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EDUCAÇÃO, INCLUSÃO
E
CIDADANIA
1ª Edição
Taubaté
Universidade de Taubaté
2014
Copyright© 2013. Universidade de Taubaté.
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode
ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade.
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Revisão ortográfica-textual Prof. Me. João de Oliveira
Projeto Gráfico e Diagramação Ms.Benedito Fulvio Manfredini – Analista de Sistemas
Autoras Mércia Aparecida da Cunha Oliveira
Suelene Regina Donola Mendonça
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Secretaria: (12) 3625-4280
ISBN 978-85-62326-48-6
Bibliografia
Palavra do Reitor
Bons estudos!
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Apresentação
Seria bom iniciar as abordagens, que neste livro-texto serão feitas, procurando refletir
acerca de algumas questões, como, por exemplo: O que já sei sobre educação especial e
inclusão? O que penso a respeito? Será gratificante compartilharmos nossas ideias,
construirmos e ampliarmos nossos conhecimentos? Então, vamos lá.
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viii
Sobre as autoras
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de Taubaté, tem lecionado as disciplinas: Fundamentos da Educação Especial, Didática,
Psicologia da Educação, Educação de Jovens e Adultos, Coordenação Pedagógica. É
professora do curso de Pós-graduação - Especialização em Psicopedagogia da
Universidade de Taubaté. Atuou na área psicopedagógica em clínica particular com
alunos portadores de necessidades educacionais especiais, decorrentes de deficiências,
distúrbios globais do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem.
x
Caros(as) alunos(as),
Caros( as) alunos( as)
A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo
estudado.
Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais
atores desta formação.
Equipe EAD-UNITAU
xi
xii
Sumário
Palavra do Reitor .............................................................................................................. v
Apresentação .................................................................................................................. vii
Sobre as autoras ............................................................................................................... ix
Caros(as) alunos(as) ........................................................................................................ xi
Ementa .............................................................................................................................. 1
Objetivos........................................................................................................................... 2
Introdução ......................................................................................................................... 3
Unidade 1. Os aspectos filosóficos, culturais, sociais, educacionais, políticos e legais
da educação especial no processo de inclusão.................................................................. 5
1.1 Marcos históricos: definindo a educação especial até o processo de inclusão ........... 5
1.2 Política educacional brasileira da educação especial na perspectiva da educação
inclusiva .......................................................................................................................... 10
1.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 21
1.4 Atividades ................................................................................................................. 22
1.5 Para saber mais ......................................................................................................... 23
Unidade 2. Cidadania e educação inclusiva: diferença e diversidade ........................... 25
2.1 A questão da conceituação da deficiência: deficiência, incapacidade, desvantagem
e necessidades especiais ................................................................................................. 26
2.2 O direito de ser, sendo diferente, na escola: quem são os diferentes? ...................... 28
2.3 Diversidade, diferença, deficiência, necessidades especiais .................................... 30
2.4 Síntese da unidade .................................................................................................... 32
2.5 Atividades ................................................................................................................. 32
2.6 Para saber mais ......................................................................................................... 32
Unidade 3. Inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais ......... 35
3.1 Alunos atendidos pela educação especial ................................................................. 37
3.2 Currículo escolar para a diversidade ........................................................................ 38
3.3 O cotidiano na sala de aula ....................................................................................... 43
3.4 Avaliação inclusiva................................................................................................... 44
3.5 Sintese da Unidade ................................................................................................... 47
3.6 Atividades ................................................................................................................. 48
xiii
3.7 Para saber mais ......................................................................................................... 48
Unidade 4. Conhecendo a diversidade dos alunos na escola .......................................... 49
4.1 Alunos com deficiência ............................................................................................ 49
4.1.1 Surdez/deficiência auditiva.................................................................................... 49
4.1.2 Indivíduos parcialmente surdos e indivíduos surdos ............................................. 50
4.1.3 Períodos de aquisição da surdez ............................................................................ 51
4.1.4 Graus de perda auditiva ......................................................................................... 52
4.1.5 Aparelhos/dispositivos de amplificação sonora .................................................... 53
4.1.6 Educação de surdos ............................................................................................... 55
4.1.7 Filosofia do ensino dos surdos .............................................................................. 56
4.1.8 Língua Brasileira de Sinais - Libras ...................................................................... 58
4.2 Alunos com transtornos globais do desenvolvimento .............................................. 60
4.2.1 Transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) .................................. 60
4.2.2 Dificuldades de aprendizagem............................................................................... 64
4.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 72
4.4 Atividades ................................................................................................................. 72
4.5 Para saber mais ......................................................................................................... 72
Referências ..................................................................................................................... 75
Referências complementares .......................................................................................... 78
xiv
Educação, Inclusão e
Cidadania
ORGANIZE-SE!!!
Você deverá usar de 3
a 4 horas para realizar
cada Unidade.
Ementa
EMENTA
1
Objetivo Geral
Este livro-texto tem por objetivo geral propiciar aos participantes do curso os
fundamentos da educação inclusiva, quanto aos aspectos históricos, políticos
e pedagógicos, tendo em vista a efetiva inclusão dos alunos com necessidades
educacionais especiais.
Objetivos Específicos
2
Introdução
As mensagens veiculadas pela televisão, muitas vezes, têm procurado mostrar que a
deficiência é apenas uma dimensão da personalidade humana e, portanto, as pessoas
deficientes são também dotadas de capacidades que podem ser desenvolvidas por meio
de atendimento educacional especializado, contemplando a escolarização e a formação
profissional, para que elas sejam incluídas na sociedade. O que queremos dizer é que a
sociedade precisa mudar sua forma de pensar e entender a deficiência e as pessoas com
deficiência, isto é, não tomar a parte pelo todo e perceber as inúmeras possibilidades de
superação das dificuldades oriundas da deficiência, como, por exemplo, surdez,
cegueira, intelectualidade, multideficiência, transtornos do desenvolvimento, dentre
outros.
