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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE E


GESTÃO DO TRABALHO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA
TAREN BEATRIZ FERREIRA LEITE DE OLIVEIRA

HORTAS COMUNITÁRIAS:
Uma tecnologia social para produção de saúde

Itajaí (SC)
2018
2

TAREN BEATRIZ FERREIRA LEITE DE OLIVEIRA

HORTAS COMUNITÁRIAS:
Uma tecnologia social para produção de saúde

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado


profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho
da Universidade do Vale do Itajaí, como requisito
parcial para obtenção do título de mestre em Saúde e
Gestão do Trabalho.

Orientadora: Profª. Drª. Stella Maris Brum Lopes

Itajaí (SC)
2018
3

Ficha Catalográfica

O4h Oliveira, Taren Beatriz Ferreira Leite de, 1989 -

Hortas comunitárias: [Manuscrito] uma tecnologia social para produção de saúde /


Taren Beatriz Ferreira Leite de Oliveira - Itajaí, SC. 2018.

77 f.; il.; graf.; tab.

Bibliografias f. 66-69
Cópia de computador (Printout(s)).

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado profissionalizante em Saúde e


Gestão do Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí, como requisito parcial para
obtenção do título de mestre em Saúde e Gestão do Trabalho.

Área de Concentração: Saúde da Família

“Orientadora: Profª. Drª. Stella Maris Brum Lopes”.

1. Agricultura urbana. 2. Produção de Saúde. 3. Tecnologia Social.


I. Universidade do Vale do Itajaí. II. Título.

CDU: 614

Bibliotecária Eugenia Berlim Buzzi CRB - 14/963


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TAREN BEATRIZ FERREIRA LEITE DE OLIVEIRA

HORTAS COMUNITÁRIAS: Uma tecnologia social para produção de saúde

Esta dissertação foi julgada e adequada para obtenção do Título de Mestre em Saúde e
Gestão do Trabalho, Área de Ciências da Saúde e Saúde Coletiva, linha de pesquisa saúde,
sociedade e produção do conhecimento e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-
Graduação Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade do Vale do
Itajaí.

Área de Concentração: Saúde da Família

Itajaí (SC), novembro de 2018.

Apresentado perante a Banca Examinadora composta pelos professores;

__________________________________
Stella Maris Brum Lopes
Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo.
Coordenadora de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho
Presidente orientador

__________________________________
Carlos Eduardo Máximo
Doutor em Psicologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina, 2013.
Professor da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Itajaí, SC.
Membro interno

__________________________________
Maristela Inês Osawa Vasconcelos
Pós Doutora em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde pela Universidade Estadual do
Ceará, 2015. Coordenadora do Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Família e
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual Vale do Acaraú.
Membro externo
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida e pelos caminhos que me trouxeram até aqui. “... E eu irei
por aí sabendo que se eu venho e vou num só lugar estou: guardada em teu amor”. Agradeço
por ser o guardião de todas as minhas ansiedades e meu refugio em todos os momentos da
vida.
Agradeço ao Daniel, meu marido, companheiro e amigo que não mede esforços para
me apoiar em todos os momentos, que sonha os meus sonhos e que se dispôs a embarcar
nessa jornada da vida comigo. Obrigada por ser tão leve e por fazer os meus dias mais
cansados e doloridos se transformarem em risadas. Obrigada por todo o cuidado, te amo.
Agradeço a minha família, pai, mãe, irmãs, sobrinhos, sogra, cunhados, cachorro e gatos por
me mostrarem o real sentido da vida.
Agradeço em especial as minhas colegas e amigas da residência: Bruna, Janaína e
Joanna e a professora Roseane, que possibilitaram essa pesquisa, executando o projeto de
implantação da horta comunitária comigo, obrigada pela parceria e pelo convívio.
Agradeço também aos programas de bolsa de estudos da UNIVALI e do Estado a
UNIEDU por viabilizarem minha continuidade no mestrado.
Um agradecimento especial às pessoas participantes desta pesquisa, obrigada pelos
aceites e por contribuírem com essa reflexão.
Agradeço a minha orientadora, professora Stella que sempre me acolheu. Obrigada por
ser muito mais que uma orientadora, por ser compreensível, pelos conselhos, pela
preocupação, por ser sensível, por ser humana. Você é uma inspiração. Agradeço a todos os
professores que passaram na minha vida deixando suas marcas e aos professores desse
mestrado, tenho imensa admiração por vocês, em especial a professora Tatiane Mezzadri e ao
professor Carlos Máximo por toda a contribuição e pelo apoio sempre.
Agradeço aos colegas da turma 14 pela companhia nessa caminhada e em especial a
que se tornou amiga, obrigada Alessandra por todos os nossos dias de semana e finais de
semana também.
Por fim e não menos importante agradeço as minhas amigas Franciele, que é minha
dupla da graduação, te admiro muito e muito obrigada por me acolher sempre. E as
mestrandas mais incríveis Jaque e Ana, por estarem sempre presente, mesmo que via whats
para qualquer situação. Obrigada presentinhos.
6

HORTAS COMUNITÁRIAS: Uma tecnologia social para produção de saúde


Taren Beatriz Ferreira Leite de Oliveira

Novembro de 2018
Orientadora: Dra. Stella Maris Brum Lopes, Doutora
Área de concentração: Saúde da Família
Número de páginas: 77

RESUMO
Com o processo de modernização do campo, as cidades tiveram um crescimento expressivo,
sem que houvesse um planejamento prévio. Neste contexto, surge a agricultura urbana e
periurbana, aqui representada pela horta comunitária, que têm contribuído para solucionar
alguns dos problemas relacionados a este crescimento. A horta comunitária pode ser um
espaço de produção de saúde por ter o potencial de promover encontros que visam à conexão
das pessoas não pelas patologias ou diagnósticos, mas o olhar para a própria história também
se revela um momento de saúde, também pode ser uma tecnologia social ao propiciar um
desenvolvimento coletivo através da articulação de conhecimentos e saberes voltados a
transformação social. O objetivo desta dissertação é sistematizar uma proposta de tecnologia
social voltada a produção de saúde baseada na horta comunitária. Para alcançar este objetivo
se fez necessária uma pesquisa qualitativa. Os procedimentos metodológicos foram divididos
em dois momentos. O primeiro teve por objetivo analisar a experiência de um projeto de horta
comunitária em relação a sua operacionalização e resultados, realizou-se uma análise
documental buscando dados a partir de categorias temáticas prévias: Contextualização da
idealização do projeto da horta comunitária; Estrutura metodológica da implantação e
Processos avaliativos dos resultados, dispondo de quatro Trabalhos de Conclusão de
Residência para esta coleta. Identificou-se através dessas categorias temáticas que a
metodologia de um projeto pode potencializar ou atenuar uma proposta de horta comunitária
como tecnologia social e o projeto analisado deveria ter utilizado uma metodologia
participativa para efetivação da transformação social. No segundo momento foram realizadas
entrevistas com três participantes do projeto de implantação da horta comunitária com o
objetivo de reconhecer a experiência dos sujeitos participantes do projeto de implantação da
horta comunitária e sua relação com a produção de saúde. O período da coleta de dados foi de
setembro de 2017 a março de 2018 envolvendo análise documental e entrevistas com os
participantes do projeto de implantação. Obteve-se como resultado que a horta foi fonte de
7

autoestima, autorrealização, valorização e pode ser um instrumento para efetivação da


participação social. Através desses dois objetivos foi verificada as fragilidades e
potencialidades do projeto de implantação. Evidenciou-se que o “modo de fazer” pode
potencializar ou atenuar uma tecnologia social e por compreender que produção de saúde
também se dá nos encontros e no olhar a própria história, pois pensar em si recupera situações
vividas que lhe foram relevantes. Conclui-se que a horta comunitária pode ser uma tecnologia
social. Acredita-se na potência da tecnologia social como um modo de desenvolver por meio
da escuta a produção conjunta de demandas, a articulação de conhecimentos e fazeres, e que
favoreçam a transformação social. Como produto desta dissertação se propõe uma
sistematização com base na horta comunitária como uma tecnologia social que produz saúde,
podendo ser utilizada por profissionais de todas as áreas que buscam a transformação da
sociedade onde atuam.

Palavras chaves: Agricultura Urbana; Produção de Saúde, Tecnologia Social.


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COMMUNITY GARDEN: A social technology for health production


Taren Beatriz Ferreira Leite de Oliveira

November 2018
Supervisor: Dr. Stella Maris Brum Lopes, PhD
Area of concentration: Family Health
Number of pages: 77

ABSTRACT
As modernization expanded into the countryside, the cities expanded rapidly, without any
proper planning. In this context, urban and peri-urban agriculture, in the form of community
gardens, appear to have contributed to solving some of the problems related to this growth.
The community garden can be a space for health production because it has the potential to
promote encounters that connect people, not in relation to diseases or diagnoses, but rather
using a look at the history of people themselves, revealing itself as a healthy moment. It can
also be a social technology, fostering collective development through the articulation of
knowledge and know-how aimed at social transformation. The aim of this dissertation is to
systematize a proposed social technology focused on community-based health production. For
this purpose, a qualitative research study was carried out. The methodological procedures
were divided into two phases; the first sought to analyze the experience of a community
garden project, in terms of its operationalization and results. For this, document analysis was
carried out, looking for data from previous thematic categories: The context in which the idea
of the community garden project emerged; the methodological structure of the
implementation, and the processes of evaluating the results. Four Internship Conclusion
papers were available for this data collection. Through these thematic categories, it was
identified that the methodology used in a project can promote or attenuate a community
garden proposal as a social technology, and that the project analyzed should have used a
participatory methodology to effect social transformation. In the second phase, interviews
were carried out with three participants of the project to implement the community vegetable
garden, seeking to gather information about the subjects’ experiences in this implementation,
and how it relates to health production. Data were collected from September 2017 to March
2018. The results of the research show that the garden has been a source of self-esteem, self-
realization, and valorization, and can be an instrument for effective social participation.
Through these two goals, the weaknesses and potentialities of the implementation project
9

were verified. It was seen that the "way of doing" can promote or attenuate a social
technology, and by the understanding that health production also occurs in the encounters, and
looking at their history, because to think of oneself brings to the forefront past experiences
that were relevant to it. We conclude that community gardening can be a social technology. It
is believed that the power of social technology is a way of developing, through listening, a
joint production of demands and an articulation of knowledge and actions, which favor social
transformation. As a product of this dissertation, a systematization based on community
gardening is proposed as a social technology that produces health and can be used by
professionals from all areas that are seeking to transform the societies where they work.

KEYWORDS: Urban Agriculture; Social Technology. Health Production


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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Triangulação dos dados coletados. 30
Figura 2: Processo de implantação da horta comunitária 34
Figura 3: Operacionalização da Oficina de plantas medicinais 35
Figura 4: Operacionalização da oficina de Agroecologia 35
Figura 5: Operacionalização da oficina de Aproveitamento Integral dos Alimentos 36
Figura 6: Operacionalização da oficina de Economia Solidária 36
Figura 7: Sistematização de uma tecnologia social para a produção de saúde 60
Figura 8: Desenho da sistematização da tecnologia social para a produção de saúde 62
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LISTA DE ABREVIATURAS

AU – Agricultura Urbana
AUP – Agricultura Urbana e Periurbana
CRAS – Centro de Referência a Assistência Social
DHAA – Direito Humano a Alimentação Adequada
NASF – Núcleo de Apoio a Saúde da família
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí
TCR – Trabalho de Conclusão de Residência
TCLE - Termo de consentimento livre e esclarecido
12

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 16
2.1 Objetivo geral ..................................................................................................................... 16
2.2 Objetivos específicos .......................................................................................................... 16
3 REFERÊNCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 17
3.1 Agricultura urbana e hortas ................................................................................................ 17
3.2 Aspectos conceituais e legais das tecnologias sociais ........................................................ 20
3.3 Tecnologia social e produção de saúde .............................................................................. 22
4 PERCURSO DA PESQUISA ............................................................................................. 25
4.1 Coleta de dados ................................................................................................................... 25
4.2 Análise dos dados ............................................................................................................... 29
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 31
5.1 Análise da experiência de um projeto de implantação de horta comunitária quanto a sua
operacionalização e resultados ................................................................................................. 31
5.1.1 Contextualizações da idealização do projeto da horta comunitária ................................. 31
5.1.2 Estruturas metodológicas da implantação ....................................................................... 33
5.1.3 Processos avaliativos dos resultados da implantação ...................................................... 37
5.1.4 Reconhecendo sujeitos participantes da implantação de uma horta comunitária e a
relação de suas experiências com a produção de saúde............................................................ 40
5.1.4 Reconhecendo a própria história ..................................................................................... 52
5.2 Sistematizando uma tecnologia social para a produção de saúde, tendo como base a horta
comunitária ............................................................................................................................... 59
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 63
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 65
8 APÊNDICES ........................................................................................................................ 69
8.1 Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)............................... 69
9 ANEXOS .............................................................................................................................. 72
9.1 Anexo A: Parecer comitê de ética em pesquisa com seres humanos ................................. 72
13

1 INTRODUÇÃO

O movimento de hortas comunitárias vem crescendo nos últimos anos, dentro da


agricultura urbana e periurbana. Esse aumento vem sendo fortalecido com o processo
chamado agroecológico, que visa mudar o modo convencional de produção de alimentos,
buscando minimizar os danos causados pelo processo de modernização do campo, tais como:
o agronegócio que trouxe dentre muitas consequências, a saída de muitas famílias do campo;
maior concentração de pessoas no meio urbano; desemprego e a insegurança alimentar.
Nesse sentido, a agricultura urbana agroecológica é um instrumento importantíssimo para
viabilizar produções agrícolas em pequena escala sob administração familiar no meio urbano
(AQUINO; ASSIS, 2007).
Garcia et al (2016), apresentam diferentes multifuncionalidades da horta comunitária
que vai muito além da produção de alimentos. Dentre elas, melhoria da qualidade de vida e
atividade física, saúde mental, relações sociais e de pertencimento da comunidade, inclusão
social, autonomia e empoderamento.
A horta comunitária tem como fundamento melhorar o acesso das pessoas a uma
alimentação adequada, não apenas no sentido de nutrientes, quantidade e qualidade,
aproxima-se da definição de direito humano, apresentado no Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (ONU, 1992), que diz:

O direito à alimentação adequada é um direito humano inerente a todas as


pessoas de ter acesso regular, permanente e irrestrito, quer diretamente ou
por meio de aquisições financeiras, a alimentos seguros e saudáveis, em
quantidade e qualidade adequadas e suficientes, correspondentes às tradições
culturais do seu povo e que garantam uma vida livre do medo, digna e plena
nas dimensões física e mental, individual e coletiva.

O conceito de direito a alimentação alia-se ao conceito de Soberania Alimentar, que


surgiu na década de 1990, com os movimentos sociais camponeses contra as políticas
agrícolas neoliberais desenvolvidas em todo o mundo. Entendendo que Soberania Alimentar
é:

O direito dos povos de definir suas próprias políticas e estratégias


sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam
o direito à alimentação para toda a população com base na pequena e média
produção, respeitando suas próprias culturas e a diversidade de modos
camponeses, pesqueiros e indígenas de produção agropecuária, de
comercialização e de gestão dos espaços rurais, nos quais a mulher
14

desempenha um papel fundamental. A soberania alimentar favorece a


soberania econômica, política e cultural dos povos. Defender a soberania
alimentar é reconhecer uma agricultura com camponeses, indígenas e
comunidades pesqueiras, vinculadas ao território; prioritariamente orientada
a satisfação das necessidades dos mercados locais e nacionais.
(...),Disponível na Declaração final do Fórum Mundial de Soberania
Alimentar, assinada pela Via Campesina, Havana, Cuba/2007 (CAMPOS;
CAMPOS, 2007.).

