Brasília, DF, p. 46, 18 set. 2017.
Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução RDC N° 145/2017.
Proíbe em todo o território nacional a fabricação, importação e comercialização, assim como o uso
em serviços de saúde, dos termômetros e esfigmomanômetros com coluna de mercúrio. Diário
Oficial da União: edição 56, seção 1, Brasília, DF, p. 71, 21 mar. 2017.
BRASIL. Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil/Agência Nacional de Transportes Terrestres
(ANTT). Resolução N° 5947, de 1º de junho de 2021. Atualiza o Regulamento para o Transporte
Rodoviário de Produtos Perigosos e aprova as suas Instruções Complementares, e dá outras provi-
dências. Diário Oficial da União: edição 103 Brasília, DF, p. 74, 2 jun. 2021.
HIRATA, M.H.; MANCINI, J. FILHO; HIRATA, R.D.C. Manual de Biossegurança. Barueri: Manole, 2012.
MASTANTUONO, D.; SPADAFORA-FERREIRA, M.; ABREU, B.C.G.; SANTOS, N.M.; BARAZZONE, G.C.;
ANDRADE, S.A. Management of Mercury Waste in an Institution of São Paulo State Health Secretary,
the Case of Butantan Institute. Orbital: The Electronic Journal of Chemistry, 7(2), 202-207, 2015.
SPADAFORA-FERREIRA M.; LOPES, A.P.; RUIZ, R.C.; ANDRADE, A.S.; JESUS, V.E.; MATTARAIA, V.G.M.;
SANTOS, N.M. Guia Prático de Descarte de Resíduos no Instituto Butantan. 2014, 48 p.

104 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


9
Resíduos de Medicamentos –
Grupo B

Débora Tibana Ito


Mônica Spadafora Ferreira
9 Resíduos de Medicamentos

Este capítulo destina-se às orientações relacionadas ao gerenciamento no descar-


te de resíduos de medicamentos em instituições de pesquisa, ensino e produção de
imunobiológicos.

9.1. ASPECTOS GERAIS


Apesar da grande maioria dos medicamentos, serem compostos por produtos químicos
e, portanto, fazer parte do Grupo B – Resíduos Químicos, por ser um grupo muito específico
e diferenciado dos produtos químicos em geral, serão abordados separadamente. Os me-
dicamentos também denominados produtos farmacêuticos são utilizados em ambulatório
ou hospitais e em diferentes pesquisas científicas, que utilizam ensaios in vitro ou in vivo, em
diferentes modelos. Inicialmente, daremos algumas definições e classificações dos medica-
mentos para posteriormente abordarmos a questão do descarte.

9.2. MEDICAMENTOS – DEFINIÇÃO


Medicamento é o produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, que con-
tém um ou mais fármacos e outras substâncias, com finalidade profilática, curativa, paliativa
ou para fins de diagnóstico (Anvisa, 2019).

9.3. CLASSIFICAÇÃO DOS MEDICAMENTOS


Os medicamentos podem ser classificados por diferentes critérios:
„„ Quanto à origem.
„„ Quanto ao local de ação.
„„ Quanto à enfermidade.
„„ Quanto à estrutura química.
Para a finalidade de orientação quanto ao correto descarte, que é objetivo deste Manual,
utilizaremos a classificação quanto à origem.

106 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


9.3.1. MEDICAMENTOS NATURAIS
São obtidos da natureza, de diferentes origens. Seguem alguns exemplos:
„„ Vegetal/fitoterápicos: alcaloides, flavonoides, óleos essenciais.
„„ Mineral: ferro, cálcio, magnésio, selênio, iodo, fosfato.
„„ Animal: gelatina, heparina, óleo de fígado de peixe.

9.3.2. MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS


São formas farmacêuticas de dispensação ministradas segundo o princípio da semelhan-
ça e/ou da identidade, com finalidade curativa e/ou preventiva. São obtidos pela técnica de
dinamização e utilizado para uso interno ou externo. A dinamização é o processo de diluições
seguidas de sucussões e/ou triturações sucessivas do insumo ativo em insumo inerte adequa-
do. Os medicamentos homeopáticos podem ser de origem vegetal, animal e mineral.

9.3.3. MEDICAMENTOS SINTÉTICOS


São compostos químicos ativos, produzidos em laboratório por reações químicas defi-
nidas, permitindo a reprodução industrial. Possuem propriedades farmacológicas com fina-
lidade medicamentosa utilizada para diagnóstico, alívio ou tratamento, empregados para
modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos em benefício da pessoa
na qual se administra. Ex.: Aspirina foi o primeiro fármaco sintético.

9.3.4. MEDICAMENTOS BIOLÓGICOS


Produtos de origem biológica, como organismos vivos ou seus componentes ativos ou
fabricados por biotecnologia. Essa classe inclui:
„„ Vacinas: São produtos imunobiológicos que contêm uma ou mais substâncias imu-
nogênicas, que quando inoculadas são capazes de induzir a imunidade através da
produção de anticorpos e/ou resposta imune celular específicos a fim de prevenir
ou reduzir a severidade de doenças causadas pelo agente do qual foi obtido o antí-
geno utilizado como princípio ativo da vacina. Em 1975, foi implantado o Programa
Nacional de Imunizações (PNI) no Brasil e, atualmente, são distribuídos 21 diferentes
tipos de vacinas, produzidas por instituições brasileiras.
„„ Soros heterólogos hiperimunes: produtos obtidos a partir da imunização de animais,
geralmente equinos, para obtenção de imunoglobulinas específicas a antígenos
provenientes de agentes infecciosos ou venenos de animais peçonhentos, purifi-
cadas a partir do soro animal e utilizadas no tratamento agudo de acidentes por
animais peçonhentos, botulismo, tétano e raiva. No Brasil, atualmente, estão dispo-
níveis pelo PNI 4 soros antitoxinas e 7 antivenenos.
„„ Hemoderivados: produtos farmacêuticos obtidos a partir do plasma humano, submetidos
a processos de industrialização e normatização que lhes conferem qualidade, estabilidade
e atividade específica. Ex.: albumina, imunoglobulinas e diferentes fatores e complexos
da coagulação. São utilizados no tratamento de algumas doenças hematológicas, defici-
ências imunes, infecções ou ainda no tratamento da rejeição de órgãos transplantados.
„„ Anticorpos monoclonais: imunoglobulinas específicas, produzidas em laboratório,
utilizadas atualmente no tratamento de diversas patologias, como alguns tipos de

9 – Resíduos de Medicamentos 107


câncer, doenças autoimunes, infecções virais, rejeição de órgãos transplantados,
entre outros.
„„ Alérgenos: substâncias que podem induzir uma resposta imune alérgica. Os alérge-
nos podem ser utilizados em diagnóstico, mas também em imunoterapia para trata-
mento de alergias. Podem ser extratos de origem animal ou vegetal ou produzidos
em laboratório, como proteínas recombinantes.
„„ Probióticos: preparações que contêm microrganismos definidos em quantidade sufi-
ciente para alterar a microbiota, atuando com um efeito benéfico para o hospedeiro.
„„ Biomedicamentos ou biofármacos: obtidos a partir de fluídos biológicos ou de teci-
dos de origem animal, ou por procedimentos biotecnológicos. Ex.: proteínas recom-
binantes, como insulina e enzimas.

9.3.5. MEDICAMENTOS SUJEITOS A CONTROLE ESPECIAL


Medicamentos das classes: entorpecentes, psicotrópicos, psicotrópicos anorexígenos,
retinóicos, imunossupressores, antirretrovirais , anabolizantes, precursores de entorpecen-
tes e/ou psicotrópicos, substâncias para fabricação e síntese de entorpecentes e/ou psi-
cotrópicos, substâncias que podem originar entorpecentes e/ou psicotrópicas, conforme
Portaria N° 344, de 12 de maio de 1998 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério
da Saúde (SVS/MS) e atualizações através de Resoluções de Diretoria Colegiada (RDC) da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devem ser segregados nas unidades ge-
radoras e o Responsável Técnico pela compra deve realizar o procedimento de envio de so-
licitação para Inutilização de Medicamentos Controlados, conforme orientações da Anvisa.
(http://www.anvisa.gov.br/hotsite/talidomida/legis/portaria_344_98.pdf ).

9.4. RESÍDUOS DE MEDICAMENTOS


Medicamentos vencidos, avariados ou contaminados, bem como seus produtos inter-
mediários de fabricação e suas embalagens vazias íntegras ou frascos quebrados, que ofere-
cem risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente, são considerados resíduos e devem
ser segregados nas unidades geradoras no momento da geração.

9.5. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


Diante da enorme variedade de medicamentos anteriormente citados e sua diversidade
de composição, deve-se considerar a sua composição para realizar o descarte. Sendo assim,
utilizaremos como base a classificação citada no item 9.3 para orientar quanto ao descarte.

9.5.1. SEGREGAÇÃO
9.5.1.1. DESCARTE DE MEDICAMENTOS NATURAIS, HOMEOPÁTICOS,
SINTÉTICOS E HEMODERIVADOS
Os resíduos de medicamentos e insumos farmacêuticos das classes naturais, homeopáti-
cos, sintéticos e hemoderivados, considerados produtos farmacêuticos de composição quí-
mica, deverão seguir o fluxo de descarte para resíduos do Grupo B (vide Capítulo 8, Resíduos
Químicos – Grupo B).

108 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


9.5.1.2. DESCARTE DE MEDICAMENTOS SUJEITOS A CONTROLE ESPECIAL
No caso dos Medicamentos de controle especial (Portaria SVS/MS N° 344/1998), apesar
de serem compostos químicos sua aquisição e descarte são controlados pela autoridade
sanitária local e devem seguir um procedimento especial antes de serem encaminhados
para o descarte.
Medicamentos vencidos sujeitos a controle especial devem permanecer em suas
embalagens originais e ser acondicionados em local com chave e acesso restrito até o
momento do descarte. Na cidade de São Paulo, a Coordenadoria de Vigilância em Saúde
(COVISA) determina que, tanto para os frascos contendo medicamentos vencidos e frascos
íntegros vazios, como para os frascos ou ampolas quebradas de medicamentos controla-
dos, é necessário o preenchimento do formulário “Solicitação de inutilização de medica-
mentos controlados” (Figura 9.1). O mesmo deve ser preenchido em 2 (duas) vias originais
e protocolado na Vigilância Sanitária, que irá anexar a 1ª via ao processo de solicitação
e a 2ª via deverá ser devolvida ao estabelecimento junto com o “Termo de Inutilização”
lavrado dos referidos produtos. O formulário para o município de São Paulo está dispo-
nível para download em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/
inut_prod_05_1254400847.pdf.
No momento da coleta externa, deve-se anexar uma cópia do Termo de Inutilização e
entregar para a empresa especializada que realizará o transporte até a empresa de trata-
mento de resíduos.

9.5.1.3. DESCARTE DE MEDICAMENTOS BIOLÓGICOS


De acordo com a RDC 222/2018, os Medicamentos Biológicos, bem como os resíduos
de fabricação, exceto hemoderivados, deverão seguir o fluxo de descarte para resíduos do
Grupo A1 (vide Capítulo 6, Resíduos infectantes – Grupo A). No caso de vacinas compostas
por microrganismos vivos atenuados (vacinas contra sarampo, poliomielite, febre amarela,
tuberculose, etc.), que constituem materiais biológicos infectantes, devem ser submetidos a
tratamento no local de geração, utilizando processos para redução ou eliminação da carga
microbiana, antes do descarte. Os imunobiológicos compostos de bactérias e vírus mortos
ou obtidos por engenharia genética (vacinas como DTP, dT, DT, Hib, HB, etc.) não precisam
receber tratamento antes de serem descartados.

9.5.2. ACONDICIONAMENTO E IDENTIFICAÇÃO


Os resíduos de medicamentos ou produtos de fabricação de medicamentos deverão ser
acondicionados e identificados de acordo com a classe. Os resíduos de medicamentos na-
turais, homeopáticos, sintéticos e hemoderivados devem ser acondicionados em caixas de
papelão homologadas ou no caso de ampolas, caixas para perfurocortantes de cor laranja
para resíduos químicos (simbologia “Tóxico”), vide Capítulo 3 – Embalagens e Recipientes para
Acondicionamento de Resíduos de Serviço de Saúde e identificadas com a etiqueta, devida-
mente preenchida, conforme modelo (Figura 9.2).
Os resíduos de medicamentos biológicos (vacinas, soros heterólogos hiperimunes, anti-
corpos monoclonais, alérgenos, probióticos e biofármacos) devem ser acondicionados em
caixas para perfurocortantes de cor amarela para infectantes (simbologia de risco biológico)
e identificadas com a etiqueta, devidamente preenchida, conforme modelo (Figura 9.3).
As embalagens secundárias de medicamentos comuns, como caixa de papelão e bulas,
deverão ser descaracterizadas e descartadas como resíduos recicláveis (vide Capítulo 11 –
Resíduos comuns e outros resíduos.

9 – Resíduos de Medicamentos 109


110
Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde
Figura 9.1. Formulário I – Solicitação de Inutilização de Medicamentos Controlados – COVISA.
Resíduos químicos
N° de controle da embalagem

Descrição

Setor gerador

Responsável setor

Tipo Sólido Gasoso

Líquido Perfurante

Periculosidade Explosivo Corrosivo

Inflamável Perigosos diversos

Oxidante/peróxido Não perigoso

Tóxico

Armazenamento Data início Data final

Quantidade final

Responsável descarte

Figura 9.2. Etiqueta para identificação de resíduos químicos.

Resíduos infectantes
Setor gerador

Responsável setor

Responsável descarte

Data de saída

Produto (quando aplicável)

N° lote (quando aplicável)

Figura 9.3. Etiqueta para identificação de resíduos infectantes.

