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LIBRAS

LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS


ANTÔNIO RAUF ALVES FERREIRA DI CARLI MEIRELES
KATIA REGINA CONRAD LOURENÇO
SUELENE REGINA DONOLA MENDONÇA

LIBRAS
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

1ª Edição

Taubaté
Universidade de Taubaté
2014
Copyright©2013.Universidade de Taubaté.
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode
ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade.

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Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof.Dr.Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira
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Revisão ortográfica-textual Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira
Projeto Gráfico Me.Benedito Fulvio Manfredini
Diagramação Amanda Cortez Machado
Autor Prof. Antônio Rauf Alves Ferreira Di Carli Meireles
Prof. Katia Regina Conrad Lourenço
Prof. Ms. Suelene Regina Donola Mendonça

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Horário de atendimento: 8h às 22h

Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi


Sistema Integrado de Bibliotecas/UNITAU

M514l Meireles, Antônio Rauf Alves Ferreira Di Carli


Libras – Língua Brasileira de Sinais / Antônio Rauf Alves Ferreira Di
Carli Meireles; Kátia Regina Conrad Lourenço; Suelene Regina Donola
Mendonça. Taubaté: UNITAU, 2012.
76p. : il.
ISBN: 978-85-8315-001-5
Bibliografia
1. Língua Brasileira de Sinais - Libras. 2. Língua natural dos surdos. 3. Inclusão
social. I. Lourenço, Kátia Regina Conrad. II. Mendonça, Suelene Regina Donola. III.
Universidade de Taubaté. IV. Título.
Palavra do reitor

Toda forma de estudo, para que possa dar


certo, carece de relações saudáveis, tanto de
ordem afetiva quanto produtiva. Também, de
estímulos e valorização. Por essa razão,
devemos tirar o máximo proveito das práticas
educativas, visto se apresentarem como
máxima referência frente às mais
diversificadas atividades humanas. Afinal, a
obtenção de conhecimentos é o nosso
diferencial de conquista frente a universo tão
competitivo.

Pensando nisso, idealizamos o presente livro-


texto, que aborda conteúdo significativo e
coerente à sua formação acadêmica e ao seu
desenvolvimento social. Cuidadosamente
redigido e ilustrado, sob a supervisão de
doutores e mestres, o resultado aqui
apresentado visa, essencialmente, às
orientações de ordem prático-formativa.

Cientes de que pretendemos construir


conhecimentos que se intercalem na tríade
Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de
forma responsável, porque planejados com
seriedade e pautados no respeito, temos a
certeza de que o presente estudo lhe será de
grande valia.

Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa


leitura.

Bons estudos!

Prof.Dr. José Rui Camargo


Reitor

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Apresentação

Caro(a) aluno(a),

Bem-vindo(a) à disciplina de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais.

É com a sensação de dever cumprido que apresentamos a você o nosso livro-texto da


disciplina de LIBRAS! Considerando a política educacional em vigor, esse material e
momento representam para nós mais uma conquista em prol da educação dos Surdos,
pois conhecer sua língua é parte essencial do processo educativo.

Esse livro-texto foi elaborado cuidadosamente e constitui-se em um suporte para que


você possa, por meio de novas aprendizagens, adquirir conhecimentos a respeito da
surdez, da Língua de Sinais do Brasil – LIBRAS, e do grupo de pessoas que a utiliza: os
Surdos.

Atenção, nesse trabalho conjunto sua participação e comprometimento serão essenciais


para o melhor aproveitamento deste estudo. Esperamos que a partir dessa iniciativa você
se sinta provocado/sensibilizado a ampliar, aperfeiçoar e atualizar conhecimentos que,
somados às suas práticas e experiências, certamente farão diferença em suas
intervenções profissionais. Lembrando que uma língua se aprende na interação com
seus usuários; assim, procure as diversas possibilidades de interagir com pessoas
Surdas.

Para que todos os objetivos sejam alcançados, você deverá planejar o tempo para seus
estudos. Lembre-se de que você é o protagonista da sua aprendizagem!

vii
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Sobre os autores

Antônio Rauf Alves Ferreira Di Carli Meireles – Surdo. Possui licenciatura em


Pedagogia pela Universidade de Taubaté – UNITAU e especialização latu sensu em
Educação Especial: Gestão Pedagógica e Políticas para uma Educação Inclusiva pela
Faculdade Padre João Bagozzi – Curitiba/PR. Aprovado em nível superior no Exame
Nacional de Certificação na Proficiência da Língua Brasileira de Sinais – PROLIBRAS
pelo MEC/UFSC. Atualmente, é professor tutor de LIBRAS pela Prefeitura Municipal
de Pindamonhangaba; professor de LIBRAS do Instituto Modelo de Ensino Superior de
Caçapava – IMOESC; Professor Universitário da Universidade Paulista – UNIP.
Também ministra cursos e palestras de formação continuada de professores, intérpretes
de LIBRAS, etc.

e-mail: rauf_pedagogo_libras@hotmail.com

Katia Regina Conrad Lourenço - Tem licenciatura em Pedagogia pelo Instituto de


Ensino Superior de Joinville – IESVILLE, especialização lato sensu em Educação
Especial pela Universidade de Blumenau – FURB em Santa Catarina e é mestranda em
Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.
Aprovada no Exame Nacional de Certificação na Proficiência da Língua Brasileira de
Sinais pelo MEC/PROLIBRAS. Já exerceu diversos cargos na Educação de Surdos em
Joinville/SC e atualmente é professora universitária das disciplinas Educação Especial e
LIBRAS na UNIP – Universidade Paulista; FAPI/FUNVIC – Fundação Universitária
Vida Cristã de Pindamonhangaba e ITES – Instituto Taubaté de Ensino Superior.
Também atua em palestras e formação continuada de professores e intérpretes pela
Diretoria de Ensino da região de Pindamonhangaba.

www.acessolibras.com

Suelene Regina Donola Mendonça - Graduada em Pedagogia, com Habilitação em


Deficientes da Áudio Comunicação pela Universidade de Taubaté, Mestrado em
Educação: Psicologia da Educação, e Doutorado em Educação: História, Política,
Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora da Educação

ix
Básica II – SEEP – Educação Especial – deficientes auditivos. Assistente III da
Universidade de Taubaté, com atuação na graduação e pós-graduação. Tem experiência
na área de Educação, com ênfase em Didática, Políticas e Práticas Inclusivas, e
Psicologia da Educação, atuando principalmente nas seguintes áreas: educação especial,
educação inclusiva, educação de surdos, desenvolvimento, ensino e aprendizagem.

e-mail: prof.suelene@gmail.com

x
Caros(as) alunos(as),

O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se


como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais
diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta
com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande
experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação,
por mais de 35 anos de História e Tradição.

Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial.


Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web
interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a
distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais
preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais.

A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo
estudado.

Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web.Para


a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de
blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados
ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem.

Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais
atores desta formação.

Para todos, os nossos desejos de sucesso!

Equipe EAD-UNITAU

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xii
Sumário
Palavra do reitor................................................................................................................ v

Apresentação .................................................................................................................. vii

Sobre os autores ............................................................................................................... ix

Objetivos........................................................................................................................... 2

Introdução ......................................................................................................................... 3

Unidade1.Contextualização e historicidade da língua de sinais ....................................... 5

1.1 História da LIBRAS e educação dos Surdos no Brasil .............................................. 5

1.1.1 Idade contemporânea ............................................................................................... 8

1.1.2 A língua de sinais chega ao Brasil ........................................................................... 9

1.1.3 Decadência na educação dos surdos ........................................................................ 9

1.2 Respeito e Dignidade para os Surdos do Brasil ........................................................ 11

1.3 Processo de escolarização e novas concepções do bilinguismo na educação de


Surdos do Brasil ............................................................................................................. 18

1.3.1 Bilinguismo: nova proposta de educação para Surdos .......................................... 20

1.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 23

1.5 Para saber mais ......................................................................................................... 24

1.6 Atividades ................................................................................................................. 24

Unidade2.Identidade, cultura e língua de sinais: o mundo do Surdo ............................. 27

2.1 Cultura e Surdez ....................................................................................................... 28

2.2 Identidade e Surdez .................................................................................................. 31

2.3 Os Artefatos Culturais do Povo Surdo ..................................................................... 34

2.4 A importância da LIBRAS para o Surdo .................................................................. 43

2.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 47

xiii
2.6 Para saber mais ......................................................................................................... 48

2.7 Atividades ................................................................................................................. 48

Unidade 3. Língua brasileira de sinais e a Linguística ................................................... 49

3.1 Introdução à Gramática da LIBRAS ........................................................................ 49

3.1.1Vamos conhecer a Língua Brasileira de Sinais como língua natural! .................... 49

3.1.2 Libras é linguagem ou língua?............................................................................... 51

3.1.3 Qual a diferença entre gestos e sinais? .................................................................. 52

3.1.4 A Libras é uma língua universal? .......................................................................... 53

3.1.5 De onde vem essa língua? Qual sua origem? ........................................................ 54

3.1.6 A Língua de Sinais substitui a Língua Portuguesa? .............................................. 54

3.2 Vamos aprender os aspectos gramaticais da LIBRAS?............................................ 55

3.2.1 Aspectos Fonológicos ............................................................................................ 59

3.2.2 Aspectos Morfológicos .......................................................................................... 61

3.2.3 Sintaxe ................................................................................................................... 62

3.3 Vocabulário Básico da LIBRAS............................................................................... 64

3.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 70

3.5 Para saber mais ......................................................................................................... 70

3.6 Atividades ................................................................................................................. 71

Referências ..................................................................................................................... 73

xiv
LIBRAS – Língua Brasileira
de Sinais ORGANIZE-SE!!!
Você deverá usar de
3a 4 horas para
realizar cada
Unidade.

EMENTA

A história da Educação dos Surdos e da Língua de sinais no Brasil e no


Mundo e Legislação pertinente. Definição da Cultura e Identidades Surdas.
Escolarização e processos de aprendizagem dos Surdos. Bilinguismo.
Definição de línguas de sinais e LIBRAS. Estudos linguísticos. Estrutura
gramatical e semântica da LIBRAS. Datilologia e vocabulário básico.

1
Objetivo Geral
Proporcionar aos acadêmicos a compreensão, reflexão, além do aprendizado
teórico e prático da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e sua
contextualização sob o ponto de vista histórico, social, cultural, educacional e
linguístico.
os

Obj eti vos

Objetivos Específicos

 Proporcionar diversas oportunidades de reflexão sobre as concepções


historicamente construídas a respeito das pessoas Surdas e da LIBRAS;

 Conhecer o mundo dos Surdos, através da identificação de suas


identidades, comunidades e artefatos culturais;

 Entender a diferença entre a língua de sinais e Língua Portuguesa;

 Fortalecer o reconhecimento da LIBRAS como língua natural dos


Surdos;

 Abranger os conhecimentos teóricos e práticos dos aspectos gramaticais e


semânticos da LIBRAS;

 Ter noção do Vocabulário Básico da língua de sinais.

2
Introdução
O processo de inclusão de alunos com surdez em escolas regulares de educação básica
está além de adaptações de acesso e arquitetura. De acordo com a Lei 10.436/2002 e o
Decreto 5.626/2005, a LIBRAS é oficialmente a segunda língua do Brasil e a língua
materna de todo cidadão que nasce ou perde nos primeiros anos de vida a capacidade de
perceber os sons do ambiente através do ouvido.
Surdo – com letra maiúscula – define
Assim, o Surdo é como um estrangeiro em sala de não somente uma pessoa com surdez,
mas a que pertence à Cultura Surda,
aula, um indivíduo de cultura e língua diferentes da melhor detalhada e explicitada por
comunidade em que vive. Portanto, existe uma Karin Strobel (2008) e GádisPerlin
(2005).
especificidade em sua maneira de se colocar no
mundo e de aprender. Entendemos que vários fatores contribuem para o sucesso escolar
do aluno. Nós, professores, não podemos tudo, mas podemos muito. Nesse sentido, a
fim de que possamos contribuir não somente no acesso, mas também na permanência
desse aluno no ensino regular com qualidade, com direito às informações e à
aprendizagem, faz-se necessário realizar adaptações no planejamento, metodologias e
avaliações, de modo a atender às necessidades desses alunos. Para que o professor possa
favorecer este aprendizado, precisará conhecer este aluno: sua história, sua cultura, seus
processos de aprendizagem, suas características e também sua língua.

Assim considerando, este livro-texto foi organizado buscando atender parte dessas
necessidades. Assim, na primeira Unidade vamos voltar um pouquinho no tempo para
conhecermos as experiências vivenciadas pelos sujeitos Surdos; começamos pelos
acontecimentos internacionais relevantes, depois evidenciamos certos acontecimentos
no Brasil, e apresentamos também algumas das legislações já conquistadas. Finalizamos
a Unidade com uma rápida explanação sobre os fundamentos da educação de Surdos: a
educação bilingue.

Na segunda Unidade, conheceremos um pouco sobre este sujeito de quem viemos


tratando: o Surdo. Para compreendê-lo, abordaremos questões em Estudos Culturais,
suas Identidades e Comunidades e as peculiaridades desta cultura (chamadas artefatos).
3
A partir destas concepções, abordaremos a importância da LIBRAS na educação e na
vida dos Surdos.

A terceira Unidade está exclusivamente organizada para você finalmente conhecer e


aprender a Língua Brasileira de Sinais! Entendemos que para trabalhar com as pessoas
Surdas não basta apenas conhecer alguns sinais soltos e descontextualizados; por isso
organizamos uma pequena introdução à gramática da LIBRAS, uma noção básica a
respeito dos valores linguísticos e da origem da língua, uma abordagem sobre a língua
natural e sobre a diferença entre língua de sinais e Língua Portuguesa, além de alguns
mitos e verdades sobre os Surdos e a LIBRAS socialmente difundidos.

Não pense que nos esquecemos dos sinais! Para você vivenciar a conversação entre
Surdos, reservamos o final desta terceira Unidade; nela apresentamos um pequeno
vocabulário básico de sinais, além de sites, vídeos, dicas e etc. para você não parar por
aqui!

Enfim, por meio desse livro-texto você terá a oportunidade de conhecer um pouco sobre
a LIBRAS e sua contextualização na vida dos Surdos. Mas queremos mais que isso,
queremos você conosco nessa militante e contínua luta por esse povo, para sempre!

Acompanhe este estudo, nós esperamos por você!

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Unidade 1

Contextualização e historicidade da
Unidade1

língua de sinais

Você se lembra de quando estudou a história da educação especial? Os fundamentos da


educação inclusiva? E sobre que é deficiência? Entre outros assuntos, estes temas foram
abordados no livro-texto Educação, Inclusão e Cidadania (MENDONÇA, OLIVEIRA
2011); portanto, abordaremos aqui a historicidade a partir de quando o Surdo começou
“aparecer” nos registros históricos.

Traremos a história da LIBRAS com registros da educação de Surdos; após, faremos


uma abordagem das legislações que no decorrer da história foram sendo conquistadas e,
por fim, a filosofia educacional utilizada na atualidade com Surdos.

1.1 História da LIBRAS e educação dos Surdos no Brasil


Veloso e Filho (2009) declaram que foi após o ano 1500 que começam a aparecer
interessados e até mesmo defensores da capacidade dos Surdos para a aprendizagem.
Mas, de acordo com Gomes (2008), somente no século XVI isso fica explicitado.

Isso porque aparece, na Espanha, Pedro Ponce de Léon, monge contratado por famílias
nobres para educar seus filhos Surdos, futuros herdeiros reais. Ponce tinha por objetivo
ensiná-los a ler e escrever. Era herbólogo e também manipulava alguns remédios a base
de ervas com o intuito de “curar” e fazer os Surdos falarem (GOMES, 2008).

