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ENFOQUES METODOLÓGICOS: A

CRIANCA, O ESPAÇO E O TEMPO


MARÍLIA GIL DE SOUZA

ENFOQUES METODOLÓGICOS –
A CRIANÇA, O ESPAÇO E O
TEMPO

Taubaté
Universidade de Taubaté
2014
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Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi


Sistema Integrado de Bibliotecas/UNITAU
S729e Souza, Marília Gil de
Enfoques metodológicos: a criança, o espaço e o tempo / Marília
Gil de Souza. Taubaté: UNITAU, 2010.
101p. : il.
Bibliografia
ISBN 978-85-62326-34-9
1. Metodologia de ensino. 2. Prática pedagógica. 3. Ensino de
geografia. 4. Ensino de história. 5. Inclusão. 6. Crianças com
necessidades especiais. I. Universidade de Taubaté. II. Título.
PALAVRA DO REITOR

Palavra do Reitor

Toda forma de estudo, para que possa dar


certo, carece de relações saudáveis, tanto de
ordem afetiva quanto produtiva. Também, de
estímulos e valorização. Por essa razão,
devemos tirar o máximo proveito das práticas
educativas, visto se apresentarem como
máxima referência frente às mais
diversificadas atividades humanas. Afinal, a
obtenção de conhecimentos é o nosso
diferencial de conquista frente a universo tão
competitivo.

Pensando nisso, idealizamos o presente livro-


texto, que aborda conteúdo significativo e
coerente à sua formação acadêmica e ao seu
desenvolvimento social. Cuidadosamente
redigido e ilustrado, sob a supervisão de
doutores e mestres, o resultado aqui
apresentado visa, essencialmente, a
orientações de ordem prático-formativa.

Cientes de que pretendemos construir


conhecimentos que se intercalem na tríade
Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de
forma responsável, porque planejados com
seriedade e pautados no respeito, temos a
certeza de que o presente estudo lhe será de
grande valia.

Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa


leitura.

Bons estudos!

Prof. Dr. José Rui Camargo


Reitor
Apresentação

Caro aluno, este módulo tem como proposta a qualificação da formação inicial e
continuada do professor das séries iniciais do ensino fundamental, visando à
operacionalização da prática do ensino em Geografia e História.

O módulo objetiva sua especialização na prática do magistério, desejando que você faça
do seu trabalho uma prática transformadora, permitindo ousar, dar passos além, cativar
o aluno para o conhecimento desta que, a meu ver, é a disciplina-eixo do currículo
escolar, a Geografia/História.
Sobre a autora

Marília Gil de Souza é graduada em História pela Fundação de Ensino e Pesquisa de


Itajubá – FEPI (1987; 1989), especialista em História – Ênfase: Movimentos Sociais na
Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá – FEPI (1990; 1991) e especialista em
História Moderna e Contemporânea pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
(1993;1994). Já trabalhou na rede pública estadual, municipal e particular de Minas
Gerais e de São José dos Campos, onde atuou no ensino fundamental 1 e 2 e no ensino
médio. Já trabalhou também na FEPI, onde atuou como professora universitária no
curso de História. Atualmente, leciona Geografia no Anglo Cassiano Ricardo em São
José dos Campos-SP, no Colégio Fênix em Guaratinguetá-SP e no curso G9 em Itajubá-
MG.
Caros(as) alunos(as),
Caros( as) alunos( as)

O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se


como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais
diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta
com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande
experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação,
ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição.

Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial.


Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web
interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a
distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais
preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais.

A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo
estudado.

Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para


a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de
blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados
ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem.

Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais
atores desta formação.

Para todos, os nossos desejos de sucesso!

Equipe EAD-UNITAU
Sumário
Palavra do Reitor ............................................................................................................. ix
Apresentação ................................................................................................................... xi
Sobre as autoras .............................................................................................................xiii
Caros(as) alunos(as) ....................................................................................................... xv
Ementa .............................................................................................................................. 1
Objetivos........................................................................................................................... 3
Introdução ......................................................................................................................... 5
Unidade 1. Eixos geradores do conhecimento curricular de Geografia e História . 7
1.1 Pressupostos teóricos do ensino de História e Geografia ........................................... 7
1.2 Eixos geradores do conhecimento ............................................................................ 13
1.3 Metodologia do ensino da História e Geografia e a prática pedagógica em sala de
aula ................................................................................................................................. 16
1.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 19
1.5 Atividades ................................................................................................................. 19
1.6 Para Saber Mais ........................................................................................................ 22
Unidade 2 Estudos de Geografia fundamentos e procedimentos metodológicos ... 25
2.1 Estudos de Geografia ................................................................................................ 25
2.2 PCN de Geografia para o 1º e 2º ciclos .................................................................... 26
2.3 O trabalho coletivo na escola.................................................................................... 28
2.4 Conteúdos e métodos em Geografia na sala de aula nas sérias iniciais do ensino
fundamental .................................................................................................................... 29
2.5 Recursos Didáticos ................................................................................................... 47
2.6 Alfabetização Cartográfica ....................................................................................... 48
2.6.1 Orientação Espacial ............................................................................................... 49
2.6.2 Coordenadas Geográficas ...................................................................................... 50
2.7 Mapas ....................................................................................................................... 51
2.7.1 Um pouco da história da cartografia ..................................................................... 51
2.7.2 O trabalho com mapas na escola ........................................................................... 52
2.7.3 Escala ..................................................................................................................... 54
2.7.4 Projeções cartográficas .......................................................................................... 55
2.8 Síntese da Unidade ................................................................................................... 56
2.9 Atividades ................................................................................................................ 56
2.10 Para saber mais ...................................................................................................... 58
Unidade 3. Ensino de História – fundamentos e procedimentos metodológicos ..... 59
3.1 Ensino de História .................................................................................................... 59
3.2 PCN de História para 1º. e 2º ciclos ......................................................................... 61
3.3 Objetivos do ensino de História .............................................................................. 64
3.4 Conteúdos e métodos em História na sala de aula nas séries iniciais do ensino
fundamental .................................................................................................................... 65
3.5 O Estudo do meio como recurso didático ................................................................. 72
3.6 Iconografia ................................................................................................................ 73
3.7 O Tempo ................................................................................................................... 75
3.8 História do Brasil ...................................................................................................... 77
3.8.1 Os Indígenas: localização e cultura ....................................................................... 78
3.8.2 O colonizador: localização e cultura ..................................................................... 78
3.8.3 A organização da vida brasileira pelos portugueses .............................................. 80
3.8.4 A escravidão negra: o encontro das culturas ........................................................ 82
3.9 Como utilizar documentos históricos na sala de aula ............................................... 84
3.10 Síntese da unidade .................................................................................................. 85
3.11 Atividades ............................................................................................................... 86
3.12 Para saber mais ....................................................................................................... 88
Unidade 4. A Inclusão de crianças com necessidades especiais e o ensino de
História e de Geografia ................................................................................................ 89
4.1 Considerações ........................................................................................................... 90
4.2 Adaptações do método de ensino e da organização didática .................................... 90
4.3 Adaptações do sistema de avaliação ......................................................................... 91
4.4 Cuidados metodológicos........................................................................................... 93
4.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 94
4.6 Atividades ................................................................................................................. 94
4.7 Para saber mais ......................................................................................................... 95
Referências ..................................................................................................................... 97
Referências complementares .......................................................................................... 98
Enfoques
Metodológicos
A Criança, o Espaço e o ORGANIZE-SE!!!

Tempo Você deverá usar de 3


a 4 horas para realizar
cada Unidade.

EMENTA
Ementa

Aplicação de procedimentos metodológicos de projetos


interdisciplinares visando à formação e compreensão da noção de
espaço e tempo na criança. O desenvolvimento de capacidades
cognitivas, emocionais e motoras que favoreçam o aprender
brincando. A compreensão da criança como ser histórico e
geográfico. As relações espaço temporais. A relação espacial
entre as próprias crianças e entre as crianças e os objetos. A
percepção da criança em relação ao tempo natural e histórico. As
necessidades essenciais da criança como um ser social: habitação,
saúde, educação e lazer. A situação da criança no espaço
geográfico: a casa, o bairro, a cidade, o estado, o país, o
continente, o mundo. O pensamento da criança sobre o meio
social. O homem e sua capacidade de intervir na natureza,
produzir e transformar a sociedade.

1
2
Objetivo Geral
Oportunizar ao aluno-mestre ser um elemento ativo no seu próprio processo
de ensino-aprendizagem por meio do exercício dos seus processos de
pensamento, estimulando-o durante todo o módulo e garantindo a articulação
entre conhecimento teórico e prática profissional no estudo dos fundamentos
e das metodologias do ensino de Geografia e História, para o 1º e 2º ciclos do
ensino fundamental. Buscar a recuperação de suas vivências escolares em sua
formação precedente, proporcionando-lhe uma reflexão sobre elas e
permitindo-lhe vivenciar o exercício do ensino interdisciplinar de História e
Geografia junto aos alunos das séries iniciais.

Obj eti vos

Objetivos Específicos

 Aplicar procedimentos metodológicos de projetos interdisciplinares


em Geografia e História, visando à formação e compreensão da noção
de espaço e tempo na criança;

 Elaborar planejamentos que incluam o lúdico no processo ensino


aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento de capacidades
cognitivas, emocionais e motoras que favoreçam o aprender
brincando;

 Utilizar práticas pedagógicas que favoreçam a concepção da criança


como ser histórico e geográfico,

 Desenvolver criativamente materiais e procedimentos didáticos que


facilitem a compreensão, pela criança, das relações espacial e temporal;

3
 Desenvolver criativamente materiais e procedimentos didáticos que
facilitem a compreensão, pela criança, da relação espacial entre as próprias
crianças e entre as crianças e os objetos;

 Desenvolver projetos interdisciplinares e sequências didáticas que


conduzam ao conhecimento, à reflexão e à prática cidadã da criança nos
seguintes espaços geográficos: casa, bairro, cidade, estado, país, continente,
mundo;

 Aplicar uma prática pedagógica que permita desenvolver o pensamento da


criança sobre o meio social e sua capacidade de intervir na natureza,
produzir e transformar a sociedade;

 Aplicar os fundamentos básicos da inclusão de crianças com necessidades


educativas especiais em escolas regulares, utilizando ferramentas em
História e Geografia que facilitem essa inclusão.

4
Introdução

As páginas que se seguem, em conjunto com a realização de atividades propostas,


pretendem proporcionar momentos de reflexão sobre a organização do trabalho
pedagógico no ensino de Geografia e História.

Com essa preocupação, apresento quatro grandes temáticas de estudo: a razão de


estudar Geografia e História, presente na primeira Unidade; os fundamentos e o estudo
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Geografia e História, presentes na
primeira e terceira Unidades; a prática pedagógica do ensino de Geografia e História,
presente na segunda e quarta Unidades, contemplando também uma reflexão sobre
avaliação e tentando aproximá-la de uma realidade mais concreta, vivida
cotidianamente pelo professor; uma reflexão sobre a inclusão de crianças com
necessidades educativas especiais, e o programa sugerido pelo Ministério da Educação e
Cultura (MEC), objetivando humanizar essa prática tão mal aplicada pelos educadores
de uma maneira geral, presente na quarta Unidade.

Visando a facilitar o aprendizado, de um modo geral, os capítulos têm uma estrutura


semelhante.

Depois da apresentação do conteúdo de cada Unidade, você encontrará uma síntese do


que foi nela discutido e poderá verificar seu nível de apreensão do conhecimento, por
meio de atividades propostas. Além disso, caso deseje aprofundar-se no tema, apresento
sugestões de livros, filmes e outros materiais pertinentes aos temas abordados. Há
também a indicação de atividades práticas, que visam provocar a reflexão entre teoria e
prática, bem como contribuir para a elaboração do seu porta-fólio pessoal.

Porta-fólio é uma coleção organizada


Enfim, este material foi pensado como contribuição de trabalhos produzidos por um aluno
ao longo de um período de tempo.
para a formação da prática docente, que, acredito, deve
ser alicerçada em sólido conhecimento teórico.

5
6
Unidade 1

Unidade 1 . Eixos geradores do conhecimento


curricular de Geografia e História

1.1 Pressupostos teóricos do ensino de História e Geografia


Você já se perguntou por que estudar História e Geografia?

Podemos pensar que a História e a Geografia fazem parte de nossa vida cotidiana,
porém podemos também estudá-las formalmente na escola.

A história da educação no Brasil registra que História e Geografia sempre foram parte
essencial do currículo escolar da educação básica. Na época dos jesuítas, eram dadas
como conteúdo a História Sagrada ou as Histórias de vidas de santos (hagiografia) e
seus conteúdos eram combinados com os da Geografia, o que acabou dando início à
disciplina de Estudos Sociais.

Podemos argumentar, porém, que estudar detalhes das sociedades antigas certamente
não aumenta muito nossas chances de nos darmos bem na vida, pois nenhuma empresa
vai contratar um funcionário baseando-se no fato de que ele tem ótimos conhecimentos
de História da Grécia ou sabe o nome das capitais de todos os países do mundo, por
exemplo. Por isso, muita gente acha que História e Geografia são disciplinas que não
servem para nada. Porém, isso não é verdade. Estudar História e Geografia é, sim,
muito importante para nos darmos bem na vida. Vejamos os argumentos, abaixo, que
comprovam isso.

Moreira (2008) afirma que o ser humano não é simplesmente uma coisa entre outras,
um ser que pouco ou nada faz além de trabalhar e consumir. Pelo contrário, o ser
humano é um ser de cultura, e é isso que faz a vida humana tão variada e rica. Sob esse
7
ponto de vista, podemos concluir que História e Geografia são disciplinas muito
importantes. Elas nos tornam mais conscientes de nossa identidade social.

Em sua obra, Moreira (2008) dá-nos um exemplo interessante que ilustra melhor o
papel da História e da Geografia em nossa vida. O exemplo foi tirado do filme Blade
Runner, o caçador de androides, do diretor Ridley Scott, a saber: “Uma das
personagens do filme, suposta filha de um cientista importante, descobre que é na
verdade um androide, isto é, uma máquina com forma humana. Todas as lembranças
que ela tinha desde a infância não eram experiências reais que tinha vivido, mas
informações implantadas pelo cientista em seu cérebro cibernético. A partir do
momento em que descobre a verdade sobre si mesma, ela passa a viver uma crise
existencial. Tal crise, no entanto, não se deve à indignação por a terem feito de tola,
mas sim, ao fato de não ter mais certeza de quem era realmente”.

Você já assistiu a esse filme? Assista e reflita. Esse conflito da personagem significa
que é por meio de nossas experiências passadas que construímos para nossa própria
identidade. Sabemos quem somos no presente porque podemos estabelecer relações
entre as experiências que vivemos no passado e que nos tornaram o que somos hoje. É
exatamente por termos consciência de nossa própria identidade que somos capazes de
agir efetivamente no presente. É por conhecermos nosso próprio passado que somos
capazes de entender nosso papel no presente e agir no mundo de modo a transformá-lo
no futuro.

Pense a respeito da sua identidade individual. Quem é você? Qual seu papel no mundo?
Como pode transformar a sociedade em que vive de modo a melhorá-la?

Se pensar melhor, concluirá que não temos somente uma identidade individual, temos
também uma identidade social. Somos, por exemplo, paulistas. Existe uma identidade
comum a todos os paulistas do norte ou sul de São Paulo, que ultrapassa todo o âmbito
da individualidade de ser de Taubaté. O “ser paulista” já existia antes do nosso
nascimento e, provavelmente, vai continuar existindo mesmo que mudemos para a
França ou outro lugar qualquer. “Ser paulista” é parte essencial do que somos hoje, com
nosso sotaque, nossos hábitos alimentares, nosso vocabulário específico. Conhecer e

8
compreender a história do povo paulista e a geografia do estado de São Paulo é,
portanto, conhecer-nos e compreender-nos melhor também.

Enfim, o estudo da História e da Geografia aguça e amplia nossa compreensão da


realidade social e nos ajuda a nortear a ação social no presente.

Agora que foi mostrada a importância do estudo da História e da Geografia, podemos


pensar: O que estudar em História e Geografia? Como desenvolver esse estudo? Vamos
pensar a respeito disso?

Leia antes a fala de Pinsky e Pinsky (2005):

[P] para informar aí estão, bem à mão, jornais e revistas, a televisão, o


cinema e a internet. Sem dúvida que a informação chega pela mídia,
mas só se transforma em conhecimento quando devidamente
organizada. E confundir informação com conhecimento tem sido um
dos grandes problemas de nossa educação [...]. Exatamente porque a
informação chega aos borbotões, por todos os sentidos, é que se torna
mais importante o papel do professor (PINSKY e PINSKY, 2005, p.
23).

Diante desse pensamento, faz-se necessário selecionar conteúdos para trabalhar e


questionar sempre por que ensinar o conteúdo escolhido e para que ele serve em sala de
aula.

Partindo do pressuposto de que a História e a Geografia estudam a experiência das


pessoas no tempo e no espaço, a prática educativa do professor deve contemplar o fato
de que cada aluno, para além das experiências vividas por outras pessoas em outros
tempos e espaços, tem suas próprias experiências.

O ensino de Geografia e História pode levar os alunos a compreenderem, de forma mais


ampla, a realidade, possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e
propositiva. Para tanto, porém, é preciso que eles adquiram conhecimentos, dominem
categorias, conceitos e procedimentos básicos. Diante disso, o campo do conhecimento
opera e constitui suas teorias e explicações, de modo a poder não apenas compreender
as relações socioculturais e o funcionamento da natureza, às quais historicamente
pertence, mas também conhecer e saber utilizar uma forma singular de pensar sobre a
realidade: o conhecimento geográfico e histórico.
9
Como fazer isso é o nosso grande desafio metodológico, que veremos no item 1.3. Em
relação ao porquê de fazermos isso, observe a reflexão de Miceli (2000):

[É] é do que somos – ou julgamos ser – que devem partir as perguntas


para que possamos ser o que queremos (ou precisamos) ser, não para
julgarmos se o que se fez no passado esteve ou não correto – ambição
de toda História e Geografia moralista – mas para entender, mesmo
que seja à custa desse passado, por que fazemos o que fazemos hoje,
apesar de tantas lições esclarecedoras. [...] Enquanto essas questões
não levarem à insônia os professores de História e Geografia, eles
continuarão pregando para as pedras do deserto e ninguém prestará
atenção neles. Parece mais interessante ver surgir, lentamente, um
fungo de um pedaço de algodão umedecido do que ouvir relatos sobre
a formação e desintegração de grandes impérios, ou sobre a vegetação
de um Estado. [...] Parece e é, porque o fungo, na sua modéstia,
representa uma criação. É algo novo que surge à frente de quem
aprende cheira à vida, enquanto a História e a Geografia cheiram à
poeira, a coisa velha e cheia de traças e retratos de mortos famosos e
carrancudos, com bigodões e óculos fora de moda, descrição fria de
paisagens e locais (MICELI, 2000, p. 13).

Como o aluno apreende os conceitos históricos e físicos?

Primeiramente, devemos lembrar o que a didática já postula incansavelmente: o nosso


ponto de partida é a experiência do aluno. No dia a dia, eles já manejam determinados
conceitos, como economia, sociedade, tempo, cultura, espaço, porém, de maneira
assistemática.

Portanto, o conhecimento que o aluno traz de casa e que deve ser valorizado é o ponto
de partida. Nossa meta deve ser a ultrapassagem desse ponto, pois se for para o aluno
reproduzir o que já sabe, de que adianta a escola?

Mas fazer isso não é simples. Os conceitos de História e Geografia são noções
abstratas, como o conceito de tempo, rotação, translação, cultura, e, quanto mais novo
for o aluno, mais difícil é para ele compreender esses conceitos.

Por isso, caro aluno, o trabalho do professor não deve ser somente o de construir
conceitos, mas também sistematizar esse conhecimento, por meio de práticas realizadas
na realidade do aluno com projetos interdisciplinares que objetivam modificar ou
conhecer o ambiente em que se vive.

10
Para ajudar você a entender como apresentar o conceito dentro da sua historicidade e
espaço próprio e fazer com que o conceito seja compreendido, Schmidt e Cainelli
(2004) sugerem:

Fontes primárias são 1. Identificar os conceitos em fontes primárias e/ou secundárias;


todos os documentos 2. Orientar a organização dos conceitos com base em algum critério
e objetos, a partir dos de classificação;
quais o historiador
3. Identificar conceitos em fontes diferentes, compará-los,
constrói sua narrativa.
Fontes secundárias é observando as semelhanças e diferenças;
o conhecimento 4. Comunicar os conceitos em diferentes contextos, como frases,
histórico já parágrafos, dissertações, temas e narrativas (SCHMIDT E
acumulado, o mesmo CAINELLI, 2004, p. 25).
que historiografia.

Em relação a conceitos, devemos ter cuidado para não reproduzir estereótipos quando
não há uma necessária reflexão a respeito. Por exemplo, o conceito de região nordeste
que se tem introjetado como o de região pobre, povoada por pessoas sem cultura, e
como uma “sub-raça”. Essa ideia do nordestino pobre e sem ação é repassada em
poesias, imagens, músicas. Um sólido conhecimento de História e de Geografia pode
evitar esses estereótipos.

Vale lembrar que construir conhecimento, a partir do cotidiano do aluno e da sua


realidade, ajuda a formação da sua identidade individual e social. A partir do cotidiano,
a criança e o adolescente constroem, junto às demais pessoas que o cercam, a sua
identidade.

Lembra-se da referência que fiz ao filme Blade Runner, o caçador de andróides? É a


questão da identidade novamente em nossa pauta de discussão. Mas não se trata apenas
de uma transmissão de valores de uma geração para outra, dentro de um mesmo grupo e
de uma cultura sobre o meio ambiente. A construção da identidade é mais complexa.

Vamos aprofundar um pouco esse assunto da identidade?

Construir sua identidade supõe os contrastes: eu sou o que o outro não é.