Neste sentido os profissionais devem compreender que o ato de se alimentar é um ato


político, e que são responsáveis por estimular na população essa consciência. Como
nutricionista sinto que é o meu dever fortalecer um modelo de produção mais justo, que
preserva o meio ambiente e tem como proposta a inclusão social característica da horta
comunitária tema desta pesquisa.
A escolha deste tema é baseada na participação do processo de implantação da horta
comunitária no Centro de Referência a Assistência Social (CRAS), durante a Residência
Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família (latu sensu,). Esta experiência
inspirou-me a estudar mais profundamente as hortas comunitárias partindo do pressuposto que
a horta comunitária pode ser uma atividade que produz saúde.
Nesta perspectiva, entende-se que a saúde nem sempre se resolve com equipamentos,
ou programas de computador uma vez que saúde não depende apenas de fatores biológicos, e
sim é resultado do modo que se vive, sendo determinado socialmente, culturalmente e
economicamente (VERDI et al, 2012). Assim, pensou-se a partir da análise da experiência
com a implantação de uma horta comunitária analisar se este dispositivo1 produz saúde, e se
pode ser sistematizado em uma tecnologia social.
O conceito de Tecnologia social adotado nesta dissertação é:

Processos e métodos desenvolvidos por meio da criação ou inovação


coletiva, articulando conhecimentos e fazeres, para atender demandas sociais
específicas; estudadas, validadas e administradas nas relações, e que
colaboram com a transformação social, favorecendo a elevação da qualidade
de vida, cujo impacto deve ser avaliado de acordo com critérios previstos no
seu desenho. Fluxogramas, diagramas, modelos de atividades individuais e
grupais, diagnósticas, avaliativas, assim como sistemas organizacionais,
educacionais e de suporte, são exemplos de tecnologias sociais, comumente

1
Entende-se como Dispositivo o que diz Foucault (2006), sendo um conjunto heterogêneo de
elementos que faz algo funcionar, desfecha processos e cria uma função estratégica. O
dispositivo deve ser visto como uma rede que é formada entre os elementos.
15

utilizadas nas áreas sociais, como saúde, educação e ciências humanas,


sociais e políticas (UNIVALI, 2012).

Desta forma, entende-se que a tecnologia social apresenta em seu desenho, o


atendimento de demandas sociais específicas, e a sua criação e desenvolvimentos sejam
realizados coletivamente para que aconteça a articulação, saberes e práticas, por fim a
transformação social. A partir destes parâmetros e da experiência vivenciada no projeto de
implantação da horta comunitária, objetiva-se sistematizar a horta comunitária como uma
tecnologia social para produção da saúde. Desta forma propõe-se um modelo diferente de
produzir ações nos serviços de saúde, apostando na utilização de recursos como as tecnologias
sociais que considera a participação comunitária no processo decisório de escolha
tecnológica, o baixo custo dos produtos ou serviços finais e do investimento necessário para
produzi-las, que pode trazer ainda efeitos positivos na sua utilização como geração de renda,
saúde, emprego, produção de alimentos, nutrição, habitação, relações sociais e para o meio
ambiente, que possam ser reaplicáveis e desenvolvidas na interação com a comunidade e que
representem efetivas soluções de transformação social (DAGNINO, 2010).
16

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Sistematizar uma proposta de tecnologia social voltada a produção de saúde baseada


na horta comunitária.

2.2 Objetivos específicos

Analisar a experiência de um projeto de horta comunitária em relação a sua


operacionalização e resultados.
Conhecer a experiência dos sujeitos participantes de um projeto de Horta comunitária
no município de Itajaí e sua relação com a produção de saúde.
17

3 REFERÊNCIAL TEÓRICO

3.1 Agricultura urbana e hortas

Com o aumento da urbanização mundial e o processo de industrialização nas últimas


décadas, também houve várias mudanças no perfil demográfico, na qualidade de vida e na
saúde das populações. Nesse contexto, surge o conceito de Agricultura Urbana e Periurbana
(AUP), que se refere ao cultivo de vegetais nas cidades e/ou à criação de pequenos animais
em quintais, às margens de ruas e sacadas (SMIT E NASR, 1992). Para Ferreira e Castilho
(2007), o desenvolvimento da AUP está diretamente ligado ao crescimento demográfico e
econômico das cidades, contribuindo para a expansão e diversificação desta atividade.
A agricultura urbana vem ganhando espaço e pode ser considerada um dispositivo de
resistência a alguns problemas da urbanização, sendo alguns deles: a alimentação, o meio
ambiente e a geração de renda.
No Brasil, a temática da AUP deve ser compreendida dentro do cenário das mudanças
da sociedade contemporânea em que se destacam o fenômeno da globalização, o avanço das
tecnologias da informação, a estruturação de um sistema agroalimentar com forte repercussão
nos hábitos alimentares. As experiências urbanas com agricultura permitem que as famílias
envolvidas fortaleçam ações comunitárias, reconhecendo. Segundo Restrepo (2001), o reforço
da ação comunitária ocorre quando se criam condições em que comunidades, grupos e
indivíduos adquirem a capacidade de tomar decisões que lhes competem para melhorar suas
vidas.
Como grande parte dos produtos produzidos no meio urbano destina-se ao consumo
próprio ou à comercialização em mercados locais, um dos pontos favoráveis que a literatura
mostra para o incentivo da AUP é visualizar a estreita relação entre agricultura urbana e a
segurança alimentar e nutricional (SAN), beneficiando a população diretamente envolvida nas
atividades ou próxima à sua dinâmica devido à produção e/ou aquisição de alimentos frescos.
Assim, a AUP pode contribuir com os sistemas urbanos de produção alimentar, promovendo e
fortalecendo a SAN, que consiste em garantir condições de acesso a alimentos básicos
seguros e de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente, sem comprometer o
acesso a outras necessidades essenciais. Tem como base práticas alimentares saudáveis e
sustentáveis, contribuindo para uma existência digna em um contexto de desenvolvimento
integral da pessoa respeitando a diversidade cultural, ambiental, econômica e social
(VALENTE, 2002; BRASIL, 2009).
18

Mougeot (2000) menciona a agricultura urbana, como um modelo que aproveita


recursos encontrados nas cidades (força de trabalho, terra, água e resíduos orgânicos); fornece
alimentos às populações urbanas envolvidas; promove serviços ao gerar renda ou reduzindo
despesas, contribuindo para a limpeza urbana, além de fortalecer a segurança alimentar.
Machado e Machado (2002) relatam que entre os benefícios ambientais da agricultura urbana,
pode ser destacado o potencial de limpeza das cidades através do manejo orgânico,
melhorando a ciclagem de nutrientes pelo uso de diferentes materiais vegetais como palhas,
grama e folhas de árvores, além da fração orgânica do lixo doméstico para a produção de
adubo; a recuperação das condições de drenagem da água ao tornar os solos mais permeáveis
e melhorias na sanidade e estética do ambiente urbano pela utilização de espaços ociosos que
podem ser locais de acúmulo de lixo e entulho contribuindo para proliferação de vetores de
doenças como ratos e insetos.
Seabra Junior et al (2010) menciona a horta comunitária como um espaço de cultivo
onde há troca de experiências nos quais os indivíduos interagem numa ação comum,
expressando sua cultura e conhecimento, neste espaço desenvolvem habilidades sociais,
contribuem para sua socialização a um grupo, criando uma identidade coletiva e ao mesmo
tempo construindo a identidade individual. A educação ambiental é o principal instrumento
para moldar esta nova forma de ver e de sentir o mundo ao nosso redor, pois constitui
elementos integradores nos sistemas educativos dentro de uma sociedade para fazer com que a
comunidade tome consciência do fenômeno do desenvolvimento sustentável e de seus efeitos
ambientais (DIAS; SOUZA, 2003).
Ribeiro, Bógus e Watanabe (2015), trazem a agricultura urbana como uma ferramenta
promotora de saúde, pois estimula o protagonismo social, a participação, traz autoestima,
resgata o sentimento de pertencer a um grupo e estimula atividades coletivas. Já Garcia et al,
(2016), apresentam em sua revisão, estudos que relacionam a horta comunitária como
melhoria da qualidade de vida e atividade física, saúde mental, relações sociais e
pertencimento da comunidade, geração de renda, inclusão social, autonomia e
empoderamento.
De acordo com Buss (2003), o desenvolvimento de habilidades favoráveis à saúde
ocorre por meio de estratégias de educação em saúde, programas de formação e atualização na
direção do empoderamento ou conquista da autonomia. Para Restrepo (2001), a criação de
espaços favoráveis à saúde implica, sobretudo, numa estreita inter-relação entre os ambientes,
os estilos de vida e os comportamentos saudáveis, de tal modo que ambientes ameaçados
determinam os níveis de saúde das populações, ressalta ainda que as intervenções para criar
19

ambientes mais saudáveis devem ser criativas e atraentes, capazes de promover a participação
individual e coletiva por se relacionarem diretamente com as necessidades das próprias
comunidades. De acordo com Hurtado e Crespo (2001, p. 264).

Os espaços saudáveis são cenários locais onde comparativamente as


condições de vida e o estado de saúde são mais favoráveis em termos de
oportunidade para o desenvolvimento individual e coletivo dos diversos
grupos que integram a sociedade.

Este processo de criação de ambientes favoráveis à saúde, segundo estes autores,


envolve grupos em espaços específicos transitando até a conquista da equidade em saúde.
Coelho e Bógus (2016), em uma pesquisa qualitativa, com base na hermenêutica
filosófica, entrevistaram funcionários de uma escola municipal que em seu plano incluía
vivências com a agricultura, obtiveram como resultado que a horta pode ser uma estratégia de
educação alimentar e nutricional, pois possibilita ter uma alimentação mais consciente através
do conhecimento e a partir do contato direto com a horta. Além de resgatar vivências do meio
rural através do alimento. Trouxe ainda a horta como um ambiente que proporciona trocas
interpessoais, tanto relacionadas ao plantio como aos alimentos em si. O estudo revelou que a
horta é um espaço participativo que pode ser pensado como um ambiente proveitoso de
aprendizagem e de produção de cuidado. A ideia de que a horta seja um espaço de trocas pode
apontar a possibilidade de se construir um ambiente de aprendizagem para a comunidade
escolar como um todo, em que podem ser trabalhadas capacidades e habilidades, valores e
atitudes, sob os mais diversos aspectos do conhecimento (LIBÂNEO, 2007).
Comassetto, et al (2013), buscaram compreender o significado da agricultura urbana
(AU) como fenômeno de consumo, identificando as distintas teorias que estão vinculadas a
ela, bem como suas inter-relações. Desenvolveram uma pesquisa qualitativa com entrevistas
em profundidade com especialistas em AU e praticantes da atividade. Os resultados
demonstraram que a AU simboliza um ato de responsabilidade social e consciência, uma vez
que, por meio dela, as pessoas tentam alcançar uma imagem de prestígio como cidadão
exemplar e comprometido com a comunidade. Observaram ainda, que ao desenvolver a AU as
pessoas estabelecem uma forte relação com os aspectos sociais e de resgate de tradições
familiares, comprometimento com as questões ambientais, de qualidade de vida, de lazer,
hobby ou terapia. Está intimamente relacionada com a construção e transmissão de uma
identidade coletiva, por estar ligada ao sentimento de orgulho e pertencimento social perante
seus familiares e amigos a partir e o resgate da tradição cultural. A AU foi relacionada ainda,
20

como uma maneira de lidar com a velocidade da vida atual atualidade, onde se vive o tempo
acelerado e instável do cotidiano para uma atividade contínua, que traz segurança e noção de
tempo cíclico da natureza, resolvendo uma contradição contemporânea.
A AUP também pode ser considerada uma alternativa para melhorar o uso de espaços
urbanos, melhorando a limpeza destas áreas com impacto positivo na sanitização pública. De
acordo com Machado e Machado (2002), boa parte dos terrenos baldios, normalmente é
destinado ao acúmulo de lixo e entulho, com a limpeza dessas áreas, para uso de produção de
alimentos e plantas medicinais, traz melhoria ao ambiente local, diminuindo a proliferação de
algumas doenças, transmitidas por roedores e insetos, impactando positivamente na prevenção
de doenças. Ainda em relação ao meio ambiente, a AUP utiliza resíduos domiciliares como
materiais recicláveis, pneus e entulhos, que são utilizados na construção de alguns canteiros.
Utiliza ainda, resíduos orgânicos para a produção de composto orgânico para adubo. Têm
contribuído para o desenvolvimento da biodiversidade, proporcionando um melhor
aproveitamento dos espaços e um manejo adequado dos recursos do solo e da água (DIAS,
2000; MOUGEOT, 2000; ALMEIDA, 2004).
Mesmo sendo referida em diferentes programas e políticas relacionadas à saúde, a
maior parte dos estudos sobre a AUP enfatiza a dimensão de geração de renda e da produção
para o autoconsumo. No entanto, a complexidade do tema possibilita diferentes abordagens de
pesquisa, que vai além da produção de alimentos, o cultivo de plantas medicinais, pode ainda
agregar dimensões e significados associados à área da saúde, especialmente junto às políticas
públicas que têm uma abordagem de assistência integral.
Diante disso, a AUP pode ser considerada uma das possibilidades de amenizar alguns
dos tantos problemas das cidades, especialmente os relacionados à produção de saúde.
Tornando assim relevante desenvolver uma proposta de tecnologia social voltada a produção
de saúde baseada na horta comunitária.

3.2 Aspectos conceituais e legais das tecnologias sociais

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) instituiu a Política Nacional


de Tecnologia Social (PNTS), que considera como tecnologia social “o conjunto de atividades
desenvolvidas mediante processo coletivo de organização, desenvolvimento e aplicação, que
podem aliar saber popular, organização social e conhecimento técnico-científico, voltadas
para a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida”. E estabelece como princípios da
PNTS o respeito aos direitos fundamentais e a adoção de formas democráticas de atuação.
21

Desta forma esta política está vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicação (MICTIC) O conceito de Tecnologia Social (TS) remete-se a uma proposta
inovadora de desenvolvimento, levando em consideração que ela seja construída com a
participação coletiva em todas as fases do processo, ou seja, desde a organização,
desenvolvimento e implementação, aliando saber popular, organização social e conhecimento
técnico-científico. Sua base é a soluções de problemas voltados a demandas de renda,
trabalho, educação, conhecimento, cultura, alimentação, saúde, habitação, recursos hídricos,
saneamento básico, energia, ambiente, igualdade de raça e gênero, dentre outras, que sejam
efetivas e reaplicáveis e que promovam a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida
das populações em situação de vulnerabilidade social. Neste sentido o MICTIC estabelece 04
dimensões da TS. A primeira dimensão diz respeito a conhecimento e ciência, uma TS deve
induzir ou gerar inovação nas comunidades, deve ser elaborada com organização e
sistematização com o ponto de partida nos problemas sociais. A segunda dimensão é a da
participação, cidadania e democracia, as TS devem adotar uma metodologia participativa nos
processos de trabalho, como resultado impulsiona a sua disseminação e reaplicação. A
terceira dimensão se refere a educação, enfatiza que a TS se desenvolve num diálogo entre
saberes populares e científicos; TS é apropriada pelas comunidades, que ganham autonomia.
E a última dimensão é a Relevância social, ou seja, TS é eficaz na solução de problemas
sociais; tem sustentabilidade ambiental e provoca a transformação social. (ITS BRASIL.
Caderno de Debate – Tecnologia Social no Brasil. São Paulo: ITS. 2004: 26) (DAGNINO,
2012), Para a sustentabilidade das TS, o MICTIC a partir do Instituto de Tecnologia social,
prevê em seu desenho o Sistema de Análises de Tecnologias Sociais (SATECS), uma
ferramenta metodológica on-line de diagnóstico que facilita atividades de análise,
acompanhamento, monitoramento e desenvolvimento das tecnologias sociais (TS), que visa
distinguir ou identificar se determinado projeto é uma TS. Para o SATECS são exemplos de
TS: soro caseiro, fitoterapia em zonas rurais, Cisterna de placas para região de estiagem,
Partes do corpo produzidas em gesso para ensino de cegos, Catavento para produção de
energia eólica feito de canos de PVC. O Instituto espera que essas TS tragam como resultados
novos produtos, dispositivos ou equipamentos, ou ainda novos processos ou procedimentos,
técnicas ou metodologias. Enfatiza ainda que a TS “não é um modelo pronto, é uma
metodologia em transformação, onde as pessoas que precisam das soluções são parte delas,
assumindo o processo da mudança”. As comunidades se apropriam das tecnologias
desenvolvidas e assumem o protagonismo dos processos (ITS BRASIL) Dagnino (2012),
coloca dois desafios das TS, o primeiro, porque se considera que a tecnologia convencional
22

não é adequada para a inclusão social, pois sua principal característica é o crescente lucro
privado. Segundo, porque se percebe que as instituições públicas envolvidas com a geração de
conhecimento científico como as universidades, não parecem estar capacitadas para
desenvolver uma tecnologia capaz de viabilizar a inclusão e tornar as TS sustentáveis.
Entendo as dimensões do conceito de TS assumido pelo MICTIC e pelo que traz
Dagnino (2010) o desafio da sustentabilidade da experiência de implantação de uma horta
comunitária, descomplicaria no sentido que a HC pode resolver alguns problemas da
urbanização, como a alimentação, o meio ambiente e a geração de renda. No entanto, o
intuito é refletir se esse modelo de tecnologia social pode produzir saúde, pensando no modo
como foi e como será sistematizada a experiência de implantação de uma horta comunitária e
não apenas na resolução de problemas relacionados ao meio urbano. Não diminuindo a sua
importância, mas pode se supor que isso está posto e o desafio dessa dissertação é ir além,
pensar a sustentabilidade a partir do reconhecimento da experiência do outro, ou seja, na
produção de saúde.