5
Ponce constituiu a primeira escola para Surdos
em seu próprio monastério. Utilizava, para
educar seus alunos, um alfabeto bimanual –
utilizando ambas as mãos – e alguns sinais
simples. No entanto, Gomes (2008, p.9) afirma
que “Dessa forma, com o alfabeto bi-manual o
estudante aprendia a soletrar, letra por letra,
qualquer palavra, mas não a se comunicar”.

Ponce não passou adiante seus métodos de


ensino; após sua morte seus registros
permaneceram abandonados. Ponce “(...) só se
tornou conhecido a partir de 1986, ano em que
Figura 1.1 –Pedro ponce de Léon
foi encontrado no Arquivo Histórico Nacional de Fonte:http://acessa-
Madri (Espanha) um manuscrito com relatos para.blogspot.com.br/2012/02/pessoa-com-
deficiencia-e-sua-relacao_14.html
rudimentares de seu método” (GOMES, 2008, Acesso em 18 jul. 2012
p.9). Ponce é considerado o primeiro professor de Surdos da história.

No século XVII, o professor Juan de Pablo Bonet, tendo também ensinado, e com êxito,
alguns Surdos, criou a Metodologia de Ensino Oralista para Surdos. O alfabeto gestual
das mãos (que, hoje sabemos, foi criado por Ponce de Leon) fazia parte desta
metodologia e servia para representar cada letra do alfabeto, mas apenas como meio
facilitador de comunicação e aprendizagem em sala.

O Método Oralista era de finalidade puramente oral, normalizador de Surdos; ou seja,


tinha por objetivo torná-los “falantes” e capazes também de perceber as falas orais
(LOURENÇO, 2011).

Contudo, ainda segundo Lourenço (2011), fica o século XVII marcado pela primeira
metodologia registrada especialmente para a educação de Surdos: o Oralismo Puro,
tendo como primeiro educador partidário o padre espanhol Juan de Pablo Bonet (1573 –
1633).

6
Em 1759, na França, o Abade
Charles Michel L’Epée (1712 –
1789) ganha grande
reconhecimento e respeito dos
Surdos e recebe críticas de
professores oralistas. Lourenço
(2011) afirma que o Abade
L’Epée retirou das ruas os
Surdos marginalizados e os
Figura 1.2 –Micheael de L’Epée
Fonte:http://2.bp.blogspot.com/_wWHW1rCZRLQ/THwKZ- levou para ensiná-los em seu
VwzvI/AAAAAAAAALM/LdIlPKryGYc/s1600/Abbee-et-
eleves.png próprio lar.
Acesso em 18 jul. 2012
Sua casa torna-se a primeira
escola para Surdos carentes. A partir deste convívio, procurou aprender seus meios de
comunicação, ensinando-os por meio da combinação da língua de sinais que havia
aprendido com os Surdos das ruas e da língua e gramática francesa, denominada por ele
de “Sinais Metódicos” (VELOSO e MAIA FILHO, 2009).

L‘Epée desde esta época defendia que a língua de sinais constitui a linguagem natural
dos Surdos e que é o verdadeiro meio de comunicação e de desenvolvimento do
pensamento. Publicou, de acordo com Veloso e Filho (2009), o primeiro dicionário de
sinais, chamado por ele de “Sinais Metódicos” e em 1789, quando faleceu, já havia
fundado 21 escolas para Surdos na França e Europa.

Trabalhando em prol dos Surdos, independente de classe social, L’Epée foi o fundador
da primeira escola pública do mundo para Surdos. Sua obra mais importante foi A
Verdadeira Maneira de Instruir os Surdos-Mudos, publicada em 1776. Por tanta luta
e sacrifícios, L‘Epée ficou conhecido como “Pai Atenção: a terminologia “Surdo-
Mudo”não é mais utilizada na atualidade;
dos Surdos” (HONORA e FRIZANCO, 2009). usa-se agora a expressão “Surdo”.

O século XVIII é considerado, segundo Honora e Frizanco (2009), o período em que a


educação de Surdos qualitativamente melhor evoluiu por conta da fundação de diversas

7
escolas que utilizassem a língua de sinais, pela qual os Surdos podiam aprender e
dominar diversos assuntos e exercer diversas profissões.

1.1.1 Idade contemporânea


Essa fase ficou marcada especialmente a partir de 1802, quando, para descobrir as
causas da surdez, o médico cirurgião Jean Marc Gaspard Itard inicia diversas
experiências científicas em cadáveres e até mesmo em Surdos vivos, aplicando-lhes
cargas elétricas,sanguessugas, ou fraturando crânios e perfurando membranas
timpânicas. Após publicar vários artigos destas experiências, batizou seus aparelhos –
cateteres para o ouvido – de Sonda de Itard (VELOSO e MAIA FILHO, 2009).

Com a “evolução” e o desenvolvimento da medicina, o Surdo passa a ser entendido


como um doente. E experiências, eficazes ou não, passam a ser frequentemente usadas.
Honora e Frizanco (2009) afirmam que, somente após dezesseis anos de trabalho em
prol da oralização e reabilitação auditiva, Itard admite o fato de o Surdo unicamente
poder ser educado através da língua de sinais.

Nos demais países, a educação de Surdos sofreu grande dificuldade devido ao problema
de acesso à metodologia de educação de Surdos da Europa. Um exemplo de disso deu-
se com Thomas Gallaudet (1787 – 1851), professor norte-americano que, ao visitar as
famílias Braidwood e Kinniburg, internacionalmente famosas e detentoras da
metodologia do Oralismo, não obteve apoio algum. Gallaudet então pediu ajuda às
escolas de L’Epée.

Gallaudet foi facilmente inserido como estagiário no Instituto Nacional de Surdos de


Paris, onde conheceu Laurent Clerc (1785 – 1869), professor Surdo do Instituto que o
acompanhou de volta aos Estados Unidos. Em 1816, juntos fundaram a primeira escola
para Surdos dos Estados Unidos em Hartford (Connectcut). A língua de sinais utilizada
foi se modificando e adequando à cultura dos Surdos norte-americanos, tornando-se a
ASL – American SignLanguage.

8
1.1.2 A língua de sinais chega ao Brasil
Em 1855, chega ao Brasil o
professor Surdo francês
chamado Eduard Huet (1822 –
1882), por solicitação de Dom
Pedro II, com o intuito de criar
uma escola de Surdos no país.
Huet, como Laurent Clerc, era
um célebre professor (com
surdez congênita) do Instituto
Nacional de Surdos de Paris.
No Rio de Janeiro, então, em
Figura 1.3 – Professor Surdo Huet
26 de setembro de 1857, Fontehttp://3.bp.blogspot.com/-
pfqh_MZaqpQ/ToDI04WUjxI/AAAAAAAABTo/JTN8FXD18R
fundou-se o primeiro instituto c/s1600/Sem%2Bt%2525C3%2525ADtulo.jpg
Acesso em 18 jul. 2012
de surdos em (VELOSO e
MAIA FILHO, 2009).

Este instituto, inicialmente batizado de ISM – Instituto de Surdos-Mudos e hoje


intitulado Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES – funcionava como um
colégio de internato. O alfabeto manual francês foi difundido no Brasil pelos próprios
Surdos, alunos do tal instituto. Veloso e Maia Filho (2009) afirmam que, pelos registros
históricos do instituto, pais de todo o Brasil levavam seus filhos Surdos ao INES.

1.1.3 Decadência na educação dos surdos


Antes que a língua de sinais tomasse uma estrutura no Brasil, educadores de todo o
mundo mobilizaram-se. Em 1880, reúnem-se representantes da França, dos EUA, do
Canadá, além da Bélgica, Suécia e Rússia no Congresso Internacional de Professores de
Surdos em Milão, Itália, para discutir e avaliar a importância de três métodos rivais:
língua de sinais, oralista e mista (língua de sinais e o oral).

Conforme Veloso e Maia Filho (2009):

9
O interesse era reafirmar a necessidade de substituição da língua de sinais
pela língua oral nacional. Foram retomados velhos princípios de
Aristóteles que dizia: “[...] a fala viva é o privilégio do homem, o único e
correto veículo do pensamento, a dádiva divina, da qual foi dito
verdadeiramente: a fala é a expressão da alma, como a alma é a expressão
do pensamento divino.” (VELOSO e MAIA FILHO, 2009, p. 39).

Foi feita uma votação neste Congresso; entretanto, apenas pessoas ouvintes puderam
votar e a metodologia de ensino de Surdos preferida pela maioria foi a do Oralismo,
abolindo definitivamente o uso de sinais na educação de Surdos (HONORA e
FRIZANCO, 2009).

Este fato fez muitos Surdos decaírem seu desempenho educacional, fato notório e
discutido em muitos outros congressos seguintes. Observava-se uma fala ininteligível
nos Surdos, chamando a atenção de diversos estudiosos, como o Dr. Willian Stokoe.

Stokoe (1919 – 2000), conforme Veloso e Maia Filho (2009), começou uma intensa
pesquisa publicada em torno de 1960 sobre a vida cotidiana dos Surdos, comparando
duas situações. Ele pesquisou a vida de dois grupos de Surdos: um em que os Surdos
eram os únicos com tal deficiência na família (filhos Surdos de pais ouvintes) e outro,
em que eram filhos de pais Surdos (filhos Surdos de pais Surdos).

Sua conclusão ficou bastante clara. O grupo de crianças com surdez que não convivia
com outros Surdos (filhos Surdos de pais ouvintes) automaticamente não usava a língua
de sinais. Em casa seus familiares comunicavam-se oralmente por desconhecerem os
sinais; na escola era proibida tal comunicação.

Já o grupo de crianças que convivia em família com outros Surdos, (filhos Surdos de
pais Surdos), não usava em casa outra forma de comunicação que não fosse a de
sinais,ainda que na escola isso fosse proibido. Essas crianças, diferentemente das outras,
tinham oportunidade de crescer e se desenvolver através da língua de sinais; esta era sua
língua materna.

A comparação destes dois grupos resultou no seguinte: o grupo de Surdos cuja língua
materna era a língua de sinais não era prejudicado, ao contrário, a língua de sinais os
ajudava a alcançar um desenvolvimento muito melhor e mais rápido do que os Surdos

10
do outro grupo. Os Surdos que usavam a língua de sinais compreendiam o mundo a sua
volta e tinham identidade.

Stokoe publicou esta pesquisa em meados de 1960 e, como já lecionava no Instituto


Gallaudet nos Estados Unidos, logo após um novo congresso mundial em Paris
começou-se a tomar as devidas providências. Veloso e Maia Filho (2009) declaram que
a partir de entãoa educação de Surdos passou a utilizar como método a Comunicação
Total.

Este método tinha o Surdo como centro do ensino, utilizando todos os meios de
comunicação possíveis: oral, gestual, mímica, etc. Strobel e Perlin (2008) o identificam
como o modelo misto da língua dos sinais associada com a oralização, que permitiu o
reconhecimento e valorização de língua de sinais, oprimida e marginalizada por mais de
100 anos.

Muito se evoluiu desde então. O que vale ressaltar é que, das análises feitas da trajetória
histórica da LIBRAS e da educação dos Surdos, os resultados qualitativos e eficientes
vieram com a contribuição do Decreto 5.626/05 e demais legislações abordadas logo a
seguir no item 1.2, e da nova Filosofia Bilingue, que comprovadamente melhor
contribui para o desenvolvimento de alunos com surdez, abordada no item 1.3.
Esperamos você!!!

Dica de Leitura
LOURENÇO, Katia Regina Conrad. Educação e Surdez: um Resgate Histórico pela Trajetória
Educacional dos Surdos no Brasil e no Mundo. Revista no http://editora-arara-
azul.com.br/novoeaa/revista/?cat=4.

STROBEL, Karin Lilian. Surdos: Vestígios Culturais não registrados na história. Tese de
Doutorado da UFSC. Florianópolis: UFSC, 2008.
www.cultura-sorda.eu/resources/Tesis_Strobel_2008.pdf

1.2 Respeito e Dignidade para os Surdos do Brasil


Entendemos que não basta conhecer apenas alguns sinais para trabalhar com as pessoas
surdas; é preciso compreender e reconhecer sua cultura, sua história, seus diretos, suas
11
conquistas... Sendo assim, você terá oportunidade de conhecer um pouco sobre a
legislação que administra a educação dos surdos e a LIBRAS.

É certo que um longo caminho foi percorrido no sentido de assegurar a inclusão de


alunos com deficiência no ensino regular; vamos conhecer agora algumas legislações e
diretrizes que foram conquistadas com o objetivo de garantir ao Surdo o direito à
expressão de sua cultura.

A preocupação de que todos, inclusive os Surdos,tenham direito à educação não é tão


recente quanto se pensa, considerando que, em 1948, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos mesmo que implicitamente já trazia essa inquietação. A Declaração
de Salamanca (que já foi abordada no livro-texto Educação, Inclusão e Cidadania) é
considerada o marco da educação inclusiva. Tal documento reafirma a necessidade e
urgência de proporcionar educação para crianças, jovens e adultos, com necessidades
educacionais especiais no ensino regular; ele enfatiza o papel da escola nesse processo,
aponta a necessidade de se modificar a escola para atender o aluno em suas
especificidades, garantindo não apenas o acesso, mas a sua permanência na escola com
qualidade.

21. As políticas educativas devem ter em conta as diferenças individuais e


as situações distintas. A importância da linguagem gestual como o meio
de comunicação entre os surdos, por exemplo, deverá ser reconhecida, e
garantir-se-á que os surdos tenham acesso à educação na linguagem
gestual do seu país [...] (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.
18).

Embora nada tenha sido citado explicitamente sobre a Educação de Surdos e a LIBRAS,
a Declaração de Salamanca foi o primeiro documento a reconhecer as diferenças dos
indivíduos Surdos e a importância da língua de sinais para o processo de
desenvolvimento e aprendizagem dessas pessoas.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), ainda em vigor,


dedica o capítulo V à educação especial e dispõe que os sistemas de ensino assegurem
aos alunos com necessidades especiais: currículo, método, técnicas, recursos educativos
e organização específica, para atender as suas necessidades. Nesse sentido, é possível
perceber alguns avanços, pois é uma forma de garantir que sejam reconhecidas e

12
atendidas as particularidades do aluno Surdo, com o uso e ensino da Língua Brasileira
de Sinais.

Além de garantir educação, a lei 10.098 de 2000 se faz presente para garantir
acessibilidade aos Surdos no que se refere à comunicação e em conseqüência à
participação social. Confira:

I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização,


com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos
urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de
comunicação, por pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida [e ainda:]

II - d) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que


dificulte ou impossibilite a expressão ou recebimento de mensagens por
intermédio dos meios ou sistemas, sejam ou não de massa.

Já o Capítulo VII, da mesma Lei, discorre sobre a acessibilidade nos sistemas de


comunicação e sinalização no:

Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na


comunicação e estabelecerá mecanismo e alternativas técnicas que tornem
acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras
de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-
lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à
educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer.

Desse modo, a lei garante aos Surdos o direito de acesso às informações, respeitando-se
a língua de sinais. Assim, amparados pela legislação, as pessoas surdas têm direito, por
exemplo, a intérpretes de LIBRAS em concursos, repartições, audiências entre outros.
Tais iniciativas certamente fazem a diferença. Parece pouco, mas trata-se de um direito.

Vídeos
Mas, será que isso acontece realmente?
Assista ao vídeo e levante sua própria opinião:
http://www.youtube.com/watch?v=H10sAHaaRZM

No sentido de atender a tais mudanças em termos educacionais, o Brasil, em sua


Resolução do CNE/CEB N°2, de 11 de setembro de 2001, do Conselho Nacional de
Educação (CNE), fundamenta as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na

13
Educação Básica, porém apenas seus artigos 5°, 7°, 8° e 12° com a intenção de
identificar a prevista inserção do individuo surdo diante dessas diretrizes.

Art.5° Consideram-se educandos com necessidades educacionais


especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem:

II - dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais


alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis.