3
Também nos meios escolares a inclusão tem sido a palavra de ordem: todos parecem
concordar e defender o direito à educação de todas as crianças, independentemente de
suas condições pessoais decorrentes de deficiências ou não. De um lado se defende a
democratização do ensino, de outro lado é comum o discurso do despreparo da escola,
dos gestores e dos professores do ensino comum para receber em grupo/classe alunos
com deficiência.
Para alcançar os objetivos propostos, este livro-texto será divido em cinco unidades.
Na terceira Unidade, será abordado o tema inclusão escolar de alunos com necessidades
especiais: currículo e diversidade, intervenções e estratégias pedagógicas para o
atendimento das necessidades específicas dos alunos e avaliação inclusiva.
4
Unidade 1
Os aspectos filosóficos, culturais,
Unidade 1 .
5
A seguir, vamos apresentar a você como eram a economia e a organização sociopolítica
na Antiguidade:
Antiguidade
Assim, nesse contexto, a pessoa com deficiência era abandonada à própria sorte, sem
que isso representasse um problema ético ou moral.
Você deve estar pensando que hoje isso não acontece mais, não é mesmo? Será? Você
já assistiu ao filme “O homem elefante”? Vale a pena assisti-lo para você ter uma ideia
de como eram tratadas as pessoas com deficiência. É mostrada nesse filme a história do
inglês John Merrick (John Hurt) e o tratamento a ele dispensado, em virtude das
deformidades físicas que apresentava.
6
Idade Média
Idade Moderna
Na chamada Idade Moderna (de 1453 até 1789), ocorreu a Revolução Francesa, que se
deu no âmbito das ideias, derrubando as monarquias, destruindo a hegemonia religiosa,
implantando uma nova forma de produção denominada capitalismo mercantil (primeira
forma de capitalismo). Foi nesse contexto que teve início a formação dos estados
modernos e surgiu uma nova forma de divisão social do trabalho – os que detinham os
7
meios de produção e os operários (que passaram a viver com a venda de sua força de
trabalho).
Nesse período, a deficiência passou a ser explicada segundo uma ótica mais natural. A
deficiência era de natureza orgânica, produto de causas naturais e não mais causada por
fatores espirituais, transcendentais. Sendo assim, começou a ser tratada por meio da
alquimia, da magia e da astrologia, que eram métodos da medicina que se iniciava.
Essa nova visão da deficiência fez com que surgissem ações de tratamento médico das
pessoas com deficiência.
Assim, entendemos que, na realidade, não se pode falar em avanço e sim em retrocesso,
pois tais instituições eram, e muitas vezes ainda o são, pouco mais do que prisões. No
entanto, a medicina evoluiu, produziu e sistematizou novos conhecimentos, como
também outras áreas do conhecimento. Consequentemente, novas informações foram
dadas sobre a deficiência, sua etiologia, seu funcionamento e seu tratamento.
Para Bueno (1997), as referências sobre educação especial consideram o século XVIII
como marco definitivo no esforço da sociedade moderna no sentido de proporcionar
educação especializada compatível com a necessidade das crianças deficientes.
8
A expansão da Educação Especial, iniciada no século XVIII, foi assumindo, no decorrer
do século XX, proporções cada vez maiores, no sentido de atingir uma
institucionalização como subsistema significativo dentro do sistema educacional na
maioria dos países.
Dessa forma, a deficiência mental foi assumindo primazia, não só pelo maior número de
instituições a ela dedicadas, mas pela preocupação que se foi adquirindo em relação à
deficiência mental, em virtude da preocupação com a eugenia da raça.
10
Esses são alguns questionamentos que refletem as representações dos professores a
respeito das diferenças entre os alunos. Essa forma de pensamento incide
significativamente na atuação dos professores juntos aos alunos com deficiências. Se
esses alunos não são capazes de aprender e o professor de ensinar, o processo ensino-
aprendizagem certamente ficará prejudicado em relação ao desempenho dos alunos.
Para você poder entender melhor a trajetória da conquista dos direitos das pessoas
diferentes, temos que retroceder um pouco no tempo. Vamos lá?
Então, vamos juntos, conhecer alguns pontos relevantes de documentos e leis vigentes
no Brasil, que fundamentam a atual política educacional da educação inclusiva.
11
É importante que nos conscientizemos da importância de se conhecer os dispositivos
legais que, no Brasil, determinam, definem e orientam a organização da educação
especial na educação básica, para que possamos refletir sobre os aspectos positivos, as
conquistas, as limitações e os inúmeros desafios ainda a serem vencidos em suas
aplicações.
Será que, a partir dessa Lei, a situação escolar dos alunos com deficiência ficou
resolvida?
Na realidade, a LDBEN número 4.024/61 não foi cumprida, pois não promoveu a
organização de um sistema escolar que fosse capaz de atender às necessidades
específicas dos alunos.
12
Tanto nas escolas como nas classes especiais, a porta de entrada era muito larga, mas a
porta de saída era muito estreita. Assim, os alunos que eram encaminhados para esses
atendimentos especializados permaneciam ali por muitos anos, sem ultrapassar os anos
iniciais do ensino fundamental (BUENO, 1999) e, portanto, sem condições de
prosseguir os estudos para que pudessem se preparar e conquistar seu espaço no
mercado de trabalho.
A Lei número 4.024/61 foi alterada pela Lei número 5.692/71, que definiu o tratamento
especial para os alunos com as já citadas deficiências, reforçando o seu
encaminhamento para escolas e classes especiais.
Segundo Glat e Ferreira (2004), o período compreendido entre o início dos anos 70 e
início da década de 80 foi marcado pelo processo de institucionalização da Educação
Especial nos sistemas públicos de ensino. Trata-se de amplas reformas educacionais
promovidas pelos governos militares. A Educação Especial foi incluída nos planos
setoriais do governo, promovendo o desenvolvimento nas redes escolares e nos
programas de formação de profissionais.
Mas, felizmente, muitas pessoas continuaram lutando pelos direitos daqueles que, por
serem diferentes, permaneciam à margem da sociedade sem que seus direitos fossem
respeitados.
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A luta pelos direitos das pessoas com deficiência foi um dos destaques dos movimentos
sociais da época e culminou com a aprovação da nova Constituição do Brasil em 1988,
que reafirmou o direito de todos à educação.