3.3 Tecnologia social e produção de saúde

Merhy (2007), traz que dos anos pós guerra até os tempos atuais, houve um alto
crescimento das indústrias de medicamentos e equipamentos para diagnóstico e terapias,
trazendo certo deslumbramento aos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde fazendo
com que o processo de trabalho em saúde seja operado centrado em tecnologias duras, isto é,
maquinas e conhecimentos especializados, no entanto, ele ainda refere que a resolutividade
dos problemas de saúde ficam ineficientes e dependentes de sinais e sintomas o que leva a
projetos terapêuticos reducionistas e parciais e consequentemente o custo com a saúde
aumenta de forma exacerbada sem a real necessidade do usuário . Esse modelo de produção
de saúde se desenvolve no final do século XIX, quando Pasteur desenvolve a “teoria do
germe” como causa biológica das doenças, assim as teorias anteriores, que explicam o
processo saúde-doença são desvalidas, e a causa biológica torna-se a única explicação para o
aparecimento de doenças (BARATA, 1985) apud MAEYAMA, CUTOLO, 2010). Desta
forma, as tecnologias duras tornaram-se fortes armas médicas, fortalecendo o modo de ver o
processo saúde-doença. Franco e Merhy (2007) classificam as tecnologias utilizadas em saúde
em três tipos: as tecnologias duras, que utilizam máquinas e instrumentos; as tecnologias leve-
duras, as que se faz através de conhecimento técnico estruturado; e as tecnologias leves, que
existem a partir da relação entre trabalhador e usuário.
23

Para Merhy (2002) a saúde é dependente de um modelo determinado pelo capital


financeiro, como já foi relatado neste projeto. No entanto ele aponta a necessidade de uma
transição tecnológica de saúde, que transforme de modo radical a produção do cuidado, e que
estas mudanças sejam realizadas através de sujeitos que operam modos de trabalhar mais
relacionais e menos dependentes de insumos e maquinários e sim capazes de se ver como
sujeitos que constroem esse processo. Apontando o campo das tecnologias leves e leves-duras
como um passo para essa transição. Silva-Arioli et al (2013), relatam que o desafio atual é
transformar um sistema que tradicionalmente se sustenta na doença em um propulsor de ações
que priorizem a vida e a saúde em seu significado mais amplo, pautado em relações
horizontais. Assim, essa dissertação aposta no fortalecimento da comunidade através de
práticas coletivas, pressupondo que estas são práticas produtoras de saúde. Práticas que
devem ser reconhecidas e validadas como instrumentos para que sejam utilizadas pelos
profissionais de saúde.
Para Dagnino (2010), o conceito de tecnologia social é novo, “revolucionário”
(transformador social) e será cada vez mais incorporado às políticas públicas, às ações de
governo, ao mercado e ao meio acadêmico. Esse autor refere-se as tecnologias sociais a
promoção da a inclusão social e para contestar a tecnologia convencional, que causou altos
índices de desemprego. Ela pode ser entendida como produtos, técnicas e/ou metodologias
reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas
soluções de transformação social. Essa tecnologia é expressa pela intervenção social, que é
inclusiva em todos os seus momentos, desenvolvida e difundida de acordo com as
possibilidades e as limitações de cada comunidade ou local. É uma proposta participativa de
construção do conhecimento, de fazer ciência e tecnologia para o desenvolvimento e
realização do ser humano e de seus interesses coletivos, ou seja, é uma forma de reduzir as
desigualdades sociais.
É a partir da perspectiva do desenvolvimento de tecnologia social que a presente
pesquisa utilizará a definição assumida no programa de mestrado em Saúde e Gestão do
Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí, após uma série de oficinas sobre Tecnologia
Social:

Processos e métodos desenvolvidos por meio da criação ou inovação


coletiva, articulando conhecimentos e fazeres, para atender demandas sociais
específicas; estudadas, validadas e administradas nas relações, e que
colaboram com a transformação social, favorecendo a elevação da qualidade
de vida, cujo impacto deve ser avaliado de acordo com critérios previstos no
seu desenho. Fluxogramas, diagramas, modelos de atividades individuais e
24

grupais, diagnósticas, avaliativas, assim como sistemas organizacionais,


educacionais e de suporte, são exemplos de tecnologias sociais, comumente
utilizadas nas áreas sociais, como saúde, educação e ciências humanas,
sociais e políticas (UNIVALI, 2012).

Articulando tecnologia social e produção de saúde, entre outros conceitos, como


aquilo que modifica necessariamente a forma como trabalhamos na saúde. É uma das linhas
que nos permite ampliar e modificar o trabalho na saúde na medida em que não se trata
apenas de tratamento, reabilitação e prevenção, mas de produção de possibilidades de vida.
Ou seja, é na produção de saúde que, como trabalhadores, nos deparamos com a diferença.
Diferença de histórias de vida, diferença de possibilidades de vida. E a condição para pensar a
diferença está na dimensão imaterial do trabalho em saúde e não das tecnologias duras. É essa
dimensão que justifica a existência do SUS e que nos possibilita pensar no conceito que
envolve o trabalho na saúde: potência de vida (BERNARDES, PELLICCIOLI, GUARESCHI,
2010).
25

4 PERCURSO DA PESQUISA

Conforme as exigências da Resolução nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde


(BRASIL, 2012), o projeto que deu origem a presente dissertação foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da UNIVALI, sob o parecer de n°2.205.416. O pensar na discussão do
tema, Hortas Comunitárias surgiu das vivências do Núcleo de Apoio a Saúde da Família
(NASF), como proposta de Trabalho de Conclusão de Residência multiprofissional (TCR)
vinculada a uma universidade do Sul do país, que no seu projeto pedagógico prevê que este
seja realizado a partir de demandas específicas no território de atuação. Assim, através dessas
vivências do NASF e da participação da Conferência Estadual de Segurança Alimentar e
Nutricional, conferência que têm por objetivo ampliar e fortalecer os compromissos políticos
para a promoção da soberania alimentar, garantindo a todos o Direito Humano à Alimentação
Adequada, assegurando a participação social e a gestão intersetorial, na Política e no Plano
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, surgiu a proposta de implantação de uma
horta comunitária, que foi desenvolvida por quatro residentes, sendo elas profissionais
nutricionistas e farmacêutica.
Após conclusão da residência e ingressando no mestrado profissional, que têm por
objetivo capacitar profissionais para a avaliação do seu próprio trabalho, criando, quando
necessário, meios para torná-lo mais resolutivo e acolhedor (UNIVALI, 2017), surgiu a
necessidade de ao analisar a experiência do TCR sistematizar o processo da horta comunitária
como uma tecnologia social para a produção em saúde.

4.1 Coleta de dados

A coleta de dados para esta pesquisa aconteceu, no período de setembro de 2017 a


março de 2018. E foi desenvolvida em dois momentos.
O primeiro momento se deu a partir da análise documental, utilizando como fonte de
dados quatro trabalhos entregues como produto final de conclusão de residência (TCR), todos
escritos como artigos de relato de experiência, intitulados e identificados aleatoriamente como
TO1, TO2, TO3 e TO4: Horta comunitária como dispositivo de desmedicalização e de
promoção de saúde; Horta comunitária no modelo agroecológico: um relato de experiência;
Implantação de Horta Comunitária com enfoque na Economia Solidária: relato de
experiência e Oficina de aproveitamento integral dos alimentos com usuários de uma horta
comunitária: um relato de experiência.
26

A análise documental foi estruturada a partir das categorias temáticas prévias:


Contextualização da idealização do projeto da horta comunitária; Estrutura metodológica da
implantação e Processos avaliativos dos resultados. Seguiu-se proposta operativa para análise
de dados qualitativos apresentados por Minayo (2014), seguindo três as etapas de leitura
flutuante para imersão nos documentos, exploração do material: identificando as unidades de
registro pertinentes as categorias e finalizando com a interpretação dos dados.
Para a categoria temática: Contextualização da idealização do projeto da horta
comunitária, buscou-se identificar nos TCRs o porquê se pensou/idealizou a construção de
uma horta comunitária. Para a categoria temática: Estrutura metodológica da implantação,
buscou-se qual a metodologia utilizada no processo de implantação da horta comunitária. Por
fim, para a categoria temática: Processos avaliativos dos resultados, recortou-se dos relatos de
que forma aconteceu os processos avaliativos e quais os resultados observados e descritos da
implantação da horta comunitária.
Para Moreira (2005), a análise documental visa identificar, verificar, localizar e avaliar
os documentos com uma finalidade específica, porém, salienta que é indispensável uma fonte
paralela e simultânea de informação para complementar os dados e permitir a
contextualização das informações contidas nos documentos. Afirma ainda que é uma técnica
que não altera o ambiente ou os sujeitos.
Oliveira (2007) coloca como processo dificultador da análise documental, o fato do
pesquisador não ter vivenciado o fenômeno para representá-lo, no entanto isso não ocorreu na
presente proposta, já que a pesquisadora participou de todo o processo de implantação da
horta comunitária. Na presente pesquisa utilizou-se a análise documental como técnica para o
tratamento dos dados, objetivando a transformação das informações, tornando as mais
compreensíveis para correlacioná-las com os demais dados oriundos do segundo momento.
A análise documental realizada por meio do registro das práticas educativas
desenvolvidas pelas profissionais residentes se restringiu a registros de artigos cada um com
um assunto distinto ao outro, o que não favoreceu o processo de coleta e análise dos dados,
pois cada artigo deu ênfase a um tema/oficina, ficando o processo de implantação da horta
comunitária fragmentado. No entanto a vivencia da autora no momento do processo de
implantação da horta auxiliou o processo no sentido de estabelecer uma sequência lógica do
processo de implantação para fazer sentido ao leitor.
Para o segundo momento de coleta de dados foram realizadas entrevistas com três
participantes do projeto de implantação da horta comunitária. No primeiro momento se
pensou em uma amostra de cinco pessoas que participaram de todas as etapas o processo de
27

implantação da horta comunitária, este número da amostra de cinco participantes, se deu a


partir das listas de presença de cada oficina realizada na implantação da HC, no entanto no
decorrer da coleta de dados, obteve-se a amostra de três pessoas, pois as demais haviam
mudado de cidade e outra não quis participar da entrevista. O contato com os colaboradores
da pesquisa se deu por meio telefônico, através das listas de presença do projeto de
implantação da horta e quando não se conseguiu contato via telefone, solicitou-se auxilio do
CRAS e das agentes comunitárias do território. As três colaboradoras entrevistadas assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando a participação na
pesquisa (Apêndice A) e serão citados no decorrer do texto com nomes fictícios de: Laura,
Luisa e Larissa.
O objetivo deste momento foi reconhecer a experiência dos sujeitos participantes do
projeto de implantação da horta comunitária e sua relação com a produção de saúde. Assim,
fez-se necessário adotar uma abordagem metodológica que auxiliasse na compreensão desse
significado para o sujeito, nesta pesquisa optou-se pela história de vida. Em resumo, sob as
mais diferentes modalidades, a história de vida, a etno-história e a história oral são
consideradas, no âmbito da pesquisa qualitativa, poderosos instrumentos para a descoberta, a
exploração e a avaliação de como as pessoas compreendem seu passado, vinculam, sua
experiência individual a seu contexto social, interpretam-na e dão-lhes significado, a partir do
momento presente (MINAYO, 2014. p. 158). Frase (1979) ressalta que a história de vida é
uma forma de conhecer como o sujeito vivencia os acontecimentos. Essa modalidade foi
escolhida por acreditar que cada sujeito tem sua própria história em relação a participação do
projeto de implantação da horta comunitária. A escolha pelo método deu-se por entender que
ele proporciona um momento de reflexão para a pessoa, que pode reconstituir eventos e dar
significados aos mesmos, por meio da elaboração de uma narrativa em que há liberdade de
repensar sua própria história.
Minayo (2014), em seu livro o desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde destaca que a melhor forma de proceder no campo com a modalidade de história oral é
a entrevista aberta, onde o entrevistado fala livremente sobre o tema e as perguntas realizadas
pelo entrevistador busca dar profundidade as reflexões.
Para Thompson (1992, p.246) o principal objetivo dessa entrevista não é a busca de
informações, “mas sim o registro subjetivo de como um homem, ou uma mulher, olha para
trás e enxerga a própria vida, em sua totalidade, ou em uma de suas partes”. Exatamente o
modo como fala sobre ela, como a ordena, a que dá destaque, o que deixa de lado, as palavras
que escolhe, é que são importantes para a compreensão de qualquer entrevista.
28

Segundo Meihy (2002) a entrevista em história oral compõe-se das seguintes etapas: -
Pré-entrevista que é a etapa de preparação do encontro em que ocorrerá a entrevista, ou seja, o
depoente deve conhecer o projeto, a sua finalidade, a importância da colaboração e que a
entrevista será gravada. - A entrevista propriamente dita, buscando antes de inicia-la, garantir
um clima de aconchego, confidência e respeito, e que nada será publicado sem autorização
prévia do colaborador. Deve-se ainda, manter um equilíbrio de tempo durante as entrevistas,
se necessário agendar outra sessão com horário e data estabelecidos previamente. É
fundamental estar munido de gravador testado e com bateria suficiente para o tempo da
entrevista. - Pós-entrevista, etapa que se segue à realização da ou das entrevistas, cartas ou
telefonemas de agradecimento devem ser enviados para continuidade do processo. Estabelecer
ainda um período para transcrição, revisão e conferência do texto escrito com o colaborador.
Nesta pesquisa, após dos textos transcritos agendou-se um momento com as
entrevistadas e se leu a história para que fossem aprovadas e assim utilizadas na presente
pesquisa. Para a entrevista aberta é necessária uma pergunta norteadora, sendo a desta
pesquisa a “pergunta de corte”, que perpassou todas as entrevistas foi: Conte-me um pouco da
sua história em relação ao cultivo de plantas. Ao final de cada entrevista, a mesma foi salva e
identificada por nome do colaborador. Na realização desta atividade a percepção que tive é
que para algumas foi prazeroso lembrar-se do passado. Todas se emocionaram, algumas
choraram, demonstraram alegria e um sentimento de saudade e de orgulho da sua história.
Após o término de cada entrevista, já com o gravador desligado era iniciada uma
conversa espontânea, e assim dar por encerrado a entrevista.
O tratamento das entrevistas foi realizado em três fases, segundo a proposta de Meihy
(2002):
a) Transcrição, fase onde as palavras ditas foram descritas em seu estado bruto,
perguntas e respostas foram mantidas, bem como erros, e repetições. Foi à mudança do
estágio de gravação oral para o código escrito. Esta fase foi feita logo, após o término de cada
entrevista, pois a lembrança do entrevistador sendo recente auxiliou em casos de
interferências e ruídos durante a gravação. A gravação foi ouvida várias vezes para apreender
o ritmo da narrativa.
b) Textualização para essa fase foram eliminadas as perguntas, apagados os sons e
ruídos para se ter um texto mais claro. Durante a elaboração desta fase escolhi o Tom Vital,
ou seja, uma frase que toou de epígrafe à leitura da entrevista, que funcionou como um farol a
guiar a recepção do trabalho. Assim o texto passou a ser de domínio do narrador. Foi a fase
29

mais difícil de realizar, várias leituras e muitas idas e vindas no texto foram necessárias para
organizar o conteúdo da narrativa.
c) Transcrição, fase do produto, ou seja, o texto transcriado compromete se a ser um
texto recriado em sua plenitude, com a interferência do pesquisador. Entretanto, tudo
obedeceu a acertos combinados com o colaborador que, posteriormente, validou o produto
final.
Outro passo importante no uso da metodologia da história oral diz respeito à
Conferência que é o reconhecimento do texto procedido pela conferência e pela autorização
que determinam se o colaborador se identificou ou não com o resultado. Esta foi a grande
prova da qualidade do texto final. Neste estudo, todas as narrativas foram conferidas pelos
colaboradores.

4.2 Análise dos dados

Para sistematizar uma proposta de tecnologia social voltada a produção de saúde


baseada na horta comunitária realizou-se a triangulação de dados entre a análise documental,
as entrevistas, associada às vivencias do pesquisador. Para esta triangulação utilizou-se a
proposta operativa de Minayo para pesquisas qualitativas, através do contato direto e intenso
com o material de campo deixando-se impregnar-se com o conteúdo.
Realizou-se a exploração do material das categorias temáticas de contexto,
metodologia e avaliação dos resultados identificados na análise documental que foi
empregada aos TCRS, sendo estas discutidas a luz do referencial teórico utilizado nesta
dissertação.
No momento da análise das histórias de vida ao eleger o Tom Vital de cada uma,
sendo o tom vital uma frase dita pela entrevistada que sintetiza a narrativa. Buscou-se frases
do texto em unidades de registro nomeando três temas recorrentes na experiência de vida de
cada entrevistada, sendo estes temas: valorização, participação social e pessoas e serviços.
Por fim os dados foram submetidos a um estudo orientado pelo referencial teórico-
metodológico, buscando elucidar os aspectos mais latentes e tornando-os mais visíveis para
então sistematizar a horta comunitária como uma tecnologia social que produz saúde. A figura
1 demonstra a triangulação dos dados coletados para a análise.
30

Analise documental - 4 TCRs

Historia de vida Anotações da


3 entrevistas pesquisadora

Figura 1: Triangulação dos dados coletados.