Art.8°. As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na


organização de suas classes comuns:

IV- serviços de apoio pedagógico especializado, realizado nas classes


comuns, mediante:

b) atuação de professores-intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis;

Art.12° Os sistemas de ensino, nos termos da Lei 10.098/2000 e da Lei


10.172/2001, devem assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem
necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras
arquitetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações,
equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, bem como de
barreiras nas comunicações, provendo as escolas dos recursos e materiais
necessários.

§2° Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentem


dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais
educandos, a acessibilidade aos conteúdos curriculares, mediante a
utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e a
língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa,
facultando-lhes e às suas famílias a opção pela abordagem pedagógica
que julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em cada
caso (BRASIL, 2001).

Em termos de políticas públicas nacionais, a Lei n° 10.436 de 24 de abril de 2002 sem


dúvida marca toda a luta dos Surdos para o reconhecimento de sua língua e sua cultura,
colocando a LIBRAS em um patamar de igualdade com a língua portuguesa. Vamos
conhecê-la?

14
Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de
Sinais – LIBRAS – e outros recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos
nas comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de
serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e a difusão da Língua Brasileira
de Sinais – LIBRAS – como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das
comunidades surdas do Brasil.
Art. 3º As instituições publicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência
à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência
auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.
Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do
Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de
Fonoaudióloga e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua
Brasileira de Sinais – LIBRAS, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN, conforme legislação vigente.
Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – não poderá substituir a modalidade
escrita da língua portuguesa (BRASIL, 2002).

Lembrando que estamos em 2012, ou seja, completamos 10 anos de acesso e


reconhecimento da língua natural dos Surdos, a LIBRAS.
Vídeos
Assista ao vídeo e veja como os Surdos comemoram esses 10 anos:
http://www.portallibras.com.br/tv/

Em 22 de Dezembro de 2005, foi criado o Decreto nº 5.626, decreto que regulamenta a


Lei 10.436 de 24 de Abril de 2002 e especifica os demais direitos dos cidadãos Surdos
como na área da saúde, educação, trabalho. Também defende a Cultura Surda e a
importância e obrigatoriedade do intérprete de LIBRAS e sua devida formação.
Esclarece esses direitos e seus devidos responsáveis.

Vejamos alguns artigos desse Decreto.

Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que,
por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de
experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da
Língua Brasileira de Sinais – Libras (BRASIL, 2005).

Podemos perceber que de acordo com esse último decreto a terminologia utilizada
(pessoa Surda) está diretamente ligada à pessoa que possui uma perda auditiva, mas que
se relaciona com o mundo, manifestando seus sentimentos, pensamentos e sua cultura
por meio da Língua Brasileira de Sinais.

15
Na tentativa de melhorar o relacionamento entre aluno Surdo e professores, a partir
desse decreto a LIBRAS passa a fazer parte do currículo

Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória


nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em
nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de
ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas
de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL,
2005).

O objetivo aqui não é formar professores proficientes em LIBRAS, mas diminuir


barreiras existentes entre eles e os alunos surdos, estabelecendo uma realidade menos
diferente na vida da escola.
Atualmente, seguindo as exigências de tais legislações, a Língua Gestual-Visual
Brasileira ou Língua Brasileira de Sinais vem sendo inserida nos cursos de graduação
com licenciatura; intérpretes de Libras vêm sendo contratados para atuar em diversos
espaços da sociedade.
Sobre a formação de intérpretes, determina que:

Art 18: implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita


em Braile, linguagem de sinais e de guias intérpretes para facilitar
qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência
sensorial e com dificuldade de comunicação.

Em algumas universidades federais do Brasil também já encontramos o curso de Letras/


Libras com Licenciatura para formar Professores de Libras e Bacharelado para
formação de Intérpretes. Veloso e Maia Filho (2009) declaram que estes cursos tiveram
início, respectivamente, em 2006 e 2008, contemplando alunos Surdos e Ouvintes.

Em seu Cap. III, art. 4, o Decreto trata da formação de professores e Instrutores de


Libras e sanciona que:

§ 1o Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão


prioridade para ministrar a disciplina de Libras. (Idibem)

Deste modo, os Surdos têm a oportunidade de exercer diversos papéis na sociedade em


que vivem igualmente como os demais cidadãos, bem como de receber a devida
educação institucionalizada – uma educação de qualidade respeitando suas limitações e
capacidades.

16
Você sabia que existe o DIA
NACIONAL DO SURDO?

A Lei nº 11.796 de 2008 institui o Dia Nacional dos Surdos a ser exaltado todo dia 26
de setembro de cada ano, tem como finalidade a preservação da Cultura Surda e de sua
participação na sociedade. Essa data foi escolhida em homenagem à fundação da
primeira escola de Surdos no Brasil, o INES, citado no item 1.1.

Buscando atender à legislação vigente, a Secretaria da Educação em sua Resolução SE


Nº 38/2009 dispõe sobre a admissão de docentes com qualificação na Língua Brasileira
de Sinais – Libras, nas escolas da rede estadual de ensino. Considerando a necessidade
de se garantir aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso às informações e
aos conhecimentos curriculares dos ensinos fundamental e médio, o documento resolve
que:

Artigo 1º - As unidades escolares da rede estadual de ensino incluirão em


seu quadro funcional docentes que apresentem qualificação e proficiência
na Língua Brasileira de Sinais – Libras, quando tiverem alunos surdos ou
com deficiência auditiva, que não se comunicam oralmente, matriculados
em salas de aula comuns do ensino regular (SÃO PAULO, 2009).

É possível perceber que muito se tem feito no sentido de garantir o acesso ao


conhecimento aos alunos Surdos. Sabemos também que ainda há desafios a ser
vencidos, estamos apenas começando.

Em 2010, a Lei nº 12.319 regulamentou a profissão de tradutor e intérprete da Língua


Brasileira de Sinais. Mais um ganho para melhorar o sistema da educação de Surdos.

Podemos concluir que ao que se refere à legislação brasileira em prol dos Surdos, está
presente e é bastante ampla, buscando a cada dia o respeito à diferença e aos direitos
culturais.

17
1.3 Processo de escolarização e novas concepções do
bilinguismo na educação de Surdos do Brasil
Acreditamos que como professores precisamos conhecer um pouco sobre a
escolarização dos surdos: qual a realidade presente nas escolas brasileiras? Qual a
expectativa dos professores quanto à possibilidade de aprendizagem desse aluno? Qual
o papel da língua de sinais no processo de escolarização? Que outros fatores interferem
nesse processo?

Pesquisas comprovam que é comum Surdos com muitos anos de vida escolar
frequentando as séries iniciais sem uma produção escrita compatível com sua série, ou
seja, apresentam defasagem entre idade e série que cursam (BUENO,1993).

Vamos conhecer algumas dessas pesquisas?

Tarturci (2002) analisou a experiência de alunos surdos inseridos em diferentes classes


comuns, desde o ensino fundamental até o ensino médio, em escolas da rede pública do
estado de Goiás, e constatou que apesar da longa trajetória escolar desses alunos
apresentam baixo desempenho na leitura e na escrita. A autora atribui esse baixo
desempenho à falta de uma língua comum que dificultou a interação e a interlocução
entre aluno surdo, professor e colegas ouvintes.

Brito (1993) afirma que a língua de sinais tem um papel central no desenvolvimento dos
surdos, não devendo ser vista apenas como um apoio, mas como a forma principal de
acesso ao conhecimento e que, portanto, as disciplinas escolares deverão ser ensinadas
nessa língua.

Skliar (1998) aponta que as limitadas produções a respeito das causas do fracasso
escolar do surdo podem ser resumidas a partir de três justificativas: 1) o fracasso é
atribuído ao próprio surdo – fracasso então, da surdez, dos dons biológicos naturais; 2)
os professores ouvintes são culpabilizados pelo fracasso; 3) limitação dos métodos de
ensino.

18
Góes (2004) verificou que as aulas – atividades, sequência e procedimentos – eram
preparadas e direcionadas para uma classe de ouvintes. Como nem sempre era possível
atender a todos os alunos, os professores solicitavam que os alunos com dificuldade
realizassem tarefa mais simples ou repetissem uma tarefa já realizada. Nisso consistia a
adaptação para o aluno especial, além do esforço para o estabelecimento do diálogo.
Diante das dificuldades encontradas, os professores acreditavam que esses alunos
deveriam ser atendidos na classe Especial.

Lacerda (2000) partiu do interesse em analisar a dinâmica própria de interlocução que


se estabelece em sala de aula. Concluiu pela defesa da escola especial que – uma vez
organizada para o atendimento das pessoas surdas, na qual todos os conteúdos
acadêmicos fossem ministrados em sinais, por um professor com domínio de Libras, em
meio a usuários de Libras – seria o ambiente acadêmico desejável para o
desenvolvimento pleno da pessoa surda.

Considerando que a maioria dos Surdos profundos não desenvolveu a fala socialmente
inteligível, e considerando ainda as dificuldades ligadas à aprendizagem da leitura e
escrita, Lacerda (2000) afirma que muitos estudos têm indicado que as práticas
educacionais não vêm contemplando as reais necessidades dos surdos e, por isso,
mesmo após vários anos de escola, eles apresentam conhecimentos muito aquém
daqueles desejados para seu grau de escolaridade.

Em sua pesquisa de doutorado, Oliveira (2005), ao investigar as ações de professores


de classes comuns, ciclo II, de uma escola pública estadual, com alunos surdos oriundos
de classes especiais, pôde concluir que essa atuação ainda estava baseada na crença de
que os surdos são incapazes de aprender. Oliveira (2005) assim se coloca diante da
questão: a expectativa que o professor tem em relação a seu aluno pode interferir no
desempenho dele?

Ao diferenciar entre os conteúdos de ensino destinados aos alunos Surdos


e ouvintes, deixam clara a relação entre o que fazem e pensam: aponta
que os professores não tem muitas expectativas em relação à
aprendizagem dos mesmos. Quando os professores expressam as suas
expectativas em relação à aprendizagem deixam transparecer suas crenças
e valores a respeito da população de alunos com a qual trabalham e as

19
suas ações acabam sendo orientadas por essas crenças e valores
(OLIVEIRA, 2005, pp.116-117).

Nessa perspectiva, é possível perceber que o fracasso na escolarização do Surdo está


atrelado a várias questões, entre elas o fato de serem expostos à língua oral em seu
processo de aprendizagem escolar, bem como a falta de expectativas positivas dos
professores frente às capacidades dos alunos Surdos.

1.3.1 Bilinguismo: nova proposta de educação para Surdos


Sabemos que a língua tem um papel importante para qualquer indivíduo. Para o Surdo,
a presença da Língua Brasileira de Sinais no contexto escolar prevista por lei é uma
vitória. “O bilingüismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem a
tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar” (QUADROS, 1997, p.27).
Considerando a língua de sinais como uma língua natural, a autora aponta que as
crianças Surdas têm o direito de ser ensinadas na língua de sinais e que essa é a melhor
opção para o ensino. Nessa filosofia, as habilidades linguísticas do Surdo são
reconhecidas e respeitadas; assim, as crianças são expostas a ela desde a mais tenra
idade.

Pensando nisso, as escolas bilingues estão em pauta, pois acredita-se que este é o
caminho para uma educação de Surdos. Assista ao vídeo sugerido a seguir para que
possa compreender um pouco mais como é uma escola que ensina Libras na educação
infantil.

http://www.youtube.com/watch?v=xf-YjOq93NE

Para que ocorra a verdadeira inclusão de alunos Surdos na sociedade, existe uma
necessidade real de criação das escolas bilingues, pois é nelas que se asseguram as
condições necessárias a uma educação de qualidade. Para que o Surdo possa se
constituir como sujeito, há necessidade da presença de seus pares linguísticos no seu
processo de aquisição de língua e de conhecimento (FONSECA, 1995, apud
MEIRELES, 2009).

20
O Surdo não deve ficar restrito ao modelo oral de aprendizado; autores como Tarturci
(2002), Lacerda (2000), Góes (2004), Brito (1993), dentre outros, afirmam que advém
daí a sua defasagem em relação às atividades acadêmicas. O estabelecimento da língua
natural dos Surdos como primeira língua subsidia um avanço em relação à sua
educação.

A língua de sinais implica a identidade e a cultura dos Surdos, por isso,não pode
reduzir-se a uma experiência de linguagem ‘vocabular’; outrossim, precisa ser de fato
uma experiência comunicativa. Daí a importância de as crianças surdas estarem
inseridas nas escolas bilingues para aquisição e desenvolvimento da LIBRAS
(FONSECA, 1995, apud MEIRELES, 2009).

A Educação Inclusiva, para os Surdos, por meio da filosofia bilingue reconhece a surdez
como diferença. Para tanto, alguns autores discursam sobre a educação bilingue,
afirmando que:

Essa definição, ainda que imprecisa, sugere que a educação bilíngüe para
surdos é algo mais do que o domínio, em algum nível, de duas línguas. Se
a tendência contemporânea é fugir - intencional e/ou ingenuamente - de
toda discussão que exceda o plano estrito das línguas na educação de
surdos, corre-se o risco de transformar a proposta bilíngüe em mais um
dispositivo pedagógico "especial", em mais uma grande narrativa
educacional, em mais uma utopia a ser rapidamente abandonada. Em
síntese: a educação bilíngüe pode-se transformar numa "neo-
metodologia" colonialista, positivista, a-histórica e despolitizada
(SKLIAR, 1999, apud MEIRELES, 2009, p.25).

E reafirmam esta ideia:

Discutir a educação bilíngüe numa dimensão política assume um duplo


valor: o "político" como construção histórica, cultural e social, e o
"político" entendido como as relações de poder e conhecimento que
atravessam e delimitam a proposta e o processo educacional (SKLIAR,
1999, apud MEIRELES, 2010, p. 25).

É respeitável salientar que o ensino bilingue para Surdos acata algumas regras tais
como: LIBRAS (L1) língua de instrução ou primeira língua para os Surdos, e segunda
língua, Português (L2). A trajetória escolar dos estudantes Surdos, com estas medidas,
tende a se tornar gratificante, e a experiência torna-se inovadora, uma vez que segue
reunindo Surdos e ouvintes, evidenciando uma comunicação efetiva entre eles,

21
respeitando a educação inclusiva e dando um passo considerável para a diminuição de
preconceitos, inserindo totalmente o indivíduo Surdo na sociedade.

Existe um movimento do Povo Surdo muito intenso a favor das escolas bilingues. Leia
a Carta aberta dos Doutores Surdos ao Governo no endereço eletrônico a seguir:

http://gpsurdezeabordagembilingue.blogspot.com.br/2012/06/carta-aberta-de-doutores-
surdos-ao.html

Dicas de leitura
Proposta para educação de Surdos através da filosofia bilingue:
QUADROS, Ronice Müller de Bilinguismo (Cap. 1). In. Educação de Surdos: a aquisição da
linguagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
http://www.portallibras.com.br/tv/

O Art. 2º, do Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei 10.436/02 (como vimos no
item anterior), determina a inserção de intérpretes de LIBRAS em todos os ambientes
escolares, nas salas de aula em que haja alunos com surdez. Assim, toda aula deveria ser
ministrada em Língua Portuguesa e traduzida por um intérprete de LIBRAS. Vamos
conhecer um pouco sobre esse profissional e sua função no ensino fundamental e médio
brasileiro?

Há muito se discute a importância desta profissão, e os benefícios que ela traz ao aluno
Surdo. Infelizmente este fato parece não condizer com a situação vigente. Existem, por
assim dizer, alguns problemas cruciais em relação ao intérprete de LIBRAS. Em
primeiro lugar, o seu despreparo quanto a entender e repassar de maneira correta as
interpretações de uma língua para a outra. O intérprete precisa ser um profissional
bilingue,habilitado na interpretação da língua de sinais para a Língua Portuguesa e vice-
versa.