9 – Resíduos de Medicamentos 111


9.5.3. TRANSPORTE INTERNO
Os resíduos de medicamentos destinados como resíduos químicos devem ser enca-
minhados ao abrigo temporário, onde permanecerão até o momento da coleta externa.
Sugere-se que seja feito um controle da coleta de resíduos de medicamentos, através da
solicitação de retirada da área geradora, pelo setor responsável pelo gerenciamento de re-
síduos e, para tal, deve-se encaminhar um formulário com a relação dos resíduos de medi-
camentos (Figura 9.4).
Os resíduos de medicamentos biológicos destinados como resíduos infectantes devem
ser retirados diariamente da unidade geradora e encaminhados até um abrigo temporário na
própria instituição, onde ficarão armazenados para a retirada pela empresa especializada do
município em que a instituição está localizada. As embalagens contendo resíduos infectantes,
tanto na unidade geradora como no abrigo temporário, não devem ser depositadas direta-
mente no chão.

9.5.4. TRANSPORTE EXTERNO E


DESTINAÇÃO OU DISPOSIÇÃO FINAL
Os resíduos de medicamentos destinados como resíduos químicos são coletados e
encaminhados para destinação final por empresas especializadas que tenham a respon-
sabilidade de submetê-los ao tratamento específico e que sejam autorizadas pelo muni-
cípio em conformidade com as exigências legais da ANTT Nº 5232/2016 do Ministério dos
Transportes, bem como do Ministério de Infraestrutura (MI). Para a realização do transporte
e documentos necessários, consultar o Capítulo 4, item 4.6.3.
A destinação dos resíduos de serviço de saúde do Grupo B, resíduos químicos perigosos,
dependem da aprovação do órgão ambiental de cada estado. Na solicitação ao órgão, o
gerador, além da destinação pretendida, deverá fornecer as informações de caracterização
qualitativa e a estimativa de geração anual de cada resíduo, a carta de anuência do recebe-
dor e demais documentos pertinentes ao processo.
Dentre as formas de tratamento e destinação de resíduos químicos perigosos, citam-se:
a) Tratamento externo para recuperação.
b) Tratamento para descarte.
c) Incineração.
d) Aterros industriais, etc.

A destinação dos resíduos químicos perigosos deve ser realizada em sistema (tratamen-
to, disposição ou ambos) licenciado pelo órgão ambiental do estado.
Os resíduos de medicamentos biológicos destinados como resíduos infectantes devem
ser encaminhados para uma unidade de tratamento, que garanta a descontaminação e que
seja licenciada pelo órgão ambiental do estado.
Tanto os resíduos de medicamentos encaminhados como químicos ou infectantes deve-
rão ser transportados por empresas especializadas e devidamente autorizadas pelos órgãos
ambientais do município.
Deve-se ressaltar que, em junho de 2020, foi publicado o Decreto Federal N°10.388, que
institui o sistema de logística reversa apenas de medicamentos vencidos ou em desuso de
uso humano domiciliares, não se aplicando aos geradores de resíduos de serviços de saúde,
conforme Art. 6° do mesmo.

112 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Figura 9.4. Formulário II – Formulário para Coleta de Resíduos de Medicamentos.

9 – Resíduos de Medicamentos
113
114
Segregação de acordo com a Classe do Medicamento

Medicamentos sujeitos a Embalagens primárias VAZIAS Embalagens secundárias Medicamentos Biológicos


Controle Especial (Portaria Medicamentos Comuns (frascos de vidro ou de papelão e bulas vencidos ou produtos
344/98 e RDC 39/2012) – vencidos ou avariados plástico) de Medicamentos (descaracterizadas de sua fabricação
vencidos ou avariados Controlados e Comuns previamente)

Caixa laranja Ausência de Com presença de


Formulário de solicitação Caixa de para microrganismo microrganismo
de inutilização de papelão perfurocortante vivo ou atenuado vivo ou atenuado
medicamentos controlados homologada químico

Saco plástico Saco plástico branco ou


Protocolar na VISA do para embalagem perfurocortante
município para obter o Saco laranja para Resíduo Químico reciclagem infectante
“Termo de Inutilização”

Identificação com etiqueta Identificação com etiqueta Tratamento na

Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Arquivar cópia do Termo de Resíduo Químico Resíduo Comum unidade
Inutilização na Instituição geradora

Armazenamento em abrigo para Armazenamento em abrigo para


Entregar uma cópia do Termo resíduos químicos resíduos químicos
de Inutilização à empresa
que realizará o transporte Identificação com etiqueta
externo Destinação final para empresa especializada para Destinação final para Resíduo Infectante
tratamento de Resíduos Químicos*,** Reciclagem ou
Cooperativa*,**
* Anexar documentos para transporte externo. Destinação final para empresa
** Solicitar certificado de destinação. especializada para tratamento de
Resíduos Infectantes*,**

Figura 9.5. Fluxograma para descarte de Medicamentos.


REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Farmacopeia Brasileira.
6ª ed. Volume I, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/
farmacopeia-brasileira/arquivos/7985json-file-1.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Farmacopeia Homeopática
Brasileira. 3 ed. Brasilia, 2011.
Brasil. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Imunizações. Disponível em: https://www.gov.br/
saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/c/calendario-nacional-de-vacinacao.
SPADAFORA-FERREIRA, M.; LOPES, A.P.; RUIZ, R.C.; ANDRADE, A.S.; JESUS, V.E.; MATTARAIA, V.G.M.;
SANTOS, N.M. Guia Prático de Descarte de Resíduos no Instituto Butantan. 2014, 48p.
WHO Collaborating Centre for Drug Statistics Methodology, Guidelines for ATC classification and
DDD assignment, 2021. Oslo, 2020. https://www.whocc.no/atc_ddd_index_and_guidelines/
atc_ddd_index/.
WHO. Recommendations for the production, control and regulation of human plasma for fractionation.
In: WHO Expert Committee on Biological Standardization. Fifty-sixth report. Geneva, World Health
Organization, 2007 (WHO Technical Report Series, No. 941, Annex 4).

9 – Resíduos de Medicamentos 115


10
Rejeitos Radioativos –
Grupo C

Cecilia Mari Abe


Débora Tibana Ito
Mônica Spadafora Ferreira
10 Rejeitos Radioativos – Grupo C

Este capítulo destina-se a contribuir com a divulgação de medidas que visam minimizar
os riscos à saúde (humana e animal) e ao meio ambiente, relacionados ao armazenamento,
uso e descarte de materiais radioativos de acordo com as normas da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN), órgão responsável por regular e fiscalizar o uso da energia nuclear
no Brasil.

10.1. ASPECTOS GERAIS


As medidas aqui apresentadas abordam o uso e a destinação de rejeitos radioativos no
âmbito de uma instituição de pesquisa na área biomédica de forma resumida e simplificada.
Os hospitais, clínicas e laboratórios de análises clínicas utilizam equipamentos e materiais
radioativos específicos para o diagnóstico e tratamento que também devem seguir normas
específicas da CNEN, porém não fazem parte do escopo deste manual.
Inicialmente, daremos alguns conceitos sobre radioatividade, para posteriormente
abordarmos a questão dos rejeitos.

10.2. RADIAÇÃO – TIPOS E CARACTERÍSTICAS


Radiação, por definição, é uma forma de energia que se propaga através do espaço
por meio de ondas ou partículas. De acordo com a quantidade de energia emitida, as ra-
diações podem ser divididas em ionizantes e não ionizantes. As radiações não ionizantes
são as que não possuem energia suficiente para provocar ionizações, ou seja, não há trans-
ferência de elétrons, mas são capazes de quebrar ligações químicas e moléculas. Alguns
exemplos são a luz ultravioleta, infravermelho, micro-ondas, ondas de telefonia móvel,
rádio e TV. Os equipamentos que emitem esse tipo de radiação não requerem cuidados
referentes à radiação por si, mas deverão ser tratados como resíduo eletrônico, não geran-
do rejeito radioativo.
Por outro lado, radiações ionizantes são radiações que possuem energia suficiente para
modificar átomos e moléculas com as quais interagem, transformando-os em novo elemen-
to químico, podendo causar alterações moleculares, danos em órgãos ou tecidos, ou outros

118 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


efeitos biológicos. Pelos seus efeitos, riscos e rejeitos gerados, as radiações ionizantes são as
que serão abordadas neste capítulo. Existem três tipos de radiações ionizantes: partículas
carregadas – alfa (α), beta (β), prótons e elétrons; partículas não carregadas – nêutrons e
ondas eletromagnéticas – raios gama (γ) e raios X.
As fontes de radiação ionizante podem ser geradas por equipamentos emissores de
radiação, tais como raios-X e aceleradores de partículas ou por fontes radioativas. Além
disso, as fontes de radiação ionizante (equipamento ou material que emite radiação io-
nizante) podem ser de dois tipos: fontes seladas (material radioativo encontra-se herme-
ticamente encapsulado de modo a não permitir contato direto com o material), e fontes
não seladas (material radioativo encontra-se contido em recipientes que permitem o seu
fracionamento e, portanto, o contato direto com o mesmo). Irradiadores biológicos para
indução e estudo de efeitos biológicos, equipamentos utilizados em radioterapia e equi-
pamentos de calibração (detectores de radiação) são exemplos de equipamentos que uti-
lizam fontes seladas de radiação. Quando esses equipamentos são desativados e precisam
ser descartados, as fontes seladas que permanecem radioativas devem ser primeiramente
removidas do equipamento e adequadamente encaminhadas como rejeito radioativo de
acordo com as normas CNEN. Alguns equipamentos, como os equipamentos emissores de
raios X (espectrômetros de fluorescência e difratômetros, microscópios eletrônicos, equi-
pamentos de raios X utilizados em diagnóstico médico e odontológicos), ou equipamen-
tos emissores de outros tipos de radiação ionizante (aceleradores de partículas utilizados
em pesquisas na área de física de partículas e equipamentos de radioterapia), emitem
radiação ionizante apenas quando é fornecida energia para o seu funcionamento, não
gerando rejeitos radioativos.
São exemplos de fontes de radiação não seladas os traçadores e marcadores utilizados
em atividade metabólica, marcação de DNA e fluxo de fluídos, métodos utilizados em me-
dicina diagnóstica, terapia, bem como em laboratórios de pesquisa. Existem inúmeras subs-
tâncias utilizadas em laboratórios de pesquisa, que possuem na sua composição isótopos
radioativos (radionuclídeos), como 3H (trício), 14C (carbono), 35S (enxofre) e 32P (fósforo), liga-
dos a diferentes moléculas.
Existem duas formas de exposição às fontes de radiação: por irradiação externa, quando
há exposição à radiação emitida pela fonte, ficando próximo à mesma ou aos equipamentos
emissores da radiação, ou por contaminação, quando há presença indesejável de material
radioativo, seja por ingestão, inalação absorção ou contato direto com a pele. Para que aci-
dentes por exposição às fontes radioativas não aconteçam, é imprescindível que os usuários
de materiais radioativos sigam atentamente todas as normas de manuseio e descarte de
materiais radioativos.

10.2.1. MEIA-VIDA DE UM ELEMENTO RADIATIVO


A radioatividade está relacionada com a desintegração, característica de cada elemento
radioativo, também chamada de decaimento radioativo. O decaimento radioativo é con-
sequência da instabilidade do núcleo do átomo que se desintegra, emitindo radiação. A
meia-vida física (T 1/2) de um elemento radioativo é o tempo necessário para que a ativida-
de inicial se reduza à metade. A T 1/2 é específica para cada elemento radioativo, podendo
variar de horas a milhões de anos.
Com o objetivo de estabelecer critérios para a gerência dos rejeitos radioativos, de acor-
do com a classificação da norma CNEN NN 8 .01/2014 – Gerência de Rejeitos Radioativos de
Baixo e Médio Níveis de Radiação, que será detalhada no item 10.3 – Rejeitos Radiativos e
Radioproteção (vide Tabela 10.1), os elementos radiativos são divididos em meia vida-curta (T
1/2 < 100 dias) e meia-vida longa (T 1/2 > 100 dias). Para exemplificar, listamos na Figura 10.1
alguns elementos radioativos utilizados em laboratórios de pesquisa, de acordo com a T1/2.

10 – Rejeitos Radioativos – Grupo C 119


Tabela 10.1. Classificação dos rejeitos radioativos de acordo com a norma CNEN NN
8.01/2014 – Gerência de rejeitos radioativos de baixo e médio níveis de radiação*
Tipo de rejeito Características
Classe 0 Rejeitos Isentos (RI) Rejeitos contendo radionuclídeos com valores de ativida-
de ou de concentração de atividade, em massa ou volu-
me, inferiores ou iguais aos respectivos níveis de dispensa
Classe 1 Rejeitos de Meia- Rejeitos com meia-vida inferior ou da ordem de 100
Vida Muito Curta dias, com níveis de atividade ou de concentração em
(RVMC) atividade superiores aos respectivos níveis de dispensa
Classe 2 Rejeitos de Baixo Rejeitos com meia-vida superior à dos rejeitos da
e Médio Níveis de Classe 1, com níveis de atividade ou de concentração
Radiação (RBMN) em atividade superiores aos níveis de dispensa, bem
como com potência térmica inferior a 2 kW/m3
Classe 2.1 Rejeitos de Rejeitos de baixo e médio níveis de radiação contendo
Meia-Vida Curta emissores beta/gama, com meia-vida inferior ou da
(RBMN-VC) ordem de 30 anos e com concentração de radionuclí-
deos emissores alfa de meia-vida longa limitada em
3.700 kBq/kg em volumes individuais e com um valor
médio de 370 kBq/kg para o conjunto de volumes
Classe 2.2 Rejeitos Contendo Rejeitos de extração e exploração de petróleo, con-
Radionuclídeos tendo radionuclídeos das séries do urânio e tório em
Naturais (RBMN-RN) concentrações de atividade ou atividades acima dos
níveis de dispensa
Classe 2.3 Rejeitos contendo Rejeitos contendo matérias primas minerais, naturais
Radionuclídeos ou industrializadas, com radionuclídeos das séries do
Naturais (RBMN-RN) urânio e do tório em concentrações de atividade ou
atividades acima dos níveis de dispensa
Classe 2.4 Rejeitos de Rejeitos não enquadrados nas Classes 2.2 e 2.3, com
Meia-Vida Longa concentrações de radionuclídeos de meia-vida longa
(RBMN-VL) que excedem as limitações para classificação como
rejeitos de meia-vida curta
Classe 3 Rejeitos de Alto Nível Rejeitos com potência térmica superior a 2 kW/m3 e
de Radiação (RAN) com concentrações de radionuclídeos de meia-vida
longa que excedam as limitações para classificação
como rejeitos de meia-vida curta.
* Para níveis de dispensa, consultar Anexos II, V e VI da Norma CNEN NN 8.01/2014.

