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SISTEMA AGROECOLÓGICO DE PRODUÇÃO DE OLERICULTURA

Book · September 2019

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Cristina Maria de Castro Antonio Carlos Pries Devide


Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
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SISTEMA
AGROECOLÓGICO DE
PRODUÇÃO DE
OLERICULTURA
ALECSANDRA DE ALMEIDA
CRISTINA MARIA DE CASTRO
ANTÔNIO CARLOS PRIES DEVIDE

SISTEMA AGROECOLÓGICO DE
PRODUÇÃO DE OLERICULTURA

1ª Edição

Taubaté
Universidade de Taubaté
2016
Copyright©2016. Universidade de Taubaté.
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser
reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade.
Administração Superior
Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo
Vice-reitor Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto
Pró-reitor de Administração Prof. Dr. Arcione Ferreira Viagi
Pró-reitor de Economia e Finanças Prof. Dr. José Carlos Simões Florençano
Pró-reitora Estudantil Profa. Ma. Angela Popovici Berbare
Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof. Dr. Mario Celso Peloggia
Pró-reitora de Graduação Profa. Dra. Nara Lúcia Perondi Fortes
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Dr. Francisco José Grandinetti
Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro
Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires
Coordenação Pedagógica Profa.Dra. Ana Maria dos Reis Taino
Coordenação Tecnologias da Informação e Comunicação Profa. Ma. Andréa Maria G. de A. Viana Consolino
Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos
Coordenação de Formação e Desenvolvimento Profissional Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti
Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques
Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva
Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti
Coord. de Curso de Pedagogia Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Profa. Dra. Ana Paula da Silva Dib
Revisão ortográfica-textual Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos
Projeto Gráfico Me. Benedito Fulvio Manfredini
Diagramação Bruna Paula de Oliveira Silva
Autores Alecsandra de Almeida
Cristina Maria de Castro
Antônio Carlos Pries Devide
Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro
Taubaté – São PauloCEP:12.020-270
Central de Atendimento: 0800557255
Polo Taubaté Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara
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e-mail: nead@unitau.br
Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h
Polo São José dos Campos Av. Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678
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e-mail: nead@unitau.br
Horário de atendimento: 8h às 22h

Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi


Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU

A447s Almeida, Alecsandra de


Sistema agroecológico de produção de olericultura./Alecsandra de Almeida; Cristina
Maria de Castro; Antônio Carlos Pries Devide. Taubaté: UNITAU, 2016.
102f. : il.

ISBN: 978-85-66128-89-5
Bibliografia

1. Agroecologia. 2. Olericultura. 3. Controle ecológico.


I. Castro, Cristina Maria de II. Devide, Antônio Carlos Pries. III. Universidade de Taubaté. III. Título
PALAVRA DO REITOR

Palavra do Reitor

Toda forma de estudo, para que possa dar certo,


carece de relações saudáveis, tanto de ordem
afetiva quanto produtiva. Também, de
estímulos e valorização. Por essa razão,
devemos tirar o máximo proveito das práticas
educativas, visto se apresentarem como
máxima referência frente às mais diversificadas
atividades humanas. Afinal, a obtenção de
conhecimentos é o nosso diferencial de
conquista frente a universo tão competitivo.

Pensando nisso, idealizamos o presente livro-


texto, que aborda conteúdo significativo e
coerente à sua formação acadêmica e ao seu
desenvolvimento social. Cuidadosamente
redigido e ilustrado, sob a supervisão de
doutores e mestres, o resultado aqui
apresentado visa, essencialmente, a orientações
de ordem prático-formativa.

Cientes de que pretendemos construir


conhecimentos que se intercalem na tríade
Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de
forma responsável, porque planejados com
seriedade e pautados no respeito, temos a
certeza de que o presente estudo lhe será de
grande valia.

Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa


leitura.

Bons estudos!

Prof. Dr. José Rui Camargo


Reitor

v
vi
Apresentação

Este livro trada dos princípios ecológicos e sociais que norteiam as práticas dos sistemas
sustentáveis de produção de hortaliças. Inicia fazendo um histórico do surgimento da
agroecologia. Desenvolve-se associando os princípios ecológicos e sociais importantes
no processo de desenvolvimento do agroecossistema hortícola, por meio do mercado para
produtos agrícolas sustentáveis; aborda a interação com ambiente, a escolha da espécie a
ser cultivada, o manejo conservacionista do solo, o controle ecológico da vegetação
espontânea, das pragas e doenças.

A agroecologia é uma ciência que associa à agronomia princípios ecológicos, na busca


de formas de produção de alimentos que empregam mecanismos sistêmicos de
funcionamento e regulação das populações e comunidades, comuns nos ecossistemas
naturais. Com base nos ecossistemas, a agroecologia estabelece diretrizes para se criar
modelos de agricultura sustentável, que promovam retorno econômico, proteção do meio
ambiente e desenvolvimento social.

Na transição agroecológica – mudança do sistema convencional de produção para o


sistema sustentável – é necessário o aumento da eficiência das práticas de manejo para
reduzir o consumo de insumos, a substituição de insumos e práticas convencionais por
insumos e práticas alternativas, o redesenho de agroecossistemas para que funcionem
alicerçados por um conjunto novo de processos ecológicos e sociais.

A produção agroecológica de hortaliças é baseada num conjunto de técnicas que


abrangem a mudança de atitudes e valores sociais, bem como escolha da espécie, do
manejo de solo, do manejo das plantas, do manejo e conservação dos recursos do
ambiente. Estas técnicas devem ser aplicadas pelos olericultores que desejam ter êxito na
agricultura sustentável.

As estratégias iniciais do processo de conversão agroecológica se baseiam na mudança


de processos fertilização com materiais orgânicos como compostos, adubos verdes,
rochas moídas, preparados biodinâmicos e outros. O controle de pragas e doenças deve
ser realizado com a correta nutrição da planta e práticas que favorecem a diversidade

vii
biológica, O aumento da diversidade dentro e no entorno da área de cultivo, com
diferentes plantas, estimula a diversidade em geral e propicia condições climáticas
favoráveis ao desenvolvimento das hortaliças.

viii
Sobre o autor

ALECSANDRA DE ALMEIDA: é engenheira agrônoma forma pela Universidade


Federal de Lavras (UFLA) em 1985, especialista em fruticultura comercial e mestre em
Nutrição de Plantas também pela UFLA. Cursou doutorado em Fertilidade do Solo na
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, de cujo programa consta a disciplina de
Agroecologia. Atua como professora da Fruticultura e Olericultura no Departamento de
Ciências Agrárias da Universidade de Taubaté, desde 1991.

CRISTINA MARIA DE CASTRO: é engenheira agrônoma formada pela Universidade


Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) em 1992; especialista em Horticultura
Orgânica, mestre em Fitotecnia/Agroecologia, com tese sobre sistema de produção
orgânico de beterraba (Beta vulgaris) também pela UFRRJ. Cursou doutorado em Ciência
do Solo, na UFRRJ, com ênfase em sistemas conservacionistas de produção, plantio
direto sob manejo orgânico de berinjela. Atualmente é pesquisadora da APTA – Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento
do Estado de São Paulo atuando no Polo Vale do Paraíba com as linhas de pesquisa em
Agroecologia, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

ANTONIO CARLOS PRIES DEVIDE: é engenheiro agrônomo formado pela


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ em 2001; especialista em Gestão
Ambiental de Sistemas Agrícolas (UFLA, 2004), com mestrado (2006) e doutorado
(2015) em Fitotecnia/Agroecologia pela UFRRJ, com ênfase em policultivos, sistemas
agroflorestais e mandioca de mesa. É pesquisador científico da APTA – Agência Paulista
de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado
de São Paulo, atuando no Polo Vale do Paraíba desde 2005 em Sistemas de Produção
Agroecológicos, com ênfase nos Sistemas Agroflorestais e Mandioca de mesa.

ix
x
Caros(as) alunos(as),
Caros( as) alunos( as)

O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se


como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais
diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com
profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência
adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de
mais de 35 anos de História e Tradição.

Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial.


Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web
interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a
distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada
especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais.

A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo
estudado.

Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para


a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de
blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados
ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem.

Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais
atores desta formação.

Para todos, os nossos desejos de sucesso!

Equipe EAD-UNITAU

xi
xii
Sumário

Palavra do Reitor .............................................................................................................. v

Apresentação .................................................................................................................. vii

Sobre o autor.................................................................................................................... ix

Caros(as) alunos(as) ........................................................................................................ xi

Ementa .............................................................................................................................. 1

Objetivos........................................................................................................................... 3

Unidade 1 Agroecologia e Olericultura ....................................................................... 7

1.1 Agroecologia: Definição e Princípios ........................................................................ 7

1.2 Olericultura: Fundamentos ....................................................................................... 17

1.3 Transição Agroecológica .......................................................................................... 33

1.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 43

1.5 Para saber mais ......................................................................................................... 44

1.6 Atividades ................................................................................................................. 45

Unidade 2 Implantação da horta................................................................................ 47

2.1 Adubos e Adubação .................................................................................................. 47

2.2 Preparo do Solo ........................................................................................................ 59

2.3 Sintese da Unidade ................................................................................................... 66

2.4 Atividades ................................................................................................................. 66

Unidade 3 Recomendações técnicas para as principais famílias de Olerícolas...... 67

3.1 Características das Hortaliças da Principais Famílias .............................................. 67

xiii
3.2 Sintese da Unidade ................................................................................................... 81

3.3 Para saber mais ......................................................................................................... 81

3.4 Atividades ................................................................................................................. 82

Unidade 4 Controle Ecológico da Vegetação Espontânea, Pragas e Doenças........ 83

4.1 Controle Ecológico da Vegetação Espontânea ......................................................... 83

4.2 Manejo Ecológico de Insetos, Praga e Doenças ....................................................... 85

4.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 95

4.4 Para saber mais ......................................................................................................... 95

4.5 Atividades ................................................................................................................. 96

Referências ..................................................................................................................... 99

xiv
Sistema Agroecológico de
Produção de Olericultura
ORGANIZE-SE!!!
Você deverá usar de 3
a 4 horas para realizar
cada Unidade.

Ementa

EMENTA

Cultivo das principais famílias e espécies de valor econômico:


classificação botânica; origem e histórico; partes utilizadas na
alimentação; comercialização e regiões produtoras; importância
econômica e alimentar; aspectos biológicos e fisiológicos; hábitos de
crescimento, produção e propagação; exigências edafoclimáticas.
Visa sensibilizar o leitor para a análise da paisagem, a conversão
agroecológica dos sistemas de produção e o controle alternativo de
pragas de doenças.

1
2
Objetivo Geral

Planejar, implantar e gerenciar a produção agroecológica de espécies olerícolas.

Obj eti vos

Objetivos Específicos

• Capacitar o aluno para plantio, escolha da espécie e tratos culturais


envolvidos.

• Fornecer fundamentos sobre as bases agroecológicas e os princípios


envolvidos na produção orgânica de olerícolas.

3
4
Introdução

por Antônio Carlos Pries Devide

O modelo de produção de olerícolas, calcado na revolução verde, surgiu com a descoberta


dos nutrientes, da nutrição de plantas plantas e da consequente produção de fertilizantes
químicos. De posse desse recurso, a agricultura simplificou-se e especializou-se com base
na monocultura. A simplificação do sistema produtivo reduziu a diversidade biológica e,
com isso, proporcionou o aumento no ataque de pragas e doenças, visto que o equilíbrido
dinâmico foi alterado e a resistência do ambiente foi reduzida. Com isso tornou-se
necessário o uso de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças. A intensificação no
uso de fertilizantes solúveis e agrótoxicos, associada ao revolvimento intensivo do solo e
ao desprezo pelos mecanismos reguladores do ecossistema, degradou a matéria orgânica,
provocou erosão dos solos, promoveu a poluição e a contaminação dos alimentos, do
ambiente, dos trabalhadores rurais, dos agricultores e das suas famílias.

A especialização em monoculturas tem levado ao êxodo rural devido à inviabilidade


econômica, social, cultural do modelo convencional, baseado na dependência de insumos
do mercado externo. Essa lógica exclui famílias agricultoras, porque dissocia o ser
humano da natureza, eliminando a capacidade de autossustentação da unidade de
produção, descartando o aproveitamento dos fluxos energéticos necessários para se
produzir a matéria orgânica e a água, muito demandados na produção de olerícolas
saudáveis. O contingente rural excluído busca nos grandes centros urbanos melhores
condições de vida, sem contudo obtê-las.

Nos sistemas produtivos de base agroecológica há uma radical mudança de


comportamento do agricultor em relação à natureza ambiente. Baseados em princípios
ecológicos, esses sistemas englobam os aspectos econômicos, socioambientais e
ressaltam a ecologia, para atender às demandas do presente e garantir melhores
oportunidades de uso dos recursos naturais, por gerações futuras.

5
Na conversão agroecológica de uma unidade de produção de olerícolas os insumos são
substituídos e privilegiam-se os processos e interações ecológicas, para se alcançar um
sistema agrícola com diversos subsistemas trabalhando de forma integrada e harmônica.
Este sistema permite níveis de produção adequados, elimina os riscos de contaminações,
amplia a conservação ambiental e a segurança alimentar, melhora a qualidade de vida,
com a participação criativa dos trabalhadores e agricultores. Estas ações promovem o
desenvolvimento sustentável e a autossuficiência da agricultura.

Nesse contexto, as instituições de ensino desempenham um papel fundamental na


formação de uma sociedade mais crítica e consciente sobre as externalidades do atual
modelo de desenvolvimento da agricultura. Além disso, estas instituições tornam-se um
veículo de troca de conhecimento e de tecnologias com os produtores rurais. O
desenvolvimento de experiências agroecológicas dentro das instituições e fora delas torna
possível a conscientização do educando, que vivencia essas realidades, por meio da
análise de modelos de produção mais adaptados à diversidade de condições dos
ecossistemas brasileiros e dos agricultores, buscando sempre melhorar o uso dos recursos
naturais.

6
Unidade 1

Unidade 1 . Agroecologia e Olericultura

1.1 Agroecologia: Definição e Princípios

Agroecologia é a ciência que proporciona conhecimento e metodologias necessários para


desenvolver uma agricultura ambientalmente consistente, altamente produtiva e
economicamente viável. É a base científica que dá suporte para a agricultura sustentável,
a ciência em construção, que apresenta uma série de princípios e metodologias para
estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar o agroecossistema (ALTIERI, 1989). Esta
ciência utiliza princípios e métodos ecológicos para determinar se um insumo ou um
manejo agrícola funciona de forma ecológica em longo prazo sem deteriorar os recursos
naturais e a sociedade.

De acordo com os princípios da agroecologia, um sistema agrícola sustentável


(agroecossistema) deve imitar o funcionamento dos ecossistemas locais exibindo, assim,
o ciclo de nutrientes sem perdas, estrutura complexa e maior biodiversidade. A
expectativa é que o sistema possa ser produtivo, resistente a pragas e doenças e
conservador de nutrientes. Ao imitar o funcionamento da natureza é possível desenvolver
um agroecossistema com o mínimo de dependência de insumo e energia, aumento das
interações que enfatizam sinergias entre os diversos componentes biológicos do
agroecossistema para melhorar a reciclagem, o controle biológico e a eficiência ecológica
(SOLCA, 2014).

De acordo com Feiden (s.a.), James Lovelok criou uma ferramenta denominada Janela
da Vida. Esta ferramenta ajuda a entender os micro e os macrossistemas. Esta ferramenta
consiste num triângulo, do qual cada extremidade é representada por um dos elementos
7
limitantes ou estimulantes da vida, como radiação, na forma de luz e calor; nutrientes,
na forma de elementos químicos; e água, na forma de líquido, vapor d´água e gelo. Com
isso, contata-se que a produção sustentável depende do equilíbrio entre nutrientes, planta,
água e luz solar. Para obter este equilíbrio tem-se que levar em consideração o solo e
outros organismos coexistentes. O agroecossistema é produtivo e saudável quando essas
condições de crescimento ricas e equilibradas prevalecem, e quando as plantas
permanecem resilientes (resiliência é a capacidade de voltar ao seu estado natural,
principalmente após alguma situação crítica e pouco comum) de modo a tolerar estresses
e adversidades.

Para incorporar os princípios ecológicos no agroecossistema é importante conhecer


alguns detalhes das interações entre as comunidades que fazem parte do ecossistema,
como os componentes bióticos e abióticos e suas respectivas interações. Os componentes
bióticos compreendem todos os seres vivos que vivem numa determinada área. Num
ecossistema equilibrado e independente, os componentes bióticos podem ser agrupados
em produtores (ou autótrofos), consumidores (ou heterótrofos) e decompositores.

Os produtores ou autótrofos absorvem água e os sais minerais do solo, através da captação


de energia solar e CO2 pelas folhas e transformam em energia química, que é armazenada
nas raízes, caule, frutos e sementes na forma de carboidratos. Este processo é denominado
fotossíntese. Os produtores introduzem energia na cadeia trófica e essa energia,
juntamente com a matéria, flui dos produtores para consumidores, dos produtores para os
decompositores, de consumidor para consumidor e dos consumidores para os
decompositores, formando uma teia alimentar, que dá origem a um conjunto de cadeias
tróficas que interagem num ecossistema (Figura 1.1).

A fotossíntese também desempenha outro importante papel na natureza: a purificação do


ar, porque retira o gás carbônico liberado na nossa respiração ou na queima de
combustíveis, como a gasolina, e ao final libera oxigênio para a atmosfera. Conforme a
fonte de energia utilizada na síntese de matéria orgânica, os produtores podem ser
classificados em fotossintetizantes (obtém energia de luz solar) e quimiossintetizantes
(obtém energia de substâncias químicas oxidando-as).

8
Figura 1.1: Fluxo de matéria e energia na cadeia alimentar.

Fonte: Biomania (2016)

Os consumidores ou heterótrofos, como os animais, compreendem os organismos


incapazes de produzir seu próprio alimento. Em vista disso, nutrem-se dos produtores ou
de outros consumidores. Denomina-se consumidor primário o organismo que se nutre de
um produtor; consumidor secundário é aquele que se nutre de um consumidor primário;
e o consumidor terciário obtém seu alimento de um consumidor secundário, e assim por
diante.

Os decompositores se alimentam de plantas e animais mortos. Esses organismos,


geralmente microscópicos (bactérias, fungos e vírus), decompõem o material orgânico,
transformando-o em nutrientes minerais (N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu Fe, Mn, Mo, Zn), que
são devolvidos ao solo para ser reutilizados pelos produtores. Desta forma, não há grandes
acúmulos de matéria orgânica, principalmente nos solos tropicais bem drenados.

9
Espécie: é o conjunto de indivíduos semelhantes (estruturalmente,
funcionalmente e bioquimicamente) que se reproduzem naturalmente,
originando descendentes férteis.

População: conjunto de indivíduos de uma mesma espécie.

Comunidade: é o conjunto de populações de diversas espécies que habitam


uma mesma região num determinado período.

Ecossistema: é um conjunto de comunidades interagindo umas com as


outras e com o meio físico de matéria e energia. É uma unidade básica
funcional que envolve fatores bióticos (seres vivos) e fatores abióticos
(físico-químicos).

Nicho ecológico: é o papel que o organismo desempenha no ecossistema.

A estratégia agroecológica usada na implantação de uma agricultura sustentável é o


sistema de sucessão natural. Para entender a sucessão natural imaginemos, nas condições
brasileiras, um solo totalmente desprovido de vegetação e matéria orgânica, decorrente
da remoção de uma camada acentuada do solo. Neste caso os primeiros seres vivos a
colonizarem este local serão as bactérias, que criarão condição de desenvolvimento dos
musgos e liquens. Os musgos e liquens preparam o solo para espécies mais exigentes, até
chegar à condição das plantas pioneiras do sistema seguinte, que é o sistema de lignina,
que é composto por espécies de vegetal que possuem alta relação carbono: nitrogênio e
frutos secos não comestíveis. Desta forma a serrapilheira depositada no solo terá
decomposição lenta. À medida que as condições do meio vão melhorando, pelos
processos sucessionais, novas espécies vão surgindo, seguindo a sequência de elementos
pioneiros, secundários, transacional e primários. O sistema de luxo é caracterizado por
espécies que produzem frutos grandes e ricos em carboidratos, proteína e gordura. Os
fatores abióticos como as características físicas e químicas do solo, água, temperatura e
luminosidade determinam quais seres vivos ocuparão o território; estes seres vivos
modificam o ambiente, ao longo do tempo.
10
Figura 1.2: Interação entre fatores abióticos e bióticos no ecossistema

Fonte: elaborada pelos autores.

A diversificação em nível de agroecossistema ocorre como misturas de espécies, rotações,


policultivo como o cultivo em faixa, consórcio, sistema agroflorestal, agrosilvopastoril,
silvopastoril, e ao nível da paisagem sob a forma de cercas viva, quebra-vento, corredores
ecológicos, áreas de preservação permanente e de reserva legal, conforme a Lei 12651/12.
Estas alternativas dão aos agricultores uma grande variedade de opções para montar
combinações espacial e temporal. As propriedades rurais ecológicas emergentes se
desenvolvem em agroecossistemas diversificados permitindo que o sistema funcione de
modo que mantenha a fertilidade do solo, a produção de culturas e regulação de pragas e
doenças (SOCLA, 2014).

A biodiversidade melhora a função do sistema de produção agrícola, porque associa


diferentes espécies ou genótipos que executam funções (nicho ecológico) ligeiramente
diferentes e, portanto, têm diferentes nichos. Em um sistema agrícola diversificado
existem mais espécies do que funções. Portanto, um agroecossistema deve ser composto
por espécies com funções repetidas. Esses componentes que aparecem repetidos tornam-
11
se importante quando alguma mudança ambiental ocorre. Como as mudanças ambientais
ocorrem, mesmo no ecossistema que é dinâmico, as repetições de funções do sistema
permitem a continuação do funcionamento do ecossistema e, portanto, no
provisionamento dos serviços aos ecossistemas, mantendo o seu equilíbrio. Como por
exemplo, evitar que uma espécie de inseto ou fungo reproduza em grande quantidade,
causando prejuízos aos cultivos. A maior diversidade de espécies funciona como
amortecedor contra falha à regulação, diante das flutuações ambientais, por meio do
reforço da capacidade de compensação do agroecossistema. Se uma espécie falhar, outras
podem desempenhar o seu papel e a consequente a manutenção das propriedades do
ecossistema (SOCLA, 2014).

Todos os seres vivos são formados por combinações de elementos químicos que se
agrupam de maneira a construir a matéria viva, com movimentos cíclicos de elementos e
substâncias, passando do meio biótico para o meio abiótico (físico) e vice-versa. Este
processo é denominado ciclagem e ocorre por meio dos ciclos biogeoquímicos, como o
ciclo de carbono, ciclo de nitrogênio, ciclo de oxigênio, ciclo da água, ciclo de enxofre,
do fósforo e outros. Por exemplo: o nitrogênio está presente na atmosfera e é componente
de aminoácidos e juntamente com aminoácidos a base de enxofre forma as proteínas. Para
passar naturalmente do meio físico (atmosfera) para o solo/planta e posteriormente para
os animais, necessita da ação de descargas elétrica e ação de bactérias do gênero
Rhizobium (FEIDEN, s.a.) e da proteossíntese. Assim, percebe-se que o equilíbrio
dinâmico observado nos ecossistemas é decorrente das diversas interações ecológicas que
ocorrem no ecossistema e que devem ser conhecidos para se obter sucesso nos
agroecossistemas. Estas interações são:

Predação: quando um organismo (o predador) alimenta-se de outro (a presa), e depende


deste para sua sobrevivência. Nesse caso, o predador consome um grande número de
presas em seu ciclo vital. Exemplos: Insetos entomófagos, como a joaninha, que se
alimenta de pulgão (causa danos e transmite viroses para as culturas).

Parasitismo (Simbiose antagônica): associação interespecífica (entre espécies)


desarmônica, em que indivíduos de uma espécie, denominados parasitas, alojam-se em
indivíduos de outra espécie, denominada hospedeira, e se alimentam dele, causando um
12
desequilíbrio metabólico seguido de morte. Por exemplo: o fungo Beauveria bassiana
parasita coleópteros (besouros), exercendo assim o controle da broca do café e do
moleque da bananeiras, em ambientes equilibrados.

Competição ou alelospolia: é um tipo de interferência por remoção, na qual dois ou mais


organismos disputam um determinado recurso do ambiente. Pode ser a competição
interespecífica (entre duas espécies diferentes) ou competição intraespecífica (dentro
da mesma espécie). Nesse caso, a espécie que superar a outra na competição tenderá a se
tornar dominante. Como exemplo, citam-se a vegetação espontânea e cultura.
Competição intraespecífica: competição entre indivíduos da mesma espécie. Pode ser
prejudicial ao conjunto da população dessa espécie.

Alelopatia: é um tipo de interferência de um organismo sobre ciclo de outro dentro da


comunidade, por meio da adição de substâncias inibitórias ou favoráveis, ou pela remoção
de substâncias necessárias ou deletérias a outro organismo. A interferência pode ser tanto
positiva como negativa.

Antibiose, Amensalismo ou Antagonismo: uma população é prejudicada por um fator


produzido por outra população, como, por exemplo, uma toxina. O produtor da toxina
não é afetado.

