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LIBRAS
LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
1ª Edição
Taubaté
Universidade de Taubaté
2014
Copyright©2013.Universidade de Taubaté.
Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode
ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade.
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Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires
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Coord. de Curso de Pedagogia Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira
Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto
Revisão ortográfica-textual Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira
Projeto Gráfico Me.Benedito Fulvio Manfredini
Diagramação Amanda Cortez Machado
Autor Prof. Antônio Rauf Alves Ferreira Di Carli Meireles
Prof. Katia Regina Conrad Lourenço
Prof. Ms. Suelene Regina Donola Mendonça
Bons estudos!
v
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Apresentação
Caro(a) aluno(a),
Para que todos os objetivos sejam alcançados, você deverá planejar o tempo para seus
estudos. Lembre-se de que você é o protagonista da sua aprendizagem!
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viii
Sobre os autores
e-mail: rauf_pedagogo_libras@hotmail.com
www.acessolibras.com
ix
Básica II – SEEP – Educação Especial – deficientes auditivos. Assistente III da
Universidade de Taubaté, com atuação na graduação e pós-graduação. Tem experiência
na área de Educação, com ênfase em Didática, Políticas e Práticas Inclusivas, e
Psicologia da Educação, atuando principalmente nas seguintes áreas: educação especial,
educação inclusiva, educação de surdos, desenvolvimento, ensino e aprendizagem.
e-mail: prof.suelene@gmail.com
x
Caros(as) alunos(as),
A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como
subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e
atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e
indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo
estudado.
Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua
disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais
atores desta formação.
Equipe EAD-UNITAU
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xii
Sumário
Palavra do reitor................................................................................................................ v
Objetivos........................................................................................................................... 2
Introdução ......................................................................................................................... 3
xiii
2.6 Para saber mais ......................................................................................................... 48
Referências ..................................................................................................................... 73
xiv
LIBRAS – Língua Brasileira
de Sinais ORGANIZE-SE!!!
Você deverá usar de
3a 4 horas para
realizar cada
Unidade.
EMENTA
1
Objetivo Geral
Proporcionar aos acadêmicos a compreensão, reflexão, além do aprendizado
teórico e prático da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e sua
contextualização sob o ponto de vista histórico, social, cultural, educacional e
linguístico.
os
Objetivos Específicos
2
Introdução
O processo de inclusão de alunos com surdez em escolas regulares de educação básica
está além de adaptações de acesso e arquitetura. De acordo com a Lei 10.436/2002 e o
Decreto 5.626/2005, a LIBRAS é oficialmente a segunda língua do Brasil e a língua
materna de todo cidadão que nasce ou perde nos primeiros anos de vida a capacidade de
perceber os sons do ambiente através do ouvido.
Surdo – com letra maiúscula – define
Assim, o Surdo é como um estrangeiro em sala de não somente uma pessoa com surdez,
mas a que pertence à Cultura Surda,
aula, um indivíduo de cultura e língua diferentes da melhor detalhada e explicitada por
comunidade em que vive. Portanto, existe uma Karin Strobel (2008) e GádisPerlin
(2005).
especificidade em sua maneira de se colocar no
mundo e de aprender. Entendemos que vários fatores contribuem para o sucesso escolar
do aluno. Nós, professores, não podemos tudo, mas podemos muito. Nesse sentido, a
fim de que possamos contribuir não somente no acesso, mas também na permanência
desse aluno no ensino regular com qualidade, com direito às informações e à
aprendizagem, faz-se necessário realizar adaptações no planejamento, metodologias e
avaliações, de modo a atender às necessidades desses alunos. Para que o professor possa
favorecer este aprendizado, precisará conhecer este aluno: sua história, sua cultura, seus
processos de aprendizagem, suas características e também sua língua.
Assim considerando, este livro-texto foi organizado buscando atender parte dessas
necessidades. Assim, na primeira Unidade vamos voltar um pouquinho no tempo para
conhecermos as experiências vivenciadas pelos sujeitos Surdos; começamos pelos
acontecimentos internacionais relevantes, depois evidenciamos certos acontecimentos
no Brasil, e apresentamos também algumas das legislações já conquistadas. Finalizamos
a Unidade com uma rápida explanação sobre os fundamentos da educação de Surdos: a
educação bilingue.
Não pense que nos esquecemos dos sinais! Para você vivenciar a conversação entre
Surdos, reservamos o final desta terceira Unidade; nela apresentamos um pequeno
vocabulário básico de sinais, além de sites, vídeos, dicas e etc. para você não parar por
aqui!
Enfim, por meio desse livro-texto você terá a oportunidade de conhecer um pouco sobre
a LIBRAS e sua contextualização na vida dos Surdos. Mas queremos mais que isso,
queremos você conosco nessa militante e contínua luta por esse povo, para sempre!
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Unidade 1
Contextualização e historicidade da
Unidade1
língua de sinais
Isso porque aparece, na Espanha, Pedro Ponce de Léon, monge contratado por famílias
nobres para educar seus filhos Surdos, futuros herdeiros reais. Ponce tinha por objetivo
ensiná-los a ler e escrever. Era herbólogo e também manipulava alguns remédios a base
de ervas com o intuito de “curar” e fazer os Surdos falarem (GOMES, 2008).
5
Ponce constituiu a primeira escola para Surdos
em seu próprio monastério. Utilizava, para
educar seus alunos, um alfabeto bimanual –
utilizando ambas as mãos – e alguns sinais
simples. No entanto, Gomes (2008, p.9) afirma
que “Dessa forma, com o alfabeto bi-manual o
estudante aprendia a soletrar, letra por letra,
qualquer palavra, mas não a se comunicar”.
No século XVII, o professor Juan de Pablo Bonet, tendo também ensinado, e com êxito,
alguns Surdos, criou a Metodologia de Ensino Oralista para Surdos. O alfabeto gestual
das mãos (que, hoje sabemos, foi criado por Ponce de Leon) fazia parte desta
metodologia e servia para representar cada letra do alfabeto, mas apenas como meio
facilitador de comunicação e aprendizagem em sala.
Contudo, ainda segundo Lourenço (2011), fica o século XVII marcado pela primeira
metodologia registrada especialmente para a educação de Surdos: o Oralismo Puro,
tendo como primeiro educador partidário o padre espanhol Juan de Pablo Bonet (1573 –
1633).
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Em 1759, na França, o Abade
Charles Michel L’Epée (1712 –
1789) ganha grande
reconhecimento e respeito dos
Surdos e recebe críticas de
professores oralistas. Lourenço
(2011) afirma que o Abade
L’Epée retirou das ruas os
Surdos marginalizados e os
Figura 1.2 –Micheael de L’Epée
Fonte:http://2.bp.blogspot.com/_wWHW1rCZRLQ/THwKZ- levou para ensiná-los em seu
VwzvI/AAAAAAAAALM/LdIlPKryGYc/s1600/Abbee-et-
eleves.png próprio lar.
Acesso em 18 jul. 2012
Sua casa torna-se a primeira
escola para Surdos carentes. A partir deste convívio, procurou aprender seus meios de
comunicação, ensinando-os por meio da combinação da língua de sinais que havia
aprendido com os Surdos das ruas e da língua e gramática francesa, denominada por ele
de “Sinais Metódicos” (VELOSO e MAIA FILHO, 2009).