(A) T1/2 < 100 dias (B) T1/2 > 100 dias
F-18 1,83 horas Cs-137 30,2 anos
Tc-99m 6 horas Co-60 5,27 anos
Ga-67 3,26 dias *H-3 12,3 anos
I-131 8 dias *C-14 5.730 anos
P-32 14,3 dias *U-238 4,5 bilhões de anos
I-125 59,9 dias
Ir-192 73,8 dias
S-35 87,5 dias

Figura 10.1. Exemplos de elementos radioativos com meia-vida curta, T1/2 <100 dias (A) e
meia-vida longa, T1/2 > 100 dias (B).

120 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


10.3. NORMAS PARA UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RADIOATIVOS
Na área de saúde, ambientes hospitalares e laboratoriais que utilizam fontes radioativas
em procedimentos rotineiros diversos devem seguir normas específicas regidas pelos ór-
gãos competentes CNEN e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
O manuseio de fontes radiativas deve seguir as normas CNEN NN 6.01/99 – Requisitos
para o Registro de Pessoas Físicas para o Preparo, Uso e Manuseio de Fontes Radioativas
e CNEN NN 6.02/2020 – Licenciamento de Instalações Radiativas. Deve-se ressaltar que
para a obtenção do registro pessoal é necessária a participação e conclusão de Curso de
Radioproteção com carga horária mínima de 40 horas em instituição credenciada junto
ao Conselho Federal de Educação (CFE). Atualmente, esse registro tem validade de 5 anos,
sendo necessária à sua revalidação após esse período. Esse registro pessoal também é im-
prescindível para a solicitação da licença para o local de trabalho onde serão utilizadas as
fontes radiativas que será classificado de acordo com o tipo de radiação e quantidade a ser
utilizada. Para obtenção dessa licença, deve ser elaborado um relatório detalhado do uso
com o tipo de radiação, quantidade, incluindo um Plano de Gerência dos Rejeitos Radiativos
e controle de efluentes, bem como um Plano de Proteção Radiológica, de acordo com a
norma CNEN NN 8.01/2014, que será abordada mais adiante. Esse relatório deve ser enca-
minhado à CNEN, que emitirá a autorização de operação que tem validade igual de 5 anos,
sendo necessária a sua revalidação após esse período.

10.4. REJEITOS RADIOATIVOS E RADIOPROTEÇÃO


De acordo com a RDC 222/2018 da ANVISA, rejeito radioativo é qualquer material que
contenha radionuclídeo em quantidade superior aos limites de dispensa especificado nas
normas da CNEN e para o qual a reutilização é imprópria ou não prevista. Enquadra-se nesse
grupo o rejeito radioativo ou contaminado com radionuclídeo, proveniente de laboratório
de pesquisa e ensino na área da saúde, laboratório de análises clínicas, serviço de medicina
nuclear e radioterapia.
Todo usuário de material radioativo é responsável pelos rejeitos radioativos que gera ou
que permite que sejam gerados sob sua responsabilidade. Os serviços que geram rejeitos
radioativos devem contar com profissional devidamente registrado pela CNEN nas áreas de
atuação correspondentes, conforme a Norma CNEN NN 6.01/99.
Os efeitos biológicos das radiações ionizantes podem causar danos reversíveis ou ir-
reversíveis, que dependem do tempo de exposição, tipo de célula atingida e quantidade
de energia depositada. Os princípios da radioproteção são diminuir ou evitar esses danos
estabelecendo controle e orientações no uso dos materiais radioativos, com justificativa,
otimização e limitação das doses. Para tanto, diversos procedimentos devem ser adotados
no armazenamento e manuseio dos materiais radioativos, bem como dos rejeitos gerados.
Todo trabalho com fontes radioativas não seladas leva necessariamente à produção de
rejeitos radioativos e, neste capítulo, abordaremos apenas os rejeitos provenientes de expe-
rimentos utilizando fontes não seladas de radiação ionizante.
São considerados rejeitos radioativos quaisquer materiais resultantes de atividades hu-
manas que contenham radionuclídeos e para os quais a reutilização é imprópria ou não pre-
vista. Os rejeitos radioativos são classificados de acordo com a Norma CNEN NN 8.01/2014,
segundo seus níveis e natureza da radiação, bem como suas meias-vidas (Tabela 10.1).
Sendo assim, todo material que entrar em contato com o material radioativo deve ser con-
siderado contaminado com o elemento radiativo e deverá ser tratado com os devidos cui-
dados e descartado como rejeito radioativo (recipientes, tubos, ponteiras, luvas, papéis de
forração de bancada, etc.).

10 – Rejeitos Radioativos – Grupo C 121


Os diferentes tipos de radiação ionizante (radiações alfa, beta, gama) apresentam distin-
tos graus de ionização e capacidade de penetração (alcance) em relação ao objeto com o
qual vão interagir (Figura 10.2). O grau de penetração é a característica mais importante para
a determinação dos equipamentos de proteção/blindagem para cada elemento radioativo.
Assim, é importante salientar que duas ou mais substâncias que emitem diferentes tipos
de radiação devem ser acondicionados em recipientes distintos, e o chumbo não deve ser
considerado uma opção de blindagem universal para qualquer tipo de radiação.
Todo usuário de materiais radioativos é responsável pelos rejeitos radioativos que gera
ou que permite que sejam gerados sob sua responsabilidade. Deve haver um planejamento
no laboratório para o local de armazenamento e manipulação dos materiais radioativos e
do acondicionamento dos rejeitos radiativos, devidamente sinalizados. O gerenciamento
dos rejeitos radiativos (controle de armazenamento e destinação) deve constar do relatório
enviado à CNEN para a obtenção da Licença de Instalação Radiativa, de acordo com as nor-
mas anteriormente citadas.

Radiação alfa (α)


• Alto poder de ionização
• Baixo grau de penetração

Radiação beta (β)


• Baixo poder de ionização
• Médio grau de penetração

Radiação gama (γ)


• Baixo poder de ionização
• Alto grau de penetração

Papel Alumínio, madeira, Chumbo


acrílico, plástico
Figura 10.2. Características dos principais tipos de radiação.

10.5. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE

10.5.1. SEGREGAÇÃO
De acordo com a norma CNEN NN 8.01/2014, os rejeitos radioativos devem ser separa-
dos fisicamente, de quaisquer outros resíduos, evitando contaminá-los e visando diminuir o
volume do rejeito radioativo gerado.
Os rejeitos radioativos devem ser segregados no mesmo local onde foram gerados ou
em ambiente apropriado considerando as seguintes características:
1. Natureza da radiação (alfa, beta ou gama).
2. Meia-vida (curta – T1/2 < 100 dias ou longa – T1/2 > 100 dias).
3. Estado físico (sólido ou líquido).

122 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Os rejeitos radioativos podem conter misturas de outros grupos de resíduos, como quí-
micos ou infectantes. Nesses casos, o descarte deverá levar em consideração inicialmente a
meia-vida do elemento radioativo. Para rejeitos contendo radioisótopo de T1/2 curta (< 100
dias), deve-se armazenar em recipiente adequado e aguardar o decaimento na área gera-
dora, para posterior descarte de acordo com o resíduo de maior risco da mistura, ou seja,
químico ou infectante (Tabela 10.2). Para rejeitos contendo radioisótopo de T1/2 longa (>
100 dias), contendo resíduos infectantes, é necessário realizar primeiramente um tratamen-
to químico para a sua descontaminação, para depois encaminhar como rejeito radioativo
para o depósito da instituição.

Tabela 10.2. Procedimentos para o descarte de rejeitos radioativos contendo resíduos de


diferentes grupos
Classe de resíduo Descartar como resíduo
Rede de esgoto (conforme CNEN NN
Químico – 8.01 Gerência de Rejeitos Radioativos
não perigoso de Baixo e Médio Níveis de Radiação)
Radioativo Infectante Infectante
(T ½ curta)*
– Químico
Químico perigoso***
Infectante Químico
– Infectante Infectante
Químico (perigoso***
– Radioativo
Radioativo ou não perigoso)
(T ½ Químico (perigoso***
Infectante Radioativo
longa)** ou não perigoso)
– Infectante Radioativo
* Rejeitos de T1/2 curta (< 100 dias), devem ser armazenados em recipiente e blindagem
adequados e aguardar o decaimento na área geradora. Posteriormente, devem ser encami-
nhados de acordo com a classe da mistura (químico ou infectante).
** Rejeitos de T1/2 longa (> 100 dias), devem ser armazenados em recipiente e blindagem ade-
quados. Se necessário, realizar tratamento químico para descontaminar o resíduo infectante,
desde que compatível com o resíduo químico, se houver e encaminhar como radioativo.
*** É considerado reagente químico perigoso qualquer componente que apresente caracte-
rística inflamável, corrosiva, tóxica ou explosiva, incluindo alguns medicamentos.

10.5.2. ACONDICIONAMENTO
Os rejeitos radioativos de meia-vida curta (T1/2 < 100 dias) devem ser mantidos separa-
dos de quaisquer outros materiais radioativos em uso, para aguardar o decaimento radioa-
tivo, em local com blindagem adequada à natureza da radiação e, após decaimento, devem
ser descartados como resíduo de saúde, segundo a sua natureza (infectante ou químico),
lembrando-se de retirar a identificação de presença de radiação.
Rejeitos radioativos de T1/2 longa (> 100 dias), devem ser armazenados em recipiente e
blindagem adequados em depósito próprio de acordo com a Norma CNEN NN 8.02/2014 -
Licenciamento de Depósitos de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio Níveis de Radiação. As
informações relacionadas ao depósito de rejeitos radioativos serão abordadas no Capítulo
13 sobre Abrigos para Resíduos e Rejeitos. Os recipientes para segregação, coleta ou arma-
zenamento provisório devem ser adequados às características físicas, químicas, biológicas e
radiológicas dos rejeitos para os quais são destinados (vide Capítulo 3). Além disso, devem

10 – Rejeitos Radioativos – Grupo C 123


possuir vedação adequada e ter o seu conteúdo identificado, não devendo apresentar con-
taminação radioativa na superfície externa da embalagem em níveis superiores aos especi-
ficados na norma CNEN NN 8.01/2014.

10.5.3. IDENTIFICAÇÃO
Todos os recipientes destinados tanto à segregação quanto à coleta, ao transporte e ao
armazenamento de rejeitos radioativos devem portar o símbolo internacional de presença
de radiação (trifólio de cor magenta ou preta), colocado de maneira clara e visível.
Os recipientes destinados ao armazenamento dos rejeitos devem ser identificados com
uma etiqueta contendo as informações, conforme modelo da Figura 10.3, incluindo os ra-
dionuclídeos utilizados na instituição.

Rejeito radioativo
Setor gerador

Responsável setor

Responsável descarte

Radionucleotídeo H-3 P-32 S-35 C-14

U-238 Outros (especificar)

Características Líquido Sólido

Atividade (Ci) No dia

Quantidade Massa (kg)

Volume (L)

Atividade específica Massa (kg) Massa (Bq/kg)

Volume (L) Volume (Bq/L)

Data descarte final

N° de controle (quando aplicável)

Figura 10.3. Modelo de etiqueta para identificação dos rejeitos radioativos.

10.5.4. TRANSPORTE INTERNO


Quando houver a necessidade de transferir o rejeito para o abrigo temporário, a solicitação
de coleta deve ser feita mediante agendamento de acordo com o dia e horários estabeleci-
dos pelo setor responsável pela coleta e gerenciamento de resíduos. Para encaminhamento
do rejeito, sugere-se para controle, a utilização de formulário específico conforme modelo da
Figura 10.4, contendo quantidade em massa (kg) ou volume (L), tipo de radiação, atividade
residual no elemento descartado, data do descarte e identificação do setor gerador, nome do
profissional que gerou o rejeito e nome do responsável pela área geradora.

124 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Formulário para coleta de Rejeitos Radioativos

Setor: Ramal:
Solicitante: Data da retirada:
Data da solicitação:
Identificação - preenchimento pela área solicitante
Líquidos Sólidos
Tipo de Material
Concentração de Concentração de Atividade Total Atividade Total Responsável pelo Rejeito
(orgânico/inorgânico) Volume (L) Massa (Kg)
Atividade (μCi/L) Atividade (Bq/L) (mCi) (Bq)*

*1 μCi = 3,7 x 104 Bq

Retirado por: Entregue por:

Figura 10.4. Formulário I - Coleta de Rejeitos Radioativos.