31

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados desta pesquisa serão apresentados através de textos e quadros em três


capítulos: Análise da experiência de um projeto de implantação de horta comunitária quanto a
sua operacionalização e resultados; reconhecendo os sujeitos participantes da implantação de
uma horta comunitária e a relação de suas experiências com a produção de saúde;
sistematizando uma proposta de implantação de horta comunitária como tecnologia social
para a produção da saúde.

5.1 Análise da experiência de um projeto de implantação de horta comunitária quanto a sua


operacionalização e resultados

Os trabalhos de conclusão de residência serão citados abaixo como TO1, TO2, TO3 e
TO4. Como já citado no corpo desse texto, buscou-se identificar três grandes categorias
temáticas: Contextualizações da idealização do projeto da horta comunitária; Estrutura
metodológica da implantação e Processo avaliativo dos resultados e a partir desses temas
analisar a experiência de implantação da horta comunitária quanto a sua metodologia e
resultados.

5.1.1 Contextualizações da idealização do projeto da horta comunitária

Para este primeiro tema buscou identificar o porquê se pensou/idealizou a construção


de uma horta comunitária. Caracterizado por vivências, necessidades ou demandas sociais.
Nos quatro artigos encontrou-se como resultado que a motivação para esta construção se deu
por dois motivos, primeiro: as vivências como residentes do Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (NASF)2 Segundo: a participação em conselhos e conferências de segurança

2
NASF é uma equipe composta por profissionais de diferentes áreas, que atuam de maneira
integrada apoiando os profissionais das Equipes Saúde da Família e da Atenção Básica para
populações específicas, compartilhando práticas e saberes em saúde nos territórios sob
responsabilidade destas equipes. Têm por objetivo ampliar a abrangência e as ações da atenção básica,
assim como sua resolubilidade, contribuindo para a integralidade do cuidado, principalmente por meio
da ampliação da clínica, auxiliando no aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre
32

alimentar e nutricional, que têm por objetivo ampliar e fortalecer os compromissos políticos
para a promoção da soberania alimentar, garantindo a todos o Direito Humano à Alimentação
Adequada (DHAA), assegurando a participação social e a gestão intersetorial, na Política e no
Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA, 2012).

TO2: [Mediante as vivências por doze meses no Núcleo de Apoio a Saúde


da Família (NASF), observou-se um número considerável da população
com problema de insegurança alimentar, principalmente na questão de
acesso, entre outros fatores como, falta de espaços de lazer no bairro e alto
índice de uso de medicamentos psicotrópicos. Desta forma, pensou-se como
projeto de intervenção para o TCR, implantar uma HC, visando melhorar o
acesso a uma alimentação adequada e estimular espaços de convívio entre a
comunidade];

TO3: [De acordo com a atuação das pesquisadoras no Núcleo de Apoio a


Saúde da Família (NASF), foi possível observar através dos casos de
acompanhamentos que grande parte dos usuários do território necessitava de
ações que garantissem o DHAA, no que diz respeito ao direito de acesso a
alimentos de qualidade e que não necessitasse utilizar grande parte de sua
renda para este fim];

TO4: [a participação coletiva das residentes nestas conferências motivou


a implantação da horta comunitária].

Pode-se observar nos recortes que as idealizadoras do projeto verificaram uma


demanda específica do território citadas como: insegurança alimentar, principalmente em
questão de acesso a alimentação (TO3, TO4), falta de espaços de lazer (TO2), alto índice de
medicamentos psicotrópicos e fortalecimento do Direito Humano a Alimentação Adequada
(DHAA) (TO3). Como nutricionistas se depararem com famílias sem acesso a alimentação
ferindo um dos direitos bases do ser humano, pensar em um modo (horta) visível e de certa
forma rápido. Já que o marco conceitual da agricultura urbana, aqui discutida como horta

problemas e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários e ambientais dentro dos
territórios.
33

comunitária, engloba produção, transformação e prestação de serviços, de forma segura,


gerando produtos agrícolas voltados ao autoconsumo, trocas e doações ou comercialização
(SANTANDREU, LOVO, 2007). E vem sendo praticada em diferentes espaços: privados,
institucionais e traz como principais contribuições o fortalecimento da segurança alimentar e
nutricional e a melhoria da nutrição e da saúde nas comunidades (MACHADO, MACHADO,
2002). Ou ainda como farmacêutica possibilitar que as pessoas vejam que as plantas são
eficientes e que não são todas as vezes que necessitamos recorrer a medicamentos sintéticos, é
pertinente.
A percepção das autoras através das demandas observadas nas suas práticas do NASF
orientou a definição do projeto de implantação da horta com o intuito de enfrentar e
solucionar essas demandas. Após o levantamento das demandas e a idealização de
implantação do projeto da horta comunitária, as pesquisadoras percorreram um longo
caminho para encontrar um terreno que pudesse ser implantada a horta. O primeiro passo foi
buscar auxilio da Secretaria Municipal de Obras, que a priori se propôs encontrar um espaço
apropriado para a implantação. No entanto esta secretaria teve alterações de gestão durante o
processo de busca pelo terreno, perdendo-se a abertura com a secretaria. Assim em conversa
com as estratégias de saúde da família houve a indicação que a horta fosse implantada nas
dependências do centro de convivência do idoso.
Diante disto foi discutida a possibilidade com a coordenação do centro e chegou-se a
conclusão que um lugar “ideal” seria o CRAS. Em conversa com a coordenação do CRAS foi
tomada a decisão que o primeiro encontro para a discussão do projeto com os moradores do
bairro seria o CRAS e que o local de implantação da horta viria a partir dos interessados em
fazer parte do projeto. Assim, após ter um espaço para a discussão do projeto, as
profissionais-residentes construíram uma metodologia para o processo de implantação com
temas que representasse e respondesse cada demanda levantada. Esses temas foram
distribuídos em quatro momentos, que nos trabalhos de conclusão de residências foram
chamados de oficinas. Estas oficinas serão apresentadas no próximo tópico.

5.1.2 Estruturas metodológicas da implantação

Nesta categoria temática buscou-se nos artigos a metodologia utilizada no processo de


implantação. Os quatro artigos relataram como foi pensada a proposta de implantação da
horta comunitária. Como mostra a figura 2:
34

Figura 2: Processo de implantação da horta comunitária.

Na reunião citada acima foi apresentada a proposta de quatro oficinas para o processo
de implantação, sendo elas: Oficina de Plantas medicinais, Oficina de agroecologia, Oficina
de aproveitamento integral dos alimentos e Oficina de economia solidária e realizada a
aplicação de um questionário.
Pode-se observar que todos os assuntos e a forma de trabalhar estes assuntos foram
pré-definidos pelas profissionais-residentes a partir das demandas levantadas inicialmente.
Buscou-se na análise documental evidenciar a metodologia utilizada em cada oficina
do projeto de implantação. Estas serão descritas abaixo:

Oficina de Plantas Medicinais: A oficina de plantas medicinais usou como ferramenta


para operacionalização: Dinâmicas, rodas de conversa e práticas. Tinha por objetivo:

TO1: [restabelecer o contato das pessoas com a natureza e oferecer a


fitoterapia como alternativa frente ao uso dos medicamentos alopáticos na
tentativa de ser um movimento de desmedicalização e de promoção de
saúde].

A figura 3 mostra a operacionalização da oficina de plantas medicinais.


35

Figura 3: Operacionalização da Oficina de plantas medicinais

Oficina de Agroecologia: A oficina de agroecologia foi voltada ao incentivo de


práticas agrícolas, buscando privilegiar hábitos alimentares mais sustentáveis como o
desenvolvimento de agricultura orgânica no ambiente urbano, baseando-se no direito à
alimentação adequada (TO2). Utilizou como ferramentas: roda de conversa com utilização de
vídeos, poema reflexivo e mostrou a técnica que seria utilizada para a implantação do canteiro
da horta comunitária. A figura 4 demonstra sua operacionalização:

Figura 4: operacionalização da oficina de Agroecologia.

Oficina de Aproveitamento Integral dos Alimentos: A oficina de aproveitamento


integral dos alimentos visou superar o caráter estritamente biológico da alimentação e colocou
o foco na comida e seus significados, trazendo questões culturais e de hábitos alimentares
36

(TO3). A figura 5 mostra a operacionalização da oficina de aproveitamento integral dos


alimentos:

Figura 5: Operacionalização da oficina de aproveitamento integral dos alimentos.

Oficina de Economia Solidária: A oficina de economia solidária também se utilizou de


dinâmica e vídeos como ferramentas para discutir o tema. A figura 6 mostra a
operacionalização da oficina de economia solidária.

Figura 6: Operacionalização da oficina de economia solidária.

Identifica-se que todos os assuntos levantados nas demandas iniciais foram


operacionalizados no formato de oficinas, assim denominados pelas autoras dos trabalhos de
37

conclusão de curso. O conceito de oficinas remete a associação de ideias, de peças, trabalho,


conserto e se remete a criação de algo coletivo, ou seja, passa pela construção de várias
pessoas, e o compromisso e a responsabilidade dos participantes do grupo são essenciais.
As descrições da operacionalização das denominadas “oficinas”, dos trabalhos de
conclusão de residência, foram planejadas com início, meio e fim, a fim de responder as
demandas levantadas pelas profissionais-residentes, sem a referência a mudanças do
planejamento ou discussão em conjunto com os participantes. A escolha metodológica para a
realização de uma prática educativa é pautada nas concepções de conhecimento, educação e
dos sujeitos que integram a relação nas ações educativas, estas concepções mostram o modo
como se entende a educação, ainda que de forma inconsciente, e definem o processo de
acordo com o qual se organizam e se desenvolvem as situações educativas (GAZZINELLI et
al, 2015). Assim, a metodologia utilizada para a operacionalização da horta comunitária se
aproximou do modelo de educação sanitária, que é um instrumento das ações de prevenção
das doenças, caracterizando-se pela transmissão de conhecimento (CECCIM, 2007). A
organização dos conteúdos se pautou nas demandas identificadas pelos profissionais de saúde,
como insegurança alimentar, uso abusivo de medicamentos psicotrópicos, falta de lazer no
bairro. Jurdi e Amiralian (2013) trazem em sua discussão que da ética do cuidado em saúde
implica em reconhecer que ninguém pode ser competente no lugar do outro, assim
compreendem que produzir saúde é, necessariamente, produzir encontros que visam à
conexão das pessoas, não pelas patologias ou diagnósticos, mas pela experimentação da arte,
do trabalho e do lazer.

5.1.3 Processos avaliativos dos resultados da implantação

Neste recorte procurou trazer a categoria temática dos processos avaliativos dos
resultados da implantação. De acordo com a análise dos trabalhos de conclusão, a avaliação
das oficinas e seus resultados, foram avaliados de duas formas, três deles utilizaram a reflexão
do processo no final da oficina e utilizaram os relatos do grupo para a discussão no corpo do
trabalho, e um realizou a avaliação através de um instrumento de satisfação com escalas entre
bom, regular e ruim com uma pergunta descritiva aberta conforme descrito abaixo no quadro
1.
38

Quadro 1: Avaliação das oficinas


Oficina Processo de avaliação Resultado Participantes
TO1 Instrumento de [11= bom; 0= regular; 0= ruim; 1= não 12
satisfação com escalas: respondeu];
bom, regular e ruim.
Pergunta fechada [... Todos responderam: SIM...].
As informações foram
úteis?
Pergunta aberta: [aprendemos coisas novas, tirei minhas
Sugestões dúvidas; aprendi sobre as funções das plantas
que eu não sabia; muito bom, aprendi muitas
coisas e nome de algumas plantas e
diferenciar; muito útil, tirou minhas
dúvidas].
TO2 Reflexão do processo [referiram que ao participar do projeto, 22
resgataram práticas antigas de produção];
[além de melhorar o acesso e a
disponibilidade dos alimentos, propiciou
discussões de autocuidado e se tornou um
instrumento de conivência social]; [relataram
que realizaram hortas em suas residências];
[os alimentos e plantas medicinais colhidos
na horta estão sendo utilizados para
elaboração de receitas dos grupos realizados
no CRAS].
TO3 Reflexão do processo [alguns participantes traziam em suas falas 6
lembranças do passado, relatos de terem
recebido como herança cultural];
[sentimentos de carinho e afeto com que as
receitas foram guardadas, na passagem
delas através de gerações]; [já tinham
informações e hábitos diferentes de como
aproveitar integralmente determinados
alimentos, proporcionando assim novas
trocas de experiências, práticas e saberes].
TO4 Reflexão do processo [sugeriram realizar a troca solidária por 15
meio de uma feira no espaço do CRAS... Um
artesanato ou alimentos produzidos em suas
hortas domésticas].

A avaliação de uma oficina é um processo fundamental para a aprendizagem


participativa e a construção do conhecimento coletivo. Deve proporcionar uma oportunidade
para os facilitares determinarem o grau de sucesso que os participantes obtiveram no que diz
respeito à integração e assimilação de novos conhecimentos e habilidades, para os
participantes, proporciona a oportunidade de se inteirarem mais do processo de aprendizagem,
visto que sua avaliação influenciará a adequação continuada da estrutura da oficina, ainda
durante o seu desenvolvimento (BRASIL, 2013).
39

Como pode ser observar no quadro acima, mesmo que a metodologia utilizada para a
operacionalização da implantação da horta se aproximou de uma educação sanitária, as
“oficinas” puderam alcançar resultados que mostram o potencial do trabalho com hortas
comunitárias e que se desenvolvidas com maior participação dos indivíduos pode se alcançar
a transformação social e o caráter emancipatório tão desejado pelos profissionais de saúde.
Pode-se observar neste recorte que horta proporciona trocas interpessoais:

TO3: [proporcionando assim novas trocas de experiências, práticas e


saberes].

Libâneo (2007) também discute a horta como um espaço de trocas e pode possibilitar
a construção de um ambiente de aprendizagem, habilidades, valores e atitudes, sob os mais
diversos aspectos do conhecimento. Além disso, a experiência da implantação da horta trouxe
a questão de trazer memórias afetivas e da construção de novas redes de sociabilidade e
resgate de práticas antigas de produção.

TO2: [referiram que ao participar do projeto, resgataram práticas antigas


de produção...]; [... além de melhorar o acesso e a disponibilidade dos
alimentos, propiciou discussões de autocuidado e se tornou um
instrumento de conivência social]; [relataram que realizaram hortas em
suas residências];

Costa et al (2015) em seu artigo, hortas comunitárias como uma atividade promotora
de saúde: uma experiência em unidades básicas de saúde, também traz na sua discussão
impactos positivos na saúde mental dos envolvidos na pesquisa, a partir das atividades de
contato com a terra, os quais propiciam discussões sobre autocuidado, alimentação saudável e
o desestímulo ao uso excessivo de medicamentos.
A proposta aqui foi analisar a implantação da horta em relação a sua operacionalização
e resultados obtidos. Após este diálogo, a proposta é exercitar a reflexão de práticas
educativas realizadas pelos profissionais de saúde. A implantação de horta comunitária aqui
discutida veio de reflexões feitas pelas profissionais-residentes. No entanto, as práticas em
saúde devem sempre ser refletidas.
40

5.1.4 Reconhecendo sujeitos participantes da implantação de uma horta comunitária e a


relação de suas experiências com a produção de saúde.

Para sistematização de uma tecnologia social baseada na experiência de implantação


de horta comunitária, entende-se nesta pesquisa que além de analisar a operacionalização da
implantação, deve-se reconhecer a experiência dos sujeitos participantes do projeto e a sua
relação com a produção de saúde. Para esse momento se buscou escutar os participantes em
relação a suas experiências vividas, os sentidos dados a estas que no caso desta pesquisa é a
experiência com o cultivo de plantas e como na visão deles isto interage com a horta
comunitária.
Inicialmente a história de vida de cada participante será apresentada, sendo mantida a
transcrição da fala deles e posteriormente discutidas a partir das categorias elencadas no
processo de análise.
Laura, assistente social, foi o contato inicial para o início do projeto da horta
comunitária. A entrevista aconteceu no seu local de trabalho.