Alelomediação: consiste na interferência indireta que alguns vegetais promovem ao


ambiente, sejam modificações físicas ou biológicas, que afetam as plantas vizinhas.

Inquilinismo: é definido como uma associação interespecífica harmônica na qual apenas


uma espécie é beneficiada sem causar prejuízo para a outra espécie associada.

Comensalismo: um dos participantes é beneficiado pela presença da outra espécie, mas


esta última não obtém vantagens ou desvantagens da situação. O beneficiado,
denominado de comensal, encontra condições melhoradas, às vezes indispensáveis ao seu
desenvolvimento.

Simbiose mutualística: associação interespecífica harmônica, em que as duas espécies


envolvidas auferem benefícios mútuos. Como exemplo tem-se a associação eucalipto
com fungos micorrízicos e soja com bactérias do gênero Rhizobium.
13
Neutralismo: não há interação. Embora fisicamente próximos, as populações ocupam
nichos diferentes.

Protocooperação: intercâmbio de compostos entre duas populações, favorecendo a


ambos, sem ocorrência de simbiose, também denominada de sintrofismo e/ou sinergismo.
Como exemplo, cita-se os bovinos com o anu preto e a garça. Estas aves pousam no lombo
dos bovinos e comem os carrapatos.

Coexistência: quando duas populações conseguem conviver juntas, sem interferência


mútua. Apesar de partilharem o mesmo espaço físico, dependem de recursos diferentes
existentes nesse espaço. Por isso, diz que estas populações ocupam nichos ecológicos
diferentes. Por exemplo, plantas com arquitetura foliar diferente, como alface e cebolinha,
e exigências nutricionais diferentes.

De acordo com SOCLA (2014), o desenho de sistemas agroecológicos baseia-se na


aplicação dos seguintes princípios:

• Aumentar a reciclagem de biomassa, aperfeiçoar a disponibilidade de nutrientes


e equilibrar o fluxo de nutrientes.

• Garantir condições favoráveis de solo para o crescimento das plantas,


especialmente por gestão de matéria orgânica e aumento da atividade biótica no
solo.

• Minimizar as perdas na utilização da radiação solar (fotossíntese), ar e água por


meio de gestão do microclima, coleta de água e manejo do solo, por meio
aumento da cobertura do solo.

• Aumentar o número de espécies e diversificação genética do agroecossistema no


tempo e no espaço em nível do campo e de paisagem.

• Melhorar interações biológicas benéficas e sinergias entre componentes da


agrobiodiversidade para resultar na promoção de processos-chave, tais como:
controle de insetos e microrganismos, favorecer fixação biológica, ação de
micorrizas na absorção de fósforo, produção de matéria orgânica, decomposição,
14
infiltração de água, ciclagem de nutrientes, fotossíntese, bem como os serviços
ecológicos.

Sistemas agroecológicos estão profundamente enraizados na racionalidade ecológica dos


pequenos agricultores que durante muito tempo produzem em sistemas com
biodiversidade, prosperam sem agroquímicos, sustentam os rendimentos durante todo o
ano e satisfazem as necessidades alimentares locais. A evolução destes sistemas tem sido
alimentada por complexas formas de conhecimento tradicional. Muitos agricultores
possuem um conhecimento popular detalhado sobre a vegetação, animais, e solos, dentro
de um determinado raio geográfico e cultural. Este sistema agrícola tem o potencial de
trazer soluções para muitas incertezas decorrentes da mudança climática global e da crise
financeira. Recente investigação tem demonstrado que as pequenas propriedades
diversificadas são mais resistentes a secas e furacões. Sem dúvida, o conjunto de práticas
de gestão de culturas tradicionais usado por muitos agricultores pobres em recursos,
representa um rico recurso para os agroecologistas os quais devem reconhecer e valorizar
sabedoria e tradições locais, criando um diálogo com atores locais por meio de pesquisa
participativa que leva a uma constante criação de novos conhecimentos (SOCLA, 2014).

Agroecologia é agora a principal estratégia tecnológica dos movimentos camponeses


devido às várias características da abordagem agroecológica (SOCLA, 2014):

• Agroecologia fornece metodologias que permitam o desenvolvimento de


tecnologias estreitamente adaptadas às necessidades e circunstâncias dos
agricultores familiares e comunidades.

• As técnicas agroecológicas e desenhos são socialmente ativados, uma vez que


requerem um alto nível de participação popular.

• As técnicas agroecológicas são culturalmente compatíveis, uma vez que não


questionam a lógica dos agricultores, mas construídas sobre o conhecimento da
agricultura tradicional, combinando-a com elementos da ciência agrícola
moderna.

• As técnicas são ecologicamente corretas, uma vez que não tente modificar
15
radicalmente ou transformar o ecossistema agrícola, mas sim de identificar
elementos de gestão que, uma vez incorporado, levam a aperfeiçoamento da
unidade de produção.

• As abordagens agroecológicas são economicamente viáveis, enfatizando o uso de


recursos locais e quebrando a dependência tecnológica.

Um dos principais objetivos da agroecologia é a revitalização da exploração da


agricultura familiar e a reformulação de toda a política agrícola e de alimentação, de
forma que sejam economicamente viáveis e socialmente justas, para os agricultores e
consumidores. Novas abordagens e tecnologias que envolvem a aplicação da ciência
agroecológica, misturando sistemas indígenas, encabeçadas por milhares de agricultores,
ONGs e algumas instituições governamentais e acadêmicas, estão provando melhorar a
segurança alimentar, a conservação da agrobiodiversidade, a conservação do solo e da
água, por centenas de comunidades rurais no mundo. A agroecologia exige conhecimento,
e é baseada em técnicas desenvolvidas com base no conhecimento dos agricultores e na
experimentação. Por esta razão, esta ciência enfatiza as capacidades locais das
comunidades de experimentar, avaliar e inovar, transferindo conhecimento de agricultor-
para-agricultor, pesquisa e extensão das bases tecnológicas, enfatizando a diversidade,
sinergia, reciclagem e integração e processos sociais. O desenvolvimento dos seres
humanos é a pedra angular de qualquer estratégia do desenvolvimento sustentável
(SOCLA, 2014).

Agroecologia promove abordagens orientadas para a comunidade que cuida das


necessidades de subsistência de seus membros, enfatizando a autossuficiência e também
os privilégios de provisionamento de alimentos para os mercados locais, que encurtam os
circuitos de produção e consumo. Assim, o novo paradigma científico e tecnológico está
sendo construído em reciprocidade constante com os movimentos sociais e processos
políticos (SOCLA, 2014). Inovações agroecológicas nascem in situ com a participação
dos agricultores de forma horizontal (não vertical) e as tecnologias não são padronizadas,
mas são flexíveis e respondem e se adaptam a cada situação em particular. Como ciência,
a agroecologia carrega uma ética ecológica e social, com a agenda de pesquisa de criação
de natureza amigável e sistemas de produção socialmente justos (SOCLA, 2014).
16
A Agroecologia congrega diversas vertentes e movimentos de base ecológica. Entre elas
estão a Agricultura Orgânica, Agricultura Biodinâmica, Agricultura Biológica,
Agricultura Natural, Agricultura Nasseriana, Agricultura Ecológica, Permacultura,
Agricultura Regenerativa e Agricultura Sintrópica.

1.2 Olericultura: Fundamentos

O termo Olericultura deriva do latim: oleris significa olerícola ou hortaliça e coleris


significa cultivar. Assim, Olericultura é a parte da horticultura que trata da produção de
oleráceas ou hortícolas ou hortaliças.

Quanto à parte comercializada, as olerícolas ou hortaliças são classificadas da seguinte


forma:

• Hortaliças de fruto: os órgãos comercializados são os frutos ou parte dele, como


semente imatura, como o caso da ervilha, morango, melancia, tomate, melão,
pimentão, berinjela, jiló, quiabo, abóbora, feijão vagem, maxixe, chuchu, milho
verde;

• Hortaliças herbáceas: os órgãos comercializados estão acima do solo, são tenras


e suculentas, tais como:

a. Folhas, talos e hastes: alface, acelga, couve, rúcula, almeirão, acelga,


repolho, aspargo, aipo, funcho, alho poro.

b. Flores e inflorescências: brócolis, couve-flor, alcachofra.

• Hortaliças tuberosas: são aquelas em que a parte comercial é a raiz, o tubérculo,


o rizoma ou o bulbo.

a. Raiz tuberosa: cenoura, beterraba, rabanete, nabo, batata doce, mandioca;

b. Rizoma: gengibre, taro (cará);

17
c. Bulbo: alho e cebola.

As hortaliças também podem ser agrupadas de acordo com a sua exigência climática
(Tabela 1.1). As hortaliças adaptadas ao clima ameno a frio se desenvolvem melhor em
temperatura entre 18 a 25°C durante o dia e 10 a 15°C durante a noite, toleram
temperaturas positivas próximas de zero. As temperaturas máximas muito altas
prejudicam a qualidade. Isso se aplica ao tomate, às hortaliças da família Brassicae (couve
flor, brócolis, repolho, rúcula espinafre, nabo, rabanete), alface, cenoura, batata e cebola,
mandioquinha salsa, cebolinha, salsinha. Apesar de existirem cultivares e híbridos
adaptados às condições de temperaturas elevadas, sempre haverá perda de qualidade e
aumento do custo de produção em decorrência da maior ocorrência de doenças e pragas.

As hortaliças de clima quente exigem amplitude térmica de no máximo seis graus e a


temperatura ideal é 24 a 30°C. Não toleram temperatura inferior a 12°C, paralisam o
crescimento e aumentam o ciclo e abortam flores em condição de baixas temperaturas.
Estas hortaliças produzem bem em temperaturas em torno de 18 °C, quanto esta
temperatura ocorre na fase produtiva da planta, ou seja, a planta já completou o
desenvolvimento vegetativo. É o caso das abóboras. Por isso, em regiões de inverno não
muito rigoroso, o plantio de abóbora de fevereiro a março resulta em boas colheitas no
inverno, época de bom preço para esta hortaliça.

Os alimentos hortícolas são aqueles que apresentam as seguintes características:


consistência tenra, ciclo de vida curto, cuidados intensivos, consumidos em natura ou
cozidos e alguns são altamente perecíveis. Quanto ao sistema de cultivo, esta atividade
agrícola emprega o uso intensivo do solo, demanda uso intensivo de mão de obra, de
insumos variados e apresenta grande potencial de perda pós-colheita, por se tratar de
produtos muito ricos em água. Desta forma, os produtos mais perecíveis normalmente são
produzidos e comercializados próximos aos centros de consumo.

1.2.1 Mercado

O mercado para produtos orgânicos se caracteriza por pequenos e médios agricultores e


consumidores finais de maior poder aquisitivo. A comercialização é feita por meio de

18
venda direta ao consumidor final, por meio de entrega em domicílios (cestas orgânicas
do produtor) e em feiras de produtores e para agentes intermediários varejistas como
supermercados, lojas especializadas em produtos orgânicos, lojas de produtos naturais e
restaurantes. As vendas também são feitas a mercados institucionais como a alimentação
escolar por meio do PNAE.

Tendências e perspectivas globais do mercado de produtos agroecológicos

• A agricultura de base ecológica deve dar prioridade aos mercados locais, importando
apenas produtos que não são produzidos na região e exportando produtos de alto valor
comercial (FAO, 2007 citado por MOURÃO, 2007 ).

• A produção aumentará globalmente, mas a procura se concentrará em regiões onde os


consumidores têm poder de compra.

• A procura continuará a ser superior à oferta.

• O investimento (público, privado, grupos internacionais) aumentará.

1.2.2 Recomendações Técnicas para Planejamento

Ao escolher o terreno para implantar o cultivo de hortaliças devem-se observar diversos


fatores, tais como: disponibilidade e qualidade de água, temperatura do ar, luminosidade,
declividade, condições químicas, física e biológicas do solo, vento.

Disponibilidade e qualidade de água: neste empreendimento é fundamental ter água em


quantidade e de boa qualidade para irrigação e para a higienização das hortaliças. As
hortaliças são grandes consumidoras de água, que corresponde a mais de 90% da sua
constituição. O horticultor deve prever um consumo diário de aproximadamente 8 litros
de água por metro quadrado de canteiro ou de plantio. Desse volume de água, parte ficará
retida no solo, parte irá evaporar, parte será aproveitada pelas raízes das hortaliças e parte
será lixiviada para camadas mais profundas do solo, abaixo do alcance das raízes das
hortaliças. Para dimensionamento do sistema de irrigação o horticultor deve consultar um
engenheiro agronômo.

19
No planejamento deve-se incluir também a análise laboratorial da água. O aspecto
biológico é de fundamental importância, porque as águas contaminadas por agentes
biológicos são prejudiciais para o agricultor, trabalhador rural, que pode contrair doenças
graves, como esquistossomose, cólera, desinteria e hepatite infecciosa, uma vez que, além
de ser usada para molhar as plantas, tal água será usada na pré-limpeza das hortaliças.

Luminosidade: a luminosidade solar é fator muito importante para o desenvolvimento


de hortaliças, porque estimula a bioquímica da fotossíntese. A deficiência luminosa
favorece o estiolamento, que é o aumento na altura e extensão da parte aérea das
hortaliças. Ela fica fina e fraça, tombando facilmente; diminui a taxa de incorporação dos
aminoácidos nas proteínas (proteossítese), favorecendo a incidência de doenças e pragas
(Teoria da Trofobiose). Esta fator deve ser levado em consideração inclusive no processo
de produção de muda. Após o semeio, é importante manter as bandejas de semente no
escuro por 24 horas, mas após iniciada a germinação elas devem ser expostas à boa
luminosidade.

Vento: uma brisa é importante para secar a superfície foliar e evitar doenças. Contudo,
o vento forte e constante seca o solo, intensifica o processo de transpiração, aumenta a
respiração das plantas, reduz o crescimento e a proteossíntese, causa ferimento nas folhas
e favorece o ataque de pragas e doenças. A planta consumirá grande parte do que
fotossintetizou para amenizar o estresse causado pelo vento, reduzindo seu crescimento e
produção. Desta forma, é importante usar quebra vento (cerca viva), que, além de barrar
o vento, promove a biodiversidade, pode ser podada e usada como cobertura morta e
aporte de material orgânico.

Condições climáticas e época de cultivo: para cultivos feitos em campo aberto é de


fundamental importância considerar as condições climáticas e mercadológicas
(FILGUEIRA, 2000), porque em condições climáticas adequadas obtém-se produtos de
boa qualidade a um menor custo. A vantagem do produto agroecológico é que,
independente da época, o preços são sempre bons. Existem hortaliças que são cultivadas
mais facilmente no outono/inverno e outra na primavera/verão. Todavia, para algumas
delas existem cultivares adaptadas, como cenoura, alface e repolho, mas mesmo assim a
qualidade é inferior no sistema convencional.
20
As hortaliças de fruto, como tomate, pimentão, berinjela, jiló, quiabo, ervilha, vagem
melão, melancia, são cultivadas a campo aberto em regiões e épocas adequadas para o
desenvolvimento e produtividade dos cultivos (Tabela 1.1). O tomate se adapta bem em
climas mais frescos, enquanto berinjela, jiló, quiabo, pimentão, vagem,melão e melancia
exigem clima com temperaturas entre 18 e 28 °C. As culturas do tomate, por exemplo,
são feitas em regiões de altitudes mais elevadas e de clima ameno e de preferência com
baixa precipitação, no final da primavera/verão. No outono/inverno ele é cultivado em
regiões de baixa altitude e com alta insolação.

A melancia e o melão são espécies exigentes em insolação e temperatura noturna elevada,


não toleram amplitude térmica elevada e nem elevada precipitação, para produzirem
frutos de qualidade. Assim, foram ajustadas as épocas de cultivo nas regiões produtoras
durante o ano em toda a extensão do território nacional. Estados da região sul e sudeste
cultivam melancia e melão nas estações de primavera/verão. No Estado de São Paulo
ocorrem duas semeaduras, a primeira em setembro (safra) e a segunda em fevereiro
(safrinha), épocas em que as condições climáticas favorecem a qualidade da produção,
desviando do excesso de chuvas de verão que reduzem a produtividade e a qualidade da
melancieira e do meloeiro.

No período de inverno cultiva-se a melancia em estados de Centro Oeste e Nordeste,


como Goiás, Tocantins e Bahia que apresentam clima quente e propício para este cultivo.
A produção de melões brasileira é realizada em grande parte no Estado do Rio Grande do
Norte, região que possui características climáticas favoráveis para o cultivo de melões o
ano todo, com destino da produção focado nos mercados interno e externo.

As hortaliças tuberosas (raízes, bulbos e tubérculos), como cenoura, mandioquinha salsa,


cebola e batata são totalmente cultivadas em campo aberto, independentemente do
tamanho do produtor. A batata exige temperatura média entre 10o e 20oC. A maior
influência da temperatura ocorre na época da tuberização (formaço da batata), período
crítico para a planta. Nesta fase, as temperaturas mínimas médias e noturnas entre 12o e
16oC são indispensáveis para a tuberização completa e perfeita. Temperaturas noturnas

21
elevadas prejudicam e até impedem a tuberização.

As hortaliças de folhas, como a alface, salsinha, cebolinha, couve, chicória e agrião,


apesar de existir cultivares resistentes ao calor do verão, produzem melhor em clima
ameno. A alface tem a floração estimulada por temperaturas acima de 20°C, isso torna as
folhas duras e amargas. Se o repolho indicado para período de outono/inverno for

Tabela 1.1: Epoca de plantio e forma de plantio das principais hortaliças.


H o rta l i ç a É p o c a tra d i c i o n a l d e p l a n ti o F o rm a d e p l a n ti o
A b ó b o ra ago/nov C o v a s / s e m e i o d i re t o
A b o b ri n h a ago /fe v C o v a s / s e m e i o d i re t o
A ce lg a a b r/ j u l h o c a n t e i ro / m u d a s
A lf a ce a b r/ j u l h o e a g o / o u t c a n t e i ro e s e m e i o / m u d a s
A lh o m a r/ a b r c a n t e i ro / s e m e i o d i re t o
A lm e irão a b r/ j u l h o c a n t e i ro / m u d a s
B ata ta a b r/ j u l h o s u l c o / d i re t o
B ata ta d o ce ago /fe v s u l c o / ra m a o u m u d a
B e ri n je l a ago /fe v l e i r a / m u d a o u s e m e i o d i re t o
B e t e rra b a ab /ju lh o c a n t e i ro / s e m e i o d i re t o o u m u d a
B ro c o l o s a b r/ j u l h o s u lco /m u d a
C e b o la a b r/ j u l h o c a n t e i ro / c a n t e i ro o u s e m e i o d i r e t o
C e b o lin h a a b ri l / j u l h o c a n t e i ro / m u d a
C e n o u ra a b r/ j u l h o c a n t e ri o / s e m i o d i re t o
C h i c ó ri a a b r/ j u l h o c a n t e i ro / m u d a
C h u ch u ago /fe v c o v a / d i re t o
C o e n tro a b r/ j u l h o c a n t e i ro / m u d a o u s e m e i o d i re t o
Couve a b rj / j u l h o c a n t e i ro / m u d a
C o u v e -F lo r a b r/ j u l h o co v a/ m u d a
Erv ilh a to rta a b r/ j u l h o c o v a / s e m e i o d i re t o
E r v i l h a g rã o a b r/ j u l h o s u l c o ra s o / d i re t o
Es p in afre a b ri l / j u l h o c a n t e i ro / d i re t o o u m u d a
F e ijão v age m ago /fe v c o v a / s e m e i o d i re t o
Jiló ago /fe v co v a/ m u d a
In h a m e ago /fe v s u l c o / s e m e i o d i re t o
M an d io q u in h a salsa a b r/ j u l h o l e i ra / m u d a
M e la n cia ago /fe v c o v a / d i re t o
M e lão ago /fe v s e m e i o d i re t o / m u d a
M ilh o d o ce a g o / f e v ; s a f ri n h a ( f e v ) s e m e i o d i re t o P A o u C
M o ran g a A go /fe v c o v a / s e m e i o d i re t o
M o ran g o Fe v/m ai c a n t e i ro / m u d a
M o s t a rd a a b r/ j u n c a n t e i ro / m u d a
P e p in o ago /fe v c a n t e i ro / s e m e i o d i re t o
P im e n ta ago /fe v co v a/ m u d a
P im e n tã o ago /fe v m uda
Q u iab o ago /fe v C o v a / s e m e i o d i re t o o u m u d a
R ab a n e te ago /fe v c a n t e i ro / m u d a o u s e m e i o d i re t o
R e p o lh o a b r/ j u l h o e a g o / f e v co v a/ m u d a
Salsa a b r/ j u l h o c a n t e i ro / m u d a o u s e m e i o d i re t o
T a ro ( c a rá ) ago /fe v l e i ra / d i re t o
To m a te m e s a a b r/ j u n m uda
T o m a t e i n d u s t ri a l a b r/ j u l h o s e m e i o d i re t o P A / m u d a
P A = P l a n t a d e i ra A d u b a d i ra ; C = c a t ra c a

Fonte: Adaptado de Mourão (2007)

22
plantado na primavera/verão de regiões que atingem altas temperaturas nessas estações,
não formarão cabeças comerciais. E geralmente são cultivadas a campo aberto, próximos
a centros consumidores, áreas denominadas de agricultura urbana, periurbana e cinturões
verde. Um exemplo é o cultivo de herbáceas (folhosas), em Mogi das Cruzes e Piedade,
municípios responsáveis pelo abastecimento de verduras para a cidade de São Paulo.

Fotoperíodo: o fotoperíodo exerce pouca influência no florescimento de algumas


hortaliças. A cebola é uma planta de dias longos quanto à formação de bulbos, e os
cultivares designadas de dias curtos não são, particularmente, plantas de dias curtos;
simplesmente exigem menos horas de luz para formar o bulbo. Cada cultivar tem sua
exigência em horas de luz para iniciar o processo de formação de bulbos. Desse modo, se
um determinado cultivar é exposto a uma condição de comprimento do dia (fotoperíodo)
ou menor do que a exigida, haverá um elevado número de plantas que não se
desenvolverá, formando os conhecidos charutos. Ao contrário, se um cultivar é
submetido a um fotoperíodo maior (dias mais longos) do que o requerido, a formação do
bulbo ocorrerá precocemente, formando bulbos de tamanho reduzido, sobretudo se essa
condição ocorrer num estádio inicial de desenvolvimento das plantas. Quando se cultiva
cebola em baixo fotoperíodo (dias mais curtos), as plantas formam folhas indefinidamente
e não formam bulbos. Em decorrência do número de horas de luz diária exigido para que
as plantas formem bulbos comercializáveis, as cultivares de cebola são classificadas em
três grupos: de dias curtos (DC); de dias intermediários (DI) e de dias longos (DL). As
DC iniciam a bulbificação em dias com pelo menos 11 a 12 horas de luz; as DI exigem
dias com 12 a 14 horas de luz e as DL exigem mais de 14 horas de luz diária.

Granizo: dependendo da intensidade, o granizo pode danificar frutos, folhas e caules


(Figura 1.2), causando enormes perdas ou promovendo proliferação de doenças. Áreas
com alta probabilidade de ocorrência de granizo não devem ser utilizadas ou a produção
deve ser feita em estufas ou telados. Os cultivos agroecológicos são mais resistentes aos
fenômenos meteorológicos por causa da presença de árvores, que têm a função de
diminuir a velocidade do vento e diminuir as temperaturas evitando a ocorrência,
inclusive, de granizo.

O solo: as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo devem ser consideradas


23
antes da decisão de se efetuar os plantios, devendo-se evitar áreas que tenham
possibilidade de encharcamento, com topografia muito irregular, com declive acentuado
e que apresentem manchas ou bancos de areia, cascalho ou pedras. Se a área for muito
declivosa, todo o manejo fica difícil, encarecendo o processo de produção. Solos com 5-
12% de declividade devem ser terraceados, para evitar erosão e favorecer o manejo. Estas
obras não são baratas, mas é a alternativa mais responsável no caso de não ter outra opção
de área cultivo. Uma alternativa para cultivo de hortaliças nestas condições é a cobertura
viva (grama, amendoim forrageiro) ou morta para evitar que o escorrimento de água
provoque erosão.

Quanto às propriedades físicas do solo, deve-se, sempre que possível, escolher áreas com
solos leves, ou seja, com equilibrada distribuição das frações granulométricas (areia, silte
e argila), profundos e permeáveis. Antes de se iniciar a operação de preparo do solo, deve-
se verificar a presença ou não de camadas compactadas e de salinidade. A presença e a
profundidade dessas camadas adensadas são detectadas por sondagens com
penetrômetros ou pela abertura de trincheiras. A salinidade é a concentração de sais
solúveis no solo e é avaliada pela condutividade elétrica. Deve merecer atenção especial,
principalmente em regiões onde a água de irrigação apresenta alta concentração de sais.
O solo é considerado salino quando apresenta condutividade elétrica superior a 4 ds.m-1.
Irrigação adequada e boa drenagem evitam o acúmulo de sais. É importante ressaltar que
o aumento do teor de matéria orgânica melhora a textura e a estrutura do solo, resolvendo
os problemas com o tempo e o contínuo fornecimento de materiais orgânicos.