L‘Epée desde esta época defendia que a língua de sinais constitui a linguagem natural
dos Surdos e que é o verdadeiro meio de comunicação e de desenvolvimento do
pensamento. Publicou, de acordo com Veloso e Filho (2009), o primeiro dicionário de
sinais, chamado por ele de “Sinais Metódicos” e em 1789, quando faleceu, já havia
fundado 21 escolas para Surdos na França e Europa.
Trabalhando em prol dos Surdos, independente de classe social, L’Epée foi o fundador
da primeira escola pública do mundo para Surdos. Sua obra mais importante foi A
Verdadeira Maneira de Instruir os Surdos-Mudos, publicada em 1776. Por tanta luta
e sacrifícios, L‘Epée ficou conhecido como “Pai Atenção: a terminologia “Surdo-
Mudo”não é mais utilizada na atualidade;
dos Surdos” (HONORA e FRIZANCO, 2009). usa-se agora a expressão “Surdo”.
7
escolas que utilizassem a língua de sinais, pela qual os Surdos podiam aprender e
dominar diversos assuntos e exercer diversas profissões.
Nos demais países, a educação de Surdos sofreu grande dificuldade devido ao problema
de acesso à metodologia de educação de Surdos da Europa. Um exemplo de disso deu-
se com Thomas Gallaudet (1787 – 1851), professor norte-americano que, ao visitar as
famílias Braidwood e Kinniburg, internacionalmente famosas e detentoras da
metodologia do Oralismo, não obteve apoio algum. Gallaudet então pediu ajuda às
escolas de L’Epée.
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1.1.2 A língua de sinais chega ao Brasil
Em 1855, chega ao Brasil o
professor Surdo francês
chamado Eduard Huet (1822 –
1882), por solicitação de Dom
Pedro II, com o intuito de criar
uma escola de Surdos no país.
Huet, como Laurent Clerc, era
um célebre professor (com
surdez congênita) do Instituto
Nacional de Surdos de Paris.
No Rio de Janeiro, então, em
Figura 1.3 – Professor Surdo Huet
26 de setembro de 1857, Fontehttp://3.bp.blogspot.com/-
pfqh_MZaqpQ/ToDI04WUjxI/AAAAAAAABTo/JTN8FXD18R
fundou-se o primeiro instituto c/s1600/Sem%2Bt%2525C3%2525ADtulo.jpg
Acesso em 18 jul. 2012
de surdos em (VELOSO e
MAIA FILHO, 2009).
9
O interesse era reafirmar a necessidade de substituição da língua de sinais
pela língua oral nacional. Foram retomados velhos princípios de
Aristóteles que dizia: “[...] a fala viva é o privilégio do homem, o único e
correto veículo do pensamento, a dádiva divina, da qual foi dito
verdadeiramente: a fala é a expressão da alma, como a alma é a expressão
do pensamento divino.” (VELOSO e MAIA FILHO, 2009, p. 39).
Foi feita uma votação neste Congresso; entretanto, apenas pessoas ouvintes puderam
votar e a metodologia de ensino de Surdos preferida pela maioria foi a do Oralismo,
abolindo definitivamente o uso de sinais na educação de Surdos (HONORA e
FRIZANCO, 2009).
Este fato fez muitos Surdos decaírem seu desempenho educacional, fato notório e
discutido em muitos outros congressos seguintes. Observava-se uma fala ininteligível
nos Surdos, chamando a atenção de diversos estudiosos, como o Dr. Willian Stokoe.
Stokoe (1919 – 2000), conforme Veloso e Maia Filho (2009), começou uma intensa
pesquisa publicada em torno de 1960 sobre a vida cotidiana dos Surdos, comparando
duas situações. Ele pesquisou a vida de dois grupos de Surdos: um em que os Surdos
eram os únicos com tal deficiência na família (filhos Surdos de pais ouvintes) e outro,
em que eram filhos de pais Surdos (filhos Surdos de pais Surdos).
Sua conclusão ficou bastante clara. O grupo de crianças com surdez que não convivia
com outros Surdos (filhos Surdos de pais ouvintes) automaticamente não usava a língua
de sinais. Em casa seus familiares comunicavam-se oralmente por desconhecerem os
sinais; na escola era proibida tal comunicação.
Já o grupo de crianças que convivia em família com outros Surdos, (filhos Surdos de
pais Surdos), não usava em casa outra forma de comunicação que não fosse a de
sinais,ainda que na escola isso fosse proibido. Essas crianças, diferentemente das outras,
tinham oportunidade de crescer e se desenvolver através da língua de sinais; esta era sua
língua materna.
A comparação destes dois grupos resultou no seguinte: o grupo de Surdos cuja língua
materna era a língua de sinais não era prejudicado, ao contrário, a língua de sinais os
ajudava a alcançar um desenvolvimento muito melhor e mais rápido do que os Surdos
10
do outro grupo. Os Surdos que usavam a língua de sinais compreendiam o mundo a sua
volta e tinham identidade.
Este método tinha o Surdo como centro do ensino, utilizando todos os meios de
comunicação possíveis: oral, gestual, mímica, etc. Strobel e Perlin (2008) o identificam
como o modelo misto da língua dos sinais associada com a oralização, que permitiu o
reconhecimento e valorização de língua de sinais, oprimida e marginalizada por mais de
100 anos.
Muito se evoluiu desde então. O que vale ressaltar é que, das análises feitas da trajetória
histórica da LIBRAS e da educação dos Surdos, os resultados qualitativos e eficientes
vieram com a contribuição do Decreto 5.626/05 e demais legislações abordadas logo a
seguir no item 1.2, e da nova Filosofia Bilingue, que comprovadamente melhor
contribui para o desenvolvimento de alunos com surdez, abordada no item 1.3.
Esperamos você!!!
Dica de Leitura
LOURENÇO, Katia Regina Conrad. Educação e Surdez: um Resgate Histórico pela Trajetória
Educacional dos Surdos no Brasil e no Mundo. Revista no http://editora-arara-
azul.com.br/novoeaa/revista/?cat=4.
STROBEL, Karin Lilian. Surdos: Vestígios Culturais não registrados na história. Tese de
Doutorado da UFSC. Florianópolis: UFSC, 2008.
www.cultura-sorda.eu/resources/Tesis_Strobel_2008.pdf
Embora nada tenha sido citado explicitamente sobre a Educação de Surdos e a LIBRAS,
a Declaração de Salamanca foi o primeiro documento a reconhecer as diferenças dos
indivíduos Surdos e a importância da língua de sinais para o processo de
desenvolvimento e aprendizagem dessas pessoas.
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atendidas as particularidades do aluno Surdo, com o uso e ensino da Língua Brasileira
de Sinais.
Além de garantir educação, a lei 10.098 de 2000 se faz presente para garantir
acessibilidade aos Surdos no que se refere à comunicação e em conseqüência à
participação social. Confira:
Desse modo, a lei garante aos Surdos o direito de acesso às informações, respeitando-se
a língua de sinais. Assim, amparados pela legislação, as pessoas surdas têm direito, por
exemplo, a intérpretes de LIBRAS em concursos, repartições, audiências entre outros.