Vejamos, então, o que determina a Constituição em favor das pessoas com deficiência.
No Art. 206 consta que o ensino será ministrado com base nos seguinte princípio:
igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola.
No Art. 208 consta que o dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a
garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino.
toda criança tem direito fundamental à educação e deve lhe ser dada a
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem;
toda criança tem características, interesses, habilidades e necessidades de
aprendizagem que são únicos; sistemas educacionais deveriam ser
designados e programas educacionais deveriam ser implementados no
sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e
necessidades.
Na Declaração de Salamanca, as crianças com necessidades educacionais especiais
devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-las dentro de uma Pedagogia
centrada na criança, capaz de satisfazer tais necessidades.
Escolas regulares que tenham tal orientação inclusiva constituem o meio mais eficaz de
combater atitudes discriminatórias. Tais escolas proveem uma educação efetiva à
maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia
de todo o sistema educacional.
15
O documento aponta para o papel da escola: ela é que deve se adaptar para atender às
necessidades de todos os seus alunos e não o contrário.
Nessa perspectiva, cabe às escolas buscar formas diversificadas para educar tais
crianças de modo bem sucedido, incluindo aquelas que tenham desvantagens severas.
”O mérito de tais escolas não reside somente no fato de que elas sejam capazes de
prover uma educação de alta qualidade a todas as crianças; o estabelecimento de tais
escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes discriminatórias, de criar
comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade inclusiva” (DECLARAÇÃO
DE SALAMANCA, 1994).
Para que o aluno seja realmente incluído, é necessário que todas as suas necessidades
sejam efetivamente atendidas. Este é o desafio das escolas inclusivas.
Em seu Art. 59, inciso I, dispõe que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
com necessidades especiais: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
16
organização específica, para atender às suas necessidades. Cabe ressaltar, que não
está sugerindo a elaboração de um novo currículo, mas sim que o oferecido aos demais
alunos seja adaptado às suas necessidades. No inciso II, dispõe que deve ter uma
terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a
conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências; e que deve haver
aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados. No
inciso III, dispõe que os professores devem ter especialização adequada, em nível médio
ou superior, para atendimento especializado, bem como os do ensino regular devem
estar capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns.
Vale destacar que a LDBN 9364/96 apresenta alguns avanços com relação ao
atendimento e apoio dos alunos com necessidades especiais, especialmente no que diz
respeito a garantir aos alunos o acesso à escola comum e a permanência nela. A escola
comum deverá remover barreiras que impeçam a frequência desses alunos no espaço
social chamado escola.
Percebe-se que a legislação atual garante aos alunos com necessidades especiais que os
currículos, os métodos e as técnicas de ensino sejam organizados de maneira especifica
a fim de atender às necessidades desses alunos.
Assim, a Convenção de Guatemala teve por objetivo prevenir e eliminar todas as formas
de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência e propiciar a sua plena
integração à sociedade.
Nessa esteira,
[O] o Brasil é signatário desse documento, que foi aprovado pelo
Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 198, de 13 de
2001, e promulgado pelo Decreto nº 3.956 de 8 de outubro de 2001,
da Presidência da Republica, portanto, no Brasil, ele tem tanto valor
quanto uma lei ordinária, ou até mesmo (de acordo com o
entendimento de alguns juristas) como norma constitucional, já que se
19
refere a direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, estando
acima de leis, resoluções e decretos” (FAVERO et al., 2007, p. 29).
Assim, a promulgação do Decreto Lei no. 3956/01 surge com a força de uma nova lei,
que tem como objetivo revogar ou complementar disposições anteriores. Nesse caso,
esse documento exige uma reinterpretação da LDBEN, que, se mal interpretada, pode
admitir diferenciações com base na deficiência, que sugerem restrições ao acesso de um
aluno com deficiência ao mesmo ambiente que os demais colegas sem deficiência.
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida pela Lei 10436/02 como meio
legal de comunicação e expressão de comunidades de pessoas surdas do Brasil,
conforme observa-se no parecer do texto abaixo:
[E] entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza
visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema
linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades
de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, Lei 10436/02).
21
Com a redemocratização do país na década de 80, as reformas das políticas
educacionais no âmbito estadual e a democratização do ensino básico e público, a
educação especial passou a ser questionada.
Os movimentos sociais pelos direitos das pessoas com deficiência tiveram êxito com a
aprovação da Constituição do Brasil, em 1988, devido ao fato de ela ter afirmado o
direito de todos à educação, fazendo referências às pessoas com deficiências. A partir
daí, outros dispositivos legais foram fundamentais para a consolidação dos direitos
dessas pessoas: o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394/96, os decretos e as resoluções que
dispõem, determinam e orientam a organização escolar. Destacam-se, ainda, os
documentos internacionais, oriundos de conferências, como, por exemplo, a Declaração
Mundial do Direito de Todos à Educação (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e a
Convenção de Guatemala (1999).
1.4 Atividades
2- Após ter assistido ao filme O Homem elefante, discuta o tema com seus amigos e
aponte as contribuições do filme para a sua formação pessoal e docente. Em grupo,
responda às seguintes questões: O que você entende por educação inclusiva? O que é
necessário para que ela ocorra? Quais os desafios enfrentados na educação inclusiva?
Sites
http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt15/t1510.pdf
Neste site, você encontrará discursos políticos sobre inclusão e políticas públicas de
educação especial no Brasil.
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/fundamentacaofilosofica.pdf
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12907:legisl
acoes&catid=70:legislacoes
http://lise.edunet.sp.gov.br/sislegis/detresol.asp?strAto=200906190038
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm acesso em 14/01/2010
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/fundamentacaofilosofica.pdfs
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12907:legisl
acoes&catid=70:legislacoes
Filme
Para você ter uma ideia de como os deficientes eram tratados em épocas passadas,
assista ao filme O homem elefante. Título original The elephant man. Drama
23
americano de 1980 com 118 minutos de duração. No filme, é contada a história de John
Marrick (John Hurt), um cidadão da Inglaterra vitoriana. Ele é acometido pelo caso
mais grave já registrado de neurofibromatose múltipla. Com 90% de seu corpo
deformados, passou a ser exibido em circos. Foi considerado um débil mental pela sua
dificuldade de falar, até ser descoberto por um médico, Frederick Treves (Anthony
Hopkins) que o levou para o hospital onde trabalhava.