Quanto aos aspectos biológicos, é importante conhecer os cultivos anteriores para saber
se tem a possibilidade de ocorrência de nematoides ou fungos de solo. No caso da
presença de nematoides, não havendo outra opção de terreno, planta-se Crotalaria
juncea na primavera/verão, e incorpora ao solo na floração. Esta planta ajuda no controle
de nematoides. De acordo com Sharma et al. (1982) e Santos e Ruano (1987), a prática
da adubação verde pode se constituir num dos métodos mais valiosos e baratos no
controle de nematoides, desde que se opte pela espécie adequada. Dentre as diversas
plantas cultivadas, algumas contribuem para o incremento populacional dos nematoides
e outras são antagônicas, ou seja, abaixam sua população no solo. Semelhantes efeitos

24
têm sido observados em diferentes espécies de plantas usadas como adubo verde. As
crotalárias, mucunas e o gandu são espécies de verão que apresentam os melhores efeitos
no controle populacional dos nematoides. Entre as gramíneas de inverno destacam-se a
aveia, o centeio, o azevém e a cevada. Entre as leguminosas de inverno, a alfafa, a seradela
e a aspérula (SANTOS; RUANO, 1987).

É possível que algumas espécies de plantas, ao se decomporem no solo, liberem ácidos


orgânicos e substâncias aleloquímicas dos tecidos e raízes, interferindo nas larvas e ovos
de nematoides no interior dos tecidos das plantas. Além disso, os resíduos vegetais
acumulados no solo aumentam a atividade biológica, com o aumento do número de
microrganismos, conduzindo a um equilíbrio natural de espécies, sem comprometer o
desenvolvimento das hortaliças (SILVA, 1995).

Outra forma de tratar o solo com histórico de nematoides e fungos de solo é pelo uso de
solarização e biofumigação.

Solarização: processo de aquecimento da camada superior do solo (10-15 cm) pela


radiação solar, por meio de um filme de polietileno transparente, de espessura de 50-200
micras. Em períodos de grande insolação, a temperatura do solo úmido coberto com
plástico transparente atinge 50ºC e esta temperatura faz a pasteurização do solo, matando
diversos microrganismos patogénicos (fungos e bactérias), pragas de solo (nematoides e
insetos), e sementes da vegetação espontânea. O sucesso da solarização baseia-se no fato
de que a maioria dos patógenos e das pragas não sobrevive a longos períodos de
temperatura acima de 37ºC (mesofilos) por causa do efeito negativo na fluidez das
membranas celulares e da inativação de enzimas principalmente enzimas respiratórias.
Em temperatura de 37ºC serão necessárias 2 a 4 semanas para pasteurizar o solo e a 47ºC
o tempo de solarização suficiente é de 1 a 6 horas. No processo de solarização é
importante considerar os seguintes aspectos:

• A superfície do solo deve estar plana e sem torrões;

• O solo deve ser umedecido até a capacidade de campo;

• O filme deve ser aplicado de forma a que fique aderente à superfície do solo;
25
• Após a solarização, o solo não deve ser revolvido para plantio a cultura seguinte,
para evitar o transporte de sementes dormentes de plantas espontâneas para a
camada superficial.

Biofumigação: é a incorporação de material orgânico no solo a uma profundidade de 20-


30cm, com o objetivo de que com a decomposição libere substâncias voláteis que atuarão
na eliminação dos patógenos. Pode utilizar-se a incorporação de compostos pouco
amadurecidos, de esterco verde, e de resíduos de culturas. O solo deve ser mantido com
umidade na capacidade de campo, porque permite uma maior retenção dos gases, aumenta
as condições de anaerobiose e melhora a distribuição do calor.

A biofumigação pode ser combinada com a solarização. Neste caso, a matéria orgânica é
incorporada no solo antes de molhá-lo. Isso potencializa as funções de desinfeção do solo
e minimiza o estresse no organismo benéfico do solo, provocado pelas temperaturas
elevadas. O controle das populações dos patógenos do solo ocorre por causa do aumento
da temperatura do solo decorrente da solarização, e por causa da concentração de gases
resultantes da decomposição do material orgânico adicionado ao solo.

Cultivo protegido: a produção de culturas hortícolas em estufa permite aumentar o


rendimento econômico dos agricultores, na medida em que permite aumentar o período
de produção, possibilitando uma maior continuidade da oferta e, normalmente, melhores
preços de mercado. As culturas protegidas permitem, deste modo, abastecer o mercado
regional, com menor consumo de energia no transporte de produtos. No entanto, os
sistemas de produção em estufa normalmente consomem mais energia do que a produção
ao ar livre.

A produção de culturas protegidas na legislação vigente depende do parecer dos órgãos


de certificação. A localização ideal de uma estufa para produção de hortaliças é a que
apresenta durante o ano elevada intensidade de radiação solar e temperatura do ar
moderada, baixos valores de umidade relativa do ar e boa acessibilidade ao mercado. A
maioria dos produtos hortícolas e dos pequenos frutos pode ser produzida em estufa. A
grande questão a ser resolvida é a reciclagem destes filmes plásticos, bem como de outros
filmes utilizados em horticultura ou a utilização de materiais biodegradáveis.

26
1.2.3 Cálculos Úteis no Planejamento da Horta Feita em Canteiro

Ao visitar o local tomam-se as medidas da área, usando trena ou por meio de outras
ferramentas como plantas, Google Earth. Estes cálculos são importantes para definir
quantidade de adubo, hora máquina, quantidade de mudas e outros. No escritório define-
se a largura dos canteiros (LC), que varia entre 0,9m e 1,20m. Estabelece-se a largura das
ruas (LR) (caminhos para circulação entre os canteiros), que pode ser de 0,3 a 0,5 m e
calcula-se o tamanho da área destinada ao plantio (ATH). Feito isso, calculam-se:

1. Largura Efetiva do Canteiro (LEC) = largura do canteiro (LC)+ largura da rua


(LR);

2. Percentual da área total sem uso para plantio (% ATSU) % ATSU = (LR ÷ LEC)
x 100

3. Área (m2) ocupada por ruas (AOR). AOR = (% ATSU ÷ 100) x ATH

4. Área (m2) da horta destinada à produção de hortaliça (APH): ATH – AOR

5. A necessidade de matéria orgânica (esterco ou composto) em quilograma ou litros


(NMO)= APH x QMO

A recomendação de matéria orgânica é feita em toneladas. Todavia para


operacionalizar no campo é mais fácil trabalhar em litros ou m3. Para fazer a
transformação, tem que conhecer a densidade. Por exemplo, se um composto tem
d=0,5kg/litro, a recomendação é de 20toneladas/hectare ou 20.000kg.

27
Escolha de variedades e cultivares: a escolha da hortaliça a ser plantada depende do
tipo de mercado que se deseja atingir. Para obter esta informação o ideal é visitar os
atacadistas e estabelecimentos comerciais para saber quais são os tipos e cultivares mais
demandadas. Sabendo disso, devem-se adquirir sementes de variedades ou cultivares que
sejam adaptadas ao sistema orgânico. Todavia, ainda existem poucas
variedades/cultivares desenvolvidas para o sistema orgânico. Para a maioria das
hortaliças, existem cultivares mais rústicas ou com maior resistência a doenças, que se
desenvolvem melhor nesse sistema de cultivo, necessitando assim de menor intervenção
humana. Como exemplo, já são encontrados cultivares de berinjela resistente à
antracnose; de pepino resistente ao míldio, mancha angular e oídio; de pimentão resistente
a vírus e requeima; e de tomate resistente a alguns fungos, bactérias e vírus.

Para facilitar, a Embrapa lançou o Catálogo Brasileiro de Hortaliças. Ele apresenta uma
lista das hortaliças mais comercializadas e está disponível em diversas homepages

As hortaliças podem ser propagadas por mudas ou semeio direto no local de plantio. No
caso de usar mudas, prática comum para a maioria das hortaliças, elas podem ser
produzidas em bandejas de isopor, adquiridas no mercado, ou copinhos de jornal. A
produção de mudas em bandeja ou copos, método mais seguro, exige uma estufa com
sistema de irrigação e bancada para disposição de bandejas, que não devem ficar em
contato direto como o solo.

Produção de mudas

Sementes: dentre os princípios agroecológicos a não dependência de insumos externos e


a sustentabilidade dos sistemas agrícolas passa pela consciência dos agricultores em
conservar as próprias sementes, produzidas e adaptadas localmente. Entretanto, até que
estejam aderidos à normatização, deve-se priorizar o uso de sementes orgânicas
certificadas; em caso da ausência no mercado, são permitidas as sementes convencionais,
preferencialmente não tratadas quimicamente. Segundo a Instrução Normativa 17/2014,
Art. 10, §1º, as sementes e mudas devem ser oriundas de sistema orgânico, mas caso OAC
(Organismo de Avaliação de Conformidade Orgânica) ou o OCS (Organismo de Controle
28
Social) constatem a indisponibilidade de sementes e mudas orgânicas, ou a inadequação
das existentes à situação ecológica da unidade de produção que irá utilizá-las, pode
autorizar materiais existentes no mercado, dando preferência aos que não tratados com
agrotóxicos ou com insumos não permitidos nesta Instrução Normativa.”

Substratos para produção de mudas: na produção de mudas devem-se usar substratos


orgânicos comerciais ou produzidos na propriedade. Os substrato sem solo são compostos
por vermiculita expandida, casca de pinus, casca de arroz carbonizada e fertilizantes
orgânicos. Deve-se ter cuidado com aqueles substratos à base de casca de coco, porque
este material pode possuir níveis tóxicos de tanino, de cloreto de potássio e de sódio, cujos
teores podem ser reduzidos com lavagem em água corrente de boa qualidade, livre de
substâncias químicas e patógenos. Além disso, a casca deve ser bem triturada e passada
em peneiras com furos de 3 mm ou 4mm de diâmetro e ser submetida a uma compostagem
por 90 dias (CARRIJO; SETTI; MAKISHIMA, 2002). A EMBRAPA disponibiliza a
receita de produção de substrato à base de casca de coco verde. O composto orgânico
produzido na propriedade é um excelente substrato. Adição de Trichoderma no substrato
(400 ml/m3) é recomendável para o controle biológico de fungos causadores de doenças.

Os recipientes mais utilizados na produção de mudas de hortaliças para o sistema orgânico


são as bandejas de isopor com, no máximo, 128 células ou copos de jornal, por possuírem
maior volume para o crescimento das mudas, o que é fundamental quando se trabalha
com substratos orgânicos.

Preparo do copinho de papel jornal: os copinhos devem ter 5 a 7 cm de diâmetro e 6


a 8 cm de altura. Para tanto se corta a folha em tiras de 12 a 15 cm de largura e 45 a 50
cm de comprimento. Utilizam-se como molde, para fazer o copinho, latas de conserva,
pedaços de tubo de PVC ou bambu com o diâmetro desejado. O tubo de PVC ou bambu
pode ser cortado com 15 a 20 cm de comprimento. Um dos lados deve ser reto para formar
o fundo do copinho. O outro lado, cortado em bisel para formar um tipo de concha e assim
facilitar o enchimento do copinho com o substrato. Caso se empregue uma lata para
moldar o copinho, tanto a tampa quanto o fundo devem ser retirados, formando um tubo.
Enrola-se a tira de jornal no tubo de PVC, lata ou bambu, deixando num lado uma margem
de 5 a 7 cm que deverá ser dobrada formando o fundo do copinho. Devido ao
29
comprimento da tira de jornal, a parede do corpo do copinho ficará com duas folhas o que
lhe dará maior resistência. Apoiando-se o fundo na palma da mão enche-se o copinho
com o substrato. Uma vez cheio, retira-se o tubo puxando-o para cima. Os copinhos
cheios devem ser arrumados em local plano formando uma espécie de canteiro. Não há
necessidade de colar ou grampear os copinhos.

Bandejas: para produção de mudas, as bandejas mais usadas são aquelas de 128 a 200
células de isopor, porque pode ser reaproveitada depois de higienizada com água clorada.
Cada bandeja de 128 células recebe de 25 a 30 g. As bandejas de 128 células são
recomendadas para berinjela, pimentão, tomate e as de 200 células, para alface, rúcula,
chicória. Após o enchimento das células da bandeja, faz-se a compactação do substrato e
a abertura dos furos com 1 cm de profundidade (um furo por célula). Coloca-se uma ou
duas sementes por furo, recobrindo-as em seguida com substrato peneirado ou com
vermiculita pura de granulometria média ou fina. Para rúcula, cebolinha e salsinha usam-
se de oito a quatro sementes, respectivamente, por célula, e não faz desbaste. Após a
semeadura, as bandejas são umedecidas e armazenadas em pilhas, por 72 horas, em um
galpão coberto, para impedir a penetração de luz pelo substrato, atrasando a germinação.
Durante esse período, as sementes iniciam o processo de germinação, em seguida as
bandejas são transferidas para estufas ou telados. Cerca de 30 dias depois, a muda está no
ponto de transplante.

As mudas de tomate e pepino podem ser enxertadas. Os porta-enxertos de tomate são:


Anchor: tolerante a murchas; Guardião: tolerante a murcha e nematoide; He-man:
tolerante a nematoide. As mudas de pepino podem ser enxertadas em abóbora, com
sucesso.

30
Para determinar o número de mudas necessárias para a área de cultivo, deve-se conhecer
o espaçamento indicado para a cultura. O espaçamento é a distância entre cada planta. A
distância entre as linhas é maior do que a distância entre as plantas, na linha. A definição
do espaçamento deve ser feita com base nas recomendações para a cultura, com o
ambiente de cultivo e tamanho da hortaliça produzida. Para solos muito férteis, a
recomendação é de espaçamentos maiores porque as plantas crescem mais. Mas se o
objetivo é produzir hortaliças menores, como o caso do repolho, o espaçamento deve ser
reduzido. Alfaces comuns
Figura 1.3: Croqui de plantios em fileiras simples e dupla.
e americanas podem ser
plantadas no espaçamento
0,30m por 0,25 ou 0,30m
entre plantas. Para as
alfaces gourmet, como por
exemplo a “Brunela”, o
espaçamento pode ser 0,2
por 0,2 m. Este assunto
será detalhado em cada
grupo de hortaliça tratado
nas próximas Unidades.
Os espaçamentos formam
figuras geométricas do
tipo retângulo, quadrado,
triângulo e pode ser
arranjados em fileira
simples e fileira dupla
(Figura 1.3).Se o plantio
Fonte: Elaborado pelos autores
for feito em fileiras
simples, o número de mudas será determinado pela seguinte fórmula:

Número de mudas para espaçamentos retangulares

Nm= área plantada (hectare)/ L x l

31
Nm=número de mudas; Área plantada =1 hectare=10.000m2; L= lado maior e l =lado
menor.

Exemplo: espaçamento 0,3m x 0,2m em fileira simples.

Nm= 10000 / (0,3 x 0,2)

Nm= 1000/0,06 = 166.667 mudas/hectare

Número de mudas para espaçamento em quadrado

Nm= área plantada (hectare)/(LxL)- espaçamento em quadrado.

Exemplo: espaçamento= 0,3 x 0,3 m

Nm= 1000/(0,3x0,3) = 10000/0,09=111.111mudas/hectare

Número de mudas para espaçamento em fileira dupla.

Ap = área por planta(m2), Ed = espaçamento entre fileira dupla, Ef = espaçamento entre


fileira simples, Ep = espaçamento entre plantas; Dp = Densidade de plantas ou número
de mudas

Por exemplo: Plantio do repolho no espaçamento 0,8 x 0,35x 0,3m

Ed= 0,8; Ef=0,35 e Ep=0,3

Ap=(0,8 x0,35)/0,3= 1,067 m²

Dp=10.000/1,067 = 10.714,29 mudas /hectare.

1.2.4 Plano de Rotação de Cultura

A rotação de cultura é a alternância regular e ordenada no cultivo de diferentes famílias


32
botânicas de hortaliças, no tempo e numa determinada área, de acordo com as condições
adequadas de solo e clima. A rotação de culturas possibilita melhor utilização da água e
dos nutrientes minerais do solo, menor risco de incidência de pragas e doenças, controle
preventivo de infestantes e maior diversidade de produtos hortícolas disponíveis, para os
quais existem oportunidades de mercado, que devem ser previamente avaliadas.

A decisão das espécies e cultivares a incluir nas rotações tem que considerar as
oportunidades de comercialização, o ciclo cultural de cada cultura e outros aspectos como
os ciclos das principais pragas e doenças às quais são susceptíveis. Por outro lado, existem
culturas na rotação que restituem nutrientes ao solo e outras que utilizam esses nutrientes,
sendo importante, que no final da rotação, exista um balanço positivo para a fertilidade
do solo.

Na rotação, hortaliças da mesma família não devem cultivadas em uma mesma época e
nem lotes adjacentes; hortaliças de mesma família não são plantadas em um mesmo lote
consecutivamente; as leguminosas selecionadas para adubação verde, cultivadas uma vez,
não podem ter adjacente ou consecutivamente no mesmo lote, a vagem ou ervilha;
programa-se um período de pouso em lotes da horta.

Em áreas de hortaliças-fruto (feijão-vagem, berinjela) recomenda-se efetuar a rotação


com hortaliças de raízes ou tubérculos (beterraba, cenoura, rabanete, nabo) ou hortaliças
folhosas (alface, brócolis, espinafre, chicória), sempre hortaliças de famílias botânicas
diferentes, com o objetivo de reduzir problemas de acúmulo de doenças e exploração
desequilibrada do solo. Todavia, no plano de rotação de culturas, deve-se privilegiar a
sequência de culturas que exijam sistema de cultivo similar como, por exemplo,
espaldeira e espaldeira, espaldeira e sulco, sulco e sulco, evitando com isso o
revolvimento frequente do solo e aproveitando a estrutura já montada.

1.3 Transição Agroecológica


A aceleração das mudanças na humanidade e no planeta, com a intensificação dos ritmos
de vida e trabalho, associada às mudanças econômicas, tecnológicas, demográficas e
espirituais, alteram progressivamente a estruturação dos sistemas agroalimentares
mundiais. A intensificação dos ritmos das ações humanas contrasta com a lentidão natural
33
da evolução biológica. Se por um lado crescem as monoculturas e seus impactos em todas
as escalas da vida, também há busca por alimentos, madeira, energia e fibras de origem
sustentável; uma realidade global em construção.

Para a Agroecologia, a unidade de produção é vista como um organismo único. Um


pequeno cosmo no qual o ser humano se insere e interage com todas as escalas, guiando
a evolução para um patamar energético mais elevado. Analisar essa interação na produção
de olerícolas demanda um novo olhar científico, atualmente mais próximo da física
quântica, que ilumina o saber do universo energético das menores partículas. Já se sabe
que o pensamento humano modifica a molécula de água, que compõe a maior porção dos
corpos dos seres na Terra. No caso das olerícolas, representam mais de 70% de sua
constituição.

A incessante busca por um novo modelo de vida, de produção e de consumo, que proteja
o ambiente e possibilite a sobrevivência no planeta, tem levado ao crescente consumo de
produtos com selos de não agressão às florestas e ao ambiente, de mercado justo e
solidário, dentre outros, que primam pela certificação ou por organismos de controle
social (OCS), agregando agricultores com poucos recursos.

Muitos desses agricultores experimentam novas oportunidades mercadológicas com o


crescimento da consciência e a busca de melhor qualidade de vida, a começar por hábitos
alimentares mais saudáveis. Dentre as políticas públicas para agricultura familiar,
destacam-se o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), ações inclusivas para agricultura familiar, que aceleraram
a produção de olerícolas orgânicas e ajudaram a disseminar a agroecologia.

Em termos tecnológicos, a agricultura orgânica se consolidou como um dos pilares da


produção de alimentos limpos, sendo a agroecologia a ciência que baliza os paradigmas
das relações de mercado justo para o agricultor e o consumidor, com sistemas de produção
economicamente viáveis, que protegem a biodiversidade e regenerem o ambiente, com o
desenvolvimento de tecnologias de maneira participativa, adaptáveis às distintas culturas
e à diversidade de ambientes em unidades de produção.

A transição ou conversão agroecológica é processo gradual de mudança de consciência e


34
de manejo dos sistemas de cultivo convencional, por meio da transformação das bases
produtivas e sociais, do uso dos recursos naturais (solo, água, ar), de forma que incorpore
princípios e tecnologias de base ecológica. Desta forma, o sistema agroecológico
considera o ambiente onde a propriedade está inserida, as características socioeconômicas
e culturais do agricultor ou da comunidade de agricultores. Todo o processo é
desenvolvido por meio de planejamento participativo, no qual quem estabelece os
objetivos, metas e ações são os agricultores.

À medida que os agricultores se familiarizam com os princípios e conceitos básicos da


agroecologia, vão percebendo que realizar a passagem da agricultura convencional
(química) para a agricultura de base ecológica não é uma tarefa simples e rápida. Este
processo envolve diversas dimensões relativas ao funcionamento do agroecossistema
como um todo. Primeiramente deve-se refletir sobre o manejo atual do sistema produtivo
e como poderá manejá-lo no futuro. O segundo passo é refletir sobre a organização do
trabalho na propriedade e o terceiro, sobre a tecnologia usada, sobre o mercado de
produtos sustentáveis e a importância e mecanismos de associação com outros
agricultores.

A conversão deve iniciar pelo domínio do conhecimento agroecológico, adquirido por


meio de debates com técnicos e pesquisadores da área. O próximo passo é mudança do
manejo convencional do solo para o manejo ecológico, visando revitalizar a capacidade
produtiva dele com a proteção contra compactação e erosão, incremento da cobertura
vegetal, adubação orgânica e não uso de agrotóxicos. Assim, substituem-se os agrotóxicos
por produtos naturais e práticas de controle biológico, até que o sistema se equilibre.
Outro passo importante na conversão é controlar a produção das próprias sementes e
mudas, de modo a conservar, experimentar e melhorar variedades adaptadas ao local
(sementes variadas e crioulas). Produzir para atender também o consumo, porque isso
reduz custo com a manutenção da família. Proteger as nascentes, os cursos d´água por
meio de matas ciliares, construir reservatórios para água de chuva e pequenas cisternas.
Preservar, implantar e recuperar árvores, pomares, matas porque elas são fundamentais
para manter a umidade e regular o clima e as chuvas, e ainda fornecem madeira e frutos.
E por fim, organizar-se em cooperativas ou associações, para facilitar o acesso às políticas

35
públicas e favorecer a comercialização dos produtos.

A conversão agroecológica consiste no redesenho da unidade de produção, a partir de um


criterioso estudo da paisagem e do conhecimento dos agricultores, visando integrar os
cultivos, melhorar o aproveitamento da energia solar; captação, distribuição e uso
racional da água; baixar os efeitos danosos dos ventos sobre as lavouras; e,
principalmente, elevar a fertilidade dos solos, ao contemplar os atributos físicos, bióticos
e químicos, priorizando o incremento e a conservação da matéria orgânica via reciclagem
dos resíduos, aportando os nutrientes ao sistema. Um solo fértil para olerícolas deve ser
poroso e seus agregados ter grumos estáveis e resistentes à água por causa dos bons teores
de matéria orgânica.

Na transição agroecológica, o uso do solo na unidade de produção deve ser planejado


com base nos fluxos que ocorrem na microbacia hidrográfica, adequando-se os cultivos
à aptidão do solo e ao relevo. No hemisfério Sul, a parte das montanhas com exposição
voltadas para Sul é chamada Vertente, Encosta ou face Noruega; e aquela parte voltada
para o Norte é denominada vertente, encosta ou face Soalheira. Normalmente, opta-se
por produzir olerícolas na porção mais baixa do relevo e nas faces Noruegas ou àquelas
voltadas para o Sudoeste, que geralmente são mais úmidas e mais frias. Nestas faces
durante o inverno há maior ocorrência de formação de nuvens orográficas, o que torna a
umidade relativa dessa encosta elevada. Os pomares são localizados no terciário, e as
terras altas e as faces voltadas para a soalheira se destinam aos reflorestamentos. No
verão, hortaliças de clima mais frio devem ser plantadas nas encostas das montanhas
voltadas para o Leste porque as temperaturas são mais amenas. E no inverno as hortaliças
de verão devem ser plantadas nas encostas com exposição voltada para o Oeste porque
são mais quentes, mas precisarão de irrigação.

As encostas das montanhas voltadas para o Norte são as que recebem ao longo do ano
maior incidência de radiação solar direta sendo, portanto, mais aquecidas, o que também
contribui para que a umidade relativa no microclima dessa encosta seja menor, conforme
o Instituto Brasileiro do Café (IBC, 1986). A adequação da posição dos cultivos na
paisagem melhora a captação da energia solar e da umidade do ar pelas culturas. Ainda
pouco valorizada, a posição em relação à bacia aérea, ou seja, à posição em relação à
36
encosta que recebe os ventos e o deixa passar em diferentes trajetórias até áreas de escape,
possibilita situá-los após a garganta da microbacia, que são mais úmidas.

A posição dos reflorestamentos proporciona captar ‘chuva oculta’ por meio da


condensação da massa de ar sobre a biomassa das florestas, mesmo nos dias sem chuva,
principalmente em regiões voltadas para Sudoeste. O ambiente capta o orvalho noturno e
armazena considerável quantidade de água na serapilheira, melhorando a recarga hídrica
e perenizando as nascentes. É importante ressaltar que o cultivo de olerícolas exige
irrigação do solo.