Tais iniciativas certamente fazem a diferença. Parece pouco, mas trata-se de um direito.
Vídeos
Mas, será que isso acontece realmente?
Assista ao vídeo e levante sua própria opinião:
http://www.youtube.com/watch?v=H10sAHaaRZM
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Educação Básica, porém apenas seus artigos 5°, 7°, 8° e 12° com a intenção de
identificar a prevista inserção do individuo surdo diante dessas diretrizes.
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Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de
Sinais – LIBRAS – e outros recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos
nas comunidades de pessoas surdas do Brasil.
Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de
serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e a difusão da Língua Brasileira
de Sinais – LIBRAS – como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das
comunidades surdas do Brasil.
Art. 3º As instituições publicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência
à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência
auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.
Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do
Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de
Fonoaudióloga e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua
Brasileira de Sinais – LIBRAS, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN, conforme legislação vigente.
Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – não poderá substituir a modalidade
escrita da língua portuguesa (BRASIL, 2002).
Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que,
por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de
experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da
Língua Brasileira de Sinais – Libras (BRASIL, 2005).
Podemos perceber que de acordo com esse último decreto a terminologia utilizada
(pessoa Surda) está diretamente ligada à pessoa que possui uma perda auditiva, mas que
se relaciona com o mundo, manifestando seus sentimentos, pensamentos e sua cultura
por meio da Língua Brasileira de Sinais.
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Na tentativa de melhorar o relacionamento entre aluno Surdo e professores, a partir
desse decreto a LIBRAS passa a fazer parte do currículo
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Você sabia que existe o DIA
NACIONAL DO SURDO?
A Lei nº 11.796 de 2008 institui o Dia Nacional dos Surdos a ser exaltado todo dia 26
de setembro de cada ano, tem como finalidade a preservação da Cultura Surda e de sua
participação na sociedade. Essa data foi escolhida em homenagem à fundação da
primeira escola de Surdos no Brasil, o INES, citado no item 1.1.
Podemos concluir que ao que se refere à legislação brasileira em prol dos Surdos, está
presente e é bastante ampla, buscando a cada dia o respeito à diferença e aos direitos
culturais.
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1.3 Processo de escolarização e novas concepções do
bilinguismo na educação de Surdos do Brasil
Acreditamos que como professores precisamos conhecer um pouco sobre a
escolarização dos surdos: qual a realidade presente nas escolas brasileiras? Qual a
expectativa dos professores quanto à possibilidade de aprendizagem desse aluno? Qual
o papel da língua de sinais no processo de escolarização? Que outros fatores interferem
nesse processo?
Pesquisas comprovam que é comum Surdos com muitos anos de vida escolar
frequentando as séries iniciais sem uma produção escrita compatível com sua série, ou
seja, apresentam defasagem entre idade e série que cursam (BUENO,1993).
Brito (1993) afirma que a língua de sinais tem um papel central no desenvolvimento dos
surdos, não devendo ser vista apenas como um apoio, mas como a forma principal de
acesso ao conhecimento e que, portanto, as disciplinas escolares deverão ser ensinadas
nessa língua.
Skliar (1998) aponta que as limitadas produções a respeito das causas do fracasso
escolar do surdo podem ser resumidas a partir de três justificativas: 1) o fracasso é
atribuído ao próprio surdo – fracasso então, da surdez, dos dons biológicos naturais; 2)
os professores ouvintes são culpabilizados pelo fracasso; 3) limitação dos métodos de
ensino.
18
Góes (2004) verificou que as aulas – atividades, sequência e procedimentos – eram
preparadas e direcionadas para uma classe de ouvintes. Como nem sempre era possível
atender a todos os alunos, os professores solicitavam que os alunos com dificuldade
realizassem tarefa mais simples ou repetissem uma tarefa já realizada. Nisso consistia a
adaptação para o aluno especial, além do esforço para o estabelecimento do diálogo.
Diante das dificuldades encontradas, os professores acreditavam que esses alunos
deveriam ser atendidos na classe Especial.
Considerando que a maioria dos Surdos profundos não desenvolveu a fala socialmente
inteligível, e considerando ainda as dificuldades ligadas à aprendizagem da leitura e
escrita, Lacerda (2000) afirma que muitos estudos têm indicado que as práticas
educacionais não vêm contemplando as reais necessidades dos surdos e, por isso,
mesmo após vários anos de escola, eles apresentam conhecimentos muito aquém
daqueles desejados para seu grau de escolaridade.
19
suas ações acabam sendo orientadas por essas crenças e valores
(OLIVEIRA, 2005, pp.116-117).
Pensando nisso, as escolas bilingues estão em pauta, pois acredita-se que este é o
caminho para uma educação de Surdos. Assista ao vídeo sugerido a seguir para que
possa compreender um pouco mais como é uma escola que ensina Libras na educação
infantil.
http://www.youtube.com/watch?v=xf-YjOq93NE
Para que ocorra a verdadeira inclusão de alunos Surdos na sociedade, existe uma
necessidade real de criação das escolas bilingues, pois é nelas que se asseguram as
condições necessárias a uma educação de qualidade. Para que o Surdo possa se
constituir como sujeito, há necessidade da presença de seus pares linguísticos no seu
processo de aquisição de língua e de conhecimento (FONSECA, 1995, apud
MEIRELES, 2009).
20
O Surdo não deve ficar restrito ao modelo oral de aprendizado; autores como Tarturci
(2002), Lacerda (2000), Góes (2004), Brito (1993), dentre outros, afirmam que advém
daí a sua defasagem em relação às atividades acadêmicas. O estabelecimento da língua
natural dos Surdos como primeira língua subsidia um avanço em relação à sua
educação.
A língua de sinais implica a identidade e a cultura dos Surdos, por isso,não pode
reduzir-se a uma experiência de linguagem ‘vocabular’; outrossim, precisa ser de fato
uma experiência comunicativa. Daí a importância de as crianças surdas estarem
inseridas nas escolas bilingues para aquisição e desenvolvimento da LIBRAS
(FONSECA, 1995, apud MEIRELES, 2009).
A Educação Inclusiva, para os Surdos, por meio da filosofia bilingue reconhece a surdez
como diferença. Para tanto, alguns autores discursam sobre a educação bilingue,
afirmando que:
Essa definição, ainda que imprecisa, sugere que a educação bilíngüe para
surdos é algo mais do que o domínio, em algum nível, de duas línguas. Se
a tendência contemporânea é fugir - intencional e/ou ingenuamente - de
toda discussão que exceda o plano estrito das línguas na educação de
surdos, corre-se o risco de transformar a proposta bilíngüe em mais um
dispositivo pedagógico "especial", em mais uma grande narrativa
educacional, em mais uma utopia a ser rapidamente abandonada. Em
síntese: a educação bilíngüe pode-se transformar numa "neo-
metodologia" colonialista, positivista, a-histórica e despolitizada
(SKLIAR, 1999, apud MEIRELES, 2009, p.25).
É respeitável salientar que o ensino bilingue para Surdos acata algumas regras tais
como: LIBRAS (L1) língua de instrução ou primeira língua para os Surdos, e segunda
língua, Português (L2). A trajetória escolar dos estudantes Surdos, com estas medidas,
tende a se tornar gratificante, e a experiência torna-se inovadora, uma vez que segue
reunindo Surdos e ouvintes, evidenciando uma comunicação efetiva entre eles,
21
respeitando a educação inclusiva e dando um passo considerável para a diminuição de
preconceitos, inserindo totalmente o indivíduo Surdo na sociedade.