Mas lembro que a realidade do aluno é somente ponto de partida do trabalho docente,
pois nosso trabalho é caminhar com os conceitos conduzindo-o ao acesso ao patrimônio

11
cultural da humanidade, imprescindível para a nossa compreensão enquanto sujeitos no
mundo.

Diante do que refletimos, anteriormente, o que fazer?

Para que sejam ricas em significado, as aulas de História e Geografia devem abarcar a
realidade local, mais imediata, tendo como ponto de partida o que o aluno já conhece.
Mas não se trata apenas de constatar o já conhecido, mas também lançar um olhar novo
sobre o cotidiano, assumir, junto com o aluno, uma postura de dúvida. Por exemplo:
por que praticamente todo município tem uma rua ou praça chamada Tancredo Neves?
Para nós, a resposta é evidente. Para o nosso aluno, não. O mesmo pode ser feito a
partir da observação de prédios antigos, da entrevista com pessoas mais velhas, da
observação do espaço geográfico da escola (por meio de uma excursão por todos os
ambientes da escola).

Nosso papel, enquanto professores de História e Geografia, é auxiliar o aluno na


transposição dessa visão parcial e fragmentada da realidade para uma mais sistemática,
que leve em consideração a perspectiva diacrônica e as relações que sua realidade mais
próxima estabelece com contextos sociais mais Diacrônico: diz-se dos acontecimentos
que ocorreram em temporalidades
amplos. diferentes. Assumir uma perspectiva
diacrônica significa perceber
determinado fenômeno no decorrer da
Deu para perceber que essa abordagem, a partir do passagem do tempo.

conhecimento do aluno, é imprescindível, se


desejamos fazer de nossas aulas uma oportunidade para a reflexão acerca da identidade.
Espero que sim.

Para você fazer uma auto-avaliação sobre o que acabamos de estudar nesta subunidade,
sugiro alguns exercícios no final deste capítulo. Faça-os e avalie-se. Tenho certeza de
que vai gostar da prática.

12
1.2 Eixos geradores do conhecimento
Os eixos geradores do conhecimento formam o que chamamos de estrutura conceitual
básica de uma disciplina. Os conceitos básicos são instrumentos de trabalho para a
análise e compreensão da realidade. Os conceitos de espaço e tempo são básicos no
estudo da Geografia e da História. É nessas duas dimensões que as relações sociais
humanas travam-se, transformando a natureza, produzindo cultura, construindo a
história.

Vamos, pois, falar desses conceitos tão importantes do espaço e tempo.

O espaço ganha existência concreta e visível no chão que pisamos, na terra que
habitamos (espaço geográfico). O tempo ganha existência concreta e visível nos dias e
nas noites que se sucedem, nas condições meteorológicas (sol, chuva, ventos), por
exemplo. Mas além da experiência concreta, espaço e tempo ganham dimensão
abstrata, não visível, por meio do espaço social (relações sociais humanas) onde
vivemos, que é distinto do chão ou espaço geográfico que ocupamos. Por meio dessas
relações, os homens produzem cultura concreta (objetos, instrumentos) e abstrata
(normas de comportamento social).

Com os eixos básicos de conhecimento de tempo e espaço, podemos pensar agora em


definir conteúdos a serem trabalhados em História e Geografia. Vamos conhecer a
proposta programática dos PCN, enriquecida por outra proposta apresentada por
Penteado (2008).

Penteado (2008) sugere uma programação com os eixos geradores do conhecimento, a


partir de três níveis de aprendizagem: o exploratório, o específico da série e o de
ampliação.

Proporcionará experiências e/ou vivências em todas as


Nível exploratório
séries, proporcionando aos alunos condições de
de formação de
amadurecimento para a formação de conceitos
conceitos
específicos a serem trabalhados nas séries seguintes.

13
Nível de Explorará em todas as séries as experiências que os
desenvolvimento de alunos já têm ao chegar à escola, relativas aos
conceitos específicos da conceitos específicos da série. Privilegiará o trabalho
série com conceitos específicos da série.
Cuidará para que os conceitos já trabalhados
Nível de ampliação dos especificamente em séries anteriores sejam
conceitos continuamente retomados e ampliados nas séries
seguintes.

Baseados nesses níveis de aprendizagem, temos condições de entender a proposta de


Penteado (2008) e do MEC (1998). Observe-a, para depois comentá-la em unidades
posteriores.

PROPOSTA CURRICULAR - EIXOS GERADORES DO CONHECIMENTO

Séries
1ª ano 2ª ano 3ª ano 4ª ano 5ª ano
Nível
- Relações - Relações sociais - Relações sociais - Relações sociais - Relações sociais
sociais -Tempo
- Espaço geográfico:
- Tempo dias do mês
Exploratório
(vivências)

- Natureza (cronologia)
- Cultura: -Tempo histórico:
.História local e hoje, ontem,
do cotidiano amanhã,
.Comunidade presente,
indígena passado, futuro.

14
Séries
1ª ano 2ª ano 3ª ano 4ª ano 5ª ano
Nível
-O estudo da -Espaço: - Espaço terrestre: Espaço terrestre: -Tempo histórico
paisagem local . divisões: .orientação: norte,sul, .movimento de e espaço
-Nomear domínios e leste, oeste translação geográfico
elementos fronteiras .divisão: continentes e .divisão política: país brasileiro ontem
componentes -Representação oceanos -Espaço Brasil: e hoje
das paisagens espacial . movimento de rotação .divisão política -Etnias
-Representar o -Representação da Terra -Espaço local: formadoras do
espaço escolar terrestre: - Tempo geográfico: .município povo brasileiro,
. globo .calendário, dia, hora -Tempo histórico: ontem e hoje
. mapa-múndi -Tempo histórico: .pessoa, local, longa - História das
- Natureza: .transformações: natureza duração organizações
. água e terra e cultura, ontem e hoje - História das populacionais:
- Cultura: - Representação organizações -Deslocamentos
. na água e na temporal: populacionais: populacionais
terra . tempo de curta duração -Deslocamentos -Organizações e
.História local e -Cultura: populacionais lutas de grupos
Específico da série

do cotidiano .História local e do -Organizações e sociais e étnicos


.Comunidade cotidiano lutas de grupos -Organizações
indígena .Comunidade indígena sociais e étnicos políticas e
-Organizações administrações
políticas e urbanas
administrações -O papel das
urbanas tecnologias na
-O papel das construção de
tecnologias na paisagens
construção de urbanas e rurais.
paisagens urbanas e -Informação,
rurais. comunicação e
-Informação, interação
comunicação e -Distâncias e
interação velocidades no
-Distâncias e mundo urbano e
velocidades no no mundo rural
mundo urbano e no -Urbano e rural:
mundo rural modos de vida
-Urbano e rural:
modos de vida

15
Séries
1ª ano 2ª ano 3ª ano 4ª ano 5ª ano
Nível
- Deslocamento - Natureza - Natureza - Natureza - Natureza
espacial escolar - Cultura - Cultura - Cultura - Cultura
Ampliação

- Relações - Espaço - Espaço - Espaço - Espaço


sociais escolares - Vocabulário oral - Vocabulário oral e - Tempo - Tempo
- Vocabulário e escrito escrito - Vocabulário oral e -Vocabulário oral
oral escrito e escrito

1.3 Metodologia do ensino da História e Geografia e a prática


pedagógica em sala de aula
Se fizermos uma retrospectiva pedagógica, veremos que os procedimentos que
marcaram o ensino de História contemplaram listas de heróis desvinculados de seu
contexto, agindo de maneira inesperada, cheios de bondade, em datas aleatórias. O
apego à ordem cronológica dos acontecimentos, como se a História se desenvolvesse
num sentido único, também é um procedimento forte. Em Geografia, não foi diferente.
Os professores passavam extensas listas de nomes de acidentes geográficos, bem como
enormes listas indicando altitudes de picos, montanhas e planaltos, extensão de rios etc,
como se esses dados fossem todos independentes entre si, eternos, constantes e
estáticos.

Você chegou a ter aulas assim? Com certeza, um ou outro professor deve ter usado essa
metodologia, pois não é tão difícil assim encontrar práticas pedagógicas reprodutivistas.

Atualmente, a pedagogia orienta para o desenvolvimento de temas que facilitam


abordagens históricas e geográficas integradas, por meio dos famosos projetos
interdisciplinares ou da pedagogia de projetos, baseados em eixos geradores do
conhecimento, como já vimos anteriormente.

A proposta metodológica é iniciar no estudo da escola e terminar no estudo do mundo,


passando, sucessivamente, pela família, bairro, município, estado, país. Os princípios
que norteiam essa forma de organização dos eixos geradores do conhecimento (e
contribuem para que o processo de aprendizagem ocorra mais facilmente) são:

16
- quando se faz do “próximo” para o “distante”: estuda-se primeiro a escola e
depois a cidade;

- quando caminha do “concreto” para o “abstrato”: estuda-se primeiro animais,


na própria sala de aula, como um peixinho no aquário e depois a baleia, por
exemplo;

- quando se caminha da “parte” para o “todo”: estudam-se as plantações


começando por observar uma fruta para depois ver a plantação como um todo;

- quando se parte do “simples” para o “complexo”: estuda-se o bairro para


depois ver o município.

Porém precisamos questionar a maneira radical em agir sempre assim, pois a


experiência tem nos mostrado que a aprendizagem se faz num movimento constante
que vai tanto das partes para o todo como do todo para as partes ao longo de todo o
processo. Será que é melhor estudar uma abelha em suas partes para depois ver toda a
colmeia e sua produção? A metodologia a ser usada vai depender da situação que
professores e alunos estão vivendo. Também podemos pensar que é concreto para o
aluno aquilo que ele acredita que realmente existe, como fadas, duendes, amigos
imaginários. É “próximo” do aluno aquilo que, pela significação e importância por ele
atribuída, passa a fazer parte de sua realidade, como uma bicicleta que ele vai ganhar no
natal e que só viu num comercial de televisão.

Inicialmente, é importante proporcionar à criança a oportunidade de lidar com o espaço


dominável por ela, por meio, por exemplo, de atividades lúdicas.

A cada experiência realizada, seguir-se-ia, imediatamente, a confecção de um desenho


que a representaria.

Com essas situações, a criança vivenciaria noções de dentro e fora, limites e fronteiras.
Ela seria iniciada em uma representação espacial por meio do desenho feito após cada
experiência e trabalharia adequadamente para esse fim. Depois disso, a passagem para
mapas e globo seria uma questão de grau, uma vez que a confecção de tais
representações, por profissionais, é facilmente compreensível para a criança pelo
recurso do desenho, da fotografia, quando vivenciados por ela.

17
Vamos lembrar a ideia do subtema anterior que nos recomenda trabalhar a partir da
realidade e das experiências do aluno. Até chegar ao 1º ano, a criança já viveu no
mínimo 6 anos na sua família, tendo, portanto, dominado os conhecimentos necessários
para sobreviver, bem como os conhecimentos sobre o bairro onde vive. O que temos
visto é que a escola desconsidera esse conhecimento e trabalha um modelo de família e
de lar estereotipado (papai-mamãe-filhinho), que nada tem a ver com a realidade vivida
pelo aluno no grupo social (pais separados, mães solteiras, avós assumindo netos,
homossexuais adotando filhos).

São comuns nos livros de História, Geografia ou Estudos Sociais cenas como a de um
casal de cor branca, sentado em torno de uma mesa farta, numa sala limpa e agradável,
acompanhado de duas ou três crianças, para representar a família reunida na hora da
refeição. Acompanha o desenho um texto que é lido sem questionamentos e análises,
com os dizeres: Esta é minha família.

Pergunto: À família de quantos de nós, alunos e professores, corresponde esse modelo?


A escola deveria ter um pouco mais de senso de realidade.

Na escola, vemos um trabalho formal e vazio, no qual as crianças não sabem direito o
nome da professora, dos colegas, da diretora.

Os conceitos básicos que formam os eixos geradores de conhecimento de Geografia e


História, já citados no subitem anterior, são um instrumento necessário para a
organização do trabalho escolar na perspectiva de cidadãos críticos e atuantes na
sociedade.

Para concluir, podemos dizer que é preciso substituir a apreensão fragmentada da vida
social, à qual os alunos estão sendo expostos, por uma compreensão articulada da vida
social, no seu funcionamento e na sua historicidade. Somente, assim, formaremos
sujeitos críticos, capazes de uma atuação consequente de sua realidade.

18
1.4 Síntese da Unidade
Esta unidade apresentou, no item 1.1, as razões que justificam estudar História e
Geografia e os pressupostos teóricos dessas disciplinas, enfatizando como o aluno
aprende os conceitos históricos e físicos. Conclui mostrando como o estudo da História
e da Geografia aguça e amplia nossa compreensão da realidade social e no ajuda a
nortear a ação social no presente. Apresenta também, no item 1.2, os eixos geradores
do conhecimento que formam o que chamamos de estrutura conceitual básica de uma
disciplina. São apresentados os conceitos de espaço e de tempo como básicos no estudo
da Geografia e da História, esclarecendo que é nessas duas dimensões que as relações
sociais humanas travam-se, transformando a natureza, produzindo cultura, construindo
a história. É sugerido no final desse subitem um quadro curricular de Geografia e
História para o ensino fundamental 1. Finalmente, o item 1.3 apresenta um breve
histórico da educação brasileira sobre a prática pedagógica em História e Geografia,
expondo, em seguida, os critérios básicos que norteiam a metodologia dessas
disciplinas. Para concluir, recomendo que precisamos trocar essa apreensão parcial da
vida social que as escolas apresentam aos alunos, por uma outra mais articulada da vida
social, no seu funcionamento e na sua historicidade. Penso que, com essa nova
metodologia, conseguiremos formar sujeitos críticos, com condições cidadãs de
atuarem de maneira transformadora em sua realidade.

1.5 Atividades
Para ampliar sua reflexão sobre o tema, a leitura do texto Contribuição das Ciências
Humanas para a formação do aluno do Ensino Fundamental, do livro de Heloísa Dupas
Penteado (PENTEADO, H. D. Metodologia do Ensino de História e Geografia. 2. ed.
revista e ampliada. São Paulo: Cortez, 2008. p.27-28), é bastante enriquecedora. No
texto, a autora faz uma reflexão sobre o papel das ciências humanas na formação
integral do homem, utilizadas amplamente em História e Geografia, analisando sua
importância.

Transcrevo-o, abaixo, para sua melhor formação:

19
CONTRIBUIÇÃO DAS CIÊNCIAS HUMANAS PARA A FORMAÇÃO DO
ALUNO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Entendemos a presença das Ciências Humanas no Ensino Fundamental como um dos


elementos responsáveis pela preparação de um cidadão crítico, dotado de uma
consciência social provida de objetividade suficiente que lhe possibilite:

- perceber a sociedade em que vive como construção humana, que se reconstrói


constantemente ao longo das gerações, o que não envolve necessariamente avanços ou
melhorias: essa reconstrução pode ser reprodutora ou transformadora, realizando-se em
um fluxo constante, dotado de historicidade, que orienta os processos aí desenvolvidos;

- perceber-se a si próprio como um agente social que fatalmente intervém na sociedade,


seja compactuando com ela, seja transformando-a;

- perceber o sentido dos processos que orientam o constante fluxo social, bem como o
sentido de sua intervenção nesse processo.

A presença das Ciências Humanas nas cinco séries do Ensino Fundamental, através das
disciplinas História e Geografia, devem garantir a iniciação do estudante nessa
preparação de forma mais ampla. Para isso, é necessário assegurar para cada série um
conhecimento significativo, ainda que introdutório, que possa ser utilizado pelo
estudante ao longo de sua vida, na convivência com seus semelhantes, como um
instrumento que lhe possibilite pensar sua realidade e melhor conhecê-la, para melhor
atuar nela e se apossar dela, em vez de ser por ela engolido.

Assim, o mínimo de saber significativo provindo das Ciências Humanas que se pode
deixar com alguém que tenha passado um ano pelos bancos escolares é a introdução ao
conhecimento de que “o homem é um ser construtor e criador; que faz a natureza,
juntamente com outros homens, para garantir a sua sobrevivência”.

O avanço possível nesse conhecimento, para quem permanece ao longo das séries
iniciais do Ensino Fundamental, é saber que “a vida social construída pelo homem é

20
reconstruída ao longo das gerações; que essa reconstrução não significa necessariamente
avanços ou melhorias”.

Como se trata de saberes significativos, eles funcionarão para o indivíduo como


instrumentos de pensamento e de conhecimento sobre sua vida, geradores de outros
conhecimentos – e, portanto, são recursos eficientes no seu trabalho de construtor
social, como ser humano que é.

Traduzir essa concepção de Ciências Humanas na prática pedagógica de sala de aula


exige que se situe a disciplina História e Geografia como “estudos de vida do homem
em sociedade”. Estudos norteados pela História e Geografia e alicerçados nas diferentes
Ciências Humanas cujos objetos de estudo apresentam pontos de interseção – e que, por
isso mesmo, devem estar integradas, a partir de uma estrutura formada de eixos
geradores de conhecimentos comuns a todas elas. O que tornará possível ao aluno
apreender globalmente a vida social de modo articulado, no seu funcionamento e na sua
historicidade.

Agora que você já se aprofundou um pouco a respeito do conteúdo proposto neste


capítulo, penso que tem condições de fazer o exercício abaixo. Troque ideias com os
colegas, pesquise, entreviste, faça o melhor que puder. Depois envie ao seu professor.

Partindo do pressuposto que o estudo da História e da Geografia aguça e amplia nossa


compreensão da realidade social e no ajuda a nortear a ação social no presente, leia a
poesia abaixo e responda às seguintes questões:

1- Qual é a visão de História e Geografia defendida pelo autor da poesia?


2- Essa visão pode ser ensinada em sala de aula? Justifique.

Perguntas de um trabalhador que lê


(Bertolt Becht)

Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?


Nos livros estão nomes de reis; os reis carregaram pedras?
E Babilônia, tantas vezes destruída, quem a reconstruía sempre?
Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a edificaram?
No dia em que a Muralha da China ficou pronta,
21
para onde foram os pedreiros?
A grande Roma está cheia de arcos-do-triunfo:
quem os erigiu? Quem eram
aqueles que foram vencidos pelos césares?
Bizâncio, tão famosa, tinha somente palácios para seus moradores? Na legendária
Atlântida, quando o mar a engoliu, os afogados continuaram a dar ordens a seus
escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César ocupou a Gália.
Não estava com ele nem mesmo um cozinheiro? Felipe da Espanha chorou quando
sua frota naufragou. Foi o único a chorar?
Frederico Segundo venceu a guerra dos sete anos. Quem partilhou da vitória?
A cada página uma vitória.
Quem preparava os banquetes comemorativos? A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas informações. Tantas questões.

(Disponível em: <http://www.iea.usp.br/iea/artigos/konderbrecht.pdf>. Acesso em: 06


ago. 2009.)

ATIVIDADE APLICADA

Prepare uma aula introdutória para o 5º ano, a partir da leitura da poesia acima. O
objetivo é construir com os alunos uma noção do que é História e Geografia e quem são
seus sujeitos.

1.6 Para Saber Mais


Filmes

BLADE RUNNER, o caçador de androides. Produção de Ridley Scott. EUA: Warner


Brother Distribuidora, 1982. DVD (117 min). Legendado. Inglês, Português e Espanhol.

Considerado um clássico da ficção científica, o filme permite a reflexão sobre a relação


que estabelecemos entre memória e identidade.

UMA CIDADE sem passado. Produção de Michael Verhoeven. Alemanha: Play Art
Home Vídeo, 1989. DVD (115 min). Legendado. Inglês e Português.

22
Esse filme permite várias reflexões, por exemplo, a forma como se desenvolve a
pesquisa histórica e os interesses envolvidos no registro oficial da História.

ADEUS, Lênin! Produção de Wolfgang Becker, Alemanha: Imagem Distribuidora ,


2003. DVD (117 min). Legendado. Alemão e Português.

Ambientado no contexto do fim da guerra fria, permite compreender a relação entre


cultura material e identidade.

DE VOLTA para o futuro. Direção: Robert Zemeckis. EUA: Universal Pictures,


1985.DVD (115 min. Legendado. Inglês e Português.

Um garoto viaja no tempo, voltando ao ano de 1955. Nesse filme, é possível perceber as
transformações no espaço geográfico de uma cidade.

PRIMAVERA, verão, outono, inverno. Direção de Kim Ki-Duk. Coréia do Sul:


Imovision. Distribuidora, 2003. DVD (115 min). Legendado. Inglês e Português.

Por meio da convivência entre dois monges, que compartilham a solidão em um lago
rodeado por montanhas, são apresentadas as quatro estações do ano, enfatizando cada
aspecto de suas vidas. Nesse filme, é possível perceber a influência das estações em
nossas vidas e a produção cultural em cada uma delas.

Sites

Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade, pesquise em artigos e outras
produções científicas e culturais nos sites a seguir:

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Disponível em: <www.iea.usp.br/artigos>.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA-TV ESCOLA. Disponível em:


<www.tvebrasil.com.br/salto/>.

DOMÍNIO PÚBLICO. Disponível em: <www.dominiopublico..gov.br/>.

23
24
Unidade 2

Estudos de Geografia fundamentos e


procedimentos metodológicos

2.1 Estudos de Geografia


A Geografia durante muito tempo serviu para descrever paisagens, mas, estanque da
ação humana, era uma Geografia estática e memorizada pelos alunos.

O ensino de Geografia dedica-se muito mais a realidades estáticas do que processos


transformadores.

Dada a nossa realidade atual, a Geografia não pode somente ser descritiva ou tão-
somente servir para interpretar o mundo política e economicamente. Antes de tudo, ela
deve ser aquela que trabalha com as relações socioculturais da paisagem em seus
elementos físicos e biológicos, por meio de investigações das relações entre esses
elementos que formam o espaço geográfico. Esse espaço geográfico é aquele produzido
pelo homem que organiza social e economicamente a sociedade. Portanto, o homem é o
sujeito que constrói e transforma esse espaço constantemente. O aluno sabendo de sua
realidade consegue influenciá-la enquanto cidadão.