10 – Rejeitos Radioativos – Grupo C


125
10.5.5. ARMAZENAMENTO TEMPORÁRIO
De acordo com a classificação estabelecida pela Norma CNEN NN 8.01/2014 (vide
Tabela 10.1), os rejeitos de Classe 2, emissores de radiação de meia-vida longa (T 1/2
> 100 dias) deverão ser encaminhados para o abrigo temporário também chamado
de depósito intermediário, que atenda aos requisitos estabelecidos na Norma CNEN
NN 8.02/2014 Licenciamento de Depósitos de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio
Níveis de Radiação e lá permanecer até o decaimento para limites aceitáveis para o
descarte ou posterior envio ao órgão licenciado pela CNEN. Deve-se fazer o registro
dos rejeitos radioativos armazenados para decaimento, com a data estimada para
dispensa. Os rejeitos radioativos devem ser mantidos separados de outros produtos
perigosos, como explosivos, inflamáveis, oxidantes e corrosivos. O armazenamento
de rejeitos radioativos líquidos deve ser feito sobre bacia de contenção, bandeja, re-
cipiente ou material absorvente com capacidade de conter ou absorver o dobro do
volume do líquido presente na embalagem.

10.5.6. DESCARTE
A eliminação de rejeitos líquidos na rede de esgotos sanitários está sujeita aos limites
estabelecidos pela norma CNEN NN 8.01/2014, e deve estar de acordo com o valor enviado
para obtenção da licença da instalação radioativa. Além disso, o rejeito deve ser prontamen-
te solúvel ou de fácil dispersão em água.
A eliminação de rejeitos sólidos no sistema de coleta de lixo urbano deve ter sua ativida-
de específica limitada conforme o estabelecido na norma CNEN NN 8.01/2014.
Rejeitos sólidos e líquidos com meia-vida curta (< 100 dias) e que estejam abaixo do
limite estabelecido pela norma CNEN NN 8.01/2014 deverão ser descartados conforme a
sua natureza (infectante ou químico não perigoso) e identificados como tal no momento do
descarte. Os rejeitos de Classe 1 (Tabela 10.1), que estiverem acima do limite de dispensa,
deverão aguardar decaimento até atingirem os níveis aceitáveis para o descarte. Os rejeitos
líquidos que estiverem abaixo do limite e são isentos de químicos perigosos e infectantes
podem ser descartados na rede de esgoto. Para fins de cálculo do tempo de decaimento
necessário para dispensa de rejeitos sólidos no sistema de coleta de lixo urbano, deve ser
considerado que 10% do conteúdo radioativo inicial ficam adsorvidos no frasco, seringa ou
outros materiais que tiveram contato com o líquido radioativo, salvo se estiver disponível
método confiável de medida experimental.
Os rejeitos sólidos e líquidos com meia-vida longa (> 100 dias) e acima dos limites de
dispensa, estabelecidos pela norma CNEN NN 8.01/2014, deverão ser encaminhados para
um depósito devidamente identificado e adequado para o recebimento dos rejeitos radio-
ativos da instituição.
De acordo com o estabelecido pela norma CNEN NN 8.01/2014, toda instalação deve
manter um sistema atualizado de registro de rejeitos radioativos. Sugere-se que o setor res-
ponsável pela gestão dos resíduos solicite que os usuários de material radioativo encami-
nhem, a cada 6 meses, o Controle de Variações do Inventário de Radionuclídeos, conforme
modelo (Figura 10.5).

126 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Controle de Variações do Inventário de Radionuclídeos
Setor: Ramal:

Responsável pela licença do laboratório junto à CNEN:

Radionuclídeos Rejeitos Radioativos Abaixo do Limite (Norma CNEN NN 8.01) Rejeitos Radioativos Acima do Limite (Norma CNEN NN 8.01)

ESTOQUE Sólido Líquido Armazenado

Eliminado como Eliminado como


Atividade Resíduo Atividade Resíduo Atividade Rejeito sólido Atividade Local de Data estimada
Data Isótopo Massa (Kg) Data Volume (L) Data Massa (Kg) Volume (L) Data
(Bq) Químico ou (Bq) Químico ou (Bq) ou líquido? (Bq) armazenamento de dispensa
Infectante? Infectante?

Figura 10.5 . Formulário II - Controle de variações do inventário de radionuclídeos.

10 – Rejeitos Radioativos – Grupo C


127
10.5.7. TRANSPORTE EXTERNO E DESTINAÇÃO FINAL
Os rejeitos devem ser encaminhados de acordo com a classificação da norma
CNEN NN 8.01/2014 (Tabela 10.1) e orientações da norma CNEN NN 8.02/2014, re-
sumidas a seguir. Os rejeitos radioativos das Classes 0 podem ser dispensados sem
restrições radiológicas; os rejeitos de Classe 1 devem ser armazenados para decai-
mento e posteriormente dispensados sem restrições na rede de esgotos sanitários ou
no sistema de coleta urbano; os rejeitos de Classe 2.1 e os de Classe 2.2 e 2.3 devem
ser armazenados em depósitos próximos à superfície, sendo que os de Classe 2.2. e
2.3 deverão ainda passar por uma análise de segurança para verificação da profun-
didade. Os depósitos para o armazenamento desses rejeitos recebem uma classifi-
cação e as instituições de saúde geradoras de rejeitos radioativos poderão solicitar à
CNEN a autorização do local destinado ao armazenamento (vide detalhes no Capítulo
13 - Abrigos, item 5.3 Grupo C- Depósito para Radioativos). Os rejeitos poderão ser
encaminhados para depósito final licenciado pela CNEN. O transporte externo de re-
jeitos radioativos deve ser realizado em conformidade com a Norma CNEN NE 5.01
Regulamento para o Transporte Seguro de Materiais Radioativos, bem como com as
demais resoluções e regulamentos de transporte vigentes.

128 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Segregação por tempo de meia-vida*

Meia-vida curta (< 100 dias) Meia-vida longa(> 100 dias)

Líquido Sólido Líquido Sólido

Infectante Químico Infectante Químico Infectante Químico Infectante Químico

Saco branco ou Saco branco ou Saco branco ou Saco ou caixa


Bombona caixa perfurocortante caixa perfurocortante Bombona caixa perfurocortante perfurocortante
amarela laranja amarela laranja

Identificação com etiqueta de Rejeito Radioativo Identificação com etiqueta de Rejeito Radioativo

Aguardar decaimento da atividade específica Seguir limites de atividade específica para descarte do CNEN
Área
geradora
Fluxo de descarte para infectante** ou químico Abaixo do limite*** Acima do limite***
Transporte
interno
Certificado Órgão licenciado Transporte e coleta realizada Armazenamento Armazenamento no
Disposição
de destinação pelo CNEN por empresa contratada temporário local de geração
final

* Utilizar local de armazenamento com blindagem, conforme o tipo de radiação. ** Resíduos infectantes devem ser devidamente tratados antes do descarte.
*** De acordo com a Norma CNEN 8.01/2014.
Figura 10.6. Fluxograma para descarte de Rejeitos Radioativos.

10 – Rejeitos Radioativos – Grupo C


129
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Norma CNEN NE 5.01 NN 5.01 – Regulamento para o Transporte Seguro de Materiais Radioativos
(Resolução CNEN 271/21). Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/normas/
grupo5/grupo-5-transporte-de-materiais-radioativos#3.
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Norma CNEN NN 6.01 – Requisitos para o Registro de Pessoas Físicas para o Preparo, Uso e Manuseio de
Fontes Radioativas (Resolução 005/99). Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/
normas/grupo-6/grupo-6-instalacoes-radioativas#2.
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Norma CNEN NN 6.02 – Licenciamento de Instalações Radiativas (Resolução 261/20). Disponível em:
https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/normas/grupo-6/grupo-6-instalacoes-radioativas#3.
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Norma CNEN NN 8.01 – Gerência de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio Níveis de Radiação
(Resolução 167/14). Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/normas/
grupo-8/grupo-8-rejeitos-radioativos#1.
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Norma CNEN NN 8.02 – Licenciamento de Depósitos de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio Níveis
de Radiação (Resolução 168/14). Disponível em: https://www.gov.br/cnen/pt-br/acesso-rapido/
normas/grupo-8/grupo-8-rejeitos-radioativos#2.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada nº 222, de 28 de março de 2018. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos
Resíduos de Serviços de Saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União. 29 Mar 2018.
SPADAFORA-FERREIRA, M.; LOPES, A.P.; RUIZ, R.C.; ANDRADE, A.S.; JESUS, V.E.; MATTARAIA, V.G.M.;
SANTOS, N.M. Guia Prático de Descarte de Resíduos no Instituto Butantan, 2014. 48p.

130 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


11
Resíduos Comuns
e Recicláveis – Grupo D
e Outros Resíduos

RESÍDUO
RECICLÁVEIS
COMUM
Vanessa Evelin Jesus
Aline Cunha Barbosa
Alissandra Pinheiro Lopes Lima
Márcia Freita Gomes
Danylo Marques Ferreira
Neuzeti Maria dos Santos
11 Resíduos Comuns e Recicláveis –
Grupo D e Outros Resíduos

De acordo com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n°


358/2005, os resíduos do grupo D, denominados comuns, são todos aqueles que não ofe-
recem risco ao meio ambiente ou à saúde por não conterem qualquer tipo de resquício de
agente biológico, químico ou radioativo. Estão incluídos nesse grupo os resíduos equiparados
aos domiciliares, como alimentares e de sanitários, resíduos de varrição, de poda e jardins,
resíduos provenientes de áreas administrativas, resíduos de gesso provenientes de assistência
à saúde e os materiais recicláveis.
De acordo com a RDC n° 222/2018, há resíduos de serviços de saúde (RSS) considera-
dos do Grupo D que são passíveis de serem reaproveitados de alguma maneira. Resíduos
que podem ser reutilizados, recuperados, reciclados, utilizados na compostagem, aproveita-
mento energético ou reinseridos na cadeia produtiva através da logística reversa.
Alguns resíduos do grupo D que não apresentam possibilidade de reutilização, ou cujo
reaproveitamento é financeiramente inviável, devem seguir o fluxo de rejeito não perigoso.
Vale ressaltar que, na possibilidade de um resíduo comum apresentar contaminação por
qualquer material classificado como perigoso, deve ser igualmente considerado perigoso.
Nesses casos, a disposição final deve atender às normas da classe do material perigoso con-
taminante, e não mais da classe de resíduos do grupo D.
Neste capítulo, abordaremos também outros resíduos gerados em instituições de saúde
e ensino que não são considerados RSS previstos na RDC 222/2018.

11.1. ASPECTOS GERAIS


A utilização desenfreada dos recursos naturais e o consumo abusivo de produtos, con-
sequência de uma sociedade que não considera a matéria-prima como um bem finito, são
exemplos do comportamento responsável pelo crescimento alarmante da geração de resí-
duos, observado principalmente nas grandes cidades. Essa prática tem repercutido na ne-
cessidade crescente de novas áreas apropriadas à instalação de aterro sanitário.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305/2010, conceitua as diferenças
entre destinação e disposição final de resíduos. De acordo com a legislação, a destinação final
ambientalmente adequada inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação
e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do
Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
(SNVS) e do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA), entre elas a

132 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


disposição final. Já a disposição final ambientalmente adequada é a distribuição ordenada de
rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou
riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.
O aterro sanitário é um local, do ponto de vista técnico, adequado à disposição de re-
síduos sólidos urbanos, bem como resíduos industriais e resíduos de serviços de saúde,
incluindo os resíduos do grupo D, que admitem destinação similar aos resíduos sólidos
urbanos. Alguns aterros sanitários podem também receber resíduos de classe II – não pe-
rigosos, tanto os não inertes como os inertes, segundo a NBR 10.004/2004 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (vide mais informações no Capítulo 2). Por outro lado,
os denominados aterros de classe II são destinados especificamente aos resíduos com carac-
terísticas semelhantes aos resíduos industriais não perigosos. Além disso, existem os aterros
de classe I para resíduos perigosos e aterros industriais destinados para os resíduos dos mais
variados segmentos e aterros específicos para resíduos da construção civil e de resíduos
inertes. Embora essa seja uma solução economicamente viável, a vida útil de um aterro é
de média duração. Além disso, a instalação do aterro exige uma extensa área, manutenção
constante e controle periódico por profissionais da área da engenharia. As normas ABNT
NBR 8419:1992 e NBR 13.896:1997 estabelecem os critérios para implantação de aterros sa-
nitários e aterros de resíduos não perigosos, respectivamente. Para outros tipos de aterros,
devem-se consultar as normas específicas.
Desde 2005, os resíduos pertencentes ao Grupo D, quando não forem passíveis de serem
reintroduzidos de alguma maneira à cadeia produtiva, devem ser encaminhados somente a
aterros sanitários, devidamente licenciados pelo órgão ambiental competente. No entanto,
em função das exigências necessárias para o licenciamento ambiental, muitas regiões do
país estão destinando para o descarte áreas sem nenhum controle técnico, como é o caso
dos chamados “lixões”. Essas áreas, instaladas de forma irregular, não atendem às condições
necessárias para garantir a preservação da saúde e do meio ambiente.
Nos próximos itens abordaremos os procedimentos para a destinação dos resíduos: re-
cicláveis, não recicláveis, contemplados na logística reversa e exemplos de outros resíduos
que, eventualmente, podem ser gerados em uma instituição de serviço de saúde, mas que
não estão contemplados em nenhum dos grupos (A, B, C, D e E) previstos na RDC 222/2018.