Segundo Brasil (2004), até há pouco tempo o intérprete não era reconhecido como
profissional, portanto não havia preocupação com a sua formação, o que representa uma
grande lacuna no processo de legitimação da sua profissão. Acrescenta-se a isso a
dificuldade dos intérpretes em contribuir para a aprendizagem e melhoria da interação
entre Surdos e ouvintes. A ausência da língua de sinais no contexto social/escolar

22 determina a necessidade de um mediador que facilite a comunicação destes alunos, bem


como uma expectativa da escola, às vezes exagerada, na melhora do rendimento escolar
do aluno Surdo.

A importância do intérprete de LIBRAS qualificado ultrapassa o ambiente educacional.


Ao adquirir a Língua de Sinais, o Surdo passa a entender melhor a constituição do
mundo e seu papel nele; portanto, cabe ao intérprete servir como intermediário entre
estes dois mundos, sendo essencial sua fluência em ambas as línguas.

Seguindo os números do Censo Demográfico do IBGE (2000), verificamos que o


número de pessoas com deficiência auditiva ou surdez no Brasil chegava a 5.770.809
(cinco milhões, setecentos e cinquenta mil e oitocentos e nove). De acordo com o
Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP/MEC,
2003) somente 56.024 (cinquenta e seis mil e vinte quatro) alunos Surdos estavam
matriculados na educação básica; 2.041 (dois mil e quarenta e um) cursavam o ensino
médio e apenas 300 (trezentos) estavam em algum curso universitário.

Diante desta situação,o intérprete capacitado precisa ter domínio da Língua Brasileira de
Sinais, conhecendo suas características gramaticais e linguísticas, bem como dominar a
Língua Portuguesa.

Percebemos ao longo da pesquisa que as leis existem, mas infelizmente a


situação dos Surdos nas escolas continua difícil. A maioria das escolas, ou
por desconhecimento, ou falta de vontade não cumprem as determinações
previstas por lei, pois dificilmente encontramos intérpretes em sala de
aula. Outro problema crônico é a quantidade de intérpretes existentes no
Brasil, não existe nenhum trabalho feito neste sentido, nem dados
estatísticos que colaborem com a formação destes profissionais. Existe
uma possibilidade de número maior nas regiões Sul e Sudeste, mas que
não foram comprovadas, ou seja, o número de intérpretes indica ser
reduzido e insuficiente (MEIRELES, 2009, p.23).

1.4 Síntese da Unidade


Nesta Unidade, tratamos da história da educação dos Surdos e da língua de sinais;
conhecemos quem foram os precursores dos métodos específicos para tal área da
educação. De cada período, abordamos as mudanças políticas, econômicas, sociais e
como isso influenciou a educação dos Surdos. Hoje, pode-se dizer que a inserção do
23
Surdo na sociedade efetivamente já aconteceu; no entanto, com relação aos aspectos
legais, muito pouco ainda se põe em prática. Tratamos também do processo de
escolarização e da educação bilíngüe; ressaltamos os benefícios que a educação bilingue
traz ao aluno Surdo, a questão dos intérpretes de LIBRAS no país e a realidade destes
no ensino fundamental ao superior. Evidenciamos ainda a importância desse
profissional – o intérprete.

1.5 Para saber mais


DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Atendimento Educacional Especializado -
Pessoa com Surdez. SEESP/SEED/MEC: Brasília/DF, 2007.

FÁVERO, Eugênia Augusta Gonzaga; PANTOJA, Luisa de Marillac P.; MANTOAN,


Maria Teresa Eglér. Atendimento Educacional Especializado - Aspectos Legais e
Orientação Pedagógica. SEESP/SEED/MEC: Brasília/DF, 2007.

VELOSO, Eden; MAIA FILHO, Valdeci. Aprenda LIBRAS com Eficiência e Rapidez.
5.ed. Mãos Sinais: Curitiba,PR, 2011.

1.6 Atividades
1. Reflita sobre o que você estudou no primeiro item desta Unidade, sobre a
historicidade; faça uma análise crítica comparativa com os movimentos Surdos pelo
blog do historiador Surdo Antônio Campos de Abreu
<http://historiadesurdos.blogspot.com.br/> fazendo um levantamento do que mudou/
evoluiu nos dias atuais.

Visite o site do Centro de Educação para Surdos Rio Branco, em São Paulo, divirta-se e
conheça mais detalhes e curiosidades.

24
25
26
Unidade2
Unidade2 Identidade, cultura e língua de sinais: o
mundo do Surdo

Nesta Unidade, vamos conhecer este sujeito a quem denominamos “Surdo”, sobre o
qual tratamos na primeira Unidade, uma vez que já estudamos um pouco sobre sua
história, seus direitos e seus fundamentos educacionais. A importância desta descrição
reside no fato de que nosso olhar parte de uma concepção socioantropológica ou
epistemológica (concepções do ponto de vista educacional, psicológico, sociológico),
não podendo ser confundida com quaisquer concepções biológicas.

O sujeito Surdo do ponto de vista das ciências da saúde (biológicas) é definido como
portador um corpo danificado. O ser deficiente que precisa ser curado e/ou reabilitado.
Porém, estamos aqui para falar deste sujeito como um ser social, independentemente de
suas limitações e/ou dificuldades. Tratamos aqui do Surdo como um sujeito capaz, parte
da sociedade; que possui identidade própria, cultura e também uma língua diferente dos
demais que habitam o mesmo espaço, pois os que ouvem terão outras identidades,outra
língua e outra cultura – a ouvinte.

Ao focalizar a representação da identidade surda em estudos culturais,


tenho de me afastar do conceito de corpo danificado para chegar a uma
representação da alteridade cultural que simplesmente vai explicar a
identidade surda. O conceito de corpo danificado remete a questões de
necessidade de normalização, o que significa trabalhar o sujeito surdo do
ponto de vista do sujeito normal ouvinte (PERLIN, 2005).

Para Brasil (2004), quebrar o modelo padrão, a ideia de deficiência, é enxergar as


restrições de ambos: Surdos e ouvintes. Por exemplo: enquanto Surdos não conversam
no escuro, ouvintes não conversam debaixo d'água; enquanto Surdos se comunicam sem
problemas entre ruídos e sons altos ou a grandes distâncias, ouvintes não conseguem se
comunicar nestas condições adversas para eles, a menos que gritem.
27
Para entender melhor isso, iremos conhecer um pouquinho mais profundamente o
mundo dos Surdos, chamado de Cultura Surda, especialmente por Karin Strobel (atual
presidente da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS).
Entenderemos em seguida o conceito e quais são as identidades surdas – no item 2.2; os
artefatos culturais do povo Surdo – no item 2.3; e, partindodestas concepções, iremos
entender com maior profundidade e fundamentação teórica a importância que a
LIBRAS representa na vida de uma pessoa Surda. Vamos lá?

2.1 Cultura e Surdez


“A surdez é um ‘país’ sem um ‘lugar próprio’; é uma cidadania sem uma
origem geográfica...” (WRIGLEY, 1966)

Falar em Cultura Surda como um grupo de pessoas localizado no tempo e no espaço é


fácil; todavia, refletir sobre o fato de que nessa comunidade surgem processos culturais
específicos é uma visão rejeitada, pois muitos autores ainda defendem uma concepção
de cultura como universal, única (SKLIAR, 1998, apud BRASIL, 2004).

Contudo, nos últimos tempos, nas mais diversas áreas de conhecimento, têm se
considerado concepções não mais unitárias das coisas, mas pluralizadas. Assim
acontece com a cultura. Trabalhamos com a ideia do multiculturalismo, pois a cultura
não é estática, é viva. De acordo com Strobel (2008), a cultura se modifica e se atualiza,
deixando claro que não surge com o homem sozinho, mas sim a partir das produções
coletivas socializadas culturalmente, passando de geração em geração.

Strobel (2008) define, então, que Cultura Surda é o jeito de o Surdo entender o mundo e
de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável,ajustando-o com as suas
percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das
“almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as
crenças, os costumes e os hábitos do povo Surdo.

Lourenço (2012) afirma que nos primeiros anos de vida, quando a criança ouvinte
chama o cachorro de “au-au”, o passarinho de “piu-piu”, é porque está fazendo

28
referência entre o animal e o som ele que emite. Do mesmo modo, ao identificar e
observar o mesmo animal, a criança Surda também fará suas referências; no entanto,
estas serão inteiramente visuais. Por exemplo: ela identificará o cachorro através do
pelo ou de como o animal mostra seus dentes ao rosnar; para identificar o passarinho, a
criançafará o movimento do bico abrindo e fechando, como o próprio pássaro faz ao
piar, ou então imitará seu bater de asas e assim por diante.

Os cultivos da linguagem e da identidade, salienta Strobel (2008), são os elementos


fundamentais de uma cultura. Mas é importante lembrar que embora os Surdos
pertençam à Cultura Surda, este fato não os torna iguais. Os Surdos não se diferenciam
uns dos outros pelo grau de surdez, e sim pelo grupo a que pertencem, pelo uso da
língua de sinais e pela Cultura Surda, que os ajudam a definir suas identidades e formar
comunidades. Trataremos das identidades surdas no próximo item desta Unidade.

Há grande diversidade de comunidades Surdas e cada uma é organizada de maneira


diferente de acordo com os interesses em comum, como etnia, religião, profissão, entre
outros. Outra questão importante aqui é que, num mesmo grupo local, a comunidade
Surda, as pessoas da família, amigos, professores e intérpretes também estão presentes.

Para Padden e Humphries (2000, apud STROBEL, 2008), na comunidade Surda temos
sujeitos Surdos e sujeitos ouvintes. Nesta, todos compartilham suas experiências através
da língua de sinais: os Surdos, que têm suas experiências de vida puramente visuais: a
Cultura Surda, e os ouvintes que, por alguma proximidade profissional, de parentesco,
etc., conhecem a língua de sinais e também as peculiaridades Surdas.

Atenção: os ouvintes que conhecem a língua de sinais, apenas a conhecem e a utilizam


para se comunicar na comunidade Surda a que pertencem (Pastoral ou Ministério de
Surdos, escolas, etc.), o que não os faz pertencentes à Cultura Surda ou ao povo Surdo e
nem faz dessa língua sua língua materna. Assim, para um ouvinte que pertença a alguma
comunidade Surda, a LIBRAS será sua segunda língua.

Isso porque a LIBRAS é a língua que traduz a Cultura dos Surdos: os hábitos, os
costumes, o jeito particular de ser Surdo, o viver no silêncio, o sentir (e não ouvir) as

29
vibrações de uma música; enfim, suas experiências e percepções do mundo puramente
visuais.

Então, recapitulando:

 Cultura Surda: são os hábitos, costumes, vivências de pessoas com surdez;


enfim, as produções coletivas do povo Surdo a partir de seu próprio modo de ser, ver,
entender e transformar o mundo. Para Strobel (2008), as peculiaridades da Cultura
Surda resumem-se em oito artefatos; lembrando que o conceito de artefatos não se
refere apenas a materialismos culturais, mas àquilo que na cultura constitui as
produções coletivas citadas acima. Após compreender o conceito de identidades surdas
no item 2.2, você poderá acompanhar maiores detalhes sobre estes artefatos no item 2.3.

 Povo Surdo: são as pessoas que nasceram com surdez ou a adquiriram logo
nos primeiros anos de vida, resultando num crescimento e desenvolvimento peculiar,
adquirindo naturalmente a Cultura Surda. Para Strobel (2008), o povo Surdo são
sujeitos que compartilham dos mesmos costumes, história, tradições e pertencem às
mesmas peculiaridades culturais, ou seja, constroem sua concepção de mundo através
do artefato cultural visual. O grupo de pessoas a quem chamamos de povo Surdo são os
sujeitos que podem não habitar o mesmo local, mas que estão ligados por um código de
formação visual independente do nível linguístico.

 Comunidade surda: é um grupo local formado por Surdos (que possuem a


Cultura Surda) e ouvintes, com cultura de um crescer e desenvolver-se ouvinte, mas que
compartilham suas vidas com os Surdos; podem ser comunidade de Pastoral de Surdos,
Ministério de Surdos, grupo de amigos/profissionais, etc. Podem fazer parte das
comunidades Surdas seus familiares, amigos, colegas de escola ou trabalho, intérpretes
de LIBRAS, companheiros (namorados(as), maridos/ esposas), etc.

Faz-se relevante lembrar que é por meio da cultura que uma comunidade constitui-se,
integra e identifica pessoas. A existência de uma Cultura Surda ajuda a construir a
identidade das pessoas com surdez. Nesse sentido, tratar de Cultura Surda implica
também tratar da questão identitária. Um surdo estará mais ou menos próximo da

30
cultura surda dependendo da identidade que Dicas de leitura
STROBEL, Karin Lilian. As imagens
assume dentro da sociedade (BRASIL, 2004). do outro sobre a Cultura Surda.
Florianópolis: Editora da UFSC, 2008.

2.2 Identidade e Surdez


Strobel (2008) alega que é por meio da cultura que os sujeitos asseguram a sua
sobrevivência e afirmam as suas identidades; a cultura que temos determina uma forma
de ver, de interpretar, de ser, de explicar e de compreender o mundo.

Se procurarmos concepções de identidades, novamente encontramos descrições não


unitárias, mas multifacetadas, plurais, fragmentadas. Isso se dá pela mudança radical e
constante das coisas. Identidades podem ser até mesmo Chamamos de ouvintes as
pessoas que não possuem
contraditórias; não são algo pronto, mas sim construções surdez e, portanto, ouvem.
móveis.

No entanto, no caso dos Surdos que vivem dentro da cultura ouvinte a identidade é
reprimida, rebela-se e afirma-se em questão da original. A identidade surda sempre está
em proximidade, em necessidade de encontrar outro igual (PERLIN, 2005).

Perlin (2005) assevera que as identidades Surdas assumem formas multifacetadas em


vista das fragmentações a que estão sujeitas. Os estereótipos, “rótulos”, interferem
muitas vezes como um impedimento para a aceitação da identidade surda. O indivíduo
Surdo faz parte dos movimentos marginalizados, à margem da sociedade predominante;
e assim vai acumulando estereótipos que têm reforçado cada vez mais a supremacia
discriminatória de sua produção cultural.

Um exemplo de estereótipo é a ideia que a sociedade guarde de que o Surdo tem maior
concentração em suas atividades, pois não poderá se distrair com barulhos. Isto leva a
uma imagem do Surdo como produtor braçal de produtividade. Ou seja, vale a pena
contratá-lo no campo de trabalho pelo que ele produz, não pelas suas habilidades e
competências profissionais.

31
A identidade Surda se constrói dentro de uma cultura visual. Essa diferença precisa ser
entendida não como uma construção isolada, mas como construção multicultural. Os
Surdos vão construindo seu pensamento e compreendendo o mundo a partir puramente
de suas visualizações.

Os ouvintes são acometidos pela crença de que ser ouvinte é melhor que ser Surdo, pois,
na ótica ouvinte, ser Surdo é o resultado da perda de uma habilidade 'disponível' para a
maioria dos seres humanos. No entanto, essa parece ser uma questão de mero ponto de
vista (BRASIL, 2004).

Maupassant (apud BRASIL), em seu conto Carta de um louco, reflete sobre o citado
acima, defendendo que

todas as idéias de proporção são falsas, já que não há limite possível, nem
para a grandeza nem para a pequenez [...] a humanidade poderia existir
sem a audição, sem o paladar e sem o olfato, quer dizer, sem nenhuma
noção do ruído, do sabor e do odor. Se tivéssemos, portanto, alguns
órgãos a menos, ignoraríamos coisas admiráveis e singulares; mas, se
tivéssemosalguns órgãos a mais, descobriríamos em torno de nós
uma infinitude de outras coisas de que nunca suspeitaremos por falta de
meios de constatá-las (MAUPASSANT, apud BRASIL, 2004, p.36).