Sabe-se que muitos professores das séries iniciais, sem acesso a um conhecimento
técnico e teórico constante e profundo, continuam trabalhando com seus alunos a
Geografia somente descritiva e sem sentido, fora da realidade deles. Uma Geografia
nada transformadora.

25
É necessário, que já nas séries iniciais, o professor trabalhe tendo o espaço geográfico
como tema central: conceitos de paisagem, território e lugar.

Como nos mostra os PCN de Geografia, no momento atual, o meio técnico científico
informacional adquiriu um papel fundamental e, em meio ao processo de globalização e
massificação, o mundo convive com novos conflitos e tensões, tais como o declínio dos
estados-nações, a formação de blocos econômicos, a desterritorialidade e outros temas
que recuperem a importância do saber geográfico. Há uma multiplicidade de questões
que, para serem entendidas, necessitam de um conhecimento geográfico bem estudado.

2.2 PCN de Geografia para o 1º e 2º ciclos


A proposta curricular nacional de Geografia do 1º ao 5º ano, feita pelo MEC (Ministério
da Educação) é bastante rica e completa. Vale a pena conhecê-la. Sugiro adquiri-la,
consultá-la nas escolas ou no site do MEC: www.mec.gov.br.

Para facilitar o entendimento, é necessário dividir a abordagem da Geografia em


primeiro ciclo (do 1º ao 3º ano) e segundo ciclo (do 4º ao 5º ano).

A Geografia trabalha com as relações entre o processo histórico, que regula a formação
das sociedades humanas, e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço
geográfico e das paisagens. Em todos os anos do Ensino Fundamental, a análise das
paisagens não pode ser feita na forma de
descrição, e sim na dinâmica de suas
transformações.

Vamos pensar nessa divisão, lembrando que


a psicologia das idades: No primeiro ciclo, o
trabalho deve ser focado na natureza e nas
suas relações com a ação antrópica, tanto Figura 2.1 - Espaço transformado:
ocupação do homem no espaço.
individual quanto grupal, para a construção Fonte:http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/
arquivos/ Image/conteudos
do espaço geográfico. /imagens/2geografia/7cidades.jpg
Acesso em 16 jul. 2010
26
No segundo ciclo, devem ser focadas as relações entre campo e cidade, o papel do
trabalho na transformação dos espaços e da tecnologia, as informações, a comunicação e
os transportes.
Nas séries iniciais, a Geografia deve ser
ensinada de modo que o aluno perceba
que ser cidadão é fazer parte dessa
realidade integrada nas relações entre
natureza e sociedade, sujeita a muitas
mudanças e que ele, aluno, é peça
fundamental nessas mudanças. Vejam a
foto sobre densidade demográfica: o
Figura 2.2 - Espaço tranformado: ação do homem transforma o espaço natural. Ele
homem no espaço natural em relação ao
transporte. planejou devidamente? Quais as
Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/
tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/ consequências de sua ação? Como agir de
geografia/4barcop.jp
Acesso em 16 jul. 2010
maneira consciente?

O ensino da Geografia deve desenvolver nas crianças a visão da realidade que as


cercam, para formar cidadãos críticos capazes de se posicionarem frente às situações
que enfrentam e gerar mudanças e
transformações significativas.
Vejam a foto sobre agropecuária: todos
usufruem dessa transformação? A
exploração do espaço é indevida ou não?
Quais as consequências dessa
exploração? Como podemos aperfeiçoar
Figura 2.3 - Espaço transformado: relação
o processo de transformação? campo e cidade.
Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/
arquivos/ image/conteudos/imagens/2geografia/
3agropec.jpg
Acesso em 16 jul. 2010

27
2.3 O trabalho coletivo na escola
Para desenvolver este tema, nos basearemos nos objetivos gerais de Geografia para o
ensino fundamental e nos objetivos de Geografia do 1º e 2º ciclos, presentes nos
Parâmetros Curriculares Nacionais, editados pelo Ministério da Educação (1998).

Os objetivos serão somente apresentados para conhecimento. Posteriormente, à medida


que estudarmos metodologia e recursos didáticos, refletirmos a respeito deles.

OBJETIVOS GERAIS DE GEOGRAFIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL


Espera-se que, ao longo do ensino fundamental, os alunos construam um conjunto de
conhecimentos referentes a conceitos, procedimentos e atitudes relacionados à Geografia.
Nesse sentido, os alunos deverão ser capazes de:
• conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas
múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades na sua construção e
produção do território, da paisagem e do lugar;
• identificar e avaliar as ações dos homens em sociedades e suas consequências em
diferentes espaços e tempos para adquirir referenciais que possibilitem uma participação
propositiva e reativa nas questões socioambientais locais;
• compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em
suas dinâmicas e interações;
• compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços
técnicos e tecnológicos são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não
são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se
em democratizá-las;
• conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa de Geografia para compreender o
espaço, a paisagem, o território e o lugar, assim como os seus processos de construção,
identificando suas relações, seus problemas e suas contradições;
• fazer leituras de imagens, dados e documentos de diferentes fontes de informação, de modo
que possa interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as
diferentes paisagens;
• saber utilizar a linguagem cartográfica para obter informações e apresentar a espacialidade
dos fenômenos geográficos;
• valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sócio-diversidade, reconhecendo-a como
um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia.

OBJETIVOS DE GEOGRAFIA PARA O PRIMEIRO CICLO


Espera-se que, ao final do primeiro ciclo, os alunos sejam capazes de:
• reconhecer, na paisagem local e no lugar em que se encontram inseridos, as diferentes
manifestações da natureza e a apropriação e transformação dela pela ação de sua
coletividade e de seu grupo social;
• conhecer e comparar a presença da natureza, expressa na paisagem local, com as
manifestações da natureza presentes em outras paisagens;
• reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos sociais apropriam-
se da natureza e a transformam, identificando suas determinações nas relações de trabalho,
nos hábitos cotidianos, nas formas de se expressar e no lazer;
• conhecer e começar a utilizar fontes de informação escritas e imagéticas utilizando, para
tanto, alguns procedimentos básicos;
• saber utilizar a observação e a descrição na leitura direta ou indireta da paisagem, sobretudo
por meio de ilustrações e da linguagem oral;
• reconhecer, no seu cotidiano, os referenciais espaciais de localização, orientação e distância
28
de modo que possa deslocar-se com autonomia e representar os lugares onde vivem e se
relacionam;
• reconhecer a importância de uma atitude responsável de cuidados com o meio em que
vivem, evitando o desperdício e percebendo os cuidados que se deve ter na preservação e na
manutenção da natureza.
OBJETIVOS DE GEOGRAFIA PARA O SEGUNDO CICLO
Espera-se que, ao final do segundo ciclo, os alunos sejam capazes de:
• reconhecer e comparar o papel da sociedade e da natureza na construção de diferentes
paisagens urbanas e rurais brasileiras;
• reconhecer semelhanças e diferenças entre os modos de vida das cidades e do campo,
relativas ao trabalho, às construções e moradias, aos hábitos cotidianos, às expressões de
lazer e cultura;
• reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes entre o mundo
urbano e rural, bem como as relações que sua coletividade estabelece com coletividades de
outros lugares e região, focando tanto o presente como o passado;
• conhecer e compreender algumas das consequências das transformações da natureza
causadas pelas ações humanas, presentes na paisagem local e nas paisagens urbanas e
rurais;
• reconhecer o papel das tecnologias, da informação, da comunicação e dos transportes na
configuração de paisagens culturais urbanas e rurais e na estruturação da vida em sociedade;
• saber utilizar os procedimentos básicos de observação, descrição, registro, comparação,
análise e síntese na coleta e no tratamento da informação, mediante fontes escritas ou
imagéticas;
• utilizar a linguagem cartográfica para representar e interpretar informações em linguagem
cartográfica, observando a necessidade de indicações de direção, distância, orientação e
proporção para garantir a legibilidade da informação;
• valorizar o uso refletido da técnica e tecnologia em prol da preservação e conservação do
meio ambiente e da manutenção da qualidade de vida;
• adotar uma atitude responsável, em relação ao meio ambiente, reivindicando, quando
possível, o direito de todos a uma vida plena num ambiente preservado e saudável;
• conhecer e valorizar os meios de vida de diferentes grupos sociais, como se relacionam e
constituem o espaço e a paisagem nos quais se encontram inseridos.

2.4 Conteúdos e métodos em Geografia na sala de aula nas


sérias iniciais do ensino fundamental
Em relação ao conteúdo, podemos montar uma sugestão de plano de ensino das quintas
séries iniciais do ensino fundamental. Para todos os anos, vamos fazer a descrição do
conteúdo programático e analisar algumas ideias específicas para cada série.
Seguiremos, novamente, a sugestão de Penteado (2008) e do MEC-PCN de Geografia
(1998):

29
Séries
Nível

1ª ano 2ª ano 3ª ano 4ª ano 5ª ano

- Relações sociais - Relações sociais -- Relações -Relações sociais - Relações sociais


- Espaço -Tempo sociais
- Tempo geográfico:
- Natureza dias do mês
Exploratório
(vivências)

- Cultura: (cronologia)
.História local e - Tempo
do cotidiano histórico: hoje,
.Comunidade ontem, amanhã,
indígena presente, passado,
futuro.

-O estudo da -Espaço: - Espaço Espaço terrestre: -Tempo histórico e


paisagem local . divisões: terrestre: .movimento de translação espaço geográfico
-Nomear domínios e .orientação: .divisão política: país brasileiro ontem e hoje
elementos fronteiras norte,sul, leste, -Espaço Brasil: -Etnias formadoras do
componentes das -Representação oeste .divisão política povo brasileiro, ontem
paisagens espacial .divisão: -Espaço local: e hoje
-Representar o -Representação continentes e .município - História das
espaço escolar terrestre: oceanos -Tempo histórico: organizações
. globo . movimento de .pessoa, local, longa populacionais:
. mapa-múndi rotação da Terra duração -Deslocamentos
- Natureza: - Tempo - História das organizações populacionais
. água e terra geográfico: populacionais: -Organizações e lutas
Específico da série

- Cultura: .calendário, dia, -Deslocamentos de grupos sociais e


. na água e na hora populacionais étnicos
terra -Tempo -Organizações e lutas de -Organizações políticas
.História local e histórico: grupos sociais e étnicos e administrações
do cotidiano .transformações: -Organizações políticas e urbanas
.Comunidade natureza e administrações urbanas -O papel das
indígena cultura, ontem e -O papel das tecnologias tecnologias na
hoje na construção de paisagens construção de
- Representação urbanas e rurais. paisagens urbanas e
temporal: -Informação, comunicação rurais.
. tempo de curta e interação -Informação,
duração -Distâncias e velocidades comunicação e
-Cultura: no mundo urbano e no interação
.História local e mundo rural -Distâncias e
do cotidiano -Urbano e rural: modos de velocidades no mundo
.Comunidade vida urbano e no mundo
indígena rural
-Urbano e rural: modos
de vida
- Deslocamento - Natureza - Natureza - Natureza - Natureza
espacial escolar - Cultura - Cultura - Cultura - Cultura
- Relações sociais - Espaço - Espaço - Espaço - Espaço
Ampliação

escolares - Vocabulário oral - Vocabulário - Tempo - Tempo


- Vocabulário oral e escrito oral e escrito - Vocabulário oral e escrito -Vocabulário oral e
escrito

Para o trabalho com as crianças, no 1º ano, o professor deve observar os seguintes


objetivos:
- vivência organizada das relações sociais escolares;
- introdução vivencial em relação ao tempo cronológico;
- exploração e uso organizado do espaço escolar;
30
- introdução à observação de elementos da natureza e cultura.

Nesse sentido, o professor irá trabalhar com seus alunos a formação de atitudes
adequadas para que convivam em seu ambiente escolar de forma organizada e saudável,
levando-os a aprender a conviver num espaço público (seu ambiente escolar) e, ao
mesmo tempo, aprender conhecimentos específicos do ensino de Geografia.
Os três primeiros objetivos que serão trabalhados no 1º semestre são:

1 – Relações Sociais
O professor deve ter em mente que os alunos dessa série estão chegando à escola,
portanto o ensino deve acontecer de forma exploratória e suas vivências devem ser
consideradas como conteúdo.
O professor quando organiza com seus alunos o trabalho escolar (normas de
convivência, comportamentos, relações sociais), no nível exploratório, prepara-os para a
aprendizagem de Geografia e os ajuda a desenvolver a oralidade, a observação das
normas orientadas por critérios, o registro gráfico de observações feitas, o saber
vivenciar situações coletivas. Essas situações ajudam no bom desenvolvimento e
rendimento do trabalho escolar, além de propiciar condições para o exercício da
cidadania. Devem, portanto, ser levadas a sério.
Além de se trabalhar as relações sociais num nível
de vivências, o aluno deve ser percebido dentro de
seu grupo social que é a classe, formada por
indivíduos com características parecidas ou muito
diferentes entre si. O professor deve ajudar o aluno
a perceber sua identidade, dos seus colegas e do
professor. Figura 2.4 - Relações sociais na
escola
Como isso pode ser feito? Veja a Figura 2.4, ela Fonte:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/
retrata as relações sociais das crianças na escola, arquivos/File/imagens/5pedagogia/7escola
sua interação, comunicação entre colegas e dewey.jpg
Acesso em 16 jul. 2010.
professor.

31
Os alunos devem observar e identificar seu grupo por meio de jogos, brincadeiras e
conversas. Eles devem se perguntar a respeito do próprio grupo:
- nosso grupo é grande?
- quantos meninos há? E quantas meninas?
- quais as idades?
- quem é o mais novo? E o mais velho?
- o que temos de parecido?
O professor deverá saber lidar com as respostas e prestar atenção na coerência delas.
Por meio das respostas, deve-se usar a criatividade nas atividades seguintes, no sentido
de ir caracterizando o grupo formado pela classe.
Atividades propostas:
a) recorrer a jogos e brincadeiras para que os alunos se envolvam nas atividades de
reconhecimento do grupo e de si mesmo em relação ao grupo;
b) convidar, abertamente, o aluno a falar ou brincar de par ou ímpar para se decidir
quem fala primeiro;
c) provocar seus alunos para que se sintam desafiados, recorrendo a diversos meios que
resultem em respostas a respeito das características da classe: faixa etária, composição
sexual, tamanho do grupo, componentes etc.
d) encaminhar perguntas que especifiquem a finalidade do grupo na série em que estão
(Por que estamos aqui?);
e) trabalhar atividades que levem os alunos a identificarem os nomes de todos (Vamos
decorar os nomes começados com a?; Agora vamos decorar os nomes da primeira
fileira?);

2 – Tempo
O tempo deverá, na série citada, ser trabalhado de forma exploratória. Assim, deve-se
sempre colocar a data na lousa e solicitar que os alunos coloquem-na no caderno.
Por meio de documentos fornecidos pelos alunos à escola, o professor deve conhecer a
história de cada um, pois, muitas vezes, os alunos desconhecem informações sobre si
mesmos. Faz-se necessário, portanto, conferir as informações fornecidas para a escola
com aquelas dadas pelos alunos, relativas a tempo, como data de nascimento, hora do

32 nascimento, local etc.


É importante que o aluno saiba identificar a contagem e o registro do tempo. Isso deverá
ser trabalhado, por exemplo, por meio do dia do aniversário de cada um (Por que
comemorarmos este dia? Todas as pessoas têm essa data como especial?)
Pode-se, também, destacar outras datas significativas para a escola, a cidade, ao longo
do ano, e registrar em desenhos ou quadro a data de aniversário de outros alunos.

3 – Espaço
Este conceito será trabalhado na série em questão, também, em nível exploratório.
Nesse sentido, o professor irá direcionar o conceito de espaço por meio de perguntas e,
até, registros. Seguem algumas questões que possibilitam trabalhar essa relação
espacial:
a) Onde está nossa classe?
b) Existem classes próximas? Quais?
c) Onde estão os banheiros?
d) Nossa classe está próxima à diretoria?
Essas perguntas serão respondidas após uma visita dos alunos à escola, para que
percebam referências e localizações. Depois, é importante registrar os espaços em
desenhos. Portanto, o esquema a ser seguido para a obtenção dessa observação espacial
deve obedecer aos seguintes passos:
- iniciação com perguntas;
- visitação em toda escola para averiguação das perguntas feitas;
- elaboração de respostas depois de muita observação;
- desenhos das respostas, identificando a localização da sala de aula.

Os outros dois objetivos serão trabalhados no segundo semestre: conceitos de natureza e


cultura. Esses conceitos serão trabalhados de forma exploratória e de vivência do aluno,
trabalhos que podem ser iniciados com, por exemplo, as seguintes questões:
- Observem nossa sala de aula e diga tudo o que foi feito pelo homem (deve ser feito um
levantamento: carteira, lousa, porta etc);
- Existem elementos que não foram feitos pelo homem? (ar, luminosidade etc).
Assim, após o levantamento, proceder a sintetização:

33
- elemento natural é tudo aquilo que existe e que não foi feito e transformado pelo
homem;
- elemento cultural é tudo aquilo que existe e foi feito ou transformado pela ação do
homem.
O professor pode propor também:
- observação do caminho do aluno de casa até a escola;
- visita a algum local da cidade (zona rural ou urbana);
Atendendo a essas atividades, os alunos irão classificar os elementos da natureza ou
elementos culturais transformados pelo homem. Essa sistematização pode variar desde
escrita, desenhos ou colagens de figuras trazidas pelos alunos ou pelo professor.
Nesse semestre, o professor pode propor as seguintes atividades:
- brincar de agricultura (plantar e cuidar de plantas);
- brincar de comércio (montar feiras ou lojas, situações em que os alunos serão
vendedores, fornecedores ou compradores);
- brincar de produzir algo (fazer um bolo, uma salada ou uns pães e experimentar na
hora do lanche);
- visitar uma indústria alimentícia que produza algo relacionado ao universo alimentar
do aluno;
- contar uma história e, depois, classificar os elementos naturais e culturais que nela
aparecem (registrar em desenhos, por exemplo).

Para o trabalho com as crianças, no 2º ano, o professor deve observar as seguintes


questões:

O conceito de relações sociais deve ser feito em nível exploratório no início do ano
letivo.
Os conceitos específicos da série serão: espaço, natureza e cultura.
Os passos seguidos devem ser os mesmos (perguntas, observações, registros e
brincadeiras-exercício para fixação), o que será mudado é o nível de sistematização do
conceito que se trabalhou.

34
Conceito de Tempo
Registrar, diariamente, na lousa, a data do dia, em relação ao dia anterior, e as condições
do tempo (condições meteorológicas).
O professor deve criar condições para que seus alunos identifiquem passado, presente e
futuro.

Os objetivos a serem alcançados no 2º ano são:


1 – compreender divisões espaciais e suas características;
2 – compreender e fazer representações espaciais;
3 – introduzir habilidade de leitura das representações convencionais do espaço terrestre
(globo e mapa-múndi).

Objetivos 1 e 2: divisões espaciais

O trabalho com jogos na sala de aula ou no pátio será importante para que o aluno
adquira os conceitos de domínio e fronteira. Por exemplo, o jogo Caça ao tesouro (feito
numa folha de papel colocada no chão): para se chegar ao tesouro, os alunos percorrerão
locais (domínios) demarcados e fronteiras difíceis de serem ultrapassadas (vale a
criatividade do professor para montar esses jogos).
Trabalhar com a ideia da localização da escola (e quem são os vizinhos da escola) ou da
casa do aluno (e quem são os seus vizinhos) corresponde a um trabalho introdutório dos
conceitos de limite, fronteira, vizinhança.
Após um bom trabalho desses conceitos com jogos e brincadeiras a situação que se
segue é de representações bem concretas de pessoas, lugares e tudo que existe na Terra.

Objetivo 3: representações convencionais do espaço terrestre

Começar o trabalho com fotos de satélites da Terra e, em seguida, explorá-las por meio
de questões como:
- o que é isso?
- o que vemos?
- o que não vemos? (elementos da Terra que não são vistos pela foto)
35
Observe a Figura 2.5 que representa o planeta Terra através de uma foto de satélite.
Apresentar, na sequência, o globo
terrestre e formular as seguintes
questões:
- o que é isso? - o que ele
representa?
- o que vemos aqui que não vemos
Figura 2.5 - Foto tirada por satélite: vista noturna da na foto anterior? Em seguida,
Terra. trabalhar com os alunos de uma
Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive
/arquivos/File/imagens/3fisica/8vista.jpg maneira mais concreta, por meio de
Acesso em 16 jul. 2010.
brincadeiras, jogos, exercícios, de
acordo com as sugestões abaixo:
- colocar um boneco de papel numa parede. A cara do boneco deverá ser pintada e
transformada em alvo, sendo este observado pelos alunos de diferentes lugares
(próximos ou distantes). Os alunos deverão descrever o que veem de perto ou de longe
até que percebam que o alvo é só um pontinho pintado. Após o tempo necessário à
observação, deve-se perguntar aos alunos suas diferentes impressões ao observar o alvo
de longe e de perto. A conclusão a que se deve chegar é que quanto mais longe do
boneco o observador está, mais ele enxerga o conjunto, assim como se deve perceber
que o alvo se resume numa marca com caneta, e quanto mais perto o observador está,
menor sua visão do conjunto, possibilitando a percepção de detalhes;
- Para perceber as distâncias, conforme citado acima, pedir que os alunos observem um
alvo de cima para baixo (“zoom”), comentando as percepções de grande, pequeno,
longe, perto, detalhado, menos detalhado, etc.
- tirar fotografias de perto e de longe para que os alunos observem o todo e as partes
(detalhes).
Deve-se trabalhar, também, com o globo terrestre para que os alunos observem, mexam,
manipulem, girem , seguindo os próximos passos:
- observar terra e água e suas respectivas cores;
- passar o dedo nos oceanos e descobrir seus respectivos nomes;
- passar o dedo nos rios e, igualmente, descobrir seus respectivos nomes;

36 - passar o dedo nas terras e identificar os nomes dos continentes.