11.2. MATERIAIS RECICLÁVEIS E NÃO RECICLÁVEIS


Em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305) definiu padrões susten-
táveis de produção e consumo e instituiu princípios e diretrizes com vistas à gestão integra-
da e ao gerenciamento, ambientalmente adequado, dos resíduos gerados. A aquisição de
bens mais sustentáveis, cujos materiais utilizados tenham, comprovadamente, reduzido o
impacto ambiental ou gerado menor produção de resíduo durante a sua produção é uma
prática ambientalmente responsável de acordo com o conceito dos 3 Rs (Reduzir, Reutilizar
e Reciclar), sendo essa a base da sustentabilidade, por possibilitar o melhor aproveitamento
dos materiais de consumo em geral. O gerenciamento adequado dos resíduos deve buscar
a redução, reutilização e reciclagem daqueles que apresentam esse potencial.
Os materiais recicláveis são todos aqueles que, após sofrerem uma transformação, física
ou química, podem ser reaproveitados na forma original ou como insumos, tornando-se
passíveis de retorno ao ciclo produtivo. Materiais como plástico, vidro, papel, metal ou iso-
por apresentam potencial para serem reciclados. No entanto, nas instituições de saúde, nem
todos os resíduos com essa composição podem ser reutilizados (Tabela 11.1).
Conforme o artigo 40 da RDC n° 222/18, apenas os resíduos que não apresentam risco
de conter algum material biológico, químico ou radiológico podem ser encaminhados para
reciclagem, recuperação, reutilização, compostagem, aproveitamento energético ou logís-
tica reversa. Além disso, nenhum tipo de material proveniente de áreas de manipulação de

11 – Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e Outros Resíduos 133


Organismos Geneticamente Modificados (OGM), mesmo as embalagens limpas, pode ser
destinado à reciclagem. Todo material proveniente dessas áreas, mesmo que não utilizado,
deve ser descontaminado e encaminhado como resíduo infectante.
Os resíduos não recicláveis do grupo D são aqueles que não podem, por algum moti-
vo, ser encaminhados para reutilização, recuperação, reciclagem, compostagem, logística
reversa ou aproveitamento energético. Há materiais, por exemplo, utilizados em áreas de
trabalho, incluindo vestimentas e equipamentos de proteção individual (EPIs) que, desde
que não apresentem contaminação química, biológica ou radiológica, devem ser destina-
dos como grupo D – não recicláveis (Tabela 11.1).

Tabela 11.1. Exemplos de materiais recicláveis e não recicláveis em Instituições de saúde.


Recicláveis Não Recicláveis
Plástico Embalagens não contaminadas Materiais como seringas, frascos de coleta,
com produtos químicos, radioa- pipetas, tubos, microtubos, placas de Petri,
tivos ou biológicos microplacas, ponteiras, sem uso
Embalagens de produtos de Embalagens limpas originárias de área de
limpeza, não contendo símbolo manipulação de OGM
de risco químico Embalagens de produtos de limpeza que
contenham símbolos de resíduo perigoso
Papel Papéis de escritório íntegros ou Adesivos, etiquetas, fita crepe, papel-carbo-
fragmentados* no, fotográfico
Jornais e revistas, embalagens Papéis sujos, metalizados, parafinados ou
tipo Tetrapak plastificados
Vidros Vidros (íntegros ou quebrados) Vidraria de laboratório, louças de porcelana,
provenientes de refeitório, copa cerâmica, espelhos
e área administrativa Frascos derivados de produtos químico,
Frasco ampola não utilizado radioativo ou biológico
Metal Metais ferrosos (de alumínio) Clipes, parafusos, esponja de aço, grampos
Sucatas metálicas Embalagens de metal contaminadas
Embalagens de alumínio pro- com produtos químicos, radioativos ou
venientes de refeitório e áreas biológicos
administrativas
Isopor Embalagens limpas Embalagens de isopor contaminadas
com produtos químicos, radioativos ou
biológicos
* Recomenda-se que papéis e documentos contendo informações sigilosas sejam descarac-
terizados antes de serem enviados para reciclagem.

11.2.1. PROCEDIMENTO DE DESCARTE

11.2.1.1. SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO


Os resíduos do grupo D devem ser separados dos resíduos dos demais grupos, como A,
B, C e E, ainda no local da sua geração. Além disso, os materiais não recicláveis devem ser,
também, segregados dos recicláveis, ambos do grupo D.
Os resíduos não recicláveis devem ser acondicionados em sacos plásticos resistentes,
até atingirem o limite máximo de 2/3 da capacidade da embalagem. Já os materiais reci-
cláveis devem ser acondicionados, preferencialmente, em sacos transparentes ou de outra

134 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


cor, desde que a cor seja diferenciada das demais cores utilizadas no acondicionamento dos
demais grupos. Esse cuidado, além de facilitar a visualização do resíduo reciclável, evita o
descarte do resíduo reciclável de forma incorreta.
O acondicionamento dos resíduos recicláveis perfurocortantes, como vidros inteiros
ou quebrados, deve ser realizados de maneira segura. Para isso, devem-se utilizar caixas de
papelão rígidas, que deverão ser identificadas na parte externa com a informação de que
dentro há material com risco de acidente.
A identificação das embalagens (sacos plásticos) contendo resíduos comuns ou ma-
teriais recicláveis, não perfurocortantes, através do uso de etiquetas com as informações
da área geradora, não é obrigatória, mas pode ser utilizada como uma boa prática pela
Instituição para fins de rastreabilidade e melhoria de processo. A identificação contendo
nome da área geradora do resíduo, data da geração e responsável proporciona uma melhor
gestão dos resíduos, possibilitando a pesagem do montante gerado em um determinado
período e definir indicadores de redução de geração.

11.2.1.2. ARMAZENAMENTO
Os resíduos comuns e materiais recicláveis, por serem semelhantes aos resíduos domés-
ticos, mesmo originários de instituições de serviço de saúde, não requerem nenhum proces-
so de tratamento antes de serem direcionados para disposição final. Uma vez segregados
e acondicionados adequadamente, no momento da geração, devem ser transportados por
funcionários do setor de limpeza ou outro designado para esta função, até um abrigo espe-
cífico para recebimento desse grupo de resíduo ou outra área destinada a isso.
Importante reforçar que todos os funcionários responsáveis pelo transporte dos resídu-
os comuns e recicláveis devem, a fim de prevenir acidentes, ser previamente capacitados
quanto ao manuseio desse material.

11.2.1.3. DESTINAÇÃO FINAL


Os resíduos sólidos do grupo D, não recicláveis, devem ser recolhidos pela empresa res-
ponsável pela coleta e transporte e encaminhados a um aterro sanitário (Figura 11.1).
Os materiais recicláveis devem ser retirados da instituição por uma empresa que os
destinará diretamente aos centros de reciclagem. Na impossibilidade, a instituição gera-
dora poderá buscar parcerias com cooperativas de catadores de materiais recicláveis do
seu município. Além de ser uma prática sustentável, pode contribuir com o desenvolvi-
mento social da região.

11.3. RESÍDUOS ATENDIDOS PELA LOGÍSTICA REVERSA


A logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracteri-
zado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial. A partir do recolhimento pela empresa
produtora, esses resíduos podem ser reaproveitados no seu próprio ciclo produtivo, em outros
ciclos ou, na impossibilidade, seguir para uma destinação final ambientalmente adequada.
A Lei nº 12.305/2010 estabeleceu, em seu artigo n° 33, como obrigatória a logística re-
versa para pilhas e baterias, óleos lubrificantes, lâmpadas (fluorescentes, de vapor de só-
dio, mercúrio e de luz mista), resíduos eletroeletrônicos (REE) e seus componentes, como
cartuchos e toners. A seguir, estão informações sobre o procedimento de alguns resíduos
atendidos pela logística reversa.

11 – Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e Outros Resíduos 135


Segregação e acondicionamento

Materiais Materiais Resíduos


recicláveis perfurocortantes comuns

Acondicionar Acondicionar em Acondicionar


em saco embalagem rígida em saco
de plástico de papelão de plástico
transparente ou similar preto

Coleta da áreas geradoras

Armazenamento em abrigo de resíduos

Documento
Coleta e transporte por empresa especializada de
transporte

Resíduos comuns Materiais recicláveis

Tratar, compostar ou
Sistema de
dispor em Aterro
reciclagem
Sanitário Classe II

Certificado
de destinação

Figura 11.1. Fluxograma para descarte de materiais recicláveis e não recicláveis.

136 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


11.3.1. PILHAS E BATERIAS
As pilhas e baterias, por possuírem em sua composição metais pesados como mercúrio,
chumbo, cobre, zinco, cádmio, manganês, níquel e lítio, são consideradas resíduos perigosos
à saúde pública e ao meio ambiente. Desse modo, quando esse material estiver inservível ou
obsoleto, deve prioritariamente ser encaminhado à empresas que garantam a reciclagem/
reprocessamento ou outra destinação ambientalmente adequada.

11.3.1.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
Pilhas e baterias devem ser retiradas do equipamento onde foram utilizadas e acondicio-
nadas na própria embalagem ou em uma caixa corretamente identificada.

ARMAZENAMENTO
Pilhas e baterias, devidamente acondicionadas, devem ser mantidas na instituição em
um lugar seguro. Deve-se ter uma atenção especial nos casos da geração de grandes volu-
mes, para que esses não sejam armazenados em recipientes que fiquem depositados dire-
tamente sobre o solo. Esses resíduos devem ser mantidos, preferencialmente, em um abrigo
específico ou área destinada para tal.

TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL


Esse material deve ser encaminhado às empresas especializadas para o tratamento especí-
fico e disposição final segura. Há a possibilidade, também, de enviá-las a cooperativas especia-
lizadas em receber REE, autorizadas por órgão ambiental. Nesse caso, é fundamental que essas
cooperativas estejam capacitadas para o recebimento e manuseio de componentes perigosos.

11.3.2. LÂMPADAS FLUORESCENTES


As lâmpadas fluorescentes (tubulares, circulares ou compactas) possuem no seu interior
vapor de mercúrio, vapor de sódio ou outros vapores metálicos, que podem causar danos à
saúde e ao meio ambiente e, portanto, necessitam de um descarte seguro.

11.3.2.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
As lâmpadas queimadas ou quebradas devem ser segregadas dos demais resíduos. O
manuseio deve ser realizado com extremo cuidado e atenção, a fim de se evitar acidentes.
Sempre que possível, as lâmpadas queimadas devem ser acondicionadas, preferencialmen-
te, na própria embalagem por serem adequadas à sua preservação e transporte. Já as lâm-
padas quebradas devem ser separadas das demais e acondicionadas em caixas de papelão,
ou tambores e bombonas com tampa, devidamente identificados.

ARMAZENAMENTO
As lâmpadas, quebradas ou não, devidamente acondicionadas, devem ser armazenadas,
preferencialmente, em um abrigo específico ou área destinada para esse resíduo.

11 – Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e Outros Resíduos 137


TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL
As lâmpadas devem ser enviadas para uma empresa licenciada para o recebimento, tra-
tamento e disposição ambientalmente adequada.

11.3.3. ÓLEO LUBRIFICANTE


O óleo lubrificante é um derivado de petróleo utilizado, por exemplo, como lubrificante
de máquinas industriais. Nesses casos há, ocasionalmente, a necessidade de ser substituído
a fim de garantir a preservação da parte mecânica dos equipamentos que o utilizam, ge-
rando resíduo. Os resíduos de óleo lubrificante, bem como os materiais contaminados com
ele, sejam líquidos ou sólidos, devem ser descartados de forma adequada, devido ao seu
potencial de contaminação do meio ambiente.

11.3.3.1 PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
O óleo lubrificante usado e os resíduos de materiais contaminados com ele devem ser segre-
gados de outros grupos de resíduos, ainda nas unidades geradoras. Os resíduos sólidos devem
ser acondicionados em sacos reforçados (big bags) e os líquidos em bombonas, ambos homo-
logados, e não devem ser apoiadas diretamente no solo, mas sobre dispositivos de contenção.

ARMAZENAMENTO
Após o correto acondicionamento, esses resíduos devem ser armazenados em um abri-
go temporário.

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL


Os resíduos líquidos de óleo lubrificante devem ser encaminhados para empresas es-
pecializadas em rerrefino. Os resíduos sólidos devem ser encaminhados para coprocessa-
mento (tecnologia que permite utilizar resíduos industriais e urbanos como combustíveis
alternativos na produção do cimento).

11.3.4. RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS (REE)


REE são todos os resíduos originários do descarte de equipamentos eletroeletrônicos,
incluindo as suas peças, como, computadores e seus componentes periféricos, impressoras,
aparelhos, equipamentos de laboratório, entre outros. Esses resíduos devem receber aten-
ção especial, pois podem possuir materiais não biodegradáveis e tóxicos. Logo, se lançados
de maneira indevida no meio ambiente, há risco de contaminação do solo e curso das águas.

11.3.4.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
Os REE devem ser segregados dos outros grupos de resíduos e acondicionados,
preferencialmente, na própria embalagem ou em uma embalagem reforçada, segura
e identificada.

138 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


ARMAZENAMENTO
Esses resíduos, corretamente acondicionados, devem aguardar a coleta em um abrigo
ou área específicos ao armazenamento seguro desse tipo de material. É importante que os
resíduos eletroeletrônicos não sejam depositados diretamente no solo e que estejam prote-
gidos de quaisquer líquidos e intempéries do tempo.

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL


Há duas maneiras para o encaminhamento seguro dos REE. A primeira é devolvê-los ao
fabricante, consultando o sistema de devolução disponibilizado pela empresa e a segunda
forma é encaminhá-los a uma cooperativa autorizada pelo órgão regulador a receber e ma-
nusear esse tipo de resíduo.

11.3.5. CARTUCHOS E TONERS


Os cartuchos e toners de tinta de impressoras são feitos de plásticos, comumente pro-
duzidos a partir do petróleo, e contém um pó que é uma mistura de carbono e alguns polí-
meros. Esses polímeros e metais que agridem o meio ambiente são liberados quando esse
material é incinerado ou descartado de modo inadequado no meio ambiente.

11.3.5.1. PROCEDIMENTO DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
Para os cartuchos e toners, sugere-se a logística reversa. Para tanto, os resíduos devem
ser segregados dos outros REE, preferencialmente em suas próprias embalagens (de acordo
com a marca), pois normalmente retornam para o próprio fabricante.

ARMAZENAMENTO
Esses resíduos, corretamente acondicionados, devem aguardar a coleta em um abrigo
outra área, específicos ao armazenamento seguro desse tipo de material. É importante que
os cartuchos e toners não sejam depositados diretamente no solo e que estejam protegidos
de quaisquer líquidos e intempéries do tempo.