Video
A declaração universal dos direitos humanos (1948)
O vídeo está disponível no site http://www.youtube.com/watch?v=cs5-
rbwUGQQ&feature=related. Com certeza, o seu conteúdo lhe trará conhecimento para a
efetuação de grande reflexão a respeito do tema neste livro-texto abordado.
24
Unidade 2
Unidade 2 . Cidadania e educação inclusiva:
diferença e diversidade
Antes de prosseguirmos com nossos estudos, que tal recapitularmos a Unidade I?
No entanto, havia, por parte de algumas pessoas, a preocupação com a inclusão desses
indivíduos, tanto na família, como na escola e na sociedade. Como consequência dessa
preocupação, surgiram movimentos de grande repercussão mundial como a Conferência
Mundial de Educação para Todos, em 1990, em Jonteim, Tailândia e a Conferência
Mundial de Educação Especial, em 1994, em Salamanca (Espanha), que defenderam a
inclusão dessas pessoas. No Brasil, foram aprovados vários dispositivos legais,
amparando a organização de um sistema educativo inclusivo e oferecendo fundamentos
para que isso fosse possível, como, por exemplo, a Constituição do Brasil (1988), o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB no. 9393/96), entre outros.
25
Após essa breve recapitulação, abordemos a Unidade 2, cujos objetivos são: definir
quem são os diferentes e esclarecer alguns conceitos como deficiência, incapacidade,
desvantagem, diversidade, diferença e necessidades especiais.
No Decreto Federal nº 3.956/2001, deficiência está definida como “uma restrição física,
mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de
26
exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo
ambiente econômico e social”.
Dica
E desvantagem, o que é?
IMPORTANTE
Podemos citar algumas diferenças, sem, no entanto, esgotar o assunto. Há, por exemplo,
uma variedade enorme de diferenças físicas. Muitas são determinadas pela genética,
como a cor dos olhos, a cor e o tipo de cabelo, a cor da pele, a altura etc. Outras são
determinadas pela interação da genética com o meio ambiente, como ser gordo ou
magro (excesso ou escassez de alimento). Outras, ainda, são influenciadas pela cultura.
Também, existem diferenças entre as pessoas na forma de sentir, pensar, agir, aprender,
interesses e necessidades.
28
Na esteira da homogeneidade, os alunos que fugiam do padrão ou do ideal de aluno
esperado pelos profissionais da educação eram excluídos da escola e, mais tarde,
excluídos do mercado de trabalho, devido à falta de escolarização.
Você percebeu que as diferenças podem estar nas condições pessoais, como, por
exemplo, na presença de deficiência, de altas habilidades/superdotação; mas também
podem ser decorrentes de outros fatores que são externos à criança: como as condições
de vida, origem social, segmento social a que pertence, cultura, raça, entre outros.
Assim, os desafios que se apresentam às escolas inclusivas são vários: garantir a todas
as crianças igualdade de oportunidades e completa participação, contribuir para uma
educação mais personalizada, fomentar a solidariedade entre todos os alunos e melhorar
a relação custo-benefício de todo o sistema educacional.
29
2.3 Diversidade, diferença, deficiência, necessidades especiais
E a questão da diversidade?
30
particulares de aprendizagem.
Assim, uma escola que se quer inclusiva busca consolidar o respeito às diferenças, e as
diferenças não são vistas como obstáculos para o desenvolvimento da ação educativa,
podem e devem ser vistas como fatores de enriquecimento.
O que significa necessidades educacionais especiais? Por que surgiu tal expressão?
Necessidades especiais é uma expressão que pode ser usada para se referir a crianças e
jovens cujas necessidades decorrem de sua elevada, ou não, dificuldade para aprender.
31
2.4 Síntese da unidade
Nesta Unidade, procuramos oferecer alguns esclarecimentos sobre as diferentes
terminologias usadas na referência às pessoas que, por alguma razão, desviam-se do
padrão estipulado como desejável dentro de uma sociedade. Vimos que, muitas vezes,
os termos deficiência, incapacidade, desvantagem, diversidade, diferença e necessidades
especiais são usados como sinônimos. Vimos, por exemplo, que nem sempre uma
deficiência gera uma incapacidade e que as desvantagens podem ser decorrentes das
condições socioambientais. A diversidade é uma condição natural entre as pessoas,
incluindo aquelas que têm deficiência. Na Unidade seguinte, você encontrará mais
elementos para compreender melhor o tema aqui abordado ficará sabendo quem são os
alunos com Necessidades Educacionais Especiais.
2.5 Atividades
1- Leia a DECLARAÇÃO DE SALAMANCA (1994), linha de ação sobre necessidades
educacionais especiais, e destaque as novas ideias sobre as necessidades
educacionais especiais.
2- Você já vivenciou alguma situação em que tivesse de fazer algumas mudanças ou
adaptações para atender às necessidades especiais de alguém? Descreva como foi e
como se sentiu (pode ser uma situação vivenciada na escola ou num espaço não
escolar).
Sites
http://www.youtube.com/watch?v=clS0a02UvCU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=v7S06iN5P34&feature=related
32
Este site disponibiliza os vídeos Diversidades culturais e Diversidade: convivendo
com as diferenças. Assistir a esses vídeos o fará compreender melhor o tema em
questão.
Livros
33
34
Unidade 3
Inclusão escolar de alunos com
Unidade 3 .
Esta Unidade tem por objetivos procurar esclarecer quem são os alunos atendidos pela
educação especial, tratar do currículo e das estratégias pedagógicas para atender às suas
necessidades especiais e da avaliação que deve ser realizada em consonância com os
princípios da inclusão.
Antes de definir quem são os alunos atendidos pela educação especial, é preciso
entender o que é educação especial.