Tom Vital: “Eu tive que dar um tempo na minha vida profissional... então eu fiz uma
horta na minha casa... as crianças passavam lá, iam todos os dias e perguntavam: ah posso
pegar um moranguinho?”.

Em 2005 eu estava morando em Indaial, meus filhos eram bem pequenos, um tinha
dois e outro tinha três anos. Eu tive que dar um tempo na minha vida profissional, não estava
trabalhando porque eu não podia deixar o Fabio na creche por causa da bronquite. Então eu
fiz horta na minha casa, tinha um terreno bem grande na frente, plantei cenoura, couve,
brócolis, repolho e morango. Na época do morango as crianças que passavam, porque era
bem do lado da escola, saiam da escola passam lá, iam todos os dias e perguntavam: Ah
posso pegar moranguinho? E assim os meus filhos ajudavam também eu achava interessante,
porque toda manhã eu ia pra horta bem cedinho, ia lá tirava os matinhos. Cheguei a ligar
para a Epagri, eles me deram orientação, porque eu não queria passar veneno, daí teve
piolho na couve e no repolho, e ai a minha vizinha disse: Ah tem um veneno! Ai eu disse: não,
não quero passar veneno, aí eu liguei na Epagri, então eles me deram orientações de como
proceder.
O insumo também, só que não era um buraco, porque eu tinha muita arvore, naquela
casa, era uma casa de morar de aluguel, então com as folhas e tal, eu jogava tudo ali e
41

cobria com as folhas, isso também eu aprendi a fazer. Esse movimento de cuidar da horta pra
mim dá uma sensação muito boa, porque além de me dar disposição, que é disposição que eu
encontrava pra levantar e ir pra horta de manhã cedo, eu colhia todo dia, brócolis, porque eu
tinha, e era o que tinha em abundância. Então o fato de estar colhendo; quando eu ia visitar
minha Irmã, lá ia eu colher alguma coisa e levava da minha horta, às vezes era cenoura, ou
era repolho ou era couve, alguma coisa eu sempre levava né, então isso é gratificante assim,
quando tu tens alguma coisa pra oferecer, por mais simples que ela seja mais tu tens, que é
teu, que tu fez que tu produziu.
Fazer a horta naquele momento trouxe benefícios mais pra minha saúde mental,
porque na época foi muito difícil pra eu aceitar que eu não podia trabalhar né, fora assim,
que eu tinha que ficar em casa, cuidar de filho, cuidar de casa, então a horta foi minha
válvula de escape, porque eu não ficava só em função das rotinas da casa e assim, então
assim, em questão de saúde mental, foi o que me segurou naquele ano, foi o ano de 2005
todinho, daí 2006 a gente teve que mudar de casa e ai na outra casa não tinha o espaço, mais
ainda alguma coisa eu plantei lá, 2006 eu ainda plantei, e em 2007 eu comecei a trabalhar
meio período em uma ONG lá em Indaial.
Então em 2016 participei do projeto de implantação de uma horta comunitária no
CRAS, que pra mim foi maravilhoso participar do projeto, foi uma coisa assim, inovadora ali
pro CRAS. Eu me senti privilegiada enquanto coordenação pra estar a frente do projeto que
vocês trouxeram, uma ideia, uma proposta boa de tá fazendo inclusive a princípio nas casas,
cada um podia fazer na sua casa, no seu espaço né, isso ficava a cargo de quem quisesse,
mais de ter um espaço em comum onde a gente pudesse estar ali trabalhando junto e
executando a aquilo que vocês, a proposta de vocês, então o fato da gente ter disponibilizado
o espaço do CRAS eu achei assim que foi muito bom para as nossas famílias que estavam no
PAIF que a gente convidou pra participar. E com a ideia da produção de saúde, que vocês
trouxeram ali né, por conta das plantas medicinais, pra que serve né, de como cultivar, como
fazer, de como preparar o chá, de quanto em quanto tempo também, que isso sim é muito
importante pras famílias, muitas vezes tem coisas que é básico e você não precisa ir lá à
farmácia comprar um medicamento, se você tiver uma planta ali que pode ta fazendo o
mesmo efeito. E também tanto na ideia de estar gerando renda pra quem quisesse estar
fazendo depois em casa sua própria horta e vender alguma coisa ou mesmo que fosse pra
consumo que aí geraria economia né. Então assim, a ideia foi ótima, eu acho que a gente
conseguiu. Não atingimos aquilo que realmente queria, numa totalidade porque nossos
trabalhos com os grupos de famílias ali estavam sendo implantados né, então assim, sempre
42

tem que ter uma contrapartida do CRAS pra que as famílias venham participar né. A ideia de
ser aos sábados também às vezes eles trabalham, ou sábado ta em casa quer estar fazendo
seus serviços da casa, quer estar descansando, enfim, mais quando a gente fez no horário do
meio da semana, a gente viu que daí deu mais público né, até porque daí a gente conseguia
atingir quem vinha, quem já tinha o habito de vir pros grupos né. Então assim, é pensando de
todo o processo, do início, de todas as oficinas foi maravilhosa, a ideia em si, foi
maravilhosa, e o resultado a gente colheu já, no final do ano né, algumas famílias foram lá,
quando iam lá a gente já entregava e levaram verduras, iam lá buscar as plantas pra fazer
chá né, alguns foram lá buscar. Eu deixei um projeto a partir do de vocês eu fiz um projeto de
ampliação da horta e deixei o projeto pronto, escrito lá, que aí então a gente iria buscar mais
terra ia fazer parceria com o horto também pra pegar plantinhas e se a gente não
conseguisse comprar através da secretaria a gente ia ta fazendo uma vaquinha ali pra
poder plantar né; fizemos um buraco lá no fundo, lá atrás do CRAS eu e o Antonio, e
começamos a colocar, fazer um insumo né, então tudo o resto de comida e tal a gente
colocava lá né, casca de ovo e tal. Falamos: vamos fazer um insumo porque ano que vem a
gente vai ampliar a horta, já tínhamos até o desenho da onde ia fazer ali, só que daí como eu
sai da coordenação, eu deixei com a nova coordenadora, olha esse aqui é projeto impresso,
mais está aqui também o do computador, vocês também podem modificar alguma coisa mais
saiu vários funcionários ficaram só dois. Acredito que talvez não conseguiram empolgar a
coordenação a ponto de dizer olha vamos por em pratica este projeto que vai beneficiar
nossa comunidade, acho que faltou isso ali. Meu sentimento de dor maior é por isso sabe, de
não ter conseguido dar continuidade. Porque daí a nova coordenação, não entendia da
assistência, ela veio da educação, ela era da educação infantil inclusive, então não tinha essa
ideia de comunidade, não tinha conhecimento do SUAS, ela teve que começar a aprender,
estudar primeiro e ai onde que falhou, não deu talvez, não teve empolgação. A própria
comunidade de repente não conseguiu chegar junto e dizer: olha: nós queremos dar
continuidade. O CRAS tinha outros problemas pra que ela eu solucionasse, que era o muro
que tinha caído lá trás e ai tava deixando o CRAS muito vulnerável, o teto que tinha sido todo
trocado final do ano, mais trocaram por telhas de péssima qualidade e furou de novo e já
estava vazando e chovendo dentro, então tinham vários outros problemas pra ela resolver e
isso não foi colocado como prioridade né.
No entanto quem participou, quando ia lá dizia assim: nossa que bom, ia lá olhava, dá
a gente já ia lá junto colhia o que dava pra colher e levavam, teve várias famílias que
levaram alface, que levaram repolho, quer dizer couve né, repolho não! Levavam as plantas
43

medicinais, pegavam hortelã, e aquele outro pro estomago, boldo, a própria vizinhança vinha
ali.
Nós fizemos um encerramento no final de 2016, a ideia era dar continuidade, eles
estavam na expectativa da Continuidade no ano seguinte, da ampliação, a gente ia ampliar e
dar continuidade. Então eles ficaram nessa expectativa. Quanto as minhas expectativas com
o projeto era que a gente ia conseguisse uma participação maior dos usuários ali, ativos na
construção da horta e que cada um pudesse ter, porque assim, a ideia também era estar
mostrando: Ah porque onde eu moro não tem muito espaço! Então vamos fazer a horta
vertical com garrafa pet, ou com tubo de PVC, enfim, que a gente conseguisse com que as
famílias cada uma tivesse pelo menos na sua casa um temperinho, cebolinha, salsinha, que
eles pudessem ter assim: isso aqui eu que produzi, eu que fiz, isso é da minha horta, eu acho
que esses eram um dos objetivos que pensava com a criação da horta e com a continuidade
do projeto. De trazer pra população isso, mais proximidade e assim, a gente tinha pensado
em inclusive com o ultimo tema que foi economia solidaria né, de fazer trocas, então ficou a
sugestão, então em algum momento, não ia ser venda, mais a gente ia fazer trocas ali dentro
do CRAS, então isso era o que eu pensava que ia dar de benefício pra comunidade,
principalmente pras nossas famílias do PAIF que tem um plano de ação pra cada uma delas.
Hoje eu continuo plantando. Sou síndica no meu condomínio e eu consegui convencer,
assim, eu não dei a ideia de horta comunitária mais eu falei assim: vamos fazer um jardim?
Vamos dar uma melhoradinha no nosso jardim? Aí a gente pode plantar juntos com as flores
alguns alfaces, couve, algumas coisas, e eu fui, coloquei e eles gostaram da ideia, e teve um
que disse: eu tenho pneu lá no sitio, vou trazer ai fizemos tudo assim: dois pneus, um em cima
do outro, enchemos de terra e eu comprei a terra pronta enchemos ali e fomos plantando.
Então ali tem rúcula, alface, alface já terminou, já colhemos, tem cebolinha, salsinha, tem
pimenta, daí tem erva doce, arruda, tem alfavaca, tem várias coisinhas plantadas ali, além
das flores né que eu consegui dar uma melhorada. Toda noite eu vou lá e molho, se eu não
vou outra pessoa vai molhar, mais normalmente sou eu que rego as plantas né, isso me faz
bem, e na minha sacada também tem, eu tenho flores. Somos 16 famílias no condomínio,
então no dia que a gente fez a movimentação, que chegou a terra, teve várias pessoas que
colaboraram que ajudaram né, mais agora ficou mais ao meu encargo mesmo, as pessoas
vão e colhem a cebolinha, colhem a couve principalmente, que daí eu plantei vários pés de
couve que a gente vai tirando só as folhas e para o uso comum, e agora fui reeleita sindica
de novo, eu falei que só posso mais um ano, depois vai ter que ser outro. Acredito que plantar
mesmo que seja um temperinho já ajuda né, já é uma coisa que faz bem, bem pra saúde física,
44

saúde mental. Então é isso, foi muito valido assim, a junção de vocês, farmácia, de nutrição
de saúde em fim. Obrigada.

Luisa, usuária do CRAS, participou do projeto de implantação da horta comunitária. A


entrevista foi realizada na casa dela.

Tom Vital: “Hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida, ter que recordar pra ti
o começo da minha vida com o cultivo, com as plantas, é muito bom, e poder passar tudo que
eu sei, graças ao meu pai, minha mãe...vou carregar isso comigo pro resto da minha vida,
passar para os meus filhos, minhas netas...”.

A minha história com plantas? Meu Deus, nós vamos virar a noite aqui gente, a minha
história com as plantas... Meu Deus isso é a coisa mais fácil do mundo, que eu lembro,
quando eu comecei, a saber, que eu era gente, gente, gente, gente de verdade, eu tinha de seis
pra sete anos, foi à primeira vez que eu, a lembrança que eu tenho, entendeu? Como se eu
estivesse, eu estou falando contigo agora como se eu estivesse voltando aos meus seis, sete
anos de idade, foi quando eu fui a primeira vez pra roça com meu pai e com minha mãe que
são lavradores né, meu pai já é falecido mais minha mãe continua ainda hoje ativa, graças a
Deus, com um pouquinho de problemas de saúde mais ela ta lá firme e forte ainda. E eu fui
pela primeira vez nessa idade plantar uma roça de cana junto com meu pai. E o tempo foi
passando e dali eu não parei mais, toda vez que eles iam pra roça, que eles sustentavam a
gente através disso né, durante trinta e poucos anos, se eu não me engano, foi o tempo que
eles sustentaram a gente com isso. Era aqui mesmo, ali aonde vocês foram visitar até aonde
foi construída a ponte nova, aquilo ali tudo era aonde a gente plantava, cultivava, a gente ia
pra plantar tomate, a gente ia pra plantar batata doce, o pai levava a gente, muitos filhos,
eles levavam a gente. Eu estudava de manhã, quando fiz sete anos comecei estudar de manhã,
ai eu ia a tarde para roça e de manhã para escola, depois ao contrário, entendeu? Só que
nunca deixou de levar a gente e sempre, sempre colocando a mão na massa, sempre, desde
pequena. Eu me lembro muito bem de eu fazendo as covinhas sabe, pra plantar milho, pra
plantar feijão, eu vou me emocionar... Ai meu Deus, eu me lembro de tudo, eu lembro. Hoje a
gente assim, os filhos da gente tem fartura, as vezes eles reclamam, mais o nosso café da
tarde era: ele levava uma panela e lá já tinha tijolo, e ele fazia, montava lá com os tijolinhos,
a gente colocava água, a gente ia lá colhia a batata doce, lavava, cozinhava e aquele era o
nosso café da tarde, e é uma coisa assim que não tem explicação, porque hoje a gente passa
45