A associação com espécies arbustivas e arbóreas em faixas ou alley cropping auxilia na


formação de um microclima mais favorável ao cultivo de olerícolas. Esta técnica usada
como quebra-vento no entorno e dentro da área de produção previne danos causados por
ventanias e geadas. As plantas usadas para este fim devem ser bem adaptadas ao Bioma
de cultivo. Dentre algumas espécies para o cultivo em faixas de aleias recomendam-se as
perenes e semiperenes. Como perenes tem-se margaridão (Tithonia diversifolia),
leguminosa flemíngia (Flemingia macrophylla), capim napier (Pennisetum purpureum).
Estas plantas fornecem adubo orgânico para os solos ao serem podadas e deixadas em
cobertura no solo. As semiperene como a tefrósia (Tefrosia candida) e o guandu (Cajanus
cajan) que demandam o replantio após algumas podas.

Cresce no Brasil a agricultura sintrópica, com a olericultura sendo o principal componente


gerador de renda, praticada em faixas com dois ou três canteiros, separadas por linhas de
cultivos perenes (Figura 1.4). Para ilustrar cita-se Ernst Götsch, o criador da agricultura
sintrópica na Bahia. Ele diz o seguinte:

[...] se tu queres cultivar feijão e milho, planta também a cana e umas


laranjeiras, além de muitas outras espécies. Isto significa plantá-las todas
juntas, ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Nesse consórcio de milho,
feijão com outras espécies, cabe ainda, por exemplo, bananeiras, capim
elefante, mandioca, inhame, pimenta malagueta, sapoti, leucena, mulungu,
sapucaia, mangueira e ainda pimenta do reino nas árvores altas do futuro.
Cada espécie contribuirá para completar o consórcio e para que todas as
outras prosperem melhor. Nenhuma delas cresce ou produz menos devido
37
à presença das demais, pelo contrário, cada uma depende da outra para
conseguir chegar ao estágio de desenvolvimento ótimo (GÖTSCH, s.a.).

As olerícolas são semeadas e plantadas sistematicamente em policultivo, aproveitando-se


todos os espaços e obtendo-se múltiplas colheitas numa mesma área no tempo. As
olerícolas também são plantadas alternadas nas linhas laterais contendo as espécies
consortes (companheiras) como bananeiras (Musa sp.), gliricídia (Gliricidia sepium),
eucalipto (exceção para o Eucalyptus citriodora) e/ou árvores nativas. Esta associação
compõe assim a proteção na área de produção. As bananeiras, gliricídias e eucaliptos
sofrem a poda, aportando resíduos ao solo para gerar matéria orgânica. Da bananeira

Figura 1.4: Agricultura sintrópica com olerícolas colhem-se os cachos, do


associadas com linhas de bananeiras (Cachoeira eucalipto obtêm-se esteios de
Paulista/SP).
6m de altura reutilizados na
própria unidade e a gliricídia
aporta N via fixação
biológica. Os resíduos da
bananeira dispostos sobre o
solo previnem a erosão
cobrindo o solo dos canteiros
e carreadores na faixa das
olerícolas. Os pseudocaules
das bananeiras ao serem
Fonte: Antônio Carlos Pries Devide
partidos longitudinalmente
formam duas telhas, que
acamadas sobre o solo transferem a seiva rica em potássio para a terra e para as culturas.
Com isso, reduz-se a necessidade de irrigações, adubações e capinas, porque impede o
ressecamento, a lixiviação do potássio o crescimento do mato, ativa a fauna edáfica
(artrópodes), que atua na decomposição e melhora a estruturação do solo.

A cobertura do solo é uma técnica obrigatória no cultivo orgânico de olerícolas, porque


evita a compactação da superfície do solo pelas gotas de chuva ou água de irrigação,
mantém a umidade e a temperatura do solo e reduz a incidência da vegetação espontânea.
A cobertura morta deve ser feita por meio da adição de capins picados, casca de arroz e
38
outros materiais orgânicos. Técnicas menos sustentáveis empregam os filmes de
polietileno (plástico) ou polipropileno (TNT).

Ao buscar a melhor captação da energia solar muitas vezes os cultivos são plantados
morro abaixo, ou seja, no sentido da pendente. Isto é feito também para melhorar o
rendimento das operações de manejo. Assim, é necessário aportar cobertura morta
(biomassa vegetal, matéria orgânica) nos carreadores (caminhos entre canteiros), para
evitar o escorrimento superficial da água e proteger o solo dos respingos de chuva,
reduzindo a erosão, a evaporação e a necessidade de capinas. A irrigação deve buscar o
uso racional da água por meio de bombas de baixa pressão, microaspersão ou pluma
nebulização com mangueiras de irrigação Santeno, perfuradas a laser.

A produção em canteiros elevados sem o uso da cobertura morta (solo descoberto) traz
as desvantagens do respingo de partículas de solo nas folhas e frutos das olerícolas,
carregando esporos de fungos e bactérias, que podem favorecer as doenças. A terra
também resseca mais rápido, demandando mais irrigações. O mato indesejável cresce
mais rápido nos canteiros e carreadores e o solo se compacta pelo impacto das gotas de
chuva, provocando erosão. Para amenizar esses fatores indesejáveis, preconiza-se a
disposição de resíduos orgânicos em abundância nos carreadores. As alternativas para
isso são pseudocaules de bananeiras abertos ao meio na forma de telha, juntamente com
folhas e matos das capinas e roçadas do entorno.

A adição de matéria orgânica por meio de compostos orgânicos preparados localmente


combinando-se fontes de nitrogênio (30% de estercos de animais), 70% de fonte de
carbono (capim mombaça - Megathyrsus maximus; napier – P. purpureum ou cana -
Saccharum officinarum) picados, juntamente com minerais, principalmente o fósforo. Os
compostos são produzidos em pilhas, alternando os resíduos em camadas, aeradas,
umedecidas e revolvidas para homogeneização; o aquecimento elimina os patógenos e
sementes de plantas espontâneas indesejáveis. Após a cura, a relação C:N fica em torno
de 30:1 quando estão aptos para o uso. Vermicompostos são obtidos adicionando-se a
minhoca (normalmente a vermelha da Califórnia – Eisenia foetida) ao composto
termicamente estável. O produto nobre geralmente é empregado como traço de substratos
de produção de mudas de olerícolas.
39
O estudo das plantas indicadoras favorece o manejo ecológico dos solos, porque capins
como Sapé (Imperata exaltata), Rabo-de-burro (Andropogon sp.) e a Tiririca (Cyperus
rotundus) indicam solos ácidos com impermeabilidade subsuperficial e deficientes em
magnésio; Nabo forrageiro (Raphanus raphanistrum) indica deficiência de boro e
manganês; Guanxuma (Sida sp.), o solo compactado; Azedinha ou Trevinho (Oxalys),
adensamento e deficiência de cálcio. O Caruru (Amaranthus viridis), a beldroega
(Portulaca oleracea) e o Dente-de-leão (Taraxacum officinale) são comestíveis, fontes
de minerais e indicam terras férteis ricas em nitrogênio.

Entender o papel dessas plantas na restauração de solos degradados favorece o manejo


ecológico, possibilita adequar os cultivos à aptidão das terras e à escolha do método de
restauração, utilizando poucos recursos externos à unidade de produção. É importante
analisar o que a comunidade de plantas espontâneas indica sobre a condição física do
solo, previamente à escolha da área e da cultura olerícola.

No manejo conservacionista do solo o emprego de culturas de cobertura e/ou da adubação


verde melhora a fertilidade, porque aumenta a disponibilidade de nutrientes, descompacta
camadas adensadas, adicionando matéria orgânica acima e abaixo da superfície do solo e
controla os propágulos de ervas indesejáveis. O Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis)
é um adubo verde com alta alelopatia contra Tiririca e o Sorgo (Sorghum bicolor), produz
um complexo de substâncias lipídicas e proteínas denominado genericamente de
sorgoleone, com efeito parecido ao herbicida.

Dentre as leguminosas fixadoras de nitrogênio mais empregadas na primavera-verão,


destacam-se as Mucunas (Mucuna sp.) e Crotalárias (Crotalaria junceae, C. spectabilis)
de ciclo curto e o Guandu (Cajanus cajan) de ciclo longo; dentre as gramíneas, o Sorgo
(S. bicolor), o Milheto (Pennisetum glaucum) e o Milho (Zea mays); para o outono-
inverno, a rasteira Chícharo (Lathyrus sativus) e Tremoço (Lupinus albus) de porte ereto
são leguminosas indicadas, juntamente com as gramíneas Aveia (Avena sativa) e o
Triticale (Triticum secale). É importante analisar a condição física do solo, previamente
à escolha da cultura de cobertura, dando preferência às leguminosas para os solos com
baixo N e que descompactam em profundidade através das raízes pivotantes.

40
Dos métodos de preparo do solo convencionais nas terras baixas é tradicional o
rotoencanteiramento, que destrói as propriedades físicas e biológicas. São crescentes os
resultados de pesquisas sobre sistemas de plantio direto (SPD) e o cultivo mínimo (SCM)
de olerícolas em manejo orgânico, sem o dessecamento das palhadas, utilizando-se
somente a roçadeira, melhorando a bioestrutura com a elevação da matéria orgânica e
reduzindo os gastos com a motomecanização. No SPD os resíduos são deixados em
cobertura e no SCM são incorporados superficialmente (15 cm) com grade ou enxada.
Plantas como o sorgo e o milheto rebrotam com facilidade e são manejadas no ciclo de
crescimento das olerícolas, por meio de capinas seletivas.

Os fertilizantes empregados na produção agroecológica de olerícolas provêm de rochas e


outras fontes pouco solúveis. Além dos compostos, a principal fonte de matéria orgânica,
os estercos de aves e de cama de aviário, as tortas de mamona e de resíduos de atividades
agropecuárias (silagem) são boas fontes de N; os termofosfatos e fosfatos de rocha
adicionam fósforo, cálcio e micronutrientes; o calcário provê o cálcio e o magnésio
(calcário dolomítico); as cinzas de lenha de reflorestamento e o sulfato de potássio de
rocha são as principais fontes de potássio. Os biofertilizantes anaeróbicos podem
adicionar micronutrientes via pulverização foliar. Dentre as caldas alternativas destacam-
se a Bordalesa (fonte de cobre) e a Viçosa (fontes de enxofre e cobre), respectivamente,
para fungos e ácaros.

Nos sistemas de produção agroecológica os consórcios e as rotações de cultivos são


planejados para maximizar os benefícios do uso do solo. Dentre as rotações, alternam-se
culturas extratoras com outras que demandam aporte superior de nutrientes. Um bom
exemplo é a rotação de espécies folhosas (alface, rúcula, chicória e outras), as produtoras
de frutos (tomate, berinjela, jiló e outras), de raízes (cenoura, rabanete, nabo e outras),
flores, folhas e pedúnculos (brócolis, couve-flor, repolho, couve-de-bruxelas e outras)
como a beterraba, que tem alto poder de extração.

A produção de raízes, tubérculos, rizomas e bulbos abrange as culturas cujas partes


comerciais são órgãos de reserva que se formam dentro do solo ou na superfície.
Apresenta ciclos longos, colheita única e possibilita o armazenamento; características que
favorecem o plantio em grandes áreas e a mecanização. Porém, são culturas exigentes em
41
condições de clima, água e nutrientes para que ocorra a formação dos órgãos de reservas
subterrâneos.

Dentre as associações, os consórcios são fundamentais para incremento e manutenção da


biodiversidade, principalmente se tratando de sistemas agroecológicos de produção.
Alguns cuidados técnicos devem ser vistos, tais como o ciclo das culturas, alelopatia
(plantas não companheiras), necessidade de irrigação suplementar para que as plantas
possam conviver no mesmo espaço-tempo, sem prejudicar o desenvolvimento e a
produtividade.

Algumas consorciações já foram estudadas e plantadas por técnicos e agricultores no


Brasil: aumentando-se um pouco o espaçamento da entrelinha da cenoura, se cultivam
folhosas de ciclo curto (alface x cenoura; rúcula x cenoura); o mesmo pode ser usado para
a beterraba, podendo-se ter várias consorciações; o rabanete, exigente em água, pode ser
consorciado com folhosas; olerícolas de ciclo mais longo, tais como a couve manteiga,
brócolis, couve-flor podem-se consorciar nas entrelinhas com espécies não tão exigentes
em água, como salsa, cebolinha, coentro.

Além dos consórcios de olerícolas, o uso de leguminosas é importante, pois o agricultor


não precisa deixar área em pousio para incrementar a fertilidade, resultando em benefícios
para a cultura principal e para o solo. Como exemplo, no caso de culturas de porte mais
alto e ciclo longo, tais como a mandioca de mesa (aipim), taro, quiabo, dentre outras,
plantam-se nas entrelinhas de cultivo as linhas simples ou duplas de leguminosas, tais
como a Crotalaria e o feijão de porco, que são cortados na floração.

Em relação ao preparo do solo, o mínimo revolvimento busca preservar a estrutura e a


biota edáfica, sendo a base inicial da conversão agroecológica. A aração deve ser evitada,
porque inverte a camada fértil e expõe os microrganismos benéficos às intempéries. Em
caso de lavouras mecanizadas, utilizar somente a enxada rotativa e a motoencanteiradora
e se possível realizar o cultivo mínimo e o plantio direto de hortaliças de frutos. Nos
trópicos, em geral predominam solos de baixa fertilidade natural, ou seja, com elevada
acidez, baixos teores de matéria orgânica e de N, baixos teores de Ca, Mg e K trocáveis,
sendo o P indisponível. Características estas oriundas da formação do solo, mas,

42
principalmente, devido à ação do clima, com altas temperaturas e chuvas torrenciais, que
proporcionam maior intemperismo e lavagem dos nutrientes do perfil do solo. Assim,
predominam solos ricos em óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, minerais de argila
do tipo 1:1 com pouca capacidade de troca de cátions (CTC), garantindo baixa reserva de
nutrientes para as plantas. Por isso, a matéria orgânica do solo tem papel tão importante
na manutenção e sustentabilidade dos agroecossistemas, pois é a principal responsável
pelo armazenamento de nutrientes e água do solo, e a fonte de transformações
intermediadas por organismos do solo (capítulo 7, Manual Adubação Estado do Rio de
Janeiro).

1.4 Síntese da Unidade

A Agroecologia é a ciência que proporciona conhecimentos e métodos que orientam uma


agricultura de base ecológica, capaz de se sustentar ao longo do tempo. Trata-se de uma
nova forma de abordar a agricultura, onde a natureza, o homem e todas as suas relações,
são entendidos de forma integrada, convidando técnicos(as) e agricultores(as) a tomarem
novas posturas e adquirirem novos valores. O processo de conversão da agricultura
convencional para agroecológica deve ser feito aos poucos e demanda conhecimento
prévio. Este conhecimento leva em consideração o saber popular e a técnicas
desenvolvidas pela pesquisa. Posterioremente deve-ser manejar o solo, para que ele tenha
a sua estrutura, fertilidade e vida recuperadas, à semelhança de um ecossistema. Isso é
possível com diversificação, uso de produtos naturais e técnicas de cultivo mínimo,
rotação de cultura, consórcio, cultivo em faixa, e outros.

Quanto à atividade de olericultura, é importante saber dimensionar os cultivos, conhecer


as hortaliças e integrar este sistema produtivo às demais atividades agrícolas. Os
agricultores devem se unir para trocar informação e conquistar o mercado.

43
1.5 Para saber mais
Filmes e telenovelas

• A telenovela Velho Chico da rede Globo, trata da importância de adotar técnicas


agrícolas de base ecológica para preservar o ambiente e em especial o Rio São
Francisco. Aborda a formação de cooperativas, o conhecimento popular e as
dificuldades na quebra de paradigmas.

Livros

• GLIESSMAN, S.R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura


sustentável. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2001. Este livro trata dos princípios que
permeiam a agroecologia, com abordagem em energia, solo, planta, radiação
solar, transição agroecológica e estudos de caso.

• PRIMAVESI, Ana. Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais.


São Paulo, Nobel, 1979. 549p. Livro que traz amplo conteúdo sobre Agronomia,
ênfase ao manejo ecológico do solo tropical, fertilidade, bioestrutura, matéria
orgânica, microbiologia e análise da paisagem sobre plantas, fauna e flora
bioindicadores e adubação verde.

• REIJNTJES, C. Agricultura para o futuro: uma introdução à agricultura


sustentável e de baixo uso de insumos externos/Coen Reijntjes, Bertus Haverkort,
Ann Waters-Bayer. Trad.: John Cunha Comerford. –Rio de Janeiro: AS-PTA,
1994. 324 p. Livro que conceitua a agroecologia e a sustentabilidade, agricultura
e agricultores de países em desenvolvimento; relata experiências mundiais em
uma coletânea de oito anos do trabalho do ILEA – Information Centre for Low-
External-Input and Sustainable Agriculture (Centro de Informações para a
Agricultura Sustentável de Baixo Uso de Insumos Externos).

• BUAINAIN, A.M.; BATALHA, M.O. Cadeia Produtiva de produtos


orgânicos. Brasília: MAPA; IICA. 2007. (Série Agronegócios). Disponível em:
Orgânicoshttp://www.ibraf.org.br/x_files/Documentos/Cadeia_Produtiva_de_Pr
odutos_Org%C3%A2nicos_S%C3%A9rie_Agroneg%C3%B3cios_MAPA.pdf.
44
Acesso em: 18 de jun. 2016. Este livro trata da produção orgânica enquanto
agronegócio, considerando o mercado mundial e nacional e seus respectivos
canais de comercialização, bem como dos pontos fortes, fracos e oportunidades
do negócio.

Sites

• Regulamento técnico para sistemas orgânicos de produção animal e vegetal. IN


MAPA 17, 20 de junho de 2014, disponível em:
http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/IN-17.pdf;
http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Desenvolvimento_Sustentavel/Org
anicos/Legislacao/Nacional/Instrucao_Normativa_n_0_046_de_06-10-
2011_regulada_pela_IN_17.pdf

1.6 Atividades

1. Assinale a afirmação INCORRETA sobre os princípios da Agroecologia:

a. Reconhece a agricultura familiar, tradicional, indígena, quilombola ou da reforma


agrária como espaço destacado para o desenvolvimento da racionalidade ecológica.

b. Serve tanto às gerações futuras bem como às atuais, aos atores do mundo rural, porque
produzir, comercializar e consumir alimentos é atividade com conteúdo ético e político,
que diz respeito exclusivamente aos agricultores.

c. Valoriza o conhecimento popular e tradicional como fonte de informação para modelos


que possam ter validade nas condições atuais.

d. Busca o entendimento do funcionamento de agroecossistemas, bem como das


45
diferentes interações presentes nestes.

e. Reconhece na agrobiodiversidade um papel importante no enfoque agroecológico.

46
Unidade 2

Implantação da Horta

Nesta Unidade trataremos dos adubos e da adubação do solo com ênfase nas normas do
cultivo orgânico.

2.1 Adubos e Adubação

A Lei 10.831/2003 estabelece diretrizes para o cultivo orgânico e regulamentos técnicos


para os sistemas orgânicos de produção animal e vegetal, estabelecidos nas Instruções
Normativas IN 46/2011 e IN 17/2014 do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), em que constam todas as normas e listas de produtos permitidos.
Alguns princípios balizam a produção agroecológica de olerícolas, dentre os quais
destacam-se a adubação orgânica, o preparo mínimo do solo, a rotação e o consórcio de
culturas. Neste item, focaremos a adubação, visto que a maioria das hortaliças é exigente
em nutrientes, por causa do melhoramento vegetal que produziu cultivares mais
produtivas, porém mais exigentes. Além disso, as hortaliças mais consumidas são
exóticas.

Sabemos que o solo é considerado um organismo vivo, porque além dos minerais, água,
ar e matéria orgânica, ele possui uma fauna (artrópodes e microrganismos) e uma flora
integrada. Por isso, é necessário incrementar e manter a sua fertilidade ano a ano, para
atender a demanda do solo como um todo, características físicas, químicas e biológicas,
47
bem como das culturas.

O método de Equilíbrio de Bases, proposto pelo Prof. Dr. Willian Albrecht, estabelece a
relação dos nutrientes na saturação de bases na Capacidade de Troca de Cátions (CTC)
do solo, aplicável a todas as olerícolas, no qual o cálcio (Ca) deve representar entre 55%
a 65%; o magnésio (Mg) entre 10% a 15% e o potássio 3% a 5% da CTC do solo. Além
desses nutrientes é importantes o fornecimento de nitrogênio, potássio, fósforo, enxofre
e de micronutrientes (consumidos em pequenas quantidades) como boro (B), cobre (Cu),
ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), zinco (Zn) e outros.

Correção do solo: a reação do H+ (pH) e do Al+3 no solo afeta a disponibilidade dos


nutrientes e a atividade biológica do solo. Para corrigir o pH do solo é necessário coletar
amostra e enviar para o laboratório fazer análise química. A maioria das olerícolas requer
a elevação da saturação de bases entre 70-80% como resultado das práticas de
melhoramento e exigem pH entre 5,5 e 6,5 (Tabela 2.1). O poder de neutralização da
acidez do solo e fornecimento de cálcio e magnésio depende do tamanho das partículas
do calcário. Calcário com PRNT acima de 90% reagem em 30 dias e aqueles com 70%
demoram de 60 a 90 dias. Deve-se efetuar o semeio ou o transplante das mudas
respeitando este período de reação do calcário no solo. Apesar de muito solos exigirem
altas quantidade de calcário, na agricultura orgânica recomenda-se a aplicação de no
máximo 2t ha-1 de calcário, e o restante deve ser escalonado ano a ano. A grande
quantidade de calcário prejudica o equilíbrio biológico do solo e o estabelecimento de
organismos benéficos.

Nitrogênio(N): em agroecologia a produtividade das culturas que não têm capacidade de


estabelecer simbiose com microrganismos fixadores de nitrogênio atmosférico está
limitada, principalmente pelas baixas taxas de mineralização do nitrogênio orgânico, já
que o fósforo e outros macro e micronutrientes podem ser incorporados na forma de
fertilizantes inorgânicos naturais. Por outro lado, se o ciclo das culturas for curto, como
é o caso da maioria das culturas hortícolas, a dependência da disponibilidade de
nitrogênio mineral na fase de rápido crescimento vegetativo é muito elevada. A
concentração de nitrogênio mineral no solo depende da mineralização da matéria orgânica
estável existente no solo e da mineralização da matéria orgânica que é incorporada na
48
forma de corretivo e fertilizante. A gestão de nitrogênio no solo, de modo a sincronizar a
sua disponibilidade com as exigências de crescimento e desenvolvimento fisiológico das
culturas, é difícil de avaliar, mas é crucial para o sucesso da olericultura agroecológica.

Tabela 2.1: Tolerância de hortaliças a acidez do solo e a faixa de pH


exigida.

Fonte: Adaptado de Mourão (2007).

O nitrogênio é componente de aminoácidos que fazem parte das proteínas dos vegetais e
dos animais, por isso é o nutriente mais demandado pelas hortaliças, depois do potássio.
Adubações usando fertilizantes solúveis e/ou em grandes quantidades podem provocar
contaminação dos alimentos e do ambiente, como nas fontes de água. Desta forma,
recomenda-se basear o cálculo da adubação nos teores de N presente nos resíduos
orgânicos, utilizando-se sempre a matéria seca como base no cálculo. O teor de N do
49
material orgânico deve ser determinado em laboratório ou estimado com base na
literatura, lembrando sempre que, ao contrário dos adubos sintéticos, os adubos orgânicos
não são padronizados, os teores de nutrientes variam com o clima e o manejo da nutrição
animal. O esterco bovino, por exemplo, tem 5% da matéria seca em nitrogênio.

Em geral, a proporção do N presente no adubo orgânico e recuperada pela cultura depende


das características do adubo (relação C/N < 30, disponibiliza mais rapidamente), do
clima, do solo e do ciclo da cultura. Em geral, estima-se que a recuperação média de N
logo após a adubação orgânica situa-se em torno de 30% para ambientes quentes e 20%
para ambientes frios. Deve-se evitar o uso de adubos orgânicos com teores de N abaixo
de 1,0%, no caso de materiais pouco humificados, porque, pode levar à imobilização do
N do solo pelos microrganismos, tornando-o indisponível para as culturas. Os adubos
orgânicos também fornecem os micronutrientes (boro, cloro, cobre, ferro, manganês,
molibdênio, níquel e zinco), que são importantes para o metabolismo das plantas, porque
a carência limita tanto o crescimento quanto a qualidade nutritiva dos vegetais. Outros
produtos que podem ser usados é o esterco de aves, a farinha de peixe e a farinha de
sangue.

Os sintomas de deficiência de nitrogênio na planta são: falta de vigor, crescimento


reduzido, caules estiolados, folhas pequenas e esparsas, clorose das folhas mais velhas
queda prematura de folhas e maturação antecipada de frutos.