Você pode estar se perguntando: Mas então não existe mais educação especial, já que
todos os alunos deverão frequentar o ensino regular?
36
No artigo 4º dessa Resolução, consta:
Ficou claro que, atualmente, a Educação Especial já não é mais percebida como um
subssistema, paralelo ou segregado, mas como um conjunto de medidas que a escola
regular põe a serviço de uma resposta adaptada à diversidade dos alunos.
37
III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de
aprendizagem que os levem a dominar rapidamente conceitos,
procedimentos e atitudes.
Você já deve ter ouvido falar em “aluno especial”, “criança especial”, não é mesmo?
Será que essas expressões não estariam dando ênfase às dimensões negativas do
estudante ou mesmo manifestando um preconceito por parte de quem usa tais termos?
Às vezes, você ouve, por exemplo: “Ele (ou ela) é tão engraçadinho(a). É uma criança
especial, é “downzinho”.
Você concorda com o uso dessas expressões? Por quê? Pense a respeito.
38
Uma escola que se deseja inclusiva, há que dar atenção à diversidade, ao respeito às
diferenças, a melhoria da qualidade de ensino e à aprendizagem para todos. Conhecer,
reconhecer e atender às necessidades e diversidades de seus alunos requer flexibilidade
do currículo para a realização de ajustes necessários às suas especificidades; requer,
portanto, modificações e adaptações do currículo regular, de modo que possibilite
atendimento singular aos alunos.
Enfatizamos que não se trata de sugerir um novo currículo, um currículo diferente para
os alunos com necessidades educacionais especiais. Deve haver sim uma adaptação
progressiva do currículo regular, buscando garantir a eles a participação na
programação, considerando as especificidades que as suas necessidades possam
requerer (ESCOLA VIVA, 2005). Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais,
Para o autor, a exclusão está presente na sala de aula quando as crianças não entendem o
que o professor está dizendo ou não expressam o que esperam dela. Assim, é preciso
que o professor, consciente disso, fique alerta para garantir aos seus alunos o direito à
comunicação, interação e aprendizagem; portanto o trabalho pedagógico desenvolvido
pelos profissionais da escola, especialmente pelos professores, é significativo no
processo da inclusão ou exclusão.
40
As Adaptações Curriculares de Acesso ao Currículo são, assim, as modificações e os
ajustes feitos para possibilitar que alunos com necessidades educacionais especiais
tenham acesso ao currículo regular. É importante destacar que a maior parte das
adaptações curriculares realizadas na escola são consideradas menos significativas,
porque constituem modificações menores no currículo regular e são facilmente
realizadas pelo professor no planejamento normal das atividades docentes, constituindo-
se por pequenos ajustes dentro do contexto normal de sala de aula.
Adaptações não significativas do currículo
Organizativas:
organização de agrupamentos;
organização didática;
organização do espaço.
Relativas aos objetivos e conteúdos:
priorização de áreas ou unidades de conteúdos;
priorização de tipos de conteúdos;
priorização de objetivos, sequenciação, eliminação de conteúdos secundários.
Avaliativas:
adaptação de técnicas e instrumentos;
;modificação de técnicas e instrumentos.
Procedimentos didáticos e nas atividades:
modificação de procedimentos;
introdução de atividades alternativas em relação às previstas;
introdução de atividades complementares em relação às previstas;
modificação do nível de complexidade das atividades, eliminando componentes, sequenciando a tarefa,
facilitando planos de ação;
adaptação dos materiais;
modificação da seleção dos materiais previstos.
Temporalidade
modificação da temporalidade para determinados objetivos e conteúdos previstos.
(MANJÓN, 1995, p. 89)
Ao adaptar recursos didáticos para facilitar o aprendizado de alunos com deficiência, o
professor acaba beneficiando todos os alunos.
42
Figura 3.3 – Linguagem de sinais
Fonte: http://www.uniplac.net/noticias/index.php ?id_no
Figura 3.2 – Linguagem de sinais ticia=1868.
Fonte: http://www.uniplac.net/noti Acesso em 29 fev. 2010.
cias/index.php?id_noticia=1868.
Acesso em 29 fev. 2010.
43
3.4 Avaliação inclusiva
Você tem ideia de como os alunos com necessidades educacionais especiais são
identificados e de quem os identifica?
Podemos afirmar que essa nova forma de avaliar é de suma importância para a vida
escolar do estudante, pois evita que se coloquem rótulos genéricos e que se tirem
conclusões precipitadas, classificando o educando dentro desta ou daquela categoria.
A família e a escola devem se unir para avaliar individual e criteriosamente cada uma
das crianças, a fim de identificar seu estilo de aprendizagem e suas necessidades
educacionais, tanto as comuns como as, possivelmente, especiais. A partir daí, as
decisões deverão ser tomadas, em conjunto, quanto ao tipo de atendimento educacional
que melhor se aplica a cada estudante.
44
Figura 3.4 – Diferenças frente à avaliação da aprendizagem escolar
Fonte: LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. 18. ed. Cortez
Editora, São Paulo: Cortez, 2006. p. 165.
É preciso esclarecer que a avaliação deve ser entendida sob dois pontos de vista.
Quando a avaliação diz respeito aos alunos com necessidades educativas especiais, é de
fundamental importância considerar alguns pontos:
46
Quando direcionado ao contexto familiar, o processo avaliativo deve focalizar, dentre
outros aspectos:
A decisão sobre a promoção deve envolver o mesmo grupo responsável pela elaboração
das adaptações curriculares do aluno.
3.6 Atividades
1. Disserte sobre o seguinte tema: É fundamental discutir a questão curricular para que
se possa atender às diferenças dos alunos com necessidades especiais.
Sites
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_df.pdf
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dv.pdf
Ao acessar esses sites, vocês obterão mais informações sobre a questão curricular para
atender às diferenças dos alunos com necessidades especiais.
Vídeos
Vídeo TV Escola
Trata-se de uma série que busca mostrar a história da educação voltada para alunos com
necessidades especiais até chegar ao momento contemporâneo e a escola inclusiva.