tanta coisa difícil e agora fico lembrado, meu Deus como era bom aquele tempo, só que a
gente não pode voltar mais, ainda bem que tem a recordação. Esse era nosso café da tarde,
batata doce cozida, colhida ali na hora, sem agrotóxico, sem veneno, sem nada. A gente
também fazia o serviço de cortar um capim que tinha lá e jasmim, porque a gente tinha, o pai
tinha vaca, tinha sabe, tirava leite, fazia queijo, fazia tudo e meu, minha história é essa, eu
nasci ali com meus pais plantando e cultivando, entendeu? Cresci vendo meu pai tomando
chá de ervas ele tomava uma garrafa de dois litros de chá mais não tomava um comprimido,
entendeu? E cresci com isso, tanto ele quanto a mãe, os dois e pra mim assim, meu Deus eu
não tenho o que reclamar da minha infância sabe, é hoje eles falam muito sobre o trabalho
escravo de crianças, eu sei que isso é ilegal tudo, mais naquela época não tinha
acessibilidade que hoje os pais têm de colocar os filhos na creche, trabalhar entendeu? E
querendo ou não eu estava ali, perto dos meus pais e se isso serviu de alguma coisa porque
eu acabei aprendendo né, mais claro que eu não considero o que eu fazia um trabalho
escravo, de maneira nenhuma pra mim era super prazeroso. Eu fazia tudo direitinho, ia pra
escola, o pai era muito correto com essas coisas, primeiro ia pra escola, almoçava, se tinha
deveres pra fazer, fazia né, e depois ia pra roça, primeiro eram as coisas da escola, ele era
bem organizado, rigoroso, alemão né? veio pra cá colonizou isso aqui, quer dizer meu avô
colonizou meu avô Otto, e passou pros filhos, pros descendentes. Tanto que a rua aqui
chama: Otto Hoier meu avô, a ponte era pra ser o nome deles sabe, mais houve um problema
lá na câmara de vereadores, alguma coisa lá na assinatura do prefeito que não deu certo,
parece que eles falaram que a praça que vai sair ali na ponte, vai ser o nome dele. Meu Deus
é minha história de vida todinha, porque tu pensa ele sustentar os filhos todos, que não eram
poucos, hoje somos em oito porque um morreu, eram na verdade onze mais também
faleceram dois quando eram pequenos, então também nem cheguei a conhecer mais, tu pensa
ele sustentou os filhos dele tudo com isso, a nossa alimentação era isso, a nossa alimentação
era essa, era um cará cozido, era um taiá cozido com melado entendeu, a gente não tinha
essa coisa de frescura, se tinha carne tinha, bom se bem que também, ele criava né, igual
hoje a mãe continua, naquela época era a mesma coisa, a mãe deu continuidade só menos as
vacas que aí ficou muito trabalhoso, aí com a idade deles também não tinham mais
condições, aí tiveram que parar. E mais, falar de cultivar, plantar é a lembrança que eu
tenho de indo pra roça a primeira vez pra plantar uma roça de cana, porque meu pai também
vendia caldo de cana também sabe, vendia pro pessoal ele tinha uma coisinha de caldo de
cana lá na praia, ele tinha uma Kombi e também era a gente que raspava, preparava o limão
que a gente colhia ali, entendeu, meu Deus minha infância todinha eu fiquei trabalhando na
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roça e ajudando meu pai e minha mãe, e não é coisa de levar um filho porque não tem quem
cuide e não vou deixar em casa, não! Era prazeroso sabe, porque a gente ia aprender botar a
mão na massa mesmo sabe? Limpar canteiro, plantar beterraba, chegava uma época que o
tomate ficava um pouco mais alto e tinha que desbrotar, que é tirar o macho que se fala,
tinha que amarar pezinho por pezinho, e não era pouco não, olha que era hectares assim
sabe, e era muito bom. Eu era feliz, eu posso dizer que eu era muito feliz, se eu pudesse voltar
atrás assim, eu queria ter aquela vida de novo. Lógica que não né, a gente fica emocionada
porque passa alguns perrengues na vida, mais eu não tenho o que reclamar da minha
infância porque a minha infância foi cultivando com meu pai e com minha mãe.
Assim embora a gente ajudasse, a vontade do pai era que a gente estudasse, ele deu
todas as oportunidades pra todos os filhos mais nenhum teve interesse, a única que terminou
o ensino fundamental foi eu e ele chegou a pagar colégio pra mim, mais naquela época eu
não tinha cabeça, aí preferi namorar, casar e bom, não adianta né, e só que assim, se eu
pudesse voltar a atrás fazer tudo de novo eu faria diferente eu pegava toda a historia boa da
minha infância de plantar com meus pais de cultivar com eles, porque a gente não fazia só
isso. Eu, meu pai, minha mãe e meus irmãos quando chegava sexta feira a gente ia lá e colhia
o que a gente plantou, a gente colhia, levava pra casa, o pai enchia o tanque, a gente lava
tudo, deixava tudo limpinho, amarava o montinho de beterraba, cenoura, fazia os pacotinhos
com aquelas redinhas, não sei se usa ainda, colocava tudo ali dentro pesava bonitinho e
sábado de manhã eu e minha irmã saia vender de porta em porta, entendeu? De porta em
porta, muitas pessoas hoje se você for perguntar eles vão dizer eu comprei muito dela,
entendeu, então a gente ia de rua em rua, de porta em porta vender aquilo que a gente
ajudava o pai e mãe plantar. Hoje a mãe vende mais ela não sai vender, as pessoas vão até
ela. Além de ela ser aposentada a maioria das coisas que ela paga é com a venda do que ela
produz ali, e do que ela ganha, cebolinha verde, alface, aquelas coisas todas que ela tem. Eu
vendo pra ela também, lá na escola a professora veio perguntar pra mim, não sei como, não
sei se ela falou que estava com vontade de comer quiabo... eu disse minha mãe tem orgânico
pra vender, sem agrotóxico nenhum, ela respondeu: ah pelo amor de Deus traz pra mim? A
outra escutou e falou traz pra mim também, eu vendo pra ela também.
Houve um tempo muito bom quando o seu Antonio da Epagri. Ele reuniu o pessoal
aqui da região, que faz o reaproveitamento de espaço. Sabe essas raízes, taiá, cará, inhame?
Estava sendo deixadas muito de lado, os pequenos agricultores, tipo a mãe, estava deixando
muito de lado. Então ele reuniu esse pessoal e trouxe até na minha mãe pra mostrar como
que ela fazia, plantava de baixo de uma bananeira, perto de alguma coisa e segundo eles era
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reaproveitamento de espaço, acho que é isso o nome, com foco na raiz e no preparo de
receitas, tanto que na última vez que vieram fizemos um banquete lá na mãe, a gente
preparou todos os tipos de coisas, pão de fubá com batata doce, bolinho de cará, bolinho de
aipim, sabe tudo que tu imagina fazer com raízes, nós fizemos e tudo cultivado ali, colhido
ali, sem agrotóxico, sem nada.
A gente tinha prazer de receber ali, até hoje se tu fores ali, minha mãe vai mostrar
tudo e disser que faz tudo sozinha agora, é a vida dela. E assim, eu sou franca pra dizer pra
ti, se eu tivesse condições de um dia na minha vida, de morar em um lugar igual da minha
mãe, ou que seja um lugar que dessa pra cultivar assim, eu sairia daqui, tranquilamente.
Eu soube do projeto da horta através do CRAS, eu fazia acompanhamento no CRAS,
eu passa passava por um momento difícil, por uma depressão, até hoje ainda faço tratamento
né, mais foi bastante produtivo ter procurado eles, porque eles me ajudaram bastante, em
todos os sentidos, tanta como psicológicos, mentalmente, fisicamente né, e através deles em
consegui fazer parte do grupo da horta comunitária e das ervas medicinais. Além de me
fazer muito bem, porque eu estava um pouco afastada de pessoas, eu não estava querendo
muito contato com pessoas, eu queria ficar mais isolada, então pra mim foi ótimo. Eu aprendi
muitas coisas, principalmente no reaproveitamento. Se bem que eu sempre fui uma pessoa
econômica e sempre fui uma pessoa que não tolera desperdício, isso já é, acho que de mim
mesmo, talvez pela vida que eu levei também né, que não foi fácil, e coisas sobre ervas
medicinais, tem coisas que ficou bem marcado assim pra mim, por exemplo: saber diferenciar
a citronela do capim cidreira entende? Quando ela explicou ali a respeito de qual era mais
viável pra gente do quebra pedra entendeu? Aquilo ali ficou muito marcado porque olha
minha vida toda eu fui criada com minha mãe ali, tu sabe. E toda vida vi as pessoas vir
buscar, mais quando ela mostrou pra gente ali literalmente o rasteirinho que sai aquele
leitinho e que aquele ali é perigoso, que contem mais toxinas, que o mais recomendado era
aquele de pezinho, aquelas coisas ali ficou muito, até hoje quando alguém comenta a respeito
disso, ah eu queria quebra pedra pra fazer, eu já falo: oh! Toma cuidado que não pode ser
aquele rasteirinho ele é muito tóxico, tem muita toxina, o mais recomendado é o de pezinho,
então foi uma coisa que eu aprendi através do programa lá, e a gente coloca em prática no
dia-a-dia. O mais engraçado é que eu não gosto de chá, eu não gosto, o único chá que eu
tomo, se for pra eu beber é de hortelã, outro tipo de chá assim que me ofereçam eu não, não
vai. Eu não sei porque só de hortelã mesmo, que engraçado né? Estranho assim, e eu gosto
dessas coisas, eu leio sobre isso, eu pesquiso matérias na internet sobre ervas, acho
interessante a finalidade delas, isso me cativa muito, mais se for pra eu usar não usaria,
48

engraçado né? O hortelã eu não descarto, o hortelã eu gosto muito. Eu acho interessante os
benefícios, as vezes eu queria me entender um pouco nisso, porque eu passo para as pessoas
a finalidade das ervas, mais eu pra mim, eu não me aproprio delas, entendeu? Eu sou mais
da parte assim: legumes, verduras, essas coisas me chamam mais atenção, comida. Tudo
aquilo que envolve comida, que envolve coisas saudáveis, não que as ervas não sejam mais
eu tenho assim a tendência a gostar mais da parte de alimentação mesmo. Mas eu acredito
nos benefícios, tanto que aquela muito conhecida sementinha que eu não sei se é o nome dela
cientifico mesmo sementinha, ou se ela tem outro nome, muitos vem a procura ali, essa
sementinha. Eu cheguei a embalar elas ali na mãe, a colher elas e embalar pra minha
cunhada mandar pra São Paulo. Uma pessoa que tava precisando que sofreu um acidente e
estava com difícil cicatrização, tanto nos ossos, quando na carne né? Mandamos por sedex,
porque além dela ser carinha, ali na mãe tem abundancia né e eu acredito tanto que passo
para as pessoas mais pra usar pra mim, já não. Mas eu já cheguei a fazer, infusão que dizem
né? Aquele que só vai trocando a água, a cada 24 horas troca a água, bebe e repõe e depois
toca novamente, é casca de maçã, alecrim e noz-moscada, eu já fiz e tomei por um bom
tempo, isso há uns dois anos atrás né, preparava e colocava na geladeira e bebia, depois
desinteressei totalmente mais é uma coisa que às vezes eu me questiono. Que eu queria
entender esse lado que eu acredito tanto e eu não uso pro meu benefício próprio, eu gosto, eu
leio, amo ver as matérias a respeito de ervas, de plantas, os benefícios que elas trazem, passo
para as pessoas mais pra mim não, eu não sei o que é, mais, acho que é de mim mesma.
Sobre as hortas se eu tivesse recursos financeiros eu investiria muito, porque como eu
te falei minha tendência é mais legumes e verduras, mais fazer o aproveitamento de tudo e eu
acharia assim, que até o município deveria investir mais nisso, é tanto em SEDINS, até tem
alguns que tem programa, tem uma professora que fez e incluiu as crianças nisso e era muito
legal a gente via eles lá mexendo na terra e de bota, muito bacana, e eu acho muito
interessante, que deveria ser levado adiante. Pra mim foi muito importante, me fez bem
trouxe vários benefícios como o conhecimento das plantas, o aproveitamento. E eu faço isso
lá no meu trabalho, são crianças do município e eu não tinha obrigação nenhuma mais eu
faço, eu reaproveito os alimentos sim, eu reaproveito, quando é suco de laranja com cenoura,
eu tenho que bater a cenoura e é descartado o bagaço da cenoura, eu reaproveito no arroz
entendeu? Eu coloco na água do arroz, já fica mais nutritivo, ah suco de couve né, com
laranja também, abacaxi, porque eles não tomam nada artificial, sabes né? Eu também
reaproveito pra fazer omelete, eu faço, eu to utilizando isso no meu dia-a-dia, eu pratico mais
isso lá porque eu passo a maioria do meu tempo lá, eu entro as 7 da manhã entendeu? Eu
49

procuro usar o que eu aprendi nesse programa da horta mais o que eu já tinha uma
tendência, agora eu ponho em pratica aonde eu trabalho, no meu trabalho.
Primeiro foi mais por questão mesmo de estar perto de pessoas, de conhecer novas
pessoas e pelo aprendizado mesmo, porque eu sempre fui uma boa leitora e sempre me
interessei muito por debates e conversa e assim por diante, então eu achava que pra mim era
ótimo, porque eu estava passando por um momento difícil, então pra mim foi bem proveitoso
de ambas as partes, fez tanto bem pro meu lado emocional, quanto pra minha vida pessoal,
de estar colocando em pratica tudo aquilo que eu aprendi lá. E assim, eu posso passar um
pouco do que eu sei, então além de eu ter aprendido como eu falei pra ti no projeto, que eu
disse que eu não sabia do quebra pedra e tal, a diferença entre a citronela e o outro, lógico
se eu sentir o cheiro eu vou saber diferenciar, mais saber diferenciar a folha e lá na mãe tem
os dois. Então eu aprendi, mas também pude passar alguma coisa que eu sabia também né.
Então nesse sentido eu me senti valorizada né? Foi o que me deu força assim, que daí eu falei
e eles começaram a trabalhar em cima disso e viram que eu estava com gás, e eu falei pra
Camila preciso voltar a trabalhar, faz um ano e pouco que estou sem trabalho, preciso voltar
a trabalhar, eu quero focar nisso agora. E foi aonde ela soube dessa vaga e eu fui e fui
contratada e estou até hoje graças a Deus e já faz 1 ano e 3 meses. E meu chefe sempre diz
pra mim: Eu tenho 270 e poucas merendeiras, eu queria ter 270 e poucas de você. É bom, é
gratificante né, aquilo que eu faço eu faço com amor, mesmo porque eu não estou fazendo
pra qualquer um, estou fazendo para crianças. É como se fosse parte de mim, eu passo tudo
que eu sei, quando falam alguma coisa eu já fala, ah lá na minha mãe tem, pode deixar que
eu trago.
A minha história de vida não podia ser melhor, a pergunta mais fácil que tu poderia
me fez, porque não tem como tu esquecer, tu andar dentro de uma carroça com teu pai e com
tua mãe, tu trabalhar com eles ali, tu vê o fruto, eles colhendo aquilo ali, a gente vendendo
aquilo ali, dando dinheiro pro pai e pra mãe e ver a satisfação das pessoas, de um
recomendar pro outro e continua até hoje, mesmo com meu pai falecido, continua até hoje, é
muito gratificante. A única coisa que eu queria, eu sei que vais transcrever mesmo né, eu só
queria ter tomado decisões mais sabias na minha vida, mais como eu não posso mudar o
tempo, nem voltar atrás eu procuro lembrar das coisas boas que eu vivi, e aprender com as
erradas, pra não fazer de novo. Eu não sei se vais escrever isso ou vais editar, mais assim
essa, essa, hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida, ter que recordar pra ti o começo
da história da minha vida com o cultivo, com as plantas, como eu comecei a lidar com isso,
meu Deus é muito, e poder passar que tudo o que eu sei é graças a meu pai, que foi meu
50

grande herói e minha mãe que tenho até hoje graças a Deus, o que eu sei eu devo aos dois e
vou carregar isso comigo pro resto da vida, passar pros meus filhos, eu passo pra minhas
netas.
Às vezes eu olho pro meu canteirinho de cebola ali que meu cachorro acabou com ele,
ele acabou com tudo, ele fez um buraco. Eu tenho bastante pé de fruta, acerola, três tipos de
banana, nona, uns três tipos de laranja, goiaba, jabuticaba, limão, pitanga e amora, bastante
coisinha. Eu colhi bastante physalis agora, graças a minha mãe que passou a muda pra mim,
a geração não morreu ta ali ainda.

Larissa, assistente social responsável por algumas das famílias que participaram do
projeto da horta comunitária.

Tom vital: “O que falta mesmo é unir e a horta é uma forma muito boa de além de
melhorar a saúde da população, da comunidade eles acabam se unindo e trocando ideias,
porque aí vai surgir lideranças ali, naquele meio, sempre alguém acaba evoluindo esse lado
de líder né, e líder comunitário é sempre bem vindo!”.

Eu nunca plantei mais meus pais sim. Na minha infância era comum, muito comum
todo mundo ter horta, então o que não era comum era não ter horta, isso aí não era comum.
Então na minha casa tinha cenoura, tinha temperos, tinha de tudo um pouquinho, frutas
também. Na compra de mantimentos no supermercado, que naquela época eram mercearias
ali só se comprava o básico mesmo, arroz, o feijão, o macarrão, o açúcar, o sal. Não
precisava comparar frutas e nem verduras e nem legumes, isso aí quando alguém não tinha,
havia troca e assim todo mundo passava a ter de tudo um pouquinho. Meus pais trabalhavam
fora, eram operários de fabricas. Aí era só final de semana que se cuidava da horta, mais era
muito rápido, não tinha muita coisa pra fazer uns 15 minutos já estava tudo ok, era só não
deixar crescer o mato em volta, afofar o barro, tirar o capim né pra não dar problema.
O que ficou da reunião de encerramento do ano de 2016, é que todas estavam se
sentindo muito entusiasmadas né, em levar a questão da horta pra frente, porque eles
disseram que ali estavam se alimentando de forma mais adequada porque eram produtos sem
veneno e que um vizinho estava fazendo a troca com outro vizinho, por exemplo, se um tinha
aipim e o outro tivesse repolho ou coisa parecida havia a troca né, porque essas pessoas são
extremamente carentes né, e é difícil eles terem um pedaço de terra pra plantar, então o
pouquinho que tinham eles realmente se plantou, realizei visita domiciliar e pude constatar
51