DESTINAÇÃO FINAL
Várias empresas fabricantes de cartuchos e toners oferecem suporte para o recebimento
desse tipo de resíduo, mediante solicitação, através do site do fornecedor (logística reversa).
No caso de o fabricante ainda não atender a LR, esse material deve ser destinado como
resíduo eletroeletrônico.

11.4. OUTROS RESÍDUOS


Neste item, incluímos os resíduos que embora possam ser gerados em instituições de ser-
viços de saúde, não estão contemplados nos grupos anteriormente descritos. Como visto no
Capítulo 2, a classificação dos resíduos depende de vários fatores e a análise criteriosa desses
fatores acarreta em peculiaridades, que devem ser tratadas especificamente para cada resíduo.

11 – Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e Outros Resíduos 139


Entre os resíduos não contemplados, pode haver alguns considerados perigosos por apre-
sentar inflamabilidade, corrosividade, toxicidade, reatividade e/ou patogenicidade, como é o
caso do amianto, botijas de gás refrigerante e latas de tinta contendo borra ou resíduos não
perigosos, que são aqueles que, embora não apresentem nenhuma das características acima,
podem exercer impacto no meio ambiente, fundamentalmente quando gerados em grande
quantidade ou que não sejam destinados corretamente, como é o caso dos materiais de cons-
trução civil, madeira, podas de árvore e gelo reutilizável. Em seguida, apresentamos alguns
exemplos, bem como o procedimento para o descarte correto desses resíduos.

11.4.1. AMIANTO
O amianto, também chamado de asbesto, que foi muito utilizado na fabricação de telhas,
caixas d’água e em telas para aquecimento como é o caso da sua utilização, em laboratório,
sobre o bico de Bunsen, é um material nocivo à saúde e ao meio ambiente. Embora essa utili-
zação esteja atualmente proibida devido à fibra de amianto ser capaz de causar danos se inala-
da, aspirada ou ingerida, ainda é possível encontrar esse material em instituições mais antigas.
O resíduo de amianto, muitas vezes gerado nas atividades de reforma, é classificado
como Perigoso, pois libera fibras de amianto que são consideradas cancerígenas.
A resolução n° 348/2004 do CONAMA determina que produtos que contenham amianto como
matéria-prima devem ser tratados como resíduos perigosos e dispostos em aterros sanitários.

11.4.1.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


Materiais contendo amianto só devem ser retirados da unidade geradora por empresa espe-
cializada e licenciada para o manuseio e transporte desse tipo de material. A empresa responsá-
vel deve atender às medidas de segurança, como o uso de equipamentos de proteção individual
(EPI) específicos e demais medidas que evitem a exposição de pessoas e a proteção do meio am-
biente durante todo o procedimento. É imprescindível a presença de um técnico de segurança
do trabalho que garanta que todos os envolvidos executem o trabalho com segurança.

SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
Os materiais contendo amianto devem ser segregados dos demais e envelopados com
lonas. Resíduos de amianto quebrados devem ser acondicionados em sacos duplos denomi-
nados big bags, a fim de se evitar quaisquer tipos de acidentes.

ARMAZENAMENTO
Esses resíduos, devidamente acondicionados, devem ser armazenados sobre paletes a
fim de se evitar o contato direto com o solo.

DISPOSIÇÃO FINAL
Estes resíduos devem ser encaminhados ao aterro Classe I.

11.4.2. BOTIJAS DE GÁS REFRIGERANTE


O gás refrigerante, também conhecido como fluido, é um item essencial nos sistemas de
refrigeração e está presente em aparelhos de ar condicionado, geladeiras e outros sistemas

140 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


de refrigeração. As botijas de gás refrigerante, de estrutura metálica, são recipientes utiliza-
dos para o armazenamento de gases de diferentes tipos e seus resíduos são classificados
como resíduos perigosos. O descarte desse item depende do gás a ser destinado e, por isso,
maiores detalhes devem ser consultados na Resolução 340/2003 do CONAMA, totalmente
dedicada às questões de cilindro de gases.

11.4.2.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
As botijas de gás refrigerante devem ser segregadas dos demais resíduos e acondiciona-
das em big bags homologados.

ARMAZENAMENTO
Botijas, devidamente acondicionadas, devem ser armazenadas, preferencialmente, em
um abrigo ou área destinados ao armazenamento desse tipo de resíduo.

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL


As botijas contendo gás refrigerante devem ser encaminhadas para empresa especia-
lizada nesse material, que deverá estar licenciada para a retirada e regeneração do gás e
reciclagem do cilindro metálico.

11.4.3. LATAS DE TINTA


As latas de tinta que apresentem borra de tinta ou de óleo (borra ácida) necessitam de
um descarte apropriado, pois podem causar danos à saúde e ao meio ambiente.

11.4.3.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
As latas contendo borra devem ser segregadas e acondicionadas em sacos duplos (big
bags) homologados, enquanto as latas vazias devem ser segregadas e acondicionadas em
sacos não necessariamente homologados.

ARMAZENAMENTO
Após o correto acondicionamento, esses resíduos devem ser armazenados em um abri-
go que contemple essa classe de resíduo ou em outra área destinada para tal, desde que não
depositados diretamente sobre o solo.

DESTINAÇÃO FINAL
As latas de tinta contendo borra devem ser enviadas a uma empresa licenciada e espe-
cializada no coprocessamento, enquanto as latas de tinta sem borras podem ser encaminha-
das diretamente à reciclagem.

11 – Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e Outros Resíduos 141


11.4.4. RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC)
Esses resíduos são, geralmente, provenientes de construções, reformas, reparos e demo-
lições de obras de construção civil. São considerados de baixa periculosidade mas se não
destinados corretamente, principalmente os grandes volumes, acabam impactando negati-
vamente na saúde e no meio ambiente. A falta de segregação ou disposição incorreta favo-
rece o acúmulo de água e, consequentemente, a proliferação de insetos e de outros vetores
que podem acarretar doenças.

11.4.4.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
Os RCC devem ser segregados de quaisquer outros tipos de resíduo, como material or-
gânico, produtos químicos, tóxicos ou embalagens diversas. Quando gerados em pequena
quantidade, os RCC devem ser segregados e acondicionados em sacos de ráfia, enquanto os
grandes volumes devem ser armazenados em caçambas estacionárias de 5 m³, 7 m³ ou outra
compatível, de acordo com a quantidade dos resíduos.

ARMAZENAMENTO
Após o correto acondicionamento, os RCC em sacos de ráfia ou em caçambas devem
aguardar a retirada por empresa especializada.

DISPOSIÇÃO FINAL
Os RCC devem ser transportados por empresa especializada e destinados para recicla-
gem de resíduos da construção civil ou para aterro classe I, no caso de conterem resíduos
com características perigosas.

11.4.5. RESÍDUOS DE MADEIRA


Os resíduos de madeira provenientes de embalagens de paletes ou originários da cons-
trução civil são passíveis de reaproveitamento e reciclagem.

11.4.5.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
Os resíduos de madeira devem ser segregados dos demais resíduos ainda no local da
geração e acondicionados diretamente em caçambas de 30 m³, por exemplo.

DESTINAÇÃO FINAL
Os resíduos de madeira podem ser destinados para reciclagem, recuperação energética
de biomassa ou serem dispostos em aterro sanitário. Nesse caso, as madeiras livres de quais-
quer resíduos químicos são destinadas a aterro sanitário de Classe II, enquanto aquelas que
apresentem material químico devem ser destinadas ao aterro de Classe I.

142 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


11.4.6. RESÍDUOS DE PODA DE VEGETAÇÃO
São considerados resíduos provenientes de poda de vegetação as podas arbóreas, com-
postas por espécimes de vegetais lenhosos e de folhas resultantes do serviço de varrição.
Vale lembrar que há a necessidade da autorização para realização de podas, pois essas são regu-
lamentadas pela legislação municipal que estabelece responsabilidades e punições aos infratores.

11.4.6.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
Os resíduos de poda e varrição devem ser segregados dos demais resíduos ainda no
local da geração e armazenados diretamente, se possível, em caçambas.

DISPOSIÇÃO FINAL
Após o preenchimento das caçambas, os resíduos resultantes de poda e varrição
podem ser encaminhados para compostagem ou serem destinados diretamente ao
aterro sanitário.

11.4.7. GELO REUTILIZÁVEL


O gelo reutilizável, é um material que muito frequentemente acompanha as embala-
gens contendo diversos insumos de uso laboratorial que necessitam de refrigeração ou con-
gelamento durante o seu transporte. Esse é um material normalmente atóxico, mas como
qualquer outro tipo de resíduo, requer descarte correto. Nesse caso, a atenção especial deve
ser dispensada à composição química do líquido ou gel presente no interior da embalagem.
Quando o material interior for à base de polímero, esses resíduos devem ser encaminhados
atendendo ao fluxo de resíduo químico.

11.4.7.1. PROCEDIMENTOS DE DESCARTE


SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO
Os gelos reutilizáveis devem ser segregados de outros materiais, preferencialmente em
suas próprias embalagens ou em caixas de papelão, que devem ser identificadas.

ARMAZENAMENTO
Após o correto acondicionamento, esse material deve ser armazenado em um abrigo desti-
nado a resíduos químicos, no caso de presença de polímero, ou em outra área destinada para tal.

DISPOSIÇÃO FINAL
O conteúdo do gelo reutilizável, quando a base for água, pode ser descartado direta-
mente na rede de esgoto e o material plástico restante deve ser encaminhado à reciclagem.
Aqueles que contiverem polímero devem ser encaminhados como resíduo químico, seguin-
do o fluxo descrito no Capítulo 8.

11 – Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e Outros Resíduos 143


Segregação e acondicionamento

Pilhas e Materiais Materiais


Lâmpadas Lâmpadas RCC2 RCC2
baterias, REE1, inteiros quebrados
fluorescentes fluorescentes pequeno grande
cartuchos contendo contendo
queimadas quebradas volume volume
e toners amianto amianto

Caixa de
Embalagem Embalagem Envelopar
papelão, Saco Caçambas
original ou original ou em lonas
tambor ou de de 5 m3 Big bags
caixas caixas e colocar
bombona ráfia ou 7 m3
rígidas rígidas em pallets
homologada

Coleta das áreas geradoras

Armazenamento em abrigo de resíduos

Documentos
Coleta e transporte por empresa especializada para
transporte

Tratamento/tecnologia de destinação*

Certificado de destinação

Figura 11.2. Fluxograma para segregação e acondicionamento para pilhas, baterias, REE,
lâmpadas, RCC e amianto.
* Tratamentos/tecnologia de destinação. REE: cooperativas de reciclagem; pilhas e bate-
rias: tratamento especializado; cartuchos e toners: logística reversa; RCC contaminado:
aterro Classe I; RCC não contaminado: reciclagem; Amianto: aterro Classe I; lâmpadas:
tratamento em empresas licenciadas; 1REE: Resíduos Eletroeletrônicos; 2RCC: Resíduos de
Construção Civil.

144 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


Segregação e acondicionamento

Embalagens para
Latas de tinta Botijas Madeira
gelo reutilizável

Contaminadas
À base À base Não
Vazias Com borra com produtos
de água de polímero contaminadas
químicos

Big bags
homologados
Caçambas
Big bags Big bags homologados
de 30 m³
Sacos
transparentes

Coleta das áreas geradoras

Armazenamento em abrigo de resíduos

Documentos
Coleta e transporte por empresa especializada para
transporte

Tratamento/tecnologia de destinação*

Certificado de destinação

Figura 11.3. Fluxograma para segregação e acondicionamento para latas de tinta, botijas,
embalagens para gelo reutilizável e madeira.
* Tratamentos/tecnologia de destinação. Latas de tintas vazias: reciclagem; Latas de tinta
com borra: coprocessamento ou tratamento especializado; Botijas: desenvase dos gases e
reciclagem da sucata metálica; Gelo reutilizável à base de água: reciclagem; Gelo reutilizá-
vel à base de polimentos: fluxo de resíduos químicos; Madeiras contaminadas com produ-
tos químicos: aterro Classe I; Madeiras sem tratamento químicos: recuperação energética,
reciclagem e Aterros Classe II.

11 – Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e Outros Resíduos 145


Segregação e acondicionamento

Poda de Óleo lubrificante


vegetação de e materiais
porte arbóreo contaminados

Segregação
na área
geradora

Líquido Sólido
Caçambas
de 30 m³
Bombonas
Big bags
homologadas

Coleta das áreas geradoras

Armazenamento em abrigo de resíduos

Documentos
para Coleta e transporte por empresa especializada
transporte

Tecnologia de destinação*

Certificado de destinação

Figura 11.4. Fluxograma para segregação e acondicionamento para poda de vegetação de


porte arbóreo, óleos lubrificantes e materiais contaminados.
* Tratamentos/tecnologia de destinação. Resíduos de poda: Compostagem ou aterro sani-
tário; Óleo lubrificante líquido: refino; Óleo lubrificante líquido contaminado: tratamento
específico; Materiais sólidos contaminado com óleo: tratamento específico.