Existe um movimento do Povo Surdo muito intenso a favor das escolas bilingues. Leia
a Carta aberta dos Doutores Surdos ao Governo no endereço eletrônico a seguir:
http://gpsurdezeabordagembilingue.blogspot.com.br/2012/06/carta-aberta-de-doutores-
surdos-ao.html
Dicas de leitura
Proposta para educação de Surdos através da filosofia bilingue:
QUADROS, Ronice Müller de Bilinguismo (Cap. 1). In. Educação de Surdos: a aquisição da
linguagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
http://www.portallibras.com.br/tv/
O Art. 2º, do Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei 10.436/02 (como vimos no
item anterior), determina a inserção de intérpretes de LIBRAS em todos os ambientes
escolares, nas salas de aula em que haja alunos com surdez. Assim, toda aula deveria ser
ministrada em Língua Portuguesa e traduzida por um intérprete de LIBRAS. Vamos
conhecer um pouco sobre esse profissional e sua função no ensino fundamental e médio
brasileiro?
Há muito se discute a importância desta profissão, e os benefícios que ela traz ao aluno
Surdo. Infelizmente este fato parece não condizer com a situação vigente. Existem, por
assim dizer, alguns problemas cruciais em relação ao intérprete de LIBRAS. Em
primeiro lugar, o seu despreparo quanto a entender e repassar de maneira correta as
interpretações de uma língua para a outra. O intérprete precisa ser um profissional
bilingue,habilitado na interpretação da língua de sinais para a Língua Portuguesa e vice-
versa.
Segundo Brasil (2004), até há pouco tempo o intérprete não era reconhecido como
profissional, portanto não havia preocupação com a sua formação, o que representa uma
grande lacuna no processo de legitimação da sua profissão. Acrescenta-se a isso a
dificuldade dos intérpretes em contribuir para a aprendizagem e melhoria da interação
entre Surdos e ouvintes. A ausência da língua de sinais no contexto social/escolar
Diante desta situação,o intérprete capacitado precisa ter domínio da Língua Brasileira de
Sinais, conhecendo suas características gramaticais e linguísticas, bem como dominar a
Língua Portuguesa.
VELOSO, Eden; MAIA FILHO, Valdeci. Aprenda LIBRAS com Eficiência e Rapidez.
5.ed. Mãos Sinais: Curitiba,PR, 2011.
1.6 Atividades
1. Reflita sobre o que você estudou no primeiro item desta Unidade, sobre a
historicidade; faça uma análise crítica comparativa com os movimentos Surdos pelo
blog do historiador Surdo Antônio Campos de Abreu
<http://historiadesurdos.blogspot.com.br/> fazendo um levantamento do que mudou/
evoluiu nos dias atuais.
Visite o site do Centro de Educação para Surdos Rio Branco, em São Paulo, divirta-se e
conheça mais detalhes e curiosidades.
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Unidade2
Unidade2 Identidade, cultura e língua de sinais: o
mundo do Surdo
Nesta Unidade, vamos conhecer este sujeito a quem denominamos “Surdo”, sobre o
qual tratamos na primeira Unidade, uma vez que já estudamos um pouco sobre sua
história, seus direitos e seus fundamentos educacionais. A importância desta descrição
reside no fato de que nosso olhar parte de uma concepção socioantropológica ou
epistemológica (concepções do ponto de vista educacional, psicológico, sociológico),
não podendo ser confundida com quaisquer concepções biológicas.
O sujeito Surdo do ponto de vista das ciências da saúde (biológicas) é definido como
portador um corpo danificado. O ser deficiente que precisa ser curado e/ou reabilitado.
Porém, estamos aqui para falar deste sujeito como um ser social, independentemente de
suas limitações e/ou dificuldades. Tratamos aqui do Surdo como um sujeito capaz, parte
da sociedade; que possui identidade própria, cultura e também uma língua diferente dos
demais que habitam o mesmo espaço, pois os que ouvem terão outras identidades,outra
língua e outra cultura – a ouvinte.
Contudo, nos últimos tempos, nas mais diversas áreas de conhecimento, têm se
considerado concepções não mais unitárias das coisas, mas pluralizadas. Assim
acontece com a cultura. Trabalhamos com a ideia do multiculturalismo, pois a cultura
não é estática, é viva. De acordo com Strobel (2008), a cultura se modifica e se atualiza,
deixando claro que não surge com o homem sozinho, mas sim a partir das produções
coletivas socializadas culturalmente, passando de geração em geração.
Strobel (2008) define, então, que Cultura Surda é o jeito de o Surdo entender o mundo e
de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável,ajustando-o com as suas
percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das
“almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as
crenças, os costumes e os hábitos do povo Surdo.
Lourenço (2012) afirma que nos primeiros anos de vida, quando a criança ouvinte
chama o cachorro de “au-au”, o passarinho de “piu-piu”, é porque está fazendo
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referência entre o animal e o som ele que emite. Do mesmo modo, ao identificar e
observar o mesmo animal, a criança Surda também fará suas referências; no entanto,
estas serão inteiramente visuais. Por exemplo: ela identificará o cachorro através do
pelo ou de como o animal mostra seus dentes ao rosnar; para identificar o passarinho, a
criançafará o movimento do bico abrindo e fechando, como o próprio pássaro faz ao
piar, ou então imitará seu bater de asas e assim por diante.
Para Padden e Humphries (2000, apud STROBEL, 2008), na comunidade Surda temos
sujeitos Surdos e sujeitos ouvintes. Nesta, todos compartilham suas experiências através
da língua de sinais: os Surdos, que têm suas experiências de vida puramente visuais: a
Cultura Surda, e os ouvintes que, por alguma proximidade profissional, de parentesco,
etc., conhecem a língua de sinais e também as peculiaridades Surdas.
Isso porque a LIBRAS é a língua que traduz a Cultura dos Surdos: os hábitos, os
costumes, o jeito particular de ser Surdo, o viver no silêncio, o sentir (e não ouvir) as
29
vibrações de uma música; enfim, suas experiências e percepções do mundo puramente
visuais.
Então, recapitulando:
Povo Surdo: são as pessoas que nasceram com surdez ou a adquiriram logo
nos primeiros anos de vida, resultando num crescimento e desenvolvimento peculiar,
adquirindo naturalmente a Cultura Surda. Para Strobel (2008), o povo Surdo são
sujeitos que compartilham dos mesmos costumes, história, tradições e pertencem às
mesmas peculiaridades culturais, ou seja, constroem sua concepção de mundo através
do artefato cultural visual. O grupo de pessoas a quem chamamos de povo Surdo são os
sujeitos que podem não habitar o mesmo local, mas que estão ligados por um código de
formação visual independente do nível linguístico.
Faz-se relevante lembrar que é por meio da cultura que uma comunidade constitui-se,
integra e identifica pessoas. A existência de uma Cultura Surda ajuda a construir a
identidade das pessoas com surdez. Nesse sentido, tratar de Cultura Surda implica
também tratar da questão identitária. Um surdo estará mais ou menos próximo da
30
cultura surda dependendo da identidade que Dicas de leitura
STROBEL, Karin Lilian. As imagens
assume dentro da sociedade (BRASIL, 2004). do outro sobre a Cultura Surda.