essa plantação né que alguns fizeram em casa. E teve troca de ideias né, e troca do saber, do
saber popular em relação a ervas, pois teve uma usuária que pontuou as principais plantas
medicinais pra dor de cabeça né, pra problemas estomacais, pra imunidade, pra aumentar a
imunidade no caso, então ela deu uma verdadeira aula ali pra todo mundo né. Teve uma que
eu acompanhava pela PAIF, que ficou muito entusiasmada, inclusive ela foi embora para o
Rio Grande do Sul pra trabalhar em uma plantação, mais ela tem um saber muito grande em
relação a ervas, meu Deus do céu, ela foi criada né, já foi passado do avô pros pais dela, dos
pais dela pra ela, é uma cultura familiar ali. Na época ela veio pra cá pra, ela disse pra fazer
tratamento de saúde porque aqui tinha médico, então naquela época a saúde estava melhor
do que hoje, estava muito melhor, daí ela começou a se tratar e conforme ela ia plantando e
colhendo produtos agrícolas sem o veneno a saúde dela foi melhorando também, ajudou a
melhorar né, e ajudou a família como um todo também, porque faz muita diferença né,
porque hoje a gente não tem acesso, meu Deus, a gente não tem acesso, tem esse pessoal que
diz que vende produto orgânico mais é tão difícil acreditar, deveria voltar a horta porque foi
muito bom. Eu acredito que ele foi muito bom principalmente em relação à saúde, a nossa
saúde como um todo, então poder consumir um alimento sem agrotóxico é um privilégio hoje
em dia, é um privilégio que só uma minoria tem que consegue atingir isso aí né, a maioria
não, então agora estão aparecendo muitos problemas relacionados aos agrotóxicos, então
quanto mais nós soubermos plantar sem agrotóxico melhor, melhor pra saúde como um todo.
Na época das oficinas da horta quem não tinha interesse começou a ficar interessado
né, porque tinha pessoas que achavam besteira né, mais aí começaram a fazer até hortas
verticais né porque ficaram muito interessados mesmo. Despertou a participação da
comunidade em relação ao foco que era a horta comunitária, eles começaram a ser proativos
porque muitas vezes eram eles que citavam ideias de como plantar e ensinavam pros outros
que não sabiam nada né, e assim eles se sentiram praticamente sujeitos de direitos né, com
muita pro atividade eles estavam fazendo, ninguém tava fazendo nada por eles, eles mesmo
né se apossaram das ideias né, e foram distribuindo essas ideias entre a comunidade. Eu
observava isso nas visitas domiciliares.
Acredito que seria interessante dar continuidade ao trabalho que se iniciou com essa
comunidade. Pois os primeiro que os primeiros habitantes que vieram pra esse bairro aqui,
porque aqui era tudo mato ta, foram os paulistas, e os paulistas não têm essa cultura da
horta, do verde, então onde eles podiam cimentar eles iam cimentando tudo, realmente né,
então muitas casas hoje em dia não tem um cantinho de terra pra plantar por causa disso.
Então horta vertical é uma ideia muito boa, mas também seria bom ter uma horta que a
52

comunidade unida pudesse cuidar todos os dias, porque essa comunidade aqui expressa essa
necessidade. Eles falam assim: nós podemos ter uma horta com um terreno baldio, é só falar
com o proprietário né, aproveitar esse terreno pra plantar todo mundo ia ajudar, parece que
já estão fazendo uma, só nunca vi essa horta. Isso cultiva a união deles, a participação
comunitária referente a um assunto, como por exemplo, se eles estão unidos né, pensam daí
de constituir uma associação de moradores, porque daí vai fortalecer mais a comunidade né,
com uma associação de moradores atuante né, eles vão ter mais força perante o poder
público né pra solicitar melhorias pro bairro e aí vai né. O que falta mesmo é unir e a horta é
uma forma muito boa de além de melhorar a saúde da população, da comunidade eles
acabam se unindo e trovando ideias, porque aí vai surgir lideranças ali naquele meio, sempre
alguém acaba evoluindo esse lado de líder né, e líder comunitário é sempre bem-vindo.

5.1.4 Reconhecendo a própria história

“Hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida, ter que recordar pra ti o começo da
minha vida com o cultivo, com as plantas, é muito bom”.

Ao entender que saúde não é o contrário de doença e que ela é determinada


socialmente sendo resultado do modo que se vive. Podemos pensar que a produção de saúde
também se dá nos encontros que visam à conexão das pessoas e não pelas patologias ou
diagnósticos, e o olhar para a própria história também se revelou um momento de saúde.
Pode-se observar que ao pensar sobre si, recupera, por meio da memória, situações
vividas que lhe foram relevantes. As pessoas que se envolveram com o projeto de implantação
da horta comunitária, tinham história de vida que resgatam suas raízes, suas memórias da
infância na lavoura ou lembranças da família. Memórias que haviam ficado adormecidas com
os afazeres do dia-a-dia. Há, assim, um respeito à sua cultura e à manutenção do modo de
vida tradicional. O que vai ao encontro da proposta da tecnologia social, na qual os
participantes devem estar envolvidos na busca por uma tecnologia que seja compatível à sua
realidade e aos seus conhecimentos, e que solucione, assim, suas demandas.
Através das histórias narradas foi possível extrair o significado da sua participação no
projeto de implantação da horta comunitária. Apesar de toda a densidade de suas experiências
materializadas, tornou-se visível o significado que as participantes atribuem ao contexto em
que estão inseridas. O que permite atingir-se o objetivo que foi o reconhecer a experiência das
participantes da implantação da horta e a relação com a produção de saúde.
53

Foi enfatizado por meio das histórias de vida o significado da sua participação, como
fonte de autoestima, autorrealização, valorização e geração de renda e um dispositivo para
efetivação da participação popular.
Todas as entrevistadas trouxeram em suas falas que relacionaram a participação no
projeto de implantação da horta com a valorização:

Laura: “Fazer a horta naquele momento trouxe benefícios mais pra


minha saúde mental, porque na época foi muito difícil pra eu aceitar
que eu não podia trabalhar né, fora assim, que eu tinha que ficar em casa,
cuidar de filho, cuidar de casa, então a horta foi minha válvula de escape,
porque eu não ficava só em função das rotinas da casa e assim, então
assim, questão de saúde mental, foi o que me segurou naquele ano”.

Luisa: “E assim, eu posso passar um pouco do que eu sei, então alem de


eu ter aprendido como eu falei pra ti no projeto, que eu disse que eu não
sabia do quebra pedra e tal, a diferença entre a citronela e o outro, lógico se
eu sentir o cheiro eu vou saber diferenciar, mais saber diferenciar a folha e lá
na mãe tem os dois, então eu aprendi como eu também pude passar
alguma coisa que eu sabia também né. Então nesse sentido eu me senti
valorizada né? Foi o que me deu força assim, que dai eu e a Sonia e o Dr.
Eduardo começaram a trabalhar em cima disso e viram que eu estava com
gás, e eu falei pra Sonia preciso voltar a trabalhar, faz um ano e pouco
que estou sem trabalho, preciso voltar a trabalhar, eu quero focar nisso
agora e foi aonde ela soube dessa vaga e eu fui e fui contratada e estou
até hoje graças a Deus e já faz 1 ano e 3 meses”.

Larissa: “E teve troca de ideias né, e troca do saber, do saber popular em


relação a ervas, pois teve uma usuária que pontuou as principais plantas
medicinais pra dor de cabeça né, pra problemas estomacais, pra imunidade,
pra aumentar a imunidade no caso, então ela deu uma verdadeira aula ali
pra todo mundo né. Teve uma que eu acompanhava pela PAIF, que ficou
muito entusiasmada, inclusive ela foi embora para o Rio Grande do Sul pra
trabalhar em uma plantação, mais ela tem um saber muito grande em
relação a ervas, meu Deus do céu, ela foi criada né, já é, ali foi passado do
avô pros pais dela, dos pais dela pra ela é uma cultura familiar ali”.
54

Conforme as falas acima podem se demonstrar o potencial da horta comunitária


principalmente na multiplicação de saberes e na valorização do potencial coletivo e
individual. Laura relaciona a horta como um modo de se sentir produtiva. Já Luisa sentiu que
seu saber foi valorizado no decorrer das oficinas e depois de ter vivenciado essa experiência
se sentiu apta a buscar um emprego. Larissa conseguiu visualizar o potencial do saber das
participantes. Ribeiro, Bógus e Watanabe (2015) relatam que a valorização do saber popular e
o resgate de práticas e conhecimentos ancestrais contribuíram para que outras aptidões,
pessoais e coletivas, fossem reveladas, indo além de atividades relacionadas às práticas
agrícolas. Essa valorização e esse resgate dos saberes dos participantes cooperaram para o
aprimoramento das habilidades individuais e coletivas nos grupos.
Outro destaque levantado nas histórias de vida narradas foi a Participação Social.
Conforme a Portaria nº 2.446 de 11 de novembro de 2014 (BRASIL, 2014), foi redefinida a
Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) (BRASIL, 2010), que traz a participação
social, quando as intervenções consideram a visão de diferentes atores, grupos e coletivos na
identificação de problemas e solução de necessidades, atuando como corresponsáveis no
processo de planejamento, de execução e de avaliação das ações. Concordamos com Demo
(2001) quando afirma que a participação é, em essência, autopromoção, existindo enquanto
conquista processual, com processos participativos inegavelmente valiosos, que são
construídos com as populações de maneira lenta e eficaz. De acordo com Buss (2003) e
Westphal (2006), o reforço da ação comunitária é fundamental e envolve o incremento do
poder das comunidades na fixação de prioridades, na tomada de decisões e na definição e
implementação de estratégias para alcançar o empoderamento da comunidade.
Observando a fala de Larissa: “Teve uma que eu acompanhava pela PAIF, que ficou
muito entusiasmada, inclusive ela foi embora para o Rio Grande do Sul pra trabalhar em uma
plantação” de alguma forma as oficinas despertaram um movimento nos participantes. No
entanto esse movimento não se efetivou de um modo coletivo, ficando no campo das
expectativas como Laura se refere: “Então eles ficaram nessa expectativa”, “A própria
comunidade de repente não conseguiu chegar junto e dizer: olha nós queremos dar
continuidade”. O “ficar na expectativa” e o “não conseguiu chegar junto” aponta para
refletirmos como esse processo de implantação foi operacionalizado. Muitas das vezes os
profissionais têm uma necessidade de suprir as demandas do outro sem que mesmo troque de
“óculos” e olhe a partir da realidade dos seus usuários e a falta desse movimento pode ser uma
hipótese dessas falas narradas pelas participantes do projeto.
55

Larissa: “Na época quem não tinha interesse começou a ficar interessado
né, porque tinha pessoas que achavam besteira né, mais aí começaram a
fazer até hortas verticais né porque ficaram muito interessados mesmo.
Despertou a participação da comunidade em relação ao foco que era a
horta comunitária, eles começaram a ser proativos porque muitas vezes
eram eles que citavam ideias de como plantar e ensinavam pros outros
que não sabiam nada né, e assim eles se sentiram praticamente sujeitos de
direitos né, com muita pro atividade eles estavam fazendo, ninguém tava
fazendo nada por eles, eles mesmo né se apossaram das ideias né, e
foram distribuindo essas ideias entre a comunidade”.

Laura: “Nós fizemos um encerramento no final de 2016, a ideia era dar


continuidade, eles estavam na expectativa da Continuidade no ano
seguinte, da ampliação, a gente ia ampliar e dar continuidade. Então eles
ficaram nessa expectativa. Quanto as minhas expectativas com o projeto
era que a gente ia conseguisse uma participação maior dos usuários ali,
ativos na construção da horta”.

Laura: “A própria comunidade de repente não conseguiu chegar junto e


dizer: olha nós queremos dar continuidade”.

Larissa aponta que uma potencialidade de se trabalhar com a horta é por ela ser um
modo de fortalecer a participação social, através do favorecimento de espaços para que haja
discussões sobre as demandas dos usuários. Corroborando com esta fala, Ribeiro, Bógus e
Watanabe (2015), trazem a agricultura urbana como uma ferramenta promotora de saúde, pois
estimula o protagonismo social, a participação e resgata o sentimento de pertencer a um grupo
e estimula atividades coletivas.

Larissa: “Isso cultiva a união deles, da participação comunitária


referente a um assunto, como por exemplo, se eles estão unidos né,
pensam daí de constituir uma associação de moradores, porque daí vai
fortalecer mais a comunidade né, com uma associação de moradores
atuante né, eles vão ter mais força perante o poder público né pra
solicitar melhorias pro bairro e aí vai né, o que falta mesmo é unir. E a
horta é uma forma muito boa de além de melhorar a saúde da
população, da comunidade eles acabam se unindo e trovando ideias,
56

porque aí vai, vai surgir lideranças ali naquele meio, sempre alguém
acaba evoluindo esse lado de líder né, e líder comunitário é sempre bem
vindo.”

As fragilidades da continuidade do projeto que foi evidenciada através das narrativos


será refletida aqui como: Pessoas e serviços.

Laura: “O CRAS tinha outros problemas pra que ela eu solucionasse,


que era o muro que tinha caído lá trás e ai tava deixando o CRAS muito
vulnerável, o teto que tinha sido todo trocado final do ano, mais trocaram
por telhas de péssima qualidade e furou de novo e já estava vazando e
chovendo dentro, então tinham vários outros problemas pra ela resolver
e isso não foi colocado como prioridade né”.

Laura: “Porque daí a nova coordenação, não entendia da assistência, ela


veio da educação, ela era da educação infantil inclusive, então não tinha
essa ideia de comunidade, não tinha conhecimento do SUAS, ela teve que
começar a aprender, estudar primeiro e ai onde que falhou, não deu talvez,
não teve empolgação”.

Diversas dificuldades surgiram na organização do serviço de saúde, das quais foram


destacadas: falta de adesão da população, mudança de gestão, troca de funcionários,
problemas físicos dos estabelecimentos “o muro caindo, o telhado quebrado”.
Observa-se como potencial que mesmo com a saída das residentes verificou-se a
necessidade de se ampliar o canteiro e a manutenção da horta, foi destacada como
fundamentais para a continuidade do projeto, revelando que houve autonomia por parte dos
trabalhadores. Outro ponto positivo em relação a continuidade do projeto foi que a falta de
recursos públicos para a manutenção da atividade fez com que diversas formas de
mobilização, baseadas no trabalho voluntário de usuários e funcionários para garantir a
continuidade das atividades. Por meio de doações e possíveis parcerias, os participantes
encontraram formas de suprir as demandas do projeto como a compra de insumos.
Um aspecto fundamental presente no escopo das ações em saúde é a intersetorialidade.
Tais atividades precisam contar com estratégias de natureza intersetorial para viabilizar uma
maior integração das ações da saúde e de outras secretarias, realizadas nos equipamentos de
saúde ou fora deles. O que se enxerga a partir dos resultados analisados é a necessidade de
57

reconhecer a experiência dos sujeitos participantes de um projeto de Horta comunitária no


município de Itajaí e sua relação com a produção de saúde estratégias intra e intersetoriais na
gestão de projetos, para a facilitação da continuidade. Para Azevedo, Pelicioni e Westphal
(2012), a perspectiva de atuações inter e intrassetoriais no campo das políticas de saúde tende
a crescer, diante do acúmulo de discussão já existente que envolve o processo saúde-doença.
Assim, a abordagem intersetorial torna-se um objetivo a ser alcançado por todas as ações que
têm como objetivo a promoção da qualidade de vida das populações, na perspectiva ampliada
do conceito de saúde.
Para Moysés e Moysés (2012) a intersetorialidade é um desafio permanente e ocupa,
inclusive, o centro do debate internacional. Essa estratégia pressupõe não só articulação entre
sujeitos sociais e instituições com saberes, culturas e interesses diversos, mas também um
novo modelo de gestão voltado para o enfrentamento de problemas complexos, além de
inspirar novos desenhos e práticas de formulação de agendas e implementação de políticas
públicas. A intersetorialidade reconhece e chancela a multiplicidade de olhares sobre a
realidade complexa (MENDES, 2002).
Uma ação intersetorial poderia minimizar pontos relatos pelas falas das entrevistadas
elencados como a não continuidade do projeto. Se houvesse uma perspectiva intersetorial no
desenho do projeto as chances de continuidade poderiam ser bem maiores, não ficando apenas
encabeçado e pensado por duas ou três pessoas. Que foi o que aconteceu, as pessoas que
estavam a frente do projeto foram realocadas de setores, sendo este um dos pontos citados
como a não continuidade das atividades na horta.
Outra dificuldade para a não continuação do projeto que apareceu no decorrer da
pesquisa foi a mudança de endereço do espaço físico do CRAS. Gapinski, et al (2018) traz
que a estrutura institucional de uma tecnologia social consiste em um processo desenvolvido
na interação com a comunidade. Diferente de um artefato tecnológico que se pode produzir
em um local e aplicar em outro, uma tecnologia social caracteriza-se pelo fato de não ser
possível desvincular dos locais de origem.
Apesar da implantação da horta não se efetivar de modo coletivo no caso analisado a
metodologia trouxe vários resultados individuais como o citado na fala da Luisa:
“Então nesse sentido eu me senti valorizada né? Foi o que me deu força
assim, que daí eu e a Sonia e o Dr. Eduardo começaram a trabalhar em cima
disso e viram que eu estava com gás, e eu falei pra Sonia preciso voltar a
trabalhar, faz um ano e pouco que estou sem trabalho, preciso voltar a
trabalhar, eu quero focar nisso agora e foi aonde ela soube dessa vaga e
58

eu fui e fui contratada e estou até hoje graças a Deus e já faz 1 ano e 3
meses”.