146 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10.004:2004 – Resíduos sólidos
– Classificação.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 8.419:1992 – Apresentação de Projetos
de Aterros Sanitários de Resíduos Sólidos Urbanos.
BRASIL. Decreto Nº 10.936, de 12 de janeiro de 2022 que regulamenta a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de
2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, esse decreto foca mais em logística reversa.
Brasil. Lei n° 5.764/71 de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui
o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 16
de dezembro de 1971.
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a
Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União. 3 de
agosto de 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada nº 222, de 28 de março de 2018. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos
Resíduos de Serviços de Saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União. 29 de março de 2018.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução nº
358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos de saúde e
dá outras providências. Diário Oficial da União. 29 de abril de 2005.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução nº
340, de 25 de setembro de 2003. Dispõe sobre a utilização de cilindros para o vazamento de gases
que destroem a Camada de Ozônio, e dá outras providências. Diário Oficial da União. 3 de novem-
bro de 2003.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução nº
348, de 16 de agosto de 2004. Brasília DF, n. 158, 17 de agosto de 2004. Altera a Resolução CONAMA
nº 307, de 5 de julho de 2002, incluindo o amianto na classe de resíduos perigosos.
SZIGETHY, L.; ANTENOR, S. Resíduos sólidos urbanos no Brasil: desafios tecnológicos, políticos e econômi-
cos. 2020. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/cts/en/topics/217-residuos-solidos-urbanos-no-
-brasil-desafios-tecnologicos-politicos-e-economicos. Acesso em 10/02/2022.

11 – Resíduos Comuns e Recicláveis – Grupo D e Outros Resíduos 147


12
Abrigos Destinados ao
Armazenamento de Resíduos
de Serviços de Saúde

Aline Navogin Pego Temotio


João Tadeu Foá Binsztajn
12 Abrigos Destinados ao
Armazenamento de Resíduos
de Serviços de Saúde

Este capítulo tem como objetivo disponibilizar, de maneira sistemática, orientações téc-
nicas para desenvolvimento de projeto executivo para a construção de Abrigo Temporário
para Resíduos gerados em instituições de serviço de saúde. O armazenamento desses re-
síduos deve estar de acordo com a RDC N° 222/2018 da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) que dispõe sobre os requisitos de Boas Práticas de Gerenciamento dos
Resíduos de Serviços de Saúde e outros resíduos considerados especiais.

12.1. ASPECTOS GERAIS


A exigência legal de um abrigo exclusivo para os resíduos proporciona maior segurança,
melhor organização e facilita a gestão das diferentes classes de resíduos gerados. No entan-
to, o armazenamento temporário pode ser dispensado nos casos em que o fluxo de geração,
recolhimento e transporte justifiquem (RDC N° 222/2018).
Para a determinação da dimensão do abrigo é importante que sejam considerados: a
classe dos resíduos gerados na instituição, o volume de resíduos de cada classe, bem como
o fluxo seguro de acesso, tanto na entrada como na saída dos resíduos armazenados. Para a
definição da dimensão, é importante que a empresa faça um levantamento prévio que pos-
sibilite diagnosticar não só as classes de resíduos gerados, mas também estimar o volume
máximo possível de ser gerado em um curto espaço de tempo.
O abrigo deve ser de alvenaria e ser destinado, exclusivamente, ao armazenamento dos
resíduos de serviço de saúde, podendo incluir as diferentes classes de resíduos, bem como
outros resíduos que requeiram armazenamento, antes da destinação ou disposição final,
como por exemplo eletroeletrônicos, lâmpadas entre outros.
A localização do abrigo deve favorecer o acesso dos veículos responsáveis pela retirada. Por
questões de segurança, o ideal é que o veículo da transportadora consiga acessar o abrigo, sem
a necessidade de entrada na instituição. No entanto, caso isso não seja possível, é importante
que na definição do local do abrigo sejam consideradas, dentro da instituição, áreas que per-
mitam a circulação, manobra e estacionamento do veículo da empresa responsável pela coleta.
As exigências técnicas importantes para a construção de um abrigo para o armazena-
mento de resíduos de serviço de saúde são subdivididas em exigências comuns a todo abri-
go, ou seja, independente da classe de resíduo armazenado e exigências específicas, que
devem estar de acordo com as peculiaridades classe do resíduo armazenado.

150 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


12.2. DIRETRIZES E CONSTRUÇÕES NORMATIVAS
PARA A CONSTRUÇÃO DO ABRIGO
As diretrizes para a construção de um abrigo podem variar de acordo com o estado
e município onde a instituição está localizada, devendo seguir as instruções e exigências
legais específicas da região. Abaixo estão relacionadas às principais normativas que regula-
mentam as necessidades para o armazenamento das diferentes classes de resíduos:
„„ Normas Regulamentadoras relativas à Segurança e Medicina do Trabalho da Portaria
N° 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Previdência Social.
„„ Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado.
„„ Código de Obras vigente do município onde se localiza a instituição.
„„ Normas vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), entre elas:
ƒƒ NBR 17240: Sistema de detecção e alarme de incêndio.
ƒƒ NBR 17505: Armazenamento de Líquidos inflamáveis e combustíveis.
ƒƒ NBR 15808: Extintores de incêndio portáteis.
ƒƒ NBR 15809: Extintores de incêndio sobre rodas.
ƒƒ NBR 10898: Sistema de Iluminação de Emergência.
ƒƒ NBR 5410: Instalações elétricas de baixa tensão.
ƒƒ NBR 5419: Proteção contra descargas atmosféricas.
ƒƒ NBR 5626: Instalação predial de água fria.
ƒƒ NBR 6492: Representação de Projetos de Arquitetura.
ƒƒ NBR 9050: Normas de Arquitetura Relacionadas à acessibilidade.
ƒƒ NBR 16280: Reformas em edificações (caso edifício existente).
ƒƒ NBR 9077: Saídas de emergência em edifícios.
ƒƒ NBR 10152: Níveis de ruído para conforto acústico.
ƒƒ NBR 11742: Porta corta-fogo para saída de emergência.
ƒƒ NBR 13531: Elaboração de Projetos de Edificações – Atividades Técnicas.
ƒƒ NBR 13532: Elaboração de Projeto de Edificações – Arquitetura.
ƒƒ NBR 14432: Exigência de resistência ao fogo de elementos de construção de edi-
ficações – Procedimento.
ƒƒ NBR 14718: Guarda-corpos para edificação.
ƒƒ NBR 17505: Armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis.
ƒƒ NBR 5688: Sistemas prediais de água pluvial, esgoto sanitário e ventilação.
ƒƒ NBR 7.500: Símbolos de risco e manuseio para o transporte e armazenamento de materiais.
ƒƒ NBR 10160: Tampões e grelhas de ferro fundido dúctil.
ƒƒ NBR 16291: Equipamento de proteção em geral.
No caso dos Rejeitos Radioativos, as especificações devem seguir as determinações da
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), entre elas:
„„ NN 8.01 – Resolução CNEN 167/14 – Gerência de Rejeitos Radioativos de Baixo e
Médio Níveis de Radiação.
„„ NN 8.02 – Resolução CNEN 168/14 – Licenciamento de Depósitos de Rejeitos
Radioativos de Baixo e Médio Níveis de Radiação.
„„ NN 6.02 – Resolução CNEN 261/20 – Licenciamento de Instalações Radiativas.

12.3. ABRANGÊNCIA DOS RESÍDUOS ARMAZENADOS NO ABRIGO


O projeto do abrigo deve contemplar as exigências relacionadas aos diferentes grupos
de Resíduos de Serviço de Saúde (Tabela 12.1) gerados pela instituição. As exigências gerais
e específicas à cada classe de resíduo estão descritas nos itens a seguir.

12 – Abrigos Destinados ao Armazenamento de Resíduos de Serviços de Saúde 151


Tabela 12.1. Classificação dos resíduos de serviço de saúde*
Grupo Classe de resíduo
A Infectante
B Químico
C Radioativo
D Comuns e recicláveis
E Perfurocortantes
* Vide Capítulo 4 para mais detalhes.

12.4 EXIGÊNCIAS GERAIS PARA CONSTRUÇÃO DE


UM ABRIGO DE RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE
Para a construção de um abrigo seguro, independentemente dos riscos particulares da
classe de resíduos que nele serão acondicionados, deve-se inicialmente atender as exigên-
cias comuns que independem da periculosidade do resíduo. São elas:
„„ Estar localizado em uma área exclusiva, com fácil acesso aos veículos responsáveis
pela coleta.
„„ Possuir ambientes específicos para cada classe de resíduos que irá abrigar, devendo
considerar as classes A, B, C, D, E, materiais recicláveis e outros resíduos.
„„ Ser construído em alvenaria, dotado apenas de aberturas para ventilação adequada
com dimensão equivalente a, no mínimo, 1/20 da área do piso.
„„ Possuir portas providas de proteção inferior, com dimensões que possibilitem o
trânsito dos coletores.
„„ Ser dimensionado de acordo com o volume de resíduos gerados pela instituição. A
capacidade de armazenamento deve ser compatível com a periodicidade da coleta
de cada classe de resíduo armazenado.
„„ Possuir fácil acesso para o transporte dos coletores. Os recipientes de transporte in-
terno não poderão transitar pela via pública externa à edificação para terem acesso
ao abrigo de resíduos.
„„ Possuir piso revestido de material resistente, impermeável, lavável e inclinado, com
caimento direcionado às canaletas para o escoamento dos efluentes de lavagem
para a rede de esgoto, com ralo sifonado com tampa.
„„ Possuir dispositivos de proteção (tela ou similar), contra a entrada de vetores e roe-
dores, em todas as aberturas.
„„ Possuir cantos arredondados a fim de evitar acúmulo de sujeiras.
„„ Não possuir prateleiras que possam prejudicar a movimentação interna das cargas
de resíduos, com exceção dos locais onde sejam estritamente necessários.
„„ Ser provida de pontos de iluminação artificial, de água e tomada elétrica.
„„ Estar identificado como “Abrigo de resíduos” em local de fácil visualização, com sina-
lização de segurança a considerando o tipo de resíduo armazenado, com o uso da
simbologia baseada na norma NBR 7500 da ABNT.
„„ Ser de acesso restrito aos funcionários responsáveis pelo manejo e gerenciamento
de resíduos de serviço de saúde que devem receber treinamento periódico, especí-
fico às classes de resíduo armazenados.
„„ Dispor de meios para proteção e combate a incêndio.

152 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


12.5 EXIGÊNCIAS ESPECÍFICAS À CONSTRUÇÃO DE ABRIGO PARA
OS DIFERENTES GRUPOS DE RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE

12.5.1. GRUPO A – INFECTANTES


Os resíduos infectantes são, normalmente, de fácil putrefação, por isso devem ser conserva-
dos sob refrigeração, caso o armazenamento seja superior a vinte e quatro horas. A instalação
de câmara fria deve ser considerada, no caso de a instituição gerar grandes volumes com neces-
sidade de refrigeração, como é o caso das bolsas de sangue, carcaças de animais, entre outros.
Para a instalação de uma câmara fria, é necessário:
„„ Considerar as dimensões adequadas de volume gerado e a periodicidade da coleta.
„„ Possuir iluminação.
„„ Possuir temperatura ideal para o acondicionamento do resíduo específico armazenado.

A fim de garantir a adequação correta da câmara fria, é necessário também considerar o


ciclo de operação do compressor, a rotatividade do produto, a carga máxima de estocagem
e a quantidade e potência do ar condicionado destinado a essa área. Além disso, é necessá-
rio considerar também os pontos de drenagem.

12.5.2. GRUPO B – QUÍMICOS


Para atender as particularidades desse grupo, o abrigo para o armazenamento dos resí-
duos químicos deve atender também as seguintes especificações:
„„ Respeitar a segregação e compatibilidade química de acordo com o Art.36, parágra-
fo I da RDC N° 222/2018 no ato da armazenagem.
„„ Possuir piso com revestimento resistente à abrasão, superfície plana e regular, anti-
derrapante e rampa de acordo com a Anvisa (RDC N° 50/2002). Quando necessária,
com inclinação, conforme orientações da NBR 9050/2020.
„„ Possuir caixa de retenção que armazene, com segurança, o líquido proveniente das
canaletas, no caso de extravasamentos.
„„ Possuir área específica de higienização para limpeza e desinfecção simultânea dos
recipientes coletores e demais equipamentos utilizados no manejo de RSS, atenden-
do as orientações contidas no Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de
Saúde e RDC N° 222/2018.