Observe a Figura 2.6, ela representa o globo terrestre que deverá ser usado como
ferramenta importante em sala de aula.
Após essa etapa, distribuir um mapa mundo dos
continentes e oceanos e pedir que pintem
corretamente o domínio da terra e o domínio da
água. Em seguida, expor um mapa-múndi para que
os alunos possam compará-lo aos seus e identificar
continentes etc.
Trabalho com os conceitos específicos de espaço,
natureza e cultura
A Figura 2.7 representa o espaço natural, isto é,
Figura 2.6 - O globo terrestre aquele que não foi transformado pelo homem.
Fonte:http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpen
drive
/arquivos/Image/conteudos/imagens/geog
rafia/2globof.jpg Espaço
Acesso em 16 jul. 2010. Retomar o trabalho com o globo e os domínios de
terra e água e transformar o globo num mapa tridimensional para bidimensional. Pode-
se trabalhar também com um globo de plástico que possa ser dividido em partes (esse
trabalho também pode ser feito com uma laranja cortada em gomos).

Natureza e cultura

Retomar o trabalho a partir de conceitos de elementos naturais e culturais, que serão,


agora, sistematizados.
Os conceitos, a saber, desses elementos serão
trabalhados por meio de registros de figuras e por
escrito:
- natureza significa tudo o que existe e que não foi

Figura 2.7 – Lagoa Dourada – feito ou transformado pelo homem;


Parque Estadual de Vila Velha – - cultura significa tudo o que existe feito ou
Ponta Grossa
Fonte:http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpen transformado pelo homem por meio do trabalho.
drive
/arquivos/Image/conteudos/imagens/2geo
grafia/4lagoavv.jpg
Acesso em 16 jul. 2010.
37
O trabalho com a ideia dos elementos naturais e modificados pelo homem resulta em
consequências boas ou ruins (natureza muito modificada) e pode ser analisado quando
ligado ao cotidiano dos alunos. Uma opção de se trabalhar dessa forma é solicitar que os
alunos olhem em suas respectivas carteiras e reflitam a respeito do destino do papel
sobre elas (ou no chão) e propor a eles que tentem descobri-lo. É interessante construir
com eles uma história da trajetória desse papel, propondo que deem um final bom ou
ruim para o papel.
A Figura 2.8 representa o espaço cultural ou geográfico, isto é, aquele que o homem,
através do trabalho, modificou.
Para o trabalho com as crianças, no 3º ano, o
professor deve observar as seguintes questões:
As relações sociais serão também trabalhadas em
nível exploratório como nos dois primeiros anos.
Os conceitos específicos serão: ESPAÇO E
TEMPO.
Nesse ano, o registro diário e sistemático do tempo
cronológico continua sendo feito na lousa e no
caderno.
Continuar registrando as condições do tempo
Figura 2.8 – Teatro Paiol
Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/ (chuvoso, nublado, ensolarado etc.). Esse registro
tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/im
agens/arte/2paiol.jpg pode ser montado em desenhos, nos quais os
Acesso em 16 jul. 2010.
alunos, diariamente, podem observar o dia e fixar
em cartazes pregados na parede as condições do tempo. No final do mês, os alunos
devem ter percebido o que predominou: chuva, sol, temperaturas baixas ou altas etc.
Esse registro permite que os alunos façam contagens de dias ensolarados, chuvosos,
quentes e frios, para que percebam as condições constantes e possam mais para frente
entender as estações do ano, bem como suas características.
O professor também deve retomar os conceitos de espaço para que se possam atingir os
seguintes objetivos:
1 – conhecimento e compreensão dos pontos cardeais;
2 – uso dos pontos cardeais para se orientar e ler mapas e globos;

38 3 – entender a duração do tempo;


4 – entender os modos de representação do tempo.

Introdução e conceitos específicos

Pontos cardeais

Todos os dias durante uma semana, os alunos irão observar a natureza fixando-se na
posição do sol (onde está ele em relação ao prédio da escola e a sua casa, registrando
sua posição por meio de desenhos do prédio e da casa, frente, fundos, lado direito e
esquerdo). Orientar significa buscar o Oriente (significa nascente). Sendo assim, o
“nascer” do Sol nessa posição diz respeito à direção (sentido) leste ou Oriente. Esse
modo de orientação é muito antigo e se baseia em estendermos nossa mão direita na
direção da nascente do Sol (leste ou oriental). O braço esquerdo esticado estará na
direção oposta (oeste ou ocidental). À frente, estaremos voltados para o norte (direção
setentrional ou boreal) e,
finalmente, nossas costas estarão
voltadas para o sul (meridional ou
austral).
A Figura 2.9 representa essa forma
de orientação:

Figura 2.9 – Orientação pelo Sol O registro deverá ser feito a partir
Fonte: http://www.brasilescola.com
Acesso em 25 mar. 2010. de onde o sol “nasce” e se “põe”
em relação à escola e à casa de
cada aluno.
No final da semana, uma conclusão deverá ser cobrada dos alunos acerca da posição do
sol, com base em seus desenhos (o sol nasce e se põe sempre do mesmo lado?). O aluno
deve perceber com essas atividades que a escola ou a casa servem como referências. Na
escola, por exemplo, o sol nasce atrás e na sua casa nasce na frente (a casa foi
construída de frente para o sol, leste, e a escola foi construída de costas para o sol
nascente, ou oeste.
39
Os alunos devem concluir que o sol se põe do lado contrário ao que ele nasce.

Brincadeiras podem ser feitas com o caça tesouro. Nessa atividade, o professor distribui
um mapa do tesouro com orientações a partir de um ponto de referência, como, por
exemplo, dê cinco passos para frente, agora três passos para o leste, agora 10 passos
para o oeste, volte quatro passos para o leste etc.
Depois que o aluno fixar bem a orientação leste/oeste, o professor deve trabalhar frente
e costas, como, por exemplo: Se tenho a minha direita (com meu braço esticado) o
nascente (leste) e a minha esquerda o poente (oeste), o que terei a minha frente? E atrás
de mim?
Sistematizando, essas direções são
chamadas de pontos cardeais.
Identificando esses pontos
convencionados como cardeais pode-se
construir a chamada “Rosa dos Ventos”
com as direções intermediárias.
A Figura 2.10 representa a Rosa dos
Ventos:
Figura 2.10 - Rosa dos Ventos
Fonte: www.tvpendrive.com.br
Acesso em 25 mar. 2010. O espaço

Será trabalhado o espaço, mas em movimento, ou seja, o movimento giratório da Terra.


É um conceito que o professor deve procurar trabalhar bem concretamente. A partir de
um foco de luz, buscar sombras na classe e movimentos. Outra forma de se trabalhar o
conceito é a observação de objetos numa folha em branco com um foco de luz, gerado a
partir de uma lanterna, observando-se as sombras projetadas no lado de cima do papel e
embaixo, onde não será possível observar a sombra. Outra possibilidade é marcar um
ponto com giz no pátio e, após uma hora, observar a sombra nesse ponto, repetindo o
procedimento de hora em hora.
Depois de se trabalhar bem essas possibilidades, tendo como referência o sol como
ponto fixo em relação à Terra que gira em seu redor. Para isso, deve-se trabalhar com

40 material concreto, como, por exemplo, com uma bola de isopor presa a uma haste,
representando o globo terrestre, e uma lanterna. A partir disso, girar a bola de isopor
bem devagar da esquerda para a direita a fim de se perceber que a sombra também gira
na mesma direção (repetir girando ao contrário). Seria bem interessante se essa
atividade fosse feita numa sala escura, podendo usar como material, uma bola de isopor
e a lanterna como já dito, ou mesmo o globo terrestre que é o modelo reduzido da Terra
onde o aluno deverá manipulá-lo, simulando o movimento da Terra.
Aos poucos, o professor deve traçar na bola de isopor a divisão da Terra em leste e oeste
(conceitos de meridiano de Greenwich) e a divisão norte e sul (linha do Equador).
Ao final, sistematizar os conceitos:
- dia e noite;
- duração do movimento;
- nome correto do movimento, rotação.

Tempo: leitura das horas

Para o trabalho de movimento de rotação, o professor deve trabalhar também a leitura


das horas. Primeiro, trabalhar no relógio digital e depois no relógio não digital (este
poderá ser construído em papel cartão). Na sequência, abaixo, fazer a identificação:
- da hora inteira e do caminho dos ponteiros, observando-a também no digital, e,
após uma hora, demonstrar nos dois relógios;
- da meia hora;
- de cada pedaço do relógio não digital de 12 até 1;
- do espaço entre os números,
sempre 5 minutos;
- da hora mais cinco minutos (fazer
isso de 5 em 5 minutos), para que
percebam a regra dos minutos.

Observe a Figura 2.11 para


identificação das horas:
Figura: 2.11 – Orientação pelo Sol e relógio
Fonte: http://www.esteio.com.br
Acesso em 25 mar. 2010.
41
O tempo geográfico e histórico:

O TEMPO COMO DURAÇÃO

O professor deverá utilizar-se de conhecimentos prévios de seus alunos para explorar as


ideias relacionadas às transformações ocorridas na natureza ao longo do tempo.
Essa exploração pode ser feita por meio do conhecimento que os alunos têm sobre seus
animais de estimação, a partir das seguintes questões:
- quando nasceu?
- como ele era (aspectos físicos)?
- quantos anos têm?
- como é hoje?
- que mudanças ocorreram nele?

Em seguida, para que o aluno perceba o tempo de forma concreta e observe o ciclo da
vida, organize um mural com fotos se seu animal de estimação, fotos dele próprio e de
seus pais.
Para representar o tempo, pode-se trabalhar com a história da cidade e seus habitantes.
Para isso, proponha aos alunos:
- entrevistas com seus pais ou idosos da cidade, para obterem o relato da história da
cidade (como era e como é hoje);
- levantamento das transformações feitas na cidade (boas ou ruins?);
- levantamento do perfil da cidade há 30, 20, 10 anos;
- construção de uma linha do tempo num cartaz, no qual, por exemplo, cada 10 cm
equivale a 10 anos, colocando, a partir disso, os principais fatos e as principais
mudanças ao longo dos anos.
Esse tipo de atividade gera a ampliação dos conceitos espaço natural e espaço cultural
(modificado, transformado)

Para o trabalho com as crianças, no 4º ano, o professor deve observar algumas questões.
O trabalho específico dessa série prende-se ao espaço terrestre (movimento de

42 translação) e ao espaço Brasil e sua divisão política.


Nessa série, o trabalho de rotação continuará sendo trabalhado, mas será introduzido o
movimento de translação.
Os objetivos a serem alcançados nesse ano são:
1 – conhecimento e compreensão do movimento de translação da Terra, bem como suas
consequências;
2 – introdução à compreensão do tempo histórico e sua representação.

Movimento de translação
Para se trabalhar o movimento de translação, o professor deve retomar o conceito de
rotação da Terra, os pontos cardeais e a duração do dia. Para a aplicação do conceito,
pode usar o pátio, fazendo um desenho da trajetória do movimento da Terra em relação
ao Sol. Um aluno poderá ser o Sol e outro a Terra, orientando, dessa forma, os dois
movimentos simultaneamente. Em seguida, simular os dois movimentos por meio do
globo terrestre. Aos poucos, sistematizar a duração do movimento de translação, bem
como das suas consequências: as estações do ano, suas datas e características.
O professor deverá usar as fichas-registros para o tempo meteorológico diário, mensal e
anual, momento em que os alunos terão oportunidade de anotar as condições do tempo
diariamente e ao longo dos meses, perfazendo um ano. Assim, poderão registrar as
características dos meses para sistematizar a estação do ano correspondente.
Espaço: Brasil
O globo terrestre deverá ser sempre usado, mas, para o estudo do Brasil, o professor
deverá usar um mapa-múndi (com cópia para os alunos).
Os alunos deverão identificar no mapa os continentes, os oceanos e o Brasil, espaços
que deverão ser destacados por meio da pintura.
O professor poderá incentivar o conhecimento dos lugares por meio de jogos, como, por
exemplo, contar uma história que narre uma viagem feita ao redor do mundo, e, à
medida que o professor conte essa história, os alunos deverão mostrar, com um pincel, a
trajetória (localização dos continentes, dos oceanos etc).

43
O professor deve propor
atividades que levem o
aluno a perceber as
fronteiras dentro do Brasil
(suas regiões), para
introdução dos conceitos
de país, estado e
município. Para isso, o
aluno deverá observar o
Brasil inserido no
continente (América do
Sul), os estados no país e
os municípios no estado
Figura 2.12 – Mapa do Brasil Divisão Política dos Estados
Fonte://pt.wikipedia.org/wiki (do todo para as partes).
Acesso em 25 mar. 2010. Observe a Figura 2.12 que
retrata a divisão política do Brasil:
Após a sistematização de conceitos com país, estado deve-se retomar o trabalho
específico com o município, focando, agora, os conceitos de natureza (espaço natural) e
cultura (espaço modificado pelo homem) de forma ampliada.
Para isso, sugerem-se as seguintes atividades:
- passeio pelos arredores da escola, utilizando um roteiro de observação, roteiro que
dependerá da localização da escola - zona urbana ou rural;
- observação da natureza do município (terra e água);
- fotos de espaços durante o passeio para melhor visualização posteriormente;
- descrição do que foi visto no passeio: terra (altos e baixos, montanhas), vegetação,
água (rios), ambientes limpos ou sujos, etc.
Toda a experiência do aluno deverá ser aproveitada e também todos os elementos
possíveis que possam ampliar conceitos como: água poluída, chuva, temperaturas, tipos
de construção, direções, relevo etc.

44
Representação do tempo histórico
Esses conceitos serão trabalhados em História, como também em Geografia. Focar, por
exemplo, a construção da linha do tempo para a vida do aluno (ideias retomadas do
trabalho com o 3º ano).
Trabalhar com folha de papel, e, em cada centímetro da folha, poderá representar um
ano da vida do aluno, podendo, assim, serem lembrados os principais acontecimentos da
sua vida.
Essa linha poderá se estender para a vida da família do aluno e para a vida da cidade e,
até, do Brasil, focando os principais acontecimentos: municipais, estaduais e federais.
O trabalho poderá ampliar-se explorando o que ocorre de mais significativo em cada
estação do ano (temperaturas, chuvas, ventos, roupas apropriadas, fenômenos, enchentes
ou secas).
Por fim, ampliar os conceitos de elementos da natureza como: planalto, planície, rios e
lagos, buscando sempre proporcionar ao aluno a observação e visualização na prática, se
possível. Senão, trabalhar com figuras diversas para diferenciação.
O ensino de Geografia no 5º ano é visto como uma ampliação de aprendizagens de
outras séries.

O urbano e o rural
Nesse ano, o trabalho com o urbano e o rural deve ser aprofundado. É necessário que o
aluno compare paisagens e perceba os diferentes modos de vida. O professor deve
propiciar condições e atividades para que o aluno localize diferentes povos do Brasil e
defina seus modos de vida.
Nesse momento, os alunos devem perceber as diferentes relações entre a cidade e o
campo, no sentido social, cultural e ambiental. Mas, não é só isso. O professor deve dar
oportunidades para que o aluno identifique as diversas relações entre campo/cidade:
modos de vida, formas de trabalho, produção etc.
São também retomadas questões relativas à posição, localização, fronteira e extensão
das paisagens.
É, também, pertinente o estudo das tecnologias para o conhecimento das sociedades em
diferentes circunstâncias históricas; a busca de tecnologia para superação de problemas
relacionados à sobrevivência, percebendo as modificações e transformações das
45
paisagens, bem como as consequências dessas modificações para eles e para as
paisagens.
O trabalho será feito em níveis local, regional e nacional, no que se refere à construção e
ao desenvolvimento de tecnologias nas diferentes culturas (populações ribeirinhas,
grupos indígenas, imigrantes japoneses etc) na estruturação de seu espaço geográfico,
analisando como as sociedades vivem hoje.

Na sequência, o estudo deve-se voltar para os meios de informações e transportes em


escala local, regional e nacional e para a contribuição desses meios para a construção
das paisagens, suas transformações e relações entre os povos.

O professor deve ficar atento às características do espaço local urbano ou rural onde
vivem os alunos e poderá usar muitas estratégias para que o aluno reconheça sua
realidade, como: entrevistas com moradores locais, filmes que comparem duas
realidades e visitas que possibilitem a observação das áreas. Depois, deve acontecer a
sistematização em sala de aula, utilizando-se, por exemplo, de imagens para análises.
Observe as figuras abaixo que retratam o espaço rural e o espaço urbano:

Figura 2.11 – Espaço urbano


Fonte: http://www.tvpendrive.com.br
Figura 2.10 – Espaço rural
Acesso em 25 mar. 2010.
Fonte: http://www.tvpendrive.com.br
Acesso em 25 mar. 2010.

46
2.5 Recursos Didáticos
O professor, quando planeja sua aula, deve sempre se perguntar antes:

- O que pretendo ensinar? (estabelecer a meta que se quer alcançar, a partir de seus
objetivos);

- Como vou ensinar? (relacionar os métodos para que os objetivos da aula sejam
alcançados pelos alunos);

- O que vou utilizar em minha aula? (refere-se à prática, aos recursos usados);

Veja um exemplo:

Para o método de exposição oral, vou usar a lousa (o recurso usado).

O professor deve sempre adequar seus métodos e recursos aos temas e objetivos da aula,
mas sempre variar o máximo que puder, para que seus alunos, ao saírem de casa para a
escola, sintam-se motivados para assistir à aula de Geografia. O aluno deve sempre se
sentir desafiado e o professor deve sempre mexer com sua motivação. Para isso, o
professor deverá ser criativo, procurando sempre dar oportunidade à participação ativa
de seus alunos.

Os temas de Geografia dão margem ao uso de diferentes métodos e recursos na aula,


basta o professor usar sua vontade e criatividade. Atente para as seguintes orientações:

- nunca se esqueça do uso das experiências de seus alunos para o enriquecimento das
informações;

- use ilustrações, o que tornará o ensino mais concreto e a assimilação dos conceitos
facilitada;

- dramatize a conclusão de um assunto, pois a dramatização permite que o aluno se


projete no personagem e aprenda com mais facilidade;

- valorize os desenhos dos alunos e se mostre interessado por suas produções; dessa
forma, é possível analisar se os conceitos trabalhados foram assimilados;
47
- use mapas sempre que possível, pois o aluno deve, desde os primeiros anos do
ensino fundamental, saber manusear mapas e gostar dessas delineações
convencionais;

- use jogos e brincadeiras em situações-problema, isso torna o ambiente de sala de


aula mais atrativo e os alunos sentem-se muito mais motivados e concentrados, além
dos jogos servirem para diagnosticar a aprendizagem de conteúdos conquistados;

- exiba vídeos-documentários; dessa forma, o aluno sentir-se-á envolvido na


produção e perceberá o quanto é importante aprofundar os temas relacionados à
geografia.

2.6 Alfabetização Cartográfica


É importante que o aluno tenha habilidades de observação, de fazer levantamento e
análise e consiga interpretar dados. Deve ser capaz de ler e mapear o espaço.

O professor deve, portanto, por meio da Cartografia Básica e Temática, ajudar o aluno a
vir o espaço geográfico como algo significativo e que faça sentido para sua vida.

É tarefa importante da escola, preparar seus alunos a terem condições de usar mapas,
interpretá-los e identificar sua linguagem. O professor deve ter o mapa como parte
integrante das aulas e ter um bom nível de leitura desse instrumento de ensino, pois,
quanto melhor for seu nível de leitura, melhor mediador ele será para ajudar seus alunos
a avançar na interpretação do mapa.

À medida que o aluno avança nos níveis de interpretação de mapas e gráficos, torna-se
reflexivo e crítico, conseguindo identificar um problema proposto, analisá-lo e
investigar caminhos que o leve a uma solução. O aluno deve tornar-se um “mapeador”
(leitor de mapas) e, assim, desenvolver aos poucos as formas de representação espacial
e os códigos linguísticos da linguagem cartográfica.

48
2.6.1 Orientação Espacial
O esquema corporal serve de base cognitiva para que a criança consiga entender e
explorar o espaço. À medida que a criança vai adquirindo conceitos, a partir da
linguagem, também vai transferindo o esquema corporal (acima/abaixo,
direita/esquerda, frente/atrás) para os objetos, como, por exemplo: em frente a minha
casa ou atrás da escola.

O trabalho que envolve atividades corporais que ajudem na construção do espaço pela
criança deve ser feito em conjunto com os professores de Educação Física (essas
atividades devem ser trabalhadas em todas as idades). Sabe-se que a orientação espacial
está intimamente ligada à atividade corporal e os referenciais de localização no espaço
são adquiridos por meio do trabalho com o esquema corporal.

Dessa forma, deve-se trabalhar com as crianças atividades que envolvam o corpo, como,
por exemplo, fazer um mapa do corpo. Essa atividade pode ser trabalhada em duplas, da
seguinte forma: uma criança faz o contorno detalhado (numa folha de papel manilha,
por exemplo) do corpo do colega, de frente e depois de costas. O aluno deve
identificar/escrever os lados direito, esquerdo, cima, baixo na imagem (feita em
tamanho real no papel maninha). O professor vai, então, trabalhar, na figura, os lados
direito, esquerdo frente e costas. O trabalho deve ser bem elaborado (e concluído), pois
representa pré-requisito na compreensão de referenciais mais amplos como, por
exemplo, as coordenadas geográficas.

Deve-se tomar muito cuidado com o trabalho de orientação espacial no momento em


que se quer mostrar as direções norte, sul, leste e oeste (os pontos cardeais), usando o
braço direito para o lado em que o sol nasce, para que o aluno não pense que seu lado
direito do corpo tem a ver com a nascente.

49
2.6.2 Coordenadas Geográficas

Figura 2.12 - Representação das coordenadas geográficas


Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/File/imagens/6geografia /2coordenadas.jpg
Acesso em 16 jul. 2010.
A Figura 2.12 retrata o conjunto de coordenadas geográficas (latitude e longitude).