Perlin (2005) denuncia que os ouvintes que se referem ao Surdo como portador de
anomalias contribuem para a ideia da normalização. Primeiro entende-se por Surdo o
não normal, para, a partir daí, discursar lindamente sobre O ouvintismo deriva da
proximidade particular entre
a normalização/ouvintização do Surdo. Viver o ouvintes e Surdos, na qual o
ouvintismo é ter preconceito contra os Surdos. ouvinte sempre está em
posição de superioridade
(PERLIN, 2005).
A ouvintização do Surdo, o chamado oralismo, é uma
ideologia dominante, na qual a concepção do sujeito Surdo se refere exclusivamente
uma dimensão clínica, uma perspectiva terapêutica (SKLIAR, 1997, apud PERLIN,
2005). Perlin é uma grande pesquisadora das questões apresentadas neste item
(Identidade e Surdez) e classifica as identidades surdas com diferentes facetas;
acompanhe as definições a seguir:

a) identidade surda está presente no grupo ao qual pertencem os surdos que


fazem uso com experiência visual propriamente dita. O adulto Surdo, em contato

32 com outros Surdos, vai construir sua identidade fortemente centrada no ser Surdo
(a Cultura Surda), “a identidade política surda”. É a consciência de ser
definitivamente diferente e de necessitar de implicações e recursos completamente
visuais.

b) identidade surda híbrida diz respeito aos Surdos que nasceram ouvintes e
que, com o tempo, adquiriram a surdez. É uma espécie de uso de identidades
diferentes em diferentes momentos. Eles captam do exterior a comunicação de
forma visual, passam-na para a língua que adquiriram primeiro e depois para os
sinais. Nascer ouvinte e posteriormente ser Surdo é ter sempre presente duas
línguas, mas a sua identidade irá ao encontro das identidades surdas.

c) identidade surda de transição é a dos surdos que foram mantidos sob o


cativeiro da supremacia ouvinte e que migram para a comunidade surda.
Normalmente, a maioria dos surdos passa por este momento de transição, visto
que é composta por filhos de ouvintes.

d) identidades surda incompleta pertence àqueles surdos que vivem sob uma
ideologia ouvintista latente que trabalha para socializar os Surdos de maneira
compatível com a cultura dominante. A superioridade ouvinte exerce uma rede de
poder difícil de ser quebrada pelos Surdos, que não conseguem se organizar ou
mesmo ir às comunidades para resistirem ao poder. É onde começam as situações
dominantes de tentativa de reprodução da identidade ouvinte. Essa identidade
nega a representação Surda. Há casos de Surdos cujas identidades foram
escondidas; nunca puderam encontrar-se com outros Surdos, conseguiram
adentrar-se no saber junto aos ouvintes; foram mantidos em cativeiros pela família
e incapacitados de chegar ao saber ou de se decidirem por si mesmos.

e) identidade surda flutuante que permite ver o Surdo, de forma


“consciente” ou não de ser Surdo (porém, vítima da ideologia ouvintista);
despreza a Cultura Surda e não tem compromisso com a comunidade Surda.
Trata-se do sujeito que é Surdo, mas quer ser ouvinte devido às imposições que a
sociedade coloca através das relações de poder.

33
Experiências compartilhadas dentro da comunidade Surda permitem aos Surdos se
sentirem capazes e sujeitos culturais. Surdos que crescem em contato com outros Surdos
são criados para viver em uma realidade surda e, quando adultos, participando dos
movimentos Surdos, constroem sua identidade política.

É necessário que o Surdo torne-se um sujeito expressivo e projete seu ser no mundo. A
identidade Surda precisa ser assumida, sendo isso um passo para quebrar a “prisão”
imposta pelo ouvintismo, assegurando a subjetividade da cidadania e esvaziando o
“individualismo agressivo da exclusão”.

A preferência dos surdos em se relacionar com seus semelhantes fortalece


sua identidade e lhes traz segurança. É no contato com seus pares que se
identificam com outros surdos e encontram relatos de problemas e
histórias semelhantes às suas: uma dificuldade em casa, na escola,
normalmente atrelada à problemática da comunicação. É principalmente
entre esses surdos, que buscam uma identidade surda no encontro surdo-
surdo, que se verifica o surgimento da Comunidade Surda. Surgem com
ela associações de surdos, onde se relacionam, agendam festinhas de final
de semana, encontros em diversos points, como em bares da cidade, em
shoppings etc. (BRASIL, 2004, p.41).

Justamentesão estas associações, encontros, points, festas e demais atividades, costumes


e materiais, que Strobel (2008) identificou como artefatos da Cultura Surda. A partir de
uma identidade, os Surdos se “agrupam” e formam, juntamente com alguns ouvintes, as
comunidades Surdas. As opiniões, ideias e produções desta comunidade e demais
necessidades, como de materiais, são os artefatos culturais que, por sua vez, juntos,
formam as particularidades do povo Surdo. Se estiver achando complicado, não se
preocupe! Vamos ver os artefatos e a que cada um deles se refere.

Saiba mais sobre esses assuntos em:


PERLIN, Gladis. Identidades Suras.
http://sentidos.uol.com.br/canais/materia.asp?codpag=1347&cod_canal=11

2.3 Os Artefatos Culturais do Povo Surdo


Já conhecemos a Cultura Surda estudada essencialmente por Strobel, (2008). Agora
vamos conhecer de forma detalhada os estudos da mesma autora sobre os artefatos
culturais; lembrando que não são simplesmente materiais, e sim representações de
34
atitudes, tradições, valores, normas, etc. do povo Surdo. Strobel (2008) identifica oito
artefatos ao todo.

1° EXPERIÊNCIAS VISUAIS

O artefato visual na Cultura


Surda abrange as expressões
faciais e corporais, bastante
usadas durante a comunicação
pela LIBRAS. As expressões
desempenham papel de suma
importância na conversação,
deixando tanto o emissor como
Figura 2.1 –Expressões
Fonte:http://www.passarelakids.com.br/tag/mochila-gato-de- receptor cientes do contexto e
botas/
Acesso em 18 jul.2012

da intensidade do que se “fala”. Para


constituir tipos de frases na oralidade usamos
a entonação da voz; no caso da língua de
sinais as expressões facial e corporal. Temos
também aqui a percepção visual. Com a
ausência da audição e do som, os Surdos
percebem o mundo através de seus olhos,
tudo o que ocorre ao redor dele: latidos de um Figura 2.2 – Expressões Faciais
cachorro, objetos que caem, fumaça que Fonte:http://ensaiando.com/
Acesso em 18 jul.2012
surge.

2° LINGUÍSTICO

Este artefato cultural inclui a Língua de Sinais, que é um aspecto fundamental da


Cultura Surda e também os gestos denominados “sinais emergente” ou “sinais
caseiros”, que são os sinais usados por Surdos que não tiveram contato com outros

35
Surdos e, por isso, criaram dentro do lar gestos e mímicas para conseguirem se
comunicar em família.

A língua de sinais capta as experiências visuais dos sujeitos surdos. De acordo com
Quadros (1997 apud STROBEL, 2008), a criança Surda pode até adquirir a língua
portuguesa, porém nunca será de forma natural e espontânea, como ocorre com a língua
de sinais. No mundo todo temos pelo menos uma língua de sinais com suas variações
regionais usada pelo povo Surdo de cada país. Temos também como artefato cultural
linguístico a Escrita da Língua de Sinais – ELS, que é uma forma de escrita da língua
de sinais; é conhecido pelo nome de SignWriting – SW.

Em 1974, na Dinamarca, pesquisadores de língua de sinais depararam-se com os


sistemas de escrita das danças da Valerie Sutton e, a partir daí, evoluíram os estudos.
No Brasil tem sido estudada pela doutora surda Mariane Stumpf, desde 1996.

Figura 2.4 – Escrita de Sinais


Fonte:http://www.samalibras.com.br/34/aprenda_sobre
Figura 2.3 – Valerie Sutton _alfabeto_manual_das_linguas_de_sinais.html
Fonte:http://escritasinais.wordpress.com/2010/
Acesso em 18 jul.2012
08/17/historia-do-signwriting//
Acesso em 18 jul.2012

3° FAMILIAR

O artefato familiar implica nos conflitos que o Surdo enfrenta quando o médico instrui
a família a não usar sinais com aquela criança e apenas incentivar a audição e oralidade
36
dela. Quando os pais também são Surdos, conhecem a suma importância e até o direito
do filho de aprender a LIBRAS como língua materna; já pais ouvintes que desconhecem
essa língua e essa cultura acabam deixando seu filho marginalizado dentro do próprio
lar. As crianças Surdas de famílias que desconhecem esse “mundo” têm uma carência
de diálogo. Observam as conversas e
discussões dentro do lar, porém delas
não participam. O próprio anseio desta
família em colocar aparelhos auditivos e
tornar esse Surdo uma pessoa “normal”
traz para ele grandes frustrações com
o mundo e até com ele mesmo.

Diferentemente disso, crianças Surdas


Figura 2.5 – Comunicação entre Pais e Filhos
de família com outros
Surdos Fonte:http://deficienciasonline.blogspot.com.br/2011/li
participam das manifestações em teratura-em-libras-estimula-inclusão.html
Acesso em 18 jul.2012
família, conversam, interagem, e
podem até não se achar diferente e à margem do resto do mundo! Quando a família
ouvinte sabe da existência da Cultura Surda e procura se aprofundar e aprender
LIBRAS, participar da comunidade surda, dá também à criança Surda a oportunidade
de relação e efetiva troca de saberes durante os diálogos. Esse tipo de relação, em
geral, resulta na aceitação de identidade surda e na transmissão natural da Cultura
Surda.

37
Repare no relato de uma experiência da infância de Sam Supalla; um Surdo norte-
americano que tem várias gerações de família de Surdos:
[...] Após alguns encontros tentativos, eles tornaram-se amigos. Ela era uma
companheira satisfatória, porém havia o problema de sua “estranheza”. Ele não
conseguia falar com ela da maneira que conseguia falar com seus irmãos mais
velhos e com seus pais. Ela parecia ter uma dificuldade extrema de compreender
mesmo os gestos mais simples ou mais rudes. [...] Um dia, Sam lembra-se
vivamente, que ele finalmente entendeu que a sua amiga era de fato estranha. Eles
estavam brincando na casa dela, quando de repente a mãe dela chegou até eles e
animamente começou a mexer sua própria boca. Como se por mágica, a garota
pegou uma casa de boneca e levou-a para um outro local. Sam estava perplexo e foi
para casa perguntar a sua mãe sobre exatamente que tipo de aflição que a menina
da porta ao lado tinha. Sua mãe explicou a ele que ela era ouvinte e por razão disto
ela não sabia sinalizar; em vez disso, ela e a sua mãe falam, movimentam suas
bocas para falarem entre si. Sam então perguntou se esta menina e a família dela
era as únicas “daquele jeito”. A mãe dele explicou que não, de fato, quase todas as
pessoas eram como seus vizinhos. Era a sua própria família que era incomum.
Aquele foi um momento memorável para Sam. Ele lembra de pensar o quanto estava
curiosa a menina da porta ao lado, e se ela era ouvinte, como as pessoas ouvintes
eram curiosas.
PADDEN; HUMPHRIES, 2000 apud STROBEL, 2008.

4° LITERATURA SURDA

A literatura Surda refere-se aos registros, por meio de CD-ROOM, vídeos e DVD, das
dificuldades e/ou vitórias, de diversas experiências vividas pelo povo Surdo. Muitos
Surdos, poetas e escritores, registram suas expressões literárias em língua portuguesa.
A literatura Surda também envolve as piadas
que exploram a expressão facial e corporal, o
domínio da língua de sinais e a maneira própria
de cada um de contar. Em geral, os Surdos são
considerados extraordinários contadores de
histórias. As piadas Surdas, bem como as
demais representações literárias deste povo,
expressam muito da Cultura Surda.

Antônio Campos de Abreu, Otaviano de


Menezes Bastos, Dioniso Schmitt e Gisele Figura 2.6 – Literatura Surda
Fonte:http://escritasinais.wordpress.com.
Ranchel são os pesquisadores da história br/2010/08/30/cinderela%C2%A0surda-e-
rapunzel-surda/
cultural de Surdos mais conhecidos. Os povos Acesso em16 jul.2012

38
Surdos usaram e usam inúmeros meios de se comunicar através da língua de sinais,
desenhos, expressões faciais, corporais e imagens visuais. A necessidade de registrar
suas atuações do cotidiano, como as várias conquistas, língua de sinais, tradições
culturais, entre outros, fez surgir a literatura surda!

5° VIDA SOCIAL E ESPORTIVA

Este artefato corresponde a acontecimentos


culturais, tais como: casamento entre Surdos,
festas, lazeres, eventos desportivos e demais
atividades nas associações de Surdos. Nos bailes
e festasbastantes frequentes das associações é
difícil ver muitos Surdos dançando (ainda que
Figura 2.7 – Casamento com alguns tenham o hábito de dançar), em geral
interpretação para Libras
Fonte:http://blog.institutosuperar.com.br/ concentram-se em pequenos grupos para
2011/05/casamento-de-deficientes-
auditivos-e-todo-celebrado-em-libras/
conversar. A conversação é extremamente comum
Acesso em16 jul.2012

durante os acontecimentos de Surdos, pois


sentem grande necessidade em compartilhar sua
vida, novidades, etc.

Em 2002, foi realizada na cidade de Passo


Fundo, Rio Grande do Sul, a
primeira Figura 2.8 – Miss Ceará (Surda
Olimpíada de Surdos do Brasil.Strobel (2008) Vaness Vidal)
Fonte:http://celialeao.blogpost.com.br/20
relata que foi um momento emocionante, com 12/03/miss-surda-2012.html/
Acesso em29 jul.2012
muitas equipes advindas de diversas associações
municipais e estaduais de todo o país; o Hino Nacional apresentado em LIBRAS, o
hasteamento da bandeira e o desfile de abertura foram momentos comoventes. Os
Surdos têm sua vida esportiva muito ativa; de fato, há até mesmo suas Olimpíadas
Mundiais, organizadas de quatro em quatro anos.

Conheça a CONFEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE DESPORTOS DOS
SURDOS:http://www.cbds.org.br/
39
Na olimpíada de 2007, na Austrália, a dupla de vôlei de praia brasileira com os atletas
surdos Alex Borges e Alexandre Couto ficou em quinto lugar. Temos também os atletas
surdos que competem com os ouvintes em olimpíadas não especiais; na África do Sul o
nadador Surdo Terence Parkin (foto ao lado) conquistou medalha de prata nos 200
metros nado peito em olimpíada internacional de 2000. Seu treinador fazia o sinal de
partida para ele, já que não podia ouvir a largada.

Ao final de eventos públicos, como


apresentações artísticas ou palestras, os
Surdos não costumam aplaudir como os
ouvintes. As palmas podem gerar grande e
profundo sentimento de aclamação a ouvintes
devido ao forte e vibrante barulho.
Figura 2.9 – Nadador Surdo Terence Parkin
Fonte:http://www.fotolog.com.bt/deaf_swimmi Entretanto, para os Surdos, quando estão
ng/42244832/ / frente à plateia, não é possível visualizar em
Acesso em30 jul.2012
sua totalidade as pessoas batendo palmas,
pois estas estão umas na frente das outras. Para os Surdos, então, o usual é levantar os
braços no alto e balançar suas mãos; assim, o Surdo terá o alcance visual do aclamado e
também a possibilidade de sentir a mesma profunda emoção que um ouvinte.

Conheça a vida social e outros Surdos famosos em:


http://www.libras.com.br/web/surdos-famosos

6° ARTES VISUAIS

O povo Surdo tem muitas criações


artísticas que sintetizam suas
emoções, suas histórias, sua
subjetividade e sua cultura,
explorando seus modos de olhar e
interpretar o mundo. “Dentro” deste
artefato temos desenhos, pinturas, Figura 2.10 – Arte Surda. O desenho em tinta
naquim, feito pelo ilustrador Surdo Daniel Amorim
esculturas e outras formas de Dias, de Belém do Pará. O artista de 25 anos também
trabalha como artesão e instrutor de desenho,
40 caligrafia e Libras
Fonte: REVISTA DA FENEIS, Jun. Ago/2011, p.31
manifestações artísticas. Existem muitos DVDs filmados de poemas Surdos,
narrativas, contação de histórias, etc.