Florianópolis: Editora da UFSC, 2008.
No entanto, no caso dos Surdos que vivem dentro da cultura ouvinte a identidade é
reprimida, rebela-se e afirma-se em questão da original. A identidade surda sempre está
em proximidade, em necessidade de encontrar outro igual (PERLIN, 2005).
Um exemplo de estereótipo é a ideia que a sociedade guarde de que o Surdo tem maior
concentração em suas atividades, pois não poderá se distrair com barulhos. Isto leva a
uma imagem do Surdo como produtor braçal de produtividade. Ou seja, vale a pena
contratá-lo no campo de trabalho pelo que ele produz, não pelas suas habilidades e
competências profissionais.
31
A identidade Surda se constrói dentro de uma cultura visual. Essa diferença precisa ser
entendida não como uma construção isolada, mas como construção multicultural. Os
Surdos vão construindo seu pensamento e compreendendo o mundo a partir puramente
de suas visualizações.
Os ouvintes são acometidos pela crença de que ser ouvinte é melhor que ser Surdo, pois,
na ótica ouvinte, ser Surdo é o resultado da perda de uma habilidade 'disponível' para a
maioria dos seres humanos. No entanto, essa parece ser uma questão de mero ponto de
vista (BRASIL, 2004).
Maupassant (apud BRASIL), em seu conto Carta de um louco, reflete sobre o citado
acima, defendendo que
todas as idéias de proporção são falsas, já que não há limite possível, nem
para a grandeza nem para a pequenez [...] a humanidade poderia existir
sem a audição, sem o paladar e sem o olfato, quer dizer, sem nenhuma
noção do ruído, do sabor e do odor. Se tivéssemos, portanto, alguns
órgãos a menos, ignoraríamos coisas admiráveis e singulares; mas, se
tivéssemosalguns órgãos a mais, descobriríamos em torno de nós
uma infinitude de outras coisas de que nunca suspeitaremos por falta de
meios de constatá-las (MAUPASSANT, apud BRASIL, 2004, p.36).
Perlin (2005) denuncia que os ouvintes que se referem ao Surdo como portador de
anomalias contribuem para a ideia da normalização. Primeiro entende-se por Surdo o
não normal, para, a partir daí, discursar lindamente sobre O ouvintismo deriva da
proximidade particular entre
a normalização/ouvintização do Surdo. Viver o ouvintes e Surdos, na qual o
ouvintismo é ter preconceito contra os Surdos. ouvinte sempre está em
posição de superioridade
(PERLIN, 2005).
A ouvintização do Surdo, o chamado oralismo, é uma
ideologia dominante, na qual a concepção do sujeito Surdo se refere exclusivamente
uma dimensão clínica, uma perspectiva terapêutica (SKLIAR, 1997, apud PERLIN,
2005). Perlin é uma grande pesquisadora das questões apresentadas neste item
(Identidade e Surdez) e classifica as identidades surdas com diferentes facetas;
acompanhe as definições a seguir:
32 com outros Surdos, vai construir sua identidade fortemente centrada no ser Surdo
(a Cultura Surda), “a identidade política surda”. É a consciência de ser
definitivamente diferente e de necessitar de implicações e recursos completamente
visuais.
b) identidade surda híbrida diz respeito aos Surdos que nasceram ouvintes e
que, com o tempo, adquiriram a surdez. É uma espécie de uso de identidades
diferentes em diferentes momentos. Eles captam do exterior a comunicação de
forma visual, passam-na para a língua que adquiriram primeiro e depois para os
sinais. Nascer ouvinte e posteriormente ser Surdo é ter sempre presente duas
línguas, mas a sua identidade irá ao encontro das identidades surdas.
d) identidades surda incompleta pertence àqueles surdos que vivem sob uma
ideologia ouvintista latente que trabalha para socializar os Surdos de maneira
compatível com a cultura dominante. A superioridade ouvinte exerce uma rede de
poder difícil de ser quebrada pelos Surdos, que não conseguem se organizar ou
mesmo ir às comunidades para resistirem ao poder. É onde começam as situações
dominantes de tentativa de reprodução da identidade ouvinte. Essa identidade
nega a representação Surda. Há casos de Surdos cujas identidades foram
escondidas; nunca puderam encontrar-se com outros Surdos, conseguiram
adentrar-se no saber junto aos ouvintes; foram mantidos em cativeiros pela família
e incapacitados de chegar ao saber ou de se decidirem por si mesmos.
33
Experiências compartilhadas dentro da comunidade Surda permitem aos Surdos se
sentirem capazes e sujeitos culturais. Surdos que crescem em contato com outros Surdos
são criados para viver em uma realidade surda e, quando adultos, participando dos
movimentos Surdos, constroem sua identidade política.
É necessário que o Surdo torne-se um sujeito expressivo e projete seu ser no mundo. A
identidade Surda precisa ser assumida, sendo isso um passo para quebrar a “prisão”
imposta pelo ouvintismo, assegurando a subjetividade da cidadania e esvaziando o
“individualismo agressivo da exclusão”.
1° EXPERIÊNCIAS VISUAIS
2° LINGUÍSTICO
35
Surdos e, por isso, criaram dentro do lar gestos e mímicas para conseguirem se
comunicar em família.
A língua de sinais capta as experiências visuais dos sujeitos surdos. De acordo com
Quadros (1997 apud STROBEL, 2008), a criança Surda pode até adquirir a língua
portuguesa, porém nunca será de forma natural e espontânea, como ocorre com a língua
de sinais. No mundo todo temos pelo menos uma língua de sinais com suas variações
regionais usada pelo povo Surdo de cada país. Temos também como artefato cultural
linguístico a Escrita da Língua de Sinais – ELS, que é uma forma de escrita da língua
de sinais; é conhecido pelo nome de SignWriting – SW.
3° FAMILIAR
O artefato familiar implica nos conflitos que o Surdo enfrenta quando o médico instrui
a família a não usar sinais com aquela criança e apenas incentivar a audição e oralidade
36
dela. Quando os pais também são Surdos, conhecem a suma importância e até o direito
do filho de aprender a LIBRAS como língua materna; já pais ouvintes que desconhecem
essa língua e essa cultura acabam deixando seu filho marginalizado dentro do próprio
lar. As crianças Surdas de famílias que desconhecem esse “mundo” têm uma carência
de diálogo. Observam as conversas e
discussões dentro do lar, porém delas
não participam. O próprio anseio desta
família em colocar aparelhos auditivos e
tornar esse Surdo uma pessoa “normal”
traz para ele grandes frustrações com
o mundo e até com ele mesmo.