A partir da observação dos astros, pela necessidade de se determinar seguramente as


localidades e elaborar mapas no período das grandes navegações, definiu-se o sistema
de coordenadas geográficas.

Para o aluno perceber essa necessidade de localização, o professor pode trabalhar de


várias formas. Seguem, abaixo, algumas possibilidades:

- levar o aluno, por meio de sucessivas observações, a conhecer a trajetória aparente


do sol. Ele deverá perceber que essa estrela nasce todos os dias do mesmo lado do
céu e se põe sempre do lado oposto. Visando a essa percepção, são importantes
questionamentos como: Quais os bairros que se localizam no lado em que o sol
nasce? Quais os bairros que se localizam no lado em que o Sol se põe?

- construir um relógio de sol (gnomon) e colocá-lo num lugar plano iluminado pelo
sol durante o dia todo, possibilitando a ampliação das noções norte, sul, leste e oeste.
50
A cada hora, a trajetória do sol será observada através da sombra e o aluno deverá
perceber que quanto mais alto o sol estiver (até ficar a pino), mais curta a sombra vai
estar na estaca (a menor será quando o sol estiver a pino).

- trabalhar com o globo terrestre, pois essa é a melhor maneira de o aluno enxergar a
esfericidade da Terra. Uma vez que o aluno poderá manipular o globo e simular os
movimentos da Terra (rotação e translação), será possível o trabalho de orientação e
localização pelo professor.

Os exemplos descritos servem para sistematizar as relações entre o movimento aparente


do sol e o movimento de rotação da Terra, resultando no entendimento, mais tarde, das
coordenadas geográficas.

É claro que o trabalho de orientação e localização deve ser construído em toda vida
escolar, sendo a observação do céu o início desse trabalho.

2.7 Mapas
O mapa é a representação da Terra por meio de sua redução e projeção num plano;
sendo assim, ele traz representações do mundo em diferentes épocas, o que corresponde
a um instrumento poderoso que desperta interesse militar e político. Deve-se perceber a
diferença entre as limitações técnicas e a ideologia de quem fez o mapa, bem como as
circunstâncias históricas.

O mapa não é somente determinado pela técnica. Ele expressa ideias a respeito do
mundo, considerando diferentes culturas e circunstâncias históricas. Sua produção ao
longo da história deve-se a interesses políticos, militares, religiosos. A produção de
mapas teve também fins práticos, como as navegações, guerras, conquistas.

2.7.1 Um pouco da história da cartografia


Em relação ao aspecto histórico da cartografia, algumas considerações são relevantes e
devem ser pontuadas aqui.

51
No século IV a.C., na Grécia, já se admitia a esfericidade da Terra.

Eratóstenes, Figura 2.13 (276 – 196 a.C) foi o


primeiro matemático da Antiguidade, que
encontrou a medida da circunferência da Terra
com valor mais próximo do atual. Traçou um
mapa com sete paralelos e vários meridianos, e,
por meio da observação dos astros e do céu, surge Figura 2.13 - ERATÓSTENES
Fonte: Wikimedia Commons
o sistema de coordenadas. Acesso em 25 de março de 2010.

Os gregos conceituaram o trópico como um limite para as terras em que o sol ficava a
zênite (pino) no verão, ao observarem a trajetória do Sol com uma declinação no céu.
Eles também conceituaram o equador,
os pólos e dividiram as zonas
climáticas do planeta.

Ptolomeu (Cláudio Ptolomeu, Figura


2.14, último dos grandes astrônomos
gregos -150 d. C.) construiu o modelo
Figura 2.14 - MAPA MUNDI DE PTOLOMEU
geocêntrico mais completo e eficiente Fonte: Wikimedia Commons
Acesso em: 25 mar. 2010.
e fez o mapa mais completo no período
da antiguidade, usando a projeção e as coordenadas geográficas (latitude e longitude). O
avanço da cartografia, nas mãos dos gregos, deve-se ao fato do uso da matemática e da
geometria na elaboração das ideias.

2.7.2 O trabalho com mapas na escola


A criança, desde cedo, se interessa por mapas, pois sempre faz questões como: Onde
fica minha casa? Onde fica a casa de minha avó?

O caminho de casa até a escola é o primeiro passo para se observar e “ler” o espaço que
está conhecendo. O aluno vai descobrir mais tarde a classificação dos elementos da
paisagem, pois vai exigir deles uma elaboração mais precisa. À medida que o aluno
consegue classificar os elementos, compará-los, ver semelhanças e diferenças, é

52
importante que ele mesmo construa símbolos para que a codificação seja significativa
para ele.

Para o aprendizado de mapas, deve-se observar:

- a necessidade da redução com o uso da escala;

- o uso da projeção para planificar a esfera;

- o uso das coordenadas geográficas para localizar qualquer ponto da superfície


terrestre;

- a importância da legenda para representar uma informação espacial.

Desde o 1º ciclo do ensino fundamental, os conhecimentos e as habilidades de


representação devem ser trabalhados gradativamente até que o aluno possa dominar a
linguagem cartográfica.

O uso de mapas não pode ficar restrito somente à identificação de lugares e paisagens.
O aluno deve dominar a linguagem cartográfica e se perceber enquanto cidadão capaz
de resolver problemas do cotidiano, ajudado pelo conhecimento que tem de mapa.

Para a aprendizagem de representação, localização, projeção, escala e legenda, pode-se


trabalhar com maquetes da sala de aula, do bairro, da cidade, até que o aluno consiga
passar para o mapa geográfico.

Não há como estudar o espaço geográfico sem representá-lo; assim, Geografia e


Cartografia são inseparáveis. A mídia e a “internet” disseminam materiais e mapas que
devem ser usados pela escola para ajudar os alunos a formarem um raciocínio
geográfico e geopolítico. Os mapas suscitam um imaginário extremamente
enriquecedor, mas deve-se, antes de tudo, ter um domínio da linguagem cartográfica e
isso tem sido retomada em discursos, teses e eventos no Brasil. Uma pessoa que não
consegue usar um mapa, também não consegue pensar sobre os diversos aspectos do
território que não estão em sua memória. É, portanto, tarefa importante da escola
preparar o aluno para compreender a organização do espaço, e, para isso ocorrer, torna-
se imprescindível o conhecimento de técnicas e instrumentos, buscando-se a
representação gráfica dessa organização.
53
Em todo ensino fundamental, os conhecimentos e as habilidades de representação
espacial são inerentes à Geografia, habilidades que são ligadas à leitura e compreensão
do mundo.

Em Geografia, ler e escrever requer a habilidade do domínio da linguagem cartográfica.

2.7.3 Escala
Construindo o mapa, o aluno aprende. Deve fazê-lo a partir do seu espaço mais
próximo, da sua vivência, para que, aos poucos, consiga perceber o mais distante, o
desconhecido e o desafiador.

Para se representar qualquer espaço, é necessário uma redução que seja proporcional
para caber no papel. Isso será trabalhado por meio do uso da escala, que é a relação
entre a medida do mapa e a do terreno.

Pode-se iniciar o conceito de escala trabalhando, por exemplo, uma foto em vários
ângulos: frente, só rosto (mas sempre de perto), explorando seus detalhes (grande
escala). Depois, deve-se trabalhar com outras fotos: de longe, de corpo inteiro, para que
o aluno perceba a perda de detalhes (pequena escala).

No ensino fundamental, o entendimento da escala tem estágios e se dá, por exemplo,


com a construção de maquetes, nas quais se deve colocar (no papel) a sala de aula, a
cidade, o estado, o país, o mundo. As maquetes representam miniaturas da realidade,
portanto ajudam no raciocínio da redução dessa realidade.

Na prática, a produção de uma escala pode ser feita da seguinte forma:

- construir uma planta da sala de aula;

- medir as paredes da sala usando um barbante, que será, depois, dobrado ao meio
continuamente até que caiba em uma folha de papel manilha;

- contar quantas vezes o barbante foi dobrado para que se perceba quantas vezes o
comprimento da parede foi reduzido;

- fazer a relação entre a medida real da sala de aula e a medida no papel;

54
Isso resultará na percepção do aluno de que a escala indica a redução da distância e não
da área.

2.7.4 Projeções cartográficas


O globo terrestre deve fazer parte do cotidiano das aulas de Geografia. O aluno deve
perceber que o globo terrestre representa a proximidade da forma “esférica” da Terra e
constitui a melhor maneira de
representá-la. As projeções servem
para transformar o que é esférico,
curvo (tridimensional) num plano
(bidimensional), ocasionando
deformações nessa transferência. É
impossível representar algo curvo
num plano sem haver nenhuma
deformação. A Figura 2.15 Figura 2.15 – Projeção cartográfica cilíndrica de Peters
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
representa a projeção cartográfica commons/thumb/7/7a/NetzentwuerfePeters.png/220px-
NetzentwuerfePeters.png
cilíndrica, uma das projeções Acesso em 16 jul. 2010.

cartográficas que demonstra uma


deformação nas formas.

O uso de maquetes ajuda e muito na transferência da representação tridimensional para


a bidimensional, pois o aluno enxerga o espaço num modelo reduzido, sem ainda se
preocupar com a conservação das mesmas relações de comprimento, volume e área. A
ideia é que o aluno perceba o todo e o vertical.

Esse trabalho pode ser feito da seguinte maneia:

- o aluno observará a sala de aula para perceber os objetos que fazem parte dela
(carteiras, mesa armários etc);

- o aluno poderá, então, escolher quais as sucatas que irá usar para a confecção da
maquete;

- a maquete construída deverá conter a mesma quantidade e disposição dos objetos


reais da sala de aula;
55
- o professor poderá trabalhar alguns conceitos, como direita e esquerda, tendo um
referencial fixo;

- o aluno deve localizar seus colegas tendo a si próprio como referencial (quem é o
colega que se senta a sua direita? E esquerda? Frente? Atrás?);

- os conceitos de coordenadas também serão trabalhados, no momento em que o


aluno perceba, por exemplo, sua localização na sala: meu lugar fica na quarta fileira,
na quinta coluna.

2.8 Síntese da Unidade


Esta unidade apresenta os fundamentos e procedimentos metodológicos do ensino de
Geografia. O item 2.1 trata a metodologia básica para o ensino de Geografia no ensino
fundamental I. No item 2.2, comenta-se os PCN de Geografia para o 1º e 2º ciclos, por
meio de conteúdos propostos e trabalhos práticos. Em seguida, no 2.3, reflete-se sobre
os objetivos do ensino de História. No item 2.4, esses objetivos são aplicados, refletindo
sobre os conteúdos e métodos da Geografia na sala de aula das séries iniciais do Ensino
Fundamental. Detalhando mais a metodologia e a fundamentação, o item 2.5 analisa os
recursos didáticos. O item 2.6 reflete sobre a importância da alfabetização cartográfica
no ensino fundamental. Em seguida, retrata o modo de trabalhar com a orientação
espacial e com as coordenadas geográficas. O item 2.7 e os subitens seguintes refletem
sobre a importância da cartografia para o surgimento de conceitos que resultarão nos
mapas mais bem elaborados, além de mostrar como se trabalhar com mapas, escalas e
projeções cartográficas no ensino fundamental.

2.9 Atividades
A linguagem cinematográfica deve ser usada nas aulas de Geografia, pois um filme
permite o uso de muitas linguagens integradas ao todo. O professor deve junto com seus
alunos selecionar filmes que estejam relacionados ao programa e à disciplina. A
atividade que proponho é que você assista ao filme O JARRO (The Jar), produção e
direção de Ebrahim Foruzesh. Irã. Cult Filmes Distribuidora. 1992, VHS (83 min.).
Dublado.
56
Agora faça uma análise sob as seguintes vertentes:

1 – Analise o filme sob a ótica das fotografias, paisagens mostradas e relacione essas
paisagens com as do Brasil. Como aproveitar as paisagens mostradas no filme para o
desenvolvimento de conceitos geográficos?

Com base no que é retratado no filme em questão (o cotidiano de um professor numa


sala multisseriada), faça uma análise observando a figura de um só professor que atua
em várias séries de ensino e como se dá a percepção do professor e dos alunos acerca
dessa situação.

2 – Analise o filme sob a ótica do relacionamento da escola com a comunidade e vice-


versa, suas divergências e contradições.

3 – Analise o filme sob o ponto de vista do gênero. Qual o papel da mulher na área onde
se passa o filme? Separe as paisagens naturais e culturais e as relacione com outras
regiões semelhantes no mundo.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1 - Escreva um texto em que você exponha a importância do mapa para a representação


espacial e construção de linguagens cartográficas para o aluno.

2 – Analise a importância de você, enquanto professor de Geografia (independente da


série), embasar-se nas experiências de seus alunos sobre a realidade local a ser estudada.

ATIVIDADE APLICADA

Elabore um plano de aula para o 5º ano do Ensino Fundamental I, utilizando-se de um


filme que contribua para a análise do espaço geográfico e para a compreensão do tempo
e espaço. Faça um roteiro para orientar o aluno a assistir ao filme, mantendo uma
linguagem acessível a ele.

57
2.10 Para saber mais

Filmes

CENTRAL do Brasil. Produção de: Walter Salles, Brasil: Sony, 1998. DVD (112 min.).
Sem legenda. Português. Baseado na história original de Walter Salles, o filme retrata a
vida dos nordestinos nas grandes cidades e o choque de culturas.

CHINATOWN. Produção de Robert Evans. Direção de Roman Polanski. EUA:


Paramount, 1974. DVD (130 min.). Legendado. Inglês e Português.

O filme retrata a questão da água e os crimes cometidos por empresários corruptos que
desviam a água da Companhia de Saneamento Básico para valorizar terras mais áridas.

O JARRO (The Jar), Produção e direção: Ebrahim Foruzesh. Irã. Cult Filmes
Distribuidora, 1992. VHS (83 min.). Sem legenda em português. Dublado.

Sites

Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade, pesquise em artigos e outras
produções científicas e culturais nos “sites” a seguir:

 TV ESCOLA-MEC. <www.tvebrasil.com.br/salto/>

 DOMÍNIO PÚBLICO. <www.dominiopublico.gov.br/>

58
Unidade 3

Unidade 3 . Ensino de História – fundamentos e


procedimentos metodológicos

3.1 Ensino de História


A História trabalha com a temporalidade ou com a relação do ser humano com o tempo,
os sujeitos e os fatos históricos. Os PCN de História nos alertam que o tempo não é
apenas linear, os sujeitos não se limitam aos grandes personagens e os fatos históricos
não se restringem aos acontecimentos políticos.

Diante dessa complexidade da História, penso que, para refletir sobre seu ensino, é
necessário dividir a abordagem em primeiro ciclo (1º ao 3º ano) e segundo ciclo (4º ao
5º ano).

Ensino e aprendizagem de História no primeiro ciclo

O ensino e a aprendizagem da História estão voltados, inicialmente, para atividades em


que os alunos possam compreender as semelhanças e as diferenças, as permanências e
as transformações no modo de vida social, cultural e econômico de sua localidade, no
presente e no passado, mediante a leitura de diferentes obras humanas.

As crianças, desde pequenas, recebem um grande número de informações sobre as


relações interpessoais e coletivas. Entretanto, suas reflexões sustentam-se, geralmente,
em concepções de senso comum. Cabe à escola interferir em suas concepções de
mundo, para que desenvolvam uma observação atenta do seu entorno, identificando as
relações sociais em dimensões múltiplas e diferenciadas.

59
No caso do primeiro ciclo, considerando-se que as crianças estão no início da
alfabetização, deve-se dar preferência aos trabalhos com fontes orais e iconográficas e, a
partir delas, desenvolver trabalhos com a linguagem escrita.

O trabalho do professor consiste em introduzir o aluno na leitura das diversas fontes de


informação, para que adquira, pouco a pouco, autonomia intelectual.

Na organização de dados históricos obtidos, cabe ao professor incentivar os alunos a


compreenderem os padrões de medida de tempo, como calendários, que permitem
entender a ordenação temporal do seu cotidiano e comparar acontecimentos a partir de
critérios de anterioridade ou posteridade e simultaneidade.

Ensino e aprendizagem de História no segundo ciclo

No segundo ciclo, permanecem as preocupações de ensino e aprendizagem do primeiro.


A particularidade reside no fato de os alunos dominarem melhor a linguagem escrita,
possuírem experiências de trocas de informações e terem vivenciado momentos de
questionamentos, comparações e trabalhos com ordenação temporal.

Como no primeiro ciclo, os questionamentos são realizados a partir do entorno do


aluno, com o objetivo de levantar dados, coletar entrevistas, visitar locais públicos,
incluindo os que mantêm acervos de informações, como bibliotecas e museus.

Valorizando os procedimentos que tiveram início no primeiro ciclo, a preocupação do


ensino-aprendizagem no segundo ciclo envolve um trabalho mais específico com leitura
de obras com conteúdos históricos, reportagem de jornais, mitos e lendas, textos de
livros didáticos, documentários em vídeo, telejornais.

Cabe ao professor criar situações instigantes para que os alunos comparem as


informações contidas em diferentes fontes bibliográficas e documentais, expressem as
suas próprias compreensões e opiniões sobre os assuntos e investiguem outras
possibilidades de explicação para os acontecimentos estudados.

A didática orienta, incansavelmente, para uma prática pedagógica de


PROBLEMATIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS, objetivando eliminar a secular prática
60
de reprodução dos conteúdos, tão condenada pela pedagogia atual. Nesse sentido, a
abordagem dos conteúdos insere-se numa perspectiva de questionamentos da realidade
organizada no presente, desdobrando-se em conteúdos históricos, que envolvem
explicitações e interpretações das ações de diferentes sujeitos, da seleção e organização
de fatos e da localização de informações no tempo histórico. As explicações para os
questionamentos implicam, por sua vez, a exposição dos conflitos, das contradições e da
diversidade de possibilidades de compreensão dessa realidade.

Por isso, é importante que o professor crie situações rotineiras, nas suas aulas,
procedendo a questionamentos diante dos acontecimentos e das ações dos sujeitos
históricos. Dessa forma, possibilita que os acontecimentos sejam interpretados e
compreendidos, a partir das relações (de contradições ou de identidade) que estabelecem
com outros sujeitos e outros acontecimentos do seu próprio tempo e de outros tempos e
de outros lugares.
São favorecidas, assim, as diferentes leituras de jornais e revistas, o debate sobre
problemas do bairro ou da cidade e as pesquisas de cunho social e econômico entre a
população; a identificação de diferentes propostas e compreensões defendidas na
sociedade para solucionar seus problemas; as situações em que as crianças organizam as
suas próprias soluções e estratégias de intervenção sobre a realidade (escrever cartas às
autoridades, fazer exposições para informar a população); o aprendizado de como ler
documentos variados, tanto aqueles que podem ser encontrados na realidade social
(construções, organização urbana, instrumentos de trabalho, meios de comunicação,
vestimentas, relações sociais e de trabalho) como também produções escritas, imagens e
filmes.

3.2 PCN de História para 1º. e 2º ciclos


A proposta curricular nacional de História do 1º ao 5º ano, feita pelo MEC, é bastante
rica e completa. Vale a pena conhecê-la. Sugiro adquiri-la, consultá-la nas escolas ou no
“site” do MEC (www.mec.gov.br). Proponho, aqui, a leitura das partes que compõem os
PCN de História por meio de um questionamento

61
Quais são as temáticas específicas desta disciplina?

A História trabalha com a temporalidade, isto é, a relação do ser humano com o tempo,
os sujeitos e os fatos históricos. Os PCN abrem novas perspectivas ao lembrar o
professor de que o tempo não é apenas linear (hoje, amanhã, depois de amanhã, 2001,
2002 etc), os sujeitos históricos não são apenas os grandes personagens e que os fatos
históricos não se restringem aos acontecimentos políticos. Para tanto, é preciso ter um
repertório de história cultural, história da mulher, história da criança etc. O primeiro
passo é saber que existem outras histórias a serem exploradas. É preciso confrontá-las
com o mundo real e com o cotidiano das crianças e dos jovens. A cada momento é
preciso fazer a ligação entre passado e presente.

Quais são as maiores dificuldades na aplicação dos PCN no ensino de História de


1ª a 4ª série? (o MEC ainda não lançou uma orientação sobre o ensino de 1º a 5º ano,
por isso usarei essa seriação)

Uma das grandes dificuldades é a falta de tradição no ensino de História. Durante muito
tempo, os professores ensinaram Estudos Sociais, uma disciplina que se apoiava no
nacionalismo e nas datas cívicas, como a independência e a proclamação da República.
Eram fatos isolados e não se dava importância ao processo histórico.

O que deve ser privilegiado em História de 1ª a 4ª série?

Os PCN detalham dois grandes eixos temáticos: a história local e do cotidiano e a


história das organizações populacionais. A história do cotidiano pode incluir, por
exemplo, o alimento que está sobre a mesa e que tem uma referência cultural. A criança
precisa desenvolver a capacidade de olhar a mesa e reconhecer a origem da comida que
está sobre ela e qual é o seu significado. A história do cotidiano é muito importante,
pois é o espaço que a criança e o jovem têm para mudar, para adotar uma determinada
atitude. É no dia a dia que eles podem aprender a valorizar e proteger o meio ambiente
no seu entorno. É no cotidiano que vão aprender a valorizar a mãe lavadeira, por
exemplo, que luta para criá-lo.

62
Como se trabalham os eixos temáticos?

O jeito mais fácil de tratar os eixos temáticos é por meio dos subtemas propostos nos
PCN. O fundamental é que o passado só faz sentido na relação com o presente.

E como se trata a história local?

Um exemplo de tema de história local é a realidade dos povos indígenas. É o resgate da


história dos moradores locais há 200 ou 500 anos. Como é a relação da comunidade em
questão com os povos indígenas hoje e como era no passado? Esse tema aborda a
temporalidade e é também um modo de apresentar a diversidade étnica e cultural do
povo brasileiro. Esse é um jeito de fazer as crianças conhecerem a nossa identidade e se
sentirem donas dessa herança.