No teatro, a expressão através das feições, do corpo e língua de sinais é


constantemente praticada pelos sujeitos Surdos. O ator de teatro Surdo mais conhecido
no Brasil é Nelson Pimenta, formado em cinema e mestre em Estudos da Tradução pela
Universidade Federal de Santa Catarina. Além de Pimenta, temos a atriz MarleeMatlin,
atriz norte-americana, com Oscar de melhor atriz, em 1987, no filme Filhos do
Silêncio; Emanualle Laborit, francesa, que além de atriz de teatro e cinema escreveu O
vôo da Gaivota, livro de grande sucesso em diferentes línguas; Rimar Romano,
brasileiro, fundador da Cia. Arte e Silêncio. Temos muitos outros no Brasil, como
Reinaldo Pólo, HeloirMontanher, Celso Badin, etc. E ainda além destes atores famosos
temos dançarinos, poetas, pintores, mágicos, palhaços, escultores, contadores de
histórias e grupos de música-sem-som o até
com som, como é o caso do “surdo-dum”;
confira no site: http://www.surdodum.com

7° POLÍTICO

O artefato político refere-se especialmente às


lutas e manifestações pelos direitos do povo
Figura 2.11 – Nada sobre nós sem nós
Fonte:http://anacarolinafrank.blogpost.com.br Surdo. Em 2011, tivemos possivelmente a
Acesso em 29 jul. 2012
maior manifestação do povo Surdo de todos
os tempos, o movimento “Nada sobre nós,
sem nós”.

Figura 2.12 – Bilinguismo


Fonte:http://acessolibras.com Figura 2.13 – Dia Nacional dos Surdos
Acesso em 22 abr. 2012 Fonte:http://portalgualandi.blogpost.com.br/2010//09/26-
de-setembro-dia-nacional-do-surdo-html
Acesso em 29 jul. 2012 41
No mês de maio daquele ano houve grandes passeatas, protestos e etc. em prol de uma
política educacional que contemplasse, em sua elaboração, a participação de Surdos. Em
setembro, tivemos o Movimento azul e, finalmente, em 24 de abril de 2012, no
aniversário de 10 anos do reconhecimento da LIBRAS, a presidente do Brasil recebeu
em ato público a proposta da comunidade Surda do Programa Nacional de Escolas
Bilingues para Surdos, também conhecida como a Pedagogia Surda. Outra
manifestação interessante é o Movimento das Mulheres Surdas, iniciado pela
pesquisadora Gladis Perlin no “I Encontro Latino Americano de Mulheres Surdas
Líderes”.

Artefato político também pode ser as diversas associações de Surdos que têm como
objetivo político as reuniões e assembleias, visando aos direitos judiciais e de cidadania
dos Surdos. Um exemplo é a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos –
FENEIS, filiada à Federação Mundial de Surdos – WDF. As legislações trazidas do
item 1.2 deste livro-texto também fazem parte deste artefato cultural, pois são resultados
de árduas lutas como a lei 10.436/02 que reconhece a LIBRAS como língua natural dos
Surdos e o decreto 5.626/05 que regulamenta esta lei e dispõe outros direitos. Temos
ainda como conquistas políticas a criação da graduação em LIBRAS, o curso de
Letras/LIBRAS da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC nas modalidades
licenciatura e bacharelado; e o Dia Nacional dos Surdos, comemorado em 26 de
Setembro, data de fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos que, como
você já viu na história (item 1.1) foi a primeira escola para Surdos no Brasil.
Internacionalmente o Dia do Surdo é comemorado em 30 de Setembro.

8°MATERIAIS

Este artefato é constituído de materiais que


possibilitam a acessibilidade dos Surdos
como o telefone para Surdos na imagem à
direita (T.D.D. ou T.S.); certos softwares, os
aparelhos tecnológicos, as legendas e os
intérpretes de LIBRAS em programas locais e
Figura 2.14 – Programa de TV
42 Fonte:http://wn.com/Acessibilidade
Acesso em 29 jul. 2012
os filmes brasileiros, etc. Podem ser artefato material até mesmo o MSN; skype;
ooVoo; uso de celular via torpedos; a tecnologia android, etc.

Conheça outras Tecnologias de Acessibilidade para Surdos:


UNICAMP: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/06/nova-tecnologia-ajuda-
deficientes-auditivos-usar-o-computador.html

ooVoo: tecnologia bastante utilizada pelas comunidades surdas brasileiras


(http://www.baixaki.com.br/download/oovoo.htm)

2.4 A importância da LIBRAS para o Surdo

Os surdos podem comunicar-se mais


facilmente e com maior precisão pela língua
de sinais, porque o cérebro deles se adapta
para esse meio e, se forçados a falar, nunca
conseguirão uma linguagem eficiente e
serão duplamente deficientes (SACKS,
1990)
Figura 2.15 – T.D.D.
Fonte:http://peadorfolio156701b.blogpost.com.
br/2009/09/aula-presencial-libras.html
Acesso em 29 jul. 2012

[...] minha luta começou no sentido de que a surdez seja reconhecida como apenas mais um
aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana. Ser surdo não é melhor ou pior
do que ser ouvinte, é apenas diferente. E ser surdo é diferente de ser deficiente auditivo. Se
um de vocês aqui presentes, que ouve e que, por isso, tem a cultura da audição, ou seja, se
comunica através da fala, gosta de música e do barulho do mar etc, perder a audição,
certamente será um deficiente auditivo, pois estará com um déficit, uma vez que perdeu
algo que já teve um dia. Mas eu nasci surdo e, como só se perde aquilo que se tem, nunca
perdi a audição, pois nunca a tive. Eu tenho o direito de viver assim, e o mundo tem o
dever de aceitar minha diferença. (PIMENTA, 2001, p. 24)

43
Como pudemos compreender a partir das leituras anteriores, ter o reconhecimento da
língua de sinais como uma língua natural, como direito do Surdo e meio de
comunicação e expressão da comunidade surda, não foi muito fácil não é mesmo? Foi
necessária uma caminhada repleta de lutas. Vamos entender agora a importância da
LIBRAS para o desenvolvimento da pessoa Surda.

Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, a Língua Brasileira de Sinais não é um


conjunto de sinais ou gestos feitos com as mãos que substituem ou interpretam as
palavras do português ou a língua oral, tampouco uma linguagem como a linguagem das
abelhas ou a mímica. Existem pessoas que embora acreditem que se trata de uma língua,
essaé limitada, não possibilitando a expressão de ideias abstratas, apenas as ideias
concretas (FELIPE, s/d).

No entanto, as pesquisas vêm confirmando que, como toda língua, a língua de sinais
pode ser tomada como “sistema abstrato de regras gramaticais, natural das comunidades
de indivíduos surdos, portanto deve ser reconhecida como língua natural”
(FERNANDES, 2003). Portanto, trata-se de uma língua completa com características e
estruturas próprias, capaz de transmitir ideias sutis, complexas e abstratas. “Os seus
usuários podem discutir, filosofia, literatura ou política, além de esportes, trabalho,
moda e utilizá-la como função estética para fazer poesia, estória, teatro e humor”
(FELIPE, s/d, p. 2). Permite ainda a “expressão de qualquer significado decorrente da
necessidade comunicativa do ser humano”(BRITO, 1997, p. 19).

Você deve estar se perguntando: e, afinal, como a criança aprende a língua de sinais?

De acordo com Fernandes (2003, p. 30), a teoria pautada na base biológica pode
explicar alguns comportamentos de aquisição da linguagem do Surdo ao comprovar que
crianças Surdas, mesmo não expostas a nenhum tipo de linguagem oral-auditiva ou
espaço-visual, “desenvolvem espontaneamente um sistema de gesticulação manual e
que há semelhanças entre os sistemas desenvolvidos por crianças surdas que nunca
tiveram contato entre si”. Assim, parece perigoso afirmar que crianças Surdas não

44 desenvolvam uma linguagem própria, mesmo na ausência de sua língua oficial.


Nessa perspectiva, parece possível acreditar que a semelhança presente nesses sistemas
apresentados pelas crianças ocorre dos universais linguísticos, ou seja, dessa habilidade
inata para o desenvolvimento da linguagem. Assim, essa possibilidade está presente em
toda criança ao nascer, seja ela Surda ou ouvinte. Nessa concepção, do ponto de vista
neurológico, o cérebro está preparado para adquirir uma língua, seja ela de modalidade
oral ou visual.

Entretanto:

[...] se levarmos em consideração que a aquisição da linguagem liga-se ao


crescimento e à maturação de capacidades inatas em condições externas
adequadas, conforme afirma Chomsky (1966), os estímulos aos quais o
surdo é exposto, mesmo sob educação especial, são muito diferentes
daqueles vivenciados pelo ouvinte, deixando-o, automaticamente, em
condições diferentes desse, no que se prefere às línguas orais-auditivas.
Assim, propiciar ao surdo a aquisição da língua de sinais como primeira
língua é a forma de oferecer-lhe um meio natural de aquisição linguística,
visto que se apresenta como língua de modalidade espaço-visual, não
dependendo, portanto, da audição para ser adquirida (FERNANDES, 2003,
p.30).

Segundo a autora supramencionada, expor o Surdo a mecanismos linguísticos não


naturais (como a Língua Portuguesa oralizada) como primeira língua, além de exigir um
esforço desnecessário, poderá “prejudicar, de modo significativo, o desenvolvimento
natural da criança” (FERNANDES, 2003, p.31). Apesar dessa pré-disposição genética,
a criança precisa estar exposta a um ambiente linguístico que atenda às suas
necessidades, caso contrário, tais informações inatas não se desenvolverão. Afirma
ainda que a aquisição e o domínio da língua de sinais irão garantir, em curto prazo, “não
só um meio de comunicação eficaz, mas, também, o instrumento de desenvolvimento
dos processos cognitivos, indispensável nos primeiros anos de vida” (ibidem).

Perceba que a língua de sinais é muito mais que um conjunto de gestos e um meio de
comunicação, nos aspectos cognitivos, ela possibilita o desenvolvimento e a
organizaçãode várias formas de pensar.

Existe uma grande preocupação com a questão do diagnóstico precoce da surdez e sua
relação com o desenvolvimento social, linguístico e cognitivo da criança Surda. No
campo da saúde, diversas iniciativas vêm sendo realizadas com o objetivo de orientar

45
pais e profissionais sobre a necessidade e a possibilidade de avaliação precoce em casos
de surdez. Marchesi (2004), dentre outros, afirma que as consequências do diagnóstico
e intervenção tardios redundam em significativos atrasos no desenvolvimento social e
da linguagem, além de baixo desempenho acadêmico. Nesse sentido, profissionais da
área, tanto da saúde quanto da educação especial, têm se empenhando para que essa
identificação seja realizada o quanto antes, permitindo assim, que a intervenção
implique melhores desempenhos nas áreas atingidas (MENDONÇA, 2002).

Adquirir uma língua desde os primeiros anos de idade é fundamental, destacando que o
papel do meio social em que vive é fundamental para que o mecanismo da linguagem
presente no indivíduo seja estimulado e desenvolvido. A aquisição tardia de uma língua

leva a criança surda a um tipo de pensamento mais concreto, já que é


através do diálogo e da aquisição do sistema conceitual que ela pode se
desvincular cada vez mais do mundo concreto, internalizando conceitos
abstratos (GOLDFELD, 1997, p. 54).

Se considerarmos então que a habilidade da linguagem é inata, ou seja, é parte da


dotação genética da espécie humana e que o meio e a interação social representam papel
relevante para o seu desenvolvimento, não há como não destacar aqui que as condições
sociais, econômicas e culturais dos indivíduos irão contribuir nesse processo de forma
negativa ou positiva. O seja, a questão da deficiência, nesse caso a surdez por si só, não
irá definir o futuro do sujeito (MENDONÇA, 2007).

Autores como Fernandes (1990), Sacks (1990), Brito (1993), Goldfeld (1997), entre
outros, afirmam que o estímulo do meio é indispensável para a aquisição da linguagem;
sua falta poderá acarretar reflexos no desenvolvimento cognitivo da criança Surda.

Para Goldfeld (1997), as dificuldades encontradas na aquisição de uma língua oral pelo
Surdo e a dificuldade de acesso à língua de sinais implicam atraso de linguagem dessa
criança. Em consequência desse processo, a aprendizagem e o desenvolvimento poderão
ser afetados, trazendo problemas de escolarização. Afirma a autora: “somente através da
exposição a esta língua (de sinais), a criança surda pode desenvolver-se linguística e
cognitivamente sem dificuldades” (GOLDFELD, 1997, p.105).

46
Sacks (1990) afirma que se as crianças não são expostas ao código linguístico, pode
haver um atraso da maturação cerebral. Brito (1993) também defende que a criança
surda deve ser exposta à língua de sinais precocemente.

Como pudemos observar, a aquisição da língua de sinais pela pessoa surda ocorre nas
relações, no encontro com seus pares surdos e é essencial para seu desenvolvimento
cognitivo, linguístico e social.

No filme E seu nome é Jonas, você poderá perceber de maneira muito clara o papel da
linguagem para o desenvolvimento da criança.

2.5 Síntese da Unidade


Nesta Unidade, trouxemos estudos e conceitos sobre Cultura Surda; vimos a relação das
identidades, identificando cada identidade adquirida pelos Surdos. Detalhamos as
peculiaridades da cultura dos Surdos a partir de seus artefatos: experiências visuais
(expressões faciais/corporais e percepções visuais); linguístico (LIBRAS, sinais
caseiros, SignWriting ou Escrita de Língua de Sinais); familiar (conflitos e barreiras de
comunicação ou relações de troca e diálogo em LIBRAS em família); literatura Surda
(registros em Língua Portuguesa como livros, artigos, teses, dissertações, etc. e em
LIBRAS através de CD ROOM, DVD, etc.); vida social e esportiva (eventos, festas,
47
encontros, competições esportivas); artes visuais (expressões artísticas de Surdos
evidenciadas pelas percepções visuais, como desenhos, pinturas, esculturas, e também
teatro, poema, contações de história, dança, cinema); política (associações de Surdos,
FENEIS, Dia do Surdo, movimentos, protestos, legislações, propostas educacionais); e
materiais (objetos de acessibilidade). Para concluir a Unidade,levantamos as principais
questões que mostram a importância da LIBRAS na vida dos Surdos.

2.6 Para saber mais


Língua Brasileira de Sinais – “Uma Conquista Histórica”. (2006)

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/
pessoa_com_deficiencia/arquivos/Libras_Uma_conquista_historica.pdf

Reportagem do G1 – site da T.V. Globo

http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL732407-5598,00-bebes+surdos
+devem+aprender+lingua+dos+sinais+nos+primeiros+meses+de+vida.html

2.7 Atividades
Assista a um dos filmes relacionados a baixo e identifique nele, os Artefatos Culturais
do Povo Surdo:

1. Filhos do Silêncio;

2. Mr. Holland – Adorável Professor;

3. E seu nome é Jonas; Exemplo: ao assistir a um dos


filmes você poderá observar
4. A Música e o Silêncio; Surdos utilizando sinais
caseiros ou a própria língua de
5. A vida secreta das Palavras; sinais para se comunicar; neste
caso fica identificado o artefato
6. Babel. cultural linguístico; e assim por

48 diante...
Unidade 3
Unidade 3 . Língua brasileira de sinais e a
Linguística

Esta Unidade tem como propósito pesquisar e estudar como funciona a Língua
Brasileira de Sinais e de onde vem essa língua (origem),buscando os fundamentos dos
elementos linguísticos da língua de sinais tendo em vista o leitor não conectado com os
estudos linguísticos das línguas de sinais. São objetivos aqui: entender a diferença entre
a língua de sinais e Língua Portuguesa; fortalecer o reconhecimento da LIBRAS como
língua natural dos Surdos; abranger os conhecimentos teóricos e práticos dos aspectos
gramaticais e semânticos da LIBRAS. Ao final desta Unidade, daremos uma noção do
vocabulário básico da Língua Brasileira de Sinais.