Larissa também trouxe uma fala onde evidenciava que uma usuária atendida por ela se
mudou para trabalhar com o cultivo de plantas: “Teve uma que eu acompanhava pela PAIF,
que ficou muito entusiasmada, inclusive ela foi embora para o Rio Grande do Sul pra
trabalhar em uma plantação, mais ela tem um saber muito grande em relação a ervas, meu
Deus do céu, ela foi criada né, já é, ali foi passado do avô pros pais dela, dos pais dela pra ela
é uma cultura familiar ali”. Deixando evidenciado que se a metodologia aplicada levar em
consideração a construção horizontal possivelmente será ainda mais efetiva podendo alcançar
a fala do Tom Vital escolhido para Larissa:

“O que falta mesmo é unir e a horta é uma forma muito boa de além de
melhorar a saúde da população, da comunidade eles acabam se unindo e
trocando ideias, porque aí vai surgir lideranças ali, naquele meio, sempre
alguém acaba evoluindo esse lado de líder né, e líder comunitário é sempre
bem-vindo!”.

Podendo então se transformar a sociedade através de uma tecnologia social produtora


de saúde que será discutida no próximo capítulo.
59

5.2 Sistematizando uma tecnologia social para a produção de saúde, tendo como base a horta
comunitária

Para essa sistematização buscou-se analisar toda a operacionalização da implantação e


valorizar as potencialidades de seus resultados e então realizar um exercício de escrita para
sistematizar uma tecnologia social para a produção de saúde. Entendendo-se que sistematizar
significa colocar em ordem, tronar-se coerente.
Desta forma pretende-se refletir a horta comunitária de uma maneira coerente com o
conceito de tecnologia social e de produção de saúde assumido nesta dissertação. Não é um
passo a passo, até porque se fosse já não se caracterizaria como uma tecnologia social. No
entanto pretende–se realizar um exercício de escrita para deixar as tecnologias sociais mais
visíveis, como uma forma de fortalecê-las.
Partindo do conceito de tecnologia social:

Processos e métodos desenvolvidos por meio da criação ou inovação


coletiva, articulando conhecimentos e fazeres, para atender demandas sociais
específicas; estudadas, validadas e administradas nas relações, e que
colaboram com a transformação social, favorecendo a elevação da qualidade
de vida, cujo impacto deve ser avaliado de acordo com critérios previstos no
seu desenho. Fluxogramas, diagramas, modelos de atividades individuais e
grupais, diagnósticas, avaliativas, assim como sistemas organizacionais,
educacionais e de suporte, são exemplos de tecnologias sociais, comumente
utilizadas nas áreas sociais, como saúde, educação e ciências humanas,
sociais e políticas (UNIVALI, 2012).

Ordenaram-se pontos essenciais para sistematização da horta como uma tecnologia


social de produção de saúde, são eles: Demandas sociais estudadas e validadas nas relações;
Processos e métodos desenvolvidos por criação e inovação coletiva; Articulação de
conhecimentos e fazeres; Transformação social e Avaliação do impacto. Sento estes pontos
retirados do próprio conceito de tecnologia social discutido aqui. No entanto esses pontos
serão embasados nas dificuldades e nas potencialidades encontradas no projeto de
implantação da horta comunitária.
A seguir é analisado o processo de implantação da horta, pois esse “modo de fazer”
pode-se dificultar ou potencializar uma proposta de tecnologia social. Dos itens analisados:
Contextualizações da idealização do projeto da horta comunitária; Estrutura metodológica
da implantação e Processo avaliativo dos resultados, observou-se que para acontecer a
transformação social da realidade é essencial que os atores do processo estejam relacionados
60

no contexto da tecnologia social com estabelecimento participativo em todas as etapas da


construção.
Acredita-se na potência da tecnologia social como um modo de desenvolver por meio
da escuta a produção conjunta de demandas, a articulação de conhecimentos e fazeres, e que
potencializem a transformação social, favorecendo a elevação da qualidade de vida. E é nesse
aspecto que reside à potencialidade da horta
A figura 7 apresenta pontos essenciais para a sistematização de uma tecnologia social
para a produção de saúde.

Figura 7. Pontos essenciais para a sistematização de uma tecnologia social para a


produção de saúde.
Fonte: Autor.
Para iniciar a discussão e a sistematização da tecnologia social, partimos do ponto que
as Demandas sociais devam ser estudadas e validadas nas relações: Este ponto é
fundamental para a continuidade da tecnologia, pois foi o ponto considerado de maior
fragilidade no desenvolvimento e na continuidade da horta comunitária. Desta forma como já
discutido aqui, as demandas devem ser validadas nas relações, ou seja, discutidas e entendidas
da mesma forma para se deixar claro os objetivos e para se fazer sentido a todos os envolvidos
no processo. Para que a tecnologia não seja considerada uma assistência por parte dos
profissionais. Entendo assistência como uma ação de ajudar, de dar auxílio, entendendo que
este não é o papel dos serviços de saúde, pensando na lógica do conceito de produção de
saúde discutido aqui.
61

Outro ponto importante são os Processos e métodos desenvolvidos por criação e


inovação coletiva: neste ponto é essencial, quando se trata de uma metodologia de educação
popular em saúde, que vem de encontro com o conceito de tecnologia assumido nesta
dissertação, que todos os passos dados sejam coletivos, que não dependa de um profissional
de saúde a continuidade ou não de uma ação em saúde, que as pessoas se sintam e sejam
valorizadas em todos os processos.
Se partirmos do pressuposto que a demanda foi validada nas relações e que os
processo e métodos desenvolvidos foram criados e inovados coletivamente, já se espera que o
próximo ponto que é a articulação de conhecimentos e fazeres, ou seja, que os
conhecimentos sejam valorizados, que tenha espaços comuns e iguais para todos os atores do
processo, reconhecendo cada papel desempenhado e a multiplicação dos saberes, aconteça de
forma natural.
No desenho de uma tecnologia é fundamental se prevê a avaliação do impacto,
espera-se que no levantamento da demanda é essencial a escolha de um momento para
avaliação do impacto da tecnologia, para saber se todos alcançaram seus objetivos e se a
metodologia utilizada alcançou a transformação social. Acredita-se ser essencial este
momento para que se pratique a escrita de tecnologias sociais e para mostrar o potencial que
elas tem quando pensadas e construídas coletivamente. E que através dessa avaliação se
valide a transformação social, que é a busca pela resolução das necessidades apontadas na
discussão, ou seja, reduzindo o abismo existente entre a demanda inicial e o resultado final.
Assim, se propõe uma sistematização com base na horta comunitária de uma
tecnologia social que produz saúde, podendo ser utilizada por profissionais de todas as áreas
que buscam a transformação da sociedade onde trabalham. A figura 8 traz um desenho dessa
sistematização com os pontos essenciais para o desenvolvimento de uma tecnologia social.
62

Figura 8: Desenho da sistematização de uma tecnologia social para a produção de saúde.


Fonte: Autor.

Levou-se em consideração ao pensar na sistematização da tecnologia social a


importância de refletir as necessidades do território, buscando os atores sociais como os
líderes de bairro, de associações de moradores. Mapear a existência de ações no território e
buscar a intersetorialidade como uma forma de amarrar essas ações e aproximando a
comunidade. Após esse levantamento a metodologia de execução da tecnologia social deve
ser imprescindivelmente participativa, se definindo os objetivos, buscando a valorização, a
articulação dos fazeres e o compartilhamento da tomada de decisão. Por fim a definição do
processo de avaliação para verificar se ocorreu a transformação social levantada pelo coletivo.
63

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscamos nesta dissertação o diálogo entre a teoria e a prática, a proposta foi exercitar
a reflexão das ações realizadas nos serviços de saúde, especificamente através da residência
multiprofissional, e por fim modificar estas práticas.
Foi realizada uma análise documental com o intuito de evidenciar o “modo” que foi
realizado o processo de implantação de uma horta comunitária e em seguida realizou-se
entrevistas com sujeitos que participaram do processo da implantação para reconhecer suas
experiências e a relação destas com a produção de saúde. Esse movimento foi imprescindível
para chegar ao objetivo geral dessa dissertação, pois entende-se que para sistematizar uma
proposta de tecnologia social para a produção de saúde com base na horta foi necessário
investigar a metodologia utilizada na implantação e os resultados desta. Reconhecendo os
sujeitos participantes com suas histórias e saberes.
Os resultados demonstraram que a idealização do projeto de implantação de uma horta
comunitária se deu a partir das vivências do NASF e da participação no COMSEA. A partir
dessas vivências elaboraram-se quatro oficinas para responder algumas demandas levantadas
pelas residentes. As oficinas foram: oficina de plantas medicinais, oficina de agroecologia,
oficina de aproveitamento integral dos alimentos e oficina de economia solidária. A
metodologia utilizada não previa a participação dos sujeitos. Quanto ao processo de avaliação
das oficinas, três delas foram avaliadas de modo reflexivo ao final de cada encontro e uma
delas utilizou-se de instrumento com escalas de satisfação, pergunta fechada e uma sugestão
dos participantes. Ao realizar as entrevistas com os sujeitos participantes do processo de
implantação verificou-se que o significado da participação se dá através de suas experiências
vividas no decorrer da vida e que o projeto da horta foi fonte de autoestima, autorrealização e
valorização e como um dispositivo para a efetivação da participação popular.
A partir dessa análise, observou-se que a proposta de implantação de horta
comunitária aqui discutida deve ser aprimorada com uma metodologia que prevê a
participação e o diálogo entre os usuários, profissionais de saúde e demais equipamentos
sociais do território, desde a demanda levantada. O desenvolvimento de uma tecnologia social
se dá por meio da escuta a produção conjunta de demandas, a articulação de conhecimentos e
fazeres, e que potencializem a transformação social, favorecendo a elevação da qualidade de
vida.
No entanto mesmo com a metodologia utilizada, a horta comunitária permitiu a
ressignificação do processo vivido a partir da visão das entrevistadas. A valorização do saber
64

popular e o resgate de práticas e conhecimentos contribuíram para que outras aptidões


pessoais fossem reveladas como de Luisa que sentiu potencial para procurar um trabalho
novamente e conseguiu.
A experiência analisada sinalizou que a horta comunitária pode vir a ser uma
tecnologia social como um dispositivo para a produção de saúde, pois os sujeitos que
participaram se reconheceram como parte do meio ambiente, e houve a estimulação o
protagonismo social, a aquisição de habilidades pessoais e possivelmente coletivas. Foi
possível verificar que ocorreu o processo de resgate, aquisição e multiplicação dos saberes e o
desenvolvimento de habilidades. No entanto para cumprir o papel de tecnologia social a horta
comunitária deveria ter envolvido a participação coletiva em todos os processos.
Nesta análise, notou-se que a intersetorialidade e a participação social apresenta-se
como um dos desafios a ser enfrentado e superado, pois revelou-se como algumas das
fragilidades.
Quando essa pesquisa foi desenvolvida o CRAS havia mudado de prédio e não havia
mais atividades na horta. Evidenciando a necessidade da intersetorialidade e fortalecimento da
participação social comunitária.
A experiência analisada sinalizou para um novo caminho, pautado nos princípios da
educação popular, metodologias participativas, colaboraram para o empoderamento individual
e comunitário e para o protagonismo social, refletindo positivamente na produção de saúde e
nas tecnologias sociais.No entanto, os resultados alcançados revelaram potencial para sua
continuidade e ampliação. Há potencial para colaborar na discussão da reorientação dos
serviços, mas para isso seria necessária uma metodologia de operacionalização que prevê a
participação social e a intersetorialidade.
Por fim, concluiu-se que a horta comunitária pode ser considerada uma tecnologia
social para a produção de saúde, pois contribui para que o indivíduo se reconheça como parte
do meio ambiente, elevando sua autoestima, regatando o sentimento de pertença e integrando-
o socialmente; estimula o protagonismo social, a participação cidadã, a aquisição de
habilidades pessoais e coletivas, viabiliza ambientes favoráveis à saúde e por seu potencial de
favorecer a transformação da sociedade, desde que seja planejada e executada com uma
metodologia participativa. Cabe reconhecer a importância deste conhecimento para a
ressignificação das práticas na Atenção Básica, considerando-se a relevância da educação na
assistência prestada ao indivíduo e a coletividade, na manutenção e na promoção da saúde. A
educação em saúde, quando se desenvolve por meio da escuta, da problematização e da pro-
dução conjunta do conhecimento favorece o processo da transformação social
65

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69

8 APÊNDICES

8.1 Apêndice A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)


Pág. 01 de 03.
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

O senhor (a) está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma
pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte
do estudo, rubrique todas as folhas e assine ao final deste documento, com as folhas
rubricadas pelo pesquisador, e assinadas pelo mesmo, na última página. Este documento está
em duas páginas e em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em
caso de recusa você não será penalizado (a) de forma alguma.
Título da pesquisa: HORTAS COMUNITÁRIAS: Uma tecnologia social para produção de
saúde
Nome do pesquisador responsável: Dra. Stella Maris Brum Lopes
E-mail: stella@univali.brTelefone: (47) 3341-7879
Nome do pesquisador participante: Taren Beatriz Ferreira Leite de Oliveira
E-mail: tarenleite@hotmail.com Telefone: (47) 99607-2558

Essa pesquisa tem como objetivo sistematizar uma proposta de tecnologia social
voltada a produção de saúde baseada na horta comunitária. Assim a sua participação consiste
em responder uma entrevista aberta com uma pergunta referente a sua experiência com o
cultivo de plantas. Não existem respostas certas ou erradas, apenas as respostas que você
considera como suficientes para responder às perguntas formuladas pela pesquisadora. As
respostas serão gravadas em áudio (gravador de voz) para posterior transcrição e análise. A
entrevista ocorrerá em local previamente acordado com você e que contenha condições físicas
adequadas para realização da coleta de dados, isto é, fechada com possibilidade mínima de
interferências, barulhos ou quebra de sigilo. Estima-se que a entrevista possa durar de 20 a 40
minutos. A pesquisadora responsável tratará suas respostas forma anônima e confidencial, em
nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Após a realização
da entrevista, o seu relato oral será transformado em texto escrito e será realizado um novo
contato para lhe mostrar o texto para sua aprovação ou não do texto.
Entre os riscos da presente pesquisa encontram-se como possibilidades a ocorrência de
constrangimentos ao expor seus pensamentos, sentimentos e opiniões; desconforto ao relatar
70

Pág. 02 de 03.
algumas informações; a mobilização emocional ocasionada ao falar sobre o tema; a falta de
motivação para participar da pesquisa, além do tempo para a realização da mesma. Em caso
de necessidade de manejo de situações emocionais os participantes serão acolhidos pelos
pesquisadores, se preciso serão encaminhados pelos pesquisadores a profissionais que possam
dar o acompanhamento imediato, e contínuo se necessário. Contudo, apesar da consciência da
possibilidade destes riscos existirem, esta pesquisa buscará trabalhar de forma a evitar a sua
ocorrência bem como buscará não ferir a singularidade do participante, e sim, respeitá-lo em
todas as suas dimensões. Em caso de necessidades ou prejuízos, haverá garantia de
ressarcimento e indenização ao participante. Quanto ao risco de perda dos dados e quebra de
sigilo, as pesquisadoras adotarão como medidas de segurança que as informações sejam
sempre manipuladas e armazenadas em locais seguros e somente terão acesso aos dados a
pesquisadora e sua orientadora.
Esta pesquisa terá como benefício à possibilidade de sistematizar uma proposta de
tecnologia social, voltada à produção de saúde, pressupondo fortalecer um sistema de
produção mais justo e solidário. Pretende-se ainda, auxiliar o trabalho realizado por
profissionais de saúde, bem como, contribuir para conscientização sobre a necessidade de
aumento de políticas voltadas a minimizar os problemas do meio urbano. Para os participantes
o fato de relatar sua experiência poderá trazer como contribuição a reafirmação de suas
práticas fortalecendo a relação dos mesmos com a horta e o território no qual moram. Os
resultados obtidos na presente pesquisa, após a conclusão, serão divulgados por meio de
publicação de artigos em revistas científicas.
Os dados da pesquisa serão arquivados, em arquivo físico, por um período de 5 anos,
sob a guarda e responsabilidade dos pesquisadores, assim, você terá o direito à informação em
qualquer momento que desejar.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
do vale do Itajaí – UNIVALI, caso persistam dúvidas, sugestões e/ou denúncias após os
esclarecimentos do pesquisador o comitê está disponível para atender lhe.
CEP/UNIVALI
Rua Uruguai, n. 458 Centro Itajaí.
Bloco F6, andar térreo.
Horário de atendimento: Das 8:00 às 12:00 e das 13:30 às 17:30
Telefone: 47- 33417738
E-mail: etica@univali.br
71

Pág. 03 de 03.

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO

Eu, _________________________________________, RG__________________,


CPF _______________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como
participante. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos
nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha
participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento,
sem que isso leve a qualquer penalidade.
Itajaí, _______ de _______ 2017.
Nome: _____________________________________________________________________
Assinatura do Participante ou Responsável: ________________________________________
Telefone para contato: _________________________________________________________
72

9 ANEXOS

9.1 Anexo A: Parecer comitê de ética em pesquisa com seres humanos


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