Como os PCN encaram a questão dos nomes e datas tradicionalmente decorados


em História?

Muitos dados permanecem, pois servem como balizas para a compreensão do mundo
contemporâneo. O que muda é a relação com eles. A memória é usada em diferentes
situações na vida. O fundamental é saber transferir o conhecimento adquirido para a
vida diária.

As datas servem para nos localizarmos no tempo, entender o que veio antes e depois.
Uma proposta interessante é o trabalho com o período que um determinado evento
ocupa no tempo (duração do tempo). Algumas durações são curtas, outras mais longas,
outras longuíssimas.

Quais são as fontes para o ensino de História?

É importante ensinar a criança a manusear vários tipos de documentação. Cartas,


jornais, documentos pessoais. Entrevistas também são fontes para o ensino de História.
No trabalho com a memória, a pesquisa com pessoas mais velhas na comunidade ou na
família e o levantamento de dados em jornais antigos são duas ferramentas bastante
ricas. Esses procedimentos podem ser usados, por exemplo, para resgatar a história da
água. Onde se pegava água há 50 anos? Como as mulheres lavavam a roupa? São
63
perguntas que podem ser respondidas por pessoas mais velhas que podem contar a
história da cidade. A leitura de imagens também é muito importante, por isso deve-se
valorizar o contato com vídeos e obras de arte.

O que a criança precisa saber da História?

Uma habilidade básica é aprender a se localizar no tempo e compreender que o tempo


não é uma categoria absoluta, mas construída socialmente. Tanto que, além do nosso
calendário, existem outros, assim como outras formas de contar o tempo. É preciso
perceber a dimensão social e cultural dessas construções. Dessa forma, os fatos políticos
e os grandes personagens deixam de ser o tema dominante da História, que adquire a
perspectiva de um processo em construção permanente.

Como deve ser o uso do livro didático?

Mesmo que os livros sejam ruins, eles podem ser aproveitados. Apresentando vários
deles, é possível mostrar que há opiniões diferentes, vinculadas a diferentes posições
ideológicas. O livro também pode ser uma fonte para o trabalho com imagens, como as
reproduções de obras de arte.

Como as atitudes são trabalhadas em História?

A História proposta pelos PCN é o conhecimento na relação com a vida das pessoas. É
este aprendizado significativo que vai gerar uma determinada atitude. Nesse sentido, é
importante escolher temas que possibilitem a ação no mundo, problemas que têm de ser
enfrentados

3.3 Objetivos do ensino de História

Para desenvolver esse tema, vamos nos basear nos objetivos gerais de História para o
ensino fundamental e nos objetivos de História do 1º e 2º ciclos, presentes nos
Parâmetros Curriculares Nacionais, editados pelo MEC (1998).

64
Os objetivos serão somente apresentados para conhecimento. Posteriormente, à medida
que estudarmos metodologia e recursos didáticos, refletiremos a respeito deles.
OBJETIVOS GERAIS DE HISTÓRIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
Espera-se que, ao longo do ensino fundamental, os alunos gradativamente possam ler, compreender sua
realidade, posicionar-se, fazer escolhas e agir criteriosamente. Nesse sentido, os alunos deverão ser capazes de:
• identificar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem com outros tempos e espaços;
• organizar alguns repertórios histórico-culturais que lhes permitam localizar acontecimentos numa multiplicidade
de tempo, de modo a formular explicações para algumas questões do presente e do passado;
• conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais, em diversos tempos e espaços, em suas
manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles;
• reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas, presentes na sua realidade e em outras
comunidades, próximas ou distantes no tempo e no espaço;
• questionar sua realidade, identificando alguns de seus problemas e refletindo sobre algumas de suas possíveis
soluções, reconhecendo formas de atuação político-institucionais e organizações coletivas da sociedade civil.

OBJETIVOS DE HISTÓRIA PARA O PRIMEIRO CICLO


Espera-se que, ao final do primeiro ciclo, os alunos sejam capazes de:
• comparar acontecimentos no tempo, tendo como referência anterioridade, posterioridade e simultaneidade;
• reconhecer algumas semelhanças e diferenças sociais, econômicas e culturais, de dimensão cotidiana, existentes
no seu grupo de convívio escolar e na sua localidade;
• reconhecer algumas permanências e transformações sociais, econômicas e culturais nas vivências cotidianas das
famílias, da escola e da coletividade, no tempo, no mesmo espaço de convivência;
• caracterizar o modo de vida de uma coletividade indígena, que vive ou viveu na região, distinguindo suas
dimensões econômicas, sociais, culturais, artísticas e religiosas;
• identificar diferenças culturais entre o modo de vida de sua localidade e o da comunidade indígena estudada;
• estabelecer relações entre o presente e o passado;
• identificar alguns documentos históricos e fontes de informações discernindo algumas de suas funções.

OBJETIVOS DE HISTÓRIA PARA O SEGUNDO CICLO


Espera-se que, ao final do segundo ciclo, os alunos sejam capazes de:
• reconhecer algumas relações sociais, econômicas, políticas e culturais que a sua coletividade estabelece ou
estabeleceu com outras localidades, no presente e no passado;
• identificar as ascendências e descendências das pessoas que pertencem à sua localidade, quanto à
nacionalidade, etnia, língua, religião e costumes, contextualizando seus deslocamentos e confrontos culturais e
étnicos, em diversos momentos históricos nacionais;
• identificar as relações de poder estabelecidas entre a sua localidade e os demais centros políticos, econômicos e
culturais, em diferentes tempos;
• utilizar diferentes fontes de informação para leituras críticas;
• valorizar as ações coletivas que repercutem na melhoria das condições de vida das localidades.

3.4 Conteúdos e métodos em História na sala de aula nas séries


iniciais do ensino fundamental
Em relação ao conteúdo, podemos montar uma sugestão de plano de ensino das quintas
séries iniciais do ensino fundamental, baseados no que vimos até o momento. Para o 1º
ano, vamos montar um plano completo. Para os outros anos, faremos somente a
descrição do conteúdo programático. Seguiremos, novamente, a sugestão de Penteado
(2008) e do MEC-PCN de História (1998).
65
PLANO DE ENSINO
ESCOLA: Escola Municipal profª. Marília Gil de Souza
CURSO: ENSINO FUNDAMENTAL I
CICLO: 1º SÉRIE: 1º ano ANO: 2010
CARGA HORÁRIA CARGA HORÁRIA TOTAL
SEMANAL
2 h/a 80 h/a
DISCIPLINA: História
DOCENTE QUE MINISTRA A DISCIPLINA: profª. Marília Gil de Souza

EMENTA

Construção da noção de tempo e de uma progressiva noção de identidade individual,


social e coletiva, por meio de uma leitura da realidade local e do cotidiano,
posicionando-se frente a situações problemáticas trazidas e/ou apresentadas, fazendo
escolhas e agindo criteriosamente;

OBJETIVOS GERAIS

Ao final do 1º ano do 1º ciclo, o aluno deverá:

 Comparar acontecimentos no tempo, tendo como referência anterioridade,


posterioridade e simultaneidade;

 Reconhecer algumas semelhanças e diferenças sociais, econômicas e culturais, de


dimensão cotidiana, existentes no seu grupo de convívio escolar e na sua localidade,
respeitando-as;

 Reconhecer algumas permanências e transformações sociais, econômicas e


culturais nas vivências cotidianas das famílias, da escola e da coletividade, no tempo, no
mesmo espaço de convivência;

 Caracterizar o modo de vida de uma coletividade indígena, que viveu na região,


distinguindo suas dimensões econômicas, sociais, culturais, artísticas e religiosas;

 Identificar diferenças culturais entre o modo de vida de sua localidade e o da

66 comunidade indígena estudada;


 Estabelecer relações entre o presente e o passado;
 Identificar alguns documentos históricos e fontes de informação, discernindo
algumas de suas funções;
 Desenvolver autonomia intelectual por meio de pesquisa, análise e auto-análise.

DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

CICLO: 1º SÉRIE: 1º ano


Nível de N.º de Abordagem e Recursos
Objetivo Específico Conteúdo
Nº Eixo/Temas Aprendiz. aulas Metodológicos
 Observar e registrar - Condições Registro diário e
simbolicamente o meteorológicas sistemático na lousa: da
tempo meteorológico. de cada dia de data completa do dia, das
aula condições
meteorológicas, em
História local 15
quadrinho fixado na sala.
e do
Exploratóri 1º Fazer perguntas para
cotidiano:
02 o desenvolver
-A semest
(vivências) deslocamento no tempo
localidade:
re (antes/depois): Você
Tempo
nasceu no passado,
presente ou futuro? E
seus pais, antes ou depois
de você? (sugestão:
dinossauros).
 Observar e comparar História local - O sítio urbano Usar ocorrências da vida
culturas. e do - O sítio rural cotidiana para
 Ampliar o vocabulário cotidiano: desenvolver conceito de
oral e escrito como -A cultura: (papel de bala
natureza e cultura. localidade: jogado ao chão – história)
 Cultura 15 Interdisciplinaridade com
Específico Geografia.
03
Obs: do 1º ano 1º e 2º -Usar literatura infantil
interdisciplin semestre
aridade com
o conteúdo
de espaço
físico urbano
e rural
 Iniciar seu contato - A história dos - Entrevista com
com a história dos antepassados professor de História
antepassados indígenas. indígenas. sobre a história dos
 Avaliar a relação da - Relação da antepassados indígenas
comunidade com os História local comunidade de Taubaté (guaianás,
15
povos indígenas do e do com os povos jerominis e puris);
passado. cotidiano: indígenas do Exploratóri 2º - Pesquisa sobre a
04  Identificar objetos cultura passado o
seme
herança cultural dos
culturais que é herança - - Herança (vivências) povos indígenas;
dos povos indígenas da Comunidade cultural dos stre - Exposição dos objetos
localidade. s indígenas povos indígenas indígenas presentes na
 Caracterizar o modo da localidade cidade.
de vida dos guaianás, - Vivenciar: músicas,
jerominis e puris. costumes, comida e
outros.

67
CICLO: 1º SÉRIE: 2º ano
Nível de N.º de Abordagem e Recursos
Objetivo Específico Conteúdo
Nº Eixo/Temas Aprendiz. aulas Metodológicos
 Construir a sua - Nome completo - Perguntas iniciais
identidade social escolar; do aluno, - Observações orientadoras
 Desenvolver uma professor, diretor, - Registro das respostas
vivência organizada das escolar, prenome alcançadas
relações sociais escolares. de funcionários. - Brincadeiras – exercícios.
História local - Normas de
e do conduta para: 15
cotidiano: . Ir ao banheiro Exploratóri
01 -A . Jogar lixo no o 1º
localidade: cesto (vivências) seme
• Relações . Pedir a palavra stre
sociais . Respeito à
equipe escolar e
entre colegas
. Preservação do
meio ambiente
escolar
 Iniciar a construção de - Dia do Registro diário e
“identidade temporal” aniversário do sistemático na lousa: da
 Situar-se no tempo aluno, da data completa do dia, das
cronológico imediato localidade, do condições meteorológicas,
História local Brasil. 15 em quadrinho fixado na
e do - Data da aula, do sala.
Exploratóri 1º
cotidiano: dia anterior, do dia Fazer perguntas para
02 o
-A posterior. seme desenvolver deslocamento
(vivências)
localidade: no tempo (antes/depois: vc
stre
• Tempo nasceu no passado,
presente ou futuro? E seus
pais, antes ou depois de
você? (sugestão:
dinossauros).
 Observar e comparar História local Conceito de Usar ocorrências da vida
culturas. e do cultura: tudo o que cotidiana para desenvolver
 Ampliar o vocabulário cotidiano: resulta do trabalho conceito de cultura: (papel
oral e escrito como -A do homem. de bala jogado ao chão –
natureza e cultura. localidade: Cultura: história)
• Cultura - do sítio urbano 15 Interdisciplinaridade com
Específico
03 Obs: - do sítio rural 1º e 2º Geografia.
do 1º ano
interdisciplin semestre -Usar literatura infantil
aridade com
o conteúdo
de espaço
físico urbano
e rural
 Continuar seu contato - A história dos - Pesquisa sobre a herança
com a história dos antepassados cultural dos povos
antepassados indígenas. indígenas. indígenas;
 Avaliar a relação da História local - Relação da - Vivenciar: músicas,
15
comunidade com os povos e do comunidade com costumes, comida e outros.
indígenas do passado. cotidiano: os povos indígenas Exploratóri 2º
04  Identificar objetos cultura do passado o
semes
culturais que é herança - - Herança cultural (vivências)
dos povos indígenas da Comunidades dos povos tre
localidade. indígenas indígenas da
 Caracterizar o modo de localidade
vida dos guaianás,
jerominis e puris.

68
CICLO: 1º SÉRIE: 3º ano
Nível de N.º de Abordagem e Recursos
Objetivo Específico Conteúdo
Nº Eixo/Temas Aprendiz. aulas Metodológicos
 Construir a sua - Nome completo - Perguntas iniciais
identidade social escolar; do aluno, - Observações orientadoras
 Desenvolver uma professor, diretor, - Registro das respostas
vivência organizada das escolar, prenome alcançadas
relações sociais escolares. de funcionários. - Brincadeiras – exercícios.
- Normas de
História local e
conduta para: 15
do cotidiano:
. Ir ao banheiro Exploratóri
-A
01 . Jogar lixo no o 1º
localidade:
cesto (vivências) semestr
• Relações
. Pedir a palavra e
sociais
. Respeito à
equipe escolar e
entre colegas
. Preservação do
meio ambiente
escolar
 Situar-se no tempo - Datas: Registro diário e
cronológico . aula presente sistemático na lousa: da
História local e
 Apreender . dia data completa do dia, das
do cotidiano:
transformações ao longo anterior/passado condições meteorológicas,
-A
do tempo próximo; . dia em quadrinho fixado na
localidade:
 Representar o tempo de• Tempo posterior/futuro 15 sala.
curta duração; - a natureza local Fazer perguntas para
Exploratóri 1º
02  Ler horas: relógio não Obs:
no passado e no
o
desenvolver deslocamento
digital; presente seme no tempo (antes/depois: vc
interdisciplinari (vivências)
 Ler e utilizar o dade com o
- a cultura local no
stre
nasceu no passado,
calendário passado e no presente ou futuro? E seus
conteúdo de
presente pais, antes ou depois de
natureza e
- dia: 24 horas você? (sugestão:
cultura de
- semanas, meses, dinossauros).
Geografia.
ano.

 Observar, descrever e História local e - Vestuário Usar ocorrências da vida


registrar elementos da do cotidiano: - Transporte cotidiana para desenvolver
cultura usados de dia e de -A - Alimentação conceito de cultura: (papel
noite; localidade: - Lazer de bala jogado ao chão –
 Observar, descrever e • Cultura história)
registrar modos de vida 15 Interdisciplinaridade com
Específico
03 nas diferentes estações do Obs: 1º e 2º Geografia.
do 1º ano
ano. interdisciplinar semestre -Usar literatura infantil
idade com o
conteúdo de
natureza e
cultura de
Geografia
 Continuar seu contato - A história dos - Pesquisa sobre a herança
com a história dos antepassados cultural dos povos
antepassados indígenas. indígenas. indígenas;
 Avaliar a relação da - Relação da - Vivenciar: músicas,
História local e 15
comunidade com os povos comunidade com costumes, comida e outros.
do cotidiano:
indígenas do passado. os povos indígenas Exploratóri 2º
cultura
04  Identificar objetos do passado o
- semes
culturais que é herança - Herança cultural (vivências)
Comunidades
dos povos indígenas da dos povos tre
indígenas indígenas da
localidade.
 Caracterizar o modo de localidade
vida dos guaianás,
jerominis e puris.

69
CICLO: 2º SÉRIE: 4º ano
Nível de N.º de Abordagem e Recursos
Objetivo Específico Conteúdo
Nº Eixo/Temas Aprendiz. aulas Metodológicos
 Construir a sua - Nome completo - Perguntas iniciais
identidade social escolar; do aluno, - Observações orientadoras
 Desenvolver uma professor, diretor, - Registro das respostas
vivência organizada das escolar, prenome alcançadas
relações sociais escolares. de funcionários. - Brincadeiras – exercícios.
História local - Normas de
e do conduta para: 15
cotidiano: . Ir ao banheiro Exploratóri
01 -A . Jogar lixo no o 1º
localidade: cesto (vivências) seme
• Relações . Pedir a palavra stre
sociais . Respeito à
equipe escolar e
entre colegas
. Preservação do
meio ambiente
escolar
 Construir representação - linha do tempo: Registro diário e
do tempo histórico; . da vida do aluno sistemático na lousa: da
 Representar o tempo .de seus familiares data completa do dia, das
longo; . da localidade condições meteorológicas,
 Representar o tempo da História local onde se situa a 15 em quadrinho fixado na
História do Brasil e do escola sala.
Exploratóri 1º
cotidiano: . de objetos Fazer perguntas para
02 o
-A culturais seme desenvolver deslocamento
(vivências)
localidade: . três grandes no tempo (antes/depois: vc
stre
• Tempo períodos da nasceu no passado,
História do Brasil presente ou futuro? E seus
pais, antes ou depois de
você? (sugestão:
dinossauros).
 Observar, descrever e História local - Vestuário Usar ocorrências da vida
registrar a cultura nas e do - Transporte cotidiana para desenvolver
diferentes estações do cotidiano: - Alimentação conceito de cultura: (papel
ano. -A - Lazer de bala jogado ao chão –
localidade: história)
• Cultura 15 Interdisciplinaridade com
Específico
03 Obs: 1º e 2º Geografia.
do 1º ano
interdisciplin semestre - Usar literatura infantil
aridade com
o conteúdo
de natureza e
cultura de
Geografia
 Continuar seu contato - A história dos - Entrevista com professor
com a história dos antepassados de História sobre a história
antepassados indígenas indígenas do Brasil dos antepassados indígenas
do Brasil. - Relação da brasileiros;
 Avaliar a relação do comunidade - Pesquisa sobre a herança
História local brasileira com os cultural dos povos
povo brasileiro com os 15
e do
povos indígenas do povos indígenas do indígenas brasileiros;
cotidiano: Exploratóri 2º
passado e de hoje. passado e de hoje - Excursão a um museu
04 cultura o
 Identificar objetos - Herança cultural seme indígena;
- (vivências)
culturais que é herança dos povos - Vivenciar: músicas,
Comunidades stre
dos povos indígenas indígenas costumes, comida e outros.
indígenas brasileiros
brasileiros.
 Caracterizar o modo de
vida dos índios do Brasil e
compará-los com os da
sua localidade.

70
CICLO: 2º SÉRIE: 5º ano
Nível de N.º de Abordagem e Recursos
Objetivo Específico Conteúdo
Nº Eixo/Temas Aprendiz. aulas Metodológicos
Construir a sua identidade - Nome completo - Perguntas iniciais
social escolar; do aluno, - Observações orientadoras
Desenvolver uma vivência professor, diretor, - Registro das respostas
organizada das relações escolar, prenome alcançadas
sociais escolares. de funcionários. - Brincadeiras – exercícios.
- Normas de
História local e conduta para:
do cotidiano: . Ir ao banheiro Explora- 15
01 - A localidade: . Jogar lixo no tório 1º
• Relações cesto (vivências) semestre
sociais . Pedir a palavra
. Respeito à
equipe escolar e
entre colegas
. Preservação do
meio ambiente
escolar
Deslocar-se no tempo da - antes e depois da Registro diário e sistemático
história do Brasil; chegado do na lousa: da data completa
Identificar permanências e português do dia, das condições
mudanças ao longo do tempo. colonizador meteorológicas, em
- datas quadrinho fixado na sala.
significativas de Fazer perguntas para
História local e
nossa história Explora- 15 desenvolver deslocamento
do cotidiano:
02 - espaço brasileiro tório 1º no tempo (antes/depois: vc
- A localidade:
nos primórdios e (vivências) semestre nasceu no passado,
• Tempo
hoje presente ou futuro? E seus
- povos pais, antes ou depois de
componentes da você? (sugestão:
população do Brasil dinossauros).
nos primórdios e
atualmente
Comparar a cultura do Brasil História local e - Ferramentas Usar ocorrências da vida
no tempo da chegada do do cotidiano: - Utensílios cotidiana para desenvolver
colonizador e hoje. - A localidade: -Moradias conceito de cultura: (papel
• Cultura -Adornos de bala jogado ao chão –
- Vestuário história)
Obs: - Usos e costumes 15 Interdisciplinaridade com
Específico
03 interdisci- das etnias 1º e 2º Geografia.
do 1º ano
plinaridade formadoras do Semestre -Usar literatura infantil
com o povo brasileiro
conteúdo de
natureza e
cultura de
Geografia
Continuar seu contato com a - A história dos - Entrevista com professor
história dos antepassados antepassados de História sobre a história
indígenas do Brasil. indígenas do Brasil dos antepassados indígenas
Avaliar a relação do povo - Relação da brasileiros;
brasileiro com os povos comunidade - Pesquisa sobre a herança
História local e
indígenas do passado e de brasileira com os cultural dos povos indígenas
do cotidiano: Exploratór 15
hoje. povos indígenas do brasileiros;
04 cultura io 2º
Identificar objetos culturais passado e de hoje - Excursão a um museu
- Comunida- (vivências) semestre
que é herança dos povos - Herança cultural indígena;
des indígenas
indígenas brasileiros. dos povos - Vivenciar: músicas,
 Caracterizar o modo de vida indígenas costumes, comida e outros.
dos índios do Brasil e brasileiros
compará-los com os da sua
localidade.