Outros
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacional:
Adaptações Curriculares/Secretaria de Educação Fundamental. SEESP. Brasília:
MEC,1999.
48
Unidade 4
Unidade 4 . Conhecendo a diversidade dos alunos
na escola
Assim, esta Unidade tem por objetivo oferecer a você conhecimentos a respeito das
diversas deficiências, já mencionadas anteriormente, e das dificuldades de
aprendizagem, para que você possa fundamentar suas ações pedagógicas junto aos
diferentes alunos.
49
Antes de definirmos o que é a surdez, é importante saber que se você consultar a
literatura sobre o assunto verá que existem várias definições. Neste livro-texto,
adotamos a definição constante nos materiais para capacitação de professores do
Ministério de Educação e Cultura de nosso país.
Entre os indivíduos parcialmente surdos (com deficiência auditiva – DA), estão os que
apresentam surdez leve e surdez moderada.
Quando se diz que o indivíduo tem uma surdez leve, significa que ele apresenta perda
auditiva de até quarenta decibéis. Essa perda o impede de perceber igualmente todos os
fonemas das palavras. Além disso, a voz fraca ou distante não é ouvida por ele. Em
geral, esse indivíduo é considerado desatento, solicitando, frequentemente, a repetição
daquilo que lhe falam. Nessas circunstâncias, o indivíduo não apresentará problemas na
aprendizagem da língua oral, mas poderá apresentar problema articulatório na leitura
e/ou na escrita.
Quando se diz que pessoa apresenta surdez moderada, significa que ela apresenta
perda auditiva entre quarenta e setenta decibéis. Nessas circunstâncias, a pessoa já
apresenta dificuldade na percepção das palavras, alterações articulatórias e, em alguns
casos, problemas linguísticos. Em geral, ela identifica as palavras mais significativas,
mas tem dificuldade em compreender certos termos de relação e/ou formas gramatical
complexas. A compreensão verbal da pessoa com surdez moderada depende da sua
aptidão para a percepção visual.
50
Quanto à pessoa surda, temos dois subgrupos: pessoas com surdez severa e pessoas
com surdez profunda.
Diz-se que a pessoa tem surdez severa quando apresenta perda auditiva entre setenta e
noventa decibéis. Esse tipo de perda vai permitir que ela identifique alguns ruídos
familiares e que perceba apenas a voz forte, podendo chegar até aos quatro ou cinco
anos sem aprender a falar. Nesses casos, a aquisição da linguagem oral vai depender da
orientação que a família receber da área da saúde e educação. A compreensão verbal vai
depender, em grande parte, de sua aptidão para utilizar a percepção visual e para
observar o contexto das situações. As perturbações da função auditiva estão ligadas
tanto à estrutura acústica quanto à identificação simbólica da linguagem.
Quanto ao período de aquisição, a surdez pode ser dividida em dois grandes grupos:
51
surdez adquirida: quando o indivíduo perdeu a audição no decorrer de sua vida. Desse
modo, a surdez poderá ser pré-lingual ou pós-lingual, dependendo se sua ocorrência
antes ou após a aquisição da linguagem.
Audição normal de 0 a 15 dB
Surdez leve de 16 a 40 dB Com este grau de perda auditiva, a pessoa pode ter
dificuldade para ouvir o som do tic-tac do relógio ou
do cochicho.
Surdez moderada de 41 a 55 dB Com este grau de perda auditiva, a pessoa pode
apresentar alguma dificuldade para ouvir uma voz
fraca ou um canto de pássaro.
Surdez acentuada de 56 a 70 dB Neste caso, a pessoa poderá ter alguma dificuldade
para ouvir uma conversação normal.
Surdez severa de 71 a 90 dB Com este grau de perda auditiva, a pessoa poderá ter
dificuldade para ouvir o telefone tocando.
Surdez profunda Acima de 91 dB Neste caso, a pessoa poderá ter dificuldade para
ouvir o ruído de um caminhão, de uma discoteca, de
uma máquina de serrar madeira ou, ainda, de um
avião decolando.
52
Figura 4.1 – Diagrama de classificação de perda auditiva
Fonte: www. psrsul1.blogst.com.
Acesso em 29 fev. 2010.
Segundo Gomes (2005, p. 13), “a surdez é uma privação sensorial que interfere
diretamente na comunicação e altera a qualidade da relação entre o indivíduo e o meio,
e pode trazer sérias implicações para o desenvolvimento de uma criança, conforme o
grau da perda auditiva que apresente”.
Para que a criança surda aprenda a fazer uso da audição residual, existem alguns
critérios a serem considerados:
53
- diagnóstico precoce da perda auditiva;
- uso adequado e efetivo de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI);
- participação da família no processo terapêutico;
- presença de terapeuta habilitado na (re)habilitação auditiva;
- programa educacional que estimule o desenvolvimento das habilidades auditivas.
O AASI é um dispositivo
eletroacústico que converte o sinal
sonoro, como o som de fala, em
um sinal elétrico. O circuito do
aparelho manipula o sinal elétrico
e o converte novamente em um
sinal acústico, encaminhando o
Figura 4.2 - AASI som amplificado, através do
Fonte: http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&
rlz=1T4ADFA_pt-BRBR371BR371&q=A.A.S.I%20 molde auricular, para o conduto
imagem&um=1&ie=UTF-8&sa=N&tab=wi
auditivo externo do deficiente
auditivo.
Se o professor não puder resolver o problema, deverá comunicar o fato à família para
que ela tome as providências necessárias.
Existem alguns cuidados que o aluno e/ou sua família deverão observar para melhor
desempenho do AASI:
A princípio, foi adotada a língua de sinais. Em 1911, foi adotado o oralismo puro,
ficando proibido o uso da língua de sinais em sala de aula (que continuou a ser usada
por adultos surdos). Observe a foto
do INES:
56
forma desejável de comunicação do surdo, rejeitando qualquer forma de gestualização,
inclusive a língua de sinais.
Já uma outra corrente filosófica quanto ao ensino dos surdos, valoriza a comunicação
total cujo principal objetivo é promover a comunicação entre surdos e ouvintes.