3.1 Introdução à Gramática da LIBRAS


3.1.1Vamos conhecer a Língua Brasileira de Sinais como língua natural!
É incrível o potencial do linguista William Stokoe, escocês (citado na Unidade 1), que
trabalhava nos Estados Unidos. Em 1955, atuava como professor e chefe de
Departamento de Inglês do Gallaudet College, atualmente conhecido como Gallaudet
University, uma Universidade para Surdos. Ele não tinha conhecimento a respeito da
ASL (Língua de Sinais Americana); a partir de seu trabalho nesse colégio, aprofundou
seu conhecimento linguístico nas línguas de sinais descobrindo os aspectos e valores
linguísticos (fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática) dos demais
idiomas orais-auditivos como o Inglês, o Francês, também nestas línguas de
modalidade visoespacial.

49
Os autores Veloso e Maia Filho (2011) reconhecem tais investigações de Stokoe:

A publicação de sua obra, foi fundamental na mudança da percepção da


ASL como uma versão simplificada ou incompleta do inglês para o de uma
complexa e próspera língua natural, com uma sintaxe e gramática
independentes, funcionais e poderosas como qualquer língua falada no
mundo. Ele levantou o prestígio da ASL nos círculos acadêmicos e
pedagógicos, provando que ela tinha valor linguístico semelhante às línguas
orais e que cumpria as mesmas funções, com possibilidades de expressão
em qualquer nível de abstração (VELOSO e MAIA , 2011, p.47).

Segundo a palavra de Brito (1997):

As Línguas de Sinais são línguas naturais porque, como as línguas orais,


surgiram espontaneamente da interação entre pessoas e porque, devido à
sua estrutura, permitem a expressão de qualquer conceito – descritivo,
emotivo, racional, literal, metafórico, concreto, abstrato – enfim, permitem
a expressão de qualquer significado decorrente da necessidade
comunicativa e expressiva do ser humano (BRITO, 1997, p. 19).

Infelizmente muitas pessoas a veem como uma língua restrita e limitada ao


desenvolvimento cognitivo, social e afetivo do Surdo. Pensam o Surdo como um
deficiente. Pesquisas apontam que a língua de sinais não prejudica o desenvolvimento e
enfatizam que essa língua possui valores e elementos linguísticos,

As línguas de sinais são, portanto, consideradas pelalinguística como línguas


naturais ou como um sistema linguístico legítimo e não como um problema
do surdo ou como uma patologia da linguagem. Stokoe, em 1960, percebeu e
comprovou que a língua dos sinais atendia a todos os critérios linguísticos de
uma língua genuína, no léxico, na sintaxe e na capacidade de gerar uma
quantidade infinita de sentenças (QUADROS e KARNOPP, 2004, p.30).

Corroborando com as autoras, Veloso e Maia Filho (2011, p. 13) afirmam que se trata
de uma língua como qualquer outra, “sendo comparável em complexidade,
expressividade e possui seus valores e aspectos gramaticais diferenciados das outras
línguas”.

A língua de sinais inclui valores linguísticos que apresentam a estrutura, aquisição, uso
e funcionamento, como quaisquer outras línguas; todas possuem aspectos gramaticais e
semânticos. A língua de sinais é uma língua extremamente rica, completa e viva.

A língua é “viva”, porque os conhecimentos linguísticos da LIBRAS pelos Surdos


evoluem muito a cada dia. Eles procuram valorizar e aprimorar a língua utilizando todos
os recursos linguísticos como poesia, diálogo, teatro, entre outros, com a ajuda das
50
novas tecnologias (mídias). A autora Felipe (1997, p. 81) argumenta que: “Como toda
língua, as línguas de Sinais aumentam seus vocabulários com novos sinais introduzidos
pelas comunidades surdas em resposta a mudanças culturais e tecnológicas”.

Pimenta e Quadros (2009) abordam um ponto importante sobre a realidade que acontece
no Brasil a respeito das mudanças de sinais. Pimenta empregou a frase: “Os sinais
mudam na história”. Ou como os autores mesmos nos esclarecem:

Assim como as palavras das línguas faladas, os sinais das línguas de sinais
mudam com o tempo. Os sinais que nossos avós surdos usavam não são
necessariamente os mesmos usados hoje pelos surdos brasileiros. Esse
fenômeno é chamado de variação cronológica. Os surdos mais velhos usam
alguns sinais que caíram em desuso ou foram transformados em novos sinais.
Sinais que podem ter modificado na forma por razoes que são determinadas
pela própria linguística (PIMENTA e QUADROS, 2009, p.60).

Figura 3.1 – Sinais


Fonte: PIMENTA, QUADROS, 2009

3.1.2 Libras é linguagem ou língua?


Será que o conceito de linguagem e de língua não são os mesmos? Muitas pessoas
confundem e não conseguem entender bem essa diferença.
51
A língua é um conjunto do vocabulário de um idioma, de suas normas gramaticais
(estruturas), ou seja, conjunto de vários elementos linguísticos que se transformam no
domínio da língua. A linguagem é capacidade que o homem possui para se comunicar,
expressar seus sentimentos e pensamentos; são vários os tipos de linguagem, tais como
linguagem artística, linguagem escrita, linguagem falada, entre outras.

Quadros e Karnopp (2004) buscaram conhecer com mais clareza a importância dessa
diferença, e destacam que:

As pessoas frequentemente usam a palavra linguagem em uma variedade de


sentidos: linguagem musical, linguagem corporal, linguagem das abelhas,
entre outras possibilidades. [...] utiliza essa palavra para significar o sistema
linguístico que é geneticamente determinado para desenvolver-se nos
humanos. Os seres humanos podem utilizar uma língua de acordo com a
modalidade de percepção e produção desta: modalidade oral-auditiva
(português, francês, inglês, etc.) ou modalidade visuoespacial (língua de
sinais brasileira, língua de sinais americana, língua de sinais francesa, etc.).
[então, definindo língua e linguagem] Sabe-se que para vocábulo inglês
language encontram-se, no português, dois vocábulos: língua e linguagem. A
diferença entre as duas palavras está correlacionada, até certo ponto, com a
diferença entre os dois sentidos da palavra inglesa language. A palavra
linguagem aplica-se não apenas às línguas português, inglês, espanhol, mas a
uma série de outros sistemas de comunicação, notação ou cálculo, que são
sistemas artificiais ou não naturais. Por exemplo, em português, a palavra
linguagem é usada como referência à linguagem geral, e a palavra língua
aplica-se às diferentes línguas. O vocábulo linguagem, em português , é mais
abrangente que o vocábulo língua, não só porque é usado para se referir às
linguagens em geral, mas também porque é aplicado aos sistemas de
comunicação, sejam naturais ou artificiais, humanos ou não (QUADROS e
KARNOPP, 2004, p.24).

Completando, o dicionário Mini Aurélio apresenta que a língua é usada por um povo ou
por nação, é conjunto de regras da sua gramática. A linguagem, o uso da palavra
articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre pessoas.

Portanto NÃO DIGA: linguagem de/dos sinais;

DIGA SIM: Língua de sinais ou Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

3.1.3 Qual a diferença entre gestos e sinais?


É interessante notar que há diferença entre simples gestos e sinais. Pelo uso de gestos do
cotidiano na cultura ouvinte, as pessoas acabam pensando que a LIBRAS é construída
por mímicas. Pimenta e Quadros (2009) asseguram que pelo fato de a mímica e o gesto
52
serem de uma modalidade visual-espacial, as pessoas fazem tal confusão. A diferença
consiste especialmente na presença de regras e valores linguísticos que somente a
LIBRAS possui.

A língua de sinais também é produzida com gestos, quase do mesmo jeito


que os gestos são produzidos com as línguas faladas. A diferença está no fato
dos gestos usarem as mãos, o corpo e as expressões faciais que, também, são
usados para produzirem os sinais. Os sinais são palavras, não são gestos. Na
língua de sinais brasileira, temos vistos vários elementos gramaticais que não
fazem parte de uma produção gestual. Por outro lado, quando os sinais são
produzidos, pode haver, também, a produção de gestos (PIMENTA e
QUADROS, 2009, p.104).

Os estudos linguísticos já analisaram os diferentes elementos que fazem parte da


LIBRAS, que apresenta os níveis gramaticais como quaisquer línguas. Os gestos e
mímicas podem fazer parte da língua de sinais, maso fazem como um complemento.

3.1.4 A Libras é uma língua universal?


Os sujeitos ouvintes sempre questionam se a LIBRAS é uma língua universal.
Acreditam que a aprendizagem dessa língua possibilita a comunicação com Surdos de
outros países.

As línguas de sinais não são universais, cada língua de sinais tem sua própria
estrutura gramatical. Assim como as pessoas ouvintes em países diferentes
falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo,
que estão inseridos em “culturas surdas”, possuem suas próprias línguas,
existindo portanto muitas línguas de sinais diferentes, como: língua de sinais
francesa, chilena, portuguesa, americana, argentina, venezuelana, peruana,
portuguesa, inglesa, italiana, japonesa, chinesa, uruguaia, russa, urubus-
kaapor, citando apenas algumas. Essas línguas são diferentes uma das outras
e independem das línguas orais-auditivas utilizadas nesses e em outros
países. Por exemplo: o Brasil e Portugal possuem a mesma língua oficial, o
português, mas as línguas de sinais desses países são diferentes, o mesmo
acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra, entre outros. Também pode
acontecer que uma mesma língua de sinais seja utilizada por dois países,
como é o caso da língua de sinais americana que é usada pelos surdos dos
Estados Unidos e do Canadá (FELIPE, 1997, p.81-82).

De acordo com Pereira (2011), não existe uma língua natural que seja universal; mas
existem línguas “artificiais” que são criadas e usadas em conversação de Surdos que não
são do mesmo país, ou seja, que têm línguas diferentes. Como aconteceu com o gestuno
- uma língua artificial, criada com a finalidade de possibilitar a comunicação entre
pessoas Surdas de diferentes países.

53
3.1.5 De onde vem essa língua? Qual sua origem?
No ano de 1855, o imperador do Brasil Dom Pedro II
solicitou da França a vinda do Professor Mestre
HernestHuet, com surdez congênita. Em 1857, fundou-se o
atualmente chamado Instituto de Educação dos Surdos –
INES.

O INES é

Figura 3.2 – Stokoe referência


Fonte://quebrandoabarreira. nacional na
blogpost.com.br/
Educação
dos Surdos, tendo iniciado como
ensino da língua de sinais de origem
francesa. Huet observou a realidade
brasileira, aprimorando e criando
novos sinais, dando origem à nova
língua de sinais brasileira. De acordo
comVeloso e Maia Filho (2011, p.
41): “em 1875, um ex-aluno do INES,
Flausino José da Gama, aos 18 anos,
publicou ‘Iconografia dos Sinais dos
Surdos’, ou seja, a criação dos
símbolos, o primeiro dicionário de Figura 3.3 – Primeiro Dicionário de LIBRAS
Fonte://quebrandoabarreira.blogpost.com.br/
língua de sinais no Brasil”.

3.1.6 A Língua de Sinais substitui a Língua Portuguesa?


Muitos pensam que a língua de sinais substitui a modalidade da Língua Portuguesa; a
resposta é que não tem como substituir, pois ambas possuem aspectos gramaticais
diferenciados. A Língua Portuguesa utiliza canal oral-auditiva e a língua de sinais
utiliza canal visual-espacial; acabam articulando-se espacialmente e são abrangidas

54
visualmente, proporciona os aspectos linguísticos como fonológicos, morfológicos,
sintáticos para obter os significados e significantes da língua de sinais.

Brito (1997)defende que gramaticalmente as línguas de sinais e as línguas orais são


“intrinsecamente as mesmas”, pois ambas:

usam a produtividade como meio de estruturar novas formas a partir de


outras já existentes, estruturam suas sentenças a partir dos mesmos tipos de
constituintes e categorias linguísticas, suas sentenças são estruturadas sempre
em torno de um núcleo com valência, isto é, o núcleo que requer os
argumentos (complementos) necessários para a completude do significado
que veicula (BRITO, 1997, p.21-22).

Contudo, tratando de aspectos gramaticais e semânticos (significado) de uma língua,


precisamos relembrar o que foi estudado no capítulo anterior sobre língua e cultura. A
língua é (com sua organização e estruturação) a expressão da cultura de um determinado
povo. É através da língua natural (materna) que este povo melhor expressará suas ideias,
conceitos, conhecimentos de mundo.

Portanto, uma língua não pode jamais substituir a outra. Ainda que o Surdo aprenda a
Língua Portuguesa, esta será sua segunda língua, usará para preencher documentos,
produzir redações e publicações; especialmente tratando-se da modalidade escrita da tal
língua. A língua de sinais, contudo, continuará sempre sendo sua língua natural, a língua
pela qual melhor conseguirá se fazer entender, expor suas vontades, ideias e também a
que melhor compreenderá o mundo a sua volta, pois somente a LIBRAS é capaz de
corresponder a sua cultura visual.

3.2 Vamos aprender os aspectos gramaticais da LIBRAS?


Para entender bem a gramática da LIBRAS já estudamos a noção básica dos valores
linguísticos, a origem da língua, a língua natural, a diferença entre língua de sinais e
Língua Portuguesa. Agora, nós vamos aprender os aspectos gramaticais que a língua de
sinais possui. De acordo com Brito (1997):

A LIBRAS é dotada de uma gramática constituída a partir de elementos


constitutivos das palavras ou itens lexicais e de um léxico (o conjunto das

55
palavras da língua) que se estruturam a partir de mecanismos morfológicos,
sintáticos e semânticos que apresentam especificidade, mas segue também
princípios básicos gerais. Estes são usados na geração de estruturas
linguísticas de forma produtiva, possibilitando a produção de um número
finito de regras. É dotada também de componentes pragmáticos
convencionais, codificados no léxico e nas estruturas da LIBRAS e de
princípios pragmáticos que permitem a geração de implícitos sentidos
metafóricos, ironias e outros significados não literais. Estes princípios regem
também o uso adequado das estruturas linguísticas da LIBRAS, isto é,
permitem aos seus usuários usar estruturas nos diferentes contextos que se
lhes apresentam, de forma a corresponder as diversas funções linguísticas que
emergem da interação do dia a dia e de outros tipos de uso da língua
(BRITO,1997, p.23).

Para facilitar a compreensão da teoria gramatical da LIBRAS, inicialmente iremos


conhecer o Sistema de Transcrição para a LIBRAS, já utilizado pelo Grupo de
Pesquisas da FENEIS apresentado no livro LIBRAS em Contexto (1997) e por Quadros
e Karnopp no livro Língua de Sinais Brasileira – Estudos LínguÍsticos (2004).

Os pesquisadores de língua de sinais em outros países e aqui no Brasil estudaram sobre


o Sistema de Transcrição. Utilizam essa terminologia porque as palavras de uma língua
oral-auditiva são usadas para representar os sinais. A LIBRAS apresentará os seguintes
aspectos:

1 – Sinais da LIBRAS – Os itens lexicais (palavras) da Língua Portuguesa são


apresentados em letras maiúsculas para representar os sinais da LIBRAS.

Exemplos:

 BRINCAR

 CIRCO

 RIR

 PALHAÇO

2 – Um sinal (sinal único) – quando um sinal é representado por duas ou mais palavras
da Língua Portuguesa, utilizam-se as palavras correspondentes separadas por hífen.

56
Exemplos:

 SABER-NÃO

 CORTAR-CABELO

 PRECISAR-NÃO

3 – Sinal Composto – para expressar um único significado utilizam-se dois ou mais


sinais; na transcrição utilizam-se as palavras separadas pelo símbolo ^.