71
Em relação aos métodos, nas dinâmicas das atividades propõe-se que o professor:

 valorize, inicialmente, os saberes que os alunos já têm sobre o tema abordado,


criando momentos de trocas de informações e opiniões;

 avalie essas informações, identificando quais poderiam enriquecer seus


repertórios e suas reflexões;

 proponha novos questionamentos, informe sobre dados desconhecidos e


organize pesquisas e investigações;

 selecione materiais de fontes de informação diferentes para que sejam estudados


em sala de aula;

 promova visitas e pesquisas em locais ricos em informações;

 proponha que os estudos realizados se materializem em produtos culturais, como


livros, murais, exposições, teatros, maquetes, quadros cronológicos, mapas etc.

É necessário que o professor, por meio de rotinas, atividades e práticas, ensine-os como
dominar procedimentos que envolvam questionamentos, reflexões, análises, pesquisas,
interpretações, comparações, confrontamentos e organização de conteúdos históricos. A
pesquisa e a coleta de informação devem fundamentar a construção de uma ou mais
respostas para os questionamentos disparados no início do trabalho. Essas respostas
devem ser registradas: texto, álbum de fotografia, livro, vídeo, exposição, mural,
coleção de mapas etc.

3.5 O Estudo do meio como recurso didático


O estudo do meio, como recurso didático, favorece uma participação ativa do aluno na
elaboração de conhecimentos, como uma atividade construtiva que depende, ao mesmo
tempo, da interpretação, da seleção e das formas de estabelecer relações entre
informações.

Sugestões de metodologias de trabalho na organização de estudos do meio:

72
criar atividades, anteriores à saída, que envolvam levantamento de hipóteses e de
expectativas prévias;

criar atividades de pesquisa, destacando diferentes abordagens, interpretações e autores


(reportagens, jornais, enciclopédias, livros especializados, filmes) sobre o local a ser
visitado;

conseguir, se possível, um ou mais especialistas para conversar com os alunos sobre o


que irão encontrar na visita ou sobre o tema estudado;

visitar o local com antecedência;

organizar, junto com os alunos, um roteiro de pesquisa, um mapa do local e uma


divisão de tarefas;

conseguir, com antecedência ou posteriormente, para estudo na classe, mapas de várias


épocas sobre o local, para análise da transformação da paisagem e da ocupação
humana;

conversar com os alunos, antes da excursão, sobre condutas necessárias no local.

3.6 Iconografia
A iconografia (do grego eikon, imagem, e graphia, descrição, escrita) é uma forma de
linguagem visual que utiliza imagens para representar determinado tema. A palavra
ícone quer dizer literalmente imagem. A iconografia estuda a origem e a formação das
imagens. No estudo da História, a pesquisa iconográfica pode enriquecer um texto sobre
um período histórico com imagens de esculturas, obras arquitetônicas, quadros ou
fotografias de pessoas.

Para ensinar aos alunos como aprofundar seu olhar diante das imagens, é preciso
considerar a foto como documento histórico e adotar procedimentos para dela colher
informações, tanto de seu conteúdo quanto de sua forma.

73
O professor precisa orientar os alunos para que, ao olhar uma foto, procurem identificar,
por exemplo, os hábitos familiares, a origem social das pessoas, a forma de trabalho dos
operários de uma fábrica, a arquitetura dos prédios e os serviços urbanos da cidade, e
assim por diante.

Além disso, é importante entenderem o estilo de quem a produziu, a disposição dos


personagens ou objetos, o destaque dado a alguns deles no primeiro plano ou a
importância do que está em plano de fundo.

Observação de uma foto

Estudando a questão do
trabalho no Brasil, por
exemplo, é possível escolher
uma foto (conforme Figura
3.1) que remeta a uma cena
cotidiana do século passado e
incentivar os alunos a
debaterem o tema retratado,
Figura 3.1 - Fundação Nacional Pró-Memória
Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/categoria/politicas/museus/ levantando questões a
Acesso em 16 jul. 2010.
respeito. Escolhemos, por
exemplo, uma foto tirada por Marc Ferrez, em 1882 (acima), de escravos indo para a
colheita de café, no Rio de Janeiro. A partir dessa exposição, é possível perguntar aos
alunos:
• Quem são os personagens? Como são suas roupas e seus adornos? Qual será a época
em que viveram? Qual será a atividade ou a ocupação de cada um? Quais objetos
aparecem na cena? Como é o cenário? Existe vegetação? De que tipo? O que está em
primeiro plano? E em plano de fundo? Parece uma cena corriqueira? Será uma festa ou
comemoração?
Por outro lado, a realidade da foto pode ser contraposta à realidade atual, discutindo:
• Seria possível, hoje em dia, uma cena como essa? As pessoas atuais se vestem desse
modo? O que o fotógrafo quis registrar ou comunicar? Vocês já viram outra foto

74
parecida? Vocês conhecem outros fotógrafos antigos? Que outros fotógrafos conhecem?
Poderiam comparar o trabalho deles com este?
Além dessas indagações, as crianças também podem fazer uma pesquisa a respeito do
fotógrafo: quem é, qual sua história, em que época viveu, em que lugar fez a foto, por
que motivo quis fotografar a cena etc.
É possível, também, incentivar os alunos a relacionarem a foto com contextos históricos
mais amplos, pedindo para pesquisarem eventos da história brasileira relacionados a
informações extraídas daquela imagem.

3.7 O Tempo
O tempo é um dos conceitos mais complexo de ser entendido.

As diversas concepções de tempo são produtos culturais que só são compreendidas, em


todas as suas complexidades, ao longo de uma variedade de estudos e acesso. Nesse
sentido, não deve existir uma preocupação especial do professor em ensinar,
formalmente, nos dois primeiros ciclos, uma conceituação ou outra, mas trabalhar
atividades didáticas que envolvam essas diferentes perspectivas de tempo, tratando-o
como um elemento que possibilita organizar os acontecimentos históricos no presente e
no passado.

Deve-se estudar medições de tempo e calendários de diferentes culturas; distinguir


periodicidades, mudanças e permanências nos hábitos e costumes de sociedades
estudadas; relacionar um acontecimento com outros acontecimentos de tempos
distintos; identificar os ritmos de ordenação temporal das atividades das pessoas e dos
grupos, a partir de predominâncias de ritmos de tempo, que mantêm relações com os
padrões culturais, sociais, econômicos e políticos vigentes.

75
ATIVIDADES COM O TEMPO

Para trabalharmos o conceito TEMPO com alunos do 1º e 2º ciclos, sugiro, abaixo,


algumas atividades:

criação de rotinas diárias e semanais de atividades, organizando-as em quadros de


horário ou agendas, que possibilitem às crianças se organizarem de modo autônomo em
relação aos acontecimentos e estudos de cada dia e da semana;

registro com os alunos do dia da semana e do mês, do mês e do ano, dos aniversários,
das festas, dos feriados, dos dias de descanso, dos acontecimentos do passado e do
presente que estão estudando;

observação, registro e levantamento de hipóteses sobre as repetições dos fenômenos


naturais, como: dia e noite, mudanças das fases da Lua, posição do Sol no céu,
vegetação, mudanças na temperatura, ventos;

criação de calendários sustentados nessas mudanças, observadas em relação aos


elementos naturais, estabelecendo periodicidades de um mês para o outro ou de ano
para o outro;

confecção de relógios de sol, ampulhetas, relógios de água (clepsidra);

conhecimento do funcionamento e das histórias que envolvem os calendários utilizados


por alguns povos, como o cristão, o egípcio, o asteca;

comparação entre os diferentes calendários e sua utilização para localização e


comparação de acontecimentos no tempo.

O tempo, como elemento cultural que estabelece ritmos para as atividades humanas,
pode ser trabalhado por meio de estudos e pesquisas sobre os reguladores do tempo
(relógios, ciclos naturais):

regularidade das atividades escolares (início/fim), familiares e populacionais (local)


local, quanto ao trabalho, à alimentação, ao tempo de lazer;

76
comparações sobre os reguladores do tempo da sociedade em que os estudantes vivem e
os reguladores de comunidades diferentes — de localidades rurais ou urbanas e de
culturas de outros tempos e espaços.

3.8 História do Brasil


Para estudar a História do Brasil, a partir do 4º ano, a questão “quantos anos tem o
Brasil?” poderá ser a primeira provocação. Em todas as séries, no dia do aniversário do
Brasil, faz-se uma referência ao fato, destacando-o e marcando-o de alguma maneira. É
possível, assim, que os alunos já tenham guardado a data da chegada dos portugueses
ao Brasil. Caso contrário, o professor pode fornecer essa data.

Em seguida, coloca-se o problema da representação da História do Brasil numa linha do


tempo. Se formos representar cada ano na linha com um centímetro, qual será o
comprimento dessa linha? Caberá no caderno? Como poderemos fazer para representar
o tempo da história do Brasil?

Comenta-se, então, com as crianças, a contagem do tempo em séculos (conjunto de 100


anos). Sobre este assunto, é preciso garantir a aprendizagem da duração de um século,
da data de início e fim de cada século, da utilização dos algarismos romanos para a
identificação numérica dos séculos.

Será interessante organizar com os alunos uma lista de séculos, a partir do


descobrimento do Brasil, para facilitar a apreensão da regra que orienta essa contagem.
Depois de todo o trabalho desenvolvido em torno dos séculos, é hora de perguntar:
“quantos séculos tem a história do Brasil?”. Isso feito, constrói-se a linha do tempo da
história do Brasil em séculos. O professor faz o registro na lousa, sendo acompanhado
pelos alunos em seus cadernos.

Veja um modelo:

Séc XV Séc XVI Séc XVII Séc XVIII Séc XIX Séc XX Séc XXI
1501 1601 1701 1801 1901 2001

77
1500 1600 1700 1800 1900 2000

Apreendida a representação da linha do tempo da história do Brasil, o professor poderá


provocar os alunos sobre a história da localidade: Quem sabe quando começou a
história da localidade (cidade, vila ou fazenda)? Que acontecimentos importantes
marcaram a vida da localidade?

3.8.1 Os Indígenas: localização e cultura


Os PCN sugerem as seguintes atividades para o trabalho com indígenas, sua localização
e cultura.

Para a identificação do grupo indígena da região e estudo do seu modo de vida social,
econômico, cultural, político, religioso e artístico, devem ser levantadas as seguintes
informações:

 o território que habitam e que já habitaram; a organização das famílias e os


parentescos; a produção e distribuição de alimentos; a divisão de trabalho entre
os sexos e as idades; as moradias e a organização do espaço; os rituais culturais
e religiosos; as relações materiais e simbólicas com a natureza (os animais e a
flora); a língua falada; as vestimentas; os hábitos cotidianos de higiene; a
medicina; as técnicas de produção de artefatos; as técnicas de coleta ou de
produção de alimentos; as brincadeiras e as rotinas das mulheres, dos homens,
das crianças e dos velhos; a medição do tempo; a contação de histórias; as
crenças, lendas e mitos de origem; as manifestações artísticas, como músicas,
desenhos, artesanato e danças.

3.8.2 O colonizador: localização e cultura


Para trabalhar o conteúdo referente ao colonizador, sua localização e cultura, sugere-se
um projeto interdisciplinar com a Geografia, como as atividades indicadas por Penteado
(2008), a seguir:

Introduzir o conteúdo com provocações feitas aos alunos: Aonde chegou o colonizador
português no Brasil em 1500? De onde veio? O que veio fazer aqui?

78
O professor, após as provocações, deverá:

a. retomar o mapa-mundi político visto em Geografia (dividido em países) e expor


para a classe;

b. solicitar aos alunos que localizem Portugal no continente europeu e o Brasil no


continente americano;

c. indicar Portugal, de onde os portugueses saíram e Porto Seguro (Bahia), no


Brasil, onde chegaram pela primeira vez;

d. solicitar que verifiquem no mapa o que separava Portugal do Brasil, acolher as


respostas e problematizar o que for necessário, até chegar à identificação do
oceano Atlântico;

e. distribuir para a classe um mapa-múndi simplificado, contendo apenas Portugal


no continente europeu, o Brasil no continente americano, e pedir que tracem o
caminho da esquadra de Pedro Álvares Cabral de Lisboa até Porto Seguro, no
estado da Bahia.

Isso feito, é preciso que o professor reconstitua o clima da época em que viagens pelos
oceanos (profundos e desconhecidos) constituíam grande risco de vida e os perigos
previsíveis, aliados ao desconhecimento e a recursos técnicos ainda incipientes (por
exemplo, caravelas movidas a vento) reforçavam lendas apavorantes, como a de seres
misteriosos, como as sereias (metade mulher, metade peixe) que surgiam das
profundezas dos oceanos, entoando canções muito melodiosas que encantavam os
navegantes, e estes, enlouquecidos, se atiravam nas águas e morriam afogados.

Esse é o momento propício para “dar asas à imaginação” das crianças com
problematizações, a exemplo das seguintes:

 Como são os navios que viajam do Brasil para Portugal hoje? (fazer um cartaz
com figuras de caravelas de 1500 e embarcações que navegam hoje é um
exercício elucidador);

79
 Será que viajar pelos oceanos naquela época era a mesma coisa que fazer
viagens espaciais hoje? Quem de vocês, se estivesse naquela época, teria
coragem de fazer aquela viagem? (colher tanto as respostas afirmativas quanto
as negativas).

Acolher as respostas e fazer a seguinte provocação:

 O que vocês acham que fez os portugueses se aventurarem, naquela época, em


uma viagem tão perigosa?

Acolher as respostas e pedir às crianças que observem o tamanho de Portugal no mapa-


mundi, comparado aos demais países europeus, para responderem à questão: Portugal
era um grande ou pequeno reino? Como poderia expandir os seus territórios?

É a oportunidade para o professor comentar o interesse do povo português pelas


viagens e registrar, no mesmo mapa-mundi, as viagens de Bartolomeu Dias dobrando o
Cabo da Boa Esperança ao sul do continente africano, em 1498. Assim como a chegada
de Vasco da Gama às Índias, em 1498, e a circum-navegação da Terra feita por Fernão
de Magalhães (1520), passando do oceano Atlântico para o oceano Pacífico, ao sul do
continente americano, pelo estreito que leva seu nome. Dessa forma, é possível situar as
viagens no mapa, possibilitando que as crianças entrem no espírito da época. Retoma-
se, então, o trabalho com o espaço no nível de aprofundamento e insere-se o
descobrimento do Brasil no contexto das viagens e nos descobrimentos da época,
norteados por interesses econômicos.

Após essas atividades, os alunos podem ler textos sobre a vida do branco europeu, fazer
dramatizações a partir dessas leituras, observar gravuras das naus de Cabral e, com base
nessas gravuras, descrever a população da época.

3.8.3 A organização da vida brasileira pelos portugueses


Para trabalhar esse tema, é preciso contar para as crianças que:

 a organização da vida no Brasil passou a ser feita pelos portugueses, após a sua
chegada. Era o rei de Portugal que estabelecia as normas e leis para a vida aqui.
80
Segundo essas normas, os portugueses tinham o poder de mandar em todos
(inclusive nos índios), vigiar se as normas eram obedecidas e castigar quem nas
as obedecesse;
 os portugueses, em 1822, que aqui estavam apoiados por muitos brasileiros
nascidos ao longo de três séculos (1500 a 1822), resolveram que essas normas
passariam a ser feitas aqui por um rei do Brasil e não mais pelo rei de Portugal.
Isso levou Dom Pedro (filho do rei de Portugal, que aqui o representava) a
proclamar a independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1822;
 o Brasil, que até essa data era colônia de Portugal (pertencia a Portugal), passou
a ser um império;
 um império é governado por um rei ou imperador; um rei ou imperador é
sempre filho de outro rei ou imperador e, portanto, não é escolhido pelo povo;
 o Brasil continuou império até 15 de novembro de 1889, quando foi proclamada
a república pelo marechal Deodoro da Fonseca;
 uma república é governada por um presidente, eleito pelo povo, que o escolhe
com o seu voto.
Expor para os alunos a reprodução de pinturas do rei de Portugal, de Dom Pedro I, de
Marechal Deodoro da Fonseca, é um modo de familiarizá-los com personagens de
nossa história.
Nesse ponto, os alunos já terão condições de ir completando a representação da história
do Brasil, colocando na linha do tempo os períodos colônia, império e república.
Observe abaixo um modelo:
COLÔNIA IMPÉRIO REPÚBLICA
Séc XV Séc XVI Séc XVII Séc XVIII Séc XIX Séc XX Séc XXI
1501 1601 1701 1801 1901 2001
1500 1600 1700 1800 1900 2000
Independência do Brasil

Proclamação da República

81
O professor deverá fazer a linha do tempo da história do Brasil na lousa, acompanhado
pelos alunos que deverão reproduzi-las em seus cadernos.

Isso feito, os alunos deverão responder às seguintes perguntas: Os índios viviam em


ambiente urbano ou rural? Em que região do país os portugueses viviam: zona urbana
ou rural? Você imagina que esse encontro entre os índios e os brancos portugueses teria
sido bom para os índios? Por quê? E para os portugueses? Por quê?

A leitura de pequenos textos sobre as entradas e bandeiras poderá oferecer elementos


para a confirmação das relações espoliativas em relação aos indígenas.

Depois de recolher as respostas, problematizar com os pontos que achar necessário e, a


partir delas, tecer considerações sobre eles. É preciso que o professor informe seus
alunos sobre os interesses dos portugueses, o que buscavam e para quê, o que
encontraram (comentar sobre o pau-brasil, plantar uma muda de pau-brasil na escola e
cuidar dela), como ocuparam a terra (viagens de reconhecimento, povoamento, criação
de engenhos de açúcar.

Apresentar-lhes as figuras de engenhos de açúcar e levá-los a comparar com figuras ou


retratos de usinas de açúcar existentes no Brasil hoje, ampliando a discussão para o uso
do açúcar como alimento, combustível, tecnologia etc.

3.8.4 A escravidão negra: o encontro das culturas


A criação de engenhos promove a vinda do negro africano para o Brasil como escravo.
Os mesmos cuidados tomados no caso da cultura do indígena devem ser tomados aqui
com informações deturpadas e estereotipadas sobre os negros e suas culturas.

A observação de gravuras de Debret e O pintor francês Jean Baptiste Debret (1768-1848)


esteve no Brasil, no século XIX, a serviço da Corte
Rugendas, com cenas da escravidão no Portuguesa, integrando a Missão Artística Francesa.
Em suas telas, o francês retratou as cores e os
Brasil, será interessante e útil, assim como costumes do Brasil, com especial destaque para o
regime escravocrata do país. O alemão Johan
sua descrição e dramatização pelos alunos. Moritz Rugendas (1802-1858) chegou ao Brasil, em
1821, na expedição do Barão de Langsdorff,
viajando pelo país a fim de coletar material para
É interessante que se faça visitas a museus pinturas e desenhos. Assim como Debret, deixou
registradas cenas do cotidiano brasileiro, embora a
nos quais haja peças e documentos que
82
maior parte de suas obras registre cenas
paisagísticas.
possibilitem a reconstrução da vida dos escravos.

Outra possibilidade interessante é promover a brincadeira “Vamos passar um dia como


escravos”. Organizada para a discussão do escravo, é um exercício rico para a
compreensão do aniquilamento cultural que os africanos sofreram aqui no Brasil. Essa
brincadeira exigirá combinações prévias, como:

- alguns alunos “farão de conta” que são os escravos adultos;

- outros alunos “farão de conta” que são as escravas adultas;

- o professor poderá fazer o papel de uma escrava adulta ou velha.

Ao longo da brincadeira, o que fazer?

Deverá haver uma preparação. Decidir o que trazer para a brincadeira, o lugar onde
acontecerá (classe, pátio), a arrumação do espaço etc.

A realização desse exercício criará, certamente, a necessidade de consulta a informações


verídicas que poderão ser encontradas em bibliografia ou sítios bibliográficos indicados
pelo professor.

É preciso, também, sempre colocar questões-problemas, como: Como era a vida do


negro no continente africano? A partir do que já sabemos sobre a cultura dos africanos,
portugueses e índios, podemos concluir que eram três culturas muito parecidas ou
diferentes? É importante abordar o movimento abolicionista com os alunos.

Em seguida, retomar a linha do tempo e inserir os fatos (datados) referentes à história


da escravidão no Brasil e analisar o tempo que durou a escravidão, o tempo
correspondente à libertação dos escravos, os fatos ocorridos (que envolvem os negros)
imediatamente após a abolição da escravatura e a vida dos negros hoje.

Pode-se organizar um pequeno roteiro de entrevista para um encontro com personagens


afro-descendentes da localidade. Assim como, pode-se apresentar aos alunos um
resumo de notícias de jornais, com datas recentes, denunciando a ocorrência de trabalho
escravo nos dias atuais no Brasil, o que possibilitará uma problematização do assunto.

83
Leitura de textos em que se explicitem as condições em que se deu o encontro dos
brancos, negros e índios pode ser feita como fechamento dos trabalhos ou ao longo
dele.

3.9 Como utilizar documentos históricos na sala de aula


Os documentos são fundamentais como fontes de informações a serem interpretadas,
analisadas e comparadas, como cartas, livros, relatórios, diários, pinturas, esculturas,
fotografias, filmes, músicas, mitos, lendas, falas, espaços, construções arquitetônicas ou
paisagísticas, instrumentos e ferramentas de trabalho, utensílios, vestimentas, restos de
alimentos, habitações, meios de locomoção, meios de comunicação. Esses documentos
são, ainda, os sentidos culturais, estéticos, técnicos e históricos que os objetos
expressam, organizados por meio de linguagens (escrita, oralidade, números, gráficos,
cartografia, fotografia, arte).

Trabalho com leitura e interpretação de fontes bibliográficas

Cabe ao professor ensinar os seus alunos a realizarem uma leitura crítica de produções
de conteúdos históricos, distinguindo contextos, funções, estilos, argumentos, pontos de
vista, intencionalidades. Didaticamente, é importante que os alunos aprendam a
identificar as obras de conteúdo histórico (textos feitos por especialistas, livros
didáticos, enciclopédias e meios de comunicação de massa) como sendo construções
que contemplam escolhas feitas por seus autores (influenciados em parte pelas ideias de
sua época), a exemplo de: seleção de fatos históricos, destaque feito a determinado
sujeito-histórico, organização temporal das análises e das relações entre
acontecimentos.