Cálcio: é componente da parede celular por meio do pectato de cálcio. É exigido para a
elongação celular e a sua deficiência afeta o crescimento radicular e da parte aérea. Este
nutriente é fundamental na germinação do grão de pólen, no crescimento do tubo polínico
e na fixação biológica de nitrogênio. A baixa concentração de Ca no solo e o excesso de
K, Mg e NH4+ dificultam a sua absorção. A deficiência de cálcio se manifesta por meio
de deformação de folhas novas, morte da gema apical e extremidade das raízes. No
tomate, pimentão e melancia o sintoma aparece primeiramente nos frutos, que apresentam
podridão apical. Além do calcário, o cálcio pode ser fornecido por meio de farinha de
osso, de peixe, pó de conchas e cascas de ovo.

Magnésio: é componente da clorofila e atua como cofator de enzimas fosforilativas,

50
formando ponte entre o pirofosfato do ATP e do ADP com a enzima. Atua na síntese
proteica, estabilizando as partículas dos ribossomos e ativando enzimas do processo. Em
solos com histórico de uso anterior de calcário dolomítico, podem apresentar teor elevado
de magnésio, reduzindo a relação Ca: Mg abaixo de 3 a 4:1. Neste caso o fornecimento
de cálcio deve ser feito por meio de calcário calcítico. Teores elevados de Ca e K
dificultam a absorção do magnésio. O sintoma de deficiência de magnésio se manifesta
como clorose entre as nervuras das folhas mais velhas.

Potássio: esse nutriente é muito importante para a maioria das hortaliças, porque é
principal ativador enzimático de mais de 50 enzimas; constituinte do equilíbrio osmótico,
atua no controle da abertura e fechamento dos estômatos e na eficiência do uso da água
na planta, fotossíntese e transporte de carboidratos. O excesso de cálcio e magnésio reduz
a absorção de potássio. A deficiência deste nutriente causa enrolamento das margens das
folhas, manchas amarelas acastanhadas nas folhas mais velhas, que evoluem para
necroses das bordas e ápice delas. O fornecimento deste nutriente nos sistemas
agroecológicos é feito por meio de cinzas de caldeiras, olarias, padarias e pizzarias, cascas
de café, pós de rochas silicatadas, como granito, com altos teores de potássio, pseudocaule
de banana e estrumes.

Fósforo: os solos tropicais em geral são pobres em fósforo e por sua vez as hortaliças são
exigentes nesse nutriente; o teor ideal no solo é de 60 mg dm-3. Ele faz parte de compostos
orgânicos como frutose-6-fosfato, glicose-6-fosfato, fosfogliceraldeído. O Pi (fósforo
inorgânico) tem no citoplasma função regulatória da atividade de várias enzimas e
compõe a Trifosfato de Adenosina, que transfere energia para os processos endergônicos
das plantas. As plantas com deficiência apresentam crescimento reduzido, coloração
verde escuro sem brilho ou verde amarelada; em algumas espécies pode evoluir para a
tonalidade arroxeada. Assim, deve-se aplicar o fosfato natural na área toda, antes da
calagem. Outro produto permitido é a farinha de osso e a farinha de peixe que são
aplicados diretamente na cova, no canteiro ou no sulco de plantio. A absorção de P
aumenta, também, com o aumento da população de micorrizas no solo. Assim, a
inoculação com micorrizas também é uma estratégia ecológica para suprir as
necessidades de fósforo. Normalmente os propágulos são comercializados na forma de

51
raízes colonizadas por fungos formadores de micorriza arbuscular como o Glomus
intraradices e o G. mosseae, misturados homogeneamente com substratos orgânicos
inertes, que podem ser aplicados em todas as espécies vegetais, à exceção da beterraba e
hortaliças da família Brassicae.

Enxofre: desempenha algumas funções essenciais para as plantas, como por exemplo a
formação dos aminoácidos (cisteína, cistina, metionina, taurina) e, desta forma, está
presente em todas as proteínas vegetais. Participa também nos processos metabólicos da
fotossíntese, por estar em coenzimas como a ferredoxina e na fixação biológica do
nitrogênio. Além das funções nutricionais, podem-se citar também as fungistáticas,
acaricidas e inseticidas do enxofre. Os sintomas de deficiência são: clorose nas folhas
novas, deficiência de coloração, folhas pequenas, enrolamento das margens das folhas,
internódios curtos, redução de florescimento e menor nodulação em leguminosas. Essas
manifestações levam, consequentemente, a possíveis quedas de produtividade.

Micronutrientes (Boro, Cloro, Cobre, Ferro, Manganês, Molibdênio, Níquel e Zinco):


são fundamentais no desenvolvimento das plantas, agindo como constituintes das paredes
celulares (B) e das membranas celulares (B, Zn), de enzimas (Fe, Mn, Cu, Ni), como
ativadores de enzimas (Mn, Zn) e na fotossíntese (Fe, Cu, Mn, Cl). Deve-se prever a
eventualidade de deficiência e proceder a sua aplicação preventivamente para obter os
resultados desejados. Os materiais recomendados para fornecer micronutrientes são os
estercos, compostos orgânicos, pó de basalto e biofertilizante.

Adubo orgânico: a matéria orgânica é aplicada em pré-plantio e em pós-plantio, de


maneira suplementar em cobertura, de acordo com necessidade nutricional de cada
cultura. Neste livro-texto, a necessidade de nutrientes das hortaliças foi avaliada de
acordo com o Manual de Adubação e Calagem para o Estado de São Paulo (Boletim 200)
do Instituto Agronômico de Campinas, cabendo ao Agrônomo, de acordo com os insumos
orgânicos disponíveis na região e permitidos pela legislação orgânica em vigor, a
recomendação. Atualmente, são permitidos compostos, estercos animais compostados,
bokashi (atentar para origem dos farelos utilizados), biofertilizantes, entre outros,
constantes do Anexo III da IN 17/2014 (Ministério da Agricultura), em vigor.

52
Composto orgânico: é a matéria orgânica originada de diversos materiais orgânicos
(vegetal e/ou animal) decompostos em meio aeróbico. Esta matéria orgânica é composta
de todos minerais essenciais para a nutrição das plantas, húmus, microrganismos e os
produtos do seu metabolismo, como fitohormônios. O húmus atua como condicionador e
melhorador das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, favorecendo a
estruturação, a infiltração e a retenção de água em 20 a 40%; o aumento da capacidade de
troca de cátions e consequente retenção de nutrientes nas proximidades das raízes das
plantas; estimula a ação de fungos micorrizicos (absorção de fósforo), bactérias fixadoras
de nitrogênio e de microrganismos que se associam às raízes (rizogênicos) e protegem as
plantas de patógenos do solo.

A utilização de compostos, estercos curtidos, bokashi, dentre outras fontes dos insumos
orgânicos, é importantes na produção de hortaliças. De acordo com a legislação, devem-
se utilizar na compostagem os estercos de criações orgânicas. Porém, na ausência desses
resíduos na região, o insumo de criadores convencionais deverá ser compostado, seja de
gado ou de aves, puro ou misturado com serragem ou capins usado como cama em
estábulos ou aviários. De maneira geral, para a maioria das olerícolas o teor de matéria
orgânica do solo deve ser superior a 20 g.dm-3. Em solos com baixo teor de matéria
orgânica devem-se incorporar adubos verdes ao composto orgânico.

O composto pode ser produzido com o material disponível na região, tais como resíduos
vegetais ricos em carbono (galhos, folhas, serragem, capim e outros) e resíduos animais,
ricos em nitrogênio (esterco bovino, de aves e de outros animais, cama de aviário de
matrizes, dentre outros). Quando só se dispõe de materiais pobres em N, como cascas de
pinus, árvores velhas e capins, estes materiais devem ser dispostos em camadas alternadas
com resíduos de leguminosas. Desta forma, a escolha da matéria-prima é importante para
maior eficiência da compostagem. A relação Carbono/Nitrogênio (C/N) inicial ótima (de
25-35:1) pode ser atingida por meio do uso de 75% de restos vegetais variados e 25% de
esterco. Esses resíduos, vegetais e animais, são dispostos em camadas alternadas
formando uma leira ou monte de dimensões e formatos variados.

O formato mais usual é o de seção triangular e a largura é comandada pela altura da leira,
a qual deve situar-se entre 1,5 a 1,8 m. À medida que a pilha vai sendo formada, cada
53
camada de material vai sendo umedecida com água tomando-se o cuidado para que não
haja escorrimento. A pilha deve ser revirada (parte de cima para baixo e parte de dentro
para fora) aos 15, 30 e 45 dias. No momento das reviradas, o material deve ser umedecido
para ficar com umidade em torno de 50 a 60%. Na prática, esse teor de umidade é atingido
quando, ao se pressionar o material dentro da mão, sente-se que ele está úmido, mas não
escorre água entre os dedos; e, ao ser comprimido, forma um torrão que não se desmancha
com facilidade.

Para manter a umidade ideal, a pilha deve ser coberta com palhas, folhas de bananeira ou
lona plástica. O local deve ser protegido do sol e da chuva (área coberta ou à sombra de
uma árvore). Para ilustrar cita-se o composto produzido na Unidade de Produção de
Hortaliças Orgânicas da Embrapa Hortaliças (SOUZA; ALCÂNTARA, 2008):

• 15 carrinhos de mão de capim braquiária roçado;

• 30 carrinhos de capim Napier;

• 20 carrinhos de cama de matriz de aviário;

• 13 kg de termofosfato.

O composto pode ser enriquecido com calcário (25 a 50 kg t-1), torta de mamona,
torta de algodão, cascas de café, cinzas, entre outros materiais disponíveis na região. O
enriquecimento do composto deve ser realizado de acordo com as exigências da cultura
e a necessidade do solo. Geralmente, o enriquecimento com fósforo só é recomendado
nos primeiros dois ou três anos de produção, entretanto sua continuidade por maior tempo
vai depender da disponibilidade de P do solo.

As camadas são alternadas na seguinte ordem: capim braquiária, capim Napier, cama de
matriz e termofosfato, montando uma meda com 1m largura, 10m de comprimento e 1,5m
de altura, para obtenção de 2.500 kg de composto orgânico após cerca de 90 dias.

O composto estará pronto para o uso quando apresentar as seguintes características:


temperatura inferior a 35oC; volume de 1/3 do volume inicial; material orgânico não
identificável; facilmente moldado com as mãos e cheiro de terra mofada.
54
Bokashi Aeróbico: o preparo do fertilizante orgânico bokashi aeróbico para hortaliças
de frutos, desenvolvido na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento em Agricultura
Ecológica de São Roque da APTA/SAA, é preparado da seguinte forma:

Ingredientes - terra de barranco ou subsolo (125 litros), farelo de mamona (40 kg), farelo
de arroz, trigo ou fécula de mandioca (12 kg), farinha de osso (20 kg), farinha de peixe
(10 kg), cinza de lenha (12 kg), carvão vegetal moído (6 kg), inoculante obtido de material
vegetal humificado ou EM (25 kg ou 25 litros), farinha de mandioca ou milho não
transgênico (0,5 kg), melaço ou açúcar mascavo (1,0 litro ou 10 kg) e água não clorada.

Preparo: esquentar metade da água, 8 litros, para o preparo do mingau; quando estiver
fervendo, colocar 0,5 kg de farinha de mandioca ou milho e deixar cozinhar por alguns
minutos. Retire a vasilha do fogo e deixe esfriar; enquanto esfria, misture os demais
ingredientes no chão em um local coberto, depois esparrame o monte; quando o mingau
estiver frio coloque o melaço ou açúcar mexendo bem e adicione o restante da água,
colocando aos poucos o mingau no monte, esparramando e misturando; finalmente
peneira a mistura para quebrar bolotas de umidade; amontoe novamente e não deixe a
temperatura ultrapassar 60 a 65oC. Em uma semana o Bokashi aeróbico estará pronto para
uso.

Biofertilizante: na literatura o termo biofertilizante está relacionado à atuação de


microrganismos em benéfico das plantas no sentido de nutri-las e protegê-las,
minimizando o uso de insumos artificiais. Santos e Akiba (1996) citam que, Segundo
Decreto n°. 86.955, de 18 de fevereiro de 1982, do Ministério da Agricultura,
biofertilizantes são produtos que contêm microrganismos como princípio ativo ou como
agente capaz de atuar direta ou indiretamente, sobre as plantas cultivadas, elevando a sua
produtividade. No meio agronômico, o termo biofertilizante frequentemente se refere ao
efluente, resultante da decomposição aeróbia ou anaeróbia de produtos orgânicos puros
ou complementados com minerais (SANTOS; AKIBA, 1996), o qual será enfocado neste
tópico.

O biofertilizante pode ser usado na agricultura para vários fins. No solo, segundo Oliveira
et al. (1986), promove melhoria nas propriedades físicas tornando os solos mais soltos,

55
com menor densidade aparente e estimula as atividades biológicas. Geralmente reduz a
acidez do solo com a utilização continuada ao longo do tempo, e o enriquece
quimicamente. Esta ação se deve à capacidade do biofertilizante de reter bases, pela
formação de complexos orgânicos e pelo desenvolvimento de cargas de cargas negativas
(DESCAI; SUBBIAH, 1951; BLACK, 1975 citado por OLIVEIRA, 1986). Aumentos
nos teores de P, Ca, Mg, e K no solo foram observados por Oliveira (1986) e por Vargas
(1990), que consideram o biofertilizante uma imensa fonte de nitrogênio. Na sua
composição foi detectada, ainda, uma concentração considerável de micronutrientes
como de boro, de cobre, de cloro, de ferro, de molibdênio, de manganês, e de zinco
(OLIVEIRA; ESTRELA, 1984).

Em feijoeiro, Gialbiatti et al. (1996) observaram que a aplicação de adubação mineral e


de biofertilizante, 40m3/ha, quinze dias antes do plantio, resultaram em maior
desenvolvimento do feijoeiro. Este resultado, segundo os autores, se deveu à melhoria
das condições físicas do solo, da capacidade de troca catiônica, e da disponibilidade de
nutrientes.

Existem várias receitas de biofertilizante. Abaixo apresenta-se o biofertilizante produzido


pela PESAGRO/RIO:

Biofertilizante Agrobio (PESAGRO-RIO)

Ingredientes para a primeira semana (para produzir 500 litros do Agrobio):

• 200 litros de água

• 150 litros de esterco fresco bovino

• 30 litros de leite de vaca

• 9 kg de melaço

Preparo: os ingredientes devem ser bem misturados e deixados fermentar por uma
semana. A este caldo nutritivo, nas seis semanas subsequentes, são acrescentados,
semanalmente, os seguintes produtos, previamente dissolvidos em água:

56
• 250 g de bórax ou ácido bórico

• 700 g de cinza de lenha

• 1100 g de cloreto de cálcio

• 15 g cloreto de ferro

• 150 g de farinha de ossos

• 200 g de termofosfato magnesiano

• 1 kg de melaço

• 10 g de molibdato de sódio

• 10 g de sulfato de cobalto

• 15 g de sulfato de cobre

• 30 g de sulfato de manganês

• 50 g de sulfato de magnésio

• 20 g de sulfato de zinco

• 450 g de torta de mamona

• 500 ml de urina de vaca

A calda deve ser bem misturada, duas vezes por dia, e na oitava semana deve descansar
por sete dias. Na sequência, o volume deve ser completado para 500 litros e coado. São
indispensáveis para produção do Agrobio em maior escala os seguintes materiais: caixa
d’água de plástico com tampa e capacidade de 500 litros; bancada de concreto ou madeira;
conexões de duas polegadas; pá; baldes; tela e peneira para coar.

Este biofertilizante é usado na produção de mudas na concentração de 3% (30 mililitros


do Agrobio para um litro de água), em pulverizações foliares. Após o transplante das

57
mudas deve-se efetuar pulverizações foliares a cada 15 dias, na concentração de 6% (60
mililitros do Agrobio para um litro de água).

Microrganismos Eficazes: os microrganismos eficazes são regenerativos, produzem


substâncias orgânicas úteis às plantas, e via metabolismo secundário podem produzir
hormônios e vitaminas. Estes microrganismos existem naturalmente em solo saudável.
Eles são:

Leveduras (Sacharomyces): utilizam substâncias liberadas pelas raízes das


plantas, sintetizam vitaminas e ativam outros microrganismos eficazes do solo.
As substâncias bioativas, tais como hormônios e enzimas produzidas pelas
leveduras, provocam atividade celular até nas raízes.

Actinomicetos: controlam fungos e bactérias patogênicas e também aumentam a


resistência das plantas.

Bactérias produtoras de ácido lático (Lactobacillus e Pediococcus): produzem


ácido lático que controla alguns microrganismos nocivos como o Fusarium. Pela
fermentação da matéria orgânica não curtida liberam nutrientes às plantas.

Bactérias fotossintéticas: utilizam a energia solar em forma de luz e calor.


Também utilizam substâncias excretadas pelas raízes das plantas na síntese de
vitaminas e nutrientes, aminoácidos, ácidos nucleicos, substâncias bioativas e
açúcares, que favorecem o crescimento das plantas. Aumentam as populações de
outros microrganismos eficazes, como os fixadores de nitrogênio, os
actinomicetes e os fungos micorrízicos.

Estes microrganismos podem ser capturados e usados na agricultura. Para isso, utilizam-
se 700 gramas de arroz sem sal em água sem cloro. Coloca-se o arroz cozido em bandeja
de plástico ou de madeira ou ainda em calhas de bambu. Cobre-se com tela fina visando
proteger e leva-se para a mata. No local onde se vai deixar a bandeja, afasta-se a
serapilheira e coloca-se a bandeja, no solo. Após 10 a 15 dias os microrganismos já
estarão capturados e criados. Nas partes do arroz que ficarem com a coloração rosada,
azulada, amarelada e/ou alaranjada estarão os microrganismos eficientes (regeneradores).
58
As partes com coloração cinza, marrom e preto devem ser descartadas na própria mata.

Distribui-se o arroz em mais ou menos cinco garrafas de plástico de 2 litros; colocam-se


200 mL de melaço em cada garrafa e completa com água limpa (sem cloro). Fecham-se
as garrafas e deixa-se à sombra por 10 a 20 dias. Libera-se o gás (abrir a tampa)
armazenado nas garrafas, de 2 em 2 dias. (Coloque a tampa e aperte a garrafa pelos lados
retirando o ar que ficou dentro da garrafa, pois a fermentação deve ser anaeróbica, ou
seja, sem ar, sem presença do oxigênio). Depois se aperta bem a tampa. O EM estará
pronto no momento em que não produzir mais gás. O EM tem coloração alaranjada mais
clara ou mais escura, o que depende da matéria-prima, porém não altera a qualidade do
produto. O cheiro é doce e agradável. No caso de apresentar mau cheiro, o EM não deve
ser usado. Pode ser armazenado por até 1 ano.

Aplicação no solo: para aplicar no solo, dissolve-se 1 litro do EM em 1000 litros de água
e esta solução é pulverizada no solo já coberto com palhada ou misturado com composto
ou esterco bovino. Na recuperação de solos degradados usa-se 100 a 200 L por hectare,
realizando 4 a 8 aplicações anuais. A sugestão de dosagem e frequência de uso é a
seguinte:

• 1º ano ‒ 200 L por ha / 8 aplicações por ano

• 2º ano ‒ 150 L por ha / 6 aplicações por ano

• 3º ano em diante ‒ 100 L por ha / 4 aplicações por ano.

Pulverização em plantas: para pulverização em plantas utiliza-se a mesma diluição para


o solo (1litro EM para 1000 litros de água sem cloro), depois adicionar 500 ml de vinagre
em 100 litros desta solução. Pulverizar as plantas no período da manhã ou após a chuva.

2.2 Preparo do Solo

O preparo do solo para plantio da hortaliça inicia após os cálculos de calagem e adubação
59
feitos pelo Agrônomo, com base na análise do solo e nas exigências da cultura. O preparo
do solo pode ser dividido em várias etapas e depende do tipo de solo, da disponibilidade
de máquinas e do sistema de plantio. Comumente, as etapas são:

Solo com muita vegetação: dependendo da quantidade de vegetação, deve-se usar a


roçadeira e depois incorporar a vegetação ao solo com grade. Se a quantidade de
vegetação é pequena basta o uso da grade para incorporá-lo e para estimular a germinação
das sementes de plantas espontâneas, que deste modo evitam a lixiviação de nitrogênio.
Para o início de uma nova cultura, normalmente é suficiente usar a grade de discos,
seguida de outra gradagem ou de enxada rotativa (destorroamento) superficial para
preparar destorroar o terreno. No entanto, se a enxada rotativa ou o encanteirador forem
usados em solo molhado, provoca grande compactação muito perto da superfície,
reduzindo a infiltração da água e o aprofundamento das raízes das culturas. Se a vegetação
espontânea for um problema importante, pode-se fazer nova gradagem superficial após a
germinação das infestantes, que ocorre alguns dias depois da preparação do solo. Outra
opção é realizar uma roçagem e o enleiramento dos restos vegetais, mas desta forma o
aproveitamento delas, como fonte de matéria orgânica para o solo, fica deficiente. Assim,
ele deve ser compostado para depois ser devolvido ao solo. O excesso de restos culturais
ou de plantas voluntárias diminui a eficiência dos equipamentos utilizados no preparo do
solo, resultando na necessidade de fazer repetidas operações, aumentando o risco de
compactação do solo e elevando o custo. Se houver compactação, deve-se fazer a quebra
desta camada compactada com escarificador de braço rígido, que atinge a profundidade
de 20-25 cm ou com o subsolador, que atinge profundidades de até 60 cm. Depois
distribuir o fosfato natural e o calcário com PRNT 70% e passar a grade. O solo deve
estar ligeiramente úmido para não ser excessivamente pulverizado.

Para complementar o calcário aplicado em superfície, podem ser usadas quantidades


significativamente menores de calcário (300 a 800 kg), aplicado na linha de plantio, no
sulco, na cova, no canteiro ou na leira, desde que o mesmo apresente uma granulometria
menor (calcário ‘filler’). Esta técnica tem proporcionado um maior acréscimo na
produtividade, sem promover grande impacto nos microrganismos do solo. Deve ser
lembrado que este calcário tem que ser finamente moído, com um PRNT mínimo de 90%.

60
Para solos arenosos e pobres em matéria orgânica plantam-se leguminosas ou gramíneas
para adubo verde (Tabela 2.3). As leguminosas são recomendadas em caso de solos mais
argilosos, porque o sistema radicular profundo ajuda a melhorar a permeabilidade do solo.
Estas plantas devem ser semeadas após a calagem e a escolha deve estar relacionada a
sua adaptação, ao local de plantio (clima, qualidade de solo), à produção de biomassa e
facilidade de manejo. Quando florescer, 120 a 150 dias, as plantas podem ser roçadas e
deixadas em cobertura morta ou incorporadas ao solo (acelera a decomposição).

O Instituto Biodinâmico recomenda misturar várias plantas. Por exemplo, para semear 01
hectare na primavera / verão usam-se 20 kg de sementes de milho, 10 kg de mucuna preta,
10 kg de feijão de porco, 10 kg de labe labe, 10 kg de guandu, 10 kg de girassol, 5 kg de
Crotalaria juncea, 5 kg de mamona, 5 kg de feijão catador, 4 kg de painço, 4 kg de
leucena; 4 kg de calopogonio, 5 kg de soja, 4 kg de sorgo, 2 kg de milheto, 0,5 kg de
abóbora; 2 kg de nabo e outras. A mistura pode variar conforme a disponibilidade e o
preço da semente na região. Se for possível encontrar, recomenda-se misturar alguns
inoculantes específicos para leguminosas e 5 kg de fosfato natural com Araxá ou Yoorin
e água suficiente para a mistura aderir às sementes. Esta peletização é feita misturando as
sementes umedecidas nos fosfatos e deixando secar por algumas horas à sombra. A
produção de massa verde será de 50 a 70 toneladas.

No outono/inverno em áreas com disponibilidade de irrigação ou que tenham precipitação


nestas estações, pode-se semear uma mistura mais adaptada ao frio, a de dias mais curtos,
como por exemplo: nabo 2 a 4 kg; cereais do inverno como aveia, centeio, cevada, trigo,
triticale, trigo morisco, totalizando mais ou menos 60 kg; milho 20 kg; girassol 4 kg; soja
15 kg; sorgo 5 kg; milheto 2 kg; abóbora e sobras de sementes de verduras 3 kg. No sul
pode se pensar em trevo, tremoso, alfafa, mostarda e outras.

As características ecofisiológicas das espécies para adubo verde devem ser observadas.
Deve-se levar em consideração a temperatura, a adaptação à fertilidade do solo e
resistência à seca, ou seja, a rusticidade da planta é importante no manejo do adubo verde.
Quanto à exigência em fertilidade e tolerância a alumínio, Pinto e Crestana (1998)
agrupam as diferentes espécies de leguminosas em três grupos: 1°- muito rústicas: capim
Brachiaria, estilosantes, feijão de porco, guandu, mucuna cinza e Mucuna preta; 2°-
61
rústicas: calopogônio, Crotalaria juncea, milheto, milho variedade, nabo forrageiro, soja
e tremoço; e 3°- exigentes: centrosema, girassol, labe-labe, milho híbrido e soja perene.

Se o plantio for feito em canteiro usa-se um implemento denominado de moto


encanteirador para levantá-lo. Os canteiros são usados em hortas diversificadas para
cultivo de herbáceas de espaçamento pequeno entre plantas (0,5 a 0,30m) e entre linha de
plantas (0,15 a 0,35m) (alface, rúcula, agrião, espinafre, salsinha, cebolinha e outros).