Exemplos:

MULHER^BENÇÃO Mãe

CAVALO^LISTRA Zebra

4 – Datilologia (alfabeto manual) – serve para soletrar o nome de pessoas, de


localidades e outras palavras que não possuem sinal, palavra separada, letra por letra por
hífen.

Exemplos:

 M-U-R-I-L-O

 I-T-A-L-I-A

 P-I-E-T-R-O

5 – Sinal Soletrado – ou soletração rítmica, utiliza-se também a datilologia da


LIBRAS; mas para empréstimos linguísticos da língua portuguesa. Ou seja, as letras (ou

57
algumas delas) são soletradas para representar o sinal. Para esse sistema de transcrição
utiliza-se a fonte itálico.

Exemplos:

 N-U-N-C-A (nunca)

 D-R (doutor)

 A-H-O (alho)

6 – Gênero (masculino/feminino) e Número (plural) – a língua de sinais não possui


desinências para gênero e número; a língua portuguesa possui essas marcas. Está
terminado com o símbolo @.

Exemplos:

 EL@ [ele(s), ela(s)]

 AMIG@ [amigo(s), amiga(s)]

 FILH@ [filho(s), filha(s)]

7 – Os traços não-manuais (expressões faciais/corporais) utilizadas simultaneamente


com os sinais de LIBRAS. A sua transcrição é representada

 Conforme o tipo de frase; por: interrogativa ou ...i ..., negativa ou ...


neg ...

Lembrando que para simplificação, na representação das frases nas formas exclamativas
e interrogativas, poderão ser utilizados os sinais de pontuação utilizados na escrita da
língua portuguesa, ou seja ?,!.

 Conforme advérbio de modo ou um Intensificador; por: muito;


rapidamente; exp.f“espantado”;

58
Pelo fato da LIBRAS ser uma língua visual-espacial houve a necessidade de conhecer
primeiramente, seu sistema de transcrição.

Em seguida, daremos continuidade aos aspectos gramaticais da língua de sinais:


fonológico, morfológico e sintaxe.

3.2.1 Aspectos Fonológicos


A LIBRAS tem sua estrutura gramatical constituída a partir de alguns parâmetros que
sistematizam sua formação nos diferentes níveis linguísticos.

O sinal é formado a partir da combinação do movimento das mãos com um


determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma
parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Essas articulações das
mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são
chamadas de parâmetros (FELIPE, 1998, p. 84).

São cinco parâmetros encontrados da


Língua de Sinais:

1 – Configuração das Mãos (CM)

São as formas de usar as mãos que


podem ser da datilologia (alfabeto
digital/manual) e o seu conjunto de
configurações das mãos.

2 – Ponto de Articulação (PA) ou


Locação (L)

Figura 3.4 – CMs


Fonte://cursodelibrasextensao.blogpost.com.br/

É um ponto onde se marca na área do corpo, “ou


no espaço de articulação definido pelo corpo, em
que ou perto da qual o sinal é articulado”
(QUADROS e KARNOPP, 2004, p.57). “Os
Figura 3.5 – Parâmetros
Fonte: Paraná, Aspectos Linguisticos de
sinais TRABALHAR, BRINCAR,
LIBRAS. Secretaria de Educação Especial,
Curitiba, 1998
59
CONSERTAR são feitos nos espaço neutro e os sinais ESQUECER, APRENDER E
PENSAR são feitos na testa” (FELIPE, 1998, p.84).

3 – Movimento (M)

Alguns sinais podem ter movimento ou não, que nada maisé que o deslocamento da
mão no espaço. Por exemplo: os sinais como APRENDER, FALAR, PENSAR têm
movimento e outros sinais como EM-PÉ, CALAR, TI@ não têm movimento.

4 – Orientação (Or)

São os sinais que produzem a direção, “os sinais podem ter uma direção e a inversão
desta pode significar ideia de oposição, contrário ou concordância número-pessoal,
como os sinais QUERER E QUERER-NÃO; IR E VIR (FELIPE, 1998, p.84).

5 – Expressão Facial e/ou Corporal (EF/C)

As expressões faciais e corporais são fundamentais para a compreensão da língua de


sinais, ou seja, a definição, o sentido do sinal da LIBRAS, depende dessas expressões
(já abordado na Unidade 2 ). “É importante destacar que a expressão facial e a corporal
sejam realizadas de uma forma natural e não artificial. Há pessoas que exageram demais
nessas expressões, dificultando a compreensão pelo Surdo.” (MEIRELES, 2012.
Depoimento ).

Quadros e Karnopp (2004) explicam que as expressões não-manuais criam os sentidos


da compreensão da Língua de Sinais e também diferenciação dos significados dos
sinais. Tais investigações como:

As expressões não-manuais (movimento da fase, dos olhos, da cabeça ou do


tronco) prestam-se a dois papéis nas línguas de sinais: marcação de
construções sintáticas e diferenciação de itens lexicais. As expressões não-
manuais que têm função sintática marcam sentenças interrogativas sim-não,
interrogativas QU-, orações relativas, topicalizações, concordância e foco
(QUADROS e KARNOPP, 2004).

Concluindo, os sinais precisam usar todos os parâmetros ou menos, dependendo da


contextualização que pode expressar de uma maneira mais clara e objetiva. A

60
pragmática é o estudo da linguagem em uso (contexto) e também dos princípios de
comunicação. Adiantando-se:

A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto. É uma área


que inclui os estudos da dêixis (utilização de elementos da linguagem através
da demonstração – indicação, que envolve basicamente os pronomes), as
pressuposições (inferências e antecipações com base no que foi dito), os atos
de fala (como se organizam os atos de fala e quais as condições que
observam), as implicaturas (as coisas que estão subentendidas nas
entrelinhas, incluindo o significado que não foi dito explicitamente) e os
aspectos da estrutura conversacional (a estrutura das conversas entre duas ou
mais pessoas e a organização da tomada de turnos durante a conversação)
(QUADROS e KARNOPP, 2004, p.22-23).

3.2.2 Aspectos Morfológicos


Morfologia é parte da linguística que representa os processos de formação de palavras.
Assim como a LIBRAS, propõe com um significado (lexical) utilizando recursos que
possibilitam a ideia de novos sinais. Quadros e Karnopp (2004, p. 86) explicam que
“Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das
regras que determinam a formação das palavras. A palavra morfema deriva do grego
morphé, que significa forma. Os morfemas são as unidades mínimas de significado”.

Como já notamos anteriormente, na língua de sinais, os sinais são formados a partir dos
usos de cinco parâmetros e também de uma série de outros sinais que constitui a
formação dos processos de derivação (1), composição (2) ou empréstimos de língua
portuguesa (3). Conforme apontam Klima e Bellugi (1979, apud PEREIRA, 2011), nas
línguas orais, as palavras podem ser formadas pela adição de um prefixo ou sufixo a
uma raiz; nas línguas de sinais, a raiz (sinal) é frequentemente enriquecida com vários
movimentos e contornos no espaço de sinalização, como expressões faciais/ corporais e
classificadores (4).

Para entender melhor, vamos conhecer alguns exemplos:

Processos de derivação:

Verbo Nome de verbo


SENTAR CADEIRA
OUVIR OUVINTE
PENTEAR PENTE
TELEFONAR TELEFONE
61
PERFUMAR PERFUME

Composição:

Língua Portuguesa Composição dos Sinais


Escola CASA^ESTUDAR
Zebra CAVALO^LISTRAS
Igreja CASA^CRUZ
Açogueiro HOMEM^CARNE^VENDER

Empréstimos linguísticos:

Língua Portuguesa Sinal da LIBRAS


Alho A-H-O
Ilha I-H-A
Nunca N-U-N-C-A
Azul A-L
Maio M-I-O

(4) O Classificador é um elemento da língua de sinais que tem como função


“classificar” genericamente alguma classe (PIMENTA e QUADROS, 2007). Na língua
de sinais, os classificadores são formas representadas por configurações de mão
relacionadas aos objetos, pessoas e animais para descrever suas respectivas formas. Em
uma sentença, os classificadores funcionam também como partes dos verbos de
movimento ou de localização; fazem parte das funções gramaticais e facilitamconstruir
sua estrutura sintática, com recursos corporais que possibilitam profundas relações
gramaticais (PARANÁ, 1998). Nas contações de histórias, recitação de poemas, entre
outros, o uso de classificadores intensifica tais narrativas deixando-as mais atrativas.

3.2.3 Sintaxe
Este estudo trata da estruturação de frases. De acordo com Paraná (1998), as frases em
LIBRAS não podem ser estruturadas como as frases em Português, pois Libras tem
gramática diferenciada e independente.

A estrutura da frase nada mais é do que como se estrutura o pensamento, as ideias de


um Surdo, baseada em sua percepção visual-espacial da realidade. O ouvinte tem como
principal elemento da frase o sujeito, depois então ele cita o verbo, a ação e, por último,
o objeto (S-V-O). No caso dos Surdos, o foco sempre será o objeto. Os Surdos não mais
62
diretos e têm sua percepção do meio sempre na seguinte estrutura: primeiro ele veem o
objeto, em seguida apontam para o sujeito e então finalizam com a ação, que é o verbo
(O-S-V).

Por exemplo:

A LIBRAS não
Português LIBRAS
possui as mesmas
regras da Língua
Portuguesa, assim,
Eu gosto de chocolate. CHOCOLATE EU GOSTAR. não são usados
artigos,
preposições,
conjunções, entre
Quantos anos você tem? IDADE VOCÊ ...i... outros elementos.

Temos ainda como estrutura sintática os tipos de frases. Para produzirmos uma frase em
LIBRAS é imprescindível o uso de expressões faciais/corporais feitas simultaneamente.

 Afirmativa: expressão facial neutra.

 Interrogativa: sobrancelhas franzidas e cabeça inclinada para cima.

 Exclamativa: sobrancelhas elevadas com movimento da cabeça para


cima e para baixo.

 Negativa: pode ser feita com sinais próprios de negação, que já


significam a negação, como NÃO-TER, GOSTAR-NÃO; poder ser feito
com sinal neutro e simultaneamente movimento negativo com a cabeça
como os sinais CONHECER ou ENTENDER usados junto com a
expressão facial negativa.

Outra questão em sintaxe de suma importância é a noção temporal. A LIBRAS não


conjuga seus verbos, portanto, para expressar o tempo em que se situa o contexto da
frase utiliza-se o advérbio de tempo como presente (agora/hoje), passado (ontem/há
muito tempo/já) ou futuro (amanhã/futuro/depois/próximo). Exemplo:

63
Português LIBRAS
Hoje vou a sua casa. HOJE CASA SUA EU-IR ou V-O-U
Ela comprou uma casa. CASA EL@ COMPRAR (JÁ)
Amanhã irei comprar chocolate. AMANHÃ CHOCOLATE EU COMPRAR

3.3 Vocabulário Básico da LIBRAS


Agora sim, vamos FINALMENTE aprender alguns sinais da LIBRAS, a começar pela
Datilologia (Alfabeto Datilológico):

Alfabeto Datilológico da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

Numerais Cardinais da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS

>>> Se quiser treinar os sinais abaixo de forma mais interativa confira alguns vídeos no
www.acessolibras.com Este site apresenta vídeos, artigos, estudos específicos para
licenciaturas, fórum, chat e muito mais! Desvende aqui o Mundo dos Surdos...

Identificação Pessoal

64 (Fonte pessoal dos autores deste livro)


Meu Sinal Seu Sinal Seu nome Meu nome Idade

Cumprimentos / Boas Maneiras

(Fonte pessoal dos autores deste livro)

Bom / Boa Dia Tarde Noite Tchau

Obrigada De nada Por favor Com licença Prazer / gostar

Material Escolar

(Fonte pessoal dos autores deste livro)

65
Material Estudar Régua Tesoura Papel

Apostila Caneta Borracha Lápis Escrever

Compasso Quadro Computador Livro

Atividade Prova Nota Lixo

66
Profissões da Escola

(Fonte pessoal dos autores deste livro)

Professor Coordenador Supervisor Orientador Diretor

Lugares da Escola

(Fonte pessoal dos autores deste livro)

Sala de
Secretaria Cozinha Banheiro Sala
Informática

Quadra
Biblioteca Brinquedoteca Refeitório
(esportes)

67
Disciplinas Escolares

(Fonte pessoal dos autores deste livro)

Educação
História Química Ciencias Biologia
Física

LIBRAS Inglês Português Matemática Geografia - 01

Grau de Escolaridade

(Fonte pessoal dos autores deste livro)

Primeiro ano Segundo ano Terceiro ano Quarto ano Quinto ano

68
Sexto ano Sétimo ano Oitavo ano Nono ano 1º Ensino
Médio

2º Ensino 3º Ensino Faculdade Pós-graduação Mestrado


Médio Médio

Doutorado Formatura

69
3.4 Síntese da Unidade
Esta Unidade teve como objetivo apresentar o funcionamento e a origem da Língua
Brasileira de Sinais, além de buscar os fundamentos linguísticos que incluem valores,
estrutura, aspectos gramaticais e semânticos próprios, como quaisquer outras línguas.

Foi possível reconhecer a LIBRAS, que é considerada alíngua natural dos Surdos, como
uma língua extremamente rica, completa e viva com características próprias que a
diferenciam da língua portuguesa.

Devido ao fato de a LIBRAS ser uma língua visual-espacial houve anecessidade de


conhecer um pouco do seu sistema de transcrição, bem como de seus aspectos
gramaticais: fonológico, morfológico e sintaxe.

Finalmente aprendemos alguns sinais da LIBRAS relacionados à área educacional.

3.5 Para saber mais


Publicação MEC – Ministério da Educação

Portal do MEC próprio da “Educação na Perspectiva da Educação


Inclusiva”:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view =
article&id=12625&Itemid=860 Faça download!!!

Sites

www.acessolibras.com: planos e atividades de aula para todas as licenciaturas; vídeos;


artigos; fórum com Surdos; materiais para download e muito mais! Vale a pena
conferir!!!

www.vezdavoz.com.br: planos de aula, projetos, reportagens, etc. Tudo muito


interessante... Você vai gostar!

www.acessobrasil.org.br/libras/: dicionário online de LIBRAS.

70
Livros

LIBRAS – conhecimento além dos sinais. Organizadora: Maria Cristina da Cunha


Pereira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.

Língua de Sinais Brasileira: Estudos Línguisticos. Autoras: Ronice Muller de Quadros;


Lodenir Becker Karnopp. Porto Alegre: Artmed, 2004.

3.6 Atividades
1. Prepare três frases de cada tipo: Afirmativa, Interrogativa, Exclamativa e Negativa,
usando a Língua Portuguesa traduzida para a LIBRAS.

2. Analise com cuidado os sinais do vocabulário, visite também o dicionário virtual de


LIBRAS e treine sua própria apresentação pessoal. Exemplo:

BOM DIA; MEU^NOME R-A-U-F; IDADE 2-9; ESTUDAR MESTRADO


EDUCAÇÃO; EU PROFESS@ U-N-I-T-A-U; AMAR LIBRAS.

3. Escolha 5 sinais e analise quais os parâmetros de língua de sinais que pertencem a


cada sinal.

Sinais 1: 2: 3: 4: 5:
Parâmetros
CM
PA ou L
M
Or
EF/C

71
72
Referências

BRASIL. Declaração de Salamanca. 1994. Acesso 8 set. 2012.


http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf

_____. Decreto 5.626/05. Documento consultado em endereço eletrônico:


www.planalto.gov.br/CCIVL/-Ato2004-2006/2005/Decreto/ D5626.htm

_____. Lei nº 9.394/96. Acesso em 25 jun. 2012


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm

_____. Lei 10.098/00. Acesso em 25 jun.


2012www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm

_____. Lei nº 10.436/02. Acesso em 25 jun.


2012www.portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei10436.pdf

_____. Lei nº 11.796/08. Acesso em 25 jun.


2012http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11796.htm

_____. Lei nº 12.319/10. Acesso em 25 jun.


2012www.jusbrasil.com.br/legislacao/1025011/lei-12319-10

_____. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa.


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