37
Repare no relato de uma experiência da infância de Sam Supalla; um Surdo norte-
americano que tem várias gerações de família de Surdos:
[...] Após alguns encontros tentativos, eles tornaram-se amigos. Ela era uma
companheira satisfatória, porém havia o problema de sua “estranheza”. Ele não
conseguia falar com ela da maneira que conseguia falar com seus irmãos mais
velhos e com seus pais. Ela parecia ter uma dificuldade extrema de compreender
mesmo os gestos mais simples ou mais rudes. [...] Um dia, Sam lembra-se
vivamente, que ele finalmente entendeu que a sua amiga era de fato estranha. Eles
estavam brincando na casa dela, quando de repente a mãe dela chegou até eles e
animamente começou a mexer sua própria boca. Como se por mágica, a garota
pegou uma casa de boneca e levou-a para um outro local. Sam estava perplexo e foi
para casa perguntar a sua mãe sobre exatamente que tipo de aflição que a menina
da porta ao lado tinha. Sua mãe explicou a ele que ela era ouvinte e por razão disto
ela não sabia sinalizar; em vez disso, ela e a sua mãe falam, movimentam suas
bocas para falarem entre si. Sam então perguntou se esta menina e a família dela
era as únicas “daquele jeito”. A mãe dele explicou que não, de fato, quase todas as
pessoas eram como seus vizinhos. Era a sua própria família que era incomum.
Aquele foi um momento memorável para Sam. Ele lembra de pensar o quanto estava
curiosa a menina da porta ao lado, e se ela era ouvinte, como as pessoas ouvintes
eram curiosas.
PADDEN; HUMPHRIES, 2000 apud STROBEL, 2008.
4° LITERATURA SURDA
A literatura Surda refere-se aos registros, por meio de CD-ROOM, vídeos e DVD, das
dificuldades e/ou vitórias, de diversas experiências vividas pelo povo Surdo. Muitos
Surdos, poetas e escritores, registram suas expressões literárias em língua portuguesa.
A literatura Surda também envolve as piadas
que exploram a expressão facial e corporal, o
domínio da língua de sinais e a maneira própria
de cada um de contar. Em geral, os Surdos são
considerados extraordinários contadores de
histórias. As piadas Surdas, bem como as
demais representações literárias deste povo,
expressam muito da Cultura Surda.
38
Surdos usaram e usam inúmeros meios de se comunicar através da língua de sinais,
desenhos, expressões faciais, corporais e imagens visuais. A necessidade de registrar
suas atuações do cotidiano, como as várias conquistas, língua de sinais, tradições
culturais, entre outros, fez surgir a literatura surda!
Conheça a CONFEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE DESPORTOS DOS
SURDOS:http://www.cbds.org.br/
39
Na olimpíada de 2007, na Austrália, a dupla de vôlei de praia brasileira com os atletas
surdos Alex Borges e Alexandre Couto ficou em quinto lugar. Temos também os atletas
surdos que competem com os ouvintes em olimpíadas não especiais; na África do Sul o
nadador Surdo Terence Parkin (foto ao lado) conquistou medalha de prata nos 200
metros nado peito em olimpíada internacional de 2000. Seu treinador fazia o sinal de
partida para ele, já que não podia ouvir a largada.
6° ARTES VISUAIS
7° POLÍTICO
Artefato político também pode ser as diversas associações de Surdos que têm como
objetivo político as reuniões e assembleias, visando aos direitos judiciais e de cidadania
dos Surdos. Um exemplo é a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos –
FENEIS, filiada à Federação Mundial de Surdos – WDF. As legislações trazidas do
item 1.2 deste livro-texto também fazem parte deste artefato cultural, pois são resultados
de árduas lutas como a lei 10.436/02 que reconhece a LIBRAS como língua natural dos
Surdos e o decreto 5.626/05 que regulamenta esta lei e dispõe outros direitos. Temos
ainda como conquistas políticas a criação da graduação em LIBRAS, o curso de
Letras/LIBRAS da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC nas modalidades
licenciatura e bacharelado; e o Dia Nacional dos Surdos, comemorado em 26 de
Setembro, data de fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos que, como
você já viu na história (item 1.1) foi a primeira escola para Surdos no Brasil.
Internacionalmente o Dia do Surdo é comemorado em 30 de Setembro.
8°MATERIAIS
[...] minha luta começou no sentido de que a surdez seja reconhecida como apenas mais um
aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana. Ser surdo não é melhor ou pior
do que ser ouvinte, é apenas diferente. E ser surdo é diferente de ser deficiente auditivo. Se
um de vocês aqui presentes, que ouve e que, por isso, tem a cultura da audição, ou seja, se
comunica através da fala, gosta de música e do barulho do mar etc, perder a audição,
certamente será um deficiente auditivo, pois estará com um déficit, uma vez que perdeu
algo que já teve um dia. Mas eu nasci surdo e, como só se perde aquilo que se tem, nunca
perdi a audição, pois nunca a tive. Eu tenho o direito de viver assim, e o mundo tem o
dever de aceitar minha diferença. (PIMENTA, 2001, p. 24)
43
Como pudemos compreender a partir das leituras anteriores, ter o reconhecimento da
língua de sinais como uma língua natural, como direito do Surdo e meio de
comunicação e expressão da comunidade surda, não foi muito fácil não é mesmo? Foi
necessária uma caminhada repleta de lutas. Vamos entender agora a importância da
LIBRAS para o desenvolvimento da pessoa Surda.
No entanto, as pesquisas vêm confirmando que, como toda língua, a língua de sinais
pode ser tomada como “sistema abstrato de regras gramaticais, natural das comunidades
de indivíduos surdos, portanto deve ser reconhecida como língua natural”
(FERNANDES, 2003). Portanto, trata-se de uma língua completa com características e
estruturas próprias, capaz de transmitir ideias sutis, complexas e abstratas. “Os seus
usuários podem discutir, filosofia, literatura ou política, além de esportes, trabalho,
moda e utilizá-la como função estética para fazer poesia, estória, teatro e humor”
(FELIPE, s/d, p. 2). Permite ainda a “expressão de qualquer significado decorrente da
necessidade comunicativa do ser humano”(BRITO, 1997, p. 19).
Você deve estar se perguntando: e, afinal, como a criança aprende a língua de sinais?
De acordo com Fernandes (2003, p. 30), a teoria pautada na base biológica pode
explicar alguns comportamentos de aquisição da linguagem do Surdo ao comprovar que
crianças Surdas, mesmo não expostas a nenhum tipo de linguagem oral-auditiva ou
espaço-visual, “desenvolvem espontaneamente um sistema de gesticulação manual e
que há semelhanças entre os sistemas desenvolvidos por crianças surdas que nunca
tiveram contato entre si”. Assim, parece perigoso afirmar que crianças Surdas não
Entretanto:
Perceba que a língua de sinais é muito mais que um conjunto de gestos e um meio de
comunicação, nos aspectos cognitivos, ela possibilita o desenvolvimento e a
organizaçãode várias formas de pensar.
Existe uma grande preocupação com a questão do diagnóstico precoce da surdez e sua
relação com o desenvolvimento social, linguístico e cognitivo da criança Surda. No
campo da saúde, diversas iniciativas vêm sendo realizadas com o objetivo de orientar
45
pais e profissionais sobre a necessidade e a possibilidade de avaliação precoce em casos
de surdez. Marchesi (2004), dentre outros, afirma que as consequências do diagnóstico
e intervenção tardios redundam em significativos atrasos no desenvolvimento social e
da linguagem, além de baixo desempenho acadêmico. Nesse sentido, profissionais da
área, tanto da saúde quanto da educação especial, têm se empenhando para que essa
identificação seja realizada o quanto antes, permitindo assim, que a intervenção
implique melhores desempenhos nas áreas atingidas (MENDONÇA, 2002).