12.5.3. GRUPO C – RADIOATIVOS


Os depósitos para rejeitos radioativos, devem seguir as normas e resoluções da Comissão
Nacional de Energia Nuclear (CNEN). De acordo com a Resolução N° 168/14 da CNEN, os depó-
sitos para rejeitos radioativos são classificados em 4 tipos, de acordo com o objetivo: (I) Inicial,
(II) Intermediário, (III) Final e (IV) Provisório. Trataremos apenas do depósito inicial, que é des-
tinado ao armazenamento de rejeitos radioativos, cuja responsabilidade para administração
e operação é do titular, pessoa jurídica responsável pela instalação geradora dos rejeitos. Os
outros 3 tipos de depósitos são destinados ao armazenamento de rejeitos que não podem ser
armazenados na instituição geradora e, por isso, não serão abordados neste manual.
De acordo com a classificação descrita na norma CNEN NN 8.01 – Resolução 167/14 –
Gerência de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio Níveis de Radiação e as diretrizes da CNEN
NN 8.02 – Resolução 168/14 – Licenciamento de Depósitos de Rejeitos Radioativos de Baixo e

12 – Abrigos Destinados ao Armazenamento de Resíduos de Serviços de Saúde 153


Médio Níveis de Radiação, o depósito central da instituição deverá armazenar apenas rejeitos
radioativos da Classe 2.1, denominados Rejeitos de Meia-Vida Curta (RBMN-VC) (vide Capítulo
10 para mais detalhes). Por outro lado, o depósito inicial para rejeitos radioativos da Classe 1,
denominados Rejeitos de Meia-Vida Muito Curta (RVMC) ou rejeitos com meia-vida inferior ou
da ordem de 100 dias, deverá ficar localizado na mesma edificação da instalação radiativa que
gerou esses rejeitos e deverá seguir a Norma CNEN NN 6.02 – Licenciamento de Instalações
Radiativas, desde que comprovado o atendimento aos requisitos estabelecidos na Norma
CNEN NN 8.01 – Gerência de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio Níveis de Radiação.
Assim como para os demais RSS, o depósito deve estar identificado em local de fácil
visualização, com a sinalização de segurança “Rejeitos Radioativos”, com símbolo baseado
na norma NBR N° 7.500 da ABNT.
De acordo com a norma CNEN 8.01 mencionada anteriormente, o depósito inicial (tipo I) deve:
„„ Conter com segurança os rejeitos até que possam ser eliminados ou removidos para
local determinado pela CNEN.
„„ Garantir a proteção física dos rejeitos, com provisão de barreiras de segurança e evi-
tando o acesso não autorizado.
„„ Dispor de controle de liberação de material radioativo para o meio ambiente.
„„ Dispor de um sistema de monitoração de área.
„„ Situar-se em local cercado e sinalizado, com acesso restrito a pessoal autorizado.
„„ Ter pisos e paredes impermeáveis e de fácil descontaminação: as paredes internas
devem ser lisas e pintadas com tinta plástica impermeável.
„„ Apresentar delimitação clara das áreas supervisionadas e controladas e, se necessá-
rio, locais reservados à monitoração e descontaminação individuais.
„„ Dispor de meios para evitar decomposição de rejeito biológico.
„„ Dispor de procedimentos apropriados sempre afixados em paredes, quadros e ou-
tros lugares bem visíveis, para facilitar o manuseio de materiais, minimizar a exposi-
ção de Indivíduos Ocupacionalmente Expostos (IOE) e do público.
„„ Ter capacidade de armazenamento adequada, de modo a minimizar riscos de aci-
dentes durante o manuseio de rejeitos pelo tempo que se fizer necessário.
Para os resíduos das classes 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4 (vide Capítulo 10), além das exigências aci-
ma, de acordo com a norma CNEN 8.02, o abrigo deve seguir as exigências a seguir, algumas
das quais comuns a outros resíduos:
a) Possuir blindagem para o exterior que assegure o cumprimento dos requisitos de
proteção radiológica.
b) Possuir sistemas de ventilação, exaustão e filtragem.
c) Dispor de meios que evitem a entrada de animais que possam provocar a dispersão
do rejeito.
d) Assegurar as condições ambientais necessárias para evitar a degradação dos volumes.
e) Possuir sistemas de tanques e drenos de piso para coleta de líquidos provenientes
de eventuais vazamentos e descontaminações.
f ) Prover segurança contra ação de eventos induzidos por fenômenos naturais.
g) Possuir barreiras físicas que visem minimizar a dispersão e migração de material ra-
dioativo para o meio ambiente.
h) Dispor de acessos com dimensões suficientes para permitir deslocamentos e mano-
bras de volumes.
i) Dispor de piso com resistência de carga compatível com a altura e peso do material
a ser armazenado e de equipamentos de manejo de carga.
j) Possuir parâmetros de proteção adicionais, denominados barreiras artificiais, cujo
objetivo principal é de evitar, minimizar ou retardar a migração dos radionuclídeos
do rejeito para os ambientes contíguos, como barreiras físicas para prevenção de

154 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


intrusão de água, animais e raízes e barreiras químicas que visam restringir o movi-
mento dos radionuclídeos. O sistema deve evitar o contato da água com os recipien-
tes através de sistema de drenagem e bombeamento das águas. As águas drenadas
devem ser direcionadas através de sistema independente e conduzida a um depósi-
to coletor para análise e posterior evacuação.
Além das exigências mencionadas, é conveniente que a área possua bancada, de prefe-
rência em material anticorrosivo (inox ou similar) para eventual manipulação dos materiais.

IMPORTANTE
Com vistas à obtenção da Autorização de Construção, o titular do depósito deve subme-
ter à CNEN um Relatório Preliminar de Análise de Segurança (RPAS), de acordo com a norma
CNEN NN 8.02 – Resolução 168/14 – Licenciamento de Depósitos de Rejeitos Radioativos de
Baixo e Médio Níveis de Radiação, Seção II, Da Autorização para Construção.

12.5.4. GRUPO D – RESÍDUOS COMUNS


O abrigo destinado aos resíduos do grupo D não requer nenhuma exigência específica,
devendo ser atendidas apenas as exigências gerais descritas no item 12.4.

12.5.5. OUTROS RESÍDUOS


O abrigo destinado aos resíduos considerados especiais, como eletroeletrônicos, equi-
pamentos, baterias, lâmpadas, cartuchos e toners também não necessita atender a exigên-
cias específicas, devendo ser atendidas apenas as exigências gerais descritas no item 12.4.
Outros resíduos, como os de construção civil ou os resultantes da poda de árvores ou
arbustos, são exemplos de resíduos que não devem ser armazenados em abrigos especiais.
Para esses, há a necessidade do uso de caçambas apropriadas, que devem ser retiradas por
empresas que, comprovadamente, destinam apropriadamente esse tipo de resíduos.

12.6. MODELO DE UM ABRIGO DE RESÍDUOS


O modelo de abrigo de resíduos pode possuir até sete salas de armazenagem, cada uma
específica para uma determinada classe de resíduos, como:
„„ Resíduos Infectantes (Grupo A + E).
„„ Resíduos de Carcaças (Grupo A2 + A4).
„„ Resíduos Químicos (Grupo B + E).
„„ Rejeitos Radioativos (Grupo C).
„„ Resíduos Comuns (Grupo D).
„„ Resíduos Recicláveis (Grupo D).
„„ Outros resíduos.

IMPORTANTE
A sala destinada a cada classe de resíduo deve ser compatível com o volume gerado.

12 – Abrigos Destinados ao Armazenamento de Resíduos de Serviços de Saúde 155


12.6.1. DESCRIÇÃO DO MODELO
Na Figura 12.1, apresentamos o exemplo de tipologia de um abrigo com áreas desti-
nadas às diferentes classes de resíduos, atendendo às normas técnicas e peculiaridades de
cada uma das classes.
Os espaços do abrigo devem ser adaptados de acordo com o volume e as especificações
dos resíduos que serão armazenados.

11

8
5 7 6 12 1 2 3
10
10

11

1. Carcaça (Grupo A) 7. Outros resíduos


2. Infectantes (Grupo A + E) 8. Lavagem
3. Resíduos químicos (Grupo B) 9. Administração
4. Resíduos radioativos (Grupo C) 10. Banheiros
5. Resíduos comuns (Grupo D) 11. Corredores externos
6. Resíduos recicláveis (Grupo D) 12. Corredor central
Figura 12.1. Modelo de um abrigo de resíduos de serviço de saúde contendo salas específicas
para as diferentes classes de resíduos (sem escala).

A seguir, estão relacionadas algumas características gerais, exemplificadas na tipologia


acima, importantes na otimização do espaço e no bom funcionamento de uma área que
contemple diferentes classes de resíduos. São elas:
„„ Corredores laterais (número 11 da Figura 12.1). que possibilite o acesso às diferentes salas.
„„ Salas com duas portas localizadas em lados opostos, sendo uma destinada à entrada
e a outra à saída de resíduos. A única exceção é a sala destinada aos rejeitos radioa-
tivos que, a fim de limitar a entrada apenas às pessoas autorizadas pela CNEN, deve
ter acesso único.
„„ Corredor central (número 12 da Figura 12.1), previsto como interligação dos corre-
dores laterais. Essa área seria destinada também ao acesso às áreas destinadas às
atividades comuns, como áreas administrativa, lavagem e WC.

As salas destinadas aos resíduos Químicos, Infectantes, Carcaças, Radioativos e Outros


Resíduos devem conter dois ralos, sendo um para limpeza comum e outro para coleta de líqui-
dos contaminantes, que devem ser encaminhados a uma caixa de coleta especial. Em ambien-
tes em que há algum risco de vazamento, devem ser adotados mecanismos de contenção,
como comportas, canaletas ou outro a ser avaliado de acordo com a especificidade do resíduo.
Para as salas destinadas aos resíduos comuns e materiais recicláveis, por não haver a necessi-
dade de mecanismos de contenção de vazamento, pode ser considerado apenas o ralo para a

156 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde


destinação do líquido resultante da limpeza comum. A sala destinada aos resíduos radioativos
deve possuir sistema de drenagem independente e interligado ao depósito coletor.
As diferentes salas devem ser separadas por parede de alvenaria de 14 cm, com fecha-
mentos frontal e posterior, podendo conter uma tela de proteção contra mosquitos fixa. A
fim de não interferir na ventilação contínua dos ambientes, não é aconselhável o uso de
telas mosqueteiras na parte faceada com a área externa.
Na construção do abrigo, deve-se prever também um banheiro com janelas, área de
lavagem com tanque em aço inoxidável e grelha junto ao corredor, porta com ventilação
permanente, piso com revestimento de fácil limpeza e manutenção, sem porosidade, evi-
tando assim o acúmulo de sujeira.

12.6.2 INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS


Com relação às instalações hidráulicas de um abrigo que armazene as diferentes classes
de resíduos, devem-se considerar:
„„ Descarte de efluentes industriais: deve ser previsto um sistema de descarte de
efluentes industriais (incluso resíduos químicos) constituído de tubulações e acessó-
rios em PVC, separado do sistema de esgoto sanitário, para não haver mistura uma
vez que as destinações são diferentes. Esse efluente deve ser conduzido até uma
caixa de 1 m³, impermeabilizada, para futuro bombeamento e destinação final am-
bientalmente adequada.
„„ Descarte de efluentes infectantes: deve ser previsto um sistema de descarte igual-
mente independente, previsto para ocorrer diariamente após a destinação dos
resíduos.
„„ Descarte de efluentes químicos: devem ser previstas caixas de contenção para a
possibilidade de algum tipo de vazamento, pois o armazenamento temporário de
resíduos químicos ocorre sobre pallets de contenção.
„„ Captação de águas pluviais: deve, também, ser previsto um sistema de captação de
águas pluviais pelas tubulações que são conduzidas por coletores em tubulação PVC-R
(PVC ultra resistente, com função para condução de efluentes em trechos considerados
críticos) fixados na estrutura. As caixas de passagem devem ser em alvenaria estrutu-
ral armada, providas de tampão em ferro fundido, sempre identificadas com o tipo de
efluente. O sistema de instalações sanitárias deve ser executado conforme as exigências
e recomendações da ABNT NBR 5688 – Sistemas prediais de água pluvial, esgoto sanitá-
rio e ventilação e ABNT NBR 10160 –Tampões e grelhas de ferro fundido dúctil.

12.6.3 REFERÊNCIAS DE ACABAMENTOS


As recomendações do tipo de acabamento aqui descritas atendem as áreas destinadas
aos resíduos dos grupos A, B, C, D, E e outros resíduos.
„„ Pintura: nas paredes externas, recomenda-se a utilização de pintura texturizada do
tipo Látex Acrílica Premium ou similar.
„„ Pisos: para áreas com uso igual ou similar, é comumente utilizado sistema de re-
vestimento multicamadas epóxi ou revestimento multilayer. Tais revestimentos têm
efeito antipó e protegem o piso de óleos, emulsões e agentes químicos.

Referência técnica: piso epóxi multilayer, de espessura 3 mm e antiderrapante, com acaba-


mento fosco e com duas camadas de verniz.

12 – Abrigos Destinados ao Armazenamento de Resíduos de Serviços de Saúde 157


„„ Cobertura: é aconselhável o uso de cobertura com isolamento térmico e acús-
tico (telha sanduiche). Esse nome vem do fato executivo de fabricação (telha
+ material isolante + telha).
ƒƒ Segundo a NR17 – Norma Regulamentadora de Ergonomia, do Ministério do
Trabalho e Previdência Social, a temperatura ideal para ambientes de trabalho
deve ser entre 20 °C e 23 °C, o que faz com o que o material minimize altas tem-
peraturas no ambiente.
ƒƒ Baixo peso estrutural.
ƒƒ Menores perdas de material, visto que o fornecimento é feito sob medida.
ƒƒ Baixa manutenção.
ƒƒ Redução no tempo de execução da obra.

Referência técnica utilizada em algumas obras: TERMOZIP PIR 2F RAL9003 0,50/0,43


50 mm – Dânica ou equivalente técnico.

12.7. REQUISITOS DE SEGURANÇA


Os requisitos de segurança devem atender ao tamanho da área e ao tipo de resíduo
armazenado. Além disso, pode haver normativas específicas do estado em que a instituição
está localizada, por isso é indicado consultar as normativas da região. A seguir estão elen-
cados, como exemplo, requisitos a serem atendidos conforme o Decreto Estadual de São
Paulo 63911/2018:
„„ Extintores são obrigatórios e hidrantes são obrigatórios, caso a área ultrapasse 750 m2.
„„ Rotas de fugas e sinalização de emergência; compartimentação (se a área/altura for
maior que a estabelecida pelos critérios da normativa).
„„ Controle de material de acabamento e revestimento.
„„ Chuveiro e lava olhos instalados na área de circulação, para casos de emergência.
De acordo com a NBR/ABNT 16291, os chuveiros de emergência e lava-olhos não
podem ser instalados em locais com obstáculos, como portas, degraus ou paredes
que possam retardar o acesso, em caso de acidente .

REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto N° 63.911, de 10 de dezembro de 2018 – Institui o Regulamento de Segurança Contra
Incêndios das edificações e áreas de risco no Estado de São Paulo e dá providências correlatas.
Publicado no DOESP, Executivo, em 11 de dezembro de 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC N° 222. Regulamenta as Boas Práticas de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços
de Saúde e dá outras providências. Publicado no DOU em 29/03/2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Resolução da Diretoria
Colegiada – RDC N° 50, de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para plane-
jamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais
de saúde. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 20 de março de 2002.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR N° 17, Ergonomia: indicação de postura a ser adotada
na concepção de postos de trabalho. Publicado no DOU de 07 de outubro de 2021.

158 Fundamentos para Gestão de Resíduos de Serviços de Saúde

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