Tabela 2.2: Leguminosas usadas como adubo verde e suas características.

Adubo Verde Matéria seca N P2O5 K2O Fonte


t/hectare kg/há
Amendoim forrag. 36 1.080 72,9 242 Espindola (2001)
C. juncea 12 a 18 360-540 30-45 168-252 Vitti e Silva(1995)
C.juncea 13 183,4 39,2 204 Silva (2002)
Cudzu 31 884 65,1 324 Espindola (2001)
Estilosantes 19,3 354,3 28,2 189 Espindola (2001)
Feijão de porco 3,0-6,0 114-228 6 a 12 6 a 12 Vitti e Silva(1995)
Feijão de porco 6,05 169,4 30,6 137,9 Silva (2002)
Guandu 4,5- 9,0 112-225 9 a 18 49-99 Vitti e Silva(1995)
Guandu 6,84 143,6 29,9 131,3 Silva (2002)
Labe-Labe 3,0-6,0 81-162 7 a 14 42-84 Vitti e Silva(1995)
Labe-Labe 3,21 67,4 19,2 69,3 Silva (2002)
Nabo forrageiro 3,0 -5,0 11 28 151 Vitti e Silva(1995)
Mucuna Preta 3,56 85,6 18,8 72,6 Silva (2002)
Mucuma anã 3,5 91 15,3 54,6 Silva (2002)
Siratro 27 773 53,9 274 Espindola (2001)

Fonte: elaborado pelos autores.

Para manutenção manual recomendam-se canteiros de 1 a 1,20m de largura, 15 a 20cm


de altura e comprimento variando de 10 a 15m, com caminhos entre eles, na largura de
0,3 a 0,5m, para trânsito de trabalhadores, sem pisotear o canteiro. Os canteiros para
cultivo mecanizado de cenoura têm dimensões que variam de 0,80 m a 1,40 m de largura,
15 a 30 cm de altura dependendo do equipamento utilizado, e devem estar distanciados
uns dos outros em aproximadamente 30 cm. Os canteiros mais altos são necessários em
solos mais argilosos e em períodos chuvosos, para não acumular água na região da raiz.

Se o plantio da hortaliça for feito em leiras ou camalhões pode-se usar o implemento


62
denominado enleirador, usado para o cultivo de batata doce, mandioca, mandioquinha
salsa. Na impossibilidade de usar um enleirador, podem-se levantar as leiras com sulcador
de cana ou enxada.

Para hortaliças com espaçamento mais amplo, como couve, repolho, brócolis, abóbora,
melancia, pimentão, usam-se sulco ou covas. As covas são marcadas com estacas de
acordo com o espaçamento e depois são abertas com 20 a 40 cm de diâmetro por 30 cm
de profundidade.

Adubação de Plantio

É a adubação realizada durante semeio (mecanizado), ou antes do transplante da muda de


hortaliça. Após dois a três meses de realizada a calagem chega o momento de fazer a
adubação de plantio. Esta adubação consiste em adicionar fontes de nutrientes no
canteiro, sulco, na leira ou na cova antes do plantio da muda ou durante o semeio, por
meio de plantadora adubadora. Recomenda-se uso de matéria orgânica (esterco bovino,
composto orgânico). O uso eficiente de fertilizantes exige uma diagnose correta de
possíveis problemas de fertilidade do solo e da nutrição da planta, com base na análise do
solo e nas exigências da hortaliça. Isoladamente, a análise de solo não é um instrumento
eficaz para a definição de doses e épocas de aplicação de fertilizantes nitrogenados. Nesse
aspecto, a experiência local deve ser a base do manejo e para isso é preciso contar com a
assistência de um agrônomo experiente.

Na adubação de plantio os adubos orgânicos são distribuídos sobre o canteiro, no solo


retirado do sulco e da cova, misturada com o solo e, no caso do sulco e da cova, a terra
adubada é devolvida para dentro do sulco ou da cova. Nas situações em que é importante
a retenção de água, ou quando a prática de amontoa é necessária, utiliza-se a plantação
em sulcos, como é o caso da batateira, do tomateiro, funcho e aipo. Feito isso, se faz o
semeio ou o transplante das mudas seguindo o espaçamento adotado.

Espaçamento, Semeio (semeadura) e Transplante (transplantio): no plantio, o


espaçamento entre linhas e entre plantas, na linha, é idêntico ao espaçamento
recomendado para as culturas no sistema de produção convencional. No cultivo
agroecológico é necessário ficar atento para o arejamento das culturas, indispensável para
63
a prevenção de doenças. Além da distância entre plantas, o arejamento também pode ser
melhorado por meio da orientação das linhas de plantas paralelas à direção predominante
do vento (brisa). É importante lembrar que vento intenso causa mais danos do que
benefício. As hortaliças plantadas por meio de semeio direto como feijão vagem, abóbora,
melancia, caso de sementes grandes, utilizam-se de 2 a 3 sementes por covinha e são
cobertas com 3 a 4 cm de solo. Se germinarem todas as sementes, faz-se o desbaste
deixando apenas uma planta por covinha. As sementes de cenoura e cebola são pequenas
e são semeadas em sulcos rasos (1,5 a 2 cm) sobre canteiro, usando maior quantidade de
semente para posterior desbaste de plantas, para manter o espaçamento entre plantas,
recomendado para a cultura. O semeio mecanizado (semeadora a vácuo) dispensa
desbaste de plantas após a germinação.

As mudas atingem o ponto de transplante quanto estiverem com quatro folhas definitivas.
No canteiro, na cova ou no sulco com o solo seco ou levemente úmido, abre-se uma
minicova e coloca-se o torrão da muda, em seguida pressiona-se o solo no entorno do
torrão. Mudas de caule mais lenhoso, como berinjela, jiló, pimentão e pimenta, não devem
ter o caule enterrado. Isso provocará morte precoce da planta. Após o plantio distribui-se
uma camada de 3 cm de cobertura morta no entorno das mudas e nas áreas descobertas
do canteiro. Pode-se usar casca de arroz, grama, serragem e outros materiais disponíveis.
Esta cobertura morta não deve cobrir o caule das mudas.

Adubação em cobertura: é a adubação feita após o plantio das hortaliças; nesta


adubação complementa-se a adubação feita no plantio, especialmente para suprir
nitrogênio, se necessário. Para isso, usa-se o mesmo composto utilizado na adubação do
canteiro ou esterco de aves.

Irrigação: as hortaliças são exigentes em água, mas não toleram encharcamento do solo
e a umidade nas folhas, por um período prolongado, favorece a ocorrência de doenças nas
folhas, no sistema radicular e colo. Assim, a melhor opção de sistema de irrigação é o
gotejamento ou a microaspersão, que molha apenas o solo em torno da planta.

O sistema de gotejamento não contribui para uma boa distribuição das raízes no solo, mas
auxilia na prevenção de doenças, porque mantém a folhagem seca e não dissemina

64
patógenos no cultivo. Todavia, este sistema de irrigação é mais caro e exige filtros para
evitar o entupimento das mangueiras.

O sistema por aspersão deve ser bem controlado, visando a molhar o solo na sua
capacidade de campo. A irrigação por aspersão deve ser feita pela manhã para que as
folhas fiquem secas durante o dia. Nos períodos muito quentes, a irrigação deve ser ligada
por poucos segundos, apenas para refrescar o ambiente. No período da tarde, a irrigação
deve ser feita em horário que permita a evaporação da água das folhas antes do período
noturno, porque quando a temperatura noturna diminui o molhamento favorece a
germinação de esporos de fungos (causadores de míldio, requeima e mofo cinzento).

O período de maior exigência em água por cada cultura varia. Alface e chicória são mais
exigentes no estabelecimento inicial das culturas. A melancia é mais exigente em todo o
ciclo e até 10-14 dias antes da colheita; brócolis, couve flor, no estabelecimento da muda
e no crescimento inflorescência; berinjela e pimentão na floração e no vingamento dos
frutos; as abóboras, de duas a quatro semanas após a emergência, floração, vingamento e
crescimento dos frutos; a cenoura, da emergência até ao estabelecimento da cultura; a
cebola e o alho, no estabelecimento da cultura (geminação), durante a formação do bulbo
até ao início da maturação; a beterraba, do estabelecimento da cultura até o início do
crescimento.

Dica de Leitura

Guia Prático para Uso do Irrigas® na Produção de Hortaliças. Disponível em:


https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/guia_irrigas_000gul1eg9u02wx7ha0g934vgtv py9xo
Acesso em 30 jun. 2006.
O equipamento Irrigas permite controle eficiente da irrigação, evitando desperdício.

Seleção de sistemas de irrigação para hortaliças. Disponível em:

http://www.cnph.embrapa.br/paginas/bbeletronica/2011/ct/ct_98.pdf. Acesso em
30 jun. 2016.

Este Boletim técnico descreve todos os métodos de irrigação e como eles podem
ser usados nas hortaliças de forma eficiente.

65
2.3 Sintese da Unidade

Nesta Unidade tratou-se dos nutrientes, adubos e adubações utilizados nas hortaliças,
citando exemplos de preparo de compostos, biofertilizentes. Abordou-se também o
preparo do solo citando as intervenções mecânicas e a aplicação de corretivos e
compostos após o tranplante das mudas ou do semeio das hortaliças, e o cuidado com a
irrigação.

2.4 Atividades

Apresente um estudo de caso sobrea Transição Agroecológica na produção de hortaliça.


Procure no Google ou entreviste um agricultor orgânico.

66
Unidade 3

Unidade 2 . Recomendações técnicas para as


principais famílias de Olerícolas

As principais recomendações técnicas para as diferentes hortaliças são apresentadas por


famílias botânicas. Nesta Unidade, são apresentadas as principais informações para
cultivo.

3.1 Características das Hortaliças da Principais Famílias

Família Aliaceae ou Amaryllidaceae (Sistema APG III)

Cebolinha (Allium fistulosum e A. schoenoprasum): são plantas condimentares


semelhantes à cebola, porém não desenvolvem o bulbo. Geralmente, são consumidas as
folhas como tempero juntamente com a salsinha. As cebolinhas são excelentes para se
consorciar com outras hortaliças, como a alface e a couve. Época de plantio: adapta-se à
ampla faixa de temperaturas amenas podendo ser plantada o ano todo em regiões altas e
em locais mais baixos, de fevereiro a julho. Semeadura: pode ser realizada em sementeira
de solo ou em bandejas, com posterior transplante em canteiros. Na produção da mudas
usam-se de cinco a seis sementes por célula da bandeja. Espaçamento: 0,25 m x 0,15 m.
Adubação: de acordo com análise de solo, 40 kg ha-1 de N, 120 a 360 kg ha-1 de P2O5, 80
a 160 kg ha-1 de K2O. Em cobertura a cada corte 40 kg ha-1 de N. Colheita: cerca de 60 a
80 dias após semeadura, quando atinge 35 cm; à medida que se colhe, rebrota, efetuando-
se diversas colheitas, com o corte feito entre 10 e 15 cm do nível do solo. Produtividade
esperada: 18.00 a 24.000 maços ha-1.

67
Família Apiaceae (Umbeliferae)

Salsa (Petroselinum crispum) - originária da Europa, agrupada de acordo com tipo de


folha em lisa, crespa e muito crespa; é um condimento rico em vitamina C. A época de
plantio ocorre com temperaturas amenas, semeadas o ano todo em regiões altas e em
locais mais quentes, no outono-inverno. No cultivo em consórcio, beneficia-se da meia
sombra do tomateiro ou do pepino estaqueado; adapta-se com o rabanete ou rúcula, que
possuem ciclo curto. O plantio pode ser feito com mudas ou por semeio direto nos
canteiros em sulcos transversais, distanciados 25 cm; deve receber desbaste quando com
duas folhas definitivas, deixando-se 10 a 15 cm entre plantas. A produção de mudas gasta
menos semente e evita o desbaste. Para isso usam-se cinco sementes por célula da bandeja
ou por copinho de jornal e não faz desbaste. A germinação é lenta, de 12 a 20 dias,
dependendo da temperatura do solo. A adubação consiste de 10 kg N ha-1, 90 a 180 kg
ha-1 de P2O5 e 30 a 90 kg ha-1 de K2O, no plantio, de acordo com análise do solo; em
cobertura à medida que forem sendo realizados os cortes, adicionar 40 kg ha-1 de N. A
colheita inicia-se entre 50 a 70 dias após o semeio, com cortes a cada 30 dias; cortam-se
as folhas mais desenvolvidas a partir de 10 cm do nível do solo. Em seguida aduba-se
com composto para obter uma segunda colheita. Produtividade: entre 7.000 a 8.000
maços ha-1.

Cenoura (Daucus carota) - originária da região onde hoje se localiza o Afeganistão.


Hortaliça anual cuja parte comestível é a raiz tuberosa pivotante, que têm várias cores; no
Brasil a preferência se dá por raízes de coloração alaranjada. Possui elevado teor de
betacaroteno, precursor da vitamina A. Como é uma hortaliça tuberosa, necessita de solo
com textura leve para que as raízes não fiquem tortas. O crescimento inicial da raiz é em
comprimento, até os 40-50 dias e depois em diâmetro. Se as raízes, durante a seu
crescimento em comprimento, encontrarem algum torrão, dividem-se ou ficam tortas.
Pode se consorciar com a alface, rúcula e chicória. A época de plantio varia com a cultivar
e o local, no inverno, primavera e verão. A semeadura é direta no canteiro (não tolera o
transplante), na profundidade de no máximo 2cm e espaçados a cada 20 cm no sentido da
largura do canteiro. Em consórcio, deve ser semeada a cada 25 a 30 cm. Desbastar aos
20 dias após germinação e depois de 15 dias realizar um novo desbaste deixando 5 cm

68
entre plantas. A adubação consiste de 20 kg ha-1 de N, 180 a 360 kg ha-1 P2O5 e 60 a 80
kg ha-1 K2O de acordo com análise do solo; aplicar em cobertura 20 kg ha-1 N 30 e 60
dias após o plantio. Como tratos culturais, além do desbaste, deve-se adicionar cobertura
morta para diminuir a mão de obra com capinas, que eventualmente causam danos às
cenouras em formação. A colheita se dá entre 3 a 4 meses após a semeadura. A
produtividade oscila de 20 a 40 t ha-1. Em geral não há problemas fitossanitários quando
se emprega as cultivares corretas; na época mais quente pode ocorrer a “queima das
folhas” causada pelos fungos (Alternaria dauci e Cercospora carotae). Para prevenir,
deve-se pulverizar calda bordalesa a 1%.

Família Asteraceae

Alface (Lactuca sativa) - originou-se na Europa e Ásia Ocidental; hortaliça herbácea


produtora de folhas em rosetas em volta do caule; sendo lisas, crespas, formando ou não
cabeça, com coloração verdes e roxas. Consorciam-se nos canteiros com outras espécies
de ciclo mais longo, tais como cenoura, beterraba, brócolis e couve flor. A época de
plantio estende-se o ano todo em altitude elevada e em locais mais quentes; os cultivos
são feitos no inverno ou o ano todo utilizando cultivares de verão. O cultivo no verão é
difícil, porque em temperatura de 20ºC a alface tende a pendoar (florescer) e quando isso
ocorre as folhas ficam mais duras e amargas. Este efeito da temperatura é mais
pronunciado em cultivares não tropicalizadas. A semeadura é feita em bandejas de
poliestireno de 200 células com substrato orgânico, utilizando três sementes por células.
Após a germinação faz-se o desbaste cortando as mudas com a unha e deixando apenas
uma muda por célula. O transplante é feito 20 a 30 dias após semeadura. A adubação
consiste de 90 kg ha-1 de N parcelado em três vezes (plantio e cobertura); 200 a 400 kg
ha-1 de P2O5; 50 a 150 kg ha-1 de K2O, de acordo com a análise do solo. Dentre os tratos
culturais, a irrigação deve ser diária, podendo ser reduzida com a cobertura morta do solo,
que o mantém úmido por mais tempo. O espaçamento entre plantas varia de 0,20 a 0,30
m em canteiros. A colheita vai de 30 a 40 dias após o transplante. A produtividade média
é de 100.000 a 120.000 plantas ha-1. Dentre os principais problemas fitossanitários, o
pulgão é favorecido pelo excesso de N, devendo diminuir a adubação de cobertura e usar
iscas com faixa adesiva na cor amarela e/ou pulverização de cinza e cal na concentração

69
de 2% (20g litro de água-1) na fase inicial da infestação; a principal doença foliar é a
septoriose (Septoria lactuae), devendo diminuir a irrigação e usar a calda bordalesa;
previnem-se os fungos de solo que queimam a saia (Rhizoctonia solani) e causam a
podridão basal (Sclerotinia sclerotiorum) adicionando Trichoderma ao substrato na
produção das mudas, diminuindo a irrigação e rotacionando culturas.

Chicória (Chichorium endivia) - é semelhante à alface, também de clima ameno, porém,


com cultivares que se adaptam melhor às temperaturas elevadas. Existem dois tipos: a
lisa, chamada escarola, e a crespa, conhecida como endívia. A parte consumida em
saladas são as folhas cruas e em pizzas são refogadas e mais amargas. Semeadura, plantio,
adubação e tratos culturais são semelhantes aos da alface; no transplante adota-se
espaçamento mais amplo, 40 x 30 cm. Alguns produtores utilizam a técnica do
branqueamento, que consiste em amarrar em tufo as folhas já formadas, protegendo-as
do sol (em período que não esteja chovendo) por cerca de 15 dias.

Família Cucurbitaceae

Abóboras (Cucurbita moschata) e Morangas (Cucurbita maxima) - originaram-se nas


Américas e são tipicamente tropicais; juntamente com as culturas do milho e do feijão
formavam a base alimentar das civilizações inca, asteca e maia. Plantas anuais; ocorrem
simultaneamente o desenvolvimento da parte vegetativa, a floração e a frutificação. A
polinização por abelhas é obrigatória na produção dos frutos, comercializados verde ou
completamente maduros; os brotos das folhas também são encontrados em feiras
orgânicas, chamados de “cambuquira”, e são ricos em ferro. No cultivo, é importante
associar espécies floríferas para atrair os polinizadores; um consórcio interessante é a
semeadura de uma linha central no canteiro com a leguminosa ereta Crotalária juncea,
que não prejudica o desenvolvimento das abóboras e além da floração também fornece N
ao solo. As abóboras são típicas de clima quente, plantando-se o ano todo em regiões
baixas com inverno suave e irrigadas; em altitudes elevadas, o plantio concentra-se na
primavera-verão. A semeadura é direta colocando-se 4 sementes cova-1; para abóboras
híbridas estéreis (por exemplo cv. Tetsukabuto), que possuem plantas macho-estéreis, é
necessário plantar-se antecipadamente de 15 a 20 dias outra cultivar de abóbora ou
moranga, podendo-se utilizar a cv. Goianinha na proporção de uma fileira para quatro
70
fileiras da híbrida; ou a cv. Menina Brasileira na proporção de oito covas da híbrida para
uma da Menina. Espaçamento: 4 x 4 a 5 m (em geral); 3 x 3 a 4 m (Tipo Menina, Duda,
Redonda Verde e Branca de Virgínia); morangas, 4 x 3 a 5 m; abóbora japonesa 3 x 2 a
3 m. As abóboras são mais rústicas dentre as cucurbitáceas e menos exigentes em
nutrientes. A adubação é feita de acordo com análise do solo, adicionando-se no plantio
40 kg ha-1 de N, 200 a 400 kg ha-1 de P2O5 e 100-200 kg ha-1 de K2O e em cobertura entre
100 a 150 kg ha-1 de N, dividido em três aplicações. Dentre os tratos culturais, o desbaste
após germinação, deixando uma planta cova-1 e adição de cobertura morta. A colheita
estende-se de 90 a 120 dias após o plantio para as abóboras híbridas e entre 120 a 150
dias para as demais cultivares. A produtividade oscila de 10 a 15 t ha-1. Os principais
problemas fitossanitários são o oídio (Sphaerotheca fuliginea), controlado com aplicação
foliar de solução de 5% de leite cru de vaca e 95% de água; o prateamento da aboboreira
(‘silverleaf whitefly’) causado quando em altas infestações de mosca branca (Bemisia
tabaci), prevenido com aplicação de óleo mineral a 0,5%; o ataque da broca do fruto,
assim que detectar borboletas e a ovoposição, é preventivo aplicando-se Bt (Bacillus
thuringiensis). Entretanto, deve-se ter cautela na aplicação de produtos biológicos nas
cucurbitáceas, porque estas hortaliças são extremamente sensíveis à fitotoxidez, sendo
necessário usar dosagens mais baixas que em outras olerícolas.

Pepino (Cucumis sativus) - originário da Índia, porém na África encontra-se a maior


diversidade do gênero Cucumis. O pepino é uma hortaliça importante no mundo inteiro
com enorme variação de cultivares quanto ao tamanho, formato e coloração dos frutos.
Atualmente, no mercado há cinco tipos: japonês, holandês, caipira, aodai e indústria
(conserva). Exigente em nutrição e com problemas fitossanitários diversos, deve-se dar
preferência no cultivo orgânico às cultivares mais rústicas, tais como o pepino caipira e
aodai. O plantio pode ser efetuado ao longo do ano, inclusive no outono-inverno, em
regiões de baixa altitude com inverno suave, desde que a planta já esteja em fase de
produção quando a temperatura do ar cair. Em locais de maiores altitudes, somente no
verão. A semeadura direta é feita em sulcos com 2 a 3 sementes, ou em bandejas de 200
células com substrato orgânico e o transplante realizado aos 6 a 10 dias após germinação.
A adubação é de acordo com análise de solo: em geral, no plantio adicionam-se 40 kg ha-
1
de N, 200 a 400 kg ha-1 de P2O5 e 100 a 200 kg ha-1 de K2O; em cobertura 100 kg ha-1
71
de N parcelado em três ou mais vezes. Dentre os tratos culturais, deve-se manter a
biodiversidade na área, pois para a maioria das cultivares depende da polinização por
abelhas. A condução ou tutoramento com bambu cruzado a altura de 1,5 m, formando V
invertido, e a adição de cobertura morta são essenciais. A colheita inicia-se entre 60 e 80
dias após plantio, obtendo-se frutos de 15 a 20 cm de tamanho. A produtividade varia
entre 40 e 50 t ha-1. Dentre os problemas fitossanitários, o oídio (Sphaerotheca fuliginea)
é controlado com solução de 5% de leite cru de vaca e 95% de água; o míldio
(Pseudoperonospora cubensis) e mancha de leandria (Leandria momordicae) são
controlados pulverizando a calda bordalesa (0,5%). As principais pragas são a mosca
branca (Bemisia argentifolli), que provoca o prateamento (‘silverleaf whitefly’); lagartas
e brocas, devendo empregar os mesmos métodos citados para o controle nas abóboras.

Família Chenopodiaceae

Beterraba (Beta vulgaris) – espécie de clima temperado, originária de regiões europeias,


a parte comestível é a parte tuberosa do caule oriunda do intumescimento do hipocótilo,
que se desenvolve sob o solo. Apresenta coloração púrpura, devido à presença do
pigmento antocianina e é adocicada. A época de plantio ideal é o outono/inverno com
temperaturas amenas. O calor e alta pluviosidade de verão prejudicam o desenvolvimento
das folhas por causa de doenças fúngicas (Cercosporiose) e originam produto de sabor
menos doce. Em regiões de altitude esta cultura pode ser plantada o ano todo. A
semeadura difere da cenoura, podendo ser semeada em bandejas e/ou sementeiras e
transplantada. A semente comercial é um glomérulo com 2 a 4 sementes verdadeiras.
Deve-se utilizar substrato orgânico enriquecido com termofostato que promove o
desenvolvimento rápido e contínuo da parte tuberosa. O espaçamento varia de 20 a 30 cm
x 10 a 15 cm em canteiros. Consórcios com alface, rúcula, chicória são recomendáveis e
neste caso deve-se utilizar o maior espaçamento. A adubação varia de acordo com a
análise do solo e com as exigências da cultura: 20 kg ha-1 N, 180 a 360 kg ha-1 de P2O5 e
60 a 180 kg ha-1 K2O e em cobertura, 60 kg N e 60 kg K2O, parcelados em três vezes. Os
tratos culturais consistem no uso de cobertura morta para evitar o crescimento do mato, a
compactação da superfície do canteiro e favorecer a retenção de umidade; o desbaste
deixando apenas uma muda por torrão se o desbaste não foi feito na fase de produção de

72
mudas, e a amontoa, que consiste em chegar terra no caule da planta, para evitar a
exposição da parte superior do caule tuberoso aos raios solares, tornando-os lenhosos e
desvalorizados. A colheita se dá entre 80 e 100 dias após semeadura, sendo o ponto ideal
quando atingem de 6 a 8 cm diâmetro e ainda estão tenros. A produtividade oscila entre
15 a 30 t ha-1.