Adquirir uma língua desde os primeiros anos de idade é fundamental, destacando que o
papel do meio social em que vive é fundamental para que o mecanismo da linguagem
presente no indivíduo seja estimulado e desenvolvido. A aquisição tardia de uma língua
Autores como Fernandes (1990), Sacks (1990), Brito (1993), Goldfeld (1997), entre
outros, afirmam que o estímulo do meio é indispensável para a aquisição da linguagem;
sua falta poderá acarretar reflexos no desenvolvimento cognitivo da criança Surda.
Para Goldfeld (1997), as dificuldades encontradas na aquisição de uma língua oral pelo
Surdo e a dificuldade de acesso à língua de sinais implicam atraso de linguagem dessa
criança. Em consequência desse processo, a aprendizagem e o desenvolvimento poderão
ser afetados, trazendo problemas de escolarização. Afirma a autora: “somente através da
exposição a esta língua (de sinais), a criança surda pode desenvolver-se linguística e
cognitivamente sem dificuldades” (GOLDFELD, 1997, p.105).
46
Sacks (1990) afirma que se as crianças não são expostas ao código linguístico, pode
haver um atraso da maturação cerebral. Brito (1993) também defende que a criança
surda deve ser exposta à língua de sinais precocemente.
Como pudemos observar, a aquisição da língua de sinais pela pessoa surda ocorre nas
relações, no encontro com seus pares surdos e é essencial para seu desenvolvimento
cognitivo, linguístico e social.
No filme E seu nome é Jonas, você poderá perceber de maneira muito clara o papel da
linguagem para o desenvolvimento da criança.
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/
pessoa_com_deficiencia/arquivos/Libras_Uma_conquista_historica.pdf
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL732407-5598,00-bebes+surdos
+devem+aprender+lingua+dos+sinais+nos+primeiros+meses+de+vida.html
2.7 Atividades
Assista a um dos filmes relacionados a baixo e identifique nele, os Artefatos Culturais
do Povo Surdo:
1. Filhos do Silêncio;
48 diante...
Unidade 3
Unidade 3 . Língua brasileira de sinais e a
Linguística
Esta Unidade tem como propósito pesquisar e estudar como funciona a Língua
Brasileira de Sinais e de onde vem essa língua (origem),buscando os fundamentos dos
elementos linguísticos da língua de sinais tendo em vista o leitor não conectado com os
estudos linguísticos das línguas de sinais. São objetivos aqui: entender a diferença entre
a língua de sinais e Língua Portuguesa; fortalecer o reconhecimento da LIBRAS como
língua natural dos Surdos; abranger os conhecimentos teóricos e práticos dos aspectos
gramaticais e semânticos da LIBRAS. Ao final desta Unidade, daremos uma noção do
vocabulário básico da Língua Brasileira de Sinais.
49
Os autores Veloso e Maia Filho (2011) reconhecem tais investigações de Stokoe:
Corroborando com as autoras, Veloso e Maia Filho (2011, p. 13) afirmam que se trata
de uma língua como qualquer outra, “sendo comparável em complexidade,
expressividade e possui seus valores e aspectos gramaticais diferenciados das outras
línguas”.
A língua de sinais inclui valores linguísticos que apresentam a estrutura, aquisição, uso
e funcionamento, como quaisquer outras línguas; todas possuem aspectos gramaticais e
semânticos. A língua de sinais é uma língua extremamente rica, completa e viva.
Pimenta e Quadros (2009) abordam um ponto importante sobre a realidade que acontece
no Brasil a respeito das mudanças de sinais. Pimenta empregou a frase: “Os sinais
mudam na história”. Ou como os autores mesmos nos esclarecem:
Assim como as palavras das línguas faladas, os sinais das línguas de sinais
mudam com o tempo. Os sinais que nossos avós surdos usavam não são
necessariamente os mesmos usados hoje pelos surdos brasileiros. Esse
fenômeno é chamado de variação cronológica. Os surdos mais velhos usam
alguns sinais que caíram em desuso ou foram transformados em novos sinais.
Sinais que podem ter modificado na forma por razoes que são determinadas
pela própria linguística (PIMENTA e QUADROS, 2009, p.60).
Quadros e Karnopp (2004) buscaram conhecer com mais clareza a importância dessa
diferença, e destacam que:
Completando, o dicionário Mini Aurélio apresenta que a língua é usada por um povo ou
por nação, é conjunto de regras da sua gramática. A linguagem, o uso da palavra
articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre pessoas.
As línguas de sinais não são universais, cada língua de sinais tem sua própria
estrutura gramatical. Assim como as pessoas ouvintes em países diferentes
falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo,
que estão inseridos em “culturas surdas”, possuem suas próprias línguas,
existindo portanto muitas línguas de sinais diferentes, como: língua de sinais
francesa, chilena, portuguesa, americana, argentina, venezuelana, peruana,
portuguesa, inglesa, italiana, japonesa, chinesa, uruguaia, russa, urubus-
kaapor, citando apenas algumas. Essas línguas são diferentes uma das outras
e independem das línguas orais-auditivas utilizadas nesses e em outros
países. Por exemplo: o Brasil e Portugal possuem a mesma língua oficial, o
português, mas as línguas de sinais desses países são diferentes, o mesmo
acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra, entre outros. Também pode
acontecer que uma mesma língua de sinais seja utilizada por dois países,
como é o caso da língua de sinais americana que é usada pelos surdos dos
Estados Unidos e do Canadá (FELIPE, 1997, p.81-82).
De acordo com Pereira (2011), não existe uma língua natural que seja universal; mas
existem línguas “artificiais” que são criadas e usadas em conversação de Surdos que não
são do mesmo país, ou seja, que têm línguas diferentes. Como aconteceu com o gestuno
- uma língua artificial, criada com a finalidade de possibilitar a comunicação entre
pessoas Surdas de diferentes países.
53
3.1.5 De onde vem essa língua? Qual sua origem?
No ano de 1855, o imperador do Brasil Dom Pedro II
solicitou da França a vinda do Professor Mestre
HernestHuet, com surdez congênita. Em 1857, fundou-se o
atualmente chamado Instituto de Educação dos Surdos –
INES.
O INES é
54
visualmente, proporciona os aspectos linguísticos como fonológicos, morfológicos,
sintáticos para obter os significados e significantes da língua de sinais.
Portanto, uma língua não pode jamais substituir a outra. Ainda que o Surdo aprenda a
Língua Portuguesa, esta será sua segunda língua, usará para preencher documentos,
produzir redações e publicações; especialmente tratando-se da modalidade escrita da tal
língua. A língua de sinais, contudo, continuará sempre sendo sua língua natural, a língua
pela qual melhor conseguirá se fazer entender, expor suas vontades, ideias e também a
que melhor compreenderá o mundo a sua volta, pois somente a LIBRAS é capaz de
corresponder a sua cultura visual.