Preocupa-se com a aprendizagem da
língua oral pela criança surda, mas
“acredita que os aspectos cognitivos,
emocionais e sociais não devem ser
deixados de lado em prol do
aprendizado exclusivo da língua oral”
(GOLDFELD, 1997, p. 35).
Isso não significa que a aprendizagem da língua oral não seja importante para o surdo;
ela apenas não se constitui no único objetivo educacional para ele.
Hoje, essa língua é reconhecida pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 como meio
legal de comunicação e expressão dos surdos.
Atribui-se às línguas de sinais o status de língua porque elas também são compostas
pelos seguintes níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o
semântico.
Os seus usuários podem discutir filosofia ou política e, até mesmo, produzir poemas e
peças teatrais.
58
Para conversar em Libras, não basta apenas conhecer os sinais; é necessário conhecer a
sua estrutura gramatical, para, assim, combiná-los em frases.
59
repetir as questões ou os comentários durante as discussões ou conversas e
indicar (por gestos) quem está falando;
escrever no quadro ou no caderno do aluno datas e informações importantes,
para se assegurar que foram entendidas;
chamar a atenção do aluno antes de fazer um esclarecimento (um pequeno
toque no ombro do aluno poderá chamar-lhe a atenção).
Você sabia que existem pensamentos divergentes quanto à existência, ou não, desse
problema? Sem promover um aprofundamento dessa questão, há um grupo de autores-
profissionais que afirmam a existência do TDAH. Por outro lado, há autores-
pesquisadores que afirmam que estão querendo transformar um problema social em
problema individual. De qualquer maneira, a literatura mostra que esse transtorno já
teve muitos nomes diferentes no século passado: síndrome da criança hiperativa, reação
hipercinética da infância, disfunção cerebral mínima e transtorno de deficit de atenção
(com ou sem hiperatividade), segundo Barkley et al (2008).
60
Por que trazer para cá essa questão? Porque temos nos preocupado com diagnósticos de
hiperatividade feitos até por pessoas leigas. Basta uma criança manifestar certa agitação
para ser chamada de hiperativa. Sendo uma questão muito séria, o professor precisa
saber que a atribuição de qualquer rótulo à criança passa pela questão ética. Assim,
antes de qualquer encaminhamento da criança com suspeita de TDAH aos profissionais
da saúde, é necessária uma observação minuciosa junto à equipe da escola.
Se você consultar a literatura sobre esse assunto, vai encontrar várias definições
diferentes, sabe por quê? Porque cada uma delas se insere numa linha de estudo e num
modo de entender o diagnóstico e o tratamento desse problema.
conduta desatenta: a criança não termina as tarefas que começa, comete muitos erros,
não se concentra nos jogos, tem dificuldades para se organizar, evita as tarefas que
61
exigem esforço, perde suas coisas com frequência, distrai-se com qualquer coisa, é
muito descuidada nas atividades;
conduta impulsiva: a criança não espera que as pessoas terminem as perguntas para
depois responder, não espera sua vez, interrompe as atividades dos outros ou interfere
nelas.
INFORMAÇÃO IMPORTANTE
“A criança hiperativa se caracteriza por uma desorganização pessoal e externa que faz
com que seja difícil se comportar de forma autônoma” (ORJALEZ, 2008, p. 298).
62
Vamos abordar, a seguir, um aspecto muito importante relativo ao TDAH: o
diagnóstico.
O diagnóstico do TDAH deve ser feito por uma equipe multiprofissional, considerando
três dimensões: uma avaliação psicopedagógica, uma avaliação cognitiva e uma
avaliação neuropsicológica, para que se possa estabelecer um diagnóstico diferencial e
de posição, conforme Orjalez (2008).
Uma vez diagnosticado o transtorno, o que o professor pode fazer na sala de aula? Será
preciso fazer algumas adequações para que o aluno com TDAH possa ter acesso ao
currículo.
Quando o aluno precisar realizar uma tarefa que exija concentração, o professor deverá
dar-lhe a chance de trabalhar sozinho. O melhor lugar para posicionar a mesa ou carteira
do aluno é perto da lousa, na primeira fila e próxima à mesa do professor. Outra atitude
importante é diminuir o número de estímulos na sala, como, por exemplo, recolher
cartazes e brinquedos no início do período até a hora do recreio. Estruturar as tarefas em
tempos curtos para ajudar a criança a terminá-las e dar uma tarefa de cada vez são boas
estratégias.
Deve-se elaborar uma ficha de autoavaliação para que a criança se conscientize de suas
dificuldades e oferecer a ela algumas estratégias para a superação dessas dificuldades. É
importante que você avalie semanalmente com ela tal ficha e valorize suas conquistas,
incentivando-a a vencer outras dificuldades que ainda apresente.
63
A família pode ser um meio de proteção, contenção e apoio, mas também um elemento
potencializador das dificuldades, pois a criança com TDAH é mais vulnerável aos
efeitos negativos do que outras crianças. Assim, é importante que a família seja
orientada sobre como proceder junto ao seu filho com TDAH.
O TDAH pode existir associado a outros problemas, como, por exemplo, a síndrome de
Asperger, o transtorno de aprendizagem não verbais, dentre outros.
Com a finalidade de esclarecer um pouco mais essa abordagem, este item tem por
objetivo apresentar diferentes teorias, que buscam explicar o problema e oferecer
algumas estratégias, tendo em vista o trabalho pedagógico junto aos alunos que
apresentam dificuldades no processo de aprendizagem.
É muito importante saber que cada termo utilizado para se referir ao não aprendizado do
aluno indica o conceito que o professor deste. Por isso, é preciso refletir um pouco sobre
isso.
O uso dos termos anteriormente citados indicam que o educador ou o professor tem uma
visão tradicional de aprendizagem – quer dizer que o não aprender está localizado no
aluno (há uma causa nele que pode ser orgânica, física).
64
O termo problema está associado a origens emocionais e às dificuldades que se
relacionam às questões sociais, culturais e econômicas. Estas, por sua vez, estão
relacionadas à aprendizagem. Portanto, significa que o foco do não aprender não está só
no aluno, mas também no aspecto sociocultural e nas ações pedagógicas do professor.