Família Faboidae (Leguminosas)

Feijão-vagem (Phaseolus vulgaris) – hortaliça anual cultivada na antiguidade por


indígenas, as vagens tenras ricas e em proteínas (3%) são cozidas para a alimentação. A
época do plantio é muito variável, com ampla adaptação às diferentes temperaturas,
porém não tolera o frio intenso e acima de 35oC a polinização é deficiente formando
vagens pequenas e tortas. Em altitude elevada, a semeadura de inverno deve ser evitada
e em regiões mais baixas, pode ser feita o ano todo. O espaçamento para cultivares
trepadores é de 1,0 x 0,5 m e para aqueles de hábito determinado e porte baixo, 0,5m x
0,2 m. São semeadas diretamente no local de cultivo, em covas ou sulcos adubados,
porque não toleram o transplante de mudas. Os produtores costumam aproveitar o
estaqueamento de culturas muito adubadas, tais como o tomate e o pepino, para plantio
do feijão vagem de hábito indeterminado. A quantidade de sementes para o plantio de um
hectare para as cultivares trepadores varia de 20 a 30 kg e para as rasteiras de 100 a 150
kg ha-1. A adubação deve ser feita de acordo com análise de solo: no plantio adicionam-
se 50 kg ha-1 de N, 150 a 450 kg ha-1 de P2O5, 150 kg ha-1 de K2O; em cobertura mais 20
kg ha-1 de N, na época da floração. Os tratos culturais consistem no tutoramento em cerca
cruzada para as cultivares trepadores e o uso de cobertura morta. A colheita se dá entre
50 a 70 dias após semeadura, sendo o ponto ideal para as vagens do “tipo manteiga” com
cerca de 20 cm de comprimento e para o “tipo macarrão” com 15 cm. A produtividade
oscila entre 20 e 25 t ha-1. Dentre os problemas fitossanitários, destacam-se a ferrugem
(Uromyces appendiculatus), a antracnose (Colletotrichum lindemuthianum) e o
crestamento bacteriano (Xanthomonas campestres pv. phaseoli); o uso de cultivares
locais adaptadas mais resistentes é estratégia, podendo-se usar calda bordalesa (1%).
Dentre as pragas, a mosca branca (Bemisia tabaci) é o vetor do vírus do mosaico-dourado
e o controle biológico com Beauveria bassiana tem se mostrado eficiente.

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Família Basellaceae

Bertalha (Basella alba) - originária da Ásia tropical, é popularmente conhecida como


espinafre indiano, espinafre tropical, porém é vigorosa trepadeira de folhas grandes,
suculentas, brilhantes e ricas em mucilagem. O cultivo em época quente substitui o
espinafre de inverno, sendo rica fonte de vitaminas A, B, C e de minerais como cálcio,
ferro e fósforo. O plantio é realizado na primavera-verão e a semeadura é direta nas covas,
dispondo de 2 a 3 sementes no espaçamento 1,0 x 0,40 m. A cultura pode ser tutorada
com espaldar de bambu colhendo-se as folhas destacadas ou cultivada rasteira, recebendo
cortes frequentes 10 cm acima do nível do solo formando maços de tenros cipós com
folhas. É rústica e não existem pesquisas sobre a sua exigência nutricional. Recomenda-
se adicionar composto orgânico na base de 1 a 2 litros cova-1 no plantio. A colheita inicia-
se cerca de dois meses após plantio e estende-se por todo o verão; quando começa esfriar
a planta inicia o florescimento e a produção de sementes, que são pequenas e de cor
violácea intensa, também, utilizadas como corantes naturais.

Família Malvaceae

Quiabo (Abelmoschus esculentus) - originário da Etiópia, é uma planta anual, largamente


cultivada em regiões tropicais. Foi introduzida no Brasil por escravos africanos. A parte
comestível são os frutos imaturos, consumidos em saladas e refogados. Recomenda-se o
consórcio com Crotalaria juncea. A época de plantio na maioria das regiões produtoras
brasileiras é realizada na primavera-verão. A semeadura é direta em covas espaçadas 1,2
x 0,50 m, utilizando de 2 a 4 sementes cova-1. Para acelerar a germinação recomenda-se
colocar as sementes de molho na água 24 horas antes do semeio, efetuando o desbaste
quando plantas atingirem 15 a 20 cm de altura. A adubação poderá ser feita com adubo
orgânico (composto, esterco bovino compostado, bokashi) de acordo com análise de solo
na proporção de 40 kg ha-1 de N, 120 a 360 kg ha-1 de P2O5 e 60 a 80 kg ha-1 de K2O; e
em cobertura com 80 kg ha-1 N dividido em três vezes. A colheita inicia-se entre 60 a 80
dias após plantio e se estende por três meses. A produtividade oscila entre 15 e 22 t ha-1.
Os principais problemas fitossanitários são o oídio (Eysipe polygoni), controlado com
calda bordalesa pulverizada a 1% e/ou leite cru (5%); a murcha verticilar (Verticillium
dahliae) e a murcha fusariana (Fusarium oxysporum va. Vasinfectum), recomendando-se
74
o uso de cultivares resistentes, o tratamento das sementes com Trichoderma e a rotação
de culturas. Dentre as pragas, o nematoide-de-galhas (Meldogyne sp.) é um problema e
demanda a rotação de culturas e/ou o consórcio com Crotalaria spectabilis e o ‘cravo-de-
defunto’ (Tagetes patula).

Vinagreira (Hibiscus sabdariffae) – originária da África, é parente do quiabo e também


chamada de hibisco, rosela, groselha, flor de Jamaica; uma rica fonte de compostos anti-
oxidantes com alto teor de pigmentos, flavonoides, ferro, vitaminas A, B, B2; possui ação
digestiva e diurética comprovadas. A planta é de grande potencial, pois tudo se aproveita
na alimentação: as folhas e flores são consumidas in natura em saladas, sucos, e pratos
especiais, tal como o arroz de cuxá típico do estado do Maranhão; os cálices ricos em
pectinas são empregados no fabrico de geleias e chás. As sementes apresentam
germinação lenta e desuniforme; para homogeneizar a emergência deve-se deixar em
água na véspera do plantio até intumescerem o suficiente para germinarem. Também, são
multiplicadas por estacas, evitando aquelas com estruturas reprodutivas, pois o
enraizamento é comprometido. A vinagreira floresce em dias curtos, quando os cálices
são o objetivo principal, deve-se semear de fevereiro a março; para produção de folhas,
na primavera-verão. O espaçamento para a produção de folhas, 1,0 x 0,50 m, e para
produção de cálices, 1,2 m x 0,7 m. A adubação, após as correções com calcário e fósforo
já prescritas, é feita com 2 a 4 litros de composto ou esterco bovino curtido por cova; e
em cobertura, a cada corte e início da floração e frutificação. A colheita é feita quando as
plantas atingem 0,7 a 0,8 m de altura, dos 60 a 90 dias – corte para folhas, ramos ponteiro
com 40 a 50 cm de comprimento; lavar e fazer maços. O rendimento aproximado de 10 t
ha-1, com 2 a 3 cortes/ planta-1. Novos cortes devem ser feitos 10 cm acima dos anteriores,
em intervalos de aproximadamente 30 dias. A produção de cálices é obtida com colheita
cerca de 20 dias após a abertura da flor, que ocorre entre 150 a 180 dias após o plantio;
são feitas colheitas 2 a 3 vezes semana com um rendimento de 1,0 a 1,5 kg frutos planta-
1
(10 a 15 t ha-1), com rendimento de 100 a 150 g de cálices planta-1 que, após estarem
secos, representam 50 a 75 kg ha-1.

Família Araceae
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Taioba (Xanthosoma taioba) – antes denominada X. sagittifolium; estudos detalhados
verificaram que é nativa do Brasil. A parte comestível difere do inhame: são as folhas,
ricas em nutrientes, saborosa e nutritiva; refogadas, muito consumidas no estado de Minas
Gerais. Porém, não devem ser consumidas cruas, por possuirem ácido oxálico (igual ao
espinafre). Pessoas com sensibilidade podem apresentar irritação da garganta. É fonte de
vitamina A, C e principalmente ferro. Muito rústica, gosta de calor e umidade, sendo que
no frio cessa a emissão de folhas. O plantio em altitudes elevadas é feito na primavera-
verão e em regiões quentes, o ano todo. Multiplica-se por meio de rebentos produzidos
na base a o redor da planta mãe, recomendando-se o espaçamento 80 x 40 cm. Pouco
exigente em fertilidade, deve-se utilizar no plantio composto ou esterco bovino curtido,
na base de 2 a 4 litros cova-1; como perene, a cada final de estação fria, deve-se realizar
adubação de cobertura para estimular novas brotações. A colheita é realizada 60 a 80 dias
após plantio, com cortes realizados nas folhas mais velhas, sempre deixando-se os brotos
novos, para próximos cortes.

Taro (cará ou inhame) Colocasia esculenta - originário de regiões quentes do sudeste


asiático, exige temperatura e umidade elevadas; conhecido como malanga (Caribe), yam
(inglês), ñame (França), inhame chinês. O rizoma, de sabor suave, é a parte comestível,
com propriedades nutricionais e medicinais, depurativo do sangue, aumenta a imunidade
à malária e à dengue. O plantio ocorre na primavera-verão em altitude elevada, e o ano
todo em altitudes mais baixas, desde que úmidas. A semeadura é direta em sulcos ou
covas espaçadas 1,0 x 0,5 m; empegam-se rizomas de tamanho médio (40 a 60 gramas)
ou a coroa da planta mãe, após eliminar as folhas. Pouco exigente em fertilidade,
recomenda-se usar no plantio 20 kg ha-1 de N, 120 a 180 kg ha-1 de P2O5 e 60 a 90 kg ha-
1
de K2O, e em cobertura na amontoa adicionar 20 kg ha-1 de N. A colheita ocorre dos 7
a 9 meses após plantio, sendo o ponto ideal quando as folhas amarelecem e secam. A
produtividade varia de 20 a 30 t ha-1.

Família Solanaceae

Batata (Solanum tuberosum) - olerícola anual é a base alimentar de muitos povos; a batata
andina (originária dos Andes), chamada de inglesa, tem os caules modificados que
armazenam reservas, sendo os tubérculos a parte comercial. A época de plantio ocorre o
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ano todo no Brasil, sendo limitante a sequência de noites com temperatura acima de 20º
C, pois para tuberizar requer amplitude de temperatura diurna e noturna em torno de 10ºC.
Cultura muito exigente em fertilidade; requer adubação, solos de textura média e bem
drenados. De acordo com análise do solo, no plantio aplicam-se de 40 a 80 kg ha-1 de N,
100 a 300 kg ha-1 de P2O5 e 100 a 250 kg ha-1 de K2O. O N e o K devem ser parcelados;
metade no plantio e metade na amontoa; prática cultural indispensável. O espaçamento
varia de 80 a 90 cm entre fileiras e 30 a 40 cm dentro das fileiras. O montante de batata-
semente necessário é de 40 a 60 caixas de 30 kg ha-1. Dos tratos culturais, não pode faltar
irrigação, que deve ser controlada; a rotação de culturas a cada quatro anos é obrigatória
para evitar inúmeros problemas fitossanitários e deve-se empregar batata-semente sadia.
A colheita ocorre entre 3 a 4 meses após plantio, com a seca natural da parte aérea. A
produtividade oscila entre 20 t ha-1 e 22 t ha-1 no estado de São Paulo.

Tomate (Lycopersicon esculentum) - planta anual herbácea dos altiplanos andinos, a


maioria das cultivares de mesa possui hábito indeterminado e nas cultivares industriais,
visando à produção de molho, o hábito é determinado. A parte comestível é o fruto,
denominado baga carnosa e suculenta. O tomateiro adapta-se melhor em altitude. Planta-
se nos meses de frio com umidade do ar baixa, exigindo temperaturas diurnas amenas e
noturnas menores, com amplitude de 6 a 8oC. A frutificação em temperatura acima de
25ºC dificulta a formação do licopeno, pigmento que torna o tomate vermelho.
Anualmente são lançados híbridos com diferenças qualitativas e níveis de resistência às
doenças; porém preconiza-se ao produtor manter as sementes próprias localmente
adaptadas. Na origem (clima frio e seco, com bom teor de matéria orgânica e baixa
disponibilidade de N), o tomateiro aproveita de quatro a cinco vezes mais do N da
mineralização da matéria orgânica, comparado à maioria das plantas cultivadas, e o
excesso de N favorece pragas e doenças. No plantio, de acordo com análise de solo, deve-
se aplicar 60 kg ha-1 de N, 300 a 800 kg ha-1 de P2O5 e 100 a 300 kg ha-1 de K2O, e em
cobertura 100 a 200 kg ha-1 de N, parcelados de 4 a 6 vezes. É uma hortaliça muito
exigente em cálcio e a falta deste nutriente ou de água causa a podridão apical, tornando
o fruto imprestável para consumo. O Bokashi aeróbico para olerícolas de fruto (TIVELLI,
2015) tem sido utilizado por tomaticultores orgânicos, no estado de São Paulo, com bons
resultados (no plantio 300 g cova-1 e 200 g planta-1 em cobertura). A semeadura é feita
77
em bandejas de isopor de 128 células, com substrato orgânico comercial ou produzido
localmente, sendo o transplante para canteiros ou leiras no espaçamento de 1,0 a 1,2 x 0,5
x 0,7 m. Dentre os tratos culturais, recomendam-se o tutoramento; condução de hastes
(uma ou duas hastes); desbrota lateral a partir de 0,07 e 0,10 m de altura; poda apical após
a quarta inflorescência, para melhorar o tamanho dos frutos e manter o cultivo livre de
pragas e doenças; amontoa na primeira adubação de cobertura 15 dias após o transplante;
e cobertura morta. A irrigação por gotejamento é mais indicada. Preconiza-se formar
cerca-viva, mantém a biodiversidade e o microclima, abriga inimigos naturais, funciona
como quebra-vento e barreira física ao deslocamento de pragas (mariposas e mosca
branca) que voam a altura de 1,0 a 1,5 m de solo. A produtividade varia de 6 a 8 kg m 2
ano-1 de tomate orgânico. Dentre as doenças fúngicas as mais importantes são a pinta preta
(Alternaria solani) e a requeima (Phytophthora infestans), controladas com calda
bordalesa a 1%; dentre as pragas, a broca pequena (Neoleucinodes elegantalis) é
controlada no solo e nas inflorescências com Bt (Bacillus thurigiensis) e a traça do
tomateiro (Tuta absoluta) deve ser monitorada seguindo o mesmo controle da broca
pequena. Para o controle biológico existe no mercado um feromônio sexual de Tuta,
Trichogramma pretiosum, que é um inseto parasitoide de várias famílias de Lepidópteras,
tais como a broca pequena, a traça do tomateiro e a lagarta mede palmo (Pseudoplusia
includens); o ácaro Neoseiulus californicus preda ácaros, como o rajado (Teranychus
urticae); placas ou faixas adesivas coloridas na cor amarela atraem pulgões, a mosca
branca e a mosca da larva minadora; e de cor azul atraem o trips (transmissor de viroses),
também controlado com a calda sulfocálcica a 0,5%. O óleo de neem controla a mosca
branca, mas é não seletivo e mata também os insetos benéficos que atuam no controle
natural.

Família Brassicaceae

A hortaliças desta família abrangem um importante grupo de olerícolas de clima


temperado, como brócolis (Brassica oleraceae var. itaica), couve-flor (Brassica
oleraceae var. botrytis), repolho (Brassica oleracea var. capitata), couve de folha
(Brassica oleraceae var. acephala), rúcula (Eruca sativa) e rabanete (Raphanus sativus).
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Couve-flor (B. oleraceae var. botrytis), Brócolis (B. oleraceae var. italica) e Repolho (B.
oleracea var. capitata) - A parte comestível e comercial da couve flor e brócolis é a
inflorescência imatura, sendo a temperatura o fator agroclimático limitante ao cultivo na
transição da fase vegetativa para reprodutiva (diferenciação floral); necessitam de
temperaturas amenas entre 15 a 20oC para o desenvolvimento; mas há cultivares para
temperaturas elevadas. Para o cultivo, deve-se adequar as cultivares para verão ou
inverno. Em locais elevados planta-se o ano todo e em regiões mais baixas (500 a 800 m
de altitude), as cultivares de verão são plantadas de outubro a janeiro. O repolho originou-
se da couve silvestre; possui folhas sobrepostas que formam a cabeça compacta. Ao
contrário da couve-flor e brócolis, a parte comestível do repolho são as folhas, e
temperaturas altas na formação resultam em cabeças pouco compactas ou não formadas.
O espaçamento de cultivares de inverno de couve-flor e brócolis varia de 1,0 a 1,2 m x
0,5 a 0,7 m, e para cultivares de verão de 0,7 a 0,8 m x 0,5 a 0,6 m. O espaçamento do
repolho é 1,0 x 0,50 m. A adubação para couve-flor e brócolis consiste de três aplicações
de N na dose de 40 kg ha-1; 200 a 400 kg ha-1 de P2O5 e 150 a 250 kg ha-1 de K2O; para o
repolho: 60 kg ha-1 de N divididos em três vezes, sendo a primeira no plantio; 150 a 300
kg ha-1 de P2O5; 100 a 150 kg ha-1 de K2O. As hortaliças da família brassicaceae são
exigentes em boro e molibdênio, aplicados via pulverizações na sementeira (15 dias após
a semeadura) e após o transplante, na dose de 10 g ácido bórico em 10 litros água e 5 g
de molibdato de sódio em 10 litros água, empregando-se um espalhante adesivo, como o
detergente neutro. Dentre os tratos culturais, recomenda-se cobrir a inflorescência da
couve-flor com a folha basal, para evitar a incidência de luz direta e o escurecimento da
parte comercial e a cobertura morta em todas as brassicacea. Dentre as anomalias
fisiológicas na couve-flor, a podridão parda (pontuações escuras na cabeça) e a medula
oca são devido à deficiência de boro; a ponta de chicote (deformação limbo foliar,
reduzindo à nervura) deve-se à deficiência de molibdênio. A colheita é realizada de 3 a 4
meses após o transplante com produtividade de 8 a 16 t ha-1 para couve-flor que
corresponde de 10000 a 13000 maços ha-1 de brócolis ramoso; e de 30 a 60 t ha-1 de
repolho. Dentre as pragas, a lagarta-rosca e a lagarta da folha são controladas com
Bacillus thurigiensis, aplicado preventivamente após o transplante, devendo ser
monitoradas; e o pulgão geralmente ocorre quando há excesso de nitrogênio. A doença
de solo hérnia-das-crucíferas (Plasmodiophra brassicae) é controlada preventivamente
79
com Trichoderma adicionada ao substrato de produção de mudas, por meio da rotação de
culturas e o controle do pH do solo. No controle das doenças foliares: podridão negra
(Xanthomonas campestres pv. campestris) e podridão-mole (Erwinia carotovora var.
carotovora), deve-se aplicar a calda bordalesa a 1% e praticar a rotação de culturas.

Couve de folha (B. oleraceae var. acephala) - Hortaliça com caule ereto com emissão de
folhas em forma de roseta ao redor do caule; formam-se, também, rebentos laterais usados
na propagação. Olerícola de clima ameno, plantada no outono-inverno, tolera certo calor,
permanecendo produtiva e podendo ser cultivada o ano todo em regiões de altitude mais
elevadas, no espaçamento 1,0 x 0,5 m. É a mais rústica das brássicas e menos exigente
em adubação, recomendando-se usar 40 kg ha-1 de N, 160 a 400 kg ha-1 de P2O5 e 80 a
200 kg ha-1 de K2O, de acordo com análise de solo; em cobertura, aplicar 40 kg ha-1 de N
ao mês. O principal problema é a lagarta curuquerê (Ascia monuste orseis), controlada
com Bacillus thurigiensis.

Rúcula (Eruca sativa) – hortaliça herbácea europeia e do ocidente da Ásia, também é


chamada de ‘pinchão’, sendo muito apreciada nas saladas; rica fonte de vitaminas A e C,
e nutrientes como potássio, enxofre e ferro. Adapta-se muito bem ao manejo orgânico,
sendo consorciada com diversas hortaliças devido ao ciclo curto e ao pequeno porte. As
principais regiões produtoras no estado de São Paulo são: Paranapiacaba, Grande São
Paulo, Sorocaba e Campinas. A principal cultivar é a ‘Cultivada’, de coloração verde
escura e sabor picante. Para o plantio prefere temperaturas amenas, porque em
temperaturas elevadas emite o pendão floral e as folhas tornam-se rijas e amargas. Em
regiões altas cultiva-se o ano todo e nas mais baixas, no outono-inverno. Pode ser plantada
por muda ou por semeio direto. Para produzir as mudas usam-se de 8 a 12 sementes por
célula ou por copinho e não faz desbaste. As mudas devem ser transplantadas ainda como
as folhas cotiledonares, de 15 a 20 dias após o semeio. O semeio em canteiros é direto em
covinhas com 0,5 cm profundidade, espaçadas 0,25 x 0,25 m e usando o mesmo número
de sementes, para que cada planta corresponda a um maço. A adubação é feita de acordo
com análise do solo: 40 kg ha-1 de N, 200 a 400 kg ha-1 de P2O5 e 50 a 150 kg ha-1 de K2O.
A colheita ocorre de 30 a 40 dias após semeadura, de uma só vez, arrancando-se as plantas
inteiras, obtendo-se de 1700 a 2000 maços ha-1. Exige irrigação, preconizando o uso de

80
cobertura morta.

Rabanete (Raphanus sativus) – hortaliça anual cuja parte comestível é a raiz globulosa,
de coloração escarlate-brilhante e polpa branca. A época de plantio em altitude elevadas
estende-se por todo o ano, e em regiões baixas, no outono-inverno. A semeadura é
realizada direto nos canteiros ou pelo transplante de mudas, ainda com as folhas
cotiledonares. O plantio por meio de mudas reduz o ciclo no campo em pelo menos 10
dias. Para semeio direto no canteiro, os sulcos devem ter 1,5 cm de profundidade,
espaçados de 20 cm para o cultivo isolado e a 34 cm no caso de consórcio (recomendável)
com rúcula, cebolinha e salsa. Aduba-se com 20 kg ha-1 de N, 180 a 360 kg ha-1 de P2O5
e 60 a 180 kg ha-1 de K2O. Os tratos culturais, para os cultivos plantados por semeio
direto, consistem de desbaste, quando as plantas atingem 5 cm de altura, deixando-se 10
cm entre plantas; irrigar e adicionar cobertura morta para evitar flutuações no teor hídrico,
que provoca rachadura. O ciclo é rápido, iniciando-se a colheita aos 25 a 30 dias após
plantio, obtendo-se produtividade de 15 a 30 t ha-1 de raízes ou 16.000 a 20.000 maços
ha-1.

3.2 Sintese da Unidade

Nesta Unidade tratou-se das particularidades referentes a cada hortaliça das diversas
famílias, enfocando-se os pontos de relevância para a implantação e manutenção do
cultivo tais como: época de plantio, espaçamento, exigência nutricional, forma de plantio
e manejo pós-plantio

3.3 Para saber mais


Livros

• FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agroteconologia moderna


na produção e comercialização de hortaliças. 3 ed. ver. e ampl. –Viçosa, MG:

81
UFV, 2007. 421 p. Este manual é composto por dois volumes e trata de todos os
aspectos relacionados ao cultivo convencional de hortaliças.

• FRANCISCO NETO, J. Manual de horticultura ecológica: guia de


autossuficiência em pequenos espaços. São Paulo: Nobel, 1995.141p.

• REVISTA INFORME AGROPECUÁRIO. Cada volume desta revista trata de


uma hortaliça específica como: tomate, batata, Brassicaceae, Cucurbitacea,
Mandioquinha Salsa, etc.

3.4 Atividades

Relacione as principais olerícolas utilizadas pelo consumidor no dia a dia. Liste plantas
olerícolas não convencionais e descreva as técnicas de produção de mudas, sistema de
plantio e condução da cultura até a colheita.

82
Unidade 4

Unidade 2 . Controle Ecológico da Vegetação


Espontânea, Pragas e Doenças

4.1 Controle Ecológico da Vegetação Espontânea

A vegetação espontânea, na fase inicial de desenvolvimento das hortaliças, causa


prejuízos ao desenvolvimento se houver limitação de nutrientes, água e luminosidade. A
vegetação espontânea tem sua germinação estimulada pela incidência de luz nas
sementes. Desta forma, escolher a época de plantio, adotar o espaçamento adequado, usar
cobertura morta, e escolher hortaliças que proporcionem rápido e intenso sombreamento
do solo são estratégias que reduzem a incidência desta vegetação. Além disso, no
ecossistema verifica-se a ação da alelopatia.

Alelopatia: É qualquer efeito direto ou indireto danoso ou benéfico que uma planta ou
microrganismo exerce sobre outro pela produção de compostos químicos liberados no
ambiente. No caso do controle de plantas espontâneas é importante conhecer aquelas que
causam a redução de germinação de crescimento de plantas espontâneas.

Plantas como Pinus patula, Eucalyptus grandis e Acacia mearnsii reduzem a incidência
das seguintes plantas espontâneas: Conyza sumatrensis (avoadinha); Trifolium spp.
(trevos); Echinochloa utilis (parecido com capim arroz). Gleichenia
pectinata(samambaia) retarda a germinação da espontânea Clidemia hirt; Capim Limão
(Cymbopogon citratus), retarda o crescimento da corda de viola; inibe a germinação e o
crescimento de guanxuma, mentrasto ou mastruz e do picão preto. Para controle da
espontânea Solanum viarum usa-se produto a base do vírus TMGMV.