Podem ser criadas situações em que os alunos aprendam a questionar e dialogar com os
textos, por meio das seguintes questões: Em que contexto histórico o texto foi
produzido? Quais fatos e sujeitos históricos foram privilegiados? Existiria a
possibilidade de privilegiar outros sujeitos e outros fatos? Como o tempo está
organizado? Quais os argumentos defendidos pelo autor? Como está organizado o
ponto de vista do autor? Existem outras pessoas que defendem as mesmas ideias?

84 Como pensam outras pessoas? Como se pode pensar de modo diferente do autor? Qual
é a opinião pessoal sobre o que o autor defende? Os questionamentos sobre as obras
propiciam, necessariamente, trabalhos de pesquisa pelos alunos e seleção, por parte do
professor, de materiais complementares que auxiliem a identificação de contextos e o
discernimento dos pontos de vista dos autores.

Cabe, também, ao professor ensinar como questionar uma obra, como promover
momentos em que seus alunos possam lê-la mais criticamente, mediante comparação e
confrontação com outras obras que se distinguem por enfocarem abordagens
diferenciadas.

3.10 Síntese da Unidade


Esta Unidade apresenta os fundamentos e procedimentos metodológicos no ensino de
História. O item 3.1 tratou a metodologia básica para o ensino de História no ensino
fundamental I. No item 3.2, comentou-se o PCN de História para o 1º e 2º ciclos, por
meio de perguntas. Em seguida, no 3.3, refletiu-se sobre os objetivos do ensino de
História. No item 3.4, em que esses objetivos são aplicados, refletiu-se sobre os
conteúdos e métodos em História na sala de aula das séries iniciais do ensino
fundamental. Detalhando mais a metodologia e a fundamentação, os itens 3.5 e 3.6
trataram o estudo do meio e a iconografia como recursos didáticos. Os itens 3.7 e 3.8
refletiram sobre um conteúdo que domina todo o ensino fundamental: as relações
sociais. Em seguida, abordou-se a metodologia para o estudo do tempo. O
encerramento da Unidade 3 deu-se no item 3.9 com os estudos da história do Brasil, dos
indígenas e dos negros, acrescentando-se a esses o modo de se trabalhar documentos
históricos em sala de aula.

85
3.11 Atividades
Para ampliar sua reflexão sobre o tema, vamos fazer algumas atividades.

1- Monte um plano de ensino de História de uma série do ensino fundamental I (vide


modelo apresentado no decorrer do conteúdo);
2- Elabore uma sequência didática, que escolheu no exercício 1, para a série com a qual
está trabalhando. O assunto fica a seu critério, conforme a série escolhida.
3- Sobre o tema “O documento histórico na sala de aula”, faça atividades de
autoavaliação para ver seu conhecimento e, em seguida, outros tipos de exercícios.

Sobre a utilização de fontes contemporâneas (fotos, filmes, quadrinhos, publicidade),


analise as informações a seguir:

( ) Um filme que se passa em determinado contexto histórico procura sempre realizar


um retrato fiel da época.
( ) Uma fotografia, dada a sua natureza lacunar, precisa ser abordada de forma que, a
partir dela, se reconstrua a narrativa de um período.
( ) A publicidade permite conhecer como a sociedade de um período específico via os
grupos que eram o alvo de uma determinada campanha.

Empregando a letra V para as assertivas verdadeiras e a letra F para as falsas, assinale a


sequência que corresponde às afirmações acima:

a- V, V, V b- F, F, F c- F, V, V d- F, F, V

Sobre as imagens canônicas, analise as afirmações a seguir: Imagens canônicas: diz-se


das imagens (geralmente
na pintura)
I Os livros didáticos fazem uso desse tipo de imagem porque elas inquestionáveis acerca de
um fato ou de uma
expressam da melhor maneira um determinado fato histórico. pessoa
II São reconstruções idealizadas de um passado, a serviço da legitimação de atos
presentes.
III Não podem ser usadas com finalidades didáticas, dada a sua natureza ideológica.

86
São corretas as alternativas:

a- I, II e III b- I e III c- II d- III

Sobre a utilização do cinema nas aulas de História, analise as assertivas a seguir


I O cinema deve ser usado para exemplificar como determinado fato aconteceu.
II Devemos levar em consideração o contexto no qual o filme foi produzido.
III Somente devem ser utilizados os filmes da época.
As afirmações que se constituem enquanto problemáticas na abordagem do cinema nas
aulas de História são:
a- I e II b- II e III c- I e III d- I, II e III

Numa perspectiva metódica de História, é (são) considerado(s) documento(s)


histórico(s):

a- Todo documento emitido pela Igreja ou pelo Estado.


b- Todo registro da passagem do ser humano pela Terra.
c- Somente os documentos escritos.
d- Apenas os documentos da contemporaneidade.

Hermenêutica: grosso modo,


Não se constitui em necessidade para o professor de História: pode ser entendida como
sinônimo de interpretação.

a- O domínio da cultura historicamente acumulada pela humanidade.


b- O domínio das premissas que organizam toda a cultura do educando.
c- O domínio da relação de conteúdos programáticos de seleção ao vestibular.
d- O domínio dos princípios hermenêuticos que permitem a interpretação de
uma linguagem.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

Escreva um texto em que você exponha as razões pelas quais se deve fazer uso dos
documentos históricos nas aulas de História.

Quais são os cuidados que o professor deve ter ao abordar os documentos em sala de
aula?
87
ATIVIDADE APLICADA

Elabore questões, sobre o assunto urbanização, para entrevistar uma pessoa idosa. Faça
uma coleta de dados que possibilite a identificação do entrevistado e redija as questões
em linguagem acessível ao aluno.

3.12 Para saber mais

Filmes

ENCONTRO com Milton Santos ou o Mundo global visto do lado de cá (Brasil).


Produção de Silvio Tendler. SP: Caliban Produções. 2007 .DVD (89 min). Sem
legenda, em português.

No documentário, o diretor mostra o pensamento de um grande intelectual brasileiro.


Para este, estamos caminhando rumo à aldeia global sugerida por MacLuhan. A
possibilidade de países pobres fazerem deste mundo um lugar melhor para seus
habitantes também é enfatizada.

Sites

Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade, pesquise em artigos e outras
produções científicas e culturais nos “sites” a seguir:

 TV ESCOLA–MEC. <www.tvebrasil.com.br/salto/>

 DOMÍNIO PÚBLICO. <www.dominiopublico.gov.br/>

88
Unidade 4
Unidade 4 . A Inclusão de crianças com necessidades
especiais e o ensino de História e de
Geografia

O aumento do número de crianças deficientes nas escolares regulares faz parte do


movimento mundial pela inclusão. Mas se a política de inclusão educacional traz
benefícios para todos, também lança novos desafios para instituições, professores e
sociedade.
O número de crianças com algum tipo de deficiência na rede regular de ensino do país
cresce a cada ano. O crescimento não é casual, mas resultado da mobilização da
sociedade brasileira. A Constituição Brasileira de 1988 garante o acesso ao ensino
fundamental regular a todas as crianças e adolescentes, sem exceção, e deixa claro que a
criança com necessidade educacional especial deve receber atendimento especializado
complementar, de preferência dentro da escola. A inclusão ganhou reforços com a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, com a Convenção da Guatemala,
de 2001 e pelo Parecer MEC (Ministério da Educação) CNE/CEB (Conselho Nacional
de Educação e Câmara de Educação Básica nº 13/2009 – aprovado em 03/06/2009 , que
proíbem qualquer tipo de diferenciação, de exclusão ou de restrição baseadas na
deficiência das pessoas. O acesso das pessoas com deficiência ao ensino formal é
garantido até pela legislação penal, pois o artigo 8o, da Lei no 7.853/89, prevê como
crime condutas que frustam, sem justa causa, a matrícula de aluno com deficiência”.
Sendo assim, a exclusão é crime.
Baseada nesses pressupostos legais, é que faço a inserção deste capítulo e desta
abordagem, a fim de que os futuros professores se preparem cada vez melhor para essa
realidade que está caracterizando nossas escolas.

89
4.1 Considerações
Para que as crianças com necessidades especiais possam ser plenamente incluídas,
devem ser feitas adaptações curriculares, que a lei prevê. São respostas educativas que
devem ser dadas pelo sistema educacional de forma que favoreça a todos os alunos e,
dentre estes, os que apresentam necessidades educacionais especiais: o acesso ao
currículo; a participação integral, efetiva e bem sucedida em uma programação escolar
tão normal quanto possível; a consideração e o atendimento as suas peculiaridades e
necessidades especiais na elaboração do projeto político pedagógico da escola e do
plano de ensino do professor.

As necessidades especiais revelam que tipos de estratégias, diferentes das usuais, são
necessárias para permitir que todos os alunos, inclusive as pessoas com deficiência,
participem integralmente das oportunidades educacionais, com resultados favoráveis,
dentro de uma programação tão normal quanto possível.

Para adaptar o trabalho escolar à nova realidade das escolas (crianças com necessidades
especiais de aprendizagem), pergunte-se ao planejar: Haverá, na área de História,
conceitos que lhe seriam mais úteis para o exercício da cidadania e para a aquisição de
uma vida com maior qualidade?

4.2 Adaptações do método de ensino e da organização didática


Para proceder às adaptações do método de ensino e da organização didática, faço as
seguintes sugestões:

 Organização diferenciada da sala de aula;


 Número máximo de alunos que a sala deve comportar: 25 crianças para 2 com
deficiência;
 Definição sistemática de trabalho cooperativo entre o professor da escola
regular e o da especial.

O que se tem adotado como modelo de trabalho em sala de aula é:

90
 Professor de educação especial apoiando aluno com deficiência em classe
regular de ensino;
 Aluno com deficiência recebendo apoio individual em sala de recursos, em
horário inverso ao que estuda;
 Professor intérprete de libras dando apoio ao professor da sala regular e aos
surdos mudos nela matriculados;
 Uso de material apropriado à deficiência do aluno.

4.3 Adaptações do sistema de avaliação


As adaptações significativas estão vinculadas às alterações nos objetivos e conteúdos.
Não pode ser considerada “brecha” para aprovação indiscriminada e inconsequente do
aluno, nem para empurrar o aluno com necessidades especiais para outras séries mais
avançadas, até ele “sair” do sistema.

Deve-se abrir a possibilidade de se adaptar o sistema de avaliação às necessidades


educacionais especiais, a fim de se conseguir avaliar devidamente e ter informações
para ajustar o processo ensino-aprendizagem, garantindo seu desenvolvimento
educacional.

Vamos verificar essas adaptações, abrangendo diferentes aspectos:

Conteúdos vivenciais: paralelamente às outras áreas, é necessário que a aprendizagem


aconteça baseada em conteúdos vivenciais, fornecendo à criança com síndrome de down
um corpo de conhecimentos referentes ao meio em que vive, assim como alguma
cultura geral básica. Para cada criança, a exigência e amplitude desses conhecimentos
dependerão da sua capacidade e possibilidades, dando prioridade aos que lhe forem
mais úteis para o seu desenvolvimento pessoal e social no seu meio. No caso do ensino
de História e Geografia, deverão ser trabalhadas: autonomia, capacidade de resolução de
problemas, vivência do tempo cronológico e meteorológico, observação e denominação
dos aspectos culturais e naturais do entorno da escola. Utilizar a mesma metodologia
que a usada com os outros alunos, diferenciando-a na exigência do alcance desses
domínios, considerando os mesmos aspectos observados na ficha de avaliação.

91
Aspectos socioafetivos: não existe uma personalidade única nem estereotipada da
criança com síndrome de Down; cada uma delas tem a sua própria maneira de ser, de
pensar, de falar; é, por isso, imprescindível conhecê-la e respeitá-la tal como é.
Contudo, os traços comuns nessas crianças precisam ser distinguidos entre elas.

Fatores positivos: o gosto pelo jogo e pela competição, a tenacidade, a imaginação e o


desejo de agradar e aprender são fatores positivos para melhor trabalhar com as
crianças.

Obstáculos: fatigabilidade, apatia, curto tempo de atenção e, em certas ocasiões,


teimosia. Deve-se evitar superproteção, ansiedade e rejeição.

As adaptações comentadas acima, referentes ao sistema de avaliação, podem ser


contextualizadas no ensino de História e Geografia, desenvolvendo metodologia de
ensino-aprendizagem e avaliação que contemplem jogos, histórias, elogios pelos
menores sucessos, material concreto para tudo que desenvolva atividades curtas e
rápidas, orientação oral de, no máximo, 3 minutos.

Antes de começar um programa de aquisição de competências na área afetivo-pessoal, é


preciso suprimir os maus hábitos e proporcionar condições para uma maior adaptação
social.

Os objetivos, conteúdos e atividades devem ser dirigidos para a aquisição de hábitos,


conhecimentos e competências que lhes transmitam maturidade e autonomia pessoal e
social. Em relação à História e Geografia, esses objetivos, conteúdos e atividades devem
objetivar as seguintes habilidades e competências:

 Desenvolvimento da autonomia no seu meio ambiente (deslocações na escola,


recados, comportamento adequado em diferentes situações, utilização de
transportes públicos etc);
 Favorecimento da formação da autoimagem e do autoconceito positivos.

92
4.4 Cuidados metodológicos
Ao trabalhar com crianças com necessidades especiais de aprendizagem, alguns
cuidados metodológicos devem ser tomados, como, por exemplo:

 A aprendizagem deve realizar-se por meio do maior número possível de vias


sensitivas;
 A atividade deve levar a criança a selecionar, reconhecer e utilizar, com
precisão, as informações recebidas;
 As atividades devem ser motivadoras, sistemáticas e organizadas;
 A criança deve verbalizar acerca do que está fazendo, enquanto realiza
determinada atividade;
 O ambiente simples e a ausência de estímulos constituem a ausência de
estímulos propiciadores de dispersão;
 As instruções devem ser claras e concisas, acompanhadas por um modelo de
ação, se necessário (indicando-lhe a tarefa, guiando-a com a mão etc);
 O nível de exigência deve estar adaptado as suas possibilidades, tanto no que
se refere à dificuldade da tarefa quanto ao tempo necessário para a sua
execução. Começar com tarefas curtas, modificando progressivamente o
tempo necessário para realizá-las;
 A disposição de um amplo repertório de atividades é importante, a fim de
evitar o desinteresse. Também é conveniente, para que a criança não se canse,
intercalar tarefas com diferentes níveis de exigência e interesse;
 Os elogios devem ser a recompensa pelos esforços e êxitos da criança;
 O trabalho do reconhecimento deve ocorrer antes do recordar;
 A memória sequencial deve ser reforçada após a criança ter adquirido um nível
suficiente de memória imediata;
 A repetição será um meio para conseguir a assimilação de conhecimentos,
tentando provocar atos conscientes e não mecânicos;
 A informação que permite a memorização deve chegar pelo maior número de
vias sensitivas. Concretamente, convém que, ao trabalhar a memória visual e
auditiva, nos apoiemos em mecanismos perceptivos relacionados à percepção
tátil e sensório-motora.
 A informação deve estar relacionada a dados e informações anteriores que a
criança tenha, o que favorecerá uma maior duração da recordação e uma
melhor assimilação;
 A aquisição de vocabulário básico deve ser trabalhada;
 A criança deve aprender a se diferenciar do mundo que a rodeia e a perceber as
relações entre os objetos;

93
 O ensino deve ser dirigido para aspectos práticos da vida da criança, pois
permitirá um melhor desenvolvimento social (resolver situações por meio da
utilização prática das regras sociais etc).

4.5 Síntese da Unidade


Esta Unidade apresentou uma análise a respeito da inclusão de crianças com
necessidades especiais e o ensino de História e Geografia. No item 4.1, você encontra
considerações a respeito da inclusão de crianças com necessidades especiais no ensino
regular. No item 4.2, são tratadas as adaptações do método de ensino e da organização
didática específicas para a educação inclusiva. As adaptações de sistemas de avaliação
vinculadas às alterações nos objetivos e conteúdos são tratadas no item 4.3. E
finalmente, no item 4.4, comenta-se os cuidados metodológicos para a criança com
necessidades especiais.

4.6 Atividades
QUESTÕES PARA REFLEXÃO

Escreva um texto em que você exponha as razões pelas quais se deve fazer uso,
principalmente, de jogos e histórias para o trabalho com crianças portadoras de
necessidades especiais.
Com relação à inclusão de crianças com necessidades especiais, quais os conceitos que
lhe seriam úteis para o exercício da cidadania e a aquisição de uma vida com qualidade?

ATIVIDADE APLICADA

Visite uma instituição onde se trabalha com crianças portadoras de necessidades


especiais. Monte uma entrevista com os profissionais que lá trabalham. Escreva suas
principais conclusões.

94
4.7 Para saber mais

Filmes

SEMPRE amigos. Produçãode Ron Underwood. EUA: Fox Filmes, 2002. DVD (119
min). Legendado. Inglês e Português.

É sobre a história de dois meninos e da amizade entre eles. Kewin sofre de distrofia
muscular e é superdotado. Max, com 13 anos, tem pouca inteligência, é muito arredio e
não tem amigos, é forte e grande. Uma grande amizade entre eles se inicia quando
Kewin e sua mãe se tornam vizinhos de Max.

JANELA da alma. Produção de João Jardim; Walter Carvalho. Brasil: Copacabana


Filmes, 2001. DVD (73 min). Sem legenda. Português.

Trata-se de um documentário sobre a deficiência visual, no qual 19 pessoas com


diferentes graus de deficiência (da miopia à cegueira total) expõem a sua visão dos
outros como e como percebem e sentem o mundo. Personalidades como Marieta Severo
(atriz), Hermeto Pascoal (músico), Arnaldo Godoy (vereador), Evgen Bvacar (fotógrafo
e professor de estética da Surbone), José Saramago (prêmio Nobel), Wim Wenders
(cineasta), Oliver Sachs (neurologista) e muitas outras fazem surpreendentes e
inesperadas revelações sobre a visão.

UMA lição de amor. Produção de Jessie Neslon. EUA: Playarte Distribuidora, 2002.
DVD (132 min). Legendado. Inglês e Português.

No filme, é mostrada a trajetória de Sam Dawson, um adulto com a idade mental, a


inocência e a sinceridade de uma criança de sete anos. Um homem que o destino quis
que se tornasse pai solteiro de Lucy. Embora tivesse dificuldades, com a ajuda de
amigos muito especiais, Sam conseguiu fazer dos primeiros anos de vida de Lucy uma
infância repleta de amor e alegria.

95
Sites

Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade, pesquise em artigos e outras
produções científicas e culturais nos “sites” a seguir:

 TV ESCOLA-MEC. <www.tvebrasil.com.br/salto/>

 DOMÍNIO PÚBLICO. <www.dominiopublico.gov.br/>

96
Referências
BRASIL.Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental Geografia e História. Brasília:
MEC/SEF, 1998.

KIMURA, S. Geografia no ensino básico: questões e propostas. São Paulo: Contexto,


2008.

KIRK, S. A. Educação da criança excepcional. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

MEC-Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais.


Brasília: MEC/SEF, 1998.

MEC. Educação especial: tendências atuais. Brasília: MEC, 1999.

MEC-Secretaria de Educação Especial. Programa de Capacitação de Recursos


Humanos do Ensino Fundamental – Necessidades Especiais em Sala de Aula.
Brasília: MEC/SEE, 2000.

MEC–Secretaria de Educação Especial. Projeto Escola Viva – Garantindo o acesso e


permanência de todos os alunos na escola – Alunos com necessidades educacionais
especiais. Brasília: MEC/SEE, 2000.

MICELI, P. Por outras histórias do Brasil. In: PINSKY, J. O ensino de História e a


criação do fato. São Paulo: Contexto, 2000.

MOREIRA, C. R. B. S.; SILVEIRA, José. Didática e avaliação da aprendizagem no


ensino de História. Curitiba: IBPEX, 2008.

PENTEADO, H. D. Metodologia do Ensino de História e Geografia. 2. ed. Revisado


e atual. São Paulo: Cortez, 2008.

PINSKY, J.; PINSKI, C. B. Por uma história prazerosa e consequente. In: KARNAL, L.
(Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto,
2005.

SCHIMIDT, M. A.; CAINELLI, M. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.

Sites
<www.brasilescola.com>. Acesso em 25 mar. 2010.
<www.tvpendrive.com.br>. Acesso em 25 mar. 2010.
<www.esteio.com.br>. Acesso em 25 mar. 2010.

97
Referências complementares
ALMEIDA, R. D. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. 3. ed. São
Paulo: Contexto, 2003.

BUENO, J. G. S. A educação especial nas universidades brasileiras. Brasília:


Secretaria de Educação Especial, 2002.

CASTELLAR, S. Educação geográfica: teorias e práticas docentes. São Paulo:


Contexto, 2005.

JOLY, F. A Cartografia. São Paulo: Papirus, 1997.

MARTINELLI, M. Mapas da Geografia e cartografia temática. São Paulo: Contexto,


2003.

SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia completo


para educadores. Porto Alegre: Artmed, 2006.

MICELI, P. Por outras histórias do Brasil. In: PINSKY, J. O ensino de História e a


criação do fato. São Paulo: Contexto, 2000.

MOREIRA, C. R. et al. Didática e avaliação da aprendizagem no ensino de História.


Curitiba: IBPEX, 2008.

PASSINI, E. Y. et al. Prática de ensino de geografia e estágio supervisionado. São


Paulo: Contexto, 2007.

______. Prática de ensino de geografia e estágio supervisionado. São Paulo:


Contexto, 2007.

PINSKY, J.; PINSKI, C. B. Por uma história prazerosa e consequente. In: KARNAL, L.
(Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto,
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PONTUSCHKA, N. N. et al. Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo: Cortez,


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SANTOS, M. T. T. Bem-vindo à escola: a inclusão nas vozes do cotidiano. Rio de


Janeiro: DP&A, 2006.

SCHMIDT, M. A.; CAINELLI, M. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.

98

Você também pode gostar