55
palavras da língua) que se estruturam a partir de mecanismos morfológicos,
sintáticos e semânticos que apresentam especificidade, mas segue também
princípios básicos gerais. Estes são usados na geração de estruturas
linguísticas de forma produtiva, possibilitando a produção de um número
finito de regras. É dotada também de componentes pragmáticos
convencionais, codificados no léxico e nas estruturas da LIBRAS e de
princípios pragmáticos que permitem a geração de implícitos sentidos
metafóricos, ironias e outros significados não literais. Estes princípios regem
também o uso adequado das estruturas linguísticas da LIBRAS, isto é,
permitem aos seus usuários usar estruturas nos diferentes contextos que se
lhes apresentam, de forma a corresponder as diversas funções linguísticas que
emergem da interação do dia a dia e de outros tipos de uso da língua
(BRITO,1997, p.23).
Exemplos:
BRINCAR
CIRCO
RIR
PALHAÇO
2 – Um sinal (sinal único) – quando um sinal é representado por duas ou mais palavras
da Língua Portuguesa, utilizam-se as palavras correspondentes separadas por hífen.
56
Exemplos:
SABER-NÃO
CORTAR-CABELO
PRECISAR-NÃO
Exemplos:
MULHER^BENÇÃO Mãe
CAVALO^LISTRA Zebra
Exemplos:
M-U-R-I-L-O
I-T-A-L-I-A
P-I-E-T-R-O
57
algumas delas) são soletradas para representar o sinal. Para esse sistema de transcrição
utiliza-se a fonte itálico.
Exemplos:
N-U-N-C-A (nunca)
D-R (doutor)
A-H-O (alho)
Exemplos:
Lembrando que para simplificação, na representação das frases nas formas exclamativas
e interrogativas, poderão ser utilizados os sinais de pontuação utilizados na escrita da
língua portuguesa, ou seja ?,!.
58
Pelo fato da LIBRAS ser uma língua visual-espacial houve a necessidade de conhecer
primeiramente, seu sistema de transcrição.
3 – Movimento (M)
Alguns sinais podem ter movimento ou não, que nada maisé que o deslocamento da
mão no espaço. Por exemplo: os sinais como APRENDER, FALAR, PENSAR têm
movimento e outros sinais como EM-PÉ, CALAR, TI@ não têm movimento.
4 – Orientação (Or)
São os sinais que produzem a direção, “os sinais podem ter uma direção e a inversão
desta pode significar ideia de oposição, contrário ou concordância número-pessoal,
como os sinais QUERER E QUERER-NÃO; IR E VIR (FELIPE, 1998, p.84).
60
pragmática é o estudo da linguagem em uso (contexto) e também dos princípios de
comunicação. Adiantando-se:
Como já notamos anteriormente, na língua de sinais, os sinais são formados a partir dos
usos de cinco parâmetros e também de uma série de outros sinais que constitui a
formação dos processos de derivação (1), composição (2) ou empréstimos de língua
portuguesa (3). Conforme apontam Klima e Bellugi (1979, apud PEREIRA, 2011), nas
línguas orais, as palavras podem ser formadas pela adição de um prefixo ou sufixo a
uma raiz; nas línguas de sinais, a raiz (sinal) é frequentemente enriquecida com vários
movimentos e contornos no espaço de sinalização, como expressões faciais/ corporais e
classificadores (4).
Processos de derivação:
Composição:
Empréstimos linguísticos:
3.2.3 Sintaxe
Este estudo trata da estruturação de frases. De acordo com Paraná (1998), as frases em
LIBRAS não podem ser estruturadas como as frases em Português, pois Libras tem
gramática diferenciada e independente.
Por exemplo:
A LIBRAS não
Português LIBRAS
possui as mesmas
regras da Língua
Portuguesa, assim,
Eu gosto de chocolate. CHOCOLATE EU GOSTAR. não são usados
artigos,
preposições,
conjunções, entre
Quantos anos você tem? IDADE VOCÊ ...i... outros elementos.
Temos ainda como estrutura sintática os tipos de frases. Para produzirmos uma frase em
LIBRAS é imprescindível o uso de expressões faciais/corporais feitas simultaneamente.
63
Português LIBRAS
Hoje vou a sua casa. HOJE CASA SUA EU-IR ou V-O-U
Ela comprou uma casa. CASA EL@ COMPRAR (JÁ)
Amanhã irei comprar chocolate. AMANHÃ CHOCOLATE EU COMPRAR
>>> Se quiser treinar os sinais abaixo de forma mais interativa confira alguns vídeos no
www.acessolibras.com Este site apresenta vídeos, artigos, estudos específicos para
licenciaturas, fórum, chat e muito mais! Desvende aqui o Mundo dos Surdos...
Identificação Pessoal
Material Escolar
65
Material Estudar Régua Tesoura Papel
66
Profissões da Escola
Lugares da Escola
Sala de
Secretaria Cozinha Banheiro Sala
Informática
Quadra
Biblioteca Brinquedoteca Refeitório
(esportes)
67
Disciplinas Escolares
Educação
História Química Ciencias Biologia
Física
Grau de Escolaridade
Primeiro ano Segundo ano Terceiro ano Quarto ano Quinto ano
68
Sexto ano Sétimo ano Oitavo ano Nono ano 1º Ensino
Médio
Doutorado Formatura
69
3.4 Síntese da Unidade
Esta Unidade teve como objetivo apresentar o funcionamento e a origem da Língua
Brasileira de Sinais, além de buscar os fundamentos linguísticos que incluem valores,
estrutura, aspectos gramaticais e semânticos próprios, como quaisquer outras línguas.
Foi possível reconhecer a LIBRAS, que é considerada alíngua natural dos Surdos, como
uma língua extremamente rica, completa e viva com características próprias que a
diferenciam da língua portuguesa.
Sites
70
Livros
3.6 Atividades
1. Prepare três frases de cada tipo: Afirmativa, Interrogativa, Exclamativa e Negativa,
usando a Língua Portuguesa traduzida para a LIBRAS.
Sinais 1: 2: 3: 4: 5:
Parâmetros
CM
PA ou L
M
Or
EF/C
71
72
Referências
BRITO, L.F. Integração Social e educação de Surdos. Rio de Janeiro: Babel, 1993.
73
FELIPE, Tanya Amara (coord). Libras em Contexto. Curso Básico. Rio de Janeiro.
Ministério da Educação e do Desporto. Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação. Secretaria de Educação Especial, s/d
______. LIBRAS em Contexto - Curso Básico: Livro Estudante. 9. Ed. Rio de Janeiro:
WalPrint Gráfica e Editora, 2009.
GÓES, Maria Cecília Rafael de. Linguagem, surdez e educação. Campinas: Autores
Associados, 1996.
74
MEIRELES, Antonio Rauf A. F. Di Carli. Intervenção Pedagógica no contexto da
classe de ensino regular entre alunos surdos e alunos ouvintes através da língua
brasileira de sinais (LIBRAS). Trabalho de Conclusão de Especialização. Faculdade
Padre João Bagozzi, 2009.
PEREIRA, Maria C. C. (org.). LIBRAS – conhecimento além dos sinais. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2011.
PERLIN, Gladis T.T. Identidades surdas. In: SKLIAR, Carlos (org.). A Surdez: um
olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2005.
SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro.
Imago, 1990.
75
SILVA, Marília da Piedade Marinho. Identidade e Surdez: o trabalho de uma
professora surda com alunos ouvintes. São Paulo: Plexus, 2009.
76