83
Alguns microrganismos produzem substâncias que possuem ação herbicida e são
denominados bioherbicidas. Por exemplo: a bactéria Streptomyces hygroscopicus produz
hidantocidina que reduz a incidência da espontânea Solanun nigrum, que é muito sensível
a esta substância. O fungo Coletotrichum gloesporiodes f. sp.aeschynomene controla a
espontânea Aeschynomene virginica (angiquinho) e já está sendo comercializado.

Controle mecânico e manual: a eliminação das plantas infestantes deve ser realizada
enquanto elas são muito jovens, logo após o transplante ou após a germinação,
preferencialmente com 1-2 cm de altura, por causa da maior facilidade de controle e
também para evitar que contribuam para o aumento da concentração de umidade sobre as
folhas da hortaliça, como por exemplo a cultura da cebola, da cebolinha e da cenoura. A
capina deve ser feita em condição de pouca umidade atmosférica e solo não muito úmido,
seco na superfície, para aumentar a sua eficácia. A profundidade deverá ser regulada, de
modo a não ferir as raízes das hortaliças.

A capina mecânica é uma mobilização ligeira do solo por meio das operações de
gradagem (grade de discos ou de dentes), escarificação (escarificador), revolvimento com
cavadora simples montada num motocultivador. Para as plantas infestantes como tiririca
e trevo deve se utilizar cultivador de dentes, que arranca os órgãos subterrâneos e os
coloca na superfície, sem provocar aumento na população de plantas.

A capina manual, muitas vezes necessária, nas linhas das culturas é feita com enxada ou
sacho, que, em boas condições de umidade do solo, podem facilmente soltar as plantas
espontâneas jovens do solo e expor o sistema radicular ao sol para secar.

Capina biológica: de acordo com Mourão (2007), a capina biológica é a remoção das
plantas espontâneas com utilização de animais. As galinhas da índia e os pintos são úteis
para eliminação de infestantes em culturas protegidas (tomate, pimentão e pepino), pois
ciscam e se alimentam de plantas e insetos sem danificar os frutos.

84
4.2 Manejo Ecológico de Insetos, Praga e Doenças

As hortaliças estão sujeitas ao ataque de insetos, fungos, bactérias, nematoides e vírus


que impedem a produção e danificam os produtos, reduzindo a sua qualidade. As
bactérias, os vírus e os fungos de solo são os patógenos causadores de doença que não
apresentam controle curativo eficiente e por isso é fundamental prevenir. As práticas de
manejo eficiente de patógenos depende da integração de várias ações.

É importante destacar que, de acordo com as bases ecológicas, a superação do problema


do ataque de pragas e doenças só será alcançada por meio de uma abordagem sistêmica e
integrada dos sistemas de produção. Isso significa intervir sobre as causas do surgimento
das pragas e doenças e aplicar o princípio da prevenção, buscando a relação do problema
com a estrutura e fertilidade do solo, e com o desequilíbrio nutricional e metabólico das
plantas. O controle biológico, assim como qualquer outra estratégia dentro de um sistema
agroecológico de produção, deve ser apenas o veículo para que o conhecimento e a
experiência acumulados se manifestem na busca de soluções específicas para cada
propriedade.

Biodiversidade do ambiente de cultivo: como mencionado anteriormente, a escolha do


terreno para implantação da horta deve levar em consideração os aspectos biológicos do
solo; um solo com bons aspectos biológicos depende de manutenção da biodiversidade.
Esta diversidade, em parte, é obtida cumprindo as determinações do código florestal de
proteção de das APP’s (Áreas de Preservação Permante) e Reserva Legal (corresponde a
20% da área da propriedade) e incrementando o cultivo em faixa e vegetação no contorno
da área de produção.

A vegetação nativa, principalmente as matas, abriga vespas ou marimbondos, joaninhas,


percevejos e ácaros predadores (ninfas sugam o corpo de pulgões e lagartas) de insetos
pragas. Abrigam também microvespas que são parasitoides (colocam seus ovos sobre o
inseto praga e as larvas se alimentam do inseto praga, porque se desenvolve dentro dele).
Esta ação de predação e parasitismo é muito favorecida pelo cultivo de plantas com flores
próximo à horta, porque os adultos de parasitoides normalmente se alimentam de néctar
85
e isso os mantém vivos. Plantio de faixas com plantas de intensa floração, como crotalária,
sorgo ou milho, para aumento do controle biológico natural, porque as flores são atrativas
de insetos parasitoides.

Além disso, evite local sujeito a muita poeira, estradas de terra, ou plante árvores ou
arbustos para quebravento, como o Sansão do Campo, Leucena, capim Napiê ou Cana,
porque na ausência desta barreira a poeira acumulará sobre as folhas favorecendo a
ocorrência e procriação de ácaros que se alimentam de plantas (fitófagos). Outra
vantagem da cerca viva é reduzir a incidência de vento sobre a cultura.

De acordo com Pereira e Pinheiro (2012), os patógenos de solo e do sistema radicular


podem ser controlados pelo estabelecimento de microrganismos antagonistas e
competidores que atuam na destruição dos propágulos de fungos; na prevenção do
estabelecimento do inóculo no solo ou na destruição do inóculo presente em resíduos
infestados, com a redução do vigor e da virulência dos patógenos. O estabelecimento de
antagonistas no solo pode constituir o caminho final para tornar o solo supressivo e desta
forma diminuir a população de patógenos. Para que a aplicação de um ou mais
antagonistas ou competidores tenha eficiência é necessário que este processo se dê antes
do início do ciclo da doença e com tempo suficiente para que o antagonista ou competidor
se estabeleça no solo. O uso de práticas agrícolas, tais como incorporação de resíduos
culturais, uso de cobertura morta, adubos verdes, compostos, biofertilizantes,
Microrganismos Eficientes, rotação de culturas e consórcios favorecem o controle
biológico pela criação de condições ótimas para os agentes de controle biológico e, com
o aumento da população deles, cria-se condição desfavorável para os patógenos, com
aumento da resistência da planta e redução do inóculo presente no solo.

Escolha de variedades, cultivares resistentes: no momento da escolha da hortaliça, o


horticultor deve se informar sobre os cultivares existentes no mercado e optar por
variedades/cultivares bem adaptados ao cultivo agroecológico e resistentes às doenças.

Escolha do espaçamento: os espaçamentos escolhidos também auxiliam na redução da


incidência de doenças. Nos espaçamento que resultam em densidade relativamente
superior à tradicional, a umidade favorece a ocorrência de fungos, que auxilia no controle

86
de pragas (lagartas, ácaros). Mas se o espaçamento resultar em alta densidade de plantas
e houver excesso de água, mantendo o solo encharcado, a alta umidade favorecerá a
ocorrência de fungo e bactérias fitopatogênicos que causam doenças nas plantas.

Amostragem da população de pragas: a amostragem de pragas deve ser feita durante a


produção de mudas e no cultivo. Esta amostragem de pragas é importante para fazer o
manejo com base em níveis de ocorrência. O manejo integrado de pragas (MIP) consiste
em monitorar a lavoura, contando as pragas e os inimigos naturais. Numa lavoura em
ambiente diversificado é comum contar, por exemplo, um adulto de mosca minadora para
quatro ou cinco inimigos naturais de diferentes ordens. Neste caso, é dispensável o uso
de qualquer técnica de controle. Também a alta população de adultos não significa danos,
porque, muitas vezes, com as condições climáticas e a pressão de inimigos naturais, estes
insetos tendem a desaparecer. A preocupação é a população de ovos e formas jovens
destes insetos. Por isso é importante conhecê-los.

A amostragem pode ser feita por meio de armadilha colante azul para coletar os tripes
adultos ou por batedura dos ponteiros onde se recolhem insetos adultos e jovens. As
armadilhas amarelas são indicada para psilídeo, mosca branca, pulgão, cigarrinha e
vaquinha. No monitoramento por meio de armadilhas, elas devem ser instaladas dentro,
no campo, antes do transplante das mudas. As armadilhas devem ser distribuídas ao longo
da bordadura e no interior da lavoura, de modo que os dados obtidos sejam representativos
de toda a área cultivada. As armadilhas são dependuradas em estacas de bambu ou no
próprio sistema de condução.

Para monitoramento dos tripes por meio da batedura devem-se agitar vigorosamente as
folhas ou os ponteiros da planta sobre uma placa ou bandeja plástica branca e avaliar a
quantidade de insetos caídos na superfície, ao longo de um metro de fileira de cultivo.
Para cada cultura usa-se um número de referência para iniciar o controle químico.
Procedimento semelhante é usado para todos os tipos de praga.

Destruição de restos culturais: ao final da colheita, os restos culturais devem ser


incorporados ao solo ou submetidos à compostagem. Se a hortaliça cultivada teve alguma
doença, os restos culturais estão contaminados com o patógeno e suas estruturas de

87
reprodução e resistência. Se a cultivo seguinte apresentar a mesma suceptibilidade à
doença do cultivo anterior, a chance de a doença acontecer aumenta grandemente, se as
condições de temperatura e umidade forem favoráveis.

Nutrição adequada da cultura: a adubação adequada, a disponibilidade de água e a boa


luminosidade resultam em plantas nutricionalmente equilibradas e com menor
suscetibilidade a pragas e doenças. O excesso de nitrogênio ou a falta de micronutrientes
pode causar aumento das populações de pragas, principalmente de ácaros, mosca
minadora, traças, tripes, pulgões, moscas brancas, cigarrinhas, fungos e bactérias. Este
aumento de suceptibilidade é decorrente da formação rápida de aminóacidos livres e da
lenta incoporação destes aminoácidos em proteínas, gerando um excesso de aminoácido
livres na seiva das plantas, que é muito atrativa aos insetos e demais patógenos. Por isso,
quando a proteossíntese for atrasada, por exemplo, em dias nublados, é preciso evitar de
fazer adubação nitrogenada e também é preciso respeitar as doses recomendadas.

A adubação excessiva pode prolongar a duração do período vegetativo, atrasando a


entrada da planta em frutificação, e reduzir a eficiência de mecanismos de defesas
morfológicas das plantas, por exemplo diminuindo a espessura da epiderme e da cutícula
das folhas. Folhas mais tenras são mais suceptíveis ao ataque de pragas e doenças,
principalmente de desfolhadores como vaquinhas, lagartas, lesmas e caracóis, fungos e
bactérias.

Fornecimento de água às plantas: o fornecimento adequado de água para as plantas é


tão importante quanto a nutrição, porque para os nutrientes serem absorvidos pelas raízes
eles deve estar dissolvidos na água. Todavia, deve haver um equilíbrio, porque tanto a
falta quanto o excesso de água são prejudiciais. Quando há deficiência de água, ocorre
aumento da suscetibilidade da planta a pragas e doenças, sobretudo a ácaros, insetos
minadores de folhas, cigarrinhas, cochonilhas e ao fungo causador do oídio. Isto ocorre
por causa do acúmulo de nutrientes na seiva e da redução da capacidade de acionar os
mecanismo de defesas químicas e morfológicas da planta. O excesso de água reduz a
oxigenação radicular favorecendo o apodrecimento das raízes e a inciência de fungos e
bactérias de solo e foliares. O fornecimento adequado de água cria um microambiente

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proximo às plantas que favorece a ação de fungos entomopatogênicos, que mata os insetos
praga, favorecendo a população sob controle.

Enterrar flores e frutos caídos: as flores e frutos imaturos que caem das plantas podem
conter larvas e pupas de brocas. Desta forma, ao catar e enterrar estes frutos eliminam-se
larvas e pupas que se encontram no seu interior, evitando a finalização do ciclo e, com
isso, reduz-se a população de adultos. Esta prática diminui infestações futuras de moscas-
das-frutas e brocas em frutos de cucurbitáceas e traças e brocas no tomate.

Rouging: na presença de doenças fúngicas, viróticas e bacterianas, em processo inicial,


ou em baixo nível de infecção, deve-se fazer rouging (retirada de plantas doentes). Estas
plantas são enterradas a mais de 20 cm de profundidade.

Rotação de culturas: a rotação de cultura consiste na alternância regular e ordenada do


cultivo de espécies vegetais de diferentes famílias em sequência temporal numa
determinada área. Esta prática promove aumento da diversidade biológica que contribui
para a controle de pragas e doenças. A troca da cultura quebra o ciclo ciclo de pragas e
doenças dificultando a sua proliferação.

Controle mecânico: o controle mecânico consiste em catar e esmagar os ovos, larvas,


outras formas jovens e adultas. Um alternativa é criar armadilhas para atrair os insetos e
posteriormente promover o controle mecânico. Por exemplo, peça de cerâmica para
enfeite de jardim, com furo embaixo, é uma excelente armadilha para caramujos. Eles
entram na peça porque o ambiente é favorável, isso facilita o recolhimento e
esmagamento. Sacos de estopa molhados com água e sal ou garrafas pet com urina animal
e sal são atrativos para percevejos.

Uso de Feromônio: feromônios são sinalizadores químicos de atuação entre indivíduos


da mesma espécie. Na agricultura empregam-se os feromônios para o manejo de insetos-
pragas, no monitoramento com armadilhas ou no controle, através das técnicas de coleta
massal, atrai-e-mata ou causa confusão sexual. Os feromônios são usados em armadihas
com o objetivo de monitoramento e controle da população.

89
No monitoramento, os insetos são capturados por armadilhas contendo o feromônio. Pela
contagem de insetos capturados é possível determinar ausência, presença ou flutuação
populacional de determinada espécie de praga na área monitorada, o que auxilia o
produtor na tomada de decisão sobre o manejo adequado da praga.

O controle pode ser feito pela coleta massal, atração e morte e confusão sexual.Na coleta
massal utilizam-se feromônios que atraem tanto machos quanto fêmeas; e consiste na
captura de grande quantidade de insetos e consequente redução populacional. Este
método é recomendado para coleópteros (besouros).

A técnica atrai-e-mata usa conjuntamente o feromônio e um inseticida. O feromônio


promove uma potente atração de uma praga específica, aumentando a chance de contato
do inseto ao inseticida. Esta técnica impede o contato do inseticida com a hortaliça e com
o meio.

Na técnica de confusão sexual distribui-se feromônio em vários pontos na área de cultivo.


Isso satura o ambiente daquele feromônio e impede que o macho encontre a fêmea. Sem
acasalamento, a população do inseto decresce. Está técnica é empregada no controle de
larvas de lepidópteros (borboletas e mariposas), tais como lagartas, traças e brocas de
frutos.

Controle biológico: após detectar os primeiros insetos jovens ou o início da doença,


deve-se usar o controle biológico para atingir bons resultados. Este sistema de controle é
feito pelo estímulo aos predadores, parasitoides (entomófagos) e entomopatógenos
(fungos, bactérias e vírus) que causam doenças em insetos. Este estímulo é obtido com
um sistema diversificado, com espécies que produzem flores e abrigo. Como exemplo de
predadores, têm-se as joaninhas (gêneros: Azya, Cycloneda, Eriopsis, Rodolia e
Scymnus), tanto fase jovem quanto adulto, que predam ovos, larvas, pulgões e ácaros;
besouros (famílias: Carabidae, Ciccindelidae e Staphylinidae) que predam ovos, larvas,
pupas e caracóis; percevejos (gênero Zelus), pulgões e insetos adultos; bicho lixeiro
(gêneros: Chrysoperla, Ceraeochrysa) predam ovos, lagartas, ninfas e pulgões. Ácaros
predadores fitoseídeos (Hytoseiulus persimilis, P. macropilis, P. longipes, Neoseiulus
californicus e Galendromus occidentalis) predam outros ácaros. Esses ácaros movem-se

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mais rapidamente do que suas presas e comumente são brilhantes. O ácaro Stratiolaelaps
scimitus preda ovos e larvas da mosca Bradysia matogrossensis (Fungus Gnats), praga
de cultivo protegido, e mudas de hortaliças. Os princiapis parasitoides são minivespas
(Braconidae) e dípteros (família Tachinidae) que fazem a postura nos ovos e sobre as
larvas de outras insetos. A vespa Trichogramma pretiosum é um parasitoide de ovo de
borboletas e mariposas, usado no controle de broca (Tuta absoluta) do tomate. Quando
as larvas do parasitoide eclodem, elas se alimentam dos ovos e das larvas reduzindo a
população do inseto praga.

Dentre os microrganismos entomopatogênicos, os fungos apresentam a maior diversidade


conhecida. Eles invadem o corpo dos insetos, penetrando pela cutículas. Uma vez dentro
do inseto estes fungos se multiplicam rapidamente e a morte do inseto é causada por
destruição dos seus órgãos e ocasionalmente por toxinas produzidas pelos fungos. Os
fungos se reproduzem no corpo dos insetos e produzem os esporos, que são dissemidados
no ambiente, pelo vento ou pela chuva, entrando em contato com outros insetos. O uso
documentado de fungos no controle de insetos praga gera produtos comerciais com
registro pelos orgãos oficiais. São eles:

• Beauveria bassiana raça GHA, que possui registro para controle de gafanhotos,
grilos em milho, batata, beterraba e outras;

• Paecilomyces fumesoroseus, raça Apopka 97, que é aprovado para uso em


ornamentais, plantas de interiores e de estufas, cultivadas com plantas não
alimentares para manejo de moscas brancas, pulgões, tripes e ácaros;

• Metarhisium anisopliae para controle de cigarrinhas das pastagens e cana-de-


açúcar;

• Trichoderma harzianum para controle de fungos de solo (Sclerotinia, Fursarium


e Rizoctonia).

Outros fungos de importância ainda em fase de estudo são:

91
• Aschersonia aleyrodis: existem registros deste fungo atacando colônias de mosca
branca. Ele se desenvolve sobre as ninfas do inseto provocando esporulação de
cor amarela ou laranja intensa.

• Coletotrichum gloesporioides: é conhecido como causador de doenças em plantas


(antracnase); recentemente Roberto Cesnick (Embrapa-MeioAmbiente) verificou
que ele infecta a descoberto, mais recentemente a cochonilha Ortézia.

• Entomophthora muscae: este fungo infecta moscas e se multiplica dentro do corpo


da mosca adulta; o abdomen dela se torna enlarguecido e com faixas amarelas,
resultante das estruturas de reprodução do fungo.

• Hirsutella thompsonii: este fungo infecta ácaros, principalmente o da falsa


ferrugem dos citros, que é importante na Flórida e Brasil.

• Insectonrum sporothrix: é um fungo usado no controle de percevejo mosca de


renda.

• Neozygites floridana: este fungo é agente de controle biológico muito eficaz


contra ácaros tetraniquídeos, destacando-se a espécies de ácaros Panonychus spp.
e os Tetranichus spp. Aparece como um crescimento em forma de pó marrom
sobre os ácaros.

• Neozygites aphidis: este é um fungo que ataca pulgões cobrindo o corpo deste
afídio com um pó de cor marrom.

• Nomuraea rileyi: este fungo ataca a curuquerê das crucíferas, lagarta do cartucho
do milho, lagarta da espiga do milho. Ocorre naturalmente em cultivos de soja no
Brasil controlando a lagarta da soja Anticarsia gemmatalis.

• Verticillium lecanii: este fungo ocorre naturalmente e em abundância onde há


cochonilhas sem carapaça, como, por exemplo, a cochonilha verde de citros e
café. Na Europa é muito utilizado em estufas.

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• Zoophthora radicans: este é observado atacando um grande número de espécies
de pragas. Raças têm sido isoladas de várias lagartas, destacando-se a traça da
couve, cigarrinhas, pulgões e alguns besouros. Outras espécies próximas desta
têm sido usadas contra o ataque por tripés.

A ocorrência natural da maioria dos fungos entomopatênicos (biopesticidas) depende das


condições ambientais adequadas para o crescimento deles (umidade e temperatura) e de
altas densidades da praga hospedeira. Isso pode constituir um obstáculo para o efetivo
controle das pragas, pelos agricultores convencionais, porque muitas vezes os danos já
aconteceram, quando ocorre a epizootia (infecção generalizada da população numa área
extensa de cultivo) de determinado agente entomopatogênico. Mesmo quando os
microrganismos são inseridos no sistema produtivo, por meio de produtos adquiridos no
mercado, o sucesso depende das condições ambientais e da intensidade de insetos praga.
Porém, num ambiente diversificado, equilibrado, que atenta para as bases ecológicas, o
processo acontece naturalmente com sucesso e se o agricutor não observar atentamente
ele nem percebe o que está ocorrendo. Apenas verifica que o seu cultivo está totalmente
saudável.

Existem, no mercado, inseticidas biológicos que são produtos do metabolismo de


patógenos, como Abamectin e Spinosad, produzidos pelo processo de
fermentação.Todavia, a utilização destes produtos deve ser aprovada pela legislação ou
pelos orgãos certificadores.

Os vírus correspondem ao segundo maior grupo conhecido de microrganismo


entomopatogênico. Virus Baculovirus atua no controle da lagarta da soja (Anticarsia
gemmatalis) e do milho (Spodoptera fugiperda). O virus Granulose controla a mandorová
da mandioca.

A bactéria Bacillus thuringiensis é usada no controle de lagartas desfolhadoras.


Entretanto sua ação é lenta, dificultando, assim, o controle da praga, quando a incidência
é elevada. Também é baixa sua eficiência no controle de lagartas em ínstares finais ou
quando elas se encontram alojadas no interior de órgãos das plantas como folhas, caule e
frutos.

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Outros inseticidas usados são:

• Óleo de Neem (Azadiractina): é usado como repelente de insetos, em 3 a 4


pulverizações em intervalos de aproximadamente 5 dias. Apresenta boa eficiência
sobre a fase jovem de insetos e é menos eficiente do que o Abamectin e Spinosad
em insetos adultos.

• Óleos vegetais: são acaricidas.

• Sabão de cinza ou de amoníaco: a aplicação deve atingir os afídios, como na parte


inferior das folhas. A aplicação deve ser feita com água não alcalina, de
preferência ao fim do dia, para que a secagem seja lenta para não causar
fitotoxidade.

• Argila com óleo: pode ser aplicada em mistura com sabões e outros pesticidas,
exceto com cobre ou enxofre.

• Calda sulfocálcica: é usada no controle de ácaros. A diluição depende do estádio


de desenvolvimento da planta.

No controle de doenças, além do uso de cultivar resistente e das demais técnicas


apresentadas acima, existem substâncias que auxiliam no processo até se atingir a
completa conversão para o sistema agroecológico. As doenças fúngicas podem ser
prevenidas com produtos fungicidas a base de cobre e enxofre, tais como: calda bordalesa,
calda Viçosa (calda bordalesa + micronutrientes), calda sulfocálcica, leite cru. Auxiliam
no controle de míldio, mofo de Botrytis, antracnose, cercoporiose, ferrugens e outros
fungos. Para oídio, usa-se calda sulfocálcica, bicabornato de sódio e permanganato de
potássio. Estes produtos devem ser pulverizados nas plantas quando as condições
ambientais se tornam propícias ao desenvolvimento do patógeno. O produto deve ser
diluído conforme recomendação e ser pulverizado em 3 a 4 aplicações em intervalos de
sete dias, se as condições continuarem favoráveis. É importante ressaltar que estes
produtos devem ser autorizados pela certificadora.

94
4.3 Síntese da Unidade

Para o cultivo de hortaliças é importante conhecer o solo e prepará-lo adequadamente


para atender as demandas nutricionais das diferentes hortaliças. Além da nutrição, as
hortaliças têm suas exigências em espaçamento, manejo da vegetação espontânea,
irrigação. As pragas e doenças não devem ser regra nos cultivos agroecológicos, mas elas
podem ocorrem até que o processo de conversão se consolide. Desta forma, é necessário
conhecer os patógenos e insetos específicos para cada cultura e as medidas para evitar
prejuízos.

4.4 Para saber mais


Livros

• BETIOLL, W. et al. Produtos Comerciais à base de agentes de biocontrole de


doenças de plantas. Jaguariúna: EMBRAPA,2012. Disponível em:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/930378/1/Doc881.pdf

Este livro apresenta todas os produtos comerciais produzidos a base de


microrganismos, para controle de doenças de plantas cultivadas

• LUCON, C.M.M; CHAVES, A.R. L; BACILIERI, S. Tricoderma.São Paulo:


Inistituto Biológico, 2014. Disponível em:
http://www.biologico.sp.gov.br/docs/trichoderma.pdf

Dica de Leitura

MICHEREFF FILHO, M.; GUIMARÃES, J. A.; LIZ, R. S. de. Recomendações para


o Controle de Pragas em Hortas Urbanas.

95
4.5 Atividades

Pesquise sobre Plantas Olerícolas não Convencionais e o uso de flores na alimentação


humana. Explique como é feito o cultivo dessas plantas.

96
Referências

FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agroteconologia moderna na


produção e comercialização de hortaliças. 3 ed. ver. e ampl. Viçosa, MG: Ed. UFV,
2007. 421 p

FRANCISCO NETO, J. Manual de horticultura ecológica: guia de autossuficiência


em pequenos espaços. São Paulo: Nobel, 1995.141p.

PRIMAVESI, A.M. Manejo Ecológico dos solos. 9 ed., São Paulo, Nobel, 1986.

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RESENDE, P. Manual de horticultura orgânica. Viçosa: Aprenda Fácil, 2003.

Referências Complementares

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Hahne Printing Co, 1958. Reprinted by Acres, USA as The Albrecht Papers, Vol. II,
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ed. ver. Autal. Campinas, 1998. 396 p.

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