É muito importante saber que cada termo utilizado para se referir ao fato do não
aprendizado do aluno indica o conceito que o professor tem do fato. Por isso, é preciso
refletir um pouco sobre isso.
Para Fonseca (1995), a definição mais consensual sobre a questão é a do National Joint
Committee of Learning Disabilites:
65
[D] dificuldades de aprendizagem (DA) é um termo geral que se
refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por
dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão
auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático. Tais
desordens, consideradas intrínsecas aos indivíduos, presumindo-se que
sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso central, podem
ocorrer toda a vida (FONSECA, 1995, p. 71).
Existem alguns indicadores. Assim, uma criança pode ser identificada como inapta para
a aprendizagem se:
Autores como Fonseca (1999) e Hallahan et al (1999) consideram que, na maioria dos
casos, a causa das dificuldades de aprendizagem na criança permanecem um mistério.
Quem são as crianças ou os jovens com dificuldades de aprendizagem?
Pode-se dizer que a criança ou o jovem com dificuldades de aprendizagem é aquela(e)
que, conforme Fonseca (1995), não aprende normalmente, não tem deficiências
sensoriais (visuais ou auditivas), não tem deficiência mental, não tem distúrbios
emocionais graves.
Quais seriam, então, as características das crianças com dificuldades de aprendizagem?
É possível levantar algumas características desses alunos, considerando aspectos como:
atenção, memória, processos cognitivos e psicolinguísticos. Vejamos a seguir essas
características:
66
Problemas de atenção
Memória
Problemas cognitivos
Problemas psicolinguísticos
67
problemas psicomotores. Segundo Fonseca (1997), os problemas psicomotores
estão associados aos problemas cognitivos e afetivos;
problemas de dispraxia; movimentos exagerados, rígidos e descontrolados (não
seguem uma sequência espaço-temporal organizada); dificuldade de relaxamento
voluntário; sincinesias; equilíbrio; organização psicomotora (lateralização,
direcionalidade, imagem do corpo);
aquisição da fala;
articulação;
aprendizagem de vocabulário novo;
opção pelas palavras certas;
rima;
diferenciação das palavras simples;
leitura e/ou escrita (reversões b/d e m/w, transposições ato/ota e
substituições carro/cama;
atendimento a instruções (compreender ordens, contar histórias);
respostas a perguntas e compreensão de conceitos;
compreensão da leitura (soletrar e escrever histórias e textos).
O que é dislexia?
Dys vem do latim e significa dificuldade; lexia vem do grego e significa palavras,
portanto temos dificuldade para ler as palavras.
68
É a dificuldade que a criança apresenta para ler. Está especificamente ligada à
imaturidade neurológica e tende a ser lentamente superada com o desenvolvimento da
criança. É o tipo de leitura apresentado pela criança na fase inicial do aprendizado.
A leitura da pessoa que tem dislexia é lenta, trabalhosa. É feita palavra por palavra e
isso interfere na compreensão do texto lido. A criança é considerada disléxica quando
todas essas dificuldades que apresenta já deveriam ser sido superadas para a sua idade.
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A escrita do aluno ou da pessoa com dislexia apresenta algumas características: letras
com traçado incorreto, erros ortográficos, sentenças incompletas, erros gramaticais,
dificuldades para copiar algo da lousa ou do livro e lentidão.
A preocupação durante a leitura é dirigida à decodificação, para que esta seja correta, o
que acaba prejudicando a interpretação da parte global do texto, pois dispersa o leitor do
conteúdo, dificultando a compreensão. Portanto, ele não consegue assimilar o sentido
do que foi lido. O leitor se dispersa com frequência, fato que acaba dificultando a
compreensão da leitura e a capacidade para a memorização do que foi lido. O resultado
é um texto mal lido, mal interpretado, mal armazenado na memória e, portanto, mal
aproveitado. Além disso, a pessoa com dislexia pode apresentar dificuldade na
matemática. Neste caso, podem ocorrer inversões dos números, confusão com os
símbolos operacionais (+ e x), cópia de modo incorreto, dificuldade para evocar as
sequências dos números e para memorizar tabuada. Alguns autores expõem que mais ou
menos 2/3 das crianças com dislexia apresentam dificuldades para os cálculos
aritméticos.
Como todo diagnóstico, também o diagnóstico da dislexia não é uma questão simples,
pois envolve a avaliação de vários profissionais e uma bateria de testes.
71
4.3 Síntese da Unidade
Para que os professores possam atuar de forma positiva junto aos alunos com
necessidades educacionais especiais, decorrentes ou não de deficiências, é importante o
conhecimento de algumas características do TDAH. Por isso, nesta Unidade,
procuramos oferecer aos que atuarão (ou atuam) no ensino regular uma visão geral a
respeito da diversidade de alunos na escola, para que possam selecionar e adotar
estratégias pedagógicas considerando as necessidades específicas dos alunos e
objetivando o sucesso escolar desses aprendizes. Se considerarmos a diversidade como
um fato natural da vida e as necessidades específicas de cada aluno decorrentes ou não
de deficiências, estaremos caminhando em direção à efetivação da inclusão escolar.
4.4 Atividades
Assista ao Seminário sobre dislexia e escreva um pequeno texto, comparando-o com o
que leu neste livro-texto.
72
CONDEMARÍN, M. et al. Transtorno do déficit de atenção: estratégias para o
diagnóstico e a intervenção psicoeducativa. Tradução Magda Lopes. São Paulo: Planeta
do Brasil, 2006.
73
74
Referências
IANHEZ, M. E.; LICO, M. A. Nem sempre é o que parece. São Paulo: Alegro, 2002.
76
MOOJEN, S. K. Abordagem psicopedagógica da aprendizagem. In: SCOZ, B. J. L. et
al. Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto
Alegre: Artmed, 1987.
77
Referências complementares
FRANK, R. A vida secreta da criança com dislexia. São Paulo: M. Books do Brasil,
2003.
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